TFG ARQUITETURA E URBANISMO - CENTRO DE APOIO E CAPACITAÇÃO AO MORADOR DE RUA

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TE TO

Centro de apoio e capacitação ao morador de rua e pessoas em situação de vulnerabilidade social CRISTIANE PEDRO RIBEIRO 2021


“A gente tem que sonhar...

(...) senão as coisas não acontecem.” Oscar Niemeyer


Centro de apoio e capacitação ao morador de rua e pessoas em situação de vulnerabilidade social

Desenvolvimento do trabalho final de Gradução em Arquitetura e Urbanismo Centro Universitário Estácio

Ribeirão Preto | 2021


Ficha Catalográfica Elaborada por Maria Antonieta Ribeiro Marcolino. CRB 8/10165 R484c

Ribeiro, Cristiane Pedro.

Centro de apoio e capacitação ao morador de rua e pessoas em situação de vulnerabilidade social / Cristiane Pedro Ribeiro. Ribeirão Preto, 2021. 95 f.. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Estácio De Ribeirão Preto, como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo, sob a orientação da Profa. Catherine D’Andrea e da Profa. Alexandra Marinelli 1. Situação de rua. 2. Discriminação. 3. Políticas Públicas. CDD: 720.07


CRISTIANE PEDRO RIBEIRO

CENTRO DE APOIO E CAPACITAÇÃO AO MORADOR DE RUA E AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL

Relatório final, apresentado a Universidade Estácio de Ribeirão Preto, como parte das exigências para a obtenção do título de Arquiteta e Urbanista.

Ribeirão Preto, 2021

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Prof. Me. Alexandra Marinelli Orientadora

________________________________________ Prof. Esp. Oscar Eustáchio Silva Mendes Banca

________________________________________ Arq. E Urb. Rafaela Borghi Convidada


AGRADECIMENTOS Começo agradecendo primeiramente Àquele que me deu o folego de vida e a oportunidade de estar concluindo esse grande sonho, Deus, meu maior mestre ao longo de toda minha vida, agradeço por sua fidelidade e companhia durante TODOS os dias da minha existência,

desde quando esse sonho existia apenas em meu

coração. Nos momentos em que mais precisei esteve guiando meus passos, não me deixando desistir e em nenhum momento duvidar que Ele sempre esteve no controle de tudo. Agradeço a minha família, aos meus amigos e ao meu namorado por todo apoio e força que me forneceram ao longo desses árduos 5 anos, por confiarem em mim, acreditarem no meu desempenho e me incentivarem a persistir nos meus sonhos. Por fim, agradeço a todos os docentes em que passaram pela minha vida ao longo da minha trajetória acadêmica, transmitindo conhecimento, dando forças e incentivo para chegar até aqui.


DEDICATÓRIA Dedico esse trabalho aos meus maiores incentivadores, meus exemplos de vida e também as principais razões por eu estar aqui: Marli Pedro Ribeiro e Walter Aparecido Ribeiro.


R E SUM O Atualmente, o número de pessoas que vivem em situação de rua tem crescido de forma exponencial no país, essa parcela da população diariamente vive situações de violência, discriminação e exposição a doenças e situações de risco. Além de sofrerem com a falta de apoio, sofrem também com a falta de oportunidades de reinserção na sociedade. Fora a má distribuição de renda que é um fator muito importante que alimenta essa realidade, sentimos falta de políticas públicas eficazes que ajudem a minimizar os problemas sofridos por esse grupo social. Portanto, o presente trabalho apresenta uma proposta que reúna as necessidades e carência desses indivíduos em um projeto a ser implantado na cidade de Guariba-SP observando o quanto essa condição tem se mostrado cada vez mais comum no município, visando diminuir os impactos causados por essa vivência. Palavras-chave: situação de rua; discriminação; políticas

ABS T RACT Currently, the number of people living on the streets has grown exponentially in the country, this portion of the population lives daily situations of violence, discrimination and exposure to diseases and risk situations. In addition to suffering from the lack of support, they also suffer from the lack of opportunities for reintegration into society. Apart from the poor distribution of income, which is a very important factor that feeds this reality, we feel that there is a lack of effective public policies that help to minimize the problems suffered by this social group. Therefore, this paper presents a proposal that brings together the needs and needs of these individuals in a project to be implemented in the city of Guariba-SP, observing how this condition has become increasingly common in the city, aiming to reduce the impacts caused by this experience. Keywords: street situation; discrimination; population.


Foto: Lee Jeffries


SUMÁRIO


01

Apresentação introdução 12 objetivos 16

02 03

contextualização o indivíduo o indivíduo e o espaço urbano as políticas sociais no Brasil

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Leituras projetuais Ccasa Hostel 38 Aetna Bridge Home 44 The Bridge Homeless 48

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Referencial teórico

O projeto

Diretrizes projetuais 64 Estudo Preliminar 68 Memorial justificativo 70 Pranchas técnicas 74 Maquete eletrônica 82

Condicionantes projetuais A cidade 54 Leitura do entorno 56


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Introdução


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A escolha do tema partiu da percepção à quantidade de pessoas que vivem em condições de vulnerabilidade e que as apagam cada vez mais da sociedade. Atualmente são milhares de pessoas morando nas ruas ou em situações inadequadas para a sobrevivência humana, estando expostas e suscetíveis a doenças, agressões, vandalismo, discriminação e outras situações que colocam em risco a vida dessas pessoas. Além das estigmatizações vindas por parte da sociedade, essas pessoas estão expostas a outra situação grave e desumana, o preconceito e a discriminação por parte de agentes públicos na tentativa de repressão e “limpeza” dos lugares, no entanto, sabe-se bem que essa limpeza possui um alvo e um foco principal: pessoas em situação de vulnerabilidade social. Segundo dados do estudo “Estimativa da População em Situação de Rua no Brasil” realizado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a população em situação de rua é de 221.869 até março de 2020, e do período de set/2012 a mar/2020 o crescimento da população sem-teto foi de 140%.

Os problemas advindos por essa situação são muitos, e não afetam somente essa parcela heterogênea da sociedade, mas a população como um todo, deixando de ser um problema particular de cada indivíduo mas afetando toda a sociedade, a começar pelas ocupações irregulares em propriedades públicas ou privadas que estão abandonadas, doenças que acometem a integridade física e/ou mental dos moradores, comprometendo assim a saúde pública como um todo, crimes e atos infracionais para alimentar vícios, colocando em risco a segurança pública. Nas ruas há pessoas de todos os grupos, pessoas que já fizeram parte de uma classe social média/alta e perderam tudo por conta de vícios, depressão e afins; pessoas que nunca tiveram oportunidades de estudar ou se qualificar e acabaram indo viver nas ruas; pessoas que vivem com a família nas ruas; pessoas que por alguma razão foram descartadas pela família e entes queridos e se alojaram no espaço público, mas todos com algo em comum: a visibilidade como pessoas descartáveis da sociedade e a necessidade de se reinserirem na mesma.


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Mas como essas pessoas irão se reinserir na sociedade com o mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo em relação à qualificação? Ou seja, essas pessoas vivem num ciclo vicioso, sem uma estabilidade social, não conseguem se qualificar e entrar no mercado de trabalho, e sem conseguirem uma estabilidade financeira não conseguem sair da situação de rua. Dessa maneira, as pessoas que vivem nessa situação, vivem fadadas a realização de bicos como vendas no farol ou na frente dos comércios, recolhimento de materiais recicláveis ou se entregam à marginalidade, tornando ainda mais difícil a possibilidade de mudança de vida, pois sem uma renda garantida mensalmente, torna-se difícil até mesmo a participação de programas públicos e sociais que ofertam acesso à moradia. O direito à moradia, é um direito assegurado pela Constituição Federal de 1988 assim como está firmado no Art. 6°: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o “trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.” Porém, apesar da lei assegurar todos os direitos citados ao indivíduo na sociedade, ainda há poucas políticas públicas que de fato contemplem essa parte da população, visto que muitas vezes não tem os recursos mínimos e necessários para concorrer aos programas de habitação de interesse social, desta maneira, restam os albergues e abrigos temporários a essas pessoas, abrigos esses que as condições ofertadas muitas das vezes são desumanas e precárias, chegando a ser pior que a situação nas ruas.

Figura: sempre quis ser” Por: Catarina Fernandes e João Porfírio


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Objetivos Fornecer moradia e acolhimento às pessoas que vivem em condições precárias e de vulnerabilidade social; Oferecer oportunidades de melhorar a condição de vida e reinserção na sociedade através de cursos e oficinas de capacitação; Promover um ponto de partida para que as pessoas consigam sair da situação de vulnerabilidade social; Diminuir o número de pessoas nas ruas; Trazer segurança a essas pessoas e a sociedade; Reduzir a marginalização; Minimizar a desigualdade social e discriminação com essa parcela da sociedade.


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Contextualização


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A população em situação de rua ou homeless - termo que tem sido bastante utilizado atualmente, infelizmente tem crescido de maneira exponencial, tanto nos grandes centros urbanos como nas pequenas cidades. Segundo ANDRADE et al. (2014) essa realidade existe desde a criação histórica do país, mais precisamente durante o período colonial, onde começaram a ocorrer as primeiras abolições da escravidão, quando muitos escravos conquistaram a liberdade, no entanto sem suporte acabaram indo morar nas ruas. As autoras acrescentam ainda que : Esse contingente aumentou ainda mais com a chegada dos imigrantes camponeses, vindos da Europa, entre o final do século XIX e o início do século XX. Algumas cidades brasileiras criaram hospedarias e cortiços, acumulando grupos populacionais que, desde muito cedo, já ajudavam a desenhar a periferia urbana – ainda que central – no Brasil. (ANDRADE et al. 2014, p. 1249) Esses fenômenos foram dando cada vez mais espaço a desigualdade social no Brasil, tornando essa, a realidade de milhares de brasileiros. Por muitos anos esses indivíduos foram vivendo à margem da sociedade, sem moradia, sem segurança e sem direitos, e de acordo com Oliveira (2005) durante muito tempo a assistência social acabou tendo seu lugar ocupado por caridades e ações de cunho assistencialista, mais adiante a autora ainda destaca: Na história da humanidade, a assistência aparece inicialmente como prática de atenção aos pobres, aos doentes, aos miseráveis e aos necessitados, exercida, sobretudo, por grupos religiosos ou filantrópicos. Ela é antes de tudo, um dever de ajuda aos incapazes e destituídos, o que supõe uma concepção de pobreza enquanto algo normal e natural ou fatalidade da vida humana. Isto contribuiu para que, historicamente e durante muito tempo, o direito à Assistência Social fosse substituído por diferentes formas de dominação, marginalização e subalternização da população mais pobre. (OLIVEIRA, 2005, p. 25) Ou seja, por boa parte da história os moradores de rua ficaram desamparados e sem ter os seus direitos garantidos ou respaldados pela lei, e somente após a década de 80 o país começa a trazer políticas de assistência social, junto com a redemocratização do Brasil através da nova Constituição Federal de 1988 (KLAUMANN, 2016). Na Constituição Federal de 1988, os artigos 5° e 6° apontam: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...] Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (BRASIL, 1988).


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A própria constituição ao defender a necessidade de proteção à vida, e se opor a inviolabilidade da mesma, reconhece a obrigação do estado em garantir as políticas públicas e sociais direcionadas a essa parcela da população. Porém é nítido que até os dias atuais esses indivíduos sofrem com a desigualdade e exclusão social vindo muitas vezes até por parte do poder público. E como cita (SILVA, 2006, p. 135) em um de seus trechos: Até mesmo as políticas sociais que têm como base princípios e diretrizes universalizantes, como a saúde e a educação, têm sido implementadas de forma residual e restritiva. Essas restrições aparecem sob diversas formas. Em relação à população em situação de rua, manifestam-se em confronto com as suas características e perfil. As chamadas “exigências formais” de acesso aos programas que dão corpo às políticas sociais, geralmente constituemse limites de acesso aos mesmos pelas pessoas em situação de rua. Dentre as maiores “exigências formais” advindas desses órgãos estão: apresentação de documentos de identificação pessoal – o que são poucos os moradores de rua que possuem e comprovante de residência (SILVA, 2016). Na mesma citação a autora ainda complementa: A esses entraves “burocráticos” de acesso às políticas sociais pela população em situação de rua, somam-se: a falta de articulação entre as políticas sociais, as metodologias inadequadas dos programas, a falta de habilidade e capacitação dos servidores públicos para lidarem com esse segmento populacional, além do preconceito social que estigmatiza essas pessoas como “vagabundos”, “desordeiros”, “preguiçosos” e “bandidos” e, por isso não são considerados merecedores do acesso aos direitos sociais. (SILVA, 2006, p. 135). Dessa maneira, é possível perceber que as restrições a essa parcela da população não são pontuais em apenas algumas áreas das políticas sociais, mas se estendem a outros campos, como habitação, trabalho, renda, saúde e educação. Concordamos que “Na realidade, o que aparece nas políticas sociais como “exigências ou critérios formais” materializam a seletividade que caracteriza as políticas sociais no Brasil” (SILVA, 2016, p. 137).


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O indivíduo


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Há diferentes elucidações criadas para delimitar uma classificação aos indivíduos que pertencem a esse grupo populacional. O parágrafo único do art. 1° do decreto nº 7.053 de 23 de dezembro de 2009, os define da seguinte maneira: Considera-se população em situação de rua o grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória. (BRASIL, 2009) Como citado acima, esse grupo populacional é de característica heterogênea, pela grande diversidade e distinções entre os indivíduos a qual pertencem, no entanto têm em comum a pobreza extrema e a visibilidade como pessoas descartáveis da sociedade, como é complementado pela citação abaixo: [...] Toda a sociedade brasileira tem contato diário com os moradores de rua, as pessoas parecem, porém, olhá-los sem enxergá-los, como se fizessem parte da paisagem. Via de regra, quase ninguém parece preocupar-se com este contingente, não se comovendo sequer com a situação de milhares de crianças, que crescem sem cuidados, sem higiene, sem alimentação adequada, sem teto, sem nada. (TAVEIRA; ALMEIDA, 2002, p. 38). A Organização das nações unidas (2015, p. 6) ainda complementa: As pessoas em situação de rua constituem um grupo social. Mundialmente, a identidade dessas pessoas é criada e, logo, reforçada, por aqueles que têm mais dinheiro, mais poder ou mais influência. É um ciclo vicioso. As leis, as políticas, as práticas comerciais e as histórias dos meios de comunicação passam uma imagem das pessoas em situação de rua e as tratam como pessoas moralmente inferiores, que não merecem assistência e autoras de sua própria desgraça, e as culpam pelos problemas sociais que representam. Uma vez estigmatizadas, suas necessidades continuam sem cuidados e a desigualdade e discriminação seguem se arraigando.


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Figura: sempre quis ser” Por: Catarina Fernandes e João Porfírio


25 O morador de rua apesar de muitas vezes infelizmente estar presente em praticamente todo canto, segue sendo ignorado pela sociedade e pelo estado, vivendo em situações degradantes e humilhantes, fazendo com que seja cada vez mais apagado da sociedade. Desse modo, Melo (2011, p. 142) ressalta: Existe uma mesma base, um pano de fundo marcado pela violência que congrega experiências negativas nas ruas de todo país. As formas de se impedir acesso tanto àquilo que é público quanto privado, a violação sistemática de direitos, a perpetração de violências físicas e simbólicas por parte de diversos agentes, por fim, todos problemas da população de rua são de uma só vez, calcificados sobre uma mesma alcunha e responde pelo nome de “sociedade”. Em um de seus trechos, Espósito; Justo (2019, p. 124) complementam que: Os trecheiros assim fazem movimentos errantes, caminham sem rumo, sem perseguir o objetivo de uma nova sedentarização ou reterritorialização em antigos territórios já habitados de maneira estável. Apesar de muitos deles afirmarem que querem abandonar o trecho, não indicam como, nem tem planos concretos para voltar ou se fixar em algum novo assentamento geográfico. O trecho é marcado por imprevisibilidades e estar preparado para elas é de extrema importância para viver em trânsito e ter algum bem-estar mínimo nele. Nascimento (2008, p. 23) completa: Desse modo, os trecheiros são indivíduos que se encontram num limiar de transição, pois, à medida que passam os anos, a falta de perspectivas futuras em relação a trabalho e emprego fixo se acentua e a tendência é se tornarem andarilhos de estrada devido às condições miseráveis em que vivem. Desse modo, fica cada vez mais evidente a heterogeneidade e a singularidade de cada indivíduo que pertence as ruas, sejam de maneira fixa ou através do nomadismo, fazendo-nos entender a necessidade de buscar as diferentes formas de abordagem e resolução do problema.


O indivíduo e o espaço urbano


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Quando falamos em moradores de rua, fica praticamente impossível não falarmos do espaço a qual estão inseridos, o espaço público. Matos (2010, p. 20) defende que “O espaço público é de todos e de ninguém em particular, em princípio, todos o podem usar com os mesmos direitos.” Outro autor vai além, designando que espaço público não se emerge a apenas uma definição, mas sim numa conjuntura de fatores, como é elucidado no trecho abaixo: A noção de público não é, pois, uma qualidade intrínseca a um espaço, mas sim uma construção social e política que resulta da combinação de vários factores, nomeadamente dos usos aí confinados; do sentido que é atribuído por um determinado grupo social; da acessibilidade; da tensão entre o estrangeiro/anónimo e o reconhecimento/reencontro; da dialéctica entre proximidade e distância física e social. (CASTRO, 2002, p. 54) Fato é que, a rua tem como função principal a circulação, seja de carro ou a pé, para o lazer ou trabalho, para reinvindicações políticas ou eventos populares, a sua utilização universal é o acesso a outros locais (OLIVEIRA, 2011). No entanto, sabe-se bem que, as ruas também possuem a função de moradia para diversas pessoas, ruas, calçadas, praças, rodoviárias, viadutos, marquises de prédios públicos e afins, são lugares corriqueiros que “abrigam” esses usuários. A rua nada oferece que se possa permanecer nela de fato; mas ao mesmo tempo ela é a via de acesso a todos os recursos existentes na cidade. Experimentar a tentativa de conseguir algo através da rua é impulsionar a criatividade e a luta, no que diz respeito a elaborar estratégias que façam desse local um meio para se chegar ao objetivo desejado. (OLIVEIRA, 2011, p. 54) Ainda de acordo com a autora: Porém, tal forma de apropriação desse espaço urbano não é vista de forma agradável aos olhos dos demais “cidadãos”, pois estão modificando a finalidade da utilização do espaço da rua; estão, com sua permanência, descaracterizando a finalidade de “passagem” que a rua deve ter, além de comprometer a estética do local, desorganizando aquilo que deveria estar “em ordem”. Tornar um banco de uma praça a cama para dormir, as portas das lojas para abrigo durante a noite, as árvores das praças como tetos para os momentos de banho com baldes, as calçadas como locais para comer, conseguir dinheiro ou deitar-se após umas doses de bebida são algumas das formas de apropriação da rua como um espaço onde se passa a viver. Chegar ao ponto de ter a rua como local de moradia, além da luta pela sobrevivência financeira, é visto como algo inadmissível por parte de um consenso generalizado, já que a rua não tem essa finalidade e não oferece aquilo que é encontrado no ambiente dito “do lar” que a caracterize dessa forma. (Ibidem, p. 54-55)


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Foto: Padre Júlio Lancelotti


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Ainda de acordo com a autora: Porém, tal forma de apropriação desse espaço urbano não é vista de forma agradável aos olhos dos demais “cidadãos”, pois estão modificando a finalidade da utilização do espaço da rua; estão, com sua permanência, descaracterizando a finalidade de “passagem” que a rua deve ter, além de comprometer a estética do local, desorganizando aquilo que deveria estar “em ordem”. Tornar um banco de uma praça a cama para dormir, as portas das lojas para abrigo durante a noite, as árvores das praças como tetos para os momentos de banho com baldes, as calçadas como locais para comer, conseguir dinheiro ou deitar-se após umas doses de bebida são algumas das formas de apropriação da rua como um espaço onde se passa a viver. Chegar ao ponto de ter a rua como local de moradia, além da luta pela sobrevivência financeira, é visto como algo inadmissível por parte de um consenso generalizado, já que a rua não tem essa finalidade e não oferece aquilo que é encontrado no ambiente dito “do lar” que a caracterize dessa forma. (Ibidem, p. 54-55)


30 Ou seja, além de sofrerem com as razões as quais os levaram as ruas e com o próprio fato de viverem nas ruas, sofrem ainda com as estigmatizações vindas por parte da sociedade, sofrendo represálias e sendo vítimas de atos maldosos e desumanos como cita Costa (2005, p. 6) em um de seus trechos: [...] Tem perpetuado na cultura nacional o sentimento de repressão e segregação, ou mesmo de desvalia, das pessoas que vivem nas ruas. Situação essa que tem sido o pano de fundo de ações violentas, as quais têm origens dispersas no contexto da sociedade em geral. Fatos viram notícia e, infelizmente, não são isolados: queima de pessoas que estão dormindo, extermínio, execução sumária. Sem falar da violência verbal e simbólica, que é produzida e reproduzida diariamente. Como se não bastasse, ainda na nossa sociedade, os moradores de rua sofrem com a chamada “arquitetura hostil”, uma forma de afastar e limitar esses usuários que utilizam o espaço público como moradia, como pode ser definido também pela citação abaixo: Lugares ocupados por “construções ou equipamentos que não tem outra função além de ocupar o espaço ou torná-lo inacessível. Logo, também previnem qualquer possibilidade de reapropriação”. As instalações em “anti-lugares” são comumente camufladas por uma estética amena, não revelando à primeira vista suas verdadeiras intenções. (FARIA, 2020 p. 32 apud ELFORT, 2016, p. 1101) Grades, lanças pontiagudas, lançamento de água em intervalos programados, pedras debaixo de viadutos, bancos com divisórias de ferro, tudo, absolutamente tudo é válido na tentativa de afastar mendigos e moradores de rua, essa exclusão é uma maneira de “higienizar” o espaço público, a fim de torna-lo cada vez mais inacessível a essa parcela sociedade. Fazendo com que esses usuários tenham que se deslocar em busca de novos locais para dormir cada vez mais.

Foto: Henry Milleo/Gazeta


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As políticas sociais no Brail


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Como discutido anteriormente, a constituição de 1988 veio para garantir direitos e assegurar que todos são iguais perante a lei. No inciso III do art. 3° da Constituição Federal consta o seguinte: “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: [...] III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;” (BRASIL, 1988). Ou seja, é de responsabilidade do estado promover medidas no combate a degradação e vulnerabilização a vida desses moradores. Em 1993 foi instituída a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), destinada as pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social, contudo, apesar de abranger toda a população que vive nessa situação de vulnerabilidade, inclusive os moradores de rua, essa parcela da população não possuía um respaldo especifico voltado para eles e somente em 2009 foi promulgado o decreto nº 7.053 de 23 de dezembro de 2009, esse decreto busca respaldar e defender os direitos desses usuários, assim como está descrito: Art. 6° São diretrizes da Política Nacional para a População em Situação de Rua: I - Promoção dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais; (BRASIL, 2009) [...] Art. 7° São objetivos da Política Nacional para a População em Situação de Rua: I - Assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços e programas que integram as políticas públicas de saúde, educação, previdência, assistência social, moradia, segurança, cultura, esporte, lazer, trabalho e renda; (BRASIL, 2009)


34 Entretanto, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) estimase que no Brasil, atualmente ainda exista aproximadamente 221.869 pessoas vivendo nas ruas e, de acordo com o CENSO SUAS (Sistema único de assistência social) de 2012 a 2020 o aumento dessa condição foi de 139%, como é mostrado no gráfico:

Figura: Gráfico pessoas morando nas ruas no Brasil Fonte: Censo SUAS.

Aristóteles (ca. 384-322) defendia que “A política deve ser utilizada de modo que, por meio da justiça, o equilíbrio seja alcançado na sociedade” no entanto, é perceptível esse desequilíbrio entre as classes sociais, refletindo a desigualdade social e a negligencia do estado, tal como é visto alarmante crescimento dessa parcela da população, mostrando que essa justiça na verdade não está agindo de forma justa como deveria, ou que as medidas implantadas não estão sendo suficiente para a grande demanda que existe no país, contrariando ainda a ideia do sociólogo Émile Durkheim (1858-1917) que defendia que a sociedade deveria ser como um “corpo biológico” para que todas as partes interajam entre si, a fim de que o equilíbrio fosse alcançado.



03. Leituras Projetuais



Ccasa Hostel

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Figura: Cozinha aberta com espaço comum Fonte: Archdaily


O PROJETO Albergue construído em containers para mochileiros. O hostel funciona como se fosse uma casa de família, onde os containers foram divididos para alocar os quartos e as áreas como cozinha, sala de estar, terraço coberto, banheiros, sala de jogos, área de serviço e lavanderia são compartilhados e de uso comum. O albergue é composto por três blocos funcionais: o bloco de serviço, o bloco de dormitórios e o bloco de banheiros. Sendo somente o bloco de dormitórios feito em containers. MATERIALIDADE O projeto é composto por containers antigos, estrutura de aço, alvenaria e pérgolas. “Destes, o bloco de serviço foi feito de estrutura de aço e chapas de metal pintadas de preto; o bloco de dormitórios foi definido em três containers antigos, pintados de três cores que simbolizam três tipos de quartos; e o bloco de banheiros foi construído de forma tradicional, com alvenaria rústica pintada de branca e concreto.” “As entradas para os quartos, que não são mais corredores abafados, mas pontes abertas luminosas cobertas por árvores e pérgolas.” (ARCHDAILY, 2017.) PROGRAMA

FICHA TÉCNICA Arquitetos: TAK architects Área: 195 m² Ano: 2016 Cidade: Nha Trang País: Vietnã

Como o projeto é composto por três blocos, “esses três blocos foram conectados pelo espaço comum, compartilhado, bem como pelo espaço de circulação, que é aberto ao máximo para a natureza. Esta é a principal característica que torna o projeto suave e harmônico.” “Com camas beliche dentro de containers transformados em quartos, além de áreas compartilhadas, cozinha e sala de estar, cobertura, sala de jogos, lavabos e banheiros. Portanto, o espaço de dormitórios foi reduzido ao mínimo, apenas o suficiente para dormir. Em contraste, o espaço compartilhado foi expandido ao máximo para aumentar a ligação entre os viajantes, assim como a área de banheiros.” (ARCHDAILY, 2017.)

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PLANTA BAIXA 1. Entrada 2. Espera da recepção 3. Recepção 4. Estacionamento 5. Cozinha aberta 6. Espaço comum 7. Centro de negócios

8. Dormitório cabine com 6 camas 9. Salão 10. Sanitário 11. Lavanderia 12. Dormitório cabine com 4 camas 13. Armário 14. Corredor 15. Sala de professores

16. Armazenamento 17. Cabine familiar 18. Área de relaxamento 19. Redes 20. Área técnica

PRIMEIRO PAVIMENTO 1. Entrada 2. Espera da recepção 3. Recepção 4. Estacionamento 5. Cozinha aberta 6. Espaço comum 7. Centro de negócios

8. Dormitório cabine com 6 camas 9. Salão 10. Sanitário 11. Lavanderia 12. Dormitório cabine com 4 camas 13. Armário 14. Corredor 15. Sala de professores

SEGUNDO PAVIMENTO 1. Entrada 2. Espera da recepção 3. Recepção 4. Estacionamento 5. Cozinha aberta 6. Espaço comum 7. Centro de negócios

8. Dormitório cabine com 6 camas 9. Salão 10. Sanitário 11. Lavanderia 12. Dormitório cabine com 4 camas 13. Armário 14. Corredor 15. Sala de professores

Figura: Planta baixa térreo Fonte: Archdaily

Figura: Planta baixa 1° pav. Fonte: Archdaily

16. Armazenamento 17. Cabine familiar 18. Área de relaxamento 19. Redes 20. Área técnica

Figura: Planta baixa 2° pav. Fonte: Archdaily

16. Armazenamento 17. Cabine familiar 18. Área de relaxamento 19. Redes 20. Área técnica


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PISO SUPERIOR 1. Entrada 2. Espera da recepção 3. Recepção 4. Estacionamento 5. Cozinha aberta 6. Espaço comum 7. Centro de negócios

SEÇÃO Figura: Corte de seção Fonte: Archdaily

Figura: Planta baixa piso superior. Fonte: Archdaily

8. Dormitório cabine com 6 camas 9. Salão 10. Sanitário 11. Lavanderia 12. Dormitório cabine com 4 camas 13. Armário 14. Corredor 15. Sala de professores

16. Armazenamento 17. Cabine familiar 18. Área de relaxamento 19. Redes 20. Área técnica


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Figura: Perspectiva interna corredor dormitórios Fonte: Archdaily

Figura: Perspectiva interna corredor dormitórios Fonte: Archdaily


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Figura: Perspectiva interna Fonte: Archdaily

Figura: Redário Fonte: Archdaily


Aetna Bridge Home 44


FICHA TÉCNICA Arquitetos: Lehrer Architects LA Área: 12.000 SF Lot Ano: 2020 Cidade: Los Angeles País: Estados Unidos

O PROJETO

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Abrigo construído a partir de um estacionamento subutilizado, afim de suprir a crise dos sem-teto em Los Angeles. A casa da Aetna Street Bridge apresenta soluções rápidas e criativas em uma locação simples e eficiente. “Seu cronograma acelerado e orçamento enxuto apresentam um uso simplificado e eficiente de unidades modulares préfabricadas para fornecer espaço coletivo de jantar e reunião, área de recreação para animais de estimação, assistência no acesso aos serviços da cidade, chuveiros, banheiros, lavanderia, controle de pragas e armazenamento seguro.” (Leher Architects LA, 2020) “O uso focado e dinâmico da cor em toda a instalação traz uma qualidade única ao espaço incomum em empreendimentos pré-fabricados desse tipo. Além disso, as árvores existentes foram usadas para criar uma exuberância contrastante para contrariar a geometria mais rígida dos reboques e das áreas de scaped rígido.” (ARCHINECT, 2020) MATERIALIDADE O abrigo foi pensado e construpido a partir de unidades modeulares pré fábricadas, como reboques. “A dependência de edifícios modulares pré-aprovados pelo estado não apenas simplificou o licenciamento, mas também permitirá uma implantação rápida devido à fabricação fora do local e fundações especializadas livres de escavação.” (ARCHINECT, 2020.) PROGRAMA O local conta com mais de 70 e 23 reboques e ocupa um terreno de um quarto de acre. a área de alimentação compartilhada é um grande dossel amarelo brilhante aberto que pode ser usado por todos ao longo do dia. e espaços de reunião, além de uma área de recreação para animais de estimação, chuveiros e banheiros e lavanderia.

Figura: Perspectiva aérea do edifício Fonte: Lehrer Architects LA


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Área de convivência

Reboque dos dormitórios

Praça de alimentação

Pet Place

Figura: Implantação do edifício Fonte: Lehrer Architects LA / Intervenção na imagem pela autora

Sanitários

Descarte de lixo

Estacionamento Bloco administrativo


47

Figura: Perspectiva do edifício Fonte: Lehrer Architects LA

Figura: Perspectiva do edifício Fonte: Lehrer Architects LA


The Bridge Homeless

48

Figura: Perspectiva externa do edifício Fonte: Archdaily.


FICHA TÉCNICA Arquitetos: Overland Partners Área: 75.000 m² Ano: 2010 Cidade: Dallas País: Estados Unidos

O PROJETO

49

The Bridge é um abrigo para sem testos localizado no centro de Dallas, o local oferece um amplo espectro de cuidados, como moradia, alimentação, emergência e cuidados transitórios, promovendo um senso de comunidade e segurança. MATERIALIDADE O abrigo foi pensado e construpido a partir de unidades modeulares pré fábricadas, como reboques. “A dependência de edifícios modulares pré-aprovados pelo estado não apenas simplificou o licenciamento, mas também permitirá uma implantação rápida devido à fabricação fora do local e fundações especializadas livres de escavação.” (ARCHINECT, 2020.) PROGRAMA O local conta com mais de 70 e 23 reboques e ocupa um terreno de um quarto de acre. a área de alimentação compartilhada é um grande dossel amarelo brilhante aberto que pode ser usado por todos ao longo do dia. e espaços de reunião, além de uma área de recreação para animais de estimação, chuveiros e banheiros e lavanderia.


50

PLANTA BAIXA TÉRREO

PLANTA BAIXA 1° PAV.

Figura: Planta baixa térreo Fonte: Archdaily

Figura: Planta baixa 1° pav. Fonte: Archdaily


PLANTA BAIXA 2° PAV.

Figura: Pátio externo Fonte: Archdaily

Figura: Planta baixa 2° pav. Fonte: Archdaily


Figura: Pátio externo Fonte: Archdaily.


DIAGNÓSTICO DAS LEITURAS As leituras projetuais foram de suma importância no processo de desenvolvimento no projeto, revelando a importância de projetos emergentes e acolhedores. Dessa maneira, foi possível identificar em todos características que ajudaram a nortear o projeto foram: o uso de módulos para compor o projeto, seja módulos de container, reboques ou de outra materialidade, o uso expressivo das cores, trazendo mais identidade e alegria ao projeto, uso de canil e pet place para recreação dos animais, uso de espaços livres como elemento de integração no projeto.


Condicionantes projetuais

Guariba-SP


55 O município de Guariba, encontra-se no interior do estado de São Paulo a aproximadamente 370 km da capital e pertence a região metropolitana de Ribeirão Preto, com uma área equivalente a 270.289 km². De acordo com o CENSO populacional de 2010 realizado pelo IBGE, a população contabilizada foi de 35.486 pessoas, ainda de acordo com o IBGE, estima-se que no ano de 2020 cidade possuia aproximadamente 40.487 habitantes. A cidade foi fundada em 21 de setembro de 1895 durante o período cafeeiro, mas após a crise do café passou a ter como principal gerador de economia a cana de açúcar. As usinas canavieiras foram um grande atrativo de migrantes para cidade, famílias e indivíduos vinham ao município em busca de trabalho, mais precisamente o corte de cana de açúcar, porém com o avanço no processo de mecanização no campo a empregabilidade nesse setor vem diminuindo drasticamente.

Pertencente a região metropolitana de Ribeirão Preto, os principais acessos são pelas cidades de Jaboticabal (31 km), Monte Alto (47 km), Araraquara (60 km), Motuca (23 km), Pradópolis (27 km), Dumont (44 km) e Ribeirão Preto (64 km). A cidade interiorana não é dotada de políticas públicas que atendem essa parcela da população, os indivíduos que não encontram locais para dormir, comer, tomar banho e realizar suas necessidades pessoais, acabam recorrendo às praças, rodoviárias e logradouros públicos.

Acessos: Ribeirão Preto Dumont Pradópolis AV. 04

Acessos: Jaboticabal Monte Alto Taquaritinga Matão

GARAGEM

E CAMINHÕ P/

ONIBUS

ES

estaciona mento

ANT.

CIPA

LAVAND. RESIDENC IA

CRIADOU RO

DE

CARNEIR O

ADIM.

SOL NASCENTE

ÁREA DE INTERVENÇÃO

VENTOS DOMINANTES

SOL POENTE

PERÍMETRO URBANO LIN

HA

ÁREA INDUSTRIAL REGIÃO CENTRAL

DE

DIV

ISA

DO

PE

RÍM

ET

RO

UR

BA

NO

Acessos: Araraquara Motuca

N Figura: Perímetro urbano da cidade de Guariba Fonte: Prefeitura de Guariba/ manipulado pela autora


56 Na análise feita através do mapa de figura fundo, é notório a percepção dos vazios urbanos em locais pontuais do mapa, na área estudada a maior parte dos vazios urbanos estão ligados diremente às grandes áreas verdes presentes na região estudada, e não pelo fenômeno de espraiamento urbano, como acontece nas grandes capitais.

CONSTRUÍDO VAZIO

N Figura: Mapa de Figura fundo Fonte: Google Earth/ manipulado pela autora


A área escolhida está localizada dentro da malha urbana, entre uma zona predominantemente residencial e a região central, próximo a uma vasta área verde localizada no meio da cidade, composta por chácaras particulares e áreas de proteção permanente (APP).

57

As vias do entorno caracterizam-se como locais de acordo com o mapa de hierarquia viária da cidade, possuindo algumas vias principais de acesso que estão ligas diretamente às vias de entrada/saída da cidade. Apesar da predominância residêncial do entorno, o terreno fica em uma localização bem próxima a região central , tendo como principal vantagem a facilidade de acessos.

ÁREA DE INTERVENÇÃO COMERCIAL RESIDENCIAL INSTITUCIONAL ÁREA VERDE

PRINCIPAIS VIAS DE ACESSO VIAS LOCAIS Figura: Mapa de uso do solo por predominância e hierarquia viária Fonte: Prefeitura municipal de Guariba/ manipulado pela autora

N


58

Como se observa no mapa , o gabarito máximo do entorno imediato é de 2 pavimentos de altura, contudo, a maior predominância na área, são edificações térreas, ou seja, de 1 pavimento de altura, o que torna a paisagem do local mais horizontal que vertical. Isso acabou norteando as definições de volumetria do projeto.

ÁREA DE INTERVENÇÃO 1 PAV. 2 PAV.

N Figura: Mapa Gabarito Fonte: Google Earth/ manipulado pela autora



60

Figura: Entorno da área de intervenção Fonte: Autora.


61

Figura: Entorno da área de intervenção Fonte: Autora.

Figura: Entorno da área de intervenção Fonte: Autora.


62

Figura: Entorno da área de intervenção Fonte: Autora.

Figura: Área de intervenção Fonte: Autora.


63

RUA DONA CONSTÂNCIA

1.960,53m²

610

Perfil transversal s/ escala

Perfil longitudinal s/ escala


05. O Projeto


65

Programa de necessidades SETOR/AMBIENTE

ATENDIMENTO

ADMINISTRAÇÃO

ALOJAMENTO

CIRCULAÇÃO

PRINCIPAIS USUÁRIOS

QUANTIDADE

ÁREA MÍN.

DE UNIDADES

UNIDADE (m²)

ÁREA TOTAL (m²)

Sala de recepção e acolhimento Sala de triagem Assistência Social Sanitário de funcionários Sanitário público

PÚBLICO PRIVADO PRIVADO PRIVADO PÚBLICO

Funcionários e Desabrigados Funcionários e Desabrigados Funcionários e Desabrigados Funcionários Funcionários e Desabrigados

1 2 1 2 2

36 9 9 3,5 3,5

36 18 9 7 7

Sala de reuniões Sala de funcionários Quarto para funcionários Almoxarifado Sanitários Copa/Cozinha

PRIVADO PRIVADO PRIVADO PRIVADO PRIVADO PRIVADO

Funcionários Funcionários Funcionários Funcionários Funcionários Funcionários

2 1 2 1 2 1

15 30 13 7 14 12

30 30 26 7 28 12

Dormitórios Masculino Dormitórios Feminino Sanitários Feminino Sanitários Masculino

PRIVADO PRIVADO PRIVADO PRIVADO

Desabrigados Desabrigados Desabrigados Desabrigados

4 4 2 2

13 13 30 30

52 52 60 60

PÚBLICO PÚBLICO PÚBLICO PÚBLICO PÚBLICO PÚBLICO PÚBLICO PÚBLICO

Desabrigados e Comunidade Desabrigados e Comunidade Desabrigados e Comunidade Desabrigados e Comunidade Desabrigados e Comunidade Desabrigados e Comunidade Desabrigados e Comunidade Desabrigados e Comunidade

2 1 5 1 1 1 1 1

60 60 15 95 600 30 190 60

120 60 75 95 600 30 190 60

PRIVADO Funcionários e Desabrigados PRIVADO Funcionários PRIVADO Funcionários

1 1 1

15 9 40

15 9 40

PRIVADO Funcionários e Desabrigados

1

9

9

Salas de jogos e entretenimento Biblioteca Salas para oficinas de capacitação COMUNITÁRIO E Refeitório RESSOCIALIZAÇÃO Praça Horta Canil e Pet Place Sala audiovisual

SERVIÇOS

USO

Lavanderia Despensa Cozinha Industrial Sala de apoio e acompanhamento psicológico

CIRCULAÇÃO

30%

ÁREA TOTAL (m²)

=

Figura: Programa de necessidades Fonte: Produzido pela autora

521,10 2258,10

As principais diretrizes do projeto são: moradia, capacitação e ressocialização. Dessa maneira, o programa de necessidades foi pensado afim de sanar essas principais carências e preencher essas lacunas. Para a elabolaração, foi levado em conta as referências projetuais abordadas para fornecer embasamento projetual, além das necessidades dos desabrigados que ali residirão. A praça que é parte primordial do projeto, foi pensada como um elemento de integração entre os ambientes e para criar uma relação entre o interior do abrigo e seu exterior, além da interação entre os usuários e a comunidade. O projeto conta com dormitórios, salas de entretenimento, apoio psicológico, uma sala ampla e versátil que pode ser utilizada para realização de apresentações, palestras, cinema, peças de teatro e afins ou ser transformada em uma sala para tv no dia a dia. Os cursos preparatórios oferecidos na cidade atualmente pela prefeitura municipal, geralmente são feitos em escolas munipais ou no Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT), no entanto, para participar dos mesmo, é necessário a comprovação de um endereço fixo, o que naturalmente moradores de rua não possuem, dessa maneira, são excluídos automáticamente das seleções. O centro contará com uma ala dedicada às oficinas de capacitação que atenderão tanto os moradores do local, como qualquer pessoa que viva em situação de vulnerabilidade social, além de uma biblioteca pública que fará parte desse nicho intelectual para que os usuários possam usufruir da mesma. Haverá um canil e pet place dedicado aos animais de estimação dos moradores, visto que muitos moradores de rua acabam recusando abrigo ao descobrirem que o melhor amigo não pode lhes acompanhar.


66

Fluxograma

DEPÓSITO DE DOAÇÕES

SANITÁRIOS

COPA/ SALA ALMOXARIFADO COZINHA REUNIÕES

SALA DE FUNCIONÁRIOS QUARTO DE FUNCIONÁRIOS

JOGOS E ENTRETENIMENTO

SANITÁRIOS ASSISTÊNCIA SOCIAL

SALA DE APOIO E ATENDIMENTO PSICOLÓGICO

COPA/ SALA SANITÁRIOS OZINHA REUNIÕES

SANITÁRIOS

TRIAGEM

LAVANDERIA

RECEPÇÃO E ACOLHIMENTO

CANIL

SALA AUDIOVISUAL REFEITÓRIO

PRAÇA

OFICINAS DE CAPACITAÇÃO

SANITÁRIOS

LAVANDERIA

RECEPÇÃO E ACOLHIMENTO

DORMITÓRIOS MASCULINO

COZINHA INDUSTRIAL

DESPENSA JOGOS E ENTRETENIMENTO

AGEM

SALA AUDIOVISUAL

DORMITÓRIOS MASCULINO

DORMITÓRIOS FEMININO

BIBLIOTECA

SANITÁRIOS

HORTA

CANIL

PRAÇA

DORMITÓRIOS FEMININO

OFICINAS DE CAPACITAÇÃO

Figura: Fluxograma Fonte: Produzido pela autora

SANITÁRIOS

AcessoDEPÓSITO principal SANITÁRIOS

DE DOAÇÕES BIBLIOTECA

COPA/ SALA ALMOXARIFADO COZINHA REUNIÕES HORTA

Acesso restrito para funcionários SALA DE FUNCIONÁRIOS QUARTO DE FUNCIONÁRIOS

SANITÁRIOS

JOGOS E ENTRETENIMENTO

SANITÁRIOS

SALA DE APOIO E ATENDIMENTO PSICOLÓGICO

ASSISTÊNCIA SOCIAL

SANITÁRIOS

TRIAGEM RECEPÇÃO E ACOLHIMENTO

DESPENSA

SALA AUDIOVISUAL

LAVANDERIA

DORMITÓRIOS MASCULINO

COZINHA INDUSTRIAL REFEITÓRIO

CANIL

PRAÇA

OFICINAS DE CAPACITAÇÃO

DORMITÓRIOS FEMININO

SANITÁRIOS




Estudo Preliminar 69

CONCEITO l PARTIDO Quando se pensa em morador de rua, automaticamente assimila-se a imagem de constante mudança e deslocamento em que muitos vivem, por diversas razões, as pessoas que vivenciam a situação de rua por necessidade precisam a aprender se flexibilizar ao ambiente e as situações que estão expostos, carregando consigo a LIBERDADE. A liberdade de ter o céu como “teto”, a lua como “lâmpada” e as ruas como “lar”. Basear-se na LIBERDADE como CONCEITO, trará ainda mais identidade ao projeto, ressignificando a situação em que vivem e trazendo essa caracterização ao objeto de estudo. Para materializar esse conceito, teremos como PARTIDO um programa livre, composto por módulos interligados que possam ser separados e replicados em qualquer lugar. Esses módulos serão flexíveis a ponto de colaborarem com a demanda de usuários e a necessidade de cada ambiente. Usaremos como referência o quebra-cabeça de origem chinesa “Tangram”. Tangram é um jogo composto por 7 peças geométricas recortadas a partir de um quadrado, 2 triângulos grandes, 1 triângulo médio, 1 triângulo pequeno, 1 quadrado e 1 paralelogramo, as peças são utilizadas para formar inúmeras imagens e formas como animais, números, pessoas e objetos. O grande segredo está em girar e mudar de posição as peças, o que contribui para o desenvolvimento da percepção de espaços e para criação das formas. No projeto, os módulos de container tomarão lugar das peças e o terreno será o “tabuleiro” para brincarmos com o espaço, assim como no jogo, utilizaremos containers de vários tamanhos, como a diversidade das peças. A maior conexão e similaridade do jogo com o projeto é a capacidade e flexibilidade dos módulos se distribuirem no espaço. Revelando a LIBERDADE do conceito proposto.


70

Memorial Justificativo A ÁREA A área escolhida localiza-se na área central da cidade em um terreno de 1.961,22 m². A definição do terreno partiu primeiramente a partir da preferência da região para implantação do projeto. O intuito sempre foi a área central, pois além de ser o local onde se concentra o maior número de desabrigados é também o coração da cidade. Além disso a idéia central do projeto é trazer uma reinserção dessas pessoas na sociedade, dessa maneira a escolha do terreno nesse sentido também foi de grande importância, para que houvesse uma relação forte entre o local e a cidade.

A PRAÇA A implementação da praça no projeto serviu como elemento de ligação entre a cidade e o centro de acolhimento, e consequentemente com os usuários do local. Inicialmente a praça estava orientada para a Rua Tofic José Abmussi, de menor movimento, no entanto, ao decorrer do projeto, nasce a ideia de orientar a praça para a avenida de maior movimento - Avenida Luiz Barrichelo, evidenciando novamente o propósito de integração entre o local e seu entorno. Além disso, a recepção foi projetada ao fundo do terreno propositalmente, para que o percurso ao longo da praça também fosse priorizado.

MOBILIÁRIOS O projeto todo foi pensado baseado no conceito de LIBERDADE, dessa forma, um dos mobiliários utilizados foi pensado justamente para remeter o partido desse conceito. O banco versátil serve tanto para sentar para ler um livro ou apreciar a paisando, quanto serve para deitar, como sabemos, muitos moradores de rua querem um abrigo, mas não necessariamente um quarto, dessa maneira, o banco serve como um abrigo ao lar livre aos usuários.


GRAMA ESMERALDA

71

Utilizada na maior parte da área livre do terreno, servindo para trazer mais conforto térmico ao edifício.

ESPELHO D’ÁGUA Utilizado como elemento de ligação entre o exterior e interior do terreno, além de ser um evento de interação entre os usuários, aliado à grama

RESERVATÓRIO DE ÁGUA VERTICAL 0,90x2,10 1,00

PROJEÇÃO DO PERGOLADO

10,25

0,90x2,10

0,90x2,10

1,50

4,20x2,50

0,90x2,10

4,68

2,50x1,00 1,50

1,58

0,90x2,10

1,40

1,80

2,70x2,50

2,70x2,50

ASSISTENTE SOCIAL 0,10

APOIO PSICOLÓGICO 0,10

2,05 0,90x2,10

0,05

2,05

3,35

1,10

1,10

1,70

3,00x1,00 0,60

TRIAGEM 0,10

0,90x2,10

3,70

3,50

ATENDIMENTO 0,10

COPA 0,10

3,30x1,00 1,10

5,10

4,90x2,50

4,15

3,25

0,90x2,10

0,90x2,10

RECEPÇÃO 0,10

3,25

0,05

PET PLACE 0,00

1,50

2,80

1,50x2,50

2,50x2,50

4,68

4,68

4,90x2,50

PRAÇA ALIMENTAÇÃO EXTERNA 0,05

12,00x2,50

12,00x2,50

0,05

4,20x1,00 1,10

SALA DE REUNIÃO 0,10

SANITÁRIO ACESSÍVEL MASCULINO 0,08

4,60

0,90x2,10

SANITÁRIO ACESSÍVEL FEMININO 0,08

1,70

0,90x2,10

PISO INTERTRAVADO

SANITÁRIO ACESSÍVEL MASCULINO 0,10

2,80

0,90x2,10

2,50

PROJEÇÃO DO PERGOLADO

1,70

11,80

1,00x1,00 1,50

2,70x2,50

2,05 SANITÁRIO ACESSÍVEL FEMININO 0,10

0,90x2,10

1,70

2,70x2,50

0,90x2,10

1,00x1,00 1,50

0,90x2,10

1,50x2,10

1,70

1,60

1,20 7,12

0,90x2,10

3,20

0,90x2,10

3,00

ALMOXARIFADO 0,10 SANITÁRIO MASCULINO 0,08

1,40

CISTERNA VERTICAL PARA REÚSO D'ÁGUA

0,90x2,10

0,90x2,10

Além da estética o piso intertravado foi escolhido pela facilidade da manutenção e sua característica de permeabilidade devido sua capacidade de drenagem.

DEPÓSITO DE DOAÇÕES 0,10

2,00

2,00

9,56

1,50

1,20

0,90x2,10

3,08

0,90x2,10

2,90

2,90

5,15

3,00x1,00 0,60

1,80

DESPENSA 0,10

3,35

0,90x2,10

LAVAGEM DE PANELAS 0,10

4,35 1,60

SANITÁRIO FEMININO 0,08

COZINHA 0,10

2,50x1,00 0,60

2,50x1,00 1,50

0,10

3,00

2,30

no conforto térmico.

REFEITÓRIO

1,50x2,50

3,00

0,90x2,10

3,50

0,90x2,10

PROJEÇÃO DO PERGOLADO

2,40

PREPARAÇÃO/EMPRATAMENTO

1,50

7,45

12,00

12,00

0,00

PROJEÇÃO DO PERGOLADO

SALA DE TV 0,10

SALA DE JOGOS E ENTRETENIMENTO 0,10

4,90x2,50

0,00

LAVANDERIA 0,18

PROJEÇÃO DO PERGOLADO DECK DE MADEIRA 0,10

LIXEIRA ECOPONTO

0

0,90x2,1

0

3,85

0,90x2,1

0

0,90x2,1

DECK DE MADEIRA

0

0,90x2,1

ÁRIOS SANIT INO FEMIN 0,13

4,68

DE SALA ÃO 1 CITAÇ CAPA 0,15

1,85 3,10

0,90

0,90

0,90

1,90 1,80

P1 1,25

P1

P1

DE SALA ÃO 2 CITAÇ CAPA 0,15

1,25

DE SALA ÃO 4 CITAÇ CAPA 0,15

0

0,90x2,1

0

0,90x2,1

1,80

DE SALA ÃO 3 CITAÇ CAPA 0,15

DE SALA ÃO 5 CITAÇ CAPA 0,15

4,78

0 0,90x2,1

Utilizado a frente das salas de oficina de capacitação como um elemento de interação aos usuários.

ÁRIOS SANIT INO UL MASC 0,13

0

0,90x2,1 0

0,90x2,1

1,00

1,75 0

3,00x1,0 1,50

0

3,00x1,0 1,50

3,20

3,20

N

3,20 3,20

5

0 1 2

10

15

20


72

MATERIALIDADE Desde a concepção do projeto a intenção era de trazer um método construtivo diferente da alvenaria convencional e que se assimilasse aos usuários daquele local. Dessa forma, a escolha do container harmonizou-se perfeitamente com a essência do projeto, tendo a LIBERDADE como conceito, o partido do projeto foi a utilização de módulos de container como método construtivo. Geralmente os containers utilizados para fins construtivos são aqueles que não estão mais aptos para serem usados no grandes portos para transportes de cargas, isso porque sua vida útil no transporte marítimo é de aproximadamente 10 anos, após esse período são descartados, gerando lixo nas cidades onde se localizam os portos. A harmonia entre o método construtivo e a essência do projeto está justamente nessa ressignificação, onde o que muitas vezes é visto como descartável ou até mesmo como inutil perante a sociedade, na verdade, pode se metaforsear, seja objetos ou pessoas. A utilização do container na construção civil além de trazer uma reutilização desses materiais que por ora estaria gerando lixos nas cidades portuárias, é de grande valia também quando se visa mais agilidade e mobilidade a obra. Vendo pelo lado sustentável, sua característica de reus acaba eliminando desperdícios significativos de materiais e o descarte inadequado, além de trazer uma obra seca e de baixo impacto ambiental, visto que já pegamos um material pronto que por ora seria descarte.

CONTAINER HIGH CLUB O container utilizado para materialização do projeto é do tipo High Cube 40 PÉS que possuem medidas internas: 12.032 mm de comprimento X 2.352 mm de largura X 2.698 mm de altura. Medidas externas: 12.192 m de comprimento X 2.438 m de largura X 2.895 me de altura. Esse modelo é o mais utilizado na construção civil, pelo fato de ter seu pé direito mais alto que os demais modelos, e para atender as diversas necessidades do programa foram utilizados containers inteiros e containers que foram modificados e “cortados” ao meio, além de uni-los para que os módulos formassem espaços mais amplos.


73

ESTRUTURA Painel superior

Painel posterior

Cantoneiras Vigas

Placa com revestimento

Painel lateral

Pilares

Vigas do piso

Painel frontal

Internamente serão utilizados placas de revestimento com mantas térmicas do tipo 3TC, afim de trazer conforto térmico e acustico aos ambientes. Na face externa da edificação será mantida a textura original dos containers deixando os relevos em evidência.

O 3TC é uma tecnologia de isolamento aliada às tecnologias da NASA, inspirada no funcionamento das garrafas térmicas e também nos trajes de astronautas, a partir da junção do Mylar polímero extremamente leve e altamente refletivo) e com um núcleo de EPS (polímero expandido) O 3TC foi desenvolvido para ser um isolante térmico muito diferente dos convencionais, pois consegue controlar a temperatura no frio e no calor, além de controlar as três formas de transferência de calor.

A estrutura do container é bem parecida com a estrutura de uma construção convencional (com pilares, vigas, vergas e contravergas). A diferença é que isso é de certa forma unido, ao contrário de uma construção feita a base de alvenaria. Os containers são bem versáteis para sofrer alterações, desde que preserve sua estrutura, ou seja, os panéis laterais servem principalmente como elementos de vedação e não como algo estrutural, dessa maneira eles podem ser retirados para abrir um vão ou recortados para aberturas de esquadrias etc.

PLACAS DE REVESTIMENTOS Painel de vedação

3TC

Placa de gesso


Desenhos técnicos


75

RUA DONA CONSTANCIA B ACESSO DE FUNCIONÁRIOS RESERVATÓRIO DE ÁGUA VERTICAL

CALHA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA PLUVIAL

PLACAS FOTOVOLTAICAS PARA CAPTAÇÃO DE ENERGIA SOLAR

TELHA METÁLICA I= 10%

TELHA METÁLICA I= 10% CALHA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA PLUVIAL

A

CISTERNA VERTICAL PARA REÚSO D'ÁGUA

A

AVENIDA SALIM ATIQUE

TELHA METÁLICA I= 10%

CALHA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA PLUVIAL

TELHA METÁLICA I= 10% CALHA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA PLUVIAL

TELHA METÁLICA I= 10%

CALHA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA PLUVIAL

PERGOLADO METÁLICO COBERTO COM POLICARBONATO E ESTEIRA DE PALHA NATURAL

TELHA METÁLICA I= 10%

AVENIDA LUIZ BARRICHELLO

ACESSO PRINCIPAL

C

C LIXEIRA ECOPONTO

TELHA METÁLICA I= 10%

CALHA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA PLUVIAL

RÁTIL

ADO RET PERGOL I= 5%

A METÁLIC TELHA 10% I=

CALHA

TAÇÃO

DE CAP

IAL

A PLUV

DE ÁGU

B

RUA

USSI

É ABM

JOS TUFIC

N

5

0 1 2

10

15

20

Figura: Implantação/Cobertura Fonte: Autora.

IMPLANTAÇÃO/COBERTURA Esc: 1:500


B

76 RESERVATÓRIO DE ÁGUA VERTICAL 0,90x2,10 1,00

PROJEÇÃO DO PERGOLADO

10,25

0,90x2,10

0,90x2,10

1,50

2,90

4,68

2,50x1,00 1,50

ALMOXARIFADO 0,10

0,90x2,10

0,90x2,10

1,80

1,40

2,70x2,50

ASSISTENTE SOCIAL 0,10

APOIO PSICOLÓGICO 0,10

2,05 0,90x2,10

0,05

2,50

PROJEÇÃO DO PERGOLADO

2,05

1,10

1,10

1,70

0,90x2,10

3,35

3,00x1,00 0,60

0,90x2,10

4,20x1,00 1,10

SALA DE REUNIÃO 0,10

SANITÁRIO ACESSÍVEL MASCULINO 0,08

4,60

0,90x2,10

SANITÁRIO ACESSÍVEL FEMININO 0,08

1,70

0,90x2,10

TRIAGEM 0,10

3,70

3,50

ATENDIMENTO 0,10

COPA 0,10

3,30x1,00 1,10

5,10

4,90x2,50

4,15

3,25

0,90x2,10

0,90x2,10

RECEPÇÃO 0,10

3,25

0,05

PET PLACE 0,00

1,50

2,80

1,50x2,50

2,50x2,50

4,68

4,68

4,90x2,50

PRAÇA ALIMENTAÇÃO EXTERNA 0,05

12,00x2,50

12,00x2,50

0,05

SANITÁRIO ACESSÍVEL MASCULINO 0,10

2,80

0,90x2,10

1,70

2,70x2,50

1,00x1,00 1,50

11,80

2,05 SANITÁRIO ACESSÍVEL FEMININO 0,10

0,90x2,10

1,70

2,70x2,50

0,90x2,10

1,00x1,00 1,50

2,70x2,50

A

1,58 1,50x2,10

1,70

1,60

1,20

0,90x2,10

3,00

0,90x2,10

4,20x2,50

1,20 7,12

CISTERNA VERTICAL PARA REÚSO D'ÁGUA

0,90x2,10

3,20

0,90x2,10

2,00

9,56

1,50

5,15

SANITÁRIO MASCULINO 0,08

1,40

3,08

0,90x2,10

2,90 0,90x2,10

DEPÓSITO DE DOAÇÕES 0,10

2,00

4,35

3,00x1,00 0,60

0,90x2,10

DESPENSA 0,10

3,35

1,80

LAVAGEM DE PANELAS 0,10

3,00

2,30

SANITÁRIO FEMININO 0,08

COZINHA 0,10

2,50x1,00 0,60

2,50x1,00 1,50

0,10

1,60

A

REFEITÓRIO

1,50x2,50

3,00

0,90x2,10

3,50

0,90x2,10

PROJEÇÃO DO PERGOLADO

2,40

PREPARAÇÃO/EMPRATAMENTO

1,50

7,45

12,00

12,00

0,00

PROJEÇÃO DO PERGOLADO

SALA DE TV 0,10

SALA DE JOGOS E ENTRETENIMENTO 0,10

4,90x2,50

0,00

2,00

C

2,34

2,40

5,90

LAVANDERIA 0,18

C

PROJEÇÃO DO PERGOLADO DECK DE MADEIRA 0,10

LIXEIRA ECOPONTO

0

0,90x2,1

0

3,85

0,90x2,1

0

0,90x2,1 0

0,90x2,1

ÁRIOS SANIT INO UL MASC0,13

0

0,90x2,1

ÁRIOS SANIT INO FEMIN 0,13

4,68

DE SALA ÃO 1 CITAÇ CAPA 0,15

DE SALA ÃO 2 CITAÇ CAPA 0,15

1,85

3,10

0,90

0,90

1,90 1,80

P1 1,25

P1

P1

DE SALA ÃO 4 CITAÇ CAPA 0,15

0

0,90x2,1

0

0,90x2,1

1,80

DE SALA ÃO 3 CITAÇ CAPA 0,15

DE SALA ÃO 5 CITAÇ CAPA 0,15

1,25

0

0,90x2,1

4,78

0

0,90x2,1

0,90

1,00

1,75 0

3,00x1,0 1,50

0

3,00x1,0 1,50

3,20

Figura: Planta Baixa Térreo Fonte: Autora.

3,20 3,20 3,20

N B

PLANTA BAIXA PAV. TÉRREO Esc: 1:250 ACESSO PRINCIPAL ACESSO RESTRITO A FUNCIONÁRIOS

5

0 1 2

10

15

20

No pavimento térreo está localizado a recepção e triagem, o setor administrativo e de serviços, refeitório, salas de jogos e entretenimento, salas de oficinas de capacitação e sanitários, além da grande praça de 600m² que envolve o projeto.


B

77

PLACAS FOTOVOLTAICAS PARA CAPTAÇÃO DE ENERGIA SOLAR

CALHA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA PLUVIAL

4,68

TELHA METÁLICA I= 10%

SALA DE FUNCIONÁRIOS 3,00

A

5,90

A

CALHA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA PLUVIAL

TELHA METÁLICA I= 10%

2,44

QUARTO DE FUNCIONÁRIOS FEMININO 3,00

1,75

12,10

QUARTO DE FUNCIONÁRIOS MASCULINO 3,00

0,90x2,10

SANITÁRIO DE FUNCIONÁRIOS FEMININO 3,00

1,80 1,00

1,85 0,90x2,10

0,90x2,10

0,90x2,10

2,90

0,90x2,10

4,68

0,90x2,10

SANITÁRIO DE FUNCIONÁRIOS MASCULINO 3,00

2,24

1,80

2,78 1,85

0,90x2,10

DORMITÓRIO FEMININO 3,00

0,90x2,10

0,95

1,25 0,70x2,10 0,70x2,10

0,95

5,90

SANITÁRIOS FEMININO 3,00

0,70x2,10

0,90x2,10

0,95

0,95

DORMITÓRIO FEMININO 3,00

0,90x2,10

DORMITÓRIO FEMININO 3,00

0,90x2,10

SANITÁRIOS FEMININO 3,00

2,93

DORMITÓRIO FEMININO 3,00

0,70x2,10 0,70x2,10

0,70x2,10

0,90x2,10

4,68

C

2,34

2,40

C

2,40

5,90

2,00

21,38

0

8,00x2,5

FIXO VIDRO 0 2,20x2,9

BIBLIOTECA 3,00

2,68

DE

P4

P4

O VER 3,00

TELHAD

5,88

1,70 1,70

SANITÁRIO MASCULINO 3,00

Figura: Planta baixa primeiro pavimento Fonte: Autora.

8,40 FIX VIDRO ,90 8,40x2

1,90

SANITÁRIO FEMININO 3,00

O

N B

0

5 1 2

PLANTA BAIXA PRIMEIRO PAVIMENTO Esc: 1:250

10

15

20

O primeiro pavimento conta com dormitórios e sanitários para funcionários e para os desabrigados, em outro “bloco” se localiza a biblioteca, horta comunitária num telhado verde e um espaço de interação aos usuários, coberto com um pergolado retrátil.


B

78

CALHA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA PLUVIAL

A

TELHA METÁLICA I= 10%

TELHA METÁLICA I= 10% CALHA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA PLUVIAL

A

TELHA METÁLICA I= 10%

CALHA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA PLUVIAL

TELHA METÁLICA I= 10% 1,80

2,78 1,85

0,90x2,10

DORMITÓRIO MASCULINO 6,00

SANITÁRIOS MASCULINO 6,00

DORMITÓRIO MASCULINO 6,00

1,25

0,70x2,10 0,70x2,10

0,95

5,90

0,95

0,90x2,10

0,95

0,95

0,70x2,10

0,90x2,10

0,90x2,10

DORMITÓRIO MASCULINO 6,00

0,90x2,10

2,93

SANITÁRIOS MASCULINO 6,00

0,70x2,10 0,70x2,10

0,70x2,10

DORMITÓRIO MASCULINO 6,00

0,90x2,10

4,68

C

C

IL

RETRÁT OLADO I= 5%

PERG

A

LIC METÁ TELHA I= 10%

CALHA

AÇÃO DE

DE CAPT

Figura: Planta baixa segundo pavimento Fonte: Autora.

UVIAL

ÁGUA PL

N B 5

0 1 2

PLANTA BAIXA SEGUNDO PAVIMENTO Esc: 1:250

10

15

20

No segundo e último pavimento localiza-se apenas os dormitórios masculinos dos desabrigados. Sendo o pavimento que se destaca perante o entorno.


Cortes

79

3,00

0,10

0,08

0,10

0,08

0,10

0,05

Figura: Corte AA Fonte: Autora.

CORTE AA Esc: 1:200

6,00

3,00

0,05

CORTE BB Esc: 1:200

CORTE CC Esc: 1:200

0,13

3,00

0,10

0,05

3,00

0,00

0,05

0,10

0,05

Figura: Corte BB Fonte: Autora.

Figura: Corte CC Fonte: Autora.


80

Elevações

VISTA 1 Esc: 1:250

VISTA 2 Esc: 1:250


81

VISTA 3 Esc: 1:250

VISTA 4 Esc: 1:250



83


84

Figura: Perspectiva externa Fonte: Autora.

Figura: Perspectiva dormitório interno Fonte: Autora.


85

Figura: Sala de jogos Fonte: Autora.

Figura: Biblioteca Fonte: Autora.


86

Figura: Perspectiva externa Fonte: Autora.

Figura: Pet Place Fonte: Autora.


87

Figura: Pet Place Fonte: Autora.

Figura: Perspectiva externa Fonte: Autora.


88

Figura: Perspectiva externa Fonte: Autora.

Figura: Perspectiva externa Fonte: Autora.


CONCLUSÃO A escolha do tema partiu da percepção à quantidade de pessoas em situação de vulnerabilidade social – moradores de rua, pessoas que moram em barracos sem o mínimo de salubridade, pessoas que estão fora do mercado de trabalho e cada vez mais são apagadas da sociedade. O desejo por tentar melhorar essa realidade se uniu a ideia da proposta de criação do centro de apoio às pessoas que vivem nessa situação de vulnerabilidade e na maioria das vezes não tem condições de se reinserir na sociedade, por falta de oportunidade, de moradia fixa, falta de capacitação etc. O projeto busca uma arquitetura social e humanitária que ofereça o mínimo de moradia digna e oportunidades, através de cursos de capacitação, programas sociais, oficinas de arte, programas de lazer e reinserção na sociedade.

89


Referências bibliográficas


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ARGILES, MARGILEI DOS SANTOS. População adulta em situação de rua: da invisibilidade social ao direito a ter direitos. Disponível em: <https://pos.ucpel.edu.br/ppgps/wp-content/uploads/ sites/5/2018/03/MARIGLEI.ARGILES_Popula%C3%A7%C3%A3o-Adulta-em-Situa%C3%A7%C3%A3ode-Rua-%E2%80%93-Da-invisibilidade-social-ao-direito-a-ter-direitos.pdf> - Último acesso: 30/04/2021 NASCIMENTO, E. C. (2008). Nomadismos contemporâneos: Um estudo sobre errantes trecheiros. São Paulo: Editora UNESP. MATOS, FÁTIMA LOUREIRO. Espaços públicos e qualidade de vida nas cidades – o caso da cidade porto. Disponível em: <http://www.observatorium.ig.ufu.br/pdfs/2edicao/n4/Espacos_publicos.pdf> Último acesso: 30/04/2021. OLIVEIRA, MARIA DO ROSÁRIO DE LIMA. A RUA COMO ESPAÇO PARA MORAR: observações sobre a apropriação dos espaços públicos pelos moradores de rua da cidade de João Pessoa-PB. Disponível em: <https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/tede/7216/1/arquivototal.pdf>. Último acesso: 30/04/2021. CASTRO, ALEXANDRA (2002). “Espaços Públicos, Coexistência Social e Civilidade” – Cidades, Comunidades e Territórios, dez. 2002, n.º 5, pp. 53-67 Faria, Debora Raquel. Sem descanso arquitetura hostil e controle do espaço público no centro de Curitiba. Disponível em: <https://www.prppg.ufpr.br/siga/visitante/ trabalhoConclusaoWS?idpessoal=59117&idprograma=40001016104P3&anobase=2020&idtc=33>. Último acesso: 30/04/2021.


93




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