Escrita Criativa

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Oficina de

Escrita Criativa Biblioescrita

Formador Jo茫o Pedro Aido Cust贸dia Rebocho Fernanda Bucho Ilda Neves Isabel Tavares

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Oficina de Escrita – Acção de Formação

Índice Introdução…………………………………………………………………………………. 3

Objectivos………………………………………………………………………………….. 4

Estratégias/Metodologias…………………………………………………………… 5

Oficina de Escrita Criativa……………….................................... 6 A) Escrita Criativa na Biblioteca Escolar………………………………. 6 B) Escrita Criativa Online……………………………………….……………. 16

Concurso – “E tu, és capaz de escrever...?”…………….……………. 18

Avaliação……………………………………………………………………………………. 18

Anexos……………………………………………………………………………………….. 19

Bibliografia ……………………………………………………………………………….. 57

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Biblioescrita

«Não se esqueçam de escrever por dentro do peito: nós nascemos para ter asas.» José Fanha

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Introdução

A escola de ontem e a de hoje raramente favorecem o desabrochar do pensamento divergente, antes sim o pensamento convergente que alimenta a repetição, os caminhos já percorridos, o saber já feito. No entanto, hoje, sabemos ser fundamental a todos os campos da actividade humana a busca de novos caminhos, de novas formas de questionar, porque são, sobretudo, estes que possibilitam encontrar novas respostas. As neurociências ensinam-nos que esta abertura implica ter em conta o papel fulcral da sensibilidade e da emoção. Uma e outra estão ainda muito arredadas da escola e tão pouco são valorizadas por esta. Não pomos em causa o pensamento convergente, afirmamos sim que é necessário criar espaços onde a criatividade se exerça, se revele, se desvele, se encaminhe. Ambos os tipos de pensamento devem ter lugar na escola de hoje, sob pena da ousadia, do prazer encontrado na busca do desconhecido ficarem comprometidos, numa altura em que, fora da escola, é isso mesmo que se procura. Mesmo sabendo que a criatividade é uma competência complexa, não devemos abdicar de pretender desenvolvê-la, crendo que, através da

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escrita criativa, uma das suas formas de exercício, poderemos despertar outros campos ligados à capacidade de criar. E, se se tornar um hábito, uma necessidade, quem nos diz que não extravasará para outros campos do agir daqueles que o experimentarem? Através da escrita criativa esperamos estar a despertar a alegria de pensar diferente, de encontrar novas ideias, de ir ao encontro do inesperado. Partimos da noção de que a imaginação individual é a matéria-prima da ficção e que, por isso, deve ser libertada, encorajada e exercitada. Assim, a nossa aposta assenta na espontaneidade e na criatividade, revestindo-se, ainda, da vertente lúdica.

Objectivos

 Criar laços com a Biblioteca Escolar;  Incrementar os vínculos afectivos e identitários com a Língua Portuguesa;  Alargar a capacidade de atenção/concentração através da audição de textos (escritos, orais, audiovisuais);  Desenvolver e valorizar a criatividade como base fundamental das aprendizagens;  Estimular o gosto pela leitura e pela escrita;  Despertar a sensibilidade para a escrita criativa, fomentando a sensibilidade literária;  Desatar os nós da inibição perante a escrita, através do estímulo da auto-confiança e da autonomia;

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 Valorizar as opiniões dissemelhantes, promovendo o respeito pela diferença.

Estratégias/Metodologia

O projecto Biblioescrita assenta numa metodologia activa e aposta em estratégias motivadoras e desencadeadoras da criatividade. Assim, partindo de um conjunto de actividades diversificadas e criadas a pensar no público-alvo, os alunos serão desafiados a produzirem textos (curtos ou longos), maioritariamente numa perspectiva lúdica. Nesta primeira fase do projecto, interessa mais a espontaneidade e autenticidade dos textos, do que a qualidade literária dos mesmos. Finalmente, pretende-se em cada sessão transmitir a ideia de que um texto nunca está acabado e que é sempre possível transformá-lo, melhorá-lo.

ACTIVIDADES

1. Encontro com um escritor Como motivação para a leitura e para a escrita, prevê-se a vinda de um escritor por período, que virá conversar sobre o processo criativo e responder a questões do interesse dos alunos. Assim, para o 1º período (2010/2011) está já confirmada a presença do escritor Xico Braga que virá apresentar o livro de contos “Estórias de um avô”. Para o 2º e 3º períodos (2010/2011), estão convidados os escritores

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António Torrado e Mário de Carvalho. A actividade será aberta a toda a comunidade escolar e desenvolvida em parceria com os professores de Língua Portuguesa e/ou Oficina de Escrita e Leitura e professores do curso de Artes. A Biblioteca Escolar fará a divulgação de um conto de cada um dos autores convidados, através da Página da Escola, placards e/ou outros, com ilustrações feitas pelos alunos do curso de Artes.

2. Oficina de Escrita Criativa

A) Escrita Criativa na Biblioteca Escolar B) Escrever ao Desafio - Online

A) Esta actividade é especialmente direccionada a alunos do 3º ciclo e decorrerá num dos espaços pertencentes à Biblioteca. A dinamização das 8 sessões, uma por mês, será da responsabilidade das proponentes do projecto. No entanto, pretende-se um trabalho de parceria com o professor de Língua Portuguesa e /ou Oficina de Escrita e Leitura, uma vez que os alunos poderão, por vezes, prosseguir e concluir a produção dos trabalhos iniciados na Oficina de Escrita Criativa na sala de aula com o seu professor. No final das 8 sessões, o material produzido pelos alunos envolvidos na Oficina de Escrita Criativa será compilado em forma de livro e irá enriquecer a Biblioteca Escolar. B) Esta actividade de Oficina de Escrita Criativa terá também uma componente online - Escrever ao Desafio – Online -, com especificações diferentes e um público bastante mais abrangente e heterogéneo – toda a comunidade escolar e a envolvente.

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Através da página da Biblioteca Escolar, lançar-se-á um desafio mensal («Escrever ao Desafio»), com um mote/tema que os participantes deverão desenvolver. Esta actividade pretende alargar o prazer da escrita e da leitura a todos quantos consultem a página da ESA/BE e queiram participar no desafio. A criatividade constitui um pressuposto, daí que a escrita seja sempre livre. Os participantes deverão elaborar um texto – de qualquer tipologia – no qual abordem os temas propostos, seguindo a sua imaginação. As diversas produções serão, posteriormente, divulgadas na página da escola, através da Biblioteca Escolar, após apreciação dos responsáveis.

A) Escrita Criativa na Biblioteca Escolar

1ª Sessão

Escrita do Nonsense Porquês vulgares/respostas fantásticas

Os alunos formulam perguntas banais, do quotidiano e procuram encontrar a resposta mais criativa. Exemplo: “Porque é que a lua tem fases?”; “Porque é neurótica!” “Porque é que o céu é azul?”; “Porque o pintor não tinha outra cor!»

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e/ou

Zoo(i)lógico

Construir um animal ilógico através da colaboração de três elementos. Cada um desenhará uma das três partes de um animal escolhido por si, mas desconhecendo o trabalho dos outros. Deve fazer-se na mesma folha, que se irá, à vez, dobrando até três. Assim, na parte de cima, um elemento do grupo desenhará a cabeça, marcando pontos de ligação para o elemento seguinte. Dobra a folha e passa-a; o segundo elemento continua a partir da referência dada, marcando também os pontos de ligação para a última parte. O terceiro elemento terminará o desenho. Finalmente, desdobrar a folha, atribuir um nome ao animal que surgir e… a) Imaginar a história da sua origem; b) Fazer a sua descrição pormenorizada; c) Elaborar a sua ficha «científica».

e/ou

Definições (im)próprias

Criar uma espécie de dicionário, formulando definições poéticas ou humorísticas de objectos familiares – o pé, a cabeça, o telemóvel, o computador, animais, frutos… - procurando surpreender, ironizar, brincar, comover… Exemplo: “o pé – um género de roda se o nosso corpo fosse um

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carro.”

2ª Sessão

Palavras e encadeamentos Palavra puxa palavra

Escrever uma frase ou expressão. Continuar a escrever iniciando cada linha com a última palavra da linha anterior, até se dar o texto por terminado. Exemplo: “O senhor é parvo Parvo é o senhor Senhor dos Passos Paços do Concelho…”

e/ou

Escrita projectiva Metamorfoses

Tendo como base o conto “O computador arrependido” (Anexo 1) de Xico Braga, os alunos são desafiados a escrever um texto imaginando o que fariam se tivessem a capacidade de se transformar em algum objecto, ou animal.

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e/ou

Criar um texto imaginando o que aconteceria se o seu PC ou o telemóvel ganhassem vida própria e começassem a fazer umas patifarias…

3ª Sessão Textos multiplicados/Modelos e subversões

Ler a história “O Fato Azul”, de António Torrado (Anexo 2) a que se retirou o desfecho. Criar/imaginar um final a partir de “Que fazer?”. Confrontar o final das histórias inventadas com o da história original.

e/ou

O Fato Azul encontra-se encerrado no armário e sente-se muito só. Entretanto, lembra-se da história da carochinha e pensa: “Eu devia era casar!” Imaginar um diálogo entre o Fato Azul e as outras peças de vestuário que se encontram no armário.

e/ou

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Anúncio de si próprio

VENDE-SE

Fato Azul escuro, em muito bom estado, desejoso de encontrar alguém que o vista.

À semelhança deste anúncio do Fato Azul, imaginar e escrever um anúncio, descrevendo-se e/ou tentando vender-se como o melhor colega, aluno, irmão, namorado...

4ª Sessão

Textos Multiplicados Episódio de “O meu nome é Earl”

Tendo como suporte o audiovisual, e após o visionamento do 5º episódio da série humorística “O meu nome é Earl” (cf. anexo 3 – formato digital), construir um novo episódio a partir do modelo apresentado. Assim, numa primeira etapa, o aluno deverá imaginar uma patifaria que Earl tenha cometido aos 13 anos para constar na sua lista de más acções.

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Seguidamente, deverá imaginar uma forma de repará-la (com muito humor) que lhe permita redimir-se. O texto deverá ser narrativo, contado na 1ª pessoa. No final da sessão os textos serão lidos pelos autores.

Nota: tendo em conta o tempo dispendido no visionamento do episódio e do tempo necessário para a escrita do texto, não se sugere outra actividade.

5ª Sessão

Textos Multiplicados Inventário(s) - «Limpa palavras»

Leitura do poema “O Limpa palavras” (Anexo 4) de Álvaro Magalhães como introdução à actividade. Numa primeira fase, os alunos começam por fazer uma lista de palavras de que não gostam e sem as quais o mundo ficaria melhor. Seguidamente, são convidados a construir um poema utilizando essas mesmas palavras. Exemplo: "Quero limpar do dicionário a palavra ódio" "Limpo a palavra guerra"

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Poema no bolso

A primeira etapa será fornecer a cada aluno um envelope onde foi colocado um poema (Anexo 5). Por fora, no envelope, está escrito o 1º verso de cada poema escolhido. A seguir, pede-se aos alunos que, a partir do 1º verso, construam um poema. No final, confrontam-se os poemas escritos pelos alunos com os originais.

e/ou

Escrita sensorial Escrevendo imagens

Apresentar uma imagem plurissignificativa (Anexo 6) e solicitar ao aluno que escreva um breve poema a partir das sensações que ela provoca.

6ª Sessão

Textos Multiplicados Conto para expandir A partir da leitura do conto “O Gato Boi” (Anexo 7) de José Eduardo

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Agualusa, imaginar a sequência da história.

e/ou

Escrita projectiva

Elaborar uma carta (Anexo 8) escrita pelo gato Felini à sua amada Graciosa, na qual tenta convencê-la a aceitá-lo.

7ª Sessão

Pré-histórias Conto

A partir da sinopse (Anexo 9) «A véspera do peru» construir um conto.

Nota: Será fornecido um quadro explicativo (Anexo 10) relativo à técnica de elaboração do conto.

e/ou

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Mapa de histórias

A partir da situação fornecida e de três hipóteses de acontecimentos/acções possíveis, escolher, para cada um deles, uma sequência possível. A seguir, e – utilizando o mapa de histórias previamente fornecido (Anexo11) – conduzir a personagem principal de encruzilhada em encruzilhada, a partir dos caminhos propostos. Redigir a história.

8ª sessão

Modelos e Subversões A história feita notícia

A partir do conto “O Tombo da Lua” (Anexo 12) de Mário de Carvalho, construir uma notícia com base neste acontecimento fantástico. Dever-se-á ter em conta as perguntas subjacentes à elaboração da mesma: Quem, o quê, quando, onde, como e porquê?

e/ou

Entrevista imaginária

Escolher uma personagem do mesmo conto, “O Tombo da Lua” (Anexo 13) e entrevistá-la, colocando-lhe uma série de perguntas sobre aquele estranho acontecimento ou outros que ali possam ter ocorrido.

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As respostas do entrevistado serão também imaginadas, mas apropriadas à questão colocada. Serão respostas fantásticas/extraordinárias, de acordo com as respectivas perguntas, dando asas à imaginação.

B)Escrever ao Desafio - Online

1º Desafio

«A Super Mosca»

2º Desafio

«Sou um aspirador»

3º Desafio

«Um livro de contos tradicionais infantis caiu da estante e as personagens misturaram-se criando novas histórias...»

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4º Desafio

«Eu quero, posso e mando»

5º Desafio

«Dá-me um beijo»

6º Desafio

«O número 13»

7º Desafio

«Se eu fosse uma palavra»

8º Desafio

«A galinha da minha vizinha»

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3. Concurso - “E tu, és capaz de escrever…?”

Visando estimular a concursos literários poema?”,sendo a responsabilidade da

criação de contos e poesias, promover-se-ão dois - “ E tu, és capaz de escrever um conto/ um elaboração do regulamento (Anexo 14) da Biblioteca Escolar.

Deste modo, em Novembro/Dezembro (2010/2011) será lançado aos alunos o desafio de criarem um conto. Em Março/Abril (2010/2011), o desafio visa a criação de poemas. Os prémios a atribuir serão cheques FNAC.

Avaliação

A avaliação do projecto Biblioescrita será feita, essencialmente, através do feedback dos alunos e professores no terreno. No final das sessões, será fundamental saber quais as suas principais dificuldades no desenvolvimento das actividades e o nível de satisfação durante a realização das mesmas, para no futuro podermos potencializar a nossa acção, reformulando, se necessário, as ferramentas de trabalho (Anexo 15).

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Anexos

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Anexo 1

O computador arrependido Tem uma mensagem! Tem uma mensagem! Tem uma mensagem! Por três vezes esse ícone me apareceu no ecrã. Três vezes verifiquei que eu não estava ligado à Internet. Como podia eu ter o aviso de mensagem? Devo

confessar

que

nada

percebo

de

informática. Uso o computador para escrever as minhas estórias e os meus poemas, a Internet para consultas rápidas e para receber e enviar as mensagens electrónicas para os meus amigos, e é tudo. Por isso encolhi os ombros, desliguei o computador e fui tratar do comer dos meus dois companheiros caninos que há muito me diziam com a sua inquietação: “anda lá que está na hora do manjar”. Depois do meu jantar, como é costume, voltei a sentar-me em frente ao computador para escrever dois versos que a minha inspiração me ditou quando eu comia a sopa e que eram estes: “vai, percorre as veredas dos sonhos / vai, eu estarei onde te leva o coração.” Depois hei-de construir um poema que vos mostrarei, se for do vosso interesse. Imediatamente, quando o monitor se acendeu, começou a piscar “tem uma mensagem”. Resolvi clicar na coisa e, para grande surpresa minha, apareceu um texto enorme que começava assim: “Caro amigo escritor de contos, poemas, crónicas e cartas para o banco e para a empresa da electricidade, estou a escrever-lhe esta mensagem para lhe pedir muita desculpa por lhe ter apagado uma

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parte do meu disco onde você guardava os seus textos...” Aqui comecei a tremer e a pensar: - Será que perdi o meu trabalho? Que terá acontecido? Este computador está louco? Continuei a ler e, ao fim de muitas páginas, lá estava: “... o que lhe aconselho é que formate este disco e me esqueça, não fiz por mal, mas não consigo gostar do que você escreve, desculpe, estou muito arrependido ponto final”. Devo ter ficado meia hora a olhar para o monitor, sem reacção. O meu computador não gosta nem das minhas histórias, nem dos meus poemas. E se os meus jovens leitores também não gostarem do que invento? Naquele dia comecei a juntar dinheiro para comprar um novo computador e voltei a escrever à mão num caderno com muitas linhas e muitas páginas, porque eu quero escrever muitos versos e muitas histórias novas. Eu perdoei ao computador, mesmo pensando que ele foi muito injusto. Xico Braga, Estórias de um Avô

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Anexo 2 O Fato Azul Era uma vez um fato que gostava muito de ir à rua, mas o dono não lhe fazia a vontade. Tratava-se de um Fato Azul escuro, mais ou menos de cerimónia e com muito pouco uso. O dono comprara-o para um casamento e, afora uma ou outra ocasião mais solene, nunca o tirava do guarda-vestidos ou do guarda-fato, ainda estou para saber ao certo como é que se diz. Um dia, um amigo pediu-lho para uma solenidade qualquer, banquete em embaixada ou coisa assim. Estava um bocadinho fora de moda, mas no meio de outros fatos, igualmente azuis escuros, ninguém ia reparar. Lá foi o fatinho todo contente apanhar ar. Pena que não houvesse mais oportunidades semelhantes, mas para o fato, que gostava do laréu,

aquele

sarau

mundano

era

uma

distracção.

Logo por azar, pespegou-se uma grande nódoa no fato, das renitentes, das pertinazes, que nem com benzina saem. O pesaroso amigo do dono do fato bem o levou à lavandaria (ao fato e não ao amigo, já se vê), mas a nódoa estava para durar e era de uma tão alastrada evidência que inutilizava o fato para todo o sempre. Que fazer?

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Nota: Continuação do conto a revelar, no final da sessão (3ª), aos alunos, para que possam confrontar a sua proposta de escrita com a do original. [Comprar um fato igual, era o mais recomendável. Mas onde arranjálo da mesma fazenda e com o mesmo corte? O amigo do dono do fato, muito comprometido, foi retardando a devolução, a ponto de o deixar esquecido noutro guarda-vestidos (ou guarda-fato?), até ver. Passado muito tempo, o dono do fato precisou dele, lembrou-se de que o tinha emprestado e pediu-o de volta. Embaraçado, o amigo teve de confessar tudo. Uma tão longa amizade não podia ficar manchada por uma nódoa. Os dois amigos combinaram comprar um fato a meias, que servisse para as ocasiões solenes a que um ou outro tivesse de ir por obrigação social, e decidiram desfazer-se do velho Fato Azul escuro. Deixado intacto à beira de um contentor do lixo, o primeiro vagabundo que o viu levou-o. Serviu-lhe às mil maravilhas. Os fatos, quando

dados,

costumam

quase

sempre

cair

muito

bem.

O fato, agora, anda nas suas setes quintas, maneira de dizer que está feliz da vida. Passeia habitualmente à noite, mas vai conhecendo a cidade de lés a lés. A nódoa, a mais antiga, já que outras, entretanto, se lhe juntaram, diz para o fato:

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- Vês? Se não fosse eu, não tinhas esta sorte! Dando-lhe razão, o fato agradece. E agradece o vagabundo, que tem roupa para durar. E agradecem os dois amigos, que ganharam um fato novo. E agradeço eu, que assim acabei esta história.] António Torrado in História do Dia

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Anexo 3 (formato digital)

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Anexo 4

O Limpa Palavras

Limpo palavras. Recolho-as à noite, por todo o lado: a palavra bosque, a palavra casa, a palavra flor. Trato delas durante o dia. enquanto sonho acordado. A palavra solidão faz-me companhia.

Quase todas as palavras precisam de ser limpas e acariciadas: a palavra céu, a palavra nuvem, a palavra mar. Algumas têm de ser lavadas, é preciso raspar-lhes a sujidade dos dias e do mau uso. Muitas chegam doentes, outras simplesmente gastas, estafadas, dobradas pelo peso das coisas que trazem à s costas.

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A palavra pedra pesa como uma pedra. A palavra rosa espalha o perfume no ar. A palavra árvore tem folhas, ramos altos. Podes descansar à sombra dela. A palavra gato espeta as unhas no tapete. A palavra pássaro abre as asas para voar. A palavra coração não pára de bater. Ouve-se a palavra canção. A palavra vento levanta os papéis no ar. e é preciso fechá-la na arrecadação.

No fim de tudo voltam os olhos para a luz e vão para longe, leves palavras voadoras sem nada que as prenda à terra, outra vez nascidas pela minha mão: a palavra estrela, a palavra ilha, a palavra pão.

A palavra obrigado agradece-me. As outras, não. A palavra adeus despede-se. As outras já lá vão, belas palavras lisas e lavadas como seixos do rio: a palavra ciúme, a palavra raiva, a palavra frio.

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Vão à procura de quem as queira dizer, de mais palavras e de novos sentidos. Basta estenderes um braço para apanhares a palavra barco ou a palavra amor.

Limpo palavras. A palavra búzio, a palavra lua, a palavra palavra. Recolho-as à noite, trato delas durante o dia. A palavra fogão cozinha o meu jantar. A palavra brisa refresca-me. A palavra solidão faz-me companhia.

Álvaro Magalhães

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Anexo 5 a)Soneto à Lua Por que tens, por que tens olhos escuros E mãos lânguidas, loucas e sem fim Quem és, quem és tu, não eu, e estás em mim Impuro, como o bem que está nos puros? Que paixão fez-te os lábios tão maduros Num rosto como o teu criança assim Quem te criou tão boa para o ruim E tão fatal para os meus versos duros? Fugaz, com que direito tens-me presa A alma que por ti soluça nua E não és Tatiana e nem Teresa: E és tampouco a mulher que anda na rua Vagabunda, patética, indefesa Ó minha branca e pequenina lua! Vinicius de Morais (Brasil)

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b)Lua Adversa Tenho fases, como a lua Fases de andar escondida, fases de vir para a rua... Perdição da minha vida! Perdição da vida minha! Tenho fases de ser tua, tenho outras de ser sozinha. Fases que vão e vêm, no secreto calendário que um astrólogo arbitrário inventou para meu uso. E roda a melancolias eu interminável fuso! Não me encontro com ninguém (tenho fases como a lua...) No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua... E, quando chega esse dia, o outro desapareceu... Cecília Meireles (Brasil)

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c) Estudar Ler um livro é muito importante, Às vezes urgente. Mas os livros não são o bastante Para a gente ser gente. É preciso aprender a escrever, Mas também a viver! Mas também a sonhar! É preciso aprender a crescer, aprender a estudar. Aprender a crescer quer dizer aprender a ESTUDAR, a conhecer os outros A ajudar, a viver com os outros Aprende sempre a viver bem consigo mesmo. Não merecer um castigo É ESTUDAR Estar contente consigo É ESTUDAR Aprender a terra Aprender o trigo E ter um amigo Também é estudar. Estudar também é repartir também é saber dar o que a gente souber dividir para multiplicar.

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Estudar é escrever um ditado sem ninguém nos ditar. E se um erro nos for apontado, é sabê-lo emendar. É preciso em vez de um tinteiro ter uma cabeça que saiba pensar, pois na escola da vida, primeiro está saber estudar. Contar todas as papoilas de um trigal, é a mais linda conta de somar que se pode fazer. Dizer apenas música quando se ouve um pássaro pode ser a mais bela redacção do mundo! José Carlos Ary dos Santos

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d) Naquela Pastelaria Naquela pastelaria Já não sei como falar; Pedi ao moço um cachorro, Deram-me um cão a ladrar. Naquela pastelaria Irritei-me, dei um berro: Pedi um prego no pão, Deram-me um prego de ferro. Naquela pastelaria Quis um garoto beber: Puseram um rapazinho Num copo para aquecer. Naquela pastelaria Quando a conta fui pagar, Vejam lá o que me trouxeram Uma conta de colar! Luísa Ducla Soares

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e) Andam Tristes os Bichos da Terra Andam tristes os bichos da Terra Por verem crescer cidades sem sol Sobre as pedras esquecidas Perdidas no tempo com tudo por contar. «Vamos salvar o que resta das pedras!» Dizem os bichos da Terra, sentados Em círculo à volta do fogo e eu oiço-os Falar e oiço-os sonhar e dou-lhes razão, Razão que sobra para os ajudar. Depois da água e da pedra, digo fogo E fico a tremer, não de frio, mas de medo, Com medo de ver a floresta ardida, a casa Queimada, o cereal em cinza, o pão Por fazer. Oiço sirenes, gritos na noite E volto a tremer com medo do fogo, da chama Que chama mais fogo, mais fogo. Chega a água E apaga o lume. Saltam da toca os bichos da Terra E fazem uma roda contentes por verem A seiva a correr, a floresta de novo A cantar com árvores velhas, sábias e firmes Dançando belas canções de embalar. Cai uma lágrima do rosto da Lua E é branca e limpa como um floco de neve. José Jorge Letria

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f) Cortaram Uma Árvore Cortaram uma árvore E a terra chorou Cortaram outra árvore E a terra chorou E tantas árvores mais... E a terra chorou Chorar tanto também cansa Quem pode enxugar as lágrimas Da terra cansada? Nem as mãos de uma criança... Matilde Rosa Araújo

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g) No Rio Que Passa No rio que passa perto de mim Queixa-se, azul, um peixe pequeno. Diz: É o óleo que mata cardumes, cavalos-marinhos, Que suja os corais, as algas, as praias. Falas iguais têm outros peixes, pequenos e grandes. Azuis ou vermelhos. Sofrem a mesma dor; Uma dor de água turva que faz arder Os olhos e deixa nas guelras Um gosto amargo que sabe a doença. Tens razão pequeno peixe azul Da profundeza do mar. José Jorge Letria

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h) Quando eu nasci Quando eu nasci Quando eu nasci, Ficou tudo como estava Nem homens cortaram veias, Nem o Sol escureceu, Nem houve estrelas a mais... Somente, Esquecida das dores, A minha mãe sorriu e agradeceu. Quando eu nasci, Não houve nada de novo Senão eu. As nuvens não se espantaram, Não enlouqueceu ninguém, Bastava Toda a ternura que olhava nos olhos da Minha Mãe... Sebastião da Gama

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i) Quem a Tem…

Não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade. Eu não posso senão ser desta terra em que nasci. Embora ao mundo pertença e sempre a verdade vença, qual será ser livre aqui, não hei-de morrer sem saber. Trocaram tudo em maldade, é quase um crime viver. Mas embora escondam tudo e me queiram cego e mudo não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade.

Jorge de Sena

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j) Tudo ao contrário

O menino do contra queria tudo ao contrário: deitava os fatos na cama e dormia no armário. Das cascas dos ovos Fazia uma omelete; para tomar banho usava a retrete. Andava, corria de pernas para o ar; se estava contente punha-se a chorar. Molhava-se ao sol, secava na chuva e em cada pé usava luva. Escrevia no lápis Com um papel; Achava salgado o sabor do mel. No dia de anos teve dois presentes;

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um pente com velas e um bolo com dentes.

Luísa Ducla Soares

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Anexo 6 – escrita sensorial

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Anexo 7 O Gato Boi Quero que conheçam este gato. Chama-se Felini e, acreditem, não se parece com nenhum outro. Falo-vos de um gato, digamos assim, muito ambicioso. Felini era ainda adolescente, mal se viam os bigodes, quando se apaixonou. Coisa séria. Muito séria. Deixou de comer, deixou de lamber o pêlo, e passou a andar pelos telhados como um vagabundo – sujo, magro, desgrenhado -, gemendo tristemente o seu amor. A mãe ficou preocupada: - Meu filho- perguntou-lhe-, quem é essa gata? Gata? Felini olhou-a desesperado. Não, não era uma gata. Era uma

vaca!

pastava

os

Graciosa, seus

dias,

a

vaca, isto

é,

passava os seus dias, no terreiro em frente à aldeia, com as outras vacas. A mãe de Felini riu-se, pasmada, e foi contar às amigas: o seu filho – o pobrezinho! – estava apaixonado por uma vaca. A

novidade

vizinhança.

espalhou-se Os

gatos

pela

grandes

davam-lhe palmadas nas costas: “ Tens mais boca que barriga”, diziam. Os colegas troçavam dele. O pior, porém não era isso. O pior, para Felini, aquilo que realmente o incomodava era a indiferença de Graciosa. Felini sentava-se à noite em frente do estábulo onde dormia Graciosa e compunha canções para a lua, canções tristíssimas, que falavam dos olhos mansos do seu amor, e do seu pêlo macio, e do

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seu caminhar pelo pasto húmido ao amanhecer. Graciosa nem olhava para ele. A mãe de Felini, cada vez mais preocupada com tamanha persistência, foi procurá-lo: -Meu filho - explicou-lhe -, como queres que uma vaca se interesse por ti? As vacas gostam de animais grandes, como elas, de bois. Os gatos gostam de gatas. Era esse o problema? Então – decidiu Felini -, então seria um boi. A partir desse dia começou a pastar, como as vacas, e com tal apetite que cresceu, e cresceu, e cresceu, até alcançar o tamanho de um boi. Só nessa altura voltou a

procurar

Graciosa.

A

vaquinha porém, olhou-o com susto: -Meu Deus, um Gato Boi! O grito dela atraiu os outros

animais.

Todos

o

olhavam com horror. Os gatos já

não

o

aceitavam

ele

deixara de ser um gato. As vacas fugiam ao vê-lo. Felini, tristíssimo, decidiu então partir para outro país. O mundo era imenso. Em algum lado encontraria quem o aceitasse sem estranheza.

José Eduardo Agualusa, Estranhões & Bizarrocos

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Anexo 8

Como Escrever Uma Carta Informal

1. Cabeçalho Lisboa, 7 de Maio de 2008 2. Abertura Caro(a) amigo(a): / Caro(a) amigo(a), (menos informal) Caro Jorge: / Caro Jorge, (menos informal) Jorge: / Jorge, Jorge e Mariana: / Jorge e Mariana, Olá, Jorge! / Olá, Jorge, (familiar) Querida mãe, Querido Jorge: / Querido Jorge, (muito íntimo) Querido(a) amigo(a): / Querido(a) amigo(a), (muito íntimo) 3. Corpo 4. Fecho Saudações de amizade, / Saudações cordiais / Com amizade, (relativamente formal) Um abraço, (informal) Um grande / forte abraço, Um beijinho, / Um beijo, / Muitos beijos, / Muitos beijinhos, (familiar) Muitas saudades,

(Assinatura)

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Anexo 9

Conto Sinopse: «A véspera do peru» Natal a chegar. A casa enfeitada do chão ao tecto. O frigorífico tão cheio que mal se consegue fechar. Uma grande lista de prendas pedidas ao Pai Natal. Alegria em toda a gente. Na capoeira há tristeza. O peru sabe que está quase a véspera de Natal que será o seu último dia de vida. As outras aves tentam arranjar maneira de o salvar. O pato propõe que ele treine dizer “glá-glá” em vez de “glu-glu”, para os donos pensarem que sofre de gripe das aves e não o matem. Mas o galo previne que, assim, matarão a capoeira toda, por causa do contágio. E se fosse a gripe suína?.. Não dá nas aves. A galinha “Loura” lembra que a dona tem pena de que nunca nenhuma das galinhas se disponha a chocar ovos. Se todas juntassem os seus ovos e o peru se pusesse a cobri-los para os chocar, talvez fosse poupado. O peru aceita, cheio de vergonha. Ele, peru, e macho, a chocar ovos de galinha! Mas antes tal vergonha que a morte. Biblioescrita

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Anexo 10

Estrutura do Conto

Momentos

Introdução

Acontecimentos

A história é situada num espaço e num tempo e são apresentadas as personagens. Surge um «problema» que vai desafiar o(s) herói(s) da história.

Desenvolvimento

O(s) herói(s) ultrapassa(m) vários desafios/peripécias que podem, eventualmente, envolver seres fantásticos. O(s) herói(s) enfrenta(m) o desafio mais importante de todos (ponto culminante da história).

Conclusão

O «problema» deixa de existir.

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Anexo 11

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Anexo 12

O Tombo da Lua Uma ocasião, quando desapareceu a Lua, eu estava lá e sei contar tudo. Não me lembro da idade que então tinha e já na altura me não lembrava. Certo é que a noite estava muito quente e repassada de azul, assim de tinta soé dizer-se e a Lua tinha-se quieta, redonda e branca, brilhante como lhe competia. Provavelmente o Zé Metade cantava o fado, postado à soleira da porta, enquanto acabava um saquitel de tremoços. O Zé Metade é assim chamado desde que lhe aconteceu uma infelicidade: quis separar o Manecas Canteiro do Mota Cavaleiro quando eles se envolveram à facada na Esquina dos Eléctricos,

por

causa

de

uma

questão,

segundo uns política, segundo outros de saias.

Ambos

usavam

grandes

navalhas

sevilhanas e o Zé caiu-lhes mesmo a meio dos volteios. Ali ficou cortado em dois, sem conserto, busto para um lado, o resto para outro. Daí para diante ficou conhecido por Zé Metade, arrasta-se num caixote de madeira com rodinhas e deu-lhe para cantar todas as noites um fado melancólico e muito sentido: Ai a profunda desgraça / Em que me viste ó `nha mãiiii… Pois foi nesta altura, com tudo assim quieto e a fazer olho para dormir, que o Andrade da Mula se chegou à janela e disse: “Lá a calari…” e depois remirou em volta a ver se alguém lhe ligava, o que não aconteceu. Após olhou para o Céu e bocejou um destes bocejos do tamanho duma casa, escancarando muito a bocarra que era considerada uma

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das mais competitivas da zona oriental. E então aconteceu aquilo da Lua. Deslocou-se um bocadinho assim como quem se desequilibrou, entrou a descer devagar, ressaltou numa ponta de nuvem que por ali pairava feita parva, e foi enfiar-se inteirinha na boca do Andrade que só fez “gulp” e esbugalhou os olhos muito. No sítio da Lua, lá no astro, ficou um vinco esbranquiçado como dobra em papel de seda que logo se apagou e o céu tornou-se bem liso e escorreito. O Beco ficou um tudo nada mais escuro e um gato passou a correr, pardo, da cor dos outros. Diz o Zé Metade, no fim duma estrofe: “Ina cum caraças!” Vai o Andrade lá de cima e atira o maior arroto que jamais se ouviu naquele Beco. Era o Zé Metade a berrar para dentro: “`nha mãe, venha cá, senhora, co Andrade engoliu a Lua!” e o Andrade a olhar para nós, limpando a boca com as costas da mão, um ar azamboado. Seguiu-se o alvoroço costumeiro sempre que havia novidade. Ia um corrupio de pessoal na rua a falar alto e um ror de gente em casa do Andrade que estava sentado numa cadeira, pernas muito afastadas, pedindo muita água e queixando-se de que sentia a barriga um bocado pesada. Ele não teve culpa, tadinho, que ela é que se lhe veio enfiar pela boca dentro comentava a mulher do Andrade, torcendo a ponta do avental. Mas se foi ele que a desafiou gritava a mãe do Zé dando punhadas de uma mão na palma da outra mão.

Pôr-se ali na janela aos

bocejos, olha a farronca! Agora vem esta a querer baralhar género humano com Manuel Germano. O meu Zé viu tudo, óvistes? Não tardou, estava o presidente da Junta, muito hirto, no seu casaco de pijama com flores:

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Isto o meu amigo o que fazia melhor era regurgitar a Lua, ou o Beco ainda fica mal visto observou com gravidade e voz de papo. E o Andrade, moita, ali embasbacado, com os olhos no vago. Deram-lhe azeite para o homem vomitar, mas nada. Limitou-se a produzir uns sons equívocos e a esboçar um ar de enjoada repugnância. O pior é que se ela sai pelo outro lado nos parte a sanita nova abespinhava-se a filha do Andrade, toda de mão na anca. Que coisa mais escanifobética… É levarem-no já para o hospital gritava o Zé Metade da rua, ansioso por se ver acompanhado na sua desgraça de vítima do escalpelo cirúrgico. Mas o presidente da Junta considerou: Então e depois a Lua onde é que a punham? Quem lhes garantia que ela voltava ao sítio? E se os médicos quisessem ficar com ela lá no hospital e a prantassem dentro dum frasco com álcool? Que é que aquela gente ganhava com isso? Hã? E em faltando a Lua, quais eram os inconvenientes? Hã? Acabam-se as marés disse o Paulino Marujo. Coisa de pouca monta afirmou uma mulher. As marés nunca deram de comer a ninguém. E quanto à luz, depois da electricidade… Então como é que o amigo se sente? Perguntou o presidente ao Andrade. Menos mal, muito obrigado. Vai um pedacinho melhor… Então é melhor ficarmos assim recomendou o Presidente. Vossemecê agora toma um bicarbonatozinho, um leitinho, e ala para a cama que amanhã é dia de trabalho. E vocês todos, andor, para casa, em ordem e não se pensa mais em tal semelhante! E assim foram fazendo, aos poucos e poucos. No dia seguinte, a Humanidade toda estranhou muito o

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desaparecimento da Lua e deu-se a grandes especulações. Era com algum orgulho que a população do Beco via passar o Andrade. Sempre gaiteiro, apenas um pouco mais gordo.

Mário de Carvalho, Casos do Beco das Sardinheiras

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Anexo 13 Estrutura da entrevista

Momentos 1. Uma introdução - A entrevista é, geralmente, precedida por um título e, por vezes, por um subtítulo. Uma entrevista pode considerar-se incompleta quando não apresenta uma introdução e/ou uma conclusão. 2. As perguntas do(s) entrevistador(es) ; As respostas do(s) entrevistado(s) - Existem várias regras a serem utilizadas para que a entrevista esteja completa, como por exemplo, formular perguntas adequadas ao tema e de acordo com os objectivos previamente definidos, fazer perguntas que tenham em consideração o contexto e as características da pessoa entrevistada. Numa entrevista é de toda a utilidade recorrer a perguntas abertas do tipo - Qual é a sua opinião sobre...? e a perguntas fechadas do tipo - Quem vai apoiar…? 3. Uma conclusão - Numa boa entrevista é importante não emitir opiniões nem fazer juízos de valor sobre as respostas do entrevistado. Escusado será dizer que se deverá utilizar uma linguagem rigorosa, clara e de fácil compreensão, assim como ordenar as perguntas/respostas de uma maneira lógica.

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Anexo 14 Concurso – “E tu, és capaz de escrever…?” A Biblioteca Escolar da Escola Secundária com 3º ciclo do Ensino Básico de Amora ao instituir o Concurso Literário “E tu, és capaz de escrever…?”, procura incentivar a produção literária na língua portuguesa, premiando, bianualmente, uma obra inédita. Para uma melhor avaliação dos trabalhos a concurso, os géneros literários do mesmo serão um de Conto e outro de Poesia. REGULAMENTO I – O PRÉMIO LITERÁRIO “E tu, és capaz de escrever…?”, promovido bianualmente pela Escola Secundária com 3º ciclo de Amora, visa incentivar a criação de produção literária em língua portuguesa; II – Os prémios a atribuir serão cheques FNAC, distribuídos do seguinte modo: 1ºs prémios – Ensinos Básico e Secundário – 25 euros; 2ºs prémios - Ensinos Básico e Secundário – 15 euros; 3ºs prémios - Ensinos Básico e Secundário – 10 euros. III – O concurso é aberto a todos os alunos da Escola Secundária com 3º ciclo do Ensino Básico de Amora IV – O concurso é aberto a todos os trabalhos no género literário de conto e poesia havendo uma total liberdade de escolha de temas;

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V – Os trabalhos a concurso para o género conto devem ser entregues até ao dia 3 de Dezembro de 2010; os trabalhos a concurso para o género poesia devem ser entregues até ao dia 1 de Abril de 2011. VI - As obras concorrentes devem ser apresentadas num exemplar dactilografado. O conto não deverá ultrapassar o limite de 4 páginas, a espaço e meio, letra Times New Roman, tamanho 12. VII – Os exemplares a concurso, devidamente encapados, deverão ser entregues - com a indicação de nome completo do aluno, ano e turma -, na Biblioteca Escolar da Escola Secundária com 3º ciclo do Ensino Básico de Amora, com indicação de PRÉMIO LITERÁRIO “E tu és capaz de escrever…?”. VIII – Os concorrentes obrigam-se a autorizar a utilização dos trabalhos, sem qualquer compensação, em todas as publicações ou actividades promovidas pela Biblioteca Escolar da Escola Secundária com 3º ciclo do Ensino Básico de Amora; IX – O júri responsável pela selecção das obras é constituído pelos quatro elementos mentores do concurso, as professoras: Custódia Rebocho, Fernanda Bucho, Ilda Neves e Isabel Tavares. X – Os membros do júri e os elementos da Escola Secundária com 3º ciclo do Ensino Básico de Amora responsáveis pela organização do concurso não poderão concorrer a este prémio;

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XI

O(S)

PRÉMIO(S)

LITERÁRIO(S)

escrever…?”, poderá(ão)

“E

tu

és

capaz

de

não ser atribuído(s) se o júri entender

que as obras apresentadas não reúnem a qualidade exigida; XII –A Biblioteca Escolar

dará conhecimento público – página da

escola - das obras e dos autores premiados; XIII – A Biblioteca Escolar não garantirá a devolução dos originais não premiados; XIV – Todos os casos omissos no presente Regulamento serão apreciados e decididos pela Biblioteca Escolar, não havendo lugar a recurso da decisão proferida.

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Anexo 15

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BIBLIOGRAFIA AGUALUSA, José Eduardo, (2000). Estranhões & Bizarrocos, Lisboa, Dom Quixote; AIDO, João Pedro, [s. d.]. Uma Teoria da Elaboração Revisitada, texto policopiado; AIDO, João Pedro, [s. d.]. Resolver Situações Problemáticas, texto policopiado; AIDO, João Pedro, [s. d.]. Inventários Fúteis, texto policopiado; AIDO, João Pedro, [s. d.]. Anagrama e Biografia Inventada, texto policopiado; AIDO, João Pedro, [s. d.]. Uma Pedra no Charco, texto policopiado; AIDO, João Pedro, [s. d.]. Lipogramas, texto policopiado; AIDO, João Pedro, [s. d.]. Limericks, texto policopiado; AIDO, João Pedro, [s. d.]. Sugestões para a Escrita em Grupo de um Conto, texto policopiado; ARAÚJO, Matilde Rosa, (1994). As Fadas Verdes, Lisboa, Civilização; BRAGA, Xico, (2008). Estórias de um Avô, Amora, Junta de Freguesia de Amora; CARMELO, Luís, (2007). Manual de Escrita Criativa, vol. I e II, Mem Martins, Publicações Europa-América; CARVALHO, Mário, (2004). Casos do Beco das Sardinheiras, Lisboa, Editorial Caminho; GAMA, Sebastião da, in www.azeitao.net/Sebastiao/novo/index.htm; LEÃO, Margarida, FILIPE, Helena, [d. l. 2005], 70+7 Propostas de Escrita Lúdica, Porto, Porto Editora; LETRIA, José Jorge, (1989). Uma Viagem no Verde, Lisboa, Vega; MAGALHÃES, Álvaro, (2000). O Limpa-Palavras e Outros Poemas, Porto, Edições Asa;

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MEIRELES, Cecília, [s. d.]. in Português 10º ano, Projecto Desafios, Carnaxide, Santillana; O Meu Nome é Earl,

[c. 2007]. Série I, DVD, Fox;

MORAIS, Vinicius de, [s. d.]. in Português 10º ano, Projecto Desafios, Carnaxide, Santillana; Revista Noesis, nº 72, Dossier http://area.dgidc.min-edu.pt/noesis;

Escrita

Criativa,

in

RODARI, Gianni, (2006). Gramática da Fantasia: introdução à arte de inventar histórias, Lisboa, Editorial Caminho; SENA, Jorge de (1958) in letterbombwithoutguns.blogspot.com/.../quem-tem-jorge-de-senafidelidade-1958.html; SENA-LINO, Pedro, (2008). Curso de Escrita Criativa I e II, Porto, Porto Editora; SOARES, Luísa Ducla (1992). Naquela Pastelaria in Revista Rua Sésamo, nº 34; SOARES, Luísa Ducla (2000). Tudo ao Contrário, Lisboa, Livros Horizonte; TORRADO, António, in imgs.sapo.pt/kids/historias/03/09/; www.nyc.gov/html/poem/html/home/home.shtml;

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