Raposos Sustentável: Prazer em Ajudar - Jornal E. Minas

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CONVERSA DE JOVEM NAS ONDAS DO RÁDIO Wendel de Souza integra grupo de jovens que debate, no rádio, temas de interesse da adolescência. PÁGINA 24 LEONARDO COSTA/EM/D.A PRESS

ELO DE APRENDIZAGEM

FOTOS: JUAREZ RODRIGUES/EM/D.A PRESS

Aléxia Carolaine frequenta a biblioteca de projeto desenvolvido em Raposos, na Grande BH, para estimular criação de cooperativas de ensino e artesanato

CONHECIMENTO QUE

VAI DE MÃO EM MÃO JUNIA OLIVEIRA

O encerramento de uma atividade responsável pela movimentação da economia e pela geração de emprego numa cidade não significa, nem de longe, o fim da linha. Esforço conjunto, criatividade e vontade de pôr a mão na massa são alguns dos ingredientes de uma receita infalível para fazer a roda financeira girar novamente. Moradores de Raposos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, aprenderam a lição. Depois da desativação da mina de ouro, em 1997, o município se viu à deriva, mas surge agora uma oportunidade que desafia a população a descobrir outras vocações e a tornar o lugar onde vivem sustentável nos próximos anos. A meta é ousada e leva em conta dois princípios fundamentais: solidariedade e o gosto pela leitura. “O município tinha uma dependência do nosso negócio e, depois do fechamento da mina, não houve muita saída. A economia sofreu impactos e, desde então, temos buscado alternativas para apoiar a cidade e

tentar encontrar outras vocações”, afirma a gerente de comunicação e comunidades da AngloGold Ashanti, Liliane Lana. Entre as atividades apoiadas pela empresa estão a implantação de cooperativas de artesãos e de fábricas de vassouras ecológicas, feitas com garrafas PET. “Em determinado momento, percebemos que não tínhamos que ditar o que é ruim ou bom para a cidade. Ela tinha de descobrir isso. Contratamos uma empresa que fez um diagnóstico socioeconômico e constatou que Raposos precisava repensar o futuro.” Ano passado, foi firmada parceria com o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), uma organização não governamental (ONG), fundada em 1984, em BH, com o objetivo de promover a educação popular e o desenvolvimento comunitário a partir da cultura. O trabalho começou em setembro do ano passado e continuará pelos próximos três anos. A primeira parte do projeto foi a identificação das pessoas na comunidade. Houve cinco semanas de oficinas, a partir das quais foram selecionados 11 agen-

tes comunitários de desenvolvimento – jovens da cidade responsáveis pela convocação dos demais moradores e pela coordenação de atividades, entre outras ações. Eles atuam considerando quatro dimensões: compromisso ambiental, mostrar ao cidadão que ele pode fazer algo, valores humanos e culturais e satisfação econômica. De acordo com a diretora administrativa do CPCD, Flávia Mota, nenhuma ideia é desperdiçada. “Não há uma lista de atividades previstas. Há objetivos centrais e tudo aquilo identificado pelos meninos como algo a se fazer é avaliado”, ressalta. Semana passada, o projeto ganhou uma sede, a Casa Verde, no Centro de Raposos. O imóvel abriga a biblioteca pública municipal, cujo acervo foi renovado, terminais de computador para pesquisa, sala de estudos e o banco do livro, que, em conjunto com o banco de solidariedade, forma a menina dos olhos da iniciativa, pois nesse projeto até mesmo o voluntário recebe algo em troca. Por meio do banco do livro, quem doa um exemplar ganha outro.

ECONOMIA SUSTENTÁVEL

Em troca de aulas de violão, jazz e espanhol, Mariana Néria, de 15 anos, vai ensinar aos colegas da cidade como fazer ponto de cruz

Fomentar atividades econômicas sustentáveis por meio da identificação das vocações também é o foco dos trabalhos do Instituto BioAtlântica (IBio), entidade dedicada à conservação e ao desenvolvimento da mata atlântica. O projeto Território Ribeirão do Boi foi criado para tentar mudar a realidade de uma das regiões mais degradas do estado e integrar as iniciativas de associação de moradores, órgãos governamentais e prefeituras de Bom Jesus do Galho, Caratinga, Entre Folhas e Vargem Alegre, no Vale do Rio Doce. O programa vai instalar sistemas produtivos e de restauração ambiental em 80 propriedades, com média de 30 hectares cada. Além disso, está previsto o aumento da disponibilidade e a melhoria da qualidade dos recursos hídricos na sub-bacia do Ribeirão do Boi e o uso de melhores práticas de manejo e produção adotadas pelas propriedades rurais, além da criação de uma cooperativa de produtores rurais. A proposta está em fase de capta-

ção de recursos, no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), segundo a coordenadora do projeto, Aline Tristão. O primeiro passo foi fazer um diagnóstico para identificar as ações do projeto. “É uma região muito interessante, pois está entre dois polos desenvolvidos. Um deles é a região de Ipatinga e Timóteo (ambas no Vale do Aço) e o outro é Caratinga, que é polo de agricultura, mas ficou meio esquecido”, diz. O assessor de meio ambiente da Usiminas (patrocinadora da iniciativa), Eduardo Figueiredo, conta que as tarefas têm o objetivo de repensar o sistema produtivo na região nos próximos cinco anos: “Os resultados passam por outras formas de se trabalhar a terra, embasadas na assistência técnica. O tipo de produção agropecuária é historicamente pouco rentável e, muitas vezes, feito de forma não alinhada à legislação ambiental. É um projeto ambicioso porque almeja levar alternativas econômicas de agropecuária mais sustentáveis”.

No ato do cadastro, a pessoa ou a instituição deve preencher uma ficha e indicar o que quer aprender, mas também o que pode ensinar. As amigas Diovana Elisa dos Santos, Mariana Néria Xavier e Aléxia Carolainne Vieira da Silva, todas de 15 anos, fizeram a inscrição no primeiro dia de funcionamento da casa, terça-feira passada. Elas querem fazer curso de espanhol, violão e jazz. Em troca, Diovana se dispôs a ensinar tricô com os dedos, maquiagem e a fazer enfeites de florzinha com fitas. Mariana vai dar aulas de ponto de cruz. Aléxia vai mostrar seu traquejo no hip hop e pôr à prova os dois anos de aulas de bordado.

OPORTUNIDADE “Em Raposos, não havia nenhuma entidade por meio da qual pudéssemos aprender e oferecer o que sabemos. É uma proposta interessante, porque a maioria dos jovens não quer estudar ou parou de ir à escola. É uma oportunidade de ficar aqui e não na rua”, afirmou Aléxia, que também aproveitou para trocar um livro. “Esta obra alerta os jovens

sobre várias questões da adolescência, como a sexualidade. Ganhei dois e vou dar um, pois achei muito interessante e espero que outras pessoas gostem também.” As atividades, como aulas de língua estrangeira, maquiagem, dança, rodas de contação de histórias e oficinas de brinquedo, ocorrem nos bairros e nas praças. “Queremos fazer desta casa um espaço permanente de transformação social, de encontro da comunidade e de troca de experiências”, relata Flávia Mota. Segundo a diretora, a ideia é que, com ou sem a presença da instituição, a população se organize e desenvolva o município. “Não pode ser apenas uma cidadedormitório, é preciso que as pessoas fiquem, valorizem, gostem dessa comunidade e tenham o que fazer aqui, além de desenvolver a capacidade de gerar renda”, destaca. CONFIRA NO JORNAL DA ALTEROSA 2ª EDIÇÃO REPORTAGEM SOBRE O PROJETO QUE MUDOU A VIDA DOS MORADORES DE RAPOSOS, NA GRANDE BH

ALINE TRISTÃO/IBIO/DIVULGAÇÃO

Pesquisadora faz diagnóstico de ações sociais no Ribeirão do Boi, no Vale do Rio Doce


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