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OrBlua
OrBlua - Um Folhetim Semanal que Celebra a sua Vida e o seu Final
Episódio 10
Texto: António Pires | Foto: Jorge Jubilot, Eduardo Pinto e OrBlua , finalmente… «Finisterra». Ou, como referido no CD homónimo (e último) dos OrBlua, o fim da terra; o extremo do mundo; o último som de uma banda…
Feito de ideias apenas experimentadas em ensaios, de canções apresentadas em concertos ou em parcerias com outros artistas, mas nunca gravadas, de apontamentos sonoros e líricos que não chegaram a ter uma versão final, os onze temas incluídos em «Finisterra» (sem contar com o bónus que é «Azul (remix)» em que a banda recupera a sua primeira canção criada em conjunto dez anos antes, agora com a ajuda, nas electrónicas, de um misterioso Argonautus Ensemble), são uma aparentemente desconjuntada manta de retalhos canoros, instrumentais e
poéticos, e no entanto, com uma unidade tão perfeita, dinâmica e coerente.
Editado a 2 de Junho de 2021, uns exactos dez anos depois do primeiro ensaio da banda, «Finisterra» é também uma enorme celebração de amor contínuo entre os seus fundadores e cultores de sempre – Carlos Norton, Inês Graça e Nuno Murta – e dos inúmeros amigos que fizeram pelo caminho que têm em comum com os OrBlua a sua assumida condição de gente marafada: as Moçoilas (colectivo feminino que canta a capella e que recupera tradicionais de muita música algarvia e alguma alentejana), a harpista Helena Madeira, o Lat 66 (projecto paralelo de Norton centrado na recolha de paisagens sonoras dos países nórdicos), o
cantautor Mauro Amaral (também conhecido como Oruam Larama váse lá saber porquê), o contrabaixista Bruno Vítor (que assim regressa alegremente aos OrBlua dez anos depois de ter feito parte da sua pré-
história), os CAL (duo experimental que integra Carlos Norton e Inês Graça, cantora que em CAL se estreia também como fabulosa letrista), Vasco Gonçalves Ribeiro (o irmão que os grava e atura, sendo o viceversa de certa forma igualmente verdadeiro) e o multi-instrumentista Luís Peixoto.
Se isto fosse uma simples crítica de discos à maneira antiga, e não o capítulo final (será?) de um livro dedicado ao insondável e misterioso percurso musical de uma banda, os OrBlua, falar-se-ia ainda aqui de como o joik dos lapões pode entrar Algarve adentro («Viajante do Norte»), um theremin inventado pelo senhor que lhe deu nome (o único instrumento musical que é tocado… sem ser tocado) em «Mãos II», de um bouzouki que se funde na perfeição com sanfonas e gaitas-de-fole (no hino às muitas folks deste mundo que é «Bailaria»), de um baixo eléctrico dançante e de uma guitarra eléctrica em furiosa distorção que rebentam com o (pré) conceito de banda acústica que geralmente é associada aos OrBlua, de um trocadilho inventado a meias pelo autor destas linhas e o camarada Norton –«Berlenga-Lenga», pois… –, de umas uilleann-pipes irlandesas que celebram, sem o saber, o passamento do chefe Paddy Moloney ou das sarroncas, cataplanas, darbukas, bombos e adufes que Murta percute com uma perfeição única e exemplar.
Mas, como não é, aqui fica a nota, a confissão, o desejo, o sonho, a utopia: se eu, algum dia, ainda vier a ser músico e não só um mero jornalista que tem feito da sua vida… viver à conta dos músicos (e do que eles sabiamente criam) e se os OrBlua alguma vez ressuscitarem, quero tocar com vocês! .