Revista Movimento Médico

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MÉDICO

Nº 20 • Ano VIII • Set/Out/Nov 2011

Editorial

E

REPRODUÇÃO

sta edição é motivo de comemoração e de muito orgulho para todos que fazem o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco. Chegamos ao número 20 da revista Movimento Médico, um projeto lançado pelo Cremepe em 2004 com o objetivo de agregar num só veículo de comunicação as entidades médicas do Estado que lutam por uma medicina mais humanizada, salários mais justos e melhores condições de trabalho para a classe médica de Pernambuco. Movimento Médico teve sua primeira edição lançada pelo presidente do Cremepe, Ricardo Paiva. A revista já passou pelas gestões de Carlos Vital, André Longo e agora está sob a coordenação editorial da presidente Helena Carneiro Leão. Seu foco é direcionado para a divulgação de informações, fatos e opiniões que sejam de interesse da categoria médica e da sociedade como um todo. Nesta vigésima edição, você vai ler uma reportagem especial sobre a importância da doação de órgãos para salvar vidas, o por quê de a fila para quem precisa de transplante andar tão vagarosamente e conhecer também histórias de superação de pessoas que receberam órgãos e têm uma vida saudável e alegre. E ainda: os caravaneiros do Cremepe/Simepe voltaram à estrada e percorreram 52 municípios do Sertão pernambucano. Veja também nesta edição uma entrevista exclusiva com o Ministro Alexandre Padilha, da Saúde, sobre o combate ao crack, a política de fortalecimento do SUS e a discussão no Congresso Nacional a respeito da EC-29, que vai aumentar o valor da verba destinada à saúde em todo o país.

Capa: Foto de Jarbas Araújo

EXPEDIENTE CREMEPE Presidente: Helena Carneiro Leão Vice-presidente: José Carlos Alencar Assessoria de Comunicação: Gilvan Oliveira - DRT/PE Estagiários: Maria Eduarda Vaz e Isabela Alves Webdesigner: Michel Filipe SIMEPE Presidente: Silvio Rodrigues Vice: Mário Jorge Lobo Assessoria de Imprensa: Chico Carlos - DRT/PE 1268 Nathália Gadelha - DRT/PE 1268 AMPE Presidente: Jane Lemos Vice: Silvia Carvalho Coordenação Editorial: Sirleide Lira Assessoria de Imprensa: Elizabeth Porto - DRT/PE 1068 FECEM Presidente: Aspásia Pires APMR Coordenação: Vander Souza DA/UPE Presidente: Marcio Bastos Vice: Francisco de Assis Redação, publicidade, administração e correspondência: Rua Conselheiro Portela, 203, Espinheiro, CEP 52.020-030 - Recife, PE Fone: 81 2123 5777 www.cremepe.org.br Projeto Gráfico/Arte Final: Luiz Arrais - DRT/PE 3054 Tiragem: 15.000 exemplares Impressão: CCS Gráfica e Editora Coordenação Editorial: Helena Carneiro Leão Conselho Editorial: Helena Carneiro Leão, André Longo e Ricardo Paiva. Todos os direitos reservados. Copyright © 2011 - Conselho Regional de Medicina

Representantes de entidades médicas de Pernambuco durante o lançamento do primeiro número da revista Movimento Médico, em agosto de 2004

Todos os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.

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Sumário

7 Entrevista

JARBAS ARAÚJO

Veja o que pensa o Ministro Alexandre Padilha sobre o SUS, o combate ao crack e a relação com as entidades médicas

12 Capa Transplantes: ajude a salvar vidas

MARCOS ANDRÉ

Seções

20

1

Opinião

3

Patrimônio

Entrevista

4

Forte do Brum restaurado

Capa

9

Patrimônio

16

Notícias do CFM

21

Cremepe

22

Simepe

28

Ampe

34

Fecem

38

APMR

39

Academia

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Editorial

34 Cremepe Médicos fecham acordos com Governo e PCR


FOTOS: DIVULGAÇÃO

Opinião Roberto Luiz d’Avila*

Absurda simplificação

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uem viveu se lembrará. Nos anos 70, no auge do chamado milagre econômico brasileiro, o Governo apostou na abertura de vagas nas universidades em cursos de áreas consideradas chaves para o país. Entre elas, estava a Medicina. Era época da Ditadura Militar, cuja lógica desenvolvimentista ecoava em slogans que pintavam um futuro de céu de brigadeiro para o Brasil. Quase 40 anos depois o poder da caneta quer fazer o mesmo com a Medicina. Um suposto plano nacional de educação médica promete a criação de 2.500 vagas em cursos de graduação no país. Objetivo: aumentar o total de médicos em atividade para melhorar o acesso à assistência. Nos Ministérios da Educação e da Saúde, estão as trincheiras dessa tese, que coloca de mãos dadas passado e presente da gestão pública. Recentemente, alertamos para os equívocos simplistas que suportam a meta do governo. Fechar os olhos a estes argumentos é ignorar as preocupações de milhares de médicos e a vida de milhões de brasileiros que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS). O Governo alega que a mudança fará o número de médicos no país saltar de 18 para 25 por 10 mil habitantes. Contudo, seu diagnóstico demonstra desconhecimento da realidade. Ou seja, o plano nacional de educação médica está sendo construído sobre areia. Em primeiro lugar, não representamos somente 350 mil médicos no país, mas o dobro. Isso porque mantemos com o SUS, na maioria das vezes, vínculos de 20 horas semanais ou quatro horas diárias. Assim, se trabalhamos 8 horas por dia, produzimos o equivalente ao

dobro de profissionais, sem contar a atuação dos que estão nas áreas das saúdes suplementar e privada. O Governo falha ao tratar o médico como unidade e não como ocupante de postos de trabalho. A correção do raciocínio faz com que sejamos perto de 36 médicos por 10 mil habitantes, muito mais que Suécia (30 médicos por 10 mil/ hab.), EUA, Canadá, entre outros. Em alguns estados, como o Distrito Federal e o Rio de Janeiro, a proporção passaria de 70 médicos/10 mil habitantes. Infelizmente, isso revela, mais ainda, que a cobertura permanece baixa em estados do Norte e Nordeste, desassistidos pela falta de políticas públicas de interiorização da assistência à saúde, dentre elas de uma carreira de Estado para o médico no SUS, com dedicação exclusiva e outras garantias que beneficiarão o profissional e, sobretudo, a sociedade. Ora, a presença de um médico não é garantia de atendimento integral e universal. Sozinho, ele não faz milagres.

Sem instalações, sem equipamentos, sem rede de referência e de contrareferência, estará desarmado contra o caos. O que assistimos é o Governo fazer um discurso onde faz de conta que medidas autoritárias melhorarão a assistência. Não podemos compactuar com este jogo de cena, pois sabemos que a promessa não se cumprirá. Para o CFM, a seriedade do tema exige medidas consequentes, como o aumento dos investimentos no setor; a qualificação e a modernização da gestão do sistema público; e a valorização dos profissionais de saúde, em especial do médico. Sem isso, voltaremos ao tempo em que a realidade era modificada por decreto e não havia coragem e humildade para evitar que interesses ideológicos, políticos ou econômicos suplantassem o bem maior da saúde do povo brasileiro. *Presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM)

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ENTREVISTA ALEXANDRE PADILHA Ministro da Saúde

“O combate ao crack é um assunto prioritário para o nosso Ministério”

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os 39 anos, o médico Alexandre Padilha recebeu, em dezembro de 2010, o convite de Dilma Roussef, que acabara de ser eleita presidente do Brasil, para ocupar o Ministério da Saúde. Padilha estava no cargo de ministro das Relações Institucionais do então Governo Lula quando lhe foi confiada a nova missão. Médico infectologista, formado pela Universidade Estadual de Campinas (SP), sua terra natal, Alexandre Rocha Santos Padilha tomou posse em primeiro de janeiro deste ano e levou para Brasília dois médicos de Pernambuco: Jarbas Barbosa (Secretaria de Vigilância em Saúde) e Mozart Sales (Chefe de Gabinete). Nesta entrevista exclusiva à revista Movimento Médico, o ministro Alexandre Padilha fala, entre outros assuntos, sobre o SUS, a discussão no Congresso a respeito da Emenda Constitucional que vai destinar mais verbas para a saúde, o que está sendo feito para combater o crack e sobre o relacionamento entre o Ministério e as entidades médicas brasileiras que representam os médicos de todo o País. Como o Ministério da Saúde está acompanhando a discussão no Congresso sobre a aprovação da EC-29? Sem dúvida, a regulamentação da EC 29 é uma ferramenta importante para o financiamento da saúde e não só estamos acompanhando as discussões, como empenhados para o avanço da proposta. Assim como outras frentes de atuação, nesta também devermos firmar um compromisso com os governos estaduais e municipais, de todos os partidos, em defesa de regras claras para o setor. Neste momento, o nosso foco é o de aperfeiçoar e melhorar a gestão do SUS e isso já está sendo possível com o decreto assinado pela presidenta Dilma Rousseff, que definiu as responsabilidades da União, estados e municípios na regulamentação da Lei Orgânica da saúde. O decreto institui mecanismo de controle mais eficazes e instrumentos para que o Ministério da Saúde firme pactos com estados e municípios, garantindo atendimento mais rápido, eficiente e com qualidade. Uma das mudanças instituídas pelo decreto é a criação do contrato de ação pública, que definirá as atribuições e responsabilidades dos municípios, dos estados e do Governo Federal na prestação de serviços de saúde, o financiamento e as metas para cada ação. Ou seja, vamos fazer melhor, com os recursos que dispomos.

Quanto o Ministério da Saúde investe por mês na área de saúde do país? O orçamento geral do Ministério da Saúde para este ano é de R$ 77,8 bilhões. Além de integrarem as transferências do Fundo Nacional de Saúde (FNS), que é o gestor financeiro do SUS, este recurso é destinado às ações da Funasa, Fiocruz, Anvisa, ANS e outras entidades ligadas ao Ministério da Saúde. Até o último dia 4/08, mais de R$ 39,2 bilhões foram

gastos na área da Saúde de todo o país – algo em torno de R$ 5,6 bilhões ao mês. Grande parte da verba – cerca de R$ 25,2 bilhões – foi transferida aos estados e municípios dentro do que o Ministério da Saúde chama de blocos de financiamento: Atenção Básica; Média e Alta Complexidade; Vigilância em Saúde; Assistência Farmacêutica; Gestão do SUS; e Investimentos. Essas verbas são utilizadas pelos gestores municipais e estaduais para financiar tanto as ações básicas de saúde, o atendimento nas Unidades Básicas de Saúde, quanto os procedimentos de maior complexidade, realizados nos hospitais. Os recursos são destinados também à prevenção da saúde da população no âmbito da vigilância sanitária, epidemiológica e ambiental em saúde, e também para a oferta de medicamentos, realização de obras e compra de equipamentos.

Como está a política do Ministério da Saúde no combate a epidemias, como a dengue? O Ministério da Saúde tem reunido esforços junto aos estados e municípios, dialogado com especialistas e órgãos internacionais – como a OPAs – e, sempre que necessário, mobilizado a população para ações de prevenção, controle e assistência à saúde da população em situações de risco de epidemia. Neste ano, alcançamos resultados positivos no combate a dengue e na prevenção de gripe, por exemplo. No caso da dengue, inúmeras ações vêm sendo adotadas pelo Ministério da Saúde para enfrentar o mosquito transmissor e reduzir o impacto da doença. Em janeiro, anunciamos a revisão e o maior acompanhamento desse programa, sobretudo nos estados que apresentavam maior risco de epidemia, e isso vem sendo feito com a colaboração dos estados,

dos municípios. Conseguimos reduzir em 45% os casos da doença no primeiro semestre deste ano, quando comparado com o mesmo período do ano passado. O mesmo aconteceu em relação ao número de mortes pela doença no Brasil, que sofreu uma queda de 44% neste mesmo período. As políticas de combate a dengue devem ser contínuas. O Ministério da Saúde tem investido na qualificação do trabalho de campo e também no treinamento dos médicos dos serviços de saúde para que reconheçam e tratem, prontamente, os casos com possibilidade de agravamento. Em relação à gripe, para proteger a população contra os principais vírus da doença, na campanha de vacinação deste ano, lançada em abril, ampliamos a população que é vacinada anualmente. Além das pessoas com mais de 60 anos e os indígenas, foram incluídas crianças de seis meses a dois anos, gestantes e trabalhadores dos serviços de saúde. Em todo o país, foram vacinadas 24,3 milhões de pessoas, o que representa uma cobertura de 81,3% do público-alvo de 30 milhões. A meta, que era de 80%, foi superada.

E sobre o combate ao crack, que ações concretas já foram adotadas? Este é um assunto prioritário para o Ministério da Saúde. Diante da complexidade do tema e da necessidade de atuarmos conjuntamente com diversos setores, estamos trabalhando para lançar este ano um plano que trata de prevenção, redução de danos, promoção da reabilitação e da reinserção social dos usuários de crack e outras drogas. Queremos não só expandir os serviços existentes, como discutir modelos eficazes de tratamento. O Ministério da Saúde investiu, desde o ano passado, quase R$ 70 milhões em ações para ampliar a assistência aos

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ENTREVISTA principalmente porque a população está cada vez mais consciente de seus direitos."A ANS vem trabalhando para aprimorar a regulação dos planos de saúde e, ao mesmo tempo, atender as demandas colocadas pelos beneficiários. Em agosto, entrou em vigor uma nova resolução normativa da ANS que incentiva os beneficiários de planos antigos a migrarem e adaptarem seus contratos para o modelo novo, ou seja, com as garantias e segurança da regulação. Também neste mês, a ANS publicou resolução ampliando o rol de procedimentos de saúde que devem ter cobertura obrigatória pelos planos de saúde. Foram incluídos 69 itens, entre eles, 41 cirurgias por vídeos. Quanto ao reajuste dos planos de saúde, desde 2000,"os planos individuais ou

do semestre do ano passado. O financiamento dessas unidades é compartilhado entre as áreas de Saúde e Educação, em um sistema de pactuação que inclui o Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG). Há um esforço conjunto desses ministérios em criar condições materiais e institucionais para o desempenho pleno das unidades. Com Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf), lançado em janeiro de 2010, conseguimos estabelecer prioridades. A iniciativa prevê ações para melhoria da estrutura física, modernização de equipamentos, reestruturação dos quadros de recursos humanos e aprimoramento da gestão. Queremos que os hospitais universitá-

FOTOS: DIVULGAÇÃO

usuários de crack e outras drogas, como também na capacitação de profissionais que atuam neste segmento. Ao longo dos últimos anos, temos adotado um modelo de atenção integral aos pacientes, mudando o foco da hospitalização como centro ou única possibilidade de tratamento aos dependentes químicos e implantando serviços complementares. Neste contexto, estão os 1671 Centros de Atenção Psicossocial, os 92 Consultórios de Rua e as 44 Casas de Acolhimento Transitório, além do tratamento medicamentoso e internação. O Ministério da Saúde também está abrindo a possibilidade de cooperação com as Comunidades Terapêuticas que queiram participar do Sistema Único de Saúde (SUS).

Acompanhado de sua equipe, o ministro Alexandre Padilha tem percorrido os hospitais de todo o país

Nos últimos anos, aumentou muito a quantidade de planos de saúde no país. E são muitas as queixas dos consumidores em relação aos serviços prestados por essas empresas, além dos abusos no valor das prestações. Como o Ministério está vendo essa questão? Os dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar demonstram que, nos últimos dez anos (2001 a 2011), o número de consumidores de planos de saúde aumentou em 50% - passou de 31 milhões para 46,6 milhões, considerando somente planos médico-hospitalares. Os exclusivamente odontológicos cresceram de 3 milhões para 15 milhões no período. Na mesma proporção em que cresce o número de beneficiários, cresce o número de demandas por parte destes,

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familiares novos têm"seu índice"de reajuste calculado e fixado pela ANS. Nestes planos, o reajuste ocorre apenas em duas situações: por faixa etária e no mês de aniversário do contrato. Desde 2004, com o estatuto do idoso, o plano só pode sofrer reajuste por faixa etária até os 59 anos. Quanto aos planos coletivos, cujo reajuste não é fixado pela ANS, vale o combinado em contrato.

As filas de pacientes nos hospitais universitários do país são históricas. Há como mudar essa realidade? O Ministério da Saúde liberou R$ 300 milhões para a reestruturação de 45 hospitais federais universitários em todo o país – foram R$ 200 milhões em fevereiro deste ano e R$ 100 milhões no segun-

rios, que já são considerados referência em atendimento de alta complexidade, exames, consultas, cirurgias, ofereçam estruturas adequadas para a assistência à população e para o ensino de futuros profissionais de saúde. Além disso, o esforço do Ministério da Saúde é continuar fortalecendo a atenção básica"e trabalhar pela integração da rede de assistência e para a ampliação e melhoria do atendimento à população. O SUS está adotando uma nova lógica de atendimento, a partir do lançamento do Programa Saúde Toda Hora. O objetivo é acelerar a comunicação entre as ambulâncias do SAMU, as Unidades de Pronto Atendimento, as Unidades Básicas de Saúde o os hospitais, de forma a tornar o atendimento ainda mais rápido e eficaz.


O Programa Saúde da Família(PSF) vai ter uma atenção especial na sua administração? Tenho convicção de o fortalecimento da atenção primária à saúde, que se refere às ações de prevenção, promoção da saúde e ao atendimento feito pelas equipes de Saúde da Família e nas Unidades Básicas de Saúde, é fundamental para qualificarmos os serviços e o atendimento do SUS em todo o país. Cerca de 80% dos problemas de saúde podem ser resolvidos neste nível de atendimento. Por isso, este ano, lançamos o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e Qualidade na Atenção Básica, que prevê recursos na ordem de R$ 5 bilhões nos próximos quatro anos. Com esta iniciativa, vamos definir metas e remunerar

Especialistas da área de saúde consideram o SUS como um patrimônio do povo brasileiro. Mas a população continua crítica em relação a essa afirmação. O que falta para a população se convencer da importância do SUS? O SUS é sim patrimônio do povo brasileiro, é uma das mais representativas conquistas de nossa sociedade. O Brasil é o único país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes que mantém um sistema de saúde público e universal. O SUS está presente na vida de 100% dos brasileiros, pois todos, em algum momento, utilizam a rede pública, seja para se vacinar, em situações de emergência ao ligar para o SAMU ou para procedimentos de alta complexidade, como os transplantes. O Brasil, hoje, atinge

Saúde, que será realizada em dezembro, a melhor oportunidade para debater os desafios do SUS com representantes do governo e das comunidades, trabalhadores e prestadores de serviços, além de especialistas. As conferências municipais e estaduais, preparatórias para o encontro nacional, já estão acontecendo. É importante que as comunidades participem, apresentem suas demandas e as especificidades de suas regiões.

Uma das maiores dificuldades dos gestores públicos é manter o médico no Interior, principalmente nas áreas mais longíquas. Qual é a preocupação do Ministério da Saúde com essas questão? Combater os desequilíbrios regionais na oferta de especialistas em medicina,

O médico infectologista Jarbas Barbosa (à esq.) é um dos pernambucanos da equipe do Ministério da Saúde

aquelas equipes que apresentarem bom desempenho e um atendimento de qualidade. Esta nova política prevê ainda mais recursos para os municípios mais carentes do país e equipes que estarão voltadas ao atendimento de populações específicas, como as equipes itinerantes Saúde na Rua, que prestará assistência às pessoas em situação de rua. Vamos também expandir os serviços a partir da reforma e ampliação das atuais 31 mil Unidades Básicas de Saúde e a construção de novas unidades. O objetivo das novas medidas é incentivar os gestores e as equipes de atenção básica a melhorar a qualidade da assistência oferecida aos usuários do SUS nas Unidades Básicas de Saúde, que são os serviços mais próximos da população.

coberturas vacinais e de pré-natal que se aproximam da universalidade. Por outro lado, reconhecemos que o SUS ainda precisa de ajustes e melhorias. E estamos trabalhando para isso. Queremos, nesta gestão, proporcionar um importante salto no acesso aos serviços de saúde e na qualidade da assistência prestada, pactuando metas com os estados e municípios, aprimorando nosso sistema de avaliação e verificando, inclusive, a satisfação da população com os serviços oferecidos. É importante que a população participe mais da gestão do SUS, seja por meio dos conselhos de saúde, pelas Ouvidorias ou mesmo nas consultas públicas promovidas pelo Ministério. Este ano, teremos na 14ª Conferência Nacional de

além de detectar e suprir as novas necessidades do país conforme mudam as doenças que atingem a população e o nível socioeconômico das pessoas, está entre as prioridades desta gestão. A meta do governo federal é financiar 4 mil novas vagas de residência até 2014 e, até 2022, garantir uma vaga na residência para cada formando. Um levantamento das especialidades médicas mais demandadas conforme a realidade atual da população vai nortear a criação das residências, que serão distribuídas conforme a necessidade de cada região. Este ano, para incentivar os recém-formados em medicina a prestarem serviços em locais com carência de profissionais, definimos, junto com o MEC, que eles poderão abater dívidas no

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Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies). Dessa forma, trabalhando onde o SUS mais precisa, esses profissionais vão poder quitar o valor devido em menos de dez anos, sem nenhum desembolso. Entre as ações já em andamento, podemos citar o Pró-saúde, programa que oferece 354 cursos de graduação em saúde orientados à formação de especialistas de acordo com as necessidades do SUS; o Pet Saúde, que concede 11 mil bolsas por mês para docentes, estudantes e profissionais dos serviços de saúde em áreas estratégicas para o SUS; e o Telessaúde, que utiliza ferramentas de tecnologias da informação para que especialistas orientem à distância profissionais de saúde que estão em contato direto com o paciente, de acordo com as situações do dia a dia. Além disso, considerando o fato de que a residência médica é um grande fator na fixação de profissionais numa região, o governo criou o Pró-Residência, que oferta mensalmente mil bolsas de residência em regiões onde há falta de especialistas.

Como o Ministério da Saúde enfrentará o problema dos pacientes que estão na fila de transplante à espera de órgão, que demora tanto a chegar? O governo federal tem feito um grande esforço para aumentar a doação de órgãos e transplantes no país e os resultados comprovam esse empenho. Nos últimos oito anos, o número de doadores mais do que dobrou no Brasil, saindo de 893, em 2003, e chegando a 1.896 no ano passado. Chegamos a mais de 21 mil transplantes, um recorde no país. Com os avanços conquistados, o aprimoramento constante do Sistema Nacional de Transplantes e o crescimento sustentado tanto na doação, quanto no transplante, o número de pessoas à espera por um órgão tem caído e queremos continuar neste caminho. O Ministério da Saúde prepara um projeto para levar equipes de captação de órgãos para os 13 estados e o DF que não têm esse serviço e, assim, aumentar a doação de órgãos no país. Essas equipes atuam dentro dos hospitais e junto aos familiares para mostrar que esse é um gesto que pode salvar outras vidas. O investimento na implantação de mais 15 equipes, além das 30 já existentes, será de R$ 8,1 milhões. O

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ENTREVISTA

Para o ministro Alexandre Padilha, o SUS é um patrimônio do povo brasileiro

nosso desafio é manter o esforço de doação de órgão crescendo ano a ano. E a participação da sociedade neste processo é fundamental. Sem a doação não há o transplante.

Que tipo de parceria poderia ser feita entre o Ministério da saúde e as entidades médicas no sentido de se discutir uma linha de colaboração? O Ministério da Saúde mantém diálogo constante com entidades representativas do setor e tem construído junto delas alternativas para aprimorar ainda mais o Sistema Nacional de Transplantes. Recentemente, criamos um comitê estratégico para assessoramento e apoio direto ao Ministério dentro da questão da doação e transplantes de órgãos. O Ministério da Saúde junto com este comitê, integrado por acadêmicos e médicos especialistas da área, quer treinar equipes médicas para captar órgãos e realizar transplantes nos estados onde o desempenho está abaixo da média nacional. O Ministério busca essa aproximação com os especialistas também me outras áreas. Estamos trabalhando para a formação de profissionais de saúde e a fixação deles em áreas estratégicas para o SUS, incentivando a residência médica nos setores que a rede pública mais precisa – sobretudo, na atenção básica –, além de projetos de formação continuada.

O Ministério da Saúde, diferentemente de outros ministérios do Governo, vive em permanente avaliação da popula-

ção. Por que é tão difícil um ministro da Saúde terminar a gestão bem avaliado? A condução das políticas públicas de saúde pelo Ministério durante este primeiro semestre tem sido elogiada pelos gestores municipais e estaduais do Sistema Único de Saúde, além de apresentar resultados positivos concretos para a população. Reduzimos em 45% o número de mortes por dengue, em 30% os casos de malária e aumentamos em quatro vezes o acesso dos hipertensos aos medicamentos por meio do Saúde Não Tem Preço. Outro passo importante foi assumirmos o compromisso de criar metas e pontuação para adequar a distribuição de recursos da Atenção Básica, o que garantirá aos municípios mais carentes um financiamento diferenciado. Certamente, temos ainda muitos desafios para superar, mas estamos aprimorando nossos instrumentos de monitoramento e avaliação para responder o mais rapidamente possível às demandas da população brasileira com relação ao acesso com qualidade ao Sistema Único de Saúde. O fundamental é termos a humildade para compreender que há muito por fazer com uma obsessão maior, que é melhorar o acesso e a qualidade do atendimento a mais de 190 milhões de brasileiros. Esta é a prioridade estabelecida pela presidenta Dilma Rousseff e que hoje é tema de debate da sociedade nas conferências municipais e estaduais até nossa 14ª Conferência Nacional de Saúde, em dezembro.


CAPA

Transplantes A vida de novo As entidades médicas de Pernambuco apoiam o trabalho do Governo para aumentar o número de doadores no Estado Texto: André Duarte | Fotos: Jarbas Araújo

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CAPA

Q

uase 3,5 mil pessoas em Pernambuco esperam numa fila imaginária, sofrida e impossível de ser ‘furada’ num gesto de esperteza. É provável que, de tão fragilizadas, muitas fiquem no meio do caminho à espera de uma senha salvadora em forma de um telefonema. É verdade que a lista de espera por um transplante de órgãos no estado já foi maior, mas poderia ser mais enxuta. Quem está nela depende de uma fatalidade seguida de um gesto solidário, que pode não chegar a tempo de garantir uma vida ou até mais de uma. A família de um paciente com morte encefálica comprovada pode riscar até sete nomes da lista de espera se o paciente estiver apto a doar um patrimônio que não tem preço: dois rins, um fígado, um coração, duas córneas e um pâncreas. Mas a equação não é tão simples assim, sobretudo num procedimento complexo, que resvala em gargalos estruturais, financeiros, éticos e até políticos. Pernambuco está na quinta posição do ranking nacional em números absolutos de transplantes. O indicador, que parece próspero, perde força quando se adota outro critério mais detalhado: o de doações por um milhão de habitantes. No ano passado, o Brasil fechou as contas com 10 doadores para cada milhão, enquanto Pernambuco encerrou o mesmo período com o índice de 6,8. Em 2009, o estado ficou na média nacional, mas despencou em seguida. A inconsistência intriga a rede de profissionais de saúde que se dedica à causa no estado. Para a médica Zilda Cavalcanti, coordenadora da Central de Transplantes de Pernambuco, a oscilação é sintomática: “O transplante é um reflexo de toda uma estrutura de assistência médica e de formação dentro de um lugar, que no nosso caso é o estado de Pernambuco”. Uma resolução do Conselho Federal de Medicina exige duas avaliações médicas para o diagnóstico da morte encefálica, com intervalo de seis horas entre cada uma. Uma delas precisa ser conduzida por um neurologista com o auxílio de um método gráfico, que pode ser um eletro-encefalograma ou o Doppler Transcraniano (outro tipo de exame). Na prática, assim que desconfia do óbito, o médico deve fazer o

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primeiro exame físico e preencher um formulário com os testes necessários. Se o resultado for compatível com a morte do cérebro, o profissional abre o protocolo de morte encefálica e aciona a Central de Transplantes para viabilizar uma segunda avaliação seis horas depois. A etapa seguinte, de abordagem às famílias, mudou radicalmente há 13 anos, quando foi aprovada a Lei dos Transplantes. A doação, que antes era presumida - todos eram automaticamente doadores, a não ser que colocassem a proibição na carteira de identidade -, passou a ser optativa. Agora as famílias precisam autorizar o procedimento, assinando um termo de

doação. “Naquela época o tiro saiu pela culatra porque as pessoas, por não terem credibilidade no sistema de saúde na questão da segurança, achavam que iam ser seqüestradas para que retirassem os seus órgãos. Isso foi pior porque as doações caíram”, recorda Zilda Cavalcanti. Nem a maior unidade doadora de órgãos do estado, o Hospital da Restauração (HR), responsável por metade dos registros, faz o dever de casa. Segundo informações da própria Central de Transplantes, a comissão inter-hospitalar da unidade, que é responsável pelo difícil contato com as famílias, não funciona em tempo integral “por deficiência de recursos humanos”.


Pacientes na fila por transplante em Pernambuco: Coração Rim Fígado Córnea Medula Óssea* Total

8 1.878 168 1.309 48 3.411

Órgãos e tecidos transplantados em Pernambuco nos últimos 10 anos 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

349 447 560 566 652 831 837 1.036 1.076 829 461 (até 30 de junho)

Ranking Nacional dos Transplantes (2010): São Paulo Minas G erais Rio Grande do Sul Paraná

9.477 1.989 1.382 1.315

*(sem doador identificado)

O médico Cláudio Lacerda (foto), que atingiu há pouco a marca de 500 transplantes de fígado, diz que a longa espera por um órgão ainda resvala na carência estrutural

Uma portaria recente do Ministério da Saúde fez surgir as Organizações de Procura de Órgãos (OPOs) e acabou dividindo essa tarefa. Pernambuco dispõe de quatro delas, sendo duas no Recife (no IMIP e na Fundação Altino Ventura), uma em Caruaru e outra em Petrolina. Cada unidade é responsável por dar suporte aos transplantes em cerca de 10 hospitais, seja abordando os parentes, acionando um neurologista ou a entregando o corpo à família após a captação do órgão. A Central de Transplantes de Pernambuco entra em cena quando o protocolo é encerrado e a família assina o termo de doação. É quando o caso ganha notificação no sistema nacio-

nal através de um software, que insere as informações detalhadas do doador num banco de dados nacional. O médico Cláudio Lacerda, que recentemente atingiu a marca de 500 transplantes de fígado realizados nos últimos 12 anos (veja box à pág. 15), é taxativo: “Se existe uma coisa séria na saúde é transplante. Se o filho de um presidente e um Antônio que mora no Alto José do Pinho estiverem na fila, pode ter certeza que eles estarão em igualdade”. Especialista em transplante de fígado, o chefe desse serviço nos hospitais Oswaldo Cruz e Jaime da Fonte diz que a longa espera por um órgão ainda resvala na carência estrutural e na falta de preparo para li-

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CAPA

Entrevista

Zilda Cavalcanti Coordenadora da Central de Transplantes de Pernambuco, a médica Zilda Cavalcanti enumera diversos entraves que emperram a fila de pessoas que esperam por doação de órgão ou tecido em Pernambuco. Quais são os principais gargalos da doação de órgãos? O primeiro é a abertura do protocolo de morte encefálica. O médico que está de plantão tem que ter o compromisso de abrir o protocolo. É muito mais cômodo para um médico, que normalmente tem uma demanda alta com muito trabalho

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e pouca gente, não abrir o protocolo. A formação médica é outro problema porque tinha que absorver todos os conceitos relacionados ao diagnóstico de morte encefálica. A falta de neurologistas também tem sido um grande entrave para fechar o protocolo. Temos um déficit dessa especialidade no estado. Temos também uma dificuldade quanto à manutenção clínica do paciente de morte encefálica, que apresenta uma condição extremamente grave. Ele perde todo o controle central , já que é no nosso cérebro que se encontra o controle da temperatura, da pressão, da respiração. Se eu não mantiver o meu paciente de forma adequada, ele faz uma parada cardíaca. E se isso acontecer acaba a doação. Se o coração parar não doa mais nada. Somente a córnea.

E essa manutenção do paciente diz respeito apenas ao papel dos médicos? Quem é que faz a manutenção do pa-

“Se para um profissional de saúde é difícil acreditar no diagnóstico de morte encefálica, imagine para a família” ciente? É o médico. É ele quem coordena o processo. Ele tem que entender muito bem o que está fazendo, se comprometer porque ele tem inúmeros pacientes e muita vezes ele não está fazendo só isso. É comum você ouvir comentários do tipo: ‘Mas eu vou me comprometer com uma pessoa morta quando existem outros vivos que estão precisando de mim?’ Isso está certo na medida em que é um não-doador, mas quando se é doador, não. Aquele morto


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em Pernambuco significa a vida de sete pessoas: dois rins, um fígado, um coração, duas córneas e um pâncreas. Sete pessoas vão sair da fila do transplante se aquela pessoa doar.

Por que os familiares dos pacientes com morte encefálica costumam recusar doação? Mais de 50% das famílias que a gente aborda negam. Na minha avaliação, em primeiro lugar elas não acreditam no diagnóstico da morte encefálica. Você chega junto do paciente e ele está quente, muitas vezes arrepiado, com o coração batendo e a mãe chega junto e diz: ‘Meu filho está vivo, tenho fé que ele vai se recuperar’. E não acredita no diagnóstico. É bom que fique claro que o corpo não fica deformado, nem mesmo com retirada das córneas. É tudo completamente restituído. Se para um profissional de saúde é difícil acreditar no diagnóstico de morte encefálica, imagine para a família.

Há um caminho para melhorar esse quadro e sensibilizar as famílias? Acolhimento. É uma palavra que está na moda, mas é a humanização propriamente dita. A família fica de plantão na UTI até acabar o processo, pra saber do resultado do exame. E o tempo que ela fica esperando dar seis horas para a segunda avaliação é o período em que ela vai metabolizando aquilo, aceitando. O luto tem algumas fases e a primeira delas é a negação. Se uma pessoa morre e está rígida já é difícil aceitar, imagine numa situação de morte encefálica, quando o coração está ali batendo e a pessoa está quente? A abordagem à família deve ser feita por uma comissão intra-hospitalar de transplante, que é composta por funcionários treinados do hospital para esse tipo de abordagem. Mas a comunicação da morte é obrigação do médico. Se o médico quiser, e se sentir seguro, pode fazer a abordagem ou simplesmente dar o diagnóstico da morte e comunicar à comissão intra-hospitalar ou à Central de Transplantes para que isso seja feito.

Christian Barnard, médico sul-africano, foi o pioneiro dos transplantes de coração

dar com o que ele chama de “administração da má notícia”. “Faltam coisas básicas, como aparelho de eletro-encefalograma. Mas falta sensibilidade e compromisso também”. Lacerda sugere três ações imediatas para atenuar as dificuldades: melhoria de estrutura física e de recursos humanos das centrais de transplante, capacitação dos profissionais das UTIs e campanhas educativas regulares. O cirurgião lembra que só conseguiu superar a média estadual de captação buscando órgãos em outros estados graças a um convênio com a rede privada. Sua equipe, que já buscou fígados no Mato Grosso e no Pará, fechou o ano de 2010 com 90 transplantes realizados. “Ao contrário dos outros órgãos, quem enfrenta transplante de fígado ou faz ou morre. Mesmo captando com mais eficiência que o estado, ainda temos uma mortalidade entre 35% e 40% dos que entram na fila”. A comerciante Patrícia Melo, 35 anos, diz que ainda é difícil mensurar o esforço que fez para livrar o filho pequeno dessa estatística. Aos dois meses de idade, Emanuel Moares, hoje com 5, foi diagnosticado com uma cirrose hepática causada por uma disfunção do fígado. Debilitado, teve que esperar longos três meses na fila de transplan-

te. O doador apareceu - uma criança de dois anos que morreu atropelada -, mas isso não significou o fim da via-crúcis do garoto e, por tabela, dos pais. “Ele passou 19 dias internado. Teve infecção três vezes e uma parada respiratória”. Operado por Cláudio Lacerda, Emanuel voltou pra casa de fígado novo, mas o tratamento parece apenas ter começado. “Ele tem a imunidade muito baixa. Os riscos não diminuíram. Uma simples gripe já é motivo de muita preocupação. Mas ter feito o transplante foi bom pra ele. Na escola, onde ele mal aparecia por conta da doença, hoje é um dos meninos mais ativos”. A presidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), Helena Carneiro Leão, ressalta que o médico é peça-chave na sensibilização das famílias e deve participar ativamente dessa comunicação. “O médico tem esse compromisso social. Muitas vezes os familiares se apegam ao médico-assistente, enquanto a equipe (intra-hospitalar de transplante) é um estranho. De alguma forma, o médico participou daquele sofrimento e isso traz uma relação mais confiante, mais verdadeira”. Por outro lado, a presidente do Conselho diz que os parentes precisam mudar de perspectiva, muitas vezes pragmática, sobre o

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A disputa mais difícil de Gena D

ono de uma saúde de ferro e de um chute potente na perna direita, o ex-jogador de futebol Gena nunca imaginou que um fígado doente pudesse lhe pregar uma peça e quase tirar sua própria vida. Protagonista dos seis títulos seguidos do Náutico na década de 1960, um dos heróis do Hexa por pouco não perdeu sua disputa mais difícil, que aconteceu fora dos gramados. No dia 23 de maio de 2000, Genival Costa Barros Lima, hoje com 68 anos, foi diagnosticado com uma

Hepatite C que o fez deixar as peladas de fim de semana e parar numa angustiante espera da fila de transplante. Um ano e meio depois já tinha perdido as esperanças quando um segundo doador foi finalmente encontrado. “Eu estava numa situação tão crítica que ou eu fazia o transplante ou morria. Você fica completamente debilitado, arrasado mesmo. Deixa de ser a pessoa que você era”. Dez dias antes da bem-sucedida cirurgia, Gena tinha entregado os pontos ao saber, no hospital, que o primeiro

fígado indicado para ele não servia mais. “Na volta pra casa cheguei a dizer que não faria mais transplante nenhum, mesmo se surgisse outro doador. Ficava naquela esperança de aparecer um fígado e nesse intervalo veio uma depressão”. Há onze anos na condição de transplantado, Gena diz que toca a vida pra frente como qualquer pessoa, sem grandes limitações. “Hoje levo uma vida normal e ainda bato minha bolinha de vez em quando”.

significado desse gesto: “É preciso esse trabalho junto à sociedade sobre a importância da doação como uma atitude altruística, nobre, acima até do nosso entendimento como ser humano”. André Bezerra, médico responsável pela supervisão da captação da Central de Transplantes, diz que os empecilhos podem ser observados em três frentes distintas: “Se você estratificar os gargalos do transplante vai ver que terão três tipos de causas: aquelas relacionadas à

sociedade, aos profissionais de saúde e à estrutura política”. No caso dos colegas de bata, André alerta para a recorrência de diagnóstico de morte encefálica tardio, a demora na abertura dos protocolos de morte e profissionais que não se sentem habilitados a dar o diagnóstico. Também lamenta o hábito de unidades públicas de saúde de “abandonar” os pacientes graves, sem perspectiva de tratamento. “Ainda há médicos, neurologistas inclusive, que aceitam fechar

um protocolo e desligar um aparelho se o doente for doar órgão. Mas se fechar o protocolo e o doente não for doador, não quer desligar pra entregar o corpo à família”. Bezerra defende uma ampla campanha de esclarecimento ético e jurídico aos profissionais, além de cobrar atualização curricular dos centros de ensino. “Não é discutido o critério de morte dentro da faculdade. Não tem uma disciplina em que alguém lhe en-

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Pernambuco comemora 500 transplantes de fígado O Programa de Transplante de Fígado do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc) em parceria com o Hospital Jayme da Fonte atingiu a marca de 500 transplantes de fígado. Um marco importante para Pernambuco. Os transplantados são provenientes de todo o Norte e Nordeste e alguns do Sudeste, numa inversão histórica de fluxo de pacientes, que antes enviava seus pacientes para o pólo paulistano e, hoje, já atende pacientes vindos de lá. O programa também comemora 12 anos de fundação. A unidade de transplante de fígado está entre os três primeiros do Brasil (os outros dois são em São Paulo) e é pioneira no Norte e Nordeste. De acordo com o chefe do programa, o médico Cláudio Lacerda, o aumento das cirurgias foi possível graças à melhoria do esquema montado para captar órgãos em vários estados do país. “Com alguma frequência, o governo do Estado tem disponibilizado um avião para a gente ir buscar fígados em outros estados, o que compensa a escassez de fígado em Pernambuco”, frisa o médico. “A nossa equipe está de parabéns por tudo que vem realizando ao longo desses anos”, declara Lacerda. O transplante de fígado é o procedimento cirúrgico mais complexo dentro da medicina por exigir tecnologia e recursos humanos aprimorados e uma equipe médica multidisciplinar. “O fígado é um órgão muito sensível e as intervenções feitas sobre ele são bastante delicadas”, destaca Cláudio Lacerda. Hoje, 170 pessoas esperam um fígado no Huoc. A Apaf – A Associação Pernambucana de Apoio aos Doentes de Fígado (Apaf) é uma instituição sem fins lucrativos que dá suporte ao Programa de Transplante de Fígado do Huoc e Jayme da Fonte. O trabalho da Apaf é realizado através de um grupo de voluntários que acolhem os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) que chegam ao Oswaldo Cruz. “Fazemos de tudo um pouco. Compramos medicamentos, distribuímos cesta básica, entre outras ações. Além de dar o nosso carinho ao paciente e a sua família”, afirma a coordenadora da Apaf, Nailda Valença.

ASSESSORIA IMPRENSA HUOC

sine a identificar se uma pessoa está viva ou morta. No curso você só trata o vivo. Na hora em que a pessoa morreu, no ato médico final, não há orientação”. Ao perceber uma dívida acadêmica em relação ao tema, o professor Josimário Silva, coordenador do módulo de Bioética do curso de Medicina da UFPE, resolveu criar a Liga Acadêmica de Transplantes de Tecidos e Órgãos de Pernambuco (Lattope). O grupo, integrado por oito alunos, atua como uma frente de defesa da causa nas trincheiras médica e universitária. Promovem seminários, cursos de capacitação e parcerias com instituições, incluindo o Cremepe. Josimário acredita que o primeiro passo para sensibilizar profissionais de saúde sobre a importância da abertura do protocolo de morte encefálica tem que ser educativo. “Todos sabem do protocolo, só que muitas vezes o profissional não se sente preparado e não há especialistas em todos os cantos pra dar esse suporte. Eu acredito no processo educativo e em parcerias”. Cursos e orientações evitariam, na sua avaliação, embaraços comuns no enredo de possíveis transplantes, sobretudo nas abordagens aos parentes de possíveis doadores. “Ele tem que ter a sensibilidade de fazer esse contato e, ao mesmo tempo, a comunicação com a família tem que ser franca”. Helena Carneiro Leão acrescenta que a rede pública tem que fazer sua parte, seja integrando sem amarras as etapas de um transplante ou assegurando boas condições de trabalho aos profissionais. “Quem dá o diagnóstico da morte e quem preenche todo o protocolo é o médico, mas para isso as unidades têm que estar preparadas. Muitas vezes a sobrecarga de trabalho e a falta de condição dificultam”. Cláudio Lacerda concorda que a conscientização dos médicos é fundamental, mas alerta que outras ideias devem ser discutidas de forma aberta, inclusive com a possibilidade de remuneração extra pelo cuidado com o paciente com morte encefálica. “Nos Estados Unidos esse problema foi resolvido de forma pragmática: eles pagam o médico pela manutenção do paciente. Não deixa de ser um incentivo. No Brasil isso seria difícil, mas se analisarmos friamente é um trabalho grande cuidar de um doador”.

Fachada do prédio da Diretoria do HUOC

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PATRIMÔNIO

Por trás de seus muros há muita história Forte do Brum, monumento tombado pelo IPHAN, abre seus portões após quatro meses fechado, mas segue num vasto processo de revitalização e restauro Texto: Mariana Oliveira | Fotos: Marcos André

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PATRIMÔNIO

“Q

uando você transpõe esse portão, entra numa passagem de tempo. Você sai da cidade e faz uma viagem. Eu venho aqui todo dia e sempre acho que estou indo para outro lugar”, conta o Coronel Reis, diretor do Museu Militar do Forte do Brum. Desde fevereiro de 2010, ele assumiu o comando da fortaleza de mais de 380 anos e deu início a uma série de restaurações, cuja primeira etapa se encerrou em julho e deixou o local fechado por quatro meses. Um dos objetivos das ações é recuperar e tornar visível aos visitantes a diversidade de materiais utilizados durante a construção da fortaleza. Nessa etapa inicial, o foco era o restauro das pedras de cantaria, utilizadas em vários pontos da edificação, com destaque para as portadas e detalhes das guaritas. Segundo Cel. Reis, boa parte dessas pedras estava encoberta por tinta ou por uma camada de cal. “As cantarias eram tiradas dos arrecifes em blocos para serem usadas nas construções. Hoje, podemos observá-las e ver as conchas que mostram que elas realmente vieram do mar”, detalha. Agora, o projeto de restauro deve seguir para as salas do Museu Militar do Forte do Brum, criado em 1985, cujo acervo é composto por cerca de 350 peças. Os espaços serão reorganizados, mas o objetivo continuará sendo o mesmo: valorizar a participação do soldado nordestino em todos os acontecimentos da história. “O forte participou de muitos eventos importantes, como a revolução de 1817, quando o governador de Pernambuco foi preso aqui dentro pelos revoltosos. O espaço também fez parte da Confederação do Equador. Durante as 1ª e 2ª Guerras Mundiais tivemos tropas sediadas aqui”, contextualiza Cel. Reis. Na sala dedicada à Força Expedicionária Brasileira, uma placa registra o nome de todos os soldados pernambucanos que morreram durante o combate na Itália. Estão expostos vários armamentos utilizados à época, entre eles a metralhadora antiaérea e a metralhadora MG 42, capaz de disparar 1150 tiros por minuto. Ela ficou famosa entre os brasileiros ao ser apelidada de “Lourdinha”, devido ao repicar de suas rajadas tão rápidas, cujos estampidos se uniam formando uma espécie de gargalhada.

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O Forte, tombado em 1938 pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), possui uma sala dedicada à Confederação do Equador, com um grande painel do artista Francisco Brennand. Estão reunidas ali todas as bandeiras brasileiras do tempo de colônia até a república. Cel. Reis destaca a primeira bandeira da República Brasileira, praticamente uma cópia da americana, tendo como diferença apenas as cores. Há espaço para recordar e registrar a Intentona Comunista, ocorrida em 1935, episódios da Guerra do Paraguai e o famoso caso das mulheres de Tejucupapo, que venceram os holandeses com óleo e água fervente. Além de manter o registro histórico da participação do Comando Militar do

Nordeste em todos esses episódios, há o projeto da inauguração de uma sala dedicada à participação do Brasil em várias missões de paz. “São Domingos, El Salvador, Angola, Timor Leste, Haiti. Os soldados nordestinos participaram e participam de todas essas missões do Exército brasileiro. É importante registrar isso”, explica Cel. Reis, lembrando que, neste momento, há um grupo de soldados pernambucanos na missão de paz no Haiti. Por isso, a imagem de Nossa Senhora dos Prazeres, padroeira do Comando Militar do Nordeste, não está em sua casa, no salão Guararapes, local que abriga a biblioteca de mais de 500 obras e sala de pesquisa do Forte. “Cada vez que uma equipe de soldados sai daqui para uma missão eles levam


1 | A sala dedicada à Força Expedicionária Brasileira tem uma metralhadora antiaérea 2 | A capela de São João Batista usualmente é utilizada para casamentos 3 | O coronel Reis está comandando o Forte do Brum desde fevereiro de 2010

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A primeira etapa da reforma recuperou as pedras de cantaria, utilizadas em vários pontos da edificação a imagem. Quando eles retornam, a imagem volta ao seu lugar no Forte”, explica o coronel.

HISTÓRIA Apesar dessa diversidade de registros históricos, sem dúvida, é a disputa entre holandeses e luso-brasileiros que mais tem espaço na exposição militar e também em toda a trajetória do Forte. Sua construção foi iniciada em 1629, por ordem do então governador Matias de Albuquerque, que o batizou de Forte Diogo Paes. O objetivo da fortaleza, construída ao longo dos anos com uma enorme diversidade de materiais, vindo, inclusive, de antigas fortificações de defesa abandonadas, era proteger o Porto do Recife de possíveis invasões. Porém, antes mesmo de sua conclusão, em fevereiro de 1630, a Capitania de Pernambuco foi invadida pelos holandeses que tomaram posse do Forte, prosseguindo com sua construção por um

ano, usando como material a taipa, uma mistura de areia e faxina. Os invasores o chamaram de Forte Johan de Bruyne. Daí a explicação para a sua atual nomeação. Essa relação forte com o período holandês e com a luta dos luso-brasileiros para reconquistar a capitania está exposta em duas salas. A primeira é dedicada aos restauradores pernambucanos que lutaram para se libertar do domínio da Holanda. Na sala, há um rico material arqueológico encontrado em locais onde houve disputa, como o Monte dos Guararapes e o das Tabocas, além do Forte Orange, em Itamaracá. A grande atração é o esqueleto localizado pelo arqueólogo Marcos Albuquerque, da UFPE, no Monte dos Guararapes. O pesquisador acredita se tratar de um luso-brasileiro, já que os holandeses eram protestantes e o esqueleto estava com os braços cruzados, como manda a tradição católica, e tinha um terço ao seu lado. Há também manequins marcando a participação essencial de Henrique Dias, Antônio Felipe Camarão, João Fernandes Vieira, André Vital de Negreiros, Francisco Barreto de Menezes, todos capitães mor da batalha. Segundo o Cel. Reis, não se pode esquecer do estrategista Antônio Dias Cardoso, que dá nome ao auditório do Forte. O espaço foi reformado e está funcionando normalmente, apesar de ainda faltarem detalhes, como a exposição de parte da parede original. O homenageado, natural da cidade do Porto,

em Portugal, foi a única pessoa a receber o título de cidadão pernambucano após a morte. Usualmente, o auditório é a primeira parada dos inúmeros grupos escolares que visitam o Forte. Lá é exibido um vídeo que contextualiza toda a história da edificação, enaltecendo e destacando a participação do soldado nordestino. A Pinacoteca Holandesa é a segunda sala dedicada ao período. Além de muitos outros achados arqueológicos, há um grande número de mapas, cartografias e gravuras da época, uma bandeira da Companhia das Índias Ocidentais, tudo doado pela Embaixada da Holanda. Nesta sala, estão situadas as rotas de fuga do Forte, chamadas pelos arqueólogos de poterna. Essas portas ficavam no lado oposto à entrada principal, separados pelo pátio central, chamado de Praça das Armas. No caso de uma invasão que não fosse controlada, os soldados poderiam deixar o Forte e seguir pelo istmo que liga o Recife a Olinda. Mas nem tudo que estava no projeto original, de fato, saiu do papel, a proximidade com o mar prejudicou sua completa realização. A forma quadrangular interna, por exemplo, foi mantida, mas não foi possível construir os quatro bastiões (um avançado para artilharia com dois flancos e duas faces ligadas às cortinas da fortaleza ou praça por dois dos seus lados). No lado voltado para o mar, a força das águas não permitiu

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PATRIMÔNIO A sala dedicada à Confederação do Equador possui um grande painel do artista Francisco Brennand

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a conclusão da obra, que ficou apenas com dois meios bastiões. “Inicialmente os portugueses chegaram aqui e pensaram em construir edificações no estilo dos castelos medievais, mas depois viram que essa não seria a forma correta de se defender em terras brasileiras”, explica Cel. Reis. Por isso, o projeto foi idealizado com muralhas mais baixas, com angulações de 30 graus, que facilitavam a utilização de sua forte artilharia, composta por canhões portugueses e ingleses. Segundo o diretor, a artilharia do Forte ganhou novos usos ao longo da história. Em 1880, seus canhões foram usados não para espantar invasores, mas para comemorar o aniversário da Princesa Isabel.

EVENTOS Atualmente, os canhões do Forte do Brum só voltam a fazer barulho durante a chegada de uma noiva que tenha escolhido o forte e a Capela de São João Batista, localizada em seu interior, para realizar sua festa de casamento. O espaço externo da edificação está aberto a variados tipos de evento, desde que

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sejam de pequeno e médio porte. “Não podemos abrir para um grande show, mas para eventos de empresas e festividades menores, o espaço pode ser alugado”, explica o Cel. Reis. O auditório também pode ser utilizado para palestras e conferências. O diretor acredita que a reabertura do restaurante, o qual funcionou durante 12 anos no local e está fechado há quatro, pode trazer mais movimento para o Forte e o Museu. “Se tem uma empresa querendo fazer uma imersão com seus funcionários, ela poderá reservar o auditório e também utilizar o serviço do restaurante, sem precisar sair do Forte. Outra coisa, quem não gostaria de fazer um happy hour num ambiente como esse”, aposta. A licitação para o estabelecimento deve sair nos próximos meses. Entre os projetos para os próximos meses e anos, está a recuperação das muralhas, cujas pedras originais estão encobertas por tinta e cal. Apenas um dos lados mantém a aparência original. De acordo com o Cel. Reis, o orçamento para essa obra é de um milhão e tre-

Uma das próximas ações será a revitalização das muralhas cujas pedras originais estão encobertas por tinta e cal zentos mil reais. Ele espera conseguir a verba a partir de emendas parlamentares. Outra ideia que o diretor deseja tirar do papel é a instalação de computadores com vários dados históricos em cada uma das salas do Museu, possibilitando uma maior interatividade e oferecendo espaço para uma pesquisa aprofundada ao visitante. Enquanto o dedicado Cel. Reis trabalha com afinco para revitalizar, preservar e modernizar um dos mais importantes monumentos históricos da cidade, o mascote do Forte do Brum, o cão batizado de Nassau, descansa à sombra de muralhas que têm mais de 300 anos de história.


CFM Conselho Federal de Medicina

Notícias do CFM Carlos Vital*, de Brasília

Luto pela saúde O CFM e os 27 CRMs divulgaram nota, na primeira semana de agosto, na qual confirmam que as entidades recorrerão da decisão judicial que suspendeu os efeitos de medida liminar contra ato administrativo da Secretaria de Direito Econômico (SDE) em desfavor do movimento da categoria em sua campanha pela valorização dos profissionais junto às operadoras de planos de saúde. As entidades afirmam que “utilizarão todos os instrumentos e recursos possíveis no âmbito da Justiça no sentido de reverter a decisão do TRF”. No documento, são apresentados argumentos e reforçado o compromisso dos médicos de buscar a melhora da assistência oferecida.

Assuntos políticos Os interessados em acompanhar as estratégias do movimento médico junto ao Congresso Nacional têm agora um novo canal. Já está disponível no site do CFM (www.portalmedico.org.br), o Boletim Mensal da Comissão de Assuntos Políticos (CAP), integrada por membros das três entidades médicas nacionais (AMB, CFM e Fenam). Em sua primeira edição, a publicação eletrônica traz informações sobre o balanço das atividades do grupo no primeiro semestre de 2011, como as visitas a parlamentares para reforçar a importância de propostas em tramitação no Congresso Nacional para a melhoria da assistência à saúde e valorização da Medicina.

Medicina aeroespacial O Brasil não possui cursos que ofereçam a formação plena aos médicos civis que pretendem trabalhar como examinadores de aeronautas. Este foi um dos temas abordados durante o I Fórum Nacional de Medicina Aeroespacial, organizado

pelo CFM, em agosto, em Brasília. As conclusões dos debates devem subsidiar discussões ampliadas na Câmara Técnica criada pelo Conselho Federal para tratar do tema. Entre outros pontos, os participantes do Fórum defendem a definição de requisitos para que estes especialistas civis tenham acesso à conteúdos que os permitam examinar pilotos, copilotos, comissários de voo e outros profissionais da aviação. Durante o encontro, foi lançada a primeira edição da cartilha “Doutor, Posso Viajar de Avião?”, com orientações para médicos e passageiros sobre cuidados com a saúde que aumentam a segurança de todos em situação de voo. A íntegra do documento está no site do CFM (www. portalmedico.org.br).

Inibidores de apetite Em agosto, foi divulgada uma nota de alerta à sociedade sobre os riscos de uma possível suspensão do comércio de inibidores de apetite no país. O documento – assinado pelo CFM e pelos CRMs – chama a atenção para a medida em discussão no âmbito da Agência Nacional de Vigilância em Saúde (Anvisa). Nos últimos meses, as entidades médicas participaram de vários debates e reuniões sobre o assunto junto à Anvisa, mas entendem que seus argumentos têm sido desconsiderados. Neste contexto, o CFM considera a adoção da medida um ato unilateral e autoritário que interfere na autonomia dos médicos e dos pacientes, além de colocar milhões de brasileiros em situação de risco para a saúde.

Assistência aos queimados Um conjunto de regras que contribuirá para a melhora da assistência oferecida às vítimas de queimaduras no país foi apresentado ao país, em agosto. O

Protocolo de Tratamento de Emergência das Queimaduras - elaborado pela Câmara Técnica de Queimaduras do CFM - dá subsídios para a qualificação do atendimento a este tipo de paciente, sobretudo nas unidades da rede pública. O documento já foi, inclusive, entregue ao Ministério da Saúde com a proposta de que seja incorporado às diretrizes assistenciais do Sistema Único de Saúde (SUS). A preocupação é fazer com que os pacientes recebam os cuidados adequados, o que reduz os riscos de complicações em seus quadros clínicos e minimiza a possibilidade de sequelas físicas e estéticas. Para saber mais sobre as recomendações, acesse o site do CFM (www.portalmedico.org.br).

Nota de pesar É com profundo pesar que o Conselho Federal de Medicina (CFM) informa a perda do nobre colega e liderança do movimento médico, Francisco das Chagas Dias Monteiro, conhecido como Chico Passeata. “Siga, de mãos dadas, o caminho da esperança e busque a paz”, com estes versos de autoria dele, os médicos brasileiros se despedem do homem que lutou bravamente por um mundo melhor. Sanitarista, grande defensor do Sistema Único de Saúde (SUS) e do serviço público no país, ele atuou como militante contra o regime militar e foi preso político em 1964. Admirado pelo seu caráter e firmeza de posições, Chico Passeata se converteu em exemplo para diferentes gerações de médicos e profissionais da saúde, tendo sito conselheiro do CFM no período de 1999 a 2002. O falecimento aconteceu em 12 de agosto, em Fortaleza, em consequência de câncer. *Vice-Presidente do CFM.

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CREMEPE Conselho Regional de Medicina/PE

ASSESSORIA IMPRENSA SIMEPE

Avanço na implantação na carreira de Estado dos médicos

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presidente do Cremepe, Helena Carneiro Leão, classificou como “grande conquista” o termo de compromisso assumido pelo governo com os médicos da rede estadual de Saúde, aprovado em assembleia geral da categoria, no dia 14 de junho, no auditório da Associação Médica de Pernambuco (Ampe), no Recife. Além da importância do reajuste salarial, ela considerou a aprovação um “avanço relevante” para a implantação da carreira de Estado para médicos, uma antiga reivindicação das Entidades Médicas. O termo de compromisso aprovado em assembleia prevê reajuste salarial escalonado até 2014, a implantação do Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos (PCCV) e a criação de uma nova lei da produtividade. Ele segue proposta defendida junto ao governo pelo Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) em parceria com as demais Entidades Médicas, incluindo o Cremepe. O reajuste foi implantado em julho, com percentual de 10%. Os outros percentuais garantidos são de 9% em junho de 2012, 9% em junho de 2013 e 15% em junho

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de 2014. Para Helena Carneiro Leão, a condução das negociações pela direção do Simepe se deu de forma “digna”, com significativos avanços à categoria, destacando que o entendimento entre as partes deveu-se ao amadurecimento das campanhas salariais anteriores. “A condução pelo Simepe foi respeitosa e conseguiu uma vitória de expressão à categoria”, disse. Ela também creditou o desfecho positivo à postura “aberta ao diálogo” da Secretaria Estadual de Saúde. “Pelo tratamento dispensado às Entidades Médicas e pelas propostas contempladas no acordo, percebi que houve uma preocupação do governo com a dignidade médica”, considerou. O presidente do Simepe, Silvio Rodrigues, avaliou como um avanço a aprovação da proposta pelos médicos e ressaltou que, desde o início das negociações, o governo do Estado sinalizou para o entendimento, considerando que o embate com a categoria levaria a um desgaste no qual profissionais, gestão e a população seriam atingidos. “A nego-

ciação foi positiva. Evitamos o confronto entre a classe e o governo e preservamos a população. O sentimento é de reconhecimento do profissional”, afirmou. De acordo com o vice-presidente do sindicato, Mário Jorge Lobo, a proposta foi bastante satisfatória e contempla vários pontos reivindicados pela categoria, assegurando o reajuste escalonado por quatro anos. “Tivemos uma vitória importante. Os médicos compreenderam e mantiveram bom senso para enxergar os ganhos conquistados nessa proposta”, explicou. O vice-corregedor do Cremepe, André Longo, acredita que o desfecho da negociação é prova da força e representatividade do movimento médico em Pernambuco, que ganhou respeito por sua história de lutas anteriores. “A proposta foi amplamente discutida com a categoria e apesar de alguns colegas manifestarem insatisfação, a maioria chegou ao entendimento que a proposta é favorável à classe”, argumentou. (Leia sobre os acordos com a PCR e a Prefeitura de Olinda nas págs. 28 e 29)


MARIA EDUARDA VAZ

Os números da Caravana:

CARAVANA 2011

52 cidades do interior foram visitadas na ação de 2011 6 grupos de profissionais realizaram as vistorias e pesquisas 5 dias foi o período de duração da Caravana 5,4 foi a nota média dada aos serviços públicos pela população

Os problemas mais comuns:

Cremepe e Simepe divulgam balanço A

SALETE HALACK

s direções do Cremepe e do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) divulgaram, em entrevista coletiva, o relatório preliminar com as conclusões da 7ª edição da Caravana Cremepe/Simepe, que percorreu 52 municípios do Sertão entre 22 e 26 de agosto. O documento revela a precariedade dos serviços públicos de saúde nos municípios, falta de coleta seletiva de lixo, intensificação no consumo de crack e a forte presença do abuso sexual e violência contra mulheres, crianças e adolescentes. Os caravaneiros confirmaram também que ainda persistem no Sertão problemas antigos, como abastecimento d´água deficiente ou inexistente, estradas com péssimo estado de conservação – principalmente no Sertão do Pajeú – e a utilização do transporte estudantil em caminhões paus-de-arara. Cerca de 2 mil pessoas foram questionadas sobre qualidade de vida nos municípios e a média das respostas foi 5,4 – em uma escala de zero a 10.

Todos os dados serão condensados em um relatório final, que será divulgado ainda em setembro, com os detalhes por município visitado. Este documento será enviado à Presidência da República, Governo do Estado, Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e ficará disponível à consulta pública no site do Cremepe (www.cremepe.org.br). Na entrevista coletiva, os dados preliminares da Caravana 2011 foram comparados com os dados da primeira edição do projeto, em 2005, quando municípios sertanejos foram visitados pela primeira vez. “De uma forma geral, alguns aspectos melhoraram e outros pioraram. O consumo de crack piorou. Em 2005, tínhamos notícias da droga, agora verificamos que ele se disseminou. O que permanece igual é a exploração sexual de crianças e adolescentes, a violência contra a mulher e as péssimas condições das estradas. O ponto positivo fica com relação à melhoria na educação, principalmente nas escolas

•Falta d’água •Abuso e exploração sexual •Dependência química (sobretudo em relação ao crack) •Ausência de médicos na cidade •Precariedade dos serviços públicos •Estradas em péssimo estado de conservação

mantidas pelo governo do Estado”, avaliou o coordenador-geral da Caravana, Ricardo Paiva, que participa do projeto desde sua primeira edição. A falta de Centros de Atenção Psicossocial (Caps) na maioria dos municípios foi uma das deficiências destacadas pelos coordenadores da Caravana quanto ao combate ao crack. “O Conselho Tutelar ou o Ministério Público são acionados para atender um caso de um jovem envolvido com drogas, mas não têm para onde encaminhá-los. De uma maneira geral falta essa referência no tratamento de usuários de drogas no interior”, disse o vice-corregedor do Cremepe, André Longo. A presidente do Cremepe, Helena Carneiro Leão, afirmou que os Caps preencheriam uma lacuna encontrada na quase totalidade dos municípios visitados: a ausência de tratamento psiquiátrico. “Não existe uma cobertura para tratamento mental, nem para os portadores de transtornos, nem para os que são dependentes químicos”, disse ela, que coordenou um dos grupos da Caravana que flagrou um cárcere privado de um deficiente mental em Bodocó (Sertão do Araripe), que nunca passara por uma assistência psiquiátrica.

UNIDADES DE SAÚDE Nas unidades de saúde, os caravaneiros encontraram desde a ausência de médicos nas unidades do Programa de Saúde da Família (PSF) e escalas de médicos incompletas à péssima estrutura de hospitais e casas de saúde, passando pela ausência de coleta seletiva de lixo hospitalar. Em Mirandiba, uma das equipes da Caravana flagrou o lixo hospitalar misturado ao comum no lixão da cidade. Já em Quixaba, há somente um Centro Médico com

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CREMEPE Conselho Regional de Medicina/PE

NOVA FASE As equipes do Cremepe e do Simepe se dedicam agora à preparação do relatório final da Caravana. Ricardo Paiva destacou que o projeto já cumpre seu papel em estimular uma mobilização para melhoria dos serviços públicos naquelas localidades. “Apesar de ficar só meio expediente em cada cidade, a Caravana causa uma grande repercussão. Não temos a pretensão de mudar a realidade, mas o fato dela causar uma mobilização naquela localidade e os desdobramentos dela já fazem com que a Caravana cumpra seu papel”. Paiva também anunciou que o projeto Caravana de 2011 significou um fim de um ciclo, com o encerramento das atividades pelo interior. A partir de 2012, e nos dois anos seguintes, ela percorrerá 200 comunidades carentes do Recife: 60 em 2012, 60 em 2013 e 80 em 2014.

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COMBATE AO CRACK

CFM lança cartilha para tratamento de usuário CFM/DIVULGAÇÃO

atendimento apenas ambulatorial semelhante ao do PSF, sem serviço de pronto atendimento. A Caravana também verificou unidades bem equipadas, que prestam bons serviços de saúde e educação à população, mas com exceções. Mereceu destaque Carnaíba, com hospital bem equipado e escala de médicos completa. O município também mantém uma escola de música que é modelo para o Estado. Para o presidente do Simepe, Sílvio Rodrigues, os problemas encontrados se devem à tendência de centralizar os atendimentos complexos pelo SUS em cidades polos, ficando os municípios menores apenas com os atendimentos de casos simples. A diretora de Políticas Públicas do Simepe, Rafaela Pacheco, também chamou atenção à falta de uma política de fixação do médico no interior como uma das razões para ausência desses profissionais em municípios menores. “O que chama mais atenção é a ociosidade dos serviços municipais de saúde – os hospitais estão vazios pela baixa resolutividade dessas unidades. Faltam médicos e uma política pública que garanta uma carreira SUS e que estimule a fixação desses profissionais nos municípios mais afastados”, alertou ela.

A direção do CFM e do Cremepe no lançamento da cartilha

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Conselho Federal de Medicina (CFM) lançou no dia 10 de agosto sua cartilha nacional sobre assistência a usuários e dependentes de crack. O documento, intitulado Diretrizes Gerais Médicas para Assistência Integral ao Usuário do Crack, define conceitos relacionados à droga e seu uso, assim como aspectos gerais e específicos do tratamento. Ele foi formulado pela Comissão de Assuntos Sociais da entidade a partir de uma pauta de discussões realizadas em 2010 e 2011 em um fórum, um seminário e uma oficina – encontros dos quais participaram especialistas, pesquisadores e representantes de instituições interessadas no tema. O conselheiro do Cremepe, Ricardo Paiva, foi um dos idealizadores do documento. O lançamento da cartilha foi considerado pelo presidente do CFM, Roberto d´Avila, um marco para a capacitação dos médicos do SUS no atendimento aos usuários da droga. É o primeiro documento do gênero a orientar

profissionais de saúde da rede pública na assistência ao usuário de crack. “Penso que não há ninguém que não fique impressionado com a epidemia que se instalou no país. Todos precisam estar envolvidos nesta luta, e o CFM fará sua parte com projetos continuados e capacitação dos médicos”, afirmou ele. A cartilha está disponível pela internet nos sites do CFM (www. cfm.org.br) e do Cremepe (www.cremepe.org.br). A cerimônia de lançamento da publicação foi realizada na sede do CFM, em Brasília, e contou com a presença de autoridades do governo, parlamentares, representantes de entidades médicas e de instituições de saúde. A presidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco, Helena Carneiro Leão, e o vice-corregedor André Longo, também participaram da cerimônia. O evento teve ampla repercussão na mídia nacional: 38 veículos de comunicação noticiaram o ato.


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Conselho Regional de Medicina de Pernambuco recebeu, no dia 22 de agosto, o tesoureiro e o 1º vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Hiran Gallo e Carlos Vital, respectivamente. Os dois vieram a Pernambuco para visitar a obra de expansão da sede do Cremepe. Eles se reuniram com o tesoureiro da instituição, Ricardo Paiva. A obra está sendo custeada pelo Conselho Federal de Medicina, através de um projeto de modernização e de melhoria de estrutura para as sedes dos CRMs de todo o Brasil. Hiran Gallo agradeceu a receptividade e parabenizou a diretoria do Cremepe e a comissão responsável pela lisura com a qual a obra está sendo erguida. “Pernambuco deve servir de exemplo para os outros Estados do Brasil, devido ao cumprimento do crono-

grama orçamentário e pelo bom acompanhamento da obra”, afirmou ele. “No fim de tudo, estaremos aqui estourando champanhe e inaugurando essa obra magnífica, que será a nova sede do Cre- Ricardo Paiva (E), do Cremepe, e o engenheiro responsável pela obra conversam com o tesoureiro e o vice-presidente do CFM mepe”. HISTÓRICO Para Carlos Vital, é muito bom ver A construção do prédio anexo ao Creo andamento da construção. “Reitero o mepe teve início no dia 3 de janeiro orgulho pelo trabalho feito pelos amideste ano, após a assinatura de ordem gos do Cremepe. Todos sabem que não de serviço em 29 de dezembro de 2010, é fácil realizar uma obra desse porte, feita pelo então presidente da instituição, mas fico feliz em ver que tudo foi feito André Longo. O novo prédio, financiacom seriedade”, disse ele. do pelo Conselho Federal de Medicina A construção terá sua finalização an(CFM), teve o custo estimado em R$ 4,8 tecipada, de julho de 2012 para dezemmilhões e está sendo construído em uma bro deste ano, segundo o engenheiro área de aproximadamente 1.600 m2. responsável, Sérgio Mattos.

MARIA EDUARDA VAZ

Visita às obras do Cremepe

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE PERNAMBUCO - CREMEPE PUBLICAÇÃO DE PENAS PÚBLICAS Ref. Processo Ético Profissional n.º 40/07

Ref. Processo Ético Profissional n.º 12/02

Ref. Processo Ético Profissional n.º 57/05

PENA DISCIPLINAR APLICADA AO MÉDICO DR. FÁBIO NÓBREGA ALVES PEREIRA - CREMEPE 9.335

PENA DISCIPLINAR APLICADA AO MÉDICO DR. FLÁVIO GOMES DE MELO CREMEPE 6.777

PENA DISCIPLINAR APLICADA AO MÉDICO DR. GILVANEY JOSÉ VENÁNCIO DA SILVA - CREMEPE 4.874

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE PERNAMBUCO - CREMEPE, no uso de suas atribuições que lhe confere a Lei n.º 3.268/57, regulamentada pelo Decreto n.º 44.045/58, e em conformidade com o acórdão proferido na sessão de julgamento do processo ético-profissional n.º 40/07, realizada no CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, em 15/12/2010, vem aplicar ao médico DR. FÁBIO NÓBREGA ALVES PEREIRA - CREMEPE 9.335, a pena de CENSURA PÚBLICA EM PUBLICAÇÃO OFICIAL, prevista na letra “c”, do art. 22, da Lei 3.268/57, por ter cometido a infração contida no Art. 29, do Código de Ética Médica de 1988 (Resolução CFM nº 1.246/88).

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE PERNAMBUCO - CREMEPE, no uso de suas atribuições que lhe confere a Lei n.º 3.268/57, regulamentada pelo Decreto n.º 44.045/58, e em conformidade com o acórdão proferido na sessão de julgamento do processo ético-profissional n.º 12/02, realizada no CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, em 07/04/2010, vem aplicar ao médico DR. FLÁVIO GOMES DE MELO CREMEPE 6.777, a pena de CENSURA PÚBLICA EM PUBLICAÇÃO OFICIAL, prevista na letra “c”, do art. 22, da Lei 3.268/57, por ter cometido a infração contida nos Arts. 17 e 85, do Código de Ética Médica de 1988 (Resolução CFM nº 1.246/88).

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE PERNAMBUCO - CREMEPE, no uso de suas atribuições que lhe confere a Lei n.º 3.268/57, regulamentada pelo Decreto n.º 44.045/58, e em conformidade com o acórdão proferido na sessão de julgamento do processo ético-profissional n.º57/05, realizada no CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, em 19/04/2010, vem aplicar ao médico DR. GILVANEY JOSÉ VENÁNCIO - CREMEPE n.º 4.874, a pena de CENSURA PÚBLICA EM PUBLICAÇÃO OFICIAL, prevista na letra “c”, do art. 22, da Lei 3.268/57, por ter o mesmo cometido as infrações previstas nos arts. 29, 30, 33, e 62, todos do Código de Ética Médica/1988.

Recife, 06 de junho de 2011.

Recife, 10 de junho de 2011.

Recife, 15 de agosto de 2011.

A Diretoria

A Diretoria

A Diretoria

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CREMEPE Conselho Regional de Medicina/PE

AGENDÃO

Assessoria de Comunicação do Cremepe

MICHEL FILIPE

Entre as inclusões estão cirurgia bariática, ampliação de consultas a nutricionistas e indicações de terapia ocupacional.

Filme produzido pelo Cremepe é exibido no FIG

A presidente do Cremepe com membros da direção durante coletiva

Demanda por UTI em Pernambuco aumenta 70% em seis meses A demanda por leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na rede pública em Pernambuco aumentou 70% entre janeiro e junho deste ano. Em janeiro, havia uma média de 40 pacientes por dia à espera de vagas em UTI geral, infantil, neonatal e e doenças infecto-parasitárias. Esse número pulou para 68 em junho, mês que registrou o maior número de requisições por leitos no ano. A grande maioria das demandas foi por vaga para UTI geral. Esses dados integram um levantamento do Cremepe sobre o histórico de demandas por leitos de UTI no Estado em 2011. O estudo foi apresentado no dia 4 de julho pela presidente da instituição, Helena Carneiro Leão, em uma entrevista coletiva.

Dois novos casos de exercício ilegal da Medicina em PE

no Cremepe de outra pessoa. Os dois foram indiciados pela PF

Em mais uma operação conjunta do Cremepe com a Polícia Federal (PF), foram identificados dois casos de exercício ilegal da Medicina. O primeiro aconteceu no dia 1º de julho: Alessandra Bréa Moreno Dantas, natural de Rio Branco (AC), foi presa em flagrante em Caetés (Agreste). Ela cursou Medicina em Cuba, mas não teve seu diploma revalidado pelo Ministério da Educação. O segundo caso, três dias depois, ocorreu no Hospital Regional do Agreste (HRA), em Caruaru. Leonardo de Moura Cintra constava na escala de plantão do HRA e do hospital Prontolinda, em Olinda. Mas ele não concluiu o curso de Medicina, e usava um carimbo falso e o número de registro

ANS publica nova listagem de coberturas obrigatórias

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A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) publicou na terça-feira (02/08), a Resolução Normativa 262 que atualiza o Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde, garantindo e tornando pública a cobertura assistencial mínima obrigatória. O rol constitui a referência básica para cobertura assistencial nos planos privados de assistência à saúde, contratados a partir de 1º de janeiro de 1999 e é revisado a cada dois anos. Nesta atualização será incluída a cobertura para cerca de 60 novos procedimentos, que entrará em vigor a partir do dia 01/01/2012.

O curta-metragem “Casa dos Estranhos”, produzido pelo Cremepe e pelo CFM, foi exibido durante a programação do Festival de Inverno de Garanhuns 2011 (FIG). A exibição aconteceu no Casarão dos Pontos Culturais, um dos polos de programação do festival. O filme é o primeiro produzido no Estado com recurso de áudio descrição - que propicia a compreensão das cenas por portadores de deficiência visual.

Vice-presidente destaca falta de recursos humanos na crise obstétrica Em audiência pública realizada no Ministério Público de Pernambuco, o vice-presidente do Cremepe, José Carlos de Alencar, apontou a falta de recursos humanos como a questão principal da crise obstétrica no Estado. Para ele, apesar da falta de maternidades e de leitos em hospitais, a carência de obstetras, enfermeiras e anestesistas ainda é preocupante. “Não adianta termos mais camas em hospitais, se não temos o profissional ao lado”, disse ele.

80% dos estudos clínicos são feitos por multinacionais Apesar do crescimento econômico, o Brasil continua dependendo de empresas multinacionais para desenvolver pesquisas para o desenvolvimento de novos medicamentos. Levantamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostra que 80% dos estudos clínicos no país são feitos por empresas e laboratórios


multinacionais. Essas pesquisas servem para testar, em quatro etapas, novos princípios ativos em seres humanos e estão diretamente relacionadas à capacidade de um país desenvolver medicamentos inovadores.

do CFM - dá subsídios para a qualificação do atendimento a este tipo de paciente, sobretudo nas unidades da rede pública. O documento já foi, inclusive, entregue ao Ministério da Saúde com a proposta de que seja incorporado às diretrizes assistenciais do Sistema Único de Saúde (SUS).

Estado propõe mais vagas para médico residente

Assessor do ministro apresenta ações DIVULGAÇÃO

Para aumentar a oferta de médicos anestesiologistas na rede SUS e até no serviço privado a Secretaria Estadual de Saúde está propondo o aumento de vagas de residência médica nessa especialidade. O secretário Antônio Carlos Figueira defendeu a triplicação do número. “Hoje são apenas 15 vagas enquanto a soma de especialidades cirúrgicas ultrapassa 200”, disse ele, em matéria publicada no Jornal do Commercio. Anestesiologia é a terceira especialidade com maior concorrência de candidatos, uma disputa de 11 médicos por cada vaga.

CFM cria novas áreas de atuação médica

Lideranças médicas aprovam paralisação no SUS

A Presidente do Cremepe, Helena Carneiro Leão, recebeu na sede da instituição, o médico Mozart Sales (foto), chefe de gabinete do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. O representante do Ministério da Saúde participou da reunião plenária onde apresentou as principais ações e projetos para Pernambuco. Mozart Sales dise que o Ministério prepara uma nova política de urgência e emergência. Com relação à atenção básica, afirmou que pretende aumentar

A Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) 1973/2011, publicada no Diário Oficial da União em 1º de agosto, cria três novas áreas de atuação médica: medicina do sono, medicina paliativa e medicina tropical. Área de atuação é um ramo de especialidade médica. Ao ingressar em programa de residência da especialidade infectologia, por exemplo, o profissional pode, a partir de agora, receber treinamento adicional específico na área de medicina tropical. “Mudanças nas características de determinados ramos da medicina exigem adaptações de nomenclatura e de distribuição das atenções profissionais; isso é próprio do caráter orgânico da profissão”, avalia Carlos Vital, 1º vice-presidente do Conselho e membro da Comissão Mista de Especialidades.

JARBAS ARAÚJO

Lideranças médicas de todo o país aprovaram o dia nacional de paralisação dos médicos que atuam na saúde pública, que deverá acontecer no dia 25 de outubro. A decisão foi tomada em reunião da Comissão Nacional Pró-SUS, na sexta-feira (05/08), com participação de representantes de todo o país. “Os problemas do SUS continuam com uma série de impasses e desafios. Vemos improvisações e falta de rumo. O quadro geral é muito preocupante e precisamos nos posicionar”, declarou o 2º vice-presidente do CFM, coordenador da comissão, Aloísio Tibiriçá, na abertura da reunião.

a oferta de médicos principalmente no interior, além de requalificar e monitorar essa esfera de atendimento. “ Com essas propostas, pretendemos ajudar a melhorar o quadro de assistência no Brasil e ter a garantia de que todos terão acesso ao atendimento à saúde”, disse. Durante a apresentação dos projetos do Ministério, Mozart destacou os programas que ofereceram melhoria à saúde do Estado, como a Rede Cegonha, que visa garantir o atendimento adequado e seguro durante e após a gravidez. Sobre esse projeto, Mozart afirmou que a “reestruturação e requalificação são uma das prioridades do Ministério”.

Saem regras para melhorar atendimento aos queimados O CFM lançou, no sábado 6 de gosto, um conjunto de regras que contribuirá para a melhora da assistência oferecida às vítimas de queimaduras no país. O Protocolo de Tratamento de Emergência das Queimaduras - elaborado pela Câmara Técnica de Queimaduras

A foto acima saiu sem legenda na revista anterior. Ela mostra o psiquiatra José Francisco de Albuquerque em reunião do Núcleo Especializado em Dependência Química (NEDEQ), do Hospital das Clínicas da UFPE, com profissionais de saúde que fazem parte do núcleo

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SIMEPE Sindicato dos Médicos de Pernambuco

FOTOS: ASSESSORIA DE IMPRENSA/SIMEPE

Médicos e Prefeitura do Recife fecham acordo

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s médicos da Prefeitura do Recife aprovaram em assembleia geral, realizada no auditório da Associação Médica de Pernambuco (Ampe), no dia 7 de julho, a proposta de reajuste salarial e melhores condições de trabalho da gestão municipal.

Na ocasião, o vice-presidente do Sindicato dos Médicos (Simepe), Mario Jorge Lobo, apresentou os itens negociados entre a entidade médica e a Prefeitura, que além do reajuste salarial, incluem também, o Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos (PCCV) e a lei de produtividade.

O reajuste foi contemplado através de escalonamento. Em dez meses, haverá um aumento total de 26,5% na remuneração, divididos em dois períodos, sendo 10% implementados no mês de agosto, e o restante em junho de 2012. Para o presidente do Sindicato dos Médicos, Silvio Rodrigues, esta foi mais uma conquista da categoria, uma vez que o acordo foi alcançado de forma pacífica através de negociações. “O nosso entendimento é que os médicos estão ganhando respeito, através da força e do comprometimento em valorizar o trabalho e os serviços prestados à população”, defendeu. Ainda de acordo com ele, os planos de melhorias das condições de trabalho e das estruturas físicas nas unidades de saúde serão acompanhados de perto pelo Sindicato. Na opinião da presidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), Helena Carneiro Leão, a proposta foi positiva dentro da perspectiva da realidade do País, com ganhos reais e significativos para a categoria. “A aprovação, sem dúvida, foi um avanço”, pontuou.

Médicos denunciam Hospam N

ada mudou em Serra Talhada. A falta de recursos humanos e de equipamentos continua sendo o principal problema no Hospital Professor Agamenon Magalhães (Hospam), principal referência de saúde do município. De acordo com o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), as escalas estão incompletas, com sobrecarga de trabalho, além de escassez de ambulâncias e acúmulo de trabalho. “Faltam profissionais de todas as especialidades. Na ortopedia, por exemplo, temos quatro médicos, quando na realidade são necessários 20. Na cirurgia há uma carência de 12 especialistas. Na semana passada, havia 34 pessoas internadas (em média) na pediatria, quando o número de leitos era de apenas 18”, relatou o presidente do Simepe, Silvio Rodrigues. Ele disse ainda que a falta de equipamentos é outra problema para quem

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trabalha no Hospam. A traumatologia é o setor que mais sofre. Além disso, o acúmulo de trabalho é também um fator que prejudica os atendimentos da população usuária do SUS. O transporte de pacientes também tem colaborado para a crise do Hospital. De acordo com os médicos, há interferência da diretoria da Gerencia Regional de Saúde (Geres) nas transferências dos pacientes, passando por cima das soli-

citações dos médicos, comprometendo a saúde dos pacientes. “Às vezes uma única ambulância transporta quatro, cinco pessoas ao mesmo tempo. O Hospital precisa de mais ambulâncias”, explicou Sílvio Rodrigues. Vale lembrar que essas mesmas denúncias foram feitas pelo Simepe à Secretaria Estadual de Saúde (SES) em outubro do ano passado. Porém, a situação não mudou nos últimos meses.


Crise: faltam médicos na Maternidade Fernandes Salsa Natália Gadelha*

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o fim de agosto, os diretores do Simepe, Cláudia Beatriz e Tadeu Calheiros, estiveram na Maternidade José Fernandes Salsa, no município de Limoeiro, após tomarem ciência da ineficaz operacionalização da unidade de saúde devido aos desfalques na composição das escalas de plantão, ocasionando frequente restrição de atendimentos. Durante a visita, os diretores avaliaram positivamente a estrutura da maternidade, que apresenta condições físicas e equipamentos adequados e disponibilidade de leitos, porém, com extrema carência de recursos humanos, nas especialidades de obstetrícia e ginecologia, e principalmente, anestesia e neonatologia. A unidade contava apenas com dois obstetras, inviabilizando a maternidade de internar gestantes em trabalho de parto, pela ausência de anestesistas no plantão. Segundo o obstetra Edmundo Magalhães, que está na unidade há 16 meses, encaminhar pacientes para outros municípios por falta de equipe tornou-se tarefa corriqueira. “Eu venho à maternidade, quero trabalhar, mas não tem anestesista e nem neonatologistas. O serviço fica fechado”, explicou. Ainda de acordo com o

médico, o sentimento é de desconforto. “Já precisei fazer boletins de ocorrência, para relatar a situação”, finalizou. De acordo com o diretor do Simepe, Tadeu Calheiros, esse é um problema grave e tem causado diversos efeitos negativos em toda a rede materno-infantil do Estado. O assunto é tão sério que a discussão já está a cargo do Ministério Público de Pernambuco (MPPE). “O Sindicato tem conhecimento que há profissionais, o que precisa é redirecionar as equipes para a necessidade dos serviços, implantar uma política de valorização e de estímulo para que os profissionais assumam e permaneçam nesses municípios, além de convocar o concurso público”, sugeriu. A diretora do Simepe, Cláudia Beatriz, chama a atenção e aponta que parte da superlotação nas maternidades da Região Metropolitana do Recife (RMR)

se deve à falta de compromisso em regionalizar os serviços e de um plano de interiorização dos profissionais. “A construção de novas maternidades é bem vista e desejada, entretanto, para ter funcionalidade precisa de recursos humanos. É fundamental que haja médicos e equipes completas. É premente a necessidade de uma política de estímulo à interiorização que deverá ser pensada com urgência pelas três esferas de entes federados (federal, estadual e municipal). ”, explicou. Ainda de acordo com a diretora, que também é obstetra, a maternidade de Limoeiro é um excelente exemplo de que só hospital não irá resolver a crise, é preciso investir em profissionais e capacitar os serviços, otimizando leitos que hoje encontram-se subutilizados. “Há médicos querendo trabalhar e existem hospitais e leitos disponíveis”, pontuou. A avaliação da visita à Maternidade José Fernandes Salsa foi repassada ao Ministério Público Estadual, junto aos demais relatórios que o Simepe possui sobre as condições das maternidades do Estado. *Assessoria de Imprensa do Simepe

Médicos de Olinda fecham acordo O

s médicos vinculados à rede municipal de saúde de Olinda aprovaram a contraproposta de reajuste salarial apresentada pela Prefeitura em assembleia geral do dia 9 de agosto. Com a aprovação da proposta, os valores da renumeração ficarão assim: médicos (vínculo 20h) em novembro de 2011 R$ 2000,00, e em maio de 2012 R$2.500,00 e os médicos do PSF R$ 6.500,00 e R$ 7.000,00, respectivamente. Na primeira pauta de negociação a gestão municipal defendeu a implantação dos reajustes apenas para o próximo ano, nos meses de janeiro e maio. Além dos reajustes, também foram contemplados os pontos que dizem respeito às condições de trabalho, ao Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos (PCCV) e a lei da produtividade. O Simepe, através de seus diretores, irá

manter o canal de dialogo aberto para acompanhar a progressão dos pleitos acordados na pauta. O diretor do Sindicato, Tadeu Calheiros, avaliou que os médicos tiveram ganhos significativos e consideráveis. De acordo com ele, o desfecho das negociações com o município foi bem sucedido. “Desde o Movimento de Valorização dos Médicos de Olinda no ano passado, construímos uma relação de diálogo com a gestão municipal. Foram muitas reuniões para adequação do pleito aprovado na campanha salarial de 2010 e construção de proposta viável para a categoria”, explicou. “Sabemos que temos muito para avançar. Mas é importante destacar que Olinda saiu de um salário de R$ 882, em maio de 2010, para R$ 2.500, em maio de 2012. O dialogo entre o Sindicato e a Secretaria de Saúde será constante”, explicou.

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FOTOS: ASSESSORIA DE IMPRENSA/SIMEPE

SIMEPE Sindicato dos Médicos de Pernambuco

Médicos do Hemope aderem ao PCCV do Estado

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s médicos que trabalham na Fundação Hemope decidiram pela adesão ao piso salarial, com reajustes e, ao Plano de Cargos, Carreira e Vencimentos (PCCV), com enquadramento na grade do Estado. A proposta foi aprovada pela categoria, por unanimidade, em assembleia geral realizada no auditório do Simepe. A deliberação dos médicos do Hemope será encaminhada para mesa de negociação com o

Governo do Estado. O Simepe vai solicitar que a implantação do reajuste salarial seja reatroativo ao mês de julho. O vice-presidente do Simepe, Mário Jorge Lobo, explicou com detalhes a proposta, através de simulações e os ganhos reais com a migração para a nova grade salarial. Ele enfatizou que a proposta contempla vários itens reivindicados pelos médicos, inclusive para os aposentados. “ Foi uma decisão

importante e de bom senso dos profissionais que puderam analisar com tranquilidade os ganhos reais conquistados nessa proposta”, assinalou. Mário Jorge fez questão de lembrar das campanhas salariais históricas do Simepe, travadas ao longo dos anos com os governos federal, estadual e municipal, e deixou bem claro que a luta, a mobilização e o compromisso de valorização do trabalho médico são constantes.

Médicos da Funase também no PCCV Os médicos vinculados à Fundação de Atendimento Socioeducativo de Pernambuco (Funase) concordaram em aderir à Carreira de Estado exclusiva da categoria, durante assembleia geral, realizada no Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe). Com a decisão, os médicos da Funase estarão enquadrados na grade salarial do Estado. A proposta aprovada por unanimidade pela categoria prevê os mesmos ganhos obtidos pelos médicos com vínculo na rede estadual, na última campanha salarial e de valorização profissional, em 14 de junho deste ano. O presidente do Simepe, Silvio Rodrigues, avaliou positivamente a incorporação dos médicos da Funase para o plano de Carreira de Estado. “Há con-

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siderável defasagem na remuneração desses médicos. Com a adesão serão atualizados o piso salarial com reajustes e o Plano de Cargos, Carreira e Vencimentos (PCCV)”, explicou. Segundo ele, a partir de agora, os médicos da fundação serão representados pela en-

tidade médica em todas as discussões com o Governo do Estado. A deliberação da assembleia será encaminhada para mesa de negociação com o Governo do Estado. O Sindicato vai solicitar que a implantação do reajuste salarial seja retroativa ao mês de julho.


Adeus ao médico, sindicalista e poeta Chico Passeata Marcelo Gurgel Carlos da Silva*

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este momento de dor e perda, o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) se solidariza com os familiares, amigos e companheiros de Chico Dias Monteiro, conhecido por “Chico Passeata” - cidadão, poeta, escritor, médico e sindicalista. Nossa homenagem a um brasileiro que marcou sua vida pela luta em defesa da liberdade, com altivez e determinação. Fica seu legado de luta em defesa de uma sociedade justa, igualitária e socialista. “A feliz combinação de experiência de campo e preparo acadêmico com o fervor de seu empenho fizeram dele um baluarte para a construção do Sistema Único de Saúde no Ceará e também no Brasil. Foi presença marcante, por sua desprendida dedicação à Saúde Pública, nas variadas entidades da classe médica cearense (Associação Médica Cearense, Sin-

dicato dos Médicos do Estado do Ceará, Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará etc.), e nos fóruns, que levaram à edificação do SUS, a exemplo das Conferências Nacionais de Saúde, e nos Conselhos de Saúde, incluindo o nacional (CNS), do qual foi membro titular, representando a categoria médica. Talvez por sua sensibilidade de poeta, exibida em dezenove antologias da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Regional do Ceará, somando 168 poemas publicados, o aguerrido Chico apascentará ovelhas celestiais, como uma reluzente estrela, a brilhar no firmamento, servindo igualmente de farol, aos que aqui

permanecem, a fim de que perseverem no alcance de tão nobres ideais, os quais o destemido Chico tanto perseguiu. Com um abraço amigo. *Médico sanitarista

Simepe e Prefeitura de Caruaru avançam nas negociações A

reunião entre representantes do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) e das secretarias de Saúde e Administração de Caruaru, apresentou saldo positivo. As discussões avançaram na construção da minuta do Plano de Cargos, Carreira e Vencimentos (PCCV), da Lei da Produtividade e da garantia da antecipação da última parcela do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para o mês de outubro. A Assembleia Geral da categoria aprovou os indicativos discutidos em mesa de negociação. De acordo com o presidente do Simepe, Sílvio Rodrigues, o entendimento com os gestores visa a aprovação de um reajuste salarial antes da publicação do edital do concurso público para médicos do PSF e especialidades (cardiologia, obstetrícia, entre outros). “As negociações estão se consolidando para a implantação de uma carreira médica”, frisou. O vice-presidente do Simepe, Mário Jorge Lobo, afirmou que o calendário está mantido e os prazos estão sendo cumpridos. Até o fim de setembro vai ser definido o valor salarial para 2012.

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

SIMEPE Sindicato dos Médicos de Pernambuco

Vacinação em adultos A maioria das pessoas nem se lembra mais da velha e amarelada caderneta José Tenório de Cerqueira Filho*

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s vacinas têm fundamental importância na prevenção de doenças infecciosas, trazendo um beneficio direto para a saúde do individuo e contribuindo, direta ou indiretamente, para a proteção da população. A imunidade conferida pelas vacinas pode ser de longa duração (como a do sarampo ou a da febre amarela) ou por alguns anos (como a da febre tifoide e as antimeningocócicas polissacaridicas). É importante frisar que a aplicação da vacina pode ser feita por via oral, injeção subcutânea, intramuscular ou aplicação cutânea. E podem ser utilizadas seringas com agulhas hipodérmicas ou pistolas de contato. Convém salientar, que existem reações após a aplicação da vacina, sendo os mais comuns: febre alta e dor local. Além disso, existem contra-indicações do uso da vacina, como algumas pessoas que possuem alergia a albumina do ovo, e cabe ao médico ou o enfermeiro que está aplicando a vacina outros casos de condições especificas de saúde que podem impedir a pessoa de ter a vacina aplicada. A importância e necessidade de vacinação na infância são bem conhecidas. A prática da vacinação do adulto ainda é um desafio. A maioria dos adultos, nem se lembram da boa, velha e amarelada caderneta de vaci-

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nação, sendo que uma boa parte desse grupo acha bobagem voltar a encarar a seringa, correndo o risco de ter tétano, sendo esta uma das doenças mais perigosas e fatal em 40% dos pacientes contaminados, ocorrendo ainda a falta de hábito do adulto em voltar ao posto de saúde. Faz-se necessário que as esferas, Federal, Estadual e Municipal, promovam campanhas que alertem e incentivem a população de adultos a procurarem os postos de saúde para manterem a sua caderneta de vacinação em dia, sendo esta também um documento fundamental para o individuo. Cabe aqui frisar, a atuação das empresas na medicina do trabalho, que vem cobrando e efetivando a vacinação dos seus funcionários, reduzindo assim o absenteísmo (falta ao trabalho). Convém esclarecer aos adultos, de que os agentes patogênicos passam por mutações ou os anticorpos criados passam a ser ineficazes com o passar dos anos.Assim os adultos, a partir dos 19 anos, devem receber o reforço de

algumas doses de vacinas. As recomendadas para os adultos são: a – Catapora (Varicela) b – Gripe (Influenza, especialmente os mais idosos) c – Hepatite A d – Hepatite B e – Sarampo, Caxumba e Rubéola (MMR) f – Meningite meningocócica (A, C, Y e W-135) g – Pneumonia (Infecção pneumocócica, principalmente em idosos) i – Tétano-Difteria (dT) – a cada 10 anos j – Febre amarela Por fim, é de suma importância que o ato de receber uma vacina deva ser consciente, e que o indivíduo seja informado dos benefícios esperados e também da possibilidade, mesmo que pequena, da ocorrência de um evento adverso. *José Tenório de Cerqueira Filho é médico

infectologista e geriatra.


Mário Jorge Lôbo: “Mais conquistas para os médicos” essa união se dá através de um Sindicato forte, independente, não partidário e competente em suas ações.

PCCV, Produtividade, Gratificação, grade salarial, entre outros termos. Como o senhor reage quando lhe chamam de sindicalista médico? Com orgulho de poder representar os médicos de Pernambuco em defesa de sua dignidade através de seu trabalho. Esses termos e muitos outros hoje fazem parte do vocabulário dos médicos, nos tornando assim uma grande massa de sindicalistas médicos e traduzindo nisso o espírito de unidade que temos em nossa profissão.

A

s vitórias obtidas em 2011 com os resultados positivos das campanhas salariais do Estado e dos municípios coincidem com um momento importante para o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe). No próximo dia 14 de outubro, a entidade médica completará 80 anos de lutas, enfrentamentos conquistas e vitórias. A atual gestão do Simepe acredita que a experiência e o respeito que a entidade médica adquiriu estão refletindo no surgimento de uma nova fase. Nesta entrevista, o vice-presidente do Sindicato, Mario Jorge Lôbo, confirma que o cenário é favorável e que há a perspectiva de ampliar as conquistas da classe.

Como o senhor avalia o papel do Simepe que este ano completa 80 anos de fundação no contexto nacional? O Simepe vem desempenhando um papel de destaque no cenário do movimento médico nacional. Foi através de ações nossas que temas de importância vital para os médicos passaram para a ordem do dia dos debates, temas esses como: a luta contra a terceirização da saúde, a aposentadoria especial dos médicos, a luta pelos vínculos através dos planos de cargos, carreira e vencimentos, e principalmente a valorização dos salários pagos na rede pública.

E a gestão no âmbito político-sindical, em quase dois anos de trabalho?

Sem um Simepe bem gerido não teremos estrutura de apoio para as conquista político-sindicais que desejamos. Por isso os investimentos em profissionalismo e ampliação de nossos funcionários em diversas áreas (jornalismo, tecnologia da informação, financeiro e administrativo) vêm sendo uma prioridade em nossas gestões, aliado a essa visão temos demonstrado também a preocupação com a satisfação de nossos associados através da entrega da nova sede da defensoria médica e de nossos encontros festivos.

Mesa de negociação não é tarefa nada fácil. Muitas vezes a condução transforma-se num impasse, caos, gerando consequências irremediáveis. Existe segredo para fazer a negociação encontrar a luz da objetividade? O segredo, se é que ele existe, encontra-se no bom senso na negociação, a radicalização deve ser um instrumento ou para a abertura da mesa de negociação ou em resposta a ela, quando na intransigência de seus medidores, e não uma ação com outros fins alheios aos interesses dos médicos.

Por que as negociações das campanhas salariais deste ano obtiveram resultados positivos? Obtiveram pelo reconhecimento por parte dos governos da força dos médicos unidos e pelo entendimento que

Qual é sua opinião sobre a relação dos médicos com as empresas de planos de saúde? Essa relação, que hoje é imposta economicamente, é uma aberração de um sistema em processo de falência. O dia em que os honorários médicos voltarem a ser parte da relação médico paciente novamente, voltaremos a ser profissionais liberais de novo, por enquanto estamos trabalhando para essas operadoras como empregados precarizados.

A luta pela regulamentação da Emenda 29 continua sendo prioridade? O senhor acredita que somente através do custeio adequado os problemas mais emergentes da saúde pública serão equacionados? Sim, mais só isso não vai resolver os problemas do SUS nem seu subfinanciamento, porém sem essa regulamentação não estaremos dando ao SUS a sua devida importância e demonstrando aos brasileiros que o Governo Federal realmente se preocupa com a saúde de sua população.

Quais são suas expectativas para classe médica em 2012? Em 2012 temos um cenário favorável que nos coloca na perspectiva de ampliação de nossas conquistas salariais para mais municípios em nosso Estado, bem como teremos também a implantação de novas leis de produtividade e PCCVs que devem ser fiscalizados e aprimorados e benefícios de todos.

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AMPE Associação Médica de Pernambuco

NEDEQ: o tratamento dos dependentes químicos JARBAS ARAÚJO

A Associação Médica de Pernambuco integra-se às ações do Conselho Federal de Medicina, que através da Comissão de Ações Sociais, com efetiva participação do conselheiro Ricardo Paiva, do Cremepe, engajou-se no Programa de Enfrentamento ao Crack e decidiu abordar, nesta edição, a grave questão da dependência química, em entrevista com o Dr. José Francisco de Albuquerque, psiquiatra e conselheiro do Cremepe, coordenador do Núcleo Especializado em Dependência Química, do Hospital das Clínicas, da Universidade Federal de Pernambuco-NEDEQ/HC/UFPE. Desta forma, a AMPE pretende contribuir com os profissionais de saúde e à população informando sobre o funcionamento do serviço.

O psiquiatra José Francisco de Albuquerque, coordenador do NEDEQ/HC/UFPE

Elizabeth Porto*

A

dependência de substâncias psicoativas constitui uma manifestação psiquiátrica habitualmente caracterizada por uma necessidade de uso contínuo de uma ou mais substâncias, repercutindo no funcionamento do indivíduo e nas suas relações sociais (família, trabalho, amigos). Predomina entre adolescentes e adultos jovens, embora possa ocorrer em qualquer faixa etária, independendo, também, do nível intelectual ou socioeconômico. No Recife, o Núcleo Especializado em Dependência Química do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco-NEDEQ/HC/UFPE, coordenado pelos psiquiatras e professores do Departamento de Neuropsiquiatria, José Francisco de Albuquerque e Mu-

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rilo Duarte da Costa Lima, presta assistência especializada aos dependentes químicos que procuram ajuda no HC. O psiquiatra José Francisco informa que o NEDEQ atende em torno de 20 pacientes por dia, ressaltando que nos últimos cinco anos aumentou substancialmente o número de usuários do crack, especialmente, entre os mais jovens. Ele fala, abaixo, sobre o NEDEQ e o trabalho dos profissionais de saúde que atuam nesse serviço.

Quando foi criado o NEDEQ e como funciona? O NEDEQ é um Núcleo especializado em dependência química. Foi implantado em novembro de 2000 como iniciativa dos Departamentos de Neuropsiquiatria e Terapia Ocupacional da UFPE, integrando o ambulatório de saúde mental

do HC (2º. Andar) com funcionamento nos dois expedientes de segunda a sexta-feira. A implantação a partir de ações interdisciplinares considerou a multiplicidade de aspectos que envolvem a dependência de substâncias psicoativas (psicofisiológicos, socioculturais e econômicos entre outros.) .

Como é a assistência aos que procuram o NEDEQ? É um serviço ambulatorial, com uma equipe interdisciplinar constituída por psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, enfermeira. O acolhimento ou triagem ocorre, diariamente, através de agendamento pelo fone 2126.3692 ou por acesso direto da população que procura o Hospital das Clínicas. O profissional escalado busca as informações necessárias que possam


caracterizar a situação clínica da pessoa atendida (o tipo de substância, tempo de uso, história de vida, características familiares, etc). Esses acolhimentos são discutidos em reunião clínica da equipe, com o objetivo de verificar qual ou quais as estratégias indicadas para cada pessoa especificamente, em busca de um atendimento personalizado e interdisciplinar (individual ou em grupo). A orientação às famílias ocorre prioritariamente em grupo. Contamos também com a participação de grupos de autoajuda para os usuários no próprio HC. Alguns frequentam o serviço uma ou duas vezes por semana e outros em períodos mais longos (quinzenais) tendo em vista serem originários de cidades do interior do Estado sem instituições de referência nessa área e sem recursos para locomoção. Apesar da possibilidade dessa ocorrência repercutir no atendimento prestado, necessitamos ser flexíveis visando oferecer algum atendimento a um maior número possível de pessoas que procuram o serviço e não dispõem de alternativas ao seu alcance.

Existem obstáculos no atendimento ao paciente? Os maiores obstáculos são enfrentados nos encaminhamentos para desintoxicação, tendo em vista os limites da rede de saúde para atender essa demanda.

Existe restrição de idade? Atendemos as diversas faixas etárias, do adolescente ao idoso. Porém, não dispomos de profissionais nem infraestrutura adequada para o atendimento de crianças.

O crack e a maconha prevalecem entre os adolescentes? Há pacientes no NEDEQ usuários de oxi? Na realidade a maioria das pessoas que procuram o serviço, especialmente os mais jovens, são poliusuários, isto é, utilizam diversas substâncias a depender das possibilidades econômicas de cada um (álcool, maconha, cocaína, crack e outros). Geralmente o álcool é a substância mais utilizada em associação à outra. Nos últimos cinco anos, observamos o crescimento do uso do crack na população atendida pelo serviço, independendo de faixa etária. São indivíduos que usavam maconha, álcool

“O NEDEQ foi implantado em 2000 pelos Departamentos de Neuropsiquiatria e Terapia Ocupacional da UFPE” ou mesmo cocaína já há algum tempo e ainda conseguiam manter uma organização em relação a trabalho, estudo ou outros compromissos. Porém, a partir do uso do crack observa-se um maior comprometimento emocional repercutindo intensamente na funcionalidade do indivíduo, possivelmente pelo grau de dependência instalada e necessidade contínua de uso da substância a qualquer custo ou risco, onde se inclui alguma relação com o tráfico para viabilizar o uso. Até o momento não tivemos experiência com usuários de oxi.

Há pessoas com mais de 20 anos de idade que não eram dependentes químicos e que agora são usuárias de crack? Sim. Existe uma população sem história de uso anterior de substâncias e que passa a usar o crack, isoladamente, a partir de 30 ou 40 anos de idade com evidente comprometimento das suas relações familiares e sociais.

O número de mulheres com dependência química aumentou? Apesar do uso entre as mulheres estar mais frequente, ainda não dispomos de estudos sistematizados com a identificação de percentuais. Podemos afirmar evidentemente que o maior número de atendidos é do sexo masculino.

O alcoolismo tem um percentual alto? O uso do álcool isoladamente é mais frequente na população adulta, especialmente na 4ª e 5ª década de vida, com história de uso desde jovem chegando ao serviço já com evidentes manifestações crônicas do alcoolismo (perdas cognitivas, neuropatia periférica, comprometimento hepático). Entre os mais jovens o álcool geralmente está presente em associação ao uso de outras substâncias.

E quanto à proposta de formação de recursos humanos no NEDEQ?

Considerando tratar-se de um serviço em Hospital Universitário, toda a assistência está vinculada à formação de recursos humanos na área, seja como campo de atuação de médicos residentes em psiquiatria; treinamento em serviço de outros profissionais da área de saúde admitidos como estagiários voluntários e estagiários de cursos de graduação. A maior parte dos profissionais da equipe atua como voluntários em treinamento por um mínimo de seis meses até dois anos.

Como são as atividades preventivas do NEDEQ? Embora as ações preventivas façam parte da nossa proposta, a sistematização das mesmas ainda é frágil, tendo em vista os limites de pessoal e de financiamento.

Qual a sua opinião sobre as condições de o Brasil conseguir frear o número crescente de dependentes químicos, principalmente os usuários do crack? O crescente uso de substâncias psicoativas pela população é um fenômeno mundial. Considerando os inúmeros fatores envolvidos com a questão, há necessidade da integração de ações múltiplas, englobando ações preventivas e terapêuticas relacionadas às instituições de educação e de saúde concomitantes com ações destinadas a erradicar o tráfico pelos órgãos competentes. Espera-se que a mobilização que ora acontece em nosso país consiga uma sistematização que possa viabilizar ações a curto, médio e longo prazos integrando os diversos segmentos da sociedade em busca do mesmo objetivo. Torna-se necessário apoiar os serviços especializados já existentes, assim como implantar novas propostas que atendam às necessidades da população de usuários de substâncias psicoativas. Nesse contexto, o investimento na formação de recursos humanos especializados em dependência química para atuação na rede de saúde se constitui uma prioridade. Sem equipes tecnicamente preparadas, as nossas instituições terão evidentes limites de atuação para lidar com o aumento progressivo de usuários de substâncias psicoativas. *Jornalista.

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

AMPE Associação Médica de Pernambuco

Cuidado! A sífilis ainda existe Doença ainda permanece como grande problema de saúde pública Dra. Luiza Menezes*

A

A médica ginecologista e obstetra Luiza Menezes

sífilis, ainda, assusta e permanece como grande problema de saúde pública, apesar de remontarem do século XV as primeiras evidências da sífilis congênita, de se conhecer seu agente etiológico há mais de 100 anos e de se ter terapêutica eficaz e disponível no serviço público há 60 anos. O mundo é treponêmico. A incidência anual mundial de sífilis é 0.4%. São 12 milhões de casos novos, dos quais 3 milhões na América latina e Caribe. No Brasil ocorrem mais 900 mil casos novos ao ano. E uma das grandes preocupações ainda é a luta pela eliminação da transmissão vertical do Treponema pallidum, a sífilis congênita. Analisando o banco de dados nacional de sífilis congênita envolvendo o período de 1998 a junho de 2009 (SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação) observa-se que foram notificados e investigados 55.124 casos em menores de um ano de idade. Foram, em média 5.000 casos ao ano, com uma taxa de incidência de 1,9/1000 nascidos vivos(NV). Portanto, a eliminação da SC permanece, ainda, como um desafio. Desde 1995 a OPAS lançou esta resolução para as Américas, considerando-a eliminada quando a taxa de incidência for<0.5 casos/1.000 NV.

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O perfil das mães das crianças infectadas é formado, principalmente por jovens entre 20 e 29 anos de idade. Um fato que chama a atenção é 75,8% delas fizeram pré-natal e metade (53,7%) delas foi diagnosticada nesse momento. Outro fato praticamente imutável é a pouca atenção dada ao tratamento do parceiro: menos de 20% deles são tratados. São necessárias estratégias como a ampliação da captação dos parceiros, incremento da vigilância epidemiológica e, principalmente, aumento da cobertura e melhoria da qualidade do pré-natal. Em 2 de junho de 2004, a Regional Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de DST, em conjunto com a Associação Latino Americana e Caribenha para o Controle das DST, a Associação Médica Fluminense, a Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro (FEBRASGO) e a ONG Eliminasífilis promoveram, com o patrocínio do Programa Nacional de DST/AIDS, o evento científico infectogin-Niterói. No encontro, foi lançado o Documento de Niterói, versando sobre compromisso para a eliminação da sífilis congênita no País. Entre os objetivos do movimento, constava a instituição do dia de combate à doença. Neste sentido, atividades foram realizadas em várias cidades brasileiras nos anos 2004 e 2005, mas, apesar de impor-


tantes, as iniciativas se deram ainda de forma acanhada em Niterói, Pernambuco e alguns outros estados que têm federadas da Sociedade Brasileira de DST (SBDST). O Departamento Nacional-DST/ AIDS vem também somando esforços para atingir essa meta. Visando estender a oferta do VDRL ao parceiro da gestante, no momento do Pré-natal, consulta o CFM sobre ética desta prática e recebe resposta favorável, o que poderá contribuir para aumentar a adesão do tratamento do casal. Distribuiu testes rápidos para a sífilis em locais de difícil acesso, como a região amazônica. Lançou o Manual de Sífilis Congênita e o distribuiu gratuitamente para os Programas Estaduais, bem como disponibilizou em meio eletrônico para consulta por todos os profissionais de saúde do Brasil. Em 19 de janeiro de 2006 o MS lançou a Portaria 156 que determina a utilização da penicilina nas UBS e demais unidades do SUS. A SBDST, juntamente com a ONG Eliminassifílis, e o PN-DST/AIDS preocupada com esta situação convocou outras sociedades científicas, Área

Técnica de Saúde da Mulher, Departamento de Atenção Básica e o Programa Nacional de Saúde da Criança-MS para reunião preparatória para o lançamento do Dia Nacional de combate a Sífilis. O movimento ganhou reforço com a oficialização da data durante o VI Congresso da SBDST e o II Congresso Brasileiro de AIDS, promovidos em setembro de 2006, em Santos. A logomarca inicial continha o slogan “Caminhando para eliminação da sífilis congênita”, e representa uma família no centro do alvo com as cores do arco-iris. Dessa forma simboliza-se a cadeia de transmissão com as diversas modalidades sexuais (homo, bi e hetero) bem como a transmissão vertical (que simboliza a meta principal). Em 2008, visando atrair os homens mudou-se o slogan para “Homem, faça o teste da sífilis”. A programação geral em cada cidade que adere à camapanha – tendo o apoio do Departamento Nacional, Estaduais e Municipais de DST/AIDS – compreende atividades voltadas para os profissionais de saúde (palestra, simpósio, seminário) e para estudantes dos Ensinos Fundamental, Médio e Superior, além de ações que atinjam à

população em geral (passeata, distribuição de folhetos, fixação de postos de distribuição de material em locais públicos, como praças, estações rodoviárias, estádios de futebol). Desde o início a Regional Pernambuco (SBDST-PE) realiza Simpósios Estaduais sobre o tema, além de atividades científicas e preventivas locais com a comunidade nos municípios. Neste ano o Seminário ocorreu no auditório do Hospital Agamenon Magalhães com a presença de médicos e enfermeiros, além da oferta de testes rápidos de sífilis, oportunizando o diagnóstico precoce e quebra da cadeia de transmissão. Com isto conclamamos você, também, para participar da campanha. “Todos CONTRA a SÍFILIS CONGÊNITA!” Contamos com seu apoio para nos meses de outubros vindouros possamos estar, realmente, comemorando o DIA DAS CRIANÇAS SEM SÍFILIS CONGÊNITA. * Ginecologista e Obstetra Profa. Adjunto da FCM/UPE Coordenadora do SAE - Serviço de Assistência Especializada do CISAM.

AMPE INFORMA 40º CONGRESSO MÉDICO

ENFRENTAMENTO DO CRACK

A Associação Médica de Pernambuco (AMPE) promove o 40º Congresso Médico Estadual nos dias 27 e 28 de outubro, em Caruaru. As inscrições são realizadas na AMPE, localizada na Rua Osvaldo Cruz, 393, Boa Vista. A programação será divulgada no site da AMPE: www. ampe-med.com. Mais informações pelo telefone: (81) 3423.5473. Email: ampe.congressoestadual@hotmail.com

O Projeto de Enfrentamento do Crack do Conselho Federal de Medicina (CFM) foi lançado no dia 10 de agosto, em Brasília. A presidente da AMPE, Jane Lemos, participou do projeto na parte de dependência química, para elaboração de textos técnicos.

UNIÃO E FUTURO A médica Sílvia Costa Carvalho Rodrigues foi eleita presidente da Associação Médica de Pernambuco, para o triênio de 2011/2014, no dia 25 de agosto passado.O lema da sua candidatura foi União e Futuro, a fim de fortalecer e ampliar as ações da entidade.A posse da nova Diretoria da AMPE será no dia 27 de outubro, na abertura do 40º Congresso Médico Estadual.

SAÚDE EM 2021 A presidente da Associação Médica de Pernambuco (AMPE), Jane Lemos, participou do Fórum Internacional SPDM realizado nos dias 2 e 3 de agosto passado, em São Paulo. Promovido pela Associação Paulista de Desenvolvimento da Medicina e com apoio da Associação Médica Brasileira –AMB, o evento teve como tema A Saúde em 2021.

UNIMED RECIFE Com missa em Ação de Graças, na Igreja Nossa Senhora de Fátima, a Unimed

Recife comemorou 40 anos. A presidente da AMPE, Jane Lemos esteve presente na cerimônia religiosa, realizada no dia 25 de julho passado.

ATUAÇÃO MÉDICA O Conselho Federal de Medicina(CFM) criou três novas áreas de atuação médica: medicinas do sono, paliativa e tropical. Também foram ampliadas as medicinas de dor e da hepatologia.

COBERTURAS OBRIGATÓRIAS A Agência Nacional de Saúde (ANS) publicou no início de agosto, deste ano, a Resolução Normativa 262 que atualiza o rol de procedimentos na área de saúde, garantindo cobertura mínima obrigatória nos planos privados de assistência à saúde, contratados a partir de 1º de janeiro de 1999. A nova atualização abrange, aproximadamente, 60 novos procedimentos médicos.

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FECEM

Ampliados benefícios para cooperativas médicas

A

Federação das Cooperativas de Especialidades Médicas de Pernambuco (FECEM) tem como objetivo proporcionar maior escala dos serviços econômicos e assistenciais de interesse de suas associadas, promovendo a integração e o fomento do cooperativismo médico. A presidente da FECEM, médica Aspásia Pires, informou que entre as ações realizadas estão a renovação com o HSBC Bank Brasil S/A prolongando a parceria por mais cinco anos, beneficiando às Cooperativas com o acordo firmado; a participação ativa nas reuniões da Comissão Estadual de Honorários Médicos (CEHM); unificação de materiais gráficos, reduzindo os custos das associadas; ganho judicial contra a operadora de telefonia OI; credenciamento com o Serpro ampliando a relação de convênios para nossas afiliadas e finalização do processo de negociação com as operadoras MEDISERVICE, GAMA SAÚDE e a TEMPO SAÚDE SEGURADORA (Unibanco) proporcionando equidade nos honorários médicos. Há também negociação da FECEM com AMIL e UNAFISCO. Recentemente foi criada a Comissão de Honorários Médicos da FECEM (CHMF) com a finalidade de formatar sugestões e propostas e apresentá-las nas reuniões da Comissão Estadual de Honorários Médicos (CEHM), promovendo a interação das informações de acordo com as necessidades de cada Cooperativa. A CHMF está composta dos médicos: Dra. Aspásia Pires (titular) e Dr. Paulo Roberto de Andrade (suplente) representando a Cooperativa dos Médicos Ginecologistas e Obstetras de Pernambuco – COPEGO; Dr. Antônio Marco Duarte de Albuquerque (titular), Dr. Mário Rino Martins (suplente) e Dr. Mauro Pedro Chaves Sefer (suplente) representando a Cooperativa dos Médicos Cirurgiões de Pernambuco - COOPECIR; Dra. Sirleide de Oliveira Costa Lira (titular) e Dr. Ronaldo Guerra Lopes (suplente) representando a Cooperativa de Tra-

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te, R$ 15 mil pela mesma intervenção cirúrgica e a mesma equipe. Por sua vez, a presidente do Conselho Regional de Medicina, Helena Carneiro Leão, decidiu apoiar as reivindicações da Coopecárdio afirmando que o Cremepe espera o fortalecimento das cooperativas vinculadas à FECEM.

Cooperativismo valoriza o profissional balho dos Médicos de Especialidades Clínicas de Pernambuco Ltda - COOPECLIN; Dra. Maria José Leopoldina Nonato (titular) e Dr. Aldo José Fernandes (suplente), representando a Cooperativa de Serviços Médicos Pediátricos de Pernambuco – COPEPE e Dr. Carlos Japhet da Matta Albuquerque (titular), representando a Cooperativa de Trabalho dos Médicos Cardiologistas do Estado de Pernambuco – COOPECÁRDIO.

Aumento de honorários médicos, já! A Cooperativa de Trabalho dos Médicos Cardiologistas de Pernambuco - Coopecárdio está reivindicando das empresas seguradoras de saúde e de medicina de grupo melhores honorários médicos para as equipes de cirurgia cardiovascular. O presidente da Coopecárdio, Carlos Japhet, informou que os preços pagos, por seguradoras de saúde e de medicina de grupo não são corrigidos há mais de 10 anos. O médico Carlos Japhet disse, ainda, que as reivindicações por honorários condizentes com a complexidade da atividade faz parte de um movimento nacional, liderado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular e encampado, em Pernambuco, pela Coopecárdio. Ele citou como exemplo do problema que as empresas pagam R$ 1 mil por uma revascularização do miocárdio a uma equipe composta por um cirurgião, três auxiliares e um perfusionista, enquanto o preço praticado pelos planos de saúde é de, aproximadamen-

“O trabalho médico em um sistema cooperativista é a melhor alternativa para valorização do profissional.”A afirmação faz parte de uma das conclusões da Comissão de Cooperativismo do Conselho Federal de Medicina durante o IV Fórum Nacional de Cooperativismo Médico, realizado nos dias 14 e 15 de junho, deste ano, em Brasília. O Fórum foi prestigiado por muitas lideranças. Na abertura estiveram presentes os presidentes do Conselho Federal de Medicina (CFM), Roberto Luiz D’Avila; da Federação Nacional dos Médicos (FENAM), Cid Carvalhaes, e da Associação Médica Brasileira (AMB), José Luiz Gomes do Amaral. Também, participaram das atividades do IV Fórum o senador Paulo Davim (PV/RN); os presidentes da Confederação Brasileira das Cooperativas Médica (Confemed), Edwaldo Agripino Fraga, e Coopecárdio, Carlos Japhet. No encontro a Comissão aprovou a ata do Fórum e elaborou uma síntese dos principais temas discutidos, como honorários médicos no sistema Unimed, agenda regulatória da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para o cooperativismo em saúde e a visão do Ministério Público do Trabalho sobre cooperativismo e terceirização. Para o presidente do CFM o evento foi uma prova do amadurecimento do movimento médico. O coordenador do encontro e tesoureiro do CFM, José Hiran da Silva Gallo disse que o Fórum é o caminho para os médicos receberem honorários justos e adequados.”Fortificando o cooperativismo vamos ter uma saúde de qualidade”, garantiu.


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