O ativismo online no movimento ambientalista

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CENTRO UNIVERSITÁRIO IESB COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO

DANIELY SOARES DE LIMA

O ATIVISMO ONLINE NO MOVIMENTO AMBIENTALISTA: o caso da 350.org

Brasília/DF 2015


DANIELY SOARES DE LIMA

O ATIVISMO ONLINE NO MOVIMENTO AMBIENTALISTA: o caso 350.org

Monografia apresentada como prérequisito para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo pelo Centro Universitário IESB. Orientador: BrunoTaitson Bueno

Brasília DF 2015 2


DANIELY SOARES DE LIMA

O ATIVISMO ONLINE NO MOVIMENTO AMBIENTALISTA: o caso da 350.org

Monografia apresentada como prérequisito para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo pelo Centro Universitário IESB.

Brasília, 7 de Dezembro de 2015

Banca examinadora

Bruno Taitson Bueno Orientador Centro Universitário IESB

Luísa Guimarães Lima Membro da banca Centro Universitário IESB

Claudio Francisco Ferreira da Silva Membro da banca Centro Universitário IESB

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AGRADECIMENTOS

Apoio e influências. Estas são as principais características daqueles que não só me acompanharam, mas foram responsáveis por papéis importantes para mim, no desenvolvimento deste trabalho. Gostaria de dedicar um agradecimento especial ao orientador Bruno Taitson Bueno, que, a partir de sua vasta experiência e profissionalismo, me orientou com dedicação e compreensão; agradecer também aos meus pais que sempre serão o principal ponto de apoio positivo tanto para minha vida profissional quanto pessoal; agradecer a amigos e amigas queridas como Kátia Marsicano e Maria Clara Guaraldo, que foram fonte de conselhos e opiniões críticas construtivas e, por fim, agradecer aos membros da banca Luísa Guimarães Lima e Claudio Francisco Ferreira da Silva, que aceitaram o convite com prontidão e gentileza.

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RESUMO

O presente trabalho analisa o uso das novas mídias no ativismo on-line do movimento ambientalista e faz, por meio de um estudo de caso, uma análise detalhada das estratégias de comunicação da organização não governamental 350.org. A ONG se tornou referência nas mobilizações on-line, por trabalhar campanhas com ferramentas tecnológicas e produção de conteúdo específico para as redes de maneira estratégica, apesar de limitações de equipe e pouco interesse da sociedade brasileira, em comparação com outros países, pela pauta ambiental. A partir de autores dos temas de ciberativismo e ambientalismo, o trabalho contextualiza o cenário da comunicação por meio das redes e do movimento ambientalista no país, para melhor entendimento da análise dos resultados obtidos a partir da observação do trabalho da organização estudada. Palavras- chave: Novas Mídias; Ciberativismo; Movimento Ambientalista

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ABSTRACT

The present work analyzes the use of new medias in the environmental movement online activism, and does, through a case study, a detailed analysis of the communications

strategies

of

the

non

governmental

organization 350.org.

The NGO has become a reference in the online mobilizations, for working in campaigns with technological tools and specific content production for the web in a strategic manner, in spite of staff limitations and diminished interest of the Brazilian society, in comparison to other countries, in the environmental agenda. From authors who deal with the ciberactivism and environmentalism-related topics, this research tries to discuss the context of communication through networks and the environmental movement in the country, for a better understanding of the analysis of the results obtained from the observation of 350.org Key Words: New Media; Cyber activism; Environmental Movement

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Infográfico Acordo Transpacífico...............................................................29 Figura 2 - Página inicial do website Fossil Free.........................................................31 Figura 3 - Página inicial do site 350.org.....................................................................33 Figura 4 - Plataforma Campaings Beta......................................................................35 Figura 5 - Hangout com Bill MCkibben.......................................................................39 Figura 6 - Busca por 350.org no Facebook................................................................40 Figura 7 - Técnica de Fraturamento Hidráulico ou Fracking......................................41 Figura 8 - Mapa do Aquifero Guarani.........................................................................42 Figura 9 - Novos estudos atestam: Fracking faz mal para saúde..............................46 Figura 10 - Página inicial do website da campanha...................................................47 Figura 11 - #NãoFrackingBrasil..................................................................................48 Figura 12 - Cartaz da campanha Não Fracking Brasil...............................................49 Figura 13 - Postagem pela ferramenta Hootsuite.......................................................51 Figura 14 - Clipping Não Fracking Brasil....................................................................52 Figura 15 - Notícia sobre o protesto da campanha Não Fracking Brasil....................56

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................9 2 CIBERATIVISMO E NOVAS TECNOLOGIAS.......................................................11 2.1 A INTERNET E AS NOVAS FORMAS DE COMUNICAR ...................................11 2.2 CIBERCULTURA, CIBERESPAÇO E CIBERATIVISMO ....................................13 2.3 AS REDES SOCIAIS DO MOMENTO .................................................................15 2.4 O CIBERATIVISMO E AS CAUSAS AMBIENTAIS .............................................17 3 AMBIENTALISMO NO BRASIL.............................................................................20 3.1 PRIMEIRAS ORGANIZAÇÕES DO MOVIMENTO AMBIENTALISTA BRASILEIRO..............................................................................................................24 4 O 350.ORG..............................................................................................................26 4.1. A ORGANIZAÇÃO ..............................................................................................26 4.2 PRINCIPAIS CAMPANHAS NO MUNDO ...........................................................28 4.3 350.ORG NA REDE.............................................................................................37 5 O CASO DA CAMPANHA NÃO FRACKING BRASIL...........................................41 5.1 A PRODUÇÃO DE CONTEÚDO .........................................................................44 5.2 AS FERRAMENTAS ............................................................................................50 5.3 O CASO DE SUCESSO ......................................................................................54 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................58 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................61

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1 INTRODUÇÃO

O objetivo do presente trabalho é analisar o uso das redes sociais e dos recursos tecnológicos na comunicação de organizações não governamentais ambientalistas, em especial a 350.org na campanha Não Fracking Brasil. A escolha do tema se dá pelo interesse em estudar mudanças nos processos de comunicação e estratégias que organizações têm traçado para se adaptar ao novo espaço proposto pela rede, como também observar e detalhar o potencial dos recursos tecnológicos disponíveis atualmente, que vêm ganhando força nas sociedades. Entre os objetivos específicos, estão analisar e entender o foco da 350.org na atual campanha Não Fracking Brasil; identificar as estratégias da produção de conteúdo utilizadas pela ONG para conscientizar e despertar o interesse do público pela campanha; observar as principais redes sociais, sites e

outros recursos

usados pela equipe de comunicação da 350.org para compartilhar e monitorar as informações da campanha brasileira e, por fim, avaliar os resultados obtidos por meio das estratégias lançadas pela equipe. Acredita-se na importância do estudo como base para, a partir das análises feitas, compreender melhor as mudanças estratégicas nos processos de comunicação do movimento ambientalista, por meio da potencialidade que os recursos tecnológicos oferecem. A metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa foi o estudo de caso. As técnicas utilizadas foram, principalmente, observação e entrevistas. Para embasar a pesquisa e proporcionar uma visão mais ampla sobre conceitos e fatores históricos, foram consultados, em especial, autores como Manuel Castells, Pierre Levy e Francisco Rudiger, para um melhor entendimento das questões acerca das novas tecnologias e seus impactos sobre a sociedade. A obra de Eduardo Viola foi utilizada para um contexto detalhado do ambientalismo brasileiro.

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Para analisar as novas estratégias de comunicação que se desenvolvem junto com o que Levy (1999, p. 41) chama de ciberespaço, ou seja, “o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores”, foi apresentado no capítulo 2 (Ciberativismo e as Novas Tecnologias) um breve levantamento histórico sobre da chegada da internet e as perspectivas dos processos de comunicação. A discussão sobre o uso das novas tecnologias como parte da comunicação atual prossegue no trabalho. No capítulo 3 (O Ambientalismo no Brasil), os principais momentos históricos que fazem parte do início do desenvolvimento do movimento ambientalista brasileiro são apresentados. A ideia é mostrar o contexto que deu origem ao ambientalismo, cenário no qual a organização 350.org atua. No capítulo 4 (A Organização) são descritas características da história, visão e principais campanhas desenvolvidas no mundo pela 350.org, como também o papel desempenhado pela ONG nas principais redes sociais e outras páginas. O capítulo 5 (O caso Não Fracking Brasil) conta com o contexto e foco da campanha, a descrição das principais ferramentas utilizadas pelos profissionais de comunicação do movimento, o detalhamento do processo de produção e monitoramento de conteúdo para internet, principais estratégias utilizadas para mobilização de pessoas e a apresentação de experiências de sucesso da campanha. Por fim, o capítulo 6 (Considerações Finais) traz as principais análises e constatações obtidas ao longo da pesquisa, como também reflexões sobre a utilização dos recursos da internet para mobilizar grande número de pessoas e a respeito do papel do jornalista na definição de pautas e produção de conteúdo dentro da temática do ambientalismo, no ciberespaço.

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2 CIBERATIVISMO E AS NOVAS TECNOLOGIAS O advento dos novos recursos tecnológicos promoveu uma série de mudanças nas formas de comunicar. A chegada do computador e da internet são exemplos disso, pois começaram a fazer parte de um “... novo espaço de comunicação, de sociabilidade, de organização e de transação, mas também novo mercado da informação e do conhecimento” (LEVY 2002, p.32). Este capítulo busca apresentar um contexto, bem como uma análise, dos marcantes avanços tecnológicos das últimas décadas, cujo ápice se deu no aparecimento e na popularização da rede computadores.

2.1 A INTERNET E AS NOVAS FORMAS DE COMUNICAR Por volta dos anos 1990, o uso da internet na comunicação começou a se popularizar de forma cotidiana (RUDIGER, 2011, p.8). A segunda metade do século XX deu início a um “desenvolvimento tecnológico” com base na tecnologia de “processamento de dados e geração de comunicação” (Ibid). A partir disso, os indivíduos passam a atuar nos processos de comunicação com mais liberdade e autonomia. Desse modo, segundo Moraes (2007, p. 02), “as fronteiras entre quem emite e quem recebe podem tornar-se fluidas e instáveis. Os usuários têm a chance de atuar, simultaneamente, como produtores, emissores e receptores, dependendo de lastros culturais e habilidades técnicas.” Para Castells (1999, p.25), “a tecnologia não determina a sociedade, a tecnologia é a sociedade, pois penetra por toda a extensão das relações sociais e modifica nossos sistemas de poder e padrões de experiência.” A revolução tecnológica informacional também é definida por adentrar todos os domínios da vida humana (CASTELLS, 2002 p.333), ou seja, começa a fazer parte de uma série de atividades das quais não fazia antes, provando que o espaço que ocupa é cada vez menos limitado e mais propício ao compartilhamento imediato da informação. As mudanças ocasionadas pela chegada da internet e das novas tecnologias são recentes, e fazem parte de um momento atual de reestruturação dos padrões 11


comunicacionais da sociedade. Por esse motivo, Rudiger1 (2015) comenta que “as mudanças na forma das pessoas se comunicarem só poderão ser bem avaliadas com o passar do tempo. Além disso, ainda são muito novas e se modificam rapidamente”.

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Entrevista concedida via Gmail, a Daniely Lima; em 16 de outubro de 2015. Francisco Rudiger é doutor em Ciências Sociais da Universidade de São Paulo e autor da obra acadêmica “As Teorias da Cibercultura.

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2.2 CIBERESPAÇO, CIBERCULTURA E CIBERATIVISMO

O momento atual de desenvolvimento acelerado dos espaços e recursos disponibilizados pela internet é marcado por novas tendências que estão se enraizando no cotidiano da sociedade, e, nesse contexto, alguns termos são definidos para melhor entendimento do assunto. Levy (1999, p. 17) chama de Ciberespaço, o “novo meio de comunicação que surge na interconexão mundial dos computadores”. Outra característica desse espaço utilizado nas redes para comunicar é definido, segundo o mesmo autor (Ibid.), como cibercultura, “o conjunto de técnicas, de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço”. Rudiger (2011, p.10) afirma que a cibercultura pode ser “definida como a formação histórica, ao mesmo tempo prática e simbólica, de cunho cotidiano, que se expande com base no desenvolvimento das novas tecnologias eletrônicas de comunicação.” Ele ressalta ainda que a “cibercultura em outros termos, pode ser veículo formador de um processo lastreado na iniciativa das massas”. Segundo Lemos (2004), o desenvolvimento da cibercultura se dá com o surgimento da microinformática nos anos 70 e, posteriormente, nos anos 80-90. A partir da popularização da internet e das novas tecnologias o autor descreve um novo momento da história:

Agora, em pleno século XXI, com o desenvolvimento da computação móvel e das novas tecnologias nômades (laptops, palms, celulares), o que está em marcha é a fase da computação ubíqua, pervasiva e senciente, insistindo na mobilidade. Estamos na era da conexão. (LEMOS, 2004).

Uma pesquisa 2 desenvolvida em 2014 pelo Instituto Datafolha mostra que 57% da população brasileira com mais de 12 anos estão na internet, o que

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Pesquisa quantitativa realizada em abril de 2014, pelo pela agência F/Nazca em parceria com o Data Disponível em:<http://www.fnazca.com.br/wp-content/uploads/2014/12/fradar-14_publica-site.pdf> Acessado em: 21 de agosto de 2015.

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representa mais de 90 milhões de internautas e 24% dos que ainda não estão, pretendem começar a acessar a rede nos próximos 12 anos, o que representa um número que, possivelmente, terá um crescimento considerável. Ainda segundo o levantamento, 68% desses internautas utilizam a internet para acessar as redes sociais. Segundo Marteleto (2001, p. 72) as redes sociais ou mídias sociais, como também podem ser conhecidas, são um conjunto de participantes que unem “ideias, recursos de valores” e “interesses compartilhados”. A partir do uso da internet e das redes sociais, cada vez mais, organizações encontram novas formas de comunicar de maneira coletiva e transmitir mensagens para um grande número de indivíduos. Naturalmente, se presume com tais observações que pessoas e organizações têm se focado na potencialidade de crescimento da rede e de autonomia que proporciona para os usuários. Neste particular, Rudiger observa que as

redes sociais, portais, blogues, os videojogos, chats e sites de todo o tipo, os sistemas de troca de mensagens e comércio eletrônico, o cinema, o rádio, música e televisão interativos via Internet são, realmente apenas algumas das expressões que surgem neste âmbito e estão ajudando a estruturar praticamente a cibercultura. (RUDIGER, 2001, p.13)

A ação de mobilizar, por meio das redes sociais, grandes números de pessoas a favor de uma causa ou uma ideia é chamada por Stresser (2010 p, 02) de ciberativismo ou ativismo digital, definido como a “... maneira de fazer política através de suportes cibernéticos; buscando a veiculação de um ideal através de uma mídia de grande alcance” ou ainda, definido por Vegh (2003, p 71) como “movimentos politicamente motivados”. O advento das redes sociais e sua rápida popularização proporcionam aos usuários que suas vozes sejam ouvidas no processo de comunicação e, como já foi dito, eles agora têm a chance de atuar não só como receptores, mas também como emissores (Moraes 2007, p. 2).

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2.3 AS REDES SOCIAIS DO MOMENTO

Um dos exemplos de possibilidades na interação e compartilhamento rápido de informações na hora de mobilizar é o caso da rede social Facebook. Criada em 2006, o número de usuários, atualmente, já alcança 1,49 bilhão, segundo balanço 3 da rede divulgado em julho de 2015.

Além de permitir aos usuários compartilhamento ilimitado de fotos, vídeos e links, o Facebook tem recursos para criar eventos, grupos de interesses comuns, registrar acontecimentos e, a partir deste ano, permitiu que figuras públicas fizessem transmissões de vídeo ao vivo para todos, por meio do Facebook Mentions, a partir do recurso Live, permitindo ainda que os vídeos sejam acessados posteriormente nas páginas da rede.

Outra ferramenta pensada na praticidade para os compartilhamentos de conteúdos é o recurso Publisher, muito utilizado por administradores de páginas, para programar postagens com a possibilidade de agendamento de data e horas posteriores, com objetivo de facilitar o gerenciamento de conteúdo. Em agosto de 2015, a página oficial do Facebook divulgou um vídeo 4 comemorando 1 bilhão de usuários conectados no mesmo dia, cujo conteúdo ressaltava a proximidade da ferramenta de interação on-line com a vida das pessoas.

A rapidez e a possibilidade de interação cada vez mais próxima com as pessoas, por meio das novas tecnologias, nunca estiveram tão em foco quanto neste momento da história. Com base nisso, podemos concordar com Castells (1999, p. 25), quando o autor afirma que “a tecnologia penetra em todos os domínios 3

Balanço divulgado na página oficial do Co-fundador da empresa no dia 29 de julho de 2015. Disponível em: <https://www.facebook.com/FacebookBrasil/videos/vb.123739327653840/1138600656167697> Acesso em: 1 de agosto de 2015. 4 Vídeo divulgado pela página oficial do Facebook no dia 28 de agosto de 2015. Disponível em: <https://www.facebook.com/FacebookBrasil/videos/vb.123739327653840/1138600656167697/?type= 2&theater> Acessado em: 1 de setembro de 2015.

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da vida”. O balanço de números de usuários divulgado em 2015 pelo fundador da rede social Facebook, Mark Zuckerberg, traz informações de outras redes cujos direitos pertencem ao Facebook. É o caso do Instagram, que traz aos 300 milhões de usuários que alcançou no ano de 2015 a possibilidade de compartilhar fotos, gravar vídeos e postar simultaneamente um mesmo conteúdo em outras redes associadas como, por exemplo, o Facebook.

Fazendo parte do mesmo universo da comunicação rápida, dinâmica e instantânea, o Whatsapp Messenger, aplicativo de troca de mensagens em forma de bate-papo para aparelhos móveis com versão para web, tem 800 milhões de usuários no mundo, segundo o balanço da rede. O aplicativo permite enviar imagens, vídeos e outros arquivos, como também gravar áudios, tirar fotos, criar grupos e fazer ligações.

O microblog Twitter, que possibilita a postagem de mensagens com até 140 caracteres, também é um exemplo em adesões. Em 2015, divulgou que supera o número de 280 milhões de usuários mensais. Nesta rede, fundada em 2006, as pessoas podem enviar e receber atualizações em tempo real de contatos que seguem. Outro recurso recentemente lançado pelo Twitter é o Periscope. O aplicativo faz transmissões ao vivo e já alcançou, desde o lançamento, em maio de 2015, 10 milhões de novas contas. Os vídeos, posteriormente, ficam arquivados na página do microblog por até 24 horas.

Podemos observar outras redes sociais que marcam números importantes de acessos. O Youtube, lançado em 2005, tem mais de um bilhão de usuários e permite assistir e compartilhar vídeos. Segundo a rede, 300 horas de vídeos são enviadas ao YouTube a cada minuto e, a cada ano, o número de horas por mês que as pessoas assistem na rede cresce até 50%.

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2.4 O CIBERATIVISMO E AS CAUSAS AMBIENTAIS

Esses cidadãos, chamados por Vegh (2003), de “indivíduos politicamente motivados”, compartilham seus ideais na tentativa de mobilizar o maior número de pessoas possível. Tudo isso é permitido pela praticidade que as redes sociais proporcionam. Uma única mensagem compartilhada, hoje, pode ser vista por centenas e até milhares de pessoas de forma instantânea, que, possivelmente, podem levar a mesma mensagem adiante, criando o que Moraes (2007 p.2) chama de “teia gigantesca, que desfaz pontos fixos ou limites predeterminados para o tráfego de dados e imagens; não há centro nem periferia, e sim entrelaçamentos de percursos”. Organizações que defendem causas ambientais são exemplos de grupos e movimentos que utilizam o ciberativismo para promover suas ideias e mobilizar pessoas. Para Lima (2012) alguns “grupos compostos por indivíduos que defendem melhorias sociais e ambientais passaram a explorar melhor ambientes on-line como uma forma de disseminar seus discursos”. Castells (2000, p.143) se refere ao termo ambientalismo como “formas de comportamento coletivo que, tanto em seus discursos como em sua prática, buscam corrigir formas destrutivas de relacionamento entre o homem e seu ambiente natural”. O termo ecologia é definido também por Castells (Ibid., p. 144), do ponto de vista sociológico, como um “conjunto de projetos que contempla o gênero humano como parte de um ecossistema mais amplo, buscando manter o equilíbrio desse sistema”. Para o autor, “ambientalismo é a ecologia na prática”. Baseadas

na

potencialidade

das

redes

sociais,

organizações

não

governamentais ambientalistas aproveitam os instrumentos de comunicação que a internet oferece, em especial, as redes sociais. Exemplo disso é a ONG ambientalista Greenpeace, que desde 1992 atua no Brasil. Hoje, presente em pelo menos oito redes sociais, conta com ciberativistas, ou seja, voluntários com potencial de compartilhar as ideias da organização pela rede.

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Para influenciar o ativismo digital no Facebook, com mais de um milhão de seguidores, o Greenpeace-Brasil investe em produção e compartilhamento de fotos, vídeos, cards, memes e postagens acompanhadas de links para matérias sobre as causas ambientais e de suas campanhas. Seguindo a mesma linha de publicação, mas limitados aos 140 caracteres que o Twitter oferece, a organização compartilha imagens, links e promove as campanhas por meio de memes e outras estratégias. Além disso, o Greenpeace-Brasil apresenta um diferencial: a página do Google Plus. Com mais de 580 mil seguidores, a página se destaca em termos de postagens e inscritos, no comparativo com outras organizações do mesmo segmento. Diferentemente do WWF-Brasil, que conta com apenas, pouco mais de 180 seguidores na página do Google Plus. Em contrapartida, o WWF-Brasil, só no Twitter, tem mais de 400 mil seguidores e 300 mil curtidas na página do Facebook. Um dos trabalhos de destaque da organização na produção de conteúdos são os vídeos que, além de compartilhados nas outras redes sociais da ONG, estão presentes no Canal do Youtube, que hoje tem mais de 6 mil inscritos. Além dessas redes sociais, as organizações citadas estão presentes também em outras páginas como Instagram, Pinterest, Flickr, Foursquare, blogs etc. O ativismo on-line ganha força com os recursos tecnológicos. Neste contexto, Rigitano (2003) avalia a utilização da rede pelos militantes:

A partir da incorporação da Internet, os ativistas expandem suas atividades tradicionais e/ou desenvolvem outras. A utilização da rede por parte desses grupos visa, dentre outras coisas, poder difundir informações e reivindicações sem mediação, com o objetivo de buscar apoio e mobilização para uma causa; criar espaços de discussão e troca de informação; organizar e mobilizar indivíduos para ações e protestos on-line e off-line. (2003, p. 3).

Segundo Castells (1999), “o sucesso do movimento ambientalista se dá, principalmente, porque ele tem mostrado capacidade de adaptação às condições de comunicação apresentadas pelo novo paradigma tecnológico”. Para o autor (op. cit. p. 161.), “ao criar eventos que chamam atenção na mídia, os ambientalistas conseguem 18


transmitir sua mensagem a uma audiência bem maior representada por suas bases diretas�.

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3. AMBIENTALISMO NO BRASIL

O relacionamento entre o ser humano e a natureza há tempos coloca em questão as práticas prejudiciais ao meio ambiente e a necessidade de preservação. Concorda-se com Castells (1999, p.142) que “sem sombra de dúvidas, a maioria dos nossos problemas ambientais mais elementares ainda persiste, uma vez que seu tratamento requer uma transformação nos meios de produção e consumo, bem como nossa organização e de nossas vidas pessoais”. Santos (1996, p.169) associa as mudanças ambientais a objetos modernos ou pós-modernos como, por exemplo, “as grandes hidrelétricas e as grandes cidades, dois objetos enormes cuja presença tem um papel de aceleração das relações predatórias entre o homem e o meio, impondo mudanças radicais à natureza”. Ainda segundo o autor, a crise ambiental observada nos tempos atuais se dá porque essas “... questões macro superam a capacidade local de controlá-las, nas condições atuais de mundialidade e de suas repercussões nacionais” (Ibid.). Para Viola (1987, documento online), a década de 70, em especial, marca o “despertar da consciência ecológica”, a partir de eventos como a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (Estocolmo, 1972), um dos primeiros eventos mundiais para conscientização sobre a importância da preservação do meio ambiente. Similar papel desempenhou o Relatório Meadows ou Os Limites do Crescimento como também é conhecido, publicado em 1972, “um dos primeiros estudos desenvolvidos sobre os impactos do crescimento da população global e do capital industrial”. A partir dos movimentos sociais ecologistas que surgiram na época, Viola avalia, também, que “pela primeira vez os problemas de degradação do meio ambiente provocados pelo crescimento econômico são percebidos como um problema global” (Ibid). Ainda segundo Viola (1987), o “Brasil é o país da América Latina em que os movimentos ecológicos nasceram mais cedo” e adquiriram força com passar do

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tempo. Para o autor, é possível diferenciar três fases da história do movimento ecológico no país, sendo a primeira fase a que:

... chamamos de ambientalista, desde 1974 até 1981, caracterizada pela existência de dois movimentos paralelos auto-identificados como apolíticos: os movimentos de denúncia da degradação ambiental nas cidades e nas comunidades alternativas rurais. Uma segunda fase que chamamos de transição, desde 1982 até 1985, caracterizada pela confluência parcial e politização explícita progressiva dos dois movimentos acima assinalados, além de uma grande expansão quantitativa e qualitativa de ambos. Uma terceira fase, que chamamos de opção ecopolítica, começa em 1986, quando a grande maioria do movimento ecológico auto-identifica-se como político e decide participar ativamente na arena parlamentar (VIOLA 1987).

Em 1974 5 , Brasil e Paraguai assinavam um acordo para a construção da Hidrelétrica de Itaipu. Posteriormente, em 1982, para viabilizar o funcionamento da usina, acontecia a formação do Lago de Itaipu, em meio a protestos que chegaram a reunir cerca de três mil pessoas contra o fim do Parque Nacional de Sete Quedas, conjunto que acabou sendo submerso pelo reservatório construído na época. Entrando em operação somente em 1984, a hidrelétrica era responsável,na época, por 35% da energia consumida pelo Paraguai e por 3% do necessário ao Brasil. Hoje, produz aproximadamente, 17% da energia consumida no Brasil e 75% do Paraguai. Para Alonso et al (2007 p. 152), o episódio de Itaipu mostra “a conexão do movimento

ambientalista

em

suas

origens

com

o

movimento

pela

Redemocratização”. Os autores ressaltam ainda que a “vasta literatura sobre movimentos sociais” que se originou no país durante os “protestos da Redemocratização”, inspirada no marxismo, “privilegiou os movimentos populares e deu pouca atenção ao ativismo ambientalista, mais restrito à classe média” (Ibid.). Alonso e Costa (2002) identificam a década de 1980 como um período em que se pode ressaltar um

5

As informações foram retiradas do Acervo do Estado de São Paulo. Disponível em:<http://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,itaipu-completa-40-anos,10095,0.htm>Acessado em: 18 de setembro de 2015.

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interesse sistemático pelas ciências sociais sobre questões de degradação do meio ambiente no Brasil, a partir de literaturas que vão ganhando forma pela adesão de especialistas de diversas áreas das ciências naturais (p.117).

Para

os

autores,

“Itaipu

era

uma

das

obras

magnas

do

plano

desenvolvimentista levado a cabo pelos governos militares. Ao contestá-la, os ativistas ambientalistas contestavam, em decorrência, o próprio regime autoritário” (Ibid. p.162). Moraes (1999) aponta quatro fases específicas que marcam o caminhar do desenvolvimento da política ambiental brasileira.

Para o autor, a etapa pioneira

acontece na década de 1970, quando a Secretaria Especial de Meio Ambiente da Presidência da República e outros órgãos estaduais voltados para o tema são criados. Neste período, em especial, “o foco principal da política ambiental se dá como ação de combate à poluição” e com uma “visão tecnicista sobre as propostas elaboradas” (p.48). A segunda fase inicia-se em 1981, a partir da promulgação da lei da Política Nacional de Meio Ambiente, que criou o Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama) e o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). Ainda segundo Moraes (op. cit., p.48), “os ecos da democratização começam a se fazer sentir na estrutura setorial” e, ainda nesta fase, “são criadas inúmeras unidades de conservação, e uma visão biologista predomina no setor”, o que mostra, para o autor, o início de uma maior visibilidade nos debates sobre o meio ambiente no Brasil por “organismos internacionais”. Uma terceira fase é identificada pelo autor, a partir do programa Nossa Natureza, de 1988, que cria Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a partir da “fusão de órgãos” como o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) e a Superintendência de Desenvolvimento da Pesca. Para Moraes (1999), também marca este período a criação do Ministério do Meio Ambiente (MMA), em novembro de 1992, ano em que o Brasil sediou a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Rio-92 ou Eco-92.

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Moraes (Ibid.) identifica a quarta e última fase apontando um resgate da “discussão econômica e institucional da questão ambiental”, além de ressaltar uma preocupação com mecanismos participativos na nova Constituição:

A Índole claramente descentralizante da Constituição Federal de 1988 anima em muito tal preocupação, que entre outros componentes introduz o estilo de planejamento participativo, o qual encontrará muitas dificuldades para se realizar num país marcado por uma tradição de cultura política autoritária e centralizadora. Também a alta disparidade regional e local jogará contra tal intuito (MORAES, 1999, p. 48).

Os anos 90 foram importantes para questões ambientais. Em especial, já mencionada, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, marca o “reconhecimento da questão do desenvolvimento sustentável em todo o mundo”. A Rio-926 foi responsável pela Agenda 21, documento que previa uma série de metas globais para a o meio ambiente. As primeiras discussões mundiais do assunto começaram em 1972, na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo, Suécia. A Agenda 21 proporcionou um programa voltado a um “modelo de crescimento econômico sustentável”, incluindo ações como a prevenção da poluição e o combate ao desmatamento.

6

As informações sobre a Eco-92, foram extraídas da página oficial das Nações Unidas. Disponível em: <http://nacoesunidas.org/acao/meio-ambiente/> Acesso em: 9 de setembro de 2015.

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3.1

PRIMEIRAS

ORGANIZAÇÕES

DO

MOVIMENTO

AMBIENTALISTA

BRASILEIRO Organizações7 não governamentais surgiram em defesa do meio ambiente, junto com o desenvolvimento do cenário ambientalista brasileiro. A Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, conhecida como AGAPAN 8, fundada em abril de 1971, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, é uma delas. Entre as principais causas defendidas pela ONG, presidida atualmente por Alfredo Gui Ferreira, estão à luta contra o uso de agrotóxicos, a proteção da Mata Atlântica no estado e as iniciativas contra construções residenciais na Orla do Rio Guaíba. No mesmo ano, em 1971, começava a história da respeitada Rede WWF 9 (antes chamada de Fundo Mundial para a Natureza) no país, apoiando estudos sobre um primata ameaçado de extinção do Rio de Janeiro. A rede tem a missão de proteger a diversidade biológica, a sustentabilidade no uso dos recursos naturais renováveis e a redução da poluição e do desperdício. Já na década de 1980 surge a Fundação SOS Mata Atlântica10, primeira ONG destinada exclusivamente à defesa da Mata Atlântica no país. O foco principal é na capacitação de pessoas para a conservação, a partir de conhecimentos sobre o bioma. Uma das primeiras campanhas de destaque da organização foi a “Estão Tirando o Verde da Nossa Terra”, lançada em 1987, que apontava os perigos da destruição da Mata Atlântica. Em 1990, temos a chegada da Conservação Internacional (CI-Brasil) 11 , organização norte-americana que tem como foco garantir um planeta saudável e produtivo para todos. O trabalho da ONG se dá em três principais eixos: proteção do

7

Todas as informações sobre as organizações citadas neste capítulo foram retiradas (como estavam descritas) dos sites oficiais, principalmente, das páginas de história, visão, missão e valores. 8 Informações extraídas do site da organização. Disponível em: <http://agapan.blogspot.com.br/p/colabore.html> Acesso em: 11 de outubro de 2015. 9 Informações extraídas do site da organização. Disponível em: <http://www.wwf.org.br/wwf_brasil/wwf_mundo/>Acesso em: 11 de outubro de 2015 10 Informações extraídas do site da organização. Disponível em:< https://www.sosma.org.br/quemsomos/historia/ > Acesso em 11 de outubro de 2015. 11 Informações extraídas do site da organização. Disponível em: <http://www.conservation.org/global/brasil/quem-somos/Pages/onde-trabalhamos.aspx> Acesso em: 11 de outubro de 2015.

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capital natural, prática de produção sustentável e governança efetiva. A CI-Brasil trabalha, atualmente, focada em 10 territórios de prioridade, sendo seis deles, na Amazônia como, por exemplo, Tapajós, Costa Equatorial, Escudo das Guianas etc. Os outros quatro territórios prioritários se encontram em diferentes regiões do País como a Bacia do Paraguaçu, localizada na região centro-leste do Estado da Bahia. A década de 1990 marca também o início das atividades de uma das ONGs ambientalistas mais conhecidas do País. O Greenpeace12, que chegou ao Brasil no mesmo ano da ECO-92, tem como missão proteger a floresta amazônica, estimular o investimento em energia renovável, defender oceanos, trabalhar pela paz e incentivar a agricultura sustentável. A atuação da organização é marcada por campanhas que buscam conscientizar a sociedade a respeito de problemas ambientais, muitas vezes envolvendo manifestações e protestos. Posteriormente, em 1996, enfim é criado o WWF-Brasil, organização brasileira pertencente à Rede WWF, que procura encontrar soluções, por meio de projetos e ações, para problemas de conservação da natureza. Com mais de 15 anos de atuação, a ONG hoje possui uma sede em Brasília (DF) e outros escritórios em Rio Branco (AC), São Paulo (SP), Manaus (AM) e Campo Grande (MS). Essas são algumas organizações pioneiras no ativismo ambiental no Brasil. Outras organizações também marcam ou marcaram presença no país: 350.org (2013), que trabalha pelos desinvestimentos nos combustíveis fósseis e no combate às mudanças climáticas; Amigos da Terra Brasil – Amazônia Brasileira (1989), que trabalha baseada na “valorização do capital natural”; Instituto Akatu (2000), que trabalha exclusivamente com conscientização da sociedade sobre o “consumo consciente”; Recicloteca (1991), que atua como um “Centro de Informações” sobre Reciclagem e Meio Ambiente, desenvolvido pela ONG Ecomarapendi; entre outras organizações.

12

Informações extraídas do site da organização. Disponível em: <http://www.greenpeace.org/brasil/pt/quemsomos/Missao-e-Valores-/> Acesso em: 11 de outubro de 2015

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4. A 350.org A organização selecionada como principal estudo de caso neste trabalho foi a norte-americana 350.org, que também atua no Brasil. Trata-se de uma ONG surgida já no contexto de ciberativismo e que, talvez por isso, tenha se tornado um dos principais exemplos bem-sucedidos de mobilização on-line para causas ambientais.

4.1 A ORGANIZAÇÃO

Totalmente voltado para as redes. Essa é a principal característica do trabalho desenvolvido pela 350.org 13 , movimento global que busca encontrar soluções para a crise climática no mundo, conectando e unindo pessoas. A organização, fundada em 2008, é resultado da ideia de um grupo de universitários dos Estados Unidos e do escritor Bill McKibben, responsável por uma das primeiras obras sobre o aquecimento global, intitulada The End of Nature (O Fim da Natureza), voltada para o público em geral. Importante mencionar que 350 não é um número qualquer. O nome da organização surgiu com base na ideia de que um dos passos para combater a crise climática é reduzir a concentração de dióxido de carborno (CO2) na atmosfera dos atuais 400 partes por milhão (ppm)14 para menos de 350ppm. A organização, presente em 188 países, conta com uma equipe remunerada que se divide em 15 lugares e dá suporte a vários parceiros e ativistas ao redor do mundo. O trabalho da ONG, que consiste em campanhas de mobilização em torno de diversas causas ambientais, se desenvolve basicamente com estratégias e ferramentas on-line e tem como um dos seus princípios dar autonomia para que o maior número de pessoas possam se organizar e desenvolver uma série de atividades ligadas ao desenvolvimento sustentável.

13As

informações sobre a organização 350.org têm como fonte o site da instituição. Disponível em <350.org> Acesso em setembro de 2015. 14 PPM significa parte por milhão, é a maneira de medir o nível de dióxido de carbono na atmosfera.

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A 350.org chega ao Brasil em 2013 e tem sede em Curitiba, um dos pontos principais de suas campanhas, além de representar, hoje, o escritório da organização para toda a América Latina.

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4.2 PRINCIPAIS CAMPANHAS NO MUNDO

No ano de 2014, a 350.org se destacou no desenvolvimento e na participação em campanhas, além de ações sobre as mudanças climáticas no mundo, segundo o Relatório Anual15 da organização. No mês de setembro, com o objetivo de chamar a atenção e fazer pressão sobre os líderes mundiais para que enfrentem a crise climática com mudanças significativas, a 350.org participou, juntamente com 162 países, da Marcha e Mobilização Climática dos Povos (People’s Climate March). Foram 400.000 pessoas reunidas em Nova York e milhares de outras que se juntaram em outros países para a causa, inclusive no Brasil, no Rio de Janeiro e em outros lugares. Além disso, o movimento contou com a participação de, aproximadamente, 120 chefes de estado e diversas celebridades, dando ênfase à visibilidade da causa.

A 350.org trabalha ainda com causas específicas. Uma delas é abordada na campanha Diga Não ao Acordo Transpacífico (Stop the TPP), um acordo de livre comércio entre 12 países, que pode, segundo a organização, degradar o meio ambiente, ameaçar os direitos humanos e dos trabalhadores e pode, inclusive, não respeitar leis destinadas ao meio ambiente que interfiram nas negociações e lucros do acordo.

Parte do documento segue em sigilo e, por isso, a principal ação da campanha pede aos cidadãos que assinem a petição contra o acordo, disponibilizada, principalmente, na página da organização. A petição, direcionada aos governos da Austrália, Nova Zelândia, Cingapura, Canadá, Japão, Malásia, México, Peru, Estados Unidos, Vietnã e Brunei, pede que tornem públicos os textos do acordo e que os governos se oponham àquilo que a organização denomina “abusos do poder corporativo”.

No site da ONG, é possível encontrar notícias e informações sobre as ações ligadas à campanha, atualizadas constantemente. Além da petição, a organização 15

O Relatório Anual da organização aborda as principais ações desenvolvidas. Disponível em: <http://350.org/2014-report/> Acesso em: 28 de agosto de 2015.

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disponibiliza e estimula o compartilhamento de um infográfico, em português, com alertas sobre potenciais consequências negativas do acordo (Figura 1). Na página da campanha, a organização oferece links de compartilhamentos do infográfico e, ao assinar a petição, é possível receber e-mails e atualizações sobre o assunto. Figura 1 - Infográfico Acordo Transpacífico

Fonte: Web site Stop the TPP.

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Uma das principais ideias do movimento é que uma das iniciativas para enfrentar a crise climática no mundo é confrontar a indústria de combustíveis fósseis. Segundo a organização, “se é errado destruir o meio ambiente e provocar mudanças climáticas, também é errado lucrar com essa destruição”. Por esse motivo, criou a campanha Livre dos Combustíveis Fósseis (Fossil Free), organizando pessoas no mundo todo para pedirem por mudanças. Apesar de ser uma rede internacional que trabalha suas campanhas em cada localidade de maneira independente, a Fossil Free segue algumas linhas de iniciativas e ideias como, por exemplo, parar imediatamente qualquer novo investimento em combustíveis fósseis, tirando a força que essa indústria tem, segundo a organização, na economia e nos governos. “Desinvestir” é a palavra mais usada pela 350.org em suas campanhas sobre o assunto, e significa, principalmente, que grandes empresas, instituições públicas, privadas e do Terceiro Setor se livrem de ações, títulos ou fundos de investimentos nos combustíveis fósseis. Para esta campanha, a organização disponibilizou, inclusive, em seu site, um abaixo-assinado que será encaminhado para o Papa Francisco, pedindo que o Banco do Vaticano retire seus investimentos nas indústrias de combustíveis fósseis. Além disso, o documento pede apoio de maneira pública à campanha, baseado na visibilidade e força da igreja católica e, principalmente, do Papa, que já apresentou preocupações com o meio ambiente em seus recentes discursos16. Além do site oficial da 350.org, um website para a campanha Fossil Free foi criado especialmente para tratar do assunto. Logo na página inicial, encontra-se em um mapa (Figura 2) com links para páginas que mostram as atividades da campanha em diversos países, como Canadá, Estados Unidos, países europeus, Japão, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul.

Notícia: “Papa aprofunda discussão sobre o Clima, em encontro no Vaticano”. Disponível em < http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/blog-do-clima/2015/04/29/para-francisco-aprofundadiscussao-sobre-clima-em-encontro-no-vaticano/> Acesso em 11 de outubro de 2015. 16

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Figura 2–Página inicial do website Fossil Free

Fonte: Website Fossil Free17

Em cada página, disponibilizam-se informações de movimentos, reuniões, estratégias de comunicação e mobilização da campanha, notícias sobre a indústria e situação dos combustíveis fósseis na região, além de página de perguntas frequentes, links para seguir os perfis no Facebook e no Twitter, lista de e-mail para receber atualizações, ou ainda campos destinados a doações para o movimento, entre outros conteúdos. A página da Fossil Free Canadá18, por exemplo, fala inicialmente sobre o que é a campanha local e as principais ações que estão sendo desenvolvidas, como as diversas manifestações em vários locais do país voltadas para promover o desinvestimento em combustíveis fósseis por parte de universidades, empresas e governos. Uma das lutas atuais da organização, também, é contra o oleoduto Keystone XL que, segundo a organização, seria uma grande “bomba de carbono” para o mundo. A luta pelo fim do oleoduto tem reunido diversas pessoas para a causa. Um dos principais focos da campanha era chamar a atenção do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que declarou se preocupar com as mudanças climáticas, para que rejeitasse o projeto. Agora, a organização comemora essa decisão. Em

17 18

Portal Fossil Free. Disponível em: <http://gofossilfree.org/> Acesso em: 04 de setembro de 2015 Disponível em http://www.gofossilfree.ca/ Acesso em 4 de setembro de 2015

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uma carta aberta19, disponível no site, o diretor executivo da 350.org, May Boeve, celebra e define esse momento como histórico:

Esta é uma grande vitória. A decisão do presidente Obama de rejeitar Keystone XL por causa de seu impacto no clima é nada menos que histórico - e estabelece um precedente importante que deve enviar ondas de choque através da indústria do combustível fóssil. (BOEVE, 2015)

Entre as estratégias propostas pela instituição para essa campanha, estão a assinatura de petições sobre a causa; o compartilhamento de conteúdo, como imagens, cards, reportagens sobre o assunto; divulgação de protestos e outras ações organizadas com objetivo de parar o oleoduto. Especialmente na segunda semana de novembro de 2015, algumas chamadas para a causa se intensificaram, após a decisão de Obama. Na página inicial do site da organização surgiu uma imagem principal para a campanha intitulada “PRESIDENT OBAMA REJECTS KEYSTONE XL!” (Figura 3). Ao clicar no link, inicialmente, encontra-se um vídeo explicativo sobre o assunto, que faz um apanhado das principais ideias e do momento atual do tema; como também os próximos passos para a campanha que, apesar da decisão do presidente dos EUA, continua.

19

Texto do diretor executivo da organização. Disponível em: <http://350.org/kxl-victory/> Acesso em novembro de 2015.

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Figura 3–Página inicial do site 350.org

Fonte: Site oficial da 350.org20

Um dos grandes focos de 2015 para a organização tem sido a campanha Caminho por Paris, voltada totalmente à Conferência do Clima das Nações Unidas, que acontece em dezembro de 2015 na capital da França. Os organizadores da COP 21, como é conhecido o evento, aguardam, segundo o site da Conferência21, um público de 50 mil pessoas, sendo 25 mil delegados oficiais de governos, ONGs, agências e sociedade civil. De olho neste grande encontro de líderes mundiais, a 350.org organiza uma ampla campanha com foco em uma de suas principais causas: o desinvestimento nos combustíveis fósseis. Para isso, a ONG criou um plano baseado em três principais ações. A primeira é a Marcha Climática Global, que acontece nas vésperas da Conferência e leva às ruas milhares de pessoas pela causa. Para essa ação, o site da 350.org permite que voluntários se unam a grupos já existentes ou formem seus próprios grupos, disponibilizando pôsteres, logos e guias sobre como organizar um grupo local. 20

Página disponível em <350.org>Acesso em 10 de novembro de 2015. Informações extraídas do site da Cop-21. Disponível em: <http://www.cop21.gouv.fr/en/learn/whatis-cop21/> Acesso em: 28 de outubro de 2011. 21

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A segunda ação é uma mobilização em massa que acontecerá em Paris, no dia 12 de Dezembro, em pontos específicos centrais. No site, existem instruções sobre o que vestir e como se preparar para esse dia. Segundo a organização, o foco dessa ação é mostrar que não são somente os políticos os portadores das decisões sobre as mudanças climáticas, mas, principalmente, a sociedade. A terceira ação sobre o assunto está prevista, segundo a ONG, para 2016, com uma “intensificação da campanha”, para que não se perca o foco e a mobilização continue, independentemente dos resultados da COP-21, em 2015. Outras campanhas e ações também já foram coordenadas pela organização, como o Dia Internacional de Ação Climática (International Day of Climate Action), em 2009, a Festa Global de Trabalho (Global WorkParty), em 2010, o Movendo o Planeta (Moving Planet), em 2011, e o Dia de Impactos Climáticos (Climate Impacts Day), em 2012.

A 350.org se intitula mais como um movimento e, por isso, baseia-se, principalmente, em dar autonomia para que o maior número de pessoas lutem contra as mudanças climáticas de maneira independente. Prova disso é o “350.Campaigns Beta”, uma plataforma exclusiva para criação de campanhas. A plataforma, acessada on-line, disponibiliza ferramentas que permitem criar petições, abaixo-assinados, mensagens, listas de ativistas locais, participar de uma rede global de ativistas etc., além de dar dicas de como fazer isso da melhor maneira. Na página para criar novas petições, por exemplo, ao clicar no título, observamos a seguinte mensagem: “Qual é o objetivo de sua petição? Lembrem-se, as pessoas não podem assinar algo que não entendem. Portanto, prepare um texto curto, simples e interessante. Se sua petição for local, pode ser uma boa ideia incluir o nome da sua cidade. Por exemplo: Não à nova mina de carvão em Newton!” A plataforma oferece algumas categorias disponíveis, como impactos climáticos, energias sujas, desinvestimento, renováveis e transporte. Para criar uma nova petição, basta se cadastrar ou entrar com o perfil do Facebook em uma conta

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da 350.org e passar pelos critérios de produção da campanha, revisão e lançamento, sendo possível escolher os públicos e locais de sua petição. Figura 4 - Plataforma Campaings Beta

Fonte: Página oficial da 350.org

Apontando novamente para utilização de ferramentas tecnológicas, a frase inicial do website da 350.CampaignsBeta é: “Vamos construir um movimento climático invencível com ferramentas digitais de última geração”. Outras ferramentas também podem ser encontradas no site da 350.org. No Portal, é possível se cadastrar para receber atualizações e se associar a um grupo local, ou ainda criar seu próprio grupo para desenvolver movimentos locais. São 35


oferecidos vários recursos de apoio para iniciar uma mobilização. São folhas de cadastro, folders, guias, logos, fontes, ícones, como também links disponíveis para criação de cartazes e artes para o movimento.

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4.3 350.ORG NA REDE

As redes sociais do movimento contam com páginas disponíveis no mundo todo, constantemente atualizadas. A página do Facebook da 350.org, com mais de 400 mil curtidas, aposta principalmente em imagens, logos e pequenos textos. As pautas variam entre campanhas da organização e outros assuntos relacionados a meio ambiente, sustentabilidade e mudanças climáticas. A página do Facebook da ONG no Brasil tem mais de 6 mil curtidas e segue a mesma linha de publicações; no entanto, mais voltadas para as campanhas nacionais. O movimento também está presente no Twitter, com mais de 260 mil seguidores na página principal, chamada “350 dotorg”. As postagens variam entre pautas sobre sustentabilidade, mas com foco principal nas atuais campanhas da organização, utilizando também retweets de outras páginas sobre assuntos que englobam a temática da 350.org. Na página do Twitter da organização no Brasil, com um número menor de seguidores, aproximadamente 1.200,

as postagens

também seguem a linha da página global; no entanto, com foco nas campanhas desenvolvidas em nível nacional. Os vídeos são produzidos e compartilhados na internet, embora em menor proporção, em relação a fotografias, memes, cards e outros conteúdos. São elaborados com o objetivo de explicar campanhas e temáticas abordadas pela instituição. No canal do Youtube, são aproximadamente 6.200 inscritos e cerca de 2.120.200 visualizações. No canal brasileiro, são cerca de 350 visualizações22. Um dos vídeos mais acessados da organização é o 350.org: Because the world need stok now 23 (Porque o mundo precisa saber), animação que, em 90 segundos, resume o trabalho e as principais ideias do movimento. Visto por quase meio milhão de pessoas, é compartilhado em todas as páginas ligadas à ONG.

22Números

obtidos em 1 de setembro de 2015. Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=s5kg1oOq9tY> Acesso em outubro de 2015. 23

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A 350.org também está presente no Instagram, com mais de 4.900 seguidores. As postagens seguem o padrão de imagens em boa qualidade e, por vezes, contêm cartazes de campanhas da organização. Outro serviço de fotos e imagens utilizado é a rede social Flickr, que permite arquivar imagens e disponibilizar acesso ao público. No caso da 350.org, são mais de 60 mil imagens publicadas, entre elas, fotos de eventos, manifestações, conferências, reuniões, imagens de campanhas e chamadas, entre outras. O número de seguidores da página é de, aproximadamente, 1000 pessoas. Outro destaque da organização é a página na rede social Google Plus, também conhecida pela abreviatura G+. A ONG, que tem mais de 3.800 seguidores e conta com mais de 96 mil visualizações nesta plataforma, está associada à conta do Canal do Youtube, o que faz com que os vídeos postados possam ser também acessados no Google Plus, que também disponibiliza postagens de imagens, links e outros conteúdos do movimento. Ao explorar recursos oferecidos pela rede social G+, a página utiliza o recurso Hangout, que permite conversas ao vivo por vídeos. Um exemplo disso foi a postagem intitulada “10 minutos com Bill Mckibben ao vivo no Hangout” 24 (Figura 5). O post disponibilizou uma conversa com o principal fundador da organização durante 10 minutos.

24

Postagem do Google Plus disponível em: <https://plus.google.com/u/0/+350org/posts/2HU2iphyobm> Acesso em novembro de 2015

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Figura 5 – Hangout com Bill MCkibben

Fonte: Postagem disponível na página do Google Plus 350.org 25

O site da organização tem uma página específica para cada campanha e disponibiliza artigos, vídeos, fotos e notícias atualizadas, sendo também possível se cadastrar para receber newsletters e participar ou criar grupos locais para desenvolvimento de estratégias de conscientização e mobilização de pessoas. Um dos destaques da organização em relação a outras instituições ambientalistas pelo mundo se dá pelo motivo de que a 350.org não centraliza seus conteúdos em somente uma página para cada rede social. Por meio de buscas simples, encontram-se várias outras páginas ligadas à ONG, uma vez que a 350 se intitula mais como um movimento do que uma organização, e tem como um dos objetivos centrais promover independência para que as pessoas se organizem e criem grupos em torno de um mesmo propósito: o bem-estar do planeta Terra. Desta maneira, em uma pequena busca pela rede social Facebook (Figura 6), por exemplo, é possível encontrar dezenas de grupos de acesso restrito ou abertos, páginas e membros da organização.

25

Postagem disponível em <https://plus.google.com/u/0/+350org/posts> Acesso em novembro de 2015.

39


Figura 6– Busca por 350.org no Facebook

Fonte: Facebook

Segundo a coordenadora de comunicação, responsável pelas publicações nos perfis brasileiros da ONG, Silvia Calciolari26, as diversas páginas existem porque uma das estratégias de comunicação da organização é “pulverizar”, ou seja, em vez de concentrar todo o conteúdo em uma só página, a organização mantém inúmeras páginas disponíveis, pois acreditam que, desta maneira, exista uma melhor distribuição dos conteúdos e mais pessoas, de lugares diferentes, são atingidas.

26

Entrevista realizada via Skype com a coordenadora de comunicação da 350.org, Silvia Calciolari.

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5. O CASO DA CAMPANHA NÃO FRACKING BRASIL

O movimento 350.org no País concentra suas forças na atual campanha Não Fracking Brasil 27 , que expõe, denuncia e alerta sobre os riscos da técnica do fraturamento hidráulico (Fracking, no termo em inglês), que consiste em injetar no solo (Figura 7) compostos de substâncias químicas para extração de gases geradores de energia, em especial, o gás xisto. Para a ONG, a prática, além de altamente prejudicial ao meio ambiente por contaminar a atmosfera e o solo, é também um intensificador das mudanças climáticas, em virtude das emissões de gases de efeito estufa.

Figura 7– Técnica de Fraturamento Hidráulico ou Fracking

Fonte: Website Não Fracking Brasil28 27

Informações da campanha Não Fracking Brasil extraídas do site da organização <http://www.naofrackingbrasil.com.br>e por meio entrevistas via internet com coordenadores da campanha. 28 Disponível em:<http://www.naofrackingbrasil.com.br/o-que-e-fracking/> Acesso em 30 de outubro.

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Em 2013, surge a Coalizão Não Fracking Brasil (Coesus), que, desde então, realiza ações contra a prática no País. Em março de 2014, a 350.org une forças com a Coesus

e passa a liderar ações de campanha com a finalidade de impedir a adoção da técnica de fracking no território brasileiro. A campanha, inicialmente, foi direcionada para o Paraná, que entre todos os estados brasileiros, seria o mais ameaçado pela técnica. Segundo o movimento, das 378 cidades que, possivelmente, podem ser atingidas, 123 delas estão no território paranaense. Segundo o Instituto Águas do Paraná29, o estado é um dos principais pontos por onde passa o Aquífero Guarani, reservatório subterrâneo de água doce que conta com uma área de 1.194.800 km² e também se estende pelos estados de Mato Grosso,

Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, além de regiões da Argentina, do Paraguai e do Uruguai (Figura 8). Figura 8– Mapa do Aquifero Guarani

Fonte: Instituto Águas do Paraná

29

Informações e gráfico extraído do site do Instituto Águas do Paraná. Disponível em <http://www.aguasparana.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=57> Acesso em 30 de outubro de 2015.

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Por esse motivo, um dos objetivos da campanha é conscientizar a população de que a prática do fraturamento hidráulico, principalmente nessa região, pode causar sérios impactos ao meio ambiente e, consequentemente, para as pessoas. Pensando nisso, ações como mobilização para audiências públicas, passeatas e reuniões foram realizadas. Em 2013, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) realizou um leilão de blocos para exploração de gás por empresas petrolíferas. Recentemente, em outubro de 2015, aconteceu outra rodada de leilões. Além do Paraná, outras regiões brasileiras também podem receber projetos que envolvam a prática do fracking e, por isso, uma série de ações foram promovidas pela 350.org em parceria com a Coesus, para mobilizar comunidades locais de outras regiões brasileiras. Uma delas aconteceu em outubro de 2015, como parte da campanha, quando as organizações promoveram reuniões com lideranças de pescadores de territórios tradicionais no Espírito Santo, para alertar a população local sobre os riscos da técnica para a região. Paralelamente a ações presenciais (ou off-line), como reuniões, seminários, workshops e encontros regionais, outras iniciativas de mobilização aconteceram principalmente no meio on-line. Para isso, os profissionais de comunicação da 350.org desempenharam um papel estratégico no desenvolvimento de conteúdo.

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5.1 A PRODUÇÃO DE CONTEÚDO

Para a jornalista e coordenadora de comunicação da 350.org Brasil, Silvia Calciolari30, antes de a organização somar forças à Coalizão Não Fracking Brasil (Coesus), existiam artigos e páginas disponíveis na internet alertando para os riscos do fraturamento hidráulico, porém, “com a entrada da 350.org, as ações ganham uma outra dinâmica, porque a organização tem a característica de militância virtual”. A simples atuação nas redes não era o único foco da ONG. Pensando nisso, Silvia Calciolari foi contratada pelo movimento como jornalista para atuar, principalmente, na campanha Não Fracking Brasil. A contração de Silvia, segundo ela, se deu pela preocupação com a produção de informação de qualidade, técnicas de apuração e especificidade profissional do perfil jornalístico.

O profissional que trabalha conosco hoje precisa saber da tecnologia, saber as diferenças de discursos e entender de assessoria de imprensa. Mas, além de tudo, precisa escrever bem, ler muito, estudar e ser curioso.

A partir da entrada da profissional, a campanha ganha novos rumos estratégicos. Segundo a coordenadora, uma das linhas temáticas da organização é o uso de energias limpas e renováveis, pois “o Brasil está indo na contramão de uma tendência mundial e temos que promover uma economia de baixo carbono, pois o planeta está dando sinais de que não vai suportar”, explica. Além de recursos renováveis, outra pauta abordada na produção de conteúdo é a das mudanças climáticas. Para Silvia, fazer correlações entre assuntos atuais funciona como uma estratégia na tentativa de abordar os temas que, por vezes, são pouco conhecidos ou, ainda, vistos como complexos pelo público em geral e pelas

30

Entrevista concedida a Daniely Lima no dia 30 de outubro de 2015, via Skype, pela jornalista e coordenadora de comunicação da 350.org Brasil, principal responsável pela produção de conteúdo para a campanha Não Fracking Brasil, Silvia Calciolari.

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redações. “Tento pegar o factual para que as pessoas consigam fazer essas relações”, explica. Para Silvia, que é uma das únicas produtoras de conteúdo, atualmente, para a campanha Não Fracking Brasil, existem dificuldades e resistências para conseguir “emplacar” pautas ambientais na grande imprensa. De acordo com ela, “não existe uma cultura dentro das redações atuais para construir algo para o leitor se informar sobre o assunto”. A coordenadora conta que, ao entrar na organização, onde também é assessora de imprensa, a principal missão era “fazer com que os jornalistas se interessem por essa pauta, pois o Fracking, por exemplo, é uma palavra completamente desconhecida do leitor e do jornalista”, conta. Entre os conteúdos compartilhados estão matérias de autoria da jornalista e de outros membros da equipe, em alguns casos, conteúdos de outros sites também relacionados ao assunto. Segundo Silvia, alguns estudos são utilizados. “Uso estudos recentes, coloco aspas e produzo os conteúdos”, explica a coordenadora, que, a partir dos textos prontos, publica, inicialmente, no site da campanha e, logo em seguida, compartilha nas redes sociais e outras mídias. A publicação “Novos estudos atestam: Fracking faz mal a saúde” (Figura 9) é um exemplo de conteúdo com o foco de informar e sensibilizar as pessoas em relação ao assunto.

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Figura 9– Novos estudos atestam: Fracking faz mal para saúde

Fonte: Website Não Fracking Brasil31

O website Não Fracking Brasil (Figura 10) é, atualmente, o principal canal de informações sobre a campanha. Nele, é possível encontrar notícias atualizadas, páginas de comentários, histórico da campanha, artigos e outras publicações, petições etc. Os conteúdos relacionados ao tema podem ser divididos entre as editorias saúde, agricultura, economia, mudanças climáticas, água, ambiental e infraestrutura.

31

Matéria disponível em <http://www.naofrackingbrasil.com.br/2015/10/26/novos-estudos-atestamfracking-faz-mal-a-saude/> Acesso em novembro de 2015.

46


Figura 10– Página inicial do website da campanha

Fonte: Não Fracking Brasil32

Nas redes sociais, vários recursos são utilizados na tentativa de otimizar o texto, facilitar o acesso e chamar a atenção dos internautas. Um deles é o uso das Hashtags, palavras utilizadas para categorizar assuntos. Exemplos delas são: #NãoFrackingBrasil

(Figura

11),

#FossilFree,

#Nofracking

e

#Nãofrackinglatinoamerica.

32

Disponível em: <http://www.naofrackingbrasil.com.br/> Acesso em novembro de 2015.

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Figura 11– #NãoFrackingBrasil

Fonte: Twitter 350 Brasil33

Além das Hashtags, outras ferramentas também são utilizadas. São slogans, cartazes (Figura 12), memes e outros recursos de imagens, áudios e vídeos sobre a temática do Fracking, que buscam tornar a página ou o perfil da rede social mais “dinâmico.” Outra preocupação da ONG na hora da produção de conteúdos é a linguagem do texto, que, segundo a jornalista Silvia Calciolari, apresenta pequenas diferenças entre uma rede social e outra, sendo mais longos ou curtos e apresentando variações segundo o assunto abordado.

33

Disponível em <https://twitter.com/350brasil/status/665113142029107200> Acesso em 13 de novembro de 2015.

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Figura 12– Cartaz da campanha Não Fracking Brasil

Fonte: Website Não Fracking Brasil

Entre as estratégias traçadas pela equipe de comunicação da 350.org Brasil para a campanha Não Fracking, está a definição de horários para principais publicações. Para a equipe, a preferência dos acessos às postagens se dá, geralmente, entre 8h, 12h e 18h, durante a semana. Nos finais de semana, a dinâmica é diferente. As postagens acontecem mais no período da manhã, a partir de 9h, e seguem linhas mais leves, com o frequente uso de imagens e outros conteúdos visuais. “As estratégias utilizadas nos finais de semana são memes, cards e matérias, exceto quando surgem assuntos factuais que precisam ser noticiados”, afirma Silvia. Ela explica também que o formato das postagens é pensado principalmente para a rede social Facebook, pois, segundo ela, é a mídia que, na maioria das vezes, leva o internauta a clicar nos links e acessar o site.

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5.2 AS FERRAMENTAS

Para a organização, lidar com tantos detalhes e páginas disponíveis não é uma tarefa fácil. Por esse motivo, uma série de ferramentas tecnológicas são utilizadas para facilitar o trabalho de produção e compartilhamento de informação da campanha. Uma das ferramentas mais utilizadas na administração das postagens nas redes sociais é o Hootsuite, plataforma que permite, a partir de um único canal, selecionar postagens e publicar (Figura 13) automaticamente em várias páginas ao mesmo tempo. “Faço um mesmo conteúdo para mais de 50 ambientes dentro do Facebook e do Twitter”, conta a jornalista. A coordenadora também produz conteúdos específicos para uma única rede social; porém, quando seleciona outras redes, deve se limitar a peculiaridades como os 140 caracteres permitidos pelo Twitter, por exemplo. “Uso essa ferramenta [Hootsuite], pois me permite agilidade e controle. Nela estão todos os relatórios, postagens, e consigo fazer programações para quando eu quiser”, explica. A plataforma Hootsuite34 é usada, geralmente, por empresas e entidades, e permite se conectar em pelo menos 35 redes sociais, a partir de um único painel, oferecendo também planos específicos com outras atribuições e melhorias de gestão de redes.

34

Informações extraídas do site Hootsuite. Disponível em: <https://hootsuite.com/pt/> Acesso em novembro de 2015.

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Figura 13– Postagem pela ferramenta Hootsuite

Fonte: Captura de tela feita por Silvia Calciolari no momento de uma postagem

Acompanhar os conteúdos publicados também é uma preocupação da organização. E para isso, a ferramenta Scoop.it 35 é utilizada para auxiliar no desenvolvimento do trabalho de clipagem de notícias. A plataforma, que é pensada, principalmente, para seleção de conteúdos, curadoria e compartilhamento, faz parte da rotina de trabalho da coordenadora de comunicação do movimento. Os clippings36 (Figura 14) feitos pela 350.org ficam disponíveis na internet.

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Informações e captura de tela da página foram - extraídas do site Scoop.it. Disponível em: <http://blog.scoop.it/> Acesso em: novembro de 2015. 36 Clipping Não Fracking Brasil. Disponível em <http://www.scoop.it/t/clipping-nao-fracking-brasil> Acesso em novembro de 2015.

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Figura 14– Clipping Não Fracking Brasil

Fonte: Clipping Não Fracking Brasil (Scoop.it)

Outra ferramenta é usada por Silvia para administração das inúmeras páginas disponíveis. O gerenciador de senhas Dashlane 37 , responsável por importar as senhas de vários perfis para um único local, proporcionando uma entrada única, segura e automática em quantas páginas o usuário desejar. Segundo a coordenadora, a ferramenta proporcionou mais “autonomia e facilidade no acesso”, uma vez que dispensa a necessidade de memorização de diferentes senhas para as diferentes plataformas utilizadas pela organização. 37

Informações extraídas do site Dashlane. Disponível em: <https://hootsuite.com/pt/> Acesso em novembro de 2015.

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Além do gerenciamento das páginas, o controle dos acessos é outra preocupação da organização, que, sempre conectada, utiliza algumas ferramentas para acompanhar o desempenho do trabalho desenvolvido na campanha Não Fracking Brasil, em especial. A plataforma de relatório Google Analytics

38

é usada pela equipe da

campanha. Nela, é possível acompanhar as visitas diárias da página, tipos de tráfego, locais de origem dos acessos, além de fornecer gráficos estatísticos e o desempenho dos compartilhamentos nas redes sociais. Similar ao Analytics, outra ferramenta utilizada é o plugin JetPack Wordpress39, um gerenciador de sites do Wordpress. Entre suas funcionalidades estão estatísticas, tráfego, serviços de segurança e outros. Segundo o coordenador da Coesus, Juliano Bueno de Araujo

40

,

aproximadamente 29 países acessam os conteúdos da campanha, e as publicações das páginas somam quase meio milhão de novas curtidas por mês. “Atualmente, temos uma média de 1,8 milhão de acessos”, afirma Juliano. Um diferencial no processo de análise e monitoramento das informações é a ferramenta CooperTics Analysis, um sistema próprio, desenvolvido pela Cooperativa de Tecnologias da Informação e da Comunicação que, segundo Juliano, é capaz de acompanhar as tendências das redes sociais, portais e outras páginas. “Saímos de um patamar de 5000 pessoas para alcances superiores a sete milhões”, conta o coordenador da campanha.

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Informações extraídas da página Google Analytics. Disponível em: <https://www.google.com/intl/ptBR/analytics/>Acesso em novembro de 2015. 39 Informações extraídas da página JetPackWordPress. Disponível em: <https://wordpress.org/plugins/jetpack/> Acesso em novembro de 2015. 40 Entrevista concedida a Daniely Lima, via Gmail, com um dos coordenadores da campanha Não Fracking Brasil, Juliano Bueno de Araujo.

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5.3 O CASO DE SUCESSO

No dia 7 de outubro de 2015, aconteceu a 13ª Rodada de Licitações de blocos para exploração de petróleo e gás natural. Na semana do leilão, a 350.org Brasil, em parceria com a Coesus e a Fundação Cooperlivre Arayara, organizou uma ação chamada Dia Mundial Contra o Fracking, que contou com a participação de várias cidades brasileiras e outros países que também promoveram ações neste dia, em solidariedade ao Brasil. As metas para mobilizar pessoas e chamar a atenção para a semana do Leilão da ANP, por meio da internet, foram pensadas e decididas com meses de antecedência. Segundo Silvia Calciolari, apesar de o factual da pauta ser o dia 7 outubro de 2015, data em que aconteceu o leilão e semana das maiores mobilizações para a causa, os conteúdos do tema começaram a ser trabalhados com, pelo menos, quatro meses de antecedência. Entre as definições feitas como estratégias de comunicação estavam a produção de séries de matérias sobre o assunto e a intensificação das postagens conforme se aproximava o início de outubro, quando aconteceriam os principais eventos foco da campanha do Não Fracking Brasil. As postagens de uma ou duas matérias por dia sobre o tema dobraram para um número de quatro ou cinco publicações diárias. Para Silvia, era importante conseguir chamar a atenção da mídia naquele momento e, por isso, tudo que estava ao alcance da equipe para a produção de conteúdo foi usado. “Se a gente não conseguir emplacar o assunto na mídia nesse momento, depois será pior, pois perderemos o factual. Então começamos a descarregar todo o conteúdo: memes, matérias, vídeos, virais etc.” afirma a jornalista. Nas principais páginas da campanha, era possível encontrar links para formar grupos, participar ou criar eventos para as mobilizações, como também cartazes e atualizações diárias sobre o assunto.

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A partir das mobilizações feitas pela internet e outras ações desenvolvidas como parte da campanha, no dia 4 de outubro, aconteceu o Dia Mundial Contra o Fracking, contando com a participação de pessoas de lugares como Toledo, no oeste do Paraná; Curitiba, capital do estado e outros municípios do Espírito Santo, além da participação internacional, em solidariedade à luta brasileira, como, por exemplo, um grupo que saiu às ruas de Manchester, no Reino Unido. No dia 7 de outubro, durante a abertura da Rodada de Licitações da ANP, realizada no Rio de Janeiro, a 350.org e seus parceiros, juntamente com líderes indígenas e outros “ativistas”, fizeram outro protesto contra a intenção do governo brasileiro. Na ocasião, os “ativistas” alertaram sobre os riscos da prática do Fracking para o Brasil. O resultado das ações promovidas pela organização de forma presencial e, principalmente, por meio das redes, que são o maior foco da ONG para promover as questões ambientais, foi considerado positivo. O protesto teve repercussão nacional e internacional (Figura 15). Diversos veículos como Folha, Estadão, G1, Gazeta do Povo, Valor Econômico e agências como a Reuters noticiaram a ocasião.

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Figura 15– Notícia sobre o protesto da campanha Não Fracking Brasil

Fonte: Website Não Fracking Brasil

Para a coordenadora de comunicação, a repercussão faz parte do conjunto de ações desenvolvidas, mas, de todas elas, a internet tem sido a mais eficaz. “A internet tem sido uma aliada fantástica e nós temos investido nisso. Todos nós da equipe ficamos conectados o tempo todo e temos conseguido despertar o assunto”, conta Silvia, que acredita que o ativismo está em fase de mudanças: Não é mais aquele confronto seco, pois isso não mobiliza e está comprovado que isso é uma estratégia superada. Por vezes, uma imagem, um cartaz ou uma performance falam muito mais e geram muito mais resultado do que uma ação radical.

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No entanto, em meio a tanta tecnologia e dinâmica, a organização também lida com pontos negativos. Com uma equipe pequena, segundo Silvia, às vezes faltam profissionais para editar todo o material de entrevistas coletadas, eventos, entre outros. Porém, os comunicadores se dedicam para produzir números ideais de conteúdos e manter as páginas constantemente atualizadas e, nesse sentido, os números continuam se mostrando positivos, para a organização. Recentemente, foi criada a página Não Fracking São Paulo e, no primeiro dia, foram contabilizadas mais de 200 curtidas. A página Não Fracking Amazonas, na semana em que foi criada, atingiu 140 curtidas e 78 mil pessoas. O resultado foi considerado pela organização “... um avanço, por se tratar de um tema tão pouco falado”, afirma Silva. As redes sociais e outros recursos oferecidos pela internet servem para o movimento 350.org como “ferramentas para auxiliar a equipe”. Segundo a jornalista, as redes contribuíram muito para o atual trabalho desenvolvido e são, inclusive, uma forma de “furar os bloqueios” que os jornais tradicionais apresentam com as pautas ambientais, pois “pecam muito pela falta de conhecimento da importância do assunto”.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos estudos feitos sobre o caso 350.org, é possível identificar novas tendências na comunicação não governamental ambientalista, como também observar o comportamento tecnológico da sociedade atual. Os ativistas agora compartilham novos espaços de atuação. Por esse motivo, novas estratégias aparecem com o objetivo de mobilizar pessoas. Nesse sentido, a 350.org apresenta um potencial de adaptação aos novos recursos tecnológicos e planejamento estratégico para o ciberespaço, algo que deve ser visto como positivo. No caso de sucesso descrito no item 5.3, observamos a partir dos resultados que, apesar do pouco interesse de veículos mais tradicionais por pautas ambientais, a difusão do assunto nos novos espaços cibernéticos funciona também como uma forma de chamar a atenção da imprensa. Mesmo que veículos de mídia sejam resistentes à causa ambientalista, dificilmente poderão deixar passar despercebidos grandes movimentações que começam e se desenvolvem na rede e, eventualmente, se transformam em manifestações presenciais. Com base nisso, observa-se que os recursos disponibilizados pela internet contribuem para que a sociedade tenha acesso ao conhecimento de forma mais simples e dinâmica. A informação, que outrora chegava de forma muito superficial, abordada pelas mídias tradicionais, agora conta com os recursos oferecidos pelas novas tecnologias da comunicação, como espaços específicos, aplicativos, recursos audiovisuais, além de o ciberespaço permitir também linguagens de textos mais claras e interessantes ao público. Dentro desse contexto, o acesso a dados sobre diversos temas – inclusive aqueles ligados ao meio ambiente – é facilitado e democratizado, uma vez que a rede permite que o fluxo de informações e compartilhamentos seja praticamente ilimitado. Trata-se, portanto, de ponto positivo para o trabalho das organizações ambientalistas, pois permite conquistar novos segmentos e ampliar o alcance de suas mensagens. No caso da campanha Não Fracking Brasil, as várias páginas e domínios presentes na rede destacam um diferencial da ONG em relação às outras 58


organizações do movimento ambientalista. Diferentemente da maior parte delas, a 350.org não costuma centralizar os conteúdos em uma única página em cada rede social. A estratégia adotada pela organização está em conformidade com o que Moraes (2007) chama de “teia gigantesca”, arranjo que “desfaz pontos fixos ou limites predeterminados para o tráfego de dados e imagens; não há centro nem periferia, e sim entrelaçamentos de percursos”. Pontuamos que um dos principais fatores positivos da 350.org é a ampla visão sobre as mudanças e tendências do ativismo ambiental. Não só o uso das ferramentas tecnológicas para produção, controle e monitoramento da informação é colocado em evidência pela organização, mas também a preocupação com a qualificação dos profissionais da equipe de comunicação e as novas estratégias de mobilização de caráter criativo e filosófico para as campanhas. Observa-se, desta maneira, uma nova tendência das manifestações, que mesmo não excluindo o componente das ruas, mobiliza principalmente por meio do ambiente virtual. Apesar dos resultados positivos da campanha brasileira, identificamos que a carga da produção pode sofrer limitações a partir do momento em que a equipe conta com poucos profissionais de comunicação trabalhando no desenvolvimento de conteúdos. Isso dificulta uma maior diversidade como montagens, animações e outras ideias que, por este motivo, não são colocadas em prática. É possível observar que as campanhas ambientalistas, especialmente no Brasil, têm uma força menor em relação a países da Europa e América do Norte. No entanto,

verifica-se

que,

com

o

auxilio

de

ferramentas

tecnológicas

de

monitoramento que traçam tendências dos acessos na web, novas estratégias são criadas e, por esse motivo as campanhas brasileiras estão ganhando força e novos acessos como mostram os números obtidos pela campanha Não Fracking Brasil (descritos no último parágrafo do item 5.2). A questão da crise climática, cada vez mais clara, grave e objeto de consenso científico, torna fundamental o uso das novas tecnologias aliadas a estratégias de comunicação para mobilizar cidadãos que entendam a necessidade da abordagem dessa pauta e levem adiante a mensagem de conscientização sobre o assunto. Afinal, participamos de um momento da história em que os indivíduos, cada vez 59


mais, compreendem que por meio dos recursos oferecidos pelas redes sociais e outras mídias, suas vozes são ouvidas no processo da comunicação Extremamente atual, o poder da internet e seus recursos tecnológicos são evidenciados dia a dia pela sociedade cada vez mais conectada. Nesse processo, estão incluídos fatores positivos pela facilidade, recursos e autonomia que a rede proporciona para o indivíduo e, possivelmente, negativos, pelo grande fluxo de informações sem oportunidade de seleção e nem sempre qualificadas presentes na internet. Em constante transformação, o ambiente virtual e seus diferentes espaços se tornam objeto de difícil avaliação. Hoje o que se sabe é que tanto a sociedade quanto a comunicação se desenvolvem junto com os novos espaços na rede.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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