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Por Daniel Kaltenbach
O mundo quântico e o
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poder da Consciência Conheça algumas das teorias e experimentos mais conhecidos da Física Quântica e entenda por que ela pode ser uma ponte, servindo de ligação entre Ciência e espiritualidade
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esde o século XVIII, com o movimento social do Iluminismo e o início da Revolução Industrial, o meio científico voltou sua atenção para todas as frentes que pudessem melhorar a qualidade de vida da humanidade, em todos os seus aspectos materiais. E esta fase foi esplendorosa. Desenvolvemos meios de transporte magníficos, novas formas de telecomunicação, criamos as redes sociais, levamos luz e saneamento básico a bilhões de pessoas no planeta, pisamos na Lua e desenvolvemos a medicina a patamares jamais imaginados, que estão elevando a estimativa de vida de uma pessoa para cerca de 100 anos ainda nesta década. Porém, nesta jornada fantástica e, sem dúvida, de suma importância para o desenvolvimento da raça humana, o meio acadêmico colocou de lado uma importante faceta de nossas existências: a espiritualidade. Deixando-se levar pela natural arrogância do ego humano, o meio científico criou o mito de que nada poderia existir que não fosse físico e material. Estabeleceram uma lei velada, que desclassificava como digno de estudo qualquer fato que tangenciasse a esfera espiritual. Estas áreas chegaram a ser rotuladas pejorativamente como “ciências ocultas”. O cientista que pretendesse estudá-las era imediatamente rotulado como
“não sério” e desprezado pelo meio científico. Deixamos, então, de acreditar na nossa intuição, nos nossos instintos e nos nossos sentimentos. Tentaram nos ensinar que ninguém precisa de Deus, pois, segundo Darwin, a evolução das espécies prescindia de um Criador. Chegaram ao ápice de nos contar que “nós mesmos não existimos” de verdade. Somos apenas fruto de uma ilusão causada pela interação elétrica dos nossos neurônios. A morte, significa o fim de tudo e a perda sem sentido de todo o aprendizado de uma vida. E por esta trilha duvidosa a Ciência veio percorrendo longo caminho, até que se deparou com novas realidades, que não imaginava encontrar. As mais recentes descobertas no mundo da física quântica têm obrigado o mundo acadêmico a repensar a fundo os seus conceitos. O ponto é que hoje, de todas as tendências da ciência moderna, não existe outra maior do que a mudança de um ceticismo radical para uma compreensão harmônica do Universo, com toda a espiritualidade que nele habita. Este novo entendimento é a próxima grande revolução da história, que mudará definitivamente a cara do planeta e o perfil da humanidade. Começa a ficar patente que aquilo que aprendemos na escola como
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É como se o universo fosse composto por uma infinidade de “probabilidades”, esperando a consciência escolher qual dos caminhos será o trilhado e concretizado verdades absolutas são mera sombra de uma realidade muito mais profunda. Ocorreu que, enquanto a ciência clássica estudava os fenômenos observados no macrocosmos, ou seja, desde as estrelas até o mundo visível que nos rodeia, a Física Quântica saiu para entender o que acontecia no microcosmo. Ou seja, do que é feito o nosso universo, nosso corpo, nosso cérebro, e quais são as características básicas de toda esta matéria. E as descobertas têm desafiado os conceitos mais fundamentais da ciência moderna. A história é um pouco longa e complexa para este pequeno artigo, mas os poucos fatos a seguir descritos já são suficientes para dar uma boa dimensão da grandeza das fronteiras que se abrem.
Os físicos O físico alemão Max Planck é considerado o pai da Física Quântica. Ele fez um importante trabalho ao estudar a irradiação eletrogmanética de corpos aquecidos e percebeu algo curioso: a irradiação não era proporcional ao aquecimento do corpo, mas sim, emitida em pulsos definidos.
Ou seja, em pacotes de energia que tinham valores determinados. A estes pacotes ele deu o nome de quantum, que nada mais é do que um valor elementar constante, que foi batizado de “Constante de Planck”. A partir de então, a comunidade científica ficou curiosa para entender por que isto acontecia. Parte da resposta foi encontrada nos trabalhos do físico dinamarquês Niels Bohr, que contribuíram decisivamente para a compreensão da estrutura atômica. Ele criou o modelo clássico do átomo e descobriu que cada órbita de um elétron é quantizada, ou seja, possui uma quantidade de energia fixa. Percebeu ainda que um elétron não sobe ou desce de sua órbita senão com a inclusão ou supressão de uma energia equivalente a um quantum. Mas um detalhe chamou a atenção: se um elétron (carga negativa) gira em volta do próton (carga positiva), ele deveria perder energia com a irradiação eletromagnética, até perder “altura” e cair dentro do núcleo. É o que se esperaria a partir dos conhecimentos da física clássica. Porém, isto não acontece. Ao contrário, os elétrons giram em torno do núcleo dos átomos há bilhões de anos, sem qualquer
perda de energia. Como isto seria possível? Outro fator de destaque foi a observação do “Salto Quântico”: quando um elétron que está em uma órbita, salta para uma outra órbita do átomo, acima ou abaixo, este elétron “não percorre” o caminho entre as duas órbitas. Ele simplesmente “desaparece” de uma órbita para “reaparecer” em qualquer ponto da outra, e de forma instantânea. Isto deixou os cientistas estarrecidos. Como um elétron pode simplesmente “desaparecer”? Para onde ele iria neste instante? Ocorreria algum tipo de desmaterialização? Se sim, que tipos de leis físicas regeriam este fenômeno? O fato nos faz lembrar dos seriados de ficção científica, onde as pessoas eram teletransportadas de um lugar para o outro. Porém, até que ponto isto está longe da realidade que nos rodeia? Se ainda não podemos fazer isto com nossos corpos físicos, será que este fenômeno não é exatamente o que acontece com nossos pensamentos? Quando mentalizamos uma energia boa ou má para alguém, esta energia “percorre” um caminho físico ou simplesmente “atinge” o seu objetivo independentemente da distância? A doutrina espírita, por exemplo, ensina que um espírito mais elevado pode se locomover “na velocidade do pensamento”. Se isto for assim, não estaríamos falando do mesmo princípio físico?
O elétron simplesmente “desaparece” de uma órbita para “reaparecer” em qualquer ponto da outra, de forma instantânea 8
O experimento da dupla fenda Se as partículas se comportassem da forma “clássica”, o padrão que elas produziriam na tela obedeceria ao padrão criado ao passar por cada fenda individualmente
Fenda A
Onda ou partícula? Outro fenômeno que tem desconcertado os cientistas é o chamado experimento da fenda. Imagine que você atire partículas de elétrons com um canhão, em direção a uma fenda em um suporte de metal. As partículas que batem no suporte, ali ficam. Já aquelas que passam pela fenda, vão encontrar mais para trás um anteparo, onde ficarão alojadas, formando o exato desenho da fenda pela qual passaram. Até aí tudo bem. Ocorre que quando os cientistas colocaram uma segunda fenda paralela e atiraram o elétron, este, ao passar pela fenda, deixou de se comportar como uma partícula (“bolinha”) e passou a se comportar como onda (assim como a da água, do ar, do som...). Ou seja, o elétron deixa de ser uma partícula e vira onda, vira energia. Só que para que tal aconteça é necessário pressupor que o mesmo elétron passou pelas duas fendas “ao mesmo tempo”. A pergunta é óbvia: como uma partícula pode fazer isto? O elétron se duplicaria no momento da passagem?
Fenda B
Isto tudo não fez nenhum sentido para a ciência clássica. Os cientistas tiveram, então, a ideia de colocar um sensor próximo às fendas, para que fosse “fotografado” o exato momento em que o elétron estivesse passando. Assim ficaria demonstrado se ele se duplicou, e registrado em que fenda(s) teria passado. Porém, para surpresa geral, toda vez que o sensor era colocado, o elétron deixava de se comportar como onda, comportando-se como mera partícula, passando por uma única fenda como uma simples “bolinha”. A conclusão foi estarrecedora: aparentemente, a participação do observador (colocar um sensor) influenciaria o resultado da pesquisa. Sim, porque quando não há observador, o elétron é onda. Já quando há observador, o elétron é partícula.
O poder da Consciência E o que é o “observador” senão a própria Consciência participando ativamente do experimento? Começou-se a perceber a influência da “Consciência”
newscientist
Tela
Partículas
Entretanto, as partículas/ quantum produzem um padrão de interferência que não pode ser explicado pelo física clássica
sobre os fenômenos materiais. Sim, pois aquilo que pensamos, aquilo que somos, modifica o mundo ao nosso redor. É como se o universo fosse composto por uma infinidade de “probabilidades”, esperando a Consciência escolher qual dos caminhos será o trilhado e concretizado. É o nosso livre-arbítrio, definindo nossa vida e nossa realidade. Começamos a abandonar um mundo de certezas, para embarcar em um mundo de probabilidades, onde cada um de nós é senhor de seus atos para concretizar no mundo os seus desejos, sejam positivos ou negativos. A Consciência rege o universo, e não o contrário. Postularam, então, o Princípio da Incerteza. No mundo quântico não é possível termos certeza de alguns fatores, de maneira que somos obrigados a trabalhar com meras probabilidades. A exata localização de uma partícula, por exemplo, ou sua velocidade, seu destino, entre outras características, não podem ser medidos com precisão. O mundo quântico é um mundo de estatísticas. Nada está predeterminado, como afirmava
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Surgiu o Princípio da Unidade, ou seja, se as partículas podem estar correlacionadas ao infinito, então todo nosso universo deve estar interligado de alguma maneira
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a física clássica. O destino é um livro a ser escrito pelos nossos desejos e decisões. Inconformado com os resultados da Física Quântica, o próprio Einstein tentou provar que ela não poderia estar correta, pois contrariava as suas teorias. Na verdade, ele queria destruir o Princípio da Incerteza, pois acreditava que as partículas também teriam suas características predeterminadas. Assim, os elétrons não poderiam desaparecer de uma órbita para reaparecer em outra instantaneamente, pois isto significaria que uma massa andaria acima da velocidade da luz, o que seria impossível. Com outros dois cientistas, trabalhou no Paradoxo EinsteinPodolski-Rosen, com o estudo de elétrons emaranhados. Porém, os resultados foram ainda mais surpreendentes. Eles correlacionaram dois elétrons em laboratório
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(imagine, para efeitos didáticos, que colocaram um elétron com spin/rotação (-1) e outro com spin/rotação (+1)). Descobriram que, quando estes elétrons eram separados, eles continuavam “correlacionados”, como se ainda estivessem juntos. E mais impressionante ainda: perceberam que, mesmo a grandes distâncias, quando se trocava o spin de um elétron, o outro alterava automaticamente o seu spin para acompanhar o primeiro. Einstein chamou este fenômeno de “fantasmagórica ação à distância”. Os elétrons não podem mais ser separados, mesmo a anos-luz de distância. Isto demonstrou outro fenômeno até então desconhecido pela ciência clássica, mas talvez já familiar nas doutrinas espiritualistas, onde pessoas afins podem estar correlacionadas, sentindo o que acontece com o
Pessoas afins podem estar correlacionadas, sentindo o que acontece com o parceiro a distância. A própria mediunidade seria outra forma de correlacionamento a distância
parceiro à distância. É o caso de alguns gêmeos, “almas gêmeas”, telepatia e alguns fenômenos paranormais, que poderiam ser justificados a partir destes princípios. A própria mediunidade seria outra forma de correlacionamento à distância.
Potencialidade Disto tudo veio o Princípio da Não-Localidade, pois estes objetos quânticos correlacionados influenciam-se mutuamente de uma forma não-local, ou seja, sem sinais pelo espaço e sem que decorra um tempo finito. Portanto, estes objetos devem estar interligados em um domínio que transcende o tempo e o espaço. É o domínio da potencialidade transcendente. “O potencial pode ser mais real do que aquilo que é manifesto, pois a potencialidade existe em um domínio atemporal, enquanto qualquer realidade é meramente efêmera: ela existe no tempo” – do livro A Física da Alma, de Amit Goswami. Em suma: o Universo é um grande potencial, aguardando as nossas ordens. Diante deste fenômeno de correlacionamento entre partículas a distâncias infinitas, Coulumb desenvolveu a fórmula do campo eletrostático e gravitacional, presumindo que deveria haver um campo energético ligando dois átomos correlacionados. Surgiu o Princípio da Unidade, ou seja, se as partículas podem estar correlacionadas ao infinito, então todo nosso universo deve estar interligado de alguma maneira. Einstein ponderou que esta realidade única seria o campo, e que as partículas seriam concentrações locais do campo. Não há mais espaço para campo e matéria, pois eles são a mesma coisa. É notável como a física moderna começa desviar o
Max Planck (à esquerda) e Albert Einstein
olhar do visível físico para uma realidade de campo, puramente energética. Se o universo é um campo, dentro do qual haveria concentrações locais de oscilação que criariam a matéria, “o que exatamente oscila?”
Supercordas Uma das teorias mais modernas neste sentido é a chamada Teoria das Supercordas, que entende que se analisarmos a
matéria com um super microscópio (ainda inexistente), perceberemos que as coisas não são formadas de partículas (“bolinhas”) como sempre se pensou, mas por uma espécie de elástico de escritório, só que minúsculo e unidimensional (sem altura nem profundidade). A estes elásticos foi dado o nome de cordas. A oscilação delas, em seus diferentes sentidos e frequências, formaria a matéria. Quando o campo não tem vibração, ele está lá, existe do mesmo jeito. Porém, não se
Elementos gerais do universo O que diz a codificação kardequiana a respeito da realidade do espírito e da matéria/energia? Vejamos a teoria proposta em O Livro dos Espíritos: 27. Há então dois elementos gerais do Universo: a matéria e o Espírito? “Sim e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal. Mas ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa exercer ação sobre ela. Embora, de certo ponto de vista,
seja lícito classificá-lo com o elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais. Se o fluido universal fosse positivamente matéria, razão não haveria para que também o Espírito não o fosse. Está colocado entre o Espírito e a matéria; é fluido, como a matéria, e suscetível, pelas suas inumeráveis combinações com esta e sob a ação do Espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que apenas conheceis uma parte mínima. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá.”
manifesta. Quando começa a ter uma frequência determinada, como, por exemplo, “frequência 1”, cria-se um “mundo material” nesta frequência. Mas por que a matéria existiria em uma única frequência? Isto não faz sentido. Daí, se imagina que se o campo oscilar em “frequência 2”, haverá uma realidade diferente, quando em “frequência 3” outra, e assim por diante. É a Teoria do Multiverso. Quando o Espiritismo comenta sobre a existência de outros planos espirituais, em graus distintos de evolução, podemos, talvez, imaginar cada um destes mundos formado pelo mesmo campo, porém, simplesmente oscilando em frequências distintas. A forma de oscilação resultaria nas diferentes formas de partículas e, pela frequência desta oscilação, seriam criados universos distintos, do mais sutil para o mais denso. Morrer, enfim, não significaria nada além do que um salto quântico de uma frequência a outra, onde passaríamos de uma “órbita” a outra, sem precisar “percorrer” qualquer espaço no caminho. Enfim, dentro da riqueza da Física Quântica, que começa a incluir energias, “Consciência”, multiversos, outras dimensões, unidade cósmica entre outros importantes conceitos na ciência tradicional e aceita, só podemos esperar o melhor: a tão esperada Era, onde Ciência e espiritualidade andarão juntas em prol de uma sociedade mais humana e evoluída. As consequências dos conhecimentos que começamos a absorver agora serão as mais amplas imagináveis. A Verdade viverá dentro de nós.
Daniel Kaltenbach é autor do livro Sonhar é Magia da Vida, publicado pela editora Ônix.Organizador do site Ciência e Espiritualidade. www.danielkaltenbach.com
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