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Prefácio

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Argila

Argila

por Ivane Laurete Perotti

Quem nunca, por entre campos e sentidos, espreitou palavras? Semeadas. Semeantes. Ôntico véu? Quem nunca, no jogo das resistências, arremessou verbos? Versos. Flexão de base. Meio-de-jogo. Carrossel? Vai por aí a construção desta coletânea: movente “flor do Lácio”. Tão bela quanto a verve bilaquiana. Tão rica quanto o mais diligente viridário. Plural. Sólida nas reentrâncias fincadas em terreno côncavo. Telúrica. Ardente. Denunciatória. Esta coletânea levanta poemas. Estende narrativas. Contos de apoios. Desaboios. Versos em dó final. Inicial. Notas de reflexão e mira. Certeira mira literária das(os) acadêmicas(os) do Curso de Jornalismo, VI ano, da PUC/MG, sob a tutela e incentivo da Professora Doutora Daniella Lopes Rodrigues. São 15 contos e nenhum real. Réis? Aqui não tem Marcela, de Machado, mas tem Catarinas, reais, todas elas, mergulhadas na ficção dobrada em quatro. Ou cinco. Meses de trabalho e amor devoto às letras. À edição. Compilação planejada. Estoque de ideias. Margens em brios linguísticos. Régua em riste. Devem ter rido. Eles e elas. Não há prazer que não cobre a si mesmo. E este é um prazer que chega ao leitor sublinhando possibilidades. Muitas. Do inaugurado, ao inaudito. Do experimento, ao legítimo. Belas escritas. Belíssimo trabalho. No primeiro conto, Prefácio, de Bruno Calvo Dorfman, o leitor caminha pela complexidade madura e vigorosa de uma escrita instigante. Provocadora. O autor “dá as cartas”. Constrói um jogo primoroso de antecipações e desvios. Desbrava implícitos tão bem arquitetados que obriga à leitura incessante. Permanente. É leitura para quem tem coragem de ler e assumir contágio. Apaixonante. Em Hora do adeus, a narrativa corre a pele. Assombra. Re-

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vela: “assombração é um inimigo que é quase impossível de combater. Não podemos ver, simplesmente ela aparece nos momentos mais inoportunos.” Golpeia o inesperado. Assim, Gabriela Duarte diz do que nos chega e, às vezes, fica. Tal qual os temas perigosamente caros: vida e morte, morte em vida. Quase a mesma trilha que se segue em Ode a Ofélia, quando os fios indisciplinados da existência revelam a experiência sagrada. Ímpar. E na autoria de Denise, a brincadeira torna-se séria. Única. Indissolúvel. As reflexões orquestradas em Devaneios, conto escrito por Sadi, o leitor empunha a espada dos desbravadores. Cavalga o espaço das antigas leituras e quase diz, quase, por onde volto? Não volta. A leitura confisca facilidades. O preço do arresto é a liquidez da interpretação batendo à porta. Portas. Por trás da face, de Emily Bertoli Ferreira, o leitor assume a profunda solidão que avança sobre a carne: “Às vezes, a razão é a verdade mais cruel que devemos aceitar.” Vertigens atravessam a escrita, a forma. Ler este conto é invadir o que já é nosso. A narrativa carrega senhas. Sentidos oblíquos. Cabe ao leitor não deixar que passem. Não passam. Fluem, como em Respingar de minha alma, de Sadi, que pulsa um cenário tão íntimo quanto físico. Inteiro. Des/conhecido. E a escrita registra o movimento dos sentidos confessos. Inóspitos. Tão eloquente quanto a voz das montanhas. Híbridas, dançam vozes no conto de Isadora Barbosa da Silva, Permissão. Na engenharia que planeja os personagens, duplicam-se espelhos. Quebram-se imagens. Padrões estéticos. Diversidade empunha verbos. Não falta o toque do empoderamento. O vinho que corre o tempo. Nas bagas do relógio, a corrida tem eco. Tem sequência do outro lado da página. Avança. Toma espaço. Seduz a morfologia. A sintaxe, que não está órfã, encarrega-se de, em Primeiro dia de aula, mostrar as garras do bullying. Conto escrito por Carolina Coutinho, indicia as dores da pré-adolescência. As pontes suspensas do autismo. Nunca obstáculo. Sempre aprendizado.

Pois travessia é ordem. Como também ocorre em A fenda, narrativa de Luana Rodrigues Pires, que desenha imbróglios metafísicos: “Às vezes, o começo é tão parecido com o fim que é complicado distinguir qual é qual.” Para quem pensa que a forma não prega peças, os poemas seguem em um total de 11. Onze ondas de sonora acuidade. Criativos. Divergentes. Insolentes. Novos-antigos modos do dizer líquido. As palavras soprando cartas no tabuleiro aceso pelos sentidos. Construídos. Armados de bagagem opaca. Densa. Como “sininhos” que antecipam a quebra das esquinas. Atenção! Chega mais uma escrita: o poema (Ex)Pressões, de Roberta Colen Linhares. Tem alma livre. Incisiva. Agulhas poéticas lancinando o melhor da veia literária. Literárias veias ofertam-se. Dúbias, em perfeito propósito. Polissêmicas, no tecido da língua. Muitos caminhos . Potentes. Possíveis. Uma seta. Muitas leituras. Em O Colapso de Vênus (金星の崩壊), o jogo corre por fora das linhas. Imprensa o leitor. |Imprint. Imprinting. Sem “apoucar” a leitura. Precisa ser lido. Devorado. É a escrita de Jurandy Wesley de Jesus Oliveira. Promessas generosas de outros projetos.

E segue o poema Identidade, de Jurandy Wesley de Jesus Oliveira, que provoca puxões entre os fios da submissão. O não dito solta chispas. Faíscas. Tira do lugar. Vem chegando Phóbos (恐怖), escrito por Jurandy Wesley de Jesus Oliveira em um emblemático registro de nossas buscas. Das sombras e dos medos. Retrato sígnico de experiências nada passivas. Pacíficas. No poema Bolada, dedilhado por Jurandy Wesley de Jesus Oliveira, o ritmo “dobra” o leitor. Aciona sentidos postos. Indispostos. Orquestra o processo da apresentação. Escrita. Bonita. Sanciona a lei da atração semântica. Letras e notas. Versos e gestos de leitura que disparam para mais um poema: Carimbo, de Waldir Freire da Silva Neto. Sinuosamente marcado. Escrita que instiga e desvia. O leitor precisa correr. Um alvo. Um desafio poético. Combinação perfeita entre obra e operário. Trabalho.

Siga, leitor. E quando chegar em Nós de Ana Carolyne Batista dos Santos, compreenderá, na superfície da pele, o blefe da língua. A longa baforada de quem descobriu estratégias. A leveza de uma possibilidade. Então, a leitura multiplicar-se-á. Perguntas ao texto. Respostas à mão? Longe delas. Eis o looping do contentamento. Movimento que alcança Sapatos, obra de Natália Schimpf; outro poema que atinge a epiderme. A cadência faz emergir o que se mantinha lacrado. Sete chaves. Saltam. Abertas. Basta aceitá-las no decorrer da leitura. Aventura. Fruição. Quando Ramon Linhalis Guimarães escreveu Vacas, montou em versos um diagrama. Social. Atual. Revigorado pela construção do ritmo. Da constelação das palavras. Quase esdrúxula. Brilhante pela adrenalina linguística. Filosofal. Constatável. Maciçamente real. De-versos, escrito por Stefany de Jesus Silva denuncia a ilusão. Aquela que beira a cegueira fria da sociedade. Das escolhas. Dos caminhos. Versos sobre trilhas. Andanças. Passos. Rótulos. O viés sem bainha de nossas buscas. Ilustre investida. Assim como no poema Argila, de Stefany de Jesus Silva, que vai do sólido ao sonoro em um só ato. A cena temperando a linha dos versos. Versus! Cena. Poema. Arquitetura formal. Em Amálgama, de Roberta Colen Linhares, os versos deitam à pena. Estatelam-se diante dos olhos leitores. Olhos de leitura fina. Poema de divina ubiquidade. Assim, o leitor chegará em A Idade da Adversidade, escrito por Aline Palmieri. Confere lides. Trabalho. Transpiração. Fotografia poética vista em close up. Foco no sentido em pleno devir. É o poema de encerramento da antologia. Não das leituras. Estas, certamente traçam convites duradouros. Convites que permeiam a coletânea do início ao fim. Do início ao início. Um fim. Um propósito que deixará em cada leitor o contorno de uma promessa: autores no prelo!

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