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GERAIS

A idéia é resgatar a visão humanista e fugir dessa percepção jeca do mundo”

GERAÇÃO

AFLITA

Alexandre, 26 anos

DESDE OS 15 ANOS, ALEXANDRE TINHA UM PROJETO DE VIDA E NÃO QUERIA SER MAIS UM NA MULTIDÃO

No bom caminho “Sou um homem comum/de carne e de memória/de osso e esquecimento/Ando a pé, de ônibus, de táxi, de avião/e a vida sopra dentro de mim.” Nos seus versos, Ferreira Gullar usa de licença poética para embarcar em aviões, o que só faz mesmo na imaginação. Aos 76 anos, o maior poeta brasileiro se nega a voar em pássaros de lata e, por isso mesmo, recusa mais convites do que recebe para dar palestras no Brasil inteiro. Em novembro do ano passado, ele aceitou vir a Belo Horizonte especialmente para dar uma aula na Academia de Idéias, fundada há seis meses, por Alexandre Michalick, de 26 anos. Impressionado com a força de vontade do jovem, Ferreira Gullar enfrentou seis horas de carro nas estradas do Rio de Janeiro até aqui e, no dia seguinte, outras seis para voltar para casa. À primeira vista, Alexandre Michalick se parece com a grande maioria dos jovens da capital mineira. Na época do colégio, não gostava muito de estudar, nem de ler. Tomou bomba na 4ª série e as notas vermelhas eram motivo de discussão com os pais. Seu diferencial é que, ao contrário de outros, Alexandre sabe exatamente o que quer da vida. “Vejo o jovem de hoje meio perdido. Eu, não. Aprendi a abrir espaço e a ser competitivo. Não vejo isso como uma pressão. Pior seria sair da faculdade e não ter onde trabalhar”, defende ele, que recusou um “empregaço” em publicidade para investir no próprio negócio. No ano passado, Alexandre saiu na frente com a Academia de Idéias, no Bairro Sion, inspirada na Casa do Saber, que reúne artistas, intelectuais e pessoas da alta sociedade paulistana em torno de palestras sobre filosofia, arquitetura e artes em geral. A proposta mineira, porém, não quer atrair o interesse só das elites, mas de todos os públicos, e ao mesmo tempo se autofinanciar. Alexandre abriu os cursos da Academia de Idéias para funcionários de empresas de médio e grande portes, além de obter o patrocínio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. “Não adianta o cara ter mestrado e não saber conversar. Se ele quiser fornecer maçanetas do Pálio para a Fiat, por exemplo, e for jantar com um alto executivo da montadora, tem de ter noção da renascença italiana. Não dá para ficar falando só de cerveja”, observa Alexandre, que já fechou contrato com quatro empresas. Em vez de noitadas regadas a bebidas e drogas, Alexandre optou por fazer um caminho inverso. Não que ele não saia com os amigos para se divertir, tomar um chope, mas hoje o foco está na Academia de Idéias. “Ao chegar em uma mesa de bar, você consegue falar de Atlético e tomar um chope, mas não dá para ignorar o mensalão e os sanguessugas sendo absolvidos. É preciso sair do lugar comum. Não dá para a gente ficar esperando o trem passar. A idéia é resgatar a visão humanista e fugir dessa percepção jeca do mundo.” Alexandre sempre fez a diferença. Antes de abrir a Academia de Idéias trabalhou como trainee na Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e saiu de lá como chefe de gabinete, aos 21 anos. Mas sempre soube do caminho a seguir. “A turma de ex-alunos que estudou comigo no Sebrae tem um pensamento diferente dos meninos da minha idade. A gente ficava o dia inteiro no colégio e tinha um projeto de vida, com foco no empreendedorismo. No 3º ano eu já estava visitando a Bolsa de Valores de São Paulo. A gente não queria ser mais um no meio da multidão.” Os esportes, por sua vez, o afastaram das drogas. “Joguei futebol de salão no Olímpico, convivia no meio esportivo, onde não tinha droga. Hoje, vejo jovens de 15, 16 anos fumando maconha. Como eu jogava bola, não tinha nada disso. Quando a gente ia para as festas no Olímpico, no máximo, rolava bebida, pois era um ambiente bom, que preservava os meninos.” Alexandre só bebe nos fins de semana e segue normalmente a sua vida. “O futebol é a minha paixão e, na maior parte das vezes, estou na Academia de Idéias, com a minha família, com os amigos ou namorando”.

A FILOSOFIA DO SUCESSO ALEXANDRE MICHALICK,26 anos ÍDOLO: Só o meu pai.De resto,tenho admiração por algumas pessoas que são fora do normal,como Ronaldinho,Clinton,Chico Buarque,Aécio...

ENSINAMENTO A acomodação das pessoas é o que mais me atormenta hoje em dia.Digo isso pela falta de vontade de traçar e buscar objetivos,de aprender,crescer,fazer diferente.As pessoas só reclamam mas não fazem nada para mudar.

POLÍTICA Não adianta o jovem falar que não gosta de política, ele tem de ler jornal até para ter responsabilidade social, para votar bem. É simples. Aonde não tem comando tudo pode! A partir do momento em que a sociedade começar a escolher melhor seus candidatos, a coisa começará a mudar. Para isso, é de extrema importância não só a educação, mas a consciência, o conhecimento e a cultura.

Descendentes pedagógicos

SONHO

O pedagogo Antônio Carlos Gomes da Costa escolheu 40 pessoas, que conhece há muitos anos,pelo caráter,pelo protagonismo e pela disponibilidade de ajudar o jovem.Cada uma delas se comprometeu a acompanhar o desenvolvimento de dois jovens durante cinco anos, desde o pré-vestibular até o término da universidade.Seriam mentores, incentivando, estimulando, chamando para jantar de vez em quando, convidando para passar o fim de semana em suas casas e conversando. Se você olhar pessoas que deram certo na vida, elas, com certeza, tiveram alguém que serviu de exemplo. Não necessariamente o pai ou a mãe,mas alguém que mostrou um caminho.Este ano,os 80 jovens vão se reunir na Fundação Antônio Carlos e Maria José (Famj),em Lagoa Santa,para traçar projetos de vida.

Olha, parece clichê. Mas meu sonho é fazer algo diferente. Não só me realizar profissionalmente, mas também fazer algo que ajude a mudar e tornar o Brasil uma potência de verdade.Taí! Esse é o meu sonho! Um Brasil desenvolvido,sério,com credibilidade internacional.Não precisa ser uma coisa fria como no Canadá,mas organizado no estilo NY.

LEIA AMANHÃ SOBRE JOVENS E DROGAS

MARIA TEREZA CORREIA/EM

STATUS Claro que tenho projetos de vida.Pretendo tornar meu empreendimento uma referência na difusão cultural da cidade,posteriormente do estado e do país,por que não?

CONSELHO Acho que o sentimento maior é de impunidade por tudo o que vivenciamos.Esse sentimento, na minha opinião,deveria ser de indignação.Se não tirar a "bunda" da cadeira,ninguém fará por você.Quem quer faz,quem não quer pede.


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