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Revue littéraire et culturel
13ª edição da revista
Editorial
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Caro Leitor
A décima terceira edição da Cultive fecha o ano de 2020. Um ano conturbado, difícil e incerto.
Chegamos ao fim do ano na expectativa de mudanças para a covid 19.
A expectativa do término do pesadelo em poucos meses arrastou-se até o fim do ano. A esperança foi todos os dias massacrada pelas noticias alarmantes e tristes de mortes e de superlotação nos hospitais. Amigos e familiares foram desaparecendo e nos enclausuramos em nossas casas com medo do contágio tentando fugir do contágio.
Dezembro chegou. A esperança de uma vacina foi anunciada e milhões de incertezas alimentadas pelas mídia e fakes news nos cololcou em alerta. Ultrapassamos o 2020 e entramos no 2021, sempre esperando soluções, mas a luz no fim do túnel não se descortina. Porém estamos aprendendo a conviver e orando cada a sua maneira para que essa vacina funcione e afaste o pesadelo para longe.
Essa edição apresenta ao leitor passagens desses momentos de expectativa, esperança, tristezas e transformação.
Os aspectos da nossa vida cotidiana Covidal são relatados de diversas formas aqui, nessa edição. Textos literários em prosa e verso recheados de sentimentos, emoções e reflexões são desabafos emitidos por autores e poetas. tos culturais e à educação porque não podemos nos fixar apenas nas dificuldades, pois a vida continua.
O leitor descobrirá também que muitos conseguiram continuar a produzir, a criar e a trabalhar. Artistas, cantando, expondo e inovando.
O período de dificuldade também se mostra como um período de transformação e adaptação e apesar do pesar Covid, foram realizados muitos eventos.
Nas páginas dessa edição você descobrirá como os artistas, autores, estudantes, associações culturais, professores e escolas deram a volta por cima e realizaram muitos projetos com sucesso.
Fechando o ano, os votos de esperança e bonança se acumulam através das páginas, um conjunto de mensagens e preces que reforçam o pedido ao universo de melhores tempos.
Também nas páginas, não esquecemos de prestar homenagem ao grande dramaturgo brasileiro Paulo Pontes que festejaria seu aniversário de 80 anos em novembro de 2020 se estivesse vivo.
E para encerrar e estimular os autores é com grande prazer que criamos o prêmio NATALINO HOHOHOHO. O prêmio será emitido para o texto mais emocionante sobre o tema NATAL enviado à redação na edição de Natal de cada ano. Descubra o ganhador de 2020.
Esperamos que tenha uma boa leitura, um Feliz Natal e um Própero Ano Novo de 2021.
Valquiria Imperiano Redatora Chefe
45 | Valquiria Imperiano - Oração da Cultiv, Ir lá na Luz do Paraiso, Girassóis de Van Gogh 48 | Angeli Rose - Antepassados de hoje, mulheres de ontem 50 | Norma Brito 52 | Jacqueline Assunção Biblioterapia - a terapia que libera o ser 53 | Izabella Pavesi 54 | Oneida Maria Di Domenico 56 | Pio Barbosa 58 | Tereza Porto 59 | Vera de Barcellos 60 | Celso Correa de Freitas 61 | Sheila Cândida da Costa 61 | Denise Mathias 62 | Antonio Josman Lima Brito 64 | Moisés Ricardo Mpova 65 | Carmem Aoparecvida gomes 66 | Luciana Nascimento 67 | Edenice Fraga - Oração poérica de Natal 68 | Dayane Nayara ALves - Moda e Machado de Assis 70 | Alexandre Santos - Meia Noite 71 | Melania Ludwig Rodrigues - Solidão da Quarentena I e II 100 | Laura Moura Nunes - Mas é Natal 116 | Amauri Holanda de Souza - 117 | Paulo Roberto Monteiro
74 | FOCCUS
72 | Gina Teixeira - História da Casa do compositor Musical 74 | Montana Cabral - CERN 75 | Gabriela Lopes Dos Santos 76 | Valentine Fontaine 78 | Cia Bate palmas 82 | Manoel Osdemi 83 | Flipo 85 | Pietro Costa 86 | Maria Quitéria 88 | Maria das Graças Cordeiro dos Santos Roteiro tur¿stico como mecanismo de preserva ção histórica e cultural da memória de Maria Quitéria em Feira de Santana- Ba. 89 | Lélia Vitor F. De Oliveira- Casarão dos Olhos d’ Água 91 | Liacélia Pires Leal - Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana. 92 | Maria Leci Queiros - A mesa da partilha e do caju de amor 96 | Neusa Bernado Coelho - ponte Hercílio Luz 101 | José Custódio Madaleno Geraldo - Episódio na Ida da Família Real Portuguesa para o Bra sil: 1807 - 1808 103 | José Angelo Pinto - Apreservaçao da Memória como Identidade Individual e coletiva
EDUCAÇÃO
105 | Clesley Maria Tavares do Nascimento 108 | Lais Castro- Audiodescrição - Audiodescrição 109 | Rosa Marta Gerber - Renascer nas frequências 113 | Irlana Jane Menas da Silva- Cenário da educação em Feira de Santana 115 | Bady Curi neto A Importância dos direitos autorais
78 | EDITORA CULTIVE
118 | Regina Naegeli - Max 119 | Paulo Bretas- Méditation 120 | Maria José Esmeraldo Rolim- Le monde des animaux
Prêmio Natalino HohoHo
A redação da revue Cultive oferece o Prêmio Natalino HOHOHO
ao texto natalino da escritora Avani Peixe
«Estimado Papai Noel»
Avani Peixe lemos
Estimado Papai Noel Agora já posso me fazer entender bem melhor do que há algumas décadas passadas, quando lhe escrevi a minha primeira cartinha, - o Sr. lembra? –
Naquela época tinha apenas seis anos de idade. Com a ajuda da mamãe, resolvemos lhe fazer uma cartinha, onde contávamos um pouquinho da nossa história que, em alguns detalhes, se não me falha a memória, a mamãe fazendo uso da sua brilhante imaginação, nos levavam a sonhar e singrar novos mares e novos horizontes. Ela nos contava que o Sr., Papai Noel, morava num país muito distante, que tinha uma voz mansa, que tinha cabelos e barbas brancos, que levava nas costas uma sacola enorme com presentes para todas as crianças.
Pois bem, morávamos em uma cidade muita fria e muito linda, só que a mamãe esqueceu de nos dizer que de onde você vinha havia neve, feito capuchinhos de algodão. Tão pronto começava, eu a adentrar nos meus sonhos de infância (que foram tantos) associados a belos campos floridos, com pássaros cantando, montanhas azuis...e branquinhas cobertas pela neve. Em quase tudo ela foi fiel nas suas narrativas, - verdade? - E continuava...com sutileza, a contar das nossas dificuldades já que éramos seis irmãos. Nessa época, com a aproximação do maior evento da História Cristã: O Natal, tudo, absolutamente tudo nos parecia bem melhor. Lembro que quando abríamos a janela antiga da nossa sala que dava para uma praça com árvores frondosas.
O sol brilhava muito mais intenso! Havia em tudo uma sensação de tranquilidade reinante. As pessoas se abraçavam...riam e riam felizes cumprimentando-se com cordialidade e nunca se viu tanta gentileza com gestos e atitudes de tanta solidariedade!
O céu à noite nos permitia, com uma luz espetacular, que contássemos as estrelas porque havia em tudo a impressão de uma realidade palpável e transmissora de uma energia mensurável. Sim! Mas, precisávamos lembrar do presentinho de Natal e foi assim que na minha primeira cartinha eu lhe pedi presentinhos para mim e para as minhas irmãs (poderia ser lembrancinhas iguais, poderia), uma bonequinha e um chocolate que tinha formato de peixe; para os irmãos, carros em miniaturas. Só não poderia esquecer dos chocolates, que eles apreciavam tanto! E assim ficávamos na espera do grande dia, ocupando-nos com a armação da lapinha, com santinhos feitos de madeira, que contava a história do nascimento do Menino Jesus.
Fazíamos, em família, a nossa árvore de um pinho natural e produzíamos um cenário, por mamãe pintado, onde tinha o céu, as estrelas, a Estrela de Belém, indicando o caminho à Jesus.
A Ceia de Natal era muito simples, não faltando o momento do nosso reconhecimento e gratidão a Deus por tudo o que nos havia dado em toda a nossa vida.
LUCIA SOUSA - Psicóloga, escritora, é membro Internacional, Délégue e Jornalista correspondente em Recife-PE da Cultive-Genebra-Suíça. Membro da diretoria da União Brasileira de Escritores-UBE-Tesoureira Geral. Integra a diretoria da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil-AJEB/PE. Esposa de Evandro Barbosa, este fazendo busca nos assentamentos de seus arquivos, encontrou os registros da passagem de vida do seu tio-avô João Pontes Barbosa, pai do dramaturgo Paulo Pontes, que estaria fazendo 80 anos no dia 08 de novembro de 2020. Lucia decidiu prestar uma homenagem in memorian ao Paulo Pontes.

Paulo Pontes, Luz Fulgurante
“A existência do povo é uma coisa mais importante do que o teatro, porque, enquanto um pode pegar apenas um momento da existência do povo, o povo é a própria história, porque dela participa e faz história reivindicando.” Paulo Pontes
O célebre escritor, jornalista e dramaturgo Paulo Pontes, este é seu nome artístico, nasceu Vicente de Paulo. O nome Vicente é originado do latim Vincentius, deriva de vincente, particípio passado do verbo vincere, que significa “vencer”, “o que está vencendo” e por extensão atribuído o significado de “vencedor”. Sim, Vicente de Paulo, venceu e se tornou uma referência nacional como verdadeiro artista.
Paulo Pontes nasceu no dia 08 de novembro de 1940, na cidade de Campina Grande, Paraíba. Filho de João Pontes Barbosa e Laís Holanda, que tiveram mais dois filhos. Como era uma família de pouco recursos, necessitaram se transferir para a capital em busca de melhores oportunidades para a família.
Sobre Paulo Pontes, escreveram escritores, jornalistas, poetas e grandes críticos. No momento, historiadores e dissertações acadêmicas procuram exaltar a sua obra e a sua atuação como personalidade do seu tempo e sobre a dimensão que ele obteve na esfera artística, social e política. Não ficou idoso e prostrado, teve uma vida curta de apenas 36 anos. Faleceu em 27 de dezembro de 1976 no Rio de Janeiro. Consolidou-se com grande projeção intelectual, possuía uma dialética com a formulação de ideias capaz de sensibilizar sem que ninguém pudesse argumentar, tal o seu raciocínio célere sem prelúdio e de muito brilho.
CULTIVAR
CULTURA

Valquiria Imperiano
Durante esse período de confinamento causado pelo covid ela aproveitou para escrever, pintar e dirigir a Cultive criando métodos de atividades e adaptando eventos que deveriam ser presenciais. Em Genebra ela planejou e colocou em prática o curso de francês para estrangeiro que era presencial e passou a ser online. Embora o método online ainda não seja bem aceito pelos alunos o curso continuou mesmo com o número de alunos reduzido.
Todos os eventos previstos para serem realizados em Berlim, Portugal, Genebra e Brasil foram anulados e os projetos aguardam na gaveta o momento adequado para serem executados.
Por outro, Valquiria organizou à distância um Concurso Nacional Cultive de Literatura infanto-juvenil no Brasil. Apesar das dificuldades práticas participaram 8 estados do Brasil e foi muito gratificante ter a colaboração de dedicados professores e alunos. Para motivar os membros da Cultive ela organizou saraus online, vídeos poéticos que foram apresentados no canal Cultive.
Ainda de forma online, Valquiria Guillemin Imperiano mediou 15 conferências com temas variados pelo Instagram e pelo Canal Cultive. Ela também participou como conferencista e foi entrevistada em várias emissões jornalísticas do Brasil e Itália, Holanda. Uma exposição de arte virtual com a participação de 28 artistas e um concerto com o título de Reveillon Cultive Adeus 2020 apresenta músicas e artistas de todos os estilos e nacionalidades. Valquiria Lançou, também, o programa Sol com Gina no Canal Cultive pelo youtube, tendo a Gina Teixeira como apresentadora. Sol com Gina vai ao ar duas vezes por mês. Sob a produção, coordenção e apresentação de Sandra Nolli foi ao ar o programa radiofônico Conexão Cultive Briccia Suíça Brasil. A Cultive encerrou com arte e criatividade o ano de 2020 no dia 31 de dezembro no Canal Cultive. E tendo na agenda outros projetos para 2021.
Criou e realizou os projetos: Caravana Cultural Cultive em 2018 (em 5 cidades do Nordeste), FECCAN (Festival Cultural Cultive) em Alagoa Nova-PB; Encontro Internacional de Autores no Salão do Livro de Genebra desde 2017-2018-2019; Cultive em Luxembourg 2017; Caravana Cultural Internacional Europeia 2019; realiza Concurso Cultive de Literatura desde 2017, I e II Concurso Cultive de Literatura Infantil; CCBS - Cultive Intercâmbio Cultural Brasil / Suíça (Florianópolis, Curitiba, Mandaguari, Maringá, Recife, Alagoa Nova, Fortaleza, Bitupitá); organizou 8 Antologias Cultive, Exposição Imagem Poética Cultive no Consulado Geral do Brasil em Genebra em 2019; Campanha da Felicidade (campanha cultural e filantrópica) realizada em Camurupim - Paraíba- Brasil.
Prêmio Caruaru 2018, Comenda de Cheverny 2017, Melhores poeta do Ano de 2012, Prêmio Mil Poemas para Gonçalves Dias, Ser Brasileiro (Noruega) 2014, Troféu Imprensa Sem Fronteira de Literatura 2016. Prêmio Mérito Cultural do Jornal sem Fronteiras em 2017, Prêmio Editora Pragmata 2016, Prêmio de Honra e reconhecimento os melhores do ano 2017 pela Societé Civil Européen de Beaux Arts ; Diploma de mérito no 5° Encontro Internacional de Culturas Lusófonas 2019, Prêmio Acima 2015, Prêmio de Excelência literária – Rebra 2015, Selo de Reconhecimento Juvenal Galeno 2019 com base no ato institucional n° 006 de 20 de fevereiro 2016, diploma de reconhecimento Prêmio Monção de Aplausos emitido após aprovação por unanimidade pela Câmara de vereadores de Mandaguari- Pr – 2019; Honra ao Mérito emitido pela Academia de Letras do Brasil de Santa Catarina; Parceiro Cultural da Casa Juvenal Galeno.
Arte
Valquiria também terminou 4 telas florais. Escreveu um livro de poemas e está concluindo o romance O perfume da Metamorfose e um livro infantil. Realizou exposições de arte coletivas e individuais em Genebra de 1998 a 2019, Londres, Noruega, EUA, Brasil, Florencia, Liechteinstein, Carrousel du Louvre Paris, Luxembourg, Barcelona, Brasil.
NATAL DE OUTRORA, NATAL DE AGORA

Norma Brito
Véspera de Natal. Rebuliço na casa. Filhos crescidos. Moravam distante, raras as vezes que se viam. Motivo suficiente para estar eufórica e feliz.
Mesmo assim, impossível evitar a nostalgia. Lembrava-se de um Natal diferente quando era criança, em sua pequena cidade. Como num filme, via nitidamente os preparativos para a festa. Uma vez ela presenciou assustada, a empregada embebedar o peru para facilitar a tarefa de sacrificá-lo e no dia seguinte ser transformado num delicioso prato: o tradicional Peru de Natal recheado com farofa de miúdos temperados.
Cheiro forte vindo da cozinha. Carnes, salpicão, rabanadas e bolo de frutas cristalizadas. Nada sofisticado, porém muito especial. Aquele momento mágico quando toda a família se reunia para desejar paz, brindar, degustar as delícias natalinas e trocar presentes.
Nos vãos da memória, não havia nenhuma árvore de natal. Não, se tivesse, ela não se esqueceria. Somente depois de casada ela comprou uma pequena árvore e todo ano a enfeitava com a ajuda dos filhos. Do presépio, ela lembrava: a manjedoura com o Menino Jesus, as vaquinhas e os três Reis Magos. A história recontada, envolta de mistérios e beleza. Pura emoção.
O que mais fascinava a menina era o Papai Noel.
Imaginava o bom homem sobrevoando os telhados, no trenó puxado pelas renas. E as cartas? Ja-
50 Revue Cultive - Genève
mais se esquecia de escrevê-las. Mãe, porque é Missa do Galo? Tem um galo na missa? Não filha, é que o galo canta anunciando o novo dia. E na missa celebra-se a vinda do Menino Jesus. É renovação de vida. Verinha fingia entender a explicação.
Corre filha, vem provar o vestido, só falta ajustar na cintura. Não se mexa, senão você se espeta com os alfinetes. A garota sentia-se uma princesa com o vestido- cor- de rosa, de babados e rendas. Você tem que me ajudar a enfiar a agulha. E, assim, a menina aprendeu a chulear, pregar botões, fazer casas de botões e barra. Tudo à mão.
Recordações... Hoje não se chuleia mais à mão. Existe uma máquina - overloque - que além de chulear, ainda corta as pontas dos tecidos.
Presentes embaixo das camas. O velhinho já estava ficando esquecido e nem sempre trazia o que lhes pediam. Mas ficavam felizes mesmo assim. Cedinho, a garotada corria para verem os embrulhos coloridos. Eram bonecas, panelinhas de alumínio, móveis de madeira com penteador, carrinhos.
O Natal transmudou-se. Banalizado com propagandas de produtos, lojas cheias, pessoas com sacolas de presentes. O comércio explorando as pessoas. Os enfeites das árvores bem mais modernos bolas rebordadas, inquebráveis. E até Papai Noel indo e vindo numa cadeira de balanço, requebrando os quadris, tocando um instrumento ou dizendo Ho, Ho, Ho se lhes apertam um botão ou plugam o fio. Brinquedos eletrônicos, adolescentes preferindo um modelo de celular mais sofisticado. Quase todo mundo compra em dez ou mais prestações.

O sentido do Natal também é outro. Missa do Galo? A maioria nem sabe o que é. Alguns nunca assistiram a nenhuma. Os amigos para sempre se separaram, cada um seguiu seu destino. Não se enviam mais cartões de natal. Agora, são mensagens eletrônicas, impessoais. A Ceia em família parece ser a tradição que restou.
Mas... E o espírito natalino? Nos semáforos, as menininhas se aproximam com uma flor, os rapazes com folhetos ou frutas. Rapidamente fechamos os vidros, travamos as portas. Dentro
Oneida Maria Di Domenico
NUNCA DEIXAR DE APRENDER
Analisar a situação em que Sócrates se encontrava ao tomar a atitude de que-rer aprender a tocar um instrumento musical (a ária) - acredito ser um sonho seu ainda não realizado - teve razão em querer aprender antes de lhe prepararem o veneno que o levaria à morte.
Nota-se nessa ânsia pelo conhecimento, que somos eternos aprendizes, pois nunca sabemos tudo, sempre há o que aprender.
No que se refere às notícias, só sensacionalismo, crimes de todos os tipos, golpes cada vez mais bem elaborados, numa sociedade mercenária, sem escrúpulos, sem caráter e sem perspectivas de uma vida melhor para os menos favorecidos.
Nossos Legisladores e Administradores Públicos, em meio à distração da população, na calada da noite, como quando se quer dizer às escondidas e às pressas, edi-tam leis, tiram direitos, e fazem o que bem entendem sem a devida consulta a quem real-mente interessa, só pensando nos próprios interesses.
Nossa vida profissional, bem como todos os nossos direitos fundamentais, depende do sistema de governo em que vivemos. Todavia, apresenta-se, aos que têm olhos para ver, numa verdadeira ineptocracia.
Enquanto isso, os heróis do povo são os malfeitores que vivem fora da lei e subjugando o povo honesto e trabalhador que preza por sua boa índole e possui valores éticos para preservar. Vou fazer uma breve analogia sobre o mito da ‘Caverna de Platão’, extraída do livro: A República de Platão. Considero-a belíssima, e com a qual fiquei mais apaixonada pelos filósofos.
Segundo a mitologia, uma tribo habitava dentro de uma caverna escura e fétida, não saíam para nada, pois seus mundos se resumiam a estarem lá dentro e sob as ordens de um líder cruel e manipulador.
Certa vez Platão aparece e convida um integrante para dar um passeio. O convidado reluta e diz que não pode sair, pois seu mundo é dentro da caverna, e ainda tinha que ter a permissão do líder. Platão, após várias tentativas, conseguiu convencer o aborígene a sair.
Esse ao retornar à caverna, relata que lá fora existia muita luz, natureza abundante, muitas frutas que serviriam de alimento, riachos, muita água, entre outras coisas mais. Muitos não acreditavam no que estavam ouvindo. Afirmavam que o aborígene estava delirando e um tanto louco, pois o mundo se resumia ao interior da caverna e nada além dela poderia existir.
Com o passar do tempo, os demais aborígenes perceberam que aquele que saía, voltava sempre com ideias novas e querendo mudar a situação em que a tribo se encontrava. Relutavam, não queriam mudar, queriam permanecer como estavam.
Todavia, aos poucos cada um teve a vontade de sair e ver o mundo lá fora. E assim a visão deles começou a se ampliar e perceberam que o mundo era maior e mais belo do que se ficassem somente dentro da caverna escura e monótona. E aos poucos um a um descobriu que a vida poderia ser bela fora da caverna. Podiam escolher o que fazer e decidir, qual lugar ir, do que se alimentar, portanto, ficarem livres da escuridão, e que também não havia a necessidade de seguir tão cegamente um líder que não lhes dava a liberdade de escolha.
Vejam o quão difícil é de sair da - zona de conforto - de uma situação em que vivemos, para assim poder tornar nossa vida um pouco mais atraente e confortável, ou seja, vencer uma dificuldade e superar-se, conquistando a liberdade.
Tereza Porto
Anjos são seres etéreos, que de vez em quando assumem a forma humana. Ora são luzes, ora se revestem de matéria, outras vezes vagueiam pela estratosfera, ou param e esperam a hora de agir, de cumprir a missão que receberam.
Tal qual pastores na colina, observam o movimento do rebanho a pastar nas encostas verdejantes, atentos a qualquer ação ou reação de suas ovelhas. Apenas pastoram e guardam, mas estão sempre prontos a correr em seu socorro.
Cada anjo tem sua missão. Missão de ajuda, missão de proteção e de defesa. Como Anjos da Guarda, eles são a mão de Deus na Terra. E com essa mão que o Pai lhes empresta, eles são o resgate da esperança quando tudo parece perdido, são a cura nas enfermidades, são o alento no desespero, são unguento na dor. Sempre que necessário, também são bússolas na falta de rumo, faróis nos oceanos revoltos, são luzes em momentos de escuridão, são abrigo nas tormentas, são refúgio nas tempestades, são amparo nas quedas, são abraços no desalento, são a paz que se segue à guerra.
Recentemente, eles foram convocados em massa. Uma terrível crise de saúde caiu sobre a humanidade, fazendo-a atravessar um período de isolamento e de medo. E isto foi palco para a atuação de muitos anjos, que se reuniram em grupos para enfrentar com coragem a morte. Doaram suas vidas na luta pela vida de pessoas que arfavam desesperadas na busca de algo tão acessível a todos os habitantes do planeta: o ar que se respira, fonte da vida terrena. Com os pulmões invadidos por um vírus recém-descoberto, enfermos suplicavam por um fio de ar que somente uma máquina, ligada a um tubo, podia respirar por eles. E assim permaneciam em lenta e insuportável espera pela recuperação da vida, que caminhava em compasso declinante rumo ao fim. A morte virou uma estatística cruel, revelada em números crescentes a cada noticiário, provocando pânico.
Diante de situação tão extrema e tão extensa, quis Deus que um time de anjos surgisse em socorro dessas centenas de seres contaminados. Estes anjos usaram máscaras, vestiram jalecos brancos cobertos por capas de proteção e, de forma incansável, enfrentaram uma luta silenciosa, travada em leitos dispostos lado a lado nos amplos espaços frios e higienizados, ou no interior de UTI’s, lugar onde a vida e a morte realmente travaram um combate silencioso.
De forma abnegada, e numa entrega solidária e plena de compaixão, mergulharam em hospitais montados às pressas, percorreram corredores sem fim, tentando segurar as vidas que se esvaíam, mesmo cientes do risco que suas próprias vidas corriam. Com dedicação e foco total, abriram mão de suas rotinas e do convívio familiar para salvar vidas nessa maratona macabra. Mas cada vida salva era um troféu que compensava todo esforço e todo o suor derramado.
Nesse território de incertezas, nessa arena em que a arma mais poderosa era a fé, os anjos de jaleco atuaram como soldados de Deus, usando a ciência e exercitando sua capacidade de vencer o impossível. Não mediram esforços em sua tarefa sobre-humana de resgatar a saúde mesmo diante de quadros considerados desesperançados.
O mais emocionante acontecia no final, quando cada paciente recuperado revertia um pouco as expectativas negativas e provocava um clima raro de satisfação no time. Então, era lindo ver esses anjos perfilados no corredor aplaudindo a vitória da vida sobre a morte, numa vibração intensa em homenagem a cada pessoa que conseguia sobreviver. Alegria de anjo é lindo de ver.

Portanto, a homenagem importante que também deve ser feita é a todos esses anjos profissionais da saúde que, no mundo inteiro, estiveram na frente de batalha durante a pandemia de 2020. São médicos, enfermeiros, técnicos e funcionários administrativos das instituições de saúde que abdicaram, por um longo período, de sua vidas cotidianas para cuidar dos que foram infectados pela doença. Muitos anjos também foram atingidos por esse vírus mortal, e alguns até sucumbiram nas trincheiras do combate, mas, como foram todos ungidos por Deus em sua missão, jamais arrefeceram. Por isso, merecem as mais vibrantes homenagens e a eterna gratidão de todos.
Os Anjos de Jaleco foram os heróis dessa horripilante batalha que surgiu na segunda década do século XXI e que, por certo, vai marcar a história
de Arte Popular, Escola Maria Quitéria, CUCA, Coretos das Praças da Matriz, Fróes da Motta e Bernardino Bahia, Cemitério Piedade, Igreja da Matriz, Igreja dos Remédios, Asilo Nossa Senhora de Lourdes, Igreja Senhor dos Passos, Abrigos Predileto e Marajó, prédios da Sociedade Montepio dos Artistas Feirenses, Sociedade Filarmônica 25 de Março, Sociedade Filarmônica Vitória e por último o Casarão Fróes da Motta, diríamos que Feira de Santana é uma cidade do século 20. Observem que todos estes patrimônios arquitetônicos existentes na cidade pertencem ao município, arquidiocese ou entidades locais. Praticamente não existem memórias de iniciativa privada.
Tratar bem a memória não é somente vislumbrar uma peça antiga, mas é dar luz ao longínquo mundo da história; é dar ao cidadão a chance de se identificar com o lugar onde mora; é tornar o seu povo muito mais politizado, comprometido, seguros de si e unidos por um propósito em comum. Uma cidade sem memória é uma cidade sem história, sem raízes, onde qualquer um vem e suga o que tiver de melhor e vai embora, onde os cidadãos vivem individualmente, sem se preocupar com o lugar onde vive, com o que está acontecendo e também com o próximo. Pode ser até uma cidade que cresça economicamente, mas continuará socialmente pobre, violenta e sem memória.
José Angelo Leite Pinto

Do 28 abril ao 02 maio 2021


contato: ascultive@gmail.com www.cultive-org.com






Luciana Imperiano
