Leanna Wilson - Christmas in July
Leanna Wilson Natal em Julho Sabrina 1124
O cowboy é babá? Por que um destemido cowboy de rodeios estava trocando a fralda de um bebê? Porque Trey Mann honrava suas promessas... o que incluía cuidar da família de seu melhor amigo. Programara-se para fazer trabalhos braçais extras bem como para ajudar no pagamento de contas. Mas não imaginara que cuidaria da pequena Casey... e se apaixonaria pela linda mamãe dela! A viúva Geena Allen ficava aborrecida com a intromissão de Trey Mann em sua vida. Mas havia um jeito infalível de afastar o preocupado cowboy das obrigações assumidas e assim acabar com a atração que sentia por ele. Daria a Trey uma oportunidade realista de ver como era a vida em família... e o veria bater em retirada! Era o que Geena pensava... Título original: Christmas in July Copyright:1996 by Leanna Ellis Digitalização e revisão: Márcia Goto
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Leanna Wilson - Christmas in July "Querida leitora, Uma de minhas manias, como meu marido poderá confirmar, é a paixão pelo Natal. Adoro o toque dos sinos prateados, as luzes coloridas, as canções tradicionais que ouço até mesmo no mês quente de julho no Texas. Para mim, Natal é mais do que uma época, feriado religioso ou pretexto para ir às compras. Há uma invasão de esperança e ânimo em meu espírito, ilumina-me o coração com alegria e reúno mais uma vez familiares e amigos. Para os cowboys, o Natal também não é apenas em dezembro. Os rodeios no mês de julho oferecem oportunidades para grandes eventos, que se estendem durante o restante do ano e colocam presentes debaixo da árvore de Natal de suas famílias em dezembro. Nesse romance, Trey e Geena se encontram em um circuito de verão e vencem algo mais importante do que um grande prêmio. O cowboy durão e a atraente corredora da prova de tambores aprendem que o amor não conhece estação do ano. Envolva-se nessa história. E espero que você também encontre um presente de amor. Leanna Wilson" CAPÍTULO I A água tépida era um bálsamo para a musculatura dolorida, o vapor fazia seus olhos sonolentos arderem levemente e o perfume e a textura da espuma, pouco a pouco, despertavam seus sentidos. Geena Allen apoiou o rosto no parapeito frio da banheira e preparou-se para mais um dia atribulado. Um dia semelhante a todos os anteriores: acordara antes do alvorecer, trabalharia duro e iria para a cama tarde da noite. Massageou os pés doloridos, contraiu e relaxou os ombros. Os efeitos do trabalho como garçonete na noite anterior faziam-na sentir um cansaço incompatível com seus vinte e dois anos de idade. Um som abafado chamou-lhe a atenção. Franziu a testa. Programara o banho para trinta minutos antes de sua filha acordar. Seria paranóia ou Casey estava chorando?
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Leanna Wilson - Christmas in July A fim de se certificar, fechou a torneira. O som distinto do choro de um bebê penetrou no santuário de seu banheiro. Não um choro qualquer, mas o grito de quando Casey estava com medo. Todo cenário imaginável passou pela mente de Geena, já plenamente desperta. Casey caíra do berço? Afastou a cortina plástica, enrolou-se numa toalha e saiu da banheira. Seus pés escorregaram contra o piso, mas ela recobrou o equilíbrio rapidamente. Um barulho estranho deteve-a. Os vidros das janelas dos quartos trepidavam por causa de um som cadenciado. Mas o choro de Casey superava tudo. O que estava acontecendo? Em um surto de medo, correu para o corredor, tropeçou em um brinquedo que estava no chão e depois em um bloco plástico. Praguejou, recuperou o fôlego e disparou para o quarto da filha. A porta permanecia aberta, assim como havia deixado na noite anterior quando colocara a menina de um ano de idade no berço. Aprumou os ombros e entrou no quarto, determinada a acalmar os temores do bebê e descobrir o motivo do caos naquela manhã de domingo. Soluçando, Casey estava sentada no berço, o rosto vermelho de tanto chorar. Tudo o mais parecia normal, no lugar correto. Geena suspirou aliviada. Aparentemente sua filha estava bem. — Está tudo bem, querida. Mamãe chegou. — Forçou um sorriso para acalmar a pequena. O choro cessou. A menina ficou em pé, as pernas bambas. Espiou na lateral do berço, os olhos castanhos arregalados. Casey levantou um pé, depois outro em um esforço por alcançar sua mamãe. Bucky, o ursinho de pelúcia tão amado, permanecia a seu lado, os olhos amarelos já tortos por causa de tantos abraços. — Como está meu bebê? — Geena indagou com carinho e ergueu Casey do berço. Pressionou os lábios na testa da filha para sentir sua temperatura. Parecia normal. Casey enlaçou-lhe o pescoço e apertou-a intensamente em busca de segurança. Geena ninou-a. — Mamãe não vai deixar nada machucar o bebê. O trepidar dos vidros recomeçou. Casey cobriu os ouvidos com as mãos gorduchas, os olhos arregalados. Geena ficou intrigada. Quem estaria causando tanta comoção?
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Leanna Wilson - Christmas in July Mais alerta do que quando na banheira, reconheceu que o som vinha do lado externo. Primeiramente achou que poderia ser aquele pica-pau maluco que vira no fio do telefone, mas o barulho era alto demais e muito próximo para tanto. Deu um beijo rápido nos cabelos loiros da filha e foi para o corredor com Casey apoiada em seu quadril. Abriu a porta dos fundos, segurando-a para não bater contra a parede e quase tropeçou em Trey Mann. — Droga! Devia ter imaginado. Ele olhou para cima, os olhos azuis arregalados de surpresa. O chapéu de cowboy fora puxado para trás e uma mecha de cabelos loiros caía na testa bronzeada. Ele segurava um martelo. Vagarosamente baixou-o e apoiou o queixo na ferramenta. — Bom dia! — murmurou tomando cuidado para não engolir o prego que mantinha entre os lábios. — Trey, o que está fazendo? Mesmo enquanto perguntava, já sabia. Ele aparecia em sua casa havia mais ou menos um ano, desde a morte de Sam. Cortava madeira, limpava as calhas e fazia tudo o que podia para deixá-la maluca. Trey tirou o prego da boca. — Pensei em consertar esta tábua solta antes que você ou Casey tropecem aqui. — Sabe que horas são? — indagou Geena, em tom de censura. — Antes das oito, imagino — respondeu ele, olhando para o horizonte rosado. — Casey acordou como barulho de suas marteladas. — Desculpe-me. Não tive intenção. — Talvez você deva ir para casa, Trey. — Tenho que terminar isto primeiro. Martelou outro prego em um lugar próximo do pé descalço dela. Geena encolheu os dedos. Quando Trey terminou o trabalho, fitou-a sorrindo. — Pronto! — Ele levantou-se. — Talvez eu dê uma olhada no celeiro, para ver se há algo que precise ser arrumado. Ou na cerca do estábulo. Na última vez em que estive ali pareceu um tanto instável. Você não gostaria... — Não é preciso. Acomodou Casey bem defronte ao corpo. Gostaria que Trey fosse embora. Tentara ser educada, mas, como sempre,
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Leanna Wilson - Christmas in July ele ignorou seu comentário. O que mais poderia fazer? Expulsá-lo de sua propriedade? Ele fora o melhor amigo de Sam, mas Geena não o queria ali. — Trey — falou com mais determinação —, não preciso de sua ajuda por aqui. Posso lidar com tudo. — Isso é verdade. Trey retrocedeu um passo na varanda. Arqueou o chape na direção das duas e sorriu. — Tenham um bom dia. Mas em vez de caminhar para a caminhonete, foi para o curral em sua passada lenta de cowboy. Geena suspirou. Como fazê-lo compreender que devia abandonar o fardo que Sam colocara em seus ombros? Antes de morrer, seu ex-marido pedira a Trey para cuidar dela e da criança que estava por nascer. Estava fazendo exatamente isso. E quase a deixando louca. Cada vez que Geena o avistava, uma dor profunda ardia em seu peito. Admitia que a assistência era útil; caso contrário a casa e o pedaço de terra ao redor teriam ficado negligenciados. Mas por algum motivo, não apreciava caridade. Trey respeitava o código dos cowboys acima de tudo. Geena sabia que dava à promessa uma importância imensa, encarando-a como uma espécie de tarefa desde que Sam morrera em um acidente enquanto cavalgava um touro no ano anterior. Ficava imaginando se ele estava pesaroso pelo amigo, ou se havia considerado a situação normal. Afinal, Sam não era o primeiro a morrer nos chifres de um touro selvagem. Será que Trey pensava no amigo quando olhava para o curral que Sam havia construído? Ou quando olhava para ela? E para a casa? Cada vez que Geena contemplava os olhos castanhos da filha ou mergulhava os dedos nos cachos dourados da menina, lembrava-se do marido. A dor era constante, persistente e sem cura. Não podia simplesmente arrancar o coração e esquecer. Teria de conviver com o sofrimento todos os dias, pelo resto da vida. Não tivera muito tempo para o luto. A princípio, o choque deixara seu coração dormente. Vagarosamente a apatia transformara-se em raiva, frustração e medo. As emoções se digladiavam, sufocando-a, até o nascimento de Casey um mês depois.
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Leanna Wilson - Christmas in July Então Geena chorara até não restarem mais lágrimas. Apenas um pesar intenso permanecera. Ficara em seu quarto de hospital, a escuridão da noite rodeando-a. Lembrou-se da época em que Sam a cortejava, buscando-a para passear em sua caminhonete velha. Recordou-se do primeiro beijo sob um manto de estrelas, da primeira vez em que fizeram amor e da ternura de suas mãos fortes. Os bons momentos salpicaram de alegria os anos, enquanto os difíceis serviram para uni-los. Ela chorara pela doçura do passado brutalmente encerrada, pela dor da ausência de Sam no nascimento da filha e também por temer o futuro. Quando segurara Casey pela primeira vez no hospital, a menina enrolada em um cobertor cor-de-rosa, sentira a responsabilidade avassaladora da maternidade sem o marido para ampará-la. A realidade a fizera sair da depressão e forçara-a a seguir adiante. Mesmo assim, no decorrer do último ano, um pesar profundo e agonizante acordava-a tarde da noite quando nada mais a distraía. Nessas ocasiões, curvava o corpo ao redor da pequenina Casey, criando uma concha protetora e chorava pelo bebê e pelo pai que a filha jamais conheceria. Era isso o que mais lhe doía. Casey jamais experimentaria o senso de humor do pai, sua força e amor. Magoava-a profundamente que Sam nunca fosse ver a filha dando os primeiros passos nem ouvir suas primeiras palavras desconexas. Um estalido chamou sua atenção. Passeou o olhar pelo quintal gramado na direção do curral. — O que ele aprontou agora, Casey? Trey substituía um poste de cerca já destruído pelo tempo. A musculatura de seus braços e ombros ficava em destaque sob o tecido da camisa. Os mesmos ombros e braços que a haviam mantido distante do marido que agonizava no chão empoeirado da arena de rodeio. Ela escutara o murmúrio de espanto vindo da arquibancada e disparara, embora não conseguisse correr muito por causal dos oito meses de gravidez. Jogara-se na direção do marido, mas Trey colocara-se entre ela e Sam. Geena se debatera, chorara e praguejara, mas Trey segurara-a contra o peito. Antes que ela conseguisse
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Leanna Wilson - Christmas in July desvencilhar-se do abraço, a ambulância afastara-se, levando seu marido. Lágrimas de amargura travaram-lhe a garganta. Nunca dissera a Sam, em seu momento derradeiro, como o amava. Não lhe prometera que, em sua ausência, amaria e protegeria o bebê que trazia no ventre. Era disso que se arrependia mais. E jamais conseguiria perdoar Trey. A garganta e peito de Geena ardiam diante das recordações. Precisava de motivação para prosseguir e fazer o melhor para proporcionar uma vida decente para Casey. Entrou na casa. A porta de tela bateu, ajustando-se no lugar. Ela passou os dedos pelos cabelos e aspirou profundamente. Vestiu um robe, trocou Casey e murmurava uma canção enquanto preparava o café da manhã que consistia em panquecas e suco de laranja. Com prática, limpou os talheres e pratos da refeição matinal, vestiu a filha e, em seguida, colocou calça e blusa jeans e calçou botas. Quando saiu para a varanda com Casey no colo, o sol havia se erguido no horizonte, banhando de dourado a manhã. Buscou o jornal matinal que o garoto Jones entregara e voltou para a sala. Em meio às páginas, um envelope desprendeu-se e caiu no chão. Resmungou. Sabia o que continha. Outro "presente" de Trey. Irritada, olhou ao redor e viu a caminhonete dele ainda estacionada ao lado da sua. — Pois duas pessoas podem participar deste jogo. Caminhou diretamente para o automóvel do visitante indesejado, o envelope na mão e Casey apoiada em seu quadril. Pousou a garotinha na grama e abriu a porta de passageiro. O rangido foi alto, e Geena estremeceu. Olhou para Trey. Parecia absorvido no que fazia. Até murmurava uma canção. Então ela sorriu e colocou o dinheiro no porta-luvas. Fechou a porta o mais silenciosamente possível e foi para o curral com Casey nos braços. — Quer ajudar mamãe a colocar a sela em Starbuck? A menina sorriu e balbuciou alguma coisa. — A mamãe é mais esperta do que Trey, não é mesmo? Casey murmurou mais alguma coisa, e Geena respondeu à própria pergunta com um sorriso. Nada poderia fazer quanto
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Leanna Wilson - Christmas in July ao trabalho que ele realizava em sua propriedade, mas podia recusar terminantemente as doações em dinheiro. O bebê ria, feliz. Geena caminhava com passos determinados, a atenção focada em seu plano. No decorrer das próximas semanas, terminaria de treinar seu cavalo para ela mesma retornar ao circuito de rodeios. Em breve, não precisaria nem de Trey Mann nem de seu dinheiro. Com algumas vitórias em provas com tambores, poderia cuidar melhor de Casey e do rancho. Esperava assim finalmente libertá-lo da obrigação assumida. O mais importante era conseguir livrar-se de Trey. Permanentemente. Trey estava acalorado naquela manhã de final de junho. Usando uma ferramenta já velha, lutava para arrumar o encanamento com problemas. Isso fazia parte da responsabilidade que assumira havia um ano. Antes, sua vida consistia em participar de rodeio, beber com seus amigos até altas horas da noite e desperdiçar dinheiro com mulheres. Mas na noite anterior, em vez de passar mais tempo com Daria, competidora da prova com tambores e dona de lindas pernas e um rosto maravilhoso, a responsabilidade levara-o de volta para a casa... de Geena. Dirigira durante a noite toda para chegar até ali. Será que ela apreciava seus esforços? Não sabia. Jamais recebera um agradecimento ou uma pergunta a respeito de seu bem-estar. Parecia sempre desejar que ele fosse embora rapidamente. Se não fosse sua promessa a Sam, era justamente o que faria em vez de ficar trabalhando debaixo do sol quente. Estaria em casa, na cama. Ou, melhor ainda, em um motel com... A porta de sua caminhonete rangeu. Reconheceria aquele som em qualquer lugar. Sem dúvida, sabia que Geena havia encontrado o dinheiro que ele colocara dentro do jornal. Por que continuava insistindo? Deu de ombros, bem-humorado. Não podia deixar de fazer a oferta porque, no caso de ela estar em um momento difícil, acabaria aceitando o dinheiro. Sabia que o orgulho a impedia de pedir ajuda. Balançando a cabeça, Trey não conseguiu conter um sorriso. Quantas vezes lhe oferecera dinheiro e recebera uma negativa em resposta? Quantas vezes colocara algumas notas debaixo de sua porta apenas para encontrá-las de volta sob a porta dele no dia seguinte?
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Leanna Wilson - Christmas in July Geena era impossível, orgulhosa demais. Mas Trey era muito teimoso para aceitar a derrota. Afinal, fizera uma promessa. O trabalho pesado de lidar com os canos de água ao menos servia para suavizar a rigidez de seus ombros. Todo o corpo estava dolorido da cavalgada do dia anterior, naquele touro enlouquecido. Fora um espetáculo e tanto, e o dinheiro em seu bolso provava isso. O dinheiro servia de almofada para seu corpo dolorido e aliviava suas preocupações quanto às próximas refeições. Ganhara o bastante para pagar as contas durante os próximos dois meses. Ficou imaginando como poderia fazer com que Geena aceitasse um pouco do dinheiro. Certamente precisava, embora nunca admitisse. Quanto estaria ganhando como garçonete em um pequeno restaurante? Casey provavelmente precisava de roupas novas, fraldas e outros itens, dada a rapidez com que crescia. Não sabia muito sobre crianças, mas certamente davam muita despesa. Frustrado, concentrou-se em obrigar o parafuso velho a ficar no lugar correto. Mesmo assim, a água continuava vazando. Aprumou as costas e sentiu a musculatura dolorida. Girou o torso de um lado para outro. Então seu olhar pousou em Geena. Queria ignorá-la, mas simplesmente não conseguia. Sem dúvida, sempre soubera que ela era atraente, mas tratava-se da namorada de Sam, depois esposa. Atualmente Geena era viúva de Sam... e ainda assim longe de seu alcance. Sentiu culpa por pensar na esposa de Sam... Prometera ao amigo que tomaria conta dela no instante em que este respirava pela última vez. A dor apertou-lhe o peito ao ver Geena com a pequena Casey nos braços. Estreitou os olhos por causa do sol intenso e viu-a caminhar com passos determinados na direção do estábulo. Parecia segura de si, confiante, não mais uma garota com o sonho infantil de se tornar competidora da prova com tambores. Minutos depois, observou-a sair do estábulo com sua montaria a reboque, já com a sela. Uma Casey extremamente feliz gritava e gesticulava para o cavalo, estendendo o punho para acarinhar a mancha branca que ornava a testa e nariz do animal. — Por quanto tempo pretende participar das competições com tambores? — perguntou, aproximando-se.
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Leanna Wilson - Christmas in July — Não muito. Provavelmente apenas durante o mês de julho. A partir de então uns poucos finais de semana, aqui e acolá. Já programei um mês de férias no restaurante. E os rodeios de julho são os que pagam melhor. Se eu puder ganhar algum dinheiro, então isto me garantirá... por uns tempos. — Um Natal de cowboy. A maior parte dos cowboys rezava por um bom mês de julho para pagar as despesas do Natal ou alguma emergência que ocorresse nesse intervalo. Trey lembrou-se da última véspera de Natal, quando fora à casa de Geena com um presente para ela e para Casey. Todas as luzes da casa estavam apagadas, mas através da porta ouvia-se o refrão triste da música "Estarei em Casa para o Natal". Devia ser bem difícil passar o Natal sem Sam. Trey sentia falta do amigo principalmente nos rodeios. Cada vez que olhava para a arena em busca de um sorriso, a ausência de Sam dilacerava seu coração. Geena devia sentir o mesmo toda vez que se deitava na cama ou olhava para a cadeira vazia dele à mesa do café da manhã. Trey nutrira esperanças de que a presença de Casey amansasse a dor de Geena no primeiro Natal que passaria sozinha, mas isso não ocorrera. Quando batera à porta, a música cessara. Após um minuto, ouvira-a indagar: — Quem é? — Papai Noel. Como ela não respondeu, acrescentou: — Sou eu, Trey. Trouxe um presente para Casey. Após outra pausa, a porta foi aberta. Mesmo na escuridão, Trey notou como os olhos de Geena estavam vermelhos, sinal de que estivera chorando. — Aqui está. — Estendeu-lhe o pacote com o urso de pelúcia pela porta entreaberta. — É apenas uma lembrancinha para Casey. — Oh, Trey... — Aceite. Olhou para dentro da casa. Nenhuma decoração especial. Nenhuma árvore de Natal. Nada além da atmosfera de tristeza. — Não posso. — Por que não? É Natal. Apenas pense em mim como representante do Papai Noel.
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Leanna Wilson - Christmas in July Tinha esperança de fazê-la sorrir, mas os olhos de Geena ficaram rasos de água. — É o mínimo que eu posso fazer — acrescentou Trey. — Mas não comprei nada para você. Entristecido pela culpa que viu nos olhos verdes tão pesarosos, Trey arrependeu-se de estar lhe causando mais dor. — Eu não quero nada. Vá. É para Casey. — Está bem então. Nem sei o que dizer. — Não diga nada. Trey abaixou-se e pegou outro presente embrulhado. — Eu também lhe trouxe uma pequena... — Não, Trey. Por favor... Fechou a porta. Ele ficou olhando para a fita vermelha do pacote durante bastante tempo, então desistiu. Deixaria Geena com sua tristeza, permitiria que sofresse seu luto em paz... Então as notas tristes de outra balada solitária de Natal chegaram a seus ouvidos. Durante os últimos meses, ficou imaginando se ela havia dado o pacote à filha e se fora o único recebido pela criança naquele ano. Casey deu um grito de alegria e trouxe-o de volta ao presente. Era a primeira vez que Trey via o ursinho com a menina. Parecia um tanto castigado e perdera o laço amarelo ao redor do pescoço, mas obviamente era muito amado. — Vejo que Casey gosta do urso. — Sim — disse Geena, um brilho entristecido no olhar. — Bucky é seu brinquedo favorito. — Bu-bu-bu... — Casey balbuciava. — Eu não quis chamar o urso de Buba — Geena disse, sorrindo —, por isto seu nome tornou-se Bucky. Trey sorriu. Partilhava um raro momento de descontração com Geena. Queria que ela confiasse em suas boas intenções. Se pretendia mesmo voltar a ser competidora em rodeios, teria uma rotina difícil de viagens durante toda a noite, estadas em hospedarias e refeições fora de hora. Uma vida nada adequada a uma criança pequena. — O que fará com Casey, durante os rodeios? — O que quer dizer? — Pretende deixá-la com sua mãe? — Não, mamãe não pode por causa de seu trabalho. Faz o possível tomando conta de Casey para mim à noite quando estou no restaurante.
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Leanna Wilson - Christmas in July — Então levará sua filha consigo de rodeio a rodeio, cidade a cidade, hotel a hotel? — Foi assim que eu cresci. Observando meu pai lidar com montarias e cordas. — Sim, mas ele tinha sua mãe para cuidar de você, bem como de seus irmãos e irmãs. A quem você tem? Quem cuidará de Casey enquanto estiver cavalgando? O rosto dela se iluminou, e seus lábios curvaram-se no esboço de um sorriso. Trey ficou inquieto. Só a via sorrir assim quando olhava para a filha. Franziu a testa. Que teria em mente? — Não sei. Ainda não pensei no assunto. Pensei que talvez pudesse conseguir alguém... outra competidora, talvez... para olhá-la durante minha apresentação. Mas você está certo. Eu não posso deixá-la com qualquer pessoa. Não é mesmo? — Sim. Trey não estava gostando nada do modo como Geena o encarava. — Terá de ser alguém que ela conheça. Uma pessoa que veja com freqüência. — Sim. Trey decifrou incerteza na própria voz. — Não será fácil dirigir durante a maior parte da noite, acomodar-se em hotéis baratos, trocar fraldas e alimentá-la. Eu provavelmente apreciaria uma companhia na viagem para ajudar-me com tudo isto. Trey assentiu, incapaz de falar. Tinha a distinta impressão de que entrava em uma armadilha e não sabia como escapar. — Bem, o que acha? — indagou ela, fitando-o assertivamente. Os lábios de Geena curvaram-se no que parecia mais uma careta do que um sorriso. — Como assim? — Você tem tentado me ajudar desde a morte de Sam. Aí está algo que pode fazer. Nós estaremos, de qualquer maneira, nos mesmos rodeios. Você tomaria conta de Casey? CAPÍTULO II Os pneus da caminhonete reclamaram da freada abrupta quando o veículo adentrou a passagem pavimentada. Trey
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Leanna Wilson - Christmas in July estacionou e quase imediatamente abriu a porta. O rangido só foi superado pelo bater estrondoso para fechá-la. A casa de fazenda normalmente lhe parecia acolhedora. Desde que seu irmão se casara, entretanto, Trey não sentia que aquele era seu lar. Ficava impaciente. Ansiava por estar na estrada, tentando a sorte em outro rodeio. Por que havia concordado em ser babá? O que conhecia a respeito de crianças? Em que se metera? Participaria dos rodeios, mas não poderia fazer tudo o que desejava. Observaria seus amigos irem para um bar, mas estaria preso a Geena e a um bebê. Condenou-se por ser um tolo ignorante. Caminhou para a casa. O sol brilhava, prometendo um dia quente. O ar abafado tinha cheiro de grama recém-cortada. Galgou os degraus da varanda dos fundos, dois por vez, roçando em um vaso de plantas e na cesta com flores rosadas. Entrou e bateu à porta, mal notando que as janelas estremeceram em conseqüência. — O que é isto? Os olhos castanhos de sua cunhada revelavam preocupação. Shannon segurava uma toalha de banho contra a barriga proeminente. — Oh, nada. Puxou uma cadeira, tirou o chapéu e colocou-o na mesa da cozinha. — Bom dia! Kirk aproximou-se com uma xícara de café. Seus olhos acinzentados pousaram no chapéu ao lado da cesta com pães. Como um bom irmão mais novo, Trey obedeceu ao pedido silencioso e removeu o chapéu, pendurando-o na cadeira. Desde que Kirk se casara com Shannon, tudo mudara na fazenda. E algumas mudanças requeriam mais ajustes do que outras. Trey nunca se queixara, entretanto. Shannon restaurara a fé de Kirk em si mesmo. Com sua ajuda, ele havia superado o problema da gagueira, resultado de um acidente em uma prova com touro. Atualmente trabalhavam juntos para ajudar os alunos de Shannon a sentirem orgulho de si mesmos. — Quer um pouco de café? Kirk colocou a xícara na frente do irmão. — Obrigado. Tomou um gole do líquido fumegante e queimou a língua.
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Leanna Wilson - Christmas in July Com a testa franzida, observou Kirk servindo-se de uma xícara de café. Desejava ser como ele, descontraído, e não sentindo como se sempre tivesse algo a provar a alguém. Planejava provar seu valor no circuito de rodeios. Bem como para Geena Allen. Por que ele não sugerira que outra pessoa cuidasse de Casey? Porque, respondeu em pensamento, havia feito uma promessa. Apoiou os cotovelos na mesa e inclinou-se sobre a xícara de café. A lembrança da brutalidade e do horror que presenciara no acidente de Sam veio-lhe à mente. Começou a suar frio. Sabia que nada poderia ter feito para salvar o amigo, mas sentia culpa. Teria feito o bastante? Fora o primeiro a chegar perto de Sam, o primeiro a ver o rosto pálido, quase acinzentado. — Agüente firme, Sam — implorara-lhe. Os paramédicos chegaram e rapidamente o tiraram da arena. Enquanto prestavam os primeiros socorros, tentando reanimá-lo e fazer a circulação voltar ao normal, Sam segurara a mão dele. Respirava com dificuldade e escorria sangue por sua boca. — Cuide de Geena... — Sam tossira, espirrando sangue — ...e do bebê... — Sim — Trey disse, chorando. — Geena e o bebê ficarão bem. Eu garantirei isto. Apenas agüente firme, camarada. Eles vão cuidar de você... A boca de Sam torcera para o lado em um esforço para sorrir. Ele prendera a respiração e vagarosamente a soltara. Seus olhos perderam o brilho. A mão ficara imóvel. Se fosse outra pessoa, Trey podia não ter feito essa promessa, mas Sam Allen resgatara-o de debaixo de um touro quando Trey ainda era novato. Mas por quanto tempo Sam queria que ele cuidasse de Geena? Até o nascimento do bebe? Durante um ano? Eternamente? O cumprimento da promessa mostrava-se mais difícil do que imaginara a princípio. Geena não era uma mulher fácil de se lidar. Por que não era capaz de aceitar a oferta generosa de alguém? O que havia com Geena Allen que a deixava tão na defensiva? Kirk suspirou e sentou-se defronte ao irmão. — Como foi o rodeio, ontem?
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Leanna Wilson - Christmas in July Trey notou fadiga em sua postura e sentiu culpa por ter deixado todas as tarefas da fazenda ao encargo do irmão. Então sentiu uma pontada de orgulho e sorriu. — Cavalguei o velho Whiskey Breath até mais não poder. — E quanto recebeu? — Quinhentos. Kirk sorriu. — Muito bem! — Parabéns, Trey — disse Shannon, aproximando-se e ficando em pé perto do marido, a mão pousada em seu ombro. Kirk colocou o braço na cintura da mulher. — Você pernoitou por lá e veio dirigindo esta manhã? — Não. Dirigi durante a noite toda. Parei primeiro na propriedade de Geena Allen para algumas tarefas. — É mesmo? — Shannon indagou com um toque de curiosidade na voz. Trey percebeu que o irmão e a cunhada haviam notado seu mau humor ao chegar. — E como ela está? — perguntou a moça. — Amigável como uma vespa irada. — Pobrezinha. Vem passando por tantas dificuldades. A morte de Sam... — Afagou a própria barriga, proeminente devido à gravidez. — E então teve a pequenina Casey completamente sozinha. — É mesmo — concordou Kirk. Trey assentiu, não sabendo mais o que dizer. Conhecia bem os problemas de Geena. Queria ajudar, mas ela não aceitava sua oferta. Aquela mulher o deixava maluco! — Mulheres... — murmurou baixinho. — Por que diz isto? — Kirk perguntou, estreitando o olhar por sobre a xícara de café. — Como assim, "mulheres"? — Nada. — Não soou como "nada" — argumentou Kirk, dando uma piscadela para a esposa. — Problemas com alguma garota? — indagou ela em tom brincalhão. Acomodou-se em uma cadeira à cabeceira da mesa, e Kirk ergueu-lhe os pés no colo dele. — Quem o está dominando? — Ninguém. Certamente não era Geena Allen. Trey olhou para a cunhada, que forçara Kirk a deixar os rodeios. Não, nunca deixaria que isso lhe acontecesse. Nada, nenhuma mulher, nem qualquer outro motivo ficaria entre ele e seu sonho de ser o melhor cowboy da região.
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Leanna Wilson - Christmas in July Mas isso já estava acontecendo. Primeiramente o acidente com Kirk deixara-o à margem das competições enquanto ajudava o irmão e abraçava as tarefas na fazenda. Atualmente sua promessa a Sam bloqueava-lhe a carreira. Sim, sentia-se amarrado. — E então, qual o problema? — Kirk quis saber, ficando sério. — Geena novamente? — Sim. Ela é teimosa. Diz que não aceitará dinheiro. Tenho de forçar minha ajuda. — Bem, talvez você pudesse ajudar anonimamente — sugeriu Shannon. — Como? Deixei dinheiro debaixo de sua porta, paguei um crédito no mercado em seu nome. O que mais? — E se você fizesse com que os camaradas do rodeio doassem dinheiro? Aposto que metade deles não sabe das dificuldades por que Geena tem passado. Todos se lembram de Sam. Era bem quisto. Assim como Geena. Tenho certeza de que serão generosos. — E uma boa idéia, querida — Kirk falou à esposa. — Não sei. Pode ser que em breve ela não precise mais deste dinheiro. Geena decidiu voltar ao circuito. — O quê? Mas como conseguirá se tem um bebê para criar? — Shannon perguntou, preocupada. — Este é o problema. Ela pediu que eu fosse babá de Casey. Acreditam nisto? Kirk arregalou os olhos. — Você? Deve estar brincando. — Eu gostaria de estar. — Olhou para Shannon, que passava um pano na mesa. — Não sei o que fazer com uma criança. A cunhada deu-lhe um tapinha no braço e um sorriso em sinal de simpatia. — Quanto tempo tem a pequenina Casey? Já fez um ano? — Kirk perguntou. Trey deu de ombros. — Acho que sim. Está engatinhando. — Você se dará bem — disse Shannon. — Uma criança desta idade é bem mais fácil de ser cuidada do que um bebê de poucos meses. — É mesmo? — indagou, esperançoso. — Não se preocupe. Ela apenas vai comer, dormir e... — Shannon tossiu. Trey resmungou.
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Leanna Wilson - Christmas in July — É disto que eu tenho medo. — Nem queria imaginar o que o aguardava. — Nunca troquei uma fralda. — Bem, acho que terá de aprender, cowboy — falou Kirk, rindo. O riso de Shannon era contagiante ao dar um tapinha na mão do marido e exclamar: — Você também, querido! Kirk ficou sério, tornando a cicatriz em sua têmpora mais evidente. O olhar de Trey encontrou o do irmão. Como a vida dos dois havia mudado tanto em um curto espaço de tempo? Então se condenou pela falta de sensibilidade. O mínimo que podia fazer era dar apoio à viúva de Sam sem queixas. Aprumou os ombros e com a determinação de um touro, decidiu que tomaria conta de Casey. Com fraldas e tudo. Geena subiu os degraus, sentindo o coração leve, livre de um fardo pesado. Bateu uma vez à porta antes de entrar, tendo Casey apoiada em seu quadril. — Olá! Estou aqui, mamãe. — Venha cá, querida — respondeu uma voz vinda dos fundos do trailer. — Estou arrumando a cama. — Precisa de ajuda? Colocou Casey no chão e ouviu a mãe murmurando uma resposta. Antes de Geena ter tempo de tirar dos ombros a sacola da nenê, Casey já havia engatinhado pelo carpete dourado na direção da mesinha lateral. Amparou-se no móvel e ficou de pé. Seu bumbum coberto pela fralda ia para a frente e para trás enquanto a menina buscava apoio nas pernas ainda inseguras. — Aí estão vocês! — Maggie Thompson irrompeu na sala como um furacão. Parou perto de Casey, tomou a neta nos braços e abraçou-a fortemente. — Como está minha menina? Casey deu um beijo no rosto da avó. Aos quarenta e três anos, Maggie era esbelta para quem tivera seis filhos. Algumas mechas acinzentadas permeavam seus cabelos ruivos, e finas rugas se formaram ao redor dos olhos castanhos. — Como vai você? — Maggie perguntou à filha com preocupação maternal. — Atrasada. — Trey Mann deve ter passado em sua casa hoje. — Sim. Evitou o olhar perscrutador da mãe. Trey a havia detido, mas indiretamente. Geena achara por bem observá-lo
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Leanna Wilson - Christmas in July atentamente a fim de evitar que deixasse dinheiro em sua casa outra vez. Francamente, aquele homem a deixava nervosa! E ela nem sabia bem o motivo. Maggie colocou a mão no quadril. — Aquele rapaz dá uma ajuda e tanto. Se fosse você, eu lhe daria um abraço e um beijo por o todo trabalho que tem realizado por ali. Geena estremeceu ao pensamento. — Oh, mamãe! — Você é teimosa, Geena Marie. Sempre foi — acrescentou, seguindo-a até a porta. — Pessoas caridosas são bênçãos de Deus, filha. Geena refreou um suspiro. Já ouvira aquele sermão milhares de vezes. Sua mão permaneceu na maçaneta. Tinha esperança de poder sair rapidamente. Não queria caridade. Caridade fazia com que se sentisse pobre e indefesa, como se não pudesse agir sozinha. Lembrava-a de como dependia de Trey. Atualmente, quando se tratava de uma troca de favores, como um vizinho ajudando-a no parto de um bezerro em troca de uma generosa porção de milho ou tomates, não se importava, porque não era caridade e sim camaradagem. Sempre retribuía as gentilezas recebidas, mas Trey jamais deixara que agisse assim. — Você sabe — a mãe prosseguia — que se não fosse pela bondade das pessoas próximas, em algumas ocasiões nós nem teríamos um jantar decente no dia de Ação de Graças ou presentes para vocês, quando eram crianças, no Natal. — Mas Trey Mann não está sendo movido pela bondade de seu coração. Maggie arregalou os olhos castanhos. — Você quer dizer... Acha que está interessado em você? Faz sentido, já que passa tanto tempo ajudando nas tarefas da propriedade. Isto é fantást... — Por Deus, não! — Geena interrompeu-a. — Trey apenas faz isto porque acha que é sua obrigação. A palavra parecia amarga em sua boca. — Ele disse isto? — Não. — Então como você sabe? — Conheço muitos cowboys. Possuem um código de honra que nada tem a ver com a grandeza de seus corações e sim com o tamanho de seus egos.
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Leanna Wilson - Christmas in July Maggie parecia não partilhar do ponto de vista amargo da filha. — Seja o que for, apenas aceite como uma dama. — Não terei de passar por isto durante muito tempo mais. — Por quê? Ganhou na loteria? Ela sorriu. Era bom. Seus fardos pareciam perder peso. — Finalmente descobri um jeito de me livrar da dependência de Trey. — E por que você gostaria disto? — Posso cuidar de mim mesma... e de meu bebê. Pegou na mão gordinha de Casey, e os dedos pequeninos enrolaram-se em seu polegar. Seu coração resplandecia de prazer diante da confiança que a filha depositava nela. Esperava poder honrar essa imensa responsabilidade. — Sei que pode cuidar de si mesma, querida — disse Maggie, tocando no rosto de Geena. — Minha filha, teimosa e orgulhosa, nunca gostou de depender de alguém, nem de nada. Srta. Independente, era assim que seu pai a chamava. — Ajeitou Casey no outro lado do corpo. — Então o que você fez para manter Trey afastado? Mais uma vez o sorriso voltou aos lábios de Geena. — Eu lhe pedi para ser babá. — Babá? Acha que ele pode cuidar de Casey? — Nem estou preocupada com isto. Trey não vai aceitar. Um brilho de surpresa iluminou os olhos de Maggie. — Ele se negou a ser babá? — Não. Mas fará isto. Que homem em seu juízo perfeito seria babá? Maggie mordeu o lábio inferior. — Não se preocupe, mamãe. Estaremos bem. Geena beijou Casey, assanhando-lhe os cabelos. — Seja uma boa menina para a vovó. Mamãe virá buscála mais tarde. Ainda pensando em Trey, sorriu ao descer os degraus. Ele não ousaria chegar a um quilômetro de distância de sua casa, temendo que lhe pedisse para trocar a fralda de Casey. E isto porque não sabia que fraldas eram o menor dos problemas em se tratando de bebês. O pensamento a fez sorrir durante todo o caminho para o trabalho. Na manhã seguinte, Geena ergueu o olhar ao ouvir um carro se aproximando. Era inacreditável, mas quem chegava era Trey! A caminhonete freou e fez levantar uma nuvem de poeira.
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Leanna Wilson - Christmas in July Sentiu-se frustrada, tensa e confusa. Ele não devia estar ali. Sua proposta fora feita com a intenção de afastá-lo para sempre. O que queria agora? Temendo a resposta, respirou fundo e se preparou para o confronto. — Como vai? — perguntou ele ao sair da caminhonete. — O que veio fazer aqui? Ele parou, parecendo confuso diante da pergunta. Franziu a testa. — Estou aqui para... — Apontou para Casey, que brincava dentro do cercado protegido por um guarda-sol. — Para aprender o que devo saber a respeito de crianças. — Eu pensei que você fosse desistir. Trey arregalou os olhos. — Por quê? — Digamos que sua desistência não me teria surpreendido. E eu não o culparia. Ser babá é uma responsabilidade grande. Estou confiando o bem-estar de minha filha a você. Colocando-a em suas mãos. Geena notou como ele tinha mãos bonitas. — Eu lhe dei minha palavra. Trey coçou o queixo em um movimento lento que a deixou com os nervos à flor da pele. — Você não me deixará ajudá-la de outra maneira, por isto gostaria de ser útil como babá. Quero fazer isto por você. Por Sam. As palavras não ditas pousaram entre os dois., Geena sabia exatamente o que ele quisera dizer. Exasperada com aquele maldito código de honra, perguntou — Por quê? O que há com você? Por que não consegue simplesmente nos deixar a sós? — Porque precisam de minha ajuda. Sei que você detesta esta palavra. Sei que não gosta que eu apareça por aqui e execute tarefas. Achei que se habituaria após algum tempo, mas isto não aconteceu. É orgulhosa demais para admitir que precisa de mim. — Não é apenas com você que eu posso contar — retrucou Geena, irritada. — Pensei em telefonar para Brenda Reed. Ela poderá olhar Casey enquanto eu estiver participando dos rodeios. Em troca, cuidarei de seu cavalo ou... — Sua montaria está emprestada, e ela foi passar a temporada fora daqui. Geena cruzou os braços e tentou pensar em uma alternativa.
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Leanna Wilson - Christmas in July — Bem, então Susie... Trey balançou a cabeça em sinal negativo. — Ela vai se casar em breve. — Amanda...? — Improvável. Está grávida. De qualquer maneira, será difícil você e sua babá conciliarem horários. — Trey fitou-a como se estivesse impondo algo. — Não, acho que você não tem alternativa. Precisa contar comigo. Parecia satisfeito por ter dado o xeque-mate. — Eu poderei pedir à esposa de algum cowboy que tome conta... — Você poderia, eu acho, mas não deve contar com isto. Geena sabia que ele estava certo. Subitamente se sentiu só. Achou que pudesse obter apoio dos velhos amigos das competições, mas obviamente não devia contar com eles também. O medo de ter apenas a si mesma em quem confiar e Casey dependendo dela para tudo começou a sufocá-la. A cabeça latejava em crescente pressão. Não tinha ninguém, e sua própria vulnerabilidade a apavorava. — Não se esqueça da viagem de caminhonete de rodeio a rodeio — disse Trey, acrescentando perspectivas mais sombrias às suas preocupações. — Pode ser difícil atender sua filha. Seria bom que outra pessoa dirigisse para você. Isto a deixaria livre para olhar Casey. Um sorriso brincava na boca de Trey, mas ele procurou apagá-lo com um franzir de testa. Geena sentiu-se acuada e triste. — Bem, parece que sou a pessoa certa, afinal. Talvez você prefira mudar de idéia e não entrar para o circuito... — Meteu a mão no bolso em busca da carteira. — Eu posso ajudar... — Não. Eu irei. Não vou retroceder. É algo que devo fazer. Agora. Por mim... e por Casey. Trey agarrou-a repentinamente pelos ombros, deixando-a com a respiração presa na garganta. Geena sentiu a força e o perigo daquelas mãos rudes. Embora alta, era forçada a pender a cabeça para trás para fitar Trey. — Geena — falou em tom sério —, não seja teimosa. Eu posso ajudar. Por que você não aceita? — A responsabilidade não é sua. Sua voz fraquejava. Sentia-se abalada com a masculinidade que emanava dele. O queixo parecia forte e
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Leanna Wilson - Christmas in July determinado, os olhos de um tom intenso de azul, capazes de capturar toda a sua atenção. Geena ergueu a cabeça, desafiadora. — A responsabilidade é minha. Eu cuidarei de Casey. — Está bem, talvez você consiga fazer tudo. Mas por que punir a si mesma? Podemos ajudar um ao outro. — Como este esquema poderá ajudá-lo? — Bem... companhia. Eu me sinto muito solitário quando dirijo longas distâncias. — Ele a soltou vagarosamente. — Eu pensei que você tivesse a companhia de outros participantes. — Não desde que Kirk abandonou os rodeios. Não desde que Sam... Ela assentiu, compreendendo seus motivos. — Eu tenho uma programação diferente, de qualquer maneira, sempre tenho pressa de voltar para... bem, para ajudar na fazenda. — Certo. Geena ouvia mais do que Trey pretendia lhe revelar. Ele sempre voltava rapidamente dos rodeios para ajudá-la. Sentiu-se culpada. Ele já havia feito demais. Quando Trey perceberia que já bastava? Então um pensamento lhe ocorreu. Como se acomodariam em quartos de hotel? Isso conduzia a outra pergunta mais problemática: o que Trey realmente queria? — Você não poderá se hospedar com Casey e comigo. — Dividirei um aposento com alguns dos rapazes ou dormirei na caminhonete. Não se preocupe comigo. — Você acredita que se beneficiará, não é mesmo? — indagou insegura. — Claro. Ele sorriu. — Acho que sou o homem que está procurando. Infelizmente sabia que Trey tinha razão, e como ela não gostava de admitir derrota, decidiu que estivera certa durante o tempo todo. Ele poderia ser babá. — Está bem, vamos entrar em casa. Vou lhe mostrar como cuidar de Casey. O franzir de testa de Geena transformou-se em um sorriso. A aventura prometia ser muito divertida. CAPÍTULO III
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Leanna Wilson - Christmas in July Trey nunca vira cena semelhante. Com sangue conseguia lidar. Animais, sem problemas. Mas aquilo? Não tinha certeza. Casey mantinha na boca uma colherada de creme de ervilhas por alguns segundos, parecendo decidir se gostava ou não e então empurrava tudo para fora com a língua. Geena amparava a comida no queixo da menina e colocava-a de volta sem perder nem uma gota sequer. — Bem, que tal? Geena fitou-o por sobre o ombro. Seus olhos verdes cintilavam. Sorriu da expressão confusa de Trey. — Que tal o quê? — Está pronto para fazer uma tentativa? Trey enxugou as mãos na calça jeans. — Tem certeza de que é necessário? Parece que Casey já está bem alimentada. — Oh, não. Apenas começou. E uma menina esfomeada. Deu uma fatia de queijo à filha, a qual Casey balançou como se fosse uma bandeira e então colocou na boca de uma só vez. — Vamos, Trey. Você somente aprenderá se praticar. Ele cerrou os dentes e forçou um sorriso. Geena vagou seu lugar e fez um gesto para que se acomodasse. — Olá, Casey. Lembra-se de mim? Eu... sou o melhor amigo de seu papai. Sou Trey. A menina o ficou encarando sem mostrar qualquer sinal de reconhecimento. — Bem... — Não sabia o que fazer, dizer, agir. Esperava que o bebê não chorasse. — Ainda está com fome, pequenina? Casey fitou-o através da comida. Trey podia jurar que ela sorria. Sentia Geena em pé a seu lado, aspirava seu perfume agradável misturado aos odores dos vegetais da comida. Aquele olhar pesava-lhe nas costas como se ela estivesse avaliando suas habilidades. Permanecia próxima o bastante caso precisasse interceder. Aquilo o irritava, como um adolescente ficava frustrado quando o professor da autoescola usava o freio sobressalente. Sem dúvida alguma Geena estava com vontade de rir. Por isso, determinado a provar que era capaz, ordenou a si mesmo que fosse adiante. Poderia dar conta da tarefa. Sem problema algum. Ergueu a colher, equilibrando-a precariamente por causa do cabo escorregadio. Ansioso por livrar-se do afazer, encheu-
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Leanna Wilson - Christmas in July a com cenouras cozidas e levou-a à boca de Casey, cutucando levemente o lábio inferior com a colher. — Vamos, abra a boca, Casey. A pequena boca permanecia fechada, os lábios comprimidos um de encontro ao outro. Frustrado, olhou para Geena. — Viu? Ela está satisfeita. Geena balançou a cabeça. — Casey quer que você cante. — O quê? — Gosta que cantem para ela. — Ligue o rádio, então. — É uma boa idéia — disse Geena —, mas não funciona tão bem. — Ora! Se ela estiver com fome, comerá. Caso contrário... — Se Casey não comer o suficiente — interrompeu-o e explicou —, acordará mais cedo e mal-humorada. — Talvez ela não esteja mais com fome — insistiu categórico e olhou para a menina. — Vamos, querida, abra a boca. — Suavizou o tom de voz e conteve a frustração. — Não está com fome? Manteve uma leve pressão contra a boca de Casey e esperou. Quando a menina abriu a boca, não hesitou nem um segundo sequer. Colocou uma colherada de cenoura picada para dentro. Sorrindo, disse: — Boa menina, Casey. Orgulhou-se de sua conquista, como se houvesse montado no touro mais bravo, e fez uma careta para Geena, na intenção de receber um sorriso. Quando virou-se novamente para Casey, recebeu no rosto um jato de pedaços de cenoura. Sua primeira reação foi de perplexidade. Ficou olhando para a menina, boquiaberto, porém relaxou e começou a rir quando Geena explodiu numa gargalhada. — Hora da lição número dois, cowboy — anunciou ela, pegando Casey no colo e saindo da cozinha, fazendo um sinal para que ele a seguisse. — Saiu-se muito bem, cowboy — elogiou Geena, depois de trocar a fralda de Casey, com a ajuda um tanto atabalhoada de Trey. — É mesmo? — perguntou ele, os olhos azuis cintilando de esperança. — O que acha, Casey? Trey servirá como babá? A menina balançou os bracinhos com entusiasmo. — Ta-a-ay!
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Leanna Wilson - Christmas in July — Está certo, bebê. É Trey. — Geena olhou para ele, que sorriu. — Eu acho que foi um "sim" — ele falou, segurando a mãozinha da menina. Ela sentia algo estranho, ao observá-lo com sua garotinha. Casey se retorcia, gritava e ria. Trey ria também. Geena ficou aliviada. Encantado com a personalidade adorável da criança, ele havia aceitado o desafio como um soldado pronto para um combate. Trey ergueu a menina, seus gestos mais seguros ao apoiála contra o peito largo. Geena continuou a observá-los. A masculinidade dele enfatizava as formas arredondadas e suaves da criança. Os cabelos dos dois eram da mesma cor e, em ambos, havia mechas caindo na testa. As de Casey um pouco mais encaracoladas. Geena sentiu vontade de estender a mão e ajeitar os cabelos deles, mas se conteve. — Ela se parece com Sam — Trey comentou. — Sim, é verdade. A lembrança trouxe Geena de volta à realidade. Havia tristeza em seu sorriso. Era Sam quem devia estar ali, trocando a fralda da filha, alimentando-a, amando a ambas. Casey devia estar sorrindo para o próprio pai, colocando a mão gordinha em sua face e não na de Trey. Mas Sam havia partido. Não importava quanto desejasse, não poderia trazê-lo de volta. Tinha de encarar que o presente e o futuro jamais seriam como um dia sonhara. Sam não poderia mais ajudá-la, o que significava que precisava contar com o apoio de outras pessoas. Ela quase podia ouvi-lo dizendo: "Que bom que Trey está tomando conta de você para mim. Ele realmente é o máximo. Um cowboy com o qual sempre poderá contar. Eu terei de pagá-lo um dia destes". Sam nunca se esquecia de uma gentileza que lhe fora prestada. Quando podia, ao surgir uma oportunidade, sempre retribuía favores. Aceitava ajuda com facilidade, bendizia-a até, e nunca negava auxílio a um amigo. O orgulho de Geena lutava contra a caridade de Trey. Relutava em confessar até para si mesma, mas precisava de ajuda. Não poderia fazer tudo sozinha.
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Leanna Wilson - Christmas in July — Bu-bu-bu-bu — Casey falava, a voz segura e forte. Tentou alcançar, por sobre o ombro de Trey, seu ursinho. — Aqui está — disse Geena, estendendo-lhe o animal de pelúcia. Trey sorriu e balançou o brinquedo na frente da menina. — Fico feliz por você ter lhe dado o urso — ele disse. Geena sentiu culpa, mas procurou dissipar a mágoa. Arrependia-se de tê-lo obviamente ofendido na noite de Natal e falou: — Não que eu não... tenha apreciado seu presente, Trey... — Eu sei, está tudo bem. Ela é sua filha. — É mais do que isto. É... — A tristeza era tão imensa que quase a sufocava. — É que Sam disse várias vezes, desde o dia em que descobriu que eu estava grávida, que gostaria de comprar para seu filho ou filha o maior e mais bonito urso de pelúcia da cidade. Trey observou-a e enrijeceu os maxilares. — E eu me intrometi dando o presente, sem nem mesmo pensar que ela já teria um. — Não, Sam não chegou a comprá-lo. De qualquer maneira, Casey adora Bucky. Sempre adorou. — Eu lamento, Geena. Trey estendeu a mão para tocá-la, então se retraiu, encontrando lugar mais seguro no bolso da própria calça jeans. — Trey — ela hesitou por um breve momento. — Não tenho sido justa com você. — Geena, não... — Eu preciso falar — interrompeu-o. — Você tem sido gentil com Casey e comigo. Eu apenas gostaria que soubesse que... aprecio muito sua atitude. — Sei disso, Geena. — Trey, eu não quero que você se sinta obrigado a cuidar de nós. — Não me sinto obrigado. Eu quero ajudar. — Ele sorriu com tanta ternura que Geena sentiu-se aquecida por dentro. — Espero que saiba o que está fazendo, Trey — sussurrou antes de pegar Casey no colo e colocá-la no berço. CAPÍTULO IV
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Leanna Wilson - Christmas in July Trey desejava ter recebido algum aviso, um sinal de advertência para que enfrentasse melhor a situação com que se deparava. Estava chocado. Olhou para a varanda da casa de Geena através do pára-brisa. O sol de fim de tarde formava um disco avermelhado sobre o telhado, iluminando também uma pilha... não, uma montanha... de bagagem. Malas com toda a sorte de parafernália de bebê aguardavam-no na varanda. — Estamos prontas para carregar o carro — Geena gritou, da porta. Trey saiu da caminhonete e aproximou-se dela. — Você fretou um caminhão? — O quê? Geena franziu a testa e seguiu a direção do olhar de Trey para a montanha de bagagem, então sorriu amplamente. — Oh, não se preocupe. Eu já comecei a carregar a caminhonete. Imaginei que usaríamos a minha. Mantinha a porta aberta para Casey, que dava passos trôpegos agarrada a seus dedos. — Já que vamos rebocar o trailer com o cavalo — completou. Trey hesitou ao contemplar a caminhonete velha de Geena. Lembrou-se de ter dormido no banco de passageiro todo furado e repleto de sacos vazios de lanches para viagem que Sam com freqüência esquecia de jogar no lixo. As recordações de quando dirigiam de rodeio a rodeio juntos trouxe:lhe de volta a devastadora sensação de perda. Atualmente a caminhonete já tinha o toque de Geena. Revestimentos novos nos bancos escondiam os rasgos no plástico original. Uma chupeta pendia do espelho retrovisor presa a uma fita cor-de-rosa. Trey então se lembrou da péssima condição em que o motor se encontrava na época de Sam. Durante suas viagens, sempre prendia a respiração, rezando para que o carro não enguiçasse. Sabendo disso, vinha discretamente cuidando da manutenção do veículo para Geena, trocando óleo e repondo peças em segredo. Certa vez trocara um cinto de segurança desfiado tendo como iluminação a luz da fachada do restaurante, onde ela trabalhava sem suspeitar de nada. A caminhonete deveria portar-se bem durante as excursões que fariam no decorrer do mês seguinte. A dele tinha
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Leanna Wilson - Christmas in July tantos quilômetros rodados quanto aquela. De fato, Trey vinha realizando uma manutenção muito mais minuciosa na caminhonete de Geena do que na sua. Como o trailer para o cavalo já havia sido atado à traseira do veículo, percebeu que a sugestão dela fazia sentido. Finalmente concordou. Olhou novamente para a varanda. Por que as crianças precisavam de tantas coisas? Ele mesmo necessitava apenas de uma mochila com algumas camisas, roupas íntimas, calças jeans e uns poucos itens de higiene pessoal. Eram quase seis horas da tarde, o que significava que boa parte do trajeto de quatro horas para o oeste transcorreria à luz do dia. Seria uma bela noite: o calor de final de junho ainda era intenso. Se pensasse apenas em si mesmo, teria aguardado a manhã seguinte para partir. Geena, entretanto, insistira que fossem naquela noite, dizendo que o trajeto poderia ser mais longo do que esperavam. Trey não lhe dera crédito, mas começava a pensar no assunto com mais seriedade. O vento soprava do lado externo da caminhonete. Os faróis maculavam a escuridão. O veículo andava em um ritmo mais acelerado após terem deixado Starbuck na arena do rodeio, seguro em um estábulo. Trey lidara com o animal, embora Geena tivesse verificado seu cavalo para se certificar de que não se machucara durante o longo trajeto. Carvalhos gigantescos ladeavam a rodovia de duas pistas, escondendo o luar. A excitação de Geena com seu retorno aos rodeios diminuíra com o sol poente. Sentia-se exaurida depois de um longo dia de trabalho, cuidando de Casey e dos preparativos para a viagem. As luzes vermelhas do letreiro do hotel, anunciando quartos vagos, pareciam enevoadas a sua frente. Trey dirigia para o estacionamento. A caminhonete passou sem frear em uma lombada, e Casey acordou chorando. — Está tudo bem, querida. Geena acarinhou a filha e notou que Trey apertava com força o volante. Houve época em que teria se sentido bem com sua irritação, mas não mais. Preocupava-se com a hipótese de ele mudar de idéia quanto a ajudá-la e escolhesse uma companhia mais excitante. Após ter aceitado sua ajuda, quase apreciava a partilha de responsabilidade. Seja estava cansada, imaginava como
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Leanna Wilson - Christmas in July estaria se sentindo se houvesse carregado sozinha a caminhonete e dirigido durante seis horas seguidas. Após Trey reservar dois quartos adjacentes, ela desceu do veículo. Tomou Casey nos braços, tentando evitar que a menina chorasse. A cabecinha pendia para o lado. Estava fatigada, e o lábio inferior tremia. Era muito mais tarde do que o horário normal de Geena deixar o restaurante todas as noites para buscá-la na casa da mãe. Trey manteve aberta a porta do quarto destinado às duas, e Geena entrou. Ele acendeu a luz e já saía quando Casey acordou, piscando diversas vezes por causa da súbita intromissão em seus sonhos. — Apague rápido — Geena sussurrou. — Antes que ela acorde completamente. Trey moveu-se com rapidez e chutou uma mala no processo. Geena conseguiu conter o riso. O quarto novamente caiu na escuridão. A lua enviava uma iluminação tênue por entre as cortinas. — Talvez possamos acender a luz do banheiro — sugeriu ela enquanto fazia os olhos se acostumarem à escuridão. Temia dar um passo adiante e cair com Casey nos braços. — Acenderei. Foi para o banheiro. Trombou em uma cadeira e praguejou. Após escancarar a porta, um feixe de luz lançou sombras nas paredes. Geena ninou Casey de encontro ao ombro, murmurando uma canção, a única que sua mente exausta pôde recordar. Errou diversas vezes, mas a menina não parecia se importar. Abraçava o pescoço da mãe, quietinha. — Terminarei de descarregar as malas — disse Trey, a voz alta na quietude do quarto. A garotinha ergueu a cabeça de sobre o ombro de Geena, os olhos arregalados. — Shh — disse ela, levando um dedo aos lábios, então passou a mão pelas costas de Casey. — Está tudo bem, querida. Volte a dormir. Durma... Começou outra musica lenta e perambulou pela extensão do quarto. A respiração de Casey ficava mais profunda. Trey saiu do quarto. Em menos de dez minutos já havia tirado toda a bagagem da caminhonete. Colocou a última mala no quarto e ajeitou o chapéu de cowboy. — Parece que ela está quase vencida.
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Leanna Wilson - Christmas in July Sua voz envolveu Geena como uma brisa de verão. Uma sensação estranha tomou-a ao vê-lo sorrindo. Estava nervosa e ansiosa. — O que foi? — Vocês parecem tão perfeitas juntas. Ele então deu de ombros, como se afugentando outros pensamentos. Aproximou-se, o carpete abafando seus passos. Pendeu a cabeça para o lado, espiou Casey, e seu corpo pressionou o de Geena. A pele quente de Trey deixou-a mais tensa. — Ela adormeceu? O sussurro era quente de encontro a seu rosto, e tinha um agradável cheiro de menta. — Quase — respondeu, também sussurrando. Estava com dor nas costas por estar segurando a filha havia tanto tempo. — Precisa de mais alguma coisa? Uma massagem nas costas, pensou, mas bloqueou a imagem das mãos de Trey em seu corpo. Um calor estranho a fez enrubescer. E em vez de expressar em voz alta sua necessidade verdadeira, limitou-se a dizer: — Você poderia puxar a coberta da cama? Ele arqueou as sobrancelhas, e seus olhos cintilaram de humor. — Para Casey. Mordeu os lábios, exasperada. Não queria lidar com insinuações àquela hora da noite principalmente com o rumo que seus pensamentos vinham tomando. Sem dizer mais nada, ele puxou a colcha e lençol e afofou os travesseiros um pouco. Quando Geena o fitou, o quarto pareceu encolher. Os ombros de Trey eram tão largos, as mãos seguras e gentis ao ajeitar uma dobra da fronha. Estava sozinha por muito tempo e imaginou que já estivesse habituada àquela situação, mas um desejo assanhava-se dentro dela. Havia negado a existência de uma necessidade. Necessidade que fora satisfeita por Sam. Atualmente, queria... precisava... ansiava... mas estava fora de seu alcance. Gostaria de aconchegar-se a um corpo quente e acolhedor.Precisava pousar a cabeça em um ombro forte. Ansiava por sentir mãos confortadoras suavizando dores e estresses do dia. Virou-se para o lado. Não, não queria Trey. Ele a irritava. Pelo menos fora assim durante o último ano.
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Leanna Wilson - Christmas in July Sempre estivera por perto, obrigando-a a depender de sua ajuda. Mas certamente não necessitava dele do modo como precisara e desejara Sam. Não deixaria Trey colocar-se entre ela e o marido... ou suas recordações. Ouvia-o mexendo em uma mochila atrás dela. Colocou Casey delicadamente na cama e puxou o lençol para cobrir o corpo gorducho da filha. Virou-se e encontrou-o segurando um pijama cor-de-rosa da menina. — Precisa disto? Ela sorriu. Tanta consideração tocou-a. — Já é tarde demais. Não quero acordá-la agora. Trey assentiu e colocou o pijama de volta na mochila. — Gostaria que eu cuidasse dela enquanto você se apronta para dormir? O pensamento de Trey no quarto enquanto ela trocava de roupa deixou-a com os nervos à flor da pele. — Não, está tudo bem. Eu darei um jeito. — Então tenha uma boa noite. Eu estarei no quarto ao lado. — Nós ficaremos bem. Trey sabia disso, mas gostaria de estar ali caso Geena precisasse dele. A quietude do quarto abraçou-o como um cobertor pesado. Sentia-se aquecido e acolhido, com as palavras sussurradas dos dois flutuando no ar e a escuridão da noite de verão a rodeá-los. Viu-se relutante em deixar Casey e Geena sozinhas naquele hotel de beira de estrada para encontrar-se com seus amigos. Não era Geena, afirmou-se. Ela podia tomar conta de si mesma. Mas Casey tornava-a mais vulnerável. Trey percebeu que achava aquela estranha combinação muito atraente. Desconfortável, observou a criança acomodada na cama entre travesseiros. — Casey se parece com ele, não é mesmo? Geena assentiu. — Tenho uma fotografia de Sam quando bebê. Ela parece uma cópia do pai. — Sam teria apreciado vê-la crescendo. Trey sentia-se estranho e sabia que devia ir embora. Geena abraçou o próprio corpo como se subitamente sentisse frio. — Sim, teria. Então ela não era tão durona, e de alguma maneira sua aparência indefesa atraía-o. Deu um passo na direção de Geena, a mão estendida, então se deteve.
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Leanna Wilson - Christmas in July — Desculpe. Eu não quis... — Está tudo bem — disse, enxugando uma lágrima. — Isto a aborrece? A recordação constante? — Não. De fato, é melhor do que olhar para uma fotografia. Quando vejo uma foto, é uma lembrança de que ele foi embora e jamais voltará. Mas Casey... Ela é seu legado vivo, a prova de que Sam me amou e de que sua vida significou algo. Ele assentiu. O nó na garganta quase o impedia de falar. Geena tocou em seu braço, e os tendões de Trey pareceram pular. Fitou-a. Parecia que um calor sufocante girava em espiral ao redor dos dois. Um desejo vindo à tona para preencher o vazio deixado pela morte de Sam. Então o sentimento de culpa alfinetou o coração de Trey. Ela estremeceu e afastou a mão. — Estou bem. Foi apenas um longo dia. — Amanhã também será. O dia seguinte seria difícil e atribulado, mas vira-a cavalgando e sabia que Geena poderia sair-se bem. — Você está preparada, entretanto. — Acha mesmo? — Claro. Era excelente antes. Por que não poderá voltar a ser? Ela deu de ombros. — Você acha que eu sou... Sua voz sumiu na escuridão. — Você é o quê? — ...louca, por fazer isto? — Nem um pouco. Você merece ter o que quer. Um sorriso delicado iluminou o rosto dela. — Está nervosa? I — Ainda não. Starbuck faz todo o trabalho. E ele está pronto. J Eu apenas tenho de administrar a cavalgada. — Ótimo! Porque estou nervoso por nós dois. — Por quê? Não vai cavalgar Dustdevil? — Sim, mas não é com o touro que estou preocupado. Estou sendo babá pela primeira vez, e sinto-me completamente sozinho. Dessa vez a mão delicada pousou em seu braço. — Você se sairá bem. O toque confortou-o, dando-lhe a certeza de que Geena confiava nele. Então o fogo do desejo assanhou-se mais uma vez. Preocupado que ela pudesse ler seus pensamentos nada apropriados, tocou no chapéu como um bom cavalheiro. — Acho melhor descansarmos um pouco.
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Leanna Wilson - Christmas in July A mão dela permanecia em seu braço, os dedos quentes e tentadores. — Trey? O tom de voz impediu-o de romper o contato e correr para a porta. Conseguia pensar apenas em beijá-la. Uma idéia absurda. Seu olhar fixou na bela boca, e a garganta ficou seca. Era tudo o que podia fazer para não saborear o néctar dos lábios rosados... — Trey, eu realmente aprecio... — Ah, deixe disto, garota. — Deu um passo para trás e uma piscadela para esconder o desconforto. — Nem pense nisto. É um prazer. — Falo a sério. — Sei que fala. Trey cobriu-lhe a mão com a sua. Mas não devia tê-la tocado, nem fazia idéia do motivo da própria atitude. Naquele instante, os dedos de Geena pareceram de seda, frágeis contra sua mão calosa. A coragem dela em enfrentar o fato de estarem sozinhos tocou-o. Seu coração enterneceu-se. Trey oferecera ajuda, tentara dar-lhe dinheiro. A distância o fez sofrer pelo amigo a sua maneira. Mas a ferida começara a cicatrizar, e ele já conseguia dividir com Geena a dor que ambos experimentavam. — Falei a sério também — disse ele. — O prazer é todo meu. Se precisar de alguma coisa, basta pedir. Está bem? Ela assentiu, e Trey ficou imaginando se ela também estaria sentindo um calor indizível em suas veias. O desejo tirava-lhe o fôlego. Entrou em pânico. Sua reação a Geena apavorava-o. Ficaria louco. Os nervos de seu braço não suportavam mais o toque daqueles dedos. Ficou imaginando como seria abraçá-la, sentir as curvas delicadas e a pele quente colada a sua. Gostaria de aspirar o perfume dos cabelos brilhantes, experimentar o gosto... Uma imagem límpida de Sam veio a sua mente, e Trey admoestou-se. Chegara à beira do precipício... e com uma provocação tênue! — Até amanhã. Passou por Geena e saiu para a noite quente. Já não tinha mais vontade de ir ao encontro dos amigos. Só não entendia o motivo.
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Leanna Wilson - Christmas in July Após uma noite breve repleta de sonhos eróticos, os quais não tinha direito algum de sonhar, Trey despertou ainda mais confuso. Gostaria de ignorar a atração que sentia por Geena, mas como? A imagem dela não lhe saía do pensamento. O sol alcançara o ápice de sua majestade, saturando o dia com seus raios ardentes. O ar parecia pesado de expectativa A mistura dos cheiros de esterco, poeira e suor dominava os estábulos. Risos vinham da arquibancada, mas um animal tratou de abafar o som alegre. Trey apoiou-se em uma cerca, o metal quente contra sua palma enquanto preparava pernas e ombros para serem sacudidos por um touro furioso. Geena estava a seu lado. A trança grossa caía sobre um ombro e movia-se acima do seio de maneira hipnótica. Um grande chapéu de cowboy sombreava-lhe o rosto, mas Trey notou que seus olhos verdes cintilavam. Excitação ou nervosismo? Não sabia. Ela segurava Casey apoiada em um quadril, as pernas da menina enroladas confortavelmente em sua cintura. Notou então que Geena usava a'calça jeans mais justa que Trey já vira. — Está pronta para cavalgar? — Sim. Você poderia olhar Casey? Vou buscar e preparar Starbuck. Nosso evento está próximo. — Sem problema. Obrigou-se a esconder o aborrecimento. Precisava concentrar-se na própria competição, mas constatou que isso não aconteceria. Havia concordado em ajudar Geena. Ninguém o havia obrigado. E não retrocederia no último momento. Manteria a promessa. O que era uma intromissão a mais em sua rotina? Sorriu para Casey e deu uma piscadela. — Poderemos deixar sua mamãe fazer isto, não é mesmo Casey? A garotinha apoiou a cabeça no ombro da mãe e então sorriu de um jeito que derreteu seu coração. — Aqui está. Geena virou a filha nos braços e empurrou-a adiante. Casey pontuou a troca com um animado "ohhh!". Rindo, ele abraçou a criança de encontro ao peito. — Venha com o velho Trey, querida. Cuidarei de você. Geena passou para ele a sacola cor-de-rosa. — Acabei de trocá-la, então ela deverá ficar bem sossegada.
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Leanna Wilson - Christmas in July Trey assentiu, subitamente consciente dos olhares arregalados dos camaradas cowboys a observar a cena. Podia imaginar como parecia tolo. — Ei, Trey — um dos rapazes chamou —, você está uma graça com esta bolsa cor-de-rosa. Trey conseguiu rir. — Você devia comprar botas que combinassem com ela! Virou-se para Geena, esperando vê-la sorrir. Em vez disso, havia preocupação em seu olhar. A mão pousava no tornozelo da filha. Trey ficou imaginando a quantas pessoas ela havia confiado o bem-estar de Casey e descobriu que apenas sua própria mãe agira como guardiã temporária. Aquele era um passo muito grande para ela. — Não se preocupe conosco. Ajeitou Casey com facilidade no outro ombro, ganhando um pouco de confiança. Pelo bem de Geena, tentou parecer relaxado e confortável como se fosse babá havia anos. Ela não precisava saber que estava tremendo dos pés à cabeça, com medo de fazer algo errado. — Ficaremos bem, não é mesmo, sapeca? Acabara adotando um apelido para ela. O mesmo que ouvira Kirk usando quando conversava com a barriga de Shannon. Gostava do som. Apreciava pronunciá-lo. Parecia adequado e repleto de carinho. Pegou Bucky, o ursinho, das mãos de Geena, e a pequena abraçou o animal de pelúcia. Trey ajeitou-a nos braços e conseguiu evitar que ambos caíssem no chão. A garotinha sorria, tagarelando em sua própria linguagem e abraçava o urso. — Você se dará muito bem, Trey. Geena deu-lhe um tapinha no ombro, o olhar mostrando alívio a despeito do sorriso hesitante. — Já está tirando diploma de pós-graduação em paternidade. Beijou o rosto da filha. — Mamãe voltará logo. — Ma-mãe — disse Casey, estendendo as mãos para ela. Os lábios de Geena se entreabriram em sinal de espanto. Não era a primeira vez que Trey notava como aqueles lábios eram rosados e feitos para um beijo. Sua pulsação se acelerou. Então observou que os olhos de Geena estavam rasos de água. Foi como um balde de água fria em seu desejo. Sentiu preocupação e culpa. Não devia pensar nela daquele jeito. — Qual o problema?
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Leanna Wilson - Christmas in July — Você ouviu? Ela disse mamãe. Repita, Casey. Diga "mamãe". — Ma-mãe, ma... — a criança obedeceu, rindo, batendo os braços e quase desfigurando o pobre urso. Geena riu também e abraçou-a fortemente, incluindo Trey no gesto de carinho. Ele aspirou profundamente o cheiro doce de seus cabelos. O corpo quente e curvilíneo fazia-o ter vontade de apertála fortemente, moldando-a a sua musculatura firme. Seus sentidos estavam assanhados, a pele arrepiada, o desejo despertado. Trey prendeu a respiração, não ousando nem um movimento sequer, até que ela deu um passo para trás, os olhos cintilando de alegria. Perturbado pelas sensações proibidas, tossiu para disfarçar. Geena não pareceu notar seu constrangimento. Soube então que nem sequer notara a paixão ardendo entre os dois. — Mas que jeito de me mandar embora — queixou-se à filha. — Pois estou mais decidida do que nunca a vencer. Deseje-me boa sorte — Geena falou, acenando para ambos e correndo para o estábulo de Starbuck. — Boa sorte! — Trey gritou, ainda sentindo um aperto na garganta. O desejo pulsava por todo o seu corpo. Pura e simplesmente. Talvez não tão puro assim. E definitivamente não tão simples. Precisava controlar-se e deixar de ter o comportamento de um estudante afoito. Mas era muito difícil pensar em uma estratégia quando estava hipnotizado pelo corpo perfeito, torneado pela calça jeans justa e bem cortada. CAPÍTULO V A fingida confiança de Trey desabou no instante em que Geena se afastou. A responsabilidade plena por Casey enervava-o. Segurou a menina fortemente de encontro ao corpo, determinado a protegê-la. Vários minutos se passaram. Até o momento, estava se saindo bem. Talvez sua sorte continuasse. O calor era intenso. No instante em que encontrou um local à sombra, perdeu Geena de vista bem como sua
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Leanna Wilson - Christmas in July pontuação na disputa. A fim de manter Casey satisfeita, fez Bucky dançar à sua frente, arrancando sorrisos e gargalhadas da menina. — O que está fazendo, Trey? — uma voz familiar interrompeu-o. Era Daria. — Está cuidando da filha de Geena Allen? Ele assentiu, e ela afastou-se. Outra garota passou, sorrindo e brincando com Casey. — Olhe só como você é linda! Trey ficou com os nervos à flor da pele. Sua costumeira descontração com o sexo oposto bem como crescente familiaridade com Casey simplesmente desapareceram. — Que menina adorável! — uma ruiva que Trey nunca vira antes exclamou e pousou a mão no braço dele. Sorrindo, começou a achar que aquela atenção não era tão ruim. Podia convidar alguma garota para aquele passeio à noite de que tanto precisava. — Trey! Outra moça da qual mal se lembrava sorriu, os dedos acariciando-lhe o ombro. — Você seria um pai e tanto! O comentário o fez empalidecer. Era isso que aquelas mulheres viam ao contemplá-lo segurando uma criança? Um homem pronto para assumir um casamento e dar o passo para a paternidade? — Ela parece com Geena, vocês não acham? — perguntou matreiro. Daria deu de ombros. Outra assentiu, o sorriso esmorecendo. As demais ignoraram a indagação. Bingo! Aquela seria a oportunidade perfeita para iniciar a idéia sugerida por sua cunhada. — Sabem — disse ele, ganhando atenção instantânea das moças — Geena tem enfrentado muitas dificuldades. Perdeu Sam. Teve Casey. Virou a garotinha, apoiando seu bumbum no antebraço e fazendo com que olhasse para as mulheres. Como poderiam resistir àquele rosto lindo? — Eu estava pensando se poderíamos fazer algo para ajudar Geena e Casey. Acham que podem me ajudar? Se aquilo funcionasse, pensou, se conseguisse levantar dinheiro suficiente, então talvez pudesse livrar-se daquela obrigação e cortar o laço entre ele e Geena, antes que ficasse forte demais. Com passos firmes, Geena reconduzia Starbuck ao estábulo, batendo as rédeas contra a palma. Estava frustrada.
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Leanna Wilson - Christmas in July Logicamente sabia que devia orgulhar-se da quarta colocação entre doze competidoras, mas deixara de ganhar o prêmio em dinheiro por menos de meio segundo! O pior era que perdera para Daria, sua antiga rival. Aquilo a aborrecia mais do que tudo. Perder logo para a loura que gostava de gabar-se do próprio sucesso e evidenciar o corpo perfeito! Geena ainda não perdera todo o peso adquirido na gravidez de Casey e sua calça jeans preferida estava apertada. Suspirou e tentou afastar a sensação de inveja. Poderia demorar mais tempo do que previra para retornar ao grupo de melhores competidoras. Starbuck também precisava melhorar. A decepção minava sua confiança. Aquele rodeio seria um desperdício de dinheiro. Tirou a sela de Starbuck, escovou-o e deu-lhe água fresca. A voz do apresentador veio dos alto-falantes colocados na arena e chamava a atenção dos competidores da prova com cavalos. Após o evento, Geena sabia que Trey se juntaria aos participantes da prova com touros para a apresentação final, a que atraía a maior parte dos fãs. Queria apressar-se a aliviá-lo de Casey para que pudesse se preparar para a cavalgada perigosa. — Será da próxima vez — sussurrou a Starbuck, dandolhe um tapinha no lombo. — Vamos vencê-los da próxima vez. O cavalo relinchou, como em concordância. Geena então desceu pelo corredor de estábulos, passando por cavalos finamente treinados. O cheiro de feno e esterco era familiar e trazia recordações agradáveis de rodeios ocorridos muito tempo atrás. A sua esquerda, um competidor da prova com cavalos entrava na arena. O animal pulava e dava coices para todos os lados. A multidão gritava e batia palmas, encorajando o cowboy. O olhar dela, entretanto, logo abandonou o espetáculo para fixar-se na cena logo adiante. Parou de andar, o queixo caído em pura demonstração de espanto. Os cabelos da nuca se ouriçaram, tamanha sua irritação. Trey e Casey como uma peça em exibição. Sua filha sorria e piscava para ele, fazendo-o rir alto. Diversas participantes da prova com tambores, incluindo Daria, soltavam exclamações embevecidas para... Trey! Agiam como fãs em um concerto de rock, os olhos cintilando e a língua enrolada. Como se Trey fosse uma espécie de celebridade.
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Leanna Wilson - Christmas in July Certamente era um bom cowboy. Cavalgava muito bem, enfrentava touros selvagens. Era um dos melhores competidores. Mas, naquele momento, era apenas um homem segurando um bebê. Certamente seu orgulho maternal estava ferido. O grupo havia acolhido bem seu retorno e elogiado a beleza de Casey. Mas ninguém agira daquele jeito! E qual o problema, então? Estaria desconfiada de que as colegas estivessem flertando com Trey? Certamente não. Ou estaria com ciúme do sorriso que oferecia a Casey e às moças? Nunca sorrira assim para ela. Ora, era ridículo! Desde quando queria ser objeto de atenção exclusiva de Trey? Balançando a cabeça, constatou que sua irritação não vinha do fato de outras mulheres estarem presentes e sim de sua própria reação a Trey. Também sentia atração por ele. E não estava satisfeita com isso. Devia detestá-lo, avivar a raiva. Aquele homem tinha, afinal, impedido-a de se aproximar do marido agonizante. Mas constatou que sua raiva vagarosamente enfraquecia, deixando-a à mercê da atração exercida por aquele corpo firme e esguio, o riso contagiante, os lindos olhos azuis. Os traços fortes, bronzeados pelo sol do Texas, davam-lhe um charme especial, mas era o sorriso que aquecia os olhos azuis e fazia as mulheres caírem a seus pés. Sua gargalhada era agradável também e fora motivada por um comentário de Daria. A esguia competidora da prova de tambores pousou a mão no pé de Casey, fingindo prestar atenção na garotinha. Mas Geena via seu olhar fixo em Trey e depois observou a mão deslizando para a cintura dele. A moça inclinou-se para a frente, rindo. Foi então que Geena percebeu o que acontecia. Trey estava usando Casey como chamariz de mulheres! Marchou diretamente para o grupo, determinada a tirar seu bebê da situação ultrajante. — Já terminei, Trey — falou, postando-se entre ele e Daria. — Posso cuidar de minha filha agora e sei que você precisa se preparar para a prova. — Sem problema. Sorriu e estendeu-lhe Casey. A menina abraçou sua mamãe com força. — E você tem razão. Já está quase na hora — acrescentou, erguendo o queixo e dando uma olhada na arena.
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Leanna Wilson - Christmas in July — Qual você estará montando hoje, Trey? — Daria perguntou. — Dustdevil. Trey deu um passo para fora do círculo de mulheres que começava a se dispersar. Todas se foram, exceto Daria. A loura ficou ao lado dele e pousou a mão em seu braço. — Bem, estarei torcendo por você. Talvez depois da prova — a voz suavizou-se —, possamos celebrar nossas vitórias. Aquilo era uma indireta, Geena percebeu e magoou-se com o fato de Daria tê-la vencido. — Talvez. Mas primeiro preciso ganhar. Daria brindou-o com um sorriso sedutor. — Bem, estarei torcendo por você. Geena suspirou aliviada quando a moça se afastou, então notou o olhar de Trey seguindo a loura. Irritou-se. — Como Casey se comportou? — Oh, muito bem. E como foi a prova? Ela franziu a testa, decepcionada. — Fiquei em quarto lugar. Você não assistiu? — Eu quis, mas Casey parecia acalorada. Por isto ficamos aqui atrás, na sombra. Olhou para a filha, imaginando se o que Trey dissera era verdade ou se estava apenas dando uma desculpa para disfarçar. — Quarto lugar é uma boa colocação. Levará algum tempo para retomar o ritmo de outrora. Você não pode esperar vencer logo na primeira vez. Ficou distante do circuito durante um bom tempo. — Estou satisfeita com o resultado — mentiu, ocultando o desapontamento. Quisera vencer. E como! — Sabia que meu retorno à boa condição demoraria um pouco. — Tem razão, Geena. Não desanime. Era fácil falar, pensou amargurada. — Daria venceu? — indagou ele. — Sim. Geena flagrou-se observando a reação dele. Estaria feliz? Importava-se com Daria? Não era da sua conta. Não tinha o direito de pensar naquilo e de fazer perguntas. Irritava-a que até mesmo estivesse pensando no assunto. — Está brava? — Trey indagou, observando-a atentamente. — Não. Por quê? — Porque parece louca da vida.
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Leanna Wilson - Christmas in July — Talvez eu esteja. Não gostei de sua atitude de desfilar com minha filha para atrair namoradas. — O quê? Você acha que eu... — Sim, acho. — Bem, pois se engana. Eu estava cuidando de Casey. Aquelas garotas simplesmente vieram até nós. E estavam interessadas em Casey. — Sei, sei. — Casey sempre foi minha prioridade — declarou, a voz suave e cheia de convicção. — Espero que acredite, porque é verdade. Ela não sabia em que acreditar no momento. Julgava-se louca por até mesmo ter falado no assunto. Arrependia-se das palavras duras, mas manteve o pedido de desculpas para si, como uma concha protetora separando-a de Trey. Era melhor assim. — Bem, eu preciso ir — disse ele, afagando Casey. — Vejoa depois, sapeca. — Sa-sa... — foi a resposta. Trey sorriu, balançou levemente a cabeça e foi embora. — E agora, senhoras e senhores — o apresentador disse, a voz vibrante —, é hora da grande apresentação. É hora da prova com touros. Vocês estão prestes a ver alguns dos peões mais durões e destemidos... e aposto que estão pensando que eu falava dos touros. A multidão riu. — Estes cowboys são os mais preciosos atletas da região. — prosseguiu. — Mas é preciso mais do que habilidade para montar no lombo de touros que são uma explosão de energia. É necessário muita coragem também. Enquanto o apresentador relatava as qualidades dos cowboys daquela competição, Geena deu as costas para a arena. Sentia-se zonza, tinha o coração disparado e a visão nublada. Apertou Casey firmemente de encontro ao corpo. Aquele era o primeiro rodeio, o primeiro evento que presenciava desde a morte de Sam. Lágrimas inundaram seus olhos, e ela piscou para afastá-las. A garganta ardia. O peito doía. Não poderia assistir. Não queria se lembrar. Mas não podia esquecer. Fechou-se com Casey no estábulo de Starbuck e ficou caminhando. Seis passos adiante, meia-volta, seis passos para o lado oposto. O cavalo mastigava feno e nem prestava atenção em seus movimentos.
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Leanna Wilson - Christmas in July A voz do apresentador fez-se ouvir novamente, e Geena flagrou-se ouvindo... esperando que o nome de Trey fosse anunciado. Quando aconteceu, nem ousou espiar por sobre a cerca do estábulo. Não poderia. — Trey Mann está entre os possíveis vencedores deste ano, companheiros. Está no circuito há muito tempo e deve participar das finais em Vegas em dezembro próximo. O touro que montará hoje é Dustdevil. E um touro feio e bravo que já jogou mais cowboys no chão do que posso me recordar. Aplaudam, pessoal, o grande Trey Mann! A audiência deu vivas. Os gritos ecoavam por toda a arena. Geena parou de andar. Manteve-se de costas para a apresentação, não querendo ver mas ouvindo atentamente, como se fosse uma fofoca sussurrada. Os segundos passavam lentamente. Todos ficaram em silêncio. Os nervos dela estavam à flor da pele. Então a audiência deu um suspiro coletivo. Geena entrou em pânico. — Puxa! — o apresentador exclamou. — Opa! Ele está com problemas, companheiros. Geena virou-se e agarrou-se à cerca do estábulo, as juntas esbranquiçadas. Olhou para a arena e localizou o vulto de um touro marrom e o braço de Trey balançando. Olhou para baixo. Casey empurrava-a, aborrecida. Geena percebeu que apertava a filha com muita força. — Desculpe, bebê. Shh, pronto. A buzina finalmente soou ao final dos longos e intermináveis oito segundos. — Mas que espetáculo! — a voz do apresentador ecoava pela arena. — Espero que tenham prestado atenção, porque se não viram, perderam um espetáculo e tanto! Os murmúrios da platéia eram de satisfação. A estrutura tremia com os aplausos. Geena sentiu-se envolvida pelo alívio. Trey havia conseguido. Terminara. Sobrevivera. Seu coração batia em descompasso. Espiou por cima do muro e viu-o saindo da arena. Estava são e salvo. Uma sensação estranha tomou-a, e ela relaxou. Seu olhar então pousou no painel com a pontuação. Noventa pontos! Ficou orgulhosa. Seria um milagre se alguém conseguisse superar aquela marca. Era preciso ser um cowboy muito bom para alcançar uma pontuação daquelas. Passou então a imaginar quando seus sentimentos por Trey haviam mudado. Em algum momento, os dois passaram
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Leanna Wilson - Christmas in July a formar uma equipe, trabalhando juntos em vez de um contra o outro. Ou, pelo menos, Trey. Ela arrumava briga o tempo todo. Mas o alívio em vê-lo bem a fez perceber como fora tola. Mais tranqüila, Geena então percebeu que Trey estava no mesmo barco que ela. Não estava sozinha. Na verdade, nunca estivera. Quando começou o rodeio seguinte, na mesma noite, o sol descia lentamente no oeste, tingindo o horizonte de vermelho e dourado. Parecia a pintura de um artista. As sombras tornavam-se mais alongadas na estrada. A temperatura caíra apenas um ou dois graus, e o aparelho de ar-condicionado trabalhava com vigor para manter a cabina da caminhonete de Geena refrescada. Tinham tempo suficiente apenas para o trajeto de quarenta e cinco minutos até o rodeio seguinte, para desalojar Starbuck e alimentar Casey antes da competição de Geena. O calor intenso, nervosismo e correria formavam uma combinação nada agradável. Como resultado, o desempenho ficou aquém do esperado. Starbuck encostou em um tambor, e Geena pegou o último lugar. Trey alcançou o terceiro lugar na prova com touros. E Casey teve um acesso de nervosismo. Retornaram ao hotel, os faróis da caminhonete cortando a escuridão. A menina estava irrequieta. Seus gemidos e gritos deixavam Geena à beira de um ataque de nervos. No rádio, tocava uma agradável balada campestre. Aparentemente alheio ao que o rodeava, Trey dirigia em ritmo constante, os polegares batendo contra o volante no ritmo da música. Tiveram um dia próspero. Era provável que a musculatura do corpo fosse reclamar do esforço no dia seguinte. Geena bocejou, exausta. Já o havia parabenizado pelas vitórias e não conseguia imaginar outro assunto para conversar. Não traria à tona a discussão que tiveram por causa da acusação ultrajante que ela lhe fizera. Trey cantarolava. Seu bom humor deixava-a irritada. Mas por que ele não deveria estar se sentindo feliz? Cada cowgirl e adolescente que estivera nas provas parabenizaramno com sorrisos, olhares e números de telefone colocados em seu bolso. Seria isso o que a estava aborrecendo? De forma alguma!
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Leanna Wilson - Christmas in July Ela simplesmente nada tinha a comemorar. Havia apenas o saldo negativo no banco e uma pilha de contas para pagar. Estava decepcionada com o próprio desempenho. Era somente isso. Seu espírito competitivo estava ferido. Mesmo assim, não azedaria as vitórias de Trey com seu mau humor. Fechou os olhos na intenção de controlar as emoções e deixou que os movimentos suaves da caminhonete a acalmassem. Não despejaria sua impaciência em Trey. Apreciava sua ajuda, verdadeiramente. Pelo menos ele dirigia, dando-lhe a liberdade de mergulhar na própria tristeza. Os sons da cabina foram desaparecendo e somente retornaram após um frear de pneus. Antes que ela percebesse que havia adormecido, uma mão quente tocava-lhe o ombro. — Acorde, dorminhoca. Chegamos. Geena abriu prontamente os olhos e viu Trey espiando-a da porta de passageiro aberta. Sorria. Com o coração disparado, endireitou-se no banco. Seu olhar então pousou no assento de bebê vazio. — Onde está Casey? Ele se abaixou e levantou a menina. Parecia cansada. Geena estendeu a mão para pegá-la. — Mamãe lamenta ter adormecido, bebê. Precisamos alimentá-la novamente para que tenha uma boa noite de sono. — Por que você não entra e cuida de Casey enquanto busco algo para o jantar? — Trey sugeriu, fechando a porta da caminhonete depois que Geena desceu. — Oh, não, não poderia deixá-lo fazer isto. — Por que não? Você não comeu nada desde o café da manhã. — Bem, porque... aceitarei apenas se você deixar que eu pague. — Eu deixaria, mas é uma espécie de tradição... — Tradição? — Claro. Quando um cowboy vence uma prova com touros, paga o jantar para os demais. Nós não podemos romper tradições agora, podemos? Ela o encarou. Sua mente enevoada não conseguia encontrar um bom argumento. Exausta demais, deu de ombros. — Você me convenceu desta vez, Trey, mas quando eu ganhar... — Vai me pagar um delicioso filé. — Está bem, combinado.
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Leanna Wilson - Christmas in July Trey pegou a chave que ela lhe estendia a abriu a porta do quarto de hotel. — Estarei de volta em breve. Cumpriu a palavra. Antes que Geena pudesse trocar de roupa, ele já batia à porta. Ela conseguira banhar a filha e vestir-lhe o pijama. Tendo Casey apoiada nos quadris, abriu a porta para um Trey sorridente que carregava um saco de papel vermelho e branco. — Que tal frango frito? — Maravilha! Geena colocou a filha no chão para engatinhar e retribuiu o sorriso. Com uma certa preocupação, constatou que se tornava cada vez mais fácil aceitar a ajuda de Trey. Observou-o colocar as caixas com frango crocante, puré de batata e biscoitos sobre uma toalha de papel estendida no chão. Trey conservava os dedos de Casey longe da comida enquanto, ao mesmo tempo, mantinha-a ocupada e sorrindo. Fazia cócegas em sua barriga, cantava e dava-lhe sonoros beijos nas faces. Olhou para Geena, os olhos cintilando. — Que tal um piquenique? Ela ficou sem fala. Não ia a um piquenique desde que... começara a namorar Sam. A constatação não lhe trouxe lágrimas, apenas uma doce saudade. Ajoelhou-se ao lado da filha, que brincava com a tampa da caixa onde viera o frango. Trey não apenas cuidava da menina como também procurava tornar o clima agradável. Era o que Geena mais apreciava. Porque desejava recuperar um elemento precioso que estava faltando em sua vida: o riso. — Nada de abelhas — disse Trey, ainda esperando uma resposta. — Nem formigas, moscas... eu espero. Geena sorriu. — Nada de nuvens chuvosas e pássaros sujando nossas cabeças. Ele riu. — Isto eu posso garantir. — Então vamos comer. O silêncio pairou no quarto, rompido apenas pelos sons emitidos por Casey ao lamber uma colher cheia de purê. Finalmente Trey colocou a caixa com ossos de frango de volta no saco de papel e esticou as longas pernas. Casey abandonou a comida e engatinhou até seu colo.
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Leanna Wilson - Christmas in July — Está satisfeita também, sapeca? A pequena tentava morder a calça comprida dele. Trey riu e deu-lhe a chupeta. — Acho que ainda está com fome. — Oh, ela apenas gosta de colocar qualquer coisa na boca — Geena explicou. — É preciso observá-la o tempo todo. Já comeu até papel-toalha. — Bem, há coisas piores. Trey gargalhou diante da expressão atônita de Geena, e Casey encarou-o, confusa. — Por que o espanto, sapeca? — Acho que não está habituada a homens. Sua voz é bem mais grave do que a minha. Seus olhares se encontraram. Constrangida, ela concentrou-se em dobrar o guardanapo de papel. — Eu acho que Casey o admira. — Não tenho tanta certeza. — Ele sorriu. Geena riu. — É verdade. E eu também. Ele arqueou as sobrancelhas. — Eu sei — prosseguiu Geena, colocando os restos de seu jantar no lixo —, sei que não parece. Mas é verdade. Sinto-me grata por tudo o que tem feito por nós. Por Casey e por mim. — Ah, Geena, eu sei disto. Não precisa dizer nada. Ela acrescentou humildade à grande lista de características positivas de Trey. — Sim, eu preciso. Você merece. É o mínimo que posso lhe oferecer frente a toda a ajuda que tem dado. — Nada fiz além do que Sam teria feito. Ou você, a propósito, se nossas situações fossem invertidas. O som do nome de seu marido criou uma barreira entre os dois. A conversa tornara-se íntima. E Geena sentia-se muito mais confortável com a mente pousada em Sam. Permaneceram em silêncio por alguns minutos, a atenção focada em Casey, que engatinhava sobre Trey e tentava ficar em pé, segurando na colcha da cama. — Queria que Sam estivesse aqui. Sinto saudade dele -. disse emocionado. — Eu também. O ar-condicionado foi ligado. Trey pousou a mão nas costas de Casey quando as pequeninas pernas bambearam. A menina sorriu. — Também a admiro, Geena. Por criar Casey sozinha. Aquelas palavras penetraram na parede que Geena construíra ao redor do coração. — Conto com a ajuda de minha mãe.
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Leanna Wilson - Christmas in July — Sim, mas é diferente. Sam não está presente. Você não tem com quem dividir a responsabilidade e o fardo. — Estamos bem. O comentário soou na defensiva até mesmo para Geena. Flagrou Trey contemplando-a com a expressão pensativa. — É muito difícil para você aceitar ajuda, não é mesmo? Ela assentiu. — Não sou apenas eu, então? — Não. — Então por quê? Quero dizer, não é como se eu estivesse lhe comprando uma casa ou tirando-lhe todas as preocupações. Eu apenas queria dar apoio. — Desculpe, Trey. Ele tocou-lhe o braço, os dedos quentes na pele nua. — Eu apenas quero saber mais a seu respeito. Compreendê-la um pouco. Dando de ombros, Geena pegou Bucky e abraçou-o. — Não sei. Sempre relutei em aceitar caridade. Quando criança, queria ser como minhas amigas. Elas não usavam roupas de segunda mão. Somente as compradas em lojas. Seus pais podiam dar presentes no Natal, enquanto o meu não. Tínhamos de contar com a caridade alheia. Não almejo isto para Casey. Gostaria de lhe proporcionar tudo. Quero que ela tenha orgulho de mim. — Você não tinha orgulho de seu pai? — Sim, eu o amava. Sempre soube que ele me amava também. Olhou para as mãos de Trey, estendidas nas coxas. Tinha mãos parecidas com as de seu pai. Mãos calosas e rudes por causa do trabalho braçal. — Meu pai trabalhava muito. Nunca duvidei disto. Mas ganhava pouco dinheiro. Ou provavelmente não bastava porque ele e mamãe tinham seis filhos. Não posso culpá-lo por isto.— O esboço de um sorriso curvou seus lábios. — Papai tinha mãos grandes. Calosas. Mãos de trabalhador. Muitas vezes, uma de suas unhas ficava preta porque fora atingida por um martelo ou outra ferramenta. Sempre havia cortes e arranhões do trabalho na fazenda, e sujeira sob as unhas. Mas suas mãos sempre eram delicadas.— Olhou para Trey e ele esboçou um sorriso. — E estranho que eu me lembre de coisas assim. Mesmo com Sam, recordo-me de conversas, brincadeiras e piadas que ele costumava me contar quando namorávamos.
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Leanna Wilson - Christmas in July Não sabia o motivo de estar abrindo o coração e revelando a Trey o que nunca contara a ninguém. Mas parecia fácil desabafar com ele, reconfortante como uma boa cavalgada. — Na maior parte das vezes, éramos felizes. — Fico feliz por você lembrar dos bons momentos. Ele esticou os braços na cabeceira da cama de casal. Casey agarrou-lhe o antebraço e ergueu um pé, então outro, em sua forma especial de dança. — Levou muito tempo para eu me recordar dos momentos felizes depois que meus avós morreram. — Eu me lembro de quando aconteceu. Sam e eu começávamos a namorar. Que modo terrível de morrer. Em um acidente de carro como aquele... Bem, acho que não há uma maneira boa ou fácil .de morrer. — Não que eu possa imaginar, pelo menos. O final é sempre o mesmo — disse Trey. — Quando meu irmão se machucou, eu me lembrei do acidente com meus avós. Do modo como... — Balançou a cabeça, como para afastar a lembrança ruim. — Kirk deixou-me apavorado. — Vocês são muito unidos. — Sim. — Você abandonou o circuito de rodeios durante o período em que ele ficou no hospital. — Claro, eu precisava cuidar da fazenda. A despeito da resposta aparentemente inquestionável, Geena sabia que havia mais razões. Sentia uma tensão grande em Trey e queria fazer mais perguntas. Mas não gostaria de ser intrometida. Por isso, alterou levemente o assunto. — Como você conseguiu voltar? Teve dificuldades como as que enfrento agora? — Claro. E preciso ir aos poucos. Eu caí diversas vezes. Ainda caio. Mas busco pequenas melhorias ao longo do caminho. Subitamente ele virou-se para Casey e começou a fazerlhe cócegas. A menina gargalhava. Ergueu-a bem alto acima da cabeça. Geena sorriu. Trey progredira muito desde o dia em que dera papinha e trocara a fralda de Casey na fazenda. — O que acha de eu cuidar dela enquanto você toma banho?
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Leanna Wilson - Christmas in July — Tem certeza? Não quero interferir em seus planos. Quero dizer, pensei que fosse sair com os rapazes esta noite e comemorar sua vitória. Lembrou-se da sugestão de Daria e ficou aguardando a resposta. — Pode usar minha caminhonete. — É muita gentileza sua, mas não tenho planos. Ela ficou aliviada. — Por isso, madame, tire vantagem de minha presença. Uma imagem erótica passou pela mente de Geena, despertando-lhe algo que estivera dormente por muito tempo. Embaraçada, enrubesceu. E ansiosa por escapar, praticamente correu para o banheiro. Através da porta, ouvia o riso de Casey e o cantarolar de Trey. Relaxou. Com que freqüência podia cuidar de si mesma sem se preocupar com a filha? Sorriu ao postar-se sob o jato morno que vagarosamente foi limpando a poeira do rodeio e massageando a musculatura dolorida das costas. Vinte minutos mais tarde e com os cabelos ainda úmidos, abriu a porta do banheiro e encontrou o quarto escuro e silencioso. Fez uma pausa na soleira para que seus olhos se ajustassem à penumbra, então avistou Casey na cama e Trey deitado no chão. Ajustou o cordão do robe e andou pé ante pé pelo quarto. Deu um tapinha nos pés de Trey. Por debaixo da aba do chapéu de cowboy, ele entreabriu os olhos, sonolento. — Conseguiu fazer Casey dormir? — Sim. Ela estava cansada. Dormiu antes que eu pudesse fazer qualquer coisa errada. Resmungou antes de ficar de pé. — Está com dor? — perguntou Geena, seguindo-o até a porta. — Um pouco. Flexionou os ombros largos e ajeitou a camisa. Geena considerou a hipótese de lhe fazer uma massagem, mas mudou de idéia. A imagem de suas mãos passando pelo peito largo aquecia-Lhe o sangue e despertava pensamentos que ela preferia não ter. — Eu a verei pela manhã. É melhor sairmos por volta das oito. Há um longo caminho a percorrer. E o rodeio em Plainview começa ao meio-dia.
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Leanna Wilson - Christmas in July — Estarei pronta. Ele tocou na maçaneta e então parou. — Sabe, eu realmente apreciei o dia de hoje — disse, encarando-a novamente. Tensa, Geena pensou em como seu dia fora decepcionante. — Claro. Você venceu. — Não. Eu me refiro a cuidar de Casey. Ela é uma boa criança. Colabora bastante... Saiba que eu torço para que você se saia bem nas provas... e isto vai acontecer. Eu sei. — Apenas levará algum tempo. Geena esperava ter tempo o bastante. — Sim — concordou. — E eu senti... foi maravilhoso estar presente quando Casey chamou-a de mamãe. Aquelas palavras deixaram-na atônita. Poderia saber como ela se sentira? Pressentira como aquele momento fora precioso? Teria de agradecer a Trey por aquilo. Incapaz de dizer algo e agindo por impulso, ficou na ponta dos pés e beijou-o no rosto. — Por que fez isto? Ela sentiu um calor intenso tingir-lhe o pescoço e o rosto de vermelho. — Eu, bem... eu apreciei o que fez por mim. E por Casey. — Foi um prazer. E obrigado. Os lábios de Trey roçaram na testa dela bem no instante em que Geena erguia o queixo para fitá-lo. A pergunta do motivo por que lhe agradecia simplesmente foi esquecida quando a boca de Trey pousou na sua. Ficaram assim, com os lábios se tocando durante alguns instantes. Então as mãos de Geena pousaram nos ombros largos, e as dele em sua cintura. O desejo imperioso de sentir-se em comunhão com outra pessoa dominou-a completamente. Geena puxou-o para perto até seus seios tocarem o peito firme. Entreabriu os lábios, faminta, ansiosa. Saboreou-o e deixou que suas línguas se tocassem. Sentiu os joelhos bambos e agarrou-se à fortaleza do corpo forte, exigindo uma resposta. Então Trey interrompeu o beijo. Limitou-se a abraçá-la, pressionando a cabeça dela contra o ombro. Passou as mãos pelas costas de Geena, os dedos pousando nos quadris. Beijoulhe os cabelos e sussurrou: — Boa noite.
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Leanna Wilson - Christmas in July Antes que ela pudesse responder ou recuperar o fôlego, Trey desaparecia na noite. Poucos segundos depois, ouviu o motor da caminhonete sendo acionado. Geena pressionou o rosto contra a porta e desejou de todo seu coração que ele não fosse procurar uma das muitas cowgirls ansiosas por sua atenção. Estaria querendo comemorar com Daria? Entrou em pânico. Então ficou envergonhada. O que havia feito? Beijara Trey Mann! Quisera demonstrar sua gratidão, mas não daquele jeito. Teria afugentado-o? Será que ele a abandonaria e a Casey, deixando-as sozinhas... novamente? Acomodou-se na cama, curvando-se ao redor da filha. Determinada a adormecer, fechou os olhos firmemente. Tiraria Trey da cabeça com a facilidade com que ele a descartara. Infelizmente não conseguiu. Trey precisava parar de pensar em Geena. Mas como, se o calor da noite era acolhedor como seus lábios? Não foi capaz de afastar-se rapidamente, o que explicava aquele passeio de carro com as janelas abertas e o arcondicionado na intensidade máxima. O ponto de encontro local ficava perto da rodovia. O ambiente era ruidoso, exatamente do que ele precisava. Aproximou-se da entrada e empurrou a porta de vidro. Foi saudado por uma nuvem de fumaça. Por que beijara Geena? Evitando pensar nos motivos e conseqüências de seu comportamento impulsivo, procurou prestar atenção na música campestre. Uma antiga canção falava de corações partidos, de tristeza e muita bebida. Trey imaginava que alguns copos de cerveja pudessem afogar as lembranças do beijo de Geena e caminhou até o bar. Tomou rapidamente o primeiro. O sabor amargo afastou o sabor de Geena, mas não a recordação. O segundo fez aflorar o sentimento de culpa. O que havia feito? Por que a beijara? Como pudera trair a confiança de Sam? O terceiro copo o fez perceber os cheiros e sons do bar. O compasso da música sintonizava com as batidas de seu coração. Os cowboys a seu redor falavam alto. Uma dor de cabeça latejante castigava-o. A fumaça de cigarro fazia-o pensar em Casey torcendo o nariz quando sentia algum cheiro desagradável.
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Leanna Wilson - Christmas in July Já havia mudado tanto para adequar-se às necessidades daquela criança! Comia em áreas para não fumantes, falava em sussurros para evitar acordá-la e parava no acostamento a cada hora para sua alimentação e troca de fralda. Tentava convencer-se de que apreciava música alta e não se importava com ambientes enfumaçados. E que gostava de dirigir durante horas sem parar até a caminhonete estar quase sem gasolina. E o mais importante, que não gostaria de se ver amarrado a uma esposa e bebê. Esse fato amansava as chamas do desejo que sentia por Geena. Certamente estava atraído por ela. Soubera disso desde o dia em que a vira parada na porta, enrolada numa toalha, os cabelos molhados do banho recém-tomado. Mas era uma atração puramente física, e não cederia ao impulso. Precisava manter distância dela. Tratara-a mal. Beijaraa e então correra como se o diabo o estivesse perseguindo. Ou um fantasma. Um fantasma do passado recente. Ela era esposa de Sam... viúva. Não poderia desconsiderar esse fato sob hipótese alguma. Geena era determinada, forte. Tinha fibra. Gargalhadas ruidosas irromperam de um grupo de competidores de rodeio da prova com cavalos. Estavam do outro lado do bar. — ...fazendo papel de babá daquele jeito, provavelmente não tem tempo para sair com os rapazes — falou Guy Wemple. O som de novas gargalhadas irritou Trey, e ele deu um tapa no balcão de madeira, tentando ignorar o grupo. Pediu outra cerveja. — Trey meteu-se em uma enrascada... A voz de Guy chegou a seus ouvidos novamente. Trey olhou para os cowboys. Percebeu então que as palavras de Guy refletiam seus próprios sentimentos. — Eu o vi trocando a fralda da nenê. — Eu também — Chuck Waters falou, ajeitando a calça jeans. — Tem feito um bocado por Geena Allen — Red Tuttle palpitou. — Eu só queria saber o que Geena está fazendo por ele — Guy completou. A raiva fez Trey aprumar-se. Olhou na direção dos cowboys e cerrou os punhos. Aproximou-se dos três homens lentamente, pisando com força no chão de tábuas.
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Leanna Wilson - Christmas in July Encarou Guy. Não deixaria ninguém falar mal de Geena. Ela não merecia ser alvo de comentários mais do que merecia ser viúva. A adrenalina alimentava a raiva, sentia necessidade de brigar. — O que você quis dizer com aquilo? As narinas de Guy dilataram. — Exatamente o que eu falei. — Diga na minha cara, então — Trey desafiou-o. — Droga — Guy falou, dando um passo para trás e metendo os polegares nos bolsos da calça comprida. — Ela deve ser ótima na cama para você fazer... Trey acertou Guy no queixo, jogando-o no chão. Aspirou fundo antes de uma nova investida, mas Red agarrou seus braços por trás. E Chuck deu-lhe um soco. Trey sentiu um súbito calor no queixo e dificuldade para engolir. — Por que me bateu? — Guy encarava-o, ainda esparramado no chão e massageando o queixo. — Não quero que fale de Geena! Sua musculatura estava rija contra as mãos firmes de Red a contê-lo. — Ela é viúva de Sam, pelo amor de Deus! — Trey prosseguiu. — Ou não se lembra mais de Sam?! Guy deu de ombros. — Não tive intenção de ser desrespeitoso. Chuck ajudou o colega a ficar em pé. — É isto mesmo — falou Red Tuttle. — Estávamos apenas brincando. — Em vez disto, por que não aplicam bem seu dinheiro? — Claro — Red falou, sorrindo. — Vamos comprar uma cerveja para você. Trey fez sinal negativo com a cabeça. — Eu não quis dizer isto. — Você quer jantar também? — Red falou, rindo. — Não. Trey meteu as mãos nos bolsos da calça, satisfeito por sua idéia ser ainda melhor do que uma briga. Ajudaria Geena. E ajudaria a si próprio também, livrando-se da situação em que havia se metido. Ela não dependeria mais de sua ajuda. E Trey poderia seguir adiante com a própria vida. — Estamos fazendo uma coleta para Geena e seu bebê. — Claro — disse Guy. — Ouvi Daria falando a respeito, mas não achei que estivesse falando a sério.
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Leanna Wilson - Christmas in July — Bem, realmente estamos fazendo isto — Trey confirmou. — Quatro de julho em Mesquite. Geena precisa de ajuda e não quero que vocês fiquem denegrindo sua reputação. — Trey, nós não estávamos... — Guy parou de falar quando Trey deu um passo adiante. — Acho que seria muito simpático se vocês, tão habituados a falar mal dos outros, doassem uma parte do dinheiro tão duramente conseguido nesta noite. — Olhou para Guy, depois para Red e Chuck. — Em memória de Sam. Os três homens pegaram as carteiras. Logo Trey embolsava suas doações e ia embora, satisfeito porque muito em breve romperia seus laços com Geena. Antes que fosse tarde demais. Casey aconchegou-se à mãe durante o sono. Geena afastou uma mecha de cabelos loiros da testa da menina, fios tão delicados como seda. Lembranças do passado assombravam-na como as sombras nas paredes. A solidão castigava-a com recordações íntimas e calorosas de conversas com Sam tarde da noite, do amor que faziam de manhã bem cedo e dos sorrisos cúmplices que trocavam no decorrer do dia. Sua vida atribulada bloqueava a sensação de uma existência vazia, mas as noites pareciam acentuar a dor profunda da ausência de Sam. Mas, daquela vez, algo mais fora acrescentado à solidão. Algo um tanto amedrontador a seus sentidos, mas maravilhoso. A lembrança do beijo de Trey revelava a Geena o quão solitária estava, os braços ansiando pelo calor de um homem. 0 coração desejando a intimidade de um amante, de segredos partilhados e palavras de amor sussurradas. Seu corpo ficou mais quente debaixo das cobertas. Afastou o lençol e o cobertor e deixou que o ar-condicionado barulhento do hotel refrescasse sua pele. Sua resposta a Trey fora mera expressão de uma necessidade física? Ou era Trey em si que a atraía? A boa aparência dele, o sorriso amigável e os olhos azuis conspiravam para criar imagens de noites quentes de verão e romance. Geena testemunhara diversas namoradas entrando e saindo de sua vida. Então o que a atraía? Sua generosidade? Seu bom humor?
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Leanna Wilson - Christmas in July Não podia mais negar que ele a fascinava. E assim como a lua sumia com o despertar do sol, seu olhar buscava o de Trey. O beijo, constatou, apenas despertara um desejo que já existia. Estivera ali dormente, aguardando que a tristeza fria de seu luto passasse e a vida desabrochasse como flores de primavera, com a possibilidade de romance. Virou para o lado, fazendo o colchão ranger. Queria mais do que satisfação temporária, entretanto. Precisava que um homem lhe desse mais. Casey necessitava de estabilidade e não de uma sucessão de namorados da mãe. Precisava de um papai de verdade. E Geena queria um marido amoroso. Aguardou que a sensação de culpa a tomasse. Esperava sentir remorso, saudade de Sam. Concentrou-se no homem com quem se casara, pensou no que diria, como reagiria. Conforme em todas as situações difíceis, Sam teria sorrido e lhe desejado sorte, porque a amava. Sim, Sam gostaria que ela desse prosseguimento à vida, assim como Geena pressentia que ele fora dessa vida para uma muito melhor. Sentia saudade, ainda o amava, mas estava pronta para ir adiante. E a constatação do desejo sexual aconteceu no instante em que os lábios de Trey pousaram nos dela. Estava pronta para abraçar a vida novamente. Mas com Trey? Ele a atraía, mas um relacionamento com o melhor amigo de Sam parecia um caso sórdido, uma traição à memória do marido. A luz suave do sol nascente esgueirou-se pelas cortinas, encontrando Geena com uma sensação profunda de pesar diante de seu impasse. Era lamentável que o único homem capaz de despertar novamente seu interesse fosse Trey. Sim, Trey mostrara-se mais que um amigo, insistindo em ajudá-la na fazenda, cuidando de Casey e dirigindo a caminhonete de rodeio a rodeio. Sorriu ao lembrar-se dele trocando fraldas e alimentando a menina. Fora determinado e fizera um bom trabalho, cada vez mais à vontade com o bebê. Mesmo assim, agia como se sentisse alguma culpa ou movido por aquele código de honra dos cowboys. Quão longe Trey iria para ajudar a viúva de seu amigo? Precisava distanciar-se dele. Tinha de deixá-lo saber que não era obrigado a manter a promessa. — Bom dia! — Trey exclamou.
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Leanna Wilson - Christmas in July Sua voz gerou um frio no estômago de Geena. Ajeitou Casey no outro quadril e fechou a porta do quarto. Estava tensa. Como poderia encará-lo naquela manhã? Com orgulho. Não estava envergonhada de nada do que fizera. Dera-lhe um beijo no rosto. Mas Trey a havia beijado. Não era mesmo? Ergueu o queixo e encarou-o. Então prendeu o fôlego ao notar o hematoma no queixo. — O que aconteceu com você? Ele passou o dedo no machucado e murmurou: — Nada. — Não parece. Deu um passo na direção dele, a mão automaticamente estendida para tocá-lo. Mas impediu-se. — Está doendo? — Não. Sabia que sim pelo modo como ele falava, evitando mexer no local ferido. Mas compreendia seu comportamento. Cowboys de rodeio raramente se queixavam de suas dores. — Você quer dizer que o outro cowboy ficou pior? Trey sorriu e fez uma careta. — Não. Guy Wemple sempre teve aparência pior do que a minha. Ela riu e balançou a cabeça. Seu olhar atou-se ao de Trey durante um breve momento. Então Geena rapidamente ocupou-se com a sacola de Casey, inclinando-se para pegar a alça rosa. A mão de Trey roçou na sua. Ela sentiu uma espécie de choque elétrico e derrubou a sacola no chão. 66 — Desculpe — falou constrangido e ajeitou a sacola no ombro. — Está pronta para o café da manhã? — Acho que sim. Não sabia se você desejaria tomar café da manhã já que esteve fora durante a noite passada. Geena subitamente se calou. Então deixara Trey saber que havia ficado espiando pela cortina para ver quando voltaria e se havia alguém a acompanhá-lo para o quarto. Condenava-se tremendamente pelo lapso. — Estou com fome — ele disse, ignorando o comentário. — E você, Casey? A menina sorriu e balançou os braços, batendo o ursinho Bucky no ombro da mãe. Foram para a caminhonete em silêncio. Trey seguiu pela estrada até o restaurante mais próximo. O estabelecimento assemelhava-se ao local onde Geena trabalhava.
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Leanna Wilson - Christmas in July Toalhas xadrezes cobriam as mesas. Garçonetes anotavam pedidos através de códigos para cada refeição rápida e apressavam-se de mesa em mesa levando cafés e bandejas cheias de comida. O som de pratos estalando um contra o outro ecoava pelo ambiente pequeno. A cada minuto passado ao lado de Trey, Geena ficava mais tensa. Casey tagarelava em sua própria linguagem, feliz em brincar com Bucky e morder-lhe a orelha. Parecia alheia à tensão reinante. Geena evitava olhar para Trey. Ele pousara o chapéu de cowboy no assento ao lado. Também parecia inquieto e relutante em fitá-la. O que ela poderia dizer? Conversariam a respeito de quê? Lembrou-se do beijo e imediatamente enrubesceu. Uma garçonete trouxe café fumegante para Trey e Geena e uma xícara com leite para Casey. Após pedirem um café da manhã completo com panquecas e suco, caíram em silêncio novamente. Ela olhava para as próprias mãos. Casey mexia-se a seu lado. Trey apoiou o braço pela extensão do banco fixo e contemplou o restante do recinto, cumprimentando com um gesto de cabeça cowboys companheiros que passavam. A comida chegou. Saborearam-na em silêncio, exceto pelos barulhos emitidos por Casey que levava desajeitada pedaços de panqueca à boca. Geena concentrou-se em comer, observando a filha e ignorando Trey. Quando ele terminou os ovos mexidos, empurrou o prato para o lado. Inclinou-se adiante e apoiou os cotovelos na mesa, entrelaçando os dedos. Fitou-a diretamente. Geena baixou a cabeça, as mãos úmidas, o coração em disparada e colocou outro pedaço de panqueca na boca da filha. — Geena, antes que alcancemos a estrada e o próximo rodeio em Plainview, precisamos conversar. — Sobre o quê? — Você quer que eu diga? É preciso? Ela olhou ao redor, para os cowboys que circulavam pelo restaurante. Ninguém parecia estar prestando atenção neles, entretanto. Mesmo assim, não queria correr risco. Detestaria ouvir Trey dizendo as palavras em voz alta. Será que ao ouvi-las o evento se tornaria mais real? Não sabia se queria escutar o pesar em sua voz. A rejeição a magoara. Geena não queria discutir o assunto, mas não tinha muita escolha.
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Leanna Wilson - Christmas in July Cruzou os braços e o fitou. — Não acho que seja necessário. — Bem, mas eu acho. Se vamos passar tempo juntos, então devemos estar dispostos a conversar. Neste momento o clima entre nós está... bem... esquisito. — Sempre foi esquisito. Até mesmo antes... — Não conseguiu terminar a frase. — Mas apenas porque você tornava tudo difícil — acusoua. Ela encarou-o, irada. — Está bem, não fui justo. E não estamos falando disto. — Escute, Geena, eu lamento. — Nós não deveríamos... — Não fui eu. Você... — Você estava participando também. — Não estava. Geena baixou o tom de voz e sussurrou, inclinando-se para a frente: — Eu lhe dei um beijinho no rosto para mostrar minha gratidão. Não sou boa com palavras. — Pois você se sai muito bem sem elas. Geena arrependeu-se de ter se expressado daquele jeito em particular. — Eu não quis dizer nada através de meu... gesto. Exceto um simples agradecimento. Ele assentiu. — E você... bem, o seu gesto foi... Trey sorriu e imediatamente fez uma careta de dor. — O quê? — Você sabe... Um brilho de humor iluminou o olhar dele. — Diga-me. Geena havia terminado a refeição e colocou o guardanapo na mesa. — Acho que já falamos o suficiente sobre este assunto. Você não deseja tornar a situação pior, não é mesmo? — Geena... A voz em tom baixo chamou-lhe a atenção. Preocupada, ousou encará-lo novamente. Os olhos azuis a hipnotizaram. — Não quero tornar a situação pior. Eu simplesmente não pude resistir em provocá-la. Você parecia tão fora de seu normal. Eu... bem, eu desejo que possamos retornar ao modo como nos comportávamos antes.
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Leanna Wilson - Christmas in July Poderiam? Realmente seria possível após terem se beijado? Geena não tinha certeza se um dia voltaria a pensar em Trey simplesmente como outro cowboy. — Claro. Eu posso voltar a ficar brava com você. E você novamente fará o que me irrita. Que tal? — Ótimo. Brindou-a com um sorriso matreiro, porém contido. Precisava proteger o queixo dolorido. Mas a expressão em seu olhar dizia a Geena que ele a perturbaria de uma maneira totalmente nova. Viajavam havia apenas quarenta e cinco minutos quando um barulho alto invadiu a cabina. A caminhonete deu uma guinada súbita. Geena amparou Casey. O bebê acordou sobressaltado e chorando. Trey conseguiu controlar o volante e finalmente conduzir o veículo para o acostamento. Ficaram estáticos por um momento, assustados. Geena esperou que a pulsação voltasse ao normal. Milhares de possibilidades amedrontadoras a respeito do que poderia ter acontecido a apavoravam. Passou a mão nos cabelos loiros da filha. Se alguma coisa acontecesse a Casey, seria culpa dela, porque decidira trazer a criança naquela jornada. — Você está bem? — Trey perguntou. — Sim. — E Casey? — quis saber, pegando no tornozelo gorducho da menina. Geena fez um gesto afirmativo. — Foi o pneu traseiro. Estourou. Geena obrigou-se a relaxar. — Está tudo bem, querida — disse, beijando a filha. — Estamos bem. Finalmente as lágrimas da menina cessaram, e Geena suspirou aliviada. Olhou para Trey. Tinha de fazer algo além de ficar sentada no carro como uma dama indefesa. — Devemos ter passado em cima de um prego — palpitou, abrindo a porta do passageiro. — Há um estepe. Eu trocarei o pneu. — Não, eu farei isto. — Trey, não sou uma pessoa indefesa. Tenho prática em trocar pneus. — Ótimo, vá adiante. Faça o que quiser. Trey passou a soltar Casey do assento de bebê. — Cuidarei de Casey.
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Leanna Wilson - Christmas in July Geena queria discutir, mas o que poderia dizer? Não? Pedir para deixar o bebe na caminhonete abafada? Se ela insistisse em cuidar da filha, qual sua opção? Engoliu o orgulho. Pelo menos Trey não estava desprezando sua responsabilidade como babá. Mesmo assim, Geena não poderia deixá-lo com a palavra final. — Coloque-a no cercado debaixo da sombra daquelas árvores. Será uma boa ajuda. Há também uma garrafa de água no piso do banco traseiro. Encha a xícara dela de água, por favor. Trey ficou sério mas assentiu. — Isto não vai demorar muito — disse satisfeita. Embora Trey seguisse sua sugestão, o olhar refletia dúvidas. Com toda a confiança que Geena pôde reunir, colocou as luvas. Mentira ao afirmar que tinha prática em trocar pneus. Executara aquela tarefa apenas uma vez. Na verdade, havia ajudado Sam. O sol estava forte. Olhou para o pneu. Parecia uma peça de roupa amarrotada. Deu uma rápida espiada em Starbuck para se certificar de que o cavalo estava bem apesar do incidente. Então olhou para Trey. Casey estava apoiada em seu quadril, e ele lutava para montar o cercado portátil. Derrubou a travessa duas vezes e praguejou baixinho. Geena teve vontade de rir. Localizou o macaco e a chave de roda debaixo do banco frontal. Soltou o estepe e fê-lo rolar para junto de Trey, apoiando-o na cerca de arame. Sorriu e falou: — Viu? Eu lhe disse que podia fazer isto. Trey colocou Casey no cercado com seu urso e olhou para Geena. — Se eu fosse você, eu... — Mas você não é — disse por sobre o ombro, determinada a mostrar a ele que podia fazer qualquer atividade de que um homem era capaz. — Posso lidar com isto. — Mas... — Trey... O tom de voz advertia-o de que ela estava prestes a perder a paciência. Bem, o relacionamento dos dois havia voltado ao normal. — Posso fazer o trabalho — repetiu ela. — E farei. — Estava apenas tentando ajudar.
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Leanna Wilson - Christmas in July Trey acomodou-se na grama. Abanando-se com o chapéu, apreciava o espetáculo. Primeiramente Geena usou o macaco para tentar levantar o veículo. O pneu murcho, entretanto, girava cada vez que ela tentava soltar os parafusos. Através de tentativa e erro, constatou que precisava soltar o trailer. Trey manteve a boca fechada, não ofereceu conselhos nem riu de seus erros. Durante todo o tempo entretinha Casey e observava Geena com atenção. Ela inclinou-se de costas para Trey ao conseguir soltar finalmente o pneu furado. O que restava do velho pneu espraiou-se como uma carcaça na pista. Com vagar aprumou-se e massageou as costas na altura dos quadris. Virou-se de um lado para o outro e alongou as costas. Os seios firmes destacaram-se contra a camiseta branca. Trey engoliu em seco. — Precisa de ajuda? — repetiu. — Achei ter dito que não. — Eu só estava verificando se você havia mudado de idéia. — Não mudei. Virou-se para a caminhonete e dedicou-se à tarefa. Pegou a chave de roda mas suas mãos estavam escorregadias e ela caiu sentada no chão à primeira tentativa de afrouxar um parafuso. Trey prendeu a respiração, observou-a fazendo uma careta e praguejando. Vagarosamente Geena levantou-se, limpou as mãos uma contra a outra e depois na calça jeans. Fitou-o muito séria. Trey não ousou rir. Limitou-se a acariciar o queixo dolorido, e a dor manteve seu humor contido. — Se você apenas... — Fique quieto! — O que eu tenho a dizer realmente poderia ajudar. Colocou Bucky, o ursinho, de volta no cercado depois que Casey jogou-o para fora. A menina agarrou o animal de pelúcia. — Não preciso de sua ajuda. Nem da ajuda de qualquer outra pessoa! — Geena exclamou, continuando a lutar com a chave de roda. — Está bem. Faça a sua maneira. — Farei. Trey resolveu relaxar à sombra da árvore. — Casey, sua mamãe tem um gênio horrível. Seu papai era muito sossegado, não se aborrecia com facilidade.
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Leanna Wilson - Christmas in July Pousou o chapéu sobre a testa, fechou os olhos e aspirou o cheiro de feno fresco, mas não conseguiu apreciar o ambiente sossegado ao redor. Teria sido culpa sua aquele estouro do pneu? E se Geena estivesse sozinha? E se algo tivesse ocorrido a ela ou a Casey? Sentiu-se realmente culpado. Devia ter substituído os pneus conforme fizera com tantas outras partes da caminhonete de Geena, mas aparentemente estavam bons. Mesmo assim, devia ter verificado seu estado após os primeiros dois dias de trajeto. Aspirou profundamente o ar quente, acalmando os nervos. Observou Geena e procurou garantir-se de que ela estava bem. Sensualmente bem. Casey tagarelava. O alívio amansou a culpa de Trey. Nada de sério acontecera. E tomaria cuidado para que jamais ocorresse. Então algo o atingiu com o impacto de um soco forte. Era o fato de suas preocupações sempre girarem em torno de Geena e Casey. Importava-se em demasia com o bem-estar das duas. CAPÍTULO VII Geena olhava por sobre o ombro a cada poucos minutos, dizendo a si mesma que verificava se Casey estava bem. Sabia, entretanto, que sua intenção era ver se Trey a estava observando. Sentia-se tola. Estava derretendo debaixo do sol intenso, frustrada e com dor de cabeça. Queria desistir e pedir-lhe ajuda, mas não poderia, não aceitaria derrota. Após infindáveis tentativas malsucedidas de afrouxar parafusos, o som de um carro freando a fez olhar para trás. Resmungou à visão de uma caminhonete nova e sofisticada. Daria acenou e meteu a cabeça para fora da cabina, sorrindo e segurando uma bebida gelada na mão. — O que aconteceu? — Furou um pneu — Trey falou, levantando o chapéu com um gesto de polegar. — Que pena! Precisa de ajuda? Trey gargalhou e a carranca de Geena ficou mais intensa. O olhar de Daria migrava de Trey para Geena. Finalmente a moça deu de ombros. — Alguém quer um refrigerante?
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Leanna Wilson - Christmas in July Geena fez sinal negativo com a cabeça, esperando que Daria fosse embora. Mas Trey disse: — Claro, está quente aqui. A loura então aproximou-se dele sorridente e lhe estendeu a lata de refrigerante. Chegou até mesmo a tocar no queixo machucado. Geena ficou profundamente irritada. Cerrou os dentes e voltou ao trabalho, apenas para atingir o polegar com a maldita chave de roda. A dor foi aguda. Sugou o dedo dolorido e olhou na direção de Trey e Daria. Os risos da moça deixavam-na mais brava. Por que ele estava sorrindo? Furiosa com Daria por intrometer-se, com Trey pela atitude I de descaso e consigo mesma por não ter aceitado um refrigerante cujo sabor devia ser delicioso, praguejou baixinho. — Precisa de alguma coisa? — Trey gritou. — O quê? — Geena rebateu, prestes a dar um chute na | caminhonete. — Achei que você tinha dito algo. Precisa de ajuda? — Não. Já que a troca de pneu vai demorar, você poderia ir a Plainview com Daria, assim não perderá o rodeio. Ele olhou para o relógio de pulso. — Ainda temos duas horas antes do início do rodeio. Vou esperar. Geena desejava que ele abandonasse o posto de babá e desistisse de ficar ali. Suspirou e virou-se. Se Trey fosse embora com Daria, então teria mais um motivo para ficar brava, e o evento colocaria a tão necessária distância entre os dois. — Geena — Daria gritou. — Eu tenho... — Não a aborreça — Trey interrompeu. — Ela quer fazer tudo sozinha. — Sim, mas... Daria olhou para Geena com as sobrancelhas arqueadas. — Acontece que poderia ser útil... — Estou com tudo sob controle — Geena respondeu, ficando em pé durante um minuto para aliviar a dor nas costas. Mais de meia hora se passara desde que pararam para a troca de pneu. Vagarosamente, pouco a pouco, cada parafuso foi afrouxado o bastante para que o macaco pudesse, finalmente, suspender a caminhonete.
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Leanna Wilson - Christmas in July As mãos de Geena estavam doloridas, mesmo assim, ela não desistiu e removeu o pneu. As tarefas seguintes foram realizadas com facilidade. Em pouco tempo, o estepe estava instalado e o pneu velho guardado. — Parece bom — disse Trey, inspecionando seu trabalho. — Apertou bem. — Testou cada parafuso. — Eu não teria feito melhor. Geena ficou orgulhosa, embora cada músculo de seu corpo reclamasse. Fizera o que havia se prontificado a executar, e sem ajuda de Trey nem de Daria. — Você fez da maneira mais difícil — Daria falou, em pé ao lado do cercado onde Casey brincava com o ursinho. — E como eu poderia ter feito melhor? Chamando um guincho ou talvez o papai? — Não. Eu teria usado minha chave de roda que funciona com ar comprimido. Os parafusos são afrouxados ou apertados sem esforço algum. — E por que não me avisou... Sabia o motivo. A culpa era dela mesma. Mas a constatação deixava-a apenas mais orgulhosa da conquista. Trey escondeu um sorriso. Geena tentou suavizar a dor nos ombros. Daria pousou a mão no braço de Trey. — Quer ir no meu carro? Ele olhou para Geena, os olhos azuis perscrutadores. Ela sabia que Trey queria ir. O trajeto fora desconfortável até a parada. Como poderia culpá-lo por desejar alguns minutos de paz antes do rodeio? — Vá em frente — disse, sentindo um nó na garganta. — Casey e eu estaremos bem. E assim que chegasse ao rodeio, encontraria outra pessoa para cuidar de sua filha. E tiraria Trey de sua vida. — Não. Eu fiz uma promessa e vou mantê-la. — Não se preocupe com isto — Geena falou, ansiosa por sua partida. — Eu insisto, vá! Trey franziu a testa. Geena passou por ele e pegou Casey. A menina parecia pesar uma tonelada. Ajeitou-a no assento apropriado para crianças e desmontou o cercado portátil. A cada movimento, seu corpo reclamava. Acomodando-se no banco do motorista, falou: — Eu os verei no rodeio.
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Leanna Wilson - Christmas in July — Geena — Trey chamou e apoiou-se na janela do passageiro, cujo vidro estava descido. — Espere um pouco. Tem certeza? Assentiu, embora internamente experimentasse um momento de indecisão. — Bem, talvez... eu... Trey olhou para o refrigerante que tinha na mão. Sentia culpa por tê-la deixado trabalhar tão duramente. Mas quisera ensinar-lhe que não era tão ruim assim depender de alguém. Estendeu-lhe a lata com refrigerante em uma oferta desajeitada de desculpa. — Apreciaria uma bebida? O calor está muito forte. — Há um pouco de água aqui ainda. Para Casey e Starbuck. — Oh, bem... mas o refrigerante é mais doce. A língua de Geena umedeceu os lábios secos. — Acho que seria bom um gole, então. Ficou menos tenso. Sorriu, e Geena levou a lata aos lábios. O pescoço alvo chamou-lhe a atenção, hipnotizando-o a cada gole. Sentiu o corpo se incendiar de desejo. Assim que Geena ficou satisfeita, ele insistiu: — E se eu fosse com vocês? — Não, está tudo bem. Vá com Daria. Ele franziu a testa, confuso e magoado por Geena ainda estar brava. — Se é assim que prefere... Mas nós as seguiremos. Para o caso de enfrentarem mais problemas. Quando Geena já se aproximava de Plainview, sentiu mais os músculos doloridos nos ombros e braços. A troca de pneu fora uma experiência que preferia não ter adquirido. A cada parada feita em seguida para alimentação e troca de fraldas de Casey, ficava mais difícil movimentar-se normalmente. Mas, observada por seus "anjos da guarda", nada demonstrava. E Trey sempre perguntava, com seu costumeiro sorriso: — Precisa de ajuda? Os nervos de Geena ficavam à flor da pele, Sua determinação superava o bom senso. Não havia provado coisa alguma trocando o pneu. Ainda precisava de Trey por causa de Casey. Perturbada com a própria admissão de dependência, programou-se para tentar fazer tudo o que abrangesse
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Leanna Wilson - Christmas in July cuidados I para com Casey e Starbuck assim que alcançasse a arena. Até J cair de cansaço. Embora seu corpo estivesse fraco e exausto, a mente mostrava-se ativa. Por que Trey fizera tanto por ela? Teria transposto o limite da simples obrigação? Tentou evitar pensar nele e concentrar-se na disputa que em breve travaria, mas em vão. Talvez já dependesse de Trey muito mais do que podia imaginar. Precisava distanciar-se dele, e a única maneira era encontrando alguém para cuidar de sua filha. Talvez então ele percebesse que sua ajuda não era mais necessária. Pediu a uma velha amiga para ajudá-la com Casey. Em seguida, buscou algo para refrescar a garganta seca, indo com a filha nos braços para os quiosques. Algumas ofereciam refrescos para cowboys e cowgirls acalorados e cansados. O ar parecia mais opressivo com o cheiro de pipoca com manteiga e cachorro-quente. Pediu um sorvete de creme com cobertura de morango para dividir com Casey. — Já é hora, companheiros — o apresentador falou. O rodeio estava começando. Trey avistou-as e se aproximou sorrindo. — Está se sentindo melhor? Geena mordeu o lábio para evitar uma resposta malcriada. Assentiu vagarosamente. Não podia culpá-lo pelo incidente com o pneu. Fora tudo culpa dela. Mesmo assim, não conseguia mais conter a irritação que escondera de Daria. — Sente-se pronta para a prova? — Como sempre estive — respondeu, colocando o cone do sorvete no cesto de lixo mais próximo. Trey estendeu as mãos para Casey. — Está pronta, sapeca? Pegou a menina nos braços como um velho profissional e assanhou-lhe os cabelos. Casey riu. Geena acabou sorrindo também. Ele realmente parecia gostar de brincar e lidar com Casey. Por um segundo, arrependeu-se de ter contratado uma substituta, mas sabia que seria melhor para ambos. Trey apreciava o sorriso que Casey lhe dava. Um sorriso especial apenas para ele, um sorriso ansioso que lhe tocava o coração. Olhou para Geena, desejando que ela pudesse ter o coração leve de uma criança, livre de fardos, livre para rir. — Vá em frente e apronte Starbuck, Geena. Cuidarei de Casey.
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Leanna Wilson - Christmas in July — Bem... na verdade, a mulher de Guy ofereceu-se para olhá-la. Trey sentiu um frio no estômago. — E daí? — Bem, eu acabei aceitando. O coração de Trey disparou. — Mas... a tarefa é minha. E quanto a nosso acordo? — I perguntou, chocado e subitamente bravo. Mas o que estava pensando? Devia estar grato, afinal, teria um tempo livre. Devia também ficar satisfeito por outras pessoas estarem oferecendo ajuda além de doações em dinheiro. Mas não estava. Absolutamente. Geena evitou seu olhar. — Bem, achei que você gostaria de uma folga. — Ora, mas... quero dizer... Trey vinha fazendo um excelente trabalho com Casey. Começara até a se sentir mais relaxado com a criança. Estava tão decepcionado! — Eu fiz algo errado? — Não. Claro que não. Aliviado, tratou de conter a decepção e a mágoa. Lutou por encontrar as palavras corretas e murmurou: — Está bem, então. Como quiser, eu acho. Isto é, se você... — Se o quê? — instigou Geena. — Bem... Trey começava a gaguejar. Não gostaria de deixar Casey com outra pessoa. Na verdade, estava ansioso por passar algum ; tempo com a menina e protegê-la, não desistiria tão fácil assim. A pessoa que se oferecera estaria qualificada para lidar com = uma criança daquele tamanho? — Quero dizer, se você confia na mulher de Guy, então eu suponho... Geena sorriu. — Claro que sim. Marian é mãe de quatro filhos. Tenho certeza de que Casey estará em boas mãos. — Mas... Buscava algum motivo, qualquer razão que pudesse fazer Geena mudar de idéia. — O quê? — indagou com certa impaciência. Trey balançou a cabeça, sentindo-se derrotado. — Nada. Um instante de silêncio pairou entre os dois. Finalmente Geena deu um passo adiante e estendeu os braços para a filha.
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Leanna Wilson - Christmas in July — Bem — disse ela —, acho que é melhor eu me apressar. Vejo-o mais tarde, Trey. Boa sorte em sua competição. — Obrigado. Para você também. Casey fitou-o por sobre o ombro da mãe, os olhos castanhos arregalados e os lábios trêmulos. O coração dele parecia pesado e os braços vazios. Pela primeira vez em sua vida sentiu-se só, e não gostou nada da sensação. Geena fez uma careta por causa da claridade excessiva. Cada vez que se mexia, sentia os efeitos do tempo que passara no sol, trocando o pneu. Procurou alongar a musculatura das costas. Após deixar Casey com Marian Wemple, caminhou para o estábulo. Passou a mão pelo lombo de Starbuck. Era sua última chance antes dos grandes rodeios de quatro de julho, os quais começariam no final de semana seguinte. Precisava ganhar alguma prova para pagar os custos de participação e outras taxas. No mínimo teria de se classificar. Caso contrário, sua volta aos rodeios terminaria antes de realmente ter começado. Em seus planos, contara com vitórias ao longo do caminho para conseguir continuar. Nunca imaginara que seria tão difícil. Verificou mais uma vez a sela, ajustando-a, e conduziu sua montaria para a linha que marcava o local de partida e chegada. Starbuck batia as patas no chão, balançava a cabeça e parecia inquieto. Geena deu-lhe um tapinha no pescoço e falou suavemente a seu ouvido. — Fique tranqüilo, garoto. Vamos ganhar. Vai ser fácil, menino. Fácil. — E sua vez, Geena — o juiz de largada chamou-a. — Pode ir. Ela assentiu, montou e observou o painel de pontuação. Viu o tempo da melhor colocada. Olhando por cima da cabeça de Starbuck, deixou o chapéu pendendo nas costas. Era uma corrida contra o relógio. Ela estava contra o tempo. Fez Starbuck galopar. O corpo do animal esticava-se para a frente. Geena sentia a energia invadindo-a e impondo um ritmo alucinante. Aproximou-se do primeiro tambor, soltou as rédeas e puxou-as firmemente para o lado. Starbuck respondeu tão bem quanto nos treinos.
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Leanna Wilson - Christmas in July Ultrapassou o primeiro e o segundo tambores com facilidade. No terceiro, exagerou na velocidade, e Starbuck escorregou. Mas o animal conseguiu se equilibrar, recuperando-se e correndo para a linha de chegada. Geena puxou as rédeas e virou-se para olhar a pontuação. Era a melhor que alcançava naquela estação! Esperava que pudesse aumentar sua confiança. Seu tempo fora rápido para colocá-la em terceiro lugar, mas não o bastante para vencer Daria. A ponta de decepção mesclava-se à emoção de uma boa prova. Quando se inclinou adiante para dar um tapinha congratulando Starbuck pelo trabalho bem-feito, avistou Trey. Ele assobiou, acenou o chapéu no ar e aplaudiu-a. Geena sentiu um calor agradável tomando-a, deixando-a em estado de puro êxtase e roubando seu fôlego. O coração disparou. Virou a cabeça. Concentrou-se em sua prova, feliz por ter alcançado a meta e melhorado a pontuação. Estava emocionada por ter conseguido ganhar dinheiro suficiente para participar dos rodeios de quatro de julho, o dia da independência dos Estados Unidos. — Você me deve um jantar — Trey falou, sorrindo. — Parabéns! — Obrigada. Geena baixou a cabeça, evitando o olhar penetrante que a deixava tão perturbada. Quando terminara de cuidar de Starbuck, notara que havia perdido a prova de Trey. Marian Wemple estava com Casey nos braços e sorria, o olhar caloroso migrando de Trey para Geena. — Você tem planos para o jantar? — Não — disse Geena. Mas Trey a corrigiu: — Sim. Trocaram olhares. Geena fuzilava-o com os olhos, e Trey sorria,matreiro. O que estava fazendo? Por que ele queria passar mais tempo a seu lado? Imaginava que queria sua liberdade de volta. — Bem, meus caros — disse Marian —, por que não vão celebrar? Casey ficará comigo. — Oh, não, eu não poderia... Geena estendeu as mãos para seu bebe. A mulher deu um passo para o lado e apertou Casey firmemente contra o amplo peito. — Ora, não é trabalho algum. Eu não me importo.
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Leanna Wilson - Christmas in July — Você já fez o bastante — disse Geena, olhando para Trey em busca de ajuda. Mas ele apenas ficou ali em pé com os polegares metidos nos bolsos da calça jeans. — Ora, o que é uma criança a mais quando já se tem quatro? — Marian falou, rindo. — Além disto, estão se dando tão bem. Eu os levarei para comer pizza ou algo assim. Você poderá buscar Casey em nosso hotel quando o jantar acabar. — Você já fez demais — Geena argumentou. — Bobagem. Aposto que você gostaria de um pouco de paz e quietude. Eu me lembro de como era quando eu tinha só um filho. Atualmente os mais velhos podem ajudar a olhar os mais novos. Ou talvez eu tenha me habituado a tudo isto. — Parece maravilhoso — Geena confessou para ser amigável —, mas iremos a outro rodeio esta noite. — Temos bastante tempo entre um evento e outro. O próximo começará apenas às oito horas — ponderou Trey. — E fica a apenas trinta minutos daqui, por isto um jantar não fará muita diferença. Para Geena fazia toda a diferença. Um jantar com Trey Mann poderia abalar seu equilíbrio, e não queria arriscar-se. Mas, não querendo dramatizar uma situação que provavelmente parecia trivial a Marian e Trey, acabou concordando. — Ela ficará bem, mãezinha — disse Marian e olhou para Trey. — Vá e leve esta senhorita para um passeio. — Sim, madame. Hesitante, Geena olhou para Casey. Sua filha parecia feliz. Um braço enroscava-se no pescoço de Marian e o outro segurava o ursinho Bucky. — Bem, não sei... — Ora, não me diga que está aflita por deixar seu bebê durante algumas horas comigo. Ela ficará bem, mamãe. Não se preocupe. Casey parecia feliz, e Geena confiava em Marian. Mas confiava também em Trey? Por que ele queria passear? Confiava em si mesma? Estava tendo dificuldade em manter distância entre os dois e colocar rédeas nos pensamentos ousados. Então lembrou-se de que devia a Trey no mínimo um bom jantar. Aquilo, imaginava, bastaria para livrá-lo de sua obrigação, embora ela soubesse que nunca realmente conseguiria pagar Trey por tanta gentileza e ajuda.
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Leanna Wilson - Christmas in July CAPÍTULO VIII Trey achava perturbador dirigir a caminhonete de Sam com Geena a seu lado e sem Casey formando uma barreira, um gentil lembrete, entre os dois. Seu olhar vagou da estrada para a companheira de passeio. Ela estava com as botas plantadas firmemente no piso do automóvel, como se pronta para uma colisão. As mãos estavam entrelaçadas no colo, o rosto com expressão compenetrada. Trey imaginou-se beijando aqueles lábios, pescoço e... Afugentou o pensamento. Talvez tivesse sido um erro insistir em levá-la para jantar, mas naquele momento parecera o correto a fazer. Geena precisava de algum tempo longe de Casey, uns poucos momentos para relaxar e se divertir. Trey não tinha certeza, entretanto, se era a pessoa certa para ajudá-la. Entrou no estacionamento do melhor restaurante da região. Desligou o motor, desceu e dirigiu-se para a porta do passageiro, mas Geena já havia descido. Parecia tão tensa quanto ele. Mantinha os braços cruzados na altura do estômago como se estivesse com dor. Caminharam lado a lado, o som dos passos acentuando a quietude do lugar. O local parecia uma cabana. O ambiente era acolhedor, iluminado com velas. Foram conduzidos a uma mesa pequenina e de certa maneira isolada. Trey pendurou o chapéu ao lado da cadeira. Uma vez acomodado, inclinou-se para a frente, os cotovelos pousados na mesa e entrelaçou os dedos. Não sabia o que dizer. A respeito de que poderiam conversar? — Casey pareceu encantada com Marian — começou, tentando aliviar a tensão. — Sim, é verdade. Você devia ter visto Casey tomando sorvete hoje. Esparramou a cobertura de morango em nós duas, mas adorou. — Eu acho que ela gosta muito de fazer bagunça. — Tem razão, gosta mesmo. Sempre foi assim. — Quando estávamos parados na estrada — Trey falou —, ela arrancou um pouco de grama e espalhou por todo o cercado. — Gosta de estar sempre ocupada.
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Leanna Wilson - Christmas in July — E uma garotinha bem arteira. Um pensamento ocorreu a Trey, e ele riu. — O que foi? — Nada. Eu acabei de perceber que parecemos casados há bastante tempo sem nenhum assunto a não ser os filhos. Geena arregalou os olhos, depois sorriu e tomou um gole de água sem disfarçar a tensão. Teria dito algo errado?, indagou-se preocupado. Então as próprias palavras lhe retornaram: "casados há bastante tempo". Uma imagem de como seria essa hipótese lhe ocorreu. Imaginou-os rindo e fazendo amor. A recordação daqueles lábios suaves e doces aflorou com intensidade. Olhou para a boca sensual, gostaria de beijá-la novamente. Uma péssima idéia. Procurou acalmar-se. Sim, Casey era o tópico mais seguro. Qualquer outro assunto parecia pessoal e íntimo demais. Ao menos os outros temas que lhe ocorriam. Perguntas a respeito de Geena assanhavam sua curiosidade, mas não as faria. Ela estava além de seu alcance. E quanto mais sabia, mais gostava. O que era extremamente perigoso. — Casey é uma graça — Trey falou. — É a menininha do papai. — Parece muito com Sam, com certeza. Mas eu diria que é mais parecida com a mãe, porque Sam era um pouco passivo em relação aos objetivos que tinha, enquanto você luta para alcançá-los. Casey também. Geena enrubesceu. — Papai sempre dizia que mãos ociosas ficam a serviço do diabo. Uma lembrança terna emocionou-o. Contemplou Geena e viu um pouco do pai dela nos lindos olhos verdes. Antes que pudesse mencionar seu pensamento, porém, a garçonete chegou para anotar os pedidos. — Você sabia que eu conheci seu pai? — Trey perguntou. — Quando? — Oh, quando eu estava no colegial. Ele era muito conhecido no circuito dos rodeios. Kirk e eu estávamos apenas começando, éramos jovens e inexperientes. — Baixou a cabeça um tanto constrangido, mas prosseguiu: — Estávamos em algum lugar de Oklahoma, e eu vi seu pai cavalgando um touro chamado Hell Back. Foi uma prova espetacular. E eu
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Leanna Wilson - Christmas in July pensei: "Puxa, se eu conseguisse cavalgar assim, estaria feito!". Geena gargalhou. — Papai teria gostado de ouvir isto. — Bem, então gostou, porque eu lhe falei. Fui conversar com seu pai mais tarde naquela noite e lhe pedi um autógrafo. Como era simpático! Assinou em meu programa de rodeio e perguntou se eu queria participar também. Geena arregalou os olhos. — Ele me fez a pergunta errada, porque ficou ouvindo durante bons quinze minutos meu relato sobre os objetivos e sonhos que tinha. Mas não pareceu se importar. Apenas sorriu e me disse: "Bem, você terá de trabalhar duro para isto então, filho. Como acha que um cowboy chega a Vegas?" Trey fez uma pausa, conforme fizera aos dezesseis anos. Um jovem impressionável falando com um cowboy experiente e imaginando como um dia chegaria às finais do rodeio nacional. — Eu dei de ombros e lhe disse que não sabia. Respondi: "Acho que ganhando muitos rodeios". Seu pai assentiu e falou: "Isto além de treino, treino e mais treino". Geena sorriu. — Sim, eu me lembro de papai dizendo isso várias vezes. Era assim que me fazia praticar para a competição com tambores. Sei que os fatos que lhe contei a respeito de meu pai naquela outra ocasião pareceram rudes. Mas eu realmente o amava. E sempre soube que ele me amava também, bem como a meus irmãos e irmãs. Olhou para Trey, que a observava atentamente. Decidiu prosseguir. — Nossa família era unida. Tínhamos de ser. Todos morávamos em um trailer. Oito pessoas em três quartos. Tínhamos de nos dar bem. Papai sempre dizia: "A família que participa de rodeios unida reza unida". Acho que há uma certa verdade nisto. — Eu diria que sim. Ele era um homem bom, temente a Deus. — Sim, era. — Viajavam muito? — Trey indagou, curioso a respeito do herói de sua juventude e quanto ao modo como criara Geena. Já podia ver correlações diretas entre aquele homem e o modo como ela administrava a vida. — Claro, o tempo todo. Quando falei a mamãe que voltaria ao circuito, ela fez as mesmas perguntas que você.
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Leanna Wilson - Christmas in July Tive de lembrá-la de que íamos ver papai competir quase todo final de semana. Ela tinha seis filhos na cidade e nós nos amontoávamos em um quarto de hotel. Ficava lotado e ruidoso, mas era divertido. — Um tipo de vida diferente e agradável. — Você gosta de rodeios, não é mesmo, Trey? Das viagens e tudo o mais. — É para isto que eu vivo. — Eu não percebi até este final de semana quanto sentia falta também. Claro, não podia ter feito nada sem você... eu lhe devo isto. — Não — disse Trey, sentindo-se estranho com o agradecimento. — É verdade. Você tem prestado uma ajuda e tanto. — Se não fosse eu, teria sido outra pessoa. — Talvez sim, talvez não. Mas a questão é que você realmente ajudou, e eu o agradeço por isto. A voz de Geena era suave e sincera. Trey ergueu a mão como se dispensando a gratidão, mas guardou as palavras no coração. — O último ano foi... bem, difícil — disse ela, olhando para baixo. — Acho que minha mente estava focada em outras coisas. Mas o fato de eu estar aqui, experimentando cheiros, sons e tanta excitação... eu me lembrei de como era. E adorei. Pela primeira vez, Trey sentiu uma ligação verdadeira com ela, muito superior ao beijo partilhado. Sabia exatamente o que Geena queria dizer. Atualmente Kirk não compreendia mais sua determinação, a necessidade de participar de rodeios. Surpreendia-o que Geena, dentre todas as pessoas, fosse a única capaz de entender o que ele sentia. Após tudo por que passara com a morte de Sam, imaginou que ela abominasse rodeios. — Quando eu abandonei o circuito por uns tempos, durante a permanência de Kirk no hospital, foi difícil. Senti muita falta, tive saudade do desafio, das pessoas, dos meus amigos. É bom estar de volta. — Sim, é — Geena concordou, sorrindo. Os pratos foram servidos. — Não há nada comparável à família do rodeio — disse Trey, pegando os talheres. — Quando Kirk se machucou, os amigos estavam ali para nos ajudar, telefonando, rezando, executando algumas tarefas em nossa fazenda. Geena assentiu, engolindo uma porção de batata cozida.
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Leanna Wilson - Christmas in July — Posso dizer o mesmo. Muitas pessoas foram generosas quando Sam morreu. Mas claro, ninguém tanto quanto você. — Geena... — Está bem, está bem, mas pelo menos você sabe que lhe sou grata. — Eu sei. Trey fixou o olhar nela. Uma energia especial fluía entre os dois. Olhou então para o lado, visivelmente perturbado. Por mais que quisesse, não era capaz de romper o laço frágil formado entre eles. Quando a conta chegou, Trey estendeu a mão automaticamente para pegá-la, mas Geena foi mais ágil. — Nada disto. E por minha conta, Eu disse que, quando ganhasse, eu pagaria o jantar, e é o que vou fazer. Por isto fique sentado, cowboy, e deixe-me pagar. Ele devia pagar. Sabia que os recursos de Geena eram parcos, precisava do dinheiro que ganhara naquele dia para pagar as contas. Mas Trey também sabia que ela precisava sentir-se bem-sucedida. — Está bem. Nunca discuto quando alguém quer me pagar um jantar. — Ótimo. Geena deixou o dinheiro com a gorjeta na mesa e falou: — Vamos, vamos buscar Casey. Estou morrendo de saudade. — Também estou com saudade da sapequinha. Era estranho importar-se tanto com Casey, mas também parecia ser a sensação mais natural do mundo. Então estavam de volta ao tópico seguro, pensou Trey. Mas sabia que haviam ido além. Estava ficando cada vez mais difícil manter distância de Geena. E não tinha certeza se era isso o que queria. O horizonte estava vermelho como rubi. Estrelas começavam a pipocar no céu acinzentado. Geena estava na caminhonete ao lado de Trey. A presença máscula ficava ainda mais forte sem a presença de Casey. Não se sentia tão próxima assim de um homem desde a morte de Sam. O que a apavorava. Queria distância de Trey. Não amizade ou qualquer outro tipo de relacionamento. Após estacionar perto do hotel, ele falou: — Eu pensei em caminharmos até o quarto de Marian. Carregaremos Casey na volta. Assim não será preciso estacionar duas vezes.
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Leanna Wilson - Christmas in July Geena assentiu. Quando ele abriu a porta para descer, apressou-se em fazer o mesmo para que Trey não se sentisse obrigado a ajudá-la. Mas seus músculos reclamaram de dor. A troca do pneu fizera seus ombros, costas e pernas ficarem rijos e doloridos. Desceu vagarosamente e fez uma careta. — Você está bem? — Claro. Passou por Trey e quando já parava na calçada defronte ao quarto de Marian, sentiu mãos fortes em seus ombros. Abriu a boca para protestar, mas os dedos começaram a se mover vagarosamente em sua musculatura dolorida. Uma sensação de prazer fez com que suas palavras se tornassem um gemido baixo de aprovação. — Fique imóvel — sussurrou a seu ouvido, a respiração quente contra a sua pele. — Está com dor? — Sim. — Por ter cavalgado Starbuck? — Não. Da troca de pneu. — Ah, Geena, desculpe! As mãos fortes moviam-se pelos ombros em movimentos lentos e circulares. Era maravilhoso. Mas como poderia relaxar se ele a estava tocando e despertando sensações proibidas? Virou-se, decidida a agradecer rapidamente e se afastar. Era preciso pegar Casey e ficar longe daquele homem sedutor. Acabou por encará-lo diretamente nos olhos. Ele estava no piso do estacionamento, e ela, na calçada. Encontravam-se portanto com os rostos frente a frente e no mesmo nível. As bocas estavam a centímetros de distância. Ela não conseguia mover-se ou falar. Devia retroceder, mas como? Oh, realmente devia! Era um erro. Não devia acontecer. Mas estava ocorrendo. Sentiu-o aproximando-se, o olhar fixo em sua boca. Geena inclinou-se para trás mas foi amparada pela mão forte em sua cintura. Sentiu os joelhos bambos. Fazia tanto tempo que um homem não a olhava assim! Trey tocou-a no rosto tão suavemente que impediu nova reação. Então seus lábios cobriram os dela. A princípio o beijo foi delicado como uma brisa de verão. Os sentidos de Geena foram despertados pelo gosto másculo dos lábios dele. Dominada por um desejo incontrolável, insinuou a língua na boca dele, provocando-o, atormentando-se.
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Leanna Wilson - Christmas in July Naquele momento, esqueceu-se de tudo. Casey. Sam. Rodeios. Prestava atenção apenas em Trey e em como sua excitação se evidenciava deliciosamente. Sensações maravilhosas ofuscaram as dúvidas, e então ela soube, com a clareza de sua determinação, que desejava e precisava de Trey Mann. Mas tinha de lutar contra o desejo. Não podiam ficar juntos! Em um repente, empurrou-o pelos ombros. Trey soltou-a de imediato. Os olhos azuis estavam tão turbulentos quanto o mar durante uma tempestade. — Geena, eu... — Não devia ter acontecido — interrompeu-o. — Eu não planejei. — Eu sei. Nem eu. Apenas aconteceu. — Sim. — Exatamente. Fora tão ruim assim?, Geena indagou-se. Era mesmo errado envolver-se com Trey? Não conseguia pensar com clareza tendo-o tão próximo. — Vamos pegar Casey — sugeriu ele. Estendeu a mão e ajeitou uma mecha de cabelo de Geena. O toque foi um carinho delicado. Pela primeira vez, ficou imaginando se Trey vinha ajudando-a no decorrer do último ano movido por algo além da obrigação para com o falecido amigo. Geena caminhou diretamente para o quarto de Marian e bateu à porta. Ouviu crianças rindo e uma televisão ligada no interior. Quando Marian Wemple abriu a porta, cumprimentou-a, sorrindo. Segurava Casey no colo. A menina balançava as pernas e o nariz estava escorrendo. Três pequenos furacões corriam em círculo ao redor da mãe, gritando. — Olá, minha querida — disse Geena, preocupada. Casey estendeu-lhe os braços, mexendo os dedos em sinal de urgência. Lágrimas estavam prontas para escorrer por seu rosto. Marian colocou a menina nos braços de Geena. — Ela foi um amor. Geena limpou o nariz da filha e abraçou-a fortemente, arrependida de tê-la deixado ali. — Está pegando um resfriado? — Acho que sim — disse Marian. — Parem crianças, fiquem quietas!
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Leanna Wilson - Christmas in July Agarrou um dos filhos pelo braço e deu-lhe uma palmada no traseiro. — Já chega! Estou tentando conversar. Voltou à atenção a Geena, ignorando o pega-pega que imediatamente recomeçava. — Há um vírus por aqui, mas Casey ficará boa em alguns dias. — Oh, não! — exclamou Geena, pressionando a mão na testa da filha. — Ela está um pouco quente. — Não há com o que se preocupar. — Tem certeza? — Trey perguntou. — Depois que se tem filhos, acostuma-se com isso. Confie em mim, ela ficará bem. Os meus estão sempre com o nariz escorrendo ou tossindo. Geena franziu a testa, cada vez mais preocupada. Casey nunca ficara doente. Se adoecera, então era culpa sua por deixá-la entre tantas crianças desconhecidas. Seu próprio orgulho ficara no caminho, fazendo-a abandonar a ajuda de Trey. Por que fizera aquilo? Ele fora tão bom para Casey. Quando deixara a menina a seus cuidados, nada de errado acontecera. Marian provavelmente era uma babá muito competente, mas atarefada demais. Casey respirava com certa dificuldade, e seus olhos estavam vermelhos. Preocupada, Geena beijou a testa quente da menina e abraçou-a mais fortemente. Percebeu que sua filha precisava de seus cuidados. Nada importava a Geena naquele momento: rodeio, dinheiro, contas. Apenas o bem-estar de Casey. — Não se preocupe, querida, mamãe cuidará de você. Sorriu para Marian. — Obrigada por ter cuidado dela. Apreciei muito. — Quando precisar, conte comigo — Marian falou, acenando ao fechar a porta. Geena virou-se para Trey. Antes que pudesse falar, ele perguntou: — Quer voltar agora? Assentiu, prestes a chorar. Não queria ficar na estrada com uma criança doente. Gostaria de estar em casa, perto do telefone caso precisasse conversar com sua mãe ou com o médico. — Está bem, está bem — Trey falou, lutando contra o pânico crescente que sentia. — Cuide de Casey e eu colocarei Starbuck no trailer. Partiremos em trinta minutos.
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Leanna Wilson - Christmas in July — Não precisa voltar conosco, Trey. Você terá uma prova esta noite. Perderá dinheiro. — Você também. Mas não deixarei que dirija de volta sozinha e com uma criança doente. — Mas... — Não. Encarou-a até Geena aquiescer. Trey acompanhou mãe e filha ao quarto. Em seguida, foi buscar Starbuck. Seu coração disparava, e a cabeça latejava de preocupação. Não sabia como cuidar de uma criança doente, mas certamente deviam ir para casa. Casey chorou durante a maior parte do caminho, e Trey cantou-lhe o refrão de Amarillo by Morning vezes e vezes, esperando que a menina adormecesse. Chegou a ficar afônico, mas em vão. Conforme os quilômetros passavam e a temperatura de Casey subia, ele olhava com mais freqüência da estrada para Geena, séria e imóvel. — Desculpe, Trey. — Casey está doente, e nada é mais importante. — Mas você perdeu a competição. Sinto-me muito mal por isto. — E daí? — indagou, atônito por Geena até mesmo imaginar que fosse algo a ser considerado. — Haverá outros rodeios. — Mas você poderia ter ficado e apanhado uma carona com outra pessoa. Aposto que Daria se ofereceria. — Não importa. Não havia qualquer motivo para eu ficar. — Nem mesmo Daria? — Nem mesmo Daria. Casey começou a espirrar e a tossir. A preocupação de Geena aumentou, ampliada pelo fato de ser uma mãe viúva, sem ter com quem dividir a responsabilidade. Mas intimamente em seu coração sabia que não estava só. Trey a acompanhava. Sua presença confortava-a, e ele a surpreendera ao colocar Casey em prioridade frente a um rodeio. O longo trajeto para casa deu-lhe tempo para pensar e constatar que se enganara a respeito dele. Uma esperança começou a nascer dentro de seu coração. Talvez pudesse haver futuro para os dois. Era até possível que Sam tivesse antecipado quanto Trey seria bom para ela, e talvez não se importasse com aquela união.
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Leanna Wilson - Christmas in July As palavras de Trey ecoavam em seus ouvidos: "Casey está doente, e nada é mais importante". Ficou imaginando como Sam agiria naquela situação. Teria abandonado a competição? Então recriminou-se por ser injusta com o ex-marido. Naquele momento, olhando para a filha ardendo em febre, sabia, mais do que nunca, que nada era mais importante do que Casey. Nem mesmo a fazenda, Starbuck, ou a vitória em um rodeio. Colocara os rodeios acima da filha. Elegera em primeiro lugar as próprias necessidades, não se importando com o modo como isso afetaria Casey. A culpa torturava seu coração. Então Geena percebeu que estivera correndo em disparada no decorrer do último ano, tentando garantir uma estabilidade financeira mínima para si e a filha. E no mês anterior decidira retomar a carreira no circuito de rodeios na esperança de encontrar um futuro, de ter uma vida melhor e poder sustentar seu lar conforme desejava. Talvez pudesse mesmo. Mas a que custo? Percebeu que estivera presa ao passado, quando, na verdade, queria dar um passo para o futuro. Sabia apenas que precisava caminhar. Mas para onde? Pouco depois da meia-noite, Trey estacionou diante da casa da mãe de Geena. Respondeu ao olhar questionador, dizendo: — Achei que você gostaria da ajuda de sua mãe. Geena sorriu, o coração transbordando de gratidão. — Obrigada. — De nada. Deu a volta no carro e ajudou-a a descer com Casey. Colocou a sacola cor-de-rosa no ombro e foi para o trailer. Assim que Maggie abriu a porta, Geena galgou os degraus com a filha nos braços. Trey sentia-se prestes a explodir de preocupação. — Casey está doente — disse ele, tenso. Maggie arregalou os olhos, aflita. — É mesmo? — Acho que é um resfriado — Geena explicou. A senhora estendeu os braços. — O que há de errado com meu bebê? — Está com febre, espirrando e tossindo.
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Leanna Wilson - Christmas in July — Bem, não entre em pânico — disse Maggie. — Criei seis filhos. Sei como cuidar de um resfriado. Venha com a vovó, Casey. Deixe sua mamãe descansar agora. — Ma-mãe — disse a menina com os olhos vermelhos e lacrimejantes. Sorrindo para confortar a filha, Geena falou: — Estou aqui, Casey. — Aqui está Bucky — disse Trey, oferecendo-lhe o urso. O olhar de Maggie migrou de Geena para Trey. Finalmente deu um passo para trás, abraçando a neta. — Entrem, vocês dois. — Vou tirar suas coisas da caminhonete — Trey falou, dando um beijo no nariz vermelho de Casey. — Cuide-se, sapeca. E sare logo. Enquanto ele descarregava a bagagem, Geena procurava alguns remédios, e Maggie cuidava da neta. Quando Trey chegou com a última mala, hesitou à porta, metendo as mãos nos bolsos. — É melhor eu ir para casa. — Não precisa ir — disse Geena, desejando que ficasse. — É tarde. Você poderá se acomodar no sofá. — Não. Já está com problemas demais. Eu atrapalharia. — Bem, se quiser ficar, será bem-vindo. Detestava vê-lo partir. Durante a noite, Trey fora como uma rocha, sustentando-a. Era bom ter alguém em quem confiar. — Levarei Starbuck para minha fazenda — disse ele. — Eu o instalarei por lá até você ter tempo de buscá-lo. — Mas será muito trabalho, Trey. Não posso deixar que faça isso. — Pode sim. E deixará. — Ajustou o chapéu. — E se Casey estiver bem no próximo final de semana, iremos ao rodeio Mesquite. Você adoraria estar no rodeio de quatro de julho! Geena não contestou. Trey virou-se, mas ela o deteve, colocando a mão em seu braço. — Trey... obrigada por tudo. Ele cobriu-lhe a mão com a sua. — Apenas faça com que Casey sare. — Farei. Retrocedeu alguns passos rumo à caminhonete e partiu. Insegura, Geena franziu a testa. Sentia-se um tanto perdida sem Trey.
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Leanna Wilson - Christmas in July CAPÍTULO IX Trey abriu a porta com cuidado para não acordar Kirk e Shannon. O piso rangeu a cada passo hesitante. Na escuridão, o luar oferecia alguma ajuda, entrando pela janela distante. Sentia-se como um ladrão embora estivesse entrando em seu próprio lar. A meio caminho do escritório, percebeu que aquele não era seu lar. Nunca fora. Melancólico, notou que não tinha um lugar para chamar de lar. E a solidão parecia mais forte por estar separado de Geena e preocupado com Casey. Localizou a cadeira que fora de seu avô, acomodando-se nas almofadas macias. Veio-lhe a imagem de braços delicados, boca ansiosa e corpo curvilíneo. Fechou os olhos e pensou no beijo que dera em Geena. Pouco a pouco suas pálpebras e foram se tornando pesadas. Um ruído nos fundos da casa despertou-o. Tenso, Trey levantou e foi para o corredor. Esbarrou em um corpo esguio e firme, mais alto do que o seu. — Kirk! — Trey? É você? Kirk acendeu a luz. — Já voltou? — Sim. O que aconteceu? — É Shannon. Ela está com vontade de tomar sorvete de chocolate com manteiga de amendoim. Trey gargalhou. — Em breve isto vai acabar, e você será papai! Trey sentiu inveja por seu irmão ter uma família que o amava, um lar. Pensou imediatamente em Geena'. — Como está Shannon? — Melhor. Aconteceram muitas coisas por aqui. Na noite passada ela me acordou dizendo que estava em trabalho de parto. — O quê? Mas ela não deverá dar à luz daqui a três semanas? — Quatro. Fiquei apavorado. — Mas e então... o que aconteceu? — Eu a levei para o hospital imediatamente. Era um falso alarme, mas o médico disse que o bebê poderá nascer a qualquer momento. Ela tem de ficar em repouso absoluto. Não pode levantar para nada além de ir ao banheiro. — Por quanto tempo?
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Leanna Wilson - Christmas in July — Até a chegada do bebê. Trey engoliu em seco, percebendo que o irmão passara por maus momentos. Sabia quanto Kirk amava Shannon. Levou um segundo para tomar uma decisão. Era difícil, mas sabia que estava certo. — Acho que você precisa de ajuda. — Daremos um jeito — disse Kirk. — Esta é a melhor temporada de rodeios para se ganhar dinheiro. Você não pode perder o Natal dos cowboys. — Claro que posso. Ficarei para assumir as tarefas da fazenda. E você cuidará de sua mulher. — Empurrou Kirk para a cozinha. — Já está decidido. Vá buscar sorvete e o que mais Shannon desejar. Ela está gerando seu bebê e merece o melhor. Durante os dias seguintes, observou Kirk ao lado de Shannon, cozinhando para os três, lavando a roupa, limpando a casa e penteando os longos cabelos da esposa. Sempre mostrava-se alegre e com um sorriso no rosto. A única pista de que Kirk estava nervoso era sua gagueira ocasional. Já as emoções de Shannon estavam à flor da pele e vez e outra resultavam em um acesso de choro. Enquanto isso, Trey ficava fora do caminho, encontrando tarefas para ocupá-lo no celeiro e no estábulo. Mas não podia bloquear a imagem de seu irmão abraçando a esposa e murmurando palavras de encorajamento, dizendo que ela e o bebê ficariam bem. Um confortava o outro, e o amor os sustentava. Trey encontrou seu lar no celeiro. Com freqüência pensava em Geena, sentia saudade e se preocupava com ela. Com Casey também. Havia telefonado e conversado com Maggie, sabendo que a menina estava melhor e logo se recuperaria do resfriado. A cada manhã, Kirk lhe agradecia por estar dividindo as responsabilidades da fazenda e cuidando de todos os afazeres. Mesmo durante o trabalho, Trey pensava em Geena e avaliava os próprios sentimentos. Contemplava a razão de ter se sentido traído quando Marian tomara conta de Casey em seu lugar. Geena não precisava que ele cuidasse de Casey, ajudassea com a casa, desse-lhe dinheiro ou a levasse para os rodeios. Como mulher independente, era capaz de fazer tudo sozinha. Mas o orgulho e teimosia dele não quiseram admitir isso.
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Leanna Wilson - Christmas in July Desejara fazer-se útil. Queria que Geena e Casey precisassem de sua ajuda, e o simples fato de não dependerem dele deixava-o sem um propósito na vida, sem esperança. Fiel a sua palavra, Trey acompanhou Geena ao rodeio Mesquite na semana seguinte. A noite do dia quatro de julho estava quente e agradável. Perfeita para piqueniques e fogueiras. Geena observou a participação de outra competidora da prova de tambores. O galope do cavalo gerava uma nuvem de poeira. A moça fez a terceira curva perto demais e bateu em um tambor. Não fora uma boa prova. Geena sentia a expectativa enchendo-a de energia. Queria vencer. Vencer Daria. Ganhar o prêmio em dinheiro. Seu estômago doía. Chegou a hora, e ela montou Starbuck. O relógio seria acionado quando ela rompesse a barreira. Precisava de uma boa pontuação para superar Daria, que ficava, normalmente, em primeiro lugar. Empurrou para trás o chapéu de cowboy e deu um tapinha no pescoço do cavalo. — Está pronto, garoto? Vamos! O animal sentiu sua excitação. Relinchou e ficou agitado. Geena acalmou-o, falando baixinho e puxando firmemente as rédeas. Quando estava tranqüilo, ela estalou a língua contra o céu da boca e fez o animal disparar. O trajeto transcorreu suavemente. Embora Starbuck soubesse de cor o trajeto, Geena primeiramente o fez rodear um tambor, então foi em linha reta para o segundo e depois até o mais distante. Ansiosa pela linha de chegada, instigou Starbuck a correr cada vez mais rápido. Seu chapéu escapuliu do cordão que o prendia ao pescoço no instante em que ela cruzava a linha de chegada e ouvia os gritos da audiência. A arquibancada vibrava com os aplausos estrondosos. Mesmo sem o encorajamento da platéia, sabia que se saíra bem na prova. Mas teria sido o bastante? Quando o tempo de seu percurso apareceu no placar, os espectadores exclamaram em uníssono a satisfação pelo resultado. Ela havia superado o tempo de Daria. Mas ainda teria de aguardar que outras três competidoras se apresentassem antes de sua vitória tornar-se oficial. Com o coração leve, conduziu Starbuck, deu-lhe água fresca e acarinhou-o. Procurou pela filha. Casey se recuperara do resfriado e parecia deliciada em estar com Trey. Ria e
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Leanna Wilson - Christmas in July gritava. Trey também estava encantado. Piscava e lhe fazia gracejos, parecendo não se importar quando Casey babava. — Obrigada, Trey. — Sem problemas. Bem... há algo que você devia saber antes... Naquele instante o apresentador da prova aumentou o volume do microfone, e Geena ficou atenta. — ...e daria tem um coração de ouro, assim como boa parte dos cowboys que estão participando do circuito. Geena arregalou os olhos, imaginando o que teria acontecido. Transferiu a alça da sacola cor-de-rosa de Casey do ombro de Trey para o seu. — Daria fará um pronunciamento, camaradas. O apresentador estendeu o microfone à moça que jogou os longos cabelos loiros para detrás dos ombros. — Olá — disse com sua voz estridente, fazendo o sistema de som apitar. — Desculpem — acrescentou em tom mais suave. — Bem, eu não posso levar o crédito por isto. Trey Mann é, na verdade, o responsável. Confusa, Geena o encarou. Em seguida, subiu na amurada para ver melhor a arena. Lá estava Daria ao lado do apresentador, o sol refletindo nos cabelos loiros. — Geena — Trey falou, tentando atrair-lhe a atenção. Ela ergueu a mão, ordenando que aguardasse. Gostaria de ouvir o que Daria tinha a dizer. — Apenas um ano atrás — a voz de Daria ficou rouca —, o rodeio perdeu um dos seus mais hábeis peões. Geena sentiu um arrepio de apreensão. — Sam Allen era um dos melhores cowboys da prova com touros. Um grande cowboy e um cavalheiro. A arquibancada silenciou completamente. Geena engoliu em seco. — Quando ele morreu, deixou esposa e um filho que ainda não nascera. Sua mulher acabou de voltar ao circuito de rodeios, na prova com tambores, e sua filha atualmente tem um ano de idade. Nós que conhecemos Geena e sua linda Casey nos unimos e angariamos dinheiro para ajudá-las. Geena — Daria ergueu o tom de voz —, você pode vir aqui? Geena enrubesceu ao sentir centenas de olhares se voltando para ela, amigos de rodeio que a conheciam e que haviam lhe doado o dinheiro tão duramente obtido. A humilhação parecia sal em uma ferida.
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Leanna Wilson - Christmas in July Fuzilou Trey com o olhar. Algo que não podia ler cintilava nos olhos azuis, mas ela não se importou com o significado. Agarrou sua filha do colo dele. — Vá até lá, Geena — um cowboy nas proximidades pediu. Com relutância ela se dirigiu para o pequenino palco, o coração batendo mais forte a cada passada. Daria prosseguia com o discurso repleto de palavras caridosas. — Geena é uma lutadora de verdade. É difícil a vida na estrada, e ela está com um bebê! Cowboys não ganham muito dinheiro, e seu marido deixou-lhe pouco. Mas ela tem lutado valentemente, e estamos muito orgulhosos de seu desempenho. Aqui está ela, meus amigos! A audiência começou a bater palmas quando Geena galgou o primeiro degrau. A musculatura de seu pescoço estava rija e as mãos trêmulas. — Geena — disse Daria, estendendo-lhe um envelope volumoso —, você gostaria de dizer algumas palavras? Ela declinou com um gesto de cabeça. Seus olhos ardiam, e a cabeça latejava. — Acho que Geena está prestes a chorar, companheiros. Sei que tudo isto é muito emocionante para ela. Parece que nossa surpresa funcionou. Mas conforme eu disse, este feito não é meu. Todo o crédito é de Trey Mann. Quando os aplausos cessaram, Geena engoliu o orgulho e agradeceu a Daria com a máxima dignidade que pôde reunir. A raiva lentamente foi se transformando em fúria. Desceu os degraus e voltou ao local onde estava o homem generoso que conseguira humilhá-la diante de todo o circuito de rodeios. Por acaso não sabia como era importante que ela vencesse com o próprio esforço? Não compreendera seus motivos para rejeitar caridade? Estaria tentando provar que não era capaz de cuidar de si mesma nem da filha? — Como pôde? — indagou, a voz trêmula. Casey começou a chorar, e Geena ajeitou a menina nos braços, sem deixar de fitá-lo, porém. Trey arregalou os olhos, como que surpreendido com sua raiva. — Geena, eu pensei... — Pensou errado. Não ouviu o que eu lhe disse na outra noite? — Ouvi — respondeu, pegando-a pelo braço para que se distanciassem da audiência. — Para onde estamos indo?
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Leanna Wilson - Christmas in July — Cale-se! Foram para o estacionamento, para longe da curiosidade alheia. Geena sentia-se traída em uma amizade na qual começara a confiar. Quando alcançaram a caminhonete, disse: — Eu expliquei por que detesto caridade. Pensei que você tivesse entendido. — Eu achei que o problema era comigo. Pensei que você se ressentisse de minha caridade. Imaginei que fosse aceitar a ajuda dos outros com mais facilidade. Todos aqui se importam com você, Geena, e com Casey. Nós tomamos conta de nossa gente. Sempre foi assim e sempre será. Ela continuava a encará-lo com fúria. — Eu lhe paguei um jantar certa vez, e você me retribuiu quando ganhou. Não foi caridade. É o código. Achei que soubesse disto. — É isto o que sou para você? Um código? Uma obrigação? — Não. Esqueça seu orgulho por um minuto, Geena. A doação foi um sinal de respeito. Você não é a primeira a perder o marido. E não é a primeira a receber um donativo em dinheiro. Certamente não será a última. Nós ajudamos uns aos outros. — Eu compreendo, está bem. Mas é apenas outra forma de caridade. Outra desculpa para você me dar o que pensa que eu não consigo obter sozinha. — Está enganada. — Estou mesmo? Não acho. Eu confiei em você, Trey. E você traiu esta confiança. Ou o fantasma de Sam é mais importante para você do que eu sou? Os dedos de Geena tornaram-se esbranquiçados quando ela apertou com força o ursinho Bucky. Queria, na verdade, torcer o pescoço de Trey. Então respirou fundo. Talvez devesse mostrar apreciação, mas realmente queria alcançar seus objetivos com méritos próprios. Era um pecado? Sentia-se como uma pedinte com a mão estendida. A expressão de Trey também era de raiva. — Eu estava apenas tentando ajudar, Geena, e não por causa de Sam, meu melhor amigo, nem em razão da promessa que fiz. Tampouco achei que você precisasse de caridade. Eu quis ajudar porque me importo com você. Suspirou pesadamente, olhando para o horizonte.
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Leanna Wilson - Christmas in July — Eu a considero uma amiga, talvez mais. E amigos fazem isto um para o outro. Chama-se dar e receber. Mas obviamente você não sabe lidar com uma situação destas. E é também evidente que não me considera... Parou de falar subitamente. — O quê? — perguntou Geena, sentindo um aperto no peito. — Nada. Não importa mais. Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa ou até mesmo coordenar os pensamentos, Trey girou nos calcanhares e começou a se afastar. — Pa-pai! — Casey gritou, estendendo a mão para ele. — Pa... Atônita, Geena olhou para a filha. Normalmente ignorava as sílabas que a menina pronunciava. Mas a clareza da palavra assustou-a. — Pa-pai — Casey repetiu, o lábio inferior trêmulo. O coração de Geena se despedaçou. "Continue andando!", Trey ordenou-se, não querendo escutar Casey, mas não agüentou e virou-se. Quando viu os braços da garotinha estendidos em sua direção, não pesou as conseqüências. Transpôs a distância que os separava e tocou nos pequeninos dedos. Ela riu. A mão quente e úmida pousou em seu rosto. O olhar de Trey colidiu com o de Geena. Percebeu que ela pensava no falecido marido. Casey devia estar chamando Sam daquela maneira. Não a ele. Sentiu culpa. Talvez se ignorasse a doce palavra, conseguisse enfraquecer o impacto. — Está tudo bem, Casey — disse ele, tomando-a dos braços da mãe. — Trey está aqui. — Tey! Bucky! Sentiu um aperto no peito. Vagarosamente fitou Geena, que estendia à filha o ursinho de pelúcia, o olhar ainda fixo em Trey como se houvesse visto um fantasma. Estava pálida, os olhos arregalados. Trey engoliu a mágoa. Havia muito a ser resolvido entre os dois. Geena tinha tanto a aprender, e talvez nunca viesse a entender a promessa que ele fizera a Sam. Uma promessa que sempre ficaria entre eles. Ela estendeu as mãos para pegar Casey de volta mas acabou deixando os braços penderem na lateral do corpo. — Trey, eu... Parecia inquieta. Trey aguardava. Olhava de Geena para Casey e então novamente para Geena. A semelhança entre mãe e filha aumentara ao longo daquele ano, desde o formato
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Leanna Wilson - Christmas in July do nariz até o formato das maçãs do rosto. E a ligação dele com ambas se intensificara também. Trey então percebeu que deveria ter ficado distante, deixado-as a sós, mas já era tarde demais. Fazia parte da vida das duas e vice-versa. Não poderia voltar a ser um espectador e talvez não quisesse. — Pa-pai — Casey repetiu. Trey pigarreou. Geena deu um pulo. — Bem... bebês fazem isto — justificou encabulada. — O quê? — Falam coisas assim. É... bem, um dos primeiros sons que emitem. Trey assentiu, não acreditando que Casey houvesse falado as duas sílabas por acaso. Entendera muito bem a palavra "papai". E essa palavra, saída dos lábios de Casey para ele, afetava-o imensamente. Ela precisava de um papai. A ansiedade de Casey o perturbava. Desejava poder ser mais para a menina além de babá. Queria ser mais para a mãe dela também, mas sabia que Geena ainda sentia-se ligada a Sam. Vislumbres dos beijos breves porém íntimos passaram por sua mente. Recordou-se da suavidade dos lábios de Geena, do gosto doce de sua boca e das curvas sensuais dos seios pressionados contra seu peito. O melhor a fazer, constatou, era distanciar-se de Geena e Casey. Mas um sentimento mantinha-o em pé a menos de um passo de distância. Não era uma promessa. Era amor. — Como ele se saiu? — Maggie Thompson indagou, sentada à mesa da cozinha. — Quem? — Geena perguntou, sabendo perfeitamente a quem a mãe se referira. Tirou Casey do cercado e deu-lhe um beijo rápido na testa antes de deixar a menina livre para explorar o ambiente. A expressão no rosto de Maggie dizia que sabia qual o jogo da filha. — Como Trey se saiu como babá? — Melhor do que eu pensava. — É mesmo? Então conte-me tudo o que aconteceu — pediu, fazendo cócegas na neta. Geena enrubesceu ao lembrar-se dos beijos de Trey. Percebeu o olhar de curiosidade da mãe e colocou mais açúcar no café. — Aconteceu pouca coisa. Apenas o normal.
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Leanna Wilson - Christmas in July A mãe emitiu um inusitado muxoxo e não fez mais perguntas. Foi brincar com Casey, erguendo-lhe a camiseta e beijando sua barriguinha. — Sabe, você tem estado extremamente calada a respeito de Trey. E não vai demorar para ele ser titio — acrescentou Maggie. Levantou-se e passou a ajudar a neta a dar seus passos titubeantes. — Será uma boa prática para ele. — Para quê? — Geena perguntou, perdendo o rumo da conversa. — Para quando for pai. — Não acho que Trey tenha tais planos, mamãe. — Oh, eu não teria tanta certeza. Acho que será um pai maravilhoso um dia. Você não acha? Pareceu tão à vontade com Casey, tão preocupado com seu bem-estar. Desconfortável com o rumo da conversa, Geena deu de ombros em resposta. — Bem, foi você quem o viu lidando com Casey — ponderou Maggie, olhando da neta para Geena. — Não falou que ele fez um trabalho maravilhoso? — Disse que se saiu bem, o que não significa que vá ser um bom pai. — Sei que ele e o irmão têm reputação excelente no circuito de rodeios. E Kirk formou uma família e está muito bem. Aposto que Trey seguirá o mesmo passo — palpitou Maggie. — Como sabe? — Bem, você mesma pode dizer. Perturbada com a persistência da mãe, Geena falou: — Como? — Ora, ele é divertido, amoroso, paciente... tem muitas qualidades para ser um bom pai. E terá bastante prática por causa do bebê de Shannon. — Ainda demorará algumas semanas — Geena falou. — Ela só deverá ter a criança... — Será mais cedo do que isto. Tem havido complicações. Aposto que Shannon terá aquele bebê antes do final da semana. — Eu não sabia! Trey nada dissera na noite anterior. Geena ficou inquieta. Podia identificar o que provavelmente Shannon estava sentindo. O medo. A incerteza. E nem pensara em perguntar como ela estava. Ou Kirk. Ou até mesmo Trey.
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Leanna Wilson - Christmas in July Estivera tão concentrada nas preocupações com Casey, tão furiosa com o "presente" de Trey que se esquecera das outras pessoas. — O que aconteceu? Maggie explicou as exigências de repouso de Shannon, então terminou dizendo: — Eu pensei em levar alguma coisa para lá hoje, para o jantar. O que acha? — Boa idéia. Eu a ajudarei, posso levar tudo até lá. — Será uma grande ajuda. Geena considerou as possibilidades. Poderia levar a comida conforme a mãe sugerira, mas não ficaria na fazenda deles. Por outro lado, com dois homens, dois cowboys em casa, provavelmente a residência precisava de uma boa limpeza. Ela também poderia conversar com Shannon e talvez tranqüilizá-la Até mesmo poderia ser capaz de ajudar a terminar a decoração do quarto do bebê. O que fosse preciso, faria. A tarde passou rapidamente. Geena e a mãe ficaram na cozinha preparando doces e salgados. Quando tudo finalmente estava pronto, colocaram os alimentos na caminhonete. — Por que não deixa Casey aqui? — Maggie sugeriu, estendendo-lhe uma panela cheia de carne com legumes. — Ela está dormindo profundamente. Geena contemplou a cabina lotada e concordou. — Talvez seja melhor, até eu descarregar tudo isto. Voltarei logo. — Não se preocupe. Geena pegou a estrada com o coração aos saltos e sentindo-se mais leve. Pela primeira vez em muito tempo, concentrava-se nas necessidades de alguém além dela e Casey. O sol poente ainda deixava a temperatura alta. Apesar de o ar-condicionado estar em intensidade máxima, ela baixou o vidro das janelas. Entrou no rancho dos Mann e avistou a caminhonete de Trey estacionada mais adiante. Parou ao lado. A sombra do velho carvalho era acolhedora. Levou consigo apenas a panela com o guisado ainda quente e subiu os degraus da varanda. Ninguém respondeu quando ela bateu à porta. Geena esperou, então espiou por entre as cortinas. Nenhum movimento. Parecia que ninguém estava em casa.
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Leanna Wilson - Christmas in July Colocou a panela em um balanço de madeira, olhou para a caminhonete de Trey e imaginou que ele tinha de estar por perto. Caminhou em direção ao estábulo. A cada passo, a incerteza roubava sua resolução. Talvez devesse ter telefonado antes. Não aprendera no decorrer do último ano? Nada a aborrecia tanto quanto o fato de Trey nunca telefonar antes de aparecer em sua casa. Chegava nas horas mais inconvenientes, alegando que viera para consertar algo. Claro, admitia, mesmo que tivesse telefonado, ela o teria afastado. A porta do estábulo estava aberta, e Geena ouviu o som distinto de marteladas. Deu um passo para dentro e aguardou que seus olhos se habituassem à diferença de luminosidade. Embora a lâmpada estivesse acesa, seu brilho era tênue se comparado ao do sol poente. Avistou Trey colocando um prego na parede. Usava uma calça jeans justa. A visão do torso nu e bronzeado era estonteante. — Então você está aí! — gritou, animada. O martelo bateu no polegar dele. — Droga! — Trey exclamou e se virou. A raiva deu lugar a um brilho suave nos olhos azuis. — Desculpe. Eu não quis assustá-lo. Ele levou o polegar à boca, balançou a cabeça e deu de ombros. — Já sofri acidentes piores. Ergueu casualmente o martelo. Geena ficou olhando para o peito largo. Os pêlos, escuros e densos, faziam um trajeto sensual até o cós da calça jeans. Ele tossiu, fazendo Geena desviar a atenção da cintura para o rosto sorridente e, com expressão matreira, perguntou: — Para que veio aqui, Geena? Ela engoliu em seco. Por um instante não conseguia se lembrar do motivo, mas instintivamente sabia que era certo estar ali. Com ele. Tudo o que queria era passar os dedos pelo peito dele, aproximar-se de Trey. Mas então, subitamente, lembrou-se. — Shannon. Ele arqueou as sobrancelhas. — Shannon. Soube que sua cunhada está tendo problemas. Por isto vim até aqui. Como ela está? — Entrou em trabalho de parto esta manhã. — Oh, não! Os médicos estão preocupados?
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Leanna Wilson - Christmas in July — Cautelosos. O bebê será prematuro. Kirk está transtornado. Geena não sabia o que responder. O que poderia dizer? "Todos ficarão bem"? Como podia saber? Alguns amigos haviam dito isso a ela poucos minutos após o acidente de Sam, e ele morrera. Não podia oferecer esperança falsa a alguém. Em vez disso, aproximou-se de Trey. Quando o tocou no braço para lhe oferecer conforto e apoio, uma espécie de corrente elétrica percorreu-a de alto a baixo. — Kirk provavelmente apreciaria seu apoio no hospital — Geena falou, a voz rouca. Trey assentiu. — Eu tentei, mas ele me mandou para casa. Há muitas tarefas a serem feitas, e não estou habituado a ficar parado. Kirk está na sala de parto com Shannon, e não sairá do seu lado. E, francamente, eu não o culpo. — Bem, eu estou aqui caso precise de mim. — Aprecio seu gesto. Shannon ficará bem. Assim como o bebê. Telefonei para o hospital há pouco, mas ainda não há novidades. Ela ainda está em trabalho de parto. — Por que você não volta ao hospital? Terminarei aqui para você. Farei o que precisar. — Não posso deixá-la fazer isto. — Claro que pode — disse, tirando o martelo de sua mão. — Geena. Havia um tom de advertência em sua voz. Ele pegou a ferramenta de volta. — Posso lidar com isto sozinho. Geena observou-o por um instante, imaginando que emoções estariam gerando aquela atitude. Certamente medo, o que era natural. Ela mesma havia experimentado aquela sensação terrível no decorrer do último ano. Não era bom suprimir esses sentimentos, mas não conseguiria fazer com que Trey desabafasse. — Bem, vou para a casa então. Aposto que Shannon apreciará uma casa limpa quando voltar com o bebê. — Geena, a casa está ótima. Nós estamos bem. Trey parecia menos determinado. Sentindo-se insegura por presenciar emoções fortes em um homem tão durão, ela riu, tentando diminuir a tensão. — Com dois homens morando ali? Duvido que a casa esteja limpa.
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Leanna Wilson - Christmas in July Girou nos calcanhares, dirigindo-se para a casa. Provavelmente a porta dos fundos estaria aberta. — Deixarei a comida na cozinha. Trey segurou-a pelo braço e a fez virar-se em sua direção. — Como? Uma tempestade emocional desfigurava-o. Geena ficou boquiaberta. Não esperara uma reação tão forte. Normalmente Trey era controlado e racional. — Falo da comida que mamãe e eu preparamos para vocês. Achamos... — Aprecio sua atenção — interrompeu-a. — Mas não precisamos de ajuda. Daremos um jeito. Por acaso Geena não lhe dissera o mesmo milhares de vezes antes? Ela nunca aceitara nada, e ele não aceitaria agora. Quisesse ou não, precisava de seu auxílio. Assim como Kirk e Shannon. Durante um ano, Trey fizera o possível para ajudá-la. Mesmo assim, não era capaz de aceitar uma pequena gentileza sua quando a própria família necessitava. Geena soltou-se dos dedos dele, aborrecida. — Qual o problema, Trey? Você pode ser caridoso mas não aceita caridade? É isto? — Não, não é. — Então o que é? — Deixe para lá, Geena. Apenas vá para casa. CAPÍTULO X Geena retrocedeu alguns passos, confusa. Teria exagerado em sua reação? Talvez Trey precisasse ficar um pouco sozinho, ou também não apreciasse caridade. Se fosse o caso, então teria de ser compreensiva. — Não irei embora. Há algo a respeito de Shannon que eu não saiba? — Eu lhe contei tudo. Ela está em trabalho de parto. O bebê será prematuro mas, se Deus quiser, ambos ficarão bem. Nada podemos fazer agora a não ser rezar. Geena assentiu, o alívio substituindo a raiva diante da rejeição de Trey em aceitar a comida que trouxera. — Então o que é? Ele baixou a cabeça. .
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Leanna Wilson - Christmas in July — Trey, colocarei em sua cozinha a comida que mamãe e eu preparamos durante todo o dia. Depois vou arrumar a casa e... — Não, não vai. — Por que não? — Porque você não tem muito a dar. — Eu ainda não estou em um albergue! Não com toda a caridade que recebi no último final de semana. — Por que você pode oferecer caridade e eu não? — Trey perguntou. — Por que eu tenho de aceitá-la se você não aceita? — Como assim? Eu recebi muito de você. E o dinheiro da semana passada... está na gaveta da minha cômoda. — Toda a humilhação e ira afloraram. — Eu não tive escolha, Trey. Você não permitiu que eu dissesse "não". Simplesmente continuou fazendo e fazendo. Mesmo quando eu não queria que você estivesse ali, mesmo quando eu quis acreditar que poderia conseguir sozinha, mesmo quando eu precisei acreditar nisto. Ela estava agitada demais, incapaz de se conter. — Você sempre esteve ali, no caminho, impedindo que eu salvasse meu orgulho. Fazendo com que eu continuasse dependendo de você. Distanciando-me de... Parou de falar. O gosto amargo da raiva a sufocava. Devia ter deixado o assunto no passado. E simplesmente perdoado Trey. Naquele momento, constatou que este era o único empecilho existente entre os dois. Não era Sam, nem sua memória, tampouco o sentimento de culpa. Evitando o olhar de Trey, deixou que uma lágrima escorresse por seu rosto. — Distanciando-a de quem? — indagou atônito. Ela balançou a cabeça. Não queria falar. Não poderia encarar os fatos. Trey segurou-a pelos ombros e puxou-a em sua direção. Geena o fitou através da cortina de lágrimas. Ele também estava abatido, parecia triste. — Conte-me, Geena. Eu a distanciei de quem? — Sam. Trey arregalou os olhos e soltou-a. — O quê? Os lábios dela tremiam. Geena fechou os olhos. Dois braços fortes abraçaram-na, puxando-a de encontro a um peito sólido.
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Leanna Wilson - Christmas in July — Por Deus, Geena, eu nunca quis magoá-la. Por favor, diga-me o que eu fiz. Como me coloquei entre você e Sam? Foi quando eu a beijei? Ela soluçou contra o ombro de Trey, querendo permanecer no abraço reconfortante. — Não — balbuciou. — Na noite em que Sam morreu, você me impediu de chegar até ele. Não me deixou vê-lo. Abraçá-lo. Dizer pela última vez que eu o amava. Geena cerrou os pulsos contra o peito de Trey. Já havia começado o desabafo; não poderia parar. — Eu precisava dizer a Sam que cuidaria de nosso filho. Nosso bebê. Eu queria que ele soubesse... antes de morrer. Trey ficou em silêncio. Simplesmente abraçou Geena com mais força, acariciando-lhe as costas. Em um ímpeto, ela havia descarregado o fardo, contando a verdade. O desabafo libertava-a mas aprisionava Trey. Sam se fora. Restava apenas um atitude impensada que nunca poderia ser consertada. Geena encarou-o, arrependida de tudo o que falara. Ele a fitava solenemente, a expressão de profunda dor. Lentamente ela tocou-o no rosto. Magoara-o com suas palavras assim como Trey a machucara com sua atitude. Não fora essa sua intenção. Envergonhou-se. Sentia a dor de Trey como se fosse sua. Que fardo colocara naqueles ombros largos? O que ele poderia fazer a respeito? Então notou que algo mudara nos olhos de Trey. Não sabia o que era, mas sentia como uma corda de amor atando seu coração ao dele. Naquele momento, Geena queria apenas abraçá-lo para diminuir seu pesar. Ficou na ponta dos pés, os lábios entreabertos. Trey afastou-a. — Geena, eu... — Deu-lhe as costas e apoiou as mãos na parede. — Desculpe. Eu... Meu Deus, o que posso dizer? Como poderei consertar isto? Eu não posso, posso? — Encarou-a. — Mas você precisa saber o motivo... a razão de eu ter feito aquilo. Geena não conseguia responder. Sentia um nó na garganta. — Quando eu era adolescente — Trey falou, a voz embargada pela emoção —, meus avós morreram em um acidente de carro. A pior parte foi lembrar-me da aparência
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Leanna Wilson - Christmas in July deles após a batida, no hospital, com todos aqueles tubos. Os rostos machucados e arranhados, os cortes, as máquinas. Ele estremeceu. Geena manteve os olhos baixos. — Durante muito tempo eu não conseguia lembrar de meus avós de outra maneira. — Engoliu em seco. — Eu não quis que você se recordasse de Sam naquele estado. Desejei que lembrasse do modo como ele ria e contava piadas. Eu não quis magoá-la, mas magoei. Percebo isto agora. Geena sentia-se prestes a sufocar. — Em meus sonhos, eu revivo aqueles segundos. Não consigo tirá-los da cabeça — ela falou, chorando. Trey aproximou-se e aconchegou-a nos braços. Ela soluçou, aliviando o medo, a incerteza, a raiva e a dor no coração. Abraçou-o fortemente. Precisava de Trey como nunca necessitara de alguém antes. Conforme as lágrimas fluíam, as emoções eram drenadas de Geena, deixando-a com uma sensação profunda de perda. Havia perdido Sam, mas tinha recordações de momentos alegres, repletos de carinho e calor. Os dois rindo e planejando o futuro. Um futuro que jamais aconteceria. Lembranças doces e ternas ocupavam o espaço vazio deixado por Sam. Não eram capazes de substituí-lo, mas aliviavam a dor. Quando as lágrimas cessaram, Geena ergueu a cabeça e fitou os honestos olhos azuis que refletiam tristeza e remorso. Gostaria que Trey soubesse quanto ajudara-a a ser mais forte. Ficou na ponta dos pés e beijou-o. Os lábios dele não se moveram. — Por que fez isto, Geena? Confusa com a própria atitude, simplesmente respondeu: — Não sei... — Parecera-lhe o gesto mais natural do mundo. — Ou talvez eu saiba. Foi um agradecimento. Talvez agora eu possa dar seqüência a minha vida e encarar o futuro de frente. Trey fez menção de se afastar, mas permaneceu imóvel. E antes que ele conseguisse sair dali, Geena beijou-o novamente. Dessa vez o beijo durou mais. A paixão tomou as rédeas. Abraçaram-se fortemente. Geena entreabriu os lábios, entregou-se ao calor daquela boca. Segura nos braços de Trey, a solidão evaporava como uma nuvem em um dia quente de verão. Instintivamente soube que todos os gestos especiais que ele fizera basearam-se em mais do que obrigação.
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Leanna Wilson - Christmas in July Eram atitudes de um homem carinhoso, sensível e especial. — Geena, desculpe. Confusa, piscou algumas vezes para recobrar o equilíbrio e indagou: — Mas por quê? Fui eu quem o beijei. — Mas eu retribuí. Eu a quero. Deus, como eu a quero. Mas não posso tê-la. Não poderei simplesmente dormir com você e ir embora. — Não estou lhe pedindo isto. Então ela ergueu o queixo quando uma suposição lhe ocorreu. — É Casey, não é mesmo, Trey? — Não. Nem você nem Casey. Eu... Geena gostaria de ouvi-lo dizer que a amava. Mas Trey nada falou. — Eu compreendo. Você não quer uma família já formada. Quer levar a vida sem fardos e responsabilidades. É isto o que quer dizer. — Não. Eu não posso porque você é de Sam. — Não. Está enganado, Trey. Sou a viúva de Sam. Com essas palavras, Geena assumia a realidade. Sam estava morto, mas ela não. E não mais importava que Trey um dia tivesse sido o melhor amigo de Sam. Ela queria... precisava de Trey, como se fosse a metade que a tornaria completa. — Eu amava Sam. E sei que você o amava também. Nós sempre guardaremos com carinho sua lembrança. Mas Sam está morto agora. Eu não estou. Passei pela dor de perdê-lo e pela solidão de sua ausência. Mas não quero ficar sozinha durante o resto de minha vida. Eu não mereço isto. Pegou a mão de Trey e colocou-a na altura do peito dela. — Há espaço em meu coração para amar novamente. Você me mostrou isto. Antes eu achava que você me ajudava porque seguia o código de honra dos cowboys e porque Sam lhe pedira. E ficava ressentida. Mas vi o modo como tratou Casey e como me ajudou. Não era um código, mas amizade. Hoje, é mais do que isto. Geena ficou alguns segundos em silêncio, debatendo se devia ou não falar mais de seus sentimentos. — O período mais difícil foi o do Natal. Senti falta de Sam e queria colocar um pouco de alegria no primeiro Natal de Casey. Mas sentia culpa por estar vivendo e amando. Hoje não sinto mais culpa por precisar ter uma vida ou desejar que o
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Leanna Wilson - Christmas in July Natal seja alegre como deve ser. Nem por apreciar cada dia ao lado de minha filha. Respirou fundo, mais tranqüila após o desabafo. Ele a ouvia, dividido entre a surpresa e a paixão. — Eu tive de fugir da vida que levava, precisei tentar encontrar um sentido nos rodeios novamente para descobrir que o que eu buscava estivera aqui o tempo todo. Quero construir um lar cheio de amor para Casey. Os olhos de Trey estavam rasos d'água, os lábios comprimidos um contra o outro. — Desculpe — disse ele —, mas eu não posso. Sem dizer mais nada, virou-se e deixou-a sozinha. Geena permitiu que as lágrimas caíssem. E somente então percebeu que havia outro obstáculo entre eles. Uma barreira que Trey jamais superaria. O código de honra dos cowboys. Ele jamais invadiria o território de seu melhor amigo. E esse território chamava-se justamente Geena Allen. — Ouça seu velho tio, porque vou lhe contar tudo que precisa saber da vida. O pequenino Jack analisava-o, os olhos azuis focados no nariz de Trey. Ele ergueu o bebê contra o ombro e bateu suavemente em suas costas. Jack era tão pequenino e leve como uma pluma. E mesmo assim o coração de Trey resplandecia de orgulho e amor. — A primeira coisa que você precisa aprender é... A cabeça de Jack pendeu para o lado, e Trey ajeitou-o, fazendo com que o sobrinho voltasse a fitá-lo. — Preste atenção, viu? Aprendera que bebês eram capazes de acalmar um coração atribulado. Quanto mais segurava Jack, mas sentia a tensão amansando. Exatamente como ocorrera com Casey. Sorriu ao pensar na criança que passara a amar. Desejava ter convivido com Casey quando recém-nascida, mas admitia que tivera medo de pedir uma oportunidade a Geena. Não por temê-la, mas sim aos bebês, mamadeiras e troca de fraldas. Atualmente, veterano no assunto, percebia que na verdade tivera medo de constituir família, ao contrário de seu irmão.
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Leanna Wilson - Christmas in July Mas isso tudo agora parecia doce e maravilhoso, porque tivera a chance de fazer parte de uma família, mesmo durante um breve período. Sim, sentira-se parte da família de Geena. Geena, Casey e ele. Abraçando o sobrinho, sentia-se necessário. Assim como quando ajudara Geena e Casey na fazenda. Seu coração apertou-se diante da dor que com tanta freqüência sentia. Desde que se distanciara de Geena, uma semana atrás, no estábulo, não a via nem falava com ela. Mas sentia muito sua falta. O pequeno Jack resmungou, e Trey ninou-o. — Você terá uma boa vida, pequeno cowboy. Tem pais que o amam e um tio para cuidar de você. Lembrou-se de quando Casey chamara-o de "papai". Talvez Geena estivesse certa. Era possível que todas as crianças emitissem tal som. Mas não poderia negar a sensação especial que o momento lhe trouxera e ansiava pela repetição daquela cena. Nunca achara que viria a se casar e ter filhos. Na verdade, nem pensara no assunto. Fugia da idéia. Formar uma família nunca fizera parte de seus planos. Mas agora queria uma família. Uma esposa para amá-lo, para aconchegar-se a seu corpo durante a noite, suavizar as mágoas das decepções dos rodeios e celebrar as vitórias a seu lado. Queria uma criança nos braços, dando-lhe um beijo molhado no rosto e chamando-o de "papai". O fato era que queria Geena e Casey. — Não vai dar certo — disse pesaroso, surpreso com as próprias palavras. O pequeno Jack Mann encarou-o com confiança e inocência. — O que não vai dar certo? — Kirk perguntou, entrando na sala. — Nada. — Você está bem? — Claro. Estamos muito bem. Jack e eu. E Shannon? — Está cansada. Mas é uma batalhadora. Kirk estendeu as mãos para o filho e tomou-o nos braços. — Trey, você vai ficar em casa em uma noite de sábado? Não tem nenhum encontro? Nem rodeio? — Não. — E Geena?
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Leanna Wilson - Christmas in July Trey ficou tenso. — O que tem ela? — Qual o problema? — Kirk indagou, estreitando o olhar. — Ah, nada especial. Provavelmente foi melhor assim. Ela... — Deteve-se. Já falara demais. Nada mudaria o passado. E o futuro já estava selado. — Ela o quê? — Kirk insistiu. Suspirando, Trey perambulou pela sala como uma fera enjaulada. — Está acontecendo alguma coisa entre vocês dois? — Não. Droga, sim, está! Kirk sorriu. — Bem, tenho um bom palpite. — O quê? — Trey, sabíamos que era apenas questão de tempo. Vai ser papai, não é mesmo? A pequena Casey é uma graça. E a sensação de ser pai é maravilhosa. Eu recomendo. — Mas você é pai há apenas uma semana, Kirk. — Sim, mas estou adorando. Sorriu e olhou para o filho adormecido. — Bem, mas Casey não é minha. Jamais será. Nem Geena. — Qual o problema? Por acaso ela está hesitando? Trey fez um sinal negativo com a cabeça. Kirk então assentiu. — Eu devia ter imaginado. Solteirão relutante, não é mesmo? O que há com você? Não a ama? — Sim. Fez uma pausa, percebendo então que queria fazer parte da vida de Geena e de sua família, para sempre. — Sim — repetiu. — Eu a amo. — E então? — Kirk persistiu. — Ela é esposa de Sam... Viúva — corrigiu-se. — E Sam está morto. Já não pode mais ser marido e pai. Após tudo o que fez por ela e vendo como se sente, acho que estou diante do candidato mais qualificado. Trey lembrou-se da expressão no rosto de Geena no último Natal, das lágrimas de tristeza escorrendo por seu rosto. Gostaria de proporcionar-lhe uma vida feliz. Surpresas e riso. Mais filhos. — Sabe, Trey — Kirk falou —, minha gagueira colocava-se entre mim e Shannon. Deixava-me temeroso. Um dia eu achei que teria de encarar aquele touro novamente para superar o acidente. Mas eu estava errado. Precisava encarar a vida.
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Leanna Wilson - Christmas in July Kirk tocou o irmão no rosto. — Você está deixando um fantasma ficar entre você e seu futuro, você e Geena. Isto é justo? — Mas e Sam? — Está morto! Sua vida terminou um ano atrás. Geena não é mais de Sam. O que imagina? Pensa que ele o odiaria se você se casasse com Geena? Achei que tivesse conhecido melhor seu amigo. O que ele lhe pediu? Antes que Trey pudesse responder, Kirk prosseguiu: — Sam quis que você... apenas você... cuidasse de Geena e da criança que ela levava no ventre. Confiou a você a vida das duas. Tenho certeza de que ele desejava que Geena e Casey fossem felizes. Não era pesaroso e não gostaria que as duas fossem também. Você tampouco, irmão. Ele o amava como se fosse alguém da família. Acho que Sam ficaria muito orgulhoso e feliz por Geena ter encontrado alguém tão honesto e confiável como o melhor amigo dele. As palavras eram absorvidas por Trey e alimentavam o amor em seu coração. Percebeu que o irmão tinha razão. Ele mesmo fora o obstáculo para sua união com Geena. Não Sam, não o fantasma de Sam ou sua lembrança. Pensou na tarde no estábulo quando Geena confessara seus pesadelos quanto à morte de Sam e a mágoa por Trey têla impedido de se despedir do marido. Sentiu culpa. Esperava que sua explicação a tivesse ajudado a aplacar a dor. Mas e se Geena ainda achasse que ele lhe dera dinheiro e tempo movido por uma obrigação, uma promessa feita ao amigo? Se queria Geena como sua esposa, se queria banir as dúvidas entre os dois, então precisava provar que sua generosidade vinha do coração. Observou Kirk segurando o filho e compreendeu que ele não teria de desistir de seus sonhos. O amor enriquecia os sonhos. O amor mudava a vida, e normalmente para melhor. Pensando assim, tomou uma decisão. Faria Geena sorrir em vez de tentar encontrar uma tarefa prática do dia-a-dia para realizar na fazenda dela. Geena dirigia para casa. Embora houvesse ganhado um bom prêmio em dinheiro, não estava realmente feliz. Sentia-se desesperançada. Durante a última semana chegara a imaginar que superaria a rejeição de Trey. Mas a previsão não se
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Leanna Wilson - Christmas in July concretizara. Levaria muito tempo para banir de seu coração a esperança e o amor. Casey mexeu-se em seu assento, ansiosa por chegar a casa. Geena sentia-se assim também. Quando estava prestes a estacionar, uma visão estranha a fez frear bruscamente. Olhou para sua casa, arregalando os olhos, descrente. Brilhantes lâmpadas vermelhas, típicas da época de Natal, iluminavam o telhado. Uma árvore prateada e patética estava na varanda, parecendo à disposição de um comprador e cintilando ao sol poente. Antigos ornamentos decoravam a fachada. Luzes verdes e vermelhas brilhavam nos galhos prateados da árvore de Natal. A música Jingle Bells era tocada em volume alto no aparelho de som da caminhonete de Trey. Atônita, Geena indagou: — O que está acontecendo? — Ho! Ho! Ho! — exclamou Trey, vestido de Papai Noel e saindo de detrás da árvore de Natal. — Acariciou a falsa barriga e gritou: — Feliz Natal! Casey riu. — Pa-pa-pa-pa... Geena sentiu um nó na garganta, e lágrimas nublaram sua visão. — Mas... Ele desceu os degraus da varanda, o sorriso camuflado pelo bigode e barba branca. Foi até a cabina da caminhonete de Geena e tirou Casey do assento de bebê. A menininha riu e puxou a barba falsa. — Trey... — Papai Noel, querida — disse, piscando. — E eu tenho um presente especial para você — disse a Casey —, e para você também — voltou-se para Geena. Alegria e algo mais que ela não podia decifrar cintilava nos olhos azuis. Trey pegou-a pela mão e puxou-a para a varanda, carregando Casey. Colocou a menina no chão ao lado de uma pilha de presentes. — Divirta-se, sapeca. São todos seus. — Trey... — E você, Geena, bem, terá de procurar seu presente na árvore. — Trey, eu não estou entendendo.
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Leanna Wilson - Christmas in July Ele apertou-lhe a mão. Todo o humor desapareceu, e os olhos azuis mostravam seriedade. — Eu estava errado. — Em relação à Sam? — Aprendi muito nesta semana, a respeito de família e de mim mesmo. Eu sempre me dizia que não queria uma família. Não queria ter responsabilidade. O que eu não compreendia era que eu não desejava qualquer família, mas apenas você e Casey. É neste lugar que eu quero estar. Surpresa com a mudança, Geena limitou-se a encará-lo, atônita. — Ainda o incomoda o fato de eu ter sido casada com Sam? — Não. Acho que Sam soube durante todo o tempo, acho que planejou tudo. Pediu que eu a ajudasse, mas talvez seu desejo fosse que ficássemos juntos. — Talvez tenha razão. Trey a beijou. Um beijo que a fez desejar mais. Enroscou os braços no pescoço largo e tentou voltar a beijá-lo, mas ele afastou a cabeça. — Ôpa! — Qual o problema? — Você não me falou como foi no rodeio. — Ganhei o primeiro prêmio. — Nossa, estou orgulhoso de você! Eu sabia que conseguiria. Sabe, você terá de viajar ainda mais se quiser participar de todos os grandes rodeios, querida. Mas não se preocupe. Casey e eu a acompanharemos. Trey beijou-a. Geena fechou os olhos, entregando-se aos carinhos. Nem conseguia respirar direito enquanto ele explorava seu pescoço e orelha com a língua. Finalmente ergueu a cabeça e emoldurou-lhe o rosto com as mãos. — A menos, claro, que você não queira mais participar de rodeios. Então eu acho que teremos de sossegar em um lugar. — Você faria isto? — ela indagou. — Sim. Por você e por Casey. — Eu amo os rodeios. Assim como você. Faz parte de nossas vidas. Mas meu coração estará onde você e Casey estiverem. Este é nosso lar. — Nossa família. Trey beijou-a mais uma vez, tirando-lhe o fôlego. Em seguida a fez virar-se para a árvore de Natal. — Agora encontre seu presente. Não posso mais esperar.
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Leanna Wilson - Christmas in July Ela passeou o olhar pela árvore esquálida. E finalmente viu o brilho de ouro e o cintilar de um diamante entre as luzes coloridas. Sorrindo, Trey tirou o anel do galho da árvore. Pegou a mão de Geena e pôs a jóia em seu dedo. Vagarosamente ele se ajoelhou e fitou-a com todo o amor do mundo. — Eu a amo, Geena. Quer se casar comigo? — Sim — respondeu arfante. Inclinou-se para a frente, lágrimas de amor lavando o resquício de seu pesar. Geena abraçou-o, buscando força e segurança. E então os dois se beijaram como nunca haviam beijado antes. — Ma-mãe, ma-mãe — Casey gritou. Geena distanciou-se de Trey, encontrando seu olhar carinhoso com um sorriso. Virou-se para a menina. — O que é, Casey? Por entre papéis de presente rasgados estava sua filha, mastigando um brinquedo. — Fico feliz por ter gostado de seus presentes, sapeca. Casey balançou os bracinhos e riu. Geena ajoelhou-se ao lado da filha. — O que acha de Trey ser seu papai? — E quanto a Sam? — Trey parecia hesitante. — Algum dia eu contarei a Casey a respeito dele. Ela precisa saber da existência de Sam. Mas se você me ajudar a criá-la, então terá de ser o pai dela. Ela precisa de um pai de carne e osso. Alguém que a abrace e conforte, faça-a rir e se importe com seu bem-estar. E esta pessoa é você. Os olhos de Trey estavam rasos d'água. — É uma grande responsabilidade — ela prosseguiu, sabendo, sem dúvida alguma, que Trey seria um marido e um pai maravilhoso. Já havia provado, no decorrer do último ano, que era responsável e confiável. — Eu sei — ele falou. — Não é algo que eu aceite com freqüência. Mas neste caso, aceito de todo o meu coração. Casey esticou os braços na direção dele. — Pa-pai. Trey beijou o rosto roliço da menina e depois os lábios de Geena. — Quero que todos os dias sejam dia de Natal para você e Casey. Eu farei com que tenham tudo o que precisarem e quiserem. — Eu tenho tudo. Eu o amo.
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Leanna Wilson - Christmas in July As promessas, esperanças e sonhos foram selados com um beijo apaixonado, embalado pela doce música natalina que tocava no aparelho de som da velha caminhonete. ***Fim*** LEANNA WILSON cresceu em Dálias, Texas, e deu aulas no ensino elementar durante cinco anos. Quando se encantou pela redação de textos, abandonou o magistério para escrever em período integral. Sempre foi fascinada por rodeios e cowboys, logo seu primeiro livro envolveu um desses homens silenciosos e fortes. Vencedora do prêmio Coração de Ouro aos Romancistas da América, mora com seu marido forte mas não tão silencioso assim em Irving, Texas. Recém-casados, Gary e Leanna ainda estão em lua-de-mel com seus bebês: dois Shih Tzu, um preto chamado Muffet, e um dourado de nome Belle.
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