Livro oriente av1

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O Humberto AraĂşjo

r i e n t e

Editora

aguna



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Humberto AraĂşjo



O r i e n t e

Humberto AraĂşjo Fortaleza 2015

Editora

aguna


Coleção HAICAIS POCKET, vol. 01 Texto de acordo com a nova ortografia. Primeira edição na Coleção HAICAIS POCKET: 2016 Esta reimpressão: dezembro de 2013

Capa: Danilo Silva – Pintura digital com Wanco Bamboo Revisão: Danilo Silva , Delza Minin e Joseane Rücker 101 pgs.; dimensões 12,5 x 20 cm - ( Coleção HAICAIS Pocket; v.01 ) Família de fonte - Bodoni MT

1. Ficção brasileira-Poemas. 2. Humberto Araújo. Catalogação elaborada por Humberto Araújo. © desta edição, Laguna Editores, 2016 Todos os direitos desta edição reservados a Laguna Editores Rua Consultor Coruja 314, Loja 10 - Floresta - 80220-180 Fortaleza - CE- Brasil/Fone: 51.3000.xxxx - Fax: 51.32xx.xxxx

PEDIDOS & DEPTO. COMERCIAL: vendas@lagunaedt.com.br Fale conosco: info@lagunaedt.com.br www.lagunaeditora.com.br Impresso no Brasil Verão de 2016 TRABALHO ACADÉMICO DE EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Pofessor : Humberto


Coleção HAICAIS POCKET, vol. 01 Texto de acordo com a nova ortografia. Primeira edição na Coleção HAICAIS POCKET: 2016 Esta reimpressão: dezembro de 2013

Capa: Danilo Silva – Pintura digital com Wanco Bamboo Revisão: Danilo Silva , Delza Minin e Joseane Rücker 101 pgs.; dimensões 12,5 x 20 cm - ( Coleção HAICAIS Pocket; v.01 ) Família de fonte - Bodoni MT

‘‘Um livro é a prova de que os homens são capazes de fazer magia” Carl Sagan

aborada por Humberto Araújo.80220-180 Dedico essa obra a minha querida filha Pérola Marreira.

Fortaleza - CE- Brasil/Fone: 51.3000.xxxx - Fax: 51.32xx.xxxx

PEDIDOS & DEPTO. COMERCIAL: vendas@lagunaedt.com.br Fale conosco: info@lagunaedt.com.br www.lagunaeditora.com.br Impresso no Brasil Verão de 2016 TRABALHO ACADÉMICO DE EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Pofessor : Humberto



UMA LONGA APRESENTAÇÃO PARA UM LIVRO DE POEMAS DE 17 SÍLABAS

Desde

que aportou no Brasil com os imigrantes japoneses do Kasato Maru, em meados de 1908, e de sua primeira divulgação na literatura brasileira por Afrânio Peixoto, em 1919, o haicai tornou-se uma forma poética de grande apreço por parte dos poetas brasileiros. Dentre os poetas nacionais que se destacaram com seus haicais devemos citar Guilherme de Almeida —que, se não foi o primeiro a escrevê-los em nossa língua, foi pioneiro na popularização do haicai—, Millôr Fernandes e Paulo Leminski. O Ceará também produziu seus haicaístas: Adriano Espínola (com seu livro Trapézio, de 1984), Sânzio de Azevedo (que já publicara haicais em Cantos

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da Antevéspera, de 1999, e que em 2006 publicou um livro somente de haicais, Lanternas cor de aurora), ambos claramente influenciados por Guilherme de Almeida, e Francisco Carvalho, dentre outros. Mesmo se aclimatando entre nós há quase um século, ainda há muita controvérsia sobre o que é um haicai. Assim, para explicar minha própria produção haicaística, devo primeiro definir o que é o haicai, a partir de sua origem japonesa e de sua aclimatação ao solo brasileiro, para, a seguir, definir o haicai como o entendo e pratico.

O HAICAI Origens do haicai O haicai tem sua origem no tanka, poema clássico japonês de 31 sílabas, dividido em duas estrofes. A primeira estrofe composta de três versos, com 5, 7 e 5 sílabas respectivamente, e a segunda de um dístico com versos de 7 sílabas. Nos séculos XV e XVI, surgiu no Japão o haikai-no-renga, passatempo literário (hai “brincadeira, gracejo” + kai “harmonia, realização”) em que um poeta recitava a primeira estrofe do tanka e um outro a segunda, sendo seguido então pelo primeiro poeta (ou outro) que recitava novamente uma estrofe de 3 versos, e assim seguiam construindo uma longa série poemática. Oriente

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Essa atividade, praticada ainda hoje, atualmente recebe o nome de renku ou renga, em português “haicais encadeados”. Com o tempo, essa primeira parte do renku, o hokku, adquiriu autonomia, dando origem ao haiku1 (hai+ku “estrofe”) ou haicai. Como o tanka, o haicai normalmente não tem título ou rima. Uma das características desta primeira estrofe do renku que persiste no haicai japonês é que ela deve conter o kigo, isto é, uma palavra ou expressão que faça referência direta (“vento de outono”, “fim do inverno”) ou indireta (uma flor específica ou um animal) a uma estação do ano. Estas palavras e expressões são muitas vezes dicionarizadas e no Brasil há o esforço de grêmios de haicaístas (especialmente em São Paulo e ligados à colônia japonesa) em estabelecer os kigos próprios do nosso país. Nesse esforço se destaca o mestre haicaísta Masuda Goga. Temos assim uma primeira definição de haicai à partir de sua origem japonesa: um poema de três versos, não rimados, com respectivamente 5-7-5 sílabas métricas, tendo como inspiração a natureza, referindo-se a uma estação do ano através do kigo. Essa definição se aplica aos poemas de Matsuo Bashô (1644–1694), provavelmente o haicaísta japonês mais conhecido no ocidente. Como vemos, nesta definição 1 A forma haiku é normalmente utilizada em textos ingleses, franceses ou espanhóis; é também utilizada em português em textos especializados sobre cultura japonesa. 11

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de haicai é impossível dissociar forma de conteúdo, equívoco que cometeu Mailma de Sousa ao analisar os haicais de Francisco de Carvalho, usando como parâmetro Bashô, mas levando em consideração apenas a métrica2.

O haicai no brasil

Segundo Masuda Goga, o haicai japonês aportou no Brasil junto com os primeiros imigrantes japoneses, mas sua primeira divulgação na literatura brasileira se deu em 1919 no prefácio do livro Trovas populares brasileiras, de Afrânio Peixoto3, com o seguinte haicai numa retradução do francês:

Uma pétala caída Que torna a seu ramo: Ah! é uma borboleta!

Ainda segundo Goga, é na década de 1930 que começa o intercâmbio entre os haicaístas brasileiros, que recebiam as informações através de publicações norte-americanas ou européias, e os haicaístas de origem nipônica4. 2 3 4 Oriente

SOUSA, 2002a, p. 135-139 e p. 173-180. GOGA, 1988, p. 21. Ibidem, p. 34. |

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Em 1933, Waldomiro Siqueira Jr. publica Haikais, a primeira coletânea de haicais no Brasil, com títulos e sem rima; depois produziria haicais à maneira de Guilherme de Almeida. Em 1937, Guilherme de Almeida publica o artigo “Os meus haicais”, no jornal O Estado de São Paulo. Nesse artigo descreve pontos de semelhança entre o haicai e a trova brasileira e explica a sua fórmula para o haicai: “Eis o meu haikai. Dentro da regra de 5-7-5 sílabas, o primeiro verso rima com o terceiro. Na segunda linha rimam a segunda sílaba e a última”5. O que posto em gráfico: ––––x ––o–––o ––––x

A essa estrofe, Guilherme de Almeida acrescentava ainda um título:

O HAICAI Lava, escorre, agita a areia. E enfim, na batéia, fica uma pepita.

5

Apud GOGA, op. cit., p. 39. 13

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Essa forma de escrever o haicai em português fez muito sucesso, sendo seguida por muitos poetas. Outros importantes poetas praticaram o haicai: Jorge Fonseca Jr., Oldegar Vieira, Pedro Xisto, Olga Savary, entre outros. Se Guilherme de Almeida foi o primeiro grande divulgador e popularizador do haicai, Paulo Leminski e Millôr Fernandes, nas décadas de 1970 e 1980, levaram muitos jovens a redescobrir a magia do haicai. Leminski traduziu Bashô e também produziu haicais com influência concretista e com uma maior liberdade formal, abandonando a métrica clássica do haicai. Millôr Fernandes escreveu vários haicais a partir do final dos anos 1950, despreocupando-se conscientemente com a métrica, depois publicados em livro. Característica marcante dos haicais de Millôr é o humor que neles transparece. Paralelamente a esse haicaístas, especialmente em São Paulo, surgem os grêmios de haicai (como o Ipê e o Sumaúma), mais ligados às tradições clássicas japonesas. Três correntes de opinião sobre haicai

No capítulo “Três correntes de opinião sobre haiku”, do seu já citado livro, o mestre Massuda Goga apresenta três propostas teóricas sobre o haicai que ele Oriente

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identifica no Brasil. Seguiremos aqui as suas indicações e as ampliaremos segundo o que tenho estudado sobre o assunto nos últimos anos. a) Os defensores do conteúdo do haicai

São aqueles que consideram como características peculiares do haicai “a concisão, a condensação, a intuição e a emoção — concepções essas geradas pela inspiração no zen-budismo”6. A ligação do haicai com o zen-budismo no ocidente deve-se a dois fatores: o fato de Bashô ter sido discípulo do mestre zen Bucchô e a influência do livro de Taisetsu Suzuki7, Zen e a cultura japonesa, publicado em inglês em 1940 e que influenciou especialmente o movimento de contracultura, os poetas da geração beat americana, entre outros. Masuda Goga informa que “Neste livro há um capítulo intitulado ‘Zen e Haiku — A Intuição Zen na Base da Inspiração do Haiku’”8. No seu ensaio “Zen e Ocidente”9, Umberto Eco define assim o Zen:

(...) avalizada por sua venerável idade, essa doutrina vinha ensinarnos que o universo, o todo, é mutável, indefinível, fugaz, paradoxal; 6 GOGA, op. cit., p. 37. 7 Suzuki teve seu livro Introdução ao Zen Budismo publicado em 1961 pela Civilização Brasileira. 8 GOGA, op. cit.,p.38. 9 ECO, 1976, p. 203-225. 15

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que a ordem dos eventos é uma ilusão de nossa inteligência esclerosante, que tôda tentativa para defini-la e fixá-la em leis está condenada ao fracasso... Mas que justamente na plena consciência e aceitação alegre dessa condição está a extrema sabedoria, a iluminação definitiva; e que a crise eterna do homem não surge porque êle deve definir o mundo e não o consegue, mas porque quer defini-lo e não deve. (p. 206).

Da tentativa de não definição do mundo surge uma das características que nos fazem sentir o haimi, isto é, o sabor do haicai: a sua natureza fragmentária, muitas vezes realizada na simples justaposição de imagens, como vemos nesses haicais de Bashô:

voa a lua pingos nos galhos sorvendo a chuva10

gota de orvalho ao sol da manhã precioso diamante11

É importante deixar bem claro que os poetas que seguem essa linha Zen na feitura do haicai não são necessariamente seguidores desta filosofia milenar, mas 10 11 Oriente

BASHO, 1997, p. 23. Apud MARSICANO, 1997, p. 16. |

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adotam algumas de suas concepções estéticas, consciente ou inconscientemente, como condição para o seu poetar. Paulo Leminski uniu a influência Zen às teorias concretistas de Haroldo de Campos nos seus haicais. Millôr Fernandes é outro que assume a influência do Zen nos seus haicais a partir de outra característica dessa filosofia: o humor. Ambos poetas, como muitos outros, não consideram a métrica como essencial na composição dos seus haicais. Millôr inclusive acrescenta rimas nos versos ímpares de seus poemas. b) Os que atribuem importância à forma

São aqueles que vêem como característica fundamental na feitura do haicai a métrica 5-7-5 sílabas. Essa é a tese defendida por Guilherme de Almeida, que a essa estrutura acrescentou um esquema rimático próprio, como já tivemos a ocasião de explicar. Além da rima, Guilherme de Almeida acrescenta título aos seus haicais, o que não existe no haicai japonês. Em Guilherme de Almeida, como em Sânzio de Azevedo e Adriano Espínola, assim como em outros que seguem o esquema 5-7-5 na feitura do haicai sem as rimas que lhe pôs o poeta de Poesia vária, percebemos a par de uma preocupação com a forma, uma recorrência à natureza como inspiração.

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c) Os que atribuem importância ao kigo

Com a difusão dos estudos e da cultura nipônica e dos grêmios haicaístas ligados às comunidades japonesas, cada vez mais poetas se voltam para as tradições do haicai original e atribuem importância cada vez maior à palavra ou termo relativo à estação do ano na feitura dos seus haicais. Assim, diz Jorge Fonseca Júnior que o haicai ... deve indicar ou refletir a estação do ano (ao menos indiretamente) em que é elaborado; e caracterizado, portanto, por sua extrema consisão, devendo, ao mesmo tempo, através desta, fluir com naturalidade o conteúdo poético.12

A maior parte dos que seguem esta corrente também se mantêm fiel à métrica.

Uma definição de haicai

Mesmo nessa apresentação sintética até aqui, é possível perceber que as definições de haicai são muitas, conflitantes e/ou complementares. Nos estudos que tenho feito nos últimos anos, limitados pela escassez de fontes em nosso Estado (e também pela minha falta de domínio do japonês, inglês e francês), cheguei a uma definição de 12 FONSECA JUNIOR, Jorge. Wenceslau de Morais e Outras Evocações. Apud GOGA, op cit. p. 40. Oriente

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haicai, unindo forma e conteúdo, que busco aplicar à minha produção haicaística: O haicai é um poema de três versos, respectivamente de 5, 7 e 5 sílabas, inspirado e referente à natureza. Expressão clara através de imagens, evitando o sentimentalismo. O haicai foge da abstração e do sentimentalismo, nele busca-se que cada coisa seja o que é e plena de sentido, não símbolo de outra. Nessa poesia composta quase que totalmente de denotação, a conotação se dá no não dito, o que é poetizado é a situação que causou a sensação estética no poeta e não a própria sensação poética. A realidade é a essência, a experiência estética é o efeito13. Se o poeta tentar transmitir o efeito ele estará se distanciando do makoto (verdade, palavra-verdade), o que ele deve poetizar é a própria essência, assim o leitor do poema poderá ter a sua própria experiência estética. Não considero a rima essencial, tampouco que ela, mesmo à maneira de Guilherme de Almeida, destrua o haimi, mas que ela pode às vezes inclusive colaborar para o poético. Devemos considerar que vivemos em uma cultura diferente da do berço do haicai, e que os aportes de nossa cultura podem ser contribuições importantes para preencher o espaço deixado pelas características do haicai japonês que não conseguimos transplantar por distantes de nosso modo de viver, ver e pensar. 13

FRANCHETTI, 1996, p. 24. 19

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Os haicais apresentados nesse livro fazem parte de meu aprendizado, assim que nem todos, especialmente os primeiros, seguem essa definição elaborada depois de algum tempo praticando haicais. Alguns se enquadrariam em outra definição, o senryu, poema japonês que tem a mesma estrutura do haicai, mas que não considera o kigo. O título do livro, Oriente, podendo ser verbo ou substantivo, reflete esse labor de descoberta e aprendizado, desta maravilhosa arte poética, durante o qual pude, de uma forma imperfeita, mas honesta como um haicai, encontrar e adaptar a minúscula pérola do oriente à realidade que me cerca.

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BIBLIOGRAFIA

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de José de Alencar, 1998. (Coleção Alagadiço Novo). ______. Rosa dos eventos: poesia. Ilustrações Solange Botelho.Fortaleza: Edições UFC/Academia Cearense de Letras, 1982. CAMPOS, Haroldo de. A arte no horizonte do provável. 4.ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1977. (Debates, 16). ECO, Umberto. Obra aberta: forma e indeterminação nas poéticas contemporâneas. Tradução de Sebastião Uchôa Leite. São Paulo: Perspectiva, 1976. (Debates, 4). ESPÍNOLA, Adriano. Trapézio: haicais. Illustrações: Geraldo Jesuíno. Fortaleza: Edições Água, 1984. FERNANDES, Millôr. Hai-kais. Porto Alegre: L & PM, 1997. 128 p.; 17 cm.; ilustrado; brochura. (Coleção L & PM Pocket, 27). ISBN: 8525406635. FRANCHETTI, Paulo (org); DOI, Elza Taeko, DANTAS, Luiz. Haikai: Antologia e história. 3.ª ed. Campinas: São Paulo: Editora da UNICAMP, 1996. (Coleção Viagens da Voz) GOGA, Hidekazu Masuda. O haicai no Brasil. Tradução de José Yamashiro. São Paulo: Oriento, 1988. LINHARES FILHO. Poesia. In LINHARES FILHO. Cantos de fuga e ancoragem. Fortaleza: Imprece, 2007. MARTINS, Nilce. Introdução à estilística: a expressividade

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na língua portuguesa 3ª ed. rev. e aum. São Paulo: T.A. Queiroz: 2000. MARSICANO, Alberto. A trilha errante de Basho. In: BASHO. Matsuo. Trilha estreita ao confim. Tradução de Kimi Takenaka e Alberto Marsicano. São Paulo: Iluminiras, 1997. PAZ, Octavio. La tradición del haikú. In: México en la obra de Octavio Paz II: generaziones e semblanzas.México, DF: Fondo de Cultura Económica, 1987. 696 p.; brochura. (Escritores y letras de México). SOUSA, Mailma de. Francisco Carvalho: formas de uma poesia do ser. Fortaleza: Imprece, 2002. ______. Francisco Carvalho: uma poesia de Tanatos e de Eros. Fortaleza: UFC/Casa de José de Alencar, 2002.

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haicais


Assim conto os dias: cada dezessete sĂ­labas, um haicai e um dia.

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Hoje de manhĂŁ, lendo o verso do Drummond lembrei: tua boca!

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Amanhã será outra manhã de setembro. Quando ela virá?

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ManhĂŁ de setembro do poema do Drummond pela noite adentro.

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Alegria ĂŠ isso: subindo ou descendo dunas, andar de mĂŁos dadas.

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És pequena como um haicai. E como um deles és todo o universo.

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Flor de primavera no meio do meu outono: teu beijo e perfume.

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Vento na mangueira: embaixo alguém te espera com um haicai nas mãos.

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No teu corpo branco, lĂŠpida, a lĂ­ngua do poeta declama haicais.

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brilham os neóns n’algum lugar da cidade teus olhos também

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Acordar contigo nesta manh達 de domingo: melhor que sonhar.

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Sob o sol a pino refresco-me na lembrança: tua cor de lua

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Brilham os teus olhos, sol nas folhas do jardim, luz e sombra em mim.

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Sol que seca as lĂĄgrimas de orvalho e feliz saudade: lindo amanhecer.

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Teus seios, dois montes que a lĂ­ngua percorre em busca das lĂĄcteas fontes

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Sob a lua pálida fujamos. Quarto: crescente confusão de pernas.

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Segue a lua nova, corpo branco que se nega, crescente desejo.

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O gosto do beijo, sombra da boca da amada, licor de saudade.

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Sob teu umbigo, ali, bebe o sedento poeta (a fonte ĂŠ em ti).

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Quem olha teu olho quando olham estes escritos teus olhos furtivos?

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Na manh達 de chuva, o poeta nem duvida: de abrigos se abriga.

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No teu riso, amiga, me banho em lĂ­mpida e clara sonora cachoeira.

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Um cheiro de chuva Prestes a molhar a terra e os olhos da amada

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Teus dedos fininhos tamborilam impacientes mĂşsicas para mim

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Vestida de verde ela passeia pelo bosque enfeitando o dia.

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O vento entre os prédios. Uma saudade de esperar ao pé da tua porta.

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Frio. Paradoxo: Gelado vento me acende saudades da amada.

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Acendo um cachimbo. S贸 assim me esquenta o peito na noite de espera.

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Um raio de sol rasga o telhado e ilumina o teu rosto ao meu lado.

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Eu s贸 no meu ninho. Na tarde exausta de sol voam passarinhos.

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Um menino sopra um arco-Ă­ris capturado numa leve esfera.

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Já a réstia de sol lambe a poeira e as lembranças. Resta uma saudade.

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Finda-se setembro, sabe-se, assim: outro outubro hรก de vir. E de ir.

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Diz-me um halo rubro: as nuvens a lua escondem na noite de outubro.

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Mangueira frondosa Estende sombra silente aos pĂŠs desta aurora.

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SolidĂŁo silente. A lua ilumina a rua e a amada ausente.

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Chuva inesperada. Desejo imenso de ti espreita meu sonho.

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Lágrimas do céu no chão. Sigo em solidão caminhando ao léu.

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Teu cheiro na brisa à noite. Sofro um açoite de melancolia.

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Ah! E se nĂŁo fosse Saudade, em outra cidade, de abacaxi doce.

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Partilhando o lar do amigo, barulham os grilos. Canção de ninar.

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Persigo um morcego velho no seu v么o cego com um sorriso aceso.

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Sopra o Aracati. Lembro o frescor de uns olhos na noite estrelada.

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As vacas carregam o barulho de seus sinos ao calor da tarde.

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Vento Aracati, como se pensasse em mim, refresca meu sonho.

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“São só dez minutos e beberemos o chá.” Disse-me o Zé.

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Tão grande é o calor que até florescem as flores fora da estação.

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Fundo da garrafa: lento, o amarelo caju perfuma a cachaça.

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Na amorosa mata, canta alto o beija-flor, se acha o que beijar.

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Sábado. Domingos foi-se ao céu, olhar do alto belezas telúricas.

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No meio da mata Traz recado o beija-flor: “estamos em paz�.

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A Lua Gigante faz o caminho de volta da noite pro dia.

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A lua sorri enquanto volto para casa para beijar-te a boca.

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Voltando pra casa… à frente, a lua crescente parece um sorriso.

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Na casa da avó o último pingo de chuva se agarra à varanda.

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O cĂŁo amarelo deita-se em sombras azuis num dia de sol.

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Na pequena concha descubro um segredo ĂĄureo: a lĂ­ngua de Deus.

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Contra o céu azul, o capucho de algodão figura de nuvem.

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No seu galho, à tarde, lá dormita a lagartixa. Essa é sua arte.

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No final do dia: mel de engenho, limão fresco, cachaça e gelo!

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Nas terras do bode, mĂŁos acariciando cactus: barulho de ĂĄgua.

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Sabor de saudade… chupando manga e pensando nos lábios da amada.

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Banhado no açude, calmo, calmo… calma a água lava-me a alma.

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Quando finda a chuva, últimas gotas ao sol: pérolas de água.

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No varal as roupas Rรกpido secam ao sol e eu pingo de suor.

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A brisa da praia varre a areia e os versos desse meu haikai.

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Marulhando o mar um poema intraduzĂ­vel deixando-me pasmo.

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Vestido de nuvens, outra vez nasceu o sol lindo de chover.

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Uma réstia de sol enfeita a nudez da amada na manhã de março.

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Que belo contraste: o sol ilumina, lindas, as nuvens de chuva.

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Deve estar casando, na manh達 de sol e chuva, a bela raposa.

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Belo cĂŠu azul. Dando-me sombra, o enfeita a mais bela nuvem.

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Quando a rã Mergulha no velho lago, percebo que ouvia o silêncio.1

(Endnotes) 1 Após ver Hidesaku Mori interpretando lindamente o haicai da rã, de Bashô.

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Dançam os sacis no redemunho ao meio-dia no meio da avenida

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