A presença franciscana na Terra Santa

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A presenรงa Franciscana na Terra Santa

A Custรณdia da Terra Santa


Custódia da Terra Santa Convento de São Salvador St Francis Street N 1 POB 186 91001 Jerusalém Israele Tel: 0972/ 2/ 6266 563 (Secretaria) Fax: 0972/ 2/ 628 47 17 email: custodia@custodia.org Site: www.custodia.org


F r ei F r a nce sco P at ton C ustódio da T er r a S a n ta

A PR E SE NÇ A FR A NCISC A NA NA TER R A S A N TA

Franciscan Printing Press Jerusalém 2018

A Custódia da Terr a Santa

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E x t ens ão da C ustódi a da T er r a S a n ta t

Jacubieh t Ghassanieh t Latachia t

t

Rodi

t

Alepo

Knaye

Nicosia t

Limassol

t

Larnaca

t

Tripoli t Beirutet

t

Harissa

Damasco t

Cafarnaum, Tabgha,Tiberiade, Acrit t tMonte Tabor

Nazaré, Caná

tAmmã t Jaffa,Ramla t Gerico t Jerusalém,Betânia, Betfagé,AinKarem, t Emmaus Betlém

t

Cairo

Extensão territorial O campo de apostolado da Custódia da Terra Santa estende-se àquelas nações que, formando quase um arco, se localizam na parte oriental do Mar Mediterrâneo, área essa, também, conhecida como Mar do Levante.

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A Custódia da Terr a Santa


Estas breves páginas pretendem dar uma resposta e, ao mesmo tempo, ser um chamado, dirigidos àqueles que se mostram interessados em conhecer a atual situação dos Lugares Santos na terra de Jesus.

A P r esenç a

Em nome da Igreja, esses lugares foram objeto de zelo, durante mais de sete séculos, dos filhos de São Francisco. Essa missão recebeu, desde antigamente, a denominação de Custódia da Terra Santa. Nela, os Frades menores, hoje como ontem, continuam sua tarefa, fiéis à condição de missionários e profetas da reconciliação e da paz.

fr a ncisc a na na T er r a S a n ta

O presente subsídio foi planejado para todos os que desejam conhecer a realidade dessa presença, sua história, seu presente e suas perspectivas. Este breve trabalho também será útil para os que, amando o Senhor, creem na importância de valorizar os Lugares da Sua Revelação e Encarnação redentora. O subsídio traz breves dados históricos e estatísticos, apresenta diversos aspectos religiosos e sociais do trabalho eclesial, sintetiza a mensagem dos Lugares Santos, informa sobre o serviço de acolhimento aos peregrinos, bem como outras atividades ecumênicas e científicas na Custódia. Trata-se, porém, de algo pouco maior do que um sumário de informações e sugestões orientadoras. Cabe ao leitor a tarefa de ampliar esses elementos através de um contato direto com a realidade da Terra Santa. Antiga chancela do Padre Custódio, “Guardião do Santo Monte Sião e Comissário apostólico da Terra Santa e do Oriente”. Constituição Jurídica da “Custódia da Terra Santa”

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B u l a do P a pa C l e m en t e VI

Constituição Jurídica da “Custódia da Terra Santa” Aos diletos filhos, o Ministro Geral e o Ministro Provincial da Terra do Trabalho da Ordem dos Frades menores, Saúde e Bênção Apostólica.

1- Rendemos graças ao Dispensador de todas as graças, exaltando devidos louvores, porque despertou tão fervoroso zelo de devoção e de fé em nossos caríssimos filhos em Cristo, o rei Roberto e Sância, rainha da Sicília, ilustres no honrar o Redentor e Senhor Nosso, Jesus Cristo, que não cessam de realizar com incansável amor aquilo que convém ao louvor e à glória de Deus e à veneração e honra do Santo Sepulcro do Senhor e de outros Lugares (Santos) do Além-mar. 2- Faz bem pouco tempo, chegou a nós a feliz notícia de como o rei e a rainha, com grandes somas e cansativas tratativas, obtiveram do sultão da Babilônia (= Cairo), (que ocupa o Santo Sepulcro e outros Lugares Santos no Além-mar, santificados pelo próprio sangue do Redentor, deixando os cristãos com muita vergonha), para que os Frades de vossa Ordem possam habitar continuamente na Igreja do mencionado Sepulcro e também celebrar lá dentro solenemente as Missas cantadas e o Ofício Divino, visto que já se encontram alguns Frades dessa Ordem naqueles lugares e, além disso, o mesmo sultão concedeu ao rei e à rainha o Cenáculo do Senhor, a capela onde o Espírito Santo apareceu aos apóstolos, e a outra capela em que Cristo, depois de sua ressurreição, se manifestou aos apóstolos, estando presente o beato Tomé; pois a rainha construiu um lugar (= convento) no Monte Sião, onde, como se sabe, estão o Cenáculo e as duas capelas citadas acima; porque já há tempo ela tinha a intenção de manter ali continuamente, por sua conta, doze Frades de vossa Ordem a fim de cumprir os Ofícios Divinos na Igreja do Santo Sepulcro, juntamente a três pessoas leigas a serviço dos mesmos Frades e para o atendimento de suas necessidades. 3- Por isso, a mencionada rainha, no cumprimento de sua pia devoção, bem como a do rei, suplicou-nos humildemente para que interviéssemos com nossa autoridade apostólica, a fim de providenciar para aqueles mesmos Lugares Santos o envio de Frades devotos, domésticos e idôneos, até que se chegue ao predeterminado número. 4- Por isso, nós, aprovando o pio e louvável propósito do rei e da rainha, e sua devota intenção, digna de bênçãos divinas, querendo auxiliar favoravelmente em seus votos e desejos, no que diz respeito à presente Bula, concedemos a todos e a cada um de vós plena e livre faculdade de chamar, agora e no futuro, à vossa presença, por autoridade

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apostólica e por pedido dos acima mencionados rei e rainha, ou de um dele, ou mesmo de seus sucessores, após ouvir o parecer dos conselheiros de vossa Ordem, aqueles Frades idôneos e devotos (tomados) de toda a Ordem, até ao número previsto. 5- E considerando a importância desse serviço, pensem em mandar aqueles que serão destinados ao serviço de Deus, tanto na Igreja do Sepulcro do Senhor como no Santo Cenáculo e nas capelas já mencionadas; e isso, depois de se ter informado quanto às atitudes daqueles Frades que chamareis, pelos seus Ministros Provinciais de vossa Ordem, da qaul serão tomados temporariamente aqueles Frades designados e destinados àquelas regiões (do Além-mar); e, se algum deles venha a faltar, seja dada também a licença, sempre que for necessário, àqueles outros Frades que os substituirão, de morar naquelas regiões. 6- Concedemo-vos ainda a faculdade de forçar, após advertência, os (Frades) contestadores por meio de censuras eclesiásticas (apesar de qualquer proibição apostólica ou estatutos contrários da própria Ordem, reforçados por solene declaração, por confirmação A Bula do Papa Clemente VI, apostólica ou por qualquer outro acordo, ou seja se que sancionou, em 1342, a pela Sede Apostólica for concedida a alguns, em constituição jurídica da Custódia geral ou em particular, a isenção de serem proibidos, da Terra Santa. suspeitos ou excomungados através de carta apostólica que não faça menção, em modo pleno, expresso e literal de um semelhante indulto). 7- Nós queremos que, quando esses Frades, uma vez designados, estarão (nas regiões) do Além-mar, estejam sob a obediência e o governo do Guardião dos Frades de vossa Ordem, em tudo o que é de sua competência e do Ministro Provincial da Terra Santa.

(Data em Avignon, dia 21 de novembro de 1342, primeiro ano do nosso Pontificado)

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A C ustódi a da T er r a S a n ta

br e v e s r efer ênci as histór ic as

A presença dos Frades menores na Terra Santa remonta às raízes da Ordem dos Frades Menores. Fundada por São Francisco em 1209, logo se abriu à evangelização missionária. Com o Capítulo Geral de 1217, que dividiu a Ordem em Províncias, nasceu também a Província da Terra Santa, a qual se estendia a todas as regiões que gravitam ao redor da bacia Sul-oriental do Mediterrânio, do Egito até a Grécia, e além. A Província da Terra Santa abrangia, naturalmente, a terra natal de Cristo e os lugares da realização do mistério da nossa Redenção. Por esse motivo é que a Custódia da Terra Santa foi considerada a pérola de todas as Províncias e – depois de abrir outras missões da Ordem em todo o mundo – é considerada a pérola de todas as missões, até os dias de hoje. Essa Província foi visitada pelo próprio São Francisco que, por vários meses, esteve percorrendo o Egito, a Síria e a Palestina, entre 1219 e 1220. É justamente nesse período que acontece o encontro de Francisco com o Sultão Melek el-Kamel. Naquele contexto de guerras, no curso das Cruzadas, Francisco de Assis ultrapassou as trincheiras para ir falar, dialogar, com o Sultão, considerado o inimigo por excelência, o infiel. Isso foi um profético exemplo de diálogo e um testemunho de respeito entre culturas diferentes, exemplo que tem muito a dizer ao homem de nosso tempo. O mesmo espírito animou e anima a aventura humana e espiritual dos Frades menores no Orien-

Vista aérea do Convento de São Salvador, principal convento da Custódia da Terra Santa.

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te próximo, a serviço das populações locais, sejam elas cristãs ou não. A Província da Terra Santa, em 1263, foi organizada em entidades menores, chamadas Custódias, a fim de facilitar as atividades dos Frades menores. Sugiram, assim, as Custódias de Chipre, da Síria e aquela, mais propriamente dita, Custódia da Terra Santa. Essa compreendia os conventos de Jerusalém e das cidades litorâneas: Acre, Antioquia, Sídon, Trípoli, Tiro e Jafa. Nesse período, o apostolado dos Frades menores, na Terra Santa, desdobrava-se predominantemente no âmbito da presença dos cruzados.

São Francisco encontra o Sultão. Tela de Gaidano (1898), Posta no Convento de São Salvador.

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Os Frades menores sustentam a EdĂ­cula do Santo Sepulcro, restaurada por eles, em 1555.

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N

o ano de 1291, a cidade de São João d’Acre, último baluarte cruzado na Terra Santa, caiu em mãos muçulmanas. Contudo, os Frades menores, tendo se refugiado em Chipre, onde se encontrava a sede da Província do Oriente, continuaram a programar e atuar toda forma possível de presença em Jerusalém e nas outras regiões dos santuários palestinos. O próprio Papa João XXII concedeu o direito de o Ministro provincial da Terra Santa enviar, cada ano, dois de seus Frades para os Lugares Santos. Apesar de tantas dificuldades, os Frades menores continuaram a estar presentes e a exercitar toda forma possível de apostolado. É certa sua presença a serviço do Santo Sepulcro, no período entre 1322 e 1327.

P r esenç a dos F r a de s M enor es nos L ug a r es S a n tos

O retorno definitivo dos Frades menores à Terra Santa, com a posse legal de determinados santuários e ainda o direito de uso de outros, se deve à generosidade do Rei de Nápoles, Roberto d’Angiu e Sância de Maiorca. Esses, em 1333, adquiriram o Santo Cenáculo do Sultão do Egito, por mediação do Frade menor, Frei Ruggero Garini, e o direito de realizar celebrações no Santo Sepulcro. Além disso, estabeleceram que fossem os Frades menores a gozar de tais direitos, em nome e por conta da Cristandade. Em 1342, o Papa Clemente VI, com as Bulas Gratias agimus e Nuper carissimæ, aprovou o procedimento da Realeza de Nápoles, e promulgou disposições para a nova entidade. Os Frades, destinados à Terra Santa, podiam vir de todas as Províncias da Ordem e, uma vez, a serviço da Terra Santa, estavam sob a jurisdição do Padre Custódio, “Guardião do Monte Sião, em Jerusalém”, que dependia do Ministro provincial da Terra Santa, com sede em Chipre.

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Jerusalém, o claustro do primeiro convento franciscano no Monte Sião.

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O Ministro geral dos Frades menores, sucessor de São Francisco

A presença constante dos Frades menores na Terra Santa e o seu empenho na evangelização e na promoção dos valores cristãos na mesma foi determinante na formação e no crescimento daquela Igreja local, a ponto de tornar possível a restauração do Patriarcado latino, em 1847. Desde então, a Custódia e o Patriarcado latino atuam em espírito de fraterna colaboração, no cumprimento de suas respectivas competências. A Custódia da Terra Santa é, atualmente, a única Província da Ordem com caráter internacional, por comporse de religiosos provenientes de todas as partes do mundo: alguns escolhem pertencer a essa realidade desde o início de sua caminhada, enquanto outros decidem prestar serviço, nela, por um período mais ou menos longo.

Os Franciscanos dirigem-se em procissão ao Santo Cenáculo. Precedem-nos os tradicionais Kawas.

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No aniversário de 650 anos das Bulas de Clemente VI, o Papa João Paulo II, no dia 30 de novembro de 1992, endereçou uma carta autografada ao Ministro geral da Ordem dos Frades menores. Nela recordou o episódio em que foram confiados os Lugares Santos à Ordem e exortou os Frades menores a continuar a desenvolver o, a seu tempo, o mandato conferido pela Sede Apostólica. Os Frades menores são, portanto, os custódios dos Lugares Santos por vontade e mandato da Igreja universal, como lembrou também o Papa Paulo VI - o primeiro Papa, depois de São Pedro, a vir em peregrinação à Terra Santa, no ano de 1964 – e como igualmente o confirmou o Papa João Paulo II, durante a sua peregrinação aos Lugares Santos, por ocasião do Grande Jubileu do ano 2000.

Jerusalém, março de 2000, João Paulo II encontra-se com representantes judeus e muçulmanos.

Janeiro de 1964, o Papa Paulo VI encontra-se com o Patriarca grego ortodoxo, Antenágoras, em Jerusalém.

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Atualmente, a Custódia da Terra Santa está presente nos seguintes países: Israel, Palestina, Jordânia, Síria, Líbano, Egito e nas ilhas Chipre e Rodes. Nela trabalham em torno de 300 religiosos, que recebem a colaboração de uma centena de religiosos de várias Congregações. Os Frades menores prestam seu serviço nos principais Santuários da Redenção, entre os quais se destacam: o Santo Sepulcro; a Natividade, em Belém e a Igreja da Anunciação, em Nazaré. Jerusalém, Quaresma, um franciscano em oração na edícula do Santo Sepulcro.

Religioso em oração junto ao lugar do nascimento de Jesus.

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Panorama da Cidade Velha de Jerusalém, vista do terraço do Studium Biblicum Franciscanum.

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L ug a r es S a n tos

Galileia CAFARNAUM CANÁ

Memorial de São Pedro Lugar do primeiro milagre de Jesus Capela de S. Bartolomeu Apóstolo JAFA DE NAZARÉ Capela de S. Tiago HATTIN Lugar da segunda multiplicação dos pães MAGDALA Lugar de nascimento de Maria Madalena MONTE TABOR Basílica da Transfiguração de N. S. Jesus Cristo Capela “Descendentibus” Lugar da cura do endemoniado de Daburiye NAIM Lugar da ressurreição do filho da viúva NAZARÉ Gruta da anunciação à Maria Santíssima Igreja de S. José ou da “amamentação” “Mensa Christi” Capela do Temor de Nossa Senhora SÉFORIS Casa de S. Joaquim e Sant’Ana TABGHA Capela do Primado de S. Pedro Igreja das Bem-Aventuranças TIBERÍADES Igreja de S. Pedro

TOTAL 19 Judéi a: AIN KAREM

Igreja da natividade de S. João Batista Igreja da Visitação Deserto de S. João Batista BETÂNIA Sepulcro de Lázaro Santuário de S. Lázaro (Lugar da casa de Marta) BELÉM Gruta da natividade de N. S. Jesus Cristo Gruta e sepulcro de S. Jerônimo Gruta de Leite Casa de S. José Campo dos Pastores (Beit Sahur) Cisterna de Davi BETFAGÉ Albergue dos Ramos EMAÚS – QUBEIBEH Santuário da aparição de Jesus aos dois discípulos

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JORDÃO JAFA JERUSALÉM

Lugar do batismo de Jesus Igreja de S. Pedro Santo Cenáculo ( Monte Sião) Santo Sepulcro e Santo Monte Calvário Igreja da Flagelação Capela da Condenação: II estação da Via-Sacra Capela do encontro com o Cirineu (V estação da Via-Sacra) Coluna da Sentença ou dupla Capela da VII estação Getsêmani: Basílica da Agonia Getsêmani: Gruta da Traição Getsêmani: Sepulcro da Virgem Maria Dominus Flevit Lugar da ascensão de N. S. Jesus Cristo Túmulo do profeta Isaías RAMLA Igreja de S. José de Arimateia TOTAL 28 Sír ia DAMASCO

Casa de Santo Ananias Lugar da conversão de S. Paulo Apóstolo

TOTAL 2 Jor dâ ni a MONTE NEBO

Memorial de Moisés

TOTAL 1

TOTALE GERAL

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O M in ist ér io P astor a l

Escoteiros da paróquia de São Salvador, em Jerusalém.

O ministério pastoral dos Frades menores é desenvolvido em 29 paróquias e numerosas igrejas, capelas e filiais. A esse propósito, recorda-se que a Custódia tem a seus cuidados as três grandes paróquias de toda a Terra Santa, ou seja, Jerusalém, Belém e Nazaré. Os Frades, além disso, têm uma presença paroquial na Síria e Líbano, tanto nas grandes cidades como nas pequenas vilas. As paróquias árabes, portanto, são um dos maiores encargos da Custódia de Terra Santa. As atividades que se desenvolvem nessas comunidades de língua árabe são substancialmente iguais as que se desenvolvem em qualquer outra paróquia: catequese, celebração dos sacramentos, grupos de jovens, Ordem Franciscana Secular, associações, movimentos, encontros, animação, direção espiritual, atividades sociais e de ajuda. As paróquias franciscanas nasceram para cuidar dos fiéis de rito latino, presentes na região. Por diversos séculos, os Frades menores foram os únicos pastores de almas desses fiéis. Hoje, ao invés, partilham essa responsabilidade com os párocos do Patriarcado Latino, restabelecido pelo Papa Pio IX, em 1847. Um dos momentos de maior unidade dos diversos fiéis de todas as paróquias latinas, não apenas as franciscanas, é a procissão de Domingo de Ramos, que parte de Betfagé, ao Sul do Monte das Oliveiras, e vai até a Igreja de Sant’Ana, na cidade velha de Jerusalém. Nestas terras do Oriente, os católicos sempre foram pequena minoria. A grande parte dos cristãos é de rito grego-ortodoxo e a minoria católica é enriquecida, em seu interno, por fiéis de rito oriental. Além disso, praticamente em todos os países do oriente médio, no qual a Custódia está presente, as comunidades cristãs se encontram em um estado de minoria

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numérica a respeito, por exemplo, dos muçulmanos ou hebreus. Isso gera problemas nada comuns, aos quais os Frades menores tentam responder da melhor forma possível, sempre tendo em vista a existência de comunidades cristãs qualificadas e motivadas. Junto ao consolidado e plurissecular cuidado pastoral dos fiéis árabes cristãos da região, nos últimos anos, surgiram dois novos desafios. A um desses a Custódia respondeu, dando nova energia. Falamos da realidade dos fiéis católicos de expressão hebraica e daquela dos fiéis que imigraram de várias partes do mundo. Os membros da “Qehillah”, a comunidade católica de expressão hebraica, são, em sua maioria, judeus convertidos à fé católica. Conservando suas raízes hebraicas, veem na Igreja Católica o complemento de seus caminhos de vida espiritual. Junto desses, existem outras pessoas não hebreias, mas que vivem no contexto israelita e falam hebraico. Para esses fiéis, a Custódia se empenhou com a abertura de uma casa denominada São Simão e Sant’Ana, na parte nova de Jerusalém. Nela celebrase a Liturgia na língua hebraica, há momentos de oração e catequese, atividades com jovens, encontros com famílias. A atividade da comunidade é marcada pelo encontro e pelo diálogo. Na cidade de Jafa, a Custódia também se compromete no mesmo tipo de serviço.

Liturgia na paróquia de São Salvador, em Jerusalém.

Jerusalém, interno da Igreja de São Simão e Sant’Ana, para os fiéis de expressão hebraica.

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Outra realidade pastoral, à qual os Frades menores se abriram, é a dos imigrantes, em particular, aos católicos vindos das Filipinas, da América Latina, do Leste europeu e da África. Esses fiéis, especialmente mulheres, vêm a Israel em procura de trabalho, quando, muitas vezes, seus países de origem enfrentam fortes crises econômicas. Nas igrejas de Jafa, pertencentes à Custódia, são celebradas missas, regularmente, em diversas línguas, para atender as necessidades dessas comunidades. Além das celebrações litúrgicas, os locais das paróquias franciscanas são postos à disposição para diferentes momentos de encontros, atividades tanto religiosas como recreativas. Fiéis da comunidade filipina, atendidas por nossos confrades, em Jafa.

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No âmbito desse ministério pastoral, devem ser considerados os outros trabalhos de caráter social da Custódia: escolas, colégios, casas para estudantes, sessões de artesanato, círculos paroquiais, casas de repouso para idosos, instituições para assistência de alunos após as horas normais de aula, laboratórios femininos, colônias de férias, atendimentos ambulatoriais.

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Os peregrinos, que vão à Terra Santa, encontram os Frades menores quase exclusivamente nos santuários e nem sempre se dão conta da presença dos mesmos nos campos pastorais e, nem menos ainda, talvez, de seus empenhos pela faixa mais pobre da população, seja cristã ou não. Na realidade, junto aos santuários, os trabalhos pastorais também são vastos e absorventes. Citemos apenas um exemplo bem significativo. A Custódia instituiu e sustenta, há alguns séculos, a “Obra de casas e de aluguéis”, com o objetivo de ajudar os mais pobres, contribuindo para a solução do problema fundamental de moradia. Nas condições especiais da Terra Santa, a obra visa consolidar a comunidade cristã dos Lugares Santos. A situação política especial, criada pelo conflito árabe-israelense, produziu e produz consistente êxodo da população árabe-cristã local. Atualmente, a Custódia oferece, só em Jerusalém, cerca de 350 alojamentos, pelos quais os inquilinos pagam uma quantia proporcional à sua renda, porém, sempre inferior aos aluguéis normais. Outros alojamentos são alugados pela Custódia, e oferecidos gratuitamente aos pobres. Além disso, os Frades menores construíram diversos apartamentos em Beit-Hanina (Jerusalém) e os ofereceu a famílias cristãs, que pagam um terço do aluguel normal. Ainda com o mesmo objetivo, os Frades se empenham, com não poucas dificuldades, também em Belém e Betfagé, ao Sul do Monte das Oliveiras. Nesse sentido, a Custódia sempre se empenhou em custodiar não só os Santuários, no sentido físico do termo, mas também em preservar as “pedras vivas” da Terra Santa, isto é, as comunidades cristãs locais.

Opç ão

pelos pobr e s

Apartamentos destinados aos cristãos, no Monte das Oliveiras, junto ao Santuário de Betfagé.

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For m aç ão

do s jov e ns

Jerusalém, escola feminina da Terra Santa.

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Um trabalho, em que se vê a abertura da Custódia à opção pelos pobres e, ao mesmo tempo, à formação cultural dos jovens cristãos, é o de conceder bolsas de estudos a jovens qualificados, de ambos os sexos, que pretendem prosseguir os estudos superiores em institutos em universitários. Fiel ao seu passado, em que estava presente no campo da atividade pedagógica, a Custódia dispõe, ainda hoje, de escolas e colégios eficientes e apreciados, abertos a todos os jovens, sem distinção de religião, nacionalidade e raça. As diferentes condições sóciopolíticas da vasta área da Custódia fazem com que tenha densidade diferente de nação para nação. As possibilidades dos alunos são, muitas vezes, bastante delicadas: muitos alunos pertencem a famílias indigentes e são acolhidos gratuitamente, mesmo nos cursos que ultrapassam a freqüência obrigatória. Contudo, apesar das dificuldades, a Custódia se mantém fiel à opção pelos pobres, consoante, aliás, à sua tradição.

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Essas escolas encontram-se em Israel, Palestina, Jordânia, Líbano e Chipre. As numerosas escolas e os colégios hospedam mais ou menos 10.000 alunos, entre católicos (de rito latino, grego, armênio, sírio, copto, maronita e caldeu), não católicos (cristãos não unidos a Roma) e não cristãos. A porcentagem de alunos cristãos gira em torno a 60%. A presença de várias denominações cristãs e de não-cristãs faz entender quanto espaço e quanto esforço a Custódia precisa oferecer para a atividade da evangelização e da “nova evangelização”.

Alunos do Instituto Magnificat durante um ensaio.

Digna de destaque é também a atividade do Instituto “Magnificat”. Iniciado em 1995, com o objetivo de preparar músicos, peritos em tocar e em cantar nos diversos Santuários e Igrejas da Terra Santa, tornouse, rapidamente, uma escola capaz de formar jovens músicos de alto nível. O Instituto também se revelou um modo de possibilitar o encontro de pessoas de diversas origens: encontro entre estudantes e professores. Na verdade, ali se encontram hebreus, muçulmanos e cristãos de todas as confissões, associados na mesma paixão pela música e pelo canto.

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O

serv iço l it úrgico

Al Santo Sepolcro i Francescani sono impegnati ogni giorno in una processione che ripercorre alcuni momenti della Pasqua di Cristo.

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Por muitos séculos, a Custódia de Terra Santa não pôde exprimir-se, a não ser através da linguagem da oração e das celebrações litúrgicas. Não havia muito espaço para a evangelização e o serviço pastoral. Nos últimos anos, graças a Deus, os espaços se ampliaram e se abriram em diversas atividades da Custódia. Mas, também hoje, a liturgia representa uma dimensão fundamental do serviço da Custódia Referimo-nos, sobretudo, às peregrinações anuais e à animação litúrgica no Santo Sepulcro e na Basílica da Natividade. As peregrinações são, talvez, o aspecto mais típico da vida litúrgica da Custódia da Terra Santa. Um trabalho levado adiante com assiduidade e perseverança, no decorrer dos séculos. Peregrinações ao rio Jordão, a Emaús, a Betfagé, a Betânia, ao lugar da ascensão, aos santuários do Pai-Nosso e Dominus Flevit, à igreja da Flagelação, a Ain Karem, ao Cenáculo. Há séculos esses santuários são um hálito de vida, devolvida às pedras. Pense-se no Santo Sepulcro. Nele, os Frades menores empenham-se, todos os dias, na procissão que revive alguns momentos da Páscoa de Jesus. Quem, por acaso, em qualquer dia do ano, se encontrar ali, verá Frades, ainda que sejam poucos, a caminhar de altar a altar, como Cristo caminhou no último itinerário pascoal. É fácil degustar, um dia na vida, esse mover-se lento e orante. Contudo, pense no dever de realizá-lo cada dia! O mesmo pode dizer-se do serviço litúrgico quotidiano na Basílica de Belém. E deixemos à intuição de cada um avaliar a riqueza e o peso da atividade litúrgica nos tempos fortes; sobretudo, antes, durante e depois dos dias das celebrações pascais e natalinas. A Terra Santa foi definida por Paulo VI como “o

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quinto Evangelho”. Conhecer essa terra, sua história, seu ambiente humano e geográfico, contribui com eficácia para uma vital compreensão das mensagens da Santa Escritura. Por isso os Frades menores estão empenhados em fazer crescer o amor ao Evangelho, através da difusão da mensagem dos Lugares Santos. Essa mensagem se faz conhecer ao mundo através de diversos instrumentos. O primeiro é constituído por impressos. Como editora, a Custódia se apresenta como Franciscan Printing Press. A sessão científica da Franciscan Printing Press se exprime nas atividades do Studium Biblicum Franciscanum, do qual falaremos mais adiante. A sessão de notícias e divulgação se expressa sobretudo na publicação da “Revista da Terra Santa” (sem edição em língua portuguesa), fundada por volta de 1930, atualmente é impressa em cinco idiomas: italiano, espanhol, francês, inglês e árabe. Essa revista visa tornar conhecida a história, a riqueza bíblica e arqueológica, a espiritualidade e as atividades dos Lugares Santos. Seu caráter divulgador, contudo, não impede que ela

Difus ão

da mens age m

d o s lug a r e s s a n to s

Frades durante a procissão cotidiana na Gruta da Natividade em Belém.

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tenha matérias de alto nível e que se constitua em utilíssimo instrumento para conhecer os Lugares Santos. A Custódia ocupa-se, também, de revisar e reeditar, periodicamente, seu próprio “Guia da Terra Santa”. Um eficaz instrumento de divulgação da mensagem dos Lugares Santos é oferecido também pelos “Comissários da Terra Santa”. Trata-se de Frades que, com zelo, se dedicam a divulgar as atividades e os problemas da Custódia, e criam, em todo o mundo, aquele movimento de interesse pelos lugares de origem da fé cristã, que se manifesta nas peregrinações. Para quem, com maior eficácia, desejar informações sobre as atividades desenvolvidas pela Custódia, pode encontrá-las no site: http://www.custodia. org, no idioma italiano, inglês, espanhol, árabe, hebraico, francês. Está em processo de tradução para a língua polaca e portuguesa. Os próprios Frades ocupam-se da constante atualização do mesmo. Um dos campos, no qual a Custódia, desde

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sempre, se empenha, é o de animação espiritual de peregrinos de todo o mundo. Muitos religiosos estão ocupados no acolhimento e no serviço de guias dos diversos grupos. Além disso, para o maior conforto dos próprios peregrinos, a Custódia mantém as tradicionais casas de peregrinos, ou as “Casas Novas”. Trata-se de centros de acolhimento e repouso, que podem ser encontradas em Jerusalém, Belém, Nazaré, Tiberíades e no Monte Tabor, agora modernizadas para ser mais acolhedoras. Enfim, a Custódia organiza peregrinações por todo mundo, assegurando, junto às melhores organizações, adequada e qualificada assistência espiritual.

Serv iço

Para os peregrinos particularmente interessados em fortes experiências de oração e momentos de reflexão, o Santuário da Agonia, junto ao Horto das Oliveiras, oferece a possibilidade de se passar um período de tempo no “Eremitério do Getsêmani”. Um serviço semelhante é também oferecido pelo Santuário de São João do Deserto, junto a Ain Karem, recentemente restaurado. Nesse lugar, reúnem-se não só peregrinos católicos, mas também ortodoxos, de diversos ritos.

aos per egr inos

Fiéis latinos de Jerusalém durante a Via-Sacra.

Vale recordar que existe consistente fluxo de visitantes israelenses, sobretudo nos Santuários de Ain Karem e do Monte Tabor.

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com is s a r i a dos da T er r a S a n ta de l íngua port ugu e s a

Brasil Comissário da Terra Santa Convento Santo Antônio de Lisboa Rua dos Tamoios, 1875 Batista Campos, 66025-540 Belém - PA - Brasil Telefono: +55. 91 32220097 E-mail: rochaedilson@hotmail.com Vice-Comissário da Terra Santa Convento São Francisco Avenida São Sebastião, 517 - Santa Clara Caixa Postal 191 68005-090 Santarém - PA - Brasil Telefono: +55. 93 35234651 Fax: +55. 93 35222344 E-mail: john_ofm@yahoo.com.br Comissário da Terra Santa Comissariado da Terra Santa Rua Padre Eustaquio, 1174 - Bairro Carlos Parte Belo Horizonte - Minas Gerais - Cep 30710580- Brasil Telefono: +55. 31 34645093 Fax: +55. 31 34645093 E-mail: comterrasantamg@gmail.com

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Vice-Comissário da Terra Santa Convento Santo Antônio Av. 21 de Abril, 645 35500-007 - Divinópolis – MG - Brasil Telefono: +55. (37) 32211196 E-mail: freitide@yahoo.com.br Comissário da Terra Santa Comissariado de Terra Santa Convento Santo Antônio Largo da Carioca, S/N CEP 20050-020 - Rio de Janeiro, Brasil Telefono: + 55. 21 2262.0129 E-mail: pimuller@hotmail.com Web: www.comissariadoterrasanta. com.br Comissário da Terra Santa Convento Monte Alverne Avenida Juca Batista, 330 Caixa Postal 2330 91770-000 Porto Alegre - RS - Brasil Telefono: +55. 51 32469937 Fax: +55. 51 32660353 E-mail: c.terrasanta@gmail.com

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Comissário da Terra Santa Convento Santo Antônio Rua Imperador Dom Pedro II, 206 Caixa Postal 1931 50010-240 Recife - PE - Brasil Telefono: +55. 81 34244556 Fax: +55. 81 32240033 E-mail: frguto86@gmail.com Web: www.ofmsantoantonio.org Skype: gutofr Portugal Comissário da Terra Santa Largo da Luz, 11 1600-498 Lisboa - Portugal Telefono: +351. 21 7140715 Fax: +351. 21 7144811 E-mail: com.terrasanta@gmail.com Web: www.ctsportugal.org

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Atividade ecumênica e diálogo interreligioso

O Padre Custódio encontra representantes das comunidades cristãs não católicas de Jerusalém.

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A atividade ecumênica move-se, predominantemente, sob uma diretriz de tipo cultural. Nesse sentido, os dois exemplos mais significativos são: o Christian Information Center, em Jerusalém, e o “Memorial de S. Paulo”, em Damasco. A finalidade do Christian Information Center é múltipla: fornecer a operadores de mass media, a escritores, a estudiosos e a comunidades religiosas, notícias sobre eventos científicos ou de qualquer outro gênero, concernentes à vida cristã na Terra Santa; pôr à disposição das diferentes Igrejas, presentes na Terra Santa, locais apropriados a encontros ecumênicos, conferências, reuniões de grupos de oração, em que participam cristãos de todas as denominações, coletivas de imprensa e outras atividades religiosas ou culturais. O Centro publica, periodicamente, um boletim informativo. Através de uma seção sua, conhecida como Franciscan Pilgrims Office, desde 1965, o Centro presta preciosos serviços a sacerdotes e a milhares de peregrinos, dando, por exemplo, a possibilidade de reservar horário para santas Missas nos diferentes santuários.

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O “Memorial de S. Paulo” surgiu em 1964, num terreno da Custódia de Terra Santa, periferia de Damasco, sobre o lugar em que se recorda a conversão de São Paulo. O Memorial era um desejo do Papa Paulo VI. Foi ele que doou o terreno aos Frades da Custódia da Terra Santa. O Memorial destina-se a retiros espirituais e encontros de estudos, de caráter teológico, pastoral, ecumênico e histórico–arqueológico. A casa e a capela estão à disposição dos católicos de todos os ritos e, em casos particulares, de outros cristãos, para suas necessidades espirituais. Ali são acolhidos também peregrinos que visitam os lugares da conversão de São Paulo. Além disso, os ambientes do Memorial estão à disposição de várias iniciativas da pastoral local. Além das atividades de caráter oficial, em campo ecumênico, não podemos esquecer o contato cotidiano com os cristãos de diferentes ritos e confissões, o qual aumenta a estima e o conhecimento recíprocos, e permite encarar, com novos olhos, os irmãos que não estão em plena comunhão com a Igreja Católica.

Damasco, fachada do Memorial de São Paulo.

Em algumas paróquias dos Frades menores, por ocasião das principais festividades, tais como Páscoa e Natal, é comum ver reunidos os fiéis de diferentes confissões cristãs. Quanto ao empenho da Custódia no diálogo interreligioso, devemos sublinhar como esse é favorecido, quase exigido, pela particular situação religiosa da região. Com efeito, os cristãos representam apenas 2 % da população local, sendo o restante constituído por mulçumanos e judeus.

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Os Frades menores, nos 800 anos de presença em Terra Santa, procuraram ser fiéis ao ditado do seu Pai São Francisco, que lhes pediu de se comportar de duas maneiras, quando se encontrassem entre homens de fé religiosa diferente. Um modo é o de não provocar rixas e disputas, submetendo-se a todos os homens por amor de Deus, e testemunhar que são cristãos. O outro modo é o de anunciar a palavra de Deus, quando o julgarem ser agradável ao Senhor. Os Frades menores sempre privilegiaram o testemunho silencioso da própria fé, fazendo-se solidários com as populações entre as quais vivem, procurando aprofundar o conhecimento de suas tradições religiosas e culturais, para se aproveitar de um enriquecimento espiritual. Muitas vezes, nessas regiões, não é possível realizar um apostolado direto. Sempre, porém, se pode procurar viver com coerência a própria opção de fé, a fim de suscitar nas outras pessoas, ao menos, uma interrogação e instaurar um diálogo sincero.

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A atividade científica do Studium Biblicum Franciscanum (SBF) é reconhecida em todo o mundo da cultura bíblica e arqueológica. O ensino, no convento da Flagelação, começou no ano acadêmico de 1923–24. Em 1982, o SBF foi reconhecido como extensão da Faculdade de Teologia do Pontificium Athenaeum Antonianum, de Roma, assumindo o primeiro ciclo do Studium Theologicum Jerosolymitanum. Esse trabalha em estreita colaboração com o Seminário Internacional de São Salvador. Nesse seminário, preparam-se ao sacerdócio jovens Frades da Custódia e, também, Frades provenientes de diversas Províncias da Ordem Franciscana. A realização da nova sede do SBF (inaugurada no dia 17 de novembro de 1991 pelo Prefeito da Congregação para a Educação Católica e pelo Ministro geral da Ordem dos Frades menores) é a etapa final de uma série de intervenções feitas no

A t i v ida de cien t ífic a

Jordânia, o Memorial de Moisés

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complexo da Flagelação, que possibilitaram ao Studium responder às exigências de um centro verdadeiramente moderno. Com o decreto da Congregação para a Educação Católica, foi erigido como Faculdade de Ciências Bíblicas e Arqueológia, em 2001. Cafarnaum,Frades arqueólogos e operários numa escavação arqueológica.

Como centro de pesquisas, dedica-se ao estudo da Arqueologia bíblica, em especial à redescoberta dos Lugares Santos do Novo Testamento e da Igreja primitiva na Terra Santa, ao estudo das fontes literárias (textos judaicos e cristãos, antigos itinerários na Terra Santa) e à ilustração da história dos santuários da redenção. Conduz pesquisas bíblicas sob os aspectos histórico, exegético, teológico, lingüístico e ambiental. Como Centro didático, concede os graus acadêmicos pontifícios de Bacharelado em Teologia, através do Studium Theologicum Jerosolymitanum, e de Mestrado e Doutorado em Ciências Bíblicas e

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Arqueologia, através do SBF. Confere, além disso, Diploma Superior em Ciências Bíblico-Orientais e Arqueologia e Diploma de Formação Bíblica. A partir de 1991, confere Diploma de Estudos Bíblicos, através do Catholic Biblical Institute de Hong Kong. O SBF organiza, também, semanas de atualização bíblica, convênios e cursos de formação para futuros guias de Terra Santa. O programa dos estudos compreende Línguas orientais antigas, Introdução especial ao Antigo e Novo Testamento, Exegese e Teologia bíblicas, História e Geografia das terras bíblicas, Arqueologia bíblica e cristã antiga, Topografia de Jerusalém, excursões guiadas na Terra Santa, Jordão, Egito e Turquia. O SBF é aberto aos estudantes de qualquer nacionalidade, religiosos e leigos, homens e mulheres. Entre os estudantes, a maioria vem do exterior, mas não faltam aqueles locais, também não católicos.

Um dos recintos da Biblioteca da Flagelação.

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Fazem parte do SBF o Museu Arqueológico (que documenta, entre outras coisas, os resultados das escavações realizadas pelos membros do SBF em Nazaré, Cafarnaum, Dominus Flevit, no Monte das Oliveiras, nos santuários de Jerusalém e arredores, no deserto de Judá, na Transjordânia, na Galileia e nas fortalezas do rei Herodes, conhecidas como Heródium e Maqueronte). Possui, também, uma biblioteca especializada, com mais de trinta mil volumes e cerca de quatrocentas revistas. O mundo cultural, interessado, sobretudo, nos Estudos Orientais, conhece também nosso Centro de Estudos Orientais do Cairo. Seu objetivo é o desenvolvimento das Ciências orientais, no que diz respeito às comunidades cristãs do Oriente Médio e à documentação sobre a vida e a história dos Frades menores na Terra Santa, como continuação da obra do P. Jerônimo Golubovich OFM. A principal atividade do Centro é constituída pelas publicações. O Centro dispõe de biblioteca, única em seu gênero: são mais de trinta mil volumes e, aproximadamente, 200 revistas e boa coleção de manuscritos orientais em árabe, siríaco, copto, armênio, turco, persa, etc.

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Nazaré, inscrição do III século, em língua grega: X(AIP)E MAPIA, ou seja, Ave-Maria.

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A Custódia é uma presença enraizada no Oriente Médio, é uma presença-ponte, um encontro (às vezes, desencontro) entre duas culturas, aquela do Oriente e aquela Ocidente. Não existe lugar no mundo como Jerusalém, em que todas as confissões religiosas cristãs estão presentes. Além das diversas dificuldades de relações, a Terra Santa possui um fascínio único em seu gênero. Aqui, os Frades menores representam uma presença histórica. Ao longo dos séculos, aprenderam a dialogar com outros cristãos. Ao nível interreligioso, os cristãos são uma pequena realidade em relação às duas grandes presenças religiosas: a hebraica e a islâmica. Mas, é belo notar que, mesmo não fazendo parte dessas culturas, os cristãos assumem alguns aspectos das tradições locais e conseguem transmitir algo da sua própria cultura. Na Terra Santa, os Frades menores encontram-se no coração da vida da Igreja e do mundo. Não obstante os limites provenientes da escassez de pessoal e a dificuldade das línguas faladas, os Frades menores conseguem sempre oferecer hospitalidade, encontrar peregrinos e fiéis de todas as partes do mundo e discutir pacificamente com aqueles que não pensam como eles. A Terra Santa é um lugar cativante, que desafia continuamente, e o maior desafio que os Frades menores, desde sempre, acham na Terra Santa é aquele de não se limitar a sofrer as situações difíceis em que vivem, mas de conseguir inserir-se nas diversas situações, com uma atitude ativa e crítica, sempre cheios de esperança evangélica.

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C onclus ão


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C ronologi a

1229 – Os Frades menores estabeleceram-se em Jerusalém, nas proximidades da V Estação da Via-Sacra. 1323 – Serviço no Santo Sepulcro e humilde residência, ali. 1335 – Fundação do Convento do Cenáculo. 1342 – Fundação canônica da Custódia de Terra Santa pelo Papa Clemente VI. 1347 – Definitiva instalação no Santuário da Natividade em Belém. 1363 – Posse do Túmulo da Virgem, conservado até 1757. 1392 – Reaquisição da Gruta dos Apóstolos, ao Norte do Horto das Oliveiras. 1485 – Aquisição, em Ain Karem, do lugar do nascimento de João Batista. A atual Igreja é de 1621. 1551 – Expulsão definitiva do Cenáculo. 1557 – A sede da Custódia passa ao Convento de São Salvador, em Jerusalém. 1620 – Aquisição, em Nazaré, das ruínas do Santuário da Anunciação. A primeira Igreja é de 1730. 1631 – Aquisição, no Monte Tabor, das ruínas do Santuário da Transfiguração. 1666 – Aquisição, em Jerusalém, do Horto das Oliveiras. A atual Igreja foi erigida em 1730. 1679 – Aquisição da propriedade do Santuário da Visitação, em Ain Karem. A igreja atual foi construída entre 1938 – 1940. 1745 – Em Nazaré, são adquiridas as ruínas, da época das cruzadas, do Santuário da Nutrição (São José). A primeira capela é de 1754, a Igreja atual foi construída entre os anos 1911 – 1914.

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1836 – Em Jerusalém, adquirem-se as ruínas da Flagelação. A capela é de 1839. 1861 – Em Emaús – Qubeibeh, a marquesa P. Nicolay doa a capela de S. Cléofas. A Igreja atual é de 1901. 1878 – Adquire-se, em Naim, o lugar do santuário. A capela é de 1880. 1880 – Aquisição da área de Betfagé. A capela é de 1883. 1889 – Aquisição da V Estação da Via-Sacra, de Dominus Flevit, de Tabgha e das ruínas de Magdala. 1894 –As ruínas de Cafarnaum são adquiridas. Em 1921, é restaurada a sinagoga. O memorial de São Pedro foi consagrado em 1990. 1909 – Aquisição do Campo dos Pastores, em Beit Sahur, próximo a Belém. 1933 – Aquisição, junto ao rio Jordão, do lugar tradicional do Batismo de Jesus. 1936 – Construção, em Jerusalém, do Convento ad Coenaculum, no Monte Sião. 1950 – Reaquisição da área de Betânia. Em 1952, construção do Santuário de São Lázaro. 1964 – Paulo VI, peregrino na Terra Santa. 1969 – Inauguração da nova igreja da Anunciação, em Nazaré. 2000 – João Paulo II, por ocasião do Grande Jubileu, visita a Terra Santa. 2009 – Bento XVI visita a Terra Santa. 2014 – Francisco visita a Terra Santa.

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Í n dice 4

Mapa: extensão da Custódia da Terra Santa

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A presença dos Frades Menores na Terra Santa

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A Bula do Papa Clemente VI

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A Custódia da Terra Santa: breves acenos históricos

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Presença dos Frades menores e Custódia dos Lugares Santos

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O ministério pastoral

21 Opção pelos pobres 22 Formação dos jovens 24 Serviço litúrgico 25 Difusão da mensagem dos Lugares Santos 29 Serviço aos peregrinos

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Atividade ecumênica

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Atividade científica

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Conclusão

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Cronologia da presença dos Frades menores nos lugares Santos

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Franciscan Printing Press - JerusalĂŠm 2018

4130 -VI- 2005


Os Franciscanos   estão presentes ininterruptamente na Terra Santa, há sete séculos. Sua presença foi sempre motivada pelo serviço fiel a Deus, à Igreja e ao próximo.

Franciscan Printing Press - Jerusalém 2018

foto © HS

A custódia dos Lugares Santos, a acolhida aos peregrinos, o cuidado com os cristãos locais e o diálogo com todos, foram e são, os motivos pelos quais os Frades Menores entregam, todo dia com paixão, suas vidas nas mãos do Senhor, seguindo Seus passos na Sua própria Terra.


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