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CORRUPÇÃO NO BLOCO CENTRAL

Atualidade Corrupção no Bloco Central

INVESTIGAÇÃO DO MP Cem mil euros “pagaram” deputado e ex-autarca

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PROVAS Francisco Pessegueiro contava tudo à mãe. E foi a ela que lhe disse que Pinto Moreira ia receber 50 mil euros e mais tarde que pagou igual quantia a Miguel Reis por negócio milionário

u Cem mil euros “compraram” dois autarcas. É o que diz o Ministério Público que situa o primeiro ato de corrupção a Pinto Moreira, ex-presidente da Câmara de Espinho, quando aquele ainda dirigia os destinos camarários. É o que resulta de uma escuta telefónica entre Francisco Pessegueiro e a sua mãe, onde o empresário diz àquela que terá de pagar pelo negócio que se avizinhava. Estávamos em março de 2022, já Pinto Moreira tinha saído da câmara e assumira o lugar de deputado e vice-presidente da bancada social-democrata. Os indícios recolhidos pela investigação - e comunicados a Pinto Moreira aquando das buscas - apontavam então para um acordo antigo. Francisco Pessegueiro conta a João Rodrigues - funcionário camarário e chefe do urbanismo - que Paulo Malafaia (empresário)- também detido na operação - ia comprar o espaço conhecido como empreendimento 32 e que já tinha interessado para o mesmo. O negócio de compra seria feito por 2,5 milhões e a venda por três milhões.

O lucro de 500 mil euros não era ‘limpo’. Pessegueiro tinha pressa em obter o deferimento para um pedido de

PRESIDENTE DA CÂMARA SÓ MAIS TARDE “SE PÔS A JEITO” E ACEITOU RECEBER DINHEIRO

ocupação da via pública e já tinha acordado que teria de pagar ao ex-autarca. Contou à mãe que os primeiros 25 mil euros seriam entregues na venda do referido empreendimento e havia ainda um outro pagamento de igual

Paulo Cafôfo diz que “aguarda com serenidade”

u O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Paulo Cafôfo, que também está a ser investigado por negócios quando era autarca no Funchal, revelou ontem que tem conhecimento da “instauração de inquérito” em 2018, mas desconhece os termos do processo, aguardando “com serenidade” a sua conclusão.

E TAMBÉM

MONTENEGRO AFASTAMENTO

Luís Montenegro, presidente do PSD, assegurou que Pinto Moreira iria sair da vice-presidente da bancada e abandonar a Comissão de Revisão Constitucional, o que já aconteceu. No entanto, nada ainda foi dito sobre as suspeitas, sendo certo que os indícios foram transmitidos nos mandados emitidos pelo MP. valor pela ajuda que o ex-autarca tinha dado para o projeto de um lar.

A 6 de abril, Paulo Malafaia e João Rodrigues reúnem-se com Miguel Reis na Câmara Municipal de Espinho e pediram-lhe maior flexibilidade nos licenciamentos urbanísticos. Num primeiro momento, o então presidente da Câmara “não se pôs a jeito” - segundo o que Pessegueiro disse ao telefone - situação que mudou em poucos meses. Já em dezembro do ano passado, a PJ vigiou o que acredita ter sido uma entrega de dinheiro vivo. Segundo as escutas de Pessegueiro com a mãe, eram mais 50 mil para entregar a Miguel Reis.

Suspende mandato Miguel Reis deixou a câmara mal foi detido. A estratégia de suspender o mandato visava evitar a prisão preventiva - o que não conseguiu. A juíza prendeu-o.

NOTA EDITORIAL

Corrupção em tempo real

Enquanto o Governo procura resistir aos casos que abalam a sua credibilidade, a Polícia Judiciária mostra serviço. E mostra como é possível investigar a corrupção sem grandes delongas. A PJ do Porto, no caso, prova que é possível investigar o crime económico com os mesmos instrumentos que usa na luta contra o tráfico de droga. A corrupção em Espinho, que atinge PS e PSD foi investigada em tempo real, com escutas, vigilâncias e

todos os meios de recolha de prova possíveis e legais, evitando uma caminhada paquidérmica pelas habituais resmas de papel. Esta cultura de investigação criminal, que também se ilumina de cada vez que depara com procuradores e juízes de instrução preparados e sensibilizados para a necessidade de agir em tempo útil, é decisiva para lutar contra um cancro que está a minar a credibilidade dos partidos. Ironicamente, António Costa, que é de entre os políticos portugueses um dos que mais noção têm da importância de uma justiça forte e independente, tem visto o seu Governo a ser devorado por estes escândalos. Não conseguiu, por isso, ver realçada a forte dotação de meios que tem feito à PJ, salvando-a da asfixia. Não a usou, sequer, em sua defesa. Um forte sinal dos tempos difíceis que Costa atravessa.

PJ prova que é possível investigar corrupção como se fosse droga

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