Entrevista: crítico de música, Hagamenon Brito fala sobre 30 anos de axé

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Publicada em 30/01/2015 às 21h05. Atualizada em 06/02/2015 às 14h34

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Entrevista: crítico de música, Hagamenon Brito fala sobre 30 anos de Axé

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O jornalista faz um histórico do gênero que conquistou o país há três décadas

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Daniel Silveira* (daniel.cruz@redebahia.com.br)

O ano era 1985 e uma revolução começava na música baiana. Luiz Caldas lançava o disco 'Magia' e fazia o Brasil se remexer ao som de 'Fricote'. Surgia ali o Axé Music, o mais baiano dos produtos culturais, que transformaria o país inteiro em carnaval, anos mais tarde. O nome foi dado pelo jornalista e crítico de música Hagamenon Brito, em 1987, de modo pejorativo e, logo depois, caiu nas graças dos críticos, produtores e artistas do gênero. “Acho que foi isso de ser um termo pop, mesmo. Perdeu essa coisa pejorativa e virou uma coisa legal”, conta. MUNDO

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Em entrevista ao iBahia, com seu olhar de crítico, Hagamenon fala sobre a história do gênero, sobre a crise de criação que assola o mercado e as perspectivas do Axé para os próximos anos.

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O jornalista e crítico musical Hagamenon Brito criou o termo Axé Music de maneira pejorativa, mas o nome caiu no gosto dos produtores e artistas e acabou virando o nome do gênero musical (Foto: Acervo)

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iBahia ­ Entrevista: crítico de música, Hagamenon Brito fala sobre 30 anos de Axé O que há de positivo na cena do Axé Music? Ter criado uma cena local e deslocado o eixo do Rio­São Paulo é muito positivo. 'Magia', que é o disco de Luiz Caldas que tem 'Fricote', de 1985, e a gente chama de “marco zero”, vendeu cem mil cópias, só com a força do mercado baiano, das rádios, lojas de discos e televisão baiana. Depois disso foi criada uma indústria, com infraestrutura de estúdios e bons músicos. A gente também exportou um modelo de negócio para o Brasil todo, que é o Carnaval fora de época. Nos anos de 1990, o axé chegou a representar 17% das vendas fonográficas do país e gerou estrelas como Bell Marques, Durval Lelys, Ivete Sangalo, Claudia Leitte, um compositor do quilate de Carlinhos Brown. Além de grupos como Timbalada ou outros que estavam juntos, mas naquele tempo a gente não chamava de axé e acabou sendo incorporado por causa da cena, como o Olodum. Em seguida, os grupos de pagode também foram incorporados à cena, como É o Tchan e Harmonia do Samba. E o que há de negativo? Eu acho que durante o auge do axé houve um domínio do ritmo. Na década de 1990, era difícil fazer música em Salvador, se não fosse axé. Não tinha nem casa onde se apresentar. Quem fazia era muito underground. Tudo era voltado para aquilo, incentivos, patrocínios... Acho que também houve, nessa fase, um excesso de mercantilismo da música, com empresários muito gananciosos. E acho que pessoas assim acabaram prejudicando o Axé. Não construíram algumas infraestruturas que seriam boas. Por exemplo, Salvador não tem uma casa de espetáculo legal. Salvador não conseguiu ficar renovando o Axé, o que eu acho que um dos grandes problemas dos 30 anos. É bom celebrar a história, claro, mas se não você esboça um futuro, não há renovação. Os últimos cantores a estourarem foram Claudia Leitte e Saulo. A gente não tem uma cena renovada como no sertanejo, por exemplo. Mas há perspectiva boa para isso? Acho que se está comemorando algo, que tem que ser comemorado, mas acho preocupante que não existam astros e estrelas que assumam isso daqui a dez anos. Acho que esse é o problema do axé, não tem grupos novos bons. Não é a morte, mas está enfraquecido.

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Como o axé chegou até aqui? O que aconteceu com o Axé foi algo assim: nos anos 90, três gêneros muito populares se valeram das conquistas do Plano Real, que permitiu milhões de pessoas a trocarem o vinil por pelo CD: o Axé, o sertanejo, (as duplas da terceira geração, como Leandro & Leonardo, Chitãozinho & Xororó, Zezé di Camargo & Luciano) e o pagode romântico. O auge da música baiana são os anos 90, a partir de Daniela Mercury, em 1992. Você tem aquela primeira fase, com Luiz Caldas, que vai até 1991, que é marcada pelo pioneirismo, não era muito profissionalizado. Esse profissionalismo maior começa na segunda etapa. Até então o Axé não tinha um aspecto pop. Quando Daniela lota o show no Masp, em 1992, na a Av. Paulista, sai na Folha de São Paulo, já começa a dar um ar pop. Daniela foi super importante nesse processo aí. E o que muda com a explosão do Axé? Naquela época, parecia que os artistas solo eram maiores que os blocos de trio. Quando há profissionalização, os blocos ficam maiores que os artistas solo e cria­se uma indústria poderosa. É isso que fazem também os carnavais fora de época. Os blocos de trio começaram a perceber que não era mais uma música de carnaval, uma coisa sazonal. Salvador era meio decadente e melancólica o ano inteiro e só aconteciam coisas no Verão. Quando acabava o Verão, todo mundo ia embora. O axé fala: essa música não é só para essa estação; essa música é para o ano inteiro. Então mudou completamente a vida cultural de Salvador. E atualmente? O que mudou para esses grandes artistas? O sumiço dos grandes artistas é culpa do envelhecimento. Há um envelhecimento sempre no mundo pop e pouca gente consegue renovar o público ou criar um interesse ainda.

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E quanto às vendas e visibilidade do gênero? As coisas são interligadas, se você começa a fazer menos show isso interfere na negociação com a banda. Aí também vem um componente: o Carnaval é um apêndice do axé. O gênero saiu do Carnaval e agora voltou um pouco, porque enfraqueceu mercadologicamente. Qual foi o último sucesso nacional do Axé? E olhe que a gente tem estrelas como Ivete Sangalo, que emplacava vários sucessos. Se você pegar a lista dos sucessos nacionais, há anos é Sertanejo Universitário. 'Lepo Lepo', que foi um caso mais recente, é um sucesso que saiu do Carnaval. O Axé tem uma vitrine que é o Carnaval baiano, que dá a impressão de que as coisas ainda estão acontecendo. Nos anos 1990, toda gravadora tinha entre cinco e oito artistas de axé. Ter artistas daquele gênero era garantia de boas vendas. Todo ano tinha, pelo menos, um sucesso. Mas agora não existe mais isso. Isso é prova do encolhimento de um gênero.

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Então qual é o principal desafio do gênero? O principal é tentar saber como vai ser o axé daqui a dez anos.

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"O principal desafio é tentar saber como vai ser o

Alguma aposta? Não tenho. O gênero vai se manter, porque gênero não deixa de existir de uma hora pra outra, ainda mais tendo mercado. Tem muito artista envolvido, estrela viva e atuante. Tem Claudia, Ivete, Brown, que é uma usina de ideias, Saulo que ainda está em crescimento. Eu acho que são os quatro nomes do mercado hoje. Aí você também tem aquelas coisas que são juntas, né? Harmonia do Samba, que é pagode, mas a gente pode colocar na cena, Leo Santana. E Márcio Victor, que tem a capacidade de criar hits. axé daqui a dez anos" (Foto: Acervo)

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iBahia ­ Entrevista: crítico de música, Hagamenon Brito fala sobre 30 anos de Axé Existe crise de criação? Isso é impacto da cena não estar mais tão presente. Quando algo está encolhido, você tem muitos compositores escrevendo e menos gente gravando. E quanto menos gente gravando, mais difícil de emplacar músicas. A movimentação de composição é menor. E aí também tem a crise do modelo de Carnaval, com queda de vendas de abadás.

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Quem você acha que poderia dizer adeus à cena e quem são os principais nomes da atualidade? É complicado indicar pessoas. De algumas pessoas não se espera muita coisa, mas eles têm público. Quem eu vejo proativo demais é Brown, que é muito inquieto. Pra mim, ele é um dos melhores compositores e um grande nome que a cena axé produziu. Ele dialoga muito com o mundo pop. Algumas bandas ainda sobrevivem por conta de sua história, dos sucessos do passado. E há algum nome sumido e que poderia ainda ter força? Não tem. Para um gênero pop é difícil fazer isso. É questão do gênero e da lei do mercado. Depois dessa fase da década de 90, só colocaria Claudia e Saulo. Daniela resiste bravamente, é a rainha, faz um bom Carnaval, faz bons shows internacionais.

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E essa mistura de Axé, Sertanejo, Pop, música eletrônica no Carnaval prejudica o axé? Só melhora. Mostra que ele é democrático. O que o axé não conseguiu fazer na década de 90, consegue fazer agora. Alguns artistas tinham medo dessa invasão, mas se você está aberto para sair daqui, tem que estar aberto a receber também. Que tal, agora, ouvir a música que começou essa história toda?

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*Com supervisão e orientação de Márcia Luz

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Enviar Comentário Rivaldo 02/02/2015 ­ 20:26 Este termo axe já era usado para designar o pessoal meio hippie, e que curtia este tipo de som, que era meio raribo. Hagamenon apenas divulgou o que uma certa galera já falava destes caras da música baiana, não criou nada.

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noel gallagher 31/01/2015 ­ 02:56 notas para o axe ,pagode ,hb : ZERO

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