Caderno Centenário

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Cidade Esperanรงa, tu sonhas e anseias Por lindo futuro de veraz grandeza, Em que colhas tudo o que hoje semeias Com os olhos em alvo na tua realeza.

Gazeta DO OESTE

DIVINร POLIS - 1912/2012


02 ESPECIAL EDITOrIAL

O valor da memória

A

memória é um campo eternamente em disputa. Indivíduos e grupos debatem para estabelecer uma “verdade” sobre o que aconteceu, como e porque aconteceu em determinado ocorrido da história. Um dos mais antigos sonhos da humanidade é poder viajar no tempo, saber como era determinado local no passado, como viviam as pessoas, o que elas almejavam. E também saber como será esse mesmo local no futuro, como estarão vivendo e o que aguardam os habitantes desse mesmo lugar daqui a tantos anos. Ficamos nos perguntando como será a Divinópolis bicentenária, como estarão vivendo e quem serão nossos sucessores na condução da história dessa cidade. Isso mesmo, nossos sucessores, pois é do suor do mais humilde ao mais importante cidadão, que é feita a história de Divinópolis. Saber como será o futuro é um mero exercício de especulação, “Mais do que o não há como saber, apenas como conjecturar. fruto de pesquisas Mas uma máquina do tempo e do amparo de que nos revela o passado de Divium historiador, nópolis, essa já possuímos. esse caderno Esse caderno especial que ora procurou acima de é colocado nas mãos de nossos tudo privilegiar a leitores e assinantes, funciona como o ambicionado artefato camemória fotográfica paz de nos transportar ao passado do município, do Arraial do Divino. queremos que as Mais do que o fruto de pesquipessoas literalmente sas e do amparo de um historiaviajem nessas dor, esse caderno procurou acima páginas. Que vejam de tudo privilegiar a memória fotográfica do município, querea cidade em seus mos que as pessoas literalmente momentos iniciais, viajem nessas páginas. do limpo e piscoso Que vejam a cidade em seus Itapecerica, das momentos iniciais, do limpo e já planejadas ruas piscoso Itapecerica, das já plalargas curiosamente nejadas ruas largas curiosamente ornadas com postes no meio das ornadas com postes vias, construções que fazem parte no meio das vias, da história centenária da cidade construções que como Santuário, Instituto Nsa. fazem parte da Sra.Sagrado Coração, Praça da história centenária Matriz, Pontilhão. Enfim são tanda cidade como tos monumentos que fica difícil enumerá-los. Santuário, Instituto Várias paisagens que nos Nsa.Sra.Sagrado fazem querer imaginar como era Coração, Praça da o cotidiano tranquilo e pacato dos Matriz, Pontilhão. primeiros moradores. Um dia a Enfim são tantos dia de passos lentos, sem as premonumentos que fica ocupações e o estresse que hoje infelizmente nos é companheiros difícil enumerá-los.” perene. É nostálgico e romântico ver a avenida Primeiro de Junho pacata, da recém proclamada cidade, quem daqueles dias poderia imaginar o burburinho e movimento que hoje é seu sinônimo. É o nosso cotidiano que constrói Divinópolis e nessa faina diária não temos sequer um segundo para parar e observar, às vezes nos assustarmos com as mudanças que acontecem ao nosso redor. Então quando temos a oportunidade de rever nosso passado, podemos contemplar calmamente e saber que Divinópolis cresce a olhos vistos, apesar de que às vezes não termos esses olhos. Não possuímos uma máquina que nos descortine o futuro, mas como já dissemos podemos apenas conhecer o passado e construímos diariamente o presente, portanto mesmo não conhecendo o que nos espera somos nós que o fazemos, assim como os personagens que ilustram essas páginas começaram a construir o nosso presente a cem anos. Começaram numa passagem de pedras e a expandiram no largo de uma matriz. Hoje temos um rio a recuperar e uma nova cidade para deixar as novas gerações, que quem sabe irão acessar um arquivo digital que lhes mostre a cidade, a nossa Divinópolis centenária!

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O sentido da comemoração Amilton Augusto O sentido da comemoração é, antes de tudo, o ato de relembrar, trazer à tona a memória. Como diz o filósofo brasileiro Mario Sérgio Cortella, “a palavra comemorar remete quase sempre ao verbo festejar; entretanto, comemorar significa memorar com os outros, ou, em outras palavras, lembrar junto”. A memória, no sentido primeiro da palavra, é a presença do passado, é uma construção psíquica e intelectual que acarreta uma presença seletiva do passado. A memória é coletiva. Segundo a perspectiva do sociólogo Maurice Halbawchs, o indivíduo sempre está inserido no contexto familiar, social, cultural. É, portanto, que o ato de comemorar está ligado a idéia de relembrar com o outro. Neste contexto, comemorar os 100 anos de Divinópolis é também buscar nas gavetas do passado fatos e curiosidades históricas, que ajudam a contar um pouco como foi a trajetória de mais de 275 anos de formação da cidade e de seus 100 anos de emancipação política. Contudo, não faço aqui, nessas poucas páginas para a nossa muita história, uma tentativa de recontar a história da cidade em sua totalidade. Tampouco,

não pretendo julgar o que ou quem foi mais importante para o andamento promissor do município. Neste momento, as palavras do historiador Marc Bloch que diz que o papel do historiador não é o mesmo papel do juiz, se fazem necessárias. O primeiro deve buscar os fatos no passado para analisá-lo, o segundo, além de fazê-lo, julga o passado de acordo com seus valores. Muito do que pesquisei sobre o passado da nossa cidade é obra de grandes memorialistas, que, muitas vezes, cometem certos vícios históricos e recorrentemente caem nos abismos da história quanto ciência. É, por isso, que não concordo quando, injustamente, os chamam de historiadores. Não são de fato. Entretanto, não são menos importantes, já que se constituem grandes fontes históricas. Um dos grandes problemas que procurei evitar neste caderno é o positivismo histórico, ou seja, a obsessão de contar a história a partir dos grandes nomes, dos grandes feitos, dos grandes líderes políticos. Assim, não me entreguei ao risco de cometer injustiça aos homens que deram, igualmente aos grandes personagens, cor e movimento à história da cidade. Portanto, os textos escolhidos para esta

pequena abordagem histórica (mais memorialística que histórica) não estão diretamente ligados aos nomes de indivíduos, embora em alguns momentos fosse impossível evitar tal vício. Procurei contextualizar à nossa história municipal, a história do país e a do restante do globo, para evitar o abismo recorrente entre o mundo acolá e o nosso lugar comum. Longe de ser uma detida pesquisa histórica, os textos que o leitor encontrará no caderno que se segue, são um apanhado de pesquisas em diversas bibliografias a cerca da história de Divinópolis, inclusive dos memorialistas. Também do livro da socióloga Batistina Corgozinho, Continuidade e Ruptura nas Linhas da Modernidade: a passagem do tradicional ao moderno no centro-oeste de Minas Gerais, que merece destaque para alguns dados que se encontram nas pesquisas. Além da bibliografia, conto também com meu conhecimento a cerca dos documentos que estão na guarda do Arquivo Público Municipal de Divinópolis, onde colaborei em sua organização e conservação. Portanto, alguns dados e fatos que o leitor encontrará foram retirados diretamente da fonte, que ainda não foram ou pelo menos não foram

muito exploradas em pesquisas históricas sobre nossa cidade. E finalmente, foram consultados jornais antigos que circularam na cidade na época de cada acontecimento. Cabe-me ainda agradecer aos que colaboraram com as pesquisas e foram sempre solícitos. Agradeço ao Arquivo Público Municipal de Divinópolis, as pessoas do Cláudio César, Marcos Crispim e do estagiário Luan. Boa parte das fotografias e dos documentos que seguem nos textos pertence a esse arquivo. Enfim, os meus parabéns à nossa cidade! Não exatamente pelos 100 anos de vida, que dentro de uma longa perspectiva temporal, ou ainda no cotidiano do povo, é só mais um ano que se fecha dentro de uma medição cíclica do tempo, mas sim por sua história. Uma história aguerrida, história de um povo trabalhador e preocupado com seu lugar. Que a nossa memória e a nossa história sirva aos administradores futuros como um estandarte para suas gestões. Que não deixe nossa tradição de cidade tranquila se perder na violência que vem com o progresso. Nem que nosso folclore seja esmagado pela modernidade que acompanha as grandes fábricas.

Crônica da cidade centenária “Como podem perceber, é uma mensagem vazada em palavras simples, mas com a qual fielmente quisemos nos dirigir aos nossos conterrâneos, aos nossos compatrícios de amanhã. De amanhã, sim, porque daqui a cinquenta ou cem anos será um minuto nessa marcha para a eternidade.” Sebastião Bemfica Milagre Dácio Fernandes Daqui a cem anos Divinópolis comemorará o ducentésimo aniversário de emancipação políticoadministrativa. Já estaremos em um novo século, e muitos do que hoje comemoram este centenário já não estarão entre nós e nossos filhos serão afáveis velhinhos gozando de boa saúde, graças aos notáveis avanços da medicina. Já netos e bisnetos estarão em plena atividade, estarão vendo os mais incríveis avanços da ciência e que mesmo estando a distante cem anos o ser humano ainda será criativo o bastante para sempre surpreender. No agora longínquo ano 2112, não concebe-se a população que esta cidade terá, nem qual será o seu centro urbano ou qual indústria estará impulsionando este município, que já andou nos lombos das mulas, nos trilhos da ferrovia, nas chaminés das siderurgias e nas overloks e

galoneiras da confecção. O logradouro onde se achava a Catedral continuará sendo de uma beleza maravilhosa. Antônio Olímpio de Moraes estará sendo venerado por haver idealizado tão largas vias públicas, que hoje servem a caminhada e contemplação, já que os modernos veículos movidos a uma limpa e renovável energia costumam flutuar sobre nossas cabeças. O progresso cultural, material e espiritual fará desta terra do Divino uma das melhores metrópoles do país em conforto e bem estar. A responsabilidade nossa, que vivemos agora o centenário, só aumentará. Nosso dever se impõe em continuar construindo uma cidade grande, como diria Sebastião Bemfica Milagre, grande em tudo. Aqui se investirão, com a certeza do retorno garantido, grandes economias e fortunas. Vamos ainda seguir as diretrizes, que serão bicen-

tenárias, de Antônio Olímpio, procurando até ampliá-las, vamos construir mais, mais moradias, mais escolas, vamos preservar o que já foi construído. Teremos o legado iniciado no centenário, que ampliou bairros, e fundou museus e bibliotecas e teatros. Vamos continuar unidos, todos sem nenhuma distinção. Já que o futuro nos vislumbra derrubar todas as diferenças, seremos julgados pelo que somos. Seremos dignos do presente e do futuro, a sociedade que estaremos construindo será baseada no trabalho e na dignidade humana. Vamos honrar os incentivos que herdamos e que aprimorados vamos transmitir as gerações que farão o bicentenário desta cidade. Aos que forem usufruir em 2112 do sólido patrimônio que estamos construindo, vamos colocar em tudo o nosso esforço, o nosso suor, vamos cumprir o nosso dever,

como as gerações passadas conseguiram cumprir ao nos entregar uma cidade pronta para continuar crescendo. E finalmente vamos pedir perdão, pelos erros que a nossa natureza humana possa porventura cometer, inclusive cedendo ao espaço sempre maior que o progresso nos obriga. “Bicentenaristas” divinopolitanos, estamos lhes entregando de bom grado uma nova cidade, que apesar de estar completando cem anos, está apenas começando uma nova caminhada. Este texto foi livremente baseado na crônica escrita por Sebastião Bemfica Milagre, para a revista A Semana, por ocasião do cinquentenário de Divinópolis. Dizem que as palavras não têm dono, quando as capturamos e as transmitimos estaremos sempre transmitindo o pensamento de outro que ao nosso inspirou.


ESPECIAL 03

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Pedro X. Gontijo: um homem moderno para seu tempo Amilton Augusto A forma tradicional de contar a história da cidade, que muitas vezes vemos por aí, nos conta de forma positivista o feito dos grandes homens do passado, das grandes figuras ilustres, homens da elite que decidiam e forjavam o destino da cidade. Porém, pouco se falam dos anônimos, aqueles que foram os verdadeiros construtores da cidade, que deram sangue e suor para que tudo começasse a existir. Os “pequenos” homens não são menos importantes que os “grandes”, contudo, cada um tem seu valor diferenciado. Um deles chamava-se Pedro X. Gontijo, nascido em Água Limpa, município de Itapecerica, no ano de 1886, veio morar no arraial do Divino Espírito Santo com um tio que era padre e sua irmã, dos quais alegava receber maus tratos o que alimentou a ideia na cabeça de Pedro

para sair do arraial e só voltar quando tivesse conquistado um diploma superior. Carregou água em carrinho de mão para juntar alguns trocados e, assim, conseguir comprar passagem de trem para deixar a terra de seu tio. Ao sair do arraial, Pedro X. Gontijo se aventurou em outras cidades para conseguir emprego e estudos, até que ele foi para Ouro Preto para estudar na Escola de Farmácia, onde se tornou líder dos movimentos estudantis. Formou-se em 1909 e no início de 1910 já se encontrava de volta ao arraial. Montou sua farmácia na Rua do Comércio, onde desenvolveu a fórmula do elixir de chapéu-de-couro contra a sífilis e construiu um sobrado na Rua São Paulo com Rua Getúlio Vargas, que foi a sua residência até a morte. Em seu retorno ao arraial se envolveu com a política local e foi um dos entusiastas para a emancipação do ar-

raial do Divino Espírito Santo. Enfrentou, por isso, grande desinteresse da população, que em partes, não vislumbrava um grande momento para a emancipação política do arraial. Com muita luta, força de vontade e apoio de Francisco Machado Gontijo conseguiu a emancipação do

arraial no dia 1º de junho de 1912, apenas dois anos após o seu retorno de Ouro Preto. Tornou-se o primeiro prefeito da cidade, em 1930, já que até então, o presidente da Câmara atuava também com agente executivo. Levava vários operários da prefeitura para almoçar em

sua residência, não importando com sua classe social ou com seus modos de se vestir. Pedro X. Gontijo era um homem irreverente e um tanto moderno para seu tempo, pautava sua vida pelos valores da anarquia e não tinha muito apreço pela religião católica. Por isso,

muitas vezes Pedro X. foi criticado e visto como homem polêmico. Tinha alguns gestos bastante incomuns, no fim de sua vida escrevia avidamente boletins apontando falhas e problemas nas gestões dos prefeitos; quando falecia alguém da sua família mandava buscar o “caminhão do Natividade” para que transportasse o corpo do ente até o cemitério, e assim fez com seu irmão e sua segunda esposa. Contudo, na ocasião de sua morte, o prefeito Fábio Notini não concordou com seu desejo e sepultou-o de acordo com o protocolo. Pedro X. Gontijo também apoiou os congadeiros da cidade quando a Igreja proibiu o ritual e mandou perseguir os festeiros. Foi um homem de coragem e irreverência que a cidade deve a ele o mérito de ter conquistado sua independência política. Faleceu em setembro de 1965, aos 79 anos.


04 ESPECIAL

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ESPECIAL 05

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O Surgimento do Arraial Amilton Augusto Tudo tem um começo, um ponto de partida, mas nem sempre é possível mensurar ou materializar esse início, de fato, como ele foi. Assim como Roma Antiga tem seu mito de fundação com os irmãos Rômulo e Remo, que segundo a lenda, foram encontrados na margem de um rio sendo criados por uma loba, Divinópolis também tem suas interpretações a respeito de sua criação e de seu povoamento. Embora não exista nenhuma comprovação histórica para o povoamento inicial do arraial, nem para o primeiro morador que aqui se estabeleceu, a tradição nos conta que a fundação do arraial do Espírito Santo do Itapecerica está relacionada com a Guerra dos Emboabas, que aconteceu nos sertões de Minas no início do século XVIII, onde bandeirantes

paulistas reclamavam exclusividade na exploração do ouro, já que segundo os bandeirantes, foram eles os desbravadores e descobridores de toda a riqueza mineral da colônia. Segundo os memorialistas, os fugitivos da guerra pelo ouro em Minas, para escaparem das perseguições que estavam sofrendo, se estabeleceram na região onde hoje é Divinópolis. A área junto à Cachoeira Grande, onde possivelmente é hoje a ponte do bairro Niterói, já era conhecida como ponto de travessia do rio Itapecerica e como ponto de paragem para as longas investidas mato à dentro, o que pode reforçar a tese de que a região já era frequentada e conhecida pelos forasteiros e que os fugitivos da guerra conheciam o local estratégico. O primeiro morador, considerado civilizado, pode ter sido Tomás Teixeira, um

membro da bandeira do coronel Matias Barbosa da Silva, próximo do ano de 1737. Seu nome figura em relatório de 1870, escrito pelo vigário de Pitangui, contando que Tomás Teixeira foi o primeiro morador do arraial. O arraial mantinha relações de comércio e também de certa dependência com a Vila de Pitangui. Porém, devido à distância e as reclamações dos moradores do arraial, requereram ao bispado de Mariana que fosse construída uma capela na região. Os primeiros vestígios de ocupação permanente em nossa cidade datam há mais de duzentos anos, embora, não podemos determinar como sendo estes os primeiros moradores da região, já que o local poderia ter sido habitado bem antes por índios. Independente da falta de rigor historiográfico e de

vestígios comprobatórios de quem realmente foram os primeiros moradores do arraial do Divino Espírito Santo, a tradição e o mito de formação da cidade são importantes para legitimarem de alguma forma o surgimento da cidade de Divinópolis, em 1912. A busca obsessiva pela causalidade, pelo primeiro morador, enfim, pelo início da cidade não deve se tornar algo determinante, nem oficial, já que seria impossível buscar na raiz, a verdadeira centelha criativa da cidade. Não podemos correr o risco da injustiça em determinar esse ou aquele como sendo os verdadeiros detentores do direito de povoamento da região. A história deve servir para além da mera memória, devemos sempre buscar o senso de justiça e não se perder bisonhamente na busca pelo “primeiro”, como se fosse “o primeiro” o mais importante.

Câmara dos Vereadores: o primeiro passo da independência política Para que o arraial do Divino Espírito Santo se tornasse independente politicamente de Itapecerica, era preciso que o governo do Estado concedesse esse direito, porém, antes de tudo, era preciso que os moradores do arraial justificassem essa necessidade de independência política. Foi então que os líderes políticos do arraial formaram uma comissão composta por Antônio Olímpio de Morais, Padre Matias Lobato, Francisco Ribeiro de Carvalho, Pedro X. Gontijo e Francisco Machado Gontijo e foram à luta para conquistar uma cidade autônoma. Pedro X. foi o escolhido para redigir a carta que seria enviada ao governo do Estado de Minas Gerais, requerendo e justificando a autonomia política do arraial: “Esse Distrito, um dos mais antigos de Minas e também uma das mais antigas Freguesias, conta hoje com aproximadamente 17.070 almas, podendo esse número ser elevado em curto prazo para mais de 20.000 habitantes, devido ao desenvolvimento que se verifica diariamente, tendendo sempre a aumentar, devido a elementos novos que diariamente se congregam aqui. Espírito Santo do Itapecerica, situado à margem do Rio Itapecerica, junto à majestosa cascata do Rio Itapecerica, que fornece na maior seca a força hidroelétrica de 4.000 cavalos, é servido pela Estrada de Ferro Oeste de Minas, que tendo seu ponto em Sítio, se dirige até Paraopeba. [...] Existem ainda nesse distrito duas fábricas de manteiga, uma de carne, dois engenhos de beneficiar arroz, uma fábrica de cerveja, cujo consumo é largo e a exportação considerável. Existem na sede desse município aproximadamente umas quatrocentas casas de telhas, prédios sólidos e de construção moderna, três farmácias,

um cirurgião dentista, dois hotéis, cinquenta casas comerciais, várias oficinas de sapateiro, ferreiro, mecânicos, serralheiros, marceneiros, etc. [...] Vê-se exposto a grande vantagem que existe com a criação do novo município, elevando-se este distrito a categoria de vila. [...]”. No dia 30 de agosto de 1911 foi criado o município que se chamava Vila de Henrique Galvão, em referência ao nome do engenheiro-chefe que construiu a ferrovia. Depois de muitas batalhas, o dia 31 de março de 1912 entrou para a história como o dia da primeira eleição municipal para a Câmara dos Vereadores. Os primeiros vereadores foram: João Severino de Azevedo, Adolpho Machado, José Rodrigues Viegas, Antônio Olímpio de Morais, Manoel Antônio de Almeida, José Nogueira Guimarães e Octávio Machado Gontijo. No dia 1º de junho de 1912 foi empossada a primeira bancada da Câmara Municipal. Um dos primeiros trabalhos dos edis foi para escolher o nome da cidade que nascia naquele momento. Os vereadores fizeram várias sugestões e deixaram a população escolher o que mais lhes agradava. Surgiram nomes como: Alexandria, Palmeiras e Cachoeira do Ouro. Porém, o nome que mais se destacou foi sugerido pelo coronel Antônio Olímpio de Morais, que fazia referência ao antigo nome do “Arraial do Divino Espírito Santo” e a cidade passou a se chamar Divinópolis. A mesa diretora da primeira Câmara Municipal ficou da seguinte forma: coronel Antônio Olímpio de Morais como presidente, Adolpho Machado como vice-presidente, José Nogueira Guimarães como secretário e os demais ocuparam o cargo de vereador.


06 ESPECIAL

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Energia que vem da mandioca

Amilton Augusto O Brasil sempre foi uma grande potência quando o assunto é energia renovável, principalmente bicombustível. A primeira usina de combustível renovável da América Latina foi instalada em Divinópolis e ficou conhecida como Usina Gravatá. Criada a partir do decreto número 9.954, de 16 de junho, a usina que viria a ser a primeira usina de álcool-motor de mandioca da América Latina, foi construída às margens do rio Itapecerica. As máqui-

nas para a produção vieram da Alemanha e o conjunto arquitetônico foi projetado por Antônio Gonçalves Gravatá, construtor de monumentos bastante conhecidos, como o obelisco da Praça Sete e a Estação Ferroviária de Belo Horizonte. Até 1942 a usina produziu a média de cinco milhões de litros de combustível a partir da mandioca. Sua construção foi parte da estratégia do então governador de Minas Gerais, Olegário Maciel, para retomar a economia mineira, e Divinópolis foi a escolhida graças

Aonde quer que você chegue, chegue linda. Parabéns, Divinópolis. Uma homenagem de O Boticário a uma cidade que hoje está ainda mais linda.

à sua extensão e localização. De acordo com a pesquisadora Batistina Corgozinhos, “a cidade possuía grandes extensões territoriais não cultivadas, que poderiam ser utilizadas como áreas de plantio de mandioca. Foi a primeira vez que se fez no Brasil, em grande escala e com êxito, a industrialização da mandioca para a produção de álcool”. Onde hoje vemos uma rua, em frente ao prédio da usina, nos tempos da indústria havia uma linha férrea responsável por escoar a produção. Durante a Segunda Guer-

ra Mundial, devido a escassez de combustível, houve um aumento significativo na produção de álcool na Usina Gravatá. O governo estadual incentivou a compra de carros movidos a partir de álcool, que chegaram até 70% de desconto nos impostos. Porém, com a chegada da produção de álcool a partir da cana-de-açúcar, que era mais eficiente que a da mandioca, a usina entrou em crise e deixou de produzir o combustível. A usina foi administrada pela Superintendência da Rede Mineira de Viação (RMV) até

1933, depois pela empresa J. Rabello & Cia. Até o início dos anos 50 e, por fim, foi incorporada à extinta Companhia Agrícola de Minas Gerais (CAMIG) e produziu polvilho e ração. Entre os anos de 1960 e 1970 serviu também como depósito de produtos agrícolas até ser abandonada anos mais tarde. Em reconhecimento a sua importância para a história da cidade, a Usina Gravatá foi tombada no âmbito municipal em 1988, pela lei de número 2.460, desde então começaram projetos para a

reconstrução e reaproveitamento do espaço que por ora estava ocioso. Na comemoração do 95º aniversário de Divinópolis a Usina Gravatá deixou de ser apenas um espaço abandonado e de memória e passou a ser o Teatro Municipal Usina Gravatá, inaugurado em 29 de junho de 2007 em parcerias entre o Poder Público Municipal e empresas privadas. Acontecem diariamente várias apresentações artísticas organizadas pela prefeitura ou por produtores particulares.


ESPECIAL 07

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As pinturas do Santuário

Amilton Augusto As pinturas-murais do Santuário de Santo Antônio são imagem comum para qualquer divinopolitano católico ou ainda para muitos que não são, mas conhecem a igreja. A obra é do artista holandês Frei Humberto Randag, OFM, que contou com a ajuda da então estudante Geralda de Souza, em 1949, quando a cidade comemorou os 25 anos da presença franciscana

e festejava também o fim da construção do Santuário que durou mais de vinte anos. A técnica utilizada para a obra de arte, que foi executada em quatro meses, entre agosto e novembro do mesmo ano, foi a têmpera e a caseína. Cerca de 222 m² perfazem a área total das pinturas com temas sacros, que compreendem desde os painéis do altar-mor, o arco do cruzeiro, das paredes laterais e do coro.

Ao redor das figuras principais, que é a crucificação de Jesus Cristo, o artista holandês representou diferentes pontos de vista a respeito da organização da igreja católica: à esquerda a igreja triunfante, representada pelos santos São Pedro e São Paulo, Santo Agostinho, São João Maria Vianney e São Lourenço; no meio a corte das virgens e das viúvas, representadas por Santa Cecília, Santa Inês, Santa Isabel, Santa Catarina,

Santa Clara, Santa Bárbara, Santa Úrsula e Santa Maria Madalena; à direita um grupo de confessores e fundadores de ordens religiosas representados por São Luís, São Francisco de Assis, São Columbano, São Domingos e São Gregório Magno. À esquerda, no mesmo nível da imagem principal, encontram-se passagens do Antigo Testamento, onde é possível identificar Abraão entregando seu filho a Deus como prova

de sua fé, Isaias, Judite, Jonas, Davi e Ester. À direita: Abel, Adão e Eva, Moisés, Rute, Jeremias e Jó. As pinturas foram tombadas pela lei número 2.459 de 1988 e foi integralmente restaurada pela Universidade Federal de Minas Gerais entre maio de 1996 e março de 1997. Segundo as palavras do professor Marcos Hill, que se encontram na cartilha de Educação Patrimonial da Prefeitura Municipal de Divinó-

polis, de 2008, as pinturas reiteram “a secular intenção dos franciscanos que, enquanto ordem mendicante, transformar o interior de suas igrejas em local de acolhimento das grandes multidões” e a obra oferece ao espectador “uma singular experiência afetiva. Suas dimensões acolhedoras, a vibração atraente das cores e o contexto alegórico (...) envolvem sentidos e sentimentos, propiciando a atitude da contemplação”.


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O Telhado do Santuário e a Tradição divinopolitana Amilton Augusto Qual divinopolitano já não viu o nome da cidade estampado em letras garrafais no telhado do Santuário de Santo Antônio? Aí vem a pergunta: para que, exatamente, serve ou serviu aquela pintura? Desde o primeiro avião, criado pelo mineiro Santos Dumont, em 1906, até os dias atuais, a aviação tem se aprimorado e se beneficiado do alto desenvolvimento tecnológico para aumentar a segurança e a autonomia de vôo das aeronaves. Mas, nem sempre foi assim. O primeiro vôo comercial no Brasil foi em 1927 e, como era de ser, não possuía aparelhagens eletrônicas nem aeroportos bem desenvolvidos para

facilitar o vôo. Para isso foi necessário criar saídas a fim de facilitar a vida do piloto. Em 1940 o então secretário para assuntos do interior de Minas Gerais, solicitou ao prefeito Antônio Gonçalves de Matos, através de ofício datado de 17 de outubro, que fosse pintado o nome da cidade em letras grandes no prédio mais alto da cidade: “atendendo solicitação do presidente do Aero Club Brasil, peço-vos determinar providências no sentido de ser pintado em letras brancas no telhado de edifício público mais alto da sede do seu município ou particular si (sic) houver consentimento do proprietário, nome dessa cidade. Diligência que se adotara aproveitando semana aza, de 19 a 27 corrente,

se impõe como fator de segurança aos aviadores que cruzem céus do nosso Estado como também participantes do circuito aéreo nacional na referida semana”. Em 16 de janeiro de 1941, o mesmo secretário, Odilon Dias Pereira, reitera o pedido: “o nome do lugar deverá ser inscrito com letras maiúsculas, de traço cheio e de caracteres romanos, todos do mesmo tipo e dimensão”. De acordo com o documento, as letras, que deveriam ser pintadas desprovidas de brilho, deveriam ter no mínimo dois metros e um bom contraste com o fundo, de modo a facilitar a leitura do nome da cidade pelo piloto que ali sobrevoava. Ainda não foram encontrados documentos, nem

relatos que comprovem que essas letras foram pintadas mesmo em 1941. Os dois prédios públicos que tiveram seus tetos marcados com o nome de Divinópolis foi o Santuário de Santo Antônio, fundado em 1944 e o Hospital São João de Deus, fundado no fim da década de 1960. Em 19 de agosto de 1950, o então prefeito Jovelino Rabelo solicitou através de ofício que um pintor fizesse os reparos no telhado para que a cidade atendesse às exigências do Ministério da Aeronáutica. O aeroporto de Divinópolis foi construído e inaugurado em 1947 e nunca foi um grande e importante ponto de vôos comerciais. O Santuário passará por

reforma no telhado e deverá continuar com as inscrições que já se tornaram tradicionais – de fato embelezam o edifício. A novidade é que a reforma modificará o tipo de telha do Santuário de Santo Antônio, que deixará de ser no estilo francês e passará

para o modelo americano, isso poderá alterar o tipo da letra sobre a telha, mas não deixará morrer uma tradição divinopolitana. Documentos e fotografias cedidos pelo Arquivo Público Municipal de Divinópolis – Secretária de Cultura.


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FELIZ ANIVERSÁRIO DIVINÓPOLIS! NOSSA HOMENAGEM A família Rachid, há 67 anos no longínquo ano de 1945, no século passado, aqui aportou, na pessoa do patriarca Amnys Rachid. Tendo como companhia sua esposa e duas filhas. Hoje, para sua alegria, vê com muito orgulho e felicidade o nosso grande Clã Divinopolitano. Vivemos Divinópolis, por Divinópolis, para Divinópolis... Agora, somos mais de 75 descendentes, todos divinopolitanos. Nós orgulhamos de sermos filhos desta querida terra. Filhos, genros, irmãos, sobrinhos, netos e bisnetos, todos; todos sem exceção, trabalham, lutam, criam, algo de progresso para esta nossa querida terra. Assim é que, no Centenário de emancipação de Divinópolis desejamos uma feliz festa, muitas alegrias, total êxito para os próximos 100 anos vindouros. Que Divinópolis, seja sempre, exemplo para todo o oeste mineiro, para toda Minas Gerais e até para todo nosso Brasil... PARABÉNS DIVINÓPOLIS! És, sem dúvidas, nosso orgulho!

AMNYS RACHID E FAMÍLIA


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Um olhar para o desenvolvimento urbano Amilton Augusto A simples ação de encher as piscinas do Divinópolis Tênis Clube (DTC) já foi uma complicada e onerosa manobra para os divinopolitanos, já que para cumprir essa tarefa, era preciso informar a população sobre a falta d´água nas casas em razão do abastecimento das piscinas. A infraestrutura deficitária pelos idos dos anos de 1950 em Divinópolis preocupava os setores políticos e a sociedade mais atenta aos problemas da cidade. A maneira tradicional e oligárquica de fazer política, até então, foi pouco cuidadosa com os problemas infra-estruturais para uma cidade que crescia exponencialmente. As ruas estavam cada vez mais esburacadas, a rede de esgoto já não era suficiente, os loteamentos não eram planejados como os novos tempos necessitavam e a distribuição de água era bastante problemática –

motivo de faltar água nas casas na ocasião do abastecimento das piscinas do DTC. Só a partir de 1950, com as eleições dos prefeitos Luís Fernandes de Souza e Walchir Resende, é que a maneira tradicional de planejar a cidade foi sendo deixada de lado e dando lugar a uma nova visão de planejamento urbano. Contudo, foi no governo do prefeito Antônio Martins, entre 1973 e 1976, que a cidade teve seu ápice de desenvolvimento urbano. Eleito pela ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e apoiado pelos governos militares, Antônio Martins foi responsável por boa parte da infraestrutura que a cidade carrega hoje, ao reestruturar a rede de esgoto, reformar a rede de distribuição de água, pavimentar as ruas com massa asfáltica, construir novas praças, prolongar ou abrir novas avenidas, construir a caixa d´água da avenida Paraná e a construção do paço municipal. Para a re-

alização das obras, Martins nomeou o engenheiro Luís Fernandes de Souza para chefiar as os trabalhos da prefeitura, mas este renunciou ao cargo apenas um ano depois, alegando falta de recursos e condições para dar continuidade na reestruturação. O engenheiro alegava que o trabalho técnico não poderia ser entremeado de objeções políticas e que a mentalidade administrativa estava despreparada para tal feito histórico. O certame entre o prefeito e o engenheiro nos

mostra que enquanto de um lado existia a preocupação de desenvolver a cidade, de outro lado, as implicações políticas tradicionais ainda freavam a mentalidade e a forma de pensar politicamente. Contudo, o senso de desenvolvimento urbano não era exclusividade dos prefeitos citados. A partir do golpe militar, em 1964, o plano político dos militares era de desenvolver o Brasil economicamente, como diziam eles nas próprias palavras “inchar o bolo para depois distribuí-lo”. Para

que o país se desenvolvesse economicamente era preciso reestruturá-lo, criar condições para que se instalassem aqui grandes indústrias e o país se tornasse um verdadeiro centro industrial desenvolvido e moderno. À luz desse pensamento é que o desenvolvimento infraestrutural de Divinópolis aconteceu, sendo o prefeito um partidário dos militares no governo, o que possivelmente cooperou para que as obras “andassem”. Chegamos a um momento em que a cidade figura entre as maiores e mais

ricas de Minas Gerais, com boa estrutura urbana e boa localização. Boa parte disso se deve ao pensamento de desenvolver Divinópolis para o futuro. Porém, podemos perceber que a população cresce cada vez mais, e com ela os problemas urbanos. Estamos num ponto que talvez seja preciso parar para pensar a urbanização da cidade para os próximos cem anos, já que muita coisa feita nas administrações passadas tem se tornado, automaticamente com o passar do tempo, obsoletas.


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Mercado Municipal: tradição divinopolitana

Amilton Augusto Tradição é um conjunto de práticas ou valores que são repassados de geração em geração, enraizando na cultura de uma sociedade. O fato das pessoas serem mortais e de que alguns conhecimentos e atos são importantes para uma sociedade, cria a necessidade da tradição, pois há uma necessidade da criação de nexos de conhecimentos entre as gerações. Só assim é possível que técnicas utilizadas no passado, por exemplo, nos ajudem hoje a melhorar nossas maneiras de trabalho. Essa transmissão de conhecimentos que se perpetua por algum tempo, quase sempre indeterminado, ao qual chamamos de tradição, pode se dar na forma materializada, como em um

monumento ou um edifício. Mas, mais importante ainda não é só a preservação dessa forma materializada, e sim, também, a mentalidade e o conhecimento que se tem para utilizar o que está materializado. Assim, podemos trazer à tona o Mercado Municipal de Divinópolis, que desde o final da década de 1950 se tornou tradição no município. O Mercado Municipal, apesar de carregar a alcunha de municipal, é uma construção privada, executada pela empresa Mercados Minas Gerais Ltda., a partir de junho de 1958, e teve sua inauguração em janeiro de 1959. Porém, o mercado funcionou de fato a partir do dia 1º de junho de 1959. Na ocasião da abertura, o prefeito de Divinópolis era Luiz Fernandes de Souza,

que cortou a faixa de inauguração em uma grande solenidade. O mercado ocupa uma área de nove mil metros quadrados e fica localizado no entroncamento da Rua Itapecerica com Avenida Antônio Olímpio de Morais, logo a frente da Capela do Rosário e da Delegacia de Polícia Civil. Antes da sua construção, o terreno serviu como cemitério e, era também onde funcionava a antiga Capela de Nossa Senhora do Rosário. Por isso, o mercado carrega a lenda de ser mal assombrado e é cheio de histórias e curiosidades de terror. Conta-se que na época da construção, enquanto as máquinas limpavam o terreno era possível ver vários restos mortais expostos; outros contam já terem visto assombrações e

almas penadas. Além das lendas, que também contribuem com a tradição do local de forma engraçada, o mercado, no momento de sua inauguração contava com 54 lojas, 56 boxes, um bar, um restaurante, seis aviários, seis sanitários masculinos e seis femininos, dois bebedouros, duas áreas de ventilação interna, cinco portas de acesso, uma caixa subterrânea para reforço de abastecimento de água, etc. O projeto, de autoria de Joaquim Nunes Valério, foi inovador, sendo o primeiro mercado construído neste estilo. Assemelha-se bastante com a forma externa do estádio de futebol Maracanã. Hoje o mercado, apesar de ser bem menos frequentado que antes, ainda é utilizado para beber uma cervejinha com tira-gosto, fazer compras diversas em açougues, lojas de artigos para cozinha, agropecuária, lanchonetes, despachantes, verdureiras e outras possibilidades. À bem da verdade e da tradição, nosso mercado municipal precisa passar por revitalização e de incentivos para que volte a ser o lugar agradável de outrora, em que as pessoas se encontravam depois das compras e colocavam o papo em dia acompanhado de uma cerveja gelada e os muitos tira-gostos que o mercado oferecia. Que não deixemos a tradição se esvaecer nos próximos 100 anos da Terra do Divino.

Reinado: tradição secular em Divinópolis

As definições para cultura são múltiplas e muitas vezes os limites definidores são tênues, podendo significar desde uma informação erudita, uma música clássica, um livro de autor importante ou todos os hábitos e os costumes de um povo. Esta é, por ora, uma das definições mais comuns entre os antropólogos e cientistas das humanidades para a palavra “cultura”. O folclore, as tradições populares, crendices, superstições, mitos, causos, etc. são importantes formas de expressar a cultura de um determinado povo. O Reinado ou a Festa do Rosário, como também é conhecido, difundiu-se religiosa e culturalmente em Minas Gerais, a partir da Vila Rica de Ouro Preto no século XVIII e fincou raízes nas tradições mineiras. Não obstante, várias cidades de Minas Gerais tem entre as tradições de seu povo a festa do Rosário que é um amálgama de ritos africanos e católicos. Por ser uma festa originalmente comemorada por escravos e ter fortes origens nas religiões africanas, os festeiros eram marginalizados e sofriam muitas vezes perseguições, até mesmo por parte da polícia. Em Divinópolis o Reinado difundiu-se ainda na primeira metade do século XIX, quando no arraial do Divino Espírito Santo ainda não se contava mais que 1500 habitantes, sendo a maioria negra e mulata. Durante o período da festa, organizada pela Irmandade do Rosário dos Pretos, negros e escravos dançavam e entoavam cantos dentro e ao redor da igreja. Quando o padre Guaritá tornou-se o segundo vigário do arraial, não aceitou mais as danças e os ritos dos festejos dentro da matriz, sugerindo que fosse construída a capela do Rosário. A capela foi construída a partir de 1850 no local onde hoje é a Praça do Mercado e para lá foram transferidas as

comemorações dos negros. A Igreja Católica, através do papa Pio XI, proibiu a relação entre ritos afros e os ritos católicos, o que gerou a perseguição dos congadeiros. Mesmo proibido, o reinado continuou a acontecer em Divinópolis, a partir de 1930, juntamente com o apoio das figuras políticas de Pedro X. Gontijo e Francisco Severino, que garantiram, em certa medida, a continuação da festa. Pedro X. Gontijo junto com o congadeiro e, também, organizador, José Aristides foram excomungados pelo bispo por desobedecerem às ordens do Vaticano. A partir dos anos de 1970 a festa foi perdendo sua unidade e sua originalidade, dando vez às formas diferentes e foi cada dia mais se afastando para os bairros, descentralizando as comemorações. A capela do Rosário foi demolida em 1957, durante a gestão do prefeito Luís Fernando de Souza e no local foi construído o Mercado Municipal. O que existe hoje, ao lado do mercado, é uma réplica da capela construída ainda no século XIX. Atualmente, além das manifestações que acontecem nos bairros e comunidades rurais da cidade, a Missa Conga, que surgiu com o Concílio Vaticano II (década de 1960), é uma forte tradição em Divinópolis, realizada no Santuário, e celebrada pelo frei Leonardo Lucas. A missa conga já está em sua 34ª edição e é uma forma de reconhecimento, por parte da igreja, do papel do Reinado e uma forma de pedir perdão pelo tratamento dado aos escravos do Brasil. A missa acontece em céu aberto, devido ao grande número de participantes, e reúne as guardas de congo da cidade. Além da missa, o Café de São Benedito, organizado pela Secretaria Municipal de Cultura, acompanha as festividades nos bairros e nas comunidades rurais.


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QUAL A IMPOrTÂNCIA DO CENTENÁrIO PArA A CIDADE DE DIVINÓPOLIS? O centenário é uma linha imaginária no tempo, um marco histórico que mexe com o imaginário da cidade e cria um momento mágico de inspirações para os cidadãos e autoridades de Divinópolis O QUE A POPULAÇÃO PODE ESPErAr PArA OS PrÓXIMOS ANOS? O centenário tem que começar a planejar também o bicentenário. Fico feliz por estar ajudando a resolver problemas importantes da cidade, como a despoluição do Rio Itapecerica, a construção do Hospital Público, pavimentação de ruas, além do centro administrativo.

Vladimir Azevedo

QUAL A HONrA DE SEr O GESTOr NO ANO DO CENTENÁrIO DE DIVINÓPOLIS? É uma honra que não tem como medir. É uma gratificação enorme e incomparável. Ser o prefeito de sua cidade em qualquer momento já é muito honroso, mas comandar no ano do centenário dá um “colorido especial” para esse momento da minha vida e junto com a cidade. A gente retribui essa honra com muito trabalho em prol da mesma.


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QUAL A IMPOrTÂNCIA DO CENTENÁrIO? Mais do que uma data que celebramos, um marco de tempo, o Centenário de Divinópolis é marcante por humanizar, reunir em torno de um único momento pessoas de varias gerações, de varias cidades e culturas que aqui construíram, edificaram suas vidas. Divinópolis sempre foi referência em diversas áreas, entre as quais, a cultura, a empresarial, a educativa. Isso tudo é fruto de um trabalho de pessoas que aqui nasceram e daquelas que ajudaram a construir a história do nosso município que jaime Martins sempre recebeu com muito carinho e oportunidades todos filho que aqui se estabeleceram. O Centenário é celebrado como marco e como ponto de partida para mais 100 anos de desenvolvimento. QUAL O MAIOr LEGADO DESTE CENTENÁrIO PArA AS GErAÇõES fUTUrAS? Durante esses primeiros 100 anos, Divinópolis passou de um vilarejo a cidade polo do centro-oeste mineiro, que acolhe e promove pessoas, culturas e crenças. Acho que um dos legados, que merece reconhecimento, é esse espírito pioneiro, de vanguarda. Seja na questão cultural, herdada de sua cidade-mãe, inspiradas por suas cidades-irmãs; seja no empreendedorismo, no esporte, na formação educacional e universitária. Acho que o legado de Divinópolis é sempre ter o norte, apontar e ver o futuro com grande entusiasmo e fé nas ações do dia a dia. DEIXE SUA MENSAGEM PArA A POPULAÇÃO DIVINOPOLITANA QUE COMEMOrA ESTA IMPOrTANTE DATA Como disse anteriormente, Divinópolis é uma cidade especial, dotada de capacidades e oportunidades únicas em nossa região. Município que constrói sua historia com muita confiança no futuro e fé nas ações do dia a dia. Como homem público, eu compartilho dessa aura, desse sentimento e tenho muita energia e disposição de participar do seu centenário; é um momento único em nossa história. Ao povo Divinopolitano, que sempre depositou em mim sua confiança, mais do que isso, também o seu carinho, respeito e o trato cotidiano, eu reitero minha força e alegria de estarmos juntos edificando cada dia uma cidade melhor. Que possamos juntos trabalhar cada vez mais por um futuro maravilhoso dessa nossa cidade centenária.

COMO VOCê Vê A CHEGADA DO CENTENÁrIO DE DIVINÓPOLIS? Eu vejo a chegada do centenário com muito otimismo, pois eu sei que a cidade de Divinópolis prospera a cada ano. E acredito que a cidade tem muito potencial para crescer cada vez mais. COMO PArLAMENTAr HÁ ALGUM PrOjETO A SEr EXECUTADO EM ESPECIAL PArA O ANO DO CENTENÁrIO? Nestes um ano e quatro meses como deputado estadual, já fabiano consegui mais de R$ 8 milhões de reais através de recursos, Tolentino emendas e parcerias com o governo do estado. No entanto, espero sempre poder ajudar cada vez a cidade. DEIXE SUA MENSAGEM PArA OS DIVINOPOLITANOS PArA ESTA DATA IMPOrTANTE. Gostaria de desejar os parabéns a todos os divinopolitanos e acredito que Divinópolis será sempre uma cidade melhor a cada dia.

VOCê QUE TEM UM CArINHO ESPECIAL COM DIVINÓPOLIS, QUAL A IMPOrTÂNCIA DESSE rESGATE DA CULTUrA PArA A POPULAÇÃO? Amar Divinópolis é amar a nossa gente. Portanto, é fundamental que tenhamos um carinho especial como nosso povo e com a nossa história, guardar com carinho e respeito os registros históricos e, mais do que guardar, se orgulhar e mostrar para as próximas gerações como essa cidade foi construída e está sendo construída.

Domingos Sávio

COMO é rEPrESENTAr DIVINÓPOLIS NO CENÁrIO POLíTICO-NACIONAL? A vida me deu a dádiva de representar a cidade como vereador, presidente de câmara, prefeito, deputado estadual e agora federal. Para mim é extremamente gratificante pensar do que fizemos e desafiador pensar do que poderemos e temos que fazer para a melhoria de Divinópolis. Procuro compartilhar com as novas gerações esse prazer que eu tenho de trabalhar em prol de Divinópolis. COMO A CIDADE é VISTA NAS CAPITAIS, COMO BH E BrASíLIA? Eu tenho muito orgulho de dizer que eu tenho a condição de um cidadão divinopolitano, embora eu tenha nascido em São Tiago. Uma das formas de eu contar sobre Divinópolis é falar que a cidade é acolhedora. Sou conhecido nacionalmente como ex-prefeito e deputado representante de Divinópolis. Eu me encho de orgulho ao falar sobre ela. COMO VOCê DEfINE A SENSAÇÃO DE rEPrESENTAr DIVINÓPOLIS NO ANO DO CENTENÁrIO A NíVEL NACIONAL? Eu levo com muita responsabilidade e cuidado, pois sei que quando dizem o nome do Deputado Domingos Sávio, logo ligam à Divinópolis. Por isso, sempre procuro que citem meu nome interligando à coisas boas para que a cidade seja ainda mais bem vista por quem ainda não a conhece. Exerço essa responsabilidade com muita alegria e entusiasmo.

COMO VOCê Vê A CHEGADA DO CENTENÁrIO PArA DIVINÓPOLIS? O centenário trouxe para Divinópolis um sentimento de festa e comemoração para marcar essa data importante. A cidade tem a característica de ser muito dinâmica e progressista, o que podemos ver em todas as comemorações, com a grande participação das pessoas, das obras inauguradas, festas como a Divinaexpo. Divinópolis é uma cidade de destaque no centro-oeste. HÁ ALGUM PrOjETO ESPECIAL EM PrOL DO CENTENÁrIO? Cada vez mais, nós sedimentamos Ten. Cel. júlio a doutrina de polícia comunitária. Então, nosso policiais sempre Teodoro buscam, em seus serviços, reforçar essa doutrina, como por exemplo a patrulha escolar e o programa educacional de resistência às drogas (Proerd). DEIXE SUA MENSAGEM à POPULAÇÃO DE DIVINÓPOLIS. Como comandante, reforço em nome de todos os integrantes do batalhão nosso sentimento de respeito e orgulho de defender todos os cidadãos da cidade do Divino, a princesa do centro-oeste, que cresce aceleradamente, promovendo a arte e a paz. Deixo meus parabéns à centenária Divinópolis.

COMO VOCê Vê A CHEGADA DO CENTENÁrIO DA CIDADE? Divinópolis é uma referência para as outras cidades da região centro-oeste. Por isso, vemos a chegada dessa data com muita alegria. Para nós da Polícia Federal a chegada desta unidade na cidade foi encarada como um presente para a população, por se tratar de uma referência em segurança pública e deu certa visibilidade à cidade dentro regionalmente, pois esta é a 7ª regional de Minas.

Dr. Daniel Sousa Silva

HÁ ALGUM PrOjETO ESPECIAL EM VISTA PArA O CENTENÁrIO? Por ser uma regional, nós atendemos vários municípios. Temos acompanhado bastante os serviços da Polícia Militar que está fazendo um interessante trabalho em relação á prevenção de crimes, e sempre trabalhamos em parceria com eles, e não será diferente em relação à segurança pública no dia 1º de junho. DEIXE SUA MENSAGEM à POPULAÇÃO DIVINOPOLITANA. A sociedade pode esperar da Polícia Federal um trabalho forte para combater a criminalidade. E queremos desejar parabéns e prosperidade à todos os cidadãos de Divinópolis pelo ano do centenário.

DO PONTO DE VISTA TANTO COMO CIDADÃO QUANTO DE AUTOrIDADE, COMO VOCê Vê A CHEGADA DO CENTENÁrIO PArA A CIDADE? Divinópolis cresceu muito se comparada a outras cidades que possuem, em média, a mesma idade. Acompanhando esse progresso, aparecem as questões relacionadas à infraestrutura, saúde e segurança pública. Na área da segurança pública, eu posso afirmar que Divinópolis avançou. Hoje temos vários órgãos de segurança, inclusive uma regional da PM. Há também uma deleComandante gacia da Polícia Federal, o que é importante para a cidade. É Eduardo Campos inegável que crescemos nesse quesito. Mas precisamos crescer mais, pois ainda temos problemas, mas os enfrentamos com responsabilidade e dignidade, tentando minimizá-los para a sociedade. HÁ EM VISTA ALGUM PrOjETO ESPECIAL DA POLíCIA PArA O CENTENÁrIO? Estaremos participando das festividades. No dia específico do centenário a polícia participará do desfile, como sempre foi feito, pois os policiais fazem parte da sociedade, por isso, fazemos questão de participar. Vamos trazer o pessoal da academia da Polícia Militar para que a população possa ver como é feito o nosso trabalho, como é formado um oficial militar. Estaremos também, lógico, fazendo a segurança pública na cidade e na Divinaexpo. Para isso, receberemos reforço de policiais de outras cidades para dar mais segurança à população no dia do centenário. DEIXE UMA MENSAGEM à POPULAÇÃO. Quero deixar uma mensagem de otimismo e, principalmente, paz. Desejo também saúde e tranqüilidade a todos que fazem parte desta Divinópolis progressista, de gente trabalhadora.


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As Obras dos franciscanos Amilton Augusto Comumente, nas comemorações cívicas e na história tradicional, os grandes homens, as autoridades e os grandes eventos são recorrentemente lembrados e, exaustivamente glorificados. Relembrar aqueles que junto com o povo batalharam para que a vida real se tornasse viável não é tarefa comum. Os franciscanos, religiosos católicos mendicantes seguidores de Francisco de Assis, são exemplos desses que se juntaram ao povo em Divinópolis. Quando Divinópolis ainda se projetava para ser uma grande cidade, chegaram aqui os primeiros franciscanos, mais precisamente em 1924, quando frei Hilário Verhey estabeleceu a Ordem

enquanto, muitas das vezes, a maior preocupação era com o desenvolvimento econômico que se dava através da ferrovia e mais tarde na

ser, quase vinte anos depois, o Santuário de Santo Antônio, juntamente com o convento dos franciscanos ao lado. Os primeiros a se instalarem na

dos Franciscanos Menores (OFM) da província de Santa Cruz. Desde então, os religiosos contribuíram para o desenvolvimento social, cultural e espiritual,

siderurgia. Dom Antônio dos Santos Cabral foi o primeiro franciscano incumbido de construir uma nova igreja em Divinópolis. Este novo templo viria a

cidade moraram provisoriamente no sobrado da Praça da Catedral e a partir de então foram promovendo trabalhos sociais e espirituais. Os seus trabalhos eram celebrar a Eucaristia, pregar, catequizar, batizar as crianças, ouvir as confissões dos

fiéis, cuidar da Ordem Terceira, visitar doentes, atender gente com problemas, ajudar nas vilas e uma infinidade de atividades que eram próprias de almas caridosas e mendicantes. Com o crescimento da cidade, consequentemente os problemas de ordem so-

ram um número crescente de desafios na cidade e na zona rural. Alargando seus serviços pastorais, trabalharam no ensino, em obras sociais, na imprensa, nos sindicatos urbanos e no desenvolvimento rural. Sempre contaram com ampla cooperação de muita gente generosa e dedicada,

e ali foram construídos um seminário onde se ensinava teologia e filosofia para os sacerdotes, e mais tarde foram construídos uma capela, salão paroquial, gráfica, restaurante e quadra de esportes. Em 1994, na ocasião da comemoração dos 70 anos da chegada dos freis,

cial também aumentaram, e os franciscanos se viram cada vez mais imbuídos nas tarefas junto ao povo. O frei Bernardino Leers nos conta que “os franciscanos continuaram com o povo e enfrenta-

fiel na amizade.” Poucos anos depois da chegada dos irmãos de São Francisco, a prefeitura da cidade doou o terreno onde hoje é o Santuário de Santo Antônio e suas adjacências

a prefeitura organizou uma comissão promotora para dar andamento às comemorações em homenagem aos imensuráveis trabalhos realizados pelos franciscanos em nossa cidade.


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A estrada de ferro e as oficinas da EFOM Amilton Augusto Amilton Augusto Em 1852, D. Pedro II criou uma lei federal que autorizava a construção de estradas de ferro no Brasil. Até meados do século XX o trem de ferro tornou-se importante aliado da economia do país. Ator principal no escoamento do café, o novo meio de transporte não só impulsionou o crescimento sócioeconômico nas grandes cidades produtoras de ouro e café, mas foi também importante para o desenvolvimento de Divinópolis. A ferrovia deu o tom e a velocidade da evolução de nossa cidade. A Estrada de Ferro Oeste de Minas, como era chamada a linha férrea que passava por Divinópolis, é alvo de diversos memorialistas e estudiosos da cidade, sempre se destacando por seu poder de influência no crescimento urbano: “Em 14 de abril de 1889,

O entroncamento ferroviário de Divinópolis é o marco inicial propulsor das atividades econômicas, porque estabelece relações de agente distribuidor de bens importados e exportados a nível regional – e é aí que nasce, também, a mão de obra industrial”. MEMORIA DE DIVINÓPOLIS: HISTÓRIA DO MUNICÍPIO – LÁZARO BARRETO – 1992 – p.57

foram iniciados os trabalhos de prolongamento da Estrada de Ferro Oeste de Minas, que se achava estacionada em seu ponto terminal, que a cidade de Oliveira. Este prolongamento teve o Arraial do Espírito Santo do Itapecerica como ponto de passagem, imposto pelo Rio Itapecerica que era o único “engenheiro” considerado na época. Foi construtora do trecho a firma

“Castro, Rocha & Cia”, e como engenheiro-chefe, encarregado do trecho que partiu de Oliveira, o Dr. Henrique Galvão”. DA HISTÓRIA DE DIVINÓPOLIS – FRANCISCO G. DE AZEVEDO E ANTÔNIO G. DE AZEVEDO – 1988 . p.70. “Em 1890 a bitolinha de 0,76 m chegou ao Divino Espírito Santo do Itapecerica,

depois de passar em Barroso, S. J. Del Rei, Oliveira, Carmo da Mata. A nossa primeira estação foi construída na Rua do Comércio, nas imediações de onde hoje está o campo do Flamengo. O leito da estrada era aberto com picaretas, machados, enxadas, etc...” MEMORIA DE DIVINÓPOLIS – HISTÓRIA DO MUNICÍPIO – LÁZARO BARRETO – 1992 – p.57 Apesar do desencontro de informações a respeito da data de fundação da ferrovia, podemos perceber em ambos os trechos como se deu a formação inicial da linha férrea em Divinópolis. Nossa cidade tornou-se sede das oficinas da EFOM a partir de 1910. Até então, a oficina era na cidade de Oliveira. Com a extensão da estrada até Divinópolis, ficou inviável fazer manutenção nas locomotivas na cidade de Oliveira, pois o trem chegava até aqui, onde era ponto de parada para descanso, deixava os passageiros e tinha que retornar ainda à noite a fim

de fazer os reparos necessários. Decidiu-se então que as oficinas seriam aqui. O trem, que outrora já representava um avanço ao arraial do

Divino Espírito Santo, agora dava outra dimensão a vida no arraial: “A ferrovia foi o primeiro impulso desenvolvimentista por ser na época, a 1ª via de comunicação da região com o resto do país. De um modo geral seguia o traçado das estradas primitivas: assim aconteceu, por exemplo, de Lavras a Barra Mansa e a Paracatu.

“A instalação das oficinas da EFOM teve um significado fundamental, pois representaram o surgimento da primeira grande fábrica na cidade, consolidando-se como uma nova estrutura de trabalho e produção. Elas constituíram-

se em um dos principais fatores do progresso de Divinópolis. As atividades ferroviárias passaram a ser, a partir daí, o principal sustentáculo da expansão na cidade.” NAS LINHAS DA MODERNIDADE: A PASSAGEM DO TRADICIONAL AO MODERNO NO CENTRO-OESTE DE MINAS GERAIS – BATISTINA MARIA DE SOUSA CORGOZINHO – 2003 – p.70

Vila Operária do bairro esplanada É inegável a importância da chegada dos trilhos ferroviários a Divinópolis, bem como sua contribuição para o desenvolvimento econômico e populacional. Porém, pouco se fala, além de alguns relatos, sobre a vida e o cotidiano dessas pessoas anônimas que fizeram de seu suor o combustível desse desenvolvimento urbano. No ano de 1916 iniciaram-se as construções da Vila Operária para abrigar e dar suporte as quase 150 famílias que viviam da ferrovia. O local escolhido foi o espaço onde hoje é o bairro Esplanada, ao lado das oficinas da EFOM. A vila nasceu das reivindicações dos trabalhadores para a construção de moradias e infra-estrutura e, acabou sendo satisfatória aos interesses

da EFOM. Com os operários morando próximo ao local de trabalho, era mais fácil controlar suas vidas e afastá-los dos possíveis vícios que prejudicariam o desempenho de suas funções, além de controlar a assiduidade e o horário de labuta. As moradias foram construídas de acordo com os níveis hierárquicos da fábrica: engenheiros-chefes, mestres, encarregados e chegando aos maquinistas, foguistas, eletricistas, ajustadores e demais trabalhadores. Além das casas, foram construídos também armazéns, farmácia, praça, campo de futebol, barbearia, escola, serviço nacional de combate a malária, ambulatório, sistema de água e energia, etc. O planejamento da Vila Operária era raciona-

lizado e chegou a ter melhor infra-estrutura que o resto da cidade. Os famosos “quartinhos da rede”, conhecidos assim pelos moradores do bairro Esplanada, localizados até hoje, embora não esteja mais em seu funcionamento original, na Praça dos Ferroviários, número 222, carrega consigo muitas curiosidades. Os funcionários solteiros dos “quartinhos” não pagavam aluguel. Em contrapartida a essa isenção de pagamento destas habitações eram muito interessantes para as companhias, pois atraíam um contingente de trabalhadores que apresentavam uma condição mais humilde e demandavam gastos menores para sobrevivência por serem solteiros recebendo salários

menores. De acordo com os valores morais da época, as moças não podiam entrar nos “quartinhos”, já que eram específicos para rapazes solteiros. As heranças deixadas por essa época são vivenciadas cotidianamente pelo divinopolitanos até hoje, embora, muitos não saibam dessas peculiaridades históricas. Foi para

suprimir a necessidade de alimentos, que criaram a famosa feira livre do Esplanada, que acontece tradicionalmente todos os sábados de manhã. A sirene das oficinas controlava o tempo de trabalho dos funcionários e servia também para alertar os moradores ribeirinhos contra enchentes, anunciar fim de greves e participar de comemorações

religiosas. O tom musical da sirene era a nota lá da clave de sol e serviu também para auxiliar músicos da cidade na afinação de seus instrumentos. A sirene deixou de funcionar em outubro de 1996 sob protestos da população que era contra seu fim. Porém, voltou a soar em setembro de 2000 e, desde então, pode ser ouvida dez vezes ao dia.


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A Praça Benjamin Constant: porta de entrada da cidade Amilton Augusto Juntamente com a construção do entroncamento da ferrovia em Divinópolis, foi construída a estação ferroviária. Inaugurada em 30 de abril de 1890, localizada atrás de onde hoje é o Hospital Pronto-Socorro, a estação era a principal porta de entrada da cidade, já que o transporte da época era feito majoritariamente por trem, uma vez que nos idos do século XIX e início do século XX as rodovias e os carros ainda eram artigos raros no país. No mesmo local foi construída também a Praça da Estação, mais tarde, em 1939, denominada Praça Benjamin Constant. Um ambiente espaçoso e cativante servia como um importante cartão de visitas de Divinópolis. O passageiro que ali chegava tinha a dimensão do crescimento da cidade e todo o espírito de desenvolvimento do município que estava incluído, a partir da criação da ferrovia, entre as principais rotas do estado.

Como a praça era um lugar para receber os viajantes - uma espécie de porta de entrada da cidade-, em 1927, a Câmara Municipal

compunham a praça, que também possuía um belo coreto e um laguinho habitado por várias espécies de peixes ornamentais” VIAGEM NO TEMPO: DIVINÓPOLIS: 1725-1975 - AURÉLIO ANTUNES DE ARAÚJO – 1998 “A nossa primeira estação foi construída na Rua do Comércio, nas imediações de onde hoje está o campo do Flamengo”. MEMORIAL DE DIVINÓPOLIS: HISTÓRIA DO MUNICÍPIO – LÁZARO BARRETO – 1992 “O Dr. Henrique Galvão iniciou imediatamente os

decidiu que a ela deveria ser ajardinada. Em seu novo formato, a praça ganhou árvores ornamentais, coqueiros, nova iluminação e bancos. Seu fim se deu em 1960, quando cedeu espaço para a construção

do prédio que serviu como terminal rodoviário e posteriormente cedeu lugar onde até hoje é o Pronto-Socorro Municipal.

Essa região de Divinópolis nos diz também sobre a história do Brasil em um contexto mais amplo, pois até meados do século XX, o transporte rodoviário no Brasil era bastante precário,

sendo, portanto, dominado pela ferrovia. Só a partir da segunda metade deste século, com a política de nacionaldesenvolvimentismo dos pre-

sidentes como Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek é que a rodovia ganha espaço. Mesmo com as modificações, com os novos prédios erguidos no espaço da Praça Benjamin Constant e com o desenvolvimento das rodovias, a estação, assim como a praça são lugares marcantes na memória de Divinópolis, recorrentemente relembrada pelos moradores mais

velhos, que contam como freqüentavam a praça para lazer, para namoricos e todo tipo de diversão que jovens da época poderiam ter em uma praça: “[a praça era] um agradável local para lazer, descanso e programas culturais, acolhia toda comunidade e seus visitantes (...) Extensos jardins com muitas roseiras

serviços, demarcando os trechos onde iria passar a linha da Estrada de Ferro, que era sempre margeando o rio, entregando a construção da estação e do giradouro ao Sr. Antônio de Almeida Júnior, que foi quem prosseguiu os trabalhos”. DA HISTÓRIA DE DIVINÓPOLIS – FRANCISCO G. AZEVEDO E ANTÔNIO G. DE AZEVEDO – 1988


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Casarão da Catedral: uma forma de materializar a cultura Amilton Augusto Ao visitarmos as cidades históricas de Minas Gerais, um dos detalhes que mais nos chamam a nossa atenção é o modelo arquitetônico das antigas vilas. Considerado uma forma de materializar a cultura e uma importante fonte histórica, as construções e as técnicas para fazê-las são por si só, uma verdadeira aula de história. O sobrado do Largo da Matriz (praça Dom Cristiano) é um desses modelos arquitetônicos mais interessantes e

mais antigo de Divinópolis. Foi construído em 1830 (há 182 anos!) pelo capitão Domingos Francisco Gontijo, homem da elite do arraial do Divino Espírito Santo, que contou com cerca de 200 escravos para sua construção, segundo contam alguns memorialistas. O casarão é o último remanescente da arquitetura do século XIX na cidade e teve muitas serventias. Por ser considerada a residência mais luxuosa do arraial, serviu de pouso para muitas autoridades e pessoas da elite que vinham à visita ou de pas-

sagem pelo arraial. Foi também residência do primeiro presidente da Câmara e agente executivo Antônio Olímpio de Morais, posto de saúde, Escola Normal Dr. Mario Casassanta, residência das Irmãs do Sagrado Coração, sede do Comissariado da Província de Santa Cruz, Colégio Seráfico, Cúria Paroquial, residência dos padres e hoje abriga o Museu Histórico de Divinópolis. Serviu também como primeira sala de exibição de filmes da cidade, no ano de 1906. O construtor do casarão, Capitão Domingos, nascido

na Mata dos Coqueiros, em 1813, era capitão da Guarda Nacional na época da Guerra do Paraguai e costumava reunir no Largo da Matriz, após a missa dominical, todos os homens para ensinar-lhes exercícios militares e, por fim, palestrava sobre o dever e a necessidade de defender o país naquele momento. Convencido de que já tinha bons homens treinados para batalha, capitão Domingos convidou seus “soldados” para lutarem pelo Brasil. Porém, os brados do capitão não surtiram efeitos e nenhum dos moradores do arraial se dispôs a lutar pela pátria, salvo dois

prisioneiros que aqui estavam e se alistaram para o combate a fim de tentar escapar de suas penas. Graças a essa riqueza de memória que o casarão traz consigo é que ele foi tombado a tempo de não ser totalmente depredado. O que sobrou do casarão de 1830 foi tombado

pela lei número 2.456/88, que reza: “Art. 1º Fica tombado, em virtude de seus notórios valores histórico e arquitetônico, o Sobrado de propriedade do Município de Divinópolis, situado na Praça Dom Cristiano, nº 238, nesta cidade.”. O casarão passou por sua última reforma em 1995.


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Pioneirismo no centro da cidade Primeiro edifício construído em Divinópolis situa-se em um ponto bastante movimentado Daniel Michelini A centenária Divinópolis vem crescendo a cada ano. A verticalização da cidade é um ponto a ser pautado em todas as discussões sobre o avanço do município. O grande número de prédios comerciais e residenciais que observamos em todos os locais da cidade, independente do ponto de referência do observador, é incrível. O centro da cidade é praticamente tomado pelos edifícios. Mas, obviamente, um destes prédios foi o pioneiro. E acreditem: ele está situado em um dos pontos mais movimentados da cidade. O edifício encontra-se na Rua Goiás, na altura da Avenida Antônio Olímpio de Morais. O local serve tanto para fins comerciais quanto para residência. A moradora Maria do Carmo conta que seu pai foi um dos que ajudaram a erguer o prédio, há mais de 60 anos atrás:

“Divinópolis ainda era muito parada e pacata. Não tinha nem um terço de pessoas que tem hoje. Era possível brincar no meio da Rua Independência (atual Antônio Olímpio de Morais), o que

hoje é inviável. Meu pai, junto com amigos e alguns tios meus, construíram por conta própria esse prédio. Hoje, muitas pessoas da família moram aqui”, conta. Maria conta ainda que

muitas pessoas já fizeram ofertas para comprar seu apartamento. Porém, ela garante que nunca vendeu devido ao valor sentimental que possui, justamente pelo fato de seu pai ter lhe dado a

área como presente: “Meu pai sempre nos ajudou. Fez esse prédio para a família. Hoje, há comércio no prédio, mas foi por necessidade nossa mesmo”. A moradora conclui que,

apesar de o prédio ser pequeno, o sentimento de ser o pioneiro e morar em um prédio construído pela família é grande: “Gratificante. Pode parecer bobagem, mas significa muito para mim”.


30 ESPECIAL A maior construção de uma cidade é a sua história.

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O representante divinopolitano Filho ilustre nos gramados do Brasil nos campos do Brasil Vivendo uma história de altos e baixos, Guarani consegue finalmente, participar da Série D do Brasileiro

Ubaldo Miranda marcou época vestindo a camisa do Atlético, sendo um dos principais artilheiros da história do clube

Daniel Michelini O xodó da cidade foi fundado em 1930, com o intuito de fazer frente ao Ferroviário, extinta equipe da cidade que disputava campeonatos profissionais na época. Os primeiros anos do time foram marcados pela rivalidade com o Ferroviário Atlético Clube, clube dos funcionários da Rede Ferroviária Estadual, hoje FCA, que foi o setor mais forte da indústria divinopolitana no período.

daí, o Bugre consolidou seu nome na cidade e em toda a região. Seu primeiro título como equipe profissional veio em 1964, quando conquistou o

Em 1936, com o surgimento da Liga Municipal de Desportos de Divinópolis, LMDD, o Guarani se inscreveu no Campeonato

da Cidade, mandando seus jogos em um campo onde hoje se encontra a sede da Copasa, entre os bairros Bela Vista e Esplanada. A partir

torneio início do Campeonato Mineiro. Três anos antes, o Bugre chegou à final do

Mineiro, sendo derrotado pela forte equipe do Cruzeiro. Após 30 anos, o Guarani voltou a levantar um troféu: o da Segunda Divisão do Estadual, em 1994, num time

que já contava com o ídolo Hgamenon. Após ser mais uma vez rebaixado, o Tamanduá foi vice-campeão em 2000 do Módulo II. A história do Guarani é cheia de altos e baixos. Na década de 2000 principalmente. Após a já mencionada façanha de atingir a elite em 2000, um ano depois o Guará voltou a ser rebaixado. No ano seguinte retornou em grande estilo, sendo Campeão, título que voltaria ao Farião em 2010. A equipe divinopolitana é conhecida também pelo bom trabalho que faz nas categorias de base. Foram 26 títulos do Campeonato Mineiro de futebol júnior.

Ubaldo Miranda, mais conhecido como Ubaldo, foi jogador do Atlético nas décadas de 1950 e 1960. Com a camisa do Galo, o ex-jogador fez 274 jogos e marcou 135 gols. Além disso, venceu 6 títulos mineiros e é um dos principais jogadores na história do clube. InícIo no AtlétIco Ubaldo sempre foi descrito como um jogador espetacular na época. O "Estado de Minas" comentava a atuação na equipe contra o Corinthians: "Sabe-se que o centro de ataque apresentará aquele que já merece o posto. O jovem jogador de Divinópolis terá um excelente ocasião para exibir os seus recursos. O público já percebeu que Ubaldo, uma das mais recentes conquistas do Atlético, é uma esperança para o futuro. Sua característica principal é a maneira veloz de fugir aos adversários, o que constitui ponto básico dos lances empolgantes de que constantemente participa." E Ubaldo não decepcionou. Apesar de não ter marcado gol na partida, deu o passe para o primeiro gol de Lucas e fez a jogada para o terceiro gol assinalado por Resende. O segundo gol também foi de Lucas, na vitória de três a zero. O Atlético jogou com Mão de Onça - Juca e Osvaldo - Afonso, Monte e Carango Lucas, Lauro, Ubaldo, Alvinho e Nívio. Uma formação formosa, que o atleticano sabe de cor e de que se lembra com orgulho. Quando Ubaldo começou a jogar na equipe titular do Atlético, no início dos anos de 1950, o time ressentiase da ausência de um grande atacante. Depois que o Atlético perdeu Guará, no célebre acidente com Caieira, iniciou-se uma série de experiências â procura de um substituto à altura do grande ídolo. Aí surgiu Ubaldo, um jogador sem uma técnica mais apurada, e olhado com desconfiança pela imprensa, que o tachava de "estranho e esquisito". Sua maneira de jogar era diferente: velocidade e entusiasmo como características básicas, aliadas a uma determinação de perseguir a jogada até o fim, sem nunca desistir. Tentar o gol nas condições mais adversas, e, sobretudo, acreditar nas bolas impossíveis. Essa última característica faria dele depois um ídolo da torcida, quando marcava gols decisivos, chamadas de "espíritas" - não se sabia como, mas mesmo em jogadas complicadas e difíceis, a bola tocada por ele acabava no fundo das redes adversárias. FONTE DE PESQUISA: Site Galo Digital FOTO: Ubaldo – WebGalo CRÉDITOS: WebGalo


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Catedral: uma homenagem ao Divino Espírito Santo Amilton Augusto A forte presença da Igreja Católica na vida ocidental data ainda do Império Romano, quando o imperador Constantino, aproximadamente em 300 anos d.c, passou a aceitar e a apoiar a religião católica em seus domínios de terra. Desde então, a igreja se tornou cada vez mais forte e decisiva na vida das pessoas ocidentais. A influência da Igreja no Brasil foi também marcante.

Durante a colonização por Portugal, a religião católica foi trazida para o Brasil e muitas vezes forçada a entrar na vida dos autóctones. No surgimento do arraial do Divino Espírito Santo não foi diferente. De acordo com a versão mais aceita, em 24 de março de 1770, Manoel Teixeira, que aqui se instalou após fugir da Guerra dos Emboabas, doou terreno para a construção de uma capela em homenagem ao Divino Espírito Santo e a

São Francisco de Paula. Como podemos ver num trecho do documento de escritura: “Eu, André Augusto Joahny, segundo Tabelião interino do Judicial e Notas e das execuções civis da Comarca de Mariana etc, certifico às folhas 16 e versos do livro 51, aberto em janeiro de 1770, em nosso poder e cartório se acha: Escritura de patrimônio que faz Manoel Fernandes Teixeira à Capela do Divino Espírito Santo e São Francisco de Paula,

sita na Itapecerica, Freguesia de Pitangui, Comarca de Sabará”. A igreja foi construída em 1775, de costas para o rio Itapecerica, no alto do morro e, devido à forte ligação da população com a Igreja, foi no entorno da capela que o povoado começou a lançar as primeiras bases do arraial. Em 23 de maio de 1830, quando o largo da matriz contava com seis casas, entre elas, um estabelecimento comercial, a capela sofreu um incêndio. O desastre foi interpretado como uma catástrofe natural. A população, nesse momento sem distinção entre pobres ou ricos, brancos ou mulatos, arraigada pela tradição religiosa, rapidamente reergueu

a igreja, provando a fé que o povo do local tinha. Cada um doava aquilo que podia e lhe convinha, alguns davam materiais, outros davam ajuda financeira e, por fim, a mãode-obra. A nova igreja foi construída no mesmo espaço da antiga. Dessa vez havia duas janelas acima das portas principais, assemelhando-se a grandes olhos que vigiavam e controlavam a vida no arraial. A igreja, alta e com torre de controle e observação, era imponente, sua estrutura simbolizava uma ordem de obediência e disciplina entre os cidadãos do arraial, que deveriam temer a Deus. Esse entendimento na construção

de torres com janelas que se assemelhavam aos olhos que tudo vigiava, nos mostra como a força da igreja se fazia das mais diversas formas e era meticulosamente calculada. Desde 17 de maio de 1959, a igreja matriz se tornou sede da diocese de Divinópolis, sendo D. Cristiano Frederico Portela de Araújo Pena o primeiro bispo da cidade. Atualmente a diocese conta com 53 paróquias espalhadas por 25 cidades da região. A Igreja da Catedral do Divino Espírito Santo, ou só Igreja da Catedral, para os divinopolitanos, é um centro religioso importante para a cidade e reúne diariamente vários fieis em diversas celebrações.


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A primeira igreja evangélica em Divinópolis e a mudança na mentalidade Amilton Augusto O modo de vida tradicional no surgimento da cidade não se fez somente na mentalidade e no modo de fazer política. Entrelaçado à política, o pensamento religioso se fez presente, e por ora, autoritário nos primeiros anos de Divinópolis. A Igreja católica, na época hegemônica em todo o país, era a grande orientadora espiritual dos moradores da cidade, e pouco se tinha notícias de pessoas que não fossem católicas. Entre essas poucas pessoas, estava a figura conhecida de Pedro X. Gontijo, que não sendo católico, era mal visto por líderes da Igreja. Foi somente a partir de 1914 que chegaram os primeiros evangélicos em Divinópolis, com o movimento de ir e vir de trabalhadores das oficinas ferroviárias. Antes de serem considerados importantes por terem sidos os primeiros protestantes da cidade, devemos atentar nossos olhares a

eles como sendo os primeiros a mudarem uma situação até então muito tempo engessada no pensamento divinopolitano. As primeiras famílias de evangélicos a se instalar em Divinópolis foram as de Lauro Carlos Ferreira, Manoel Elesbão da Silva e Osório Ferreira. As famílias protestantes se reuniam aos domingos embaixo de uma árvore para realizarem suas atividades religiosas já que não havia um local apropriado e a população maciçamente católica não aceitava de bom grado a presença dos novos moradores da cidade. A presença dos batistas não agradou os líderes católicos, e em uma visita a Divinópolis, o bispo Dom Silvério, de Mariana, fez as seguintes observações: “encomendo a este nosso querido vigário (o Pe. Matias Lobato), que continue a usar de todas as cautelas para e vencer o inimigo [os evangélicos], que se acha irritado com as boas obras, e atos de religião e piedade que mesmo

vigário continua a promover nesta paróquia” A partir de 1916, os batistas passaram a contar com mais uma família evangélica e passaram a se organizar para a Primeira Conferência Protestante na Terra do Divino. A conferência foi realizada na Rua do Comércio e contou com o apoio político de Pedro X.

Gontijo, que foi solicitado para junto ao delegado, requerer segurança para o evento. Embora aos olhos de hoje, pedir ajuda política para realizar um culto religioso possa causar estranheza, os evangélicos da época sofriam perseguições, encontrando às vezes dificuldades até mesmo para realizar compras no comércio. Por ora, as casas

onde os cultos aconteciam era depredadas e insultadas. Em 1919, com o crescimento da população protestante em Divinópolis, os religiosos procuraram novamente Pedro X. Gontijo para que dessa vez pudessem organizar a construção da primeira igreja batista na cidade. De acordo com as palavras de Pedro X.:

“Em 1919 eu era o presidente do diretório político de quase a totalidade do município. Procuraram-me os velhos amigos Antônio da Costa Rangel, Eleázaro Ferreira e Levindo Ferreira, comunicando-me que iam fundar uma Igreja Batista em Divinópolis, solicitando a minha boa vontade. Respondi logo: eu ofereço gratuitamente o terreno para construção, ao que replicaram: “os batistas não aceitam gratuitamente bens de erário público.” E requereram e pagaram legalmente o terreno”. Assim, em julho de 1919, os pastores organizaram a primeira igreja evangélica de Divinópolis, que contava com a participação de 31 membros organizadores. A igreja foi edificada onde hoje se encontra o edifício Costa Rangel, no entroncamento da avenida Antônio Olímpio de Morais com a rua São Paulo. As obras foram concluídas em abril de 1922 e o edifício foi considero o mais bonito de Divinópolis.


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100 anos da Cidade Esperança.

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Rios Itapecerica e Pará passarão por revitalização, resgatando algumas das belezas da ‘antiga Divinópolis’

O sonho de usar um marco como cartão-postal Daniel Michelini

outras cidades para visitar o centenário município. Há alguns anos, a população de Divinópolis tinha o Itapecerica como seu principal ponto de diversão. Era possível nadar no rio sem risco algum de contrair alguma doença, ao contrário de hoje. Por vários anos, prefeitos tentaram viabilizar o projeto de despoluição do Rio Itapecerica, que é um sonho de todos os cidadãos divinopolitanos. Nesse ano, foi firmado um acordo entre a prefeitura e a Copasa para que este projeto

Uma situação notável do território de Divinópolis é ser banhado por dois rios: o Pará, que nasce na Serra das Vertentes, próximo à Resende Costa e banha toda costa leste do município de Divinópolis, e o rio Itapecerica, que nasce na região da cidade de Itapecerica, no chamado ‘Morro do Calado’ (pela junção das águas dos ribeirões Boa Vista e Vermelho) e corta a cidade transversalmente nos seus 18km de extensão,antes desaguar no rio Pará. O Itapecerica tem profundidade oscilando entre 40cm e 4m, recebendo escoamento de 10 córregos urbanos. O nível da água aumenta em janeiro para descer em serecebe é de Rio Vermelho e na junção entre os rios Gama e Santo Antônio, passa a ser conhecido por Rio Itapecerica. Suas águas banham 3 municípios. Ao passar por Divinópolis corre por 29 km. Na cidade seus principais afluentes são: Ribeirão Boa Vista, Córrego Buriti, Córrego do Paiol, Córrego do Neném e Córrego tembro, voltando a crescer a partir do mês de outubro. O Itapecerica é um rio mi-

neiro que nasce no Morro do Calado, município de Itapecerica. O primeiro nome que

Catalão. O Itapecerica é um importante marco na história de Divinópolis. Atualmente, o rio encontra-se bastante poluído, fazendo com que a aparência dele e até mesmo da cidade fique prejudicada no olhar de quem vem de

seja feito, tanto no Itapecerica quanto no Pará. A expectativa é que até 2016 os dois rios já estejam limpos e possam ser feitos de cartões-postais da cidade. O Rio Itapecerica é a “linha” que divide a cidade ao meio.


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Praça D. Cristiano: do físico ao lugar Amilton Augusto “A praça! A praça é do povo. Como o céu é do condor”, assim definiu Castro Alves umas das finalidades da praça: servir ao povo. Local de encontro para lazer, mas também local de encontro para mobilizações, podemos dizer que as praças de nossa cidade se encaixam perfeitamente no conceito de “lugar” que o geógrafo brasileiro Milton Santos definiu: é visto além de uma construção física, como um construção única, singular, carregada de simbolismo e sentimentos, que agrega a ideia de múltiplos sentidos

por aqueles que o habitam. A Praça Dom Cristiano, popularmente conhecida como Praça da Catedral, foi inaugurada em 17 de maio de 1970, no local onde surgiram os primeiros movimentos urbanos de Divinópolis. Até então, o espaço era conhecido como Largo da Matriz e abrigou as primeiras casas e comércios do arraial. A inauguração da praça foi feita pelo prefeito Walchir Jesus Resende Costa, na ocasião do 11º aniversário de sagração Episcopal do bispo Dom Cristiano que foi homenageado cedendo seu nome à praça. Houve uma

missa celebrada em ação de graças que reuniu vários padres e autoridades política de vários lugares. A praça ostenta a imagem do Divino Espírito Santo, pois a cidade nasceu sob sua inspiração. Para a inauguração foi determinado que um cidadão divinopolitano, nascido no Largo da Matriz recebesse simbolicamente a praça em nome do povo. O escolhido foi o doutor Renato Gontijo que em seu discurso lembrou de Antônio Olímpio de Morais e a todos que lutaram pelo crescimento de Divinópolis. Em seu discurso de inauguração, o prefeito Walchir Jesus Resende Costa, disse que a praça teria duas finalidades principais: a primeira seria a de retomar às origens da cidade, já que a praça situava-se no local de origem do arraial; e o segundo objetivo era homenagear o primeiro bispo da diocese de Divinópolis, d. Cristiano P. Araújo Pena, que recebeu a sagração de bispo em 1959. Embora as duas finalidades propostas pelo prefeito coubessem muito bem ao

momento, felizmente, a praça não se resumiu a isso. Hoje é ponto de encontro dos divinopolitanos que aproveitam o belo espaço com árvores bem organizadas para desfrutarem do seu lazer. A praça encanta quem vem de fora e marca gerações e gerações que desde criança vão até a praça para andarem de bicicleta, skate... namorar, degustar os comes e bebes dos comerciantes da praça ou simplesmente arejar as ideias.


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Getúlio Vargas e Divinópolis: uma relação de amizade Amilton Augusto O presidente Getúlio Vargas assumiu o governo do país em 1934, quando foi eleito indiretamente pela Assembléia Constituinte. A partir desse ano o Brasil ganhou uma nova constituição que trouxe expressivas melhorias no sentido democrático. Garantia o voto universal e secreto, dava o direito à mulher para votar, admitia o direito à livre expressão e à pluralidade partidária. Determinava também que acontecessem eleições em 1938 proibindo o presidente escolhido pela assembléia de se reeleger. Durante a década de 1930 o país passou por várias efervescências políticas o que propiciou um golpe de Estado dado por Getúlio Vargas em 1937, que ficou conhecido como Estado Novo. A partir de então, instalou-se uma ditadura de cunho nazi-fascista, que objetivava progresso econômico e industrial para o país, porém, em contrapartida, instaurou pesado autoritarismo, censuras, punições e tentou promover

uma verdadeira propaganda política em torno da figura do “grande homem”. Assim como nos modelos fascistas europeus, Getúlio empregou um forte aparato de Estado que desse notoriedade e demasiada importância à sua pessoa como chefe da nação. Foi criado o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) que era responsável por censurar qualquer obra na mídia que não estivesse dentro dos preceitos morais para desenvolver a nação. Além disso, foi criado também por Vargas o programa Voz do Brasil, para ressoar as idéias políticas do executivo. Entre essas propagandas de Estado a fim de reforçar e legitimar a autoridade política de Getúlio, Divinópolis foi convidada a participar de um concurso literário feito dentro das escolas, em que o assunto era o próprio presidente da república. É possível ver claramente entre os textos dos alunos do Grupo Escola Pe. Matias Lobato, de 1939, com essa propaganda em torno da pessoa de Getúlio era forte e como a

aceitação popular do presidente era grande em Divinópolis. Podemos perceber, por exemplo, no texto do aluno Antônio Brandão, na ocasião com 14 anos e aluno matriculado no 3º ano, como se dava o imaginário das pessoas em torno de Vargas: “Getúlio Vargas é o maior e melhor de todos os homens do Brasil. Foi ele o farol que há 9 anos surgiu no nosso querido país destinado a levar o povo bra-

sileiro ao porto da salvação [...] Eu vejo na pessoa do Dr. Getúlio o exemplo necessário para ser no futuro, grande e útil ao nosso querido Brasil e principalmente ao nosso Divinópolis” Também no texto da aluna Josefina Machado, na época com 12 anos, matriculada no 3º ano do mesmo grupo escolar: “Por toda parte há guerra, miséria e fome. Meninos sem pais, velhos sem filhos, esposas sem maridos.

Cidades destruídas, países em ruínas. O motivo de tudo isso é um ambicioso sem alma e sem coração, que põe em perigo seu povo e sua pátria. Nós brasileiros devemos todos os dias levar uma prece a Deus para que nos conserve o nosso chefe, que quer o progresso do seu país, mas sem sacrifício dos seus filhos e de sua pátria.” Através dos documentos não se tem notícias sobre o fu-

turo das redações dos alunos de Divinópolis, contudo, podemos perceber como o imaginário em torno da figura do “chefe” estava presente também entre os divinopolitanos, que desde a formação do arraial, estavam acostumados com a política tradicional e oligárquica. O próprio prefeito Antônio Gonçalves de Matos foi nomeado durante o golpe do Estado por três vezes, entre os anos de 1936 até 1946.


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DIVINÓPOLIS, PARTE DE NÓS.

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Divinópolis 100 anos... A Câmara de Vereadores homenageia, junto com os cidadãos, a nossa divina cidade. Fiscalizando os gastos públicos, integrando a comunidade e a administração, criando e aprovando leis que ajudem a melhorar a vida de todos. Com trabalho, comemoramos também os 100 anos da primeira Câmara de Vereadores. Conheça, entenda, participe da Câmara de Vereadores de Divinópolis.

PESSOAS, SONHOS E ATITUDES:

uma grande história se constrói assim.

Parabéns Divinópolis pelo centenário. A equipe Cimcal se orgulha de crescer junto com essa cidade.


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A Participação divinopolitana na Segunda Guerra Amilton Augusto A Segunda Guerra Mundial foi um dos piores acontecimentos de toda a história. Destruiu cidades e países inteiros, mas muito, além disso, acabou com o sonho de muitas famílias. Ao pensarmos nos muitos desastres desta Guerra, pouco paramos para fazer o exercício de reflexão que o diretor de cinema, Marcelo Masagão, nos propõe em seu filme “Nós que aqui estamos por vós esperamos”, de que numa guerra não morrem apenas pessoas. Morrem pessoas que gostam de sorvete, pessoas que tem filhos, pessoas que tem sentimentos, ou seja, não se morre apenas o homem em batalha, mas arruína toda uma história de vidas entrelaçadas. A Segunda Guerra teve início em 1939, porém a participação dos países latino-americanos se deu apenas em seu período final. O Brasil, além de enviar alimentos, ajuda financeira, combustível e alguns outros gêneros necessários para sustentar uma guerra, a partir de 1942 começou a enviar homens para lutar a favor do grupo dos Aliados (EUA, URSS e Reino Unido).

Toda a angústia de ter que conviver com uma guerra, mesmo que esta esteja acontecendo do outro lado do oceano, assolou os lares divinopolitanos a partir de 1943, quando 28 moradores de Divinópolis foram convocados a participar de batalhas na Europa. Os praças, como eram conhecidos os soldados brasileiros, foram incorporados ao 11º regime de infantaria de São João Del Rei e partiram para a batalha na Itália. A convocação se dava na forma de sorteio, e muitos moradores da cidade viveram momentos de tensão e ansiedade aguardando os possíveis nomes para serem enviados à Europa. Até 1945 mais homens foram convocados para lutar, principalmente no norte da Itália, na batalha que ficou conhecida como batalha de Monte Carlo. A batalha se arrastou por três longos meses e a presença da FEB (Força Expedicionária Brasileira) foi marcante e decisiva para a vitória do grupo dos Aliados. O frio e as condições adversas da região somaram forças junto aos adversários brasileiros, que forçou os praças muitas vezes a terem que improvisar

jornais e papelão de baixo do uniforme militar para se protegerem. As notícias da Guerra foram divulgadas em Divinópolis através de jornais da cidade, que muitas vezes publicavam cartas e notícias enviadas pelos brasileiros em combate, principalmente, pelo capelão militar Frei Orlando, morto em guerra. O rádio, que desde a década de 1920 vinha sendo um companheiro dos lares brasileiros, também foi responsável por ressoar as notícias. Havia um alto-falante na então Av. Independência (hoje Av. Antônio Olímpio de Morais), onde funcionava o Cine Alhambra, que foi responsável por divulgar notícias dos divinopolitanos em Guerra. Com o fim da Guerra e a vitória dos Aliados, os brasileiros ficaram em solo italiano por mais um período, a fim de pacificar o local, e gradativamente foram retornando ao país. Aqui foram recebidos com muita festa na capital federal e nas capitais de seus estados. Muitos dos divinopolitanos que sobreviveram retornaram à cidade e aqui continuaram suas vidas com suas famílias. Em um folder do Museu Histórico de Divinópo-

Divinópolis 100 anos. Seguindo nos trilhos para um futuro ainda melhor.

A Ferrovia Centro-Atlântica se alegra por fazer parte da vida e da história de Divinópolis, que completa 100 anos com orgulho do seu passado e, acima de tudo, pronta para um futuro ainda melhor.

Parabéns a todos os divinopolitanos.

lis é possível encontrar o nome dos 51 veteranos da FEB, depois da guerra, residentes ou não em Divinópolis, que se associaram à ANVFEV – 3ª Seção Regional: subtenente Assuero de Barros Lovaglio; sargentos Eli Barbosa da Silva, Joaquim Bernardes Guadalupe, Mariano Meireles Neto, Moacir Pereira Abreu, Osmar Gomes de Oliveira, Paulo de Castro, Roberto Donaldo Vespúcio, Sabino José de Oliveira; cabos Candido Pereira Guimarães, Célio de Andrade Souza, Francisco Romualdo Novais Neto, Heitor Raimundo dos Santos, Horizontino Neves, Joaquim Antônio Dimas, José Belarmino de Melo, José da Cruz, José dos Reis Correia, José Jorge Castanheira, José Marchiore Cândido, Murilo Tibúrcio de Canto Jr., Orlando Batista, Rubens Antônio Câmara, Saturnino Alves Garcia, Waldemar Domingos de Almeida; e os soldados Agripino Pereira da Silva, Altamiro Ribeiro dos Santos, Amador Alves de Andrade, Anézio Ribeiro da Silva, Antônio Francisco dos Santos, Antônio de Souza Neves, Antônio Diniz Borges, Clarindo Costa, Elídio Afonso Guimarães e Geraldo Fernandes da Silva.

escassez de alimentos e combustível O apoio que Getúlio declarou aos países Aliados se dava basicamente no envio de gêneros alimentícios, combustíveis, dinheiro e outros suprimentos que seriam necessários durante uma guerra. Este apoio através de gêneros gerou uma grande escassez de alimentos e combustíveis no país, e Divinópolis sofreu com o racionamento desses produtos. É possível encontrar entre os vários documentos do Arquivo Público Municipal de Divinópolis, uma grande quantidade de ofícios recebidos e emitidos pelo então prefeito Antônio Gonçalves de Matos, aproximadamente entre os anos de 1943 e 1945, que dizem respeito à escassez de gêneros como açúcar, farinha de trigo, gasolina, carne e sal na cidade de Divinópolis. A escassez de farinha de trigo no mercado interno, por exemplo, fez com que o famoso pãozinho de sal faltasse nas prateleiras das padarias. O governo federal, usando de boa criatividade, criou o “pão de guerra”, feito de farinha comum, bem mais barato. A

gasolina também teve de ser racionada e a recomendação da prefeitura em Divinópolis para os proprietários de carros e para os próprios carros da Administração Pública foi que se economizasse combustível, já que o prefeito não poderia fazer muita coisa diante de um problema de ordem mundial. A falta de mercadorias de primeira necessidade gerou descontentamentos e até mesmo alguns protestos nos jornais da cidade. Muitas vezes os comerciantes abusavam dos preços já que a procura era grande e a oferta era pequena. O prefeito encontrou algumas saídas para tentar evitar o mercado clandestino e o abuso nos preços: fixou tabela com preços máximos para alguns produtos e registrou os rebanhos da cidade a fim de controlar a venda. Mesmo com uma participação direta muito pequena, já que alguns homens da cidade foram enviados como pracinhas para lutar na Europa, a população divinopolitana sofreu diretamente com os percalços do conflito mundial, tendo que economizar e até mesmo deixar de consumir os principais gêneros alimentícios da cozinha brasileira.


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Divinópolis que recebeu tão bem a todos nós! Agora receba o carinho e o nosso abraço.

Parabéns Divinópolis!


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Símbolos da cidade centenária Hino de Divinópolis exalta o nome do rio que divide ao meio o município Daniel Michelini bandeiRa A Bandeira é composta por um campo retangular alaranjado, representando o território municipal, vermelho-alaranjados devido à constituição do solo, com o Brasão ao Centro, sem a linha preta circundante. A feitura da Bandeira municipal pode ser usada em todas as manifestações do sentimento cívico dos divinopolitanos, de caráter oficial ou particular, em qualquer lugar que lhe seja assegurado o devido respeito. As bandeiras em mau estado de conservação devem ser entregues a qualquer unidade militar, para que sejam incineradas no Dia da Bandeira, segundo o cerimonial peculiar. bRasÃo O Brasão está contido num hexágono branco, símbolo de uma célula, sugerindo a ideia de cidade. Duas setas apontam para o sentido leste-Oeste, como símbolo de expansão do núcleo. A parte superior interna, em negro, estiliza a figura de um lingote, representando a presença marcante das side-

Hino a Divinópolis Letra e música de: Dr. jose Pereira Brasil Das terras do Oeste, Princesa altaneira Cidade Oficina de filhos leais, És tu Divinópolis, bem brasileira Parcela fecunda de Minas Gerais Cidade Esperança, tu sonhas e anseias Por lindo futuro de veras grandeza, Em que colhas tudo o que hoje semeias Com os olhos em alvo na tua realeza.

rurgias locais. A engrenagem na parte inferior, alaranjada, simboliza a mecânica das oficinas e das indústrias implantadas. Interligando todo o conjunto (célula, setas, lingote, engrenagem), através da cor branca, destaca-se a figura que simboliza o Divino Espírito Santo, numa alusão ao nome da cidade do Divino Hino O hino oficial de Divinópo-

lis foi composto por José Pereira Brasil, juiz da Comarca,como o autor não sabia teoria musical, coube à pianista Simpliciana Corrêa Brandão, a Dona Nhazinha (mãe da artista plástica Celeste Brandão), transportar para a pauta as linhas melódicas da composição. Este hino foi oficializado através da Lei nº761, de 1º de agosto de 1967, sancionada pelo prefeito Walchir Jesus Resende Costa. Diz o primeiro parágrafo da referida lei: “fica

oficializado, como Hino desta cidade, o “HINO A DIVINÓPOLIS”, letra e música de autoria do Dr. José Pereira Brasil, que já vem sendo cantado nos grupos escolares desde 1935. Segundo consta no Anuário Estatístico de Divinópolis, versão1996, o Hino foi executado em praça pública somente em 1973 pela Banda Santa Cecília, com orquestração do violinista Jacinto Guimarães, sob regência do maestro José Geraldo Rocha.

Sadio é o civismo que anima tua gente, Afeita ao trabalho, à conquista do pão E o Itapecerica, em sua gleba virente, Deriva em murmúrio que é quase oração. Fazendo da fé e da fraternidade Um hino sonoro que só paz ensina Do céu foi que veio teu nome, cidade, Crismando-te ao berço: “Cidade-Divina”


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DIVINÓPOLIS As curvas dessa história conquistaram nossa admiração. Conhecida pelas suas conquistas e desenvolvimento acelerado, Divinópolis é a principal cidade da MG-50 e sede da Nascentes das Gerais. Suas belezas naturais, cultura marcante e a hospitalidade do seu povo, tornam todos os dias que passamos aqui em momentos especiais. Por isso, temos muito orgulho de estar ao seu lado nessa data tão importante da sua divina e respeitada trajetória.

Parabéns pelos 100 anos no caminho do progresso.


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Há 19 anos, nossas páginas são o espelho do desenvolvimento e crescimento da cidade A maior parte da nossa vida é um desenrolar de fatos e acontecimentos que passam como paisagens vistas da janela de um carro. Algumas sem qualquer importância e outras, com o maravilhoso poder de transformar nosso destino. É justamente no registro da transformação do cotidiano, que encontramos a magia e o grande propósito da imprensa. É quando tudo e todos que fizeram parte dessa transformação passarão a viver para sempre, eternizados na forma de notícia. Nos últimos dezenove a Gazeta do Oeste tem caminhado junto com nossa cidade, ajudando a construir, refletir e eternizar os momentos que constroem a identidade desse povo. Mais do que uma meta, é uma grande paixão contar a história de Divinópolis, sabendo que esses momentos viverão para sempre em nossas reportagens. É por isso que tomamos como nossa missão, eternizar nossa cidade em notícias e fazemos questão de dizer diariamente, através de nossas páginas:

Divinópolis, nós te amamos!


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