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«Bubba Tribo» não para de crescer e 2024 promete ser um ano de loucos
«Bubba Tribo» não para de crescer e 2024 promete ser um ano de loucos
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
Com a próxima atuação dos Bubba Brothers agendada para dia 10 de dezembro, no AP Eva Senses Hotel, em Faro, fomos encontrar Eliseu Correia bastante entusiasmado de volta da mesa de mistura que já faz parte da «mobília» do seu escritório na EC Travel, em Olhão. “Escuta, é assim que vai começar o set, escuta bem”, disse, mal a porta se abriu. E assim se passaram os primeiros minutos da entrevista com o conhecido empresário do ramo turístico e, de há uns anos para cá, estrela da música eletrónica, a ouvir, quase em estreia, a homenagem que a dupla de djs algarvios vai fazer a Sara Tavares.
Não estamos a exagerar. Não é uma superestrela porque é português –algarvio ainda por cima – e porque a «máquina» está montada de tal forma que a fama chega mais facilmente para uns do que para outros, independentemente do talento, mas poucos conseguem negar que os Bubba Brothers, o Eliseu Correia e o Justino Santos, já conquistaram um lugar de destaque na cena internacional. O início da conversa, em jeito de balanço do ano que está a terminar, e de antecipação para um 2024 que promete ser de loucos – os Bubba Brothers vão festejar uma década de existência – já vai sendo semelhante, porque, de facto, todos os anos têm superado as melhores expetativas e sido melhores que os anteriores para estes dois «jovens» naturais do Montenegro. “Fomos os únicos djs portugueses com uma residência em Ibiza, e também os únicos a tocar no ADE, em Amesterdão, tivemos passagens por Londres, atuamos em grandes eventos em Portugal, portanto, foi um 2023 muito positivo. No Spotify estamos com quase 60 mil seguidores, uma barbaridade, em 2019 tínhamos 219. E as três músicas do último EP, «Euphoria», entraram todas para o Top 50 do Beatport. As pessoas não têm noção do que isto significa”, afirma, sorridente.
O ano de 2019 foi, sem dúvida, o momento de viragem dos Bubba Brothers, com o lançamento de «Carla’s Beat», e ter dado o nome da esposa ao tema deu realmente sorte. “Criou-se uma comunidade à nossa volta que é incrível, às vezes temos que nos beliscar para termos a certeza de que é real”, confessa, admitindo que os primeiros anos dos Bubba Brothers foram levados mais em jeito de brincadeira, para descontrair e curtir com os amigos. “Houve, de facto, diversas coisas que mudaram assim que começamos a levar isto mais a sério, desde a criação dos temas à preparação dos espetáculos. Quando não nos pagam para fazer seja o que for, a responsabilidade é menor, se metermos uns «pregos» não há problema porque somos amadores. Em Amesterdão, algumas pessoas foram lá de propósito para nos ver, mas alguma vez isto nos passou pela cabeça”, declara Eliseu Correia. “Hoje, a última coisa que queremos fazer é desiludir os promotores que nos contrataram e as pessoas que ouvem a nossa música”.
Atingir este patamar não foi simples e implicou, desde logo, a aposta nos originais, ao invés de tocar simplesmente os sucessos dos outros com novas remisturas. “Somos os amadores mais profissionais que conheço, por isso, a evolução e a superação fazem parte do nosso dia-a-dia. Quando percebemos que as pessoas gostavam genuinamente de nos ouvir, começamos a criar o nosso próprio som e estamos cada vez mais tribais”, explica, adiantando que nos concertos dos Bubba Brothers se vislumbram frequentemente três gerações da mesma família. “Sempre houve o cliché de que a música eletrónica é só barulho e que quem passa e ouve essa música é o famoso pessoal da «pastilha». Nós queríamos demonstrar que isso não é verdade, que há boa e má música em qualquer género. Depois, gostar ou não depende das preferências de cada um”, entende.
Os anos passaram, Eliseu e Justino ficaram com a certeza de que tinham mesmo jeito para a coisa, que tinham queda para o palco, e deu-se o clique: se queriam tocar em palcos maiores, tinham que dar um passo em frente, o que levou o entrevistado a rumar a Londres para tirar o curso de dj na London Sound Academy. “Não quer dizer que seja muito bom tecnicamente, mas estou incomparavelmente melhor do que há 10 anos. A vontade de fazer mais e melhor foi decisiva. O nosso som é agregador, não exclui ninguém, toda a gente sente a energia e dança ao longo dos sets, limpam completamente a cabeça. Há ali qualquer coisa diferença, uma química, uma empatia total na Bubba Tribo”.
Os Bubba Brothers estavam a disparar, tudo parecia correr sobre rodas, quando surge uma pandemia mundial que coloca praticamente toda a cultura, todo o meio musical, em stand-by. “Foi frustrante porque era uma coisa que gostávamos de fazer, mas mais frustrante foi para os nossos colegas que vivem exclusivamente da música. Estávamos a bombar, a começar a criar asas, e depois andámos a apanhar papéis durante quase dois anos”, recorda, um tempo que, contudo, não foi desperdiçado. “Deu-me oportunidade para ouvir mais música e para tentar perceber como produzir melhor música. De tal modo que, hoje, as letras dos temas são todas escritas por mim e até os vocais masculinos sou eu que gravo. Não é fácil encontrar um fator diferenciador e aproveitamos essa paragem para apurar o nosso som”, conta.
A nova grande referência da música tribal
Dos clichés de «velhotes» ou «avôs» não se safam Eliseu Correia e Justino Santos, porque os djs, por tradição, não são cinquentões, e também há quem não os encare com a devida seriedade por não se dedicarem à música a 100 por cento, mas tudo isso torna os êxitos dos Bubba Brothers ainda mais saborosos. “Em Portugal temos o Xinobi, Moullinex e Kura num patamar elevadíssimo, mas nós somos um caso sério na segunda linha. Imaginava eu que uma música dos Bubba Brothers ia ser ouvida mais de um milhão de vezes?
Praticamente todas as nossas músicas entram logo no Top 100 do Beatport mal saem, e isso é espantoso para o Eliseu e o Justino, da mesma forma que é para o Xinobi, Moullinex e Kura”, compara o entrevistado. “Ainda há dias, em Londres, Los Angeles, Vancouver e Chicago, o «Euphoria» estava entre os temas mais ouvidos do Spotify. Estamos no meio dos U2, dos Coldplay, do David Guetta, mas continuamos a ter mais reconhecimento no estrangeiro do que no nosso próprio país”, desabafa, não escondendo a tristeza pelos temas dos Bubba Brothers passarem em rádios de todo o mundo… menos em Portugal. “A «máquina» funciona desta forma e o nosso problema, se calhar, é que não olhamos para a música como um negócio, mas sim como uma coisa que nos faz feliz e aos outros também”.
Fruto desta mentalidade, os Bubba Brothers criaram a sua própria editora, mas, entretanto, em 2023 passaram a ser agenciados pela Soundvision de Eddy Romero, o que, se calhar, vai abrir algumas portas em Portugal. “Não seria um caso único e virgem. A Joana Vasconcelos, a Fátima Lopes, o Pauleta, vários fadistas, enquanto não foram considerados muito bons além-fronteiras, não foram valorizados em Portugal. Eu e o Justino temos mais de 50 anos e, no meio de milhões de indivíduos que poem música, já fomos considerados, em artigos da especialidade publicados no Brasil, Espanha, Inglaterra, Holanda e Alemanha, como a nova grande referência da música tribal”, indica.
Os Bubba Brothers atingiram, de facto, um tal patamar que Eliseu Correia se viu mesmo obrigado a ter uma mesa de mistura completamente apetrechada no seu escritório, porque todos os minutos importam nesta fase do campeonato. “Antigamente, tinha um pico de inspiração e guardava-o até chegar a casa, mudar de roupa, descer à cave, ligar a mesa de mistura, na esperança de que ele não se tivesse ido embora. Quando se acende a luz, tenho de ir logo a correr para a mesa, não se consegue congelar as ideias”, explica, acrescentando que, no que toca às letras, mal lhe surge algo, grava de imediato no telemóvel. “Para fazer uma música são muitas dezenas de horas. Às vezes aquilo encaixa logo, fazemos os primeiros 90 segundos, pensamos que vai ser rápido, e depois encalhamos no drop e não saímos dali. É um grande desgaste emocional e mais vale deitar aquilo fora e ir a jogo outra vez. E o mesmo acontece quando estamos a preparar um set. Não basta escolher 25 ou 30 músicas, temos que criar diferentes ondas de energia para o público não rebentar logo com as baterias, e porque eu próprio preciso descansar”, esclarece, com uma risada.
Descansar é que vai ser difícil em 2024, porque os Bubba Brothers vão festejar os 10 anos de existência e porque Eliseu Correia está a preparar muitas surpresas, entre elas o «Ameixial Electro», no dia 13 de julho. “Toda a gente se ri quando falo disso, mas, quando virem o cartaz, vão deixar de rir. É um local com uma energia única, aquele espelho de água à noite é fantástico, a postura das pessoas é incrível, e daqui a três ou cinco anos vai ser uma das maiores referências eletrónica do nosso país, um festival onde os grandes nomes vão querer tocar. Estejam atentos”, avisa. Estaremos!