MOVIMENTO ARMORIAL:
A influência dos cordéis no desenvolumento de um dos mais famosos e intrigantes movimentos culturais brasileiros
ECONOMIA CRIATIVA EM PERNAMBUCO A capital pernambucana demonstra seu potencial empreendedor
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Entrevista
LEONOR SCILAR- CABRAL
UFFS
Analfabetismo funcional em pauta A professora emérita da UFSC, Leonor Scilar-Cabral, a situação do analfabetismo funcional no Brasil é grave. Porém, ela não perde a esperança na reversão do cenário
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eonor Scilar- Cabral, professora emérita da UFSC, tem se dedicado intensamente à pesquisa e aos estudos visando à erradicação do analfabetismo funcional (resumidamente, quando o indivíduo não consegue compreender o que lê). Doutora em Linguística pela USP e pós-doutora na subárea de Psicolinguística pela Universidade de Montreal, Leonor é presidente de honra da International Society of Applied Psycholinguistics. A professora, pesquisadora do CNPq desde meados de 1970, depois de décadas de estudo, criou o Método Scliar de Alfabetização, que contempla a formação de professores, os fundamentos para tal, os materiais para professores e estudantes e os roteiros de planos de aula que demonstram como aplicar cada unidade do sistema. Assim, em 2012 publicou “As Aventuras de Vivi”, em 2013 o “Sistema Scliar de Alfabetização – Fundamentos”, e prevê para 2014 os roteiros de | 3 DE JULHO, 2015 | 3
planos de aula. Em cursos, palestras e conferências no Brasil e exterior, a professora, aos 85 anos, vem disseminando sua proposta de método de “alfabetização para o letramento”. Na entrevista, Leonor comenta alguns passos que considera necessários para erradicar o analfabetismo funcional no país. A que a senhora atribui essa situação de analfabetismo funcional no Brasil? Estamos realmente numa situação muito grave com relação ao analfabetismo funcional no Brasil. Quem realiza a pesquisa mais séria sobre o assunto é o Instituto Nacional do Alfabetismo Funcional (Inaf ), que nos mostra que alfabetizados funcionais, que realmente compreendam os textos complexos que circulam socialmente, só temos 26% no Brasil. Temos quatro níveis de alfabetismo – o primeiro nível é daqueles que compreendem muito pouco. Como vivemos numa sociedade de informação, isso significa que a maior parte da população brasileira está excluída da sociedade da informação. Eu considero a maior exclusão social hoje. Por que se chegou a esse nível? Hoje, o problema maior não 4 | 3 DE JULHO, 2015 |
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Como vivemos numa sociedade de informação, isso significa que a maior parte da população brasileira está excluída da sociedade da informação
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é daquele analfabeto total, porquanto a escola está aberta para todos os indivíduos nos anos iniciais. Mas o que está ocorrendo é que nesta fase inicial, que é onde se decide o destino do futuro leitor, nós nos defrontamos com um problema seríssimo, de que não foram preparados professores nem em quantidade e muito menos qualitativamente para atender à demanda dessa população que está ingressando na escola. Esses professores deveriam estar realmente muito bem preparados e os seus salários deveriam atrair os mais bem dotados para tal tarefa – o que não está acontecendo. Há mais problemas para além dessa questão? Além disso, houve uma
distorção que atingiu as altas esferas que decidem sobre a Política Educacional no Brasil, advogando que não se necessitaria de método para alfabetizar e muito menos livros de alfabetização para criança. Ora, não existe ensino-aprendizagem sem livro, e muito menos quando se trata de alfabetizar, que é uma das aprendizagens mais difíceis que existe. A falta de um método e de material didático adequado tem refletido diretamente na alfabetização dessa criança? Exatamente. Na verdade, os professores aplicam, sem dar o nome, um método – totalmente errado –, que é a alfabetização com a criança desenhando o próprio nome. Na verdade ela não está escrevendo. É a configuração, é o desenho que ela está memorizando. Se qualquer uma daquelas letras aparecer em uma outra palavra, ela não vai saber ler. Para compreender um texto, a leitura tem que ser fluente. O resultado provisório do processamento, que é sequencial, fica arquivado numa memória que se chama “memória de trabalho”, que tem um espaço muito pequeno de detenção. Se ela não automatizou o reconhecimento dos traços que diferenciam as letras, não
automatizou o valor que os grafemas têm, se ela foi alfabetizada pelo valor das letras ela vai ler assim: “é” (que por sinal houve uma coincidência entre o nome da letra e o valor que essa letra tem nesse contexto. Não é sempre assim), “erre” e “a”. Aí vai ler “erra”. No meio tempo que ela começou a ler “é”, “erre”, “a”, o resultado do “é” já foi para o espaço. Levou muito tempo para chegar no reconhecimento de toda a palavra. Aí ela não consegue reconhecer a palavra no tempo hábil para chegar à etapa mais importante, que é – depois do reconhecimento da palavra rapidinho – o sentido que ela tem ali. Por onde começar a reverter o quadro? O exemplo mais inspirador que temos da erradicação do analfabetismo funcional aconteceu num condado da Escócia, que apresentava o mais alto índice do Reino Unido. Em dez anos, eles erradicaram o analfabetismo funcional. Em primeiro lugar, é necessário que as autoridades responsáveis pela Política Educacional tracem efetivamente uma política correta de combate ao analfabetismo funcional e de sua erradicação. Essa política começa pela formação do pessoal
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Esses professores deveriam estar realmente muito bem preparados e os seus salários deveriam atrair os mais bem dotados para tal tarefa
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envolvido com alfabetização, pela implantação de salários que atraiam as pessoas mais vocacionadas e mais preparadas para isso e – agora, preste atenção – a adoção de um método que tenha base científica. E esse método é o método fônico, o método fonêmico. O método Global não tem base científica nenhuma. Também faz parte a elaboração do material pedagógico, tanto para professor quanto para a criança, o acompanhamento em classes de reforço dos que apresentarem dificuldade de aprendizagem, e a mobilização da família e da comunidade. A decisão política é bastante importante, portanto, na erradicação do analfabetismo funcional.
Você tocou no ponto. Evidentemente nós só poderemos formar cidadãos se eles compreenderem os textos que circulam socialmente para poder fazer uma leitura crítica. E se posicionar. Ou seja, envolve a questão da liberdade. A liberdade se define pela possibilidade de você fazer opções, a capacidade de escolher um acerto entre opções. Isso envolve uma questão política das mais sérias. Mas acontece que há uma série de forças que não está interessada que isso aconteça. Uma delas é manter o povo brasileiro a cabresto. Não é distribuindo esmola que vamos formar cidadãos conscientes. O caminho passa pelo letramento.
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MOVIMENTO ARMORIAL: O FOLHETO DE CORDEL É FONTE DE INSPIRAÇÃO THIAGO CORRÊA
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o dia 18 de outubro de 1970, o Movimento Armorial foi lançado com a realização de uma exposição e um concerto da Orquestra Armorial na Igreja de São Pedro dos Clérigos. Com um panfleto impresso em papel ofício contendo o programa do evento, o escritor Ariano Suassuna começava a teorizar e a batizar uma poética que vinha sendo de6 | 3 DE JULHO, 2015 |
senvolvida desde a década de 1950 e que buscava criar uma arte brasileira erudita a partir da cultura popular produzida no Nordeste. Essa estética se mostrava presente nas peças cômicas Auto da Compadecida (1955), O casamento suspeitoso, O santo e a porca (ambas de 1957) e A farsa da boa preguiça (1960) de Suassuna e também foi identificada nos trabalhos de outros artistas da época. De forma
declarada ou não ao armorial, eles tiveram em comum o interesse de pensar a identidade cultural do Nordeste a partir das manifestações populares. Para abarcar as mais diversas áreas artísticas, o armorial pegou como síntese o folheto de cordel, usando os versos para o diálogo com a literatura, asrimas para a música, a declamação para o teatro e as gravuras para as artes plásticas. Num primeiro momento, esse campo é representado por Francisco Brennand e Gilvan Samico e depois é seguido por Romero de Andrade Lima e Dantas Suassuna. “O que Ariano queria era recriar, reinventar a cultura popular do Sertão. É aí onde aparece o elemento mágico
e o armorial se distancia do Regionalismo pela invenção”, aponta o escritor Raimundo Carrero, que integrou o movimento no início da carreira.
temas, criei minha poesia em cima das estruturas do martelo agalopado, do mourão e da sextilha”, analisa Accioly.
e Antônio Carlos Nóbrega. Este último também é ligado à linguagem da dança, assim como o Grupo Grial, criado em 1997. “O interes-
Na literatura, além dele e de Suassuna, também são ligados ao movimento os escritores Ângelo Monteiro, Marcus Accioly, Janice Japiassu e Maximiano Campos. A adesão à estética armorial se deu de diferentes maneiras, enquanto uns seguiram pelos temas e pelas imagens sugeridas pelo movimento, outros optaram pela forma. “Usei as formas populares e não os
Na música, o mesmo aconteceu com a inserção de instrumentos populares como a rabeca, a viola e os pífanos nas formações de orquestra para o desenvolvimento de uma música erudita nordestina. Assim, surgiram as orquestras Armorial e Romançal, o Quarteto Romançal e o Quinteto Armorial, do qual despontaram nomes como os de Antônio “Zoca” Madureira
sante é que Ariano tem uma linha de pensamento, ele não dá uma receita como se deve fazer a arte armorial. Ele dá a coerência e você segue sua receita pessoal”, conta a coreógrafa Maria Paula Costa Rêgo, sobre a experiência de ter convivido com o escritor durante os sete meses de ensaios do primeiro espetáculo do Grial – A demanda do graal dançado. | 3 DE JULHO, 2015 | 7
Brasil
ECONOMIA CRIATIVA EM PERNAMBUCO: EXPECTATIVA E PERSPECTIVA
A notável expansão recifense no ramo da Economia Criativa já tem mostrado seus frutos
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VICENTE VILARDAGA
m 2014, o grupo Fiat Chrysler anunciou a instalação de um centro de tecnologia automotiva em Recife. O imóvel de uma antiga tecelagem, desativada há 20 anos, foi cedido para a montadora pelo governo de Pernambuco para abrigar o empreendimento, que exigirá investimentos de 500 milhões de reais e empregará 1 000 pessoas, entre engenheiros, técnicos e outros profissionais. O centro de pesquisa deve ser inaugurado em dois anos, mas a divisão de desenvolvimento de software começa a funcionar em breve, com 35 funcionários, em uma casa no Porto Digital, como é conhecido o polo de tecnologia da informação da cidade, localizado no bairro do Recife Antigo. O novo centro de tecnologia trabalhará em sintonia com outros núcleos de pesquisa e de| 3 DE JULHO, 2015| 8
Brasil
senvolvimento da Fiat no mundo, colocando Recife no mapa global da engenharia automotiva. “O que quero da indústria é a inteligência”, diz o prefeito, Geraldo Julio. “Enquanto as fábricas produzem na região metropolitana, a inovação fica na capital.” A escolha de Recife não se deu apenas por conveniência da Fiat, que está erguendo uma nova fábrica de veículos em Goiana, na região metropolitana. Segundo a pesquisa da consultoria Urban Systems, Recife tem hoje a melhor infraestrutura do Brasil para negócios, além de excelente capital humano. Tanto em telecomunicações como em transporte, Recife leva vantagem sobre outras grandes cidades brasileiras. Conta, por exemplo, com um porto e um aeroporto em seu perímetro urbano. Em um levantamento feito pela Proteste Associação de Consumidores em 2013, o aeroporto de Guararapes foi considerado o melhor entre os 14 mais movimentados 9 | 3 DE JULHO, 2015 |
do país e o único que recebeu a classificação “bom”. Teve avaliação positiva em sinalização, banheiros e lugares para sentar (recebeu notas baixas em procedimentos de segurança e acesso por transporte coletivo, apesar de ser bem localizado e contar com uma estação de metrô). No setor de telecomunicações, a rede de banda larga fixa de Recife está muito acima dos padrões brasileiros. Cerca de 35% da população tem acesso a conexões com velocidade acima de 12 megabits por segundo, enquanto a média nacional é 9%. A rede de fibra óptica atende o Centro de Convenções de Pernambuco, que há três anos recebe a Campus Party, o maior evento de tecnologia do país, e conecta universidades e núcleos de pesquisa. Os equipamentos municipais estão sendo conectados por uma rede pública Wi-Fi. Desde sua fundação, no século 16, a “terra dos mascates”, como eram conhecidos os comerciantes portugueses que atua-
vam na época em Recife, mostrou sua vocação para comércio e serviços. Logo a cidade se firmou como um polo de distribuição de mercadorias, com forte atividade alfandegária. Mais de 400 anos depois, essa vocação comercial e burocrática foi redirecionada para a economia criativa — expressão cunhada pelo consultor britânico John Howkins para se referir ao uso do conhecimento como principal insumo produtivo. E o grande impulso para essa virada foi a fundação, em 2000, do Porto Digital, que criou na cidade um novo ambiente de negócios, orientado para o mercado global. O parque tecnológico nasceu com três empresas e 46 pessoas — hoje são 230 companhias e 7 000 funcionários. Nesse grupo há startups e muitas micro e pequenas empresas, mas também algumas grandes, como as multinacionais Microsoft, IBM e Accenture. No total, o faturamento do Porto Digital supera 1 bilhão de reais
por ano. “Não houve um único ano em nossa história que tivemos perda líquida de empresas”, afirma Francisco Saboya, diretor-superintendente do Porto Digital. Até 2020, a meta
A Accenture é a maior empregadora na área de tecnologia da informação na cidade. Conta com 500 funcionários e, com a demanda crescente por seus serviços, abriu
outras metrópoles, Recife tem sido pressionada pelo aumento da frota de carros — ganha cerca de 100 000 novos veículos a cada ano. A prioridade da administração públi-
é ter 20 000 pessoas trabalhando no local. Uma das empresas atraídas pela boa infraestrutura do Porto Digital é a consultoria Accenture, instalada na área há três anos. “Antes de escolher Recife, estudamos dez cidades e analisamos fatores como capacidade de crescimento, custos, excelência universitária e qualidade dos profissionais”, afirma Flávia Picolo, diretora da Accenture. “Recife é a cidade que oferece a melhor combinação.”
em 2013 um novo escritório em Recife. Sua meta neste ano é crescer 50% e chegar a 750 funcionários. Embora tenha a melhor infraestrutura entre as cidades brasileiras, Recife enfrenta vários problemas. O calcanhar de aquiles é a mobilidade urbana. Há alguns projetos em andamento, como a implantação de dois corredores viários, a abertura de faixas exclusivas de ônibus e a construção de ciclovias, mas, como ocorre em
ca é desenvolver meios de transporte não motorizados e facilitar os deslocamentos porque, definitivamente,engarrafamentos e atrasos não combinam com os negócios. “Nosso transporte urbano ainda é um gargalo”, diz Antônio Alexandre, secretário municipal de Desenvolvimento e Planejamento Urbano. “Mas a Copa do Mundo viabilizou muitos investimentos, e esperamos mudar essa situação.” | 3 DE JULHO, 2015 | 10
TEATRO NACIONAL EM DESTAQUE
Com ensaios críticos e historiográficos, os dois volumes recém-lançados de História do Teatro Brasileiro trazem a articulação entre passado e presente na cena nacional KIL ABREU
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ão sendo obra de autor, mas de autores, esta História do Teatro Brasileiro não tem naturalmente a unidade de escrita e o olhar totalizador das contradições pelas quais a cena passou e continua passando. Mas traz como compensação um rico e cuidadoso painel em que a preocupação em entender os rumos do teatro faz com que o relato 11 | 3 DE JULHO, 2015 |
do passado sempre que possível não seja mero documento. No livro, é recorrente ler a história vivida refluir sobre o presente, por vezes no diálogo entre um e outro pesquisador. É este o caso, por exemplo, do estudo de Silvia Fernandes sobre os caminhos da encenação contemporânea. Em sintonia com Tania Brandão, pesquisadora da cena moderna, ela identifica, entre outras coisas, que nos anos
1980 aquilo que promete organizar-se como o “mercado teatral” no Rio de Janeiro e em São Paulo é sustentado pela presença de atores e atrizes ligados à televisão em uma estrutura de produção e visibilidade em que se pode relacionar “o estrelismo pré-moderno, o novo estrelato promovido pelas redes televisivas e o primeiro ator da primeira metade do século 20”. Diante da tarefa, a obra se organiza em dois volumes. O primeiro, em vinte e seis capítulos, vai “das origens ao teatro profissional da primeira metade do século 20” e o segundo, em vinte e cinco, “do modernismo às tendências contemporâneas”. Há um sentido muito produtivo nesta periodização: considerando o período de transição entre o chamado “velho teatro” e a nova cena, o primeiro volume segue até os anos 1950 e, portanto, alcançando já o palco
moderno em pleno movimento. O segundo, ao contrário, recua até os anos 1920 e a Semana de Arte Moderna. São mais de quarenta pesquisadores envolvidos, em trabalhos desenvolvidos em várias universidades brasileiras e depois afinados sob a direção dos organizadores. Inauguram o primeiro volume, também como forma de homenagem, os textos fundamentais de Décio de Almeida Prado sobre as origens do teatro no Brasil. São quatro capítulos que chegam até o romantismo. Junto aos estudos cujos temas se tornaram obrigatórios, como a comédia de costumes (em textos de Vilma Arêas e Flávio Aguiar) ou o teatro realista (em análise do próprio João Roberto Faria), há outros que só mais recentemente passaram a definir espaço na historiografia. É o caso do teatro operário e anarquista, já à época do pré-modernismo. Aparecem no ensaio de Maria Thereza Vargas. Um teatro em regra marginal – amador e oculto ao amparo do Estado –, mas que se desenvolve como prática regular em associações e grêmios, funcionando como espaço para o entretenimento e também como veículo para a discussão política: “imigrantes italianos (em maior número), espanhóis e portugueses organizavam seus espetáculos na maioria das vezes junto aos bairros que habitavam, formando um público especial (…). O teatro era encarado no seu aspecto lúdico, aglutinador, evocativo de terras distantes, mas também como cúmplice de ideologias,
celebração de uma mesma fé”. Entre os estudos do segundo volume a emergência de pontos de vista nem sempre em acordo com o lugar razoavelmente comum de outros relatos ganha espaço. O ensaio de Orna Messer Levin, por exemplo, revê o lugar de coadjuvante do teatro no projeto modernista dos anos 1920, tão comumente divulgado: ele acontece na reflexão crítica de Alcântara Machado e seu esforço por denunciar as velhas fórmulas da cena; e na criação e atuação intelectual de Oswald e Mário de Andrade, “em artigos de opinião, ensaios críticos e peças curtas” que delimitariam um “espaço de intervenção” Outro estudo em que o domínio sobre os materiais de pesquisa oportuniza leituras determinadas é o de Tania Brandão sobre as companhias modernas e o ímpeto ideológico que chega com a sua instalação. Como que a seguir a sempre renovada necessidade de “reinauguração” do teatro nacional tal qual ocorrera no século 19. Para um país em que a continuidade dos processos sociais é sempre quebradiça, os artistas também tomam para si a tarefa de vez ou outra inventar o “verdadeiro teatro brasileiro”, que está sempre por nascer: “o passado nos condena. É preciso apagar as suas marcas ignóbeis. O tom é de violência, mas a afirmação é justa para definir a obsessão que domina, em ritmo crescente, a cena brasileira após os anos de 1940. O movimento não chegou a ser de longa duração; prolongou-se
por cerca de vinte ou trinta e tantos anos. A rigor, tratava-se de uma reedição do impulso civilizatório que assolou o teatro do país no final do século 19 e na passagem para o século 20”. Nessa mesma perspectiva, a de uma reinauguração da cena, não é diferente o que ocorre entre o final dos anos 1950 e o final dos 70, período intitulado no livro o das “novas correntes teatrais”. Os títulos dos ensaios indicam aquela dita liberalidade estética em um período no qual a promessa de avanços políticos e sociais encontra a resposta firme do regime militar. Da pesquisa ao desbunde, do palco ideológico à opção deliberada pela marginalidade, o período vai do movimento de politização, via Teatro de Arena e CPC (em texto de Maria Silvia Betti) aos jogos experimentais (Edélcio Mostaço). O inventário dos anos 1980 e 90 escrito por Silvana Garcia procura evitar o quanto é possível a ideia de uma ruptura em relação ao passado recente. E aponta, jogando luz em autores, encenadores e atores que transitaram de um período a outro ou que passaram a criar já no período pós-abertura, as linhas novas, mas também as da continuidade necessária para compreendermos o processo teatral e histórico como espaços de contradições que se reapresentam em bases diferentes. De fato, é a partir daqui que poderemos ver, já no olhar da pesquisadora Silvia Fernandes, os caminhos da cena contemporânea mais próxima a nós.
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vejaRecomenda
SEGUNDA TEMPORADA DE ORPHAN BLACK DISPONÍVEL NO NETFLIX
J
á está disponível no famoso serviço de streaming de vídeos e séries a segunda temporada de Orphan Black, série de ficção científica
onde a atriz principal, Tatiana Maslany, se desdobra em inúmeras clones em busca de respostas para uma verdadeira teia de intrigas. Destaque
para a atuação de Maslany na trama, que não tem ganhado o merecido reconhecimento pela opinião pública.
MULHER EM DESTAQUE
danças que precisam ser feitas na religiãoislâmica para que muçulmanos abandonem os dogmas que osprendem ao século VII. Segundo Ali, “o islã não é uma religião de paz”;o Ocidente deve apoiar os reformistas muçulmanos e não tolerar osextremistas. Concluído logo depois do ataque ao Charlie Hebdo e nummomento em que milhares de pessoas ainda são mortas em nome deAlá, este livro oferece uma resposta a um dos mais graves problemasdo mundo
A
yaan Hirsi Ali, autora do best-seller Infiel, faz neste livro um apelopoderoso por uma reforma do islamismo, como único modo de acabarcom o terrorismo, as guerras sectárias e a repressão contra mulherese outras minorias. Desafiando com coragem os jihadistas, elaidentifica as cinco mu-
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