Análise Urbana - Centro de Florianópolis

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análise da área urbana

universidade federal de santa catarina ARQ e urb| urbanismo I | Prof. Soraya nór Arthur andrade, angela oliveira, daniel martins gabriel querne e pedro jerônimo |semestre 2018.2


apresentação mapa de aproximação 4

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Este caderno consiste na análise urbana de uma parcela da região central de Florianópolis. Trata-se do eixo fundacional da cidade e as quadras ao seu redor, partindo da Praça XV de Novembro e do antigo Miramar, até as proximidades da Praça Getúlio Vargas (popularmente conhecida como Praça dos Bombeiros). Foram feitos estudos acerca do histórico da área e a leitura do texto “O que é cidade?” de Raquel Rolnik para fundamentar o processo, e, então, partir para o levantamento in loco das informações que compõem os mapas aqui apresentados.

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resgate histórico O povoamento do litoral catarinense teve início no século XVII com a fundação do povoado de Nossa Senhora da Graça do Rio de São Francisco em 1658, atual São Francisco do Sul e, posteriormente, a fundação do povoado de Nossa Senhora do Desterro em 1672, atual cidade de Florianópolis (IPUF, 2010). No segundo povoado a malha urbana implantada seguiu os padrões das cidades portuguesas: a capela virada ao mar que prevalece na praça centralizadora da malha urbana de onde saem as ruas paralelas em malha xadrez e acompanham a borda d’água. É notável que esse desenho urbano não seguiu os padrões açorianos, cuja presença na Ilha só aconteceu a partir do século XVIII.

Fonte: Atlas IPUF. Formação Humana, 2004.

Com a vinda desses novos habitantes e a efetiva ocupação da Ilha de Santa Catarina, formou-se o quadro cultural predominante da história recente de Florianópolis, de forma que impactou nos hábitos e costumes, como a pesca, as festas típicas, as relações comerciais, e, consequentemente, o impulso na implementação da infraestrutura urbana e na construção de edificações. A iluminação pública, o calçamento das ruas, o Mercado Público, o Palácio Cruz e Souza e o Hospital de Caridade são exemplos disso na área em que consiste o estudo e em suas adjacências. Já no século XX, com maior integração com o território e a política nacional, novos estilos arquitetônicos aparecem nas construções, como o eclético, o art déco e o moderno. Além disso, grandes obras públicas estruturaram a capital catarinense, como a ponte Hercílio Luz, considerada a mais expressiva ação integradora, o campus da UFSC e a instalação de órgãos públicos. Isso tudo contribuiu para formar a dinâmica e o modo de vida atual da cidade.

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turismo, sendo desde os anos 80 um intenso foco atrator de uma população de classe média que busca qualidade de vida; ao mesmo tempo, acontece a expansão acelerada de sua área conurbada com os municípios de São José, Biguaçu e Palhoça, marcada pelas habitações precárias, como um ímã de uma população extremamente pauperizada, que vai abastecer a demanda de trabalho assalariado de toda a região metropolitana (SUGAI, 2015). O conflito de interesses da população é expresso na segregação do espaço urbano, cujo centro de poder, acompanhado pelos edifícios administrativos, foi concentrado nos bairros abastados do eixo Leste-Nordeste, restando à massa da população trabalhadora a ocupação do Maciço do Morro da Cruz e dos bairros periféricos da área conurbada (SUGAI, 2015).

Como pode-se confirmar na problemática do trânsito, a cidade pulsa: atrai os trabalhadores para a jornada diária e os expulsa ao fim do expediente. Essa realidade é extremamente sensível no Florianópolis é lançada na atuali- Centro Fundador, área apinhada dade como polo internacional de de comércio de varejo, que se

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massifica durante o dia, mas à noite se esvazia. A movimentação de mercadorias acompanha a movimentação das pessoas. A vida social do Centro é animada pelo conflito de interesses. Os largos da Alfândega e da Catedral são o palco das manifestações políticas, assim como foi o Senadinho um dos principais fóruns do debate entre os cidadãos. Recortada por esses conflitos, a cidade vai a mercado. Suas áreas centrais são cobiçadas pela especulação e o investimento imobiliários: Dos aterros e belvederes à Beira Mar. O Centro é também o palco de festas religiosas, dos teatros e espaços culturais, dos encontros de dominó, dos passeios pela Praça XV. Essa região tem uma ligação especial com a memória e a identidade dos habitantes: aqui se concentram as edificações antigas, muitas readequadas como espaços culturais, emaranhadas no traçado urbano com modernos prédios comerciais e institucionais. A cidade é um palimpsesto de edificações de diversas épocas (ROLNIK, 1995). 01 Monumento ao Miramar. Fonte: Autoria própria, 2018. 02 Palácio Cruz e Souza e Praça XV de Novembro. Fonte: Autoria própria, 2018. 03 Catedral de Florianópolis. Fonte: Autoria própria, 2018.

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mapa de usos e ocupação A partir do mapa de uso e ocupação do solo da área estudada é possível enxergar a configuração atual do caráter dos edifícios, com permanências e transformações em relação ao passado. A Praça XV de Novembro, por exemplo, é cercada por edifícios tombados que tiveram seus usos modificados com o tempo. A força motora dessas transformações foi e é o capital, a presença massiva de instituições financeiras na mesma é indicativo disso, de maneira que é o espaço de maior referência espacial do contexto urbano. Ainda, a vocação comercial do centro é visível no mapa com a presença de muitos edifícios desse tipo de uso. Desde a fundação do povoado as trocas comerciais se concentraram nessa região, dada a proximidade ao mar. Dessa forma, apesar da alteração dos formatos das trocas o uso primordial dessa área é mantido. Enquanto isso, o uso residencial é presente, mas secundário na dinâmica da área. Na borda superior existem edifícios de uso exclusivo residencial e nas outras

regiões ele aparece junto a outros usos na mesma edificação, seja de uso comercial ou institucional.

MISTO: rESID. + cOMERCIAL MISTO: rESID. + INSTITUCIONAL ÁREAS VERDES DESOCUPADO | ABANDONADO residEncial COMERCIAL INSTITUCIONAL

04 Praça XV de Novembro. Fonte: Autoria própria, 2018.

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N 05 Rua Padre Miguelinho. Fonte: Autoria própria, 2018.

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mapa de cheios e vazios O mapa de cheios e vazios favorece a possibilidade de um olhar conformativo do espaço: aquilo que se torna uma barreira física para o pedestre é prontamente demonstrado por esse tipo de representação.

cheios

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vazios

Há, no limite entre o ‘cheio’ e o ‘vazio’, uma mudança de caráter da relação entre indivíduos, entre indivíduo e cidade, entre indivíduo e ambiente. Essa mudança tem seu caráter mais especificado quando analisam-se os mapas de Uso e Ocupação e de Equipamentos Comunitários.

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Os espaços vazios são demarcados pelas ruas, calçadas, praças e outros possíveis locais que podem ser frequentados por um passante. É destaque no mapa, principalmente, a Praça XV de Novembro e a Praça Pereira Oliveira como os ‘vazios’ mais proeminentes.

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06 Rua Saldanha Marinho. Fonte: Autoria própria.

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Mas, antes da especificação, há a simples mudança de conformação do espaço entre ‘cheio’ e ‘vazio’ que radicaliza as relações de simbiose presentes na cidade de Florianópolis.

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07 Reflexo da Catedral Metropolitana em um Edifício-garagem. Fonte: Autoria própria.

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volumetria das edificações 7 a 12 pavimentos 3 a 6 pavimentos

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1 a 2 pavimentos

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A fuga da escala da rua percebe-se em trechos como os da Trajano, onde a largura se estreita e os edifícios avançam na paisagem, beirando os doze pavimentos. Vale, inclusive, ressaltar a Praça Pereira Oliveira, cujos entornos moldam a paisagem e o vazio ali existente. Já na altura Praça XV, as construções respeitam o gabarito, o que justifica um passeio mais agradável nas ruas tanto do Oeste - Felipe Schimidt e Conselheiro Mafra - quanto do Leste, antiga pedreira.

acima de 12 pavimentos

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Os modernos do século passado foram fiéis às teses da escola e se ergueram de forma imponente no centro. É visível, em partes do mapa, a proximidade entre as construções de maior e menor porte, fenômeno intensificado com o surgimento do movimento moderno na arquitetura.

outros prédios, em geral, negam o espaço público.

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A área central de Florianópolis se ergueu, majoritariamente, tendo a Praça XV de Novembro como marco visual. Nota-se que as construções mais antigas tem sua fachada principal virada para o espaço. Contudo, ao analisar o mapa ao lado, a percepção de que os grandes volumes foram surgindo posteriormente na área é clara.

O horizonte marcado por esses prédios, entretanto, não impede a relevância da Catedral Metropolitana. Apesar de seus prédios vizinhos ultrapassarem sua altura, de forma alguma se sobressaem ao monumento na escala da rua. Seu pátio e escadaria definem o fluxo de pessoas na área central, onde as pessoas fortalecem a permanência e preservação da memória coletiva, enquanto que os

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08 Esquina da rua Padre Miguelinho com a Rua Anita Garibaldi. Fonte: Autoria própria

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também os caminhos de pedestres, predominantes nas ruas transversais do centro, onde está concentrado o uso comercial. Em algumas ruas próximas, ocorre ocasionalmente o uso misto por automóveis e pedestres nos calçadões; em outras, como a Saldanha Marinho, há calçadas estreitas demais e os pedestres vêem-se obrigados a caminhar pela via de carros. Por tratar-se de áreas predominantemente comerciais, as vias em sua maioria têm relação imediata com as edificações.

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10 Vista da Praça Pereira Oliveira com a Lanchonete instalada no local. Fonte: Autoria própria, 2018.

Por tratar-se de um recorte situado no denso do centro da cidade, a área de estudo não conta com vias de trânsito rápido e arteriais. Podemos perceber que a maioria do sistema viário é composto de vias coletoras, que direcionam os fluxos das vias arteriais (presentes ao sul, oeste e norte do centro, nos aterros) para locais mais específicos dentro do próprio centro. Ainda destacamos poucas vias locais, que levam à áreas predominantemente residenciais, e têm menor fluxo. Destacam-se

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09 Vista da Praça Pereira Oliveira com o Teatro Álvaro de Carvalho. Fonte: Autoria própria, 2018.

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EQUIPAMENTOS COMUNITÁRIOS Sejam instituições federais, estaduais ou municipais, a região em questão do centro de Florianópolis concentra partes mais secundárias da administração Estadual e Federal, e partes principais da administração municipal, como o Gabinete da Prefeitura. Além das instituições públicas, há um destaque para os museus e centros de cultura da cidade, que ocupam majoritariamente a porção leste do centro da cidade - localizados em prédios em sua maioria de arquitetura eclética ou luso-brasileira. As instituições financeiras também ganham destaque, a partir do momento em que ocupam relevantes peças arquitetônicas ao redor da Praça XV de Novembro e da Catedral Metropolitana. Chama atenção também o fato de que não existe uma escola pública ativa na região estudada, enquanto existem uma série de escolas privadas e cursos pré-vestibulares dispersos na região.

Escolas e Creches

1 | SEB COC 2 | Curso e Colégio Energia 3 | EEB Antonieta de Barros (Desativado)

Museus e Centros de Cultura 1 | Palácio Cruz e Sousa 2 | Teatro Álvaro de Carvalho 3 | Casa da Memória 4 | Fundação Badesc 5 | Museu Victor Meirelles 6 | Casa de Câmara e Cadeia 7 | Memorial Meyer Filho

São Benedito 2 | Igreja Internacional da Graça de Deus 3 | Catedral Metropolitana de Florianópolis 4 | Igreja Livre em Jesus

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Áreas de Lazer

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1 | Praça Pereira Oliveira 2 | Praça XV de Novembro

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Instituições Públicas

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1 | 16ª Circunscrição do Serviço Militar 2 | Gabinete da Prefeitura de Florianópolis 3 | Secretaria Municipal da Educação 4 | Previdência Social - Ministério da Fazenda 5 | Núcleo Estadual do Ministério da Saúde 6 | Câmara Municipal de Florianópolis 7 | Fundação do Meio Ambiente - FATMA 8 | Companhia de Desenvolvimento de Santa Catarina - CODESC 9 | Companhia de Saneamento - CASAN 10 | Superintendência de Patrimônio - SPU 11 | Procon Municipal 12 | ANATEL 13 | Procon Estadual 14 | Correios 15 | Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE

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Instituições Financeiras

1 | Banco do Estado do RS - Banrisul 2 | Cooperativa SICOOB 3 | Caixa Econômica Federal 4 | Banco do Brasil 5 | Banco Bradesco 6 | Banco Santander 7 | Banco Safra

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Templos Religiosos

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patrimônio histórico

De maneira geral, os edifícios de importância histórica no Centro de Florianópolis permanecem em uso, predominantemente como equipamentos culturais, e encontram-se em bom estado de conservação graças ao incentivo à preservação do patrimônio. No momento de escrita deste estudo, parte deles está sob reforma, como é o caso da Casa de Câmara e Cadeia e o Museu Victor Meirelles. Algumas das ruas antigas,

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área de preservação cultural

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sistema viário tombado

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com piso de paralelepípedos, também estão tombadas. Contudo, parte da atmosfera da cidade antiga foi desfeita com a verticalização intensa do Centro. A proporção monumental da Catedral, na cidade antiga, encontra-se esmaecida na cidade atual pelos prédios comerciais e instituições bancárias nas adjacências. A legislação local agrupa o patrimônio em três categorias: imóveis P1, de excepcional valor cultural e arquitetônico, que têm de ser integralmente preservados; imóveis P2, que exigem preservação das fachadas, mas podem ter seus usos internos readequados; e P3, que não são propriamente edificações de especial interesse histórico, podendo ser readequadas ou demolidas, contanto que sejam preservadas as relações espaciais com as edificações históricas adjacentes.

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O traçado antigo de Florianópolis se desenha ao redor da Praça XV de Novembro, em cujo entorno ainda estão conservadas parte das edificações e espaços históricos. Nesses objetos, a memória da cidade se mantém viva, e é legada às gerações vindouras como o testemunho de sua história e de sua identidade. O patrimônio histórico é de inestimável valor simbólico e cultural para uma comunidade. As memórias e a identidade pessoais de cada um de seus membros entrelaçam-se com a memória da cidade, preservada como imagem nas fachadas e nos passeios. A imagem da cidade está impregnada de lembranças e significados (LYNCH, 1997).

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11 Rua Victor Meirelles de frente para o Museu homônimo. Fonte: Autoria própria, 2018.

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reflexão e parecer técnico Os conceitos que traz Rolnik (1995) nos permitem formar algumas noções iniciais sobre um objeto tão complexo como a Cidade. Em nossa análise urbana no Centro Fundador de Florianópolis, podemos nos apoiar nas noções de Cidade como mercado, cidade-política, escrita e ímã para fazer a leitura dos levantamentos. O Centro como um grande ímã atrai a população durante o dia, para repeli-la ao fim do horário comercial. Aqui estão concentrados edifícios importantes do poder público, como as Secretarias de Estado, algumas das agências principais das instituições financeiras, assim como uma quantidade importante do comércio de Florianópolis. O Centro é lugar onde permanecem conservadas edificações históricas e os espaços de maior importância simbólica para a população; eles são o atestado da memória e da identidade dos citadinos. Ao mesmo tempo, esses espaços encontram-se emaranhados com novas edificações e usos diferentes dos originários. Finalmente, é também a cidade-política: palco dos protestos, dos encontros lúdicos, e, mais que hoje, já foi

um espaço importante debate entre os cidadãos.

de ções culturais ali, pois não há este tipo de concentração em outras partes da cidade. Mas estas A porção do centro estudada mesmas instituições - bem como demonstra, através dos mapas os bancos presentes na área temáticos, uma grande densida- não necessariamente têm “as de de informações e significados. portas abertas” ao público; em A predominância de edificações consonância, percebe-se a pouca comerciais no mapa de usos, por quantidade de instituições de exemplo, evidencia a razão do ensino, lugares de permanência, esvaziamento do centro fora de lazer e áreas verdes. A própria horário comercial (um dos gran- Praça XV de Novembro se agides motivos da falta de seguran- ganta frente à escala humana e ça) bem como o vínculo entre o confere um ambiente pouco acoespaço urbano e os interesses lhedor: pode ser sentida como comerciais/institucionais - a área uma praça escura, que não conviconcentra uma grande diversida- da facilmente o pedestre a parar de de prédios, sendo poucos de ali. uso residencial. É relevante, no entanto, a quantidade de institui- De forma clara, a preservação

12 12 Largo da Catedral Metropolitana. Fonte: Autoria própria, 2018.

patrimonial destaca-se no sul do recorte, configurando uma “fachada” para as vias arteriais presentes no aterro da baía sul. Da Catedral para o norte, a preservação quantitativa e qualitativa do patrimônio histórico diminui abruptamente, resultando em situações como a da própria Catedral: encurralada por edifícios que não respeitam sequer seu gabarito. Para um Centro fundador de uma cidade capital, o tratamento da preservação patrimonial deixa a desejar. Ao longo das vias tombadas, também ao sul, percebe-se uma melhor harmonia de gabaritos; através da leitura dos mapas em sobreposição, em contrapartida, percebe-se um aumento do número de pavimentos e uso residencial conforme o uso de carros é facilitado pelo sistema viário e deixado de lado do ponto de vista da preservação do patrimônio. Vê-se também a conformação de caminhos e quadras extremamente “maciças”; muitas destas informações explicitam o processo higienista sofrido pelo Centro, seu crescimento pouco ordenado e, invariavelmente, a relação histórico-cultural que existe na criação e aplicação de políticas públicas acerca da produção e manutenção do espaço urbano. Por outro lado, algumas conformações urbanas são positivas nesta fatia do Centro. O gabarito dos edifícios, no geral, é amigável à escala humana, há uma continuidade linear das ruas que facilita a leitura espacial e os caminhos peatonais são mais

generosos do que em muitos outros espaços da cidade. Muitas ruas são fechadas para carros e há espaços que promovem apropriações que vitalizam a região, como a Escadaria do Rosário, o Largo da Catedral e o próprio Calçadão João Pinto recebendo, cotidianamente, manifestações culturais e políticas, proporcionando uma vivência para além da pressa e do consumo dos edifícios executivos e das lojas de varejo. O Centro de Florianópolis é, portanto, palco das contradições e potencialidades que regem a cidade. É o lugar do encontro da sociedade que se movimenta e organiza nesse espaço que, em essência, acolhe a coletividade. Ao estudo do urbanismo, cabe refletir que rumos segue o desenvolvimento urbano, contra a segregação do espaço e a marginalização das vozes caladas da sociedade, posto que o Centro é, como toda parte da cidade, um espaço vivo, que demanda constante transformação.

Referências ALMEIDA, E. S. Geologia da Ilha - SC. In: BASTOS, M. D. A. (Coord.). Atlas do Município de Florianópolis. Florianópolis: IPUF, 2004. FLORIANÓPOLIS. Geoprocessamento Corporativo. Disponível em: <http://geo.pmf.sc.gov.br/>. Acesso em: 07 set. 2018. ________. Lei Complementar nº482, de 17 de Janeiro de 2014: Institui o Plano Diretor de Urbanismo do Município de Florianópolis que dispõe sobre a política de desenvolvimento Urbano, o Plano de Uso e Ocupação, os Instrumentos Urbanísticos e o Sistema de Gestão. Florianópolis, SC, 2014. LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo, Martins Fontes, 1997. ROLNIK, Raquel. O que é cidade. São Paulo, Brasiliense, 1995. SUGAI, Maria Inês. Segregação Silenciosa: investimentos públicos e dinâmica socioespacial na área conurbada de Florianópolis (1970-2000). Florianópolis, Editora da UFSC, 2015.

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