A arte sem rótulos de Del Gra tes 22 de outubro de 2017
Artista contou sobre sua história com o grafite, inspirações e mensagens que quer passar com sua arte Por Thiago Correia Professor. Artista plástico. Grafiteiro. Todas essas são atribuições que André Gomes Romão, 35 anos, possui em seu currículo. André nasceu e foi criado em Carapicuíba e atualmente mora em Taboão da Serra. Ele é mais conhecido pelo apelido, Del, que surgiu na infância e acabou pegando. “Muitos amigos nem sabem o meu verdadeiro nome”, brinca.
Fachada da casa de Del em Taboão. Arte do filme Velozes e Furiosos/Foto: Del Grafites
Del é casado há dez anos com Simone e tem um filho de oito anos, Davi. Ele tem formação superior em Artes Visuais, pós-graduação em História da Arte e diversos cursos técnicos, lecionando para alunos de ensino fundamental e médio. “Apesar dos cursos, aprendo mais
é na rua. Um curso diário e sem diplomas. Repleto de novas interpretações de certezas efêmeras”, afirmou ao Carapicuíba na Rede. Sobre como surgiu sua paixão pelo grafite, Del revela que desenha desde muito jovem. Em 1995, ele começou a acompanhar revistas do segmento, mas foi em 1997, que Del passou a grafitar. “Imediatamente tentei levar para um lado mais profissional, tendo em vista que não tinha grana e nem apoio de ninguém para pintar o que quisesse, fazer realmente arte e expressar o que pensava”, conta. “Os trampos de rua eram vistos como pichação. O que hoje chamam de wild style, tínhamos uma crew, que se chamava Calibre12 e era a única hora que podia expressar a minha arte”, lembra. Del revela que o processo para criar trabalhos artísticos é longo, pois ele tenta levar o expectador a uma reflexão social e existencial. “Ainda que nem sempre meu conceito seja entendido, minha arte nas ruas, além de estética, leva sempre a um conceito”, fala Del ao CnR. Dos desafios em fazer grafite, Del é contundente: “O desafio de qualquer artista é fazer o público entender que levamos muito a sério o que fazemos. E o fato de nos divertimos, não quer dizer que não seja um trabalho. No campo das artes, vivemos os extremos: ou o artista não vale nada ou vale tanto que só poucos podem pagar”, desabafa. Grafite x Pichação: o que é arte? Quando falamos em grafite, outro assunto que acaba sendo discutido é a pichação. Ainda hoje, pessoas confundem um com outro. Perguntado sobre o tema, Del explica: “Adorno e Horkheimer explicam o que eu penso. A Indústria Cultural legitima o que é arte, o que não é, o que é bom e o que é ruim. Eles vão decidindo e como diz Schopenhauer: o rebanho vai atrás”. “Para mim o grafite e a pichação são frutos de uma mesma cultura: uma legitimada pela Indústria Cultural há alguns poucos anos e outra não. Essa minha opinião não significa que eu apoie pichação sem conceito de protesto ou outro conceito estipulado pelo artista. O mesmo eu aplico ao grafite”, finaliza Del sobre o assunto grafite e pichação. Sobre arte com protesto, Del fez no ano passado uma grafite do presidente Michel Temer, pouco após ele assumir a presidência da República. Confira no vídeo abaixo: Grafite em Carapicuíba Perguntado sobre quantos grafites já criou ao longo desses anos, Del é direto: “Impossível saber quantos grafites já fiz. O preferido vai ser sempre o último. O de ontem foi bom,
mas o de amanhã será melhor. Já fiz centenas de grafites em Carapicuíba. É o lugar que mais gosto de pintar”. “Vejo muitos grafites em Carapicuíba com estéticas variadas e grande qualidade. É um berço de grandes talentos. Como estamos em uma periferia bem afastada do centro, pode ser que quem não faz parte do movimento, não veja toda essa arte. Mas Carapicuíba tem muita arte e muitos artistas”, afirma Del quando questionado sobre artistas e grafites locais. Arte de Charles Chaplin feita por Del no escadão do cinema mudo na
Ele revela que seu amor pelo grafite e pela arte só não é
Cohab 2 em julho deste ano/Foto:
maior que o que tem por sua vida e família que, segundo
Del Grafites
ele, “é a inspiração para pintar”. “Essa família que digo, não está restrita a laços sanguíneos”, esclarece. Sobre quais
conceitos espera passar às pessoas com seus grafites, Del conclui: “Reflexão, informação e os mais sensíveis sentirão o amor que emprego em meus trabalhos. Um amor nietzschiano, que está além do bem e do mal”. E afinal de contas, Del é artista plástico ou grafiteiro? Ele responde: “Me considero uma pessoa que ama o que faz, sem rótulos”. Facebook: Del Grafites Instagram: @delgrafites