Rede de Convivência São Marcos - Centro de Artes e Cultura

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REDE DE CONVIVÊNCIA SÃO MARCOS

CENTRO DE ARTES E CULTURA

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO | 2017 FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DANIELE YUMI OTANI PROF. ORIENTADORA SILVIA A. MIKAMI G. PINA



REDE DE CONVIVÊNCIA SÃO MARCOS

CENTRO DE ARTES E CULTURA

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO | 2017 FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DANIELE YUMI OTANI PROF. ORIENTADORA SILVIA A. MIKAMI G. PINA



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agradecimentos

À minha orientadora Silvia, que acreditou em minhas ideias e que tanto me ensinou, durante toda a graduação e especialmente durante este trabalho. Aos meus pais, minha irmã e minha avó, por sempre estarem ao meu lado, pelo carinho incondicional e por colocarem a mão na massa sempre que precisei. Ao Marcelo, por me apoiar, por ouvir e pelas risadas, tornando tudo mais leve. Aos meus amigos da Unicamp, pois essa jornada de sete anos não seria a mesma sem vocês. Aos amigos do São Marcos, que me inspiraram a realizar esse trabalho tão importante. A todos que contribuíram de alguma forma para a concretização desta etapa.


SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DIREITO À CIDADE NA CIDADE CONTEMPORÂNEA

CIDADES HUMANAS, PARA TODOS CONVIVÊNCIA E COLETIVIDADE

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3. O LOCAL CAMPINAS

ÁREA DE INTERVENÇÃO PROGRAMAS EXISTENTES POTÊNCIAS E FRAGILIDADES PROGRAMAS DESEJADOS

30 44 72 76 77


4. A REDE A REDE

PARQUE LINEAR DO QUILOMBO REDE AMBIENTAL OS NÓS DA REDE

5. CENTRO DE ARTES E CULTURA O TERRENO

84 88 94 98

PROGRAMA CONDICIONANTES A COBERTURA PRAÇAS

152 154 164 174 178

6. REFERÊNCIAS

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7. ANEXOS E APÊNDICES ANEXOS APÊNDICES

193 200



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APRESENTAÇÃO Conheci o Jardim São Marcos em 2013, através de um trabalho voluntário em uma ONG local. De lá para cá, quatro anos se passaram, mas a realidade daquelas pessoas ficou marcada em mim: há tanta vida entre quatro paredes, dentro dos muros, em salas fechadas; e tão pouca vida lá fora! Se a rua é lugar de direito de todos, porque não usá-la? Sem parques, sem praças, onde exercer a cidadania e a convivência? Com este trabalho final de graduação, transformo minha inquietação em projeto: expandir as atividades existentes, as ações sociais. Para onde? Para onde houver espaço. Praças, parques, terrenos vagos: monta-se assim uma rede de convivência, transformando a relação entre espaços públicos e privados e criando uma nova dinâmica para os moradores do São Marcos. A rede é de convivência, mas os programas são diversos, para diversos públicos e para diversas ocasiões. Aliando potenciais, existências, desejos e possibilidades, busco algum senso de justiça urbana através da requalificação dos espaços coletivos existentes e a proposição de outros mais.


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INTRODUÇÃO

Introdução

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INTRODUÇÃO

Fruto de políticas neoliberais vigentes nas últimas quatro décadas, a cidade contemporânea formou-se a partir de uma sucessão de processos que pregam a separação das esferas política e econômica resultando na supressão de políticas sociais e o desmantelamento do direito à cidade das parcelas mais vulneráveis da população. Neste cenário, a cidade é vista como mercadoria e venera-se o lucro, resultando em um panorama de exclusão social e a supressão dos direitos do cidadão em prol dos interesses de mercado. Este trabalho final de graduação pau- ta-se no resgate do direito à cidade como uma importante luta contemporânea, garantindo a função social dos espaços urbanos. Destaca-se então a importância dos espaços públicos e de convivência para o exercício da cidadania e do aumento da qualidade de vida para seus cidadãos. Retomar a função da cidade como local de encontro e lazer, de qualquer atividade além do morar e trabalhar, baseia-se na importância dos encontros, da convivialidade e do descanso.

Como local de projeto, selecionou-se o conjunto de bairros periféricos do Jardim São Marcos, na área noroeste da cidade de Campinas. Assim, realiza-se uma análise da relação dos moradores com seu entorno, buscando formas de criar identidade e reforçar os vínculos entre as pessoas e sua vizinhança através do projeto de uma rede de espaços de convivência, de forma a abrigar com qualidade as diversas atividades coletivas e de lazer no bairro. O primeiro passo do trabalho foi entender as pré-existências, o espaço construído pelas ações de seus usuários, pelo tempo e pelos processos socio-econômicos.

Introdução


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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Fundamentação Teórica

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O DIREITO À CIDADE

NA CIDADE CONTEMPORÂNEA

O passo inicial para compreender a cidade contemporânea é o entendimento dos mecanismos que a transformaram no que é hoje: um palco de disputas econômicas, onde a moeda tem poder de decisão sobre a qualidade de vida dos cidadãos. As ideias neoliberais passaram a ganhar força na década de 1970. Chile, Inglaterra e Estados Unidos foram os pioneiros na implantação de políticas neoliberais nos anos 1970 e 1980, cortando políticas sociais, demitindo servidores públicos e privatizando empresas estatais (EZCURRA, 1998). Enquanto os Estados tem sua participação diminuída na economia, surgem organizações e corporações que articulam e dinamizam as atividades em nível global: o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e os tratados de livre comércio em diversas regiões encarregam-se de estabelecer critérios e diretrizes na economia mundial. Essa transnacionalização econômica transforma as cidades, que até então eram

primariamente frutos de economias nacionais, em plataformas para a economia global, tornando fronteiras econômicas cada vez menos definidas e criando áreas industriais nas cidades cada vez maiores, com proximidade a aeroportos e portos para escoamento da produção (SMITH, 2009). Os atores que se beneficiaram da redefinição de poder causada pela liberalização econômica foram os líderes políticos por trás das reformas neoliberalistas, os grupos de empresários que apoiaram as reformas e as organizações multilaterais de crédito (REPETTO, 1999). Enquanto o poder concentrava-se nas mãos destes atores, a maior parte dos países e milhões de pessoas ao redor do globo empobreciam rapidamente, em decorrência das privatizações, flexibilizações das leis trabalhistas e da abertura irrestrita aos bens de consumo produzidos pelos países de Primeiro Mundo. A década de 1990 e o início do século XXI foram marcados por crises no sistema neoliberal,


a mais recente delas em 2008, causada pela crise de hipotecas nos Estados Unidos que repercutiu ao redor do mundo, enfraquecendo os conceitos neoliberais (SMITH,2009). Ainda que tenha perdido força nos últimos anos, o neoliberalismo continua a impactar as cidades e as populações mais vulneráveis, cujo acesso ao mercado e à moradia formal torna-se cada vez mais difícil sem políticas públicas sociais que estabeleçam a melhoria de suas condições de vida. As políticas neoliberais produziram cidades mercadorias (MARICATO, 2013), cujo objetivo central é a produção de lucro. As cidades proporcionam um caminho eficiente para o investimento de capital excedente, pois permite a aquisição de propriedades imobiliárias e posterior empreendimento (HARVEY, 2009) . Seguindo esta linha de pensamento foi criado o planejamento estratégico das cidades, que se inspira no planejamento empresarial para a gestão urbana. O tema central desse planeja-

mento é a competitividade, promovendo o desenvolvimento de certas áreas das cidades que possuam atributos de interesse aos “compradores”, os agentes do capital transnacional. As parcerias público-privadas surgem então como saída para assegurar que os interesses de mercado sejam respeitados no processo de planejamento (VAINER, 2013). O estabelecimento de uma cidade-mercadoria caminha no sentido contrário à essência política da pólis: o poder político não tem o cidadão como foco, mas o capital; o espaço público somente é visto pela ótica do lucro, não como um espaço de direito; a cidade divide-se em produto e escória, uma polarização que acentua o processo de exclusão social (SWYNGEDOUW, MOULAERT, RODRIGUEZ, 2002). Os meios de planejamento e regulamentação servem então a apenas uma parcela da cidade, reproduzindo desigualdades e privilégios (MARICATO, 2000). Como oposição à cidade-mercadoria e seus processos de segregação so-

Fundamentação Teórica

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“A iniciativa de formular os princípios do direito à cidade tem como principal pressuposto lutar contra todas as causas e manifestações de exclusão: econômicas, sociais, territoriais, culturais, políticas e psicológicas. É uma resposta social, um contraponto à cidade mercadoria. A luta pelo direito à cidade é a expressão do interesse coletivo” (CONFEA, 2006, s.p.)

cial, em que os direitos de propriedade privada e o lucro sobrepõe-se aos demais direitos humanos (HARVEY, 2012), é definido o direito à cidade. O direito à cidade consolida a necessidade da participação de todos os cidadãos no processo de formação urbana (LEFEBVRE, 1969), tanto fazendo uso daquilo que existe quanto transformando a cidade de acordo com suas necessidades (HARVEY, 2009), baseando-se na premissa de que ao construir a cidade, o homem constrói a si mesmo (PARK, 1967). Tal direito é coletivo, e a ele se relacionam diversos outros direitos humanos, tais como o direito à moradia, à segurança pública, à sustentabilidade, entre outros citados pela Carta Mundial do Direito à Cidade (CONFEA, 2014). Para Lefebvre (1969), o direito à cidade manifesta-se como o direito superior aos demais: é o direito à liberdade, ao habitat e ao habitar. É o direito à apropriação em detrimento da posse, a recuperação do valor de uso ao invés do valor de troca.

Um dos instrumentos de maior importância na garantia do direito à cidade, a função social da cidade e da propriedade urbana visa garantir a realização de projetos e investimentos em benefício dos habitantes, respeitando a cultura e a sustentabilidade ambiental e socioeconômica. É o prevalecimento do interesse coletivo e social sobre o interesse privado e especulativo. O Estatuto da Cidade estabelece a relativização da propriedade individual para que a cidade cumpra sua função social (RODRIGUES, 2004), de modo a evitar a chamada “destruição da urbanidade”, termo cunhado por Lefebvre (1969) para o processo de expulsão das camadas mais pobres da população de áreas privilegiadas ou em processo de burgeonização da cidade. Apesar de reconhecer a necessidade de legitimar a cidade real, jogando luz sobre os problemas existentes decorrentes da complexa produção capitalista das cidades, o Estatuto mantém as normas capitalistas da propriedade da terra (RODRIGUES,2004).


É necessário retratar os direitos violados A luta contra a mercadorização da cinas periferias das cidades, buscando justiça para dade e a democratização dos espaços é áras pessoas tornadas invisíveis pelas mãos do cadua, muitas vezes com ares de utopia, porém pitalismo. extremamente necessária. Já dizia Santos (1995): A utopia é a exploração de novas possibilidades e vontades humanas, por via da oposição da imaginação à necessidade do que existe, em nome de algo radicalmente melhor que a humanidade tem direito de desejar e pela qual vale a pena lutar... (SANTOS, 1995, p.323). A rua, as praças, os largos, a urbe, são todos elementos pertencentes à população como um todo, não somente aos que podem pagar por eles. Os valores neoliberais que pautam a formação das cidades ignoram as camadas da população à margem do sistema, tornando cada vez mais difícil o acesso destas pessoas ao mercado legal e a melhores condições de vida na cidade. Intervenção em muro de Recife | fonte: Programas Cidades Sustentáveis.

Fundamentação Teórica

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CIDADES HUMANAS,

PARA TODOS

Ao trabalhar a relação da cidade e as pessoas que ali vivem, levantar a questão da humanização dos espaços é natural, especialmente quando o “direito à cidade” está em pauta. Uma cidade deve refletir as pessoas que vivem nela, pois essa é a razão de existirem. Porém, vivemos uma realidade em que os interesses econômicos se sobressaem e reforçam um modelo urbano cujo foco não são os cidadãos, mas o lucro. A função da cidade como local de encontro e exercício das atividades sociais foi drasticamente diminuída pelo modernismo, que deu o espaço público ao carro em detrimento dos espaços de convivência abertos, livres e públicos. A rua perdeu a função de espaço de encontro, tornando-se apenas passagem. O caminhar tornou-se obsoleto, pois as distâncias tornaram-se grandes demais para serem percorridas a pé. É dito que a reverência ao carro matou a cidade (GEHL, 2013). A consideração pelo que GEHL (2013) chama de “paisagem humana” é em geral des-

considerada pelo planejamento urbano, pois entender profundamente a relação das pessoas com os espaços e oferecer boas soluções que suportem suas necessidades e desejos só é possível em uma escala local, que não é a escala considerada pelos planos urbanos num contexto geral. Humanizar a cidade é voltar o olhar para o urbano ao “nível dos olhos”, pensar na pequena escala, priorizando o pedestrianismo e a permanência. As distâncias a serem percorridas devem ser menores; o desenho urbano mais adequado às pessoas, ao invés dos carros; os espaços públicos devem convidar as pessoas a permanecerem, pois os olhos na rua geram sensação de maior segurança (JACOBS, 1961). O temor ao espaço público deve-se à maneira como este é (ou não) pensado: em alguns casos, ele é apenas um espaço residual entre edifícios; em outros, abrigo das classes perigosas da sociedade (BORJA, 1998). Mas o espaço público é o palco da urbanidade, e possui uma dimensão sócio-cultural


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CIDADE PARA TODOS

em que há trocas, pela sua importância coletiva. A percepção das diversas relações e diferenças entre as pessoas e a relação destas com o espaço possibilita a valorização do movimento como construção de lugar, do fluxo como transformação do construído (JACQUES, 1998). O espaço praticado é sempre capaz de extrapolar definições pré-concebidas, pois traz a imprevisibilidade do uso e a capacidade de adaptação do espaço aos desejos dos usuários. A criação de permanência em espaços pensados para a passagem é quase um ato de rebeldia à cidade contemporânea: as ruas são do povo, e é lá que ele ficará. O espaço-movimento é diretamente ligado tanto aos sujeitos que percorrem esse espaço, quanto aos que o constroem efetivamente. Tratando-se de periferias urbanas, fruto de um processo de urbanização excludente e focado no lucro, os dois sujeitos são um só. Ao contrário do que acontece nos espaços estáticos e fixos, resultados de planejamento e projeto, o espaço-

ESPAÇOS HUMANIZADOS

-movimento coloca o usuário passivo como ator (JACQUES, 2001). A intervenção nesses espaços requer a conservação do movimento existente, que é a vida do lugar. A estética não deve ser imposta com base em funcionalismo e erudição, mas com base na pré-existência aliada à técnica, sem sobreposição desta sobre o visual. Um fator determinante para o uso de um espaço aberto coletivo é a sua legibilidade: quanto mais clara a função do espaço, mais apropriadamente ele é usado, pois se estabelece um conjunto de qualidades físicas e espaciais que apoiam ou inibem certos padrões de comportamento (LAY e REIS, 2002) Além da legibilidade, outra questão de grande importância é a aparência visual resultante das características físicas dos espaços e do grau de manutenção dos mesmos. Assim como a determinação da função de um espaço suporta a apropriação por parte das pessoas, a imagem percebida tem um efeito direto no comportamento perante esse espaço: uma imagem negativa gera manifestações comportamentais

Fundamentação Teórica

DIREITO À CIDADE


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também negativas, pois a aparência visual é avaliada com base em valores, gostos e aspirações sociais (LAY e REI, 2002) com os quais as pessoas podem ou não se identificar. A participação popular é fator essencial de legitimação de decisões projetuais, principalmente no que tange a questão da devolução do direito à cidade à população. Uma metodologia de processo participativa mostra-se essencial para reforçar o vínculo das pessoas com o local, bem como o senso de comunidade e o reforço dos valores sociais de grupo. A participação deve ser vista como um direito do cidadão de planejar seu próprio futuro (ARNSTEIN, 1969). ALEXANDER et al (1977) acredita que a produção de espaços humanizados só seria possível com a influência do público-alvo no processo de projeto. É de extrema importância, no entanto, que o público tenha o conhecimento necessário sobre o assunto do projeto, que incluem seus objetivos, atividades, efeitos e planos.

A diversificação dos movimentos sociais a partir da segunda metade do século XX iniciou uma fase participativa na democracia, que acompanhada dos primeiros sinais da crise do modernismo na arquitetura e urbanismo, trouxe para este campo a crítica à padronização e racionalidade, e a negação à “neutralidade técnica” (DAVIDOFF, 1965) em prol de um engajamento com a população e as comunidades menos favorecidas. A força do processo participativo está no rompimento das fronteiras tradicionais entre especialistas e o público, baseando-se no princípio de que o ambiente funciona melhor se seus cidadãos estão envolvidos ativamente nas decisões (SANOFF, 2000), ao invés de prescrever soluções baseadas apenas na análise técnica e funcional. O ato de “fazer com” inclui os usuários como agentes do processo de transformação, criando intercessões entre o saber da arquitetura e urbanismo com a experiência vivencial do território (PESSATTI, 2015). A participação importa, segundo San-


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tos, pois defronte a um espaço que não ajudou a criar, sem o conhecimento da história sobre o mesmo, surge a alienação (SANTOS, 2002). Tentar encaixar qualquer pessoa, com sua extrema complexidade que é natural do ser humano, em um contexto que não lhe é familiar, é um grande equívoco. O envolvimento com o lugar é pré-condição para o florescimento de um senso de comunidade, aumentando a disposição para resolver conflitos coletivos (MORRIS, 1996). As relações de confiança são o capital social, fator crucial no empoderamento das pessoas de uma comunidade. Existem três graus de participação definidos por PATEMAN (1970): a pseudoparticipação, onde os usuários são persuadidos a legitimar as propostas impostas pelos arquitetos, sem participar efetivamente das decisões por trás delas; a participação parcial, onde existe a preocupação em consultar o usuário, mas as decisões ainda estão nas mãos dos “especialistas”; por fim, a participação plena, onde todo indivíduo envolvi-

do no processo de decisão tem o mesmo poder que os demais. Quando a participação é bem sucedida, o sentimento de anonimato é reduzido ao fazer as questões individuais serem ouvidas pelos responsáveis pelo projeto (SANOFF, 2000). O produto entregue também não se limita a uma solução acabada, mas em constante diálogo com os usuários, permitindo adaptações ao longo do uso. Aos arquitetos-urbanistas cabe então a compreensão de seu trabalho como parte de um processo vivo (BARROS, PINA, 2012), trabalhando para alcançar uma resposta de projeto adequada ao momento, e que se permita crescer e transformar-se pela ação do público.

Fundamentação Teórica

“(...) o sentido de lugar baseia-se na necessidade de pertencer não a uma ‘sociedade’ em abstrato, mas a algum lugar em particular; satisfazendo essa necessidade, as pessoas desenvolvem o compromisso e a lealdade”. (BAUMAN, 2003: p.100 e 101)


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CONVIVÊNCIA E COLETIVIDADE

Na cidade contemporânea, os espaços coletivos são tratados sob duas óticas: por um lado, processos de revitalização, gentrificação e intervenções são guiados pela espetacularização da cidade; por outro, nas periferias e áreas de menor renda, o espaço público encontra-se geralmente em estado de abandono, fruto de pouca manutenção e desinteresse por parte da população e dos gestores públicos. Essa polarização reflete-se também na acessibilidade dos espaços “públicos” a parcelas específicas da população. A população com maior poder aquisitivo possui maior mobilidade e tem acesso a espaços de lazer e atividades diversas em diferentes áreas da cidade, enquanto a parcela da população de menor renda está limitada ao usufruto de espaços mais próximos à sua moradia (BASSO, 2001 apud LAYS e REIS, 2002). No contexto deste trabalho, discutir a apropriação de espaços de uso coletivo tem a intenção de mostrar a necessidade de tratar dos espaços de convivência, lazer e recreação nos

bairros de baixa renda, de forma a suprir as necessidades naturais de encontro e descanso mas também de forma a criar uma identidade para o local e um senso de pertencimento dos moradores em relação ao espaço que habitam, fundamentais para a autoestima de pessoas já tão impactadas pela situação de vulnerabilidade socioeconômica em que se encontram. O espaço público é marcadamente o lugar da expressão comunitária, do uso social coletivo e da multifuncionalidade. É um espaço essencial para a configuração e estruturação das cidades (MARCONDES, 2012). Sua qualidade se expressa através da intensidade com a qual é utilizado, bem como pela mistura de grupos e comportamentos que abarca (BORJA, 1998). Quando os espaços públicos são usados por uma grande variedade de pessoas e para múltiplas atividades, podem contribuir para a identidade coletiva da comunidade. (Apud Del Valle, 1997; Franck, Paxson, 1989). Carr et al (1993) define três pilares cultu-


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rais fundamentais que moldam os espaços públicos e a vida pública nas cidades: o primeiro está relacionado à vida social em comunidade, caracterizada por área de encontro e festejo. O segundo fator está ligado ao funcionalismo da vida pública, isto é, o atendimento das necessidades básicas dos cidadãos em termos de proteção e obtenção dos suprimentos necessários (comida, roupas). O último pilar envolve a simbologia e significado de um espaço para seus usuários: celebrações religiosas e comemorações de eventos históricos fazem parte de uma vida pública que transcende a individualidade e o espaço construído, ainda que de forma temporária. Com a ascensão dos espaços fechados e segregadores que justificam sua existência pela necessidade de segurança, há um forte declínio da vida pública nas cidades brasileiras, acompanhado de um certo grau de isolamento trazido pela facilidade de acesso à internet e a mudança nas relações sociais que a acompanham (QUEIROGA, 2009). No entanto, vida pública é o local

onde o contato acontece, onde o espírito coletivo se expressa, portanto, essencial para a vida urbana. Nas últimas décadas, ganhou força o processo de supressão do espaço público, tornando-o uma derivação do movimento (SENNET, 1978). Sem a atribuição de um valor intrínseco aos lugares, observa-se a importância dada à passagem, ao fluxo, em detrimento da permanência e da contemplação. O espaço público que se encontra nas cidades é pensado para funções como circular e estacionar, ou é resultante da construção de edifícios e vias, sem caracterizar-se como um espaço protetor ou protegido (BORJA, 1998). O foco no edifício e a rejeição do espaço da cidade tornou-se a ideologia dominante a partir dos anos 1960, fruto do movimento moderno e sua reverência ao lema “forma segue a função”, resultando em intervenções assépticas, hostis e indiferentes ao seu contexto. O dramático aumento do tráfego de automóveis individuais, seguindo a tendência da individualização

Fundamentação Teórica

“Culturas e climas diferem por todo o mundo, mas pessoas são iguais. Elas irão se reunir em público se você der a elas um bom lugar para isso. (GEHL, 2005: p.55)


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“In the absence of informal public life, living becomes more expensive. Where the means and facilities for relaxation and leisure are not publicly shared, they become the objects of private ownership and consumption.” (OLDENBURG, 1989, p. 11)

completa de bens e do modo de viver, foi fator determinante para corroer as condições necessárias para uma vida urbana de qualidade (GEHL, 2013). Junto a isso, o processo de internalização dos espaços de convivência acarreta um crescente abandono de espaços públicos, sendo os principais fatores a sua má-distribuição na cidade, falta de manutenção e investimentos (SILVA e VERSIANI, 2011). A sensação de insegurança e desconforto propiciados pela falta de cuidado desses espaços impedem que as funções primárias dos mesmos, o relaxamento e descontração, sejam exercidas. Ganham força então os espaços de convivência fechados, nos mesmos moldes da vida urbana contemporânea que enclausura-se em busca de segurança e transforma o lazer em mercadoria, contradizendo o caráter heterogêneo, acessível e igualitário do espaço público (CALDEIRA, 2000). Mercantilizar espaços tão necessários para a vida da população é condenar duplamen-

te as parcelas menos favorecida da sociedade: vivendo em áreas periféricas da cidade, a oferta de espaços de encontro e lazer é muitas vezes baixíssima ou isenta de qualidade, e o acesso às ofertas existentes na cidade é invariavelmente restrito, por questões de localização, custos e estigmatização. Nos dias de hoje, a tecnologia tem um impacto considerável no modo como os espaços públicos são ou não aproveitados, quando existentes. Se partes consideráveis do dia são usadas para as funções básicas do ser humano (trabalhar, alimentar-se, dormir), a função social dos espaços públicos pode não ser considerada um aspecto significativo da vida cotidiana. Somando-se a isso, a internet tem alterado o modo como as pessoas se relacionam, diminuindo a necessidade de contato e aumentando o isolamento. O papel dos espaços públicos de convivência ganha ainda mais importância neste contexto: como contrapor a individualização e isolamento da sociedade moderna, de forma a transpor a fo-


bia do espaço público e torná-lo algo apropriável, desejado? Os espaços subutilizados falham em satisfazer seus usuários (FRANCIS et al, 1984), sendo crucial identificar as funções e experiências sociais que espera-se que aconteçam nos espaços urbanos, oferecendo soluções apropriadas às demandas. A funcionalidade, porém, não é a chave para a atração de pessoas: o fácil acesso, a liberdade de ações, a criação de territorialidade e pertencimento e a habilidade de adaptação espacial a diferentes públicos e usos compõe um leque de fatores que garantem a qualidade desse espaço (CARR et al, 1993). Convivência e lazer Para Dumazedier (1980), todas as atividades realizadas pelo ser humano em busca de repouso, recreação, entretenimento, participação social e troca de informação, nos períodos em que não está realizando obrigações familiares, profissionais e sociais, é uma forma de lazer. São

atividades que expressam uma fuga da rotina, uma expressão alienada de prazeres de diversos tipos, e estão intrinsecamente ligados aos espaços em que são realizadas. Gehl (2006) classifica as atividades humanas em três categorias: atividades necessárias, atividades opcionais e atividades sociais. A relação entre essas atividades e o ambiente urbano está no impacto deste na realização ou não dessas atividades: se uma atividade é necessária, vital, esta será realizada sem grande influência do ambiente externo, seja ele bom ou ruim. Uma atividade opcional tem chances muito maiores de acontecer em um ambiente agradável, prolongando sua duração e influenciando mais pessoas a realizarem suas atividades no mesmo ambiente. Consequentemente, as atividades sociais aumentam proporcionalmente, pois a permanência de pessoas incentiva o contato. A convivência supre a necessidade de novas informações, fazendo surgir a necessidade

Fundamentação Teórica

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Relação entre a qualidade dos ambientes com o tipo de atividades realizadas pelas pessoas (fonte: autoria própria, com base em GEHL, 1971)

dos terceiros lugares (OLDENBURG, BRISSET, 1982): espaços que permitam o desprendimento das tensões impostas pela vida cotidiana, onde o lazer e o ócio ocorrem livres da obrigação de produção e consumo impostos pela sociedade contemporânea (ANDRADE, 2012), trazendo equilíbrio entre a privacidade excessiva do ambiente residencial e a esfera pública, oferecendo um local para a realização de atividades que não se encaixam nos primeiros lugares - as moradas -, tampouco nos segundos - o espaço de trabalho (OLDENBURG, 2001). A característica marcante desses terceiros lugares é a atmosfera similar à da casa, no que tange o conforto e acolhimento, mas com inserção na esfera pública. O espaço de vizinhança constitui um nível intermediário entre o espaço público e privado, podendo ser considerado um espaço de habitar exterior, público mas não anônimo, no limiar entre animação e sossego. Um espaço coletivo de qualidade, que permita o desenvolvimento de uma vizinhança de proxi-


midade, deve ser planejado com base na coesão entre os espaços e usos previstos, evitando espaços sem definição de uso e dimensões exageradas, bem como a situação oposta, de excesso de informações, construções e espaços residuais (Coelho, 2012). Pormenorizar o desenho urbano, aprimorar os espaços existentes, a consideração pela escala humana e pela articulação da gradação entre privacidade e abertura, e a criação de uma transição mais humanizada da esfera coletiva para o essencialmente privado, entendendo o usuário e suas necessidades, é a chave para projetar espaços coletivos de convivência. O conceito de território habitacional aborda o ato de “habitar” as diferentes escalas da cidade: do interior da residência à sua região imediatamente próxima, a “vizinhança”; desta, à escala do bairro; daí, à cidade. Não se definem limites: o que se pode definir são os limiares, as áreas de contato e transição, pela incapacidade de separar as dimensões material e imaterial do habitar do território. Assim determinado, en-

tende-se a relação entre privado e público, e a importância de pensar no “habitar expandido”, na “(...) vizinhança, que tanto ainda é (a nossa) ‘habitação’, como já é a ‘cidade’ (nossa e de todos).” (Antonio Baptista Coelho, 2012, s. p.) A conformação de um sentimento de vizinhança é especialmente importante na periferia urbana: a convivência social tem um papel importante no cotidiano daqueles que não gozam plenamente de seus direitos como cidadão (MAGNANI, 1994), reforçando laços afetivos e permitindo reconhecer lealdade em um grupo de pessoas, oferecendo maior segurança no ato de “habitar”. Buscar o retorno da convivência nos espaços da vizinhança é lutar contra a tendência atual de confinamento em busca de segurança, exemplificadas pelos shopping centers e condomínios fechados. Aliviar a sensação de insegurança melhorando a convivência e transformando a vida comunitária deve ser prioridade, atentando para a reinvenção da vida pública e das trocas sociais.

Fundamentação Teórica

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O LOCAL

O Local

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CAMPINAS

Para compreender a escolha da temática do projeto e sua justificativa, é necessário entender o crescimento da cidade de Campinas nas últimas décadas como um processo de urbanização contíguo ao da formação de megacidades na América Latina, caracterizadas pela desigualdade de distribuição de renda e precariedade das condições de moradia e acesso a serviços públicos pelas parcelas mais pobres da população. Rica produtora de café e cana-de-açúcar no século XIX, com o declínio da agricultura, abraçou a atividade industrial a partir da década de 1930, após a crise do café e esgotamento das terras para o plantio. Como recordação dos tempos de atividade cafeeira e canavieira, restam até os dias de hoje grandes fazendas em áreas urbanas, contrastando com bairros de maior ou menor densidade.

A urbanização dispersa e excludente de Campinas, cujo crescimento orientou-se pela construção das rodovias Anhanguera, Bandeirantes, Dom Pedro I e Santos Dumont, produziu inúmeras áreas de vazios urbanos, segregação espacial e baixa densidade populacional. O surgimento de favelas e ocupações em Campinas está relacionada diretamente com essa expansão guiada pelos eixos rodoviários, que se por um lado facilitavam o comércio entre cidades, por outro destruía as conexões entre periferia e centro. Frutos dessa urbanização, os bairros periféricos são prejudicados pela falta de investimentos por parte do Governo e pela dificuldade de acesso à economia e à cidade legal. É nesse contexto de exclusão que serão trabalhados a retomada do direito à cidade, o espaço coletivo de convivência e a humanização do espaço em uma região de altíssima vulnerabilidade social: o Jardim São Marcos, na região noroeste de Campinas.


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REGIÃO METROPOLITANA

Região metropolitana de Campinas | fonte: EMPLASA, 2010.

O Local

A região metropolitana de Campinas abrange 20 municípios e é uma das regiões mais economicamente dinâmicas do estado de São Paulo e do Brasil, com um Produto Interno Bruto de R$42,7 bilhões em 2014, sendo o terceiro maior PIB de uma cidade não-capital no país. A região comporta um forte parque industrial, uma economia agrícola significativa, alguns dos centros de educação, pesquisa e inovação mais importantes do país, e o aeroporto de Viracopos, o maior centro de carga aérea da América do Sul. Além disso, a implantação do Aeroporto de Viracopos juntamente com a criação do Distrito Industrial de Campinas contribuiu com o movimento de periferização da região, através da construção de vários conjuntos habitacionais. Entre as cidades que compõe a região, Campinas concentra as regiões de Índice de Desenvolvimento Humano de valor mais alto - 0,808 - 0,901 - e também as de IDH mais baixo, 0,493 - 0,539 (IPEA, 2010 - ver anexo A), mostrando a extrema desigualdade existente no município.


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A EXPANSÃO URBANA O processo de expansão da malha urbana teve como fator principal a construção de importantes rodovias na região a partir da década de 1940, quando iniciaram-se as obras da Anhanguera (SP 330), e a instalação do Aeroporto de Viracopos na região Sudoeste de Campinas, nos anos 1960. As conexões proporcionadas pelas rodovias e pelo aeroporto atraíram diversas empresas para Campinas, o que ocasionou a ocupação dispersa e uma intensa conurbação com as cidades vizinhas (STEINBERG E JUNIOR, 2014) Na década de 1970, com o processo de interiorização da industrialização do Estado de São Paulo, tanto a cidade de Campinas como os municípios que compõe sua região metropolitana tiveram um crescimento econômico e territorial de forma acelerada, atraindo um grande contingente populacional que desencadeou processos diferenciados de expansão urbana: em Campinas, as atividades de comércio e serviços concentraram-se na região central, que também foi a mais verticalizada; ocupação residencial de classe média e alta na região nordeste, seguida pelos comércios e serviços voltadas a essa população; e ocupação popular e industrial em áreas periféricas, especificamente nas áreas sudoeste e noroeste, fator

que desencadeou uma intensificação do processo de conturbação com municípios vizinhos.

A formação da periferia Fernandes (2006) afirma que a formação da periferia em Campinas ocorreu em três fases principais: a primeira delas ocorreu até a aprovação do Código de Obras e Urbanismo (1959), com a criação de loteamentos para a classe média, em que os lotes eram vendidos a prestação, expandindo o perímetro urbano enfatizando a valorização futura dos terrenos pela instalação de indústrias no entorno. Inúmeras favelas começaram a surgir em Campinas na década de 1960, por conta dos migrantes atraídos pela prosperidade industrial. Loteamentos irregulares ou clandestinos surgiram para suprir a crescente demanda, aumentando o território construído e expandindo os limites urbanos (ver Anexo B). A segunda fase de expansão da periferia deu-se entre 1965 e 1979, período de construção de conjuntos habitacionais financiados pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH) em áreas distantes da área urbanizada existente até o período, e a abertura de lo-


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de Habitação, diminuindo drasticamente a produção habitacional no país. Durante os anos 1970 e 1980, as regiões noroeste e sudeste tiveram o maior crescimento, com visível aumento do número de favelas, conjuntos habitacionais e loteamentos clandestinos (SEPLAMA, 2006). O adensamento dessas regiões foi acompanhado pela ausência de investimentos em infraestrutura urbana e equipamentos públicos adequados, acentuando a precariedade dos processos de periferização urbana e aumentando a vulnerabilidade socioeconômica das parcelas mais pobres da população.

O Local

teamentos populares, com infraestrutura precária ou inexistente. Este período difere-se completamente do período de formação da primeira periferia, pois com o fim da Lei de Inquilinato (1991) e da estabilidade de empregos, não havia mais o interesse na compra de lotes por parte da classe média. Paralelamente, a instalação de grandes empreendimentos de comércio, serviços e habitação de médio e alto padrão ao longo das rodovias iniciou o processo de fuga das áreas centrais, alterando de vez o tecido urbano de Campinas. O conjunto desses processos de periferização, esvaziamento do centro e criação de novas “centralidades” articulou o abandono dos espaços públicos e a privatização dos espaços coletivos, aumentando a histórica desigualdade social. A terceira fase iniciou-se na década de 1980, quando a expansão urbana esteve relacionada aos empreendimentos voltados às classes média e alta, com a construção de loteamentos e condomínios fechados em regiões mais valorizadas. Na década seguinte, esse modelo voltado às classes mais abastadas é consolidado, e as políticas públicas de habitação são impactadas com o desmonte do Banco Nacional


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1842

1979


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1949

O Local

2014

Evolução urbana da cidade de Campinas | fonte: SEPLAMA, 2010


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MACROZONA 9 Localizada na região noroeste de Campinas, a macrozona 9 possui uma população total de 94.164 habitantes (IBGE, 2010), distribuídos por 28,8 km² de extensão. Abrange duas Áreas de Planejamento e 6 Unidades Territoriais Básicas (UTB). As regiões que compõe a macrozona 9 são: o distrito de Nova Aparecida, os loteamentos Parque Santa Bárbara, Vila Boa Vista, Parque Via Norte, toda a região dos Amarais, Jardim São Marcos, Jardim Santa Mônica e Jardim Campineiro. Cruzam a macrozona 9 as rodovias Dom Pedro I e Anhanguera, e a região faz divisa com os municípios de Sumaré e Hortolândia a oeste. Até a década de 1940, o território da Macrozona 9 era totalmente rural e o município de Campinas ainda englobava as cidades de Sumaré, Hortolândia e Paulínia, que emanciparam-se em 1964. Fazendas de café compunham o território, e muitas comunidades quilombolas estavam dispostas ao longo do Ribeirão do Quilombo, de onde deriva seu nome. Existiam na atual região do Jardim Santa

Mônica dois grandes engenhos: o Engenho da Lagoa e o Engenho do Chapadão, cujas terras foram absorvidas por propriedades vizinhas no início do século XX. Parte destas terras, uma faixa localizada entre o Ribeirão do Quilombo e a Estrada dos Amarais, foi cedida para a construção do Aeroclube de Campinas, fundado em 1939. As terras do lado oposto à Estrada dos Amarais só viriam a ser loteadas em 1960. A construção de rodovias em Campinas impulsionou a urbanização nas áreas por onde passam. Na Macrozona 9, a via Anhanguera (SP330) e a Dom Pedro I (SP-65) foram responsáveis pelo surgimento de diversos loteamentos. A primeira, cujas obras em Campinas tiveram início em 1948, fomentou a construção em áreas do sul ao noroeste de Campinas, fora da área de urbanização contínua. Já no período da construção da via Dom Pedro I, em 1969, induzindo ocupação urbana residencial na área do Jardim São Marcos e Jardim Campineiro, onde já existiam ocupações por con-


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> densidade populacional 7,5km 5

Macrozonas de Campinas e, em detalhe, inserção da área de projeto na macrozona 9 | SEPLAMA, 2016.

O Local

2,5 0


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Áreas verdes de Campinas | fonte: EMPLASA, 2010.

ta da migração em busca de empregos na indústria em Sumaré, e na parte sul do Jardim Santa Mônica. Em outras áreas, a ocupação foi essencialmente não residencial, voltada principalmente à atividade industrial. A macrozona 9 é uma área de baixa articulação com o restante da cidade devido à existência de rodovias em meio à malha urbana e também pela proximidade aos grandes vazios das fazendas do Exército, Santa Elisa e Santa Genebra. Há também a presença de linhas férreas no território, fator que aumenta o isolamento e apresenta-se como um perigo pela proximidade com áreas habitadas. A estruturação do território a partir de eixos de circulação de pessoas e mercadorias desfavorece a comunicação das áreas com o centro da cidade, e favorece o uso das funções que utilizam-se das conexões intermunicipais e intermetropolitanas. Apesar da proximidade a grandes áreas verdes, a macrozona 9 em si incorpora pouquíssimas áreas de vegetação nativa remanescente.


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As poucas áreas verdes existentes recebem pouca manutenção, não sendo de interesse para a população local. O índice de áreas verdes sociais ali é baixíssimo, sendo nulo em alguns bairros.

Conjunto habitacional Padre Anchieta em 1980 | Fonte: Pró-Memória de Campinas

O Local

CONJUNTOS HABITACIONAIS Em uma zona de característica essencialmente industrial, as intervenções públicas habitacionais ajudaram a aprofundar a fragmentação do território da macrozona 9, ora licenciando loteamentos completamente desconexos da cidade, ora promovendo gigantescos conjuntos habitacionais. As condições desfavoráveis da localização acabam por depreciar os preços dos lotes e habitações, atraindo homogeneamente a população de baixa renda. O isolamento e fragmentação dos conjuntos e loteamentos existentes nessa macrozona não propiciou a formação de centralidades marcantes. Uma exceção é o conjunto habitacional Padre Anchieta, cuja inauguração aconteceu em 1980 e levou mais de 15 mil pessoas a muda-


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rem-se para a região, reforçando o caráter residencial e fomentando o comércio, tanto para abastecimento local quando para suprir as demandas das rodovias que cruzam a área. De acordo com o Plano Municipal de Habitação, a macrozona 9 possui 35 assentamentos precários, que correspondem a 15% do total do município. 52% de sua população vive em conjuntos habitacionais, sendo a área com o maior índice de moradores de conjuntos habitacionais de Campinas. De um total de 5.199 domicílios existentes nesta macrozona, 1.664 estão em favelas, 2.731 em ocupações ilegais e 804 em loteamentos. As favelas e ocupações predominam em relação aos loteamentos, e concentram-se nas imediações destes e de conjuntos habitacionais. O Plano de Habitação classifica os assentamentos de acordo com o tipo de intervenção recomendada em três grupos: 1. Para assentamentos consolidados: regularização fundiária;

2. Para assentamentos passíveis de consolidação: 2.1 Urbanização simples (para ocupação de terrenos adequados, com ou sem necessidade de remoção e construção de novas moradias); 2.2 Urbanização complexa (para casos de terreno adequado ou não com alto índice de remoção e/ou necessidade de realização de obras complexas (drenagem); 2.3 Remanejamento/relocação: para assentamentos em terrenos inadequados, que podem ser adequados através da substituição do tecido urbano e das moradias 3. Para assentamentos não consolidáveis: realocação de assentamentos em terreno impróprio ou inadequado, quando o estudo ou projeto demonstrar a inviabilidade de consolidação. Para a macrozona 9, tem-se uma predominância de assentamentos com necessidade de regularização fundiária, urbanização simples e reasseamentos (SEHAB, 2010)


41 Tipo de assentamento

Tipo de intervenção

Número de unidades habitacionais

Assentamentos consolidados

Regularização fundiária

1119

Urbanização simples

1416

Urbanização complexa

776

Remanejamento/relocação

0

Reassentamento

1477

Assentamentos passíveis de consolidação Assentamentos não consolidáveis

Regularização fundiária Urbanização simples Urbanização complexa Remoção total

O Local

Assentamentos 1 - Jardim Aparecida 2 - Villa Régio e Corredor de Exportação 3 - Boa Vista e Chico Amaral 4 - Shalon I, II e III 5 - Pq. Cidade 6 - Jardim São Marcos 7 - Edwaldo Orsi

Assentamentos precários existentes na macrozona 9 | fonte: SEHAB, 2010


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PLANEJAMENTO DA ÁREA O Plano Local de Gestão da Macrozona 9, denominada “Área de Integração Noroeste” de acordo com o Plano Diretor Estratégico de 2016. Os principais aspectos levados em conta pelo Plano Diretor Estratégico de 2016 são: - o isolamento da região em relação ao tecido urbano de Campinas, pela existência de grandes áreas vazias no seu entorno (Fazendas, Complexo Delta); - poucas ligações viárias que ocorrem somente através de rodovias, constituindo grandes barreiras, tais como os eixos ferroviários também presentes nessa macrozona; - maior extensão de áreas destinadas ao uso industrial no município, das quais a maior parte não viabilizadas para tal finalidade; - carência de obras de infra-estrutura, serviços áreas de lazer e áreas verdes; - existência de um grande número de ocupações em áreas de risco (APPs e leitos ferroviários); - acentuado processo de conurbação com os municípios de Sumaré e Hortolândia; - impactos do aeroporto dos Amarais sobre a malha urbana do entorno.


Com base nesses aspectos, foram estabelecidas diversas diretrizes, entre as quais destaca-se a realização de adequações no zoneamento, propondo adensamento e intervenções no sistema viário, para consolidar os corredores comerciais existentes, facilitar o acesso à região e melhorar o transporte público. De influência direta neste trabalho, podemos citar as diretrizes relacionadas à definição de áreas para habitação de interesse social e a remoção de famílias em áreas de risco, a criação de subcentros em bairros residenciais, com implantação de serviços, comércios e equipamentos de lazer e cultura, e a criação de um sistema de áreas verdes sociais, de modo a aumentar o índice de áreas verdes sociais na macrozona (CAMPINAS, 2016). Com a intenção de instituir áreas verdes em 20% da área total da macrozona, os objetivos relacionados são: a proteção dos recursos hídricos, a requalificação da paisagem urbana, a preservação de fragmentos de vegetação nativa,

a criação de um corredor para fauna regional, a implantação de ciclovias para estímulo ao uso da bicicleta, a arborização dos espaços públicos e a drenagem urbana adequada. Em relação às áreas de inundação do Ribeirão do Quilombo, está prevista a construção de dois piscinões e a remoção das famílias em áreas de inundação para as áreas de ZEIS existentes nas proximidades do Jardim Campineiro. Essas diretrizes acerca do Ribeirão do Quilombo e seus afluentes também fizeram parte do Programa de Aceleração do Crescimento Quilombo (PAC Quilombo), que teve início em 2009 e funcionou com a parceria entre a Companhia de Habitação Popular de Campinas (COHAB) e a Secretaria de Habitação da Prefeitura Municipal de Campinas (SEHAB). O PAC Quilombo visava melhorar a macrodrenagem da região do Ribeirão e beneficiar os moradores do Jardim São Marcos, Jardim Santa Mônica e Jardim Campineiro, realocando as famílias moradoras de áreas de risco para novos conjuntos habitacionais.

O Local

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ÁREA DE INTERVENÇÃO

A área de intervenção deste projeto insere-se na Unidade Territorial Básica (UTB) 10, divisão administrativa da Prefeitura Municipal de Campinas para gestão local. Esta UTB abrange os bairros do Jardim São Marcos, Jardim Campineiro, Jardim Santa Mônica e Loteamento Vila Esperança. O estigma do narcotráfico marca a região há anos. Porém, a mobilização dos moradores e a atuação de projetos sociais tem resgatado com força a autoestima de seus moradores. As atividades existentes compõe um potencial a ser explorado: os espaços de convivência são uma ferramenta para o combate da alta vulnerabilidade à que esta população está exposta. Há a necessidade de expandir essas atividades, inclusive para os espaços públicos. A seguir, analisaremos o bairro mais profundamente, como base para a proposição do projeto.


O Local

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RegiĂŁo do Jardim SĂŁo Marcos (tracejado) e Amarais em meados de 1984 | fonte: SEHAB.


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Na década de 1940, grandes indústrias começaram a se instalar em Sumaré, município que foi até 1964 um distrito de Campinas. Em 1948, a pavimentação da rodovia Anhanguera tornou a região ainda mais atrativa para as indústrias, por conta da facilidade de transporte para outras cidades. Até a década de 1960, tanto a região do Jardim São Marcos quanto a região noroeste de Campinas como um geral eram quase exclusivamente rurais (SEPLAMA, 2010). Até então, não existiam loteamentos habitados. A oferta de empregos na indústria iniciou uma onda de migrações para a região de Sumaré, iniciando a formação de núcleos de favela na região do Jardim São Marcos, pela proximidade territorial. Os migrantes vieram do Nordeste, Paraná, Minas Gerais e outras cidades do estado de São Paulo, buscando uma sonhada vaga na indústria. Poucos conseguiram, e os demais se tornaram pedreiros, carpinteiros, vendedores, entre outras ocupações no mercado formal ou informal, limi-

tados pelas origens rurais (MARTINS e RANGEL, 2004). Vagas de emprego foram gerados com a instalação do CEASA na região, nos anos 1970. Inúmeras empresas de materiais de construção instalaram-se na região do São Marcos na década seguinte, constituindo um pólo que permanece até hoje, na região mais próxima ao acesso ao bairro (Avenida Felinto de Almeida). O atual contorno dos bairros que compõem o São Marcos é consequência da valorização de terras em torno do campus da Unicamp, confinando a população de baixa renda cada vez mais aos seus núcleos de favela e ocupação. A implantação da Unicamp não só valorizou a região de Barão Geraldo, mas também influenciou na instalação de outros centros tecnológicos e de pesquisa em áreas próximas ao São Marcos, aumentando o contraste entre duas regiões bastante distintas socioeconomicamente.

O Local

FORMAÇÃO DO SÃO MARCOS


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VULNERABILIDADE SOCIAL

“O indicador de vulnerabilidade social é adotado como indicador de pobreza, pela sua análise mais completa, que toma como referência uma “escala de renda e escolaridade dos chefes de família associada a demográficas do chefe familiar e expressa o risco de uma família cair na situação de pobreza absoluta ou relativa, ou se manter indefinidamente nela” (Prefeitura Municipal de Campinas, 2001). O índice de desenvolvimento humano na região do São Marcos é 0,66, um dos mais baixos de Campinas, que possui um índice médio de 0,81. É uma região de vulnerabilidade muito alta, em contraste com regiões vizinhas de vulnerabilidade muito baixa, como Barão Geraldo. A discrepância na renda e a exclusão social são responsáveis pelo alto índice de violência instalado nos bairros, e criouse um estigma em relação à imagem desses bairros marcados pela atuação de alguns grupos ligados ao narcotráfico (Martins & Rangel, 2004).

Existem inúmeras iniciativas que buscam romper com esse panorama negativo, levando apoio e formação aos moradores do São Marcos: organizações não governamentais, associações beneficentes e entidades sociais fornecem cursos profissionalizantes, atividades culturais, educação complementar e apoio às pessoas em situação de vulnerabilidade, além da atuação do Centro de Referência de Assistência Social Esperança, localizado no Campo dos Amarais com abrangência da região do São Marcos.


Região do Jardim São Marcos e Amarais em meados de 1984 | fonte: PESSATTI, 2015 com base no Plano Municipal de Saúde, 2010

O Local

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FAZENDA SANTA GENEBRA

JARDIM SANTA MÔNICA/ AMARAIS


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A região do Jardim São Marcos é composta por quatro bairros, cuja divisão é restritamente administrativa. Delimitada pela Rodovia Dom Pedro I ao sul, pela Fazenda Santa Genebra a norte e leste e pelo bairro Recanto Fortuna a oeste, não é surpreendente que exista uma certa homogeneidade no local. Há uma barreira porém, quanto à Vila Esperança, separada do restante dos bairros pelo Córrego da Lagoa.

Compõe a parte oeste do complexo São Marcos, é uma área com uso residencial expressivo pontuado por mercados, bares e igrejas. Nas proximidades com o bairro do Recanto Fortuna, foi construído o CDHU Jardim Campineiro. Nela encontram-se Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) de indução, a fábrica da Suzano Papel e Celulose e a Estação de Tratamento de Efluentes Vó Pureza.

JARDIM SÃO MARCOS

O bairro pelo qual a região é conhecida foi loteado pela prefeitura em 1962, juntamente com o Jardim Santa Mônica e o Jardim Campineiro. Concentra uma área de comércios voltados para a construção civil, na avenida que margeia a Rodovia Dom Pedro.

JARDIM SANTA MÔNICA

O Jardim Santa Mônica foi dividido pela Rodovia Dom Pedro I no início da década de 1970. Anteriormente a essa época, a região do São Marcos e a dos Amarais tinham maior articulação entre si. Encontra-se nesta área uma concentra-

ção de moradias de maior precariedade, principalmente nas proximidades com o Córrego da Lagoa. LOTEAMENTO VILA ESPERANÇA O Loteamento Vila Esperança foi planejado pela Companhia de Habitação Popular de Campinas (COHAB) a partir do Programa de Combate a Enchentes (PROCEN), obtendo recursos do Banco Mundial para suas obras em 1996. A gleba escolhida para o projeto, ao norte do Córrego da Lagoa, era rural e causou a expansão do perímetro urbano para a viabilização do conjunto de lotes com os embriões das habitações. As primeiras unidades do loteamento foram entregues em 1998. As 750 primeiras foram destinadas aos moradores reassentados da área de proteção do Córrego da Lagoa. Em 2008, foram entregues as últimas unidades, totalizando 1324 casas. Além de reassentados da APP do Córrego da Lagoa, moradores de outras áreas de risco de favelas do norte e leste de Campinas receberam moradias no Loteamento Vila Esperança.

O Local

JARDIM CAMPINEIRO


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POPULAÇÃO

Pirâmide etária da população do São Marcos | fonte: IBGE, 2010.

A população dos bairros Jardim São Marcos, Jardim Santa Mônica, Jardim Campineiro e Loteamento Vila Esperança possui divisão por sexos bastante equilibrada (49,70% homens e 50,30% mulheres). A pirâmide etária dessa população é uma típica pirâmide adulta, com concentração na faixa etária de 20 a 24 anos em ambos os sexos e uma reduzida população de idosos. O índice de alfabetização é de aproximadamente 91%, que em comparação com o índice municipal (97%), precisa ser melhorado. O número de pessoas sem rendimento é bastante elevado na região, e as faixas de rendimento mensal com maior concentração de pessoas são as de 1/2 a 2 salários mínimos por pessoa. Em relação aos domicílios, a média de habitantes por casa é de 3,45. 99,83% das casas são atendidas pela coleta de lixo municipal, 90,48% tem acesso à água da rede pública e 99,98% à rede de energia elétrica.


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Alfabetizados Não alfabetizados Divisão da população por sexo | fonte: IBGE, 2010.

Índice de alfabetização por faixa etária | fonte: IBGE, 2010.

Porcentagem de casas com lixo coletado, abastecimento de água e energia elétrica | fonte: IBGE, 2010.

Rendimento médio mensal por pessoa em número de salários mínimos | fonte: IBGE, 2010).

O Local

Número de moradores por casa | fonte: IBGE, 2010.


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ZONEAMENTO E USO DO SOLO

O zoneamento* na área de intervenção é dividido em 5 categorias:

Z01 - permite uso habitacional uni e multifamiliar horizontal e vertical, misto, comércio e serviços locais;

Z01 Z11 Z14 ÁREA VERDE PÚBLICA SEM ZONEAMENTO DEFINIDO

Z11- Habitacional uni e multifamiliar horizontal e vertical, comércios atacadistas, de produtos perigosos e local básico, serviços locais, de oficina, empresa, lazer, saúde e técnicos; instituições de âmbito local; Z14 - Comércios atacadistas, de produtos perigosos, de materiais em geral e local básico; serviços de todos os tipos, incluindo hotelaria, lazer e saúde; instituições em geral, especiais e de âmbito local; e indústrias não incomodas; habitação unifamiliar; Áreas verdes públicas - praças e praças ocupadas; Sem zoneamento definido - enquadram-se aqui as Áreas de Proteção Permanente. O uso do solo real mostra uma predominância de residências, atividade comercial concentrada próxima às avenidas maiores, uso misto residencial e comercial frequente e a presença de instituições de diversos tipos. Há apenas uma indústria (Suzano Papel e Celulose).

Zoneamento da região | fonte: Prefeitura Municipal de Campinas

* Lei de uso e ocupação do solo e site do Zoneamento de Campinas


USOS DO SOLO OBSERVADOS

Residencial Comercial Misto Institucional Industrial


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VIAS E TRANSPORTE

As vias de maior tráfego são as mais próximas da rodovia Dom Pedro I, enquanto as ruas de meio de bairro são bastante tranquilas. A conexão do Jardim São Marcos com o Loteamento Vila Esperança é feito por uma única rua de carros. Existem diversas passagens construídas pelos moradores (as pinguelas) para atravessar o Córrego da Lagoa, para melhorar o fluxo entre os bairros. Para atravessar a Rodovia Dom Pedro em direção ao Jardim Santa Mônica, existem duas passarelas de pedestres. As ligações dos bairros do São Marcos com o restante da cidade são tênues, evidenciando a situação de isolamento da área. Em relação ao transporte público, há seis linhas de ônibus que passam pela região, fazendo o trajeto entre a região do São Marcos para o centro da cidade. A principal reclamação dos moradores quanto ao transporte público é a precariedade dos ônibus, os atrasos dos mesmos e as poucas linhas que passam pela região.

269 310 312 313 314 316 317 319 381

Terminal Padre Anchieta Vila Olímpia/Corredor Central Terminal Central CDHU Amarais/Techno Park Terminal Padre Anchieta Corredor Central Jd. São José Parque Cidade Shopping Parque Dom Pedro

tabela 1: Linhas de ônibus que passam pela região | fonte: Emdec, 2016.


PRINCIPAIS VIAS, DENSIDADE DE FLUXO E PONTOS DE ÔNIBUS EXISTENTES

Baixo fluxo Médio fluxo Alto fluxo Rota de ônibus Ponto de ônibus Rua de terra

Rua Uriassu de Assis Batista

Rua André Grabois

Av. Maria Luísa Pompêo de Camargo

Rua Orlando de Oliveira

Rua Felinto de Almeida

Rodovia Dom Pedro I


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TOPOGRAFIA

C

D

A

A

B

B

C

D

A topografia na região é do tipo colinosa ondulada, apresentando grande diferença de nível na porção próxima ao Córrego da Lagoa, na parte leste do bairro. Entre a o Loteamento Vila Esperança e os demais bairros existe uma diferença de até 5m, enquanto o restante da região tem um terreno bastante aplainado. A divisa entre os bairros e a Rodovia Dom Pedro é também bastante acentuada, pois a Rodovia encontra-se em cota elevada em comparação à cota de implantação do bairro, formando um paredão


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JARDIM CAMPINEIRO

CÓRREGO DA LAGOA

LOTEAMENTO VILA ESPERANÇA

CORTE A JARDIM SÃO MARCOS

JARDIM SANTA MÔNICA

CÓRREGO DA LAGOA

CORTE B

JARDIM SÃO MARCOS

CÓRREGO DA LAGOA

FAZENDA SANTA GENEBRA

CORTE C

JARDIM SÃO MARCOS

CÓRREGO DA LAGOA

LOTEAMENTO VILA ESPERANÇA

CORTE D

O Local

JARDIM CAMPINEIRO


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EQUIPAMENTOS EXISTENTES

E.E. Vila Esperança | foto: autoria própria

Paróquia São Marcos | foto: autoria própria

CEU Vila Esperança | foto: autoria própria.

Associação dos moradores | foto: autoria própria

Em meio ao uso predominantemente residencial, existem no São Marcos alguns pontos de interesse local e regional, de diferentes funções. Destacam-se aqui as entidades beneficentes, organizações não-governamentais, cinco escolas para diferentes níveis de educação (desde Educação Infantil até o Ensino Médio), o Centro de Saúde São Marcos e o Centro de Artes e Esportes Unificados (CEU) Esperança. Há um conjunto habitacional do CDHU no Jardim Campineiro, composto por 5 edifícios de 5 pavimentos. Ao norte do Jardim Campineiro encontra-se a Estação de Tratamento de Esgoto Vó Pureza, que aumentou em 14% o índice de tratamento de esgoto na região (SANASA, 2003). A indústria da Suzano Papel e Celulose tem papel importante no bairro, pois emprega moradores e investe em projetos sociais da região. Uma das atividades de encontro mais comum envolve as igrejas, que aparecem em grande número espalhadas pelo bairro. De diferentes portes e religiões, as igrejas configuram-se também como espaços de lazer para diversas pessoas, principalmente em épocas de festas e eventos especiais.


EQUIPAMENTOS EXISTENTES NA REGIÃO

Estação de tratamento de esgoto

Entidades Beneficentes e ONGs

CDHU Jardim Campineiro

Igrejas

Fábrica da Suzano Papel e Celulose

Escolas

Centro de saúde

Cultural


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RIBEIRÃO DO QUILOMBO

A região de estudo localiza-se na bacia do Ribeirão Quilombo (ver Anexo C, e é cortada pelo Córrego da Lagoa, um dos afluentes deste Ribeirão. Há também um corpo d’água que divide o Jardim Campineiro do bairro Recanto Fortuna, a oeste. O Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) e a Lei da APA Campinas (Lei nº 10.850/2001) definem uma faixa de 30m de a partir de cada margem do corpo d’água para preservação permanente, onde não deve haver ocupação de nenhum tipo para recuperação da flora nativa. Embora a Secretaria de Habitação (SEHAB) regularize o loteamento próximo ao córrego da Lagoa (ver página 62), seria possível mover essas famílias para a Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) localizada no Jardim Campineiro, e para a ZEIS Recanto Fortuna (ver Anexo D, tirando-as da zona de proteção permanente e possibilitando a recuperação da mata ciliar.

Vegetação

A vegetação nativa da Bacia do Ribeirão do Quilombo caracteriza-se como de transição entre Floresta Estacional Semidecidual (vegetação de porte alto, em torno de 20m, com razoável perda de folhas no período seco) e Cerrado (gramíneas, arbustos e árvores esparsas). No verão, as cores predominantes são verde e amarelo, e marrom no inverno. A vegetação observada in loco na Área de Preservação Permanente do Córrego da Lagoa mostra uma mata ciliar pouco densa, afetada pela erosão do solo das margens do Córrego da Lagoa. Algumas áreas tem a vegetação limitada a grama alta, enquanto outras apresentam solo impactado por erosão. Existem também árvores de grande porte em pontos localizados. Dentro dos bairros, há uma boa distribuição de árvores ao longo das ruas, com alguns exemplares de grande porte nas praças e terrenos não-construídos.


VEGETAÇÃO EXISTENTE

Densidade de vegetação Menor densidade

Maior densidade Área de preservação permanente - 30m


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PLANOS PARA A ÁREA

Ribeirão do Quilombo, com fazenda Santa Genebra ao fundo | foto: autoria própria.

As diretrizes do Programa de Aceleração do Crescimento para o Jardim São Marcos e as diretrizes ambientais do Plano Local de Gestão visaram a criação de um parque linear nas margens do Córrego da Lagoa, de modo a manter a Área de Preservação Permanente e aumentar o Índice de Áreas Verdes Sociais na região. Essa diretriz também é mencionada no Plano Local do Verde (Campinas, 2016). O parque teria ligação com uma nova ciclovia, conectada com a ciclovia municipal (ver Anexo E), de forma a privilegiar um meio de transporte alternativo ao carro. A criação de corredores ecológicos, de forma a interligar os fragmentos de vegetação remanescentes e garantir a sobrevivência de espécies da fauna e flora, equilibrando os ecossistemas, também aparece como diretriz no Plano do Verde e no Plano Diretor. A Secretaria de Habitação propõe para a área um loteamento de configuração semelhante à ocupação hoje existente próximo ao Córrego da Lagoa, assentando


DIRETRIZES AMBIENTAIS DO PLANO DE GESTÃO DA MACROZONA 9

Pontos de passagem - corredor ecológico Área do Parque Linear proposto Ciclovia Loteamento proposto pela SEHAB


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DINÂMICA DO BAIRRO

De forma a compreender a dinâmica real do São Marcos, visitas foram realizadas em diferentes dias e períodos, para visualizarmos a situação do bairro em diversos momentos. O mapa ao lado apresenta algumas das observações realizadas em uma tarde de sábado, quando o movimento em partes do bairro era grande, tanto de automóveis quanto pessoas. Havia, na ocasião da visita, diversas rodas de conversa nas calçadas, bares lotados, comércios informais, crianças brincando no meio da rua, entre outros usos do espaço público bastante relevantes para este trabalho. Nas visitas também puderam ser constatadas algumas fragilidades, como a divisa com a Rodovia Dom Pedro que constitui um grande paredão em frente a algumas quadras. Há também a questão da divisa com a área rural, que pela sua indefinição acaba por tornar-se uma área sem cuidados, estranha ao restante do bairro.

Entre a Vila Esperança e a Fazenda Santa Genebra existe uma faixa de aproximadamente 15m de largura transformada em horta pelos moradores. Há um grande potencial nessa faixa, ainda que sejam poucos os pontos de cultivo apropriado. Existe no Jardim Santa Mônica, na porção mais próxima ao Córrego da Lagoa, casas de maior precariedade, contrastando com as demais casas do bairro. Essas moradias estão concentradas em ruas sem asfaltamento, criando uma imagem negativa do espaço, afetando diretamente a autoestima dos moradores dessa área do bairro. Fotografias tiradas durante visitas em diferentes dias permitem entender algumas características das ruas, fluxos, condição das construções e o uso do lugar.


ANÁLISE DA DINÂMICA NO BAIRRO

Rodas de conversa

Festas

Grande fluxo de pessoas

Bares

Limites indefinidos

Comércio de rua

Horta comunitária

Pessoas na calçada Grupos de pessoas


68 1

6

11

16

2

7

12

17

3

8

13

18

4

9

14

19

5

10

15

20

fotos: autoria prรณpria)


69

O Local

LOCAL DAS FOTOS


70

VAZIOS POTENCIAIS “Vazios: lugares onde a energia deve ser expurgada e, ao mesmo tempo, onde estão subentendidos os melhores futuros da cidade.” (TEIXEIRA, 2016, sem página)

Em uma região com ocupação do solo bastante densa, os terrenos vazios ou sub-utilizados oferecem um potencial projetual de grande interesse, permitindo a inserção de programas arquitetônicos diversos em uma malha urbana já consolidada. A cidade de Campinas possui uma quantidade grande de terrenos ociosos (ver Anexo F). No São Marcos, os terrenos vazios e subutilizados somam uma área total aproximada de 28.290,30m². Esses terrenos possuem dimensões variadas, uso inexistente ou de galpões, ferros velhos e estacionamentos, e geralmente encontram-se cercados, protegidos de possível ocupação.

Vazios e terrenos subutilizados encontrados na região do São Marcos | fotos: autoria própria)


CHEIOS E VAZIOS Terrenos vazios Terrenos subutilizados

CHEIOS E VAZIOS


72

PROGRAMAS EXISTENTES

Fazendo um levantamento das atividades existentes na regiao é possível enxergar potencialidades projetuais, de forma que o programa suporte o existente além de propor o novo. São oferecidos na região diversos cursos, atividades recreativas e esportivas e oficinas, para pessoas de diversas idades e interesses, por parte de Organizações Não Governamentais, escolas e associações beneficentes. Existem também os equipamentos públicos, tais como playgrounds para crianças, quadras e equipamentos de ginástica, localizados em praças.

Academia ao ar livre

Dança

Playground

Artesanato

Futebol

Skate

Artes plásticas

Ginástica

Teatro

Biblioteca/sala de leitura

Informática

Tênis de mesa

Cinema

Música e instrumentos

Xadrez

Coral

Outros esportes


PROGRAMAS EXISTENTES E SUA DISTRIBUIÇÃO


74

EVENTOS LOCAIS

A vida social nos bairros da região do Jardim São Marcos é composta por diversos eventos organizados pelas Organizações Não-Governamentais e Associações Beneficentes que atuam no local. São palestras, apresentações de teatro e dança, comemorações de datas festivas, entre outros diversos eventos que acontecem ao longo do ano. Um dos maiores eventos é o “Abraço Educativo-Social”, que anualmente reúne diversas entidades da região Norte de Campinas, e oferece um dia de lazer, oficinas, apresentações artísticas de alunos e jogos amistosos. Esse evento ocorre há mais de 19 anos e recebe em média 3.000 pessoas de diversos bairros. Nos últimos anos, o “Abraço”, como é popularmente conhecido, tem ocorrido no CEU Esperança, no Loteamento Vila Esperança. As festas e eventos são esperados com ansiedade pelos moradores, pela oportunidade de reunir os amigos e sair da rotina.


75

O Local

Chamada para competição de basquete; logotipo do “Abraço Educativo Social”; pôster de apresentação de cinema: a vida social no São Marcos sob diversos aspectos. | fontes: Facebook da Associação Direito de Ser, Facebook da MAE Maria Rosa e foto do pôster de autoria própria.


76

POTÊNCIAS E FRAGILIDADES Engajamento dos moradores com causas sociais. Vínculo com o bairro: a maioria das pessoas não deseja se mudar, apenas melhorar o bairro.

SOCIAIS

Diversas centralidades: ONGs, Associações, Escolas.

x

Fragilidades Isolamento em relação aos demais bairros da cidade

Vazios urbanos

Despejo de resíduos no Córrego

O Córrego da Lagoa

Horta urbana

Vulnerabilidade social associada ao rendimento familiar, acesso limitado à saúde, educação e empregos Ausência de olhos nas ruas

Potências

Redes de infraestrutura existentes

Baixa estima relacionada com o estigma da violência e tráfico de drogas

ESPACIAIS

Limites do bairro pouco trabalhados Ausência de uma linguagem visual Ausência de serviços básicos: lotéricas, bancos, posto de saúde 24h


77

PROGRAMAS DESEJADOS

Para identificar as demandas mais fortes por parte da população dos bairros abordados por este trabalho, foram realizadas algumas entrevistas (Apêndice A), conversas informais e uma atividade de preferência declarada, onde foram listados alguns programas e equipamentos de convivência e lazer e os participantes deviam escolher aquilo que os interessava e, em seguida, os três itens mais desejados por eles. Destacam-se a seguir alguns trechos de maior relevância identificados nas conversas, relacionados aos programas desejados pelas pessoas entrevistadas.

ESPAÇOS DE ENCONTRO PARA PÚBLICOS DIVERSOS

“(...) eu andei de bicicleta lá no (Parque do) Taquaral uma vez, foi bem legal, (...)” - Adriano, 18

“(...) quando a gente era criança, brincava mais na rua mesmo (...)” - Seu João, 71

“(...) tem pouco lugar que dá pra deixar o Heitor solto, quando ele for maiorzinho vai ser melhor, agora eu tenho que ser a sombra dele (...) - Naís, 52

“(...) tem a escola, tem o MAE Maria Rosa... tem outros lugares. Mas aí tem monitor, tem que fazer o que pedem, tem uniforme. Não dá pra brincar do que quer. Aqui (na rua) a gente brinca do que quer.” - Lucas, 10

ESPAÇOS DE RECREAÇÃO AO AR LIVRE

ESPAÇOS DE BRINCAR NA RUA

O Local

“Ah, os homens ficam no bar, as crianças tem a escola... a gente (mulheres) se reune aqui na minha casa, outro dia é na casa de outra... assim vai, né? Não tem muito onde ficar, seria bom se tivesse.” - Sueli, 56


78

ATIVIDADE DE PREFERÊNCIA DECLARADA A atividade de preferência declarada consistiu em, em um primeiro momento, apontar todos os programas que interessavam ao participante, sem número máximo ou mínimo de opções. Em um segundo momento, o participante escolhia os três mais desejados dentre todos. Participaram desta atividade 25 pessoas, abordadas de forma aleatória durante visita à área de projeto, das quais 10 eram homens e 15 mulheres, de idades variadas (conforme tabela 1). Os resultados desta atividade (ver apêndice B) embasam a escolha dos programas do projeto. Houve interesse por todos os programas e equipamentos mostrados na atividade, com destaque para o parquinho e a piscina, mais citados pelas pessoas dentre as três coisas que mais desejavam.

FAIXA ETÁRIA 4 - 13 14 - 19 20 - 39 40 - 59 >60 TOTAL

HOMENS 2 1 3 3 1 10

MULHERES 4 2 2 6 1 15

Tabela 1: Perfil dos participantes da atividade de preferência declarada


79 4

2

4

8

13

3

5

6

10

9

14

4

15

7

11

16

12

17

1. Piscina | 2. Playground | 3. Mesa de jogos no Parque Madureira no Rio de Janeiro, Ruy Rezende Arquitetos | 4. Praia artificial em Newcastle, Reino Unido | 4. Jogo de vôlei em quadra de areia| 5. Aparelhos de ginástica ao ar livre | 6. Arquibancada em Port au Prince, Haiti | 7. Praça molhada em Blaxland Riverside Park, Sydney (Australia) JMD Design | 8. Mesas lineares com banco em espaço público | 9. Redes de deitar em Copenhagen, Dinamarca, Monstrum Design | 10. Bancos e vegetação | 11. Pista de skate em | 12. Parede de escalada em Haia, Holanda; Open Fabric + Dmau | 13. Camas elásticas em cidade australiana | 14. Calçada ampla para caminhada | 14. Jogo de futebol em quadra de terra | 15. Quadra poliesportiva | 16. Ciclovia protegida do trânsito de pedestres

O Local

1


80

PROGRAMAS EXISTENTES

+ +

DESEJOS POTENCIALIDADES


REDE DE ESPAÇOS

= SÃO MARCOS DE CONVIVÊNCIA DO


4


A REDE


84

A REDE A rede de espaços de convivência no Jardim São Marcos surge como a união entre necessidade e desejo: o direito de viver a cidade, de apropriar-se dos espaços públicos e dar identidade a um lugar são os pilares deste projeto. Porém, o que o inspira são as pessoas, a vida que levam e a vida que gostariam de levar, suas relações entre si, com o espaço em que vivem, com o ato de habitar. Unindo o útil ao agradável, surge o primeiro conceito: ESPAÇOS PARA PESSOAS, para usar, ver, viver, se divertir, exercitar, passar o tempo: uma gama de atividades para todos os gostos. O segundo conceito relaciona-se às pré-existências, sejam físicas - um córrego, uma praça, uma rua; sejam sociais - as atividades de grupo, os costumes, uma tradição. O espaço de intervenção não é uma tela em branco, portanto trabalhar com o existente é criar oportunidades com os potenciais e propor soluções para as fragilidades.

A rede de espaços públicos de convivência São Marcos busca requalificar os espaços do bairro e criar uma nova relação dos moradores com sua vizinhança, permitindo a retomada do uso do espaço público e o direito ao lazer e à convivência na cidade. Pensando na cidade e seus equipamentos como uma grande rede, nota-se a tensão causada pela desigualdade social: enquanto ricos constroem muros, pobres sofrem as consequências da supressão dos espaços públicos e o aumento de sua condição de exclusão social. A rede aqui proposta busca criar um equilíbrio entre essas tensões, criando identidade a um bairro periférico e maior qualidade de vida para seus habitantes. O projeto divide-se em três camadas: o parque linear, a rede ambiental e os nós da rede, que em conjunto, formam a rede de espaços de convivência do Jardim São Marcos.


85

PARQUE LINEAR PRESERVAÇÃO DE MATA CILIAR - LAZER - EIXO - ÁGUA CONTEMPLAÇÃO DO RIO - TRAVESSIAS - CONVIVÊNCIA SAÚDE - LIGAÇÕES - DESCANSO - CULTURA - FESTA

REDE AMBIENTAL EDUCAÇAO AMBIENTAL - SUSTENTABILIDADE - RENDA RESILIÊNCIA - AGRICULTURA - CIDADANIA - ENCONTROS DESCOBERTAS - COMUNIDADE

NÓS

+ + A rede

ESPORTE - LAZER - CULTURA - ARTES - SAÚDE RENDA - EMPODERAMENTO - EMPREGO - MORADIA CELEBRAÇÃO - VÍNCULOS - EDUCAÇÃO - AUTO-ESTIMA


86

CONFIGURAÇÃO DA REDE

Num primeiro momento, foram definidas as centralidades de convivência e lazer existentes na região. A questão era: como conectá-las? Como expandir a área de atuação das mesmas? Como criar uma rede?

A região do São Marcos apresenta inúmeros terrenos vazios e subutilizados com potencial de uso, permitindo a inserção de novos equipamentos na área. Quais usos dar a esses espaços? Como relacionar os novos equipamentos com os já existentes?


87

O projeto: rede de espaços de convivência do Jardim São Marcos, constituída pela criação de novos eixos, reestruturação da área de proteção permanente, novos usos aos espaços vagos, conexão entre programas existentes e a expansão dos mesmos em novos equipamentos.

A rede

O Córrego da Lagoa apresenta-se tanto como potencial quanto fragilidade: inserí-lo no projeto era fundamental, justificado pelos planos de criação de um parque linear em suas margens. De que maneira poderíamos agregar o fator ambiental no projeto de espaços de convivência?


88

PARQUE LINEAR DO QUILOMBO

Para implementar o parque linear do Ribeirão do Quilombo, primeiramente foi definida a área de preservação permanente relacionada ao Córrego da Lagoa, de 30 metros de largura a partir de cada margem do corpo d’água, e estudadas as áreas de maior risco de inundação. Ações da prefeitura foram responsáveis por remover dezenas de casas de áreas de risco nos últimos anos, porém ainda é grande o número de famílias assentadas em área de proteção ambiental. Com essa área definida, foram demarcadas as residências que necessitam de remoção. As famílias serão transferidas para a ZEIS Jardim Campineiro (mais detalhes na página 100). Para orientar o processo, foram usados os seguintes critérios : 1. Menor número de remoções possível: em respeito aos moradores, suas histórias com o lugar e os recursos investidos na construção de suas residências, prezou-se pela manutenção do maior número de casas possíveis, ainda que alterações no corpo da construção fossem necessárias. A opção por manter-se no mesmo terreno, com menores dimensões para adequar-se à área disponível fora da APP, também foi considerada. 2. Remoções de área de preservação e de risco de inundação: os primeiros critérios para remoção foram relacionados à eliminação de risco ambiental e segurança dos moradores. 3. Remoções por acesso e viabilidade: o segundo critério de remoção foi a ausência de vias de acesso à residência e/ou implantação inadequada na quadra, em relação às casas restantes. 4. Remoção em Zona Especial de Interesse Social (ZEIS): apesar de não relacionada a áreas de risco ou proteção ambiental, é necessário remover as residências existentes em área de ZEIS para a implantação de habitação social para os reassentados das demais áreas de remoção.


REMOÇÃO TOTAL APP E RISCO

195 CASAS

30m

30m

100

500m

100 250

250

500m

Limite da APP

REMOÇÃO TOTAL ACESSO E VIABILIDADE

16 CASAS

ALTERAÇÃO SEM DEMOLIÇÃO

23 CASAS

REMOÇÃO TOTAL ZEIS JARDIM CAMPINEIRO

10 CASAS

TOTAL

221

CASAS


90

ADEQUAÇÃO DA ÁREA DO PARQUE LINEAR E ÁREAS LIMÍTROFES

Com a reestruturação das áreas de preservação permanente, o desenho do parque ganha forma. As vias ao redor do parque são redesenhadas, de forma a garantir acesso a todas as moradias nas quadras ao redor, permitir diversos acessos ao parque e a instalação de estruturas de apoio ao longo do mesmo. As vias de pedestres existentes são respeitadas, bem como os pontos de travessia do Córrego. As antigas pinguelas dão lugar a novas passarelas, de forma a respeitar as normas de acessibilidade. As etapas de definição do desenho do parque linear foram as seguintes:

1. O córrego como elemento estruturador: o parque linear gira em torno da proteção e contemplação do Córrego da Lagoa. A partir dele as demais decisões foram tomadas; 2. Área de Proteção Permanente (APP): os conceitos principais do parque relacionam-se à implantação da APP - restauração da vegetação nativa e criação de áreas verdes sociais. 3. Espécies nativas: a manutenção das espécies existentes e a reinserção de espécies nativas da Bacia do Ribeirão do Quilombo visam melhorar o ecossistema local. As ações de plantio e manejo podem ter cunho educativo para a população, melhorando os vínculos dos moradores com a natureza.

MAPA DE REMOÇÕES

4. Fluxos e usos: respeitando as travessias existentes, os fluxos ao longo do parque foram definidos. Ao longo desse, foram criadas áreas de encontro, lazer e contemplação, adjacentes à APP, englobando usos diversos: oficina de bicicletas comunitária, auditório a céu aberto, mirante, entre outros. Os caminhos criados devem permitir uma boa drenagem da água, portanto a opção por elevá-los do solo com uma estrutura metálica mostra-se adequada.


ReferĂŞncias

91


92

REFERÊNCIA PROJETUAL

QIAN’AN SANLIHE GREENWAY

AUTOR: TURENSCAPE LOCALIZAÇÃO: QIAN’AN,CHINA ANO DO PROJETO: 2010 A REGENERAÇÃO DAS MARGENS DO RIO SANLIHE ATRAVÉS DA MANUTENÇÃO DA VEGETAÇÃO EXISTENTE E DA CRIAÇÃO DE NOVOS FLUXOS, AO LONGO DO RIO E CRUZANDO O MESMO, DEVOLVEU UMA ÁREA FORTEMENTE MARCADA PELA DEGRADAÇÃO INDUSTRIAL À CIDADE. ATRAVÉS DE ESTRATÉGIAS SUSTENTÁVEIS E DA INSERÇÃO DE UM ELEMENTO VISUAL MARCANTE, INTEGRA-SE FUNCIONALIDADE À PAISAGEM E INCENTIVA MAIOR CONTATO DAS PESSOAS COM A NATUREZA.

Qian’an sanlihe greenway | fonte: Turenscape


93

REFERÊNCIA PROJETUAL

DESENVOLVIMENTO DAS MARGENS DO MEURTHE

AUTOR: ATELIER CITE ARCHITECTURE LOCALIZAÇÃO: RAON L’ETAPE ANO DO PROJETO: 2012

Referências

PARTE DE UM PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DA CIDADE DE RAON L’ETAPE, A CRIAÇÃO DE UM PARQUE ÀS MARGENS DO RIO MEURTHE QUE CORTA A CIDADE VISA DESENVOLVER ESPAÇOS PÚBLICOS E NATURAIS, GARANTINDO UM FUTURO SUSTENTÁVEL PARA A REGIÃO. A LIGAÇÃO DE DIFERENTES BAIRROS DA CIDADE ATRAVÉS DESTE PARQUE POSSIBILITA A INTEGRAÇÃO DE TODA A COMUNIDADE, DE FORMA A DAR IDENTIDADE AOS MORADORES.

Margens do rio Meurthe | fonte: Turenscape fonte: Michel Denancé


94

REDE AMBIENTAL

A rede ambiental interliga o Parque Linear e a horta comunitária do Loteamento Vila Esperança, criando um cinturão verde na divisa com a Fazenda Santa Genebra, servindo de zona de amortecimento para o caso de uma futura expansão urbana nesta área. Aproveitando os espaços residuais existentes, propõe-se os seguintes equipamentos:

1. Escola de cultivo, com foco no ensino de técnicas variadas de horticultura para os moradores e melhor aproveitamento das áreas disponíveis para horticultura, tanto para consumo próprio quanto para a venda.

2. Espaço para a venda dos produtos orgânicos produzidos na horta dos moradores, gerando renda e incentivando a agricultura familiar. Sua localização central na avenida e próxima à Associação dos Moradores é de fácil acesso, atraindo maior número de pessoas para a área, atualmente bastante vazia pela inexistência de atrativos;

3. Centro de educação ambiental, que ofereça suporte às escolas existentes no bairro e desperte o interesse nos recursos naturais presentes no próprio bairro;

4. Cooperativa de reciclagem, oferecendo suporte às atividades dos catadores de lixo que moram e trabalham na região, e contribuindo para o tratamento sustentável de resíduos, evitando assim maior contaminação do córrego;


EQUIPAMENTOS PROPOSTOS 1

Escola de cultivo

3

Feira de Orgânicos

2

4

Centro de Educação Ambiental

Cooperativa de Reciclagem

EQUIPAMENTOS EXISTENTES

1

2

A

B

D

A

CEU Vila Esperança

B

Associação de Moradores

C

CEI Nave Mãe Governador Eduardo Henrique A. Campos

D

E. E. Vila Esperança

3

C 4 100

500m 250


96

REFERÊNCIA PROJETUAL

ACADEMY FOR GLOBAL CITIZENSHIP

AUTOR: STUDIO GANG ARCHITECTS LOCALIZAÇÃO: CHICAGO, EUA ANO DO PROJETO: 2016 A CRIAÇÃO DE UMA ESCOLA QUE ENSINASSE DESDE CEDO A IMPORTÂNCIA DE UM ESTILO DE VIDA SUSTENTÁVEL: COM ESSA PREMISSA, O PROJETO ENFATIZA O CONTATO COM A NATUREZA E A CRIAÇÃO DE UMA HORTA DE RESPONSABILIDADE DOS ALUNOS., PARA QUE APRENDAM VALORES COMO A PACIÊNCIA, RESPEITO E EMPATIA EM CONTATO UNS COM OS OUTROS

REDE AMBIENTAL

Projeto da Academy for Global Citizenship | Fonte: Inhabitat


97

REFERÊNCIA PROJETUAL

CONSTELLATIONS BAR

AUTOR: H MILLER BROS LOCALIZAÇÃO: LIVERPOOL, INGLATERRA ANO DO PROJETO: 2014

Referências

COBERTURA DE RÁPIDA EXECUÇÃO E PRESENÇA MARCANTE, FOI PROJETADA PARA UM FESTIVAL DE VERÃO, PODENDO RECEBER DIFERENTES USOS - BAR E RESTAURANTE, ESPAÇO DE ENCONTRO, FESTAS. O CONCEITO PRINCIPAL DESSE PROJETO É A COBERTURA QUE UNIFICA DIFERENTES ESPAÇOS, CRIANDO UMA IDENTIDADE.

Constelation Bar | Fonte: H Miller Bros


98

OS NÓS DA REDE

A união entre os programas existentes, programas desejados e os terrenos vazios potenciais formam os NÓS da rede de espaços de convivência, com diferentes impactos entre si: os nós mais fortes concentram maior número de atividades e sua zona de influência é maior que os demais nós, porém só existe uma rede se existir o equilíbrio entre todos os pontos que a compõe. A força dos Nós é medida em uma escala de 1 a 3, do mais forte ao menos forte respectivamente, de acordo com a quantidade de público que os programas abrangem. Cada nó possui ênfase um programa ou público, ainda que alguns equipamentos ou atividades possam se repetir. Os programas de cada nó serão mostrados a seguir, juntamente com a ligação entre os espaços que compõe cada nó e sua relação com os equipamentos existentes.

NÓS FORÇA 1

NÓS FORÇA 2

NÓS FORÇA 3


1

2

1

Núcleo Jardim Campineiro

2

Artes e Circo

3

Mundo das Crianças

4

Núcleo de Tecnologia

5

Esportes e Recreação

6

Central do Parque

7

Centro de Artesanato

8

Centro de Empoderamento Feminino

9

Padaria Escola e Feira

6 3 7

8 4 5 100

500m 250

9


1.

100

NÓ 1

NÚCLEO JARDIM

IM

RQU

IO LAUD C A RU

2.

FU ONIO

ANT

CAMPINEIRO

NÓS DA REDE

As famílias removidas da área de preservação do Córrego da Lagoa serão transferidas para o Núcleo Jardim Campineiro, que une a ZEIS Jardim Campineiro com os terrenos vazios ou subutilizados do entorno, permitindo a utilização de uma área total de 38.992,62m² de área útil. Considerando as 221 famílias que necessitam ser transferidas e uma área de 60m² por residência*, são necessários 13.260m² de habitação. Para criar uma vizinhança de uso misto e atender às demandas por mais serviços por parte da população (ver entrevistas, p. 188), a área receberá equipamentos de lazer e serviços, diversificando o uso do solo essencialmente residencial. A proximidade com o parque linear propicia uma implantação das residências com ênfase no espaço coletivo e fluxos, criando quadras abertas ao pedestre e centros de quadra de uso comum. *segundo Lei de Habitação Social nº 10.410 de Janeiro de 2000, da Câmara Municipal de Campinas.

3.

Residências Comércios básicos 4. Serviços básicos Áreas de convivência Estacionamento

RECANTO FORTUNA

1. PRAINHA DO PARQUE LINEAR 2. ZEIS JARDIM CAMPINEIRO 1 (terreno: 17.569,00m²) 3. ZEIS JARDIM CAMPINEIRO 2 (terreno: 13.203,25m²) 4. CDHU JARDIM CAMPINEIRO 5. ZEIS JARDIM CAMPINEIRO 3 (terreno: 8.220,00Mm²)

IS

E ASS

SCO D RANCI

RUA F

5.

OMBO

TE PAL

ICEN RUA V


101

REFERÊNCIA PROJETUAL

KIC PARK AUTOR: 3GATTI LOCALIZAÇÃO: SHANGHAI, CHINA ANO DO PROJETO: 2009

A rede

ANTIGA ÁREA RESIDUAL NO CENTRO DE SHANGHAI, FOI TRANSFORMADA EM PARQUE PARA SERVIR COMO LOCAL DE ENCONTRO E CONTEMPLAÇÃO DA NATUREZA E RESPIRO EM MEIO ÀS CONSTRUÇÕES DO ENTORNO. A VARIAÇÃO DE NÍVEIS PERMITE O DESCANSO E A BRINCADEIRA, PARA TODAS AS IDADES.

Kic Park | fonte: Architizer


102

REFERÊNCIA PROJETUAL

complexo de HABITAÇÃO SOCIAL AUTOR: PROCTOR AND MATTHEWS ARCHITECTS LOCALIZAÇÃO: CAMBRIDGE, INGLATERRA ANO DO PROJETO: 2015 COMPLEXO RESIDENCIAL COM DIVERSAS TIPOLOGIAS, SEGUINDO UM PARTIDO ARQUITETÔNICO COMUM. A IMPLANTAÇÃO FOI PENSADA EM SEQUÊNCIAS DE BLOCOS INICIADAS EM UMA PRAÇA ABERTA, ONDE OS EDIFÍCIOS MAIS ALTOS CRIAM MARCAÇÕES NO CONJUNTO. O OBJETIVO DO PROJETO ERA CRIAR UMA SENSAÇÃO DE VILA, EMBORA ATUALMENTE JÁ EXISTAM 306 CASAS CONSTRUÍDAS NO COMPLEXO.

Fotos do complexo em Abode | fonte: Dezeen


A rede

103

Implantação do conjunto | fonte: Dezeen


104

CENÁRIO

ZEIS JARDIM CAMPINEIRO 3

ANTES


105

A rede

DEPOIS


106

NÓ 2

ARTES E CIRCO A criação de um pólo de Artes parte da existência de diversas atividades relacionadas à música, teatro, dança, pintura e escultura no bairro, oferecidas principalmente pelo MAE Maria Rosa e pela Associação Beneficente Direito de Ser. Criar espaços com infraestrutura para receber apresentações, aulas, ensaios e eventos em geral reforça a vertente artística do bairro, expandindo programas culturais importantes para a população. A intervenção nos espaços próximos ao CEU Vila Esperança visa aumentar a heterogeneidade de público que frequenta o local: atualmente, o CEU Vila Esperança é pouquíssimo frequentado por mulheres e crianças, apesar das atividades oferecidas abrangirem todos os públicos. A implantação de uma Escola de Artes Circenses busca oferecer uma atividade diferente das existentes atualmente, e uma cujo espaço físico tem necessidades bastante específicas. Esta escola abrigará também espaços voltados para as artes cênicas, de modo a complementar a utilização do auditório do CEU. A existência de terrenos vagos na Avenida Maria Luísa de Pompeo Camargo propicia uma ocupação que reverta o esvaziamento desta via: alocar um pólo de atração nesta região permite que haja mais movimento e maior sensação de segurança ao caminhar. A facilidade de acesso ao local, tanto para os que moram no bairro quanto os que chegam de fora, também foi um fator considerado. Neste local, o programa é voltado para artes plástica, música e dança, permitindo a expansão de atividades existente e a inserção de atividades novas.

CENTRO DE ARTES E CULTURA SALAS DE ENSAIO E PRÁTICA DE DANÇA SALAS DE ENSAIO E PRÁTICA DE MÚSICA ATELIÊS DE PINTURA E ESCULTURA ATELIÊ DE MATERIAIS RECICLÁVEIS SALAS DE ESTUDO TEÓRICO MIDIATECA

ESCOLA DE ARTES CIRCENSES MALABARISMO TECIDO CONTORCIONISMO ACROBACIAS IMPROVISAÇÃO


107

1. ESCOLA DE ARTES CIRCENSES (terreno: 2008,75m²) 2. CEU VILA ESPERANÇA 3. MOVIMENTO ASSISTENCIALISTA MÃE MARIA ROSA 4. CENTRO DE ARTES JARDIM SÃO MARCOS (terrenos: 6759,00m² e 1532m²) 5. POSTO DE SAÚDE SÃO MARCOS 6. ESCOLA ESTADUAL PROF. CASTINAUTA DE BARROS MELLO E ALBUQUERQUE 7. ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE DIREITO DE SER

1.

2.

LOTEAMENTO VILA ESPERANÇA

Av. MARIA LUÍSA PO

MPEO DE CAMARGO

3.

SUZANO PAPEL E CELULOSE

4.

1. MOVIMENTO ASSISTENCIALISTA ESPÍRITA (MAE) MARIA ROSA 6. 2. EDIFÍCIO 1 - CENTRO CULTURAL DE ARTES PERFORMÁTICAS - 6759,00m2 3. ESCOLA ESTADUAL CASTINAUTA DE BARROS MELLO E ALBUQUERQUE 4. ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE DIREITO DE SER 5. EDIFÍCIO 2 - CENTRO CULTURAL DE ARTES PERFORMÁTICAS - 1532,60m2 20

50

100m

7.

A rede

5.


108

REFERÊNCIA PROJETUAL

ESCOLA NACIONAL DE ARTES CIRCENSES AUTOR: NP2F ARCHITECTES LOCALIZAÇÃO: CHÂLON-ET-CHAMPAGNE, FRANÇA ANO DO PROJETO: 2015 ÁREA DO PROJETO: 20.000,00m² NOVO EDIFÍCIO PARA UMA TRADICIONAL ESCOLA DE CIRCO FRANCESA.

Interior e fachada da escola | Fonte: Nicolas Waltefaugle


A rede

109

Implantação da escola | fonte: Dezeen


110

CENÁRIO

ESCOLA DE CIRCO

ANTES


111

A rede

DEPOIS


112 LOTEAMENTO VILA ESPERANÇA

NÓ 3

RUA HE

RMÍN

MUNDO DAS CRIANÇAS Situada em área mais residencial e tranquila do São Marcos, o Mundo das Crianças propõe espaços lúdicos, que desafiem as crianças ao mesmo tempo que divertem. A casa na árvore aproveita a existência de uma grande árvore em terreno vazio, criando um elemento central em um playground. A ludoteca oferece diversos jogos e espaço para as crianças conviverem em grupo, aprendendo a dividir e fazendo amizades. A praça do pulo é composta por diversas camas elásticas e desníveis imitando dunas nas quais as crianças podem pular e relaxar.

1.

3.

NUCCI RUA LUIS ARISTE O

LUDOTECA BIBLIOTECA DE JOGOS MESAS DE JOGOS

PRAÇA DO PULO TRAMPOLINS DUNAS ARTIFICIAIS

CCI

2. Ludoteca Playground Casa na árvore

CASA NA ÁRVORE CASA DE MADEIRA PLAYGROUND

IA RI

RUA ANATOLE FRANCE

1. CASA NA ÁRVORE (terreno: 347,66m²) 2. LUDOTECA (terreno: 882,95m²) 3. PRAÇA DO PULO

10

20

50m


113

REFERÊNCIA PROJETUAL

POTGIETERSTRAAT AUTOR: CARVE LANDSCAPE ARCHITECTS LOCALIZAÇÃO: AMSTERDÃ, HOLANDA ANO DO PROJETO: 2010 ÁREA DO PROJETO: 1050,00m²

A rede

“UMA PONTE PARA A INTERAÇÃO NA VIZINHANÇA”

Fotos da praça em uso | Fonte: Carve Architects


114

CENÁRIO

PRAÇA DO PULO

ANTES


115

A rede

DEPOIS


116

NÓ 4

NÚCLEO DE TECNOLOGIA

O Núcleo Tecnológico é uma expansão das atividades existentes no Grupo Primavera, que oferece aulas de Tecnologia da Informação, Robótica e outros cursos preparatórios para jovens e crianças, em parceria com empresas de tecnologia da região. A construção de dois edifícios para alojar as atividades dos cursos permite o aumento das turmas e a diversificação das atividades, gerando ainda mais oportunidades de formação de jovens profissionais. Além das aulas teóricas, o aprendizado prático em laboratórios e espaços dinâmicos enriquece a formação e incentiva a continuidade dos estudos. Espaços de convivência e lazer que permeiem o edifício possibilitam a formação de laços entre os alunos e destes com a escola. Os ambientes devem ser lúdicos e desafiadores, tanto para os jovens quanto para os adultos que o frequentam.

CENTRO DE ENSINO DE ROBÓTICA E TECNOLOGIA Laboratórios técnicos Salas de aula (tradicionais e interativas) Biblioteca Áreas de convivência Acompanhamento pedagógico


117

1. 2. 3.

RODOVIA DOM PEDRO I

A rede

1. GRUPO PRIMAVERA 2. CENTRO DE ENSINO DE ROBÓTICA (terreno: 1071,55m²) 3. CENTRO DE ENSINO DE TECNOLOGIA (terreno: 991,92m²) 10

20

50m


118

REFERÊNCIA PROJETUAL

ESCOLA VIBEENG AUTOR: ARKITEMA ARCHITECTS LOCALIZAÇÃO: HASLEV, DINAMARCA ANO DO PROJETO: 2016 ÁREA DO PROJETO: 6.430m²

ESCOLA PRIMÁRIA DE FORMATO DINÂMICO, COM UM CENTRO QUE CONCENTRA AS ATIVIDADES COMUNS E ESPAÇO DE CONVÍVIO.

Fotos externas e implantação | Fonte: Archdaily


A rede

119

Fotos internas e croquis conceituais | Fonte: Archdaily


120

CENÁRIO

CENTRO DE ENSINO DE ROBÓTICA

ANTES


121

A rede

DEPOIS


122

NÓ 5

ESPORTES E RECREAÇÃO

Este nó se caracteriza pelas atividades esportivas e de recreação, levando em conta o oferecimento de práticas esportivas na EMEF Padre José Narciso Vieira Ehrenberg. A criação de um núcleo esportivo tem o intuito de oferecer infraestrutura adequada para a prática de diversos esportes, em espaços fechados ou ao ar livre. O programa desta área levou em conta os esportes mais praticados pela população do São Marcos, os espaços desejados (ver “Atividade de Preferência Declarada”, p. 178) e os eventos esportivos que acontecem na região. A criação de um Centro do Idoso Ativo, por exemplo, surgiu a partir do conhecimento dos “Jogos Regionais do Idoso”, que teve edições sediadas pela EMEF Padré José Narciso Vieira. O playground com água foi implantado em área mais residencial, pela sua característica mais intimista. Já a praça do Skate utiliza um terreno subutilizado, de bastante visibilidade.

CENTRO ESPORTIVO PISCINA ADULTO PISCINA INFANTIL QUADRAS POLIESPORTIVAS PAREDE DE ESCALADA SALAS MULTIUSO (LUTAS, IOGA, PILATES) ACADEMIA SAUNA MESAS DE JOGOS CIRCUITO PARKOUR

CENTRO DO IDOSO ATIVO CANCHA DE BOCHA MESAS DE JOGOS PISCINA SALÃO DE DANÇA SALÃO DE GINÁSTICA ACADEMIA


123

1. PLAYGROUND/PRAÇA MOLHADA (terreno: 2543,04m²) 2. CENTRO ESPORTIVO (terreno: 5214,24m²) 3. CENTRO DO IDOSO ATIVO (terreno: 373,67m²) 4. EMEF PADRE JOSÉ NARCISO VIEIRA EHRENBERG 5. PRAÇA DE SKATE (terreno: 860,53m²)

OB RUA R ERTO R TEIXEI

OP ULIA L RUA J

BUENO A

1.

ES DE ALMEI DA

3.

4. 5.

2. RUA FELINTO DE ALMEIDA

A rede

AMARAIS

10

20

50m


124

REFERÊNCIA PROJETUAL

CENTRO ESPORTIVO JULES LADOUMEGUE AUTOR: DIETMAR FEICHTINGER ARCHITECTES LOCALIZAÇÃO: PARIS, FRANÇA ANO DO PROJETO: 2014

Interior e fachadas | Fonte: Archdaily


125

REFERÊNCIA PROJETUAL

COLEMAN OVAL SKATE PARK AUTOR: HOLM ARCHITECTURE OFFICE LOCALIZAÇÃO: NOVA YORK, EUA ANO DO PROJETO: 2011

A rede

O PROJETO CONSISTIU NA REMODELAÇÃO DE UMA ANTIGA PISTA DE SKATE, À QUAL FOI AGREGADA A FUNÇÃO DE ESPAÇO PARA FESTAS E PROJEÇÕES DE FILMES, BUSCANDO ATRAIR UM PÚBLICO DIVERSIFICADO PARA ESTA ÁREA DE POUCO INTERESSE DA POPULAÇÃO.

Projeto da intervenção | Fonte: Archdaily


126

CENÁRIO

CENTRO ESPORTIVO

ANTES


127

A rede

DEPOIS


128

NÓ 6

CENTRAL DO PARQUE

Em área central no bairro e interligando a Vila Esperança com o São Marcos, a Central do Parque conta com um mirante para o Córrego da Lagoa, uma praça d’água e um auditório aberto, que pode, entre outros usos, ser utilizado para atividades da escola, apresentações do Centro de Artes Performáticas e reuniões da Associação dos Moradores. A praça d’água reflete um desejo quase unânime dos moradores: um local para se refrescar nos dias de calor. Alocar a praça em área próxima ao Córrego facilita também questões de drenagem do mesmo, permitindo a armazenagem em épocas de cheia. Este nó do projeto é de grande importância no trabalho da relação dos moradores com o Córrego, dando um aspecto contemplativo ao mesmo e retirando o estigma relacionado à poluição do mesmo.

MIRANTE DA LAGOA PRAÇA MOLHADA CHAFARIZ ESPELHO D’ÁGUA CASCATA

AUDITÓRIO ABERTO PALCO ESPAÇO DE PROJEÇÃO ARQUIBANCADA

PASSARELAS ACESSÍVEIS


1. CEI NAVE MÃE GOVERNADOR EDUARDO HENRIQUE ACCIOLY CAMPOS 2. MIRANTE DA LAGOA (terreno: 460,00m²) 3. AUDITÓRIO ABERTO (terreno: 1284,00m²) 4. PRAÇA MOLHADA (terreno: 2016,00m²)

129

1.

2.

RUA ANDRÉ GRABOIS

3. 4.

RUA

A E ALMEID

PES D JÚLIA LO

O OBERT RUA R BUENO

IO EXEL A rede

RA

TEIXEI

ÔN RUA ANT

10

20

50m


130

REFERÊNCIA PROJETUAL

PARQUE MADUREIRA AUTOR: RUY REZENDE ARQUITETOS LOCALIZAÇÃO: RIO DE JANEIRO, BRASIL ANO DO PROJETO: 2012 O PARQUE MADUREIRA É O TERCEIRO MAIOR PARQUE DO RIO DE JANEIRO, COM INÚMEROS PROGRAMAS ESPALHADOS EM UMA ÁREA DE 109.0000m². COMO REFERÊNCIA PARA O PROJETO DO NÓ 6 ESTÃO AS ÁREAS MOLHADAS RECREATIVAS, COM DIVERSAS TIPOLOGIAS.

figs 100 a 103: fotos do parque em funcionamento | Fonte: Archdaily


131

REFERÊNCIA PROJETUAL

JARDINS DO IMAGINÁRIO AUTOR: GUSTAFSON GUTHRIE NICHOL LOCALIZAÇÃO: TERRASSON - LAVILLEDIEU ANO DO PROJETO: 1996

A rede

O PARQUE É COMPOSTO POR 12 DIFERENTES ÁREAS DE JARDIM, INCLUINDO UM ANFITEATRO COMPOSTO DE LEVES BANCOS DISPOSTOS NO TERRENO EM DECLIVE, COM BAIXO IMPACTO NO SOLO E AUMENTANDO A ÁREA VERDE DO PARQUE.

Fotos do parque em funcionamento | fonte: Archdaily Fonte: Gustafson Guthrie Nichol Ltd


132

CENÁRIO

MIRANTE

ANTES


133

A rede

DEPOIS


134

RUA JÚLIA L

NÓ 7

OPES DE

CENTRO DE ARTESANATO A criação de espaços para a venda, ensino e produção de produtos artesanais busca reforçar esta prática na região e dar visibilidade ao que é realizado por diferentes grupos. Existem diversos grupos de artesãos no bairro, grupos relacionados a diferentes entidades e igrejas. Com o Centro de Artesanato, é possível facilitar a comunicação entre esses grupos, aumentar a troca de informações e criar uma rede forte de produção. Não se trata de um espaço de cunho religioso: a arte é o protagonista deste espaço, servindo como ponto comum entre as pessoas que vêem o artesanato como sustento ou hobby. Os produtos aqui feitos podem ser vendidos no próprio Centro ou no Bazar Permanente, movimentando a economia local.

ALMEIDA

3.

RUA ANTÔ N

IO EXEL

2.

GNOLATO

TOR PRE

EMP RUA RED

CENTRO DE ARTESANATO E LOJA CONCEITO

1.

VENDA DE PRODUTOS EXPOSIÇÃO DE PRODUTOS SALAS DE REUNIÃO

OZI

OS T ES PASS

CED RUA MER

ATELIÊS DE ARTESANATO CONFECÇÃO DE PRODUTOS ARMAZENAGEM DE MATERIAL 10

20

50m

1. PARÓQUIA SÃO MARCOS 2. CENTRO DE ARTESANATO E LOJA CONCEITO (terreno: 864,14m²) 3. ATELIÊS DE ARTESANATO (terreno: 583,08m²)


135

REFERÊNCIA PROJETUAL

ANEXO TID ITESO AUTOR: ALEJANDRO GUERRERO E ANDREA SOTO LOCALIZAÇÃO: SAN PEDRO TLAQUEPAQUE, MÉXICO ANO DO PROJETO: 2015 ÁREA: 200,00m²

A rede

ESPAÇO CRIADO PARA AS ATIVIDADES DE ARTESANATO E ESCULTURA COM MADEIRA EM UMA UNIVERSIDADE. A VENTILAÇÃO ERA A PRINCIPAL PREOCUPAÇÃO, TANTO PELO CONFORTO TÉRMICO QUANTO PELA SEGURANÇA NO USO DE CERTOS PRODUTOS.

Exterior e interior do edifício | Fonte: Onnis Luque


136

CENÁRIO

CENTRO DE ARTESANATO

ANTES


137

A rede

DEPOIS


138

NÓ 8

CENTRO DE EMPODERAMENTO FEMININO Levando-se em conta a proximidade com a área mais marcada pela prostituição no Jardim Santa Mônica e a ausência de políticas efetivas envolvendo a saúde da mulher, foi definida a localização do Núcleo de Empoderamento da Mulher. A criação de um programa voltado à mulher é essencial em uma região de alta vulnerabilidade social como o São Marcos. É necessário dar ferramentas para que elas conquistem independência, possibilitando melhorar as condições de vida e sua auto-estima. Como ponto central deste nó está o Centro de Empoderamento da Mulher, que garante assistência básica em questões de saúde e convivência. O Centro de desenvolvimento técnico e o Salão Escola de Serviços de Beleza buscam dar uma formação profissional à mulher, para que ingresse no mercado de trabalho ou empreenda em seu próprio negócio. O Bazar Permanente é pensado como um espaço democrático para a venda de produtos feitos localmente, em ponto de fácil acesso à passarela, permitindo a visita de pessoas de bairros vizinhos. A Biblioteca POD consiste numa biblioteca de tamanho reduzido, permitindo extrapolar o hábito da leitura para o espaço público.

SALÃO ESCOLA DE SERVIÇOS DE BELEZA SALÃO DE CORTE SALÃO DE MANICURE E PEDICURE SALA DE MASSAGEM

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO TÉCNICO CURSOS DE HABILIDADE MANUAIS CURSOS DE EMPREENDEDORISMO CURSOS DE TERAPIAS HOLÍSTICAS

CENTRO DE EMPODERAMENTO DA MULHER ATENDIMENTO À MULHER (SAÚDE, FINANÇAS) FORTALECIMENTO E FORMAÇÃO PESSOAL ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL


139

1. SALÃO-ESCOLA DE SERVIÇOS DE BELEZA (terreno: 713,21m²) 2. BIBLIOTECA POD 3. CENTRO ASSISTENCIAL VEDRUNA 4. CENTRO DE DESENVOLVIMENTO TÉCNICO (terreno: 772,00m²) 5. CENTRO DE EMPODERAMENTO FEMININO (terreno: 1487,61m²) 6. BAZAR PERMANENTE (terreno: 2468,00m²)

1.

OZI

OS T ES PASS

CED RUA MER

2. 3. 4.

PARÓQUIA SÃO MARCOS

AÚJO

ISCO AR

5.

NC RUA FRA

MEIDA

O DE AL

6.

A rede

INT RUA FEL NICA

ANTA MÔ

S JARDIM

10

20

50m

RO I

ROD

M PED OVIA DO


140

REFERÊNCIA PROJETUAL

CENTRO DE OPORTUNIDADES DA MULHER

AUTOR: SHARON DAVIS DESIGN LOCALIZAÇÃO: KAYONZA, RUANDA ANO DO PROJETO: 2012 ÁREA: 2.200,00m² CENTRO DE EMPODERAMENTO FEMININO VOLTADA PARA A SUBSISTÊNCIA DE MULHERES DE UM PEQUENO VILAREJO. O CONJUNTO DE PEQUENOS PAVILHÕES ABRIGA UM CENTRO COMUNITÁRIO, UM ESPAÇO PARA FEIRAS E SALAS DE AULA.

Centro em uso | Fonte: Elizabeth Fellicella


A rede

141

Masterplan do centro | Fonte: Elizabeth Felicella


142

CENÁRIO

CENTRO DE EMPODERAMENTO FEMININO

ANTES


143

A rede

DEPOIS


144

1. PADARIA-ESCOLA (terreno: 895,40m²) 2. ESPAÇO PARA EVENTOS E FEIRA (terreno: 1267,96m²)

FAZENDA SANTA GENEBRA

NÓ 9

PADARIA ESCOLA E FEIRA Situada na região mais precária do São Marcos, a padaria escola traz espaço para a formação profissional dos moradores do entorno e cria uma centralidade educacional e comercial em uma região composta quase exclusivamente por residências. A ligação da padaria-escola com o Parque Linear permite a criação de uma área para feiras, eventos comunitários e piqueniques, dando um novo uso à uma área atualmente mal cuidada e perigosa.

O ENT ÇA M A E AN LOT ESPER VILA

PADARIA-ESCOLA

1.

ENSINO DE PANIFICAÇÃO COMÉRCIO DE PRODUTOS PANIFICADOS ESPAÇO DE ENCONTRO

2.

ESPAÇO PARA EVENTOS NO PARQUE MESAS DE PIQUENIQUE BANCOS

10

20

50m


145

REFERÊNCIA PROJETUAL

EDIFÍCIOS DO PARQUE NACIONAL DO MALI AUTOR: KERE ARCHITECTURE LOCALIZAÇÃO: BAMAKO, MALI ANO DO PROJETO: 2010 ÁREA: 3.000,00m²

Equipamentos do parque em horário de funcionamento | Fonte: Iwan Baan

A rede

EDIFÍCIOS DO PARQUE NACIONAL DO MALI, COM PAREDES DE COBOGÓ PERMITINDO UMA VENTILAÇÃO PERMANENTE NO CLIMA QUENTE DA CIDADE E UMA CONEXÃO CONSTANTE COM A ENVOLTÓRIA DO LOCAL, O PARQUE.


146

CENÁRIO

PADARIA ESCOLA

ANTES


147

A rede

DEPOIS


148

4


CENTRO DE ARTES E CULTURA

O projeto

149


150

O NÓ 2: ARTES E CIRCO

Após a consolidação do projeto da rede de convivência, foi escolhido o Nó 2 - Artes e Circo como objeto de projeto arquitetônico. Das duas possibilidades existentes neste nó Escola de Circo e Centro de Artes - foi selecionada a segunda. Entre o projeto da rede de convivência na escala do bairro do Jardim São Marcos e o projeto do Centro de Artes e Cultura, havia a necessidade de estudar o Nó em uma escala maior, desenvolvendo-se assim um projeto em corte abrangindo o Parque Linear do Quilombo como parte essencial da conexão entre bairros e entre os equipamentos existentes e propostos.

10

20

50m

Uma proposta de redesenho da Avenida Maria Luísa Pômpeo de Camargo é apresentada na página ao lado, como forma de melhorar o trânsito de pedestres e consolidando uma ciclovia nesta que é a principal avenida de acesso à região. Calçadas foram alargadas, pisos modificados, trechos desenhados para a redução da velocidade dos automóveis. Foi introduzida maior vegetação, propiciando espaços de sombra a fim de diminuir a aridez do local. A nova rua conectando a Avenida Maria Luísa Pômpeo de Camargo e a Escola de Circo aumenta a conexão entre os bairros Jardim São Marcos e Vila Esperança, tanto para pedestres quanto para veículos e ciclistas


10

20

50m


152

O TERRENO

IMPLANTAÇÃO DO NÓ 2

Edifícios a demolir 1. ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE DIREITO DE SER 2. MADEIREIRA 3. ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA CASTINAUTA DE MELLO ALBUQUERQUE 4. POSTO DE SAÚDE JARDIM SÃO MARCOS 5. SUZANO PAPEL E CELULOSE

A proposta para o Centro de Artes e Cultura visa dar suporte e ampliar as atividades oferecidas no Jardim São Marcos por Organizações Não Governamentais, associações e centros de educação, como parte de uma rede de espaços de convivência. O terreno de projeto (fig.1 da página ao lado) é atualmente composto por um depósito de lixo e diversos galpões em mau-estado, razão pela qual é proposta a demolição dos mesmos. A madeireira existente no local é transferida para um edifício vizinho, em melhor estado que o atual. Um lote vago entre residências, de frente para a Rua Ozualdo Rodrigues, é incorporado ao projeto como uma nova oportunidade de fluxo dentro da quadra e como abertura de um espaço privado para uso da população. Em virtude da proximidade do terreno com a sede da Associação Beneficente Direito de Ser (fig. 2 da página ao lado), propõe-se a incorporação da mesma ao programa de projeto, transformando a antiga sede em habitações, em consonância com o uso essencialmente residencial de seus vizinhos e aumentando a oferta de habitação aos moradores removidos da APP pra implantação do parque.


153 F1

Terreno vizinho à madeireira Fonte: autoria própria

NOVAS HABITAÇÕES NA ANTIGA SEDE DA ASSOCIAÇÃO “DIREITO DE SER” 1. Para dar lugar às novas ha-

F2

Frente para avenida Maria L. P. Camargo Fonte: autoria própria

bitações, os edifícios existentes devem ser demolidos (quadra coberta, administração e um barracão de depósito). As atividades esportivas acontecerão no centro esportivo, enquanto os demais usos entram no programa do Centro de Artes e Cultura.

2. O terreno possui as dimen-

F3

Muro de galpão a demolir Fonte: autoria própria

sões 30 x 30m, constituído por três lotes padrão. Em uma quadra essencialmente residencial e com o grande número de remoções na área de APP do Parque Linear, optou-se pela construção de mais residências para o bairro.

F4

Esquina do terreno Fonte: autoria própria

cionado é o de dois dormitórios, divididos em blocos de dois pavimentos, totalizando no terreno 10 novas residências. Levando em consideração a orientação do terreno, os edifícios foram implantados na diagonal, buscando maior conforto ambiental para as habitações.

O projeto

3. O modelo de habitação sele-


154

PROGRAMA

O terreno resultante tem aproximadamente 11.945,00m² e frente para três ruas. A grande área permite a inserção do programa desejado de forma horizontal, facilitada também pela topografia plana dessa área do bairro. O programa básico do Centro de Artes e Cultura é baseado nas atividades existentes nas Associações, ONG’s e centros educativos no bairro (ver apêndice C). As atividades a serem oferecidas podem ser divididas da seguinte forma: - Artes plásticas: escultura, pintura, fotografia; - Música; - Dança: ballet, de salão, de rua e sapateado; - Mídias diversas; - Outros

1. ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE DIREITO DE SER 2. MADEIREIRA 3. ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA CASTINAUTA DE MELLO ALBUQUERQUE 4. POSTO DE SAÚDE JARDIM SÃO MARCOS 5. SUZANO PAPEL E CELULOSE

Deve existir também uma área administrativa. Dentro da proposta do programa estão também um ateliê de figurino e de reciclagem, este relacionado à dar novos usos a materiais provenientes da rede ambiental do bairro.


O projeto

155


156

PRÉ-DIMENSIONAMENTO NÚCLEO DE DANÇA AMBIENTE

ATIVIDADES

EQUIPAMENTOS

USUÁRIOS

ÁREA UNITÁRIA (m²)

ÁREA TOTAL (m²)

RECEPÇÃO

RECEPCIONAR ALUNOS E VISITANTES

1 MESA, 1 COMPUTADOR, 1 CADEIRA

1

2,5

2,5

HALL

ESPERAR AULAS, SOCIALIZAR, DESCANSAR

BANCOS

20

60

60

SALAS DE DANÇA DE RUA

ENSINAR E PRATICAR DANÇA DE RUA

ESPELHO

25

120

240

SALAS DE DANÇA DE SALÃO

ENSINAR E PRATICAR DANÇAS DE SALÃO

ESPELHO

20

80

160

SALA DE BALLET

ENSINAR E PRATICAR BALLET E SUAS MODALIDADES

ESPELHO, BARRA

25

120

120

SALA DE SAPATEADO

ENSINAR E PRATICAR SAPATEADO

ESPELHO

25

120

120

VESTIÁRIO FEMININO

TOMAR BANHO, TROCAR DE ROUPA, GUARDAR PERTENCES

CHUVEIROS, LOCKERS

3

25

25

VESTIÁRIO MASCULINO

TOMAR BANHO, TROCAR DE ROUPA, GUARDAR PERTENCES

CHUVEIROS, LOCKERS

3

25

25


157

BANHEIRO FEMININO

USAR O BANHEIRO, ARRUMAR-SE

BACIAS SANITÁRIAS, PIAS, ESPELHOS

3

25

25

BANHEIRO MASCULINO

USAR O BANHEIRO, ARRUMAR-SE

BACIAS SANITÁRIAS, MICTÓRIOS, PIAS, ESPELHOS

3

25

25

USAR O BANHEIRO, ARRUMAR-SE

BACIA SANITÁRIA ADAPTADA, PIA, ESPELHO, BARRAS DE APOIO

1

4

4

ARMAZENAGEM DE MATERIAIS

PRATELEIRAS, ARMÁRIOS

1

15

30

BANHEIRO PNE DEPÓSITO

TOTAL 836,50m²

AMBIENTE

ATIVIDADES

EQUIPAMENTOS

USUÁRIOS

ÁREA UNITÁRIA (m²)

ÁREA TOTAL (m²)

RECEPÇÃO

RECEPCIONAR VISITANTES

MESA, CADEIRA, COMPUTADOR

1

20

20

LOUNGE

CONVERSAR, DESCANSAR, ESPERAR

BANCOS

20

50

50

ANTECÂMARA

GUARDAR VOLUMES, ISOLAR SOM

ARMÁRIOS

ATÉ 160

36,50

73

SALA TIPO 1

TOCAR INSTRUMENTOS, APRENDER SOBRE MÚSICA, CANTAR

CADEIRAS, SUPORTE PARA PARTITURAS

ATÉ 20

40

160

SALA TIPO 2

TOCAR INSTRUMENTOS, APRENDER SOBRE MÚSICA, CANTAR

CADEIRAS, SUPORTE PARA PARTITURAS

ATÉ 30

60

60

O projeto

NÚCLEO DE MÚSICA


158 SALA PALCO

TOCAR INSTRUMENTOS, APRENDER SOBRE MÚSICA, CANTAR, APRESENTAR-SE

CADEIRAS, SUPORTE PARA PARTITURAS

60

160

160

DEPÓSITO

GUARDAR, ARMAZENAR

ARMÁRIO, PRATELEIRAS

1

25

25

DEPÓSITO DE MATERIAL DE LIMPEZA

ARMAZENAR PRODUTOS DE LIMPEZA

PRATELEIRAS, ARMÁRIOS

1

5

5

BANHEIRO FEMININO

USAR O BANHEIRO, ARRUMAR-SE

BACIAS SANITÁRIAS, PIAS, ESPELHOS

3

25

25

BANHEIRO MASCULINO

USAR O BANHEIRO, ARRUMAR-SE

BACIAS SANITÁRIAS, MICTÓRIOS, PIAS, ESPELHOS

3

25

25

USAR O BANHEIRO, ARRUMAR-SE

BACIA SANITÁRIA ADAPTADA, PIA, ESPELHO, BARRAS DE APOIO

1

4

4

BANHEIRO PNE

TOTAL 447,00m

NÚCLEO DE ESCULTURA AMBIENTE

ATIVIDADES

EQUIPAMENTOS

USUÁRIOS

ÁREA UNITÁRIA (m²)

ÁREA TOTAL (m²)

RECEPÇÃO

RECEPCIONAR VISITANTES

CADEIRA, MESA, COMPUTADOR

1

20

20

ATELIÊ DE ESCULTURA

FAZER ESCULTURAS, PREPARAR MATERIAL, EXPOR

PRATELEIRAS, MESAS, CADEIRAS, PIAS, ARMÁRIOS

25

150

150

ATELIÊ DE RECICLAGEM

LIMPAR MATERIAL, TRANSFORMAR MATERIAL, PRODUZIR PEÇAS, RECEBER MATERIAL

PRATELEIRAS, MESAS, CADEIRAS, PIAS, ARMÁRIOS

50

250

250


159 ATELIÊ DE FIGURINO

PRODUZIR FIGURINOS, EXPOR

MESAS, CADEIRAS, ARMÁRIOS, MANEQUINS

15

80

80

SALA DE AULA

ENSINAR, APRENDER

MESAS, CADEIRAS, ARMÁRIO, LOUCA, PROJETOR

20

80

80

BANHEIRO FEMININO

USAR O BANHEIRO, ARRUMAR-SE

BACIAS SANITÁRIAS, PIAS, ESPELHOS

3

25

25

BANHEIRO MASCULINO

USAR O BANHEIRO, ARRUMAR-SE

BACIAS SANITÁRIAS, MICTÓRIOS, PIAS, ESPELHOS

3

25

25

BANHEIRO PNE

USAR O BANHEIRO, ARRUMAR-SE

BACIA SANITÁRIA ADAPTADA, PIA, ESPELHO, BARRAS DE APOIO

1

4

4

DEPÓSITO

ARMAZENAR, GUARDAR

ARMÁRIOS, PRATELEIRAS

1

4

4

DEPÓSITO DE MATERIAL DE LIMPEZA

ARMAZENAR PRODUTOS DE LIMPEZA

ARMÁRIOS, PRATELEIRAS

1

5

5

TOTAL 643,00m²

AMBIENTE

ATIVIDADES

EQUIPAMENTOS

USUÁRIOS

ÁREA UNITÁRIA (m²)

ÁREA TOTAL (m²)

SECRETARIA

ADMINISTRAR, RECEPER VISITANTES,

MESAS, CADEIRAS, COPIADORA, COMPUTADOR, IMPRESSORA, ARQUIVO

4

45

45

SALA DA COORDENAÇÃO

RECEBER PAIS, RESPONSÁVEIS, ALUNOS E PROFESSORES, COORDENAR ATIVIDADES

MESA, CADEIRAS, COMPUTADOR, ARMÁRIO, IMPRESSORA, SOFÁ

1

25

50

O projeto

ADMINISTRAÇÃO


160

SALA DA DIREÇÃO

RECEBER PAIS, RESPONSÁVEIS, ALUNOS E PROFESSORES, DIRIGIR O CENTRO

MESA, CADEIRAS, COMPUTADOR, ARMÁRIO, IMPRESSORA, SOFÁ

1

25

25

SALA DE REUNIÃO

FAZER REUNIÕES

MESA, CADEIRAS, PROJETOR

8

25

50

COPA/DESCANSO

DESCANSAR, FAZER REFEIÇÕES, CONVERSAR, RELAXAR

SOFÁ, CADEIRAS, MESA, GELADEIRA, FOGÃO, MICROONDAS, ARMÁRIOS, PIA

8

35

35

ENFERMARIA

MEDICAR, DEITAS

PIA, MACA, ARMÁRIOS, COMPUTADOR, MESA, CADEIRAS

1

20

20

BANHEIRO FEMININO

USAR O BANHEIRO, ARRUMAR-SE

BACIAS SANITÁRIAS, PIAS, ESPELHOS

3

25

25

BANHEIRO MASCULINO

USAR O BANHEIRO, ARRUMAR-SE

BACIAS SANITÁRIAS, MICTÓRIOS, PIAS, ESPELHOS

3

25

25

BANHEIRO PNE

USAR O BANHEIRO, ARRUMAR-SE

BACIA SANITÁRIA ADAPTADA, PIA, ESPELHO, BARRAS DE APOIO

1

4

4

DEPÓSITO

ARMAZENAR, GUARDAR

ARMÁRIOS, PRATELEIRAS

1

4

4

DEPÓSITO DE MATERIAL DE LIMPEZA

ARMAZENAR PRODUTOS DE LIMPEZA

ARMÁRIOS, PRATELEIRAS

1

5

5

TOTAL 323,00m²


161

RECEPÇÃO

RECEPCIONAR VISITANTES

CADEIRA, MESA, COMPUTADOR

1

20

20

ÁREA DE EXPOSIÇÕES

EXPOR MATERIAL

CAVALETES, PRATELEIRAS, PEDESTAL

25

150

150

ACERVO

GUARDAR MÍDIAS DIVERSAS (CD, DVD, FITAS, REVISTAS)

PRATELEIRAS, BANCOS

50

250

250

ÁREA DE ESTUDOS EM GRUPO

ESTUDAR EM GRUPO

MESAS, CADEIRAS

15

50

50

ÁREA DE ESTUDOS INDIVIDUAIS

ESTUDAR INDIVIDUALMENTE

MESAS, CADEIRAS

15

50

50

ÁREA TÉCNICA

MANUTENÇÃO DE MATERIAL

MESA, CADEIRA, PRATELEIRAS, ARMÁRIOS

1

20

20

CAFÉ

COMER, BEBER, SOCIALIZAR

MESAS, CADEIRAS

25

60

60

COZINHA DO CAFÉ

PREPARAR PRATOS, HIGIENIZAR

BALCÕES, FOGÃO, PIA, FREEZER, ARMÁRIO, PRATELEIRAS

3

35

35

BANHEIRO FEMININO

USAR O BANHEIRO, ARRUMAR-SE

BACIAS SANITÁRIAS, PIAS, ESPELHOS

3

25

25

BANHEIRO MASCULINO

USAR O BANHEIRO, ARRUMAR-SE

BACIAS SANITÁRIAS, MICTÓRIOS, PIAS, ESPELHOS

3

25

25

BANHEIRO PNE

USAR O BANHEIRO, ARRUMAR-SE

BACIA SANITÁRIA ADAPTADA, PIA, ESPELHO, BARRAS DE APOIO

1

4

4

DEPÓSITO

ARMAZENAR, GUARDAR

ARMÁRIOS, PRATELEIRAS

1

15

15

DEPÓSITO DE MATERIAL DE LIMPEZA

ARMAZENAR PRODUTOS DE LIMPEZA

ARMÁRIOS, PRATELEIRAS

1

5

5

TOTAL 709,00m²

O projeto

MIDIATECA


162

ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE DIREITO DE SER ÁREA DE ATIVIDADES

BRINCAR, EXERCITAR-SE, APRENDER

BANCOS, BRINQUEDOS

ATÉ 50

100

100

REFEITÓRIO

FAZER REFEIÇÕES

MESAS E CADEIRAS

25

75

75

COZINHA

COZINHAR, HIGIENIZAR, ARMAZENAR COMIDA

PIA, GELADEIRA, FOGÃO, ARMÁRIOS

3

30

30

ÁREA DE SERVIÇO

LAVAR E SECAR

PIA, BALCÃO, TÁBUA DE PASSAR, VARAL

2

20

20

DEPÓSITO

ARMAZENAR E GUARDAR MATERIAL

ARMÁRIOS, PRATELEIRAS

1

12

12

SALA DA DIREÇÃO

DIRIGIR A ASSOCIAÇÃO, RECEBER ALUNOS, PAIS, RESPONSÁVEIS, FUNCIONÁRIOS

MESA, CADEIRA, COMPUTADOR, ARMÁRIO, IMPRESSORA

1

25

25

SALA DE REUNIÃO

FAZER REUNIÕES

MESA, CADEIRAS, PROJETOR, TELEVISÃO

8

20

20

4

25

25

ADMINISTRAÇÃO

FAZER TRABALHO ADMI- MESAS, CADEIRAS, IMPRESNISTRATIVO SORA, COMPUTADORES, ARMÁRIOS

TOTAL 307,00m²


163

RECEPÇÃO

RECEBER VISITANTES

MESA, CADEIRA, COMPUTADOR

1

5

5

LOUNGE/ÁREA DE EXPOSIÇÃO

SOCIALIZAR, EXPOR TRABALHOS

BANCOS, CAVALETES

25

100

100

ATELIÊ DE PINTURA

PINTAR

CAVALETE, LAVATÓRIO, BANCOS, MESAS, CADEIRAS, ARMÁRIOS

50

200

200

ESTÚDIO DE FOTOGRAFIA

TIRAR FOTOS, MONTAR ENSAIOS

TRIPÉS, CADEIRAS, CORTINAS, MESAS

15

80

80

SALA ESCURA

REVELAR FOTOS

ARMÁRIOS, PRATELEIRAS, PIA, VARAL

5

20

20

DEPÓSITO

ARMAZENAR MATERIAIS

ARMÁRIOS, PRATELEIRAS

1

40

40

BANHEIRO FEMININO

USAR O BANHEIRO, ARRUMAR-SE

BACIAS SANITÁRIAS, PIAS, ESPELHOS

3

25

25

BANHEIRO MASCULINO

USAR O BANHEIRO, ARRUMAR-SE

BACIAS SANITÁRIAS, MICTÓRIOS, PIAS, ESPELHOS

3

25

25

USAR O BANHEIRO, ARRUMAR-SE

BACIA SANITÁRIA ADAPTADA, PIA, ESPELHO, BARRAS DE APOIO

1

4

4

BANHEIRO PNE

TOTAL 449,00m²

O projeto

NÚCLEO DE ARTES VISUAIS


164

CONDICIONANTES DE PROJETO

VEGETAÇÃO

FLUXO DE CAMINHÃO

FLUXO DE PEDESTRES

RESIDENCIAL

PONTO DE ÔNIBUS

RUÍDO

CARRINHO DE COMIDA

ESTACIONAMENTO

MAIS SILENCIOSO

O estudo das condições do entorno guiou o processo de implantação do projeto, permitindo visualizar quais os espaços do lote mais adequados a determinadas funções e quais fluxos poderiam ser mantidos ou criados. Na porção mais próxima à avenida principal (Maria Luísa Pômpeo de Camargo), há um maior fluxo de automóveis e consequentemente níveis de ruído maiores; ali, porém, é onde o terreno se conecta com os demais equipamentos da rede de convivência, tornando-se mais atrativo. A esquina do lote mostra-se como uma área de grande valor, atualmente ocupada por um vendedor de lanches. Há ali muito potencial a ser explorado, consolidando-se como um ponto de encontro. Mais próximo à rua Ozualdo Rodrigues, o uso predominantemente residencial profere maior conforto acústico e menor fluxo de pessoas e veículos. Todo o cuidado é necessário para que esta fachada não se torne os “fundos” do projeto. Por fim, a arborização do bairro pode ser melhor explorada em um projeto paisagístico cuidadoso, aproveitando a grande extensão do terreno.


165

Dadas as dimensões do terreno, a opção por um edifício horizontal, distribuído ao longo do lote, foi a mais racional. Dessa forma, a ligação entre interior e exterior mantém-se de forma mais forte, fator positivo em um projeto que preza pela criação e requalificação de espaços de convivência, os quais inserem-se nesta etapa como conexões e centralizadores do projeto. A partir da análise anterior, foram alocados os núcleos no terreno (imagem ao lado). A nova sede da Associação Beneficente Direito de Ser ficou em local próximo ao antigo terreno; a midiateca encontra-se de frente para uma rua tranquila, permitindo maior concentração nos estudos; as salas de dança e música ganham espaço mais próximo a avenida, onde podem abrir-se para uma praça; o ateliê de esculturas dá personalidade à esquina, ponto nobre do terreno; o ateliê de pintura aproveita a empena do edifício vizinho como uma grande tela; a administração, por fim, tem um espaço onde não chama tanta atenção e está próximo aos demais edifícios.

DANÇA

MÍDIA

ESCULTURA

ASSOC. DIREITO DE SER

MÚSICA

ADMINISTRAÇÃO

PINTURA

O projeto

IMPLANTAÇÃO EM NÚCLEOS


166

ESTUDOS DE IMPLANTAÇÃO Pintura e escultura próximos, administração no centro | fonte: autoria própria

Música e dança no centro, midiateca na avenida | fonte: autoria própria


167

Do estudo inicial anterior, prosseguiu-se com o estudo 2, aprimorando a distribuição dos espaços de cada núcleo, de forma a criar mais fluidez no terreno e permitir o melhor aproveitamento do mesmo. A distribuição dos espaços deu-se da seguinte forma: espaços externos conectam os edifícios, e a partir destes, cria-se um ambiente intermediário interno de convivência, que recepciona e organiza os espaços dentro dos edifícios.

A partir destes ou em torno deles distribui-se o programa, priorizando as possibilidades de socialização e conexão com o espaço público. Foram definidas assim as entradas principais e de serviço, as praças principais e os caminhos no lote. Alguns dos estudos para chegar à definição atual (figura acima) podem ser vistos na página ao lado.

O projeto

DIAGRAMA DE BOLHAS


168

VOLUMETRIA

1

1. Os volumes iniciais tiveram diversas alterações de forma ao longo do processo, adaptando ao conceito da criação de espaços de convivência e encontro presentes em todo o projeto. Questões de acústica, flexibilidade programática e clareza formal também influenciaram as decisões projetuais.

2

2. As alturas de cada edifício foram adequadas ao uso, possibilitando uma melhor qualidade de espaço. Foram criados pátios internos para melhoria da ventilação, iluminação e para criação de nichos agradáveis para os usuários.


169

3

3. A conformação final dos edifícios propicia

um fluxo livre pelo terreno, e a ligação entre estes é feita pelas praças do projeto existentes nesses espaços livres. Assim, aproveita-se o terreno em sua totalidade, evitando a criação de andares superiores e criando uma relação de proximidade com a rua e o espaço público do bairro.

4. A unidade final do conjunto é dada através de coberturas fluidas, que fazem a ligação entre os volumes de forma leve, criando-se uma proteção contra o sol e chuva e criando legibilidade no Centro de Artes, destacando-o de seu entorno.

O projeto

4


170

Vista aérea da implantação do centro.


171

DIAGRAMAS DO PROJETO

ABERTO AO PÚBLICO

SERVIÇOS/ADMINISTRAÇÃO

ESPAÇO ABERTO

O projeto

USO


172

SETORIZAÇÃO

AULAS E ATIVIDADES

RECEPÇÃO E CONVIVÊNCIA

PÁTIOS SERVIÇOS/ADMINISTRAÇÃO

PÁTIO DE SERVIÇOS


173

NÚCLEO DE ARTES VISUAIS

ASSOC. DIREITO DE SER

NÚCLEO DE DANÇA

MIDIATECA

NÚCLEO DE MÚSICA

ADMINISTRAÇÃO

NÚCLEO DE ESCULTURA

O projeto

NÚCLEOS


174

A COBERTURA A cobertura foi pensada como um elemento de união para os diferentes volumes de cada núcleo do Centro de Artes e Cultura, garantindo unidade visual ao conjunto. O desenho em ondas remete à fluidez, destacando o centro de seu entorno e transformando-o em um elemento que chama atenção, logo na entrada do Jardim São Marcos. A estrutura é composta por pilares Y de aço, vigas de travamento e vigas de aço onduladas para a fixação das aletas de alumínio, que fazem o fechamento desta cobertura. Essas aletas variam o espaçamento e a inclinação para adequarem-se a cada espaço do projeto, funcionando como cobertura ventilada para os edifícios e proteção solar (brise-soleil) em áreas de convivência abertas (praças e pátios internos).

Processo de concepção: modelos em isopor e EVA, nos edifícios da administração e escultura. | fonte: autoria própria


175

REFERÊNCIA PROJETUAL

SINGAPORE SOUTH BEACH COBERTURA EM FAIXAS UNIDADE ESPORTIVA ATANASIO GIRARDOT PLAN: B ARQUITECTOS + GIANCARLO MAZZANTI

O projeto

SOUTH BEACH SINGAPORE, SINGAPURA FOSTER AND PARTNERS

Espaço comercial e lobby do complexo | fonte: Foster and Partners

Interior e elevação da unidade esportiva | fonte: Iwan Ban, Archdaily


176

OUTRAS REFERÊNCIAS COBERTURA ORGÂNICA

ACESSO AO TERRAÇO

CASA DO NOVO ARTISTA, SINTHIAN, SENEGAL TOSHIKO MORI ARCHITECTS

NO ATELIÊ DE PINTURA

CENTRO CULTURAL, NEVERS, FRANCE ATELIER O-S ARCHITECTS

(Fonte: Archdaily

Espaços externos em uso Fonte: Toshiko Mori Architects

Renderização do projeto e espaço construído | fonte: Archdaily


177

COBERTURA ORGÂNICA

BESANÇON ARTS CENTRE, BESANÇON, FRANÇA KENGO KUMA ASSOCIATES

MERCADO SANTA CATERINA, BARCELONA, ESPANHA ENRIC MIRALLES E BENEDETTA TAGLIABUE

O projeto

COBERTURA PARA DIFERENTES VOLUMES

Fotos externas do centro | Fonte: Dezeen

Foto aérea e ao nível da entrada | Fonte: Architul


178

PRAÇAS

FLUXO DE PEDESTRES

ENTRADA PÚBLICA PARA EDIFÍCIO

ENTRADA DE SERVIÇOS

Parte essencial do projeto do Centro de Artes e Cultura, as praças que permeiam os edifícios são os espaços onde a convivência e o encontro acontecem, com total integração ao bairro. Definidos os espaços que cada núcleo ocupa no terreno, buscou-se reforçar os fluxos pela quadra para as três ruas que margeiam o terreno, e também os caminhos ao longo dos edifícios, com atenção para as entradas dos mesmos. Em seguida, foram identificados os principais espaços de intervenção: locais onde seriam alocados equipamentos e onde há maior potencial de concentração de pessoas. Uma detalhamento maior dessas praças pode ser visto na página ao lado, sendo que cada uso levou em conta as ativi-

EQUIPAMENTOS E CONVIVÊNCIA

EXPANSÃO DE ATIVIDADES INTERNAS

dades existentes nos núcleos, buscando integrar interior e exterior e criar maior conexão do Centro de Artes e Cultura com a rua, o bairro, e os desejos da população expressos durante a atividade de processo participativo. Após esses passos, houve a alocação das áreas verdes, tanto como barreira visual, sombreamento ou fatores estéticos. O resultado desse processo são praças com diferentes identidades, mas que costuram o projeto. A caracterização de cada praça é expressa na página ao lado.


179

entrada do centro e praça principal

praça da música

praça da escultura

praça central

praça da leitura

O projeto

praça da pintura


180

PRAÇA DA PINTURA


181

O projeto

PRAÇA DA ESCULTURA


182

PRAÇA DA LEITURA


183

O projeto

PRAÇA DA MÚSICA


184

PRAÇA DA GINÁSTICA


185

O projeto

PRAÇA DA ÁGUA


186

5


REFERÊNCIAS

O projeto

187


188

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192

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ANEXOS

Anexos

193


194

ANEXO A

Ă?ndice de desenvolvimento humano das cidades da RegiĂŁo Metropolitana de Campinas (fonte: IPEA, 2010)


195

Anexos

ANEXO B

Loteamentos aprovados na cidade de Campinas (fonte: SEPLAMA, 2003)


196

ANEXO C

Bacia do Rio Jaguari Bacia do Ribeirão Anhumas Bacia do Rio Atibaia Bacia do Ribeirão Quilombo Bacia do Rio Capivari Bacia do Rio Capivari-Mirim Área de intervenção

Bacias hidrográficas da cidade de Campinas (fonte: IGC, 2003)


197

Anexos

ANEXO D

ZEIS de indução da Macrozona 9 (fonte: SEPLAMA, 2010)


198

ANEXO E

Mapa do Sistema Integrado de Áreas Verdes e Unidades de Conservação da Macrozona 9 (fonte: SEPLAMA, 2010)


199

Anexos

ANEXO F

Mapa de lotes vagos no perĂ­metro urbano na cidade de Campinas (fonte: SEPLAMA, 2010)


APÊNDICES


201

APÊNDICE A

ENTREVISTAS COM MORADORES Adriano, Vinícius e Gabriel estavam juntos, conversando em frente ao salão de cabeleireiro de Adriano. Os três estavam um pouco desconfortáveis com a conversa, respondiam um pouco acanhados, mas foram bastante solícitos quando abordados.

Trabalha? Estuda? Trabalho aqui (aponta pro salão), de cabeleireiro.

muita mina (risos). Tava legal, não é muito longe, não, mas sabe, né? Só daquela vez eu fui. Se tivesse um parque igual o Taquaral aqui, você gostaria então? Ah, ia ser bom, ia lotar! Né, não? Ia ser da hora demais... mas ia “tá” bom num dia, no outro já ia “tá” tudo estragado, a galera num cuida não... Mas ia ser legal.

Mora há quanto tempo no São Marcos? Ah, desde sempre… desde sempre. Gosta de morar no São Marcos? Gosto, das pessoas principalmente.

VINÍCIUS, 19 Trabalha ou estuda?

O que acha que falta no bairro? Não falta nada, não. Ah, falta mulher. É, falta mulher só (risos). O que faz no tempo livre? A gente vai no “pião” (todos riem). Já sabe né? A gente procura mulher mesmo. Você encontra seus amigos com frequência? Sim, agora “ó”, “tô” trabalhando mas tô aqui fora, “tô” conversando. É assim sempre. Faz atividade física? Jogo bola lá na quadra (CEU Esperança). Mas de vez em quando só, mas tem muita gente lá agora, eu acho.

Trabalho junto com o Adriano aqui no cabeleireiro.

Mora há quanto tempo no São Marcos? Onde morava antes?

Desde os 6 anos, já faz tempo…morava no Matão. É aqui perto né (risos) (Gabriel: Longe pra “caralho”, hein!)

Gosta de morar no São Marcos?

Gosto. Sei lá, eu gosto.

O que acha que falta no bairro?

Ah, falta um monte de “coisa”, mas a gente gosta daqui, vai vivendo.

TIpo o que?

Ah, hospital, falta ônibus… essas coisas aí.

Frequentam alguma igreja ou associação? Não.

O que faz no tempo livre?

O que você acha que tem de legal em outros bairros que não tem aqui? Eu não saio muito daqui, vou só no Matão mesmo... mas eu andei de bicicleta lá no Taquaral uma vez, foi bem legal, era domingo cedinho, tava cheio... tinha

Você encontra seus amigos com frequência?

Eles já falaram, já (risos)... “pião”, bola. É isso...

Até demais (risos), não tem do que reclamar não.

Apêndices

ADRIANO, 18


202

Faz atividade física?

Faz atividade física?

Já fiz (risos), agora se insistir eu jogo bola, mas sabe como é… o pessoal joga bastante, é bom, né? Mas agora não jogo tanto, não.

Não, só trabalho mesmo, já “tá” bom (risos). Mas tem bastante gente que faz, tem bastante lugar que dá aula.

Frequentam alguma igreja ou associação?

Frequentam alguma igreja ou associação?

Não também.

Você gostaria de ter um parque aqui também? Que atividade que você queria experimentar ou fazer de novo? Ah, parque é bom, mas depende também, depende de onde ficaria. Se fica de um lado (do bairro), o pessoal do outro lado não vai. Aqui é meio assim, tem área que um pode entrar e outro não.

Não, não. Eu jogava bola lá no “Direito de Ser”, mas parei.

Parou por que?

“Pra” trabalhar, né? (risos) Só dá as crianças lá agora.

Maria Helena (ou “Heleninha”, como gosta de ser chamada) em primeiro momento recusou a entrevista, mas estava curiosa e acabou conversando bastante. Sua maior preocupação são os rumos que os filhos podem tomar, tendo plena noção da importância do lugar que vivem na formação dos mesmos.

MARIA HELENA, 42 GABRIEL, 21 Trabalha ou estuda?

Trabalho ali no mercado.

Mora há quanto tempo no São Marcos?

Sempre morei aqui também.

Gosta de morar no São Marcos?

Gosto sim.

O que acha que falta no bairro?

Falta mulher (risos). De resto acho que não falta nada, é bom aqui.

Você trabalha, Helena?

“Tô” desempregada.

Mora há quanto tempo no São Marcos? Eu moro aqui faz 38 anos, vim com meus pais lá de Dracena, uma cidade bem bonitinha.

E você gosta de morar aqui? bom.

Ah, acostumei. Tem coisa boa e tem coisa ruim, mas tem os amigos, aí fica

O que faz no tempo livre?

Você encontra seus amigos com frequência?

Eu faço academia, e eu faço zumba. Adoro zumba, eu faço quase todo dia, faço três vezes por semana lá no CEU Esperança, que o Rubens Gás colocou as aulas lá, e nos outros dias eu faço na academia aqui, eu pago R$68,00 lá. De graça é mais gostoso, né? Mas zumba é bom, mexe o corpo, aumenta a estima, você conhece as pessoas, fica com outro astral, sabe? É difícil no começo, mas eu faço já faz 8 meses, aí peguei o jeito já. Eu emagreci muito, menina, emagreci 9 quilos, já “tô” ganhando tudo de novo, mas “tô” bem melhor. Mas então, eu recomendo pra todo mundo.

Lá no “pião” a gente se vê bastante. Mas sempre encontra na rua, a gente é vizinho, todo mundo se conhece.

Você encontra seus amigos com frequência?

O que faz no tempo livre? “Pião” também. Os três aqui (Adriano, Gabriel e Vinícius) “vai” junto, a gente sempre vai lá.

Encontro todo dia, lá na zumba mesmo. Eu amo conversar, e eu faço muito trabalho comunitário, “tô” sempre batendo na porta das pessoas pedindo comida, dinheiro,


203 qualquer coisa “pra” ajudar quem não tem. Porque a gente tem pouco, mas quando a gente vê quem tem menos ainda, é um choque, né? A gente precisa ajudar, não tem como. Então eu encontro muita gente assim, e eu gosto de conversar com todo mundo. A gente vai lá no centro, leva doação pra quem mora embaixo da ponte, “pra” quem tem só um papelão pra se cobrir, e a gente fala com eles, entende a vida deles. Tem gente que discrimina, fala que eles pegam o dinheiro e vão beber… vão mesmo, não tem nada na vida, beber é fuga, né? Mas povo só critica, ajudar não ajuda, não… complicado isso. Mas vou fazendo o que posso, vou ajudando com o que tenho, porque se for ver eu tenho muito em comparação com quem não tem nada.

Seu Francisco e Célio estavam sentados à sombra de uma árvore, na calçada, quando os abordei. Estavam reclamando sobre os assassinatos no bairro, pois no dia anterior uma garota havia sido morta a tiros, causando uma bagunça pela manhã. Apesar do carinho pelo bairro, sentem-se desconfortáveis vivendo ali, preferindo o refúgio de suas casas aos espaços de convivência existentes.

O que você acha que falta pro bairro?

O senhor trabalha ainda, seu Francisco?

Normal, ficam jogando ali no computador.

FRANCISCO, 70

Falta lotérica, principalmente. Tudo que vai fazer tem que sair daqui, leva tempo, tem que ir no Santa Mônica, dá um trabalhão. Mas falta tudo, né? Se for pensar, falta hospital, creche, parquinho, falta muito.

Eu sou aposentado, mas trabalho de carpinteiro. Eu ganho aquele dinheirinho do Lula, sabe? (risos)

Frequentam alguma igreja ou associação?

Moro faz uns 45 anos. Eu já morei em toda parte de Campinas, já morei em Campo Grande, Jardim Campos Elíseos, no Santa Lúcia. Mas fiquei aqui porque gosto daqui. Aqui é perto de tudo, nos outros bairros é sempre 40 minutos, uma hora pra chegar nos lugares. Aqui é bom por isso. Aqui só não é melhor porque falta médico, né? Eu num vou no médico, mas é porque falta (Célio concorda).

Então você e a Beatriz fazem bastante atividade, né? Isso é muito bom, os meninos não fazem também? O Edu gosta de youtube só, esse é o hobby dele, gravar vídeo, jogar... não sai de casa nunca! O Leandro faz bico, comprou uma moto, faz umas entregas, mas eles não frequentam nenhum curso, aula, nada assim. Eu chamo pra ir, porque é bom, faz tão bem! Mas não adianta muito. Às vezes os amigos deles vem aqui em casa, fazem alguma coisa.

O que faz no tempo livre? Eu bebo (risos). Sempre tem uma pinguinha, todo dia, não pode faltar. Eu também não gosto de futebol, mas eu vejo TV. Mas se minha mulher “tá” vendo TV e passa futebol, eu já saio de casa já. Eles ganham milhão pra jogar, a gente é trouxa de ficar assistindo, a gente paga pra assistir, e ganha o que? Ganha nada. Por isso não assisto mais. Não quero pagar salário dos outros.

Você encontra seus amigos com frequência? Não muito. Pessoal gosta de jogo. Isso eu não gosto também. Aí quando eu encontro eles, só falam de jogo. Aí não encontro eles mais.

Faz atividade física? Não. Já trabalho muito já, até cortei minha mão ontem (Francisco mostra a mão com curativo). Acertei a marreta aqui, ontem tava inchado mas já “tá” bom já.

Frequentam alguma igreja ou associação?

Não, nenhuma.

Apêndices

Frequento, vou sempre na Igreja. Minha filha Beatriz frequenta o (Grupo Primavera), ela faz inglês com bolsa de lá, eles são muito bons… dão muitos cursos, ajudam a preparar pra vestibular, dão matemática avançada pra administração, português, dança, tem de tudo lá. É difícil pra caramba pra conseguir uma vaga, mas eu consegui pra ela cinco anos atrás, ela nunca mais saiu. Ela tem treze anos agora, graças a Deus ela “tá” indo bem, “tá” indo pro lado bom… a gente que não teve estudo quer que os filhos tenham, que eles consigam se formar, ela é meu orgulho. Meus outros filhos, um tem quinze e o mais velho 21, o Eduardo e Leandro, o Leandro largou o estudo, eu tento convencer ele a voltar, eu já até fui com ele pra aula… mas é um mico, né? Quando descobriram que eu era mãe dele racharam o bico, mas aí ele parou de ir depois, não fui mais também. Meu sonho é ser psicológa, mas preciso acabar a oitava série ainda. Eu prefiro que eles se formem, aí depois eu corro atrás do meu. O Eduardo “tá” no segundo ano, “tá” bem, quer ser designer de jogos ou fazer educação física, mas é tudo caro, é difícil ir pra faculdade, mas estamos tentando. Ele quer uma bolsa, mas ele não decidiu ainda qual curso (risos). Ele faz vídeo do youtube, ele é bom, fica muito em casa, não dá trabalho. Ele e a Beatriz “tão” encaminhados, só falta o Leandro mesmo.

Mora há quanto tempo no São Marcos?


204

CÉLIO, 46 Trabalha em que, Célio?

“Tô” desempregado, o mercado “tá” muito ruim. Eu trabalhava de mecânico.

Mora há quanto tempo no São Marcos?

Moro há 15 anos. Eu morava no Matão.

Gosta de morar no São Marcos? Ah, acostumei. Podia ser melhor, né? É muito ruim aqui que você tem que andar na linha, não pode se meter com quem é ruim. Zé droguinha tem de monte. Ontem mataram uma menina ali no Santa Mônica (referindo-se à parte leste do bairro), três tiros. Novinha, mataram. Devia estar devendo, aí acabou assim. Por isso mantenho distância, cada um no seu canto, aí não tem problema. Eu sempre falo pros meus filhos que é pra tomar cuidado, se pudesse trancava em casa, mas não é assim, né (risos).

não dá, eu não gosto disso. Aí me afastei, até da minha irmã eu me afastei. Eu tinha um amigo, amigão mesmo, considerava mais que minha própria irmã, mas ele se meteu com cigarro, depois com pó… aí eu tentei ajudar, mas hoje ele “tá” ferrado. Não quer saber de mais nada, eu nem vejo mais ele porque ver ele me faz mal. Eu nem sei como ele “tá” mais (ele mora aonde?) Ah, em Minas. Lá da minha cidade, Lagoa Grande.

Faz atividade física?

Não. Não gosto.

Frequentam alguma igreja ou associação? Sou católico, mas não vou muito na Igreja não. Minha mulher ia, mas era muita fofoca, o pessoal ia só “pra” falar mal dos outros, fazer intriga, parei de ir, ela parou também. Tem gente que só sabe falar mal de tudo, não tem vida, parece.

NAIS, 52

Quantos anos tem seus filhos? O mais velho tem 20, um tem 10 e a menina tem 4. Eles ficam o dia inteiro na escola, a mãe deles vai buscar. E eu já sou avô, acredita? O de 20 trabalha, mas eu nem vejo ele faz tempo. Ele tem que trabalhar pra criar direito meu neto, senão vira tranqueira muito cedo por aqui. Tem que educar.

Você trabalha, Naís?

O que você mudaria aqui no bairro?

Mora há quanto tempo no São Marcos?

Eu queria que tivesse mais mercados. Tinha um mercado grande, fechou, nunca mais abriu outro. Era o mercado do Ademar. Agora tem aquele Empório do Bairro (mercado no Jardim Campineiro), mas é muito careiro.

O que faz no tempo livre? Eu bebo uma pinguinha (risos) todo mundo bebe, né? (Francisco concorda e ri) Hoje em dia todo mundo bebe, não tem um que não bebe!

Mas você bebe no bar? Não, não! Em casa, no bar eu não vou, não. Não gosto, só tem tranqueira… e eu não gosto de ver esse pessoal, não gosto nem de olhar, não converso não. Prefiro ficar em casa mesmo. E no bar sempre tem futebol, eu odeio ver futebol, até visto a camisa do time mas eu não gosto do jogo.

Você encontra seus amigos com frequência?

Não muito. A maioria se envolveu com droga, com coisa ruim, com pasta. Aí

Sou dona de casa.

Eu moro no Vila Esperança faz 19 anos, eu morava no Matão antes.

O que faz no tempo livre?

Eu fico em casa, levo o Heitor (neto, 1 ano) pra passear, e só.

Você gosta de morar aqui? Amo, gosto mesmo. É bem melhor que onde eu morava, agora que “tá” ficando bom, asfaltaram, eu não mudaria não.

O que você acha que falta aqui no Vila Esperança? E o que você mais gosta aqui? Falta lotérica, banco. Tudo que tem que pagar, tem que ir pra outro bairro, no Matão, no Santa Mônica, no centro. É muito ruim.

Você encontra seus amigos com frequência?


205 Só nessas saidinhas que eu faço, agora encontrei a minha vizinha, a Maria Lúcia, aí a gente “tava” botando o papo em dia.

Então você encontra seus amigos com frequência? Ah, os vizinhos sim, “tão” sempre ali do lado, a gente dá um grito e eles aparecem.

Faz atividade física? Faço não, só limpeza, só (risos). Mas agora estão instalando uns aparelhos de ginástica ao ar livre ali, quem sabe eu faço (risos).

Frequenta alguma igreja ou associação? Sim, vou sempre, sou evangélica. E frequento o CEU, levo o Heitor pra passear. Ele gosta de andar de motoca, é meio ruim porque se você tira o olho, dá até medo, vira e mexe “tá” no meio da rua, tem que vigiar sempre. Não parece mas tem rua aqui que passa carro voando, é um perigo... e tem pouco lugar que dá pra deixar o Heitor solto, quando ele for maiorzinho vai ser melhor, agora eu tenho que ser a sombra dele (risos)

Tem bastante bebê por aqui, né? (enquanto fazia a entrevista, três mães com bebês de colo passaram por nós) Nossa, tem. Parece que todo mundo combinou de ter filho (risos). Mas olha, tem bebê mas não tem onde levar o bebê. Aí tem mãe que fica andando com o bebê por aí no colo, só pra passear um pouco, tem umas que nem carrinho tem, é difícil, viu?

MARIA LÚCIA, 48

O que você mais gosta aqui no bairro? E o que menos gosta? Eu gosto da vizinhança, das pessoas. E não gosto que falta muita coisa, a gente é muito isolado de tudo. Em Alagoas era pior, mas era diferente. Aqui a gente “tá” na cidade mas não “tá”. É muito excluído a gente aqui.

Faz atividade física?

Não faço…

Não tem vontade? Ah, já fico tão cansada das “coisa” de casa que não tenho ânimo. Fora que tem dia que vou fazer compra, vou pagar conta, aí é uma viagem de ônibus pra fazer tudo. Chego em casa morta.

Frequenta alguma igreja ou associação?

Eu não vou mais pra Igreja, acho besteira. Parei de ir, não volto mais.

Encontrei a Josi e a Gisele sentadas na frente da loja da Gisele, arrumando saquinhos de bala pra vender. Ficou clara a importância da sopa do MAE Maria Rosa nas últimas décadas, deixando saudade desde 2010, quando foi interrompida.

JOSI, 25 Você trabalha fora? Não, sou dona de casa também.

Mora há quanto tempo no São Marcos? Moro faz uns 18 anos. Eu vim de Alagoas com o meu marido, ele até quer voltar pra lá mas eu não quero não, “tô” muito bem aqui. A gente foi visitar uma vez só, uns cinco anos atrás, mas pra mim já “tá” bom, não volto nunca.

O que faz no tempo livre? isso, só.

Eu cuido da casa, lavo roupa, fofoco com as vizinhas, assisto televisão, só

Você trabalha, Josi?

Não trabalho mais, trabalhava no shopping.

Mora há quanto tempo no São Marcos?

Ah, faz tempo. Desde sempre.

Você gosta de morar aqui?

Gosto, mas tem muito problema né? A gente é muito largado aqui, falta tudo...

Falta o que, por exemplo?

Falta hospital, escola, falta ônibus. O pior é o transporte, eu acho. Se tivesse

Apêndices


206 transporte, a gente dava um jeito, mas não tem, não. Falta lotérica também, falta banco, mas quem é doido de colocar lotérica aqui? No Santa Mônica lá (do outro lado da Rodovia Dom Pedro I) já assaltaram um monte de “vez”, assim no claro mesmo, pessoal é fogo. Aí a gente tem que ir pra outros bairros, tem que ir pro Matão, qualquer coisa tem que pegar um ônibus pra resolver. Difícil, né? Aí fica 40, 45 minutos esperando o ônibus, perde o dia todo só “pra” pagar uma conta. Tinha um caixa eletrônico no C&C (loja de construção na Rodovia Dom Pedro I), mas assaltaram, quebraram, sei lá o que aconteceu… não tem mais nada.

O que faz no tempo livre? Eu durmo (risos). Durmo o dia todo se deixar. Até dói os braços, as costas de tanto dormir. Mas hoje eu dormi pouco, fui dormir cedo ontem. Mas é isso, eu durmo mesmo.

Você encontra seus amigos com frequência? Se eu não “tô” dormindo eu encontro (risos). Mas é difícil, às vezes eu vejo na rua, mas o pessoal “tá” sempre correndo. Eu só encontro o pessoal da escola do meu filho (5 anos).

Faz atividade física? Não (risos), eu durmo, serve? Eu sempre me matriculo pras aulas no CEU, mas aí chega o dia e eu perco a aula, esqueço, desisto. Mas é bom que tem essas aulas, bastante gente faz. Mas podia ter mais, podia ter outras coisas.

Outras coisas? É, umas outras danças, podia ter uns professores bonitões (risos). Sei lá... Podia ter uma piscina com aquelas cadeiras de tomar sol, né? Nossa, “tô” viajando já (risos). Eu ia dormir lá o dia todo.

Frequentam alguma igreja ou associação?

Sim, “tô” toda semana lá. Na igreja eu vou bastante.

GISELE, 42 Você é dona dessa loja (loja de variedades)?

Isso, vendo umas coisas, umas roupas... coisa do dia-a-dia.

Mora há quanto tempo no São Marcos? Desde o tempo da sopa (Sopão do MAE Maria Rosa)... faz o que, uns 40 anos já (risos). Mas como era boa essa sopa, até hoje não sei o que tinha nela, mas era bom demais. (Josi interrompe: faz um sopão de costela em casa que fica igual, oxe!) Não, não é igual não, era bom, a gente ficava na fila com um canequinho todo dia, só esperando a sopa… de noitinha, podia “tá” frio, mas tinha que ter sopa pra dormir direito! Às vezes não tinha feito nada o dia todo, mas ia tomar sopa.

Gosta de morar no São Marcos? Gosto, é minha casa, né? Mas não gosto desse descaso com o bairro. Esse pessoal de cima (o governo) pega todo o dinheiro e faz o que? Some né? Aí fica essas coisas assim (aponta para os buracos na rua) e não arruma nada… é muita pouca vergonha. (Josi: O governo? Muita palhaçada mesmo, se gastasse o dinheiro direito podia ter escola, podia ter tudo aqui.) É, menina, tem duas linhas de ônibus que “passa” aqui só, tiraram o 317.1, já era ruim, ficou pior. (Josi: eu perdi o emprego por causa disso aí, só chegava atrasada, ia pegar o ônibus 11 horas e só chegava o ônibus meio-dia e meio…) É, não é fácil não. Aqui falam que é bom porque do centro pra cá é 15 minutos, mas quem vai andar até lá? No mínimo 40 minutos, cansa demais… o ônibus pra Barão Geraldo passa só lá em cima (aponta para a direção da Rodovia Dom Pedro I), até passava aqui embaixo mas não passa mais não. Tem aquele aplicativo do celular mas não funciona porque eles cortam caminho, aí você fica que nem tonto esperando duas horas, esperando pra ir tudo espremido (Josi: ai, eu odeio esses ônibus cheio, graças a deus não preciso mais pegar). Vem tudo espremido dentro, e a passagem é cara e os ônibus aqui é muito ruim, é sucata... lá do Campo Grande tem ar-condicionado, é articulado… lá é tudo melhor, aqui é o pior bairro de todos.

Então falta muita coisa aqui? Falta tudo. Falta hospital, falta escola, falta tudo. A gente tem posto, eu sempre me trato lá com psiquiatra, eles são da Unicamp igual você, mas falta remédio, falta luva, falta agulha, a única médica veterana lá é a doutora Valéria, ela é veterana… e só ela, os outros já foram embora. Era pra funcionar 24 horas, mas você acha? E olha que pra conseguir esse postinho já foi uma luta, viu? Antes o posto era particular, era minoria que ia. Era de uma mulher, só depois virou público. Foi uma luta do povo pra conseguir, mas conseguimos, né? O governo só puxa tapete. Em época de reunião vem pedir voto, mas eu não voto mais em ninguém. Vai cair o Temer, mas aí quem vai entrar? Não vou votar, não. Não vale a pena. Aquele deputado, vereador, sei lá, Rubens Gás, olha só: pediu voto, prometeu, aí sumiu. O Donizete também, veio, fez a maior fila aqui, mas também não fez nada. Aqui é muito atrasado, faz “miliano” que prometem coisa que não chega. Prometeram que iam canalizar o córrego, mas aí continua dando problema, eles só vem


207 e afundam mais ele. Aí esses buracos também, ficam aí, vão ficando, a gente vai até esquecendo porque nem adianta ter muita esperança, não. Mas já “tô” saindo do assunto já, pode continuar, menina.

O que faz no tempo livre? Eu vejo TV. E eu gosto muito de conversar, eu converso sobre as memórias, sobre as vivências, mesmo. Eu passei muito tempo sozinha internada, fiquei seis meses internada no Cândido Ferreira (Serviço de Saúde Cândido Ferreira, em Sousas), eu tinha problema, eu ficava trancada lá, tinha o NAC (?) aí ficava cada um em um quarto, era horrível. Eu fiquei seis meses lá, aí eu fui pro CAPS, aí vim pra cá depois. Por isso eu gosto de conversar, eu falo das minhas experiências mesmo… eu antes era muito fechada, eu tinha depressão. Eu passo o dia conversando agora, mas antes eu não me abria com ninguém. Eu ficava em casa, eu não queria falar. Agora eu falo, eu mudei. Eu peguei o hábito de conversar porque vou na terapia, né, aí eu gosto muito de conversar, é isso que eu gosto de fazer mais.

Você encontra seus amigos com frequência? Ah, eu “tô” sempre aqui na rua (Gisele estava sentada na frente da loja) então sempre falo com quem passa.

Faz atividade física? Não, só converso mesmo (risos). Eu preciso, mas eu não faço não. Eu ando por aí pra pegar as coisas só, mas exercício mesmo não faço. Não sobra muito tempo também, a gente fica aqui na loja, faz umas coisas pra ajudar… aqui a gente tem que se ajudar né, senão ninguém ajuda. Por mais que eu tenha pouco, sempre tem gente que tem menos, teve um dia que uma mulher veio me pedir uma blusa, eu disse que não tinha. Aí fui em casa e peguei duas. Me perguntaram por que duas, eu tinha duas pra dar, eu dei, ué (risos). Tem que ser bom com os outros, uma mão lava a outra.

Frequentam alguma igreja ou associação? Sim, às vezes eu vou, tem que ir.

Apêndices


208

APÊNDICE B

ATIVIDADE DE PREFERÊNCIA DECLARADA

PROGRAMAS/ EQUIPAMENTOS

Nº DE PESSOAS INTERESSADAS

HOMENS

MULHERES

3 MAIS DESEJADOS

MESAS DE JOGOS (XADREZ, PINGUE PONGUE)

21

9

12

1

PARQUINHO

20

6

14

8

PRAÇA MOLHADA (CHAFARIZ, ESGUICHO)

19

11

8

1

QUADRA DE AREIA

17

10

7

3

QUADRA DE TERRA

11

7

4

2

CAMA ELÁSTICA

15

6

9

5

PISTA DE SKATE

9

7

2

2

PISCINA

25

10

15

11

DECK PARA TOMAR SOL

14

4

10

1

PRAIA ARTIFICIAL

25

10

15

6

BANCOS

22

11

11

3

PISTA DE CAMINHADA

22

8

14

1

CICLOVIA

21

12

9

5

PAREDE DE ESCALADA

14

6

8

2

23

9

14

6

APARELHOS DE GINÁSTICA

21

7

14

6

MESA DE PIQUENIQUE

24

9

15

4

REDES DE DEITAR

22

12

10

4

QUADRA POLIESPORTIVA

20

12

8

4

TEATRO

DE ARENA/ARQUIBANCADA


209

APÊNDICE C

ATIVIDADES OFERECIDAS ONG’S E ASSOCIAÇÕES MAE MARIA ROSA TIPO DE ATIVIDADE

FREQUÊNCIA (QTDD AULAS/SEMANA)

QTDD MÁX. ALUNOS/AULA

DANÇA

7

50

MÚSICA

2

50

ARTES

5

10

GINÁSTICA

4

50

TIPO DE ATIVIDADE

FREQUÊNCIA (QTDD AULAS/SEMANA)

QTDD MÁX. ALUNOS/AULA

DANÇA

4

15

MÚSICA

4

15

ARTES

4

15

TEATRO

1

15

Apêndices

GRUPO PRIMAVERA


210

ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE DIREITO DE SER TIPO DE ATIVIDADE

FREQUÊNCIA (QTDD AULAS/SEMANA)

QTDD MÁX. ALUNOS/AULA

DANÇA

4

15

MÚSICA

4

15

ARTES

4

15

TEATRO

4

15

CEU VILA ESPERANÇA TIPO DE ATIVIDADE

FREQUÊNCIA (QTDD AULAS/SEMANA)

QTDD MÁX. ALUNOS/AULA

VARIÁVEL

-

10 A 20


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