2 minute read

OrBlua

OrBlua - Um Folhetim Semanal que Celebra a sua Vida e o seu Final

Episódio 8

Texto: António Pires | Foto: Jorge Jubilot e OrBlua vida de dez anos exactos dos OrBlua e a sua produção musical foi muitas vezes feita de acasos do destino, de golpes de sorte inusitados, de desvios a algo previamente programado a que os fados e os feitiços do tempo, as sortes e os azares (muito mais aquelas do que estes, está bem de ver), os golpes do vento e os desvarios das marés, os nasceres do Sol e da Lua viriam a moldar de forma radicalmente diferente daquilo que os nossos três heróis – Carlos Norton, Inês Graça e Nuno Murta, sempre com a companhia do seu engenheiro e técnico de som Vasco Ribeiro, a quem todos nós tratamos com amor como «Lobo Mau» – tinham inicialmente previsto ou programado.

E um dos (a)casos mais flagrantes disto mesmo foi a maneira como os OrBlua chegaram ao seu terceiro disco e segundo álbum, que nos seus primórdios não foi pensado como CD, mas sim como a banda-sonora de uma série documental de dezasseis episódios filmados pelos realizadores Vico Ughetto e Filipe Correia. Uma série dedicada aos produtos cultivados, manufaturados, inventados e/ou criados no Algarve para a qual os

OrBlua gravaram duas horas de música original durante uma longa residência artística que teve lugar no LAC –Laboratório de Actividades Criativas, em Lagos. E lá está, por uma dessas inesperadas chicotadas do tempo que foge ou por sortilégios lançados pelas parcas atlânticas ou mediterrânicas, essa série de filmes nunca seria acabada, nem o seu resultado divulgado. Mas a música, essa existia: duas horas de música instrumental e não feita de canções, pensada com um objectivo claro, mas mais ou menos facilmente adaptável ao formado CD.

Um CD, de nome «Paisagens», que veria a luz do dia em 2018 e que de outra forma viria a celebrar o Algarve e as suas gentes, a sua cultura e a sua

História. E, claro, um objecto diferente dos que o antecederam ou do que aquele que viria encerrar a sua história, «Finisterra», editado dez anos (e um dia) depois do primeiro ensaio da banda. E, não sendo como já se referiu um álbum de canções, os oito temas de «Paisagens» – ilustrados desta vez por fotografias de Eduardo Pinto, partem de frases musicais ou líricas do cancioneiro tradicional algarvio, com a excepção de um tema inspirado na música árabe. E que, assombrado pelo legado eterno de Ennio Morricone e das suas bandas-sonoras para clássicos do western-spaggheti, transforma os OrBlua em inventores, com a ajuda de mais de cem instrumentos musicais de todo o mundo (num record digno do Guinness), de delirantes sinfonias polirítimicas muitas vezes atonais que poderiam facilmente ser baptizadas como western-xarém (rico ou pobre), western-arroz de lingueirão, western-muxama, western-medronho ou western-dom rodrigo.

Mas esta banda sonora não foi a única incursão dos OrBlua nos meios cinematográficos. Aliás, a vida dos OrBlua dava um filme, como veremos no próximo capítulo .

This article is from: