TFG Danielle Oshiro

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A RECICLAGEM DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO NA RMSP |Danielle Midory Oshiro Marques de Souza|Orientação|Camila D’Ottaviano|FAUUSP|2013|



Danielle Midory Oshiro Marques de Souza

A RECICLAGEM DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO NA RMSP

Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Orientadora: Professora Dra. Maria Camila Loffredo D’Ottaviano



Agradecimentos Esta é a melhor parte: poder olhar para trás, contemplar o que foi feito e apenas relembrar de todos que me ajudaram nesse processo. Agradeço primeiramente a meus pais pelo apoio e dedicação de uma vida, sem os quais nada disso teria sido possível. À professora Camila D’Ottaviano, por sua orientação e ajuda em encontrar o meu próprio caminho enquanto arquiteta urbanista. À Karina Leitão, também pela ajuda e ao incentivo de explorar novas abordagens para meu tema. À meu orientador na Escola Politécnica, professor Sérgio Angulo, grande conhecedor do assunto, e aos professores Rogério Santovito e Vanderley John, que nos impulsionaram para frente. Sem poder esquecer, claro, do meu grupo do Trabalho de Formatura: Carolina, Julia, Rafael e, especialmente, Marcelo. Sem vocês, realmente, esse trabalho sequer existiria. Agradeço ainda a grande colaboração daqueles que nos auxiliaram no maior entendimento sobre a reciclagem e gentilmente nos cederam dados que subsidiaram todo este trabalho: Lidiane Oliveira do LME; Egídio e Vinicius da Recinert Ambientale; Marcelo da URBEM e ao professor Silvio Macedo do QUAPÁ. Agradeço também a todos os amigos que me auxiliaram imensamente durante toda a graduação: Mesa 3 – sem vocês, isso também não teria sido possível e amigos de FAU-POLI – sem vocês, a Poli não teria sido possível. E, para finalizar, agradeço à minha família e às amigas que me auxiliaram muito antes de eu sequer entrar na FAU: Thais, Yasmin, Jacqueline, Tamiris.



As cidades são como organismos que absorvem recursos e emitem resíduos

TICKELL, Crispin. “Introdução”. In: ROGERS, Richard. Cidades para um pequeno planeta. Barcelona: Gustavo Gili, 2001


SUMÁRIO

4.1.1. AVALIAÇÃO DE IMPACTOS ....25

1.

INTRODUÇÃO ....11

4.2.

1.1.

JUSTIFICATIVA ....11

4.2.1. PRINCIPAIS IMPACTOS ....28

1.2.

OBJETIVO ....12

4.3.

2.

AGREGADOS NATURAIS ....13

4.3.1. IMPACTOS DIRETOS ....34

2.1.

OFERTA ....13

4.3.2. IMPACTOS INDIRETOS ....37

2.2.

DEMANDA ....15

5.

ESTUDOS DE CASO ....40

2.3.

CUSTO E PREÇO ....17

5.1.

PEDREIRAS ....40

3.

AGREGADOS RECICLADOS  ....18

5.1.1. SERVENG BARUERI ....40

3.1.

RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO ....18

5.1.2. LAFARGE ....42

IMPACTOS DA MINERAÇÃO ....26

IMPACTOS DA RECICLAGEM  ....34

3.1.1. DISPONIBILIDADE DE RESÍDUOS ....18

5.2.

3.1.2. DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS ....18

5.2.1. CRCD  ....45

3.2.

5.2.2. URBEM ....47

RECICLAGEM ....19

USINAS FIXAS ....45

3.2.1. MERCADO DE AGREGADOS RECICLADOS ....20

5.3.

3.2.2. TIPOS DE USINAS DE RECICLAGEM ....22

5.3.1. RECINERT AMBIENTALE ....48

3.2.3. TIPOS DE AGREGADOS RECICLADOS ....23

5.4.

4.

IMPACTOS AMBIENTAIS ....24

5.4.1. CONSTRUTORA CAMARGO CORRÊA ....50

4.1.

CONCEITUAÇÃO ....24

6.

USINA MÓVEL ....48

CONSUMIDOR ....50

ANÁLISE URBANA ....53


6.1.

PONTOS DE PRODUÇÃO ....53

8.2.

RESULTADOS ....83

6.1.1. METODOLOGIA ....53

9.

CONCLUSÕES ....86

6.1.2. RESULTADOS ....56

9.1.

ESTUDOS COMPLEMENTARES ....88

6.2. DISTANCIAMENTO ENTRE PRODUÇÃO E CONSUMO  ....59

REFERÊNCIAS .....89

6.2.1. PONTOS CENTRAIS DE CONSUMO ....59 6.2.2. ESTABELECIMENTO DAS DISTÂNCIAS ....61 6.3.

ÁREA DE SOLO UTILIZADA ....70

6.3.1. METODOLOGIA ....70 6.3.2. RESULTADO ....71 7.

ANÁLISE DAS EMISSÕES DE CO2  ....73

7.1.

METODOLOGIA ....73

7.1.1. DADOS DE ENTRADA ....75 7.1.2. CÁLCULO DO CONSUMO ENERGÉTICO ....75 7.1.3. CONVERSÃO ....76 7.2.

RESULTADOS ....77

8. ANÁLISE DA QUALIDADE DO INVESTIMENTO ....82 8.1.

METODOLOGIA ....82

ANEXOS .....93 I. ROTEIRO DE ENTREVISTAS (AQI e CO2) .....93 II. DADOS OBTIDOS NAS ENTREVISTAS .....93


A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

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1. INTRODUÇÃO 1.1.

JUSTIFICATIVA

Com cerca de 19,7 milhões de habitantes, a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) representa aproximadamente 10% da população brasileira1, concentrando ainda 33,1 % do Produto Interno Bruto (PIB) nacional2 . A RMSP passou por intenso processo de urbanização e expansão entre as décadas de 40 e 70 e um fator contribuinte dessa expansão pode ter sido as características geológicas da RMSP, que é rica em minerais da construção civil como areia, brita, cimento, argila e cascalho. Segundo Bitar (1997) essa disponibilidade de matéria-prima em abundância, com relativa proximidade dos centros consumidores e a baixo custo financeiro propiciou a construção da extensa quantidade de edificações, obras públicas, industriais e de infraestrutura presentes na metrópole. A mineração de agregados para a construção civil é caracterizada por situar-se marginalmente à malha urbana, com proximidade suficiente dos pontos de consumo, mas onde o preço da terra é menor. Com a expansão da mancha urbana da RMSP para áreas cada vez mais periféricas, a atividade de mineração passa a sofrer cada vez mais restrição devido a conflitos de uso do solo, impactos ambientais e rejeição da população por esse tipo de indústria. Resta às mineradoras exercer suas atividades cada vez mais distante dos centros consumidores. Conforme aumenta a distância entre pontos de produção e consumo de agregados, sobe também o custo de transporte da mercadoria. Ao se tratar de areia e brita, cujo valor agregado por massa do produto é baixo, o frete torna-se muito impactante na composição do preço. Esse distanciamento também deve considerar o impacto 1  A população brasileira está em quase 191 milhões de habitantes (CENSO 2010 - IBGE, 2013). 2  Fonte: SEADE. Disponível em: http://www.seade.gov.br/produtos/pib/pdfs/pib_analise_2010.pdf; acesso em 24/11/2012.

gerado ao tráfego urbano, já que os volumes produzidos na RMSP são da ordem de milhões de toneladas ao ano e o transporte ocorre por via rodoviária. Da mesma forma que o setor de mineração enfrenta impasses em regiões urbanizadas, outro tema relevante às cidades é a coleta e destinação adequada de resíduos da construção civil: Estima-se (PINTO,1999 apud ANGULO, 2000) que a quantidade resíduos da construção e demolição (RCD) gerada em cidades brasileiras é de 0,5 tonelada/habitante x ano, o que, para a RMSP, equivale a 9 milhões de toneladas/ano de RCD. Esse montante representa mais de 60% em massa de todos os resíduos sólidos gerados (PINTO, GONZÁLEZ, 2005). Se a geração de RCD é alta, por sua vez, a situação dos aterros e locais de disposição adequados no município de São Paulo é ruim: o único aterro de inertes público está esgotado3 e de acordo com levantamento realizado, os em operação se localizam fora de seu perímetro. Assim, a distância de transporte de RCD também se torna significativa no seu custo de disposição. O setor da construção civil na RMSP se depara, portanto, com duas questões: uma indústria de agregados que encontra cada vez mais obstáculos para sua operação sustentável; e uma grande geração de resíduos que necessita de uma solução planejada, visando sua redução, reutilização e finalmente a reciclagem.

3  Fonte: SÃO PAULO (Município). Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/servicos/amlurb/equipamentos_publicos/index.php?p=5459; acesso em 6/01/2013.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

1.2. Os agregados provenientes de materiais de resíduos de construção reciclados podem fazer com que o setor seja menos dependente da extração de minério natural; outra vantagem é a possibilidade de produzi-los dentro dos centros urbanos, minimizando a problemática de transporte e as implicações socioambientais por ele causadas. A reciclagem, ao consumir o resíduo proveniente da construção e demolição, promove sua destinação adequada (CONAMA 307/2002). Assim, além de contribuir para a menor utilização dos recursos naturais e para a diminuição dos impactos urbanos, contribui também para a diminuição e correta destinação dos resíduos gerados. Apesar das vantagens apontadas sobre a reciclagem, observamse barreiras a sua utilização, como falta um mercado consolidado para estes produtos. Mesmo que ela seja uma solução tecnicamente viável e necessária, ainda não há conhecimento prático e estudos financeiros consolidados que avaliem sua atratividade enquanto investimento, o que poderia estimular a iniciativa privada. Adicionalmente, faz-se necessária uma avaliação ambiental provando a real sustentabilidade mistificada da reciclagem e as possíveis soluções para aprimorá-la. Por fim ainda não se tem um planejamento público consolidado que molde o desenvolvimento do setor de reciclagem de RCD, para que esta ocorra de modo otimizado e benéfico a todas as partes envolvidas. Esta pesquisa visa fomentar o conhecimento sobre os agregados reciclados do ponto de seu desempenho urbano, ambiental e da qualidade de seu investimento.

12

OBJETIVO

O objetivo do trabalho consiste em avaliar a reciclagem de RCD no contexto da RMSP sob o ponto de vista urbano, ambiental e financeiro, através da proposição de metodologias para tal. Busca-se elucidar os fatores mais significativos para a melhoria da reciclagem sob esses pontos de vista.


2. AGREGADOS NATURAIS

300

2.1.

OFERTA

Os agregados naturais – areia e brita – são de grande relevância para a sociedade. São os minerais mais consumidos no mundo e, no Brasil, este segmento da indústria mineral é o que comporta o maior número de empresas e de trabalhadores, além de ser o único a existir em todos os estados brasileiros (LA SERNA; REZENDE, 2009). O setor de agregados tem importância significativa para a cadeia da construção civil: a oferta de agregados representou, em 2007, 18% do valor da produção mineral brasileira (LA SERNA; REZENDE, 2009), evidenciando a grande quantidade produzida, já que areia e brita tem baixo valor unitário. Estima-se que foram produzidos em 2007, 279 milhões de toneladas de areia e 217 milhões de toneladas de brita (LA SERNA; REZENDE, 2009). Ainda, segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral4 (DNPM), os volumes produzidos aumentam a cada ano. Como é possível ver pela Figura 1, a produção desses agregados tem sido crescente e, no ano de 2007, o aumento foi em torno de 14% em relação ao ano anterior. O setor de agregados é caracterizado por algumas grandes empresas no fornecimento de brita, e por várias pequenas indústrias no fornecimento de areia. Há diversas empresas que trabalham na clandestinidade, principalmente na extração de areia (FARINA ET AL, 1997). Ressalta-se ainda a falta de estatísticas confiáveis que a quantifiquem a produção (LA SERNA; REZENDE, 2009). 4  DNPM, 2011. Disponível em: http://www.dnpm.gov.br/conteudo.asp?IDSecao=99&IDPagina=72&IDNot iciaNoticia=520; http://www.dnpm.gov.br/conteudo.asp?IDSecao=99&IDPagina=72&IDNoticiaNoticia=5 20;acesso em 24/11/2012.

Milhões de toneladas

250

200

Areia

150

Brita 100

50

0

1988

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006

Figura 1. Evolução da produção de agregados para a construção civil no Brasil 1988-2007. Fonte: ANEPAC - DNPM

Em relação à economia do setor, os agregados para a construção civil aproximam-se do conceito de bens homogêneos, no qual inexiste a diferenciação do produto como estratégia relevante de concorrência (LA SERNA; REZENDE, 2009). Nesse tipo de mercado o padrão de concorrência é dado pela eficiência nos custos, que buscam principalmente: redução nos custos de transporte, localização próxima ao mercado consumidor, eficiência na operação e movimentação dos materiais dentro da planta, além do aperfeiçoamento de processos, que leva à verticalização 5 da produção. No caso específico da brita, existem cerca de 600 empresas produtoras no Brasil, sendo grande parte delas de controle familiar (MME, 2009a). Observa-se na última década, entretanto, que a estrutura tradicional da produção de brita tem sido alterada pela verticalização da cadeia produtiva do concreto usinado. Nesse sentido, grandes empresas que se verticalizam conseguem produzir concreto com um preço final inferior ao da concorrência, adquirindo grande vantagem competitiva. A verticalização culmina no fechamento ou venda das empresas menores independentes. 5  Verticalização: Refere à estratégia da empresa de produzir os produtos que seriam usados para a fabricação do seu produto final. Por exemplo: uma grande cimenteira que passa a produzir agregados e posteriormente o concreto como um de seus produtos finais. Essa tática é comumente utilizada em muitos ramos industriais, pois dentre suas principais vantagens estão a independência de terceiros, como fornecedores, maior autonomia e, principalmente, maiores lucros.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

No caso da produção de areia, a Associação Nacional das Entidades de Produtores de Agregados para Construção Civil (ANEPAC) estima que existam cerca de 2.000 empresas no país, sendo grande parte delas de pequeno porte (MME, 2009b). O mercado é formado por pequenas empresas que possuem, em média de 3 a 4 portos de areia, empregam poucos trabalhadores e baixa tecnologia. A cadeia de produção da areia é pouco verticalizada e extremamente pulverizada, havendo pouca integração entre extração, distribuição e consumo. Verifica-se nesse mercado, no entanto, empresas que em épocas de retração econômica cessam suas atividades e após a recuperação da economia, as retomam (FARINA ET AL, 1997). Esse comportamento é típico de empresas não formalizadas, ou seja, que exercem a mineração de forma clandestina. Em relação à produção que abastece a RMSP, no caso da brita, as pedreiras encontram-se em sua zona periférica, em municípios como Osasco e Barueri, a oeste; Cajamar, Caieiras e Guarulhos, a norte; Arujá e Santa Isabel, a nordeste; e Embu das Artes e Itapecerica da Serra, a sul, conforme Figura 2. Ainda conforme a mesma figura, verifica-se que as pedreiras encontram-se todas em zonas periféricas da RMSP. Já a areia que abastece a RMSP provém de três regiões: da própria RMSP, da região de Santos/ Registro e, principalmente, do Vale do Paraíba. O Vale do Ribeira também é importante produtor, porém a região não tem boa ligação6 com São Paulo, inviabilizando o comércio. Estima-se que o Vale do Paraíba seja responsável pelo fornecimento 60% da areia consumida na RMSP. Os principais municípios fornecedores são: São José dos Campos, Jacareí, Caçapava, Taubaté, Roseira, Lorena e Pindamonhangaba, que distam entre 6  A ligação entre Vale do Ribeira e RMSP ocorre pela Rodovia Régis Bittencourt, a qual não é totalmente duplicada, tem topografia acidentada e alto tráfego de veículos, ou seja, é uma ligação precária.

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Figura 2.

Pedreiras na RMSP. Fonte: Markus Rebmann, LMC-PCC.

80 a 200 km de São Paulo. Já a própria RMSP atende 38,5% de sua demanda através dos municípios de Itaquaquecetuba, Santa Isabel, Arujá, Jandira, Carapicuíba, Mauá, Mogi das Cruzes, Barueri, Guarulhos, entre outros. Na região de Registro os principais produtores são os municípios de Registro, Juquiá e Miracatu, sendo esses responsáveis por 1,5% da oferta (FARINA ET AL, 1997). Assim como no cenário nacional, o mercado de areia na RMSP é formado por diversos pequenos produtores, porém ressalta-se a existência de algumas empresas maiores: Itaquareia Indústria Extrativa de Minérios (Itaquaquecetuba), Mineração Paraíba do Sul (Taubaté), Pirâmide Extração e Comércio de Areia Ltda (Registro), e Viterbo Machado Luz (no distrito de Parelheiros, em São Paulo). Bem como os produtores, a maior parte das distribuidoras de areia são de pequeno porte, e não possuem depósitos na RMSP. Dessa forma, sua comercialização ocorre com grandes clientes: concreteiras e grandes empreendimentos. Apenas as distribuidoras que possuem depósito conseguem atender também ao consumidor varejista.


2.2.

DEMANDA

Tabela 1.

A construção de edificações, juntamente com o segmento de construções pesadas corresponde a parcela significativa da demanda por agregados. Segundo dados do DNPM, em 2005, 70% da produção de agregados foi destinada à mistura com cimento. A rocha britada é demandada majoritariamente para a construção civil (66%), mas também para a construção e manutenção de estradas, para pavimentação asfáltica e para artefatos de cimento, conforme se pode ver na Figura 3.

construção civil 4%

4%

construção/ manut.estrada

12%

14% 66%

artefatos de cimento outras

Figura 3.

Percentual de Consumo Setorial de Rocha Britada - 2007. Fonte: LA SERNA; REZENDE, 2009

Por sua vez, os principais consumidores de areia são as concreteiras (20%), seguidos pelas construtoras (15%), pré-fabricação (10%) e revendedoras (10%) que atendem a autoconstrução, conforme dados oficiais da ANEPAC, em Tabela 1. Ressalta-se ainda, no mercado de areia, a existência da areia artificial, gerada a partir dos finos no processo de britagem. Por ser proveniente de pedreiras, que tem uma distância média bem inferior às areias naturais, apesar de terem maior custo de produção em relação, tem tornado-as competitivas. Atualmente, representam 9% do mercado que abastece a RMSP7. 7  SINDIPEDRAS apud Revista M&T. Disponível em: http://www.revistamt.com.br/index.php?option=com_

Percentual de Consumo Setorial de Areia - 2009. Fonte: ANEPAC apud MME, 2009b

Segmento

Participação (%)

Concreteira

20

Construtora

15

Pré-fabricados

10

Revendedor

10

Usina de Asfalto

5

Argamassas

35

Outros

5

Em relação às demandas futuras por agregados, a Fundação João Pinheiro8 , estima que o déficit habitacional no Brasil era de 5,5 milhões de moradias em 2008; segundo Wisconsin School of Bussiness apud SECOVI (2011), o Brasil é também o segundo país que oferece a melhor remuneração de capital imobiliário; verificase expressivo número de lançamentos residenciais e comerciais na RMSP, já que em menos de uma década (2004-2011) a quantidade de imóveis residenciais lançados mais que dobrou e a quantidade de imóveis comerciais quadruplicou, conforme se pode ver na Figura 4. Corroborando para o cenário positivo da construção civil, há ainda iniciativas públicas como o Programa Minha Casa Minha Vida no âmbito habitacional e também o Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, voltado à infraestrutura. Ressalta-se que a produção de novas unidades habitacionais está relacionada com a necessidade de investimentos maciços em infraestrutura, nos casos de expansão urbana e em investimentos de manutenção, no caso de cenários urbanos consolidados. Observa-se ainda certa sazonalidade na demanda por infraestrutura, que aumenta em épocas eleitorais (KULAIF, 2001). conteudo&task=viewMateria&id=975; acesso em 25/11/2012. 8  Disponível em: http://www.fjp.gov.br/index.php/indicadores-sociais/deficit-habitacional-no-brasil; acesso em 01/12/2012.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

00

,5

11

,5

22

,533

,5

4

SC GO/ DF Mil unidades

62,1

28,2

70,8

63

65,3

53,5

PR RS RJ

33,7 34,7

MG BA SP ton/ habitante

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 201 1 em mil conjuntos

Figura 5.

Consumo per capita de agregados – Estados (2006); Fonte: IBRAM, 2007

7, 3 5,8

1,6

1,5

1,1

2,2

2,4

3,5

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 201 1

Figura 4. Lançamentos residenciais (acima) e comerciais (abaixo) – RMSP (2004 – 2011). Fonte: ANEPAC – DNPM apud SECOVI, 2011

Ano 2006

USA

EU

Brasil

Consumo 10 t

2.950

3.200

397

Per Capita (t)

10,0

7,8

2,2

6

Os dados acima expostos permitem que se suponha um cenário positivo para o setor da construção civil como um todo, o que demandará uma crescente necessidade de matérias primas, dentre elas os agregados como brita e areia.

informação pode ser evidenciada pelos consumos entre países da Tabela 2, que compara o Brasil em relação aos Estados Unidos e Europa, e pela Figura 5, que compara o consumo entre estados brasileiros.

Observa-se ainda que o consumo per capita de agregados varia conforme o nível de qualidade de vida do local9, e está relacionado a indicadores como o PIB per capita e o IDH. Essa relação é direta, ou seja, quanto mais alto o nível de desenvolvimento de um país/ estado, maior o seu consumo per capita de agregados. Essa

Dessa forma, uma conjuntura econômica positiva impacta o consumo de agregados duplamente: tanto pelo aquecimento do setor da construção civil, quanto pelo aumento do consumo per capita atrelado a indicadores de desenvolvimento.

9  IBRAM, 2007. Disponível em: http://www.ibram.org.br/sites/700/784/00000945.pdf; acesso em 25/11/2012.

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Tabela 2. Consumo per capita de agregados – países (2006). Fonte: Minerals Commodities Summaries; UNPG apud IBRAM, 2007


2.3.

CUSTO E PREÇO

Como dito anteriormente, o custo do agregado é composto de três fatores principais: custos de produção, arrendamento da terra e custo de transporte. O custo de produção é fixo, pois não há como diminuir significativamente o custo de operação das máquinas e produção do agregado, ao passo que os custos com arrendamento de terra e transporte variam com a localidade e estão, de certa forma, conectados. Se a jazida mineral estiver muito próxima da RMSP, o preço da terra pode aumentar substancialmente os custos totais, inviabilizando a atividade. Da mesma forma, se a mina estiver muito distante, arcará com alto custo de transporte, também aumentando seus custos totais e diminuindo a margem de ganho até o momento em que se torne inviável operar. Como resultado das restrições ambientais, leis de zoneamento municipal, e regras para licenciamento dessas atividades, ocorre um processo de descentralização das jazidas em relação aos centros consumidores. Como os agregados são um produto de baixo valor unitário e que se viabilizam pelos grandes volumes produzidos, essa descentralização impacta fortemente no custo de transporte, fazendo com que nem todas as reservas sejam financeiramente viáveis.

Para brita, o raciocínio da variação de preço é similar, porém não chega a valores tão discrepantes, já que as pedreiras encontram-se a menores distâncias da RMSP, em comparação com os portos de areia10. No caso das pequenas empresas de brita, o frete chega a representar 40% do preço final. No caso da areia, o custo com transporte é ainda mais impactante, respondendo por cerca de 2/3 do preço final do produto, conforme MME (2009b). Dessa forma, o transporte limita a abrangência de comercialização das jazidas aos centros consumidores mais próximos, e induz a localização das atividades mineradoras nas regiões limítrofes das grandes cidades, podendo ocasionar, com a expansão urbana, conflitos com a comunidade em seu entorno.

Verifica-se que, especificamente para areia, a variação entre o preço na origem e o preço final a que chega a São Paulo varia de 100% a 300%, dependendo da distância. Essa variação é exclusivamente devida aos custos com transporte (FARINA et al, 1997). Na areia comercializada no varejo, além do frete somam-se os custos com distribuição e armazenagem, de forma que a variação do preço na mina até o consumidor final chega a 500%. Estima-se que o custo de distribuição equivale a 50% do valor final, pois essa é a diferença de preço entre a areia no varejo e a distribuída para grandes consumidores (grandes obras) no caso de São Paulo. 10  Ver mapas com distâncias gerados no capítulo 6. Análise Urbana.

17


A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

3. AGREGADOS RECICLADOS

3.1.2. DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS

3.1.

Recentes esforços públicos foram feitos para que essa parcela de RCD reciclável seja de fato reciclada. Os principais são a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e a Resolução Conama 307/2002, que define os resíduos de construção e os classifica, incentiva sua redução e determina os locais corretos para sua disposição, ao qual a reciclagem é uma alternativa incentivada.

RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

3.1.1. DISPONIBILIDADE DE RESÍDUOS A real geração de RCD é dificilmente quantificada, no entanto pode-se estimá-la de diversas maneiras. Segundo PINTO (1999) a quantificação do RCD gerado pode ser realizada a partir de três bases de informação: • Estimativas de área construída, serviços executados e perdas efetivadas; • Movimentação de cargas por coletores; • Monitoramento de descargas nas áreas utilizadas como destino dos RCD De acordo com PINTO, GONZÁLEZ (2005); SOUZA et al (2004); e CARELI (2008), as edificações verticais produzem de 50 a 150 kg de resíduos de construção/m² construído. Em demolições, esses indicadores são bem superiores, chegando a 600 kg/ m², o que representa 60% em massa do RCD gerado (PINTO, GONZÁLEZ, 2005). Cada tipo de estimativa possui suas peculiaridades, erros e dificuldades, no entanto, para o Brasil, pode-se estimar a geração per capita em 230 a 760 kg/hab.ano, representando 61% da massa de resíduo urbano total (PINTO, GONZÁLEZ, 2005). Adotando-se uma mediana de 500 kg/hab.ano, estima-se que a RMSP gere aproximadamente 9 milhões de toneladas de RCD por ano11. Ainda, pelas características do RCD brasileiro, formado por 90% de frações minerais (ANGULO et al, 2003), pode-se afirmar que parcela considerável dele seja reciclável. 11  0,5 t/hab.ano x 18 milhões de habitantes.

18

Apesar de a reciclagem ser incentivada, ainda verifica-se uma situação de disposição ilegal de RCD bastante representativa, conforme PINTO, GONZÁLEZ (2005). Na cidade de São Paulo, cerca de 20% dos resíduos são dispostos em locais irregulares, como aterros clandestinos, terrenos particulares, passeios, vias, praças, gerando um custo de 45 milhões de reais por ano para coleta e destinação a aterros (SCHNEIDER, 2003). Estas atividades irregulares degradam o entorno e trazem grandes transtornos à população, podem contaminar o solo e o lençol freático, colaboram para enchentes, poluição de rios, escorregamentos de solo, entre outros (SCHNEIDER, 2003). As disposições irregulares podem ainda diminuir a capacidade de tráfego da infraestrutura viária e possibilitar a multiplicação de vetores epidêmicos. Além disso, geram um custo de “retrabalho” para a prefeitura, que recolhe esses resíduos dispostos incorretamente. Observa-se ainda que a disponibilidade de áreas para a disposição de RCD tem se tornado cada vez menor, sobretudo nos centros urbanos, obrigando a locação de novos aterros de inertes em áreas mais distantes. Desta forma, o dispêndio com transporte aumenta o custo total da disposição, incentivando o descarte irregular, que é mais barato para o gerador.


Assim, com uma cidade que gera cada vez mais resíduos e possui menor área livre para sua destinação, a problemática que envolve o RCD torna-se um desafio contemporâneo. Somados à ausência, até pouco tempo atrás, de uma política pública voltada para a gestão do RCD, à grande participação da construção informal na geração de resíduos e ainda com o grande número de empresas ilegais de coleta e destinação, as questões relacionadas ao RCD tornam-se ainda mais relevantes. Dado a relevância dos problemas atrelados ao RCD para a cidade, a reciclagem pode configurar-se como solução que diminui os impactos negativos do ciclo dos resíduos, além de promover sua destinação adequada, transformando-o novamente em produto.

3.2.

RECICLAGEM

A reciclagem é uma grande oportunidade de transformar um rejeito sem valor intrínseco novamente em matéria prima. No caso da reciclagem de RCD, a vantagem mais importante é a preservação dos recursos naturais, que prolonga a vida útil das reservas e reduz a destruição da paisagem, fauna e flora (JOHN, 2000). A reciclagem também reduz os volumes levados a aterros, aumentando sua vida útil, e é capaz de absorver parte da mão de obra não qualificada, parcela tão significativa no País. A iniciativa de reciclagem de RCD não é recente. Na década de 50, a reutilização de material de demolição já era aplicada na Europa para a reconstrução dos edifícios destruídos durante a segunda guerra mundial (JADOVSKI, 2005). Atualmente, a taxa de reciclagem média de RCD dos países integrantes da união Européia é de 53% com meta de chegar a 70% em 2020 (ULSEN, 2011). Em países desenvolvidos como Austrália e Japão, boa parte dos RCD são reciclados a uma taxa próxima à européia.

Países de grande crescimento, principalmente os asiáticos, enfrentam um problema real de incremento na geração de RCD e, consequentemente, com sua disposição. Nesses países, entretanto, apesar da alta geração de resíduos, verifica-se alto índice de reutilização. Em 2004, por exemplo, Hong Kong utilizou 88% dos resíduos da construção civil para recuperação de áreas degradas (ULSEN, 2011 apud POON, 2007). Dessa forma, observa-se que a reciclagem de RCD é favorecida quando há escassez de matérias-primas naturais ou a inviabilização econômica de sua extração, principalmente em países de área restrita como os europeus e o Japão. A reciclagem também se vê mais presente em países desenvolvidos. No caso do Brasil, essa ainda se encontra em um estágio inicial, tanto em relação ao processo de coleta de RCD quanto à reciclagem em si. Apenas pequena parcela de RCD potencialmente reciclável, é de fato é reaproveitada. Estima-se que o índice de reciclagem praticada seja inferior a 10%12. Apesar das dificuldades encontradas pelo setor, observam-se indícios de seu crescimento, como a criação da ABRECON (Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição) em 2011 e o crescimento de usinas implantadas no país, conforme Figura 6. Dados mais recentes revelam que na RMSP existem 23 usinas catalogadas, sendo quase sua totalidade operada pela iniciativa privada, conforme Tabela 3. Se o número de usinas paralisadas equivalia a dois terços do total (MIRANDA et al.,2008) em 2008, observa-se, ainda segundo Tabela 3, que atualmente o cenário vem se revertendo, sendo o número de usinas ativas bem maior que o de desativadas.

12  Gilberto Meirelles. Revista Contrução Mercado, 2012. Disponível em: http://revista.construcaomercado. com.br/guia/habitacao-financiamento-imobiliario/134/artigo266108-1.asp; acesso em 1 de dezembro de 2012.

19


A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

Tabela 3.

Ativas

Em implantação

Inativas

Região

Total de Usinas

Privada Pública Privada

Pública Privada Pública

Brasil

143

48

11

51

11

8

14

Sudeste 100

40

8

27

5

6

14

SP

71

36

5

17

5

5

3

RMSP

23

16

2

4

0

1

0

81%

19%

82%

18%

36%

64%

% Brasil

Figura 6.

Levantamento de usinas no Brasil e em São Paulo. Fonte: ABRECON, IPT (2012)

Usinas de reciclagem de RCD inauguradas entre 1991 e 2008. Fonte: MIRANDA et al, 2008

3.2.1. MERCADO DE AGREGADOS RECICLADOS Apesar do notável crescimento da reciclagem de RCD, o número de usinas inativas não deve ser desconsiderado, de forma que as dificuldades presentes em sua implantação e estabelecimento devem ser estudadas. Verifica-se, conforme MELO (2011), que as usinas enfrentam dificuldades desde o projeto. Pode-se observar que a grande maioria das unidades fechadas são públicas (14, do total de 22 no Brasil – ver Tabela 6) e sugerem problemas de concepção ou operação. Segundo MELO (2011), os principais problemas apresentados são: • Ausência de diretrizes de gestão municipal de resíduos da construção civil (GRCC); • Problemas ambientais; • Problemas políticos e descontinuidade de gestão (usinas públicas); • Falta de expertise, funcionários pouco capacitados e gestão ineficiente; • Falta ou demora de investimentos e obsolescência de equipamentos; • Problemas de rentabilidade e grandes custos de produção. 20

O mercado atual de agregados reciclados é basicamente composto por base para pavimentação viária de baixa capacidade de suporte, fundações e aterros, sendo esse uso o principal (ANGULO et al, 2002), areia para argamassas de baixa resistência (como por exemplo para contrapiso) e brita para concretos não estruturais. Recentemente iniciaram-se estudos para consumo para finalidades mais nobres deste tipo de agregado, no entanto ainda não há um mercado formado. O agregado reciclado ainda sofre resistência do mercado nacional para utilização, mesmo considerando que a atual capacidade técnica de produção de agregados atinja um padrão de qualidade compatível com suas finalidades (ULSEN, 2011). Não há também, uma produção em larga escala que substitua uma parcela significativa dos agregados naturais. Os principais consumidores de agregados reciclados são obras de grande porte e empreiteiras de médio a grande porte, principalmente pelo conhecimento técnico necessário. Obras de pequeno porte não viabilizam a mobilização de um local específico para um


material que não é utilizável em todas as partes da obra. Mesmo possuindo um preço menor que o agregado natural, o consumo é pequeno e, portanto não há uma grande vantagem financeira. O mercado nacional de reciclagem de RCD, mesmo que incipiente, possui certos nichos de atuação relevantes que se mostraram economicamente viáveis. Uma possibilidade para a viabilização da reciclagem é a utilização de equipamentos móveis comprados ou locados para uma obra ou demolição específica, na qual se pode minorar o custo de disposição de resíduos e ainda obter-se matéria prima reciclada. Conforme a pesquisa de SILVA et. al. (2006), foi analisada a utilização de uma usina móvel em um edifício comercial em São José dos Campos, obtendo-se o resultado de redução drástica do gasto com caçambas e com compra de areia para argamassa, assim viabilizando seu uso. É possível também a utilização de usinas fixas ou móveis para a produção de base para pavimentação provindo possivelmente da própria escavação para a obra ou de outras obras ou demolições próximas.

Apesar desse mercado ainda ser incipiente, estudos realizados13 apontam um elevado número de usinas em implantação, chegando este a ser maior que as usinas já instaladas. Ainda, conforme citado, verifica-se que os motivos de fechamento de algumas usinas não estão relacionados diretamente com dificuldades de viabilização financeira, e sim com a má gestão e operação inadequada. Dessa forma, o claro aumento no número de usinas sugere o interesse do setor empresarial e surgimento de compradores. Verifica-se uma oportunidade de mercado no crescente interesse da sociedade por empreendimentos com certificações de sustentabilidade. Certificações como AQUA e LEED exigem que os empreendimentos consumam determinada porcentagem de agregados reciclados. Tanto no AQUA, quanto no LEED, por exemplo, essa porcentagem é de 20% do total de agregados para edificações habitacionais (VANZOLINI, 2010 e JOHN, 2000).

Existem também usinas móveis que possuem equipamentos circulantes que britam o RCD produzido em grandes demolições ou obras, cobrando pelo serviço de reciclagem. Assim como usinas fixas que cobram no recebimento de material e vendem o agregado reciclado a um preço menor que o natural, para usos pouco nobres. Por fim, existe a possibilidade de utilização pelo setor público. Conforme MIRANDA et al (2008), a administração pública pode obter diversas vantagens, inclusive econômicas, ao utilizar o material reciclado em obras públicas. Entre as vantagens, pode citar-se a diminuição dos gastos públicos de limpeza, a redução de consumo de áreas de aterro e ainda, uma economia de cerca de 40% na compra, em comparação ao agregado natural. 13  ABRECEON; SINDUSCON-SP. Disponível em: http://www.sindusconsp.com.br/envios/2012/eventos/residuos/Abrecon_SidusconSistemaGestaoEletronica_.ppt. Acesso em 16 de outubro de 2012.

21


A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

3.2.2. TIPOS DE USINAS DE RECICLAGEM Existem basicamente dois tipos de usinas de reciclagem. As fixas e as móveis. Existem usinas de diversas capacidades, que realizam todo o processo de beneficiamento ou apenas etapas específicas. As usinas fixas são usualmente maiores do que as usinas móveis, possuem um estoque de matéria prima e produzem uma diversidade maior de produtos, já que existe a possibilidade de processos mais elaborados, com mais etapas e que exigem mais espaço. Apesar disto, as usinas fixas exigem um elevado investimento inicial, grande parte dele relativo ao elevado espaço físico para operação, usualmente próximo ao centro gerador de resíduos: a cidade. Um exemplo de usina fixa segue na Figura 7. As usinas móveis podem ser divididas em semi-fixas e as móveis em si. As semi-fixas são empregadas em empreendimentos de médio a longo prazo, que necessitam de uma produtividade relativamente grande e uma certa mobilidade, como barragens e centros de produção de lastro para pavimentação rodoviária ou ferroviária. As principais características são a facilidade de montagem e manutenção e logística mais simples pelo menor porte.

Figura 7. Usinas visitadas: fixa (à esqurda) e móvel (à direita). Fonte: Acervo próprio (fixa) e Recinert Ambientale (móvel)

22

As usinas móveis são, a princípio, de menor porte e menor produtividade, ideais para obras itinerantes e de curto prazo. Podem ser adquiridas, por exemplo, por construtoras de edifícios residenciais e, conforme a etapa da obra, podem ser alocadas para determinado fim. Não necessitam de obras civis para instalação e podem ser transportadas facilmente por meio de pneus. Possuem a logística de produção extremamente facilitada, pode ser posicionada em locais estratégicos, durante uma obra ou demolição. Além disso, como é alimentada manualmente é possível selecionar os materiais inseridos, melhorando a qualidade do produto reciclado. Um exemplo de usina móvel segue na Figura 7. As usinas são compostas basicamente por um local de triagem inicial, separação de finos e de metais, seguidos pela britagem e uma segunda triagem por peneiração. Conforme a sofisticação do nível tecnológico final, há um aumento no número de etapas e equipamentos. As operações unitárias são as seguintes: • Alimentador (esteira ou pá carregadeira); • Escalpe com grelha de separação de finos e solo do material a ser triturado; • Britador (pode haver mais de um conforme o refinamento da etapa); • Transportadores de correia (transporte de material beneficiado ou não); • Peneiras para classificação do material por tamanho. Os equipamentos também necessitam algum tipo de fornecimento de energia, alguns são elétricos outros são a diesel, ainda alguns necessitam de suprimento de água.


3.2.3. TIPOS DE AGREGADOS RECICLADOS Já em relação aos produtos feitos de RCD, é imensa a gama de materiais e qualidade possíveis. Os principais produtos são lastro e base para pavimentação, tubos, argamassa para contrapiso e assentamento, concretos estruturais ou não, blocos de concreto para alvenaria, meio fio e pisos intertravados. Caso a exigência mecânica requerida e regularidade do RCD sejam baixas, é possível um processo mais rápido e simples. Obviamente o investimento inicial em maquinário, mão de obra e controle de qualidade varia conforme o grau de sofisticação do processo. De forma geral os agregados reciclados possuem grande variação de propriedades devido à variabilidade da composição do resíduo. Ele pode ser pré-selecionado em obra ou em um centro de triagem, ou reciclado como uma composição de materiais. Alguns aspectos da produção do agregado reciclado são muito relevantes na determinação de sua qualidade. Há diversos estudos na área, como de ANGULO (2005), JADOVSKI (2005) e ULSEN (2011) que analisam os fatores que influenciam a qualidade do produto final de um agregado para a sua função. Segue, na Tabela 4, síntese das propriedades do agregado reciclado em comparação ao natural.

Tabela 4.

Comparação das propriedades dos agregados reciclados com agregados naturais.

Propriedade

Comparação com agregado natural

Causa

Consequência

Absorção de água.

Maior

Porosidade

Maior consumo de água e cimento. Redução de resistência mecânica e durabilidade.

Teor de finos. Maior

Natureza do RCD e processo de britagem

Idem.

Forma e textura de partículas.

Pasta de cimento Influenciam predominanaderida e processo de temente as propriedades britagem. do concreto no estado fresco (trabalhabilidade, quantidade da água de amassamento, entre outras).

Mais irregulares e rugosas.

Desgaste por Maior abrasão.

Pasta de cimento aderida e cerâmica vermelha é mais friável.

Agregados de menor resistência mecânica.

Piores serão as propriedades físicas e mecânicas do produto final quanto mais baixa for a resistência do concreto, ou quanto maior a quantidade de pasta de cimento aderida no agregado original (ANGULO, 2000). Comparados ao agregado natural, observa-se uma maior absorção de água, além da menor resistência dos grãos que torna a substituição em determinadas aplicações mais difícil, de menor desempenhou e/ou com maior custo final (mesmo com a matéria prima mais barata). 23


A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

4. IMPACTOS AMBIENTAIS 4.1.

CONCEITUAÇÃO

A atividade humana altera benéfica ou adversamente as condições originais de um ambiente. Na condição original, dado sistema apresenta certa qualidade ambiental14, que após intervenção humana se altera. Essa diferença entre a qualidade final e a original pode ser entendida como impacto ambiental. Os impactos são, portanto, a conseqüência das ações humanas que afetam o meio ambiente. Ao se tratar de impactos ambientais ou meio ambiente é importante notar que esses conceitos abrangem tanto os meios físico, biótico e antrópico. O meio físico compreende os recursos naturais como solo, relevo, água e ar. O meio biótico compreende fauna, flora e ecossistemas. Por sua vez, o meio antrópico compreende as atividades humanas como economia, sociedade e cultura (SÁNCHEZ, 2006).

Figura 8.

Representação do conceito de impacto ambiental. Fonte: SÁNCHEZ (2006)

14  Qualidade ambiental pode ser entendida como uma medida (percepção) da condição de um ambiente. Essa percepção é relativa aos requisitos de espécies da fauna, flora e das necessidades humanas. (JOHNSON et al ,1997, apud SÁNCHEZ, 2006, p.27).

24

Outro conceito importante na tratativa dos impactos são os aspectos ambientais. As ações humanas geram produtos que interagem com o meio, alterando-o. Essas ações são chamadas aspectos ambientais, que causam os impactos. Por exemplo, a supressão vegetal é um aspecto ambiental, que pode ter como consequência diversos impactos, como perda da biodiversidade, aumento dos processos erosivos do solo, fuga de fauna, entre outros. Portanto, cada atividade humana acarreta uma gama de aspectos e impactos. Para compreender seu desempenho ambiental, é necessário estabelecer uma priorização, ou seja, a identificação dos impactos mais significativos em cada caso. Essa priorização é difícil, pois uma avaliação de importância não depende somente de um trabalho técnico, como também de um juízo de valor, que é subjetivo (SÁNCHEZ, 2006). Assim, é complexo avaliar, por exemplo, se uma atividade que gera perda de qualidade do ar é mais adversa que outra que gera aumento de erosão ou outra que altere o modo de vida de comunidades indígenas.


4.1.1. AVALIAÇÃO DE IMPACTOS Apesar da subjetividade inerente ao processo de avaliação de impactos, existem critérios e metodologias para tal. As metodologias consistem basicamente em eleger critérios de importância e atribuir-lhes pesos segundo os quais os impactos serão avaliados. A dificuldade e subjetividade do processo estão na definição dos critérios. Por exemplo, BEANLANDS (1993) apud SÁNCHEZ (2006) elege o viés social como maior parte de seus critérios, ao passo que ERICKSON (1994) apud SÁNCHEZ (2006) prioriza características como magnitude do impacto e probabilidade de ocorrência. A Resolução Conama 1/86, por sua vez, apresenta semelhanças com os critérios de Erickson, elencando também se o impacto é positivo ou negativo. Para propiciar a discussão dos impactos gerados pelas atividades de mineração e reciclagem, deve-se avaliá-los, portanto, segundo sua importância. Para tal, utilizou-se critérios da Resolução Conama 1/86, complementados por ERICKSON (1994) apud SÁNCHEZ (2006). Segue, conforme Tabela 5, lista de critérios adotados com a respectiva ponderação de importância para cada critério. O peso relativo de cada critério é definido, como dito anteriormente, segundo o juízo de valor do elaborador. Neste caso, atribuiu-se mais peso aos critérios de magnitude, reversibilidade e severidade dos impactos, por considerar estes mais relevantes que os outros.

Tabela 5. Critérios adotados para avaliação de impactos, com a respectiva ponderação de importância. Fonte: Elaboração da autora com base em SÁNCHEZ (2006).

Expressão Probabilidade de ocorrência

Duração

Magnitude

Reversibilidade

Severidade

Peso relativo

Nível

Descrição

-

-

Negativos

+

Positivos

1

Probabilidade muito baixa

2

Probabilidade baixa

3

Probabilidade média

4

Probabilidade alta

5

Probabilidade muito alta

1

Somente durante um curto período

2

Durante parte da vida útil do empreendimento

3

Durante toda a vida útil do empreendimento

4

Permanente

1

Efeitos pontuais

2

Efeitos locais

3

Efeitos regionais

4

Efeitos globais

1

Facilmente reversível

2

Moderadamente reversível

3

Dificilmente reversível

4

Reversibilidade muito difícil

5

Irreversível

1

Impacto irrelevante

2

Impacto leve

3

Impacto moderado

4

Impacto severo

5

Extremamente severo

2

2

4

4

4

25


A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

4.2.

IMPACTOS DA MINERAÇÃO

Operação - Rocha Remoção de vegetação

Um fator relevante sobre os impactos ambientais decorrentes da mineração refere-se a seu caráter dinâmico (SÁNCHEZ, 1990 apud SÃO PAULO, 1993), pois essas atividades são compostas por planejamento, implantação, operação e desativação, o que resulta em impactos específicos em cada fase. Como o período de operação é longo, podendo ser superior a 50 anos15, os impactos podem se alterar conforme variação das características físico-químicas do material extraído, mudanças tecnológicas ou econômicas ocorridos, etc. (SÃO PAULO, 1993). Mapearam-se, com base em SÁNCHEZ (2006) as principais atividades que ocorrem nas minerações de brita e areia (cava seca e dragagem) na RMSP. A lista se encontra na Tabela 6:

Decapeamento e terraplenagem Abertura de vias Drenagem da mina e áreas operacionais Perfuração e desmonte de rocha Carregamento e transporte (interno) Disposição de estéreis e rejeitos Umidificação das vias internas Revegetação e recuperação de áreas degradadas Britagem Transporte (externo) Manutenção de equipamentos Operação - Areia (Cava seca e Dragagem) Remoção de vegetação Decapeamento e terraplenagem Drenagem da mina e áreas operacionais

Tabela 6. Principais atividades (geradoras de impactos) na mineração de areia e brita. Fonte: Baseado em SÁNCHEZ (2006). Elaboração da autora.

Desmonte hidráulico Dragagem Secagem

Mineração - Principais Atividades: Implantação Aquisição de terras Contratação de mão de obra Construção/ melhoria das vias de acesso Implantação do canteiro de obras

Disposição de estéreis e rejeitos Umidificação das vias internas Revegetação e recuperação de áreas degradadas Transporte (externo) Manutenção de equipamentos

Remoção de vegetação

Desativação

Decapeamento e terraplenagem

Retaludamento e implantação de sistema de drenagem

Estocagem de solo vegetal

Preenchimento de escavações

Preparação dos locais de disposição de estéreis e rejeitos

Revegetação e recuperação de áreas degradadas

Construção e montagem das instalações de manuseio e beneficiamento

Desmontagem das instalações

Construção das instalações de apoio

Dispensa da mão de obra

15  Conforme estudos de caso.

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Carregamento e transporte (interno)


Consideram-se como atividades mais relevantes em termos de geração de impactos as que acontecem com maior frequência em empreendimentos de mineração de rocha e areia. São elas, a saber, as atividades principais da fase de Operação: desmonte, carregamento, transporte interno, manutenção e o transporte externo (para rocha e areia), perfuração e britagem (apenas para rocha) e dragagem (para areia).

Os principais impactos ambientais gerados pelas atividades acima descritas foram identificados com base em SÁNCHEZ (2006) e avaliados segundo os critérios apresentados na Tabela 5, conforme Tabela 7 (Rocha) e Tabela 8 (Areia):

Tabela 7. Principais Impactos Ambientais da Mineração de Rocha. Fonte: Baseado em SÁNCHEZ (2006). Elaboração da autora.

Tabela 8. Principais Impactos Ambientais da Mineração de Areia. Fonte: Baseado em SÁNCHEZ (2006). Elaboração da autora.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

4.2.1. PRINCIPAIS IMPACTOS Alteração das Condições Climáticas: Dentre os impactos gerados por ambos os tipos de mineração, cita-se como um dos mais relevantes a alteração das condições climáticas, devida ao alto consumo energético e de diesel que ocorre na mineração. Tanto a energia elétrica quanto a queima de diesel geram gases do efeito estufa (GEE), responsáveis por alterações das condições climáticas (GORE, 2006). Entre as atividades emissoras de GEE na mineração, cita-se o funcionamento de equipamentos como britadores e escavadeiras, porém as emissões mais significativas devem-se ao transporte.

Figura 9. Jardim Pantanal após período de chuvas intensas, São Paulo, 2011. As alterações das condições climáticas, causadas por atividades humanas, gera aumento da intensidade pluviométrica em alguns lugares, e da estiagem em outros. Foto: André Lessa/ AE *

28

Exemplos de alterações das condições climáticas que vêm ocorrendo ao redor do mundo são o aquecimento global e seus efeitos decorrentes: derretimento de geleiras, aumento do número de furacões, a alteração da intensidade das precipitações, etc (GORE, 2006).

Figura 10. Poluição do ar na cidade de São Paulo, 2011. A queima de diesel gerada nas atividades de mineração colaboram para a emissão de poluentes particulados, além dos gases de efeito estufa. Foto: Tiago Queiroz/AE. *


Sobrecarga da infraestrutura viária: O transporte, principal atividade contribuinte para a alteração das condições climáticas, gera também impactos significativos no meio urbano como a sobrecarga da infraestrutura viária. O transporte de areia e brita movimenta tal fluxo que, a título de curiosidade, estima-se que sejam transportados diariamente, cerca de 140.000 toneladas de agregados na RMSP16. Dado que o transporte é majoritariamente rodoviário, isso equivale a 22.000 caminhões por dia em circulação para atender o mercado de agregados. Estima-se ainda que a distância total percorrida em todas essas viagens chegue a 272.700 quilômetros por dia (o equivalente a sete voltas no eixo da Terra) e o consumo de diesel em 40 milhões de litros por ano17. Especificamente sobre a areia, o principal fluxo que abastece a RMSP tem origem no Vale do Paraíba e estima-se que as distâncias percorridas nesse caso variem entre 80 a 200 km (FARINA et al, 1997). Todo esse fluxo de caminhões adentra a cidade por rodovias como Anhanguera/ Bandeirantes e Presidente Dutra e se utilizam das vias coletoras marginais dos rios Tietê e Pinheiros. Se utilizando dessas vias coletoras, sobrecarregam a infraestrutura viária, que é compartilhada com outros fluxos, colaborando com congestionamentos, diminuição da mobilidade urbana e aumento da poluição, visto que veículos queimam mais combustível nessas situações.

Figura 11. Congestionamento na Marginal Pinheiros, importante via coletora da RMSP. Os caminhões utilizados para o transporte de agregados contribuem para a sobrecarga da infraestrutura viária, que culmina em congestionamentos. Fonte: Nilton Fukuda. *

Figura 12. Marginal Tietê em dia chuvoso, 2011. Além de já andar frequentemente sobrecarregada, a Marginal apresenta piora na qualidade do fluxo com a ocorrência de outros fatores, como alagamentos. Foto: André Lessa/AE *

Figura 13. Sobrecarga da infraestrutura viária: Marginal Tietê sendo ocupada basicamente por veículos de carga. Foto: Sérgio Neves/AE *

16  ANEPAC; Revista Areia & Brita. Nº 52. 17  ANEPAC; Revista Areia & Brita. Nº 52.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

Impactos com a população: Um dos impactos mais importantes gerados pela extração de brita e areia está relacionado à rigidez locacional típica das atividades de mineração, que ocorrem somente onde há condições geológicas favoráveis. Dessa forma, a extração mineral nem sempre ocorre em locais considerados satisfatórios do ponto de vista ambiental. Especificamente na RMSP, grande parte das minas encontram-se em áreas comprometidas pela urbanização (SÃO PAULO, 1993), potencializando impactos específicos sobre o meio antrópico, em especial para a população residente em seu entorno imediato. Os impactos gerados pela mineração, especialmente pela brita, causam tamanho conflito com população que, em 1990, surgiu o “movimento para fechamento das pedreiras”, formado por diversos bairros da região norte do município de São Paulo (SÃO PAULO, 1993), onde há grande concentração de pedreiras. Em 1999, também por pressão popular, foram encerradas as atividades da Pedreira Itaquera (onde se localizará a Arena Corinthians popularmente conhecida por Itaquerão), antes mesmo do esgotamento da mina18.

Figura 14. Vista da COHAB Itaquera, a partir da cava da antiga pedreira Itaquera. Sem data. Fonte: Pedreira Itaquera *

18  http://www.pedreiraitaquera.com.br. Acesso em março de 2013.

30

Dentre os impactos antrópicos, o que gera maior rejeição popular é o desconforto ambiental causado pelas detonações. Estas são responsáveis pela geração de vibração e pressão sonora, que causam trincas, rachaduras e até queda de paredes das construções localizadas no entorno imediato (SÃO PAULO, 1993). Soma-se a isso o desconforto humano em si, de difícil avaliação objetiva. O desconforto também é causado pela geração de material particulado, que além de afetar a qualidade do ar e poder gerar problemas de saúde como alergias ou problemas respiratórios na população residente nas proximidades, empoeira os lares do entorno. Ressalta-se ainda que os impactos gerados causam desvalorização imobiliária e criam oposição não apenas por parte da comunidade residente no entorno, mas também por parte dos passantes (MME, 2009a). Nas Figura 14 e Figura 15 observa-se a proximidade entre habitação e a pedreira Itaquera, que geraram os conflitos que culminaram no seu encerramento precoce:

Figura 15. Vista aérea do bairro de Itaquera: a pedreira e as habitações no entorno. 2000. Fonte: DE BAPTISTI; HACHEN (2000).


Interferências em Áreas de Preservação Permanente: Outra questão relevante sobre os impactos gerados pela mineração é que essas áreas frequentemente estão localizadas em Áreas de Preservação Permanente (APPs) ou Áreas de Proteção de Mananciais (APMs). Na região norte do município, onde se localizam a maior parte das pedreiras (SÃO PAULO, 1993), verifica-se a proximidade com a Serra da Cantareira, uma das maiores florestas urbanas do mundo19 e responsável pelo fornecimento de água de água potável para 55% da RMSP20. Já em pontos de extração de areia, como a região sul do município e Vale do Paraíba, ocorre interferência tanto com as represas Billings e Guarapiranga − principais mananciais da RMSP, quanto com o próprio Rio Paraíba, área de preservação. A Resolução Conama 369/2006, dispõe em seu artigo nº 2 que a vegetação de APPs pode ser suprimida no caso da extração de areia e de brita, por estas serem consideradas de interesse social e de utilidade pública, respectivamente. Essa supressão pode ocorrer, no entanto, apenas com autorização do DNPM.

Figura 17. Pedreira na Serra da Cantareira. Mairiporã, 2008.Fonte: QUAPÁ.

Figura 16. Extração de areia próxima ao rio Tietê, 2011.Fonte: NILTON FUKUDA/AE * 19  http://www.saopaulo.sp.gov.br/conhecasp/turismo_parques_estadual-cantareira. Acesso em maio de 2013. 20  http://site.sabesp.com.br/site/imprensa/noticias-detalhe.aspx?secaoId=66&id=3752. Acesso em maio de 2013.

31


A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

Entre os impactos relacionados às áreas de proteção e preservação, observam-se sérias interferências no meio físico como escorregamentos de taludes e encostas, modificação do regime das águas subterrâneas, aumento da erosão, etc (SÃO PAULO, 1993) além de diversas interferências no meio biótico (MME, 2009a). Soma-se a isso o fato de que a mineração, ao exercer suas atividades em áreas de proteção e preservação, acaba por gerar enorme impacto visual negativo, com grandes áreas desmatadas, como se observa pelas Figura 16 eFigura 17. Além disso, durante o século XX observou-se a clandestinidade quase total da mineração (SÃO PAULO, 1993), que operava sem controle, potencializando assim os impactos decorrentes de sua atividade. Vale ressaltar ainda que a mineração contribui para o esgotamento de matérias primas não renováveis, como é o caso dos minerais.

Figura 18. Aterro CTVA Essencis Itaberaba (antiga pedreira Itaberaba), Freguesia do Ó – São Paulo. Foto: Cecília Machado *

32

Áreas Degradadas Conforme legislação ambiental vigente (Decreto Federal nº 97.632/89), após o encerramento das atividades de extração mineral, faz-se necessário um Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD). O PRAD, em teoria, deveria restabelecer a qualidade ambiental existente antes da degradação, o que significa a recuperação da área tanto em termos físico e biótico, quanto antrópico, ou seja, nas questões que afetam a sociedade. Em termos práticos, COSTA; BORGES (2009) e BITAR (1997) questionam a validade da chamada “recuperação” ambiental, que por vezes resulta em atividades que não permitem a recuperação dos atributos naturais presentes antes da mineração. Em São Paulo, por exemplo, observam-se áreas de mineração “recuperadas” que resultaram em aterros de inertes sem maior finalidade, como o Aterro CTVA Essencis na Freguesia do Ó (Figura 18), o CTR em Grajaú (Figura 19) e o exaurido Aterro Itaquera, que por mais de 10 anos não recebeu outra utilização.

Figura 19. Aterro CTR , Grajaú. Fonte: Foz do Brasil *


No contexto da mineração em São Paulo, observa-se ainda que até o final do século passado, a maior parte das minerações do município trabalhava de forma ilegal e em diversos casos a recuperação de áreas degradadas não foi realizada. Os principais exemplos referem-se a áreas de extração de areia na região sul − APMs, e na região leste, nos quais as áreas foram ocupadas por moradias, sobretudo favelas (SÃO PAULO, 1993). Vale ressaltar, no entanto, que também há exemplos positivos de PRAD, que se configuraram como ganho para a cidade: é o caso dos Parques Ecológico do Tietê e do Ibirapuera, e da Raia Olímpica da USP, todos antigos portos de areia, conforme Figura 20 a Figura 23.

Figura 22. Raia Olímpica da USP. Fonte: Skycrapercity *

Figura 20. Parque Ecológico do Tietê, 2004. Fonte: QUAPÁ

Figura 21. IDEM.

Figura 23. Parque do ibirapuera. Fonte: Parque do Ibirapuera*

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

4.3.

IMPACTOS DA RECICLAGEM

A comparação entre os impactos ambientais gerados pela mineração e pela reciclagem de RCD já parte de um ponto significativo: segundo a Resolução Conama 1/86, Art. 2º, a primeira necessita de estudo e relatório de impactos ambientais, ao passo que a segunda não. Provavelmente por causa disso e pelo fato da reciclagem ser um tema relativamente novo, não foram encontradas referências diretas sobre os impactos dessa atividade. Existem pesquisas apenas sobre os impactos adversos causados pelos resíduos, de forma que a reciclagem configura-se como forma de atenuação desse tipo de problema. Como os agregados reciclados podem substituir os naturais em parte das aplicações, a reciclagem favorece a menor utilização desses recursos, atenuando também os impactos da mineração. Buscou-se neste trabalho, além de compilar os impactos benéficos que a reciclagem traz na atenuação dos impactos dos resíduos e da mineração, levantar outros gerados pela atividade em si, que não deixa de ser um processo industrial, só que de menor porte.

34

4.3.1. IMPACTOS DIRETOS Os empreendimentos de reciclagem de RCD são compostos pelas fases de planejamento, implantação e operação. Diferentemente da extração mineral, não existe a fase de desativação, pois a matéria prima não se esgota, bem como não há degradação da área, o que desobriga qualquer processo de recuperação das áreas utilizadas para reciclagem de RCD. Os impactos ambientais mais relevantes ocorrem, portanto, durante sua operação. Com base nos estudos de caso e em SÁNCHEZ (2006), identificaram-se as principais atividades que ocorrem durante o ciclo de vida de empreendimentos de reciclagem fixa e móvel. Especificamente para o caso das usinas móveis, a fase de implantação é mais simples, pois não necessitam de plantas industriais, como as usinas fixas, mas apenas de um canteiro com área para estocagem de material. Na fase de operação, no entanto, existe a diferença de que as usinas móveis necessitam ser transportadas para cada obra/ demolição. As listas das atividades presentes nas usinas se encontram na Tabela 9 – Atividades de uma usina fixa e na Tabela 10 – Atividades de uma usina móvel.


Tabela 9.

Principais atividades (geradoras de impacto) em uma usina fixa. Fonte: Elaboração da autora.

Tabela 10. Principais atividades (geradoras de impacto) em uma usina móvel. Fonte: Elaboração da autora.

Usina Fixa - Principais Atividades:

Usina Móvel - Principais Atividades:

Implantação

Implantação

Aquisição de terras

Contratação de mão de obra

Contratação de mão de obra

Implantação do escritório e depósito

Implantação do canteiro de obras

Operação

Construção e montagem das instalações de manuseio e beneficiamento

Transporte do equipamento

Construção das instalações de apoio

Britagem

Operação

Carregamento e transporte (interno)

Britagem

Disposição de estéreis e rejeitos

Carregamento e transporte (interno)

Umidificação das vias internas

Disposição de estéreis e rejeitos

Transporte de produto

Umidificação das vias internas

Transporte do equipamento

Transporte (externo)

Manutenção de equipamentos

Manutenção de equipamentos

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

Como não se encontrou bibliografia sobre os impactos ambientais gerados diretamente pela reciclagem, realizou-se uma identificação desses impactos com base nas pesquisas e estudos de caso realizados. SANCHÉZ (2006) relaciona atividades de mineração com seus respectivos impactos ambientais. Dado que quase a totalidade das atividades de reciclagem são também inerentes à mineração (britagem, manutenção de equipamentos, etc), os impactos puderam ser replicados. Através dos estudos de caso (entrevistas e visitas), foi possível ponderar esses impactos a fim de averiguar os que de fato eram mais relevantes. Assim, os impactos identificados foram avaliados segundo os critérios apresentados na Tabela X1, calibrados pelas observações dos estudos de caso. O resultado segue na Tabela 11(Usina Fixa) e na Tabela 12 (Usina Móvel):

Tabela 11. Principais Impactos Ambientais Diretos de Usinas Fixas. Fonte: Elaboração da autora.

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Em linhas gerais, observa-se que os impactos causados pela reciclagem por usina fixa e por usina móvel são os mesmos, variando apenas sua escala, já que a móvel é de porte menor que a fixa. Considerou-se a inexistência de impactos significativos ao meio biótico, pois esse tipo de atividade tem a vantagem de poder instalar-se no meio urbano, diferente da mineração, que ocorrem em APPs, por exemplo. Os impactos mais relevantes da reciclagem foram a alteração das condições climáticas e sobrecarga da infraestrutura de serviços, ambas atreladas ao transporte, bem como na mineração. O transporte também é a principal atividade em termos de geração de impactos, pois as viagens feitas e as distâncias percorridas são significativas. Na reciclagem móvel existe a particularidade do

Tabela 12. Principais Impactos Ambientais Diretos de Usinas Móveis. Fonte: Elaboração da autora.


transporte do britador por equipamentos especiais, que pode causar prejuízo na qualidade de tráfego e das infraestruturas viárias. Por outro lado, neste tipo de usina, supõe-se que as distâncias de transporte são menores, quando não nulas (agregado reutilizado na própria obra). Outro impacto significativo da reciclagem, apesar de não óbvio, é a contribuição para o esgotamento de recursos naturais devido ao alto consumo de água no processo. A água é utilizada para umidificação das áreas internas à usina, a fim de prevenir o levantamento de poeira decorrente do processo de britagem. Esse procedimento também é utilizado na mineração que, portanto, apresenta o mesmo impacto. Apesar da existência de alguns impactos comuns à mineração e à reciclagem, variando apenas a escala, pode se observar diferença na quantidade de impactos benéficos, que é maior no caso da reciclagem. Entre os impactos benéficos diretamente relacionados com a reciclagem, cita-se a substituição de atividades econômicas, que consiste em inserir no mercado um substituto a uma matériaprima não renovável e com menor preço. Ressalta-se também a qualificação da mão de obra, principalmente no caso de usinas móveis, já que estas são equipamentos mais refinados, que exigem operadores treinados. Os impactos mais notáveis da reciclagem, no entanto, são aqueles causados indiretamente pela diminuição da extração mineral e da correta destinação dos RCD, conforme item 4.3.2, a seguir.

4.3.2. IMPACTOS INDIRETOS Como dito, pela reciclagem apresentar relação com a mineração e com a gestão de RCD, seu exercício gera, indiretamente, impactos benéficos relevantes, relacionados à correta destinação de RCD e à diminuição da exploração de recursos naturais. Os impactos relacionados aos RCD foram identificados com base em PINTO (1999) e PINTO;GONZALÉZ (2005), SCHNEIDER (2003) e os relacionados à mineração, com base em SÁNCHEZ (2006). Após identificação, os impactos foram avaliados segundo os critérios apresentados na Tabela 5. Os impactos, bem como sua avaliação, seguem na Tabela 13: Tabela 13. Principais Impactos Ambientais Indiretos da Reciclagem de RCD. Fonte: Elaboração da autora.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

Assim, os impactos indiretos identificados são, basicamente, a diminuição dos efeitos adversos gerados pela mineração e pela disposição irregular de RCD. Entre os impactos próprios da mineração que a reciclagem atenua, cita-se a extração de recursos não-renováveis e a necessidade de exploração em APPs. Tanto nas atividades de mineração, quanto nas de construção e demolição, um dos impactos significativos é a utilização de área de solo, já que todas essas atividades geram resíduos, que devem ser encaminhados para aterros de inertes. A reciclagem, além de diminuir a necessidade de extração mineral (e dos resíduos gerados em seu processo), utiliza como matéria-prima aquilo que iria para aterros. Assim, a reciclagem diminui a demanda por aterros, tanto diminuindo a utilização de área de solo, quanto aumentando a vida útil dessas estruturas.

Figura 24. “Bota-fora” de RCD em Guarulhos, 2008.Fonte: QUAPÁ.

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Em relação aos resíduos, observa-se que RCD brasileiros, sozinhos, não caracterizam grandes riscos ambientais devido sua composição, que é similar a dos agregados naturais e do solo (SCHNEIDER, 2003). No entanto, se dispostos de forma irregular, como nas ruas, os RCD causam impactos como o comprometimento do tráfego de pedestres e veículos, e da drenagem urbana, ao entupir bueiros, por exemplo. Além disso, o descarte desordenado causa comprometimento da paisagem , que pode configurar uma ameaça à saúde psicológica dos cidadãos (SCHNEIDER, 2003). Outro impacto, dos mais relevantes, é que os pontos de descarte irregular funcionam como ambiente multiplicador de vetores patogênicos e doenças (PINTO, 2001), como a leptospirose, transmitida por roedores. Observa-se na Figura 24 e na Figura 25 um ‘bota-fora” irregular de RCD em Guarulhos, que evidencia os impactos adversos que a disposição irregular pode causar.

Figura 25. Detalhe do“Bota-fora” de RCD em Guarulhos, 2008.Fonte: QUAPÁ.


Ainda, se a disposição irregular ocorre por ser mais barata que a destinação correta, entende-se que a reciclagem pode ser mais atrativa que outras alternativas, já que é a única forma de obterse dinheiro com RCD. Assim, reciclar apresenta grande potencial de diminuição dos impactos gerados pela disposição irregular, ao desestimulá-la. Relembrando-se, claro, que a reciclagem é, segundo Resolução Conama 307/2002, uma forma correta de destinação de resíduos. Em linhas gerais, observa-se que apesar dos impactos adversos causados diretamente pela atividade de reciclagem, ela propicia uma série de reduções de outros impactos ainda mais adversos e que ocorrem em maior escala, como os da mineração e os da gestão de RCD.

*: Fontes completas das imagens utilizadas neste capítulo: Figura 9: André Lessa/AE. Disponível em: http://blogs.estadao.com.br/olhar-sobre-omundo/files/2011/01/0251.jpg.Acesso em abril de 2013. Figura 10: Tiago Queiroz/AE. Disponível em: http://blogs.estadao.com.br/olhar-sobre-omundo/files/2010/08/A014.jpg. Acesso em abril de 2013. Figura 11: Nilton Fukuda. Disponível em: http://blogs.estadao.com.br/olhar-sobre-omundo/sao-paulo-dos-contrastes/?doing_wp_cron=1365870891.73077201843261718 75000. Acesso em abril de 2013. Figura 12: André Lessa/AE. Disponível em: http://blogs.estadao.com.br/olhar-sobre-omundo/files/2011/01/0013.jpg. Acesso em abril de 2013. Figura 13: Sérgio Neves/AE. Disponível em: http://blogs.estadao.com.br/olhar-sobre-omundo/files/2011/01/041.jpg. Acesso em abril de 2013. Figura 14: Pedreira Itaquera. Disponível em: http://www.pedreiraitaquera.com.br. Acesso em março de 2013. Figura 16: NILTON FUKUDA/AE. http://blogs.estadao.com.br/olhar-sobre-o-mundo/files/2011/09/as014.jpg. Acesso em abril de 2013. Figura 18: Cecília Machado. Disponível em: http://arquiteturanafavela.blogspot.com.br/. Acesso em abril de 2013. Figura 19:Foz do Brasil. Disponível em: http://www.fozdobrasil.com.br/fozwp/wp-content/ uploads/2012/03/01-CTR.jpg. Acesso em abril de 2013. Figura 22: Skycrapercity. Disponível em: http://www.skyscrapercity.com/showthread. php?t=319219. Acesso em abril de 2013. Figura 23: Parque do Ibirapuera. Disponível em: http://www.parquedoibirapuera.com/ sobre-o-parque/galeria-de-fotos/. Acesso em março de 2013. Figura 26: Hélvio Romero/AE. Disponível em: http://blogs.estadao.com.br/olhar-sobre-omundo. Acesso em abril de 2013.

Figura 26. Demolição do Edifício São Vito, em São Paulo, 2011. O RCD aí gerado foi reciclado por uma das empresas entrevistadas. Fonte: Hélvio Romero/AE.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

5. ESTUDOS DE CASO21

Figura 27. Localização das empresas estudadas. Em laranja, as pedreiras, em verde, as usinas fixas. Imagem: Google Earth, 2013.

5.1.

PEDREIRAS22

5.1.1. SERVENG BARUERI • • • • •

Nome: Pedreira Serveng Barueri Endereço: Estrada da Pedreira, s/n – Barueri - SP Site: http://www.serveng.com.br/negocios/mineracao Data da visita: 05/09/2012 Contato: Blás B. Cabrera – Diretor de Mineração

na área é que deu nome ao logradouro, fato observado também nas imediações de outras pedreiras. Neste caso, existem mais duas extrações de rocha além da visitada ao longo da estrada. O uso do solo na região é industrial, com exceção das áreas já pertencentes às mineradoras. Pela Figura 28, verifica-se a existência apenas de pedreiras e vegetação. No caso da Serveng, sua gleba é composta por cinco “sítios” (áreas já licenciadas para extração), sendo que a exploração mineral vem ocorrendo em apenas um deles, enquanto os outros quatro permanecem como reserva, ou seja, com cobertura vegetal. Apesar de não terem sido contatadas as mineradoras do entorno, por conhecimento desse modelo de negócio, que pressupõe reserva mineral por muitas décadas, supõese que as outras áreas de vegetação observadas também já estejam licenciadas para extração. Em relação ao tempo de operação da mina, a unidade Barueri teve início em 1970, há 43 anos, e até os dias de hoje explorou cerca de metade do seu primeiro sítio. Como existem mais quatro reservas, se a capacidade de extração da mina permanecesse equivalente, ainda existiria minério para mais aproximadamente 400 anos.

5.1.1.1. Localização e uso do solo: A unidade Barueri do Grupo Serveng localiza-se na Estrada da Pedreira, travessa da Rodovia Presidente Castelo Branco, no município de Barueri. Como se percebe, a atividade de mineração 21  Os dados numéricos obtidos nos estudos de caso, que subdisiaram as avaliações de CO2 e AQI encontram-se no Anexo: Dados obtidos.nas entrevistas. 22  A Pedreira Serveng Barueri não foi utilizada no cálculo das emissões de CO2 por falta de dados numéricos. Em compensação, conseguiu-se dados da Pedreira Intercement, por entrevista por email.

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Figura 28. Mina e área de beneficiamento da Serveng. Imagem: Google Earth, 2013.


5.1.1.2. Sobre a unidade:

5.1.1.3. Impactos Ambientais:

A Serveng Barueri conta com 120 funcionários e 32 equipamentos móveis que trabalham inclusive durante a noite. Possui uma taxa de produção de 160 mil toneladas de agregados por mês, sendo que cerca de 100 mil toneladas são entregues ao cliente (pela própria Serveng ou por empresas de transporte terceirizadas), enquanto o restante é retirado diretamente pelo cliente. Destaca-se ainda que a produção é feita por meta (não por encomenda) e os estoques localizam-se dentro da propriedade.

Os aspectos e impactos ambientais apontados na entrevista foram a remoção da cobertura natural de vegetação, poluição sonora oriunda dos desmontes de rocha, poluição do ar com materiais finos em suspensão e emissão de gases por equipamentos que utilizam diesel.

Além da produção de rocha britada em diversas granulometrias (britas e pedrisco), a unidade fornece outros produtos derivados do processo, como mataco (rocha de qualidade inferior) e pó de pedra. Outro produto comercializado pela pedreira é a manda asfáltica. Eles adquirem asfalto e utilizam o pedrisco gerado na própria pedreira para a fabricação de manta asfáltica, produto com maior valor agregado. Na época da visita, a produção vinha crescendo, devido ao aquecimento do mercado de agregados. O principal produto comercializado pela empresa é o pedrisco. Outro fato a se destacar é a geração de material inerte (solo) decorrente da escavação. Na época da visita, gerava-se volume diário de aproximadamente 2400m³, o que corresponde a 33% do volume de rocha produzido. Esse montante equivalente a 200 viagens de caminhão por dia e estava sendo utilizado para a execução de aterro na Arena Corinthians, em Itaquera, do outro lado da RMSP, a cerca de 70 km de distância, ou seja, 140 km/viagem (ida e volta).

Como medida mitigatória, é necessário realizar compensação ambiental pelo desmatamento de áreas de vegetação, por isso a Serveng realiza o replantio de mudas de árvores em outros locais. Maiores informações sobre essa compensação não foram fornecidas. Sobre as detonações de rocha, atividade normalmente causadora dos maiores impactos antrópicos, é utilizada tecnologia que não gera vibração na vizinhança, conforme entrevista. Foi relatado que as minerações vizinhas utilizam outras tecnologias que, estas sim, causam vibrações e desconforto ambiental no entorno. Além disso as áreas imediatamente adjacentes à área de mineração é de propriedade da própria Serveng e portanto não é habitada ou explorada de outra forma. Para diminuir a dispersão de material particulado, foram adotadas a umidificação das vias de acesso, utilização de filtros nos equipamentos e plantio de barreira de eucaliptos. Em relação aos impactos ambientais ao meio antrópico, ressaltase que a Serveng encontra-se em uma situação privilegiada, pois como visto na Figura 28, todo o seu entorno é formado pelas suas próprias reservas, não havendo habitação ao redor. Por outro lado, justamente por esta configuração, os impactos ao meio biótico tornam-se ainda mais relevantes.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

Além dos impactos apontados na entrevista, pode-se notar também que o transporte causa impacto fundamental para a cidade, visto que apenas a disposição de solo gera 200 viagens diárias de caminhões basculantes circulando de oeste a leste. 5.1.1.4. Reciclagem: Materiais não aproveitados na mina, como rochas alteradas, são armazenados. A idéia é que este material seja encaminhado para uma planta de reciclagem. Tal planta já foi instalada há 5 anos, entre a mina e a área de beneficiamento, contudo, ainda não entrou em operação. Estuda-se, além da reciclagem dos próprios materiais não aproveitados, a possibilidade de recebimento de RCD externo para beneficiamento nesta unidade de reciclagem. Isso poderia gerar vantagens à empresa, visto que a ela cobraria pelo recebimento deste material e, após ua britagem, o venderia para o mercado.

Figura 29. Imagens da área de lavra/ mina (esquerda); e de beneficiamento (direita) da pedreira, 2012. Fonte: Acervo próprio.

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5.1.2. LAFARGE • Nome: Indústria e Comércio de Extração de Areia Khouri Ltda. - Concretam S/A (nome fantasia: Lafarge Unidade Cajamar) • Endereço: - Estrada Flavio Beneducce, s/nº. Cajamar - SP • Site: http://www.lafarge.com.br/wps/portal/br/3_B_8-Contacts_AND_locations • Data da visita: 18/03/2013 • Contato: Eng. Mariana Batalim - Coordenadora de Manutenção e Produção 5.1.2.1. Localização e uso do solo: Esta unidade do Grupo Lafarge localiza-se na Estrada Flavio Beneducce, a menos de 2 km do centro de Cajamar. O uso do solo na região é industrial, porém se observa a existência de diversas habitações precárias, que chegam a ocupar área superior a das indústrias. Há também outra pedreira, além de extensa área de cobertura vegetal. É interessante notar que a urbanização está atrelada às vias e que o restante da área ainda é coberta por vegetação, conforme se observa na Figura 30.


O preço médio de seu produto é R$30,00/tonelada (sem o frete), sendo que o pedrisco custa R$38,00/ton. e a bica corrida, R$17,00/ton. Foi informado que o preço do pedrisco da concorrência é R$27,00/ton. devido à qualidade inferior.

Figura 30. Mina e área de beneficiamento da Lafarge. Imagem: Google Earth.

5.1.2.2. Sobre a unidade: A mina iniciou suas atividades em 1954 e, décadas depois, foi vendida à Lafarge, que passou a operá-la. Atualmente conta com 50 funcionários e produz 95 mil toneladas de agregados por mês. A rocha extraída é a calcária, que é de boa qualidade para a construção civil e que permite preço acima da concorrência. A unidade produz britas em diversas granulometrias, pedrisco e bica corrida. Parte de seu fornecimento vai diretamente, por esteiras, para a Votorantim, produtora de concreto usinado, que é sua vizinha. O restante é distribuído para clientes diversos, em municípios como São Paulo, Jundiaí, Itupeva e Loureira. Estima-se que 80% de sua produção é distribuída dentro de um raio de 60 km, porém chegam a atender clientes até 120km. A empresa credita esse seu raio de distribuição de 60km à qualidade de seu produto, e acredita que o raio de distribuição de outras pedreiras seja em torno de 50km.

Um fato relevante que vem acontecendo nesta unidade é que a única mina existente no momento já foi largamente escavada ao longo deste meio século de operação, por isso está bem profunda e estreita, fatores que dificultam e limitam a viabilidade de sua operação. Assim, foram iniciadas escavações para uma nova mina, porém, até que se chegue à rocha a ser explorada, é necessário eliminar todo o solo e rocha fraturada que se encontram sobre a rocha. Atualmente, a escavação de solo para a nova mina demanda 40% dos equipamentos (caminhões, escavadeiras), ao passo que apenas 60% dos equipamentos estão de fato sendo utilizados para a extração de rocha. Estima-se que a escavação de solo seja atividade relevante por mais três anos, pois a rocha sã encontra-se a mais de 15 metros de profundidade. 5.1.2.3. Impactos Ambientais: A visita não foi focada no levantamento dos impactos ambientais de forma geral, e sim no levantamento do consumo de diesel e energia elétrica, a fim de calcular as emissões de CO2. Pode-se, porém, inferir alguns dos impactos particulares desta unidade. Além dos aspectos comuns às atividades de mineração de rocha, ressaltam-se, no caso da Lafarge, a proximidade de habitações e o alto volume de material inerte gerado. Quando há proximidade de habitações, a geração de material particulado configura-se como problema. Na visita, foi perceptível a camada deste material que se depositava nas vias de acesso, pois era um dia chuvoso, e este foi transformado em considerável quantidade de lama. Em dias secos, o material particulado pode propiciar 43


A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

doenças respiratórias na população, além de causar desconforto, no sentido de sujar as casas. Observa-se que outro impacto à população é a degradação das vias, que se deterioram devido ao fluxo de caminhões de alta tonelagem. Quanto às detonações, grandes causadoras de conflitos, não foi informada a técnica utilizada, nem se já houve problemas com a população.

Figura 31. Vista da mina da Lafarge, 2013. Fonte: Acervo próprio.

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O outro impacto relevante no atual momento da mina é a alta geração de solo a ser descartado. As distâncias percorridas não são tão grandes como no caso da Serveng Barueri, pois o solo é disposto em bota-fora dentro dos limites da propriedade da Lafarge. Ainda assim, a atividade se configura como impacto pelas emissões de CO2 que gera através da operação de escavadeiras e caminhões, que representa praticamente metade das atividades da mina.


5.2.

USINAS FIXAS

5.2.1. CRCD • Nome: Centro de Referência de Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolições - CRCD • Endereço: - Rua Sérgio Ribeiro da Silva S/N – Osasco - SP • Site: http://inac.org.br/crcd1/ • Data da visita: 16/11/2012 • Contato: Daniel Toniate - Pesquisador Ambiental 5.2.1.1. Localização e uso do solo: A CRCD localiza-se, assim como observado em outras usinas fixas, em área degradada que está passando por processo de recuperação, como se pode observar na Figura 32. Não se encontrou informação a respeito, mas pela morfologia do terreno, pode-se inferir que era uma antiga área de mineração que foi convertida em aterro sanitário. Apenas uma pequena área é utilizada para a usina de reciclagem, assinalada da figura.

A opção por instalação em áreas degradadas decorre do custo do terreno, que é menor neste tipo de localidade. Neste caso, o entorno do aterro/usina é composta por habitações populares. 5.2.1.2. Sobre a unidade: A usina CRCD iniciou suas atividades em 13 de maio de 2009 e foi formada da parceria do Banco do Brasil com o Instituto Nova Ágora de Cidadania – Inac, a Prefeitura de Osasco e a Companhia de Seguros Aliança Brasil – BB Seguros. Segundo o entrevistado, o acordo foi considerado um modelo único de parceria que uniu o terceiro setor, poder público e entidade privada em um projeto que preza pela sustentabilidade. São recicladas, em média 180 toneladas RCD/dia, o que equivale a uma produção mensal média de 3600 ton., sendo que 2000 ton./ mês são destinadas às obras da prefeitura e as outras 1600 ton., comercializadas. Os agregados produzidos são: areia, pedrisco, brita, bica corrida e rachão (pedaços de rocha com diâmetro maior que brita). O preço dos produtos é R$28,00/tonelada e o mesmo deve ser retirado (não há entrega). A CRCD aceita resíduos da Classe A da Resolução Conama 307. O recebimento de RCD pode ser feito por empresas de coleta que realizem cadastro na CRCD. Para pequenas quantidades (menos de 15 toneladas/quinzena), a taxa de recebimento é de R$75,00/caçamba. Para quantidades acima de 15 toneladas/ quinzena, a taxa é de R$8,00/tonelada.

Figura 32. Terreno da CRCD: Aterro e usina (em destaque). Imagem: Google Earth.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

Em termos de área construída, produtividade e custos operacionais a CRCD se assemelha a outras usinas, porém, ela conta com uma série de particularidades que fazem com que dados financeiros sejam discrepantes dos outros estudos de caso. A primeira particularidade é que por ser pública, a maior parte de sua produção é utilizada nas próprias demandas do município e o montante comercializado deve servir para pagar as despesas de funcionamento da usina.

Figura 33. Recebimento de RCD na CRCD, 2012. Fonte: Acervo próprio.

A segunda particularidade é que, ainda por ser pública, seu terreno foi doado. Pelos estudos desenvolvidos, o preço do terreno é fator muito impactante na análise de qualidade do investimento. Os equipamentos, por sua vez, também foram doados, porém pelo Banco do Brasil. Logo, a CRCD configura-se como um caso muito particular, no qual a maior parte dos investimentos foi cedida. Assim é difícil estimar se uma usina que não contasse com doações e operasse nas mesmas condições de produtividade que a CRCD conseguiria viabilizar-se financeiramente.

Figura 34. RCD processado, 2012. Fonte: Acervo próprio.

Observação: Por falta de obtenção de dados referentes a consumo de diesel e de energia elétrica, a CRCD foi descartada para a análise de emissões de CO2.

Figura 35. RCD processado, 2012. Fonte: Acervo próprio.

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5.2.2. URBEM • Nome: URBEM - Usina de Reciclagem e Beneficiamento de Entulho e Materiais • Endereço: Passagem de Servidão Toyota – São Bernardo do Campo - SP • Site: http://www.urbem.com.br • Data da visita: 09/03/2013 • Contato: Marcelo Baldini – Administrador da usina

Figura 37. Localização da URBEM, entre Rod. Anchieta, e Avs. Piraporinha e Robert Kennedy. Imagem: Google Maps.

5.2.2.1. Localização e uso do solo: A URBEM está situada à Passagem de Servidão da Toyota, que é assim denominada por causa da montadora, que aí se localiza. A área no entorno na usina é, como se pode observar pela Figura 36, industrial. Diferentemente dos outros estudos de caso, esta zona tanto não apresenta habitações precárias, quanto está localizada entre importantes vias do município de São Bernardo do Campo: Av. Robert Kennedy, a oeste; Av. Piraporinha a norte e a Rodovia Anchieta, a leste, conforme Figura 37. Essa localização privilegiada para uma usina de reciclagem é parte da estratégia da empresa, conforme se verá adiante.

A URBEM aceita apenas resíduos de concreto e de rocha natural como sobras de brita ou blocos e peças pré-moldadas de concreto. A taxa de recebimento deste RCD é de R$60,00/caçamba.

5.2.2.2. Sobre a unidade:

Em primeiro lugar, São Bernardo do Campo é uma região que não conta com áreas de mineração ou aterros de inertes próximos, o que propicia a inserção de agregados reciclados em um mercado menos competitivo. Em segundo, a escolha por um imóvel melhor localizado, e com maior custo de aluguel, em detrimento de um mais periférico e menor custo, é compensada pelo menor custo de frete, pois assim estão mais próximos dos consumidores.

A URBEM é uma empresa privada de reciclagem e iniciou suas atividades em 2004. Instalada em um terreno de 7000m², conta com 18 funcionários e sua produtividade é de 40 toneladas/hora (ou 34 m³/h). Produz areia, pedrisco, brita, rachão e bica corrida, que são todos vendidos a R$32,00/m³, acrescidos do frete, que é de R$0,65/km.m³.

Figura 36. Terreno da CRCD: Aterro e usina (em destaque). Imagem: Google Earth.

Diferentemente do observado em outras usinas fixas de reciclagem, e como mencionado anteriormente, a URBEM está situada em uma área urbanizada, próxima a importantes vias e em uma zona industrial que conta com atividades de maior valor agregado, como a sua vizinha, Toyota. A escolha por essa localização se deu, segundo a empresa, de forma estratégica.

Os pontos geradores de RCD que a URBEM atende são: Região do ABC, Mauá, Ipiranga, Sapopemba e Brás. Eventualmente recebe RCD de maiores distâncias, como os gerados no acidente 47


A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

em Congonhas e na demolição do edifício São Vito. Entre seus clientes citam principalmente grandes empreendimentos como o coletor-tronco do ABD, o Rodoanel e o estacionamento da USP Leste. 5.2.2.2. Observações apontadas durante entrevista: Na entrevista realizada com o administrador da URBEM, foram discutidos alguns pontos sobre a reciclagem de RCD. Entre as dificuldades apontadas pela empresa, cita-se que tanto a oferta, quanto a demanda são sazonais: houve momentos em que o pátio ficou vazio e outros em que ficou entupido. Isso se deve ao descompasso entre as quantidades recebidas e vendidas que pode ocorrer. A empresa observa ainda que a utilização de agregados reciclados para obras de pequeno porte pode não compensar pelos seguintes fatores: • Pequena economia com o agregado mais barato; • Pequeno consumo; • Falta de espaço para armazenamento; • Um mesmo tipo de agregado (natural) serve para várias funções na obra: argamassas, concreto, etc; • Perigo de utilização de agregados reciclados em locais impróprios.

48

5.3.

USINA MÓVEL

5.3.1. RECINERT AMBIENTALE • Nome: Recinert Ambientale • Endereço: Al. Joaquim Eugênio de Lima, 187 cj. 41 – São Paulo - SP • Site: http://www.recinertambientale.com.br/site/ • Data da visita: 12/11/2012 • Contato: Vinícius e Egídio Buso, sócios da empresa. Vinicius também é diretor da ABRECON. 5.3.1.1. Sobre a empresa: A Recinert Ambientale é uma empresa de reciclagem móvel fundada em 2008. Mantém um escritório na região da Avenida Paulista. As usinas móveis ficam armazenadas nas obras, de forma que não alugam um galpão para tal. Conta com 5 funcionários operadores e 1 engenheiro para os dois equipamentos, além de dois administradores (os sócios fundadores). A Recinert possui um britador tipo fresa, com capacidade produtiva de 160/ toneladas/hora, e um britador tipo mandíbula, com capacidade de 300/ toneladas/ hora. Os dois equipamentos foram trazidos da Itália e são muito mais refinados em termos tecnológicos do que outros britadores levantados nos estudos de caso. Dessa forma, sua operação é feita por mão de obra própria, que foi capacitada para tal. A empresa detém contrato de representação com o fabricante das usinas, de forma que também é importador e assistência técnica autorizada no Brasil.


Os serviços prestados pela empresa são o aluguel e a operação conjunta das unidades recicladoras. Mais especificamente, existem as seguintes possibilidades de negócios: • Disposição correta: cliente contrata a Recinert, que brita seu RCD e fica com o produto, responsabilizando-o por sua venda/ reutilização; • Compra de agregados reciclados (continuação do item anterior): Recinert vende o agregado reciclado proveniente de uma obra para outra; • Reaproveitamento: a obra apenas contrata o serviço de britagem da Recinert, reaproveitando seu próprio RCD. O transporte, tanto das unidades recicladoras, quanto do agregado reciclado, é custeado pela empresa e o valor é embutido no preço ao cliente. Ambos transportes são terceirizados. Antes do início da britagem na obra, é necessário que o RCD já tenha passado por correto processo de demolição e pré-triagem. Essa etapa necessita ser feita com qualidade porque as usinas móveis são de pequeno porte e, portanto menos rústicas que britadores maiores. A pré-triagem pode ser feita pela obra ou pela mesma empresa responsável pela demolição. Após problemas com a qualidade desses processos prévios, hoje em dia, a Recinert trabalha apenas com empresas de demolição parceiras. 5.3.1.2. Observações apontadas durante entrevista: Figura 38. Usinas móveis da Recinert Ambientale. Fonte: Recinert Ambientale, 2012.

A Recinert apontou algumas dificuldades no início de suas operações. Entre elas, destaca-se o desconhecimento e desconfiança do mercado a respeito deste tipo de produto. Assim, foram conseguindo seus clientes através de trabalho de disseminação de informações sobre a reciclagem de RCD. Seus principais clientes, assim como a URBEM, são grandes empresas/empreendimentos, nos quais as quantidades consumidas são maiores, viabilizando 49


A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

a utilização de diversos tipos de agregados em uma mesma obra (por exemplo, reciclados para pavimentação e naturais para fins estruturais). Outra dificuldade apontada, conforme já mencionado, foi em relação à qualidade da demolição e da pré-triagem dos resíduos. Para qualidade final do agregado, minimização de riscos para os britadores e produtividade adequada, faz-se necessário a pré-triagem, a demolição dos resíduos em pedaços uniformes e a organização deste material no canteiro. Assim, após alguns anos de operação, a Recinert passou a trabalhar com empresas específicas de demolição, que atendem suas necessidades. Sobre a viabilidade de um negócio para a empresa, apontaram os seguintes fatores: • Quantidade: mais de 1.000m³ de RCD/obra; • Venda: até distância de 40 km de distância da obra geradora. Ressaltam, conforme observados nos outros estudos de caso, que esses fatores não são uma regra e que podem variar conforme a estratégia da empresa, a relevância do cliente/ da oportunidade, etc.

Figura 39. Maquete do Viol SP. (à esquerda) e foto aérea da UHE de Jirau, RO. Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1582917; e http://farm7.staticflickr. com/6052/6331755531_558b12ec09_o.png. Acesso em abril de 2013.

50

5.4.

CONSUMIDOR

5.4.1. CONSTRUTORA CAMARGO CORRÊA • • • • •

Nome: Construções e Comércio Camargo Corrêa S/A. Endereço: Av. Brigadeiro Faria Lima, 1669 – São Paulo - SP Site: http://www.camargocorrea.com.br/ Data da visita: 02/04/ 2013 Contato: Ricardo Sampaio – Engenheiro de Meio Ambiente

5.4.1.1. Sobre a empresa: A Camargo Corrêa foi fundada em 1939 e tem atuação principal no setor de obras pesadas e infraestrutura, como estradas e usinas hidrelétricas. Atua também na construção de edificações residenciais e comerciais. Entre as obras estudas na entrevista, encontra-se a usina hidrelétrica de Jirau, em Rondônia e o empreendimento comercial Viol Spe, na região da Vila Olímpia, em São Paulo, conforme Figura 39. A empresa é certificada na norma ISO 14.001 de sistema de gestão ambiental e deve realizar, de acordo com a legislação brasileira, plano de gerenciamento de resíduos sólidos em suas obras.


Pautados por iniciativas internas na área de meio ambiente, surge assim, em 2011 o projeto chamado “Bolsa de Resíduos”, que é um site no qual as obras se cadastram para ofertar seus resíduos e interessados se cadastram para comprá-los. O valor pelo qual o resíduo será comercializado depende da oferta e da demanda, como em uma bolsa de valores, daí o nome do projeto. 5.4.1.2. Reciclagem: Para que a Bolsa de Resíduos pudesse ser criada, foi necessária a existência de obras preparadas e organizadas para terem condições de comercializar seus resíduos (RCD e outros resíduos sólidos em geral). Isso implica um trabalho prévio de triagem, com iniciativas como coleta seletiva e, no caso de grandes obras, instalação de centrais de triagem e aterros sanitários, entre outras estruturas de gestão de resíduos sólidos. Assim, uma obra que não consegue se organizar para tal, não terá condições de participar do projeto. A obra mais participativa da Bolsa é a usina hidrelétrica de Jirau, inclusive por seu grande porte, que faz dela grande geradora de resíduos. O site da Bolsa foi preparado para comercializar todos os tipos de resíduos sólidos passíveis de reciclagem gerados em uma obra. São eles: papel, plástico, metal, vidro, RCD, sobras de madeira, etc. A empresa informou que, no caso de Jirau, os resíduos com maior demanda são os metálicos, que por serem gerados principalmente em obras distantes dos centros urbanos, e em grande quantidade, acabam com um preço bem inferior ao praticado no mercado. Apontam a ocorrência, inclusive, da compra deste material por interessados das regiões Sul e Sudeste, que foram buscá-los em Jirau. Percebe-se que essa iniciativa apresenta claras vantagens financeiras para os envolvidos, porém deixa a desejar do ponto de vista ambiental, principalmente pelas emissões de CO2 no transporte.

Outros resíduos, além dos metálicos, também estão sendo comercializados, com exceção do RCD. Apesar de o RCD estar disponível na Bolsa, ainda não houve interessados em adquiri-lo. Aponta-se que essa dificuldade está relacionada com o fato de as obras participantes estarem distantes de grandes centros (Jirau, por exemplo, localiza-se a 130 km de Porto Velho), o que tornaria o custo de frete inviável para um material com baixo valor agregado. A tonelada de RCD custa em torno de R$30,00, ao passo que a sucata metálica custa R$200,00 em Jirau, e chega a R$400,00 no Sudeste. Ainda em relação aos RCD, a sede da construtora adquiriu um britador de resíduos novo e enviou à Jirau, pois apesar de concluírem que a reciclagem deste material ainda não é economicamente viável, ela se justifica pelo valor ambiental. Ao falar em valor ambiental, citaram que o quantificam monetariamente, por isso decidiram que a reciclagem compensaria. Por problemas com a administração da obra, no entanto, o britador não foi instalado. A sede da empresa está estudando transferi-lo, portanto, para outra grande obra. Se por um lado a reciclagem de RCD em obras pesadas apresenta suas dificuldades, ela está sendo realizada em obras urbanas como edifícios comerciais que buscam certificações como LEED ou AQUA. O empreendimento de alto padrão Viol Spe, que está sendo construído na Vila Olimpia, um bairro com moradores/trabalhadores de alto poder aquisitivo, por exemplo, busca certificação LEED, que dá pontos ao empreendimento que desvie os RCD de aterros e o reutilizem. Neste caso, por falta de espaço no canteiro (mesmo para a instalação de usina móvel, que também necessita de espaço para armazenamento dos produtos), os RCD estão sendo levados até usinas fixas particulares.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

A empresa ressalta que o atendimento dos processos do LEED torna a construção mais cara, e a reciclagem não está sendo feita necessariamente pelo menor custo dos agregados, e sim para obter a certificação. Dessa forma, a reciclagem seria feita independente de ser mais cara ou não que a aquisição de agregados naturais. Na visão do entrevistado, a reciclagem de RCD se mostra ambientalmente positiva, principalmente se forem contabilizados os impactos ambientais envolvidos. No entanto, enxerga que essa iniciativa só se fortalecerá quando o preço dos agregados naturais aumentar de tal forma que a vantagem financeira em adquirir o reciclado seja maior.

52


6. ANÁLISE URBANA

6.1.

Buscou-se realizar uma comparação do ponto de vista urbano entre mineração e reciclagem. Como em ambos os casos os impactos mais significativos são decorrentes do transporte, propôs-se uma análise baseada no distanciamento dessas atividades em relação aos seus pontos consumidores. Para uma mesma demanda de agregados, quanto maior a distância entre produção e consumo, maior serão os impactos causados pelo transporte.

6.1.1. Metodologia

Também é possível comparar as atividades e, consequentemente, estimar seus impactos, através da área de solo necessária em cada caso. Como se sabe, a mineração está atrelada a interferências em APPs, portanto a comparação de área de solo utilizada pode evidenciar o potencial da reciclagem na preservação dessas áreas.

O recurso utilizado para elaboração dos mapas foi o software Google Earth, que além de fornecer imagens atuais (de 2012), possui um banco de imagens desde 2002, possibilitando a investigação da evolução de algumas minerações ao longo do tempo.

A metodologia para a análise urbana consistiu de duas avaliações: a do distanciamento entre produção e consumo e a área de solo necessária para as atividades. O estudo do distanciamento entre produção e consumo foi organizado em três etapas: 1. Determinação dos pontos de produção de agregados (mineração e reciclagem); 2. Determinação de pontos centrais de consumo; 3. Estabelecimento das distâncias/ afastamentos entre os pontos de produção e o ponto de consumo. O estudo de área de solo utilizada foi feito pela comparação dos estudos de caso.

PONTOS DE PRODUÇÃO

Os pontos de produção levantados foram os relativos à mineração de areia e rocha (portos de areia e pedreiras, respectivamente), bem como às unidades fixas de reciclagem e o sistema de disposição de RCD. A área de abrangência do estudo foi a RMSP e o Vale do Paraíba, importante fornecedor de areia.

A identificação das pedreiras foi feita com base em levantamento disponibilizado pelo Engenheiro Markus Rebmann, do LME / PCC/EP /USP, que serviu de ponto de partida para o estudo realizado. Os portos de areia foram encontrados inicialmente por buscas na internet por palavras-chave como: areia, Vale do Paraíba, porto de areia, extração e RMSP. Em seguida, buscou-se complementação dos dados através da lista de associados do Sindicato da Indústria de Mineração de Pedra Britada do Estado de São Paulo – SINDIPEDRAS23, do Sindicato das Indústrias de Extração de Areia do Estado de São Paulo – SINDAREIA24 e FARINA et al (1997), que cita os municípios extratores de areia. A identificação das usinas fixas de reciclagem foi feita com base em informações da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (ABRECON). Já para o sistema de disposição de RCD, buscou-se informação no site

23  Disponível em: http://www.sindipedras.org.br/pdf/Pedreiras_Associadas.pdf. Acesso em 2 de dezembro de 2012. 24  Disponível em: http://www.sindareia.com.br/. Acesso em 2 de dezembro de 2012.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

da Autoridade Municipal de Limpeza Urbana – AMLURB25, da Prefeitura de São Paulo. Foram mapeados Áreas de Transbordo e Triagem (ATT), bem como aterro de inertes.

algum de mineração. Dessa forma, o perímetro final a ser estudado excluiu áreas onde, após algum monitoramento, não foi identificada atividade de mineração.

Realizado o levantamento, ressalta-se a dificuldade de identificação dos pontos de mineração pelos endereços disponibilizados, pois como vários se encontram em áreas rurais, muitas vezes o endereço não corresponde a um logradouro identificável pelo software utilizado, por exemplo: Sítio dos Dias, s/nº, correspondente à Pedreira Concremix S.A. No caso das usinas de reciclagem, não houve esse problema, dado que as mesmas se localizam em áreas urbanas.

O primeiro aspecto observado para a identificação é o tamanho das minerações, proporcionalmente grande em relação aos lotes urbanizados (ou mesmo rurais) o que as tornam facilmente identificáveis, conforme se observa na Figura 41 e na Figura 42.

Dado a impossibilidade de localizar geograficamente boa parte dos extratores, em especial os de areia, partiu-se para busca visual. Iniciou-se a busca visual pela delimitação do perímetro a ser analisado. Considerou-se inicialmente áreas dos municípios da RMSP e do Vale do Paraíba porém, a partir das primeiras localizações de portos de areia e pedreiras, notou-se que havia áreas com concentração das mesmas, bem como outras onde não havia ponto Figura 41. Pedreiras e seu entorno, Barueri. Imagem: Google Earth. Figura 42. Portos de areia e seu entorno, Vale do Paraíba. Imagem: Google Earth.

Figura 40. Perímetro de Busca Visual. Imagem: Google Earth. 25  Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/servicos/amlurb/. Acesso em 2 de dezembro de 2012.

54


Ainda, para a identificação de uma pedreira, observaram-se aspectos como coloração típica cinzenta, presença de equipamentos de britagem e principalmente, escavação em rocha, conforme Figura 43 e Figura 44.

Figura 43. Área de britagem e coloração de água em pedreiras. Imagem: Google Earth. Figura 44. Escavação em rocha. Imagem: Google Earth.

Figura 45. Tipologias de Extração de Areia. Imagem: Google Earth. Figura 46. Extração de calcário (Mineradora Pagliato), à esquerda; e de areia (Itaquareia), à direita. Imagem: Google Earth.

Para a identificação de extração de areia no Vale do Paraíba, observaram-se aspectos como proximidade de corpos d’água, coloração da água e morfologia da área. Outra dificuldade, essa na busca visual, é identificar se a extração corresponde a areia, objeto de interesse desse trabalho, ou se é de outro minério, como o caso do calcário, conforme Figura 46. Dessa forma, apesar dos critérios estabelecidos para identificação, não é possível afirmar que os pontos identificados seguramente sejam do minério estabelecido.

A identificação das usinas de reciclagem e da estrutura de disposição de RCD ocorreu sem maiores dificuldades, através da inserção de seus logradouros no software Google Earth.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

6.1.2. RESULTADOS 6.1.2.1. MINERAÇÃO

Na porção leste da RMSP, o principal município extrator de areia é Mogi das Cruzes, onde se encontram os portos da Itaquareia (ver Figura 48), uma das três maiores empresas do setor. Nessa região, verifica-se ainda a existência de algumas pedreiras desativadas.

Através do levantamento realizado, observou-se que tanto as pedreiras quanto os portos de areia encontram-se geralmente agrupados em uma mesma área com condições geológicas propícias. As áreas de areia e rocha, entretanto, no geral não coincidem, como se pode ver na Figura 47. Observa-se, com o auxílio das figuras, que a grande maioria das jazidas encontram-se fora da mancha de ocupação urbana, localizando-se, entretanto, adjacentes a sua periferia. Isso se explica pela já citada necessidade de proximidade entre produção e consumo em um mercado de produtos de baixo valor agregado. Em relação a extração de rocha, verifica-se jazidas operantes por quase toda a RMSP, com exceção do trecho sudeste, em que há a Serra do Mar. A areia que abastece a RMSP, por sua vez, vem majoritariamente do Vale do Paraíba e, em segundo lugar, da própria RMSP (FARINA ET AL, 1997), de suas porções leste e sul, conforme Figura 47.

pedra areia Figura 47. Pedreiras e Portos de Areia na RMSP. Elaboração: Eng Markus Rebmann e autora. Imagem: Google Earth.

56

Figura 48. Porto de Areia Itaquareia. Imagem: Google Earth.

Figura 49. Pedreiras (laranja) e Portos de Areia (amarelo) na RMSP e Vale do Paraíba. Elaboração: Eng Markus Rebmann e autora. Imagem: Google Earth


Na porção sul da RMSP verifica-se extração de areia próxima às represas Guarapiranga e Billings e a técnica utilizada é o desmonte hidráulico. Já no Vale do Paraíba é onde se encontram 41 dos 72 pontos de extração de areia identificados. As distâncias dos portos desta região em relação ao centro de São Paulo variam entre 60 a 200 km, muito mais distantes que as pedreiras, conforme se observa na Figura 49. A técnica de extração é a dragagem, visto que praticamente todos os portos são adjacentes a corpos d’água, como se pode ver na Figura 50.

Figura 50. Portos de Areia adjacentes a corpo d’água no Vale do Paraíba. Elaboração: própria. Imagem: Google Earth

As principais vias de acesso dos agregados naturais para o centro expandido de São Paulo são, do Vale do Paraíba: Rodovia Presidente Dutra, Carvalho Pinto e Ayrton Senna; da própria RMSP as principais vias de acesso são o Rodoanel Mário Covas e as rodovias Anhanguera e Fernão Dias (a norte), Castelo Branco (a oeste) e Régis Bittencourt ( a sul), além das Marginais Pinheiros e Tietê, conforme se pode ver na Figura 51.

Figura 51. Principais rotas de agregados na RMSP. Elaboração: própria. Imagem: Google Earth

Dutra Anhanguera/ Bandeirantes

Fernão D. Ayrton S./ Carvalho P.

Castelo Régis B.

Rodoanel

pedra areia

57


A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

6.1.2.2. RECICLAGEM Além do mapeamento relativo ao mercado de agregados naturais, realizou-se levantamento na área de resíduos, identificando os equipamentos urbanos envolvidos no processo de disposição de RCD. Esse mapeamento permitiu analisar o atual sistema de disposição e compará-lo com a reciclagem de RCD. Os equipamentos levantados foram: aterros de inertes e industriais (ativos e desativados) e áreas de transbordo e triagem ATT. Nesse caso, o levantamento se restringiu ao município de São Paulo, de onde foram extraídas as informações . Ressalta-se, entretanto, que a maior parte dos aterros utilizados por São Paulo encontra-se em outros municípios, conforme Figura 52. O levantamento mapográfico revela que há apenas cinco áreas de transbordo e triagem (ATT) de RCD e sete aterros, estando um deles já esgotados (Aterro Itatinga, o único que era público). Percebe-se que mesmo em relação às ATTs, a distância que o resíduo tem que percorrer é grande, pois as mesmas encontram-se em um eixo norte-sul, ficando distantes dos extremos leste e oeste, conforme Figura 52.

Realizou-se também um levantamento das usinas de reciclagem de RCD (ver Figura 53). Através desse, infere-se que as usinas têm tipologia que permite sua melhor distribuição pela cidade, diminuindo consideravelmente as distâncias percorridas pelos resíduos, colaborando para a vantagem competitiva em relação ao custo de transporte e à emissão de CO2 nesse processo.

Figura 53. Usinas de reciclagem de RCD na RMSP. Fonte: ABRECON. Elaboração própria. Imagem: Google Earth.

usinas aterro at (desat) ATT

58

Figura 52. Sistema de disposição de RCD em São Paulo. Elaboração própria. Imagem: Google Earth.

Figura 54. Usinas de Reciclagem e Portos de Areia (RMSP + Vl. Paraíba). Fonte: ABRECON e Markus Rebmann. Elaboração própria. Imagem: Google Earth.


Observa-se que as usinas são equipamentos que conseguem conviver dentro da malha urbana, diferentemente de jazidas e aterros (Figura 54). Levantou-se 18 usinas de reciclagem fixas operantes na RMSP, contra cinco ATTs e cinco aterros de inertes/industriais operantes. Juntamente com usinas móveis, que não foram mapeadas, pode-se enxergar espacialmente a capacidade de descentralização e penetração na malha urbana que estes equipamentos podem ter, configurando-se como vantagem competitiva do ponto de vista financeiro, ao baixar os custos de transporte e se utilizar de material hoje em dia sem valor e também pelos ponto de vista socioambiental, com os benefícios que a reciclagem pode trazer. A Figura 55 mostra a comparação entre o atual sistema de disposição de RCD com as usinas fixas existentes. Apesar de as usinas fixas, na maior parte dos casos, não adentrarem na malha urbana consolidada, ainda assim verifica-se a possibilidade de descentralização da destinação dos resíduos pela maior quantidade de usinas e pelo seu maior espalhamento no território.

Figura 55. Sistema de disposição de RCD + usinas de reciclagem. Fonte: ABRECON. Elaboração própria. Imagem: Google Earth.

6.2.

DISTANCIAMENTO ENTRE PRODUÇÃO E CONSUMO

6.2.1. PONTOS CENTRAIS DE CONSUMO 6.2.1.1. Metodologia Para poder comparar o afastamento dos pontos de mineração e reciclagem em relação aos pontos de consumo, necessitou-se de algumas etapas de simplificação. A primeira consistiu na suposição de que a demanda consumidora de agregados na RMSP pode ser representada por único ponto. Essa suposição não é a ideal, mas considerou-se que seja a melhor possível porque, por meio dos estudos de caso, entende-se que as empresas não limitam sua atuação a uma dada distância, a um dado raio de atendimento. As vendas são realizadas conforme estratégias de negócios, de forma que uma pedreira a extremo oeste chega a distribuir seus produtos a extremo leste, se julgar que é uma oportunidade de negócio interessante. Na busca de um ponto representativo da demanda, depara-se com a subjetividade em estabelecer os critérios a serem adotados. Seria possível, por exemplo, mapear os distritos em função da quantidade de lançamentos imobiliários e estabelecer um ponto central que levasse isso em consideração; ou estabelecer um ponto em função da densidade populacional, etc. Dada a infinidade de pontos que poderiam ser adotados, é difícil avaliar qual parametrização é melhor ou mais válida que outra. Como o intuito é comparar de alguma forma o distanciamento da mineração e da reciclagem, optou-se por estabelecer dois pontos centrais que foram considerados os mais representativos: o centro geométrico da mancha urbana da RMSP e o entroncamento entre a Marginal Tiête e as Rodovias Anhanguera e Bandeirantes.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

A definição do centro geométrico da RMSP (CG RMSP) como ponto representativo foi precedida pela escolha de outros pontos prévios, que se mostraram menos adequados à análise proposta. Estes pontos foram a Praça da Sé e o centro geométrico do município de São Paulo (CG MSP), que foram descartados por não serem centrais, em termos geométricos, para a RMSP, como se pode observar na Figura 56. Assim, chegou-se à adoção do centro geométrico da RMSP, que recai sobre o distrito da Móoca, como melhor ponto representativo.

60

por vias estruturais como as marginais dos rios Pinheiros e Tietê. Observa-se ainda uma maior concentração de minerações a norte, oeste e leste. As principais vias de acesso de seus produtos à RMSP encontram-se ilustradas na Figura 57. Além disso, conforme LA SERNA; REZENDE (2009), parte considerável da produção de agregados é adquirida por concreiteiras, que no caso de São Paulo, localizam-se próximas à via marginal do rio Tietê.

Em seguida, optou-se por estudar um ponto representativo em termos de infraestrutura viária, desvinculando-se do critério área (centro geométrico). Considerando que todas as mineradoras e quase a totalidade das usinas fixas localizam-se fora do perímetro do centro expandido, a distribuição de seus produtos passa

PelaFigura 57, compreende-se que a marginal do rio Tietê é para onde conflui a maior parte dos fluxos municipais e metropolitanos de agregados. Assim, optou-se por estabelecer seu cruzamento com as Rodovias Anhanguera e Bandeirantes como ponto representativo. Este ponto, além de ser rota de acesso, encontra-se a uma distância média entre leste e oeste. Durante as análises nesse trabalho, este ponto será chamado de Ponto Marginal (PM).

Figura 56. Área urbanizada da RMSP, com os pontos representativos estudados: Sé e CG MSP (descartados), CG RMSP e PM.. Elaboração própria. Imagem: Google Earth.

Figura 57. Pedreiras, portos de areia e as principais rotas de agregados na RMSP. Elaboração própria. Imagem: Google Earth.


6.2.2. ESTABELECIMENTO DAS DISTÂNCIAS 6.2.2.1. METODOLOGIA O mapeamento e os estudos realizados buscam um entendimento, ainda que esquemático, da estrutura de produção e transporte dos agregados na RMSP. Assim, identificados os pontos de produção (mineração e reciclagem) e de consumo (pontos representativos da demanda), encontrou-se a distância em linha reta (euclidiana) entre ambos, para cada caso. Dessa distância, não se pode afirmar que represente uma viagem real, porém ela certamente representa uma viagem tipo, no sentido de ser um trajeto médio dentre as distâncias percorridas por cada mineração/ usina de reciclagem até seus clientes. Em relação aos impactos ambientais decorrentes da distância, uma limitação relevante do método adotado é que não se realizou uma ponderação entre as distâncias e a quantidade produzida por cada unidade. Por exemplo, sabe-se que uma pedreira maior causa mais impactos relacionados ao transporte do que uma que produz em menor escala, entretanto, como não há forma de obtenção das produtividades de todas as pedreiras, portos de areia e usinas da RMSP, optou-se por simplificar o modelo, atribuindo pesos semelhantes para cada unidade.

Figura 58. Distância das pedreiras até CG RMSP. Elaboração própria. Imagem: Google Earth. Figura 59. Distância das pedreiras até PM. Elaboração própria. Imagem: Google Earth.

Assim, através do Google Earth, ligou-se cada pedreira, porto de areia e usina fixa aos pontos representativos, obtendo-se suas distâncias, conforme Figura 58 a Figura 63.

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Figura 60. Distância dos portos de areia até CG RMSP. Elaboração própria. Imagem: Google Earth.

Figura 62. Distância das usinas fixas até CG RMSP. Elaboração própria. Imagem: Google Earth.

Figura 61. Distância dos portos de areia até PM. Elaboração própria. Imagem: Google Earth.

Figura 63. Distância das usinas fixas até PM. Elaboração própria. Imagem: Google Earth.


Como o objetivo dessa metodologia foi tornar comparável as atividades de mineração e reciclagem, após o estabelecimento de cada distância, os dados foram tabulados e analisados entre si. Encontrou-se a distância média de cada categoria (pedreira, porto de areia e reciclagem) pela soma das distâncias unitárias (de cada unidade produtora) dividido pelo número de unidades de cada categoria, conforme Equação 1.

de circuito (FC) é um coeficiente de valor sempre maior ou igual a 1, que multiplica a distância euclidiana, majorando-a e assim estimando a distância percorrida, conforme Figura 64. Conforme NETO (2010), o FC depende das condições de tráfego das vias, da geografia, da urbanização, etc., variando de uma cidade para outra. NOVAES (2004) estabeleceu um valor médio para o FC, que varia entre 1,30 e 1,35 e é usado quando não se dispõe das informações mencionadas por NETO (2010).

Equação 1. .

Realizou-se também uma estimativa das distâncias percorridas, visto que até então se trabalhou com a distância em linha reta (euclidiana). Para tal, adotou-se o fator de circuito de NOVAES (2004), que é utilizado em logística para converter distâncias euclidianas em distâncias percorridas no traçado viário. O fator

Figura 64. Esquema da transformação de distância euclidiana em percorrida, ajustada pelo Fator de Circuito. Fonte: NETO, 2010.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

6.2.2.2. RESULTADOS Pelo levantamento de distâncias realizado, observaram-se alguns padrões e constatações sobre a localização das pedreiras, portos de areia e usinas de reciclagem que atendem à RMSP: Em relação às pedreiras, observou-se afastamento médio (em linha reta) semelhante para ambos os pontos representativos, sendo de 31 km para CG RMSP e de 29 km PM, conforme Tabela 14. A pequena diferença entre as distâncias obtidas deve-se ao fato de PM situar-se a noroeste, onde há maior concentração de pedreiras. Assim, estima-se que a distância média percorrida na distribuição de brita seja em torno de 40 km.

Em uma distribuição espacial, observam-se pedreiras entre 5 e 65 km dos pontos representativos, com uma concentração maior, no entanto, em torno do raio de 20 km, que se estende até o raio de 35 km, conforme Figura 66. Dado que o fator de circuito utilizado majora os afastamentos encontrados em 30%, as distâncias médias percorridas na distribuição de brita à RMSP aumentam consideravelmente em relação às euclidianas, chegado em torno 65 km para CG RMSP e 75 km para PM, conforme Figura 67.

Tabela 14. Estudo das distâncias das pedreiras em relação a CG RMSP (acima) e PM(abaixo). Elaboração própria.

Figura 65. Pedreiras estudadas e os pontos representativos CG RMSP e PM. Elaboração própria. Imagem: Google Earth.

64


Figura 66. Distaciamento médio das pedreiras até CG RMSP (acima) e PM (abaixo). Elaboração própria.

Figura 67. Distaciamento médio, em rede, das pedreiras até CG RMSP (acima) e PM (abaixo). Elaboração própria.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

Já nos portos de areia observou-se o maior afastamento em relação aos pontos de consumo dentre as categorias estudadas. O distanciamento médio, em linha reta, foi de 83 km para o ponto CG RMSP e de 89 km para o PM, conforme Tabela 15.

Os portos que se encontram até 70 km de distância localizam-se em municípios da RMSP como São Paulo e Mogi das Cruzes, ao passo que os mais distantes estão após a cidade de São José dos Campos, já no Vale do Paraíba.

O fato de PM apresentar distância média 6 km superior a CG RMSP ocorre, novamente, por sua posição a oeste, visto que parte considerável da oferta de areia para a RMSP vem do leste (Vale do Paraíba), conforme se pode ver na Figura 69.

Dado o alto preço da areia, verifica-se que extrações mais distantes vêm se viabilizando, mesmo que para tal cheguem a percorrer mais de 200 km. Na Figura 70 pode notar quantidade expressiva de distâncias percorridas médias superiores a 140 km.

Em relação aos distanciamentos, pode-se notar, principalmente pela FIGURA, do ponto CG RMSP, que há dois agrupamentos expressivos de portos de areia: até o km 70 e a partir do km 100.

Tabela 15. Estudo das distâncias dos portos de areia em relação a CG RMSP (acima) e PM(abaixo). Elaboração própria.

Figura 68. Portos de areia estudados e os pontos representativos CG RMSP e PM. Elaboração própria. Imagem: Google Earth.

66


Figura 69. Distaciamento médio dos portos de areia até CG RMSP (acima) e PM (abaixo). Elaboração própria.

Figura 70. Distaciamento médio, em rede, dos portos de areia até CG RMSP (acima) e PM (abaixo). Elaboração própria.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

Já para as usinas fixas, encontrou-se o menor afastamento dos pontos representativos em relação às atividades de mineração. O distanciamento médio foi de 19 km o caso de CG RMSP e de 23 km no caso de PM, conforme Tabela 16. Verifica-se ainda, conforme Figura 72, que a maior parte das usinas encontra-se entre 15 e 25 km de ambos os pontos.

distância média das pedreiras é em torno de 50% maior que a das usinas fixas e a dos portos de areia, em torno de 300%. Portanto, apesar de as distâncias da reciclagem fixa serem consideráveis, são muito menores do que na mineração.

As distâncias médias percorridas, bem como apontado nos estudos de caso, variam principalmente entre 20 e 30 km, conforme Figura 73.

Ressalta-se ainda que se fosse possível mapear as usinas móveis operantes, certamente a distância média diminuiria, pois de acordo com os estudos de caso, a viabilidade de operação para essas usinas é menor e, em alguns casos, o agregado é reutilizado na própria obra, portanto a distância é nula.

Apesar da possibilidade de inserção na malha urbana, que diminuiria a distância percorrida em viagens, as usinas fixas estão localizadas, em sua maioria, em zonas periféricas. Dessa forma, as distâncias médias ainda são altas, principalmente em relação ao potencial que apresentam. Deve-se salientar, no entanto, que a

Em síntese, observa-se que as minerações operam com maior distância de distribuição, o que deve-se, entre outros, por produzirem mais que as usinas de reciclagem, que são menores. Produzindo mais, acabam atendendo um mercado maior e, consequentemente, mais distribuído do que a reciclagem.

Tabela 16. Estudo das distâncias das usinas de reciclagem em relação a CG RMSP (acima) e PM(abaixo). Elaboração própria.

Figura 71. Usinas fixas estudadas e os pontos representativos CG RMSP e PM. Elaboração própria. Imagem: Google Earth.

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Figura 72. Distaciamento médio das usinas fixas até CG RMSP (acima) e PM (abaixo). Elaboração própria.

Figura 73. Distaciamento médio, em rede, das usinas fixas até CG RMSP (acima) e PM (abaixo). Elaboração própria.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

6.3.

ÁREA DE SOLO UTILIZADA

6.3.1. METODOLOGIA Para estudar o indicador ambiental área de solo utilizada, realizouse tanto uma comparação visual, qualitativa, das diferenças de áreas utilizadas para mineração e reciclagem, quanto também uma comparação analítica, quantitativa, que a correlacionou com as respectivas produtividades. Figura 74. Área de beneficiamento da Serveng,à esquerda, e mina, à direita. Imagem: Google Earth

Para esta avaliação, baseou-se apenas nos estudos de caso, dado o tipo de informação necessária para tal. Assim, as pedreiras analisadas foram a Serveng Barueri e a Lafarge Cajamar. As usinas foram a CRCD, em Osasco e a URBEM, em São Bernardo do Campo. Na avaliação qualitativa, comparou-se, pela mesma escala, os quatro empreendimentos. Utilizou-se, para tal, o software Google Earth ajustado a uma mesma altitude: 3,0 km. No caso das pedreiras, sabe-se que elas possuem reservas vegetais, porém, como não houve acesso à planta da gleba, não havia como delimitá-las. A Serveng, por exemplo, possui mais cinco mineradoras vizinhas, então não há como saber, por imagens de satélite, qual reserva vegetal é de sua propriedade. A delimitação de suas áreas ocorreu, portanto, através da identificação visual da mina e da área de beneficiamento. A mina e a área de beneficiamento encontram-se na Figura 74. No caso da CRCD, que encontra-se em terreno compartilhado com um aterro, considerou-se apenas a área de beneficiamento, descontando a área de aterro, conforme Figura 75. Para a análise quantitativa, foi calculada a área aproximada em cada caso. Como o software Google Earth fornece um recurso de medida, realizou-se uma aproximação dos terrenos por polígonos de 70

Figura 75. Terreno da CRCD com aterro, à esquerda, e detalhe da usina, à direita. Imagem: Google Earth.

áreas conhecidas, como triângulos, retângulos e trapézios regulares. Estabelecidas as áreas, estas foram divididas pela produtividade respectiva a fim de encontrar-se a área de solo utilizada para a produção de uma mesma quantidade de agregado. Se por um lado a área total em mineração fornece a dimensão da sua interferência em APPs, a área dividida pela produtividade fornece indícios da eficiência de cada tipo de negócio.


6.3.2. RESULTADO Na análise qualitativa, tem-se a sequência das pedreiras e usina em imagens na mesma escala (altitude do ponto de visão: 3,0 km).

Figura 76. Sequência dos estudos de caso na mesma escala, em sentido anti-horário.: pedreiras Serveng e Lafarge; usinas URBEM e CRCD. Imagem: Google Earth.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

Observa-se a extrema diferença na quantidade de área de solo utilizada, pois as pedreiras, em comparação com zonas urbanas, tem aproximadamente o mesmo tamanho que todo um distrito industrial, como o que a URBEM se encontra. Observa-se ainda que á área necessária para a reciclagem não é grande e não apresenta nenhuma discrepância, em morfologia ou tamanho, com os tecidos urbanos nas quais estão inseridas. Assim, a reciclagem pode permitir que a produção de agregados ocorra de forma mais distribuída. Além do mais, quanto mais distribuída for, menor serão as distâncias percorridas, contribuindo também com a problemática do transporte. Em relação à análise quantitativa, se obtiveram os seguintes resultados:

Tabela 17. Análises das áreas versus produção dos estudos de caso. Elaboração própria.

72

Tabela 18. Síntese dos dados obtidos. Elaboração própria.

Em síntese, observa-se que a área de solo utilizada para mineração pode chegar a praticamente 100 vezes a área de uma usina de reciclagem, como é o caso da comparação entre Serveng e CRCD. Outro fato muito relevante é a denominada “eficiência” dos empreendimentos, pautados pela área necessária para produzir a mesma quantidade de produto. As pedreiras em estudo necessitam em torno de 3 a 4 m² de área para produzir uma tonelada de produto, por mês, ao passo que as usinas necessitam em torno de 1,2 a 1,4 m² para a mesma produção. Ou seja, as usinas, além de não interferirem em APPs, necessitam de menos de metade da área de uma mineração para produzir o mesmo tanto, no mesmo período.


7. ANÁLISE DAS EMISSÕES DE CO2

7.1.

Ao propor-se uma comparação ambiental entre mineração e reciclagem de forma quantitativa, optou-se pelo indicador “emissões de CO2” dada a relevância deste gás nas pesquisas científicas atuais: é comprovado que o CO2 contribui na formação de uma camada na atmosfera que absorve e retém a radiação solar, causando efeito estufa e aquecimento do planeta (GORE, 2006). Dado o aumento acentuado da taxa de CO2 na atmosfera (EPA, 2012), diversos esforços vêm sendo realizados para reduzir sua emissão global, como o protocolo de Kyoto e a conferencia Rio 92 (Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento).

A metodologia proposta buscou comparar os processos de produção e distribuição dos agregados naturais e reciclados quanto a suas emissões de CO2. As etapas estudadas em cada caso seguem na Figura 77, Figura 78 e Figura 79.

METODOLOGIA

Para a mineração foram considerados os processos envolvidos desde o decapeamento (retirada de cobertura vegetal e de solo) − necessário para a extração de rocha, até a entrega do produto britado ao cliente. A mineração apresenta um processo relevante, que

Além das emissões de CO2 representarem um importante indicador de degradação da qualidade ambiental, há metodologias consolidadas para sua quantificação nas atividades humanas, como o GHG Protocol. Assim, o indicador de emissão de CO2 atende tanto a critérios de importância quanto de mensurabilidade. Com base em CONAMA nº 01/86, a avaliação proposta nesse trabalho partiu da necessidade de ponderar os impactos gerados pela reciclagem de RCD com a sua não execução, ou seja, com a exploração tradicional de agregados naturais. A avaliação comparará três tipos de empreendimentos por meio de suas emissões de CO2: a mineração de agregados (brita), a reciclagem fixa e a móvel. Optou-se por avaliar apenas a brita natural, e não a areia, dado as limitações existentes, como dados disponíveis do setor, entre outros.

Figura 77. Etapas estudadas da mineração de rocha. Elaboração própria.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

pode ser desconsiderado na reciclagem, que é o transporte interno da mina até o britador. Em um dos estudos de caso, essa distância era superior a 2 km. No caso da usina fixa, poderia contestar-se que as emissões do transporte de RCD gerado no empreendimento até a usina não foram contabilizados. Porém, isso foi assim estabelecido porque segundo a resolução CONAMA 307/202, o transporte e destinação do resíduo são de responsabilidade de seu gerador (demolidor ou construtor). Já que de qualquer forma é o gerador quem deve arcar com a destinação do RCD, quer seja esse a deposição final ou a reciclagem, as emissões foram a ele associadas. Já no caso das usinas móveis, observa-se que não foram contabilizadas as emissões relativas ao transporte do britador até o empreendimento, por considerá-las desprezíveis.

Figura 79. Etapas estudadas da reciclagem móvel. Elaboração própria.

Tendo essas premissas, o modelo de cálculo para quantificar as emissões foi baseado na metodologia do GHG Protocol (FGV, 2012), porém adaptado. Este foi composto de três etapas que resultam no indicador buscado, conforme Figura 80, que apresenta sua síntese:

Figura 78. Etapas estudadas da reciclagem fixa. Elaboração própria.

74

Figura 80. Síntese do modelo de cálculo das emissões de CO2. Elaboração própria.


O consumo de energia por equipamento é obtido multiplicando-se seu consumo horário pelo seu tempo de operação.

7.1.1. DADOS DE ENTRADA A primeira parte do levantamento consistiu em estabelecer os dados de entrada, que são os que são a base de todas as emissões. Estes são, a saber: a quantidade de agregados produzida (por cada usina ou pedreira) e a distância de transporte. É a quantidade produzida que determina quantos equipamentos ou viagens serão necessários para atender a produção. Outro fator que afeta diretamente as emissões são as distâncias percorridas por fontes móveis (caminhões), pois quanto maiores forem, mais diesel consumirão. 7.1.2. CÁLCULO DO CONSUMO ENERGÉTICO A segunda parte do modelo consiste na quantificação dos equipamentos utilizados na produção e distribuição de agregados, bem como seu consumo energético. O modelo de cálculo foi feito com base na metodologia do GHG Protocol (FGV, 2012), adaptada para o escopo deste trabalho. Assim, os processos escolhidos para a quantificação das emissões foram Combustão estacionária, Combustão móvel e Compra de eletricidade do SIN (Sistema Integrado Nacional), conforme Figura 81. Combustão estacionária

Combustão móvel

Compra de eletricidade do SIN

Figura 81. Escopos do GHG Protocol escolhidos.

7.1.2.1. FONTES ESTACIONÁRIAS DE EMISSÃO Consideraram-se como fontes estacionárias de emissão de CO2 os equipamentos e transportes necessários para a produção de agregados. Exemplos de fontes estacionárias são pás-carregadeiras, escavadeiras e britadores. Estes foram identificados com base em entrevistas, SOUZA (2012) e FGV (2012).

Equação 2. .

Por sua vez, as horas trabalhadas/dia de um equipamento são função de sua produtividade. Assim obtém-se o valor pela equação: Equação 3. .

Tanto o consumo horário quanto a produtividade do equipamento foram calculados tendo como base os catálogos de fabricantes e informações provenientes das entrevistas. Para maiores informações sobre esse processo, consultar o trabalho de formatura desenvolvido no curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica por SOUZA et al (2013). 7.1.2.2. FONTES MÓVEIS DE EMISSÃO Considerou-se como fontes móveis de emissão de CO2 apenas os equipamentos envolvidos no transporte do agregado de sua origem até seu consumo/distribuição (transporte externo) e, no caso da mineração, também o transporte da mina até a área de beneficiamento (transporte interno). O único modal considerado foi o rodoviário. Para estabelecimento da frota considerou-se tanto a própria a quanto a terceirizada, sem distinção. O consumo de diesel para cada tipo de veículo com características semelhantes (capacidade, carregamento médio e ano da frota) pode ser estimado pela seguinte equação:

75


A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

Equação 4. .

Onde: • • • •

C: consumo de diesel diário (l/dia) de veículos tipo n; Nv: número de viagens realizadas por dia*; Qp: quilometragem percorrida por viagem (km); Cm: consumo médio de diesel dos veículos tipo n (l/km).

O número de viagens por dia pode ser estimado pela seguinte equação:

emissão médio para a combustão é de 2,68 kg de CO2 /litro de diesel. O valor médio da emissão para produzir e distribuir o combustível é de 0,5 kg de CO2 kg CO2/litro de diesel. Assim, a taxa final de emissão é em torno de 3,2 kg de CO2/l de diesel. O fator para conversão de energia elétrica em CO2 utilizado também foi o do IPEA (2011), feito com base na matriz energética brasileira. O valor adotado é de 87 g de CO2/ kWh. Depois de mensurar o consumo energético dado pelo consumo de diesel e de energia elétrica de cada equipamento, para encontrar o valor da emissão de CO2 respectiva, multiplica-se o consumo encontrado pelo fator de conversão adotado. Como se deseja um indicador em função da quantidade de agregado produzido (tonelada), divide-se o valor pela produtividade, conforme fórmula a seguir:

Equação 5. .

O consumo médio de diesel (Cm), por sua vez, varia conforme a idade, modelo, carregamento, manutenção e uso do veículo. Com base em CRUVINEL et al (2008) e COYLE (2007), estimou-se Cm em 0,34 l/km. Para maiores informações sobre esse processo, consultar o trabalho de formatura desenvolvido no curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica por SOUZA et al (2013). 7.1.3. CONVERSÃO Tendo levantado a quantidade de diesel ou energia consumidos pelo processo, converte-se os valores encontrados segundo um fator de conversão. O fator de conversão para emissões estacionárias utilizado foi o do IPEA (2011), que soma as emissões na combustão do diesel com as emissões para a sua produção e distribuição . O fator de 76

Equação 6. .

Onde: • Eunit est: Emissão unitária estacionária de CO2 (kg/t); • Cn: Consumo de diesel/energia diário do equipamento n (l/dia ou kW/dia); • Fc=fator de conversão(CO2/l ou CO2/kw); • P: produção diária de agregados (t/dia); • n= cada equipamento.


7.2.

RESULTADOS

Tabela 19. Tabela comparativa entre as plantas e as diversas fontes de emissão. Elaboração própria.

Calcularam-se, separadamente, as emissões de CO2 para cada usina e pedreira. Foram avaliadas duas plantas para cada modelo de negócio: duas pedreiras, uma em Barueri e outra em Cajamar; dois britadores móveis da mesma empresa, sendo um por cisalhamento e outro por mandíbula; e duas usinas fixas de reciclagem, uma em Guarulhos e outra em São Bernardo do Campo. Mais uma usina fixa foi avaliada, no entanto optou-se por não compará-la com as restantes por falta de consistência nos dados coletados. O índice de emissão médio das pedreiras foi de 5,16 kgCO2/t, das usinas móveis, 1,81 kgCO2/t, e das usinas fixas, 2,48 kgCO2/t. Os cálculos de emissão dos equipamentos fixos e móveis estão apresentados detalhadamente no Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica (SOUZA et al, 2013). Foram identificadas as principais fontes de emissão e as suas causas. Primeiramente estão apresentadas as emissões para cada planta estudada conforme sua fonte geradora. Elas são: britadores, equipamentos de carregamento e transporte interno (formado por todos os equipamentos de produção excluindo-se os equipamentos voltados à britagem) e, por fim, o transporte externo até o cliente por caminhões. Os dados se encontram na Tabela 19 e na Figura 82. Analisando todas as fontes geradoras, observou-se menor emissão unitária relacionada às usinas móveis, seguida das usinas fixas e por último as pedreiras, as maiores emissoras. Por meio da análise das emissões, foi possível identificar que o índice de emissão (tanto total, quanto unitário) é maior quanto maior a sofisticação do produto fabricado. As usinas móveis são as de menor processamento, produzindo apenas bica corrida, seguida das usinas fixas, que produzem ainda areia, pedrisco e brita e, por fim, as pedreiras, que fabricam diversos tipos de agregados (Tabela 13). Cada produto possui uma emissão unitária de CO2 diversa, conforme a quantidade de equipamentos que são utilizados para

Figura 82. Gráfico comparativo entre as plantas e as diversas fontes de emissão.. Elaboração própria.

fabricá-lo. Por exemplo, para a pedreira fabricar areia e pó de pedra, é necessário a utilização desde o britador primário até o terciário. Já no caso do rachão, de maior granulometria, somente o primário é necessário. A Figura 83 ilustra as etapas típicas de processamento nas usinas e pedreiras.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

Usina Fixa

Usina Móvel

Entrada de RCD

Entrada de RCD

Carregamento

Alimentador vibratório

Alimentador

Transporte interno

Britagem

Britagem

Alimentador vibratório

Separação magnética Transportadores de correia

Separação manual

Pedreira

Britador primário

Separação magnética Metais

Transportadores de correia

Peneiramento Transportadores de correia

Transportadores de correia

Transportadores de correia

Conjunto peneirador 1

Metais Rachão

Bica corrida

Brita

Rachão

Transportadores de correia

Conjunto peneirador 3

Britador secundário Transportadores de correia

Transportadores de correia

Conjunto peneirador 2 Transportadores de correia

Areia

Britador secundário

Transportadores de correia

Britador terciário

Brita

Brita

Pedrisco

Transportadores de correia

Areia

Pó de areia

Figura 83. Esquema de funcionamento típico das usinas de reciclagem estudadas móvel (esquerda) e fixa (meio) e pedreira (direita). Elaboração própria. Tabela 20. Produtos comuns das plantas estudadas. Elaboração própria.

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Assim, as emissões totais das pedreiras na produção são muito superiores às das usinas de reciclagem, principalmente devido a sua capacidade e variedade produtiva. A produção de uma pedreira (cerca de 4000t/dia) chega a ser oito vezes superior à produção média de uma usina de reciclagem (cerca de 500 t/dia). Nessa diferença, estão inclusos os diversos tipos de agregados produzidos pelas pedreiras, incluindo aqueles que necessitam de maior processamento.


Em uma comparação entre as tipologias de usinas estudadas, verifica-se que as móveis possuem elevada capacidade produtiva, sendo superior às usinas fixas. No entanto, vale ressaltar que a móvel conta com períodos improdutivos entre uma alocação e outra. Retomando a Tabela 19 e a Figura 82, é possível identificar uma elevada emissão unitária para a produção das pedreiras em relação às usinas de reciclagem. Os britadores das pedreiras e das usinas fixas são elétricos e, devido a matriz energética brasileira ser composta majoritariamente de hidroeletricidade, sua emissão de CO2 é muito inferior a do diesel, conforme fatores de emissão adotados do IPEA (2011). Os britadores móveis, por sua vez, são usualmente à diesel ou, caso elétricos, utilizam geradores movidos à diesel para o fornecimento de eletricidade. Devido principalmente a esse fator, é o tipo de britador mais poluente para a produção dos agregados, possuindo grande influência na emissão total da usina, conforme identificável na Figura 85, a frente.

pedreira do grupo Lafarge em Cajamar, as condições atuais de remoção de capa de solo e vegetação implicam em uma movimentação de material na ordem da mesma quantidade que a movimentação para o beneficiamento de rocha em si, implicando em um grande volume de emissão de GEE que devem ser contabilizados na produção, conforme apresentado na Tabela 21 e na Figura 84.

Tabela 21. Emissões da Pedreira Lafarge em Cajamar em kgCO2/t. Elaboração própria.

Ainda em relação aos britadores móveis, observou-se consumo variável conforme sua capacidade e função. Britadores do tipo mandíbula (Recinert 2) consomem cerca de 50% a mais de diesel que britadores do tipo fresa ou cisalhamento de mesma capacidade (Recinert 1). Caso seja acoplado um sistema de peneiras de separação a emissão será maior. Usualmente, quanto maior a produtividade de um britador, menor é a emissão unitária na produção26 , uma vez que sua britagem é mais eficiente. Dessa forma, se esperaria que as emissões unitárias das pedreiras na produção fossem as mais baixas. No entanto, as atividades de preparação da mina (decapeamento), que são indiretamente relacionadas com a produção, possuem uma contribuição importante para a emissão de CO2. Por exemplo, para o caso da 26  Nordberg Britadores de mandíbulas série C Metso Brasil, disponível em : http://www.metso.com/miningandconstruction/MaTobox7.nsf/DocsByID/0D7557574F5A77CD42256B7B00342A2A/$File/C_Series_Portuguese.pdf

Figura 84. Emissões da Pedreira Lafarge em Cajamar em % do total de emissões. Elaboração própria.

O consumo de diesel na mina também é relevante, principalmente devido aos equipamentos de escavação de grande porte, transporte interno de minério (que não existe em uma usina de reciclagem) e carregamento do produto para entrega. O processo de britagem é muito semelhante entre a mineração e a reciclagem, diferenciandose principalmente no porte dos britadores, ou seja, a quantidade de 79


A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

material britado e o tratamento dado ao produto. As pedreiras fabricam material de diversas qualidades, inclusive para usos nobres em concretos estruturais, quando após a britagem, o material é separado em diversas frações e remisturado conforme as necessidades do cliente. Esse maior número de atividades dentro da pedreira consome maior quantidade de energia unitária para sua fabricação e, portanto emitindo uma maior quantidade de poluentes. Em relação aos outros equipamentos envolvidos na produção dos agregados, foi identificado que as emissões dos equipamentos de carregamento do material nos caminhões são maiores emissores que os próprios britadores, caso estes sejam elétricos. As escavadeiras hidráulicas e pás carregadeiras apresentam consumo muito variável de diesel conforme seu tamanho, tipo de utilização, fabricante, idade, destreza do operador e intensidade de uso, portanto as emissões desses equipamentos foram bastante díspares entre as unidades estudadas. É possível identificar influência da escolha de equipamentos de carregamento na emissão unitária. A usina de reciclagem fixa Eco-X utiliza duas escavadeiras que consomem 15 litros por hora de diesel cada para carregar o resíduo no britador e agregado nos caminhões. A URBEM, por sua vez, utiliza duas pás carregadeiras para realizar o mesmo trabalho com produtividades semelhantes consumindo apenas 10 litros por hora cada. Novamente, ressalta-se a contribuição dos processos que utilizam diesel na emissão de CO2 em comparação com que utilizam energia elétrica do Sistema Integrado Nacional. A participação de cada fonte nas emissões de CO2 segue na Figura 85. Já em relação às emissões relacionadas ao transporte, a Tabela 22 apresenta as distâncias médias praticadas pelas empresas para distribuição de agregados na RMSP. Observa-se que foi adotada a emissão de ida e volta do caminhão, portanto dobrando-se a distância percorrida para o transporte apresentada. As distâncias 80

Figura 85. Participação de cada fonte de emissão na emissão total de cada planta. Elaboração própria.


praticadas pelas pedreiras são superiores às praticadas pelas usinas, que são convencionalmente em torno de 20 km. Todas as usinas de reciclagem estudadas produziam uma quantidade de agregados de mesma ordem e possuíam mercados semelhantes, no caso específico das usinas móveis foi informado que em média apenas um terço do montante reciclado é transportado para outro local, e o restante é utilizado no próprio local de reciclagem. No caso da pedreira Lafarge a qualidade do material extraído, que é superior, eleva a média de distâncias. A distância estimada pela CRCD em Osasco se deve ao afastamento maior do centro consumidor.

O mesmo ocorre com a mineração de areia. As areias naturais mineradas na região do Vale do Paraíba compensam o elevado custo de frete com a redução do consumo de cimento na aplicação, tornando-se financeiramente viáveis, no entanto sendo prejudiciais ao meio ambiente.

O transporte para venda dos agregados utiliza combustíveis fósseis, majoritariamente diesel. Assim, há um grande aumento de emissões quanto maior a distância média percorrida para o transporte.

De forma geral, observa-se que as usinas móveis são as menores emissoras unitárias de CO2, e apesar de sua maior emissão na produção, sua baixa emissão no transporte compensa, de forma que elas emitam menos que as fixas. Ainda assim, existe uma grande variação desta emissão, tanto no transporte quanto na britagem. Essa variação é causada tanto pelos equipamentos de carregamento utilizados, sendo que escavadeira emite mais CO2 que a pá carregadeira, e também pela possibilidade de se praticar grandes distâncias de venda do agregado, uma vez que não há local para estoque e o material deve ser vendido o mais rápido possível.

Tabela 22. Distância média de distribuição de agregados. Elaboração própria.

Foi identificado que as pedreiras praticam uma distância maior de transporte que as usinas de reciclagem principalmente devido ao volume de produção. Uma produção mais intensiva possui um mercado maior de consumidores. Produtos de melhor qualidade são vendidos a preços mais elevados e podem ser procurados a uma grande distância por clientes que buscam redução do consumo de cimento ou produtos de qualidade específica. Nesse contexto, foram relatadas viagens de até 60 km de caminhão na cidade da pedreira até o destino.

As usinas móveis possuem elevadas emissões unitárias para a produção, no entanto, pela mobilidade, podem permear na malha urbana e ainda utilizar o agregado no próprio local da reciclagem, assim reduzindo fortemente sua emissão no transporte.

Observa-se ainda, conforme entrevistas, que os principais consumidores de agregado reciclado são grandes construtoras e o setor público. Pequenas obras ou de canteiro reduzido não justificam a utilização de um material tão específico, uma vez que um mesmo carregamento de brita natural, por exemplo, é utilizado tanto para a fundação, quanto para a estrutura e pavimento, o que não seria possível com o agregado reciclado. Caso o empreiteiro queira utilizar o reciclado, ele seria obrigado a separar os diferentes materiais e ainda correr o risco de utilização equivocada pelos operários, não havendo uma redução expressiva no seu custo.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

8. ANÁLISE DA QUALIDADE DO INVESTIMENTO Dadas as dificuldades constatadas para o estabelecimento de usinas de reciclagem, resultando no fechamento de diversas unidades, conforme Capítulo 3, buscou-se analisar este tipo de empreendimento segundo a qualidade de seu investimento. Em outras palavras, buscou-se compreender se a reciclagem pode ser um bom negócio, em termos financeiros (investimento necessário, retorno e lucro), no contexto da RMSP. Considerando que quase a totalidade de usinas operantes na RMSP é privada (ABRECON, 2012), o fato de a reciclagem ser um negócio financeiramente interessante é fundamental para sua disseminação e fortalecimento do setor.

8.1.

O protótipo estabeleceu os dados relevantes para o desempenho financeiro de uma usina. Esses dados podem ser divididos em custos (para implantação e operação) e receitas. Segue, na Tabela 23, o que foi considerado em cada caso. Tabela 23. Dados de entrada necessários para o protótipo AQI. Elaboração própria.

Custos de Implantação (R$/mês)

METODOLOGIA

Escolheu-se trabalhar com a Análise da Qualidade do Investimento (AQI) de um protótipo, ou seja, de um modelo genérico de usina. O protótipo, por ser genérico, pode representar tanto uma usina fixa, quanto uma móvel, dependendo dos dados inseridos. Assim admite a simulação de diversas situações, tornando o estudo mais complexo, amplo e útil. 1. Estabelecimento de um protótipo, com os tipos de dados a considerar;

Operação (R$/mês)

Receitas (R$/mês)

Terreno Terreno, obras Projetos Legais civis Obras Civis Alimentadores Britadores e moinhos Peneiramento Correias transportadoras Maquinário Lavadores Instalação Caminhões Tratores Recursos Salários Humanos Equipamento, Manutenção maquinário e Operação veículos Aluguel Terreno Eletricidade Diesel Insumos Água Despesas administrativas. Transporte de agregados Transporte Recebimento de Insumos Venda de Agregados

2. Coleta de dados e estabelecimento de faixas de valores (mínimo e máximo) para cada categoria; 3. Extrapolação probabilística dos valores das faixas, através do método de Monte Carlo. 4.

Análises financeiras (fluxo de caixa);

5. Resultados da qualidade do investimento: taxa interna de retorno e payback.

Figura 86. Resumo da metodologia para AQI. Elaboração própria.

82

Tendo estabelecido os dados necessários, as informações foram obtidas principalmente por meio dos estudos de caso. Em algumas situações, nas quais havia muita variação de valores, outros meios de pesquisa foram utilizados. Por exemplo, para se obter mais valores de preço de terreno, que é dos itens mais impactantes nos custos, realizou-se pesquisa em imobiliárias; para preço dos equipamentos, entrou-se em contato com fornecedores.


O próximo passo foi à extrapolação probabilística de valores pelo método de Monte Carlo. A extrapolação é feita quando a amostragem realizada é pequena e pode não ser representativa. Neste trabalho, por exemplo, no qual se estudou cinco usinas, não é possível dizer que os resultados financeiros dessas empresas representem a realidade de todas as usinas na RMSP. Assim, com base nos poucos valores obtidos, a extrapolação (feita pelo software Excel) gera diversos valores de forma aleatória e probabilística, o que equivale a ter obtido dados de uma amostragem muito maior. A extrapolação simula situações mais ou menos favoráveis, como maior ou menor preço do agregado, além da probabilidade dessas variações ocorrerem. Um exemplo de extrapolação é o seguinte: suponha que os preços de venda dos agregados, obtidos pelos estudos de caso, apontem valores entre R$30,00 e R$35,00/ton. Se através da extrapolação probabilística forem gerados 100 preços diferentes, a maior parte dos valores estaria dentro do intervalo de confiança, ou seja, entre R$30,00 e R$35,00, principalmente próximos dos R$32,50, que é a média. Menos valores estariam abaixo de R$30,00 ou acima de R$35,00, pois menor é sua probabilidade de ocorrência. Assim, quanto mais distantes do intervalo de confiança, menor é a probabilidade de que os preços sejam praticados e portanto menos valores serão gerados nessas faixas mais distantes. Tendo todos os valores, incluindo os gerados por extrapolação, calculou-se o fluxo de caixa, que possibilita obter os indicadores de qualidade do investimento: taxa interna de retorno (TIR) e payback. Basicamente, a TIR é taxa de ganho do investidor, portanto é melhor quanto mais alta for. Por sua vez, o payback é o tempo que o investimento leva para começar a dar lucro. Para maiores informações sobre o processo de análise do investimento, consultar o trabalho de formatura desenvolvido no curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica por SOUZA et al (2013).

8.2.

RESULTADOS

A análise de qualidade do investimento se baseou no estudo da taxa interna de retorno (TIR) proporcionada pelo empreendimento usina de reciclagem. A TIR é um indicador de resultados financeiros, e é considerada satisfatória se for maior que a chamada taxa de atratividade. A taxa de atratividade, por sua vez, é o valor mínimo de lucratividade desejada para se investir em um empreendimento e geralmente é igual a 12% ao ano. Foram realizados dois tipos de estudos relacionados à TIR: seu valor médio e seu comportamento segundo a variação no preço de venda do agregado. Estudou-se também a relação do frete na composição do preço final do produto. Para estabelecimento do valor médio da TIR, foram realizadas diversas simulações de resultados para diferentes preços de agregados. Para tal, utilizou-se o método de extrapolação de valores de Monte Carlo. Foram simuladas TIR após 20 anos de operação das usinas, dado que esse é o ciclo de operação utilizado em estudos de empreendimentos. Observou-se, pela Figura 87, que a TIR média de todas as simulações realizadas foi em torno de 30,5% (linha vermelha), o que significa que um empreendimento de reciclagem tende a dar essa taxa de retorno após 20 anos. Esse valor de TIR é significativo, considerando que a taxa de atratividade adotada foi de 12%. O empreendimento atende essa taxa já nos primeiros 5 anos de operação, em 10 anos dobrou a taxa e, em 20, chegou a 30,5% ao ano. Aplicou-se o método de Monte Carlo para 50 iterações, que se mostrou suficiente, já que os valores médio, médio inferior e médio superior (linhas horizontais) estão próximos. O gráfico 83


A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

mostra ainda a dispersão dos valores de TIR encontrados (pontos “TIR20”) para diferentes simulações de preço realizadas pelo modelo de cálculo. Para cada iteração, o modelo sorteia aleatoriamente um preço de agregado a ser praticado para cada ano. São feitas 50 simulações para representar as diferentes possibilidades de preço, representando também os extremos possíveis do cenário. Dentro desses limites, a dispersão dos pontos é aleatória, dado que a entrada de preços é aleatória.

agregados naturais. Essa diferença de preço é necessária, pois conforme os estudos de caso, o meio pelo qual os agregados se viabilizaram foi através do menor preço. Uma ressalva desta Figura 88 com a anterior é o valor da TIR encontrada. Observa-se pela Figura 87que a TIR média é 30,5%, ao passo que nesta, em caso de terreno alugado, é sempre superior a 80%. Isso acontece justamente porque o primeiro valor é probabilístico, ou seja, supõe que nem sempre será possível vender o agregado a um mesmo preço: é um cálculo mais realista e conservador, por isso apresenta menor valor.

Figura 87. Variação da TIR gerado por extrapolação probabilística (Método de Monte Carlo). Elaboração própria.

Em uma etapa preliminar ao estudo probabilístico da TIR, verificou-se sua sensibilidade a mudanças no preço. Observa-se que um acréscimo de 5% no preço pode aumenta a TIR de 8% a 15%, dependendo das condições de compra ou aluguel e financiamento, conforme Figura 88. Estes resultados provam como o preço do agregado é importante dentro do modelo de viabilidade. Isso acontece porque os gastos mensais são sempre os mesmos, porém, no caso de preço mais alto, as receitas serão maiores, aumentando a margem de lucro. Apesar de que quanto mais alto o preço, maior a lucratividade, há de se considerar que para que o agregado reciclado seja competitivo com o natural, seu preço final deve ser inferior ao dos 84

Figura 88. Variação da TIR em relação ao preço de venda do agregado, para situação de compra e aluguel do terreno. Elaboração própria.

Outra característica que pode ser observada de imediato na Figura 88é a diferença TIR quando o terreno é comprado e quando é alugado. No caso do aluguel, para qualquer valor de venda, a TIR é sempre maior. Isso se deve ao fato de não haver um grande valor investido no início da operação da usina, que seria o preço do terreno. Quando o terreno é comprado, mesmo com a ajuda de um financiamento, o valor investido aumenta bastante, já que sobre o valor do financiamento são aplicados juros, de forma que a


margem de lucro fica menor. Optou-se por trabalhar considerando um cenário pessimista, sem valor residual do terreno, o não é real. Se fosse considerado o valor de venda do terreno após o término do ciclo operacional, a TIR no caso de compra do terreno aumentaria, mas optou-se por considerar o terreno um investimento a parte, fora do escopo da usina. A outra análise feita é em relação à demanda e o valor de frete resultante da distância praticada de venda. O valor do frete, pago pelo consumidor, é calculado em reais por metro cúbico por quilômetro de distância de entrega, R$/(m³. km), assim, para obtermos o preço total do frete, devemos multiplicar o volume de agregados comprado pela distância de entrega. Dessa forma, se mantivermos a quantidade e aumentarmos a distância, o valor de frete aumenta continuamente, se tornando impraticável a uma certa distância, conforme Figura 89.

Ou seja, para alcançar um maior raio e, portanto um maior mercado o produtor tem que baixar o preço do agregado reciclado , o que é limitado pelo preço mínimo em que ainda há lucro. Assim, quando se chega a distâncias em torno de 30 ou 35 quilômetros, o valor do metro cúbico de agregado acrescido do frete se aproxima do valor do agregado natural, em torno de R$80,00, e se torna inviável.

Figura 89. Variação do preço do agregado com o frete. Elaboração própria.

85


A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

9. CONCLUSÕES A reciclagem de RCD se mostra viável tanto do ponto de vista da qualidade do investimento, quanto em relação aos seus impactos ambientais e urbanos em comparação com a mineração.

os valores que serviram de base a este trabalho são de empresas que, obviamente, estão obtendo resultados positivos, caso contrário também haveriam encerrado suas atividades.

Os agregados naturais apresentam certas propriedades físicas, como resistência, que os tornam melhor do que os reciclados (das empresas estudadas) para fins mais nobres, como os estruturais. Para fins mais simples, no entanto, a utilização do natural se configura como um desperdício, pois além de sua alta resistência ser desnecessária, é mais caro e emite mais CO2 que o reciclado.

Outra dificuldade apontada nos estudos de caso foi a falta de incentivos fiscais para a reciclagem de RCD, que poderia incentivar o investimento no setor. A PNRS e a Resolução Conama 307/2002 abordam o assunto, no entanto são superficiais e generalistas e não introduzem um real incentivo à reciclagem de RCD.

Em relação à avaliação da qualidade do investimento em usinas de reciclagem, nota-se que a mesma pode apresentar indicadores satisfatórios dentro de certo limite de atuação. Verifica-se que os dois fatores que mais impactam sua atratividade enquanto investimento são a compra/locação do terreno e a limitação da distância de distribuição do produto. Em relação ao terreno, todas as usinas entrevistadas pagavam aluguel, com exceção da CRCD, parceria público-privada, que obteve terreno cedido gratuitamente. O preço do frete, que faz com que o produto chegue mais caro ao consumidor, é o que limita o raio de atuação das usinas, que é menor do que o das mineradoras. Dado essa limitação, evidenciase a importância de localização do terreno, no caso de usinas fixas, pois quanto mais periféricas, maiores serão as dificuldades em atender amplamente a RMSP. Por outro lado, a melhor localização infere em maiores gastos com terreno, o que pode inviabilizar sua atividade. Mesmo que a atratividade do investimento em reciclagem seja satisfatória, observou-se a necessidade de um plano de negócios consistente e detalhado, pois se verifica, conforme MIRANDA et al (2008) que o número de usinas desativadas é alto. Ressalta-se que 86

Já na comparação entre mineração e reciclagem, sob o ponto de vista de seus impactos ambientais, a reciclagem se apresenta como alternativa vantajosa. De forma geral, ela causa impactos adversos menores que a mineração, principalmente no quesito interferência em APPs, extração de material não-renovável, conflitos com a população (SÃO PAULO, 1993) e degradação de área ao final da atividade. Ressalta-se ainda a escala dessas áreas degradadas, pois as pedreiras estudadas medem em torno de 400.000 m². Realizando-se uma comparação por eficiência nos processos produtivos, verificou-se, pelos estudos de caso de mineração, que a remoção de solo e vegetação (decapeamento) é uma atividade muito significativa em termos de movimentação de material, chegando a ter a mesma ordem de grandeza do volume de rocha extraído em momentos de expansão da mina. Ou seja, a eficiência da mineração não é alta, visto que para cada metro cúbico de rocha, teve de se extrair o mesmo volume de solo. Na reciclagem, por sua vez, o aproveitamento dos resíduos é quase total. Em uma comparação de área necessária para a produção da mesma quantidade de agregados, verificou-se que a razão área/produção da mineração é maior que o dobro da reciclagem: 3,73 m³ solo/m³ agregado na


Lafarge contra 1,17 m³ solo/m³ agregado na URBEM. Ou seja, que segundo critério área necessária, a eficiência da mineração é menos que a metade da reciclagem.

tração mineral, porém apresenta potencial de substituição parcial, principalmente em usos não estruturais, atenuando assim os impactos da mineração.

Em uma análise urbana, observou-se que as distâncias médias percorridas na reciclagem são menores do que na mineração de rocha e, principalmente, na de areia. As distâncias no caso das minerações são maiores porque, produzindo mais variedade de produtos e em maior escala que as usinas, acabam atendendo um mercado maior e, consequentemente, mais distribuído. Ressalta-se também que pedreiras que possuem minério de melhor qualidade viabilizam sua distribuição a distâncias ainda maiores. Isso acontece porque esses produtos atendem a especificações diferenciadas, diminuindo, por exemplo, a quantidade de cimento (de maior valor agregado) no concreto, de forma que o maior valor gasto no frete é compensado por redução de custos em outros processos.

Apesar de a reciclagem apresentar, em linhas gerais, menores impactos adversos, não se deve esquecer suas consideráveis emissões de CO2. Mesmo concluindo que a reciclagem emite menos CO2 que a mineração, salienta-se que são indústrias que produzem agregados diferentes. As pedreiras produzem cerca de dez tipos de produtos (rachão, britas 0 a 5, pedrisco, pó de pedra e bica corrida), ao passo que as usinas fixas estudadas produzem cerca três e as móveis, apenas um.

Apesar das distâncias menores que a mineração, a localização das usinas fixas é mais periférica do que poderia se esperar pela sua capacidade de inserção na malha urbana. O que acontece é que o valor do produto reciclado ainda é muito baixo, e o preço do terreno impacta fortemente na viabilização deste tipo de atividade. Observa-se, por exemplo, que parte das usinas se instalou em áreas degradadas (antigas minerações), onde o preço da terra é muito inferior. Ainda que existam dificuldades na instalação de usinas em locais mais centrais, torna-se claro o potencial da reciclagem produzir agregados dentro da malha urbana, tarefa impossível para a mineração (pois além de tudo, esta necessita de área muito grande e sua instalação está atrelada a condições geológicas favoráveis). Sabe-se que a reciclagem não consegue substituir em 100% a ex-

De todas as emissões de CO2, as relacionadas ao transporte foram, em todos os casos, as mais significativas. As usinas móveis são as que possuem menor emissão unitária oferecem a possibilidade de reutilização na própria obra, o que minimiza as emissões e os impactos urbanos da circulação de caminhões. Assim, faz-se desejável que, sempre que possível, a reutilização do RCD na obra seja a estratégia adotada. A reutilização do RCD no próprio canteiro onde foi gerado nem sempre é viável, pois as fases de demolição (quando se gera o resíduo) e de construção (quando se o reutiliza) ocorrem em momentos diferentes. Assim, essa alternativa só se viabiliza caso a obra disponha de área para estoque. Caso não disponha, existe a pressa em se vender logo o produto para liberar espaço na obra. Essa necessidade em liberar espaço rapidamente, pode fazer com que o produto seja vendido a uma distância longa (no caso de não existirem compradores próximos) ou até mesmo a um preço inferior, conforme a lei da oferta e da demanda.

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A Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição na RMSP

Sobre o mercado de agregados, ressalta-se que o reciclado apresenta preço bem inferior ao natural, de forma que sua utilização pode se traduzir em maior economia para o comprador. Pelos estudos de caso, verificou-se que essa vantagem financeira é o que mobiliza a aquisição deste tipo de produto. No entanto, o mercado imobiliário apresenta interesse crescente por certificações de sustentabilidade, como LEED e AQUA, pois estes agregam valor ao empreendimento. Como essas certificações incentivam o uso de agregados reciclados, observa-se que há empresas que optam por sua utilização mesmo que seja mais caro, esperando assim obter maiores resultados pela obtenção da certificação. Dessa forma, nota-se que a preocupação do nicho de mercado que utiliza agregados reciclados, ainda que atrelada a certificações de sustentabilidade, é basicamente financeira, e que o entendimento da dimensão ambiental e urbana é praticamente inexistente.

9.1.

ESTUDOS COMPLEMENTARES

O estudo da reciclagem sob o ponto de vista ambiental e da qualidade do investimento não se esgotam com este trabalho: o tema pode ser aprofundado por outras formas de análise. Maior refino nos dados pode ser obtido ampliando-se a amostragem. O próprio Trabalho de Formatura desenvolvido na Escola Politécnica (SOUZA et al, 2013) está em andamento para maior refino da análise. Em relação às emissões de CO2, aguarda-se maior especificação dos equipamentos utilizados pelas pedreiras. Isso permitirá obter mais consistência na análise, visto que alguns dados como, produtividade e consumo de combustível foram obtidos para modelos de equipamentos similares. Em termos de AQI, é possível estudar maiores variações da TIR, inclusive aumentando o número de simulações feitas pelo método de Monte Carlo. Para estudos futuros, sugere-se englobar as emissões indiretas de CO2, considerando outras etapas do seu ciclo de vida. Dependendo da aplicação, um agregado de melhor qualidade possibilita um menor consumo de cimento no concreto. Visto que a produção do cimento possui elevado índice de emissão de CO2, a sua economia pela utilização de agregados de melhor qualidade deve ser considerada. Existe ainda a possibilidade de comparação das da destinação do RCD para aterros de inertes ou para a reciclagem.

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ANEXOS

ANEXOS I. ROTEIRO DE ENTREVISTAS (AQI e CO2) II. DADOS OBTIDOS NAS ENTREVISTAS


ANEXOS

ANEXO I. ROTEIRO DE ENTREVISTAS QUESTIONÁRIO PARA USINAS FIXAS Recepção do resíduo: • Quanto é cobrado pelo resíduo recebido? Há distinção no tipo de entulho?

• Raio de distribuição de agregados (distâncias médias e máximas de distribuição do produto): •

Número de viagens diárias e quantidade vendida:

Custo de transporte:

Modelo e capacidade dos caminhões: Idade da frota:

• usina

Distância (média e máxima) entre a origem do resíduo e a

Quantidade diária e mensal recebida

• Quanto é cobrado por m³ ou tonelada de agregado reciclado vendido? Há distinção de preços entre os tipos de agregados vendidos?

Produção: •

Área da planta e custo de aluguel ou compra do terreno:

Produtividade média horária e mensal (real):

Tempo de operação da usina diário e mensal:

Custos dos equipamentos e implantação da usina:

Consumo mensal de diesel e custo relacionado:

Consumo mensal de energia elétrica e custo relacionado:

Consumo mensal de água e custo relacionado:

• Equipamentos utilizados (marca e modelo): Vide tabela abaixo •

Quantos funcionários são necessários para operar? Salário?

• Qual a metragem aproximada do local para guardar o equipamento? •

Quais os custos de manutenção dos equipamentos?

Venda e distribuição: •

O serviço de entrega é próprio ou terceirizado?

Há receitas extras consideráveis com outros materiais?

Quanto em média é gasto com imposto mensalmente?

Equipamentos internos:


ANEXOS

QUESTIONÁRIO PARA USINAS MÓVEIS

Produção:

• Percentagem do total reciclado utilizado no próprio local de operação

Produtividade média horária e mensal (real):

Tempo de operação da usina diário e mensal:

• Custos dos equipamentos (valor de compra/aluguel dos principais equipamentos): •

Consumo mensal de diesel e custo relacionado:

Consumo mensal de energia elétrica e custo relacionado:

Consumo mensal de água e custo relacionado:

• Equipamentos utilizados (marca e modelo): Vide tabela abaixo •

Quantos funcionários são necessários para operar? Salário?

• Qual a metragem aproximada do local para guardar o equipamento? •

Quais os custos de manutenção dos equipamentos?

Venda e distribuição: •

O serviço de entrega é próprio ou terceirizado?

• Raio de distribuição de agregados (distâncias médias e máximas de distribuição do produto): •

Número de viagens diárias:

Custo de transporte:

Modelo e capacidade dos caminhões:

Idade da frota:

• Quanto é cobrado pelo resíduo recebido? Há distinção no tipo de entulho? • Quanto é cobrado por m³ ou tonelada de agregado reciclado vendido? Há distinção de preços entre os tipos de agregados vendidos?

Equipamentos:


ANEXOS

QUESTIONÁRIO PARA PEDREIRAS Produção: •

Produtividade horária e mensal:

Tempo de operação diária e mensal :

Área da mina:

Consumo mensal de diesel:

Consumo mensal de energia elétrica:

Venda e distribuição: • Raio de distribuição de agregados (distâncias médias e máximas de distribuição do produto): •

Caminhão volta carregado? Com que frequência?

Número de viagens diárias:

Modelo e capacidade dos caminhões:

Idade da frota:


ANEXOS

ANEXO II. DADOS OBTIDOS NAS ENTREVISTAS PEDREIRAS27 A. LAFARGE CAJAMAR

27  A pedreira Serveng Barueri foi descartada, pois não foram coletados dados referentes a seu consumo energético na visita. Em compensação, entrevistou-se, por email, a pedreira Intercement Barueri, que forneceu os dados quantitativos, porém, como não houve entrevista pessoal, não foi possível elaborar um estudo de caso qualitativo.


ANEXOS

B. INTERCEMENT BARUERI

Número de viagens diárias:

3 Produção:

Todas

Produtividade horária e mensal:

Modelo e capacidade dos caminhões:

500 t/h

90.000 t/mês

5 anos

Equipamentos internos:

Tempo de operação diária e mensal :

9 h/dia 189 h/mês •

Área da mina:

12 ha •

Consumo mensal de diesel:

50.000 l/mês •

Consumo mensal de energia elétrica:

140.000 Kw/h mês

Venda e distribuição: • Raio de distribuição de agregados (distâncias médias e máximas de distribuição do produto): 25 Km • Não

Idade da frota:

Descrição da Fonte

Quantidade

Combustível Usado

Consumo Unitário

Unidade

Produtividade m³/h

Tempo de Operação (horas)

Escavadeiras

1

Diesel

40

l/h

400

9

Caminhões basculantes

5

Diesel

14

l/h

18

9

Britador

4

Energia Elétrica

335

9

Demais veículos internos

2

Diesel

NA

9

l/h

Administração e outras instalações Outros equipmentos

-

4

Outros Equipamentos: 3 pás carregadeiras 1 patrol Veiculos Internos:

Caminhão volta carregado? Com que frequência?

8

1 caminhão comboio 1 caminhão pipa

Diesel

18

l/h

3

9


e o

ANEXOS

USINAS FIXAS B. URBEM A. CRCD

Equipamentos e produtividade: 1)

Quais os equipamentos utilizados? Marca? Modelo?

Britador e peneira. Marca: MAQ Brit, reformados. 2) Qual a fonte de energia dos equipamentos de beneficiamento? Equipamentos elétricos. 3) Qual a produtividade teórica (máxima) desses equipamentos? Qual a produtividade real? 50 t/hora =~42 m³/hora, produtividade real é cerca de 80%. Britador funciona por cerca de 10 horas por dia. 4)

Quantidade média de entulho recebido por mês/ano?

Tentam atingir o objetivo, que é de 300m³/dia. 5)

Quantidade média de agregado vendido por mês/ano?

Tentar atingir o objetivo que é de cerca de 300m³/ dia, mas esses valores não são computados. Custos: 6)

Qual a metragem aproximada do terreno e custo?

7000 m². Aluguel: R$ 40.000,00 por mês. 7)

Investimentos:

Britador com peneiras e correias, nivelamento do terreno, fundação e montagem + instalação = R$ 500.000,00 (valores de 2004).


ANEXOS

O tapume de contenção de material particulado foi feito posterior à instalação da usina, e não está inserido nos R$500.000,00 iniciais.

Não há distinção no preço do entulho recebido, que custa cera de R$ 60,00 por caçamba.

8)

13) Quanto é cobrado por m³ ou tonelada de agregado reciclado vendido? Há distinção de preços entre os tipos de agregados vendidos?

Gastos com água e luz.

Luz: R$2500,00 (hoje), mas já chegaram a gastar R$6.000,00 quando a empresa era nova. Água: 3 caminhões por dia, que custam 100,00 reais/dia. 9)

Quais os gastos com manutenção dos equipamentos?

Periódica/preventiva do britador: R$2.000,00/ mês. Reposição de martelos e manutenção corretiva: R$ 4.000,00 o jogo/mês, conforme época do ano (quanto mais chove, maior a frequência de troca). Pás: R$6000,00/ mês. Valores por mês, não incluem manutenção corretiva eventual, os gastos com o desgaste do martelo são para um mês em época de seca, quando em época de chuva, pode ser utilizado um jogo (10 martelos a R$400,00 cada) a cada 20 dias. 10)

Quais impostos são cobrados?

É cobrado Imposto de Indústria Extrativa. Cerca de 11% do faturamento mensal / mês.

Não há distinção na venda por tipo de material. R$32,00/m³. 14)

Há receitas extras consideráveis com outros materiais?

Há venda de aço, mas a receita não é considerável (cerca de R$2000,00 por mês) e geralmente revertida para os funcionários. Transporte e Frete: 15) Transporte próprio ou fretado? Custo? Distancia média trabalhada. Trabalham com frete de caminhões terceirizados, ao custo de R$0,65/km/m³. A distância média percorrida para distribuição é de 25 km. A viabilidade de preço de entrega é de 20 km. Frota: 4 caminhões marca Ford; idade aproximada: 10 anos; capacidade: 18 m³. Cada caminhão faz cerca de 6 viagens por dia e geralmente 1 quebra. Número médio de viagens por dia é 18.

O IPTU está embutido no aluguel.

A distância para calcular o valor do frete é medida apenas um vez (a distância entre dois pontos).

11)

Observações:

Quantos funcionários? Salário?

18 funcionários, com salário médio de R$1.500,00 por mês, incluindo os encargos. 2 mecânicos, 2 operadores de pás-carregadeira, 8 no pátio, 2 guardas, 2 administração. 12) Quanto é cobrado por m³ ou tonelada de entulho recebido? Há distinção no tipo de entulho recebido?

• Tentam ao máximo praticar o Frete com Retorno (quando o caminhão leva o material e trás algum outro bem de outra empresa, ou vice versa), mas raramente conseguem (em torno de 10% das viagens). • Para o administrador, é claro que não compensaria ter uma frota própria de caminhões para entrega, “dá muito trabalho”.


ANEXOS

Fator de empolamento dos produtos:

• • • •

areia: 1,7 rachão: 1,3 bica: 1,5 média produtos / resíduo = 0,7

C. ECO-X

Recepção do resíduo: • Quanto é cobrado pelo resíduo recebido? Há distinção no tipo de entulho? Sim, R$120 por caminhão de 15m³ Só recebem resíduo de alvenaria e concreto. • usina

Distância (média e máxima) entre a origem do resíduo e a

Distância média: 20km Distância máxima viável: 35km •

Quantidade diária e mensal recebida

Variável. •

Origem

Grande SP Produção: •

Área da planta e custo de aluguel ou compra do terreno:

Terreno de 9000m² alugado. Não forneceu valor de aluguel, mas disse que está entre R$2 e R$3 o m² •

Produtividade média horária e mensal (real):

Produtividade média de 400 m³/dia, densidade 1,5 tonelada / m³ •

Tempo de operação da usina diário e mensal:

Diária: 8h (horas extras quando necessário) •

Custos dos equipamentos e implantação da usina:

2,5 milhões


ANEXOS

Consumo mensal de diesel e custo relacionado:

Britador elétrico (não sabe quanto consome) Escavadeira: 15 L/h •

Consumo mensal de energia elétrica e custo relacionado:

3700 kWh no último mês •

Consumo mensal de água e custo relacionado:

• Raio de distribuição de agregados (distâncias médias e máximas de distribuição do produto): Máximo: 35km •

Número de viagens diárias e quantidade vendida:

Assumir caminhões de 15m³ e produtividade de 400 m³/dia •

Custo de transporte:

Não revelou.

O custo varia (decresce para maiores distâncias) de 0,7 a 0,5 R$/ km/m³

• Equipamentos utilizados (marca e modelo): Vide tabela abaixo

Quantos funcionários são necessários para operar? Salário?

9 funcionários • Qual a metragem aproximada do local para guardar o equipamento?

Modelo e capacidade dos caminhões:

Modelo: Não soube especificar Capacidade: 15 m³ •

Idade da frota:

Não soube especificar

Não perguntei

• Quanto é cobrado por m³ ou tonelada de agregado reciclado vendido? Há distinção de preços entre os tipos de agregados vendidos?

Principais produtos: Bica corrida, britas 1 e 4, pedrisco e areia.

Quais os custos de manutenção dos equipamentos?

Não revelou

Preço de venda R$38/m³ •

Há receitas extras consideráveis com outros materiais?

Não revelou Venda e distribuição:

Quanto em média é gasto com imposto mensalmente?

Não revelou •

O serviço de entrega é próprio ou terceirizado?

Terceirizado


ANEXOS

Descrição da Fonte Escavadeiras Caminhões basculantes Britador Demais veículos internos Administração e outras instalações Outros equipamentos

Quantidade 2 0 1 0

Combustível Consumo Unidade Usado Unitário diesel 15 L/h

elétrico

USINA MÓVEL A. RECINERT AMBIENTALE


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