Entre o Urbano e o Rural Proposta para a Regeneração da Frente Ribeirinha de Alcochete
Cristiana Isabel Barrocas Enguiça (licenciada) Projeto elaborado para a obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura, com especialização em Urbanismo
Orientação Científica: Professor Doutor João Pedro Costa Professor Doutor António Borges Abel Professora Doutora Maria Matos Silva Júri: Presidente: Doutor João Miguel de Sousa Carvalho Ribeiro da Silva Leite Vogal: Doutor Jorge Manuel Frazão Cancela Vogal: Doutor João Pedro Costa
Documento Definitivo Lisboa, FA ULisboa, janeiro, 2020
Ao Professor Doutor Antรณnio Borges Abel.
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AGRADECIMENTOS A realização deste percurso foi possível graças à motivação e apoio de algumas pessoas. Ao professor João Pedro Costa, pela disponibilidade, ajuda e orientações ao longo de todo o Projeto Final de Mestrado. À professora Maria Matos Silva, que se mostrou sempre disponível a ajudar e a orientar e pela motivação que me deu nos momentos mais difíceis. Ao professor António Borges Abel, que infelizmente partiu cedo demais e não pôde ver a conclusão deste trabalho, mas sempre foi um apoio essencial deste projeto. Ele, que sempre me acompanhou ao longo do meu percurso académico e me foi motivando para o mesmo, entre as suas conversas de ensinamento e sabedoria, que contribuíram para a minha formação como Arquiteta e que com certeza levarei para o futuro nesta profissão. A sua dedicação, disponibilidade e partilha dos seus conselhos amigos, quer para mim, quer para alguns dos meus colegas, viverá para sempre no meu coração. Um obrigada é pouco, mas que este pouco chegue até si, ao qual sei que me responderia com um sorriso no rosto de nada menina. Aos meus pais, pelo seu amor incondicional. Por todos os ensinamentos e valores que sempre me passaram, pela compreensão que sempre tiveram e pela motivação em todos os momentos. Por tornarem todo este percurso possível, e sempre acreditarem em mim e me apoiarem na realização dos meus sonhos. À minha irmã, pelas noitadas de trabalho que tentou acompanhar, pela sua amizade e amor que me tornam mais forte. À minha tia Cristina, a minha avó. Por sempre acreditar nos meus sonhos e ajudar-me no alcance dos mesmos. Por me dar todo o seu amor e transmitir a sua força em todos os momentos da minha vida. Aos meus avós, que ficariam felizes e orgulhosos por me verem chegar aqui. Ao Manel, que um dia me disse Arquiteta-nos. Por ser o meu porto seguro, por toda a disponibilidade, ajuda, companhia, força e amor que sempre me deu. Por aturar todos os meus momentos difíceis, sempre com a sua compressão. E especialmente por sempre acreditar em mim. À Maria, pela ajuda prestada, amizade e força. E por saber que posso contar com ela para o que der e vier pois, não há distância que vença uma verdadeira amizade. À Tânia, por toda a companhia, amizade, apoio, ajuda, força e disponibilidade ao longo de todos os momentos que passámos ao longo do curso e que nos tornou além de colegas, amigas e cúmplices. À Flor, a minha irmã de coração. Ela a amiga de infância, que mesmo longe sempre me apoiou e motivou com as suas palavras e amizade. Às minhas colegas de casa, Joana e Vânia por toda a sua disponibilidade para ouvirem as minhas arquitetices sem muitas vezes perceberem nada do que lhes dizia mas nunca deixaram de me transmitir a sua força, carinho e amizade. No fundo a todos aqueles que de uma forma ou de outra contribuíram com palavras de motivação ao longo de todo o meu percurso, não esquecendo as pessoas fantásticas que Évora me deu. À minha Elektra e ao meu Floco.
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RESUMO A vila de Alcochete está inserida no território do Arco Ribeirinho Sul e é parte integrante do Estuário do Tejo, sendo o seu território marcado pela presença de uma área extensa de salinas, que em tempos foram o grande motor de desenvolvimento da região. Porém, a sua frente ribeirinha não traduz atualmente as potencialidades que este território oferece. A frente ribeirinha de Alcochete, à exceção da área que foi alvo de regeneração nos últimos anos, demonstra algumas quebras urbanas e sinais de algum abandono. Neste contexto do Projeto Final de Mestrado, será apresentada uma proposta de plano de regeneração da frente ribeirinha deste local, que pretende não só, a regeneração da mesma, resolvendo os problemas existentes de quebras, como também potenciar e valorizar a paisagem rural existente, onde estão inseridas as salinas, e assim oferecer à população novos ambientes e infraestruturas que estejam totalmente integrados na paisagem rural e no tecido urbano. Deste modo, a proposta de regeneração pretende preservar o local, não só para os habitantes da vila, como também para os visitantes, conseguindo criar um equilíbrio entre o território urbanizado e o território rural, contribuindo assim para manter presente a memória das salinas. Do ponto de vista teórico, a investigação foca-se no estudo: do conceito de espaço público; como o desenho do espaço público pode contribuir na estruturação da cidade; na temática de regeneração urbana e como esta atua através do desenho de espaço público; o conceito de frente ribeirinha; a relação de frentes ribeirinhas com espaço público e com a cidade; na temática das alterações climáticas aliada aos territórios ribeirinhos; e soluções de projetos relacionados com estas temáticas apresentadas. Nesta proposta está também fundamentada a análise de vários elementos caracterizadores do local, como o enquadramento histórico, a categoria existente, e os instrumentos de gestão territorial aplicados no local.
Palavras-Chave: Frente Ribeirinha, Espaço Público, Urbano, Rural, Memória V
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ABSTRACT The village of Alcochete is inserted in the territory of Arco Ribeirinho Sul and is an integral part of the Tejo’s estuary, and its territory is marked by the presence of an extensive area of salt pans, which were once the great development engine of the region. However, its riverside front does not currently reflect the potential that this territory offers. Alcochete’s riverside front, with the exception of the area that has been the target of regeneration in recent years, demonstrates some urban breaks and signs of some abandonment. In this context of the Final Master’s Project, a proposal will be presented for a plan for regeneration of the riverside front of this site, which intends not only to regenerate it, solving the existing problems of breaks, but also enhance and value the existing rural landscape, where salt pans are inserted, and thus offer the population new environments and infrastructures that are fully integrated into the rural landscape and urban fabric. Therefore, the regeneration proposal intends to preserve the place, not only for the inhabitants of the village, but also for visitors, managing to create a balance between urbanized territory and rural territory, thus contributing to keep present the memory of the salt pans. From the theoretical point of view, the research focuses on these points of study: on the concept of public space; how the design of public space can contribute to the structuring of the city; in the theme of urban regeneration and how it acts through the design of public space; the concept of riverside front; the relationship of riverside fronts with public space and with the city; climate change theme allied to riverside territories; and project solutions related to these themes presented. This proposal is also based on the analysis of several characterising elements of the site, such as the historical framework, the existing category, and the territorial management instruments applied on site.
Keywords: Riverside Front, Public Space, Urban, Rural, Memory VII
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INDICE GERAL AGRADECIMENTOS III RESUMO V ABSTRACT VII INDICE GERAL IX LISTA DE FIGURAS XI LISTA DE TABELAS XV LISTA DE ACRÓNIMOS XVII
I. Introdução
1.1 ENQUADRAMENTO TEMÁTICO 1.2 OBJETIVOS 1.3 QUESTÕES E HIPÓTESES DE TRABALHO 1.4 METODOLOGIA 1.5 ESTRUTURA DO PROJETO FINAL DE MESTRADO II. Poética entre Espaço Público e Frentes Ribeirinhas 2.1 ESPAÇO PÚBLICO 2.1.1 ESPAÇO PÚBLICO COMO ELEMENTO ESTRUTURANTE DA CIDADE 2.1.2 REGENERAÇÃO URBANA ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO PÚBLICO 2.2 FRENTE RIBEIRINHA 2.2.2 RESPOSTA ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS NESTES TERRITÓRIOS 2.3 SOLUÇÕES E PROJETOS EM FRENTES RIBEIRINHAS - CASOS DE REFERÊNCIA 2.4 CONCLUSÃO
2 2 3 4 4
9 10 12 15 18 23 31
III. Caso de Estudo: Alcochete e a sua Frente Ribeirinha
3.1 LEITURA DO LUGAR 3.2 ENQUADRAMENTO HISTÓRICO 3.3 ANALISE E ENQUADRAMENTO TERRITORIAL 3.3.1 REDE VIÁRIA NO CONCELHO 3.3.2 ACESSIBILIDADES: LISBOA - ALCOCHETE 3.3.3 ESTRUTURA ECOLÓGICA DO CONCELHO 3.3.4 SITUAÇÃO DE CHEIAS NO CONCELHO IX
35 36 50 51 52 53 54
INDICE GERAL
3.3.6 EDIFICADO E ESPAÇOS PRIVADOS E COLETIVOS 3.3.7 NÚMERO DE PISOS DO EDIFICADO 3.3.8 ESTADO DE CONSERVAÇÃO DO EDIFICADO 3.5.9 USOS DO EDIFICADO 3.4 INSTRUMENTOS DE GESTÃO TERRITORIAL 3.4.1 PROT – AML 3.4.2 PDM - ALCOCHETE 3.5 CONCLUSÃO
57 58 59 60 60 61 62 69
IV. À memória do Lugar: Visão Estratégica e Projeto 4.1 ESPAÇOS DE MEMÓRIA 4.1.2 OS MOINHOS COMO MARCO DA PRAIA FLUVIAL DE ALCOCHETE 4.1.3 SALINAS, UM TERRITÓRIO DA FRENTE RIBEIRINHA DA VILA 4.1.4 AS INDÚSTRIAS DA SECA DO BACALHAU E AS SALINAS 4.1.4.1 DESCREVENDO A INDÚSTRIA PESCAL 4.3 PROPOSTA ESTRATÉGICA E TERRITORIAL – ENTRE O URBANO E O RURAL 4.4 PROPOSTA URBANA – ENTRE O URBANO E O RURAL REGENERAÇÃO DA FRENTE RIBEIRINHA DE ALCOCHETE V. Considerações Finais CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA
73 74 75 77 79 85 89
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Anexos 131
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LISTA DE FIGURAS
LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Desenho do Pontão de Alcochete Figura 2 - Desenho Praça da CM de Alcochete – Largo São João 5 Figura 3 - Desenho da Frente Ribeirinha de Alcochete Figura 4 - Desenho da Frente Ribeirinha de Alcochete Figura 5 - Desenho da Frente Ribeirinha de Alcochete Figura 6- Algés, 29 de Setembro de 2011, preia-mar de 4,26m Figura 7 - Terreiro do Paço, 29 de Setembro de 2011, preia-mar de 4,26m Figura 8 - Planta de Cheias AML Figura 9 - Kop Van Zuid: antes da intervenção; master plan e depois da intervenção Figura 10 - Imagens Parque das Nações Figura 11 - Imagens Tagus Linear Park Figura 12 - Imagens Aker Brygge Figura 13 - Imagens Pedreira do Campo Figura 14 - Frente Ribeirinha de Chicago Figura 15 - Desenho da frente ribeirinha de Alcochete Figura 16 - Igreja da Mesericiórdia, aproximadamente em 1952 Figura 17 - Igreja da Mesericiórdia, aproximadamente 2018 Figura 18- Paredão da Frente Ribeirinha de Alcochete Figura 19 - Paredão da Frente Ribeirinha de Alcochete Figura 20 - Ponte - Cais, primeira metáde do século XX Figura 21- Ponte - Cais, novembro 2017 Figura 22 - Largo do Rocio, primeira metáde do século XX Figura 23 - Largo do Rocio, novembro 2017 Figura 24 - Planta Edificios Notáveis de Alcochete Figura 25 - Cartografia Militar de Alcochete, ano de 1937 Figura 26 -Ampliação da Malha Urbana, ano de 1937 Figura 27 - Cartografia Militar de Alcochete, ano de 1962 Figura 28 - Ampliação da Malha Urbana, ano de 1962 Figura 29 - Cartografia Militar de Alcochete, ano de 1992 Figura 30 - Ampliação da Malha Urbana, ano de 1992 Figura 31 - Cartografia Militar de Alcochete, ano de 2009 Figura 32 -Ampliação da Malha Urbana, ano de 2009 Figura 33 - Localização de Alcochete, em Portugal, no Distrito e Concelho do mesmo XI
9 11 13 14 16 19 19 20 25 26 27 28 29 30 35 37 37 37 37 37 37 37 37 40 43 43 45 45 47 47 49 49 50
Figura 34 - Relações de percentagens de crescimento entre 2001 e 2011 51 Figura 35 - Rede viária do concelho de Alcochete 51 Figura 36 - Rede de acessibilidades Lisboa - Alcochete 52 Figura 37 - Estrutura Ecológica do concelho de Alcochete 53 Figura 38 - Situação de cheias no concelho de Alcochete 54 Figura 39 - Carta do Resumo do Salgado do Tejo 55 Figura 40 - Área do Montado, Alcochete 56 Figura 41 - Área do Montado, Alcochete 56 Figura 42 - Área de Arrozais, Alcochete 56 Figura 43 - Área de Arrozais, Alcochete 56 Figura 44 - Área de Salinas, Alcochete 57 Figura 45 - Área de Salinas, Alcochete 57 Figura 46 - Área de Sapais, Alcochete 57 Figura 47 - Área de Sapais, Alcochete 57 Figura 48 - Planta de Ocupação do Solo 58 Figura 49 - Planta número de pisos 58 Figura 50 - Planta de Estado de Conservação 59 Figura 51 - Planta do Uso do Edificado 60 Figura 52 - Enquadramento dos Instrumentos de Gestão Territorial 61 Figura 53 - Planta das Unidades Territoriais do PROT - AML 61 Figura 54- Carta de Ordenamento do Território 63 Figura 55 - Aproximação à área de Intervenção (PDM - Carta de Ordenamento) 64 Figura 56 - Aproximação à área de Intervenção (PDM - Carta de Condicionantes) 65 Figura 57 - Carta da Reserva Ecológica Nacional e da Reserva Agricola Nacional 66 Figura 58 - Aproximação à área de Intervenção (REN e RAN) 67 Figura 59 - Aproximação à área de Intervenção (Planta de condicionantes das antigas indústrias) 68 Figura 60 - Desenho Indústria Abandonada, Alcochete 73 Figura 61 - Moinho da Praia dos Moinhos 74 Figura 62 - Moinho da Praia dos Moinhos 74 Figura 63 - Moinho da (praia dos moinhos) Perto das Indústrias 74 Figura 64 - Moinho da (praia dos moinhos) Perto das Indústrias 74 Figura 65 - Moinho da Praia dos Moinhos 75 Figura 66 - Moinho da (praia dos moinhos) Perto das Indústrias 75 Figura 67 - Moinho com intervenções em volta 75 Figura 68 - Moinho com intervenções em volta 75 Figura 69 - Salinas 77 XII
Figura 70 - Salinas Figura 71 - Salinas Figura 72 - Salinas Figura 73 - Indústria Pescal e Salinas Figura 74 - Indústria Pescal Figura 75 - Salinas Figura 76 - Indústria SNAB Figura 77 - Pescal Figura 78 - Interior da Pescal, tanques de lavagem do bacalhau Figura 79 - Interior da Pescal, corredor marcado por colunas Figura 80 - Interior da Pescal, asna de madeira e espaço sem cobertura Figura 81 - Interior da Pescal Figura 82 - Interior da Pescal Figura 83 - Interior da Pescal Figura 84 - Pescal, possivel casa do proprietário situada a Este Figura 85 - Antiga Indústria da Seca do Bacalhau - Pescal Figura 86 - SNAB, processo 26/1950 Figura 87 - SNAB, processo 56/1951 Figura 88 - SNAB, processo 38/1955 Figura 89 - SNAB, processo 119/1956 Figura 90 - SNAB, processo 1/1955 Figura 91 - SNAB, processo 64/1968 Figura 92 - SNAB, processo 278/1958 Figura 93 - Exterior Indústria SNAB Figura 94- Exterior Indústria SNAB Figura 95- Exterior Indústria SNAB Figura 96 - SNAB Figura 97 - Esquemas Gerais da Estratégia de Intervenção Figura 98 - Esquemasde Zonas Lineares Estratégia de Intervenção Figura 99 - Esquemas de Percursos de Intervenção Estratégia de Intervenção Figura 100 - Esquemas de ligação até ao Samouco Figura 101 - Corte Esquemático de ligação até ao Samouco Figura 102 - Salinas de Rio Maior, percursos Figura 103 - Área de Intervenção Existente Figura 104 - Esquemática de Intervenção Urbana Figura 105 - Foto da área de estudo em questão Figura 106 - Foto da área de estudo em questão XIII
77 77 77 79 79 79 79 80 80 80 80 80 80 80 80 80 81 81 82 82 83 83 83 84 84 84 84 85 86 86 87 87 88 90 90 91 91
Figura 107 - Foto da área de estudo em questão Figura 108 - Foto da área de estudo em questão Figura 109 - Foto da área de estudo em questão Figura 110 - Foto da área de estudo em questão Figura 111 - Foto da área de estudo em questão Figura 112 - Foto da área de estudo em questão Figura 113 - Foto da área de estudo em questão Figura 114 - Foto da área de estudo em questão Figura 115 - Desenho Parque Linear Ribeirinho Figura 116 - Rede Viária Proposta Figura 117 - Rede Pedonal Proposta Figura 118 - Ribeira das Naus, Lisboa Figura 119 - Praia Muline, Croácia Figura 120 - Sea Organs, Croácia Figura 121- Desenho Edificios Figura 122- Corte Esquemático Figura 123- Planta da área em estudo Figura 124- Corte Esquemático Figura 125 - Planta da área em estudo Figura 126 - Desenho Proposta para Terreno Vazio Figura 127 - Planta da área em estudo Figura 128 - Corte Esquemático Figura 129 - Planta Existente nas Salinas Figura 130 - Como era a Indústria Pescal Figura 131 - Como está a Indústria Pescal Figura 132 - Conjunto de imagens do Parco Dora Figura 133 - Estruturas da antiga Seca do Bacalhau Figura 134 - Psicinas nas Salinas de Aveiro Figura 135 - Spa Salinas de Castro Marim Figura 136 - Pescal, Indústria Recreativa das Salinas Figura 137 - Como era a Indústria SNAB Figura 138 - Como está a Indústria SNAB Figura 139 - SNAB, Parque de Campismo das Salinas Figura 140 - Edificios existentes na vila de Alcochete Figura 141 - Desenho do Bungallow e conceito do conjunto dos mesmos Figura 142 - Apoio ao Salineiro Figura 143- Apoio ao Salineiro
91 91 91 91 92 92 92 92 93 94 94 95 95 95 96 97 98 98 100 101 102 103 104 106 107 108 109 109 109 110 112 113 114 115 115 116 116 XIV
Figura 144- Planta proposta para as Salinas
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Figura 145- Planta do Edificado, Espaços Privados e Coletivos
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LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Projecto FCT “Urbanised Estuaries and Deltas”, FA/UTL e FSHS/UNL, 2012 21 Tabela 2 - Projecto FCT “Urbanised Estuaries and Deltas”, FA/UTL e FSHS/UNL, 2011 21 Tabela 3 - Eixos Estratégicos e Operações Estruturantes 62 Tabela 4 - Mapa de áreas resumido propostas para Alcochete 117
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LISTA DE ACRÓNIMOS AML – Área Metropolitana de Lisboa ARU – Área de Reabilitação Urbana CMA – Câmara Municipal de Alcochete DGOTDU – Direção Geral do Ordenamento e Território e Desenvolvimento Urbano FAUL – Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas INE – Instituto Nacional de Estatísticas IPCC – Intergovernmental Panelo on Climate Change1 LBPOTU – Lei de Base da Politica do Ordenamento do Território e do Urbanismo PAES – Plano de Ação para a Energia Sustentável PDM – Plano Diretor Municipal PEDU – Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano PFM – Projeto Final de Mestrado PGU – Plano Geral de Urbanização PMOT – Planos Municipais de Ordenamento do Território PNPOT – Programa Nacional da Politica de Ordenamento do Território PROT – AML – Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa PROT – Plano Regional de Ordenamento do Território RAN – Reserva Agrícola Nacional REN – Reserva Ecológica Nacional RJIGT – Regime Jurídico dos Instrumentos d e Gestão Territorial SNAB – Sociedade Nacional Armadores de Bacalhau
1 Painel Intergovernamental de Alterações Climáticas, tradução da autora.
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I. Introdução
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INTRODUÇÃO
1.1 ENQUADRAMENTO TEMÁTICO A escolha do tema presente no Projeto Final de Mestrado está essencialmente ligado ao interesse pelo equilíbrio entre o território urbano e o território rural. Alcochete surge assim como local de estudo para esta questão, devido ao facto desta vila ser um território já bastante urbanizado, apesar de alicerçada pelo meio rural que a rodeia e demarca, o mesmo que levou a grande parte do desenvolvimento da vila. A vila de Alcochete está desde sempre ligada aos trabalhos piscatórios, atividades agrícolas e exploração de extensas salinas, ativas e desativas, sendo também enriquecida com instalações fabris que também perderam as suas funções ao longo do tempo. É no território rural que se situam as salinas, que em tempos fizeram parte de toda a economia local e da história do território. Estas fazem parte da identidade da vila, sendo sem dúvida, motivo para o seu usufruto e da respetiva área envolvente, tornando-se não num lugar que já foi o motor de desenvolvimento da vila, mas sim encarado como um elemento que potencializa a revitalização daquele território. A união de forma equilibrada do território urbano e rural remete grandes desafios a nível urbanístico, como o pensar em várias escalas ao mesmo tempo, como também o desafio de projetar num território em que grande parte se encontra como reserva ecológica nacional e reserva agrícola nacional (REN e RAN), e o conseguir uma intervenção de forma sustentável para o território. Não só o perfeito equilíbrio de ambos os territórios é fundamental neste tema, como do mesmo modo, importa realçar a importância do planeamento urbano da vila e a regeneração da frente ribeirinha, sendo que a construção de acessibilidade surge como o elemento principal capaz de desencadear novas oportunidades de regeneração urbana, sendo o uso do espaço público propício à estruturação da mesma.
1.2 OBJETIVOS Os objetivos traçados para o presente Projeto Final de Mestrado, têm por base um conjunto de análises e pesquisas acerca de questões ligadas com as frentes ribeirinhas; o espaço público; a regeneração urbana de territórios semelhantes; e a temática das alterações climáticas como resposta nos territórios ribeirinhos. Estas questões dão lugar, por sua vez, ao traçar de uma estratégia de intervenção que vai desde a escala territorial até à escala urbana. A proposta para a escala territorial assenta na salvaguarda dos valores paisagísticos e ambientais para o território rural, potenciando a ligação através de percursos e infraestruturas ao meio urbano. O espaço público assume-se assim como o fio condutor desta proposta. Por sua vez, a proposta urbana centra-se na regeneração da frente
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ENTRE O URBANO E O RURAL
ribeirinha de Alcochete, com a principal intenção de proximidade ao rio, esta que é quebrada atualmente pelo paredão da vila, ao mesmo tempo que se criam condições de espaço público e uma ligação ao meio rural.
1.3 QUESTÕES E HIPÓTESES DE TRABALHO 1- De que forma se pode dar um novo uso as salinas de Alcochete integrando no conjunto urbano da frente ribeirinha? As salinas sempre fizeram parte do território da vila, das suas memórias, estas eram o ganha-pão de muita daquela gente, e interligá-las com o conjunto urbano da frente ribeirinha, de forma que não exista quebras na leitura, é de facto fundamental, para que exista uma leitura de continuidade e memória. Aproveitando as funções já exercidas na Fundação Salinas do Samouco, e criando mais funções e percursos, para estas para que as mesmas sejam interligadas com o conjunto urbano, é uma forma de conseguir interligar toda esta área. A exploração de salinas nos dias de hoje, já não é muito utilizada, com isto, pensa-se poder incentivar a economia local. 2- De que forma pode a desindustrialização ser uma oportunidade de regeneração de Alcochete? Sendo Alcochete uma frente ribeirinha marcada pela presença da desindustrialização, acaba esta por ser uma área de oportunidade. Estes lugares onde estas predominam, são lugares tradicionalmente estratégicos, pelo facto de todos eles se localizarem perto do rio, devido as suas antigas funções. Conseguindo manter as memórias das funções históricas da área, mas com um novo programa de usos, consegue-se que estas voltem a fazer parte da vivência da vila numa forma de regeneração da mesma. 3- Pode o Espaço Público, resolver problemas de quebras urbanas e desconexões da frente ribeirinha de Alcochete? O espaço público é o motor das cidades, é ele que consegue dar ao local a experiência de encontros e relações, é nele que se desenvolvem as diversas atividades coletivas. Quando pensamos em espaço públicos, pensamos este como elemento articulador, e num território como Alcochete, onde a existência de quebras urbanas e desconexões da frente ribeirinha é bem visível, o espaço público é fundamental para conseguir articular e resolver estes problemas desta ordem.
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INTRODUÇÃO
1.4 METODOLOGIA A metodologia usada para a realização do Projeto Final de Mestrado, divide-se por uma parte teórica e uma parte prática. Numa primeira parte de desenvolvimento do trabalho, procedeu-se à evolução da parte teórica, onde a mesma foi dividida em duas partes, sendo que a primeira assenta sobretudo numa pesquisa documental, e posteriormente, à sua análise critica, de forma a definir os conceitos a estudar, a par da seleção de casos de referência com relevância para as questões que se pretendem tratar. Numa segunda fase teórica, fez-se então o enquadramento e contextualização da área em estudo, com a recolha de elementos cartográficos, históricos, estatísticos, fotográficos e desenhos locais, assim como os planos em vigor que fazem parte do território em estudo, nomeadamente o Plano Diretor Municipal, a Reserva Agrícola Nacional e a Reserva Ecológica Nacional, com o intuito de analisar não só o território, como também perceber a sua história e vivências. De salientar a importância real que foi estabelecida ao longo do contacto com a população local e da observação que foi recolhida in locus, foi fundamental para entender o território, sendo que percorrê-lo e vivenciá-lo aliados a todo o conhecimento adquirido, ajudou no desenvolvimento de um programa de intervenção adequado às características do território. Por fim, no que diz respeito à parte prática, tendo em conta as temáticas abordadas na parte teórica, tornou-se possível o desenvolvimento de uma proposta estratégica territorial e uma proposta urbana, cumprindo assim os objetivos traçados para este Projeto Final de Mestrado.
1.5 ESTRUTURA DO PROJETO FINAL DE MESTRADO O presente Projeto Final de Mestrado como já foi referido, está organizado mediante cinco partes: - A primeira parte corresponde à introdução, onde são descritas as motivações e as suas problemáticas, objetivos e processo metodológico para o desenvolvimento do trabalho. - A segunda parte, que diz respeito à conceptualização teórica, onde surge o tema através do conceito Espaço Público, de onde são posteriormente relacionados dois temas com este conceito, como: Espaço Público como Elemento Estruturante da Cidade; e Regeneração Urbana através do Projeto de Espaço Público. Em seguida o conceito de Frente Ribeirinha, um tema cujo objetivo era a fusão de ambos os conceitos, do qual resultou Espaço Público entre a Frente Ribeirinha e a Cidade, e por fim, relacionando com o conceito de Frentes Ribeirinhas surge o tema Resposta às Alterações Climáticas neste território.
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ENTRE O URBANO E O RURAL
- A terceira parte corresponde ao enquadramento territorial e à caracterização da área em estudo, a qual se divide em quatro noções. A primeira é uma leitura geral sobre o território em estudo, na segunda é realizada uma aproximação histórica, na terceira são executadas análises do território e por último, são efetuadas análises aos instrumentos de gestão territorial do território em estudo. - A quarta parte corresponde à parte prática, na qual se definiram as estratégias de intervenção com base nas reflexões realizadas na parte teórica. Nesta parte surgem então duas escalas de trabalho, a escala estratégica e territorial e a escala urbana, onde as propostas desenvolvidas se complementam, nomeadamente na procura de um equilíbrio e união entre o território urbano e rural, com o intuito do desenvolvimento de atividades que permitem a utilização de todo aquele território por parte da população local e por possíveis turistas. - A quinta e última parte, diz respeito às considerações finais, como resultado da posição crítica perante o desenvolvimento do trabalho. Por fim, como complemento de todo o Projeto Final de Mestrado, foram incluídas peças escritas e gráficas com o propósito de auxiliar o entendimento do processo de trabalho até às intervenções projetuais.
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II. Poética entre Espaço Público e Frentes Ribeirinhas
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POÉTICA ENYRE ESPAÇO PÚBLICO E FRENTES RIBEIRINHAS
O espaço público é um tema cada vez mais analisado e discutido, sendo este um elemento de grande importância nas cidades, o qual é usado diariamente por todos os habitantes e visto como uma componente fundamental no bom funcionamento da mesma. Por isso este é um território que tem de ser pensado e adequado a todas as necessidades quotidianas de todas as pessoas, pensado sempre como espaço acessível e de desenho apropriável a todos. Os territórios das frentes ribeirinhas são espaços que já perderam muito do seu uso inicial (geralmente de caráter industrial), e que recorrentemente se encontram ao abandono e degradados. Sendo estes territórios situados muito próximos das cidades, ou mesmo dentro destas, são espaços essenciais para que toda a cidade funcione corretamente. Neste capítulo é então procurado como poderemos encontrar um equilíbrio na relação espaço público e frentes ribeirinhas através da regeneração urbana, não esquecendo todas as características, problemáticas e benefícios das zonas referidas, e conseguindo assim melhores condições de vida na cidade, não deixando assim estes espaços com grande potencial urbanístico ao abandono e permitindo que as pessoas possam usufruir dos mesmos em harmonia.
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O ESPAÇO PÚBLICO
2.1 ESPAÇO PÚBLICO
Breve introdução ao tema, definições, conceitos de autores e, por fim como o corolário, o que o autor pensa, define, como espaço público
Consideramos então de uma forma geral, que o espaço público é um local de uso comum por todos os cidadãos. É nele que se desenvolvem atividades coletivas, com convívio e trocas entre grupos diversos que compõem a sociedade urbana (KOSTOF 1992, p.123-124). Considera-se espaço público toda a área, em princípio exterior e não edificada, de livre acesso e uso coletivo (BRANDÃO, 2002 p.189). Relacionamos assim então a existência do espaço público diretamente com a formação de uma cultura agregadora e compartilhada entre os cidadãos. O espaço público tem uma estrutura definida pelas ruas, praças, jardins, becos, passagens, entre outros aspetos urbanos. Esta estrutura é delineada por tudo o que é desenhado e onde os edifícios estabelecem alguns limites. Fazem assim parte do espaço público as árvores; os espaços verdes; o chão que se pisa; a iluminação pública; o mobiliário e a arte urbana que o compõem; e até mesmo as pessoas que o habitam (SALGADO, 2000). A rua, já referida como espaço público, funciona como um elemento articulador das localidades e da mobilidade, sendo também considerada assim, a formadora da estrutura urbana. Para que possamos ter um espaço público confortável é fundamental que se tratem as ruas de igual modo, sendo que não basta termos uma praça esteticamente bonita e projetada ao pormenor, se as ruas que permitem o acesso a esta não são um lugar confortável e de acesso a todos os cidadãos. A rua é espaço público e espaço público é o sinónimo de cidade (CORDEIRO & VIDAL, 2008). Quando projetamos o espaço público, é necessário que tenhamos em conta que cada cidadão tem necessidades diversas, e que todos devem conseguir circular no espaço público livremente, sem qualquer tipo de obstáculo ou mesmo perigo. Projetar espaço público é também prepará-lo para o desenvolvimento tecnológico e ambiental, mesmo estando estes em constantes alterações. É fundamental que o espaço público esteja preparado para qualquer alteração, e que seja versátil, e que ele próprio consiga evoluir para diversos usos e funções.
Figura 1 Desenho do Pontão de Alcochete Elaborado pela autora
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ESTADO DO CONHECIMENTO
Com a constante evolução tecnológica e os vários desenvolvimentos a nível ambiental, temos de pensar nas consequências das alterações climáticas no espaço público. Apesar de não podermos controlar as mesmas apenas com um desenho adequado da cidade, temos de projetar de forma apropriada, pensando nas suas consequências adjacentes, e soluções que possam ajudar a reduzir os impactos das mesmas (COSTA, 2013). De modo geral, é fundamental pensarmos o espaço público para quem o vive, com as devidas condições e acessibilidade a todos, pois estando ao nível de qualquer cidadão deve ser adequado a qualquer um. Devemos pensar que o mesmo se deve adequar a qualquer uso que poderá vir a tomar, tendo sempre em conta um espaço acessível, confortável e também a resolução de vários problemas no funcionamento da cidade. É o espaço das relações entre as pessoas, e entre elas, sendo concebido e desenhado para ter um papel construtor da identidade urbana (BRANDÃO E REMESCAR, 2003).
2.1.1 ESPAÇO PÚBLICO COMO ELEMENTO ESTRUTURANTE DA CIDADE O espaço público é tido como uma componente fundamental no bom funcionamento da cidade, pois sendo um tema cada vez mais discutido e analisado, tem visto a sua importância no dia-a-dia da mesma ser reforçada. O autor Indovina defende esta mesma ideia, de que o espaço público é essencial, até mesmo talvez o fundador da cidade, pois é um espaço indispensável á vida urbana (INDOVINA, 2002). (…) O espaço público deve ser considerado fundador da cidade; no fundo, o espaço público é a cidade. (…) (INDOVINA, 2002, p.119). Para o autor Brandão, o espaço público é o principal património comum dos habitantes da cidade e é um elemento primordial da estruturação dos tecidos urbanos, exprimindo muito de cada cidade e sociedade que nela habita (BRANDÃO, 2008). Sendo o espaço público elementar na harmonia da cidade, o mesmo não pode faltar quando pensamos na questão de estruturação urbana, onde um dos grandes objetivos do mesmo é a questão de organização do espaço na cidade. O espaço público é considerado também como um espaço que é de uso comum para todos, e fazendo a cidade parte deste espaço, é necessário que o espaço público seja apelativo e eficiente para se tornar a sala de estar de uma cidade, pois está no ponto central do futuro das cidades (GELH, 2010). Entendendo a cidade como um local de encontro e relações, o espaço público apresenta nela o seu ambiente e um papel determinante. É neste que se desenvolvem atividades coletivas, como o convívio e trocas. Esta existência de espaço público remete-nos para o direto relacionamento deste com a formação de uma cultura entre cidadãos que vivem a cidade. A rua é considerada o espaço público, sendo o elemento articulador da cidade e da sua mobilidade, assumindo-se também como a formadora da estrutura urbana. De acordo com o autor Lynch, a rua é o local 10
O ESPAÇO PÚBLICO
principal em que se forma a imagem da cidade, já que é por ela que os habitantes transmitem e tem a oportunidade de observá-la e entendê-la (LYNCH, 2000). Do espaço público fazem parte as ruas, praças, parques, jardins, avenidas, entre outros elementos que conformam o espaço público na cidade e constituem assim o primeiro elemento de perceção do lugar. Todos estes são espaços livres a qualquer cidadão e estão inseridos na malha urbana, com função de convívio social, e como elemento organizador da circulação. A apropriação dos espaços públicos também fazem do mesmo, uma forma de estruturação urbana da cidade. De acordo com o autor Cullen, o abrigo, a sombra, conveniência e um ambiente aprazível são as causas mais frequentes da apropriação de espaço e as condições que levam à ocupação de determinados locais (CULLEN, 2015). Para o autor Lamas, a rua é considerada, de facto, como estruturadora do traçado urbano. O autor refere que a mesma corresponde a um dos elementos mais claramente identificáveis, tanto na forma de uma cidade como no gesto de a projetar. Assenta num suporte geográfico preexistente, regula a disposição dos edifícios e quarteirões, liga os vários espaços e partes da cidade, e confunde-se com o gesto criador (LAMAS, 1992, p. 98-100). A praça é um elemento morfológico das cidades ocidentais, que se distingue de outros espaços, que são resultado acidental de alargamento ou confluência de traçados - pela organização espacial e intencionalidade de desenho. (...) A praça pressupõe a vontade e o desenho de uma forma e de um programa (LAMAS, 1992, p.100). O autor caracteriza assim a rua como lugar de circulação e a praça como lugar intencional do encontro, da permanência, dos acontecimentos, de práticas sociais, de manifestações de vida urbana e comunitária e de prestígio, e, consequentemente, de funções estruturantes e arquiteturas significativas (LAMAS, 1992, p.102). Sobre o parque, o autor Lamas não atribui conceitos específicos como nos casos anteriores referentes à rua e à praça. Os parques são muitas vezes definidos como espaços verdes. Estas estruturas verdes são reconhecidas pelo autor como elementos identificáveis na estrutura urbana. Caracterizam a imagem da cidade; têm individualidade própria; desempenham funções precisas: são elementos de composição e do desenho urbano; servem para organizar, definir e conter espaços (LAMAS, 1992, p. 106).
Figura 2 Desenho Praça da CM de Alcochete – Largo São João 5 Elaborado pela autora
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ESTADO DO CONHECIMENTO
(…) Fazer cidade hoje é, em primeiro lugar, fazer cidade sobre a cidade, fazer centro sobre centros, criar novas centralidades e eixos articuladores que deem continuidade física e simbólica, estabelecendo bons compromissos entre o tecido histórico e o novo, fornecendo a mistura social e funcional em todas as suas áreas. (…) (BRANDÃO, 2000, p. 87). Em suma, o espaço público possui um papel estruturante e organizador na cidade. Se a esse ponto aliarmos a consideração de que a água pode ser espaço público, principalmente quando pensamos nesta como espaço utilizável, como via de transporte ou mesmo como espaço de lazer, podemos afirmar que esta é como um prolongamento da cidade, e assim sendo o espaço público pode funcionar quase como um elo de ligação entre a água e a cidade, sendo assim um elemento fundamental e construtivo da cidade. É o espaço público que faz a ligação entre todas as funções da cidade (GEHL, 20007).
2.1.2 REGENERAÇÃO URBANA ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO PÚBLICO Entendemos de um modo geral que regeneração urbana é a transformação de uma área da cidade, a fim de melhorar alguns aspetos, ou seja, locais que estejam degradados ou por algum motivo, precisem de reformulação sejam alvos de intervenção com o objetivo de se tornarem em espaços mais apelativos e úteis ao quotidiano. Normalmente este tipo de intervenções ocorrem em centros históricos que se foram degradando com o passar do tempo, dando aso a estas intervenções que surgem com o apelo de voltar a dar qualidade àquele espaço urbano. Porém, o conceito de regeneração urbana, não se baseia num conceito simples e concreto, pois este abrange um conjunto de características e conceitos em simultâneo que variam consoante a intervenção que está em causa. Por vezes, confundimos o conceito de regeneração urbana, com o conceito de reabilitação urbana, renovação urbana e requalificação urbana, pelo simples facto dos mesmos estarem todos relacionados ao terem a finalidade de transformar o espaço urbano. Para entender melhor estes conceitos, e de acordo com o Decreto Regulamentar nº9/2009 de 29 de Maio, a Direção Geral de Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano (DGOTDU), estabelece que a reabilitação urbana trata problemas a nível de espaço público e dos edifícios, no que toca a melhorar as condições de uso e conservação dos mesmos, mantendo ou não a alteração do uso existente no edifício. Já a renovação urbana, é uma prática mais utilizada em áreas degradadas que precisam de fortes intervenções, uma vez que permite demolições e reconstruções de edifícios. A requalificação urbana atua do mesmo modo que a renovação urbana, uma vez que é um conceito que pretende devolver um determinado espaço à cidade, através do uso de novas funções nesse mesmo espaço. Por fim, o conceito de regeneração urbana surge, como uma espécie de junção dos vários conceitos referidos, com o objetivo de restituir a qualidade de 12
O ESPAÇO PÚBLICO
um determinado espaço urbano, consiste assim numa estratégia abrangente ligada à qualidade de cada cidade, tendo em conta questões tanto sociais, como económicas, ecológicas e culturais (FERREIRA e CRAVEIRO, 1989 in MOREIRA, 2007). Alguns processos de construção e recuperação de equipamentos e infraestruturas, e assim como a criação e a valorização de espaços públicos ou zonas verdes, através de uma dinamização social, económica e cultural, caracterizam alguns dos processos de intervenção da regeneração urbana. De acordo com o autor Moura, acrescentamos que, a regeneração urbana tem um carácter mobilizador, acelerador e estratégico, e está principalmente voltada para o estabelecimento de novos padrões de organização e utilização dos territórios (...) (MOURA et al., 2006, p. 10). Porém, quando pensamos em intervenções como a regeneração urbana, devemos tentar recuperar ou manter a memória do local de intervenção, de forma a valorizar o mesmo, não apenas no que toca ao património existente, mas assim como as vivências do mesmo local, para que a história, a memória daquele lugar de intervenção permaneça, independentemente da nova função e uso que o mesmo vai tomar (MOREIRA, 2007). O processo de regeneração urbana está relacionado com o espaço público, uma vez que muitas destas operações são realizadas no mesmo. Quando falamos em regeneração urbana em espaços públicos, muitas vezes essa transformação é realizada em áreas que estão vazias, ou sem um uso aparente, e é esse vazio que surge como uma peça determinante num processo de regeneração urbana e dessa regeneração surge muitas vezes o espaço público. Ao observarmos as cidades de hoje em dia, cada vez estão mais presentes os inúmeros espaços designados como vazios. O espaço vazio é um termo, muitas vezes utilizado para designar áreas abandonadas, espaços e edifícios obsoletos e improdutivos, muitas vezes indefinidos e sem limites específicos. Cabe aos processos de regeneração urbana, transformar assim estes espaços vazios, em espaços construídos e com ambientes de caráter urbano.
Figura 3 Desenho da Frente Ribeirinha de Alcochete Elaborado pela autora
Na cidade contemporânea um dos maiores recursos para a sua reavaliação reside nos lugares degradados, obsoletos, ou marginais, que encontramos disseminados desde o tecido urbano consolidado 13
ESTADO DO CONHECIMENTO
às periferias. Formam uma verdadeira rede de hipóteses que, quando avaliadas em conjunto, podem produzir um profundo impulso reformador da cidade. Vazios urbanos, Brownfields, Terrain Vague ou Espaços Banais são designações comuns para estes lugares que deveriam estar presentes, de forma consistente e concentrada, nos planos estratégicos da cidade (TRIENAL DE ARQUITETURA DE LISBOA, 2007). De acordo com o autor Portas, este considera que o espaço público é o reflexo da sociedade e o retrato da cidade, sendo que a ligação dos cidadãos com os lugares é tão importante como a participação daqueles na criação e manutenção destes (PORTAS, 2003). Porém, hoje em dia, alguns espaços públicos não oferecem as condições que promovem o desenvolvimento da vida coletiva, isto acontece muitas vezes devido às condições em que se encontra o edificado que delimita esse mesmo espaço, sendo que a degradação e abandono dos espaços geram insegurança e não oferecem as condições que os cidadãos consideram necessárias.
Figura 4 Desenho da Frente Ribeirinha de Alcochete Elaborado pela autora
Os espaços públicos têm sido, em simultâneo, alvo de intervenção por parte dos poderes públicos, no sentido da sua (re) qualificação e do renovar do seu histórico protagonismo, mas até agora não têm sido capazes de promover, de forma consolidada e generalizada, o retorno à praça, à rua, ao largo, caminhando, pelo contrário, na direção da pura estetização do espaço (GONÇALVES, 2006). De acordo com o autor Gonçalves, a preocupação com a dimensão simbólica do espaço público tem vindo a aumentar, pois para este autor, o espaço público é o elemento, por excelência, que transforma a cidade no contrário 14
FRENTE RIBEIRINHA
do somatório de bairros e de pequenos universos herméticos (GONÇALVES, 2006). Com os instrumentos de regeneração urbana, podemos devolver características de segurança e harmonia às praças, ruas ou jardins. O bom desenho do Espaço Público, além de assegurar em muitos casos um adequado contributo para a valorização do património arquitectónico e urbanístico, para a reconversão das zonas ribeirinhas, para a recuperação do comércio tradicional, ou para a recuperação de áreas urbanas degradadas, torna-se cada vez mais uma parte própria da cultura urbana, da cidadania (BRANDÃO, 2002, p.16). Em suma, este tipo de intervenções surgem como um instrumento com o objetivo de melhorar as condições de vida das populações nas cidades, e dos espaços públicos, sendo implicada assim a introdução de uma nova centralidade nas áreas de intervenção (MOURA et al., 2006).
2.2 FRENTE RIBEIRINHA
Breve introdução ao tema, definições, conceitos de autores e, por fim como o corolário, o que o autor pensa, define, como frente ribeirinha
Entendemos de uma forma geral que, frente ribeirinha é um território que se situa perto do rio ou ribeira. Estas frentes ribeirinhas, designadas a partir de um termo recorrente da tradução waterfront, o qual não faz distinção entre frentes fluviais e marítimas (FERREIRA, 1997, p.69), é um conceito que se refere essencialmente a uma interface terra e água, que compreende a faixa ou extensão de terreno a um curso de água, com um uso urbano/industrial. Estes territórios são também designados como um corredor de contacto com a linha de separação entre a terra e a água (CASTRO 2011). As mesmas são também designadas como um plano de água adjacente, confirmando-se a uma faixa de largura variável integrada num conjunto urbano que contacta fisicamente com o rio (FERNANDES, 2014 p.64). Este é um território específico com uma abordagem diferente de frente ribeirinha para frente ribeirinha, e de observador para observador, pois uns assumem a frente ribeirinha pelo contacto da água com a cidade, e outros assumem o mesmo de acordo com características mais especificas como a geografia do território. Também se assume, frente ribeirinha como as zonas de contacto direto com o rio ou mesmo as cotas altas da cidade, onde não existe contacto com o rio para além de visual, ou até mesmo as várias zonas de transição entre estes territórios. Assim como quaisquer outros territórios são passíveis de sofrer alterações, os territór os de frentes ribeirinhas não fogem á regra, estando em constante transformação, não só sob as tendências sociais, económicas e tecnológicas, como também às alterações climáticas, que se manifestam cada vez mais nestes territórios. As frentes de água constituem um espaço que, desde a Revolução Industrial, tem a permanente mudança como principal característica (COSTA 2013).
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ESTADO DO CONHECIMENTO
As frentes ribeirinhas foram outrora também um lugar estratégico com localização das indústrias, derivado ao facto de este ser um lugar estratégico entre terra e mar, e de fácil acesso a ambos. Mas devido ao abandono destas indústrias, nomeadamente a que se refere o termo desindustrialização2, estes lugares têm sido usados nas últimas décadas, como lugares de profundas transformações tanto a nível urbano, como a nível social e económico, sendo hoje em dia muito procurados para intervenções arquitetónicas e urbanísticas. São inúmeras as intervenções que se verificam hoje em dia em frentes ribeirinhas, tanto a nível de espaço público como também a nova ocupação e um novo propósito para as indústrias que estão desativadas atualmente, tendo qualquer uma destas um grande impacto físico que acaba por alterar a relação das frentes ribeirinhas com a cidade e até com os seus habitantes. De um modo geral e, sendo este um assunto cada vez mais estudado, é importante pensar nos processos de transformação das frentes ribeirinhas, e como podemos projetar esses esp aços, tendo em conta as alterações climáticas, que são um assunto constantemente presente nestes territórios, não deixando de parte o objetivo, de as tornar um lugar habitável, acessível e confortável para os cidadãos que vivem estes espaços, geralmente públicos, que fazem parte da história da cidade.
Figura 5 Desenho da Frente Ribeirinha de Alcochete Elaborado pela autora
2 Perda do caracter industrial. In: https://dicionario.pribe dezembro de 2018]
ram.org/desindustrializar [consultado dia 19 de
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FRENTE RIBEIRINHA
2.2.1 ESPAÇO PÚBLICO ENTRE A FRENTE RIBEIRINHA E A CIDADE Como já vimos anteriormente, o espaço público é a cidade, e as frentes ribeirinhas expressam-se como lugares de dinâmica e de comunicação entre um limite terrestre e um limite aquático. O limite terrestre é chamado de cidade, quando o mesmo é povoado, estando assim ambas em perfeita comunicação e harmonia, e complementando-se uma á outra. De acordo com o autor Kostof, a cidade é caracterizada pela maneira como os sítios se encontram com a água, definindo a sua forma, bem como a sua identidade (KOSTOF, 1999). A relação das cidades com a água constitui um tema recorrente na história do urbanismo e da arquitetura, mas outra coisa não seria de esperar, sendo a água um recurso indispensável à sobrevivência humana, e portanto à sobrevivência da própria cidade (PORTAS, 1998). Segundo o autor Hayuth, a água foi a grande razão do desenvolvimento das cidades, pois a proximidade entre portos e cidades, era sobretudo devido ao recurso existente a nível de transporte. Muitas vezes o porto encontrava-se em meio urbano, junto ao centro comercial da cidade, para o fácil escoamento da mercadoria para venda ao público (HAYUTH, 1982). De acordo com a autora Maria Saraiva, cidades e rios têm uma longa história de geografias comuns, de relações de convivência cujas origens se cruzam e que potenciam benefícios para as sociedades que deles dependem (SARAIVA, 2009). Partindo do princípio que a água sempre fez parte da vida das cidades, e na maioria das vezes foi a causa da origem e desenvolvimento das mesmas, as frentes de água não são desta forma algo isolado, estão ligadas com toda a sua envolvente, como é o caso da cidade em si e das pessoas que nela vivem e usufruem desta de diversas maneiras (JACOBS, 1961). Desde os primórdios da humanidade, que o ser humano teve sempre a necessidade de localizar-se perto dos rios, por diversas razões: defesa; comércio; comunicações; aproveitamento do recurso água nas suas múltiplas finalidades; fonte de alimento; fornecimento de água às populações; entre outras, tirando assim todos os benefícios aliados á proximidade com o rio. O rio simplificava a comunicação, uma vez que permitia e facilitava as trocas comerciais, tornando-se assim num fator determinante para a permanência das populações nestes territórios. (…) Cidades à beira-mar deveriam viver sobre o mar, no sentido em que a presença visível do oceano deveria ser apreensível do maior número possível de locais na cidade (o que não significa um horizonte permanentemente coberto de água, mas talvez o brilho da reminiscência, ou a indiciação do abismo, ao fundo de uma rua) (…) (CULLEN 2015, p.192). De acordo com o autor Cullen, para as cidades do litoral, o mar é a sua razão de ser, e mesmo quando os seus habitantes vivem em casinhas aconchegadas com o seu aparelho de rádio, como qualquer família do interior, nunca é uma cidade do interior; encontra-se à beira do abismo, face a um horizonte constante mas enigmático (CULLEN, 2015). Tal como a água, estas frentes são um elemento essencial na vida do homem e hoje tentam afirmar-se como espaços vocacionados 17
ESTADO DO CONHECIMENTO
para o uso público, possibilitando uma harmonia no espaço, tanto a nível físico, como a nível visual aos seus utilizadores. Com esta ideia, pretende-se que as frentes ribeirinhas melhorem e proporcionem qualidade às cidades, integrando e melhorando aspetos económicos, culturais e sociais das mesmas. Contudo, nem sempre a relação Frentes Ribeirinhas e Cidade tem a melhor conexão, surgindo cada vez mais projetos de recuperação, regeneração e reabilitação de frentes ribeirinhas. De acordo com a autora Mª Saraiva, as cidades imprimiram aos rios que as banham um forte cunho cultural e patrimonial, contribuindo para a diversidade e qualidade da paisagem, refletindo-se no espelho do seu rio construindo valores identitários e simbólicos que marcam esta intensa mas nem sempre pacífica relação (SARAIVA, 2009). A relação entre o binómio cidade-rio, traz-nos problemáticas cada vez maiores e preocupantes no âmbito ambiental, nomeadamente questões como o aumento do abastecimento de água, a recolha de tratamento de águas residuais, a degradação da qualidade de água e dos habitats ribeirinhos, a impermeabilização crescente dos solos e o aumento do risco de cheias e inundações. São problemas que assumem uma grande importância e complexidade, e que temos de ter em conta quando pensamos e projetamos para estas frentes de água (SARAIVA, 2009). Assim, a água surge como um dos elementos mais ameaçadores, mas também indispensável à vida do ser humano, despertando um desafio aquando da sua utilização e controlo, tendo sempre estes de ser adaptados às crescentes alterações climáticas. De acordo com a autora Mª Saraiva, nas intervenções em zonas ribeirinhas urbanas dever-se-á procurar um equilíbrio possível e desejável entre os objetivos sociais, ecológicos, ambientais, culturais e económicos, assente tudo isto na ideia da sustentabilidade. Face aos desafios atuais adjacentes às mudanças climáticas, poder-se-ão criar oportunidades para que a cidade possa devolver ao rio, espaço que permita uma maior riqueza ambiental e diversidade ecológica, uma melhor convivência e adaptação a riscos naturais ou induzidos pelo homem, como a eventual subida do nível das águas costeiras, estabelecendo uma interface mais dinâmica entre o natural e o construído. Haverão sempre aspetos a ter em conta quando pensamos em intervir nas frentes de água, pois estas têm de ser pensadas como sítios sensíveis no que toca a estas questões ambientais para que possa existir um equilíbrio ambiental das mesmas (SARAIVA, 2009).
2.2.2 RESPOSTA ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS NESTES TERRITÓRIOS Tendo em conta ao facto de que, não existe propriamente uma definição conceptual exata sobre este tema, podemos dizer que se entendem por alterações climáticas, as mudanças referentes à variação do clima em escala global ou dos climas regionais da Terra ao longo do tempo. Estas variações a que nos referimos, dizem respeito a mudanças de temperatura, precipitação e nebulosidade, bem como tempestades, ciclones, furacões e subida do nível das águas (IPCC, 2015). 18
FRENTE RIBEIRINHA
O quarto relatório do IPCC conclui que o aquecimento do sistema climático é claro, sendo evidente o aumento da temperatura média global da superfície da terra e dos oceanos, a fusão generalizada da neve e gelo, o aumento do nível médio do mar e as alterações nos sistemas biológicos terrestres, incluindo a mudança e a deslocação de diversas espécies de animais e plantas (IPCC, 2007). Quando falamos então, em cenários de alterações climáticas, temos de ter a perfeita noção que estas representam uma realidade dinâmica e que, quando analisada num contexto urbano, atuam de forma inesperada e, em muitos casos, devastadora. Apesar das alterações climáticas serem um tema que sempre fez parte da evolução do planeta Terra, o problema com que nos deparamos atualmente, e esta necessidade de agir, tem a ver com o facto de estas mudanças estarem a acontecer de forma rápida, num curto espaço de tempo, e apresentando valores acima do normal. As alterações climáticas apresentam assim, novos impactos sobre o território, com tendência a serem cada vez mais problemáticos. Estes impactos dependem muito do comportamento da humanidade, e das medidas tomadas para controlar estas mudanças. Portanto, este é uma temática que se torna cada vez mais relevante, quando pensamos também na construção das cidades contemporâneas, e até mesmo quando pensamos como se vivem os espaços da cidade. Mesmo que as cidades sejam consideradas fruto de sucessivas intervenções, ao longo do tempo, com as suas devidas marcas no território, é necessário ter um conhecimento das características físicas, sociais, económicas e tecnológicas da cidade, no presente, pois só assim é possível identificarmos fragilidades associadas à problemática das alterações climáticas nos territórios em estudo e respetivos impactos nos tecidos urbanos (COSTA, 2013). Figura 6 Algés, 29 de Setembro de 2011, preia-mar de 4,26m Maria Matos Silva
Figura 7 Terreiro do Paço, 29 de Setembro de 2011, preia-mar de 4,26m Maria Matos Silva
O território continental de Portugal, por se encontrar localizado na região do Mediterrâneo, é considerado uma área particularmente vulnerável às alterações climáticas, devido a vários fatores, como a latitude e a altitude, a proximidade ao 19
ESTADO DO CONHECIMENTO
Oceano Atlântico, a sua extensa frente marítima, sendo então estes, aspetos que vão auxiliar nas consequências das alterações climáticas, especialmente em áreas de frentes marítimas e áreas florestais, e até a biodiversidade existente nas mesmas. Assim, de acordo com este contexto, a figura 8 ilustra a suscetibilidade da ocorrência de cheias progressivas, cheias rápidas e galgamentos oceânicos a que a Área Metropolitana de Lisboa (AML) está sujeita. Como podemos observar na mesma, é nas frentes ribeirinhas que verificamos de forma mais efetiva, a complexa atuação das alterações climáticas, pois são zonas sensíveis e com aptidão a estes cenários, devido à sua especificidade e proximidade com a água. Alguns dos fatores agravantes que atuam sobre estes territórios de frentes ribeirinhas são:
Figura 8 Planta de Cheias AML Elaborado pela autora in: http:// www.ccdrlvt.pt/pt/ riscos-naturais---cheias-e-inunacoes/9489. htm
(…) (1) a subida do nível do mar; (2) as inundações fluviais; (3) a ocorrência de flash flood3, agravando padrões de inundações mesmo em zonas onde a precipitação média anual possa vir a ser inferior à atual; (4) a alteração nos padrões e frequência de eventos climatológicos extremos, como tempestades, vagas de frio e de calor, furacões, tornados, etc.; e (5) os efeitos nos equilíbrios das espécies e paisagens locais (…) (COSTA, 2013, p. 44). De acordo com o autor Costa, as alterações climáticas compreendem diversos fenómenos naturais, abrangidos sucintamente no parágrafo anterior. Sendo que a subida do nível da água, é apresentado como o problema mais preocupante nestes territórios, 3 Cheias rápidas. Tradução da autora, baseada no livro do autor Costa, 2013.
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FRENTE RIBEIRINHA
podemos considerar então, talvez como a principal dificuldade, as inundações que acontecem cada vez mais pelo agravamento de ocorrências de chuvas fortes inesperadas, ou seja, os fenómenos climatológicos extremos tendem a ser mais frequentes, alterando também as temperaturas que passam de muito quentes a muito frias, ou vice-versa, em diversos pontos do mundo (COSTA, 2013). Segundo o IPCC, o nível do mar aumentou em média 1,8mm por ano, de 1961 a 2003, sendo o intervalo de aumento de 1,3mm a 2,3mm. Nos últimos anos, de 1993 a 2003, o aumento médio do nível do mar tem sido muito significativo, visto ter subido 3,1mm por ano, num intervalo de 2,4mm a 3,8mm (IPCC, 2007).
Tabela 1 Projecto FCT “Urbanised Estuaries and Deltas”, FA/UTL e FSHS/UNL, 2012 (articulada com a ARH-Tejo, 2010)
Tabela 2 Fonte: Projecto FCT “Urbanised Estuaries and Deltas”, FA/UTL e FSHS/UNL, 2011
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ESTADO DO CONHECIMENTO
As consequências das alterações climáticas são incertas, sendo que estas, a médio e longo prazo, e de acordo com o autor Costa, vão dando lugar a diferentes inovações na área do urbanismo: (…) trata-se pois, de desenvolver soluções de desenho urbano de projeto de arquitetura, de novos materiais e tecnologias construtivas, capazes de acomodar impactos como, entre outros, a subida do nível do mar, as inundações ou fenómenos flash flood (…) (COSTA, 2013, p.131). Mas todas estas consequências das alterações climáticas, podem ser melhoradas, como já foi referido no parágrafo anterior, para além das respostas a nível urbanista, podemos melhorar as mesmas, através de duas respostas, sendo estas denominadas de mitigação e adaptação. Ambas as respostas têm características distintas que se complementam, e que devem sobretudo ser inter-relacionadas para construir respostas eficazes. No que diz respeito á mitigação, podemos afirmar que é um conjunto de ações de prevenção e políticas de desenvolvimento realizadas à escala local com impacto geral, embora com um tempo de retorno de décadas. São também políticas indispensáveis para evitar um aumento das alterações climáticas a longo prazo, e beneficiam de todo um conjunto de sistemas urbanos e naturais. Já as medidas de adaptação, apenas beneficiam determinados sistemas, com um impacto à escala local e regional e um efeito imediato ou de curto prazo (COSTA, 2013). Para além dos aspetos, mencionados nos parágrafos anteriores, existem algumas medidas de adaptação, que ajudam a desacelerar os impactos das alterações climáticas nestes territórios ribeirinhos, como o reforço e a melhoria das condições de funcionamento do sistema hidrológico, através da implementação de bacias de retenção, pavimentação permeável, captação e armazenamento nos edifícios; requalificação do solo em áreas aluvionares, promovendo a respetiva reafectação à estrutura ecológica urbana; incorporação de bolsas de agricultura urbana; aumento das áreas verdes com rega reduzida; diminuição do consumo de água na rega dos espaços verdes através da instalação de sistemas que monitorizam e regulem a rega conforme a necessidade de água do solo; densificação dos interfaces de transportes coletivos para inibir as deslocações em transporte individual (COSTA, 2013). Para além disto, é necessário também, que sejam ajustadas as estruturas urbanas existentes, de forma a diminuir os impactos das inundações nestas zonas mais sensíveis, frentes ribeirinhas, e adotando conceitos de intervenções já utilizados em casos internacionais, que de algum modo sejam adaptáveis ao território português. Alguns exemplos destes conceitos debruçam-se sobre: (1) a criação de diques que acomodam o desenho de espaço publico, (2) criação de sistemas flexíveis que pressupõem a existência de estruturas móveis inseríveis nos edifícios e espaços públicos, (3) a criação de bacias de retenção das águas pluviais em momento de crise, (4) a criação de bacias de contenção, e (5) a captação de água das chuvas pelos edifícios existentes (COSTA, 2013).
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CASOS DE REFERÊNCIA
A necessidade de utilização de soluções de reaproveitamento de águas pluviais e residuais é imprescindível para o controlo de um ambiente sustentável. Estas alterações refletem-se também na qualidade de vida e saúde da sociedade (ALCAFORADO, Andrade & Oliveira, 2009). Neste sentido é cada vez mais importante proceder ao desenho do planeamento urbano e à conceção das cidades contemporâneas tendo em conta os cenários das alterações climáticas, de forma a dotar as cidades de mecanismos de combate aos fatores climáticos e promovendo o desenvolvimento de soluções urbanas inovadoras (COSTA, 2013). Em suma, o desenho urbano da cidade enfrenta novos desafios, como a adaptação da mesma à crescente dificuldade que é fazer face às mudanças climáticas, bem como às novas formas de ocupação urbana nos territórios de frentes ribeirinhas. Com isto, cabe ao arquiteto e urbanista adaptarem uma solução criativa, que consiga combater de algum modo este tema que cada vez nos deixa mais inquietos, num cenário de incertezas. Começamos a projetar hoje a partir da consciencialização e sobre os impactos territoriais deste tema para o futuro.
2.3 SOLUÇÕES E PROJETOS EM FRENTES RIBEIRINHAS CASOS DE REFERÊNCIA Quando falamos em frentes ribeirinhas, para além de termos a perfeita noção das questões ambientais a que estas estão sujeitas, como já foi referido anteriormente, torna-se também relevante conhecer as diversas soluções e projetos que podemos observar nestes territórios. A relação de frentes ribeirinhas e a cidade, passa pela implementação de políticas de crescimento e desenvolvimento, e pela elaboração de estratégias e programas, que devemos ter em atenção nas intervenções nas frentes ribeirinhas (Brandão, 2000). Estes territórios são todos diferentes, e por isso, cada intervenção deve implicar diferentes métodos e programas que se adaptem ao local de intervenção. Mesmo que exista um conjunto de fatores que são comuns nestas ingerências, devemos sempre adaptar o programa ao território onde estamos a intervir, não esquecendo que as intervenções a realizar nas frentes ribeirinhas devem tentar responder também às necessidades de expansão da cidade e dos novos espaços projetados, através da integração das novas propostas nos tecidos urbanos envolventes, de modo a evitar a segregação dos espaços já existentes com os recentes projetos espaciais, permitindo que a intervenção estenda a sua influência às zonas envolventes (Coelho e Costa, 2006). Podemos pensar nos novos espaços a criar nas frentes ribeirinhas, como uma nova centralidade, isto principalmente se ficarem localizados o mais distante do centro histórico. Para que possamos criar uma nova centralidade é necessário um bom sistema de acessibilidades e a definição de um programa diverso, com habitação, serviços, zonas de recreio e turismo, novos equipamentos coletivos e espaços públicos apelativos (Costa, 2007). Para evitar a segregação de vários espaços, o 23
CASOS DE REFERÊNCIA
sistema de acessibilidades de uma nova centralidade deve integrar-se com as vias existentes ou, propor a alteração dessas, para que existam ligações com toda a cidade e não apenas com os novos espaços. Podemos associar este conceito de nova centralidade igualmente a uma estratégia de melhoramento da imagem da cidade, através da criação de novas dinâmicas realizadas através de equipamentos culturais, espaços de lazer, construção de serviços e mesmo pela promoção de turismo na área. Ao observarmos alguns exemplos de projetos em frentes ribeirinhas, percebemos os diferentes conceitos e as diferentes intervenções que ocorrem nestes territórios, como também as tendências ou tipologias que cada um estabelece. Como primeiro exemplo destes projetos em frentes ribeirinhas, surge o Porto de Roterdão, também reconhecido como o porto mais importante da Europa. Este nasceu e desenvolveu-se desde o núcleo velho da cidade, devido à crescente atividade portuária sentida durante a industrialização, no entanto devido à forte crise financeira sentida na Holanda, nas décadas de 1970 e 1980 as indústrias começaram a fragilizar, sendo obrigadas a deslocar as áreas portuárias da margem Sul de Nieuwe Maas, para a foz do rio. Sendo assim, estas áreas outrora ocupadas tornaramseterritórios vazios e abandonados. Localizando-se estes territórios perto do centro da cidade, terá então surgido uma região com diferentes problemas de conexão com antigos bairros e com esse mesmo centro, Estando esta rodeada por caminhos-deferro e armazéns devolutos, este acontecimento veio deixar uma imagem degradada daquela que era uma importante frente ribeirinha. Segundo o autor Remesar, os primeiros desenvolvimentos urbanos nesta área portuária terão começado assim que se fizeram sentir os primeiros efeitos da crise financeira. Foi então nessa altura que se elaborou a renovação do Plano Básico de 1946 para a Reconstrução da parte interior do porto. Mais tarde, no Master Plan de 1985 as intervenções foram ambiciosas, com fortes objetivos sociais, económicos e ambientais, continuando a controlar assim a emergente expansão urbana (REMESAR e COSTA, 2004). Esta intervenção no porto de Roterdão, compreende um conjunto de projetos para regeneração cujos planeamentos abrangiam não só a zona litoral, mas também o centro da cidade, sendo para além disto desenvolvidas intervenções em antigas áreas portuárias abandonadas. E a estratégia desta intervenção concentrou-se numa conexão do norte ao sul de Roterdão. Esta infraestrutura de ligação, um projeto da autoria do arquiteto Rem Koolhaas, foi denominada como a ponte Erasmus, criando um elo de ligação entre Weena e Coolsingel, tendo a linha de caminho-de-ferro que já era existente, sido inserida num túnel, com a finalidade de eliminar a poluição sonora. Esta intervenção deu origem a uma grande área de antigos terrenos industriais, dando possibilidade de uma nova integração na paisagem urbana e natural, salientando a integração do porto na cidade (Remesar e Costa, 2004). Desta intervenção resultou um investimento em novas infraestruturas de transportes e um desencadeamento de uma nova densidade urbana, dado origem a uso misto. Foram projetadas zonas diferentes, mas nestas enumeramos quatro funções dominantes: habitação; serviços; lazer e cultura; e a recreação de turismo marítimo.
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CASOS DE REFERÊNCIA
Figura 9 Kop Van Zuid: antes da intervenção; master plan e depois da i ntervenção
Uma área de 125 hectares, 5.300 novas habitações, 400 000 m2 de espaços para escritórios, 35000 m2 para serviços e comércio, 30000 m2 de espaços educacionais e 30000 m2 de espaços recreativos entre outros (Tradução da autora)4. Assim, esta intervenção, dota uma grande área de domínio público, de novos investimentos e novos habitantes, através da nova centralidade criada, alargando assim as oportunidades de inclusão social, transformando Kop Van Zuid num local urbano com mais qualidade de vida. Existem intervenções em frentes ribeirinhas que são muitas vezes motivadas por eventos de interesse internacional, como foram os jogos olímpicos ou as exposições mundiais (Portas, 1998), dando especial destaque a equipamentos culturais e recreativos. Como segundo exemplo destes projetos em frentes ribeirinhas, surge o caso de regeneração ribeirinha do atual Parque das Nações, em Lisboa, cuja intervenção foi realizada com o intuito de ser integrado num evento internacional que foi realizado em 1998, denominado como Exposição Mundial. É um exemplo destas novas centralidades, uma vez que reaproximou a cidade do rio. Aposta-se assim na consolidação de um tecido urbano, que permaneceu após a Expo 98, onde se verificar am fortes investimentos públicos em infraestruturas e equipamentos (Portas, 1998). Esta intervenção foi realizada sobre uma grande área que se encontrava degradada e com algumas infraestruturas industriais, as quais em grande maioria foram removidas, tendo ficando apenas uma antiga chaminé como marco da memória do lugar. O conceito do planeamento urbano era sobretudo revalorizar a relação da cidade com o rio, recuperando a paisagem e o ambiente, assegurar a integração deste espaço com a cidade, de modo a que fosse possível criar uma nova centralidade, incluindo ainda uma grande variedade de funções, tais como terminal de transportes rodoviário e ferroviário e também as acessibilidades estabelecidas através da Ponte Vasco da Gama (Soares, 1998). Além disto, o Parque das Nações é constituído por alguns pavilhões que foram construídos para a Expo 98, dos quais foram mantidos e adaptados a novas funções; e por uma sucessão de jardins e espaços públicos, com zonas de estar, com sombras de árvores, com cafés e restaurantes, tendo estes espaços a função também de separar os espaços pedonais e espaços rodoviários. Também existe o passeio ribeirinho, que foi criado para percorrer uma extensão de 5km, nos quais podemos experimentar várias formas de contacto com a água, das quais enumero os passadiços sobre 4 …an area of 125 ha, 5.300 new dwellings, 400.000 m2 office space, 35.000m2 business / working space, 30.000m2 educational facilities and 30.000m2 recreational and other facilities… (Remesar e Costa, 2004, p.19).
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CASOS DE REFERÊNCIA
o rio, caminhos na margem sem barreiras e uma zona ligeiramente rebaixada, oferecendo assim diferentes sensações de contacto e proximidade com a água5 No geral, das intervenções em frentes ribeirinhas, a valorização e o tratamento cuidado dos espaços públicos são processos comuns que podemos observar, isto acontece principalmente nas zonas em confronto com a água, onde muitas vezes são
Figura 10 Imagens Parque das Nações: fotografia aérea da extensão da frente ribeirinha; Percursos Ribeirinhos ao lado da água e sobre a água
criadas relações de proximidade entre espaço público e água. Este contacto direto com a água cada vez atrai mais pessoas para estes ditos espaços, nos quais muitas vezes são potenciadas atividades diretamente relacionadas com a água, como os desportos náuticos e marítimos, ou mesmo atividades mais tradicionais, como são a pesca ou a construção e restauração naval, promovendo assim uma maior sustentabilidade económica e maiores benefícios sociais e culturais, não esquecendo de mencionar que em picos de calor as pessoas têm mais tendência em deslocarse para locais com água, e por isso estes espaços públicos bem como o acesso aos mesmos devem ter um desenho confortável e acessível a todos (Costa, 2013). Como terceiro caso de referência surge, o projeto Tagus Linear Park, um projeto realizado pela equipa Arquitetura Paisagista Topiaris em 2013 e situado na Póvoa de Santa Iria. É, portanto, projetado num espaço de grandes dimensões que anteriormente estava destinado à indústria, bloqueando assim o acesso da população à frente de rio. Por isso, o principal objetivo deste projeto era devolver à população o acesso a este, oferecendo assim espaços de lazer e recreio para praticar desporto, pesca, percursos para realização de caminhadas e andar de bicicleta ou simplesmente para desfrutar do cenário envolvente. Um outro objetivo deste projeto foi manter as características naturais da paisagem envolvente de forma a 5 In: http://www.portaldasnacoes.pt/ [consultado dia 15 de janeiro de 2019]
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CASOS DE REFERÊNCIA
salvaguardar os sistemas naturais, promovendo a sua preservação. Este parque combina uma área multifuncional denominada Praia dos Pescadores, a qual tem um percurso em madeira que faz a conexão entre os vários espaços de lazer e recreio com as áreas naturais, que não sofreram qualquer intervenção. Este parque conta ainda com um observatório de pássaros, acessível através do percurso, e com um centro de interpretação ambiental. Este projeto tem um caráter mais ambiental, não deixando, no entanto, que o espaço público consiga estabelecer a ligação com a frente ribeirinha, e o contacto da população com o rio que anteriormente tinha sido perdido.6
Figura 11 Imagens Tagus Linear Park: fotografia aérea da extensão; Espaços de Recreio e Percursos Ribeirinhos
Atualmente algumas áreas ribeirinhas encontram-se abandonadas e com vestígios de instalações industriais, como já foram referidas anteriormente, estas são consideradas muitas vezes como oportunidade para conservar e valorizar a identidade original do lugar, isto através de reabilitação e reconversão das antigas indústrias. Quando intervimos nestas áreas, devemos manter as atividades portuárias que ainda permaneçam em funcionamento e que sejam compatíveis com o desenvolvimento urbano destas frentes ribeirinhas. Estas intervenções são muitas vezes, áreas transformadas em espaços abertos, com elementos culturais e recreativos, e muitas vezes com antigas instalações portuárias e armazéns reabilitados para usufruto da população, através de novos usos e novas atividades, reavendo assim o sentido de memória destes espaços, muitas vezes já perdidos. As intervenções realizadas na zona de Aker Brygge, em Oslo na Noruega, surgem como um quarto exemplo de referência de intervenções em frentes ribeirinhas, cujo projeto se afirma da responsabilidade dos arquitetos Link Landskap, em 2014. Estas intervenções começaram no final da década de 1980, com a transformação da frente de água pós-industrial, e através da criação de novas vivências urbanas, com a reabilitação dos armazéns e estaleiros navais que vieram a albergar funções comerciais. Denotava-se como objetivo principal desta intervenção a ligação de Oslo 6 In: https://www.archdaily.com/515442/tagus-linear-park-topiaris-landscape-architecture [consultado dia 15 janeiro de 2019]
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CASOS DE REFERÊNCIA
à sua frente de água esquecida. Mais recentemente, têm vindo a ser desenvolvidos vários projetos e intervenções nesta zona, estes mais focados no tratamento do espaço público junto à água, e com o principal objetivo de revitalizar Aker Brygge foi criado assim, um passeio ribeirinho de acesso público, que liga a cidade de Este a Oeste, este com cerca de 12Km, onde foram introduzidos ao longo do passeio ribeirinho, espaços de escritórios numa zona maioritariamente comercial. Esta intervenção gera um maior contacto físico e visual com a paisagem e promove a interação das pessoas no novo espaço, agora mais amplo, com zonas de estar, zonas de passeio e zonas livres e abertas onde podem ocorrer eventos ou atividades não previstas para o local.7
Figura 12 Imagens Aker Brygge: Vista parcial da renovação do passeio ribeirinho;
No que toca a frentes ribeirinhas sem infraestruturas nem atividades industriais, como são o exemplo as zonas húmidas próximas das áreas urbanas, devemos focar a intervenção na revalorização ambiental, através da preservação e conservação dos ecossistemas e habitats existentes na área. Nesta abordagem de salvaguarda ambiental, podem surgir oportunidades de criar novos espaços públicos, mas estes de caráter mais natural, perto de cursos de água abertos, assim como construir percursos pedonais que se desenvolvem até à água e ao longo da mesma, podendo também criar plataformas sobre a água, muitas vezes flutuantes, esta localizadas em pontos nomeadamente estratégicos, sempre com a preocupação de não danificar o ambiente e de modo a sensibilizar a população para estas questões mais ambientais (Sorares, 2004). 7 In: http://www.landezine.com/index.php/2015/12/the-waterfront-promenade-at-aker-brygge-by-linklandskap/[consultado dia 15 janeiro de 2019]
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Como quinto exemplo de referência de intervenções em frentes ribeirinhas, e especialmente relacionado com estas questões ambientais, referidas anteriormente surge o projeto de Requalificação Paisagística da Pedreira do Campo, um projeto da responsabilidade de M – Arquitetos, realizado em 2012, na Vila do Porto, no local da Pedreira do Campo, que é considerado, atualmente, monumento natural regional. O principal objetivo desta requalificação era valorizar o património geológico presente no local e consequentemente a paisagem natural envolvente, permitindo a sua utilização sem alterar a sua identidade, como é comum neste tipo de projetos. Este, é assim composto por dois percursos, sendo que um deles é destinado à interpretação do local através de um passadiço em madeira maciça, sobrelevado em relação ao terreno que termina com vista para o mar, e o outro é integrado num percurso pedestre existente. A utilização da madeira como material dominante permite a integração do passadiço no cenário natural envolvente.8 Não podemos deixar de referir os projetos em frentes ribeirinhas, onde a água foi artificialmente regularizada ou murada, e em áreas onde o território é muitas vezes e em maioria um aterro sobre a água, como vimos em muitas áreas portuárias. Nestes casos, como no exemplo anterior, é possível adotar uma intervenção e abordagem menos urbana, através de processos de renaturalização parcial destas áreas, transformandoas em parques urbanos, sendo que neste casos são parques de água (Garcia, 2011). Figura 13 Imagens Pedreira do Campo: várias vistas do passadiço
Como sexto e último exemplo de intervenções em frentes ribeirinhas, surge o Rio de Chicago, que originalmente era um curso de água pantanoso, tendo sido transformado num canal amplo que viria a suportar a atividade industrial da cidade. Há cerca de uma década foi criado o projeto Chicago Riverwalk que serviu de iniciativa para a recuperação do rio, trazendo benefícios ecológicos, recreativos e económicos para a cidade. Este projeto foi desenvolvido através de uma sequência de várias tipologias de espaço público, baseadas em atividades náuticas, que na a maioria funcionam como praças que se abrem para o rio, criando múltiplas relações com a água e novas dinâmicas e vivências para a cidade ao longo de todo o percurso do rio.9
8 In: https://www.archdaily.com.br/br/757229/requalificacao-paisagistica-da-pedreira-do-campo-m-arquitectos [consultado dia 17 de janeiro de 2019] 9 In: https://www.archdaily.com.br/br/794654/chicago-riverwalk-departamento-de-transporte-de-chicago [consultado dia 17 de janeiro de 2019]
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CASOS DE REFERÊNCIA
Porém, para além destas intervenções temos de ter em conta sempre o fator dos riscos naturais, os quais já referidos, sendo que nunca é demais relembrarmo-nos que estes territórios são sensíveis a cheias e inundações que ocorrem em zonas de frente ribeirinhas, bem com às alterações climáticas, principalmente no que toca à subida do nível médio do mar. Muitos já são os projetos e estratégias que integram propostas inovadoras para minimizar os fatores de risco (Costa, 2013).
Figura 14 Conjunto de imagens representativas das várias tipologias de espaço público criadas na frente ribeirinha de Chicago
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CONCLUSÃO
2.4 CONCLUSÃO Cada vez mais, verificamos uma procura abrangente de territórios de frentes ribeirinhas para regeneração dos mesmos em espaços públicos de qualidade, onde o contacto das pessoas com a água, seja físico ou visual, é o principal objetivo. Tirar o máximo de partido destes espaços, seja através de atividades náuticas, percursos ribeirinhos e mesmo atrações turísticas, são também o grande foco nestes locais. Em territórios de frentes ribeirinhas de caráter mais natural e ecológico, a preservação do mesmo e dos seres vivos que neles habitam, é o principal foco, passando estes a serem assim pontos atrativos da região para quem os vive ou apenas visita. Quando falamos em frentes ribeirinhas, é imprescindível não haver preocupação sobre a temática das alterações climáticas. Este tema anda de mãos dadas com o tema da frente ribeirinha, pois um dos maiores problemas que é falado atualmente é a subida do nível das águas do mar. Com isto, não podemos projetar numa frente ribeirinha sem que tenhamos em conta esta inquietação. Em suma, não podemos assim pensar em frentes ribeirinhas e espaço público como territórios isolados. Frentes ribeirinhas e espaço público são elementos que se complementam e projetados com todas as condições necessárias, promovem o bom funcionamento da cidade. No entanto, é fundamental ter sempre em conta que quando projetamos em determinada frente ribeirinha, o desenho seja capaz de adaptar-se de algum modo ao tema proliferativo das alterações climáticas.
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III. Caso de Estudo: Alcochete e a sua Frente Ribeirinha
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CASO DE ESTUDO
O tema das frentes ribeirinhas é um tema muito comum, no entanto, este trabalho foca-se no caso específico de uma vila que, para além de se situar numa frente ribeirinha, com vista privilegiada sobre Lisboa, tem presente dois diferentes tipos de territórios: o território urbano e o território rural. Ambos fazem parte deste conjunto da frente ribeirinha, sendo que no território rural, existem as salinas da vila, que sempre fizeram parte da história da mesma e foram também um dos grandes motores de desenvolvimento económico, a par da pesca e, nos primórdios, da produção de cerâmica. Alcochete situa-se na porta de entrada para a mais importante zona húmida da Europa: a Reserva Natural do Estuário do Tejo, onde existem cenários únicos de contacto e proximidade com a natureza. No núcleo antigo da vila, conserva-se ainda, um vasto património histórico, quer no traçado urbano quer no edificado. Fazendo parte da área metropolitana de Lisboa, toda a vila de Alcochete é banhada pelo rio Tejo, dizendo-se que esta é abraçada pelo mesmo. Ao longo do tempo conseguiu sempre preservar as suas origens e tradições, sendo uma vila com cheiro a Tejo e a sal.
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LEITURA DO LUGAR
3.1 LEITURA DO LUGAR (…) Debruçada sobre o magnifico estuário do Tejo, na sua margem esquerda, olhando-o e dominando-o em toda a sua extensão, Alcochete, a mais ribeirinha das povoações por ele banhadas, surge a nossos olhos, quando vista do rio, como que aconchegada num canto do litoral… (…) (NUNES 1993, p. 119). Alcochete é um concelho ribeirinho integrado na mais dinâmica região do sistema urbano nacional, a Área Metropolitana de Lisboa, na Reserva Natural do Estuário do Tejo. Estamos perante um território marcado pela presença do rio Tejo e de ecossistemas naturais, pela ocupação urbana, essencialmente concentrada na frente ribeirinha, por um mosaico agrícola no seu setor poente e pela transição para a charneca ribatejana, no setor nascente (CMA, 2017). Esta vila, encerra um território marcado por fortíssimas transformações a diversos níveis, induzidos pela melhoria de acessibilidade, não apenas a Lisboa (Ponte Vasco da Gama) mas a toda a região metropolitana e ao sul do país, e que deu origem a fenómenos de desenvolvimento urbano exponencial dos aglomerados da frente ribeirinha, de crescente urbanização de aglomerados de pequena dimensão em espaço rural, de criação de áreas vocacionadas para a instalação de atividades especializadas (logística e distribuição, por exemplo), de aproveitamento crescente de terras agrícolas de elevado valor produtivo, e de afirmação enquanto espaço de elevado valor natural e paisagístico. (…) Este troço do Tejo, no qual se encontra a nossa região, é banhado por águas calmas, abrigadas pelas duas largas margens, este imenso mar vê as suas águas ciclicamente renovadas, o que permite a existência de uma biodiversidade rara, característica própria dos ambientes estuarinos. Tal riqueza de recursos constituiu elemento chave para a fixação de gentes nas suas margens ao longo dos tempos. Por estas razões, nunca o Tejo teve aqui um papel de barreira física, mas foi sim, e sempre, um forte aglutinador de potenciais a explorar. A pesca, a produção de sal ou a moagem nos moinhos da maré são exemplos de como o Homem soube tão bem explorar os recursos proporcionados pelo rio (…) (CMA 2003, p. 7 e 8).
Figura 15 1 Desenho da frente ribeirinha de Alcochete Elaborado pela autora
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3.2 ENQUADRAMENTO HISTÓRICO
ENQUADRAMENTO HISTÓRICO
No contexto das povoações ribeirinhas da margem sul do estuário do Tejo, a origem de Alcochete, à semelhança de muitas outras, remonta à Baixa Idade Média. Esta certeza é justificada pela pacificação do território no período pós-reconquista cristã, e consequente exploração económica, assente sobretudo na viticultura e na salicultura. Nos séculos XV/XVI, muitos aglomerados ribeirinhos próximos de Lisboa beneficiaram da sua proximidade e dos contactos feitos por via fluvial, dos quais fazia parte Alcochete. Entre estes aglomerados e a capital, estabelecia-se o comércio, sobretudo no abastecimento de produtos agrícolas. Alcochete beneficiou também com a presença da família real, que iniciou a construção de um pequeno paço pelo infante D. Fernando, e foi nesse mesmo paço que nasceu o futuro rei D. Manuel I, em 1469 (CMA, 2015). O crescimento da estrutura urbana, até ao século XVIII, fez-se entre os limites físicos que constituíam a praia a poente, e a norte, e as quintas a nascente e a sul. A estrutura urbana inicial apresenta uma planta de ruas estreitas, estrutura esta que foi herdada da sua fundação tardo-medieval. No centro da vila, destaca-se a antiga praça, da qual resulta uma sucessão de ruas e onde está erguido o pelourinho. Alcochete soube aproveitar os benefícios da proximidade a Lisboa e tinha no Tejo a principal via de contacto. Foi no Tejo que as gentes de Alcochete encontraram uma forma de sustento económico e uma importante via de circulação de bens e pessoas. Esta circulação era suportada por barqueiros ou marítimos, calafates, carpinteiros navais, condutores de tojo e salineiros, que souberam retirar o ouro branco10, das salinas (Correia, 2010). Segundo o autor Estevam, houve um conjunto de acontecimentos como as tempestades e o terramoto de 1 de Novembro de 1755, que agitaram o rio, o qual persistia em avançar para o interior da vila, colocando em causa a estabilidade de algumas casas chegando até a destruir outras, estes acontecimentos levaram à construção de uma barreira física de defesa da vila e de seguida levaram à construção da muralha que seguia o torço entre a Igreja de Nossa Senhora da Vida e a Igreja da Misericórdia (ESTEVAM, 1950). Posteriormente ao aterro das arribas, situadas entre a Igreja da Misericórdia e a Igreja da Nossa Senhora da Vida, em meados do século XIX, originou o Bairro das Barrocas, o bairro mais tradicional da vila, composto aproximadamente por 150 fogos, uma intervenção urbana realizada num conjunto, com traçado regular de ruas paralelas entre si, onde todas elas estabelecem fortes relações visuais com o rio. Este conjunto urbano foi construído a partir da repetição de uma unidade tipologia de grande simplicidade. E é a intervenção urbana estruturada, mais antiga do concelho, sem qualquer alteração a nível de traçado. Após a construção do Bairro das Barrocas, foi verificado então que era urgente ser construída uma muralha que teria de suspender as terras ao longo da Vila, pelo Tejo abaixo. Foi então construído o troço de muralha entre a igreja da Misericórdia e a igreja de Nossa Senhora da Vida, com o traçado atual, que possibilitou o aterro de uma pequena baía existente entre as duas igrejas e a consequente construção do Bairro das Barrocas, anteriormente referido (ESTEVAM, 1956).
10 nome dado ao sal, por ser um sustento económico da população
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ENQUADRAMENTO HISTÓRICO
Figura 16 Igreja da Mesericiórdia, aproximadamente em 1952 CMA Figura 17 Igreja da Mesericiórdia, aproximadamente 2018 Direção Geral do Património e Cultura Figura 18Paredão da Frente Ribeirinha de Alcochete, 1948 CMA Figura 19 Paredão da Frente Ribeirinha de Alcochete, março 2019 Pela Autora Figura 20 Ponte - Cais, primeira metáde do século XX CMA Figura 21Ponte - Cais, novembro 2017 Pela Autora Figura 22 Largo do Rocio, primeira metáde do século XX CMA Figura 23 Largo do Rocio, novembro 2017 Pela Autora
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ENQUADRAMENTO HISTÓRICO
Com o aparecimento dos transportes ferro-rodoviário, que viriam a substituir o transporte fluvial no escoamento dos produtos e abastecimento para Lisboa, as atividades até então proeminentes na vila, como a pesca, navegação fluvial e salinicultura, entraram em decadência, e o concelho de Alcochete viu-se excluído das principais vias de comunicação. Até meados do séc. XX, o concelho permaneceu predominantemente rural. Depois iniciou-se a atividade da seca do bacalhau, um sector que conheceu grande expansão, existindo no local o maior centro de secagem em Portugal, sendo favorecido pelo clima e pela facilidade de descargas dos navios bacalhoeiros. Juntamente com este processo de industrialização, instalaram-se outras unidades industriais: o processamento de cortiça e de alumínio e a fábrica de pneus Firestone (ESTEVAM, 1950). O concelho de Alcochete voltou a ser alvo de investimentos, que consequentemente desenvolveram a economia local, com a construção da Ponte Vasco da Gama, em 1998, onde ganhou uma nova centralidade na AML. Desta forma, o crescimento da vila foi estruturado recorrendo à urbanização de uma das ruas envolventes à Igreja Matriz, constituído por quarteirões de traçado ortogonal, que apesar de apresentarem dimensões consideravelmente maiores que os quarteirões construídos até então, apresentam uma divisão em lotes com uma frente muito estreita, de dimensão idêntica ao parcelamento existente, onde foi feita a criação de logradouros. Estes novos quarteirões que, na sua origem, tinham construções com apenas 1 piso de altura, foram substituídos, ao longo dos tempos, por edifícios de 2 e 3 pisos. Estas características da construção vieram criar uma imagem homogénea da Vila de Alcochete, a qual se manteve durante décadas. Em 2013, começaram as obras de Regeneração da Frente Ribeirinha de Alcochete, e as mesmas foram acompanhadas por trabalhos arqueológicos, no largo da Misericórdia, onde foi identificada uma estrutura com cerca de 2m de profundidade, que se confirmou ser o antigo cais portuário. Este estava situado na zona mais nobre da vila, junto da igreja da Misericórdia, e seria muito provavelmente o antigo cais do Espírito do Santo, cuja data da sua construção está documentada de Setembro de 1599. Era de forma semi-circular, construído em alvenaria, e teria cerca de 35m de boca, formando uma pequena baía que estava voltada para o rio. Este cais, segundo a documentação foi destruído, devido ao maremoto sequencial do terramoto de 175511. o longo dos tempos, conseguimos ver a preocupação do município de Alcochete com a valorização da linha marginal da vila e a forma como Alcochete se apresenta para o Tejo. A frente ribeirinha da vila é usada para fazer passeios junto ao rio ou outras atividades lazer, como uma ida à praia ou uma atividade física12. Foi em 2014 que ficou concluída uma intervenção no espaço público, junto ao Rio Tejo, assumida como Passeio do Tejo. A intervenção veio alterar a silhueta da margem da vila de Alcochete, onde transformou a frente urbana da Rua do Norte, a rua envolvente à Igreja da Misericórdia e a Av. D. Manuel I, foi criada ai uma 11 https://www.cm-alcochete.pt/pages/873 [consultado dia 17 de Fevereiro de 2019] 12 https://www.cm-alcochete.pt/pages/873 [consultado dia 17 de Fevereiro de 2019]
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ENQUADRAMENTO HISTÓRICO
zona de aterro e consistiu num avanço de, sensivelmente, 15 metros da muralha marginal sobre o rio, o que resultou num alargamento da plataforma terrestre, dando origem assim a um espaço verde de estadia e de lazer com uma dimensão considerável. Além deste arranjo de espaços exteriores, esta intervenção implicou também alterações no sistema viário, nomeadamente, em termos de ordenamento dos espaços de es tacionamento e também na circulação pedonal, ciclável e viária13. Atualmente, o Núcleo Antigo de Alcochete caracteriza-se por uma malha urbana de características orgânicas, com ruas estreitas e uma morfologia do edificado homogénea, lotes de pequena dimensão, edifícios de 1 e 2 pisos, que remontam ao período inicial do processo de urbanização, onde habitações de arquitetura tradicional coexistem com casas de arquitetura erudita. Por ser a zona mais antiga da vila, onde existe o maior número de edifícios e monumentos notáveis, o Núcleo de Alcochete constitui o conjunto urbano mais emblemático da vila onde se inserem alguns edifícios mais notáveis do concelho, não só pela sua qualidade arquitetónica, mas sobretudo pela sua identidade histórico-cultural na figura 24 podemos então observar os edifícios notáveis da Vila). É neste Núcleo que encontramos os principais marcos patrimoniais, culturais e identitários da vila sendo onde ocorre a principal concentração de comércio e serviços, onde representa também um espaço sobre o qual foram sendo consolidadas vivências e tradições singulares que ajudaram a construir a matriz identitária do território, como o Largo de São João, que funciona como ponto de encontro. As praças na zona mais central (pelas quais a vila também é conhecida) são aproveitadas como esplanadas, espaços de estar e convívio. Com crescimento da Vila, esta foi desenvolvendo-se para lá do Núcleo Antigo, surgindo novas habitações e conjunto de equipamentos coletivos. Alcochete é uma vila com aglomerado mais compacto no Núcleo Antigo e mais disperso na periferia.
13 https://www.cm-alcochete.pt/pages/873 [consultado dia 17 de Fevereiro de 2019]
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ENQUADRAMENTO HISTÓRICO
EXEMPLOS URBANOS DE MORADIAS POPULARES
EXEMPLOS URBANOS DE MORADIAS POPULARES
1 - IGREJA MATRIZ DE ALCOCHETE
1 - IGREJA MATRIZ DE ALCOCHETE
3 - IGREJA DE Nª SENHORA DA VIDA
2 - IGREJA DA MISERICÓRDIA
3 - IGREJA DE Nª SENHORA DA VIDA
2 - IGREJA DA MISERICÓRDIA
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1 12 5 - CASA DOS BEIRADOS
4 - QUINTA DA PRAIA DAS FONTES
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6 - CASA DO 3º BARÃO DE SAMORA CORREIA
5 - CASA DOS BEIRADOS
4 - QUINTA DA PRAIA DAS FONTES
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10 96 - CASA DO 3º BARÃO DE SAMORA CORREIA 8
3 2
7 - CASA DO LARGO DO 8 - ACTUAL CENTRO PAROQUIAL TROINO
9 - CASA DA FAMILIA CRUZ
10 - CASA DA SOCIEDADE IMPARCIAL
7 - CASA DO LARGO DO 8 - ACTUAL CENTRO PAROQUIAL TROINO
Figura 24 Planta Edificios Notáveis de Alcochete Pela Autora baseado GRAÇA, 1998
PLANTA
10 - CASA DA SOCIEDADE IMPARCIAL
13 - CÂMARA MUNICIPAL DE ALCOCHETE
12 - MORADIA DA FAMILIA COSTA GODINHO
11 - CASA VARANDA DOS BUSTOS
9 - CASA DA FAMILIA CRUZ
N
EDIFICIOS NOTÁVEIS
0
50
100
150
200
EDIFICIOS NOTÁVEIS EDIFICIOS GERAL RIO ZONA DE INTERVENÇÃO
12 - MORADIA DA FAMILIA COSTA GODINHO
11 - CASA VARANDA DOS BUSTOS
PLANTA
N
40
EDIFICIOS NOTÁVEIS
0
50
100
150
13 - CÂMARA MUNICIPAL DE ALCOCHETE
200
ENQUADRAMENTO HISTÓRICO
11 1 12
13
5 7
10 9
SAMORA CORREIA
8
3 2
SOCIEDADE AL
HETE
41
6
4
EVOLUÇÃO DA MALHA
42
EVOLUÇÃO DA MALHA
43
Figura 25 Cartografia Militar de Alcochete, ano de 1937
Figura 26 Ampliação da Malha Urbana, ano de 1937
Biblioteca FAUL
Pela autora
EVOLUÇÃO DA MALHA
44
EVOLUÇÃO DA MALHA
45
Figura 27 Cartografia Militar de Alcochete, ano de 1962
Figura 28 Ampliação da Malha Urbana, ano de 1962
Biblioteca FAUL
Pela autora
EVOLUÇÃO DA MALHA
46
EVOLUÇÃO DA MALHA
47
Figura 29 Cartografia Militar de Alcochete, ano de 1992
Figura 30 Ampliação da Malha Urbana, ano de 1992
Biblioteca FAUL
Pela autora
EVOLUÇÃO DA MALHA
48
EVOLUÇÃO DA MALHA
49
Figura 31 Cartografia Militar de Alcochete, ano de 2009
Figura 32 Ampliação da Malha Urbana, ano de 2009
Biblioteca FAUL
Pela autora
ANALISE E ENQUADRAMENTO
3.3 ANÁLISE E ENQUADRAMENTO TERRITORIAL A proximidade a Lisboa é um dos fatores mais marcantes no concelho de Alcochete, bem como dos restantes municípios da margem sul. O município de Alcochete localiza-se na margem esquerda do Rio Tejo, entre duas Zonas da Reserva Natural do Estuário do Tejo, como se pode observar na figura 33.
Figura 33 Localização de Alcochete, em Portugal, no Distrito e Concelho do mesmo Pela autora, baseada na CMA
O concelho tem cerca de 17.569 habitantes, segundo os censos de 2011 e, com uma área total de 128,4 km², Alcochete foi o segundo concelho do país com maior aumento populacional (apenas ultrapassado por Mafra), nos últimos censos. Embora permaneça o concelho com menos efetivo populacional da AML (com um peso populacional de apenas 0,6%), e com uma densidade populacional muito inferior à da região (136,8 hab/km² face a 935,9 hab/km²), fez com que contribuísse para a especificidade endógena deste território no contexto metropolitano por beneficiar da elevada proximidade à capital, sem se configurar uma periferia suburbana da cidade. Alcochete é sede de concelho e fazem parte dele três freguesias, Alcochete, Samouco e São Francisco. A forma como a população se distribui por o concelho é pouco equilibrada, segundo o INE em 2011, cerca de 70% da população reside em Alcochete, 10% reside no Samouco e 12% da população reside em São Francisco, o que traduz num desequilíbrio populacional. No entanto, em termos de área ocupada a freguesia de Samouco e São Francisco conta com 3,7% e 3,2%, mas a concentração populacional ocorre fundamentalmente na sua sede, Alcochete. Na figura 34, podemos observar a relação de percentagens de crescimento entre o ano de 2001 e 2011 do concelho de Alcochete, da AML e de Portugal (esta imagem foi realizada a partir da informação disponibilizada nos censos de 2011). De as
forma a melhor compreensão do território de Alcochete e suas principais características, foram analisados os seguintes
50
ANALISE E ENQUADRAMENTO
pontos à escala do concelho: a Rede Viária; as Acessibilidades; a Estrutura Ecológica; as Cheias e a Importância do Estuário do Tejo.
Figura 34 Relações de percentagens de crescimento entre 2001 e 2011 Pela autora, baseada nos Censos
Após concluídas estas análises, foi necessário realizar análises à escala da área de estudo, de forma a detalhar as análises e torná-las mais objetivas. Foram analisados os seguintes pontos: o Edificado e Espaços Privados e Coletivos; o Número de Pisos dos Edifícios; o Estado de Conservação dos Edifícios e o Uso do Edificado. Com as análises realizadas em ambas as escalas é mais percetível estudar as diferenças e semelhanças entre os dois territórios, urbano e rural (área das salinas) de Alcochete.
3.3.1 REDE VIÁRIA NO CONCELHO
Figura 35 Rede viária do concelho de Alcochete Pela autora PLANTA REDE VIÁRIA 0
500
1000
N
AUTOESTRADA ITINERÁRIO COMPLEMENTAR ESTRADA NACIONAL VIA DE ACESSOS LOCAIS CAMINHOS DE APOIO RIO LIMITE DO CONCELHO ZONA DE INTERVENÇÃO
51
ANALISE E ENQUADRAMENTO
A figura 35 apresenta o resultado da análise realizada à rede viária municipal que teve como principal objetivo perceber quais os principais acessos ao interior do concelho e do concelho para as restantes povoações vizinhas. Observamos com destaque a Autoestrada que faz ligação à Ponte Vasco da Gama e posteriormente até Lisboa. Igualmente observamos a Estrada Nacional, que faz ligação a todas as povoações do concelho. O Itinerário Complementar é visível apenas um torço, que passa junto do Freeport de Alcochete. Delimitamse alguns eixos viários com caracter mais secundário, chamados de Acessos Locais, estes são considerados de certo modo relevantes por fazerem as ligações dentro do próprio concelho entre as várias freguesias. E por fim e não menos importante estão destacados os Arruamentos e Caminhos de Apoio do concelho.
3.3.2 ACESSIBILIDADES: LISBOA - ALCOCHETE
ALCOCHETE C .PINHEIRO
EN 119.698
PARQUE DAS NAÇÕES
FREEPORT
REVOLUÇÃO 43
LISBOA
VALBOM GASOLINA
SALINEIRO ESCOLA SECUNDÁRIA
SÃO FRANCISCO
SAMOUCO
ATALAIA MONTIJO
5 min MONTIJO
3 min
6 min SAMOUCO
VALBOM
[437] MONTIJO <-> LISBOA
[432] ATALAIA <-> LISBOA
[431] MONTIJO <-> LISBOA 2 min ALCOCHETE
32 min FREEPORT
LISBOA
12 min ATALAIA
2 min
3 min VALBOM
ALCOCHETE
31 min FREEPORT
7 min LISBOA
MONTIJO
2 min
3 min VALBOM
DIAS UTEIS
DIAS UTEIS
DIAS UTEIS
9h às 17h - frequência +/- 40 em 40 minutos 20h às 22h - frequência +/- 40 em 40 minutos
6h às 9h - frequência +/- 30 em 30 minutos 17h às 19h - frequência +/- 30 em 30 minutos
6h às 9h - frequência +/- 20 em 20 minutos 24h15
SÁBADOS E FERIADOS
SÁBADOS E FERIADOS
SÁBADOS E FERIADOS
6h30 às 24h30 - frequência +/- 30 em 30 minutos
Não há autocarros nestes dias.
Não há autocarros nestes dias.
ALCOCHETE
36 min FREEPORT
LISBOA
Figura 36 Rede de acessibilidades Lisboa Alcochete Pela autora
A figura 36 apresenta um esquema de como podemos deslocar-nos através de transportes públicos de Lisboa até Alcochete. Não existe uma linha férrea, e o transporte fluvial direto de Lisboa para Alcochete deixou de ser realizado, neste caso o único transporte público que existe é o autocarro. O que podemos concluir através deste esquema, que o mesmo é demorado e por vezes muito limitado. Há a opção por via fluvial, mas temos de apanhar o barco de Lisboa até ao Cais do Seixalinho e dai apanhar autocarro para Alcochete.
52
ANALISE E ENQUADRAMENTO
3.3.3 ESTRUTURA ECOLÓGICA DO CONCELHO
ALCOCHETE
SÃO FRANCISCO
SAMOUCO
Figura 37 Estrutura Ecológica do concelho de Alcochete Pela autora PLANTA ESTRUTURA ECOLÓGICA 0
500
1000
N
ESPAÇOS URBANOS EXISTENTES ESPAÇOS URBANOS PROPOSTOS ESPAÇOS AGRICOLAS ESPAÇOS AGRO-FLORESTAIS SISTEMA HÚMIDO ESPAÇOS NATURAIS DE SALINAS, SAPAIS E VIVEIROS PRAIA RIO LIMITE DO CONCELHO EDIFICIOS ZONA DE INTERVENÇÃO
A Estrutura Ecológica, representada na figura 37, é um resultado após a consulta do documento da autora Magalhães, onde a mesma faz uma análise à Complexidade da Paisagem Metropolitana (MAGALHÃES). As áreas, junto ao rio, são essencialmente caracterizadas por Espaços Naturais de Salinas e Viveiros, alguns Espaços de Sapais que devem ser preservados, áreas consideradas Sistema Húmido e ainda uma Zona de Praia. No restante concelho e, nas áreas que não estão tão consolidadas, existem os Espaços Agrícolas, Espaços Agro-florestais, novamente o Sistema Húmido e os Espaços Naturais de Salinas, Sapais e Viveiros. Em volta da povoação de Samouco podemos observar, Espaços Agrícolas e o Sistema Húmido, este na zona mais próxima das salinas (onde estão os Espaços Naturais de Salinas, Sapais e Viveiros) e Rio. Sendo que a povoação de São Francisco, encontra-se em grande abundância rodeada por do Sistema Húmido. Em relação às edificações existentes e novas, nos locais mais críticos da zona ribeirinha, é relevante conter as mesmas e em benefício tirar partido da consolidação e regeneração da malha já existente. De acordo com a autora Magalhães, estas questões de Áreas Protegidas salvaguardam os recursos metropolitanos, nomeadamente a Zona Ribeirinha e a Reserva Agrícola.
53
ANALISE E ENQUADRAMENTO
3.3.4 SITUAÇÃO DE CHEIAS NO CONCELHO
ALCOCHETE
SÃO FRANCISCO
SAMOUCO
Figura 38 Situação de cheias no concelho de Alcochete Pela autora PLANTA CHEIAS DO CONCELHO 0
500
1000
N
CHEIAS PROGRESSIVAS RIO LIMITE DO CONCELHO EDIFICIOS ZONA DE INTERVENÇÃO
Na figura 38, é apresentada uma planta de cheias no concelho de Alcochete14. Estas são de caracter Progressivo, e é precisamente junto ao rio e nas zonas apresentadas, em cima, na planta da Estrutura Ecológica, como Sistema Húmido e Espaços Naturais de Salinas, Sapais e Viveiros, que a mesma é representada em abundância.
3.3.5 A IMPORTÂNCIA DO ESTUÁRIO DO TEJO PARA ALCOCHETE Falando de Alcochete e das suas características e, sendo esta a maior Zona do Estuário do Tejo, constituindo uma espécie de mar interior, onde vêm desaguar alguns rios e ribeiras (para além do valor biológico do estuário, rico em seres vivos), o Estuário do Tejo enche-se de uma importância histórica e identitária, relacionada com as atividades tradicionais do Concelho como a salicultura, uma das maiores 14 http://www.ccdr-lvt.pt/pt/riscos-naturais---cheias-e-inundacoes/9489.htm 54
ANALISE E ENQUADRAMENTO
atividades económicas do Concelho. O principal sustento de muitas famílias era o sal, apelidado como ouro branco e, Alcochete, foi, durante muito tempo, o principal núcleo de produção desta riqueza que, depois de extraído, o sal era, posteriormente, transportado para o cais de Lisboa e exportado para o estrangeiro. As salinas ou marinhas fazem parte, estão situadas na margem do rio Tejo, constituem ainda um exemplo daquela que foi durante muito tempo, a principal atividade económica da vila de Alcochete. As salinas situam-se ali desde tempos muito distantes, também elas, uma forte ligação com o seu rio. (DIAS, 1999). Para além de estarem associadas à identidade da vila, as salinas são cada vez mais reconhecidas hoje em dia pela sua importância ecológica, pois estas são um local de abrigo e refúgio para muitas aves aquáticas, contribuindo para a sua conservação e preservação. Assim, no Inverno, as salinas assumem-se como um importante local, onde as aves vão procurar abrigo e alimentos alternativos aos espaços que já se encontram cobertos de água, e no Verão, as salinas são um local privilegiado de nidificação.
Figura 39 Carta do Resumo do Salgado do Tejo - Adaptado de Silva (1958) DIAS, 1999
55
ANALISE E ENQUADRAMENTO
Os valores naturais de Alcochete não se esgotam devido à água do Estuário do Tejo e respetivas áreas adjacentes. Contudo existe um conjunto de elementos naturais de referência, inseridos em contextos paisagísticos distintos do município na frente ribeirinha e no interior, que reforçam e estimulam o potencial que Alcochete detém do ponto de vista do desenvolvimento turístico, ambiental e patrimonial. Figura 40 Área do Montado, Alcochete T. Duarte
Figura 41 Área do Montado, Alcochete Pela autora
Um dos elementos naturais de referência são as áreas de montado, estas possuem um peso relevante na estrutura espacial de Alcochete, nomeadamente na vertente Este do município. Para além de este sistema contribuir para a valorização e equilíbrio do ecossistema, também constitui uma importante atividade económica, atendendo à exploração da cortiça que se constitui como um recurso com elevado potencial de exportação. Figura 42 Área de Arrozais, Alcochete G. ELIAS Figura 43 Área de Arrozais, Alcochete ertlisboa.pt
Outros elementos naturais de referência e que têm vindo a ser utilizados como habitat de substituição de antigas salinas, são as áreas de cultivo de arroz, com o seu ciclo anual de inundações, introduzem extensas zonas húmidas interligadas por canais de abastecimento de água. Um dos elementos naturais de referência mais conhecidos de Alcochete, que se constituem como um exemplo vivo daquela que foi, durante muito tempo, a principal atividade económica da vila, a salicultura, são as extensas salinas, (acima mencionadas). Neste contexto, importa destacar o complexo de salinas do Samouco, constituído por 56
ANALISE E ENQUADRAMENTO
uma área de 410 hectares, que é ainda um importante local de refúgio e nidificação para espécies como a chilreta, o pernilongo e borrelho-de-coleira-interrompida. Figura 44 Área de Salinas, Alcochete Pela autora
Figura 45 Área de Salinas, Alcochete Pela autora
E por fim, constituem-se como sistemas de elevado valor ambiental e biológico, essencialmente para a Avifauna que procura estes locais enquanto zonas por excelência de alimento, nidificação e pouso, como os sapais, que no caso particular de Alcochete, encontram-se particularmente em toda a vertente Norte do município que se encontra afeta a esta ocorrência ambiental, efetuando a transição entre a parte terrestre e o estuário (CMA, 2017). Figura 46 Área de Sapais, Alcochete Olhares.com © amilog Figura 47 Área de Sapais, Alcochete Pela autora
3.3.6 EDIFICADO E ESPAÇOS PRIVADOS E COLETIVOS A figura 48 representa o Edificado e Espaços Privados e Coletivos. Nesta mesma planta podemos observar que as áreas onde apresenta mais Espaços Coletivos são as áreas que foram construídas mais recentemente e as áreas agrícolas. Nestas áreas podemos observar que há uma maior preocupação urbanística com as ruas e edifícios. A zona histórica é a área onde apresenta mais Espaços Privados, e os edifícios são apresentados de forma mais consolidada. 57
ANALISE E ENQUADRAMENTO
Figura 48 Planta de Ocupação do Solo Pela autora PLANTA OCUPAÇÃO DO SOLO 0
50
100
150
N
200
EDIFICIOS ESPAÇO EXTERIOR PRIVADO ESPAÇO COLETIVO RIO ZONA DE INTERVENÇÃO
3.3.7 NÚMERO DE PISOS DO EDIFICADO
Figura 49 Planta número de pisos Pela autora
PLANTA NÚMEROS DE PISOS 0
50
100
150
200
N
1 PISO 4 PISOS 2 PISOS 5 PISOS 3 PISOS 6 PISOS OU MAIS RIO ZONA DE INTERVENÇÃO
58
ANALISE E ENQUADRAMENTO
Ao observamos a figura 49 que representa o Número de Pisos por cada edifício, vimo que em geral grande parte dos edifícios de Alcochete tem 1, 2 e 3 pisos. Isto acontece sobretudo na zona histórica da vila. Os edifícios construídos mais recentemente possuem 4, 5 e 6 ou mais pisos, devendo se a isto o facto de se verificar uma evolução na vila e pela necessidade de existência em certa altura de mais habitações. A isto alia-se a realidade de que Alcochete se situa num território com abundância de áreas protegidas, não sendo assim possível o crescimento a nível territorial de forma aleatória, tendo assim de ser encontradas outras soluções. Com isto é fácil igualmente verificarmos onde se concentram os edifícios mais antigos e os mais recentes.
3.3.8 ESTADO DE CONSERVAÇÃO DO EDIFICADO
Figura 50 Planta de Estado de Conservação Pela autora
PLANTA ESTADO DE CONSERVAÇÃO 0
50
100
150
200
N
BOM RAZOÁVEL MAU RIO ZONA DE INTERVENÇÃO
O Estado de Conservação dos edifícios é representado na figura 50. A figura remetanos para uma carência de Espaços Ocupados na área delimitada como Área de Intervenção. Esta zona é caracterizada por áreas mais desocupadas ou edifícios com baixo valor urbanístico e arquitetónico. A Zona Histórica, tal como o nome indica, começou a ser desenvolvida bastante mais cedo, mas recentemente foi alvo de obras de requalificação urbana e reabilitação de edifícios, portanto não existe tanta degradação comparado com a delimitada por área de intervenção, onde alguns edifícios até se encontram em ruinas. A restante zona foi construída mais tarde, por isso grande parte dos edifícios encontram-se em bom estado de conservação.
59
ANALISE E ENQUADRAMENTO
3.5.9 USOS DO EDIFICADO
Figura 51 Planta do Uso do Edificado Pela autora
PLANTA USOS DO EDIFICADO 0
50
100
150
200
N
HABITAÇÃO E ANEXOS EQUIPAMENTO MISTO EQUIPAMENTO/COMÉRCIO E SERVIÇO EQUIPAMENTO TURISTICO INDUSTRIA/ARMAZEM RUINA OU SEM CONHECIMENTO RIO ZONA DE INTERVENÇÃO
A figura 51 apresenta os usos destinados a cada edifício. A Zona Histórica podemos apresenta uma maior variedade de usos dos edifícios. Na zona delimitada como Área de Intervenção os edifícios existentes são sobretudo de uso habitacional, onde a oferta de serviços é quase nula. Na restante área grande parte dos edifícios é igualmente de uso habitacional.
3.4 INSTRUMENTOS DE GESTÃO TERRITORIAL A principal função do Ordenamento e Gestão do Território, é a elaboração de planos e programas de ação de acordo com a respetiva regulamentação, com o objetivo de garantir uma adequada utilização e organização do território Português, sendo o ordenamento e gestão do território desenvolvido a várias escalas: nacional, regional municipal ou intermunicipal. No caso de Alcochete foram analisados os planos referentes à figura 52, o qual foi baseado no Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial (RJIGT). Estes planos influenciaram as várias decisões para o desenvolvimento do projeto, como ilustra o mesmo.
60
ANALISE E ENQUADRAMENTO
Figura 52 Enquadramento dos Instrumentos de Gestão Territorial Pela autora, baseado no RJIGT
3.4.1 PROT – AML O PROT da Área Metropolitana de Lisboa (AML), foi aprovado em 2002 e engloba 17 unidades territoriais onde estão presentes os municípios do Arco Ribeirinho Sul, que se estende entre Almada e Alcochete15. De acordo com o Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa (PROT – AML), Alcochete, está funcionalmente articulado com o Arco Ribeirinho e assume-se como pólo de valência para apoio ao turismo, recreio e lazer, este com uma forte componente ambiental, assim como área de vocação para a instalação de atividades de investigação e desenvolvimento ligadas ao meio estuarino.
Figura 53 Planta das Unidades Territoriais do PROT AML Pela autora, baseado no Plano Regional de Ordenamento do Território da AML 15 De acordo com o Regime Jurídico dos instrumentos de Gestão Territorial, os Planos Regionais de Ordenamento do Território (PROT) definem a estratégia regional de desenvolvimento territorial, integrando as opções a nível nacional e considerando desenvolvimento local, constituído o fundo de referência para a elaboração dos programas e dos planos intermunicipais e dos planos municipais (RJIGT, 2015, artigo 52˚).
61
ANALISE E ENQUADRAMENTO
Em concordância com o PROT – AML e o Plano Estratégico de Desenvolvimento do Concelho de Alcochete, este que é definido como um elemento agregador dos vários instrumentos e políticas de base territorial, o projeto aqui apresentado como trabalho final de mestrado, pretende ter em conta e dar resposta a alguns dos objetivos que devem ser considerados pelos instrumentos de planeamento. Os quais são: Regeneração e requalificação da frente urbana ribeirinha de Alcochete; Qualificação paisagística, ambiental e urbanística dos aglomerados urbanos; Valorização e conservação do património natural, da produção agrícola e dos recursos florestais; Conetividade e mobilidade. A estas ambições acima referidas, correspondem a três eixos estratégicos que organizam estas operações, são pois: Eixo Estratégico 1– Alcochete espaço de vivência residencial singular e distintivo Eixo Estratégico 2 – Alcochete espaço de localização, iniciativa e inovação empresarial Eixo Estratégico 3– Alcochete espaço de fruição e lazer dos residentes e dos visitantes da região e da cidade de Lisboa, as quais estão assim articuladas, e apresentadas no quadro seguinte:
Tabela 3 Eixos Estratégicos e Operações Estruturantes CMA
(…) Alcochete deve afirma-se no horizonte temporal de 2030, como um território distintivo e cosmopolita da Lisboa (metrópole de duas margens em torno do estuário do Tejo), desenvolvendo a sua atratividade pela singularidade, qualidade e valorização económica dos seus recursos naturais, ambientais, paisagísticos e culturais e pela sua localização específica no contexto da região da capital (…) (CMA, 2017).
3.4.2 PDM - ALCOCHETE Em 1997 surge o Plano Diretor Municipal (PDM16) , o qual ainda se encontra em vigor até à data. O PDM define as condicionantes do que deverá (…) obedecer a ocupação, uso e transformação do território municipal e definir as normas gerais de gestão 16 O Plano Diretor Municipal (PDM) é um instrumento, que tem como função estabelecer estratégias de desenvolvimento territorial e urbano, obedecendo a políticas legalmente estabelecidas pelos instrumentos de gestão territorial, estes de âmbito nacional e regional, estabelecendo assim um modelo de organização para todo o território.
62
ANALISE E ENQUADRAMENTO
urbanística a utilizar na implementação do plano. Juntamente com o regulamento fazem parte a) Planta de Ordenamento, à escala de 1:25 000; b) Planta de condicionantes, à escala de 1:25 000; c) Planta de enquadramento; e ainda as ditas servidões administrativas e restrições de utilidade pública: Reserva Ecológica Nacional e Reserva Agrícola Nacional (…) (DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-B. ALCOCHETE
área de intervenção
SÃO FRANCISCO
SAMOUCO
Figura 54Carta de Ordenamento do Território PelaPLANTA autora, CHEIAS DO CONCELHO baseado CMA 0
500
1000
N
CHEIAS PROGRESSIVAS RIO LIMITE DO CONCELHO EDIFICIOS ZONA DE INTERVENÇÃO
De acordo com a Carta de Ordenamento do Território de Alcochete apresentada na figura 54, podemos observar que a área de estudo para o projeto aqui apresentado como trabalho final de mestrado, apresenta-se numa zona com caracter Espaços Naturais I, Espaços de Recreio/Lazer e Espaços Urbanos Consolidados. A figura 55, apresenta esta mesma Carta, mas numa escala mais aproximada à área de intervenção. Ambas estão disponíveis no PDM de Alcochete17. No que diz respeito aos Espaços Naturais I, segundo o Decreto-Lei n.º 193/199718: 17 Disponível in: https://www.cm-alcochete.pt/pages/242 18 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-B. N. 193 - 22-8-1997 – Secção I – De Espaços Naturais – Artigo 21˚ - Objetivo e Âmbito
63
ANALISE E ENQUADRAMENTO ALCOCHETE
1- Os
espaços
naturais,
delimitados
na
planta
de
orde
SÃO FRANCISCO
SAMOUCO
Figura 55 Aproximação à área de Intervenção (PDM - Carta de Ordenamento) PLANTA CHEIAS DO CONCELHO 0
500
1000
N
CHEIAS PROGRESSIVAS RIO LIMITE DO CONCELHO
namento, têm como objetivo a preservação da quali dade do ambiente, dos sistemas naturais e da paisagem. EDIFICIOS
ZONA DE INTERVENÇÃO
2Os espaços naturais subdividem-se nas seguintes categorias, delimitadas na planta de ordenamento: a) Espaços naturais de categoria I, constituídos pelas áreas mais sensíveis do território municipal, do ponto de vista biofísico, e que correspondem a áreas integradas na REN; b) Espaços naturais de categoria II, constituídos pelas áreas adjacentes às áreas húmidas mais sensíveis, embora não integradas na REN. No que diz respeito aos Espaços de Recreio/Lazer, segundo o Decreto-Lei n.º 193/1997 19: 1 — No espaço de recreio e lazer RL1, constituído pelas áreas ocupadas pelas «secas de bacalhau» na praia dos Moinhos, em qualquer intervenção em parcelas já edificadas relacionada com as atividades instaladas ou para a sua reconversão em atividades de recreio e lazer ou turísticas manter-se-ão obrigatoriamente áreas de implantação e cérceas não superiores às existentes. 2 — Na única parcela não edificada (com a área de 17 500 m2 ), localizada no extremo nascente do espaço de recreio e lazer RL1, será autorizável a ocupação para os usos e com os condicionamentos constantes dos nº’s 1 e 2 do artigo 49.o , sujeita às seguintes regras cumulativas: a) Índice de impermeabilização: « 0,25; b) Índice de utilização bruto: « 0,2; c) Número máximo de pisos: dois, ou 6,5 m 19 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-B. N. 193 - 22-8-1997 – Secção V – Dos Espaços de Recreio e Lazer – Artigo 50˚ - Espaço de Recreio e Lazer RL1
64
Pela autora, adaptado CMA
ANALISE E ENQUADRAMENTO
de cércea; d) Infraestruturas de abastecimento de água e esgotos: obrigatoriamente ligadas às redes públicas. No que diz respeito aos Espaços Urbanos Consolidados, segundo o Decreto-Lei n.º 193/199720: 1 - Nos espaços urbanos é permitida a instalação de unidades industriais não poluidoras, compatíveis com o uso habitacional, e de armazéns que não gerem grandes movimentações de cargas e descargas. 2 - É interdita a instalação de armazenagens de produtos que, pela sua perigosidade, possam afetar os espaços urbanos envolventes. 3 - Nos edifícios habitacionais é permitida a instalação ao nível do résdo-chão de unidades industriais não poluidoras compatíveis com o uso habitacional e de armazéns, exceto quando se destinem a materiais explosivos, tóxicos ou que disponham de equipamentos de movimentação de carga ou outros que provoquem ruídos ou vibrações incómodas. 4 - As regras constantes dos nº’s 1,2e3 aplicam-se sem prejuízo dos condicionamentos impostos pelas disposições legais aplicáveis, bem como pelas entidades competentes para o licenciamento da atividade industrial
ALCOCHETE
área de intervenção
Figura 56 Aproximação à área de Intervenção (PDM Carta de Condicionantes)
SÃO FRANCISCO
SAMOUCO
Pela autora, adaptado CMA
PLANTA CHEIAS DO CONCELHO 0
500
1000
N
CHEIAS PROGRESSIVAS RIO LIMITE DO CONCELHO EDIFICIOS
20 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-B. N. 193 - 22-8-1997 – Subsecção I – Dos Espaços Urbanos Consolidados – Artigo 30˚ - Indústria nos Espaços Urbanos Consolidados ZONA DE INTERVENÇÃO
65
ANALISE E ENQUADRAMENTO
No que diz respeito à Carta de Condicionantes, apresentada no PDM de Alcochete, podemos observar de acordo com a figura 56que toda a área limitada a azul, é identificada como área de jurisdição terrestre da A.P.L (DL 309/87 de 7 de Agosto, Art.º 3 nº1). E ainda a área com uma malha azul na zona das salinas é identificada como Zona de Proteção Especial do Estuário do Tejo (Relatório do PDM Alcochete, 1997, DL 2800/94 de 5/11).
ALCOCHETE
área de intervenção
SÃO FRANCISCO
SAMOUCO
Figura 57 Carta da Reserva Ecológica Nacional e da Reserva Agricola Nacional PelaPLANTA autora, CHEIAS DO CMA CONCELHO baseado 0
500
1000
N
CHEIAS PROGRESSIVAS RIO LIMITE DO CONCELHO EDIFICIOS ZONA DE INTERVENÇÃO
A Carta acima apresentada como figura 57, representa as condicionantes no concelho de Alcochete, as mesmas visíveis no PDM como REN21 e RAN22. De acordo com a carta apresentada nesta que representa a REN e a RAN, visualizamos que a área de intervenção encontra-se condicionada maioritariamente pela REN, havendo sobreposições entre esta e a RAN, sendo a área condicionada pela RAN inferior. 21 A Reserva Ecológica Nacional (REN), é uma estrutura que integra áreas com valor e sensibilidade ecológica ou expostas com suscetibilidade a riscos naturais. A REN é uma condicionante à ocupação, ao uso e à transformação do solo. In: http://www.ccdr-lvt.pt/pt/reserva-ecologica-nacional-ren/1345.htm [consultado dia 6 de agosto de 2019] 22 A Reserva Agrícola Nacional (RAN), é considerado um instrumento de gestão territorial, que consiste num conjunto de condicionamentos à utilização não agrícola do solo, e que ainda desempenha um papel fundamental na preservação do solo e a sua afetação à agricultura. In: https://www.dgadr.gov.pt/ambord/reserva-agricola-nacional-ran [consultado dia 6 de agosto de 2019]
66
ANALISE E ENQUADRAMENTO
Em aos
termos gerais e terrenos REN,
numa definição de conceitos, diz respeito segundo o Decreto-Lei n.º 193/199723:
1- Nos espaços rurais coincidentes com a REN, nomeadamente em áreas de recarga de aquíferos, apenas será autorizada a construção de habitação e de instalações de apoio à agricultura insuscetíveis de alterarem o equilíbrio ecológico. No que diz respeito aos terrenos RAN, segundo o Decreto-Lei n.º 193/1997: 1 - As licenças, concessões, aprovações e autorizações administrativas relativas a utilizações não agrícolas de solos integrados na RAN carecem de prévio parecer favorável da comissão regional da reserva agrícola. 2 - Os usos e as construções que vierem a ser autorizados, nos termos da legislação aplicável, estão sujeitos às regras constantes dos artigos 27.o e 28.o do presente Regulamento, sem prejuízo do disposto nos n.os 1 e 2, alíneas b) e c), do artigo 9.o do DecretoLei n.o 196/89, de 14 de Junho, e no artigo 13.o do mesmo diploma (Relatório do PDM Alcochete, 1997, DL 2800/94 de 5/11). Na Carta representada na figura x, é apresentada as antigas indústrias a reabilitar na área das salinas. Esta área é abundante em condicionantes como é apresentado na planta. Estas condicionantes como a REN, a RAN, Rede Natura, influenciaram as várias decisões para o desenvolvimento do projeto. ALCOCHETE
SÃO FRANCISCO
SAMOUCO
Figura 58 Aproximação à área de Intervenção (REN e RAN) PLANTA
CHEIAS DO CONCELHO Pela autora, baseado CMA 0
500
1000
N
CHEIAS PROGRESSIVAS RIO LIMITE DO CONCELHO EDIFICIOS
23 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-B. N. 193 - 22-8-1997 – Título II – Servidões administrativas e outras restrições de utilidade pública ao uso dos solos – Artigo 11˚ - Reserva Ecológica Nacional
ZONA DE INTERVENÇÃO
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ANALISE E ENQUADRAMENTO
área de intervenção
Figura 59 Aproximação à área de Intervenção (Planta de condicionantes das antigas indústrias) Pela autora, baseado CMA
Na Carta representada na figura 59, é apresentada as antigas indústrias a reabilitar na área das salinas. Esta área é abundante em condicionantes como é apresentado na planta. Estas condicionantes como a REN, a RAN, Rede Natura, influenciaram as várias decisões para o desenvolvimento do projeto.
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3.5 CONCLUSÃO Após uma melhor compreensão do Concelho de Alcochete, bem como a sua história, evolução e mesmo os problemas da vila, nota-se que a vila está adaptável a intervenções que visem a sua melhoria e permitam desenvolver a mesma a nível económico e social. O concelho de Alcochete sofreu alterações ao longo do tempo, não deixando de perder o seu carácter tradicional, que se nota sobretudo na vivência da população, e até nas suas habitações. Nota-se sobretudo que a área da zona ribeirinha é aquela que mais sofreu alterações, e também é a área que tem mais necessidade de regeneração, sobretudo depois da intervenção no Passeio do Tejo, realizado em 2014. A área das Salinas, é um património que sempre fez parte da história da vila, o qual precisa urgentemente de regeneração para que toda a área da frente ribeirinha seja uma só, e não áreas distintas, como encontramos hoje em dia. Apesar de toda esta área nomeada de frente ribeirinha ter características diferentes, no futuro poderá vir a ser uma área que está toda interligada entre si através de situações arquitetónicas e urbanas. Tendo sempre em conta as características físicas e históricas, que fazem parte da vila, é urgente pensar numa regeneração total da frente ribeirinha, mantendo estas características e adaptando esta intervenção corretamente a cada área distinta, conseguin do deste modo, estabelecer um equilibro em toda a frente ribeirinha de Alcochete.
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IV. À memória do Lugar: Visão Estratégica e Projeto
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ENTRE O URBANO E O RURAL
O presente capítulo recai sobre a proposta de intervenção, que passa desde a escala territorial, ao longo da Frente Ribeirinha de Alcochete (mais especificamente entre a área urbana e rural da vila); uma intervenção à escala urbana da mesma, uma vez que a regeneração da Frente Ribeirinha era pertinente em função da estratégia territorial e de todas as análises desenvolvidas; e uma intervenção mais a nível de pormenor correspondente à regeneração de um lote vazio. É a partir das aproximações-escalas à área de projeto, que o presente capítulo consiste, ao aproximar-se de intenções, ideias e projeto, permitindo assim estabelecer uma estratégia e projeto na área urbana e na área rural, onde estão presentes as salinas e as antigas indústrias da seca do bacalhau. (…) Ao longo dos tempos, essas frentes foram sucessivamente limitadas ou ocupadas pelos muros de defesa, pela logística portuária ou ferroviária, por rodovias, viadutos, nós, por indústria, entrepostos, ou até aeroportos. Barreiras nuns casos, interfaces noutros – muralhas, aterros, docas, bairros ribeirinhos, passeios públicos ou praias (…) (PORTAS, 1998, p.4).
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À MEMÓRIA DO LUGAR
4.1 ESPAÇOS DE MEMÓRIA Aquele lugar, que em tempos foi um lugar de trabalho duro e difícil, agora encontra-se praticamente ao abandono, tanto a nível de Salinas, como de edifícios que pertenciam às antigas Indústrias da Seca do Bacalhau. Estes estão inseridos num lugar que é marcado pela história da vila, no que diz respeito, ao que em tempos foi o grande ganha-pão dos habitantes da região e que se demarcava pelo que trazia ao desenvolvimento da mesma. Em memória daquele lugar, do grande impacto que este teve a nível económico, em tempos passados, não pode ser um lugar que fica ao esquecimento, algo comum nos dias que correm, em muitos dos lugares onde se localizavam antigas indústrias. Para além da memória histórica e económica daquele lugar, ainda temos hoje em dia um forte valor ecológico, pertencendo o mesmo à Zona de Proteção Especial do Estuário do Tejo, como já foi referido anteriormente. Neste lugar, para além das indústrias da seca do bacalhau abandonadas, temos as salinas, onde em aproximadamente 4km, se podem verificar apenas duas fundações das mesmas a funcionar (Fundação João Gonçalves Júnior e a Salina do Canto). Na mesma área ainda encontramos a Fundação Salinas do Samouco, que é uma instituição que promove a conservação e a manutenção dessas mesmas salinas do Samouco, bem como a proteção da biodiversidade que nela existe. Esta é igualmente responsável por alguns caminhos pedonais e por pontos birdwatching, que encontramos ao longo da área pertencente à Fundação. (…) Trabalhos penosos e difíceis se exigiam aos salineiros, na manutenção e exploração de salinas. Apesar disso, orgulhosos da sua profissão e da sua arte, eram este homens que mantinham com vida uma paisagem onde a terra e a água se fundem num todo (…) (DIAS 1999, p. 100) Em memória daquele lugar e de todos aqueles que por lá passaram, o lugar precisa de uma nova oportunidade, uma nova transformação.
Figura 60 Desenho Indústria Abandonada, Alcochete Pela autora
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À MEMÓRIA DO LUGAR
4.1.2 OS MOINHOS COMO MARCO DA PRAIA FLUVIAL DE ALCOCHETE Breve descrição dos mesmos como forte presença neste território
Ao longo da extensa área da frente ribeirinha de Alcochete, mais propriamente na área de intervenção onde ainda encontramos a área urbanizada e, por seguimento, a área das salinas da Fundação João Gonçalves Júnior e Fundação Salinas do Samouco, encontramos a praia dos moinhos. Tal como o nome indica, esta é designada pelos três antigos moinhos de vento, que se encontram alinhados na frente ribeirinha. São vários os moinhos de vento que se encontram, especialmente junto às margens do Tejo devido a este ser bastante ventoso, uns de planta circular, como os que encontramos em Alcochete, e outros de planta triangular. Estas construções são por norma de sólida alvenaria de pedra ou estruturados inteiramente em madeira. É na primavera e outono que os ventos sopram com mais vigor e as velas brancas rodopiam em atividade, são estes verdadeiros elementos característicos de uma paisagem rural. Na área de Alcochete e Montijo encontramos alguns exemplos, ligados à moagem de cereais, mas também encontramos os moinhos de água, que serviam para a elevação de água nas marinhas de sal. Com isto, neste contexto de localização das antigas indústrias de seca de bacalhau, torna-se relevante esta localização dos moinhos próximas das mesmas, em especial existe um moinho assente numa base elevada em relação ao areal da praia localizado em frente à antiga indústria Bacalhau de Portugal, que atualmente é um complexo turístico de luxo. São assim um elemento de marco nesta paisagem, como também, uma memória dos tempos em que estes ajudavam nos trabalhos típicos desta vila. Figura 61 Moinho da Praia dos Moinhos Pela autora Figura 62 Moinho da Praia dos Moinhos Pela autora Figura 63 Moinho da (praia dos moinhos) Perto das Indústrias Pela autora Figura 64 Moinho da (praia dos moinhos) Perto das Indústrias Pela autora
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À MEMÓRIA DO LUGAR
Figura 65 Moinho da Praia dos Moinhos Pela autora Figura 66 Moinho da (praia dos moinhos) Perto das Indústrias Pela autora Figura 67 Moinho com intervenções em volta Pela autora Figura 68 Moinho com intervenções em volta Pela autora
4.1.3 SALINAS, UM TERRITÓRIO DA FRENTE RIBEIRINHA DA VILA A origem das mesmas aliadas às Indústrias da Seca do Bacalhau
As salinas em Alcochete, não sendo conhecida ao certo a sua origem, pois apesar das primeiras referências documentais que provam a existência de salinas no Tejo terem surgido no século XIII, como refere a autora Mª Marques, é muito provável que já antes se produzisse sal nesta região (MARQUES 2009, p. 182). A exploração da salicultura em Alcochete foi evoluindo ao longo dos séculos e, nos finais do século XVIII, era reconhecida não apenas na região de Lisboa, mas também a nível nacional, constituindo assim um forte propulsor para o desenvolvimento económico da região. Contudo, segundo a autora Mª Marques, a produção não era linear, estava sujeita a fatores de diversas ordens, nomeadamente os invernos rigorosos que podiam causar estragos nas marinhas, as condições climáticas durante a safra, o estado de conservação das marinhas e os processos de extração utilizados (MARQUES 2009, p. 186). O salgado de Alcochete, no inicio do século XX, já representava uma forte fonte de rendimento para os Alcochetanos, produtores e comerciantes, mas também para os habitantes em geral, devida á grande quantidade de mão-de-obra diversificada necessária, realizada assim por diversos serviços como refere a autora Mª Marques, como o amanho das marinhas, os processos de produção e a safra (…) uns exigiam 75
À MEMÓRIA DO LUGAR
força física, como a tirada do sal e o transporte para o barco, outros exigiam destreza manual, perícia e experiência na sua execução (MARQUES 2009, p. 186). Com tudo isto, na década de 30, Alcochete tornou-se o principal produtor de sal no contexto nacional, abastecendo o mercado interno e externo, empregando centenas de trabalhadores. Esta situação prolongou-se durante os anos seguintes, no entanto, a falta de trabalhos de conservação e aperfeiçoamento das técnicas utilizadas na exploração, provocaram gradualmente a ruína de algumas marinhas, refletindo a sua baixa produção de sal e consequentemente o abandono das marinhas (MARQUES 2009). Com a deserção das mesmas, a Câmara Municipal de Alcochete deliberou colocar em hasta pública os terrenos baldios que possuía na praia dos Moinhos, junto à área das salinas, onde segundo o Diário de Notícias de 1996, apenas poderiam ser destinados a fins industriais, comprometendo-se o comprador a iniciar as obras no prazo de um ano, sendo que a arrematação se consideraria nula e de nenhum efeito (…) embora arrastando-se com o parecer desfavorável de alguns técnicos qualificados na matéria, foram montadas nos terrenos que se alienaram instalações de salga e secagem de peixe (…) estes factos tiveram projeção imensa e benéfica na vida do concelho e marcaram indubitavelmente o inicio de uma nova era na sua já secular história (BASTOS, 2008)24. Mais tarde, vieram a ser erguidas através da compra dos terrenos baldios municipais, três indústrias da seca do bacalhau: a Indústria da Seca do Bacalhau, a Pescal e a SNAB, que se tornaram fonte de matérias-primas transformadas nas indústrias na frente do rio. Como refere o autor Bastos, nesta conformidade, continuou o concelho de Alcochete quase limitado às suas tradicionais fontes de vida: cultura das terras, a lavra das salinas e tráfego do rio (BASTOS, 2008). Nos meados de 1960, Alcochete tornou-se o maior centro de secagem a nível nacional (MARQUES 2009). Os navios chegavam às indústrias com porões carregados de bacalhau, como refere o autor Bastos, em épocas determinadas, no cais da vila, havendo também ao largo vários bacalhoeiros fundeados. Descarregavam o produto da safra nas águas e carregavam sal para a safra seguinte, sendo a carga e descarga assegurada por fragatas (BASTOS, 2008). O bacalhau era então descarregado para as instalações onde, por consequência, era submetido à secagem natural, sendo este exposto ao ar e ao sol, sendo assim preparado para consumo. Este processo consistia na lavagem e escovagem do bacalhau, onde era disposto em tabuleiros de madeira, estando dispostos à incidência dos raios solares e do vento. Porém, este processo de secagem natural é dependente das condições climáticas, não podendo assim o bacalhau ser exposto em tempo húmido ou chuvoso, nem a tempo demasiado quente. Este tratamento implicava que houvesse uma tarefa de rotina, onde espalhavam o bacalhau cedo, e recolhiam-no pelas 9h ou 10h da manhã, e voltavam a espalhar até ao pôr-do-sol, sendo para isto necessária uma grande disponibilidade de mão-de-obra, que era escassa na altura em Alcochete, tendo então de se recorrer a gentes de todo o país para o fazer (MARQUES 2009). 24 http://praiadosmoinhos.blogspot.com/2008/09/subsdio-para-histria-das-secas-do.html
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À MEMÓRIA DO LUGAR
O salgado de Alcochete e as suas indústrias foram entrando em decadência, pois os custos de produção e transporte de sal até ao porto, não permitiam concorrer com os preços do sal vindo de França e Itália (MARQUES 2009). Figura 69 Salinas Pela autora
Figura 70 Salinas Pela autora
Figura 71 Salinas Pela autora
Figura 72 Salinas Pela autora
4.1.4 AS INDÚSTRIAS DA SECA DO BACALHAU E AS SALINAS Uma Oportunidade de Reutilização como Regeneração da Frente Ribeirinha
Situadas em zonas privilegiadas, como as frentes ribeirinhas, competenos a nós que olhamos para estes edifícios, transformar estas construções seculares abandonadas, em algo novo e talvez moderno. São lugares estes, tradicionalmente estratégicos, no que toca à situação das indústrias, mas que com o tempo, a perda das originais funções e a procura do lazer balnear, se foram alterando em lugares turísticos e imobiliários. Sendo um caso atual desta transformação, o caso das três indústrias da seca do bacalhau em Alcochete. A antiga Indústria da Seca do Bacalhau, que encontrávamos junto à praia dos moinhos, localizada como a primeira das três, de quem vem do lado da vila, já é, hoje em dia, um complexo turístico de luxo25, prevendo-se que o mesmo aconteça para as outras duas indústrias, a Pescal e a SNAB, com o passar do tempo. 25 https://www.publico.pt/2009/02/27/local/noticia/secas-de-bacalhau-em-alcochete-dao-lugar-a-tres-complexos-turisticos-de-luxo-1366922
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À MEMÓRIA DO LUGAR
No conjunto das três indústrias, estas abrangem uma área de aproximadamente 170.000 m², onde não ultrapassam a cota três metros acima do nível do mar, e encontram-se situadas num terreno pantanoso, localizado no extremo norte da extensa área protegida das Salinas, onde parte pertence á Zona de Proteção Especial do Estuário do Tejo, sendo esta já debilitada pela forte presença da Ponte Vasco da Gama. Num contexto de reaproveitamento da construção e num âmbito ecológico, pretende-se considerar o valor da reutilização destas estruturas industriais que se encontram disponíveis e adaptáveis, sendo que a nível de projeto será realizada a transformação e reutilização da PESCAL, servido esta como exemplo para a reutilização e transformação da SNAB. Para a reutilização deste espaço é preciso ter em conta que em tempos, esta área foi uma indústria de seca do bacalhau, sendo uma arquitetura específica para usos específicos, e com o passar do tempo a natureza tomou posse daquilo que o ser humano abandonou. A transformação que se pretende para o local é mínima em termos de construção, deixando a imagem da natureza, num equilíbrio alcançado pelo que nasce de novo, quer em termos naturais, quer em termos construtivos. Este será o ponto de partida da transformação do local, pensando numa transfiguração da área sem destruir as características existentes do edifício e da natureza que o envolve, o que permite um diálogo entre a arquitetura construída e a natureza que a invade, tendo sempre presente a continua transformação daquele território, que faz parte da história daquele local. Sendo assim, é importante ter em conta nesta perspetiva, o valor da identidade do património cultural, e memória das gentes que fizeram parte daquele lugar. No mesmo local destas indústrias abandonadas, encontramos as salinas, que em tempos faziam parte da vida da população e que sempre tinham um forte impacto na vila. Estas mesmas encontram-se apenas duas em funcionamento, sendo que as restantes estão abandonadas ou servem de refúgio de alguns pássaros, que a fundação salina do Samouco se ocupa de cuidar. Com isto, estas salinas não podem ser mais um lugar ao abandono, então para além da transformação nas indústrias, pretende-se renovar também alguns dos espaços abandonados desta mesma área. O ponto de partida para esta transformação será, pensar naquele sítio como um novo meio económico, tirando partido da sua localização e daquilo que aquele sítio nos pode dar, o sal, entre outras das suas variantes. Aproveitando também a natureza e a biodiversidade da área onde estão inseridas. Desta forma, será estabelecida uma continuidade entre o tecido urbano de toda a frente ribeirinha de Alcochete e a área de salinas, promovendo a sua reabilitação e incorporação de novos programas, e não deixando que aquele local seja esquecido.
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À MEMÓRIA DO LUGAR
Figura 73 - Indústria Pescal e Salinas Pela autora
Figura 74 - Indústria Pescal Pela autora Figura 75 Salinas Pela autora
Figura 76 - Indústria SNAB Pela autora
4.1.4.1 DESCREVENDO A INDÚSTRIA PESCAL Descrição feita pela autora através da visita ao local
Com uma área bruta de aproximadamente 6.900 m², e apesar de ser constituída por diferentes armazéns, apresenta um núcleo relativamente condensado e unificado. Esta indústria é marcada pela elevada e estreita torre, junto a um edifício com dois pisos, onde talvez se encontrassem no primeiro andar e rés-do-chão, os escritórios e os balneários, respetivamente. Em seguida e ligado a este, encontramos um espaço com seis tanques, onde realizavam a lavagem do bacalhau. Numa zona adjacente, apresenta-se uma longa nave contínua, que se encontra dividida em cinco espaços amplos, sendo os três primeiros marcados pela presença de asnas de madeira, onde, anexados a estes, encontramos vestígios daquilo que pareciam ser duas câmaras frigoríficas, verificando também que os últimos dois espaços são marcados por asnas metálicas. Depois destas zonas junta-se um outro compartimento, que é marcado por um corredor dividido por colunas, sendo que neste local ainda se encontram mais três espaços, onde dois deles já não têm cobertura, não conseguindo eu assim identificar a sua função original. Junto ao conjunto do edifício principal da indústria, encontramos duas casas: a Este, a que parece pertencer ao antigo proprietário e a Oeste, a que parece pertencer ao antigo vigilante.
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À MEMÓRIA DO LUGAR
Figura 77 Pescal Pela autora Figura 78 Interior da Pescal, tanques de lavagem do bacalhau Pela autora Figura 79 Interior da Pescal, corredor marcado por colunas Pela autora Figura 80 Interior da Pescal, asna de madeira e espaço sem cobertura Pela autora Figura 81 Interior da Pescal Pela autora Figura 82 Interior da Pescal Pela autora Figura 83 Interior da Pescal Pela autora Figura 84 Pescal, possivel casa do proprietário situada a Este Pela autora Figura 85 Antiga Indústria da Seca do Bacalhau Pescal Pela autora
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À MEMÓRIA DO LUGAR
4.2.4.2 DESCREVENDO A INDÚSTRIA SNAB
Descrição feita pela autora através da visita ao exterior do local e desenhos de processos da CMA
Com uma área bruta de aproximadamente 15.000 a Sociedade Nacional de Armadores de Bacalhau projetada em vários e diferentes armazéns unidos entre
m², está eles.
Segundo o Arquiteto do ICNF de Alcochete Arq. Ricardo Espirito Santo, com o qual tive a oportunidade de conversar e entender algo mais sobre este território, esta indústria não tinha apenas a função fabril, tinha também edifícios relativamente mais pequenos em torno do conjunto edificado principal, com funções como posto de saúde, cantina, creche e residência do pessoal com um espaço de lavadouro comunitário. Este conceito partiu da ideia de integrar a produção fabril num sistema de vida contemplando as várias funções como a habitação, a alimentação, o repouso e o lazer, tornando-o de algum modo mais humanizado e completo, no entanto ao mesmo tempo este conceito demonstravase como mais controlador por parte dos proprietários sobre os trabalhadores.
Figura 86 SNAB, processo 26/1950 CMA
Figura 87 SNAB, processo 56/1951 CMA
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À MEMÓRIA DO LUGAR
A indústria SNAB é composta por um conjunto central e principal, situado paralelamente ao rio, com armazéns alinhados com a mesma largura. Como é semelhante na outra indústria, foram acrescentados um conjunto de armazéns que funcionam como anexos a estes nas traseiras, e apenas um, o que tem dimensões maiores, foi localizado na frente principal da indústria. A Oeste como podemos verificar no processo 26/195026 aprsentado na figura 86, localiza-se o armazém que era utilizado para a secagem artificial do bacalhau, adjacente a este encontramos a Sul, duas casas das máquinas, processo 56/195127 aprsentado na figura 87, a Este encontramos apenas uma estrutura de pilares e vigas que constitui um pátio fechado, a Sul deste localiza-se o armazém onde era feita a arrecadação, processo 38/195528 aprsentado na figura 88, agregando a Este uma construção de menor dimensão, com janelas circulares e um pilar central.
Figura 88 SNAB, processo 38/1955 CMA
Figura 89 SNAB, processo 119/1956 CMA 26 desenhos dos processos disponibilizados pela CMA 27 desenhos dos processos disponibilizados pela CMA 28 desenhos dos processos disponibilizados pela CMA
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À MEMÓRIA DO LUGAR
Figura 90 SNAB, processo 1/1955 CMA
Figura 91 SNAB, processo 64/1968 CMA
Figura 92 SNAB, processo 278/1958 CMA
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À MEMÓRIA DO LUGAR
Voltando ao edifício central, encontramos localizado a Este do pátio, um armazém, e a Sul do mesmo encontramos a câmara frigorífica, processo 119/195629 aprsentado na figura 89, sendo esta desenhada numa estrutura simétrica com um corredor central, e constituída por quatro espaços de igual dimensão. Voltando novamente a Este, encontramos um espaço de passagem, onde se localizava a carpintaria e as instalações sanitárias, e também o acesso ao primeiro piso, que daria possivelmente acesso aos escritórios, a Sul deste espaço encontramos um armazém que servia de arrecadação, processo 278/195830 aprsentado na figura 90. Posto isto, encontramos uma nave de largas dimensões, e distribuídas perpendicularmente à nave, situam-se cinco câmaras frigoríficas de iguais dimensões, sendo que duas destas podemos ver no processo 1/195531 31 aprsentado na figura 91. E por fim, o grande armazém, processo 64/19683232 aprsentado na figura 92, que se destaca do conjunto, localizado a Norte, que era destinado à secagem artificial do bacalhau. Figura 93 Exterior Indústria SNAB Pela autora
Figura 94Exterior Indústria SNAB Pela autora
Figura 95Exterior Indústria SNAB Pela autora
Figura 96 SNAB Pela autora
29 desenhos dos processos disponibilizados pela CMA 30 desenhos dos processos disponibilizados pela CMA 31 desenhos dos processos disponibilizados pela CMA 32 desenhos dos processos disponibilizados pela CMA
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PROPOSTA ESTRATÉGICA E TERRITORIAL
4.3 PROPOSTA ESTRATÉGICA E TERRITORIAL – ENTRE O URBANO E O RURAL O território onde está inserida a vila de Alcochete, como já foi referido e comprovado anteriormente através de análises, tem uma série de valores culturais, económicos e sobretudo paisagísticos, no que toca às áreas mais rurais onde estão inseridas as Salinas. A intervenção neste território implica que haja uma consciência para os impactos ambientais que poderão ser causados e a forma como estes poderão ser minimizados, sem colocar em risco o mesmo. Esta sempre foi a maior preocupação e a qual impôs a forma como a estratégia de intervenção se foi desenvolvendo. Delineou-se assim uma estratégia de intervenção que tem como objetivo, a ligação da área Urbana de Alcochete com todo o seu Conjunto Ribeirinho, com a área mais Rural onde estão inseridas as Salinas. A preservação da paisagem natural existente no território rural e a integração da mesma com o tecido urbano existente e proposto é assim o propósito deste projeto.
Figura 97 Esquemas Gerais da Estratégia de Intervenção Elaborado pela autora
Desta forma foi desenvolvido um plano estratégico que incide na frente ribeirinha, de forma a integrar esta estratégia assumida Entre o Urbano e o Rural, foram assim selecionadas zonas lineares (figura 98) todas com proximidade com o rio ou com atividades relacionadas com o mesmo, que se encontram em degradação ou abandono. Cada uma destas áreas tem uma relação diferente com o rio e o centro da vila, e todas podem ser consideradas como espaços de potencial oportunidade de reabilitação, de modo a criar novas vivências e novas dinâmicas socio-espaciais, oferecendo à frente ribeirinha uma maior importância. Estas Zonas Lineares Ribeirinhas serão desenvolvidas mais à frente, onde acontece o desenvolvimento do Projeto Urbano. A principal ligação física entre as diferentes áreas é feita através de percursos urbanos – através da ligação de espaços públicos, caminhos, passadiços sobre o areal e percursos cicláveis – e percursos rurais – criando passadiços (entre algumas zonas das salinas), percursos cicláveis e caminhos, complementando assim os já existentes (figura 99). Estes percursos, urbanos e rurais, desejam dar uma continuidade à frente ribeirinha da vila, passando ao longo de espaços públicos e atravessando-os, pretendendo igualmente (na área rural) criar novas relações com as salinas, onde se pretende que atraiam mais turistas 85
PROPOSTA ESTRATÉGICA E TERRITORIAL
e habitantes da vila, de forma a não serem esquecidas e serem usufruídas.
Figura 98 Esquemasde Zonas Lineares Estratégia de Intervenção Elaborado pela autora
Figura 99 Esquemas de Percursos de Intervenção Estratégia de Intervenção Elaborado pela autora
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ENTRE O URBANO E O RURAL
O paredão existente na zona central da vila quebra a ligação mais direta com o rio, sendo que a estratégia aqui apresentada pretende vencer essa barreira e dar continuidade ao percurso assumido Passeio do Tejo, já mencionado, onde se inicia o percurso estratégico até às Salinas e posteriormente até à localidade mais próxima, o Samouco (figura 100 e 101).
Figura 100 Esquemas de ligação até ao Samouco Elaborado pela autora
COTA 3.00
Figura 101 Corte Esquemático de ligação até ao Samouco
7.40m área rural
faixa de rodagem
1.80m
2.50m
área rural separador ciclovia verde bidirecional
salina
zona de paragem e descanso
Elaborado pela autora PERFIL TRANSVESSAL DE LIGAÇÃO AO SAMOUCO
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PROPOSTA ESTRATÉGICA E TERRITORIAL
Este percurso não é sempre linear, pois pretende-se que o mesmo consiga estabelecer ligações formando um yin-yang33 entre a área urbana e rural, existindo assim momentos em que o percurso se torna semicircular, para que possa agregar diferentes espaços: espaços públicos, privados, culturais, serviços, espaços de lazer, espaços verdes e edifícios complementares à área. Existem espaços onde o percurso é pedonal e outros onde é ciclável e pedonal. O uso do carro foi reduzido, e a ciclovia é implementada tirando privilégio de um território plano, e incentivando à prática desportiva, consequentemente reduzindo os impactos causados pelo automóvel. Ao longo de todo o percurso existem várias áreas de paragem, para descanso, áreas de contemplação, pontos bikesharing e ainda pontos birdwatching, para que seja possível a quem faça este percurso usufruir do ambiente envolvente e das diversas zonas de recreação e lazer. Os pontos de bikesharing estão localizados em pontos estratégicos, onde muitos englobam estacionamentos para quem pretender deixar a viatura privada e alugar estas bicicletas ou partir para um passeio pedonal. Todos os pontos são igualmente acompanhados, de um conjunto de sinaléticas e mapeamento para que seja permitido o entendimento geral e a orientação de toda a área, integrando-o na envolvente, e também das várias zonas, programas e atividades revelantes da área, de modo a garantir e orientar todo o tipo de população que visita a área. Na área da praia criam-se estruturas para massagens, casas de banho públicas e bar de praia, para dar mais condições à mesma. Através deste percurso é ainda possível estabelecer a ligação perdida, com o paredão já mencionado, com as áreas pouco atrativas e com grande potencial de proximidade com o rio. Estes percursos que pretendem dar continuidade e ligação entre o urbano e o rural, na área das salinas pretendem também criar novas relações com as mesmas, atraindo mais população e turistas, assim como o exemplo das Salinas de Rio Maior (figura 102), onde são propostos estes percursos assumidos como Percursos do Sal, que atravessam assim as zonas de trabalho de salicultura, onde se pode observar o marnoto na extração do sal, ou dependendo do que acontece em cada salina por onde passam, observar o que contém, como por exemplo, observar uma obra de arte na Salina Recreativa.
Figura 102 Salinas de Rio Maior, percursos 33 Yin-Yang é um conceito do taoismo que expõem a dualidade que existe no universo. Descreve as duas forças fundamentais opostas e complementares que se encontram. A expressão é usada para expressar a vontade de através da estratégia de projeto, conseguir uma ligação equilibrada entre o território urbanizado e o território rural.
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PROPOSTA URBANA
Além desta circulação pedonal e ciclável é proposta a circulação de um minibus que percorre a vila e as suas freguesias, fazendo a conexão das mesmas com a área rural das salinas. Assim, é assegurada uma melhor ligação e conexão de transportes públicos. Esta estrutura de minibus funcionará conforme o fluxo dos visitantes, pois grande parte desta população desloca-se com viatura privada, sendo que este minibus tenciona reduzir o uso da mesma e reduzir de certa forma o impacto ambiental causado pelo uso excessivo do automóvel. Propõe-se que o minibus assegure um serviço escolar onde as atividades ocorridas na área das salinas, poderiam servir como função extracurricular das escolas da região. A estratégia tem então como base, os diferentes elementos existentes no território, de modo a construir um sistema de articulação e consistência entre estes, integrando um conjunto de novas ideias, circulações e programas complementares que estruturam toda a área, sendo como um todo através de um equilíbrio urbano entre o urbano e o rural, dando lugar a uma nova frente ribeirinha. O programa proposto para todo o território, foi pensado para que todo ele seja como um conjunto em funcionamento, onde cada função de um espaço complementa a outra.
4.4 PROPOSTA URBANA – ENTRE O URBANO E O RURAL - REGENERAÇÃO DA FRENTE RIBEIRINHA DE ALCOCHETE No âmbito da proposta estratégica e territorial do projeto, mencionado no ponto 4.3, o projeto dá início no paredão já existente e mencionado, e é aqui que encontramos a primeira e a segunda zona linear ao rio, já apresentada na figura 98. A primeira assumida como Edifícios Paralelos ao Rio + Acesso ao Areal, e a segunda assumida como Antigo Lavadouro Municipal + Acesso ao Areal. Depois de analisadas estas áreas, o principal problema que se identifica é a falta de qualificação daquela área como espaço público, além da quebra urbana sentida da zona anterior para aquela área. É uma área com muito potencial de espaço público ribeirinho, devido à sua localização próxima ao rio, contudo os edifícios que nela existem quebram esta ligação ao rio, pois impedem que possamos continuar o nosso percurso junto ao mesmo (a não ser que o façamos pelo areal, quando a maré assim o entende), como acontece anteriormente no já mencionado Passeio do Tejo. Mesmo existindo o paredão, caminhamos paralelamente ao rio e, além disso, na mesma área existem ainda edifícios em ruínas, os quais correspondem ao antigo Lavadouro Municipal, e uma área de estacionamentos pouco aproveitados sem grande organização espacial entre eles.
89
PROPOSTA URBANA
PRAIA DOS MOINHOS
PRAI
A DA
S SA
LINA
S
ÁREA AGRIC OL FLORES A TAL
Elaborado pela autora
PLANTA DO EXISTENTE 0
50
100
Figura 103 Área de Intervenção Existente
N
LIMITE DE INTERVENÇÃO URBANA EDIFICIOS EXISTENTES ÁREAS VERDES RIO SALINAS
Figura 104 Esquemática de Intervenção Urbana Elabrado pela autora
90
REGENERAÇÃO DA FRENTE RIBEIRINHA DE ALCOCHETE
Figura 105 Foto da área de estudo em questão Pela autora Figura 106 Foto da área de estudo em questão Pela autora Figura 107 Foto da área de estudo em questão Pela autora Figura 108 Foto da área de estudo em questão Pela autora
A zona linear ao rio seguinte é assumida como Espaço Verde + Praia dos Moinhos + Conjunto Habitacional Paralelo + Terreno Vazio. Os principiais problemas apresentados na área começam no mencionado espaço verde. Este é utilizado como divisão entre a praia dos Moinhos e o conjunto habitacional paralelo à mesma. Este espaço verde é mais utilizado como lugar de estacionamento do que propriamente espaço de lazer, onde apesar de no mesmo existirem caminhos, estes são apenas caminhos do espaço apenas ligados entre eles e sem alguma ligação ao percurso iniciado anteriormente, Passeio do Tejo, ou até mesmo uma ligação à área seguinte. É uma área com potencial mas pouco aproveitada em termos de espaço público, é de igual modo neste espaço que existem alguns dos moinhos já mencionados anteriormente. Figura 109 Foto da área de estudo em questão Pela autora Figura 110 Foto da área de estudo em questão Pela autora
91
PROPOSTA URBANA
Figura 111 Foto da área de estudo em questão Pela autora
Figura 112 Foto da área de estudo em questão Pela autora
Na área definida como conjunto habitacional encontramos alguma desorganização na malha urbana do mesmo, existindo ali desde edifícios novos a edifícios em ruínas, identificados no estado de conservação (já mencionado figura 50) bons, razoáveis e maus. Neste mesmo conjunto de edifícios existe ainda uma creche. Paralelo a este conjunto de edificado anteriormente falado, existe um outro que está em desuso, com apenas uma pequena casa degradada. Além disso este terreno, assumido como terreno vazio tem a particularidade de ter uma linha de água que vem desde a praia dos moinhos, passando pelo espaço verde onde o atravessa e termina na área do terreno vazio. Neste mesmo terreno existe ainda uma paragem de autocarro. Com estas questões tornou-se pertinente estender a área de intervenção de forma a incorporar ambas as áreas na intervenção. Figura 113 Foto da área de estudo em questão Pela autora
Figura 114 Foto da área de estudo em questão Pela autora
Por último, a zona linear ao rio que se segue é a zona Salinas + Indústrias, nesta área o principal problema é a falta de programa para aquela área, tão presente naquele território e em toda a história da Vila, a intenção é que a mesma não seja uma área esquecida e se torne parte de toda aquela área ribeirinha, devolvendo as salinas à vila.
92
REGENERAÇÃO DA FRENTE RIBEIRINHA DE ALCOCHETE
Identificadas as problemáticas, a principal intenção urbana passa principalmente por consolidar e qualificar toda esta frente. Através de percursos urbanos e percursos rurais, já mencionados na estratégia, com o objetivo de dar continuidade ao Passeio do Tejo, criando assim um percurso ribeirinho por toda aquela frente e tornando-a numa só área verde. Aquela área assume-se como Parque Linear Ribeirinho, que se complementa através de funções desempenhadas nos edifícios propostos e existentes da área. Com a criação do Parque Linear Ribeirinho é também possível aumentar a área destinada ao usufruto dos habitantes e visitantes de Alcochete e torná-la também numa espécie de receção para quem frequenta a área e pretende continuar o percurso até às salinas, através do percurso proposto de ligação. Em termos projetuais podem considerar-se, a restruturação da rede viária e pedonal, a reorganização dos espaços públicos e da frente ribeirinha, conseguindo criar uma continuidade de toda a frente ribeirinha até às salinas. A reorganização e implantação de novos espaços de lazer surge como principal preocupação aliando-se com a proximidade entre o rio e o utilizador, proporcionando propostas de contacto do meio urbano com o rio. Os percursos ribeirinhos criados no Parque Linear Ribeirinho serão de circulação pedonal e ciclável e com um caráter essencialmente de lazer e de proximidade à água, complementado com o acesso ao areal, sendo assim estes os objetivos principais. Por outro lado, a adequação da rede viária, pedonal e ciclável à área de intervenção vem oferecer uma nova forma de usufruto do espaço, onde a rede pedonal assume um papel importante e estruturante e com a capacidade de afirmar esta proximidade com o rio pretendida.
Figura 115 Desenho Parque Linear Ribeirinho Elabrado pela autora
93
PROPOSTA URBANA
Assim, a restruturação da rede viária (figura 116) passa inicialmente por ser reduzida, deixando a área do Parque Linear Ribeirinho livre de carros. É a partir da via principal existente que vem do centro histórico, que se reestruturaram vias secundárias de acesso restrito a estacionamentos, áreas habitacionais e equipamentos (que será desenvolvido mais à frente). Esta via principal aqui mencionada, continua até ao Samouco, e paralelo com uma ciclovia e percurso pedonal.
BUS
PRAIA DOS MOINHOS
PRAI
A DA
S SA
LINAS
ÁREA AGRIC OL FLORES A TAL
Elabrado pela autora
PLANTA REDE VIÁRIA 0
50
100
Figura 116 Rede Viária Proposta
N
LIMITE DE INTERVENÇÃO URBANA REDE VIÁRIA PRINCIPAL REDE VIÁRIA SECUNDÁRIA
BUS
PRAIA DOS MOINHOS
PRAI
A DA
S SA
LINAS
ÁREA AGRIC OL FLORES A TAL
Elabrado pela autora
PLANTA REDE VIÁRIA 0
50
100
N
LIMITE DE INTERVENÇÃO URBANA
Figura 117 Rede Pedonal Proposta
ZONAS PEDESTRES
PERCURSO PRINCIPAL PERCURSO SECUNDÁRIA ZONAS CICLÁVEIS
94
REGENERAÇÃO DA FRENTE RIBEIRINHA DE ALCOCHETE
Na área das salinas o uso do carro ainda se torna mais restrito, sendo apenas usado para chegar a alguns pontos dos equipamentos (será novamente abordado mais à frente) e para o uso de situações de emergência. No caso da rede pedonal, a continuidade do Passeio do Tejo até às salinas é conseguida através do prolongamento de percursos criados no Parque Linear Ribeirinho (já mencionado). Pretende-se criar um percurso geral dividido em percursos secundários, que garantem ao utilizador uma nova forma de usufruir do ambiente criado pelo Parque Linear Ribeirinho e pela proximidade com o rio e com a característica de ser ciclável. É através desta continuidade que vão surgindo os espaços mencionados como zonas lineares ribeirinhas, que contem edifícios que compõem a proposta. Esta rede pedonal e por vezes ciclável, refere-se aos percursos urbanos e rurais mencionados no ponto 4.3. É nas primeiras zonas lineares ribeirinhas que encontramos (assumidas como Edifícios Paralelos ao Rio + Acesso ao Areal e Antigo Lavadouro Municipal + Acesso ao Areal), cinco edifícios sobre um passeio ribeirinho rampeado, sendo que todos os edifícios situam-se na cota 3 e ficam suspensos, esta é uma forma de adaptar o desenho urbano às alterações climáticas, neste caso concreto a possíveis subidas do rio. O passeio ribeirinho rampeado inicia-se na cota 3 até à cota 1, e na cota 2 é formada uma fileira de arbustos. Este passeio ribeirinho rampeado foi definido, com base num vasto conjunto de referências do espaço público ribeirinho, como: o Parque das Nações em Lisboa; a Ribeira das Naus em Lisboa (figura 117); a Praia Mulini na Croácia (figura 118); o Sea Organs na Croácia (figura 119) e o Passeio Ribeirinho na zona de Aker Brygee em Oslo na Noruega. Figura 118 Ribeira das Naus, Lisboa
Figura 119 Praia Muline, Croácia
Figura 120 Sea Organs, Croácia
95
PROPOSTA URBANA
Em ambos os projetos o contacto com a água é feito de formas diversificadas (patamares, degraus, rampas, escadarias e até alguns pontões), tudo elementos que serviram de inspiração no desenvolver do projeto, com o intuito de criar dinâmicas diferentes nos vários espaços e conseguindo criar assim vivências diversas. Todos os edifícios localizados nesta área foram pensados de forma a conseguirmos sempre uma ligação visual com o rio, o que não acontecia anteriormente e também o já mencionado passeio ribeirinho onde conseguimos aceder ao areal e caminhar paralelamente ao rio. Além deste passeio, que vem por sua vez continuar o Passeio do Tejo, também existe um caminho alternativo junto à via principal. Paralelo à via principal foi criado um estacionamento oblíquo para usufruto dos edifícios criados para a área. Paralelo a este foi ainda criado um corredor verde que separa o estacionamento da ciclovia e caminho alternativo, que dá entrada a cada edifício proposto.
Figura 121Desesenho Edificios Elabrado pela autora
Os edifícios propostos para esta área são equipamentos que complementam a mesma. O primeiro que encontramos é proposto para venda e aluguer de material desportivo náutico, isto devido à praia dos moinhos (existente na área), ter muita procura para desportos como kitesurf; paddle surf e canoagem, sendo que o acesso rampeado facilita a deslocação dos materiais desportivos náuticos para a praia. O segundo edifício que encontramos, serve como complemento a este primeiro e também a associações desportivas da vila, é assumido de espaço para associações desportivas náuticas, onde associações como Alcochete Extreme (que organiza atividades como kitesurf, paddle surf e canoagem) e Alcochete Aktivo (que organiza atividades como kitesurf e buggykite, para pessoas com incapacidades motoras), e outras associações que possam surgir, tenham um espaço para se reunir e guardar alguns materiais necessários. Em seguida encontramos o terceiro edifício, este tem dois pisos, proposto para café – snack-bar e espaço para eventos, este espaço para eventos vem por sua vez substituir o anteriormente existente na área. O inferior piso é composto por uma área complementar exterior em deck de madeira que fica suspenso sobre o passeio ribeirinho rampeado, proporcionando uma vista sobre o tejo para quem o 96
REGENERAÇÃO DA FRENTE RIBEIRINHA DE ALCOCHETE
frequenta, e o piso superior é mais pequeno em relação ao primeiro formando assim uma área exterior por cima do piso inferior, como se fosse uma varanda sobre o tejo. O quarto edifício que encontramos, é proposto um ginásio, que vem por sua vez substituir o anteriormente existente na área. Este ginásio é ainda complementado por um espaço exterior paralelo ao edifício, para a realização de atividades físicas no exterior, sendo também uma maneira de atrair mais utilizadores para o mesmo. O quinto e último edifício da área é exceção aos restantes, sendo o único que se encontra posicionado na horizontal e não na perpendicular ao rio, sendo o único que não é suspenso e que se encontra localizado na cota três e ainda o único que tem uma área envolvente até à cota 0. Tudo isto acontece devido à função proposta para o mesmo, Piscinas Descobertas. A posição em que o edifício está colocado é proporcionada para quem o utiliza não se sinta muito exposto para quem passa no passeio paralelo ao mesmo ou na estrada. A piscina em si sim, é perpendicular ao rio. Este edifício foi pensado porque muitas vezes, a água do rio na praia dos moinhos (praia fluvial) não se encontra em condições de ser frequentada, pois quando a maré está baixa contém alguma quantidade de lodo, o que não é agradável a todos os utilizadores, então esta piscina acaba por ser uma solução alternativa. A piscina foi pensada para se assemelhar à praia, sendo que nesta em vez de existir um relvado como na grande parte das piscinas existe um areal, semelhante à praia. Esta é também pensada como uma piscina infinita, produzindo um efeito visual em que a água se estende sobre o horizonte e desaparece sobre o tejo, neste caso concreto, e proporcionando assim uma visão única sobre o tejo e um pôr-do-sol deslumbrante, (em semelhança à anteriormente existente no local, que era apenas de uso privado). Esta ideia da piscina infinita e que se estende sobre o horizonte, é também refletida sobre os edifícios que se encontram suspensos, já com o intuito de se estenderem sobre o tejo e não sendo mais uma barreira visual para o mesmo. Esta ideia dos edifícios ficarem suspensos é também pensada como uma solução em caso de subida do nível do rio, em que estes ficam sobre a água, se tal acontecimento surgir deixa de haver o acesso rampeado ao areal mas, o mesmo pode ser sempre feito pelo caminho alternativo.
Figura 122Corte Esquemático Elabrado pela autora
97
PROPOSTA URBANA
5 4
1
2 3
LIGAÇÃO VISUAL AO RIO E PROXIMIDADE
ADAPTAÇÃO DO DESENHO URBANO À SUBIDA DO RIO
ZONA LINEAR RIBEIRINHA 0
1 2 3 4 5
50
100
N
Figura 123Planta da área em estudo
VENDA/ALUGUER MATERIAL DESPORTIVO NAÚTICO ESPAÇO PARA ASSOCIAÇÕES DESPORTIVAS NAÚTICAS CAFÉ - SNACK BAR E ESPAÇO PARA EVENTOS GINÁSIO E ESPAÇO PARA DESPORTO AO AR LIVRE PISCINAS DESCOBERTAS
Elabrado pela autora
Figura 124Corte Esquemático Elabrado pela autora
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REGENERAÇÃO DA FRENTE RIBEIRINHA DE ALCOCHETE
A zona linear ribeirinha que se segue, é assumida como Espaço Verde + Praia dos Moinhos + Conjunto Habitacional Paralelo + Terreno Vazio. Iniciando no Espaço Verde + Praia dos Moinhos, em que o espaço verde anteriormente servia mais de estacionamento do que propriamente de lazer, e que apenas servia como separador entre o conjunto habitacional e a praia dos moinhos, é agora transformado numa área que engloba toda área de intervenção e propondo-se então o Parque Linear Ribeirinho. Este Parque Linear Ribeirinho como já foi mencionado engloba vários percursos que dão acesso a espaços que complementam toda a área, e o uso do carro é totalmente reduzido, sendo que este existe apenas para acesso a estacionamentos existentes na área e a áreas residenciais. Pretende-se que esta área seja mais ecológica e o desuso do carro contribui para a redução do impacto ambiental, tornando-se também uma área mais segura para os peões e ciclistas circularem com mais segurança. Por todo o espaço verde são distribuídos pontos de bikesharing, para servirem de incentivo à prática e conseguirmos percorrer toda a área de forma mais acessível, desde o urbano até ao rural. Existem dois pontos de bikesharing, que são essencialmente diferentes. Nestes dois pontos, é reabilitando dois moinhos da área para servirem com este intuito, e também como um posto para pequenas reparações de bicicletas (como por exemplo para mudar uma roda) e ainda o piso superior dos moinhos serve como miradouro de toda área, sendo praticamente esta toda plana este consegue uma vista plena. Existem ainda mais dois moinhos na área em que é proposta a sua reabilitação. Um deles que se encontra no areal, é proposto como um posto de vigilância e posto de socorro da praia, e o outro que se encontra situado mais no centro da área verde é proposto como café com um deck exterior sobre o espaço verde, para possibilidade de esplanada. Encontramos ainda na área Parque Linear Ribeirinho, duas linhas de água, uma delas atravessa a área verde e prolonga-se até ao terreno que atualmente se encontra vazio (que irá ser desenvolvido mais à frente). É junto a esta linha de água que encontramos um restaurante com bastante afluência, para o qual é proposto uma plataforma em deck em que uma parte ficará sobre esta linha de água, para que o restaurante possa ter uma área exterior e com vista para o tejo. A outra linha de água, passa perto do antigo edifício da seca do bacalhau que atualmente é um resort, e prolonga-se até às salinas, onde a mesma se difunde. O areal da praia é proposto que fique o mais livre possível, de estruturas para que possa conter mais espaço para a sua utilização. Em seguida, paralela à área da praia dos moinhos e ao espaço verde, encontramos o Conjunto Habitacional Paralelo. Para este é pretendida a reabilitação do mesmo, pois como já foi mencionado, este encontra-se atualmente com uma desorganização urbana. Para a reabilitação deste conjunto habitacional foi pensado, num estacionamento no interio para os residentes do mesmo e em volta deste estacionamento e do acesso ao mesmo e das vias entre os edifícios que foi repensado a organização do conjunto. Foram criados três novos edifícios para substituir os que se encontram mais degradados, um deles com três pisos, os outros dois com dois pisos e assentados em pilares, um para permitir a passagem de quem vem do passeio para acesso a este conjunto de habitações e até mesmo ao Parque Linear 99
PROPOSTA URBANA
Ribeirinho, ou vice-versa, e o outro edifício com estacionamento por baixo do mesmo, sendo que a via que dá acesso a este estacionamento é fechada sendo só para residentes estacionarem, pois além deste estacionamento criado existe mais um estacionamento paralelo para os residentes do edifício ao lado, já existente no local.
6
7 10
9
11 12
13
ZONA LINEAR RIBEIRINHA 0
6 7 9
10 11
12 13
50
100
N
EDIFÍCIO HABITACIONAL EDIFÍCIO HABITACIONAL MOINHO - PONTO BIKESHARING + ESPAÇO PARA PEQUENAS REPARAÇÕES DE BICICLETAS E ESPAÇO DE MIRADOURO
Figura 125 Planta da área em estudo
MOINHO - CAFÉ MOINHO - POSTO DE VIGILÂNCIA E SOCORRO DA PRAIA
Elabrado pela autora
PLATAFORMA PARA RESTAURANTE EXISTENTE MOINHO (PONTO BIKESHARING)
100
REGENERAÇÃO DA FRENTE RIBEIRINHA DE ALCOCHETE
Por último, nesta zona linear ribeirinha encontramos o Terreno Vazio, este tem a particularidade do atravessamento da linha de água e ainda uma paragem de autocarro, que faz a ligação às restantes povoações do concelho. Este terreno em termos de escala urbana foi pensado mais ao nível do pormenor. No terreno projetou-se então um edifício de três pisos, sendo que o piso inferior é destinado a comércio/serviços e os dois restantes superior destinados a habitação. Neste excluiu-se completamente o uso do carro, e foi pensado com o conceito de tentar representar neste o urbano e o rural. A linha de água divide este conceito, do lado esquerdo temos o lado mais rural e no direito o urbano, a ideia era tentar representar o conceito do projeto naquele espaço e a fusão de ambos e criar um espaço equilibrado e com ambos os conceitos. No lado esquerdo, encontramos então uma grande quantidade de vegetação como se fosse quase uma espécie de mata, de onde surge um caminho discreto no meio de toda a vegetação, pavimentado em saibro, surgindo este para que se possa fazer a conexão do edificio paralelo a este e até mesmo ao caminho principal do parque, este que é um passadiço em madeira. Ao longo deste caminho de saibro no meio da vegetação, existem muros que protegem a linha de água e ainda servem como bancos, devido às suas dimensões acessíveis neste sentido, para que o utilizador possa sentar-se e disfrutar o mais possível de todo aquele ambiente e proximidade à água. Por outro lado, á direita da linha de água, o espaço envolvente ao edifício proposto é como se fosse uma praça que serve os comércios e os serviços que são projetados no piso inferior do edifício. Esta praça é pavimentada com lajes de betão pré-fabricado, e com fusões de zonas permeáveis com vegetação, estas de forma mais pontual como numa praça. É proposto também um passadiço de madeira, que em algumas zonas fica suspenso sobre a linha de água, fica paralelo à praça, e ainda faz a conexão com o caminho de saibro, do lado esquerdo da linha de água, e com o caminho principal do parque, já mencionado.
Figura 126Desenho Proposta para Terreno Vazio Elabrado pela autora
101
PROPOSTA URBANA
Voltando ao piso inferior do edifício, ainda existem duas passagens para que possamos dar acesso ao estacionamento, que foi repensado paralelamente a este terreno. Anteriormente este estacionamento servia o Fórum Cultural, passando agora a servir o edifício proposto e até mesmo quem visite a área, sendo um estacionamento de grande dimensão e foi pensado de forma a conectar-se o mais possível em toda a área, através de vegetação, caminhos, e pavimentos permeáveis. Para servir o Fórum Cultural, foi criado um estacionamento um pouco menor, situando-se no lote do Fórum Cultural e não paralelo ao mesmo e com a mesma lógica que o anterior.
14 URBANO
RURAL
8
ZONA LINEAR RIBEIRINHA 0
8 14
50
100
N
Figura 127 Planta da área em estudo
EDIFÍCIO MISTO/HABITACIONAL ESTACIONAMENTO
VEGETAÇÃO
LAJES PRÉ FABRICADA
MADEIRA
Elabrado pela autora
SAIBRO
102
REGENERAÇÃO DA FRENTE RIBEIRINHA DE ALCOCHETE
No fundo, o desenho para toda esta área vem expor que é possível existirem ambientes construídos e ambientes naturais num só espaço e que a sua fusão pode resultar em perfeita harmonia.
Figura 128Corte Esquemático Elabrado pela autora
A última de todas as zonas lineares ribeirinhas é assumida como Salinas + Indústrias. Esta área é a que se encontra no meio rural, e o principal objetivo de intervir nesta é a intenção de Devolver as Salinas à Vila e manter a Memória do Lugar. Este território onde encontramos esta área linear ribeirinha foi constituído numa das maiores regiões produtoras de sal do país, sendo que hoje em dia Alcochete engloba apenas duas salinas que produzem sal: a Salina do Brito, onde o sal é extraído de forma semi-mecanizada e a Salina do Canto, onde ainda se verifica a forma tradicional de extração de sal, produzindo sal traçado, sal grosso e flor de sal. Para além da extração de sal também têm sido desenvolvidos um conjunto de viveiros em algumas das salinas existentes no território. Encontramos assim na área, um interessante retalho de salinas e viveiros. Na área existe a Fundação Salinas do Samouco, que engloba uma série de estruturas interessantes, o qual se pretende com este projeto complementar. O ponto de informação e venda de sal, que é produzido na Salina do Canto, encontrase assim que entramos na área da fundação, pertencendo à receção da mesma; a Oficina do Ambiente, onde é possível observar informações acerca das salinas e funcionando igualmente como apoio à investigação científica; e por fim, o Pólo Ambiental do Núcleo dos Pinheiros, localizado este num edifício recuperado, onde é projetado um documentário sobre as Salinas do Samouco, bem como a visualização em direto de imagens das aves presentes nas salinas. Além disto, existem ainda pontuais atividades que a fundação propõe, como por exemplo os passeios pedestres pelas salinas, e atividades onde é possível experimentar e participar na extração de sal. Igualmente na fundação, existem atividades de birdwatching e dois trilhos, especialmente marcados para a observação de flamingos e pernilongos. O Trilho do Flamingo com 4,56 km e apresenta uma dificuldade
103
PROPOSTA URBANA
reduzida e o Trilho do Pernilongo com 7,80 km apresenta uma dificuldade média34.
Figura 129 Planta Existente nas Salinas Elabrado pela autora
As relações existentes neste território estão muito ligadas à produção de sal, que se fazia existir, quer seja através das indústrias existentes, devido às suas antigas funções, como por se localizarem salinas na área, e uma vez que a memória do lugar é importante para a regeneração e revitalização (conceitos que fazem parte da proposta estratégica e territorial), propõe-se para assegurar este conceito de Memória do Local, e o conceito de Devolver as Salinas à Vila, a recuperação das antigas indústrias da seca do bacalhau e da revitalização das Salinas, com o objetivo de conseguir que mais pessoas frequentem aquele local, não só a nível de habitantes da região como também possíveis turistas da grande AML. Em termos gerais, pretende-se complementar o interessante conjunto de programas e atividades que decorrem nas salinas, juntamente com a riqueza do lugar, transformando de certa forma toda aquela área num conjunto de cultura e memória, ainda muito presente na população da região. É 34 http://www.salinasdosamouco.pt/institucional/1.htm
104
DEVOLVENDO AS SALINAS À VILA
fundamental, tendo como base os diferentes elementos que existem no local, conseguir construir um sistema de articulação e consistência entre estes, integrando assim um conjunto de novas ideias para a área, como percursos e programas complementares que consigam estruturar toda a área numa só. Em termos projetuais e com uma nova aproximação relativamente a esta escala, focalizam-se as indústrias desativadas. Estas indústrias estão desativadas há duas décadas e pertencem atualmente, a duas entidades diferentes encontrandose sem uso e função, e com a expectativa da sua demolição para novas construções imobiliárias, como aconteceu com a indústria da seca do bacalhau, já referenciada anteriormente35. Face ao atual estado de conservação das mesmas, ao seu valor como memória e identidade do lugar, propõe-se a sua recuperação. Devido à sua conjuntura, estas possuem um potencial de adaptabilidade e flexibilidade, sendo que na presente proposta pretende-se transformá-las num espaço recreativo e num espaço mais ligado ao turismo de natureza. Antes de encontramos a primeira indústria (para quem vem do centro da vila), encontramos uma zona de estacionamento e um ponto de bikesharing para incentivar as pessoas a deixarem o carro e levarem a bicicleta, até porque o carro só pode circular até à área da indústria seguinte, e circula exclusivamente para o utilizador da mesma ou transportes de emergência, sendo que na área das salinas é proibido o seu uso. A primeira indústria que encontramos é a Pescal, para a qual se propõe a reabilitação como Indústria Recreativa da Salinas, que tenciona estabelecer uma relação entre a história e o lugar. Através da visita à indústria, e apesar de não conseguir o acesso aos desenhos da mesma, foi possível verificar aproximadamente como era esta indústria e como está neste momento, tornando mais fácil a demonstração da modificação que se pretende. É proposta a reabilitação da indústria com fins recreativos sempre relacionados com o tema do sal. Uma área de atelier, museu e loja, onde os artistas produzem peças, sempre de preferência relacionadas com o tema do sal ou usando o mesmo para as suas peças, onde no museu podem expor as peças e ainda outras peças e instrumentos que fazem parte de toda a história daquele território e por fim, na loja, podem mesmo vender estas peças aliadas á venda de produtos de gastronomia local, fazendo-se acompanhar este espaço de um pequeno serviço de snack-bar e pastelaria. Numa outra área do edifício é criada uma área mais relacionada com o bem-estar, com um espaço de talassoterapia36, um conceito que relembra a memória devido à área evolvente, as salinas e o rio tejo. Igualmente propõe-se uma área de restauração e quartos para quem pretende visitar este local poder pernoitar, e mesmo para os artistas que frequentam a indústria. 35 https://www.publico.pt/2009/02/27/local/noticia/secas-de-bacalhau-em-alcochete-dao-lugar-a-tres-complexos-turisticos-de-luxo-1366922 36 A talassoterapia é um tratamento terapêutico que se baseia na utilização das propriedades da água salgada, das algas e das lamas marinhas. O recurso ao calor e a técnicas de balneoterapia e de massagem favorecem a absorção dos sais minerais presentes nos elementos marinhos pelos poros da pele, num processo natural de remineralização, alcançando assim muitos efeitos benéficos para a saúde [https://www.relaxar.org/bem-estar/ talassoterapia-o-poder-terapeutico-da-agua-do-mar/].
105
PROPOSTA URBANA
A torre existente no local, é mantida como marco de memória daquela que em tempos já foi uma indústria de seca do bacalhau, propondo-se servir como miradouro sobre o local, visto que o mesmo é apresentado num terreno plano conseguindo-se visualizar uma grande área da região. Para além da reabilitação de algumas das áreas edificadas desta antiga indústria, a proposta estende-se também para o exterior, aproveitando a área envolvente à mesma, com espaços verdes de lazer e com oportunidade de usar mesmo com a realização de atividades desportivas e de convívio.
Figura 130 Como era a Indústria Pescal Elabrado pela autora
106
DEVOLVENDO AS SALINAS À VILA
Figura 131 Como está a Indústria Pescal Elabrado pela autora
Como principal referência para a reabilitação desta indústria, surge o conceito das Paisagens Pós Indústriais, no qual encontramos o Parco Dora, situado em Turim, Itália. Este projeto, consiste num parque numa paisagem pós industrial, com cerca de 456.000 m², realizado pela equipa de arquitetos Latz + Partner. Surge esta referência para a área pois, pretende-se transformar aquela indústria mas ao mesmo tempo manter as características da mesma, no que toca ao edifício em si, tentando criar um diálogo entre a arquitetura construída e a natureza que a invade, estabelecendo uma relação de equilíbrio entre ambas. 107
PROPOSTA URBANA
Em tempos, estes parques pós industriais, como o exemplo do Parco Dora, foram uma arquitetura específica para usos específicos, e com este tipo de intervenções não precisa de ser um projeto muito construído em termos arquitetónicos, precisamos sim aceitar a imagem da natureza que invadiu aquele espaço ao longo dos anos, e adapta-la a um novo uso que pretendemos dar ao mesmo, e deixar o espaço para a natureza entrar e apoderar-se daquele sitio como pretender.
Figura 132 Conjunto de imagens do Parco Dora
Neste espaços, a imaginação permite que aquilo que já existe seja reinterpretado e usado de novas maneiras, pode ainda ser combinado com, novos elementos e novos objetivos e podem desenvolver-se processos em busca de ambientes naturais em espaços abandonados, como é o exemplo. O parque é caracterizado pelo seu passado industrial e espacialmente definido pelo rio Dora, tal como na indústria que é caracterizada pelo seu passado e definida espacialmente pelo rio Tejo e pelas Salinas. Além de se propor manter o máximo do edificado possível, conservando-o e reabilitando os espaços, tal como o caso de referência já apresentado, pretende-se que a natureza que invadiu aquele espaço se mantenha em alguns espaços do edifício, e exteriormente seja como um parque para dar continuidade ao Parque Linear Ribeirinho. As estruturas que eram utilizadas para a seca do bacalhau (figura 132), serão aproveitadas ou parte destas, para criar ambientes no exterior com espaços verdes e de lazer, onde as mesmas criam lugares para sentar, espaços de sombra, e serão utilizadas também para distinguir as áreas de convívio e as áreas desportivas. A forma como estas estruturas marcam o território, funcionam ainda como inspiração para pavimento daquela área e ainda é usado para delimitar o estacionamento, já mencionado.
108
DEVOLVENDO AS SALINAS À VILA
Figura 133 Estruturas da antiga Seca do Bacalhau Pela autora
Tenciona-se ainda que o programa desta indústria, seja como um apoio e um complemento a todo o programa já existente e proposto nas salinas, e com o Fórum Cultural de Alcochete (situado relativamente perto e com fácil acessibilidade a pé, de bicicleta ou carro), onde alguns programas artísticos e culturais propostos no Fórum tenham também a possibilidade de se apresentar neste espaço, e até no espaço exterior, como por exemplo: cinemas ao luar; peças de teatro; concertos; exposições; workshops; entre outras atividades a nível cultural, artístico e educativo. Torna-se igualmente relevante, a articulação com iniciativas e associações que decorrem nas freguesias que rodeiam a vila. Toda a área das salinas constitui um conjunto marcante no que toca ao território. As dimensões e quantidades das mesmas oferecem a este território um enorme potencial a vários níveis – paisagísticos, ambientais, lúdicos ou investigacionais. Propõe-se assim a possibilidade da utilização das salinas para atividades pedagógicas, lúdicas e recreativas, qualquer tipo de atividades que tenham um impacto ambiental reduzido nesta sensível e protegida área, como já foi referenciado. Em duas salinas que estão abandonadas, perto da Indústria Recreativa, propõe-se que estas se adaptem à semelhança das Salinas de Aveiro (figura 133) e Castro Marim (figura 134), e se tornem numa piscina biológica e Spa. Figura 134 Psicinas nas Salinas de Aveiro
Figura 135 Spa Salinas de Castro Marim
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PROPOSTA URBANA
Definiu-se ainda para as outras salinas que estão em desuso, junto igualmente à Indústria, constituir um espaço recreativo, em que é possível várias experiências, trabalhos de investigação ou até mesmo instalações artísticas, como esculturas ou peças de teatro, ficando esta assim aliada à Indústria Recreativa.
Figura 136 Pescal, Indústria Recreativa das Salinas Elaborado pela autora
110
DEVOLVENDO AS SALINAS À VILA
Na indústria que se segue, a SNAB, propõe-se que a mesma seja mais direcionada ao turismo, neste caso turismo de natureza, onde a indústria é reabilitada e transformada num parque de campismo, tendo este bungalows com vista para as salinas. Ao contrário da indústria anterior, nesta já serão demolidas algumas partes do edifício, para que fique apenas o necessário ao parque de campismo e a parte exterior seja, mais facilmente aproveitada para acampar e criar espaços de sombra e de lazer essenciais num parque de campismo. Através da visita ao exterior da indústria e acesso aos desenhos fornecidos pela CMA, foi possível verificar aproximadamente como era esta indústria e como está neste momento, o que facilita a visualização da transformação que se pretende, além de que as áreas que foram escolhidos para destruir foram baseadas no seu estado de conservação. Tal como na Indústria Recreativa das Salinas, as estruturas que eram utilizadas para a seca do bacalhau (figura 132), serão aproveitadas ou parte destas, mas nesta indústria além destas criarem ambientes no exterior com espaços verdes e de lazer, as mesmas ainda são usadas para delimitar as zonas de tendas e caravanas. O mesmo acontece, em relação à forma como estas estruturas marcam o território, funcionam como inspiração para pavimento daquela área e para delimitar o estacionamento para quem vai frequentar este espaço, que encontramos assim que entramos no terreno da indústria. A reabilitação desta indústria só mantém algum edificado, mas a disposição dos novos usos são baseados na forma original da indústria. Na zona onde se irá reabilitar o edificado é criada: uma área de receção ao parque; um serviço de restauração; serviço de café e snack-bar; uma loja de bens essenciais; balneários; um serviço de lavandaria e uma área para bungalows. Todos estes espaços encontram-se alinhados sobre uma área exterior, que contém um pavimento com lajes de betão (inspirado nas estruturas que eram utilizadas para a seca do bacalhau) que faz a ligação a todos estes espaços e este conjunto revela a forma original da indústria. A proposta estende-se para o exterior aproveitando a área envolvente e o seu conjunto de espaços verdes, da mesma forma que na Indústria Recreativa, com um parque para dar continuidade ao espaço verde, e para que o campista possa colocar a sua tenda onde desejar, respeitando sempre os limites exigidos por lei 37. Igualmente deixou-se uma área livre para caravanismo. Nesta área verde para além de existirem, espaços verdes de repouso e sombra, existem ainda zonas de desporto ao ar livre onde se pode jogar futebol, ténis, basquetebol ou outro tipo de desporto que se enquadre na área. Pretende-se que exista também uma área para piquenique e ainda uma área destinada às crianças, com atividades infantis. Todas estas áreas são distinguidas e delimitadas pelas estruturas que serviam para a seca do bacalhau, já referidas.
37 2 - A área útil mínima destinada a cada campista ou caravanista não pode ser inferior a 13 m2, sem prejuízo da área útil exigida para cada categoria, no caso de o parque de campismo e de caravanismo pretender adoptar a classificação numa das categorias previstas no artigo 3.º [Regime Jurídico da Instalação, exploração e funcionamento dos empreendimentos turísticos. Portaria nº 1320/2008, Diário da República, 1º Série – nº 223 – 17 de novembro de 2008]
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PROPOSTA URBANA
Figura 137 Como era a IndĂşstria SNAB Elaborado pela autora
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DEVOLVENDO AS SALINAS À VILA
Figura 138 Como está a Indústria SNAB Elaborado pela autora
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PROPOSTA URBANA
Figura 139 SNAB, Parque de Campismo das Salinas Elaborado pela autora
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DEVOLVENDO AS SALINAS À VILA
É criado um passadiço de madeira elevado do solo, para que possa interferir o mínimo possível com a paisagem. É através desta estrutura que somos conduzidos aos bungalows, que se encontram entre as salinas mas com uma distância das mesmas suficientes para as preservamos, com vista para as mesmas. Os bungalows são implantados com este passadiço de madeira, já mencionado, sendo eles uma estrutura igualmente de madeira e levemente elevada do solo. A forma como eles estão posicionados entre eles na estrutura e a forma como foi desenhado o seu interior, permite aos utilizadores por um lado estarem em comunhão uns com os outros, representando aqui o conceito de campismo, e por outro lado conseguem também ter a sua privacidade. O interior destes, consistem em dimensões mínimas, destinando-se no máximo a quatro pessoas. Entramos então por um alpendre coberto, que nos leva até à cozinha e é através desta que vamos para a suite, onde no corredor de entrada encontramos armários de um lado e de outro, de seguida do lado esquerdo paralelo à cozinha, para que se facilite a localização de águas e esgotos, encontramos a casa de banho, e ao lado encontra-se o quarto de casal com sofá-cama. Este quarto tem portas de correr, para permitir saída para o exterior, o qual também contem um espaço de estar coberto, onde o utilizador pode usufruir da vista para as salinas ou até mesmo relaxar sobre as estrelas. O formato destes bungalows foi inspirado na forma de algumas casas existentes na vila (figura 139). Figura 140 Edificios existentes na vila de Alcochete Pela autora Figura 141 Desenho do Bungallow e conceito do conjunto dos mesmos Elaborado pela autora
Ao longo das salinas existem antigas e pequenas casas que eram usadas como apoio ao salineiro (figura 141 e figura 142), estão serão reabilitadas para a criação de núcleos de suporte à atividade de birdwatching, complementando assim as estruturas existentes na Fundação. Estes apoios são como pequenos refúgios ou abrigos, assumidos assim como Refúgio das Salinas, onde se pode permanecer durante o tempo que é necessário na observação das aves, e até se o utilizador quiser, poder pernoitar, o que não acontece nas restantes estruturas de observação existentes. A gestão das mesmas, será realizada por parte do parque de campismo, visto que se identificarão como uma espécie de turismo de natureza nas salinas.
115
PROPOSTA URBANA
Figura 142Apoio ao Salineiro Pela autora
Figura 143 Apoio ao Salineiro Pela autora
Um outro projeto que já faz parte deste território são as hortas sociais, ocupando uma área adjacente à estrada. A procura por estes espaços tem aumentado, e face a esta evidência, propõe-se a continuação das mesmas, para o terreno vizinho.
FORÚM CULTURAL
FUNDAÇÃO DO BRITO FJGJ
INDÚSTRIA RECREATIVA DAS SALINAS . receção . torre de observação (memória do local) . quartos . restauração e cafetaria . espaço telessoterapia . museu PISCINAS DAS SALINAS . loja . receção . atelier . balneário . posto socorro . bar . estruturas para massagens
HORTAS COMUNITÁRIAS
FUNDAÇÃO SALINAS DO SAMOUCO
PARQUE DE CAMPISMO DAS SALINAS . receção . café/bar . restauração . loja de convivência . lavandaria . balneários . área de bungallows . área de caravanas . área de tendas
ESTRUTURAS DE APOIO PARA DESCANSO
BIKESHARING
BUNGALLOWS NAS SALINAS
TRILHO DO FLAMINGO TRILHO DO PERNILONGO
ESTACIONAMENTOS
ESTRUTURAS DE APOIO à PRAIA . casas de banho . bar de praia . estruturas de sombra e descanso . estruturas para massagens PROGRAMA PROPOSTO . SALINAS
PISO DE BORRACHA PLACAS DE 50x50
PISO EM MADEIRA
PISO EM TERA
PASSEIOS . PEDRA CALÇADA GRANITO . PEDRA CALÇADA CALCÁRIA
ESTACIONAMENTOS . PISO ASFALTO . VEGETAÇÃO . PEDRA CALÇADA GRANITO E CALCÁRIA
Figura 144 Planta proposta para as Salinas Elaborada pela autora
116
REGENERAÇÃO DA FRENTE RIBEIRINHA DE ALCOCHETE
Em suma, todos estes programas territoriais descritos correspondem a uma procura de solidez e valorização da área, tornando-a num todo na tentativa de articulação entre vários elementos existentes e propostos, constituindo assim um conjunto de circulações e programas que se encontram relacionados entre eles, conseguindo um equilíbrio em todo aquele vasto território e respeitando a área e o ambiente em que se inserem. Em seguida é apresentada na figura 144 a planta de intervenção da área e a respetiva tabela resume de forma global as áreas propostas para os diversos usos da intervenção.
L35
L55
L28 L25
L21
BUS
L36 L9 L26
L8 L7
L12 L10
L13
L14
L15
L22
L20
L11
L48
L4
L14
L5
L31
L15 L27
L17 L2
L1
L45
L47
L46
L6
L29
L3
L37
L23 L32 L16 PRAIA DOS MOINHOS
L30
L19 L18
L24
L38
L34 PRAI
A DA
L33
S SA
LINAS
L44 L39
L40
L41
L42 L43
L49
L50
Figura 145 Planta do Edificado, Espaços Privados e Coletivos
L52
PLANTA EDIFICADO, ESPAÇOS PRIVADOS E COLETIVOS
Elaborada pela autora
Tabela 4 Mapa de áreas resumido propostas para Alcochete Elaborada pela autora
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ÁREA ÁREA AGRIC AGRICOLA FLORES OL FLORESTALA TAL
L51
0
50
100
N
LIMITE DE INTERVENÇÃO URBANA ESPAÇOS PRIVADOS ESPAÇOS COLETIVOS EDIFICIOS EXISTENTES EDIFICIOS PROPOSTOS PONTOS DE BIKESHARING RIO SALINAS
L1 L9 L17 L25 L33 L41 L49 L2 L10 L18 L26 L34 L42 L50 L3 L11 L19 L27 L35 L43 L51 L4 L12 L20 L28 L36 L44 L52 L5 L13 L21 L29 L37 L45 L53 L6 L14 L22 L30 L38 L46 L7 L15 L23 L31 L39 L47 L8 L16 L24 L32 L40 L48
LOTES
118
V. Considerações Finais
119
CONCLUSÃO
CONCLUSÃO O presente Projeto Final de Mestrado, reflete-se numa proposta de desenvolvimento territorial que pretende regenerar e dinamizar a frente ribeirinha de Alcochete, realçando as suas características mais singulares e simultaneamente responder às necessidades do lugar e da população, com a consciência do desafio que implica intervir num território tão particular e único, como é o caso de uma frente ribeirinha. Atualmente, a frente ribeirinha apresenta sinais de quebras urbanas e alguma degradação. Isto reflete-se também na desvalorização sobre o território rural existente e consequente desarticulação territorial, não só na frente ribeirinha e território rural como com as restantes áreas urbanizadas da vila. Este Projeto Final de Mestrado resulta da tentativa de combater estas falhas mencionadas, através de soluções conceptuais diversas, com a criação de percursos urbanos e rurais e pela oferta de espaços verdes criados através do Parque Linear Ribeirinho que incorpora toda a área de intervenção. A escala territorial surge assim como uma resposta ao reconhecimento adquirido ao longo de todo este Projeto Final de Mestrado, e à preservação dos valores naturais e culturais do território rural (onde se encontram inseridas as salinas, já mencionadas como, outrora, um motor de desenvolvimento da região) enquanto o promove para os habitantes e como oferta turística, tendo sempre em atenção todo o seu valor ambiental. Desta forma, a revitalização de algumas áreas das salinas e a reabilitação das antigas Indústrias da Seca do Bacalhau, assumem assim o papel da preservação e promoção dos valores naturais e culturais desta área, onde se pretendem enfatizar as intervenções pontuais através do contacto direto com a natureza daquele território.
120
CONCLUSÃO
A intervenção à escala urbana surgiu, não só da continuidade programática que se pretendeu criar através da escala territorial e a ligação entre estas duas áreas, mas também da necessidade de reaproximação do núcleo urbano ao rio tejo, que de certa forma é quebrado pela paredão existente, através da regeneração da frente ribeirinha e dos espaços públicos adjacentes. O conjunto de equipamentos e estruturas propostas para ambas as escalas, foram pensados para responder às necessidades das populações nomeadamente ligados à cultura, ao desporto, lazer, comércio, serviços, equipamentos e habitação, que promovem ao mesmo tempo as relações sociais. As alterações climáticas nos territórios ribeirinhos são uma inquietação e preocupação atual, sendo este tema analisado no documento e efetivado no projeto, que foi pensado de forma a conseguir adaptar-se às mesmas, nomeadamente à subida do rio. Neste Projeto Final de Mestrado, surgiu como principal objetivo, a valorização e o não esquecimento daquele território rural, com o propósito de consciencializar para a importância do mesmo. É impossível olhar para Alcochete com uma visão arquitetónica e urbanista sem pensar naquela marca territorial das salinas. Em suma, é fundamental que tenhamos em atenção todas as ações relevantes que podemos causar no território, as quais mereceram especial atenção ao longo de toda a proposta, para que o impacto ambiental fosse o mais reduzido possível. É de salientar que todos os equipamentos e estruturas valorizem assim aspetos naturais e culturais do lugar, não esquecendo da importância social como a integração dos habitantes na área e de possíveis turistas.
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