11 a 14 de Maio de 2010
BENTO XVI EM PORTUGAL
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ficha técnica Director: Paulo Rocha. Chefe de Redacção: Octávio Carmo. Redacção: Lígia Silveira, Luís Filipe Santos, Rui Martins, Sónia Neves. Correspondentes: António Pinheiro (Roma). Paginação: Manuel Costa. Secretaria: Ana Gomes. Colaboração: Ana Valente, Margarida Ataíde e Maria Fernanda Silva. Grafismo: Manuel Costa. AGÊNCIA ECCLESIA: nº registo 109665; Propriedade: Conferência Episcopal Portuguesa - Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja, pessoa Colectiva nº 500966575. Redacção e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D - 1885-076 MOSCAVIDE Tel.: 218855472; Fax: 218855473 agencia@ecclesia.pt; www.agencia.ecclesia.pt
índice DIA 11 DE MAIO 2010 Encontro do Papa Bento XVI com os jornalistas durante o voo para Portugal .................................. 4 Aeroporto de Lisboa Discurso de boas-vindas do Presidente da República ..................................................................... 8 Discurso de Papa Bento XVI ...................................................................................................... 10 Lisboa – Palácio de Belém Saudação aos funcionários do Palácio de Belém .......................................................................... 12 Lisboa – Terreiro do Paço Saudação de D. José Policarpo ao Papa Bento XVI ...................................................................... 14 Homilia do Papa Bento XVI ....................................................................................................... 16 Mensagem do Papa Bento XVI no Centenário do Monumento a Cristo-Rei em Almada ................... 18 Nunciatura Apostólica - Lisboa Saudação aos jovens reunidos diante da nunciatura Apostólica .................................................... 19 DIA 12 DE MAIO 2010 Centro Cultural de Belém - Lisboa - Encontro com o Mundo da Cultura Saudação de D. Manuel Clemente ao Papa Bento XVI ................................................................. 20 Discurso de Manoel de Oliveira a Bento XVI ............................................................................... 21 Discurso do Papa Bento XVI ...................................................................................................... 22 Fátima Visita à Capelinha das Aparições - Oração a Nossa Senhora ......................................................... 24 Celebrações das Vésperas com sacerdotes, religiosos, seminaristas e diáconos na Igreja da SS.ma Trindade Saudação de D. António Francisco dos Santos ao Papa Bento XVI ................................................ 27 Discurso do Papa Bento XVI ...................................................................................................... 28 Acto de Confiança e Consagração dos Sacerdotes ao Imaculado Coração de Maria ....................... 30 Bênção das velas, oração do Santo Rosário Discurso do Papa Bento XVI ...................................................................................................... 32 Celebração da Santa Missa das Vésperas na Solenidade da Bem-Aventurada Maria Virgem de Fátima Homilia do Cardeal Tarcisio Bertone Secretário de Estado do Santo Padre ..................................... 34 DIA 13 DE MAIO 2010 Santa Missa na Esplanada do Santuário de Nossa Senhora de Fátima Saudação de D. António Marto ao Papa Bento XVI ...................................................................... 36 Homilia, Saudação aos Doentes, Saudação aos Peregrinos .......................................................... 38 Encontro com as organizações da Pastoral Social na Igreja Saudação de D. Carlos Azevedo ao Papa Bento XVI .................................................................... 42 Discurso do Papa Bento XVI ...................................................................................................... 44 Encontro com os Bispos de Portugal Saudação de D. Jorge Ortiga ao Papa Bento XVI ......................................................................... 46 Discurso do Papa Bento XVI ...................................................................................................... 48 DIA 14 MAIO 2010 Santa Missa na Praça da Avenida dos Aliados Saudação de D. Manuel Clemente ao Papa Bento XVI ................................................................. Homilia do Papa Bento XVI ....................................................................................................... Saudação aos fiéis reunidos na Avenida dos Aliados ..................................................................... Cerimónia de despedida no Aeroporto Internacional Discurso de despedida do Presidente da República ...................................................................... Discurso do Papa Bento XVI ......................................................................................................
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Encontro do Papa Bento XVI com os jornalistas durante o voo para Portugal Terça-feira, 11 de Maio de 2010
Padre Lombardi: Santidade, quais preocupações e sentimentos que leva consigo em relação à situação da Igreja em Portugal? O que se pode dizer a Portugal, profundamente católico no passado e que levou a fé pelo mundo, mas que hoje está em vias de uma profunda secularização, tanto na vida quotidiana, como no âmbito jurídico e cultural? Como anunciar a fé num contexto indiferente e hostil à Igreja? Santo Padre: Antes de tudo, bom dia a todos e esperemos uma boa viagem, apesar da famosa nuvem sob a qual estamos passando. Quanto a Portugal, experimento, sobretudo, sentimentos de alegria, de gratidão, por tudo quanto fez e faz este país no mundo e na história, e pela profunda humanidade deste povo, que pude conhecer numa visita e com tantos amigos portugueses. Diria que é verdade, muito verdadeiro, que Portugal foi uma grande força da fé católica; levou esta fé a todas as partes do mundo; uma fé corajosa, inteligente e criativa. Soube criar uma grande cultura, o vemos no Brasil, no próprio Portugal, assim como na presença do espírito português na África ou na Ásia. Por outro lado, a presença do secularismo não é uma coisa totalmente nova. A dialética entre secularismo e fé tem uma longa história em Portugal. Já no século XVIII há uma forte presença do Iluminismo, basta pensar no nome Pombal. Assim, vemos que Portugal viveu sempre, nesses séculos, na dialética que, naturalmente hoje, se radicalizou e se mostra com todos os sinais do espírito europeu de hoje. E, este me parece um desafio e uma grande possibilidade. Nesses séculos de dialética entre Iluminismo, secularismo e fé, nunca faltaram pessoas que quiseram estabelecer pontes e criar um diálogo, ainda que, infelizmente, a tendência dominante foi a da contraposição e da exclusão de um e de outro. Hoje vemos que justamente esta dialética é uma chance; que devemos encontrar uma síntese e um diálogo profundo e de vanguarda. Na situação multicultural na qual estamos todos, vê-se que uma cultura européia que fosse unicamente racionalista não possuiria a dimensão religiosa transcendente; não seria capaz de entrar em diálogo com as grandes culturas da humanidade, que possuem, todas
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elas, esta dimensão religiosa transcendente, que é uma dimensão do ser humano. Portanto, pensar que existiria uma razão pura, anti-histórica, só existente em si mesma, e que esta seria “a” razão, é um erro; descobrimos cada vez mais que esta toca somente uma parte do homem, expressa uma certa situação histórica, mas não é a razão como tal. A razão, como tal, está aberta à transcendência e só no encontro entre a realidade transcendente, a fé e a razão que o homem encontra-se a si mesmo. Assim, penso que a tarefa e a missão da Europa nesta situação é justamente encontrar este diálogo, integrar a fé e a racionalidade moderna numa única visão antropológica, que completa o ser humano e torna, desse modo, também comunicáveis as culturas humanas. Por isso, diria que a presença do secularismo é algo normal, mas a separação, a contraposição, entre secularismo e cultura da fé é anômala e deve ser superada. O grande desafio deste momento é que ambos se encontrem e, desse modo, achem a sua verdadeira identidade. Como eu disse, esta é uma missão da Europa e uma necessidade humana nesta nossa história. Padre Lombardi: Obrigado, Santidade e continuemos então no tema da Europa. A crise econômica se agravou recentemente na Europa e afeta particularmente também a Portugal. Alguns líderes europeus pensam que o futuro da União Européia esteja em risco. Quais as lições se podem aprender desta crise, também no campo ético e moral? Quais são as chaves para consolidar a unidade e a cooperação dos países europeus no futuro? Santo Padre: Diria que justamente esta crise econômica, com sua componente moral, que ninguém pode deixar de ver, seja um caso de aplicação, de concretização, daquilo que tinha dito antes, ou seja, que duas correntes culturais separadas devem encontrar-se; caso contrário, não encontraremos a estrada para o futuro. Vemos aqui também um falso dualismo, ou seja, um positivismo econômico que julga poder funcionar sem a componente ética; um mercado que seria regulado somente por si mesmo, pelas meras forças econômicas, pela racionalidade positivista e
pragmatista da economia. A ética seria uma coisa diferente, estranha a tudo isto. Na realidade, agora vemos que o puro pragmatismo econômico, que prescinde da realidade do homem – que é um ser ético - não termina positivamente, mas cria problemas insolúveis. Por isso, agora é o momento de ver que a ética não é uma coisa externa, mas interna à racionalidade e ao pragmatismo econômico. Por outro lado, devemos também confessar que a fé católica, cristã, freqüentemente era muito individualista; deixava as coisas concretas, econômicas, ao mundo, e pensava somente na salvação individual, aos atos religiosos, sem ver que estes implicam uma responsabilidade global, uma responsabilidade pelo mundo. Assim sendo, também aqui devemos entrar num diálogo concreto. Na minha encíclica Caritas in veritate – e toda a tradição da Doutrina social da Igreja vai por este lado – procurei ampliar o aspecto ético da fé para além do indivíduo, para a responsabilidade frente ao mundo, para uma racionalidade “performada” pela ética. Por outro lado, os últimos acontecimentos no mercado, nestes últimos dois ou três anos, mostraram que a dimensão ética é interna e deve entrar no interior do agir econômico, porque o homem é uno; e trata-se do homem, de uma antropologia sã, que implica tudo e, só assim, resolve-se o problema; só assim a Europa
desenvolve e cumpre a sua missão. Padre Lombardi: Obrigado. Passemos agora à Fátima, onde será, em certo ponto, o cume – também espiritual – desta viagem. Santidade, qual o significado que as aparições de Fátima têm para nós hoje? Quando o senhor apresentou o texto do terceiro segredo de Fátima na Sala de Imprensa Vaticana, em junho do ano 2000, estávamos muitos de nós e outros colegas de então, e foi-lhe perguntado se a mensagem podia estender-se, para além do atentado a João Paulo II, também para outros sofrimentos dos Papas. Segundo o senhor, é possível enquadrar igualmente naquela visão o sofrimento da Igreja de hoje, pelos pecados de abusos sexuais contra os menores? Santo Padre: Antes de tudo, gostaria de expressar a minha alegria de ir a Fátima, de rezar diante de Nossa Senhora de Fátima, que para nós é um sinal da presença da fé; que justamente dos pequenos nasce uma nova força da fé, que não se reduz aos pequenos, mas que tem uma mensagem para todo o mundo e toca a história precisamente no seu presente e ilumina esta história. No ano 2000, na apresentação, disse que uma aparição, ou seja, um impulso sobrenatural, não vem somente da
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imaginação da pessoa, mas na realidade da Virgem Maria, do sobrenatural; que um impulso deste tipo entra num sujeito e se expressa segundo as possibilidades do sujeito. O sujeito é determinado pelas suas condições históricas, pessoais, temperamentais e, portanto, traduz o grande impulso sobrenatural segundo as suas possibilidades de ver, de imaginar, de expressar; mas nestas expressões, articuladas pelo sujeito, esconde-se um conteúdo que vai além, mais profundo, e somente no curso da história podemos ver toda a sua profundidade, que estava – digamos – “vestida” nesta visão possível à pessoa concreta. Deste modo, diria também aqui que, além desta grande visão do sofrimento do Papa, que podemos referir ao Papa João Paulo II em primeira instância, indicam-se realidades do futuro da Igreja que se desenvolvem e se mostram paulatinamente. Por isso, é verdade que além do momento indicado na visão, fala-se, vê-se, a necessidade de uma paixão da Igreja, que naturalmente se reflete na pessoa do Papa; mas o Papa está para a Igreja e, assim, são sofrimentos da Igreja que se anunciam. O Senhor nos disse que a Igreja seria sempre sofredora, de diversos modos, até o fim do mundo. O importante é que a mensagem, a resposta de Fátima, não vai substancialmente na direção de devoções particulares, mas precisamente na resposta fundamental, ou seja, a conversão permanente, a penitência, a oração, e as três virtudes teologais: fé, esperança e caridade. Deste modo, vemos que a resposta verdadeira e fundamental que a Igreja deve dar, que nós, cada pessoa, devemos dar nesta situação. A novidade que podemos descobrir
hoje, nesta mensagem, reside também no fato que os ataques ao Papa e à Igreja vêm não só de fora, mas que os sofrimentos da Igreja vêm justamente do interior da Igreja, do pecado que existe na Igreja. Também isso sempre foi sabido, mas hoje o vemos de um modo realmente terrificante: que a maior perseguição da Igreja não vem de inimigos externos, mas nasce do pecado na Igreja, e que a Igreja, portanto, tem uma profunda necessidade de re-aprender a penitência, de aceitar a purificação, de aprender por um lado o perdão, mas também a necessidade de justiça. O perdão não substitui a justiça. Em uma palavra, devemos re-aprender precisamente estas coisas essenciais: a conversão, a oração, a penitência e as virtudes teologais. Assim respondemos que somos realistas ao esperar que o mal ataca sempre; ataca do interior e do exterior, mas que também as forças do bem estão presentes e que, no final, o Senhor é mais forte do que o mal, e Nossa Senhora é para nós a garantia visível, materna, da bondade de Deus, que é sempre a última palavra na história. Padre Lombardi: Obrigado, Santidade, pela clareza, pela profundidade das suas respostas e por esta palavra conclusiva de esperança que nos ofereceu. Nos lhe desejamos sinceramente que esta viagem tão intensa possa transcorrer serenamente e que possa vivê-la também com toda a alegria e profundidade espiritual que o encontro com o mistério de Fátima nos inspira. Boa viagem para o senhor e nós procuraremos de fazer bem o nosso serviço e de difundir objetivamente aquilo que o senhor fará.
Discurso de boas-vindas do Presidente da República Aeroporto da Portela - Lisboa Terça-feira, 11 de Maio de 2010
Santo Padre É com profundo júbilo que, em meu nome e em nome de todo o Povo Português, dou as boas-vindas a Vossa Santidade, no início de uma Visita plena de significado para Portugal. O Povo Português tem por tradição receber com hospitalidade todos quantos o visitam. No caso de Vossa Santidade, a essa hospitalidade vem juntar-se a profunda alegria e o intenso fervor dos fiéis que em Vós acolhem o sucessor do Apóstolo Pedro. Não é possível explicar Portugal sem convocar as nossas relações com a Santa Sé. Relações que ditaram o reconhecimento da nossa própria existência como realidade política independente, em 1179, e que marcaram a afirmação universal da Nação a que os antecessores de Vossa Santidade chamaram “Fidelíssima”. Relações multisseculares que encontram, hoje, a sua expressão normativa na Concordata assinada pelo Estado português e pela Santa Sé, em 2004. Nos seus termos, que confirmaram os vínculos que nos ligam, Portugal reconhece o papel da Igreja Católica e respeita e apoia o serviço inestimável que presta à sociedade. Um serviço que quero, de forma solene, na presença de Vossa Santidade, agradecer. Santo Padre, O país que Vos acolhe é um Portugal livre e plural, cuja identidade se deve a múltiplos contributos, e que se rege pelos princípios da promoção da dignidade da pessoa humana, da justiça e da paz. Um país onde a separação entre a Igreja e o Estado convive com as marcas profundas da herança cristã presente na cultura, no património e, acima de tudo, nos valores humanistas que determinam o nosso modo de ser e de estar no mundo. Um modo de ser e de estar que se revê na procura do diálogo com outros credos e com o mundo da cultura, que vem distinguindo o Vosso pontificado e de que cumprireis mais uma etapa, em Lisboa. Noutros tempos, dando um contributo precioso para a expansão da fé cristã, abrimos o mundo ao diálogo universal. Somos, por isso, um povo vocacionado para o reconhecimento do valor da diversidade.
Uma atitude particularmente adequada a um tempo em que, porventura mais do que nunca, se reclama um entendimento entre o discurso da razão e o discurso da Fé. Esse é o diálogo que incessantemente vindes promovendo como Pastor de uma Igreja que vive na cidade dos homens e que nela faz ouvir a sua voz. Santo Padre Recebemo-Vos em tempos de incerteza que põem à prova a solidez das convicções e a força dos laços que unem as comunidades. Nestes momentos, os homens precisam de quem traga uma mensagem de esperança à sua sede de justiça e de solidariedade. Solidariedade entre nações, num mundo marcado por abissais diferenças de bem-estar e prosperidade. Solidariedade entre as pessoas, nos nossos próprios países, em particular quando se fazem sentir, tantas vezes de forma brutal e injusta, os efeitos de uma crise económica de dimensões globais. Solidariedade que está na base do extraordinário projecto de paz e de desenvolvimento que é a construção da unidade europeia. Solidariedade, valor que distingue os homens de bem, independentemente da sua Fé, e componente essencial do “Mandamento novo” do amor pelo próximo. Os Portugueses vão escutar-Vos. Escutar-Vos-ão aqueles que, com alegria, Vos esperam nesta capital de Portugal, junto ao rio em que foi dado sinal de partida para o abraço armilar que levou a Fé católica a tantos Povos, que, hoje, a abraçam como sua. Escutar-Vos-ão no Santuário de Fátima, que bem conheceis e a que Vos ligam laços tão particulares, local de peregrinação dos católicos que a ele acorrem de todas as partes do mundo. Escutar-Vos-ão, ainda, na cidade do Porto, nesse Norte onde Portugal nasceu e onde Vos será confirmada, mais uma vez, a devoção e fidelidade de tantos Portugueses. Santidade, Foi em nome do Povo Português que Vos convidámos a visitar Portugal. É, pois, com profundo regozijo e sentida emoção que, também em nome dos Portugueses Vos digo: sede bem-vindo Santo Padre! Aníbal Cavaco Silva
Acolhimento oficial Discurso de Papa Bento XVI Aeroporto da Portela - Lisboa Terรงa-feira, 11 de Maio de 2010
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Senhor Presidente da República, Ilustres Autoridades da Nação, Venerados Irmãos no Episcopado, Senhoras e Senhores! Só agora me foi possível aceder aos amáveis convites do Senhor Presidente e dos meus Irmãos Bispos para visitar esta amada e antiga Nação, que comemora no corrente ano um século da proclamação da República. Ao pisar o seu solo pela primeira vez desde que a Providência divina me chamou à Sé de Pedro, sinto-me honrado e agradecido pela presença deferente e acolhedora de todos vós. Agradeço-lhe, Senhor Presidente, as suas cordiais expressões de boas-vindas, dando voz aos sentimentos e esperanças do bom povo português. Para todos, independentemente da sua fé e religião, vai a minha saudação amiga, com um pensamento particular para quantos não podem vir ao meu encontro. Venho como peregrino de Nossa Senhora de Fátima, investido pelo Alto na missão de confirmar os meus irmãos que avançam na sua peregrinação a caminho do Céu. Logo aos alvores da nacionalidade, o povo português voltou-se para o Sucessor de Pedro esperando na sua arbitragem para ver reconhecida a própria existência como Nação; mais tarde, um meu Predecessor havia de honrar Portugal, na pessoa do seu Rei, com o título de fidelíssimo (cf. Pio II, Bula Dum tuam, 25/I/1460), por altos e continuados serviços à causa do Evangelho. Que depois, há 93 anos, o Céu se abrisse precisamente sobre Portugal – como uma janela de esperança que Deus abre quando o homem lhe fecha a porta – para reatar, no seio da família humana, os laços da solidariedade fraterna assente no mútuo reconhecimento de um só e mesmo Pai, trata-se de um amoroso desígnio de Deus; não dependeu do Papa nem de qualquer outra autoridade eclesial: «Não foi a Igreja que impôs Fátima – diria o Cardeal Manuel Cerejeira, de veneranda memória –, mas Fátima que se impôs à Igreja». Veio do Céu a Virgem Maria para nos recordar verdades do Evangelho que são para a humanidade, fria de amor e desesperada de salvação, fonte de esperança. Naturalmente esta esperança tem como dimensão primária e radical, não a relação horizontal, mas a vertical e transcendente. A relação com Deus é constitutiva do ser humano: foi criado e ordenado para Deus, procura a verdade na sua estrutura cognitiva, tende ao bem na esfera volitiva, é atraído pela beleza na dimensão estética. A consciência é cristã na medida em que se abre à plenitude da vida e da sabedoria, que temos em Jesus Cristo. A visita, que agora inicio sob o signo da esperança, pretende ser uma proposta de sabedoria e de missão. De uma visão sábia sobre a vida e sobre o mundo deriva o ordenamento justo da sociedade. Situada na história, a Igreja está aberta a colaborar com quem não marginaliza nem privatiza a essencial consideração do sentido humano da vida. Não se trata de um confronto ético entre um sistema laico e um sistema religioso, mas de uma questão de sentido à qual se entrega a própria liberdade. O que divide é o valor dado à problemática do sentido e a sua implicação na vida pública. A viragem republicana, operada há cem anos em Portugal, abriu, na distinção entre Igreja e Estado, um espaço novo de liberdade para a Igreja, que as duas Concordatas de 1940 e 2004 formalizariam, em contextos culturais e perspectivas eclesiais bem demarcados por rápida mudança. Os sofrimentos causados pelas mutações foram enfrentados geralmente com coragem. Viver na pluralidade de sistemas de valores e de quadros éticos exige uma viagem ao centro de si mesmo e ao cerne do cristianismo para reforçar a qualidade do testemunho até à santidade, inventar caminhos de missão até à radicalidade do martírio. Queridos irmãos e amigos portugueses, agradeço-vos uma vez mais as calorosas boas-vindas. Deus abençoe a quantos aqui se encontram e todos os habitantes desta nobre e dilecta Nação, que confio a Nossa Senhora de Fátima, imagem sublime do amor de Deus que a todos abraça como filhos. Bento XVI
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Saudação aos funcionários do Palácio de Belém
Palácio de Belém - Lisboa Terça-feira, 11 de Maio de 2010
Queridos Amigos No âmbito da minha visita ao Senhor Presidente, não podia deixar de vos ver e saudar a vós que colaborais para bem servir os altos objectivos da Presidência da República e cuidar deste belo Palácio e a quantos nele vivem ou são recebidos. Pelo que me diz respeito, o meu sincero agradecimento com votos do melhor êxito nas respectivas funções. Asseguro-vos uma especial recordação nas minhas orações de cada um e cada uma de vós com os seus familiares. Queira o bom Deus do Céu abençoar-vos e fortalecer-vos com a sua graça e a sua luz para poderdes, através da consideração que demonstrais uns pelos outros no lugar de trabalho e mediante a vossa solicitude pelo bem comum que servis, favorecer no centenário da República Portuguesa uma sociedade mais justa e um futuro melhor para todos. Sobre todos, desça a bênção de Deus Todo-Poderoso Pai, Filho e Espírito Santo. Bento XVI
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Saudação de D. José Policarpo ao Papa Bento XVI Terreiro do Paço - Lisboa Terça-feira, 11 de Maio de 2010
Santíssimo Padre, O nosso coração rejubila, o meu e o de toda a Igreja de Lisboa, com a presença de Vossa Santidade no meio de nós. É certo que vivemos sempre a nossa fé em comunhão convosco porque queremos viver, cada vez mais profundamente, a catolicidade da Igreja e porque, como certamente sabeis, o nosso Povo sempre teve um grande amor ao Papa, manifestado mesmo nas épocas mais conturbadas da nossa História. Mas a vossa presença física é uma graça muito especial: poder ver-vos e saudar-vos, porventura cruzar o vosso olhar que nos comunica a bondade do Pastor, poder rezar convosco, ouvir a vossa palavra que nos convida sempre a abrir a inteligência e o coração à profundidade e à beleza do mistério. Tenha a certeza, Santíssimo Padre, a vossa presença é um convite a aprofundar e a tornar mais radical a nossa fidelidade. Todos nós, mas sobretudo os nossos jovens precisam, além da clareza das palavras, de testemunhas vivas da fé, aquelas em que toda a vida se torna palavra. Estamos reunidos num dos locais mais belos da nossa Cidade, em que esta se debruça sobre o Rio que a atrai para o Oceano infinito. Os habitantes de Lisboa nascem e morrem envolvidos por esta beleza e atraídos pelo infinito. Habituaram-se a estar dispostos a partir. E partiram à procura de novos mundos, dinamizados pela urgência missionária do anúncio. E ainda hoje continuam a partir, religiosos e religiosas, jovens e famílias inteiras, a experimentar a aventura da missão e a aprenderem nela o verdadeiro ritmo da sua fé. Ponto de partida, este Rio é também uma porta de entrada e ensinou-nos a acolher quem chega. E chegam muitos, turistas que nos visitam, emigrantes à procura de um país de acolhimento. Recebemo-los como irmãos, com aquele amor que sempre identificou os cristãos.
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Muitos dos que chegam não são cristãos, praticam outras religiões. Também os acolhemos com amor, aprendemos a respeitar a sua fé, a conviver no diálogo e a descobrir valores que temos em comum. A maioria católica não tira o lugar a ninguém. A Igreja de Lisboa tem como Padroeiro São Vicente, Diácono e Mártir. Era Santo de grande devoção das comunidades de cristãos moçárabes, a Igreja que subsistiu durante o longo período de domínio muçulmano. E já então a convivência era apanágio dos habitantes de Lisboa. Com a reconquista cristã da Cidade estas comunidades, exteriormente confundidas com o resto da população, passaram um período difícil. O nosso primeiro Rei deulhes um sinal de apoio e compreensão: mandou vir as Relíquias do Santo Mártir de Saragoça, que fica assim ligado à Igreja de Lisboa, ensinando-a a servir na diaconia do amor, infundindo-lhe coragem para sofrer quando a fidelidade o exigir. Por isso, entrego a Vossa Santidade uma Relíquia autêntica de São Vicente. Ela quer significar, Santíssimo Padre, o nosso desejo de servir, a nossa determinação de sermos fiéis, custe o que custar, a nossa alegria de estarmos em comunhão com toda a nossa Cidade, também ela protegida por São Vicente, cujos símbolos estão gravados nas suas armas. Santo Padre, obrigado por ter vindo. Confirme-nos na fé, comunique-nos a Vossa coragem de sofrer com serenidade, partilhe connosco a paixão da verdade. Maria Santíssima, o outro grande amor dos portugueses, porque ama a Igreja, ensina-nos a ser Igreja, porque é nossa Mãe conduz-nos à intimidade do seu Filho Jesus Cristo. † JOSÉ, Cardeal-Patriarca
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Santa Missa no Terreiro do Paço Homilia do Papa Bento XVI Terreiro do Paço - Lisboa Terça-feira, 11 de Maio de 2010
Queridos Irmãos e Irmãs, Jovens amigos! «Ide fazer discípulos de todas as nações, […] ensinai-lhes a cumprir tudo quanto vos mandei. E Eu estou sempre convosco, até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20). Estas palavras de Cristo ressuscitado revestem-se de um significado particular nesta cidade de Lisboa, donde partiram em grande número gerações e gerações de cristãos – bispos, sacerdotes, consagrados e leigos, homens e mulheres, jovens e menos jovens –, obedecendo ao apelo do Senhor e armados simplesmente com esta certeza que lhes deixou: «Eu estou sempre convosco». Glorioso é o lugar conquistado por Portugal entre as nações pelo serviço prestado à dilatação da fé: nas cinco partes do mundo, há Igrejas locais que tiveram origem na missionação portuguesa. Nos tempos passados, a vossa saída em demanda de outros povos não impediu nem destruiu os vínculos com o que éreis e acreditáveis, mas, com sabedoria cristã, pudestes transplantar experiências e particularidades abrindo-vos ao contributo dos outros para serdes vós próprios, em aparente debilidade que é força. Hoje, participando na edificação da Comunidade Europeia, levai o contributo da vossa identidade cultural e religiosa. De facto, Jesus Cristo, assim como Se uniu aos discípulos a caminho de Emaús, assim também caminha connosco segundo a sua promessa: «Estou sempre convosco, até ao fim dos tempos». Apesar de ser diferente da dos Apóstolos, temos também nós uma verdadeira e pessoal experiência da presença do Senhor ressuscitado. A distân-
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cia dos séculos é superada e o Ressuscitado oferece-Se vivo e operante, por nós, no hoje da Igreja e do mundo. Esta é a nossa grande alegria. No rio vivo da Tradição eclesial, Cristo não está a dois mil anos de distância, mas está realmente presente entre nós e dá-nos a Verdade, dá-nos a luz que nos faz viver e encontrar a estrada para o futuro. Presente na sua Palavra, na assembleia do Povo de Deus com os seus Pastores e, de modo eminente, no sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, Jesus está connosco aqui. Saúdo o Senhor Cardeal-Patriarca de Lisboa, a quem agradeço as calorosas palavras que me dirigiu, no início da celebração, em nome da sua comunidade que me acolhe e que abraço nos seus quase dois milhões de filhos e filhas; a todos vós aqui presentes – amados Irmãos no episcopado e no sacerdócio, prezadas mulheres e homens consagrados e leigos comprometidos, queridas famílias e jovens, baptizados e catecúmenos – dirijo a minha saudação fraterna e amiga, que estendo a quantos estão unidos connosco através da rádio e da televisão. Sentidamente agradeço a presença do Senhor Presidente da República e demais Autoridades, com menção particular do Presidente da Câmara de Lisboa que teve a amabilidade de honrarme com a entrega das chaves da cidade. Lisboa amiga, porto e abrigo de tantas esperanças que te confiava quem partia e pretendia quem te visitava, gostava hoje de usar as chaves que me entregas para alicerçar as tuas esperanças humanas na Esperança divina. Na leitura há pouco proclamada da Epístola de São Pedro, ouvimos dizer: «Eu vou pôr em Sião uma pedra
angular, escolhida e preciosa. E quem nela acreditar não será confundido». E o Apóstolo explica: «Aproximai-vos do Senhor. Ele é a pedra viva, rejeitada, é certo, pelos homens, mas aos olhos de Deus escolhida e preciosa» (1 Pd 2, 6.4). Irmãos e irmãs, quem acreditar em Jesus não será confundido: é Palavra de Deus, que não Se engana nem pode enganar. Palavra confirmada por uma «multidão que ninguém pode contar e provém de todas as nações, tribos, povos e línguas», e que o autor do Apocalipse viu vestida de «túnicas brancas e com palmas na mão» (Ap 7, 9). Nesta multidão incontável, não estão apenas os Santos Veríssimo, Máxima e Júlia, aqui martirizados na perseguição de Diocleciano, ou São Vicente, diácono e mártir, padroeiro principal do Patriarcado; Santo António e São João de Brito que daqui partiram para semear a boa semente de Deus noutras terras e gentes, ou São Nuno de Santa Maria que, há pouco mais de um ano, inscrevi no livro dos Santos. Mas é formada pelos «servos do nosso Deus» de todos os tempos e lugares, em cuja fronte foi traçado o sinal da cruz com «o sinete de marcar do Deus vivo» (Ap 7, 2): o Espírito Santo. Trata-se do rito inicial cumprido sobre cada um de nós no sacramento do Baptismo, pelo qual a Igreja dá à luz os «santos». Sabemos que não lhe faltam filhos insubmissos e até rebeldes, mas é nos Santos que a Igreja reconhece os seus traços característicos e, precisamente neles, saboreia a sua alegria mais profunda. Irmana-os, a todos, a vontade de encarnar na sua existência o Evangelho, sob o impulso do eterno animador do Povo de Deus que é o Espírito Santo. Fixando os seus Santos, esta Igreja local concluiu justamente que a prioridade pastoral hoje é fazer de cada mulher e homem cristão uma presença irradiante da perspectiva evangélica no meio do mundo, na família, na cultura, na economia, na política. Muitas vezes preocupamo-nos afanosamente com as consequências sociais, culturais e políticas da fé, dando por suposto que a fé existe, o que é cada vez menos realista. Colocou-se uma confiança talvez excessiva nas estruturas e nos programas eclesiais, na distribuição de poderes e funções;
mas que acontece se o sal se tornar insípido? Para isso é preciso voltar a anunciar com vigor e alegria o acontecimento da morte e ressurreição de Cristo, coração do cristianismo, fulcro e sustentáculo da nossa fé, alavanca poderosa das nossas certezas, vento impetuoso que varre qualquer medo e indecisão, qualquer dúvida e cálculo humano. A ressurreição de Cristo assegura-nos que nenhuma força adversa poderá jamais destruir a Igreja. Portanto a nossa fé tem fundamento, mas é preciso que esta fé se torne vida em cada um de nós. Assim há um vasto esforço capilar a fazer para que cada cristão se transforme em testemunha capaz de dar conta a todos e sempre da esperança que o anima (cf. 1 Pd 3, 15): só Cristo pode satisfazer plenamente os anseios profundos de cada coração humano e responder às suas questões mais inquietantes acerca do sofrimento, da injustiça e do mal, sobre a morte e a vida do Além. Queridos Irmãos e jovens amigos, Cristo está sempre connosco e caminha sempre com a sua Igreja, acompanha-a e guarda-a, como Ele nos disse: «Eu estou sempre convosco, até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20). Nunca duvideis da sua presença! Procurai sempre o Senhor Jesus, crescei na amizade com Ele, comungai-O. Aprendei a ouvir e a conhecer a sua palavra e também a reconhecê-Lo nos pobres. Vivei a vossa vida com alegria e entusiasmo, certos da sua presença e da sua amizade gratuita, generosa, fiel até à morte de cruz. Testemunhai a alegria desta sua presença forte e suave a todos, a começar pelos da vossa idade. Dizei-lhes que é belo ser amigo de Jesus e que vale a pena segui-Lo. Com o vosso entusiasmo, mostrai que, entre tantos modos de viver que hoje o mundo parece oferecer-nos – todos aparentemente do mesmo nível –, só seguindo Jesus é que se encontra o verdadeiro sentido da vida e, consequentemente, a alegria verdadeira e duradoura. Buscai diariamente a protecção de Maria, a Mãe do Senhor e espelho de toda a santidade. Ela, a Toda Santa, ajudarvos-á a ser fiéis discípulos do seu Filho Jesus Cristo. Bento XVI
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Mensagem de Bento XVI no cinquentenário do Monumento a Cristo-Rei em Almada Queridos Irmãos e Irmãs, Neste momento, dirijo o olhar para a outra margem do Tejo onde se ergue o Monumento a Cristo-Rei, quase no encerramento das comemorações dos seus 50 anos. Na impossibilidade de visitar o santuário – como desejava Dom Gilberto, Bispo de Setúbal – quero daqui apontar às novas gerações os exemplos de esperança em Deus e lealdade ao voto feito, que nos deixaram esculpidos no mesmo os Bispos e fiéis cristãos de então, em sinal de amor e gratidão pela preservação da paz em Portugal. Dali a imagem de Cristo estende os braços a Portugal inteiro como que a lembrar-lhe a Cruz onde Jesus obteve a paz do universo e Se manifestou Rei e servo, porque o verdadeiro Salvador da humanidade. Na sua função de santuário, seja cada vez mais lugar para cada fiel rever como os critérios do Reino de Cristo estão impressos na sua vida de consagração baptismal, para fomentar a construção do amor, da justiça e da paz com intervenções na sociedade a favor dos pobres e oprimidos, para centrar a espiritualidade das comunidades cristãs em Cristo, Senhor e Juiz da história. Para quantos dinamizam e servem no Santuário de CristoRei, para os seus peregrinos e todos os diocesanos de Setúbal, imploro abundantes bênçãos do Céu, criadoras de esperança e paz duradouras nos corações, nas famílias e na sociedade. Bento XVI
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Terreiro do Paço - Lisboa Terça-feira, 11 de Maio de 2010
Aos jovens reunidos diante da nunciatura Saudação do Papa Bento XVI
Nunciatura Apostólica - Lisboa Terça-feira, 11 de Maio de 2010
Queridos amigos, Gostei da participação viva e numerosa dos jovens na Eucaristia desta tarde no Terreiro do Paço, dando provas da sua fé e vontade de construir o futuro sobre o Evangelho de Jesus Cristo. Obrigado pelo testemunho jubiloso que prestais a Cristo, eternamente jovem, e pelo carinho que manifestais ao seu pobre Vigário na terra com esta serenata. Viestes desejar-me a boa-noite, e de coração vo-lo agradeço; mas agora tendes de me deixar dormir, senão a noite não seria boa, e o dia de amanhã está à nossa espera. Sinto-me feliz por poder unir-me à multidão dos peregrinos de Fátima no décimo aniversário da Beatificação de Francisco e Jacinta. Estes, com a ajuda de Nossa Senhora, aprenderam a ver a luz de Deus nos seus corações e a adorá-la na sua vida. Que a Virgem Maria vos alcance a mesma graça e vos proteja! Continuo a contar convosco e com as vossas orações para que esta Visita a Portugal seja frutuosa. E agora, com grande afecto vos dou a minha Bênção, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Boa noite! Até amanhã. Muito obrigado! Bento XVI
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Saudação de D. Manuel Clemente a Bento XVI Centro Cultural de Belém - Lisboa Quarta-feira,12 de Maio de 2010
Santidade É com muito contentamento e grande expectativa que Vos recebemos em Portugal e agora participamos neste encontro com o “mundo da cultura”. Mundo que Vos é tão grato e, para nós, tão inevitável e urgente. Creio falar em nome de todos os que aqui estamos, ao dizer-Vos, Santo Padre, que compartilhamos a Vossa preocupação constante em não reduzir a consistência cultural das nossas análises e actuações, como cidadãos responsáveis, lúcidos e intervenientes nos diversos sectores da sociedade nacional e internacional. Tem sido este o Vosso apelo, na sequência do que sempre fizestes, num fértil percurso académico e literário, em que certamente nos inspiramos e inscrevemos, para o presente e o futuro. Assumimos inteiramente a urgência que Vossa Santidade nos inculca. Tanto mais quanto verificamos as dificuldades levantadas à reflexão e à ponderação – à cultura, propriamente dita – pela velocidade, para não dizer a vertigem, com que hoje nos podemos distrair, de tópico em tópico, sem definir nem aprofundar propriamente nada. Nas Vossas três encíclicas e em muito outros pronunciamentos oportunos, tendes-nos oferecido, Santo Padre, uma reflexão substancial e sistemática sobre tudo quanto nos interpela, para podermos realizar, em geral e na singularidade das vidas, a humanidade que a todos nos une. Humanidade que Jesus Cristo compartilhou connosco, dando-lhe densidade e finalização absolutas. Queremos dizer-Vos, Santo Padre, que, em Portugal, a Vossa intenção cultural também é entendida e bem aceite por muitas personalidades das letras, das ciências e das artes, ainda além das fronteiras da confessionalidade estrita. Exactamente por compreenderem a base humana e razoável que Vossa Santidade nunca dispensa, uma vez que, como Santo Agostinho, detecta em cada pessoa o sinal e a expectativa de Deus, o único que satisfaz a inteligência e pacifica os corações. Assim mesmo manifesta Vossa Santidade a atitude cultural mais necessária e completa, pois tanto sublinha a base comum em que geralmente nos reconhecemos, como estimula todos os passos do caminho intelectual, sem dispensar a luz que a vida e a palavra de Jesus de Nazaré magnificamente nos trouxeram. Estamos certos de que este encontro nos confirmará a todos em igual propósito, tão propriamente cultural. Muito obrigado, Santo Padre, pela vontade que tivestes de estar connosco. Muito obrigado, Santo Padre, pela clarividência que sempre nos ofereceis. + Manuel Clemente Bispo do Porto e Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais
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Discurso de Manoel de Oliveira a Bento XVI Encontro /Cultura Centro Cultural de Belém - Lisboa Quarta-feira,12 de Maio de 2010
RELIGIÃO E ARTE Antes de mais quero agradecer este muito honroso convite para pronunciar, neste encontro, umas simples e breves palavras. Principiarei por dizer-vos ter pensado que as éticas, se não também mesmo as artes, seriam derivadas das religiões que procuram dar uma explicação da existência do ser humano face à sua inserção concreta no cosmos. Universo e homem, criações dum ser transcendente, colocam-nos problemas inquietantes para cuja solução o Verbo, que se fez carne em Cristo, nos trouxe insuperáveis graças divinas. As Artes desde os primórdios sempre estiveram estreitamente ligadas às religiões e o cristianismo foi pródigo em expressões artísticas depois da passagem de Cristo pela terra e até aos dias de hoje. Sou um homem do cinema, do cinema que é a sétima das artes, logo a mais recente de todas as expressões artísticas, pois não tem mais que um século, enquanto outras terão milénios. Em dois dos meus filmes, figurava um Anjo. No ACTO DA PRIMAVERA, baseado em um auto popular, da família dos chamados Mistérios ainda no século XVI. Este figurava a Paixão de Cristo, projecto que realizei em 1962, e onde a figura de um Anjo fazia parte do próprio contexto religioso desse Auto. No outro filme, CRISTOVÃO COLOMBO - O ENIGMA , realizado já em 2007, o Anjo não constava do contexto da história do livro em que me baseei. No entanto, pareceu-me bem introduzir o Anjo da Guarda, aqui o da nação portuguesa, como prévia configuração do Destino, tantas vezes adverso e tantas outras favorável às acções humanas, como aconteceu nessa feliz viagem do navegador que, pela primeira vez, encontrou as ilhas americanas de Antilhas. Isto levou-me a repensar as figuras dos Anjos fora e dentro das Igrejas, parecendo-me conotadas com prefigurações dos espíritos. Ora se os espíritos são um só, então temos nele a natureza de Deus. Considerando, porém, a religião e a arte, ambas se me afiguram, ainda que de um modo distinto é certo, intimamente voltadas para o homem e o universo, para a condição humana e a natureza Divina. E nisto não residirá a memória e a saudade do Paraíso perdido, de que nos fala a Bíblia, tesouro inesgotável da nossa cultura europeia? Acossados pelas especulações da razão, sempre se levantam terríveis dúvidas e descrenças, a que se procura opor a fé do Evangelho que remove montanhas. E os seres humanos caminham na esperança, apesar de todos os negativismos. Como diz o padre António Vieira: «Terrível palavra é o NON, por qualquer lado que o tomeis é sempre NON...», terminando por lembrar que o NON tira a ESPERANÇA que é a última coisa que a natureza deixou ao homem. Se as artes nada mais aspiram a ser que um reflexo das coisas e acções vivas dos procedimentos e sentimentos humanos do universo real ou em fantasias imaginadas, pode aceitar-se o que um realizador mexicano, Artur Ripstein, classificou dum modo magnífico e surpreendente o cinema como sendo o espelho da vida. E é-o de facto. Não querendo alongar-me mais, aproveito a circunstância para, como pertencente à família cristã, de cujos valores comungo, e que são as raízes da nação portuguesa e a de toda a Europa, quer queiramos ou não, saudar com profunda veneração sua Santidade, o Papa Bento XVI em visita ao nosso País e rogar filialmente que nos deixe a Sua bênção. Manoel de Oliveira
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Encontro com o Mundo da Cultura Discurso do Papa Bento XVI Centro Cultural de Belém - Lisboa Quarta-feira,12 de Maio de 2010
Venerados Irmãos no Episcopado, Distintas Autoridades, Ilustres Cultores do Pensamento, da Ciência e da Arte, Queridos amigos, Sinto grande alegria em ver aqui reunido o conjunto multiforme da cultura portuguesa, que vós tão dignamente representais: Mulheres e homens empenhados na pesquisa e edificação dos vários saberes. A todos testemunho a mais alta amizade e consideração, reconhecendo a importância do que fazem e do que são. Às prioridades nacionais do mundo da cultura, com benemérito incentivo das mesmas, pensa o Governo, aqui representado pela Senhora Ministra da Cultura, para quem vai a minha deferente e grata saudação. Obrigado a quantos tornaram possível este nosso encontro, nomeadamente à Comissão Episcopal da Cultura com o seu Presidente, Dom Manuel Clemente, a quem agradeço as expressões de cordial acolhimento e a apresentação da realidade polifónica da cultura portuguesa, aqui representada por alguns dos seus melhores protagonistas, de cujos sentimentos e expectativas se fez porta-voz o cineasta Manoel de Oliveira, de veneranda idade e carreira, a quem saúdo com admiração e afecto juntamente com vivo reconhecimento pelas palavras que me dirigiu, deixando transparecer ânsias e disposições da alma portuguesa no meio das turbulências da sociedade actual. De facto, a cultura reflecte hoje uma «tensão», que por vezes toma formas de «conflito», entre o presente e a tradição. A dinâmica da sociedade absolutiza o presente, isolando-o do património cultural do passado e sem a intenção de delinear um futuro. Mas uma tal valorização do «presente» como fonte inspiradora do sentido da vida, individual e em sociedade, confronta-se com a forte tradição cultural do Povo Português, muito marcada pela milenária influência do cristianismo, com um sentido de responsabilidade global, afirmada na aventura dos Descobrimentos e no entusiasmo missionário, partilhando o dom da fé com outros povos. O ideal cristão da universalidade e da fraternidade inspiravam esta aventura comum, embora a influência do iluminismo e do laicismo se tivesse feito sentir também. A referida tradição originou aquilo a que
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podemos chamar uma «sabedoria», isto é, um sentido da vida e da história, de que fazia parte um universo ético e um «ideal» a cumprir por Portugal, que sempre procurou relacionar-se com o resto do mundo. A Igreja aparece como a grande defensora de uma sã e alta tradição, cujo rico contributo coloca ao serviço da sociedade; esta continua a respeitar e a apreciar o seu serviço ao bem comum, mas afasta-se da referida «sabedoria» que faz parte do seu património. Este «conflito» entre a tradição e o presente exprime-se na crise da verdade, pois só esta pode orientar e traçar o rumo de uma existência realizada, como indivíduo e como povo. De facto, um povo, que deixa de saber qual é a sua verdade, fica perdido nos labirintos do tempo e da história, sem valores claramente definidos, sem objectivos grandiosos claramente enunciados. Prezados amigos, há toda uma aprendizagem a fazer quanto à forma de a Igreja estar no mundo, levando a sociedade a perceber que, proclamando a verdade, é um serviço que a Igreja presta à sociedade, abrindo horizontes novos de futuro, de grandeza e dignidade. Com efeito, a Igreja «tem uma missão ao serviço da verdade para cumprir, em todo o tempo e contingência, a favor de uma sociedade à medida do ser humano, da sua dignidade, da sua vocação. […] A fidelidade à pessoa humana exige a fidelidade à verdade, a única que é garantia de liberdade (cf. Jo 8, 32) e da possibilidade
dum desenvolvimento humano integral. É por isso que a Igreja a procura, anuncia incansavelmente e reconhece em todo o lado onde a mesma se apresente. Para a Igreja, esta missão ao serviço da verdade é irrenunciável» (Bento XVI, Enc. Caritas in veritate, 9). Para uma sociedade composta na sua maioria por católicos e cuja cultura foi profundamente marcada pelo cristianismo, é dramático tentar encontrar a verdade sem ser em Jesus Cristo. Para nós, cristãos, a Verdade é divina; é o «Logos» eterno, que ganhou expressão humana em Jesus Cristo, que pôde afirmar com objectividade: «Eu sou a verdade» (Jo 14, 6). A convivência da Igreja, na sua adesão firme ao carácter perene da verdade, com o respeito por outras «verdades» ou com a verdade dos outros é uma aprendizagem que a própria Igreja está a fazer. Nesse respeito dialogante, podem abrir-se novas portas para a comunicação da verdade. «A Igreja – escrevia o Papa Paulo VI – deve entrar em diálogo com o mundo em que vive. A Igreja faz-se palavra, a Igreja torna-se mensagem, a Igreja fazse diálogo» (Enc. Ecclesiam suam, 67). De facto, o diálogo sem ambiguidades e respeitoso das partes nele envolvidas é hoje uma prioridade no mundo, à qual a Igreja não se subtrai. Disso mesmo dá testemunho a presença da Santa Sé em diversos organismos internacionais, nomeadamente no Centro Norte-Sul do Conselho da Europa instituído há 20 anos aqui em Lisboa, tendo como pedra angular o diálogo intercultural a fim de promover a cooperação entre a Europa, o Sul do Mediterrâneo e a África e construir uma cidadania mundial fundada sobre os direitos humanos e as responsabilidades dos cidadãos, independentemente da própria origem étnica e adesão política, e respeitadora das crenças religiosas. Constatada a diversidade cultural, é preciso fazer com
que as pessoas não só aceitem a existência da cultura do outro, mas aspirem também a receber um enriquecimento da mesma e a dar-lhe aquilo que se possui de bem, de verdade e de beleza. Esta é uma hora que reclama o melhor das nossas forças, audácia profética, capacidade renovada de «novos mundos ao mundo ir mostrando», como diria o vosso Poeta nacional (Luís de Camões, Os Lusíadas, II, 45). Vós, obreiros da cultura em todas as suas formas, fazedores do pensamento e da opinião, «tendes, graças ao vosso talento, a possibilidade de falar ao coração da humanidade, de tocar a sensibilidade individual e colectiva, de suscitar sonhos e esperanças, de ampliar os horizontes do conhecimento e do empenho humano. […] E não tenhais medo de vos confrontar com a fonte primeira e última da beleza, de dialogar com os crentes, com quem, como vós, se sente peregrino no mundo e na história rumo à Beleza infinita» (Discurso no encontro com os Artistas, 21/XI/2009). Foi para «pôr o mundo moderno em contacto com as energias vivificadoras e perenes do Evangelho» (João XXIII, Const. ap. Humanae salutis, 3) que se fez o Concílio Vaticano II, no qual a Igreja, a partir de uma renovada consciência da tradição católica, assume e discerne, transfigura e transcende as críticas que estão na base das forças que caracterizaram a modernidade, ou seja, a Reforma e o Iluminismo. Assim a Igreja acolhia e recriava por si mesma, o melhor das instâncias da modernidade, por um lado, superando-as e, por outro, evitando os seus erros e becos sem saída. O evento conciliar colocou as premissas de uma autêntica renovação católica e de uma nova civilização – a «civilização do amor» - como serviço evangélico ao homem e à sociedade. Caros amigos, a Igreja sente como sua missão prioritária, na cultura actual, manter desperta a busca da verdade e, consequentemente, de Deus; levar as pessoas a olharem para além das coisas penúltimas e porem-se à procura das últimas. Convido-vos a aprofundar o conhecimento de Deus tal como Ele Se revelou em Jesus Cristo para a nossa total realização. Fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de beleza. Interceda por vós Santa Maria de Belém, venerada há séculos pelos navegadores do oceano e hoje pelos navegantes do Bem, da Verdade e da Beleza. Bento XVI
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Visita à Capelinha das Aparições Oração a Nossa Senhora
Capelinha das Aparições - Fátima Quarta-feira, 12 de Maio de 2010
Santo Padre: Senhora Nossa e Mãe de todos os homens e mulheres, aqui estou como um filho que vem visitar sua Mãe e o faz na companhia de uma multidão de irmãos e irmãs. Como sucessor de Pedro, a quem foi confiada a missão de presidir ao serviço da caridade na Igreja de Cristo e de confirmar a todos na fé e na esperança, quero apresentar ao vosso Coração Imaculado as alegrias e esperanças e também os problemas e as dores de cada um destes vossos filhos e filhas, que se encontram na Cova da Iria ou nos acompanham de longe. Mãe amabilíssima, Vós conheceis cada um pelo seu nome, com o seu rosto e a sua história, e a todos quereis com
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a benevolência maternal que brota do próprio coração de Deus Amor. A todos confio e consagro a Vós, Maria Santíssima, Mãe de Deus e nossa Mãe. Cantores e assembleia: Nós Te cantamos e aclamamos, Maria. (v. 1) Santo Padre: O Venerável Papa João Paulo II, que Vos visitou três vezes, aqui em Fátima, e agradeceu a «mão invisível» que o libertou da morte no atentado de treze de Maio, na Praça de São Pedro, há quase trinta anos, quis oferecer ao Santuário de Fátima uma bala que o feriu gravemente e foi posta na vossa coroa de Rainha da Paz. É profundamente consolador saber que estais coroada não só com a prata e o oiro das nossas alegrias e esperanças, mas também com a bala das nossas preocupações e sofrimentos.
Agradeço, Mãe querida, as orações e os sacrifícios que os Pastorinhos de Fátima faziam pelo Papa, levados pelos sentimentos que lhes infundistes nas aparições. Agradeço também todos aqueles que, em cada dia, rezam pelo Sucessor de Pedro e pelas suas intenções para que o Papa seja forte na fé, audaz na esperança e zeloso no amor. Cantores e assembleia: Nós Te cantamos e aclamamos, Maria. (v. 2) Santo Padre: Mãe querida de todos nós, entrego aqui no vosso Santuário de Fátima, a Rosa de Oiro que trouxe de Roma, como homenagem de gratidão do Papa pelas maravilhas que o Omnipotente tem realizado por Vós no coração de tantos que peregrinam a esta vossa casa maternal. Estou certo que os Pastorinhos de Fátima, os Beatos Francisco e Jacinta e a Serva de Deus Lúcia de Jesus nos acompanham nesta hora de prece e de júbilo. Cantores e assembleia: Nós Te cantamos e aclamamos, Maria. (v. 5)
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Saudação de D. António Francisco dos Santos ao Papa Bento XVI Encontro /Ano sacerdotal Igreja da Santíssima Trindade, Fátima Quarta-feira, 12 de Maio de 2010
Santo Padre Deseja, Vossa Santidade, logo no início desta Peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, Altar do Mundo, encontrar-se com os sacerdotes, diáconos, religiosos e religiosas, consagrados e consagradas e seminaristas de Portugal. Aqui estamos, Santo Padre, nesta bela e acolhedora Igreja da Santíssima Trindade, cheios de júbilo e de esperança. Quero agradecer a Deus, em nome de todos, o dom do ministério e da missão de Vossa Santidade como Pastor Universal da Igreja. E em uníssono agradecemos a bênção e a graça que constitui para toda a Igreja e para Portugal esta Visita. Vivemos hoje e aqui, com renovada alegria, o Ano Sacerdotal, no horizonte da santidade, da comunhão e da missão, sob a intercessão do Santo Cura d’Ars, Padroeiro dos sacerdotes. Sentimo-nos incentivados pelo testemunho exemplar de inúmeros sacerdotes que ao longo do tempo serviram com inexcedível generosidade a Igreja em Portugal. Há alguns meses, reuniram-se neste Santuário os sacerdotes de Portugal, num oportuno e participado Simpósio, sob o tema «Reaviva o dom que está em ti», segundo o conselho imperativo de S. Paulo a Timóteo. Também hoje, os sacerdotes, aqui reunidos, querem reavivar diante de Vossa Santidade este dom de Deus e olhar o futuro com a confiança da fé no divino Mestre, proclamando em comum, com alegria e esperança, a beleza do ministério e a alegria da vocação. A história de Portugal transporta em si as marcas de grande fecundidade vocacional e de intenso dinamismo missionário que levou desde há muitos séculos e leva também no nosso tempo muitos sacerdotes e consagrados (as) a
viver os seus ministérios e carismas em criativa fidelidade a Cristo, em todos os continentes do universo. Diante de Vossa Santidade estão os seminaristas diocesanos e religiosos e jovens consagradas a iniciar a aventura fascinante da vocação e da vida religiosa. Eles são para a Igreja e para o mundo um sinal promissor de esperança. Revelam-nos que o testemunho dos sacerdotes, a vida das comunidades religiosas e o exemplo da entrega radical dos consagrados no meio do mundo suscitam novas vocações. Sabemos, Santo Padre, que é simultaneamente longo e apaixonante este caminho de profecia e de santidade a percorrer e exigente a missão que Jesus nos confia para vivermos segundo o coração de Deus, como mensageiros da esperança e da alegria, da paz e da reconciliação. Compreendemos que o dom da vocação e a graça do ministério, recebidos de Deus, e as exigências do tempo que vivemos constituem para cada um de nós um apelo incessante à verdade e à santidade de vida. Sabemos que Jesus Cristo, vivo e ressuscitado, nosso Mestre e Senhor, nos chama e acompanha. Queremos percorrer este caminho com alegria, coragem e entusiasmo na unidade da Igreja e na comunhão com Vossa Santidade. Imploramos de Nossa Senhora de Fátima e dos Pastorinhos, Beatos Francisco e Jacinta, para Vossa Santidade bênção, saúde e graça e para cada um de nós fidelidade, «sabedoria e santidade na missão» para convosco, Santo Padre, «caminharmos na Esperança». + António Francisco dos Santos Bispo de Aveiro, Presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios
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Acto de Confiança e Consagração dos Sacerdotes ao Imaculado Coração de Maria Oração do Papa Bento XVI
Igreja da Santíssima Trindade - Fátima Quarta-feira, 12 de Maio de 2010
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Celebrações das Vésperas com sacerdotes, religiosos, seminaristas e diáconos Discurso do Papa Bento XVI
Igreja da SS.ma Trindade - Fátima Quarta-feira, 12 de Maio de 2010
Queridos irmãos e irmãs, «Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher […] para nos tornar seus filhos adoptivos» (Gal 4, 4.5). A plenitude dos tempos chegou, quando o Eterno irrompeu no tempo; por obra e graça do Espírito Santo, o Filho do Altíssimo foi concebido e fez-Se homem no seio de uma mulher: a Virgem Mãe, tipo e modelo excelso da Igreja crente. Esta não cessa de gerar novos filhos no Filho, que o Pai quis primogénito de muitos irmãos. Cada um de nós é chamado a ser, com Maria e como Maria, um sinal humilde e simples da Igreja que continuamente se oferece como esposa nas mãos do seu Senhor. A todos vós que doastes a vida a Cristo, desejo nesta tarde exprimir o apreço e reconhecimento eclesial. Obrigado pelo vosso testemunho muitas vezes silencioso e nada fácil; obrigado pela vossa fidelidade ao Evangelho e à Igreja. Em Jesus presente na Eucaristia, abraço os meus irmãos no sacerdócio e os diáconos, consagradas e consagrados, seminaristas e membros dos movimentos e novas comunidades eclesiais aqui presentes. Queira o Senhor recompensar, como só Ele sabe e pode fazer, quantos tornaram possível encontrarmo-nos aqui junto de Jesus Eucaristia, designadamente a Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios com o seu Presidente, Dom António Santos, a quem agradeço as palavras repassadas de afecto colegial e fraterno pronunciadas no início das Vésperas. Neste ideal «cenáculo» de fé que é Fátima, a Virgem Mãe indica-nos o caminho para a nossa oblação pura e santa nas mãos do Pai. Permiti abrir-vos o coração para vos dizer que a principal preocupação de todo o cristão, nomeadamente da pessoa consagrada e do ministro do Altar, há-de ser a fidelidade, a lealdade à própria vocação, como discípulo que quer seguir o Senhor. A fidelidade no tempo é o nome do amor; de um amor coerente, verdadeiro e profundo a Cristo Sacerdote. «Se o Baptismo é um verdadeiro ingresso na santidade de Deus através da inserção em Cristo e da habitação do seu Espírito, seria um contra-senso contentar-se com uma vida medíocre, pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial» (João
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Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31). Neste Ano Sacerdotal, já a caminho do fim, uma graça abundante desça sobre todos vós para viverdes a alegria da consagração e testemunhardes a fidelidade sacerdotal alicerçada na fidelidade de Cristo. Isto supõe, evidentemente, uma verdadeira intimidade com Cristo na oração, pois será a experiência forte e intensa do amor do Senhor que há-de levar os sacerdotes e os consagrados a corresponderem ao seu amor de modo exclusivo e esponsal. Esta vida de especial consagração nasceu como memória evangélica para o povo de Deus, memória que manifesta, atesta e anuncia a toda a Igreja o radicalismo evangélico e a vinda do Reino. Pois bem, queridos consagrados e consagradas, com o vosso empenho na oração, na ascese,
no progresso da vida espiritual, na acção apostólica e na missão, tendeis para a Jerusalém Celeste, antecipais a Igreja escatológica, firme na posse e contemplação amorosa de Deus-Amor. Como é grande, hoje, a necessidade deste testemunho! Muitos dos nossos irmãos vivem como se não houvesse um Além, sem se importar com a própria salvação eterna. Os homens são chamados a aderir ao conhecimento e ao amor de Deus, e a Igreja tem a missão de os ajudar nesta vocação. Bem sabemos que Deus é senhor dos seus dons; e a conversão dos homens é graça. Mas somos responsáveis pelo anúncio da fé, da totalidade da fé, e das suas exigências. Queridos amigos, imitemos o Cura d’Ars que assim rezava ao bom Deus: «Concedei-me a conversão da minha paróquia, e eu estou pronto a sofrer o que Vós quiserdes, todo o resto da vida». E tudo fez para arrancar as pessoas à própria tibieza a fim de as reconduzir ao amor. Há uma solidariedade profunda entre todos os membros do Corpo de Cristo: não é possível amá-Lo, sem amar os seus irmãos. Foi para a salvação deles que João Maria Vianney quis ser sacerdote: «Ganhar as almas para o Bom Deus», declarava ele ao anunciar a sua vocação, aos dezoito anos de idade, tal como Paulo dizia: «Ganhar a todos» (1 Cor 9, 19). O Vigário Geral tinha-lhe dito: «Não há muito amor de Deus na paróquia, vós introduzilo-eis». E, na sua paixão sacerdotal, o santo pároco era misericordioso como Jesus no encontro com cada pecador. Preferia insistir sobre o lado atraente da virtude, sobre a misericórdia de Deus diante da qual os nossos pecados são «grãos de areia». Mostrava a ternura de Deus ofendida. Temia que os sacerdotes «se insensibilizassem» e habituassem à indiferença dos seus fiéis: «Ai do Pastor – advertia – que fica calado ao ver Deus ultrajado e as almas perderem-se!» Amados irmãos sacerdotes, neste lugar que Maria fez tão especial, tendo diante dos olhos a sua vocação de discípula fiel do Filho Jesus desde a sua conceição até à Cruz e depois no caminho da Igreja nascente, considerai a graça inaudita do vosso sacerdócio. A fidelidade à própria vocação exige coragem e confiança, mas o Senhor quer também que saibais unir as vossas forças; sede solícitos uns pelos outros, sustentando-vos fraternalmente. Os momentos de oração e estudo em comum, de partilha das exigências da vida e trabalho sacerdotal são uma parte necessária da vossa vida. Como é maravilhoso quando vos acolheis uns aos outros nas vossas casas, com a paz de Cristo nos vossos corações! Como é importante
que vos ajudeis mutuamente por meio da oração e com conselhos e discernimentos úteis! Particular atenção vos devem merecer as situações de um certo esmorecimento dos ideais sacerdotais ou a dedicação a actividades que não concordem integralmente com o que é próprio de um ministro de Jesus Cristo. Então é hora de assumir, juntamente com o calor da fraternidade, a atitude firme do irmão que ajuda seu irmão a manter-se de pé. Embora o sacerdócio de Cristo seja eterno (cf. Heb 5, 6), a vida dos sacerdotes é limitada. Cristo quer que outros perpetuem ao longo dos tempos o sacerdócio ministerial por Ele instituído. Por isso mantende, dentro de vós e ao vosso redor, a inquietude por suscitar – secundando a graça do Espírito Santo – novas vocações sacerdotais entre os fiéis. A oração confiante e perseverante, o amor jubiloso à própria vocação e um dedicado trabalho de direcção espiritual permitir-vos-ão discernir o carisma vocacional naqueles que são chamados por Deus. A vós, queridos seminaristas, que já destes o primeiro passo para o sacerdócio e estais a preparar-vos no Seminário Maior ou nas Casas de Formação Religiosa, o Papa encoraja-vos a serdes conscientes da grande responsabilidade que ides assumir: examinai bem as intenções e as motivações; dedicai-vos com ânimo forte e espírito generoso à vossa formação. A Eucaristia, centro da vida do cristão e escola de humildade e serviço, deve ser o objecto principal do vosso amor. A adoração, a piedade e o cuidado do Santíssimo Sacramento, durante estes anos de preparação, farão com que um dia celebreis o Sacrifício do Altar com unção edificante e verdadeira. Neste caminho de fidelidade, amados sacerdotes e diáconos, consagrados e consagradas, seminaristas e leigos comprometidos, guia-nos e acompanha-nos a Bem-aventurada Virgem Maria. Com Ela e como Ela somos livres para ser santos; livres para ser pobres, castos e obedientes; livres para todos, porque desapegados de tudo; livres de nós mesmos para que em cada um cresça Cristo, o verdadeiro consagrado do Pai e o Pastor ao qual os sacerdotes emprestam voz e gestos, de Quem são presença; livres para levar à sociedade actual Jesus Cristo morto e ressuscitado, que permanece connosco até ao fim dos séculos e a todos Se dá na Santíssima Eucaristia. Bento XVI
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Bênção das velas, oração do Santo Rosário Discurso do Papa Bento XVI
Santuário de Fátima Quarta-feira, 12 de Maio de 2010
Queridos peregrinos, Todos juntos, com a vela acesa na mão, lembrais um mar de luz à volta desta singela capelinha, amorosamente erguida em honra da Mãe de Deus e nossa Mãe, cujo caminho da terra ao céu foi visto pelos pastorinhos como um rasto de luz. Contudo nem Ela nem nós gozamos de luz própria: recebemo-la de Jesus. A sua presença em nós renova o mistério e o apelo da sarça ardente, o mesmo que outrora atraiu Moisés no monte Sinai e não cessa de fascinar a quantos se dão conta duma luz particular em nós que arde sem nos consumir (cf. Ex 3, 2-5). Por nós, não passamos de mísero silvado, sobre o qual pousou a glória de Deus. A Ele toda a glória, a nós a humilde confissão do próprio nada e a submissa adoração dos desígnios divinos que estarão cumpridos quando «Deus for tudo em todos» (cf. 1 Cor 15, 28). Serva incomparável de tais desígnios é a Virgem cheia de graça: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Queridos peregrinos, imitemos Maria, fazendo ressoar em nossa vida o seu «faça-se»! A Moisés, Deus ordenara: «Tira as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que te encontras é terra sagrada» (Ex 3, 5). E ele assim fez; calçará de novo as sandálias, para ir libertar o seu povo da escravidão do Egipto e conduzi-lo à terra prometida. Não se trata simplesmente da posse dum pedaço de terreno ou dum território nacional que cada povo tem o direito de ter; na luta pela libertação de Israel e no seu êxodo do Egipto, o que aparece primeiro é sobretudo o direito à liberdade de adoração, à liberdade de um culto próprio. No decorrer da história do povo eleito, a promessa da terra acabou por assumir cada vez mais este significado: a terra é dada para que haja um lugar da obediência, para que exista um espaço aberto a Deus. No nosso tempo em que a fé, em vastas zonas da terra, corre o perigo de apagar-se como uma chama que já não recebe alimento, a prioridade que está acima de todas é tornar Deus presente neste mundo e abrir aos homens o acesso a Deus. Não a um deus qualquer, mas àquele Deus que falou no Sinai; àquele Deus cujo rosto reconhe-
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cemos no amor levado até ao extremo (cf. Jo 13, 1) em Jesus Cristo crucificado e ressuscitado. Queridos irmãos e irmãs, adorai Cristo Senhor em vossos corações (cf. 1 Ped 3, 15)! Não tenhais medo de falar de Deus e de ostentar sem vergonha os sinais da fé, fazendo resplandecer aos olhos dos vossos contemporâneos a luz de Cristo, tal como a Igreja canta na noite da Vigília Pascal que gera a humanidade como família de Deus. Irmãos e irmãs, neste lugar é impressionante observar como três crianças se renderam à força interior que as invadiu nas aparições do Anjo e da Mãe do Céu. Aqui, onde tantas vezes se nos pediu que rezemos o Terço, deixemo-nos atrair pelos mistérios de Cristo, os mistérios do Rosário de Maria. A oração do Terço permite-nos fixar o nosso olhar e o nosso coração em Jesus, como sua Mãe, modelo insuperável da contemplação do Filho. Ao meditar os mistérios gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos ao longo das «Ave Marias», contemplamos todo o mistério de Jesus, desde a Encarnação até à Cruz e à glória da Ressurreição; contemplamos a participação íntima de Maria neste mistério e a nossa vida em Cristo hoje, também ela tecida de momentos de alegria e de dor, de sombras e de luz, de trepidação e de esperança. A graça invade o nosso coração no desejo de uma incisiva e evangélica mudança de vida de modo a poder proclamar com São Paulo: «Para mim viver é Cristo» (Fil 1, 21), numa comunhão de vida e de destino com Cristo. Sinto que me acompanham a devoção e o afecto dos fiéis aqui reunidos e do mundo inteiro. Trago comigo as preocupações e as esperanças deste nosso tempo e as dores da humanidade ferida, os problemas do mundo e venho colocá-los aos pés de Nossa Senhora de Fátima: Virgem Mãe de Deus e nossa Mãe querida, intercedei por nós junto de vosso Filho para que todas as famílias dos povos, quer as que se distinguem pelo nome cristão quer as que ainda ignoram o seu Salvador, vivam em paz e concórdia até se reunirem finalmente num só povo de Deus, para glória da santíssima e indivisível Trindade. Amen. Bento XVI
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Celebração da Missa das Vésperas na Solenidade da Bem-Aventurada Maria Virgem de Fátima Homilia do Cardeal Tarcisio Bertone Secretário de Estado do Santo Padre
Santuário de Fátima Quarta-feira, 12 de Maio de 2010
Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio, Amados Irmãos e Irmãs no Senhor, Queridos peregrinos de Fátima! Disse Jesus: «Se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, não entrareis no reino dos Céus» (Mt 18, 3). Para entrar no reino, temos de nos fazer humildes, sempre mais humildes e pequeninos, pequeninos o mais possível: tal é o segredo da vida mística. Um início sério de vida espiritual começa quando uma pessoa faz um autêntico acto de humildade, deixando a difícil posição de quem se crê sempre o centro do universo para se abandonar nos braços do mistério de Deus com uma alma de criança. Nos braços do mistério de Deus! N’Ele, não há só poder, ciência, majestade, mas também infância, inocência, ternura infinita, porque é Pai, infinitamente Pai. Não o sabíamos antes, nem podíamos sabê-lo; foi necessário que nos enviasse seu Filho para o descobrirmos. Este fez-Se criança e, deste modo, pôde dizer-nos para nos tornarmos crianças a fim de entrar no seu reino. Ele, que é Deus de grandeza infinita, fez-Se tão pequenino e humilde diante de nós que somente os olhos da fé e dos simples podem reconhecê-Lo (cf. Mt 11, 25). Pôs assim em discussão o instinto natural de protagonismo que reina em nós: «Ser como Deus» (Gn 3, 5). Pois bem! Deus apareceu na terra feito criança. Agora sabemos como é Deus: é uma criança. Era preciso ver para crer! Veio ao encontro da nossa prepotente necessidade de sobressair mas inverteu a sua direcção, propondo colocá-la ao serviço do amor; sobressair, sim, mas como o mais pacífico, indulgente, generoso e serviçal de todos: o servo e o
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último de todos. Irmãos e irmãs, esta é a «sabedoria que vem do Alto» (cf. Tg 3, 17). Por sua vez, a «sabedoria» do mundo exalta o sucesso pessoal e busca-o a todo o custo, eliminando sem escrúpulos quem for visto como impedimento à própria supremacia. A isto chamam vida, mas o rasto de morte por ela deixado logo os desdiz. «Todo aquele que odeia o seu irmão – ouvimos na segunda leitura – é homicida e vós sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo em si» (1 Jo 3, 15). Só quem ama o irmão possui em si mesmo a vida eterna, isto é, a presença de Deus, que, por meio do Espírito, comunica ao crente o seu amor e o torna participante do mistério da vida trinitária. Na verdade, assim como um emigrante em terra estrangeira, embora adaptando-se à nova situação, mantém consigo – pelo menos no coração – as leis e os costumes do seu povo, assim também Jesus vindo à terra trouxe consigo, como peregrino da Trindade, o modo de viver da sua pátria celeste que «exprime humanamente os comportamentos divinos da Trindade» (Catecismo da Igreja Católica, n. 470). No Baptismo, cada um de nós renunciou à «sabedoria» do mundo e voltou-se para a «sabedoria do Alto», que se manifestou em Jesus, mestre incomparável na arte de amar (cf. 1 Jo 3, 16). Dar a vida pelo irmão é o cúmulo do amor: disse Jesus (Jo 15, 13); disse e cumpriu-o, mandando-nos amar como Ele (cf. Jo 15, 12). Passar da vida como posse à vida como dom é o grande desafio, que revela – a nós mesmos e aos outros – quem somos e quem queremos ser. O amor fraterno e gratuito é o mandamento e a missão que o divino Mestre nos deixou, capaz de convencer os
nossos irmãos e irmãs em humanidade: «É por isto que todos saberão que sois meus discípulos: Se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 35). Às vezes lamentamo-nos da presença marginal do cristianismo na sociedade actual, da dificuldade em transmitir a fé aos jovens, da diminuição das vocações sacerdotais e religiosas… Poder-se-ia elencar outros motivos de preocupação; de facto, não é raro sentirmo-nos perdedores aos olhos do mundo. Mas a aventura da esperança leva-nos mais longe. Diz-nos que o mundo é de quem mais o ama e melhor lho prova. No coração de cada pessoa, há uma sede infinita de amor; e nós, com o amor que Deus derrama nos nossos corações (cf. Rm 5, 5), podemos saciá-la. Naturalmente o nosso amor tem de ser expresso «não com palavras e com a língua mas com obras e em verdade», acudindo alegre e solicitamente com os nossos bens às necessidades dos indigentes (cf. 1 Jo 3, 16-18). Queridos peregrinos e quantos me ouvis, «reparti com alegria como a Jacinta». Tal é o apelo que este Santuário quis pôr em evidência no centenário do nascimento da privilegiada vidente de Fátima. Há dez anos, neste mesmo lugar, o Venerável Servo de Deus João Paulo II elevou-a à glória dos altares juntamente com o irmão Francisco, que cumpriram, em breve tempo, a longa marcha para a santidade, guiados e sustentados pelas mãos da Virgem Maria. São dois frutos maduros da árvore da Cruz do Salvador. Olhando para eles, sabemos que esta é a estação dos frutos... frutos de santidade. Velho tronco lusitano de seiva cristã, com os ramos estendidos para outros mundos e aí enterrados como rebentos de novos povos cristãos, sobre ti pousou a Rainha do Céu o seu pé – pé vitorioso que esmaga a cabeça da serpente enganadora (cf. Gen 3, 15) – à procura dos pequeninos do reino dos céus. Acalentados pela oração desta noite de vigília e com os olhos fixos na glória dos Beatos Francisco e Jacinta, aceita o desafio de Jesus: «Se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, não entrareis no reino dos Céus» (Mt 18, 3). Para pessoas minadas pelo orgulho como nós, não é fácil tornar-se como as crianças. Por isso Jesus nos adverte tão duramente: «Não entrareis…»! Não nos dá alternativa. Portugal, não te resignes a formas de pensar e de viver que não têm futuro, porque não assentam na sólida certeza da Palavra de Deus, do Evangelho. «Não temas! O Evangelho não é contra ti, mas a teu favor. (…) No Evangelho, que é Jesus, encontrarás a esperança sólida e duradoura por que anseias. É uma esperança fundada na vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. Esta vitória, quis Ele que te pertencesse para tua salvação e alegria» (João Paulo II, Exort.ap. Ecclesia in Europa, 121). A primeira leitura mostra como Samuel encontrou uma guia no Sumo Sacerdote Heli. Este demonstra com a
criança toda a prudência requerida pelo dever de verdadeiro educador, capaz de intuir a natureza da profunda experiência que Samuel está a fazer. Mas ninguém pode decidir acerca da vocação de outrem; por isso Heli encaminha Samuel para a escuta dócil da palavra de Deus: «Falai, Senhor, que o vosso servo escuta» (1 Sm 3, 10). De certo modo, podemos ler à mesma luz esta Visita do Santo Padre, que decorre sob o lema: «Papa Bento XVI, contigo caminhamos na Esperança!» São palavras que sabem tanto de uma confissão colectiva de fé e adesão à Igreja com o seu fundamento visível em Pedro como de uma aprendizagem pessoal de confiança e lealdade na guia paterna e sábia de quem o Céu escolheu para indicar à humanidade deste tempo a estrada certa que ao mesmo conduz. Santo Padre, «contigo caminhamos na Esperança»! Contigo, aprendemos a distinguir a grande Esperança das esperanças pequenas e sempre limitadas como nós! Quando, no meio da debandada geral para voltar às pequenas esperanças, se fizer ouvir o repto de Jesus, a grande Esperança: «Também vós quereis ir embora?», acorda-nos tu, Pedro, com a tua palavra de sempre: «Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus» (Jo 6, 68). Na verdade – lembra-nos o Pedro de hoje, Papa Bento XVI –, «quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande Esperança que sustenta toda a vida (cf. Ef 2,12). A verdadeira e grande esperança do homem, que resiste apesar de todas as desilusões, só pode ser Deus – o Deus que nos amou e ama ainda agora “até ao fim”, “até à plena consumação” (cf. Jo 13, 1; 19, 30)» (Enc. Spe salvi, 27). Amados peregrinos de Fátima, fazei que o Céu seja sempre o horizonte da vossa vida! Disseram-vos que o Céu pode esperar, mas enganaram-vos... A voz que vem do Céu não é como estas vozes que fazem lembrar a lendária sereia enganadora que adormecia as suas vítimas antes de as precipitar no abismo. Há dois mil anos que, partindo da Galileia, ressoa até aos confins da terra a voz definitiva do Filho de Deus que diz: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho» (Mc 1, 15). Fátima recorda-nos que o Céu não pode esperar! Por isso peçamos, com filial confiança, a Nossa Senhora que nos ensine a dar o Céu à terra: Ó Virgem Maria, ensinai-nos a crer, adorar, esperar e amar convosco! Indicai-nos o caminho para o reino de Jesus, o caminho da infância espiritual. Vós, Estrela da Esperança que trepidante nos espera na Luz sem ocaso da Pátria eterna, brilhai sobre nós e guiai-nos nas vicissitudes de cada dia, agora e na hora da nossa morte. Amen. Tarcisio Bertone Secretário de Estado do Santo Padre
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Saudação de D. António Marto ao Papa Bento XVI Santuário de Fátima 13 de Maio de 2010
Saudação Santo Padre, É com imensa alegria e profunda emoção que, como bispo de Leiria-Fátima, dou as boas vindas a tão ilustre e amado peregrino, o nosso Papa Bento XVI. Saúdo-o e agradeçolhe, de todo o coração, em nome pessoal e de todo este povo aqui reunido, em multidão, no Santuário de Fátima, como num cenáculo a céu aberto, onde pulsa o coração materno de Portugal. Bem vindo, Santo Padre! Muito obrigado porque quis visitar este Santuário tão querido ao nosso povo e ao mundo católico, onde, no dizer de Vossa Santidade, “Maria ergueu a sua cátedra para ensinar aos pequenos videntes e às multidões as verdades eternas e a arte de orar, crer e amar” e nos “pede o abandono, cheio de confiança, nas mãos do Amor que sustenta o mundo”. Muito obrigado pela oferta da Rosa de Ouro com que quis distinguir o nosso Santuário, sinal do seu particular afecto. Muito obrigado por nos proporcionar esta extraordinária experiência de beleza da comunhão que constitui a Igreja unida à volta do seu Pastor universal.
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Muito obrigado, por fim e de modo especial, porque vem confirmar-nos na fé, de acordo com o seu ministério de Sucessor de Pedro. A sua peregrinação ocorre, por feliz coincidência, no décimo aniversário da beatificação dos pastorinhos e no centésimo do nascimento da pequena Jacinta. São conhecidos o carinho, a oração e os sacrifícios dos pastorinhos pela pessoa do Santo Padre e pelos seus sofrimentos. Neste momento quero também assegurar-lhe, Santo Padre, a profunda comunhão e o sincero afecto de todo o nosso povo católico pela sua pessoa e pelo seu ministério na Igreja e na humanidade. Conte com a nossa oração, a nossa docilidade na fé e o nosso afecto filial. Dispomo-nos a escutar a sua palavra que ilumina a mente e fala ao coração, que confirma na fé e conforta no amor, que é portadora de esperança. Que o Senhor, por intercessão de Nossa Senhora de Fátima, lhe dê força, coragem e fecundidade no seu ministério apostólico. + António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
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Missa na Esplanada do Santuário de Nossa Senhora de Fátima Homilia, Saudação aos Doentes, Saudação aos Peregrinos
Santuário de Fátima Quinta-feira, 13 de Maio de 2010
Queridos peregrinos, «A linhagem do povo de Deus será conhecida […] como linhagem que o Senhor abençoou» (Is 61, 9). Assim começava a primeira leitura desta Eucaristia, cujas palavras encontram uma realização admirável nesta devota assembleia aos pés de Nossa Senhora de Fátima. Irmãs e irmãos muito amados, também eu vim como peregrino a Fátima, a esta «casa» que Maria escolheu para nos falar nos tempos modernos. Vim a Fátima para rejubilar com a presença de Maria e sua materna protecção. Vim a Fátima, porque hoje converge para aqui a Igreja peregrina, querida pelo seu Filho como instrumento de evangelização e sacramento de salvação. Vim a Fátima para rezar, com Maria e tantos peregrinos, pela nossa humanidade acabrunhada por misérias e sofrimentos. Enfim, com os mesmos sentimentos dos Beatos Francisco e Jacinta e da Serva de Deus Lúcia, vim a Fátima para confiar a Nossa Senhora a confissão íntima de que «amo», de que a Igreja, de que os sacerdotes «amam» Jesus e n’Ele desejam manter fixos os olhos ao terminar este Ano Sacerdotal, e para confiar à protecção materna de Maria os sacerdotes, os consagrados e consagradas, os missionários e todos os obreiros do bem que tornam acolhedora e benfazeja a Casa de Deus. São a linhagem que o Senhor abençoou… Linhagem que o Senhor abençoou és tu, amada diocese de Leiria-Fátima, com o teu Pastor Dom António Marto, a quem agradeço a saudação inicial e todas as atenções com que me cumulou nomeadamente através de seus colaboradores neste santuário. Saúdo o Senhor Presidente da República e demais autoridades ao serviço desta Nação gloriosa. Idealmente abraço todas as dioceses de Portugal, aqui representadas pelos seus Bispos, e confio ao Céu todos os povos e nações da terra. Em Deus, estreito ao coração todos os seus filhos e filhas, especialmente quantos vivem atribulados ou abandonados, no desejo de comunicar-lhes aquela esperança grande que arde no meu coração e que, em Fátima, se faz encontrar mais sensivelmente. A nossa grande esperança lance raízes na vida de cada um de vós, amados peregrinos aqui presentes, e de quantos estão em comunhão connosco através dos meios de
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comunicação social. Sim! O Senhor, a nossa grande esperança, está connosco; no seu amor misericordioso, oferece um futuro ao seu povo: um futuro de comunhão consigo. Tendo experimentado a misericórdia e consolação de Deus que não o abandonara no fatigante caminho do regresso do exílio de Babilónia, o povo de Deus exclama: «Exulto de alegria no Senhor, a minha alma rejubila no meu Deus» (Is 61, 10). Filha excelsa deste povo é a Virgem Mãe de Nazaré, a qual, revestida de graça e docemente surpreendida com a gestação de Deus que se estava operando no seu seio, faz igualmente sua esta alegria e esta esperança no cântico do Magnificat: «O meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador». Entretanto não se vê como privilegiada no meio de um povo estéril, antes profetiza-lhe as doces alegrias duma prodigiosa maternidade de Deus, porque «a sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem» (Lc 1, 47.50). Prova disto mesmo é este lugar bendito. Mais sete anos e voltareis aqui para celebrar o centenário da primeira visita feita pela Senhora «vinda do Céu», como Mestra que introduz os pequenos videntes no conhecimento íntimo do Amor Trinitário e os leva a saborear o próprio Deus como o mais belo da existência humana. Uma experiência de graça que os tornou enamorados de Deus em Jesus, a ponto da Jacinta exclamar: «Gosto tanto de dizer a Jesus que O amo. Quando Lho digo muitas vezes, parece que tenho um lume no peito, mas não me queimo». E o Francisco dizia: «Do que gostei mais foi de ver a Nosso Senhor, naquela luz que Nossa Senhora nos meteu no peito. Gosto tanto de Deus!» (Memórias da Irmã Lúcia, I, 40 e 127). Irmãos, ao ouvir estes inocentes e profundos desabafos místicos dos Pastorinhos, poderia alguém olhar para eles com um pouco de inveja por terem visto ou com a desiludida resignação de quem não teve essa sorte mas insiste em ver. A tais pessoas, o Papa diz como Jesus: «Não andareis vós enganadas, ignorando as Escrituras e o poder de Deus?» (Mc 12, 24). As Escrituras convidam-nos a crer: «Felizes os que acreditam sem terem visto» (Jo 20, 29), mas Deus – mais íntimo a mim mesmo de quanto
o seja eu próprio (cf. Santo Agostinho, Confissões, III, 6, 11) – tem o poder de chegar até nós nomeadamente através dos sentidos interiores, de modo que a alma recebe o toque suave de algo real que está para além do sensível, tornando-a capaz de alcançar o não-sensível, o não-visível aos sentidos. Para isso exige-se uma vigilância interior do coração que, na maior parte do tempo, não possuímos por causa da forte pressão das realidades externas e das imagens e preocupações que enchem a alma (cf. Card. Joseph Ratzinger, Comentário teológico da Mensagem de Fátima, ano 2000). Sim! Deus pode alcançar-nos, oferecendo-Se à nossa visão interior. Mais ainda, aquela Luz no íntimo dos Pastorinhos, que provém do futuro de Deus, é a mesma que se manifestou na plenitude dos tempos e veio para todos: o Filho de Deus feito homem. Que Ele tem poder para incendiar os corações mais frios e tristes, vemo-lo nos discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 32). Por isso a nossa esperança tem fundamento real, apoia-se num acontecimento que se coloca na história e ao mesmo tempo excede-a: é Jesus de Nazaré. E o entusiasmo que a sua sabedoria e poder salvífico suscitavam nas pessoas de então era tal que uma mulher do meio da multidão – como ouvimos no Evangelho – exclama: «Feliz Aquela que Te trouxe no seu ventre e Te amamentou ao seu peito». Contudo Jesus observou: «Mais felizes são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 11, 27. 28). Mas quem tem tempo para escutar a sua palavra e deixar-se fascinar pelo seu amor? Quem vela, na noite da dúvida e da incerteza, com o coração acordado em oração? Quem espera a aurora do dia novo, tendo acesa a chama da fé? A fé em Deus abre ao homem o horizonte de uma esperança certa que não desilude; indica um sólido fundamento sobre o qual apoiar, sem medo, a própria vida; pede o abandono, cheio de confiança, nas mãos do Amor que sustenta o mundo. «A linhagem do povo de Deus será conhecida […] como linhagem que o Senhor abençoou» (Is 61, 9) com uma esperança inabalável e que frutifica num amor que se sacrifica pelos outros, mas não sacrifica os outros; antes – como ouvimos na segunda leitura – «tudo desculpa, tudo acredita, tudo espera, tudo suporta» (1 Cor 13, 7). Exemplo e estímulo são os Pastorinhos, que fizeram da sua vida uma doação a Deus e uma partilha com os outros por amor de Deus. Nossa Senhora ajudou-os a abrir o coração à universalidade do amor. De modo particular, a beata Jacinta mostrava-se incansável na partilha com os pobres e no sacrifício pela conversão dos pecadores. Só com este amor de fraternidade e partilha construiremos
a civilização do Amor e da Paz. Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída. Aqui revive aquele desígnio de Deus que interpela a humanidade desde os seus primórdios: «Onde está Abel, teu irmão? […] A voz do sangue do teu irmão clama da terra até Mim» (Gn 4, 9). O homem pôde despoletar um ciclo de morte e terror, mas não consegue interrompê-lo… Na Sagrada Escritura, é frequente aparecer Deus à procura de justos para salvar a cidade humana e o mesmo faz aqui, em Fátima, quando Nossa Senhora pergunta: «Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em acto de reparação pelos pecados com que Ele mesmo é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?» (Memórias da Irmã Lúcia, I, 162). Com a família humana pronta a sacrificar os seus laços mais sagrados no altar de mesquinhos egoísmos de nação, raça, ideologia, grupo, indivíduo, veio do Céu a nossa bendita Mãe oferecendo-Se para transplantar no coração de quantos se Lhe entregam o Amor de Deus que arde no seu. Então eram só três, cujo exemplo de vida irradiou e se multiplicou em grupos sem conta por toda a superfície da terra, nomeadamente à passagem da Virgem Peregrina, que se votaram à causa da solidariedade fraterna. Possam os sete anos que nos separam do centenário das Aparições apressar o anunciado triunfo do Coração Imaculado de Maria para glória da Santíssima Bento XVI
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Saudação aos doentes Queridos Irmãos e Irmãs doentes, Antes de me aproximar de vós aqui presentes, levando nas mãos a custódia com Jesus Eucaristia, queria dirigirvos uma palavra de ânimo e de esperança, que estendo a todos os doentes que nos acompanham através da rádio e da televisão e a quantos não têm sequer esta possibilidade mas estão unidos connosco pelos vínculos mais profundos do espírito, ou seja, na fé e na oração: Meu irmão e minha irmã, tens para Deus «um valor tão grande que Ele mesmo Se fez homem para poder padecer com o homem, de modo muito real, na carne e no sangue, como nos é demonstrado na narração da Paixão de Jesus. A partir de então entrou, em todo o sofrimento humano, Alguém que partilha o sofrimento e a sua suportação; a partir de então propaga-se em todo o sofrimento a consolação do amor solidário de Deus, surgindo assim a estrela da esperança» (Bento XVI, Enc. Spe salvi, 39). Com esta esperança no coração, poderás sair das areias movediças da doença e da morte e pôr-te de pé sobre a rocha firme do amor divino. Por outras palavras: poderás superar a sensação de inutilidade do sofrimento que desgasta a
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pessoa dentro de si mesma e a faz sentir-se um peso para os outros, quando na verdade o sofrimento, vivido com Jesus, serve para a salvação dos irmãos. Como é possível? As fontes da força divina jorram precisamente no meio da fragilidade humana. É o paradoxo do Evangelho. Por isso o divino Mestre, mais do que demorar-Se a explicar as razões do sofrimento, preferiu chamar cada um a segui-Lo, dizendo: «Toma a tua cruz e segue-Me» (cf. Mc 8, 34). Vem comigo. Toma parte com o teu sofrimento nesta obra de salvação do mundo, que se realiza por meio do meu sofrimento, por meio da minha Cruz. À medida que abraçares a tua cruz, unindo-te espiritualmente à minha Cruz, desvendar-se-á a teus olhos o sentido salvífico do sofrimento. Encontrarás no sofrimento a paz interior e até mesmo a alegria espiritual. Queridos doentes, acolhei este chamamento de Jesus que vai passar junto de vós no Santíssimo Sacramento e confiai-Lhe todas as contrariedades e penas que enfrentais para se tornarem – segundo os seus desígnios – meio de redenção para o mundo inteiro. Sereis redentores no Redentor, como sois filhos no Filho. Junto da cruz… está a Mãe de Jesus, a nossa Mãe. Bento XVI
O Santo Padre saúda a multidão dos peregrinos, em várias línguas: FRANCÊS: Chers pèlerins francophones, venus chercher ici, à Fatima, auprès du cœur de Marie, la Mère de Jésus, un supplément d’espérance afin d’être autour de vous source de consolation et d’encouragement sur les routes humaines : que Notre-Dame vous protège et intercède pour tous ceux que vous aimez ! Ma Bénédiction vous accompagne ! INGLÊS: I welcome the English-speaking pilgrims present today who have come from near and far. As we offer our fervent prayers to our Lady of Fátima, I encourage you to ask her to intercede for the needs of the Church throughout the world. I cordially invoke God’s blessing upon all of you, and in a particular way upon the young and those who are sick. ALEMÃO: Ganz herzlich grüße ich alle deutschsprachigen Pilger. Auch heute ruft uns die Muttergottes hier in Fatima zum Gebet für die Bekehrung der Sünder und den Frieden in der Welt auf. Gerne vertraue ich euch und eure Familien ihrem unbefleckten Herzen an. Maria führe euch zu ihrem Sohn Jesus Christus.
ESPANHOL: Queridos peregrinos de lengua española, que habéis acudido con entusiasmo a este encuentro ante la Virgen de Fátima para compartir con tantos otros devotos vuestra confianza y fervor a nuestra Madre del cielo, la Santísima Virgen María. Que ella os lleve con ternura y mano segura hacia Cristo, su Hijo, y sea así fuente de gozosa esperanza y de firmeza en la fe. Muchas gracias. ITALIANO: Con affetto mi rivolgo ora ai pellegrini italiani e a quanti dall’Italia sono spiritualmente uniti a noi. Cari fratelli e sorelle, da Fatima, dove la Vergine Maria ha lasciato un segno indelebile del suo amore materno, invoco la sua protezione su di voi, sulle vostre famiglie, specialmente su quanti sono nella prova. Vi benedico di cuore! POLACO: Pozdrawiam polskich pielgrzymów. Gromadzi nas tu Niepokalana Matka Boga, która w tym miejscu zechciala pozostawic ludzkosci przeslanie pokoju. Wiaze sie ono z wezwaniem do zawierzenia i pelnej nadziei modlitwy, abysmy mogli przyjac laske milosierdzia, która Ona nieustannie wyprasza u swego Syna dla kolejnych pokolen. W tym duchu polecam Jej opiece Was, wasze rodziny i wspólnoty, i z serca Wam blogoslawie. [Saluto i pellegrini polacchi. Ci raduna qui l’Immacolata Madre di Dio, che in questo luogo ha voluto lasciare all’umanità il messaggio della pace. Esso è legato alla chiamata, all’affidamento e alla preghiera piena di speranza, affinché possiamo accogliere la grazia della misericordia che Lei ininterrottamente implora dal suo Figlio per le generazioni che si susseguono. In questo spirito raccomando alla sua protezione tutti voi, le vostre famiglie e comunità, e vi benedico di cuore.] PORTUGUÊS: Queridos peregrinos de língua portuguesa, sob o olhar materno de Nossa Senhora de Fátima, saúdo a todos vós que aqui viestes dos vários países lusófonos à procura de conforto e de esperança. Dando-nos Jesus, Maria é a verdadeira fonte da esperança. A Ela vos entrego e acompanho com a minha Bênção. Bento XVI
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Saudação de D. Carlos Azevedo ao Papa Bento XVI Celebração da Palavra – Encontro organizações sociais Igreja da Santíssima Trindade - Fátima Quinta-feira, 13 de Maio de 2010
Saudação ao Santo Padre É uma feliz responsabilidade, esta de saudar Vossa Santidade, em nome de tantos agentes de organizações sociais aqui convocados. Manifesto a alegria que todos sentimos quando soubemos que o Santo Padre queria encontrar-se connosco. Tem diante pessoas que aceitaram a lógica do dom e da gratuidade e sentem paixão pelo que fazem, movidas por diversas fontes espirituais e optando por diferentes estilos de acção. Vivem uma entrega ao serviço dos outros mais necessitados e feridos, doentes e pessoas com deficiência, presos, migrantes e abandonados; lutam pela defesa dos direitos humanos, pela paz, pela salvaguarda da criação. Para muitos e muitas esta dedicação decorre da consciência baptismal e do acolhimento da dimensão diaconal de toda a Igreja. Fazem-no com determinação e desejam cada vez mais abrir-se a caminhos inovadores. Junto do Sucessor de Pedro, queremos renovar a nossa liberdade interior: para darmos mais viva expressão às entranhas de misericórdia do nosso Deus, sem sermos escravos das coisas, para nos abrirmos a uma leitura crente da realidade social, para trabalharmos em rede de comunhão, para sermos felizes na austeridade que os tempos exigem. Santo Padre: seguimos, com muita atenção, o magistério firme e pleno de actualidade, luminoso e renovador da nossa acção. Agradecemos, hoje, a vizinhança da Vossa palavra de sabedoria evangélica que nos move e desinstala, nos centra no essencial da fé cristã e nos lança permanentes apelos ao testemunho corajoso no âmbito pastoral, social e político. Neste momento crítico que a humanidade vive, insegura sobre o futuro, queremos agradecer a clareza com que nos propõe a dimensão pública e política da caridade, como nos ensina que a procura da verdade se apoia no amor e nos convida a todos para sermos “cooperadores da verdade”. Aguardamos de Vossa Santidade uma Palavra profética, nesta hora carregada de apreensões, em que verificamos: pobreza inumana, desemprego crescente, domínio de gente sem uma rota espiritual. Renove os apelos de Cristo
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Bom Samaritano: retire-nos do fatalismo que acomoda e convoque-nos para uma compaixão que dignifica, para uma ternura que cuida, para uma escuta que valoriza, para uma esperança que acompanha. Anime a nossa vontade de sermos servidores-lideres, muito unidos ao “humilde servidor da vinha do Senhor”, ao Pastor universal que queremos escutar. + Carlos Moreira Azevedo Presidente da Comissão Episcopal de Pastoral Social
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Encontro com as organizações da Pastoral Social na Igreja Igreja da SS.ma Trindade - Fátima Quinta-feira, 13 de Maio de 2010
Queridos irmãos e amigos, Ouvistes Jesus dizer: «Vai e faz o mesmo» (Lc 10, 37). Recomenda-nos que façamos nosso o estilo do bom samaritano, cujo exemplo acaba de ser proclamado, ao aproximar-nos das situações carentes de ajuda fraterna. E qual é esse estilo? «É “um coração que vê”. Este coração vê onde há necessidade de amor e actua em consequência» (Bento XVI, Enc. Deus caritas est, 31). Assim fez o bom samaritano. Jesus não se limita a recomendar; como ensinam os Santos Padres, o Bom Samaritano é Ele, que Se faz próximo de todos os homens e «derrama sobre as suas feridas o óleo da consolação e o vinho da esperança» (Missal Romano, Prefácio Comum VIII) e os conduz à estalagem, que é a Igreja, onde os faz tratar, confiando-os aos seus ministros e pagando pessoalmente de antemão pela cura. «Vai e faz o mesmo»! O amor incondicionado de Jesus que nos curou há-de converterse em amor entregue gratuita e generosamente, através da justiça e da caridade, para vivermos com um coração de bom samaritano. É com grande alegria que me encontro convosco neste lugar bendito que Deus escolheu para recordar à humanidade, através de Nossa Senhora, os seus desígnios de amor misericordioso. Saúdo com grande amizade cada pessoa aqui presente e as entidades a que pertencem, na diversidade de rostos unidos na reflexão das questões sociais e sobretudo na prática da compaixão, voltada para os pobres, os doentes, os presos, os sós e desamparados, as pessoas com deficiência, as crianças e os idosos, os migrantes, os desempregados e os sujeitos a carências que lhes perturbam a dignidade de pessoas livres. Obrigado, Dom Carlos Azevedo, pelo preito de união e fidelidade à Igreja e ao Papa que prestou tanto da parte desta assembleia da caridade como da Comissão Episcopal de Pastoral Social a que preside e que não cessa de estimular esta imensa sementeira de bem-fazer em Portugal inteiro. Cientes, como Igreja, de não poderdes dar soluções práticas a todos os problemas concretos, mas despojados de qualquer tipo de poder, determinados ao serviço do bem comum, estais prontos a ajudar e a oferecer os meios de salvação a todos.
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Queridos irmãos e irmãs que operais no vasto mundo da caridade, «Cristo ensina-nos que “Deus é amor” (1 Jo 4, 8) e simultaneamente ensina-nos que a lei fundamental da perfeição humana e, consequentemente, também da transformação do mundo é o novo mandamento do amor. Portanto aqueles que crêem na caridade divina têm a certeza d’Ele que a estrada da caridade está aberta a todos os homens» (Conc. Ecum. Vaticano II, Const. Gaudium et spes, 38). O cenário actual da história é de crise sócio-económica, cultural e espiritual, pondo em evidência a oportunidade de um discernimento orientado pela proposta criativa da mensagem social da Igreja. O estudo da sua doutrina social, que assume como principal força e princípio a caridade, permitirá marcar um processo de desenvolvimento humano integral que adquira profundidade de coração e alcance maior humanização da sociedade (cf. Bento XVI, Enc. Caritas in veritate, 20). Não se trata de puro conhecimento intelectual, mas de uma sabedoria que dê sabor e tempero, ofereça criatividade às vias cognoscitivas e operativas para enfrentar tão ampla e complexa crise. Que as instituições da Igreja, unidas a todas as organizações não eclesiais, melhorem as suas capacidades de conhecimento e orientações para uma nova e grandiosa dinâmica que conduza para «aquela civilização do amor, cuja semente Deus colocou em todo o povo e cultura» (Ibid., 33). Na sua dimensão social e política, esta diaconia da caridade é própria dos leigos, chamados a promover organicamente o bem comum, a justiça e a configurar rectamente a vida social (cf. Bento XVI, Enc. Deus caritas est, 29). Consta das vossas conclusões pastorais, resultantes de reflexões recentes, formar uma nova geração de líderes servidores. A atracção de novos agentes leigos para este campo pastoral merecerá certamente especial cuidado dos pastores, atentos ao futuro. Quem aprende de Deus Amor será inevitavelmente pessoa para os outros. Realmente, «o amor de Deus revela-se na responsabilidade pelo outro» (Bento XVI, Enc. Spe salvi, 28). Unidos a Cristo na sua consagração ao Pai, somos tomados pela sua compaixão pelas multidões que pedem justiça e solidariedade e, como o bom samaritano da parábola, esforçamo-nos
por dar respostas concretas e generosas. Muitas vezes, porém, não é fácil conseguir uma síntese satisfatória da vida espiritual com a acção apostólica. A pressão exercida pela cultura dominante, que apresenta com insistência um estilo de vida fundado sobre a lei do mais forte, sobre o lucro fácil e fascinante, acaba por influir sobre o nosso modo de pensar, os nossos projectos e as perspectivas do nosso serviço, com o risco de esvaziálos da motivação da fé e da esperança cristã que os tinha suscitado. Os pedidos numerosos e prementes de ajuda e amparo que nos dirigem os pobres e marginalizados da sociedade impelem-nos a buscar soluções que estejam
na lógica da eficácia, do efeito visível e da publicidade. E todavia a referida síntese é absolutamente necessária para poderdes, amados irmãos, servir Cristo na humanidade que vos espera. Neste mundo dividido, impõe-se a todos uma profunda e autêntica unidade de coração, de espírito e de acção. No meio de tantas instituições sociais que servem o bem comum, próximas de populações carenciadas, contamse as da Igreja Católica. Importa que seja clara a sua orientação de modo a assumirem uma identidade bem patente: na inspiração dos seus objectivos, na escolha dos seus recursos humanos, nos métodos de actuação, na qualidade dos seus serviços, na gestão séria e eficaz dos meios. A firmeza da identidade das instituições é um serviço real, com grandes vantagens para os que dele beneficiam. Passo fundamental, além da identidade e unido a ela, é conceder à actividade caritativa cristã autonomia e independência da política e das ideologias (cf. Bento XVI, Enc. Deus caritas est, 31 b), ainda que em cooperação com organismos do Estado para atingir fins comuns. As vossas actividades assistenciais, educativas ou caritativas sejam completadas com projectos de liberdade que promovam o ser humano, na busca da fraternidade universal. Aqui se situa o urgente empenhamento dos cristãos na defesa dos direitos humanos, preocupados com a totalidade da pessoa humana nas suas diversas dimensões. Exprimo profundo apreço a todas aquelas iniciativas sociais e pastorais que procuram lutar contra os mecanismos sócio-económicos e culturais que levam ao aborto e que têm em vista a defesa da vida e a reconciliação e cura das pessoas feridas pelo drama do aborto. As iniciativas que visam tutelar os valores essenciais e primários da vida, desde a sua concepção, e da família, fundada sobre o matrimónio indissolúvel de um homem com uma mulher, ajudam a responder a alguns dos mais insidiosos e perigosos desafios que hoje se colocam ao bem comum. Tais iniciativas constituem, juntamente com muitas outras formas de compromisso, elementos essenciais para a construção da civilização do amor. Tudo isto bem se enquadra na mensagem de Nossa Senhora que ressoa neste lugar: a penitência, a oração, o perdão que visa a conversão dos corações. Esta é a estrada para se construir a referida civilização do amor, cujas sementes Deus lançou no coração de todo o homem e que a fé em Cristo Salvador faz germinar. Obrigado! Bento XVI
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Saudação de D. Jorge Ortiga ao Papa Bento XVI
Encontro com os bispos portugueses Casa Nossa Senhora do Carmo - Fátima Quinta-feira, 13 de Maio de 2010
Santo Padre, A alegria que envolve os nossos corações, com a presença de Vossa Santidade no nosso país, é fruto de um fiel compromisso no anúncio da Boa Nova, perante os complexos desafios que encaramos e continuaremos a encarar. Nascemos de um conjunto de pequenos povos, a que os romanos vieram dar coesão, ordenamento territorial, sistematização jurídica, possibilidades de comunicação, prosperidade material e muitas crenças. Cedo nos encontramos com o cristianismo, tornando-o o cerne da nossa identidade. Multiplicaram-se os templos, cristianizaram-se festas e costumes pagãos, e o sagrado passou a ritmar o tempo e a vida. O teocentrismo medieval não se dissipou por completo ao soprarem os ventos da era moderna. Pelo contrário. Portugal deu, então, novos mundos ao mundo. E nas naus foram os conquistadores, mas também os missionários, que aos continentes de nova descoberta levaram o Evangelho e a Cruz, ainda hoje sólida em fachadas de igrejas, ou em padrões que, significando posse, assinalam uma referência marcadamente religiosa e cristã. Nesta breve panorâmica do nosso roteiro crente, uma palavra de destaque merece Fátima, que o Papa Paulo VI, de venerada memória, considerou “Altar do Mundo“. Aos pés de Nossa Senhora ajoelham-se crentes e inquietos, poderosos e débeis, ricos e pobres, gratos e suplicantes. Fátima espelha, de forma por demais eloquente, a alma devota deste povo que somos. Entretanto, não se presuma, pelo roteiro traçado, que tudo são rosas e frutos doces. Portugal tem conhecido, a par do progresso e modernidade, factores de perturbação. Conhece a indiferença, o ateísmo, o indiferentismo, o racionalismo, o hedonismo, os atropelos à vida e à
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instituição familiar, o desnorte no plano ético, a miséria social. Vivemos imersos na “modernidade líquida”, onde as referências cristãs começam a liquefazer-se, fruto de uma campanha que nos quer situar no mundo dos retrógrados e ousa propor modelos comuns a outras mentalidades e apresentados como progressistas. Desconsidera-se a história e não se considera uma alma que a sociedade globalizada vai desvirtuando. Neste contexto e ambiente, os bispos das vinte dioceses e do Ordinariato Castrense estão empenhados em “repensar” uma pastoral marcada pelo testemunho de unidade e voltada para os novos desafios que a mudança civilizacional nos proporciona. Pretende-se dar prioridade à fé como encontro com o Ressuscitado. Apenas Ele é capaz de mudar a vida, enamorar os leigos e os sacerdotes e suscitar uma nova consciência missionária. Desejamos caminhar para um novo estilo de vida, marcado pelo compromisso e pela paixão ao nosso país, a necessitar de uma urgente reevangelização, nunca esquecendo a responsabilidade histórica de partir para outros continentes. Queremos ser esperança para todos os portugueses; comprometemo-nos na afirmação da ética e dos valores cristãos; prosseguimos os esforços para um revigoramento de uma fé capaz de dar sentido à vida e geradora de compromissos com as causas nobres, numa aliança entre a racionalidade e abertura ao mistério; testemunhamos
a caridade de quem acredita que o amor a todos, sem discriminações de nenhuma espécie, gerará uma sociedade mais fraterna e justa, porque apostado em promover um desenvolvimento integral que, comprometido com todas as realidades humanas, as plenifica com a abertura às exigências do transcendente; não renunciamos ao direito de propor a dignidade familiar como expressão do amor de um homem e de uma mulher, orientada para a geração e educação, e como célula elementar e garantia de um futuro verdadeiramente humano e aberto à transcendência. Testemunhamos gratidão pela presença de Vossa Santidade e ousamos pedir e esperar palavras orientadoras, nesta hora de uma atitude colegial de “repensar a pastoral”, na certeza de que as incarnaremos nos nossos projectos diocesanos, para os quais solicitamos a Vossa Bênção Apostólica. Que Maria, Nossa Senhora de Fátima e Mãe da Igreja, seja
o modelo para as nossas vidas e para as nossas comunidades, de modo a “guardarmos no coração” a Palavra de Deus e nos empenharmos com renovado entusiasmo a testemunhar “as maravilhas que Deus” – e só Ele – faz em nós, mesmo perante as nossas fragilidades e limitações. Que Ela seja alento, consolação e estímulo neste tempo de confronto com realidades que nos entristecem e corresponsabilizam. Da parte do Episcopado Português aceite, Santidade, a expressão de uma comunhão, efectiva e permanente, que reforçamos neste contexto da vida eclesial. Fátima, 13 de Maio de 2010 Festa de Nossa Senhor de Fátima † Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz e Presidente da C.E.P.
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Encontro com os Bispos de Portugal Discurso do Papa Bento XVI
Casa Nossa Senhora do Carmo - Fátima Quinta-feira, 13 de Maio de 2010
Venerados e queridos Irmãos no Episcopado, Dou graças a Deus pela oportunidade de vos encontrar a todos aqui no coração espiritual de Portugal, que é o Santuário de Fátima, onde multidões de peregrinos, vindos dos mais variados lugares da terra, procuram reaver ou reforçar em si mesmos as certezas do Céu. Entre eles veio de Roma o Sucessor de Pedro, acedendo aos repetidos convites recebidos e movido por uma dívida de gratidão à Virgem Maria, que aqui comunicara aos seus videntes e peregrinos um intenso amor pelo Santo Padre que frutifica numa vigorosa retaguarda de oração com Jesus à cabeça: Pedro, «Eu roguei por ti, a fim de que a tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos» (Lc 22, 32). Como vedes, o Papa precisa de abrir-se cada vez mais ao mistério da Cruz, abraçando-a como única esperança e derradeiro caminho para ganhar e reunir no Crucificado todos os seus irmãos e irmãs em humanidade. Obedecendo à Palavra de Deus, é chamado a viver não para si mesmo mas para a presença de Deus no mundo. Serve-me de conforto a determinação com que seguis no meu encalço, sem nada mais temer que a perda da salvação eterna do vosso povo, como bem o demonstram as palavras com que Dom Jorge Ortiga quis saudar a minha chegada ao vosso meio e testemunhar a fidelidade incondicional dos Bispos de Portugal ao Sucessor de Pedro. De coração vo-lo agradeço. Obrigado ainda por todo o desvelo que pusestes na organização desta minha Visita. Que Deus vos pague, derramando em abundância o Espírito Santo sobre vós e vossas dioceses a fim de que, num só coração e numa só alma, possais levar a cabo o empenho pastoral que vos propusestes: oferecer a todos os fiéis uma iniciação cristã exigente e atractiva, comunicadora da integridade da fé e da espiritualidade radicada no Evangelho, formadora de agentes livres no meio da vida pública. Na verdade, os tempos que vivemos exigem um novo vigor missionário dos cristãos chamados a formar um laicado maduro, identificado com a Igreja, solidário com a complexa transformação do mundo. Há necessidade de verdadeiras testemunhas de Jesus Cristo, sobretudo nos meios humanos onde o silêncio da fé é mais amplo e profundo: políticos, intelectuais, profissionais da comunicação que professam e promovem uma proposta mono-cultural com menosprezo pela dimensão religiosa e contemplativa
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da vida. Em tais âmbitos, não faltam crentes envergonhados que dão as mãos ao secularismo, construtor de barreiras à inspiração cristã. Entretanto, amados Irmãos, aqueles que lá defendem com coragem um pensamento católico vigoroso e fiel ao Magistério continuem a receber o vosso estímulo e palavra esclarecedora para, como leigos, viverem a liberdade cristã. Mantende viva a dimensão profética sem mordaças no cenário do mundo actual, porque «a palavra de Deus não pode ser acorrentada» (2 Tm 2, 9). As pessoas clamam pela Boa Nova de Jesus Cristo, que dá sentido às suas vidas e salvaguarda a sua dignidade. Como primeiros evangelizadores, ser-vos-á útil conhecer e compreender os diversos factores sociais e culturais, avaliar as carências espirituais e programar eficazmente os recursos pastorais;
decisivo, porém, é conseguir inculcar em todos os agentes evangelizadores um verdadeiro ardor de santidade, cientes de que o resultado provém sobretudo da união com Cristo e da acção do seu Espírito. Ora, quando no sentir de muitos a fé católica deixa de ser património comum da sociedade e, frequentemente, se vê como uma semente insidiada e ofuscada por «divindades» e senhores deste mundo, muito dificilmente aquela poderá tocar os corações graças a simples discursos ou apelos morais e menos ainda a genéricos apelos aos valores cristãos. O apelo corajoso e integral aos princípios é essencial e indispensável; todavia a mera enunciação da mensagem não chega ao mais fundo do coração da pessoa, não toca a sua liberdade, não muda a vida. Aquilo que fascina é sobretudo o encontro com pessoas crentes que, pela sua fé, atraem para a graça de Cristo dando testemunho d’Ele. Vêm-me à mente estas palavras do Papa João Paulo II: «A Igreja tem necessidade sobretudo de grandes correntes, movimentos e testemunhos de santidade entre os fiéis, porque é da santidade que nasce toda a autêntica renovação da Igreja, todo o enriquecimento da fé e do seguimento cristão, uma re-actualização vital e fecunda do cristianismo com as necessidades dos homens, uma renovada forma de presença no coração da existência humana e da cultura das nações» (Discurso no XX aniversário da promulgação do Decreto conciliar «Apostolicam actuositatem», 18/ XI/1985). Poderia alguém dizer: «É certo que a Igreja tem necessidade de grandes correntes, movimentos e testemunhos de santidade…, mas não os há»! A propósito, confesso-vos a agradável surpresa que tive ao contactar com os movimentos e novas comunidades eclesiais. Observando-os, tive a alegria e a graça de ver como, num momento de fadiga da Igreja, num momento em que se falava de «inverno da Igreja», o Espírito Santo criava uma nova primavera, fazendo despertar nos jovens e adultos a alegria de serem cristãos, de viverem na Igreja que é o Corpo vivo de Cristo. Graças aos carismas, a radicalidade do Evangelho, o conteúdo objectivo da fé, o fluxo vivo da sua tradição comunicam-se persuasivamente e são acolhidos como experiência pessoal, como adesão da liberdade ao evento presente de Cristo. Condição necessária, naturalmente, é que estas novas realidades queiram viver na Igreja comum, embora com espaços de algum modo reservados para a sua vida, de maneira que esta se torne depois fecunda para todos os outros. Os portadores de um carisma particular devem sentir-se fundamentalmente responsáveis pela comunhão, pela fé comum da Igreja e devem submeter-se à guia dos Pastores. São estes que devem garantir a eclesialidade dos movimentos. Os Pastores não são apenas pessoas que ocupam um cargo, mas eles próprios são carismáticos, são responsáveis pela abertura da Igreja à acção do Espírito Santo. Nós, Bispos, no sacramento, somos ungidos pelo Espírito Santo e, por conseguinte, o sacramento garante-
nos também a abertura aos seus dons. Assim, por um lado, devemos sentir a responsabilidade de aceitar estes impulsos que são dons para a Igreja e lhe dão nova vitalidade, mas, por outro, devemos também ajudar os movimentos a encontrarem a estrada justa, com correcções feitas com compreensão – aquela compreensão espiritual e humana que sabe unir guia, gratidão e uma certa abertura e disponibilidade para aceitar aprender. Iniciai ou confirmai nisto mesmo os presbíteros. Neste Ano Sacerdotal que está para concluir, redescobri, amados Irmãos, a paternidade episcopal sobretudo para com o vosso clero. Durante demasiado tempo se relegou para segundo plano a responsabilidade da autoridade como serviço ao crescimento dos outros, e antes de mais ninguém dos sacerdotes. Estes são chamados a servir, no seu ministério pastoral, integrados numa acção pastoral de comunhão ou de conjunto, como nos recorda o decreto conciliar Presbyterorum ordinis: «Nenhum sacerdote pode realizar sozinho suficientemente a sua missão, mas só num esforço conjunto com o dos demais sacerdotes, sob a orientação dos que estão à frente da Igreja» (n. 7). Não se trata de voltar ao passado nem de um mero regresso às origens, mas de uma recuperação do fervor das origens, da alegria do início da experiência cristã, fazendo-se acompanhar por Cristo como os «discípulos de Emaús» no dia de Páscoa, deixando que a sua palavra aqueça o coração, que o «pão partido» abra os nossos olhos à contemplação do seu rosto. Só assim é que o fogo da sua caridade será bastante ardente para impelir cada fiel cristão a tornar-se dispensador de luz e vida na Igreja e entre os homens. Antes de terminar, queria pedir-vos, na vossa qualidade de presidentes e ministros da caridade na Igreja, para revigorardes em vós e ao vosso redor os sentimentos de misericórdia e compaixão capazes de corresponder às situações de graves carências sociais. Criem-se e aperfeiçoem-se as organizações existentes, com criatividade para corresponder a todas as pobrezas, mesmo a de falta de sentido da vida e de ausência de esperança. É muito louvável o esforço que fazeis por ajudar dioceses mais necessitadas, sobretudo dos países lusófonos. As dificuldades, agora mais sentidas, não vos deixem esmorecer na lógica do dom. Continue bem vivo no país o vosso testemunho de profetas de justiça e da paz, defensores dos direitos inalienáveis da pessoa, juntando a vossa voz à dos mais débeis a quem tendes sabiamente motivado para ter voz própria, sem temer nunca levantar a voz em favor dos oprimidos, humilhados e molestados. Enquanto vos confio a Nossa Senhora de Fátima, pedindoLhe que vos sustente maternalmente nos desafios em que estais e+mpenhados, para serdes promotores de uma cultura e de uma espiritualidade de caridade e de paz, de esperança e de justiça, de fé e de serviço, de coração vos concedo, extensiva aos vossos familiares e comunidades diocesanas, a minha Bênção Apostólica. Bento XVI
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Saudação de D. Manuel Clemente Avenida dos Aliados - Porto Sexta-feira, 14 de Maio de 2010
Santidade É com todo o reconhecimento e a máxima alegria que Vos recebemos nesta bela e vetusta cidade do Porto, a “Cidade da Virgem”, que, também por esta designação, se dispõe a acolher a palavra que nos trazeis e a confirmação que nos proporcionais. Muitos lembrarão jubilosamente a inolvidável presença aqui do Vosso Predecessor, o Papa João Paulo II, de tão grata memória, em Maio de 1982. E todos nos alegramos por Vos vermos e ouvirmos hoje, na actual realização do mesmo ministério. Deixai-me dizer-Vos, Santo Padre, em nome próprio e de todos os circunstantes, que vos estimamos e admiramos muito, e, se possível, ainda mais agora, no culminar da Vossa presença em Portugal, todo ele “Terra de Santa Maria”. Na Diocese do Porto – como em todas as Igrejas de Portugal – procuramos incrementar e levar por diante a missão evangelizadora, não como se fosse vocação específica de alguns, mas como realmente é, atribuição geral de todos e de cada um dos baptizados em Cristo, por isso mesmo profetas do seu Reino. Atitude esta que hoje se torna particularmente necessária e da maior urgência. Nas famílias, nas escolas, na economia e na sociedade em geral, há muitas solicitações – por vezes dramáticas solicitações – da presença e da caridade dos cristãos. Têm sido notáveis e muito estimulantes a clarividência
e a determinação com que Vossa Santidade tem desempenhado o ministério petrino, exortando-nos a levar por diante o anúncio evangélico, não iludindo, aliás, a necessidade de nos convertemos sempre mais, para que tal seja possível. Estai certo, Santo Padre, de que acolhemos o vosso apelo, dispondo-nos a corresponder-lhe com redobrado acatamento. A feliz ocorrência de celebrarmos a festa litúrgica de São Matias, recorda-nos que nunca é tarde para nos agregarmos às lides apostólicas e de que havemos de ser como ele, testemunhas do Ressuscitado. Isso mesmo queremos ser e disso mesmo precisa o mundo, para que os sinais de vida e de esperança sempre se sobreponham às dificuldades e decepções que a actualidade social e económica, acompanhadas pela grande indefinição cultural, tantas vezes trazem. A Vossa presença e a Vossa palavra, Santo Padre, trazemnos conforto, alegria e ânimo. Por tudo agradecemos a Deus o dom da Vossa vida e o grande acerto do Vosso exercício ministerial, a bem da Igreja e do mundo. No coração desta cidade, pulsará agora o coração eucarístico de Cristo, vida a todos oferecida. Como Pedro, sois Vós agora o primeiro a amá-Lo e a confessá-Lo. Assim nos reforçareis a todos, no mesmo afecto e missão. - Obrigado, Santo Padre! + Manuel Clemente, Bispo do Porto Porto, 14 de Maio de 2010
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Santa Missa na Praça da Avenida dos Aliados Homilia do Papa Bento XVI
Avenida dos Aliados - Porto Sexta-feira, 14 de Maio de 2010
Amados Irmãos e Irmãs, «Está escrito no Livro dos Salmos: […] receba outro o seu cargo. É necessário, portanto, que […] um se torne connosco testemunha da ressurreição» (Act 1, 20-22). Assim falou Pedro, lendo e interpretando a palavra de Deus no meio de seus irmãos, reunidos no Cenáculo depois da Ascensão de Jesus ao Céu. O escolhido foi Matias, que tinha sido testemunha da vida pública de Jesus e do seu triunfo sobre a morte, permanecendo-Lhe fiel até ao fim, não obstante a debandada de muitos. A «desproporção» de forças em campo, que hoje nos espanta, já há dois mil anos admirava os que viam e ouviam a Cristo. Era Ele apenas, das margens do Lago da Galileia às praças de Jerusalém, só ou quase só nos momentos decisivos: Ele em união com o Pai, Ele na força do Espírito. E todavia aconteceu que por fim, pelo mesmo amor que criou o mundo, a novidade do Reino surgiu como pequena semente que germina na terra, como centelha de luz que irrompe nas trevas, como aurora de um dia sem ocaso: É Cristo ressuscitado. E apareceu aos seus amigos, mostrando-lhes a necessidade da cruz para chegar à ressurreição. Uma testemunha de tudo isto, procurava Pedro naquele dia. Apresentadas duas, o Céu designou «Matias, que foi agregado aos onze Apóstolos» (Act 1, 26). Hoje celebramos a sua memória gloriosa nesta «Cidade Invicta», que se vestiu de festa para acolher o Sucessor de Pedro. Dou graças a Deus por me trazer até ao vosso meio, encontrando-vos à volta do altar. A minha cordial saudação para vós, irmãos e amigos da cidade e diocese do Porto, vindos da província eclesiástica do norte de Portugal e mesmo da vizinha Espanha, e quantos mais estão em comunhão física ou espiritual com esta nossa assembleia litúrgica. Saúdo o Senhor Bispo do Porto, Dom Manuel Clemente, que desejou com grande solicitude a minha visita, me acolheu com grande afecto e se fez intérprete dos vossos sentimentos no início desta Eucaristia. Saúdo seus Predecessores e demais Irmãos no episcopado, os sacerdotes, os consagrados e consagradas, e os fiéis leigos, com um pensamento particular para quantos estão envolvidos na dinamização da Missão Diocesana e, mais concretamente, na preparação desta minha Visita. Sei que a mesma pôde contar com a real colaboração
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do Presidente da Câmara do Porto e de outras Autoridades públicas, muitas das quais me honram com a sua presença, aproveitando este momento para as saudar e lhes desejar, a elas e a quantos representam e servem, os melhores sucessos a bem de todos. «É necessário que um se torne connosco testemunha da ressurreição»: dizia Pedro. E o seu Sucessor actual repete a cada um de vós: Meus irmãos e irmãs, é necessário que vos torneis comigo testemunhas da ressurreição de Jesus. Na realidade, se não fordes vós as suas testemunhas no próprio ambiente, quem o será em vosso lugar? O cristão é, na Igreja e com a Igreja, um missionário de Cristo enviado ao mundo. Esta é a missão inadiável de cada comunidade eclesial: receber de Deus e oferecer ao mundo Cristo ressuscitado, para que todas as situações de definhamento e morte se transformem, pelo Espírito, em ocasiões de crescimento e vida. Para isso, em cada celebração eucarística, ouviremos mais atentamente a Palavra de Cristo e saborearemos assiduamente o Pão da sua presença. Isto fará de nós testemunhas e, mais ainda, portadores de Jesus ressuscitado no mundo, levando-O para os diversos sectores da sociedade e quantos neles vivem e trabalham, irradiando aquela «vida em abundância» (Jo, 10, 10) que Ele nos ganhou com a sua cruz e ressurreição e que sacia os mais legítimos anseios do coração humano. Nada impomos, mas sempre propomos, como Pedro nos recomenda numa das suas cartas: «Venerai Cristo Senhor em vossos corações, prontos sempre a responder a quem quer que seja sobre a razão da esperança que há em vós» (1 Ped 3, 15). E todos afinal no-la pedem, mesmo quem pareça que não. Por experiência própria e comum, bem sabemos que é por Jesus que todos esperam. De facto, as expectativas mais profundas do mundo e as grandes certezas do Evangelho cruzam-se na irrecusável missão que nos compete, pois «sem Deus, o ser humano não sabe para onde ir e não consegue sequer compreender quem seja. Perante os enormes problemas do desenvolvimento dos povos, que quase nos levam ao desânimo e à rendição, vem em nosso auxílio a palavra do Senhor Jesus Cristo que nos torna cientes deste dado fundamental: “Sem Mim, nada podeis fazer” (Jo 15, 5), e encoraja:
“Eu estarei sempre convosco até ao fim do mundo” (Mt 28, 20)» (Bento XVI, Enc. Caritas in veritate, 78). Mas, se esta certeza nos consola e tranquiliza, não nos dispensa de ir ao encontro dos outros. Temos de vencer a tentação de nos limitarmos ao que ainda temos, ou julgamos ter, de nosso e seguro: seria morrer a prazo, enquanto presença de Igreja no mundo, que aliás só pode ser missionária, no movimento expansivo do Espírito. Desde as suas origens, o povo cristão advertiu com clareza a importância de comunicar a Boa Nova de Jesus a quantos ainda não a conheciam. Nestes últimos anos, alterou-se o quadro antropológico, cultural, social e religioso da humanidade; hoje a Igreja é chamada a enfrentar desafios novos e está pronta a dialogar com culturas e religiões diversas, procurando construir juntamente com cada pessoa de boa vontade a pacífica convivência dos povos. O campo da missão ad gentes apresenta-se hoje notavelmente alargado e não definível apenas segundo considerações geográficas; realmente aguardam por nós não apenas os povos não-cristãos e as terras distantes, mas também os âmbitos sócio-culturais e sobretudo os corações que são os verdadeiros destinatários da actividade missionária do povo de Deus. Trata-se de um mandato cuja fiel realização «deve seguir o mesmo caminho de Cristo: o caminho da pobreza, da obediência, do serviço e da imolação própria até à morte, de que Ele saiu vencedor pela sua ressurreição» (Conc. Ecum. Vaticano II, Decr. Ad gentes, 5). Sim! Somos chamados a servir a humanidade do nosso tempo, confiando unicamente em Jesus, deixando-nos iluminar pela sua Palavra: «Não fostes vós que Me escolhestes; fui Eu que vos escolhi e destinei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça» (Jo 15, 16). Quanto tempo perdido, quanto trabalho adiado, por inadvertência deste ponto! Tudo se define a partir de Cristo, quanto à origem e à eficácia da missão: a missão recebemo-la sempre de Cristo, que nos deu a conhecer o que ouviu a seu Pai, e somos nela investidos por meio do Espírito na Igreja. Como a própria Igreja, obra de Cristo e do seu Espírito, trata-se de renovar a face da terra a partir de Deus, sempre e só de Deus! Queridos irmãos e amigos do Porto, levantai os olhos para Aquela que escolhestes como padroeira da cidade, Nossa Senhora de Vandoma. O Anjo da anunciação saudou Maria como «cheia de graça», significando com esta expressão que o seu coração e a sua vida estavam totalmente abertos a Deus e, por isso, completamente invadidos pela sua graça. Que Ela vos ajude a fazer de vós mesmos um «sim» livre e pleno à graça de Deus, para poderdes ser renovados e renovar a humanidade pela luz e a alegria do Espírito Santo. Bento XVI
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Saudação aos fiéis reunidos na Avenida dos Aliados Câmara Municipal do Porto Sexta-feira, 14 de Maio de 2010 Queridos Irmãos e Amigos, Sinto-me feliz por me encontrar entre vós e agradeço o festivo e cordial acolhimento que me reservastes no Porto, a «Cidade da Virgem». À sua protecção materna, confio as vossas vidas e famílias, as vossas comunidades e estruturas ao serviço do bem comum, nomeadamente as universidades desta cidade cujos estudantes se reuniram e me fizeram saber da sua gratidão e adesão ao magistério do Sucessor de Pedro. Obrigado pela presença e pelo testemunho da vossa fé. Agradeço novamente a quantos cooperaram de diversos modos para a preparação e a realização desta minha visita, para a qual vos preparastes sobretudo com a oração. Teria acedido de boa vontade ao convite para prolongar a minha permanência na vossa cidade, mas não me é possível. Permiti, pois, que parta, abraçando-vos a todos carinhosamente em Cristo, nossa Esperança, enquanto vos abençoo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Bento XVI
Discurso de despedida do Presidente da República Aeroporto Internacional do Porto Sexta-feira, 14 de Maio de 2010
Santo Padre No termo da visita de Vossa Santidade a Portugal, quero renovar os sentimentos de profundo reconhecimento do Povo Português pelos sinais de particular afeição e carinho que Vossa Santidade lhe quis testemunhar. As impressionantes molduras humanas que acolheram Vossa Santidade, em Lisboa, em Fátima e no Porto, e as manifestações de profunda devoção e júbilo que marcaram esses momentos permanecerão vivas na memória de todos nós. Os Portugueses puderam estar de perto com o Santo Padre e conhecer melhor a Sua pessoa. E Nela encontraram a bondade humana, o carisma sereno, a profundidade de pensamento, a fortaleza de ânimo, sinais inspiradores num tempo de grandes desafios como aquele que atravessamos. A Vossa presença, a Vossa palavra e o Vosso exemplo trouxeram esperança aos corações agradecidos dos Portugueses. Esteve entre nós um Pastor que indica um caminho àqueles que o seguem. Um peregrino sábio que vai ao encontro de todos os homens de boa vontade. Santo Padre Quero agradecer-Vos, de novo, a decisão de aceitar o convite que Vos dirigi para efectuar esta visita a Portugal. Portugal despede-se de Vós revigorado pela mensagem de esperança e confiança que nos deixais. Vemos partir o Santo Padre com um sentimento que nenhuma outra língua ainda soube traduzir em toda a sua profundidade e que reservamos aos que nos são mais queridos, a saudade. Desejo-Vos uma boa viagem de regresso a Roma e peço-Vos que tenhais sempre presente no Vosso espírito e nas Vossas orações, Portugal e os Portugueses, como os Portugueses não esquecerão a Vossa presença em Portugal. Anibal Cavaco Silva
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Cerimónia de despedida Discurso do Papa Bento XVI
Aeroporto Internacional do Porto Sexta-feira, 14 de Maio de 2010
Senhor Presidente da República, Ilustres Autoridades, Amados Irmãos no Episcopado Queridos amigos, No termo da minha visita, repassa no meu espírito a densidade de tantos momentos vividos nesta peregrinação a Portugal. Levo guardada na alma a cordialidade do vosso acolhimento afectuoso, a forma tão calorosa e espontânea como se cimentaram os laços de comunhão com os grupos humanos com quem pude contactar, o empenhamento que significou a preparação e a realização do programa pastoral planeado. Neste momento da despedida, exprimo a todos a minha sincera gratidão: ao Senhor Presidente da República, que me honrou com a sua presença desde que cheguei até aqui, aos meus irmãos Bispos com quem renovei a profunda união no serviço do Reino de Cristo, ao Governo e a todas as autoridades civis e militares, que se desdobraram em visível dedicação ao longo de toda a viagem. Bem hajam! Os meios de comunicação social permitiram-me chegar a muitas pessoas a quem não era possível contactar na proximidade. Também lhes estou muito grato. Para todos os portugueses, fiéis católicos ou não, aos homens e mulheres que aqui vivem, mesmo sem aqui terem nascido, vai a minha saudação na hora da despedida. Não cesse entre vós de crescer a concórdia, essencial para uma sólida coesão, caminho necessário para enfrentar com responsabilidade comum os desafios com que vos debateis. Continue esta gloriosa Nação a manifestar a grandeza de alma, profundo sentido de Deus, abertura solidária, pautada por princípios e valores bebidos no humanismo cristão. Em Fátima, rezei pelo mundo inteiro pedindo que o futuro traga maior fraternidade e solidariedade, um maior respeito recíproco e uma renovada confiança e confidência em Deus, nosso Pai que está nos céus. Foi uma alegria para mim ser testemunha da fé e devoção da comunidade eclesial portuguesa. Pude verificar a energia entusiasta das crianças e dos jovens, a adesão fiel dos presbíteros, diáconos e religiosos, a dedicação pastoral dos bispos, a procura livre da verdade e da beleza patente no mundo da cultura, a criatividade dos agentes de pastoral social, a vibração da fé dos fiéis nas dioceses que visitei. O meu desejo é que a minha visita se torne incentivo para um renovado impulso espiritual e apostólico. Que o Evangelho seja acolhido na sua integridade e testemunhado com paixão por todos os discípulos de Cristo, a fim de que se revele como fermento de autêntica renovação de toda a sociedade! Desça sobre Portugal e todos os seus filhos e filhas a minha Bênção Apostólica, portadora de esperança, de paz e de coragem, que imploro de Deus pela intercessão de Nossa Senhora de Fátima, a quem manifestais tanta confiança e firme amor. Continuemos a caminhar na esperança! Adeus! Bento XVI
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