Hélène de Médicis e o Duque de Arrow

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Star-Crossed Lovers

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Crystal Waters


Índice

Índice ............................................................................................................................................ 2 Advertência .................................................................................................................................... 3 Era uma vez… ............................................................................................................................... 4 Sinopse ......................................................................................................................................... 5 The Scandal Time ........................................................................................................................ 6 Capítulo 1 .................................................................................................................................. 7 Capítulo 2 ................................................................................................................................ 14 Capítulo 3 ................................................................................................................................ 21 Capítulo 4 ................................................................................................................................ 29 Capítulo 5 ................................................................................................................................ 35 Capítulo 6 ................................................................................................................................ 41 Capítulo 7 ................................................................................................................................ 48 Capítulo 8 ................................................................................................................................ 58 Capítulo 9 ................................................................................................................................ 70 Capítulo 10 .............................................................................................................................. 83 Epílogo ........................................................................................................................................ 91 Nota da Autora ........................................................................................................................... 95

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Advertência *** Aviso *** Este livro não é recomendado para menores de 18 anos e leitores mais sensíveis, podendo ferir suscetibilidades.

Todavia, considero que esses mesmos conteúdos, têm impacto minimizado por serem enquadrados num contexto romântico e fantasioso. A moral da história concentra-se no poder absoluto do amor verdadeiro, valor pela vida humana, a dádiva do perdão e de que o Bem prevalece sempre sobre o Mal. Grata pela vossa atenção.

Crystal Waters

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Era uma vez…

Um Duque exilado da sociedade Traído pela mulher que amava Ferido e condenado a viver na escuridão Libertino e amante dos prazeres mundanos E Uma jovem condessa em apuros Órfã, sozinha, assustada e desemparada Prometida em casamento a um conde frio e austero Quando, até o céu e as estrelas, conspiram contra um grande amor Lutando contra os seus próprios demónios em prol de uma paixão Derrubando os muros do preconceito e contruindo pontes de tolerância O Verdadeiro Amor acontece, espelhando duas metades que se completam

Viveram felizes para sempre Pelas asas do destino incerto, mas certamente destinado1.

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Sinopse

Lorde Conrad Wellington, o Duque de Arrow, era um homem ferido e desfigurado, dilacerado pelo amor que o traiu e marcado pelo nefasto pintor Richard Rosseau - o amante da mulher que tanto amou: Aimée. Refugiou-se em Paris e tornou-se sócio de uma famosa caftina Madame Avallon. Escondeu-se do mundo, na casa de tolerância Maison des Alouettes, sob o cognome de Basilic: um libertino perverso, rude, taciturno e cáustico. Odiava a aristocracia inglesa, que o apelidara de corno manso. Hélène de Médicis, uma jovem aristocrata de esperanças, fugiu ao seu noivado com um lorde escocês cruel e implacável, Raynard Mackeswell, e acedeu ao prostíbulo, perguntando pelo pintor Rosseau. Hélène não passou desapercebida ao fugaz e ávido Basilic, apesar do seu estado de Graça. Envolvem-se apaixonadamente, vivenciando um romance tórrido e a descoberta do prazer carnal. Porém, durante um ataque déspota de Conrad, a jovem foge da Maison e Miller ajuda-a a regressar à Escócia. Por amor a Hélène, Conrad regressou à Grã-Bretanha, sendo enredado numa artimanha ardilosa do Conde de Grantham, Lorde Raynard Mackeswell, noivo de Hélène. Conrad foi preso como um cão vadio e julgado como um devasso. Estava tudo consumado - se Aimée não conseguiu matá-lo antes, Hélène, o verdadeiro Cavalo de Troia, aniquilara toda e qualquer esperança se ser feliz, de viver um grande amor e de ser amado. Novamente atraiçoado por todos e pela puta da vida madrasta que o pariu, decidiu resignar-se ao seu mortificado destino e assumiu o ducato de Arrow e recuperar o amor do filho. Hélène não abdica da sua felicidade e irá tentar, de todas as formas, recuperar o amor de Conrad.

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The Scandal Time Londres, 22 de Setembro de 1792

TERROR EM PARIS: Sangue, suor e lágrimas. “O silêncio de Danton às acusações de que foi vítima. Ele foi incriminado, aparentemente, por causa das palavras proferidas por ele durante o dia 2 de Setembro de 1792 e que

ficaram gravadas em todas as memórias: Audácia,

ainda audácia, sempre audácia. No entanto, estas palavras não podem ser interpretadas como um incentivo aos massacres que se seguiram.”

Os Massacres de 2 de Setembro de 1792 fizeram um total aproximado de 1400 vítimas em Paris. Segundo as nossas fontes em Paris, o massacre também vitimou aristocratas ingleses. O Duque de Arrow, Sua Graça, Lorde Conrad Wellington, foi barbaramente atingido durante o massacre, quando perseguia a infiel esposa pelas ruas, Lady Aimée Moreau Wellington, que acabou por falecer às mãos de um jacobino ultrarradical setembrista. Ainda sem se encontrar o corpo do Duque, Lorde Thomas SaintMaryland, Marquês de Durham, já anunciou que Sua Senhoria, Lorde Henry Wellington filho do desaparecido e da falecida duquesa - a escandalosa adúltera e modelo de gravuras desnudas francesas – o pequeno presumível órfão de dezassete meses, ficará à sua guarda tutelar até atingir a maioridade e assumir o seu titulo e o Ducato de Arrow.

The Tabloid Reporter:

Sir Thomas Walter By Crystal Waters crystal.waters.lovebooks@gmail.com


Capítulo 1

Hélène! Acordou numa luxuosa cama de seda, com um dossel torneado, dependurando cortinas de veludo em tom escarlate. As leves plumas das almofadas amorteciam-lhe a dor de cabeça que adquiriu quando desfaleceu na rua. Estaria no céu? Teria mesmo falecido? Hélène sentiu um algo a mexer dentro de si, como um sinal de vitalidade. Estou viva! Levantou-se atordoada e reparou naquele quarto estranho: uma suite principesca, propositalmente preparada para uma possível lua-de-mel. Todo o seu ambiente transpirava a sedução e luxúria. Percorreu alguns metros até à porta de talha dourada e saiu cambaleando pelo corredor, tateando as esculturas desnudas que encontrava no corredor até chegar a um salão elegante. Haviam vários pequenos cadeirões vermelhos com franjas douradas, algumas pequenas mesas e um farto número de bebidas dispostas num aparador de mogno. Tudo seria normal senão fosse pelas extravagantes decorações adjacentes, como a estatueta central com dois amantes nus e a copularem, perfeitamente esculpidos em mármore branco e as gravuras desnudas lascivas em todas as pareces, com a assinatura em relevo de Rosseau. Hélène seguiu lentamente, aos solavancos. Queria encontrar alguém que lhe respondesse às suas questões existências e básicas: Quem sou eu? Onde estou? Como vim aqui parar? Ouviu vozes e seguiu aquele burburinho cacofónico, que a cada passo seu ficava mais forte e audível. Provinha de outra porta dourada. Pensou em bater para obter as respostas que ansiava, no entanto, um som rouco e arrastado, de uma voz masculina, deteve-a: — Madame Avallon, pour Dieu, se essa andorinha está prenha… não vale a pena. Sabe bem do apreço que tenho por si, Madame, mas… não a quero aqui!

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— Mon cher, Basilic! Quero somente ajudar. Eu sei bem, o que é querer voar com as asas partidas! Acredita que é uma andorinha muito bonita, jovem e delicada! – respondia uma mulher com um sotaque francês afetado. — Madame… Se ela fugiu de casa, aos pais, ao marido ou do raio que a parta, é porque é culpada de alguma coisa! Pode ser uma ladra, uma insana ou até mesmo uma assassina! Hélène pensou em bater na porta, mas temia uma recusa ou que se fizessem de surdos. Entrou de rompante, sem notar que estava descalça e em camisa de noite. —

Ma chérie! – exclamou a mulher.

Madame Avallon ficou estupefacta, observando a esgazeada Hélène, apoiada na maçaneta da porta, com a alça da camisa de noite caída sobre o ombro inerte, revelando grande parte do seu seio. Hélène queria fazer perguntas, porém o seu corpo cedeu e caiu inanimada, na carpete farfalhuda. Basilic ouviu o tombo surdo e arqueou o lábio, sendo sarcástico para com ele próprio: Conrad… ainda és um homem que faz desfalecer as damas, de uma forma ou de outra. —

Oh, Mon Dieu, Basilic ! Aidez-moi !

Basilic, contornou a poltrona e deslocou-se ao local onde ouvira o som seco da queda. Tateou o corpo da jovem, para verificar se não havia nada partido, entrado em contacto com o seio farto e maciço. Uma onda de pura luxúria atravessou-o, percorrendo-o até às entranhas. Susteve o desejo que se avolumava nas partes baixas e levantou-a, conduzindo-a ao colo, para o quarto acolchoado. Sacrebleu! Só a mim! Que aroma delicioso, floral…a rosas vermelhas e carmim! — Oh, mon cher Basilic, é preciso chamar um médico! A andorinha poderá morrer! — Madame Avallon, não vamos chamar ninguém. Eu tenho algum conhecimento na área. — Basilic, vai deixá-la morrer? Não estou a duvidar dos seus conhecimentos de médicine, mas na sua condição…a andorinha irá acabar por sucumbir aqui! — Madame Avallon, se esta andorinha morrer… será um infortúnio – e uma pena - …, mas, possivelmente, será muito melhor do que o futuro que a espera.

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Basilic examinou-a com cuidado, percorrendo todo o corpo de Hélène, demorando-se e querendo tomá-la para si em cada toque. Suave, macia, delicada… jovem e perfumada como um botão de rosa! Hum… que penugem fresca e aromática! Hélène permaneceu imóvel depois de Madame Avallon e uma cotovia lhe administrarem mais um tónico calmante.

Voltou a recuperar a consciência dois dias depois, quando um médico idoso a examinava-a. Estrebuchou e cobriu-se com o lençol. — Quem é o senhor? Onde estou? – questionou apavorada. — Calma, Mademoiselle! Sou um amigo muito querido da Madame Avallon, só quero ajudá-la! Sou um velho médico aposentado! — Quem é essa Madame? O que me quer? Quem está por detrás disto? – perguntava Hélène com muita resistência. — Está de quanto tempo, Mademoiselle? Quatro meses? Cinco? – examinou retoricamente o médico reformado. Hélène remeteu-se ao silêncio e o ancião saiu do quarto. Regressou com Madame Avallon e o rude Basilic. — Chérie! Como estás? – estrebuchou a mulher com as mãos ornamentadas no ar e abeirou-se dela. — Creio que estou bem… Ainda um pouco fraca e desorientada. Mas quem é a senhora? – questionou Hélène fitando a estranha mulher com uma exuberante peruca platinada e muito maquilhada. — Jê suis Myriam. Mas todos aqui me apelidam de Madame Avallon. E tu? Sei que te chamas Hélène. Foi o nome que deste ao porteiro e à Augustine. Hélène entrou em introspeção por um curto momento. Não se recordava do seu nome, nem de nada do que poderia ter-lhe acontecido. Respondeu simplesmente: — Não sei! Não me lembro! Como é que vim aqui parar? Onde estou? — Sacrebleu! Mais um problema… ou melhor, mais dois! Tenho que me livrar desta… andorinha! - remoeu entredentes Basilic, de costas voltadas para ela. Antes que seja tarde demais!

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— Desculpe? – indagou Hélène ao sentir o desdém de Basilic, mesmo sem perceber o que dissera. — Estava a dizer que tens de te ir embora. Não podes ficar aqui! Por isso, despacha-te a recordares de onde fugiste, faz favor. E depressa! — Desculpe? – insistiu – Conhece-me de algum lado? Génio forte! Como eu gosto… — Não! Se te conhecesse já estarias a milhas daqui! Nem para prostituta serves. Estás emprenhada! Só dás despesa! — Com efeito. No entanto, não é motivo para me faltar ao respeito e tratarme por tu, como se eu fosse uma qualquer! Pode voltar-me as costas o quanto quiser, mas não vou admitir que um simples e reles homem insignificante… seja tão insolente. – retorquiu desdenhosamente. Basilic cerrou os dentes e punhos e grunhiu de raiva. Aquela andorinha era arrogante, dirigindo-se aos outros como se os mesmos fossem inferiores. Era altiva e fazia questão de demonstrar a sua superioridade em relação aos demais. Voltou-se para ela, mostrando-se como era realmente, revelando o seu lado esquerdo queimado, crespado e putrificado. Tinha-lhe voltado as costas para a poupar do impacto assustador que teria, uma vez que o seu estado de saúde inspirava cuidados e estava de esperanças. Porém ela provocara-o e Basilic não teve meias medidas. Podes ver-me à vontade… lamentavelmente, eu não posso fazer o mesmo. Hélène assustou-se e deu um grito abafado ao encará-lo. O seu rosto estava desfigurado, com um ar gangrenoso e faltava-lhe o olho direito, sendo visível uma cratera cingida por uma crosta saliente e de cor grená —

Que horror! – expressou Hélène – É… asqueroso!

Hélène arrependeu-se imediatamente do que disse. Fê-lo sem pensar, como uma menina mimada habituada a dizer o que quer quando quer. Estava num local estranho, à mercê de desconhecidos e ela própria nem sabia quem era. Algo no seu íntimo alertavaa para ser mais cuidadosa e redimir-se do comentário ofensivo. Pedir perdão, mas ficara estarrecida a olhar para aquele homem tão… hediondo. É nojento. Parece que caiu num ninho de vespas e aquele buraco do olho… é mesmo feio! — Põe-te daqui pra fora, sua pega-rabuda! Rua, sua rameira de taverna! – vociferou Basilic, muito irritado e ofendido com a petulância da rapariga. Nunca, ninguém com juízo, se atreveria a ofendê-lo tanto! - Quem te julgas que és? — Mon cher, Basilic ! By Crystal Waters crystal.waters.lovebooks@gmail.com


O ancião tentou segurá-lo, enquanto Madame Avallon bradava por auxílio a Boris e a Miller. Hélène levantou-se com alguma dificuldade e prontificou-se para sair, sendo barrada por Bóris Kohls, um homem alto e corpulento. — Então? Não vai a lugar algum! Deite-se. – ordenou o Miller. – Basilic, então, não te passes! É só uma miúda! — É uma insolente! Uma estúpida! Uma vadia prenha! – grunhiu. Demasiado arrebitada para o meu gosto… e se gosto disso! E sincera. Nunca ninguém me disse como fiquei depois do incêndio. Só me contam mentiras piedosas para me consolar. As cotovias afirmam que ainda sou um homem garboso e viril, mas porque querem a minha proteção e o meu dinheiro. Basilic foi retirado do local por Miller e Bóris, continuando a rezar uma torrente de impropérios.

Madame Avallon e a cotovia Sarah Massoud ajudaram Hélène a deitar-se. A cotovia, administrou-lhe um tónico dissolvido em água para a acalmar e retirou-se. Madame Avallon aproveitou o momento a sós para conversar um pouco com ela. — Chérie, fica tranquila. Ninguém te fará mal aqui. O Basilic é assim, um pouco bruto e agressivo devido à sua deficiência e ao seu aspeto… deformado. E tu ofendeste-o. — Lamento muito por isso, mas nunca tinha visto um homem assim, tão horrível e feio! Não consegui conter-me! Perdão Madame. — Eu sei, eu sei… pode ser que até lhe faça bem a ele, saber no monstro em que se tornou. Nunca ninguém teve a coragem de lhe dizer… e ele não sabe. Hélène arqueou uma sobrancelha loura. —

Ele não sabe que é cego, ou não sabe que é horripilantemente asqueroso?

Madame Avallon fez um trejeito esquisito com os lábios desbotados e ignorou a ironia e a petulância da jovem. — Sou uma velha amiga do… bem do motivo que te trouxe aqui, a Paris. A Augustine contou-me por quem procuravas quando o Boris te deixou entrar! Estás em segurança comigo querida, desde que guardes segredo Hélène. Ninguém pode saber que estás aqui, quem és e muito menos por quem procuras!

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— E o que vim fazer aqui? – perguntou meio sonolenta e dormente – Sintome tonta… o que me deram? — Algo para relaxares, querida. Ecouté-moi, agora chamar-te-ás Julie Duvivier! Serás uma órfã de uns camponeses. Terás que confirmar essa história se alguém perguntar. O Miller arranjou-te novos documentos… tem um talento para isso. – a Madame fez uma pausa e continuou – Ninguém pode saber de nada, muito menos o Basilic! Ele não é má pessoa como parece… Teve pouca sorte como todos nós aqui, na Maison, no “Ninho das Cotovias”!

Madame Avallon era a caftina do prostíbulo “Maison des Alouettes” ou “Ninho das Cotovias” - um lugar de diversão noturna, nomeadamente para o público masculino, muito embora também fosse frequentado por senhoras distintas da sociedade. Myriam era uma senhora que aparentava uns sessenta anos, muito bem conservados, ainda que fossem visíveis as marcas da puta da vida que levava. Era reconhecida pela sua voluptuosa peruca platinada aos caracóis e pelos chapéus caríssimos que ostentava. Usava um espartilho muito apertado por debaixo das roupas elegantes e ousadas e uns sapatos altos com o salto muito fino. Conseguiu criar o seu próprio negócio a pulso e ultrapassar o período de escassez de alimentos que pôs fim à monarquia francesa. Augustine Chavagne era uma velha amiga de Madame Avallon, ambas frequentaram as camas reais do palácio de Versailles, quando jovens. Bóris Kohls, um emigrante russo, era um antigo pugilista de poucas palavras e com um olhar cortante. Assegurava-se de que os clientes tratavam as cotovias condignamente, sob a pena de sentirem o peso do punho do forte nas ventas. Sarah Massoud era uma cotovia de origem judaica e com um acentuado sotaque escocês. Possivelmente, teria caído em desgraça e refugiou-se em Paris, fugida de alguém ou escondendo-se do mundo por algum motivo. Benjamin Miller, um sedutor inglês, esguio e bem-apessoado, era o mestre do engenho, da vigarice, dos jogos de azar e um verdadeiro fidalgo na arte de receber com toda a pompa e circunstância os mais abastados, tornando-os nos mais pelintras de Paris. E Basilic, o sócio maioritário da casa de tolerância… Um homem alto e robusto, cego e queimado no rosto, exibindo as chagas da traição. Tinha traços ingleses, escoceses e celtas. Enclausurado com os seus próprios demónios, vivia aprisionado na sua

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misantropia cáustica, sempre mal-humorado. Um homem desfigurado e amargo, no entanto, sempre bem acompanhado pelas mais belas passarinhas do bordel.

Hélène foi sujeita a medicação e repouso durante sessenta dias, ao fim do qual ultrapassou a amnésia temporária, um transtorno no seu discernimento. Assumiu uma nova identidade e passou a coabitar com as Cotovias - jovens muito belas que caíram no infortúnio da vida e que se dedicavam ao exercício da prostituição.

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Capítulo 2

Durante o período matinal, em que não havia o movimento do prostíbulo, da sala de jogo e dos espéculos líricos e teatrais, permitiam que Basilic examinasse Hélène diariamente. Ele fora para Paris estudar medicina na Universidade. A sua mãe falecera de varíola quando ainda era criança e o pai, um idoso e consternado pela perda da jovem esposa, queria que o filho se tornasse um grande médico e descobrisse a cura para a maleita que lhe roubara a esposa tão precocemente. Porém, na cidade do amor e do pecado, perdeu-se na libertinagem, pela luxúria dos prazeres carnais e apaixonou-se por uma jovem dissoluta, que era modelo de gravuras desnudas do artista Richard Rosseau – um pintor reconhecido como sendo um iluminado, no palácio de Versailles. Apesar de não ter concluído os estudos, e na situação de cegueira em que se encontrava, Basilic aprendera a avaliar sintomas e a discernir diagnósticos. Basilic aproveitava a ocasião do exame para contemplar Hélène, acariciando-lhe a pele com as mãos, derretendo-se a cada movimento. Perdendo-se nas ondas revoltas do seu cabelo macio e sedoso. Sacrebleu! Diabos me carreguem! Está aqui só a tentar-me! Basilic afastava-se de Hélène sempre que sentia algo mais do que uma ereção. O aroma fresco a rosas perfumadas que penetravam na sua alma espinhosa e ardia-lhe nas crostas crispadas do seu rosto. É só mais uma andorinha Conrad… Não! Basilic! Tenho que a por a rodar no salão. Sim, andar de mão em mão e deixará de me tentar… seduzir! Talvez… possa ser o primeiro aprová-la? Não! Não é prudente… poderá amaldiçoar-me! —

Quantos anos tens?

Hélène permaneceu calada, incomodada com os seus toques atrevidos que lhe provocavam arrepios e desejos. Era como se estivesse a trair Keith, o seu grande amor da juventude – trair o jovem e belo Keith com um homem muito mais velho e horrendo!

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Idade para ser sua filha. Não deveria tocar-me assim. – respondeu por

fim. — Sou cego! Nem sei onde estou a tocar-te. Não tenho nenhum prazer nisso. – mentira – Mas gostei mais desse novo insulto. É melhor do que os que tens me chamado ultimamente. — Não são insultos, caro senhor. É a verdade escondida que ninguém lhe quer dizer. Não tenho medo de si, nem tão pouco da sua arrogância grutesca. Não sou uma das suas cotovias para o paparicar com falsas verdades e verdadeiras mentiras. — Pelo menos elas são doces e meigas. Tu és um favo de fel, cheia de azedume e com falta de compaixão. Basilic irritava-se com a sua frieza. Achava-a pretensiosa e a falta de uma resposta carinhosa às suas caricias levavam-no ao desespero - da raiva ao ódio. Ainda que negasse qualquer sentimento por ela, queria sentir-se desejado, acariciado e muito, muito amado. Aliás, foi a falta de amor que o levou ao à penumbra solidão em que vivia. — Tens família, andorinha? Fugiste de onde? Não tens mãos de serviçal! Aposto que nunca fizeste nada na vida… além disso, dessa criatura que está aí dentro! Debruçou-se sobre ela, como se a fosse beijar, porém deteve-se e perguntou-lhe: — quiseres?

Foi bom? Gostaste de fornicar com ele? Posso ensinar-te melhor, se

Basilic não resistiu à tentação de a beijar, no entanto, ela antecipou-se ao seu movimento e virou-lhe a cara, recusando-o. Ele ficou com os lábios na sua face sedosa, sedento de a envolver num longo e apaixonado beijo. — Estás com nojo de mim? Como queiras! - levantou-se magoado com a rua repulsa e atirou-lhe – Espero que tenha valido a pena terres fornicado com ele, porque daqui em diante, irás foder com qualquer um: velhos, gordos, feios, queimados, cegos, coxos… qualquer um que pague para abrires as pernas, como qualquer outra cotovia do ninho! — Não sou uma prostituta! – berrou Hélène ainda tremula da sensação de ter sentido aquele homem quase sobre si, acalentando-lhe as faces com a sua respiração, com seus lábios lânguidos. Não era um homem atraente, com o rosto desfigurado e a cavidade ocular aberta, mas muito excitante com o seu fervor – O Keith não é qualquer um! O nosso filho é fruto de um grande amor, algo que um… homem como você deve desconhecer! Como ousas em falar em amor? Por acaso sabes o quanto eu já sofri por causa dessa falácia?!

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— A sério? Ah, ah! – riu sinistramente – E onde está esse formoso cavalheiro tão apaixonado? Fugiu? Ou foi ele mesmo que te trouxe para o bordel? — Eu vim procurar o meu… — O teu? — Um pintor. Miller e Madame Avallon interromperam o momento, quando Basilic estava atento ao seu discurso. — Chérie! Como estás melhor, Julie? – interrompeu abruptamente Madame Avallon. — E esse pintor é o teu amante? Acaso de chama Rosseau? – questionou Basilic ignorando a interrupção. — Basilic, não vamos mortificar a Julie com perguntas e mais perguntas, como se fosses um inquisidor, um general napoleónico. — Madame, tenho que saber. É menos uma boca para alimentar. Toda a nação está em racionamento e em breve serão duas bocas. Que faremos depois? Morreremos de fome? Já não temos o dinheiro dos mundanos aristocratas! Os burgueses só querem a brincar aos déspotas, sequiosos de sangue e poder. E o povo… somos nós: a escória mais baixa da sociedade! – cerrou os dentes e rugiu – E se essa… tipa tem alguma coisa a haver com o pulha do Rosseau, eu quero saber, Madame! Se acaso for uma amante desse canalha… - o sangue ferveu em todo o seu corpo – … do decrépito e nefasto pintorzeco Richard Rosseau, eu próprio encargar-me-ei do seu mais cruel destino. — Tu não és um homem do povo, Basilic. E de todos nós, aqui da Maison, és o único que tem para onde remar, se Robespierre e os seus cães de fila, os jacobinos, dizimarem o que resta de França. E quanto ao badalhoco do Rosseau, dizem por aí, que esse patife morreu no massacre de setembro de 1792, como… a Aimée! — Basta! Enunciar o nome da falecida esposa, era o suficiente para que Conrad termina-se qualquer conversa e retirar-se para o seu covil.

Madame Avallon foi tratar das suas cotovias, deixando a jovem sob os cuidados de Miller. Ele não sabia nada sobre Hélène, mas devia a vida à Madame Avallon e aceitou proteger Hélène, mesmo à revelia de Basilic. Teve uma pequena conversa com a rapariga grávida:

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— Julie Duvivier, é um nome bonito, não é? Sonante como uma cotovia deve de ser! — Eu não sou uma cotovia, caro senhor Miller. Não que as menospreze, mas porque não sou, nem tenho essa pretensão. E como vê, estou bem grávida! — Sim, mas há clientela e fetiches para tudo, acredite Julie. E como estão as coisas no momento… teremos que aceitar qualquer um. Reabriremos as portas dentro de dias. É impossível sobreviver sem dinheiro e os homens continuam a precisar de distrações. Iremos dar umas borlas aos revolucionários, para mostrar a nossa boa vontade. — Conspirar contra a monarquia? — A monarquia já faz parte do passado, há muitos anos que caiu, Julie. A corte ignorou e maltratou o cão vadio: o povo, o mais fiel apoiante de todos os séculos. O tempo de “dividir para melhor reinar” já passou à história. — E como o povo não tem pão para comer, nem bolos… - ironizou – A Maison vai dar-lhe sexo?! — Não enche a barriga de ninguém, é verdade. Mas levanta a moral dos homens. Dá-lhes alento e a ilusão de que, se morrerem horas depois, morrerão felizes. No fundo somos uma espécie de instituição de caridade. E é pena que a Julie não queira contribuir e eu não a irei forçar, fique tranquila. Devo a vida à Madame Avallon, assim como o Basilic. — Esse senhor não gosta da minha presença aqui! Já o referiu várias vezes! E faz questão de dizer-me que não valho o que como aqui! — É! O Basilic é assim. Uma pobre alma atormentada… sempre rude e maldisposto! Cáustico até! Mas tem um bom coração. – fez um compasso de espera e acrescentou mais sobre o amigo para a tranquilizar – Somos ingleses. O Basilic salvoume a pele no porto de Dover, quando viemos para Paris. Queria recuperar a esposa, Aimée, uma modelo do famoso pintor Richard Rosseau. Porém, ela foi uma das vítimas do massacre em Setembro de 1792 e ele nunca mais recuperou da sua perda. Amava-a muito! Estava disposto até a dar a própria vida por ela. Hélène não gostou de ouvir sobre a vida de Basilic, muito menos da falecida esposa, e pior ainda, dos sentimentos que ele nutria por ela. Imaginar um homem, agressivo e rude, amar profundamente uma mulher, estando disposto a tudo em prol desse amor, soava-lhe mal e provocava-lhe uma sensação de desconforto e outras emoções que preferia não reconhecer. Era inconcebível! — Foi assim que ele ficou cego e queimado? Foi atingido durante o massacre? — O Basilic usa uma pala durante a noite. Não quer chocar a freguesia. – respondeu cuidadamente contornando as perguntas – É invisual e desfigurado. By Crystal Waters crystal.waters.lovebooks@gmail.com


Exaltasse com as mulheres, se sentir alguma repulsa por parte delas. Creio que deve ter sido um homem bonito e garboso antes da tragédia. Estava habituado que as damas lhe caíssem aos pés. — Se crê que era um homem bonito antes da tragédia e se só o conheceu no porto de Dover, antes de embaraçar para Paris, isso significa que não ficou cego durante o massacre de Setembro de 1792. — É uma jovem muito inteligente, Julie. – Miller sorriu. - Além de lindíssima! Hélène não se sentiu à vontade com aquela manifestação sorridente e aconchegouse nas cobertas. Não queria despertar nenhum sentimento naquele homem, sem ser de proteção. Direcionou a conversa para outro nível. — Compreendo senhor Miller, mas eu não tenho a culpa da tragédia do senhor Basilic. E garanto-lhe que poderei pagar pelo transtorno e despesa que causei, assim que puder sair daqui! Ou então, se o senhor Miller puder enviar uma carta ao meu tio, o Lorde Ian Mackeswell, Conde de Grantham, na Escócia. — O Conde de Grantham, disse? — Oui! Sou… Hélène de Médicis, filha dos falecidos e degolados Condes de Nice! Depois do regicídio durante a revolução francesa, refugiei-me na Escócia, com os meus tios e padrinhos, os Condes de Grantham. Porém, outras circunstâncias levaramme a seguir um novo caminho.... – Hélène fez um gesto sobre a barriga. — E como veio parar aqui sozinha, Milady? – perguntou com muita curiosidade e perplexidade, fazendo uma exagerada vénia. — Oh, por favor senhor Miller, não faça isso! Não me trate de maneira diferente! O senhor Miller sempre me tratou devidamente e estou-lhe muito grata pela sua atenção. — Darling, é só Miller! – disse sorridente, pensando no proveito que poderia tirar da situação – E o pai do seu filho, se me permite a ousadia da pergunta? Algum… monarca francês? Escocês? Inglês? Um… - baixou o tom de voz – Um ultrarradical? Hélène fez um compasso de espera. Madame Avallon recomendara-lhe que guardasse segredo sobre a sua vida, porém, via em Miller um libertador, protegendo-a das investidas de Basilic que a atormentavam lascivamente. O desejo de se entregar aquele homem perturbador, crescia a passos largos todos os dias. — O Keith Henderson é escocês. É um cavalariço, filho dos caseiros da propriedade da minha família, em Lincolnshire, perto de Grantham na Escócia. Davame aulas de equitação… e ele queria casar-se comigo, mas o meu tio não consentiu. Queria-me casar à força com o seu segundo filho, Raynard, por questões políticas! E por isso fugi. — Eles sabem que a menina veio para Paris? Sozinha? By Crystal Waters crystal.waters.lovebooks@gmail.com


— Eu vinha com o Keith, procurar o meu… bem, o artista iluminado, Richard Rosseau. — Desculpe a pergunta Milady, mas tem alguma relação com esse pintor? — Encontrei uma carta da minha mãe que nunca chegou a ser enviada, mas que estava remetida para este endereço, dirigida à atenção de Monsieur Richard Rosseau. Creio que a Madame Avallon se encontra agora na posse dessa carta. Ela sabe que vim procura-lo e que há a probabilidade de ele ser o meu verdadeiro pai. — O Rosseau é seu pai? — Não sei ao certo. Bem, a minha mãe pousou para ele no palácio de Versailles, antes de casar, e a carta revela essa intimidade. Se ele for o meu pai, poderá revindicar a minha tutela e assim dar-me a permissão para casar com o Keith. Hélène mordeu o lábio e entristeceu. — Tinha convencido o meu noivo, o Raynard, a embarcarmos para Paris, com a desculpa de encontrar uma tia minha e convidá-la para o casamento. A minha dama de companhia ludibriou-o, para que eu pudesse escapar do hotel e procurar o Monsieur Rosseau aqui. Era a minha última esperança. — Devem então ter participado o seu desaparecimento às autoridades. — Oui. E devem de estar à minha procura. Ou terem-me dado como morta, uma vez que já passou tanto tempo. No entanto, agora creio que casar com o Raynard até não é assim tão mau. Pelo menos… — Pelo menos…? – Miller tentou uma aproximação galante junto da sua galinha de ovos de ouro. — Ficava livre do seu sócio inoportuno! – respondeu acalorada. — Lady Hélène de Médicis, permitia-me que eu fosse, em seu nome, falar pessoalmente com os seus tios e padrinhos? Tentar verificar a melhor forma de sanar a situação. — Sim, claro! – sorriu – E não faça cerimónia comigo! Ficar-lhe-ei eternamente agradecida, senhor Miller! Mas… seria melhor ir consigo! — Confie em mim… - queria negociar um resgate proveitoso e a presença da miúda não seria favorável – Darei instruções para que seja muito bem tratada, como uma rainha. E tenho que averiguar como estão os Mackeswell em relação a si, não é verdade? O seu noivo poderá não estar disposto a aceitá-la e os seus tios poderão encerrá-la num convento, num hospício ou algo parecido. — Tem razão. O Raynard é muito egoísta e insensível. Mas, se eu ficar aqui, com o senhor… Basilic! – só o nome a fazia ferver no seu mais íntimo. — Falarei com ele Julie. Dir-lhe-ei apenas o necessário. E é melhor não lhe contar o que acabou de me dizer, Milady. O Basilic não gosta de… aristocratas. E muito

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menos desse famoso artista badalhoco que pode ser seu pai, por causa das razões que lhe confidenciei. Mas há gravuras do pintor espalhadas do Rosseau por toda a Maison… fica calada Hélène, este homem irá ajudar-te! Não estragues tudo agora. — — —

Senhor Miller? Sim, Milady. A cotovia Sarah, a judia, ela é escocesa?

Miller estava preso no seu jogo de xadrez mental, resolvido em tirar proveito da informação que agora possuía, que pouco lhe importava uma mera cotovia como Sarah Massoud – uma moça franzina, ruiva e com um passado muito duvidoso. — Tem um certo sotaque característico, no entanto, não posso dizer-lhe com toda a certeza. Ela já era uma cotovia da Madame Avallon quando eu e o Basilic chegamos. Porquê? — Não sei. Por vezes olha para mim de uma forma estranha. Talvez me conheça da Escócia? Miller soltou uma gargalhada. — Oh, darling! Todas as cotovias olham para si de forma diferente. Milady é uma hospede na Maison e elas são… cotovias e sentem ciúmes do Basilic, por lhe dedicar tanta atenção. — Ciúmes? Dele? — O Basilic pode não ser o homem charmoso e bonito, o pavão que fora na juventude, mas pelo que sei da boca das cotovias, tem muitos outros atributos que compensam a sua falta de visão e aparência física. Elas sempre gostaram das suas particulares atenções matutinas. E desde que Milady chegou, Basilic tem dedicado esse tempo, exclusivamente a si. — Pois eu dispenso as atenções desse senhor. Seria melhor que ele se dedicasse às suas cotovias.

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Capítulo 3

As portas da Maison abriram na primeira noite de outono, um sábado ameno e esplendoroso. Era dia de função e todas as cotovias estavam aperaltadas e retocadas com esmero, aguardando aprazerem os revolucionários, os militares e outros políticos ávidos pela cortesia da casa. Mirelle chefiava o seu bando de cotovias alinhadas, sob o olhar de comando de Madame Avallon, que instruía a caixeira Alison na entrada. — Cotovias, hoje teremos que voar mais alto. Bem sei que não teremos os nossos habitués pássaros exóticos de fina plumagem, pombinhos adestrados e papagaios excêntricos. Teremos corvos, abutres e falcões sequazes e ansiosos. Iremos superar as espectavas deles, se quisermos sobreviver ao inverno tenebroso que se avizinha. Se a Maison fechar por falta de clientela, ficaremos sem teto, sem abrigo, à mercê da chuva, da neve e do frio. Se não quiserem sujar as vossas asas por uma mísera côdea de pão, façam com que eles se apaixonem, que delirem de prazer um e outra vez, para que voltem sempre. — A Chef Guinot irá preparar bebidas com gengibre e manjericão para aumentar o entusiasmo das aves de rapina necrófagas. Façam-nos beber até à ultima gota. Em último caso, usem o segredo da Madame Avallon. Não há nenhum homem que lhe tenha resistido. — Nem mesmo os invertidos sodomitas. – acrescentou Madame Avallon com um sorriso rasgado. — E a andorinha prenha? – questionou a invejosa Sarah – Ela não irá abrir as asas? Acha-se uma fénix ou uma pavoa só porque detém toda a atenção do Basilic? — Não precisas de estar enciumada, Sarah. Dispenso bem a atenção desse gavião assanhado. — Dispensas? – Lisette, a cotovia amasiada de Basilic, gargalhou sonoramente com desdém – Todas nós somos testemunhas de como o seduzes, elevando a tua crista engrandecida, exibindo essa plumagem brilhante azul e verde e grandes plumas caudais com manchas oculares iridescentes, a abrir-se sob a forma de um grande leque! — Pois não o faço. E mesmo que quisesse, não o saberia fazer. — Assez! Basta com essas disputas possessivas sobre o Basilic. Ele é o dono e faz o que quiser e o que bem entender. Por isso, alinhem-se – repostou Mirelle.

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Basilic estava deitado no seu divã imundo, num pequeno compartimento a que chamava de escritório quando Miller entrou de rompante. — Trouxe-te os novos documentos da Hélène, que será a nossa Julie Duvivier, ajudante de cozinha da Chef Guinot. — Documentos, para mim? Estás louco? Ainda continuo invisual e quanto à miúda estúpida, não conheço essa tipa de lado nenhum para trabalhar para nós! — Vá lá, a miúda precisa de se entreter e é bem gira, com aqueles caracóis loiros e aqueles olhos azuis brilhantes como o diamante real, le cœur de l’étoile! É uma pena que… — Que não a possa ver? Sou um cego hediondo e seria um inútil, um estorvo para todos se não fosse rico. Além do mais, essa andorinha não se mostra agradecida e ainda me repudia. Insulta-me, responde-me mal e faz-me sentir… - vivo - … que não valho nada! — Basilic, ela é muito jovem. Tem pouco mais do que vinte anos. Está assustada e sozinha! — Dei-me conta de que é uma vadia, com uma língua muito afiada, embuchada e quase a parir! Nem eu mesmo sei por que razão ainda não a corri a pontapés daqui! — Eu digo-te! Porque a Madame Avallon nunca te perdoaria! E tu deves-lhe muito! — E tu também! E que Diabo! O que essa tipa tem com a Myriam? Qual é a relação delas? Miller não queria mentir a Basilic. Ignorou a pergunta e mudou o rumo da prosa. — Vou ausentar-me por uns largos dias, talvez um mês. Tenho de ir até à Grã-Bretanha, resolver uns assuntos. Queria pedir-te para tratares a miúda como uma rainha, sem sequer lhe tocares. — Porque não posso tocar-lhe? Querê-la para ti? — Vou falar com o noivo dela, na Escócia… tiveram um arrufo de namorados e vou tentar fazer uma boa ação! Por isso, não lhe tocas! — Tu? Uma boa ação? – Basilic gargalhou - O gajo tem dinheiro é isso? Vá diz lá? Ou há algo mais que eu não saiba? — Estás a desconfiar de mim Basilic? — Gosto de saber, para poder confiar com quem trabalho! — Confiar? Conrad, desde quando é que voltaste a confiar nas pessoas?

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Basilic, encostou Miller à parede e bufou raivoso: —

Nunca mais me voltes a chamar-me assim! Va te faire foutre !

Basilic soltou um grunhido e afundou um soco na parede, falhando a cara do amigo. Esbaforido e sangrando saiu do seu casulo, proferindo impropérios! Deixando um rasto de pingos de sangue, passou pelo aparador de bebidas. Derrubou metade das garrafas até sentir o etílico do absinto, que deitou diretamente na mão ferida. Fils de pute! Merde! Hélène aproximou-se silenciosamente pelo flanco direito de Basilic e pegou-lhe na mão. Limpou-lhe a ferida com um pano. Pediu ao garçon Louis, para lhe trazer tiras de linho e uma solução com iodo, de forma para fazer um curativo. Basilic recuou e tentou soltar a mão, no entanto ela deteve-o. —

Não se preocupe, eu sei fazer um curativo! – respondeu Hélène.

Sacrebleu! Como te atreves a tocar-me sua andorinha… Que mãos macias e delicadas! Ahhh! Sua maldita…! Não pares… continua a tocar-me com essa suavidade que me tortura… Que me entesa! — a chaga. — — — — —

Foda-se! – retorceu-se com dores ao sentir o teor abrasivo da solução sobre Lamento, mas é inevitável para desinfetar a ferida. Eu sei disso. Melhor do que tu, andorinha. Então esteja quieto, para que termine. Onde aprendeste a fazer curativos? Com o teu amante? Era médico? Com as freiras do convento onde estudei.

Basilic arqueou um lábio, num trejeito trocista e desbocado. — Estudaste num convento e ficaste assim? Prenha? Não deverias ter mais decoro? — Poderia explicar-lhe, mas o senhor parece-me ser demasiado lento para compreender. Enquanto Basilic se contorcia de dor e prazer, perdendo-se na suavidade do toque de Hélène e a pensar numa réplica mordaz, apareceu a Madame Avallon em prantos: — — por Hélène.

Mon cher! Mon cher! O que aconteceu Basilic? O que se passou? Nada! – resmungou, retirando de supetão a mão, cuidadosamente tratada

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Hélène retirou-se com o Louis e Basilic soprou veneno para a Madame Avallon: — Madame Avallon, quero essa galdéria fora daqui! Eu pago o que for preciso: um hotel de cinco, seis ou quantas mais estrelas tiver! — Oh, mon cher… Por favor! Ela não pode ficar sozinha… Assim, naquele estado! Está a pouco menos de dois meses para parir. — Basta! Tem vinte e quatro horas para a tirar daqui ou corro com essa putain aos pontapés! Os gritos de Basilic entoaram toda a Maison, deixando as cotovias eriçadas, amontoando-se aos cochichos. Faltavam duas horas para a abertura da noite e todo o ninho estava em estado de sítio.

Basilic entrou na copa, onde estava a Chef Guinot e Augustine a tratar dos aperitivos, Hélène ajudava, moldando com as mãos, pequenas porções de glacê que moldava em pétalas, rosas e outras formas que guarneciam as sobremesas afrodisíacas. Ele aproximou-se pelas costas dela, fungando-lhe o cabelo e sussurrando-lhe ao ouvido: — Gosto que estejas a trabalhar. Mas isso não chega para pagares a tua estadia aqui. — O senhor Miller irá falar com o meu noivo. Receberá o que lhe for devido, pelas minhas despesas. – respondeu friamente. — És insolente, uma francesinha de merde! - passou a mão por dentro do avental, rodeando-lhe a cintura, puxou-a para si, de encontro ao seu corpo ansioso e latejante – Se quiseres, sei muitas formas de me poderes agradecer. Não preciso do dinheiro dos teus pobres tios e do teu noivo. — Não sou uma cotovia. Além disso, estou bem grávida e é um ultraje fazerme propostas indecentes no estado. Um pecado mortal! Basilic, passou-lhe a língua pelo pescoço, deliciando-se com o sabor da pele dela. — Indecente é não te provar e pecado é não te dar prazer, fazer-te sentir o que é bom. Melhor do que essa calda de glacê. Derreter-te-ias na minha boca e ficarias mais doce. — Como sabe que é calda de glacê, se é um cego? – desdenhou ela.

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Basilic não gostou que ela estivesse sempre a referenciá-lo como um invisual, a relembrar-lhe da sua desgraça, da sua deficiência. Pressionou-a mais e murmurou-lhe ao ouvido: — Sinto o cheiro do açúcar envolvido nas claras de ovo, como uma calda lânguida nas tuas mãos. Sinto o amora floral a rosas vermelhas, que a envolve. – tocoulhe nas mãos – Sinto a suavidade dos seus dedos a moldar pequenas formas como… passou o dedo nas esculturas montadas - … rosas e folhas. – passou um dedo crostoso pela tigela com a calda e levou-o à boca – Sinto o paladar de como é doce, com um ligeiro travo afrodisíaco a canela e gengibre. São perfeitas rosas perfumadas e até os seus espinhos, desdenhosos e cruéis, compõem as sobremesas. Ela soltou-se e o garçon Louis entrou na copa. — — — — —

Monsieur Basilic, o Miller precisa de falar consigo com muita urgência. Não vês que estou ocupado? Mas… é que… - gaguejava o pobre garçon. O Miller que se desenrasque. Que faça pela vida, é para isso que lhe pago. Mas é que… o Monsieur Rosseau está no salão.

Basilic ficou sem expressão por momentos, seguido de uma explosão de fúria, atirando ao chão uma bandeja de bebidas preparadas. Saiu de imediato. soltando grunhidos e impropérios. Hélène perguntou a Louis: — Está cá o pintor Richard Rosseau? — Sim. Conhece-lo? — Não, mas queria muito falar com ele. Foi por isso que vim! Diz-me quem é? Antes que aquele grutesco o ponha na rua. — Não conseguirás vê-lo daqui e não podes ir para o salão. — Por favor, Louis. Ajuda-me! Louis apiedou-se de Hélène e levou-a até um recanto espelhado. — Aqui eles não te conseguem ver. É um ponto de vigia. — Como não nos conseguem ver, se nós os vemos perfeitamente? — É um vidro espelhado do outro lado. Serve para controlar todo o salão. Foi uma das ideias brilhantes do Miller e o patron Basilic não vem aqui. — Claro, é cego! Que viria aqui fazer? — Julie, o patron Basilic é um bom homem e um bom patron para todos nós, mas tu és muito má para ele. — Ele nunca me tratou bem. Mas diz-me quem é o Rosseau? By Crystal Waters crystal.waters.lovebooks@gmail.com


— É aquele janota grisalho, junto da Madame Avallon. São muito íntimos, nem sei porquê. — Já tinha percebido isso pelas pinturas nas paredes. Estão assinadas por ele. Louis agarrou nos pulsos da rapariga. — Nunca digas isso ao patron. Estaríamos todos perdidos! — Ele não sabe, pois não? — Obviamente que não. seria o caos. A Madame Avallon recusa-se a tirar as gravuras e se patron souber… poderá fechar a Maison e estarmos todos na rua. Precisamos disto para viver, Julie. O patron Basilic não nos deixou faltar nada durante o racionamento. Preocupou-se também com as nossas famílias. Muitos de nós teríamos morrido de fome. As cotovias teriam que trabalhar nas ruas por uma única tigela de caldo ou côdeas de pão. Por favor Julie, por favor. Tem compaixão de nós. Hélène arqueou uma sobrancelha. — A sério? Aquele homem grosseiro, decrépito e intragável fez isso? — Não o julgues tão duramente, Julie. Ele tem bom coração. Foi marcado pela vida, assim como todos nós aqui na Maison. — Está bem. Não direi nada. Não quero prejudicar ninguém.

Louis retirou-se e Hélène observou o salão, escondida por detrás do painel espelhado - um recanto que permitia ter uma vista discreta do ambiente sem ser vista. O famoso pintor Rosseau estava no centro da sala, conversando, intimamente, com Augustine e Madame Avallon. Era um homem alto, grisalho com e com os olhos negros como a morte. Teria idade suficiente para ser seu pai, uma vez que aparentava uns quarenta anos, porém nada nele lhe parecia familiar. Somente a carta de sua mãe, Margot Borbonne de Médicis, lhe indicava que teria existido algo mais do que uma simples aventura com o pintor. Desiludida por não encontrar a esperança que almejava, deu um passo atrás e embateu contra o corpo firme de Basilic. Ele rodeou-lhe os seios e imobilizou-a com o seu toque. — — — —

Estavas a espiar o salão? Não, só estava a ver. É a mesma coisa. E o senhor estava a espiar-me?

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— Poderia dizer que estava a ver-te, se o conseguisse. Neste caso, estava somente a espiar-te ou a sentir o teu comportamento, o que é a mesma coisa, tal como eu disse. – apertou-a contra o seu corpo e sussurrou-lhe ao ouvido – Foste amante dele? Do pulha do Rosseau? Pousaste para ele? — Não fui nada dele. – respondeu ofegantemente, sentindo a pulsação acelerada. – Como sabe que ele está no salão agora? — Estavas tão concentrada em admirá-lo, que nem te apercebeste da minha presença. – Basilic levantou-lhe as saias e sem delongas, introduziu um dedo no seu interior – E estás bastante molhada e desejosa por sexo. Sinto-o nos meus dedos e sinto o cheiro da tua avidez. Não sejas mentirosa. Estás desejosa por ele. — És um idiota! Um canalha e o um molestador. – como não vês que o meu desejo é por ti. — O que tens com ele? Acaso ele é assim tão bom fornicador? Posso mostrarte que nisso, eu sou muito melhor do que ele. Basilic baixou as calças e roçou a sua glande pelo sulco húmido que ansiava pelo seu toque. — te faço vir. —

Podes continuar a olhar para o teu amante de rosto perfeito, enquanto eu Ele não é meu amante.

Basilic encostou-a à parede e, ajoelhando-se aos seus pés, passou-lhe uma perna por cima do ombro e lambeu-a, fazendo-a suspirar. —

És quente como o fogo, Hélène.

Lentamente, gemendo, suspirando, acariciando-lhe as pregas, cingindo o botão do prazer em movimentos circulares, Hélène entrou em delírio quando aquele homem a lambeu e chupou, introduzindo os dedos dentro dela, levando-a a atingir um orgasmo avassalador. Basilic ergueu-se e segurou-a com firmeza, aproximando a glande da abertura aveludada e deixando-se perder nas ondas que o êxtase dela, que contraíram o seu membro negligenciado, sugando-o e fazendo-o vir até à ultima gota. Permaneceu agarrado a ela por alguns minutos. — Posso ser cego, ter este rosto hediondo e metade do meu corpo queimado. Mas, há uma parte de mim intocável e que te fez vir como uma perdida. Basilic arrancou-lhe um beijo selvático e apertou as calças, deixando-a naquele recôndito.

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Hélène ainda estava tremula, sentido as pequenas réplicas do clímax que Basilic lhe tinha proporcionado. Nunca tivera um vislumbre do prazer. Keith não foi delicado, nem tão pouco lhe inspirou desejo. Apenas a quisera para forçar o casamento, além da sua satisfação pessoal. Ela pensava que o ato era doloroso, um castigo obrigatório para as mulheres casadas. Um pecado necessário para conceber. E seria muito mais mortificante se o tivesse que fazer com Raynard, caso contraíssem matrimónio. Raynard sempre fora invejoso com o irmão mais velho, cruel com os animais e impiedoso com os criados e serviçais. Seria um marido austero e agressivo, podendo mesmo a violentá-la como quisesse e ninguém poderia interferir, tendo em conta que depois de casada, teria que obedecer-lhe e servir o seu esposo – tornar-se-ia numa propriedade do seu esposo, sem direito a ter opinião, vontades ou desejos. Por isso, se entregou a Keith, como um último recurso de um destino menos assustador. Agora este homem rude, áspero e estigmatizado, que suavemente a seduziu, possuindo-a sem qualquer tortura. Demonstrando delicadeza para com ela e para com o seu estado de graça. Elevando-a a um lugar desconhecido, abrindo-lhe as portas do prazer, da luxúria. No entanto, este homem nada era seu, a não ser um carrasco, um ditador, o dono do prostibulo de luxo, que a odiava e que odiava o seu possível pai.

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Capítulo 4

Hélène seguiu o animal feroz até ao antro em que dormitava. Basilic bateu com o resto da porta do escritório, fazendo cair mais pedaço de madeira dourada e um quadro da parede. Sacrebleu! Maldita! Que merda! Foda-se… Quem julga que é? Basilic sentou-se na cadeira partida da secretária e abriu a última gaveta. Retirou uma garrafa de uísque que emborcou goela a baixo e acendeu um charuto. Deu várias passas exaustivas e apagou o charuto nas costas da mão queimada, puxando por outro em seguida. Gravitava na sua névoa de fumaça no momento em que ela entrou, sem pedir licença. Hélène tossicou e cruzou os braços fitando o animal enraivecido. Foda-se caralho! Que queres daqui! — —

A tão? Queres o quê? Nada!

Hélène descruzou os braços e virou-lhe as costas, pronta para sair. Sacrebleu ! Je veux foutre toi sur cette table ! — Hei! Isso é assim?! Olha pra mim, pá! – Hélène manteve-se estática sem reagir a cada grito de Basilic. Ele bateu com a palma da mão na secretária resoluta e levantou-se - Foda-se! Deu umas passadas e voltou a rapariga, encurralando-a à parede. Encostou o seu antebraço direito na parede e apagou o charuto com a outra mão. Pairou sobre o rosto dela, como se aguardasse pelo milagre da visão e poder vê-la uma única vez. Soltou o último travo de fumo, preso na garganta, para um lado e ela abanicou-se com a mão. Basilic agarrou-lhe uma mão e levou-a ao seu membro viril, enquanto a pressionava com o seu corpo contra a parede, roçando-se nela com fervor. Fungava-lhe o cabelo por detrás da orelha e deslizava o nariz pela sua pele, descendo até ao pescoço, rodeando o queixo e subindo novamente. Encostando a testa à dela, apertou-lhe uma nádega, obrigando a contrair-se para si. —

É isto que queres? Que eu te foda? By Crystal Waters crystal.waters.lovebooks@gmail.com


— Não. – declarou Hélène sem manifestar qualquer emoção, embora o desejasse perdidamente. Basilic afastou-se dela e passou as mãos no cabelo revolto. Soltou um gemido doloroso, coçando o seu voluptuoso pénis. — Queres o quê, então? – perguntou sem aguardar uma resposta e virandolhe as costas largas. Hélène fixou-se na maçaneta da porta e disse-lhe antes de sair: — Bem, Monsieur Basilic, vim somente comunicar-lhe de que me vou embora, hoje mesmo com o Miller. Queria agradecer-lhe pelo tempo que permitiu que eu me hospedasse aqui. Foi… crucial na minha recuperação. Contudo… - tossiu novamente devido à fumarada e acrescentou – Os meus tios enviar-lhe-ão uma boa quantia através do Miller, para ser indemnizado das despesas que teve comigo. Obrigada. Com a sua licença. — Espera! Não me deves nada! E até te pagava bem para teres ido mais cedo! Hélène ignorou-o e fechou a porta com força, partindo mais um pouco da destroçada porta. —

Ó andorinha, já vais tarde!

Basilic rosnou furioso pela indiferença de Hélène e atirou a garrafa contra a porta, atravessando a mesma e partindo-se em mil pedaços no corredor mal-iluminado. Correu em busca da sua presa e arrastou-a para o seu covil, onde a depositou sobre a sua secretária imunda. — Tira as tuas mãos de cima de mim, porco nojento! - beija-me idiota, suplico! — Vou tirar-te essa altivez que me irrita, sua cabra! - vou provar-te e devorarte toda, como se não houvesse amanhã! Basilic conseguiu envolvê-la num beijo ardente e molhado. Desatou-lhe o corpete e fez deslizar as mãos pelos seios maciços, apertando-lhe um mamilo. Hélène debatia-se, no entanto, contorcia-se de prazer. Sentia-se desejada como nunca tinha sido por Keith, apesar do estado do seu barrigão. — —

O teu noivo faz-te sentir assim? A gemer desta forma? Não… - respondeu ofegante.

Basilic soltou-lhe os seios do vestido e tomou-os na sua boca, mordiscando-os, lambendo-os. Hélène entrelaçou os seus dedos no cabelo revolto, puxando-o para si e pedindo-lhe mais. Basilic, sugou-lhe um seio e depois o outro, levando-a à loucura. By Crystal Waters crystal.waters.lovebooks@gmail.com


Hélène, abriu-lhe as pernas para o aconchegar, enquanto ele despia as calças e lhe levantava as saias. — — amante.

Não te quero magoar, nem ao bebé… Beija-me! - ordenou Hélène, enquanto arquejava e se ajeitava ao seu

Basilic perdeu a noção de tudo ela lhe pediu aquele beijo. Sentiu-a a corresponder aos seus beijos e ao seu toque, passando os dedos no seu âmago húmido e sedento. Hélène soltou um gemido de prazer quando sentiu um dedo de Basilic dentro de si. Puxou-a para si, roçando a sua virilidade desnuda na dela, sentindo a sua vibração e desejo de Hélène, que voltou a gemer quando Basilic deslizou dentro de dela com fervor, investindo com paixão, sentindo-o todo numa entrega. Conrad arremeteu golpes rápidos e duros. Ela não se queixou, estando demasiado ocupada em recebe-lo plenamente, circundando-lhe as ancas com as pernas para o conservar entre as suas coxas. Ele beijou-a, possuindo-lhe a boca como lhe possuía o seu corpo. Fazendo deslizar os dedos entre eles, pressionou aquele botão de prazer fazendoa gritar por ele. — Estou a magoar-te, mon amour? Queres que pare? — Oh, non! Não pares! Por favor… — Hélène, mon amour! Ah, mon amour … – murmurou Basilic entre gemidos e palavras apaixonadas há muito esquecidas. — Oui, Basilic… — Conrad ! Je m’appelle Conrad. Mon amour Hélène… je t’aime ! — Oui Conrad… oui … Ah… Oh…Mon Dieu…je… Hélène convulsionou-se junto dele, gritando o seu nome e saltando o precipício e arrastando-o consigo. Conrad não se deteve, inundando-a de prazer, derramando a sua semente dentro dela, gemendo de emoção e luxúria. No desvaneio arrebatado que os envolveu, permaneceram colados até recuperarem a respiração.

Antes que pudessem trocar alguma palavra, ainda entrelaçados um no outro, Miller, Madame Avallon e outras cotovias acederam ao covil de Basilic, no seguimento dos gritos e gemidos provenientes do local. —

Merde ! – proferiu Miller.

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Hélène ajeitou as roupas e Basilic subiu as calças apressadamente, ajudando-a a sair da sua secretária, encobrindo a cara de vergonha. — Sacrebleu! Que foi? Não se pode foder sossegado? Por acaso não estamos numa casa de putedo? – resmungou para a multidão que acudiu ao local. Hélène, sentiu-se usada e humilhada por Basilic, mesmo que não tenha proferido as palavras, diretamente a ela. Correu em direção do quarto acolchoado, seguida pelas cotovias e Madame Avallon. Basilic, ou melhor o Conrad, que se insurgiu nos braços da mulher que amava deuse conta do que tinha feito e levou as mãos à cabeça. Tentou segui-la e dizer-lhe de que não se referia a ela, porém foi impedido por Miller que tentava fechar o resto da porta. — Hélène! – bradou Conrad em desespero. — Não Basilic! Não podes! Não podias ter-lhe tocado eu avisei-te! — Porquê? — Porque ela está noiva e é uma aristocrata francesa. É filha dos decapitados Condes de Nice, Hélène de Médicis e noiva do Lorde Raynard Mackeswell, filho do Conde de Grantham. — Merde! Foda-se! — Estás doido Basilic? Eu não te disse que não era para lhe tocares! — Não quero saber que ela é. Não a deixarei ir-se embora. – não posso - Tem comido, não tem? Teto, cama e roupa lavada… só começou a pagar o que me deve. – vou ficar com ela! — Vais mantê-la aqui? Como tua cotovia pessoal? — Sim, até ao último centavo. – para sempre! — És um idiota! Claro que não! É uma miúda! E grávida… — Não me importa se trouxeste os tios e o noivo. Irás dizer-lhes que foi um engano a tua parte ou que ela voltou a fugir. Ou então que faleceu a dar à luz. O que queiras. Ela ficará aqui com o nome Julie Duvivier e que ninguém lhe toque. Por enquanto, até me fartar… Depois podes ficar com ela. – se lhe tocas mato-te! — Sabes quem ela é? Sabes? Tens noção do que fizeste? — Julie Duvivier! O resto é passado – é perfeita! Linda e maravilhosa! Amo-a! Basilic sorriu, como não o fazia em anos de sofrimento. — —

Senta-te Basilic! Estás invejoso?

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Miller esboçou um trejeito com os lábios. Pesava um lado a fortuna que poderia ganhar com a sua galinha dos ovos de ouro e por outro lado, a alegria do seu sócio, um grande amigo nas horas difíceis. — Conrad… Ela é… ou há probabilidade que seja… pode ser… - Miller arrependeu-se e arrematou a conversa – Esquece! — Sim, e tu vais esquecer essa merda de a levares daqui, com noivo ou sem noivo e muito menos com o pulha… o canalha que a enxovalhou! – com gosto poderia matálo! — A Hélène veio até à Maison procurar o Rosseau! — Como? – os olhos de Conrad destilaram veneno – O que tem esse filho da puta com Hélène? Acaso esse badalhoco lhe tocou? Por acaso é ele, o pai do rebento? — Cruz, Credo! Nada disso, não digas essas coisas! — Não digo? Fui eu que casei com puta da amante dele! Fui eu que tive um filho bastardo dele! — Conrad! O Henry é teu filho. Se pudesses ver como ele está parecido contigo. Estive em Saint-Maryland e vi-o. É a tua cara. — Também está cego e asquerosamente queimado? — És um tosco ignóbil! É teu filho Conrad! Sangue do teu sangue. Têm os mesmos traços, as mesmas feições, além desse feitio de merda. — Que seja. Não posso negar de que há possibilidade de ser meu filho. Mas não quero criar outro bastardo dele. Se acaso ele seduziu essa andorinha prenha… — O Rosseau poderá ser o pai biológico de Hélène!! Conrad…o Basilic estava de volta com todo ódio do mundo. Grunhiu, rugiu, esmurrou tudo o que tinha na parede. – caí na mesma Trampa! Ela sabia! Putain ! — Basilic! Calma! — Como calma? Voltei a cair na mesma merda! — Não é bem assim… Ela não sabe de nada! Nem de ti, nem de Aimée e nem conhece o pai! — Como não conhece o pai? Achas que sou idiota, um estúpido tão grande para acreditar nisso? Não percebeste o jogo deles? Querem o que restou de mim, das minhas posses! Não lhe chegou o que Aimée roubou? Mataram o meu pai, Miller. Queria matar-me e ficar a viver no meu castelo com o amante, como a viúva duquesa de Arrow. Agora essa tipa… Ela vai ver… como se trata uma puta! Miller agarrou o amigo com todas as forças, embora fosse muito mais forte do que ele. Apanhando com alguns socos nas costelas, gritou-lhe: —

Écoute-moi! Imaginas o que o Rosseau poderá lucrar com isso?

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— Ele sabe? — A Hélène ficou grávida de um rapaz, alguém que os Mackeswell não aprovaram e desapareceram com ele, para casá-la com o segundo filho. — O noivo? — Sim esse. Assim não abdicariam da fortuna que os pais lhe deixaram em dote, que inclui uma grande e prodigiosa propriedade ancestral contingente ao condado de Grantham, Lincolnshire, mesmo que implicasse aperfilhar um bastardo! – Miller fez um compasso de espera e continuou – No dia em que ela apareceu na Maison e desfaleceu, trazia uma carta da falecida mãe. Lady Margot Borbonne de Médicis. Ao que parece, foi uma das modelos de Rosseau na sua juventude. Mantiveram um romance no palácio de Versailles. — E essa carta? Está contigo? — Deve de estar com a Madame Avallon. — A Myriam sabia de tudo? E nunca me disse? Puta de Merda!

Basilic percorreu a Maison em busca da caftina. — Basilic! Mon cher! É por essas atitudes que não te disse nada! — Confiava em ti Myriam… Como pudeste? — Cher, que terias feito se soubesses que era filha de Rosseau? Abandonavas a miúda na rua, doente, desmemoriada e grávida! — Ninguém te mandou envolveres-te com ela, Basilic! Basilic procurou uma garrafa no meio do furdúncio e emborco-a goela a baixo. — Desculpem… passei-me! — É por isso que todos nós temos medo de te contar alguma coisa! – atirou Miller — E o pai da criança? Madame Avallon? — Cher… O que ela soube é que desapareceu misteriosamente. Haviam combinado encontrarem-se no cais e não compareceu. Pode ter sido… — Morto? — Exactement !

Hélène partiu com Miller nessa mesma noite, antes que Madame Avallon pudesse avisar Rosseau, que ficou furioso quando soube da partida dela.

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Capítulo 5

Basilic… Conrad não teve coragem para se despedir de Hélène. Fechou-se no seu covil com mais uma garrafa do seu precioso néctar. Charuto após charuto, deixou-se fluir pelo cinzento fumo que absorvia o homem que tinha despertado do mundo das sombras. Hélène trouxera-o de volta ao mundo dos vivos, para ser torturado mais uma vez! Pelo mesmo canalha Richard Rosseau. Há dezoito anos atrás, Aimée tinha engendrado a morte de Conrad com o seu amante Rosseau, de quem possuía um filho com dois anos, Jean-Pierre Rosseau.

«Lorde Conrad Wellington, o único filho do Duque de Arrow, Lorde Artur Wellington, de sessenta anos, viúvo de uma bela jovem condessa portuguesa, Lady Beatriz de Saboya y Borbonne Lencastre, que faleceu aos dezoito anos, de varíola. Conrad, deixou a Grã-Bretanha aos dezanove anos para frequentar a faculdade de medicina em Paris - incentivado pelo seu idoso pai, que ambicionava que o filho descobrisse a cura para a maleita que ceifara, prematuramente, a vida da esposa que tanto amava. Em Paris, tornou-se num libertino dissoluto e em 1788 e apaixonou-se pela bela jovem Aimée Moreau – a musa das suas gravuras desnudas, lhe tanto o fez gemer e suar os lençóis na juventude. Conrad ignorou o facto de ela ser uma cotovia da Maison des Alouettes, e propôslhe casamento, desconhecendo o seu passado. Aimée, deslumbrada por ser a futura Duquesa de Arrow, aceitou deixando Rosseau e o filho para trás. Conrad abandonou os seus estudos e regressou à Grã-Bretanha quando a revolução francesa atingiu o seu auge, com a tomada da prisão da Bastilha, a 14 de Julho de 1789, levando consigo a noiva plebeia. O idoso duque renegou a nora pelas suas origens mundanas, no entanto, Conrad desposou-a e ela ficou de esperanças pouco tempo depois. A 21 de Abril de 1791, no dia de vigésimo terceiro aniversário de Conrad, Aimée deu à luz um menino: Henry Wellington. By Crystal Waters crystal.waters.lovebooks@gmail.com


Rosseau não se conformou em ter perdido a sua musa inspiradora, a amante, a mulher e a mãe do seu filho. Após uma viagem exaustiva, infiltrou-se no Castelo de Arrow e tentou resgatá-la. Aimée recusou-se a segui-lo, embora sentisse saudades do pequeno Jean-Pierre, contudo, não queria voltar a ser uma cortesã e muito menos perder a sua posição social - o seu futuro título de duquesa. Tentou suborná-lo com joias e guinéus para o fazer regressar a Paris. Enraivecido Rosseau tentou agredir Aimée, que habilmente o conseguir enredar nos seus luxuriosos encantos, seduzindo-o no seu leito matrimonial. Os Amantes são surpreendidos pelo velho duque, Arthur Wellington que entrou em colapso cardíaco no quarto ducal do filho. Em pânico, Aimée gritou e Conrad acudiu ao aposento, onde encontrou o corpo inerte do seu velho pai e os amantes desnudos. Numa tentativa de lavar a sua honra, atacou ferozmente Rosseau. Os dois brigam, rolam no chão entre socos e pontapés. Rosseau conseguiu ferir o adversário com um candelabro, queimando-lhe o rosto e cegando-o. Aimée fugiu com Rosseau e deixou mais um filho de quatro meses entregue à própria sorte e o Castelo de Arrow em chamas. Poderia ser condenada à força por ser uma mulher adúltera assassina. Devido à sua forte constituição, Conrad sobreviveu ao incêndio, porém morreu por dentro. Tornara-se no oitavo Duque de Arrow, que pela humilhação e por vergonha, refugiou-se no interior do Castelo de Arrow, vivendo os seus dias amargurados e sem alento, tentando adaptar-se à escuridão onde fora aprisionado para o resto da vida. Assim cicatrizou a sua pele queimada, entregou o pequeno Henry à guarda do seu amigo, Marquês de Durham e decidiu para embarcar para Paris com um fiel guia, Ernest Parker, para se vingar de Rosseau e recuperar Aimée. No porto de Dover, sofreu uma tentativa de assalto por um jovem esguio e desengonçado – Benjamin Miller: um órfão de 15 anos, criado nas docas, que subsistia pelos seus furtos menores. Conrad decidiu enviar o desconsolado Ernest Parker para Darlington e converteu o jovem Miller no seu fiel companheiro – o seu guia e os seus olhos. Em setembro de 1792, no coração de Paris, Conrad e Miller foram brutalmente feridos quando perseguiam Aimée pelas ruas, que morreu degolada por um machado durante os massacres e Rosseau desapareceu misteriosamente.

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Madame Avallon resgatou-os das ruas. Em tempo de racionamento alimentar e com o filho desaparecido, a fortuna do duque seria bem-vinda, embora lhe pesasse o passado – mas tempos difíceis exigem medidas extremas! Boris Kohls, um antigo pugilista russo, que trabalhava como segurança para a caftina, carregou-os no ombro e levou-os para a Maison des Alouettes. Após a recuperação dolorosa, Conrad permaneceu em Paris, voltando as costas ao seu único filho de tenra idade, aos deveres do ducato e a toda a aristocracia inglesa que o apelidava de corno manso. Conrad e Miller tornam-se sócios da famosa caftina Madame Avallon e ampliam o negócio com o passar dos tempos: adicionam um casino ilegal com sala de espetáculos, com atrizes desnudas e coristas. Conrad, um homem decrépito, marcado pela vida, despiu a casaca de Lorde Wellington, Duque de Arrow e vestiu a pele de um revolucionário amargurado, taciturno, rude e caustico – Basilic2.»

E ao fim de tanto tempo, novamente Rosseau! Hélène poderia ser filha dele! A única mulher por quem nunca se poderia ter apaixonado… E Conrad estava perdidamente apaixonado por Hélène! Sentiu-se atraído por ela desde o primeiro momento em que a sentiu. Tentou afastar-se dela, negando-a, repudiando-a para não sentir, para não voltar a sofrer… Porém, a sua presença sensual foi mais forte do que os seus demónios e subterfúgios. Muito mais do que a atracão sexual que o envolveu, Conrad apaixonou-se por ela em cada minuto, embrenhando-se no aroma floral, na textura da sua voz, na suavidade do seu toque, na sabedoria de cada palavra proferida e no seu gosto! O sabor dos lábios de Hélène que ainda sentia nos seus, o calor da sua pele que se tinha entranhado na sua alma e o seu gosto na sua carne, nas veias! Teria que esquecê-la! Não iria atrás dela, como fizera com Aimée! Decidido a não cometer os mesmos erros, subiu em desespero para o salão das cotovias, desgrenhado, sujo e desalinhado. Pegou nas primeiras três e levou-as para o

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seu quarto, que nunca usava, o mesmo onde ficara hospedada Hélène. Queria macular e conspurcar todas as recordações e todo o sentimento puro que havia sentido por ela.

Miller regressou um mês depois. Desceu ao covil do amigo, que dormia no meio da sua porcaria. — — — causa dela?

Então Basilic? Disseram-me que não tens saído daqui? Que queres? Madame Avallon contou-me que não fizeste nada nestes tempos… Por

Basilic levantou-se e pegou na botelha dando um longo trago. — Por causa de ninguém! Sou o dono maioritário, não?! Estou de férias! — Está certo… vou deixar-te… de férias! — Espera! – fez um trejeito e um compasso de espera, porém a premente necessidade de saber de Hélène gritou mais alto – E ela? Ficou bem? Não é que me interesse… é simplesmente… curiosidade! Miller disfarçou um sorriso, tossicando. — Sim… Os fidalgos Mackeswell fingiram que ficaram muito agradados com o seu regresso, e… tens aqui uma bela quantia pela hospedagem e despesas médicas… cem libras esterlinas! Nem conseguimos faturar este valor num bom ano! — De certeza de que a eles, não lhes custou nada! — O que achas? Claro que não! E ainda ganharam, porque o Rosseau já tinha tentado negociar… pedia duzentas! — Porco nojento! A vender a própria filha! — Isso… não é verdade! Foi uma mentira do rapaz, o tal Keith. Forjou a carta e tudo. Uma manobra ardilosa para a obrigar a fugir e conseguir casar-se com ela. Confessou tudo quando foi caçado! Também queria a galinha dos ovos de ouro. Mas agora está livre e foi muito bem pago pelo seu silêncio. Sempre ficou a lucrar! — Pulha! Por isso a seduziu?! — É uma jovem órfã, sozinha e assustada, Basilic! Uma presa fácil! E tu sabes melhor do que ninguém… Basilic chegou junto do sócio num tom ameaçador —

Eu não me aproveitei dela!

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— Não foi o que quis dizer… queria dizer que é uma rapariga vulnerável, como as nossas cotovias! Só que não cairá em desgraça por causa da sua condição social e por ser um bom-partido, grávida ou não. — Todos os aristocratas têm os seus bastardos. — Além disso… é linda e inteligente. — Basta! – rugiu. Basilic ficou em silêncio afogando a magoa na garrafa e perguntou: — Sempre vai casar com o tal noivo? O Mackeswell ainda quer? — Basilic, o que achas? — Imagino que sim! — Bem, temos de seguir em frente! Podemos ampliar o negócio! Poderás contratar as melhores artistas do momento, imagina só as gajas! Boas, mamalhudas e rabudas… — Tens razão! Vamos abrir as portas, está na hora!

A Maison das Alouettes voltou à normalidade. Com novas atrações, espetáculos, novas cotovias e mesas de jogos. Basilic continuou na vidinha de sempre… dissimulando e mentindo para si próprio. Não conseguia esquecê-la e arrependia-se todos os dias de a ter deixado partir. Queria ir atrás dela, mas faltava-lhe a coragem e a determinação. Principalmente porque tinha receio da sua reação, de ser rejeitado. Esse demónio que o assolava, a grande insegurança por não ter nada para oferecer à sua dama - era um homem devastado com quarenta e dois anos, desfigurado e invisual; marcado no rosto por uma ilusão do passado que o destruiu que o corrompeu; sócio de um negócio promíscuo e duvidoso e um aristocrata com um título manchado e fama de cornudo e devasso por toda a Grã-Bretanha. Hélène era uma princesa perto dele: uma aristocrata, jovem, linda, pura, inteligente e transpirava sensualidade.

Hélène prometeu ao tio, Ian Mackeswell de que não voltaria a fugir e iria casar com Raynard, depois do seu filho nascer. Alegou que não queria ser uma noiva grávida, no entanto, queria ganhar tempo! Queria e esperaria por Conrad, até ser forçada a contrair matrimónio com Raynard.

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Ficou até aliviada por saber da armadilha de Keith, porque afinal ele nunca mereceu os seus puros sentimentos e assim não lhe tinha faltado com a palavra quando se entregou por completo a Conrad, o homem rude e duro que aprendeu a amar, que fêla descobrir a sua sensualidade, o desejo e o prazer carnal. Não queria esquecê-lo! Procurava todas as melhores formas de empatar o casamento até poder voltar para ele. Queria-o, desejava-o! Existiam dias em que se conformava e desistia de todos os seus planos… Ele nem se tinha despedido dela. Teria sido só mais uma na vida dele? Ou melhor, nem fora uma aventura, apenas um fugaz momento de prazer. Ainda por cima ia ter um bebé, um filho de outro homem. Ele nunca a quis por perto e disselhe que amava num momento de ilusão, sem noção! Hélène deu à luz a linda menina loira, com os seus olhos azuis: Constance de Médicis. A data do casamento foi marcada para três meses mais tarde, depois do resguardo. Hélène sentia uma enorme consternação embora estivesse feliz com a filha, a alegria seus olhos. Raynard via o desespero nos olhos da noiva. Queria desposá-la com fervor. Era louco por ela, mas seriam infelizes e fariam uma família infeliz, crianças tristes. Não se conformava em suportar a ideia de criar a filha de outro homem para o resto da vida. Lembrou-se de Miller e de ouvir falar da noite louca de Paris. Era uma oportunidade para se livrar da criança, num país estrangeiro, em guerra com ódio dos seus antigos aristocratas. O Conde de Grantham, Lorde Ian Mackeswell e o seu primogénito, faleceram subitamente num acidente com a carruagem em que seguiam. Aparentemente, uma roda meia solta, foi a origem da tragédia que deixou o condado de Grantham de luto. Raynard, antes de assumir as funções do falecido pai, resolveu para passar uns dias em Paris, como uma despedida de solteiro e da vida despreocupada que tinha. Iria com a noiva para comprar complementar o seu enxoval da menina. Hélène ficou em êxtase! Poderia vê-lo uma última vez! Estar com ele, fazer amor com ele uma última vez! Mesmo que não fosse o suficiente.

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Capítulo 6

Hélène e Raynard chegaram a Paris, com bastantes serviçais, a ama de Constance e a sua dama de companhia. No fundo, Hélène continuava aprisionada, com outro carcereiro e outro tipo de guarda montada. Ficaram alojados no Hotel Babylonien.

Raynard aventurou-se na noite parisiense e queria conhecer a famosa Maison des Alouettes. Boris barrou-lhe a entrada: — Só entram membros, lamento jovem. – respondeu abruptamente Boris, de fortes braços cruzados e pernas afastadas. — O senhor Miller encontrasse no local? Foi ele que me convidou, quando foi meu hospede no meu castelo, em Grantham, na Escócia! Poderá chamá-lo à minha presença? – insistiu Raynard, elevando-se nos calcanhares. Piscou o olho a Alison e a outras cotovias, deslumbrado com as mulheres. — Só entram membros. Lamento! – insistiu Boris colocando-lhe um braço à frente de Raynard. — Eu tenho muito dinheiro para pagar! Aliás dentro de um mês, compro isto tudo e mando demolir, troglodita! Não terás emprego! Sabes que sou? Sou o Lorde Raynard Mackeswell, Conde de Grantham. O banzé à entrada da Maison começou a indignar os clientes, principalmente os ultrarradicais e a atrair curiosos. Alison pediu a Sarah para chamar Miller na sala de espetáculos, onde namoriscava uma das coristas. Boris já tinha perdido a cabeça e estava a agarrar o rapaz pela lapela da casaca quando Miller e Basilic apareceram a pôr ordem no caos instalado. — Boris, larga-o imediatamente! – ordenou Miller. — Ah, senhor Miller! Vejo que se recorda de mim! Lembrar-me-ei da sua consideração quando regressar a Grantham, para o cas…. acontecimento! – expressou pomposamente Raynard, de forma a impressionar as cotovias amontoadas. — Só entram membros! – insistiu Boris — Então ainda bem que sou um dos donos, não é Basilic? – retorquido Miller, acompanhando o jovem emproado. — E o fidalgo, quem é, Miller? – questionou Basilic intrigado.

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Miller fez um compasso de espera, tentando achar as melhores palavras, no entanto, o deslumbrado Raynard quis pavonear-se, uma vez mais, perto das cotovias. — Permita-me que me apresente, sou o Lorde Raynard Mackeswell, Conde de Grantham! – esticou a mão para Basilic que não lhe devolveu o cumprimento, deixando-o vexado. — Como disse? – rosnou Basilic, sentindo o osso da sua mandibula encrespada a trepidar-lhe na face e a fazer saltar a pala do olho. — Oh, parabéns pelo seu casamento! Garçon, champanhe! – cumprimentou Miller apertando a mão rejeitada por Basilic. — Não senhor Miller! – interrompeu o jovem com algum desconsolo e corado porque não queria que as deslumbrantes cotovias o vissem como um homem casado, quando nem sequer tivera qualquer experiência – Esse acontecimento ainda não aconteceu, passo a redundância… — Compreendo, sua senhoria, digo, sua excelência. No entanto, o seu pai e o seu irmão mais velho… — Tiveram um trágico acidente. – disse friamente, sem demonstrara qualquer pesar ou compaixão pelo pai e pelo irmão. — Os meus sinceros pêsames, Sua Excelência. Sinto muito! — Grato pelas condolências. Todavia, a vida pertence aos vivos e a diversão também, se é que me faço entender, senhor Miller. — E como foi que me encontrou, Excelência? – perguntou Miller, antes que Basilic abrisse a bocarra a perguntar por Hélène. — Foi por isto! – retirou a caixa de fósforos do bolso - Entregou-ma quando esteve em Grantham a devolver a coisa… — Coisa? – indagou Basilic. — A joia perdida de Sua Excelência? – concluiu Miller, ajudando o rapaz que metia os pés pelas mãos. — Sim, exatamente. Obrigado senhor Miller. — E a sua valiosa joia, Sua Excelência? Calculo que não voltou a perdê-la! Trouxe-a consigo ou deixou-a na Escócia? – perguntou Miller tentando satisfazer a curiosidade de Basilic. — Veio comigo e ficou muito bem guardada no hotel. – aclarou a voz e ajeitou o laço - Seria possível apresentar-me as suas amigas? - perguntou Raynard muito impaciente, observando as cotovias que se babavam ao ouvir as palavras do galo vaidoso, Sua Excelência e joia. — Claro! Sua Excelência, e peço-lhe que me perdoe pelo meu inqualificável comportamento. Não estamos habituados a ter convidados tão ilustres! – cumprimentou

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Basilic, fazendo uma pequena vénia, querendo manipular a atenção do rapaz. - Permitame que me apresente devidamente, sou o Lorde Conrad Wellington, Duque de Arrow! — Muito gosto, Sua Graça! Principalmente porque há rumores na GrãBretanha de que estava morto, depois do incêndio no Castelo de Arrow. — Como pode ver sobrevivi e estou aqui disfarçado, infiltrado entre os ultrarradicais. Mas permita-me apresentar-lhe as minhas amigas que serão suas também! – Basilic fez sinal a Madame Avallon e sorriu cinicamente para o rapaz, tentando entretê-lo. – Madame Avallon, Sua Excelência é meu convidado de honra e sendo tão ilustre, peço-lhe que o conduza ao salão especial com as nossas melhores Alouettes. — Mon cher! Será um prazer! Venha comigo Sua Excelência! Enquanto Madame Avallon conduzia o jovem emproado, Basilic chamou Mirelle: — Quero saber tudo sobre este rapaz: onde está, com quem estão, nome do hotel, numero do quarto, tudo! saquem-lhe tudo! E nunca mencionem o nome da Julie! Informa as outras!

Basilic arrancou o lenço do pescoço em público, sentindo-se a sufocar por dentro. Retirou-se para o seu covil para repor as forças e tomar um bom trago! — Basilic temos a casa cheia e ainda um puto reguila cheio de empáfia e tu escondeste aqui? Preciso de ti, lá em cima! — Volto já! Precisava de um momento, só isso! — Sim, percebi e sei porquê, mas falamos logo, quando soubermos mais, pelas cotovias. Basilic recompôs-se e voltou aos salões, onde a sua amante, a cotovia eriçada Lisette, reclamava a sua presença: — —

És impossível, mon amour! Deixaste-me sozinha! Agora não Lisette! Não tenho pachorra… E tenho que trabalhar!

Lisette deteve-o e acusou-o. — Cotovia nova no ninho? — Não! E nunca mais me tentes agarrar! Tenho que trabalhar! O teu cachê não é uma pechincha! - livrou-se da mulher e controlou as salas, principalmente a especial, um local privadíssimo.

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Horas depois, surgiu o ébrio e desalinhado Raynard, ainda extasiado e trocando as pernas. — Ora, Sua Excelência! Espero que tenha recebido um tratamento digno da sua pessoa! – ironizou Basilic, dissimulando o riso. — Sim… sua, Vossa Graça! Preciso de vir… ir para o hotel! Consegue arranjar-me uma carruagem de aluguer? – balbuciou o arrebentado Raynard e puxando por um saco de couro com sobranos de ouro. — Eu próprio o levarei na minha carruagem, juntamente com o Miller, para onde me disser, Sua Excelência! E guarde esse montante. Considere como uma cortesia da minha parte! Para desculpar-me da minha descortesia inicial! — Muito amável, Vossa Graça!

Basilic e Miller levaram o rapaz ao Hotel Babylonien. — Se nos permitir, Sua Excelência, nós conduzimo-lo até ao seu aposento. Para sua segurança, a esta hora. O rapaz ébrio anuiu com a pesada cabeça e subiram para o quarto andar. Miller, deitou o rapaz e colocou-lhe um pouco de ópio na boca, deixando-o atordoado e perguntou: — Pretende que deixe alguma mensagem para a sua noiva na receção, Sua Excelência? — Noiva… Que anedota! É minha prima! E teve um bebé! — E está aqui no hotel consigo, não está? — Sim, no primeiro andar, no número três, com a dama de companhia, que está no quatro. — E o vosso casamento, porque é que ainda não se realizou, excelência? — Ela não quer… inventa desculpas! — Tenha uma boa noite, Sua Excelência!

Miller pousou de sentinela à porta do quarto de Hélène e Conrad entrou lentamente. Descalçou-se para não fazer barulho e conseguiu senti-la, deitada, dormindo By Crystal Waters crystal.waters.lovebooks@gmail.com


como um anjo. Aproximou-se dela e sentou-se na cama, sentindo o seu aroma floral, o seu calor e a suavidade da sua pele. Sem conseguir resistir-lhe, Conrad, despiu-se e entrou nos seus lençóis, beijandoa. Tapou-lhe a boca assim que ela acordou assustada e sussurrou-lhe ao ouvido: —

Mon amour ! C’est Conrad ! Je t’aime mon amour !

Hélène abraça-o e beija-o com paixão, sentindo-o o fervilhar do seu corpo nu em cima de si. Sem qualquer palavra, Hélène abriu-lhe as pernas e arqueou para o sentir, manifestando o seu desejo de se entregar novamente. Conrad passou-lhe a língua pelas pernas, pelas coxas enquanto subia lentamente a camisa de noite, parando no seu centro, onde se deliciou na sua essência como uma hélice de sucção, fazendo-a pulsar de prazer. Subiu pelo umbigo, pelos seus seios perfeitos, lentamente acariciados e adornados com os seus beijos, conseguindo retirar por completo a camisa de noite e senti-la inteiramente nua por debaixo do seu corpo desnudo que suspirava por ela, numa ansia de a ter de a possuir mais uma vez com o seu voluptuoso membro palpitante que a penetrava suavemente, em movimentos lentos e sincronizados, chegando ao prazer simultâneo várias vezes seguidas, durante horas. Depois de fazerem amor, ficaram aninhados um no outro, extasiados e apaixonados. Depois de mais um longo beijo, Hélène, fixa os seus olhos no rosto dele, enquanto ele lhe acaricia o cabelo loiro emaranhado. — —

Je t’aime Conrad ! Eu também te amo muito, mon amour!

Um novo e apaixonado beijo envolveu os amantes. — Hélène, mon amour, fica comigo! Não quero perder-te novamente! Não vou conseguir suportar! Ela sentou-se na cama, introspetiva e enclausurada no seu silêncio, mortificandoo e consumindo-o. — Hélène achas que não saberei fazer-te feliz? É por ser um cego hediondo? Queimado e feio? É por ser muito mais velho? Já te provei que sou melhor na cama do que o puto que te empenhou! Conrad ficou fulo com a sua mudez e saiu da cama num salto, vestindo as calças.

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— Conrad! Não vás! — Então explica-me! Começo a dar em doido! S’il vous plaît, mon amour … — É complicado… Eu tive uma filha… — Eu sei! Aliás já te conheci prenha, digo, grávida. - sentou-se perto dela, abraçou-a carinhosamente e colocou as suas mãos nas faces dela e disse – Será minha filha! E amá-la-ei sempre como tal! — Como iria ser? O Raynard é cruel, frio e implacável. Não imaginas o que ele… o meu tio e o meu primo faleceram num acidente. — Eu sei. Lamento pela tua perda. — Tenho quase a certeza de que foi… o Raynard. Nem quero imaginar o que ele te poderia fazer. Poderia acusar-te de rapto, na melhor das hipóteses. Nunca iria permitir que fossemos felizes. — Posso desafia-lo a duelo e matá-lo com gosto. — Conrad, non! Tu não… podes! Não quero que nada de mal te aconteça por minha causa! Amo-te demasiado para te ver a sofrer. Conrad compreendeu por fim o seu silêncio e pensou como seria bom se ela fosse somente mais uma aventura, que não a amasse, ou que fosse uma cotovia sem eira nem beira…. Tudo seria mais fácil! Não poderia derrotar ninguém em duelo, sendo cego! Seria um suicídio! Caiu em desespero ao seu lado, libertando as lágrimas que um homem viril tenta esconder. Ela tinha razão, seria um amor impossível e ainda a amava mais por se preocupar com ele, não o querendo ver preso, morto ou em sofrimento. Se por um lado se sentia amado como sempre sonhou, por outro, era como uma sentia uma lâmina afiada que lhe dilacerava o coração, a alma e a carne. Pela primeira vez, estava completamente perdido, de mãos e pés atados. Limpou as lágrimas, não querendo que ela se apercebesse do fraco homem que ele era, sem a máscara do déspota Basilic. Hélène confortou-o nos seus braços, entre carícias e beijos, partilhando a sua dor e as suas lágrimas. — Posso tentar derrotá-lo num duelo de espadas. Sempre fui muito bom com o florete e ele é um puto cheio de empáfia! Também já fui assim e foi isso que me destruiu. A Aimée e o Rosseau aproveitaram-se dessa minha fraqueza! Achava-me poderoso e invencível! — A tua falecida esposa… sinto muito pela tua perda. — Não sintas! Ele e o Rosseau foram os responsáveis pela morte do meu pai, quando os flagrou a copular como porcos. Depois tentaram matar-me, atiçando fogo ao

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aposento. Ela tentou matar-me, para ser a viúva do Duque de Arrow e poder disfrutar do título e da herança, com o filho da puta do amante dela. — Duque de Arrow? És um aristocrata inglês? — Sim, Hélène. Mas fiquei cego e queriam internar-me num asilo. Por isso me exilei em Paris e me tornei no rude e duro Basilic, que conheceste! E agora posso perder-te a ti! E não quero! Por isso temos que pensar numa solução! — Eu poderia ter só um casamento de conveniência! — E eu seria o quê? O teu amante? Aquele que serviria para te consolar em encontros furtivos? Escondidos na clandestinidade? Hélène… não me conheces! — Tens uma solução melhor? — Não! Mas, eu ser a tua puta não é uma solução viável!! – rosnou frustrado, acordando o bebé que dormia no quarto ao lado com a ama. Hélène vestiu-se e prontificou-se a ir ver a filha. Conrad puxou-a e sentou-a no colo, para um último beijo. — Volto já, mon amour. — Tenho que ir. Não quero tenhas problemas se me encontrarem aqui! — Fica! Ainda não acabámos! — Acabar o quê? A conversa de que não podemos fazer nada para ficarmos juntos, ou queres voltar a foder-me! – respondeu irritado. — Não sejas assim! Tosco e bruto! — Como queres que seja? Estou a perder a mulher que eu amo! Que eu quero para mim!

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Capítulo 7

Raynard escondeu Conrad nas escadas internas do torreão do Castelo de Grantham, longe dos olhares curiosos dos serviçais e dos guardas. Esperou um pouco e conduziu-o aos aposentos da sua noiva, que se passeava com a sua filha no jardim. Conrad sentiu-se como um adolescente excitado, que se escondia para ver uma namorada. Raios sou um homem feito, com mais de quarenta anos! Velho demais para estas coisas de miúdos reguilas! Sacrebleu! Hélène entrou nos seus aposentos descontraidamente, com a menina ao colo, a ama e a dama de companhia. — Lady Hélène, não pode andar com a menina Constance ao colo a toda a hora. – rabujava a dama de companhia. – Faz mal à sua postura! — Eu gosto e não me importo com essas conveniências! — E não é prudente no seu estado! – interveio a ama – Não pode carregar pesos nos primeiros meses! — Por vocês as duas não faria nada! Quero ficar sozinha agora com ela. Ide! — Mas… Não pode! Hélène, abriu a porta e faz sinal às mulheres para saírem, quando Raynard apareceu no corredor — Prima, preciso de falar contigo, a sós! — Sim, claro primo! — Não está certo, não podem! Que ousadia!! – reclamou a dama de companhia. — E depois admiram-se que as coisas aconteçam… - acrescentou a ama. — Fora as duas. Já! – ordenou Hélène. — Porque é que eu tenho sempre a culpa de tudo, Hélène? Já viste como olharam para mim? Quando sou inocente? — Era disso que querias falar comigo? Raynard abriu a cortina e mostrou Conrad, dizendo-lhe:

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— Resolvam as coisas! Eu não quero continuar com esta farsa dos bebés e do casamento. Não é justo para nenhum de nós! Eu estarei lá fora, de vigia… conversem e arranjem uma solução. Raynard saiu e Hélène sentou-se na poltrona com a filha ao colo. Convidou Conrad a sentar-se. — —

Como estás – perguntou Conrad para quebrar o gelo. Bem… E tu?

Ele anuiu positivamente com a cabeça. — Disseram-me de que estás à espera de um filho meu. É verdade? — Se vieste para me ofender, podes ir pelo mesmo caminho que te trouxe! — Tenho o direito se saber, ou não? — Sim, tens. Mas do que adianta? Muda alguma coisa? — Muda tudo! É meu! Não podes recusar-me isso! — Porque não me esperaste no hotel? Senti-me abandonada! E agora vens aqui dois meses depois revindicar direitos? — Não! Não quero discutir nem revindicar direitos. Vim buscar-te! A ti e aos nossos filhos. Iremos para Darlington, para o meu castelo. Precisa de ser reconstruído, onde deflagrou o incêndio, além de ir buscar o Henry em Saint-Maryland. — Como? Enlouqueceste? Seriamos perseguido como criminosos! O Raynard é vingativo e cruel. Nunca permitira que o fizéssemos. — O Raynard está de acordo. — O Raynard? — Sim, ele falou comigo. Fizemos um bom acordo. — Um acordo? Nas minhas costas? Sobre a minha vida? — Fi-lo pelos meus, pelos teus… pelos nossos filhos. Por eles e por ti! — Como soubeste? Quem te contou? — Isso não interessa… — Quem? Insisto! — A Sarah Massoud, a cotovia judia. Ela e o Raynard entenderam-se muito bem na Maison e escrevem-se. Hélène esbugalhou os olhos e levantou-se muito aflita. — Conrad, tens que sair daqui imediatamente. — Estás como ciúmes dele? Tu e ele…? Diz-me? — Não! Sai daqui! Sai do meu quarto ou eu grito. — Então grita. Faz com que me encontrem no teu quarto, para que Raynard se sinta enxovalhado e me desafie a um duelo e assim poderei matá-lo. By Crystal Waters crystal.waters.lovebooks@gmail.com


Hélène gritou desalmadamente, abriu a porta da recâmara e correu com a filha nos braços pelos longos corredores. Conrad entrou em choque e saiu de fininho pela escadaria interior, enquanto os guardas entraram nos salões, nos quartos e revistam todos os cómodos. Conseguiu escapar pelos jardins sem ser visto, graças a Miller que o seguiu, mesmo contra a sua vontade.

Voltaram à estalagem em Edimburgo para arrumar as suas coisas. Sem aviso, entraram vários guardas que os deitaram de bruços no chão. Bateram-lhes e levaramnos arrastados. — — — preso?

Posso saber do que sou acusado? Sabem que eu sou? Será informado quando for presente ao juiz? Juiz? Como posso ir a julgamento sem antes saber porque estou a ser

Foi conduzido ao cárcere, onde continuou na ignorância sobre o arresto. Apesar do seu título e da sua posição social, negaram possibilidade de ser representado por um advogado de sua confiança devido a uma moção de repúdio e de desconfiança, entreposta pela acusação e deferida pela câmara dos lordes. Temiam que constrangesse os magistrados e adulterasse a sentença. Elegeram um advogado oficioso para sua defesa. Um jovem recém-licenciado, com óculos muito grossos, atrapalhado e meio gago. Conrad seria certamente condenado a uma pena máxima, trabalhos forçados perpétuos.

Levado a juízo no dia seguinte, soube a razão pela sua detenção e julgamento: — Conrad Wellington está acusado de prevaricação, atentado ao pudor e bons costumes e tentativa de rapto da noiva do Conde de Grantham. Ainda, ao que parece, a comprometeu e danificou a propriedade do Lorde Raynard Mackeswell. — Como se considera? — Sou inocente! — Entrem as testemunhas de acusação!

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Raynard depôs contra ele, contando ter sido ameaçado de morte por Boris a mando de Conrad, que o obrigava a assumir os filhos dele. Que raptou Hélène e manteve-a presa em cativeiro num bordel, em Paris onde obrigava a prostituir-se e ainda mantinha relações sexuais com ela. Sarah Massoud, uma cotovia de origem judaica, a concubina de Raynard também depôs contra Conrad, confirmando a história do amante. Assim como as outras cotovias, a sua confidente Madame Avallon, Boris e a sua amante, Lisette também confirmassem a história. Todos o traíram e o apunhalaram pelas costas! Conrad sabia agora que tudo não passara de uma armadilha. Foi atraído para a Escócia para a ser preso e condenado, provavelmente, deportado para a Austrália. Apesar de ser um duque, estava cego e muitos o queriam interditar num asilo. Em Paris, teria outras hipóteses, clientes que lhe deviam favores, conhecidos influentes. — Senhor Richard Rosseau, poderia dizer-nos qual a sua relação com a falecida Duquesa de Arrow, Lady Aimée Moreau Wellington? — Com certeza, excelência. Aimée era minha legítima esposa. Casamos em Paris, no ano de 1786 e tivemos um filho. A minha esposa foi raptada pelo réu, quando estava a tomar conta do nosso filho, Jean-Pierre, em casa da minha mãe, Madame Myriam Avallon Rosseau. — Confirma-se o crime de bigamia, por parte do Lorde Wellington. – constatou o advogado de acusação – Prossiga senhor Rosseau, diga-me… tentou reaver a sua esposa junto do Lorde Wellington? — Sim, Sua Excelência. — Conte-me exatamente como foi. – ordenou o magistrado. — Meritíssimo Juiz, assim que soube onde o réu tinha aprisionado a minha esposa, no seu castelo em Darlington, tomei todas as diligências para a resgatar. Um idoso, creio que se tratasse do pai do réu, agrediu-me e o réu também. Consegui fugir com a minha esposa, antes de que esse senhor nos incinerasse no castelo, quando ateou fogo ao aposento da minha esposa. Como castigo divino, ficou cego e crespado. — Pro… pro…testo, mere… mer… itíssimo! – Bradou o advogado de defesa com a sua tímida gaguez – Esses… fac… fatos são irr…irr… — Irrelevantes? - questionou o juiz tentando ajudar o homem. — Sim, mere...mer... — Deferido! – declarou o juiz, sem paciência para aguardar o discurso do gago – Lorde Barry, remeta a sua testemunha apenas para os fatos referentes à noiva do Lorde Mackeswell. É sobre esse caso que estamos a julgar Sua Graça, Lorde Conrad Wellington. By Crystal Waters crystal.waters.lovebooks@gmail.com


O advogado de acusação pigarreou e ficou encavacado. — Senhor Rosseau, no que confere à Lady Hélène de Médicis, noiva de Sua Excelência, Lorde Raynard Mackeswell, diga-nos, qual a natureza da sua relação com ela? — É minha filha. Ouviu-se um som abafado de incredibilidade no tribunal. O juiz deixou cair o monóculo sobre a toga e engoliu em seco. Inclinou-se para a frente e interrogou diretamente a testemunha. — Tem a certeza do que diz, senhor Rosseau? A filha dos Condes de Nice? Sobrinha-neta de Sua Majestade? Senhor Rosseau, recordo-lhe de que foi advertido que poderá ser condenado por falsas declarações prestadas em juízo. — Meritíssimo Juiz, longe de mim querer faltar ao respeito a Vossas Excelências, à coroa britânica e a este tribunal. Muito menos pretendo manchar a honra de um antigo monarca francês. Contudo, não seria um cavalheiro, se revelasse a natureza da minha amizade com a falecida Lady Margot Borbonne de Médicis. Poderei apenas mencionar que fomos muito próximos na nossa juventude, em Versailles, antes de se tornar a Condessa de Nice. Foi a minha musa inspiradora e pousou para as minhas gravuras eruditas. — Muito bem. Adiante. Prossiga senhor Rosseau. – declarou o togado. — Meritíssimo Juiz, bem… o que a minha mãe me contou, é que a Lady Hélène me procurou na sua morada, em Paris. Tinha uma carta da falecida Lady Margot para mim e que nunca chegara a ser enviada. – Rosseau entregou a carta a um dos guardas do magistério para ser apresentada ao juiz como prova da sua dissertação – Entretanto a Lady Hélène ficou retida contra a sua vontade nessa casa, sob o domínio do nefasto duque, o dono da casa de tolerância. E ficou grávida. — Protesto! – Conrad levantou a voz, vendo que o seu advogado se fechava em copas – Ela já estava grávida quando apareceu na Maison, digo na residência de Madame Avallon. E ficou de livre vontade. Sentiu-se mal e não poderia deixar uma grávida na rua, sem auxílio. — Lorde Wellington, antes de mais, Sua Graça não tem autorização para se pronunciar neste tribunal e invocar o direito de protestar ou manifestar a sua discordância com a testemunha, tendo ou não fundamento. O seu advogado tem a faculdade de, no decurso das diligências, requerer e apresentar os protestos que entenda convenientes Porém, esclareça-nos: informou as autoridades e os seus familiares de Lady Hélène de Médicis, do seu estado debilitado de saúde? – indagou um juiz auxiliar. Conrad baixou a cabeça e fechou os punhos.

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— Não, Meritíssimo Juiz. — Assim sendo, acaso manteve algum tipo de relação afetiva, ou mesmo, carnal com a jovem noiva do Lorde Raynard Mackeswell, nessa residência de alegadamente prostibular e no período vigente do seu desaparecimento? – interrogou novamente o juiz auxiliar. Miller levantou-se e saiu do tribunal, antes de ver o seu amigo a colocar a corda no pescoço. Conrad mordeu a língua e respirou fundo. — Sim, Meritíssimo Juiz. — A acusação não tem mais questões, Meritíssimos Juízes. – arrotou o advogado Barry, satisfeito com a confissão do réu. — Iremos deliberar a sentença. Está encerrada a audiença. – declarou o magistrado.

Estava tudo consumado! Se Aimée não conseguiu matá-lo, Hélène tinha conseguido acabar com tudo o que restara da sua vida! Ela era a armadilha de Rosseau e da Maison de Alouettes! O verdadeiro cavalo de Troia, que Rosseau e Raynard infiltraram na sua fortaleza para o destruir. Preparado para ouvir a sentença, o seu advogado interveio e apresentou uma última testemunha de defesa, para surpresa de todos os presentes. Raynard, Rosseau e os da Maison estavam em pânico. Quem se atreveria a fazê-lo? Não seria Hélène, porque não tinha permissão do seu guardião tutelar e o seu testemunho seria invalidado. Conrad também estava estupefacto. O advogado Thompson obteve a concordância da Jurisprudência apesar das objeções da acusação. Chamou então a testemunha surpresa: Keith Henderson. Keith jurou dizer toda a verdade sobre uma bíblia. Lorde Barry, apresentou rapidamente uma moção de repúdio contra o testemunho, sendo indeferida pelo magistrado. — Meritíssimo Juiz, como todo o respeito a Vossa Excelência e a este tribunal, tenho que contestar a apresentação desta testemunha. Certamente que é um ardil forjado pela defesa. By Crystal Waters crystal.waters.lovebooks@gmail.com


— O senhor Keith Henderson conhece o acusado aqui presente? – questionou o juiz auxiliar. — Não, Meritíssimo Juiz. Não o conheço e nunca o tinha visto na vida. — E devemos acreditar na sua palavra? Um cavalariço? Filho dos caseiros da propriedade dos Condes de Nice? Que recebeu uma fortuna das mãos do falecido Conde de Grantham, Lorde Ian Mackeswell para ficar em silêncio por ter engravidado a sua futura nora? – perguntou levianamente o advogado de acusação. Raynard escancarou muito os olhos para Barry, e este viu que tinha cometido um erro crasso, revelando que conhecia a testemunha, o suborno e a paternidade de Constance. — Prot… protes… - tentou o jovem advogado gago, Sir Thompson. — Lorde Barry, tendo em conta o que nos relatou sobre a testemunha, é pertinente e de todo o interesse deste tribunal em ouvir o que tem a dizer. Creio que acabou de confirmar que este jovem é credível. Poderá ser de uma condição social mais baixa, mas é um cidadão com trabalho certo e filho de pessoas de confiança do Conde de Grantham, seu cliente. Diria mesmo de uma confiança extrema, ao ponto de aceitar algo em troca do seu silêncio, de acordo com as suas próprias palavras. Face ao exposto, para que a sentença seja deliberada com justiça, é imprescindível que haja uma desambiguação e ouvir o testemunho deste cidadão. – declarou o juiz, sem pachorra para a gaguez do advogado de defesa. — Senh… senh… O magistrado levantou-se e ordenou para a testemunha, olhando de soslaio para o gago: — Senhor Keith Henderson, clarifique-nos exatamente sobre o motivo pelo qual foi convocado. Os advogados farão as suas perguntas no final, se necessário. Keith Henderson contou que nunca conheceu o acusado e que seria impossível que Conrad tivesse tocado em Hélène, uma vez que eles sempre estiveram juntos, secretamente, e que assumia a paternidade de ambas as crianças. Ainda acrescentou que tencionava casar-se com Hélène, todavia ela sempre fora aprisionada pelos tios. Mais informou que o falecido Conde de Grantham, Lorde Ian Mackeswell, chegou a oferecer-lhe muito dinheiro e uma falsa carta da falecida Lady Margot de Médicis, alegando uma falsa paternidade de Richard Rosseau, para induzir Hélène até Paris. — Nunca chegamos a embarcar. Ficámos todos esses meses protegidos na casa de Sua Alteza, a Infanta Christine da casa real Hanôver, irmã de Sua Majestade, Rei

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Jorge III, cunhada da tia-avó de Hélène, Sua Alteza Carlota de Mecklemburgo-Strelitz. E garanto de que Hélène não tem qualquer relação com essa Julie Duvivier de quem tanto mencionaram essas senhoras levianas. Quanto ao à confissão do réu, Sua Graça é invisual. Nunca poderia confirmar se seria a minha Hélène. Poderia ter sido qualquer mulher com o mesmo nome e ter inventado a história que o Lorde Raynard pretender concretizar como verdadeira. Lorde Barry, gargalhou, faltando ao respeito aos magistrados e a todo o tribunal. — falácia.

Quanto disparate. É um ultraje para todos nós, aqui presentes. Uma

Os juízes olharam uns para os outros. — O senhor Keith Henderson tem alguma forma de comprovar o que afirma, de forma a ilibar todo o sofismo proferido? – perguntou severamente o magistrado-mor – E como explicaria os indícios e o rol de testemunhas apresentadas pela acusação? — Meritíssimo Juiz, foi tudo forjado pelo Lorde Mackeswell e por esse pintor francês. A minha falecida madrinha Lady Margot só ficou grávida muitos anos depois do seu matrimónio. E quanto ao restante, do desaparecimento de Hélène, poderá Sua Excelência, Meritíssimo Juiz confirmar com Sua Alteza, Infanta Christine da casa real de Hanôver. Houve um ruído seco na porta e a Infanta Christine entrou no tribunal. Todos se levantaram e fizeram uma vénia a Sua Alteza, irmã de Sua Majestade. A Infanta fez uma reverência aos magistrados. — Estou à disposição de Vossas Excelências, Meritíssimos Juízes para qualquer esclarecimento, sobre Lady Hélène de Médicis, a sobrinha-neta da minha cunhada Sua Alteza Carlota de Mecklemburgo-Strelitz, que não pode estar presente devido ao estado agravado de saúde do meu irmão, Sua Majestade. E antes de mais, além de confirmar toda a declaração do senhor Henderson, quero manifestar a minha pretensão em requerer a guarda tutelar de Hélène. Não creio que o Lorde Mackeswell esteja no seu mais perfeito juízo para a desposar, embora também seja meu sobrinhoneto. Ficou muito afetado pela súbita morte do meu sobrinho Ian e também do querido Brandon. — Sua Alteza, longe de nós duvidarmos da sua palavra. E de facto, não existem provas contundentes contra o acusado, Sua Graça, Lorde Conrad Wellington, a quem pedimos as nossas sinceras desculpas. Só temos testemunhos das senhoras… - o magistrado-mor procurou uma palavra mais suave para cortesã - … dissolutas e um pintor, digamos que, erudito. No que confere a Sua Excelência, Lorde Raynard

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Mackeswell, compreendemos o seu estado de ânimo com as súbitas perdas, além da conduta da antiga noiva. – e a demência poderá ser congénita ou mesmo hereditária - Assim sendo, não será sujeito a qualquer sansão. O juiz levantou-se e desceu o malho da justiça. — acusações.

Declaro encerrada a audiência, sendo absolvido o réu de todas as

Raynard Mackeswell não obteve qualquer represália do magistrado, devido ao seu parentesco com a casa real de Hanôver. Richard Rosseau foi preso por prestar falsos testemunhos, incluindo a bigamia uma vez que nunca fora oficialmente casado com Aimée. Foi condenado e deportado para a Austrália. Madame Avallon, deprimida com a sentença do filho, suicidou-se antes de regressar a Paris. A Maison des Alouettes fechou portas. As cotovias foram trabalhar nas ruas da devassidão, com exceção de Sarah, que ficou em Grantham com Raynard. Bóris Kohls e Alison Dubois, assumiram uma paixão antiga e ficaram com o jovem Jean-Pierre Rosseau, filho de Aimée. Recomeçaram uma vida juntos em East End, na zona pobre de Londres.

Miller levou o seu amigo Conrad, para o Castelo de Arrow, em Darlington. Conrad devia a sua liberdade a alguém que nunca tinha visto, que tinha julgado um porco imundo, abusador e manipulador. Porquê? Porque o teria feito? Ele não era inocente… tinha tido e mantido uma relação pecaminosa com ela! A não ser que fossem duas pessoas distintas… seriam? Não é possível! A não ser que estivesse também a enlouquecer! Não iria perguntar-lhe, porque não queria vê-la. Soube por Miller que os tabloides ingleses relatavam que Hélène falecera no parto, assim como a menina recém-nascida. Conrad ficou devastado, era a sua sina… pensou

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que mais valia estar morto, pelo menos não sentia a dor… Ou preso e a fazer trabalhos forçados, ao menos estaria entretido e não pensava….

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Capítulo 8

Conrad dedicava os dias a administrar das propriedades que herdara dos seus ancestrais, sempre com Miller a seu lado, o seu braço direito e Ernest Parker, os seus olhos. Em Darlington, produziam roseirais com formosas rosas vermelhas, da cor do pecado – com o aroma de Hélène. A Hortofloricultura devolveu o trabalho e o sustento a muitas famílias, desenvolveu o comércio e a localidade. Construiu um hospital em Darlington, onde se disponibilizava para fazer algum atendimento voluntário. Ajudou a erguer uma escola para a comunidade. Incentivava os comerciantes a estrelecerem-se na pacata vila, contribuindo para o crescimento da zona, criando mais postos de trabalho. Conrad fazia tudo para preencher uma vida vazia e solitária que o vício, a promiscuidade, o escárnio e a luxúria lhe trouxeram. Não se tornara benevolente a fazer o bem como penitência ou arrependimento, mas porque era o certo, o que deveria ter feito quando o pai faleceu - assumir o ducato e cuidar do pequeno Henry, em fez de largar tudo para correr atrás de quem não o amava. Começou a viver na simplicidade do seu lar solitário, tornando-se casto e muito reservado, sem mulheres, álcool ou drogas. Estava prestes a completar mais um aniversário. Era uma data que deixara de comemorar há anos, quando o seu mundo ruiu e perdeu a visão. Ficou muito surpreso e curioso quando chegou nessa tarde a casa e o mordomo Thomas Rusty lhe entregou um convite para levantar o seu bolo de aniversário no Empório Cartwright, um pequeno estabelecimento de um americano Bryan Cartwright. Gostou da lembrança, possivelmente alguém do tempo dos seus pais teria comunicado aos Cartwright a sua data de nascimento. Conrad e o seu fiel guia e criado Ernest, desceram até Darlington, que ficava a duas milhas do Castelo de Arrow. A carruagem parou junto do Empório e o proprietário, Brian Cartwright, fez uma sonora reverência ao duque e pediu que o acompanhasse a um espaço mais reservado no interior do Empório, longe dos olhares curiosos.

Boa tarde, Sua Graça.

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Conrad reconheceu, imediatamente, aquela voz doce e suave, como o canto de uma ninfa, o encantamento da sereia. — Hélène?! Não pode ser! Tu estás morta! O Miller leu nos tabloides… não pode ser! — Não deverá acreditar em tudo o que vem escrito nos tabloides ingleses, Sua Graça. Também o deram como morto, quando ficou ferido e em convalescença na cidade de Paris. Acredite que estou bem viva. — Então a tua morte foi uma farsa? Uma encenação? Não fizeste um desmentido público, se os tabloides o fizeram por mera especulação. Porquê? — Primeiro, para me livrar da obstinação do Raynard, em casara-se comigo. E em segundo lugar, porque fazia parte de um acordo que fiz com o Keith, para que ele te inocentasse. Não poderia ver-te preso Conrad! Não iria suportar… Hélène aproximou-se dele e Conrad afastou-se, mantendo o distanciamento entre eles. — Quer dizer que esse Keith estava de acordo com tudo? Por isso contou aquela falácia no tribunal? — Oui. Ele devia-me isso! Sempre sentiu remorsos quando foi cobarde e fugiu, deixando-me cair numa armadilha dos Mackeswell e do Rosseau. Ele também foi enganado, como nós. — Então ele sabe que estás viva? Com os filhos dele? Deixaste-os para trás? — Claro que não! São minhas filhas, nunca as abandonaria! E quanto ao Keith, ele nunca ultrapassou o facto de uma delas ser… tua! Hélène tentou uma aproximação querendo o conforto dos seus braços, no entanto, Conrad repudiou-a. — E tiveste uma filha minha e só me dizes agora? Depois de tanto tempo? Assim do nada? — Tinha que assegurar-me de que estaria em segurança quando resolvesse vir procurar-te. O Raynard nunca se conformou de eu o ter recusado. Estive este tempo com a minha tia-avó, na Escócia. — E o Keith não te seguiu? Deixou-te ir com a filha dele? Logo ele, que parecia estar disposto até a dar a vida por ti! — O Keith não foi homem o suficiente para reconhecer uma filha que não lhe pertencia, a nossa filha, como eu te disse. Ele casou com uma moça de Lincolnshire. E no que confere à Constance, ele optou por ficar incógnito. Alegou que seria ser um empecilho para ele e uma pedra no casamento dele. Além disso és tu quem eu quero Conrad. Eu amo-te! Je t’aime Conrad !

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— Amas-me? Que raio de amor é esse que me deixou sofrer por uma morte fajuta! Que me deixou a pensar que o bebé… Que me deixou a pensar que, depois de te teres chafurdando comigo na cama, tinhas ido alegremente lambuzado na cama dele? Isso não é amor! — Eu nunca tive mais nada com ele! — Queres que acredite nisso? Conhecendo eu o fogo que escondes por debaixo das saias? — Eu estava grávida! — Sem bem me lembro, isso para ti, não é nenhum impedimento! — Conrad?! Não me trates assim, por favor! – Hélène abraçou-se a ele desesperada. — Larga-me! Conrad libertou-se do seu abraço e afastou-a. Colocou o chapéu alto e bradou por Ernest, que apareceu em seguida. — Fizeste muito mal, em teres vindo para Darlington. Lamento, mas não posso dar-te as boas-vindas! — Conrad? Eu vim para estar contigo… — Posso ajudar-te financeiramente se precisares, para ires para bem longe. Também não vou impedir-te que fiques. Podes refazer a tua vida com alguém que não irei interferir, até mesmo com o viúvo americano Cartwright. Mas esquece-me porque não teremos nada… Não quero nada contigo! Adeus. Conrad, seguro pelas mãos do seu guia, depositadas no seu cotovelo, virou as costas ao seu passado, recusando-se a sentir fosse o fosse por ela. Hélène endireitou os ombros e retorquiu cordialmente, não se deixando vergar. — Sua Graça? O seu bolo? Seria uma descortesia da sua parte recusar uma oferenda de um simples comerciante, como o senhor Brian Cartwright! Cálculo que o bolo seja um pouco simples e pouco digno de Sua Graça. No entanto, poderá ofertá-lo aos mais necessitados se preferir… por favor, aceite. Conrad pigarreou para Ernest, que se aproximou da mesa e pegou na oferta. — Muito agradecido, minha senhora. Com a sua licença - despediu-se com cortesia, levantando o chapéu e saiu.

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Conrad, deixou o bolo na pequena escola, fazendo as delícias dos pequenitos residentes e da senhorita Eileen Patterson, a professora solteirona de trinta anos, que se derretia com o duque. Conrad sabia do interesse da mulher, mas não correspondia ao seu vislumbre. Assim como não manifestava interesse pelas outras senhoritas casadoiras e viúvas, e mesmo algumas casadas, que disputavam a atenção do viúvo aristocrata, traído, cego e desfigurado. A sua fama de libertino e de ter vivido no meio da devassidão, tornou-o num suspiro para muitas mulheres que ansiavam pelo amante perfeito. Hélène não se tinha dado por vencida e estava decidida a lutar por ele. Tinha superado até o impossível para chegar até ali, seria uma cobardia desistir à primeira tentativa frustrada. É Loucura perder a fé em todas as orações, porque uma não foi atendida. Desistir de todos os esforços, porque um deles fracassou! Não! não vou desistir de ti, Conrad, mon amour! Je t’aime! Conrad nunca mais apareceu no Empório, mas a cozinheira dos Cartwright, a senhora Margareth Adams, uma viúva sem filhos, era muito coscuvilheira e comentava sobre os todos os passos do duque: as rotinas do castelo e a cobiça da mulherada. Também ela suspirava pelo fidalgo, embora arrastasse a asa para o patrão recentemente viúvo, Brian Cartwright. Margareth comentava de como Conrad se convertera num homem casto e temente a Deus, sem nunca lhe terem conhecido um único romance, mesmo que furtivo. Ainda se cavaqueava por Darlington, da sua falecida esposa Aimée e da traição que fora alvo. Também corriam rumores sobre um aparatoso romance escandaloso que o duque tivera com uma jovem aristocrata francesa, a noiva de um conde escocês, que poderia ser filha dele.

Hélène era uma recém-chegada a Darlington. Ninguém conhecia o seu passado à exceção de Brian Cartwright. A sua falecida esposa, Janette Massoud Cartwright, fora uma dama de companhia dos Médicis, em Nice. Depois de conhecer o jovem americano, foragido às autoridades, emigraram para a Grã-Bretanha, sob a proteção da mãe de Hélène. A Condessa Margot Borbonne de Médicis tinha pedido ao esposo da sua falecida prima, a Duquesa Beatriz de Saboya y Borbonne Lencastre, que a ajudasse e protegesse By Crystal Waters crystal.waters.lovebooks@gmail.com


Janette e a família em Darlington. O Duque de Arrow, Artur Wellington, acedeu ao pedido em nome da esposa que tanto amou e auxiliou a erguer o Empório Cartwright – um espaço de comércio de víveres, utensílios e materiais de construção. Por seu lado, Conrad ficava possesso quando os homens da terra falavam da nova habitante, uma plebeia jovem e muito apetecível, que era hospede dos Cartwright com duas irmãs menores, que fazia doces para o Empório. Comentavam que iriam engordar de comer tantas guloseimas, mas o que mesmo lhe faziam crescer água na boca era a doceira. Eram muitos que a cortejavam, incluindo o Brian Cartwright. Havia ficado viúvo há pouco mais de dois anos e Hélène era uma tentação dentro da sua casa. Porém, ela era poucos anos mais velha do que a sua filha Olívia. Aparte dessa disparidade, Hélène era uma aristocrata e estava apaixonada pelo Lorde Wellington. Conrad deixou de frequentar alguns lugares de Darlington. Não queria sentir ciúmes, dando espaço a um sentimento já esquecido ou, pelo menos, adormecido. Não queria voltar a amá-la, depois de tudo. Amor, paixão e até mesmo a luxúria, era tudo o que não queria voltar a sentir para o resto dos seus dias.

Hélène deixou as filhas com a sua amiga, Olívia Cartwright e dirigiu-se ao Castelo de Arrow, decidida a reconquistar o seu amor. Levava consigo uma cesta com pequenos mimos de fazer crescer água na boca. — Bom dia, senhor. Sou uma amiga de Sua Graça e do senhor Miller. Trouxelhes uma pequena lembrança. – Hélène fez sinal para o cesto de vime. O Mordomo esboçou um trejeito com os lábios e arqueou uma sobrancelha escura. — Desculpe menina, mas nunca a vi por cá e Sua Graça não tem o hábito de receber visitas, muito menos de senhoritas. Creio que seja a nova hóspede do Cartwright, não é verdade? — Conhece-me, senhor? — Já a vi com a menina Olívia. Todos em Darlington comentam da sua chegada. É uma povoação pequena de Midlands, no interior de Inglaterra. Toda a gente sabe de tudo. — E nesse caso, será que poderia avisar sobre a minha visita ao Lorde Conrad Wellington?

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— Lamento, mas Milorde está muito ocupado hoje. Poderia anunciá-la ao Sir Miller, porém, ele saiu numa diligência a pedido de Sua Graça. Passe outro dia, senhorita. — Por favor, senhor…? — Thomas Rusty, um seu criado Milady. – o mordomo fez uma reverência e Hélène ficou ainda mais intrigada. — Senhor Rusty, vejo que já ouviu falar de mim o suficiente para saber que já privei muito com Sua Graça. Poderia ao menos ter a amabilidade de lhe perguntar, se gostaria de me receber? — É só Thomas, Milady… e de facto, o Sir Miller já falou muito sobre si. – Thomas espreitou para o interior do castelo e baixou várias oitavas – Posso perder o meu emprego, Milady. Tenho mulher, filhos e os meus velhos sogros a meu cargo. — Pois poderei recomendá-lo junto da minha tia-avó, Sua Alteza Carlota e à sua cunhada a Infanta Christine, com a garantia de que duplicaria o seu rendimento anual. Thomas fez uma reverência para Hélène entrar. — Milorde está na sala interior. É a terceira porta, ao fundo do corredor. – Thomas indicou com uma mão o local a seguir – Se a anunciar, certamente me dirá que não a quererá receber, Milady. — Irei então. E por favor Thomas, leve o cesto. Poderá repartir os doces com a sua família. Hélène seguiu pelo longo acesso e entrou na alcova indicada, fazendo-se anunciar com um leve toque na porta entreaberta. — Thomas?! Ernest?! – vociferou Conrad, sentado numa poltrona, junto à lareira. Sentiu no ar o aroma fresco e floral e levantou-se muito intrigado – Que diabo…Hélène?! Ficou fulo da vida quando Hélène entrou. Não a queria ver e muito menos estar junto dela. Poderia fraquejar, deixar-se levar pela atração visceral que sempre sentiu por ela. —

Conrad, eu vim porque precisamos de falar.

O duque voltou a sentar-se na sua poltrona, remetendo-se ao silêncio e demostrando total indiferença pela sua presença. Hélène voltou a insistir, preenchendo o vazio entre eles e diminuindo a distância. Aproximou-se dele e tocou-lhe num ombro, com um toque suave. —

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Ele agarrou-lhe no pulso com força e retirou a mão dela de cima do ombro. — Não tens nada que fazer aqui. Vai-te embora. — Não vou desistir de ti, mon amour. Nem que para isso tenha que me humilhar e rastejar aos teus pés. — Hélène, não quero que te rebaixes dessa maneira. Vai e leva contigo o que resta do teu amor próprio. — Non ! Je t’aime ! Je t’aime Conrad ! E toi aime à moi aussi ! Moi non plus! Hélène não resistiu e deslizou sobre ele, caindo propositadamente seu colo. Entrelaçou os dedos no seu cabelo revolto e roçou os seus lábios nos dele, envolvendo-o num beijo ardente. Conrad resistia-lhe a muito custo, sentindo o sangue a ferver-lhe nas veias e um premente desejo a elevar-se dentro de si, querendo possui-la, loucamente, como antes. Correspondeu-lhe ao beijo, mordiscando-lhe o lábio inferior, trocando a raiva pela luxúria. As mãos dele ganharam vida e, antes que pudesse reprimir a tentação, desfez o laço do vestido de cetim e desembaraçou-se dos atilhos do corpete, deixando-a nua sobre ele, à mercê das suas mãos e do seu toque possessivo. Não parou de beijá-la e as bocas fundiram-se no calor da união que os cegava numa necessidade insaciável. Ela ofegou quando Conrad libertou o pénis das calças e os nós dos dedos lhe roçaram o sexo. Hélène conseguiu tocar-lhe na glande deixando-o eufórico e desgovernado. —

Não Hélène. Não!

Num ato desesperado de autocontrolo, Conrad tentou afastá-la. A expressão do rosto dele ensombrou-se quando ela deslizou por ele, num ato de desespero e ajoelhouse aos seus pés. Não se fez de rogada em satisfazê-lo luxuriosamente, passajando a língua por toda a extremidade e detendo-se na coroa, molhada pela pré-ejaculação, e purpura do membro ereto. Ele gémeo e bradou um suspiro sofrível: —

Não Hélène. Não faças isso! Estou quase a vir-me.

Hélène abriu a boca e recebeu os primeiros doze centímetros do seu voluptuoso pénis. A glande atingiu o fundo da garganta e ele gémeo novamente e tentou recuar. Agarrando-lhe os cabelos na nuca, pressionou-a para a retirar do seu órgão, porém Hélène não se deteve e engolia-o cada vez mais fundo, chupando-o e acariciando-o, moldando e espalmando a base dos testículos com uma das mãos. A pressão formou-se-lhe na base da espinha e sem aguentar, movimentou os quadris a cada impacto da sua estocada. Hélène manipulando o segredo que as cotovias

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usavam na Maison, fê-lo estremecer e gemer de prazer como nunca o tinha ouvido. Num orgasmo sem igual, Conrad por fim explodiu, gritando por ela, jorrando o sémen na sua boca que se deliciava com a sua essência, nos lábios da mulher que amava e quase perdeu os sentidos. Arrependido de se ter deixado levar pela luxúria, Conrad levantou-se indignado, guardando o seu membro saciado dentro das calças e abotoado a braguilha. Tateou o tecido no chão e atirou-lhe com o vestido à cara. —

Veste-te. – ordenou implacavelmente.

Hélène estava nua, sentada no chão, sentindo-se humilhada como uma das cotovias da antiga Maison. Olhou para ele suplicando os seus afetos e o conforto das suas palavras e dos seus abraços, mas somente sentiu o seu desdém e indiferença. — Veste-te e sai! Não voltes... Não irei cair na tua armadilha… novamente. – respondeu com rispidez. — Tu tens é medo, porque não consegues resistir-me! Acabei de sentir o quanto ainda me queres e quanto me desejas! - retorquiu enquanto se vestia. Conrad riu desbocadamente, como fazia o velho Basilic. — Desejo? Tesão? Por Deus Hélène, sou homem! Além disso usaste o segredo das cotovias para me fazeres vir daquela maneira. — Não, Conrad. Tu amas-me eu senti isso. Disseste o meu nome quando caíste pelo precipício. — Qualquer um vibra quando qualquer mulher o chupa intensamente e principalmente se fizer uso do segredo! É sublime vir-me na boca de uma mulher, mesmo de uma vadia, como tu. — Como? – Hélène tentou agredi-lo, deferindo-lhe pequenos socos no peito, não produzindo o efeito que esperava. Queria infligir-lhe a mesma dor que acabara de sentir com o seu comentário sujo e ordinário que a tornava vulgar. – És um ordinário, um porco imundo! Odeio-te! — Ainda bem! Assim não voltas… ou talvez sim… Hélène agarrou numa jarra de vidro que estava numa mesinha de centro e atiroulha enraivecida, falhando de prepósito. Queria bater-lhe, esmurrá-lo, acertar-lhe com alguma coisa que o magoasse tal como ele a havia ferido. — Queres matar-me? Mata-me então! Aimée não conseguiu, mas tu sempre foste melhor do que ela em tudo, pode ser que consigas. Para mim é melhor, escuso de te ver a chafurdar com outros por aí, na minha cara…

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Sorriu desbocadamente e procurou ardilosamente dizer-lhe algo mais cruel ainda, para que ela não voltasse a procurá-lo e de preferência abandonasse Darlington. Não estaria a salvo com ela por perto, poderia ceder e cair-lhe aos pés a qualquer momento e suplicar pelo seu perdão. Por isso acrescentou: — Sabias que em Darlington, comentam que a minha maior proeza na vida, foi ter convertido uma prostituta como Aimée, numa dama de sociedade. Todavia, eu gabo-me do contrário, porque consegui converter uma aristocrata como tu, numa reles prostituta! É por isso que… aprecio muito a senhorita Eileen Patterson, é uma mulher feita, casta e normal. Perfeita para o papel de duquesa, que penso em atribuir-lhe em breve! Mas poderás servir-me para alguns ensaios antes do casamento! Posso pagar-te bem pelos teus serviços.

Hélène retirou-se de imediato, lavada em lágrimas. Atónita e desnorteada saiu pela escadaria do castelo em prantos, resvalando nas lajes húmidas e caindo. Thomas e um dos criados, Tobias socorreram-na, porque tinha ferido um joelho. Queriam levá-la para dentro do castelo para a curar e chamar Conrad, que saberia o que fazer, mas Hélène debateu-se e pediu só que a deixassem partir. Miller acabava de chegar e acudiu à situação. — Hélène, o que aconteceu? O que fazes aqui? — Escorreguei nas lajes, Miller. Poderias levar-me para Darlington? — Não seria melhor entrares e lavar pelo menos a ferida? O Conrad poderia… — Não Miller. – respondeu implacavelmente, fazendo um gesto brusco e pondo-se direita – Se insistires, eu vou mesmo a pé. — Está bem, está bem. Eu levo-te, desde que sejas vista pelo Alfred, o novo médico. — De acordo Miller. – Hélène apertou a mão do mordomo – Thomas, estou muito agradecida pela sua amabilidade. É provável que tenha problemas agora com o seu patrão. De facto, a minha visita inesperada foi muito inoportuna. Procure-me no Empório Cartwright se precisar de mim. Poderei escrever hoje mesmo à minha tia para o enviar para a Escócia, com toda a sua família. Thomas agradeceu a atenção da dama e retirou-se.

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O hospital-ambulatório de Darlington era recente, tinha sido inaugurado há uns meses e ainda só contava com um médico recém-formado, com pouca experiência. Sir Alfred Wolverhampton era um jovem alto, bem-parecido filho de uma camponesa da zona e de um aposentado general germânico. — O que aconteceu? – questionou o médico, perdendo-se nos olhos azuis de Hélène. — Milady sofreu uma pequena queda, numa laje exterior do castelo. É uma querida amiga minha e muito importante para o ducato de Arrow, se é que me entendes. Alfred entendeu o olhar fulminante de Miller. Significava que era uma mulher intocável, protegida por ele e propriedade do Duque de Arrow. Todavia, não se deixou intimidar e arqueou o lábio. — Todos os meus pacientes são muito importantes, Sir Miller. Sejam eles do interesse ou não do ducato de Arrow. – examinou cuidadosamente o joelho de Hélène – A senhorita teve muita sorte, não é nada partido. Apenas uma escoriação superficial. Estava a fugir de alguém? — Escorreguei simplesmente. – respondeu sucintamente – Eu tinha dito ao Miller que, vir ao hospital por uma simples ferida era excesso de zelo. Eu mesma sei curar estas escoriações. — Sabe? — Sim. aprendi com as freiras, no convento onde estudei. — De qualquer forma, é sempre bom ser vista por um médico. Se foi no castelo, Sua Graça poderia tê-la assistido. Mesmo na sua condição limitada, facilmente a teria acudido. Já o vi fazer procedimentos mais elaborado aqui. — O Conrad? Ele exerce medicina aqui? — É invisual, mas tem um domínio fora do comum. Deteta qualquer osso partido, por mais impercetível que seja. É bastante hábil, principalmente em casos respiratórios. Tem uma audição muito apurada e concisa. Oh, que Deus lhe valesse! Só faltava mais um a elogiar aquele homem desprezível. — Vejo que lhe tem muito apreço e consideração, doutor. — O Lorde Wellington é meu patrono. Graças a ele tenho trabalho perto de casa. Não poderia estar-lhe mais agradecido. Tem feito muito pelos cidadãos de Darlington. — É verdade. Tem sido um verdadeiro Deus nesta terra, tão esquecida pelo poder dos britânicos. – gabou a enfermeira Valerie Malbourne. Um Deus na terra e um Demónio comigo!

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Miller observou o desconforto na cara de Hélène e tentou por um fim à conversa. — Alfred, será que já terminaste? — Sim. está pronto. Só tem que descansar agora menina. Tente não andar com as suas irmãs ao colo, pelo menos hoje. — Irmãs? — Todos sabemos que chegou há pouco tempo com duas meninas de colo e de que é solteira. A não ser que sejam suas sobrinhas? — Sobrinhas? Miller tossicou e aclarou a voz. — São parentes do Brian Cartwright. Milady está a tomar conta das meninas, por enquanto. Vamos Milady? Miller saiu com Hélène pelo braço. —

Miller porquê da mentira? São minhas filhas e não pretendo esconder esse

facto. — Hélène, as pessoas aqui são muito conservadoras e tu ainda és uma dama solteira. Já andaram a questionar o próprio Brian. Pensam que são filhas bastardas dele e que tu és uma ama das meninas. — Ama das minhas filhas? — Há quem pense pior. - Miller olhou para os lados e continuou - Que és amante dele e regressaste assim que a Janette faleceu. Do género… “rei morto, rei posto”! — Oh! Que horror! –levou as mãos à boca para suster um grito abafado – Disseram isso ao Conrad? — Comenta-se muitas coisas, Hélène. O que vieste cá fazer realmente? Correr atrás do Conrad, suponho. — Sim, foi isso mesmo, mas agora… vejo que não vale a pena. Ele está irredutível. — Darling, poupa-te de humilhações e segue o teu caminho. Refaz a tua vida e esquece o passado. O Conrad sentiu-se muito traído. A prisão, o julgamento, a traição da Madame Avallon e das cotovias, reabriram velhas chagas malcuradas. — A tal de Aimée, não é. Ele deve tê-la amado muito. — Estava disposto a morrer por ela. Tentou salvá-la do massacre de setembro de 1792, mas foi ferido por um jacobino, assim como eu. Nunca se recompôs da perda. nem mesmo para procurar o filho de ambos. — O Lorde Henry Wellington. A Olívia falou-me dele.

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— Tudo o que o Conrad quer neste momento é voltar a reconquistar o filho. O seu legado. É por isso que está tão empenhado em reabilitar o seu título e a reconstruir a sua imagem perante Darlington. Por causa dele. — Por isso a escola, o hospital, a sua castidade… temente a Deus. — Hélène, tu és… - Miller conteve-se em tocar-lhe. Ela não te pertence, idiota – Posso ajudar-te a voltares para casa. Posso levar-te. — Casa? Oh Miller, eu não tenho casa desde que os meus pais foram decapitados. Até mesmo antes disso. Passei mais tempo no convento de Toulouse do que em Nice. Mas, tens razão. Tenho que dar um rumo à minha vida e esquecer o Conrad. — Hélène... — Miller, desculpa por interromper-te. Não quero que sintas pena por mim. Podes informar Sua Graça que estarei de partida dentro de poucos dias. Depois da festa das flores, do May Day3 , na primeira segunda-feira de Maio. Prometi à Olívia que a ajudaria e não pretendo faltar à palavra dada.

Depois do incidente, o jovem médico, rapidamente se perdeu de amores por Hélène. Queria fazer-lhe a corte e tencionava casar com ela. No entanto, Hélène não correspondia ao apelo do jovem Alfred. Decidida a esquecer o passado e refazer a vida longe de tudo o que lhe faria lembrar Conrad. Partiria para a Florença, onde eram originários os Médicis e recomeçaria do zero, como uma recém-viúva.

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Capítulo 9

Toda a pacata população de Darlington estava presente na festividade que decorria nos campos verdejantes e floridos do ducato de Arrow. As raparigas e os rapazes dançavam à roda da árvore, entrelaçando as fitas coloridas, tecendo a alegria entre sorrisos, enquanto as crianças faziam coroas de flores que adornavam as cabeças mais festivaleiras. As senhoras com filhas casadoiras embelezam as jovens debutantes, aguardando pela chegada dos mais ilustres convivas – os jovens aristocratas que fariam a sua aparição no cabriolé do Marquês de Durham: Lorde Henry Wellington, Lorde Samuel Saint-Maryland e o Lorde Douglas Evans. Outras jovens com menos expectativas, embeiçavam-se pelo jovem médico, Sir Alfred Wolverhampton, pelo administrador Sir Benjamin Miller ou pelo advogado, um filho da terra com Sir James Patterson, um órfão criado pelo vigário e pela tia solteirona, a professora Eileen Patterson. As viúvas e as outras solteironas, cobiçavam os mais velhos disponíveis desde o topo do bolo como o Duque de Arrow ou até mesmo o comerciante estrangeiro Brian Cartwright.

Olívia e Hélène estavam numa pequena banca improvisada, vendendo doces e delicias de fazer crescer água na boca: suspiros, broas de mel, bolinhos de canela e rosas de glacê que guarneciam fatias de pão de ló. — Não vais concorrer ao título da rainha das flores, Olívia? – perguntou Hélène. — Ainda estou de luto pela minha mãe e, para além disso, não sou suficientemente bela. Porque não concorres tu? Hélène soltou uma sonora gargalhada atraindo todos os olhares curiosos que a vigiavam na surdina. Conrad reconheceu o som e estremeceu ao senti-la tão perto. — Porque te ris? És lindíssima e tens todos os homens de Darlington e arredores aos teus pés.

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— Primeiro porque tu sabes, as meninas… - Hélène apontou com uma mão para as filhas que brincavam com as irmãs pequenitas de Olívia – Não sou uma donzela, Olívia. E não tenho os homens todos aos meus pés. Pelo menos… - não o que eu quero! – E no que se refere a ti, és uma rapariga lindíssima que se esconde por detrás dessa roupa cinzenta e esses óculos fajutos. Tenho a sensação de que és uma borboleta que se enclausurou no seu casulo de lagarta por algum motivo de calças. Olívia fez-lhe um sorriso cúmplice e avistou ao longe Henry e suspirou, dando uma discreta cotovelada à amiga. Os seus olhos indicaram um garboso jovem alto, com o cabelo revolto e com laivos dourados. Era um rapaz extremamente belo e jovial. Um doce pecado. — —

Somos duas infelizes e não correspondidas, amiga. É ele, o Henry Wellington? O filho do Conrad e da Aimée?

Olívia fez um aceno de cabeça e desviou o olhar quando o jovem cruzou o olhar com o seu. — Oh, ele está a olhar para ti, Olívia! Não desvies o olhar. — Já não sou uma tolinha que acredita em histórias de contos de fadas, Hélène. Tenho os pés bem assentes na terra. – a amiga franziu o sobrolho e ela acrescentou – Estás a ver aquele moreno franzino que está com ele? — Sim, estou. Chegaram juntos. — É o Lorde Samuel Saint-Maryland, filho do Marquês de Durham, o tutor e guardião do Henry. Foi ele que o criou e deixou-me bem claro que os aristocratas se divertem com as jovens do povo e casam com as damas finas da nobreza. — A sério? Esse déspota disse-te isso? Olívia acenou positivamente. — Antes do regresso do Lorde Conrad Wellington, o Henry passava todos os verões em Darlington, com o Samuel e a família Saint-Maryland. Há dois anos, quando a marquesa faleceu e refugiaram aqui para fazer o luto, o marquês flagrou-nos num beijo mais ousado. Passou-me um sermão e fez-me descer à terra, reduzindo-me à minha insignificante classe de filha de emigrantes, que pouco mais valia do que uma criada de quarto. Somos uns miseráveis comerciantes de hortaliças e argamassas. Certamente que casarei com um empreiteiro ou um carreteiro de brita e terei uma ninhada de moços para servir o exército da salvação, como o meu irmão Jásper, enviado para a frente de batalha, como um soldado raso, a serviço da coroa. — Não sejas tão pragmática e pessimista Olívia. De certeza de que ele pensa de maneira diferente. Consigo ver isso no olhar dele. E não te esqueças de que a mãe

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dele era uma… - uma prostituta batida de Paris, amante de um devasso pintor, uma adúltera interesseira e cruel - … uma modelo de gravuras. — Mas o teu amado Conrad transformou-a na Duquesa de Arrow. Uma fina dama de sociedade. — Uma adúltera, praticamente uma bígama que vendeu o corpo a metade de Paris! – retorquiu Hélène sem conseguir conter o rancor que sentia por Aimée. Embora nunca tivesse conhecido, odiava-a com todas as suas forças. E odiava-se a ela própria por se ter humilhado a Conrad, implorando e rastejando por ele, mendigando um pouco do seu amor, transformando-se numa rameira vulgar.

Hélène estava perdida nos seus pensamentos, quando foi abordada por um dos três jovens aristocratas. Este era o mais baixo dos três e mais anafado, muito loiro e com cara de um libertino debochado. — Ora viva! Bons olhos as vejam… – o jovem Douglas Evans levantou o chapéu e mordiscou lascivamente os lábios para Olívia - … deixem-se adivinhar: Cendrillon e… - apontou para Hélène - …. Le Petit Chaperon Rouge 4! Hélène colocou as mãos na cintura e preparou-se para lhe responder à letra, sendo impedida por Olívia, que lhe murmurou: — Não vale a pena. É um pervertido da pior espécie. — Pervertido eu? – Douglas arrufou e os amigos acudiram ao local, que estava a chamar demasiadas atenções, especialmente os ouvidos aguçados de Conrad – Ora minhas coisinhas doces, vocês montaram uma banca. São rapariguinhas de limpezas e com cestinhos cheios de guloseimas para atiçar o desejo de um lobo mau, como eu, o futuro Conde de Iorqueville. — Basta Douglas! – Henry colocou-se à frente do amigo para lhe barrar o olhar para as damas – Vamos embora. — Estás ofendido por querer provar o teu docinho de morango, Henry? Ou queres defender a honra da amante do teu pai? Sei muito bem que é essa francesa aí, o Lorde Thomas Mckinley contou-me toda a história em Cambridge, quando o teu pai foi preso. — Essa dama faleceu, Douglas. O próprio Raynard Mackeswell o confirmou. - interveio Samuel – Estás a ser inoportuno com as moçoilas e estamos a atrair atenções desnecessárias.

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— Querem-nas para vocês os dois? Para se divertirem com as lacaias antes de escolherem as vossas noivas aristocratas na próxima temporada? Sejamos justos, não me importo de ser o último a prová-las. — Basta! Saiam daqui os três! Desapareçam seus desocupados. – enxotou Brian Cartwright. — Tome tento na língua vendedor ambulante. Somos aristocratas. Pertencemos à nata da sociedade, seu lacaio. – cuspiu o emproado Samuel – Peço desculpas às moçoilas aqui presentes pela inconveniência do meu amigo, Lorde Evans, que está um pouco ébrio. Mas você tem que ter mais respeito e prestar vassalagem aos monarcas. Uma palavra do meu pai junto de Sua Majestade e será deportado para o seu país. Brian olhou para Olívia e Hélène, seguidamente para as outras filhas pequeninas, Juliette e Jane, de dez e oito anos. Baixou a cabeça e fez uma vénia aos jovens, como um mero servo da gleba sem valor perante os seus senhores feudais, sendo arremessado para a obscura Idade Média. — Queiram perdoar este vosso humilde e ignorante vassalo, vossas senhorias. — Pai! – reprendeu Olívia, franzindo o sobrolho, sentindo-se ainda mais humilhada na frente de Henry. — Ainda bem que se redimiu, seu verme asqueroso. – arrotou Douglas – É por isso que detesto gentalha estrangeira. Só respondem a chicotadas e temos que estar sempre a puxar dos galões para com que nos respeitem, quando deveriam lamber as nossas botas. Henry ainda agarrou no loiro desembestado, mas este num impulso, voltou-se para trás para cuspir no comerciante. Olívia abafou um grito e Hélène, agitou-se, sem conseguir conter-se. — Como se atreve, seu nefasto depravado. Exijo um pedido de desculpas ao senhor Brian Cartwright e à sua filha, Olívia Cartwright. E antes que se atrevam a invocar Sua Majestade, o Príncipe Regente ou qualquer outro membro da casa real de Hanôver, e la crème de la crème da sociedade londrina, que fique bem claro que estão diante de Lady Hélène Borbonne de Médicis, sobrinha-neta de Sua Alteza Carlota de Mecklemburgo-Strelitz, esposa de Sua Majestade Jorge III. Prima do Príncipe Regente, Sua Alteza Jorge Augusto Frederico. E se querem puxar por mais galões e influências, fiquem cientes que eu ainda possuo apadrinhamentos com o Lorde Robert Jenkinson e primeiro-ministro Spencer Perceval.

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Henry engoliu em seco. Estava perante a amante do seu pai. E se os rumores fossem verdadeiros, uma ou as duas pequeninas cabecinhas loiras que brincavam com as meninas Cartwright, era sua irmã por parte de pai. Não deteve muito tempo a processar a informação, porque Douglas voltou à carga, largando várias gargalhadas bem sonoras atraindo a coscuvilhice alheia e provocando o caos, num lamentável enxovalho em praça pública, fazendo com que a multidão se acotovelasse para ouvir os seus impropérios maculosos. — Eu sabia! A amante do duque cego e decrépito, que vivia amasiada com ele num bordel de Paris. Uma vadia aristocrata, mãe solteira, que desonrou o pobre noivo Raynard Mackeswell. Devia era ter vergonha nessa fronha, em vez de cuspir as suas origens monárquicas. – fez um semicírculo e atiçou a população – Olhem! É uma devassa que vive entre vós! A amante do corno Conrad Wellington, o vosso precioso duque que abandoou o próprio filho para viver entre prostitutas e gigolos. Uma mulher que se fez passar por morta e atenta contra a moral e os bons costumes, esfregando-vos na cara as suas filhas bastardas. — Chega Douglas! – Henry levantou o peçonhento Douglas pelos colarinhos e socou-o com um punho direto na fuça, fazendo-o aterrar de ventas na erva.

Conrad apercebeu-se do tumulto e ficou transtornado. Possesso, bufando como um touro enraivecido e grunhindo com um animal ferido. Por momentos, viu-se enredado no passado, preso à memória fatídica do massacre de Paris, a 2 de Setembro de 1792, em que ouviu Aimée a suplicar pela vida e a exalar um último suspiro quando foi degolada na sua frente – o único dia da sua vida em que deu Graças a Deus pela sua cegueira maldita, porque seria insuportável vê-la morrer. Todavia, mais uma vez a história teimava em repetir-se, como um ciclo vicioso e maligno – uma sina, uma maldição! Desta vez, não! Não vou permitir que Leves a minha Hélène. Vós que sois Deus Pai, Misericordioso, perdoai os meus pecados e tende compaixão de mim. Acolhei a minha súplica e leva-me ao encontro da minha amada, para que a salve de todo o mal. Conrad vociferou para Ernest, que teria de ser mais uma vez os seus olhos e guiálo ao encontro da sua amada. Sentia o seu aroma fresco e movia-se pelo seu olfato apurado. A população iria linchá-la, apedrejá-la, assim como a família Cartwright.

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Miller também correu em socorro de Hélène e das meninas. Chamou Tobias, que foi bastante célere, e pegou nas crianças, Constance e Anna Clara, com os dois braços, enquanto Miller levava as meninas Cartwright para a carruagem do duque. Com as quatro crianças a salvo e protegidas por Tobias e Niall, um sequaz armado e forte como um boi, Miller correu para junto da confusão. As pessoas eram pacatas, mas muito rancorosas com quem perturbasse a paz de espírito da comunidade e por quem atentasse contra os bons costumes, o decoro e o recato. Miller avistou o desgraçado Brian Cartwright, a sangrar do nariz e com os olhos arrochados. Olhou em volta e não viu sinal das damas, nem de Conrad ou Henry. Puxou da arma e soltou um disparo para o ar, de forma a dispersar a multidão. Todos se afastaram e o médico Sir Alfred Wolverhampton e a senhora Margareth Adams correram para socorrer o comerciante espancado. —

Viram a Olívia e a Hélène? Conrad?

O médico acenou negativamente com a cabeça e Margareth chorava, limpando as lágrimas ao avental. — Levem-no para o Castelo de Arrow e prestem-lhe os devidos cuidados. Encontramo-nos lá. Miller correu para a carruagem onde tinha deixado as meninas. Avistou Ernest. —

Conrad? Onde está o Conrad?

Ernest abriu a carruagem, onde estavam as quatro meninas muito encolhidas e assustadas, a chorar aos prantos. Conrad estava com Hélène nos seus braços, desacordada, tentando encontrar-lhe o pulso. Hélène que tinha sido apedrejada. Estava inerte, inconsciente, ferida e ensanguentada, quase sem respirar. Partiram de imediato para o Castelo de Arrow. Conrad gritava em desespero acariciando o corpo da sua amada. Guiado por Miller e Ernest, recusando-se a entregar Hélène, levou-a nos braços para o seu quarto para a socorrer, enquanto as crianças foram vistas e acolhidas pela governanta Ingrid e outras criadas. Miller reuniu homens para fazer uma busca à procura de Olívia. O médico chegou na sua charrete com Brian Cartwright e Margareth Adams, além da sua fiel enfermeira Valerie Malbourne. —

Viram a menina Olívia Cartwright?

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Brian choramingava agarrado às mãos de Margareth e Miller pensou o pior. Soltou um impropério, enquanto o médico correu para acudir aos berros de Conrad, que entoava toda a fortaleza de pedra. O advogado, Sir James Patterson, surgiu a cavalo, esbaforido. — O Empório e a casa dos Cartwright foram incendiada, assim como o Empório. Está tudo em chamas. Disseram-me que o senhor Brian e as meninas tinham vindo para cá. A Olívia está com elas?

Hélène recuperou a consciência e Alfred, enfiando a viola no saco - «Se o que tens a dizer não é mais belo que o silêncio, então cala-te» - retirou-se com cortesia, deixando o casal a sós. —

Constance? Anna Clara? – bradou sobressaltada.

Conrad tentou acalmá-la, pegando-lhe nas mãos. — Estão bem, aos cuidados da Ingrid e de outras criadas. As meninas Cartwright também. — Olívia e o senhor Brian? — O Brian está a repousar num dos quartos. Já foi atendido pela enfermeira Malbourne. — E a Olívia? Conrad fez um silêncio ensurdecedor e Hélène ergueu-se, sentando-se na cama. — A Olívia? Onde está a Olívia? — O Miller encarregou-se pessoalmente em encontrá-la. Possivelmente refugiou-se da população. Será encontrada sã e salva. Prometo-te! – assim o espero – Os responsáveis serão punidos e castigados pelo que fizeram. — Os responsáveis são os amigos do teu filho! Os janotas aristocráticos que incitaram a comunidade… — Sejam quem forem, serão severamente punidos. Não permito ataques selváticos no meu ducato, principalmente contra damas e crianças. O Henry também desapareceu, no meio do tumulto. O Samuel anda à sua procura dele. Conrad acariciou-lhe as mãos com um beijo lânguido e Hélène retraiu-se com indignação, rejeitando o seu toque. Ele esboçou um sorriso e disse:

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— Recordo-me dessa reação… foi a mesma que fizeste quando perdestes a consciência na Maison! Curioso… o destino é incerto, mas certamente destinado. Sempre te trás de volta para mim, para a minha casa e acabas sempre na minha cama, no meu quarto… sabias que onde ficaste na Maison era o meu quarto? — Não! Mas não te preocupes, sairei de imediato com as minhas filhas. Não precisas sequer mostrar-me o caminho da rua, eu já o conheço de cor. — Não Hélène. Não vais a lado nenhum. Nunca mais! — A sério? Vais aprisionar-me aqui? — Sim! Para sempre! Como aprisionaste o meu coração! Eu amo-te Hélène! Apaixonei-me por ti desde a primeira vez em que te senti, que percorri o teu corpo com as minhas mãos para verificar se estavas ferida, que inalei esse teu aroma floral, como perfumadas rosas vermelhas. — Ficar contigo, Conrad? Depois da forma como me trataste da última vez em que aqui estive, no teu precioso castelo? Esqueceste-te da tua grande proeza? Que me transformaste numa prostituta? Agora queres reconverter-me numa dama? — Hélène, perdão meu amor. Perdão! Eu sei que fui muito duro contigo. Estava muito ferido por dentro. Senti-me traído. — Não fui eu que te feri, que te menti, que te traí. Se caíste numa armadilha, eu também caí. A mim também me mentiram. Também fui traída e ferida, mas não vou odiar todas as rosas, só porque uma me espetou! Recusar todo o amor, só porque um me foi infiel. — Hélène, eu nunca te fui infiel, meu amor. Eu... fui muito magoado por Aimée. — Tu magoaste-me. Humilhaste-me. Desprezaste-me por causa dela. Não tenho culpa do que ela te fez com o Rousseau. Não conhecia nenhum dos dois. O Raynard é que o conhecia bem por causa daquela Sarah. Sempre foram amantes, sabias? — A cotovia judia? — Era amante do tio Ian Mackeswell. Ela era uma criada de Grantham e quando teve um filho dele, o Richard, o meu tio levou-a para Paris, para uma casa de tolerância. — Para a Maison des Alouettes ? — Quando a vi lá, não a reconheci de imediato. Haviam passados alguns anos e eu era uma criança na altura. Mas depois, ouvi conversas entre os criados quando voltei para a Escócia. — Faz sentido. – Conrad abeirou-se dela e revolveu o cabelo – Hélène, como chegaste à Maison? A Madame Avallon disse-me que tinhas passado mal, por causa da gravidez, mas estavas muito… parecias… alienada, entorpecida por alguma substância…

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Conrad levantou-se. Claro! Alguém deveria ter-lhe dado opiáceos ou láudano! — Bebeste alguma coisa quando entraste na Maison? E como é que o Boris te deixou entrar? — Eu não sabia que era um bordel. Pensei que o Boris era o mordomo, um pouco diferente do usual, mas estava em Paris. Tudo lá é mais excêntrico e menos conservador. – Hélène recostou-se na cabeceira da cama e continuou – Disse-lhe que queria falar com o pintor Rosseau e mostrei-lhe a carta da minha mãe, ou aquela carta que pensava que era da minha mãe, quando o Keith ma entregou. Ele chamou a Augustine e essa Sarah trouxe-me um chá. Achas que tinham colocado alguma coisa? Drogaram-me? — Creio que o chá teria opiáceos. Assim terias que ficar por lá, pelo menos até o bebé nascer. O Raynard não queria criar um filho de outro. Possivelmente, livrarse-iam da menina quando nascesse e a Sarah avisá-lo-ia quando isso acontecesse. — E tu, Conrad? Como te encaixas nesta história? — Queriam que eu me apaixonasse por ti. Sabiam melhor do que eu, de que isso aconteceria. Que te seguiria até à Escócia e assim me destruiriam. Para poderem prender-me e condenar-me por prevaricação e atentado ao pudor, além de danificar a propriedade do Raynard. Todos eles ficavam a ganhar. Fui tão imbecil. Hélène irritou-se e levantou as cobertas para sair da cama. — Onde vais, Hélène? — Vou-me embora, Sua Graça. Não quero que se sinta um imbecil por minha causa. Lamento ter transtornado a sua vida. Fui uma tolinha ingénua que acreditou num conto de fadas. — Lamento não ser o seu príncipe encantado, Milady. – Conrad fez uma vénia exagerada e acrescentou sarcasticamente – Sou apenas um sapo feio e cego, habituado a chafurdar em pântanos asquerosos. — Nunca quis um príncipe, Milorde. Apenas que um cavaleiro suficientemente corajoso, para me resgatar da torre onde o perverso dragão escocês me aprisionava. No entanto, já estou livre de qualquer maneira e não penso em voltar a deixa-me aprisionar por outro tirano. Conrad guiou-se pela sua voz e desta vez teve uma atitude de um verdadeiro cavaleiro: ajoelhou-se aos pés da sua amada, levou uma mão ao peito e suplicou pelo seu amor, pedindo-lhe perdão. — Perdoa-me meu amor, pelas minhas faltas, pelas minhas dúvidas, pelo meu comportamento desesperado e por te condenar pelos demónios do meu passado. Amo-te Lady Hélène de Médicis e não quero renunciar a vós, senhora do meu coração.

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– pegou-lhe nas mãos e beijou-lhe os nós dos dedos – O seu cavaleiro está disposto a enfrentar qualquer tormento ou dragão demoníaco. Qualquer sacrifício será mínimo para vos resgatar da sua torre e levá-la-ei comigo ao altar. Se me achardes digno de vós e conceder a este cavaleiro errante a vossa mão, prometo-vos solenemente, amá-la e respeitá-la até o último dia da minha vida, senhora minha. Conrad retirou um anel com um diamante azul, que havia guardado no bolso e colocou-o cuidadosamente no dedo anelar. — Oh, Conrad! Este é o anel da minha tetravó, Catarina de Médicis? É diamante real, le cœur de l’étoile 5, da coroa francesa! — Como me disseram que são os teus olhos… que nunca poderei ver, fisicamente, mas na minha escuridão, vejo-os como as estrelas que me iluminam, que me guiam pelos céus e pelos mares, rumo à derradeira felicidade, onde estás tu e os nossos filhos. Lady Hélène, concedes-me a honra de ser minha esposa? — Oui, mon amour ! Conrad Je t’aime ! Oh, oui je t’aime mon amour ! — Oh, mon amour Hélène, Je t’aime… pour toute l’éternité ! Conrad levantou-se e apertando-a em seus braços, deliciou-se nos lábios da sua amada, num longo e apaixonado beijo. Hélène puxou pelas lapelas da casaca, levando-o até ao seu leito e fazendo-os cair sobre a cama. Conrad rugiu quando ela o montou e lhe arrancou os botões da camisa, acariciando cada pedacinho da sua pele crespada. Fê-lo gemer e suspirar por mais quando sentiu a sua língua lânguida que o percorria. —

Oh Hélène… minha Hélène, como eu te amo!

Conrad agarrou-lhe as ancas, assim que ela libertou o faminto pénis, erguido com toda a sua avidez e, livrando-se da camisa de seda que ela envergava, sentou-se na cama, tomando-lhe os maravilhosos seios com a sua boca e cingindo o botão de prazer em círculos concisos e apertados. Hélène palmilhava a sua extremidade em todo o cumprimento, passando o polegar pela glande húmida da pré-ejaculação. Num gesto suave, Hélène, sentada sobre ele, aproximou-se dele e Conrad deslizou dentro dela, erguendo-a e baixando-a sobre ele, movendo-se ambos em uníssono, gemendo e suspirando a cada investida. Ela convulsionando-se sobre ele, querendo-o submergir dentro dela, numa avidez desesperada. —

Espera por mim… não te venhas sem mim, meu amor.

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— Conrad!

Não consigo, mon amour. Não vou conseguir esperar… eu… oh… ah…

Conrad deitou-a de costas e a um ritmo avassalador, deu-lhe tudo o que ela necessitava em repetidas investidas, fazendo-os cair, simultaneamente, num orgasmo inigualável para ambos, arrastando-os numa vaga de prazer irresoluta, flutuando para outra dimensão transcendental. — —

Je t’aime mon amour, Conrad ! Hélène, Je t’aime… pour toute l’éternité, mon amour !

Depois de fazerem amor, Conrad recusou-se a viver mais um segundo da sua vida sem a mulher da sua vida e chamou o vigário para celebrar o casamento. — Perdoa-me meu amor, por não teres a faustosa boda que mereces, com um vestido digno de uma duquesa, convidados, uma festa sumptuosa, mas não quero, nem posso viver nem mais um milésimo de segundo sem ti. Casas comigo, assim mesmo? — Oh, Conrad, mon amour. Eu não quero nada dessas conveniências. Só preciso de ti! — Oh Hélène, é por isso que és o grande amor da minha vida! O vigário Patterson chegou ao Castelo de Arrow, escoltado por Miller. Vinham também James Patterson e Olívia Cartwright, sã e salva e totalmente ilesa, para surpresa de todos. — Olívia! Minha querida Olívia! – Hélène abraçou a amiga – Onde estavas? No vicariato? — É uma longa história amiga, mas estou bem e vamos é tratar do teu casamento – Olívia abraçou ainda mais a amiga e segredou-lhe ao ouvido – O Henry salvou-me e deixou-me com o vigário! – depois de um beijo muito apaixonado. Hélène sorriu e devolveu-lhe o olhar cúmplice. O vigário Patterson sacramentou a união do casal apaixonado. Miller e a jovem Olívia Cartwright, a melhor amiga de Hélène, foram as testemunhas do amor que uniu Conrad a Hélène em matrimónio.

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— Hélène, minha querida e amada esposa, importavas-te que a nossa viagem de lua-de-mel fosse adiada por algum tempo? — Conrad podemos ficar mesmo por aqui, em Darlington. – abraçou-se ao seu esposo amado e depositou-lhe um leve beijo nos lábios carnudos – Além disso, a nossa vida será uma eterna lua-de-mel, desde que estejamos juntos. Conrad sorriu e inspirou todo o amor verdadeiro que ela lhe fazia sentir. Estava apaixonado e sabia que era verdadeiramente correspondido como sempre almejara. Porém, o seu coração ainda tinha uma chaga aberta, um último espinho cravado para arrancar. Só depois seria totalmente feliz. — Hélène, mon amour, o meu filho Henry… deixei-o com um velho amigo, Nathaniel Saint-Maryland, quando fui para Paris atrás… da Aimée. Desde que regressei ele recusou-se a viver comigo e já é maior de idade. — Gostavas que ele vivesse viver aqui, connosco? — Se tu não te importasses. Era importante para mim. — Porque haveria de me importar, mon amour?! Eu também tenho uma filha de outra pessoa. Fazia muito gosto de que ele me aceitasse, não digo como mãe, mas possivelmente como uma madrinha, ou uma amiga. Gostava muito que ele viesse viver connosco e conhecer a irmã. Conrad, não foi ele que causou a confusão no May Day e tentou proteger-nos, com o próprio corpo. — Não foi? — Foi um amigo dele. Um tal de Lorde Evans. — O Douglas Evans, filho do Nigel, sei muito bem quem é. O Nigel é magistrado, um bom homem e muito justo, no entanto, ao que parece, foi um pai muito benevolente, assim como o seu antípoda, Nathan. Esse foi extremamente severo para com o Sam e penso que com o Henry também. – Conrad abraçou a amada – E no que se refere à Constance, é minha filha! Sou o seu pai de coração e amá-la-ei como a Anna Clara. E gostava que o Henry sentisse o mesmo pelas irmãs. Mas ele tem verdadeiros motivos para me rejeitar. Fui um mau pai, deixei-o para trás quando era um bebé com dezassete meses. nunca estive perto dele quando ele precisou de mim. Não sei o que lhe dizer, como fazer para ele me perdoar! — Há uma forma, muito mais simples do que pensas. – Hélène sorriu e mordiscou-lhe a orelha. — Como? Já lhe tentei oferecer tudo, do mais caro e do melhor. Uma viagem pelo mundo com todo o dinheiro que ele pudesse gastar. Comprar-lhe tudo o que ele quisesse! — Não lhe ofereceste o que ele quer, nem podes. Contaram-me que ele passava cá todos os verões, antes de regressares.

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— Eu sei disso. O Thomas contou-me, mas o Henry recusasse a voltar agora, desde que eu regressei. O que quer ele? Que fossemos viver para Londres e deixar-lhe o Castelo de Arrow para ele? Eu não me oponho, se tu não te importares. — Eu não me importaria, mas não é isso. Poderíamos visitá-lo e levar um reforço de peso connosco. Alguém com peso suficiente para o trazer de volta. Conrad esboçou um meio sorriso intrigado. — Que sabe a minha magnifica esposa, que eu não saiba? Quem seria esse reforço? — Essa informação tem um custo muito elevado… - passou-lhe as mãos pelo dorso e arrancou um botão com os dentes – Estás disposto a pagar o preço? Conrad puxou-a para si, tomando-lhe os lábios avidamente e contraindo-a contra ele. — Terei todo o gosto em cobrir qualquer valor e várias vezes seguidas, minha esposa.

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Capítulo 10

Raynard apareceu na sua carruagem sumptuosa, com o Marquês de Durham, bradando como um demente aos portões do Castelo de Arrow. — Conrad! Eu sei que a minha noiva está aqui. Conrad apareceu ao portão, juntamente com Miller. Fez sinal ao mordomo Thomas e a Ingrid para reterem Hélène e as meninas na sua salinha interior, longe dos olhares de visitantes abruptos. — A Hélène não é tua noiva Raynard. É minha esposa, a Duquesa de Arrow. O Lorde Nathaniel Saint-Maryland saiu da carruagem, precedido de Raynard Mackeswell e o debochado libertino, criador da discórdia, Lorde Douglas Evans. — Nesse caso… - Raynard balançou-se nos calcanhares e rugiu – Tenho o direito de lavar a minha honra com sangue. Desafio-te a duelo. — Está louco! O Conrad não pode duelar. Está condicionado pelo seu estado. — Sua Graça está melindrado e esconde-se atrás de uma deficiência. – atirou Douglas, sedento por sangue. Tinha ficado fascinado pela beleza de Hélène e queria-a. Atiçou o ódio de Raynard para matar o duque em duelo e assim poderia tê-la. Conrad preparou-se para responder-lhe à letra, mas Miller antecipou-se ao amigo. — Eu irei duelar em seu nome. – afirmou Miller. — Terá mesmo que ser Sua Graça, Lorde Wellington, senhor…? perguntou Nathaniel Saint-Maryland. — Miller! Benjamin Miller, o mais fiel ao Lorde Conrad Wellington. — Poderá ser o padrinho do duelo e inspecionar as armas. Mas terá que ser Sua Graça a debater-se em duelo. A não ser que o Conrad esteja com medo e se recuse. — Ele está cego. Seria um assassinato e um suicídio, não um duelo justo. — Será então com espadas. As armas são perigosas para um cego. Poderia acertar em qualquer um de vós. E não tenho medo Nathan. Nunca fui um cobarde. Saint-Maryland refletiu e anuiu com o duque.

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— Se o Lorde Mackeswell não se opuser, parece-me bem. Será um duelo à antiga, com espadas como a Sword-rapier6. E terminará quando de vós morrer ou não tiver como se defender. — Aceito! – confirmou Conrad. — Conrad… — Sei o que estou a fazer Miller. Está na altura de defender a minha honra. Pelos meus filhos e por Hélène. Prefiro ser um invisual morto e honrado do que um duque cego e cobarde. — Aceito o duelo. Quero ver esse cego devasso morto. Longe da minha Hélène. – declarou Raynard – Desposá-la-ei assim que ficar viúva. — Pois Bem, eu serei o teu padrinho Raynard. — É assim que és meu amigo Nathan? — Conrad, tu abandonaste o teu filho Henry à minha guarda e tutela para perseguires aquela adúltera dissoluta. — Queriam-me exilar-me num sanatório, um asilo para loucos. — E por essa razão te fizeste passar por morto durante anos e só regressaste por causa de uma dama comprometida? Nunca visitaste o teu filho em dezanove anos! Não mereces qualquer indulgência da minha parte e quanto ao Lorde Raynard Mackeswell, creio que está no seu legítimo direito. Maculaste a sua honra ao tomares a sua noiva e ainda conceberam uma filha ilegítima. — Muito bem. O Sir Benjamin Miller será o meu padrinho. — Sir? Esse gatuno carteirista? – retorquiu Raynard. — Sim. Sua Majestade já o honrou com o título de cavaleiro, por ter salvo a vida de um duque. E ainda hoje estava disposto a dar a vida por mim, mais uma vez. — O duelo realizar-se à em terras neutras, pela madrugada. Mais precisamente, amanhã em Evanston pelas seis da manhã. O juiz será o Conde de Iorqueville, o Lorde Nigel Evans.

A madrugada de Solstício de Verão, estava fria e nublosa. O Juiz do duelo, Lorde Nigel Evans e mais dois aristocratas, Lorde Edward Mckinley e o Lorde Frederick Harrington, reuniram-se e apresentaram duas espadas. Raynard e o seu padrinho de duelo, Saint-Maryland, inspecionaram-nas, enquanto Conrad e Miller travavam a despedida.

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— Miller, se algo me acontecer, casa com Hélène e cuida das minhas meninas e do Henry. — Conrad, estarás senil? Casar com a tua mulher? Nunca na vida! — A Hélène deve de ser uma linda mulher. Percebo isso pelo número de homens que a querem, que a desejam. Tu não és exceção. — É a mulher mais linda do mundo, mas sempre a respeitei. É a tua mulher, Conrad. Nunca te faria isso, amigo. Devo-te tudo o que sou. — Eu sei Miller. És o amigo mais fiel que um homem pode ter. E por seres quem és, é que eu to peço. Estou a momentos de um duelo mortal e preciso de saber que, quando morrer, os meus filhos e a mulher que eu amo ficarão bem. Promete-me Ben. — Tu não vais morrer Conrad. Sempre te gabaste de ser um excelente espadachim. Um digno cavaleiro real. — E sou mesmo, ou pelo menos o era antes. Mas, agora estou cego e o meu adversário é tudo menos complacente e honrado. Irá tirar partido da minha deficiência para me deferir um golpe mortal, por mais baixo que seja. Miller abraçou Conrad. — Prometo irmão. A tua família será sempre a minha família. Zelarei por eles e terás uma descendência digna e honrada e, principalmente, nunca deixarei que desonrem a tua memória e muito menos que caias no esquecimento.

Raynard gargalhou com a cena lamechas, enquanto se pavoneava com a sua Sword-rapier. O juiz do duelo, pediu aos padrinhos para se aproximarem com os duelistas. — Sua Excelência, Lorde Raynard Mackeswell e Sua Graça, Lorde Conrad Wellington, colocar-se-ão de costas e contarão em voz alta três passos. Depois voltar-seão e farão uma referência ao adversário, seguidamente assumirão a posição de engarde. Irei bater as palmas três vezes e começarão o duelo, que terminará quando um de vós não se puder defender ou morrer. Os padrinhos já inspecionaram… O juiz Evans foi interrompido por uma presença súbita, que chegou a cavalo e Conrad ficou alvoraçado. — Quem está aí? – vociferou. — Sou eu, Sua Graça. Henry! O filho que abandonaste em Saint-Maryland para ires viver a vida devassa que tanto aprecias. — Vieste despedir-te do teu pai? – perguntou Miller com alguma reserva.

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— Não e… sim. Vim vê-lo morrer e assumir o meu ducato. — Até o teu próprio filho te quer ver morto, sua desgraça cegueta. – debochou Raynard. — Menos, seu conde nefasto. – interveio Henry – Matá-lo-ei a si em duelo, assim que matar o meu pai. Não irei permitir que desonre o nome dos Wellington, e manche o título dos Duques de Arrow, nem que com isso me custe a vida. — Este é o rapaz que eu criei. – rejubilou o Marquês de Durham. — Pois criou-o mal. Não ficarás mais honrado Henry, por matares um ser humano. Mesmo que esse indivíduo seja um cruel assassino, desprovido de qualquer sentimento. — Então, porque aceitaste o duelo? Por causa dela? Daquela Médicis? — Alguma vez amaste de verdade Henry? Eu sei que cometi muitos erros contigo, pelos quais te peço perdão. Mas amei muito a tua mãe, Aimée. E estava disposto a morrer por ela em Paris. Perdoa-me filho. Foi atingido e não consegui salvá-la. E se fosse possível debater-me-ia em duelo por ela, assim como pelo amor da minha vida, Hélène. – Conrad tentou tatear a face do filho – Quando amares de verdade irás perceber que, é melhor estar morto do que viver sem a mulher que se ama. Raynard pigarreou junto do seu padrinho e do juiz. — Bem, se já terminaram as despedidas, podermos dar início ao duelo. A alvorada já deu início. Henry abraçou o pai pela primeira vez na sua vida e Conrad debulhou-se em lágrimas. Os duelistas, colocaram-se de costas e contaram os passos. Aguardaram pelo sinal do juiz em posição e, assim que ouviram as últimas palmas, Raynard rosnou e atacou: — Engarde ! — Raynard! Raynard! - Conrad berrava desalmadamente ao inimigo, tentando ouvir-lhe a voz para se guiar até ele, através do som. — Ah, ah, ah...! - gargalhava Raynard, movendo-se agilmente rodeando o cego - Como pensas em duelar comigo se nem sabes onde estou? — Porta-te como um cavalheiro, um fidalgo honrado e luta comigo. Matame se puderes. — É tão fácil matar-te, Conrad. — Engarde ! Conrad conseguiu evitar o golpe, sentindo as vibrações da lâmina ao sabor da deslocação de ar. A cegueira roubara-lhe quase tudo na vida, mas deu-lhe oportunidade de poder apurar os seus outros sentidos: ouvia profundamente a respiração do inimigo, By Crystal Waters crystal.waters.lovebooks@gmail.com


a sua pulsação acelerada e até o bater do coração. Conjuntamente com os seus conhecimentos de anatomia e matemáticos, permitia-lhe equacionar mentalmente, a distância e a posição em que o adversário se encontrava e antecipar a sua defesa. Também apurou a destreza do seu discernimento: sabia que o seu oponente estava embrenhado no seu excesso de confiança, o que lhe dava a probabilidade de cometer um erro crasso e com isso terminar o duelo. Só precisava de estar atento aos seus movimentos para aplicar o golpe de misericórdia. Ao fim de uns minutos, Raynard, tentou um golpe baixo, atingindo Conrad numa perna. Nesse momento, embora a lâmina lhe dilacerasse a carne, Conrad calculou matematicamente o comprimento da Sword-rapier e deferiu um golpe cortante, decepando a mão direita de Raynard, exatamente pelo punho. Raynard caiu por terra, aos prantos, gritando de dor e suplicando pela sua morte. — sempre.

Mata-me animal. Tens que me matar ou ficarás desonrado para todo o

Conrad atirou a espada para o chão e ajoelhou-se ao lado do adversário caído. o Nathaniel, o juiz Evans e as testemunhas aproximaram-se de Raynard para impedir qualquer retaliação do duque e ficaram estupefactos quando observaram Conrad a aplicar um torniquete no coto do inimigo para não se esvair em sangue, utilizando o seu próprio cinto. Miller sorriu para Henry e declarou: — Aquele é o teu pai, Henry. O melhor ser humano do mundo. Incapaz de exterminar um verme que o feriu. — Deveria tê-lo matado. Seria muito mais honrado. – disse Henry e perguntou – Porque o socorreu? — Porque é um fraco e um cego. Teve sorte em amputar-lhe a mão. – arrufou Mckinley. O Conrad esboçou um meio sorriso, enquanto verificava o seu ferimento na perna. — Tê-lo-ia matado se quisesse. Só quis terminar o duelo e não o poderia deixá-lo morrer. Não me sentiria mais honrado por isso, pelo contrário. Ele agiu de acordo com a sua natureza e eu com a minha. A natureza do Raynard é matar e a minha é salvar. O juiz Nigel Evans verificou o estado de Raynard e após uma troca de palavras com Nathaniel, declarou:

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— Dou o duelo por terminado, uma vez que um dos oponentes já não se pode defender. Sua Graça e Sir Miller, estão de acordo? — Sim de acordo. – responderam em uníssono. — Tens que me matar, Conrad! Raynard ainda pegou na arma que o seu padrinho detinha à cintura, mas não conseguiu atirar com a mão esquerda. — Senão me matares, perseguir-te-ei para toda a vida. A ti e a todos os teus, essa tua raça imunda. Irei destruir e amaldiçoar todo o sangue Wellington. O ducato de Arrow ruirá por terra e será dissolvido nas brumas do esquecimento. Nem que para isso una esforços com o Rosseau e o outro filho de Aimée. — Não te vou matar Raynard. E espero que tenhas uma vida longa e que essas pragas que me rogaste não recaiam sobre ti e sobre os teus. Quanto à minha linhagem e o ducato de Arrow, estou certo de que, a tua e o condado de Grantham, só sobreviverão aos tempos e às pessoas nefastas como tu, porque haverá sempre um Duque de Arrow, um Wellington misericordioso, para salvar os Mackeswell da sua extinção.

Conrad regressou acompanhado por Miller e pelo seu amado filho Henry até ao Castelo de Arrow, depois de ter sido atendido no hospital de Darlington, por Alfred. Durante o caminho Conrad aproveitou para acolher o filho no seio familiar. — Ficarás connosco? Comigo, com a Hélène e com as tuas irmãs? — Por uns tempos, até ao início da próxima temporada. Quero conhecer melhor a dama que é minha madrasta. Além de sentir saudades de Darlington. Passava os verões no Castelo de Arrow com o Sam. O meu criado Parker irá levar-me os meus pertences, assim que o meu padrinho regressar a Saint-Maryland. — Saudades de alguém em especial? – questionou Miller com um ar de caso. — Irra! Parece que sabes tudo primeiro que eu! – resmungou Conrad. — Limito-me a dar mais atenção às coisas, sobretudo, à língua afiada dos criados. — Que quere dizer com isso? – perguntou Henry irritado. — Consta-se por aí, que sua senhoria, Lorde Henry, se enamorou de uma linda burguesa, filha do dono do Empório Cartwright. — A sério filho? Faço gosto. O Brian Cartwright acolheu muito bem a Hélène e as tuas irmãs, quando chegaram a Darlington. Estou a ajudá-lo a reconstruir a casa e o

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Empório que os déspotas conservadores incendiaram. Qual das jovens Cartwright é a minha futura nora? Certamente a mais velha, a menina Olívia? Henry descruzou as pernas e espreitou por entre as cortinas. Ficaram em silêncio por um largo tempo, ouvindo só o tremor da carruagem. Depois, fitou o pai e respondeu claramente. — A sua futura nora será a debutante mais bela da próxima temporada. Nunca elegeria uma burguesa ou uma plebeia para ser minha esposa. — A tua mãe era uma plebeia, filha de camponeses e o teu pai casou com ela. – contestou Miller. — E o resultado foi o que foi. Essas mulherezinhas só querem ascender socialmente e viver luxuosamente. Mas nunca foram educadas devidamente para serem duquesas. A Olívia envergonhar-me-ia nas festas, receções, nas óperas e nos bailes. Não tem estofo para ser uma dama. – embora goste dela. Mesmo muito dela… porra! Amo-a! — Henry, meu filho. O teu avô, Arthur Wellington, disse-me exatamente o mesmo quando eu regressei de Paris com a Aimée, a tua mãe. E apesar de tudo o que aconteceu, ela tornou-se numa dama distinta da sociedade. – Conrad coçou o cabelo revolto e suspirou – Não vou dar-te nenhum sermão. Não quero ser um pai austero depois de ter falhado tanto como pai. — Ainda bem que o reconhece. — Contudo, deixa-me dizer-te que o meu pai estava errado, mas compreendi a sua mentalidade retrógrada devido à sua avançada idade. E tu foste educado e espelhado à imagem do implacável Marquês de Durham. Sempre fomos muito amigos e por isso te deixei com ele, quando me aventurei em trazer a tua mãe de volta. É um homem muito honrado, porém, demasiado conservador, severo e puritano. Diria mesmo um tirano preconceituoso. Henry remeteu-se ao silêncio, enquanto chegavam ao Castelo de Arrow. O seu pai tinha razão. Ainda sentia no seu traseiro as centenas ferroadas da palmatória do marquês, os castigos que lhe infligia por quebrar a mais pequena regra. Era implacável com ele e com toda a família, sobretudo com o seu filho Samuel. Afastou as dolorosas lembranças e sentiu o aroma das rosas, o cheiro de casa, o perfume dela… a sua flor mais desejada e o seu amor impossível – Olívia Cartwright.

A carruagem parou à entrada do Castelo de Arrow e Conrad correu desembestado. Entrou no salão onde Hélène estava com Constance colada à barra da sua saia e a bebé, Anna Clara ao colo.

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— —

Hélène? Conrad… eu… tive tanto medo, mon amour.

Conrad beijou-a com fervor antes de a deixar terminar. Pegou na bebé ao colo e abraçou-as! —

Estamos juntos! Amo-vos!

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Epílogo

Hélène ajeitava o vestido de noiva de Sarah Harrington antes de entrar na capela de Nossa Senhora do Ó7, erguida, junto ao Castelo de Arrow, em honra da falecida mãe de Conrad, quando ela conseguiu dar à luz um filho. Todos os habitantes de Darlington haviam sido convidados para a grande cerimónia: o casamento do filho de Conrad e Aimée, Lorde Henry Wellington e Lady Sarah Harrington, filha do Visconde de Kensington. O Marquês de Durham estava imponente com toda a sua família Saint-Maryland. Via em Henry um filho, uma vez que o criou desde pequeno, como o jovem Samuel. Até os burgueses Cartwright compareceram, mesmo estando de luto pela perda do primogénito, falecido em Waterloo. Incluindo a jovem Olívia Cartwright, que fora a paixão de juventude de Henry.

As meninas, Constance de Médicis e Anna Clara de Médicis Wellington desfilaram pela passadeira vermelha, espalhando as perfumadas pétalas de rosas, precedendo a jovem e virginal noiva de Lorde Wellington. Hélène apressou-se a juntar-se a Conrad, que sorria para o filho. — Como é que ela está Henry? A tua amada? Gostava de a poder ver, assim como a ti, meu querido filho. Henry procurou no meio dos convivas e encontrou a pálida figura de Olívia. —

Está linda, como sempre. Demasiado bela e segura.

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O Visconde Harrington entrou com Sarah pelo braço e entregou a filha nas mãos de Henry, quebrando o contacto visual com a sua paixão impossível e selando o seu destino. A senhorita Eileen Patterson terminou a marcha nupcial no piano e o vigário deu início à celebração do casamento. Os noivos proferiram os votos matrimoniais e trocaram alianças, seguindo-se para a grande boda nos jardins de Arrow.

— Foi uma linda cerimónia Conrad. É pena que não a possas ter visto, assim como não possas ver os teus filhos. – debochou o Lorde Nathaniel Saint-Maryland. — Não preciso de vê-los, basta que os sinta. Houve um sábio em Paris, que me disse uma vez: “Nunca devemos julgar as pessoas que amamos. O amor que não é cego, não é amor8”. – respondeu Conrad no seu melhor, abraçado à sua esposa, que tanto amava. Lorde Saint-Maryland pigarreou e desapareceu entre os convivas. — É lindo o que disseste Conrad. Aposto que esse sábio era um dos clientes assíduos da Maison des Alouettes. — Não, não era. Era um miúdo de um colégio oratoriano de Vendôme, do qual sou patrono. Era um dos prodígios iluminados. Devorava livros de qualquer espécie, alimentando-se indiscriminadamente de obras sobre religião, história e literatura, filosofia e física. Ensinou-me muito, apesar da sua tenra idade. Eu lamuriavame por ser cego, quando o maior cego é aquele que tens o dom da visão e não vê! Como o torpe do Nathaniel Saint-Maryland. — O Marquês de Durham é um dos mais conservadores e puritanos aristocratas ingleses. Para ele, tudo são conveniências, incluindo os casamentos e linhagens. Vangloria-se por ter persuadido o Henry a desposar a uma aristocrata e não a filha de um simples comerciante, como Olívia, embora sejam mil vezes mais honrados e corajosos do que os monarcas. — Bem sei do apreço que tens pela família Cartwright. Eu também, mon amour. Cuidaram de ti e das nossas meninas, quando eu, cobardemente, te faltei. — Tinhas razão para teres ficado melindrado. Sentiste-te traído, ferido na tua honra e fui apenas um meio para o maquiavélico Raynard e o nefasto Rosseau, atingirem um fim. Nunca te censurei por isso, mon amour.

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— Deverias minha querida Hélène. A Aimée fez-me muito pior e eu seguiaa até Paris para a trazer de volta. E contigo, fui um egoísta sem perdão. — Sendo assim, creio que Sua Graça terá que me compensar e muito por isso… a sós. – envolveu-o nos seus braços e sussurrou-lhe – Ainda tens muito que penar entre os lençóis, pela tua falta. — Então é mesmo verdade que o amor é cego! – sorriu Conrad. — É verdade e a loucura sempre o acompanha, mon amour. Conrad resgatou a esposa para um recanto mais resguardado do jardim e beijou-a apaixonadamente, como se não houvesse um amanhã.

Uma voz grossa e masculina, tossicou junto dos enamorados. — Perdoem-me, Lady Hélène e Sua Graça. – Bryan Cartwright inclinou-se para fazer uma reverência aos anfitriões – Lamento por não ficarmos para o banquete dos esponsais, todavia, estamos de luto. Certamente que compreenderão. — Oh Bryan, claro que sim. – respondeu Hélène abraçando o homem – Lamento tanto pelo Jásper. Vocês acolheram-me como uma verdadeira família. — E estamos inteiramente gratos por isso, Bryan. – adiantou Conrad – Nunca pense que, o namorico dos nossos filhos, foi alvo de algum tipo de preconceito pela nossa parte. A Olívia seria muito bem-vinda à nossa família, se fosse esse o desejo do Henry. Bryan limpou uma lágrima no canto do olho. — Ainda bem que a Janette se foi, antes do Jásper partir... e quanto à Olívia, ela ainda é muito jovem. Tem a vida pela frente, para encontrar quem realmente a mereça. Tenho a plena consciência de que foi o Marquês de Durham que intercedeu junto do seu filho Henry.

Bryan despediu-se dos Duques de Arrow e acompanhou as três filhas. Olívia ainda olhou de longe para o jovem nubente que tanto amava. Henry aparentava estar muito feliz com a sua jovem noiva aristocrata. —

Estás bem, minha filha?

Olívia esboçou um sorriso forçado, fazendo das tripas o seu coração.

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— Nunca estive tão bem, papá. Vamos, os negócios esperam-nos. Tenho umas novas ideias que quero por em prática, o quanto antes. — És feita de aço, minha filha. Uma verdadeira dama de ferro! Olívia abanou a cabeça, negativamente. — Não papá. Sou feita de carne e osso, como toda a gente. Mas, sou dura na queda. Poderei cair mil vezes, porém, levantar-me-ei mil e uma. – esboçou um sorriso para o pai e acrescentou - Alguns perseguem a felicidade, eu irei criar a minha. Quanto ao resto… são apenas pedras no meu caminho e irei guardá-las todas. Olívia respirou fundo e olhou novamente para o arrogante monstro de pedra. —

Um dia, irei construir o meu próprio castelo.

— O que quer Cartwright? Veio cobrar a dívida de víveres que tenho no Empório do seu pai? – Henry Wellington colocou as botas sujas sobre a secretária de mogno e cruzou os pés. Arqueou o lábio em jeito trocista para a mulher resoluta que tinha em frente e, abrindo os braços, disse-lhe - Escolha o que quiser: algum quadro, porcelanas, pratas… não tenho dinheiro efetivo comigo, por isso, dê-se por satisfeita. – sorriu desbocadamente e cruzou os braços atrás da nuca. — Pois bem, Lorde Wellington, quero-o a si. — Quer-me a mim? – perguntou estupefacto, rolando as palavras muito vagarosamente e com os olhos muito esbugalhados, até mesmo o que tinha o inchaço. — Sim. quero-o a si. – declarou, rispidamente, Olívia - Disse-me para escolher o que quisesse. — Quer que eu a foda, Cartwright? – indagou lentamente, com uma voz rouca e arrastada, tentando intimidá-la. By Crystal Waters crystal.waters.lovebooks@gmail.com


Nota da Autora

No início dos tempos, todos os sentimentos e qualidades dos homens reuniram-se num Solstício de Verão, nos jardins do Éden. Quando o Aborrecimento já se queixava pela terceira vez, a Loucura, como sempre tão louca, propôs: —

Vamos brincar às escondidas?

A Intriga arqueou a sobrancelha intrigada, e a Curiosidade, sem poder conter-se, perguntou: — Escondidas? Como é isso? — É um jogo! - explicou a Loucura - Eu fecho os olhos e começo a contar de um até cem, enquanto vocês se escondem. Quando eu terminar de contar, terei que os descobrir a todos. O último a ser encontrado, tomará o meu lugar. O Entusiasmo dançou seguido pela Euforia, a Alegria deu tantos saltos que acabou por convencer a Dúvida que duvidava do jogo e até mesmo a Apatia que amuava num canto. Mas nem todos quiseram participar, a Verdade preferiu não se esconder...para quê? Se no final todos a encontravam? A Soberba opinou que era um jogo muito tonto (no fundo, o que a incomodava era que a ideia não tivesse sido dela), e a Cobardia preferiu não se arriscar, fugindo com o Medo. —

Um, dois, três, quatro...- começou a Loucura a contar.

A primeira a esconder-se foi a Pressa, que como sempre tropeçou na primeira pedra do caminho. A Fé subiu ao céu e a Inveja escondeu-se atrás da sombra do Triunfo, que com seu próprio esforço tinha conseguido subir na copa da mais alta árvore. A Generosidade, quase não conseguia esconder-se, pois cada local que encontrava, parecialhe maravilhoso para alguns dos seus amigos: se era um lago cristalino, ideal para a Beleza e para a Vaidade. Se era uma árvore, ideal para a Timidez se esconder na sua copa, se era o voo de uma borboleta ou uma rajada de vento, magnífico para a Liberdade. E assim, acabou por esconder-se num raio de sol. O Egoísmo, ao contrário, encontrou um local muito bom desde o inicio. Ventilado e cómodo, mas apenas para ele. A Mentira escondeu-se no fundo do oceano (mentira, na realidade, escondeu-se atrás do arco-íris e a Paixão, o Desejo e a Luxúria esconderam-se na cratera incandescente do vulcão. By Crystal Waters crystal.waters.lovebooks@gmail.com


O Esquecimento, não me recordo onde se escondeu, mas isso não é o mais importante. O Desespero ficou desesperado ao ver que a Loucura já estava no noventa e nove. Quando a Loucura chegou aos cem, o Amor ainda não tinha encontrado um local para se esconder, pois já todos estavam ocupados, até que encontrou uma roseira e, carinhosamente, decidiu esconder-se entre as suas rosas delicadas e perfumadas. —

Cem! - gritou a Loucura. - Vou começar a procurar!

A primeira a aparecer foi a Curiosidade, já que não aguentava mais em se conter, seguida pela Pressa, apenas a três passos de uma pedra. Ao olhar para o lado, a Loucura viu a Dúvida em cima de uma cerca sem saber em qual dos lados ficar para melhor se esconder. O Egoísmo, nem teve que o procurar! Ele saiu disparado sozinho do seu esconderijo, que na verdade era um ninho de vespas. De tanto caminhar, a Loucura sentiu sede, e ao aproximar de um lago, descobriu a Beleza e a Vaidade. A Dúvida foi mais fácil ainda, pois encontrou-a sentada sobre uma cerca sem decidir de que lado se esconder. E assim, foi encontrando-os a todos. O Talento entre a erva fresca, a Angústia, numa cova escura, a Mentira atrás do arco-íris (mentiram, estava no fundo do oceano) e até o Esquecimento, que já se tinha esquecido que estava a brincar às escondidas. E assim foi encontrando-os a todos. Quando estavam todos reunidos, a Curiosidade perguntou: —

Onde está o Amor?

Apenas o Amor não aparecia em local nenhum... por mais que o procurasse. A Loucura procurou atrás de cada árvore, por baixo de cada rocha, em cima das montanhas e nas profundezas dos oceanos! Quando estava a ponto de enlouquecer por completo, a Loucura viu uma roseira, pegou um pauzinho e começou a procurar entre os galhos, quando de repente ouviu um grito. Era o Amor! Os espinhos tinham ferido o Amor nos olhos. Pediu desculpas, implorou pelo perdão do Amor e até prometeu segui-lo para sempre. O Amor aceitou as desculpas... seguindo cegamente a Loucura. Hoje, o Amor é cego, e a Loucura sempre o acompanha!

Dedicado a um grande amor impossível e condenado.

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