Parque Gastronômico Firmino Costa |FICO

Page 1

FiC

O



PARQUE GASTRONÔMICO FIRMINO COSTA aluna: Daniela Paula C. Moraes RA: 145796 orientadora:profa. Dra. Maria Gabriela Celani

Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo FEC/UNICAMP Trabalho Final de Graduação Nov/2019



resumo Este trabalho final de graduação tem o objetivo de requalificar um edifício de valor histórico como novo terceiro lugar de uso público na cidade de Campinas. No bairro escolhido estão sendo construídos edifícios habitacionais que criarão um adensamento populacional demandando assim, a criação de terceiros lugares para fortalecer a comunidade local. As atividades envolvidas do ato de comer e a comensalidade são atividades atrativas que permitem a conexão entre pessoas gerando o terceiro lugar. Com a previsão de adensamento e construção dos novos edifícios habitacionais foi projetado um parque gastronômico no lote do antigo curtume Firmino Costa localizado na Vila Industrial.


índice

introdução

12

seção 01: tema terceiro lugar

15

o ritual de comer como elemento social e cultural

18

sustentabilidade do ritual de comer

22

seção 02: local curtume firmo costa

30

impôrtancia do local

33

transformações do lote

34

transformações do entorno

39

diagnóstico do lote

42

seção 03: referência FICO Eataly World

49

Time out Market-Lisboa

52


Mercado Municipal de Ataranzas

54

Villa Augustus

56

Value Farm

57

tabela resumo

58

seção 04: projeto programa de necessidades

62

deficiências

64

potencialidades

65

diretrizes de projeto

66

conceito e partido

67

requalificação urbanística

70

projeto volumétrico-pré existente

71

projeto volumétrico-anexo

81

paisagismo

89

seção 05: desenhos técnicos 99 seção 06: bibliografia

118



agradecimentos Esta fase da minha vida termina depois de 11 longos anos de frustrações, tristezas, alegrias e principalmente muito esforço. São muitas memórias compartilhadas ao lado de pessoas queridas que continuam a me apoiar e acreditar nos meus sonhos. Agradeço a minha mãe a qual na sua ausência percebi em meio de muitas outras coisas, a importância do ritual do comer para a criação da individualidade de uma pessoa e como o momento do compartilhar é essencial em uma família. Até hoje você me inspira a ser guerreira e sincera em minhas ações, sempre me guiando para um caminho iluminado. Sua ausência faz muita falta, mas tivemos a sorte de ter muitas memórias juntas.Muito obrigada! Agradeço ao meu pai, que até hoje demonstra em suas ações o esforço e determinação de alcançar seus objetivos e sonhos. Sempre você será uma inspiração de que sonhos podem ser realizados independentes de suas condições. Obrigada durante meus 4 anos prestando vestibular por me apoiar e compreender meu sonho de entrar em uma faculdade pública. Obrigada por se preocupar quando era necessário ficar acordada durante a noite para finalizar um trabalho da graduação. Obrigada por isso e muitas outras coisas. Agradeço a meu irmão e um dos meus melhores amigos por sempre estar disposto a me ouvir, me ajudar e aconselhar. Sua personalidade paciente e doce é cativante e agradável de se estar por perto. Apesar de estarmos em áreas diferentes, você também foi uma das inspirações no meu tema de TFG em ajudar a ver a importância do ato de comer. Agradeço a meu namorado e companheiro Filipe que durante nossos 9 anos juntos sempre pacientemente me ajudou, guiou e acalmou durante meus estudos para o vestibular e na graduação. Obrigada por me apoiar quando decidi fazer intercâmbio e me esperar durante aquele longo um ano. Obrigada por sempre transmitir segurança, tranquilidade e me incentivar quando eu estava triste e perdida nas minhas escolhas e frustrações da graduação. Obrigada por sempre ser carinhoso, respeitoso e me incentivar a melhorar minhas aptidões. Obrigada por existir e por estar sempre ao meu lado, me tornando uma pessoa melhor. Agradeço também a meus avós e tias que sempre foram um refúgio carinhoso para minha


vida. Nunca esqueço da preocupação, atenção e carinho quando os visito. Agradeço a família Campos por inconscientemente me estimular a resgatar os sabores da comida de minha mãe e ao ato de cozinhar em si que recorda e traz lindas memórias do tempo que ainda ela ainda estava aqui. Agradeço a minha orientadora Gabi, que durante esse meu ano conturbado me orientou e guiou a um projeto que tanto me orgulho e gostaria que realmente existisse.


“Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me ve passar.”

Clarisse Linspector


Introdução As cidades são espaços dinâmicos e complexos. São poucos os lugares de encontros informais e raros os momentos que se tornam uma “pausa entre mundos” (SHAHERY, 2014), ou seja, locais e situações que representam um intervalo para reflexão e relaxamento dentro de rotinas urbanas apressadas e estressantes. Eventos sociais cotidianos, como os rituais de alimentação, são considerados uma pausa. Compartilhar ocomer e as atividades envolvidas neste ato, seja da responsabilidade de plantar/encontrar ou adquirir comida, preparar e cozinhar os alimentos são um modo simples, profundo e descontraído de criar e desenvolver relações (BRASIL,2014). Contudo, apesar da importância deste ritual em uma sociedade caótica, são raros os espaços para tal. Estes lugares são conhecidos como “terceiros lugares” (FARR,2013). Terceiros lugares são locais acessíveis, confortáveis e abertos de 5 a 6 dias por semana. O comércio é gerido por proprietários locais, fazendo assim com que haja uma maior aproximação com a comunidade. Além disso, não são locais apenas para a venda e a troca de mercadorias/serviços ou um pit-stop, e sim um espaço para trocas de histórias, memórias e experiências. Essa aproximação cria uma conexão entre bairro e moradores e, deste modo, gera umacomunidade com laços afetivos estreitos. Feiras livres, mercados públicos e hortas comunitárias são exemplos de espaços de uso público e com tradição familiar que tendem a criar relações afetivas com a vizinhança devido ao seu compartilhamento do comer e suas respectivas atividades. Estes exercem funções primárias de venda/plantio de alimentos e alimentação, mas que também possuem o papel de gerar um espaço para ganho e troca de conhecimentos e experiências, transformando a vizinhança em um local agradável e seguro para se viver. Um local para ver e ser visto (FARR, 2013). Este trabalho consistirá em criar um parque gastronômico como terceiro lugar e assim, um centro de interação social gerado a partir do convívio permitido pelo ato de se alimentar e a comensalidade. O programa do parque gastronômico incluirá a comercialização de alimentos in natura e preparações gastronômicas, bem como fomentar espaços de aprendizado, por meio de cursos e workshops sobre preparações, e a elaboração de uma horta comunitária. 12


O projeto será implantado em uma área de Campinas carente de “terceiros lugares” que seja de fácil acesso. Para tal, será utilizado um lote capaz de comportar o programa, potencializando seu uso e senso de pertencimento às pessoas através do seu significado cultural para o bairro e a cidade. Tal terreno possui uma área livre para construção e três antigos galpões industriais de 1920, com grande valor histórico: o antigo Curtume Firmino Costa. Localizado na região sudeste da Vila Industrial, o lote encontra-se em localização privilegiada da malha urbana, próximo á Rodovia Anhanguera e a Av. John Boyd DunLop. Na região mencionada, local no qual se encontra o lote, há um córrego denominado Piçarrão que se estende por quase toda a cidade de Campinas. Além disso, o bairro possui gabarito baixo e as frentes das casas e comércio ainda possuem bancos nas calçadas para se apreciar o movimento e manter os “olhos na rua” (JACOBS, 2011). O bairro também contém vestígios rurais ao conter casas que comercializam hortaliças, galinhas e ovos caipiras. Nota-se que o entorno próximo do local também passa por uma grande mudança: os antigos terrenos vazios da família Firmino Costa foram vendidos para uma construtora para o estabelecimento de condomínios fechados. São empreendimentos que estão transformando o bairro: são inúmeros loteamentos fechados, que, por sua vez, desfavorecem a preservação de memórias históricas do local. Além disso, por se tratarem de condomínios verticais há um grande potencial para adensamento populacional da área. Assim, a intervenção tornase mais um motivo para restabelecer as relações com o bairro e seu testemunho histórico, através de terceiros lugares. Além disso, com o objetivo de haver um menor impacto em um edifício histórico será explorado novas tecnologias de construção capazes de responder ao programa e ao partido do projeto. O presente trabalho final de graduação esta dividido em quatro principais seções. Na primeira, o percurso textual tem o objetivo de brevemente contextualizar terceiros lugares e sua importância na constituição de uma vizinhança mais segura e saudável. Em seguida, a segunda seção ira introduzir a questão temática do projeto: o ato de comer e as atividades relacionadas a ele. Ainda neste capítulo, será contextualizado historicamente a importância de espaços de uso público que envolvem a comida, e a relação atual destes locais com a sociedade. Na terceira seção será mostrado as referências.Na quarta seção apresentamse os motivos para a escolha do local do projeto e as respectivas análises do bairro e do lote. Na quarta seção, a questão do edifício e seu valor histórico para a cidade será estudado, fundamentando a hipótese de utilização da pré-existencia e a importância da valorização de métodos construtivos não invasivos ao edifício, e o projeto do parque gastronômico. introdução | 13


tema |0 1


Terceiro lugar Em nosso cotidiano estabelecemos três lugares do tipo “permanecer”, ou seja, locais em que as pessoas permanecem por grandes intervalos de tempo. O primeiro lugar e o mais importante é nossa casa. É um local que nos sentimos confortáveis e onde nossa individualidade surge com mais impacto. O segundo lugar, o qual provém à renda para nossas vidas, é o trabalho. É lá que muitas pessoas deixam sua individualidade de lado para desempenhar um papel produtivo e profissional. E por último, o terceiro lugar o qual é um local que não é nossa casa, mas faz com que nos sentimos nela devido a ser um ambiente caseiro e confortável. Ele é um espaço de encontro informal o qual as pessoas trocam conversas e expandem suas relações interpessoais (OLDENBURG,1999). Ao contrário do primeiro lugar que estabelecemos como um local de regeneração e restauração pessoal, o terceiro lugar é um local público onde ocorre a regeneração social (OLDENBURG, 1999), ou seja, ele esta aberto para receber as pessoas antes, durante e depois de suas obrigações diárias para haver uma conversa animada e distante dos problemas do trabalho, como uma “pausa entre mundo” (SHAHERY, 2014). Muitas vezes os terceiros lugares são espaços onde há comércio e serviço, e por serem geridos por proprietários familiares, acabam potencializando conversas informais. Tal fato acontece, pois, interessados na sua comunidade e que conhecem, segundo Jane Jacobs (2011), “todo mundo”, criam laços afetivos ao conviverem diariamente com seus usuários e por compartilharem as mesmas memórias e problemas. Ou seja, são pessoas da própria comunidade que ao estimularem a miríade de trocas sociais criam um forte senso de pertencimento; um senso de propriedade comunal que encoraja as pessoas a cuidar da rua e, por extensão, uma das outras. Além disso, hoje em um mundo que está conectado pelas mídias sociais, o terceiro lugar se torna um espaço ainda mais importante. Podemos observar que as miríades de trocas sociais de Jane Jacobs (2011) estão desaparecendo cada vez mais por conta das pessoas estarem conectadas virtualmente por aplicativos, através de seus smartphones, do que por relações “cara a cara”. Ou seja, é importante existir um ambiente seguro e confortável para que as pessoas se conheçam e se encontrem para ter uma conversa real e informal, e tema | 15


imagem 1-Centro Cultural de SĂŁo Paulo {1}


deste modo potencializem seus relacionamentos virtuais, resultando em novos conhecidos, amigos e até romances. Mas acima de tudo, é um local para dar fim a solidão causada por esse distanciamento virtual. Como descrito por Oldenburg, a interação social dos terceiros lugares é dada como “conheça,confie e forme associações”. O terceiro lugar deve ser um espaço heterogêneo que consiga atrair visitantes regulares e de passagem. Pois como qualquer espaço, são as pessoas que o transformam e caracterizam e assim, visitantes regulares mantêm o local descontraído e aconchegante, e novos visitantes ao serem atraídos por estas características criam um espaço mutante que despertam novas conversas e memórias. Ambos os públicos criam e mantêm a vitalidade do terceiro lugar (OLDEMBURG, 1999). Lugares de vitalidade, de acordo com Filgueiras (2006, f.61), promovem “a espontaneidade, a imprevisibilidade e a diversidade do encontro, como também a pluralidade e heterogeneidade de atividades e freqüentadores” que deles se utilizam. Para sua implantação, ele deve estar próximo as residências e empresas, e disposto de diferentes tipos de serviços e comércio. Tais fatores respectivamente possibilitam que os usuários possam acessar o terceiro lugar a pé, sem necessidade do uso do carro, e que estejam abertos em diferentes horários do dia para que haja movimento constante com certa permanência, até mesmo no período noturno, e que atraia diferentes tipos de pessoas. Praças, cafés e mercadões são exemplos de terceiro lugar, sendo o Centro Cultural de São Paulo (imagem 1) localizado na cidade de São Paulo, em exemplo concreto. O local encontrase em um bairro misto e próximo à estação de metrô Vergueiro, o que permite deslocamento para o local apenas a pé que facilita o acesso. Além disso, devido ao conceito e programa do edifício, este atrai diferentes pessoas, em diferentes horários: ao longo de todo o dia, os estudantes ocupam as mesas para estudar ou ler livros da biblioteca, ou mesmo turistas que vão para conhecer a arquitetura e dinâmica do edifício. No período noturno o local se transforma em um ponto de encontro que oferece atrações diárias, como apresentações musicais, de teatro e dança. Terceiros lugares apresentam-se como elementos fundamentais para criar uma vizinhança saudável que deseja moradores unidos. Funcionam como espaços de encontro que reúnem e favorecem um fortalecimento da comunidade local. Adicionalmente, permitem a visita de novos indivíduos que identificam o local como um espaço receptivo disposto. Acima de tudo, os terceiros lugares podem ser considerados potenciais ferramentas de alívio de estresse, solidão e alienação da comunidade. tema | 17


Ritual do comer como elmento cultural e social O ato de comer inclui seleção, escolha, rituais, idéias e significados. (FRANZONI, 2016). Os alimentos são selecionados, preparados e processados de acordo com a cultura que os contém e representa. Mais do que como fonte de nutrientes, o alimento é um veículo para expressão das relações e valores sociais e culturais (ROZIN & TODD, 2015). A este respeito, considerando a história do Brasil, considera-se o acarajé. Tradicional iguaria da Bahia que para religião do candomblé simboliza uma oferenda a Iansã, deusa dos ventos e tempestade e mulher de Xandô, deus da justiça. Devido a sua importância religiosa, seu preparo se dá pelas mãos de baianas, estas últimas cobertas da cabeça aos pés com trajes típicos (figura 2). O preparo do acarajé é tão significativo e ritualístico, que o ofício de produção de acarajé pelas baianas foi considerado patrimônio cultural imaterial do Brasil [1].

fig. 2-baiana fazendo acarajé {2}

18


Além disso, ressalta-se que o alimento só ganha significado a partir do momento que ele é compartilhado (BRASIL, 2014). A este componente agregador, da-se o nome comensalidade, ou seja, a capacidade de estabelecer relações de sociabilidade importantes a partir do ato de comer uma vez que isto implica a reunião de pessoas em torno da mesa (LIMA, NETO,FARIAS,2015) . Nesse sentido, no momento em que se senta para compartilhar uma refeição, as pessoas são estimuladas a compartilhar as experiências, as vidas, o passado e o presente. Como seres sociáveis, a refeição se torna um dos contextos essenciais para o homem construir e expressar a sua individualidade. Um exemplo são os banquetes repletos de comidas típicas do país em questão representando assim, a cultura local do anfitrião que decifra uma parte de sua individualidade. A importância do compartilhar também é presente no preparo dos alimentos. As habilidades culinárias são aperfeiçoadas e transmitidas paras as próximas gerações a partir do sabor, aroma, textura e aparência dos alimentos. É inevitável a memória que temos de nossas avós preparando deliciosos pratos e posteriormente tentamos reproduzi-los a partir das lembranças culinárias. Levando-se em conta seu processo histórico-cultural, a cozinha de um grupo se torna um elemento de constituição característico e emblemático de uma sociedade (MACIEL, 2005). Contudo, hoje cozinhar se tornou um fenômeno ainda mais raro. Jovens gradativamente possuem menos confiança em preparar refeições e optam por escolher alimentos ultra processados* como comidas fast food pela sua praticidade e pela oferta massiva e da publicidade agressiva. As propagandas disseminam a imagem que preparar alimentos em casa seria uma perda de tempo que poderia ser usado em outras atividades mais “produtivas” (BRASIL, 2014). A conseqüência para essa escolha é um estilo de vida menos saudável que se afasta da sua identidade cultural e social. Além disso, devido a sua rapidez, as conversas e trocas de experiências são superficiais e/ou inexistentes (BRASIL, 2014). Outra atividade que se afastou de nossa rotina é o cultivo de alimentos. Muitos desconhecem ou negligenciam o modo e forma como os alimentos in natura são cultivados, partindo do pressuposto que essa atividade só é realizada nas áreas rurais por pessoa com baixa escolaridade. (BRASIL, 2018) *Alimentos ultra processados são produtos cuja fabricação envolve diversas etapas, técnicas de processamento e ingredientes, muitos deles de uso exclusivamente industrial como refrigerantes e biscoitos recheados [2]. tema | 19


Devido a isso, é essencial que existam lugares que permitam o resgate de rituais do comer. Mercados municipais (figura 3) são exemplos de terceiros lugares que reúnem produtos in natura característicos da região, mas que não limitam seu uso para compras e circulação de mercadorias devido às conversas informais que aproximam a vizinhança. Espaços públicos acessíveis como os mercados públicos permitem o encontro entre o rural e o urbano. Motiva ainda o estabelecimento de relações interpessoais reais, nas quais há um convívio real entre indivíduos de realidades diversas o que enriquece o ritual do comer. Além disso, o mercado historicamente ainda permanece na realidade contemporânea não apenas pela função de abastecimento dos núcleos urbanos, mas pela circulação de tradições, conhecimento, idéias e notícias caracterizadas pelo grande número de freqüentadores. O que é o oposto do supermercado o qual tem a função de proporcionar espaços de parada rápida onde a comida é distribuída de forma monopolizada e eficiente, contudo impessoal. Seu objetivo é exclusivamente para ganhar dinheiro e não criar laços afetivos e desta forma, ele gera um estilo de vida individualizada (GONÇALVES, 2017). Em mercados municipais, as mercadorias comercializadas possuem uma história fig. 3-mercado municipal de São Paulo {3} 20


vinculada a quem faz a venda, estabelecendo uma conexão entre o comerciante e o produto em questão (GONÇALVES, 2017), potencializando assim um estilo de vida mais social. A diversidade e riqueza tanto de conversas como de comerciantes e freqüentadores continuam a manter a vitalidade do bairro e principalmente na construção da identidade cultural (GONÇALVES, 2017). Os bazares presentes na cidade de Marrocos são um exemplo de como os mercados são importantes fundadores históricos da identidade cultural. Apesar das constantes conflitos religiosos e políticos, os bazares são formados por grupos de comerciantes judeus, chefes berbere, árabes e etc. Sua harmonia se deu devido a comercialização de produtos que possuem especialidades características de cada grupo, evitando assim um possível atrito; e ao olhar honorável sobre a profissão mercantil, na cultura árabe. O bazar permitiu que houvesse um espaço neutro em que as diferenças sociais e culturais fossem respeitadas e compartilhadas. Além disso, outro exemplo de terceiro lugar capaz de promover um estilo de vida mais saudável e coletivo são as hortas. Ao cultivar alimentos na cidade, criamos comunidades solidárias de vizinhos ao redor de nossas hortas, recuperando laços sociais e o habito da boa convivência no espaço público, baseados na partilha da colheita, no uso coletivo de recursos e na diversidade [3]. Tanto como a prática culinária, as hortas urbanas são espaços que propiciam o desenvolvimento de novos conhecimentos e amizades, trocas de idéias e experiências. As comunidades geradas pelas hortas urbanas são capazes de minimizar o impacto causado pelo distanciamento social das cidades.

* Bazar é uma palavra de origem persa, que no Brasil embute um sentido mais específico ao termo mercado tema | 21


Sustentabilidade no ritual de comer É importante compreendermos o sistema agrícola de nosso país, e como ele impacta ambientalmente o cultivo de alimentos em qualquer escala. No caso do Brasil utiliza-se principalmente o sistema monocultor que fornece matérias-primas para a produção de alimentos ultra processsados ou para rações usadas na criação intensiva de animais. Tais sistemas estão nas mãos de coorporativas que desmatam regiões arbóreas para obter grandes extensões de terra para o plantio, sobrecarregam e contaminam o solo respectivamente, pelo uso intenso de mecanização e pelo emprego de fertilizantes químicos, agrotóxicos e antibióticos, e emitem grandes quantidades de gás carbônico ao consumir combustíveis para o transporte de mercadorias. O plano nacional de segurança alimentar do Brasil entre 2012 a 2015 enfatizou a necessidade de reestruturar um sistema alimentar que se distanciasse daqueles sistemas corporativos como os mencionando anteriormente (TAVARES, 2018). A partir de um sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentável é possível criar uma alimentação adequada e saudável em que as pessoas possam também estimular o exercício de convivência e partilha (BRASIL, 2014). Contudo, nos grandes centros urbanos há um distanciamento de locais e práticas agrícolas que estimulem esse sistema de interação social tendo como veículo o alimento in natura que poderiam se tornar terceiros lugares. Hortas comunitárias são terceiros lugares que estimulam tal sistema, pois fazem parte da prática da agricultura urbana e periurbana (AUP) que consiste no cultivo de produtos hortícolas, de árvores frutíferas, plantas medicinais, aromáticas e ornamentais de modo a envolver a comunidade local para gerir tal sistema. Além disso, as práticas de socialização e integração são potencializadas pela venda, troca e doações entre as pessoas do bairro pelos produtos colhidos. Além disso, ela se torna uma estratégia nos grandes centros urbanos para transformar terrenos ociosos em locais que cumpram a função de agentes ativo na promoção da segurança alimentar* e resiliência nas cidades (FERNANDES, 2014), assim ampliando e melhorando a oferta de alimentos com qualidade. Tal oferta quando adotada por iniciativas pessoais ou por grupo de pessoas é capaz de além de complementar a renda 22


das famílias envolvidas- caso o objetivo seja a comercialização dos alimentos- reduz os gastos com os alimentos comprados no mercado e melhora a qualidade dos ingeridos pelos envolvidos. Desta forma, a AUP cria um novo tipo de sistema de fornecimento de alimentos in natura sustentável geridos por uma economia local, capaz de transformar o bairro e ampliar a autonomia da escolha dos alimentos, tornando assim, as pessoas, agentes produtores de sua própria saúde ao gerir sobre os fatores do ambiente que a determina (BRASIL, 2014). Deste modo, desmitificando que a cidade é um local onde apenas se consome, e nada se produzem de alimento e apenas agricultores são capazes de produzir um sistema agrícola (BRASIL, 2018). Esta conscientização e adoção da AUP ressensibiliza o cidadão na questão ambiental como, por exemplo, no * A segurança alimentar consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis (BRASIL, 2006) .

fig. 4-horta comunitária do Centro Cultural de São Paulo {4} tema | 23


conhecimento da procedência dos alimentos ou o modo como foram plantados, no incentivo de reaproveitar resíduos orgânicos que seriam descartados e na importância de se ter solos permeáveis para a redução dos alagamentos. A AUP retoma a aproximação entre a população urbana com a natureza, incluindo práticas e conhecimentos do saber popular e da cultura rural. Ela se transforma em um instrumento ideal para a promoção de inclusão social e educação ambiental na medida em que as iniciativas das pessoas e os saberes locais passam a ser valorizados e considerados elementos formadores de identidade cultural (COUTINHO, 2010). Hortas comunitárias como a do Centro Cultural de São Paulo (fig 4) é um dos exemplos. Além disso, elas são gerenciadas por um espaço público e manuseada por mutirões pela população voluntária. Existem práticas de cultivo sustentáveis como a agroecologia que permitem cultivar alimentos em consonância com a preservação ambiental e a promoção da responsabilidade social (GIACCHE, G.; PORTO, L,2015). As técnicas de manuseio utilizam a consorciação das culturas e a rotação ao longo do ano, evitando assim o sobrecarregamento do solo e permitindo uma maior resistência das plantas as pragas ao evitar o uso de agrotóxicos. Um fator importante, pois o Brasil é um dos países que mais utiliza agrotóxico no mundo, cerca de 20% do consumo mundial de agrotóxicos, o que contabiliza em média 5,2 kg de veneno por habitante ao ano (LONDRES, 2011).

24


local |0 2



Av. Dr. Carlos de Campos, 1167 - Vila Industrial, Campinas - SP


shopping unimart

antiga linha férrea sorocaba

córrego piçarrão


ana curtume cantúsio

estação cultura

curtume firmino costa


Curtume Firmino Costa A instalação industrial em Campinas no século XIX foi implantada de acordo com questões de matéria prima, localização de mão de obra e mercado consumidor (ANDREOTTI, 2015). Contudo, a presença da linha férrea e dos pátios ferroviários potencializou a demarcação industrial. Bairros, como a Vila Industrial tornaram-se segregados dos centros urbanos gerando características opostos entre as regiões acima e abaixo da linha férrea. A Vila Industrial, localizada abaixo da linha férrea se tornou um bairro com conotação negativa e considerado a primeira periferia da cidade devido a presença das classes operárias, cemitérios, matadouros e curtumes (figura 5) que se instalaram nesta região devido ao baixo custo dos terrenos pantanosos e da questão sanitária que afastava os bairros burgueses da poluição das indústrias através da propaganda “em nome da higiene, do decoro e da segurança pública” (ANDREOTTI, 2015). O curtume Firmino Costa é um exemplo destas indústrias. Fundado em 1915, com o nome “Curtume Brasil”, ele estava próximo a mão de obra e posicionado ao lado o córrego do Piçarrão, facilitando o abastecimento e escoamento para despejos industriais. Além disso, sua proximidade com Matadouro Municipal permitiu o fornecimento de parte da matériaprima, os couros “verdes”, para transformação em solados, fornecida a indústria calçadista (ANDREOTTI, 2015). A linha férrea também facilitou o escoamento de mercadorias e o fornecimento de matéria prima vinda do interior de São Paulo. A indústria de Campinas começa a prosperar com um marco na década de 40 quando o curtume Firmino Costa é considerado o maior distribuidor de artigos de couro e congêneres do país. Contudo, devido ao próspero crescimento industrial que causou a expansão da mancha urbana, a ampliação da área central alcançou as estruturas e equipamentos que se estabeleceram em sua borda (ANDREOTTI, 2015), como o curtume. Em 1996, os moradores do bairro se mobilizaram em um movimento chamado “Movimento Vila Verde” (ALVITE, 2017), e pressionaram a prefeitura para que estas indústrias fossem realocadas, devido ao mau cheiro e as moscas. Em meados de 1991 o curtume Cantúsio decreta falência, seguido no ano de 1996 o curtume Firmino Costa fecha. Seu uso naquele local não era mais viável de acordo com o plano 30


diretor. Infelizmente não foi possível encontrar plantas e histórias documentadas do curtume Firmino Costa.

matadouro l. morphéticos cia curtidora l. variolosos

fig. 5-planta Campinas de 1900 {5}

local| 31


1- Estrada férrea Sorocabana 2- Curtume Firmino Costa 3- Curtume Cantúsio

fig 6-vista área dos curtumes s.d.{5}

fig 7-fachada curtume firmino costa 1922{6} fig 9-seção de tambores para curtir{6}

fig 8-seção de banhos de cal{6}

32

fig 10-seção de descamar e purgar {6}


A importância do curtume O antigo curtume Firmino Costa esta localizado em um local privilegiado da malha urbana. Contudo, devido ao seu abandono ele é visto pela população como um empecilho que esta prestes a virar uma ruína ou ser demolido. Uma grande perda para a memória de Campinas, pois ele é testemunho histórico de atividades que tiveram e ainda tem profundas conseqüências históricas de uma época em que cidade prosperava economicamente. No caso do curtume Firmino Costa, devido a suas inúmeras modificações e por parte da pressão de especulação imobiliária não há interesse em preservá-lo. Contudo, de acordo com a carta de Nizhny Tagil [5], o patrimônio industrial compreende os vestígios da cultural industrial que possuam, de alguma maneira, valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou cientifico e desta forma devem ser protegidos e preservados.Além disso, esse edifício foi dos formadores da identidade local, o que expande ainda mais seu significado cultural. No Brasil muitos dos edifícios que são tombados acabam transformando-se em elefantes brancos pela falta de uso útil para a população. Um exemplo é o Curtume Cantúsio, que foi tombando em 2012 e atualmente permanece abandonado. Segundo a carta de Veneza, a proteção do edifício obtiverá sucesso caso o novo programa do edifício seja adequado e proporcional ao local e que responda a necessidade da população. Além disso, é importante criar condições de uso para que a “memória física” expressa nesses bens seja reconhecida e legitimada pelos usufruidores contemporâneos, sem conotações saudositas, garantindo assim de fato a transmissão de legados históricos à posteridade (TIRELLO, 2013). Deve-se buscar a máxima utilização das estruturas existentes e sua readequação as necessidades atuais da cidade (TIRELLO, 2013). Para isso, é ideal utilizar estruturas modulares as quais possuem um menor impacto no edifício e são de rápida construção.

local| 33


Transformações do lote O antigo Curtume Firmino Costa sofreu grandes alterações ao longo dos anos, principalmente devido as inundações que ocorriam no córrego do Piçarrão. Em 1992 uma enchente desestruturou a estrutura de dois galpões de sua fachada e os três balcões originais tiveram que ser demolidas (figura 11). Isso originou em um grande pátio interno que originalmente não existia e que deixou as fachadas dos outros galpões à mostra (figura 14) (ANDREOTTI, 2015). Na década de 40 foi construída uma ponte para conectar os edifícios. Contudo ele foi demolido nos anos 90. Após sua desativação, nos anos 2000 o terreno do curtume foi desmembrado em 3 grandes lotes. Atualmente um deles, o qual contem 3 galpões que possui valor histórico por conter algumas características originais do edifício de 1915; um grande galpão onde funcionava a fabrica de máquinas industriais Westfalia Separator e 2 edifícios esqueletos estão abandonados. O outro lote, localizado do lado oposta da rua esta locado para uma empresa de “Call Center” chamada WSC, e o grande vazio urbano foi adquirido pela construtora MRV e está em fase de construção de condôminos residenciais verticais [4].

fig 11-balcão demolido {7}

34

fig 12-balcão demolido {7}


fig 13- obra de demolição {7}

fig 14- galpões laterais e pátio{7}

fig 15- novo pátio com vista para a linha férrea{7}

fig 16- demolição da fachada {7}

local| 35


atualmente

fig 17-fachada da Av. Dr. Carlos de Campos fonte: reprodução da autora a partir de imagens retiradas do acervo pessoal

fig 18-fachada da R. Carlos Augusto Barbosa de Oliveira fonte: reprodução da autora a partir de imagens retiradas do google maps [5]

fig 19-fachada do balão do Curtume fonte: reprodução da autora a partir de imagens retiradas do zoneamento de Campinas [6]

fig 20-Vegetação ocupando lote {8} 36

fig 21-Curtume cantúsio no canto esquerdo edifício do call center em branco {8}


po s Ca m e lo sd r. C ar .D Av

20 21

30

27

29 23

26 22

24 28 25

0

25

50

100

local| 37


fig 22-Pátio {7}

fig 23- Edifício existente{7}

fig 28- Edifício Call Center {8}

fig 24- Interior do edifício existente{7}

fig 25- Fachada posterior edifício existente {7}

fig 29- Balão do curtume com galpão ao fundo {8}

fig 26- “Esqueletos” estruturais {7}

fig 27- Vista da linha férrea para o lote {8}

38

fig 30- Vista da linha férrea para o córrego {8}


Transformações do entorno Antes de serem comprados por uma empreendedora, os antigos terrenos baldios da família Firmino Costa permaneceram abandonados. Consistia no total em terrenos de 174 mil metros quadrados, pertencentes a diferentes bairros. Os terrenos seriam utilizados caso houvesse expansão do curtume da família. Contudo, não ocorreu (ANDREOTTI, 2008). Em tais terrenos foram vendidos à construtora HM Engenharia e Construção, incorporada pelo grupo Camargo Corrêa. Contudo, apenas em 2018 as obras começaram a ser realizadas. Este novo empreendimento chamado de Villa Garden esta sendo construído pela MRV CONSTRUTORA, e compõe de vários conjuntos de condomínios fechados verticais de 13 a 20 andares. São esperados um aumento de aproximadamente 14700 pessoas, apenas para esse empreendimento. São apartamento que aceitam financiamento da caixa, e estão no programa minha casa minha vida [4] . Além disso, a construtora se responsabilizou em reflorestar e configurar um novo parque linear localizado nas margens do empreendimento e que contem o corrego. Concomitantemente, o córrego foi reestruturado com intuito de extinguir as enchentes. curtume

fig 31-Render da vista área do empreendimento [4]

local| 39


Villa Garden Parque Curtume Firmino Costa 40


atualmente UTB55*

38122 pessoas

15000 pessoas

+

previsĂŁo 53122 pessoas

fig 32-UTB55: Vila Industrial,Parque Industrial, Vila SĂŁo Bernardo, Vila Prost. Souza e Jardim Miranda {8}

local| 41


Diagnóstico do lote A partir do mapa 1 é possível notar que o entorno do lote é composto predominante de residências com alguns comércios e serviços em sua maioria automobilísticos como a venda de rolamento de carros e serviços de reparo mecânico.

42

residencial serviços institucional industrial parque edifício tombado lote

500m

250m

500m

250m

O mapa 2 mostra que o gabarito do entorno é predominanetemente baixo, contudo nota-se o surgimento de edifícios elevados próximo ao lote. Mapa 1- Uso do solo Mapa 2- Gabarito

1-2 pavimentos 3-5 pavimentos 6-+ pavimentos

0

125

250

500


O terreno margeia o córrego do Piçarrão, pertecente a bacia do Capivari. Conhecido pelas constantes enchentes a construtora MRV readecou uma parte do córrego com o intuito de cessar tais ocorrências.

Mapa 3- Uso do solo

Mapa 4- Suscetibilidade à enchentes

250m

500m

Através do mapa 3 é possível notar que ainda há grandes vazios no entorno que se caracterizam por estacionamentos , praças e parques.

0

cheio vazio

0

125

250

500

Mapa 5- Topografia Atualmente o terreno possui um desnível de 6 metros, dividido em platôs de 2-2-1-1 metro.

125

250

500

Enchentes de média suscetibildiade Enchentes baixa suscetibilidade

+2

0+

+4 +6 +5

0 25 50 100

local| 43


Radiação Solar A partir das análises realizadas com o plug-in “Honeybee” e “Radiance” foi possível demonstrar que durante o verão e a primavera o edificío recebe altas radiações solares, e durane o outono e inverno baixas radiações.

Verão

Primavera

Outuno

Inverno

Dados do IBGE

Faixa Etária

Faixa etária da UTB 55 O gráfico mostra que a faixa etária das pessoas é predominante entre 20 a 60 anos.

19% 19% 27%

44

35%

0-19 anos 20-39 anos

0-19 anos 40-60 anos 20-39 anos 40-60 anos 60-100 + 60-100+ anos


Número pessoas por casa

Número pessoas por domicílio

18% 19% 29%

A UTB 1 55 em sua maioria é composta predominantemente por duas pessoas a 3 pessoas por domicílios 2 13pessoa 2 pessoas 4 3 pessoas 4 pessoas

34%

Zoneamento da Zona de centralidade 4 ZONA DE CENTRALIDADE- ZC4 USOS CSEI

HCSEI

HMV

OCUPAÇÕES Comércio Varejista de baixa à alta incomodidade Comércio Atacadista de baixa à alta incomodidade Serviço de baixa à alta incomodidade Atividade Rural dentro do perímetro urbano Preservação e Controle Urbanístico de valor histórico, arquitetônico,artístico,pai-sagístico e ambiental Entidade de baixa e média incomodidade Indústria de baixa incomodidade

Plano diretor de Campinas

Segundo o plano diretor a Vila Industrial é demarcada como o novo local para turismo gastronômico. Além disso, a antiga linha férrea Sorocabana irá se tornar uma grande avenida para automóveis. referência | 45


46


referĂŞncia |03



Fico Eataly World cidade: Bolonha-Itália arquiteto: Thomas Bortoli ano: 2018 área: 100.000 m² O edifício FICO é conhecido como o maior parque temático de comida e agricultura do mundo. O local escolhido pertencia ao edifício do Centro Agro Alimentar em Bolonha, o qual é uma plataforma logística-comercial e um centro de serviços avançados dedicados ao setor agro-alimentar. O conceito foi criar um programa no edifício que abordasse e mostrasse claramente ao público as diferentes etapas de um produto, desde o seu plantio até o seu consumo. Proporcionando assim, uma experiência sensorial e educacional sobre a comida e a biodiversidade. A abordagem do arquiteto é representada por seis setores os quais representam a relação do homem com um diferente elemento. Eles são: o fogo, os animais, o mar, a produção de vinho, azeite e cerveja; e a agricultura. O elemento “agricultura” é caracterizado pela presença de uma plantação coberta que foi projetada por Carlos Ritti, diretor do Laboratório do MIT “Senseable City”. O objetivo era criar uma área futurística do edifício, onde visitantes poderiam selecionar e plantar suas próprias sementes, monitorando seu crescimento a partir de casa por meio de um aplicativo. Com o objetivo de não alterar a natureza do edifício pré existente, o arquiteto buscou recuperar e preservar a estrutura existente. Desta forma, o telhado foi preservado e o layout interno respeitado de acordo com esta estrutura. referência | 49


fig.39-arena do FICO eataly world {9} 50


O programa do edifício possui dois hectares de campos e estábulos; 40 restaurantes; 40 fábricas artesanais, seis salas de aula, um auditório que acomoda de 50 a 100 pessoas e um extenso número de lojas e mercado. Além disso, são oferecidos diariamente cursos de culinária e agricultura.

fig.40-implantação persoectivada {10}

referência | 51


Time Out Market-Lisboa cidade: Lisboa-Portugal arquiteto: Aires Mateus ano: 2014 área: 7.500 m² Situado no edifício do Mercado da Ribeira, o Time Out Market Lisboa é um espaço que contém um dos mercados públicos da cidade e um dos melhores restaurantes por um preço acessível. A fachada e a cúpula do edifício foram mantidas e restauradas, e para preservar a estrutura existente foram utilizados módulos para os quiosques de modo que eles se adaptassem para cada tipo de necessidade. A estrutura é metálica com painéis de madeira. A tipologia do mercado continua a mesma, onde os comerciantes expõem seus produtos em prateleiras em um grande espaço aberto. O mercado possui uma ligação interna e direta para a “praça alimentação”. O programa do térreo do edifício é composto por 24 restaurantes, oito bares, espaços comerciais, uma sala de aula aberta e um espaço para shows. Além disso, possui uma grande área central composta por mesas e cadeiras que abrigam 800 pessoas. No primeiro piso, há um grande restaurante, uma área para convenções e um espaço de coworking. O princípio do Time Out é: trazer o melhor da cidade sob o mesmo teto.

52


fig.41-Interior Time out Market{11} referĂŞncia | 53


Mercado municipal de Ataranzas cidade: Málaga-Espanha arquiteto: Aranguren & Gallegos Architects ano: 2010 área: 2.787 m² O objetivo do concurso organizado pelo Ministério de Obras Públicas era restaurar e recuperar o antigo Mercado Central Ataranzas, bem como a substituição dos quiosques existentes, por não atender as condições higiênicas necessárias. A reabilitação do mercado respeitou o projeto arquitetônico e à concepção espacial original do edifício existente, projetado pelo arquiteto Rucoba. Foram demolidas todas as adições posteriores ao do projeto, como o mezanino, os telhados de fibrocimento e o forro de gesso. As demolições permitiram recuperar o grande espaço central e a permeabildiade visual do eixo principal do Porto de Ataranzas e a grande janela. De modo a respeitar a estrutura existente os quiosques projetados são módulos préfabricados com estrutura metálica, painéis de aço inoxidável e um sistema central fechado que permite a instalação do sistema de água, energia e ar condicionado que não prejudique a permeabilidade visual. As tipologias dos módulos possuem se adequam de acordo com os serviços do mercado, como frutaria e peixaria. Com o intuito de criar uma linguagem contemporânea e distinta do edifício, mas que dialoga com a estrutura do mercado, os módulos foram criados com cores da seqüência do prisma, criando um ritmo nas fachadas.

54


fig.42-Interior Mercado de Ataranzas{12}


Villa Augustus cidade: Dordrecht- Holanda área: 12.959 m² O hotel Villa Augustus fica localizado na antiga torre de água construída em 1882. Seu interior foi readaptado de modo a permitir a construção de quartos. Além disso, o jardim do hotel é composto por uma grande horta e pomar a céu aberto e duas estufas datadas de 1910. As frutas, as verduras, os legumes e as flores são colhidos e uma parte é utilizada pelo restaurante do próprio hotel e a outra parte vendida no mercado do edifício. No jardim também são oferecidos orquestras e festivais que atraem a população local. fig.43-Vista para o hotel,mercado e horta{13}


Value farm cidade: Guangdong-China arquiteto: Thomas Chung ano: 2013 área: 8.120 m² fig.45-Horta do Vaule Farm {14}

O projeto explora a possibilidade de agricultura urbana e como ela pode se integrar a comunidade local. O terreno esta localizado em uma área que passa por uma transformação radical: antigas casas e edifícios estão sendo demolidos para surgir novos e modernos empreendimentos. As demarcações de tijolos dos antigos edifícios foram mantidas, criando desta forma um caminho ao longo do terreno que permitiu limitar a passagem dos usuários para horta. A topografia foi respeitada, permitindo que os diferentes níveis contribuíssem para a demarcação da área de plantio e eixo caminhável. Além disso, as alturas permitiram a criação de diversos solos que se adéqüem a diferentes tipos de crescimentos das espécies plantadas.

O terreno possui uma lagoa de irrigação que coleta a fonte de água subterrânea natural do local e é distribuida por um sistema de sprinklers integrado. Também há um viveiro, sala de projeção e exposição. Para reviver a comunidade local, a terra foi reestruturada como um parque verde em que a comunidade local possa conviver. Também tornou-se espaços de eventos com o objetivo de conectar os agricultures e a vizinhança, através de festivais de agricultura, comida e mercado que envolvem os membros da comunidade e incentivam os visitantes a participar.

referência | 57


fico eataly world

tabela resumo

time out market mercado de ataranzas villa augustus value farm

. . . . .

projeto pré-existente histórico horta mercado aulas culinárias módulo

58

. . .

.

. .

. . . .

. .

.

{9}


projeto |04




Zona Pública Zona Apoio

programa de necessidades

Espaços

Área Unitária (m²)

Unidade

Total (m²)

Praça

100

2

200

Horta

1

Sala de hidroponia

41.60

1

41.60

Sala de pesquisa

11.15

1

11.15

Estacionamento

12.5

74 vagas

925

Banheiro

4.90

1

4.90

DML

20

3

60

GerÊncia

10

1

10

Sala de publicidade

10

1

10

Contadoria

10

1

10

Doca

185

1

185

Recepção

10

1

10

Copa

5.70

1

5.70

Depósito de paletes

20

1

20

Depósito de máquinas

20

1

20

Enfermaria

10

1

10

Sala de reunião

10

1

10

62


úmida semi úmida

Restaurante

seca

Área Unitária (m²)

Unidade

Total (m²)

Boxe açougue

15

8

120

Boxe peixe

15

8

120

Boxe flores

15

4

60

Boxe verduras

15

10

150

Boxe frutas

15

10

150

Boxe frios

15

6

90

Boxe tempero

15

4

60

Boxe grãos

15

4

60

Boxe loja

15

6

90

Boxe lanchonete

15

12

180

Boxe restaurante

50

2

100

Cozinha+Despensa+Sala Refrigerada+Vestiário+Lavar louça

-

Bar

-

250

-

185

Cozinha Bar

gastrônomica

Zona Comercial

Espaços

Despensa Vestiário Sala refrigerada

projeto | 63


Deficiências Ausência de calçada:desestimulação do andar

Muros altos:sensação de aprisionamento

Prédios abandonados:desvalorização da história

Incidênciade enchentes:danificação do edifcício 64

Lixo acumulado:falta de concientização dos moradores

Estrutura fragilizada:risco de desabamento


Potencialidades

Desnível elevado:visibilidade interessante

Conexão com parques:atração de público

Conexão com antiga linha férrea: potencial de acesso

Edifício com valor histórico: potencial estético industrial

projeto | 65


Diretrizes de projeto

Edifício e Estrutura de “Sacrifício”*

Destaque ao edifício com valor histórico

Permeabilidade

Praças nas laterais 0 25 50 100

*Princípio definido por algumas vertentes contemporâneas de patrimônio com o objetivo de referenciar edifícios e estruturas que comprometem a interpretação histórica de edifcícios com valor histórico e assim, podem ser demolidos para dar clareza ao usuário de seu tempo construído. 66


Conceito

Partido

O projeto apresenta uma pré existencia e um novo edifício de modo que a relação entre eles não prejudique o testemunho histórico do curtume. Desta forma, o edifício com maior valor histórico foi mantido retirando assim, o galpão da esquina e as paredes estruturais. Além disso, o novo edifício estará relacionado de forma análoga ao pré existente.

O partido do projeto foi norteado a partir da importância do edifício pré existente que apesar de ter sofrido inúmeras modificações ele ainda possui uma “memória física” para que seja reconhecida e legitimada pelos usufruidores contemporâneos Desta forma, o terceiro lugar surge como centro de interação social e fortalecedor da comunidade local como potencial de ocupação e valorização do edifício, utilizando o ato de comer como gerador da interação.

projeto | 67


PROJETO

Bosque heterogênio

Praça do Córrego

Praça da água

Espaço para apresentações

Edifício Anexo


Edifício Pré-Existente

o

Praça da horta


Requalificação urbanística De modo a criar um terceiro lugar mais convidativo e agradável foi realizado uma requalificação urbanística o qual alterou a Av. Dr. Carlos de Campos. A modificação principal foi a mudança de uma via de duas maõs para o de uma, com apenas um sentido. Foi observado que tal alteração não influenciaria no trafégo pois há outras vias próximas que direcionam o fluxo de carros para o mesmo local que a Av. Dr. Carlos de Campos. A partir disto, foi possível: alargar as calçadas, que antes eram estreitas e desagradavéis; adicionar uma ciclovia que conecte o bairro com o parque gastronomico e o parque que esta sendo construído; e criar uma área de estacionamento próxima a fachada principal do edifício. A partir da referência “Urban Street Guide” foi possível adequar tais mudanças.

Corte esquemático da requalificação da Av. Dr. Carlos de Campos[7]

70


Projeto volumétrico PRÉ EXISTENTE Visando o restabelecimento da unidade potencial(BRANDI,1963) do edifício pré existente do curtume “sem cometer um falso histórico, e sem cancelar nenhum traço da passagem da obra de arte no tempo” (BRANDI,pag .33) foi possível direcionar as estratégias para a concepção do projeto. Os antigos galpões do curtume-plantas abaixo- possuem grandes vãos livres, um alto pé direito, lanternins e inúmeras aberturas em todas as fachadas proporcionando assim, uma boa ventilação cruzada, iluminação natural e permeabilidade, ou seja, elementos necessários para um mercado público e o qual é um dos programas principais do parque. Desta forma, de modo a respeitar, preservar e potencializar o edifício pré existente e sua estrutura, a atividade principal que o ocupará e visa a facilitação de eventuais intervenções futuras é o mercado público. Planta primeiro piso existente(sem escala)

Planta segundo piso existente(sem escala)

Portas existentes

projeto | 71


ALTERAÇÕES NO EDIFÍCIO Visando uma maior visibilidade algumas janelas existentes foram transformadas em janelas portas, ou seja, com vidros até o chão, e outras transformadas em portas (planta indicativa abaixo) Além disso, todas as aberturas possuem um fechamento vazado que se transforma em uma abertura estilo camarão vertical capaz de proporcionar um sombreamento e permeabildiade visual quando fechado. No segundo piso, criou-se um grande mezanino para gerar uma maior permeabilidade e conexão com as atividades do primeiro piso e reabriu-se a abertura onde encontrava-se a ponte que conectava as quadras . Além disso, as fachadas do edifício foram restauradas de modo que seu tijolo À vista ficasse exposto, como em parte era na fig 13(pag35). Na fachada sudeste foi projetado uma parede verde com o logo do edifício. Planta primeiro piso alterações (sem escala)

janela transformada em portas janelas transformadas em janelas-porta

72

janelas e porta adicionadas

Planta segundo piso alterações(sem escala)

abertura reaberta para janela



BOXES-MÓDULOS A pré-existência de um edifício com valor histórico induz a procurar por técnicas construtivas não invasivas que consigam manter e reconhecer a “memória física” expressa nesses bens. A pré fabricação é um exemplo. Através de um sistema de produção em que os módulos são produzidos em fábrica e posteriormente montado no sítio, ela permite uma menor interferência no edifício ao trazer a unidade tridimensional pronta para ser instalada, produção semelhante à indústria naval, automobilística e aeronáutica (CÔCO JUNIOR; CELANI, 2018). Cada unidade modular inclui o piso, as paredes, o teto e o telhado, canalizações e sistemas elétricos instalados, bem como interiores e exteriores finalizados ainda na fábrica (Mullens, 2011), resultando assim em um maior controle na qualidade do produto e reduzindo o custo e o tempo de produção-50% mais rápido que as construções tradicionais (TERIBELE, 2016). Hoje há uma expectativa socioeconômica que esses sistemas possam criar produtos personalizados que respondam as demandas dos arquitetos por substância (qualidade) e aparência (CÔCO JUNIOR; CELANI, 2018), ou seja, produzir módulos diversificados que não se comparem aos da linha de produção tradicional pré-fabricada, mantendo o mesmo custo e tempo de produção. Segundo Tiribele, “A fragmentação do edifício ocorre em função da necessidade de transporte e as restrições das dimensões geralmente definem o tamanho do módulo, reduzido o suficiente para ser transportado (Gassel e Roders, 2006). Os materiais mais utilizados são madeira, aço e concreto (Mbi, 2011), (Figura 2), e em ambos os casos, esses módulos devem englobar: 1) serviços (tubulações para elétrica, hidráulica, lógica, entre outros); 2) vedação (paredes, piso, teto) e; 3) estrutura”. O transporte dos módulos deve ser realizado de acordo com o código de transito brasileiro que autoriza veículos com dimensões autorizadas, com ou sem carga, com limite de 2,60m de largura e 4,40m de altura (TERIBELE, 2016).

74


PROCESSO DE POSICIONAMENTO DOS BOXES MÓDULOS

1 Passagem livre pela cumieira

2 Passagem livre entre portas

4 Adaptação aos pilares existentes

5 Extração de boxes

3 Periferia livre

6 Adição de passagem entre boxes

7 Adaptação as medidas modulares projeto | 75


módulo boxe áreas úmidas,semi-úmidas e secas

2.60m

2.15m

5.00m

5.00m

2.60m

4.00m

perspectivas

4.00m

4.00m

planta(sem escala)

2.60m

2.60m

2.60m

76

4.00m

4.00m

4.00m

módulo boxe lanchonete

2.60m

2.15m


4.00m

mรณdulo boxe restaurante

7.35m

4.00m

mรณdulo boxe aula culinรกria

7.35m Corte do mรณdulo escala 1:40

3.25m

5.00m

mรณdulo banheiro

9.15m

projeto | 77


SISTEMA CONSTRUTIVO MODULAR

O sistema construtivo dos módulo baseou-se nos boxes do mercado “Old Spitafields” em Londres realizado por Foster+Partners. Sua estrutura basea-se em vigas e pilares metálicos com fechamentos de paredes drywall e balcões em madeira. A permeabildiade visual é potencialziada por elementos metálicos vazados entre os boxes. Os boxes do FICO possuem uma parede hidráulica que em conjunto com os outros boxes articulam-se de modo a minimizar as alterações no chão do terreno. Além disso, para flexibilizar e expandir as unidades modulares foram feitas portas de correr vazadas entre os boxes, permitindo assim ao locatório alugar um ou mais boxes.

fig.46-Módulos {18}

fig.47-Módulos {18}

Teto de vidro leitoso Dry-wall com revestimento cerâmico

Viga metálica

Porta madeira Divisória vazada metálica Gradil metálico Balcão de Madeira Piso vinílico Estrutura metálica

Base Metálica 78



SETORIZAÇÃO DO MERCADO Os boxes de lanchonetes, restaurante e aula de culinária foram posicionados próximos as aberturas do mercado, como forma de atrativo para a entrada de usuários e também como um local de estar ativo próximos as praças. As áreas úmidas, semi-úmidas e secas foram posicionadas gradativamente evitando que as áreas de necessidade seca ficassem próximas das áreas molhadas. Os banheiros foram posicionados próximos as áreas de alimentação e próximos as entradas, facilitando assim, sua localização.

80

Boxe lanchonete

Boxe de área úmida

Boxe restaurante

Boxe de área semi-úmida

Boxe aula culinária

Boxe de área seca


ANEXO A partir da literatura podemos identificar três tipos de intervenção com edifícios pré existentes com valor histórico .

fig.48-Malmö Saluhall {15}

ANALOGIA A volumetria do edifício mais recente( à esquerda) se dá de forma análoga ao edifício pré existente(à direita) contudo contrastando a partir de sua materialidade mais moderna.

fig.49-Museu Rodin Bahia {16}

fig.50-Parque das Ruínas {17}

INDEPENDÊNCIA

PARASITISMO

A volumetria do edifício mais recente (à direita) se dá de forma independente, ou seja, está distante do edifício préexistente. Contudo comunicamse e conectam-se através de elementos arquitetônicos, como pontes ou coberturas.

A volumetria do edifício mais recente emerge de dentro do edifício pré-existente como uma relação interespecífica em que nota-se uma dependência ou “parasitismo” do edifício mais recente para com o edifício pré existente.

projeto | 81


Assim, de modo que o todo programa seja construído e que não modifique o edifício pré existente, foi projetado um anexo que relaciona-se de forma análoga ao edifício pré existente, ou seja, um galpão com um grande vão e telhado com duas águas e lanternis, expondo as tesouras e mantendo a permeabilidade Além disso, de modo a manter a visibilidade do edifício pré existente, o edifício foi projetado mais afastado dos galpões originais e com um grande vão livre envolto por painéis de metal perfurados e móveis na parte lateral, permitindo assim a permeabildiade visual. Além disso, os edifícios conectam-se por uma rua interna que uni as praças nas laterais do projeto e que permite um ponto de descanso e observação.

1 forma base

4 Extração de volume lateral que permeia escadaria interna

82

2 Extração de volume interno

5 Permeabilidade da fachada

3 Projeção de um mezanino

6 Jardim interno


PERMEABILDIADE ANEXO Painés metálicos vazados fechados nas portas e janelas

Painés metálicos vazados abertos nas portas e janelas

projeto | 83






ESTRUTURA DO ANEXO A estrutura do anexo se dá por uma estrutura métalica modular em um eixo estrutural de 6x5m. Além disso, a escada enclausurada de concreto e os elevadores auxiliam na estrutura do edifício como elementos de núcleos rígidos(core). As paredes são vedadas com blocos estruturais vazados Devido ao grande vão e aos painéis metálicos fixos, foram colocados como contraventamento cabos de aço. Painéis metálicos

Ripa metálica

Telha cerâmica

Tesouras metálicas

Laje de concreto pré fabricado Paredes de bloco de concreto Painéis metálicos Cabo de aço Core de concreto Vigas e pilares metálicos

88


Paisagismo O terceiro lugar demanda por espaços de permanecer que possam ser utilizados por diferentes pessoas em diferentes horários do dia. Assim, buscou-se criar um paisagismo com uma progressiva ativação do espaço público. Uma praça, a mais próxima ao corrégo do Piçarrão contém uma bacia de contenção capaz de amortecer o impacto das enchentes recorrentes na região. Além disso, com o paisagismo buscou-se criar um espaço de contemplação com deques em diferentes níveis com vista para o córrego. A praça próxima ao balão do curtume é um local que foca na função de horta urbana. Respeitando a acessibilidade das pessoas-adultos,crianças e pessoas com mobilidade reduzida-a horta possui diferentes níveis e entre tais níveis espaços para sentar e apreciar a vista. A rua interna criada também tornou-se um espaço de permancer com degraus que podem ser utilizados também como assentos. Em frente a tal rua há um espaço para mesas que se abrem para o restaurante , proporcionando permeabilidade e conexão do espaço interno e externo. As praças acima do edifício anexo progressivamente vão se tornando menos ativas e mais contemplativas a partir de locais para apresentação, bancos, deques e um grande espelho d’agua que contém corrente contínua e leve de água.

projeto | 89


praรงa da horta



praรงa do praรงa dacรณrrego cรณrrego



praรงa da รกgua



rua interna




desenhos tĂŠcnicos |05


IMPLANTAÇÃO

a

ur

t Fu

+10.00m 4.17%

+1

5.00%

8.33%

8.33%

1.0

0m

%

15.92

11.36%

+6.00m

12.20%

20%

8.

38

% 10.72%

R. Rodion

+8.00m 7.78%

+7.00m

10%

Podolsky

9.70%

7.70%

+5.00

R. á

To m s G .G id

om e


rre

ro

Piç

arr

ão

0.00m 0.00m +2.00m

Embarque e desembarque

+2.00m Embarque e desembarque

8.3

3%

+4

0.00m

.00

m 10.3 3%

0m

ba

do

Av. Dr. Carlos de Campos

T-

BR

a

ig

t An

ha

lin

a

re

r fé

na

ca

So

go

2.7

Av

.D

7%

r.

5%

+2.00m

Ca

rlo

6.2

%

sd

e

8.71

Ca

m

po

s

Escala 1:500


PLANTA NÍVEL 2.5M C

0.00m

+2.00m

17

16

17 8

+2.00m

15 8

14

13

18 +2.00m

A

20%

0.00m

1-Praça da horta 2-Box lanchonete 3-Boxe de aula de culinária 4-Boxe área úmida 5-Boxe restaurante 6-Boxe área semi úmida

C’

7-Boxe área seca 8-Sanitário 9-Depósito de máquinas 10-Depósito de paletes 11-Depósito 12-Enfermaria 13-Sala refrigerada 14-Cozinha 15-Sala de lavagem de louças 16-Despensa 17-Vestiário 18-Estacionamento 19-Praça do corrégo

Acesso pedestre Acesso veículo de passeio


B

m

-2.00m 19

20

1.20m 8

2

2 2

6 6

2

2

4

4

4

2

2

2

3

2

7

6

7

9

11

4

4 4

4

4

4

6 6

6

6

7

6

6 6

6

6

6

7

7

7

7

7

6

6 6

6

6

6

7

7

7

7

4

4 4

4

4

4

6 6

6

6

22%

5

8

2

10

12

6 6

6 4 4

0.00m 8

8

3

2 2

2

4

4

4

2

2

2

5

2 2

2

6

6

2

2

A’

m

10,

33

%

1

%

6,25

2.00m %

8,71

B’ Escala 1:250


PLANTA NÍVEL 8.00M

8.33%

8.33%

+6.00m

% 8.33

A

20%

+8.00m

+7.00m 9.70% 10%

7.70%

+5.00m 8.3

3%

1-Sala de hidroponia 2-Espaço de Workshop 3-Depósito 4-Sala pesquisa 5-Depósito refrigerado 6-Bar 7-Cozinha 8-Sanitário 9-Vestiário 10-Sala publicidade e contadoria 11-Sala de reunião 12-Sala de gerencia 13-Recepção 14-Copa 15-Sala refrigerada 16-Despensa Acesso pedestre Acesso veículo de passeio


C B

0.00m

-2.00m

+2.00m

12 11

13 9

8 3

3

15

9 8

10

14

8

3 7

5

16 6 +6.00m

3

4

+4.80m

A’

+2.00m

2

1

0.00m

%

8.3

8.3

3%

3%

10.

33

%

+4.00m

2.7

%

7%

6.25

+2.00m

C’

%

8.71

B’ Escala 1:250


CORTE A-A’

+11.00m +9.00m

+8.00m

+7.00m

+6.00m

+2.00m


+10.0m

+6.00m

+4.80m

+2.00m 0.00m

0.00m


CORTE B-B’

0.00m

0.00m

0.00m


+2.00m 0.00m


CORTE C-C’

+6.00m


+4.00m +2.00m


FACHADA AV. DR. CARLOS DE CAMPOS



Corte perspectivado da rua interna com escada



Corte perspectivado da praรงa da horta



bibliografia |06


ALVITE, C. Laci. A agro indústria em campinas: um estudo de caso- o curtume Cantúseo. Campinas: Prefeitura de Campinas, 2017. ANDREOTTI, Beatriz. Vestígios Industriais em Campinas: deslocamento produtivo e patrimônio Industrial. Campinas: UNICAMP, 2015 ANDREOTTI, Beatriz. Incubadoras urbanas em áreas de vazio. Campinas :UNICAMP, 2008 BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Pequeno guia prático para agricultura urbana. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2018. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Guia alimentar para a população brasileira. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. [ BRANDI,Cesar. Teoria da Restauração.Roma:Edizioni di Storia e Letteratura, 1963 BRAUDEL, Fernand. Os Jogos das Trocas: Civilização material, economia e capitalismo, séculos XV-XVIII, tomo 2. Tradução Maria Antonieta Magalhães Godinho. Lisboa: Cosmos, 1985. 628 p. (Coleção Rumos do Mundo). CANESQUI, AM., and GARCIA, RWD., orgs. Antropologia e nutrição: um diálogo possível [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2005. 306 p. Antropologia e Saúde collection CARTA DE NIZHNY TAGIL- The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage (TICCIH) Julho 2003 CARTA DE VENEZA- Carta internacional sobre a conservação e o restauro de monumentos e sítios- II Congresso Internacional dos Arquitectos e Técnicos dos Monumentos Históricos, Veneza, 1964 CÔCO Júnior, Verley Henry; CELANI, Gabriela; “From the automated generation of layouts to fabrication with the use of BIM: a new agenda for Architecture in the 21st century”, p. 23-30 . In: . São Paulo: Blucher, 2018. COUTINHO, M.N. Agricultura Urbana: Praticas Populares e sua Inserção em Políticas Públicas. 2010 SHAHERY, Paulina. Paulina Shahery:Architectureofmindfulness. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=xRjIgB1XqoI>. Acesso em: 16 jan. 2017. FARR, Douglas. Urbanismo Sustentável: desenho urbano com a natureza. Tradução: Alexandre Salvaterra. Porto Alegre: Bookman, 2013. FRANZONI, Elisa. A gastronomia como elemento cultural, símbolo de identidade e meio de integração. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, 2016. FERNANDES, Ana L. P. Agricultura Urbana e Sustentabilidade das cidades: Projeto “horta a porta” no grande Porto. Dissertação de Mestrado em Economia e Gestão do Ambiente . Porto:2014 FILGUEIRAS, Beatriz S. C. Do mercado popular ao espaço de vitalidade: o mercado Central de Belo Horizonte. Dissertação de Mestrado em Planejamento Urbano e Regional. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. GIACCHE, G.; PORTO, L. POLÍTICAS PÚBLICAS DE AGRICULTURA URBANA E PERIURBANA: uma comparação entre os casos de São Paulo e Campinas.2015 GONÇALVES, Carolina. Comprar e conviver:os mercados públicos como espaços de troca na cidade contemporânea. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2017. JACOBS, Jane. Morte e vida nas grades cidades. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011. Oldenburg, Ray. The Great Good Place: Cafés, Coffee Shops, Bookstores, Bars, Hair Salons, and Other Hangouts at the Heart of a Community. New York: Marlowe, 1999. LIMA, R.;NETO,J.;FARIAS,R. Alimentação, comida e cultura: o exercício da comensailidade. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa:2015. LONDRES, F. Agrotóxicos no Brasil: um guia para a ação e defesa da vida. Rio de Jnaeiro: AS-PTA,2011. 190p. Plano Diretor de Campinas.2017 referência | 119


MACIEL, E. Maria. Olhares antropológicos sobre a alimentação Identidade cultural e alimentação ROMEIRO, A. Agricultura sustentável, tecnologia e desenvolvimento rural. Agricultura Sustentável, VOL 3. N1,pp2, 1996 ROZIN, Paul e Todd, Peter. The Handbook of Evolutionary Psychology. New Jersey: John Wiley & Sons,Inc.,2016 SOUZA, C. M. P. Elaine. Alimentação como cerimônia indispensável do convívio humano. São Paulo: USP, 2012. TAVARES,Isabela.Agricultura Urbana como elemento resignador do espaço. Trabalho final de graduação. Campinas:UNICAMP, 2018. TERIBELE,Alessandra. Arquitetura com sistema pré-fabricado modular volumétrico:modelo generetivo e diretrizes de fixação. Rio Grande do Sul: Universidade Federal do Rio Grande do Sul,2016. TIRELLO, R. A. ”Restaurar não é pintar edifícios de amarelo”. In: FONTES, S.G.C; CONSTANTINO, N. R. T;BITTENCOURT, L.C. (Org.). Arquitetura e Urbanismo: novos desafios para o século XXI. Bauru, SP:UNESP/Bauru. Ed. Canal 6, 2010, v. 1, p. 21-35. TIRELLO, R.A; BARROS, M. C.; SFEIR, M.B.; Projetos de Reabilitação de Conjuntos Industriais históricos em centros urbanos paulistas:usos possíveis na contra Corrente dos centros culturaus. IN:ARQUI-MEMPORIA IV ENCONTRO INTERNACIONAL SOBRE CONSERVAÇÃO DO PATRIMONIO EDIFICADO,2013. Salvador,Bahia. P.1-25. VILLANUEVA ,Ana A.R. Preservação como projeto- Área do pátio ferroviário central das antigas Cia. Paulista e Mogiana-Campinas-SP. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, 1996. SITES [1] http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/58 [ 2 ] w w w. c f n . o r g . b r / i n d e x . p h p / a l i m e n t o s - u l t r a p r o c e s s a d o s - t r a z e m - r i s c o - p a r a - o - b e m - e s t a r -dos-consumidores/+&cd=5&hl=en&ct=clnk&gl=br [3] https://www.facebook.com/UniaodeHortasSP/posts/548310475535433/ [4]https://www.mrv.com.br/imoveis/apartamentos/saopaulo/campinas/parque-industrial/villagarden-fontanagarden [5] https://googles.maps [6] https://zoneamento.campinas.sp.gov.br/ Alimentos ultraprocessados trazem risco para o bem-estar dos consumidores. Conselho Federal de Nutricionistas, 2017. Disponível em<http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:AsJZ18hXvrUJ:www.cfn.org.br/index. php/alimentos-ultraprocessados-trazem-risco-para-o-bem-estar-dos-consumidores/+&cd=5&hl=en&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 4 de Junho de 2019. Ofício das Baianas de Acarajé. IPHAN, 2015.Disponível em :<http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/58>. Acesso em:15 de Abril de 2019. [7] https://streetmix.net IMAGENS REFERENCIADAS {1} https://baudanoticia.wordpress.com/cultura-2/ {2} http://www.brasil.gov.br/noticias/turismo/2013/11/baiana-do-acaraje-e-patrimonio-cultural-do-brasil/baiana-de-acaraje.jpg/view {3} https://www.expedia.com/Mercado-Municipal-Hotels.0-l6061573-0.Travel-Guide-Filter-Hotels {4} https://believe.earth/pt-br/a-arte-de-plantar-e-colher-a-propria-comida-2/ {5}VILLANUEVA ,Ana A.R. Preservação como projeto- Área do pátio ferroviário central das antigas Cia. Paulista e Mogiana-Campinas-SP. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, 1996. {6} EAL 120


{7} ANDREOTTI, Beatriz. Incubadoras urbanas em ĂĄreas de vazio. Campinas :UNICAMP, 2008 {8} Fonte da autora {9} https://www.readysetjetset.net/travel/quick-guide-fico-eataly-world-bologna {10} https://www.eima.it/en/visita-fico-eataly-world.php {11}https://www.videoblocks.com/video/timelapse-of-the-time-out-market-lisbon-or-mercado-da-ribeira-opened-in-2014-it-now-receives-two-million-visitors-a-year-and-has-since-become-the-number-one-tourist-attraction-in-town-b6vjt7ax-j2xr8qbt {12} https://www.archdaily.com/399210/ataranzas-municipal-market-restoration-project-aranguren-and-gallegos-arquitectos {13} https://br.pinterest.com/pin/534169205787862570/?lp=true] {14}https://www.archdaily.com/477405/value-farm-thomas-chung/52feb06ae8e44e3cd0000174-value-farm-thomas-chung-photo {15} https://www.archdaily.com.br/br/881176/malmo-saluhall-wingardh-arkitektkontor-ab {16} https://www.archdaily.com.br/br/910445/museu-rodin-bahia-brasil-arquitetura {17}https://www.tripadvisor.com.br/Attraction_Review-g303506-d311256-Reviews-Centro_Cultural_Municipal_Parque_das_Ruinas-Rio_de_Janeiro_State_of_Rio_de_Janeiro.html {18} https://oldspitalfieldsmarket.com/journal/setting-out-your-stall

referĂŞncia | 121


obrigada!


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.