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ENTREVISTA - AULAS DE PORTUGUÊS NO CCPM

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ENTREVISTA

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NUNO ADÃES TERESA SANTOS

ENTREVISTA

“O modo online não é indicado nem o método mais favorável para trabalhar com crianças”

Estão de regresso ao Clube Cultural Português de Mississauga as aulas presenciais de língua portuguesa

Jorge Mouselo, o vice-presidente do Clube Cultural Português de Mississauga, e a professora de Língua Portuguesa do clube, Filomena Oliveira Silva, anunciaram que as inscrições para o ensino da língua de Camões já estão abertas e as aulas estão previstas iniciarem a 16 de outubro. No dia 2 do próximo mês, o CCPM vai organizar um ‘open day’ que vai dar a oportunidade a pais, filhos e outros adultos de conhecerem o clube e saberem como tudo vai funcionar. Para saber melhor sobre o regresso ao ensino presencial da língua portuguesa no clube, o CMC falou com Jorge Mouselo e com a professora Filomena Oliveira Silva.

CMC: Já estão abertas as inscrições para a escola de português Fernando Pessoa no Centro Cultural Português de Mississauga? O que é que vai acontecer no dia 2?

Jorge Mouselo: Dia 2 de outubro não é propriamente a reabertura da escola, mas é um ‘open day’, em que damos a oportunidade a pais, crianças, adultos, ou quem quiser vir ver a escola, poder dar uma olhadela e ver como é que as coisas são e como foram as mudanças. E, claro, também vir ver como seguimos as normas do Governo e os cuidados de saúde aqui no centro, e, ao mesmo tempo, é bastante importante para quem tem filhos que queiram vir e que queiram fazer parte da nossa escola que tenham a oportunidade de conhecer a Filomena, a professora que vai estar cara a cara com eles. Na verdade, sentimo-nos sempre melhor quando já estamos familiarizados com as pessoas. No dia 2, vai haver uns pastéis de nata à moda portuguesa, um cafezinho e outras coisas bem portuguesas. Venham umas horitas de manhã, deixamos as portas abertas para todos. E mesmo que tenham alguém que saibam que é canadiano e sem ascendência portuguesa, e que queira aprender um pouco a língua, a Filomena também adora ensinar essas pessoas.

Jorge Mouselo, vice-presidente do Clube Cultural Português de Mississauga, anunciou a abertura de inscrições para o ensino da língua de Camões, em conversa com o CMC

CMC: Vamos conhecer um pouco da Filomena, que vai dar aulas de português. Como foi o convite?

Filomena Oliveira Silva: Na realidade, eu já estava ligada à escola desde o final de 2019. Concorri através do Instituto Camões no consulado português e comecei a minha colaboração neste ano letivo de 2019-2020. Entretanto, começou a pandemia, as coisas ficaram estagnadas no que respeita ao ensino presencial e no ano de 2020 já não se fez grande coisa até ao final do ano letivo. Recomeçámos no ano letivo de 20202021, mas sem ser no modo presencial, fazendo algumas coisas online. O problema é que o modo online não é indicado e nem é o método mais favorável para trabalhar com crianças. Tentámos manter o contato, para a língua continuar a ser falada entre as crianças, embora tivéssemos consciência que não avançámos muito relativamente à aprendizagem e ao sucesso da mesma. Este ano, já com as novas regras, com as vacinas e com todos os cuidados ao qual somos obrigados a cumprir, vamos tentar novamente trazer o ensino presencial, chamar os alunos à escola – sejam eles crianças, adolescentes ou adultos – e dar uma continuidade para estabelecer uma ligação ao nosso país e fazer com que as nossas comunidades estejam cada vez mais vivas neste Canadá tão grande.

"A pandemia veio estragar muitos planos, passámos a ter aulas online, o que não ajuda nada nenhuma criança, quanto mais a nós adultos. Não há nada como estarmos cara a cara com a professora. Vamos também oferecer aulas pelo Zoom, pois há pais que não podem ou não querem, ou não se sentem à vontade, que as crianças frequentem as aulas presenciais"

Jorge Mouselo, vice-presidente do Clube Cultural Português de Mississauga tivamente começar a 16 de outubro. Assim, o dia 2 será o primeiro fim-de-semana que faremos aquele primeiro contacto com a comunidade. Os registos vão ser feitos logo de seguida e aqueles que quiserem, podem já entrar em contato com o clube e/ou comigo para fazer o registo. Depois do dia 2 de outubro, mete-se o fim de semana do ‘Thanksgiving’ [o Dia de Ação de Graças], portanto, é um fim de semana em que as pessoas estão mais em família e, logo, não haverá uma grande adesão dos alunos. Por isso, passámos tudo para o dia 16 como uma forma mais eficaz de receber alunos em grande número.

CMC: Durante décadas, a cultura nacional tem sido celebrada e honrada através dos clubes e associações que incutem ou têm como missão promover a cultura portuguesa. Hoje em dia, fala-se também dos desafios causados pela pandemia. Muitos clubes tiveram dificuldades em manter as portas abertas. O CCPM vai agora regressar com o ensino da língua portuguesa. Qual é o futuro?

JM: O futuro não sabemos, mas os planos para o futuro são muito grandes. Temos grande planos e uma coisa que não só eu, mas o CCPM e todos aqueles que fazem parte dele pretendem, é não deixar morrer a nossa cultura e a nossa língua, e, por isso, fazemos o que pudermos e o que tiver ao nosso alcance para fazer a diferença e manter viva a língua portuguesa entre a comunidade, não só entre os portugueses, como também fora da comunidade. Estamos a trabalhar com o consulado português de Toronto, a organização por detrás de nós que nos tem dado força para continuar. No fundo, é o nosso trabalho mantermos e conseguirmos chegar à frente e fazer todo o possível para que a nossa língua continue pelas gerações seguintes. A pandemia veio estragar muitos planos, passámos a ter aulas online, o que não ajuda nada nenhuma criança, quanto mais a nós adultos. Não há nada como estarmos cara a cara com a professora. Vamos também oferecer aulas pelo Zoom, pois há pais que não podem ou não querem, ou não se sentem à vontade, que as crianças frequentem as aulas presenciais. Uma das coisas que

temos muito orgulho em dizer é que estamos a seguir todos os protocolos e a ter em conta todas as preocupações, desde desinfetar as salas de aula, manter e promover o distanciamento físico, tal como a lei manda, e não estamos a cortar nas despesas – se a lei manda não fazer, não fazemos. Nós por vezes estamos em reunião, entre mim, a Filomena e outros membros do comité, e olhamos uns para os outros e concordamos que, embora certas medidas não sejam necessárias de seguir, fazemos o esforço na mesma. Pode ser um bocadinho exigente a mais, talvez não haja necessidade para isso, mas fazemo-lo e estamos confortáveis com isso. Eu tenho filhos, muito do nosso staff tem filhos, que vêm para esta escola e para o clube e temos de nos sentir à vontade.

CMC: Filomena, quantos alunos já estão inscritos? Como vão ser as aulas e quantas turmas vão existir?

FOS: Na realidade, inscritos para este novo ano letivo ainda não há nenhum no papel. No entanto, já tenho sido abordada pelos alunos que estiveram comigo em anos anteriores. Este número existe, à volta de 20-25, contando com crianças e adolescentes. Novos não posso ainda dizer porque as coisas ainda agora estão a abrir, mas estamos a contar com alguns. Temos tido perguntas de pessoas que não estavam ligadas, mas que estão interessadas. Estão a perguntar datas, modos de chegar a nós, por isso, conto com um número maior do que esse. As aulas, como já referi, voltam ao presencial. Deverá haver duas a três turmas por idades. Ou seja, pegar nas crianças mais pequeninas – que geralmente vão dos 5 aos 10 anos – e fazer uma turma, ou duas, conforme o número. Os horários para esse grupo vão ser estipulados conforme o número de alunos que existirem. Uma turma de adolescentes – aqueles que vão desde os 10 aos 14 ou 15 anos, e se houver adultos, ter uma turma para eles também, que geralmente são num horário pós-laboral para estes últimos. As aulas para crianças e adolescentes são num horário pós-letivo, que geralmente é a uma sábado, se for presencial. Se houver alguém que tenha a preferência pelo online, não podemos dizer que não, e aí teremos de encontrar um horário compatível, ao fim do dia, ou contratar outro professor. Nesse caso, as coisas ficam em aberto e contando com o número dos inscritos.

Mesmo em relação à segurança, isso é obrigatório e temos todo o interesse em cumprir pelo bem da nossa saúde, dos nossos familiares, e também temos esta preocupação com todos aqueles que estão à nossa responsabilidade, principalmente as crianças. Os distanciamentos, as desinfeções, ter uma sala preparada para isso, etc. Temos um espaço com duas salas e, agora, estamos a propor abri-la para que haja mais distanciamento entre os alunos durante as aulas para se tornar um espaço maior. Desinfetamos as salas de aulas, as casas de banho, os espaços frequentados pelas crianças, etc. Tudo isso é um esforço do clube e da minha parte.

"As aulas vão efetivamente começar a 16 de outubro. Assim, o dia 2 será o primeiro fim-de-semana que faremos aquele primeiro contacto com a comunidade. Os registos vão ser feitos logo de seguida e aqueles que quiserem, podem já entrar em contato com o clube e/ou comigo para fazer o registo"

Filomena Oliveira Silva, professora de Língua Portuguesa do CCPM

CMC: Falamos de luso-canadianos, mas também há canadianos que querem aprender a língua portuguesa. Já houve algum deles interessado em frequentar o clube?

FOS: Há pessoas que nem sequer estão ligadas à comunidade de língua portuguesa, mas que estão ligadas a esta curiosidade de aprender o idioma, que muitas vezes é por uma questão de turismo, uma vez que Portugal é uma atracão turística, e o que não falta são pessoas que querem aprender para poderem ir ao país e terem a capacidade de ter um mínimo de conversação com os locais. Além disso, também há aqueles que curiosamente casam com alguém da comunidade portuguesa e estão interessados em manter os diálogos o mais perfeito possível, e que já existia anteriormente no clube.

Filomena Oliveira Silva, professora de Português do CCPM, colabora com o clube desde o ano letivo de 2019/20

CMC: Qual é o custo das aulas para sócios, não sócios?

FOS: Este ano não estipulámos novos preços, portanto vamos fazer nos preços que já existiam nos outros anos. Para sócios, a quantia é de 60 dólares mensais e para não sócios o valor é 70 dólares. E, claro, também pedimos uma joia de entrada de 35 dólares.

CMC: Com este regresso às aulas, quais são os próximos passos do clube? Quais são os planos e objetivos?

JM: Para podermos ter um baile para as pessoas poderem dançar temos de reduzir substancialmente o número de entradas, o que não faz sentido para nós. Estamos a aguentar um pouco mais. Vamos fazer agora a 16 de outubro uma gala de fados Amália Rodrigues no CCPM, uma que temos vindo a fazer nos últimos anos e um evento a que trazíamos sempre alguém de Portugal. Mas este ano, devido à pandemia, decidi não trazer ninguém de Portugal e sim convidar artistas da comunidade e fazer o jantar de gala Amália Rodrigues, que costumamos fazer no início de outubro. Mas, como temos as aulas de português, não queria fazer muitas coisas juntas, não queria acrescentar mais nada no calendário. Não vou divulgar quem vão ser os cantores porque ainda estamos a trabalhar nisso e a fazer o máximo possível. O que posso fazer, assim que tivermos a informação completa de quem vem, é disponibilizar essa informação para o CMC. Se tudo correr bem, lá para fins de outubro, e se o Governo continuar com o aligeirar das restrições, então aí sim gostaria de fazer um baile de Halloween [Dia das Bruxas] – um dos bailes bem populares que fazíamos. Se ainda tivermos de usar máscaras, assim, já está meio trabalho feito, pois já deve passar pelas leis [risos]. Não havendo bailes, é muito difícil organizar o que quer que seja. A nossa comunidade está desejosa de ir ao CCPM para dar um pezinho de dança.

CMC: Gostariam de deixar uma mensagem à comunidade portuguesa?

FOS: Vamos ter esperança de que as coisas mudem, vamos fazer por isso, vamos cumprir e vamos continuar a viver, porque este vírus veio, mas ele vai ter de aprender a conviver connosco e nós com ele. Cumprir, estar em segurança, mas viver. Venham à escola, venham aprender. Pais não tenham medo pois tudo vai correr bem.

JM: Venham até ao clube dia 2 [de outubro], venham ver! Não precisam de se registar ou de serem obrigados a fazer o que quer que seja. Venham falar com a professora Filomena, venham falar comigo, comer um pastel de nata, beber um cafezinho, estamos cá para servir a comunidade e quem queira aprender a língua. Venham ver com os vossos próprios olhos e peço à comunidade em geral que não se esqueçam de nós. Estamos a lutar pela comunidade, para que continue a ser a grande comunidade que é, e o nosso trabalho é uma gota no oceano que está a puxar pela nossa comunidade. Se nos juntarmos e formos mais unidos, a nossa comunidade vai seguramente crescer. l

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