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ALTINÓPOLIS

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COPA CALAFATE

COPA CALAFATE

(...) Altinópolis SP, 25 de janeiro de 2017. Caro Ricardo, boa tarde.

Escrevo-te para agradecer sua dedicatória postada no livro “As Costelas do Abismo “, que recebi e que devoro com apetite e antevendo um super acepipe. Foi muita gentileza e que agradeço a agradável surpresa. Muito obrigado.

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O livro? Espetacular. Maravilhoso. Parabéns.

Nós que adoramos o Mangalarga Marchador, quando encontramos pasto fértil, nos fartamos. É isso o que o livro nos proporciona. Repasto à alma e entendimento parcial da história e o pensamento vai...vai...

Aproveito para te dizer que essa história (do Mangalarga Marchador) é, e sempre será, incompleta, pois os detalhes muitas vezes não são, ou foram, totalmente conhecidos.

Quer um exemplo? Te dou e te conto uma história, nós que gostamos de história.

No caso da criação de cavalos do meu pai, que veio do meu avô, que em 1920 já tinha reprodutor, pergunto de onde vieram esses animais?

Por tradição oral, da família, a resposta que temos é que vieram da viúva Theodósia, mãe do Coronel Honório Vieira de Andrade Palma, que tinha vindo de Franca e morava em Santa Rita do Passa Quatro SP, na Fazenda Aprazível.

E que com o marido, falecido precocemente, os havia trazido de Franca, terra de sua mãe e avô. É certo que um ancestral da viúva, o seu avô, Francisco Antonio Diniz Junqueira, atuava fortemente em Franca e vemos isso através do livro “Do Sertão do Rio Pardo à Vila Franca do Imperador “ do escritor francano, Professor Titular de Metodologia da História e História Moderna e Assistente Doutor de Introdução aos Estudos Históricos do Instituto de História e Serviço Social do Campus de Franca da UNESP: José Chiachiri Filho.

Reproduzimos parte da página 66 do referido livro: (...) - “O Prestígio de Francisco Antonio Diniz Junqueira não era pequeno. Tanto que foi eleito como o primeiro Capitão-Mor da Vila. Jamais exerceu efetivamente o cargo pois dizia que a sua residência era na Província de Minas Gerais e que só vinha a São Paulo tratar de seus negócios. Contudo suas intenções separatistas continuaram vivas e até 1827 pode-se encontrar reclamações da Câmara contra a sua pretensão. Mas se antes não conseguiu a realização de seus intentos, muito menos agora que a Vila estava criada. A jurisdição paulista solidificara no Nordeste paulista. “(...)

Aqui o autor discorre sobre a disputa dessa parte do estado; se ficaria para a Província de São Paulo ou se ficaria para a Província de Minas Gerais. Os limites ainda não estavam determinados. E havia conflito de interesses.

Este Francisco Antonio, que aqui falamos, não é o da Invernada, Morro Agudo - SP, ainda que seu cunhado, homônimo e primo. Era o Capitão-Mor da Franca, quarto filho de Maria Francisca da Encarnação Junqueira, irmã do Barão de Alfenas, com Gabriel de Souza Diniz, conhecidos como casal da Traituba. Em Franca, foi proprietário da Fazenda Santo Inácio, que em Franca tinha o mesmo nome da fazenda de Minas.

E participou ativamente da famosa “Anselmada”, caso que ficou para sempre na história de Franca - SP, pois envolveu a morte do Juiz Rocha Pombo pelo dito Anselmo Ferreira de Barcelos, que depois, absolvido, muda-se e funda a cidade de Igarapava - SP. E deságua no que viria a ser determinado pelas autoridades, isto é, a subdivisão da Comarca de Franca elevando a Freguesia de Batatais à categoria de Vila com data de 12 de março de 1839.

Aliás, o Professor José Chiachiri Filho afirma ainda que aquele Francisco Antonio, o Tenente-Mór, que teria arranchado nas margens do Ribeirão Rosário, Morro Agudo SP, em 1812, construindo o início do que viria a ser a Fazenda Invernada, não aparece nas listas dos capitães das Ordenanças, isto é, o recenseamento da época. Não nessa data. Talvez bem depois. Talvez por volta de 1825. O que me parece bem sólido pois o antigo “Certão do Rio Pardo Caminho dos Guayazes (ou Bello Sertam da Estrada dos Guayzes) “, não passava nem por perto onde é hoje Morro Agudo - SP, e sim por Batatais e Franca, e depois o que é hoje Sacramento; e o caminho era no sentido de ir à Vila Boa em Goiás, atravessando o rio Grande.

Como eles estariam por lá? Como chegaram naquela localidade se não havia picada, estrada ou qualquer outro caminho? Não havia nada, só o “deserto de homens”. De forma que a tradição oral aqui é duvidosa, importante, mas.......vamos contando as histórias ao sabor das nossas conveniências.

Então, quais eram os ancestrais desses animais que perguntava no início e de onde vieram, se não temos documentos comprobatórios? A nossa tradição diz que vieram com o Capitão-Mór, mas como saber? Por dedução? A transmissão desses detalhes orais é muito importante, e nós temos de nos valer deles, mas ...

Veja, Ricardo, que o meu avô e meu tio José, conhecido pelo apelido de ‘Major’, registravam os seus animais na Associação Paulista em 1941, ou 1942, e demais anos; é só verificar nos anais da Associação; como por exemplo tomo o garanhão Camões, registro número 000259/D em nome de Honório Vieira de Andrade Palma (ESP) 00059.

E muitos outros. Foram desses animais que veio a tropa do meu pai. E a do meu tio Paulo.

Como saber qual era a origem tão bem detalhada, explicada e encaixada com as suas pesquisas? Porque deveriam estar inseridos no contexto. Eram Mangalargas, registrados, da época, mas infelizmente meus tios mais apaixonados por cavalos faleceram precocemente. O ‘Major’, quando eu tinha 1 ano e o ‘Tenente’ (Honório, como o pai), criador do Palhaço, eu ainda não havia nascido. E meu avô faleceu quando eu tinha seis anos. Então, não pude beber na fonte. Talvez com meu tio Paulo ou com meu pai, mas isso passou desapercebido. Não se pode mais.

Será que você com o seu faro de pesquisador nato poderia me ajudar nesse intento, a esclarecer essas dúvidas? E dar as respostas que procuro?

E mais, quantas histórias bem contadas ou não tão bem contadas ainda estão por serem descobertas e detalhadas? Em novos livros excelentes, como este que bebo?

Por isso, meu caro Ricardo, é o que afirmo, como no início, que a história do Mangalarga Marchador é, e sempre será, incompleta.

Pergunto agora: não seria o caso de montar mais um capítulo? E qual seria o nome desse Capítulo? Que tal: Animais “Óbvios Ululantes” da Raça Mangalarga sem documentos... (só na tradição oral) ...

Com um forte abraço do amigo, José Luiz.

Escrever sobre a estória da criação “Esperança” é, antes de tudo, um belo exercício de pesquisa e honra. É lembrar das narrativas, à beira dos gramados de parques de exposições, do ilustre Mestre Luiz Garcia Palma; e desfrutar singelamente de seus ensinamentos e objetivos zootécnicos.

Esta obra não tem a pretensão de esgotar o tema proposto, mas deixa sempre aberta uma porta para a adição de novas informações e destaques.

Que todo verdadeiro criador de cavalos da raça Mangalarga Marchador possa deixar lastro editado para as próximas gerações, pois somente este farol na escuridão poderá lhes guiar à frente, tomando como lições e ensinamentos, os acertos e os erros do passado. Criar cavalos marchadores é exercício diário de tentativa & erro, com correções rápidas e profundas, sob pena de perder-se o rumo do criatório.

E aqui recorro novamente ao belo texto do Prof. William E. Jones, em sua obra “Genética e Criação de Cavalos”:

A criação de alguns potros, de tempos em tempos, pode dar muito prazer.

Produzir uma safra anual de cavalos para vender pode dar muito lucro. Mas um “verdadeiro criador de cavalos” orienta sua criação por toda a vida na tentativa de criar ou preservar um cavalo “perfeito”; o prazer e o lucro são meramente recompensas. A satisfação real surge conforme ele observa progressos em seu objetivo.

Não é fácil melhorar uma raça de cavalos. Isto não ocorre em um ano, ou mesmo em 10 anos, e sem inteligência, diligência ou mesmo uma seleção impiedosa durante um período de anos e anos, um criador pode terminar seu trabalho de toda uma vida sem nenhum progresso. Um verdadeiro criador de cavalos leva seu trabalho a sério. Ele inicia sua missão definindo claramente que tipo de cavalo deseja e esta definição, ou descrição, deve ser extremamente detalhada; de outro modo, a tendência é a de mudar seu objetivo com cada dificuldade que surge.

Nenhum progresso pode ser feito quanto a um tipo ideal sem que o criador mantenha seu objetivo predeterminado, sem vacilar durante os diversos anos que são necessários para colher resultados significativos. Desde o início, o criador de cavalos bem-sucedido deve olhar muitos anos à frente e, acuradamente, projetar o que é realmente importante, sem levar em conta os modismos.

Diversos criadores tentaram ser verdadeiros criadores de cavalos, mas perderam a batalha porque vacilaram. Dúvidas e alterações de objetivos surgiram nos que não meditaram profundamente no início do projeto e nos que se deixaram levar por outros. Os objetivos serão alterados e desaparecerão nos criadores que estão preocupados com os ganhadores de exposições anuais, e como esses cavalos se comparam com seu plantel.

Com o passar dos anos os padrões dos julgamentos de exposições evoluem.

Os criadores preocupados com programas de longo prazo não devem ajustar seus objetivos de acordo com as alterações feitas nos padrões de exposições. O seguimento de tal programa leva a um caminho em círculos sem que nunca o criador atinja seu objetivo.

Para se obter sucesso na criação e exposição deve-se ter uma previsão considerável. O processo relativamente simples de cruzar um garanhão famoso com éguas de alto custo, e a venda de potros com altos lucros, não constitui necessariamente um programa de criação. Em nenhum momento ele traz o respeito dos outros criadores. Um programa que se inicie com um plantel escolhido com base em traços específicos, ao invés de preços, e que prossiga com base num sistema predeterminado, ao invés de preceitos de compradores volúveis, provará ser mais profundo.” (...)”

William E. Jones Direcionamento e foco

Aos Palma, toda a família, meu apreço e orgulho por ter me permitido reunir em páginas de pesquisa e lavra, uma história de Esperanças profundamente realizadas! •

Ricardo Luis Casiuch

João Rodrigues Guião, prefeito de Ribeirão Preto/SP, e seu cunhado, coronel Honório Vieira de Andrade Palma

Rua Curitiba, 946 - Centro - Belo Horizonte/MG (31)3222-5375 | (31)99807-8358

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