Caderno TFG _ Projeto UNA _ Cristian Willy

Page 1

UNA PAIS AG E N S

VELADAS UM DIÁLOGO ENTRE PODER, SENTIDOS E FUNCIONALIZAÇÃO

TRABALHO POR

CRISTIAN WILLY NASCIMENTO

1


A boa arquitetura é aberta – aberta à vida, aberta para aumentar a liberdade de qualquer pessoa, onde qualquer pessoa pode fazer o que precisa. Não deve ser demonstrativo ou imponente, mas deve ser algo familiar, útil e bonito, com a capacidade de sustentar silenciosamente a vida que nela ocorrerá”, Anne Lacaton.


UNA - Paisagens Veladas, um diálogo entre poder, sentidos e funcionalização.

CRISTIAN WILLY NASCIMENTO RA: 004201700280

Trabalho apresentado como requisito da disciplina de trabalho final de graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo à Universidade São Francisco, sob orientação do professor Raul Teixeira Penteado Neto

Revisado por Flávia Miron

Universidade São Francisco Campus Campinas Swift Campinas, 2021

3



AGRADECIMENTOS Agradeço a oportunidade de fazer este trabalho final de graduação, a todos que se propuseram nesta trajetória colaborar com o desenvolvimento deste projeto.

Agradeço aos meus pais, por terem me dado luz nesta vida, acreditar em mim, serem exemplo de pessoas, mostrarem que através do trabalho duro pode-se superar todas as dificuldades, , me inspirarem serem a minha base.

Mãe, obrigado por me engajar no ensino técnico de edificações, tomando paixão pela área de estudo, se não fosse por ela não estaria escrevendo estas palavras. Ao meu Pai, o mais forte que conheço, pela determinação e responsabilidade com a família, nos assessorando em todas as batalhas. Também agradeço a minha irmã Karine, a minha terceira inspiração, pela capacidade empreendedora, criatividade, amadurecimento, e de saber que posso confiar nela para o que precisar.

Também agradeço ao meu melhor amigo, meu pet, o dog Fumaça, esse espaço pessoal merece sua colocação, pois ele me confortou em todas as viradas de noites, onde só ele me fez companhia, o reconheço como meu irmão.

Agradeço ao meu orientador Raul Teixeira Penteado Neto, por ter me escolhido como aluno a ser orientado, pelo apoio ao tema de pesquisa, ter agregado com conhecimento, sinceridade e amizade. Refletiu e infulênciou este trabalho, mas também com pensamentos e críticas. Para mim é uma honra o ter como mentor. Obrigado por acreditar em mim. Agradeço aos meus colegas da Universidade São Francisco, em especial os que estiveram comigo no grupo de orientação do professor Raul na elaboração do trabalho final de graduação, determinados e comprometidos com um bom trabalho, tenho orgulho de ter os conhecidos e agradeço pela experiência com cada um. Por último, agradeço a minha avó Alice, onde neste momento se encontra viva em meu coração mas descansa no céu, mesmo passando pouco tempo juntos, está em minha memória, faz parte de mim.

1


2


RESUMO Os espaços públicos e privados têm servido de palco às pessoas desde o início dos tempos. Sua produção é consequência das relações em sociedade e tem feito surgir sentimentos e interpretações. Toda a diversidade é percebida intimamente por cada indivíduo, porém compartilhada na cidade, no espaço construído. O homem o usa como recurso para canalizar uma vontade, uma força. E é dever da sociedade questionar como este poder influencia, limita ou liberta. Este trabalho tem o compromisso de indagar questões relacionadas ao diálogo do tema entre poder, sensações, limites, e coloca em questão a extrema funcionalização dos espaços, além da tipificação da Arquitetura e Urbanismo, uma vez que o ser humano é responsável pela sua produção. A pesquisa compreende revisão bibliográfica de obras e conceitos que permitem entender o poder como instrumento atuante na paisagem urbana, e de que forma poderia transcender seu aspecto negativo abrindo o espaço para a integração, união e direito de uso dos espaços da cidade. Palavras-chave: poder; sentidos; funcionalização; tipoloias.

Public and private spaces have served as a stage for people since the beginning. Its production is a consequence of our relationships in society and has offered us feelings and interpretations. All diversity is intimately perceived by each individual, but shared in the city, in the built space. Man uses this as a resource to channel a will, a force. And we must question how this power influences, limits or frees us. This essay is committed to investigating issues related to the dialogue of the theme between Power, Sensations, and limits, it also calls into question the extreme functionalization of spaces and the typification of architecture and urbanism, since we are responsible for its production. The research includes a bibliographic review of works and concepts that allow understanding the Power as an active instrument in the urban landscape, and how it could transcend its negative aspect, opening the space for the integration, union, and right to use the spaces of the city. Keywords: power; senses; functionalization; typologies.

3


VIII. SÍTIO IX. ANÁLISE URBANA

SUMÁRIO

X. JUSTIFICATIVA I.

Conteúdo

I.

INTRODUÇÃO

XI. OBJETIVOS 12

II. MAPA MENTAL DO TRABALHO

16

III. PODER: POSSÍVEIS DEFINIÇÕES

18

IV. SENTIDOS: MENOS ÓPTICA, MAIS PERCEPÇÃO 28 V. AMARRAS FORMAIS: TIPOLOGIAS E MODELOS

34

VI. PISICOLOGIA AMBIENTAL

39

VII. APREENSÃO DA PAISAGEM

42

XII. ANÁLISE DO LOTE XIII. ESTUDOS DE CASO XIV. PROJETO XV. CONSIDERAÇÕES FINAIS XVI. BIBLIOGRAFIA


55 56 74 75 77 101 133 169 172

5


LISTA DE FIGURAS

6

Conteúdo 16 figura 01. Mapa mental TFG (fonte: Desenvolvido pelo autor) 20 figura 02. Mapa dos Poderes (fonte: Desenvolvido pelo autor a partir dos estudos de French, John & Raven, Bertram. (1959). The bases of social power.) 21 figura 03. Isabel I (1533-1603), Rainha da Inglaterra (obra de domínio público) 21 figura 04. Retrato de Luis XIV - 1710, o Deus Sol. (obra de domínio público) 21 figura 05. D. João V (1689-1750), O Magnânimo, Rei de Portugal. (obra de domínio público) 21 figura 06. Retrato D. Pedro I (1798-1834), Primeiro imperador do Brasil. (obra de domínio público) 23 figura 07. Reforma de Paris e o Plano Haussmann (fonte: vitruvius.com.br) 23 figura 08. A Brasília de Lucio Costa, o projeto vencedor | Fotos: reprodução livro Projetos para Brasília: 1927 – 1957 24 figura 09. Obra do acervo Museu de Saúde Pública Emílio Ribas - Políticas Higienistas (fonte: vejasp.abril.com.br) 25 figura 10. Arco do Triunfo construído em 1836, por Jean Chalgrin, em homenagem à Napoleão Bonaparte (fonte: Arc de Triomphe, 2010 - Jiuguang Wang) 25 figura 11. Deportação da população Judaica do Gueto de Lodz para Chelmno, 1944, um dos ultimos guetos da Polônia sob o controle do Regime Nazista. (fonte: encyclopedia.ushmm.org) 28 figura 12. Ilustração os 5 sentidos (fonte: corbisimages) 29 figura 13. Imagem do Vale do Anhangabaú antes da Intervenção (fonte: gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br) 29 figura 14. Imagem do Vale do Anhangabaú depois da Intervenção (fonte: gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br) 30 figura 15. Exemplo de um Jardim Sensorial, localizado em

Curitiba – PR (fonte: Maurilio Cheli/SMCS) 30 figura 16. Banco de praça que impede a permanência de moradores de rua (fonte: Eduardo Souza e Matheus Pereira. "Arquitetura hostil: A cidade é para todos?" 08 Fev 2018. ArchDaily Brasil.)

31

figura 17. Gravura de Vitrúvios (fonte: Jacopo Bernardi, Vincenzo Raggio, Zeichne - 1823/1847 31 figura 18. Piranesi Giovanni Battista-engraving Arch of Septimus Severus- 1750 (fonte: wikiart.org) 32 figura 20. Piranesi Giovanni Battista. Carceri-03-8036 (fonte: wikiart.org) 32 figura 21. Piranesi Giovanni Battista. carceri-05-8040 (fonte: wikiart.org) 32 figura 19. Piranesi Giovanni Battista. carceri-02-8035 (fonte: wikiart.org) 32 figura 22. Piranesi Giovanni Battista. carceri-02-8034 (fonte: wikiart.org) 35 figura 23. Redes de ruas de todas as cidades (fonte: archidaily, Under License CC BY 4.0) 36 figura 24. Tipologia de casas em tempos e culturas diferentes(fonte: imagem modificada pelo autor a partir da figura 122 do estudo de Yi Fu Tuan) 41 figura 25. Gueto Judeu em Varsóvia, Polônia, Holocausto (fonte: Fotografia por Cusian, Albert 1941) 41 figura 26. Phenomenal: California Light, Space, Surface. (fonte: fotografia por Doug Gates / Archidaily)

43

figura 27. Cretto di Burr - Alberto Burri (fonte:Wikimedia Commons / MurissaFrancesciosa) 43 figura 28. Casa de Chá Boa Nova / Álvaro Siza (fonte: Fotógrafo João Morgado) 44 figura 29. Pintura - View of nuremberg de 1497 - Albert durer (fonte: pt.wikipedia.org) 45 figura 30. Michael Heizer, double negative 1969-1970, movimentação de 24 mil toneladas, criando uma fenda na natureza, resgata espiritualidade, meditação e contemplação (fonte: Google earth image) 46 figura 31. L’Arc de Triomphe, Wrapped - 2021. "Instalação de Christo no Arco do Triunfo em Paris é aberta ao público"(fonte: Cutieru, Andreea - Archdaily) 47 figura 32. Spiral Jetty, Robert Smithson, 1970 (fonte: holtsmithsonfoundation.org) 48 figura 33. The Running Fence - Califórnia, Estados Unidos (fonte:Archdaily)

48

figura 34. Christo and jeanne claude - The umbrellas -(fonte: Fotografia por Wolfang Voltz) 48 figura 35. Ana Mendieta - Metamorphosis (Fonte: Fotografia por Artists RIghts Society -ARS-, New York) 48 figura 36. Richard Long, “A line in Scotland”, Cul Mor, 1981 (fonte: www.richardlong.org) 49 figura 37. Robert Morris Untitled Earthwork 1979 (fonte: spiralcage) 49 figura 38. Patricia Johanson, Fair Park Laggon 1981-86 (fonte: patriciajohanson.com) 49 figura 39. Patricia Johanson, Fair Park Laggon 1981-86 (fonte: patriciajohanson.com) 49 figura 40. Patricia Johanson, Fair Park Laggon 1981-86 (fonte: patriciajohanson.com) 50 figura 41. Little Sparta, domaine de Ian Hamilton Finlay 1925-2006 (fonte: Fotografia por Renaud Camus) 56 figura 42. Localização de Campinas no estado de SP (fonte: colagem feita pelos autores) 57 figura 43. Localização da área de estudo de Projeto Integrado (fonte:Mapa produzido pelo autor) 58 figura 44. Macrozoneamento de Campinas (fonte: campinas.sp.gov.br) 58 figura 45. Recorte da área de estudo de Projeto Integrado (fonte: Mapa produido pelos autor) 59 figura 46. Recorte da área de estudo do TFG (fonte: Mapa produido pelos autor) 60 figura 47. Linha do tempo histórica da região de estudo de Projeto Integrado (fonte: Produzido pelos autores) 61 figura 48. Recorte da área de estudo de PI 08/2005 (fonte: Imagem retirada pelo Google earth e editado pelo autor) 61 figura 49. Recorte da área de estudo de PI 04/2021 (fonte: Imagem retirada pelo Google earth e editado pelo autor) 61 figura 50. Mapa de Uso e Ocupação do Solo (fonte: produzida pelos autores) 62 figura 51. Tabela com os dados de zoneamento da área de PI (fonte: produzida pelo autor)

62

figura 52. Mapa de Zoneamento da área de estudo de PI (fonte: produzida pelos autores) 63 figura 54. Mapa de Gabarito (fonte: produzida pelos autores) 63 figura 53. Mapa de Debsudade Denigrafica (fonte: produzida pelos autores)


64

figura 55. Infográficos sobre dados censitários da área de estudo de PI (fonte: produzida pelos autores) 64 figura 56. Mapa de Renda Familiar (fonte: produzida pelos autores) 65 figura 57. Mapa Hipsométrico (fonte: produzida pelos autores) 65 figura 58. Mapa de Infraestrutura (fonte: produzida pelos autores) 66 figura 59. Mapa de Nível de alfabetização (fonte: produzida pelos autores) 66 figura 60. Mapa de Interesses Urbanos (fonte: produzida pelos autores) 67 figura 61. Mapa de Hidrovia (fonte: produzida pelos autores) 67 figura 62. Mapa de Vegetação (fonte: produzida pelos autores) 68 figura 63. Mapa de Patrimonio (fonte: produzida pelos autores) 68 figura 64. Mapa de Cheios e Vazios (fonte: produzida pelos autores) 69 figura 65. Mapa de Infraestrutura (fonte: produzida pelos autores) 69 figura 66. Mapa de Linha do Onibus (fonte: produzida pelos autores) 70 figura 67. Mapa de Diagnóstico (fonte: produzida pelos autores) 71 figura 68. Mapa de Diretriz (fonte: produzida pelos autores) 72 figura 69. Mapa de Diretriz (fonte: produzida pelos autores) 73 figura 70. Perspectiva e demarcação da área de estudo (fonte: imagem retirada do google earth e editada pelo autor) 78 figura 71. Perspectiva e demarcação da área de estudo (fonte: imagem retirada do google earth e editada pelo autor) 79 figura 72. Perspectiva e demarcação da área de estudo (fonte: imagem retirada do google earth e editada pelo autor) 80 figura 73. Paisagem Urbana envoltória ao terreno de estudo (fonte: elaborado pelo autor)

82

figura 74. Mapa de interesse Urbano circundante a área de projeto (fonte: elaborado pelo autor) 83 figura 75. Mapa de APG, áreas de Planejamento e Gestão de Campinas, com foco no Jardim Nova Europa 2017 (fonte: Prefeitura de Campinas) 84 figura 76. Mapa de estudo de programa, acessos e estudo

climático do terreno de projeto (fonte: elaborado pelo autor) 85 figura 78. Topografia em 3D área de estudo TFG (produzido pelo autor)

85

figura 77. Topografia do terreno de estudo (fonte: elaborado pelo autor) 86 figura 79. Implantação do terreno de projeto, identificação dos pontos de imagem do terreno (fonte: retirada do Google Earth e editada pelo autor) 86 figura 80. Imagem 01: acesso ao terreno pela Av. Eng. Antônio Francisco de Paula Souza - Jardim São Vicente (fonte: Imagem retirada do Google Maps) 86 figura 81. Imagem 02: acesso ao terreno pela Av. Eng. Antônio Francisco de Paula Souza - Jardim São Vicente (fonte: Imagem retirada do Google Maps) 87 figura 82. Imagem 03: acesso ao terreno pela Av. Eng. Antônio Francisco de Paula Souza - Jardim São Vicente (fonte: Imagem retirada do Google Maps) 87 figura 84. Imagem 05: acesso ao terreno pela R. Sargento Luiz de Moraes - Jardim São Vicente (fonte: Imagem retirada do Google Maps) 87 figura 83. Imagem 04: acesso ao terreno pela Av. Eng. Antônio Francisco de Paula Souza - Jardim São Vicente (fonte: Imagem retirada do Google Maps) 87 figura 85. Imagem 06: acesso ao terreno pela R. Sargento Luiz de Moraes - Jardim São Vicente (fonte: Imagem retirada do Google Maps)

90

figura 86. Pica Pau de topete vermelho Adulto/Femea (fonte: Fotografia feita por Rodrigo Conte em 16/04/2016 - wikiaves) 90 figura 88. Antiga Sede Fazenda Jambeiro (fonte:Fotografia feita por Enio Prado em 2011) 90 figura 87. Juriti-Vermelha (fonte: Fotografia feita por Paulo Fernando Bertagnolli em 02/12/2019 - wikiaves) 91 figura 89. Mapa de Micro Bacia, Plano de Manejo FESSEDA 2018, (fonte: Secretaria do Meio Ambiente e Instituto Florestal) 92 figura 90. Mapa de Fragilidade do solo, Plano de Manejo FESSEDA 2018, (fonte: Secretaria do Meio Ambiente e Instituto Florestal) 92 figura 91. Mapa de uso da terra, Plano de Manejo FESSEDA 2018, (fonte: Secretaria do Meio Ambiente e Instituto Florestal) 93 figura 92. Mapa de Zoneamento, Plano de Manejo FESSEDA 2018, (fonte: Secretaria do Meio Ambiente e Instituto Florestal)

93

figura 93. Mapa de Fitofisionomia da Reserva, Plano de Manejo FESSEDA 2018, (fonte: Secretaria do Meio Ambiente e Instituto Florestal) 94 figura 97. Geologia simplificada do município de Campinas (fonte: Mapa 03 Plano de Manejo FESSEDA) 94 figura 94. Córrego São Vicente, no exutório da F. E. Serra d’Água (Fonte: FESSEDA, 2018) 94 figura 95. Panorama geral da vegetação de Floresta Estadual Serra d’Água (fonte: FESSEDA, 2018) 94 figura 96. Área de Conflito incendiada e desmatada no interior da Fesseda, 2012 (Fonte: FESSEDA, 2018) 95 figura 98. Panorama geral da vegetação de Floresta Estadual Serra d’Água (fonte: FESSEDA, 2018) 95 figura 99. Panorama geral da vegetação de Floresta Estadual Serra d’Água (fonte: FESSEDA, 2018) 95 figura 100. Panorama geral da vegetação de Floresta Estadual Serra d’Água (fonte: FESSEDA, 2018) 96 figura 101. Mapa de Localização da Reserva Serra D’agua e Fazenda Remonta 98 figura 102. Capela São José da Coudelaria (fonte:não identificada) 98 figura 103. Foto antiga na coudelaria de campinas em 1986 (fonte: Marcos Antonio Santos) 98 figura 104. Entrada da coudelaria em 2021 (fonte: Imagem retirada do Google Maps 98 figura 105. Entrada da coudelaria e para o 11° Batalhão de infantaria leve em 2021 (fonte: Imagem retirada do Google Maps 99 figura 106. Vista de uma das residencias do 11° batalhão de infantaria leve, 2021 (fonte: Imagem retirada do Google Maps 99 figura 107. Acampamento dos Alunos de EsPCEx, 20/10/2014 (fonte: Marcos André Mendes de Sousa.) 99 figura 108. Vista de uma das residencias do 11° batalhão de infantaria leve, 2021 (fonte: Imagem retirada do Google Maps

99

figura 109. Acampamento dos Alunos de EsPCEx, 20/10/2014 (fonte: Marcos André Mendes de Sousa.) 102 figura 110. Exterior Museu Judaico (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily) 102 figura 111. Exterior Museu Judaico (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily)

7


103

8

figura 112. Exterior Museu Judaico (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily) 103 figura 113. Exterior Museu Judaico (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily) 103 figura 114. Exterior Museu Judaico (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily) 103 figura 115. Exterior Museu Judaico (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily) 104 figura 116. Implantação do Museu Judaico (fonte: fornecida por Archidaily, Editado pelo autor) 104 figura 117. Sub Solo do Museu Judaico (fonte: fornecida por Archidaily, Editado pelo autor) 105 figura 118. Exterior Museu Judaico (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily) 105 figura 121. interior do Museu (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily) 105 figura 119. Interior do Museu (fonte: Fotografia por Denis Esakov) 105 figura 122. interior do Museu (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily) 105 figura 120. interior do Museu (fonte: Fotografia por Denis Esakov) 105 figura 123. interior do Museu (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily) 106 figura 124. Andar térreo do Museu Judaico (fonte: fornecida por Archidaily, Editado pelo autor) 106 figura 125. Cortes do Museu Judaico (fonte: fornecida por Archidaily, Editado pelo autor) 107 figura 126. interior do Museu (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily) 107 figura 127. interior do Museu (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily) 107 figura 128. Museu Judaico de Dia(fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily) 107 figura 129. Museu Judaico a noite (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily)

109 109 109

108

113

figura 130. AlterArchitects 108 figura 132. 108 figura 131. AlterArchitects 109 figura 133.

VIsta Esterior do Museu -Atelier Hall Central -Atelier AlterArchitects Hall Central e Atrio -Atelier Hall Central -Atelier AlterArchitects

figura 134. Hall Central -Atelier AlterArchitects figura 136. Hall de Entrada -Atelier AlterArchitects figura 138. Área de Exposição -Atelier AlterArchitects 109 figura 135. Hall Central -Atelier AlterArchitects 109 figura 137. Atrio do Museu -Atelier AlterArchitects 109 figura 139. Atrio do Museu -Atelier AlterArchitects 110 figura 140. Implantação do Museu (fonte: fornecida por Archidaily, Editado pelo autor) 110 figura 141. Corte em Perspectiva do Museu (fonte: fornecida por Archidaily, Editado pelo autor) 110 figura 142. Primeiro pavimento do Museu (fonte: fornecida por Archidaily, Editado pelo autor) 110 figura 143. Segundo Pavimento do Museu (fonte: fornecida por Archidaily, Editado pelo autor) 111 figura 144. Perspectiva Explodida do Museu (fonte: retirada da internet, autor não identificavel) 111 figura 145. Imagem do complexo yingliang, (fonte: http://www.yingliang.com/aboutus.aspx) 111 figura 146. Imagens do museu em fase de obra (fonte: http://www.yingliang.com/aboutus.aspx) 112 figura 147. Implantação do instituto de tecnologia de kanagawa (fonte: imagem retirada do Google Earth e editado pelo autor) 112 figura 148. Fotografia externa praça instituto de tecnologia de kanagawa (fonte: Archdaily) 113 figura 149. Fotografia interna da praça (fonte: Archdaily) 113 figura 150. Fotografia interna da praça (fonte: Archdaily) 113 figura 151. Fotografia interna da praça (fonte: Archdaily) 113 figura 153. Fotografia externa da praça (fonte: Archdaily) 113 figura 152. Fotografia interna da praça, evento de abertura (fonte: Archdaily) figura 154. abertura (fonte: Archdaily) 114 figura 155. Archdaily) 114 figura 156. de obra (fonte: Archdaily)

Fotografia interna da praça, evento de Plantas técnicas da praça (fonte: Fotografia superior da praça em fase

114

figura 157. Fotografia superior da praça ao lado do campo de beiseball (fonte: Archdaily) 114 figura 158. Corte técnico da praça (fonte: Archdaily) 115 figura 159. Infográfico do complexo do instituto de tecnologia de kanagawa (fonte: Archdaily) 116 figura 160. Wotruba Kirche Architekturzentrum Wien, Sammlung (fonte: Fotografia de Margherita Spiluttini) 116 figura 161. Imagem externa da calçada Igreja de Wotruba (fonte: Archdaily) 116 figura 162. Entrada da Igreja de Wotruba (fonte: Archdaily) 117 figura 163. Wotruba Church (fonte: Fotografia por Erwin Reichmann) 117 figura 164. Fotografia Externa da Igreja de Wotruba (fonte: Archdaily) 117 figura 166. Fotografia Externa da Igreja de Wotruba (fonte: Archdaily) 117 figura 165. Fotografia Externa da Igreja de Wotruba (fonte: Archdaily) 118 figura 168. Model of the Church, plaster. 42 x 89 x 65 cm (Fonte: Acerto do Museu) 118 figura 167. Planta baixa da Igreja (fonte: Retirada da internet, autor não encontrado) 118 figura 170. Centro da Igreja, Preparativo para cerim (Fonte: Acerto do Museu) 118 figura 169. Fotografia interna da Igreja de Wotruba (fonte: Fotografia de Kramar 2015) 119 figura 173. Fotografia interna da Igreja de Wotruba (fonte: Archdaily) 119 figura 172. Fotografia Interna da Igreja de Wotruba (fonte: designedtotravel.ro) 119 figura 174. Igreja de Wotruba em neve (fonte: Fotografia por Mich leemans)

119

figura 171. Implantação da Igreja de Wotruba (fonte: Retirada do Google Earth) 119 figura 176. Intervenção na Igreja de Wotruba, novo acesso via elevador (fonte: Studio: formann puschmann) 119 figura 175. Criança brincando entre os blocos de concreto da Igreja de Wotruba (fonte: Archdaily) 120 figura 177. Fotografia da vista para o lago


alqueva casa em monsaraz (fonte: João Guimarães, Rui Cardoso, AMA – Aires Mateus) 120 figura 178. Fotografia da paisagem, casa em monsaraz (fonte: João Guimarães, Rui Cardoso, AMA – Aires Mateus)

121

figura 179. Fotografia da paisagem, casa em monsaraz (fonte: João Guimarães, Rui Cardoso, AMA – Aires Mateus) 121 figura 180. Fotografia da paisagem, casa em monsaraz (fonte: João Guimarães, Rui Cardoso, AMA – Aires Mateus) 121 figura 181. Fotografia da paisagem, casa em monsaraz (fonte: João Guimarães, Rui Cardoso, AMA – Aires Mateus) 121 figura 183. Fotografia da casa em fase de obra (fonte: bonsrapazes.com) 121 figura 182. Fotografia do pátio e Sala Estar da casa (fonte: Nelson Garrido e Rui Cardoso) 121 figura 184. Fotografia do pátio e corredor da casa em Monsaraz (fonte: João Guimarães, Rui Cardoso, AMA – Aires Mateus) 122 figura 186. Cobertura da casa em monsaraz (fonte: Aires Mateus Associados) 122 figura 188. Ilustração dos niveis da casa em monsaraz (fonte: Aires Mateus Associados) 122 figura 187. Planta térrea da casa em monsaraz (fonte: Aires Mateus Associados) 122 figura 189. Maquete da casa em Monsaraz (fonte: Aires Mateus)

122

figura 185. Corte técnico da casa em monsaraz (fonte: Aires Mateus Associados) 123 figura 190. Paisagem para o lago Alqueva casa em monsaraz (fonte: João Guimarães) 123 figura 191. Fotografia da paisagem, casa em monsaraz (fonte: João Guimarães, Rui Cardoso, AMA – Aires Mateus) 123 figura 192. Sala de Estar da casa Monzaras(fonte: João Guimarães) 123 figura 194. Aberturas da casa da Suite (fonte: João Guimarães, Rui Cardoso, AMA – Aires Mateus) 123 figura 195. Porta de acesso a casa Casa Monsaraz (fonte: João Guimarães) 123 figura 193. Cozinha da Casa Monzaras (fonte: João Guimarães) 123 figura 196. Fotografia Noturna Casa Monsaraz (fonte: João Guimarães) 123 figura 197. Fotografia Noturna Casa Monsaraz (fonte: João Guimarães)

124

figura 198. Saya Park, Vista de Cima (fonte: Fotografia por Fernando Guerra | FG+SG, Archdaily) 124 figura 199. Saya Park, Vista de Cima (fonte: Fotografia por Fernando Guerra | FG+SG, Archdaily) 125 figura 200. Saya Park (fonte: Fotografia por Fernando Guerra | FG+SG, Archdaily) 125 figura 201. Saya Park, Interior (fonte: Fotografia por Fernando Guerra | FG+SG, Archdaily) 125 figura 203. Saya Park, Interior (fonte: Fotografia por Fernando Guerra | FG+SG, Archdaily) 125 figura 202. Saya Park, Interior (fonte: Fotografia por Fernando Guerra | FG+SG, Archdaily) 125 figura 204. Saya Park, Interior (fonte: Fotografia por Fernando Guerra | FG+SG, Archdaily) 126 figura 205. Planta térrea Saya Park (fonte: fornecida por Archidaily, Editado pelo autor) 126 figura 206. Cortes Museu Saya Park (fonte: Archdaily) 127 figura 207. Implantação Saya Park (fonte: Archdaily) 127 figura 209. Capela Saya Park (fonte: Fotografia por Fernando Guerra | FG+SG, Archdaily) 127 figura 210. Observatório (fonte: Fotografia por Fernando Guerra | FG+SG, Archdaily) 127 figura 208. Interior do Museu, Render e montagem com obra (fonte: Pinterest, autor não identificado) 127 figura 211. Terraço Saya Park (fonte: Fotografia por Fernando Guerra | FG+SG, Archdaily) 128 figura 212. Implantaçãp Museu do Côa (fonte: Google Earth) 128 figura 213. Museu do Côa (fonte: Fotografia por Antônio Jeronimo) 128 figura 214. Museu do Côa (fonte: Arquitetura360. pt) 129 figura 215. Museu do Côa (fonte: Fotografia por Nélson Garrido, Archdaily)

129

figura 216. Nélson Garrido, Archdaily) 129 figura 217. Nélson Garrido) 129 figura 218. Nélson Garrido)

Museu do Côa (fonte: Fotografia por Museu do Côa (fonte: Fotografia por Museu do Côa (fonte: Fotografia por

129

figura 219. Entrada Museu do Côa (fonte: facebook Museu do Coa) 130 figura 220. Planta Térrea Museu do Coa (fonte:Planta fornecida por Archdaily e editada pelo autor) 130 figura 221. Planta inferior Museu do Coa (fonte:Planta fornecida por Archdaily e editada pelo autor) 131 figura 222. Corrte Museu do Côa (fonte:Planta fornecida por Archdaily) 131 figura 223. Corrte Museu do Côa (fonte:Planta fornecida por Archdaily) 131 figura 224. Exposição Museu do Côa (fonte: artecoa.pt) 131 figura 225. Exposição Museu do Côa (fonte: artecoa.pt) 131 figura 226. Exposição Museu do Côa (fonte: artecoa.pt) 131 figura 227. Exposição Museu do Côa (fonte: artecoa.pt) 134 figura 229. Croqui de aberturas para a Galeria Sensorial (fonte: elaborado pelo autor) 134 figura 228. Infográficos, conceito, partido e programa do projeto (fonte: elaborado pelo autor) 136 figura 230. Implantação Urbana projeto UNA (fonte: elaborado pelo autor) 137 figura 231. Plano de Massa projeto UNA (fonte: elaborado pelo autor) 138 figura 232. Grade de fotos de renders do projeto (fonte: elaborado pelo autor) 142 figura 233. Croqui sobre Psicologia de escala e organização de elementos (fonte: elaborado pelo autor) 143 figura 234. Implantação do Projeto com medidas (fonte: elaborado pelo autor) 145 figura 235. Prancha com Elevação Frontal, Lateral Direita , Esquerda e Posterior projeto UNA (fonte: elaborado pelo autor)

147

figura 236. Cortes do Projeto (fonte: elaborado pelo autor) 148 figura 237. Detalhamento Galeria Sensorial projeto SIUNA (fonte: elaborado pelo autor) 149 figura 238. a acrescentar 153 figura 239. Detalhamento Mirantel projeto UNA (fonte: elaborado pelo autor)

9



APRESENTAÇÃO

11


II. INTRODUÇÃO

Esta pesquisa tem o objetivo de contextualizar, discutir, articular teoria e prática na Arquitetura e Urbanismo e o seu potencial como ferramenta para qualificar o espaço, mas também de entender a presença e a construção de limites e amarras nas escalas da cidade. O trabalho pretende compreender ainda o conceito e a expressão do poder, este como sendo transformador dos espaços construídos, desde suas perspectivas políticas, culturais e artísticas. Esta expressão pode ser percebida por meio da extrema funcionalização dos espaços públicos e privados, que estão ligados intimamente com a perda da liberdade da múltipla apreensão do espaço. No contexto social atual, é necessário aprofundar debates, principalmente na esfera acadêmica, diante dessas questões e outras, como: a relação do poder com a Arquitetura e Urbanismo; influência das tipologias e anti-tipos de edifícios; estratégias de projeto para trazer novas vivências; funcionalização do espaço; reflexões e sentimentos, bem como sua significância na escala macro e micro na cidade; como também o emprego de iniciativas públicas e privadas nestes segmentos. Este trabalho não se trata, portanto, de uma busca por um único projeto arquitetônico e urbanístico que 12

sane questões pessoais, mas encarar uma trajetória de vivência que a sociedade tem passado com vendas nos olhos.

Nesse sentido, no entendimento das influências do espaço, algo que está presente a todo momento nestas relações é o conceito de “poder”, que pode ser explorado em três dimensões distintas: política (Estado e cidadão); cultural (sociedade, história, hábitos e moral); artística (plasticidade, expressão e significado).

Sendo assim, a priori, o comprometimento deste trabalho é com o tema de poder, com a provocação, surgimento de questionamentos do que anseio por suas respostas. Pretende-se levantar e investigar, relacionar e argumentar, desafiar e se desapegar, para que — desse modo — seja possível articular e produzir soluções de projeto nas disciplinas associadas de Projeto Integrado e Trabalho Final de Graduação. Particularmente, e aqui se faz oportuno o uso de um vocabulário prolixo para expressar o conteúdo e um sentimento por trás da pesquisa, a mesma se manifesta com uma felicidade, entusiasmo e uma gana ensurdecedora de trabalhar sobre o tema em relação à Arquitetura e Urbanismo. O artigo de Lebbeus Woods, “O espaço livre e a tirania dos tipos”, por exemplo, inspira e provoca os


leitores, e este é o desejo desta produção acadêmica. Nitidamente, seria ingênuo passar a ilusão de que este trabalho solucionaria todos os problemas dentro da temática de poder, assim como o seu enredo esbarra em diversos conceitos até ficar mais claro, mas o que se espera é que, no decorrer destas páginas, a pesquisa colabore com o processo de busca pela liberdade ou o mais próximo disto.

A metodologia consiste no levantamento de conceitos multidisciplinares no contexto da Arquitetura e Urbanismo, a partir da revisão bibliográfica de marcos relevantes na história de influência no tema, enfatizando tipos e linguagens de arquitetura na transformação do espaço; levantamento de dados; análise crítica sobre o território de Campinas (SP), tendo como foco o bairro do Jardim São Vincente, localizado às margens da Rodovia Francisco Von Zuben, e relacionando com estudos de caso, para assim criar — juntamente com um diagnóstico — uma proposta de projeto para a área de estudo. A Arquitetura e Urbanismo analisados a partir do prisma do poder podem produzir no espaço novas formas de cidades, tecidos urbanos, bairros, tipologias arquitetônicas, interiores e sentimentos,

portanto em escalas e pesos diferentes, rompem limites e os estabelecem; produzem significados e podem ser ressignificados, e aqui relacionam-se com conceitos multidisciplinares, frente a teorias como a Lógica Aristotélica e a Dualidade Cartesiana. É importante ressaltar que tais conceitos serão detalhados e os sentidos também, pois essa sensação de poder, limites e liberdade surge por meio de uma percepção, que vem de estímulos e interpretação. Vale o exercício de lembrar, por exemplo, da sensação de estar em um templo religioso, onde são recebidos estímulos que intensificam a aproximação íntima ou até mesmo com alguma força metafísica superior.

Esta pesquisa trata-se, portanto, de algo que pretende analisar os espaços e edificações da cidade de modo crítico, fato cada vez mais raro no país, vítima de alienação e manipulações constantes. O poder, a priori, visto de modo abstrato, se materializa pelo homem, então, se faz necessário um engajamento sobre a leitura dessa dinâmica. Ainda assim, a Arquitetura e Urbanismo se propõem a contribuir no processo de interiorização e união do homem à cidade, de modo que ele se una consigo mesmo e o que está à sua volta. 13


“Mas eu prevejo outro tipo de arquiteto, outro tipo de arquitetura, com outro papel a desempenhar dentro desta mesma sociedade já tão efetivamente dominada pelos ricos e poderosos. É uma arquitetura operando por fora do jogo. Deixe-me ser claro nesse ponto: não é uma arquitetura da revolução, revoltar-se é confirmar o jogo de fato, participar do jogo. A arquitetura que eu tenho em mente está simplesmente fora do jogo prevalente de fortuna, poder, autoridade. Ela é o seu próprio jogo, tem suas próprias regras, seus próprios sentidos e fins. O material com que ela é feita, no entanto, é a mesma história, o mesmo presente, o mesmo potencial como aqueles da aristoi e seu propenso público. Se essa outra arquitetura ameaça a predominante, muito melhor. Dois pássaros com uma pedra. O arquiteto que eu prevejo é o arquiteto experimental. Seu suor tem cor de sangue” Lebbeus Woods (The End of Architecture?, Prestel,1993).

14


15


III. MAPA MENTAL DO TRABALHO

16 figura 01. Mapa mental TFG (fonte: Desenvolvido pelo autor)


A figura ao lado faz parte do processo de desenvolvimento desta pesquisa, que teve como ponto de partida a elaboração de um mapa mental, o qual é um diagrama que auxilia a reunir informações e fluxos sobre um tema, possibilitando melhor gestão e progressão no processo de trabalho.

Aqui se encontram palavras-chave e associações em formas retangulares ligadas por setas, agrupadas entre variação de cores, de acordo com o raciocínio e questionamentos. Importante, então, observar que o ponto de partida do entendimento do conceito de Forma Função são as linguagens arquitetônicas e urbanísticas, das quais em diferentes contextos e situações (políticas, culturais, artísticas) propõem significados, perspectivas de intenções e poder, que são vivenciados e podem segregar ou incluir ao espaço. Cada indivíduo tem sua vivência no contexto da cidade, que é resultante de sensações e interpretações. Estes dois conceitos, embora distintos, são complementares e importantes para entender o que é perceber.

A percepção é capaz de se agregar diretamente à qualidade de vida das pessoas e, a partir das associações entre sentir e interpretar, pode-se agregar à análise do campo urbano ou espaço construído e descobrir fragmentos que auxiliam um estudo de projeto arquitetônico e urbano que potencialize a experiência dos habitantes.

A análise do espaço é um processo complexo, depende do contexto, tempo e intelecto, principalmente na perspectiva de poder. É necessário ter isso em mente para não se deparar com obviedades ou singularidades. No que se refere ao intelecto, fatores como base de conhecimentos (experiências), fator biológico (pois cada indivíduo possui maior ou menor sensibilidade dos sentidos

humanos) e sociais (uma vez que a cultura pode capacitar ou dificultar a realidade) podem determinar as percepções.

Yi-Fu Tuan (A perspectiva da experiência, 2013), geógrafo com 90 anos atualmente, comenta que cada pessoa responde de maneiras diferentes ao espaço (abstrato/liberdade) e lugar (conhecido/ dotado de valor/seguro), e que a experiência se divide entre duas amplitudes, a direta e íntima (vivência) ou a indireta e conceitual (a partir de abstrações e simbologias). A conexão dessas palavras e conceitos tem como intuito traçar uma linha de pensamento que fuja da simplicidade das coisas, saia da mesmice e faça um processo de desprendimento e autocrítica sobre aquilo que se sabe e o que é posto. Isso porque, ao analisar perspectivas de poder e suas relações sociais, é possível se deparar com contextos de guerra e opressão, mas também de paz e liberdade. Ao mesmo tempo, não se almeja que a pesquisa, bem como o seu desenvolvimento, seja tudo e resolva todas as problemáticas, mas que seja uma experiência indireta e conceitual da qual o leitor possa refletir nas suas experiências íntimas e diretas.

17


IV. PODER: POSSÍVEIS DEFINIÇÕES

Um dos pontos de partida é tratar sobre o conceito de poder, que tem uma dimensão complexa, devendo passar de um pensamento mais abstrato para um mais concreto. Segundo Gérard Lebrun (1995), poder é o nome atribuído ao conjunto de relações presentes em todo o corpo social, existente quando se detém uma potência (recursos e capacidade) e uma força capaz de canalizar esta potência e fazer modificações de acordo com determinados objetivos.

A todo momento, ao falar de poder, é possível esbarrar em outros conceitos e associá-los às esferas institucionais, como, por exemplo, o poder do estado ou do governo. Nota-se também o pensamento sobre o poder em oposições binárias, duais, em situações em que há “aquele que detém o poder e o que não o tem”, entre “aquele que é

18

dominado e aquele que domina”. Contudo, talvez seja necessário ter cautela acerca desse entendimento, pois ele tem origem em uma visão monocrática e arcaica.

A ideia de poder tem uma eficiência situacional nas relações sociais e nas relações no espaço, onde faz parte da experiência dos habitantes, os quais vivem oprimidos ou com liberdade. Analisar a cidade sob este ponto de vista faz entender o porquê da existência de algumas sensações em alguns espaços.

Dentro dessas relações, uma das primeiras crenças das quais é preciso desapegar é que o poder pode ser resumido apenas à imposição de um indivíduo a outro pela sua vontade. Ele não pode se resumir a isso nem se limitar a uma marcação de desigualdade imposta por uma instituição. O poder não tem uma forma predefinida, ele toma forma por quem o possui e o organiza, pode estar contido em uma pessoa ou um grupo. Essa potência e força não é algo passível de ser combatido, pois é um fenômeno da natureza e se expressa nela. Ao analisar o espaço construído, percebe-se que é formado por alterações de seus recursos. Sendo assim, será discutida mais adiante a possibilidade de combater ou contornar essas influências.

Outro conceito importante é o Dualismo Cartesiano, estabelecido por René Descartes (1596-1650), o qual sugere que o corpo e a mente são substâncias que geram compreensões diferentes da realidade e podem colocar em dúvida aquilo que é ou não verdadeiro e existente. Pode-se dizer, então, que o poder está presente no corpo e na mente e que é possível duvidar até mesmo da sua existência. Mais do que isso, que o poder pode agir separadamente no ser humano. Um exemplo: seria possível isolar ou trancar uma pessoa em um


quarto ou cela que, apesar de aprisionar fisicamente no espaço, não impediria o sujeito de se projetar para fora dele mentalmente.

Ainda nesse sentido, também pode-se associar o poder a uma autoridade, esta correlação é intuitiva e sua aplicação não é de toda uma mentira. É possível fazer isso com figuras de governo, religiosas, institucionais, familiares, figuras públicas, entre outras, todas elas dispõem de potências e forças, recursos e como os canalizam. Portanto, seria inocente pensar que elas não usufruem do poder para determinar normas e subestimar esse poder seria um erro. É legítimo questionar de modo prático quais seriam as categorias de poder recorrentes e qual seria o poder bom ou ruim? De certa forma, seria possível. Em cada relação social, pode acontecer alguma categoria de poder, mas colocá-lo como bom ou ruim dependerá da perspectiva, contexto e algum juízo de valor.

Antes de pensar nessa organização, deve-se entender que o “poder”, por ser um verbo transitivo e depender também de um agente e um alvo, tange colocações como poder: econômico, político; militar; ideológico; natural; familiar; religioso; simbólico; artístico; entre outros.

Dentro desse contexto, trabalhos como o dos psicólogos John Robert Putnam French e Bertram Herbert Raven, em “The bases of social Power” (1929), que tratam sobre categorias de poder organizacional — para entender as suas relações na comunicação social e organização deste trabalho — apresentam os resultados desta s bases de poder e seus impactos, criando métodos e melhores decisões para atingir resultados. A saber, French e Raven (1959) organizam o poder em seis formas distintas: coercitivo; recompensa; legítimo; referência; especialista.

O Poder Coercitivo seria baseado na coerção, ameaça e punição, seja física, emocional, social, política ou econômica. Nesse sentido, o agente de poder pretende que se cumpra um propósito pessoal ou impessoal e, na prática, deve manter vigilância sobre o seu alvo. Pode-se observar sua atuação, por exemplo, na possível demissão de um trabalho ou mesmo despejo de sua casa.

O Poder de Recompensa se baseia em ofertar algo físico, um objeto social, emocional e até mesmo espiritual, e assim como o coercitivo pode ser pessoal ou impessoal. O interessante é que este poder pode causar dependência do alvo, mas também pode problematizar o agente, caso ele não tenha mais recursos para premiar conforme o seu objetivo. É possível observar na educação das crianças que, ao fazerem algo bom, podem ser recompensadas com um passeio e, de modo contrário, podem ser punidas com castigos.

O Poder Legítimo é caracterizado pela autoridade, título, nomeação, posição hierárquica, liderança, e é importante ressaltar que ele pode ser perdido e legitimado a depender de outorgantes. Pode-se observar em cargos como do presidente do Congresso, do rei, supremo cargo da Igreja Católica, papa ou mesmo do chefe de uma empresa. Ele é mais complexo, pois dentro da sua prática está embutida tanto a coerção quanto a recompensa, mas ele depende de que seu alvo, ou grupo, o reconheça como legítimo e o aceite. Com o tempo, os estudos apontaram que ele ainda se dividiria entre Poder Legítimo de: posição; reciprocidade; equidade; dependência. Porém, esta pesquisa não vai se aprofundar em cada caso, evidenciando apenas que os poderes formam uma teia de relações no corpo social e no espaço. O Poder de Referência se fundamenta na participação tanto do agente quanto do alvo em uma organização ou grupo, ficando entre

19


embates sobre similaridade de crenças e influências. Um exemplo seria ser filiado a um partido político ou mesmo uma relação de casamento. Esse poder se reflete como um exemplo, ou modelo para o grupo, que pode ser admirado e respeitado.

Já o Poder da Especialização ou Competência é parte de um agente que contém uma base de conhecimentos, experiências, habilidades e talentos que se destacam. Ele é reconhecido por uma certificação, reputação, credenciais e histórico de ações. Diferente dos demais, a sua atuação depende da necessidade de ação ou comprovação. É possível observar em um piloto de avião, professores, no histórico escolar, mas também no pedreiro com 30 anos de experiência na área.

Por fim, o Poder Informacional (que talvez seja um dos mais atuais) se refere ao controle, cooperação ou satisfação por meio de uma base de informações. É uma arma do agente para influenciar, manipular ou persuadir um alvo. Ele é situacional, a depender da relação entre as partes, e depende também do reconhecimento da legitimidade da informação ou credibilidade do agente. Um exemplo é ter segredos, informações sigilosas ou mesmo informações validadas, como argumentos. De certa forma, ele também é temporal, dado que — passada a informação — o poder é perdido ou transmitido. Pode ser dividido entre poder de informação: direto; indireto; social; independente de mudanças; acessibilidade; ferramenta.

20

O espaço dado aqui sobre a definição e base do poder está diretamente ligado às experiências, e serve de suporte para o entendimento despido de influências externas. Assim, pode refletir numa liberdade da percepção tanto sobre o espaço construído como também a sua análise.

figura 02. Mapa dos Poderes (fonte: Desenvolvido pelo autor a partir dos estudos de French, John & Raven, Bertram. (1959). The bases of social power.)


Um olhar sobre a história e um sistema político, mais especificamente o Absolutismo na Idade Moderna (1453-1789), regime que concentrava todos os poderes no rei sobre o Estado — com o apoio da nobreza e do clero para garantir seus interesses —, mostra que o poder era centralizado e determinava políticas e economias. Nicolau Maquiavel (1469-1527), teórico que escreveu sobre esse regime, aponta o conceito da serenidade, da não interferência espiritual, rigidez, soberania e poder do governante (por exemplo, o Poder Coercitivo) que foi implantado entre os séculos XVI e XVIII, principalmente nos Estados Nacionais Modernos, primeiros países europeus.

Nesse contexto, Albuquerque (1995, p. 108) comenta sobre a teoria de poder (ou metodologia microfísica do poder) por Michel Foucault (1926-1984), para quem o sistema de monarquia absoluta é uma invenção de poder que é concentrada para submeter uma vontade aos seus súditos, e sugere que deve-se fazer o exercício de pensar no oposto, no poder sem a figura do rei.

Isso porque Foucault entende que o poder precede quem detém condição de autoridade, visto que ele está nas relações sociais em sua totalidade, formando assim uma malha de relações, como uma teia, e que esta linha de pensamento (pensar em 'poder' não concentrado e qualificado) proporciona a declinação do sistema reiestado e súditos como a formação clássica, que posteriormente iria migrar para o Estado Moderno. Embora seja necessário recorrer a definições e conceitos discutidos no passado, o conceito de poder é algo atemporal. Mesmo que a palavra ‘rei’ seja um título de autoridade, dentro de governos como a nobreza monarca, ela poderia — em contextos mais atuais — ser substituída por outro título que representasse ou tivesse significado de poder.

O importante é saber que o poder transita de uma pessoa para outra e de um espaço para outro, fazendo, desse modo, a construção de poderes circundantes nas cidades. Toda ação tem uma reação, seja nos corpos ou na mente. Observados traços ou vestígios em

21 figura 03. Isabel I (1533-1603), Rainha da Inglaterra (obra de domínio público)

figura 04. Retrato de Luis XIV - 1710, o Deus Sol. (obra de domínio público)

figura 05. D. João V (1689-1750), O Magnânimo, Rei de Portugal. (obra de domínio público)

figura 06. Retrato D. Pedro I (1798-1834), Primeiro imperador do Brasil. (obra de domínio público)


culturas ou políticas diferentes, a arquitetura e o urbanismo podem auxiliar a compreender a leitura dessa relação de poder, seja por elementos construtivos, tipologias, comportamentos, barreiras ou limites sociais, dentre outras formas.

De natureza igual, o conceito de poder está ligado intimamente à ideia de territorialidade, no sentido organizacional e entre as relações humanas, ou seja, há o domínio e a disputa sobre o território. Compreender esse confronto favorece as linhas de pensamento sobre a construção dos territórios e suas tipologias, portanto a influência do poder na arquitetura, urbanismo e seu reflexo na sociedade. Sobre poder, pode-se falar ainda daquilo que está a uma posição superior e inferior, esta relação se chama “Teoria da Soma Zero”, onde há uma oposição binária em que a soma das duas, ou sua ausência, tenderia a zero. Ou seja, se não houvesse uma sobreposição, haveria uma relação nula, nada para um lado, nada para o outro. Como é possível observar, essa teoria não é bem recebida filosoficamente, embora seja recebida socialmente de forma confortável, principalmente em linhas de pensamento ideológicas semelhantes às de Karl Marx.

Para Gérard Lebrun (1995, p. 8), Parsons considera errônea toda “compreensão do poder que o reduza a uma situação marcada pela desigualdade”, portanto, potencialmente menos conflituosa.

22

Tratando-se do Poder do Estado (Poder Legítimo) no campo da Arquitetura e Urbanismo, a área utiliza como ferramentas as leis e regulamentos, usando instrumentos como o Plano Diretor para determinar o progresso da cidade, onde serão construídos empreendimentos imobiliários, administração de recursos

econômicos e materiais, prioridades de projetos, manutenção e conservação de áreas ambientais, fornecimento de infraestrutura, entre outros. Uma cidade com poder é uma cidade rica economicamente e espelho da beleza moderna. O instrumento do zoneamento referencialmente planejado “visto de cima” planifica uma idealização de poder, estabelece limites ou barreiras (por exemplo, de expansão urbana).

Alguns exemplos — planificados pelos poderes e observados em vista de cima — são os loteamentos de dimensões maiores, onde ficam as famílias economicamente mais ricas, e os loteamentos menores, de “padrões”, com casas geminadas, autoconstruções e ocupações, onde ficam as famílias mais pobres. Com o tempo, essa linguagem arquitetônica e urbana se acostuma aos olhos quando o espaço é observado. Segundo Juhani Pallasmaa (2011, p. 28), os princípios fundamentalistas de zoneamento e planejamento que refletem a higiene do ótico (visão) podem ser observados nas cidades ideais da Renascença. Esse paradigma, segundo o autor, favorece idealização, despersonificação e alienação, portanto aqui se encontra a arquitetura e urbanismo como ferramenta do poder.

Um movimento que ressalta essa postura política de poder sobre o espaço urbano, e, portanto, as cidades, é a difusão das políticas higiênico-sanitaristas, que ocorreu no Brasil principalmente nos séculos XIX e XX. O seu modelo foi importado de cidades europeias, onde Paris é um exemplo, pelas ideias de Haussmann (1809-1891) e Napoleão III (1808-1873). Um exemplo no Brasil pode ser acompanhado pela política de Pereira Passos, de 1902, no Rio de Janeiro. Esta pesquisa não tem como objetivo se aprofundar no assunto, mas vale citar um trabalho


interessante: “Pereira Passos, um Haussmann tropical: a renovação urbana da cidade do Rio de Janeiro no início do século XX”.

Essas políticas visavam disciplinar os espaços e corpos por idealizações de saúde, mas também elitistas, associando à pobreza a insalubridade e as epidemias de doenças contagiosas. Esse planejamento “neutraliza” os espaços por ordem e progresso, o controle sobre a cidade, dificultando manifestações populares e afastando os “problemas” do centro.

figura 07. Reforma de Paris e o Plano Haussmann (fonte: vitruvius.com.br)

Georges Eugène Haussmann (1809-1891), durante o início da Terceira República Francesa (1870-1940), colocou suas ideias junto com Napoleão III (1808-1873) em políticas práticas, devido à grande quantidade de habitantes em Paris e ao enriquecimento da burguesia, criando especialização funcional e sistematização, assim como a teoria das despesas produtivas, baseada pelo espírito de enriquecimento, no lucro e linhas de crédito para médio e longo prazo. Dessa forma, os orçamentos da cidade foram impactados, criando grandes empreendimentos, novos eixos viários, quadras, monumentos e instituições, que eram vistos como produtos de empreendimento capitalista, iniciando a prática do zoneamento (PANERAI, 2012). No Brasil, a demolição dos cortiços, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, deu-se pelo código sanitarista em 1894 — que proibia a permanência de cortiços — e em 1911, o mesmo código modificou-se para que os municípios fossem responsáveis pela adequação de novas moradias.

figura 08. A Brasília de Lucio Costa, o projeto vencedor | Fotos: reprodução livro Projetos para Brasília: 1927 – 1957

Segundo o Decreto Nº 233, de 2 de março de 1894, Código Sanitarista, o Capítulo V - Habitações das Classes Pobres, Artigo 138 estabelece: “deve ser terminantemente proibida a construção de cortiços, convindo que as municipalidades providenciem para que desapareçam os existentes”.

23


Tal acontecimento privilegiou o surgimento de bairros como Higienópolis e Campos Elíseos, mas também a construção de novas casas populares e vilas operárias, como a Vila Maria Zélia, construída em 1917 e fundada por Jorge Street.

A concentração de famílias em áreas periféricas se dá pela ausência de políticas mais acessíveis, falta de acesso à educação e processos excludentes e gentrificadores, onde são impostas ao aluguel mais caro para viverem próximas de um espaço mais bem atendido por serviços e infraestrutura.

Esse processo de gentrificação também não pode ser simplificado a um processo excludente, aqui ele se refere aos interesses do mercado imobiliário (e portando esse o seu poder) em disputa pela terra. O processo de gentrificação da cidade talvez seja algo inevitável. Jan Gehl, em uma entrevista à Fecomercio/SP de 2017, comenta sobre seu livro “Cidade para Pessoas”, a atuação de seu trabalho e ainda responde uma pergunta sobre como evitar a gentrificação, dizendo que “um modo certo de evitar a gentrificação é fazer as coisas serem as piores possíveis, e não fazer nada”.

A partir de interesses diversos, podem surgir novos espaços e desaparecer outros. Muito importante, no diálogo de arquitetura e urbanismo, trazer autores como Jane Jacobs (1916-2006), que em seu livro “Morte e Vida de Grandes Cidades” (1961), comenta sobre os espaços urbanos limpos e ordenados, mas social e espiritualmente mortos, ao falar sobre a vida compartilhada.

24 figura 09. Obra do acervo Museu de Saúde Pública Emílio Ribas - Políticas Higienistas (fonte: vejasp.abril.com.br)

Portanto, é interessante observar que pode-se fazer diversas associações no passado ou em contextos atuais ao retratar sobre a atuação do poder na cidade, o interesse dos agentes nela e como ele não é dual nem individual ou mesmo pode ser ignorado, mas que deve fazer parte da percepção e questionamento da vivência.


O que é preciso questionar é se o respeito a esse poder, essa autoridade, se reconhece pela certeza da punição (o Poder Coercitivo). Mesmo não aceitando fazer parte de governos e sistemas econômicos, majoritariamente, existem poucas escolhas — se é que se sustentam quando existem —, se não aceitar o jogo de sua atuação. Espaços privativos/separação surgiram pelo sentimento de diferença entre as pessoas e a intenção de separá-las, principalmente quando existe uma ameaça de alguma forma.

A partir de recurso e força, pessoas com o poder, na intenção de se sentirem seguras (ou assegurar a integridade de uma ideologia), deram surgimento aos espaços particulares ou de segregação. Alguns exemplos dessa divisão se deram pelo fator biológico por gênero, áreas de convívio e moradias nas antigas comunidades

figura 10. Arco do Triunfo construído em 1836, por Jean Chalgrin, em homenagem à Napoleão Bonaparte (fonte: Arc de Triomphe, 2010 - Jiuguang Wang)

cristãs ou mesmo nas primeiras igrejas da Idade Média, que organizaram um espaço para os homens e as mulheres — algumas crenças ainda permanecem nesta divisão — mas a pesquisa não irá adentrar no mérito de cada uma. Essa divisão territorial (macro ou micro) usou do espaço como poder de separação para defender aquilo que os dogmas pregavam. Um exemplo comum nos estudos de Arquitetura e Urbanismo são os condomínios de alto padrão, que separam a comunidade menos favorecida. Mas a pergunta é: quais outros espaços surgiram além desses mais habituais dentro das leituras? Na história, também existiram espaços nitidamente privativos que não se traz a discussão por serem contextos dolorosos e pesados, e são evitados por isso, mas no intuito de trazer ao leitor a sensibilização da atuação do poder, exemplificam-se espaços como os dos guetos do antigo regime nazista e as áreas de concentração.

figura 11. Deportação da população Judaica do Gueto de Lodz para Chelmno, 1944, um dos ultimos guetos da Polônia sob o controle do Regime Nazista. (fonte: encyclopedia.ushmm.org)

25


Como dito, a atuação do poder pode se materializar no espaço em diversas formas e tipologias, em espaços de privação de direitos como também em espaços que reforçam o poder, a partir de sua monumentalização. Al Assal (2014) comenta sobre a arquitetura assumir lugar importante nas estruturas de poder e destaca o jogo político e sua representação nos projetos urbanísticos e arquitetônicos brasileiros na perspectiva internacional, nas exposições de artes em Paris, de 1937, New York, 1939, e Lisboa, em 1940.

Uma linha temporal que destaque as ações do poder nos contextos, mesmo que geral, internacional e nacional, elucidaria em partes como houve essas transformações e atuações do poder durante a história. Contudo, em se tratando do alcance deste trabalho, talvez seria uma ambição inocente tentar cumprir este papel de uma revisão bibliográfica desta magnitude. O intuito agora é introduzir o assunto para avaliar mais abertamente esses contextos posteriormente. De modo abrangente, pode-se deduzir que há, nos diversos contextos da cidade, nuances das intenções de poder em que a arquitetura e o urbanismo reagem e materializam o espaço. Essa observação pode não ser feita apenas na escala macro, como também na repercussão territorial da escala micro, onde os instrumentos de poder podem ser melhor sentidos em contextos distantes.

26

O instrumento de poder, talvez óbvio e comum, mas que organiza a territorialidade dos espaços internos e externos ou privativos e comuns são as portas. Não há exemplo mais proveitoso e intrigante que esse. A porta serve para definir quem tem o controle ou o poder sobre a transposição de dois espaços diferentes. O dormitório é

o espaço particular, sobre o qual tem-se o poder de deixar alguém afastado, mas também de compartilhar território.

Coelho Netto (1997), em seu trabalho, exemplifica curiosamente no capítulo do “Sentido Sobre o Espaço” como ocorre a distinção nas diferentes culturas (ou mesmas, porém em diferentes épocas) de espaços privados e comuns, em que os alemães se sentem mais confortáveis nestes espaços que têm o controle e são particulares, em oposição aos americanos nos espaços mais comuns e abertos. Mesmo compreendendo que não é aconselhável haver regras nesse comportamento ou controle nas casas e famílias, individualmente, é possível imaginar essa relação nas próprias experiências. Uma cidade pode colocar nos seus limites territoriais portais/portões que delimitam e/ou representam que, a partir daquela demarcação, o território está sob controle de uma municipalidade, por exemplo. O ensaio que esta pesquisa propõe é fazer a ligação entre como as decisões afetam na vida de outras pessoas e o impacto delas na percepção da vida, pois afinal, nem tudo está sob controle. A ideia é se perguntar o que influencia no dia a dia e se alguém tomou uma decisão por si.

Essa pergunta é importante para estudar acontecimentos da história, sobre revoluções, desenvolvimentos urbanos, legislações, interesses, pois todos coexistem — mesmo que em tempos distantes, uns mais que outros — no mesmo corpo social, se tratando, desse modo, da formação dos espaços a partir do poder.

Em conclusão, é preciso fazer uma retrospectiva do que foi abordado até o momento, afinal, sobre o que tratam esses conceitos de poder e no que se aplicam ao projeto final deste trabalho?


Apesar dessa ser a pergunta-chave, sua resposta se desdobra pela pesquisa, o protagonista do projeto se estende para o campo ampliado e da interiorização com a arquitetura. Não se trata de um projeto que estabelece regras funcionais ou de comportamentos, mas sim que inspira um palco da liberdade com o campo existente, para haver a livre percepção dos poderes, sentidos e, portanto, interpretações das relações de poder.

No decorrer do trabalho, será abordado sobre o que seria um palco da liberdade, embora conceitualmente possa parecer abstrato, aqui se faz uma tentativa de emoldurar o espaço que se expõe a paisagem, despreocupado em atender previamente a uma função limitante.

Nesse sentido, qual seria o papel do arquiteto e urbanista num trabalho final de graduação, se não fomentar o debate sobre a participação do cidadão diante dessas relações de poder, cada vez mais sutis, se não a contribuição num debate sobre a leitura dos espaços livres e dominantes?

A liberdade talvez seja o poder da livre interpretação, sua imagem pode se inspirar a ambientes naturais, como o contato a uma praça ou um parque, por exemplo, complementar a seus equipamentos, caminhos, passeios, ar livre o verde, as texturas, o balanço, o cheiro da grama.

Trata-se de um assunto e processo não só para arquitetura, para um edifício construído, para um projeto, é mais que isso, incide no modo de viver, se questionando a quase todo momento sobre liberdade e limites. Os poderes organizacionais são a base das micro relações, entendê-los pode dar mais clareza à formação dos espaços. O projeto final tenta fugir das tipologias, dialoga com o poder da liberdade, com a apreciação e o respeito à paisagem.

27


V. SENTIDOS: MENOS ÓPTICA, MAIS PERCEPÇÃO

O corpo humano é composto por cinco sentidos: visão, tato, olfato, paladar e audição. Esses sentidos são captados pelos órgãos receptores: olhos, mãos, nariz, boca/língua e ouvido, que transmitem as informações do sistema sensorial ao sistema nervoso e, assim, o cérebro recebe como uma mensagem. Rudolf Steiner (1861-1925), filósofo austríaco, defende que o ser humano tem um total de 12 sentidos, separados em três agrupamentos: o primeiro é formado pelos inferiores ou volitivos (tato, vital, cinestésico, equilíbrio); o segundo compõe os intermediários ou emotivos (olfato, paladar, visão, sensação térmica); e por fim, o terceiro, superior ou intelectivo (audição, da

28

palavra, do pensamento alheio, da personalidade alheia). O objetivo aqui não é falar sobre cada um, mas enfatizar o poder da arquitetura e urbanismo sobre esses sentidos.

O espaço é percebido pelo homem por meio de estímulos e interpretações. Como dito acima, os estímulos se dividem primordialmente entre os cinco sentidos que, quando são assimilados, resultam em sensações. Pode-se identificar quais sensações/sentimentos são sentidos recorrentemente no cotidiano, como: raiva; hostilidade; tristeza; medo; frustração; aversão; alegria; afeto; confiança; ciúmes; amor; compaixão; empatia; surpresa; esperança; paixão. É importante, neste momento, entender que esses sentidos e sentimentos são o maior bem e recurso para viver, perceber a realidade e identidade pessoal. Eles estão intimamente ligados com o espaço onde se vive, se oferecem de palco para essas experiências, e a arquitetura tem o poder de instigar esses sentidos, mas também de limitá-los, a partir de tipologias de edifícios e seus programas (funções e atividades que os compõem). Pode-se perguntar se tal texto está distante de algo palpável, então é preciso considerar o presente momento, em que estas palavras estão sendo lidas. O sentido da visão fornece o entendimento para interpretar as informações, os olhos percorrem as linhas, mas se faz necessário pensar no quanto está focado, se está prestando atenção. É possível reparar, então, que ao se concentrar num ponto focal, se enfraquece a atenção dos outros sentidos. Para Juhani Pallasmaa (2011, p. 12), o computador tende a reduzir a capacidade de imaginação multissensorial, simultânea e sincrônica, ao transformar o processo em uma manipulação passiva, em que apenas as pessoas percorrem os olhos.

figura 12. Ilustração os 5 sentidos (fonte: corbisimages)


Olhos se voltam às lousas das salas de aula, ali está seu foco e de lá virá a informação; mas os olhos se voltam às telas acesas de celulares ou computadores; o interessante é notar que não há total controle sobre o que recebemos de informação, de modo que, num ponto, se desperta a ansiedade. Mas também os olhos se recolhem na procura por segurança ou intimidade, quando alguém está com medo, emocionado ou amando. Os sentidos não podem ser entendidos como meros receptores, mas como mecanismos de busca e defesa. Nesse contexto, seguindo a visão de Juhani Pallasmaa, seria então possível caracterizar uma estratégia de projeto de arquitetura que trabalhasse não somente o sentido da visão em detrimento dos demais, não apenas um ponto para visão focada, mas usar a visão periférica, em que o olho possa ser levado e percorra o espaço. Aqui se relaciona novamente o poder, a não imposição de um elemento que sobreponha os demais e que não destoa do contexto urbano.

O projeto foi doado pelo escritório dinamarquês de Jan Gehl à prefeitura em 2013, tropicalizado pelo escritório brasileiro Biselli Katchborian Arquitetos e Associados. Ele foi iniciado em 2019 com primeiro prazo de término até junho de 2020, já custou mais de 80 milhões de reais e atualmente, por meio de reajustes e paralisação, já alcança mais de 100 milhões de reais. O nome Anhangabaú é de origem indígena e significa, em tupi, rio ou água do mau espírito, nome direcionado às imposições dos bandeirantes. Esse projeto parece ter um caráter higienista (em 1906, o córrego foi canalizado como parte de campanha de saneamento), que demoliu as memórias afetivas do antigo espaço na tentativa de se fazer um “spray park”. Com 850 fontes e 303 pontos de iluminação, já apresenta falhas na construção alagando toda a área destes equipamentos. É um apelo ao estético, aos olhos, onde formou-se um tapetão de concreto, a região se tornou árida, com poucas áreas de

O processo de planejamento nas cidades renascentistas priorizava o olhar, sistema idealizador de coordenadas cartesianas, como comenta Jean Starobinski: “the look from above”, o olhar de cima, relacionado também às políticas higiênico-sanitárias, ao controle e distanciamento da cidade. São controles, potências (recursos) que o poder do estado usou para canalizar sensações aos sentidos de ordem para visão. Um projeto de referência atual que demonstra a intenção do poder do estado em São Paulo, concedido por Bruno Covas (PSDB), mas discutido desde a gestão de Fernando Haddad (PT), é o projeto de requalificação do Vale do Anhangabaú, entre o Viaduto do Chá e Santa Ifigênia.

29 figura 13. Imagem do Vale do Anhangabaú antes da Intervenção (fonte: gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br)

figura 14. Imagem do Vale do Anhangabaú depois da Intervenção (fonte: gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br)


sombra (segregadas às margens da praça) e áreas permeáveis, sem participação pública e pertencimento em uma área historicamente importante para São Paulo.

Nesse contexto, Juhani Pallasmaa (2011, p. 19) afirma que: “a Arte da visão, sem dúvida tem nos oferecido edificações imponentes e instigantes, mas ela não nos tem promovido a conexão humana ao mundo”. Para elucidar a importância dos sentidos, outro exemplo de projeto é o complexo do jardim botânico de Curitiba, o Jardim das Sensações, construído em 2008 pelos funcionários da Secretaria Municipal do Meio Ambiente com apoio do Instituto Paranaense dos Cegos. A área de 2.381 metros quadrados trabalha uma educação ambiental a partir de um contato com mais de 70 espécies nativas, aromáticas e medicinais apenas pelo tato, olfato e audição. Diversos turistas relatam a experiência como única, a prova de que os demais sentidos constroem uma ligação e memórias afetivas pelas estratégias deste projeto.

Ainda nesse sentido, intimamente, pode-se recordar de gerações passadas como as dos avós, que valorizavam o soar de pássaros, o contato com a terra, o calor do sol em sua pele, o balançar de uma cadeira, o vento que refresca, o chá feito das folhas das plantas do quintal. Vivacidade não é impositiva, ela pode ser estimulada e não deve ser segregada de múltiplas sensações. A conexão com o mundo não se dá apenas pela visão, a memória é impressa pela associação dos sentidos, do afeto, onde mente e corpo vivenciam o espaço.

No reencontro com as memórias — de afeto ou desafeto — principalmente na cidade, observa-se alguns exemplos de tipologia e programa que são as praças. Ao frequentar praças ou parques, principalmente em cidades adensadas, com déficit habitacional, sentidos como o olfato podem ser ofuscados por complicações sanitárias em banheiros públicos. Além disso, a sensação de aversão poderá surgir ao ver bancos que impedem a permanência de moradores de rua, mas também a sensação de confiança, pois,

30 figura 15. Exemplo de um Jardim Sensorial, localizado em Curitiba – PR (fonte: Maurilio Cheli/SMCS)

figura 16. Banco de praça que impede a permanência de moradores de rua (fonte: Eduardo Souza e Matheus Pereira. "Arquitetura hostil: A cidade é para todos?" 08 Fev 2018. ArchDaily Brasil.)


frequentemente, há nesses espaços um posto policial para proteger a população. A questão é: proteger do quê?

Outro exercício prático para aproximar a leitura à vivência individual é a experiência de andar à noite pela casa. Mesmo sem enxergar plenamente com as luzes apagadas, é possível ter — ainda que com pouca precisão — noção da espacialidade que está em volta, percorrer os corredores e chegar até outro ambiente. Isso nada mais é do que a combinação dos sentidos e da memória afetiva do local.

Portanto, como revisão de conceito, vale colocar o que se entende por memória. De modo individual e significativo, a memória, do ponto de vista biológico e psicológico, é a capacidade de armazenamento de informações, resultado do sistema dinâmico de organização reconstituinte com o propósito de embasar a inteligência para recordar ou esquecer (LE GOFF, 1924). Leroi

Gourhan (1911-1986) considera que ela pode ser dividida entre memória étnica, específica e artificial, mas também memória individual e coletiva. Maurício de Almeida Abreu (1996, p. 7, apud POULET, 1992) comenta: “graças à memória, o tempo não está perdido, e, se não está perdido, também o espaço não está. Ao lado do tempo reencontrado, está o espaço reencontrado”.

No contexto de linguagem dos sentidos e arquitetura, vale ressaltar algumas contribuições importantes para este tema. Marcus Vitruvius Pollio (81 a.C. – 15 a.C.), nascido na República Romana, entre o império de Júlio César e Otávio Augusto, foi um arquiteto, escritor, tratadista romano, responsável pela obra “De Architectura” — que compreende 10 livros da arquitetura, dos quais representam uma ordem canônica e projetual. Seus escritos foram publicados e difundidos principalmente no século XVI, influenciando ideais

31 figura 17. Gravura de Vitrúvios (fonte: Jacopo Bernardi, Vincenzo Raggio, Zeichne - 1823/1847

figura 18. Piranesi Giovanni Battista-engraving Arch of Septimus Severus- 1750 (fonte: wikiart.org)


da Renascença, observados, por exemplo, na obra “O Homem Vitruviano” de Da Vinci. Sua tradução da arquitetura se divide entre três pilares, os quais são postos aqui não para juízo crítico, mas de valor, como literatura e base para estratégias projetuais que influenciaram a criação de obras e, portanto, estreitaram a criação por seguirem códigos de uma Antiguidade Clássica, Helenística e Romana.

Para Vitrúvio, a arquitetura deveria servir a Firmitas, Utilitas e Venustas. Firmitas podem ser compreendidas por solidez, estabilidade estrutural, tecnologia; argumentam sobre como um edifício se sustenta, uma boa fundação, uso de pilares, arcos, vigas, abóbadas, geodésicas e malhas estruturais. Utilitas evidenciam a funcionalidade, organização espacial, a condição dos espaços e seu valor funcional, mas também simbólico; devem atender a requisitos físicos e psicológicos. Por fim, as Venustas, que significam beleza, proporção, harmonia, simetria, regras de composição; servem de

corpo às utilitas.

A arquitetura se vale de princípios assim como os de Vitruvius, este trabalho não tem a pretensão de demarcar estratégias opostas ao autor, pois o mesmo contribui para a linha de pensamento desta pesquisa quando diz que “em Arquitetura devem ser considerados dois pontos: aquilo que é significado e aquilo que significa”.

Deve-se discutir que tais princípios podem ser acrescentados à análise sobre o contexto construído, aquilo que tem significância e o que significa, a mensagem, para que assim se faça uma melhor interpretação sobre o espaço juntamente com os sentidos e evitar o que diz Bernard Tschumi (1995, p. 175): “o estreitamento da arquitetura como forma e de conhecimento a uma arquitetura de mero conhecimento da forma...”. Nesse sentido, ainda serão colocados outros pontos para análise e produção do corpo construído, mas como dito, no intuito de

32 figura 20. Piranesi Giovanni Battista. Carceri-03-8036 (fonte: wikiart.org)

figura 21. Piranesi Giovanni Battista. carceri-05-8040 (fonte: wikiart.org)

figura 19. Piranesi Giovanni Battista. carceri-02-8035 (fonte: wikiart.org)

figura 22. Piranesi Giovanni Battista. carceri-02-8034 (fonte: wikiart.org)


agregar ao crítica do espaço, para que se possa propor ideias ou projetos de valor, pois neutralidade não é se opor à forma-função. No contexto de interpretações e respostas, Giovanni Battista Piranesi (1720-1778) foi um importante arquiteto e gravurista veneziano, seu trabalho vem de uma formação da cenografia, contando com gravuras/desenhos de estilo livre e impetuoso, usando também a técnica do chiaroscuro, com estética sublime, onde ressalta tensão entre razão e sensibilidade. Entre algumas séries de seus trabalhos, representa a Antiguidade Romana, desenhos dramáticos, ressaltando a monumentalidade das ruínas misturadas ao novo. Analistas entendem seu trabalho como uma junção de tempo e espaço. O contexto é do fim do mundo renascentista e humanista, início da Idade das Massas, do Moderno, onde surgiram movimentos como a Primeira Revolução Industrial (1760-1840) e a Revolução Francesa (1789-1799). Aqui o autor tem o devido espaço não só quanto à importância de suas obras, mas para passar ao leitor a relação de sentido e poder a partir de suas gravuras.

Na série Le Carceri D’invenzione, o artista traz o significado de prisões fantasiosas, ele representa uma inquietação por meio das perspectivas e estruturas espaciais que ora aparecem e se escondem, formando um labirinto, onde proporciona sentimentos como angústia, tensão e opressão. Ele é importante aqui, pois não cria um ponto fixo e central e passa — a partir da imagem — esses sentimentos, de forma até desconfortante, mas também instigante. Cabe pensar que o autor produziu obras artísticas e, a partir de seu entendimento e sensações internas, produziu gravuras contrastantes, onde particularmente captura luz e volume. É essa sensibilidade, enquanto gravuras e depois como entendimento para arquitetura, que se propõe a existir como questionamento

existencial e passagem de sentimentos. Como já dito, o ambiente construído serve de palco para as experiências, construção da memórias, tensão, angústia, opressão, mas de forma sensível, percebida a quem se propõe sentir.

Ainda assim, se aproximando de uma linguagem arquitetônica, o Modernismo iniciado em 1920, liderado por Mies Van Der Rohe, Frank Lloyd e Le Corbusier, que chega significativamente na Semana de Arte Moderna em 1922, segue uma série de características arquitetônicas, além da funcionalidade, com vãos livres, integração de espaços, materialidades como aço, vidro e concreto armado. O movimento teve suas contribuições, não cabe aqui reduzi-lo para justificar outras estratégias que caíram na mesmice, mas sim de pontuá-lo como um essencial e que deve ser ultrapassado. Além disso, o movimento também foi uma resposta à industrialização de problemas do pós-Guerra Mundial, entre 1914 e 1918. Deve-se ressaltar que cada período teve a própria linguagem, validação e a própria mensagem.

A máxima de Le Corbusier: ‘‘a arquitetura é o jogo sábio, correto e magnífico dos volumes dispostos sob luz”, em conjunto com seus cinco pontos para uma arquitetura ideal: fachada livre, janelas em fita, pilotis, terraço jardim, planta livre, produção em larga escala nas habitações. Deve-se considerar, então, qual partido refletiria em essência os sentidos e a sensação de poder. A resposta mais intuitiva seria de dois elementos com pesos diferentes, um caminho com bifurcação, um edifício maior e outro menor, ou até mesmo o uso de cores contrastantes. Mas como mencionado até agora, não se trata disso. Poder é potência e força canalizada, para o partido de projeto, recursos e forças não impositivas dão espaço às sensações.

33


VI. AMARRAS FORMAIS: TIPOLOGIAS E MODELOS

Este capítulo começa falando sobre a cidade. Ela é construída e formada a partir de desenhos de malhas urbanas, equipamentos e composição de edifícios, estes possuem suas características, que são consequências de relações da história da sociedade daquele contexto, principalmente pela maneira como se deram decisões políticas e culturais, arbitrárias ou espontâneas.

Ao estudar sobre a maneira que a cidade é moldada, entendendoa como o território onde a sociedade coabita, é possível observar que ela possui suas particularidades, dependendo das próprias demandas e interesses, vistos desde o Período Paleolítico — com as primeiras formas de habitar — até os dias atuais, onde já se pensa na habitação em colônias espaciais. No território construído, o resultado é como um cenário ou uma pintura repleta de significados, desenhos, traços, ritmos, repetições, sentimentos. Portanto, a cidade se torna representada em uma linguagem. Nessa representação, surge o questionamento do que ela é composta, aparecendo os conceitos de tipologia e um modelo.

34

Norteado principalmente pelas inquietações e influência do artigo de Lebbeus Woods “Espaço Livre e a Tirania dos Tipos”, se indaga sobre o que é uma tipologia, um modelo ou uma linguagem, e se ao observá-los, há a possibilidade de entender seu surgimento sob a ótica de poder.


Como exemplificado no primeiro capítulo deste trabalho, sem demora, já é possível assumir que há traços, sinais dessas tipologias que funcionam como ferramenta do poder, percebidos agressivamente ou mesmo de forma sutil.

Sendo uma ferramenta, se o objetivo for, por exemplo, segregar, cortar relações, o agente de poder escolhe uma tipologia ou modelo que irá distanciar os espaços de encontro. Da mesma maneira, para integrar, irá aproximar ou potencializar espaços de maior contato e convívio. Essa analogia é intuitiva, mas como dito, há formas menos expostas e sutis que os agentes usam as ferramentas de poder.

Porém, na prática, principalmente tratando sobre Arquitetura e Urbanismo, um exemplo do qual fica claro de que maneira uma tipologia habitacional foi usada como ferramenta de poder, no objetivo de “resolver” o déficit habitacional — tanto em território estrangeiro quanto nacional —, foram as políticas de conjuntos habitacionais.

Arquitetura e Urbanismo que ele pode abranger duas unidades essenciais: o espaço compreendido pelo seu arranjo ou organização; o espaço estético como forma artística deste arranjo. Assumindo essa perspectiva de Netto, as tipologias e modelos implementam, em pesos diferentes, uma performance organizacional e artística.

"O meio ambiente construido, como a linguagem, tem o poder de definir e aperfeiçoar a sensibilidade. Pode aguçar e ampliar a conciê ncia. Sem a arquitetura, os sentimetnos sobre o espaço permanecem difusoos e fugazes"(TUAN, pg. 119, 2013)"

O programa “Minha Casa, Minha Vida”, que foi fundado em 2009 pelo Governo Federal, mesmo tendo os agentes protagonistas nos estados e seus subprogramas, é um modelo replicado do governo ditatorial de Augusto Pinochet (1915-2006) no Chile, no qual criou o programa “Corporación de la Vivienda” em 1953 (ROKNIKI, 2016, DISCURSO TV BOITEMPO). Este trabalho não irá se aprofundar especificamente em uma tipologia habitacional, comercial ou institucional, mas sim mostrar que, conceitualmente, dentro de todo o cenário, existem pontos que em determinada análise devem ser levados em consideração, se há protagonistas do surgimento de modelos e tipologias, se são herdados e se eles acabam estruturando amarras formais no espaço. A respeito desse cenário, Coelho Netto (1997) comenta sobre o espaço em seu trabalho sobre a formação e a linguagem da

35 figura 23. Redes de ruas de todas as cidades (fonte: archidaily, Under License CC BY 4.0)


“Em razão das peculiaridades de sua etimologia e da história de seu uso, a palavra tipo prestava-se especialmente bem para indicar tanto as formas e belezas ideais, como as categorias classificatórias dos edifícios e suas qualidades expressivas. A palavra Tipo também é estudada nas análises da teologia na problemática do que é ideal, formal e verdadeiro “ (PEREIRA, R. B, 2009).

Também vale lembrar que há diversas atribuições dadas a essa linguagem performática da Arquitetura e Urbanismo, seja de Vitrúvios, de Le Corbusier, entre outros arquitetos, que podem resultar em paisagens reduzidas a meras conformidades.

Continuando, o conceito de tipo foi objeto de estudo de filósofos, teólogos e arquitetos desde o século XVIII, dentre eles é possível citar, a priori, os trabalhos de Antoine-Chrysostome Quatremère de Quincy (1755-1849) — que se dedicou ao assunto principalmente na França — e de Giulio Carlo Argan (1909-1992), historiador italiano. O espaço dado para a citação desses estudos é importante para o leitor que quer se aprofundar no assunto do objeto “tipo”, seu surgimento e distinção de outros autores. Contudo, este trabalho se estenderá a um caráter introdutório, a identificar o que é um tipo, afinal. A distinção entre modelo e tipo é que o modelo é algo concebido como perfeito e que deva ser, uma vez aceito como tal, replicado e imitado. O tipo é a base ideal retirada a partir de um conjunto de entidades, edifícios, linguagens, elementos, dos quais se abstrai uma configuração formal, de estrutura e ornamentos.

36

Estas plantas feitas a partir do estudo de Yi-FU Tuan mostram a composição das casas em seus espaços interiores com o pátio. Mostrando que esse TIPO ultrapassa os tempos da história e a cultura.

figura 24. Tipologia de casas em tempos e culturas diferentes(fonte: imagem modificada pelo autor a partir da figura 122 do estudo de Yi Fu Tuan)

Portanto, é a fusão de referências e se deduz como uma ilustração daquela tipologia. O tipo não tem por obrigatoriedade se limitar a abrigar uma função, ele também pode transparecer uma simbologia (ARGAN, 2006).

Nessa conjuntura, compete reiterar que não se faz o juízo de julgar sobre o uso do tipo como metodologia para produzir trabalhos, se é bom ou ruim, mas conscientemente ou inconscientemente, ele faz parte do processo do pensar humano, e para aqueles que querem se desprender de amarras formais,


deve se ter um olhar atento e cauteloso, principalmente enquanto profissional arquiteto e urbanista. Pode-se assumir, dentro desse processo, questionar as influências da idealização de um tipo ou modelo, naturalmente, não tão cedo as respostas completarão as perguntas. Para exemplificar como essas relações viriam a se tornar tipos e modelos, principalmente em culturas e contextos diferentes, podese colocar aqui algumas “formas” arquitetônicas ou linguagens que fazem parte da história.

A arquitetura religiosa, que pode ser observada na antiga Mesopotâmia e nos egípcios; a arquitetura nórdica, em que uma organização espacial nas casas (das quais hoje são ruínas) se deu diferente devido às condições climáticas, mas também por conta das tipologias portuárias pela geografia de costa dos países e a necessidade de explorar; a arquitetura militar, que se propôs a organizar o espaço para ter melhor controle da cidade, exercer o seu poder, mas que também criou as primeiras programações nas unidades de pronto socorro durante a Primeira Guerra Mundial; a arquitetura do regime nazista, um exmplo sobre a imposição no espaço, criando os bairros judeus e os campos de concentração, que nada mais significaram que o surgimento de uma tipologia dentro daquele contexto, daquela “demanda”; a arquitetura experimental, que se propõe a trabalhar fora da rigidez dessas linguagens e explora o campo ampliado. As informações extraídas do olhar tipificado excluem as particularidades, encontrando semelhanças que se tornam uma linguagem e fazem a mensagem que ele se propõe a passar ficar mais clara, o seu significado ou seu símbolo. Assim, é construído o mundo.

O cenário é resultado dessas ordens, modelos, tipos, dos quais as pessoas percorrem os olhos e abstraem uma imagem, e na maioria

das vezes, acaba ali mesmo, suas concepções pouco se preocupam a propor experiências, apenas abstraindo o que é visto.

Desse modo, um possível ponto de partida para explorar o campo ampliado é se desfazer de amarras dos modelos e discutir as ideias durante todo o processo de concepção. Por que aquela ideia foi criada? Para quem ela funciona? Ela se assemelha a quantas outras? Cria-se uma série de perguntas não só projetuais, mas em um olhar sob o interior do criador. E talvez, o trabalho não só do arquiteto e urbanista, eventualmente, seja a tentativa de se criar anti-tipos de projetos. O anti-tipo exterioriza-se pela não semelhança, fuga de nítidas imagens, uma revolta, a não formalidade e o espaço para múltiplas interpretações e experiências, podendo ser uma ferramenta de liberdade.

37


38


VII. PISCOLOGIA AMBIENTAL

A Psicologia Ambiental é uma disciplina recente, principalmente no Brasil, que pode ser vista como um laboratório da psicologia. Surgiu na década de 1970 nos Estados Unidos e, posteriormente, na Europa, em 1980. Ela coloca o indivíduo e o ambiente como estudo central, enfatizando a importância da conexão do homem com o seu contexto, relações com o exterior e o interior, o físico e o social.

Uma possível vertente que deu origem à Psicologia Ambiental foi a arquitetura na Inglaterra e nos países nórdicos. Essa disciplina estuda a influência do ambiente sobre o inconsciente e consciente das decisões, sensações e interpretações. No estudo das especificidades do ambiente, pode-se analisar e estabelecer possíveis condutas do indivíduo ou mesmo bloqueá-las (MOSER, 1998). A disciplina de Psicologia Ambiental, no estudo do lugar e espaço, recebe uma multidisciplinaridade da categoria mãe (psicologia) e outras ciências, algumas delas são: Arquitetura e Planejamento, Geografia e Ciências Naturais, Psicologia Organizacional, Social, Educacional, Hospitalar e Social.

Os estudos sobre Psicologia Ambiental apontam palavras e conceitos fundamentais. Dentre eles, é possível citar: espaço construído e natural; tempo; estresse; satisfação; conforto; recursos; dimensão temporal; ambiental.

39


Ainda nesse sentido, para compreensão dos fenômenos psicossociais, criam-se conceitos e metodologias, alguns destes são: behavior settings, cognição ambiental, mapeamento mental, história residencial e identidade ambiental. É importante destacar aqui alguns autores que percorrem o estudo do lugar e que contribuíram no avanço dessa disciplina para um possível aprofundamento no assunto, dentre eles, pode-se colocar Kurt Lewin, Roger G. Barker, Levin Lynch, Robert Sommer, Terence Lee e Gleice Elali. Importante conceito que foi criado por Barker, o behavior settings, segundo o autor, é a unidade ou conjunto natural na vida diária, limitado concretamente no tempo e no espaço, nos quais certos modelos de comportamento ou ação do indivíduo, em um meio específico, acontecem de modo semelhante. Ainda nesse sentido, ele coloca que esses “padrões estáveis de comportamento” são determinados como “Starding Pattern of Behavior” (CARNEIRO, 1997, apud BARKER, 1968). Seus primeiros estudos sobre essa observação partiram primeiramente em crianças, seus comportamentos e decisões, posteriormente compreendidos nos indivíduos como um todo. Isso porque o autor comenta que os indivíduos do behavior settings formam a própria comunidade dentro de um mesmo padrão estável de comportamento em um meio, ou seja, o comportamento frequente em um contexto sócio-físico correspondente (ou sinomorfia comportamental milieu, conceito puro que Baker aborda).

40

Cabe ressaltar que, por vezes, a objetividade nessa linha de raciocínio virá a ser transitória a depender do caso (situação) ante múltiplas interpretações de relações e emoções, uma vez que dentro da análise do ambiente existe uma conformidade e não uma uniformidade.

Segundo José Q. Pinheiro (1997), ao tratar da composição e abrangência da Psicologia Ambiental, tanto a Psicologia da Percepção, que define o ambiente principalmente em termos físicos e perceptuais, quanto a Psicologia Social, que caracteriza um ponto de vista molar (onde se analisa as fases como um todo), complementam a ascensão da Psicologia Ambiental.

Há também o aspecto de interdependência, ao mesmo tempo que o homem é incitado a estímulos ambientais, o indivíduo assume papel na transformação do ambiente, que por consequência, a partir de um ciclo temporal, irá determinar ações de outras pessoas — esse traço deixado no caminho é o poder do comportamento e a sua influência na produção do espaço —, um exemplo negativo de traço compartilhado no comportamento das pessoas é a formação recorrente de entulhos em terrenos baldios ou áreas “vazias”. Diante dessa ocasião, pode-se colocar possíveis situações para analisar essa fase de relações ambientais-indivíduo na formação de um espaço habitado. A começar por uma concepção natural, formada a partir da relação espacial onde uma pessoa que, ao caminhar com frequência em um ambiente natural/ambiente intocado pela ação do homem, cria uma trilha onde outros, ao passarem por este espaço, vão majoritariamente escolher percorrer o mesmo caminho sem ter a mesma afeição (ou até não ter alguma) que o primeiro indivíduo.

No sentido do meio ambiente, a Psicologia Ambiental estuda uma possível influência do comportamento ecológico, que mesmo efetivo, em curto tempo, coloca decisões sustentáveis no manejo de recursos pelos indivíduos. Alguns deles, por exemplo, sendo o descarte correto de lixo, aproveitamento da água, respeito ambiental, preservação do patrimônio, entre outros.

Ao passo que pessoas se sentem desconfortáveis em percorrer espaços apertados (como vielas), lugares que facilitem o surgimento


de doenças mentais ou físicas. Poderia se imaginar uma prisão, seja ela qual for, que pode até ser o próprio local de trabalho ou o quarto. Ambos podem ser prisões, mas totalmente diferentes.

As dimensões comportamentais envolvem como se é percebida e dada as experiências do sujeito, das características do espaço e seus impulsos. Aquino e Oliveira Martins, em seu artigo "Ócio, lazer e tempo livre na sociedade do consumo e do trabalho", tratam de um Fenômeno que possibilita o desprendimento e aproximação do homem com o campo existencial, da autodescoberta, da livre percepção é comentado pela Psicologia como a Dimensão do Ócio. O Ócio como fenômeno psicossocial abrange mais do que o estado de "não estar fazendo nada" ou da ausência de alguma atividade — como o trabalho —, sua preocupação diz sobre o estado de fascínio das coisas, o envolvimento além da realidade observada, esvaziamento da mente, renovação de energia, o vagar pelo espaço, sem estar influenciado a algum comportamento, livre de preocupações passadas ou futuras.

figura 25. Gueto Judeu em Varsóvia, Polônia, Holocausto (fonte: Fotografia por Cusian, Albert 1941)

A citação desta teoria do ócio, assim como o estado do ócio, é motivada pelo objetivo de maior liberdade de percepção. O protagonista do òcio é o próprio Sujeito, não está na atividade, e sim na experiência, como acontece nas Errâncias Urbanas. Embora este estado se dê em períodos curtos, pois o fascínio e o encantamento das coisas está na descoberta e na alegria. O ambiente se torna fruto de escolhas, intenções, preferências, nas diversas dimensões temporais e de espaço. A Psicologia Ambiental, como já dito, leva em conta e serve como ferramenta para entender o vínculo das pessoas com o ambiente, tanto o construído quanto o natural. Esse vínculo pode ser afetivo, pacífico ou opressor.

41 figura 26. Phenomenal: California Light, Space, Surface.(fonte: fotografia por Doug Gates / Archidaily)


VIII. APREENSÃO DA PAISAGEM

Atualmente, a reflexão sobre o entendimento do que é paisagem se faz objeto de estudo dos mais diversos campos do conhecimento, a disciplina da arte e do discurso ecológico. Nesse cenário, surge a corrente que trata desde a necessidade da criação do termo em contextos culturais diferentes de civilizações passadas, das etimologias, das ciências que procuram compreendê-lo e caracterizá-lo, até a sua expressão em movimentos históricos políticos, culturais e artísticos.

Isso porque propõe-se a entender a paisagem além de um mero recorte de território ocupado, uma região de espaços naturais, parcela de terra, mas derivada também da relação de observação e consciência do homem, o que pode ser acompanhado por etimologias e culturas que a indicam como sendo uma aldeia natal, lugar de origem familiar, com animais selvagens, jardins ou conjunto de montanhas. Segundo Adriana Veríssimo Serrão, em seu artigo “A paisagem como problema da filosofia” (2011), o termo se divide na época pré e pós-Europa. O conceito foi introduzido no século XV como elemento da pintura nos tópicos do Renascimento, como uma imagem metafórica da perspectiva do mundo. Ela continua apresentando autores como Georg Simmel (1858-1918) no aprofundamento sobre a paisagem, que será abordada neste trabalho, e também indaga se deve-se perguntar sobre a formação da paisagem na consciência humana. Contudo, Liz Abad Maximiano (2004), geógrafo da Universidade do Paraná, comenta que as primeiras evidências sobre o entendimento da paisagem na consciência humana já podem se identificar nas pinturas rupestres da Europa, datadas a.C., apontando os povos da Mesopotâmia ao apresentar elementos da paisagem para aproveitar as cheias dos rios e também na segurança da cidade, dentre outras civilizações. O termo “paisagem” pode-se aplicar em dois principais campos: no entendimento de ser coisa existente, material, classificada; no sentido de algo representativo (imagem, espiritual, figurado).

42

O primeiro é de exame de ciência exata, está na cartografia, geografia, história, caracterizando elementos naturais e sua formação como unidade ou conjunto em zonas de climas, topográficas, geológicas, culturais, entre outras organizações.


Já o segundo é investigado pela filosofia, literatura e campo artístico na compreensão enquanto plasticidade, estética, espiritualidade e contemplação. Inicialmente, a paisagem fazia parte do Romantismo literário, anunciada nas prosas, canções, poesias e pinturas. Com o passar do tempo, nota-se que o homem não a encontra somente como observação, ele faz parte dela, a compõe e passa a ter um olhar ecológico.

figura 27. Cretto di Burr - Alberto Burri (fonte:Wikimedia Commons / MurissaFrancesciosa)

Para o geógrafo Georges Bertrand, a paisagem é um conceito que determina uma porção do espaço, resultado de uma combinação dinâmica, porém instável, que é composta por elementos físicos, biológicos e antrópicos que se relacionam entre si, resultando em uma paisagem indissociável e atemporal.

Segundo Simmel, a “paisagem” não corresponde a si mesma, a um objeto perceptivo delimitado, uma porção de terra, trata-se de uma forma de aprender as coisas naturais, é um momento e experiência que, enquanto forma, reside no espírito e não nas coisas, não é dado em si, mas implica para si.

figura 28. Casa de Chá Boa Nova / Álvaro Siza (fonte: Fotógrafo João Morgado)

Ainda nesse sentido, relacionado ao conceito também está o debate do que é a natureza, a qual Joachim Ritter (1963) discorre que pode ser dividida em duas: natureza científica, que entende as leis universais que a regem como constantes mensuráveis e o comportamento dos fenômenos;

43


natureza atraente, que está no campo da estética, sensível e qualitativa.

Para esta pesquisa, entende-se que uma abordagem da natureza ou paisagem em uma perspectiva do belo e o estético se faz apropriada em outra linha de frente que não a deste projeto.

Apesar de estarem na mesma temática, o aprofundamento da relação do homem na experiência da paisagem e sua interiorização se alcança pela totalidade dos sentidos, não dependendo do ótico, opondo-se à priorização do mesmo. Também é pertinente relacionar a perspectiva do estético e do belo em um caráter preferencial e a uma questão higienista, que alterou as paisagens na busca pela limpeza do horizonte aos olhos com justificativa de insalubridade, busca na simetria e ordem.

Ainda assim, este trabalho sobre Arquitetura e Urbanismo não tem inclinação a uma visão tecnocrata, onde não se vê a utilidade estética para o espaço, muito pelo contrário, vê que há outras questões que antecedem a organização do belo. Provém assumir a paisagem como palco para a Arquitetura e Urbanismo como uma expressão, se não artística.

pois arranca o sujeito dos limites e tormentos do eu (COLLOT, 2013, p. 89).

“A questão da paisagem, se compreendida em todo o seu alcance, não pode ser limitada ao simples problema da identidade estética dos lugares, sob pena de ficar privada de instrumentos para compreender os motivos pelos quais a paisagem se encontra hoje em perigo. Podemos todavia encarar a questão de forma prospectiva, evitando o entrave de uma obsoleta e estéril contraposição entre ‘conservadores’ e ‘progressistas’, entre ‘provinciais’ e ‘metropolitanos’, entre ‘românticos’ e ‘modernistas’” (BONESIO, 2013, p. 451).

Em um contexto geral, no momento, coloca-se que a paisagem é um conceito e método da associação humana resultante da relação material e social na espessura do horizonte tanto nas ciências exatas e humanas quanto na soma de elementos naturais e antropomórficos em um recorte territorial, porém é efêmera à proximidade, é única, com forma e sujeita à ação do tempo, ela é configurada, desfigurada, em constante metamorfose.

Orientado pela experiência multissensorial, questionamento de limites, o estético ou belo poderia vir a ser resultado das ações do poder político, cultural e artístico, portanto, a posteriori destas relações e interpretação, resultaria um contexto não pacífico e amarrado. Para essa frente, entende-se que o indivíduo deve transcender esses limites, necessita do imaginário, do sublime, acasos, surpresas, metamorfose, emocional e sensibilidade. 44

A paisagem é o lugar de uma troca em duplo sentido entre o eu que se objetiva e o mundo que se interioriza. A intensa emoção nascida desta troca é, paradoxalmente, uma fonte de tranquilidade,

figura 29. Pintura - View of nuremberg de 1497 - Albert durer (fonte: pt.wikipedia.org)


Atualmente, talvez tenha-se perdido esse contato, nas perspectivas políticas, culturais e artísticas, ora pelo resultado dos momentos decorrentes, dos quais o agravamento de conflitos de governos, o avanço da industrialização e revolução científica são um exemplo, ora pelo distanciamento social exposto pelo Coronavírus. Este trabalho tem como título Paisagens Veladas. A Palavra Velada significa coberta com véu, algo oculto, encoberto e escondido, este algo, a priori intangível, não está claro, seja à interpretação, aos olhos, tato, olfato, paladar ou audição e implicada por si ou por outrem.

O poder, disposto de potência (recursos) e de uma força atuante, dialoga com esse conceito de velar. Essa amarra pode ser rompida no desejo de pertencer, depende da paisagem e sensibilidade

para a liberdade. Desse modo, o termo Paisagens Veladas está em não serem percebidas, encobertas pela desconexão dos sentidos do que está à volta, renunciadas, tímidas a um breve olhar ou apenas pano de fundo, um céu encoberto, seja por nós mesmos ou intencionalmente veladas, camufladas.

Não só reduzido ao entendimento de que a paisagem seja uma unidade natural, orgânica e verde, mas também da qual as pessoas se conectam como fuga de um ambiente caótico urbano, de imposições, limites e entraves. A paisagem previamente imaginada e sentida de seu fim ao virar as costas, ao fechar os olhos novamente está encoberta, novamente está velada.

No âmbito entre experiência e paisagem, um dos movimentos ao tratar da união do homem à natureza pela criação artística se iniciou na década de 1960 e 1970 pela “Land Art”, primeiramente nos Estados Unidos e na Europa, em um período de contexto conturbado de insatisfação, de guerras (sobretudo a Guerra Fria de 1947 a 1997 e a do Vietnã de 1955 a 1975), assassinatos, indústria bélica, crise energética, corrida espacial, desperdício de recursos, poluição, onde surge um olhar ecológico sobre o planeta. Ainda nesse sentido, o movimento foi impulsionado pela crítica do consumismo, do capitalismo na mercantilização da arte nas galerias e museus.

figura 30. Michael Heizer, double negative 1969-1970, movimentação de 24 mil toneladas, criando uma fenda na natureza, resgata espiritualidade, meditação e contemplação (fonte: Google earth image)

Na Austrália da década de 70, o conceito e a prática da “permacultura” foram criados pelos ecologistas australianos Bill Mollison e David Holmgren, integrantes de um grupo de ativistas urbanos que agiam em terrenos baldios da cidade com bombardeios de granadas de sementes e adubos naturais, criando também seus “jardins libertários” com as experiências de produção de alimentos ao “plantar no asfalto” (VIVACQUA, 2009, p. 27).

45


Segundo Katia Canton, ao tratar sobre Espaço e Lugar (2009), a arte pode servir para provocar, instigar e estimular os sentidos humanos, ela tira as pessoas de uma ordem preestabelecida, possibilita modos de viver e organizar o mundo. A arte pede um olhar desaprendido, livre e curioso, mas repleto de verdade.

O conceito Land Art, traduzido do inglês, significa a “arte da terra”, relaciona e explora principalmente a natureza, território, utilização de recursos (terra, água, vegetação, madeira, minerais, tecido e outros), de estética e áreas abandonadas para o desenvolvimento das artes. Objetiva revelar o que já existe usando a paisagem como escultura.

com a sustentabilidade e construção de ecovilas.

No Brasil, esse movimento foi estreitado pelo regime militar na censura das manifestações e acompanhamento artístico até meados de 1984. Com o fim do regime e posteriormente pelas reformas políticas, sociais e econômicas, outros órgãos reguladores como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), pelas agendas de sustentabilidade, retomam o tema de paisagem e ecologia.

Desse modo, ela é autêntica, depende do lugar e do observador como também de sua interpretação, pois em sua essência ela possibilita múltiplas leituras, construída junto a natureza, predominantemente foge das áreas adensadas e se recolhe a um espaço de meditação e solidão.

Para Tufnell (2006), Land Art é “caracterizado por uma interação imediata e visceral com a paisagem, a natureza e o ambiente”, ou seja, são realizadas na paisagem, no aberto, não em estúdio ou galeria.

46

Land Art acompanha movimentos como Landscape Art, EarthWorks, Environment Art, Eco Art, Arte Conceitual, Arte Povera, Minimalismo. Importante destacar a exposição em Nova York de 1968, na Dwan Gallery, na difusão das Earth Art com diversas obras e artistas como Robert Smithson, Sol Lewit, Walter de Maria, Claes Oldenburg, Mike Heizer, Robert Morris e Dennis Oppenheim. Outro fator de sua disseminação na comunidade — mesmo que como conceito e não vivência nas obras, predominantemente de grande escala — foi pelo contato

figura 31. L’Arc de Triomphe, Wrapped - 2021. "Instalação de Christo no Arco do Triunfo em Paris é aberta ao público"(fonte: Cutieru, Andreea - Archdaily)


Nas leituras sobre o tema do que é Land Art, Nathalia Hatsue Sawada (2011) comenta que, “Um estudo sobre as origens da Land Art e seus desdobramentos”, leva em consideração que as características destrutivas, reverenciais, ritualísticas, construtivas, conceituais e efêmeras fazem parte dos trabalhos de Land Art ao manipular a paisagem e coloca parâmetros de enquadramento para que se possa identificar estas obras da seguinte maneira:

Relação com a paisagem: a obra depende da paisagem e interage com ela. A presença física dos trabalhos é um fator marcante.

Obras para ambiente externo: trabalhos feitos em ambientes internos podem até representar parte do trabalho externo, mas a essência do trabalho está na interação da obra com o meio externo.

Ainda nesse sentido, para complementar a identificação de enquadramento de Land Art, de acordo com os ingleses KASTNER e WALLIS, “Land and Environmental Art” (1998), c os trabalhos do movimento são classificados nas seguintes frentes: Integração: estas obras alteram o sítio existente, formando esculturas na paisagem a partir de desenhos e configurações manipuladas (adição, remoção, destruição, deslocamento, corte, aglomeração) pela materialidade local, demonstrando a oposição de natural e a intervenção humana. São predominantemente de escalas monumentais e extensas, performando como fenômeno Land Art ao longo da década de 1960, posteriormente se adequando às intenções líricas e políticas. (ibidem, pág. 47).

Presença do observador na obra: o observador precisa interagir com a obra. Percepção do observador: o espectador precisa consciência da obra e do entorno por meio dos sentidos.

tomar

Land Art original possui caráter contestador: além da relação com a paisagem e com o observador, a Land Art, em sua essência, possui a intenção de se manifestar com o sistema que considera errado. No caso, contra o capitalismo e o consumismo promovidos pelas galerias e museus. Reflexões da contracultura e do contexto histórico da época

figura 32. Spiral Jetty, Robert Smithson, 1970 (fonte: holtsmithsonfoundation.org)

47


Interrupção: esta categoria de Land Art trabalha na paisagem a junção das características do sítio com materiais e estruturas concebidas pelo artista em desenhos que se expandem na escala do território, variando movimentos, enquadramento, bifurcações, aproveitando a topografia, o horizonte para misturar estas estruturas. Algumas obras trabalham materiais diversos, desde tecido, asfalto, pedras, guarda-sol, entre outros, que interrompem a paisagem, não tendo um limite, questionando o que é ou não natural. Os artistas, em suas obras, também exploram críticas industriais e o desenvolvimento urbano (ibidem, pág. 74).

figura 33. The Running Fence - Califórnia, Estados Unidos (fonte:Archdaily)

Envolvimento: este trabalho se traduz pela própria palavra “envolvimento”, onde as obras conceituais são performáticas e efêmeras na escala humana e relacionam a experiência de modo simbólico, ritualístico e orgânico com o sítio, a terra e o indivíduo. Procurando traduzir o elo entre o homem e a terra, algumas obras desta categoria são performadas pelo próprio corpo do artista interagindo com o local, natural ou não natural, que marcam sua impressão sobre uma escultura da paisagem. Desse modo, podem ser até mesmo registros fotográficos, um passeio até se amontoar com barro. Mesmo sendo algo efêmero, visam transcender fronteiras de zonas de inclusão ou exclusão e viés político e ético (ibidem, pág. 116).

figura 35. Ana Mendieta - Metamorphosis (Fonte: Fotografia por Artists RIghts Society -ARS-, New York)

48 figura 34. Christo and jeanne claude - The umbrellas -(fonte: Fotografia por Wolfang Voltz)

figura 36. Richard Long, “A line in Scotland”, Cul Mor, 1981 (fonte: www.richardlong.org)


Implementação: a Land Art de implementação evoca questões do ecossistema da paisagem, realidades sociais, políticas, preservação e degradação. Os artistas trabalham no sítio explorando a natureza em paralelo com manipulações e acréscimo de estruturas para performar o homem com o meio ambiente. A partir destas obras, se discute a natureza como uma tela em branco de recurso infinito e passível de ser explorado, onde são criticados o desenvolvimento industrial de massa e a poluição. Dessa forma, reúnem na obra a escultura como uma prática para explorar e dar prazer, mas também preservar (ibidem, pág. 138).

figura 39. Patricia Johanson, Fair Park Laggon 1981-86 (fonte: patriciajohanson.com)

figura 37. Robert Morris Untitled Earthwork 1979 (fonte: spiralcage)

49 figura 38. Patricia Johanson, Fair Park Laggon 1981-86 (fonte: patriciajohanson.com)

figura 40. Patricia Johanson, Fair Park Laggon 1981-86 (fonte: patriciajohanson.com)


Imagem: a Land Art de imagem trabalha as obras de um modo diferente das demais, tanto em escala quanto em conceito. Ela tem como prerrogativa caráter de significados, significâncias e metáforas, assume um papel na ótica ou mesmo na linguística, pois explora tanto a paisagem natural, jardins ou mesmo frases, literatura e fotografia. Desse modo, os artistas usam os lugares e até mesmo seus nomes, construindo formas teóricas e de interpretação. Ao conceber estas artes, acrescentam ao ambiente símbolos e uma narrativa histórica, de modo que lembram os paisagistas formais do passado ao colocarem as esculturas e ornamentos iconográficos. O olhar sobre a paisagem será interrompido por elementos e questionamentos que surpreendem o observador, pois algumas obras trazem elementos dos quais a indústria de massa reproduziu na sociedade (ibidem, pág. 176).

50

A partir desses enquadramentos, o artista pode se basear para executar uma performance ou mesmo uma obra. Para esta pesquisa, se ressalta a Land Art de interrupção e de implementação, no sentido de tê-las como base para um possível projeto que envolve um ambiente com a inserção de elementos não naturais na paisagem (a construção), o enquadramento, além de direcionar o olhar com elementos que despertam os sentidos e que possam ter uma escala participante da cidade, assim como a atenção à ecologia — uma vez que a área de projeto (detalhada mais à frente) tem características críticas à expansão urbana e à preservação do meio ambiente. Portanto, a ideia é conceber um projeto também como escultura, com múltiplas interpretações, que tenha o processo de metamorfose e explore a paisagem e os sentidos humanos. figura 41. Little Sparta, domaine de Ian Hamilton Finlay 1925-2006 (fonte: Fotografia por Renaud Camus)


51


“ A Arquitetura está sempre relacionada ao poder e relacionada a grandes interesses, financeiros ou políticos” Bernard Tschumi.

“... arquitetura é a unica arte que você não pode deixar de sentir. Você pode evitar pinturas, pode evitar a música, você pode até mesmo evitar a história. Mas boa sorte se tentar escapar se tentar escapar da arquitetura” Philippe Daverio em Humans of New York

52


“Para mim, a primeira e primordial arquitetura é a geografia. O projeto ideal não existe, a cada projeto existe a oportunidade de realizar uma aproximação. Eu acho que a questão fundamental da arquitetura é resolver problemas. Portanto, se você quiser dizer assim, que qualidade a arquitetura deve ter – imprescindível – se tivesse que dizer uma só qualidade, eu acho que ela deve ser ‘oportuna’. Estamos em cima desse planetinha, girando perdidos no universo. Agora, ninguém discute mais isso.” Paulo Mendes da Rocha (1928-2021). 53


54


IX.

SÍTIO 55


X.

ANÁLISE URBANA

Para uma análise urbana introdutória é importante falarmos primeiramente da cidade de Campinas, ela é um município do interior de São Paulo que segundo o IBGE em 2020 a população foi estimada em 1.213.792 habitantes, sendo desse modo o terceiro município mais populoso do estado de São Paulo. A Região Metropolitana de Campinas é formada por vinte municípios Paulistas, num todo com aproximadamente mais de 3.000.000 de habitantes. Campinas foi fundada em 14 de Julho de 1774 e seu desenvolvimento se deu principalmente pela economia voltada ao café e a cana de açúcar, sendo que em 1930 essa atividade econômica industrial e comercial foi muito relevante para a cidade.

Nesse sentido, ao olhar para a cidade identificamos áreas passíveis de se estudar e agregar com pesquisa e proposta de projetos. A área de Recorte escolhida foi usada para análise na disciplina de Projeto Integrado, a qual o presente trabalho se referência, abrange uma área de aproximadamente 6,43km², com um total de 16 bairros, esta conta com características diversas tanto em tipologias, renda, hidrografia de córregos, morfologia urbana, topografia entre outros pontos que serão demonstrados ao longo deste capítulo.

56

figura 42. Localização de Campinas no estado de SP (fonte: colagem feita pelos autores)

Para contextualização e referência ao leitor no entendimento e também na abrangência urbana começamos por introduzir os nomes dos bairros: Jardim São Gabriel, Jd. do Vale, Vila Carminha, Jd. Cura d’Ars, Vila Santa Odila, Swift, Jd. Santa Eudóxia, Jardim Carlos Lourenço, Jd. Andorinhas, Jd. Itatiaia, Jd. Itayu, Jd. New York, Jd. São Pedro, Chácara São Domingos e Parque dos Cisnes.


figura 43. Localização da área de estudo de Projeto Integrado (fonte:Mapa produzido pelo autor)

57


A área de estudo localizada à leste da cidade, foi delimitada pelo grupo da disciplina de Projeto Integrado, visando maior diversidade dentre todos os campos econômicos e sociais. O recorte é de importância relevante devido a alguns aspectos, áreas de Ensino a Graduação, como a UNIP e a USF-Swift, como também ligação entre Campinas a Valinhos pela Rodovia Francisco Von Zuben e a Rodovia José Roberto Magalhães Teixeira.

Ainda assim, conta com uma Estação de tratamento de água pela Sanasa e também de esgoto. Além disso, de relevância pelos córregos de Samambaia e Proença como também, a própria linha férrea direcionada à Fepasa, de importância histórica.

figura 44. Macrozoneamento de Campinas (fonte: campinas.sp.gov.br)

figura 45. Recorte da área de estudo de Projeto Integrado (fonte: Mapa produido pelos autor)

Também na definição do recorte consideramos identificar ao analisar o Plano Diretor de Campinas Diretrizes de parques ecológicos e viárias dos quais conectam estes aspectos educacionais,

58


de infraestrutura e ambientais. Característica relevante no recorte é a linha férrea de Campinas, por formar um limite/barreira entre a região Norte e Sul da área de estudo, mas também vale observar que este contexto se performa desde 2005, com alguns pontos destinados à expansão imobiliária. O maior ponto de conflito é a invasão e instalação de moradias da população no córrego do Proença e por alguns trechos da linha

férrea, também a invasão a um conjunto de prédios embargados no bairro do Jardim Itayu. A região no geral é bem atendida em termos de infraestrutura, porém com problemáticas na pavimentação de ruas e calçadas, influindo na caminhabilidade e mobiliários principalmente devido à topografia.

Desse modo, nas imagens abaixo, o primeiro mapa à esquerda demonstra a área de recorte de Projeto Integrado demarcada

59 figura 46. Recorte da área de estudo do TFG (fonte: Mapa produido pelos autor)


pela linha vermelha, hidrografia em azul, linha férrea em amarelo cortando a região ao meio e as linhas viárias existentes em cinza.

HISTÓRICO DA REGIÃO

Em um olhar mais aproximado sobre áreas ociosas e visando escolher uma área de projeto para o TFG, foi identificado ao sul da região um terreno potencial dentro do tema de áreas planejadas e influenciadas pelo Poder que pudesse se integrar a abrangência urbana no estudo da disciplina mas também para a Cidade de Campinas e Valinhos.

No quesito de percepção não há muitos pontos atrativos, para a disciplina de Projeto Integrado tivemos visitas das quais observamos um panorama de uma vizinhança “comum” familiar predominantemente de baixa e média-baixa renda com casas simples de 1 à 2 pavimentos com comércios locais localizadas nas principais avenidas na parte Oeste do recorte e pela rua da a Abolição.

60

A área destacada em vermelho, é o terreno selecionado para o estudo e aplicação dessa pesquisa. Os Critérios usados para seleção desse recorte são: Área atual sem função social; importância de preservação ambiental; um nó urbano formado entre uma rodovia de alto fluxo e empreendimentos imobiliários; potencial de interligação entre os institutos de atendimento à idosos ao lado, como também entre os bairros Jardim Amazonas e o Jardim Anton von Zuben; Paisagem de integração com a Reserva Florestal Serra D’água e a Coudelaria do Exército ; possível espaço público que cultive o ócio da região e respiro da cidade.

figura 47. Linha do tempo histórica da região de estudo de Projeto Integrado (fonte: Produzido pelos autores)

Nesse sentido, ao colocar em tópicos alguns marcos importantes, também colocamos as áreas que tiveram consolidação ou degradação no histórico de mapas que obtivemos no periodo de 2005 a 2021 demarcando a evolução no desenho urbano, identificando se houve acressimo ou recuo da área urbana.


USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

MAPA DE 08-2005

MAPA DE 04-2021

figura 48. Recorte da área de estudo de PI 08/2005 (fonte: Imagem retirada pelo Google earth e editado pelo autor)

figura 49. Recorte da área de estudo de PI 04/2021 (fonte: Imagem retirada pelo Google earth e editado pelo autor)

61 figura 50. Mapa de Uso e Ocupação do Solo (fonte: produzida pelos autores)


LEGISLAÇÃO ZM2 ZM2 - Zona Mista 2 - Residencial de média densidade ( Uso residencial, misto e não-residencial de baixa e média incomodidade adequados a hierarquia viária). Coeficiente de Aproveitamento - Mínimo 0,5 e Máximo 2,0 (ou seja, permitida a área de construção total de no mínimo metade da área total do lote e no máximo do dobro da área total do lote). Usos na ZM2 (Zona Mista 2) HU, HMH, HMV, CSEI e HCSEI; Permeabilidade na ZM2 (Zona Mista 2) Para HU (Habitação unifamiliar)

ZC2 ZC2 - Zona de Centralidade 2 - Definida pelos eixos do DOT (Desenvolvimento Orientado pelo transporte) de média densidade habitacional com mescla de usos residencial, misto e não residencial de baixa, média e alta incomodidade. Coeficiente de Aproveitamento - Mínimo 0,5 e Máximo 2,0 (ou seja, permitida a área de construção total de no mínimo metade da área total do lote e no máximo do dobro da área total do lote.) Usos na ZC2 (zona de centralidade 2) HU, HMV, CSEI e HCSEI Tipologias de ocupação de acordo com a Lei de Uso e ocupação do solo: I - HU: habitação unifamiliar II - HM: habitação multifamiliar destinada a mais de uma habitação no lote, subdividindo-se em: a) HMH: habitação mutifamiliar horizontal, edificações residenciais isoladas ou geminadas;

62

b) HMV: habitação multifamiliar vertical; III - CSEI: destinada ao comércio, serviço, institucional ou industrial; IV - HCSEI: mista, destinada à habitação, comércio, serviço, institucional e/ou industrial.

Lotes menores que 500,00m² - 0,1

Lotes maiores que 500,00m³ - 0,2 Para demais usos (Misto) Lotes menores que 5.000,00m² - 0,1 Lotes maiores que 5.000,00m³ - 0,2 Recuos e Afastamento a) para lotes com área menor ou igual a 5.000,00m² na ZM1 e ZM2: 1,50m (quando houver aberturas para todas as divisas do lote, vias particulares de circulação e áreas comuns); b) para lotes com área maior que 5.000,00m² (cinco mil metros quadrados) na ZM1 e ZM2: 1. 1,50m (quando houver aberturas para todas as divisas do lote e áreas comuns); 2. 5,00m em relação a vias particulares frontais; 3. 2,00m em relação a vias particulares laterais; c) 6,00m frontalmente e 3,00m lateralmente entre agrupamentos de unidades habitacionais.

figura 51. Tabela com os dados de zoneamento da área de PI (fonte: produzida pelo autor)

figura 52. Mapa de Zoneamento da área de estudo de PI (fonte: produzida pelos autores)


GABARITO

MAPA DE DENSIDADE DEMOGRÁFICA

63 figura 54. Mapa de Gabarito (fonte: produzida pelos autores)

figura 53. Mapa de Debsudade Denigrafica (fonte: produzida pelos autores)


DADOS CENSITÁRIOS

MAPA DE RENDA DOMICILIAR

O mapa de renda domiciliar apresenta informações mapeadas por setor censitário referente à renda média domiciliar, das cores mais quentes para as mais frias. A distribuição demonstra: regiões sul e leste concentram-se grande parte da população de baixa renda. Ao norte encontra-se a população com renda mais elevada. As regiões com menor renda por domicilio há maior concentração de moradores e nas regiões de alta renda há uma incidência de menor número de moradores, exceto na região próximo a universidade UNIP, onde há uma grande concentração de pessoas com maior renda. Nesse mesmo Sentido, colocamos nesta região também a razão de sexo, faixa etária e tempo de deslocamento médio (baseado no centro do mapa) até o centro de campinas

64 figura 55. Infográficos sobre dados censitários da área de estudo de PI (fonte: produzida pelos autores)

figura 56. Mapa de Renda Familiar (fonte: produzida pelos autores)


MAPA HIPSOMÉTRICO

MAPA DE HIERARQUIA VIÁRIA E SENTIDO DAS VIAS PRINCIPAIS

65 figura 57. Mapa Hipsométrico (fonte: produzida pelos autores)

figura 58. Mapa de Infraestrutura (fonte: produzida pelos autores)


MAPA DE NIVEL DE ALFABETIZAÇÃO

MAPA DE PONTOS DE INTERESSE URBNAO

66 figura 59. Mapa de Nível de alfabetização (fonte: produzida pelos autores)

figura 60. Mapa de Interesses Urbanos (fonte: produzida pelos autores)


HIDROGRAFIA

VEGETAÇÃO

67 figura 61. Mapa de Hidrovia (fonte: produzida pelos autores)

figura 62. Mapa de Vegetação (fonte: produzida pelos autores)


PATRIMONIO

CHEIOS E VAZIOS

68 figura 63. Mapa de Patrimonio (fonte: produzida pelos autores)

figura 64. Mapa de Cheios e Vazios (fonte: produzida pelos autores)


LINHAS DE ÔNIBUS

INFRAESTRUTURA

69 figura 65. Mapa de Infraestrutura (fonte: produzida pelos autores)

figura 66. Mapa de Linha do Onibus (fonte: produzida pelos autores)


MAPA DE DIAGNÓSTICO

70 figura 67. Mapa de Diagnóstico (fonte: produzida pelos autores)


MAPA DE DIRETRIZ

71 figura 68. Mapa de Diretriz (fonte: produzida pelos autores)


MAPA COM PROPOSTA DE PROJETOS URBANOS

72 figura 69. Mapa de Diretriz (fonte: produzida pelos autores)


Concluímos esse capítulo com a contextualização do sítio urbano deste trabalho e dos mapas complementares apresentados, todo o conteúdo serve para que tanto o pesquisador como o leitor possa tirar informações (e muito possivelmente retornar a elas) que levam as diretrizes projetuais arquitetônicas e urbanas para a escala trabalhada na disciplina de Projeto Integrado, assim como para o Trabalho final de Graduação. Conseguimos enxergar eixos (no mapa à esquerda nas cores em rosa) que se conectam em basicamente 4 quadrantes, seja pelas vias ou pelo eixo verde de parques lineares. Devido a região estar ao perímetro de Campinas com Valinhos e também pela evolução morfológica orgânica principalmente pela topografia acentuada e o crescimento espontâneo pela população de baixa - média renda não há pontos patrimoniais (ainda) relevantes (além da linha férrea) e a ausência em infraestruturas de pavimentação de calçadas e ruas, também equipamentos públicos qualificados. Ainda nesse sentido, a presença de três áreas habitacionais de invasão e irregulares, algumas delas com risco por estar em áreas passíveis de alagamento e prédios embargados (que embora não tenha se encontrado um estudo da condição estrutural) corre o risco de desabar. Ainda nesse sentido em uma relação ambiental, a degradação (desde 2005) da mata ciliar dos córregos e sua fluidez atualmente comprometida ao desaparecimento.

Estes apontamentos nortearam esta pesquisa a procurar um projeto dentro do tema de Poder, Paisagem e Sentidos que pudesse agregar não só no campo da Arquitetura e Urbanismo como também no debate acadêmico e desprendimento do olhar velado sobre problemáticas da Cidade.

73 figura 70. Perspectiva e demarcação da área de estudo (fonte: imagem retirada do google earth e editada pelo autor)


XI.

JUSTIFICATIVA

O presente trabalho pretende transcender os temas mais corriqueiros enfrentados nas disciplinas de arquitetura e urbanismo, indo além de um projeto de uma mera edificação em que seu foco seria a relação forma-função, pretende iluminar as relações sociais e íntimas que ocorrem no contexto da cidade. Uma vez que somos responsáveis pelo ambiente em que vivemos, é necessário engajamento multidisciplinar para compreender o que nos cerca e evitar ser impositivamente legitimado, sendo fundamental uma visão mais crítica sobre o que significa e a significância das coisas. Nesse sentido, a investigação do tema se desenvolverá em torno da relação conflituosa entre os conceitos de conceitos de poder, sentidos, tipologia e funcionalização do espaço, aplicados

74

à Arquitetura e Urbanismo procurando entender os limites construídos impostos e os que no possibilitam ter uma experiência autônoma, proporcionada pelos sentidos humanos ao espaço.

Trata-se portanto de uma pesquisa teórico-prática orientada a uma formação do indivíduo e coletivo, sugerindo mais questionamentos do que respostas, pois desde o início de nossa formação acadêmica entendemos como base o entendimento sobre a produção do espaço, sobretudo a partir de programas estabelecidos, claro que estes têm o seu espaço e devido valor, e neste projeto não se interessa julgá los, mas excedê-los. Uma vez que novas formas de habitar são criadas pelas gerações, se faz a demanda é devida importância questionar como temas análogos desta pesquisa.


XII.

OBJETIVOS

GERAL Tem como objetivo geral o presente trabalho a reintegração do indivíduo com a paisagem a partir do desenvolvimento da arquitetura e urbanismo e disciplinas auxiliares em um espaço potencial na cidade de conexão com no desenho urbano e natural com as pessoas em uma área desprendida de funcionalização que seja palco do ócio e interiorização do indivíduo.

Ainda nesse sentido, uma possível introdução ao questionamento da manipulação do espaço pelos planejamentos, tipologias, influências e amarras no território a partir de poderes e funcionalização tendo como os sentidos e a observação da paisagem uma ferramenta capaz de observar estas dinâmicas veladas. Portanto uma nova proposta de projeto teórico prático no bairro Jardim Anton Von Zuben localizado a Sudeste de Campinas próximo a divisa com a cidade de Valinhos.

ESPECÍFICO • Contribuir na pesquisa do desdobramento da Arquitetura e Urbanismo e novos questionamentos a partir de uma ótica da desfuncionalização e tipificação do espaço • Desenvolvimento de um projeto de respiro em uma área de palco para os sentidos e paisagem a partir de uma complexo de praça e museu a céu aberto • Democratização e Preservação de uma área de amortecimento ambiental da Reserva Serra D’Água de Campinas

• Incutir debate sobre funcionalização do espaço e o poder resultante sobre ele • Um olhar às áreas singulares como a antiga Coudelaria de Campinas

75


76


XIII. ANÁLISE

DO LOTE 77


ANÁLISE DO TERRENO

Em direção a contextualização espacial da área destinada a percorrer o tema estudado do presente trabalho, no assunto de Poder, Sentidos e Paisagem, prosseguimos a localização do terreno que fica na cidade de Campinas (pertencente ao recorte apresentado anteriormente pela disciplina de Projeto Integrado) na Avenida Engenheiro Antônio Francisco de Paula Souza, acessado principalmente pela Rodovia Francisco Von zuben, o terreno tem ao todo uma área de 113 mil metros quadrados e um perímetro de 1.354 metros, a frente do terreno, na avenida Engenheiro Francisco, tem um total de 325 metros, a outra via de acesso que percorre o perímetro à sudeste do terreno (a rua a direita do perímetro demonstrado na imagem ao lado) é a Rua Sargento Luiz Moraes, com um total de 320 metros na lateral do terreno.

78

Em relação a topografia, o desnível total do terreno é de 50 metros, o ponto mais alto, próximo a avenida Engenheiro Antônio Eng. Paulo Souza, no nível de 780 metros, e a parte mais baixa, a sudoeste do terreno, na cota de 730 metros, ponto mais baixo.

figura 71. Perspectiva e demarcação da área de estudo (fonte: imagem retirada do google earth e editada pelo autor)


Ainda na caracterização do terreno, aspecto relevante que se encontra nele é a hidrografia, com duas nascentes do Córrego São Vicente pertencente ao Rio Capivari na Bacia Capivari (uma das 6 bacias existentes em Campinas). Importante também ressaltar no quesito ambiental que o terreno tem um total de 33 mil metros de vegetação arbórea de médio e alto porte, e outros 15 mil metros a arborização de pequeno porte. Toda esta região faz parte da área de amortização da Reserva Serra D’Água em Campinas, comentada mais à frente. Entende-se então que a priori se pretende considerar para o projeto uma área passível de construção de 40 mil metros, respeitando todos os recuos vigentes na legislação e a preservação do meio ambiente existente.

O terreno atualmente não é utilizado, pelo Zoneamento de Campinas este recorte se divide politicamente em dois terrenos. Até o presente momento os lotes não tem previamente um Plano de Manejo/Gestão, não se encontrou um planejamento prévio pela prefeitura para ele. Porém, pelos levantamentos mais detalhados a seguir, a área circundante faz parte do bairro planejado Panamby, o bairro também é chamado de Jardim das Cerejeiras. Nesse sentido o empreendimento no geral vem se desenvolvendo rapidamente (embora pela pandemia a construção do empreendimento

79 figura 72. Perspectiva e demarcação da área de estudo (fonte: imagem retirada do google earth e editada pelo autor)


se deu de modo desacelerado), este bairro faz parte de um planejamento privado de médio-alto padrão com habitações multifamiliares (apartamentos) e também uma futura expansão em colégio, área comercial e galleria/ shopping. De acordo com o Plano Diretor de 2018 a prefeitura tem a intenção de pavimentar outra área de acesso (da qual está dentro da área de arborização e projeto) além da Rua Sargento Luiz Moraes. A singularidade da topografia e localização, a dinâmica desta região, pelos levantamentos mapeados e visita ao local, vem sendo surpreendente, sem mérito de bom ou ruim, pela segregação com os bairros vizinhos: Jardim Antônio Von Zuben, Jardim Amazonas, Jardim das Oliveiras, Jardim São Gabriel e Jardim São Vicente. O mapa à direita tem como conteúdo identificar as diferentes regiões urbanas a Sul e Sudeste de Campinas. Os recortes apontaram o entendimento sobre a macro região tanto para o apontamento na escolha da área de estudo quanto para a disciplina complementar de Projeto integrado como o terreno de estudo desta pesquisa. A demarcação foi feita por predominância a partir da morfologia urbana dos bairros, características econômicas, adensamento, limites e barras. Não se trata portanto da delimitação geográfica exata dos bairros de campinas, mas um confronto com estes princípios citados na análise urbana.

80

Acredita-se que o Urbanismo visto de cima não demonstra com fidelidade todas estas marcações, não devem ser compreendidas como uma unidade, mas um referencial. figura 73. Paisagem Urbana envoltória ao terreno de estudo (fonte: elaborado pelo autor)


Tem como intuito uma breve introdução a estas regiões das quais, as áreas circundantes 01/02/03/04/05/06 ao terreno para projeto, destacado em laranja, tem relevância na escolha tanto da

solução de projeto como informações abordadas mais à frente. A região 01 se situa universidades como a UNIP-Swift e a USF-SWIFT entre outras unidades escolares, é bem atendida em infraestrutura,

81


predominantemente residencial de baixo gabarito com comércios locais nas principais avenidas onde estão prédios de médio-alto padrão, principalmente na Rodovia Von Zuben e ao lado da UNIP, com fácil acesso ao centro, nesta área há poucas maciços arbóreos, restritos aos córregos do samambaia. O contexto da demarcação 06, localiza o empreendimento do Panamby, de edifícios residenciais de médio-alto padrão, a Reserva Serra D’água, a Coudelaria do Exército, um pequeno bairro residencial Jardim Anton Von Zuben, com baixo acesso a malha viária principal que leva ao centro, em média 25 minutos de carro, 50 minutos de ônibus e uma hora e meia andando. O único meio de transporte público de acesso a este bairro é a linha 173 – Parque Itália / Primetown via Jardim São Vicente e Centro. Outro mapa complementar, da página 81, é resultado de levantamentos feitos na disciplina de Projeto Integrado na sobreposição de: Gabarito; Diretrizes viárias; Hierarquia VIária; Infraestrutura; Uso e Ocupação do Solo e Pontos de Interesse Urbano.

O resultado que revelam alguns pontos, O Primeiro é que ao lado do recorte (constituído por estas 3 divisões: Cinza, Verde e Bege) será á destinado a ampliação do empreendimento do Panamby, conjuntos de habitações de médio-alto padrão, sendo uma área nobre e exclusiva até mesmo em acesso.

82

Ponto que se destaca são as antenas de comunicação da EPTV, na paisagem é o elemento mais alto se tornando um ponto de referência.

Outra característica do terreno são os córregos da Reserva Florestal Serra da Água, com duas pequenas nascentes em cada

ponta, o córrego é abaixo do solo, exposto em áreas pontuais. Ao lado do terreno se encontra também o Instituto Feminino de Educação e Serviço Social, que fornece atendimento social e judicial, e também abriga um espaço para acolhimento a idosos. Nesse sentido, ao lado também conta com a Fraternidade Betânia Franciscana, uma instituição religiosa que tem em seu programa retiro para idosos, sobretudo mulheres. Outro ponto a se notar, é que nos limites da área escolhida, é um empreendimento do Panamby com planejamento de expansão, ali se tornando uma área nobre e “limitada” por essa ação imobiliária, uma vez que ali há poucos acessos, os quais são usados somente para chegar ao empreendimento. O terreno se torna importante então para a participação pública mas também para preservação do eixo ambiental existente.

Em Arquitetura e Urbanismo levantamos dados, como mapas, para analisar a cidade, que revelam o planejamento e as intenções do governo na Cidade e para tal, pontuamos o mapa, no recorte da área de estudo desta pesquisa, da página 83.

Produzido pela prefeitura de Campinas, o APG (Áreas de Planejamento e Gestão) do qual o terreno de estudo faz parte, podese comprovar a ampliação viária citada anteriormente, a expansão do empreendimento imobiliário do Panamby.

Contudo, não só a presença destas informações mas a ausência de considerar a Reserva Serra D’Água no levantamento e de diretrizes de preservação ambiental. Possível interpretar então o desinteresse do poder público nesta vertente. figura 74. Mapa de interesse Urbano circundante a área de projeto (fonte: elaborado pelo autor)


83 figura 75. Mapa de APG, áreas de Planejamento e Gestão de Campinas, com foco no Jardim Nova Europa 2017 (fonte: Prefeitura de Campinas)


O terreno escolhido, com aproximadamente 113 mil metros quadrados, considera a cota de nível mais baixa a 730 metros e a mais alta a 780 metros, totalizando uma diferença de 50 metros. Também como característica, a presença de uma vegetação arbórea e rasteira, por pinheiros, arbustos e capins, dos quais impactam na percepção pela visita ao lote, ao notar a direção dos ventos que projetaram som de folhas se batendo e pássaros cantando. O terreno não precisaria de uma arquitetura que se sobrepusesse às características existentes, mas sim uma implantação que a respeite e a complemente, rompendo limites mas respeitando a paisagem. No estudo do terreno, procura-se respeitar toda a área de preservação, parte de um resquício de uma Reserva Florestal, assim como também, o córrego e as nascentes do terreno.

84

A imagem à direita representa a primeira setorização, programa e fluxograma disposto no terreno, considerando principalmente os acessos e numa transposição não linear posteriormente revisada e abordada nos capítulos à frente.

figura 76. Mapa de estudo de programa, acessos e estudo climático do terreno de projeto (fonte: elaborado pelo autor)


85 figura 78. Topografia em 3D área de estudo TFG (produzido pelo autor)

figura 77. Topografia do terreno de estudo (fonte: elaborado pelo autor)


FOTOGRAFIAS DO LOCAL

figura 80. Imagem 01: acesso ao terreno pela Av. Eng. Antônio Francisco de Paula Souza - Jardim São Vicente (fonte: Imagem retirada do Google Maps)

86

figura 79. Implantação do terreno de projeto, identificação dos pontos de imagem do terreno (fonte: retirada do Google Earth e editada pelo autor)

figura 81. Imagem 02: acesso ao terreno pela Av. Eng. Antônio Francisco de Paula Souza - Jardim São Vicente (fonte: Imagem retirada do Google Maps)


figura 82. Imagem 03: acesso ao terreno pela Av. Eng. Antônio Francisco de Paula Souza - Jardim São Vicente (fonte: Imagem retirada do Google Maps)

figura 83. Imagem 04: acesso ao terreno pela Av. Eng. Antônio Francisco de Paula Souza - Jardim São Vicente (fonte: Imagem retirada do Google Maps)

figura 84. Imagem 05: acesso ao terreno pela R. Sargento Luiz de Moraes - Jardim São Vicente (fonte: Imagem retirada do Google Maps)

figura 85. Imagem 06: acesso ao terreno pela R. Sargento Luiz de Moraes - Jardim São Vicente (fonte: Imagem retirada do Google Maps)

87


RESERVA FLORESTAL SERRA D’AGUA “A intensa especulação imobiliária e a transformação desenfreada de áreas rurais em urbanas,através de Planos Diretores Municipais,não trazem vantagens à qualidade de vida das populações, pautando o aspecto conservacionista. A incorporação de conceitos e valores coletivos que promovam a melhoria da qualidade ambiental é necessária e precisa ser promovida pelo poder público.”- SEMAD, pág.03 (2018)

88

A Reserva Florestal Serra D’Água (FESSEDA) fica localizada no Parque do Jambeiro próximo a rodovia Anhanguera, ela se situa entre a cidade de Campinas e Valinhos, foi considerada pelo Decreto Estadual N°54.617 em 28 de Dezembro de 2010 como Unidade de Conservação de Uso Sustentável -SNUC sob domínio da Fazenda Pública do Estado de São Paulo, voltada a manutenção florestal remanescente em situação de recuperação, manutenção e restauração de práticas florestais como também divulgação do trabalho científico. Objeto campo de estudo pelo Instituto Florestal do Estado de São Paulo com atividade desde o final do século XIX em proteger áreas florestais, que atualmente protege


mais de

900 mil hectares e consolidou 53 novas Unidades de Conservação.

Foi iniciado em 2012 pelo Instituto Florestal o plano de manejo com levantamentos do meio físico, biótico, antrópico e histórico, constatando-se significativo a preservação da Reserva com uma área Florestal de 51,20 ha e 686,40 ha de Zona de Amortecimento (a qual abrange o território de projeto do presente trabalho de graduação). O levantamento tem como atores participantes grupo técnico e de coordenação, pesquisadores e consultores, sociedade e comunidade. O estudo aponta em suas diretrizes que há falta de infraestrutura de apoio para diferentes atividades na área de estudo, como também a presença de forte expansão urbana e densamente ocupadas. Desse modo, podemos observar a importância e a escala de uma área de amortização que tem como objetivo filtrar e proteger impactos negativos à reserva florestal, sendo neste caso 1340,362% da área delimitada pela reserva. Esta região tem o desafio de suportar a conurbação urbana pela área de avanço planejado e de ocupações irregulares na área circundante, como já citado, o exemplo do bairro Panamby. A partir dos estudos e objetivos levantados por este Plano de Manejo, considera-se a seguir em características gerais apontamentos sobre características do meio físico que servem de base para a proposta e acompanhamento do projeto SIUNA. A partir dos estudos e objetivos levantados por este Plano de Manejo, considera-se a seguir em características gerais apontamentos sobre características do meio físico que servem de base para a proposta e acompanhamento do projeto SIUNA. Em relação ao solo, Campinas tem três grandes unidades de geologia: A Primeira por rochas pré Cambrianas do Complexo

Itapira; A segunda por Rochas Sedimentares do Subgrupo Itararé; A terceira por Diabásios Juro-Cretácicos da FOrmação Serra Geral. A área de projeto apresenta Solo Argiloso Vermelho-Amarelo Distrófico e Eutrófico típico e nitossólico, também com presença de rochas ígneas e metamórficas com exemplares paragnaisses e micaxistos e biota gnaisse.

Estas informações servem de base para o futuro detalhamento do Museu a Céu aberto, parte do programa do projeto, que poderá exibir elementos naturais como estes apontados pelo estudo.

Referente a Hidrografia da Reserva Florestal e da Àrea de Amortização, pertence ao Córrego São Vicente, afluente do Rio Capivari pertencente às bacias do PCJ. A área não tem grande porto de fluxo de água, os córregos são de largura média de 1,50 metros de largura e 15 centímetros de altura. Contudo, é de extrema significância pois o estudo apontou o descarte incorreto de esgoto e lixo doméstico em alguns pontos. A área de projeto proposta pelo autor da presente pesquisa está sob pasto sujo e de aglomeração urbana, com pontos de entulho e lixo acumulados. Interessante ressaltar que o manejo dos resíduos sólidos é predominantemente feito por aterros, valas sépticas e lixões, ainda boa parte destes sendo direcionados para outros municípios como Paulínia. Desse modo, por esse acúmulo, pode contaminar ainda mais o córrego como também o solo e áreas subterrâneas com possíveis lençóis freáticos. Em relação a vegetação, tanto a reserva como a área de amortização estão sob característica da Floresta Estacional Semidecidual, com maciços antropizados e também com espécies exóticas. Algumas delas que o estudo apontou são de bosques tipuana (nativo da Argentina e da Bolívia) e gramíneas exóticas da espécie Bambuzinho-de-jardim, capim elefante, braquiária e capim

89


enone. Estas informações e situação servirão de base para um futuro projeto não só de preservação mas também paisagístico nas extremidades de maior visibilidade e contato com as pessoas e o meio urbano.

Ainda nesse sentido, a área ambiental também tem importância na preservação da fauna, da qual a Reserva Serra D’água serve não só de lar, mas também como parte do pulmão da cidade que auxilia a região de Santa Genebra, APA de Campinas, como também bosques. O estudo pelo plano de manejo avistou espécies de aves em extinção, o Juriti-Vermelha e o Pica-Pau de topete vermelho, considerados como espécies vulneráveis e na lista vermelha paulista de fauna ameaçada de extinção. A questão histórica e patrimonial também faz parte do bairro ao qual a Reserva está localizada, o Parque do Jambeiro conta com ruínas de da Sede da Fazenda Jambeiro, construída em 1897 de inspiração francesa projetada pelo arquiteto campineiro Francisco de Paula Ramos de Azevedo, atualmente em estado degradado foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Resolução 14/1993 - CONDEPACC) registrada em 1999 por propriedade da Prefeitura Municipal de Campinas, sob a matricula matricula 118.636 do 3° Cartório de registro de imóveis.

figura 86. Pica Pau de topete vermelho Adulto/Femea (fonte: Fotografia feita por Rodrigo Conte em 16/04/2016 - wikiaves)

figura 87. Juriti-Vermelha (fonte: Fotografia feita por Paulo Fernando Bertagnolli em 02/12/2019 - wikiaves)

90 figura 88. Antiga Sede Fazenda Jambeiro (fonte:Fotografia feita por Enio Prado em 2011)


91 figura 89. Mapa de Micro Bacia, Plano de Manejo FESSEDA 2018, (fonte: Secretaria do Meio Ambiente e Instituto Florestal)


92 figura 90. Mapa de Fragilidade do solo, Plano de Manejo FESSEDA 2018, (fonte: Secretaria do Meio Ambiente e Instituto Florestal)

figura 91. Mapa de uso da terra, Plano de Manejo FESSEDA 2018, (fonte: Secretaria do Meio Ambiente e Instituto Florestal)


figura 92. Mapa de Zoneamento, Plano de Manejo FESSEDA 2018, (fonte: Secretaria do Meio Ambiente e Instituto Florestal)

93 figura 93. Mapa de Fitofisionomia da Reserva, Plano de Manejo FESSEDA 2018, (fonte: Secretaria do Meio Ambiente e Instituto Florestal)


figura 94. Córrego São Vicente, no exutório da F. E. Serra d’Água (Fonte: FESSEDA, 2018)

figura 97. Geologia simplificada do município de Campinas (fonte: Mapa 03 Plano de Manejo FESSEDA)

94

figura 95. Panorama geral da vegetação de Floresta Estadual Serra d’Água (fonte: FESSEDA, 2018)

A Reserva Florestal Serra D’água ainda é uma unidade de conservação recentemente decretada, aqui neste trabalho se pretende cumprir com o objetivo de sua divulgação e difusão de base neste trabalho de Arquitetura e Urbanismo enquanto questionador teórico prático. Aspectos Antrópicos serão apontados ao decorrer do andamento do trabalho como também aspectos complementares dentro dos objetivos do Plano de Manejo feito pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente. figura 96. Área de Conflito incendiada e desmatada no interior da Fesseda, 2012 (Fonte: FESSEDA, 2018)


figura 99. Panorama geral da vegetação de Floresta Estadual Serra d’Água (fonte: FESSEDA, 2018)

95 figura 98. Panorama geral da vegetação de Floresta Estadual Serra d’Água (fonte: FESSEDA, 2018)

figura 100. Panorama geral da vegetação de Floresta Estadual Serra d’Água (fonte: FESSEDA, 2018)


11° BRIGADA DE INFANTARIA LEVE, CAMPO DE INSTRUÇÃO FAZENDA REMONTA (COUDELARIA DE CAMPINAS) Coudelaria é um termo portuges, a palavra deriva do termo Coudel, que significa capitão de cavalaria, para definir um centro equestre, estabelecimento de equinos/cavalos que cria e treina, e abriga animais. Hora entendido como Haras, é um termo para se referir a criação de cavalos e sua reprodução, principalmente de cavalos Puro Sangue.

O primeiro registro da criação de um Haras foi na França em 1665 por Luís XIV, o Rei Sol, era símbolo de privilégio. Foi abolido em 1790, retornado por Napoleão I em 1806, agora supervisionado pelo ministério do interior, e em 1870 instituído ao ministério da agricultura A história da Coudelaria do Exército de Campinas faz parte da evolução da história Brasileira, principalmente Política, De elite, e da estância do exército militar. Desde a interiorização no Estado de São Paulo mas também em relação ao Rio Grande do Sul e as Antigas Companhia de Jesus, os Jesuítas. Também está ligada com com a criação dos Cavalos Lusitanos, trazidos em 1541 pelos Colonizadores Portugueses e a Família Real, que havia fugido das invasões Napoleônicas na Península Ibérica. 96

Segundo a Instituição Coudelaria e Campo de Instrução de Rincão, a origem da coudelaria do Brasil advém da Estância de São Gabriel. Foi incorporada aos bens do estado em 1843 e depois

figura 101. Mapa de Localização da Reserva Serra D’agua e Fazenda Remonta


passou ao ministério do Exército em 1891 com o nome de Colônia de São Gabriel. Em 1922 a Fazenda Nacional de Saycan, Rosário/RS e o Rincão de São Gabriel, São Borja/RS passaram a ser regulamentados pela República Brasileira.

Ainda nesse sentido, em 1922 a Coudelaria do Rincão passou a produção de equinos para o Exército Brasileiro. Contudo, temporariamente ela foi desativada em 1975, os equinos foram transferidos para a Coudelaria de Campinas/SP, porém foram retornados em 1988 para a nova Coudelaria de Rincão, agora subordinada a 3° Região Militar no RS.

Atualmente a Coudelaria de Rincão é a única Coudelaria do Exército Brasileiro existente com a finalidade de produção dos equinos para cumprimento das missões do exército. No Cenário relativo à criação de cavalos não com finalidade militar, mas para esportes, lazer ou lida, o Brasil é reconhecido mundialmente na exportação de Cavalos Lusitanos para a América do Norte, Europa, Portugal, e também nos estados do Brasil. Concentrandose no Estado de São Paulo, com 350 criadores/haras com aproximadamente 12 mil animais. Através de uma consulta processual e pesquisas sobre a coudelaria, em 2004, O ministério Público Federal de Campinas solicitou a Justiça federal o bloqueio por meio de uma liminar, de uma prematura iniciativa do exército em confirmar um contrato de promessa de permuta à matriculas de imóvel para a Fundação Habitacional do Exército (FHE) na região do desdobramento da Fazenda Remonta/Também parte da Coudelaria de Campinas, à 3 registros para Campinas e 3 registros para Valinhos.

A medida foi barrada e ainda está em bloqueio pela área proposta a ser matricular estar ao lado da Floresta Serra D’Água, aqui já comentada como importante unidade de conservação do Estado de São Paulo, um corredor ecológico e impedir a conurbação de Campinas e Valinhos. Através do Estudo da região na página 78, foi possível comprovar a partir também desta consulta processual a tentativa de urbanizar a última área de amortização da reserva Serra D’agua,

Importante ressaltar que na região em contexto, o Planejamento e Gestão do Jardim Nova Europa, onde está a Reserva Serra D’água como o Estudo pela Secretaria do Meio Ambiente na Reserva de 2018, aqui anexado nas páginas 84 – 87 deste trabalho, são no mínimo Conflitantes. Um não leva em consideração o outro, ainda mais ao situar a intenção do Exército enquanto Fundo Habitacional do Exército (FHE) em repartição da terra e a não conservação da mesma. O processo ainda está ocorrendo, o número do processo da ação Cautelar é o n°0008206-79.2012.4.03.6105 distribuído pela 7° Vara Federal de Campinas.

Nesse sentido, fica por hora a descrição desta dinâmica que ainda está ocorrendo e que pouco repercutiu tanto na esfera social cidadã da cidade como no ambiente acadêmico na graduação de arquitetura e urbanismo. O caso foi transmitido desde 2004 até principalmente em 2012 onde o processo foi melhor formalizado, até com o estudo da área sendo feito pela Secretaria do Meio Ambiente em 2018. Se fazem, agora em 2021, ao menos 7 anos do caso e ainda há muito a se discutir e descobrir. Por fim, a momento, acredita-se que a coudelaria esteja desativada, melhores estudos ainda virão a complementar a situação local.

97


Estr. da Coudelaria

figura 104. Entrada da coudelaria em 2021 (fonte: Imagem retirada do Google Maps

figura 102. Capela São José da Coudelaria (fonte:não identificada)

Captura da imagem: mar. 2

Campinas, São Paulo Google Street View

https://www.google.com/maps/@-22.9647618,-47.0397604,3a,68.6y,63.93h,86.44t/data=!3m6!1e1!3m4!1stnxwwcevIMeKKS_h6QnKgQ!2e0!7i16384!8i8192

98 figura 103. Foto antiga na coudelaria de campinas em 1986 (fonte: Marcos Antonio Santos)

figura 105. Entrada da coudelaria e para o 11° Batalhão de infantaria leve em 2021 (fonte: Imagem retirada do Google Maps


figura 106. Vista de uma das residencias do 11° batalhão de infantaria leve, 2021 (fonte: Imagem retirada do Google Maps

figura 108. Vista de uma das residencias do 11° batalhão de infantaria leve, 2021 (fonte: Imagem retirada do Google Maps

figura 107. Acampamento dos Alunos de EsPCEx, 20/10/2014 (fonte: Marcos André Mendes de Sousa.)

figura 109. Acampamento dos Alunos de EsPCEx, 20/10/2014 (fonte: Marcos André Mendes de Sousa.)

99


100


XIV. ESTUDOS

DE CASO 101


MUSEU JUDAICO DE BERLIM DANIEL LIBENSKIND

O museu Judaico de Berlin (Jüdisches Museum Berlin), localizado em Oranienburger Straße - Berlim, construído em 1999, foi projetado por Daniel Libeskind, ele é um novo “Departamento Judaico” anexado ao antigo Museu de arquitetura barroca, Kollegienhaus, que foi construído em 1735, porém durante a II Guerra ele confiscado em 1938 pela Gestapo no regime Nazista e foi destruído, somente depois di fim da guerra o museu foi erguido novamente, criando um justaopoe entre formalidade e material do edificio “novo” e o “velho”.

102

O Projeto do museu foi a partir de uma competição anônima do Governo de Berlim em 1988, mas cogitado desde 1976. A proposta de design radical de ziguezague por Libeskind conta e oferece uma experiência sobre a história dos Judeus, do Holocausto, da história da Alemanha na Segunda Guerra Mundial. O edifício tem aproximadamente 15 mil metros quadrados de construção, sua volumetria foi concebida pela deformação da estrela de David, foi apelidado carinhosamente de Blitz, devido a sua forma semelhante a um Relâmpago. A construção começou em 1992, concluída em 1999 sem acervo do museu, acrescentado e finalizado em 2021.

figura 110. Exterior Museu Judaico (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily)

figura 111. Exterior Museu Judaico (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily)


figura 113. Exterior Museu Judaico (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily)

103 figura 112. Exterior Museu Judaico (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily)

figura 114. Exterior Museu Judaico (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily)

figura 115. Exterior Museu Judaico (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily)


O Museu Judaico não tem uma entrada externa, para acessar, é necessário ir pelo antigo museu barroco , que eleva a uma escadaria que desce por três níveis até o subterrâneo. Ele é dividido em três principais eixos que se cruzam e levam aos espaços do museu, , Continuidade, Holocausto e Exilio, estes representam a experiência dos Judeus na Alemanha. O exterior do edifício é coberto por zinco não tratado, que muda de aparência ao longo dos anos por oxidação e a exposição de luz e intempéries. Ainda no exterior, vemos diversos “rasgos”, janelas, pequenas aberturas no edifício traçadas por Lebinsk a partir de um desenho feito em um Mapa de Berlim, feito por caminho onde judeus e alemães se direcionaram, essa dinâmica projeta internamente diferentes jogos de luzes, e também funcionam como uma outra leitura de se acompanhar a paisagem de quem está andando pelos corredores.

104

O primeiro eixo que emerge a partir de escadas, leva atravéz de um corredor, de paredes e pisos desalinhados, por um jogo de escala e luz que desorienta quem anda por ele, a uma extensão das salas de exposições, e que a partir de um cruzamento com outro corredor, surge o eixo do holocausto, que leva a “Torre do Holocausto”, do qual não tem saida, com apenas uma fresta de luz distanciada a 25 metros a cima. De outro cruzamento destes eixos, aparece o eixo do exílio, este leva o indivíduo a um espaço externo do museu, o “Jardim do Exílio” ou E.T.A. Hoffmann Garden, feito de concreto é composto por 49 Pilares em uma malha quadrada, ao topo cobertos com vegetação porém, suas superfícies de secção aparentemente quadrada são inclinadas, assim como seu chão, fazendo o observador perder a orientação causando novas sensações.

figura 116. Implantação do Museu Judaico (fonte: fornecida por Archidaily, Editado pelo autor)

figura 117. Sub Solo do Museu Judaico (fonte: fornecida por Archidaily, Editado pelo autor)


figura 118. Exterior Museu Judaico (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily)

figura 119. Interior do Museu (fonte: Fotografia por Denis Esakov)

figura 120. interior do Museu (fonte: Fotografia por Denis Esakov)

105 figura 121. interior do Museu (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily)

figura 122. interior do Museu (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily)

figura 123. interior do Museu (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily)


figura 124. Andar térreo do Museu Judaico (fonte: fornecida por Archidaily, Editado pelo autor)

106 figura 125. Cortes do Museu Judaico (fonte: fornecida por Archidaily, Editado pelo autor)


figura 126. interior do Museu (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily)

figura 128. Museu Judaico de Dia(fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily)

107 figura 127. interior do Museu (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily)

figura 129. Museu Judaico a noite (fonte: Fotografia por Denis Esakov, Archdaily)


MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL YINGLIANG STONE ATELIER ALTER ARCHITECTS O museu localizado na cidade de Xiamen na China, projetado pelo atelie Alter Architects, com escritório em Nova York e em Pequim na China, é um edificio que une a função de industria e cultura em um só lugar. Foi anexado o museu ao prédio existente de mineração da região, que descobriu vários fóssei antigos, ambar de inseto e ovos de dinossauro junto com equipes arqueologicas de pesquisa.

Os proprietarios da mineradora colecionaram e protegeram todas as reliquias encontradas até o museu vir a fazer parte da sede. Este projeto une à sede da empresa privada o museu público na no primeiro e no segundo andar como também o átrio do edificio que compartilha a iluminação com o escritorio, que fica no terceiro ao quinto andar. O terreno é o solo de base cristalina formado em longo periodo com alta temperatura, pressao e acúmulo mineral, esta “pedra” deu origem a linguagem arquitetonica primitiva. O projeto tem 2600m² foi inaugurado em 2019.

Estes cristaloides são o elemento principal do projeto, compondo o átrio de faces inclinadas, que ilumina o museu e o escritório, com formas triangulares, piramedes, volumes, em uma malha geométrica complexa. Transforma a exposição em uma experiencia dimensional e solar, as paredes não separam só a linha do tempo que o museu se propõe a contar, mas cria um ambiente calmo, misterioso, frio, lembra uma caverna, conversando com o próprio 108 conceito do museu.

figura 130. VIsta Esterior do Museu -Atelier AlterArchitects

figura 132. Hall Central -Atelier AlterArchitects

figura 131. Hall Central e Atrio -Atelier AlterArchitects


figura 134. Hall Central -Atelier AlterArchitects

figura 135. Hall Central -Atelier AlterArchitects

figura 136. Hall de Entrada -Atelier AlterArchitects

figura 137. Atrio do Museu -Atelier AlterArchitects

109 figura 133. Hall Central -Atelier AlterArchitects figura 138. Área de Exposição -Atelier AlterArchitects

figura 139. Atrio do Museu -Atelier AlterArchitects


figura 140. Implantação do Museu (fonte: fornecida por Archidaily, Editado pelo autor)

figura 142. Primeiro pavimento do Museu (fonte: fornecida por Archidaily, Editado pelo autor)

110 figura 141. Corte em Perspectiva do Museu (fonte: fornecida por Archidaily, Editado pelo autor)

figura 143. Segundo Pavimento do Museu (fonte: fornecida por Archidaily, Editado pelo autor)


figura 145. Imagem do complexo yingliang, (fonte: http://www.yingliang.com/aboutus.aspx)

O percurso da salas de exposição apresenta uma linha do tempo histórica da formação dos minérios e dos fosseis. Não há ornamentação no projeto projeto de expressão primitiva. Um dos desafios do projeto é o apoio da estrutura, não podia ser em uma malha cartesiana comum, para isso usaram estrutura espacial referenciada em pontos principais de esforço.

111 figura 144. Perspectiva Explodida do Museu (fonte: retirada da internet, autor não identificavel)

figura 146. Imagens do museu em fase de obra (fonte: http://www.yingliang.com/aboutus.aspx)


PRAÇA DO INSTITUTO DE TECNOLOGIA DE KANAGAWA / JUNYA ISHIGAMI + ASSOCIATES O Arquiteto faz a praça em um campus na faculdade de tecnologia em Kanagawa fundada em 1975, com edifícios multifuncionais institucionais e esportivos, conta com um prédio de oficina Kait também projetado por Ishigami em 2008. Buscou criar um espaço versátil para os usuários, uma área que tivesse experiência não só de permanência e descanso, mas que tivesse envolvimento físico e mental, uma leitura da paisagem observando as formas arquitetônicas, planos, superfícies curvadas, para um mundo sem limites. As principais características do projeto são a versatilidade e espaços semi-externos, tem como objeto o processo da passagem do tempo.

O projeto de 90 metros de comprimento trabalha com uma relação externo-interno ao criar 59 aberturas em uma cobertura curvada cercada por quatro paredes que a sustentam por uma estrutura interna de ferro específica, formando um pátio interno com o solo feito de modo côncavo, formando um declive confortável para se sentar, aproveitando a diferença de nível de cinco metros no terreno original, formando-se dois planos que se estendem no horizonte, o pé-direito varia de 2,2m à 2,8m,. Foi importante a especificidade estrutural, devido a dilatação da cobertura com a incidência solar, uma fundação com 83 estacas e 54 âncoras.

112

Estas aberturas permitem a passagem de luz ao longo dos dias, fornecendo uma experiência única a depender da hora e do clima, nos dias de chuva formam colunas de água, que escoam e ecoam pelo pátio. O chão é de asfalto permeável, permitindo que a água nos dias de chuva se infiltre no solo e não faça poças na praça e nem um ambiente úmido.

figura 147. Implantação do instituto de tecnologia de kanagawa (fonte: imagem retirada do Google Earth e editado pelo autor)

figura 148. Fotografia externa praça instituto de tecnologia de kanagawa (fonte: Archdaily)


figura 150. Fotografia interna da praça (fonte: Archdaily)

figura 151. Fotografia interna da praça (fonte: Archdaily)

figura 152. Fotografia interna da praça, evento de abertura (fonte: Archdaily)

113 figura 149. Fotografia interna da praça (fonte: Archdaily) figura 153. Fotografia externa da praça (fonte: Archdaily)

figura 154. Fotografia interna da praça, evento de abertura (fonte: Archdaily)


figura 156. Fotografia superior da praça em fase de obra (fonte: Archdaily)

figura 157. Fotografia superior da praça ao lado do campo de beiseball (fonte: Archdaily)

114 figura 155. Plantas técnicas da praça (fonte: Archdaily)

figura 158. Corte técnico da praça (fonte: Archdaily)


N° Edifício 1 Parque Central Edifício de Pesquisa de Engenharia Mecânica 2 e Elétrica e Eletrônica 3 Edifício de Pesquisa em Química Aplicada Edifício de pesquisa de engenharia de sistema 4 veicular 5 Edifício de pesquisa de robótica e mecatrônica 6 Edifício de Tecnologia da Informação 7 Edifício de pesquisa em biociência aplicada 8 Edifício de Serviços ao Estudante 9 Prédio de palestras 10 Biblioteca Edifício de educação e pesquisa em 11 engenharia 12 Instituto de Tecnologia Avançada 13 Edifício de Engenharia Automóvel 14 Construção de Projeto de Robô 15 Edifício de Experimentos Elétricos e Químicos Centro de Teste de Interoperabilidade HEMS 16 (ECHONET Lite) 17 Edifício da oficina KAIT (Kait Kobo) 18 KAIT Entrada 19 Ikutoku Kaikan Entrada 20 KAIT Arena 21 KAIT Estádio 22 Campo e pista de futebol e rúgbi 23 Quadra de tênis 24 Edifício de enfermagem KAIT ERIM (Casa compartilhada para 25 mulheres)

figura 159. Infográfico do complexo do instituto de tecnologia de kanagawa (fonte: Archdaily)

O Arquiteto Japonês Junya Ishigami, atualmente com 47 anos, se formou na Universidade das Artes de Tóquio, é conhecido por projetos experimentais que interpretam o contexto e se reflete em suas obras com versatilidade e humanidade. É o mais jovem recebedor do prêmio do Instituto de Arquitetura do Japão pelo design do Workshop Kait, com estruturas de aço e fechamento em vidro distribuídas no espaço para os alunos e o público teste

do mesmo instituto. O projeto foi concebido a partir do plano de comemorar os 50° anos do instituto Kait, levou 7 anos para ser concluído, construído de 2008-2020. O desafio do projeto foi projetar uma praça que não destoasse do campus consolidado, deveria conversar com o mesmo, pela versatilidade ela pode também ser usada para hospedar barracas temporárias durante festivais ou exposição de projetos do campus.

115


IGREJA DE WOTRUBA / FRITZ WOTRUBA + FRITZ G.MAYR

116

Localizada em Viena em uma colina conhecida como Colina de São Jorge em Mauer, a igreja construída em 1976 é um exemplo na expressão de arte e arquitetura, foi iniciada e projetada pelo arquiteto e escultor austriaco Fritz Wotruba (1907-1975), que foi completada após sua morte, continuada por Fritz G.Mayr. Também conhecida como Igreja da Santíssima Trindade (Kirche Zur Heiligsten Dreifaltigkeit), foi pensada primeiramente em uma maquete/ escultura de argila, posteriormente feita em estrutura de concreto em escala real, é uma uma construção brutalista feita de predominantemente de concreto, inspirada pelo artista na Catedral Gótica de Chartres. O projeto se expressa como arquitetura e arte, foi pensada para fazer uma unidade com a paisagem, em um tempo onde se estava perdendo a fé em Deus. O terreno da igreja era um antigo quartel nazista, Wotruba vivênciou a Segunda Guerra Mundial, e usou da arte como fuga. A igreja foi pensada antes mesmo do terreno, em meados de 1974, conta com uma localização privilegiada pela vista de Viena, fazendo esta unidade se contrastar em meio às árvores.

figura 160. Wotruba Kirche Architekturzentrum Wien, Sammlung (fonte: Fotografia de Margherita Spiluttini)

figura 161. Imagem externa da calçada Igreja de Wotruba (fonte: Archdaily)

figura 162. Entrada da Igreja de Wotruba (fonte: Archdaily)


figura 164. Fotografia Externa da Igreja de Wotruba (fonte: Archdaily)

figura 165. Fotografia Externa da Igreja de Wotruba (fonte: Archdaily)

117 figura 163. Wotruba Church (fonte: Fotografia por Erwin Reichmann)

figura 166. Fotografia Externa da Igreja de Wotruba (fonte: Archdaily)


Sua volumetria é formada por 152 blocos de concreto parafusados que variam de 0,84 à 64,00 metros cúbicos e de 1,8 à 141 toneladas, dispostos de maneira aleatória que até mesmo se confunde onde é a entrada principal do edifício, seguindo os preceitos do brutalismo, caótico e sem ornamentação, o projeto se parece com estruturas megalíticas ancestrais. O interior da igreja a dinâmica acompanha as luzes e sombras formada pelas simples aberturas de janelas a partir dos blocos, com um design mobiliário modesto com assentos madeirados, espaço para o púlpito entre outros elementos comuns às igrejas. Apesar disto, a experiência, segundo que a visita, é celestial e dramática.

figura 168. Model of the Church, plaster. 42 x 89 x 65 cm (Fonte: Acerto do Museu)

figura 170. Centro da Igreja, Preparativo para cerim (Fonte: Acerto do Museu)

Segundo Wortruba antes de falecer: ”construir algo que nos mostre que a pobreza não precisa ser feia, que a renúncia pode se situar em um ambiente que seja belo e nos faça felizes, apesar da maior simplicidade’’.

A paróquia da igreja solicitou em 2014 que fosse acrescentado ao projeto um elevador de vidro em frente ao lote da igreja, para tornar mais acessível o acesso devido ao desnível da topografia que foi solucionado por escadas. O Escritório Federal Autriaco de Proteção aos Monumentos entrou com disputa para barrar a ação, encerrada em 2017. Contudo, posteriormente o Supremo Tribunal administrativo da Áustria decidiu a favor da medida, e a escada foi finalizada no segundo 118 semestre de 2019.

figura 167. Planta baixa da Igreja (fonte: Retirada da internet, autor não encontrado)

figura 169. Fotografia interna da Igreja de Wotruba (fonte: Fotografia de Kramar 2015)


figura 173. Fotografia interna da Igreja de Wotruba (fonte: Archdaily)

figura 174. Igreja de Wotruba em neve (fonte: Fotografia por Mich leemans)

figura 175. Criança brincando entre os blocos de concreto da Igreja de Wotruba (fonte: Archdaily)

119 figura 172. Fotografia Interna da Igreja de Wotruba (fonte: designedtotravel.ro)

figura 171. Implantação da Igreja de Wotruba (fonte: Retirada do Google Earth)

figura 176. Intervenção na Igreja de Wotruba, novo acesso via elevador (fonte: Studio: formann puschmann)


CASA EM MONSARAZ - LISBOA AIRES MATEUS & ASSOCIADOS Este projeto feito em Portugal pelos arquitetos Aires Mateus é concebido como uma arquitetura que honra a natureza, com sensibilidade brutalista e minimalista, faz parte da terra e se estende com a paisagem.

A Casa Monsaraz foi construída entre 2007 e 2018, com 174 metros quadrados de construção, 21 mil metros quadrados de terreno, entre a vista de Lisboa e tem como palco o céu, a natureza e o lago Alqueva.

O o acesso principal da casa é feito pela cobertura de telhado verde em balanço com direção a uma escada que desaparece no solo, leva para baixo até a porta de entrada, o espaço em abóbada, forma um pátio que protege a casa de concreto e ilumina pela claraboia o coração da casa que se liga às demais áreas sociais, diretamente a sala de estar e a cozinha, e corredores com painéis de madeira que levam as 3 suítes, que são iluminadas por 3 aberturas circulares privativas pintadas de branco e seixos brancos, vistas sob um ângulo superior da casa.

120

figura 177. Fotografia da vista para o lago alqueva casa em monsaraz (fonte: João Guimarães, Rui Cardoso, AMA – Aires Mateus)

A engenharia da casa foi feita de concreto reforçado, projetada pela empresa AFAconsult, construída pelas empresas JDS e Manuel Mateus Frazão. A Líder do projeto foi nês Cordovil e Helga Constantino

figura 178. Fotografia da paisagem, casa em monsaraz (fonte: João Guimarães, Rui Cardoso, AMA – Aires Mateus)


figura 179. Fotografia da paisagem, casa em monsaraz (fonte: João Guimarães, Rui Cardoso, AMA – Aires Mateus)

figura 180. Fotografia da paisagem, casa em monsaraz (fonte: João Guimarães, Rui Cardoso, AMA – Aires Mateus)

figura 181. Fotografia da paisagem, casa em monsaraz (fonte: João Guimarães, Rui Cardoso, AMA – Aires Mateus)

figura 182. Fotografia do pátio e Sala Estar da casa (fonte: Nelson Garrido e Rui Cardoso)

121 figura 183. Fotografia da casa em fase de obra (fonte: bonsrapazes. com)

figura 184. Fotografia do pátio e corredor da casa em Monsaraz (fonte: João Guimarães, Rui Cardoso, AMA – Aires Mateus)


figura 186. Cobertura da casa em monsaraz (fonte: Aires Mateus Associados)

figura 187. Planta térrea da casa em monsaraz (fonte: Aires Mateus Associados)

figura 188. Ilustração dos niveis da casa em monsaraz (fonte: Aires Mateus Associados) 19 20 1 2 3 4 5 6 7 8 9

9 8 12

10 11 9

+3.95

2 3 6 7

3.40

2.50

+1.98

13 3 4 6 7 14 15 16 17

122

figura 189. Maquete da casa em Monsaraz (fonte: Aires Mateus)

N rooftop plan 0

5

21 22 23 24 25 26 9 27 28

10

+0.00

20

figura 185. Corte técnico da casa em monsaraz (fonte: Aires Mateus Associados)

18 29 30

section detail 0

0.5

1

2


figura 192. Sala de Estar da casa Monzaras(fonte: João Guimarães)

figura 193. Cozinha da Casa Monzaras (fonte: João Guimarães)

figura 190. Paisagem para o lago Alqueva casa em monsaraz (fonte: João Guimarães)

figura 196. Fotografia Noturna Casa Monsaraz (fonte: João Guimarães)

figura 191. Fotografia da paisagem, casa em monsaraz (fonte: João Guimarães, Rui Cardoso, AMA – Aires Mateus)

figura 194. Aberturas da casa da Suite (fonte: João Guimarães, Rui Cardoso, AMA – Aires Mateus)

figura 195. Porta de acesso a casa Casa Monsaraz (fonte: João Guimarães)

figura 197. Fotografia Noturna Casa Monsaraz (fonte: João Guimarães)

123


SAYA PARK / ÁLVARO SIZA + CARLOS CASTANHEIRA Álvaro Siza e Carlos Castanheira foram convidados a projetar um complexo de três edifícios no parque público Saya Park, localizado na zona leste da Coreia do Sul, em Gyeongsang do Norte. Os edifícios que compõem o parque extenso com paisagem grandiosa entre curvas montanhosas e arborização é o Pavilhão da Arte, uma Capela e um Observatório, a ideia dos projetos é a junção da arte e espiritualidade. A sua construção foi iniciada no segundo semestre de 2017, finalizada em partes em 2018 mas só foi inaugurada e aberta ao público em março de 2019 com atividades pelo complexo.

O pavilhão da Arte é formado por dois blocos com uma bifurcação, um em direção reta e outro curvado, o projeto modificou a colina e se adaptou a ele, a materialidade de concreto exposta e as aberturas deixam uma aparência de pureza em contraste com o verde da paisagem. O volume levemente desprendido da bifurcação compreende uma biblioteca e espaço para estudo, enquanto os outros blocos criam espaços de exposição da arte em meio a aberturas que projetam luz e sombra, fazendo o visitante se perder dentre os limites mas também o infinito. A extremidade do pavilhão tem uma grande janela para 124 apreciar a paisagem do parque.

figura 198. Saya Park, Vista de Cima (fonte: Fotografia por Fernando Guerra | FG+SG, Archdaily)

figura 199. Saya Park, Vista de Cima (fonte: Fotografia por Fernando Guerra | FG+SG, Archdaily)


figura 200. Saya Park (fonte: Fotografia por Fernando Guerra | FG+SG, Archdaily)

figura 201. Saya Park, Interior (fonte: Fotografia por Fernando Guerra | FG+SG, Archdaily)

figura 202. Saya Park, Interior (fonte: Fotografia por Fernando Guerra | FG+SG, Archdaily)

125 figura 203. Saya Park, Interior (fonte: Fotografia por Fernando Guerra | FG+SG, Archdaily)

figura 204. Saya Park, Interior (fonte: Fotografia por Fernando Guerra | FG+SG, Archdaily)


A capela convida as pessoas a se reunirem espiritualmente, meditarem e terem um momento de introspecção e intimidade diante de um grande parque., a ideia era compartilhar simbolicamente e emocionalmente a sua geometria pura e funcional. A capela também foi construída em honra a mulher católica do cliente que solicitou o projeto a Álvaro e Castanheira. O seu interior recebe a luz nascente vinda do leste, preenchendo o interior pelas aberturas e também a alma.

Devido a implantação do parque ser densa de árvores de pinheiros, também foi criado uma torre de observatório na colina na mesma linguagem de concreto do pavilhão, ela fica na parte mais alta. Este projeto desafia as sensações externas e internas devido a sua forma inclinada e com diversas janelas, em um desenho complexo e puro, serve tanto para causar uma sensação de sublime, de ascendência ao céu como também de retorno à terra. Os autores do projeto descrevem que o projeto nasceu para esse local e o local criou este projeto.

figura 205. Planta térrea Saya Park (fonte: fornecida por Archidaily, Editado pelo autor)

Apesar de ter o material disponível da arquitetura, encontram-se poucas informações sobre o mesmo projeto, possivelmente possa ser por relações políticas entre os países da Coreia do Sul. Contudo, o projeto feito pelos arquitetos e colaboradores nos servem de inspiração para este trabalho. 126 figura 206. Cortes Museu Saya Park (fonte: Archdaily)


figura 208. Interior do Museu, Render e montagem com obra (fonte: Pinterest, autor não identificado)

figura 207. Implantação Saya Park (fonte: Archdaily)

127 figura 209. Capela Saya Park (fonte: Fotografia por Fernando Guerra | FG+SG, Archdaily)

figura 210. Observatório (fonte: Fotografia por Fernando Guerra | FG+SG, Archdaily)

figura 211. Terraço Saya Park (fonte: Fotografia por Fernando Guerra | FG+SG, Archdaily)


MUSEU DE ARTE E ARQUEOLOGIA DO VALE DO CÔA CAMILO REBELO E TIAGO PIMENTEL Para se falar sobre o Museu do Côa, é preciso fazer uma breve introdução referente ao Vale do Côa, localizado na região das montanhas do nordeste de Portugal, onde corre as afluentes do Rio Douro e o Rio Côa e também o Vale José Estevez e o Vale do Forno. A região tem grande importância arqueológica por conter um dos maiores sítios de artes rupestres do período Paleolítico, foi descoberto em 1991 quando estavam estudando a implantação de uma barragem no Rio Douro, o mais interessante, é que estas artes estão a céu aberto, rompendo o paradigma de que as artes rupestres se fazem predominantemente em grutas. Esta barragem foi desconsiderada para preservar as características da paisagem e também da descoberta arqueológica, sendo considerada em 1998 Património Mundial pela Unesco, o vale contém mais de 80 sítios distintos com gravuras de mais de 25 mil anos. Desse modo, o Museu de Arte e Arqueologia do Vale do Côa está diante da Arte Pré Histórica e da Vinhadeira do Douro, conhecida como Alto Douro, onde também fica o Parque Arqueológico do vale. O edifício feito por Camilo Rebelo e Tiago Pimentel iniciou a construção em 2007 e foi inaugurado em julho de 2010,passa a ideia de que é parte da paisagem paleolítica do Côa, da qual pode ser 128 considerada uma das primeiras manifestações de Land Art.

figura 212. Implantaçãp Museu do Côa (fonte: Google Earth)

figura 213. Museu do Côa (fonte: Fotografia por Antônio Jeronimo)

figura 214. Museu do Côa (fonte: Arquitetura360.pt)


figura 216. Museu do Côa (fonte: Fotografia por Nélson Garrido, Archdaily)

figura 217. Museu do Côa (fonte: Fotografia por Nélson Garrido)

129 figura 215. Museu do Côa (fonte: Fotografia por Nélson Garrido, Archdaily)

figura 218. Museu do Côa (fonte: Fotografia por Nélson Garrido)

figura 219. Entrada Museu do Côa (fonte: facebook Museu do Coa)


figura 220. Planta Térrea Museu do Coa (fonte:Planta fornecida por Archdaily e editada pelo autor)

O edifício em forma de triângulo de 8121,31 m² de construção divide-se em quatro pisos onde se divide entre áreas de exposição permanente, temporárias, a maior biblioteca do mundo sobre história paleolítica. Assume importância no seu desenho as características da topografia acidentada e a fusão com a paisagem, criando-se também mirantes para as montanhas do vale. O projeto parece emergir da terra, serve de contemplação natural, estando num dos pontos mais altos da colina, é possível observar a fachada com aberturas 130 verticais e a materialidade de betão (concreto)

juntamente com pigmentos minerais abundantes da região, o xisto, no que resulta uma textura híbrida de tonalidade rochosa também com tratamento da superfície que criou irregularidade natural. Este museu serve de porta de entrada para as pessoas que querem conhecer sobre a arqueologia e a pré história do período paleolítico, ele faz parte de todo um complexo de parques e outros edifícios, todos, servem a paisagem e a história local.

figura 221. Planta inferior Museu do Coa (fonte:Planta fornecida por Archdaily e editada pelo autor)


figura 222. Corrte Museu do Côa (fonte:Planta fornecida por Archdaily)

figura 223. Corrte Museu do Côa (fonte:Planta fornecida por Archdaily)

131 figura 224. Exposição Museu do Côa (fonte: arte-coa.pt)

figura 225. Exposição Museu do Côa (fonte: arte-coa.pt)

figura 226. Exposição Museu do Côa (fonte: arte-coa.pt)

figura 227. Exposição Museu do Côa (fonte: arte-coa.pt)


132


XV.

PROJETO

133


CONSTRUINDO UM CONCEITO E PARTIDO

A proposta do projeto é a construção de um espaço que dialogue com a experiência do homem com a percepção da paisagem, assim como interpretações e sensações na área de implantação do projeto. Para tal, entende-se que a sua concepção deve evitar ser impositiva, que possa ser (devido às características urbanas da implantação do projeto) um palco para a paisagem e novas experiências, que se una com os usuários, disposto com sobriedade e frugalidade.

O projeto recebe o nome de UNA, como uma unidade, mas também no sentido de união, tanto de conceitos como união de sí mesmo, ou mesmo, união com a paisagem. Procura responder a questões conceituais e gerar novas questões, sua implantação deve respeitar o local e agregar como um palco provocativo.

A construção do conceito e partido tem como intenção fortalecer este diálogo, o programa a ser descoberto e inspirado nos movimentos da Land Art, mutável a experiência do usuário — assim como do leitor —, com estruturas provocativas e que chamem a atenção do observador, mas que também seja desprendido de funcionalidade e tipologia óbvias. O conceito de Poder fortalece

134 figura 229. Croqui de aberturas para a Galeria Sensorial (fonte: elaborado pelo autor)

figura 228. Infográficos, conceito, partido e programa do projeto (fonte: elaborado pelo autor)


essas escolhas, significa Recurso e Força canalizada, o espaço construído deve ser nosso recurso.

O primeiro sinal para o projeto, foi pensar no elemento da Janela, a partir destas aberturas (observadas em todos os projetos de estudo de caso) com desenhos e propostas diferentes, formarse-ia enquadramentos exterior-interior atípicos do cotidiano. Esta proposta tem o intuito de chamar a atenção dos observadores (principalmente aos desatentos) como também cria formas de luz e sombra no espaço. Partindo deste ponto, o desafio, e sua implantação de modo sutil aos acessos principais, ainda de modo pacífico (uma vez que ao olhar sobre o tema de poder, a oposição entre imposto e espontâneo se faz no espaço). Ainda neste sentido, parte do programa (como também nos textos sobre Land Art) ao tratar de museu a céu aberto, estes elementos podem ser encontrados “dispersos” seja ao interior do terreno ou possivelmente próximo às calçadas. A imagem à direita mostra uma vista satélite com o projeto implantado. Nesse sentido, uma galeria oportuniza o uso destes elementos, a partir de croquis, colocados pela imagem a esquerda deste capítulo, de cima para baixo, as aberturas (como também o acabamento das arestas do edifício) progrediram levando em consideração que, aberturas arqueadas poderiam remeter a lembranças e interpretações históricas, um exemplo seria dos aquedutos romanos, janelas desalinhadas, anguladas e desconformes, fugindo da padronização. Este pode ser um recurso para que se canalize os sentidos e o debate sobre a liberdade da tipificação e funcionalização não só de edifícios mas também de elementos. O projeto, tanto em seu desenho e programa, se expressa com certa simplicidade, pode-se tirar diversos questionamentos e complexidades sobre a sua implantação, e este é o seu propósito.

135


Nesse sentido de estratégias, o programa busca trazer: Espaços abertos ou praças, sendo para lazer/ transposição ou mesmo se proteger do sol e em dias de chuva; áreas de sombra (além de copas de árvores) para permanência; Espaços com versatilidade, com elementos que possamos “brincar”, interagir, provocar, como esculturas instigantes; Devido a topografia, pensar em aproveitá-la para criar um mirante; A natureza deve ser parte do projeto, o espaço não abriga só nós seres humanos, mas também outros animais, o canto dos pássaros , que fazem parte da paisagem — que nossas gerações quase não dão muito valor—, tanto pelo fato de sermos uma era tecnológica; A importância de estimular não só a visão, mas os demais sentidos para se comunicar com o projeto, o olfato por plantas aromáticas, materiais com texturas e pesos para o tato, entre os demais por outras estratégias. O projeto, resolvido principalmente por transposição de rampas, ocupa num total, em termos de taxa de ocupação, apenas 5,64% do terreno.

136 figura 230. Implantação Urbana projeto UNA (fonte: elaborado pelo autor)


137 figura 231. Plano de Massa projeto UNA (fonte: elaborado pelo autor)


O terreno de 50 metros de desnível, sendo que as rampas pelo projeto vencem 40 metros de altura da cota mais baixa até a mais alta. Fazendo algumas simulações de percursos, na transposição do terreno, consideramos 3 caminhos (levando em conta uma velocidade de 1m/s) 1 ensaio: 788.80 metros lineares (sem entrar na galeria sensorial), em média, 13 minutos andando.

2 ensaio: 1178 metros lineares (entrando na galeria sensorial, em média, 19 minutos andando. 3 ensaio: 355 metros lineares (percurso entre o Jd. Amazonas e a Rodovia), em média, 6 minutos andando

O estudo preliminar foi de extrema importância nesse sentido, para escolher os lances de rampas, que antes criavam imensos paredões, como também a dimensão da Galeria e do Mirante, que antes eram dois, permanecendo apenas um no centro do terreno. De modo geral, foi reduzido a área de ocupação, por estarem consideravelmente superdimensionadas. 138

O projeto se tornou a própria escultura, lapidada e com o poder de sua presença.

ESTUDO PRELIMINAR EM MAQUETE DE MADEIRA

figura 232. Grade de fotos de renders do projeto (fonte: elaborado pelo autor)

01


02

04

03

139

05

06

07


08

09

11

12


14

10

15

141

13

16


No estudo e interpretação do indivíduo em relação de poder e superioridade ou inferioridade no espaço, se na escala construída o observador for igual ao volume na sua linha de visão, uma possível interpretação e sensação seria a nocividade ou passividade. Caso o indivíduo for menor ao volume, poderá passar, neste mesma relação de interpretação e sensação, a inferioridade e impotência sobre o espaço construído (um exemplo prático são os edifícios monumentais), em contraposição, se o indivíduo for maior, poderá passar a ideia de de superioridade e poder sobre o que está observando. Estas relações são observadas e aplicadas no projeto aqui apresentado, seja em volumes construídos ou mesmo no encontro da paisagem (a qual é formada individualmente a depender da posição do observador e o conjunto de elementos que participam da visão). Este apontamento se faz aqui presente para

142 figura 233. Croqui sobre Psicologia de escala e organização de elementos (fonte: elaborado pelo autor)

acompanhar a intenção na criação da Galeria Sensitiva e os Mirantes. Ainda nesse sentido, acresce o debate sobre Áreas Pacíficas e Áreas de Stress, dos quais podem ser manipulados conforme a intenção comportamental do projeto em seguir caminhos e identificar elementos ordenadamente ou desordenadamente. Outro ponto, é a perda do horizonte ou a paisagem devido a algum elemento acima da linha dos olhos (média de 1,50m). Isso foi considerado na implantação da Galeria Sensorial, em que o seu topo deveria estar abaixo do nível da Av. Eng. Antônio Francisco de Paula Souza, 780m em linha referenciada com o nível do mar, e para o projeto considerado entre a cota +55,00m. Observando que o terreno conta com maciços arbóreos, também pode ser considerado a vegetação para se confundir e se misturar com o porjeto.


143 figura 234. Implantação do Projeto com medidas (fonte: elaborado pelo autor)


144


As elevações do projeto permitem observar a relação de alturas do terreno, volumetrias e o entorno, um dos aspectos a se notar são as antenas transmissoras da EPTV, pontuada e comentada nos levantamentos sobre o lote. Sua altura varia em média de 50 metros, pela localização é um ponto de referência e facilmente vista pelos bairros circundantes. Ela será parte da paisagem, principalmente aos que observam o terreno da fachada posterior, pela Rua Batirá, sentido fachada frontal, para a Av. Eng. Antônio Francisco de Paula Souza. Aqui se considera este elemento, que cria um ritmo pela quantidade, passivo ao projeto e não de confrontamento ou propostas de intervenção.

O projeto pode ser interpretado como pertencente ao terreno, hora surge dele e se estende e flutua em seus balanços.

figura 235. Prancha com Elevação Frontal, Lateral Direita , Esquerda e Posterior projeto UNA (fonte: elaborado pelo autor)

145



147 figura 236. Cortes do Projeto (fonte: elaborado pelo autor)


148 figura 237. Detalhamento Galeria Sensorial projeto SIUNA (fonte: elaborado pelo autor)


figura 238. a acrescentar

149


150


151


152


figura 239. Detalhamento Mirantel projeto UNA (fonte: elaborado pelo autor)

153


154


O projeto UNA procura exteriorizar uma linguagem arrojada em seus desenhos, volumes e materiais. A personalidade se expressa pelas texturas em concreto, com tons sóbrios e textura carregada, contrastante sem sobrepujar com a paisagem local. Outros elementos, como o paisagismo e as esculturas, complementam com outras paletas de cores e pesos. Pelo caráter de acesso público, já se considera e se reverencia a ação do tempo em deterioração. Inspirado também em uma linguagem brutalista com demais projetos do estudo de caso deste trabalho

Carrega personalidade e expressividade, alta durabilidade e conforto térmico. Sua execução e acabamento final depende de um bom planejamento e montantes e desmonte das formas de madeira, tábuas de pinho seca e escovada, com baixa absorção de água da massa do concreto, em réguas e média de 15cm de altura, a superfície do concreto fica da mesma porosidade da madeira, mantido a um período mínimo de 7 dias em cura. Para este projeto, o clima é favorável e não há a necessidade de um acabamento superficial de proteção, como acontece no litoral, ainda nesse sentido, a intenção em si é a degradação/ metamorfose ao longo da sua vida útil. O resultado final depende do tempo de cura e da mão de obra envolvida

155


Esculturas

156

Como a proposta projeto seja de um espaço que possa ser explorado pelos sentidos e também novas interpretações, fazendo alegorias, é interessante pontuar no terreno, principalmente dentro do assunto abordado no início do movimento de land art, promover objetos que se possa ter está a interação do visitante com o projeto. Sendo assim, dentro do terreno e durante o percurso criamos algumas esculturas que tenham o contraste com a paisagem e o projeto construído tanto em forma e desenho como também o material. Dispomos do uso das esculturas com o metal corten e a pedra bruta atemporal, natural. Desenhado pensando em complementar a galeria senhorial com suas aberturas desalinhadas, torcendo linhas oferecendo novas perspectivas. Os elementos do complexo UNA na vertical são em linhas retas e distorcidas, não orgânicas, a fim de completar essa linguagem, algumas esculturas são de estruturas orgânicas. Cada escultura foi pensada em uma alegoria diferente que iremos comentar em cima dos desenhos, mas tanto o leitor como o possível visitante do complexo podem ter as suas interpretações.


1.5 4.0 2.5

1.5 4.0 2.5

0.9

0.9

0.5

0.5

3.2

3.2

3.2

4.6

4.6

1.1

1.1

3.2

4.6

1.1

1.1

4.6

157 8.8

8.8


158


3.4

2.9

4.3 3.2

2.3

3.2

3.3

2.3

3.4

3.4

3.6

3.6

3.4

6.5

3.2

3.5

3.4

3.5

2.9

3.2

2.5

3.3

3.2

3.4

2.9

2.5

2.3

.5 6.5

3.5 4.3

4.3

159


160


161


18

17

18


19

20

163


164

21

22

23

24


25

28

26

29

27

30

165


166

31

32

33

34

35

36


37 38

39 40

41

42

167


44

168

43

45


47

46

48

169


DESCRIÇÃO DAS IMAGENS

01 - Renderização do Projeto e seu entorno em estilo de madeira, contexto geral. 02 - Renderização ampliada do Projeto e seu entorno em estilo de madeira, vista sentido sul. 03 - Renderização ampliada do Projeto e seu entorno em estilo de madeira, vista sentido nordeste. 04 - Renderização ampliada do Projeto em estilo de madeira, foco na galeria sensorial, vista sentido oeste. 05 - Renderização ampliada do Projeto e seu entorno em estilo de madeira, superior. 06 - Renderização ampliada do Projeto e seu entorno em estilo de madeira, vista sentido noroeste. 07 - Renderização ampliada do Projeto em estilo de madeira, foco na galeria sensorial, vista sentido leste. 08 - Renderização ampliada do Projeto em estilo de madeira, foco no mirante Av. Eng Antônio, vista sentido leste. 170


09 - Renderização ampliada do Projeto em estilo de madeira, foco para a Ágora e a entrada, vista sentido sudoeste. 10 - Renderização ampliada do Projeto em estilo de madeira, foco para o mirante central, vista sentido sul. 11 - Renderização interna em estilo madeira da Galeria Sensorial, Entrada Leste. 12 - Renderização interna em estilo madeira da Galeria Sensorial, interior. 13 - Renderização interna em estilo madeira da Galeria Sensorial, interior. 14 - Renderização externa em estilo madeira da entrada do Mirante Central, apontando para o horizonte da Reserva Serra D’agua fora da vista dos edificios habitacionais. 15 - Renderização externa em estilo madeira da fachada da galeria sensorial, um foco em suas aberturas, vista sentido sul. 16 - Renderização externa em estilo madeira do mirante central, vista sentido sul. 17 - Renderização Implantação do projeto

18 - Renderizaçao externa, Mirante 19 - Renderização externa, vista posterior da galeria sensorial 20 - Renderização externa, vista lateral direita do mirante. 21 - Renderização externa, vista da calçada para o acesso a galeria 22 - Renderização externa, entrada direita da Galeria Sensorial 23 - Renderização externa, acesso pelas rampas à Galeria Sensorial 24 - Renderização externa, Ágora e circulação pelas rampas 25 - Renderização externa, acesso ao Mirante 26 - Renderização externa, circulação por debaixo do Mirante 27 - Renderização externa, acesso ao Mirante 28 - Renderização interna, Mirante 29 - Renderização interna, Mirante 30 - Renderização interna, Mirante 31 - Renderização externa, Ágora 32 - Renderização exterma. Acesso pela

avenida à Galeria Sensorial 33 - Renderização externa, Galeria Senrorial 34 - Renderização externa, acesso a Galeria Sensorial 35 - Renderização externa, Galeria Sensorial 36 - Renderização externa, acesso a Galeria Sensorial 37 - Renderização interna, Galeria sensorial 38 - Renderização interna, Galeria sensorial 39 - Renderização interna, Galeria sensorial 40 - Renderização interna, Galeria sensorial 41 - Renderização interna, Galeria sensorial 42 - Renderização interna, Galeria sensorial 43 - Renderização Externa Noturna, Mirante 44 - Renderização Externa Noturna, Mirante 45 - Renderização Externa Noturna, Galeria Sensorial 46 - Renderização Externa Noturna, Galeria Sensorial 47 - Renderização Interna Noturna, Galeria Sensorial 48 - Renderização Interna Noturna, Galeria Sensorial

171



XVI. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho final de graduação foi um desafio no processo de formação para Arquitetura e Urbanismo, uma oportunidade que instigou o desenvolvimento pessoal e acadêmico, a pesquisar e aperfeiçoar novos conhecimentos. Desde o início, idealizado com a proposta de trazer novos diálogos e provocações, vindos de palavras, conceitos e ideias em meio a uma neblina do pensamento. Importante ressaltar que a pesquisa também se orientou a partir das disciplinas trabalhadas durante todo o curso de graduação, sobretudo o 9° e 10° semestre em 2021, os professores ampliaram e contribuíram para soluções e debates. Do qual este trabalho procura modestamente agregar da mesma forma para o ambiente acadêmico. O desenvolvimento teórico é a origem e a essência desta pesquisa, um caminho que ainda está repleto de conceitos e discussões complementares, e para tanto, o propósito destes capítulos alcançaram a expectativa de abrir um caminho para novas descobertas.

Referente ao aspecto projetual, é uma idealização distinta e particular, na mesma sobriedade em que foi pensado vale reconhecer que ele não resolve todas as problemáticas, algumas características do terreno escolhido, desnível, escala e as soluções de projeto — principalmente de circulação e transposição — indicam se aprofundar sobre as normas técnicas de acessibilidade e segurança, uma vez que o público alvo do projeto considera o sujeito em suas múltiplas características, por isto sua concepção valeria uma participação de outros profissionais e mesmo da população.

É notória a contribuição do orientador desta pesquisa, Raul Teixeira Penteado Neto, do qual dispôs de sua maestria e sensibilização no apontamento do desenvolvimento deste projeto foi um privilégio o ter como mentor. O meu agradecimento, a todos que se inclinaram a percorrer as palavras deste trabalho.

Cristian Willy Nascimento

173



175


XVII.

BERTRAND, G.; BERTRAND, C. Uma geografia transversal e de travessias: o meio ambiente através dos territórios e das temporalidades. Maringá: Massoni, 2007.

BIBLIOGRAFIA

CANTON, Katia. Coleção temas da Arte Contemporânea: Espaço e lugar - São Paulo. Editora WMF Martin Fontes - 2009

ABREU, M. (1998), Sobre a memória das cidades. Revista da Faculdade de Letras do Porto - Geografia, 14: 77-97

CARNEIRO, Clarisse; BINDE, Pitágoras José. A Psicologia Ecológica e o estudo dos acontecimentos da vida diária. Estud. psicol. (Natal), Natal , v. 2, n. 2, p. 363-376, Dec. 1997 .

ALBUQUERQUE, José Augusto Guilhon. Michel Foucault e a teoria do poder. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 7(1-2):105-110, outubro de 1995.

CORRAL-VERDUGO, Víctor. Psicologia Ambiental: objeto, “realidades” sócio-físicas e visões culturais de interações ambientecomportamento. Psicol. USP, São Paulo , v. 16, n. 1-2, p. 71-87, 2005.

ARQUICAST. Arquitetura, não imagem: lacaton & Vassal e o Prêmio Pritzker, 2011. ArchDaily Brasil.

HALL, Edward T.. A dimensão oculta. Coleção a, São Paulo, Martins Fontes, 2005.

AL ASSAL, Marianna Ramos Boghosian. Arenas nem tão pacíficasarquitetura e projetos políticos em Exposições Universais de finais da década de 1930. 2014. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

ARGAN, Giulio Carlo. Sobre a tipologia em arquitetura. Uma nova agenda para a arquitetura. São Paulo: Cosac Naify, p. 267-273, 2006.

AQUINO, Cássio Adriano Braz; DE OLIVEIRA MARTINS, José Clerton. Ócio, lazer e tempo livre na sociedade do consumo e do trabalho. Revista Subjetividades, v. 7, n. 2, p. 479-500, 2007. BARATTO, Romullo. Edifícios tranparents democracia , 2021. ArchDaily Brasil.

e

a

ilusão

da

BENCHIMOL, Jaime Larry. Pereira Passos, um Haussmann tropical: a renovação urbana da cidade do Rio de Janeiro no início do 176 século XX. 1992.

COELHO NETTO, J. Teixeira. A construção do sentido da Arquitetura. São Paulo, Editora Perspectiva, Coleção Debates, 3° Edição. 1997

French, John & Raven, Bertram. (1959). The bases of social power. JUNIOR.G. E, Lovisolo HR. Descontinuidades e continuidades do movimento higienista no Brasil do século XX. Rev Bras Cienc Esporte. 2003;25(1):41-54. KASTNER, Jeffrey; WALLIS, Brian (ed.). Land and Environmental Art. 2ª ed. [1ª ed., 1998]. Londres: Phaidon, 2001. KASTNER, JEFFREY;WALLIS, BRIAN. Land and environmental art/ [edited by JeffreyKastner; survey by BrianWallis]. London: Phaidon Press, 1998.


KOVACH, Mary (2020) “Leader Influence: A Research Review of French & Raven’s (1959) Power Dynamics,” The Journal of ValuesBased Leadership: Vol. 13 : Iss. 2 , Article 15. LE GOFF, Jacques et al. História e memória. 2003.

MAXIMIANO, Liz Abad. Considerações sobre o conceito de paisagem. Raega-O Espaço Geográfico em Análise, v. 8, 2004. MOSER, Gabriel. Psicologia Ambiental. Estud. psicol. (Natal), Natal , v. 3, n. 1, p. 121-130, June 1998 .

PALLASMAA, Juhani. Os olhos da pele: a arquitetura e os sentidos ; tradução técnica: Alexandre Salvaterra - Porto Alegre: Bookman, 2011.

PANERAI, Philippe; CASTEX, Jean; DEPAULE, Jean-Charles. Formes urbaines: de l’îlot à la barre. Marselha: Éditions Parenthèses, 2012 - Capítulo 1, A paris de Haussmann. (Coleção Eupalinos / A+U) PEREIRA, R. B. Quatremère de Quincy e a ideia de tipo. Revista de História da Arte e Arqueologia, n. 13, p. 55-77, 2009.

PEREIRA, S. G. (2005). A historiografia da arquitetura brasileira no século XIX e os conceitos de estilo e tipologia. Estudos IberoAmericanos, 31(2).

PINHEIRO, José Q.. Psicologia Ambiental: a busca de um ambiente melhor. Estud. psicol. (Natal), Natal , v. 2, n. 2, p. 377-398, dez. 1997. RODRIGUES, A. R. (2019). As Antichità Romane de Piranesi: um projeto para catalogação e conservação das ruínas da Antiguidade no século XVIII. Revista CPC, 14(27), 8-33.

SAWADA, Nathália Hatsue. Land Art: um estudo sobre as origens da Land Art e seus desdobramentos. Trabalho final de graduação. Universidade Estadual Paulista - UNESP. Bauru, 2011. SEMAD. BUCCI, L. A., FREITAS, M. L. M., DESCIO, F., LONGUI, E. L., FERREIRA, C. R., LIMA, L. M. P. R., & Pereira, P. R. B. (2018). Secretaria de Estado do Meio Ambiente - Plano de Manejo da Floresta Estadual Serra D’Agua -FESSEDA (2018). SIMMEL, Georg. A filosofia da paisagem. Revista Política e trabalho, n. 12, p. 15-24, 1996. SOARES DE OLIVEIRA SOBRINHO, Afonso. São Paulo e a Ideologia Higienista entre os séculos XIX e XX: A utopia da civilidade. Sociologias, Porto Alegre, RS, v. 15, n. 32, abr. 2013. ISSN 1807-0337 TSCHUMI, Bernard. Arquitetura e Limites I (1980). In: NESBITT, Kate (Org.). Uma nova agenda para a arquitetura: antlogia teórica (1965-1995). São Paulo: Cosac Naify,2006. TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar:: A perspectiva da experiência. SciELO-EDUEL, 2013. TUFNELL, Ben. Land art. London: Tate, 2006.

VARANDAS, M. J. (2011). Adriana Veríssimo Serrão (coord.), Filosofia da Paisagem. Uma Antologia. Coleção Aesthetica, Antropologia, Política, 01-502. ISBN: 9789728531966 VIVACUA, Flávia. Arte e ecologia, percorrendo equidistantes. Catálogo Ponto Florestal, 2009.

caminhos

WOODS, Lebbeus & Fracalossi, Igor. Espaço livre e a Tirania dos Tipos / Lebbeus Woods ,2012. ArchDaily Brasil.

177


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.