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2 Visita técnica ao Moinho Cultural Sul-Americano
Ipea
O batalhão tem utilizado dados e informações de equipamentos de vigilância de fronteira como o Sisfron?
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Kleber Haddad Lane
Não. A disponibilidade desse equipamento de vigilância é uma necessidade operacional. Câmeras de monitoramento, rádios comunicadores para as equipes de serviço e drones são alguns exemplos de auxílio tecnológico, fundamentais para o enfrentamento de ilícitos na fronteira.
Ipea
As forças de segurança do Mato Grosso do Sul mantêm cooperação com as forças de segurança dos países vizinhos? Em que situação essa cooperação é efetivada?
Kleber Haddad Lane
Cooperação institucional e regulamentada por decretos, portarias ou normas gerais de ação, não. O que se pratica são ações de inteligência entre os países dentro de uma interação amigável e de pronto atendimento.
2 VISITA TÉCNICA AO MOINHO CULTURAL SUL-AMERICANO8
Anfitriã: Mônica Macedo – coordenadora de projetos do Moinho Cultural.
Participantes: Bolívar Pêgo (coordenador do projeto Fronteiras do Brasil), Caroline Krüger, Maria Nunes, Paula Moreira e Rosa Moura (Ipea); Sérgio de Souza (Sudeco/MDR); e Major Willyam Becker Demartini e Sargento Yvert Kury Aguero (Gefron/Mato Grosso).
Localização: rua Comendador Domingos Sahib, 300, Porto Geral, Corumbá/Mato Grosso do Sul (telefone: +55 (67) 3231-8436), manhã de 27 de junho de 2017.
8. O conteúdo tem como referência informações obtidas durante a visita, complementadas com dados encontrados no site do instituto (disponível em: <http://www.moinhocultural.org.br/index.php>), estes assinalados nesta seção em trechos blocados ou entre aspas.
FIGURA 4
Corumbá: visita ao Instituto Moinho Cultural Sul-Americano
Foto: Equipe Fronteiras Ipea.
Entre as atividades de campo, a equipe visitou o Instituto Moinho Cultural Sul-Americano (IMC), “uma instituição não governamental, sem fins lucrativos, que tem como missão a diminuição da vulnerabilidade de crianças e adolescentes em região de fronteira por meio do acesso a bens culturais e conhecimento tecnológico”. A equipe foi conduzida na visita por Mônica Macedo, coordenadora de projetos. Ela informou que a instituição atende a cerca de 280 crianças e adolescentes dos municípios de Corumbá e Ladário (Mato Grosso do Sul); e das cidades bolivianas de Puerto Suárez e Puerto Quijarro, ministrando aulas diárias de música, dança e tecnologia, além de apoio escolar, idiomas,9 educação ambiental e patrimonial, sempre no contraturno do horário escolar regular, em um ciclo com oito anos de trabalho. A comunidade e os familiares dos alunos participam de cursos de geração de renda e economia criativa, promovidos pela instituição.
O Moinho Cultural foi criado em 2004, como um projeto do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), tornando-se independente deste em 2012. O IHP é
9. Por haver grandes assimetrias entre os países, os professores Marco Aurélio de Oliveira e Beatriz Silva (UFMS) destacam que, para os bolivianos, é maior a obrigação de aprenderem o português do que para os brasileiros de aprenderem o espanhol.
uma organização privada, sem fins lucrativos, criada em 2002, pela preservação do Pantanal e pelo fortalecimento da identidade do homem pantaneiro. Desde a sua criação, predominou a proposta de criar uma escola de artes gratuita, além de idealizar a promoção do intercâmbio cultural com o país vizinho, a Bolívia. Durante o processo de revitalização da área portuária de Corumbá, foram aproveitadas as antigas instalações do Moinho Mato-Grossense, situado próximo ao Casario do Porto Geral de Corumbá, reformado para a implantação do instituto.
Acreditando no benefício que o projeto traria para a região, a empresa J. Macêdo, antiga proprietária do moinho, cedeu o prédio por vinte anos, e a empresa Vale investiu recursos para sua reforma, e continua sendo a principal parceira do projeto. O prédio possui um auditório com capacidade para cem pessoas, refeitório, biblioteca, videoteca, salas de dança, de música e ainda amplo espaço ao ar livre. O projeto iniciou suas atividades atendendo inicialmente a 180 crianças em risco social.
Em 2015, com onze anos de atividades ininterruptas, o moinho inspirou as cidades de Ladário (Mato Grosso do Sul) e Puerto Suárez (Bolívia) a criar projetos semelhantes. Vários participantes das atividades foram absorvidos como instrutores nas áreas fins da própria instituição, além de outros, inseridos em cursos superiores e influenciados pela formação cidadã adquirida no moinho.
O instituto tem como missão a “diminuição da vulnerabilidade de crianças e adolescentes em região de fronteira por meio do acesso a bens culturais e conhecimento tecnológico”; como visão “ser reconhecida pela excelência das metodologias de promoção de desenvolvimento de crianças e adolescentes em região de fronteira”, e como ideal “proporcionar uma democracia de intérpretes-criadores, oferecer excelência profissional aos seus participantes e ajudar na transformação social da região no ideal de elevação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)”. Por intermédio da formação artística e cultural, os jovens atendidos, “além de conquistarem sua própria autonomia, promovem uma cadeia de efeitos de emancipação em seus círculos sociais, tendo como base a estrutura da família e seu fortalecimento”.
Atua, fundamentalmente, na ação pedagógica, na atividade social e na atividade Moinho in Concert. Na ação pedagógica, as atividades estão distribuídas por turmas com diferentes níveis técnicos, cada uma tendo uma grade de vinte horas semanais, equivalente à grade escolar regular (figura 5). As crianças e adolescentes permanecem na instituição por um período mínimo de oito anos, sendo que nos dois primeiros anos (básicos I e II) participam das atividades tanto de tecnologia quanto de música e de dança [figura 5]. A partir do segundo ano, fazem opção por uma das três áreas (dança-música-tecnologia) e seguem nos níveis de aprendizagem: básico III – intermediários I, II e II e avançados I e II.
FIGURA 5
Corumbá: atividades no Moinho Cultural Sul-Americano
Foto: Equipe Fronteiras Ipea.
Na ação social, o instituto desenvolve atividades com familiares dos participantes de caráter permanente e continuado, com a finalidade de fortalecer a sua função protetiva, preventiva e proativa, prevenindo a ruptura de seus vínculos e utilizando os recursos disponíveis na rede socioassistencial, na expectativa de promoção, conhecimento aos direitos constituídos, inserção familiar e social.
O espetáculo Moinho in Concert consolida uma iniciativa que, de forma progressiva, tornou-se uma das realizações de maior visibilidade do instituto. Além de reunir todas as áreas de expressão trabalhadas na instituição, o projeto mobiliza técnicos locais e de outras regiões do país, conta com a participação de artistas brasileiros e convidados e aproxima o grande público de uma arte de qualidade, em que os principais protagonistas são crianças e adolescentes, nos papéis de bailarinos, instrumentistas orquestrais, solistas e coralistas, moradores de Corumbá e Ladário (Mato Grosso do Sul) e de Puerto Suárez e Puerto Quijarro (Bolívia). Todos os anos os espetáculos são temáticos e desde 2008 são exibidos no fim de ano pela principal emissora de televisão do estado do Mato Grosso do Sul, e 40 mil pessoas já foram impactadas na região.
Em 2017, o IMC contou com recursos da lei de incentivo à cultura e patrocínios e parcerias da Vale, Criança Esperança e da Empresa Energética de Mato Grosso do Sul (Enersul). O projeto tem apoio do Ministério da Cultura, das prefeituras de Corumbá, Ladário e Puerto Suárez, do IHP, além do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), UFMS, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), TV Morena, além de inúmeras empresas locais, nacionais e organizações internacionais.
Esse é, sem dúvida, um modelo de sucesso que pode e deve ser ampliado para vários outros pontos da fronteira oeste brasileira. Não se pode negar que a história e a tradição da cidade de Corumbá contribuem muito para que esse projeto exista e funcione – a começar pelas instalações do instituto, passando