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Máscarilla deja de ser obligatoria en las calles
Em 2015 recebeu o Prémio Nelson Mandela, entregue pela ONU e, quase até ao fim da vida, foi membro das mesas de voto
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CORREIO / LUSA
O antigo Presidente da República, que assumiu o cargo de chefe de Estado entre 1996 e 2006, morreu aos 81 anos. Jorge Sampaio estava internado desde dia 27 de agosto no Hospital de Santa Cruz, Lisboa, com dificuldades respiratórias.
Sampaio foi Presidente da República aos 56 anos, no auge de uma longa vida de intervenção política, que iniciou ainda estudante como um dos protagonistas da crise académica nos anos 60.
Era visto como um político discreto, paciente e conciliador, mas preferia descrever-se como um homem coerente e persistente, um “aluno atento da vida” que acredita no diálogo para “fazer pontes”. Foi o que fez, por exemplo, em 1989, quando uniu pela primeira vez o PS ao PCP e a outras forças de esquerda para ganhar a Câmara Municipal de Lisboa.
Jorge Fernando Branco de Sampaio nasceu em Lisboa em 18 de setembro de 1939, filho de Arnaldo Sampaio, médico especialista em Saúde Pública e de Fernanda Bensaude Branco de Sampaio, professora particular de inglês. Foi casado com Maria José Ritta, com quem teve dois filhos, Vera e André. Cresceu em Sintra, estudou piano e aprendeu inglês por influência da mãe, a quem deve o rigor da educação. Fez os primeiros anos de escola em Sintra e na “Queen Elizabeth School” e os estudos secundários em Lisboa, nos liceus Pedro Nunes e depois no Passos Manuel, de que gostou mais pelo ambiente de menos rigidez e de mais liberdade, segundo afirmou numa entrevista.
Optou por Direito, preterindo História. No ativismo da vida académica, começou a revelar qualidades de liderança: foi eleito presidente da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa e secretário-geral da Reunião Inter-Associações Académicas. Foi um dos protagonistas da crise académica do princípio dos anos 60, que gerou um longo e generalizado movimento de contestação estudantil ao Estado Novo, que durou até ao 25 de Abril de 1974.
Seguindo o conselho do pai, começou a trabalhar como advogado antes de se dedicar à política, com funções diretivas na Ordem dos Advogados e um papel relevante na defesa de presos políticos no Tribunal Plenário de Lisboa.
Em 1969, candidatou-se à Assembleia Nacional pela Comissão Democrática Eleitoral, desligando-se da linha onde estava Mário Soares, representada pela CEUD.
Após o 25 de Abril foi um dos impulsionadores do Movimento de Esquerda Socialista [MES], com Eduardo Ferro Rodrigues, Nuno Teotónio Pereira, e José Manuel Galvão Teles, entre outros intelectuais, sindicalistas, católicos progressistas e académicos, de que se desvinculou logo em 1974.
Ainda em 1975, foi secretário de Estado da Cooperação Externa (IV Governo provisório), que abandonou em colisão com o primeiroministro Vasco Gonçalves. Veio, a seguir, o movimento Intervenção Socialista, com políticos e intelectuais, que pretendia ser `o grilo da consciência´ do PS, fora das fileiras socialistas. E foi Sampaio, à época naquele movimento, a lançar para a mesa de uma reunião preparatória do desfile da Revolução dos Cravos, um `slogan´que veio a ficar para a História: “25 Abril, Sempre!”.
Sempre próximo do PS, só em fevereiro de 1978 formaliza a adesão ao Partido Socialista, assumindo logo de início perante o então primeiro-ministro, Mário Soares, a sua discordância quanto à aliança de governo PS/CDS. No ano seguinte, foi eleito pela primeira vez deputado à Assembleia da República, tendo sido sucessivamente reeleito até 1991. Em 1979 entrou para a Comissão Nacional e Secretariado Nacional do PS.
Em 1987/88 preside ao grupo parlamentar aocialista, assumindo em 1986-87 a responsabilidade das Relações Internacionais.
A sua candidatura presidencial foi apresentada em 1995. Foi posteriormente apoiado pelo PS e foi eleito em 14 de Janeiro de 1996, à primeira volta.
O chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, prestou uma última homenagem ao antigo Presidente da República Jorge Sampaio, afirmando que “amou Portugal pela fragilidade” e “não pela força”, e que “nunca que quis ser herói, mas foi”. Marcelo Rebelo de Sousa falava no claustro do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, no final de uma sessão evocativa de homenagem a Jorge Sampaio.
“Amou Portugal pela fragilidade e tantas vezes na fragilidade. Mais do que isso, fez dessa fragilidade, sua, nossa, de todos nós, força: sua, nossa, de todos nós”, afirmou o chefe de Estado.
“Nunca quis ser herói, mais foi, em tantos e tantos dos seus lances de vida, heroico. Daquele heroísmo discreto, mais lírico do que épico, mais doce do que impulsivo. Firme, mas doce. E também por isso o recordamos com doçura. E lhe agradecemos o amor que nunca negou a Portugal, à sua maneira de amar Portugal”, acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa. No fim desta sessão evocativa, soou o hino nacional e de seguida, pelas 11:55, o cortejo fúnebre partiu dos Jerónimos em direção ao Cemitério do Alto de São João, em Lisboa.
Na sua intervenção, o Presidente da República começou por se referir ao lugar desta cerimónia, o Mosteiro dos Jerónimos, onde “se fizeram mais de 500 anos de história” de Portugal.
“Aqui, o que sentimos como nosso só o pode e deve ser por nos lembrar o universal. Aqui, amar o que somos é amar pessoas com nome, com isto, com biografia escrita pelos dramas de todos os dias. Aqui tem sentido evocar alguns dos nossos maiores e agradecer-lhes a vida que deram à nossa vida. Jorge Sampaio é um desses maiores”.
O primeiro-ministro afirmou que a República deve louvar-se por ter sido presidida por um cidadão como Jorge Sampaio, um exemplo de rigor ético, honradez e vigilante defensor da democracia, nunca cedendo à demagogia e ao populismo.
Num discurso em que se referiu à sua profunda ligação pessoal, profissional e política com o chefe de Estado de Portugal entre 1996 e 2006, António Costa caracterizou Jorge Sampaio como “um exemplo de rigor ético, de sobriedade e honradez pessoal, de simpatia e empatia humana, de proximidade às pessoas, sobretudo às mais desfavorecidas, excluídas ou esquecidas”. “Fazia isso com a autenticidade que punha em tudo e com a seriedade que nunca cedia à demagogia ou ao populismo. Nestes tempos de tantas tentações antidemocráticas, este património é fundamental. Mostra-nos como se pode ser um atento e vigilante defensor da democracia, não pactuando nunca com aquilo que a desvirtua ou desvaloriza, e fazendo tudo para denunciar e corrigir o que nela está mal, mas usando sempre esse combate e a denúncia dessas fraquezas para aperfeiçoar e reforçar a democracia - e nunca contra ela, para a depreciar ou desacreditar”, defendeu o primeiroministro de Portugal.