Cultura Santos

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CULTURA ANTOS

NOVEMBRO DE 2012 | CULTURA SANTOS

Encarte Especial

Novembro de 2012

100 ANOS DE CONSTRUÇÃO


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CULTURA SANTOS | NOVEMBRO DE 2012

: EDITORIAL

Novo olhar revela a cultura santista : Cultura e futebol. Difícil imaginar que duas coisas tão distintas em primeira impressão possam ter íntima ligação. A influência da equipe alvinegra praiana na cidade de Santos é tão forte que chega ao ponto de mudar a realidade e o dia a dia de boa parte da população. O vínculo cultural eternizou ícones do esporte como Pelé, Pepe, Coutinho, Robinho e Neymar Júnior. A Camisa 10 ganhou outro status, a pedalada se consagrou, a palavra meninos ganhou um novo significado e corte de cabelo moicano virou febre. O time de futebol levou o nome do município por onde passou, eternizando também a Cidade. Ao andar pelas ruas de Santos é fácil encontrar elementos que reforçam essa relação. Bandeiras com escudo do Santos nas janelas, alvoroço e trânsito caótico ao redor da Vila Belmiro em dia de jogos importantes, a festa que invade a Cidade na conquista

de um título, comerciantes que têm como fonte de trabalho todo o entorno do estádio, além de bares e padarias que são verdadeiras extensões das arquibancadas. Mesmo quem não é torcedor ou não vive esse mundo do futebol é afetado de alguma maneira pela rotina da AUTORAS: Jéssyca Rolemberg e Juliana Vieira cidade entrelaçada passa ileso à presença do Peixe. ao clube. O Cultura Santos: 100 anos de Recorrendo à Teoria da Cultura, construção é uma oportunidade para entende-se que o Santos Futebol Clube os leitores entenderem melhor este é uma realidade existente na Cidade e tão improvável relacionamento entre é interpretada de maneiras diferentes cultura e esporte, conhecendo um por cada morador, dependendo do seu pouco mais sobre a história de um dos envolvimento com o clube. Amando-o maiores times de todo o mundo. ou odiando-o, o munícipe santista não

: MAKING OF - UM SÉCULO EM OITO MESES

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ealizar este projeto de Trabalho de Conclusão de Curso não foi tarefa simples, desde a escolha do tema até a diagramação deste jornal, nosso produto final. Entretanto, uma coisa era certa desde o início: o Santos Futebol Clube seria o assunto principal. A primeira dificuldade exigiu muita discussão e pesquisa: a definição de que falaríamos sobre a mútua influência cultural entre o time de futebol e a cidade de Santos. O trabalho da coleta de entrevistas e material fotográfico exigiu muito esforço. Ao longo do ano, estivemos em eventos comemorativos e visitamos fontes importantes para o estudo. Praticamente, respiramos Santos Futebol Clube e Teoria da Cultura. Foram mais de duas mil fotos e cerca de 40 entrevistas. Para conseguir isto, entretanto, precisamos ultrapassar diversas barreiras, entre elas, assessorias de imprensa, que não cumprem com seu papel de fazer intermédio entre o assessorado e o jornalista, no caso, futuras jornalistas.

A cada dificuldade, no entanto, tivemos algumas vitórias. Presenciamos momentos históricos do Peixe, como a festa do centenário, que contou com a presença do Rei Pelé, e a Àvant Premiere do filme ‘Santos, 100 anos de futebol arte’, em que vimos em primeira mão o documentário oficial das comemorações. No final, com muita dedicação conseguimos concluir nossas entrevistas e pesquisa e chegar ao resultado esperado, realizando um sonho, planejado ainda no primeiro ano do curso. FOTO: JULIANA VIEIRA

Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo do Centro de Ciências da Comunicação e Artes da Universidade Católica de Santos - UniSantos Novembro de 2012

Responsável: Prof. Me. Marcelo Luciano Martins Di Renzo (Mtb. 11.008) Edição/Diagramação: Jéssyca Rolemberg e Juliana Vieira Fotos: Jéssyca Rolemberg, Juliana Vieira e Arquivos do SFC e IHGS Colaboração: Prof. Dr. José Reis Filho (Mtb. 12.357)


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Relação cultural entre Cidade e clube constrói vínculos de imortalidade

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FOTO: JULIANAVIEIRA

Jéssyca Rolemberg e Juliana Vieira

uforia e encantamento. Estas palavras podiam sintetizar o cenário de Santos no dia 22 de junho de 2011, data em que o Santos Futebol Clube sagrou-se tricampeão da Taça Libertadores da América. Pelas ruas da cidade praiana, a população cantava, pulava, chorava e se abraçava compulsivamente. Um verdadeiro mar branco invadiu as principais avenidas da Cidade. A festa seguiu por toda a madrugada daquela quarta – feira e a relação entre o clube e a Cidade foi sentida até mesmo pelos cidadãos mais avessos à palavra futebol. Os teóricos da comunicação humana explicam que tratase de uma questão cultural, o time permeia o imaginário da população santista, criando referenciais de cultura e eternizando mitos do esporte. A influência é tanta que ultrapassa os limites do torcedor e envolve a maioria dos moradores de Santos. Futebol e cultura se misturam no momento em que um time transforma a rotina, o pensamento e as sensações de um grupo de pessoas. A presença do clube na Cidade fez com que a relação cultural da população com o Santos F.C. se desse em diversos aspectos explicados pela Teoria da Cultura. O cientista político tcheco Ivan Bystrina foi um grande estudioso da cultura humana e a utilizou como base para o desenvolvimento do ser humano e da sociedade. “Bystrina tentou lançar as teses para compreender o fenômeno de como se estrutura um ambiente simbólico que nos contorna e tem a capacidade de produzir sentido para a realidade que nós vivemos”, afirma o doutor em Comunicação e Semiótica, Milton Pelegrini. Bystrina investigou os pontos comuns entre as diferentes culturas de todo o mundo. Para ele, o ser humano começa a procurar sentido para a vida fisiológica, que é denominada a primeira realidade: nascer, crescer e morrer. Essa busca começa a acontecer quando o homem entende que a morte é inevitável. É nesse cenário que surge a segunda realidade, composta pelos símbolos e seus suportes. Pelegrini explica que é na segunda realidade que a humanidade passa a acreditar que a morte não existe e vive em um ambiente criado simbolicamente. “Este é o absurdo inaugural da cultura, porque é a partir deste momento que o homem lança desesperadamente a mão de mecanismos para tentar sobreviver,

COTIDIANO da população é influenciado diretamente pelo Santos ultrapassar o período da finitude”. A cultura pode ser vista como uma ferramenta utilizada para tornar a primeira realidade infinita, usando a simbologia como apoio. Na segunda realidade, o ser humano busca ser sempre lembrado. A manutenção desta imortalidade simbólica se dá por meio de rituais, que podem ser facilmente identificados na Cidade. Estender bandeiras nas janelas com o símbolo do time do coração, reunir grupos para acompanhar os jogos em bares e botecos, ir à Vila Belmiro, vestir o uniforme do Peixe são suportes da primeira realidade, que eternizam o símbolo Santos Futebol Clube. No dia a dia da população santista, o clube representa os diferentes tipos de realidades, dependendo da relação que cada morador, sendo torcedor ou não, estabelece. Para alguns, o time faz parte da sua própria história, criando uma identidade de paixão. Para outros, é somente uma equipe que eventualmente altera o seu cotidiano, como nos dias em que o alvinegro praiano conquista títulos e a festa invade as ruas da Cidade, e até mesmo quem não é torcedor acaba sendo afetado. Essas peculiaridades criam um ambiente cultural gerado pela presença do Santos Futebol Clube na Cidade.

“Tudo isto para tentar entender o que significa um time de futebol ser capaz de produzir realidades, e estas realidades configurarem sentido para um grupo de pessoas”, destaca Pelegrini. Este ambiente não se restringe aos limites geográficos da Cidade pelo fato de o processo cultural acolher qualquer pessoa em qualquer parte do planeta para quem faça sentido. Mesmo que esta realidade simbólica não represente muito para torcedores de outras equipes, ninguém passará imune a ela. “Quando o Santos joga, é uma realidade que atinge santistas, palmeirenses, corintianos e sãopaulinos. Se o Santos perder, corintianos, palmeirenses e são-paulinos vão rir, e os santistas provavelmente vão chorar”, exemplifica o comunicólogo. Estas ações configuram a cultura do Santos Futebol Clube, ou seja, de um time de futebol, que permeia o dia a dia de milhares de moradores e que cria uma relação de sentimentos e significados, positivos ou não, para toda a população. “Nós nos jogamos dentro da segunda realidade e deixamos que ela nos guie dentro da primeira realidade”, explica Pelegrini.


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período da peste negra estava encerrado, naquele abril de 1912. O fim da época em que as febres matavam muitos dos habitantes de Santos foi possível graças ao projeto de saneamento por drenagem superficial de canais, criado pelo engenheiro Saturnino de Brito e o trabalho de Guilherme Álvaro à frente da Comissão Sanitária. Vivia-se uma fase de renovação, com transformações urbanas e o despontar de muitas personalidades. Ao mesmo tempo em que a rede de esgotos era estendida, expandiamse também a iluminação elétrica, as linhas de bondes, e as primeiras escolas eram criadas. O café e o açúcar eram os grandes produtos que sacudiam a economia e alavancavam o crescimento da cidade. Neste período, o Porto de Santos já era um dos maiores do mundo. Os casarões do Largo Marques de Monte Alegre, a Casa da Frontaria Azulejada, na Rua do Comércio, a antiga Santa Casa, que ficava junto ao Monte Serrat, na Avenida São Francisco, a Igreja do Rosário, o Mosteiro do São Bento e o Teatro Guarany começavam a dividir o espaço arquitetônico com a modernidade de novas avenidas e modelos habitacionais. A professora doutora e coordenadora do Centro de Documentação da Baixada Santista, Wilma Therezinha Fernandes de Andrade conta ainda que a Cidade passava por um período de grande efervescência da construção civil. “Com a construção das avenidas Conselheiro Nébias e Ana Costa, transitar entre o centro e a praia estava se tornando mais fácil, pois ambas ligavam os dois extremos da cidade”. As vias passaram a ser uma espécie de linhas mestras do desenvolvimento urbano em Santos, no qual se formavam as mansões, próximas a Orla da Praia, e os chalés de madeira, ocupados pela população mais pobre. Outros destaques da época eram os sítios de João Éboli, importante médico que integrava a sociedade santista, onde hoje esta situado o Outeiro de Santa Catarina, no Centro Histórico, e o Parque Indígena, na Praia do Boqueirão, que pertencia ao empresário e escritor

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ganha um clube de futebol em 1912 Júlio Conceição, cidadão rico, que participava das questões abolicionistas e ecológicas daquele tempo. Tamanha é a importância da propriedade do empresário que, ao ser desfeito, em 1948, suas orquídeas foram utilizadas para fundar o Orquidário da Cidade e os peixes que embelezavam os aquários, para o início do Aquário Municipal. Considerado um dos grandes cartões postais de Santos e rota de entretenimento, o jardim da Orla da Praia, ainda não

fazia parte do cenário praiano da cidade. Para aproveitar os períodos de lazer, os santistas frequentavam os imponentes cassinos, o Velódromo do Coliseu, terreno que hoje abriga o Teatro do Coliseu e o Hipódromo, na Ponta da Praia. Ainda em 1912, os santistas conheceriam uma novidade na área religiosa. Foi fundada a Igreja do Racionalismo Cristão, criada por Luís de Matos, nome importante na época, que trabalhou para o povoamento do Morro da


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BONDE era sinônimo de modernidade no início da década de 1910

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Nova Cintra. Situa-se até hoje no mesmo endereço, Avenida Ana Costa, 67. Na esfera política, a grande transformação da época era a mudança dos nomes de diversas ruas e praças da cidade, por conta de medidas adotadas pelo governo republicano, comandado

por Marechal Deodoro da Fonseca. Seu intuito era separar a Igreja do Estado, mudando todos os nomes que tivessem ligação com a Igreja Católica por nomes laicos. “Exemplos destas mudanças foram o Largo do Carmo, que passou a se chamar Praça Barão do Rio Branco e a

ROLEM BE SYCA RG JÉS : O T O

Nenhum dos outros nomes escolhidos pegaram, todos tiveram dificuldade de aceitação.

Wilma Therezinha

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Rua de Santo Antônio, que virou Rua do Comércio”, completa Wilma Therezinha. A Santos de 1912 era comandada por Belmiro Ribeiro de Moraes e Silva, segundo prefeito eleito pelo voto popular na cidade, que assumiu o cargo em 15 de janeiro de 1911, e permaneceu até o ano de 1914. Por conta de sua importância na vida social, política e administrativa de Santos, Belmiro Ribeiro veio a ser eternizado anos mais tarde com seu nome dado ao bairro da Vila Belmiro, cenário de conquistas e jogos memoráveis do alvinegro praiano, ícone mundial de futebol de qualidade. Nesse contexto de efervescência e modernidade, cruzam-se certos fatos que a capacidade humana cuida de relacionar estabelecer significados e sentidos. Assim, o dia 14 abril de 1912 ficou marcado na história mundial e na de uma das mais belas cidades do litoral paulista. Duas ocorrências cuja relação se dá pelo mar, pelo Oceano Atlântico. Nesta data, o imponente navio britânico Titanic, considerado a embarcação que nem o “próprio Deus” poderia afundar, submergiu nas águas geladas do Atlântico Norte. Abaixo da linha do Equador, nas águas mais quentes do Atlântico Sul, sem a mesma pompa e circunstância da fabulosa viagem inaugural do Titanic, um novo clube de futebol surgia no Brasil. Por iniciativa dos jovens Francisco Raymundo Marques, Mário Ferraz de Campos e Argemiro de Souza Júnior, estudantes e comerciários que nutriam o sonho de dar vida ao futebol de Santos, foi fundado, durante assembleia na sede do Clube Concórdia, onde hoje se localiza uma loja de produtos para festas, na Avenida João Pessoa, o Santos Futebol Clube. Desde sua formação, a nova sociedade esportiva misturou-se à história e às tradições da cidade de Santos. O primeiro indício dessa associação está no próprio nome. Durante a assembleia, alguns nomes foram sugeridos, como Concórdia, África, Brasil Atlético, mas nenhum deles tinha agradado de maneira geral. “Nenhum dos outros nomes escolhidos pegaram, todos tiveram dificuldade de aceitação”, lembra Wilma Therezinha. Então, em um lampejo, Edmundo Jorge de Araújo propôs: “Por que não Santos, que é o nome da nossa querida cidade?” Foi aclamado por unanimidade. Edmundo ainda não sabia, mas a escolha do nome em homenagem à Cidade a tornaria mundialmente conhecida não mais pela peste negra, mas pelo brilho de estrelas do futebol santista.


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Pelé cria uma nova era... C

Jéssyca Rolemberg e Juliana Vieira

orria junho de 1956, quando a história do Santos e do futebol mundial teve um divisor de águas. Chegava a Santos, o jogador que ganharia o título de rei do futebol, alguns anos mais tarde, e que estaria, para sempre, ligado ao imaginário santista. Pisava pela primeira vez nos gramados da Vila Belmiro, Edson Arantes do Nascimento, o menino Pelé, ainda com 15 anos de idade. Quem já estava por aqui e havia conquistado o Campeonato Paulista pelo clube, se recorda bem do dia, em que Pelé foi fazer testes no Peixe. “Eu estava cortando a minha vasta cabeleira da época com o espanhol e apareceu o Valdemar de Brito, que veio falar comigo, ele disse: ‘Pepe, eu trouxe um garoto para fazer o teste no Santos e tenho certeza que ele vai ficar e eu gostaria que você desse apoio para ele, porque ele é garoto. Ele tem 15 anos de idade’, aí ele chamou o Pelé’, lembra o ex-jogador, José Macia, conhecido como Pepe. Aquele encontro épico entre Pepe e Pelé ficaria marcado na história, porque a dupla, que acabava de se conhecer, formaria o ataque do Peixe durante os próximos treze anos. “Ele me deu um aperto de mão, que quase me quebrou a mão. Eu pensei: esse garoto, pelo jeito, veio com vontade mesmo”, diz o ex-ponta-esquerda santista. Logo no primeiro dia de Vila Belmiro, Pelé treinou entre os profissionais, mas o então técnico Lula preferiu deixar o menino por mais algum tempo entre os amadores para que ele ganhasse mais resistência física e experiência. A estréia no profissional, entretanto, aconteceu pouco tempo depois, no dia 7 de setembro, contra o Corinthians de Santo André. O atacante entrou no lugar de Del Vecchio e já deu indícios do craque que se tornaria. A estrela brilhou e marcou um gol da goleada de 7 a 1. “O Pelé foi lançado assim e desandou a fazer gols e não só o Santos, mas a imprensa de São Paulo colocou o olho nele. Logo ele foi convocado para seleção brasileira”, destaca Pepe sobre a ascensão meteórica do camisa 10 santista, que chegou à Seleção, em 1957. Nesta época, o Santos já era bicampeão paulista, mas, foi a partir da geração Pelé que o clube ganhou um grande número de torcedores. Os novos santistas aprenderam a admirar o bonito futebol e viver o dia a dia da equipe, passando

FOTO: CENTRO DE MEMÓRIA E ESTATÍSTICA DO SANTOS FC a cultura de torcer pelo time vencedor às próximas gerações de suas famílias. O garoto franzino continuou surpreendendo e, em 1958, com apenas 17 anos e sete meses, ergueu a taça de campeão do mundo em vitória sobre a Suécia. Além do título, Pelé conquistou o status de jogador mais jovem a ganhar uma Copa do Mundo, que conserva até hoje. No mesmo ano em que o Rei do Futebol conquistou seu primeiro mundial, um outro jovem jogador chegava à Vila Belmiro, Coutinho. Dois anos depois, Mengálvio se juntou ao grupo, que marcaria a década de 60 com o ataque mágico, formado por Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. PELÉ no primeiro dia na Vila Este é um capítulo à parte na história de Belmiro vestindo o uniforme do Pelé, pois o fabuloso ataque foi responsável pelas grandes conquistas do Santos, com Santos muitos gols e belas jogadas. “A gente fazia mais de cem gols por ano, todo jogo, todo campeonato. Ele (ataque má- na pensão, iam para o treino a pé ou de gico) nasceu assim. Tínhamos o Pelé ônibus, ninguém tinha carro, até a hora e o Pepe, depois chegou Dorval, Men- que o Pelé ganhou um carro”, conta Pepe. gálvio, Coutinho”, recorda o Canhão da Naquele tempo, a realidade finanVila, que também destaca que o futebol ceira dos jogadores de futebol era bem daquela época era mais empolgante por diferente de hoje em dia. Não era coconta do número de gols por partida. mum o atleta possuir carro e o meio de A sintonia do grupo não existia locomoção mais utilizado era o ônibus, apenas no campo. Os atletas cultivavam seja para ir ao trabalho ou para passeuma amizade e dividiam momentos de ar. Já famoso, Pelé ganhou um fusca. lazer nas horas vagas. “A gente ia coCom o reconhecimento do futebol mer um quindim na casa da Vera, lá da santista, a equipe iniciou uma série de família Cholbi, a mãe dela fazia um quin- excursões pelo mundo, que faria o futedim muito gostoso, e o Pelé levava um bol envolvente da Vila Belmiro ser aclaviolão para pedir a Rose (Rosemeri) em mado em diversos países. “Todo mundo namoro”, comenta o ex- goleiro Lalá, queria saber quem era essa fera e a cada que atuou ao lado de Pelé e companhia. partida que ele fazia na Alemanha, na Um dos motivos para esta forte Holanda, na Bélgica, na Itália, Espanha, relação era o convívio diário, quase que em marcava dois, três gols por jogo, desperíodo integral, já que Mengálvio, Dorval, lumbrava a todos e a atuação dele era Coutinho e Pelé moravam na pensão da sempre maravilhosa”, destaca Lalá, que Dona Jorgina, no bairro da Pompéia. “A também elogia todo o elenco do Santos. amizade deles se fortificou porque eles O Santos iniciou uma série de estavam sempre juntos, almoço, janta grandes conquistas em 1961. Com o na casa da Dona Jorgina. Ficavam lá título da Taça Brasil daquele ano, o


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...e vira ícone santista FOTOS: JULIANA VIEIRA

PEPE e Lalá atuaram ao lado de Pelé em épocas diferentes no Peixe time adquiriu o direito de disputar a Libertadores da América de 62. Com o chamado Time dos Sonhos, formado por Lima, Zito, Dalmo, Calvet, Gylmar, Mauro, Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe, o Peixe chegou à final da competição contra o Peñarol sendo favorito. Entretanto, a conquista não foi fácil. O adversário trouxe toda a catimba uruguaia a campo e dificultou a vida dos santistas, tanto que o título só foi decidido após três jogos e muita confusão. O primeiro embate aconteceu em Montevidéu, e o Santos saiu de lá com uma vitória por 2 a 1, mesmo com a ausência de Pelé, que estava machucado. A segunda partida não foi tão calma quanto o esperado, já que o Santos precisava apenas do empate.

Após diversas paralisações, o Peixe igualou o placar em 3 a 3, o árbitro Carlos Robles encerrou o jogo antes do término do segundo tempo. Com esse resultado, a torcida alvinegra comemorava o título. Entretanto, foi noticiado no dia seguinte que Robles havia terminado a partida quando o Peñarol ganhava por 3 a 2. A vitória uruguaia forçava um terceiro jogo, que aconteceria em Buenos Aires, no estádio Monumental de Nuñez. Na final, Pelé retornava de lesão e seria mais uma vez decisivo, marcando dois dos três gols da vitória santista por 3 a 0. Ao contrário da Libertadores, a conquista do Mundial Interclubes pode ser considerada fácil, apesar de ter como adversário o forte Benfica, que havia derrotado o Real Madrid e se tornado

FOTO: CENTRO DE MEMÓRIA E ESTATÍSTICA DO SANTOS FC

bicampeão europeu. O Santos venceu a primeira partida no Maracanã por 3 a 2, porém, a confirmação da soberania santista viria em Lisboa, na noite de 11 de outubro. Com um futebol mágico, lembrado até os dias de hoje como a melhor exibição do alvinegro praiano em toda sua história, o time de Pelé, Pepe e tantos outros craques se tornava o primeiro brasileiro campeão mundial. “O jogo que mais marcou foi o Benfica. Nós fomos campeões mundiais pela primeira vez, em 62, com este ataque: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe”, lembra Pepe. O Santos continuou sua jornada vitoriosa ao se tornar tricampeão paulista daquele ano e, em 63, repetindo o sucesso nas competições internacionais, sagrou-se bicampeão da Libertadores e do Mundial Interclubes. A sequência de títulos e as apresentações memoráveis fizeram com que o clube conquistasse a hegemonia nacional, formando a base da seleção brasileira na década de 60, além de criar e mostrar ao mundo inteiro, o maior craque de que já se ouviu falar. Após anos de um dos casamentos mais bem sucedidos de que se têm notícias, o relacionamento entre o Santos Futebol Clube e Pelé, é algo que ultrapassa os limites do futebol e percorre o mundo todo. No que depender da diretoria do clube alvinegro, esta ligação continuará por muito tempo. Em matéria publicada no jornal A Tribuna do dia 13 de outubro deste ano, o Santos reitera o desejo de ter sua marca associada ao Rei do Futebol. Segundo informações, as negociações com a Legends 10, empresa estadunidense que agencia a imagem do Rei do Futebol com exclusividade, estão em andamento e preveem um longo contrato.

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O Pelé foi lançado assim e desandou a fazer gols e não só o Santos, mas a imprensa de São Paulo colocou o olho nele. Logo ele foi convocado para seleção brasileira. Pepe ex-jogador do Santos

PELÉ assina primeiro contrato como profissional em 1956


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Meninos da Vila: símbolo de excelência na trajetória do futebol brasileiro

Juliana Vieira

Baptista e Aílton Lira, eles encantaram a imprensa e, na final, com muitos desfalques, venceram o São Paulo, que era favorito ao título. Um dos ‘Meninos da Vila’, o meio campista Pita, recorda como surgiu o termo que virou marca do Santos. “Chico Formiga era mineiro e lá em Minas (Gerais) chamam garotos de meninos. Ele foi dar uma entrevista e falou ‘esses meninos estão bem’. Acabamos sendo campeões e isto pegou, se transformando na primeira fase de Meninos da Vila”. Outro integrante desta primeira geração foi Toninho Vieira. Com apenas 15 anos, ele veio de Uberlândia e não saiu mais de Santos, só ficou longe da cidade nos anos em que jogou fora do país. Ele destacou que o apelido ‘Meninos da Vila’ surgiu porque naquela época não era comum, que jogadores novos conquistassem títulos. “Nós subimos juntos para o profissional e fomos campeões paulistas com 18 para 19 anos, e para ser campeão paulista com essa idade, éramos muito novos, ainda mais contra o São Paulo, que tinha jogadores mais experientes”. O técnico acreditou na qualidade daqueles jogadores e deu oportunidade para que aqueles adolescentes mostrassem o seu melhor na equipe que estava viúva do maior jogador de futebol até hoje. “Seu Chico foi muito importante nesta união dos ‘Meninos

Meninos da Vila”. Passam as gerações e, até hoje, os jogadores que despontam da base santista e brilham no time profissional carregam este apelido por toda a sua carreira. O termo, que virou parte da cultura do Santos Futebol Clube, surgiu na década de 70, quando o falecido técnico Chico Formiga elevou ao time profissional alguns meninos das categorias de base. Em 1974, Pelé se despedia do Peixe e a equipe, acostumada com a conquista de títulos, viveu três temporadas sem vitórias. Sem dinheiro para novas contratações, o Santos optou por utilizar, no Campeonato Paulista de 1978, muitos dos garotos que haviam conquistado o título estadual pelos juniores. A alegria voltaria ao clube, em 28 de junho de 1979, quando foi disputada a última partida da final do Paulistão e o Peixe se sagrou campeão. O elenco responsável pelo título criaria uma nova expressão que surgia no alvinegro praiano, fazendo referência ao futebol malandro e leve apresentado por aqueles atletas. Desde então, foi criada uma nova realidade para os jogadores que viriam a jogar no Peixe. Criou-se o imaginário daquele futebol malandro, leve e irreverente, que já existia na era Pelé, mas que só se fixou quando foi idealizada a expressão ‘Meninos da Vila’. A partir daí, o clube ficou conhecido como uma ‘Fábrica de Craques’, que de tempos em tempos lança garotos bons de bola. E a estreia de alguns destes ‘Meninos’ da primeira geração aconteceu na partida contra o Bahia, em Salvador. Formiga alterou todo o meio de campo e promoveu a entrada de Zé Carlos, Toninho Vieira e Pita. Era só o começo de uma nova era no clube. Nos jogos seguintes, também entraram no time Juary, João Paulo, Nílton Batata, Rubens Feijão, Zé Carlos e Claudinho. Junto com os experientes Clodoaldo, N e l s i n h o PRIMEIRA geração

da Vila’, conhecia todos nós e sabia do potencial de cada um, sabia que a gente tinha condições de chegar ao profissional e render”, destacou o meia, se referindo ao sucesso que a equipe de 78 alcançou. Jogadores que nasceram nas categorias de base do Santos Futebol Clube e encantaram o público com o jeito moleque de jogar bola, tanto Pita, como Toninho Vieira reconhecem que o clube dá oportunidades para os garotos, sendo esta a principal característica para o aparecimento de tantos craques nos gramados na Vila Belmiro. “Todos os times têm as categorias de base, mas como o Santos dá mais condições e possibilidades para que esses garotos cheguem a ter oportunidade no profissional, mais garotos vem fazer avaliação aqui”, ressaltou Toninho. Já Pita acredita que essa postura do Peixe fará com que muitos outros ‘Meninos da Vila’ apareçam na história do alvinegro praiano. “Isso já faz parte da história do Santos. Tenho certeza que não vai parar, sempre vai aparecer garotada boa”, ou seja, faz parte da cultura da comunidade. Almejar ser um ‘Menino da Vila’ é um ideário simbólico de qualidade e talento. Hoje, quem sonha em se tornar o próximo ‘Menino’ encontrou neste sonho uma forma de vencer a morte, que é inevitável, e dar um sentido para a vida.

FOTO: CENTRO DE MEMÓRIA E ESTATÍSTICA DO SANTOS FC

de Meninos da Vila foi campeã do Paulista de 1978


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Segunda geração brilha com as pedaladas

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Jéssyca Rolemberg

s melhores times do Santos têm a sina de nascer de momentos difíceis, dos quais a equipe sai de uma seca de conquistas e momentos fabulosos para se consagrar, como em um ressurgimento. O termo “Meninos da Vila”, criado pelo saudoso técnico Chico Formiga, seria mais uma vez utilizado e representado da melhor maneira possível em 2002. A equipe alvinegra vinha de tentativas frustradas de montar elencos de peso, com altos salários e sem o esperado rendimento dentro de campo. Após a má classificação no torneio Rio-São Paulo daquele ano, restou aos santistas acompanhar os outros torneiros, e ao time, treinar e disputar amistosos, à espera do Brasileirão. Nesta época, o contrato do então técnico Celso Roth não foi renovado e, em seu lugar, Émerson Leão foi convidado a integrar a comissão técnica do Santos. Acompanhando o posicionamento do presidente Marcelo Teixeira, em não realizar contratações extraordinárias, Leão teria pela frente um plantel recheado de “meninos”. Um dos poucos nomes com mais experiência era Robert, que retornaria ao clube depois de ser emprestado ao São Caetano. Mal sabia ele que, em 2002, teria uma nova chance de reviver um momento glorioso em seu clube de coração. Em 1995, Robert integrou o time que apenas não fez história por conta da atuação um tanto quanto duvidosa e criticada do arbitro Márcio Rezende de Freitas. Com um meio de campo formado por craques como Giovanni e Jamelli, o título do Brasileirão de 95 é comentado até hoje, e reivindicado por boa parte da nação santista. “A galera considera o Campeão Moral daquele ano, pois o arbitro nos prejudicou bastante né, foi muito mal tecnicamente naquela partida anulando um gol legítimo, que seria o gol do título, o gol do Camanducaia”, comenta ainda emocionado o meio-campista Robert da Silva Almeida. Durante a espera até o início do Campeonato Brasileiro de 2002, que aconteceria em agosto, o time disputava alguns amistosos, visando preparar seus atletas para a disputa de campeonato mais importante do ano. Foi em um desses jogos que o técnico Leão realmente viu um time competitivo, e que deu a torcida santista, na Vila Belmiro, o sentimento de que aqueles garotos poderiam reviver momentos mágicos do Santos. O adversário foi

um de seus maiores rivais, o Corinthians. A equipe da capital tinha sido o melhor time brasileiro do primeiro semestre, e para esta partida, o técnico santista escalou pela primeira vez os até então desconhecidos, Diego e Robinho, respectivamente com 17 e 18 anos. Os meninos brincaram de jogar futebol, confundindo a defesa corintiana e conquistaram a vitória por 3 x 1. “A aposta realmente foi da presidência e a necessidade fez com que o Leão tirasse tudo aquilo que ele conseguiu tirar de nós, na época, meninos: o amadurecimento imediato, momentâneo para que a gente pudesse dar os resultados FOTO: SANTOS FC

ROBINHO carrega taça do título brasileiro de 2002 necessários”, lembra o meio campo Wellington Katzor de Oliveira, que participou da segunda geração de “Meninos da Vila”. O campeonato começou marcado por altos e baixos do time que tinha uma média de idade inferior a 21 anos. A equipe de Robinho, o garoto negro como Pelé e tão franzino que poucos acreditavam aguentar um jogo completo, e Diego, o típico meio – campista que apesar da pouca idade, conduzia a bola com maestria, conseguiu se classificar para as quartas de final

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em último colocado, e teria pela frente adversários de peso, como São Paulo e Grêmio. Com toque de bola envolvente, alegria e aquele típico frescor da juventude, o Santos foi vencendo seus adversários um a um, chegando então a final contra o arquirrival Corinthians, no dia 8 de dezembro de 2002. “Graças a Deus, com muito trabalho e com muita honestidade, tanto da parte da presidência, como da comissão, juntamente com o Leão, as coisas começaram a fluir favoravelmente e conseguimos uma classificação que nem a gente mesmo esperava”, afirma Oliveira. O primeiro embate terminou em 2 x 0 para o Santos, com gols de Alberto e Renato. Para o segundo jogo da final, nem tudo saiu como o planejado. Logo no início, o até então essencial Diego, que entrou em campo já contundido, não aguentou e desabou em campo. Neste momento, toda a juventude veio a tona, e como uma criança, esse menino da Vila saiu de campo aos prantos. Em seu lugar, técnico Emerson Leão colocou o experiente Robert. “Quando o Diego caiu o chão, eu fui o primeiro a levantar, fui para o aquecimento, e quando o Leão olhou para o banco eu já estava atrás dele. E ai eu entrei e pude ajudar e contribuir. Esse foi um dos jogos mais importantes para mim”, lembra o jogador. Na ensolarada tarde do dia 18 de dezembro, a final tão esperada pelos alvinegros praianos seria marcada por um menino, chamado por comentaristas esportivos e narradores como “menino-craque”. No auge de seus 18 anos, Robinho assumiu a responsabilidade daquela partida, e em um lance lembrado até hoje, as famosas oito pedaladas que desconcertaram o defensor corintiano, e deram origem ao pênalti que resultou no primeiro gol da partida. As tais pedaladas ficaram famosas nos quatro cantos do Brasil, virando tema de um funk, composto pelo grupo carioca Malha Funk. E até hoje Robinho, que atualmente está no futebol italiano, é conhecido como o “Rei das Pedalas”. Essa característica do atacante foi uma das ferramentas que ajudou a criar o ambiente de cultura que envolveu o time de 2002. Esta geração de “Meninos da Vila” ainda conquistaria o vice-campeonato da Taça Libertadores de 2003 e a taça do Brasileirão de 2004, mas nada ficou mais marcado na história desses meninos e dos milhares de torcedores santistas do que o futebol apresentado em 2002, um estilo típico dos gramados da Vila Belmiro, vindo desde os tempos mais primórdios do Santos, com Feitiço e Araken Patuska, passando pelo Rei Pelé, Coutinho, Pita , Juary e tantos outros Meninos da Vila.


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CULTURA SANTOS | NOVEMBRO DE 2012

Uma nova safra de craques recria a saga vitoriosa dos ídolos da década de 60

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Jéssyca Rolemberg

m 2010, um tal Neymar Júnior, liderou uma nova geração de Meninos da Vila que voltaria a encantar o Brasil e faria o torcedor redescobrir o sentimento de acompanhar um espetáculo de futebol. No início da temporada de 2010, a desconfiança pairava sobre a equipe santista. Em uma situação já conhecida, o Santos vinha de temporadas difíceis, com times que não renderam o esperado e lutando contra o rebaixamento do Campeonato Brasileiro. A solução seria novamente olhar com carinho para a base e voltar a ela todas as esperanças de melhorias. Além de mudança da presidência, assumida pelo empresário Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, após dez anos ininterruptos sob o comando da família Teixeira, o Santos trouxe para comandar a equipe o discreto Dorival Júnior, substituindo o polêmico Vanderlei Luxemburgo. Sem muita verba para contratações, e ainda reconhecendo o time, Dorival tratou de promover os exgarotos da base Paulo Henrique Ganso, André e Neymar como titulares. “Esse comecinho foi complicado, mas a gente sempre conversava, a gente se conhecia desde a base, e foi muito bacana, por que acho que nem a gente imaginava que ia tomar essa proporção toda que tomou”, comenta o atacante André. Com a vinda da nova diretoria, uma contratação de ímpeto foi anunciada. Após investimentos e o desejo do atleta de se preparar melhor para a Copa da África do Sul, Robinho, o menino da Vila que brilhou entre os anos de 2002 e 2004, voltava ao gramado santista por empréstimo de seis meses, para fazer história com mais uma geração. Outro importante jogador desta geração santista foi o volante Adriano. Um dos poucos meninos da região, o vicentino, que veio do bairro Sá Catarina de Moraes, relembra a dedicação de todos. “Todo mundo se empenhou, todo mundo queria o mesmo objetivo no começo de 2010, para poder ter êxito na sua carreira, ter um nome a zelar, então foram dois anos em que conseguimos seis títulos”. Utilizando toda essa juventude, aliada à experiência de alguns veteranos, como Léo,

Edu Dracena e Arouca, o time santista logo começou a dar sinais de que seria o terror daquela temporada. “Não é por que também sou experiente que eu sei tudo e a garotada não sabe nada. Eu acho que foram trocas de experiência, que foram muito boas”, afirma o capitão Edu. De volta às raízes, resgatando seu DNA ofensivo, o Santos passou a emplacar goleadas históricas, como o sonoro 9 x 1 sobre o ituano ou o baile de 10 x 0 contra o Naviraiense. Apresentando belos resultados, a equipe chegou ao seu primeiro desafio, a final do Campeonato Paulista contra o Santo André. Na mídia esportiva, muito se falava a respeito dos jovens atletas santistas sentirem a pressão de disputar um título. Porém, com o mesmo futebol moleque e atrevido, os “Meninos da Vila” conseguiram levantar a taça do Paulistão. “A gente até falava que entrava ali para se divertir meio que para brincar de jogar bola, então acho que, quando você faz assim, quando você trabalha tranquilo e com alegria, acho que as coisas acontecem naturalmente”, destaca o atacante André. A trajetória deste Campeonato Paulista ficou marcada não só pelos passes genais e dribles desconcertantes, mas também pela irreverência dos garotos. O corte de cabelo moicano de Neymar virou febre entre as crianças da cidade e de todo o Brasil, tornando-se uma de suas marcas

registradas e se incorporando a realidade dos santistas. Outra marcante influência desta geração foram as coreografias realizadas pelos jogadores durante a comemoração dos gols. Dancinhas das mais diversas possíveis, normalmente embaladas por hits de pagode, axé e funk, faziam a alegria da torcida, e irritavam os adversários. A terceira geração de “Meninos da Vila”, que ainda conquistou importantes títulos como a Copa do Brasil, outros dois Campeonatos Paulistas, e a Taça Libertadores da América, foi determinante para o surgimento de um novo craque, comparado por muitos, como o sucessor de Pelé. Neymar da Silva Santos Júnior, que por coincidência carrega o nome do clube até em seu nome, é o grande destaque desta geração, deixando jornalistas, comentaristas esportivos e até mesmo torcedores adversários boquiabertos com suas estripulias em campo. Mesmo com a terceira geração ainda em campo, o Santos Futebol Clube, já vem moldando seus novos craques. Exemplos como Vitor Andrade, de 17 anos e Gabriel Barbosa, ou Gabigol, com apenas 16 anos, são as esperanças da torcida santista para uma nova safra de jóias vindas diretamente dos campos das categorias de base do clube.

TÍTULOS DA TERCEIRA GERAÇÃO DE MENINOS DA VILA

2010

Campeonato Paulista e Copa do Brasil

2011

Campeonato Paulista e Taça Libertadores da América

2012

Campeonato Paulista e Recopa Sulamericana


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FOTOS: RICARDO SAIBUN/SANTOS F.C

NEYMAR e Ganso subiram juntos para a equipe profissional do Santos e se tornaram os ícones da terceira geração de Meninos da Vila

BRINCADEIRAS e danças viraram marcas registradas do elenco que vencia apresentando goleadas e futebol alegre

CAMPEONATO Paulista de 2010 foi o primeiro de uma série de título conquistados pelos garotos que encantaram o Brasil

COPA do Brasil do mesmo ano foi um título inédito que Neymar e companhia venceram para o Santos


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Time ganha status mundial e imprensa muda a rotina na cobertura diária

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Jéssyca Rolemberg e Juliana Vieira

bom e velho radinho de pilha era o companheiro inseparável dos amantes de futebol em todo o Brasil. Também integravam este grupo os torcedores alvinegros, que viveram as épocas áureas do Santos Futebol Clube, como os anos 60, marcados por conquistas internacionais e jogos espetaculares. Por este veículos, narradores e comentaristas esportivos traziam toda a magia do futebol. Em alguns poucos casos, a TV, ainda em preto e branco, entrava em cena. A cena agora é outra, sofisticada: a imprensa conta com amplos e diversificados recursos tecnológicos para transmitir a emoção do gol. Além de contar com a limitação material dos meios de comunicação da época, a equipe alvinegra tinha que conviver com o fato de ser um clube do interior, logo, distante da grande imprensa localizada nas capitais. Um exemplo disso é a publicação do jornal O Estado de São Paulo, que em 1962, no dia seguinte ao título da Libertadores, deu um pouco mais de meia página as publicações santistas, que dividiam espaço com notícias dos clubes paulistanos. Já em 2011, o Peixe recebeu três páginas sobre a conquista do terceiro título da Libertadores. Quem trabalhava naquela época, diretamente com o Santos, encontrava pouca concorrência na cobertura diária. “De São Paulo, eram duas emissoras, no caso, eu, pela antiga Rádio Nacional, depois Rádio Globo e também vinha a rádio Tupi de São Paulo. Esporadicamente, vinha a Jovem Pan”, lembra o repórter e comentarista esportivo, Sylvio Ruiz, que acompanha o Santos há mais de 50 anos. O cenário começou a mudar com as belas exibições, cada vez mais freqüentes, de Pelé e companhia, o que fez com que a rotina dos veículos de comunicação se voltasse para o litoral. Ruiz acredita que o Rei de Futebol se tornou o chamariz do clube. “Quando veio o Pelé, a coisa aumentou, melhorou, com mais cronistas, mais emissoras de rádio e mais jornais também.” A equipe santista segue a tradição quando assunto é revelar novos craques para o futebol. Em toda sua história, estes jogadores atraí-

FOTOS: JULIANA VIEIRA

SYLVIO, Eduardo e Leonardo trabalharam em épocas diferentes na cobertura do Santos ram a atenção da imprensa para o time. Pelé, Pita, Diego, Robinho, Neymar e Ganso são alguns deles. “Com a explosão do Diego e do Robinho, em 2002, o Santos mudou a visão da mídia para o seu time, especialmente para os dois garotos. A partir de 2010, com o Neymar e o Ganso, voltou a ser uma atração nacional. Juntou a força do Santos com dois fenômenos”, ressalta o diretor de jornalismo da TV Tribuna, Eduardo Silva, afiliada regional da Rede Globo. Nos últimos tempos, o auge de atenção da mídia com o clube ocorreu com a conquista da Taça Libertadores da América, em 22 de junho de 2011. Neymar, Ganso e outros “Meninos da Vila” estamparam a capa e as páginas de esportes de diversos jornais do Estado. Um exemplo da visibilidade alcançada pelo clube é que, no dia seguinte à final, o jornal paulistano Folha de São Paulo dedicou 16 páginas das 23 do caderno de esportes ao Santos. Com a conquista da América, o Peixe garantiu uma vaga na disputa do Mundial Interclubes, que seria disputado em dezembro daquele ano, no Japão. Durante a espera para pela competição, todos os

preparativos viraram assunto pelo Brasil. Após 48 anos, o clube voltaria a participar do campeonato. Para esta cobertura especial, as principais equipes brasileiras, como Globo, Record e Sportv, viajaram à Terra do Sol Nascente com o intuito de acompanhar o dia a dia do Santos. O repórter Leonardo Zanotti, da TV Tribuna, foi um destes profissionais e destaca que apesar da equipe do Barcelona, adversário do time brasileiro na final, ser considerada a melhor do mundo, o Peixe também foi tratado com “glamour”. “O Santos chegou com peso lá, por ter o Neymar, que chegou a ser comparado ao Messi”, explica Zanotti. A terceira geração de “Meninos da Vila” fez com que o Santos se tornasse o time da moda, por isso tudo que estes jogadores faziam, e ainda fazem, virou interesse da população, principalmente, dos jovens. “Eles são celebridades. No tempo que eu comecei a cobrir, era só um jogador de futebol, estava só na revista de esporte, só no programa de esporte. Hoje não, eles estão em todos os lugares, em todas as mídias”, exemplifica Eduardo Silva.


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Clube adota esquema para aproximar

jogadores e torcida pelas mídias sociais

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Juliana Vieira

eymar, Paulo Henrique Ganso, Robinho, Diego, rei Pelé e as recentes conquistas de títulos expressivos. Atrativos certos para a mídia esportiva. Apesar de possuir destaques para atrair a atenção dos jornalistas, o Santos Futebol Clube criou recursos que mudaram a maneira como o clube é divulgado nos meios de comunicação. Se antes o espectador estava acostumado a ver notícias sobre lesões, campeonatos, contratações e confusões envolvendo torcedores, jogadores e diretoria, agora o torcedor santista e admiradores do futebol podem acompanhar também como agem os atletas fora de campo ou dos centros de treinamentos. É uma nova rotina criada pela Santos TV. Com uma equipe de 15 profissionais, entre jornalistas, relações públicas e estagiários, o clube possui páginas no Facebook, no Twitter, no Flickr, no Google Plus e tem um site oficial, mas o principal meio de divulgação é a Santos TV, maior canal de vídeos de clubes de futebol do Youtube. Até o final de agosto, eram mais de 57 milhões de exibições, média de dois milhões de visitantes por mês e quase 95 mil pessoas inscritas. Com vídeos exclusivos, produzidos pela equipe de assessoria de comunicação do Santos, o canal aproxima torcedores e imprensa do dia a dia do jogador e faz com que todos tenham acesso a momentos que, antes, não eram expostos na mídia e não faziam parte do cotidiano da população. Surgem, nesta exposição, novos ingredientes que se somam ao caldo cultural que dá sentido e justifica o cotidiano. A ideia da Santos TV surgiu em 2007, mas apenas três anos depois, na administração do presidente Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro, que tomou o formato atual, que apresenta os bastidores da vida dos atletas, seja nos treinamentos, jogos ou eventos. “Começamos a pensar o que o torcedor queria ver e o que a gente podia mostrar”, lembra o diretor de comunicação do clube, Arnaldo Hase. Um exemplo da diferença encontrada entre o Santos e os outros times do Brasil, é que Davi Lucca, filho de Neymar, é presença constante nos vídeos e virou mais um personagem da equipe, chamando a atenção dos jornalistas e torcedores santistas. Inclusive, o número de visualizações dos vídeos, quando

o filho do craque aparece aumenta, significativamente. “Às vezes, as coisas mais simples geram mais repercussão. É incrível o retorno que dá em todos os vídeos em que o Neymar aparece, principalmente, quando o Davi Lucca está junto”, ressalta Hase. A criança passa a ser um suporte da cultura do torcedor, que criou o hábito de admirar não só o jogador de futebol, mas também a sua vida fora dos gramados, neste caso, o seu herdeiro, fazendo de Davi Lucca, um novo ídolo. No começo de 2010, o Santos contratou o atacante Zé Eduardo para equipe, que faria uma campanha vitoriosa, conquistando o bicampeonato paulista, a Copa do Brasil 2010 e a Taça Libertadores da América em 2011. O jogador, entretanto, ganhou o carinho da torcida ao vencer um concurso de beleza, antes de ser campeão com o Santos Futebol Clube. O programa Globo Esporte, da Rede Globo, lançou o Troféu Nei Paraíba 2010, que premiaria o jogador mais bonito do Campeonato Paulista. Cada time teria um competidor e o mais belo do Santos seria o craque Neymar. Entretanto, a equipe de comunicação do clube tinha descoberto o carisma de Zé Eduardo e resolveu que o atacante representaria a equipe. A Santos TV fez um vídeo com o atleta, que acabou vencendo o concurso. “Isso tornou ele uma mini celebridade. Pelo futebol dele talvez ele não conseguisse, não que ele fosse mau jogador, pelo contrário, mas isso ajudou ele a se tornar bastante querido pelas pessoas, ele é um case da Santos TV”, destaca o diretor de comunicação. O ex-jogador do clube virou um sinônimo de humor. O carinho do admirador do futebol de Zé Eduardo deixou de ser apenas pelo esporte, mas também pelo carisma do atleta. Além disso, segundo Hase, os bastidores ajudam a construir a imagem de alguns jogadores, colaborando com a identidade com a torcida. Um exemplo é o capitão da equipe Edu Dracena, que apesar das boas atuações e conquistas, tinha uma certa rejeição do santista. “(Os vídeos) ajudaram muito porque quando o torcedor olha os bastidores do vestiário, por exemplo, por ser o capitão do time, ele reúne o pessoal e começa a falar. Tem postura de líder. Isso ajudou muito a torcida entender o papel do Edu”. O segredo do canal santista é que o clube não quer competir com os veículos

FOTO: JULIANA VIEIRA

ARNALDO destaca que o papel da assessoria é somar com a imprensa de comunicação, mas sim colaborar com o conteúdo exibido. “A gente tenta fazer alguma coisa que (os veículos) aproveitem. São minutos preciosos que você rouba da TV. Isso para nós é o principal”, explica Hase. O resultado da Santos TV, que é agregada as outras mídias sociais do clube, nos dois primeiros anos da administração atual foi positivo. Apesar de não ser a equipe brasileira com mais transmissões de jogos, o Santos foi o clube que mais apareceu na televisão nos anos de 2010 e 2011, de acordo com o diretor de comunicação do Santos Futebol Clube, Arnaldo Hase. Além disso, o clube costuma sair na frente dos adversários em outras mídias. No Google Plus, por exemplo, o Santos foi convidado pela empresa a ser o primeiro time brasileiro a ter uma página na ferramenta. Em menos de um ano de participação, o Peixe já tem quase 200 mil pessoas no círculo da rede social.


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Marcas contam a história do Santos em Santos

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Jéssyca Rolemberg e Juliana Vieira

om a chegada das comemorações do centenário do clube, a cidade passou a contar com outros atrativos relacionados ao Santos F.C.. O Bonde Turístico que circula pelas ruas do Centro Histórico, recebeu nova “vestimenta”. Em sua estrutura, foi colocado um grande adesivo com a imagem da baleia, o símbolo que identifica a agremiação. Já na Orla da Praia, a Praça das Bandeiras recebeu um imenso relógio do Santos, para contabilizar os gols marcados pela equipe. Com seu potencial turístico, o Santos Futebol Clube ajuda e contribui para a apresentação da Cidade mundo a fora. Há quatro anos, a Prefeitura Municipal de Santos firmou um convênio com o Santos, pelo qual a administração divulga o clube, e este, por sua vez, propaga os atrativos da Cidade. Além de contar com seu estádio, na Vila Belmiro, o time dispõe do Memorial das Conquistas, um acervo com diversas peças que ajudam a descrever a grande história do clube paulista e o Centro de Treinamentos Rei Pelé. O secretário de Turismo de Santos, Marcelo Vallejo Fachada, lembra ainda que o time é tema do estande institucional utilizado pela secretaria para apresentar a Cidade em feiras de turismo. “Em feiras internacionais, o nosso cartão de visitas é o Santos FC. Aproveitamos a imagem do time e do Pelé para apresentar a nossa cidade aos outros países”. Em 24m², o estande reproduz um minicampo de futebol, com gramado, grande área, banco de reservas, iluminação de estádio e ainda banners que mostram torcedores do time em plena vibração. Além do cenário real de um campo, o espaço conta ainda com quatro vitrines que resgatam parte da história do Santos Futebol Clube. O espaço temático também é premiado como o clube, e conquistou os prêmios de melhor stand na Feira da Bolsa de Negócios Turísticos do Mercosul e no evento da Associação das Agências de Viagem do Interior de São Paulo. Nos próximos anos, o esporte será o principal chamariz turístico do Brasil, sediando a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Fachada afirma que a cidade de Santos espera muito destes eventos. ‘Estamos apostando para a Copa de 2014 que tanto o Memorial das

Conquistas quanto o Museu Pelé sejam os principais equipamentos turísticos da Cidade, pois os turistas da Copa viram à cidade com o clima do futebol”. Muitos turistas visitam a cidade de Santos pensando ser também a cidade natal de Pelé, que na verdade é mineiro, natural de Três Corações. Os locais onde o Rei do Futebol residiu também são destaques, acabam incorporando-se ao patrimônio cultural construído ao longo de um século. O prédio Agulhas Negras, que fica na Avenida Washington Luís, no bairro do Gonzaga, no qual Pelé viveu na década de setenta, possui uma placa em sua entrada, colocada pela própria prefeitura, para marcar o período em o ícone do futebol morou no local. Outra edificação também lembrado é a pensão em que Pelé morou ainda quando garoto, na Rua Euclides da Cunha, que tem, em sua sacada, a escultura de uma bola de futebol. No edifício onde foi a mansão do Rei na Praça Nossa Senhora do Carmo também há uma placa em sua homenagem. Apesar de a Prefeitura Municipal utilizar alguns pontos do Santos nos passeios turísticos da Cidade, como o Memorial das Conquistas e o estádio Urbano Caldeira, a presença do clube no município poderia ser melhor explorada pela administração pública ou do clube e atrair ainda mais turistas. O jornalista e autor do livro comemorativo do centenário do Peixe, Odir Cunha, destaca que a instituição de futebol está intimamente ligada à cidade de Santos. “Acho que o Santos é a segunda grande instituição de Santos, que tem o Porto e tem o clube.” Por isso, alguns pontos ignorados, mas importantes, seriam inseridos no roteiro turístico do município. “A pensão da Dona Jorgina (onde Pelé morou), o museu De Vaney, o hotel Balneário, que já foi do Santos. Enfim, o Santos tem vários pontos, o próprio Didi cabeleireiro do Pelé, as pessoas poderiam vir aqui cortar o cabelo com o cabeleireiro do Pelé”, exemplifica Cunha. O Santos é considerado, até hoje, o melhor time de todos os tempos e carrega na história a presença ilustre do melhor atleta do Século XX e Rei do Futebol, Pelé. Por estes e outros motivos, que o jornalista acredita que a cidade precisa explorar melhor o time “Acho que Santos tem que pensar um pouco mais alto, pensar maior com relação a utilizar o Santos (clube) como uma fonte de riqueza e de turismo para a cidade”.


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Estrelas mudam o ditado popular,

O raio cai muitas vezes na Vila Belmiro FOTO: JULIANA VIEIRA

Juliana Vieira

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m dito popular afirma que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Mas parece que na Vila Belmiro, estas palavras são ignoradas. Entre os grandes craques do Peixe ‘caíram’ na Vila Araken Patuska, Pita, Robinho, Diego e Paulo Henrique Ganso. Porém, não há dúvida de que Pelé e Neymar são os maiores ídolos surgidos no campo santista até hoje e que levam com orgulho a cultura Santos por onde passam. Pelé foi o maior artilheiro do Santos com 1.091 gols, além de ter sido personagem principal nas conquistas importantes do Peixe na década de 60. Neymar trouxe, junto com os companheiros, o belo futebol de volta aos gramados da Vila e uma grande sequência de títulos, como a Taça Libertadores da América, conquistada, pela última vez, na geração do Rei. O primeiro é o principal responsável pela divulgação do alvinegro praiano para o mundo inteiro. O jovem vindo de Três Corações, interior do estado de Minas Gerais, viajou por muitos lugares levando no peito o escudo do time e o nome da Cidade. “Eu acho que ninguém melhor do que o Santos promoveu o Brasil, não só a cidade de Santos, como todo o Brasil, porque o Santos viajando como viajou por todo o mundo, como eu sempre brinquei que o Santos só falta jogar na Lua pra promover o Brasil”, comenta Pelé, sobre

NEYMAR e Pelé são os maiores ícones do futebol santista a importância do clube para a Cidade. Já Neymar espera que assim como o maior atleta do século, consiga trazer muito mais conquistas para o Peixe. “Eu sei que hoje meu nome está marcado na história do Santos, não só eu, mas todo mundo que está nesta geração e a gente espera marcar muito mais”. Nascido em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, a jóia atualmente mora

em Santos e tem orgulho de defender o time da Cidade. “Para mim é muito bom estar jogando e honrando a camisa do time de coração da família e de amigos também”, finaliza Neymar. Apesar de não serem naturais de Santos, Pelé e Neymar, tornaram-se cidadãos santistas por todas as conquistas e declaração de amor à cidade que os acolheu. Eles viraram ícones da cultura santista na Cidade. FOTO: RICARDO SAIBUN/SANTOS F.C

ESTATÍSTICAS DOS CRAQUES PELÉ

NEYMAR

EDSON ARANTES DO NASCIMENTO

NEYMAR DA SILVA SANTOS JÚNIOR

1956 - 1974 Atacante 1116 jogos 1091 gols 27 títulos

2009 - 2012 Atacante 200 jogos 119 gols 6 títulos

ÍDOLOS estão eternizados na história do Peixe


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CULTURA SANTOS | NOVEMBRO DE 2012

Festa marca 100 anos... A

Juliana Vieira

cidade parou para comemorar os cem anos do Santos Futebol Clube. O dia 14 de abril de 2012 foi uma verdadeira festa para os moradores de Santos. No bairro da Vila Belmiro, dois amistosos levaram os torcedores a lotar as arquibancadas do estádio Urbano Caldeira , a partir das 9 horas. A bola rolou primeiro para os jogadores veteranos do Peixe. Duas equipes formadas por Manoel Maria, Clodoaldo, Lalá, Abel, Márcio Fernandes, Alberto, Jamelli, Marcello Passos, Negreiros, Oberdan e outros atletas abriram a rodada festiva, em partida que terminou empatada em 2 a 2. Uma surpresa muito especial estava reservada para o intervalo entre os jogos. O maior ídolo do Santos desceu de helicóptero nos gramados da Vila Belmiro. O Rei Pelé chegou carregando a taça da conquista da Libertadores da América de 2011. A surpresa levou os torcedores ali presentes ao delírio. Crianças, adultos e idosos não esperavam aquela presença ilustre. Ainda faltava o jogo ‘Nós contra Rapa’, principal evento do dia. Na partida, o time principal do Santos, formado por Neymar, Ganso, Léo, Elano, Rafael e companhia, enfrentaria 100 crianças, sócias do clube. Foi uma verdadeira confusão dos pequenos entre os jogadores, mas nada pode descrever o sorriso no rosto daqueles ‘peixinhos’, que mais admiravam, do que enfrentavam os ídolos, que estavam tão perto. E o dia era mesmo de alegria para todos, pois este jogo também terminou empatado em 2 a 2. Como todos não podiam vencer, a solução ‘divina’ foi que ninguém ganhasse. A emoção de participar deste dia especial não era apenas dos torcedores santistas, mas também dos atletas, que escreveram e escrevem a história do time. Para Clodoaldo, que atuou entre 1965 a 1980, estar presente naquela grande festa foi emocionante. “Uma data inesquecível, da qual eu me sinto orgulhoso de ter feito parte de 14 anos da história linda deste clube”, disse emocionado, antes de entrar em campo. Já o ‘menino da Vila’ da última geração, Paulo Henrique Ganso estava honrado em vestir a camisa 10, de Pelé, no ano do centenário do clube.

“Estar no clube nesse ano é de emocionar, é de se orgulhar muito”, destacou o meia. Léo, o jogador que mais conquistou títulos pelo Santos depois da Era Pelé, não conteve a emoção e declarou seu amor pelo clube. “São 100 anos de glória, tudo que a gente viveu aqui, eu e Elano, que chegamos em 2000, com uma dificuldade muito grande e vemos essa ascensão, a gente fica muito feliz. Você viver esse clube, você viver essa torcida é mágico. Eu dedico a minha vida a esse clube, que me deu tudo”. Outro jogador que ajudou o time a conquistar os títulos recentes do clube, Arouca estava orgulhoso de participar de um momento tão importante para o Santos. “É uma honra, não só pra mim, mas para todos nós estar participando do

centenário de um clube com tanta tradição como o Santos. Eu só tenho a dizer que é um privilégio”. Na ocasião, foi lançada a camisa azul do time, que se tornou febre entre os torcedores. Também foi realizado o lançamento da Medalha Comemorativa do Centenário do Santos pela Casa da Moeda do Brasil. No gramado, estavam, além de Pelé e Neymar, o presidente do clube, Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o prefeito de Santos, João Paulo Tavares Papa, o senador Eduardo Suplicy e o deputado estadual, Paulo Alexandre Barbosa. Barbosa destacou a importância do clube para a Cidade. “O Santos é o melhor cartão postal da Cidade e todos nós,


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...do clube da Cidade santistas, sejamos torcedores do time ou não, temos que amar este clube, por que ele leva o nome e propaga a Cidade além dos horizontes”. No final do evento, os jogadores, as crianças e os torcedores cantaram parabéns para o Peixe. Neymar, como sempre descontraído, terminou a festa fazendo guerra de bolo com a garotada. A comemoração, que começou na Vila Belmiro, seguiu para as areias da Praia do Gonzaga. Próximo ao relógio do centenário, a diretoria do clube preparou um palco, onde foi realizado um grande show. Exatamente às duas da tarde, uma contagem regressiva, seguida de queima de fogos, anunciava, oficialmente, que o Santos completava cem anos de história. Com a praia lotada de pessoas, a

bateria da escola de samba Sangue Jovem envolveu os torcedores ali presentes, entoando melodias e o hino do clube no ritmo do samba. Em seguida, subiram ao palco, dois torcedores fanáticos pelo Peixe: Chitãozinho e Xororó. Eles fizeram um show que emocionou o público, demonstrando durante toda a apresentação o seu amor pelo clube. Para Chitãozinho, estar em Santos é lembrar, imediatamente, do Santos Futebol Clube. É respirar futebol. “É uma coisa mágica. Eu acho que essa cidade respira esse time. Acho que aqui não tem espaço para torcedor de outro time. Quando a gente chega aqui na cidade já vem o time na cabeça e eu acho que o povo que mora aqui tem muito orgulho desse clube”.

Após o show da dupla sertaneja, ainda se apresentaram os grupos Coisa de Pele, O Bando e Tempero. O encerramento do grande dia para o Santos ficou a cargo da bateria da Torcida Jovem.

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Você viver esse clube, você viver essa torcida é mágico. Eu dedico a minha vida a esse clube, que me deu tudo. Léo jogador do Santos durante a festa

FOTOS: JULIANA VIEIRA

EX-CRAQUES, crianças e dupla sertaneja fizeram a festa do Centenário do Santos e alegraram a população santista.


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CULTURA SANTOS | NOVEMBRO DE 2012

COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO

Arte recria história no muro do Centro de Treinamento Rei Pelé, no Jabaquara

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Jéssyca Rolemberg

udo nasceu de um antigo sonho de Paulo Consentino, artista plástico e torcedor do Santos Futebol Clube, que queria dar de presente ao seu clube centenário um gigantesco mural a céu aberto. Em abril do ano passado, logo após o aniversário de 99 anos da equipe alvinegra, Consentino deu início ao projeto “100 Anos de Futebol Arte”, que originou a pintura de todo o muro ao redor do CT Rei Pelé, com mais de 2.800 metros quadrados de muita história. Neste espaço, figuras como Urbano Caldeira, Araken Patuska, Pelé, Giovanni, Robinho e Neymar estão eternizados pela técnica de estêncil art, no qual as imagens são desenhadas em um programa de computador para depois serem pintadas, utilizada pelo artista em toda sua obra.

Na visão de Consentino, o Santos Futebol Clube e a cidade de Santos possuem forte ligação, que podem ser transmitidas em seus trabalhos. “É uma estética do branco e preto. Acredito que nós temos uma influência e referência muito grande e muito forte do Santos na vida da nossa cidade.” Para o Muro ficar pronto a tempo da data do centenário, durante o fim de semana dos dias 31 de março e 1º de abril, foi organizado um mutirão com cerca de 40 artistas. Um deles foi o grafiteiro Valdemir Pereira Cardoso, que veio da capital paulista especialmente para participar do projeto. O paulistano destaca a experiência de vir a baixada participar de um evento como este. “Essa troca artística aqui na pintura do mural, intercâmbios de cidade, com artistas da capital e de Santos. A gente se sente muito feliz e contemplado com tudo isso”.

Fotógrafos imortalizam fatos recentes do clube

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Jéssyca Rolemberg

s comemorações do centenário do Peixe foram acompanhadas durante os mais variados eventos pela Cidade. Ainda em abril, mês do aniversário do clube, o Memorial das Conquistas recebeu a exposição ‘O Muro’, na qual os torcedores tiveram a oportunidade de acompanhar todos os bastidores do projeto100 Anos de Futebol Arte, do artista Paulo Consentino, em homenagem ao Centenário do Santos FC, com fotos de Isabel Carvalhaes e Eduardo Virtuoso. Outra exposição abrigada pelo Memorial foi a ‘Santos Tricampeão Paulista’, que contou, em 80 fotos dos fotógrafos do clube Ricardo Saibun e Ivan Storti, a história do três Campeonatos Paulistas conquistados pela geração de “Meninos da Vila 3”, marca que apenas a geração de Pelé tinha alcançado. No Sesc Santos, também foi realizada a mostra ‘Imagens de uma paixão: 100 Anos da Torcida do Santos’.

FOTOS: JULIANA VIEIRA

FOTO: JÉSSYCA ROLEMBERG

MURO virou patrimônio da Cidade

Antiquário mostra objetos do Peixe

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IMAGENS exibem bons momentos

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derindo a esse “movimento”, o Antiquário Casa do Povo, que fica na Rua Xavier Pinheiro, na Vila Mathias, e integra o roteiro turístico oficial de Santos, abrigou até o dia 10 de maio um mostra em homenagem ao centenário do peixe. Os visitantes tiveram acesso a peças e fotos de momentos marcantes da história do clube, como uniformes autografados por todo o elenco bicampeão mundial (196263), troféu original de 1927, ganhado pelo Santos FC em um torneio disputado contra o América-RJ, e fotos das excursões internacionais do time da Vila Belmiro. O organizador da exposição, Paulo Carvalho, comenta que o Santos Futebol Clube tem papel fundamental na história da população santista. “Quando o Santos está em épocas de vacas magras, a cidade incorpora uma tristeza, um desanimo natural. Já em períodos de bons resultados e momentos festivos, a diferença é facilmente notada”.


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COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO

Jornalista lança livro oficial com relatos

de torcedores ilustres do alvinegro praiano

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urante a semana do centenário, as comemorações aconteceram com maior frequência, dando ao torcedor santistas oportunidades de lazer, voltadas ao esporte e as artes. No dia 9 de abril, no Salão de Mármore da Vila Belmiro, ocorreu o lançamento do livro oficial do centenário, ‘100 Anos de Futebol Arte’, do jornalista, escritor e torcedor assumido do clube, Odir Cunha. Em suas mais de trezentas e trinta e quatro páginas, a obra relata toda a trajetória da equipe alvinegra, com depoimentos de torcedores e de personalidades santistas. O livro conta ainda com estatísticas e números marcantes do time. Junto a diversos torcedores santistas, o Rei Pelé prestigiou o evento.

FOTO: JULIANA VIEIRA

EVENTO contou com a ilustre presença do rei do futebol, Pelé

Andanças do time que parou guerras e

criou o futebol moleque vão para a telona

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Jéssyca Rolemberg

ma verdadeira noite de gala. Assim pode ser descrita a Vant Premiere do filme “Santos, 100 anos de futebol arte”, dirigido e roteirizado pela cineasta Lina Chamie, que aconteceu nas dependências da Vila Belmiro, na noite do dia 13 de abril. O evento reuniu convidados, o elenco do time principal, craques do passado e mobilizou grande parte da imprensa nacional. Um grande telão foi montado dentro do gramado da vila mais famosa do mundo para dar aos espectadores a sensação de um cinema ao ar livre. Além dos convidados que participaram da estreia, o filme pode ser acompanhado ao vivo pelo canal ESPN, que realizou a transmissão simultânea do longa-metragem. Em uma hora e meia, Lina Chamie fez um intenso mergulho na história do alvinegro praiano. O filme retratou passagens como a chegada de Pelé ao clube, a mágica equipe dos anos 60, os títulos mundiais, as inesquecíveis pedalas de Robinho e o surgimento da terceira geração de “Meninos da Vila”. Além dos momentos de glória, o

FOTO: JULIANA VIEIRA

FOTO: DIVULGAÇÃO

LINA Chamie usou relatos de personagens no filme longa relembrou episódios de tristeza para a nação santista, como o tão contestado vice-campeonato brasileiro de 1995. “O Santos influencia o olhar da po-

pulação sobre o futebol. O futebol arte. Esse clube conquistou o mundo” comenta Lina Chamie.


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COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO

Cinema: show do futebol é homenageado

nas telas da décima edição do Curta Santos

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união entre cultura e esporte pode ser conferida na 10 ª edição do Curta Santos, tradicional festival de cinema santista, que neste ano recebeu o nome de 10º Curta Santos F.C. A tal ligação entre o time a população santista foi exaltada durante a semana de eventos do festival. Durante a cerimônia de abertura, que aconteceu no Mendes Convention Center, diversos elementos faziam alusão a um cenário tipicamente futebolístico. Garotos das categorias de base santista, as cheerleaders alvinegras, e a bateria da Escola de Samba Sangue Jovem, formada pela torcida organizada de mesmo nome, levantaram a platéia, que em diversos momentos entoavam gritos de paixão a equipe alvinegra. O diretor do festival, Ricardo Vasconcellos, falou sobre a experiência de unir duas grandes paixões nacionais: o futebol e o cinema. “Se você pegar os dribles do Robinho, os gols do Neymar e do Pelé, você pode fazer ai um roteiro, dá um grande documentário. E essa paixão que as pessoas têm pelo futebol é a mesma paixão que nós temos quando vamos fazer um evento, quando o diretor resolve pegar um roteiro e fazer um filme.” Em meio às sessões de cinema, ocorreram palestras com personalidades da sétima arte e concursos para eleger os melhores curtas-metragens, sendo um deles em homenagem ao Santos F.C., no qual concorreram filmes que abordaram esta temática. O vencedor foi o curta “Meninos da Fila” de Ciro Hamen. Porém, um evento era o mais esperado. Na noite de 20 de setembro, o ídolo da terceira geração de “Meninos da Vila”, que já integra o hall de maiores nomes da equipe santista, Neymar Júnior, recebeu uma estrela na calçada da fama do cinema Roxy, no Gonzaga. O local faz alusão à famosa calçada da fama de Hollywood, nos Estados Unidos. O grande público que se aglomerava para poder ver, nem que fosse por minutos, o grande astro, pode presenciar mais um momento histórico na carreira do jovem que se firma no imaginário santista, como um verdadei-

FOTOS: JÉSSYCA ROLEMBERG E JULIANA VIEIRA

Literatura especializada é destaque

O EVENTO reuniu cinema e futebol ro mito hollywoodiano. Além da estrela, durante a cerimônia, o cartunista Mauricio de Souza, que ficou famoso com os gibis da Turma da Mônica, revelou que o camisa 11 santista vai virar personagem de revista em quadrinhos. Com este feito, Neymar iguala ainda mais sua imagem com a de Pelé, que em 1976, também se tornou personagem infantil.

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utras três obras foram lançadas em meio às comemorações do centenário. O craque Coutinho, que ao lado de Pelé, formou o ataque mágico santista da década de 60, lançou, no dia 3 de julho, sua biografia, intitulada ‘Coutinho, o gênio da área’, escrita pelo jornalista Carlos Fernando Schinner. No dia 14 de junho foi a vez foi a vez do livro ‘Santos 3 x TRI’ em homenagem à conquista do terceiro tricampeonato Paulista do time, escrito pelo jornalista Vitor Loureiro Sion, e com a presença do capitão da equipe Edu Dracena, que elaborou o prefácio da publicação. Ainda em junho, o livro “10 Décadas do Santos FC”, do jornalista e conselheiro do Santos F.C., Celso Jatene, também foi lançado. Como ação especial, parte do dinheiro obtido com a venda dos exemplares do livro foi destinada ao Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (GRAAC). A cerimônia foi promovida no Salão de Mármore do clube, na Vila Belmiro.


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COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO FOTOS: JÉSSYCA ROLEMBERG E JULIANA VIEIRA

BOLO

e bola encerram festa na vila

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m meio as comemorações do centenário, a equipe do Santos enfrentou o time do Catanduvense, no dia 15 de abril, pela última rodada da fase classificatória do Campeonato Paulista deste ano, e conseguiu conquistar uma boa vitória por 5 x 0, em plena Vila Belmiro,com a presença de mais de 11 mil torcedores. No jogo oficial dos cem anos, os gols foram marcados por Paulo Henrique Ganso (2), Borges (2) e Neymar (1). Um dos gols de Ganso recebeu uma placa da diretoria santista. A partida, que aconteceu no dia 15 de abril, foi uma espécie de prolongamento da celebração do dia anterior. Durante o intervalo, um bolo com o escudo da equipe foi cortado pelo presidente Luís Álvaro Ribeiro e um grupo de torcedores santistas, acompanhados pelas cheers leadears.

JOGO DOS VETERANOS Outro grande palco de competições esportivas da cidade, no qual o craque Neymar deu seus primeiros dribles ainda garoto, o Sesc Santos, que fica no bairro da Aparecida, também aderiu as comemorações do centenário e realizou uma partida entre os craques do passado do Santos e Corinthians. O jogo aconteceu no dia 9 de agosto e reuniu atletas, como Serginho Chulapa, Pita, João Paulo, Gilberto Costa, Edu, Ataliba, Mauro, Biro - Biro, Basílio e Zé Maria.

PRESIDENTE cortou o bolo de aniversário e jogadores mostraram com bola no pé porque o Santos é um dos maiores clubes da história do futebol mudial


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Viver na Vila Belmiro é... pelo alvinegro praiano e foi na cidade do clube do coração, que ele resolveu m bairro tranquilo, com muitas tentar a carreira. “Quando cheguei aqui, casas e poucos grandes edifícios, deu certo de eu vir trabalhar bem na Vila forte característica da cidade Belmiro, pertinho do meu time. Eu fiquei de Santos. Um local que teria tudo para um torcedor fanático e glorioso, porque ser calmo, se não fosse a existência do eu fiquei bem pertinho do meu time para Santos Futebol Clube que altera o dia a assistir aos jogos”. dia daqueles que moram ou trabalham no Didi não só pode assistir aos jogos, entorno do estádio Urbano Caldeira, no como teve o prazer de se tornar o barbeibairro da Vila Belmiro. Alguns nasceram ro da maior estrela do futebol brasileiro, ali e cresceram vivendo Pelé. Assim como dona Tuca, FOTOS: JULIANA VIEIRA Didi tinha contato direto com intensamente a rotina do clube, já outros aproveitam os jogadores, que caminhaos jogos para incrementar vam com tranquilidade pelas o salário no final do mês e ruas do bairro. “O Pelé era um ainda têm aqueles que vêm garotão, como eu também, e de fora para aproveitá-la. eles concentravam aí, quanUm exemplo desta do eles viam que eu estava vivência diária é Dócima desocupado, já corriam. Uns Gonzaga de Oliveira, dona cortavam a barba, outros o caTuca, que mora na Rua belo. E assim passavam todos Tiradentes, 38, uma das eles”, lembra. que cercam o estádio, há 72 A barbearia, localizada anos. Ela é a moradora mais na rua em frente aos portões antiga do local: nasceu, 7 e 8 da Vila Belmiro há mais cresceu e pretende nunca de 50 anos, costumava ficar mais sair dali. lotada, quando os jogadoO amor pelo Santos é res santistas a frequentavam. de família e viver próximo Agora, como os atletas só vão à Vila Belmiro só aumentou ao estádio, em dia de jogos, essa paixão. Seu pai, Rui, foi nenhum deles corta o cabelo Campeão Paulista em 1935 com seo Didi. Por isso, hoje com o Santos. Seu marido em dia, o movimento no tradie genro também atuaram cional estabelecimento caiu. pelo clube. Ela jogou vôlei “Vinha muita gente aqui, às pelo Peixe e hoje seu neto vezes, bater papo com eles e segue a tradição de família, já cortava o cabelo, a barba e jogando pelo time sub-13. a gente passava um dia mara“A família gosta mesmo do vilhoso aqui. Era bem moviSantos. É o time aqui da mentado o salão, antigamencidade, então a gente gosta”, te, hoje é mais devagar.” afirma dona Tuca. Se para o barbeiro, a vida Em setembro de não é mais a mesma, para 2012, a administração do João Barbosa Mendes Filho, clube divulgou que estuda as coisas vão bem, quando a alternativas para um novo equipe santista está bem. Ele estádio para o Santos, mas é proprietário do Bar do João, que não seria localizado na que fica na Rua Tiradentes, e Cidade. Para dona Tuca, funciona há 25 anos. Antes, a ideia é absurda. “Isso MORADORES e comerciantes vivem o dia a dia do time no local, havia uma mercearia. aqui é patrimônio, a Vila “Nós que estamos ao redor do tem história. Agora onde já campo temos uma influência se viu um time da cidade ir para outro a dia do Santos Futebol Clube e sente direta de acordo com o andamento do lugar?”, questiona. a diferença de épocas é o mineiro João time. Se o time estiver mal, o pessoal tamMorando há tanto tempo na Vila Araújo, seo Didi, para os mais íntimos. Ele bém, de certa forma, em dia de jogo, vai Belmiro, ela acompa- chegou à Cidade em 1956, com apenas 18 mal, se o time está bem, está todo mundo nhou várias gerações de anos de idade. Quando pequeno, aprendeu bem, todo mundo vendendo”, destaca o jogadores, inclusive, os com sua a mãe a sua profissão e, então, dono do bar. atletas da Era Pelé. Na- resolveu seguir o caminho de barbeiro. Além disso, por estar ao lado do quela época, tudo acon- Como ele mesmo diz, não torcia para estádio, muitas pessoas frequentam o tecia no estádio, treinos, time nenhum, mas mantinha um carinho restaurante e acabam retornando com a

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Juliana Vieira

concentração e jogos, por isso, o acesso aos jogadores era muito grande e os moradores eram acostumados a esbarrar com os atletas na rua. “As pessoas tinham mais acesso para ver e falar com eles, porque eles deixavam o carro na rua. Hoje não, eles vêm no ônibus e já entram direto”, compara dona Tuca que, até hoje, guarda carros na garagem de casa, em dias de jogos. Quem também vive até hoje o dia


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...viver Santos duas vezes família, criando clientela até em outras ci- jogo, do tipo de jogo. Se é Santos e um torcedores em dias de jogos do Peixe. dades do Brasil. “O pessoal que vem a um time grande dá bastante movimento, caso Quando há duelos importantes, o local jogo, vem sozinho e depois volta com a contrário, não, é bem pequeno o movi- lota de apaixonados pelo clube, formando família aqui. Ele gosta das coisas. Nós te- mento”, completa. mais uma arquibancada. mos muitos amigos assim, de São Paulo, Próximas ao estádio Urbano CaldeiDesde 1991, uma bandeira com o de Campinas, Paraná. Tenho cliente por ra, também estão localizadas as duas se- símbolo do time era estendida na praça, tudo que é lugar”. des das principais organizadas do Peixe: localizada em frente ao estabelecimento. O Quem não pode oferecer o conforto Sangue Jovem e Torcida Jovem. Lá, os costume, que começou despretensioso, gade um bar, também dá um jeito de oferecer santistas podem encontrar os uniformes nhou o gosto da população e quando Carlos serviços aos torcedores que vão assistir das torcidas, além de ser ponto de encon- Eduardo Fernandes, proprietário da padaaos jogos do time de coração, principal- tro dos torcedores antes dos jogos, que ria, não colocava a bandeira, os torcedores mente, para aqueles que saem do estádio acontecem na Cidade ou fora. reclamavam. “Em dia de jogo do Santos eu com fome, sede e pressa. Esse é o papel Quem passa pela região quando o punha a bandeira. E quando eu não punha dos vendedores ambulantes, a maioria Santos joga, também tem que se prepa- as pessoas falavam ‘E aí, o que houve? O moradores do bairro Vila Belmiro. Além rar para o trânsito intenso. O movimento Santos vai jogar e o senhor não colocou a de vender produtos como refrigerantes, muda o roteiro de muitos motoristas que bandeira?’, elas cobravam e eu comecei a água, cerveja, churrasco e sanduíches, preferem evitar as ruas do local. Outro colocar a bandeira direto”, conta. também têm aqueles moradores que alu- problema enfrentado, especialmente peEssa pequena ação fez com que ir à gam suas garagens para que os torcedores los morados do bairro, é com a falta de ‘A Santista’ ver aos jogos do alvinegro estacionem os carros. segurança, já que os confrontos entre tor- praiano virasse uma tradição. Assim, muiAdelaide Natte é uma das vendedo- cidas são comuns aos redores dos campos tos moradores adotaram a ideia e o ponto ras, que aproveitam os dias de jogos para de futebol. virou referencial, quando se trata de Sanaumentar o rendimento no final do mês. A Independente de trabalhar ou não em tos Futebol Clube. A importância do local ideia para começar a vender bebidas, du- dias de jogos, de ir ou não às partidas, os é tão grande e a cultura de relacionar o rante os jogos, nasceu de uma necessida- moradores do bairro Vila Belmiro e, prin- time ao estabelecimento fez com que o de familiar. “Minha irmã tinha um exame cipalmente, das ruas em volta do estádio Carlinhos, como é conhecido o dono da para fazer e nós estávamos sem dinheiro, têm que se acostumar com a vida agitada panificadora, colocasse uma estátua do então falei: tem jogo, vamos vender, eu de viver perto de um dos maiores times de Rei Pelé na praça em frente. Para ele, a fico com o meu lucro e o que sobrar você futebol do Brasil e do mundo. Gostem ou homenagem ainda é pouca. “A estátua, faz seu exame. Eu comecei, gostei e vi não do Santos Futebol Clube é impossível que nós fizemos aqui com o tamanho naque dava movimento”, conta a ambulante. passar ileso à presença do time na Cidade. tural dele é muito injusto, tinha que ser Assim como no bar, os vendedores na entrada da cidade, uma estátua muito da rua também criam uma clientela fiel, UMA EXTENSÃO DA VILA grande do Pelé e uma placa que falasse segundo Adelaide. “Já tem uma freguesia assim ‘Você está chegando na terra do certa. Tem um pessoal de São Paulo que Quem não quer a grande movimen- Rei’”, completa. vem sempre procurar a gente. E depende tação das arquibancadas lotadas e do enUm torcedor símbolo e também muito do jogo, do dia, se é época de paga- torno do estádio Urbano Caldeira também funcionário do local, há quase 20 anos, mento ou não”. dá um jeito de viver a emoção de torcer é Reinaldo Nogueira, mais conhecido Entretanto, não é só quem mora na pelo Santos. Quase que sem querer, a pa- como seo Chacrinha. Um dos fundadores Cidade que aproveita o movimento da daria A Santista, no Canal 5, em Santos, da torcida organizada Torcida Jovem, ele Vila Belmiro. A família de Cristiane Go- tornou-se o ponto de encontro de muitos ressalta a importância da estátua. “O Pelé mes desce a serra em todas veio aqui inaugurar e a Prefeituas partidas para montar uma ra reurbanizou e ficou hoje um ‘lanchonete’ improvisada na ponto turístico. Muitas pessoas garagem de uma das casas da de fora vêm para tirar foto, queRua Princesa Isabel. A tradirem conhecer”. ção de trabalhar próximo a Todos sabem que, em dia estádios é antiga. “A gente de atuação do Peixe, o estabetrabalhava no Morumbi, com lecimento estará lotado com o o mesmo evento, só que no público fiel, não só à padaria, Morumbi era na praça. Aqui mas também à equipe. “O clinos viemos tentar para ver se ma é sempre de euforia, de otidava certo”. mismo, como hoje, que vamos A ideia de vir para a disputar mais uma taça e parece Vila Belmiro veio de coleque estamos em um estádio. A gas, também ambulantes, padaria se transforma em um que deram a dica para os estádio e depaulistanos. “Um foi paspois o estádio sando para o outro, falando se transforma como seria e estamos aqui em uma padahá dez anos. O movimenria”, completa to aqui depende muito do PADARIA fica lotada de torcedores em dias de jogos Chacrinha.


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Santos Futebol Clube é patrimônio cultural da Cidade por sua história e influência

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Santos Futebol Clube faz parte da história da Cidade e, mais do que isso, configura o dia a dia da população, que vive intensamente a presença do time de futebol. Em dia de disputa de título, o clima de expectativa envolve mesmo quem não torce para o Peixe e, no dia seguinte, se for campeão, é uma alegria só, com torcedores estendendo bandeiras e carregando no peito o símbolo do clube. Entretanto, se o alvinegro praiano for derrotado, Santos amanhece com um clima triste, de enterro. Para garantir vida eterna a essa história e ao seu significado enraizado no próprio desenvolvimento da Cidade a partir de 1912, a Prefeitura Municipal estuda tornar o Santos Futebol Clube patrimônio cultural imaterial de Santos. Segundo a Secretaria de Cultura, o projeto divulgado pelo diário A Tribuna, na edição do dia 11 de dezembro de 2011.

está em fase de desenvolvimento e não há previsão de término. A intenção tem respaldo jurídico. O time pode ser registrado como patrimônio da Cidade por causa da história, segundo o professor doutor Fernando Fernandes, especialista em Direito Internacional do Patrimônio Cultural. “O objetivo da proteção é a memória. Você fazer a memória, o conhecimento e a tecnologia. Todas essas são expressões ligadas à memória e ao registro de pensamentos de ideias.” Fernandes destaca que o alvinegro praiano foi um clube que quebrou vários paradigmas, por isso é parte importante da história do futebol, a qual, em diversos momentos, se confunde com a história da cidade de Santos. “A história do futebol está associada à história de grandes clubes de grandes capitais. Os grandes clubes que se mantiveram desde aquela época até hoje são das capitais. O interior começa a entrar depois, com o Santos”.

Além disso, ele ressalta que o clube foi o primeiro a alcançar a hegemonia nacional, nos anos 60, ao vencer muitos campeonatos. “Foi o grande time que, historicamente, mostrou que os de fora da Capital também podem ganhar, podem disputar, podem ir para frente.” O Peixe carrega com ele parte da história da Cidade. Além de representar o futebol santista, nacional e internacionalmente, colaborou com o desenvolvimento econômico e turístico e também modificou o cotidiano dos moradores, principalmente, aqueles que moram no entorno do estádio Urbano Caldeira, na Vila Belmiro. “O registro da história do Santos, que seria o imaterial, é o que representa o nome Santos Futebol Clube na história do futebol brasileiro, na história do futebol mundial”, explica o professor. Desta forma, se utilizarão de todas as ferramentas para fazer este registro, como vídeos, áudios e livros. FOTO: JULIANA VIEIRA

ESTÁDIO Urbano Caldeira é repleto de histórias do Santos e da população santista


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