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DOIS IRMÃOS ITALIANOS QUE SÃO A RECEITA DE PURO PRAZER!

SABOR INEBRIANTE

O sonho de Lizzie Addler de trabalhar na Itália está a um passo de se tornar realidade... Basta convencer o passional chef Dante DeFiore a manter a sua parte do acordo. Ele pode ser mais quente do que o sol de Roma, mas age com frieza em relação à Lizzie. Dante não dispõe de tempo para estimular as ambições culinárias dela, afinal, tem um restaurante para comandar! Porém, quando Lizzie prova ser uma aquisição espetacular para sua cozinha – e vida –, ele começa a pensar em uma forma de tê-la sempre ao seu lado. SORRISO CATIVANTE

Planejar o casamento da irmã na Itália apenas serviu para Jules Lane perceber o quanto estava distante de encontrar o seu príncipe encantado. E o pior era ter de trabalhar ao lado do deliciosamente lindo Stefano DeFiore, o padrinho. Após experimentar o poder destrutivo do amor, Stefano não acredita em relacionamentos sérios... Ainda que o sorriso de Julies seja cativante. E, por mais que faça Jules se sentir a mulher mais linda do mundo, Stefano não sabe se está pronto para proporcionar o final feliz com o qual ela sempre sonhou.


Jennifer Faye

Os Irmãos DeFiore

Tradução Rafael Bonaldi Vanessa Mathias Gandini

2015


SUMĂ RIO

Sabor inebriante Sorriso cativante


Jennifer Faye

SABOR INEBRIANTE

Tradução Rafael Bonaldi


Querida leitora, Às vezes, quando a vida dá limões, você apenas quer jogá-los fora. Outras, o jeito é fazer uma limonada. Bem, Lizzie Addler tem uma abordagem diferente. Ela prefere transformá-los em uma torta de limão de altíssima qualidade. Tanto em sentido literal quanto metafórico! Lizzie me deixou muito intrigada. Ela conseguiu sobreviver e desabrochar apesar dos duros golpes sofridos. Mas as coisas parecem tomar um rumo para a melhor quando Lizzie vence um concurso de culinária na TV. E o prêmio são dois meses em Roma, se aprofundando na arte da culinária com um chef renomado. Para uma garota de Nova York, é um sonho se tornando realidade! O que poderia dar errado? Uma heroína forte precisa de um herói à altura. Mas não se preocupe, Dante DeFiore dá conta do recado! Ele faz jus à reputação de playboy, e quando a relação fica séria, vai embora. Dante conhece os efeitos devastadores de um coração partido, e não quer se associar ao clube. Será que Lizzie conseguirá segurá-lo tempo o suficiente para que Dante sinta o poder do verdadeiro amor? Divirta-se! Jennifer


CAPÍTULO 1

– SCUSA. Dante DeFiore foi atrás de uma jovem tentando furar a fila do Ristorante Massimo. O longo cabelo loiro dela esvoaçara por sobre o ombro quando se virou para trás. Seus olhos azuis gélidos encontraram os dele. O impacto daquele olhar penetrante o desnorteou. Ele não conseguia parar de fitá-la. Um delineador negro e espesso e sombras azuis como o céu conseguiam deixar aquele olhar ainda mais extraordinário. Dante limpou a garganta. – Signorina, você veio encontrar alguém? – Não. – Mesmo? – Ele estava realmente surpreso. – Alguém tão linda como você não deveria estar sozinha. As sobrancelhas finas dela se ergueram e um sorriso surgiu no canto daqueles lábios tentadores. Ele sorriu de volta. Em qualquer outra ocasião, Dante ficaria feliz em chamá-la para ser sua convidada, mas não naquela noite. Por dentro, murmurou. Por que ele estava se dividindo entre as funções de maître e chefe principal, justo quando aquela criatura estava parada diante dele? O arrependimento lhe obstruía a garganta. Não era para ser. Naquela noite, ele não tinha tempo para flertar – nem mesmo com aquela mulher incrível, que poderia facilmente estar chamando a atenção de todos em uma passarela em Milão. Ele desviou o olhar para limpar os pensamentos. O olhar ansioso das pessoas esperando para serem atendidas relembrou-o de seus deveres. Ele então se voltou para aqueles olhos azuis incríveis. – Odeio dizer isso, mas a senhorita terá que entrar no fim da fila. – Tudo bem. – Os lábios cintilantes e rosas ergueram-se em um sorriso. – Não se preocupe. Eu trabalho aqui. – Aqui? – Impossível. Ele com certeza se lembraria dela. E, pelo sotaque, ela era americana. – Esse é o restaurante do sr. Bianco, não é? – Sim, é. – Então estou no lugar certo. De repente, a ficha caiu. A equipe dele estava pela metade por causa de uma virose pavorosa que estava assolando Roma. Ele ligara para outros restaurantes para ver se alguém poderia lhe emprestar um


funcionário ou dois. Aparentemente, Luigi obtivera sucesso ao ligar para a amiga de uma das filhas dele. Dante foi inundado pelo alívio. A ajuda finalmente chegara e, pelo visto, ela como certeza conseguiria atrair uma multidão. Até pouco tempo, eles não precisava de nada para chamar os clientes – a culinária do avô dele era renomada em toda Roma. Mas, nos últimos meses, tudo mudara. – E eu serei o homem mais sortudo do mundo em ter tamanha beldade trabalhando aqui. Os homens farão fila até o fim da rua. Espere só um instante. – Dante virou-se e fez um sinal para o garçom. Michael aproximou-se de Dante, franzindo a testa. – O que o senhor precisa? Naquele momento, a mente de Dante ficou vazia. Tudo que ele conseguia ver eram aqueles olhos hipnotizantes. Aquilo era ridículo. Tinha um negócio para gerenciar. Ao olhar para a fila de clientes na porta, os olhares de impaciência fizeram uma campainha soar na mente dele. – Michel, pode acompanhar aquele casal? – Ele apontou para o casal de idosos. – Coloque-os na mesa de canto. É o quadragésimo aniversário de casamento deles, então tudo será por conta do restaurante. – Sem problemas. Linhas de exaustão adornavam a boca do garçom. Dante não podia culpá-lo. Ter que ficar na cozinha e na recepção sozinho também estava dando muito trabalho. Dante voltou a atenção para a funcionária inesperada. Ela estava com os braços cruzados e o quadril esguio inclinado para o lado. Um pequeno sorriso puxava os cantos de seus lábios, como se ela soubesse que o tinha pegado de surpresa – algo que raramente acontecia com ele. Ele começara a sorrir de volta quando um cliente entrou, lembrando-o de que o trabalho vinha em primeiro lugar. Desde que o avô deixara de estar presente para ajudá-lo a cuidar dos negócios, a vida social de Dante resumia-se às interações com os clientes do Ristorante Massimo. Depois de um breve ciao para um cliente frequente, Dante virou-se para a funcionária temporária. – Obrigado por vir. Por favor, deixe-me pendurar seu casaco. – Pode deixar. – Ela segurou as lapelas do casaco, sem intenção de tirá-lo. – Pode pendurá-lo aqui, se quiser. – Ele apontou para uma pequena sala. – Podemos acertar as coisas depois. – Quer que eu comece agora mesmo? Era esse o plano, mas talvez Luigi tivesse cometido o erro de mencionar essa parte. – Ele não disse que você começaria hoje? – Sim, mas achei que antes eu teria a chance de dar uma olhada nos arredores. – Considere isso uma emergência. Prometo que não tem nada de complicado. Tenho certeza de que você será fantástica... Hã... – Ela chegou a dizer o nome? Ele não conseguia se lembrar. – Qual é mesmo o seu nome? – Lizzie. Lizzie Addler. – Bem, Lizzie, é um prazer conhecê-la. Eu me chamo Dante. E agradeço muito por você nos ajudar nesse momento tão estressante. – Tem certeza de quer que eu fique aqui na frente? Sou muito melhor na cozinha.


Na cozinha? Quem esconderia tal pedra preciosa? Talvez ela fosse apenas tímida. Não que a aparência dela deixasse transparecer uma pessoa introvertida. – Eu ia adorar se você pudesse me ajudar mostrando as mesas para as pessoas. Ela assentiu. Um assistente veio correndo da cozinha. – Precisamos de você. Pela expressão atormentada no rosto do jovem, Dante sabia que não era nada bom. Ele voltou-se para sua nova funcionária. Haveria tempo para apresentações e formalidades depois. Naquele momento, tudo que ele precisava era evitar que os pedidos atrasassem, dando aos clientes motivos para irem a outro lugar. – Desculpe pela correria. – Quando a garota lhe lançou um olhar confuso, ele percebeu que Luigi talvez tivesse deixado de lhe informar detalhes importantes. – Você vai levar os clientes até as mesas e pegar as bebidas deles, enquanto Michael ficará encarregado dos pedidos. Acha que dá conta? Ela assentiu antes de despir seu longo casaco preto, revelando uma blusa branca de babados que enaltecia a figura esbelta dela, uma saia preta curta que deixava suas longas pernas à mostra e um par de botas negras de salto que chegavam até seus joelhos. Ele quase assobiou – aquela definitivamente não era a reação que um chefe deveria mostrar a uma funcionária, mesmo se ela fosse deslumbrante o bastante para causar furor na capa de uma revista de moda. Ele foi para a cozinha, rezando para que nada tivesse pegado fogo e que ninguém estivesse ferido. Aquela noite nunca ia terminar? E Luigi, velho amigo de seu avô, tentara ajudar ao enviar Lizzie ou deixá-lo distraído? Quando tudo estava organizado na cozinha, ele foi até a porta e observou a loira estonteante. Ela se movia naquelas botas como se fossem extensões de suas longas pernas. Ele engoliu em seco enquanto seu olhar a seguia pelo restaurante, afirmando para si mesmo que estava apenas cumprindo seu dever como chefe de inspecioná-la. Quando ela sorriu, enquanto conversava com alguns senhores mais velhos, Dante sentiu um frio na barriga. Ela com certeza parecia mais à vontade conversando com aqueles homens do que ao conversar com ele. Que estranho. Geralmente ele não tinha problemas para puxar conversa com alguém do sexo feminino. Lizzie com certeza era diferente. Era uma pena ela ser temporária, pois ele não ia ter chance de conhecê-la melhor. Ela o intrigava. OBVIAMENTE, HOUVE um mal entendido. Lizzie Addler franziu o cenho ao trancar a porta da frente do Ristorante Massimo. Ela não havia vindo de Nova York para ser recepcionista. Ela estava ali para trabalhar na cozinha – para aprender com o chef lendário – Massimo Bianco. E para filmar o segmento de um dos principais programas de um canal de culinária. Era a realização de um sonho. O estranho era que ela decidira chegar dois dias antes para ir se acostumando ao país novo. Como é que Dante sabia que ela iria aparecer naquela noite? Era impossível. Mas, mesmo assim, aquele homem de voz macia parecia saber quem ela era. Então por que colocá-la na recepção, sendo que seus verdadeiros talentos pertenciam à cozinha? As bochechas dela doíam de tanto sorrir, mas era só se lembrar das palavras galantes de Dante para os cantos de seus lábios se curvarem. Ela ouvira rumores de que os homens italianos eram conhecidos


por serem sedutores, e agora que sabia que isso era verdade – pelo menos no caso de Dante – ela precisaria ter cuidado na presença dele. Ela encostou as costas na porta e suspirou, não conseguindo se lembrar da última vez que seus pés doeram tanto. Por que diabos decidira usar as botas novas justo naquele dia? Ah, é, para causar uma boa impressão. E, tecnicamente, as botas não eram novas – só para ela. Elas eram de segunda mão, assim como a maioria das coisas de Lizzie. E, em sua defesa, algumas de suas coisas ainda tinham a etiqueta original quando ela as comprou no brechó de boutique. E como ela era grata por ter esbanjado nas roupas de estilo. Lizzie olhou para a parede cheia de fotos de celebridades. Algumas eram em preto e branco, outras, coloridas. Massimo estava em muitas delas, posando ao lado de celebridades da música, do cinema e de políticos do mundo todo. Ao examinar cada uma, encontrou o rosto lindo de Dante. E, em cada foto, ele estava com seu sorriso largo e acolhedor, ao lado de uma beldade. – Impressionante, não? Ela não precisou virar-se para saber que era Dante. – Muito impressionante. – Ela forçou-se a continuar observando para o exército de fotos em vez de comer com os olhos o homem alto, moreno e inegavelmente lindo ao seu lado. – Todas essas pessoas comeram aqui? – Sim. E há mais fotos no escritório. Ficamos sem espaço aqui. – Seu sotaque italiano era marcante. Os tons ricos flutuaram através dela sensualmente. – Nós deveríamos colocar a sua foto. – Eu. – Ela levou a mão ao peito. – Mas eu não sou ninguém. – Você, minha querida, definitivamente é alguém. – Seus olhares se encontraram, e as bochechas dela coraram. – Está tudo certo lá dentro? A boca de Lizzie ficou seca. – Sim... Sim, o último cliente acabou de sair. Linhas de cansaço marcavam a pele bronzeada ao redor dos olhos negros dele. Ele sorria amigavelmente, mas algo lhe dizia que era apenas para ela, e que tudo que ele mais queria era ir para casa. – Não sei como agradecer sua ajuda esta noite. – A pulsação dela acelerou-se quando seus olhares se reencontraram. – Suponho que esteja esperando seu pagamento. Espere só um instante. Antes que conseguisse formular alguma palavra, ele virou-se e foi para os fundos do restaurante. Pagá-la? Pelo quê? Por ser recepcionista por uma noite? Lizzie tinha quase certeza de que isso ia contra seu contrato com a rede de televisão. Dante voltou rapidamente e colocou alguns euros na mão dela. Os dedos dele roçaram a palma dela, dedos quentes que a fizeram estremecer. Ela puxou a mão rapidamente. – Muito obrigado. Você salvou minha vida. – Ele foi até a porta, para deixá-la sair. Porém, ela não o seguiu. Lizzie ainda não terminara. – Não vou embora, não agora. Dante olhou para ela, confuso. – Se for pelo dinheiro, essa foi a quantia que eu disse a Luigi que estava disposto a pagar... Lizzie balançou a cabeça. – Não é isso. Eu vim aqui para conhecer o chef Massimo. – Veio? Quer dizer que não foi Luigi que mandou você aqui? – Não conheço nenhum Luigi.


Ele tirou o smartphone do bolso. Depois de alguns toques, ele ergueu o olhar. – Foi mal. Luigi não conseguiu encontrar ninguém para ajudar. Graças a Deus você apareceu. – E fico feliz em ter ajudado. Agora, eu gostaria de conhecer o chef Massimo. O semblante de Dante tornou-se sombrio. – Isso não vai acontecer. – O tom dele era firme e inegável. – Ele não está aqui. Você terá que falar comigo. – Acho que não. Vou ter que esperar por ele. Dante esfregou a nuca e suspirou. – Você vai ficar esperando um bom tempo. O chef Massimo está viajando. – Olha, sei que estou adiantada alguns dias, mas temos um acordo. – Isso é impossível. – Dante endireitou os ombros, e sua expressão ficou mais séria. – Eu saberia. Sei tudo que é preciso saber aqui, nesse restaurante. – Não tudo, obviamente. – Lizzie comprimiu os lábios, arrependendo-se imediatamente da retrucada. Ela estava cansada por causa do voo e por ter trabalhando a noite toda. – Você obviamente está enganada. É melhor ir embora. – Ele abriu a porta da frente, deixando o ar frio da noite entrar e envolvê-la. Lizzie não podia ir. Seu futuro dependia daquele trabalho, e o dinheiro pela participação no programa de culinária que ia ser lançado ajudaria a pagar pela faculdade da irmã. Não podia decepcioná-la. Ela prometera a Jules que, se fosse aceita, ela iria entrar com o dinheiro dos primeiros anos. Jules já tivera tantos problemas atrasando sua vida que Lizzie recusava-se a falhar com ela. Ela aproximou-se um passo de Dante, e, embora estivesse usando botas de salto alto, ela precisou inclinar a cabeça para trás para encará-lo olho a olho. – Eu lhe fiz um belo favor esta noite. O mínimo que você pode fazer é me ouvir. Dante deixou a porta fechar e a acompanhou de volta ao salão do restaurante, onde ele puxou uma cadeira para ela e se sentou do outro da mesa. – Pode falar. Lizzie desejou que não fosse tão tarde. Dante parecia exausto, o que não a ajudaria a ganhar a compreensão dele. Ainda assim, ela não tinha para onde ir. Ela juntou as sobrancelhas enquanto encarava a toalha de linho e cruzava as mãos. – Chef Massimo concordou em ser meu mentor. Dante estreitou os olhos. – Por que essa é a primeira vez que estou ouvindo falar disso? – E por que você teria que saber? Meu acordo não é com você. – Massimo Bianco é meu avô materno. E com ele fora, sou eu quem fica no comando. Aquele homem não ia ceder tão facilmente. – Quando ele volta, para podermos resolver essa situação? Dante recostou na cadeira e cruzou os braços, estudando-a. Ela adoraria saber o que ele estava pensando. Ou talvez não; era melhor assim. Os últimos dias haviam passado como um borrão. Ela correra contra o tempo para acertar as coisas na cidade de Nova York, antes de embarcar no voo transatlântico. A última coisa que ela queria era bancar a recepcionista, mesmo sabendo que se sairia bem na função. O que não entendia era por que ele estava sendo tão reticente em relação a Massimo. – Tudo que você precisa saber é que meu avô não vai voltar. Então, qualquer coisa que você tiver que resolver com ele, você terá que resolver comigo. Conte-me mais sobre esse acordo.


A tensão desceu correndo pelas costas dela. Aquele homem não estava propenso a acreditar em nada que ela dissesse. Mas que escolha Lizzie tinha, sendo que ela não sequer sabia o telefone pessoal do chef Massimo? Tudo fora resolvido pelo telefone e com o endereço do restaurante. – O acordo é que ele seria meu mentor pelos próximos dois meses. Dante balançou a cabeça. – Não vai acontecer. Sinto muito por você ter vindo de tão longe por nada. Agora, você precisa ir embora. Lizzie não atravessara metade do globo só para ser enxotada – ela já havia sido rejeitada inúmeras vezes antes na vida. Os motivos dela para estar ali eram muito maiores do que simplesmente aparecer na TV – realmente queria aprender com o melhor. Massimo Bianco era um chef renomado, cujo nome em seu currículo teria um enorme peso no mundo da culinária. – Você com certeza precisa de ajuda extra. – Depois do que vira naquela noite, ela não tinha dúvidas. – Se não fosse por causa da virose, minha equipe estaria completa. Não temos vaga para outra pessoa na cozinha. – Obviamente, chef Bianco não concorda com você. Ele me garantiu que haveria um lugar para mim. O olhar de Dante tornou-se mais sombrio. – Ele estava enganado. E, agora, eu insisto que você vá embora. Lizzie vasculhou sua bolsa exageradamente grande e tirou um documento assinado. – Você não pode me recusar. Ao mostrar-lhe uma cópia do contrato, as sobrancelhas de Dante se ergueram. De repente, ele não se sentia mais tão no controle como alguns segundos atrás. Engraçado como um documento legal podia mudar as coisas tão rapidamente. Ao pegar o papel, seu dedo roçou o dela. A pele dele estava quente e era surpreendentemente macia. Seus olhares se encontraram. Os olhos dele eram negros, misteriosos. Em vez de se sentir intimidada, ela sentiu-se atraída por eles. Não que ela estivesse na Itália para ter um romance de verão. Lizzie tinha um trabalho a fazer, e aquele homem estava bloqueando seu caminho para o futuro. Ele podia ser teimoso, mas acabara de encontrar uma rival.


CAPÍTULO 2

POR QUE aquela mulher o deixava tão desconcertado? Poderia ser a maneira como os toques dela enviavam correntes elétricas pelo braço dele? Percebendo que eles ainda estavam se tocando, Dante recolheu a mão, amassando de leve o documento. Ou talvez fosse a maneira como aqueles olhos azuis pareciam estudar cada movimento dele. Era como se ela pudesse enxergar mais do que quisesse que as outras pessoas vissem. Não que ele tivesse muitos segredos a esconder – bem, além de seu plano de vender o ristorante. O olhar dele acompanhou as primeiras linhas do documento, pausando ao ver o nome do avô seguido pelo nome do Ristorante Massimo. Ele continuou examinando todo o “juridiquês” até encontrar a menção de um programa de televisão. As entranhas dele reviraram. Aquilo era muito mais do que ele poderia ter imaginado. – Você disse que isso era para um estágio. Você não mencionou nenhum programa de televisão. Os lábios dela se moveram, mas sem produzir som algum. Era como se ela não tivesse certeza de como proceder. Se Lizzie achava que ele iria facilitar as coisas, ela estava muito enganada. Ela tentara fazê-lo concordar com que ela trabalhasse ali sob falsos pretextos, quando na verdade seus planos eram bem maiores. Quando ela não respondeu, ele acrescentou: – Por quanto tempo você planejava manter essa informação básica em segredo? A testa dela franziu-se. – Se eu tivesse mantendo-a em segredo, não teria lhe entregado o contrato. Ela estava certa, mas isso não deixou Dante mais calmo. Ele esfregou o pescoço, tenso. Aquele dia estava sendo extremamente longo. Além da falta de funcionários, sua reunião com um comprador em potencial do ristorante não fora muito bem. Eles não queriam apenas o estabelecimento. Eles também queriam os direitos do nome e das receitas secretas que haviam colocado o nome do avô dele entre os melhores chefs. Dante não tinha o direito de vender aquelas receitas – que estavam há gerações na família. Elas eram especiais para seu avô. Ainda assim, vendê-las significava que elas seriam mantidas vivas para que outros desfrutassem delas, em vez de serem esquecidas em uma gaveta. Mas será que ele conseguiria ter


a coragem de pedir para o avô permissão para vendê-las? A ideia de vender o ristorante deixava um gosto amargo na boca de Dante. – Como pode ver no contrato, a equipe de televisão chega na terça. – As palavras dela trouxeram-no de volta aos problemas. – Percebi que você chegou alguns dias mais cedo. – Ele não sabia por que dissera aquilo. Ele estava tentando ganhar tempo. – Gosto de me preparar. Não gosto de surpresas. Então pensei em chegar para me acomodar e aproveitar para conhecer alguns pontos turísticos de Roma. Ouvi dizer que é uma cidade adorável. – Bem, como meu avô não vai estar por aqui para ser seu mentor, talvez você possa aproveitar para curtir umas férias antes de voltar para... – Nova York. E não vim para cá para tirar férias. Vim para cá para trabalhar e aprender. – Ela se levantou. – Talvez eu deva conversar com alguém da cozinha. Alguém talvez possa me dizer onde encontrar seu avô. – Isso não será necessário. O avô dele não precisava ser incomodado – ele tinha problemas mais importantes no momento. Dante podia e iria lidar com aquela mulher. Afinal de contas, tinha que existir uma solução para aquele problema. Sem terminar de ler os detalhes jurídicos, foi para a última página. – Está tudo assinado e reconhecido, se é isso que está procurando. – A voz dela era confiante, e ela voltou a se sentar. Ela estava certa. Ali, em preto e branco, estava a assinatura distinta do avô dele. Não havia como não reconhecer a inclinação do M ou os arabescos em Bianco. Dante resistiu à tentação de amassar o documento e arremessáa-lo na lareira do outro lado do salão. Não que isso fosse ajudar, pois o fogo havia se apagado muito tempo antes. Ele se recusava a deixar a venda do ristorante – o negócio que ele vinha negociando há semanas – ir pelos ares por causa de algum acordo promocional que seu avô assinara. Tinha que haver uma saída. Dante se perguntou o quanto seria necessário para convencer Lizzie a voltar para Nova York sem alardes. – Tenho certeza que podemos chegar a algum acordo. – Ele era, afinal de contas, um DeFiore. Ele tinha acesso a uma fortuna considerável. – Quanto você precisa para esquecer do acordo com meu avô? Ela endireitou os ombros. – Nada. – Como assim, nada? – Quero dizer que eu não vou embora. – Ela inclinou-se para a frente, colocando os cotovelos sobre o tampo da mesa. – Acho que você não está entendendo a seriedade das minhas intenções. Estou investindo meses de minha vida nesse estágio. Tive que largar meu emprego. Está me entendendo? Todo o meu futuro depende deste acordo. Eu assinei um contrato, e pretendo filmar um quadro de um programa de televisão naquela cozinha. – Ela apontou por cima do ombro dele. Ela pedira demissão do emprego! Quem faz uma coisa dessas? Alguém muito confiante ou muito desesperado, obviamente. De qual tipo ela era? O rosto lindo dela mostrava linhas de estresse, e a faixa escura sob os olhos indicavam exaustão. Ela apostava no desespero. Talvez ele estivesse sendo muito duro com ela. Dante realmente não tivera intenção de chateá-la. Ele sabia como era frustrante estar tão próximo de conseguir o que se deseja e ainda ter que encarar uma


barricada. – Escute, sei que isso não é o que você deseja ouvir, mas tenho certeza que você conseguirá outro emprego... – E o que você pretende fazer com a equipe de filmagem, quando ela chegar? Dante comprimiu os lábios. Sim, o que ele iria fazer? A situação estava ficando cada vez mais complicada. Ele encarou a mulher diante dele. Ela estava à altura? Estava de fato em busca da experiência de trabalho? A oportunidade de aprender? Ou seria ela uma oportunista? Ele certamente não queria passar os próximos dois – longos – meses inflando o ego dela diante das câmeras. Porém, estava tendo a sensação bem inquietante de que não havia outra saída daquele acordo judicial senão um processo longo e complicado, que iria colocar em suspensão a venda do ristorante. AS COISAS não deveriam ser assim. Lizzie resistiu à tentação de levantar e começar a arrumar as malas. Era o que ela geralmente fazia quando se encontrava em uma situação difícil. Tendo crescido dentro do sistema de lares para adoção, ela já estivera em inúmeras situações difíceis. Mas uma coisa que ela aprendera com todas elas fora nunca desistir – se algo fosse importante de verdade, haveria uma solução. A estratégia dera certo para manter Jules, sua irmã adotiva, ao seu lado durante todos aqueles anos. Ela só precisava respirar fundo e não entrar em pânico. Dante parecia ser um homem de negócios. Com certeza, daria ouvidos à lógica. Era a última alternativa. Ela então inflou os pulmões, pedindo para a mente se acalmar. – Se você ler o contrato, vai descobrir que seu avô concordou não só em ser meu mentor, como também em abrir as portas para a equipe de filmagem. Estamos fazendo um seguimento para um programa de culinária. Seu avô ficou bem animado com o projeto e em como ele trará a este lugar – ela gesticulou para o restaurante, que possuía um ar muito distinto – reconhecimento internacional. Pense na quantidade de pessoas que saberiam o nome do Ristorante Massimo. Os olhos de Dante se iluminaram de interesse. – Você tem números para validar essas afirmações? Ela os teria trazido se soubesse que iria precisar deles. – Seu avô está confiante no valor destes segmentos de televisão. Ele já fez inúmeras participações no canal de culinária e construiu para si uma bela reputação. – Eu sei. Eu estava aqui em cada uma dessas participações. Ela estudou o rosto de Dante, tentando reconhecê-lo. A pele bronzeada. Os olhos escuros. O maxilar proeminente. E aqueles lábios... Ah, eles pareciam ótimos para serem beijados... Ela forçou a atenção de volta para a conversa. – Por que eu não me lembro de ter visto você em nenhuma delas? – Porque eu tive muito pouca participação nelas. Eu não entendo por que meu avô concordou em fazer essas participações em programas de televisão. Ela estreitou os olhos. – Você tem alguma coisa contra pessoas da televisão? – Não. – Ele cruzou os braços e recostou-se, inclinando a cadeira sobre as pernas de trás. – Só não gosto de como elas podem ser representações erradas da vida. Elas dão às pessoas a falsa esperança de


que poderão se torna um sucesso da noite para o dia. Na maioria dos casos, as coisas não são assim. A vida é muito mais difícil. Havia um brilho distinto nos olhos dele. De arrependimento? Ou dor? Com um piscar de olhos, os sentimentos dele foram novamente ocultos dela. E, por algum motivo, isso a deixava incomodada. Não que houvesse motivos – eles sequer se conheciam. Sem querer perder tempo debatendo os pontos positivos e negativos da televisão, ela decidiu voltar para o motivo que a trouxera até ali. – Tenho certeza de que seu avô voltará logo. Afinal, ele tem um restaurante para gerenciar. – Temo que ele não retornará. – Não voltará? – Aquilo era novidade para ela. Ele só podia estar enganado. – Mas nós temos um acordo. E ele estava ansioso para começarmos. Dante esfregou o queixo, como se estivesse decidindo se ele deveria continuar falando mais ou não. Seus olhos negros a estudaram atentamente – o que a deixou desconfortável, com vontade de se ajeitar na cadeira, mas ela resistiu. – Diga-me o que você está pensando. Preciso saber o que está acontecendo. Dante suspirou. – Meu avô teve recentemente um derrame. Desde então, ele se mudou para o interior. – Ah, não. – Ela levou a mão ao peito. A situação era bem pior do que ela imaginava. – Ele vai ficar bem? As sobrancelhas de Dante se ergueram, como se ele estivesse surpreso com a preocupação dela. – Sim, não foi tão ruim quanto poderia ter sido. Ele está recebendo terapia. – Graças a Deus. Seu avô parecia ser tão ativo e cheio de vida. Não consigo imaginar uma coisa dessas acontecendo com ele. Ela pensou na troca de e-mails e nas animadas conversas por telefone com ele. A voz de Massimo era rica e encorpada como um belo expresso. A imagem dele lhe vinha em mente ao pensar em ter um avô. – Como você o conheceu, exatamente? Talvez ela tivesse falado demais. Não era como se Massimo e ela fossem tão próximos assim. – De início, a produção nos colocou em contato. Nós trocamos vários e-mails e depois começamos a conversar por telefone, discutindo como queríamos dividir os quadros do programa – afinal, eles são curtos, então não poderíamos fazer nada muito elaborado. Mas, mesmo assim, não queríamos ficar só no básico. – Parece que vocês dois conversavam bastante. Ela deu de ombros. – Não era como se a gente conversasse todos os dias. Só quando tínhamos uma boa ideia para contar um ao outro, e isso era dificultado pela diferença de fuso horário. E então, recentemente, as ligações dele cessaram. Quando liguei para cá, me disseram apenas que ele não estava disponível, e que o recado seria passado para ele. Dante arregalou os olhos, como se uma ideia tivesse lhe ocorrido. – Eu me lembro de ver essas mensagens. Eu não tinha ideia de quem você era, ou o que queria. Estava começando a imaginar se meu avô não tinha uma namorada. – Não, era eu. E agora que você sabe a minha história, qual a sua? – Minha o quê? – História. Presumo que esteja gerenciando o restaurante para seu avô.


As sobrancelhas dele se juntaram, como se ele soubesse para onde aquela conversa iria levar. – Sim, estou. – Faz tempo que trabalha aqui? – Ela queria obter o máximo possível de informações, para bolar um plano de contra-ataque. Hesitante, ele assentiu. – Deve ser maravilhoso aprender com um chef tão talentoso. – Tinha que haver uma forma de salvar aquele acordo. Mas ela precisava saber mais. – Quando você começou a trabalhar com seu avô? – Eu sempre vinha visitá-lo quando era criança. Mas só muito depois eu comecei a trabalhar aqui em tempo integral. Ela percebeu que as respostas dele eram muito vagas, sem deixar muitas pistas sobre a vida familiar dele ou o porquê de Dante trabalhar ali. Talvez ele precisasse do dinheiro. Ainda assim, a postura e os modos dele indicavam dinheiro e cultura. Ela também não podia fugir do fato de que a maioria das mulheres o acharia alarmantemente lindo. Na verdade, ele seria um belo atrativo para o programa. E se isso fosse necessário para chamar a atenção da audiência, quem poderia argumentar? Ela ganhava dinheiro com a culinária desde os 14 anos. Claro, por ser muito jovem, ela recebia por baixo dos panos. Com o passar dos anos, ganhou experiência, mas nunca achou que iria ter a chance de ser dona do próprio restaurante, e, por isso, foi para a faculdade. Ela precisava de uma maneira de ganhar dinheiro suficiente para si mesma e para Jules. Mas, então, Jules a inscreveu em um reality show sobre culinária. A irmã insistira que ela precisava se arriscar e seguir seu sonho de ser uma chef em seu próprio restaurante cinco estrelas. Vencer o reality fora um marco imenso, que lhe rendera um contrato e uma passagem para Roma, onde ela aprenderia com um dos melhores. Jules estava certa. Talvez o sonho dela fosse se tornar realidade. Tudo que Lizzie precisava era fazer com que o acordo fosse um sucesso. De um jeito ou de outro. E se o chef Massimo não pudesse participar, talvez o neto dele pudesse. Ela o encarou. – Seu avô deve ter lhe ensinado todos os segredos da cozinha. O corpo dele ficou visivelmente tenso. – Sim, ensinou. De que outra forma eu conseguiria mantê-lo funcionando na ausência dele? Ela sabia que estava cutucando um urso adormecido com uma vareta, mas Lizzie precisava confirmar suas suspeitas antes de qualquer alteração em seus planos. – Mas o seus pratos ficam iguais aos do seu avô? – Os clientes não sabem a diferença. – A indignação na voz dele reverberou pela sala. – Quem você acha que dedicou tempo a aprender cada detalhe das receitas de meu avô? Ele sempre dizia que não existem atalhos na cozinha. Do pouco que ela conhecia Massimo, ela podia se dar ao luxo de acreditar em Dante. Durante as conversas por telefone, ele deixara claro que não pulava etapas das receitas enquanto treinava as pessoas. Ela teria que começar do início. Normalmente, ela teria encarado isso como um insulto, mas, vindo de Massimo, Lizzie tinha a sensação de que ele queria apenas o melhor para eles e para o programa de TV. – Você continuará a gerenciar o restaurante sozinho? Dante passou a mão pelo queixo. – Você é sempre assim tão curiosa com estranhos?


Ela não iria retroceder. Aquelas informações eram importantes, e ela já tinha quase tudo que precisava saber. – Só estou tentando conversar. Isso é tão errado, assim? O olhar de Dante dizia que não acreditava nela. Ainda assim, ele não insistiu e a surpreendeu ao responder: – Por enquanto, eu continuarei, mas não posso prever o futuro. – Ainda assim, pergunto-me se você é tão bom na cozinha quanto seu avô. – Espere aqui. – Ele levantou-se e saiu. Aonde diabos ele foi? Ela ficou tentada a segui-lo, mas achou melhor não – ela já havia abusado da sorte. Mas seu novo plano estava se formando. O único problema seria tentar manter a mente na arte da culinária, e não no gostosão ensinando-a. Ela sabia que tais preocupações bizarras eram culpa do jet lag. Um pouco de sono ininterrupto tornaria a mente dela mais clara. Aquele acordo era importante demais para ser interrompido por algum tipo de quedinha. Ela comprimiu os lábios. Independentemente da beleza dele, ela sabia que não podia deixar o coração vencer a razão. Ela conhecia bem demais a dor agonizante da rejeição e do abandono. Não iria se sujeitar a isso novamente. Nunca mais. Lizzie endireitou os ombros e juntou as mãos sobre o colo. Era hora de colocar o plano em ação. De um jeito ou de outro.


CAPÍTULO 3

COMO ELA ousava questionar as proezas dele na cozinha? Dante encarou o prato de pasta alla gricia, um de seus pratos favoritos. O equilíbrio entre a carne de porco curtida e o pecorino romano dava ao macarrão um sabor picante e único. Era um prato que ele nunca se cansava de comer. Ele dividiu a comida em dois pratos. Afinal, ele não precisava comer tanto àquela hora da noite. Enquanto fazia isso, ele se perguntou por que estava se dando àquele trabalho todo. O que aquela bela de cabelo dourado tinha de tão especial? E por que ele sentia uma compulsão em provar seus dotes para ela? Não era como se ele fosse ver Lizzie novamente. Sem o avô para honrar sua parte do acordo, ela teria que pegar o próximo voo para Nova York. Ainda assim, antes de ela partir, ele precisava provar-se. Ele pegara algumas receitas do avô e colocara seus próprios toques, e os clientes adoraram. Aquele prato em questão não desaprovaria os paladares mais sofisticados. Ele voltou para o salão e colocou um dos pratos diante dela. Ela o encarou com os olhos azuis arregalados. A boca de Lizzie se abriu como se fosse dizer alguma coisa, mas nada saiu. Ele encarou aqueles lábios fartos, perfeitos para serem beijados. A vontade crescia mais e mais a cada segundo. – Isso parece delicioso. – Lizzie encarava, e não a comida. E estava sorrindo. – É uma antiga receita de família. – Ele quase tropeçou nos próprios pés ao ir para o outro lado da mesa. – O segredo do prato é mantê-lo simples e não ser tentado a adicionar ingredientes extras. Você acaba mascarando o sabor da carne e do queijo. Ele não podia acreditar que estava se deixando levar pelos encantos dela. Não era como se ela fosse a primeira mulher bonita que ele paparicava – mas era a primeira que ele queria impressionar de verdade. Sentado em segurança, ele notou como a mesa era pequena. Se não tomasse cuidado, as pernas dele roçariam na dela. Caso aquele fosse um encontro íntimo, Dante tiraria proveito da proximidade, mas Lizzie era diferente das mulheres que ele já namorara. Ela era mais séria. Mais focada. E ela parecia ter apenas uma coisa em mente: sucesso. – Não vai provar? – Dante apontou para a comida. Só porque ele não estava interessado em ajudá-la a alcançar o sonho do estrelato não significava que ele não podia provar que sabia fazer mágica na


cozinha. Ele a observou girar o garfo sobre a colher e levar a massa à boca. Cativado, ele esperou a reação dela. Quando Lizzie murmurou sua aprovação, a pressão sanguínea dele subiu, e Dante agarrou com força seu garfo. – Está muito bom. Foi você que fez? A pergunta não o enganava. Ele sabia o que ela estava tramando. Mas ele, na televisão? Nunca. Esse era o sonho do avô, não dele. – Está delicioso. – Ela lhe lançou um grande sorriso, que lhe provocou uma estranha sensação no peito. Isso não era bom. Ele não queria estar vulnerável a uma mulher. Dante sabia por experiência que um romance só poderia acabar em desastre... de um jeito ou de outro. Ele forçou-se a comer, pois não havia comido nada desde a manhã, mas não estava com apetite. Na verdade, a comida não tinha gosto algum. Ainda bem que Lizzie parecia estar impressionada. Depois de limpar o prato, ela o colocou de lado. – Obrigada. Mal posso esperar para você me ensinar como preparar este prato. Dante ainda não havia terminado quando colocou o garfo no prato e o afastou. – Isso não vai acontecer. – Talvez você devesse pelo menos considerar a hipótese. O olhar dela passou pelo contrato que ainda estava sobre a mesa antes de recair sobre ele. O que ela estava implicando? Que o levaria à Justiça, caso contrário? Era a última coisa de que ele precisava. Ele já tinha muitos problemas, incluindo a necessidade de consertar seu relacionamento com a família. E quanto mais se aproximava a hora de assinar a venda do restaurante, mais incomodado ele ficava com a decisão. – Você não pode esperar que eu honre o contrato de meu avô. – Por que não? – Ela sorriu, como se isso pudesse derreter a resistência dele. Talvez em outras circunstâncias isso teria funcionado, mas não naquele momento. – Porque não quero aparecer na televisão. Não gostei quando aquelas equipes de filmagem vieram para cá. Tudo que eles fizeram foi ficar no meu caminho e criar um circo de curiosos querendo aparecer na TV. Ele não quis comentar que estava a alguns dias de fechar a venda do Ristorante Massimo. Mas ela dependia daquelas receitas de família. E, de alguma forma, abrir mão delas parecia uma traição. Seu avô passara os negócios para Dante prometendo que o neto poderia fazer o que quisesse com o restaurante, mas, mesmo assim, ele não podia tomar uma decisão desta importância sozinho. E como ele iria abordar o assunto com o avô? Como ele iria dizer que estava se sentindo desassossegado e que sem ele na cozinha as coisas não eram como antes? Era hora de Dante encontrar algo que lhe desse paz de espírito. Ele vinha brincando com a ideia de voltar para o vinhedo e trabalhar com o pai e o irmão. Depois de tanto tempo, talvez ele e o pai pudessem declarar trégua – talvez Dante pudesse, de alguma forma simbólica, compensar a perda e a infelicidade que o pai sofrera depois que a mãe de Dante falecera. Mas será que isso era possível, considerando o relacionamento complicado dos dois? – Não é comigo que você precisa se preocupar. – A voz de Lizzie o trouxe de volta para a realidade. Ela brincava com o guardanapo de pano. – A equipe de televisão vai fazer valer o contrato. Eles já estão inclusive promovendo o segmento no canal. Eu mesma vi antes de deixar Nova York. Claro, não vamos ter um show só nosso. Mas ainda teremos um segmento no programa mais popular do canal.


Ele havia se esquecido que tinha uma terceira parte no contrato. Um conglomerado da mídia não seria facilmente derrotado. – Mas o que faz você pensar que eles vão querer a mim, em vez de meu avô? – Presumo que o seu avô não tenha mencionado nada disso para você. Dante balançou a cabeça, sentindo uma sensação de enjoo tomar conta do estômago. – Que estranho. Quando ele mencionou seu nome para o pessoal do programa, eu tinha quase certeza que ele já tivesse discutido isso com você. – Ela deu de ombros. – De qualquer forma, eles estão ansiosos para ter você no programa. Eles acreditam que você chamará a atenção do público mais jovem. Dante inclinou a cabeça para trás e suspirou. Por que o avô dele não mencionara nada disso? Talvez Massimo não tivesse tido chance. Independentemente disso, a situação estava indo de mal a pior. O que viria em seguida? – Tenho certeza de que depois que eu explicar a eles a condição de seu avô, eles darão boas-vindas a um substituto mais novo e bonito. Ela o achava bonito? Ele endireitou-se na cadeira. – E se eu não concordar... – Até onde eu sei, existem penalidades monetárias caso o contrato não seja honrado. Não sou advogada, então seria melhor se você levasse o documento para um advogado dar uma olhada. Uma batalha judicial só atrasaria ainda mais a venda do ristorante. Sem mencionar que isso afastaria seu comprador em potencial – aquele com bolsos largos e interesse em manter o Ristorante Massimo como ele é. Dante olhou para o documento. – Se importa se eu ficar com o documento? – Tudo bem, é uma cópia. – Logo voltaremos a conversar. – Ele levantou-se. Dante tinha muito que pensar. Era hora de ir para casa. – Você terá que decidir logo, pois a equipe de filmagem chega daqui alguns dias. Ele cerrou os dentes. Concordar com a filmagem seria muito mais fácil e rápido do que um processo – isso se ele vencesse. Mas como ele iria conseguir trabalhar com Lizzie por dois meses, ignorando a maneira como o sorriso dela fazia sua pulsação acelerar? Ele era um italiano lindo de morrer, que gostava de mulheres. Ele apostava que Lizzie não estaria aberta a uma experiência casual e gratificante – e ele não iria envolver seu coração na história. Nada o convenceria a arriscá-lo – não depois da carnificina que ele testemunhara. Sem chance. ELE ESTAVA atraído por ela. Lizzie vangloriou-se secretamente. Não que algum deles fosse colocar em prática tal sentimento. Ela percebeu como Dante tentava manter a distância, mas seus olhos o traíam. Ela se perguntou se não seria por causa do programa de televisão. Ou haveria algo mais? Ela espiou as mãos de Dante e não encontrou nenhum anel, o que não significava que ele não tinha ninguém especial. Percebendo a implicação do que estava fazendo, ela desviou o olhar rapidamente. O que não teve um bom resultado, pois ela acabou deparando-se com aqueles olhos infindáveis. Ela então olhou para os ladrilhos pretos e brancos do chão. Com muito esforço, ela conseguiu ignorar Dante.


Envolver-se com ele seria tolice. Lizzie tinha as cicatrizes no coração para provar que o romance muitas vezes tinha um preço alto demais. Além disso, ela estava resoluta de que não conseguiria satisfazer as expectativas dele. Era mais fácil manter a distância, com um sorriso. E mais seguro. E era assim que ela planejava lidar com aquela situação. Dante limpou a garganta. – Bem, já que você chegou alguns dias antes, tenho certeza que vai querer fazer um tour pela cidade. Há muitas coisas para se ver e experimentar. – Ele a acompanhou até a porta da frente. – Não deixe de visitar o Coliseu e as catacumbas. – Não vejo a hora de dar uma volta. Esta é minha primeira viagem para a Itália. Na verdade, é minha primeira viagem a qualquer lugar. – Ela comprimiu os lábios para não deixar escapar mais nenhum outro detalhe de sua vida miserável. Nos anos em que passara nos lares adotivos, ela jamais imaginara que uma viagem dessas pudesse um dia ser real. – Eu começaria pelos museus do Vaticano. – Obrigada. Ele sorriu ao abrir a porta, e ela ficou surpresa ao ver como ele ficava verdadeiramente lindo ao baixar a guarda. Lizzie então olhou para a noite. – O apartamento fica para que lado? – Desculpe? – O apartamento. Massimo me disse que havia um lugar para eu ficar. – Disse? Ela assentiu, abrindo a bolsa e pegando uns papéis dobrados. – Tenho o e-mail – disse ela, entregando as evidências para ele. – Está tudo aqui. – Você realmente está preparada para tudo? Lizzie assentiu. Ela aprendera havia muito tempo que as pessoas raramente mantinham a palavra. Como a mãe dela, que prometera que iria fazer o que fosse preciso para resgatá-la do sistema público. No começo, Lizzie ia dormir todas as noites chorando pela única família que conhecera – a mãe negligente e pouco atenciosa. Por fim, a reunião entre mãe e filha nunca aconteceu. A mãe nunca conseguiu superar as drogas e o álcool, e Lizzie definhou no sistema. Ela crescera sabendo que podia confiar em apenas uma pessoa: ela mesma. Entretanto, no caso de Massimo, a quebra da promessa era totalmente compreensível. O coração dela apertou ao pensar naquele homem tão ativo sendo forçado a se aposentar. Ela esperava de verdade ter a oportunidade de encontrá-lo e agradecer em pessoa por ter tido fé nela. Era como se ele conseguisse enxergar a verdadeira Lizzie; durantes os momentos de dúvida, ele a acalmara e garantira que tudo sairia bem nos segmentos do programa. Ela olhou para Dante. Ele definitivamente não tinha a aura calma do avô. Na verdade, a presença dele deixava-a com uma energia inquietante. – Não há nenhum apartamento disponível. Ela estreitou os olhos. – Tudo vai ter que ser na base da briga? – Não estou tentando dificultar as coisas. Eu simplesmente não tenho nenhum lugar para você ficar. – Por que seu avô estava tão confiante de que eu iria me sentir confortável aqui? – Provavelmente porque havia um apartamento recém-reformado disponível, mas como eu não estava ciente do seu acordo com meu avô, eu acabei de alugá-lo. Mas tenho certeza de que você não


terá problemas para encontrar um hotel aqui por perto. Oh, sim, havia um grande problema. Ela não tinha dinheiro para alugar um quarto de hotel, e cada centavo do contrato com o programa já estava destinado à faculdade de Jules. – Foi garantido que eu teria acomodação gratuita. – O orgulho fez com que ela não compartilhasse com ele sua falta de dinheiro. Ele cruzou os braços e a encarou. – O que você quer que eu faça? Que eu lhe dê a minha cama? As palavras fizeram com que um turbilhão de imagens tentadoras dançasse na mente dela. Dante pressionando os lábios sedutores contra os dela. Seus dedos longos acariciando a bochecha dela antes de pousar sobre o pescoço dela. Ela se deixando levar pelos braços dele. – Lizzie, você está bem? – Os olhos de Dante estavam cheios de preocupação. Ela engoliu em seco, percebendo o que sua imaginação podia lhe render. – Hã, sim. Só estou com um pouco de jet lag. E esta noite foi bem agitada, andando de um lado para o outro. Os olhos dele examinaram-na com atenção. – Tem certeza que é só isso? Ela assentiu com a cabeça. De onde diabos saíram aquelas imagens de Dante? Não era como se ela estivesse à procura de um namorado. O último homem da vida dela fizera-a acreditar que cada um deveria ter seu próprio espaço, até o dia em que ele passou na casa dela para dizer que estava se mudando para a Califórnia, para seguir seu sonho de ser ator. Nada de “sentirei a sua falta”. Ou “quer vir comigo?”. – Eu gostaria muito de descansar. – E um pouco de distância de Dante a deixaria com a cabeça mais fresca. – Foi um longo dia, e meus pés estão me matando. Por acaso as bochechas dele estavam corando? Ele se sentia mal por tê-la posto para trabalhar? Talvez ele devesse se sentir mal, mas, honestamente, ela não se importava. Ela gostou de conhecer algumas das pessoas para quem vai cozinhar no futuro próximo. Isto é, se ela convencesse Dante de que o acordo poderia funcionar. – Colocar você para trabalhar foi um mal-entendido. Minhas desculpas. – Ele olhou pra o chão. – Eu lhe devo uma. – Desculpas aceitas. – Ela amava o fato de ele ter modos. – Agora, isso significa que você vai arranjar uma cama para mim?


CAPÍTULO 4

A PERGUNTA conjurou todos os tipos de cenários faiscantes. Dante refreou a imaginação hiperativa. Algo lhe dizia que o que movia aquela mulher linda era muito mais do que o desejo de estar na televisão ou de aprimorar suas habilidades na cozinha. Ele via em seus olhos certa cautela. Ele reconhecia o olhar porque era algo que ele já havia visto em seu irmão mais velho, após a morte trágica da jovem mãe deles. Era um olhar que a pessoa ganhava depois de levar uma rasteira da vida. Lizzie viajara para o outro lado do globo sem conhecer uma só alma, e, pela maneira determinada como ela se portava, não estava disposta a voltar para casa de mãos vazias. E não podia deixar de admirar a força dela. Ele só esperava que a sensação em suas entranhas em relação àquela mulher não estivesse errada. Seu avô, que sempre fora um bom juiz de caráter, gostava dela, mas isso não significava que Dante iria confiar nela inteiramente. Desde que sofrera o derrame, Nonno se encontrava em um mar de autopiedade. Dante estava ficando desesperado para trazer o avô de volta ao mundo dos vivos. E pilhá-lo com problemas não iria ajudá-lo nesse momento. – Você já terminou de me contar tudo? Sobre o acordo com meu avô. Ela assentiu. – Promete? Chega de surpresas? – Prometo. – Ela cruzou os dedos sobre o coração. Dante limpou a garganta ao forçar-se a erguer o olhar. – Acho que tenho um lugar para você ficar. – Mostre-me o caminho. Ele a levou por um corredor lateral até uma porta vermelha, com um cartão-chave. Dentro havia um pequeno e luxuoso lobby com um elevador e outra porta, que dava para as escadas. Ele fez questão de dar uma melhorada no prédio depois que ganhou as rédeas do restaurante. Isso foi o suficiente para atrair candidatos ávidos para alugar o apartamento, disponível desde que ele se mudara para o apartamento muito maior do avô. – Onde estamos indo? – Ela reparou nas mobílias novas do lobby.


– Há apartamentos acima do ristorante. Os olhos dela se acenderam. – Seu avô os mencionou. É onde ele pretendia me instalar. Eles são bons? – São bem bacanas. Quando as portas do elevador se abriram, ela parou e virou-se para ele. – Achei que você tinha dito que havia alugado o último. – Quer ver o que eu tenho em mente ou não? Ela assentiu antes de entrar. No confortável confinamento do elevador, o leve perfume floral de Lizzie envolveu e brincou com os sentidos dele. Se ela fosse qualquer outra pessoa, ele teria comentado sobre o perfume inebriante. Algo nela o fazia acreditar que ela era do tipo que queria mais do que uma noite – mais do que ele era capaz de oferecer. A ideia de se deixar apaixonar o deixou com as mãos suadas. Ele já havia testemunhado em primeira mão o poder do amor, e não fora apenas baladas românticas e rosas. O amor tinha força para esmagar uma pessoa, deixando-a quebrada e vagando com raiva pelo mundo. Ele colocou a chave no leitor e apertou o botão da cobertura. Só o leve zumbido do elevador podia ser ouvido. Em pouco tempo, as portas deslizaram, revelando um corredor de carpete vermelho. Ele a levou até a porta dele, adornada com emblemas dourados onde se lia PH-1. Dante destrancou a porta e a convidou para entrar. Os olhos azuis dela se arregalaram ao notar os pilares que suportavam o plano aberto da sala de estar e da cozinha. Ele havia mandado derrubar as paredes para criar uma área mais espaçosa. Ele apreciava a vida na cidade, mas o garoto da fazenda dentro dele sentia-se completamente preso. Embora o lugar não chegasse perto do lar da família dele na vinícola, o apartamento ainda era grande – grande o suficiente para duas pessoas coexistirem sem se esbarrarem. Pelo menos por uma noite. Ela caminhou pelo cômodo e parou ao lado do sofá de couro. – Você mora aqui sozinho? – Moro. Meu avô costumava morar aqui. Quando ele adoeceu, ele o deixou para mim. Fiz uma bela reforma. – Com certeza é um lugar bem espaçoso. Acho que eu me perderia em um lugar assim. – A pose rígida dela mostrava que ela estava tão desconfortável quanto ele. Ele não estava acostumado a ter companhia e, desde o derrame do avô, não tivera tempo para sua vida social. Na verdade, ele percebia que Lizzie era a primeira mulher que ele trazia ali. – Posso lhe oferecer alguma coisa? – perguntou ele, tentando aliviar a tensão. – Sim, você pode me dizer o que estou fazendo aqui. Ah, sim. Ele achou que era óbvio. – Você pode dormir esta noite aqui até conseguirmos esclarecer essa situação toda. – Ou seja, até você concordar com os termos do contrato. O maxilar dele ficou teso, bloqueando uma torrente de palavras raivosas. – Não me olhe como se esse fosse o fim do mundo. A câmera vai amar a sua beleza, isso sem mencionar as centenas de mulheres assistindo ao programa. Quem sabe, talvez você se torne uma estrela. Dante riu. Ele, uma estrela. Nunca. A simples expressão fez os olhos topázios dela se iluminarem. Ele limpou a garganta e foi para a cozinha. – Tem certeza que não quer nada para beber?


– Estou bem. Faz tempo que você mora aqui? Ele serviu-se de um copo de água bem gelada. O que ele realmente precisava era despejar o copo sobre a cabeça para tentar recobrar o juízo. – Moro aqui desde que me mudei para Roma. Eu tinha um apartamento menor antes de me mudar para cá. Você é minha primeira hóspede. O que achou daqui? Ele estava genuinamente curioso para saber a opinião dela sobre o apartamento. Ele o decorara ao estilo preto e branco, o que fora bem fácil. Mas, mesmo assim, ele achava que faltava alguma coisa, só que não conseguia descobrir exatamente o que era. – É... Bacana. – O tom dela era hesitante. Bacana? Os músculos do pescoço dele ficaram tensos. Quem falava “bacana”? Alguém que estava tentando ser educado quando na verdade estava tentando não ferir os sentimentos de outra pessoa. Ela se apoiou no sofá e esticou as pernas. Depois ergueu os braços sobre a cabeça e os alongou. Ele tentou ignorar como a blusa dela subiu, revelando um pedacinho da pele alva dela. Os pensamentos dele fugiram para a direção errada novamente. Desse jeito, ele iria precisar de um banho frio. Ele então resolveu olhar para o apartamento, tentando enxergá-lo do ponto de vista dela. Tudo era novo. Não havia um grãozinho de poeira – a empregada fora naquele mesmo dia. E ele era sempre uma pessoa organizada e limpa. Não havia sequer uma meia perdida por aí. – Você não gostou da decoração em preto e branco? – Ele queria mesmo saber. Talvez a resposta dela o ajudasse a descobrir o que estava faltando naquele lugar. – Já falei, eu gostei. – Mas “bacana” é o que as pessoas dizem para serem educadas. Quero saber o que está faltando. – Pronto, ele assumira. Havia algo faltando, e ele ia ficar maluco se não descobrisse logo o que era. Lizzie abaixou-se, abriu o zíper da bota e as descalçou. Ela flexionou os dedos, com as unhas pintadas de rosa, e os esticou como se fosse uma bailarina. Quando ela murmurou de prazer por estar livre das botas, ele achou que fosse perder a cabeça. Ele precisou de todas as forças para não sair do lugar. Dante virou-se de costas, tentando pensar no que fazer. Algo para mantê-lo longe dela. Porém, não havia nada para se fazer. Nenhuma louça suja na pia. Na verdade, ele passava muito pouco tempo ali – ele praticamente apenas pernoitava no apartamento. No resto do tempo, estava no ristorante ou na vinícola, ao lado do avô. – Sabe o que está faltando? – A voz dele lhe chamou a atenção. Ele virou-se e tentou ignorar como a saia dela havia subido ainda mais. – O quê? – Não há fotografias. Achei que eu veria uma de você com seu avô. Dante olhou ao redor, percebendo que ela estava certa. – Sinto muito. Todas as fotos estão na casa da minha família. – Eles moram longe daqui? Ele deu de ombros. – É uma boa viagem de carro, mas não é muito longe. Gosto de ir para lá nos fins de semana. – Mas o restaurante não abre nos fins de semana? – No sábado, mas ele fecha aos domingos e segundas-feiras. Meu fim de semana não é tradicional. – Entendi. E seu avô, ele está com sua família? Dante assentiu. – Ele mora com meu pai e meu irmão mais velho.


As sobrancelhas dela se juntaram, mas ela não disse nada. Ele não podia evitar a curiosidade sobre os pensamentos dela. Tudo naquela mulher o deixava curioso. – O que você está se perguntando? Ela balançou a cabeça. – Nada. – Vá em frente. Pode falar. – Você mencionou vários homens. Não há nenhuma mulher? – Temo que não. A menos que você conte as minhas tias, que não moram lá, mas que passam tanto tempo na vinícola que é como se morassem. – Ele não queria oferecer uma explicação detalhada sobre a falta de mulheres na vinícola. Ele tinha certeza de que os homens da família DeFiore estavam destinados a envelhecerem sozinhos. – Parece uma família grande. – Esse é o eufemismo do século – disse ele, ansioso para mudar de assunto. – Bom, nós deveríamos dormir. – Tem certeza de que quer que eu fique aqui? Seus olhares se conectaram. Além da beleza, havia algo mais que chamava a atenção dele – certa vulnerabilidade. Naquele instante, ele queria tomá-la em seus braços e beijá-la até fazê-la se esquecer dos problemas. Lizzie então desviou o olhar, quebrando o encanto. Será que ela estava pensando a mesma coisa? Será que ela também sentia a força da atração? – Vou sobreviver. Afinal, você disse que meu avô concordou com isso. Há alguns quartos de hóspedes no corredor. – Ele apontou para a direita e, por questão de bom senso, acrescentou: – E a suíte principal fica à esquerda. Há espaço suficiente para nós dois. – Minha bagagem ainda não chegou. Não tenho nada com que dormir. – Posso emprestar alguma coisa. Logo após dizer isso, o interfone tocou. Depois de atendê-lo, Dante anunciou: – Bem, você não precisa mais se preocupar. Suas malas acabaram de chegar. Ela sorriu. – Que ótimo! Ele sentiu uma pontada leve de decepção. O que diabos havia de errado com ele? Por que ele deveria se importar se ela dormira com uma de suas camisetas, ou não? Obviamente, ele estava mais cansado do que imaginava.


CAPÍTULO 5

LIZZIE SORRIU e alongou-se, como um gato que passara a tarde cochilando ao sol. Ela examinou os arredores novos, reparando nos raios de luz que entravam pelas cortinas brancas. Depois de esfregar os olhos, ela procurou pelo celular – e ficou chocada ao perceber que já se passara metade da manhã. Ia demorar um pouco para seu relógio biológico se ajustar. Na noite passada, ela estava tão cansada que quase não conseguiu mandar uma mensagem de texto para Jules, avisando que chegara bem. Aquela era a primeira vez na vida que elas iriam passar tanto tempo longe uma da outra, e Lizzie já sentia falta da irmã adotiva, que também era sua melhor amiga. Ainda era muito cedo em Nova York para ligar para ela, todavia. Ela não se surpreendeu ao reparar na decoração em preto e branco do quarto. Aquele homem podia ser lindo de morrer, mas, em matéria de decoração, ele não tinha muita imaginação. Aquele lugar precisava mesmo é de um toque feminino. Ela pensou no comentário dele, sobre ela ser sua primeira hóspede. Ela achou surpreendente. Por algum motivo, ela imaginava que um homem sexy e charmoso como ele teria uma mulher em cada braço. Talvez a fala sedutora e o sorriso devastador não fossem as únicas coisas que ele tinha a oferecer. Como seria o verdadeiro Dante? Sossegado e paquerador? Sério e viciado em trabalho? Ela parou e ficou atenta a qualquer som dele. Porém, em um apartamento tão grande, ela duvidava que fosse ouvi-lo na cozinha. Ela apostava que seu apartamento inteiro em Nova York caberia naquele quarto. Ela jamais havia estado em uma casa tão espaçosa como aquela. Não que ela fosse ter tempo de se acostumar a ele, Dante com certeza teria um plano para tirá-la de sua vida e do restaurante de vez. Depois de um banho, ela prendeu o cabelo em um rabo de cavalo simples e vestiu um par de jeans pretos de designer – que a moça da loja de segunda mão lhe garantiu que estava na moda. Ela vestiu então uma camiseta branca com strass formando uma carinha feliz – algo divertido, pois ela apostava que precisaria disso ao longo do dia. Haviam decisões a serem tomadas. Ao encontrar a sala deserta, ela lembrou-se da conversa deles de ontem. O restaurante estava fechado. Onde ele poderia estar? – Dante? – Nada. – Dante? – chamou mais uma vez, mais alto. De repente, ele surgiu no corredor que levava à suíte máster. – Desculpe, não ouvi você. Faz tempo que acordou?


Ela balançou a cabeça. – Meu corpo ainda está no horário de Nova York. – Eu falei com meu avô. Lizzie sentiu um aperto no peito. – O que ele disse? Dante parou, aumentando ainda mais a ansiedade dela. – Ele não disse muita coisa. Estou me aprontando para ir me encontrar com ele. Ela esperou que Dante a convidasse. Quando ele não o fez, ela acrescentou: – Você falou que a vinícola não é longe, correto? Ele assentiu. – A uma hora de carro da cidade. Ela olhou para a janela alongada. – Está um dia lindo para dirigir. Ele não disse nada. Por que ele não estava entendendo a indireta? Ela resistiu à vontade de bater o pé de frustração. Talvez ela devesse tentar uma abordagem diferente – mais direta. – Eu gostaria de conhecer seu avô. Dante balançou a cabeça. – Isso não vai acontecer. Ah, não. Ela não ia desistir com tanta facilidade. – Por que não? Quando conversamos por telefone, ele estava muito animado para a minha chegada. – Muitas coisas mudaram desde então. – Dante pegou as chaves em cima da bancada da cozinha. – Não seria uma boa ideia. – Você ao menos chegou a falar para ele que eu estava aqui? – Eu apenas comentei. O que ele estava escondendo? – E vocês discutiram o contrato? – Não. – Ele tivera uma noite ruim, e estava agitado pela manhã. – Achei que seria uma boa ideia não falar ainda do que aconteceu ontem. – Ele xingou baixinho, foi até a porta e pegou sua mochila. Ele estava partindo sem ela. A decepção a invadiu. Ela simplesmente não conseguia se livrar do desejo de conhecer o homem que era sua imagem ideal de um avô. Porém, ela não podia contar isso a Dante. Ele acharia que ela era uma lunática sentimental – e ela não poderia culpá-lo por isso. Como ela explicaria para alguém que crescera em uma família grande e amorosa, com pais e avós, o vazio que havia no coração dela? Massimo insistira que o plano dela iria funcionar, com absoluta certa. E ela mal podia conter a vontade de conhecê-lo e agradecer pelo encorajamento. – Leve-me com você. Prometo que não direi nada que possa perturbar seu avô. Dante a encarou como se quisesse avaliar a sinceridade de Lizzie. Ela lhe lançou um olhar de súplica. Sob a intensidade daquele olhar, as entranhas dela reviraram. Mas ela se recusou a retroceder. – Embora ele insista em conhecê-la, eu a deixarei para trás se sentir que não posso confiar em você. – Então ele quer me conhecer. – Desta vez ele sorriu. – Não fique animada. Ainda não me decidi. É uma viagem um pouco longa, sabe.


O que significava que Dante não gostava da ideia de ficar muito tempo sozinho com ela. Para ser honesta, ela não podia culpá-lo. Ela basicamente surgira na vida dele do nada, sem absolutamente nenhum aviso. Como ela esperava que ele reagisse? Porém, mais uma vez, ela notou a forma como ele a encarava. Como se ela fosse um sorvete em um dia escaldante de verão, e ele mal pudesse esperar para lambê-la. Para falar a verdade, ela tivera pensamentos semelhantes sobre ele. Lizzie afastou aqueles pensamentos. Em sua experiência, os homens só queriam saber de algo descomplicado e passageiro, e ela não conseguia separar seu coração de sua mente. Era muito mais fácil manter-se a distância. – Pode confiar em mim – pediu ela. – Não vou chatear Massimo. – Eu não sei... – Se você não quiser me levar, então me passe o endereço. Eu me virarei para chegar até lá. Não que ela tivesse alguma ideia de como chegar do ponto A ao ponto B sem um veículo, mas estava certa de que havia transporte público na Itália. Agora, Dante não ia mais impedi-la de conhecer Massimo. DANTE ODIAVA ser posto naquela posição. Naquela manhã, quando ele ligara para o avô para saber se ele concordara em fazer o segmento de televisão, o avô voltara à vida a menção do nome de Lizzie. Não querendo desapontá-lo, ele disse: – Você pode vir, sob uma condição. A esperança se acendeu nos olhos dela. – Diga. – Ninguém falará sobre o contrato ou o programa de culinária neste fim de semana. – Mas a equipe de filmagem chegará na terça de manhã, esperando começar a filmar antes do restaurante abrir. O que vamos fazer? Ainda não decidimos como proceder. – Deixe que eu lide com eles. – Ele já havia ligado para seu procurador naquela mesma hora, mesmo sendo fim de semana. Ele estava disposto a pagar as taxas exorbitantes se isso acabasse com aquela bagunça. Ela estreitou os olhos. – Você vai quebrar o contrato, não vai? – E por que eu não faria isso? Eu nunca concordei em desperdiçar dois meses de minha vida. – Mas eu... Não posso pagar de volta o dinheiro. – Que dinheiro? Ela caminhou até a janela, com vista para a rua. – Eles me deram um adiantamento. E eu já o gastei. E não posso pagá-los de volta. Isso não era problema de Dante. Porém, a consciência dele não o deixaria em paz – afinal de contas, Lizzie não era uma pessoa má. Quando ela sorria, era como se uma lâmpada de mil watts se acendesse. Mas quando abria a boca – bom, a história era outra. Ela sabia instintivamente como mexer com ele. Quando o silêncio tenso se prolongou, ele acrescentou: – Está certo, você venceu. Eu vou confiar que você não vai bancar a coitadinha na frente do meu avô se você confiar que eu não vou tomar nenhuma ação legal sem antes consultar.


Por que ele tinha a sensação de que estava saindo perdendo naquele acordo? Para um homem acostumado a ter tudo do seu jeito, aquilo era muito inquietante.


CAPÍTULO 6

ISSO A impressionaria. Dante dobrou a esquina lentamente com seu carro esporte vermelho recém-encerado e aproximou-se da entrada do ristorante. Lizzie estava parada na calçada com uma mochila em um ombro. Ela pareceu não notá-lo. A luz do sol criava um brilho reluzente ao redor do cabelo dourado. Ele se perguntou se Lizzie tinha noção do como a beleza dela chamava atenção. Algo lhe dizia que não. Sem pensar no que estava fazendo, ele parou o carro e pegou o smartphone para tirar uma foto dela. Foi só quando recolocou o aparelho sobre o painel que ele percebeu como estava sendo tolo, como uma criança com uma queda pela garota mais popular do colégio. Naquela época, ele era muito inseguro, sem saber como se portar perto das garotas. Isso mudara quando ele fora morar em Roma, longe do pai e do irmão. Ele tornou-se mais confiante. Seu irmão mais velho sempre teve jeito com as mulheres... Porém, Stefano só tinha olhos apenas para uma garota, desde os tempos de escola. Eles foram um casal lindo até tudo terminar devastadoramente. As lembranças trouxeram Dante de volta à realidade. Depois de estacionar perto de Lizzie, ele se ofereceu para pegar a bolsa dela, mas ela se recusou a soltá-la. Na verdade, agarrou a alça com mais força. Que estranho! – Só quero colocá-la no porta-malas. Como você vê, o carro é bem compacto. Ela lhe lançou um olhar hesitante antes de entregar a mochila. Ele ficou surpreso como ela era leve – nunca conhecera uma mulher que não precisasse levar até a pia da cozinha para um pernoite. Lizzie era diferente de várias formas. E agora era a chance de Dante impressioná-la com seu maior orgulho. Sempre que queria causar uma impressão infalível em uma mulher, ele pegava o Red. Ele batizara o carro não só por causa da cor, mas porque o nome implicava uma atitude implacável – e era assim que ele se sentia atrás do volante. – Pronta? – perguntou ele depois que ela ocultou os olhos expressivos atrás de um par de óculos escuros. – Sim. Estou surpresa por você escolher dirigir. – E por que eu não dirigiria? – Ele acelerou só porque podia e porque amava o ronco do motor. Quem reclamaria de dirigir uma máquina daquelas? Ele sonhara com um carro poderoso a vida toda, mas seu pai o fizera esperar até ter seu próprio dinheiro, longe de sua herança. Na época, ele ficara


bravo por causa da atitude do pai, mas agora Dante era grato pelo desafio. Ele aprendera uma lição importante: que era capaz de conseguir qualquer coisa se fosse determinado. Até seu pai ficara impressionado com o carro, por mais que não tenha falado muito. Dante vira nos olhos dele ao levá-lo pela primeira vez à villa. Lizzie ajustou o cinto. – Li em algum lugar que as pessoas utilizam muito o transporte público aqui. Ele olhou para ela ao diminuir a velocidade em uma placa de Pare. Ela estava falando sério? Ela preferia o trem àquele carro? Impossível. – Achei que o carro seria mais conveniente. – Ah. Certo. E você sempre passa pelas placas de Pare? – O quê? – Havia uma placa de Pare ali atrás. Você não a viu? – Claro que sim. Você não notou que eu diminuí e verifiquei se não havia ninguém passando? – Mas não parou. – Você sempre segue as regras estritamente? – Depende. O silêncio recaiu sobre eles enquanto Dante trafegava para fora da cidade. De vez em quando, ele dava uma espiada em Lizzie, que mantinha o rosto virado para a janela. Os pneus davam solavancos sobre as estradas de tijolos conforme a cidade ia ficando para trás. Ele nunca fora a Nova York, e não podia deixar de imaginar se ela era mais bonita do que Roma. Por sorte era domingo, e as estradas não estavam congestionadas. Logo eles deixaram a cidade. Agora era a chance de Dante descobrir mais sobre Lizzie antes de ela conhecer o avô. Sua intuição lhe dizia que ela estava escondendo muitas coisas, e era seu dever garantir que o avô não tivesse surpresas desagradáveis. Para Dante, seu interesse era legítimo, e não tinha nada a ver com a história não contada por trás do olhar triste que surgia nos olhos dela quando achava que ninguém estava vendo. – Você é de que parte de Nova York? De canto de olho, ele a viu virar a cabeça rapidamente. – Do Bronx. Por quê? – Por curiosidade. Como vamos passar algum tempo juntos, achei interessante nos conhecermos um pouco melhor. Houve um instante mordaz de silêncio entre eles, como se ela estivesse decidindo se aquela era uma boa ideia ou não. – E você foi criado no vinhedo que vamos visitar? – Sim, fui. Ele está na nossa família há gerações e foi crescendo com o tempo. Agora, nosso vinho é bem conhecido na região. – É um legado impressionante. E como você terminou em Roma, ajudando seu avô? Como aquela conversa mudou totalmente de foco? Eles deveriam estar falando sobre ela – e não ele. – É uma longa história. Mas eu sempre gostei de trabalhar ao lado dele. Nunca vou me esquecer do tempo que passei no Ristorante Massimo. – Você fala como se estivesse partindo. Dante segurou com força o volante. Ele precisava tomar mais cuidado com o que dizia. Ele conseguia sentir o olhar curioso dela, esperando que ele afirmasse ou negasse suas suspeitas. O que ele não podia


fazer – ele ainda não contara à família que estava planejando vender o restaurante. Havia sempre uma desculpa ou outra para adiar o anúncio. Mas agora ele estava ficando sem tempo. Precisava da bênção do avô para incluir as receitas da família na venda. Outro motivo pelo qual ele hesitava em trazer à tona o assunto era que ele sabia que seu pai usaria mais isso contra ele. O pai sempre o culpara pela morte da mãe de Dante, durante seu parto. Embora Dante soubesse que não fora responsável, ele ainda sentia culpa por ser parte da tristeza do pai. Dante não conseguia se lembrar de ver o pai sorrindo. Nem uma única vez. Com o passar dos anos, todavia, o homem pareceu ter mudado – suavizado. Mas será que isso era suficiente para reconstruir o relacionamento deles? – Dante, você está planejando deixar o restaurante? É por isso que você está hesitante em me ajudar? Por que aquela mulher conseguia ler sua cabeça tão bem? Bem até demais. – Por que você diz isso? Antes que ela pudesse responder, o carro foi tomado por uma música. – Ah, não! – Lizzie mergulhou dentro de sua bolsa preta imensa, que estava entre as pernas dela. – Algo errado? – Eu disse para minha irmã me ligar, caso houvesse uma emergência. – Com o celular na orelha, ela parecia estar sem fôlego. – Jules, o que foi? Dante percebeu que o rosto de Lizzie ficara pálido. Na maior parte do tempo, quando estava em público, ele ficava frustrado quando as pessoas estavam com o telefone tão alto que dava para ouvir os dois lados da conversa. Lizzie obviamente também não gostava disso e, por isso, baixou rapidamente o volume. Tudo que ele conseguia ouvir era ela dizendo: “Ok”... “sim”... “Humm... Humm”. Quando ela começou a gesticular enquanto falava, Dante não sabia o que fazer. – Ele não pode fazer isso! Quem não podia fazer o quê? Era um namorado? Acontecera algo de errado com a irmã dela? A hipótese de Lizzie ter um homem esperando por ela em Nova York o deixava inquieto. Por fim, Lizzie desligou e recostou-se no banco de couro. Ele não sabia o que dizer e nunca fora bom com mulheres aflitas. Dante sempre preferia manter as coisas leves e casuais. Incapaz de resistir ao suspense, ele perguntou: – Problemas com seu namorado? – Que nada. Não tenho um. Ele respirou melhor. – Mas há alguma uma emergência? – Depende. Você considera uma emergência ser despejada do apartamento? – Isso é sério? – Aquele homem é tão mesquinho que venderia a própria mãe para conseguir alguns dólares. – Quem é mesquinho? – O proprietário. Ele está transformando o prédio em condomínio. Dante estava realmente triste pela situação de Lizzie. Ele não conseguia imaginar o que era ser jogado fora de casa. – Quer que eu retorne? Ela o encarou, erguendo as sobrancelhas.


– Por que você faria isso? – Para você pegar um voo de volta a Nova York. – Não vai ser necessário. Não vai ser necessário. Se ele estivesse sendo despejado, ele sairia correndo para achar outra casa. O que ela estava ocultando? – Você não precisa descolar um novo lugar para morar? Não acho que seja fácil achar outro lugar em uma cidade tão populosa. – Está tentando se livrar de mim? – O quê? – Seu tom era cheio de indignação, mas uma pontada de culpa o percorreu. – Só estou preocupado. – Bem, pois se acalme. O proprietário nos deu tempo de sobra. – Mesmo? – Os olhos dela se estreitaram enquanto ele balbuciava uma desculpa. – Eu... digo... Que ótimo. Mas será que é tempo suficiente? – Nossa, você está mesmo preocupado com meu bem-estar. Será que é por que essa pode ser a sua chance de se livrar do acordo? – Não. – A palavra saiu muito rápido. – Certo, isso até passou pela minha mente, mas eu não gostaria que acontecesse às custas de um despejo. Ela riu. O som mexeu com os nervos dela. – O que é tão engraçado? – O olhar de culpa em seu rosto. É fofo. Como um garotinho pego com a mão em um pote de biscoitos. Que beleza. Agora ele fora reduzido a um mero garotinho. Mas que belo golpe no ego de um cara. – Então você não está brava comigo? – Ele olhou de soslaio enquanto ela balançava a cabeça. – Não posso culpá-lo por querer uma solução fácil para nosso problema. E depois de ver como você se preocupa com seu avô, percebi que você não é do tipo que se diverte com o azar dos outros. Nossa, ele estava realmente impressionado com a maneira como ela o interpretara. Mas isso não compensava o comentário sobre o garotinho. O orgulho dele ainda estava ferido. Depois de alguns momentos de silêncio, ele pegou uma entrada particular na estrada. – Chegamos. Está pronta?


CAPÍTULO 7

ELA ESTAVA mais do que pronta para aquela aventura. Lizzie olhou as colinas verdes e fileiras de vinheiras que passavam pela janela. A beleza daquele lugar merecia ser apreciada. Será que existia um lugar mais pitoresco do que aquele? Ela duvidou. Claro, estar em um carro incrível, sendo conduzida pelo homem mais sexy do mundo também ajudava. Mas ela se recusava a deixar que Dante soubesse o quão cativada ela se encontrava por ele. Ela não podia dar a ele mais essa vantagem – eles tinham um contrato para fazer valer. Eles pararam diante de uma villa espaçosa no topo de uma colina com vista para o vinhedo e o olival que se esparramavam até o horizonte. A frente verde-limão da casa era adornada pelo telhado vermelho e as persianas azuis nas janelas. A estrutura de três andares passava a Lizzie uma aura alegre. O olhar dela pousou em uma varanda espaçosa com mesas e cadeiras azuis e brancas, que davam um toque atrativo. Que lugar perfeito para relaxar e desfrutar da brisa quente e bebericar uma limonada geladinha. – É aqui que você mora? Dante desligou o motor. – É onde minha família mora. – Que lugar grande. – Tem que ser, para acomodar tantas gerações. Cada uma delas expandiu ou acrescentou uma parte nova na casa. Ela gostou especialmente das sacadas individuais e pôde facilmente se imaginar tomando seu café da manhã ali enquanto Dante lia seu jornal. – Não conseguindo imaginar como seria chamar esse lugar de lar. – É um pouco sufocante. – Sufocante? Você não pode estar falando sério – disse ela, voltando-se para os campos sem fim. Ele deu de ombros. – Quando você tem tantas pessoas de olho em você constantemente, pode ser. – Mas só moram aí seu avô, seu pai e seu irmão, não é? – Você está se esquecendo de todas as minhas tias, tios e primos. Eles dão uma passada aqui todos os dias. Na verdade, a mesa de jantar comporta doze pessoas, e nunca há nenhuma cadeira vazia. Eles


nunca aprovaram o fato de meu pai não ter se casado novamente. Então, eles sempre tomaram cuidado para que meu irmão e eu tivéssemos sempre a influência feminina. – E funcionou? – Acho que ajudou. Só sei que era irritante estar o tempo todo esbarrando em algum parente. Ela franziu o cenho. – Você deveria ser grato por eles se importarem tanto! Ele arregalou os olhos ao ouvir o tom agitado dela. – Eu... sou grato. Mas ela não acreditou nele. Ela não conseguia nem imaginar como seria maravilhoso ter uma família. Para ele, era algo garantido, e não havia motivos para ele contar suas bênçãos. – Nem todo mundo tem a sorte que você teve. – Dito isso, ela saiu do carro, não querendo mais ouvir como era difícil Dante lidar com os parentes. Ele era a pessoa mais sortuda que Lizzie conhecia. Ele era um pouco mais velho que ela e já tinha um restaurante de sucesso. Sem mencionar o apartamento de deixar qualquer um de queixo caído. Ela, por outro lado, estava afundada em dívidas. E sem o dinheiro do programa de televisão, ela não sabia como iria sobreviver. E como ela explicaria isso para ele? Como ele entenderia o lado dela, quando ele nem sequer conseguia apreciar o que tinha? Ela já conhecera pessoas como ele antes – especificamente um cara, na faculdade. Ele era filho único e mimado. Ele achou que tinha entendido o que era a dureza da vida quando precisou comprar um carro usado para substituir o carro zero que ganhara dos pais – carro que ele destruíra enquanto festejava com os amigos. Lizzie prendeu um gemido de frustração. Dureza era escolher entre pagar o aluguel ou comprar comida. Era melhor tomar cuidado com suas emoções, do contrário, Dante logo descobriria seu passado. Ela não queria que ele tivesse pena dela, como se ela fosse menos do que qualquer outra pessoa só porque sua mãe não a amara o suficiente e porque seu pai era um homem sem rosto, sem nome. O ar ficou preso nos pulmões dela. Ela odiava o fato da presença de Dante estar despertando todos aqueles sentimentos de inadequação. Ela os enterrara havia muito tempo. Ir para o vinhedo com ele fora um erro. Seu sonho de descobrir como seria ter um avô – uma família – estava abrindo a Caixa de Pandora de seu passado. O QUE ele dissera de errado? Dante saiu correndo do carro, mas parou. Ela estava de costas para ele, com os ombros rígidos e a cabeça erguida. Ele não queria travar uma batalha com ela. Especialmente ali, onde a família dele podia aparecer a qualquer momento. Porém, mais do que isso, ele não tinha ideia do que fizera de errado. Ele só podia esperar que as coisas se acalmassem entre eles antes que a vô dele aparecesse. Ele não queria dar aos parentes a impressão de não saber lidar com uma dama. O pai dele já jogava muitas coisas na cara dele, e a lista não precisava aumentar. Ele deu a volta no carro e parou diante dela. – Ei, não sei o que disse de errado, mas sinto muito. Você deve sentir muita falta de sua família. Ela baixou a cabeça, encolhendo os ombros.


– Sou eu que preciso pedir desculpas. Acho que ouvir a voz da minha irmã me fez perceber que ainda falta muito tempo para eu revê-la. Nós nunca ficamos tanto tempo separadas. Então era isso. Ela estava com saudade de casa. Algo totalmente compreensível. Talvez a família dele pudesse ajudar com isso. Eles com certeza eram um bando de gente amigável e tagarela – mesmo que fossem um pouco exagerados, às vezes. – Por que não entramos? Tenho certeza que meu pai e meu irmão estão no campo. Mas meu avô estará aqui em casa. Sem mencionar uma ou duas tias. Ela sorriu. – Obrigado por me incluir. Estou realmente animada para conhecer sua família. – Eles também estão ansiosos para conhecer você. – Eles sabiam que eu vinha? – Quando ele assentiu, ela continuou: – Você fez parecer que havia planejado tudo sem a minha presença. – Eu tinha, mas meu avô teve outros planos. Ele insistiu para que eu a trouxesse. Ele contou para a família enquanto eu estava no telefone. – Você realmente teria me deixado para trás se não tivesse concordado em não mencionar o contrato? Dante deu de ombros. – Acho que jamais saberemos. Só lembre-se do nosso acordo. Os olhos dela se acenderam de indignação. Mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, eles ouviram passos no cascalho. – Dante, quem é sua convidada? Ele não precisou se virar para reconhecer o irmão mais velho, Stefano. O filho que não fazia nada de errado. Ele morava na villa e ajudava seu pai com a vinícola, como é esperado dos homens da família DeFiore. Mas o que ninguém levava em consideração era que Stefano sempre se dera bem com o pai. Não era ele que o pai considerava responsável pela morte da esposa. Dante virou-se. – Stefano, esta é Lizzie. Stefano deu um passo adiante e, quando ela estendeu a mão, ele a pegou e a beijou. O sangue de Dante fervilhou. O que o irmão estava fazendo? Não era ele o viúvo desamparado? Não que ele desejasse que o irmão fosse infeliz pelo resto da vida. Porém, Stefano parecia certo de que permaneceria um homem solitário para o resto da vida... O que parecia ser o destino de todos os homens DeFiore. Dante aprendera muito com a família, especialmente para se manter longe das mulheres. Ele não tinha intenção alguma de envolver-se amorosamente. Enquanto Stefano conversava com Lizzie, Dante notou como o rosto dela iluminou-se. Ele engoliu a agitação. – Nonno está em casa? Stefano virou-se para ele. Sua conduta tornou-se totalmente estoica – mais como a do irmão que ele conhecia. – Claro. Onde mais você queria encontrá-lo? Dante revirou os olhos e foi para a casa. Ao perceber que Lizzie ficara para trás com o irmão, ele acenou para que ela o seguisse. Ela lançou um sorriso para Stefano – um sorriso grande, genuíno e de orelha a orelha, que iluminou o mundo. O queixo de Dante caiu.


Por que ela nunca estava feliz assim na presença dele? Por que ele era tão reservada, tão fechada? Afinal de contas, ele também era um cara legal. E com certeza ele não havia perdido o jeito com as mulheres. Talvez ele devesse se esforçar mais. – Meu avô já deve estar impaciente. Vamos vê-lo. Lizzie manteve o sorriso, e ele se perguntou se aquilo fazia parte do acordo, para manter o clima agradável. Ou talvez fosse a felicidade de ter conhecido o irmão dele, o sr. Alto, Moreno e Sedutor. Não que Dante estivesse com ciúmes da mulher que estava ameaçando a venda que ele vinha tentando finalizar havia semanas. Eles chegaram à sala. – Nonno. A cabeça grisalha do avô dele ergueu-se sobre o jornal. Com um sorriso torto nos lábios. Dante suspirou por dentro pelo efeito que tinha nos homens da família dele – eles encaravam-na como se ela fosse uma estrela de cinema. Bem... Ela era bonita o suficiente para tal. Ainda assim, eles não precisavam se comportar como se nunca tivessem visto uma mulher bonita antes. – Venha aqui. – A voz de nonno ficara um pouco arrastada depois do derrame. Sem hesitar, ela caminhou e parou diante da cadeira dele. Então aconteceu algo que pegou Dante totalmente de surpresa: ela abaixou-se e abraçou o avô dele. Não era como se eles se conhecessem havia muito tempo. Como isso acontecera? Os dois conversaram enquanto Dante sentou-se no sofá. Era como se os dois nem sequer tivessem percebido a presença dele ali, enquanto ele via nitidamente que Lizzie tivera um efeito animador no avô. Na verdade, era a primeira vez que Dante via o avô feliz desde que fora forçado a se aposentar. – Então foi por isso que você mudou de ideia sobre nos visitar neste fim de semana? – O pai de Dante entrou na sala e parou no sofá antes de acenar para Lizzie. Dante instintivamente seguiu o olhar do pai até a mulher que transformara sua vida em um turbilhão. – Ela conhece nonno. E me pediu para trazê-la até aqui. O pai dele assentiu. – Se eu tivesse uma distração como essa, talvez eu ficasse pela cidade, mesmo. Afinal, é muito mais fácil divertir-se com uma mulher linda do que realizar o trabalho árduo e necessário para manter a vinícola da família. Dante retesou o maxilar. Não importava o que ele dissesse, nada parecia satisfazer seu pai. Algumas coisas nunca mudavam. – Pelo menos você tem bom gosto. – Foi o mais perto que o pai dele chegou de lhe fazer um elogio. – Lizzie e eu trabalhamos juntos, só isso. O pai lhe lançou um olhar que dizia “você está louco?”. Dante não ia discutir com aquele homem – isso não iria mudar nada. Dante jamais satisfaria as expectativas do pai – não como Stefano sempre fizera. Só uma única fez, ele gostaria que o pai lhe desse um tapinha nas costas, dizendo que ele fez alguma coisa certa – algo de bom. Dante sentou-se no sofá, tenso. Nem as indiretas do pai eram suficientes para fazer com que ele saísse da sala. Ele disse para si mesmo que era apenas para ficar de olho em Lizzie e no avô, pois não haveria outro motivo. Diferente do resto da família, ele era imune aos encantos dela. Claro, ele sabia como desfrutar da companhia de uma mulher. De seus sorrisos. Da risada. Do toque. Mas as coisas paravam por aí. Ele se recusava a tornar-se vulnerável, pois já vira muita dor em sua vida.


Isso não ia acontecer com ele. A palavra que começava com A não valia os riscos impressionantes.


CAPÍTULO 8

– ESTE LUGAR é incrível. Lizzie não se deu ao trabalho de esconder o entusiasmo ao examinar a espaçosa sala de estar, com seu teto alto e dois pares de portas duplas de vidro que deixavam a luz da tarde entrar. Ela trocaria seu apartamento no Bronx em um piscar de olhos por aquele retiro tranquilo. – Amei este lugar. É muito diferente da vida na cidade. – É diferente. – As palavras de Massimo lhe chamaram a atenção. – Meu neto está lhe tratando bem? Ela pensou no primeiro encontro deles. Porém, ela não tinha certeza se Massimo ia achar engraçado o fato de Dante tê-la colocado erroneamente como recepcionista em seu primeiro dia. Ela optou por deixar isso para depois. Ela olhou para o outro lado, onde Dante fingia estar lendo uma revista de culinária. – Sim. Ele... tem sido um cavalheiro. Massimo a encarou com um olhar zombador. – Meu neto é um bom homem. Ele sabe muita coisa. Faça-o ensiná-las para você. Ela achou a escolha de palavras dele um tanto peculiar. Ou o homem queria manter as frases breves, ou ele sentia que as coisas entre ela e Dante não estavam indo tão bem assim. – Pode deixar. Só gostaria que o senhor pudesse estar lá. Eu realmente estava ansiosa para trabalhar ao lado de uma lenda. Massimo tentou sorrir, mas um lado de seu rosto não quis cooperar. Aquilo apertou o coração dela. Ela não tinha ideia de como deveria ser ruim quando seu corpo não respondia aos seus comandos. Além disso, o rosto daquele senhor gritava exaustão. O cantinho do coração dela dedicado a Massimo cresceu exponencialmente. – Eu vou deixar o senhor descansar. Ela estava prestes a sair quando a mão dele a segurou. O aperto não era doloroso, mas forte. Foi o olhar dele que a deixou de coração partido. – Prometa-me que não vai desistir. Prometa que fará valer nosso acordo. – Mas... – Ela quase contou que Dante era contra a ideia. – Farei o melhor que puder. – Era tudo que ela podia lhe oferecer. – Meu neto precisa de alguém como você.


NA MANHÃ seguinte, Lizzie saiu para correr. Ela não queria perder nenhum minuto de seu tempo na villa. A grande bola laranja brilhante ainda estava baixa no horizonte. Ela parou na soleira da porta da cozinha com uma xícara fumegante de café preto. Ela olhou para além da velha cerca de madeira, para os campos infinitos de uvas. Os raios dourados davam às fileiras e mais fileiras de vinhas uma beleza única. Ela jamais estivera em um lugar tão amplo. Lizzie desfrutou do sossego que a cercava, algo que ela achava realmente incrível. Geralmente, suas noites eram repletas de sonhos inquietos e seus dias cheios de correria, fazendo isso e aquilo. Mas ali, ela podia parar e respirar – sem fazer nada. Seus pensamentos voltaram para a conversa incomum que ela tivera com Massimo. Por acaso o homem era algum tipo de casamenteiro? E por quê? Ele mal conhecia Lizzie. Como ele podia saber que ela seria boa para ele? E por que Dante precisaria dela? As perguntas seguiram uma depois da outra. A parte mais frustrante era não ter resposta para nenhuma delas. Dante continuava sendo um mistério para ela. Desde o instante em que havia chegado, ela notara que nem tudo era perfeito na vida de Dante. Embora ela não tivesse ouvido a conversa entre pai e filho, vira claramente o olhar sombrio de Dante ao falar com o pai. Definitivamente, havia certa distância entre ele e a família. Foi por isso que Massimo achou que ela poderia ajudar Dante? Mas como? O que ela sabia sobre as engrenagens de uma família? Ainda assim, ela não conseguia parar de pensar nos eventos da noite anterior. Quando a família dele começou a conversar sobre a vinícola, ela percebeu que Dante ficou calado, como se sentisse que não pertencia ali – ou será que ele é que não queria pertencer ali? De qualquer forma, ela não conseguia imaginá-lo abandonando de boa vontade um lugar tão lindo como aquele. A história dele devia contar mais detalhes que ele não estava disposto a compartilhar. O que poderia tê-lo afastado do seio familiar? A menos que... Seria possível? Será que ele tinha uma paixão por cozinhar tão grande quanto a dela? Seria possível que eles finalmente tivessem algo em comum? O baque da porta da cozinha se fechando a assustou. Ela virou-se e se deparou com o homem que vinha ocupando seus pensamentos desde que chegara. As bochechas dela ficaram quentes. Lizzie percebeu então que estava sendo tola – ele não conseguia ler a mente dela. – Não sabia se você já teria acordado. – A voz dele era profunda e grave. – Eu coloquei o despertador do celular. Não queria perder o nascer do sol. – E valeu a pena? Ela assentiu vigorosamente com a cabeça. – Definitivamente. Estou apaixonada. – Quando os olhos dele se arregalaram, ela acrescentou: – Pela villa e a vinícola. – Que bom que gostou daqui. – Estava pensando em fazer uma caminhada. – Gostaria que eu a acompanhasse? Ela olhou para ele de chofre, para ver se ele estava falando sério. – Você quer mesmo me acompanhar? Digo, não é como se eu fosse esbarrar em alguém da sua família. Você não precisa ser minha babá. – Eu não me ofereci para tomar conta de você. Achei talvez que você quisesse companhia, mas obviamente estava errado. – Ele virou-se para ir embora. – Espere. – Antes de continuar, ela engoliu em seco o orgulho. – Eu gostaria de companhia.


Dante então se virou, seus lábios comprimidos em uma linha. Ele cruzou os braços e a observou, expectante. Ele tinha o direito de esperar por mais. Mas isso não era fácil para ela. Por algum motivo, Lizzie tinha muita dificuldade em lidar com ele. A mera presença dele deixava-a inquieta. E ele sempre deixava os pensamentos dela confusos por causa de sua beleza. – Certo, desculpe. É isso que você quer ouvir? – Sim, é. – Ele deu um passo na direção dela. – Vamos? Ele estendeu o braço como um cavalheiro, o que fez o coração dela bater com força. Sem hesitar, ela enganchou o braço ao dele. Ao envolver os bíceps dele com os dedos, ela notou a força bruta dele. Aquilo não estava certo. Ela não podia deixar a guarda baixa perto dele – isso não acabaria nada bem. Ela cogitou em afastar-se dele, mas, depois de uma rápida olhada nas feições relaxadas de Dante, ela percebeu que estava fazendo uma tempestade em um copo d’água. – Você causou uma baita impressão na minha família. – Isso é bom? – Definitivamente. Faz tempo que eles não viam uma cara nova por aqui. Normalmente, ela mantinha uma distância segura das pessoas, mas ali, perto de Massimo, ela conseguira relaxar um pouco. – Percebi que você ficou bem quieto na noite passada. Há algo errado? – Não, nada. E você foi maravilhosa, principalmente com nonno. Ele tem estado muito para baixo, mas você conseguiu animá-lo. Eu lhe devo um grande muito obrigado. Ela percebeu que ele não explicou seu silêncio na noite anterior. Ela se perguntou se ele era sempre tão reservado ao redor da família. Claro que ela não compreendia como famílias tradicionais funcionavam, tendo crescido em lares adotivos aonde as crianças iam e vinham. – Seu irmão, ele é mais velho que você, não? – Ela queria que Dante abrisse o coração sobre a família. Lizzie não podia conter a curiosidade. – Sim, alguns anos mais velho. – E vocês são próximos? Dante lhe lançou um olhar, mas ela fingiu não perceber. – Não sei. Somos irmãos. Ela sabia que nada daquilo era da sua conta, mas tudo sobre Dante a intrigava. Ele era como uma alcachofra que ela mal começara a despetalar. Havia muito que aprender antes de chegar ao cerne macio que ele mantinha protegido de todos. – Eles gostam muito de você. Ele parou e olhou para ela. – Por que toda essa curiosidade sobre a minha família? O que está se passando nessa mente linda sua? Ela acabou de dizer que ela era linda? Seus olhares se encontraram, e ela ficou sem ar. Não, ele dissera que a mente dela era linda. – Só estava querendo conversar. – Ela tentou agir de forma inocente. – Por que eu precisaria ter outros motivos? – Eu não disse que você tinha outras intenções. Mas, às vezes, você me faz ficar pensando. – Ele penetrou pelo olhar dela, e, por um instante, Lizzie se perguntou se ele podia ler seus pensamentos. Com as bochechas quentes, ela desviou o olhar. – Pensando em quê?


– Em você. Há muito mais em você do que seus olhos entregam. Ela não conseguiu conter a risada. – Você me faz parecer misteriosa. Como Mata Hari ou alguém do tipo. – Ela inclinou-se na direção dele e sussurrou no ouvido dele: – Estou aqui para descobrir seus segredos. Ela segurou os braços dela, permitindo que ela visse as linhas de preocupação no rosto dele. – Que segredos? O tom brusco dele impressionou-a. – Seus segredos na cozinha, é claro. O que mais seria? A expressão dele relaxou. – Você está se divertindo às minhas custas. Então o homem estava mantendo segredos. Dela? Ou do mundo todo? Ela não achava que fosse possível, mas ela ficou ainda mais intrigada por ele. Ela mergulhou naqueles olhos castanhos sem fim. – Você precisa se divertir um pouco. Não vai doer, eu prometo. – Todos os sorrisos e risadas da noite passada foram para isso? Você está tentando fazer com que minha família fique do seu lado, para que eles me pressionem para honrar o contrato? Lizzie endireitou os ombros. Ela sabia que não deveria fazer isso, mas simplesmente não conseguiu evitar. Ela cruzou os dedos novamente sobre o peito, e o olhar dele os seguiu. – Eu prometo não fazer isso. A veia do pescoço dele pulsou, e quando seus olhares se encontraram novamente, havia necessidade, havia paixão nos olhos dele. O olhar dela ficou nos lábios dele. – Você sabe que está me deixando louco, não sabe? – Quem, eu? – Ela jamais havia flertado com um cara antes e estava se divertindo como nunca. Claro, eles sempre flertavam com ela, mas Lizzie nunca sentira desejo de responder às investidas. Até agora. As mãos dele seguraram a cintura dela. – Sim, você. Você tem ideia do que eu gostaria de fazer com você nesse mesmo instante? Algumas ideias cintilantes dançaram pela mente dela. Ela colocou as mãos no peito dele e sentiu seu coração batendo com força, tendo certeza de que seu próprio coração estava no mesmo ritmo, como se ela tivesse terminado uma corrida em um dia quente e úmido. Naquele instante, ela foi acometida pelo desejo de descobrir se o beijo dele era tão bom na vida real quanto fora nos sonhos dela na noite passada. – Sabe, nós realmente não deveríamos fazer isso. – A voz dele foi carregada pelo vento, como um sussurro. – Você faz sempre o que é esperado de você? – Não com frequência. – O olhar dele era penetrante, fazendo o estômago dela revirar de antecipação. – Então por que começar agora? Eu não vou contar se você não contar. Não foi preciso dizer mais nada. Ele inclinou a cabeça para baixo, parando a um sussurro dos lábios dela. Lizzie podia praticamente sentir as vibrações turbulentas emanando dele, como se ele estivesse lutando uma batalha interna entre o que era certo e o que ele queria. Ela precisava acabar com o sofrimento dele – com o sofrimento dela.


Agindo de acordo com seus instintos, ela ficou nas pontas dos pés e o beijou. Os lábios de Dante eram macios e quentes. Ele não se moveu, mas ela sabia com a mesma certeza de que o sol iria se pôr naquela tarde de que ele também a desejava. Talvez ele precisasse apenas de um toque mais firme. Ela deixou o corpo encostar ao dele enquanto deslizava as mãos pelos ombros largos dele. Os dedos dela abriram caminhos pelo cabelo negro dele gentilmente, conforme os lábios dela moviam-se contra os dele. Então, ela ouviu um gemido faminto de dentro da garganta dele antes de Dante puxá-la para mais perto. Talvez fosse a ideia de que aquele beijo era proibido que o tornava o mais excitante que ela já provara. Mas também podia ser o fato de que ela estava se sentindo solitária, com saudades da irmã, e estar nos braços de Dante fazia com que ela se sentisse conectada a alguém. Ou ainda fosse simplesmente o fato de que ele era o garanhão mais bonito que ela já vira, e Lizzie queria ver o que teria perdido se não tivesse cedido aos impulsos. As mãos dele cabiam perfeitamente nas curvas dela e, por um instante, ela sentiu-se como a mulher mais linda – desejada – do mundo. Dante moveu-se, colocando as mãos no rosto dela. Ao afastar seus lábios dos dela, ela sentiu-se desolada. Lizzie queria mais. Ela precisava de mais. Ele descansou a testa sobre a dela. A respiração dele era profunda, desigual. Ele se deixara levar pelo momento assim como ela, então por que parar? O que acontecera? O polegar dele acariciou gentilmente a bochecha dela. – Lizzie, não podemos fazer isso. Você sabe que é errado. – Mas pareceu tão certo. Ela não podia evitar, não estava pronta para a dura realidade. Ela vivia cada dia com a triste realidade acabando com seus sonhos. Ela queria apenas aquela lembrança feliz. – Lizzie, isso não pode mais acontecer. Você e eu... Isso é impossível. As palavras dele estouraram a bolha de felicidade dela. Mais uma vez, ela estava sendo rejeitada. Quando seria sua vez de ter um pouquinho de felicidade, sem ter o tapete puxado de debaixo de seus pés? Aquela viagem para Roma deveria ser algo memorável, mas agora todo o acordo estava em perigo e ela não tinha mais trabalho para quando voltasse para casa. Ela piscou repetidas vezes para não chorar. Quando a vida lhe dava limões, ela fazia uma torta de merengue com a cobertura mais fofa do mundo. Ela endireitou as costas. – Você está certo. Não sei onde estava com a cabeça. – Ela engoliu em seco. – Não vai acontecer novamente. Sem olhar para ele, ela caminhou de volta para a villa, sufocando um gemido de frustração.


CAPÍTULO 9

ELE ESTRAGARA tudo. Dante jogou as malas no porta-malas e olhou para villa. Lizzie sorriu e abraçou o avô dele antes de partirem. Ela mal falara com ele depois do beijo. Por que ele teve que ceder aos hormônios? Quando ele finalmente entrou no carro, ela sentou-se olhando diretamente para a frente. Dante não estava gostando nem um pouco da tensão entre eles e não podia culpar ninguém a não ser ele mesmo. Não havia como voltar no tempo e impedir o beijo – e mesmo se fosse, ele não tinha certeza se o feria. Dante afastou tal pensamento, percebendo que foram ideias como essa que haviam lhe colocado em problemas. Porém, ele não podia ignorar o incômodo que sentia por aquele tratamento de silêncio. – Você vai voltar a falar comigo? – Ele lutou para manter a frustração longe da voz. – Sim. – Você gostou da visita à vinícola? – Sim. – Chega de sim ou não. – A pior parte era que ele não tinha ideia de como consertar as coisas entre os dois. E independentemente se isso era certo ou não, ele queria que Lizzie gostasse dele. – Meu avô pareceu gostar de você. Na verdade, minha família toda. Nada. Ela cruzou os braços e fungou. O que isso queria dizer? Os músculos dele ficaram tensos enquanto ele esperava pela resposta. Não que ele pudesse culpá-la. Ele merecia. A voz dela soou frágil e constrita. – Como você consegue? Bem, era mais do que uma sílaba, mas ele não sabia do que ela estava falando. Mesmo hesitante em perguntar, que escolha ele tinha? – Como consigo o quê? – Como você consegue deixar para trás aquele pedacinho do paraíso ao fim de todo fim de semana e voltar para a cidade? Não era esse o tipo de conversa que ele tinha em mente. Sua família não era um assunto que ele queria abordar, além do trivial. – Eu prefiro Roma. – Não era necessariamente uma mentira.


– Não me entenda mal. Eu amo a vida na cidade, mas fui criada em uma cidade que nunca dorme. Acho que está nos meus ossos gostar da mistura de vozes e o som dos carros. Mas você... você foi criado na paz e na tranquilidade. – Lá não é o perfeito pedaço do paraíso que você imagina. – Ele tentou não pensar na infância. – O que não há de perfeito lá? Ele lançou um olhar para ela, avisando que era melhor abandonar o assunto. – Ei, é você que queria conversar. Estou conversando. Agora é sua vez. Ele percebeu que ela não ia deixar o assunto em paz. Cabia a ele deixar claro que aquele era um assunto muito delicado. – A vida na Vinícola DeFiore não era idílica quando eu era criança. Muito pelo contrário. – Por quê? Ela realmente queria tocar no assunto. E, por algum motivo desconhecido, ele queria fazer com que ela entendesse seu lado. – Eu sou o motivo pela qual minha mãe morreu. – O quê? – Ela virou-se no assento, lutando com o cinto de segurança para poder olhar diretamente para ele. – Não entendo. Como? – Ela morreu logo depois de dar à luz a mim. – Ah! Que horrível. – Houve uma pausa constrangedora. – Mas isso não é culpa sua. – Diretamente, não. Mas meu pai me culpa. Ele me disse que eu acabei com a melhor parte da vida dele. – Ele não estava falando sério. Essas palavras... fazem parte do luto dele. Dante passou os dedos pelo cabelo. – Ele estava falando sério. Não posso evitar sentir que eu trouxe tristeza para minha família... – Besteira. Ouça, sinto muito por sua perda. Sei que é duro, mas você não pode se culpar pela forma como seu pai cuidou do próprio luto. Nós lidamos com mortes de familiares de formas diferentes. Isso lhe chamou a atenção. Era uma chance de mudar o rumo da conversa. – Você perdeu um dos pais? O silêncio envolveu o carro. Era possível ouvir apenas o motor e o barulho dos pneus sobre o asfalto. Lizzie virou-se para encarar a janela. – Lizzie, pode se abrir comigo. Nada do que você disser sairá deste carro. Ele tinha a sensação de que ela estava prestes a dizer algo importante – algo que ela normalmente não compartilhava. Ele queria muito entender melhor aquela mulher. – Minha mãe morreu. – Sinto muito. Acho que nós dois já levamos algumas pancadas da vida. – Sim, mas pelo menos você tem uma família amorosa. E pode sempre voltar para casa quando quiser... Aquela conversa estava sendo muito mais profunda e séria do que ele imaginara. Ele queria mais informações, mas sentia que aquele não era o momento. Avistando uma vila logo adiante, ele diminuiu a velocidade. – Nós saímos sem comer nada. Gostaria de parar? Eles têm o melhor café da região aqui. Percebi que você gosta muito de cappuccino. – Gosto, e eu adoraria comer alguma coisa. Ele estacionou e, antes de descer do carro, sabia que precisava dizer algo.


– Sinto muito pelo que aconteceu na vinícola. Aquele beijo foi um erro. A última coisa que eu queria era magoá-la. Ela virou-se para ele e sorriu, mas o gesto foi desmentido por seus olhos. – Não se preocupe. Agora, vamos tomar café. Sem dar chance para que ele dissesse alguma coisa, ela saiu do carro. O instinto de Dante lhe dizia que havia algo muito mais profundo, oculto pelo orgulho tolo dela. COMO AQUILO acontecera? Lizzie entrara no restaurante pitoresco sem nenhum apetite. Mas, agora, eles estavam saindo do estabelecimento familiar com o estômago cheio de deliciosas amostras de massas, carnes e queijos. Dante estalou os dedos. – Esqueci-me de dar aos donos um recado do meu avô. Já volto. Enquanto Dante corria para dentro, Lizzie recostou-se no carro, seu rosto voltado para o sol. Talvez ela estivesse com mais fome do que imaginara, pois, agora que estava satisfeita, seu humor havia melhorado muito. E o fato de Dante ter falado sobre a família também ajudava. Porém, nada conseguia desfazer a lembrança do beijo de abalar. Ele estava sempre ali, em algum cantinho da mente dela. E a parte que doía mais fora a rejeição de Dante, cujas desculpas não ajudaram em nada. De alguma forma, ela iria conseguir esquecê-lo. Pois, no fim das contas, ele estava certo. Eles iriam trabalhar juntos pelas próximas oito semanas – sem mencionar que estavam dividindo um apartamento. – Pronta? – Dante franziu a testa ao vê-la recostada na pintura impecável e recente. – Sim, estou. Ao se aproximar, ela percebeu quando ele inspecionou o local onde ela havia encostado. Ele então passou a mão sobre a lataria. – Sério mesmo? – perguntou ela, incrédula. Ele virou-se para ela, perfeitamente sério. – O que foi? Ela sorriu e balançou a cabeça. Homens e seus carros. – Nada. – Vamos logo chegar em casa, não há quase nenhum tráfego. E o clima está perfeito. – Ele brincava com as chaves, jogando-as para cima. Lizzie pegou-as no ar. – Deixe-me dirigir. – Você só pode estar brincando, né? – Ele tentou pegar as chaves da mão dela, mas ela as escondeu nas costas. – Por favor. Você mesmo disse que não há tráfego. E ela iria amar dirigir um carro esporte exclusivo, do tipo de virava as cabeças de todos na rua. Jules jamais acreditaria nela. – Acho melhor não. – O sorriso desapareceu do rosto dele. – Agora, posso ter minhas chaves de volta? Tendo-o em desvantagem, ela deu alguns passos para trás, seu sorriso ficando ainda maior. Ela estava a fim de se divertir um pouco, na esperança de que isso acalmasse as coisas entre eles.


– Se você as quer, vai ter que vir pegá-las. Ele não se moveu. – Isso não é engraçado. – O tom dele era mais incisivo. – Devolva as chaves. O bom humor dela foi pelo cano. Ele nem ao menos considerou deixá-la dirigir. Será que ele confiava tão pouco assim nela? Ferida, ela deixou as chaves caírem na mão estendida dele e caminhou para o carro. – Espero que eu ainda possa me sentar no banco do passageiro. – Ei, não precisa ficar assim. Eu não deixo ninguém dirigir a Red. – Você deu nome ao seu carro? – Claro, por que não? Ela balançou a cabeça, sem palavras. – Além disso, tenho certeza que você vai gostar mais do passeio no banco do passageiro. Durante a vida toda, as pessoas nunca enxergaram além do estigma de criança sem lar e das roupas usadas de Lizzie. Até mesmo ali, sentada naquele banco luxuoso, ela estava usando roupas de segunda mão. Ela estava cansada das pessoas subestimando-a e se recusava a ficar sentada sem fazer nada. Ela iria mostrar a Dante que era tão capaz quanto ele.


CAPÍTULO 10

– EU MANTIVE minha palavra. O som da voz de Lizzie assustou Dante. Ela ficara em silêncio desde que entregara as chaves. Ele não sabia que ela queria tanto dirigir seu carro – sua preciosidade. Ela obviamente não sabia o quanto ele significava para Dante, e ele tampouco sabia como explicar. O fato do pai gostar do carro tanto quanto Dante significava o mundo para ele. Dante destrancou a cobertura. – Você manteve sua palavra sobre o quê? – O contrato. Eu não disse nada sobre ele na villa. Mas, agora, estamos de volta, e a equipe chega amanhã às 6h, e eu preciso saber se você está dentro. – Lizzie caminhou pela sala, pegando o celular da bolsa. – Para quem você planeja ligar? – Meu contato no estúdio. – Você já os informou que meu avô está impossibilitado de cumprir com as obrigações legais dele? Ela assentiu. – E o que eles disseram? – Ele não tinha certeza se queria ouvir a resposta, pois Lizzie parecia confiante demais. O que ela estava escondendo dele? Lizzie sentou-se no braço do sofá. – Eles sentem muito por seu avô. – E? – E quando mencionei que você estava no comando do restaurante, eles ficaram intrigados. Eles desenterraram algumas filmagens de você com seu avô e ficaram convencidos de que você pode ficar no lugar dele. Dante não esperava por isso. Quem iria querê-lo na televisão? Ele não sabia nada sobre como apresentar um programa – e não estava disposto a aprender. – Lizzie, eu não concordei com nada disso. – Mas que escolha você tem a essa altura do campeonato? Se seu advogado tivesse uma saída fácil dessa situação, você já saberia.


Dante colocou as mãos sobre o granito frio da bancada. Ele queria discutir com ela, dizer que isso não tinha a menor chance de funcionar – mas até o advogado dele dissera que a quebra do contrato lhe custaria muito tempo e dinheiro. A exposição na televisão faria muita publicidade para o ristorante, e o seu preço poderia facilmente subir. Naquele momento, não havia pressa para vendê-lo. Lizzie jogou a bolsa imensa sobre o sofá. – Além disso, se você me ajudar, eu posso ajudá-lo. – O que você tem em mente? – Se você concordar em fazer a filmagem todas as manhãs antes do restaurante abrir, eu posso ajudálo no Ristorante Massimo. Ele ergueu as sobrancelhas. – Você está se oferecendo para trabalhar para mim? – Claro. O que mais eu iria fazer com meu tempo? Tinha que haver um “porém”. Sempre havia. As pessoas sempre querem algo em troca. – E você espera que eu pague quanto? Ela deu de ombros. – Nada. – Nada? – Gostaria de ter a chance de aprender. Seu avô planejava me ensinar o máximo que pudesse durante minha estadia. Vim para a Itália com o único propósito de me matar de trabalhar. – Você realmente não quer mais nada além de aprender? – Por que tanto ceticismo? Ele deu ombros. – Não estou acostumado com as pessoas se oferecendo para trabalhar de graça. – Eu não me acostumaria com isso. Mas o estúdio está me pagando para estar aqui, e com você me provendo casa e comida, acho que tudo vai dar certo. Pelo menos ele descobrira a pegadinha. – Então você pretende continuar aqui? – Esse é seu jeito de dizer que está me jogando na rua? – Você precisa admitir que depois do que aconteceu na vinícola, a ideia de nós dois vivendo juntos não é boa. – Por quê? Está dizendo que pretende repetir o beijo? – Ela caminhou até o outro lado do balcão. – Está dizendo que não queria tê-lo interrompido? O olhar dele pairou sobre os lábios dela. Ah, sim, ele definitivamente queria continuar aquele beijo. Dante queria que ele nunca tivesse fim. – Não. Não é isso que estou dizendo. Pare de colocar palavras na minha boca. Ela arregalou os olhos, incrédula. – Só estou dizendo o que vejo. – Isso não tem nada a ver com o beijo. É só que... – É só que o quê? Linhas surgiram ao redor daqueles olhos glaciais enquanto ela esperava pela resposta. – Eu só não sei se você entende o que será esperado de você. – Quer dizer que você acha que sou mais um rostinho bonito sem nada na cabeça.


– Ei, eu não disse isso. Lá vem você, mais uma vez, com suposições. – Então o que você quer dizer? – Eu tenho meu próprio jeito de fazer as coisas. E espero que você preste atenção ao detalhes, não importa se você os considere pequenos ou insignificantes. – Ele precisava de um tempo sozinho para colocar a cabeça no lugar. Havia muito que se considerar. – Bom, estou indo para meu escritório. Nós conversamos mais depois. – Se importa se eu descer e der uma olhada no lugar? Gosto de conhecer onde vou trabalhar. – Fique à vontade. Aqui está a chave. – Ele jogou um cartão chave para ela e disse o código de segurança. Os lábios dela formaram uma linha fina ao agarrar o cartão e se virar para a porta. O olhar dele ficou hipnotizado pela maneira como os quadris dela se moviam conforme ela ia embora. O pulso dele se acelerou e lembranças do beijo voltaram à sua mente. Como ele encontrara a força de vontade para deixá-la ir? O barulho da porta dela se fechando o trouxe de volta para o aqui e agora. Ele deveria simplesmente mandar Lizzie embora e esquecer dos sonhos do avô. Se ele agisse de forma lógica, era isso que ele deveria fazer. Mas, quando se trata de família, nada é muito lógico. Isso, combinado com o desespero que ele presenciara no olhar de Lizzie, lhe causava uma urgência de fazer o acordo funcionar para ambos os lados. Mas será que ele conseguiria manter os hormônios sob controle ao redor dela? De repente, o apartamento já não parecia mais tão grande. ELA IRIA provar que ele estava errado. Lizzie entrou na cozinha impressionante do Ristorante Massimo. Era mais espaçosa do que parecera na televisão. Lizzie sentiu-se imediatamente em casa ao redor dos utensílios de aço inox e desejou apenas que Massimo estivesse ao seu lado, em vez de seu neto teimoso. Ela olhou os ingredientes na geladeira e no freezer. Lentamente, um menu de jantar tomou forma na mente dela. Lizzie não queria preparar massa, pois não queria competir na arena dele. Não, ela iria fazer outra coisa. Então se pôs a trabalhar, ansiosa para provar a Dante que ela pertencia à cozinha de Massimo. Ela não sabia dizer ao certo quanto tempo havia se passado quando ela ouviu um barulho atrás de si. Ela virou-se e deu um pulo ao se deparar com ele. – O que você está fazendo aqui? – Ela deixou de lado o esmagador com o qual batia a couve-flor. – Acho que sou eu quem deveria estar fazendo essa pergunta. Ela olhou para a bagunça que fizera. Tudo bem, ela não era a pessoa mais organizada na cozinha. E ela estava com pressa, pois queria que tudo estivesse pronto antes de ele chegar, mas seu plano não dera certo. – Pensei em preparar um jantar. Ele se aproximou dela. – E o que temos no cardápio? Ela se apressou e colocou a mão no peito dele para refreá-lo. O calor do corpo dele e o ritmo do coração fizeram o braço dela formigar. Mas o coração dela não estava obedecendo à cabeça. De repente, ela percebeu o que estava fazendo e se afastou. Lembranças das carícias dele tomaram conta da mente dela. Lizzie então retirou a mão.


– Preparei uma mesa no salão de jantar. Por que não vai lá e se acomoda? A comida estará pronta logo. Ele olhou ao redor. – Tem certeza de que não quer ajuda? – Sim. Agora, vá. Depois de hesitar, ele por fim foi para o salão. Instantes depois, era hora de servir a refeição mais importante da vida dela. Ela deixou o nervosismo de lado e foi retirar da geladeira a salada de abacate e siri. Ela colocou o prato sobre uma bandeja, retirou o avental e passou as mãos pelo cabelo, preocupando-se com seu visual bagunçado. Ah, era tarde demais para se preocupar com isso. Então, percebendo que havia se esquecido de escolher algo para ele beber, ela pegou duas garrafas de água e uma garrafa do vinho DeFiore branco. Ela carregou a bandeja até o salão e parou ao perceber que as luzes estavam baixas e que velas haviam sido acrescentadas à mesa, além de dálias frescas, de cores vibrantes. Ela ficou sem ar. A mesa estava perfeita, pronta para um interlúdio romântico. Ela então reparou em Dante. Ele havia trocado de roupa. Mas por quê? Ele vestia calças pretas de vinco, um paletó combinando e uma camisa cinza de botão. Caramba. Com os traços definidos e o cabelo negro, ele parecia uma estrela de Hollywood. Ela engoliu em seco, perguntando-se se ele havia se esquecido de passar colônia. Ah, como a vontade de ir até lá e verificar era tentadora. Ela deu um safanão mental em si mesma. Ela estava ali a negócios, não para um encontro. Ela iria impressioná-lo com seus conhecimentos culinários, não flertando. – Sente-se, vou servi-lo. – Ela tentou agir como se seu coração não estivesse a mil. Ele franziu o cenho. – Quero puxar a cadeira para você. – Não precisa fazer isso. – Você não vai me acompanhar? Ela balançou a cabeça. – Você também deve estar com fome. Ela estava, mas não era a comida que a estava fazendo salivar. – Estou bem. – Ah, pare com isso. Você não acha que vou conseguir aproveitar a refeição com você andando de um lado para o outro, me esperando. Agora, sente-se. O que ele estava aprontando? Ela sentou-se na cadeira que ele afastou. Será que ele mudara de ideia sobre lhe ensinar tudo que ele sabia na cozinha? – Só fiz o suficiente para uma pessoa. – Sem problema. – Antes que ela pudesse dizer alguma coisa, ele correu para a cozinha. Aquilo não estava certo. Não era assim que ela pretendia provar a Dante que estava à altura do Ristorante Massimo. A frustração fria colidiu com a animação de estar sendo paparicada, por mais estranha que fosse. O que ele pretendia com aquelas flores e velas? Era tudo por causa do beijo? Ela olhou para o brilho das velas e percebeu que aquele era seu primeiro jantar à luz de velas. Não. Não. Ela não podia se distrair. – Há algo que eu deva saber? – perguntou ela, preparando-se para o pior, quando ele retornou.


Uma sobrancelha negra ergueu-se. – Sobre o quê? Ela não queria colocar palavras na boca dele, especialmente aquelas que ela não queria ouvir. – Não sei. Só fico me perguntando sobre todo esse esforço seu para ser legal. Ele franziu o cenho. – Então agora você acha que eu não sou legal. – Não foi o que eu quis dizer. – Mesmo? – Ele colocou um prato e um copo diante dela. – Talvez devêssemos conversar sobre outra coisa, então. – Não. Quero saber por que você está com um humor tão bom. Você se decidiu sobre o programa de televisão? Por favor, que ele tenha mudado de ideia. – Tem certeza do que está perguntando? – Claro que sim. Tudo que você precisa fazer é substituir seu avô. E me ensinar tudo que sabe. – Será que ele estava mesmo considerando a ideia? – Quer mesmo aprender comigo? Ela assentiu. O silêncio estendeu-se. O estômago dela deu voltas, e as mãos ficaram suadas. – E aí? – insistiu ela. – E aí que essa refeição vai esfriar se não começarmos logo. – Mas eu preciso saber. – E você saberá. Em breve.


CAPÍTULO 11

ELE DEVIA estar perdendo o juízo. Tinha que ser isso. Do contrário, por que ele estaria considerando aquele acordo? Dante observou Lizzie do outro lado da mesa. Ele reparou que ela ficava apenas brincando com a comida e que não havia comido quase nada. E a comida estava boa – ele precisava admitir que estava impressionado. Talvez tê-la como aprendiz não fosse ser difícil. O advogado dele definitivamente achava que aquela era a saída mais sensata. Fácil para ele falar. Porém, o fato decisivo fora que o comprador em potencial do ristorante estava disposto a esperar dois meses, e que, na verdade, ele ficara entusiasmado em saber que o restaurante ia ganhar cobertura internacional. O que ninguém levava em consideração era o fato de Dante estar perigosamente atraído por Lizzie, o que era uma complicação séria. Como eles deveriam trabalhar juntos, sendo que tudo que ele conseguia pensar era em beijar aqueles lábios novamente? – Há algo errado com a comida? Dante piscou repetidas vezes. Ele precisava começar a pensar nela apenas profissionalmente, se ia mesmo aceitá-la como protégée. – Agora que você trabalhará aqui, você não terá nenhum tratamento especial. Você trabalhará como todo mundo. – Entendido. – Quanto à comida, o frango passou um pouco do ponto. Você terá que tomar cuidado com isso de agora em diante. Toda uma gama de expressões passou pelo rosto dela. – Mais alguma coisa? Não era a reação que ele esperava. Ele achou que ela iria ficar estática ao saber que ia trabalhar ali. Mulheres. Ele nunca conseguiu entendê-las. – E use menos sal. O cliente pode sempre acrescentar mais, de acordo com seu gosto e com sua dieta. O rosto dela ficou ruborizado. Sem dizer uma palavra, ela jogou o guardanapo na mesa e foi para a cozinha.


Dante resmungou. Ele não tivera a intenção de magoá-la. Como ele iria ensiná-la, sendo que Lizzie não conseguia aceitar críticas construtivas? Em seu lugar, seu avô iria saber o que e como falar. Dante passou os dedos pelo cabelo. Ele precisava consertar as coisas antes da chegada da equipe de televisão. A última coisa que eles precisavam era começar o programa com o pé esquerdo – diante do mundo todo. Ele caminhou até a cozinha. O que ele iria dizer? Ele deveria se desculpar? Ele abriu a porta, preparado para encontrar Lizzie em lágrimas. Em vez disso, ele a encontrou jogando as sobras no lixo e colocando os pratos na pia. – O que está fazendo? Ela não o encarou. – Estou limpando. O que mais você acha? – Mas ainda não acabamos de comer. Por que não volta para a mesa? Ela pegou o prato principal e o jogou no lixo. – Não quero mais nada. – Quer parar? – Não há motivo para guardar sobras. – Com isso, ela pegou a sobremesa. Dante entrou no caminho dela. Que bicho a mordera? – Lizzie, coloque a sobremesa na bancada e me conte o que está incomodando. Ela ergueu o queixo. – Por que teria algo me incomodando? Você só detonou o prato que eu dei duro para preparar para você. – Mas não é isso que você quer que eu faça? Ensinar? Os olhos glaciais dela o atingiram em cheio, fazendo a temperatura despencar. – Saia. – Não. Precisamos conversar. – Para você continuar a me insultar? Não, obrigada. – Ela tentou dar a volta, mas ele a bloqueou de novo. – Lizzie, não sei o que você quer de mim. Achei que você queria que eu te ensinasse, mas obviamente não é esse o caso. Quer que eu cancele tudo? – Não achei que fôssemos começar as lições logo de cara. Ou você só disse aquelas coisas para fazer com que eu desistisse do acordo? – Não era isso que eu tinha em mente. – Como diabos ele acabara na defensiva? Ele só estava querendo ajudar. – Então você acha mesmo que sou terrível na cozinha? Ele descobriu-se querendo acalmá-la, só que não tinha a mínima ideia de como fazê-lo. – Acho você muito talentosa. – O que era verdade. – Mas você disse que... – Que há algumas coisas para você levar em consideração antes de começar a trabalhar aqui. Não quis ferir seus sentimentos. A descrença brilhava nos olhos dela. Sem pensar, ele acariciou o rosto dela, apreciando a maciez dela. Mas Lizzie logo se afastou do toque dele. – Lizzie, você precisa acreditar em mim. Se você for tão sensível assim o tempo todo, como vamos conseguir trabalhar juntos?


TUDO ESTAVA errado. Lizzie cruzou os braços para não tocá-lo. A noite fora totalmente inesperada, e ela não sabia como consertá-la. E o pior de tudo é que ela exagerara. Bastante. Ela sempre se orgulhara por conseguir conter os sentimentos por trás de uma parede de indiferença. Dante não era o primeiro a criticar as habilidades dela, mas era o primeiro cuja opinião realmente importava para ela, em um nível profundamente emocional. Ele era a primeira pessoa que ela realmente queria impressionar. O pânico tomou conta de Lizzie. Ela sabia o que acontecia quando deixava as pessoas se aproximarem demais, e quando contava a verdade sobre seu passado. E ela não queria que Dante a tratasse com pena, como se ela fosse menos que os outros. As paredes começaram a se fechar ao redor dela. Lizzie precisava de espaço. Longe dele. Longe do olhar curioso dele. – Eu preciso... fazer uma ligação. Eu... limpo tudo depois. – Com isso, ela saiu correndo pela porta. Ela não precisava ligar para Jules, mas precisava de uma desculpa para fugir dele. Os ombros dela se curvaram para a frente ao caminhar para o apartamento. Ia ser bom ouvir uma voz familiar. Ao entrar, ela foi direto para o quarto, sacando o telefone. Ela sabia que a ligação iria lhe custar uma pequena fortuna, mas aquela era uma emergência. Ela discou o número familiar. O telefone tocou e tocou. Quando ela achou que a ligação iria cair na caixa postal, a irmã atendeu. – Lizzie, é você? O que foi? A preocupação na voz da irmã a pegou de surpresa. – Só liguei para ver como você estava. – Mas você disse para não gastarmos muito com o telefone, que era para ligarmos apenas em caso de emergência. O que aconteceu? – Nada. Só queria ouvir sua voz e me certificar de que está tudo bem. Houve uma pausa rápida. – Lizzie, sou eu. Não minta para mim. Algo a está te incomodando. Desembuche. Ligar para Jules fora um erro. Ela conhecia Lizzie bem demais. – É Dante. Acho que acabei com minha chance de trabalhar com ele. – Mas como? – Eu... reagi de forma exagerada. Em vez de aceitar a crítica como uma profissional, eu agi como uma mocinha com as emoções à flor da pele. Tudo que eu queria era impressioná-lo, e... e eu falhei. – Não se preocupe com ele. Apenas volte para casa. – Não posso. Eu me demiti do meu trabalho, lembra-se? E preciso pagar a inscrição da sua faculdade logo. – Você não deveria se preocupar com isso. Você não precisa pagar minha faculdade. – Preciso sim, se você quiser ser uma assistente social para ajudar crianças como nós. – A lembrança da promessa que ela fez à irmã adotiva colocou tudo em perspectiva. Ela não podia deixar seu ego ferido levar a melhor. – Ignore o que eu acabei de dizer. Estou cansada. Tudo vai dar certo. – Mas, Lizzie, se ele está tornando as coisas impossíveis, o que você vai fazer? Ela então ouviu uma batida na porta. – Jules, tenho que ir. Eu ligo depois.


Com uma despedida rápida, ela desligou. E esperou. Talvez Dante fosse embora. Ela não estava pronta para falar com ele. Ainda não. Outra batida. – Não vou embora até conversarmos. – Não tenho nada para dizer a você. – Mas eu tenho o que dizer a você. Isso atiçou a curiosidade dela, mas o ego ferido de Lizzie ainda não estava pronto. – Lizzie, abra a porta. Ela passou a mão pelo cabelo, revolto. Por que estava se escondendo? Ela era uma criança de orfanato. Ela sabia como se virar. Esconder-se não era seu estilo. Endireitando os ombros, ela suspirou resignadamente e abriu a porta. Dante estava ali, com o ombro encostado no batente da porta. Perto demais, ela lembrou-se de como a boca dele fez o corpo dela derreter por dentro. Se ela se inclinasse um pouquinho, eles ficariam nariz com nariz, lábios com lábios. Mas isso não podia acontecer novamente. Com muito esforço, ela arrastou o olhar para os olhos dele, que pareciam estar se divertindo. – Está gostando do que está vendo? – Um sorriso curvou os lábios dele, formando uma expressão muito mais sexy do que o exterior austero que ele usava como armadura. – Estou vendo um homem que insiste em falar comigo. O que você quer? Ele balançou a cabeça. – Assim, não. Acompanhe-me até a sala. – Estou ocupada. – Acho que isso é mais importante. Confie em mim. – Dito isso, ele deixou-a sozinha. Ela ficou ali, lutando contra a vontade de segui-lo. Afinal, ele era o homem que arruinara um jantar incrível, implicando com a culinária dela. Por fim, ela fechou a porta, correu para o armário para vestir uma roupa que não cheirasse a uma noite de trabalho. Depois de lavar o rosto e prender os cabelos em um rabo de cavalo, ela saiu do quarto. No corredor, ela não ouviu nada. Será que ele desistira e fora para o escritório? A decepção tomou conta dela. O fato de Lizzie estar louca para ouvir o que ele tinha a dizer deveria servir de aviso, mas a curiosidade a levou adiante. Ao entrar na área de estar espaçosa, ela ficou surpresa ao descobrir Dante jogado no sofá, com o smartphone em mãos. Ele olhou para ela com uma expressão inidentificável. – O que foi? – perguntou ela, preocupada com a aparência. Ele balançou a cabeça. – Nada. É que quando eu acho que estou começando a entendê-la, você vem e me surpreende. – E por que você diz isso? Ele balançou a cabeça de novo. – Não importa. – Sim, importa. Do contrário, você não teria mencionado. – É que por mais que você aja como se fosse durona, no fundo, você é uma garotinha. – O olhar dele examinou a troca de roupa dela, da cabeça ao par de sandálias preto. – E uma garotinha linda. Ela cruzou os braços, dando de ombros. – Eu... Desculpe por ter sido dramática. Normalmente eu não sou assim. Juro. Não vai acontecer de novo.


A verdade era que a aparência dela era uma mera ilusão. Por um instante, ela tentou imaginar o que ele diria se soubesse que as roupas dela não eram de boutiques de luxo, como as das outras mulheres da vida dele, mas roupas de segunda mão. Ela imaginou se ele não iria achar que ela era uma fraude. – Desculpas aceitas. – Ele deu um tapinha no acento ao lado do dele, no sofá de couro preto. – Agora, sente-se. Foi só então que ela reparou nas velas sobre a mesa de café. Havia pratinhos com frutas frescas, chantilly, e um ramo de hortelã. Ela escolheu sentar-se em uma cadeira estofada. Ele inclinou-se para a frente, apoiando os cotovelos sobre os joelhos. Seus instintos diziam para ela se afastar, mas a resistência férrea de Lizzie a manteve no mesmo lugar. Ela não queria que ele pensasse que tinha algum poder sobre ela. – Dante, o que você pretende com tudo isso? Suavizar más notícias? Você vai cancelar o programa de televisão?


CAPÍTULO 12

O OLHAR duro de Lizzie o desafiava. Dante imaginou se ela realmente queria que ele abandonasse o projeto. Será que ela mudara de ideia sobre ser aprendiz dele depois do que ocorrera? Não que isso importasse. Era tarde demais para que algum dos dois desistisse do programa. Ele precisava de alguma forma aplacar as coisas entre eles. E ele não era versado em desculpas. Aquilo ia ser mais difícil do que ele imaginara. – É minha vez de pedir desculpas. – Pronto, falou ele. Agora ele só precisava que ela acreditasse nele. – Pelo quê? Era aí que as coisas se complicavam ainda mais. Ele não queria falar de emoções e sentimentos. – Não tive a intenção de fazer você se sentir mal por causa do jantar. Sabe, o problema é que eu não sou um professor. Meu avô sempre se orgulhou por ter o dom de ensinar as pessoas. Ele tem um jeito que cativa as pessoas naturalmente. Se ele não tivesse sido chef, com certeza ele teria sido professor. Os ombros dela pareceram relaxar um pouco. – Mas eu não preparei um jantar para você me ensinar. Eu... eu queria... Ah, deixa para lá. O que ela deixou de dizer? Ele realmente queria saber. Ela ia dizer que fizera um jantar para Dante porque gostava dele? Ela queria continuar o que eles haviam começado na vinícola? Não. Ela não iria querer isso... Ou iria? Ele precisava descobrir isso, do contrário, a incerteza o assombraria. E se eles iam trabalhar juntos, ele precisava saber onde estava se metendo. Ele limpou a garganta. – O que você ia dizer? – Eu só queria preparar um jantar de agradecimento por você ter me apresentado à sua família. E... e eu queria mostrar que você não está cometendo um erro ao permitir que eu trabalhe aqui. Porém, obviamente eu estava errada. – Não, não estava. – Você deixou claro que não liga para a minha comida. Ele balançou a cabeça. – Não é isso. Acho você uma boa cozinheira. – Então por que disse aquelas coisas?


– Porque “bom” é suficiente para a maioria das pessoas, mas você não é como todo mundo. As sobrancelhas dela se juntaram. – O que isso quer dizer? Você sabe sobre meu passado? O seu avô lhe contou? Nossa! Isso o fez se endireitar na cadeira. – Nonno não me contou nada. Mas estou disposto a ouvir se você estiver disposta a contar. Os olhos azuis dela era um mar turbulento de emoções. – Você não vai querer ouvir sobre mim. – Sim, eu vou. – A convicção na voz dele pegou-a de surpresa. Ela mordeu o lábio, como se estivesse considerando o que contar para ele. – Não sei. Já lhe contei o suficiente. Não preciso lhe dar mais motivos para me ver de forma diferente. Agora ele precisava saber mais sobre ela. – Prometo que não farei isso. – Você até pode tentar, mas isso irá mudar a maneira como você me enxerga. – Ela recostou-se na cadeira, cruzando os braços. Ele queria que ela confiasse nele, muito embora ele não tivesse dado motivos para ela confiar nele. Mas isso era muito importante. Além disso, se ele a compreendesse melhor, talvez ele conseguisse se comunicar melhor com ela durante o trabalho. Porém, ele sabia que estava se enganando – que seu interesse nela era muito mais profundo do que a relação entre funcionário e empregador. – Confie em mim, Lizzie. Ele viu o conflito nos olhos dela. E, pelo visto, ela não estava acostumada a se abrir com as pessoas – exceto com o avô dele. Nonno tinha um jeito com as pessoas que as deixavam tranquilas. Dante era mais parecido com o pai em seus relacionamentos pessoais – ele tinha que dar duro para encontrar as palavras certas. Claro, podia flertar com as mulheres, mas, em se tratando de conversas significativas, os homens da família DeFiore falhavam miseravelmente. Mas o foco da questão não era ele, e sim Lizzie. E ele não queria falhar com ela. Mais do que tudo, ele queria que ela o deixasse entrar. SERÁ QUE Lizzie deveria confiar nele? Ela estudou o rosto lindo de Dante. Seu cérebro lhe dizia que já havia lhe contado o suficiente, mas seu coração implorava para que ela confiasse nele. Mas para que fim? Não era como se ela fosse construir uma vida em Roma. Sua vida – e seu lar – estava a milhares de quilômetros, em Nova York. O que quer que ela contasse a ele, iria ficar em Roma. Então qual o problema em contar a ele mais sobre seu passado? Ela não era segredo algum – muitas pessoas sabiam da vida dela. E muitas delas usaram sua história de vida como uma forma para julgá-la. Será que Dante ia ser diferente? Ela queria acreditar que sim, com cada fibra de seu corpo. Lizzie respirou fundo. – Antes de minha mãe morrer, fui colocada em um lar adotivo. Dante ficou ali, encarando-a, como se estivesse esperando por uma grande revelação. – Você me ouviu? – Ouvi que você cresceu em um lar adotivo, mas não sei por que você achava que isso me faria enxergá-la de forma diferente.


Sério? Não era essa reação que ela esperava. Durante a vida toda, ela aprendera a guardar essa informação para si mesma. Quando os pais de seus amigos de escola descobriram as origens dela, eles estalavam a língua e balançavam a cabeça – e de repente, seus amiguinhos já não tinham mais tempo para brincar com ela. E uma vez ela ouvira um pai dizer: “Todo cuidado é pouco com essas crianças adotivas. Não quero que meu filho tenha uma má influência.” A lembrança fez os olhos dela arderem. Mas Lizzie se recusava a se deixar levar por ela. – Você não entende o que foi crescer em um lar adotivo. Confie em mim. Sua infância foi ótima. Dante desviou o olhar. – Você não sabe do que está falando. – Está falando sério? Sua família é incrível. Você sabe de onde vem e quem são seus pais. – Pode parecer bom para alguém de fora, mas você não sabe o que foi crescer naquela casa, nunca sendo considerado bom o suficiente. – Ele levantou e caminhou até a janela. – Talvez sua família espere coisas de você porque eles sabem que você é capaz de coisas maravilhosas. No meu caso, ninguém esperava nada de mim além de problemas. – Por que alguém pensaria isso de você? – Você não entende? Meus pais me abandonaram como se eu fosse um jornal velho. Se as pessoas que deveriam me amar mais do que tudo no mundo não me queriam, isso só podia significar que havia algo de errado comigo. – A voz dela tremulou de emoção. – Você não sabe o que é ser considerada menos do que uma pessoa. Com três passos longos, Dante chegou ao lado dela. Ele sentou-se ao seu lado e a envolveu com os braços. Sentindo necessidade de sentir a força e o conforto dele, ela deitou a cabeça no ombro largo dele. A caixinha cheia de lembranças que ela vinha guardando fechada havia muito tempo finalmente abriu-se. Lizzie era novamente aquela garotinha com jeans de segunda mão curto demais, com remendos nos joelhos. E meias que nunca combinavam – ela jamais se esquecera disso. Mas isso pertencia ao passado agora. – Eu... eu nunca tive amizades duradouras, exceto com Jules. Nós temos histórias parecidas e sempre pudemos contar uma com a outra, nos melhores e piores momentos. – Fico feliz por ela sempre ter estado ao seu lado. Se eu estivesse lá, eu teria mostrado para aquelas pessoas o que é bom para tosse. Lizzie sorriu acanhadamente. – Posso imaginar você fazendo isso. – Não entendo por que as pessoas precisam ser tão más. Ela engoliu em seco. – Você não tem ideia de como as coisas eram ruins. Pelo menos quando eu era criança eu não entendia os comentários e olhares dissimulados das mães. O maxilar de Dante se retesou. – Inacreditável. – E as crianças eram ainda mais malvadas. Se você não tivesse as roupas certas, e eu nunca tinha, você era alvo de xingamentos e de implicância. E o penteado certo, você precisava ter o penteado da moda. E meu cabelo reto como uma tábua nunca ajudou. De um jeito ou de outro, eu sempre falhava em me encaixar. – Acho que eles estavam é com inveja. Você é tão linda.


O elogio dele era como um bálsamo nas feridas dela. Ele estava sendo sincero? Nos olhos dele, ela encontrou sinceridade, o que a deixou sem ar. Dante achava que ela era linda. Uma onda de calor emergiu do peito dela, subiu pelo pescoço e foi se instalar nas bochechas dela. – É uma pena eles não terem conhecido a pessoa incrível e amorosa que você é. Ela ergueu-se e o encarou de frente. – Você só está dizendo isso para me fazer sentir melhor. – Não, não estou. – A respiração dele roçou a bochecha dela. – Você é especial. Lizzie queria olhar nos olhos dele mais uma vez, para saber sem sombra de dúvida se ele acreditava no que ele estava dizendo. Mas o que ela descobriu a deixou com o coração disparado: sinceridade e desejo. Ele a puxou para mais perto até as curvas dela ficarem juntas do corpo rijo dele. A lógica ditava que ela se afastasse, mas seu coração a destituía do bom senso. A única coisa que ela sabia era seu desejo por ele – e naquele instante, ela não se importava com as consequências. Ele olhou para os lábios dela, e ela prendeu a respiração. Quando fechou os olhos, ela sentiu os lábios dele contra os dela. Lizzie acompanhou os beijos gentis dele até seu desejo acumulado mandar que ela fosse mais assertiva. Ao aprofundar o beijo, um gemido escapou dele. Ela desfrutou da habilidade de despertar interesse nele, imaginando se ele podia ouvir as batidas de seu coração. Será que sabia o quanto ela o desejava? A ideia de estar disposta a entregar-se a ele a trouxe de volta a realidade. Lizzie afastou-se. Ela desejava Dante demais, o que era muito perigoso. – O que foi? – Dante tentou puxá-la de volta. Ela já estivera naquela situação antes, colocando seu coração em perigo. Só que, na época, era uma criança querendo um melhor amigo, achando que tudo ficaria bem. Então os pais intervinham, e ela fora rejeitada. Ela lembrou-se da dor agonizante de perder amigo após amigo. Ela prometera para si mesma que nunca mais iria se permitir ficar vulnerável desta forma. Para ninguém. Muito menos para aquele homem notável. Lizzie lutou para acalmar a respiração e então murmurou: – Não podemos fazer isso. Não é certo. – Parece certo para mim. – Ele lançou um sorriso dos deuses que fez o coração dela pular. – Dante, não. Estou falando sério. – E eu também. O que há de errado com um pouco de diversão? – É mais do que isso. É... ah, eu não sei. – Relaxe. Não vou forçá-la a fazer nada que não queira. O problema era que ela o desejava, mais do que já desejara outra pessoa na vida. Mas isso não podia acontecer. Ela não ia permitir. – Não fique triste – disse Dante, erguendo o rosto dela com o polegar. – Não estou triste. Você nem ao menos me conhece. Por que está sendo tão bom comigo? – Sério, você vai mesmo agir assim? – Ele sorriu e balançou a cabeça, incrédulo. – Você não é tão misteriosa, afinal. Ela cruzou os braços. – E o que você acha que sabe sobre mim?


– Sei que você gosta de vestir uma armadura e manter as pessoas afastadas, mas, lá no fundo, você é doce e atenciosa. Vi você com minha família, em especial com Massimo. Você o fez sentir como se ainda fosse um membro contribuinte da família. – Fico feliz em saber que minha visita ajudou. Espero poder voltar lá. – Você pode... Se continuar aqui. O quê? Será que ela ouvira direito? Ela não estava entendendo o que estava acontecendo. Algum tempo atrás era ela quem estava lutando para fazer o acordo funcionar, e ele estava resistente. E agora, do nada, ele queria que ela ficasse. – Por quê? – Por que não? – Isso não é resposta. Por que essa mudança repentina de ideia? – Tive a chance de pensar melhor no assunto. E acho que podemos ajudar um ao outro. – Está dizendo isso por causa da minha história? Isso é algum tipo de comiseração? – Não. – A resposta veio rápida demais. – Por que você diz isso? Ela deu de ombros. – É o único motivo pelo qual eu acho que você gostaria que esse projeto desse certo. Ou há mais alguma coisa que eu não saiba? Havia um olhar peculiar no rosto dele. Seria surpresa? – Diga logo, Dante. Do contrário, eu irei embora daqui. Se você não consegue ser honesto comigo, então não poderemos trabalhar juntos. – E ela estava falando sério. De alguma forma, ela arranjaria o dinheiro para Jules ir para a faculdade, para alcançar seu sonho de poder ajudar outras crianças desafortunadas. Ele suspirou, frustrado. – Eu conversei com meu advogado antes do jantar. – E? – Ele disse que nós poderíamos romper com o contrato, mas que isso não seria rápido nem barato. O instinto dizia a Lizzie que ele não estava contando tudo. – E o que mais? Dante esfregou a nuca. – Alguém já lhe falou que você é insistente? – Sou quando preciso ser, quando sei que não estou ouvindo toda a verdade. – Bem, é isso. Meu advogado me aconselhou que seria mais fácil ir adiante com o projeto. E ele salientou que o ristorante iria se beneficiar com a exposição. Então era isso. Ele estava focando no próprio bem. Ela não podia culpá-lo, pois, tecnicamente falando, ela estava fazendo o mesmo. – E você tem certeza que isso não tem nada que ver com o que eu lhe contei sobre meu passado? – Eu juro. Agora, você vai ficar? Ela não sabia o que dizer. Ela não sabia ao certo como isso iria funcionar, agora que eles tinham se beijado duas vezes e que estavam dividindo um apartamento, por mais espaçoso que fosse. Ao olhar para os lábios dele, ela ficou tentada a roubar outro beijo. – O que foi? – perguntou Dante, arqueando uma sobrancelha. – Está preocupada em sermos colegas de apartamento? – Como você sabe?


O canto da boca tentadora dele ergueu-se em um sorriso. – Por que você não é a única se preocupando com isso. Mas lembre-se do motivo pelo qual você veio para cá: para aprender. Para afiar suas habilidades culinárias. – Mas eu não conseguirei fazer isso se você e eu estivermos... Sabe... – Que tal se eu prometer não beijá-la mais... Até você me pedir. Eu serei o anfitrião e o professor perfeito. Bem, a parte do ensino vai ser um pouco dura no começo, mas eu vou dar o melhor de mim. Ela olhou no fundo dos olhos dele, onde encontrou sinceridade. Seu instinto lhe dizia para confiar nele, mas era nesses novos sentimentos em que ela não confiava. Ainda assim, essa era sua única opção viável para manter sua promessa com Jules. Com um pouco de relutância, ela ergueu a cabeça. – Estamos combinados.


CAPÍTULO 13

NO QUE exatamente ele se metera? O sol flertava com o horizonte quando Dante bocejou e entrou na cozinha do Ristorante Massimo. A equipe de filmagem chegara pontualmente. Dante ficou de lado, observando toda a atividade enquanto um pote de café era preparado. A cozinha imensa logo ficou pequena enquanto os câmeras, os maquiadores e diretores trabalhavam. Em pouquíssimo tempo, as bancadas estavam tomadas por equipamentos e papéis. Dante resmungou internamente enquanto saía do caminho de um jovem assistente carregando uma câmera. A paz e tranquilidade de que ele desfrutava naquela hora do dia estavam arruinadas. Ele foi para o escritório para apreciar seu café. – Ei, o que você está fazendo aí? – chamou Lizzie, atrás dele. Ele virou-se e a encontrou na porta. O sorriso iluminava o rosto dela. Eram as câmeras de televisão que despertavam esse lado de Lizzie? O pensamento o entristeceu um pouco. Ele gostaria de poder invocar tamanha felicidade nela. – Só estou saindo do caminho. Isso tudo é mesmo necessário? – Não há tanta coisa assim. Você devia ver o que eles têm no estúdio. – Não me lembro de todas essas coisas quando eles vieram filmar aqui antes. Ela deu de ombros. – Está pronto? Ele não estava. Porém, ele dera sua palavra a Lizzie e não iria desapontá-la. Ela já fora desapontada por demais em sua vida. – Sim, estou. Precisamos terminar tudo antes que os funcionários cheguem para começar a preparar o almoço. O que precisamos fazer primeiro? – Você precisa de maquiagem. – O quê? – Ele balançou a cabeça e dispensou a ideia com um aceno. – Acho que não. – A ideia é tão ruim assim? – A doce risada de Lizzie mexeu ainda mais com os nervos à flor da pele de Dante. – Eu concordei em ensiná-la a cozinhar diante das câmeras, não em passar delineador. Lizzie aproximou-se.


– Então você não acha que precisa de uns retoques para as câmeras. Ele estreitou os olhos quando ela parou diante dele. Os olhos dela dançavam, alegres. Depois da visita ao avô, aquela era a segunda vez que ele a via tão feliz. Ele não queria acabar com isso, mas maquiagem estava fora de seus limites. – Sem chance. E pode continuar sorrindo, você não vai me fazer mudar de ideia. Ela passou o dedo pelo queixo dele. – Humm, que gostoso. Alguém acabou de fazer a barba. – Isso não tem nada a ver com maquiagem. O toque dela disparou a pulsação dele. Quando ela tocou o lábio inferior dele, uma onda de sensações foi direto para o âmago dele. Porém, antes que perdesse o controle e trocasse o toque por um beijo, ele afastou a mão dela. – É melhor você parar, do contrário, não serei responsável por minhas ações. Os olhos azuis dela se arregalaram, e os lábios róseos e lustrosos formaram um O. Ela era tão linda, tão incrível, tão tentadora. E ele fora o maior tolo do mundo ao prometer que seria um cavalheiro. Mas ele não podia culpar ninguém a não ser a si mesmo por essa tortura agonizante. – VOCÊ PRECISA se soltar. Agir naturalmente. Lizzie olhou para o diretor, achando que ele estava falando com Dante. Afinal, ela já tinha estado diante das câmeras antes. Mas o homem jovem estava olhando diretamente para ela, e não para ele. Lizzie sentiu um aperto no peito. – Eu... estou sendo natural. O homem balançou a cabeça e virou-se para falar com o câmera. Dante aproximou-se dela. – O que foi, Lizzie? Onde está a mulher que até pouco tempo atrás estava me importunando sobre maquiagem? Ela se recusou a deixar que ele a irritasse. – Por falar nisso, vejo que você cedeu. E está ótima em você. Só está faltando um pouco mais de delineador. – O quê? – Ele pegou uma panela de alumínio e a ergueu, para ver seu reflexo. – Eu não estou usando delineador. Ela sorriu. – É isso que eu quero – disse o diretor. – Quero essa interação cintilante diante das câmeras. Lizzie murmurou internamente. Aquele homem não sabia o que estava exigindo dela. Ela olhou para Dante, que recolocava a panela no lugar. Ela não era a única que voltara a colocar a armadura. Ele parecia estar mantendo a distância, também. Será que ele estava arrependido do beijo? Ou era outra coisa mais profunda? Teria a ver com o fato de ele morar em um apartamento espaçoso, grande demais para uma pessoa só? – Muito bem, vamos tentar essa tomada mais uma vez. Lizzie voltou para seu lugar, tentando ao máximo relaxar e se esquecer das câmeras. Porém, quando Dante passou por ela explicando como preparar a pasta alla gricia, ela pôde sentir o perfume dele. Seria tão fácil ceder aos seus desejos. Mas o que ela ganharia com isso? Decepção e um coração partido.


– Corta. – O diretor caminhou até ela. – Não estou entendendo. Nós já trabalhamos juntos, e você foi ótima. Qual o problema? O problema era que Dante estava irresistivelmente sexy naquele uniforme branco e justo. Ela engoliu em seco. Ao respirar fundo para se acalmar, ela lembrou-se do perfume do sabonete dele, divino. O que ela deveria fazer? Toda vez que ele se aproximava dela para lhe mostrar como preparar um prato, ela entrava em pânico – com medo de acabar se apaixonando por ele. E isso simplesmente não podia acontecer. – Não há nenhum problema. – Ela torceu para ter soado convincente. – Vou melhorar. O diretor franziu o cenho. – Talvez você devesse fazer uma pausa. Vamos filmar o próximo segmento apenas com Dante. Lizzie se sentiu como uma criança recebendo uma reprimenda severa. Mantendo a cabeça erguida e sem olhar para Dante, ela pegou um café e foi para o escritório, o único lugar onde ela poderia se refugiar dos olhares inquisidores. Ela resistiu à tentação de fechar a porta, pois não queria que ninguém pensasse que ela estava se debulhando em lágrimas. Mais do que tudo, Lizzie estava frustrada. Ela pegou o celular, desejando ouvir a voz de Jules. Sua irmã adotiva sempre sabia como acalmá-la. Lizzie estava prestes a digitar o último número quando se lembrou da diferença de fuso horário. Lizzie guardou o celular no bolso. O que ela deveria fazer? Dante estava influenciando cada vez mais a vida dela. E desde quando ela deixava um homem lhe importunar tanto? Ela podia ser profissional. E não era uma adolescente com uma quedinha juvenil. Ela era uma mulher, com responsabilidades. E era melhor começar a agir como tal antes que o segmento fosse pelos ares. – Você está bem? – perguntou Dante. – Estou bem. Por que todo mundo fica me perguntando isso? – Porque você não está agindo como si mesma. – Os olhos dele estavam cheios de preocupação. – Conte o que a está incomodando. Talvez eu possa ajudar. – Não faça isso. Ele franziu o cenho. – O quê? – Não haja como se fôssemos algo que não somos. – Se ele continuasse a tratá-la desta forma, a resolução dela iria ceder. E ela não queria depender dele, pois sabia o que aconteceria: ele iria abandoná-la, assim como o ex dela fez. Homens não querem saber de nada complicado. E ela estava longe de ser descomplicada. – Não sei do que está falando. Tudo que eu queria era ajudar. – Ele ergueu as mãos inocentemente. – Mas posso ver quando não sou necessário. Ele saiu pela porta. Que bom. Não que ela estivesse feliz por ele estar chateado. Mas Lizzie podia lidar melhor com a agitação dele do que com a bondade. Por fim, ela voltou para a cozinha. O diretor a acompanhou com os olhos, estudando-a. – Pronta? Ela assentiu. O diretor os colocou em seus lugares, e ela sentiu a distância de Dante. Ela sentia muito pelas coisas precisarem ser desta forma, mas, pelo menos agora, ela podia pensar direito. E desta fez foi Dante quem precisou refazer suas cenas, até o diretor ficar satisfeito.


Ela só precisava pensar que Dante não era ninguém especial. Mas isso seria possível, em longo prazo? Como ela conseguiria ignorar seus sentimentos crescentes, achando Dante uma pessoa fascinante em todos os sentidos? Lizzie estava em sérios problemas.


CAPÍTULO 14

NADA MAL. Lizzie refreou um bocejo ao servir-se de uma xícara de café. Era sexta à noite, e o restaurante finalmente estava fechado. Ela estava feliz por não ter filmagens no dia seguinte, pois as manhãs estavam sendo puxadas. No sábado de manhã, a equipe iria filmar alguns pontos de Roma, para as chamadas comerciais. E ela não poderia estar mais feliz. – Acho que você não vai querer beber isso. Ela virou-se ao ouvir a voz de Dante. – Por que não? – Essa coisa está forte o bastante para tirar a tinta da Red. Você jamais dormirá depois de beber esse café. Ela segurou uma risada. – Não se preocupe, ficarei bem. Dante ergueu uma sobrancelha antes de voltar a limpar a grelha. Ele realmente era do tipo de cara que gostava de colocar a mão na massa, o que não deveria surpreendê-la. Ela nunca o vira delegar suas tarefas à equipe. Cada um tinha seus afazeres específicos, e todos trabalhavam em harmonia. Dante foi ótimo durante as filmagens. Ele podia ser rabugento como um urso velho em se tratando de assuntos como maquiagem, mas acabou se revelando para ela diante das câmeras – para todos. Ela inclusive podia jurar que ele estava se divertindo. Era incrível o quanto demorava para filmar um segmento curto, mas valia muito a pena. A experiência com certeza a faria se destacar da concorrência quando ela voltasse para Nova York, em busca de um cargo de chef em algum restaurante chique de Manhattan. Ela levou o café para o escritório e sentou-se em um espaço livre do sofá. Assim que ela ficou à vontade, Dante entrou na sala. – Sabe, você deveria ter aceitado minha proposta para tirar a tarde de folga. – Ele lhe lançou um olhar do tipo “eu avisei”. Ela deu de ombros. – Eu queria entender como as coisas funcionam por aqui. – E agora você está exausta.


– Olha só quem está falando. Você trabalhou as mesmas horas que eu. – Mas eu estou acostumado. Isso sim a surpreendia. Por que um homem jovem e incrivelmente sexy passava todo o seu tempo no restaurante? Com certeza ele deve ter uma vida social agitada fora dali. A imagem dele em um terno surgiu na mente dela. – Algum problema? Ela olhou para Dante. – Oi? – Você franziu a testa. É o café? Eu falei para você não bebê-lo. Sem querer revelar seus pensamentos verdadeiros, ela disse: – Sim, ele está frio. Vou só jogá-lo fora e depois irei para cima. Você vem? Ele olhou o escritório bagunçado. – Eu deveria dar uma organizada aqui. Ela reteve uma risada. O lugar precisava mais do que “uma organizada”. – Você já pensou em contratar alguém para arrumar esses papéis velhos? – Não acho que exista alguém disposto a aceitar esse desafio. Meu avô não era um homem de negócios. Ele fazia apenas o mínimo. E acho que sou do mesmo jeito. Prefiro ficar na cozinha a conversar com os clientes. Ela também preferia o anonimato da cozinha ou do escritório. – Bem, não fique acordado até tarde. – Ela foi para a porta. – Não queremos você com olheiras diante das câmeras amanhã. – Você possui um meio termo? Ela se virou. – Como assim? – Você ou está muito séria, ou está brincalhona. Não há um meio termo? Ela nunca havia pensando muito nisso. Será que Dante via algo que ela nunca havia reparado? Será que ele estava certo? Ele se aproximou dela. – Se você consegue controlar a conversa, então nada escapa, aqueles pedacinhos de informações da sua vida que permitem que os outros saibam quem você realmente é. Você mantém as pessoas a uma distância segura. Ela estreitou os olhos. – Desde quando você se transformou em um especialista sobre mim? – Sou bom em ler as pessoas. E você me intriga. Em qualquer outra ocasião, ela teria ficado feliz em saber que intrigava um homem, mas não quando ele podia ver aspectos dela que a deixavam desconfortável. – Está tentando me dizer que você consegue ler mentes. Não, espere, talvez você seja um adivinho? Posso imaginá-lo com um turbante colorido, encarando uma bola de cristal. – Ela forçou um sorriso, tentando amenizar a conversa. – Aí estão as piadinhas. Provando que estou certo. Ele estava certo. Droga. Ela nunca havia percebido que, para se proteger das pessoas quando o assunto ficava pessoal demais, ela desconversava com uma piada. Qualquer coisa para fugir do foco do assunto.


E depois de tanto tempo com essas barreiras, ela não sabia se conseguiria baixar a guarda e ser ela mesma – especialmente perto de um homem que fazia com que seu coração se acelerasse apenas com um olhar. Porém, algo dentro dela queria que as coisas fossem diferentes entre ele e ela. Era muito solitário estar sempre afastando as pessoas. – Eu sou assim. – Ela não sabia como ser outra pessoa. – Sinto muito se isso não se enquadra em seu ideal de mulher perfeita. Ele aproximou-se ainda mais dela. Cada fibra do corpo dela queria jogar-se nos braços dele. – Lizzie, você não precisa ser perfeita. – A voz dele era tranquila e reconfortante. – Você só precisa ser você mesma, e perceber que nem todo mundo quer feri-la. Eu não vou ferir você. Ouvir aquelas últimas palavras foi como tomar um banho de água fria. O ex dela dissera a mesma coisa para tentar levá-la para cama. Mas, quando a oportunidade bateu na porta dele, ela foi recompensada com rejeição. Ele mal podia esperar para deixar Nova York – para deixá-la para trás. Perceber o quão pouco ele ligava para ela deixou uma cicatriz profunda. Lizzie não iria acreditar naquelas palavras de novo. Ela afastou-se de Dante. O olhar dele vasculhou o dela, em busca de respostas para perguntas não ditas. Quando o olhar dele recaiu sobre os lábios dela, Lizzie prendeu a respiração. O que ele ia fazer? Ele prometera que só a beijaria novamente se ela pedisse. Será que ele honraria sua promessa? Dante pigarreou. – É melhor você subir agora. – A voz dele estava mais grave do que o normal. – Senão, sou capaz de quebrar minha promessa. E um DeFiore jamais quebra uma promessa. Com as pernas parecendo de borracha, ela saiu para o ar quente da noite. Precisava tomar um banho para relaxar, do contrário, não iria conseguir dormir. Foi no elevador que ela percebeu que, se ele a tivesse tocado, ela não teria resistido. Ela o desejava tanto quanto ele a queria. Estava tudo escrito nos olhos dele: a necessidade. O desejo. Não ia ser fácil dormir naquela noite. O QUE havia de errado com ele? Dante levantou-se da mesa e foi até a janela. As luzes da cidade obliteravam as estrelas, mas ele sabia que elas estavam lá – assim como ele sabia que havia algo crescendo entre ele e Lizzie. Ele não sabia o que era, mas sabia que era algo definitivamente forte. Ela surgira do nada na vida dele, desafiando o que ele achava que queria para a vida. Mas, acima de tudo, ela trouxera a diversão de volta para sua vida. Ele gostava de dividir a cozinha com ela. Ele até ia para a cama todas as noites ansioso pelo dia seguinte. O que Lizzie tinha que o fazia sentir coisas que nunca experimentara antes? O dia seguinte seria sábado, o mais corrido no ristorante. O lado responsável dele lhe dizia que era melhor ir para a cama. Mas a ideia de ficar deitado no escuro enquanto imagens daquela mulher dançavam em sua mente era penosa. Dante cerrou os punhos, refreando um gemido. Andar de um lado para o outro tampouco estava ajudando. Pelo menos, se deitasse, seu corpo teria o merecido descanso, e com sorte o sono finalmente chegaria. Mas, primeiro, ele precisava de um drinque.


Só de cuecas boxer, ele caminhou silenciosamente até a cozinha escura. Porém, ao dobrar o canto da sala, a porta da geladeira abriu-se e ele parou de chofre, intensamente cativado pela cena diante dele. De costas, Lizzie estava debruçada dentro da geladeira. Um par de shorts de renda cor de pêssego emoldurava as coxas e as nádegas firmes dela. Ele engoliu em seco, incapaz de desviar o olhar. Então, percebendo que estava espiando-a, ele pigarreou. Sua boca ficou subitamente seca. – Precisa de alguma coisa? Lizzie deu um pulo e se virou. – Eu não tive a intenção de acordar você. – Você não me acordou. Ela fechou a geladeira, e a escuridão os envolveu. Dante acendeu a luz no interruptor perto do fogão. Ele não se cansava da beleza dela. – Também não consegue dormir? – perguntou ela. – Muita coisa na cabeça. – Ele não iria admitir que imagens dela enchiam a mente dele. Imagens que, todavia, não se comparavam ao que se encontrava diante dele. As alças do top dela descansavam sobre os ombros de mármore, e seu cabelo liso estava solto. Ele não sabia que ela podia ficar ainda mais linda. Suprimindo um murmúrio de frustração, ele foi para a geladeira. Ao abri-la, nada lhe chamou a atenção. Depois, ao virar-se, o olhar dela se encontrou com o dele. Os dedos dela brincavam com as rendas do top. – O que está preocupando você? – Nada em particular. Só vim pegar algo para comer. Ele estava faminto, mas não era de comida. Ao olhar de novo para ela, ele percebeu que ela havia cruzado os braços sobre os seios. Não era hora para modéstia. – Sabe, você não precisa ficar tão desconfortável ao meu redor. – Ele deu um passo na direção dela. – Eu prometo que quero ser apenas seu amigo. – Acho que é mais do que isso. – Ela arqueou uma sobrancelha. – Uma amizade colorida, talvez? – Ei, isso não é justo. Eu mantive minha palavra. Eu não a toquei. – Ele deu outro passo na direção dela. – Eu não a peguei em meus braços, não acariciei seu pescoço e seu rosto, e não tracei o contorno dos seus lábios com o polegar. O olhar azul dela perfurou fundo o dele, repleto de desejo. Ele sabia que ela o desejava tanto quanto ele. E sabia também que abrir essa porta no relacionamento deles mudaria tudo drasticamente. Maldição. Por que ele prometera ficar com as mãos longe dela? Agora tudo que ele podia fazer era trabalhar com as palavras. Não era um poeta, mas, de repente, sentiu-se inspirado. – Eu... achei que você tinha dito que seria um cavalheiro? – Eu disse que não iria tocá-la, que não iria beijá-la, até você me pedir. Mas não disse nada sobre expressar como eu me sinto. Ela deu um passo na direção dele, e seus corpos quase se tocaram. – E como você se sente? Com o coração batendo contra as costelas, ele disse: – Eu quero tanto que não consigo pensar em outra coisa. Não consigo comer. Nem dormir. Só consigo pensar em você. Você tem ideia do quanto eu quero abraçá-la junto ao meu corpo? Depois, eu iria beijar a sua boca. Eu não a deixaria com dúvidas sobre como seria bom se ficássemos juntos.


Lizzie olhou dentro dos olhos dele, como se pudesse ver a alma dele. Ninguém jamais o havia encarado dessa forma. Ele prendeu a respiração enquanto esperava que ela cedesse. Ela inclinou a cabeça para os lados, e seu cabelo cascateara sobre o ombro. – Você tem certeza disso? – Sim, tenho. – A cada segundo, ele perdia um pouco do autocontrole. – Você está me deixando distraído. É um milagre eu não ter causado acidentalmente um incêndio no restaurante. Os lábios dela se curvaram. – Você é muito profissional para fazer algo assim. – É o que veremos. Não sei se vou conseguir esquecer a imagem de você com essa roupa, aqui. – Ele resmungou de frustração. Com um sorriso sensual, ela tocou o peito nu dele. O toque lançou tremores de excitamento pelo corpo todo, e Dante inspirou tremulamente. Lizzie tinha ideia do que estava fazendo com ele? Era a tortura mais deliciosa que ele já experimentara. Porém, ele tinha que manter sua promessa. Não queria causar mais uma decepção na vida dela. Seus olhares se uniram. Tudo que ele conseguia pensar era naqueles lábios. Dante queria desesperadamente mostrar como ela o fazia se sentir. Era assim que as pessoas se apaixonavam? Não que ele estivesse se apaixonando por ela. Estava? Dentro dos olhos dela, ele teve um vislumbre de seu futuro – um futuro ao lado de Lizzie. Ele queria que ela olhasse para ele com aquele mesmo desejo ardente para o resto de suas vidas. A revelação abalou as estruturas dele, trazendo-o de volta à realidade. Dante segurou os pulsos dela e os afastou, esperando que assim pudesse pensar mais claramente. – Você realmente não é do tipo que volta atrás, não é mesmo? – Havia um tom de deslumbramento na voz dela. – Exato. Mas, se você continuar a fazer isso, vou acabar perdendo o controle. – Talvez eu queira que você perca. O quê? O olhar dele estudou o rosto dela. Um sorriso dançou pelo rosto de Lizzie. Ele honestamente não sabia se aquilo era outro dos testes dela ou um convite. Com um gemido de frustração, ele soltou os punhos dela e se afastou até ficar com as costas contra o fogão. – Não fique assim. – Ela deu um passo na direção dele. Quando ela foi tocá-lo novamente, ele interveio: – Não, Lizzie. Você já se divertiu, agora me deixe... Por favor, vá embora. – Não quero deixar você sozinho. Talvez eu queira pegá-lo em meus braços e fazer tudo aquilo que você falou. – Isso é um convite? – Dante, eu o desejo tanto quanto... Era tudo que ele precisava ouvir. Em um segundo, ele a tomou nos braços e dominou seus lábios. E apesar da ideia de parar ser agonizante, ele precisava ter certeza que ela também queria isso. – Tem certeza de que quer isso? Os olhos grandes dela brilhavam de desejo. – Sim. Em um piscar de olhos, ele a ergueu nos braços e a levou para seu quarto – um quarto que ele jamais havia compartilhado com outra pessoa.


Ele nĂŁo tinha certeza do que aconteceria entre os dois depois daquela noite, mas sĂł pensaria nisso depois. Bem depois.


CAPÍTULO 15

GOTA APÓS gota... As muralhas de gelo ao redor do coração dela derreteram. Lizzie sentia-se exposta. Vulnerável. Uma posição na qual havia jurado nunca mais se permitir estar. Ela desceu correndo as escadas, sem saber como encontraria forças para não ficar ao lado de Dante, onde ela queria estar naquele exato momento. Mas ela não podia ficar. Ela não podia se dar ao luxo de aprofundar ainda mais as coisas. Seu tempo na Itália estava contado. Em algumas semanas, ela iria voltar para os EUA, onde suas responsabilidades aguardavam-na. E ela não tinha a intenção de deixar o coração na Itália, sendo uma espécie de mártir do amor. Dante e ela tiveram... uma aventura de uma noite só. Essa percepção a deixou espantada. Ela nunca achou que fosse fazer isso. Com uma xícara de café fresco, ela foi para o escritório. Não tinha ideia de como Dante podia aguentar tamanha bagunça. Era o exato oposto da organização imaculada da casa dele, o que explicava por que quase tudo ali era datado de anos atrás. E ela não conseguia encontrar nenhum pedido ou duplicata recente. Ele provavelmente trabalhava nisso lá em cima, deixando o espaço ali como uma lembrança do avô. Dante devia sentir muita falta dele. Ela sabia o que era isso. Sentindo a necessidade de ouvir a voz de Jules, para gravar na mente que precisava estar ali, e não aninhada em Dante na cama, ela sacou o celular. Ele tocou uma, duas, três vezes... – Oi, Lizzie, o que foi? – A voz de Jules estava um pouco grogue. – Aquele fulano lá ainda está dando trabalho? – Eu... só queria ver se está tudo bem aí. – Geralmente ela contava tudo para Jules, mas, de repente, ela se sentiu reprimida. Um gemido soou pela linha, o barulho que a irmã fazia ao se espreguiçar pela manhã. Lizzie sorriu. Ela não conseguia imaginar-se vivendo longe de Jules. – Lizzie, posso ouvir na sua voz que você precisa falar comigo. – A preocupação dela soou pelo telefone, sem interferência. Aquela ligação fora um erro.


– Pare de se preocupar. Estou bem. Dante e eu estamos nos entendendo. – Lizzie correu o dedo por uma pilha alta de papéis. – E você, o que conta de novo? – Participei de uma entrevista para a faculdade. Foi um evento durante o dia todo, na verdade. Eles inclusive levaram os candidatos para um jantar elegante. – Espero que você não os tenha assustado com a sua maquiagem e seu conjuntinho preto e branco – brincou Lizzie. Jules suspirou. – Você precisa acreditar mais em mim. Na verdade, peguei algumas roupas suas emprestadas. E ainda recebi vários elogios. A animação fervilhando no peito de Lizzie a deixou sorrindo. – Isso significa que você está pronta para renovar o guarda-roupa? – Sem chance. Estou feliz com ele. – Claro que está. Jules usava a maquiagem e as roupas como camuflagem, para que as pessoas não vissem a verdadeira Jules. Mas Lizzie esperava que algum dia a irmã se sentisse segura o suficiente para baixar a guarda. Enquanto as cicatrizes de Lizzie eram internas, Jules já não tinha a mesma sorte e tomava todo o cuidado para ocultá-las. – Enfim, foi tudo bem, e me disseram extraoficialmente que eu fui admitida. Mas há toda uma papelada antes de eu receber a notificação oficial. – Havia um desânimo distinto na voz dela. – Lizzie? Está aí? – Hã, sim. Isso é ótimo! Eu sabia que você conseguiria. E não se preocupe com nada além dos seus exames finais. Tenho tudo sob controle. – Sei que há algo incomodando você. Se não está feliz aí, volte para casa. – Não é isso. Só estou cansada. Não dormi muito. – Tem certeza que esse tal de Dante não tem nada a ver com isso? – Juro que ele tem sido ótimo comigo. – Lizzie piscou repetidamente, mantendo as emoções sob controle. – Se quer saber, estou com saudades de casa. Sinto falta da minha fiel escudeira. – Também sinto a sua falta. Mas você logo estará em casa. – Eu sei. E mal posso esperar. – E eu aqui achando que Roma seria a vida que sempre sonhou. Fiquei com medo de você se apaixonar aí e nós nunca mais nos vermos. Jules chegara muito próxima da verdade. Talvez Lizzie precisasse mesmo da opinião de outra pessoa. – A verdade é que... Dante e eu... Nós... – Vocês dormiram juntos? – A animação na voz de Jules ecoou pelo telefone. – Sim. Mas foi só uma noite. Não significou nada. – Lizzie não queria atormentar Jules antes das provas finais, e, para isso, aquela mentira seria benigna. – Não se preocupe. Eu estarei em casa logo. E a verdade era que isso não voltaria a acontecer. Um caso com ele significaria correr o risco de ter o coração partido. E ela já se sentia mais próxima dele do que com qualquer pessoa que ela conhecia. NÃO SIGNIFICOU nada. Aquelas palavras foram como um tapa na cara de Dante.


Ao acordar, ele encontrara um espaço vazio e frio ao seu lado. Ele começou a se preocupar se havia sonhado com aquela noite incrível. Se não fosse pela impressão da cabeça de Lizzie no travesseiro e os resquícios do perfume floral dela, ele teria considerado a noite passada como um sonho vívido. Ao terminar de vasculhar o apartamento todo, ele começou a entrar em pânico. Onde ela se metera? Por que partira? Ela se arrependera de fazer amor com ele? Agora, parado na porta do escritório, seu pior medo se confirmava. Ela se arrependera da noite de amor com ele. Enquanto ele pensava que aquilo pudesse ter sido o começo de algo novo, ela pensava que aquilo não podia mais acontecer. As entranhas dele deram um nó doloroso. A culpa por ouvir aquelas palavras era inteiramente de Dante. Ele não deveria estar ouvindo atrás da porta. Ainda assim, nem mesmo Red poderia tê-lo tirado dali. Era melhor ouvir a verdade do que interpretar as coisas de forma errada e se perder em fantasias. Como ele fora tão tolo? Ele não podia acreditar que cedera aos instintos, pois nunca havia perdido o controle dessa forma. A verdade era que ele se deixara levar ao acreditar que ela finalmente havia baixado a guarda de vez, mas isso fora apenas a imaginação dele. Lizzie tinha apenas uma meta. Terminar seu trabalho ali e voltar para Nova York. Bom, ele estava tranquilo com isso. Ela não teria que se preocupar com ele no pé dela. Isso nunca iria acontecer. Sem chance. Descobrir aquilo naquele instante fora a melhor coisa que poderia ter acontecido. Relacionamentos sérios não funcionavam para os homens DeFiore. De uma forma ou de outra, eles sempre acabavam se queimando no final das contas. Dante, por fim, entrou no escritório. – Então é aqui que você estava se escondendo. Lizzie deu um pulo e levou a mão ao peito. – Não estou me escondendo. E há quanto tempo você está aí? – Não muito. Uma pergunta mais importante do que essa é a seguinte: por que você desapareceu sem falar anda? – Ele deveria deixar o assunto de lado, mas não conseguiu evitar. O orgulho dele havia sido machucado e precisava de cuidados. Ele se recusava a acreditar que se deixara levar por uma mulher que o usara apenas por uma noite. Lizzie desviou o olhar para a mesa. – Não consegui dormir. Porque ela estava horrorizada com o que deixara acontecer entre os dois. Ele refreou um gemido de frustração. – Está preocupada com alguma coisa? – Hã... Não. Eu... acho que você estava certo. Eu tomei muito café ontem à noite. Ele pigarreou, recusando-se a deixar a agitação transparecer em sua voz. – E você veio para cá pensando em fazer o quê? Organizar essa bagunça? Os ombros dela, que ele havia beijado sem restrições algumas horas antes, tombaram para a frente. – Achei que nós poderíamos organizar tudo isso juntos. – E você estava tão animada para organizar tudo isso que pulou da cama antes do amanhecer? – Eu gosto de organizar papéis. – Deve gostar mesmo. Ela assentiu. – Tenho formação em Administração.


Ele lutou para não deixar a admiração surgir em seu rosto. Mais uma prova de que ele a conhecia muito pouco... E ele não podia ignorar a vontade persistente de aprender mais sobre a linda loira em cujos olhos azuis ele poderia se perder. Ele cruzou os braços e seu olhar a seguiu, enquanto ela movia pilhas de papéis. – Sabe, o trabalho no escritório não está incluso no contrato. – Não achei que estávamos sendo tão formais. – Acho que seria o melhor. Não queremos esquecer o motivo pelo qual você está aqui. Ela franziu a testa. – Se você está se referindo à noite passada... – Não estou. Foi uma noite agradável, mas tenho certeza de que nenhum de nós deseja repeti-la. – Mentiroso. Mentiroso. – Então está tudo bem entre a gente? – Os olhos dela estavam cheios de esperança. – Claro. – As coisas estavam longe de estarem bem entre eles, mas ele não iria ceder. Afinal, dera a palavra, e um DeFiore não quebrava suas promessas. – Você ainda deseja completar as filmagens, não deseja? Ela assentiu com uma determinação férrea. Ele não queria admitir, mas admirava a maneira como ela se comprometia com as coisas, mesmo não querendo estar perto dele. Porém, havia algo mais. Ele se aproximou dela, notando as olheiras embaixo dos olhos dela. – Não precisa perder seu tempo aqui. – Ele não queria que ela ficasse abatida por causa dele. – Você deveria dormir, já que... Você não dormiu muito na noite passada. Não quero que você fique andando por aqui como um zumbi. – Eu ficarei bem. Eu... eu não durmo muito. Ele não ia discutir com ela. Se Lizzie encontrava conforto organizando papéis mais velhos do que ele conseguia se lembrar, por que impedi-la? – Tudo bem. Organize o quanto quiser. Ela arregalou os olhos, erguendo as sobrancelhas. – Tem certeza? – Sim. Mas só tenho uma pergunta: como você planeja organizar as coisas que estão em italiano? Ela deu de ombros. – Vou dar um jeito. Estudei um pouco de italiano na escola. Mais uma surpresa. Elas continuavam surgindo, e sem o auxílio da cafeína, ele não iria conseguir manter a expressão neutra por muito mais tempo. Ele passou a mão pelo cabelo, não se importando em bagunçá-lo. – Tanto faz. Essa bagunça precisa ser organizada antes de... – Antes do quê? Ele não podia acreditar que quase entregara seus planos de vender o ristorante. Ele nem havia discutido a ideia com o avô. Lizzie tinha algo que o deixava tranquilo, como se ele pudesse discutir qualquer coisa com ela. Mas obviamente essa sensação não era recíproca. – Quando tiver espaço sobrando aqui, eu planejo trazer para cá alguns arquivos que estão no meu escritório lá em cima. – Entendi. – Ela o encarou. – Antes de você ir, acho que deveríamos conversar sobre a noite passada...


– Estava tarde. Nenhum de nós estava pensando com clareza. É melhor esquecermos isso. Ainda temos que trabalhar juntos. Ela ficou boquiaberta, sem dizer nada. O olhar dela dizia que havia centenas de pensamentos correndo pela mente dela, mas nada disso era problema dele. Ao admitir que a noite passada fora um erro, ele a nocauteara. Ele se recusava a pensar em como ela o havia descartado tão rapidamente. Logo ela iria embora. Dante só precisava descobrir uma forma de evitá-la ao máximo até a partida dela.


CAPÍTULO 16

FINGIR QUE nada acontecera? Ele estava brincando? A ideia ricocheteou a mente dela pela milésima vez. A solução dele era fingir que não havia um elefante pintado de bolinhas cor-de-rosa na sala. Impossível. Como ele conseguiria simplesmente esquecer a noite de amor deles? Conforme o dia se transformava em semanas, ele agia como se aquela noite avassaladora não tivesse acontecido. E ele não lhe dera chances para se explicar ou pedir desculpas. Ele interagia com ela para falar apenas o básico. A amizade fácil e gostosa que eles haviam desenvolvido havia naufragado. Ela sentia tanta raiva do novo amigo que chegava a se surpreender. E o pior de tudo é que a nova relação gélida deles estava transparecendo nos segmentos do programa. O diretor parecia não saber como fazer para que eles recobrassem a antiga camaradagem. Lizzie não podia deixar que as coisas acabassem assim – havia muita coisa em risco. Enquanto passava outra noite em claro, ela teve uma ideia. Uma chance para aplacar as coisas entre ela e Dante. Em vez de passar outro fim de semana solitário conhecendo a cidade enquanto Dante ia para a vinícola, ela iria se convidar para acompanhá-lo. Armada com uma antiga receita de família, que encontrou enquanto ajeitava o escritório, e com Massimo ao seu lado, ela iria comandar a cozinha. Prepararia um banquete para a família e, durante o processo, tentaria consertar as coisas com Dante. – Acha mesmo que eles vão gostar? – perguntou ela a Massimo, enquanto ele se sentava na grande mesa da cozinha, próxima à janela. – Você quer saber se Dante vai gostar? Quanto mais tempo ela passava com Massimo, menos reparava na lentidão da fala dele, e, enquanto isso, ele conseguia cada vez mais ler a mente dela. – Sim, também quero que Dante aprove. Um brilho surgiu nos olhos do velho. – Há algo errado entre vocês dois. Não era uma pergunta. Era uma afirmação categórica. Ela desejou que ele não a lesse tão bem. Algumas coisas deveriam ficar entre Dante e ela. – Estamos bem.


Massimo levantou-se e, com a ajuda do andador, aproximou-se dela. – Olhe para mim. Ela hesitou antes de fazê-lo. Lizzie não sabia o que ele ia dizer, mas seu instinto dizia que seria algo importante. – Meu neto testemunhou muitas perdas em sua vida. Ele também foi o alvo errado do luto do pai dele, depois de perder minha filha. Eu sei tudo sobre luto. A perda da minha doce Isabelle quase me matou. Ele pode fazer um homem bom dizer coisas que ele não tem intenção. Pode fazer com que uma pessoa vista uma armadura, para se defender de futuras perdas. O impacto daquelas palavras respondeu muitas perguntas e confirmou as suspeitas de Lizzie. – Mas por que o senhor está me contando isso? Isso não é da minha conta. – Vejo como meu neto olha para você. É da mesma forma que eu olhava para a avó dele. Mas ele tem medo. Medo de ser machucado como aconteceu com o pai e o irmão. Se você se importa com meu neto do jeito que acho que se importa, você vai lutar por ele. – Eu não posso. Mesmo que houvesse algo entre a gente, minha vida é em Nova York. – O amor sempre encontra uma forma... – Humm... Que cheiro bom é esse? Stefano entrou na cozinha, seguido por Dante e o pai. Seus olhares famintos examinaram a bancada e o fogão. Ela os mandou embora para se prepararem para o jantar, enquanto ela colocava a mesa. Logo os quatro homens estavam de volta, em camisas e calças limpas. Por sorte, ela teve tempo de correr para o quarto e colocar um vestido. – Espero que gostem do jantar desta noite. Graças a Massimo, eu pude preparar algumas receitas antigas de família. – Tenho certeza de que está ótimo – disse o pai de Dante, ao se sentar na cabeceira da mesa. Dante desejou ser tão confiante quanto ele. Parecia que um enxame de borboletas tinha tomado conta de seu estômago, ao retirar as tampas de cerâmica das tigelas. Aquilo tinha que dar certo. Ela precisava impressioná-los. Principalmente Dante. Lizzie sentou-se, observando avidamente os homens encherem os pratos. Ela não se deu ao trabalho de servir-se, já sabia o gosto de todas as comidas. Na verdade, ela nem estava com fome. Quando os homens começaram a comer, o silêncio recaiu sobre a mesa. Depois, eles começaram a trocar olhares admirados. O estômago de Lizzie deu voltas. O que estava errado? Ela olhou para Dante, mas a atenção dele estava voltada para a comida. Lizzie então se voltou para Massimo, em busca de algum sinal positivo. Mas, antes que ele pudesse dizer algo, a cadeira dele raspou os ladrilhos do chão. O som ecoou pela sala silenciosa. O homem jogou seu guardanapo de linho na mesa e saiu da sala. Lizzie o observou, horrorizada. Ela levou a mão à boca, refreando um grito. – Nonno – chamou Dante. O homem não se alterou. – Deixe-o. – Stefano lançou um olhar para Dante. Conforme os outros garfos tilintaram contra os pratos, o peso da decepção recaiu sobre Lizzie. Ela sentiu um aperto no peito e refreou um soluço. Aquilo era simplesmente terrível. Em vez do jantar unir todo mundo, ele deixou todos incomodados. Incapaz de ficar ali, contendo as emoções, Lizzie levantou-se e caminhou o mais rápido para a cozinha.


Os olhos dela ardiam. Ela fizera tudo errado. Como conseguira errar tão feio a receita? Ela havia checado tudo várias vezes, embora seu italiano estivesse enferrujado. Será que fora isso? Ela interpretara alguma coisa errado? Sem destino certo em mente, ela continuou andando e saiu pela porta. Ela não tinha noção de quanto tempo havia se passado quando finalmente parou e olhou ao redor. Os raios do sol que se punha davam um brilho mágico às folhas das parreiras. Em qualquer outro momento, ela teria se deixado levar pelo cenário romântico, mas, naquele exato instante, romance era a última coisa na mente dela. Ela deveria voltar, mas ainda não estava pronta para encarar ninguém. Ah, quem ela queria enganar... Não estava disposta a olhar nos olhos de Dante e descobrir que, mais uma vez em sua vida, ela não estava à altura. Havia falhado. Miseravelmente. – ESTÁ FALANDO sério? Dante lançou um olhar fulminante para Stefano. O prato principal que Lizzie havia preparado era um dos mais tradicionais que a mãe deles preparava. Ela só o fazia em ocasiões especiais. – Claro que estou falando sério. Você não viu como vovô ficou atônito? Foi como se ele tivesse visto um fantasma. Dante passou as mãos pelo cabelo. – Acho que eu estava ocupado demais observando o olhar horrorizado de Lizzie. Ela trabalhou o dia todo naquele prato. Não disse nada, mas sei que ela estava ansiosa para agradar a todos... – Para agradar você, irmãozinho. – Eu? Por que você diz isso? – Ele não ia contar ao irmão mais velho o que acontecera entre Lizzie e ele. Sem chance! Do contrário, o irmão não iria parar de dar sermão nele. – Nós só trabalhamos juntos. E mais nada. Stefano o cutucou com o cotovelo. – Se é o que você diz... Dante inclinou-se sobre a grade da varanda e olhou para o horizonte. Mas nem sinal de Lizzie. – Eu só tenho uma pergunta. Dante refregou um resmungo. – Você sempre tem uma pergunta, na maioria das vezes, não é nada da sua conta. – Ah, mas, desta vez, é da minha conta, sim. Pois enquanto você está aí, insistindo que não liga para Lizzie, ela está sabe lá onde. Então, quem vai atrás dela, eu ou você? Dante odiava quando o irmão estava certo. Fazia tempo que ela estava lá fora. E logo escureceria. Ele ficou tentado a segui-la logo após o incidente, mas Massimo havia insistido que ela precisava de um tempo sozinha. O problema era que ela não havia entendido o que havia acontecido com seu jantar e precisava saber que a reação do avô dele não tinha nada a ver com ela. – Dante, está me ouvindo? Ele virou-se e encarou Stefano. – Como eu não ouviria, com você falando no meu ouvido? – Você está ignorando minha pergunta. Quem vai atrás dela? Eu ou você? – Eu vou.


– É melhor ir de carro. Sabe lá até onde ela chegou. – Muito obrigado pelo conselho. Stefano esboçou um sorriso sábio. – Você sempre precisou de um pouco de orientação. Dante tinha coisas mais importantes do que mostrar para o irmão que ele havia crescido, então saltou dentro de Red e ligou o carro. Ele dirigiu em direção à entrada principal, sem saber direito se estava indo na direção certa. Ele não conseguia imaginá-la percorrendo os campos de saia e sandálias. Ele dirigiu devagar, observando atentamente a paisagem. Onde ela estava? Ao aproximar-se da estrada principal, as preocupações dele se multiplicaram. Será que ela fora para os campos e se perdera? Ele parou em uma interseção e esmurrou o volante. Por que ele ouvira o avô? Deveria ter ido atrás dela imediatamente. Um carro passou por ele, e seu estômago revirou. Será que ela estava tão chateada que pegou carona? Com um estranho? O corpo todo dele ficou tenso. Aquilo era culpa dele. Ele estava tão chateado por causa da rejeição dele que construíra um muro impenetrável entre ele e ela. Talvez se não estivesse tão preocupado em não ser ferido por ela novamente, ela não teria tentado impressionar a ele e sua família – sua família disfuncional. Se ele não conseguia deixar o próprio pai satisfeito – sangue do seu próprio sangue – como ela conseguiria fazer isso? Dante olhou para o lado direito da estrada, e nada de Lizzie. Ele então prosseguiu pela esquerda, em direção à cidade. Se alguma coisa acontecesse com ela... Ele interrompeu o pensamento. Nada iria acontecer com ela. Ela estava bem. Tinha que estar. Então, ele avistou a parte de trás de um vestido vermelho. Ele deixou escapar o ar que estava preso em seus pulmões, e agradeceu ao homem lá de cima. Diminuindo a velocidade ao lado dela, Dante baixou o vidro. Lizzie não parou de andar. Ela nem sequer olhou para ele. Ele estava bem encrencado. Então desligou o motor e saiu do carro. Ele não teve escolha senão continuar andando ao lado dela – era isso ou jogá-la sob o ombro. Ele achou que ela não ia gostar dessa última opção. E ele tampouco queria que algum motorista ligasse para a polizia. – Lizzie, quer parar para podermos conversar? Nada. Os passos dela eram longos e rápidos. O carro dele estava ficando para trás. – O que você vai fazer? Caminhar até Roma? Ela parou abruptamente e se virou para ele, com um olhar fulminante. – É melhor do que voltar e encarar sua família. – Lizzie, eles não tinham a intenção de magoar você. É que... A sua comida os surpreendeu. – Eu sei. Eu vi no rosto deles. Seu pai mal podia esperar para sair da mesa. Era como se ele fosse passar mal. – A dor surgiu no semblante dela. – Ah, não. Ele não passou mal, passou? – Não é o que você está pensando. – Dante realmente não queria discutir seus problemas familiares ali, no acostamento. – Venha para o carro comigo. Nós então poderemos conversar. Ela cruzou os braços. – Podemos conversar aqui. – Certo. A verdade é que sua comida ficou fantástica. Ela revirou os olhos.


– Como se eu fosse acreditar em você. Ela virou-se para continuar andando, mas ele agarrou o ombro dela. – Espere. O mínimo que você pode fazer é me ouvir. Ela olhou para a mão dele. Ele a soltou, torcendo para que ela não fosse embora. – Estou ouvindo. Mas não me venha com mentiras. – Não é mentira. A verdade é que o prato ficou exatamente como o de minha mãe. Pelo menos foi o que fiquei sabendo, pois nunca tive a oportunidade de provar nada do que ela preparava. Lizzie levou a mão à boca. – Aparentemente, esse era o prato favorito dela. Ela o preparava em ocasiões especiais, mais notavelmente no aniversário de meu pai. É a primeira vez que ele o provou desde que ela morreu. Então você pode entender como isso desenterrou muitas lembranças inesperadas. Ela piscou repetidas vezes. – Sinto muito. Eu nunca pensei... – Você não deveria ter que pensar nessas coisas. É que minha família nunca seguiu adiante. Ela tem a tendência de remoer velhas histórias e lembranças. E Massimo não tinha ideia de que o prato era algo especial para minha mãe e meu pai. – Eu me sinto muito mal por ter chateado todo mundo. – Não precisa se preocupar. Na verdade, você deve ter sido a melhor coisa que aconteceu à minha família em muito tempo. Os belos olhos azuis dela se arregalaram. – Como você sabe disso? – Minha família tem seguido a mesma rotina há anos. Agora eles têm algo novo para esperar. – Esperar pelo quê? – Por você. – Mesmo? – Quando ele assentiu, acrescentou: – Mas o jantar era para ser especial para você. – Para mim? Por que? Porque desde a noite em que nós... Hã... Você sabe... – Fizemos amor. – Fora algo muito especial para ambos. E ele não podia reduzir a apenas sexo, não importava o que acontecera depois. – Hã, sim... Bem, depois disso, você ficou distante. Eu esperava que o jantar pudesse mudar isso. – Mas não era isso que você queria? Distância? As sobrancelhas finas dela se ergueram. – Por que você acharia isso? Agora era ele quem precisava admitir ter feito uma coisa da qual não tinha muito orgulho. – Eu ouvi você. – Você ouviu o quê? Ele chutou uma pedra no acostamento da estrada desolada. – Quando não encontrei pela manhã, eu saí procurando você. Eu sabia que nenhum dos dois tinha planejado o ocorrido e estava com medo de que você estivesse arrependida. – Mas eu não... Não é o que você está pensando. Ele respirou fundo. – Deixe-me terminar. Não tenho orgulho do que vou dizer. Os olhos dela imploravam para que ele continuasse.


– Quando não a encontrei no apartamento, eu fui para o restaurante, e foi quando ouvi sua voz vinda do escritório. Eu a ouvi ao telefone. E quando você disse que o ocorrido não havia sido nada de mais, eu soube que você estava arrependida. – Ah, Dante, sinto muito você ter ouvido isso. O peito dele se encheu de esperança. – Está me dizendo que isso tudo foi um mal entendido? Ela desviou o olhar. – Eu gostaria de poder dizer isso. Uma dor lancinante acertou o peito dele em cheio. Ele estava parado ali, fazendo papel de tolo diante de uma mulher que não queria nada com ele, a não ser distância. – Nós deveríamos voltar para a casa, para você pegar suas cosias. – Ele virou-se para o carro, sentindo-se um monte de lixo. – Espere! Por favor. – Ela correu para o lado dele. – Quando eu disse aquilo, eu estava no meio de um ataque de pânico. Aquela noite foi muito especial. Mas eu não sabia o que estava sentindo por você. Eu estava apenas com medo de me ferir. – E então eu acabei a ferindo por me distanciar de você. Ela mordeu o lábio inferior, assentindo com a cabeça. Droga. O que ele sabia sobre mulheres e relacionamentos não encheria nem o dedal que o pai dele guardava no criado mudo como lembrança da esposa. – Sinto muito. A última coisa que queria era ferir você. – Eu também não queria magoá-lo. Há alguma chance de sermos amigos? – Acho que podemos fazer ainda mais. – Ele então tomou os lábios dela. O beijo foi breve, pois ele não sabia se aquela era a jogada certa ou se iria assustá-la. Foi com grande pesar que ele se afastou. Porém, quando ela olhou para cima, ela o fez sorrindo, e ele soube que fizera a coisa certa. Ainda havia algo muito especial entre eles. – Viu só, seu jantar foi um sucesso. Ele nos uniu de novo. Obrigado por não desistir de mim. Ela ficou na ponta dos pés e o beijou. Ele não ia deixá-la escapar mais uma vez – seus braços rapidamente envolveram a cintura dela e a puxaram-na para mais perto. Parecia que eles não se viam fazia uma eternidade, ele não queria nem que aquele momento acabasse. Com ela em seus braços, o mundo parecia um lugar melhor. O som da buzina de um carro que passou por eles a fez pular. O rosto dela ficou ruborizado. – Acho que não deveríamos fazer um showzinho. – Por que não? Quem não gosta de um casal... – Ele quase disse “apaixonado”, mas refreou-se. – Um casal divertindo-se em um entardecer de verão? – É isso que estamos fazendo? Sem saber como responder, ele envolveu os ombros dela e a puxou contra o peito. – Que tal se voltássemos para a villa? – Não sei. Não podemos voltar para a cidade? – Mas suas coisas ainda estão lá. Lizzie não se moveu. Quando ele notou a maneira como ela olhava para seu carro, há uma boa distância deles, Dante descobriu como convencê-la a voltar. Balançando as chaves diante dela, ele disse: – Eu deixo você dirigir a Red.


A surpresa iluminou o rosto dela. – Mesmo? – Eu nunca brinco com a Red. Ela pegou as chaves e foi em direção ao carro. – É isso? Você sabe que eu nunca deixo ninguém dirigi-la, não é? – Eu sei. Mas você me deve uma. – Como assim? – Eu aguentei o seu mau humor todos esses dias. – Ela sorriu para ele. – E não reclamei. Ele parou, levando as mãos à cintura. – Eu não estava de mau humor! – Ah, estava sim – disse ela sobre o ombro. – Pior do que um urso acordado durante uma tempestade de neve. É melhor você correr, senão vai perder a carona. – Você não... Talvez sim, dependendo da vontade dela. Dante sorriu e balançou a cabeça. Então, percebendo que ela não diminuiria a velocidade, ele correu para alcançá-la.


CAPÍTULO 17

LIZZIE ENDIREITOU os ombros antes de entrar novamente pela porta dos DeFiore. Ela não sabia o que esperar, mas com certeza não era aquela cena: Massimo lia o jornal enquanto Stefano via futebol em outra sala. – Viu só, não precisa se preocupar – sussurrou Dante, fazendo a pele dela se arrepiar. Ela foi para a cozinha onde descobriu tudo limpo e arrumado. – Ainda não vi seu pai. Dante deu de ombros. – Ele não é muito de ficar sentado. Está sempre reclamando que o dia não tem horas suficientes. – Eu gostaria muito de conversar com ele, para me desculpar. – Você não precisa se desculpar por nada. – Tenho, sim. Eu o atormentei, e isso era a última coisa que eu tinha em mente. – Ele é que deveria estar se desculpando com você. As coisas sempre tem que ser do jeito dele, mesmo que isso deixe os outros infelizes. Ela estudou o cenho franzido de Dante. Ele não estava falando do jantar desastroso. – Já tentou conversar com ele? Dizer como você se sente? – Nem pense nisso. – O tom brusco de Dante a pegou de surpresa. – Escute, sei que há alguma coisa de errado entre você e seu pai. Quando ele entra em uma sala, você sai. O contato entre vocês é mínimo. Dante deu de ombros. – Não é nada. – Não. É definitivamente alguma coisa. E isso vem de alguém que nunca teve um pai, e que moveria o mundo de lugar para ter tido um. Você precisa consertar as coisas antes que seja tarde demais. – Mas não sou eu. É ele. Ele não aprova nada do que eu faço. – Você não está exagerando um pouco? – Na verdade, não. – Ele passou a mão pelo cabelo. – Mas você não vai querer ouvir essa história. Comparado a você, não posso reclamar de nada. Lizzie mordeu o lábio. Em sua ânsia de fazê-lo perceber como era sortudo em ter uma família, ela o fez se sentir pior.


– Meu passado não tem nada a ver com o seu. Mas eu gostaria de saber mais se você não se importar. Dante a encarou, tentando se decidir. O silêncio foi ficando cada vez mais opressivo. E justo quando ela achou que ele fosse afugentá-la, ele começou a falar. – Nós não tivemos um bom começo, já que em troca de um filho a esposa dele morreu. Não foi uma troca justa, exatamente. – Ainda assim, nada que ele possa culpar você. – Eu pareço com minha mãe de diversas formas. Em vez de ser atraído pela vinícola como meu irmão, eu queria outra coisa. Meu pai não me entendia, e nós brigamos continuamente até eu resolver me mudar para Roma. Ele assentiu. – Achei que tinha achado minha vocação, até Massimo se ausentar. As coisas não tem sido as mesmas, desde então. – Ele olhou dentro dos olhos dela. – Se eu lhe contar uma coisa, você promete não contar para ninguém? Ela cruzou os dedos sobre o peito, como costumava fazer com Jules quando eram crianças. – Prometo. – Estou negociando a venda do ristorante... – O quê? Mas por quê? – Acho que é hora de voltar para casa. Fazer as pazes. E fazer minha parte. – E você acha que isso vai fazer você feliz? Ele deu de ombro e desviou o olhar. – Acho que é o melhor que posso fazer para minha família. Talvez assim eu finalmente deixe meu pai feliz. Lizzie teria que refletir bastante antes de dizer qualquer coisa, dada sua pouca experiência com famílias. Com Jules, as coisas eram sempre descomplicadas, mas, em se tratando de dinâmicas familiares maiores, ela ficava se sentindo um peixe fora d’água. – Por que você não conta seu plano para ele? Dante deu de ombros. – Sempre que tento, acabamos brigando. Geralmente sobre escolhas que fiz na minha vida. Ela sentiu o tom de derrota na voz dele, e isso reviveu antigas cicatrizes. – Não desista. Prometa para mim. Isso é muito importante. Dante arregalou os olhos diante da súplica dela. – Farei meu melhor. Por mais que ela achasse que vender o restaurante não o faria feliz, ela sabia que Dante precisava descobrir isso por conta própria. – Agora, onde mesmo você falou que eu poderia encontrar seu pai? SERÁ QUE ela estava certa? Se o pai dele não estivesse nos campos, ele estaria no celeiro, evitando a família. Quando criança, Dante culpava a vinícola pela ausência notável do pai. Porém, ao crescer, ele percebera que essa era a escolha dele, de evitar os filhos. E embora ele não fosse mais tão distante quanto outrora, alguns hábitos eram difíceis de eliminar. – Tem certeza de que quer fazer isso? – perguntou ele, olhando para Lizzie.


Ela entrelaçou os dedos aos dele e sorriu. – Positivo. Ele queria segurá-la em seus braços e sentir aqueles lábios, mas, com o pai por perto, ele se contentaria com o toque dela. Ele segurou com força aquela mãozinha delicada e desceu os degraus. No caminho, Lizzie perguntou sobre os barris de madeira que continham a produção da vinícola, e o interesse genuíno dela pela herança da família dele o impressionou. Ele podia não se dar bem com o pai, mas tinha muito orgulho do trabalho duro dos DeFiore. Era por isso que ele oferecia o vinho da família exclusivamente no ristorante. – Que impressionante. – Lizzie olhou os barris ao redor dela. – E estão todos cheios de vinho? – Esse lugar cresceu muito desde que eu era pequeno. – Dante, é você? Ambos se viraram e encontraram o pai dele com uma amostra do vinho. – Oi, pai. Achei que você estaria aqui. – Estava fazendo alguns testes. – Ele olhou para Lizzie. – Fazemos análises periódicas do conteúdo na parte de cima dos barris, para manter os níveis de oxigenação e evaporação. Isso me mantém ocupado. – O pai dele sorriu, algo que raramente fazia. – Precisam de algo? Lizzie olhou para Dante antes de prosseguir: – Sr. DeFiore, eu lhe devo desculpas pelo jantar. Sinto muito por ter arruinado sua noite... Trazendo à tona lembranças dolorosas. Eu não tinha ideia alguma de que aquela receita tinha um significado especial para você. Houve um silêncio constrangedor. O corpo de Dante ficou tenso – ele não queria sentir o que era ser rejeitado pelo pai. Dante olhou para o pai, pronto para lhe enviar um olhar de aviso, e encontrou-o encarando o vinho na mão. A tensão os envolvia. Quando o pai dele falou, a voz era mais suave do que o normal. – Sou eu quem lhe deve desculpas. Eu reagi muito mal. O jantar... Pegou-me de surpresa. Ele estava com o sabor exato daquele que minha mulher fazia. O ar escapou dos pulmões de Dante como o de um balão furado. Até onde ele sabia, não havia maior elogio para o pai do que comparar os dotes culinários de Lizzie com os da mãe dele. Seria possível que o pai dele estivesse melhorando para melhor? – Vou tentar não fazer nenhum dos pratos favoritos de sua esposa no futuro... – Não. Eu gostaria que você fizesse isso. Sei que minha reação lhe pegou de surpresa, mas ele me trouxe lembranças felizes. – O pai dele deixou o vinho de lado e segurou a mão de Lizzie. – Espero não ter lhe assustado. Gostaria muito que você voltasse a cozinhar para nós novamente. Quer dizer, se você quiser. – Eu... adoraria. – Talvez no próximo fim de semana? Dante por fim falou. – Pai, não podemos vir no fim de semana que vem. Houve uma mudança na programação das filmagens, e eles querem terminar logo, então trabalharemos o fim de semana todo. – Ah, entendi. – O pai de Dante virou-se para Lizzie. – Então, o que acha do meu filho? Ele é bom na cozinha? Os olhos dela se arregalaram.


– Você não sabe? O pai de Dante balançou a cabeça. – Ele nunca cozinha para nós. Lizzie virou-se espantada para Dante. A culpa o consumia. Ele deu de ombros inocentemente. A verdade era que a culinária era uma área em que ele se destacava, e ele não queria que os comentários mordazes do pai lhe tirassem a paz. Porém, ver aquele novo lado do pai o fez repensar. – Teremos que mudar isso. Seu filho é um excelente cozinheiro e também está se saindo um excelente professor. – Posso imaginar. – Havia um brilho diferente no olhar do pai. – Tenho certeza de que ele contou que Massimo não aceitou bem ter que deixar o ristorante para trás e voltar para cá. – Ele me contou. O que posso fazer para ajudar? – É esse o espírito. Estava pensando em celebrar o aniversário dele. – Como uma festa? Ele assentiu. – Algo especial para mostrar que nós... Bem, você sabe. – Para que ele saiba que todos o amam. Ele assentiu. – Vou contratar os músicos. O rosto de Lizzie se iluminou, e ela voltou-se para Dante. – O que acha? Ele não conseguia pensar em algo melhor. – Acho que estamos combinados. Ela sorriu para Dante, e ele sentiu uma sensação boa no peito, que acabou se espalhando pelo corpo todo. E então ele percebeu que, pela primeira vez, estava totalmente à vontade na presença do pai. Lizzie fazia verdadeiros milagres. – Não se preocupe com nada. – Ela deu um tapinha no braço do pai de Dante. – Dante e eu vamos cuidar da comida. Se bem que eu acho que seu filho vai precisar de um carro maior para trazer tudo. Aquilo não era problema. Todo desejo dela era uma ordem. Ele estava com a sensação que sua vida nunca mais seria a mesma depois daquela festa.


CAPÍTULO 18

DUAS SEMANAS antes do cronograma, as filmagens foram encerradas. Lizzie estava exausta. Eles trabalharam duro para a equipe do programa ter conteúdo suficiente para ser dividido em duas temporadas. Dante ainda não falara nada da noite que eles haviam compartilhado na vinícola. Sempre que ela juntava coragem para tocar no assunto, não havia uma boa oportunidade. E ela estava ficando louca sem saber o que iria acontecer. Tecnicamente, Lizzie tinha mais duas semanas em Roma para aprender o máximo possível. Mas suas maiores lições não foram na cozinha. Em algum ponto de sua jornada, ela se apaixonara por Dante. – Preocupada? – perguntou Dante ao entrar na sala, no sábado de manhã. – Estava pensando em você. – Ela o observou ficar surpreso. – Estava? – Com um paletó azul-marinho, camisa branca e gravata castanho-avermelhada, ele estava deslumbrante. – Pensamentos bons, espero. – Definitivamente. E você parece estar vestido de maneira muito formal, para alguém que está indo ajudar com o almoço. – É por que não vou ao restaurante hoje. A cozinha está em boas mãos. E você, minha linda dama, tem o dia de folga. – O sorriso dele deixou o coração dela estremecendo. Para passá-lo com ele! Ela sorriu de volta. – Parece uma ótima ideia. O que poderíamos fazer? – Não sei você, mas eu tenho uma reunião. – Uma reunião? – As palavras escaparam da boca de Lizzie. Ele arqueou uma sobrancelha. – Algum problema? – Hã... Não. Só achei que poderíamos fazer algo juntos. O interfone soou. Quem poderia ser? Pelo que ela havia percebido morando ali naquelas semanas, ele não recebia ninguém. – É para mim. Eles mandaram um carro. – Quem? Linhas de estresse surgiram no rosto dele.


– As pessoas interessadas em comprar o ristorante. As palavras dele pegaram-na de surpresa. E lá estava ela, sonhando acordada em um dia comandar o restaurante ao lado dele. – Você vai mesmo adiante com a venda? – A voz dela era um mero sussurro. – Por que está surpresa? Eu lhe contei que estava considerando a ideia. E, graças a você, as coisas entre eu e meu pai estão melhores. É hora de fazer o que é esperado de mim. Ela admirava o fato de ele estar tentando ser nobre e ganhar o respeito do pai, mas a que custo? – Dante, você acha mesmo que vai ser feliz trabalhando na vinícola? O olhar dele ficou sombrio. – Talvez eu tenha mudado. – E você não vai sentir falta do restaurante, do legado de seu avô? Você já contou a Massimo? – Quando eu assumi o ristorante, ele me deu a bênção para fazer o que eu quisesse com ele. E é isso que vou fazer. Ela sabia que ele ia acabar se arrependendo – os dois. – Não faça isso. Não venda o restaurante. Dante pegou sua pasta e foi para a porta. – Tenho que ir. – Espere. – Ela correu até ele. – Sinto muito. Estou me metendo onde não sou chamada, mas não quero que você se arrependa depois. – Não vou me arrepender. É isso que eu quero. O que ele queria não era trabalhar ao lado dela. O coração de Lizzie afundou no peito. Ele correu para a porta. Ela queria que ele voltasse, mas ele não o fez. Quase uma hora depois, enquanto Lizzie tentava encontrar um programa na TV para se distrair, o telefone tocou. Talvez fosse ele. Talvez Dante tivesse recobrado o juízo, mudado de ideia. – Alô? – Lizzie, é você? – Definitivamente não era Dante, mas a voz era familiar. – Sim? – Aqui é o pai de Dante. – Ah, olá. Dante não está. Mas posso anotar seu recado. – Na verdade, é com você que quero conversar. Quero saber se você precisa de alguma ajuda com a comida para a festa amanhã. Minhas irmãs estão me importunando para saber se podem ajudar. Como ela havia se esquecido da festa de Massimo? Claro, com a agenda de filmagem lotada e as vibrações da atração entre Dante e ela, houve um curto circuito na mente dela. – Não se preocupe com nada. Tenho tudo sob controle. – Ela não ia contar a verdade para ele. Não depois do jantar desastroso. – Sabia que podia contar com você. – A confiança dele apenas aumentou a culpa dela. – Essa festa é exatamente o que Massimo precisa. Uma casa cheia de família e amigos com boa comida, música e o melhor vinho. Eles conversaram mais um pouco e ficou combinado que as irmãs dele poderiam fazer os aperitivos. Ao desligar, a mente dela começou a girar em alta velocidade. Ela percebeu que eles não haviam pegado a colagem de fotos do restaurante para pendurar na festa, mostrando a evolução do ristorante ao longo dos anos. Em vinte minutos, eles fechariam para o fim de semana. Lizzie tentou ligar para o celular de Dante, mas caiu direto na caixa de mensagem.


Ela precisava agir imediatamente, do contrário, arruinaria as coisas entre Dante e o pai dele. Lizzie avistou as chaves da Red na bancada. Será que Dante se importaria? Aquilo era uma emergência. Antes que mudasse de ideia, ela pegou o chaveiro e foi para a porta. O estômago dela deu voltas ao ligar o motor. Em pouco tempo, a colagem estava no banco de trás do carro luxuoso, presa pelo cinto de segurança. Mentalmente, ela começou a listar tudo que precisava começar a preparar assim que chegasse em casa. O fato de que haveria mais uma centena de pessoas naquela “reuniãozinha” a estava deixando desnorteada. O clã dos DeFiore era praticamente um pequeno vilarejo. O borrão de um carro à toda velocidade chamou a atenção dela. Lizzie freou com toda a força, e Red respondeu imediatamente. O corpo dela ficou rígido, com o ar preso em seus pulmões. Lizzie então parou, voltando a respirar. Graças a Deus, não havia acontecido nada com Red. Dante ficaria louco se ela danificasse seu precioso carro. O homem realmente amava aquele veículo... Bam! O corpo de Lizzie foi jogado para frente, sendo preso pelo cinto, e o ar foi expelido de seus pulmões.


CAPÍTULO 19

– ISSO NÃO é possível. Lizzie não iria sair com a Red. – Dante segurou o telefone com mais força. – Tem certeza de que é ela? – Ele ouvia atentamente, como se sua vida dependesse disso. – Como assim você não sabe se ela está bem? Estou a caminho. Será que o garçom recém-contratado do restaurante estava certo? Lizzie se acidentara com a Red? Ele devia estar enganado. Depois de quase trombar com quase meia dúzia de pessoas, ele chegou à rua. O carro preto estava esperando por ele. O motorista pareceu levar uma eternidade para cruzar a cidade. Dante tentou ligar para ela, mas ninguém atendia. Será que o garçom estava certo? Será que ela estava ferida? Sentindo-se totalmente desamparado, ele fez uma coisa que não fazia desde que era criança. Ele rezou para o Cara lá de cima, pedindo pela segurança de Lizzie. O que ela estava fazendo? Onde ela estava indo? Ele não conseguia pensar em respostas plausíveis. Tudo que ele conseguia fazer era olhar pela janela conforme eles se aproximavam do local do acidente. – Aqui é o máximo que posso me aproximar, senhor. Parece que eles fecharam a estrada adiante. – O motorista lançou um olhar apologético para ele pelo retrovisor. – Obrigado. Dante saiu do carro e passou por uma pequena multidão de pessoas. Ele então avistou uma pintura vermelha, mas seu olhar continuou buscando pelo cabelo loiro de Lizzie. Ela não estava no carro. E não estava na calçada. Foi então que ele avistou a ambulância e sentiu um aperto no coração. Por favor. Por favor. Que ela não esteja ferida. Ele correu até a parte de trás. Lizzie estava sentada, com um olhar perplexo. Ele a examinou da cabeça aos pés. Nada de sangue ou bandagens. Graças a Deus. – Lizzie. Foi o que conseguiu dizer antes de Lizzie correr para os seus braços, quase o jogando para trás. Ao envolvê-la, percebeu que nunca havia estado tão amedrontado na vida antes. Se a tivesse perdido – não, não conseguia sequer pensar nisso.


Ao notar com ela tremia, Dante percebeu que a amava. Naquele instante, entendeu a profundidade do amor do pai pela mãe. Nunca havia entendido por que o pai não casara novamente, ou por que deixava tantas lembranças dela pela casa. Mas agora compreendia. Lizzie se afastou. – Dante, sinto muito. Eu... Eu... – Você está bem? – Quando ela não respondeu de imediato, ele olhou para o paramédico. – Ela está bem? Ela precisa ir para o hospital? – Ela se recusa a ir para o hospital. – Você precisa ir, Lizzie. E se algo estiver errado? – Ela vai ficar dolorida amanhã e com uma marca do cinto de segurança, mas vai ficar bem. – Ele está certo, estou bem. Mas... – Mas o quê? – Se ela estivesse com uma dorzinha sequer, ele mesmo a colocaria naquela ambulância. – Mas Red não está em boas condições. Ah, Dante, sinto muito... – Ela começou a chorar. O que ele fizera? Ele não entendia nada de mulheres e lágrimas. Seu instinto o fez puxá-la para mais perto. – Está tudo bem. Estou feliz por você estar bem. Enquanto ela deixava as emoções fluírem, ele percebeu que chegara muito perto de perdê-la em um acidente de carro – uma tragédia que ele já vivenciara através do irmão. A esposa de Stefano morrera tão trágica quando inesperadamente. A lembrança foi como uma lâmina fria atravessando o coração de Dante. Ele jurara na época que nunca deixaria alguém aproximar-se dele a ponto de ficar vulnerável – e era exatamente isso que estava acontecendo com Lizzie. Ele tinha que parar. Como se estivesse sentindo a mudança nele, Lizzie afastou-se e secou rapidamente as bochechas. – Dante, me desculpe. – Não foi culpa sua. – Claro que é. Eu não pedi... Eu tentei. Mas seu telefone estava desligado, e eu estava com pressa, e... – Calma, devagar. Respire. – Ela estava quase hiperventilando. Ele então olhou pela primeira vez para o canto do painel traseiro amassado de Red. E não sentiu nada. Em qualquer outra situação, Red teria sido sua prioridade, mas os alarmes na mente de Dante diziam que ele amava Lizzie mais do que tudo. – Não acredito no que aconteceu. Eu estava no telefone quando um carro pequeno me cortou. E quando percebi, fui pega de surpresa pelo caminhão de entrega. Dante olhou para o caminhão branco ali perto. Ele era muito, muito maior do que ele havia imaginado. Os danos poderiam ter sido muito piores. – Não sei se o carro pode ser consertado, mas... Mas eu pagarei ou o substituirei. O que for preciso. Lizzie não tinha todo aquele dinheiro, e, mesmo que tivesse, ele não o aceitaria. O mais importante era que ela estava bem. Ele queria contar isso a ela, as palavras estavam presas em sua língua, mas ele não podia. Seria crueldade deixá-la pensar que eles teriam um final de contos de fadas. Guardando as emoções, ele disse: – Ainda não entendi por que você pegou o carro sem pedir. Ela o encarou diretamente. – Já disse que eu tentei falar com você. E eu não podia me atrasar, do contrário a loja fecharia.


– Que loja? O que é tão importante assim para você ter quase morrido? A dor surgiu nos olhos dela. – Ouça, sei que você está magoado pelo carro, mas eu estava tentando lhe fazer um favor. – Um favor? Bater meu carro e me assustar é um favor? – Ele esfregou a nuca. Suas palavras saíram totalmente erradas. – Já disse que sinto muito. – E isso não ajuda em nada. O som do guincho erguendo seu carro chamou a atenção de Dante. O carro quase todo retorcido foi lentamente posto sobre o caminhão. Lizzie escapara por pouco. Se amar alguém exigia toda aquela agonia, então ele não queria amar ninguém. Ele não queria se importar tão profundamente com alguém. Ele não iria terminar um velho miserável como os homens de sua família, cheios de lembranças e fantasmas. Sem chance. – Fique aqui. Preciso falar com a polizia e com o motorista do guincho. Na verdade, tudo que ele queria era um pouco de distância dela, para pensar melhor. Ele tinha que terminar tudo com Lizzie de uma vez por todas. Era a única coisa lógica a fazer. Mas então por que isso parecia algo tão ruim? QUAL ERA o problema dele? Lizzie nunca havia visto Dante tão irritado. Ele se importava tanto assim com o carro? Ela olhou para os pedaços quebrados de Red sendo limpos da estrada. Certo. Ela pisara na bola feio. Sabia que aquilo era culpa dela, mas ele precisava ser tão bruto? Aquele era mesmo o homem que ela ousava dizer que amava? Ele voltou para perto de Lizzie. – Vou chamar um taxi para nós. Ela não queria passar mais nenhum segundo ao lado dele. Não havia mais nada que ela pudesse fazer para aplacar as coisas. – Prefiro ir andando. – Você não está em condições de ir andando. – Ele nem estava olhando para ela. – Você acabou de sair de um acidente. – O corpo dele estava tenso, e uma veia pulsava no pescoço. Ele estava fazendo de tudo para reprimir a raiva, mas ela podia senti-la. E Lizzie não podia suportá-la. Dante a odiava por ter destruído seu carro. – Pode falar. – Não sei do que você está falando, mas vou chamar um taxi. – Ele ligou, ignorando-a. – Ele chegará daqui a pouco. Se eles não conseguiam ser sinceros um com o outro, como eles iriam ter um relacionamento? A mente dele não parava de maquinar. Ela precisava se acalmar. Tudo estava sob controle, exceto a festa de aniversário de Massimo. E foi então que ela percebeu que o presente, o motivo de toda aquela calamidade, estava sendo levando junto com Red. Ansiosa, ela saiu correndo em direção ao guincho. – Lizzie! O que foi? Quer, por favor, falar comigo? Ela conversou com o motorista, que logo subiu no carro e retirou o grande pacote do banco traseiro. – Isso não poderia ter esperado? – Dante suspirou.


– Não. – Lizzie ficou ali parada, olhando obstinadamente para a frente. Ela se recusava a se deixar levar por Dante. – Deixe-me adivinhar. Foi por causa disso que você não podia esperar por mim – disse ele quando o motorista entregou o pacote a ela. Ela assentiu. – É o presente para o seu pai. A tensão no rosto dele diminuiu. Ele finalmente percebera que ela havia tentado fazer algo por ele. Quando o taxi chegou e eles entraram, a exaustão tomou conta de Lizzie. Era tão tentador descansar a cabeça no ombro dele. Ambos estavam cansados. Ambos haviam dito coisas que não deveriam. Tudo ficaria bem quando eles voltassem para o apartamento. Porém, ela percebeu como Dante ainda estava tenso. Ele não tentou colocar o braço ao redor dela ou puxá-la para mais perto. Ele estava apenas sentado ali, ao lado dela, olhando para a janela. Talvez ele estivesse envergonhado pela reação exacerbada. Era compreensível. Assim que eles estivessem a sós em casa, tudo ficaria bem.


CAPÍTULO 20

A CULPA consumia Dante. A viagem de volta para casa, que levou alguns minutos, pareceu durar uma eternidade. Ele não podia viver assim – sempre se perguntando quando a felicidade terminaria de forma desastrosa. E agora que ele tinha experimentado uma amostra da dor e da agonia que seria, ele simplesmente não podia se comprometer em um relacionamento. Quanto antes ele terminasse com Lizzie, menor seria a dor que ambos sofreriam. Era isso que ele tentava dizer para si mesmo no elevador, a caminho da cobertura. Ele não queria magoar Lizzie ainda mais – porém, isso seria a melhor solução para ambos. Afinal de contas, a vida dela era em Nova York. Assim que eles entraram, Lizzie foi para a cozinha. – Preciso fazer uma lista do que precisamos lá do restaurante. – Para quê? – A festa. Nós estamos encarregados da comida, lembra-se? Seu pai quer provar sua comida. A festa onde ela deveria ser introduzida ao resto da família – a festa onde as pessoas iam começar a perguntar sobre casamento. As tias dele eram casamenteiras notórias. Era por isso que ele se esquivava ao máximo dela. Dante suspirou. Aquilo estava ficando complicado demais. – Já está ficando tarde, precisamos mesmo começar. Você ainda não nos disse como vamos levar tudo isso para a vinícola. Sabe, acho que vai ser mais fácil se levarmos os ingredientes para lá e... – Lizzie, pare! Ela deu um salto, e olhou para ele. – Desculpe, não quis assustá-la. Só queria chamar sua atenção. – Ele caminhou até o sofá de couro. – Venha aqui. Precisamos conversar. Lizzie caminhou hesitantemente até ele e sentou-se com as costas retas. – É sobre o restaurante? A venda deu certo? Ele passou a mão pelo rosto. – Não, não é sobre isso. – Ah. Mas você o vendeu? Sei que não é da minha conta, mas estou curiosa por causa de Massimo... – Você não precisa me lembrar. Sei que meu avô dedicou a vida àquele lugar. – E esse era outro motivo pelo qual ele precisava terminar aquele relacionamento. Ela já havia influenciado muitas


decisões dele. – Não, eu não o vendi. – Eu achei mesmo que você não iria em frente. Ele está em seu sangue. Você ficaria perdido sem o restaurante. – Um sorriso hesitante surgiu nos lábios dela. – Massimo ficará feliz em saber que o restaurante está em boas mãos. Isso deixará o restaurante dele ainda mais especial. – Precisamos falar de outro assunto. – Pronto, ele finalmente conseguira a coragem para entrar no assunto. Lizzie lhe lançou um olhar preocupado. – Mas nós temos tantas coisas para fazer para a festa... – Você não percebe que não podemos levar isso adiante? Eu não posso. – Ele deu as costas para ela, incapaz de suportar o peso da decepção que surgiria em seu olhar. – Nós estamos enganando a nós mesmos, achando que poderíamos ter algo real. – O que foi, Dante? Achei que estávamos nos aproximando. Achei que... – Você achou errado. – Ele odiava a si mesmo pela dor e pela confusão que estava causando a ela. – Você... está terminando comigo por que eu acabei com seu carro? – O horror surgiu em tons crescentes na voz dela. – Não é isso. Ele virou-se e se deparou com o brilho das lágrimas não vertidas. Foi quase a ruína dele. Mas então ele lembrou-se do medo paralisante que sentira ao achar que a havia perdido. Dante não podia arriscar o coração e fiar à espera do dia em que seu mundo iria ruir por causa de sua dependência por outra pessoa. – Então é meu passado. Eu nunca deveria ter lhe contado nada. Agora você acha que sou problemática. – Nunca pensei isso. Nunca. Você é incrível. – Ele acariciou o rosto dela. – O homem que tiver você na vida dele será o mais sortudo do mundo. Ela afastou do toque dele. – Então você está dizendo que não quer mais me ver. Ele resmungou. – Estou fazendo isso de forma totalmente errada. Sinto muito. Eu nunca quis que você pensasse que isso é culpa sua. Você é a mulher mais linda que já conheci. – Ele aproximou-se dela. – Poupe-me dessa conversinha. Já ouvi essa antes. Eu estava errada sobre você. – O que você quer dizer? – Achei que você era diferente dos outros caras. Achei que poderia confiar em você, mas obviamente estava errada. As palavras dela eram como facas no peito de Dante. Ele não sabia que era possível se sentir tão baixo. Ele merecia cada palavra dolorida dita por ela. E mais... – Você não percebe? Não sei lidar com relacionamentos longos. – Poupe-me. Não preciso ouvir isso. Eu preciso arrumar minhas coisas. Eles ainda precisavam lidar com a festa surpresa. – Mas e a festa de Massimo? Ela o encarou. – Está falando sério? Você espera mesmo que eu vá lá e finja que está tudo bem entre a gente? – Ela balançou a cabeça. – A festa é para a sua família, da qual nunca farei parte. Ele engoliu em seco, encarando o tapete da sala.


– O que eu devo dizer para todo mundo? Ela lhe lançou um olhar frio e severo. – Isso é problema seu. Tenho certeza que você vai se virar. – Ela caminhou para o corredor. E sem se virar, disse: – Não se preocupe. Eu terei ido embora antes de você voltar para a cidade. Dante tentou se consolar com a ideia de que ela estaria melhor sem ele. O destino das mulheres que se apaixonavam pelos homens DeFiore nunca era bom. Nunca.


CAPÍTULO 21

ELE NÃO conseguia festejar. Dante passou pelas pessoas e foi para o pátio. Não havia nenhum lugar silencioso onde se esconder. Os músicos que o pai dele contratara não conseguiam tocar baixo, e a cacofonia de vozes e risos estava deixando-o irritado. Todas as pessoas que ele encontrava perguntavam por Lizzie. Era como se todos esperassem que os dois fossem para o altar mais próximo o mais rápido possível. Quando ele explicava que ela estava voltando para os EUA, todos o olhavam de forma acusadora. Dante deveria estar aliviado por ter a liberdade de volta, por estar livre do legado dos homens DeFiore. Então por que ele se sentia tão triste? – Como vai o ristorante? Dante encontrou o pai parado atrás de si, fumando um charuto. – Vai bem. – Agora que ele já havia se decidido, o pai dele podia ficar à par da situação. – Recebi uma proposta para vender o ristorante. – E você vai aceitá-la? Era bom conversar com alguém sobre alguma coisa que não fosse Lizzie e o relacionamento fracassado deles. – Estou pensando em vendê-lo e me mudar de volta para a vinícola. As sobrancelhas grossas do pai se ergueram. – Você vai voltar depois de ter trabalho duro para dar o fora daqui? Dante deu de ombros. – Achei que isso facilitaria as coisas para você. – Não preciso que você facilite as coisas para mim. – O tom do pai era resiliente. – Suponho que você tenha recobrado o juízo e recusado a oferta. Dante pensou em contar que eles queriam as receitas da família como parte do acordo, mas não conseguiu ir em frente. Nem todo dinheiro do mundo compensaria a venda dos segredos de família. Algumas coisas não deveriam ser compartilhadas. Ele balançou a cabeça. – Eu quase fechei o acordo. Mas, no fim, não consegui. – O que fez você mudar de ideia?


– Lizzie. – O nome escapou suavemente por seus lábios, enquanto a dor da perda o sobrepujava. – Você estava planejando tocar o lugar ao lado dela? Como seus avós fizeram? Dante meramente assentiu. – Então por que está aqui sozinho? Por que você a deixou escapar? O pai dele sempre achou que ele fracassava no que fazia. Bem, desta vez ele estava certo. – Eu não a deixei escapar. Eu a afastei. – E por que você faria uma coisa dessas? – O pai dele colocou o charuto em um cinzeiro e aproximou-se dele. – Vamos conversar. Dante realmente não queria ouvir um sermão, mas qual diferença faria? O pai o levou em direção às vinhas. Quando as pessoas precisavam ficar sozinhas, elas sempre ofereciam conforto. – Filho, você nunca teve chance de conhecer sua mãe, mas ela era uma mulher incrível. Você me lembra muito ela. Se ela estivesse aqui, insistiria para que eu o aconselhasse... – Pai, não preciso de conselho. Sei o que estou fazendo. Eu não vou acabar como você. – Ele percebeu tarde demais que falara o que não devia. – Você afastou Lizzie para não acabar como o seu velho, não foi? Dante não podia negar, então não disse nada. Ele manteve a cabeça baixa e os olhos concentrados no caminho entre as videiras. – Admito, não lidei muito bem com a morte de sua mãe. Nunca passou pela minha cabeça que eu ficaria sozinho com dois meninos para criar... Eu estava com medo. E... Descontei minha raiva e frustração em você. Sinto muito. Você não merecia nada disso. O que Dante podia dizer? “Você está certo” não parecia apropriado. “Sem problemas” tampouco funcionaria, pois isso fora um grande problema. – Se você precisasse fazer tudo de novo, apaixonar-se pela mamãe, você o faria? – Mesmo sabendo como as coisas iriam terminar, eu ainda assim ficaria com ela. Sua mãe era incrível. Quando ela sorria, o mundo todo brilhava. Amar a sua mãe foi a melhor parte da minha vida. – Mas você... sempre parece tão triste quando alguém a menciona. – Foi aí que eu errei. Eu me fechei para a vida e não consegui ver as coisas claramente. Eu não percebi o que estava fazendo com minha família. – Foi por isso que você nunca se casou de novo? Ele assentiu. – Eu estava muito furioso para ver as coisas como elas eram. – Ele passou a mão pelo rosto. Não posso voltar no tempo e mudar nada. Minha única esperança é que vocês, meus meninos, não cometam os mesmo erros. O amor é uma dádiva que não pode ser desperdiçada. Dante estudou o rosto do pai. – Está falando sério? Você estaria disposto a dar uma nova chance ao amor? – Se a mulher certa aparecer. Mas e você? Ama Lizzie? O coração de Dante respondeu antes que ele encontrasse as palavras. Ele assentiu. – Mas como eu posso viver, sabendo que algo pode acontecer a ela? Que algum dia eu posso acabar sozinho? O pai segurou o ombro de Dante. – Você só pode apreciar o tempo que possuem juntos. Ninguém sabe o futuro. E, ao fugir do amor, você acabará sozinho de qualquer forma.


Dante não havia pensado nisso. Na verdade, se não fosse por Lizzie, ele não estaria tendo aquela conversa com o pai. O pai de Dante limpou a garganta. – Eis outra coisa para você considerar. Você sempre soube que é diferente de mim e do seu irmão. São os genes da sua mãe falando mais alto. Sei que isso criou certa distância entre a gente, mas isso não significa que eu não o ame. Às vezes, ser diferente é bom. Mesmo? E ele vinha se punindo todo esse tempo por ser diferente da família. Se ele se diferenciava do pai e do irmão na escolha da profissão, por que ele não poderia ser diferente deles no amor? Talvez houvesse uma chance de sua história terminar diferente da deles. – Agora, o que você está fazendo parado aqui, falando comigo? – O pai dele lhe lançou o mesmo olhar de quando ele não fazia suas tarefas, quando criança. – Vá atrás da mulher que você ama. Dante virou-se para villa e lembrou-se que estava sem o carro, e o próximo trem demoraria horas. Ele não tinha tempo a perder se quisesse encontrar Lizzie e implorar o perdão dela. – Pai, posso pegar seu caminhão emprestado? O pai dele pegou as chaves do bolso. – Ele não é tão chique quanto seu carro esporte. – Tudo bem. Já aprendi que isso não é o tipo de coisa que faz uma pessoa feliz. Lizzie lhe ensinara essa lição.


CAPÍTULO 22

COMO ELA pôde se deixar levar por um sonho? A viagem de Lizzie para Roma fora exatamente isso – um sonho incrível. E agora ela havia despertado para a dura realidade. A verdade era que não importava o quanto ela acreditasse que Dante estava mudando, pois ele nunca iria baixar a guarda e deixá-la entrar em seu mundo. Depois que Dante foi embora, ela passou a noite revivendo suas lembranças com Dante, lembranças que ela iria estimar para o resto da vida. Lágrimas escorreram por seu rosto ao ligar para um táxi e agendar uma corrida para o aeroporto. Ela deu uma última olhada no apartamento, mas não conseguiu seguir o corredor até a suíte principal. Algumas lembranças ainda eram doloridas demais. Era domingo, e o restaurante estava fechado. Talvez ela tivesse tempo de entrar e... E o quê? Lembrar o tempo que passou ali ao lado de Dante? Não, não era uma boa ideia. Era melhor esperar na calçada. Será que o táxi nunca ia aparecer? Ao ouvir o som de um veículo se aproximando, Lizzie virou-se. Ela franziu o cenho ao ver um velho caminhão. Para se distrair, ela pegou o celular na bolsa. Ela vinha evitando as ligações de Jules havia um bom tempo. A irmã dela ficaria cheia de perguntas quando descobrisse que ela estava voltando mais cedo para casa. Os dedos dela pairaram sobre o teclado. Como ela iria se explicar? – Ei, você está aqui para o emprego de recepcionista? – disse uma voz familiar atrás dela. Lizzie virou-se e se deparou com Dante, encostado no velho caminhão. – O que está fazendo aqui tão cedo? Digo, a festa já terminou? Vocês fizeram a festa, não fizeram? Enquanto ela tagarelava nervosamente, ele apenas sorria. Sorria? Por que ele estava sorrindo? Da última vez que ela o vira, ele parecia miserável. – A festa ainda está acontecendo. Quando minha família começa, não tem hora para acabar. – Que bom. – Ela não queria de forma alguma que suas ações estragassem aquele dia especial para Massimo. – Eu... Eu irei embora daqui a pouco. – Não vá. – O quê? Antes que Dante pudesse repetir, um táxi aproximou-se. Ela deveria se sentir aliviada, mas não se sentia. Qualquer que fosse o motivo para Dante voltar mais cedo, não era da conta dela.


Lizzie colocou a bolsa em um ombro e sua mochila em outro. Depois, ela pegou a alça da mala e virou-se em tempo de ver Dante dando dinheiro para o taxista. Mas o que ele estava fazendo? Quando ela se aproximou, Dante ergueu-se e o táxi foi embora. – Ei! Espere! – Ela ia acabar perdendo o voo. – Por que você fez isso? – Precisamos conversar. Lizzie franziu o cenho. Ela não estava pronta para outra batalha de palavras. Ela ainda estava cuidando das feridas causadas pela última. – Não temos mais nada para dizer um ao outro. – Sinto muito. Prendendo o fôlego, desta vez, Lizzie tinha certeza do que estava ouvindo. – Sobre o quê? – Vamos entrar e conversar. – Ele foi até a porta do restaurante e a destrancou. – Prometo que, se você não gostar do que tenho para te dizer, eu mesmo a levarei para o aeroporto. Ela olhou para o relógio. – Você tem cinco minutos. – Justo. Ela devia estar perdendo o juízo. Do contrário, por que ela concordaria em se abrir para mais dor? Os pés dela pareciam pesar uma tonelada ao dirigir-se para o local familiar. Ela realmente iria sentir falta daquele lugar e das pessoas maravilhosas que conhecera ali – especialmente de Dante. Ela parou na mesa da recepção e virou-se para ele. – O que você quer? – Você. – Como? – Talvez a falta de sono estivesse afetando-a. – Eu quero você, Lizzie. Eu a amo. As batidas do coração dela ficaram descompassadas. Ela estava esperando havia muito tempo por aquelas palavras, mas primeiro ela precisava entender as coisas. – Mas e ontem? – Eu entrei em pânico. Quando recebi a ligação dizendo que você tinha se acidentado, minha reação foi exagerada. Aparentemente os homens da família DeFiore estão destinados a ficarem sozinhos, e eu pensei... Bom, deixa para lá. Tudo que consegui pensar foi que, se eu a perdesse, eu ficaria devastado e não conseguiria continuar vivendo. Mesmo? Ninguém nunca havia se importado tanto assim com ela. – Mas se você se sentiu assim, como conseguiu terminar comigo? – Achei que, ao me proteger, eu não ficaria magoado. Mas meu pai apontou a falha da minha lógica... – Seu pai? Vocês dois estavam conversando sobre mim? – Ela não sabia como se sentir sobre isso. – Graças a você, tivemos uma conversa que havia muito tempo precisávamos ter. – Ele olhou pelo restaurante, e depois para ela. – Você abriu meus olhos para muitas coisas, incluindo para o quanto eu amo este lugar... Especialmente com você ao meu lado. O coração dela parecia dançar. – Está sendo sincero? Ele olhou dentro dos olhos dela.


– Eu a amo com todo o meu coração. E eu ficaria honrado se você considerasse a ideia de ficar aqui e comandar o Ristorante Massimo comigo. – É o que eu mais quero no mundo. Ele se aproximou e a envolveu em seus braços. – Prometo que não terei mais ataques de pânico, contanto que você não queira pular de paraquedas. – Essa é uma promessa que posso fazer aqui e agora. – Ela sorriu ao colocar os braços ao redor dos ombros dele. – Tenho medo de altura. – Então... Parceiros? Ela assentiu. – Mas acho que deveríamos nos beijar para tornar isso oficial. – Acho que você está certa. Ele inclinou a cabeça para baixo. Seus lábios se encontraram, e o resto do mundo desapareceu. Finalmente, Lizzie estava em casa.


EPÍLOGO

Um mês depois

O TILINTAR das taças de champanhe soou pelo salão vazio. – Para o homem mais incrível de todos. – Lizzie olhou profundamente nos olhos do único homem que amaria na vida. – Eu o amo. – Eu também a amo. – Dante deu um beijo nos lábios dela que prometia muito mais. E logo. – Dá para acreditar que estamos na televisão? Hoje é a nossa première. – Lizzie não conseguia tirar o sorrisinho tolo do rosto. – E você foi maravilhosa. Ela fez um gesto com a mão, ignorando o elogio exacerbado. – Acho que essas bolinhas estão subindo para minha cabeça. – Dá para ficar séria só por um instante? A verdade era que ela nunca estivera tão deliciosamente feliz em toda a vida. Até mesmo as tardes que ela passava sentada no sofá ao lado dele, assistindo futebol, faziam-na sorrir. – Dá. Contanto que não seja por muito tempo. O olhar dele recaiu nos lábios dela. Quando ele começou a se inclinar para a frente, Lizzie ergueu as mãos. – Dante, você não consegue pensar em outra coisa? Um sorriso indolente surgiu nos lábios dele. – Não se puder evitar. – Bom, então tente por um segundo. – O que você tem em mente? – O que você acha da oferta do estúdio de nos dar outro show? – Eles haviam acabado de receber a ligação, e Lizzie estava animada demais para confiar nas próprias emoções. – Acho que consigo pensar em outra coisa que eu gostaria de fazer. Ela buscou na expressão dele algum indício de que a mente dele ainda estava na cama, mas ele estava totalmente sério.


– E o que seria? – Que tal se você se tornar minha parceira? – Mas é claro, é isso que o estúdio quer... Ele segurou a mão dela e olhou dentro dos olhos dela, fazendo o coração dela saltitar. Então, ele ficou de joelhos. – Não, eu quero que você faça parte da minha família. Com o ar preso nos pulmões, lágrimas obscureceram a visão do homem que ela amava com todo o coração. Ela piscou, e as lágrimas rolaram por seu rosto. Com muito esforço, ela engoliu as emoções que lhe tampavam a garganta. – Não consigo pensar em nada que eu queira mais. Ele levantou-se e segurou o rosto dela entre as mãos. – Sinto muito não estar preparado, mas não havia planejado lhe pedir em casamento esta noite. Estava brincando com a ideia em minha mente. E não consegui esperar mais. Ela ficou na ponta dos pés e beijou os lábios dele. Ela não sabia explicar como, mas a cada beijo, ele ficava cada vez melhor. Quando Dante se afastou, ela fez beicinho. Ele sorriu e balançou a cabeça. – Suponho que isso seja um “sim”? – Definitivamente. – Tenho mais uma pergunta séria. – Bom, pergunte logo para podermos voltar a nos divertir. Ele riu, e ela sorriu. – Tenho uma ideia, mas não sei o que você vai pensar. Que tal se fizermos o casamento na vinícola? Lizzie não conseguia pensar em um lugar mais romântico no mundo. – Eu adoraria, mas... – Mas o quê? – E Jules? – A ideia de ficar permanentemente longe da irmã abafou a animação dela. – Ela é minha única família... – Não mais, eu também serei sua família. E Jules sempre será bem-vinda aqui. – Mas ela tem a faculdade. Não vou deixar que ela desista. Ela trabalhou duro por ela. Quero que minha irmã alcance seus sonhos. – E ela alcançará. Vamos nos certificar disso. – Mas como? Dante pressionou o dedo contra os lábios dela. – Shh... Meu avô sempre diz: “Onde há vontade, há um meio.” A mente de Lizzie estava acelerada. As duas pessoas que ela mais amava no mundo estavam separadas por um oceano. – Eu não sei. – Olhe para mim. Você me ama? Sem hesitar, ela murmurou: – Com todo o meu coração. – Então acredite em nós, no poder de nosso amor. Acredite que o futuro dará certo para nós. Talvez não da maneira que esperamos, mas, às vezes, o inesperado é justamente o que precisamos. Há uma maneira de fazer as coisas darem certo com Jules, e nós a encontraremos. Você acredita em mim?


– Acredito. Ele beijou os lábios dela, e as preocupações desapareceram da mente dela. Juntos, eles podiam fazer qualquer coisa.


Jennifer Faye

SORRISO CATIVANTE

Tradução Vanessa Mathias Gandini


Querida leitora, Às vezes, ser diferente não é uma escolha voluntária e sim algo imposto. Algo pelo qual não se optaria se fosse possível. Ora, pode-se camuflar essas diferenças, ora, exibi-las. Jules Lane é uma menina que dança de acordo com a própria música. Desde as botas pretas de cano longuíssimo e salto plataforma até o guarda-roupa todo preto e roxo, sem contar a maquiagem exuberante e as tranças. Jules não liga para o que as pessoas pensam de sua aparência. O importante é que ela gosta! Ah, e já falei sobre a tattoo de borboleta roxa? Até que aparece Stefano DeFiore. Alto, moreno e bastante conservador, ele passou a vida na vinícola da família e se isolou do mundo após a morte trágica da esposa. Por isso, quando fica cara a cara com a futura cunhada do irmão, não sabe o que pensar dela. Minha nossa, Stefano tem muito a aprender, e Jules é a pessoa ideal para ensiná-lo! Com o badalar do sino anunciando o casamento entre a irmã dela e o irmão dele, o romance se espalha pelo ar. Será que Jules abrirá uma brecha para que Stefano possa ver a mulher por trás de toda a produção? E ele conseguirá enxergar a vida nova que o espera? Junte-se a eles nessa adorável cerimônia! Boa leitura! Jennifer


CAPÍTULO 1

SEMPRE UMA dama de honra... Jules Lane ergueu o queixo e exibiu um largo sorriso. Seus passos se apressaram enquanto ela passava pelos outros passageiros que estavam de partida. Ao menos ela estava na Itália, em Roma para ser exata. Ela continuou sorrindo e resistiu à vontade de se beliscar para se assegurar de que não fosse um sonho. Por outro lado, não se tratava exatamente de umas férias. Ela estava ali para um trabalho importante... ajudar no casamento da sua irmã adotiva. Essa não seria a primeira vez de Jules no corredor. Ela fora dama de honra por mais vezes do que podia contar nas mãos. De qualquer forma, desta vez teve o privilégio de ser dama de honra. Era um papel que ela havia esperado ansiosamente. Ela gostava de dar ordem ao caos. Jules não era muito romântica. Não sonhava em encontrar um príncipe encantado. Ela não fantasiava sobre o seu “grande dia”. Mas tinha uma queda por belos vestidos e bolo… bolo era definitivamente seu ponto fraco. Na verdade, agora que estava pensando no assunto, Lizzie, sua irmã adotiva, também não era muito romântica... ao menos não até chegar ali três meses antes para um programa de televisão... um reality show sobre culinária. O cupido certamente pareceu acertar o alvo com Lizzie e Dante. Durante a maior parte da vida de Jules, Lizzie tinha sido sua confidente, sua protetora e única família. Jules a amava com todo o seu coração. Mas essa segurança cobrava um preço para ambas... aprender muito cedo que elas apenas tinham uma à outra com quem contar. Agora era o momento de mudança... se ao menos Jules conseguisse encontrar uma maneira de contar a novidade a Lizzie. Jules suspirou enquanto passava pelo Terminal Leonardo da Vinci. Ela iria encontrar o momento certo. Apenas precisava ter paciência. A alça da bolsa preta e branca afundou no ombro e Jules lutou para ajustá-la. Estava pesada por causa dos arranjos para o casamento, uma sacola grande de doces e muitas revistas sobre matrimônio, além de anotações. Tinha tudo o que era necessário para planejar o casamento perfeito... exceto por um ingrediente muito importante e necessário: cafeína. Mas sem preocupações... Lizzie estivera delirante sobre o delicioso café que Roma tinha para oferecer.


Vozes ruidosas preenchiam o terminal enquanto amigos cumprimentavam uns aos outros. Ela mal podia esperar para ver Lizzie. Parecia uma eternidade desde que elas haviam se encontrado pela última vez. E Jules estava ansiosa para conhecer o seu futuro cunhado, Dante. Lizzie jurou que as fotos que ela enviara por e-mail não faziam justiça a ele. Era muito difícil acreditar nisso, uma vez que Jules o havia considerado muito bonito. Ela caminhou até a esteira de bagagens, esperando que sua mala tivesse sobrevivido à viagem e não se extraviado no meio do caminho. Durante todo o tempo, ela continuou percorrendo o olhar ao seu redor para encontrar Lizzie. Onde ela estaria? Lizzie não costumava se atrasar. O olhar de Jules se fixou em um homem com cabelo escuro do outro lado da esteira. Ele falou com uma mulher bonita, que meneou a cabeça e se virou para o outro lado. Depois ele se moveu para a próxima jovem. Do que isso se tratava? Jules deu de ombros e se virou para o outro lado. Apanhou o celular de dentro do bolso, esperando encontrar mensagem de Lizzie, mas em vez disso, um ícone de bateria fraca piscou na tela e depois tudo ficou preto. Jules suspirou. Isso não poderia estar acontecendo com ela enquanto estava sozinha em um país estranho. E tinha carregado o aparelho antes de deixar Nova York, não tinha? – Scusi. Você é a srta. Lane? – Uma voz profunda e masculina chamou sua atenção. Jules se virou para encontrar o mesmo homem de cabelo escuro conversando alguns passos à sua frente com uma mulher. Ele estava procurando por ela? Como sabia o seu nome? A mulher loura usando um vestido florido meneou a cabeça e ele prosseguiu em sua busca. O homem passou por uma mulher mais velha, sem nem mesmo se importar em perguntar a ela. E depois seu olhar se voltou para as tranças de Jules, o top preto de mangas compridas, a minissaia roxa e preta e as botas de cano longo. A expressão do rosto dele permaneceu neutra, mas o homem não disse uma palavra a ela enquanto se movia na fila. É sério? Ele estava tão desinteressado pela aparência dela que nem mesmo iria perguntar? Ela deu-lhe as costas. Depois, percebeu que ele poderia ter uma mensagem de Lizzie e então se virou para encarálo. Ele parou próximo a uma jovem. – Scusi, você é Julianne... – Ei, senhor. – Quando ele se virou para ela com uma sobrancelha erguida, ela teve que lutar para conter uma risada. – Eu sou Julianne Lane. Ele se desculpou com a jovem antes de parar na frente de Jules. Sua testa se enrugou. – Signorina, você é a irmã de Lizzie? Ela assentiu com a cabeça. Ele não era a primeira pessoa a ficar surpreso com sua aparência incomum. Há muito tempo Jules havia desistido de tentar corresponder às expectativas dos outros. E já estava se vestindo dessa forma havia tanto tempo agora que se tornara natural. O mesmo não poderia ser dito sobre ele. O homem parecia recém-saído da capa de uma revista masculina. Seu terno azul era perfeitamente costurado para se adequar aos seus ombros amplos, e a camisa cinza estava desabotoada apenas o suficiente para mostrar um pouco do peito musculoso. Jules engoliu em seco. Uau! Não era de se admirar que Lizzie tivesse perdido o seu coração ali. Certamente havia homens quentes e sexy na Itália. Com esforço, ela ergueu o rosto para encontrar o olhar sério dele. – Há algum problema? – Humm... não. – As linhas da testa dele se suavizaram. – Lizzie é sua irmã, não é?


O peito de Jules se apertou. – Sim. Ela está bem? Ele ergueu as sobrancelhas e seus olhos castanhos pareceram mantê-la cativa. – Sim, está. Jules respirou fundo. – Não faça isso. – Fazer o quê? – Você me assustou. Eu achei que tivesse acontecido alguma coisa com a minha irmã. – Eu lhe asseguro de que ela está perfeitamente bem. Mas houve um imprevisto e ela me pediu para que eu viesse buscá-la. – Você deveria ter me dito essa parte primeiro. – Ela dirigiu o olhar para a esteira, que havia começado a se mover. Antes que pudesse fazer mais perguntas, sua bagagem apareceu. – Já lhe acompanho. Apenas preciso pegar minha mala. Ela podia sentir o olhar curioso do homem fitando suas costas. Jules se perguntou o que ele estava pensando, mas algo lhe dizia que era melhor se ela não soubesse. Enquanto Jules estendia a mão para apanhar a mala, o homem parou entre ela e a esteira. – Deixe-me apanhá-la para você. Qual delas? – Não se preocupe. Eu já peguei. – Ela não precisava daquela gentileza. Jules não era nenhuma mulher rica e mimada. Havia um longo tempo que cuidava de si mesma. Talvez fosse isso que assustasse os homens. Não precisava deles. Os olhos dele se arregalaram enquanto recuava um passo. – Srta. Lane, eu apenas quis ajudá-la. Ela apanhou a mala e virou-se para depositá-la no chão ao seu lado. – Aprecio sua oferta, mas estou acostumada a me virar. E, a propósito, prefiro ser chamada de Jules. Quem é você? – Sou Stefano DeFiore. O irmão mais velho de Dante. Lizzie tinha falado sobre um irmão do marido, mas omitiu sobre o quanto ele era bonito e que ele iria encontrá-la no aeroporto. – Prazer em conhecê-lo. Ela sorriu e estendeu umas das mãos. Ele hesitou por um momento e percorreu o olhar ao seu redor antes de cumprimentá-la. Aquela preocupação era para ter certeza de que ninguém o havia visto deixar de recolher a mala dela da esteira? Sério? Ele estava assim preocupado com o que todos pensavam? E depois o sorriso sumiu do rosto de Jules. Seu estômago se revirou. Ela percebeu o real motivo da hesitação dele: estava embaraçado em ser visto com ela. Em que tipo de família Lizzie estava entrando? STEFANO DEFIORE se viu completamente encantado... e isso não era algo comum para ele. Ele lutou para manter seu olhar em qualquer outro lugar, mas a delicada azul... ou era roxa?... borboleta na curvatura dos seios dela... um pouco acima do decote do top preto que ela usava chamou sua atenção. Ele a achou absolutamente fascinante. E isso não era bom.


Stefano engoliu em seco e voltou a se concentrar no rosto dela. Seu irmão e sua futura cunhada deveriam ter vindo buscar Jules... não ele. Mas a família cuida da família. Jules era inegavelmente intrigante, mas não de uma forma comum. Seu estilo gótico era único, para dizer o mínimo. E depois havia o batom vermelho, o delineado preto e a máscara de cílios. Ele estava ansioso para ver a mulher por trás disso tudo. Ele certamente não sabia o que fazer com Julianne... ou melhor... Jules. Lizzie não havia lhe dado nenhuma pista de que a irmã fosse tão diferente dela em todos os sentidos. Lizzie era alta e loura; Jules era o oposto. Ela era mais baixa e possuía cabelo castanho. Percebendo que a estava encarando, ele disse: – Vamos. Lizzie já deverá ter terminado a reunião quando chegarmos. – Chegarmos aonde? Aquela desconfiança toda era uma experiência nova para ele. Houve uma época em que ele não tinha problemas em persuadir facilmente as mulheres. Mas estava agindo de uma forma diferente, agora. As coisas haviam mudado muito nos últimos anos. Stefano engoliu a saliva e tentou suavizar seu tom de voz. – Vou deixá-la no Ristorante Massimo, que pertence a Dante. Não é longe daqui. – Está bem. Vamos. Ele segurou a alça da mala, mas logo hesitou, lembrando-se de como ela havia expressado o seu desejo de permanecer independente. Stefano recolheu a mão e, em seguida, Jules empunhou a bagagem. Ele limitou-se a menear a cabeça e virou-se para o outro lado. Não entendia as mulheres e essa ignorância já havia lhe custado muito caro havia muito tempo. Desde então, tinha aprendido a se controlar para não flertar com elas. Relacionamento era uma coisa do passado para ele agora. Então, por que ele tinha achado Jules tão intrigante? Ele não pôde evitar lançar alguns olhares na direção dela. Tinham que ser as tranças. Mulheres adultas realmente usavam isso? Ele sorriu. As tranças a deixavam meiga. Mas foi a borboleta que o manteve distraído. Precisava admitir que nunca uma tatuagem o intrigou tanto. Sua falecida esposa tinha tido medo de agulhas, então ter alguma arte no corpo não era sequer uma possibilidade. E eles tinham vivido no campo, onde esse tipo de coisa não era popular entre os demais moradores da vila mais próxima. Esbarrou em alguém e ergueu os olhos. – Scusi. Ele podia sentir o olhar de Jules, mas fingiu não notar. Ele não queria deixar que aquela pequena borboleta o distraísse a ponto de ele não enxergar onde estava pisando. Afinal, ele era um DeFiore. DeFiores não se permitem ser distraídos. Quando estavam acomodados em no luxuoso sedã preto, que ele usava para transportar convidados especiais do Vinhedo DeFiore, Stefano se virou para Jules. O corpo dela estava tenso e as mãos repousadas sobre o colo. Uma reação natural de alerta. Ele não a havia feito se sentir exatamente bemvinda. Realmente precisava se esforçar mais. Afinal, era importante para Dante que essa visita se sentisse à vontade. Stefano estava prestes a dizer alguma coisa quando aquela maldita borboleta lhe chamou a atenção novamente. O desenho subia e descia com ela a cada respiração. Ele estava sendo ridículo. Era apenas uma tatuagem irrelevante... que o insultava e o provocava. Ele se virou e fitou cegamente o para-brisa.


– É a sua primeira viagem a Roma? – Sim, é. – Jules virou-se para encará-lo, mas ele manteve o olhar fixo à sua frente. – O que aconteceu? Quero dizer, Lizzie é quem deveria ter vindo me buscar. – Ela não lhe disse? – Não. A bateria do meu celular acabou, então não consegui falar com ela. Essa era a sua chance de ver o que Jules pensava sobre o casamento da irmã. Ele estava curioso para saber se ela achava que estava havendo alguma precipitação naquela cerimônia. – Quando Dante telefonou, disse que o anúncio de seu casamento provocou um tumulto entre os paparazzi, e os chefes das emissoras de TV logo acharam um jeito de transformar tudo em um show iminente. – O que o casamento deles tem a ver com um programa de culinária? – É exatamente isso o que eu penso. Talvez a cerimônia seja adiada. – Por que está dizendo isso? – ela indagou desconfiada. Agora ele teria que ir com cuidado. Sentiu as defesas de Jules desmoronando, e não a culpou. Ele teria reagido da mesma forma se achasse que alguém estivesse prestes a arruinar a felicidade do seu irmão. Novamente a provocante borboleta de Jules veio a sua mente assim como o gosto diferente dela quanto às roupas. Algo lhe dizia que ela não era uma tradicionalista como sua família. Talvez ela fosse um tipo extravagante? Mesmo que isso significasse uma possível ameaça às pessoas? Como ele havia se machucado uma vez. Como ele havia feito com sua falecida esposa.


CAPÍTULO 2

O SILÊNCIO reinou no interior do carro. Quanto mais Stefano demorava a responder, mais preocupada Jules ficava. Ela não podia deixar aquele assunto morrer, sabendo que a felicidade da irmã estava em risco. Precisava de algumas respostas. Ela se virou em seu assento a fim de avaliar a expressão do rosto de Stefano. – Por que você quer que eles transfiram a data do casamento? Ele suspirou. – Eu só acho que eles estão se apressando sem pensar direito sobre isso. – Parece que você está contra esse casamento. – Jules afundou-se novamente no banco de couro. Talvez ela precisasse ser mais direta. – Você vai tentar impedi-lo? Jules estudou o bonito rosto dele e procurou por algum indício de seus pensamentos. Ela não iria deixar que alguém atrapalhasse a felicidade de Lizzie. Ao longo dos anos, quando elas fantasiavam sobre o futuro, Lizzie sempre sonhara em conhecer o Sr. Certo. Mas, até agora, nenhuma delas jamais tinha investido tanta esperança nesses sonhos. Esse era o momento de Lizzie concretizá-lo. – Estou esperando por uma explicação. – Jules cruzou os braços. Ela não iria deixar que aquele assunto ficasse esquecido. – Está bem. Eu admito. Não sou fã de casamentos. – Qualquer um ou este em particular? – Por um momento, pensou se lembrar de Lizzie ter dito algo sobre ele ser casado. Talvez fosse isso. Talvez ele e a esposa estivessem brigados. – Você não é casado? – Eu era. – Os nós dos dedos dele na direção se tornaram brancos. – Ela faleceu. – Ah. Sinto muito. – E, a propósito, a decisão sobre o casamento não cabe a mim. Meu irmão é bem capaz de resolver os próprios assuntos. – Ótimo. – Ela voltou a reclinar as costas contra o banco. – Não quero que nada arruíne o casamento deles. – Ela lançou um olhar significativo para ele, mas Stefano não o retribuiu. – Temos muita coisa para planejar entra agora e a próxima primavera ou verão. Eles falaram de alguma data? – Não. Mas me parece que vai ser antes do próximo ano.


– Eles não podem mudar a data. Isso seria um pesadelo. Há muita coisa para arranjar. Além do mais, se eles vão fazer algo desse tipo, deveriam nos dizer. Afinal, você é o padrinho. Stefano suspirou. – Suponho que sim. Mas isso só significa que eles vão me dizer quando e onde aparecer. – Você realmente acha que será tão fácil assim? – Por que eu não acharia? Homens não se importam com esse aparato todo. Casamento é para mulheres. – Hum. Vamos ver. – Ele realmente acreditava nisso? Ou era reflexo do seu sofrimento de ter perdido a esposa? Ela comprimiu os lábios. Jules estava em Roma havia menos de uma hora. Não ia começar uma guerra com o futuro cunhado de Lizzie. Jules reclinou a cabeça e se virou para a janela, absorvendo os raios dourados do sol sobre a cidade. Não podia acreditar que estava na Itália. Suas amigas da cafeteria em que ela trabalhava nunca iriam acreditar nisso. Definitivamente teria que tirar muitas fotos antes de pegar o voo de volta, dali a uma semana. O carro parou e Stefano virou-se para ela. – Chegamos. Então ali era o Ristorante Massimo. Jules fitou a janela para a fila de mesas com guarda-sóis vermelhos expostas no pátio. E as portas duplas que levavam à área de jantar. Era ali que a irmã havia entregado o coração... era ali que Lizzie pretendia despender o resto de sua vida. Sua respiração ficou presa na garganta. Ela poderia finalmente ganhar sua liberdade, mas a que custo? Jules piscou repetidamente. Havia passado o voo repetindo mentalmente que não iria derreter de tanto chorar. Ela sentiu a pressão de uma forte mão em seu ombro. – Julianne... hum, Jules, você está bem? Ela assentiu com a cabeça e engoliu o nó de emoção que havia se formado em sua garganta, esperando que, quando falasse alguma coisa, sua voz não soasse embargada. – Sim, estou. – Por que não entra? Tenho certeza que Lizzie está ansiosa para vê-la. Vou apanhar sua mala e a encontro lá dentro. Ela concordou e avançou para o restaurante. O salão era bem largo, e sua atenção foi logo capturada por uma parede de fotos. Fotos de vários tamanhos e emolduradas de diversas formas, indo do teto ao chão. Olhando para elas, notou alguns rostos famosos. Uau! Esse lugar realmente deve ser chique. – Jules, é você? – Lizzie caminhou apressada na direção dela. Em segundos, estavam abraçadas. Parecia tão bom encontrar sua irmã novamente. Ambas começaram a falar ao mesmo tempo. Apenas quando olharam em volta e perceberam Dante e Stefano observando-as divertidos é que elas acusaram a falta de modos. Lizzie se pôs no meio de uma roda improvisada. – Jules, eu gostaria que você conhecesse Dante, meu futuro marido. Dante, esta é minha irmã, Julianne, mas todos a chamam de Jules. – Olá, Jules.


– Olá. – Quando ela pensou em estender a mão para cumprimentá-lo, ele a puxou para um forte abraço. Ela hesitou no início. Não era o tipo de cumprimento a que estava acostumada. Aliás, bem diferente da discrição e quase indiferença de Stefano. Quando Dante a liberou, ela ergueu os olhos para encarálo. Era quase tão alto quanto o irmão. Mas bem menos bonito do que o outro. – Não me olhe desse jeito – Dante falou levemente. – Somos uma família e logo você vai descobrir que os DeFiores gostam muito de abraços. – Obrigada por avisar. A julgar pelo que Lizzie havia lhe dito, a maior parte da família morava em um vinhedo fora da cidade. Uma pena que não haveria tempo para visitá-los. Contudo, sua missão era conhecer o noivo, atualizar-se com Lizzie e anotar os detalhes do casamento... que eram muitos. Nunca era cedo demais para planejar a cerimônia perfeita, e Lizzie merecia todos os esforços. – Vamos subir, vou mostrar o seu quarto – Lizzie caminhou para a entrada do restaurante. – Para onde estamos indo exatamente? – Jules indagou, percorrendo o olhar ao redor e tentando se localizar. – Há apartamentos em cima do restaurante – falou Dante. – E o acesso a eles é pelo lado de fora. – Parece ótimo. Podemos começar os planos do casamento imediatamente. Não temos tempo a perder. – Jules agarrou a bolsa. Mas, quando foi segurar sua mala, viu que Stefano já estava com ela em mãos. Ela se virou de volta e seguiu Lizzie até a porta. – Vocês já escolheram uma data? Digamos, na próxima primavera? Ou verão? – É sobre isso que queremos conversar. – Houve uma hesitação no tom de voz de Lizzie. Jules agarrou a alça da bolsa com mais força. Previu complicações. Será que eles iriam cancelar o casamento? Não pareciam estar brigados ou nada do tipo. Então, qual era o problema? – Lizzie, ao menos deixe sua irmã se acomodar antes de entrar no apartamento – Dante parou ao lado do elevador. – Você está certo. Minha cabeça está girando no momento. – Lizzie se virou para Jules. – Espere até ver sua cobertura. É linda. Acho que o apartamento inteiro irá lhe servir muito bem. Jules observou enquanto Lizzie se inclinava para depositar um beijo nos lábios de Dante. Um olhar cruzou o rosto da irmã... um olhar de alegria completa e amor. Subitamente, o impacto do que estava prestes a acontecer golpeou Jules. O pensamento fez seu estômago se revirar. Como havia perdido isso antes? Primeiro, tinha sido a notícia de despejo. O apartamento delas em Nova York estava com dívidas dos condomínios caros. Aquele choque tinha sido seguido de perto pela busca de uma casa de preço acessível, combinada com a tentativa de descobrir uma forma de dizer a Lizzie sobre sua mudança de planos para o futuro. Apesar de tudo isso, ela não poderia se esconder da realidade para sempre. Seus olhos arderam e ela piscou repetidamente. A vida que ela sempre conheceu... Lizzie e Jules juntas… estava acabada. Agora ela estava sozinha nesse mundo grande. OS SORRISOS. Os olhares de “eu amo você”. Os beijos.


Stefano não via a hora de sair dali. Seu irmão mais novo sem dúvida estava apaixonado por Lizzie. Independentemente dos rumos que aquele casamento estava tomando, eles certamente não iriam cancelá-lo. Talvez eles já tivessem fugido. Stefano cerrou os dentes. O pensamento de ver o seu irmão fazendo algo tão impulsivo... tão afoito... fez seu corpo ficar inteiramente tenso. Ele sabia o que era amar e perder. Ele conhecia a dor… e a culpa que o corroía. Não queria que Dante terminasse como ele ou como seu pai viúvo. Os homens DeFiore sempre acabavam, inevitavelmente, sozinhos... de uma forma ou de outra. Dante sabia bem disso; ele apenas escolheu ignorar. A fuga era um traço dos DeFiore. Assim como a teimosia. E não poderia esquecer de mencionar a louca necessidade por independência. – Por que você está tão calado esta noite, meu irmão? – Dante lhe deu um tapinha nas costas. – Estou com muita coisa em mente. – É mesmo? Quer conversar sobre isso? – Dante o guiou para a sala de estar. – Não é nada que você esteja interessado em ouvir. – São os negócios do vinhedo? – Dante entrou na cozinha, abriu a geladeira e observou seu conteúdo. – Quer alguma coisa para beber? Parece que Lizzie comprou de tudo para a chegada da irmã. – Não, obrigado. Dante apanhou uma garrafa de água e a abriu. – Certo, o que o está incomodando? Antes que Stefano pudesse pensar em alguma coisa para dizer ao irmão além da verdade, as mulheres retornaram. Graças a Deus. – Isso não é maravilhoso? – Lizzie sorriu. Quando seus olhos repousaram em Dante, ela foi invadida por um grande sentimento de alegria. – Isso é realmente incrível – Jules concordou. – Bem, não nos deixe em suspense... o que você tem para nos dizer sobre o casamento? – Devemos revelar tudo a eles agora? – Lizzie fitou Dante. Stefano sentiu o estômago se apertar. Alguma vez ele e Gianna teriam parecido tão ridiculamente apaixonados quanto Lizzie e Dante? Mesmo que sim, ele não conseguia se lembrar. – Diga a eles – Dante encorajou. – Não é um segredo. Além do mais, vamos precisar da ajuda deles para isso. O sorriso sumiu do roso de Lizzie. – Acho que você está certo... – Digam logo o que é. – Stefano não queria perder a paciência, mas ele realmente precisava sair dali. Tinha de voltar para o vinhedo, onde poderia se perder no trabalho e se esquecer da tatuagem de borboleta de Jules que ainda o tentava. Ele sentiu os olhos de Jules se estreitando para ele. Stefano ignorou-a enquanto cruzava os braços, desejando que aquilo terminasse. Logo. – Bem, a questão é – Lizzie começou, alcançando a mão de Dante – o motivo de não termos ido buscá-la no aeroporto é que a emissora nos contatou para uma teleconferência. Jules implorou à irmã com seus grandes olhos esmeraldas. – O que eles disseram? – Eles querem filmar nosso casamento e exibi-lo no programa... nosso próprio programa de culinária. – Isso é maravilhoso! – Jules avançou alguns passos e abraçou a irmã. Stefano permaneceu no mesmo lugar.


Quando as garotas se afastaram, Lizzie prosseguiu: – A questão é que nós teremos que fazer o casamento nos próximos dois meses... – O quê? – Os olhos de Jules se arregalaram. – Isso não é possível. Eles sabem quanto tempo demora para se planejar um casamento? – Eles estavam realmente empolgados com a ideia. Eu disse que poderíamos fazer isso. – Você o quê? – Jules comprimiu os lábios. Stefano não sabia se Jules iria gritar ou chorar. E Lizzie parecia aborrecida também. Honestamente ele não sabia qual era o grande problema. Para um casamento, só é preciso que haja um noivo e uma noiva; todo o resto é besteira. – Jules, você não entende. Essa é a oportunidade de uma vida. O olhar dele passou de uma para outra. Os ânimos estavam se exaltando. Se ninguém fizesse nada, aquela feliz reunião iria terminar em uma briga. E ele não queria ver isso acontecer... principalmente porque o motivo era tão estúpido. – Senhoritas, tenho certeza de que isso poderá ser resolvido. Afinal, é apenas um casamento. Quão difícil isso pode ser? Todas as atenções de voltaram para ele. As duas mulheres pareciam arqueiras a postos para alvejá-lo com flechas envenenadas. Dante sorriu e meneou a cabeça, mas não disse uma palavra. Pedir a ajuda do irmão, achou, era muito. Jules marchou na direção dele. Levou as mãos aos quadris e ergueu o queixo. – Exatamente quantos casamentos você já planejou? – Isso não pode ser tão difícil. Afinal, o local já foi escolhido. – O local é apenas parte de um casamento. – Depois – prosseguiu ele, ignorando-a – você escolhe alguns vestidos bonitos e encomenda um bolo. Não há nada com o que se estressar. Jules fulminou-o com o olhar e deu-lhe as costas. – Como eu disse, um homem que nunca planejou um casamento. Lizzie assentiu com a cabeça em total acordo. – Eu sei que avisei em cima da hora. Mas Dante e eu estávamos conversando e realmente não queremos esperar um ano inteiro. Jules ergueu as sobrancelhas. – Há mais alguma novidade que devemos saber? Lizzie corou completamente. – Não. Nada desse tipo. Estamos apenas ansiosos para prosseguirmos com o resto de nossas vidas. – Mas eu parto em uma semana. – Jules mordiscou o lábio inferior. – Eu sei. Mas se Dante e eu comprarmos uma passagem para recompensar pela que vai perder, você ficaria até depois do casamento? Por favor? Stefano concentrou sua atenção em Jules. Por um lado, ele queria que ela mantivesse seus planos originais e partisse em breve. Mas, por outro e mais forte, queria uma chance de verificar aquela tatuagem de borboleta de perto... Não! O que estava pensando? Não queria nada com ela. Com borboleta ou sem borboleta. Ele não tinha a intenção de se aproximar... de sentir coisa alguma. O preço era muito alto. E, além de tudo, ele não merecia uma segunda chance de felicidade.


– Sim, eu vou ficar. – Jules cruzou os braços e lançou um olhar firme para Lizzie. – Você sabe que essa é a coisa mais louca que já fizemos. Onde já se viu planejar um casamento em apenas dois meses? – Podemos fazer isso. – Lizzie voltou o olhar para Dante. – Eu não disse que ela é incrível? – Sim, você disse. Dante ergueu Lizzie nos braços e beijou-a demoradamente. Stefano desviou o olhar e acabou por encarar Jules. Ela parecia tão desconfortável quanto ele. Ninguém deveria estar tão apaixonado quanto Jules e Dante. Felizmente ele estava indo embora. No Vinhedo DeFiore não havia casais apaixonados... nem momentos constrangedores. Apenas lembranças de erros que não poderiam ser desfeitos.


CAPÍTULO 3

ERA ISSO que significava estar presa a alguém? Jules meneou a cabeça levemente. Ela não iria saber. Nunca havia se permitido chegar tão perto de uma pessoa. Jules dirigiu o olhar para o casal de noivos que se entreolhava. Parecia terem esquecido que havia outras pessoas na sala. Ela considerou fazer um comentário divertido, mas não conseguiu. Nunca tinha visto Lizzie tão feliz… nunca. E ela não queria fazer nada que pudesse arruinar aquilo. – Eu tenho que ir. – Stefano caminhou até a porta. – Espere. – Jules lançou um olhar de desespero para ele. Ele não poderia simplesmente deixá-la ali. – Pode me dar uma carona? Lizzie se afastou de Dante. – Um carona para onde? – Para um hotel. – Por que você faria isso? – Lizzie franziu o cenho. – Afinal, aqui será sua casa durante os intervalos da escola. – O quê? – Outra novidade. Antes que Jules pudesse encontrar as palavras, Stefano avançou um passo. – Jules, você gostará de ficar na minha casa. É bem espaçosa, e será útil para ver e analisar o local do casamento. Lizzie abriu a boca, mas não disse nada. Jules tinha a sensação de que estava com uma expressão similar. O homem que não aprovava sua vinda e que achava casamentos uma perda de tempo agora estava sugerindo para que ela ficasse com ele? Ela não estava certa de como se sentia sobre essa oferta. O olhar de Lizzie se estreitou enquanto ela encarava Jules e Stefano. – Obrigada, Stefano. Mas tenho certeza de que Jules ficará mais confortável aqui conosco. Jules engoliu a saliva e endireitou os ombros. – Acho que um hotel será melhor. – Você realmente não quer ficar aqui? – Lizzie indagou suavemente. Dante avançou um passo e puxou Lizzie para mais perto. Ela reclinou a cabeça contra o ombro largo dele. Dante encontrou o olhar de Jules.


– Você é bem-vinda aqui. A qualquer hora. Por quanto tempo quiser. Agora é a sua casa também. – Obrigada. – Isso realmente significava muito vindo dele, mas ainda não a fazia mudar de ideia. Ela não poderia impor isso a eles. Mas não tinha dinheiro para ficar em um hotel indefinidamente. Ela se virou para Stefano. – O vinhedo é muito longe daqui? – Um pouco. – Mas meu irmão ficará feliz em buscá-la e trazê-la. – Dante sorriu como se tivesse realmente gostado da ideia. Jules mordiscou o lábio inferior. Era apenas lógico que ela fosse para casa com Stefano, e ele parecia estar de acordo com a ideia. Então, por que ela estava colocando empecilhos? – Acho que Stefano está certo. Com o casamento marcado para daqui a dois meses, precisamos começar de imediato. – Então Jules teve uma ideia e se virou para sua irmã adotiva. – Talvez você devesse vir comigo. A expressão de Lizzie se encheu de preocupação. – Eu realmente gostaria de ir, mas tenho que ficar aqui enquanto eles começam a gravar nesta semana. Sinto muito. – Ah, eu entendo. – Seria um desafio planejar um casamento sem a noiva constantemente disponível, mas, de alguma forma, elas iriam fazer com que tudo funcionasse. – Mas eu tenho algumas anotações. – Lizzie rumou para o corredor e depois voltou com um notebook, que entregou à irmã. – Eu escrevi notas e anexei fotografias que escaneei de revistas. O que acha de dar uma olhada nisso e depois conversamos? – Parece ótimo. Mas e quanto ao seu vestido? Você vai conseguir alguma coisa em um tempo tão curto? Lizzie sorriu. – Eu tinha a mesma preocupação. Corri para comprá-lo assim que a emissora propôs a ideia e encontrei exatamente o que eu queria. Está sendo providenciado agora mesmo. – Ótimo. – O item mais importante da lista já estava resolvido. – Por acaso você encontrou um para mim? – Na verdade, eu encontrei três vestidos maravilhosos. Você só tem que prová-los para ver qual fica melhor. Certo, então talvez esse casamento apressado não seria tão complicado de planejar quanto ela havia pensado inicialmente. – Você tem certeza de que não vai ficar aqui? – Lizzie implorou com o olhar. – Eu estava esperando que pudéssemos colocar as fofocas em dia e assistir a alguns filmes antigos juntas. Se fosse apenas Lizzie no apartamento, ela não hesitaria em ficar. Mas depois de ver como a irmã e Dante gravitavam juntos, sentiu-se uma intrusa. Eles não conseguiam manter as mãos longe um do outro. E, para ser muito honesta consigo mesma, ela queria ver o vinhedo. A julgar por todos os comentários, era um lugar maravilhoso. Quem iria perder a chance de ficar em uma vila italiana? – Está pronta para ir? – Stefano lançou um olhar direto que não deixava dúvida quanto à sua vontade de escapar daquela lua de mel antecipada. – Sim, estou. Apenas me deixe apanhar minha mala. – Eu já peguei. – Stefano declarou. Jules se virou para Lizzie, que estava com um olhar expectante.


– Vamos conversar mais tarde. Estou tão feliz por você. E não se preocupe com nada. Eu prometo que iremos planejar o melhor casamento. A expressão de Lizzie se suavizou. – Obrigada. Você é a melhor. – Vou me lembrar que você disse isso. – Jules sorriu, feliz em ver a irmã novamente. – Temos muito trabalho para fazer. MAS QUE diabos ele estava pensando? Stefano meneou a cabeça. Obviamente não havia raciocinado com clareza. O que ele sabia sobre bancar o anfitrião? E o que ele sabia sobre fazer as mulheres felizes? Sua esposa poderia atestar isso... se ainda fosse viva. A culpa pareceu pesar em seus ombros. Era apenas mais um motivo que confirmava a péssima ideia que foi levar Jules para casa com ele. Porque, mesmo que ela estivesse sem a maquiagem e as roupas, ele saberia que ainda assim havia algo especial nela... algo que o intrigava. E isso definitivamente não era uma coisa boa. Mas ele não poderia simplesmente tê-la deixado com aqueles dois. Seu irmão mal conseguia tirar as mãos de Lizzie. – Obrigada. A voz dela o interrompeu de seus devaneios. – O quê? – Obrigada por ter me ajudado. Acho que eu não conseguiria ficar testemunhando aquele chamego por muito tempo mais. Você já viu um casal tão feliz? Ele meneou a cabeça. Ao menos, eles tinham algo em comum. – Eles certamente são apaixonados um pelo outro. – Você também notou isso? Ele assentiu com a cabeça, mantendo os olhos fixos na estrada. – O que você acha sobre essa pressa toda em fazer os votos? – Eu estava começando a pensar que Lizzie nunca iria ter uma família, principalmente depois... bem, de qualquer maneira, agora ela tem. Depois do quê? Ele quis perguntar, mas se conteve. Apenas esperava que Dante soubesse sobre a que Jules estava se referindo. Talvez agora Stefano não fosse o único com reservas. Ele tinha notado a forma com que Jules havia franzido o cenho no ninho de amor quando ela pensou que ninguém a estivesse observando. Talvez ela precisasse de uma mudança de opinião a respeito daquele romance. Ele clareou a garganta. – Certamente foi uma surpresa o fato de eles terem conseguido adiar o casamento. É apenas uma questão de semanas mais à frente. Eu me pergunto se eles estão fazendo a coisa certa. Ele desviou a atenção da estrada por um momento e dirigiu o olhar para ela. Jules o estava estudando com desconfiança. Definitivamente, isso não era um bom sinal. – Com o que você está preocupado? – Ela indagou. – Você não gosta de Lizzie? Não acha que ela é boa o bastante para o seu irmão? – Opa! Vá com calma. Não foi isso o que eu quis dizer.


Ele continuou alternando o olhar entre Jules e a estrada. Ela cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha para ele. Estava esperando uma explicação, e ele não sabia exatamente o que dizer. Stefano suspirou. – O que eu quis dizer é que se isso é real entre eles, então não há necessidade de se apressar... não importa o que a emissora determine. Eles podem levar o tempo que for... – Essa não é a verdade, é? – Como ele não negou imediatamente, Jules suspirou. – A verdade é que você sabe sobre o passado de Lizzie e não acha que ela seja boa o bastante para se casar com seu irmão e fazer parte da família DeFiore. – Não é assim. – Embora ele desejasse que fosse. Se sua desaprovação fosse o único obstáculo que Dante e Lizzie tivessem que enfrentar, estaria mais do que bom. Mas ele sabia que os dois formavam um casal incrível... um casal totalmente apaixonado. O problema do amor é que ele é cego e surdo. E, cedo ou tarde, a devastação iria exterminá-los... isso sempre acontecia. Mas como ele poderia explicar isso a Jules? A menos que ela tivesse vivido aquilo na pele... duas vezes, no caso dele... nunca poderia entender verdadeiramente. A união com um DeFiore tinha amargas consequências. – Então o que é? – Jules continuou encarando-o. – Por que você está contra esse casamento? – Não estou. Ao menos não quanto ao fato de eles estarem juntos. – Mas... Ele não poderia fazer isso. Dizer a verdade a Jules não era uma opção. Ele não poderia abrir a porta do seu passado... reviver a dor. E embora ele mal a conhecesse, não poderia suportar a ideia de ver Jules virando aqueles olhos verdes e brilhantes para ele em julgamento, antecipando uma condenação. A família de Gianna ainda o olhava da tal maneira. Ele já havia finalmente aceitado que eles sempre iriam culpá-lo. – Eu não acho que eles se conheçam bem o suficiente. Mesmo quando você convive com alguém por anos, ainda tem que fazer muitos ajustes. – Você fala como se tivesse ampla experiência no assunto. Ele dispensou aquele comentário. – A questão é que eu gosto de Lizzie. Acho ela ótima. – Você acha? – Houve um tom de surpresa misturado com felicidade na voz de Jules. – De verdade? Ele assentiu com a cabeça e depois deu a seta enquanto eles se aproximavam da entrada do vinhedo. – Apenas não quero que eles apressem as coisas e mais tarde descubram que cometeram um erro. – É isso o que você acha que eles estão fazendo? Cometendo um erro? Ele deu de ombros. – Eu acho que o amor é uma faca de dois gumes. E se você não for cuidadoso, pode se cortar. Ele não a encarou desta vez, mas podia sentir o olhar dela sobre ele. Resolveu dar a conversa por encerrada. Stefano não devia mais nenhuma explicação a ela.


CAPÍTULO 4

A HONESTIDADE era clara na voz de Stefano. Mas Jules poderia acreditar no que ouviu? Ele realmente gostava de sua irmã? Ou estava apenas dizendo a ela o que ele achava que ela fosse gostar de ouvir? Jules queria acreditar nele. De verdade. Mas havia algo mais na hesitação dele além do casamento que estava prestes a acontecer. E isso a deixava intensamente curiosa. – Chegamos. – A voz profunda de Stefano com seu sotaque pesado a tirou dos devaneios. Com o sol se pondo no fundo, Jules fitou os campos verdes. Era a tarde mais maravilhosa que ela já vira. Parecia um pequeno pedaço do paraíso na Terra. – Você mora aqui? – A família DeFiore mora aqui por gerações. No que exatamente ela havia entrado ao concordar em ficar ali? Um italiano sexy ao seu lado, o carro mais elegante em que ela já havia entrado e o campo mais magnífico que já tinha visto significavam problemas. Tinha certeza. Contudo, por que lutar contra isso? Por que não apreciar o momento? – Aqui estamos. – Stefano parou o carro do lado de fora de uma casa. – Espero que fique confortável aqui. – Eu... tenho certeza de que ficarei. Ela fitou a casa principal. Esta era mais uma mansão colorida do que uma aconchegante casa de campo. Comprimiu os lábios. Cortinas brilhantes e azuis adornavam cada porta e janela. A cor contrastava com as paredes amarelas e o telhado vermelho. Alguém certamente apreciava cores vibrantes. E ela não poderia culpá-los. Isso tornava a casa alegre e receptiva. Stefano abriu a porta do carro, e ela saiu do veículo. – Este lugar é incrível. – Obrigado. – Será o cenário perfeito para o casamento. – Ela percorreu o olhar ao redor procurando pelo local ideal para Lizzie e Dante fazerem seus votos. – Você está pensando em organizar uma cerimônia ao ar livre? Uma leve brisa tocou sua pele.


– É claro. Com este cenário lindo, não vale a pena nem mesmo considerar outro lugar. – Com o perdão da curiosidade, o que você sabe sobre planejar um casamento? Você é... quero dizer, já foi casada? Ela riu. Não pôde se conter. A ideia de vê-la assumir um compromisso daquele porte era como imaginá-la dando aula de voo a um passarinho. Claro, Jules esperava que Lizzie fosse viver feliz para sempre, mas, quanto a si mesma, não acreditava em colocar seu futuro nas mãos de outra pessoa. – Sou uma solteira convicta. Stefano ergueu as sobrancelhas. – É mesmo? – Não pareça tão chocado. Ele friccionou a nuca com uma das mãos. – Acho que nunca conheci uma mulher que não acredita em rosas, chavões e promessas de eternidade. – Bem, agora você conhece. – Sim. Embora ela nunca fosse admitir, ficar ali naquele pequeno pedacinho de céu com um homem cujos pensamentos se estendiam além do seu zíper a faziam ao menos entender o porquê de algumas mulheres serem tão românticas. Jules se virou e seus olhares se encontraram; ela devia, mas não quis desviá-lo Ainda não. Seu estômago se apertou. Era uma sensação até então nunca experimentada perto de um homem. O que ele tinha que fazia com que seu corpo a traísse? Fosse o que fosse, ela teria que ser cuidadosa perto dele. De modo nenhum cairia em uma fantasia irreal. Ela sabia, por experiência própria, que as pessoas em quem devia confiar eram as primeiras a decepcioná-lo... as primeiras a infligir dor. Começou com o próprio pai. E depois sua mãe aumentou a decepção, da pior forma. Jules não permitiria que houvesse qualquer aproximação entre ela e um homem a ponto de machucá-la com tal intensidade, ou até mais. NA MANHÃ seguinte, Stefano ficou mais tempo na cozinha do que o necessário. Já havia tomado duas xícaras de café, mais do que o habitual, e tomaria a terceira, se não tivesse encontrado o bule vazio. Ah, isso era ridículo. E julgou ver cumplicidade naquele pensamento no olhar de Maria, a cozinheira e governanta da casa. Felizmente ela não disse uma palavra sobre sua bela hóspede. Maria virou as costas para ele e começou a preparar um café fresco. Ele pôs a xícara sobre a pia. Maria inclinou a cabeça para encará-lo. – Aguarde um minuto, sr. DeFiore. – Não, obrigado. – Ele forçou um sorriso antes de fitar a janela e assistir a luz do sol provocar um brilho dourado sobre as vinhas. – Preciso me apressar, fiquei até tarde da noite analisando a papelada da vinícola. O tempo da colheita está se aproximando. Devemos estar preparados. Maria assentiu com a cabeça antes de abrir a geladeira. Ótimo. Agora ele estava tagarelando como um tolo. Ele não deveria estar por perto... esperando por Jules. Ela devia estar bem. Ele havia mostrado o vinhedo para ela no dia anterior.


Quanto menos pensasse sobre a mulher que usava muita maquiagem, melhor. Seu trabalho o aguardava. – Obrigado pelo café da manhã. – Não se preocupe. Tudo vai dar certo. Antes de Stefano perguntar o que ela queria dizer com isso, ouviu o som de passos. Ele se virou e encontrou Jules parada na entrada da cozinha vestida com um short e um top de manga comprida pretos. Mas o que acelerou seu coração foi a visão do sutiã debaixo do top. – Bom dia. – Ela sorriu como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo. – Eu não pretendia dormir até tarde. Acho que foi o cansaço da viagem. Stefano sentiu a boca ressecar, e sua mente ficou em branco. Deveria dizer alguma coisa, mas sentiu sua língua presa ao céu da boca. Limitou-se a observá-la, sem conseguir desviar o olhar. Maria se colocou entre eles e ofereceu o café da manhã a Jules. Enquanto a hóspede se servia, Stefano pensou em como era possível que uma mulher tão magra tivesse um apetite tão voraz. Ela o encarou e ele notou um brilho de divertimento naqueles olhos. Engoliu a saliva. – Você dormiu bem? – Sim. Abri a janela e uma brisa fria embalou o meu sono. Ele não tinha dormido bem... nem um pouco. Pensamentos sobre a pequena tatuagem de borboleta haviam invadido sua mente. Sua atenção se concentrou no peito dela, mas o top preto obscurecia sua visão. Melhor assim. Trabalhe. Concentre-se nas tarefas de hoje. – Estou indo para os campos. Os olhos de Jules se iluminaram. – Você vai colher uvas? Isso parece divertido na televisão. Ele deu uma risadinha. – Não. Ainda não estamos nessa época do ano. Mas, no período da colheita, você será bem-vinda se quiser voltar e se unir a nós. – Obrigada. – O entusiasmo na voz dela o fez sorrir. – Aceitarei sua oferta. Mas é difícil aprender? – Não. Qualquer um pode fazer isso. Tenho certeza de que você vai aprender rápido. Ela comprimiu os lábios. – Terei isso em mente. Obrigada pelo convite. – E, após uma pausa, quis saber: – Se você não vai colher uvas, então, vai fazer o quê? – Há sempre alguma coisa que precisa ser feita. – Interessante. – Ela uniu as sobrancelhas. – Desculpe. Não entendo muito sobre a fabricação de vinho. Na verdade, sou completamente ignorante no assunto. Vinho eu só sei tomar! Ele pensou em mostrar a ela o básico do processo, mas reconsiderou e viu que não era uma boa ideia. Além do mais, ela apenas estava fingindo interesse nas uvas para ser gentil. Afinal, por que uma garota da cidade estaria interessada em um campo de plantas? Stefano imaginou que ela estaria bastante ocupada com os planos para o casamento e não iria importuná-lo. Seu avô entrou na cozinha apoiado em uma muleta. O nonno estava morando na vila desde que havia sofrido um derrame. Ele era o pai de sua mãe e o único avô que Stefano tinha conhecido. – Nonno, essa é Jules, a irmã de Lizzie – disse Stefano em voz alta. – Ela chegou na noite passada. Jules, esse é o meu avô, Massimo.


– Sou velho, não surdo. – O avô exibiu um sorriso para Jules. – Seja bem-vinda. Jules retribuiu. – Lizzie me falou muito sobre você. – Muito bem, eu espero. – Apenas o melhor. Nonno se uniu a Jules na mesa e a cumprimentou. O sorriso dela alcançou seus olhos. Stefano sentiu uma ponta de ciúme. Ela não havia sorrido daquela forma para ele nenhuma vez, ainda. Ao contrário, mantinha-se reservada, como se temesse levar uma mordida dele a qualquer momento. Mas a presença do avô ali parece tê-la feito até mesmo esquecer que Stefano estava no ambiente. – Bem, vou deixar você fazer seu desjejum. – Stefano precisava sair dali... tomar um ar fresco para clarear seus pensamentos. Massimo não disse uma palavra enquanto sorvia um gole do café. Finalmente, Jules se virou para Stefano como se tivesse acabado de notar a presença dele. – Lizzie estará aqui na hora do almoço, então podemos começar com os planos para o casamento. – Tudo bem. Vou deixá-la com seus planos. – Ele saiu se sentindo dividido entre o alívio da fuga e a decepção de saber que não iria vê-la novamente até o jantar.


CAPÍTULO 5

– EU ESTAVA começando a pensar que nunca iria encontrá-lo. – Jules se aproximou de Stefano. Já ia desistir de procurá-lo quando enfim o localizou verificando as vinhas. Ele uniu as sobrancelhas. – Achei que você estaria traçando planos para o casamento com Lizzie. – Ela cancelou. – O casamento? – Não. Isso ainda está certo. – Um calor subiu às faces de Jules. – Quero dizer que ela cancelou nossos planos para hoje. Disse que teria de ficar no restaurante para uma videoconferência com o pessoal da televisão. Parece que iam acertar alguns detalhes para a gravação da próxima semana. Nunca vi fazer tanta reunião por causa de um reality show. Stefano se aproximou de Jules. – Esse programa parece estar exigindo cada vez mais tempo deles. Quando meu irmão começou a diminuir a frequência com que vinha para cá nos fins de semana, culpou a agenda das gravações. Eu, pessoalmente, achei que fosse porque ele quisesse um tempo a sós com Lizzie, mas agora parece que ele estava dizendo a verdade. – Isso não é bom. Mas ao menos eles estão felizes. E eu suponho que isso não vá durar para sempre. Esses são os 15 minutos de fama deles. Ele limpou as mãos em seu jeans desbotado. – Eu estava voltando da vinícola. – Vinícola? Ele apontou para uma construção larga com uma fachada de pedra, um pouco distante. – É onde nós produzimos o vinho. Debaixo dele, há um porão. – Você se importa de andarmos até lá? Quero lhe perguntar algo. – Como Lizzie não podia dirigir até o vinhedo, ela indagou se Jules teria algum problema para encontrá-los em Roma no dia seguinte. Isso parecia importante, mas Lizzie esteve muito calada e disse que elas iriam conversar durante o jantar. – Claro. Vá na frente. – Eles caminharam lado a lado. – O que está pensando? A ideia de pedir uma carona a ele até a cidade não parecia muito boa. Ela não gostava de contar com os outros. Lizzie disse que Stefano podia ir junto, mas com todo o trabalho que ele tinha para fazer, será


que iria querer dirigir todo o percurso apenas para jantar? Achou melhor não perguntar nada. Estava apreciando o bom humor dele, e essa era a sua chance de conhecê-lo um pouco melhor. – É grande. – Ela apontou para a adega. – Realmente grande. – Nem sempre foi desse tamanho. Meu pai e eu fizemos muita coisa para expandir os negócios. Mantivemos o exterior com o desenho tradicional, mas o interior foi totalmente modernizado. Esperamos que a vinícolaseja passada de geração para geração. – Tenho certeza de que seus filhos vão apreciar todos os seus esforços... – Eu não tenho filhos. – A resposta rápida dele a pegou de surpresa. – Eu meio que adivinhei isso. Mas você terá filhos assim que conhecer a mulher certa. Não é isso o que todos nós queremos? – Não. – Ele friccionou a nuca com uma das mãos. – Talvez os filhos de Dante tenham interesse nos negócios. Jules o observou, notando a tensão em seu olhar enquanto ele mantinha a atenção no caminho à sua frente. Ela se perguntou por qual motivo havia reagido de forma tão veemente sobre a questão de ter filhos. – E quanto a você? – A voz de Stefano a despertou. – O quê? – Está interessada em ter uma família? Ele era a primeira pessoa a lhe questionar sobre aquilo. Nem mesmo Lizzie tinha perguntado isso a ela. – Pareço ter nascido para ser mãe? – Suponho que sim. – Você nem mesmo está olhando para mim. Ele parou e se virou para ela. O silêncio reinou enquanto ele a encarava. – Acho que debaixo de toda essa maquiagem está uma bela mulher que pode ter qualquer coisa que desejar. O coração dela quase gemeu. Ele a achava bonita? Mais uma coisa que ninguém havia dito a ela. – Obrigada. Mas você não precisa dizer isso apenas para me fazer sentir melhor. – Não estou dizendo isso para que você se sinta melhor. – Os olhos dele escureceram enquanto a encarava como se realmente a estivesse enxergando. – Há algo especial em você. Não entendo muito de moda, mas presumo que a maquiagem e as roupas escuras estejam em alta. – Na verdade, é só o meu estilo. – Entendo. É... é diferente do modo como as mulheres se vestem. Na vila, as coisas são mais simples do que se vê em Roma ou Milão. – As coisas são tão diferentes em Nova York. – Posso imaginar. Mas estou confuso. O que a sua aparência tem a ver com o fato de você se tornar mãe? De volta àquele assunto... aquele no qual ela não queria se aprofundar muito. – Não vou ter filhos. – Nunca? – Nunca. Eu não tenho ideia de como ser uma boa mãe. Voltaram a andar na direção da vinícola e ela acompanhou os passos dele, esperando e tentando adivinhar o que ele iria perguntar a seguir. Eles caminharam em silêncio por alguns minutos. Uma leve


brisa soprou o cabelo de Jules. Ele realmente a achava bonita? Enquanto se aproximavam da enorme estrutura de pedra, Stefano clareou a garganta. – Você ficaria surpresa em saber o que as pessoas são capazes de fazer quando seus corações estão envolvidos. Ela meneou a cabeça. – Acredite. Eu não tive um bom exemplo de mãe. – Sinto muito em ouvir isso. Não tanto quanto eu. Então ela ouviu... um grito? Um choro? Jules parou de caminhar. – Você ouviu isso? Stefano virou-se para encará-la. – Não. O quê... – Shh... – Ela percorreu o olhar ao redor do prédio, onde a grama era mais alta. Se fosse um rato ela iria gritar e pular nas costas de Stefano. Outro barulho. – Você ouviu dessa vez? Stefano assentiu com a cabeça. – Eu não me preocuparia com isso. Tenho certeza de que é alguma vida selvagem que pode cuidar de si mesma. Vamos. Vou lhe mostrar a vinícola. – Não podemos ir embora. Ainda não. E se a criatura estiver machucada? Stefano arqueou uma sobrancelha. – Você não acabou de me dizer que não nasceu para ser mãe? – Não nasci. – Embora intimamente ela desejasse que algum dia pudesse ser o tipo de mãe que havia sonhado. – Mas isso não quer dizer que sou insensível. A vida selvagem pode estar morrendo de fome ou pior. Jules inclinou-se e começou a procurar em meio aos arbustos e através da folhagem ao lado do prédio. Quando ela espiou por sobre um dos ombros, encontrou Stefano imóvel, encarando-a. – Não fique parado. Ajude-me. – Ela não esperou pela resposta dele enquanto se virava e continuava sua busca. Ela imaginou que gritaria de novo, independentemente do que encontrasse. Mas não conseguia ver nenhum sinal de vida. O que era? E onde estava? – É isto o que você está procurando? Jules imediatamente se endireitou e se virou. Seu olhar repousou em uma bola de pelo laranja. – O que é isso? Stefano deu uma risadinha. – Vocês, garotas da cidade, não sabem reconhecer quando veem um gatinho? – Um gatinho? – Jules abriu a boca e depois forçou-a a fechá-la. Ela se aproximou do animal. – É seu? Ele meneou a cabeça. – Não. – Então como ele chegou até aqui? – Ela olhou em volta sem ver nenhuma casa por perto.


– Às vezes, quando as pessoas não querem animais, elas os abandonam em qualquer lugar. E quase sempre os deixam aqui, como se fosse um local apropriado para se deixar animais, principalmente gatos. – Ele... ele está bem? – Não sou veterinário, mas... – Ele ergueu o pequeno felino. – Acho que está assustado e morrendo de fome. Fora isso, parece bem. Jules suspirou. – Posso acariciá-lo? Stefano uniu as sobrancelhas. – Claro. O gato não é tão frágil. Ela passou os dedos entre os pelos emaranhados e sujos do gato. Naquele momento, o coração de Jules derreteu. Como alguém poderia abandonar um animal tão doce? – Quer segurá-lo? – Stefano fez menção de entregar o gato a ela. – Claro. Mas... não quero machucá-lo. – Confie em mim... vocês vão ficar bem. Ela estendeu as mãos e segurou o gato. Não imaginava que fosse tão leve. Seus dedos imediatamente afundaram no macio pelo laranja. Ela podia sentir o drama dele. Jules sabia como era ser abusada por aqueles que supostamente deviam cuidar de você. – Ah... é tão doce. – Ela ergueu o gato e olhou no fundo dos olhos dele. – Não se preocupe. Você está seguro agora. Deu meia-volta na direção da casa. Stefano perguntou: – Mas... não ia ver a vinícola? – Isso fica para depois. Damasco precisa comer. – Damasco? – Houve uma pausa e depois o som dos passos dele se aproximando dela. – O que você pretende fazer com o... Damasco? – Alimentá-lo, é claro. – Mas depois disso? Para que dar um nome a ele? Ela viu a preocupação nos olhos dele. Com o que estava preocupado? Achava que ela não sabia o que estava fazendo? Que ia ferir o gato de alguma forma? Talvez ele estivesse certo. Ela talvez estivesse agindo por puro impulso, mas estava disposta a aprender. – Não podemos deixá-lo sem um nome. Não entendo de gatos, mas posso aprender. É para isso que serve a internet. – E então um pensamento preocupante se formou na mente dela. – Ou você está preocupado sobre ter um gato na sua casa? – Não há problema nenhum ele ficar em casa. É um lugar grande, e você pode deixá-lo na sua suíte, ninguém vai saber que ele está lá. Enquanto eles caminhavam em silêncio, Jules começou a ficar nervosa. Ela realmente não sabia o que estava fazendo. E se machucasse o gatinho? Afinal, ela nunca tomou conta de ninguém além de si mesma, e mesmo assim, Lizzie sempre estava por perto. Era por isso que ela não queria ter filhos... nunca. Não sabia cuidar dos outros. E, a julgar pela expressão de preocupação de Stefano, ele também pensava da mesma forma. – O que você queria conversar comigo antes de o gato aparecer? – O que você vai fazer amanhã?


CAPÍTULO 6

POR QUE exatamente ele havia concordado em jantar fora? Stefano se sentou em uma cadeira de um dos hotéis mais chiques de Roma. Jules e Lizzie estavam conversando sobre os preparativos do casamento. E ele queria estar em qualquer outro lugar menos ali, ouvindo coisas como lista de convidados. Aquilo o fazia despertar memórias antigas. Seu casamento com Gianna havia começado com promessas. Depois os problemas apareceram. E então ele começou a perder o interesse por ela. Ele achava que todo casal passava pela mesma situação enquanto se acostumava à vida de casado. Ele tentou fazer o seu melhor. Começou a levar Gianna para Roma com tanta frequência quanto o seu trabalho permitia. Ela sempre amou a cidade. E ele amava mimá-la. Mas quando ele sugeriu que começassem uma família, ela ficou furiosa. Não queria ficar presa a um vinhedo com um bebê. Não estava pronta para dar aquele passo. Ela queria o dinheiro que a vinícola podia produzir, mas descartava a vida tranquila no campo. Stefano tentou convencê-la a mudar de ideia, mas não conseguia entender por que ela não queria ter uma família. Não era aquele o progresso natural de um casamento... ter filhos? – Ei, por que você está tão calado? – Dante inclinou-se em sua cadeira depois que o garçom retirou os pratos vazios da mesa. – Não é nada. – Ele afastou as memórias antigas da mente. – Não diga isso. Eu o conheço. E alguma coisa o está incomodando. – Está realmente decidido a transferir o casamento para este hotel? – Stefano tentou desviar o assunto. – Eu achei que você quisesse se casar na vinícola. O que mudou? Dante passou os dedos pelo cabelo. – O pessoal da televisão. Eles estão transformando o que queremos fazer com o casamento em algo quase impossível. – Então desista do programa. – Stefano não entendia por que o irmão estava tão ansioso para revirar sua vida em um show de televisão. Dante meneou a cabeça. – Não posso fazer isso. Temos um contrato. – Estou confuso. O que esse programa tem a ver com o seu casamento?


– Muita coisa – disse Lizzie. Todos os olhares se voltaram para ela. – Foi por isso que organizamos este jantar. Temos uma longa reunião com os executivos, e eles precisam que nós concordemos com a filmagem. – Mas por que mudar o casamento para cá? – Jules ecoou a questão de Stefano. Lizzie levou um guardanapo à boca. – Porque o meu tempo disponível para planejar o casamento é muito limitado. Não sei com que frequência vocês serão capazes de sair do vinhedo antes do grande dia. Então, penso que ter o casamento aqui em Roma será mais conveniente. – Mas é isso mesmo o que você quer? Afinal, é o seu grande dia... o maior de sua vida. Não deveria ser o que você quer em vez do que é mais fácil? – Jules lançou um olhar determinado para a irmã. Stefano não achava que esse casamento fosse uma boa ideia, mas tinha que concordar com Jules. Se era para acontecer, então que fosse da maneira que eles quisessem, e não da mais conveniente. – Jules está certa. – Stefano podia sentir o olhar surpreso de Jules, mas ele manteve a visão em Lizzie antes de se virar para Dante. – Não ouço você dizer nada. – Concordo com qualquer coisa que Lizzie decidir. Eu quero que esse casamento seja o que ela sempre sonhou, aqui ou no vinhedo. – Obrigada. – Lizzie apertou a mão de Dante e o encarou com um olhar amoroso. Depois ela se virou para Jules e Stefano. – Vocês estão certos. O vinhedo era uma ótima ideia. Mas… – Sem “mas”. – Jules cruzou os braços. – Vamos fazer com que isso dê certo. Lizzie encarou Jules. – Eu não poderia pedir mais do que vocês já estão fazendo. – Você não está pedindo. Eu estou oferecendo. – E meu irmão estará por perto para levá-la até a cidade. E qualquer outra ajuda que você precisar. – Dante deu um tapinha nas costas de Stefano e exibiu um largo sorriso para ele como se ele tivesse acabado de cair em uma armadilha. Stefano engasgou. Como seu irmão ousava presumir que ele estaria disposto a bancar o chofer de Jules? Com todos os olhares sobre ele, lutou por um tom neutro. – Tenho que cuidar dos negócios. – Papai irá ajudá-lo. Afinal, não é a estação mais difícil. Não deverá haver nada muito estressante. Jules se virou para encará-lo. Seus olhares se encontraram. E sua defesa começou a desmoronar. Isso seria tão ruim? Uma ou duas viagens até a cidade. Talvez três, no máximo. Quão difícil poderia ser? – Eu realmente aprecio sua ajuda. – Os cantos dos lábios de Jules se curvaram, iluminando a luz suave da sala de jantar. E, naquele momento, ele sentiu seu coração derreter. – Apenas me avise o que deverei fazer. – Ele realmente havia dito aquilo? Jules apertou a mão dele. – Claro. Não será muita coisa. O sorriso dela alcançou os olhos e os fizeram cintilar como faróis. Ele sentiu o peito se encher com uma sensação estranha. Talvez fosse uma indigestão. Sem chance de ele estar se apaixonando por Jules. Disso ele estava certo. O QUE estava acontecendo agora?


Jules seguiu Lizzie até um dos terraços do hotel, em que havia uma estátua de mármore e de onde se tinha uma bela vista da cidade. Sem ninguém por perto, elas poderiam conversar abertamente pela primeira vez desde que ela chegara à Itália. Mas o que a sua irmã queria conversar em particular? – Lizzie, o que está acontecendo? A irmã se virou para encará-la. – Eu apenas quero que você saiba que nada vai mudar entre nós... – O quê? É claro que vai mudar. As coisas têm que mudar. – Jules inspirou profundamente. Era hora de uma saudável dose de realidade. – É tempo de nós duas termos nossas próprias vidas. A sua é aqui na Itália. A minha... bem, eu não tenho certeza de onde será a minha… – Sim, você tem. Seu futuro é em Nova York com seu diploma de mestrado. Eu já lhe disse o quanto estou orgulhosa de você? – Sem esperar por uma resposta, Lizzie continuou: – Andei falando para todo mundo que encontrei que minha irmã é muito inteligente. Até mencionei isso nos bastidores da televisão. – Mentira! – Jules sentiu o estômago afundar. Agora o mundo inteiro saberia que ela era um fracasso. Lizzie sorriu e meneou a cabeça. – Eu quero que todos saibam o quanto estou orgulhosa de você. Jules sabia que ela deveria contar a verdade a Lizzie agora, mas, enquanto fitava os olhos da irmã, sua coragem evaporou. Simplesmente não conseguia pensar em que dizer, pois Lizzie nunca viveria aqueles sonhos. Tudo estava diferente agora. Ela não era a mesma garota com pensamentos revolucionários. – Não fique tão triste. – Lizzie apertou a mão dela. – Vamos manter o contato. Podemos fazer um plano internacional de telefone. – Ela sorriu como se tivesse descoberto a solução para a paz mundial. – Sem esquecer, claro, mensagens de texto, e-mails, redes sociais. Será como se nada tivesse mudado. Jules comprimiu os lábios enquanto lançava um olhar incrédulo para a irmã. – A verdade é que... – os olhos de Lizzie cintilaram com as lágrimas – eu não sei se posso fazer isso. – Está ficando com medo? – Fosse qual fosse o problema, elas iriam lidar com isso juntas, assim como fizeram na maior parte de suas vidas. Lizzie meneou a cabeça. – Eu amo Dante. Eu o amo mais do que jamais pensei ser possível. – Então o que é? – É... somos você e eu. – Lizzie fungou. – Era sempre nós duas contra o mundo, e agora eu estou destruindo isso. Eu sinto como se a estivesse abandonando. Jules deu um abraço confortante na irmã e depois se afastou. – Nossa família não está sendo separada. Está se expandindo. Estou empolgada em ganhar um irmão. Lizzie fungou novamente. – Você está realmente feliz com isso? Não está dizendo isso apenas para me fazer sentir melhor? – Eu juro. Lizzie enxugou os olhos e sorriu. – Obrigada. Agora, o que deu em você para adotar um gatinho? Stefano tinha mencionado isso no jantar, e ela sabia, pelo olhar da irmã, que aquele fato havia despertado a curiosidade dela. – Damasco é adorável. Mal posso esperar para que você o conheça. Você vai amá-lo.


Lizzie enrugou a testa. – Eu nem mesmo sabia que você gostava de gatos. Jules deu de ombros. – Acho que sou cheia de surpresas. – Acho que nós duas somos. Quem alguma vez pensou em se casar e mudar para Roma? – Lizzie lançou um olhar hesitante para ela. – Você está certa sobre isso? Quero dizer, eu poderia adiar o casamento. Você sabe… até você terminar a faculdade. – Lizzie, ouça. Sobre a faculdade, eu estava pensando… – Que nós não festejamos como deveríamos. – Lizzie sorriu e seus olhos cintilaram de alegria. – Eu sinto muito. Não queria roubar seu brilho com o casamento e tudo. – Você não roubou. Honestamente. – Até onde Jules sabia, aquele casamento era a melhor coisa que poderia acontecer a Lizzie. Sua irmã tinha mais coisas para se preocupar do que com ela. – Nunca pensamos que uma de nós ia se casar. Esta é a sua chance de ter uma verdadeira família. Você tem que aproveitar isso ao máximo... por nós duas. Lizzie a abraçou forte e Jules piscou repetidamente, tentando conter as lágrimas. Depois se afastou. – Quer dizer que estamos bem? Jules assentiu com a cabeça enquanto continha a torrente de emoções que havia se formado em seu interior. Não iria arruinar isso para Lizzie. Depois de tudo o que a irmã tinha feito por ela, merecia cada pedaço de felicidade que pudesse encontrar nesta vida. – Estamos muito bem. Agora, vamos ver o que os homens estão fazendo. – Conhecendo aqueles dois, talvez tenhamos de intervir em uma luta de boxe. Jules ficou boquiaberta. – Eles não se dão bem? – Ah, se dão muito bem. Mas, quando Stefano começa a sua rotina de irmão mais velho, os dois começam a agir como se tivessem 2 anos de idade. – Lizzie sorriu e meneou a cabeça. – Se ao menos Stefano percebesse que Dante está crescido agora e não precisa mais dos seus conselhos. Jules queria conversar mais sobre isso, mas decidiu esperar. Agora não era o momento de mergulhar nesse assunto confuso. Isso poderia ficar para mais tarde.


CAPÍTULO 7

AQUILO NÃO deveria estar acontecendo. No dia seguinte, Stefano permaneceu no escritório do Ristorante Massimo enquanto Dante fazia uma ligação de negócios. Eles haviam acabado de tirar as medidas para os smokings enquanto as mulheres faziam compras. A julgar pelo tom de voz de Dante, a conversa não estava indo bem. E a maneira como seu irmão franzia o cenho indicava que ele estava perdendo os argumentos. Dante desligou o celular e virou-se para encará-lo. – Lizzie não vai gostar disso. Nem um pouco. – Eu não vou gostar de quê? – Lizzie entrou na sala e se aninhou nos braços de Dante como se eles estivessem juntos havia anos. O olhar de Stefano alternou-se entre Jules, que estava na porta, e o casal, que se afastou pouco depois. Os sorrisos haviam sumido e a seriedade pareceu tomar conta de todos. Ele desejou que Dante apenas contasse a novidade em vez de deixar a tensão se acumular. Mas talvez o irmão preferisse conversar com Lizzie a sós. – Talvez devêssemos ir – Stefano disse a Jules. – Uh... – Seu olhar se voltou para Lizzie e Dante. – Certo. Telefonem-me. – Não, esperem. Isso envolve vocês dois. Seria bom se eu pudesse contar a todos de uma vez só. Lizzie, feche a porta. Ela obedeceu sem questionar, isolando-os das conversas da equipe que estava na cozinha. Stefano se endireitou. Não ia ser bom. Talvez fosse a última gota para Dante. Talvez ele tivesse finalmente percebido que os homens DeFiore não tinham nascido para casar. – Dante, você está me deixando preocupada – Lizzie declarou. – O que é? – Era o pessoal do programa ao telefone. – Mas já não falamos com eles ontem? Eu achei que estivesse tudo resolvido. – Estava. Mas, depois, os executivos viram a cena que gravamos na semana passada. – Dante friccionou a nuca com uma das mãos. – Eles não gostaram e querem mudar o cenário e os menus. – O quê? – Lizzie recuou um passo. Ela abriu a boca e arregalou os olhos. – Eles não podem fazer isso.


– Eles podem. E já fizeram. Bem, essa certamente não era a notícia que Stefano estava esperando. Mas, no fundo, sentiu uma enorme onda de alívio. Embora ele acreditasse que o irmão estivesse rumando diretamente para os problemas, ele não queria vê-lo magoado. Mas não cabia a ele dizer qualquer coisa. Dante teria que tomar suas próprias decisões... para o bem ou para o mal... sozinho, assim como Stefano havia feito com Gianna. Ele relaxou e se sentou no sofá do escritório, sem saber por que Dante queria que ele e Jules ficassem por perto. Ela o imitou e sentou-se também. Mesmo a uma distância respeitável, ela parecia adivinhar o que lhe passava na mente. Stefano só pensava em como o gentil aroma floral dela o lembrava de dias ensolarados e campos verdejantes. E isso não era bom. Ele tinha perdido o seu direito de apreciar a presença de uma mulher na noite em que Gianna faleceu. – Você tem alguma ideia sobre por que estamos aqui? – Jules se inclinou para mais perto dele. – Você está aqui porque é quem planeja todo casamento. – Dante declarou antes de se virar para Lizzie. – Não há outra maneira de fazermos o que eles querem para o programa e completar os preparativos da cerimônia a tempo. Lizzie levou as mãos aos quadris. – Mas eles disseram que queriam o casamento para o programa. – Eles disseram muita coisa, mas não podemos fazer tudo. Eu sinto muito. Teremos que remarcar a data. – Você está dizendo que não quer mais se casar? – A voz de Lizzie soou estridente. – É claro que quero. – Dante acariciou uma das bochechas dela com o dorso da mão. – Você sabe que eu a amo. Talvez possamos apenas fazer algo rápido e simples. Jules tentou se erguer do sofá, mas Stefano a segurou por um braço, impedindo-a de interrompê-los. Eles precisavam resolver o assunto por si mesmos. Ela se virou para encará-lo com um olhar confuso e ele meneou a cabeça. Jules comprimiu os lábios e uniu as sobrancelhas. Mas permaneceu sentada. Juntos, eles esperaram para ver o que o casal iria dizer. – Mas eu já escolhi meu vestido. – Lizzie se afastou de Dante. – Isso não é justo. Esse programa está arruinando tudo. Nós deveríamos desistir dele. – Você está se esquecendo de que nós assinamos um contrato. E eu não acho que você queira realmente sair disso. Vejo como você fica iluminada na frente das câmeras. Você é natural. Lizzie suspirou e seus ombros se encurvaram. – Mas é nosso casamento. O que vamos fazer? Jules se moveu e, desta vez, lançou um olhar mortal para Stefano quando ele tentou impedi-la. Era uma mulher tão linda quanto teimosa. O que exatamente ela iria acrescentar à conversa? Ele tinha que admitir que estava um tanto curioso. Fosse o que fosse, não deviam interferir. Ela abriu a boca, mas Stefano se antecipou: – Jules e eu precisamos ir. Avisem-nos de sua decisão. Os olhares se voltaram para ele. Todos fizeram uma expressão que continha uma acusação implícita. O que ele tinha dito de tão errado? – Não ligue para ele. – Jules deu as costas para Stefano. – Estamos aqui para ajudá-los. Vocês ainda querem seguir com a cerimônia conforme o planejado? Dante e Lizzie se entreolharam. – Sim. – Responderam ao mesmo tempo.


Aquela resposta não era uma surpresa para ele. O amor leva as pessoas a fazerem bobagens e dá a elas a ilusão de que podem superar tudo. Mas havia algumas coisas na vida que nem mesmo o amor poderia conquistar. – Então me deixe ajudar. – Jules levou as mãos aos quadris. Lizzie ergueu as sobrancelhas. – O que você tem em mente? – Você confia em mim? – Jules olhou diretamente para a irmã. – É claro. – Ótimo. Então me deixe cuidar do seu casamento. Tudo o que você deve fazer é experimentar o vestido, ver se ele está lhe servindo e garantir que vá aparecer para a cerimônia. – Jules exibiu um largo sorriso para a irmã, suavizando o clima. – Mas há tanta coisa a fazer. Não podemos pedir que você resolva tudo sozinha... – Por que não? Eu sou a dama de honra. Não é a primeira vez que eu ajudo com um casamento. E você sabe o quanto eu aprecio organizar essas coisas. Lizzie lançou um olhar inquisitivo para Dante. – O que você acha? Ele deu de ombros. – Qualquer coisa que a fizer feliz está bem para mim. Lizzie virou-se para Jules. – Você realmente faria isso por nós? – Considere como um presente de casamento. – E – Dante declarou – estou certo de que meu irmão Stefano poderá lhe ajudar bastante. Ele tem um ótimo gosto. Não é, Stefano? Todos os olhares se voltaram para Stefano. Ele lutou para não engasgar com a própria língua. Queriam que ele ajudasse com os preparativos para o casamento? Estavam falando sério? – Eu não acho que isso seja uma boa ideia. A resposta provocou uma franzida de cenho coletiva. Stefano engoliu a saliva enquanto mantinha o queixo empinado. Ele sabia que estava lutando uma batalha perdida, mas não estava pronto para ajudar nesse casamento. Dante caminhou até ele e lhe deu um tapinha no ombro. – Essa experiência vai lhe fazer bem. Talvez até lhe dê algumas ideias novas para os seus eventos de degustação de vinhos. Stefano resistiu à urgência de girar os olhos nas órbitas. – E o que devo fazer com o trabalho na vinícola enquanto estiver fora planejando as suas núpcias? – Tenho certeza de que Papa não vai se importar em cuidar da vinícola em sua ausência. – Essa é a segunda vez que você diz isso. O que você sabe que eu não sei? – Ele acha que está sendo deixado de lado. Desde o acidente de Gianna... bem, hum, você esteve cada vez mais ocupado com trabalho. – Ele disse isso para você? – Então tudo começou a se encaixar. Stefano se lembrou de como Dante e o pai haviam feito comentários acerca do seu relacionamento desgastado. Pelo visto, ambos se tornaram grandes confidentes. – Só estou dizendo que você não tem que se preocupar com o vinhedo. E estou certo de que você não vai querer que Jules se arrisque no transporte público quando o tempo é tão precioso.


Será que seu irmão não entendia que não era apenas o trabalho? Planejar um casamento iria trazer de volta memórias indesejáveis. Pensar em Gianna ainda lhe fazia sentir uma tonelada de culpa. Se ele não tivesse se casado com ela, e se não tivesse esperado uma vida como a que a sua mãe e seu pai compartilharam... um estilo de vida tradicional, com o homem trabalhando nos campos e a esposa em casa cuidando das crianças... então talvez não tivessem começado a brigar. E Gianna provavelmente não teria saído tão furiosa de casa naquela noite tempestuosa... – Eu sei que Stefano não vai nos decepcionar – Dante falou, confiante. – Ele sempre ajuda quando a família precisa dele. Não, ele não ajudava. Caso contrário, teria feito isso com Gianna. Mas aquilo estava fora de questão agora. – Sim, eu aceito. Contanto que Papa esteja de acordo com o plano. Dante exibiu um largo sorriso. – Ótimo. Vou telefonar para ele assim que terminarmos essa conversa. Stefano não podia acreditar que ajudaria nos planos do casamento. OS VESTIDOS estavam prontos. Bem, não exatamente. Eles tinham sido escolhidos, o que na opinião de Jules era a parte mais difícil de qualquer casamento. Armada com um manual, uma agenda e um cartão de crédito, Jules estava pronta para começar o trabalho. Lançou um olhar para Stefano enquanto ele navegava através das ruas congestionadas de Roma. – O trânsito é sempre assim? – Ela indagou. – Assim como? – Complicado. – Nem sempre, estamos no horário de pico. Eu lhe disse que deveríamos ter esperado um pouco antes de virmos para a cidade. Ela se remexeu desconfortavelmente no banco. – Eu achei que você tivesse dito isso como desculpa para não vir comigo. – Por que pensou uma coisa dessas? Eu concordei em ajudar, não é? – Eu... eu só sei que o seu irmão lhe deu um empurrão saudável para que você concordasse com isso. – Aqui está uma lição dos homens DeFiore. Quando não queremos fazer algo, não fazemos. E nada e ninguém consegue nos fazer mudar de ideia. Ela observou a expressão séria dele. Talvez estivesse tirando conclusões demais a partir da relutância de Stefano em deixar o vinhedo naquela manhã. – Eu estava verificando a lista do casamento e vi que temos como adiar isso. – Ah, é? – Sim. Há muito a ser feito, mas já temos o local e os vestidos, e Lizzie descobriu um site que vai criar os convites. Vamos ver. O que mais temos aqui? – O olhar dela correu toda a lista. – Lizzie mencionou algo sobre se encarregar das mesas e cadeiras. Stefano assentiu com a cabeça. – Temos muitas mesas e cadeiras para grandes eventos na vinícola. – Ótimo. – Mais uma verificada na longa lista. – A floricultura está perto?


– Sim, é logo à frente. – Stefano parou no sinal vermelho. – Eu ainda não entendi por que você implicou tanto com a última. Ela estreitou os olhos para ele. – Eles estavam tentando empurrar o resto do estoque para nós. Queriam uma venda fácil, e achei horrível aquela atitude. Lizzie e Dante merecem algo melhor. Eu e ela não viemos de uma família tradicional. E agora que ela encontrou o príncipe encantado, ela... eles... merecem ter um dia perfeito. E se isso implica cruzar a cidade toda para encontrar a floricultura certa, é o que vamos fazer. – Não pensei que você estivesse tão envolvida com esse casamento. – Há muita coisa sobre mim que você não sabe. – Sou todo ouvidos, se você quiser me contar. Por um momento, ela ficou tentada a baixar a guarda e se abrir com ele sobre a perda da sua mãe e o laço de seus lares adotivos. Mas o que isso poderia lhe trazer de bom? Nada. Resolveu permanecer focada em sua missão. – Não se trata de mim. Trata-se de Lizzie e Dante. O trânsito andou e Stefano o seguiu. – Parece que não há estacionamento. Vou deixá-la em frente à loja, tudo bem? Você tem o número do meu celular, certo? – Sim, mas você não vai entrar? – Da última vez você entrou e saiu tão rápido que eu não tive tempo nem de bater a porta do carro. – Não foi tão ruim, foi? Um sorriso curvou os lábios dele. – Digamos que ficou bem claro para todos que você não era uma cliente satisfeita. – Hum, mas acho que não devem ter entendido o que eu falei. Você tem que vir comigo. Afinal, você disse ao seu irmão que iria ajudar em tudo. Não quer voltar atrás na sua palavra, quer? – Jules apanhou a bolsa. Sem esperar pela resposta, ela acrescentou: – Vejo você lá dentro.


CAPÍTULO 8

EM QUE mundo o seu irmão o tinha feito entrar? Stefano andou até a floricultura. A última coisa que ele pretendia fazer era escoltar Jules. Ela o fazia ter pensamentos e sensações bem indevidos. E quando ela o encarava com aqueles olhos verdes e grandes, seu bom senso parecia sumir. Seus hormônios tomavam conta e o faziam querer roubar um beijo. Um beijo longo, apaixonado. Ele estava em apuros. Imaginava que fosse encontrar Jules já na calçada, esperando-o. Eles voltariam para casa, e ele poderia se perder no trabalho. Isso iria manter sua mente longe daqueles lábios suculentos ou da tentadora borboleta dela. Ele gemeu por dentro. E não importava o que Dante havia dito sobre o seu pai querer se envolver mais com os negócios. Stefano tinha promovido muitas mudanças desde que Papa havia cuidado do Vinhedo DeFiore pela última vez. Estava certo de que ele teria perguntas. Ele espiou através da enorme vitrine. Flores coloridas em vários arranjos o fitaram de volta, mas ele não viu sinal de Jules criando caso ou tomando o rumo da saída. Talvez o lugar estivesse à altura dos seus padrões. Suspirou aliviado. Fariam um pedido rápido e em segundos estariam de volta na estrada. Talvez o dia não terminasse como uma completa perda de tempo. Um pequeno sino acima da porta soou quando ele entrou. Stefano encontrou Jules nos fundos da loja, estudando algumas flores que ele não reconheceu. – Encontrou o que precisava? – Acho que sim. – Ótimo. – Isso tinha ido mais fácil do que ele imaginava. – Então vamos? – Já? Você está brincando? – Quando ela o encarou com aqueles olhos verdes e grandes, ele pôde sentir o seu interior derretendo. – Eu ainda nem falei com a vendedora. – Não? O que você ficou fazendo? Ela franziu o cenho. – Você pode conseguir o primeiro lugar da fila, mas eu sou daquelas que acredita em esperar pela minha vez.


Ele baixou a cabeça. Ela estava certa. – Não imaginei que haveria tanta gente procurando flores. – Bem, ele não teria qualquer utilidade se ficasse ali parado ocupando espaço. – Parece que vai demorar um tempo. Eu tenho algumas coisas para fazer. Volto em... – Vai me deixar? – Pensei em aproveitar o tempo de forma mais produtiva. Não sei diferenciar um dente-de-leão de um cravo. – Você pode me ajudar a escolher algumas flores. Lizzie me disse que quer sobretudo dálias em seu buquê. Se possível, que tenha centro amarelo com pontilhados cor-de-rosa. Ela falou que as dálias têm um valor sentimental para ela e Dante. – Jules deu de ombros. – Eu vi que eles têm algumas aqui, então não deve ser um problema encomendar uma quantidade maior. Eu espero. – Ótimo. Parece que você já resolveu o problema das flores. – Ele rumou na direção da porta, sentindo-se extremamente desconfortável quando uma mulher de meia-idade deu a ele um sorriso e um aceno de cabeça como se tivesse pensado que ele e Jules fossem... um casal. – Vou esperá-la do lado de fora. Jules agarrou-o pelo braço. – Não tão rápido. Eu ainda preciso de algumas outras flores para complementar o buquê. Lizzie quer algo diferente. Algo que faça as cores do buquê saltarem aos olhos. Você sabe que tudo isso vai aparecer na televisão. Bem, não tudo, mas os destaques do casamento. E isso tem que ser perfeito. Stefano reprimiu um gemido enquanto Jules o puxava para olhar as variedades de flores. Embora ela vestisse principalmente branco e preto, ela parecia ser fã de outras cores também. Interessante. – Desculpe pela demora em atendê-los. – A vendedora era uma mulher de meia-idade que falava um inglês perfeito com um sotaque italiano. – Com o verão chegando, o romance está no ar. – Certamente. – Jules exibiu um largo sorriso. – Queremos flores para um casamento. Stefano foi pego de surpresa pela facilidade do sorriso e o brilho dos olhos dela. Seria possível que Jules fosse romântica? Ela parecia saber o suficiente sobre essas coisas. O rosto da mulher se iluminou. – O que você tem em mente? Jules se virou para ele e estendeu a bolsa, num pedido mudo. Rapidamente ele vasculhou a área com o olhar. Aliviado por não descobrir nenhuma testemunha masculina, ele apanhou a larga bolsa de couro preto. Ficou chocado com o peso. O que ela carregava ali? Tijolos? Ele ficou vendo Jules ligar o notebook e abrir uma página com fotos coloridas, mas antes que pudesse divisar as imagens, ela ergueu o computador e o tirou da sua visão. Não soube se era intencional, nem perderia tempo perguntando. Ele não queria que ela pensasse que ele estava interessado. Simplesmente estava cumprindo seu dever de padrinho. Nada mais. A vendedora apareceu com muitas flores pequenas de tons diversos, desde o branco mais imaculado até o violeta profundo. No começo, Jules se virou para consultá-lo. Ele geralmente dava de ombros e dizia que as flores estavam boas. Depois de repetir a mesma resposta por mais algumas vezes, ela se cansou de lhe pedir opiniões, e ele ficou grato por isso. – Não se preocupe, querida. – A mulher deu um tapinha no braço direito de Jules. – Se dependesse da maioria dos homens, jamais aquelas flores selvagens que nascem à margem das estradas seriam usadas em um buquê. É por isso que estou aqui, para ajudá-la.


– Muito obrigada. Eu realmente aprecio toda a sua ajuda. Sei que foi algo de última hora, mas o casamento é no próximo mês. Vamos conseguir as flores a tempo da cerimônia? – Deixe-me verificar. – A mulher ergueu um bloco de notas e Jules leu a data. – Non c’è problema. Vocês dois formam um casal tão bonito. – A mulher sorriu de alegria para eles. Num rompante, Jules se inclinou, envolveu as mãos ao redor do braço de Stefano e repousou a cabeça contra o ombro dele. Stefano sentiu o corpo ficar tenso. O que ela estava fazendo? Ele teria perguntado, mas seu coração estava na garganta, impedindo-o de respirar, mais ainda de falar. – Você realmente acha isso? – Jules ergueu o queixo e exibiu um largo sorriso para ele. – Ah, definitivamente. Espere até que vocês tenham filhos. Serão lindos. – Hum… eu não tinha pensado nisso. Mas o que estava acontecendo? Ele e Jules mal eram amigos. Que história era aquela de planejar uma vida juntos? De jeito nenhum! Jules se afastou. Ele devia ter se sentido aliviado, mas, ao contrário, lamentou a ausência do toque dela. Admitir isso o estava matando... havia apreciado a maciez das mãos dela pressionando seu braço nu. O calor do olhar dela era poderoso. Ele teria que ser cuidadoso quando estivessem próximos. Não podia se apaixonar novamente. Sem chance. O preço era muito alto. A vendedora continuou sorrindo de alegria para eles. – Não se preocupem com as flores para o seu grande dia. Assim que eu os vi, soube que havia uma conexão amorosa. Vocês serão noivos maravilhosos. Stefano clareou a garganta, finalmente se sentindo como se tivesse recuperado a habilidade de falar... deveria esclarecer aquele mal-entendido. Recusava-se a continuar participando do jogo de Jules. – Nós não estamos juntos. – A voz dele soou rouca. Ambas as mulheres se viraram para encará-lo com um olhar de surpresa. Só podia ser pelo seu tom da voz, porque não havia como Jules se mostrar estupefata com tal admissão. Não era como se ela gostasse dele. Ela gostava? – Isso não é para o nosso casamento. – Stefano tinha que corrigir a mulher, uma vez que Jules não parecia estar nem um pouco interessada em fazê-lo. Não permitiria que a pobre vendedora continuasse pensando neles como um casal perfeito. O olhar confuso da mulher se voltou para Jules. – Não estou entendendo. – Sua expressão se tornou séria. – Se essas flores que vocês escolheram não são para vocês, então são para quem? Jules uniu as mãos. – A questão é que estamos escolhendo flores para outro casal. – Como? – A vendedora parecia desconcertada. – Onde está a noiva? – Trabalhando. Ela teve uma emergência para atender e nos pediu que a ajudássemos com os preparativos. – Ela vai aprovar os pedidos depois? – Temo que não. – Acho que não podemos aceitar seu pedido… – Mas você deve. – A voz de Jules soou aguda pela emoção. – Estamos ficando sem opções. Eu prometo que tudo será ao gosto da noiva. A vendedora meneou a cabeça.


– Não podemos fazer isso. – Qual é o problema? – Stefano defendeu Jules. – São só flores, por Deus. São todas iguais, a não ser pelas cores. E ela lhe mostrou a cor dos vestidos. Só queremos comprar algumas flores. – Desculpem, mas isso não é possível. Ouçam, eu acabei de ter um problema com um pedido grande que a mãe de uma noiva fez para o casamento. Ainda o estou resolvendo. – Ela meneou a cabeça. – Não vou repetir esse erro. Ou a noiva entra na loja ou vocês terão que comprar as flores em outro lugar. A mulher não podia estar falando sério. Stefano lançou um olhar para Jules, que parecia aborrecida. – Ouça, você não pode fazer isso... – Sim, claro, nós entendemos. Muito obrigada pelo seu tempo. – Ela enlaçou o braço de Stefano para que saíssem da loja. Ele se recusou a acompanhá-la. – Quero falar com o gerente. A vendedora levou as mãos aos quadris generosos. – Sou eu mesma. E acho que vocês devem ir embora. – Obrigada novamente. – Jules pressionou o braço de Stefano com mais força e ele cedeu, permitindo que ela o guiasse até a saída da floricultura. Não entendeu aquela desistência. A mulher estava ali para vender flores e eles estavam ali para comprá-las. Uma equação simples de resolver. Que situação ridícula! Uma vez na calçada, Jules virou-se para encará-lo e apontou um dedo para ele. Seu rosto estava enrubescido, os olhos estreitados. Era um mau sinal. Realmente. – Você sabe o que acabou de fazer lá dentro? – O tom da voz dela não deixava dúvidas sobre a sua irritação. – Sim, eu corrigi a vendedora. Você deixou que ela pensasse que nós fôssemos um casal, e eu não concordei com esse teatrinho. – Por quê? É tão ruim pensar que você e eu pudéssemos estar envolvidos? Ele friccionou a nuca com uma das mãos, tentando evitar os olhares curiosos das pessoas que passavam. – Podemos conversar sobre isso mais tarde? As pessoas estão começando a reparar. – Que reparem. Você me deve algumas respostas. – Está bem. Eu não gosto de mentir. E nos fazer passar por um casal era uma mentira. Os olhos de Jules se estreitaram ainda mais. – Você é exemplo de honestidade? Ele baixou a cabeça enquanto memórias do seu passado não tão distante começavam a surgir em sua mente. Não, ele não era exemplo de nada. Na verdade, era o oposto. Talvez ainda estivesse casado se as verdades não fossem tão negligenciadas em outros tempos... bem, não poderia garantir de sua parte, mas Gianna ao menos estaria viva. Ele daria qualquer coisa para apagar aquela noite terrível. – Mentir leva a arrependimentos. – Ele encarou Jules. Ela não parecia tão hostil agora. – O que isso importa, de qualquer forma? São apenas flores. Tenho certeza de que há muitas outras lojas onde possamos ser melhor atendidos. – Não se você continuar abrindo a boca desse jeito. Essas pessoas gostam de saber que estão lidando com o responsável pela questão... – Que, no caso, é você...


– Não exatamente. Trata-se de um casamento. A noiva sempre está no comando. É seu grande dia. Tudo revolve ao redor dela. E essas pessoas muitas vezes estiveram no corredor para saber como isso funciona. – Então, se esse é o caso, por que Lizzie deixou tudo sob sua responsabilidade em vez de adiar o casamento? – Porque ela confia em mim. Somos a única família que temos. Nós nos conhecemos melhor do que qualquer um no mundo, e ela sabe que eu vou planejar o casamento perfeito para ela. – Espero que você esteja certa. Sobre conhecê-la tão bem. Os lábios de Jules se curvaram em um sorriso. – Você não tem que se preocupar. – Ela ergueu o celular e o agitou na frente do rosto dele. – Eu estive mandando mensagens de texto e fotos para ela todos os dias. Ela está sabendo de tudo. Estou apenas agindo como sua porta-voz. A notícia provocou uma onda de alívio em Stefano. Mas eles ainda tinham que encontrar flores, de preferência em algum lugar sem uma vendedora tão exigente. – Bem, Srta. Porta-voz, alguma ideia sobre o que devemos fazer a seguir? – Eu não sei. Deixe-me ver. – Ela começou a digitar em seu smartphone. Ela começou a andar e ele gritou: – Você está indo para o lado errado. Ela ergueu o queixo, a confusão refletida em seus belos olhos. – Ah. Silenciosamente, eles começaram a caminhar. Seu celular lhe absorvia toda a atenção. E ele deveria guiá-la como uma cega para que não esbarrasse em outros pedestres. Quando chegaram ao carro, ela já havia localizado outra floricultura para tentarem fazer a compra. Mas estava quase na hora do almoço, e ele realmente precisava de um intervalo. Stefano se virou para Jules. – O que acha de almoçarmos? – Já? – Quando Jules conferiu o horário em seu celular, ficou boquiaberta. – Não achei que fosse tão tarde. Você se importa se almoçarmos no Ristorante Massimo? Tenho alguns assuntos a tratar com Lizzie. – Parece que temos um plano. Por que você não liga para ela agora? Dante pode preparar algo para nós e assim não iremos demorar muito. Essa manhã durou uma eternidade. Espero que nossa próxima tentativa seja rápida. – Também espero, ou levaremos mais de uma semana resolvendo isso. E com o tempo sendo essencial, temos que agir rapidamente. Ainda precisamos escolher o bolo. – Por que não fazemos isso primeiro? Jules exibiu um largo sorriso para ele. – Porque provar o bolo é a melhor parte de toda essa aventura. É como uma recompensa. Stefano sorriu e meneou a cabeça. – Não sei como uma pessoa magra como você pode devorar um bolo. – Você verá. – Os olhos dela cintilaram com a travessura. Jules era como um sopro de ar fresco. Ela não era nada parecida com as mulheres que viviam na vila próxima, que apreciavam um estilo de vida mais tranquilo. E ainda assim, não era como as elegantes


mulheres urbanas que compareciam às degustações de vinho e estavam sempre com pressa. Jules tinha um ar diferente. Quanto mais tempo ele despendia com ela, mais ele estava começando a gostar dela... realmente. E isso simplesmente não podia acontecer.


CAPÍTULO 9

UM ALMOÇO delicioso é sempre capaz de mudar a perspectiva de alguém. Se Jules tivesse adivinhado que a comida poderia colocar um sorriso no rosto de Stefano, já teria feito a sugestão havia décadas. Ele estava conversando com Dante sobre seu assunto preferido: uvas. Ela se mantinha à margem do colóquio, mas, mesmo assim, tinha sido bom vê-lo baixar a guarda e relaxar. Porém, assim que eles voltaram para o carro, os muros ao redor dele foram erguidos novamente, bloqueando a passagem dela. Jules baixou o olhar e fitou sua saia, a meia-calça e as botas, tudo de cor preta. Certo, talvez sua preferência cromática fosse um pouco sombria, mas seu estilo não era. Ela meneou a cabeça. O que estava fazendo? Analisando suas roupas por causa de um homem que mal a tolerava? Ela estava bem apenas da forma que estava, e preto era sua cor favorita. Ela precisava se focar no casamento, e não em agradar Stefano. Com esse pensamento, ela calculou que deveria deixá-lo tomar à frente da próxima vez, quando estivessem na outra floricultura. Jules se inclinou e disse: – Apenas siga meu comando. Você consegue fazer isso? Ele manobrou o carro no estacionamento. – Depende. Você vai mentir? – Stefano, você quer que esse casamento seja bom para o seu irmão? – Sim, mas ele não vai se importar com as flores. – Ele não, mas a noiva sim. Se ela não estiver feliz, você realmente acha que ele vai estar feliz? Houve uma pausa. – Acho que não. Jules ficou calada enquanto ele desligava o carro. Ela apanhou a bolsa e o notebook, ao mesmo tempo em que Stefano contornava a frente do veículo. Jules segurou na maçaneta, mas Stefano já havia aberto a porta para ela. Ele era um cavalheiro, algo que ela não estava acostumada a ter. Mas ela deveria se acostumar com isso. Afinal, se eles iriam fingir ser um casal, ela poderia aproveitar alguns dos benefícios. Um homem atendia a um pedido no interior da loja. Isso daria a ela tempo para estudar o estoque do local e descobrir se ali era uma opção interessante.


– Ah, veja... eles têm dálias. – Ela apressou-se em se inclinar para estudar a flor mais de perto. – E há algumas na cor certa. – Ela não pôde deixar de sorrir e unir as mãos. – Até agora está tudo ótimo. – Já encontrou o que está procurando? – O vendedor se aproximou deles. Era agora que o jogo ia começar. Não se arriscaria novamente a escolher um pedido para vê-lo recusado no final. Eles não tinham tempo a perder. Jules segurou uma das mãos de Stefano; faria o melhor para não mentir completamente. A impressão que o vendedor fizesse seria de sua própria responsabilidade. Afinal, ela certamente não estava esperando nada desse relacionamento. Claro, havia namorado no passado, mas sempre insistiu em manter as coisas casuais... exceto uma vez. Tinha sido um encontro às escuras arranjado por um de seus amigos. O nome dele era J.T. Foi paixão à primeira vista. Enquanto eles começavam a se ver com certa frequência, ela pensou que eles estivessem construindo uma base sólida para um relacionamento sério. Estava certa quanto a isso. Ela combinou com J.T. que jantassem juntos, para festejar a formatura dele, que seria nas próximas semanas. Jules se lembrava do quanto estivera empolgada. Enquanto Lizzie tinha feito o máximo para despertar seu bom senso, tudo o que Jules poderia pensar era em um anel de diamante. Finalmente, alguém em sua vida iria amá-la para sempre. No final, o jantar serviu mais como um agradecimento dele por ela ter lhe ensinado algumas questões na aula de filosofia. Revelou que não teria passado no curso sem a sua ajuda. E, enquanto Jules fazia o possível para engolir a decepção sem demonstrar, ele finalizou dizendo que iria se mudar para o outro lado do país, na Califórnia. Estava indo embora. E ela não havia sido convidada para acompanhá-lo. Depois de esvaziar algumas caixas de lenço... de tamanho grande... ela percebeu que aquilo tinha sido algo positivo. Reafirmava a sua crença de que o amor não existia. Era um terreno que jamais voltaria a explorar. Mas agora, depois de testemunhar o relacionamento de Lizzie e Dante, Jules pensou que talvez a sua avaliação tivesse sido um pouco precipitada. Jules apresentou o seu melhor sorriso para o vendedor. – Gostaríamos de algumas flores para um casamento. – Excelente. – O homem percorreu o olhar ao redor como se estivesse procurando por algo. – Deixeme apenas pegar um papel. – Ele foi até o balcão e retornou com uma prancheta e uma caneta. – Quando é o casamento? – Em meados do mês que vem. O sorriso do homem desapareceu. – Ah, tão cedo. – Isso é algum problema? – Por que você não me diz o que tem em mente e nós começamos a partir daí? Sem querer pressionar a sorte, ela soltou a mão de Stefano. Jules lançou um olhar para ele e viu que ele estava com o cenho franzido. Não era exatamente a expressão que uma noiva iria querer do seu noivo, mas não era como se eles estivessem envolvidos. Então, por que ela estava aborrecida? Após conferir cada flor da lista de Lizzie, o vendedor assegurou que seria capaz de fazer todo o pedido. O buquê da noiva ficaria bem extravagante. Com a encomenda confirmada, Jules e Stefano rumaram para a porta. Ela voltou a segurar uma das mãos dele. Não precisava fazer isso, ela sabia, mas queria sentir os dedos fortes dele entrelaçados nos seus. Fazia muito tempo desde que havia namorado pela última vez. Talvez ela fosse mais solitária do


que tinha pensado. Ou talvez todo esse foco no casamento a estivesse fazendo perceber o quanto ela iria ficar sozinha sem sua irmã. – Não se preocupem – o vendedor gritou. – Vocês dois vão ter um casamento maravilhoso. Jules se virou e acenou em despedida para o homem. Ela soltou um suspiro estremecido. Jules havia prometido a si mesma no voo que não iria desmoronar. Ela seria feliz pela sua irmã adotiva. Não importava o que acontecesse. – Você está bem? – Stefano parou na calçada e olhou para ela. – Hum... sim, estou ótima. – Quando ela percebeu que ainda estava de mãos dadas com ele, tentou se afastar, mas ele pressionou sua mão. Jules desistiu de lutar e apreciou o conforto daquele toque inocente. Em vez de mergulhar em sua solidão, ela voltou os pensamentos para Damasco. Ela queria desesperadamente levar o gatinho para casa. Logo ela seria conhecida como a dama solteirona do gato, ela meditou. Jules se perguntou o que Stefano iria dizer se soubesse da direção dos seus pensamentos patéticos. Quanto ao gatinho, ela não estava certa de que seria uma boa ideia transportá-lo por uma distância tão grande. Ela poderia jurar que Damasco estava conquistando o coração de Stefano. Talvez encontrar um lar para o animal fosse mais fácil do que ela imaginava. Ela ainda tinha muitas semanas de trabalho até o casamento para se decidir sobre o gato. Mas tinha a certeza de que Damasco não ficaria ao léu. JÁ FAZIA mais de uma semana que o furacão Jules havia mudado a rotina de Stefano. Nada era o mesmo com ela por perto. Ela conseguiu fazer amizade com o pai dele, a ponto de nonno achar que o sol se erguia ao redor dela. E Maria tinha lhe acolhido e mostrado a ela algumas de suas receitas favoritas. Era como se Jules se encaixasse no lugar. Mas ela não pertencia ao vinhedo. E nunca iria pertencer. Então, se esse era o caso, por que ele tinha notado imediatamente a ausência de Jules na mesa do café da manhã? Forçou-se a ficar ali e comer. Afinal, ela não era sua responsabilidade. Terminou o café e retirou seu prato, quase intocado, jogando os restos no lixo. Maria era uma ótima cozinheira, mas Stefano simplesmente não tinha apetite. Saiu de casa pela porta dos fundos e hesitou. Seus pensamentos flutuaram até Jules. Talvez ele devesse dar uma olhada nela. Algo podia estar errado. E era um dever seu ser um bom anfitrião. Com isso em mente, andou até a frente da casa, preferindo evitar os olhares curiosos na cozinha. Poucos segundos depois, estava diante do quarto de Jules. Ele bateu os nós dos dedos contra a porta. – Jules, você está aí? – Entre. Ele abriu sem ter certeza do que ia encontrar. Então, viu Jules, sentada no chão, cercada por montanhas de lenços de papel púrpura e branco. Que bagunça. Ela ergueu o rosto e sorriu para ele. – Olá. Você precisa de alguma coisa? – Eu não a vi no café da manhã. Achei que você não estivesse se sentindo bem. – Não, estou bem. Apenas ocupada. – Ela ergueu um lenço do chão para que ele inspecionasse. – O que você acha? – Hum... – Ele não estava certo do que dizer. – É bom.


O sorriso dela se ampliou. – Obrigada. Estou expert nisso agora. Mas eu nunca tive que fazê-los sozinha antes. Normalmente a festa da noiva é para termos alguma diversão e nós fazemos as flores. No final da noite, há centenas delas. Mas, como Lizzie quer uma festa pequena, eu acho que está sob a minha responsabilidade fazêlas. – Mas eu não entendo. Não fomos à floricultura para isso? – É diferente. Estas são para decorações. – Se precisarmos comprar mais flores, apenas diga. – Pela aparência do quarto, ela estava ali há horas. – Obrigada. Mas isso não é necessário. Quero ambos os tipos de flores. – Você não pode fazer tudo sozinha. Com um papel em uma das mãos e um lenço na outra, ela parou suas dobraduras e ergueu os olhos para encará-lo. – Está me oferecendo ajuda para fazer flores? – Definitivamente não. – Quando o sorriso dela desapareceu, ele apressou-se em se corrigir. – Quero dizer, posso contratar alguém para fazer isso. Posso contratar quantas pessoas forem necessárias. Apenas me diga o que você precisa. Jules descruzou as pernas e se ergueu do chão. – Não quero nenhum estranho envolvido com o casamento de Lizzie. Obviamente ele estava perdendo algo, mas não tinha ideia do que poderia ser. Em seus tempos de casado, quando não entendia a lógica de Gianna, apenas dava de ombros e se afastava. Talvez se fizesse mais perguntas e tentasse entendê-la melhor, a vida deles não teria saído tanto de controle. – Por que não? – Não importa. Certo, ele provavelmente poderia ter falado de outra forma. Stefano clareou a garganta para tentar convencê-la novamente. – Fale comigo. Não entendi a sua posição e gostaria que me explicasse. A surpresa estava refletida nos olhos verdes dela. – Eu... eu não tenho dinheiro para comprar um bom presente de casamento para eles. Sei que é tolice, mas quero criar uma festa aconchegante com um toque pessoal. Lizzie não sabe que estou fazendo isso. E não quero que você conte para ela. O aspecto financeiro nunca tinha ocupado a mente dele. E Stefano precisava admitir que o presente de Jules de fato tinha mais valor do que um mimo mais caro, porque vinha do seu coração. – Seu presente será o favorito deles. – E ele estava falando sério. – O que posso fazer para ajudar? Acho que as minhas flores não serão apropriadas para mais nada além do lixo. A postura de Jules ficou mais relaxada, e ela perguntou se poderia usar o computador dele para fazer algumas pesquisas e encomendas. Ela listou itens nos quais ele nunca teria pensado. Esse casamento definitivamente ficaria marcado na história. – Você pode usar meu computador a qualquer hora. Agora, o que acha de fazer um intervalo para comer? Ela se sentou novamente, bem no meio da bagunça. – Vou comer mais tarde. Estou empolgada para ver quantas dessas flores eu consigo fazer hoje. E Damasco está sendo uma grande ajuda.


Stefano olhou duvidosamente para o gatinho correndo ao redor dos lenços coloridos. Bem, contanto que Jules estivesse feliz, tudo bem para ele. – Tenho que trabalhar na vinícola. Se precisar de mim, é só chamar. – Ficaremos bem. Não é, Damasco? O gatinho lançou um olhar rápido para ela antes de voltar a brincar. Stefano se sentiu culpado enquanto se afastava. Mas, realmente, suas flores de papel seriam um desastre completo. Talvez ele pudesse ajudá-la com as compras pela internet. Isso era algo que ele poderia fazer. Com um plano em mente, seus passos na direção da vinícola se tornaram mais rápidos. Ela não queria ajuda de estranhos, então deduziu que isso não o incluía. Eles já tinham deixado de ser desconhecidos há um tempo. Para onde eles estavam indo, ele não estava tão certo. Stefano entrou no escritório no momento em que seu pai desligava o computador. – Já finalizou por hoje? Papa ergueu o rosto para encará-lo. – Desculpe. Não o ouvi entrar. Hum… sim. Achei que era melhor fazer um intervalo. – Está se sentindo bem? – É claro. – Papa enrugou a testa. – Sou tão viciado no trabalho que quando estou fora do escritório você pensa que algo deve estar errado? Desde quando seu pai tinha se tornado tão defensivo? Stefano deu de ombros, tentando manter uma postura neutra. – Há alguma coisa aqui que precise da minha atenção imediata? – Nada que eu consiga me lembrar. Eu calculei o número de novos barris que vamos precisar para a colheita e pedi alguns suprimentos. Eles devem chegar em algumas semanas. – Respondeu aos e-mails? Eles parecem chegar mais rápido do que eu posso respondê-los. – Enviei o último agora. As coisas estão bem tranquilas agora. Eu estava pensando que talvez devêssemos considerar um aumento no número de eventos de degustação de vinho. Isso será bom para os negócios, e eu acho que será bem-aceito. Stefano assentiu com a cabeça. – Você sabe que haverá um antes do casamento. – Eu sei. Apenas acho que poderíamos fazer mais. – Certo. Você estava indo para os campos? – Stefano indagou, sentindo-se obrigado a acompanhá-lo. – Posso lhe dar uma ajuda. Papa ergueu as sobrancelhas. – Ah... não, isso não é necessário. Vou tomar um café primeiro. Por que não tira o dia de folga? – O pai deu-lhe um tapinha no ombro. – Está um dia lindo. Não perca seu tempo todo aqui dentro. Depois que o pai saiu do escritório, Stefano se sentou à mesa. Pelo canto do olho, ele espiou a cafeteira. Ainda estava ligada e a jarra estava cheia. Mas o quê? Por que o pai estava indo para casa tomar um café quando tinha bastante ali? Stefano meneou a cabeça e desistiu de tentar entender o pai. Ele ligou o computador e descobriu que os e-mails estavam de fato sob controle. O trabalho estava em ordem. E não havia absolutamente nenhum negócio no momento que exigisse sua atenção. Ótimo. Agora ele tinha tempo para ajudar Jules com o casamento. Seus dedos estavam sobre o teclado.


Voltou para casa pouco tempo depois, empolgado em contar a Jules o que ele havia pedido. Seus passos se tornavam mais rápidos conforme ele pensava nela sentada no chão com as pernas nuas expostas e aquele sorriso cativante no rosto. Ele não sabia o que existia nela que justificava tanta atração. Ela era diferente de qualquer outra mulher que ele já havia conhecido. Talvez o problema dele fosse passar muito tempo sozinho em sua vinícola. Mas aquela era sua punição pelo que tinha acontecido com Gianna. Ele não se permitia sair e se divertir. Recusava-se a pensar no futuro, porque ela não teria um. Porém, agora, pela primeira vez desde a morte trágica da sua esposa, ele queria viver novamente. Ele queria se sentir vivo. E era dessa forma que Jules o fazia se sentir... inteiramente vivo. Viu um vulto saindo pela porta da cozinha. Era Maria, e ela estava rindo. O que poderia ter causado aquele ataque de bom humor? Seu pai. A risada profunda do pai ecoou no ar. Stefano parou de caminhar. O que estava acontecendo? Stefano assistiu com espanto enquanto os dois, sem notá-lo, rumavam na direção das vinhas como se estivessem saindo para uma caminhada... juntos. Se não tivesse visto isso com os próprios olhos, nunca teria acreditado: o pai estava interessado em Maria. Há quanto tempo isso estava acontecendo? E como ele não tinha desconfiado disso até agora? Isso explicava a recente mudança do pai? O fato de ele não trabalhar mais até altas horas da noite? Stefano passou uma das mãos pelo cabelo enquanto tentava absorver o fato de Papa estar vivendo novamente. Havia uma mistura de emoções em seu peito. Stefano verdadeiramente queria estar feliz por ele, mas o fato de o irmão ter sofrido durante a infância com um pai imparcial o aborrecia. Se aquela mudança tivesse acontecido um tempo antes, poderia ter poupado sofrimento a todos. Stefano esperou que o pai e Maria se afastassem e voltou a caminhar. Parecia que todos estavam seguindo com suas vidas... exceto ele. Mas como poderia fazer isso? Como poderia se esquecer do que havia acontecido? Faltavam-lhe respostas na mesma proporção que sobravam-lhe perguntas. Só o que ele podia fazer era entrar no clima do casamento do irmão. Talvez Dante estivesse certo em rolar os dados e ver o que a vida lhe entregava. O pensamento de Jules fazendo todas aquelas flores de papel sozinha pesou na sua consciência. Ele era o padrinho. Teria que fazer o seu melhor. Despender algum tempo com Jules não era tolice... de forma alguma. Além do mais, isso iria manter sua mente longe do fato de o pai estar mudando... bem diante dos seus olhos. Subitamente Stefano sentiu como se estivesse parado na estrada da vida. E que logo seria atropelado.


CAPÍTULO 10

JULES PASSOU a escova pelo cabelo úmido, puxando os fios para trás em um rabo de cavalo simples. O banho frio foi rejuvenescedor. Havia acabado de se sentar no chão do quarto para fazer mais flores quando ouviu batidas na porta. Seu peito se apertou. Ela não esperava que alguém fosse até ali. Pensou que todos estivessem fora. Jules levantou-se. A porta estava trancada, então não era como se alguém fosse simplesmente entrar no quarto. – Jules, você está aí? – O tom profundo da voz de Stefano vibrou através da porta. – Precisa de alguma coisa? – Eu tenho novidades. Sabe, é mais fácil conversarmos quando não há um pedaço de madeira entre nós dois. Jules pressionou as palmas das mãos contra as bochechas. Ainda não havia passado maquiagem. Não podia deixar que ele a visse daquele jeito... com suas cicatrizes expostas. Seu coração bateu rápido dentro do peito. Talvez ele se afastasse em repulsão, e isso lhe seria insuportável. Jules se aproximou da porta. – Podemos conversar no almoço? Houve uma leve pausa. – Está tudo bem? O que poderia ser tão importante? Ela não tinha ideia. Jules admitia que estava curiosa para saber o que era tão urgente. – Jules? – ele gritou novamente. – Jules, o que está acontecendo? Por que a porta está trancada? Ela suspirou. Stefano não ia apenas desistir e ir embora. Ela já havia testemunhado a teimosia dele na floricultura. Desta vez, ele poderia simplesmente derrubar a porta para ver se ela estava mesmo bem. Raciocinou por um segundo e percebeu que se ele a visse agora, poderia ser a solução para a tola paixão incipiente que sentia por ele. Afinal, Stefano fugiria quando visse as cicatrizes no seu rosto. – Jules, vamos lá. Você está começando a me deixar preocupado. Ela soltou um suspiro estremecido, ergueu os ombros e abriu a porta. Stefano estava parado com a testa franzida. Ele avançou um passo para o interior do quarto e ela recuou para que ele pudesse entrar. – Viu, não há nada com o que se preocupar.


Ela se sentiu um pouco comovida por ver que ele estava realmente preocupado com ela; era o único além de Lizzie que demonstrava aquele sentimento. O olhar dele se voltou para o roupão preto que ela usava. Subitamente ela desejou que a peça fosse um pouco mais comprida. O tecido mal alcançava o meio da coxa, e só o que ela vestia por baixo era um sutiã e uma calcinha preta de renda. Jules baixou a cabeça. – Você ainda não está vestida? Ela deu de ombros. – Estive ocupada. – Notei. É sobre isso que eu quero conversar… – Se é sobre contratar ajuda, eu lhe disse para esquecer. – Na verdade, o que eu quer dizer é que eu não era exatamente fã desse casamento quando tudo começou, mas agora eu quero ajudar. No que você precisar. Apenas me dê uma tarefa, e eu vou cumpri-la. Ou ao menos me deixe tentar fazer o meu melhor. Jules cruzou os braços. – Você se importa se eu perguntar o que o fez mudar de ideia? Ele parou e a encarou. Então aquelas eram as cicatrizes de Jules? Ele ao menos enxergava os defeitos dela? Uma crescente ao lado do olho esquerdo e outra, longa, na mandíbula. Elas eram tão feias. Ela não poderia suportar tê-lo encarando por mais tempo. Jules sentiu como se estivesse debaixo de holofotes. – Sinto muito, eu não queria encará-la. – Eu deveria ter passado minha maquiagem, mas não deu tempo. – Não. – A palavra a fez lançar um olhar inquisitivo na direção dele, que completou: – Não passe maquiagem. Ela endireitou-se e virou-se, devolvendo o olhar. – Você só pode estar brincando. – Não, eu acho que você fica linda sem todo aquele aparato. Ele não poderia estar falando sério. Ninguém podia achar lindo aquele rosto cheio de cicatrizes. Ela meneou a cabeça. – Não minta. – Não estou mentindo. – Ele avançou um passo na direção dela. Jules baixou a cabeça e Stefano ergueu-lhe o queixo com o polegar até que ela estivesse olhando diretamente para ele. – Você é linda. – Mas... mas e essas cicatrizes? – A cicatriz perto do seu olho é quase imperceptível. São seus olhos verdes que chamaram minha atenção. E seu nariz é perfeito. E depois, há os seus lábios... eles são fascinantes. Parecem que foram feitos para serem beijados. A respiração dela ficou presa na garganta. Ele a estava seduzindo com palavras. Ninguém jamais havia feito isso, e tudo o que ela queria que Stefano fizesse agora fosse agir de acordo com os seus elogios. No minuto seguinte, ele soltou o queixo dela e recuou um passo. – Se essa é a única razão de você usar toda aquela maquiagem, então pode parar. Você é muito mais bonita sem aquele disfarce. Confie em mim. Eu não iria mentir para você. Talvez não mentisse mesmo. Ele iria apenas seduzi-la e deixá-la ansiando por um beijo que não aconteceria. Como Jules poderia se concentrar em alguma outra coisa que não fosse ele?


– Vou considerar isso. – Ela sempre havia usado maquiagem, desde que era adolescente, escondendo suas cicatrizes. – Você ainda está fazendo flores? – Ele olhou para os papéis no chão. – O banho me deu energia e eu achei que pudesse fazer mais um pouco antes do almoço. – Vejo que sua ajuda desapareceu. – Damasco se cansou de correr. Quando ele ficou entediado, fiz uma bola de papel para ele. – Parece que ele não poderia ter ficado mais feliz. – Ele virou as costas para Jules. – Você é realmente boa para ele. Algum dia será uma ótima mãe. – Isso não vai acontecer. Ela esperou, mas ele não disse mais nada sobre o assunto. Stefano se sentou no chão e apanhou uma pilha de papéis. – Então, como você faz isso? – Você realmente quer fazer uma flor? – Sem dúvida ela não tinha ouvido direito. – Claro que sim. Eu lhe disse que faria tudo o que pudesse para ajudar com este casamento. Ela o ensinou a fazer as flores. Ele era um aluno que entendia rápido as instruções. A flor que ele fez não ficou perfeita, mas deixou-a impressionada... ele a impressionava. – Não é exatamente como as suas – ele declarou. – Mas está ótima para uma primeira tentativa. – Ela deu a ele mais algumas instruções e ele tentou novamente. – Esta ficou melhor. – Sim, ficou. Ele se virou para encará-la. – Agora que aprendi a fazer flores, o que acha de me contar mais sobre a sua decisão de não ter uma família? Noto que seus instintos maternos ficam evidentes a cada vez que você pega o gatinho no colo. – Você não vai querer ouvir isso. – Sim, eu vou. Se você quiser me contar. – Ele se sentou ali com uma pilha de papéis púrpuras nas mãos, encarando-a com compaixão no olhar. O que importava agora se ela contasse a amarga verdade a ele? Stefano já sabia as respostas; ele apenas não tinha juntado os pedaços. Mas mergulhar naquelas memórias profundas e escuras fazia seu coração doer. Era um assunto que ela não queria compartilhar com ninguém. Ela havia aprendido a afastar aquelas memórias doloridas da mente. Então, por que sentia a tentação de se abrir para Stefano? Por que ela queria que ele a entendesse? – Está tudo bem. – A voz dele soou gentil e cheia de entendimento. – Se for muito doloroso, você não tem que dizer nada. Eu não vou insistir com esse assunto. Assim, ele a estava libertando em certo sentido. Sem pressão, sem perguntas acerca das cicatrizes... sem julgamentos. Stefano era um homem complexo. Ela teve a sensação de que ele tinha seus próprios fantasmas. Talvez ele fosse entender a sua história. Jules sentiu a boca seca enquanto lutava para engolir a saliva. – Minha mãe, ela... ela tentou fazer o seu melhor. Mas era uma alma muito infeliz. Quando eu era pequena, meu pai nos deixou. Ela fez o possível para encontrar trabalho, mas, sem muita instrução, as chances dela eram limitadas, e vagas menores não pagavam muito. Era uma vida dura, e ela jogou as frustrações para cima de mim.


As lembranças da infância surgiram em sua mente. Flashes da mãe chorando. A sensação de insegurança. Seu estômago roncando quando ia para a cama. Durante todos aqueles anos, Jules tinha tentado se esquecer dos detalhes, mas alguns se recusavam a desaparecer. Ainda assim, ela prometeu a si mesma que não iria terminar como sua mãe. Ela não iria confiar o seu futuro a um homem, apenas para tê-lo puxando o tapete de debaixo de seus pés. Ela não iria jogar a raiva e a frustração em seu filho. E ela não iria simplesmente desistir da vida. – Eu fui tirada dos cuidados da minha mãe algumas vezes. Mas eu sempre voltava. A cada vez ela prometia que iria melhorar. Mas da última vez... – a voz dela soou fraca enquanto as memórias sombrias voltavam em sua mente – ... da última vez ela fez isso comigo. – Jules apontou para as cicatrizes. Ela não podia dizer mais nada. Não queria se dissolver em lágrimas. Talvez aquelas lembranças estivessem aprisionadas havia bastante tempo. A presença de Stefano fez com que ela baixasse a guarda, ficando vulnerável a dor. Jules engoliu o nó de emoção que tinha se formado em sua garganta. – Precisamos terminar essas flores. Antes que ela pudesse alcançar os papéis, Stefano se moveu para o seu lado. Ele estendeu as mãos e cobriu-lhe os ombros. – Eu sinto muito por tudo que você passou. Nenhuma criança deveria passar por isso. Ela desviou o olhar, sem querer ver a compaixão nos olhos dele. – Isso foi há muito tempo. – Mas ainda dói. Eu sei. Seus olhares se encontraram fazendo com que ela sentisse o coração disparar dentro do peito. – Você realmente me entende, não é? Ele assentiu com a cabeça. – Nós não tivemos o mesmo tipo de infância, mas eu sei como é perder um pai e esperar que ele volte. E eu sei como é ser esquecido por um pai. Naquele momento, ela soube que havia encontrado alguém mais além de Lizzie que a entendia e que não a julgava pelo seu passado. A respiração ficou presa em sua garganta enquanto ela focava o olhar nos lábios dele. Ela se perguntou como seria a sensação de estar presa entre aqueles braços fortes e ter os lábios dele pressionados contra os seus. Seria um beijo rápido e apaixonado? Ou lento e tentador? Ela não teve que se perguntar mais nada enquanto ele a puxava para mais perto do seu corpo. Jules segurou nos ombros largos dele para se equilibrar. Quando ele inclinou a cabeça na direção dela, as pálpebras de Jules estremeceram. Seu coração batia tão alto que era o único som que ela podia ouvir. Stefano ouviria também? Ele sabia o quanto ela o queria? E então ele estava ali, pressionando os lábios contra os dela. A fome e a necessidade do beijo dele respondiam suas questões. Ele a queria com a mesma intensidade que ela o queria. Mas isso não estava certo. Envolver-se com Stefano iria apenas complicar as coisas. Ela precisava parar com isso antes que aquilo fosse mais longe. Com toda a sua força de vontade, ela pressionou as palmas das mãos contra o peito musculoso. As batidas do coração dele vibraram através de seus dedos. Ignorando as sensações deliciosas que subiam pelos seus braços, ela o afastou.


Jules o encarou, encontrando confusão nos olhos dele. Talvez ele também tivesse sido pego de surpresa pela intensidade daquele beijo maravilhoso. – Eu... preciso ir. – Stefano se ergueu do chão. Ele levou um pouco do papel colorido enquanto rumava para a porta sem mesmo dar uma olhada para trás. Por que ele estava fugindo? Ela era a única a sentir alguma coisa? Não, tinha certeza de que o sentimento era recíproco. Depois, Jules percebeu que isso também poderia tê-lo deixado nervoso. Talvez se abrir com ele não tivesse sido o movimento mais sábio. Ela teria que ser cuidadosa dali por diante e manter uma distância segura dele. Porque seu beijo era muito tentador, e ela poderia simplesmente se esquecer de que não estava interessada em começar qualquer coisa com Stefano.


CAPÍTULO 11

– O QUE você quer dizer com Lizzie cancelou? O tom irritado de Stefano ecoou no interior do carro, chamando a atenção de Jules. Ela se virou em seu banco, notando as linhas de expressão que haviam se formado no rosto dele enquanto ele conduzia o carro com habilidade pelas ruas agitadas de Roma. Por que estava tão aborrecido com o fato de Lizzie ter mudado de planos? Ou era outra coisa que o estava aborrecendo? Algo a ver com aquele beijo que nenhum dos dois ousava mencionar? Não fazia diferença. Ela se recusava a deixar que o telefonema de Lizzie ou o mau humor de Stefano arruinassem seu dia. Havia chegado a melhor parte de planejar um casamento... escolher o bolo. – Lizzie mencionou que haverá uma festa especial na sala de jantar esta noite. Você deveria estar feliz. O restaurante do seu avô está prosperando novamente. – E estou. – Stefano suspirou enquanto parava o carro no sinal vermelho. – Vou encontrar um retorno e voltaremos ao vinhedo. – Por que você faria isso? – Por que não? O único motivo de estarmos aqui na cidade era ajudar a noiva a escolher o bolo. – E é exatamente o que vamos fazer. – O quê? – Ele lançou um breve olhar na direção dela. – Você só pode estar brincando, não é? – Não. Estou falando sério. Ambos mal haviam se falado desde o beijo, havia dois dias. Seria por que ela o afastara? Ou era algo mais? Talvez ele não tivesse superado a perda de sua esposa. Jules tinha visto uma fotografia dos dois na sala do Massimo. Quando ela perguntou sobre a foto. Massimo apenas disse que Gianna tinha falecido havia alguns anos. Isso fez Jules se perguntar se havia algo mais na história... algo mais por trás da hesitação de Stefano em se permitir viver novamente. A julgar pela foto, ela entendeu que a esposa de Stefano não tinha nada a ver com ela. Ou talvez fosse melhor dizer que Jules não tinha nada a ver com ela. Gianna estava com o longo cabelo preso para trás em uma trança, o rosto desprovido de maquiagem e as roupas bem modestas e sérias. Pela primeira vez, Jules desejou mudar. Ela queria ser a mulher que poderia fazer um vestido simples parecer incrível. Ela queria estar confortável em sua própria pele e não sentir a necessidade de se esconder atrás de uma barreira de maquiagem. Mas, mais do que tudo, ela queria que um homem a


olhasse com amor e desejo como Stefano estava olhando para a sua esposa na foto. Correção: ela queria que Stefano a olhasse daquela maneira. Mas isso nunca iria acontecer. Agora ele mal olhava na sua direção... não desde que ela havia perdido o juízo e permitido que as coisas fossem tão longe. Ela sentia falta da amizade que eles estiveram construindo. Se ao menos pudesse desfazer aquele momento. Jules não iria deixar que aquele arroubo interferisse nos seus papéis de dama de honra e padrinho. Eram adultos, afinal. Poderiam superar isso. De alguma forma. Ela engoliu a inquietação e esperou que sua voz fosse soar mais confiante do que ela sentia em seu interior. – Nós prometemos fazer tudo o que pudéssemos para que o casamento fosse um sucesso. Você mudou de ideia? – Mas é o casamento deles, não o nosso. Jules abriu a boca, mas nenhum som saiu de sua garganta. O fato de ele ter formulado uma frase que incluía eles dois e casamento a pegou de surpresa. Ela se perguntou se foi involuntário, ou se os pensamentos dele tinham se voltado para o beijo rápido, mas intenso, que compartilharam. Os nós dos dedos dele ficaram brancos enquanto ele agarrava o volante. – Você sabe o que eu quis dizer. – O corpo dele ficou visivelmente tenso. – Não que eu e você vamos nos casar... quero dizer não que estamos envolvidos... – Está tudo bem. Eu entendi. – Ela observou enquanto a tensão deixava os ombros dele. – Mas isso não muda as coisas. Ainda temos que fazer isso por Lizzie e Dante. – Eu certamente espero que você saiba o que está fazendo. – Confie em mim. Eu sei. – Ela tirou o notebook de dentro da bolsa e examinou as fotos dos bolos que Lizzie preferia. – Eu sei do que ela gosta. Acredite. – Você continua dizendo isso, mas eu simplesmente não sei. – Se isso o faz se sentir melhor, Lizzie escolheu as fotos dos bolos. Nós não tínhamos certeza de que o padeiro pudesse fazer um bolo em um período de tempo tão curto, então eu mostrei a ela algumas sugestões que achei que fosse gostar. – Jules exibiu as imagens. – Nenhum desses parece muito elaborado. – Se é o que você diz. Agora, para onde exatamente devemos ir? Ela leu o endereço da primeira padaria. Enquanto ele navegava pela estrada congestionada, Jules recostou-se contra o confortável banco de couro e examinou a lista de tarefas. Ainda havia tanta coisa a fazer para aquele iminente casamento, mas era sua escolta que a mantinha distraída. A lembrança do beijo dele estava sempre pairando em sua mente. Por que ela não conseguia se esquecer? No futuro, ela teria que ser cuidadosa para não cometer o mesmo desvario. Aqueles homens DeFiore vinham armados com sorrisos irresistíveis, olhos escuros e sedutores, e quando eles conversavam com uma mulher, faziam com que ela se sentisse única no mundo. Lizzie já havia se apaixonado. Mas Jules era mais esperta. Não iria deixar que seu coração pensasse por ela. Sabia muito bem que a palavra amor não era o suficiente. Jules ficou grata pela distração enquanto eles estacionavam o carro em frente à padaria Sweet Things. O local estava lotado e eles descobriram que precisavam estar agendados. – Isso não está parecendo nada bom. – Stefano ligou o carro. – Obrigada, Capitão Óbvio.


Ele virou-se para encará-la com surpresa no olhar. E então, em vez de resmungar, começou a rir. Para ser honesta, ela não sabia o que havia de tão engraçado para aquela reação. Como eles iriam ter um casamento sem um bolo? Stefano se recompôs. – Então você consegue fazer um bolo? – Você deve estar brincando. – Não estava? Ela o encarou e viu um brilho de seriedade nos olhos dele. – Sou terrível nisso. Não consigo nem fazer bolos de caixinha. Eu e o forno nunca fomos grandes amigos, nunca nos entendemos. Temos que encontrar uma padaria para o bolo do casamento, mesmo que isso signifique visitar cada uma que existe nesta cidade. Quando eles pararam o carro em frente da Paradiso Tortino, Jules soube que estavam no lugar certo. Poderia não ser o bolo de casamento que Lizzie havia sonhado. Mas, em tempos de desespero, eles teriam que ceder. O edifício era feito de tijolos cor de chocolate. As largas janelas tinham várias torres de cupcakes, bem como exibiam bolinhos com a forma de rostos risonhos. A vitrine que realmente chamou a atenção de Jules mostrava cupcakes decorados com várias flores dispostos em um jardim com uma cerca branca. Era detalhado, imaginativo e divertido. Aquela padaria irradiava criatividade, e o céu era o limite. – É isso! Confuso, Stefano virou-se para encará-la. – É isso o quê? – Esse é o lugar onde vamos encontrar o bolo de Lizzie e Dante. – Talvez seu italiano não seja tão bom. Essa é uma loja de cupcakes. Eu não acho que seja isso que eles tenham em mente para o bolo de casamento. – Apenas confie em mim. – É disso que eu tenho medo. Jules saiu do carro antes que Stefano pudesse dizer mais alguma coisa. Ela tirou os óculos de sol e sorriu para um cliente que havia acabado de sair da padaria. Stefano contornou o carro e se uniu a ela na calçada. Ela sussurrou: – Apenas me siga. Sem esperar pela resposta dele, Jules segurou-o pela mão. Sentiu um arrepio no braço, e uma sensação de conforto surgiu em seu interior. Ela resistiu ao desejo de lançar um olhar na direção dele para ver se Stefano havia percebido aquela reação. Jules forçou-se a respirar com calma. Ela garantiu a si mesma que nenhuma daquelas sensações tinha qualquer relação com aquele beijo. – Isso é realmente necessário? – Ele baixou o olhar e fitou suas mãos entrelaçadas, mas não se afastou. – Definitivamente. – Ela engoliu o nó que havia se formado em sua garganta. – Não vou deixar esse lugar escapar pelos meus dedos. – Não seria melhor ligar para Lizzie e avisá-la sobre o que você tem em mente? – Farei isso. – Quando? – Quando eu souber que este lugar poderá fazer o bolo de casamento. Caso contrário, não há razão em consultar Lizzie. Ela pode não estar aqui, mas ainda é a noiva, e noivas ficam nervosas. Se ela soubesse quantas padarias recusaram nosso pedido, entraria em pânico. É isso o que você quer? – Não, mas...


– Foi o que pensei. Agora vamos agir. A única forma de descobrir alguma coisa é perguntando. Eles caminharam ate a padaria de mãos dadas. Jules esperava parecer mais confiante do que se sentia. Ela estava aborrecida por saber que a única maneira de ele segurar na sua mão era por meio de uma ameaça. Provavelmente ele preferia fazer centenas de outras coisas menos desejáveis do que agir como se eles fossem um casal feliz. Mas estava fazendo o seu melhor para ser um bom irmão e manter sua palavra a Dante. Nem todas as pessoas iriam tão longe. Stefano abriu a porta de vidro para ela. Ao passar, Jules sentiu o leve aroma da colônia que ele usava. Ela nunca havia prestado tanta atenção nesse tipo de coisa, mas, no caso de Stefano, achou a essência convidativa e bem atraente. O sino acima da porta soou, despertando-a dos devaneios. O que estava pensando? Ela não estava na Itália para se envolver com um homem, casualmente ou não. Jules pressionou os lábios enquanto continha um suspiro de frustração. Quando a balconista se aproximou, foi preciso esforçar-se para um sorriso. – Hora do show – ela sussurrou para Stefano. – Lembre-se de que isso é para o seu irmão e a minha irmã. – Ela não sabia se o aviso era mais para ele do que para ela. – Olá – a balconista vestida com um avental listrado nas cores cor-de-rosa e marrom disse atrás do balcão. – Se precisarem de alguma ajuda, me avisem. – Sim, temos uma dúvida. – Jules guiou o caminho até o balcão. – Queremos saber se você tem vaga para um casamento em julho. – Um momento, vou verificar meu calendário. – A mulher tinha um sorriso amigável. – Alguma data em particular? Jules informou o dia enquanto os dedos da mulher se moviam rapidamente sobre o teclado. Depois, um silêncio reinou no salão e Jules sentiu o peito apertar enquanto aguardava por um veredicto. A mulher não disse nada e depois digitou novamente. Por trás dos óculos, os olhos dela se estreitaram e sua testa enrugou. – Estaremos tão ocupados no verão... parece que todos vão se casar. Jules queria pressioná-la por uma resposta, mas usou toda a sua força de vontade para não soar rude. – Sim, está um verão maravilhoso para um casamento. Foi um suspiro que ela ouviu de Stefano? Jules dirigiu o olhar para ele, mas sua expressão era estoica enquanto fingia interesse absurdo nos cupcakes da vitrine. O silêncio era enervante. Se esse lugar não pudesse ajudá-los, ela não sabia mais o que poderiam fazer. Com uma data tão próxima, as chances de as padarias estarem completamente ocupadas eram grandes. Lizzie poderia ficar decepcionada. Depois de ter esperado todo esse tempo para encontrar sua alma gêmea, o casamento tinha que acontecer sem nenhum incidente. – Iremos aceitar qualquer coisa que vocês puderem fazer. – Jules não se importava se a esta altura estivesse soando desesperada: estava desesperada. Stefano flexionou os dedos e ela percebeu que estava segurando a mão dele com força. Jules a afrouxou e se colocou na ponta dos pés para espiar sobre o balcão, mas não conseguiu ler a tela do computador. A mulher se voltou para ela. – Sei que está ansiosa por uma resposta, mas há alguns conflitos. Estou verificando para ver se posso fazer alguma coisa. Se você apenas me der mais um minuto... – Claro. O tempo que for preciso. Sei que o pedido é de última hora, mas é muito importante.


A vendedora sorriu. – Eu entendo. Vocês dois formam um lindo casal. Jules sentiu o olhar de Stefano sobre ela. Entendeu o recado mudo dele. Iria retificar aquela informação, mas não agora. – Posso fazer isso dar certo. Apenas vai me custar alguns malabarismos. Jules soltou a mão de Stefano e entrelaçou os dedos. – Por favor, me deem os seus nomes que vou adicioná-los no calendário. Jules o fez. A última parte que poderia arruinar esse arranjo era o local do casamento. Hesitantemente, ela informou à vendedora que tanto a cerimônia quanto a recepção seriam fora da cidade, na vinícola, mas a única resposta da mulher foi de que haveria uma taxa adicional para a entrega do bolo. Jules suspirou aliviada e disse que não tinha nenhum problema. Agora eles tinham os vestidos, as flores e o bolo. Tudo estava dando certo. E Jules já tinha pensado sobre a comida. A família de Dante estava ansiosa para ajudar, então, poderiam fazer os pratos. A julgar pelo que tinha aprendido nesse curto período de tempo em Roma, a família DeFiore era formada por cozinheiros natos. Ela não poderia imaginar que nada encomendado em algum outro lugar tivesse um gosto melhor do que os pratos que eles faziam no restaurante. – Relaxe. – A mulher sorriu para Stefano. – Prometo que isso não vai doer. De fato, você poderá até apreciar. Sentem-se, por favor. Vou trazer algumas amostras. – Obrigada. – Jules levou Stefano pela mão até uma mesa. Sentaram-se e ela se virou para encará-lo. – Você pode relaxar? Está deixando todos desconfortáveis. – O quê? – Stefano dirigiu o olhar para ela por cima da pequena mesa. – Anime-se. Isso não vai demorar, e você vai provar cupcakes deliciosos. – Desculpe. Eu estava pensando em outra coisa. – Tenho certeza de que sim – ela murmurou. – É verdade. – O olhar dele se estreitou para ela. – Eu estava pensando na vinícola. Aparentemente ela não havia falado de forma tão suave quanto imaginou. – Está tão entediado que preferia estar trabalhando? – Por que você tem mania de tirar conclusões erradas? Jules deu de ombros. Ela estava errada? Seria possível que ele não estivesse desejando estar em qualquer outro lugar que não fosse ali com ela? – Então por que estava pensando na vinícola? Ele cruzou os braços como se estivesse tentando decidir se deveria confiar nela. Isso a aborreceu. Depois de tudo o que ela havia contado a ele sobre o seu passado, ele realmente tinha dúvida de que ela fosse confiável? Stefano tomou a palavra, antes que ela falasse qualquer coisa: – Eu comecei a perceber que estive cortando meu pai dos negócios. Acredito que eu estava tão absorto em me manter ocupado depois da morte de Gianna que não notei que ele estava se sentindo excluído. Essa nunca foi a minha intenção. – E você acha que o seu pai quer mais responsabilidade. Stefano assentiu com a cabeça. – Ele conseguiu manter tudo sob controle durante esses dias em que a estou ajudando com o casamento. E parece feliz. Só não sei se por causa da vinícola ou se ele está apaixonado. – O quê? Por quem?


Antes que Stefano pudesse responder, a vendedora voltou com uma travessa de cupcakes. A boca de Jules começou a se encher de água só de olhar para aqueles pequenos bolinhos convidativos. Ela pegou uma faca e cortou um deles na metade. Os sabores variavam de limão com creme de manteiga congelado ao de frutas vermelhas com creme de banana. Havia oito sabores para que eles pudessem escolher. Jules imaginou que seria uma decisão muito difícil. Todos eles tinham um gosto divino. – Então, qual escolheram? – A mulher indagou. – Eu não sei. Todos são bons. – Precisando de alguma ajuda, Jules se virou para Stefano. – O que você acha? Ele sorriu para ela e ela sentiu o coração perder uma batida. O olhar de Stefano se moveu para a travessa agora cheia de migalhas. – Acho que gosto do expresso com creme de manteiga. – É mesmo? – Ele tinha seus próprios gostos. Confirmou com a cabeça, mas Jules o contrariou: – Mas e se nem todos gostarem de café? – Não tem problema – disse a vendedora. – Podemos fazer dois sabores. – Isso seria ótimo. – Agora era a vez dela escolher, então. – Acho que o outro deve ser morango com cream cheese. A atendente digitou a informação. Fez uma pausa e olhou para Stefano. – E o nome do noivo? Jules não iria deixar que ele estragasse o negócio. – Bem, ele não é exatamente o noivo. – Não? – A mulher uniu as sobrancelhas. – Mas vocês dois parecem tão perfeitos juntos. Eu poderia jurar que... oh, esqueça. Não é da minha conta. É só me dizer o nome do noivo para constar do pedido. Ela não queria que a mulher tivesse a ideia errada. – Não sou a noiva. Nós... – Jules apontou para ela e depois para Stefano –...somos a dama de honra e o padrinho. Os olhos da mulher se acenderam e as linhas de preocupação deixaram seu rosto. – Isso faz sentido, porque eu pude sentir que vocês dois são um casal. E estão apaixonados um pelo outro. Stefano se inclinou para a frente e abriu a boca. Antes que ele pudesse dizer uma única sílaba, Jules o chutou por debaixo da mesa. Ele fechou a boca e uniu as sobrancelhas enquanto a fulminava com o olhar. Ela sorriu para ele esperando acalmá-lo. – Agora que resolvemos esse mal-entendido, por favor, me informem os nomes da noiva e do noivo para fecharmos o pedido. Quando eles saíram da loja, Jules se disse encantada com a tranquilidade com que a mulher falara sobre o casamento. Tinha sido realmente compreensiva com o fato de Lizzie ter que trabalhar em vez de se dedicar aos preparativos para o casamento. Agora todo o resto iria se encaixar. E Jules não estava se referindo apenas ao evento em si. Não, tinha outra coisa em mente. Uma chance para as pessoas verem-na como algo mais do que uma gótica excêntrica. Mas, para fazer isso, ela teria que baixar a guarda. Teria que se desfazer de todo aquele estilo que ao longo dos anos havia se tornado parte dela. Poderia fazer isso? E isso iria fazer uma diferença para Stefano?


CAPÍTULO 12

O QUE estava acontecendo com Jules? Mais importante, o que estava acontecendo com ele? Stefano fitou cegamente o cursor que piscava na tela do computador. As coisas mudaram entre eles desde que haviam se beijado. Ele tentou se perder no trabalho, como tinha feito desde a morte trágica de Gianna, mas não estava funcionando. Seu pai era muito produtivo. Desde que havia encerrado as buscas em Roma com Jules, não havia muita coisa para fazer, certamente nada que necessitasse de sua total atenção. E ter tempo de sobra a esta altura não era uma coisa boa. Ele iria usá-lo pensando em beijar Jules. Resistir a ela estava se tornando cada vez mais difícil, principalmente quando ela deslizava sua mão macia contra a dele. Fazia alguma ideia do que o seu toque provocava nele? E quando ela empinava o queixo e sorria para ele, o seu coração parecia subir à garganta. Seu bom senso desaparecia. Felizmente, ela sempre se afastava antes que ele pudesse agir por impulso. Com um suspiro de frustração, ele olhou para o relógio, descobrindo que estava quase na hora do almoço. Desligou o computador. Tinha sido uma manhã perdida, já que ele mal conseguia terminar uma tarefa por pensar em sua bela hóspede. No dia anterior, depois de saírem da padaria, Jules tinha exigido algum tempo para fazer umas compras. Stefano não se importou. Ele precisava ficar sozinho antes de compartilhar o pequeno espaço do carro com ela. Precisava especialmente de um intervalo depois que a mulher da padaria continuou tratando-os como um casal. E quando Jules virou seus olhos verdes para encará-lo, isso não ajudou em nada. Era como se ela estivesse tentando lhe dizer alguma coisa... como se ela quisesse mais dele do que ele poderia oferecer. Ou ele estava vendo o que queria ver? Aquele pensamento o tirou dos trilhos enquanto ele voltava da vinícola para a casa. Seria possível que Jules, com sua maquiagem pesada e roupas modernas, o tivesse atraído de alguma forma? Seus passos falharam. Será que ele estava começando a se apaixonar pela garota de Nova York? Stefano meneou a cabeça. Impossível. Ele aumentou o ritmo dos passos. Subitamente, seu apetite para o almoço desapareceu. Tudo o que ele podia pensar era em Jules e na forma com que aqueles


olhos verdes falavam com ele… contando sobre as feridas emocionais do passado dela. Seu instinto era protegê-la e mostrar a ela que a vida não tinha que ser tão dura. Mas como ele poderia fazer isso quando sabia, de fato, que a vida era imprevisível e bem injusta? Não, a melhor coisa que ele poderia fazer para ambos era se afastar. Ele havia errado ao se envolver no casamento. Podia ser o irmão do noivo e o padrinho, mas não queria planejar nada. Agora Jules já deveria saber ir sozinha à cidade e, com os aplicativos do seu celular, encontraria qualquer caminho. Sim, ele faria isso. Deixaria os preparativos para o casamento de lado e mergulharia no trabalho. Afinal, havia uma excursão e um evento de degustação de vinho no calendário. Ele poderia pensar em formas de expandir isso, talvez acrescentando alguns contos da história de sua família. Ele não tinha nada específico em mente, mas iria pensar nisso. Stefano se aproximava da casa quando Jules saiu pela porta. Seus pensamentos foram interrompidos por aquela visão. Ela estava muito diferente, e ele piscou para se assegurar de que não estava vendo coisas. Usava um vestido azul pálido de algodão. Era curto, acima dos joelhos. O tecido evidenciava todas as curvas do corpo feminino. Ele lutou para impedir que sua boca se abrisse. Seu olhar viajou pelo vestido dela e parou nos ombros e braços expostos. Só o que sustentava aquela peça de roupa eram duas tiras finas. Um nó de emoção se formou em sua garganta. Ela sorriu para ele, e o mundo inteiro pareceu brilhar. – Você gostou da minha roupa nova? – É... hum... muito bonita. – Ele forçou-se a encontrar o olhar dela. – Caminhe comigo. O pedido dela não era uma pergunta, mas um comando... ao qual ele não iria desobedecer. Ela passou por ele e tudo o que Stefano pôde fazer foi encará-la. Então, notou o cabelo dela. Estava solto e caindo livremente sobre as costas femininas. Mas o quê? Ela nunca havia usado o cabelo daquela maneira antes, mas ele certamente aprovava. Stefano deu passos largos para alcançá-la. – Para onde estamos indo? – Para a vinícola. Eu ainda não a vi, e pensei... bem, eu espero que você possa ter alguns minutos para me mostrar o local. Ela queria ver a vinícola? E queria que ele a mostrasse? Qual poderia ser o problema? Talvez fosse uma boa chance para avisá-la de que havia mudado de ideia sobre planejar o casamento com ela. – Claro. Há alguma coisa em particular que você queira ver? Ela deu de ombros. – O que você quiser me mostrar estará bom. Ela estava realmente interessada no trabalho dele... em sua herança. Essa era uma área na qual Gianna nunca tinha mostrado nenhum interesse. Só se referia à vinícola em tom de reclamação, que tomava todo o tempo dele e os impedia de mudar para a cidade. Esperava um tipo diferente de vida quando se casaram, mas Stefano não percebeu isso. Ele pensou que, ao se casar com uma garota local, ambos iriam querer um estilo tranquilo de vida. Mas errou feio. Stefano mostrou toda a vinícola a Jules, começando no escritório, depois indo à sala de processamento, onde as uvas eram escolhidas a mão durante a colheita. Ele mostrou onde o vinho era envelhecido nos barris. Concluíram na degustação de vinhos, que tinha mesas para os convidados. – Devemos voltar para o almoço. – Ele a guiou para fora da sala.


– Obrigada pelo passeio guiado. Eu realmente apreciei. Apenas lamento perder toda a atividade durante a colheita. – Você sempre terá um convite aberto para voltar aqui a qualquer momento. Jules o fitou diretamente nos olhos e Stefano sentiu o coração acelerar. Quando ela desviou o olhar, a tatuagem de borboleta chamou sua atenção. Apenas as pontas das asas saíam pelo decote do vestido, e ele desejava ver a tatuagem inteira. Nunca tinha visto algo tão cativante. Uma luta começou em seu interior… bom senso versus testosterona. E a testosterona estava ganhando. Jules girou nos calcanhares e começou a caminhar. – Esta propriedade é tão grande. Você certamente não tem que se preocupar sobre incomodar nenhum de seus vizinhos. A terra era a última coisa na mente dele, que se esforçou para manter uma conversa inteligente. – Durante gerações, isso tem crescido. Comprar mais das propriedades ao redor era uma prioridade. – Você ainda pretende expandi-la? – Se a oportunidade surgir, sim. Mas não é o meu foco. – O único interesse dele agora era descobrir se os lábios dela eram tão doces quanto as uvas mais finas. – Qual é sua prioridade? Estava na ponta da língua dele dizer que era ela... fazê-la feliz. Mas ele engoliu as palavras ridículas antes que pudesse dizê-las. O que estava acontecendo com ele? Stefano clareou a garganta enquanto procurava por uma resposta razoável. – A qualidade do vinho. E o aumento da interação com o público. O som dos passos dela foi abafado pela grama. – Parece excitante. – Você acha? – Sim. Eu amo a vinícola. Tenho certeza de que os outros vão amar também. É tão tranquila e relaxante. Agora entendo por que você ficou aqui e continua trabalhando com o seu pai. – Mas certamente você não iria fazer a mesma coisa se os papéis estivessem invertidos. – Ela era uma garota da cidade. Cedo ou tarde iria querer se mudar... assim como sua falecida esposa. – Acho que posso me ver vivendo aqui. Em outro mundo, eu teria uma família grande com muitos quartos para as crianças brincarem. E gatos. E cachorros. E talvez um cavalo ou dois. – Você tem certeza de que iria cuidar de tudo isso? Ela deu de ombros. – É claro que isso jamais vai acontecer. Eu não vivo aqui, e como você bem sabe, não sou exatamente o modelo de mãe. Mas algumas vezes é bom sonhar. – Não vejo por que você tem que sonhar quando pode transformar isso em realidade. Bem, ao menos a parte de ser mãe e ter gatos e cães. Ela parou de caminhar e ergueu os olhos para ele. – Olhe para mim. Ele obedeceu. Seu coração começou a bater forte novamente. Ele manteve o corpo rígido, resistindo ao desejo de puxá-la para mais perto. Lembrava-se vividamente o quanto as curvas dela eram suaves, e seu bom senso derreteu. – Agora, olhe realmente para mim. – O tom sério dela chamou sua atenção. – O que você vê? – Vejo seu belo rosto sem toda aquela maquiagem. – Eu não achei que pudesse usar maquiagem em um dia tão quente.


– Isso é bom. – Quando ela ergueu as sobrancelhas e lhe lançou um olhar inquisitivo, Stefano acrescentou: – Quero dizer é bom que você tenha desistido de toda aquela maquiagem. Você não precisa disso. A verdade era que ela era ainda mais bonita sem disfarce. Tinha um rosto jovem e não precisava de nenhum realce. Ele foi cativado pela beleza natural dela. E com o cabelo solto e esvoaçando em meio à brisa, Jules estava ainda mais atraente. Não parecia mais como se tivesse saído de um vídeo de rock. Agora, ela parecia com alguém que pudesse realmente pertencer ao mundo dele. Mas parte dele sentiu falta da aparência chique dela. E isso o surpreendeu. Jules inclinou a cabeça para um lado, mas continuou olhando fixamente para ele. – O que você está pensando? Ele não percebeu que havia ficado tão absorto em seus próprios pensamentos. – Estou pensando em você. – E o que decidiu? – Que você é linda. – Ele intensificou o olhar e viu descrença nos olhos dela. Ele teria que provar isso a ela. – Seus olhos verdes são mais profundos que a cor das folhas de uvas. E seus cílios longos e escuros tornam os seus olhos ainda mais sedutores. Sua pele é macia e me faz desejar correr meus dedos por essa maciez. Um rubor coloriu as bochechas dela. – Você está se esquecendo de algo. As cicatrizes. Você não pode deixar de vê-las e elas são feias. – Não são feias. Você não é feia. Ela meneou a cabeça. – Você está dizendo isso apenas para me fazer sentir melhor. – Estou falando a verdade. – Ele queria desesperadamente que ela acreditasse nele. – Não, não está. – Ela soltou um suspiro de irritação. – Eu não lhe contei tudo antes, talvez eu deva fazer isso agora. Então você irá entender porque eu acho as cicatrizes tão feias. Ele abriu a boca para protestar, mas depois a fechou sem dizer uma palavra. Talvez falar sobre aquilo fosse bom para ela. – Eu disse que a minha mãe fez isso comigo, mas o que eu não contei é que ela estava bêbada. Ela ficou furiosa por estar sem vodka. Eu estava a caminho de casa depois de ter brincado com o vizinho. Ela me bateu e eu perdi meu equilíbrio no topo das escadas da varanda. Então eu caí... bati minha cabeça na beira das escadas e fui parar na calçada. Stefano cerrou as mãos em punho. Como uma mãe poderia fazer isso com a própria filha? Era inconcebível. E realmente não importava porque nenhuma palavra poderia consertar o que ela havia passado na mão de uma pessoa que supostamente deveria amá-la e protegê-la. – Eu sinto muito. – Não sinta. Foi a melhor coisa que aconteceu comigo. – Os olhos dela estavam cintilando com as lágrimas, mas ela se conteve. – Quando eu morava com a minha mãe, nunca havia comida o suficiente. Raramente havia roupas limpas. E quanto mais isso acontecia, menos ela se importava. Se eles não tivessem me levado, eu nunca teria conhecido Lizzie. – Jules se interrompeu e soltou um suspiro estremecido. – Minha mãe não era forte o bastante para cuidar de nós. Eventualmente ela se voltou para as drogas. Agora você finalmente entende por que eu não devo ser mãe? – Eu acho que você é incrível e é a pessoa mais forte que eu conheço. – Ele estava falando sério. – E, acima de tudo, eu ainda acredito que você possa alcançar qualquer coisa que tiver em mente. Mas nada


disso muda o que eu vejo quando olho para você. Você é linda. Desde as rugas da sua testa quando está confusa até a ponta do seu nariz e os lábios rosados que são perfeitos para serem beijados. E sem pensar nas ramificações do que estava prestes a fazer, ele se inclinou para a frente e baixou a cabeça. A única coisa que importava agora era fazê-la sentir-se melhor. Ele tinha que fazê-la entender que aquelas cicatrizes não a definiam. Ela era linda apesar delas. E a beleza dela refletia de dentro para fora. Os lábios dele roçaram gentilmente os dela. Ele não queria assustá-la. Quando se afastou um pouco, ouviu o inegável suspiro de satisfação que ela soltou. Jules gostava do seu toque, e ele gostava de tocála. Que mal faria emendar aquele beijo com outro beijo? Stefano procurou os lábios dela novamente: eles eram doces como o chocolate. Ele moveu as mãos para a cintura feminina, e ela inclinou o corpo contra o dele. Ele esperou tanto para fazer isso novamente. E a sensação era ainda melhor do que ele se lembrava. O beijo foi longo. Ela deveria ser beijada daquela forma com frequência. Jules merecia ser mimada e amada. E ele faria tudo para conseguir convencê-la disso. Stefano não poderia imaginá-la jogando sua vida fora por causa de algumas cicatrizes que sequer eram perceptíveis. As curvas suaves do corpo de Jules se moldavam perfeitamente ao dele. E quando um gemido suave alcançou os ouvidos dele, Stefano não estava certo de qual dos dois havia feito aquele som de puro prazer. Não que importasse, enquanto os dedos dela tocavam sua nuca e corriam por seu cabelo, enviando uma onda completamente nova de excitação por todo o seu corpo. – Lindo dia, não acha? O som distante da voz do pai dele fez com que eles se separassem. Jules estava com as bochechas completamente coradas, na mesma cor profunda de seus lábios. Ele nunca a tinha visto mais linda. Stefano afastou os pensamentos. O que ele tinha acabado de deixar acontecer? Seu olhar procurou o de Jules. Ele pretendia demonstrar sua compaixão para ela, mas não obteve a reciprocidade desejada. Em vez de tornar as coisas melhores, ele as havia complicado. Ele, o homem que tinha jurado não mais se envolver com ninguém, estava se afogando no beijo mais doce que já provara. Não que o beijo constituísse um relacionamento. Ele passou os dedos de uma das mãos pelo cabelo. De alguma forma, ele teria que colocar as coisas de volta nos trilhos entre eles. Prometeu a si mesmo que não iria perder o controle perto dela novamente. Com o pai a uma distância razoável, Stefano baixou a voz para dizer: – Isso não deveria ter acontecido. Eu não sei no que estava pensando. Foi... foi um erro. Sei que nenhum de nós dois está procurando por um relacionamento. Ele se virou para o pai, que caminhava da vinícola até a casa. Os olhos do pai dançaram com alegria, mas seu rosto estava desprovido do sorriso travesso que Stefano poderia apenas imaginar que iria se materializar depois que passasse por eles. – Eu… nós estávamos justamente voltando de um passeio na vinícola. O pai assentiu com a cabeça. – Suponho que eu não precise perguntar como foi. Stefano não podia acreditar que o pai estava se divertindo às custas dele. Sempre fazia isso quando ele era uma criança. No passado, o pai era bem estoico e não brincava. Mas, ultimamente, o pai vinha mudando muito e ele percebia. Em qualquer outra época Stefano teria acolhido essa transformação, mas agora não... não com Jules. E não quando ele tinha cometido um erro tão monumental. O que o fez pensar que beijá-la fosse uma boa ideia?


– Stefano, você me ouviu? O pai o encarava com expectativa, mas Stefano não tinha ouvido uma palavra. – O quê? – Eu disse que é melhor você se apressar ou nunca vai alcançá-la. Stefano olhou em volta e viu que Jules havia rumado para casa. Ótimo! As coisas poderiam ficar piores? Ele afastou o pensamento porque sabia muito bem que tudo sempre pode piorar. Praguejou baixinho. Ele a seguiu. Não tinha ideia do que iria dizer a ela. Talvez fosse melhor apenas deixá-la ir. Ela iria superar o beijo rapidamente. Afinal, isso não tinha significado nada. Nada mesmo. Exceto que parecia como se fosse o começo de algo… algo profundo. Ele cerrou os dentes enquanto suprimia um gemido de frustração. Ele não poderia deixar o passado se repetir. Embora duvidasse seriamente de que Jules fosse sair com seu carro, não poderia se arriscar. Não poderia deixar esse mal-entendido entre eles. Tinha que haver uma forma de consertar o que ele havia quebrado. Talvez se ele tivesse feito isso com Gianna, ela ainda estivesse viva. Entrou na cozinha e não viu Jules em lugar nenhum. Maria estava próxima ao balcão, preparando uma salada. Ela se virou para encará-lo. Stefano ficou tentado a perguntar se havia alguma coisa acontecendo entre ela e o pai dele. Contudo, resistiu, ainda incerto sobre como se sentia pela ideia de vê-los namorando. – Você precisa de alguma coisa? – Maria enxugou as mãos no pequeno avental branco com estampa de uvas roxas. – Hum, não. – Agora não era o momento de levantar esse assunto. Ele já tinha problemas demais em suas mãos. – Tem certeza? Porque, se estiver procurando por Jules, ela esteve aqui há um ou dois minutos. – Maria lançou um olhar de crítica para ele antes de apontar para a escada. – Obrigado. Vou vê-la. – Ele rumou apressado para a escada espiralada. Stefano subiu de dois em dois degraus. Não tinha a menor ideia do que iria dizer a Jules quando a encontrasse. ELA HAVIA sido uma tola. Jules apanhou Damasco e aproximou o nariz dos pelos macios do animal. Um ronronar baixo vibrou através do corpo do gatinho. Lágrimas ardiam nos olhos dela, mas ela se recusava a deixá-las cair. O que ela estava pensando no campo? Era como se fosse uma criança com a maior paixão do mundo. Quando Stefano a olhou com desejo, ela se esqueceu de tudo, exceto da sensação de excitação e paixão que os lábios dele provocavam. Depois ele se afastou e tentou ignorar o momento como se não tivesse significado nada. E isso doeu mais do que o bullying que ela sofreu na escola por causa das cicatrizes. Os comentários cruéis que as crianças faziam sobre ela ser defeituosa e o porquê de os próprios pais a terem deixado a magoavam profundamente. Mas as atitudes de Stefano tinham sido ainda mais dolorosas. Por que, ah, por que ela pensou que ele pudesse ser diferente? O fato de o irmão dele ter aceitado Lizzie com seu passado complicado não significava que Stefano teria a mente tão aberta. É verdade que dissera as coisas certas, mas apenas porque ele era um cavalheiro. Não representavam exatamente a sinceridade de seus pensamentos... não quando se tratava das cicatrizes dela ou do seu passado.


Uma batida na porta fez com que Damasco pulasse do seu colo. – Quem é? – É Stefano. Nós precisamos conversar. – Não, não precisamos. – Ela estava sendo infantil e sabia disso. Mas não tinha ideia do que dizer a ele no momento. Suas emoções estavam conflitantes. – Espero que você esteja decente porque estou entrando. Jules precipitou-se até a porta, mas, antes que pudesse alcançá-la, ela se abriu. E ali estava Stefano. Seu físico largo preenchia a entrada. Não havia como passar com ele ali. Tinha a testa enrugada e as sobrancelhas escuras unidas. O olhar estava fixo nela e isso fez com que Jules desejasse se virar para o outro lado, mas ela se recusava a permitir que ele visse o quanto a havia machucado. Ela endireitou os ombros e cruzou os braços. – O que você quer? – Eu disse que precisamos conversar. – E eu disse que não quero conversar. Eu... tenho coisas a fazer. – Por exemplo? – Preciso preparar mais flores de papel. – Decidindo que seria melhor ter algo a fazer com as mãos, ela se aproximou de uma cômoda e começou a apanhar os itens que precisava. Jules ouviu o som da porta sendo fechada, seguido pelo som dos passos dele se aproximando. Stefano envolveu os dedos ao redor de um dos braços dela. – Isto pode esperar. Mas a nossa conversa não. Ela dirigiu o olhar para a mão dele em seu braço nu e depois ergueu o queixo. – Você faz com que isso pareça uma questão de vida ou morte. – Pode ser. – Ele suspirou e meneou a cabeça. – Eu preciso me desculpar. – Espere. Por que isso pode ser um caso de vida ou morte? – O que ela estava perdendo? Obviamente havia algo grande. – Porque… ah, isso não importa. Eu quero me desculpar por tê-la beijado... – Por quê? Não é sua culpa que isso… – ela apontou para a cicatriz próxima do seu olhos – ... que isso seja tão feio que lhe cause repulsa. – Ela começou a girar nos calcanhares. Ele agarrou-a pelos ombros com suas mãos fortes e girou-a novamente de forma que eles ficassem frente a frente. – Isso não me causa repulsa. Quantas vezes tenho que dizer que você é bonita até que acredite em mim? Ela meneou a cabeça, lutando contra as lágrimas que ameaçavam cair. – Mas as cicatrizes são feias. Eu sou feia. É por isso que eu preciso de maquiagem. Para esconder meus defeitos. – Você não tem que esconder. – A voz dele soou profunda e calma. – Sim, eu tenho. – Jules se livrou das mãos dele. – Olhe para mim. Eu tentei fazer isso da sua maneira. Comprei roupas diferentes. Não passei minha maquiagem. Eu até mesmo penteei meu cabelo e o deixei solto. E nada disso funcionou. Ainda sou diferente. Stefano sorriu para ela. – Você está certa... você é diferente. Se essa era a maneira que ele havia encontrado para fazê-la se sentir melhor, não estava dando certo. – Apenas vá.


– Não até eu lhe dizer isto. – Ela evitou olhar para ele, que então ergueu-lhe o queixo com o polegar. – Ser diferente não é ruim. Ser diferente é algo do qual você deve se orgulhar. – Eu queria me vestir como as outras mulheres em sua vida. Eu queria ser como todo mundo. – Você nunca vai ser como todo mundo. Você é especial. Para mim. E então ele inclinou a cabeça e seus lábios pressionaram os dela. Jules sentiu o coração bater forte dentro do peito. Ele se importava com ela e não ligava para as cicatrizes, o estilo, qualquer coisa. Jules sabia que a vida não era tão fácil e que não deveria se apaixonar por ele, mas os motivos para que se afastasse e o mantivesse a uma distância segura estavam escapando dela no momento. Aquele beijo estava cheio de calor, não deixando nenhuma dúvida na mente dela de que ele a desejava. E ela também o queria. Ela o queria mais do que poderia dizer. Mas, quando ele ergueu a cabeça e olhou nos olhos dela, as dúvidas começaram a surgir. – Eles devem estar nos procurando para o almoço. – Eles não vão se perguntar sobre nós por muito tempo. Um calor subiu às bochechas dela. – Eles sabem que você está aqui comigo? Ele assentiu com a cabeça. – Maria me disse onde você estava. Não se preocupe... ninguém vai nos incomodar. Subitamente ela se sentiu como uma adolescente beijando o namorado na casa dele com os pais na sala ao lado. Sabia que estava sendo ridícula. A sala de estar e a cozinha ficavam do outro lado. E eles eram adultos. Ainda assim... – Eu a quero. – A voz de Stefano soou rouca com o desejo, não deixando dúvida na mente dela sobre a intenção dele. – Eu também o quero.


CAPÍTULO 13

– O QUE está acontecendo entre você e Stefano? – Nada. – Jules evitou encontrar o olhar inquisitivo de Lizzie enquanto elas se sentavam na sala de estar. – Seja lá o que você estiver pensando, apenas deixe para lá. Por que Lizzie teve que escolher esse dia dentre todos os outros para dirigir até a vinícola e ajudar com os detalhes do casamento? Jules conteve um bocejo enquanto alcançava a cola. Ela não queria mentir para Lizzie sobre Stefano. Mas não sabia o que dizer a irmã porque, honestamente, ela não sabia o que estava acontecendo consigo mesma. Havia passado a maior parte da noite acordada repensando tudo o que havia entre eles. Como poderia explicar algo que nem mesmo ela entendia? Depois de fazerem amor, Stefano lhe deu um beijo de despedida e passou o resto do dia na vinícola. Ele disse que eles estavam preparando um evento de degustação de vinhos naquele final de semana. Ela disse a si mesma que a ausência dele não significava nada. Que ele estava apenas cuidando de suas responsabilidades. Mas uma voz em seu interior continuava lhe dizendo que Stefano a estava evitando intencionalmente. Em vez de o amor que fizeram servir para aproximá-los, os tinha separado. Mas por quê? – Há alguma coisa acontecendo entre vocês dois. – Estava na ponta da língua de Jules negar isso quando Lizzie continuou: – Você não está se apaixonando por ele, está? Jules meneou a cabeça com veemência. – Você não tem que se preocupar. Apenas porque encontrou o seu príncipe encantado não quer dizer que eu busco a mesma coisa. Lizzie se endireitou e a encarou por cima da mesa de café. – Eu sei que é fácil se envolver com os preparativos de um casamento e começar a sonhar com uma paixão. Jules parou de colar outra folha impressa com a programação do casamento. – Você não tem que se preocupar. Stefano tem sido gentil e tudo, mas meu futuro não é aqui... – Você está certa. Não sei o que aconteceu comigo. Você é muito esperta para jogar fora seu futuro excitante por qualquer coisa ou qualquer um. – A postura rígida de Lizzie suavizou-se. – Estou tão


orgulhosa por você estar fazendo sua pós-graduação. Você vai ver... o tempo vai voar. Era o momento de Jules dizer a Lizzie que havia mudado de ideia. Mas teria que fazer isso de forma suave. Ela poderia dizer que Lizzie já estava nervosa sobre o casamento. – E se eu não voltar para a faculdade? Lizzie ergueu a cabeça. Houve um longo momento de silêncio e depois ela sorriu. – Sabe, você me assustou. Não faça isso. Por um momento achei que você estivesse falando sério. Jules sentiu as palmas das mãos ficarem úmidas. – Você faz parecer como se a pós-graduação fosse a única opção válida. – E é. – Lizzie se inclinou para a frente, os cotovelos repousados nos joelhos. – Eu não entendo. Pensei que fosse isso que você queria. – Mas e se eu mudei de ideia? – Ela rezou para que Lizzie entendesse. – E se eu não conseguir passar na prova de seleção? – Então é disso que se trata. – Lizzie recostou-se contra o sofá e suspirou. – Jules, você não tem que se preocupar. Você vai se sair bem. É a pessoa mais esperta que eu conheço. – Não sou tão esperta. – É o suficiente para ganhar honras na faculdade. Para mim isso é uma grande conquista. Apenas não se estresse. Você pode fazer qualquer coisa que desejar. – Mas e se... – Lizzie, você está pronta? – Dante entrou na sala, esfregando as mãos como se ele estivesse ansioso para cair na estrada. – Sim, estou pronta. – Lizzie colocou seus suprimentos em uma caixa. – Você se lembrou de empacotar as receitas que a sua tia me deu? – Sim. – E as fotografias que o seu pai me deu de quando você era pequeno? – Também. Você se importa em me dizer o que pretende fazer com estas coisas? Lizzie sorriu para Dante, que apenas meneou a cabeça. – Bem, é melhor você se apressar. Temos que estar prontos para a gravação de amanhã. Lizzie se virou para Jules. – Sinto muito por não poder ficar mais tempo para ajudá-la. – Não se preocupe. Dou conta disso. – Peça para meu irmão vir ajudar – Dante disse a ela enquanto oferecia a mão a Lizzie para ajudá-la a se erguer do chão. Quando Lizzie se ergueu, inclinou-se e depositou um beijo rápido nos lábios dele. O olhar que trocaram revelava o grande amor que sentiam um pelo outro. Jules sorriu. Isso apenas confirmava que todo o seu árduo trabalho para o casamento iria valer a pena. Lizzie se virou para encará-la. – Vou finalizar esses convites em casa. Quando fecharmos a lista de convidados, irei imprimi-los. Jules repousou o restante das programações na caixa e fechou a tampa. – Não acho que você tenha que se preocupar com isso. Acredito que todos os convidados irão comparecer. Ninguém quer perder a celebração. – Você acha que só virão porque o casamento será gravado para um programa de TV? Dante passou um dos braços ao redor dos ombros da futura esposa. – Minha família quer celebrar e isso não tem nada a ver com a TV.


Lizzie fitou os olhos de Dante. – Espero que você esteja certo. – Confie em mim. Eles estão felizes por nós. Lizzie pressionou uma das mãos dele. – Eu não confiaria nele. – Stefano entrou na sala. – Se há alguma coisa que eu aprendi em nosso convívio diário é para ser cuidadoso quando ele diz “confie em mim”, principalmente se isso envolve o último sorvete. Dante sorriu e se virou para o irmão. – Ei, não tinha culpa por você ser tão ingênuo. – O que você esperava que eu fizesse quando você dizia que Papa estava me procurando e que era para eu confiar em você que ainda haveria um pouco de sorvete quando eu voltasse? – Viu? Você aprendeu uma lição valorosa... tome o seu sorvete primeiro. – O sorriso de Dante se ampliou. – Temos que ir. – Não se preocupe. – Lizzie se virou para Jules. – Tudo vai dar certo. Lizzie e Dante carregaram os suprimentos para o casamento até a porta, deixando-a sozinha com Stefano. Ele virou-se para encará-la exibindo confusão no olhar. – O que ela quis dizer com “tudo vai dar certo”? Jules meneou a cabeça e se colocou de pé. – Não é nada. Stefano avançou um passo e envolveu as mãos ao redor dos ombros de Jules, forçando-a a encará-lo. – Sei que alguma coisa a está incomodando. Você contou a ela? Sabe, sobre nós? – Não. Por que você achou isso? – Eu não sei. Mulheres gostam de confiar segredos uma para a outra, e eu achei que você pudesse ter dito algo. – Eu não saberia o que dizer. – A frustração e a insegurança dela vieram à superfície. – Você e eu nunca conversamos sobre o significado disso. Você começou a me evitar desde então. Ele arqueou uma sobrancelha. – Você faz parecer como se eu estivesse me escondendo de você... – E não está? – Jules se sentou no sofá e ele se uniu a ela. – Eu estive ocupado. Você sabe disso. – Hum-hum. – Ele não achava que ela simplesmente aceitaria aquela desculpa de forma tão passiva, achava? – É verdade. Há um evento de degustação de vinhos neste fim de semana e eu estive ajudando meu pai com os detalhes. Mas não mude de assunto. Nós estávamos conversando sobre o que a sua irmã disse. O que é que vai dar certo? Jules suspirou. – Eu estava tentando dizer a minha irmã que não tenho certeza se ainda quero fazer pós-graduação. – E... – E ela está certa de que eu vou superar isso e as coisas vão acontecer de acordo com o planejado. – É isso que você sente? – Não. – Então converse comigo. Diga-me o que está pensando.


Talvez Lizzie não estivesse pronta para ouvir o que ela estava sentindo, mas Stefano parecia genuinamente interessado. E ela sentiu como se pudesse confiar nele. – A verdade é que eu não quero mais fazer uma pós-graduação. – Essa é uma decisão importante. O que a fez mudar de ideia? – Você quer mesmo saber? O tom de voz dele soou sincero. – Eu não teria perguntado se não quisesse. – Eu acabei de terminar uma sessão como um estagiário do Serviço Social antes de voar para cá. – Jules, terei de obter uma informação simples na base do conta-gotas? – Não. Esqueça. Isso não é importante. – Ela tentou se erguer, mas Stefano a impediu. – Isto é importante. – O tom de voz dele estava repleto de preocupação. – Se não fosse, você não estaria preocupada em dizê-lo a sua irmã sendo que o casamento está tão próximo. Já que que não consegue falar com ela, fale comigo. Talvez eu possa ajudar. Ela o encarou e quis acreditar que ele poderia realmente entender. Porém, incapaz de sustentar o olhar, ela baixou a cabeça. – Eu fui despedida. Ali estava. A embaraçosa verdade. Ela era um fracasso. Stefano não disse nada e ela ergueu os olhos para encará-lo. Não viu nele nenhum sinal de julgamento... apenas compaixão. – Tenho a impressão de que há algo mais nessa história. Por que você não me conta? – Eu... eu não podia fazer as coisas da maneira que eles queriam. As crianças... elas precisavam de alguém. E eu não podia ficar ali e não dizer nada. Quando eu falei com uma delas, o supervisor determinou que eu não era adequada para a função. – Parece-me que você estava apenas seguindo o seu coração. – Mas você não vê, eu não posso fazer esse tipo de trabalho. Não posso seguir as regras e regulamentos cegamente quando nada faz sentido em todo caso. Eu sei que eles existem por uma razão, mas algumas vezes é preciso fazer exceções. – Você já pensou que está deixando o seu ego machucado superar todas as outras coisas? Você pode ajudar tantas crianças. Eu concordo com a sua irmã. Você precisa prosseguir e pegar seu diploma. Talvez você possa trazer alguma mudança para o sistema. – Talvez você esteja certo – ela disse. O sorriso dele se ampliou como se Stefano tivesse acabado de resolver a crise econômica mundial, e ela acrescentou: – Mas não sei. É por isso que não insisti no assunto com Lizzie. Eu quero ter certeza antes de falar com ela. – E é por isso que o que aconteceu entre nós não pode acontecer de novo. – Você acha que a minha ideia de não fazer a pós-graduação tem alguma relação com o fato de termos feito amor? – Acho que você não sabe o que quer da vida, e eu não quero confundir os assuntos. Não é como se eu pudesse lhe oferecer algo sério. Eu já fiz isso, e não deu certo. Você ainda é jovem. Tem um futuro inteiro à sua frente. Um futuro sem ele. O pensamento fez com que lágrimas se formassem em seus olhos. Ela piscou: ele estava certo. Não tinham um futuro, mas isso nada tinha a ver com ela ser jovem ou o fracasso do casamento dele. Tinha a ver com o fato de ela não ter nascido para ser esposa e mãe. Talvez ele também tivesse percebido isso, mas não queria comentar.


Jules soltou um suspiro estremecido. – Você está certo. Eu tenho um futuro inteiro pela frente. E ele começa comigo preparando o casamento mais incrível para minha irmã. Ela se ergueu e rumou para a porta. – Eu não gostaria que as coisas entre nós terminassem assim. – A voz dele soou rouca e gentil. – Não vá embora furiosa comigo. – Não estou furiosa com você. Só quero ir embora – ela murmurou. Jules fugiu do quarto o mais rápido que suas pernas puderam carregá-la. Seu coração estava pesado. Stefano se arrependia do amor que fizeram, enquanto ela ficou repensando nisso várias e várias vezes. Havia sido tão tola ao pensar que aquele momento fora especial para ambos. Ela não cometeria aquele erro novamente, nem perderia tempo insistindo nele. O casamento estava se aproximando. E seria tão romântico que despertaria paixões adormecidas em muitos dos casais de convidados. Exceto ela e Stefano.


CAPÍTULO 14

ELE TINHA feito uma confusão com tudo aquilo. Já havia se passado alguns dias desde que ele terminara as coisas com Jules. Ainda se falavam, mas o mínimo possível. E agora ele estava com muito tempo livre, uma vez que o evento de degustação de vinhos tinha terminado. O que havia acontecido com ele para que deixasse tudo escapar do controle? Como ele poderia ter se esquecido de que sua vida solitária era uma opção pessoal, que vinha sendo construída aos poucos? Sua penitência. Se Jules tivesse ideia de que ele se sentia culpado pela morte da ex-mulher, provavelmente iria odiá-lo. E era assim que deveria ser. Ele não merecia outra chance para o amor. Menos ainda às custas de Jules. Stefano não poderia suportar ser responsável pelo fracasso dos sonhos dela. Já havia cometido erros o bastante para uma vida inteira. Stefano tinha dirigido com a esposa no meio da noite com sua relutância em se comprometer... sua relutância em ver que a esposa não era a mesma mulher com quem ele achava que havia se casado. Ou ele apenas tinha visto o que queria ver quando fizeram seus votos. De qualquer forma, ambos tinham se desiludido. As últimas palavras dela ecoaram em sua mente: O homem que eu achei que amava não existe. Foi um homem que eu criei na minha mente. Não pertencemos um ao outro. Nunca pertencemos. – Está ocupado? O som da voz de Jules o trouxe de volta à realidade. Stefano se virou para encontrá-la na entrada do escritório. – O que está fazendo aqui? Os olhos dela se alargaram com o tom brusco da voz dele. – Eu queria saber se você tem tempo de ir até a cidade amanhã. Tudo bem se não puder, vou encontrar outra carona. – Não seja tola. É minha responsabilidade levá-la. – Ele não pretendia ser tão áspero com ela. Estava frustrado consigo mesmo, Jules não tinha culpa. – Se estiver ocupado, eu posso ir de trem. – Já disse que a levo.


– Está bem. – Ela virou-se para ir embora. Uma onda de culpa o invadiu. Ele não poderia deixá-la partir deixando aquela tensão entre eles. Não poderia suportar o pensamento de tê-la odiando-o. Afinal, eles seriam uma família. Stefano se ergueu da poltrona e a seguiu. – Ei, eu sinto muito. É que estou com muita coisa em mente agora. Jules deu de ombros. – Não se preocupe. Sei que tenho sido um peso. Estou sempre no caminho... – Não, você não tem sido um peso. Não fez nada de errado. – Ele não queria que aquela fria indiferença continuasse. – Sei que tenho sido difícil de conviver ultimamente. Deixe-me consertar as coisas para você. – Não tem que se preocupar. – Mas eu quero. – Eu não sei. – Ela uniu as mãos. – O que você tem em mente? Stefano pensou no que ela dissera sobre querer uma família e muitos animais. Ele não poderia ajudála com a primeira opção, mas havia animais na vinícola. – O que me diz de uma cavalgada ao redor dos campos? Ela mordiscou o lábio inferior. – Mas eu nunca cavalguei antes. – Eu lhe ensino. Os olhos dela se iluminaram. – Está falando sério? Ele assentiu com a cabeça. – Então você concorda? – Acho que sim. JULES ESTAVA orgulhosa de si mesma. Depois de um rápido treinamento, favorecido pela paciência do cavalo, ela se sentia confortável enquanto Stefano a guiava ao redor da vinícola. O lugar era ainda maior do que ela imaginava. Acres e acres de vinhas se estendiam em todas as direções. Stefano lhe contou histórias da família sobre a terra e como eles conseguiram expandir o lugar. Eles pararam em uma colina distante com vista para a casa. Jules lamentou não ter levado uma câmera. Aquela era uma cena digna de ser exposta em um cartão-postal. No verso, viria escrito: paraíso. Stefano dirigiu o olhar na direção dela como se a estivesse aguardando descer do cavalo. Mas ela só faria isso com a ajuda dele. Ele rumou na direção dela. – Gostaria de alguma ajuda? – Sim. Obrigada. Ele estendeu os braços e Jules se inclinou. As mãos dele a agarraram com firmeza pela cintura. Os dedos dela pressionaram-lhe os ombros musculosos. O calor do corpo dele permeava sua camisa e aquecia suas mãos. Seus olhares se encontraram. Ela sentiu o coração bater desenfreado dentro do peito. Quando eles ficaram peito a peito, houve uma distinta instabilidade na respiração dele.


Então ela sentiu algo lhe tocando as costas. O cavalo a havia empurrado até que seu corpo inteiro estivesse pressionado contra o de Stefano. No minuto seguinte, os lábios dele estavam colados aos dela. Só então Jules admitiu o quanto havia ansiado por tal momento. Os lábios dele se moviam apaixonadamente contra os dela como se estivesse faminto por esse beijo... por ela. Jules sentiu o coração bater forte. E o único pensamento em sua mente era a palavra amor. Ela ousaria admitir isso? Como não poderia? Ela amava Stefano! Quando isso tinha acontecido? Jules não estava certa. Mas ela sabia que aquele sentimento foi crescendo em seu interior. E ela não poderia negar isso por mais tempo. Estava apaixonada por Stefano DeFiore. Jules sentiu como se eles estivessem flutuando em uma nuvem. Ela não queria estragar esse momento. Passou sua vida inteira esperando por ele. Envolvida naqueles braços fortes, sentia que qualquer coisa era possível. Antes de perder o controle, ela teria que dizer a ele que o amava com todo o seu coração. Usando todo a sua força de vontade, ela repousou as mãos contra o peito poderoso dele e o empurrou. Esperava que ele se sentisse da mesma forma em relação a ela. O olhar confuso dele encontrou o dela. Ela não poderia deixá-lo dizer coisa alguma. Ele arruinaria o momento e ela perderia a coragem. – Eu o amo. As palavras haviam sido ditas. Stefano não se moveu, nem falou. Ela nem mesmo tinha certeza se ele estava respirando. Enquanto o silêncio se arrastava, ela começou a se questionar se havia realmente dito aquelas palavras ou apenas imaginado tudo aquilo. – Você me ouviu? – Ela não tinha coragem de repetir a sentença. Os olhos dele escureceram. Sim, ele a tinha ouvido. E não iria responder da forma que ela imaginava... da forma que ela esperava. Jules se recusava a deixar que ele se afastasse com tanta facilidade. Ela nunca tinha falado aquilo para outro homem durante sua vida toda. Ele lhe devia ao menos uma explicação dos seus sentimentos. Uma simples desculpa por ele não se sentir da mesma maneira. Qualquer coisa, menos aquele silêncio insuportável que estava prestes a enlouquecê-la. – Diga alguma coisa! – Ela cerrou as mãos em punho. – Não me ignore. Ele clareou a garganta. – Não a estou ignorando. – Você não vai dizer nada em resposta? Stefano moveu as mãos para a cintura e fitou o chão. – Eu não posso lhe dizer o que você acha que quer ouvir. – O que eu acho que você quer dizer. O que isso significa? Ele suspirou. – Você mora muito longe de mim. Sua irmã está se mudando para o outro lado do mundo. E você está em uma encruzilhada na sua vida. É natural que você queira se agarrar a alguém. Ouvindo aquilo, ela sentiu o rosto se aquecer. Mas não era de embaraço, e sim raiva. Ele estava diminuindo o momento... a primeira vez que ela confiava o seu coração a um homem. E ele o estava despedaçando antes de devolvê-lo a ela.


Incapaz de formular palavras, ela permaneceu imóvel. Lágrimas ardiam em seus olhos, e ela piscou repetidamente, recusando-se a permitir que elas caíssem. Ela era mais forte do que isso. Stefano não merecia vê-la chorando. – Você não me ama. – Ele suspirou. – Fico lisonjeado por você pensar tão bem de mim, mas, se você realmente me conhecesse, não iria me amar. Ele não iria escapar tão facilmente. – Diga-me. Diga-me por que você não pode ser amado. Ele meneou a cabeça e depois friccionou a nuca. – Acho melhor não. Precisamos voltar para casa antes que as pessoas comecem a se perguntar o que aconteceu conosco. – Não vou a lugar algum até você conversar comigo. – Ela caminhou até uma árvore alta e sentou-se na grama. – Jules, seja razoável. – Eu sou. Fui honesta com você sobre os meus sentimentos. Agora você precisa ser honesto comigo. Não vou a lugar algum até que você faça isso. Stefano se sentou ao lado dela. – Fale comigo, Stefano. Eu já lhe contei sobre o meu passado. – Sim, e eu aprecio o quanto você foi corajosa em fazer isso, mas não é a mesma coisa. Eu... – Ele fez uma pausa. – Eu fiz coisas... coisas que não podem ser perdoadas. – Isso tem a ver com a sua esposa? Stefano assentiu com a cabeça. – Nós éramos apaixonados no colegial. Gianna tinha um jeito especial de ser. Todos os homens se viravam para admirá-la quando ela passava, mas ela só tinha olhos para mim. – Como ela era? – Uma sonhadora. Adorava se deitar na grama, fitar o céu azul e falar sobre os seus sonhos para o futuro. – Ele se reclinou contra o tronco da árvore. – Tirar esses sonhos dela fez com que ela mudasse. – Como você fez isso? – Nós nos casamos. Ela pensou que, ao se casar com um DeFiore, teria dinheiro para financiar seus sonhos. A verdade é que ela nunca quis morar aqui na vinícola. Ela preferia a cidade e a vida agitada. – E você não via as coisas dessa maneira? – Não. – Stefano olhou para a frente. – Depois que a lua de mel terminou, os argumentos começaram. Ela queria viajar, e eu continuava adiando isso, esperando que ela fosse se ajustar a nossa nova vida juntos. – Mas isso nunca aconteceu. Ele meneou a cabeça. – E eu achei que se tivéssemos um bebê isso talvez ajudasse. – Ele passou uma das mãos pelo cabelo. – Eu não sei o que estava pensando. Um bebê não é a resposta para os problemas de um casamento, mas eu estava desesperado. Nós estávamos ficando mais distantes a cada dia. – Ele clareou a garganta. – Nada do que eu dizia ou fazia estava certo. E eu comecei a perder a esperança de que de alguma forma nós fôssemos encontrar a luz no fim do túnel. – Ah, Stefano. Eu sinto muito. Deve ter sido difícil para você. – Não deveria ter sido tão difícil. Se ao menos tivéssemos conversado antes de nos casar. Quero dizer, realmente conversado sobre o que estávamos sentindo e o que queríamos da vida. Mas estávamos


sempre ocupados com isso ou aquilo. Eu continuei adiando as coisas, imaginando que estivéssemos apaixonados e que a vida iria se resolver sozinha. Mas eu estava tão errado. Realmente arruinei as coisas. – Tenho certeza de que você não era o único que pensava que o amor era o suficiente para enfrentar os problemas da vida. Stefano se virou para encará-la. – Mas é mais do que isso. Quando eu entendi que Gianna não estava interessada em ter filhos ou em morar aqui no vinhedo, não aceitei isso muito bem. Achei que depois que nos casássemos iríamos começar uma família e eu iria continuar trabalhando na vinícola. – Mas ela queria os sonhos dela, e eles estavam longe das vinhas. Ele assentiu com a cabeça. – Ela queria viajar pelo mundo e escrever histórias sobre nossas experiências. Dizia que muitas pessoas se tornavam blogueiras profissionais e ganhavam a vida com isso. Ela achou que eu seria capaz de fazer isso, já que ia bem nas aulas de inglês. Só esqueceu que eu odiava escrever. – O que aconteceu com a sua esposa? – As coisas ficaram deteriorando entre nós por um longo tempo. Eu tinha finalmente me mudado para o quarto próximo ao dela. Inúmeras vezes ela ameaçou me deixar e eu sempre a ignorava, certo de que haveria uma maneira de consertar as coisas. Mas eu simplesmente não sabia qual era a resposta. – Ele suspirou profundamente. – Depois, em uma noite tempestuosa, ela preparou o jantar, mas eu sabia que tinha algo em mente. Nenhum de nós comeu muito, e quando meu pai saiu da sala, a raiva e a frustração dela ficaram evidentes. Ela disse que tinha recebido um e-mail de um dos nossos colegas de classe dizendo que ele estava prestes a fazer uma viagem ao redor do mundo. – O que... o que aconteceu depois? – Gianna disse que estava cansada de esperar por mim. Ela estava perdendo tempo, um tempo que poderia ser usado para explorar o mundo, descobrir coisas novas. Eu... eu perguntei se ela ainda me amava. – Ele soltou um suspiro estremecido. – Ela respondeu que não. Ela… não sabia se alguma vez tinha me amado de verdade porque eu não era o homem que ela pensou quando tinha se casado. Jules alcançou uma das mãos dele. Queria lhe oferecer palavras de conforto, de encorajamento, mas elas ficaram presas em sua garganta. – Eu estava machucado e furioso. E mais do que isso, eu estava cansado... cansado de todas as brigas. Cansado de tentar encontrar uma maneira para sair daquela confusão. De me sentir tão miserável. E foi quando cometi o maior erro da minha vida. O ar ficou preso nos pulmões de Jules enquanto ela esperava ouvir o resto do relato. – Eu disse a Gianna que, se ela não me amava, ou não amava a nossa vida no vinhedo, então poderia usar a porta. Confessei que estava cansado dela. – Ele friccionou a nuca com uma das mãos. – E do nosso casamento. – Ele segurou o rosto entre as mãos. – Por que eu fiz isso? – Você não pode se culpar por ter sido honesto com ela. Stefano ergueu a cabeça e fitou-a diretamente nos olhos. – Você não sabe o que está dizendo. Se ao menos eu não tivesse perdido a minha paciência... se eu tivesse tentado conversar com ela, nada disso teria acontecido. – O que aconteceu? – Pela primeira vez, ela não levou a briga adiante. – A voz dele estava embargada pela emoção. – Era como se as minhas palavras a tivessem nocauteado. Gianna saiu correndo da cozinha. Eu não queria


subir as escadas, não queria confrontá-la novamente. Então comecei a limpar os pratos do jantar. Não sei quanto tempo se passou até que ouvi o carro ser ligado e o motor roncar enquanto ela saía da garagem. Eu fui atrás dela. A chuva caía forte e o vento estava turbulento. Não era uma noite boa para dirigir. Mas eu não tive como impedi-la. Jules envolveu o braço ao redor das costas dele e inclinou a cabeça sobre um dos ombros poderosos. – Você não a forçou a sair em meio à tempestade... – Forcei. Eu fui o motivo de ela ter saído de casa naquela noite. Eu não dei a ela nenhuma razão para ficar. Se ao menos eu tivesse... – Nada que você dissesse teria feito alguma diferença. Ela estava apenas esperando um motivo para que cumprisse com suas ameaças. Ela queria ir embora. – Mas não naquela noite. – A voz dele soou fraca com a emoção. – Não demorou muito tempo para que o telefone tocasse. O carro derrapou... Gianna perdeu o controle. Havia caído em uma barragem. – Não foi culpa sua – ela repetiu, desejando que ele acreditasse. – Ela sabia o que estava fazendo. – Mas não teria saído se eu tivesse pensado antes de abrir a minha boca. Eu tive todos aqueles meses para dizer a ela como eu estava me sentindo. Por que teve que ser naquela noite? – Porque ela o estava pressionando. Ela queria ir embora, só não tinha encontrado a coragem para fazer isso. – Então você concorda. Eu sou responsável… – Não. Não é isso o que eu estou dizendo. Você nunca vai saber exatamente o que ela estava pensando naquela noite. Mas ela era uma adulta plenamente capaz de fazer suas próprias escolhas e o acidente foi apenas isso... um acidente. – Eles disseram que ela morreu instantaneamente. – A voz dele soou tão fraca que ela teve que se esforçar para ouvi-lo. – O médico legista disse que ela estava grávida. Ela estava esperando um filho meu. – Uma lágrima rolou pelo rosto dele. Jules se inclinou para a frente e envolveu os braços ao redor dele. A princípio, ele hesitou, mas depois pressionou o corpo contra o dela. O coração de Jules estava partido por ele. Quando finalmente se recompôs, ele se afastou. Relutantemente, ela o liberou. – E essa é a culpa que você esteve carregando com você, não é? A cada vez que começávamos a nos aproximar, você se afastava porque ainda está se culpando por Gianna e o bebê? – Sim. – Ele admitiu. – Eu não mereço tê-la em minha vida. – Discordo. Acho que sou exatamente o que você precisa. Quando ele a encarou, ela baixou a cabeça e pressionou os lábios contra os dele. A princípio, Stefano não se moveu. Ela roçou os lábios contra os dele, esperando uma resposta. Ele esteve sozinho por tanto tempo e se culpando pela morte da esposa. Jules não poderia imaginar como deveria ser isso. Stefano era um bom homem e merecia prosseguir com a sua vida. Os lábios dele se moveram contra os dela com paixão enquanto a puxava para o seu colo. Ela repousou as mãos contra os ombros largos dele. Finalmente o muro entre eles havia começado a desmoronar. Jules sabia o que queria... Stefano. Ela queria tudo o que ele pudesse lhe oferecer, seu passado e seu futuro. Ela o amava.


CAPÍTULO 15

– NÃO DEVERÍAMOS ter feito isso. – Stefano apressou-se em abotoar a camisa. Ele praguejou baixinho. Sempre que ficava sozinho com Jules, todo o seu bom senso evaporava. A culpa o consumiu. Ele queria explicar que eles não poderiam ficar juntos, mas, em vez disso, terminou fazendo amor com ela. Ele passou uma das mãos pelo cabelo. Não ousaria encará-la. Seria tão fácil acreditar que esse era o começo de alguma coisa... e não o final de algo especial. Espere. Por que ela estava lidando tão bem com a situação? Ela deveria estar gritando com ele... chamando-o de vários nomes. Afinal, ele tinha sido o primeiro a admitir que merecia isso. Talvez ela não o tivesse ouvido. Tinha que ser isso. Ele abriu a boca para se repetir, mas nenhum som saiu de sua garganta. Stefano comprimiu os lábios. No fundo, ele não queria afastar Jules… mas mantêla por perto. Só que era impossível. E agora, depois de reviver como sua falta de julgamento havia custado a vida de Gianna e do seu filho, ele não poderia fazer a mesma coisa com o futuro de Jules. Não importava quanto ela pudesse terminar odiando-o, ele tinha que liberá-la. Era melhor para todos. – Sinto muito... – Não sinta. Você foi incrível. – Jules calçou as botas e rumou na direção dele, sorrindo. – E eu... Ele pressionou um dedo nos lábios macios dela, não permitindo que ela terminasse de falar. Sabia o que ela ia dizer e achou que não suportaria ouvi-la dizer novamente que o amava. Se ouvisse aquela sentença novamente, ele temia perder o restante do seu juízo, e aquilo não poderia acontecer. – Você não está me entendendo. – Ele evitou olhar para o rosto dela. – Você e eu não fomos feitos para ficarmos juntos. – Fomos, sim. – Não. Sua vida é em Nova York. Você tem uma pós-graduação para fazer. – A pós-graduação foi ideia de Lizzie, não minha. Eu quero ficar aqui com você. Stefano agarrou-a pelos ombros. – Você precisa me ouvir. Nosso caso acabou. Depois do casamento, você vai voltar para Nova York e eu estarei ocupado me preparando para a colheita.


Jules arregalou os olhos. – Você está falando sério? – Sim, estou. – Mas nós acabamos de compartilhar... – ... um momento especial que eu nunca vou esquecer. Mas temos que ser realistas. Ambos queremos coisas diferentes para o futuro. Ela endireitou os ombros. Seus olhos cintilavam com força e determinação. – Eu sei que o quero. E o fato de você estar se punindo pelo acidente da sua esposa não vai mudar o que aconteceu. Você é um bom homem e merece ser feliz novamente. – Eu serei quando souber que você não está jogando seu futuro fora. Você tem o mundo inteiro aos seus pés. Tudo o que tem que fazer é escolher seu caminho. – Eu escolho você. Stefano se recusava a aceitar a decisão dela. Jules não podia estar falando sério. Com o tempo, ela iria perceber que um romance entre eles era um erro. – Não deixe sua experiência com o Serviço Social afastá-la da faculdade. O mundo precisa de pessoas que enxerguem mudanças e não tenham medo de falar. A chave é não desistir na primeira adversidade. Algumas vezes você tem que se reerguer e tentar uma aproximação diferente. Ser a voz daquelas crianças que não podem falar por si mesmas. Jules não tinha pensado na questão daquela maneira. Ela estava virando as costas para inúmeras crianças que não tinham voz? – E se quiser, pode ser mãe também. Não deixe o seu passado lhe impedir. Sei que a vida com a sua mãe não foi boa, mas use isso como um incentivo e não como um impedimento para ter filhos. Jules mordiscou o lábio inferior. – Mas e se eu não for boa nisso? – Siga o seu coração. Mas lembre-se que ninguém é perfeito. Você vai cometer erros no caminho. Todos cometem. Apenas aprenda com eles. Ela inclinou a cabeça para um lado e lançou um olhar severo para ele. – Sabe, você está cheio de bons conselhos para quem é solteiro. – Você se esquece de que eu vim de uma família grande e que todos eles são cheios de conselhos. – Uma pena que você não pode aceitar um conselho. – Ela comprimiu os lábios até formar uma linha fina. Stefano friccionou o queixo enquanto uma guerra se iniciava em seu interior. – Eu queria poder dizer o que você quer ouvir. Mas não posso. – Também tenho um conselho para você. Não deixe o passado ditar o seu futuro. Viva o momento. Caso contrário, você vai perder tudo o que é bom na vida. – Stefano ficou em silêncio e ela fulminou-o com o olhar. – Por que eu até tento? Desisto. Jules se virou, fitou os cavalos e depois começou a caminhar de volta para casa. – Você não quer uma carona? – ele gritou. Ela meneou a cabeça e aumentou o ritmo dos passos. Stefano a seguiu. Ele não poderia deixar que tudo acabasse daquela maneira. Tinha que dizer a ela que o amor que fizeram havia significado muito mais do que ele estava demonstrando. Havia virado o seu mundo de cabeça para baixo e o deixado ainda mais desejoso por ela.


Stefano diminuiu o ritmo dos passos. Ele não poderia fazer isso, estaria encorajando-a a ficar ali com ele. Jules ia sacrificar tudo. E talvez não hoje, ou amanhã, mas algum dia ela iria se arrepender disso. E iria culpá-lo. Stefano parou de caminhar. Seu olhar a seguiu. Procurou se convencer de que era o melhor para ambos. Não importava o quanto o sacrifício iria lhe custar. Por que, por trás de tudo isso, a verdade era que ele a amava. NOS DIAS que se seguiram, Jules resolveu manter Stefano à distância. Ela havia sido muito tola ao pensar que ele se sentia da mesma forma por ela. Quantas vezes ela ouvira dizer que homens e mulheres olhavam para relacionamentos de formas diferentes? Enquanto estava ocupada deixando seu coração se encher de amor por ele, Stefano estava apenas aproveitando o momento. Não estava imaginando um futuro com ela em uma casa com cerca branca, duas crianças e um, dois ou três gatos. Jules beijou Damasco e o aproximou do seu pescoço. – Você sabe que vou partir em breve. O casamento é semana que vem. E depois meu tempo aqui terá acabado. Dedilhou o pelo macio do gato. O toque a acalmou e fez com que ela percebesse que estava perdendo tempo em pensar em Stefano. Ele seria o cunhado de Lizzie, e apenas isso. E provavelmente nunca mais iria vê-lo novamente. Então, lembrou-se que deveria pegar uma carona com ele para Roma a fim de provar o vestido. Seu estômago se apertou ao pensar em se sentar perto dele... sozinha com ele... durante a viagem toda. Isso não iria acontecer. Ela teria que ir para Roma de outra maneira. Jules apanhou Damasco no colo. – Você tem que se comportar, está bem? Aqueles olhos grandes e azuis a encararam, parecendo tão inocentes quanto poderiam ser. – Vou ver se Massimo poderá tomar conta de você. Não quero que sofra quando eu for embora e quero ouvi-lo garantir isso. E você poderá entretê-lo. Não sei por que, mas ele parece gostar de você. Damasco miou como se soubesse o que Jules havia dito a ele. Com um sorriso, Jules desceu as escadas em busca de Massimo. Encontrou-o na sala de estar. Ele ergueu o rosto para encará-la e sorriu. – Vejo que você trouxe alguém para me visitar. – Sim, Damasco está se sentindo inquieto. Eu estava me perguntando se você poderia ficar de olho nele enquanto eu vou a Roma. – Ah, meu neto irá levá-la. – Acho que vou pegar o trem. Ele tem trabalho a fazer. – Os homens DeFiore não colocam o trabalho à frente das obrigações com belas mulheres. – Massimo aproximou-se dela e pressionou-lhe uma das mãos. – Eu sei que algo a está incomodando. Lembre-se de que, quando alguma coisa é boa, temos que lutar para consegui-la. A vida não é fácil, e as coisas boas não caem simplesmente no nosso colo. Você tem que lutar por isso e nunca desistir. – Ele deu uma pausa. – Está pronto para ir? Ela se virou para encontrar Stefano no corredor. A expressão do rosto dele era de indiferença. Era a primeira vez que eles iriam conversar desde aquele momento na colina.


– Se você apenas puder me deixar na estação de trem, eu agradeço. – Não seja ridícula. Eu disse que iria levá-la e estou pronto para partir. Ela suspirou. A última coisa que queria fazer era entrar em uma discussão com ele. – Acabei de perguntar para o seu avô se ele pode ficar de olho em Damasco. – Eu adoraria – Massimo declarou, e ela repousou o gato nos braços dele. – Acho que vou encher uma tigela com comida para ele. Jules olhou em volta e localizou a pequena caixa em um canto da sala. – E água. Não se esqueça da água. – Não se preocupe. Vamos ficar bem. – Tem certeza? Massimo exibiu um sorriso reconfortante para ela. – Vá antes que se atrase para o seu compromisso. Você disse que teria que provar um vestido? Ela assentiu com a cabeça. – Vamos levar os vestidos para casa hoje. Bem, suponho que eu vá trazer os dois vestidos para cá, uma vez que Lizzie não quer que Dante o veja. – Mais motivo para eu levá-la – Stefano declarou. – Os vestidos vão ficar amassados no trem, ou pior. Ele tinha razão. – Então é melhor irmos. Essa seria a carona mais longa da vida de Jules. Havia uma tensão tangível entre eles, e ela não sabia como contornar a situação. Jules nem mesmo sabia se queria resolver o caso. Afinal, não era a culpada por tudo aquilo ter começado, e sim Stefano. Num minuto ele a queria, e no seguinte estava afastando-a e dizendo todas as razões pelas quais eles não deveriam ficar juntos. Se ele achava que ela era a única a não saber o que queria, então ele deveria dar uma boa olhada no espelho. Sua boca dizia uma coisa. Mas seu corpo dizia outra.


CAPÍTULO 16

POR QUE estava demorando tanto? Stefano se sentou sozinho na frente da butique nupcial. A mesa oval diante dele estava repleta de revistas de noivas. Podia estar desesperadamente entediado, mas não iria apanhar nenhuma delas. Sua cota de flores, vestidos e bolos já estava completa. Stefano dirigiu o olhar para o relógio pela segunda vez em cinco minutos. Jules e Lizzie deveriam estar provando seus vestidos, e depois iriam embora. Não que ele estivesse ansioso para repetir a viagem com Jules. O caminho tolo até Roma não tinha sido nada senão um tenso silêncio. O que ele deveria dizer a ela? Que sentia muito? Que quando ele estava por perto dela não conseguia pensar direito? Que ele se importava tanto com ela que estava tentando protegê-la de si mesma? Tudo isso era verdade. Mas ele não poderia dizer a ela. Jules jamais acreditaria nele. E, ainda que acreditasse, para onde isso os levaria? Ao vê-las, Stefano se remexeu desconfortavelmente no banco, sem saber se elas estavam saindo ou se haveria mais alguma coisa que precisaria ser feita. O telefone de Lizzie tocou e ela ergueu um dedo, indicando para Jules aguardar um momento. Jules dirigiu o olhar para Stefano, mas ficou parada. Ele, então, caminhou até ela e estendeu uma das mãos. – Deixe-me pegar isso para você. Ela não disse uma palavra enquanto entregava o vestido a ele. Havia cuidado que a peça não amassasse. Depois, virou-se e apanhou uma revista. Como se ele nem mesmo estivesse ali perto, ela passou a folhear as páginas cintilantes. – Está pronta para ir? – Ele esperava que sim. A tensão estava começando a lhe dar dor de cabeça. Ela ergueu o rosto. – Tudo isso é ansiedade para se livrar de mim? – Claro que não. Jules voltou a atenção para a revista. – Eu posso pegar um trem de volta para casa. Você não tem que esperar, se está com tanta vontade de ir embora.


– Quer parar de colocar palavras em minha boca? Eu apenas queria saber se devo levar o vestido para o carro. – Ah. Nesse instante, Lizzie se aproximou deles. – Era Dante. Ele precisa de mim no restaurante. Aconteceu alguma coisa. Você acha que pode comprar velas para as mesas? Eu sinto muito sobre isso. Mais tempo juntos. Mais estresse e tensão. O corpo de Stefano ficou rígido. – Claro. – Jules exibiu um sorriso que não alcançou seus olhos. – Você precisa de mais alguma coisa? – Não que eu me lembre. – Lizzie a abraçou. – Você tem sido ótima. Eu não sei o que teria feito sem sua ajuda. Eu realmente vou sentir sua falta quando você se for para a faculdade. – Tenho certeza de que você estará tão ocupada sendo uma esposa que nem mesmo vai notar. Lizzie sorriu de alegria. – Acho que você está certa. Ah, há mais uma coisa. Você pode parar na floricultura? Ligaram de lá e disseram que uma das flores do pedido está fora de estoque. De qualquer maneira, sugeriram uma outra, bem adequada, no lugar, mas eu não tive tempo de ir ver. Você se importa? Essa era a última gota. Stefano não poderia suportar mais. Todos estavam agindo como se tudo estivesse perfeito, e não estava. Nada disso estava certo. Jules estava escondendo a verdade da irmã e a irmã estava se aproveitando da culpa e generosidade de Jules. – Sim, ela se importa. – Ele se ouviu dizer. – Ela está esgotada por causa daquele programa de TV, e não pode fazer tudo. Você precisa parar de tirar vantagem de Jules e ouvir o que ela precisa e o que ela quer. As mulheres ficaram boquiabertas, mas Stefano não se importou. Lizzie não sabia o quanto estava custando para Jules passar um tempo considerável com ele no carro. Ele poderia dizer que ela apenas queria ficar longe dele. Jules se aproximou de Stefano e apontou um dedo para o peito dele. – Quem é você para dizer alguma coisa a Lizzie, quando você sempre se recusou a me ouvir? Estava tão ocupado tentando reconciliar seu passado que nem mesmo pôde ver o que estava certo na sua frente. Está desperdiçando o seu futuro, não fez nada errado. – Ela meneou a cabeça. – Eu não sei porque estou perdendo o meu tempo. Você se recusa a ouvir qualquer coisa que eu diga. Ele queria protestar, mas não podia. Ela estava certa? Era o momento de se libertar do passado? Ele poderia passar por cima da culpa? Jules apanhou o vestido que ele segurava e lhe deu as costas. – Vamos, Lizzie. – Jules, espere. Ela parou e se virou, lançando um olhar frio para ele. – Lizzie, eu preciso de um lugar para ficar esta noite. – Hum... certo. O que você precisar. – Lizzie franziu o cenho para ele. Jules já abria a porta da loja quando Stefano se aproximou dela, mas a irmã ergueu uma das mãos, impedindo-o de prosseguir. – Deixe-a em paz. Ele suspirou e passou uma das mãos pelo cabelo. – Eu sinto muito. A porta de vidro foi fechada e as palavras dele ficaram perdidas em meio à brisa. O que ele tinha feito? Como as coisas tinham terminado em uma bagunça tão grande? Na verdade, ele acabou


causando a Jules a mesma dor da qual estivera tentando poupá-la. Stefano tinha que pará-las. Tinha que tentar se desculpar novamente. Mas era tarde demais. Estacou na calçada e não viu mais as mulheres. Era como se elas tivessem desaparecido. NA MANHÃ seguinte, Jules apareceu na sala de estar do espaçoso apartamento de Dante e Lizzie. – Já era hora de você acordar. – A voz de Lizzie ecoou através da sala. – Eu estava começando a ficar preocupada. – Ela ergueu uma caneca. – Gostaria de um pouco de cafeína? Jules bocejou enquanto assentia com a cabeça. Havia passado a maior parte da noite pensando em Stefano e se perguntando o motivo daquele desabafo na butique. O que o havia feito dizer aquelas coisas? E o que Lizzie estava pensando? No dia anterior, a irmã tinha ficado quieta e nada comentou sobre Stefano. Talvez ela não quisesse tornar as coisas ainda piores. Mas hoje era um novo dia, e Jules podia sentir o olhar inquisitivo da irmã. – Diga. – Jules se sentou o sofá. – Dizer o quê? – Lizzie declarou inocentemente enquanto se aproximava dela com uma caneca de café fumegante. – Não aja como se nada tivesse acontecido. Você quer saber o que houve entre mim e Stefano, não quer? – Já que tocou no assunto, sim. Eu gostaria de saber até onde foram as coisas entre vocês. Está apaixonada por ele? Uau! Direto no centro da questão. O orgulho de Jules não a permitia admitir que estivesse apaixonada por um homem que não a amava. Ela já havia se feito de tola na frente dele. Não poderia fazer o mesmo com a irmã. – Não. Não estou. – A culpa reinou em seu interior. Lizzie a encarou. – E você ainda pretende fazer faculdade, certo? O que mais a esperava em Nova York? Ela poderia muito bem continuar com o plano original. – É claro. – Ótimo. Porque já paguei a primeira mensalidade. Jules tinha se esquecido disso completamente. – Agora que estamos com tudo resolvido... O telefone tocou e Lizzie ergueu um dedo, solicitando um minuto a Jules. Olhando por cima de sua caneca, Jules viu Lizzie caminhar até a cozinha. A irmã estava de costas para ela, e Jules apenas conseguia distinguir uma palavra aqui e ali... não que ela estivesse tentando ouvir a conversa. Alguns minutos depois, Jules repousou a caneca vazia sobre a mesa de centro. Lizzie retornou, sentando-se no sofá do lado oposto ao dela. – Era Stefano. Jules ficou tentada a perguntar o que ele queria, mas resistiu à vontade. Com o casamento se aproximando, drama era a última coisa de que elas precisavam. Lizzie sorveu um gole do café. Esperar que a irmã dissesse alguma coisa era torturante. Sem conseguir se conter, Jules perguntou:


– O que ele queria? – Só se desculpar. – Isso é bom. Deveria mesmo. Ele não sabe nada sobre mim e você. Lizzie comprimiu os lábios e uniu as sobrancelhas. – Ele queria falar com você, mas eu disse que você não tinha nada a tratar com ele. Agi certo, não? – Sim. Posso falar com ele quando voltar à vinícola. Eu tenho muita coisa a fazer quando chegar lá. Jules fez menção de se levantar quando Lizzie disse: – Espere. Ainda não terminamos nossa conversa. Jules suspirou e tornou a se acomodar no sofá. – O que Stefano quis dizer com “você não a ouve”? Jules deu de ombro. – Não sei. Acho que ele está apenas frustrado. Os preparativos para o casamento e a administração dos negócios têm sido demais para ele. Talvez precise de um tempo. – Curioso, porque ele disse quase a mesma coisa ao telefone. – É mesmo? Quero dizer… viu? Eu estava certa. Não se preocupe. Tudo vai dar certo. Tudo o que você tem a fazer é aparecer no grande dia. – Ela forçou um sorriso. – É melhor você não estar se apaixonando por ele. – Lizzie lançou um olhar severo para ela. – Você não pode arruinar sua faculdade. Trabalhou duro para isso. E você já pagou a mensalidade. Jules conteve um suspiro de frustração. Hora de mudar de assunto. – A propósito, onde está Dante?


CAPÍTULO 17

– ESTÁ TENTANDO arruinar tudo? Stefano ficou com o corpo tenso ao ouvir a voz de Dante. O irmão era a última pessoa com quem ele queria lidar agora. Ergueu o rosto enquanto Dante cruzava o pátio na sua direção. Stefano virou-se para o outro lado e fitou atentamente as filas de parreiras banhadas pelo sol. Mas a única visão em sua mente era a do belo rosto de Jules. – Não estou com disposição para isso hoje, Dante – Stefano avisou. – Que pena. – Os passos atrás dele cessaram. – Você tem uma explicação a dar. Então ele tinha ouvido sobre o incidente no dia anterior na butique. Ele não estava surpreso, mas o fato de Dante ter dirigido até a vinícola enquanto o ristorante estava aberto para negócios era uma preocupação. Stefano suspirou e virou-se para encarar o irmão. – Você não deveria estar em Roma trabalhando? – Eu estaria, se meu irmão não estivesse tentando arruinar meu casamento. – O quê? Não estou fazendo isso. – Não foi isso o que eu ouvi. – Dante repousou as mãos na cintura. – Sei que você não é um fã de casamentos depois do que aconteceu com você e com Papa, mas eu achei que fosse homem o suficiente para dar um passo para o lado e permitir que eu fizesse as minhas próprias escolhas. – Eu sou. E o fiz. – Como ele iria explicar sobre o incidente do dia anterior? Jules nem mesmo estava falando com ele. – Como está Jules? – Primeiro, eu acho que você me deve uma explicação antes que eu desista de tê-lo como meu padrinho. Stefano viu nos olhos do irmão um brilho que não deixava dúvidas quanto a sinceridade dele. Mas precisava saber se Jules estava bem depois de ele ter desaparecido daquela maneira. – Isso é importante. Como está Jules? Ela lhe disse alguma coisa? Dante arqueou as sobrancelhas. – Você se apaixonou por ela, não é? – Não. Nós somos... amigos. É só isso.


– Você se apaixonou por ela e está lutando contra isso. Foi esse o motivo da discussão, ontem. E, a julgar pelas lágrimas de Jules, parece que o sentimento é recíproco. – Ela estava chorando? O irmão assentiu com a cabeça. Stefano coçou queixo. – Você precisa fazer isso direito. – O tom de voz de Dante não deixava dúvida sobre a sua sinceridade. – E eu não estou me referindo a bancar o Romeu. Isso já nos colocou em problemas demais. – Eu sei. Eu sei. Você não precisa me ensinar isso. – É mesmo? Porque, pelo que eu soube, você fez uma confusão. E essa é a semana do meu casamento. Minha noiva não está feliz e essa deveria ser a época mais feliz da vida dela. – Certo, eu o ouvi. Vou dar um jeito nisso. – Fico contente com tal garantia. – As linhas de expressão no rosto de Dante se suavizaram. – Então, desista de tentar iludir a minha cunhada. Você sabe que ela terá que ir embora para fazer faculdade, não sabe? – Sim, eu sei. Eu disse a ela que é nisso que ela deveria estar se concentrando. – Aposto que sim. – Dante lançou um olhar incrédulo para ele. – E Lizzie acabou de pagar a primeira mensalidade. Ela está contando que Jules vá seguir em frente com seus planos. Não arruíne isso para Jules, ou você terá que se ver comigo. Stefano não tinha dúvida de que Dante estava falando sério. O irmão não queria que nada atrapalhasse o casamento, e Stefano o compreendia perfeitamente. Ele faria o mesmo se estivesse se casando com Jules... não que ele algum dia fosse passar por isso novamente. A primeira coisa que ele teria que fazer seria conversar com Jules, mas, uma vez que ela não estava atendendo ao telefone, deveria esperá-la retornar para casa. Ele não sabia o que iria dizer a ela além de se desculpar por ter se feito de tolo. Talvez isso bastasse; ele esperava que sim. JULES SENTIU o corpo estremecer. Ela preferia estar fazendo qualquer outra coisa. Mesmo uma consulta com seu dentista parecia uma ideia mais atraente. Seus passos eram lentos, mas estáveis, enquanto ela entrava na vinícola. Lizzie havia emprestado o carro para que ela transportasse o vestido sem nenhum incidente. E agora que as roupas para o casamento estavam seguramente guardadas em um quarto, Jules teria que encarar Stefano. As coisas não poderiam continuar dessa maneira. Ela havia prometido a Lizzie que o casamento seria celebrado em paz. Tinha se feito de tola, mas ficaria bem sem Stefano. Jules soltou um suspiro estremecido. Seu coração discordava, mas sua mente continuava lhe dizendo para fazer o que fosse mais fácil para todos. Quando encontrou Stefano, ele estava no depósito dos barris, provando um vinho. Ele ergueu o rosto e a surpresa foi registrada nos seus olhos escuros. Depois, foi como se uma parede tivesse sido erguida, tornando impossível saber o que ele estava pensando. Ela estava excluída novamente. Jules não ia deixar que isso se repetisse. – Podemos conversar? Ele assentiu com a cabeça.


– Eu também preciso falar com você. – Prometi a minha irmã que você e eu faríamos as pazes. – Eu prometi a mesma coisa ao meu irmão. Ela uniu as mãos. – Quero que saiba que vou ficar fora do seu caminho de agora em diante. E vou embora logo depois do casamento. Jules se virou, e ele alcançou-a por um braço. O toque dele era quente e gentil. – Espere. Preciso lhe dizer algo. Jules sentiu a respiração ficar presa na garganta e aguardou. – Eu fui um tolo. Não deveria ter lhe dito aquelas coisas na frente da sua irmã. Por favor, me perdoe. Ela assentiu com a cabeça. – Está perdoado. – Quer que eu a acompanhe de volta para casa? Só preciso de alguns minutos até terminar de preencher esse formulário. O final feliz deles não iria acontecer. Ela soltou a respiração que havia contido e endireitou os ombros. – Não é preciso. Termine os seus deveres. Eu tenho que fazer algumas ligações. Vejo você no jantar. Jules sentiu os pés pesados enquanto caminhava. Desde quando ela havia se tornado tão romântica? Isso não era bom. Nem um pouco. Devia esquecer Stefano e seu feriado romano. Em apenas alguns dias ela voaria de volta para a realidade, mas primeiro, tinha que se assegurar de que aquele casamento ocorresse sem nenhum incidente.


CAPÍTULO 18

STEFANO ESTAVA no altar vestido com um smoking impecável. O irmão estava ao seu lado, enquanto os primeiros acordes da música começavam a tocar. Dante tinha um sorriso permanente no rosto. Era assim que deveria ser, mas Stefano lutou para não pensar na maneira com que tinha arruinado as coisas com Jules. Ele sentia falta do gentil som da risada dela. A maneira com que os olhos dela enrugavam quando ela sorria. Quem ele estava querendo enganar? Sentia falta de tudo dela. Jules estava tão perto, e ainda assim, tão longe. Eles eram cordiais um com o outro, e só. Apesar de tudo, Jules não deixou que nada a distraísse. Havia trabalhado sem parar, desde o momento em que se levantou até a noite. Esteve determinada a organizar o casamento perfeito. E isso era incrível. Ela era incrível. Como se os pensamentos dele tivessem atraído a atenção dela, Jules caminhou pelo corredor entre as filas de cadeiras brancas com laços púrpura. Estava absolutamente deslumbrante em um vestido púrpura com um laço preto enfatizando sua cintura. Stefano conteve um gemido de frustração. Ele forçou-se a erguer os olhos, notando como o vestido dela deixava uma visão clara dos ombros delicados. Era impossível para ele desviar o olhar. Jules parecia não ter um problema similar e mantinha os olhos fixos à sua frente. Estava evitando olhar para ele propositalmente? Ou apenas nervosa por ser o centro das atenções, diante de familiares dele e com câmeras de TV apontadas para você? Quando chegou perto dele, ergueu o rosto para encará-lo. Stefano esperava encontrar fúria... ou raiva... no mínimo dor, mas não havia sinal dessas emoções refletidas nos olhos esmeraldas dela. Isso era bom, certo? Ela já o havia superado. Então, por que ele não se sentia aliviado? Enquanto tomava sua posição do lado oposto ao dele, os convidados se ergueram no instante em que a marcha nupcial começou a ser tocada. Lizzie desceu o corredor com o braço enlaçado no de Massimo. O avô surpreendeu a todos quando anunciou que havia trabalhado duro na terapia para que pudesse caminhar com Lizzie no corredor sem usar a muleta. Stefano não estava certo de quem brilhava mais, a noiva ou Massimo. Parecia um dia ideal para finais felizes... ou começos, dependendo de como se olhasse para a situação.


Quando Lizzie tomou uma das mãos de Dante, o padre clareou a garganta. – Bem-vindos. Estamos reunidos hoje para celebrarmos a união de dois corações... Enquanto a cerimônia prosseguia, Stefano se distraiu pelo sorriso de Jules. Embora estivesse feliz pelo irmão, Stefano não poderia afastar a nuvem escura que pairava sobre ele. Ele sabia o que era... a iminente partida de Jules. Ele fingia que havia tempo de sobra para fazerem as pazes antes que ela partisse, mas, agora que o momento se aproximava, ele não sabia o que dizer para tornar as coisas melhores. O padre uniu as mãos. – E agora, a noiva e o noivo vão compartilhar os votos que escreveram um ao outro. De mãos dadas, Lizzie espiou Dante. – Eu nunca pretendi me apaixonar por você. Quando nos conhecemos, você era tão teimoso e irritante. – Ela sorriu para ele. A felicidade cintilava em seus olhos. – E eu mencionei teimoso? Dante ergueu as sobrancelhas, mas não disse uma palavra enquanto continuava fitando a noiva. O foco de Stefano se voltou para Jules, cujos olhos pareciam um pouco marejados enquanto Lizzie continuava a recitar seus votos. – Mas, depois, você me mostrou sua paciência, sua generosidade e seu coração. Então, eu soube que finalmente tinha encontrado o que estive procurando a minha vida inteira... um lar. Stefano sentiu o coração subir à garganta, bloqueando sua respiração. Era como se Lizzie houvesse espiado dentro do seu coração e estivesse lendo os sentimentos dele por Jules. Ela era o seu lar. Como ele iria viver sem o som da voz dela, a risada contagiante ou a excitação que encontrou no beijo dela? Stefano não saberia repetir os votos do irmão porque a próxima coisa que ouviu foi o padre dizendo: – E você, Dante DeFiore, aceita Elizabeth Addler para ser sua esposa, desse dia em diante, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na doença e na saúde, enquanto vocês viverem? Sem hesitação e em uma voz alta e clara, Dante declarou: – Aceito. O padre sorriu. – Eu agora vos declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva. Dante não perdeu tempo em puxar a noiva contra os seus braços. Uma onda de aplausos preencheu o ar. Se o calor do primeiro beijo deles fosse uma indicação, não iria demorar muito para que Stefano fosse tio. Eles formavam um belo casal. E ele não poderia estar mais feliz por eles. Na recepção, o olhar de Stefano seguiu Jules na pista de dança. Ele parecia não ter sido o único a notar sua beleza. Os solteiros faziam fila para dançar com ela. Dante gesticulou para a pista de dança. O que o irmão estava querendo agora? Stefano tinha sorrido para todas as fotografias, ainda que não estivesse de bom humor. Como um padrinho zeloso, ele foi encontrá-lo, tentando não olhar para Jules e o seu primo Roberto que dançavam naquele momento. – O que você quer? – Stefano indagou ao irmão. – Você se esqueceu de que é o meu padrinho? – Não. – O foco dele foi atraído como um magneto para Jules, desejando ser ele a segurá-la tão próximo do seu corpo. Dante entregou uma taça de champanhe a ele. – Stefano, você ouviu alguma coisa que eu lhe disse? – O quê? Desculpe, eu estava distraído.


– Eu notei. Bem, não se preocupe… sua vez de dançar com ela vai chegar. – É mesmo? – Ele percebeu que havia deixado sua ansiedade transparecer, e que isso não era uma boa coisa perto do irmão. Stefano dirigiu o olhar para Dante e o encontrou dando risada. Ele franziu o cenho para o irmão. – O que é tão engraçado? – Você, meu irmão. Parece que é melhor eu fazer algumas anotações nesta noite sobre como ser um padrinho porque você está se saindo pior do que eu pensei... muito pior. Stefano se virou para o outro lado. Ele não gostava de ser o centro da diversão de Dante, principalmente quando sabia que o seu tempo com Jules era severamente limitado. – Não vou dançar com ela. – Ele não iria se torturar. Vê-la nos braços desses homens já era o suficiente. – Sim, você vai. Assim que fizer o brinde. Ele tinha se esquecido do discurso. Havia escrito o texto em uma folha de papel. Stefano o procurou nos bolsos. O discurso. Estava faltando. E as palavras haviam escapado dele. – Você tem o brinde memorizado, não tem? Porque eles vão fazer um anúncio assim que essa dança acabar. – Sim, eu tenho. – Stefano mentiu enquanto buscava em sua memória as palavras que havia planejado dizer antes de se distrair. A música parou. Antes que estivesse pronto, um microfone foi colocado em sua mão. Ele clareou a garganta e esperou conseguir formular algumas palavras. – Posso ter a atenção de todos? Um silêncio pairou sobre os convidados. Imediatamente ele localizou Jules: ela o estava encarando. Seu coração começou a bater forte dentro do peito e as palmas de suas mãos ficaram úmidas. – Sei que todos estão se divertindo, e eu prometo que isso não vai demorar. Eu iria me apresentar, mas vejo que a maioria de vocês é da minha família, então suponho que já saibam o meu nome. Ao menos, espero que sim. – A audiência riu. – Gostaria de aproveitar o momento e agradecer a dama de honra por seu esforço incansável para tornar esse dia perfeito. Peço a todos uma salva de palmas para Jules. – Eles se entreolharam enquanto todos aplaudiam. – E agora pelo feliz casal. Eles não formam o par perfeito? – Outra salva de palmas preencheu o ar, e o casal se beijou. – Agora, uma vez que sou o irmão mais velho, é minha responsabilidade manter Dante no caminho certo, então vou dar a ele o único conselho que é preciso para manter um casamento feliz. Está pronto, Dante? Dante deu risada e assentiu com a cabeça. – Vá em frente. – Certo, repita depois de mim: “Sim, querida.” – Sim, querida. – Pronto. Aí está. Isso é tudo o que você tem que se lembrar. Lizzie sorriu. – Muito bem. – Os convidados riram novamente. – E isso é tudo o que eu sei sobre as mulheres. Você está por conta própria pelo resto da sua vida, irmãozinho. Agora, para o brinde. – Ele ergueu a taça. – A Lizzie, por nunca ter desistido do meu irmão. E a Dante, eu não sei como você se tornou tão sortudo, mas conquistou uma bela dama. Nunca se esqueça disso. Todos esperamos que vocês tenham uma vida feliz. Naquele momento, enquanto o irmão beijava a noiva, uma revelação surgiu para Stefano. Ele percebeu que todo o seu esforço para afastar Jules não tinha sido sobre a felicidade dela. Claro, ele


queria que ela realizasse seus sonhos, mas sua inabilidade em ouvir o que ela estava lhe dizendo se devia ao fato de que, se ele permitisse que ela entrasse em seu coração, então ela poderia perceber mais tarde que ele não era o que ela queria. O pensamento de ser rejeitado o assustava demais. Ele não poderia suportar o pensamento de não ser capaz de fazê-la feliz. Mas, enquanto Dante enlaçava o braço de Lizzie para sorverem seu champanhe, Stefano percebeu que o amor era um salto para a fé. Sem confiança, não haveria amor. E confiava em Jules. Em algum lugar no meio do caminho, tinha conhecido a garota escondida por trás de todas aquelas roupas e maquiagens. A vida é cheia de riscos. E pode mudar em um segundo. Se o seu pai e seu irmão estavam dispostos a entregar seus corações, mesmo sabendo dos riscos. Por que ele estava permitindo que a mulher que amava fosse embora? Sua boca ficou seca e ele sorveu um gole do champanhe. No minuto seguinte, alguém retirou o microfone das suas mãos. Quando ergueu o rosto, notou que Jules estava vindo em sua direção. Seu coração bateu forte, sua pulsação acelerou e suas mãos começaram a ficar pegajosas. Esse era o seu momento... sua chance de ganhar a mulher que amava. JULES CERROU os dentes enquanto forçava um sorriso. Esta seria a última vez que ela estaria nos braços de Stefano. Ela piscou rapidamente. Agora não era o momento de ficar emotiva. Não demorou muito para que Stefano se materializasse diante dela. Jules não sabia o que dizer a ele. Antes que pudesse formar um pensamento em sua mente, um fotógrafo se aproximou e começou a tirar fotos dos dois. Enquanto começavam a dançar, ela fitou Stefano diretamente nos olhos. O sorriso dele fez seu coração bater descontrolado. Eventualmente, ele seria um bom marido para sua esposa. Uma pena que a esposa não seria ela. – Eu estava querendo falar com você. – O som da voz de Stefano fez com que ela despertasse dos devaneios. – Mas você estava ocupada dançando. – Sim. Tem sido bom, sobretudo se eu pensar que ficarei presa em um avião amanhã. – Você decidiu continuar com sua faculdade? – Quando ela assentiu com a cabeça, ele prosseguiu: – Tenho certeza de que você será feliz com a escolha. Ela deu de ombros. – Vamos ver. De qualquer maneira, tenho que voltar e encontrar um lugar barato para morar antes que as aulas comecem. – Quando ele ajustou o abraço, ela sentiu o coração perder uma batida. – O que você queria falar comigo? – Ah, nada importante. Eu apenas queria lhe oferecer uma carona até o aeroporto. – Obrigada, mas eu vou pegar uma carona com Dante e Lizzie. – Tenha uma boa viagem. Isso a estava matando. A última coisa que ela queria no mundo era dizer adeus a ele. – É isso o que você realmente quer? Ver-me partir? Eles pararam de dançar, e Stefano ergueu uma das mãos para uma das bochechas dela. Seus dedos longos a acariciavam enquanto ele a fitava diretamente nos olhos. – Eu... Uma onda de aplausos chamou a atenção dela. Mas o quê? Jules olhou em volta e se deu conta que a música já havia parado havia algum tempo e eles eram o único casal que restara na pista de dança. Um


calor subiu ao seu rosto. Ela não sabia se era porque não tinha notado a música parar ou se era porque ela havia cedido mais uma vez e pedido a Stefano para mudar de ideia sobre eles. Mas o que ela queria saber mais do que tudo era o que ele iria dizer. – Diga. Seja lá o que for, apenas me diga. – Vamos lá, Jules! É hora do buquê. – Lizzie acenou para ela do outro lado da pista de dança onde um grupo de solteiras aguardava ansiosamente. – Vá. Podemos conversar sobre isso mais tarde. Mais tarde? Como poderia se concentrar em alguma coisa sem saber o que ele iria dizer? Sua intuição lhe dizia que ele estava prestes a confessar que a amava. Mas esse seria apenas um desejo? Jules caminhou até onde estavam as outras mulheres. Os rostos delas estavam brilhantes pelos sorrisos esperançosos, mas não havia nada além de tumulto por trás do sorriso de Jules. Pegar o buquê da noiva era uma tradição da qual Jules não fazia questão de participar. Um final feliz não parecia fazer parte da sua vida. Como se o destino quisesse lhe ensinar uma lição, o buquê com flores cor-de-rosa e laranja caiu em seus braços. Enquanto todos batiam palmas, seu olhar se voltou para Stefano. Ele não estava aplaudindo, mas olhava fixamente para ela. Jules desejou poder ler a mente dele.


CAPÍTULO 19

O CORAÇÃO de Stefano batia forte dentro do peito enquanto ele observava Jules apanhar o buquê da noiva. Ela o havia encarado de volta. Jules estava tentando lhe dizer alguma coisa, mas o quê? Ele tinha que entender aquele código direito. Não poderia se dar ao luxo de cometer mais erros. Ela o havia perdoado? Estava disposta a lhe dar outra chance? Stefano endireitou os ombros. Ele iria dizer a ela que a amava e depois aceitaria qualquer decisão que ela tomasse. Ele não sabia quanto tempo havia se passado enquanto conversava com um parente distante depois de outro... de alguns ele nem mesmo lembrava o nome, mas tinha que fingir. E, a cada vez que ficava livre, Jules estava sendo requisitada para tirar fotos ou ser escoltada até a pista de dança. Até o pai dele tinha dançado com ela. – O que você está esperando, garoto? Stefano se virou e encontrou nonno atrás dele. O olhar do avô se moveu dele para Jules, que naquele momento tomava um drinque. Como seu avô sabia que ele estava esperando para dizer algo? Isso era tão óbvio? – Eu... eu não quero incomodá-la. O avô se aproximou mais dele e baixou o tom de voz. – Você não vai incomodá-la. Eu vi a maneira com que ela olha para você. Não a deixe escapar. – Você... você acha que ela vai me querer mesmo depois de eu ter arruinado tudo? – O avô assentiu com a cabeça e Stefano acrescentou: – Obrigado, Nonno. – Vá. Seja feliz. Jules não o viu se aproximar e começou a andar na direção oposta. Ele continuou seguindo-a e gemendo interiormente quando ela se aproximou de Dante e Lizzie. A última coisa que ele queria fazer era entregar o coração para ela na frente do irmão. Deveria haver uma forma melhor, mas ele estava ficando sem tempo. Determinado a não perder a chance, ele se uniu ao pequeno grupo. Eles estavam absortos em uma conversa. Jules olhou diretamente para a irmã.


– Decidi que não vou precisar de uma carona para o aeroporto amanhã. – O quê? – Lizzie arregalou os olhos. – Mas por que não? – Você sabe que eu a amo. – O tom de Jules era baixo e firme. – E sei que se não fosse por você eu não estaria aqui. Você tem sido uma irmã incrível, mas há uma coisa que eu venho tentando lhe dizer. Por um motivo ou outro, o momento certo não apareceu. E estou começando a pensar que não vai haver um momento certo, então apenas vou dizer. Ninguém se moveu. Stefano nem mesmo tinha certeza de que Lizzie estava respirando enquanto fitava a irmã. – Já passou do tempo de eu começar a tomar minhas próprias decisões e que você as respeite. Lizzie lançou um olhar de preocupação para Jules. – Eu tenho a impressão de que não vou gostar disso. – Provavelmente não. Mas eu vou falar do mesmo jeito. Eu não vou à faculdade. – Lizzie abiu a boca, mas Jules ergueu a palma da mão, silenciando-a. – Eu sei que você já pagou a primeira mensalidade. Mas eu vou devolver o dinheiro. Lizzie parecia mais impressionada do que aborrecida. – Mas por quê? Achei que fosse isso o que você queria... para ajudar crianças como nós. – Eu quero. Mas o Serviço Social não é para mim. – Jules baixou o olhar. – O problema é que eu não posso seguir todas as regras deles durante o tempo todo. – Ah, Jules, eu sinto muito. Mas isso não significa... – Significa que eu não estava feliz lá. E eu vou encontrar outra maneira de ajudar essas crianças. Já tenho algumas ideias. A preocupação era evidente no rosto de Lizzie. – Eu... eu não sei o que dizer. Você tem certeza disso? – Absolutamente. Essa não é uma decisão fácil. Pensei sobre isso por um longo tempo. – Então acredito que não há mais nada a se dizer, exceto que eu a amo. E estarei aqui se precisar de mim. As duas se abraçaram. E embora a expressão de todos fosse muito séria, Stefano não pôde deixar de sorrir... seu primeiro sorriso genuíno do dia. Ele estava tão feliz por Jules ter falado por si mesma. Agora era o momento de ele fazer a mesma coisa. Não importava se o seu irmão iria testemunhar isso ou não: ele ia falar o que estava no seu coração, aqui e agora. Stefano clareou a garganta. – Jules, posso falar com você? Ela se virou com a expressão séria. – Não antes de eu falar primeiro. – Jules apontou um dedo para ele. – Eu tomei uma decisão sobre você, também. – Ela inspirou fundo. – Eu decidi que você é teimoso e irritante, mas que eu o amo de qualquer jeito. E não vou desistir, porque acho que você também me ama. Ela o olhou de uma forma tal que era como se pudesse ler cada pensamento dele. Stefano tomou-lhe uma das mãos. – Obrigado por ser tão insistente e me dar uma chance de pensar melhor, porque eu a amo. Eu a amo com todo o meu coração. – Você me ama? – Sim. O sorriso dela se ampliou.


– Apenas se lembre dessas palavras porque você irá dizê-las novamente em breve. – Mal posso esperar. – Ele já poderia vislumbrar o futuro deles e seria um futuro feliz. Ele daria toda a felicidade que pudesse a Jules, e o casamento deles era a sua prioridade. Jules se colocou na ponta dos pés enquanto ele se inclinava. Seus lábios se encontraram. O vazio no coração dele estava sendo preenchido com amor. Stefano envolveu os braços ao redor do corpo dela e a girou em um círculo. Ele nunca iria deixá-la partir.


EPÍLOGO

Um ano depois…

– É OFICIAL. Jules sorriu para o seu marido sexy e deu um grito de entusiasmo. O som do piquenique em família ao fundo completava a empolgação que ela sentia. Ela nunca tinha estado tão feliz em sua vida. Jules tinha quase tudo o que queria. Quase... Stefano tomou-a nos braços e pressionou os lábios contra os dela. Não importava quantas vezes ele a beijasse, o coração dela ainda se enchia de excitação. – O que está acontecendo por aqui? Stefano colocou-a de volta no chão. Quando Jules ergueu o rosto, encontrou Lizzie olhando para eles com expectativa enquanto repousava uma das mãos sobre o ventre. – Sua irmã agora é uma cidadã italiana oficial – Stefano falou com orgulho. – É mesmo? – Lizzie falou radiante. – Bem, se vocês dois não forem cuidadosos com a celebração, vão terminar como eu. Com os tornozelos inchados. E uma dor nas costas. – E você parece tão miserável – Jules a provocou, sabendo muito bem que Lizzie estava absolutamente feliz com o belo marido e seu iminente laço de alegria. – O que eu posso dizer? Estou completamente apaixonada. – Lizzie exibiu um largo sorriso. – Estão falando de mim? – Dante indagou e envolveu um dos braços ao redor dos ombros da esposa, puxando-a para mais perto. – Não se preocupe – falou Jules. – Temos um anúncio para fazer também. Lizzie se endireitou. Seus olhos se alargaram. – Jules, você está grávida? Ela meneou a cabeça. Tanto Dante quanto Lizzie lançaram um olhar confuso para ela. Quando ela sorriu para eles, ambos se viraram para Stefano em busca de respostas. Stefano sorriu e deu de ombros. – Ela vai lhes contar. – Bem, conte-nos... estamos morrendo de curiosidade.


Stefano passou o braço em volta dos ombros de Jules. Ela amava a sensação de tê-lo perto. Ele era o seu melhor amigo. Seu amante. Sua alma gêmea. Com ele ao seu lado, tudo era possível. – Nós vamos ser pais também. Lizzie enrugou a testa. – Mas você disse que não está grávida. – Não estou. Nós vamos adotar algumas das crianças mais velhas que precisam de um lar. Temos essa casa grande e achamos que seria bom compartilhá-la com alguns órfãos. Os olhos de Lizzie se encheram de lágrimas. – Você encontrou uma maneira de ajudar crianças como nós, afinal de contas. Você é incrível. Vocês dois são incríveis. Jules fitou o marido com amor. Eles eram incríveis juntos. E Jules não poderia pensar em nada melhor do que viver e trabalhar perto de Dante enquanto abriam seus corações e sua casa para algumas crianças menos afortunadas. A jornada deles estava apenas começando, e ela sabia que não iriam ser apenas rosas. Haveria alguns espinhos ao longo do caminho, mas juntos eles seriam capazes de vencêlos.


MILAGRE INUSITADO Susan Meier – Depois que o programa original de ensino em casa de Jack deu errado, encontrei três ótimas opções para substituí-lo que você pode usar nesse semestre. Também há sites incríveis que ajudam a reforçar as matérias. – Parece que você está por dentro do assunto. – Ser pai solteiro é um emprego em tempo integral. Althea entendia o que estava acontecendo. Clark podia facilmente lidar com os fatos óbvios e concretos, as tarefas como pai. Coisas delicadas, como a conversa entre pais e filhos, não eram fáceis como ir ao mercado, encontrar programas de ensino em casa ou fazer o almoço. Talvez ele estivesse ignorando sinais de aviso por não saber interpretá-los. Ele sorriu. – Tem alguma pergunta? – Sim. Gostaria de saber mais sobre Teagan. – Você quer saber o que ela fará enquanto você ensina Jack? – Clark jogou um lápis sobre a mesa. – Esperava que ela pudesse ficar colorindo no cômodo em que você e Jack usarão como sala de aula. – Na verdade, estou mais preocupada com o fato de ela falar apenas em sussurros, e só com você. Ele riu. – Teagan tem três anos e meio. Ela só é tímida. Três anos e meio? E a mãe dela morreu há três anos? A coitadinha estava com seis meses quando perdeu a mãe. Tecnicamente, Teagan não a conhecera. – Você acha mesmo que ela só é tímida? – Sim. Ela está bem. Althea deu uma mordida no sanduíche para evitar falar algo de que pudesse se arrepender. Ou aquele cara estava na mais completa negação, ou coberto de razão. Se Clark estivesse certo, tudo iria se ajeitar. Do contrário… Bom, do contrário, aquelas crianças estariam sofrendo. Eles não se escondiam no armário, tentando desesperadamente abafar os sons do pai batendo na mãe como ela e Missy ficavam. Ainda assim, estavam sofrendo. E se o pai deles não conseguisse compreendê-los, não conseguiria ajudá-los.


Althea sabia que podia estar analisando demais a situação, porém depois da própria infância miserável em que nenhum professor, vizinho e nem mesmo os avós conseguiam perceber que ela, a irmã e a mãe estavam com sérios problemas, Althea não conseguia olhar para o outro lado. – Eu aceito o emprego. – Mesmo? A incredulidade na voz dele a fez rir. – Você estava com medo de que eu recusasse depois de descobrir que teria de ser sua empregada e babá temporária essa semana? – Eu não ia te pedir para fazer faxina, mas se você puder lavar a louça depois das refeições, seria de grande ajuda. Droga. Ela e sua boca grande. – Tenho de cuidar de alguns projetos no trabalho e, se puder começar hoje, posso me dedicar a eles esta tarde. Estarei trabalhando em casa, claro, para que você e as crianças tenham o dia para se conhecerem. Mas eu realmente preciso colocar o trabalho em dia. Fiquei em casa a semana passada inteira. A voz poderosa de Clark a fez balançar a cabeça. Quanto antes ela sentasse com aquelas crianças e descobrisse o que estava acontecendo, melhor. – Contanto que eu não tenha que cozinhar. – Você não sabe cozinhar? – Quando morava sozinha, não havia motivo para cozinhar. – Comprarei comida pronta. Althea sorriu para ele, confirmando o acordo, mas Clark se levantou e estendeu a mão. Ela também se levantou. E quando segurou a mão dele, uma descarga elétrica atravessou seu braço. Os olhares se encontraram e, graças ao brilho nos olhos dele, Althea pôde perceber que ele também sentira. O olhar dela baixou para reparar no peito forte e na calça jeans quando outra onda de eletricidade a atingiu. Althea refreou a vontade de puxar a mão. Uma coisa era aceitar um emprego sabendo que sentia atração pelo chefe. Ela sempre soube como ignorar os hormônios. Mas saber que Clark também se sentia atraído por ela... Não estariam brincando com a sorte?

E leia também em Noites de Esperança, edição 106 de Harlequin Special, Acordo perfeito, de Susan Meier.


106 – NOITES DE ESPERANÇA – SUSAN MEIER Milagre inusitado Clark Beaumont achou ser impossível conseguir se reerguer após a morte da esposa. Mas um milagre de Natal chega na forma de Althea Johnson. Ela trouxe felicidade de volta para essa família. E esperança para o coração de Clark. Acordo perfeito Quando Ricky Langley oferece ajudar Eloise, ela sabe que não pode recusar. Em troca, terá de acompanhá-lo a doze festas de Natal. Esse era apenas um acordo de negócios, mas o charme implacável dele fará Eloise desejar tê-lo para sempre. Últimos lançamentos: 104 – AMOR EM COSTRUÇÃO – MICHELLE DOUGLAS Projeto de amor Bella Maldini precisa trabalhar com o implacável Dominic Wright em um projeto. Tudo seria mais fácil se ele não fosse tão controlador… e o homem mais sexy que ela já conhecera. Pedidos realizados O Natal não era época mágica para Flynn Mather. Porém, durante uma viagem de negócios, sua assistente pessoal, Addie Ramsey, o fez mudar de ideia. Tudo ao lado dela era especial. Será que Addie é o presente que ele não sabia que precisava?


CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ F291i Faye, Jennifer Os irmãos Defiore [recurso eletrônico] / Jennifer Faye; tradução Rafael Bonaldi, Vanessa M. Gandini. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Harlequin, 2015. recurso digital Tradução de: The playboy of rome; Best man for the bridesmaid Formato: ePub Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions Modo de acesso: World Wide Web ISBN 978-85-398-2013-9 (recurso eletrônico) 1. Romance americano. 2. Livros eletrônicos. I. Bonaldi, Rafael. II. Gandini, Vanessa M. III. Título. 15-25317

CDD: 813 CDU: 821.111(73)-3

PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COM HARLEQUIN BOOKS S.A. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: THE PLAYBOY OF ROME Copyright © 2015 by Jennifer F. Stroka Originalmente publicado em 2015 por Mills & Boon Romance Título original: BEST MAN FOR THE BRIDESMAID Copyright © 2015 by Jennifer F. Stroka Originalmente publicado em 2015 por Mills & Boon Romance Projeto gráfico de capa: Ô de Casa Arte-final de capa: Isabelle Paiva Produção do arquivo ePub: Ranna Studio


Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171, 4º andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Contato: virginia.rivera@harlequinbooks.com.br


Capa Texto de capa Rosto Sumário

SABOR INEBRIANTE Querida leitora Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16 Capítulo 17 Capítulo 18 Capítulo 19 Capítulo 20 Capítulo 21 Capítulo 22 Epílogo

SORRISO CATIVANTE Querida leitora Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3


Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16 Capítulo 17 Capítulo 18 Capítulo 19 Epílogo

Próximos lançamentos Créditos


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