Fonoaudiologia em Libras

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Libras na Fonoaudiologia 

Esta apostila foi organizada para o curso de Libras na Fonoaudiologia oferecido pela Cultural Libras® e traz conteúdo sobre a Libras, a Cultura e Identidade Surda com enfoque na atuação dos profissionais de fonoaudiologia. Nosso objetivo com este material ajudá-lo a oferecer um atendimento mais acessível para Surdos e suas famílias.


Boas-vindas e apresentação

Prezad@ alun@ É uma grande alegria para nós da Cultural Libras ter você conosco. Espero que este curso atenda (e supere) suas expectativas. Ele foi pensado com muito carinho e cuidado.

Por que aprender Libras? Libras não é linguagem de sinais, não é gesto, não é mímica. Libras é uma língua! Possui toda a complexidade de uma língua oral. Hoje ela é reconhecida legalmente como meio de comunicação dos surdos brasileiros por meio da Lei de nº 10.436, de 24 de Abril de 2002. Profissionais das áreas de educação e saúde (mas não somente eles) devem buscar aprender sobre a Comunidade Surda, sua cultura e sua língua, a fim de garantir àqueles que tem a Libras como sua primeira língua um atendimento humano e eficaz.

Nosso Curso A proposta do nosso curso é oferecer a fonoaudiólogos (em formação ou já no mercado) a oportunidade de ampliar seus conhecimentos na língua e na cultura do Surdo. Com isso, abrimos a possibilidade profissionais melhorar seu atendimento prestado aos Surdos e seus familiares. Nosso curso será totalmente on-line com aulas síncronas e assíncronas.

Cultural Libras Com uma proposta de divulgar e promover o conhecimento da Cultura Surda e também de Língua Brasileira de Sinais, a Cultural Libras nasceu com o diferencial de buscar unir conhecimento acadêmico com a prática cotidiana. Assim, buscamos levar o ensino da Libras de forma simples, objetiva e divertida.

Plataforma de aulas

ZOOM Esta será a nossa plataforma para as aulas síncronas (ao vivo). •••

GOOGLE CLASSROOM Para nossas aulas assíncronas e atividades, usaremos o Google Classroom. Com esta ferramenta também é possível a interação. •••

TELEGRAM Também estará disponível para a turma um canal e um chat no Telegram onde a interação pode ser maior e onde postaremos conteúdo complementar.


Sumário  F o n o a u d i o l o g i a e S u r d e z ......................................................................................... 5 S u r d e z ........................................................................................................................................ 7 Tipos de surdez ............................................................................................................................ 7 Fisiopatologia........................................................................................................................... 7 Etiologia.................................................................................................................................... 8 Causas da surdez........................................................................................................................ 8 Prevenção da surdez ............................................................................................................... 10 C o m p r e e n d e n d o o S u r d o ....................................................................................... 11 Surdo e surdo ............................................................................................................................ 11 Deficiência Auditiva ................................................................................................................. 12 Surdo-Mudo ............................................................................................................................... 12 Desmistificando estereótipos ................................................................................................... 13 C u l t u r a e I d e n t i d a d e S u r d a ................................................................................ 17 Elementos da Cultura Surda .................................................................................................... 18 Identidades Surda .................................................................................................................... 18 O Surdo ao longo da história ................................................................................................... 19 Antiguidade ........................................................................................................................... 19 Idade Média e Moderna ...................................................................................................... 20 Século XIX............................................................................................................................... 20 Século XX e XXI ...................................................................................................................... 20 Breve histórico da educação de Surdos ................................................................................ 21 A L i b r a s .................................................................................................................................. 22 Contexto histórico da Libras .................................................................................................... 22 Legislação ................................................................................................................................. 23 Alfabeto manual....................................................................................................................... 23 Datilologia .............................................................................................................................. 24 Números em Libras ................................................................................................................... 24 Cardinais ................................................................................................................................ 24 Ordinais .................................................................................................................................. 24 Quantidades.......................................................................................................................... 24


Libras na Fonoaudiologia ••• Estrutura da Libras ..................................................................................................................... 25 Os cinco parâmetros da Libras ............................................................................................... 25 Configuração de mão ......................................................................................................... 25 Locação (ponto de articulação) ........................................................................................ 27 Movimentos ........................................................................................................................... 28 Orientação ............................................................................................................................ 28 Expressões faciais corporais (expressões não manuais) .................................................... 29 G r a m á t i c a d a L i b r a s .................................................................................................. 31 Variação linguística .................................................................................................................. 31 Variação regional ................................................................................................................. 31 Variação histórica ................................................................................................................. 31 Variação histórica ................................................................................................................. 32 Iconicidade e Arbitrariedade .................................................................................................. 32 Sinais Icônicos ........................................................................................................................ 32 Sinais Arbitrários ..................................................................................................................... 33 Estrutura Sintática ..................................................................................................................... 33 Sistema pronominal .................................................................................................................. 34 Pronomes pessoais ................................................................................................................ 34 Pronomes demonstrativos .................................................................................................... 38 Pronomes possessivos ........................................................................................................... 39 Pronomes interrogativos ....................................................................................................... 39 Pronomes indefinidos ............................................................................................................ 40 Advérbios................................................................................................................................... 41 Lugar....................................................................................................................................... 41 Tempo .................................................................................................................................... 41 Verbos ........................................................................................................................................ 42 S i n a l á r i o ................................................................................................................................ 43 R e f e r ê n c i a s ......................................................................................................................... 60

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Sites Recomendados ................................................................................................................ 60


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Fonoaudiologia e Surdez1 O fonoaudiólogo é o profissional habilitado para ações de prevenção, promoção, diagnóstico e reabilitação dos distúrbios de comunicação humana. Entre essas áreas de atuação, destaca-se o diagnóstico auditivo, sendo este um dos trabalhos mais realizados. Atualmente, o profissional fonoaudiólogo conta com o desenvolvimento de alta tecnologia e isso possibilita que o diagnóstico seja concluído com muito mais precisão e precocidade. Com a obrigatoriedade da realização das emissões otoacústicas (Teste da Orelhinha), direito garantido pela Lei 12.303, a surdez (ou deficiência auditiva) pré-lingual já pode ser concluída em questão de poucos meses. Isso possibilita o direcionamento familiar e faz com que o desenvolvimento infantil transcorra com o mínimo de atraso. Entre as possibilidades de tratamento a família pode escolher pelo encaminhamento para protetização, implante coclear e a inserção na língua de sinais. Nesse momento, o fonoaudiólogo, juntamente com a equipe (médicos, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais) assumem um papel muito importante que é o aconselhamento e o auxílio na decisão familiar sobre a melhor conduta para o caso. A Língua Brasileira de Sinais (no Brasil chamada de LIBRAS) é o meio de comunicação alternativa mais utilizada entre aqueles que não utilizam a fala para se comunicar e sua grande maioria de usuários são os surdos ou deficientes auditivos, como alguns preferem chamar. Por meio dessa modalidade, é possível que seja escolarizado, participe de eventos públicos, possa dirigir, assuma cargos públicos, ou seja, leve uma vida normal. Apesar dessa possibilidade, a maior parte da população desconhece a língua (algumas vezes até discrimina) e seu usuário necessita apropriar-se de outras modalidades de comunicação, tornando-se bilíngue e em algumas vezes até trilíngue. Bilíngue ou trilíngue significa usar duas ou mais línguas para se comunicar. Frequentemente, os surdos optam pelo uso da LIBRAS como primeira língua e o português oralizado ou escrito como segunda língua. A família que opta pela inserção nessa língua pode contar com o apoio do fonoaudiólogo, que tem sua atuação além da fala, através da representação de uma linguagem desenvolvida previamente e que também pode ser representada pelos sinais.

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Assim como os distúrbios de linguagem expressos nas línguas orais, os expressos em língua de sinais possuem impactos similares na vida social, familiar e acadêmica dessas pessoas. O mais comum é o atraso na apropriação desta que na maioria das vezes é causada pela demora na aceitação da surdez e consequentemente na convivência com seus usuários. Muitas famílias negam essa possibilidade forçando os filhos a desenvolverem a fala para se tornarem “falantes normais”. É importante lembrar Texto disponível em <https://rsaude.com.br/ponta-grossa/materia/fonoaudiologia-surdez-o-uso-da-linguabrasileira-de-sinais/6815>. 1


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que a apropriação da LIBRAS, principalmente pelo surdo, é uma opção e seu uso não nega ou impossibilita o desenvolvimento da comunicação oral. Hoje em dia, muitos são aqueles que acreditam que o fonoaudiólogo ainda é o profissional que obriga o surdo a falar, o que é uma inverdade. O fonoaudiólogo busca em união à família, meios de favorecer a comunicação seja ela pela via que for. Como em todas as áreas, a fonoaudiologia tem para o futuro, um aprimoramento baseado no desenvolvimento de protocolos específicos de avaliação da língua de sinais, uma vez que os utilizados são os adaptados da língua oral e nas formas de diagnóstico da surdez que ficará cada vez mais preciso e precoce.

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Kairone Fernandes Kronbauer2

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Fonoaudiologia em Ponta Grossa / PR - CRFa3: 18076-2


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Surdez A surdez consiste na perda maior ou menor da percepção dos sons. Verifica-se a existência de vários tipos de pessoas com surdez, de acordo com os diferentes graus de perda da audição (LIMA, 2006). Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, a surdez é a diminuição da capacidade de percepção normal dos sons e é considerada com surdez a pessoa que não percebe sons acima 26 dB. Na área da saúde e, tradicionalmente, pela área educacional, o indivíduo com surdez pode ser parcialmente ou totalmente surdo. Podemos dividir os diferentes níveis de surdez da seguinte forma: - Leve: as pessoas podem não se dar conta que ouvem menos: somente um teste de audição (audiometria) vai revelar a deficiência. E a perda acima de 25 a 40 decibéis (dB.); - Moderada: É a perda de 41 a 55 (dB.). Os sons podem ficar distorcidos e na conversação as palavras se tornam abafadas e mais difíceis para entender, particularmente quando têm várias pessoas conversando em locais com ruído ambiental ou salas onde existe eco. A pessoa só consegue escutar os sons muito altos como o som ambiente de urna sala de trabalho e tem dificuldade para falar ao telefone. - Severa: a perda de 71 a 90 (dB.). Para ouvir, a pessoa precisa de um som tão alto quanto o barulho de uma impressora rotativa (até 80 decibéis). - Surdez profunda: É a perda Acima de 91 (dB.). A pessoa só ouve ruídos como os provocados por uma turbina de avião (120 decibéis) disparo de revolver (150 decibéis) e tiro de canhão (200 decibéis). - Anacusia: Falta total da audição. A pessoa não ouve nenhum tipo de som, nem mesmo os mais intensos. Ainda assim, é capaz de perceber vibrações. Tipos de surdez3

A perda auditiva condutiva ocorre secundária às lesões no canal auditivo externo, Membrana Timpânica ou da orelha média. Essas lesões impedem que o som seja eficazmente conduzido para a orelha interna. A perda auditiva neurossensorial é causada por lesões da orelha interna (sensorial) ou nervo auditivo — 8º nervo craniano (neural — Diferenças entre perda auditiva neural e sensorial). Essa distinção é importante, porque a perda auditiva sensorial é, por vezes, reversível e raramente é ameaça à vida. A perda auditiva neural raramente é recuperável e pode ser decorrente de tumor cerebral, quase sempre localizado no ângulo ponto-cerebelar. Denomina-se um tipo adicional da perda neurossensorial de transtorno do espectro da neuropatia auditiva quando o som pode ser Disponível em <https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/dist%C3%BArbios-do-ouvido,-nariz-egarganta/perda-auditiva/perda-auditiva>. 3

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Fisiopatologia A perda auditiva pode ser classificada como condutiva, neurossensorial ou mista.


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detectado, mas o sinal não é enviado corretamente ao cérebro, e acredita-se que ocorra por causa de uma anormalidade das células ciliadas internas ou neurônios que as inervam dentro da cóclea 4. Perda mista pode ser ocasionada por traumatismo craniano, com ou sem fratura do osso temporal, por infecção crônica, ou por uma de muitas doenças genéticas. Também pode ocorrer quando perda de audição condutiva transitória, geralmente consequente à otite média, é sobreposta por perda auditiva neurossensorial. Etiologia Perda auditiva pode ser •

Congênita (Causas da perda auditiva congênita) ou adquirida (Algumas causas de perda auditiva adquirida)

Progressiva ou súbita (Perda auditiva súbita)

Temporária ou permanente

Unilateral ou bilateral

Leve ou profunda

Causas da surdez5 Podemos classificar as causas da surdez conforme o momento em que ocorre. Elas podem ser: •

Pré-natal - Desordens genéticas, consanguinidade doenças infectocontagiosas (como a toxoplasmose, a sífilis e a rubéola), uso de drogas e álcool pela mãe, desnutrição ou carência alimentar materna, hipertensão ou diabetes durante a gestação e exposição à radiação;

Peri-natal - Anóxia (falta de oxigenação), prematuridade, traumas no parto, estrangulamento de cordão umbilical, icterícia grave no recém-nascido e infecção hospitalar;

Pós-natal - Infecções (como meningite, sarampo, caxumba), o uso de remédios ototóxicos em excesso e sem orientação médica, a exposição excessiva a ruídos e a sons muito altos e o traumatismo craniano.

Acúmulo de cerume

Ruído

Envelhecimento

Infecções (particularmente em crianças e adultos jovens)

Pham NS: The management of pediatric hearing loss caused by auditory neuropathy spectrum disorder. Curr Opin Otolaryngol Head Neck Surg 25(5):396-399, 2017. doi: 10.1097/MOO.0000000000000390 5 Disponível em <https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/dist%C3%BArbios-do-ouvido,-nariz-egarganta/perda-auditiva/perda-auditiva>. 4

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As causas mais comuns, em geral, são:


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Acúmulo de cerume (cera) é a causa mais comum da perda auditiva condutiva tratável, em especial nos idosos. Os corpos estranhos obstruindo o canal auditivo, às vezes, são problemas em crianças, tanto em razão de sua presença, quanto por qualquer dano provocado inadvertidamente, durante sua remoção. O ruído pode acarretar perda auditiva neurossensorial súbita ou gradual. No traumatismo acústico, a perda auditiva se dá após exposição a ruído único e extremo (p. ex., um tiro nas proximidades ou explosão); alguns pacientes também desenvolvem zumbido. A perda é geralmente temporária (a menos que haja também danos decorrentes da explosão, que podem destruir a Membrana Timpânica e/ou os ossículos). Na perda auditiva induzida por ruído, a perda desenvolve-se ao longo do tempo em decorrência da exposição crônica ao ruído > 85 decibéis (dB — Níveis sonoros). Embora a suscetibilidade ao ruído varie individualmente, quase todo mundo perde parte de audição, caso seja exposto a ruído suficientemente intenso, por período prolongado. A exposição repetida ao barulho resulta na perda de células ciliadas no órgão de Corti. A perda auditiva costuma acontecer primeiro na frequência de 4 kHz e, gradualmente, se espalha para frequências mais baixas e mais altas conforme a exposição continua. Em contraste com a maioria das outras causas de perda auditiva neurossensorial, a perda auditiva induzida por ruído pode ser menos grave aos 8 kHz do que a 4 kHz. Envelhecimento, juntamente com a exposição a ruídos e fatores genéticos, é um fator de risco comum para diminuição progressiva da audição. Denomina-se a perda auditiva relacionada à idade presbiacusia. Presbiacusia ocorre por causa de uma combinação de perda de células sensoriais (células ciliadas) e perda neuronal. Pesquisas também sugerem fortemente que exposição precoce a ruídos acelera a perda auditiva relacionada à idade. Frequências mais altas são mais afetadas do que frequências mais baixas na perda auditiva relacionada à idade. Otite média aguda (OMA) é uma causa comum de perda de audição transitória, leve a moderada (principalmente em crianças). No entanto, sem tratamento, sequelas de OMA e otite média crônica (e a rara labirintite purulenta) podem ocasionar perda permanente, sobretudo se há formação de colesteatoma. Otite média secretora (OMS) ocorre de várias maneiras. Quase todos os episódios de OMA são seguidos por período de 2 a 4 semanas de OMS. A OMS também pode ser provocada pela disfunção da tuba auditiva (p. ex., resultante de fenda palatina, tumores benignos ou malignos da nasofaringe, ou rápidas mudanças na pressão do ar externo, como acontece durante a descida de altitudes elevadas ou rápida ascensão, durante mergulho). Doenças autoimunes podem causar perda auditiva neurossensorial em todas as idades e podem ocasionar também outros sinais e sintomas.

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Fármacos ototóxicos podem causar perda auditiva neurossensorial, e muitos também têm toxicidade vestibular.


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Prevenção da surdez • Proteção à maternidade, através de assistência pré-natal, e parto assistido adequadamente; • Cuidados adequados ao recém-nascido, proporcionando amparo afetivo e ambiente propício para seu desenvolvimento; • Vacinação completa das crianças; • Tratamento médico a todas as doenças da infância; • Evitar os casamentos consanguíneos; • Alimentação e estimulação adequada na etapa pré-escolar; • Diagnóstico precoce de todos os distúrbios no desenvolvimento.

NÍVEIS SONOROS Intensidade e pressão sonoras (as correlações físicas de volume) são medidas em decibéis (dB). Um dB é uma unidade que compara 2 valores e é definida como o logaritmo da razão entre o valor medido para um valor de referência, multiplicado por uma constante: dB = k log (Vmeasured/Vref) Por convenção, o valor de referência para o nível de pressão sonora (NPS) é tido como o mais baixo som de 1.000 Hz detectável por ouvidos humanos jovens e saudáveis*. O som pode ser medido em termos de pressão (N/m2) ou intensidade (watts/m 2). Como a intensidade de som é igual ao quadrado da pressão do som, a constante (k) para NPS é 20; para a intensidade de som, 10. Assim, cada aumento de 20 dB representa elevação de 10 vezes em NPS, mas aumento de 100 vezes na intensidade do som. Os valores em dB, a seguir, dão apenas ideia aproximada do risco de perda auditiva. Alguns deles são valores em dB NPS (referenciado a N/m2), enquanto outros representam o pico de dB ou dB na escala A (escala que enfatiza as frequências que são mais perigosas para a audição humana). dB Exemplo 0 Menor som ouvido pelo ouvido humano 30 Sussurro, biblioteca em silêncio 60 Conversa normal, máquina de escrever, máquina de costura 90 Cortador de grama, loja de ferramentas, tráfego de caminhões (90 dB por 8 h/dia são o máximo de exposição sem proteção**) 100 Motosserra, furadeira pneumática, snowmobile (2 h/dia são o máximo da exposição sem proteção) 115 Jateamento de areia, show de rock alto, buzina de automóvel (15 min/dia são o máximo da exposição sem proteção) 140 Rajada de uma arma, motor a jato (ruído provoca dor e até mesmo uma breve exposição fere ouvidos desprotegidos; lesão pode ocorrer mesmo com protetores auditivos) 180 Plataforma de lançamento de foguetes

frequências, o valor de referência muda para cada frequência testada. Valores limiares relatados em audiogramas levam isso em consideração; o limiar normal sempre é 0 dB, independentemente do nível de pressão sonora (NPS) real. **Esse é o padrão federal obrigatório, mas proteção é recomendada para exposição mais do que breve a níveis sonoros > 85 dB.

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*Em testes audiométricos, porque os ouvidos humanos respondem de forma diferente em diferentes


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Compreendendo o Surdo Uma coisa muito comum quando pessoas começam a se interessar pelo universo da acessibilidade são as dúvidas sobre as diferentes nomenclaturas. PCD, deficiente ou pessoa com deficiência? Deficiência mental ou deficiência intelectual? Cego ou deficiente visual? Essas e outras perguntas acabam sempre surgindo. E, quando falamos de surdez, a maior dúvida é: qual é o termo mais correto, deficiente auditivo ou surdo? Nenhuma das duas é mais certa, porque nenhuma das duas é exatamente errada! Vamos tentar explicar qual é a diferença entre ser uma pessoa surda ou com deficiência auditiva. Surdo e surdo Os falantes das línguas de sinais são os Surdos e não devem ser tratados como "surdos-mudos", "mudinhos", ou por outras formas pejorativas que existem. Além disso, há uma diferença entre o surdo, com "s" minúsculo (aquele que não participa da comunidade surda, não usa a Libras, não compartilha da Cultura Surda, etc.) e o Surdo, com "S" maiúsculo (aquele que usa a Libras, participa ativamente da comunidade surda, tem sua cultura própria, luta por seus direitos e não aceita ser tratado como um deficiente, mas sim como diferente). Segundo pesquisas do americano James Woodward em 1972, que criou as designações de “Surdo” e “surdo”, o termo com letra maiúscula é usado para aqueles que se identificam com a Identidade e Cultura Surdas, enquanto o mesmo termo em letra minúscula é aplicado àqueles que têm apenas problemas de audição.

Assim, Surdos são aquelas pessoas que utilizam a comunicação espaço- visual como principal meio de conhecer o mundo, em substituição à audição e à fala. A maioria das pessoas surdas, no contato com outros surdos, desenvolve a Língua de Sinais. Já outros, por viverem isolados ou em locais onde não exista uma comunidade surda, apenas se comunicam por gestos. Existem surdos que por imposição familiar ou opção pessoal preferem utilizar a língua oral (fala).

Essa diferenciação entre "s/S" foi feita, pela primeira vez, em 1972, pelo sociolinguista James Woodward. Agora, ela é compreendida e utilizada pela maioria dos escritores do campo. Fonte: WRIGLEY (2006). 6

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Segundo Vidal Nunes e Gomes Portela (2017), Os termos deficiente auditivo – considera a surdez patológica –, surdo – usado com “s” minúsculo, para se referir à sua condição audiológica de não ouvir – e Surdo, com “S”6 maiúsculo, para representá-lo como sujeito cultural e político (WILCOX; WILCOX, 2005), são termos marcados ideologicamente. Aqui, nota-se o uso das palavras “surdo”, “surda” e “Surdo” utilizando os conceitos de “s/S”. Os Surdos têm uma identidade surda, que se apresenta de diferentes formas, porque está vinculada ao meio em que vivem e frequentam e não somente à linguagem – pois esta não é um referente fixo, já que é construída no cotidiano. (NUNES e PORTELA, 2017, p. 90).


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Emmanuelle Laborit (2000) em seu livro: “Voo da Gaivota” afirma: “Sou surda não quer dizer: “Não ouço.” Quer dizer: “Compreendi que sou surda.” É uma frase positiva e determinante. Na minha mente, admito que sou surda, compreendo-o, analiso-o, porque me deram uma língua que me permite fazêlo. Compreendo que os meus pais têm a sua própria língua, a sua maneira de comunicar e que eu tenho a minha. Pertenço a uma comunidade, tenho uma verdadeira identidade.” Ser Surdo é quem se considera membro de uma comunidade linguística e cultural diferente. O grau de surdez não importa, o mais importante para se poder pertencer à comunidade surda é o uso da língua gestual como primeira língua (L1) ou língua natural. É esta língua que permite aos surdos afirmar a sua diferença e sua identidade.

Deficiência Auditiva Do ponto de vista clínico, o que difere surdez de deficiência auditiva é a profundidade da perda auditiva. As pessoas que têm perda profunda, e não escutam nada, são surdas. Já as que sofreram uma perda leve ou moderada, e têm parte da audição, são consideradas deficientes auditivas. Assim, trata-se de um termo técnico usado na área da saúde e, algumas vezes, em textos legais. Refere-se a uma perda sensorial auditiva. Não designa o grupo cultural dos Surdos. De forma bem simples, a deficiência auditiva é apenas uma perda sensorial, por isto as pessoas com problemas de audição têm potencialidade igual a de qualquer ouvinte.

Surdo-Mudo Provavelmente a mais antiga e incorreta denominação atribuída ao surdo (e ao Surdo), e infelizmente ainda utilizada em certas áreas e divulgada nos meios de comunicação, principalmente televisão, jornais e rádio. O fato de uma pessoa ser surda não significa que ela seja muda. A mudez é a impossibilidade ou incapacidade de falar (oralmente) ou problema relacionado à emissão da voz (aparelho fonador).

Por isso, o surdo só será também mudo se, e somente se, for constatada clinicamente deficiência na sua oralização, impedindo-o de emitir sons. Fora isto, é um erro chamá-los de surdo-mudo. Apague esta ideia!

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Percebe-se que a mudez é outra deficiência, totalmente desagregada da surdez. São minoria os surdos que também são mudos. Assim, é um fato a total possibilidade de um surdo falar, através de exercícios fonoaudiológicos, aos quais chamamos de surdos oralizados. Também é possível um surdo nunca ter falado, sem que seja mudo, mas apenas por falta de exercício.


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Desmistificando estereótipos Apesar do aumento dos meios de informações e do crescimento da visibilidade da Comunidade Surda, ainda existe muita confusão e desconhecimento sobre a Libras e sobre o Surdo. A falta de informação sobre a natureza das línguas de sinais é fruto de um preconceito comumente associado a elas. Uma prova disso está na repressão já feita a estas línguas em alguns momentos do passado. Infelizmente, ainda hoje esse preconceito persiste. Não podemos seguir adiante em nosso curso sem antes desfazermos alguns estereótipos e confusões que existem. Portanto, vamos tentar esclarecer conceitos para desfazermos alguns mitos. Mitos e Verdades

A língua de sinais é uma mistura de pantomima e gesticulação concreta, incapaz de expressar conceitos abstratos Não é só entender sinais como gestos, os sinais são palavras, apenas não são sonoras. A produção de língua de sinais acontece igual a produção da língua falada. Os sinais das línguas de sinais podem expressar ideias abstratas, emoções, pensamentos e opiniões.

As línguas de sinais são línguas/idiomas com todas as estruturas (sintáticas, gramaticais, semânticas etc.) e o mesmo status das línguas orais Apesar de por bastante tempo as línguas de sinais terem sido consideradas incompletas e inferiores às línguas orais, após os estudos de William Stokoe, ficou provado que as línguas de sinais possuem todas as estruturas gramaticais das línguas orais.

As várias línguas de sinais são diferentes umas das outras, por exemplo, nos EUA é ASL; na Inglaterra é BSL; no Portugal é LGP; e aqui no Brasil é LIBRAS. É igual as línguas faladas, por exemplo, inglês - japonês – francês.

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Há uma única e universal língua de sinais usada por todas as pessoas surdas do mundo, ou seja, a Libras é universal


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Há uma falha na organização gramatical da língua de sinais que seria derivada das línguas orais, sendo um pidgin sem estrutura própria, subordinado e inferior às línguas orais. Em primeiro lugar, as línguas de sinais são LÍNGUAS. Segundo lugar, as línguas de sinais independem das línguas faladas. Um exemplo bem claro: A língua de sinais portuguesa é de origem inglesa e a língua de sinais brasileira é de origem francesa

A Libras e as demais línguas de sinais podem expressar qualquer tipo de abstrações e enunciados. Algumas pessoas (até mesmo que estudam libras) acreditam erradamente que as línguas de sinais – por serem de modalidade visual-espacial – não permitem formular abstrações. Isso é um erro pois por meio da Libras é possível construir qualquer tipo de frases, abstrações, poemas etc.

A língua de sinais é um sistema de comunicação superficial, com conteúdo restrito, sendo estética, expressiva e linguisticamente inferior ao sistema de comunicação oral As línguas de sinais podem ser utilizadas para várias funções identificadas na produção das línguas humanas. Pode-se usar a língua de sinais para produzir um poema, uma estória, um conto, uma informação, um argumento. Pode opinar, criticar, aconselhar e outras possibilidades.

As línguas de sinais são derivadas da comunicação gestual espontânea dos ouvintes.

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As pessoas pensam que é fácil aprender a língua de sinais por causa de gestos. Não é verdade, as línguas de sinais são difíceis de aprender como qualquer língua oral.


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As línguas de sinais, por serem organizadas espacialmente, estariam representadas no hemisfério direito do cérebro, uma vez que esse hemisfério é responsável pelo processamento de informação espacial, enquanto o esquerdo, pela linguagem. As pesquisas com surdos apresentando lesões em um dos hemisférios do cérebro mostraram que as línguas de sinais são processadas linguisticamente no hemisfério esquerdo da mesma forma que as línguas faladas.

A Libras é a língua natural da comunidade surda do Brasil, sendo considerada sua L1 e deve ser priorizada no processo de educação do surdo. Conforme a Lei 10.436/2002, a libras é a língua natural dos surdos brasileiros e deve ser a primeira língua no processo de educação. Contudo o português não deve ser desconsiderado, mas apresentado em sua modalidade escrita.

A Libras é a 2ª língua oficial do Brasil. Apesar do reconhecimento dado pela Lei 10.436/2002, a libras não é a 2ª língua oficial do Brasil. Ela é apenas uma língua oficializada como a língua natural (L1) da comunidade surda do Brasil.

É muito importante superarmos os preconceitos e mitos que ainda cercam a Libras e a Comunidade Surda. Para um atendimento realmente acessível é fundamental reconhecermos quem é o Surdo, suas especificidades e toda a sua cultura além de sua língua. Por isso não esqueça: Ø Nem todo surdo é mudo; Ø Nem todos os surdos fazem leitura labial;

Ø Nem todos os surdos sabem Língua de Sinais; Ø A Libras É uma língua, um idioma, como o português e NÃO uma linguagem;

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Ø Ao falar com surdo não é necessário tocá-lo fortemente e/ou falar em voz alta;


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Ø Libras NÃO é português feito com as mãos nem gestos que interpretam as línguas orais; Ø Libras NÃO é uma linguagem limitada que expressa conceitos concretos e incapaz de expressar conceitos abstratos Ø A Libras É perfeitamente capaz de expressar ideias abstratas e complexas como qualquer outro idioma.

O estadista sul africano Nelson Mandela (2002) dizia que “As nossas diferenças são a nossa força enquanto espécie e enquanto comunidade mundial”. Somos todos diferentes e o mundo fica melhor quando as pessoas entendem as outras em suas diferenças, mas isso é difícil. Aceitar o outro requer conhecimento sobre sua condição e realidade e a gente precisa de empatia para entender como os outros se sentem. Com a comunidade surda é igual: quanto mais sabemos sobre nossos amigos surdos, mais fazemos da nossa comunidade mais inclusiva e justa.

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ANOTAÇÕES


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Cultura e Identidade Surda Você sabe o que é Cultura Surda? O que vem a sua mente quando ouve essa expressão? Você tem alunos, colegas, algum amigo, parente surdo? Ou nunca teve contato mais próximo com uma pessoa surda? É muito importante compreendermos que ao falarmos de Surdo estamos falando de algo muito mais amplo do que apenas uma pessoa com surdez. Por isso, antes de seguir adiante devemos fazer um esclarecimento. Falar de Surdo (com “S” maiúsculo) e surdo (com “s” minúsculo) são coisas distintas. Quando falamos de surdo (“s” minúsculo), estamos falando de pessoa que tem surdez em algum nível. Também utilizamos o termo Deficiente Auditivo (DA). Já quando nos referimos ao Surdo (“S” maiúsculo), estamos falando do sujeito que se reconhece como parte do Povo Surdo7 e tem a Cultura Surda como base de sua identidade. Esse é o sujeito que se aceita enquanto pessoa capaz, tem uma Identidade Surda, utiliza a Língua de Sinais como meio de comunicação, se expressa e participa da sociedade. Destacamos essa questão, pois é comum que a sociedade use o termo deficiente auditivo para se referir à pessoa com surdez, mas, normalmente, o deficiente auditivo é aquele que não se comunica por meio da Língua de Sinais (ou a utiliza como segunda língua), não tem uma Identidade Surda definida, podendo ou não fazer uso do aparelho auditivo e se expressar através da língua oral. Dito isso, podemos discutir um pouco sobre a Cultura Surda e a Identidade – ou identidades – Surda. Falar sobre Cultura implica falar sobre costumes, valores, ideias e comportamentos, adotados por uma sociedade ou um grupo específico. Dessa forma, podemos entender o porquê deste grupo lutar para manter sua Cultura.

A Cultura Surda engloba possibilidades e elementos próprios da vida dos sujeitos que se reconhecem como Surdos, abrangendo não apenas aspectos mais corriqueiros da vida de cada um, mas também o grupo social que constituem. A privação do sentido da audição não inviabiliza a interação linguística, a participação social ou a produção cultural das pessoas Surdas. Na verdade, abre possibilidades alternativas para a sua atuação nessas áreas. Ao nos aproximarmos mais da realidade Surda, pela vivência e pelo estudo, descobrimos que ela comporta um rico, complexo e instigante conjunto de elementos culturais caracterizados pelas formas próprias de produção e interação dessas pessoas; alimentados e enriquecidos nas Comunidades Surdas e, infelizmente, ainda pouco conhecidos entre os ouvintes.

Ao falarmos de Povo Surdo, estamos nos referindo ao Surdos que se identificam como pertencentes a uma cultura própria diferente da Cultura ouvinte. Este grupo faz parte da Comunidade Surda da qual também participam aqueles que mesmo ouvintes participam de algum modo da Cultura Surda como CODA’s, Ouvintes que tem a Libras como 2ª língua etc. 7

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Afinal, ao longo da história, esses, sempre, constituíram um grupo de características próprias, que muito sofreu com a imposição da cultura ouvinte ou “cultura da maioria”. Que tomou decisões em relação à vida social dos Surdos, sem respeitar suas necessidades e levar em consideração suas expressões, a respeito do que, realmente, seria melhor para eles.


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Elementos da Cultura Surda ▪

Visualidade: a vivência Surda é muito visual. A visão é possivelmente o principal sentido de contato com o mundo, de apreensão e significação das informações. Na visualidade se centram, certamente, a maior parte das alternativas planejadas para a pessoa Surda, como se observará mais adiante.

Linguístico: as línguas de sinais, de características visuoespaciais, são as línguas naturais para as pessoas Surdas. A língua de sinais é tão complexa quanto qualquer outra. Não se trata de uma versão em sinais de uma língua oral como o português, nem de simples gestos ou mímica, embora estes possam ser usados quando ainda não se sabe a língua de sinais, mas de um sistema complexo, com regras próprias. Em salas de aula, eventos públicos ou mesmo na televisão, deve ser feita a tradução entre a língua oral e a de sinais por um intérprete.

Família: ligada ao nascimento de filhos surdos em lares ouvintes e de filhos ouvintes em lares surdos, ou mesmo de filhos surdos em lares surdos. Nesse âmbito, muitas questões ligadas à aceitação, à superproteção, à concepção sobre a surdez são discutidas.

Comunidade surda: composta por surdos e por ouvintes militantes da causa, como professores, familiares, intérpretes, amigos, entre outros.

Associações e organizações: centros cuja importância se manifesta, por exemplo, na possibilidade de o surdo interagir com outras pessoas surdas, o que favorece a construção da sua identidade, a possibilidade de aprender a língua de sinais, as lutas sociais do segmento, por vezes, abraçadas nessas organizações etc.

Literatura Surda: arte que abarca produções literárias em língua de sinais e produzidas por pessoas Surdas.

Artes visuais: que englobam o teatro Surdo e as artes plásticas.

Criações e transformações materiais: exemplificadas pelas soluções alternativas para as pessoas surdas, como campainhas luminosas, telefones adaptados (Telecommunications device for the deaf - TDDs), dispositivos de vibração (relógios, celulares) em substituição ao despertador etc.

Identidades Surda

Identidade Flutuante: na qual o surdo se espelha na representação hegemônica do ouvinte, vivendo e se manifestando de acordo com o mundo ouvinte;

Identidade Inconformada: na qual o surdo não consegue captar a representação da identidade ouvinte, hegemônica, e se sente numa identidade subalterna;

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Autora Surda, teóloga, mestre e doutora em Educação desenvolveu diversas pesquisas na área de educação de Surdos.

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Segundo Gladis Perlim8 (1998), as identidades Surdas podem ser definidas como:


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Identidade de Transição: na qual o contato dos surdos com a comunidade Surda é tardio, o que faz passar da comunicação visual-oral (na maioria das vezes truncada) para a comunicação visual sinalizada – o surdo passa por um conflito cultural;

Identidade Híbrida: reconhecida nos surdos que nasceram ouvintes e se ensurdeceram e terão presentes as duas línguas numa dependência dos sinais e do pensamento na língua oral;

Identidade Surda Política: na qual ser Surdo é estar no mundo visual e desenvolver sua experiência na Língua de Sinais. Os surdos que assumem a identidade Surda são representados por discursos que os veem capazes como sujeitos culturais, uma formação de identidade que só ocorre entre espaços culturais Surdos.

Procuramos destacar algumas das características das Identidades Surdas, com as quais você, enquanto profissional, pode vir a se deparar, para aprofundar seus conhecimentos e esclarecer outros pontos importantes é necessário buscar mais informações em artigos e livros especializados9 e acima de tudo buscar o contato com a Comunidade Surda. Por fim, é importante lembrar que o que constitui a independência de um povo é sua Língua e seus costumes, ou seja, algo que se aprende e leva-se para toda vida; aquilo que ninguém tem o direito de tirar ou modificar. Portanto, se com os ouvintes de quaisquer partes do mundo é assim, por que não haveria de ser com o Povo Surdo?

O Surdo ao longo da história Antiguidade

Os Surdos eram totalmente incompreendidos e excluídos da sociedade. Em algumas sociedades eram vistos como loucos ou possuído por espíritos. Eram tratados como animais.

Entretanto, no Egito os Surdos eram vistos como mediadores entre os humanos e os deuses e o Faraó. Eram temidos e respeitados pela sociedade. Mesmo assim, não eram totalmente compreendidos. Outra exceção foram os hebreus que, apesar de não compreenderem bem a condição do Surdo (e de outras pessoas com deficiência), tinham leis que protegiam esse grupo da sociedade10.

No final da apostila você encontrará uma lista de livros e sites Livro de Levítico, base da legislação do povo hebreu, no capítulo 19, versículo 14, lemos: “não amaldiçoaras o surdo, nem porás tropeço diante do cego; mas terás o teu Deus”. 9

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No geral, nesse período, os Surdos eram banidos do convívio social ou mesmo sacrificados. Na China eles eram lançados no mar; os gauleses os sacrificavam a deusa Teutes; em Esparta eram atirados dos rochedos e na Grécia eram vistos como seres incompletos e incompetentes. Segundo Platão (428/427 a.C. – 348/347 a.C.) e Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) se “não sabes falar, não sabes ouvir, és louco.”


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Idade Média e Moderna

Durante a Idade Média se acreditava que os Surdos não possuíam alma. Também existia a crença que eles estavam pagando pelo pecado dos pais. Como não podiam confessar seus pecados não podiam fazer parte da Igreja. A cultura romana, muito influenciada pelos gregos acreditavam os Surdos eram seres imperfeitos. Essa crença perdurou durante toda a Idade Média. Também vigorou nesse período leis que excluíam os Surdos da sociedade. Um exemplo foi uma lei criada por Justiniano (482 – 566 d.C.), Imperador Bizantino, que proibia os Surdos de celebrar contratos, elaborar testamento, possuir propriedade, reclamar herança e até mesmo se casar. Na cidade de Constantinopla, muitos Surdos serviam como pajens ou como “bobos” para o entretenimento do sultão. Século XIX

Com o fim da Idade Média e início do Renascimento, saímos da perspectiva religiosa para a perspectiva da razão, em que a deficiência passa a ser analisada sob a ótica médica e científica. A surdez é entendida agora como uma doença que deve ser tratada por meio de procedimentos e técnicas ditadas pelos médicos. É durante esse período que as correntes que defendiam o oralismo crescem e ganham apoio de médicos e educadores (especialmente na Alemanha). Então, no ano de 1808, acontece na cidade de Milão, na Itália, um congresso sobre educação de Surdos onde é aprovado o oralismo como melhor forma de educação para Surdos. Século XX e XXI

Somente no século XX, e mais ainda no século XXI, que chegamos ao conceito de bilinguismo e biculturalismo. Nesse contexto, em 1951 é fundada a Federação Mundial dos Surdos (WFD) em Roma.

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Após muita luta da Comunidade Surda e novos estudos, especialmente nas áreas de linguística, educação e neurociências, ficou evidenciado que as línguas de sinais tem todas as estruturas e complexidades das línguas orais e que ela não limita em nada o desenvolvimento da pessoa Surda, antes, é por meio da língua de sinais que os surdos conseguem desenvolver plenamente suas habilidades e capacidades.


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Hoje, existe pouca oposição que as línguas de sinais devem ser vistas como a língua natural das comunidades surdas e deve ser ensina como L1 para pessoas surdas, sendo as línguas orais ensinadas como L1 e em sua modalidade escrita. É também muito recentemente que temos uma melhor conceituação de acessibilidade e educação inclusiva. Breve histórico da educação de Surdos A história da educação dos surdos é cheia de controvérsias e descontinuidades. A primeira notícia que temos é do século XII, quando os surdos não tinham direito à herança, não frequentavam nenhum meio social e eram proibidos de se casarem. Na Idade Média, com o feudalismo, os surdos começaram a ter atenção diferenciada pelo clero (Igreja), que estava muito preocupado com o que tais pessoas faziam e por que não vinham se confessar. As pessoas não iam se confessar porque não apresentavam uma língua estruturante para seu pensamento. Mas a igreja também estava muito preocupada, pois nasciam muitos surdos nos castelos dos nobres, devido à frequência dos casamentos consanguíneos, comuns na época, visto que a nobreza não queria dividir sua herança com outras famílias e acabavam casando-se entre primos, sobrinhas, tios e até irmãos. Como nos mosteiros da Igreja havia padres, monges e frades que utilizavam de uma língua gestual rudimentar, porque nesses ambientes existia o voto do silêncio, esses religiosos foram deslocados para esses castelos com a missão de educar os filhos surdos dos nobres em troca de grandes fortunas. Quanto ao método utilizado na época não temos registros, mas sabe-se que alguns acreditavam que deveriam priorizar a língua falada, outros, a língua de sinais e outros, ainda, o método combinado. Em 1880, aconteceu o Congresso Mundial de Professores de Surdos em Milão, na Itália, onde foi discutido qual seria o melhor método para a educação dos surdos. Nesse congresso ficou resolvido que o melhor método era o oral puro, sendo proibida a utilização da língua de sinais a partir desta data. A partir daí, as crianças surdas, muitas vezes, tinham suas mãos amarradas para trás e eram obrigadas a sentarem em cima das mãos ao irem para a escola, para que não usassem a língua de sinais. Tal opressão perdurou por mais de um século, trazendo uma série de consequências sociais e educacionais negativas.

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No Brasil, a primeira lei que viabiliza o uso da Língua Brasileira de Sinais como a primeira língua dos surdos foi assinada em novembro de 2002 pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso.


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A Libras Libras é a sigla de Língua Brasileira de Sinais. As línguas de sinais (LS) são as línguas naturais das comunidades surdas. Ao contrário do que muitos imaginam, as línguas de sinais não são simplesmente mímicas e gestos soltos, utilizados pelos surdos para facilitar a comunicação. São línguas com estruturas gramaticais próprias. O que diferencia as línguas de sinais das demais línguas é a sua modalidade visual-espacial. Assim, uma pessoa que entra em contato com uma língua de sinais irá aprender uma outra língua, como o Francês, Inglês etc. A LIBRAS tem sua origem na Língua de Sinais Francesa. As línguas de sinais não são universais. Cada país possui a sua própria língua de sinais, que sofre as influências da cultura nacional. Como qualquer outra língua, ela também possui expressões que diferem de região para região (os regionalismos ou dialetos), o que a legitima ainda mais como língua. A Língua Brasileira de Sinais (Libras) foi estabelecida, na Lei nº 10.436/2002, como língua oficial da Comunidade Surda no Brasil. De acordo com o próprio termo, a Libras é utilizada somente no Brasil, assim como a Língua Portuguesa. Ela é, portanto, uma língua oficializada no Brasil11. Contexto histórico da Libras12 A história da Libras se mistura com a história dos surdos no Brasil. Até o século XV os surdos eram mundialmente considerados como ineducáveis. A partir do século XVI, essa ideia foi sendo superada. Teve início a luta pela educação dos surdos, na qual ficou marcada a atuação de um surdo francês, chamado Eduard Huet. Em 1857, Huet veio ao Brasil a convite de D. Pedro II (que tinha um neto surdo) para fundar a primeira escola para surdos do país: o Imperial Instituto de Surdos Mudos. Com o passar do tempo, o termo “surdo-mudo” saiu de uso por ser incorreto (como já explicamos na página 7), mas a escola ainda funciona, com o nome de Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES.

Com a persistência do uso e uma crescente busca por legitimidade da língua de sinais, a Libras voltou a ser aceita. A luta pelo reconhecimento da língua, no entanto, não parou. Em 1993 uma nova batalha começou, com um projeto de lei que buscava regulamentar o idioma no país. Quase dez anos depois, em 2002, a Língua Brasileira de Sinais foi finalmente reconhecida como a língua natural da Comunidade Surda do Brasil. Apensar do reconhecimento legal como língua natural da Comunidade Surda do Brasil, a Libras é não 2ª língua oficial do Brasil, pois, se assim o fosse, todas as pessoas do país deveriam ser bilíngues e o ensino da Libras deveria ser matéria obrigatória nas escolas. Além de toda a comunicação oficial do país e seus documentos deveriam ser produzidos tanto em português, como em Libras. 12 João Vitor Borgas, 2019. 11

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A Libras foi desenvolvida, a partir de uma mistura entre a Língua Francesa de Sinais e de gestos já utilizados pelos surdos brasileiros. Ela foi ganhando espaço pouco a pouco, mas sofreu uma grande derrota em 1880. Um congresso sobre surdez em Milão proibiu o uso das línguas de sinais no mundo, acreditando que a leitura labial era a melhor forma de comunicação para os surdos. Isso não fez com que eles parassem de se comunicar por sinais, mas atrasou a difusão da língua no país.


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Legislação BRASIL. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras13 de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. BRASIL. Lei nº 11.796, de 29 de outubro de 2008. Institui o Dia Nacional dos Surdos – 26 de setembro. BRASIL. Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010. Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Alfabeto manual

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O alfabeto utilizado na Libras (Língua Brasileira de Sinais) teve sua origem ainda no Império. Em 1856, o conde francês Ernest Huet desembarcou no Rio de Janeiro com o alfabeto manual francês e alguns sinais. O material trazido pelo conde, que era surdo, foi adaptado e deu origem ao alfabeto manual utilizado na Libras. Este sistema foi amplamente difundido e assimilado no Brasil.

Apesar de ser mantida essa expressão na lei, atualmente não se utiliza o termo “pessoa portadora de deficiência”, e sim Pessoa com deficiência (PcD). [Grifo nosso]. 13


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Datilologia A datilologia (ou soletração manual) é utilizada, normalmente, para soletração de nomes de pessoas, lugares ou palavras que ainda não possuem ou desconhecemos o sinal. É uma forma de verificação, questionamento ou apresentação da ortografia de uma palavra em português. Da mesma forma que soletramos oralmente uma palavra em português, fazemos da mesma forma em Libras por meio da datilologia. É importante ressaltar que a datilologia não é Libras, mas sim um empréstimo linguístico do português. Soletração

Palavra escrita

M–A–C–A–C–O

MACACO

Datilologia

Palavra escrito



GOIABA

Números em Libras As línguas podem ter formas diferentes para apresentar os numerais quando utilizados como cardinais, ordinais, quantidade, medida, idade, dias da semana ou mês, horas e valores monetários. Isso também acontece na LIBRAS. É um erro o uso de uma determinada configuração de mão para o numeral cardinal sendo utilizada em um contexto onde o numeral é ordinal ou quantidade, por exemplo: o numeral cardinal 1 é diferente da quantidade 1, que é diferente do ordinal PRIMEIR@, que é diferente de PRIMEIRO-GRAU, que é diferente de MÊS-1. Cardinais

Ordinais

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Quantidades


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Estrutura da Libras14 Em seus trabalhos [...], Quadros, (1997; 2000) e Quadros & Karnopp, (2003), declaram que a sintaxe15 da língua de sinais apresenta a prevalência da ordem sujeito/verbo/objeto (SVO) quando o sujeito e o objeto estão explícitos nas sentenças: JOÃO AMAR ELA MARIA (João ama Maria). OSV e SOV são ordens derivadas mediante alguma marca especial (presença de traços). Tais marcações, como as não-manuais, ocorrem em conjunto com as palavras: MARIA [TÓPICO] JOÃO GOSTAR. Quadros (1997; 2000) analisa detalhadamente a estruturação frasal, os usos de advérbios, os modais, a concordância verbal, entre outros componentes sintáticos, já os aspectos fonológicos foram descritos com mais detalhes por Quadros & Karnopp (2003, pp 25-25). Segundo Felipe (2007), o que é denominado de palavra ou item lexical nas línguas orais-auditivas, são denominados sinais nas línguas de sinais. Os sinais são formados a partir da combinação do movimento das mãos com um determinado formato em um determinado lugar, podendo este lugar ser uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo. Estas articulações das mãos, que podem ser comparadas aos fonemas e às vezes aos morfemas, são chamadas de parâmetros, portanto, nas línguas de sinais podem ser encontrados os seguintes parâmetros: Configuração de Mãos (CM), Locação (L), Movimento (M), Orientação (O) e Expressões não manuais (EnM).

Os cinco parâmetros da Libras Em Libras, os sinais são formados a partir da combinação do movimento das mãos com um determinado formato em um determinado lugar, podendo este lugar ser uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo, acompanhado ou não de expressões faciais e/ou corporais. Esses diferentes elementos constitutivos dos sinais em Libras são chamados de Parâmetros. Ao todo temos 5 parâmetros que são: Configuração de mão

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São formas das mãos presente no sinal, que podem ser da datilologia (alfabeto manual) ou outras formas feitas pela mão predominante (mão direita para os destros) ou pelas duas mãos do sinalizador. Os sinais APRENDER, LARANJA, OUVIR E AMOR têm a mesma configuração de mão que são realizadas na testa, na boca, na orelha e no lado esquerdo do peito respectivamente.

Gláucio Castro Júnior, 2011; Felipe (2007). Parte da gramática que estuda as palavras enquanto elementos de uma frase, as suas relações de concordância, de subordinação e de ordem. [Grifo nosso]. 14 15


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Locação (ponto de articulação)

É o lugar onde incide a mão predominante configurada, podendo esta tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro vertical (do meio do corpo até a cabeça) e horizontal (à frente do emissor). Os sinais TRABALHAR, BRICAR, BESTEIRA, CONSERTAR são feitos no espaço neutro e os sinais ESQUECER, MENTE, APRENDER E PENSAR são realizados na testa.

Este parâmetro indica onde o sinal pode ser tocado no corpo ou no espaço sígnico, que é o espaço encontrado em frente ao sinalizante. Ele é delimitado pela extensão máxima dos braços e ocorre acima da cabeça ou para frente. Deve-se dizer que no discurso normal, as extremidades são articuladas em um espaço mais limitado que a extensão máxima que mencionamos e que, portanto, o tamanho do sinal pode ser comparado à intensidade da voz. Na figura abaixo temos dois sinais realizados em frente ao corpo (no espaço) e dois sinais realizado tocando em regiões do corpo.

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É importante lembrar que para uma boa comunicação em Libras devemos sempre estar atentos para o espaço de sinalização que compreende o espaço à frente do corpo como na figura abaixo.


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Movimentos

Os sinais podem ter movimento ou não. Os sinais citados acima têm movimento, com exceção de PENSAR que, como os sinais AJOELHAR E EM-PÉ não têm movimento. Existem muitos tipos de movimento que podem ser realizados para construção dos sinais em Libras. Entretanto, podemos agrupar esses movimentos em 6 tipos básicos que são: retilíneo, angular, sinuoso, circular, semicircular e helicoidal.

Na figura abaixo vemos alguns exemplos de sinais com cada um dos movimentos.

Orientação

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É o plano em direção ao qual a palma da mão é orientada, ou seja, é a direção para a qual a palma da mão aponta na produção do sinal.


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Alguns sinais têm a mesma configuração, o mesmo ponto de articulação e o mesmo movimento, e diferem apenas na orientação da mão. É importante perceber como a modificação de um único parâmetro pode alterar completamente o significado do sinal.

Expressões faciais corporais (expressões não manuais)

Muitos sinais, além dos quatro parâmetros mencionados acima, em sua configuração têm como traço diferenciador também a expressão facial e/ou corporal, como os sinais ALEGRE e TRISTE. Há sinais feitos somente com a bochecha como LADRÃO, ATO-SEXUAL; sinais feitos com a mão e expressão facial, como o sinal BALA, e há ainda sinais em sons e expressões faciais complementam os traços manuais, como os sinais HELICOPTERO e MOTOR.

As expressões faciais são formas de comunicar algo, um sinal pode mudar completamente seu significado em função da expressão facial utilizada. Esse parâmetro é de fundamental importância na Libras. São as expressões não manuais: movimentos da face, dos olhos, da cabeça ou do tronco. Existem dois tipos diferentes de expressões faciais: as afetivas e as gramaticais. As afetivas são as expressões ligadas a sentimentos / emoções.

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Veja os exemplos:


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As expressões faciais gramaticais lexicais estão ligadas ao grau dos adjetivos:

BONIT@

BONITINH@

LIND@

E as expressões faciais gramaticais sentenciais estão ligadas às sentenças:

Interrogativas

COMO?

QUERER? ou QUER?

O QUE?

PODER? ou PODE?

Afirmativas e Negativas

NÃO

SIM

A partir da combinação destes cinco parâmetros, tem-se o sinal. Falar com as mãos é, portanto, combinar estes elementos para formarem os sinais e estes formarem as frases em um contexto.

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Exclamativas


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Gramática da Libras Assim como as línguas orais, as línguas de sinais não são universais. Cada uma delas tem a sua própria estrutura gramatical e é usada de forma diferente pela comunidade surda de cada país. A Libras, como qualquer língua também tem sua própria gramática e possui todas as estruturas e complexidade de uma língua falada como o português. Mas essa não é a única semelhança com as línguas orais. Do mesmo modo como o português apresenta variações dentro do Brasil, assim também acontece com a Libras que apresenta diferenças regionais.

Variação linguística Qualquer país apresenta traços de identificação e um deles é a sua língua. A língua pode sofrer mudanças decorrentes de fatores como o nível de escolaridade, o tempo, o local etc. na Libras é possível encontrar variações regionais, sociais e históricas. Variação regional

Um exemplo de variação regional é o sinal para a cor verde:

Variação histórica

Algumas variações na configuração de mão ou no movimento podem ocorrer a depender do contexto social dos falantes, mas sem mudança no significado do sinal:

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Exemplo: sinal de CONVERSAR


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Variação histórica

Com o passar do tempo, um sinal pode se alterar (assim como acontece com as palavras em português) devido a costumes das comunidades que o usam. Exemplo: sinal da cor BRANCA

As variações demonstram um modo de agir e pensar em determinando grupo social ou período histórico, também ajudam a conhecer mais sobre os sujeitos que utilizam esta língua e quais as manifestações existentes para sua construção e utilização. (HONORA; FRIZANCO, 2010, p.14). Iconicidade e Arbitrariedade A Libras é uma língua gestual-visual (ou visual-corporificada) e, por sua natureza linguística, a realização de um sinal pode representar as características da realidade a que a que se refere, entretanto, isso não é uma regra. Assim, a Libras tanto pode apresentar-se de forma icônica – iconicidade – ou de forma arbitrária – arbitrariedade. Isso significa que quando apresenta uma característica real de um ato ou objeto, dizemos que é icônica, embora a maioria dos sinais sejam arbitrários, isto é, não possuem uma relação de semelhança com o seu referente (objeto ou ato que representa). Sinais Icônicos

Já explicamos que a Libras se diferencia do português por sua modalidade que é visual-espacial16, ou seja, a comunicação se dá espacialmente e é compreendida visualmente. Sendo assim, muitas vezes, os sinais podem apresentar formas icônicas, ou seja, em formas linguísticas que tentam imitar o seu referente em suas características visuais, fazendo alusão à imagem do seu significado.

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Exemplo:

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Gestual-espacial ou visual-corporificada.


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Por muito tempo, a Libras não era considerada como uma língua por causa da ideia de que os sinais eram simplesmente “desenhos” no ar do que representavam. Hoje essa ideia foi descartada. Sabemos que a maioria dos sinais em Libras não são icônicos, mas arbitrários. Sinais Arbitrários

Uma das propriedades mais importantes de qualquer idioma é a arbitrariedade entre significante (palavra ou sinal) e o seu referente (objeto ou conceito). Com o aprofundamento dos estudos linguísticos foi possível provar que as línguas de sinais apresentam sinais tanto icônicos como arbitrários. Assim, também possuem um mecanismo morfológico, sintático e semântico, podendo expressar qualquer conceito, seja concreto ou abstrato, do mais simples ao mais complexo. Em libras, a maioria dos sinais apresenta arbitrariedade. Exemplo:

Estrutura Sintática Quando começamos a estudar uma segunda língua é bastante comum (e quase instintivo) começarmos a compará-la com a nossa língua materna. Entretanto isto é um erro. Cada língua, seja ela oral ou visual, tem sua própria estrutura e regras. Além de estarem permeadas de elementos históricos e culturais próprios de seus contextos. Assim, não podemos estudar Libras baseando-se no Português, pois além de serem línguas diferentes em suas modalidades (a Libras é visual enquanto o Português é oral), elas apresentam diferenças gramaticais próprias. A construção de uma frase em Libras obedece a regras próprias que refletem a forma como os Surdos percebem o mundo e processam as ideias. FRASE EM LIBRAS17

Eu vou à sua casa hoje à noite.

CASA SUA HOJE NOITE IR

Eu dei flores para minha mãe.

FLOR EU DAR MÃE MINHA

Quantos anos você tem?

IDADE VOCÊ (expressão interrogativa)

Quando começaram as férias, eu fiquei ansioso PASSADO COMEÇAR FÉRIAS EU VONTADE DEPRESSA para viajar. VIAJAR

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Neste exemplo estamos apenas fazendo uma transcrição para o português da estrutura frasal em Libras.

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FRASE EM PORTUGUÊS


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Nos exemplos acima, podemos observar que nas frases em Libras não percebemos, a princípio, o uso de artigos, preposições, conjunções etc. Isto acontece porque estes conectivos próprios das línguas orais estão incorporados ao sinal em Libras.

Sistema pronominal Como todas as línguas, tanto oral como visual, a Libras possui um sistema de pronomes para representar as pessoas no discurso, ou seja, os referentes. Pronomes pessoais

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Para apresentar os pronomes pessoais na Libras, a configuração de mão é igual para quase todas as pessoas. O que vai diferenciar é a orientação das mãos.18 Um fato importante é que em Libras existe diferenças quanto ao plural dos pronomes pessoais. Assim, temos os seguintes pronomes: EU, VOCÊ, EL@, NÓS-2, NÓS-3, NÓS-4, NÓS-GRUPO/TODOS, VOCÊS-2, VOCÊS-3, VOCÊS-4, VOCÊSGRUPO/TODOS, EL@S-2, EL@S-3, EL@S-4, EL@S-GRUPO/TODOS.

Por esse motivo, podemos dizer que se trata de um sistema de apontação. Mas isso, de forma alguma diminui seu valor e complexidade. Nem mesmo sua capacidade de referir-se as pessoas do discurso. 18


Libras na Fonoaudiologia ••• Singular

EU

VOCÊ (TU)

EL@

Perceba que, em Libras, o pronome pessoal é feito com o dedo indicador (configuração de mão ), apontando para um ponto no espaço. Se o referente estiver presente na situação comunicativa, a apontação é feita diretamente para ele (o objeto/ser de quem se fala).

Plural

Em libras podemos expressar o plural de forma mais precisa que no português pois é possível incorporar a quantidade (até certo limite) no próprio sinal.

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1ª pessoa


Libras na Fonoaudiologia •••

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2ª pessoa


Libras na Fonoaudiologia •••

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3ª pessoa


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Pronomes demonstrativos

EST@ Localidade da 1ª pessoa do discurso (Eu)

ESS@ Localidade da 2ª pessoa do discurso (você/Tu)

AQUEL@ Localidade da 3ª pessoa do discurso (El@)

LÁ Localidade da 3ª pessoa do discurso

AQUI

Localidade da 1ª pessoa do discurso

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Localidade da 2ª pessoa do discurso


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Pronomes possessivos

Pronomes interrogativos

COMO?

O QUE? ou QUEM?

ONDE?

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POR QUÊ?


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Pronomes indefinidos

CADA

POUC@

MAIORIA

SOZINH@

ALGUNS

VÁRI@S

CADA UM

POUQUINH@

MUIT@

NINGUÉM

MINORIA

ALGUNS

POUC@

MAIS ou MUIT@

NINGUÉM Página40

SOZINH@


Libras na Fonoaudiologia •••

Advérbios Lugar

Página41

Tempo


Libras na Fonoaudiologia •••

Página42

Verbos


Libras na Fonoaudiologia •••

Sinalário Sinais básicos

AC E S SIB I LI D ADE

AD O LE SC E N TE

AD U L T O

BAC TÉ RI A

C IR U R GI A (1)

C IR G U R GI A ( 2)

C U L T UR A

C O L U N A VE R TE B R A L ( 2)

C O L U N A VE R TE B R A L ( 1)

C RI A NÇ A

Página43

BOM


Libras na Fonoaudiologia •••

DE FIC IE NTE A UDI TI V O

E X A ME

F A MÍ LI A

F A L AR

F A R M ÁC I A

FI LH @

DE N TE

DOE N TE

FE B RE

DI A G NÓ S TIC O

IN TE R N AÇ Ã O

HO ME M

Página44

DO R

DI A


Libras na Fonoaudiologia •••

HO S PI T AL

IR M Ã O ( 2)

LIB R A S

LÍ N G U A

MÉ DI C O

M U LHE R

IDE NT ID ADE

M ÃE

ME U N O ME

M O VI ME NT O

M U ND O

N A SC I ME N T O

Página45

IR M Ã O ( 1)

ID ADE


Libras na Fonoaudiologia •••

N OI TE ( 1)

N OI TE ( 2)

O U VI N TE

P AI

PE SS O A

S A N G UE

SE N TI R ( 1)

SE N TI R ( 2)

S A ÚDE

SE U N O ME ( N O ME )

Página46

P A RT O

N O ME


Libras na Fonoaudiologia •••

S U RDE Z

S U RD O

T A RDE (1) - HORÁRIO DO DIA -

T A RDE ( 2)

TI PO

VE R

P RO BLE M A

RE MÉ DI O

- HORÁRIO DO DIA -

O SS O

AC O RD A R

AB O R TO (E X PO N T Â NE O)

ÁGUA

Á LC OO L

BE BE R

AB O R TO ( P RO V OC AD O)

C AI R

C O R RE R

Página47

VI S U A L


Libras na Fonoaudiologia •••

ANSIEDADE

COMER

AUSCUTAR

DORMIR

CORPO

CURAR

ALIMENTAÇÃO BALANCEADA

DIETA

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL

GRAVIDEZ

PACIENTE

FRIO Página48

DATA DE NASCIMENTO


Libras na Fonoaudiologia •••

ALIMENTAÇÃO

EXERCÍCIO

ÓBITO

MELHORAR

ANDAR

PIORAR

RUIM

INÍCIO

MEIO

FIM

VIDA

AJUDAR

ANTES

EVITAR

ATENDIMENTO

ATESTADO MÉDICO

Página49

CALOR


Libras na Fonoaudiologia •••

ANTECONCEPCIONAL

CANSAÇO

CUIDADO

ENDEREÇO

CONVÊNIO MÉDICO

CHEGAR

DEPOIS

MAGRO/EMAGRECER

ESPERAR

CASADO

SOLTEIRO Página50

DESMAIO

TONTURA/ENJOO


Libras na Fonoaudiologia •••

CONSULTÓTIO MÉDICO

SALA DE MEDICAÇÃO

SEDE

FRACO/FRAQUEZA

FOME (1)

HORMÔNIO

LEVANTAR

JUNTO

MEDO Página51

JEJUM/JEJUAR

FOME (2)


Libras na Fonoaudiologia •••

MARCAR

MENSTRUAÇÃO (1)

MÚSCULO

NÚMERO DE TELEFONDE

PARTICULAR

NERVO

PALADAR

OBDESO/OBESIDADE

PROFISSÃO/PROFISSIONAL (1)

PERGUNTAR

RESPIRAR/RESPIRAÇÃO

PROFISSÃO/PROFISSIONAL (2)

RESPONDER Página52

PERTO

MENSTRUAÇÃO (2)


Libras na Fonoaudiologia •••

RAIO X / RADIOGRAFIA

SENTAR

SISTEMA IMUNOLÓGICO

URGENTE/URGÊNCIA

SOZINHO

UTI

VÉRTEBRA

VACINA/INJEÇÃO

VOLTAR

FUMAR

VÔMITO/VOMITAR Página53

SUS

TER/TEM


Libras na Fonoaudiologia •••

Sinais de doenças e problemas de saúde

ALERGIA (1)

ALERGIA (2)

ANEMIA

ASMA

BURSITE DE JOELHO

AVC

BURSITE DE OMBRO

BRUXISMO

BURSITE DE QUADRIL Página54

AUTISMO (2)

AUTIMSO (1)


Libras na Fonoaudiologia •••

CÂNCER (1)

CAXUMBA

DENGUE

DIARRÉIA

CATAPORA (1)

CATAPORA (2)

CATARRO

CONVULSÃO

DEPRESSÃO

DISTÚRBIO ALIMENTAR

DIABETES

DOENÇA

Página55

CÃIBRA

CÂNCER (2)


Libras na Fonoaudiologia •••

DOR DE OUVIDO

GLAUCOMA

ENTORCE

GRIPE

HIPERTENSÃO

HIPOTENSÃO

INFARTO

IMPOTÊNCIA SEXUAL

INFLAMAÇÃO

MIOMA ULTERINO

MENINGITE

OTITE

Página56

MENOPAUSA

FEBRE


Libras na Fonoaudiologia •••

RUBÉOLA

SARAMPO

TORCICOLO

TOSSE

INFECÇÃO URINÁRIA

QUEIMADURA

Página57

FRATURA


Libras na Fonoaudiologia •••

Profissionais de saúde e especialidades médicas

ENFERMEIR@

NUTRICIONISTA

FONOAUDIOLOGIA (2)

FISIOTERAPEUTA

DENTISTA

OFTALMOLOGISTA

GERIATRA

MEDICINA/ MÉDICO

GINECOLOGISTA

CARDIOLOGISTA

PEDIATRA

EDUCADOR FÍSICO

QUIROPRAXISTA

Página58

FONOAUDIÓLOGIA (1)


Libras na Fonoaudiologia •••

PSICÓLOG@

PSIQUIATRA

Página59

ANOTAÇÕES


Libras na Fonoaudiologia •••

Referências BOGAS, João Vitor. A história da Libras, a Língua Brasileira de Sinais. In: Hand Talk. Disponível em: <http://blog.handtalk.me/historia-lingua-de-sinais/>. Acesso: 01 jul. 2019. CASTRO JÚNIOR, Gláucio. Variação Linguística em Língua De Sinais Brasileira – Foco no Léxico. 2011. 122 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2011. FELIPE, Tanya. A. Libras em contexto: Curso Básico: Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos. Brasília: MEC; SEESP, 2007. [Livro do Professor] HONORA, Márcia; FRIZANCO, Mary Lopes Esteves. Livro Ilustrado da Língua Brasileira de Sinais: desvendando a comunicação usada pelas pessoas com surdez. São Paulo: Ciranda Cultural, 2010. KRONBAUER, Kairone Fernandes. Fonoaudiologia – Surdez: o uso da língua brasileira de sinais, disponível em <https://rsaude.com.br/ponta-grossa/materia/fonoaudiologia-surdez-o-uso-dalingua-brasileira-de-sinais/6815>, acessado em 28/06/2020. LABORIT, Emmanuelle. O Voo da Gaivota. Lisboa: Editorial Caminho, 2000. NUNES, Márcia Vidal; PORTELA, Marina Portela. AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA IDENTIDADE SURDA E O DIREITO AO RECONHECIMENTO. In: Revista Mídia e Cotidiano. Volume 11, Número 1, Abril 2017, pp. 88 – 105. UFF. PERLIM, Gladis, Histórias de Vida Surda: identidades em questão. [dissertação]. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Porto Alegre, 1998. QUADROS, Ronice Muller; SCHMIEDT, Magali L. P. Ideias para ensinar português para alunos surdos. Brasília: MEC, SEESP, 2006.

Sites Recomendados https://www.todoestudo.com.br/sociologia/cultura-surda https://ensino.digital/blog/a-importancia-da-cultura-surda http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=20&idart=153

Página60

https://sites.google.com/site/pesquisassobresurdez/gladis-perlin


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