Livro "Biodiversidade do Litoral do Piauí"

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PREFÁCIO Mais do que um guia ilustrado de espécies o leitor irá encontrar nessa obra uma rara fusão de Arte e Saber Científico, que foi possível graças a combinação cuidadosa de belíssimas fotografias e textos técnicos elaborados pelos organizadores e seus colaboradores. Para entender melhor como essa combinação primorosa foi possível precisamos conhecer um pouco da trajetória dos organizadores: Ana Cecília Giacometti Mai e Daniel Loebmann. A paixão dos dois pela natureza vem dos tempos de criança, mas certamente tomou dimensão científica durante os anos de formação acadêmica como alunos do curso de Oceanologia da Universidade Federal de Rio Grande (FURG), uma universidade voltada para o ambiente marinho encravada no extremo sul do extenso litoral brasileiro. Foi nesse ambiente tão distinto e distante do litoral piauiense, de praias muito extensas que parecem se perder na linha do horizonte, que abrigam inúmeras aves costeiras, leões marinhos e outros visitantes dos gelados mares do sul, que os organizadores foram descobrindo o prazer de fotografar e estudar a natureza. Uma longa jornada de estudo e profunda contemplação, temperada pelo rigor do inverno pampiano, que demandou muita paciência e dedicação até começar a revelar seus belos frutos. Desde então, os leitores amantes da natureza vem saboreando-os na forma de inúmeras amostras fotográficas, palestras, artigos científicos e guias ilustrados de anfíbios e répteis. Agora chegou a vez do menor litoral do Brasil se apresentar majestoso e belo através dessa guia primorosamente elaborado pelo trabalho atento dos organizadores e seus colaboradores. Na medida em que o leitor vai se ‘aventurando’ nas suas páginas, vai sendo revelado um segredo que todo piauiense já sabia: embora pequeno em extensão (66 Km), o litoral do Piauí foi agraciado com um conjunto ímpar de ambientes naturais e espécies, que o coloca em par de igualdade com as regiões mais valorizadas da costa Brasileira!

Dr. Alexandre Miranda Garcia, professor e pesquisador da FURG.

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Livro arte, arte cientifica, defensores do meio ambiente, educadores apaixonados pelos seres vivos que tão facilmente destruímos, descuidados que nos tornamos com a vida. Tornou-se ela uma cunhã* por morar com pescadores, pelo gosto das comidas, os linguajares e tradições locais. Era vista com orgulho ao voltar do mangue com seu uru** e máquina fotográfica, levando as crianças ao mesmo mangue para conhecê-lo e entendê-lo, criando um roteiro turístico que sustenta e propicia aos jovens locais, trabalho e associativismo. Onde pode-se sentir a presença dos oceanólogos e as suas vivências com a população local durante tantos anos; dando suas aulas no seu laptop aos boquiabertos curumins***, nas escolas ou na biblioteca comunitária. Foram alguns anos para estudar, tal como uma antropóloga que observa os costumes e a população, e neles se embrenha, mas cientificamente deles se apropria para repassá-los ao mundo, para que este também, analise, conheça, respeite e ame, como eles aqui o são e serão.

Circe Ferreira Ferreira, moradora de Barra Grande, Cajueiro da Praia, Piauí.

* Cunhã- Tratamento usado para mulheres nascida nas terras Piauienses. ** Uru- Bolsa feita de palhas de carnaúbas trançadas, muito utilizada por pescadores e coletores locais. *** Curumins- Crianças.

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Ambientes costeiros do PiauĂ­

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ANA CECĂ?LIA G. MAI1 E DANIEL LOEBMANN2 1

Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande. 2 Universidade Estadual Paulista, Rio Claro.

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CARNAUBAIS A carnaúba (Copernicia prunifera) é uma palmeira típica do nordeste brasileiro, predominando nos estados do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte. Seu tronco é reto e cilíndrico, atingindo até 15 m de altura, e suas folhas são em forma de leque com até 1 m de diâmetro. Sua distribuição está associada aos ambientes com solos arenoargilosos, margens de rios, lugares alagados, várzeas e até solos com teores de salinidade semelhantes aos da Caatinga. Por possuir um tipo de cera em suas folhas, a carnaúba tem capacidade de sobreviver às duras condições impostas pela Caatinga, pois a cera dificulta a perda de água por transpiração e protege a planta contra o ataque de fungos.

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Essa árvore tem sido usada há muitos anos pela população local. Dentre seus inúmeros usos, destaca-se a exploração comercial da cera, que é utilizada como matériaprima em usinas e indústrias para a fabricação de muitos produtos como ácidos, batons, chips, fósforos, impermeabilizantes, lâmpadas incandescentes, lubrificantes, papel carbono, pilhas, produtos farmacêuticos, sabonetes, tintas, vernizes, velas, etc.

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FANERÓGAMAS SUBMERSAS E MACROALGAS Por definição, todas as plantas que possuem flores são denominadas fanerógamas. Nas zonas rasas do litoral do Piauí existem extensas áreas em fundos não consolidados dessas plantas superiores que lembram uma gramínea, no que se refere a sua forma. As fanerógamas formam um importante hábitat nos litorais de todo o planeta e, dependendo da espécie, podem servir como indicador da saúde ambiental, pois seu sistema de raízes e rizomas une e estabiliza o sedimento do fundo e suas folhas desviam a corrente marinha, melhorando a qualidade da água através da deposição de matéria em suspensão. As macroalgas apresentam uma riqueza elevada de espécies no litoral do Piauí. Além disso, em algumas praias as algas são muito abundantes apresentando uma grande quantidade de biomassa disponível. Por essa razão, representam um dos mais importantes componentes na rede trófica marinha da região, servindo de alimento para inúmeras espécies, desde microorganismos até vertebrados de grande porte. O peixe-boi-marinho (Trichechus manatus manatus), uma espécie Vulnerável de acordo com a Lista Vermelha das espécies ameaçadas da IUCN, habita a região e tem uma alimentação restritamente vegetariana, se alimentando de capim-agulha (Halodule wrightii) e diversas algas. Lagostas jovens (Palinurus spp.) utilizam essas áreas para proteção e alimentação. Também, propiciam hábitat para outras centenas de espécies, especialmente invertebrados marinhos.

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Algas

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MARGARETH S. COPERTINO1 E ANA CECÍLIA G. MAI1 1

Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande.

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POLYPHYSACEAE

Acetabularia calyculus J.V. Lamouroux

Características: Talo não ramificado, com a altura variando de 1,5 a 3 cm, unicelular, composto de rizoide basal compacto e ramificado. Pedúnculo fino, cilíndrico e tubular, com cerca de 1 mm de diâmetro, terminando em disco ou copo que lembra um cálice de 6 a 7 mm de diâmetro. Disco composto por uma espiral de râmulos, formando de 22 a 30 raios conectados lateralmente ou livres. Lobos coronais remotos, brutos, aqueles da corona superior com 2 cicatrizes de pelo em linha radial, ou 3 posicionadas triangularmente ou, raramente, 4 cicatrizes. Possui cerca de 80 aplanósporos em cada raio esporangial. Ocorrem em águas rasas e calmas, em profundidades inferiores a 5 metros. Distribuição geográfica: Europa (Mar Mediterrâneo e Ilhas Canárias), Golfo do México (Estados Unidos e México), Caribe, América do Sul (Brasil e Venezuela), África, ilhas do oceano Índico, Ásia e Oceania.

CAULERPACEAE

Caulerpa cupressoides (Vahl) C. Agardh

Características: Talo não filamentoso, cilíndrico, medindo aproximadamente 1,5 mm de diâmetro, com marcada diferenciação entre o estolão e ramos assimiladores. Talo enterrado no substrato, com rizoides ramificados. Ramos assimiladores eretos, cilíndricos e portando pínulas, distribuídas de maneira compacta ao redor do eixo principal, porém desnudos em sua porção basal. Pínulas basais mamiliformes; a partir da região mediana, pínulas longas e cilíndricas. Os ramos chegam a atingir 20 cm de altura e possuem ápices mucronados. Ocorre sobre substrato arenoso, rochoso e corais mortos, em zonas calmas de ambientes marinhos e estuarinos, até cerca de 5 m de profundidade. Distribuição geográfica: Golfo do México (Estados Unidos e México), América Central (Belize, Panamá), Caribe e América do Sul (Brasil, Colômbia, Venezuela).

CAULERPACEAE

Caulerpa mexicana Sonder ex Kützing

Características: Plantas rígidas, podendo atingir 15 cm de altura. Talo não filamentoso, com marcada diferenciação entre estolão e ramos assimiladores. Estolões cilíndricos, em alguns casos ramificados, com cerca de 1 mm de diâmetro. Rizoides ramificados. Os ramos apresentam-se divididos em pínulas lanceoladas, em média com 5 mm de comprimento, distribuídas de maneira dística ao redor do eixo principal, base levemente pedunculada e cilíndrica. Distribuição geográfica: Ilhas do Atlântico, Golfo do México (Estados Unidos e México), América Central (Caribe), América do Sul (Brasil, Colômbia, Guiana, Venezuela), África, ilhas do oceano Índico, sudoeste e sudeste Asiático e Oceania.

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Mangues

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MÔNICA MARIA P. TOGNELLA1 E ANA CECÍLIA G. MAI2 1

Universidade Federal do Espírito Santo, São Mateus. 2 Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande.

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漏 M么nica M. P. Tognella

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Laguncularia racemosa Gaertn. F. 1805 Características: Gênero monoespecífico contendo árvores dioicas ou hermafroditas cuja estrutura se modifica em função das variáveis ambientais; em geral, coloniza bosques mais internos. Em locais onde ocorrem maiores tensores apresenta baixa estatura, bastante ramificada e nestas situações é a espécie pioneira. Suas folhas são elípticas a oblongas, opostas, apresentando pecíolo curto e vermelho contendo par de nectários extraflorais em sua porção superior, junto à lâmina foliar. Além das glândulas nectárias, observadas a olho nu, a espécie tem outras estruturas secretoras, todas microscópicas. Apresenta raízes radiais pouco profundas, podendo conter ou não pneumatóforos (raízes com geotropismo negativo) que não ultrapassam em média 10 cm de altura. No estado ocorre, preferencialmente, em locais onde a variação do nível da água é grande, o que permite mais tempo de emersão. Produzem propágulos pequenos e ovalados em grande quantidade, com capacidade germinativa de aproximadamente 30 dias. Apresenta troncos e galhos amplamente revestidos por liquens o que lhe proporciona uma coloração mais clara.

COMBRETACEAE

Nome popular: Mangue-branco.

Distribuição geográfica: Continente americano e Oeste da África.

Conocarpus erectus L. 1753 Características: Espécie associada ao manguezal, não sendo caracterizada como mangue verdadeiro. Ocorre na transição entre manguezal e os ecossistemas terrestres. Árvores dioicas, bastante ramificadas ou arbustivas. Suas folhas oblongas a lanceoladas apresentam pecíolos ligeiramente alargados contendo par de nectários. Possui sementes características: pequenas, duras e com baixa capacidade germinativa. Produz baixa densidade de plântulas, reduzindo sua capacidade de formar bosques puros. Podem ocorrer tanto em áreas de salinidade elevada quanto próxima da água doce, entretanto, não suporta sombreamento por outras espécies. Espécie não vivípara, sem pneumatóforos (raízes com geotropismo negativo) e tendo a dispersão de seus frutos feita pelo vento ou por animais. A madeira de Conocarpus erectus, considerada de maior resistência que as demais espécies de mangue, é bastante utilizada para confecção de peças de construção naval (fateixas e cavernames). Utilizada como paisagismo nos Estados Unidos.

COMBRETACEAE

Nome popular: Mangue-de-botão.

Distribuição geográfica: Continente americano e África Ocidental. Introduzida no Havaí.

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Moluscos

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CRISTINA DE A. ROCHA-BARREIRA1, HELENA MATTHEWS-CASCON1 E ANA CECÍLIA G. MAI2 1

Universidade Federal do Ceará, Fortaleza. ²Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande.

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BULLIDAE

Bulla striata Bruguière, 1792

Nome popular: Sem registro. Características: Concha medindo até 44 mm de comprimento. Concha muito frágil, cilíndrico ovalada, com espira umbilicada. Abertura da concha longa e estreita na região posterior e larga na região anterior. Sem opérculo. Coloração branca com manchas irregulares de cor marrom sob o perióstraco castanho claro, fino e transparente. Superfície externa lisa. Columela com calosidade de cor marrom. Não possui parapódio. A cabeça é larga e achatada, sem tentáculos. Os olhos são pequenos e ficam localizados na região dorsal do escudo cefálico. Utilizada no artesanato. Habitat: Habita fundos de areia com lama, desde a zona de varrido até 15 m de profundidade. Comum em bancos arenolamosos na foz de estuários, formando agregações na época de reprodução. Distribuição geográfica: Ocorre em toda a costa brasileira.

CASSIDAE

Cassis tuberosa (Linnaeus, 1758)

Nome popular: Búzio, buzo. Características: Espécie de grande porte, concha com 11 a 23 cm de altura, varicosa, nodulosa e de espira baixa; cor castanho-clara com manchas castanhoavermelhadas em forma de crescente. Abertura estreita, calo triangular, recobrindo toda a porção ventral e com dobras na região parietal; lábio externo espesso, refletido e com dentes na margem interna. Superfície reticulada e volta do corpo com três fileiras espirais de nódulos, sendo o central sempre mais desenvolvido. Canal sifonal curto e torcido para cima. Sutura evidente. Varizes marcando posições anteriores do lábio. Explorada comercialmente, principalmente para o artesanato. Habitat: Vive enterrada em substrato arenoso. Predadora estrita de equinodermos, principalmente de ouriços, perfurando as testas de carbonato de cálcio presentes nestes animais graças à sua capacidade de produzir ácido sulfúrico. Distribuição geográfica: Ilhas de Cabo Verde, África Ocidental, Carolina do Norte, Caribe, Colômbia, Venezuela, Suriname e Brasil (do Maranhão à Bahia).

CERITHIDAE

Cerithium atratum (Born,1778)

Nome popular: Caramujo. Características: Concha atingindo até 50 mm de comprimento. Ápice da concha geralmente erodida ou quebrada. Espira longa, abertura de formato ovóide. Lábio columelar com forte calo. Lábio externo espesso, crenulado. Canal sifonal anterior refletido para a região dorsal e canal sifonal anal bem definido. A concha apresenta coloração variando de bege a marrom escuro. Opérculo córneo, oval de cor marrom escuro. Habitat: Vive na faixa intermarés, enterrados em substrato arenoso, sob pedras em poças de maré. Alimenta-se de detritos e apresenta rádula pequena. Distribuição geográfica: Carolina do Norte à Flórida (EUA) e Brasil: do Piauí (primeiro registro para o estado) a Santa Catarina, incluindo o arquipélago de Fernando de Noronha.

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Crustรกceos

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ANA CECÍLIA G. MAI1, CLEVERSON R. M. DOS SANTOS2, LUIS E. A. BEZERRA3 E DANIEL LOEBMANN4

Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande. 2Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém. 3 Universidade Federal do Ceará, Fortaleza. 4Universidade Estadual Paulista, Rio Claro.

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EPIALTIDAE

Notolopas brasiliensis Miers, 1886

Nome popular: Caranguejo-chifrudo. Características: Carapaça com 3 grandes espinhos medianos, 1 gástrico, 1 cardíaco e 1 intestinal, formando uma cruz com os espinhos laterais da região branquial. Rostro bifurcado por mais da metade de seu comprimento, processos rostrais divergindo e voltados para frente. Antenas visíveis ao lado do rostro, com artículo basal armado de 1 dente na margem externa. Quelípodos mais curtos que o primeiro par de patas ambulatórias. Dátilos curtos, cerca de 1/3 do comprimento da palma. Chega a medir 2 cm de largura da carapaça. Habitat: Ocorre em fundos de lama, algas calcárias, areia e conchas, do entremarés até 30 m de profundidade. Distribuição geográfica: Colômbia, Venezuela e Brasil (Amapá a São Paulo).

ERIPHIIDAE

Eriphia gonagra (Fabricius, 1781)

Nome popular: Caranguejo-das-pedras. Características: Carapaça subquadrada, mais larga que longa, bastante irregular, com tubérculos granulados. Margens anterolaterais com 5 espinhos incluindo os orbitais externos. Quelípodos fortes, irregulares e desiguais, com a palma e o carpo cobertos por tubérculos. Dátilo da garra maior com grande dente arredondado na base. Coloração bastante variável, mas sempre muito colorido, patas nas cores bege e marrom, intercaladas, carapaça e garras em tons preto-azulado, intercalado com bege ou marrom. Dátilos em tons laranja ou marrom. Pode atingir cerca de 4 cm largura da carapaça. Habitat: Vive em corais ou rochas, sob as pedras, em cavidades do entre-marés, também em meio a algas ou esponjas. Ocorre de 0 a 5 m de profundidade. Distribuição geográfica: Desde a Carolina do Norte (EUA), Bermuda, Golfo do México, América Central, Caribe, norte da América do Sul até o Brasil (Pará a Santa Catarina).

GECARCINIDAE

Cardisoma guanhumi Latreille, 1828

Nome popular: Guaiamum. Características: Carapaça fortemente convexa, medindo até 10 cm de largura. Fronte pouco convexa, sem lóbulos definidos e com lados oblíquos. Artículo basal da antena largo e tocando a fronte. Regiões epigástrica, cardíaca e intestinal definidas por sulcos. Carpo do quelípodo com dente interno evidente. Dedos extremamente fortes se tocando apenas nas extremidades, principalmente na garra maior. Apresenta coloração azulada ou esverdeada. Habitat: Ocorre em manguezais e ao longo de canais. Espécie semiterrestre e gregária. Constroe galerias perto do mar. Apresenta hábitos noturnos. Distribuição geográfica: Flórida (EUA), Bermuda, Golfo do México, Caribe, Colômbia até o Brasil (Maranhão a São Paulo). Primeiro registro para os estados do Piauí (mangue da Fartura, Cajueiro da Praia) e Maranhão (Delta do Rio Parnaíba, Araioses).

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Equinodermos

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ANNE ISABELLEY GONDIM1 E ANA CECÍLIA G. MAI2 2

1 Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande.

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OPHIONEREIDIDAE

Ophionereis reticulata (Say, 1825)

Nome popular: Ofiuro. Características: Disco circular. Superfície aboral do disco com fina reticulação formada por traços finos amarronzados ou avermelhados. Cada meia mandíbula possui 4 ou 5 papilas orais. Placas braquiais laterais portando 3 espinhos, os quais são levemente achatados. Escama tentacular grande e arredondada. Ao longo de todo o braço há uma faixa marrom escura (da mesma cor da reticulação do disco) ocupando um segmento braquial, o qual se altera com 3 a 6 segmentos claros. São frágeis e quebram-se facilmente quando manipuladas. Habitat: Vivem em ambientes recifais, manguezais e bancos de fanerógamas marinhas. Usualmente é encontrado em áreas rasas, embaixo ou entre fendas de rochas. Distribuição geográfica: Da Carolina do Sul até o Texas (EUA.), Cuba, Jamaica, Haiti, Porto Rico, Bermudas, Bahamas, Ilhas Caribenhas, Panamá, Colômbia, Venezuela e Brasil (do Maranhão a São Paulo). Da zona entremarés até 560m de profundidade.

OPHIOTHRICHIDAE

Ophiothrix angulata (Say, 1825)

Nome popular: Ofiuro. Características: Disco circular, coberto por pequenos espinhos hialinos bífidos ou trífidos. Escudos radiais mais longos do que largos, os quais podem estar recobertos de espinhos curtos hialinos e trífidos. Sem papilas orais e com um feixe de papilas infradentais no ápice da mandíbula. Nove espinhos braquiais alongados, vítreos e denticulados, o penúltimo é o menor e o último está modificado em gancho. São frágeis e quebram-se facilmente quando manipuladas. Habitat: Vivem entre algas, entre e sob pedras, no interior de esponjas, em bancos de ostras, manguezal, bancos de fanerógamas marinhas e sobre animais sésseis como Millepora sp., gorgônias, esponjas, entre outros. Distribuição geográfica: Da Carolina do Norte ao Sul do Brasil, ao largo da foz do Rio da Prata (Argentina), Flórida, Golfo do México, Texas, Caribe Mexicano e Uruguai. Da zona entremarés até 540 m de profundidade.

ECHINASTERIDAE

Echinaster sp. Müller & Troschel, 1840

Nome popular: Estrela-do-mar. Características: Disco relativamente pequeno. Braços cilíndricos, alguns um pouco achatados. Esqueleto abactial reticular. Espinhos robustos, pequenos, distribuídos em fileiras relativamente espaçadas. Em geral apenas um espinho por placa. Os espaços entre as placas abactiais são ocupados por pápulas. Placas adambulacrais com espinhos numa fileira única e irregular. Vale ressaltar que as espécies deste gênero apresentam um grande polimorfismo, demonstrando a necessidade de maiores estudos taxonômicos. Habitat: Ocorrem em fundos consolidados, arenosos e em bancos de fanerógamas. Distribuição geográfica: As três espécies que ocorrem ao longo do litoral brasileiro (Echinaster (Othilia) brasiliensis, E.(O.) echinophorus, E. (O.) guyanensis) são encontradas desde a Flórida (EUA) até o Golfo de San Matias (Argentina).

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Peixes Comerciais

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MARCELO FRANCISCO DE NÓBREGA1, ANA CECÍLIA G. MAI2 E DANIEL LOEBMANN3

Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife. 2Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande. 3Universidade Estadual Paulista, Rio Claro.

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LUTJANIDAE

Lutjanus jocu (Bloch & Schneider, 1801)

Nome popular: Dentão. Características: Nadadeira dorsal com 10 espinhos e 14 raios, nadadeira anal com 3 espinhos e 8 raios e nadadeira peitoral com 17 a 18 raios. Coloração vemelho-alaranjado; dentes caninos evidentes, com um dos pares maior e visível mesmo com a boca fechada; mancha branca triangular no rosto abaixo dos olhos; adultos apresentam uma linha lateral azul descontínua, do focinho até o opérculo; pode apresentar barras verticais pelo corpo. Tamanho médio de captura de 55 cm de comprimento zoológico. A linha de fundo é o petrecho mais utilizado nas capturas, em profundidades de até 150 m. Importância comercial: Alta. Distribuição geográfica: Ocorre no Atlântico Ocidental de Massachusetts (EUA) a São Paulo. No Atlântico Oriental ocorre no Arquipélago de São Pedro e São Paulo e ilha Ascensão.

LUTJANIDAE

Lutjanus purpureus (Poey, 1866)

Nome popular: Pargo. Características: Nadadeira dorsal com 10 espinhos e 14 raios, nadadeira anal com 3 espinhos e de 8 a 9 raios e nadadeira peitoral com 16 a 18 raios. Cor predominante rosa-avermelhada, olhos amarelos; base da peitoral com um ponto preto; sem manchas pelo corpo; focinho curto; íris do olho vermelha; nadadeira peitoral longa. Tamanho médio de captura de 40 cm de comprimento zoológico. As capturas ocorrem até 120 m de profundidade, predominantemente pela linha de fundo. Importância comercial: Alta. Distribuição geográfica: Ocorre no Atlântico Ocidental, de Yucatan (México) até o sul da Bahia, incluindo o Mar do Caribe e Cuba, onde habita fundos rochosos e recifes de corais. Ocorre também no Arquipélago de São Pedro e São Paulo.

LUTJANIDAE

Lutjanus synagris (Linnaeus, 1758)

Nome popular: Ariocó. Características: Nadadeira dorsal com 10 espinhos e 12 raios, nadadeira anal com 3 espinhos e 8 raios e nadadeira peitoral com 15 a 16 raios. Coloração vermelha com linhas amarelas evidentes ao longo de todo o corpo; mancha negra acima da linha lateral; ventre amarelo prateado com uma série de 8 a 10 faixas paralelas e horizontais de cor dourada e 3 a 4 faixas finas e irregulares na cabeça; nadadeira caudal com uma mancha escura. Tamanho médio de 30 cm de comprimento zoológico. É capturada principalmente pela linha de fundo em profundidade média de 40 m. Importância comercial: Alta. Distribuição geográfica: Ocorre no Atlântico Ocidental, desde a Carolina do Norte (EUA) até o sudeste do Brasil. É a espécie mais costeira da família Lutjanidae, habitando fundos de pedras e recifes de coral.

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Anfíbios

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DANIEL LOEBMANN1, VICTOR G. DILL ORRICO1, CARLA S. CASSINI2 E LUÍS O. M. GIASSON1

Universidade Estadual Paulista, Rio Claro. 2Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória.

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Hypsiboas multifasciatus (Günther, 1859) Características: Espécie de porte médio, adultos variando de 42 a 61 mm de comprimento. Coloração dorsal varia de bege a marrom, podendo apresentar faixas transversais, inclusive nos membros. A margem superior da maxila é esbranquiçada. Os machos geralmente possuem diversas cicatrizes no dorso decorrente de combates intra-específicos. O ventre é claro e o tímpano visível. Tubérculos presentes nas mãos e pés. Membranas interdigitais presentes nos pés até aproximadamente metade dos dedos. Girinos com corpo ovalado, levemente deprimido dorsoventralmente, com olhos dorsolaterais. Coloração uniformemente escurecida; quando fixada tende a esmaecer. O canto é constituído de uma nota única, multipulsionada, de duração aproximada de 0,35 a 0,57 segundos e é emitido entre 2.000 e 2.500 Hz.

HYLIDAE

Nome popular: Perereca-cabrinha.

Habitat: Espécie encontrada vocalizando sobre gramíneas em corpos d’água permanentes ou temporários.

Distribuição geográfica: Ocorre em áreas abertas da Amazônia (Bolívia, Brasil, Guiana, Suriname e Venezuela), Cerrado brasileiro e há uma população isolada na Chapada da Ibiapaba, no Ceará.

Hypsiboas punctatus (Schneider, 1799) Características: Espécie de porte médio, alcançando até 40 mm de comprimento. A coloração dorsal se altera com a luminosidade, variando de marromavermelhado a verde vivo. O ventre apresenta tonalidades de verde-claro. Linha supratimpânica, de cor mais clara, do focinho até a ponta da cloaca. Tímpano visível. Tubérculos pouco visíveis nas mãos e pés. Membranas interdigitais pouco desenvolvidas. O focinho é curto e os olhos estão levemente voltados para frente. Os girinos alcançam 37 mm (estagio 36), com corpo ovoide e boca ventral e o disco oral não possui papilas na margem posterior. A coloração do girino é verde escuro (verde-oliva) com manchas negras e o ventre é cinza. O canto é um trinado agudo com 6 a 8 pulsos (lembrando o canto de um golfinho), com frequências entre 780 e 1.400 Hz e duração de aproximadamente 17 a 34 ms.

HYLIDAE

Nome popular: Perereca-de-bolinha.

Habitat: Os machos são encontrados vocalizando sobre gramíneas em corpos d’água permanentes ou temporários normalmente na borda ou no interior de matas. Distribuição geográfica: Muito ampla, ocorre ao leste dos Andes em quase todos os biomas, alcançando a Bacia do Rio da Prata na Argentina. São escassos os registros para a Caatinga e inexistentes para o Sul do Brasil.

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RĂŠpteis

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1

DANIEL LOEBMANN1 E PAULA HANNA VALDUJO2

Universidade Estadual Paulista, Rio Claro. 2 Universidade de S達o Paulo, S達o Paulo.

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Iguana iguana (Linnaeus, 1758) Características: Espécie de grande porte, podendo atingir até 1,80 m de comprimento. O padrão de coloração dorsal é bastante variado, sendo uniformemente verde ou verde com faixas marrons de bordas brancas nos primeiros estágios de vida, assumindo colorações que variam do verde acinzentado ao cinza, com listras transversais escuras distribuídas ao longo do corpo, especialmente na cauda, quando adultos. Possui projeções dérmicas que lembram espinhos ao longo do dorso e da cauda. Apresenta um apêndice gular bastante desenvolvido. Possui uma escama grande e redonda situada sob a abertura do ouvido.

IGUANIDAE

Nome popular: Iguana, camaleão.

Habitat: Espécie arborícola e terrícola, excelente nadadora, frequentemente encontrada em florestas de áreas de igarapés. Distribuição geográfica: Amplamente distribuída, do México ao Brasil Central e também no Paraguai.

Boa constrictor constrictor Linnaeus, 1758 Características: Serpente de grande porte, podendo alcançar mais de 4 m de comprimento, embora sejam raros os registros acima de 3 m para a Caatinga. Dorsalmente, apresenta coloração de fundo variando de bege-amarronzado a bege-avermelhado, com desenhos marrom-escuros irregulares que emolduram a cor do fundo do dorso. Essas manchas escuras ficam mais espessas conforme se aproxima da cauda, adquirindo tons vermelho-amarronzados. Lateralmente, possui manchas escuras irregulares com um ocelo claro no centro. Não é peçonhenta. A cabeça é triangular, com duas faixas laterais bem evidentes que se iniciam na narina, passam na altura dos olhos e gradativamente vão se alargando em direção ao pescoço. Apresenta diminutas escamas na cabeça e os olhos têm pupilas elípticas. Possui de 80 a 87 fileiras de escamas dorsais na metade do corpo, de 232 a 244 ventrais, de 46 a 58 subcaudais e de 20 a 23 supralabiais.

BOIDAE

Nome popular: Jiboia, cobra-de-veado.

Habitat: Na região costeira do Piauí, a espécie é encontrada em áreas de manguezais, carnaubais e caatinga. Distribuição geográfica: De ampla distribuição, ocorre em toda a bacia Amazônica (Brasil e países adjacentes), Nordeste brasileiro (Caatinga e Mata Atlântica), além de norte da Argentina e America Central (Trinidad e Tobago).

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Mamíferos Marinhos

© João Paulo Krajewski 232


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ALEXANDRA FERNANDES COSTA E 2RENATA EMIN-LIMA Instituto Ilha do Caju Ecodesenvolvimento e Pesquisa, Parnaíba. Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos da Amazônia, Belém.

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© Daiane Anzolin

© João Paulo Krajewski 234


Trichechus manatus manatus (Linnaeus, 1758) Características: O peixe-boi-marinho pode atingir até 4,5 m de comprimento total e pesar até 600 kg. Possui cabeça pequena sem pescoço definido, o focinho fica na porção anterior da cabeça formando grandes lábios carnudos cobertos por cerdas incolores. Os olhos são pequenos e ficam na lateral da cabeça; as nadadeiras peitorais são flexíveis e apresentam unhas nas extremidades. A nadadeira caudal é larga, arredondada e em forma de remo. Sua coloração varia de cinza a marrom, por vezes podendo se tornar esverdeada pelo crescimento de algas verdes. A pele é enrugada com pelos finos distribuídos por todo o dorso. Geralmente dá à luz a apenas um filhote depois de 13 meses de gestação; o nascimento de gêmeos já foi reportado em cativeiro. Mamífero aquático e estritamente herbívoro, alimenta-se de folhas de mangue, capins marinhos e macroalgas.

TRICHECHIDAE

Nome popular: Peixe-boi, peixe-boi-marinho.

Habitat e comportamento: Vive em rios, estuários e costas pouco profundas com abundância de vegetação submersa. Distribuição geográfica: Sudeste dos Estados Unidos, Caribe, América Central; América do Sul. No Brasil, ocorre na costa norte e nordeste, até Alagoas, com áreas de descontinuidade nos estados de Pernambuco e Ceará.

Balaenoptera acutorostrata (Lacépède, 1804) Características: A baleia-minke-anã é a menor das baleias verdadeiras, podendo atingir 7,8 m e pesar de 5 a 6 toneladas. Possui corpo pequeno e aerodinâmico, com cabeça pontuda em formato de V e uma única quilha. As cerdas bucais variam de 230 a 360 pares e os sulcos ventrais de 50 a 70. Apresentam a coloração mais complexa entre os misticetos, variando do cinza-escuro ao preto no dorso e branco no ventre. A nadadeira dorsal é falcada e as peitorais são pontiagudas com uma mancha branca que geralmente se estende como um “ombro” de lado a lado, sendo esta uma característica diagnóstica para a espécie. Alimenta-se principalmente de krill e peixes que formam cardumes. As fêmeas são um pouco maiores que os machos.

Habitat e comportamento: A espécie realiza migrações, permanecendo em águas antárticas e subantárticas no verão e águas tropicais e subtropicais no inverno e primavera. Hábito essencialmente costeiro associado à plataforma continental.

Distribuição geográfica: Encontrada no hemisfério Sul (Atlântico e Pacífico) em baixas e médias latitudes. Ocorre em águas brasileiras e em outros países da América do Sul, Austrália e África do Sul. Existe um registro de encalhe para a Ilha do Caju, Maranhão.

BALAENOPTERIDAE

Nome popular: Baleia-minke-anã, baleia-anã.

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Outros habitantes da regiĂŁo costeira

Š Alexandra Fernandes Costa 248


DANIEL LOEBMANN1 E ANA CECĂ?LIA G. MAI2 2

1 Universidade Estadual Paulista, Rio Claro. Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande.

249


MÉDICO

Automeris illustris

Bothriurus rochai

Iridopelma sp.

Paederus sp.

Ropalurus rochai

Scolopendra gigantea

Tityus pusillus

INVERTEBRADOS

TERRESTRES

DE

INTERESSE

Acanthoscurria natalensis


TERRESTRES M AMĂ?FEROS

Callithrix jacchus

Cebus libidinosus

Didelphis albiventris

Euphractus sexcintus

Leopardus tigrinus

Nasua nasua

Tamandua tetradactyla

AV ES

E

Platalea ajaja



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