Agrop. Catarinense, Florianópolis, SC, v.8, n.2, p.1-60, junho 1995
NEST A EDIÇÃO NESTA S e ç õ e s Cartas ................................................................................................................................ Registro ..................................................................................................................... 13 Lançamentos Editoriais .................................................................................................. Reflorestar ....................................................................................................................... Flashes .............................................................................................................................. Pesquisa em Andamento ................................................................................................ Novidades de Mercado ................................................................................................... Vida Rural - soluções caseiras ......................................................................................
3 a 16 19 24 28 32 34 60
R e p o r t a g e m Arroz com peixe, receita para dar lucro certo Reportagem de Paulo Sergio Tagliari .......................................................................
8 a 10
Produção florestal: a grande opção de SC Reportagem de Homero M. Franco ............................................................................ 29 a 33 Plantio direto na pequena propriedade: baixo custo, grande produtividade Reportagem de Paulo Sergio Tagliari e Homero M. Franco .................................... 51 a 53
O p i n i ã o Face a face com o futuro Editorial ..............................................................................................................................
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A pluriatividade e a agricultura catarinense. Dissolução ou redefinição da exploração familiar? Artigo de Flávio Sacco dos Anjos ............................................................................... 56 a 58 Planejamento Estratégico: uma ferramenta para a construção do futuro Artigo de Osvaldo Carlos Rockenbach ............................................................................ 5 9
T e c n o l o g i a Três temas palpitantes compõem a pauta jornalística desta edição: cultivo de peixe em lavoura de arroz irrigado, plantio direto e produção florestal. Com relação ao último, o grande destaque é o programa que pretende plantar e manejar mais de 1 milhão de hectares de florestas em Santa Catarina. Os artigos técnicos, em número de onze, abordam adubação orgânica, leucena, tripes da cebola, crespeira do pessegueiro, microbacias, mudas de videira, alimentação animal, oxidação de vinhos, piscicultura e milho. No restante das 60 páginas deste número, o leitor interessado em agricultura e pecuária encontra informações e análises que esperamos possam auxiliá-lo e enriqueçam o seu conhecimento.
As matérias e artigos assinados não expressam necessariamente a opinião da revista e são de inteira responsabilidade dos autores. A sua reprodução ou aproveitamento, mesmo que parcial, só será permitida mediante a citação da fonte e dos autores.
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Teoria dos sistemas em microbacias: subsídios teóricos Artigo de Álvaro Afonso Simon e César Augusto Pompêo .............................................
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Avaliação de leucena nas regiões Oeste e Meio Oeste Catarinense Artigo de Rubson Rocha, Mário Miranda e Airton Rodrigues Salerno .........................
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Método de forçagem para produção de mudas de videira Novas técnicas permitem alcançar melhores resultados Artigo de Edegar Luiz Peruzzo .......................................................................................
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Epidemiologia e controle da crespeira do pessegueiro Artigo de Jorge Bleicher e Onofre Berton ......................................................................
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A oxidação dos vinhos e seus fatores determinantes Artigo de Jean Pierre Rosier ...........................................................................................
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“Milho ardido”: o novo velho inimigo Artigo de Armando Corrêa Pacheco ...............................................................................
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Potencial fertilizante do esterco líquido de suínos da região Oeste Catarinense Artigo de Eloi Erhard Scherer, Ivan Tadeu Baldissera e Lourenço Francisco Xavier Dias .....................................................................................
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Método rápido para determinação da qualidade fertilizante do esterco líquido de suínos a campo Artigo de Eloi Erhard Scherer, Ivan Tadeu Baldissera e Lourenço Francisco Xavier Dias .....................................................................................
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Controle do tripes da cebola Artigo de Paulo Antonio de Souza Gonçalves e Djalma Rogério Guimarães ..............
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Importância dos minerais na reprodução do gado de corte Artigo de Edison Azambuja Gomes de Freitas, João Lari Felix Cordeiro e Canuto Leopoldo Alves Torres .......................................................................................
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Transporte de alevinos de carpa comum em sacos plásticos Artigo de Sérgio Tadeu Jurovsky Tamassia ...................................................................
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Editorial
Face a face com o futuro Conforme previsto e esperado, os efeitos da instalação do MERCOSUL já se fizeram notar nos preços da safra catarinense de verão. O milho, com preço ao produtor abaixo do mínimo, exemplifica bem a crise ocasionada pela concorrência dos parceiros do Mercado Comum. A concorrência, como se sabe, não é um mal em si mesma, e um dos seus efeitos benéficos é a promoção da eficiência. Os benefícios da eficiência, todavia, só se efetivam quando há harmonia entre os objetivos econômicos e tecnológicos com os de cunho social e ecológico. Diante desta realidade, que é o MERCOSUL, e de suas vantagens e desvantagens, é preciso cuidar para que os eventuais prejuízos não recaiam, mais um vez, sobre os pequenos produtores. É sabido que as pequenas e médias propriedades agrícolas, ainda tão importantes no contexto socioeconômico do Estado, não po-
derão sozinhas e por iniciativa própria alcançar os padrões tec-nológicos e de eficiência exigidos pelo mercado comum. Há, pois, que apoiá-las. Pesquisa agrícola e extensão rural são dois instrumentos que podem e devem ser mobilizados para este apoio, visando a adaptação e a sobrevivência do modelo agrícola catarinense. Não basta, porém, ampliar pura e simplesmente estas atividades, repetindo estilos e paradigmas ultrapassados. Assim como o momento exige eficiência no processo produtivo, a pesquisa e a extensão rural devem ser eficientes, e não apenas na sua forma de atuar, mas também no seu modo de existir. Isto significa que a EPAGRI, órgão oficial de pesquisa e extensão, deverá estar preparada e estruturada de maneira a justificar sua existência, principalmente face a outras necessidades e prioridades sociais. É exatamente com este objetivo adequar a pesquisa e a extensão às exigências de um ambiente cada vez mais competitivo e complexo -
que a EPAGRI, sua Direção e funcionários estão empenhados na realização do planejamento estratégico da Empresa. Planejar é algo que as pessoas e instituições sempre fazem, às vezes até instintivamente, e nem sempre fazem bem. O que há de novo no processo em adoção na EPAGRI é que o planejamento está sendo embasado na participa-ção de todos os envolvidos - den-tro e fora da Empresa - e está se valendo das modernas técnicas de construção e análise de cená-rios. O resultado final deste esforço será o delineamento de uma estrutura institucional adequada e a elaboração de planos e projetos de pesquisa agrícola e extensão rural capazes de transformar a realidade e construir o futuro desejado. Este é, pois, um momento muito importante na história da pesquisa agrícola e da extensão rural de Santa Catarina e que a revista Agropecuária Catarinense não poderia deixar de registrar.
REVISTA TRIMESTRAL
15 DE JUNHO DE 1995
AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publicação da EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e de Extensão Rural de Santa Catarina S.A., Rodovia Admar Gonzaga, 1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502, Fone (048) 234-1344 e 234-0066, Fax (048) 234-1024, Telex 482 242, 88034901 - Florianópolis, Santa Catarina, Brasil EDITORAÇÃO : Editor-Chefe: Afonso Buss, Editor-Técnico: Vera Talita Machado Cardoso, Editores-Assistentes: Marília Hammel Tassinari, Paulo Sergio Tagliari
COLABORARAM COMO REVISORES TÉCNICOS NESTA EDIÇÃO: Áurea Tereza Schmitt, Carla Maria Pandolfo, Celomar Daison Gross, Eliane Rute Andrade, Emílio Della Bruna, Gilberto Tassinari, Honório Francisco Prando, Jefferson Araujo Flaresso, José Seno Regert, Leandro do Prado Wildner, Luiz Carlos Perin, Mauro Roczanski, Milton Losso, Osmar de Moraes, Pedro Boff, Vera Talita Machado Cardoso JORNALISTA : Homero M. Franco (Mtb/SC 709) ARTE-FINAL: Janice da Silva Alves DESENHISTAS: Jorge Luis Zettermann, Vilton Jorge de Souza, Mariza T. Martins, Dilson Ribeiro CAPA : Hargolf Grassmann e Paulo Sergio Tagliari
COMITÊ DE PUBLICAÇÕES: PRESIDENTE: Afonso Buss SECRETÁRIA: Vera Talita Machado Cardoso MEMBROS: Celso Augustinho Dalagnol, Dario Alfonso-Morel, João Carlos Seben, Leandro do Prado Wildner, Onofre Berton
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PRODUÇÃO EDITORIAL: Cláudia Beatriz Nedel Mendes de Aguiar, Daniel Pereira, Janice da Silva Alves, Marilene Regina Oliveira, Marlete Maria da Silveira Segalin, Rita de Cassia Philippi, Selma Rosângela Vieira, Vânia Maria Carpes da Rosa
DOCUMENTAÇÃO: Selma Garcia Blaskiviski ASSINATURAS/EXPEDIÇÃO : Ivan José Canci, Rosane Chaves Furtado, Zulma Maria Vasco Amorim - GED/EPAGRI, C.P. 502, Fone (048) 234-1344 e 234-0066, Ramais 243 e 245, Fax (048) 234-1024, 88034-901 - Florianópolis, SC. Assinatura anual (4 edições): R$ 15,00 à vista. PUBLICIDADE: Florianópolis: GED/EPAGRI - Fone (048) 234-0066, Ramal 263 - Fax (048) 234-1024 - São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte: Agromídia - Fone (011) 2598566 - Fax (011) 256-4786 - Porto Alegre: Agromídia Fone (051) 221-0530, Fax (051) 225-3178. Agropecuária Catarinense - v.1 (1988) Florianópolis: Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária 1988 Trimestral Editada pela EPAGRI (1995) 1. Agropecuária - Brasil - SC - Periódicos. I. Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária, Florianópolis, SC. II. Empresa de Pesquisa Agropecuária e Difusão de Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, SC. Impressão: EPAGRI
CDD 630.5
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CARTAS Administração rural Sou extensionista da EMATER, PARÁ, no município de Gurupá, localizado no Baixo Amazonas do Estado do Pará, e gostaria de saber como conseguir o Manual de Referência de Ad-ministração Rural editado pela EPAGRI, SC. Grato se for atendido. Ary Djalma Rocha Caldas Gurupá, PA
Queijos e embutidos Sou técnico em agropecuária, e visando a ampliar meus conhecimentos a respeito da “Fabricação de Queijos e Embutidos”, dirijo-me a V.Sas.
a fim de pedir-lhes uma especial atenção nesse sentido. Dou assistência técnica aos “Micro, Pequenos e Médios Agricultores” da região, onde venho desenvolvendo pequenos projetos de “Fabricação de Queijos e Fabricação de Embutidos” junto ao pessoal. Por isso solicito a V.Sas. a gentileza de enviar-me, caso seja possível, maiores informações ou outras matérias a respeito do tema focalizado. Esperando contar com o apoio e a atenção de V.Sas., subscrevo--me. Fábio Marcelino Duarte Técnico em agropecuária Teixeira de Freitas, BA
Maçã Sou produtor rural, trabalho na ramo da fruticultura, tendo começado neste ramo há quase 20 anos neste município.
Tra-balho na produção de maçãs e pêssegos principalmente. Para a maçã, o clima de Soledade não é muito bom, porém tenho a vantagem de entrar com a fruta no mercado bastante cedo, compensando economicamente. Porém, as obras que tenho sobre a cultura da maçã já estão um tanto superadas, acredito. Fui informado de um moderno manual sobre a cultura da maçã, e quero adquiri-lo, por isso resolvi entrar em contato com a entidade que o lançou. Caso estejam ainda publicando esta obra, peço que me reservem um exemplar, e entrem em contato através do endereço que consta no envelope. Informem-me também, se possível, o preço desta obra e de outras desta instituição. Contando com a vossa colaboração, antecipo agradecimentos. Inácio Nitsche Soledade, RS
Difusor Vimos, pelo presente, solicitar de Vossa Senhoria o envio da relação de publicações desta Empresa para que possamos identificar aquelas relacionadas com nossa área de atuação (Difusão de Tecnologias). Nesta oportunidade solicitamos o envio da Publicação “A Eficácia das Publicações TécnicoCientíficas na Agricultura” série Documentos n o 121. Aproveitamos, ainda, para manifestar nosso interesse em trocarmos informações sobre experiências na Área de Difusão objetivando um aprimoramento das nossas atividades nesta área. Sendo só para o momento, colocamo-nos a vossa inteira disposição. Joesi de Souza Castro EMCAPA/EEMF Venda Nova, ES
Normas para publicação de artigos na revista Agropecuária Catarinense A revista Agropecuária Catarinense aceita, para publicação, artigos técnicos ligados à agropecuária, desde que se enquadrem nas seguintes normas: 1. Os artigos devem ser originais e encaminhados com exclusividade à Agropecuária Catarinense. 2. A linguagem deve ser fluente, evitando-se expressões científicas e técnicas de difícil compreensão. Recomenda-se adotar um estilo técnico-jornalístico na apresentação da matéria. 3. Quando o autor se utilizar de informações, dados ou depoimentos de outros autores, há necessidade de que estes autores sejam referenciados no final do artigo, fazendo-se amarração no texto através de números, em ordem crescente, colocados entre parênteses logo após a informação que ensejou este fato. Recomenda-se ao autor que utilize no máximo cinco citações. 4. Tabelas deverão vir acompanhadas de título objetivo e auto-ex-plicativo, bem como de informações sobre a fonte, quando houver. Recomenda-se limitar o número de dados da tabela, a fim de torná-la de fácil manuseio e compreensão. As tabelas deverão vir numeradas conforme a sua apresen-
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tação no texto. Abreviaturas, quando existirem, deverão ser esclarecidas. 5. Gráficos e figuras devem ser acompanhados de legendas claras e objetivas e conter todos os elementos que permitam sua arte-finalização por desenhistas e sua compreensão pelos leitores. Serão preparados em papel vegetal ou similar, em nanquim, e devem obedecer às proporções do texto impresso. Desse modo a sua largura será de 5,7 centímetros (uma coluna), 12,3 centímetros (duas colunas), ou 18,7 centímetro (três colunas). Legendas claras e objetivas deverão acompanhar os gráficos ou figuras. 6. Fotografias em preto e branco devem ser reveladas em papel brilhante liso. Para ilustrações em cores, enviar diapositivos (eslaides), acompanhados das respectivas legendas. 7. Artigos técnicos devem ser redigidos em até seis laudas de texto corrido (a lauda é formada por 30 li-nhas com 70 toques por linha, em espaço dois). Cada artigo deverá vir em duas vias, acompanhado de material visual ilustrativo, como tabelas, fotografias, gráficos ou figuras, num montante de até 25% do tamanho do artigo. Todas as folhas devem vir numeradas, inclusive aquelas que contenham gráficos ou figuras.
8. O prazo para recebimento de artigos, para um determinado número da revista, expira 120 dias antes da data de edição. 9. Os artigos técnicos terão autoria, constituindo portanto matéria assinada. Informações sobre os autores, que devem acompanhar os artigos, são: títulos acadêmicos, instituições de trabalho, número de registro no conselho da classe profissional (CREA, CRMV, etc.) e endereço. Na impressão da revista os nomes dos autores serão colocados logo abaixo do título e as demais informações no final do texto. 10. Todos os artigos serão submetidos à revisão técnica por, pelo menos, dois revisores. Com base no parecer dos revisores, o artigo será ou não aceito para publicação, pelo Comitê de Publicações. 11. Dúvidas porventura existentes poderão ser esclarecidas junto à EPAGRI, que também poderá fornecer apoio para o preparo de desenhos e fotos, quando necessário, bem como na redação. 12. Situações imprevistas serão resolvidas pela equipe de editoração da revista ou pelo Comitê de Publicações.
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Microbacias
Teoria dos sistemas em microbacias: subsídios teóricos Álvaro Afonso Simon e César Augusto Pompêo
Enfoque sistêmico em microbacias A aplicação da teoria dos sistemas no estudo das microbacias hidrográficas tem facilitado sobremaneira a compreensão dos processos dinâmicos inter e intra-espacial destas áreas. O mesmo pode-se dizer quando da análise das paisagens. O estudo da microbacia, de forma a observar a interatividade de suas partes, ora como totalidade em si, ora como parte do todo, permite uma visualização mais abrangente do objeto de estudo ao pesquisador. Esse entendimento assegura uma análise mais profunda destes processos que, conceitualmente, levam em consideração a elasticidade do tempo, as dimensões e as relações entre as partes. Tanto para o pesquisador quanto para o extensionista, o entendimento da natureza e seus processos, através dos sistemas que a compõem, permitirá que saiam do isolamento construído quer pela super especialidade, quer pela falta de leitura da realidade a que estão sujeitos. A microbacia, entendida como um sistema aberto, é influenciada e/ou influencia outros sistemas. Portanto qualquer decisão tomada por uma comunidade em uma determinada microbacia poderá influenciar em um sem número de outras microbacias, sub-bacias ou bacias hidrográficas. Daí a necessidade da observação das relações existentes entre as diversas regiões. Decorre daí a intenção deste trabalho em provocar o debate sobre a necessidade da observação dos processos e as inter-relações que ocorrem na microbacia, com os quais fatalmente o extensionista vai se envolver enquanto parte do sistema. Os processos que ocorrem hoje no meio rural requerem respostas que normalmente a extensão e a pesquisa 4
tradicionais não conseguem fornecer. Este hiato entre as instituições e a sociedade vem forçando nos últimos tempos uma mudança de instrumento e de metodologia, sugerindo um novo modelo de extensão e de pesquisa. Não é intenção deste trabalho esgotar o assunto, simplesmente demonstrar que a cada variável trabalhada dentro de um sistema, seja ele uma microbacia, provocará uma reordenação interna e externa a este sistema. Por conseguinte, toda decisão tomada em uma comunidade, sob o enfoque sistêmico, deve levar em conta a influência no ambiente interno e externo a essa comunidade. Dirigida muito mais aos técnicos da extensão, esta afirmação contrapõe a idéia de que os trabalhos em microbacias são “específicos de conservação do solo”. Com mais ênfase, busca demonstrar que o extensionista não consegue trabalhar com uma variável de forma isolada em qualquer que seja o sistema considerado. A erosão do solo, por exemplo, não se constitui num problema isolado dos demais processos que ocorrem na microbacia. Tampouco será com técnicas específicas que se solucionará o problema. Se o extensionista se aperceber disto poderá sugerir alternativas mais consistentes para as tomadas de decisões das comunidades rurais.
Análise dos subsistemas históricos No estudo sobre a evolução dos Trabalhos de Extensão Rural em Micro-bacias Hidrográficas (TEMH) se faz necessário analisar os dados socio-ambientais das microbacias, ou seja, os dados do homem e da natureza. Procura-se a partir daí medir e interpretar tais dados sem perder a perspectiva histórica. Neste momento o extensionista
deve recorrer sucessivamente ou simultaneamente a outras ciências para chegar ao conhecimento analítico dos dados incluídos nas combinações que constituem o objeto de seus estudos fragmentados ou globais. “Se não for simultaneamente um historiador, ficará privado totalmente de retrospecção no domínio dos fatos humanos. Mesmo que não haja substituição propriamente dita de função e é de bom aviso que essa substituição não ocorra - existe, não obstante, a necessidade de uma iniciação ao vocabulário e aos métodos das ciências de análise, a fim de garantir o diálogo, a colaboração, a boa interpretação e a verificação dos resultados fornecidos pelos especialistas”(1). Percebe-se, na análise dos Trabalhos de Extensão Rural em Microbacias (TEMH), que a realidade destes sistemas é formada por diversos processos evolutivos, cada um com sua especialidade. Cada elemento ou relação do sistema está vinculado com numerosas variáveis possíveis de mensuração através de seus atributos ou qualidades. As variáveis podem se referir a número, tamanho, forma, arranjo espe-cial, fluxos, intensidades, taxas de transformação e outros atributos. A mensuração deve incidir sobre as qualidades atribuídas aos elementos do sistema, não sobre os elementos ou sistemas (2). Por exemplo, medese a largura, profundidade e o comprimento de um rio, dados estes que representam atributos ou qualidades. Além da análise das variáveis, o extensionista deve levar em consideração o processo histórico evolutivo dos trabalhos em microbacias e não só interpretar os dados estáticos possíveis de serem representados matematicamente, mas o momento. Desta forma, estará analisando as relações, não apenas descrevendo os fatos. Neste sentido os trabalhos em microbacias gradativamente transforAgrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Microbacias
mam-se num processo, no qual as modificações espaciais ali ocorridas são provocadas pelas variáveis que ao longo do tempo se acham em constante evolução. Cabe ao extensionista, portanto, ao trabalhar com essas variáveis em seus diversos momentos, considerar as instâncias econômicas, institucionais, culturais, enfim, todas as relações socioambientais e os elementos formadores deste ambiente.
A praticidade da visão sistêmica As considerações anteriores reforçam o enquadramento da pesquisa e da extensão rural sob o enfoque sistêmico. Alguns autores, no entanto, apontam dificuldades na utilização da teoria dos sistemas, principalmente em relação ao tempo. Entre estes autores, um aponta a desconsideração do processo histórico como um dos pontos falhos da análise dos sistemas, quando afirma que a noção de ecossistema não incorpora à análise espacial os subsistemas históricos (3). A perspectiva histórica serve como suporte à compreensão do presente em vias de se fazer. Neste caso, o extensionista, ao examinar o contexto, deve tomar o cuidado para não realizar uma prospecção arqueológica que seja em si mesma uma finalidade, senão um meio. A perfeita compreensão do presente permite surpreender o processo e, com isso, detectar as tendências que poderão vislumbrar um futuro possível, seus conflitos forças dominantes, e a compreensão dos novos acontecimentos. Considerando-se que as variáveis mudam de valor à medida que o tempo passa, o extensionista, por sua vez, deve tornar-se mais exigente em relação à periodização histórica sob pena de errar em seu esforço interpretativo. De um modo geral, a análise sistêmica proporciona um certo grau de dificuldade na execução dos trabalhos de extensão rural em microbacias, uma vez que cada sistema funciona em relação a um sistema maior como um subsistema ou elemento deste, enquanto ele próprio é, em si mesmo, um sistema. Constatase, pois, que somente através do conAgrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
texto é que se pode analisar as partes do todo sem perder sua concretude. A abordagem sistêmica permite, ainda, reduzir o conjunto maior a um tamanho mais razoável, possibilitando sua análise sem desconsiderar o todo, facilitando sobremaneira os estudos nas microbacias (4). Pode-se dizer que, em uma microbacia, a análise sistêmica permite a construção de totalidades integradas a partir de um recorte seletivo de variáveis e fenômenos interdependentes (5). O espaço deve ser considerado como uma totalidade, a exemplo da própria sociedade que lhe dá vida. Pode--se buscar mais alguns subsídios que irão reforçar essa compreensão, a qual contrapondo-se aos conceitos deter-ministas, afirma que, à medida que penetramos na matéria, a natureza não nos mostra quaisquer blocos básicos de construção isolados. Ao contrário, surge perante nós como uma teia de relações entre as diversas partes do todo (6).
se constitui no que o sistema recebe, e saída (output), por onde são encaminhadas as transformações que se processam no seu interior conforme a Figura 1 (7). No caso de uma microbacia hidrográfica, trata-se de um sistema aberto, que recebe estímulos do exterior sob forma de energia e matéria, da mesma forma que poderá exportar. As pequenas bacias hidrográficas (microbacias) situadas como estão, na condição de unidades de planejamento e execução dos trabalhos de extensão e pesquisa, constituem-se em sistemas e como tal fazem parte de sistemas maiores; estes por outro lado são constituídos por sistemas menores denominados de subsistemas. Os subsistemas, por sua vez, são constituídos por unidades ou elementos. Desta forma a microbacia se estabelece como um sistema particular, que poderá relacionar-se com microssistemas do tamanho de um átomo ou da magnitude do sistema solar. O sistema delimitado pela microClassificação dos sistemas bacia é composto de vários elementos ou unidades que se relacionam entre Os sistemas são classificados em si, constituindo não só um meio físico, abertos ou fechados e apresentam como também as relações sociais. De obrigatoriamente entrada (input), que acordo com as colocações de Bertalanfy, os fatores essenciais dos problemas públicos devem sempre ser considerados como componentes inter-dependentes de um sistema total (4). Desta forma os problemas da sociedade, como a saúde, educação, poluição, habitação, delinqüência juvenil, etc., também são tratados sob enfoque sistêmico. A grande dificuldade, no entanto, está na “impossibilidade de limitar a uma determinada área a totalidade dos fenômenos econômicos, sociais e políticos, cuja escala de ação ultrapassa a do lugar de manifestação aparente ou física” (3). De qualquer forma, a definição de um sistema particular é arbitrária, uma vez que o universo parece ser feito de vários conjuntos de Figura 1 - Esquema das Relações em uma sistemas, cada um sendo conMicrobacia tido dentro do outro maior 5
Microbacias
conforme a Figura 2 (7). É possível sempre expandir um sistema particular para um objeto de perspectiva mais ampla; também é possível talhar o sistema para uma versão menor.
Abordagem sistêmica nos trabalhos em microbacias Os conceitos de sistemas são muitos, e todos trazem, de algum modo, contribuições ao seu entendimento. Adotamos neste estudo o conceito que considera como um sistema o “conjunto de unidades com relações entre si. A palavra “conjunto” implica que as unidades possuem propriedades comuns. O estado de cada unidade é controlado, condicionado ou dependente do estado das outras unidades” (2). A definição de sistema pode ser aplicada à estrutura, tida como “um elemento do espaço, individualizado e localizado, mas cuja evolução é regida por sistemas que o organizam tanto do interior como do exterior” (5). Este conceito certamente tem relação com os sistemas e reafirma a definição de elemento ou unidade utilizada por Christofoletti. A unidade funcional da ecologia é o
Figura 2 - Inter-relação entre Sistemas e Subsistemas
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ecossistema, uma vez que inclui tanto os organismos quanto o ambiente abiótico; “cada um destes fatores influencia as propriedades um do outro e cada um é necessário para a manutenção da vida, como a conhecemos, na terra” (8). O autor afirma, ainda, que este nível de organização deve ser considerado para a implementação das soluções holísticas dos problemas atuais. A pesquisa agrícola, cada vez mais, vem utilizando a abordagem sistêmica para melhor compreender a complexidade das relações entre a sociedade e a natureza. Vários estudos foram elaborados no sentido de entender os sistemas que fazem parte do meio rural. A esse respeito afirma-se que o desenvolvimento rural se coloca conceitualmente mais amplo do que as conceituações agrárias, agrícola ou econômica. Em seu entendimento, o desenvolvimento rural abarca a demografia, forma de ocupação, conflitos da condição de vida das populações rurais, etc. (9). Nesta linha de raciocínio o conhecimento do espaço se dá através dos processos e não somente pelos estudos das relações, forçando a estudar os TEMH em seu contexto tratando da complexidade global de uma determinada área, apreendendo o tempo em movimento. O estudo de uma microbacia hidrográfica (sistema) passa necessariamente pela verificação dos diversos subsistemas que a compõem. Estes, por vezes, não se limitam a área geográfica definida pelos divisores de água, principalmente quando se referem às relações políticas e sociais, como leis, comércio, programas governamentais, influências culturais, etc. A análise dos TEMH, sob o enfoque sistêmico, permite entender que o extensionista trabalha, na realidade, com vários sistemas que influenciam e são influenciados periodicamente. Por exemplo: um técnico que tenta resolver o problema de erosão de uma propriedade localizada em uma determinada microbacia, obrigatoriamente, terá de observar as influências externas e internas do evento. Neste caso pode-se tomar como influências internas a suscetibilidade do solo à
erosão, drenagem, declividade, etc., e como condições externas a influência das propriedades vizinhas, ou fatores climáticos e a política agrícola, que fogem, por vezes, à delimitação das divisas naturais da microbacia. O controle da erosão, porém, tem um condicionante que é o fator econômico que por si só engendra outro subsistema, que pode estar condicionado às políticas governamentais, cujas decisões são tomadas longe do local. A seqüência deste raciocínio leva a um emaranhado de relações, que em última análise revelará as influências dos sistemas entre si. Um exemplo nas relações sociais seria a tentativa de melhoria da renda de uma família que vive em uma determinada microbacia. Neste caso, o extensionista deve apreender as diversas relações de que o subsistema de produção se vale num modelo capitalista. O estudo dos TEMH depara-se com um desafio quando pretende fazer a avaliação dos trabalhos realizados nas microbacias, principalmente nas ações sociais. Esta questão acaba se resolvendo, no entanto, através da análise do contexto que compõe o sistema físico e socioeconômico, “uma vez que a análise dos sistemas trata a organização como um sistema de variáveis mutuamente dependentes” (4). A teoria dos sistemas é capaz de definir certos conceitos que são estranhos à física convencional, tais como organização, totalidade, teleologia e diferenciação e, em certos casos, pode submetê-los à análise quantitativa. A teoria dos sistemas torna possível, ainda, estudar algumas características que ocorrem nas organizações, como a competição, diferenciação, mobilidade, hierarquia, controle, domi-nância e crescimento. Todas essas características são examinadas, todavia, levando-se em consideração a variável temporal, a fim de captar o contexto em que se realizam os TEMH, para não recair no erro e analisar as relações de influência estática com suas limitações geográficas.
A extensão rural em microbacias O sucesso dos TEMH depende de Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Microbacias
exercitando efetivamente os conceitos de sustentabilidade, gerência ambiental, qualidade total e planejamento estratégico. Neste sentido, os trabalhos de extensão rural realizados nas microbacias com enfoque sistêmico podem se constituir na extensão dos anos 90, a definitiva possibilidade de as pequenas comunidades rurais atingirem um alto grau de satisfação em relação às suas expectativas. De um modo geral, estas expectativas referem-se aos macro indicadores sociais, políticos, econômicos e ecológicos.
Literatura citada 1. GEORGE, P. Geografia rural. São Paulo: Difel, 1978. 122p.
Figura 3 - Bacias e sub-bacias hidrográficas
um consistente referencial teórico que revela a realidade econômica, social, política e natural a que estão sujeitos. A visão holística, obtida de tal compreensão, fornece as possibilidades concretas da construção de uma sociedade justa em sua forma social e sustentável em sua dimensão ecológica, colocando a extensão rural em um nova periodização histórica. Procurou-se, no decorrer do texto, sublinhar aqueles pontos que poderão auxiliar os extensionistas a incorporar o novo paradigma que orienta o desenvolvimento sustentado e a perceber que a visão holística permite ver o mundo como um todo e não em partes, possibilitando a extensão rural tradicional as complementariedades necessárias para a sua transformação em ecoextensão. A percepção sistêmica permite, ainda, estabelecer a hierarquia de valores das variáveis ou de estruturas, definindo-lhes as significações. Neste caso específico pode-se tomar como exemplo os escritórios locais, regionais e central de extensão rural, em Santa Catarina, e relacioná-los com as dimensões naturais de uma microbacia, sub-bacia e bacia hidrográfica, respectivamente, ajustando-se em cada nível de hierarquia as significações de acordo com a sua Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
missão. O exemplo tomado se deve ao fato da existência de pelo menos uma Unidade Administrativa em cada região hidrográfica do Projeto Microbacias/BIRD. Geralmente estas unidades estão localizadas em cidades de confluência regional, definindo em última análise a relação que se pode estabelecer entre os ecossistemas formados pelas bacias hidrográficas, os centros urbanos e as divisões administrativas da EPAGRI (Figura 3). A observação recoloca em discussão as estruturas hierárquicas utilizadas pela ex-ACARESC, com a possibilidade de novas significações (missão). Esta estrutura deve ser parte ativa do processo produtivo baseado no meio rural, orientada, entretanto, pelo enfoque sistêmico que considera os diversos componentes (variáveis),
2. CHRISTOFOLETTI, A. Análise de sistemas em geografia. São Paulo: Hucitec, 1979. 140p. 3. SANTOS, M. Espaço e sociedade: ensaios. Petrópolis: Vozes, 1979. 156p. 4. BERTALANFY, L. Von. Teoria geral dos sistemas. 2.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1975. 351p. 5. DOLFUS, O. O espaço geográfico. São Paulo: Difel, 1982. 132p. 6. CAPRA, F. O tao da física: um paralelo entre a física moderna e o misticismo oriental. São Paulo: Cultrix, 1983, 260p. 7. SIMON, A.A. Análise histórico-crítica dos trabalhos em microbacias hidrográficas em Santa Catarina - 1984/1990. Florianópolis: UFSC, 1993. 306p. Tese Mestrado. 8. ODUM, E.P. Ecologia. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1988. 434p. 9. DINIZ, J.A.F. Geografia da agricultura. São Paulo: Difel, 1984. 278p. Álvaro Afonso Simon, Eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 39.471-P, CREA-RS, EPAGRI, C.P. 502, Fone (048) 234-1344, Telex 482 242, Fax (048) 234-1024, 88034901 - Florianópolis, SC e César Augusto Pompêo, Ph.D., Professor da Universidade Federal de Santa Catarina/Programa de Pós-graduação - Engenharia Ambiental. Campus Universitário, C.P. 476, Fone (048) 231-9597, Fax (048) 231-9770, 88040-900 - Florianópolis, SC.
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Reportagem
Arroz com peixe, receita para dar lucro certo Reportagem de Paulo Sergio Tagliari e Fotos de Homero M. Franco
Produtividade do arroz atinge 110 sacos/ha e, de quebra, mais 3.000kg de peixe
Introduzindo peixes nas lavouras de arroz irrigado, produtores rurais no Sul de Santa Catarina estão obtendo um lucro extra. O trabalho dos peixes poupa adubo e agrotóxicos e diminui a mão-de-obra e mecanização. E, de quebra, não há poluição ambiental.
E
m Santa Catarina, no Sul do Estado, um grupo de produtores rurais está chegando perto do filão de ouro há muito procurado por todos. E o mapa da mina começou a ser descoberto há alguns anos com o Programa Provár8
zeas, que propiciou a centenas de orizicultores catarinenses o aproveitamento de milhares de hectares de várzeas, transformando-as em produtivas lavouras de arroz irrigado. Hoje vários municípios sul-catarinenses já
exibem um desenvolvimento acima da média, graças às novas técnicas introduzidas, principalmente na cultura de arroz irrigado que trouxe riqueza a centenas de famílias rurais. Como se isto não bastasse, agora o Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Reportagem
orizicultor conta com mais um novo aliado, e que dá mais lucro ainda. No meio dos arrozais irrigados estão sendo introduzidos alevinos de peixes que, alimentando-se do plâncton do fundo das quadras de arroz, desenvolvem-se e propiciam uma renda extra ao agricultor.
Zero de poluição Acompanhada do técnico agrícola da EPAGRI Sérgio Silveira, do Escritório Local de Turvo, SC, a reportagem da revista Agropecuária Catarinense visitou no município uma propriedade modelo onde a dupla arroz e peixe está fazendo muito sucesso. O proprietário, Sr. Sérgio Cibien, administra o estabelecimento de 20ha, uma verdadei-ra propriedade agrícola auto-susten-tável. Sérgio Silveira, que orienta tecnicamente a propriedade de Cibien, explica que a utilização do peixe nas lavouras de arroz irrigado traz grandes benefí-cios aos produtores com diminuição da mão-de-obra, menor uso de insumos e praticamente nível zero de poluição ambiental. Mas para criar o peixe no meio do arrozal, ou seja, praticar a rizipiscicultura, algumas modificações necessitam ser feitas nas tradicionais lavouras de arroz. A começar pelas taipas, que devem ser mais reforçadas e altas para realizar o manejo da água, aumentando ou diminuindo o nível de acordo com a necessidade. Outra técnica considerada importante e fundamental pelo técnico da EPAGRI é o refúgio dos peixes, um canal escavado no sentido longitudinal da lavoura, ao lado da taipa, e que funciona como abrigo para os peixes quando diminui o nível d’água dos tabuleiros, por ocasião da colheita ou plantio de nova safra. O canal também serve para refúgio dos peixes quando ocorre elevação ou queda brusca de temperatura. E, ainda, para complementação alimentar dos mesmos. Os peixes mais utilizados pelo pro-
Cibien pesca os lucros
dutor Sérgio Cibien são carpa húngara, tilápia e curimatã, que são rústicos e adaptados às condições da rizipiscicultura. Os peixes têm uma função importante, pois se alimentam de plantas aquáticas, entre elas as ervas daninhas do arroz e insetos nocivos, como a bicheira da raiz, uma praga que costuma atacar a cultura. Com isto, o produtor não gasta dinheiro com herbicida e inseticida e, de quebra, o peixe fertiliza a lavoura gratuitamente. Além disso, o movimento dos peixes no fundo do tabuleiro, procurando comida e mexendo a terra, substitui perfeitamente as máquinas que fazem o preparo do solo para a semeadura do arroz. Além do alimento encontrado nos tabuleiros, os peixes recebem uma ração preparada na propriedade à base de soja, milho e farelo de arroz, produzida no próprio estabelecimento.
Nos meses de novembro a fevereiro a propriedade de Sérgio Cibien, em Turvo, SC, transforma-se. Principalmente nos fins de semana, pessoas de várias localidades vêm pescar e comprar os peixes criados nos tabuleiros de arroz e que são previamente transportados para um açude, onde já encontram outras espécies, como pacu, carpa prateada, etc.. Cada quilo de peixe sai por R$ 1,00 e Sérgio Cibien consegue arrecadar, em média, R$ 600,00 por semana, nos quatro meses referidos. E para tornar mais atrativa a pesca aos clientes, o empresário rural instalou um pequeno bar e churrasqueira para aqueles que, além da pescaria, desejarem tomar bebidas e assar um filé de tilápia, carpa ou curimatã. Aliando diversão ao negócio, a família Cibien fatura alto com a rizipiscicultura. O rendimento das suas lavouras de arroz irrigado atinge 110 sacos/
Pegue e pague Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
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Reportagem
ha e há, ainda, a produção de 3.000kg de peixe. Enquanto as lavouras tradicionais têm um custo de produção aproximado por hectare de 60 sacos, os Cibien contabilizam apenas 24 sacos. A grande vantagem é que, nesta propriedade modelo, a mecanização é mínima, só para preparar e arrumar as taipas e cavar refúgios. Não se usam adubo, nem agrotóxicos. Os custos são basicamente ração e alevinos comprados anualmente para reposição nos tabuleiros. “Se eu colher 100 sacos na minha lavoura, é o mesmo que os outros colherem 150”, vangloria-se Sérgio Cibien, que já possui 4ha de rizipiscicultura e continua ampliando a área. E as novidades não param por aí. O próximo passo dos Cibien é adquirir uma transplantadeira de mudas. Com este equipamento (importado, custa cerca de 13 mil dólares), em vez de semear o arroz a lanço, como é feito atualmente, vai ser possível plantar o cereal já em pequenas mudas, mais eficazmente. Isto vai tornar mais uniforme a distribuição do arroz nos tabuleiros, aprimorando a densidade e facilitando o trabalho dos peixes, que poderão circular mais livremente nas quadras do arroz e realizar um melhor trabalho para o produtor rural. A propriedade modelo da família Cibien vem recebendo visitas de vários produtores do município e região interessados em desenvolver a atividade. O efeito multiplicador já se faz notar no município de Turvo, com diversos agricultores buscando informações e fazendo as transformações nos tabuleiros do arroz.
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Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Alimentação animal
Avaliação de leucena nas regiões Oeste e Meio Oeste Catarinense Rubson Rocha, Mário Miranda e Airton Rodrigues Salerno
A
busca de alternativas para a alimentação de ruminantes nas regiões Oeste e Meio Oeste Catarinense torna-se importante quando se consideram a atual situação e as perspectivas da pecuária leiteira nestas regiões. A partir da metade dos anos 80 o Oeste Catarinense se firmou como importante fornecedor de leite, e atualmente se consolida como a mais importante das cinco bacias leiteiras de Santa Catarina, respondendo por mais de 50% da produção estadual. O aumento da infra-estrutura de beneficiamento de leite na região criou condições para o desenvolvimento da atividade leiteira com fins especificamente comerciais e com melhores padrões tecnológicos. Em 1990, dos 270 milhões de litros produzidos na região, mais de 100 milhões, ou mais de um terço da produção regional, foram enviados às indústrias de beneficiamento (1). A importância da região frente ao Estado é mais destacada quando se consideram o volume de leite recebido pelas indústrias de beneficiamento e os produtores que têm na produção de leite uma importante atividade econômica. Dos mais de 200 milhões de litros recebidos e de 35.000 produtores existentes em todo o Estado, mais da metade (da produção e dos produtores) pertence ao Oeste. Em pesquisa de campo realizada em 1990, foi constatada a existência de 466 linhas de coleta na região, envolvendo mais de 20.000 produtores com um plantel de 110.000 vacas e produção entregue às indústrias de 114 milhões de litros de leite (1). Dentro destas alternativas para a alimentação do gado leiteiro, encontra-se a leguminosa Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit., uma espécie nativa do México, de hábito arbóreo ou arbustivo, perene de verão, que cresce entre as latitudes 30o Norte e Sul, tendo baixa tolerância a geadas (que causam desfolhamento da planta), mas que reAgrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
siste bem às secas, devido ao seu sistema radicular profundo (2). Em Santa Catarina, no Baixo Vale do Itajaí, a leucena proporcionou produções acima de 12t de matéria seca/ ha/ano, ficando entre as leguminosas perenes de verão mais produtivas para aquela região (3). O trabalho desenvolvido visou observar o comportamento desta leguminosa frente às condições edafoclimáticas locais, bem como avaliar o seu potencial produtivo.
ção de 10 mil plantas/ha). Eram efetuados cortes nas duas extremidades da linha de 9m (a parte central de 3m era mantida para observações fenológicas e produção de sementes), a 15cm do solo, quando a maioria das cultivares introduzidas atingia a altura de 1,50m. Para a determinação de teor de matéria seca (MS), levou-se um ramo inteiro de cada introdução, amostrado ao acaso, à estufa por 72 horas a uma temperatura de 65oC.
Condições locais
Resultados
As introduções de leucena foram instaladas em dois locais: no Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades - CPPP da EPAGRI, em Chapecó e na Estação Experimental de Campos Novos - EECN da EPAGRI, em Campos Novos. Testaram-se quinze introduções (Tabela 1) que foram plantadas no dia 9 de janeiro de 1987 - CPPP e 31 de janeiro de 1987 - EECN, em linhas de 9m, com um espaçamento entre covas de 50cm e 2m entrelinhas (popula-
No CPPP foram realizados seis cortes nas seguintes datas: 04/02/88, 07/04/88, 06/01/89, 04/04/89, 09/01/90 e 21/03/90. Na EECN também foram executados seis cortes: 12/01/90, 18/ 04/90, 23/01/91, 16/05/91, 28/01/92 e 22/04/92. Como pode ser observado, a leucena propiciou dois cortes anuais, quando adotado o regime de corte a 1,5m de altura da planta. As geadas fazem com que ocorra o desfolhamento, permanecendo o material sem crescimento
Tabela 1 - Introduções de leucena testadas Espécie/cultivar Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena
leucocephala ‘São José’ leucocephala ‘Peru’ leucocephala x diversifolia ‘K743’ leucocephala ‘K29’ leucocephala ‘K636’ leucocephala ‘K500’ leucocephala ‘K8’ leucocephala ‘K217’ leucocephala ‘K67’ leucocephala ‘Cunningham’ pulverulenta leucocephala ‘Campo Grande’ leucocephala ‘Gigante’ leucocephala ‘Colonial’ leucocephala ‘CPTSA’
Origem São José, SC Itajaí, SC Hawaii, EUA Hawaii, EUA Hawaii, EUA Hawaii, EUA Hawaii, EUA Hawaii, EUA Hawaii, EUA CNPGC(A) CNPGC(A) CNPGC(A) CNPGC(A) Janaúba, MG Petrolina, PE
(A) Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte, Campo Grande, MS - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA.
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Alimentação animal
durante o inverno. Com o aumento da temperatura, na primavera, ocorre a rebrota e há o crescimento da leucena até o início de janeiro, quando os materiais atingiam a altura de corte preconizada. Nesta ocasião havia nova rebrota e após dois a três meses atingia-se novamente a altura de corte. Após este, havia nova rebrota e quando da ocorrência das primeiras geadas, no outono e inverno, o material já se encontrava com altura superior a 50cm, porém não se efetuava o corte. Os resultados em termos de produção de matéria seca por hectare, para cada região, encontram-se nas Tabelas 2 e 3. A média de produção de matéria seca para as cultivares introduzidas no CPPP foi de 10,7t de MS/ha/ano, com 63,1% produzidos no primeiro corte e 36,9% no segundo corte (Tabela 2), enquanto que na EECN a produção média ficou em 7,7t de MS/ha/ ano, distribuídos em 67,6% no primeiro corte e 32,4% no segundo corte (Tabela 3). A cultivar Gigante desapareceu já no primeiro ano na região de Campos Novos, demonstrando sua baixa resistência às geadas. Os materiais que se destacaram na região de Chapecó (Tabela 2), produzindo acima de 12t de MS/ha/ano, foram as seguintes cultivares: São José, K743, K29, K636 e Cunningham. Na região de Campos Novos foram as seguintes: K29, Campo Grande, Leucena pulverulenta, Colonial e K743, produzindo acima de 8t de MS/ ha/ano.
Conclusões Apesar da baixa tolerância às geadas, característica que não afeta a persistência da maioria das introduções de leucena, a espécie mostrou poten-cial produtivo para as regiões, com um rendimento médio de 10,7t anuais de matéria seca/ha, na região de Chapecó, e ao redor de 7,7t anuais de matéria seca/ha, na região de Campos Novos. Outros estudos serão necessários para comparar a produtividade encontrada frente a outras leguminosas (alfafa, outras espécies perenes de verão), diferentes manejos de corte (outras alturas de corte) e mesmo avaliações sob pastejo direto.
Literatura citada 1. INSTITUTO CEPA-SC. Diagnóstico geral
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Tabela 2 - Teor médio (%MS) e produção média de matéria seca por hectare (t de MS/ ha), por corte e anual, dos materiais introduzidos na coleção de leucena do Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades - CPPP, da EPAGRI em Chapecó, SC. Resultados obtidos em cortes (1988 a 1990) 1 o corte (Jan.-Fev.)
2 o corte (Mar.-Abr.)
Total Anual
Espécie/cultivar M S MS/ha M S (%) (t) (%) Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena
leucocephala São José leucocephala x diversifolia K743 leucocephala K29 leucocephala K636 leucocephala Cunningham leucocephala Colonial leucocephala K500 leucocephala cultivar Peru pulverulenta leucocephala Campo Grande leucocephala K8 leucocephala CPTSA leucocephala K217 leucocephala K67 leucocephala Gigante
Média
MS/ha M S (t) (%)
MS/ha (t)
30,8 29,2 30,3 28,3 30,5 28,8 29,1 29,5 28,7 28,3 31,0 31,1 29,9 30,1 30,6
8,9 8,9 8,8 8,1 7,6 7,9 5,9 6,0 6,9 6,6 5,9 5,9 5,6 4,5 4,0
28,4 27,3 28,4 27,1 28,0 27,9 30,0 29,5 29,0 28,2 29,0 29,3 28,7 30,2 28,8
4,6 4,5 4,3 4,2 4,4 3,9 4,9 4,5 3,5 3,4 3,9 3,6 3,8 3,0 2,9
29,6 28,2 29,3 27,7 29,3 28,4 29,6 29,5 28,8 28,2 30,0 30,2 29,3 30,2 29,7
13,5 13,4 13,1 12,3 12,0 11,8 10,8 10,5 10,4 10,0 9,8 9,5 9,4 7,5 6,9
-
6,75
-
3,95
-
10,7
Tabela 3 - Teor médio (%MS) e produção médio de matéria seca por hectare (t de MS/ ha), por corte e anual, dos materiais introduzidos na coleção de leucena da Estação Experimental de Campos Novos - EECN, da EPAGRI em Campos Novos, SC. Resultados obtidos em seis cortes (1990 a 1992) 1 o corte (Jan.)
2o corte (Abr.- Maio)
Total Anual
Espécie/cultivar M S MS/ha M S (%) (t) (%) Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena Leucaena
leucocephala K29 leucocephala Campo Grande pulverulenta leucocephala Colonial leucocephala x diversifolia K743 leucocephala São José leucocephala K500 leucocephala K636 leucocephala Cunningham leucocephala cultivar Peru leucocephala K8 leucocephala K217 leucocephala CPTSA leucocephala K67 leucocephala Gigante
Média do setor agrícola: evolução, situação atual e perspectivas; Oeste Catarinense. Florianópolis: 1990. 227p. 2. SKERMAN, P.J. Tropical forage legumes. Rome: FAO, 1977. 609p. 3. SALERNO, A.R. Leguminosas forrageiras no Litoral de SC. Agropecuária Catarinense , Florianópolis, v.3, n.3, p.19-21, 1990.
MS/ha (t)
MS (%)
MS/ha (t) 11,2 9,3 9,2 8,6 8,4 8,0 7,8 7,1 7,1 7,1 6,9 6,7 5,8 5,0 -
30,7 31,1 32,7 31,5 30,8 32,6 33,0 31,0 32,4 31,5 33,7 33,7 34,3 31,2 -
7,6 5,9 6,6 6,0 5,8 5,4 5,1 5,0 4,8 4,8 4,3 4,6 3,9 3,3 -
29,2 28,3 27,4 28,9 27,2 31,6 30,5 28,5 29,0 28,5 31,1 29,3 29,4 29,9 -
3,6 3,4 2,6 2,6 2,6 2,6 2,7 2,1 2,3 2,3 2,6 2,1 1,9 1,7 -
30,0 29,7 30,0 30,2 29,0 32,1 31,7 29,7 30,7 30,0 32,4 31,5 31,9 30,6 -
-
5,2
-
2,5
-
7,7
Rubson Rocha, Méd. vet., M.Sc., CRMV-SC no 0886, EPAGRI/Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades/CPPP, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877, Fax (0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SC; Mário Miranda, Eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 1.571-D, CREA-SC, EPAGRI/Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades/ CPPP, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877, Fax (0497) 221012, 89801-970 - Chapecó, SC e Airton Rodrigues Salerno, Eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 10.002-D, CREASC, EPAGRI/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, Fone (0473) 46-5244, Fax (0473) 46-5255, 88301-970 Itajaí, SC.
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
REGISTRO Milho-verde: onze meses de safra A proximidade dos centros consumidores e a existência de clima favorável para um prolongado período de cultivo transformaram o município de Santo Amaro da Imperatriz em grande produtor de milho-verde. Mais de 400 famílias de pequenos agricultores têm nessa cultura a sua principal fonte de renda. O município, desde 1845, quando a imperatriz Tereza Cristina elegeu suas águas termais como as melhores do mundo, associou o seu destino ao turismo. E o milho-verde foi uma mo-da lançada por Santa Catarina ao longo dos mais de 200km de praias: servi-lo ao turista, co-zido na hora, como lanche, há mais de dez anos. Em 500ha de cultura, repetindo plantios e fazendo várias safras na mesma área dentro do ano, os santamarenses começam a plantar em maio, através da prática de canteiros semanais dimensionados para a demanda, também semanal, e fazem os últimos plantios em novembro. As safras do inverno, de ciclo mais longo devido o menor número de horas/ luz, servem para abastecer os consumidores residentes ao longo do Litoral, mediante o fornecimento diretamente às redes de supermercados e feiras. A partir de dezembro entram os turistas e os canteiros, dimensionados para maior, passam a fornecer milho-verde para o cozimento diretamente na praia. Como o ciclo do milho colhido enquanto verde é mais curto que o do milho destinado a grãos, o cultivo pode ser repetido na mesma área a cada 80 dias. As colheitas vão de junho a abril. A cada semana, os compradores chegam nas propriedades, carregam as quantidades combinadas, pagam e transportam o produto até os pontos de varejo.
assegura que “a cultura já se tornou uma tradição entre os agricultores”, porque o início dessa prática tem cerca de 20 anos. E destacou algumas dificuldades: “o produtor precisa dedicar-se intensivamente, do mesmo modo como se fosse horticultor. O comprador tem dia e hora certos para chegar. Ele encosta o caminhão e não quer saber se choveu demais, se alguém adoeceu ou se esteve viajando. Ele quer recolher a mercadoria, porque lá adiante, no supermercado ou na praia há varejistas esperando, há consumidores querendo comprar o produto. Se o produtor não estiver preparado e se não for caprichoso, cai fora do mercado”.
A festa O atual prefeito de Santo Amaro da Imperatriz, José Rodolfo Turnes, também produtor de milho-verde, é o maior incentivador da cultura, tanto que já no seu primeiro ano de administração instituiu a Festa Regional do Milho--verde, cuja terceira edição acaba de acontecer. Para Turnes, a continuidade do evento será tema para o próximo governo, mas a comunidade certamente vai pressionar para que tenha continuidade. “De um lado, divulga a cidade e seu potencial turístico e econômico; de outro, permite que uma dúzia de entidades filantrópicas ganhem algum dinheiro com as
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
A cultura Enquanto que em Imbuia, os produtores de 1.800ha de cebola cultivam o milho em sucessão, para colhê-lo verde, destinado à silagem e como cultivo secundário, em Santo Amaro da Imperatriz essa cultura ocupa o primeiro lugar em área e renda. Em Imbuia, o cultivo vai de novembro/dezembro a março/ abril, não coincidindo a colheita com o período turístico. E a distância em relação aos centros consumidores também é maior, encarecendo o frete. Esse não é o caso de Santo Amaro da Imperatriz. O cultivo atende plenamente as épocas de maior consumo e os centros consumidores estão próximos e servidos de bons acessos. O engenheiro agrônomo José Orlando Borghesan, da EPAGRI local, recomenda aos produtores a variedade de milho Pioneer 3232, melhor adaptada às exigências do mercado: grãos brancos, macios, de pouco cabelo e de granulação uniforme. As espigas são vistosas, uniformes e a mercadoria é bem aceita. A produtividade, segundo Borghesan, é de 30 mil espigas/ha ou 5t. Já em Imbuia, segundo o engenheiro agrônomo Maurício Melim Webber, a produtividade é de 3t/ha.
Milho-verde, a nova riqueza do cinturão verde
Bom negócio O sistema de comercialização é por milheiro de espigas. No verão de 1995 eram pagos R$ 200,00 por milheiro. Com essa mesma quantidade de milho seco obtém-se 3 sacos de 60kg, que aos preços de mercado valiam menos de R$ 15,00. Os produtores estão satisfeitos com a remuneração, apesar de reconhecerem a existência de uma intermediação ganhando bem mais que os produtores: a espiga chega ao consumidor de praia por R$ 1,00. Os donos de barraquinhas pagam aos intermediários em torno de R$ 0,60 por espiga. Os produtores recebem apenas R$ 0,20 por espiga. Nos supermercados é um pouco diferente: as espigas chegam até por menos que R$ 0,20 e os consumidores as adquirem por aproximadamente R$ 1,50 o maço de cinco espigas. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município, Manoel Luiz Rachadel, também produtor de milho-verde,
te ao preparo de silagem para o gado leiteiro e minoritariamente para o consumo das famílias produtoras.
barraquinhas instaladas dentro do parque da festa”. São as entidades assistenciais do município que recebem a permissão para instalar restaurantes, lanchonetes e barraquinhas dentro do parque da Festa Regional do Milho-verde, promoção que recebe anualmente cerca de 25 mil pessoas. O município de Imbuia montou, também nesses últimos três anos, a Festa Estadual do Milho-verde (Femive), mas a sua produção não se destina ao mercado diretamente. As 4 mil toneladas de milho-verde, colhidas em plantio que sucede a cultura da cebola, se destinam principalmen-
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Registro
Bovinocultura de leite: melhoria começa na terneira Produtores e autoridades de Tunápolis, município localizado no Extremo Oeste, na divisa de Santa Catarina com Misiones, República Argentina, estão buscando no leite a alternativa mais sólida da economia primária. E como lhes faltam recursos para promover uma brusca melhoria genética, as 530 famílias de pequenos produtores decidiram evoluir aos poucos, porém, constantemente. A Prefeitura Municipal, através da Secretaria da Agricultura, montou um programa de inseminação artificial e logo depois um concurso para avaliar a qualidade genética das terneiras nascidas dentro do programa. O concurso abre as inscrições entre março e novembro e realiza-se em abril de todos os anos, com os animaizinhos nascidos a partir de março até novembro. Os animais inscritos são desmamados aos dois meses de idade e manejados segundo orientação da EPAGRI e na véspera do concurso passam por uma classificação levando em conta as características raciais e o desempenho do proprietário quanto ao manejo. Os animais classificados, com idade entre cinco meses e um ano, no dia do concurso, passam por um rigoroso julgamento classificando primeiro, segundo e terceiro lugares das duas raças presentes no município, holandesa e jersey. Os primeiros lugares recebem prêmios de incentivos e voltam com seus animais para a propriedade. No ano seguinte, enquanto se realiza novo concurso, as premia-das do ano anterior retornam, então já cobertas e com cerca de quinze meses de idade, apenas para exposição aos olhos de toda a comunidade.
Sêmen qualificado A inseminação cabe à Secretaria Municipal de Agricultura, que providencia a aquisição de sêmen visando valorizar não só o ato de inseminar, mas fazendo uma avaliação linear, de forma a acrescentar às qualidades da fêmea uma complementação no sentido de adicionar qualidades. Esse trabalho é acompanhado pelos técnicos e já aprovado pelos produtores. Um técnico agrícola, um engenheiro agrônomo, um médico veterinário, um auxiliar e um inseminador atuam pela Prefeitura. A EPAGRI completa a equipe com mais três técnicos. Apoiam o programa, além da Prefeitura, duas empresas de laticínio, inclusive com assistência técnica. Para o terceiro concurso, que teve lugar em abril último, inscreveram-se 97 terneiras de 76 proprietários, classificando-se 45. O próprio Secretário Municipal de
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cresceu 16%, saltando de 3,6 milhões para 4,2 milhões de litros/ ano entregues aos laticínios. Cresce vertiginosamente também o número e o volume da silagem realizada pelos produtores. Em 1992 eram 22 produtores ensilando 1.000m 3 . Em 1994 esse número passou para 55 produtores e 2.200m 3 e neste ano são 102 produtores com 5.600m3 de silagem. Quatro grupos organizados de produtores, num total de 48 sócios, adquiriram máquinas de colheita e corte de massa destinada aos silos. O antigo distrito de Itapiranga, Tunas, hoje município de Tunápolis, passou a dedicar-se ao leite há quinze anos, mas o cresciGrande campeã holandesa, propriedade de mento se deu de cinco anos para Alberto Wassmuth cá, e o produto já ocupa o segundo lugar em importância econômica, perdendo apenas para a suinocultura. Agri cultura, Bruno Heberle, 31, também viceA atividade tem sido levada a sério pelos prefeito, é um dos produtores concorrentes, produtores. Na família Ludwig, por exemem cuja propriedade são produzidos 15 litros/ vaca/dia, em média, mediante um sistema que maneja potreiro, pastejo e silagem. “Com isso”, diz Heberle, “fica mais fácil produzir leite no inverno do que no verão”. É grande também o entusiasmo dos produtores Selvino Ludwig, 54, e Vilson Natalino Costa, 35, ambos com animais classificados. Costa, com 12ha de baixa fertilidade e sem recursos para calcário e adubo, faz o que pode em termos de adubação verde e pastagem de inverno. Produz 75 litros/dia com seis vacas lactando e exiGrande campeã jersey, propriedade de Selvino Ludwig be orgulhoso uma terneira recém nascida dentro do controle linear de genética: plo, um dos três filhos do casal, Décio, com “neste bichinho conseguimos introduzir ca25 anos de idade saiu para cursar uma escola racterísticas para superar em muito as qualiagrícola especialmente para poder cuidar dades de sua mãe, que já é boa”, diz. melhor da propriedade. A comunidade tunapolitana também Crescimento apóia o setor primário participando de uma feira agroindustrial que se realiza paralelaOutro grande incentivador e cada dia mente ao Concurso Municipal da Terneira. mais entusiasmado com o programa é o técEsses eventos são, atualmente, a maior nico Adenor Wendling, da EPAGRI local. festa do município. Nesses últimos dois anos, a produção leiteira
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
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Bugio é símbolo de luta ambiental A existência de algumas famílias de bugios Alouata fusca bem próximo ao centro da cidade de Indaial, SC, desencadeou um movimento ambientalista e biológico entre professores e alunos de Ciências Biológicas da FURB - Fundação Universitária da Região de Blumenau, tendo os bugios como símbolo dos trabalhos. Tudo começou quando em 1990 a professora Zelinda Maria Braga Hirano, biomédica, ao ser admitida como professora do curso de Ciências Biológicas da FURB, resol-veu residir em Indaial e sua casa ficava a poucos metros da propriedade rural do Sr. Walter Geisler, na verdade um morro coberto com mata nativa com extensão de 40ha. Oriunda do interior de São Paulo, Zelinda não conhecia o “ronco do bugio” e teve sua curiosidade despertada por esse “animal incomum”. Ao discutir com seus alunos, alguns deles indaialenses, foi conhecendo novas informações e crendices sobre esse animalzinho. O que mais pesou no lançamento do movimento foi o fato de “haver uma crença popular de que o aparelho vocal (gogó) do bugio fornece uma substância milagrosa, em forma de chá, para a cura da gagueira das pessoas”. E vinha sendo constante a captura e abate de bugios com esse fim. O movimento passou a ser integrado por Nilse de Freitas Jacobsen, bióloga, também da FURB, por Vera Junckes, professora da Prefeitura local, pelos alunos João Carlos da Silva, Adriana Bragagnolo, Fabiane Robl e pelo comerciante indaialense Eduardo Wanke. Do movimento surgiu o Centro de Pesquisas Biológicas de Indaial - CEPESBI, que sobrevive às custas de um convênio Prefeitura/FURB.
Ampliação A partir do estudo do comportamento dos bugios, a equipe percebeu a necessidade de ampliar os trabalhos, sobretudo visando a preservação da fauna e flora locais. Uma dessas necessidades foi a educação ambien-tal formal nas quintas e sextas séries das escolas municipais, mediante a qualificação dos professores e a promoção de uma rodada de palestras, exposições e reu-niões com os mais diferentes públicos: asso-ciações, empresas, clubes de serviço e escolas. Outra necessidade atendida viabilizou-
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
se através de intercâmbio com a FURB, pelo qual os alunos das escolas de 1o e 2o graus passaram a elaborar projetos de pesquisa de iniciação técnica. Na fase atual, os pesquisadores estudam a relação mãe-filhote de bugio em ambiente natural e realizam o censo populacional e a avaliação estrutural do habitat natural do bugio. Em fase final já estão os seguintes projeEduardo Wanke, Fabiane Robl e João Carlos da Silva, entusiasmados com as pesquisas tos: estudos preliminares de um grupo de bugios; atividades matinais de um grupo de bugios; padrão de atividades diárias dos bugios; contribuição ao estudo da dieta alimentar do bugio ruivo em ambiente natural; proposta de educação ambiental para as 5a e 6 a séries do 1o grau; e elaboração e construção de uma arma para lançamento de dardos anestésicos. Os estudos do grupo, segundo suas próprias informações, acaBugios no alto das árvores em Indaial, SC bam por beneficiar outros animais que existem na área: porco-espinho, furão, quati, frugívoro e vegetariano, que vive em bandos de até doze exemplares, hoje já identifijaguatirica, tatu, sere-lepe e a própria hárpia, cados como “família”. Quando há macho de predadora, que ataca os filhotes dos bugios. sobra, o mais astuto espanta o concorrente, tendo como vantagem o ronco mais potente. O bugio Cerca de 70% do tempo os bugios ficam em repouso, tornando-se difícil a sua localiConforme declarações de nossos entrezação na selva. Sua reprodução se dá vistados do CEPESBI e literatura sobre o unigenitamente. O seu ronco serve para bugio, hoje se sabe que existem duas variedademarcação de terreno, expulsão dos condes desse animalzinho habitando as florestas correntes e, segundo a lenda, para anunciar do Sul do Brasil. Uma delas é a encontrada em tempo de chuva. Indaial, formada por bugios ruivos, cuja No rol dos ritmos musicais regionalistas, pelagem chega quase aos tons dourados, memexiste um chamado bugio. Segundo historibros da espécie Alouata fusca . Essa é uma adores, o ritmo teria surgido a partir da gaita de oito baixos, numa marcação melódica espécie nativa da Serra do Mar, até altitudes semelhante ao ronco do guariba/bugio. Posde cerca de 400m. Acima dessa quota, em teriormente também a forma de dançar áreas passíveis de geadas, habita a espécie passou a imitar o andar meio trôpego, em Alouata caraya, de menor tamanho e pelagem zigue-zague e um pouco saltitado, que é escura. No mais, ao que parece, são idênticos. como caminha o bugio quando está no solo. O bugio é um símio platirrino, da família Fora isso, o bugio vive no alto das copas dos cebídeos, do gênero Alouata, caracterizadas árvores, onde se alimenta de folhas, do pela maxila inferior barbada e sobretudo frutos e flores, e se defende dos predadores pelo grito ou ronco peculiar. É um animal de terra.
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Registro
Lesmas - mais uma praga? Há cerca de dois anos alguns agricultores da Linha Cambucica, no município de Nova Itaberaba, distante aproximadamente 35km de Chapecó, constataram a proliferação de lesmas em suas propriedades. Inicialmente não se preocuparam com o fato, porém, percebendo que a população de lesmas continuava aumentando e que estavam causando danos em hortaliças, soja e, principalmente, na lavoura de feijão, decidiram buscar auxílio técnico através do Departamento Municipal de Agricultura. A partir daí, as autoridades do município - prefeito, vice-prefeito, diretor do Departamento de Agricultura e técnicos - empenharam-se em buscar informações para o controle das lesmas. Um dos contatos foi com o Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades da EPAGRI - CPPP em Chapecó. A primeira providência foi a visita de um pesquisador (Eng. agr. Silmar Hemp), juntamente com o Eng. agr. Leocir Moro, do Escritório Municipal de Agricultura, o diretor
do Departamento de Agricultura e o prefeito municipal a algumas propriedades para verificar o problema. Considerando que também na EPAGRI não havia registro anterior de ocorrência de lesmas como praga na cultura do feijão em Santa Catarina, foram estabelecidos contatos com outras instituições de pesquisa. 16
Até o momento, o contato mais promissor foi com o Instituto de Biociências da PUC em Porto Alegre, para onde foi encaminhado material a um especialista em moluscos. Está sendo aguardada resposta quanto à identificação da espécie e outras informações. Sendo a lesma uma praga até agora inexpressiva em nosso Estado, há poucas informações sobre métodos eficazes para controlá-la. Os agricultores da Linha Cambucica, juntamente com os técnicos e a prefeitura municipal, estão empenhados em utilizar os meios disponíveis para amenizar o problema, enquanto os técnicos continuam na busca por outras alternativas para o controle da praga. Pelo que se pode constatar até o momento, será necessário recorrer a uma integração de diferentes formas de controle iniciando pela eliminação de ambientes favoráveis para a proliferação das lesmas. A aplicação convencional de inseticidas não é eficaz no caso das lesmas, devido a peculiaridades das mesmas, que são molus-cos. Preocupados, os agricultores questionam sobre as causas do surgimento desta praga. Certamente as lesmas encontraram aí ambiente favorável, sem que houvesse predadores ou inimigos naturais para limitar a sua multiplicação. Registrado este primeiro sinal de alerta, agricultores e técnicos estão diante do desafio para encontrarem as alternativas mais viáveis para o controle e/ou convívio com mais esta praga em potencial.
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Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Mudas de videira
Método de forçagem para produção de mudas de videira Novas técnicas permitem alcançar melhores resultados Edegar Luiz Peruzzo
A
maioria das variedades de uva plantadas em Santa Catarina é propagada através da enxertia, utilizando o porta-enxerto enraizado diretamente no local definitivo do vinhedo. Isto ocorre por causa dos altos custos da muda vendida pelos viveiristas, em função da produção limitada e devido, principalmente, à quantidade de mão--de-obra necessária no período de enxertia e ao tempo de dois anos para a formação da muda. A produção em massa de mudas de videira só é alcançada através da multiplicação por cultura de tecido ou pelo método de forçagem. A produção de mudas de videira por cultura de tecido necessita de laboratórios e mão-de-obra especializada, o que de certa forma inviabiliza sua utilização pelos viveiristas. Também é necessário um mercado estável na venda das mudas, para compensar os custos de manutenção dos laboratórios e da mão--de-obra especializada. A produção de mudas pelo método de forçagem necessita menores investimentos em infra-estrutura e em mão--de-obra especializada. O método de forçagem consiste na produção de mudas partindo-se de estacas de porta--enxertos que uma vez enxertadas são colocadas em sala com temperatura e umidade controlada. Na sala de forçagem, assim denominada, ocorrem a brotação e cicatrização do enxerto e posteriormente o enraizamento, formando a muda. Na seqüência, as mudas são retiradas da sala de forçagem e sofrem o processo de aclimatação, estando logo em seguida prontas para o plantio. O tempo necessário para a produção de mudas Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
por forçagem é de aproximadamente 60 dias. A utilização de material vegetativo oriundo de plantas matrizes, a multiplicação em larga escala e os baixos custos de produção permitiram que o método de forçagem fosse utilizado por muitos viveiristas em outros países na produção de mudas de videira (1). No Brasil, vários viveiristas optaram pelo uso deste método, porém Figura 1 - Épocas de coleta de material vegetativo e o com pouco sucesso. Isto percentual de pegamento de mudas porque seguiram as mesmas etapas recomendadas período de 12 horas. Em seguida, deve e usadas em outros países, sem as ser protegido com papel úmido e acondevidas adaptações às condições clidicionado em sacos plásticos, os quais máticas locais e aos materiais utilizasão armazenados em câmara fria até dos no enraizamento das mudas na a enxertia. Na câmara fria, onde o sala de forçagem. Estudos conduzidos material vegetativo da videira permarecentemente na Estação Experimennecerá armazenado, não deve haver tal de Videira, da EPAGRI, evidenciafrutos para não afetar as gemas das ram as adaptações necessárias para variedades produtoras de uva. alcançar maior índice de porcentagem de pegamento das mudas, produSubstrato de zidas pelo método de forçagem, nas enraizamento nossas condições, as quais são citadas a seguir. Em outros países é usado como material de enraizamento a perlita. Época de coleta do Este material tem como característimaterial vegetativo cas não permitir o desenvolvimento de fungos e uma boa relação entre A melhor época de coleta de mateumidade/oxigênio, o que facilita o rial vegetativo dos porta-enxertos e enraizamen-to da muda. Como a variedades produtoras é pelo menos perlita não é produ-zida e encontrada 30 dias antes da enxertia realizada em no Brasil, foram testados como alteragosto, como mostrado na Figura 1. nativas o pó-de-xaxim, a vermiculita, O material vegetativo coletado a maravalha e a serragem de Pinus deve ser imediatamente submetido a elliotti , materiais estes facilmente um banho com fungicidas por um 17
Mudas de videira
encontrados em nossas regiões. Observando-se os resultados, verificouse que o pó-de-xaxim e a serragem apresentaram os maiores índices de enraizamento e conseqüentemente de pegamento das mudas (Figura 2), indicando a utilização destes substratos no método de forçagem. Contudo, nas caixas plásticas onde são colocados os bacelos enxertados, a altura da camada destes substratos não deve ultrapassar a região da enxertia, deixando assim o enxerto totalmente a vista como mostrado na Figura 3. Esta alteração no método de forçagem permite o uso destes substratos com o controle preventivo de podridões nos brotos dos enxertos. Além disso, facilita os trabalhos como a colocação dos porta-enxertos enxertados em caixas plásticas ao invés de caixotes de madeira, normalmente utilizados para este fim. É importante salientar que a modificação do nível de substrato de enraizamento nas caixas não inviabiliza o uso de máquinas de enxertia, como mostrado na Figura 4.
Preparo do material enxertado Para acelerar a formação do sistema radicular com maior número de raízes, submerge-se a parte basal do porta-enxerto em ácido indolbutírico (IBA) na concentração de 2.000ppm. A região do enxerto deve ser protegida com parafina, aplicada por submersão dos enxertos em parafina líquida a uma temperatura de aproximadamente 60oC. Sempre ter o cuidado de, logo após o processo de parafinagem, colocar o material em água fria, esfriando assim a parafina, para não afetar a gema da variedade produtora.
nosidade artificial com lâmpadas fluorescentes. As dimensões da sala de forçagem dependem da quantidade de mudas a serem produzidas. Uma sala com 2,60m de comprimento, 2,30m de largura e 2,50m de altura permite produzir 4.500 mudas por série. Isto é, 4.500 mudas em agosto e 4.500 mudas em setembro. Para estas dimensões de sala de forçagem um aparelho de ar condiFigura 2 - Percentagem de pegamento das mudas com cionado de 10.000 BTUs e pó-de-xaxim, maravalha, vermiculita e serragem dez lâmpadas fluorescentes de 40W são suficientes. elétrica. A manutenção de 30o C na sala de forçagem pode ser conseguida com aparelhos de ar condicionado, Aclimatação das mudas sem prejuízos à umidade do ar, a qual é mantida molhando-se as paredes da sala de forçagem manualmente todos Após a permanência de aproximaos dias. A manutenção da umidade do damente 30 dias na sala de forçagem, ar acima de 80% deve ser observada as mudas devem ser submetidas a rigoro-samente, para evitar danos na aclimatação para sobrevivência quancica-trização da enxertia, os quais podo plantadas no campo. A aclimatação derão ser maiores quando da utilizadeve ser de forma gradual, iniciando ção de máquinas de enxertia. Aconsepor períodos curtos e aumentando lha-se aplicar fungicidas semanalgradativamente o número de horas mente nas paredes da sala de forçagem. de insolação durante uma semana. A brotação das gemas dos enxertos Em seguida as mudas são retiradas ocorre aproximadamente dez dias após das caixas e transferidas para sacos o material enxertado ser colocado na plásticos (Figura 5). O substrato tersala de forçagem. Para evitar estiolara, areia e casca de arroz queimada, mento dos brotos durante o restante na proporção em volume de 2:1:1, do tempo em que são mantidos na sala mostrou-se ser o melhor para o dede forçagem, deve-se manter lumi-
Sala de forçagem A característica mais importante de uma sala de forçagem é manter a umidade e calor estáveis, evitando-se assim maiores gastos com energia 18
Figura 3 Região da enxertia não coberta pelo substrato
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
LANÇAMENTOS EDITORIAIS
Mudas de videira
Figura 4 Máquina de enxertia (corte tipo ômega). Média de 2.000 enxertos por dia
Figura 5 Etapas da produção de mudas por forçagem: A - enxertia; B - sala de forçagem; C - transplante
senvolvimento das mudas na fase de aclimatação. As mudas permanecem por mais 20 dias nos sacos plásticos antes de estarem prontas para a transferência ao campo.
Considerações finais O método de forçagem é uma alternativa para produção de mudas de videira em larga escala, porém dependente do mercado de mudas de videira. Além da produção em massa, permite a produção de mudas com controle fitossanitário, principalmente de pragas e doenças de solo (pérola-daterra e fusariose), apontadas como Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Recomendação de cultivares para o Estado de Santa Catarina 1995-96. Boletim Técnico no 72 - 142p. A EPAGRI está lançando mais uma edição deste Boletim anual, cujo objetivo é manter técnicos e agricultores permanentemente atualizados e orientados quanto à escolha das cultivares mais adaptadas e produtivas nas diversas regiões do Estado. A edição deste ano contempla as cultivares de adubos verdes, alface, alho, ameixa, arroz irrigado, aveia branca, banana, batata, batata-doce, cebola, cenoura, citros, essências florestais, feijão, feijão-de-vagem, forrageiras, maçã, mandioca, melancia, melão crioulo, milho, morango, pepino, pêra, pêssego, pimentão, quivi, repolho, soja, tomate, trigo, triticale e uva. Os materiais recomendados são aqueles que, após testes e avaliações agronômicas, melhor se comportam nas diferentes regiões edafoclima-ticas de Santa Catarina, e dos quais existam sementes ou mudas disponíveis.
causas do declínio e morte das videiras em Santa Catarina. O método de forçagem assim modificado passa a ser uma alternativa de baixo custo para a produção de mudas sadias de videira, com possibilidade de ser utilizado pelos produtores de mudas.
Literatura citada 1. PICCOLI, P.J. Formação de mudas de videira. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.2, n.3, p.17-19, 1989. Edegar Luiz Peruzzo , Eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. n o 11.512-D, CREA-SC, EPAGRI, Estação Experimental de Videira, C.P. 21, Fone (0495) 33-0054, Fax (0495) 33-0391, 89560-000 - Videira, SC.
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Fruticultura
Epidemiologia e controle da crespeira do pessegueiro Jorge Bleicher e Onofre Berton
crespeira é uma das principais doenças do pessegueiro na Europa e nos Estados Unidos. Da mesma forma, no Sul do Brasil, a doença é problemática (1). É causada pelo fungo Taphrina deformans (Berck.) Tul. e é uma doença importante onde o pes-segueiro brota em condições úmidas e frias. As cultivares de pesseguei-ro de polpa amarela são mais sus-cetíveis à crespeira que os de polpa branca.
A
Sintomas A crespeira se desenvolve, sobretudo, nas folhas (Figura 1) e, rara-
Figura 1 Sintomas de crespeira do pessegueiro nas folhas
Etiologia
Figura 2 Sintomas de crespeira no pessegueiro
mente, nos frutos (Figura 2). Ataca principalmente os ramos do ano. No princípio da primavera, quando as folhas são muito tenras, observa-se que o limbo engrossa, enrugando-se parcial ou totalmente em espiral na parte inferior e enrola-se, unilateralmente. Algumas vezes o crestamento ocupa apenas uma pequena área foliar, continuando o resto do tecido a desenvolver-se normalmente (1). Quando o ataque é precoce, a 20
crespeira se manifesta sobre os brotos, originando folhas menores que as normais; estas persistem sobre a árvore até secarem. A coloração do tecido atacado é roxa ou cor de vinho. Nos ramos e frutos, a doença só se manifesta em condições de infecção severa. Quando as partes atacadas adquirem a coloração roxa, a epiderme superior se cobre de pó branco, consti-tuído pelas frutificações do fungo, as ascas.
O patógeno pode sobreviver durante o inverno, na forma de micélio, nos ramos e brotos, e de conídios, que estão sobre toda a planta como esporos hibernantes (1). No inchamento das gemas do pessegueiro, na primavera, os esporos germinam, penetrando nas folhas jovens, se as condições de umidade e temperatura são apropriadas. À medida que as folhas ficam mais velhas, elas tornam-se mais resistentes. O estádio fenológico em que o pessegueiro encontra-se mais suscetível é quando o tecido das novas brotações ainda é jovem. Após a florada (estádio G da Figura 3) não se observa incremento da doença (Figura 4) (2). A doença se desenvolve, mais intensamente, em áreas onde a primavera é fria (3); em temperaturas médias das máximas mensais entre 17 e 19oC existe uma probabilidade de 50% de ocorrer mais de 80% de crespeira nas folhas e 100% de probabilidade de Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Fruticultura
ocorrer algum broto com a doença (Figura 5).
Controle
Figura 3 - Estádios fenológicos do pessegueiro - (A) Gema de inverno; (B) Gema inchada; (C) Cálice descoberto; (D) Corola descoberta; (E) Estames descobertos; (F) Flor aberta; (G) Queda das pétalas; (H) Fruto formado; (I) Fruto jovem
Figura 4 Percentagem de brotos de pessegueiro com crespeira, em plantas não tratadas com fungicidas, em diferentes datas, cultivar Coral
Bons resultados no controle da doença têm sido verificados nos tratamentos realizados um pouco antes da brotação, quando a gema está inchada, no estádio fenológico B (Figura 6). Os produtos recomendados são: oxicloreto de cobre, óxido cuproso, mancozeb, captan, dithianon e folpet (4, 5 e 6) nas dosagens recomendadas pelos fabricantes (Figuras 7 e 8). Devese ter cuidado no uso dos produtos à base de cobre, a partir do início da florada, visto que são fitotóxicos ao pessegueiro. É recomendado o uso de fungicidas a base de cobre no outono, após a queda das folhas, ou durante o inverno. Entretanto, este tratamento é menos eficiente que o primeiro. Pode-se controlar a crespeira do pessegueiro com uma única aplicação de fungicida. Este sistema é chamado de Sistema em Alta Dosagem (SAD). Neste caso a dosagem é de cinco vezes aquela recomendada pelo fabricante (Figura 9) e a época mais adequada é o estádio fenológico B (gemas inchadas) (6) (Figura 6). Até o presente momento o único produto testado para este sistema foi o fungicida mancozeb. Nenhuma cultivar é imune à crespeira, porém, algumas cultivares como Redhaven e cultivares originárias desta têm alguma resistência à doença.
Literatura citada 1. BLEICHER, J.; TANAKA, H. Doenças do pessegueiro no Estado de Santa Catarina. 2.ed. Florianópolis: EMPASC, 1982. 53p. (EMPASC. Boletim Técnico, 4).
Figura 5 Relação entre a temperatura média das máximas mensais e a percentagem de crespeira no pessegueiro. Agarwalla et al. (1966)
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
2. BERTON, O.; BLEICHER, J. Controle químico da crespeira do pessegueiro causada por Taphrina deformans (Berk) Tul. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.19, p.327, 1994. (Resumo). 3. AGARWALLA, R.K.; ARORA, K.N.; SINGH, A. Effect of temperature and humidity variation on the development of Peach Leaf Curl in mid Hills and its control. Phytopatology, Saint Paul, v.56, p.303-309, 1966.
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Fruticultura
Figura 6 - Controle químico da crespeira do pessegueiro de acordo com o estádio fenológico. Caçador, 1994
Figura 8 - Controle químico da crespeira do pessegueiro, cultivar Coral. Caçador, 1994
4. BLEICHER, J. Crespeira do pessegueiro. Frutinforma, Videira, n.12, p.1-2, 1975. 5. BLEICHER, J. Tratamento com fungicidas em pessegueiro para prevenir contra o aparecimento da crespeira ( Taphrina deformans , Berk.). Florianópolis: EMPASC, 1976. 6p. (EMPASC. Indicação de Pesquisa, 4).
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Figura 7 - Percentagem de brotos com crespeira em função do fungicida usado, na cultivar Earlygold
Figura 9 - Relação entre dosagens de mancozeb (kg/100 litros) e a percentagem de brotos com crespeira, aplicados no estádio B, cultivar Coral
6. BLEICHER, J.; BERTON, O. Dosagens e épocas de controle de Taphrina deformans (Berk.). Tul. agente causal da crespeira do pessegueiro. Fitopatologia Brasileira , Brasília, v.19, p.316-317, 1994. (Resumo). Jorge Bleicher , Eng. agr., Ph.D., Cart. Prof.
no 4.167-D, CREA-SC, EPAGRI, Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, Fone (0496) 62-1211, Fax (0496) 62-1142, Telex 492 330, 89500-000, Caçador, SC e Onofre Berton, Eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 10.555-D, CREA-SC, EPAGRI, Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, Fone (0496) 62-1211, Fax (0496) 62-1142, Telex 492 330, 89500-000, Caçador, SC.
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Nota dos editores A revista Agropecuária Catarinense já publicou, incluindo esta edição, 283 artigos técnicos. A maioria destes artigos provém de pesquisadores da EPAGRI, já que o objetivo principal da revista é exatamente divulgar as tecnologias geradas pela Empresa no Estado. Temos recebido também, com muito gosto, contribuições de técnicos e especialistas de outras instituições, inclusive de outros Estados. De acordo com normas da EPAGRI e desta revista, todo o material técnico destinado à publicação passa previamente pela revisão de dois especialistas, geralmente do quadro da Empresa. Estes chamados revisores técnicos, com suas avaliações e sugestões, garantem o nível técnico das matérias publicadas. Todos os técnicos da EPAGRI são revisores potenciais, atuando com maior ou menor freqüência, e esta revista deve a eles muito de seu sucesso. Dentre eles há algumas que, por razões diversas, são mais solicitados a colaborar, conforme constatamos em recente levantamento em nossos arquivos. Os nomes destes “campeões da revisão” são relacionados a seguir, como forma de agradecimento e de reconhecimento ao excelente trabalho realizado: Milton Losso, Airton Rodrigues Salerno, Nelson Frederico Seiffert, Edison Azambuja Gomes de Freitas, João Afonso Zanini Neto, Osmar de Moraes, Moacir Antonio Schiocchet, Irceu Agostini, Zenório Piana, José Rivadávia Junqueira Teixeira, Zilmar da Silva Souza, Márcio Sônego, Osvaldo Carlos Rockenbach, Jorge Homero Dufloth, Leandro do Prado Wildner, José Maria Milanez, Milton Ramos, Lucas Miura, Valmir Vizzotto e Frederico Denardi. Queremos também, neste espaço, registrar nosso agradecimento a Celso Agostinho Dalagnol, Onofre Berton, Leandro do Prado Wildner, Dario Alfonso-Morel e João Carlos Seben, membros do Comitê de Publicações da EPAGRI e cujo mandato, de dois anos, está findando. Os editores
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
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REFLORESTAR Flora nativa catarinense O Baguaçu é conhecido comumente como pinha-do-brejo, pinheiro-do-brejo, canela-do-brejo, magnólia-do-brejo, avaguaçu e pau-pombo. Pertence à família das Magnoliaceas e seu nome científico é Talauma ovata (Saint Hilaire). A dispersão desta espécie se dá desde o sul de Minas Gerais até o norte do Estado do Rio Grande do Sul (Torres e Osório). Em Santa Catarina ela ocorria amplamente na zona da mata pluvial da encosta Atlântica, desde Garuva até São João do Sul, entrando no Rio Grande do Sul através da “Porta de Torres”. É uma árvore alta, bonita e esbelta, alcançando 25 a 30m de altura e diâmetro entre 50 e 100cm. O tronco é cilíndrico, reto e alto. Floresce durante os meses de novembro e dezembro com bonitas flores brancas. Os frutos ficam maduros de setembro em diante e são muito parecidos com uma fruta-deconde. O fruto é deiscente e suas sementes são muito apreciadas por pássaros de porte médio. A espécie é característica das planícies aluviais, ao longo dos rios, e demais solos profundos e bastante úmidos. Ocorria nestas várzeas em uma densidade de 10 a 15 árvores adultas/ha, o que representava considerável volume de madeira por unidade de área. Atualmente suas áreas de ocorrência estão quase todas devastadas, mas ocorre ainda nas áreas onde o acesso é difícil. Na regeneração natural das florestas, principalmente nos estágios sucessionais de capoeirão, o baguaçu aparece logo após a instalação de jacatirão-açu ( Miconia cinnamomifolia ) e palmiteiro (Euterpe edulis), o que parece indicar tratar-se de planta bastante exigente quanto às condições edáficas e microclimáticas. Por isso, plantios puros a céu aberto não são recomendados. Plantios de enriquecimento em capoeira e capoeirão, onde existe um gradi-
Planta jovem e isolada de baguaçu (Talauma ovata). Médio Vale do Itajaí, SC
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ente de luz/sombra e solos úmidos, recuperados naturalmente, terão maiores sucessos. O baguaçu nestas condições apresenta crescimento rápido. Nas planícies quaternárias do litoral, onde são freqüentes as figueiras, ipês-amarelos, ingá-de-quatro-quinas e palmiteiro, o baguaçu aparece juntamente. Produz regularmente bastante frutos com numerosas sementes, possibilitando assim a obtenção de suficiente material para semeadura. O baguaçu pode ser utilizado como espécie nativa frutífera para proteção de mata ciliar.
Fruto maduro e aberto de baguaçu, deixando mostrar as sementes envoltas por uma película carnosa de cor vermelha, muito apreciada pelos pássaros
Sementes prontas para a semeadura, depois de processadas e limpas A madeira do baguaçu é moderadamente pesada, com densidade entre 0,55 a 0,57g/ m 3. O cerne é branco-acinzentado ou branco encardido, uniforme, escurecendo com a exposição ao ar. A textura é média, grã direita. De um modo geral é madeira não resistente a umidade e às pragas, e é muito empregada na carpintaria, principalmente nas partes internas. Caixas pequenas para perfumaria, drogas, brinquedos, espulas para a indústria têxtil, construção civil, embalagens, forros de casas, caixão de defunto, lambril, frontal e caixaria em geral são outros empregos do baguaçu.
Técnicas de cunho prático Construção de prancheta dendométrica A prancheta dendométrica é um aparelho simples usado para medir a altura de árvores com facilidade. É possível construir a prancheta com uma tábua de 0,5cm de espessura, 30cm de comprimento e 10cm de largura. Conforme mostra a Figura 1, marque um ponto na metade do comprimento da tábua e fixe ali um fio de nylon com um peso na ponta (o fio deve ficar firme no local, principalmente na quina da tábua. Marque escalas, em centímetros e milímetros, à direita e à esquerda, a partir da metade da tábua (ponto zero). Coloque duas miras na parte superior.
Figura 1 - Construção da prancheta dendométrica
Para determinar a altura da árvore com a prancheta dendométrica, basta medir 10m com uma trena a partir da árvore. Levar o aparelho à altura dos olhos e, com o auxílio das duas miras, focalizar o pé da árvore e apertar o fio de nylon contra a escala com o dedo, conforme a Figura 2. Leia no aparelho o cruzamento do fio com a escala (exemplo: 3,4 (a) à direita do zero). Focalize então, da mesma maneira, a parte superior da árvore (exemplo: 6,8 (b) à esquerda do zero). Some os valores para obter a altura: Exemplo: 3,4 + 6,8 = 10,2m Se os valores forem obtidos no mesmo lado em relação ao zero, faça, então, a diferença entre o maior e o menor para obter a altura da árvore.
Figura 2 - Medição da altura da árvore
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Enologia
A oxidação dos vinhos e seus fatores determinantes Jean Pierre Rosier
A
lguns vinhos de mesa são particularmente sensíveis à ação do oxigênio, podendo apresentar desde uma simples mudança de coloração até a ocorrência de turvações. Os vinhos brancos podem apresentar uma coloração amarela e em casos mais graves até se tornarem amarronzados. Nos vinhos tintos, a oxidação pode escurecê-los e deixá-los sem brilho. Estas deficiên-cias são acompanhadas por uma danosa redução do frescor, aparecimento de odor semelhante ao da madeira e degradação gustativa, contraindo gosto de cozido. Trata-se de um problema corrente em vinhos de mesa comum como já foi constatado; de 182 amostras submetidas a testes de estabilidade, 82,6% foram consideradas sensíveis ao contato com o ar (1). Apesar da ação fundamental do oxigênio, não se trata apenas de um fenômeno de oxidação, mas sim de uma atividade enzimática exercida por enzimas oxidásicas. A falta de estabilidade da matéria corante dos vinhos tintos e brancos se deve, portanto, à ação catalítica da oxidase, chamada enoxidase em alusão à sua atividade no vinho. Mais especificamente estas enzimas atuam sobre as substâncias polifenólicas (antociani-nas e taninos), e portanto são também denominados de polifenoloxidases. Na realidade tratase de duas enzimas distintas, a tirosinase, presente em todas as uvas, e a lacase encontrada, principalmente, em uvas atacadas pelo fungo Botrytis cinerea que a produz em grande quantidade. Esta última é a responsável direta e específica da quebradura oxidásica (casse oxidásica, incarbo-nellamento) (2). Portanto, os mostos provenientes de uvas podres, e conseqüentemente os vinhos, se Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
não forem tomadas providências, quando em contato com o oxigênio sofrem as mesmas mudanças facilmente observadas em maçãs e pêras expostas ao ar. O enturvamento oxidásico se deve à oxidação, por desidrogenação, dos grupos polifenólicos (leucoantocia-ninas e catequinas) em quinonas. O oxigênio recebe o hidrogênio transportado pela enzima, e deste processo oxidativo formam-se ortoquinonas instáveis que sofrem com facilidade uma rápida polimerização, originando compostos de cor marrom que em estado coloidal coagulam e precipitam. No mecanismo de ação da lacase os catalizadores mais comuns são o cobre e o ferro, podendo dar origem a casse cúprica e a casse férrica. Nos vinhos em fermentação, dificilmente se observam estes fenômenos, pois além de parte do oxigênio ser utilizado pelas leveduras, a presença de gás carbônico reduz o processo oxidativo. Após a fermentação os vinhos brancos conservados em recipientes de madeira podem absorver lentamente o oxigênio do ar ou mesmo metabolizar o oxigênio dissolvido no meio. Alguns fatores podem tornar os vinhos mais propensos às conse-qüências dos fenômenos oxidati-vos: • Sanidade da matéria-prima - a presença de uvas botritizadas aumenta o inóculo de oxidases. Como as condições climáticas no Sul do Brasil, particularmente nos meses de colheita de uva (janeiro a março), apresentam condições favoráveis ao desenvolvimento deste fungo, a ocorrência destes problemas é quase que generalizada nas uvas brancas. • Sulfitagem incorreta em dose e
em homogeneização - uma das mais importantes funções do SO2 , na sulfitagem dos vinhos, é sua avidez por oxigênio, chamada ação antioxidante. Além desta, o anidrido sulfuroso possui uma ação antagônica às oxidases (ação antioxidásica), contanto que seja utilizado na dose e momento corretos e que seja bem homogeneizado ao meio. • Tipo de prensagem - o incremento de polifenóis (catequinas e leucoantocianinas) em mostos brancos aumenta o potencial de formação de quinonas e está diretamente vinculado à manipulação realizada com a uva e o tipo de pressão exercida pelas prensas. • O transcurso normal da fermentação, que é favorecido pelo uso de leveduras selecionadas e controle de temperatura (18oC para os vinhos brancos e 25oC para os tintos), reduz a formação de aldeído acético e de ácido pirúvico, receptores naturais do anidrido sulfuroso, permitindo uma maior eficiência de suas funções antioxidante e antioxidásica. • Eficiência da clarificação - o sistema de clarificação influencia de forma decisiva na quantidade polifenóis oxidáveis residuais. A ocorrência de oxigênio incorporado ao vinho pode apresentar várias fontes: • Falta de atesto - a exposição ao ar devido à armazenagem do vinho em recipientes incompletos é sem dúvida a principal causa de enriquecimento do meio em oxigênio. • Trasfegas - a forma de realizar as trasfegas influencia no teor de oxigênio incorporado ao vinho. A colocação do produto pelo fundo dos recipientes incrementa aproximadamente 0,2mg/ litro de oxigênio. Porém, quando o vinho é acondicionado pela parte su25
Enologia
perior dos recipientes, fazendo cair um jato sobre o líquido, o incremento é da ordem de 4mg/litro (3). Quando as tras-fegas são realizadas por intermédio de bombas centrífugas cujas juntas ou tubos de aspiração estão mal fixadas, a oxigenação gerada por esta operação pode ser muito forte. • Engarrafamento - o enriquecimento em oxigênio durante o engarrafamento varia em relação direta com a pressão e relação inversa com a temperatura. Prevenções que podem ser tomadas para reduzir a oxidação dos vinhos: • Na vinificação, quando se elaboram vinhos com uvas atacadas, mesmo que parcialmente, por fungos como Botrytis cinerea, é aconselhável realizar um incremento das doses de anidrido sulfuroso (15 a 20g/hl) de acordo com a intensidade do ataque. É importante que a adição do SO2 seja realizada logo após o esmagamento e que a incorporação do produto seja perfeitamente homogeneizada. • A prensagem do bagaço deve ser realizada de modo a minimizar a extração de polifenóis, através da utilização de equipamentos adequados como as prensas pneumáticas e hidráulicas, evitando o uso de prensas contínuas que dilaceram o bagaço em demasia. A suavidade de prensagem acarreta uma redução no rendimento; uma boa alternativa para remediar esta deficiência é a utilização de enzimas pectolíticas que permitem maior extração com menor prensagem. • A fermentação com o uso de bentonite e caseinato de potássio permite inativar parcialmente as polifenoloxidases e acelerar o processo de clarificação. • A realização de uma clarificação eficiente reduz o potencial oxidativo e protege o vinho de possíveis oxidações futuras (4). • As operações de trasfegas, com exceção da primeira, devem ser realizadas com a menor oxigenação possível, enchendo os vasilhames por baixo e impedindo possíveis entradas de ar na tubulação. • Na conservação dos vinhos é 26
importante a manutenção dos vasilhames atestados, seja com vinho ou com gases inertes, como é o caso do nitrogênio. • Manter os teores de SO2 livre em torno de 35mg/litro e utilizar coadjuvantes de conservação que incorporem vitamina C ativa. • A manutenção do nível de CO2 em cerca de 1,3g/litro evita que o oxigênio possa exercer suas ações danosas e confere aos vinhos brancos um frescor e jovialidade que incrementam as qualidades de vinhos jovens. • Controle de Botrytis cinerea a campo - na produção de uva o tratamento químico deve ser preventivo com aplicação de fungicidas (Benomyl 50-50g/100 litros) com aplicações no final de floração, no início de compactação do cacho, início de maturação e três a quatro semanas antes da colheita (5). Medidas paliativas para vinhos alterados pela oxidação Para os vinhos já afetados pela oxidação (casse), uma das soluções é a pasteurização. Nos vinhos com pH em torno de 3,4 a lacase é destruída a 45oC por 10min. Já quando a temperatura é elevada para 70 oC, 2min são suficientes, independentemente do valor do pH. Após o aquecimento o vinho deve ser filtrado e sulfitado de modo a obter no mínimo 35mg/litro de SO 2 livre. Esta alternativa deve levar em consideração a redução qualitativa do produto tratado, devido à elevação da temperatura. No caso de vinhos tintos que tenham sua cor atingida de forma intensa, é imprescindível que após o tratamento sejam realizados cortes de modo a equilibrá-la. Quando a casse já alterou profundamente a cor dos vinhos brancos pode-se completar a oxidação, introduzindo mais oxigênio ao vinho, de modo a insolubilizar todas as substâncias oxidáveis e logo após realizar uma clarificação eficiente com produtos à base de caseinato de potássio. Quando os vinhos são pouco atingidos pelo fenômeno oxidativo, e nesta classe se encontram uma boa parte dos vinhos de mesa comuns, a
sulfitagem e um tratamento à base de bentonite, caseinato e ácido ascórbico, e teores elevados de SO 2 livre que assegurem uma boa proteção e mantenha o ferro em estado de oxidação mínima, reduzem o efeito da oxidação e melhoram as características organolépticas dos vinhos afetados. Qualquer que seja o tratamento corretivo, as medidas preventivas devem ser sempre preferidas, pois estão voltadas para o ganho e manutenção da qualidade.
Literatura citada 1. ROSIER, J.P.; PEDRUCCI, G. Oxidação, um defeito comum nos vinhos de mesa. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.1, n.4, p.17, 1988. 2.
DUBORDIEU, D.; GRASSIN, C.; DERUCHE, C.; RIBEREAU-GAYON, P. Mise au point d’une mesure rapide de l’actinite laccase dans les moûts et dans les vins par la methode a la syringaldazine. Application à l’appréciation de l’état sanitaire des vendanges. Connaissance de la Vigne et du Vin, Talence, v.18, n.4, p.237-252, 1994.
3. RIBEREAU-GAYON, J.; PEYNAUD. E,; RIBEREAU-GAYON, P.; SUDRAUD, P. Traité d’oenologie; sciences et techniques du vin; clarification et stabilisation, matériels et installations. Paris: Dunod, 1976. v.4, 643p. 4. ROSIER, J.P. Manual de elaboração de vinho para pequenas cantinas. 2.ed. atual. Florianópolis: EPAGRI, 1993. 72p. 5. GRIGOLETTI JÚNIOR, A.; SÔNEGO, O.R. Principais doenças fúngicas da videira no Brasil. Bento Gonçalves: EMBRAPA/CNPUV, 1993. 36p. (EMBRAPA/CNPUV. Circular Técnica, 17). Jean Pierre Rosier, Eng. agr., Ph.D., Cart. Prof. no 5.517-D, CREA-SC, EPAGRI - Estação Experimental de Videira, C.P. 21, Fone (0495) 33-0054, Fax (0495) 33-0391, 89560000 - Videira, SC.
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Fitossanidade
“Milho ardido”: o novo velho inimigo Armando Corrêa Pacheco
O Oeste de Santa Catarina está enfrentando sérias dificuldades na comercialização de milho, devido ao alto índice de grãos infectados ou apodrecidos por fungos, comumente classificados como “milho ardido”. Dependendo da percentagem de “milho ardido”, o produto sofre desconto no preço final e em muitos casos tem sido rejeitado pelos compradores.
O
problema com a qualidade do grão de milho conhecido como “milho ardido” é provocado por diversas espécies de fungos presentes em nossas áreas de produção. Os representantes mais comuns são: Fusarium moniliforme, Fusarium graminearum, Giberella sp. e Diplodia maydis, que também são causadores de podridões de colmos e de raízes no milho. Praticamente todos os anos há ocorrência de podridões de espigas que apresentam grãos “ardidos”, cuja intensidade varia de ano para ano, de propriedade para propriedade, na mesma propriedade com diferentes épocas de semeaduras e entre diferentes cultivares. Esses microorganismos se encontram presentes nos solos e principalmente nos restos vegetais infectados (palhada de milho de cultivos anteriores). O período de suscetibilidade das espigas de milho inicia com a liberação do estigma (cabelo da espiga), atingindo o clímax na fase de “grão leitoso”. Nesse estágio, com céu encoberto e longos períodos chuvosos com flutuação de temperaturas e na presença de cultivares suscetíveis, é muito provável a ocorrência de epidemias de podridões de espiga. Registros agrometeorológicos de Chapecó mostram que no período de setembro/94 a fevereiro/95 choveu 31,8% mais que a média de 23 anos (1969 a 1991). Apenas dezembro foi mais seco que a média, em 33,4%, enquanto os meses mais chuvosos foram outubro, novembro e janeiro, com 41,4%, 29,8% e 33,4%, respectivamente, mais que a média. Essas condições, com certeza, conjugadas com outros
fatores, foram as principais causas da excessiva presença de grãos de milho ardidos na safra 1994/95.
Dimensão do problema Por que esse problema vem se agravando ultimamente? Para responder a essa pergunta é necessário analisar algumas mudanças que vêm ocorrendo nos sistemas de produção, tanto no setor da suinocultura quanto na produção e comercialização do milho. Estudos do Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades - CPPP dão conta que a suinocultura no Oeste Catarinense, em 1980, abrigava 67.000 produtores suinícolas (com renda oriunda desta atividade acima de 15% do valor bruto da propriedade). Em 1985 este número se reduziu para 35.000 e hoje a estimativa é de 25.000 produtores 1. Enquanto isso, a produção de suínos aumentou, caracterizando assim uma enorme concentração da atividade. Os produtores de milho, por outro lado, em grande parte, encontram-se descapitalizados em função de uma política agrícola que nos últimos quinze anos ofereceu crédito a juros muito altos, que os impossibilita de usarem tecnologias que lhes dêem sustentação e estabilidade. Assim sendo, os solos têm sido usados exaustivamente, sem nenhum planejamento, numa luta inglória pela sobrevivência. Uma grande parcela de produtores de milho abandonou a suinocultura, aumentando a oferta do grão no mer-
cado, deixando de consumi-lo na propriedade. Muitos desses agricultores selecionavam o melhor milho, ou parte, para o comércio, que sempre impôs algum tipo de restrição à qualidade inferior. Grande parte do milho desclassificado para comercialização era consumido na propriedade, com os reflexos normais de seu uso, mas que raramente chegava ao conhecimento público. Os grãos de milho “ardidos” ou apodrecidos constituem-se em fator de recusa do alimento pelos animais, reduzem a qualidade nutritiva do milho e, dependendo dos microorganismos presentes, podem algumas vezes ser portadores de micotoxinas (toxinas produzidas por algumas espécies de fungos) que prejudicam o desenvolvimento, podendo causar esterilidade em porcas e outras complicações, inclusive levando muitos animais à morte.
Estratégias/alternativas Hoje há uma consciência que para obter e manter altos níveis de rendimento nas criações é importante melhorar também a qualidade do milho. Os problemas de doenças do milho enfrentados pelos nossos produtores também se manifestam em muitas outras regiões produtoras com condições climáticas semelhantes. É importante admitirmos que em nossas condições os fungos causadores de podridões de espigas estão presentes em elevada população e que sempre haverá riscos de que o clima lhes
1. Dados do Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades (CPPP/EPAGRI/Chapecó), não publicados.
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FLASHES
Fitossanidade
favoreça numa determinada condição local e/ou regional. As medidas de prevenção e controle mais eficazes são as que envolvem o “manejo integrado”, direcionado no sentido de reduzir as populações, no campo, dos microorganismos causadores das doenças. Quanto maior for a interação entre os diversos métodos de controle, maior será a probabilidade de sucesso. As principais alternativas estão no emprego de rotação de culturas, para reduzir a população dos microorganismos; escolha de cultivares com bom empalhamento e que apresentam espigas pendentes na maturação; de preferência não semear sempre a mesma cultivar na mesma área e, dependendo do tamanho desta, usar mais de uma cultivar; escalonar a semeadura dentro do melhor período recomen-dado para região; manter os níveis adequados de fertilização, principalmente de fósforo, e cuidar para que não haja adubação exagerada de nitrogênio em relação a potássio; manter a lavoura livre de inços no período recomendado; evitar densidades de plantas exagerada-mente altas e colher a lavoura tão logo atinja as condições ideais de maturação e umidade do grão. O plantio direto é uma excelente tecnologia de preservação e melhoria de muitas características dos solos, mas tem se mostrado extremamente vulnerável ao aumento de doenças, especialmente daquelas cujos microorga-nismos responsáveis sobrevivem nos restos vegetais. Nessas condições a rotação de culturas é imprescindível. Em condições de elevada incidência de doenças, o produtor, logo após a colheita, deve lavrar o solo procurando enterrar o máximo possível os restos vegetais, facilitando sua decomposi-ção. É bom lembrar que a natureza também tem seus limites e responde positiva ou negativamente em relação aos interesses do homem, dependendo do que este lhe oferecer. Armando Corrêa Pacheco , Eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 783-D, CREA-SC, EPAGRI, Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877, Fax (0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SC.
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Sociedade sustentável Estudantes e professores do Curso de Agronomia da Universidade do Estado de Santa Catarina, sediado junto ao Centro de Ciências Agroveterinárias, em Lages, SC, acabam de formalizar um grupo permanente de estudos nas áreas de Ecologia e Educação Ambiental, objetivando formar recursos humanos e subsidiar e orientar universidade, comunidade e especialmente escolas de primeiro e segundo graus. Um dos primeiros trabalhos do grupo é a formação de um banco de material informativo (artigos, revistas, livros, recursos audiovisuais e outros), para embasar os trabalhos didáticos e subsidiar atividades e projetos desenvolvidos nas comunidades e escolas do Estado. Coordenam o grupo as professoras Mari Boff e Valesca Fernandes, com a participação de estudantes e professores. Informam as coordenadoras que o grupo está aberto à prestação de serviços e à recepção de sugestões.
Terras a venda A imprensa de Santa Catarina divulgou uma notícia desanimadora no mês de abril último: 13% das propriedades rurais do chamado “Celeiro Catarinense”, o Oeste, estavam a venda através das imobiliárias localizadas nos pólos da região. A pesquisa pertence à Secretaria de Agricultura do município de Chapecó, depois que os anúncios classificados dos jornais apresentavam maioria dos seus itens envolvendo terras de agricultura. Apenas na área que há alguns anos compreendia o município de Chapecó (Guatambu, Nova Itaberaba, Cordilheira Alta e Chapecó), existiam em abril 533 propriedades agrícolas a venda. Nessa área existem 4 mil propriedades. Levando adiante a pesquisa, verificou-se que em Xanxerê, Xaxim e
outros municípios essencialmente agrícolas a situação era a mesma. Causa: crescimento do endividamento dos produtores em virtude da equivocada política agrícola nacional.
Mais cevada Pesquisadores ligados à cevada, com a presença de representantes de cervejarias, inclusive de países do MERCOSUL, reuniram-se em Jaguariúna, SP, para avaliar os resultados da safra 1994 e discutir para 1995. Concluíram que há necessidade de expandir o setor em 68%, visto ser de apenas um terço do consumo a produção atual de cevada no Brasil: 95,2 mil toneladas, cultivada em 53,3 mil hectares. Há quinze anos passados produzíamos 250 mil toneladas. Ao final da reunião, que serviu para o lançamento de três novas variedades de sementes, os interessados na produção de cevada divulgaram a posição da produtividade brasileira: a mesma verificada na Europa, ou seja, entre 5 e 6t/ha.
Triticale em alta Com uma produtividade de 9.980kg/ha, obtida num experimento da EMBRAPA,
em Lagoa Vermelha, RS, comprova-se a possibilidade de essa cultura se tornar altamente rentável no Sul do Brasil. O crescimento da produção é constante de ano para ano, colocando o Brasil entre os cinco maiores produtores desse grão, junto com Polônia, Estados Unidos, França e Alemanha. Por combinar características de trigo e de centeio, o triticale é indicado para substituir o milho nas rações para suínos, aves e bovinos: a qualidade e o teor dos nutrientes são semelhantes aos do milho. Os três Estados do Sul, juntos, produziram em 1994 um pouco mais que 100 mil toneladas de triticale, basicamente em pequenas propriedades.
MERCOSUL e agricultura Durante a Expointer, que se realiza anualmente em Esteio, RS, os engenheiros agrônomos do MERCOSUL estarão realizando um importante congresso da classe, ocasião em que programaram discutir negócios agrícolas, política ambiental, profissão e protecionismo governamental para o desenvolvimento. A promoção é da Sociedade de Agronomia do Rio Grande do Sul-SARGS e será realizada a 1o de setembro.
Cônsul do Japão em SC O titular do Consulado Geral do Japão esteve em visita a Santa Catarina, oportunidade em que conheceu o Projeto de Fruticultura de Clima Temperado, sediado na Estação Experimental da EPAGRI, em São Joaquim, e que realiza parte de seu trabalho de pesquisa em maçãs e pêras japonesas
através de convênio com a JICA. Na oportunidade, com a participação do perito japonês, Yoshio Yoshida, foram ultimados os preparativos para a renovação do importante convênio JICA/EPAGRI na área de pesquisa com frutas de clima temperado.
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Reportagem
Produção florestal: a grande opção de SC Reportagem e fotos de Homero M. Franco
Nunca antes, em Santa Catarina, o poder público estadual deu tanta atenção às florestas. Ante à evidência dos estragos que o MERCOSUL causará aos pequenos produtores de grãos e de algumas hortaliças e frutas, a Política Agrícola do Estado procura compensar indo em busca de uma antiga e verdadeira vocação do homem e do solo catarinenses: a árvore. E acaba de lançar o mais ousado projeto nesta área: plantar e manejar mais 1 milhão de hectares de florestas. Sinésio vai parar em três anos por falta de toras
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or inúmeras outras razões de clima, solo, topografia e mercado, mas principalmente porque o MERCOSUL forçará um redirecionamento do sistema agropecuário em vigor no Estado, Santa Catarina precisou reestudar seu futuro em termos de economia primária. E o resultado foi este: a melhor opção é voltar a ser um pólo produtor de madeiras. Quando se verificam as desproporções de custo de produção/produtividade entre a agropecuária catarinense e a argentina, afloram as impossibilidades dos catarinenses continuarem plantando trigo, milho, soja, alho, cebola e algumas frutas. Os argentinos fazem isso com menor custo e maior produtividade. Finda a safra de milho 1994/95, o que se viu foi milhares de agricultores catarinenses em passeata protestando pela venda da saca de milho a R$ 4,50, menos da metade do preço do ano anterior. Causa: estava no mercado Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
local o milho argentino. Quando se concluiu, porque esta é a realidade catarinense, que 70% dos solos do Estado não se prestam para a agricultura e pecuária, não restaram dúvidas aos autores do projeto que prevê plantar e manejar 1 milhão de hectares de florestas durante os próximos 20 anos: a opção dos agricultores é a floresta produtiva. Entram nessa conjuntura, também, os setores avícola e suinícola, embora não atingidos pelo MERCOSUL quanto ao produto final. Ali haverá a alteração quanto aos fornecedores de duas das suas principais matérias-primas para as rações: o milho e a soja. Pelas mesmas razões de custo de produção/ produtividade, os argentinos oferecem esses grãos por valores inferiores e as fábricas de rações terão que acompanhar a realidade mercadológica. Logo, o milho e a soja, ao menos em quantidades razoáveis, se não no todo,
virão do vizinho MERCOSUL.
parceiro
do
O projeto A meta do projeto lançado há poucos dias pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e da Agricultura é implantar florestas produtivas em 580 mil hectares e manejar economicamente outros 500 mil hectares de florestas nativas nos próximos 20 anos. Para quem pensa ser uma meta inatingível em virtude da grandiosidade, cabe informar que só de capoeiras (terras recentemente abandonadas), o Estado possui 1,5 milhão de hectares. E estima-se que, em virtude da adaptação ao MERCOSUL, outro 1,5 milhão de hectares serão abandonados a curtíssimo prazo. O projeto prevê, então, a ocupação de somente 20% das áreas desativadas 29
Reportagem
das culturas anuais. E buscará, segundo seus autores, reparar os danos sociais dessas bruscas mudanças, se possível sem o êxodo: 4ha de florestas plantados em nível de pequena propriedade geram um emprego direto. O que muda na concepção geral, é que o projeto prevê que parte do beneficiamento e a industrialização possam ser feitos na comunidade, através de grupos de produtores, pois para uma área de 100 a 120ha de reflorestamento se justifica a instalação de uma pequena serraria para 20m3 /dia de toras. Mas o objetivo do programa não é só as toras. As toras, na verdade, são o produto mais valioso da floresta, apesar de demorar mais para ser extraído. Por isso, os técnicos estão recomendando, na medida do possível, uma floresta de uso múltiplo, onde se aproveita a curto prazo a madeira fina para lenha, varas, cabos de ferramentas, produção de maravalha, etc. Quando as árvores atingirem diâmetro médio, as madeiras duras poderão servir como escoras, madeira roliça para estruturas de telhados e galpões, mourões, etc. E quando adultas, enfim as toras serão usadas na serraria.
Os incentivos Para viabilizar o projeto, o governo do Estado pretende investir dinheiro a fundo perdido. E ainda para 1995 estará pondo em curso um plano piloto de desenvolvimento florestal destinado a atingir os primeiros 20 municípios onde acontecerá uma parceria entre Estado, município, empre-
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sa privada, cooperativa e produtores. Para cada hectare de floresta implantada dentro das condições técnicas exigidas e supervisionadas pelo Estado, o agricultor receberá R$ 200,00, metade com a comprovação do plantio e metade após a comprovação de seu sucesso, cerca de seis meses mais tarde. Através dessas parcerias, que contarão também com a participação das entidades representativas dos produtores, irão sendo organizados concomitantemente os grupos, condomínios ou outra forma de associativismo destinado a promover a agregação de valores sobre a produção florestal.
Indústria A recomendação de instalação de serrarias comunitárias, nos mesmos moldes de como atuam os condomínios de agricultores e outras experiências associativistas, é porque sem algum beneficiamento os produtores de árvores pouco ganham. Os valores agregados à árvore têm proporções incomuns: o que vale R$ 1,00 na floresta, passa para R$ 5,00 no estaleiro da serraria, passa para R$ 15,00 em forma de tábua, e finalmente alcança R$ 50,00 em forma de móveis, aberturas e outros artefatos. Por isso, os produtores devem, além de plantar e manejar as florestas, transformar as árvores em caixas, móveis, aberturas e outros artefatos, ganhando para si os altos valores agregados e oferecendo empregos aos seus filhos, que poderão dividir o tempo entre agricultura e indústria, na própria comunidade. Industrializar a madeira não é uma coisa nova para os catarinenses. Desde que o homem europeu aqui chegou, a partir do século XVI, as matas nativas que cobriam 80% do espaço territorial foram devastadas. Houve até uma guerra de extermínio contra os posseiros por causa da entrega de uma faixa de 30km de florestas nativas à margem da ferrovia Porto UniãoConcórdia em favor da empreiteira multi-nacional.
Milhares de serrarias pequenas, médias e grandes, lenheiras, carvoeiras e exportadores deram cabo de bilhões de metros cúbicos de madeiras de todas as espécies, tamanhos e fins, trazendo lucro, prosperidade e faustosidade a al-guns, ao mesmo tempo que trouxe desespero, êxodo e morte a muitos outros.
Argumentos Os autores do projeto, já examinado e aprovado pelo governo do Estado, são seis engenheiros agrônomos do complexo Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e da Agricultura/ICEPA/EPAGRI, Milton Ramos, Geraldo Buogo, Milton Luiz Breda, Airto Christmann, Artêmio Frasson e Ingo Jordan, com a participação de outros mais. Nas suas justificativas eles citam dados que impressionam: em 2010 o Brasil precisará de 14 milhões de hectares de florestas de produção intensiva; possui apenas 3,8 milhões. Os 250 milhões de hectares de florestas nativas da Amazônia não poderão ser incluídos como área de desfrute porque merecerão apenas manejo das espécies mais nobres. E o custo do frete inviabilizará o seu uso no Sul. Este imenso Brasil, com todo o seu potencial, não figura entre os países maiores exportadores de madeiras serradas, nem de toras. Nessa lista entram países muito pequeninos perto dos 8 milhões de quilômetros quadrados que temos: Suécia, Áustria, Finlândia, Portugal, Chile, Alemanha.
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Reportagem
diversas. Retirando-se os 1,08 milhão previstos para o projeto agora lançado, restam ainda cerca de 3,9 milhões de hectares para serem utilizados na expansão deste programa ou em alguma outra atividade.
Vender para quem
Criada a Câmara Setorial da Madeira no CDRural
Até 2010 todos os reflorestamentos no Sul do Brasil serão exclusivamente para atender à demanda das grandes empresas; não haverá excedentes para venda de toras no mercado. O Estado de Santa Catarina, em 9,5 milhões de hectares, tem apenas 3
milhões de hectares com aptidão para agricultura e pecuária em condições de manejo adequado e econômico. Dos 6,5 milhões restantes, 1 milhão estão ocupados com florestas de preservação, escarpas e outras sem utilização e 500 mil estão ocupados por cidades, vilas, estradas e utilizações
O primeiro comprador de madeira brasileira, como já foi no passado, continuará sendo a Argentina, cujo território agrícola dificilmente será reflorestado e cujas demais áreas apresentam impossibilidade por razões climáticas. A desenvolvida indústria moveleira, de celulose e papel, existente no Estado, é outra compradora. Os demais setores industriais e agropecuários, que utilizam embalagens de madeira em grande quantidade, são outros compradores em potencial. Os números mundiais da carência de madeira e a nula participação do Brasil nesse mercado, apesar das potencialidades, também dizem para onde a madeira catarinense pode ser remetida.
Os exóticos no fio da serra Sinésio Milanez e Aidecir Antonio Spillere são industriais da madeira em Nova Veneza, Sul de Santa Catarina, onde todo o tipo de madeira nativa se acabou e para onde já se tornou inviável levar madeira amazônica. Não é de hoje que Sinésio beneficia pínus e eucalipto. Ele faz isso há cinco anos, adquirindo as árvores de pequenos agricultores das redondezas. Com eucalipto, produz caibros, ripas, longarinas, barrotes, colunas, parede externa e paletes. Com pínus, produz tábuas de caixaria para constru-ção civil, moldes, forros, divisórias, meias-canas e rodapés. A madeira é adquirida no florestamento, em pé, com 15 a 20 anos de idade, por R$ 35,00 o m 3; com 20 a 25 anos de idade, por R$ 40,00 o
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
m 3. Eucalipto com 25 anos alcança até 1,5m 3 por árvore. Se o produtor estaleirar no pátio, recebe mais R$ 10,00 por m 3. Pínus com 20 a 25 anos de idade serve para as várias aplicações em que é exigida madeira de boa qualidade; com dez anos já serve para fazer forro, meia-cana e rodapé. Depois de beneficiada, Sinésio comercializa o metro cúbico da madeira serrado bruto por R$ 100,00 a 110,00 e R$ 200,00 por m 3 beneficiado (tábua aplainada, forro, parede, soalho, meia-cana e rodapé). A indústria de Spillere, dedicada à fabricação de esquadrias e casas pré-fabricadas, andou desativando a fabricação de casas porque dependia da madeira amazônica, atualmente muito cara.
Quanto ao futuro da atividade florestal, os dois concordam: “é um alto negócio”. Milanez prevê que dentro de três anos acabará a madeira de reflorestamentos na sua região e aponta como causa dessa escassez a retirada prematura de escoras para a construção civil. “A solução seria plantar muito mais, de forma a atender a demanda de escoras e ainda poder sobrar para a indústria”, diz ele. Spillere também gostaria de ver mais áreas reflorestadas e aconselha que se plante muitas variedades, procurando diversificar. E lembra aos cortadores de árvores que a “velha receita de se cortar na lua minguante ainda não caducou; venha até a serraria e veja o que acontece com as tábuas tiradas de árvores cortadas fora da minguante: racham todas.”
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Reportagem
Governo voltado para o florestal Duas providências, nestes últimos dias, caracterizam o atual governo como grande interessado pela questão florestal: a constituição da Câmara Setorial de Florestas no Conselho de Desenvolvimento Rural junto à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e da Agricultura e o lançamento do Programa Catarinense de Desenvolvimento Florestal, em palácio, pelo governador do Estado. A Câmara Setorial é um ramo do Conselho de Desenvolvimento Rural com atribuição de formular e acompanhar a execução de uma política florestal, tendo como seus membros um representante de cada um dos seguintes organismos: Secretaria da Agricultura, EPAGRI, CIDASC, Instituto CEPA, IBAMA, UFSC, SEDUMA, Federação Catarinense dos Municípios, FATMA, FETAESC, FAESC, OCESC, Movi-mento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, SEBRAE, Associação Catarinense de Reflorestadores, FIESC, Sindicato da Indústria da Erva Mate e Associação dos Engenheiros Flores-tais.
Programa O Programa Catarinense de Desenvolvimento Florestal, lançado pelo governador no último dia 8 de junho, como parte das comemorações da “Semana do Meio Ambiente”, conta com
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o apoio de todos os setores da administração estadual e com a parceria de prefeituras, cooperativas, sindicatos, empresas e entidades representativas dos agricultores. Para viabilizar as metas do Programa, o atual governo já estabeleceu os recursos para os quatro anos desta administração, conforme Tabela 1. Participarão do Programa a Secretaria de Agricultura, através da EPAGRI, CIDASC e ICEPA, a Secretaria do Desenvolvimento Urbano e do Meio Ambiente, através da FATMA, a Secretaria da Fazenda e a Secretaria do Desenvolvimento Tecnológico. O suporte financeiro será dado pelos bancos BESC, BRDE e BADESC. Participam do Programa todas as instituições integrantes da Câmara Setorial de Florestas, já citadas, e a Comissão de Agricultura da Assembléia Legislativa.
1995, primeiro ano do Programa, foram selecionados 20 municípios, já com os convênios assinados, em cujo território serão plantados os primeiros 3.000ha de florestas, a saber: Itapiranga, São José do Cedro, Guaraciaba, São Miguel do Oeste, Caibi, Pinhalzinho, Caxambu do Sul, Concórdia, Ipira, Ouro, Joaçaba, Campos Novos, Mafra, Urupema, Ituporanga, Indaial, Nova Trento, Sangão, Grão Pará e Canelinha. Os produtores serão selecionados pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural e receberão, obrigatoria-mente, um treinamento de capacitação antes de plantar a primeira árvore. A assistência técnica será de responsabilidade da EPAGRI e de técnicos da iniciativa privada por ela treinados. Ainda neste mês de junho, os técni-cos dos 20 municípios pioneiros serão treinados em dois locais: Concórdia e Itajaí. A fiscalização do Programa também foi entregue à EPAGRI.
Piloto A título de Programa Piloto para
Tabela 1 - Recursos para os quatro anos do Programa
Ano
Área a ser subvencionada (ha)
Participação (%) Município
Estado
Montante de R$ (incentivos)
1995
3.000
25
75
600.000,00
1996
7.000
33
66
1.400.000,00
1997
12.000
33
66
2.400.000,00
1998
20.000
50
50
4.000.000,00
Nota: Até 2015 serão implantados 580 mil hectares com incentivos aos produtores.
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Reportagem
O IBAMA e a pindaíba Em Nova Stetin, interior de Ibirama, um senhor de 61 anos de idade possui 40ha de mata nativa, 40% da área plantada por ele mesmo a partir de sementes e, por isso mesmo, grande colaborador
Waldemar Geisler sem poder aproveitar as árvores que caem
PESQUISA EM ANDAMENTO
Sistemas de rotação para hortaliças A produção diversificada de hortaliças é uma atividade tipicamente de pequeno olericultor que utiliza intensamente a área, geralmente localizada próxima aos grandes centros consumidores. O plantio de hortaliças na mesma área, aliado às sucessivas e inadequadas adubações, juntamente com o manejo incorreto do solo, têm levado os produtores a aumentarem o custo de produção, com insumos, além de obterem baiAgrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
das pesquisas florestais, sem contudo poder usufruir de nada. E sua vida é muito comedida, pois sua única renda é um salário mínimo que recebe como aposentado rural. Seu nome: Waldemar Geis-ler, um apaixonado pelas florestas, como ele mesmo faz questão de definir-se. Na mata nativa que serve de moldura para uma antiga casa, onde mora com a esposa, Waldemar encontra araribá (que não tinha, foi plantado por ele) pau-óleo, canelas, garuva, baguaçu, sucurujuva, paujacaré, peroba, sassafrás, angelin, palmiteiro, louro, picuíba, pindabuna, timbaúva, canjarana, tarumã, caroba, cedro, garajuva e a famosa pindaíva ou pindaíba, que serve como sinônimo de dificuldade financeira em ditados populares em todo o Sul do Brasil. “Essa (Waldemar aponta para a pindaíba) é um símbolo de como eu vivo aqui”, diz. A sua queixa contra o IBAMA é a existência de uma “lei burra que proíbe a retirada das árvores maduras, em fase de decrepitude, impedindo que dezenas de outras mais novas tenham espaço para crescer também.” Waldemar bate ao peito e garante que
ninguém melhor do que ele poderia defender essa tese. “Eu não destruo; eu planto, conservo, acompanho as árvores, converso com elas, mas vejo muitas delas morrendo e pedindo: me tirem daqui, quero abrir espaço para minhas filhas, que nascem ao meu redor, mas que nunca chegarão a ser árvores se não houver uma abertura para que cresçam”, desabafa. Para o engenheiro agrônomo Euclides Kirchner, do programa de Micro-bacias da EPAGRI, em Ibirama, e também conservacionista por excelência, um dos males do legislador brasileiro é liberar tudo ou proibir tudo. “Nossas leis são feitas não para corrigir com base na realidade; são feitas visuali-zando o que se quer que aconteça no futuro. Por isso, prejudicam quem as quer respeitar e permite a fraude por aqueles que jamais respeitam lei alguma”, diz ele. Waldemar denuncia que com todo o rigor da lei, tem gente levando a serraria para dentro do mato, serrando às escondidas e transportando a madeira beneficiada à noite para lugares incertos. “Enquanto isso, eu fico na pindaíba”, queixase.
xa produtividade e qualidade dos produtos. A rotação de culturas, uma prática milenar esquecida nos dias atuais, é citada na literatura como uma das medidas mais eficientes no sentido de reduzir principalmente a ocorrência de doenças e pragas e, em conseqüência, diminuir o uso de agrotóxicos e os riscos ao meio ambiente. Esta prática pode ser definida como o sistema de alternar em um mesmo terreno várias culturas em uma seqüência de acordo com um plano pré-definido. Para estabelecer os sistemas de rotação levaram-se em consideração alguns princípios, tais como: utilizar hortaliças com importância econômica; não empregar espécies pertencentes à mesma família botânica; alternar espécies mais exigentes com espécies menos exigentes em nutrientes e com sistemas radiculares dife-
rentes; e utilizar espécies que forneçam material (cobertura morta) orgânico alternadas com outras que favoreçam a decomposição deste material. O projeto, com duração de dez anos, foi implantado na Estação Experimental de Urussanga EPAGRIAdministração Regional do Sul Catarinense, em agosto/94, no solo da unidade de mapeamento Morro da Fumaça (Po-dzólico vermelho-amarelo cascalhen-to). As culturas integrantes dos di-versos sistemas são: tomate/feijão de vagem, cenoura/ alface/repolho, beterraba/batatadoce/aveia e moran-ga/milho verde/ mucuna, testadas sem e com um, dois e três anos de rota-ção. Pesquisadores da EPAGRI, Antonio Carlos Ferreira da Silva, Idelson José de Miranda e Darci Antonio Althoff, são os executores deste trabalho, que é financiado pelo Projeto Microbacias/BIRD. 33
NOVIDADES DE MERCADO Manual sobre raios A Belgo Mineira acaba de editar o “Manual de proteção de cercas e currais contra raios”, um guia prático para evitar os riscos que eles causam às pessoas, animais e às instalações em geral. O manual foi elaborado por técnicos da empresa e do Laboratório de Extra Alta Tensão da Universidade Federal de Minas Gerais. As duas instituições conseguiram, com sucesso, traduzir, de maneira prática e simples, um fenômeno complexo que, no Brasil, ocorre geralmente com as chuvas. O Brasil recebe boa parte dos 360.000 raios que a cada hora caem sobre a terra. Árvores, torres de igrejas, antenas de televisão e edifícios são os pontos que primeiro absorvem os raios. O manual traz uma série de perguntas e respostas que desvendam os mistérios e as lendas criados em torno do fenômeno. Na sua última parte, apresenta sugestão de como proteger cercas e currais e de como fazer aterramentos, evitandose os danos que os raios causam às propriedades. Outras informações o leitor da Agropecuária Catarinense poderá obter diretamente com a Belgo Mineira pelo telefone (031)217-4281 em Belo Horizonte, ou pelo telefone (0474)334287 em Joinville (SC).
Nova revista agrícola Foi lançada, em maio último, em Ribeirão Preto (SP), uma nova revista para o setor agrícola. Trata-se da revista Agromarket, destinada especialmente ao agribusiness brasileiro; é a primeira revista no mercado sobre este assunto. O conceito de agribusiness engloba todo o sistema de produção e de distribuição de alimentos e fibras. A Agromarket tem periodicidade bimestral e sua tiragem inicial é de 10.000 exemplares.
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Sua distribuição será por mailing e por assinaturas. A revista terá sempre uma matéria sobre o perfil de personalidades, reportagens de empresas, meio ambiente, economia, análises e estratégias de marketing, desenvolvimento regional, lançamentos, serviços e outros temas ligados aos agribusiness. A revista Agropecuária Catarinense congratula-se com sua mais nova coirmã e deseja sucesso aos seus empreendedores. Aos que desejarem maiores informações, sobre esta nova revista, sugerimos manter contato através do telefone (011)821-9915, ou endereçar suas cartas para a Rua Funchal 513, 3o andar, CEP 04551060, Vila Olímpia, São Paulo.
Tomates que duram mais A Asgrow Sementes trouxe uma novidade para o mercado brasileiro: são os tomates extra-firmes, ou de duração mais prolongada na pós-colheita. Com frutos tipo caqui, grandes, alto potencial produtivo, plantas de porte determinado e múltipla resistência a doenças, este novo tomate difere por retardar o processo de deterioração, além de ser mais resistente ao transporte. Com isso, possibilita a redução das perdas que ocorrem na cadeia de comercialização, a qual se inicia na colheita e termina na mesa do consumidor. “Com mais frutos e menor perda, os extra--firmes chegam ao mercado como uma opção muito atraente”, afirma o engenheiro agrônomo Carlos Alberto Martins Tavares, responsável pela introdução de novos produtos no Brasil. Eles foram desenvolvidos pelo Programa de Melhoramento Genético da Asgrow nos Estados Unidos e testados durante dois anos na Estação Experimental da Asgrow em Paulínia (SP), com excelentes resultados. Maiores informações, o leitor da Agropecuária Catarinense pode obter diretamente na Asgrow pelos telefones (0192)52-0555 (Campinas) ou (0192)74-3116 (Paulínia), ou ainda pelo telefone
(0192)58-2066 (Portal Comunicação Integrada).
Herbicida sistêmico de ação total A Zeneca Agrícola, uma das líderes mundiais do mercado de defensivos agrícolas, acaba de lançar no Brasil o Zapp , um novo herbicida sistêmico de ação total. Será comercializado e embalagens de um e de cinco litros. O
produto faz parte de uma nova geração de herbicidas totais, oferecendo resultados mais rápidos e eficazes no combate às ervas daninhas que prejudicam a lavoura. Possibilita, também, oferecer programas de tratamentos adequados a cada situação. O Zapp é indicado para uso nas culturas de soja, milho, trigo, arroz, cana-de-açúcar, citrus, uva, banana e rosas. Foi desenvolvido para combater todos os tipos de ervas daninhas. Pode ser adquirido nos mais de 300 pontos de venda Zeneca espalhados por todo o país.
Ectoplus em nova apresentação A Ciba acaba de lançar no mercado veterinário uma nova apresentação do seu tradicional produto Ectoplus. Trata-se de Ectoplus pour-on , que tem como principal característica a rapidez e a facilidade da aplicação “pour-on”. Por se tratar de uma associação de cipermetrina (piretróide) com trichorfon (fosfatado), Ectoplus pour-on controla simultaneamente carrapato, berne e mosca-do-chifre, com uma úni-
ca aplicação. O Ectoplus pour-on possui “efeito choque”, ou seja, o gado fica limpo mais rapidamente. A sua ação residual é prolongada, o que permite um maior espaçamento entre tratamentos. O leitor da Agropecuária Catarinense que tiver interesse em receber maiores informações sobre este produto poderá dirigirse ao Departamento Técnico da Ciba, pelo telefone (011)5327327.
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Adubação orgânica
Potencial fertilizante do esterco líquido de suínos da região Oeste Catarinense Eloi Erhard Scherer, Ivan Tadeu Baldissera e Lourenço Francisco Xavier Dias
A
suinocultura constitui-se em importante fator do desenvolvimento econômico do Estado de Santa Catarina, mas também pode, devido ao manejo inadequado dos efluentes, tornar--se um problema ambiental relevante. No Oeste do Estado, principal região produtora de suínos, grande parte dos mananciais de água encontram-se seriamente comprometidos, em termos de qualidade de água, principalmente devido ao lançamento direto do esterco nas águas superficiais, sem o devido tratamento. Estudos indicam que 80% dos mananciais de água do território catarinense encontram-se seriamente comprometidos em decorrência da degradação ambiental (1). O potencial de poluição do esterco de suínos é muito grande. Com uma Demanda Química de Oxigênio (DQO) superior a 30.000mg/litro, o esterco lançado na água pode reduzir a quantidade de oxigênio dissolvido nas águas a valores inferiores às necessidades da fauna aquática e provocar a morte de peixes e outros seres vivos. Além disso, a presença de substâncias orgânicas putrescíveis pode gerar odores desagra-dáveis, tornando as águas impróprias para fins de abastecimento ou lazer. Nota-se, porém, que a conscientização do produtor e da indústria e o conseqüente interesse em coletar e reci-clar o esterco de suínos na propriedade está aumentando, sendo hoje bem maior do que era antes. Contudo, muitas vezes ainda é preciso provar para o produtor as vantagens econômicas e sociais que a reciclagem do esterco traz para si e para a sociedade como um todo. Resultados de pesquisa indicam que o esterco de suínos constitui um ótiAgrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
mo fertilizante e pode substituir parte ou, em determinadas situações, totalmente a adubação química (2 e 3). Hoje em dia, uma boa parte dos suinocultores mais receptivos à tecnologia já faz uso da adubação com esterco, porém, a maior parcela, ainda desprovida de um sistema adequado de coleta e manejo dos resíduos na propriedade, não utiliza essa fonte de nutrientes. Com este trabalho visou-se caracterizar a qualidade fertilizante e as condições de manejo do esterco líquido de suínos nas propriedades da região Oeste do Estado de Santa Catarina.
Metodologia A pesquisa foi realizada no ano de 1994, em oito municípios da região Oeste do Estado de Santa Catarina: Campo Erê, Chapecó, Cunha Porã, Guaraciaba, Novo Horizonte, São Lourenço do Oeste, Saudades e Seara. Foram coletadas um total de 118 amostras de esterco líquido de suínos, sendo 78 de esterqueiras comuns, com alimentação contínua e, 40 de bioesterqueiras. É definida como bioesterqueira aquela estrutura com dois compartimentos (câmaras) interligados, sendo um menor de entrada e fermentação do esterco e outro maior que serve para armazenar o produto estabilizado. Nestas esterqueiras foram coletadas duas amostras, uma na câmara de fermentação (CF) e outra na câmara de armazenamento (CA). Das 98 amostras coletadas, 35 eram provenientes de esterqueiras de criações com ciclo completo, 30 de criações de terminação e 33 de criações de maternidade. Por ocasião da coleta das amostras a campo, foram também tomadas in-
formações junto aos produtores sobre o manejo do esterco na propriedade. Antes de cada coleta procurou-se homogeneizar bem o esterco da esterqueira, tomando-se uma ou mais amostras de 1 litro a uma profundidade aproximada de 1m. As amostras foram colocadas em frascos de polipropileno e acondicionadas em caixa de isopor com gelo e mantidas a uma temperatura inferior a 10oC. Ainda no mesmo dia, as amostras foram armazenadas a uma temperatura inferior a zero grau. No dia da análise, as amostras foram degeladas, tomando-se alíquotas de 2ml para cada uma das seguintes determinações analíticas: • Concentração de N-total - digestão/Kjeldahl. • Concentração de N-amoniacal Kjeldahl. • Concentração de P-total - digestão. • Concentração de P-mineral - extração com água. • Concentração de K-total - digestão. • pH do liquame - lido diretamente na amostra inicial.
Resultados Na maioria das propriedades, o principal problema detectado foi o desperdício de água na criação, acarretando um escorrimento quase que contínuo dessa água para o depósito de armazenamento, resultando numa grande diluição do esterco armazenado. Embora em menor escala, outros problemas detectados foram a entrada de água do telhado das construções nas canaletas de coleta do esterco e a infiltração de água no depósito, causada pela falta de drenagem da área que 35
Adubação orgânica
o circunda. Cabe destacar que 76% das esterqueiras amostradas tinham cobertura. Contudo sabe-se que a entrada direta de água da chuva no depósito não constitui um problema maior, pois a precipitação é, em parte, compensada pela maior evaporação no sistema aberto. Outro fator verificado foi a relação número de animais e a capacidade de armazenamento de esterco de cada propriedade. Um mau dimensionamento da esterqueira constitui um problema que se reflete diretamente sobre o processo de fermentação do esterco e poluição ambiental pelo mesmo. Agrupando-se os produtores amostrados em três classes - pequenos, com menos de 100 cabeças; médios, de 100 a 200 cabeças e grandes, com mais de 200 cabeças de animais - verificou-se que 42% poderiam ser considerados pequenos, 35% como médios e 23% como grandes produtores. Os dados levantados indicaram que a capacidade de armazenamento do esterco varia com o tamanho da criação. Foi encontrada uma relação esterqueira/animal média de 0,91, 0,44 e 0,27m3 para pequenos, médios e grandes produtores, respectivamente (Tabela 1). Tomando-se como referência uma necessidade média de 0,25m3/suíno/ mês, pode-se inferir que as propriedades com menor número de animais têm uma maior capacidade relativa de estocagem do esterco do que aquelas com maior número de animais. Produtores com menos de 100 animais têm uma capacidade média de estocagem de 110 dias, enquanto que aqueles com mais de 200 animais têm uma capacidade média de somente 32 dias, ficando a classe intermediária com uma capacidade de estocagem de 53 dias. Teoricamente, essa diferenciação na capacidade de armazenamento entre as propriedades poderia constituir um fator relevante. Porém, tendo em vista que grande parte dos produtores com maior número de animais tem seus próprios equipamentos para a aplicação do esterco e que os pequenos dependem de tercei36
Tabela 1 - Capacidade de armazenamento do esterco da propriedade Tamanho da criação (animais) < 100 100 a 200 > 200
Propriedades amostradas (%)
Relação esterqueira/animal (m3 /cabeça)
42 35 23
0,91 0,44 0,27
Capacidade de armazenamento (A) (dias) 110 53 32
(A) Calculado conforme recomendação de 0,25m3 /animal/mês (1).
ros para o transporte e aplicação do esterco, o efeito desse fator é minimizado. Cabe ressaltar que a maioria dos pequenos produtores depende do sistema de transporte de adubo da prefeitura ou da cooperativa. Por isso, o adequado dimensionamento da esterqueira, em função do tamanho e tipo de criação, sistema de transporte e de aplicação, deve ser preocupação de todos os produtores, pois um inadequado aproveitamento do esterco e, sobretudo, qualquer derrame da esterqueira, traz sérios danos ambientais.
tras analisadas apresenta menos de 2% de matéria seca. Isto fez com que a média final do teor de matéria seca das 98 amostras analisadas ficasse em 3%, valor bastante baixo em relação àquele da Tabela da ROLAS (4), que serve de base para recomendação de adubação orgânica. No geral, as amostras com baixo teor de matéria seca também têm uma baixa concentração de nutrientes. A distribuição de freqüência da soma da concentração de nutrientes NPK mostra que a grande maioria das amostras faz parte das classes mais baixas (Figura 2). AproximadaQualidade do esterco mente 27% das amostras sequer chegam a ter 3kg de nutrientes por metro Para avaliação da qualidade fertilivolumétrico. O valor médio de 6,83kg zante do esterco foram utilizados sode nutrientes por metro volumétrico mente os dados das amostras de ester(soma dos valores médios de 2,92kg queiras comuns e das câmaras de de N, 2,37kg de P 2O5 e 1,54kg de K2O) armazenamento das bioesterqueiras. é relativamente baixo, quando comA distribuição de freqüência das parado aos valores máximos alcançaamostras de esterco quanto ao teor de dos, que chegaram a mais de 15kg de matéria seca é apresentada na Figura nutrientes por metro volumétrico. 1. Observa-se que quase 50% das amosOs resultados analíticos das amostras de esterco analisadas mostraram uma grande diferenciação entre os sistemas de criação, tanto em teor de matéria seca quanto em concentração de nutrientes NPK (Figura 3). As maiores concentrações de nutrientes foram observadas no esterco de sistemas de terminação e os menores teores naquele Figura 1 - Distribuição relativa de freqüências das proveniente de amostras de esterco quanto ao teor de matéria seca maternidade. Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Adubação orgânica
de N-NH4). Aproximadamente dois terços do fósforo está numa forma não solúvel em água possivelmente fazendo parte de estruturas orgânicas. Assim, apenas uma terça parte do fósforo estaria prontamente disponível para as plantas, logo após sua aplicação. Teoricamente, Figura 2 - Distribuição relativa de freqüências das maiores quantidaamostras de esterco quanto ao teor de nutrientes des de nutrientes na forma mineral beneficiam o seu aproveitamento imeNutrientes na forma mineral diato pelas plantas, enquanto que maiores quantidades de nutrientes na Outro objetivo deste trabalho foi forma orgânica aumentam seu efeito de verificar a participação relativa das residual no solo. Isto aplica-se, princiduas formas de nutrientes, mineral e palmente, para os íons nitrato, facilorgânica, na composição do esterco. mente lixiviado no solo, e fosfato, Os resultados obtidos indicam que muito fortemente adsorvido pelos aproximadamente dois terços do nicolóides do solo. trogênio encontra-se na forma mineDeve-se, pois, realçar as vantaral (Figura 4). Constatou-se diferengens reais que o esterco líquido tem ças na relação entre diferentes forquanto ao suprimento de nutrientes, mas de armaze-namento do esterco. principalmente nitrogênio, em relaNas esterqueiras comuns, com alição a outras formas de resíduos orgâmentação contínua, 60% do nitrogênicos, desde que seu uso se faça dennio encontra-se na forma mineral, tro de um programa de manejo adeenquanto que nas bioesterqueiras esse quado. valor foi menor na câmara de fermentação (52% de N-NH4) e maior pH do esterco na câmara de armazenamento (70% Na Figura 5 estão representados os valores de pH, determinados nas amostras de esterco líquido de esterqueiras comuns e de bioesterqueiras. Nas amostras de esterqueiras comuns o pH médio foi de 7,3 com uma amplitude de variação de 5,5 a 8,1. Nas bioester-queiFigura 3 - Teores de nutrientes (kg/m3) e de matéria ras os valores de seca (%) no esterco de suínos de maternidade, pH foram mais terminação e ciclo completo baixos na câmara Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
de fermentação, variando de 5,7 a 7,8, e mais elevados na câmara de armazenamento, com uma amplitude de variação de 6,8 a 8,2, indicando que quanto maior for o grau de estabilização do liquame, maior o seu pH. Diretamente relacionado com a variação do pH muda também o equilíbrio NH4 NH3, que poderá ter conseqüências na perda de nitrogênio por volatilização de NH 3. Com pH 7,5, por exemplo, menos do que 7% do nitrogênio amoniacal encontra-se na forma de NH3, enquanto que com pH 9,3 aproximadamente metade encontrase nesta forma. Normalmente, o pH do esterco não atinge valores tão elevados, porque quando parte da NH3 é perdida por volatilização, íons NH4 dissociam para NH3 e H+ . O resultado dessa dissociação é um decréscimo no pH e redução da taxa de volatilização.
Relação matéria seca com a concentração de nutrientes Foi observado que existe uma estreita relação entre concentração de nutrientes e teor de matéria seca no esterco. Os resultados das análises de regressão entre os teores de nitrogênio e de fósforo com o teor de matéria seca do esterco são apresentados nas Figuras 6 e 7. A distribuição dos pontos mostra que foi o modelo linear aquele que melhor se ajustou para explicar a dependência entre as referidas variáveis. Os coeficientes de determinação (r 2) de 0,74 para N e 0,71 para P (significância 1%) indicam que 74% da variação no teor de N e 71% no teor de P foram explicadas pelas funções ajustadas. A existência de uma estreita relação entre o teor de matéria seca com as quantidades de N e P presentes no esterco líquido tem sido constatada também por outros pesquisadores (5 e 6). Por outro lado, a função ajustada (Y = 0,74 + 0,2548X) para expressar a dependência entre o teor de potássio (Y) e o teor de matéria seca (X) do esterco apresentou um coeficiente de determinação muito baixo (r2 = 0,28), 37
Adubação orgânica
não satisfazendo a precisão mínima desejada. Em parte isto é explicável porque o potássio encontra-se quase que na totalidade dissolvido na fase líquido do esterco, pois provém na sua maior parte da urina e não forma compostos orgânicos estáveis. Verificou--se, no entanto, uma tendência clara de aumento da concentração de potássio com o aumento do teor de massa seca do esterco. Isso significa que através da determinação do teor de matéria seca do esterco o produtor poderá ter uma boa estimativa da qualidade fertilizante do esterco. Essa determinação pode ser feita em nível de propriedade, bastando o produtor coletar uma amostra de esterco e fazer a pesagem do material antes e após sua secagem ao
sol ou estufa. Por diferença de peso, obtém-se o teor de umidade ou de matéria seca da amostra.
Conclusões Os resultados analíticos das amostras de esterco líquido de suínos, coletadas na região Oeste de Santa Catarina, mostraram uma grande diferenciação entre os sistemas de criação, tanto em teor de matéria seca quanto na concentração de nutrientes. As maiores concentrações de nutrientes foram observadas no esterco de unidades de terminação e de ciclo completo e os menores naquele proveniente de esterqueiras de maternidade. As diferenças foram expressivas e indicaram que o esterco de materni-
Figura 4 - Teor de N e P e participação da forma mineral (%) no conteúdo total do esterco de esterqueira comum (EC) e das câmaras de armazenamento (CA) e de fermentação (CF) de bioesterqueiras
Figura 5 - Valores de pH mínimo, médio e máximo no esterco de esterqueira comum e de bioesterqueiras
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dade, no geral, é de pior qualidade. Existe uma estreita relação entre o teor de matéria seca do esterco com sua qualidade fertilizante, principalmente, com as concentrações de nitrogênio e fósforo. Aproximadamente dois terços do nitrogênio, um terço do fósforo e quase 100% do potássio encontram-se no esterco líquido de suínos na forma mineral, isto é, numa forma prontamente assimilável pelas plantas. Cabe destacar que 38% das amostras coletadas tinham menos de 5kg/ m 3 de nutrientes (N-P2O5 -K2O) e, o que é mais grave, 27% do total das amostras tinham menos de 3kg de nutrientes por metro volumétrico de esterco e um teor de matéria seca inferior a 1%, indicando que existem somente vestígios de esterco. Nesse caso o produtor está armazenando e reciclando quase que exclusivamente água. Evidenciou-se a necessidade urgente de uma maior conscientização dos produtores quanto à adoção de técnicas de manejo do esterco, visando melhorar sua qualidade fertilizante. Não basta canalizar os efluentes da criação para um depósito e posteriormente distribui-los na lavoura. O produtor deve se conscientizar que todo processo tem uma relação custo/ benefício, que nesse caso, está diretamente relacionada com a qualidade do esterco armazenado. Por isso, o produtor deve procurar obter um pro-
Figura 6 - Equação de regressão entre teor de nitrogênio total e de matéria seca do esterco
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Adubação orgânica
duto de melhor qualidade, controlando os principais fatores de degeneração da qualidade do esterco, como o desperdício de água na criação e a entrada de água do telhado das construções nas canaletas de coleta ou no depósito de armazenamento. Somente assim, o produtor poderá dispor de um adubo de melhor qualidade e alcançar o retorno técnico e econômico desejado.
Literatura citada 1. OLIVEIRA, P.A.V. Manual de manejo e utilização dos dejetos de suínos. Concórdia: EMBRAPA-CNPSA, 1993. 188p. (EMBRAPA-CNPSA. Documentos, 27). 2. SCHERER, E.E.; CASTILHOS, E.G. de. Esterco de suínos como fonte de nitrogênio para milho e feijão da safrinha. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.7, n.3, 25-28, 1984.
Figura 7 - Equação de regressão entre teor de fósforo total e de matéria seca do esterco dações de adubação e calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina . Passo Fundo: EMBRAPACNPT, 1987. 100P.
3. SCHERER, E.E.; CASTILHOS, E.G. de.; JUCKSCH, I.; NADAL, R. de. Efeito da adubação com esterco de suínos, nitrogênio e fósforo em milho. Florianópolis: EMPASC, 1984. 26p. (EMPASC. Boletim Técnico, 24).
5. BERTRAND, M.; ARROYO, G. Methode rapide de appreciation de la valeur fertilizante des lisiers de porcs. Rennes: CEMAGREF, 1984. p.21-33. (CEMAGREF. Bulletin, 321).
4. SIQUEIRA, O.J.F. de; SCHERER, E.E.: TASSINARI, G.: ANGHINONI, I.; PATELLA, J.F.; TEDESCO, M.J.; MILAN, P.A.; ERNANI, P.R. Recomen-
6. AITA, C. Principais transformações do nitrogênio de resíduos orgânicos no solo. Chapecó: EMPASC, 1987. 14p. Mimeografado.
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Eloi Erhard Scherer, Eng. agr., Ph.D., Cart. Prof. no 9.622-D, CREA-SC, EPAGRI - Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades/ CPPP, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877, Fax (0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SC, Ivan Tadeu Baldissera, Eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 58.479-D, CREA-RS, EPAGRI - Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades/CPPP, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877, Fax (0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SC e Lourenço Francisco Xavier Dias , Eng. agr., Cart. Prof. n o 26.327-D, CREA-RS, EPAGRI - Administração Regional do Oeste Catarinense, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877, Fax (0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SC.
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Adubação orgânica
Método rápido para determinação da qualidade fertilizante do esterco líquido de suínos a campo
Eloi Erhard Scherer, Ivan Tadeu Baldissera e Lourenço Francisco Xavier Dias
T
radicional fonte de nutrientes, o esterco animal é pouco utilizado no Brasil. Merece destaque a grande disponibilidade de esterco de suínos na região Oeste do Estado de Santa Catarina, que, na sua maior parte, ainda não é adequadamente utilizado como fertilizante. A reciclagem do esterco como fertilizante na propriedade, além de ser ecologicamente desejável, mostrouse agronomicamente viável (1 e 2). Contudo, nem sempre pode trazer o retorno econômico desejado. Isto porque a qualidade fertilizante do esterco líquido deixa muitas vezes a desejar, pelo excesso de água em sua composição (3). No Estado de Santa Catarina, a pesquisa com aproveitamento de esterco de suínos como fertilizante vem sendo desenvolvida pelo Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades - CPPP/EPAGRI, desde o início da década passada, com repasse de seus resultados aos produtores ao longo desses anos. Com base em resultados analíticos de amostras de esterco de suínos coletadas na região Oeste de Santa Catarina, foi elaborada, em 1987, uma tabela com teores médios de nutrientes, servindo de base para recomendação de adubação com esse resíduo (4). Porém, é sabido que uma recomendação baseada em teores médios é pouco precisa, pois, dependendo do sistema de criação, coleta e armazenamento do esterco, o valor fertilizante pode variar grandemente (3). Por isso, para a adoção de critérios 40
técnicos e econômicos para uma utilização racional do esterco, se faz necessário a determinação analítica do produto disponível em cada propriedade. Recentemente, por ocasião da implantação do programa estadual de manejo do solo e da água em microbacias, a falta de uma metodologia prática para determinar a qualidade do esterco, nas propriedades, voltou a ser enfatizada. Por sua vez, os métodos analíticos utilizados na determinação dos nutrientes do esterco em laboratório são, em geral, bastante trabalhosos, requerendo cuidados especiais no preparo das amostras e no processo analítico. Além disso, o processo de envio das amos-tras ao laboratório requer certos cuidados especiais com o controle da temperatura, que poderá acelerar o processo de fermentação do esterco após sua coleta, aumentando a degradação dos compostos orgânicos e desvirtuando o resultado analítico da amostra. Em função disso, raros são os produtores que encaminham amostras de esterco para o laboratório e têm noção da qualidade fertilizante do produto que estão aplicando na lavoura. Levando em consideração esses aspectos, e com base em trabalhos desenvolvidos em outros locais, como, por exemplo, na Bretagne, França (5), tentou-se adaptar uma metodologia que possibilitasse a determinação, com boa precisão, da qualidade fertilizante do esterco líquido de suínos, em nível de propriedade.
Estudo de calibração Um estudo preliminar com amostras de esterco de suínos coletadas na região Oeste do Estado e trabalhos desenvolvidos em outros países mostraram que existe uma relação entre o teor de matéria seca do esterco líquido e a concentração de nutrientes neste. Além disso, alguns estudos mostraram que também é possível, através da determinação da densidade (peso/volume) do esterco líquido, obter uma boa estimativa do teor de matéria seca e, indiretamente, do teor de nutrientes do esterco (5). Com base nessas pesquisas procurou-se adaptar a metodologia e fazer uma calibração para as condições locais. No presente estudo foram aproveitadas as 118 amostras de esterco e os resultados analíticos de outra pesquisa (3), determinando-se complementarmente a densidade e a temperatura das mesmas. A determinação da densidade de uma amostra de esterco líquido é um procedimento fácil e rápido. Basta dispor-se de um densímetro com escala de 1.000 a 1.100g/litro, uma proveta de 500ml ou outro frasco com no mínimo 30cm de altura e vasilhames para coletar e preparar as amostras.
Como coletar as amostras O primeiro passo e, talvez, o mais importante, é obter uma amostra representativa do volume de esterco armazenado. Para isso, torna-se necessário, antes da coleta, fazer uma Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Adubação orgânica
perfeita homogeneização do material armazenado, coletando a seguir uma ou mais amostras representativas para análise. Outra alternativa que o produtor tem é a coleta de amostras por ocasião de sua distribuição na lavoura, permitindo uma avaliação mais precisa da qualidade do produto efetivamente aplicado.
Como proceder a leitura da densidade do esterco Após a retirada da amostra da esterqueira e antes de ser colocada no frasco de leitura, ela deverá ser bem homogeneizada. O densímetro deve, então, ser imerso no líquido. Observar até onde o densímetro imerge e anotar o valor da escala. Com a tabela de conversão pode-se determinar o percentual de sólidos e nutrientes nele contidos. Quando se tratar de um esterco mais pastoso, com teores excepcionalmente altos de matéria seca (acima de 10%), o densímetro poderá perder sua precisão de leitura. Nesse caso, deve-se fazer uma nova medição, observando o seguinte: • Diluir o liquame na proporção 1:1 com água, fazer uma boa homogeneização da amostra e introduzir novamente o densímetro. O valor lido na escala deve ser multiplicado por dois menos a densidade da água: densidade do liquame = (leitura x 2) 1.000. Cabe enfatizar novamente que, antes de qualquer procedimento de coleta ou análise, o produtor ou técnico não deve esquecer nunca de homogeneizar bem o liquame, já que os componentes do esterco líquido são bastante heterogêneos.
Resultados obtidos A partir dos resultados analíticos obtidos foram calculadas equações de regressão, que permitissem estimar o teor de matéria seca e a concentração de nutrientes em função da densidade lida no esterco in natura. O densímetro utilizado com escala de 1.000 a 1.100g/litro possibilitou a medida precisa da densidade das amostras de esterco de suínos na faixa de
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1.001 a 1.040g/litro. Acima desse vatodo deixa a desejar. lor, para obter uma leitura mais preNa estimação da fração mineral de cisa, é conveniente fazer-se uma diluinitrogênio e fósforo o método do ção do esterco com água, como descridensímetro não é tão eficiente, emboto anteriormente. ra os índices de determinação de 0,57 A análise de regressão entre o teor para o nitrogênio amoniacal e 0,60 de matéria seca e a densidade do para o fósforo mineral, em função do esterco mostra uma relação linear, grande número de amostras analisaque explica 96% (r2 = 0,96) da variação das, ainda possam ser considerados observada (Figura 1). satisfatórios. As Figuras 2 e 3 apresentam a dispersão de pontos e as regressões ajusRecomendações tadas, para expressar as dependências entre densidade e teor de nitrogêVisando fornecer subsídios aos técnio total e entre densidade e teor de nicos e produtores para um melhor fósforo total. aproveitamento do esterco líquido de A análise dos dados mostra uma relação linear entre os referidos nutrientes e a densidade lida. Como existe uma estreita relação entre a densidade e o teor de matéria seca e entre o teor desta e a concentração de nutrientes, teoricamente essas relações poderiam ser esperadas. Os coeficientes de determinação obtidos foram semelhantes àqueles verificados entre matéria seca e concentração de Figura 1 - Equação de regressão para matéria seca, em relação à nutrientes em oudensidade do esterco líquido tra pesquisa (3), ou seja, os melhores ajustes foram obtidos para nitrogênio (r2 = 0,84), seguido de fósforo (r2 = 0,73), ficando o potássio com um coeficiente de determinação de 0,41, que explica apenas 41% da variação observada, em último (Figura 4). Isso é explicável porque a maior parte do potássio encontra-se dissolvida na fase Figura 2 - Regressão linear entre nitrogênio total e líquida do esterco. densidade do esterco Nesse caso, o mé41
Adubação orgânica
suínos, através da determinação rápida da qualidade fertilizante do produto, foi elaborada uma Tabela Básica de Conversão, com base na medição da densidade do liquame (Tabela 1).
milhões de metros cúbicos de dejetos, que transformados em adubo forneceriam, anualmente, em torno de 68.000t de NPK. Estima-se que desse total apenas 25% são aproveitados
Figura 3 - Regressão linear entre fósforo total e densidade do esterco líquido
Considerações finais Os resultados obtidos validam a metodologia utilizada e indicam que o método do densímetro pode ser adotado para estimar, no campo, o teor de matéria seca e as concentrações de nutrientes no esterco líquido de suínos. O método permite obter uma boa estimativa da quantidade de nutrientes no esterco líquido de suínos, possibilitando equacionar doses em função da análise do solo e necessidades da cultura. Um melhor conhecimento da qualidade fertilizante, além de possibilitar um adequado suprimento de nutrientes para as plantas, evita a adição ao solo de nutrientes em quantidades superiores às necessidades da cultura, principalmente dos elementos com maior mobilidade no solo, como o nitrogênio, que pode ser facilmente lixiviado na forma de N-NO3. Considerando uma produção média de 3,2m3 de esterco líquido por suíno/ano, ter-se-ia em Santa Catarina uma produção anual superior a 10 42
como fertilizante, sendo o restante lançado diretamente nas águas superficiais, resultando em sérios problemas ecológicos locais. Nesse particular, uma determinação rápida da
Figura 4 - Regressão linear entre potássio e densidade do esterco líquido
Tabela 1 - Estimativa dos teores de matéria seca (MS), N-total, P2 O5-total, K2O-total, N-mineral e P2 O5-mineral no esterco líquido de suínos, em função da sua densidade(A) Densidade (kg/m3 ) 1.002 1.004 1.006 1.008 1.010 1.012 1.014 1.016 1.018 1.020 1.022 1.024 1.026 1.028 1.030 1.032 1.034 1.036 1.038 1.040 1.042 1.044 1.046 1.048 1.050 1.052 1.054 1.056 1.058 1.060
MS
N-t
P2O5-t
N-m
P2O5-m
0,63 0,78 0,94 1,09 1,25 1,40 1,56 1,71 1,87 2,02 2,18 2,33 2,49 2,64 2,80 2,95 3,11 3,26 3,42 3,57 3,73 3,88 4,04 4,19 4,35 4,50 4,66 4,81 4,97 5,12
0,19 0,27 0,36 0,44 0,53 0,61 0,69 0,78 0,86 0,95 1,03 1,12 1,20 1,29 1,37 1,46 1,54 1,62 1,71 1,79 1,88 1,96 2,05 2,13 2,22 2,30 2,39 2,47 2,56 2,64
3
(%) 0,27 0,72 1,17 1,63 2,09 2,54 3,00 3,46 3,91 4,37 4,82 5,28 5,74 6,19 6,65 7,10 7,56 8,02 8,47 8,97 9,39 9,84 10,30 10,75 11,21 11,67 12,12 12,58 13,03
K2O-t kg/m
0,68 0,98 1,29 1,60 1,91 2,21 2,52 2,83 3,13 3,44 3,75 4,06 4,36 4,67 4,98 5,28 5,59 5,90 6,21 6,51 6,82 7,13 7,43 7,74 8,05 8,36 8,66 8,97 9,28 9,59
0,22 0,52 0,83 1,14 1,45 1,75 2,06 2,37 2,68 2,99 3,29 3,60 3,91 4,22 4,53 4,84 5,14 5,45 5,76 6,05 6,38 6,68 6,97 7,27 7,58 7,89 8,19 8,50 8,81 9,12
0,63 0,75 0,88 1,00 1,13 1,25 1,38 1,50 1,63 1,75 1,88 2,00 2,13 2,25 2,38 2,50 2,63 2,75 2,88 3,00 3,13 3,25 3,38 3,50 3,63 3,75 3,88 4,00 4,13 4,25
(A) Densímetro (aerômetro) ARBA com valores entre 1.000 a 1.100kg/m3. Nota: Valores calibrados para amostras com temperatura entre 15 e 20oC.
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Adubação orgânica
Esterqueira típica da região - construção em alvenaria com cobertura de telhas
Determinação da densidade do esterco líquido - utilização de uma proveta ou frascos similar
Densímetro utilizado na calibração do método
qualidade fertilizante do esterco, e de fácil execução nas propriedades, poderá contribuir para incentivar o aproveitamento de uma grande parcela do esterco hoje ainda desperdiçado. A participação do produtor na determinação da densidade e qualidade do esterco é muito importante, pois poderá trazer uma maior conscientização dos produtores, principalmente daqueles que têm problemas com a diluição do esterco, causa-
da pelo desperdício de água na criação ou entrada de água do telhado das construções no depósito ou canaletas de coleta do esterco, tendo, por isso, um esterco de pior qualidade. Cabe destacar que 38% das amostras coletadas na região Oeste do Estado têm menos de 5kg/m 3 de nutrientes (N-P2O 5-K2O) e, o que é mais grave, 27% do total das amostras analisadas têm menos de 3kg de nutrientes/ m 3 de liquame, com menos de 1% de matéria seca, portanto, somente com vestígios de esterco.
Literatura citada 1. SCHERER, E.E.; CASTILHOS, E.G. de; JUCKSCH, I.; NADAL, R. de. Efeito da adubação com esterco de suínos, nitrogênio e fósforo em milho. Florianópolis: EMPASC, 1984. 26p. (EMPASC. Boletim Técnico, 24). 2. SCHERER, E.E.; CASTILHOS, E.G. de; AITA, C. Utilização de esterco líquido de suínos como fonte de nitrogênio para as culturas de milho e feijão.
Detalhes do densímetro: Marca ARBA, com escala de 1.000 a 1.100 Cabe esclarecer que o densímetro poderá ser encomendado pelo telefone (051) 336-1100 (Porto Alegre, RS) e, dependendo da quantidade a ser adquirida, custa de R$ 10,00 a R$ 12,00.
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Detalhes do densimetro e frascos para determinação da densidade do esterco líquido
Chapecó: EMPASC, Mimeografado.
1986.
4p.
3. SCHERER, E.E.; BALDISSERA, I.T.; DIAS, L.F.X. Potencial fertilizante do esterco líquido de suínos da região Oeste Catarinense. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.8, n.2, p.35-39, jun. 1995. 4. SIQUEIRA, O.J.F. de; SCHERER, E.E.; TASSINARI, G.; ANGHINONI, I.; PATELLA, J.F.; TEDESCO, M.J.; MILAN, P.A.; ERNANI, P.R. Recomendações de adubação e calagem para os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Passo Fundo: EMBRAPACNPT, 1987. 100p. 5. BERTRAND, M.; ARROYO, G. Méthode rapide de appreciation de la valeur fertilizante des lisiers de porcs. Rennes: CEMAGREF, 1984. p.21-33. (CEMAGREF. Bulletin, 321). Eloi Erhard Scherer, Eng. agr., Ph.D., Cart. Prof. no 9.622-D, CREA-SC, EPAGRI - Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades/ CPPP, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877, Fax (0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SC; Ivan Tadeu Baldissera, Eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 58.479-D, CREA-RS, EPAGRI - Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades/CPPP, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877, Fax (0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SC e Lourenço Francisco Xavier Dias , Eng. agr., Cart. Prof. no 26.327-D, CREA-RS, EPAGRI - Administração Regional do Oeste Catarinense, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877, Fax (0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SC.
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Cebola
Controle do tripes da cebola Paulo Antonio de Souza Gonçalves e Djalma Rogério Guimarães
N
Foto: Pedro Boff
o Brasil a principal praga da culda maturação, “estalo”, tura da cebola é o tripes, Thrips também é prejudicado tabaci, Lindeman, 1888, (1) ou piolho, quando o ataque da pracomo é popularmente conhecido em ga é severo, o que favoSanta Catarina. rece a penetração de O reconhecimento da praga no camágua das chuvas e/ou irpo a olho nu é dificultado, pois os rigação até ao bulbo, insetos tanto na fase jovem como causando assim futuras adulta são pequenos (em torno de perdas por apodreci1mm de comprimento) e alojam-se na mento durante a armaparte interna das folhas na região da zenagem (7). bainha (1). Uma das principais caracAlém dos prejuízos terísticas para diferenciar as ninfas citados anteriormente (fase jovem, Figura 1) dos adultos é tem sido observado que que estas apresentam coloração mais o ataque de tripes pode clara (inicialmente esbranquiçada) e predispor as plantas à a medida que se alimentam da seiva entrada de doenças, Figura 1 - Ninfas de tripes da cebola da planta tendem a cor amarelocomo a mancha-púrpuesverdeada. Os adultos são de coloratripes pode variar de acordo com a ra, Alternaria sp. (8) ção mais escura (amarela e temperatura (1 e 4). amarronzada) (Figura 2). Controle A população desDanos sa praga é composta Os agricultores da região do Alto basicamente por fêOs danos causados Vale do Itajaí têm utilizado para o meas, que podem repelo tripes são devicontrole da praga inseticidas produzir-se sem a dos ao suga-mento fosforados (principalmente parathion presença do macho. da seiva da planta, metílico) e piretróides (principalmenEsse fenômeno é deo que ocasiona mante delta-methrina). Recentemente nominado partenochas principalmentem sido observado o aumento do uso gênese (2 e 3). Os ovos te na parte interna dos piretróides (lambdacyhalothrin e são colocados nas pardas folhas. Inicialcypermethrina). O número de pulvetes mais tenras do mente as manchas rizações algumas vezes é exagerado e tecido foliar. Após são es-branquiçadas realizado em época inadequada, o que quatro dias eclodem e evoluem a prateapode gerar problemas ambientais e as ninfas, que podem das. Com o aumeneconômicos, tais como: onerar o custo durar de cinco a dez to da intensidade do de produção, devido ao gasto excessidias. Antes de transataque são observavo com mão-de-obra e inseticidas; faformarem-se em dos retorcimento, vorecer surgimento de resistência da adultos as ninfas pasama-relecimento e praga; provocar destruição de inimisam ao estágio de seca das folhas (Figos naturais; causar prejuízos a saúde pupa por um período guras 3 e 4), e em do aplicador; aumentar o nível de de 24 horas, que pode conse-qüência ocorresí-duos de inseticidas no produto ocorrer no solo ou na re a redução do tafinal e meio ambiente. planta. As fêmeas manho e peso dos Para que o controle do tripes da adultas podem viver bulbos, gerando secebola seja feito de maneira racional em torno de 20 dias e veras perdas na proé necessário levar em consideração as põem de 20 a 100 dutividade (1, 5 e 6). seguintes recomendações e observaFigura 2 - Fêmea adulta de tripes ovos. O período de deO tombamento das ções: da cebola senvolvimento do plantas por ocasião • Para as cultivares plantadas na Foto: Pedro Boff
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Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Cebola
Foto: Irineu Lorini
região do Alto Vale do Itajaí a principal época de ocorrência dessa praga são os períodos quentes e secos observados durante os meses de outubro e novembro, principalmente, a partir da segunda quinzena de outubro (9). Nesses meses, portanto, deve-se ter maiores cuidados no controle da praga. • Em Santa Catarina não tem sido observada resistência ao tripes para as cultivares EMPASC 351 Sel. Crioula, Baia Periforme, EMPASC 352 Bola Precoce, Jubileu, Norte 14. As cultivares precoces como a Baia Periforme e a EMPASC 352 Bola Precoce (plantio em julho) sofrem menores perdas na produtividade em relação aos plantios tardios (a partir de setembro). No período de maior incidência da praga (outubro e novembro), encontram-se em pleno desenvolvimento vegetativo com o bulbo praticamente já em formação, enquanto que as cultivares tardias, como a Norte 14, encontramse no início do desenvolvimento (9). Convém ressaltar, que o inseto tem
Figura 3 Lavoura atacada por tripes da cebola. Observar o retorcimento e seca de ponteiros
Foto: Irineu Lorini
Figura 4 - Planta atacada por tripes da cebola, apresentando enrolamento das folhas e seca dos ponteiros
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
preferência por plantas mais jovens. • A eficiência dos inseticidas no controle do tripes é dificultada em plantios tardios, pois coincidem com altas temperaturas e períodos mais secos, favorecendo altas infestações da praga no início do desenvolvimento das plantas (9). A produtividade nos plantios tardios pode ser reduzida em mais de 50%, caso o tripes não seja controlado de forma adequada. • Os inseticidas que se mostraram eficientes no controle do tripes em experimentos realizados pela EPAGRI foram: deltamethrina 7,50g i.a./ha (Decis 25 CE 300ml/ha) e fenithrothion 750,0g i.a./ha (Sumithion - 1,5 litro/ ha), já registrados no Ministério da Agricultura para a cultura da cebola, além de lambdacyhalothrin 5,0g i.a./ ha (Karate 50 CE - 100ml/ha) e cypermethrina 25,0g i.a./ha (Arrivo 200 CE - 125ml/ha), ainda não registrados para a cultura (10 e 11). Os processos de registros desses dois últimos inseticidas já estão em andamento. Para um bom desempenho desses inseticidas recomenda-se o uso de bico tipo leque 80.03, para facilitar a penetração da calda até a região interna da bainha onde as ninfas do tripes ficam alojadas. Futuros trabalhos de pesquisa serão desenvolvidos a fim de se determinar a necessidade de ajustes das dosagens desses princípios ativos de acordo com a variação populacional do tripes, pois a monocultura da cebola favorece a ocorrência de altas infestações da praga, além da possibilidade do surgimento de resistência.
Para se evitar esse processo recomenda-se a utilização alternada de princípios ativos de grupos químicos diferentes, intercalando-se fosforados e piretróides. • O número de aplicações de inseticidas em nível de pesquisa tem sido em torno de quatro a seis, realizadas durante os meses de outubro e novembro, com intervalo de aplicação entre sete a catorze dias. Não é possível generalizar o número de aplicações através de calendário predeterminado, pois deve--se levar em consideração a presença da praga. Para obtenção de bulbos de boa qualidade, o uso de inseticidas deve ser considerado como mais uma prática na condução da lavoura, juntamente com o manejo adequado do solo, das doenças e plantas daninhas. • Em levantamento realizado em Ituporanga, SC, tem sido constatada a presença de insetos benéficos, que se alimentam das ninfas do tripes da cebola, como a larva da mosca Toxomerus taenia (Diptera Syrphidae) (12) (Figura 5), e também de joaninhas (Coleoptera Coccinellidae). Portanto o uso de inseticidas deve ser cuidadoso para que se preservem os inimigos naturais, que auxiliam o agricultor no controle da praga (3). • Para obter orientações sobre o manejo de agrotóxicos na lavoura de cebola e realizar o controle das pragas de maneira mais racional e econômica, recomenda-se ao agricultor procurar engenheiro agrônomo da EPAGRI do seu município. 45
Literatura citada 01. GALLO, D.; NAKANO, O.; NETO, S.S.; CARVALHO, R.P.L.; BATISTA, G.C.; BERTI FILHO, E.; PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B.; VENDRAMIN, J.D. Manual de entomologia agrícola. São Paulo: CERES, 1988. 649p. 02. BUTANI, D.K.; VERMA, S. Insect pests of vegetables and their control: onion & garlic. Pesticides, Bombay, v.10, n.11, p.33-35, 1976. 03. COSTA, A.A.; MEDEIROS, P.Z. O piolho da cebola. Agronomia, Itaguaí, RJ, v.8, n.4, p.359-364, 1949. 04. COSTA, A.A.; MEDEIROS, P.Z. O piolho da cebola. Agronomia , Itaguaí, RJ, v.9, n.1, p.77-86, 1950. 05. MENEZES SOBRINHO, J.A. Pragas do alho. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.4, n.48. p.41-44, 1978. 06. VANNETTI, F. Pragas da cebola e do alho. In: MINAS GERAIS. Universidade Rural. Cultura da Cebola. Viçosa: 1960. p.1-2. (Hortaliças, 3). 07. LORINI, I.; DEZORDI, J. Flutuação populacional de Thrips tabaci Lindeman, 1888 (Thysanoptera Thripidae) na cultura da cebola. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil . Jabuticabal, v.19, n.2, p.361-365, 1990.
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Foto: Paulo A.S. Gonçalves
Cebola
Figura 5 - Larvas da mosca predadora de tripes da cebola 08. EMPASC/EMATER-SC/ACARESC. Sistema de produção para cebola ; Santa Catarina (2 a revisão). Florianópolis: 1991. 51p. (EMPASC/ACARESC. Sistemas de Produção, 16).
trole químico do tripes Thrips tabaci Lind. em cebola. In: CONGRESSO NACIONAL DE ENTOMOLOGIA, 9., 1984, Londrina, PR. Resumos. Londrina: SEB, 84. p.271.
09. LORINI, I.; TORRES, L.; GUIMARÃES, D.R. Flutuação populacional de tripes na cultura da cebola. Florianópolis: EMPASC. 1986. 4p. (EMPASC. Pesquisa em Andamento, 62).
12. BUTIGNOL, C.A. Toxomerus taenia (Diptera, Syrphidae) predador de tripes em alho e cebola. In: SIMPÓSIO DE CONTROLE BIOLÓGICO, 4., 1994, Gramado, RS. Anais: Sessão de Pôsteres. Pelotas: EMBRAPA-CPACT, 1994. p.235.
10. GUIMARÃES, D.R.; GONÇALVES, P.A. de S. Avaliação comparativa de inseticidas no controle de tripes, Thrips tabaci, Lindeman, 1888, em cultivares de cebola. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENTOMOLOGIA, 14., 1993, Piracicaba, SP. Resumos. Piracicaba: Sociedade Entomológica do Brasil/FEALQ, 1993. p.471. 11. SILVEIRA, E.R.; GUIMARÃES, D.R. Con-
Paulo Antonio de Souza Gonçalves, Eng. agr., M.Sc. Cart. Prof. no 34.327-2, CREA-SC, EPAGRI, Estação Experimental de Ituporanga, C.P. 98, Fone (0478) 33-1409, Fax (0478) 33-1364, 88400-000, Ituporanga, SC; Djalma Rogério Guimarães, Eng. agr., M.Sc. Cart. Prof. no 1.144-D, CREA-SC, EPAGRI, C.P. 502, Fone (048) 234-0066, Fax (048) 234-1024, 88034-901, Florianópolis, SC.
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Alimentação animal
Importância dos minerais na reprodução do gado de corte Edison Azambuja Gomes de Freitas, João Lari Felix Cordeiro e Canuto Leopoldo Alves Torres
E
conomicamente está comprovado que na bovinocultura de corte a eficiência da produção de terneiros é o fator mais importante; então, os aspectos da nutrição que influem nesta eficiência devem ser considerados. Depois da energia e da proteína, os microfatores nutricionais (minerais e vitaminas) devem ser cogitados, tanto nos níveis individuais como na relação dietética entre eles. Os elementos minerais têm um papel fundamental no bom desenvolvimento do feto, na saúde da futura mãe e indiretamente no aproveitamento dos nutrientes orgânicos energéticos e protéicos que os reprodutores (macho e fêmea) absorvem da sua alimentação. Os bovinos retiram da pastagem 50% ou mais das suas necessidades minerais. Também a água e contaminação de solo são fontes que carreiam minerais para o organismo animal. O restante normalmente é suprido por mistura mineral fornecida no cocho coberto, para livre acesso dos bovinos. Os minerais que são dieteticamente essenciais para os animais e que exercem influência sobre a produção e reprodução dividem-se em macroelementos e microelementos . Os macroelementos - requeridos em maior quantidade - são cálcio, fósforo, potássio, sódio, cloro, magnésio e enxofre. Os microelementos ou micronutrientes são: cobalto, cobre, iodo, ferro, manganês, molibdênio, selênio e zinco. A principal deficiência sentida pelo gado é o sal comum (sódio e cloro), porém se o fazendeiro suplementa só o sal, aparecem depois deficiências dos outros elementos, também insuficientes no pasto, principalmente fósforo Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
(que influi bastante na performance reprodutiva), cobre e zinco (dois micros que costumam apresentar deficiência marginal na pastagem). O manganês e o ferro exibem geralmente concentrações elevadas na pastagem nativa e podem desequilibrar a dieta dos animais, principalmente se estes forem suplementados com mistura mineral rica nesses elementos. Por isso é muito importante o criador ser informado do balanceamento dos minerais para que eles em conjunto rendam o máximo ao animal sem desequilibrar sua dieta. Por exemplo, o cálcio (Ca) e o fósforo (P) devem estar numa relação aproximada entre 1:1 e 2:1 (Ca:P) para atingir o objetivo. Como o mais deficiente é o fósforo, então se houver muito cálcio, levantando a relação Ca:P, há uma deficiência induzida de fósforo, que pode ocorrer também quando o animal ingere muito ferro (de diversas fontes), o que insolubiliza o fósforo na forma de fosfato de ferro, tornando-o deficiente para a função reprodutiva.
Cálcio Suas funções na reprodução restringem-se à necessidade de promover contratilidade muscular, notadamente sobre a mucosa uterina nos momentos de parto e expulsão placentária (1). A Tabela 1 mostra a necessidade de cálcio para vacas em reprodução. É bom frisar que as vacas no pós-parto é que são exigentes em cálcio para garantir a produção de leite sem se desgastarem. O cálcio ingerido no préparto, se excessivo, pode provocar indiretamente a “febre do leite” em vacas que eventualmente produzam
bastante leite, porque é necessário que após o parto elas entrem em balanço negativo com reabsorção óssea para estimular-lhes o apetite e absorver mais cálcio durante a lactação. É interessante destacar que a partir da 32a semana de gestação de vacas primíparas a exigência diária de cálcio sobe de 14 para 26g/dia, chegando à 40a semana com 34g/dia, para completar seu desenvolvimento ósseo.
Fósforo A nutrição mineral fosfatada desempenha importante função na fertilidade. O fósforo é essencial no processo de transferência de energia e havendo deficiência a hipófise e o ovário não funcionam a contento, quando a movimentação de energia é alta (2). Ainda na Tabela 1, vêem-se as necessidades de fósforo para as vacas em gestação e no pós-parto, segundo o seu peso vivo. Também neste elemento verifica-se aumento das necessidades diárias de ingestão para vacas primíparas (novilhas de primeira cria) de 12 para 20g/dia a partir da 32a semana de gestação, chegando à 40a semana com necessidade de 26g/dia. O não suprimento adequado de fósforo ao gado de cria gera algumas conseqüências metabólicas que no fundo refletem-se em prejuízos econômicos. O fósforo é o macroelemento mais importante e mais deficiente na pastagem. Os efeitos da deficiência de fósforo na reprodução de bovinos incluem (4 e 5): • anestro; • cios irregulares; 47
Alimentação animal
Tabela 1 - Exigências nutricionais de cálcio e fósforo para bovinos de corte em reprodução e na fase de crescimento e terminação. Valores expressos em gramas ou em porcentagem da matéria seca (MS) do alimento (3) Peso Consumo mínimo corporal diário de MS (kg) (Kg/dia)
Cálcio
Fósforo
g/dia
% no alimento
g/dia
% no alimento
24 25 26 23 25 26
0,33 0,33 0,30 0,26 0,26 0,26
15 16 18 18 20 21
0,21 0,21 0,21 0,20 0,21 0,21
Animais no terço final da gestação 320 360 410 450 500 540
7,17 7,90 8,63 8,90 9,53 10,12
Animais com terneiro ao pé (produção média de 5kg de leite por dia) 360 410 450 500 540
7,85 8,53 9,17 9,81 10,44
23 24 25 27 28
0,30 0,28 0,28 0,27 0,27
17 19 20 22 23
0,22 0,22 0,22 0,22 0,22
Peso Ganho Consumo mínimo Cálcio Fósforo corporal diário diário de MS (kg) (kg) (kg/dia) g/dia % no alimento g/dia % no alimento 130 130 130 180 180 180 270 270 270 360 360 360 450 450 450
0,5 1,0 1,5 0,5 1,0 1,5 0,5 1,0 1,5 0,5 1,0 1,5 0,5 1,0 1,5
3,54 3,81 3,95 4,40 4,72 4,90 5,99 6,40 6,67 7,45 7,95 8,26 8,76 9,40 9,76
• redução da atividade ovariana; • aumento da incidência de folículos císticos; • redução da taxa de concepção; • cios silenciosos; • retardo no aparecimento do primeiro cio pós-parto. Estas anomalias geralmente ocorrem após o aparecimento de outros sintomas clínicos da doença. No caso de excesso de fósforo nas misturas minerais, as fêmeas bovinas podem apresentar cios silenciosos, ciclos irregulares e catarros genitais. Trabalhos realizados na África do Sul demonstram o efeito da suplementação fosfatada sobre o índice de nascimentos, que foi de 80% em vacas suplementadas e de 51% nos animais 48
11 17 23 12 18 23 14 18 23 16 19 23 18 20 23
0,31 0,45 0,58 0,27 0,38 0,47 0,23 0,28 0,35 0,22 0,24 0,28 0,21 0,21 0,24
7 9 11 8 10 12 11 12 14 13 15 16 16 17 18
0,20 0,24 0,28 0,18 0,21 0,25 0,18 0,19 0,21 0,17 0,19 0,19 0,18 0,18 0,18
não suplementados (2). Na Tabela 2, as principais fontes de cálcio e fósforo. Outros elementos com função na reprodução: • Iodo - o iodo é parte integrante de uma série de importantes hormônios da tireóide que têm função de regular o apetite, a produção de energia e a atividade dos animais. A deficiência de iodo causa alterações na fertilidade e os principais efeitos, quase nunca observados pelo criador, são o aumento na freqüência de abortamento, parto prematuro (5 e 6) e anestro, ou seja, ausência de cio. O excesso de iodo na ração, pelo seu efeito tóxico, pode acarretar mortalidade embrionária e abortamentos
(5). Uma deficiência de iodo induz deficiência tireoidiana, reduzindo muito a reprodutividade, resultando em supressão dos períodos estrais nas fêmeas e perda da libido nos machos. As necessidades são de 0,05 a 0,10ppm de iodo na matéria seca (MS) da dieta. Por lei, o sal comum deve conter 10mg de iodo/kg, ou seja, 13,2mg de iodeto de potássio/kg de sal. • Selênio - a sua deficiência produz baixo desempenho reprodutivo em animais maduros, bem como condiciona a síndrome da “retenção de placenta”. Existe relação entre consumo de selênio e de vitamina E e incidência de retenção de placenta em vacas de leite (4). Verificou-se que a utilização de 15mg de selênio como selenato + 680 UI vitamina E promove uma redução de 12% em placentas retidas com mais de 6 horas e 44% naquelas que requeriam a remoção pelo veterinário. O uso de 14,8ppm de selênio no sal mineral e 2.700 unidades internacionais de vitamina E é adequado para Tabela 2 - Fontes usuais de cálcio e fósforo
Fonte Pedra calcária Farinha de ostras (conchas) Fosfato bicálcico Fosfato bicálcico + monocálcico Fosfato de rocha desfluorizado Farinha de ossos autoclavada Farinha de ossos calcinada Fosfato de amônio
% Ca
%P
32 a 38
-
38 24 a 26
18 a 22
16 a 23
18,5 a 23
30 a 36
14 a 18
23 a 26
9 a 12
32 a 35 -
13 a 16 20 a 24
Nota: Análises executadas no Laboratório de Nutrição Animal - EPAGRI/Lages.
prevenir deficiências. É preciso cuidar muito a dosagem, por ser elemento muito tóxico. O requerimento na MS da dieta é de 0,05 a 0,10ppm. A deficiência de selênio prejudica o crescimento testicular, assim como sua função, sendo que a maturidade e a motilidade dos espermatozóides são prejudicadas pela carência de selênio (2). Pesquisas demonstram que 27,6% de vacas multíparas mostram a síndrome da retenção de placenta, e que Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Alimentação animal
16,5% das vacas primíparas também (7). A dosificação injetável de 3 a 9mg de Se na forma de selenito de sódio três semanas antecedentes ao parto reduziu a incidência de retenção de placenta em mais de 50% em 500 partos. Em pesquisa executada em São Paulo (8) constatou-se que o principal alimento rico em selênio é o farelo de trigo, com 0,327mg de Se/kg. Houve efeito positivo em vacas leiteiras que consumiram sal mineral com 49mg de Se/kg, na forma de selenito de sódio. A ingestão de 2mg de Se/dia/ vaca leiteira em Descalvado, SP aumentou os níveis séricos de Se nos animais. Isso corresponde a 4,4mg de selenito de sódio. Em gado de corte a suplementação com selênio aumentou a fertilização de óvulos. Mostra também a pesquisa que vacas não suplementadas com selênio apresentaram 10% de retenção de placenta, e que a suplementação com 2 ou 4mg de Se/dia diminuiu para zero esta incidência, bem como reduziu de 84 para 70 dias a primeira cobertura pós-parto e o número de inseminações por concepção caiu de 2,1 para 1,6. • Manganês - tem sido relatado que a suplementação com manganês melhora a fertilidade de vacas, mas nas nossas condições isso não deverá ocorrer porque o campo nativo é bem suprido deste elemento, por serem os solos ácidos ricos em manganês. Assim, a deficiência de manganês a ponto de influir na reprodução só seria reproduzível em condições de alta aplicação de calcário, produzindo baixa porcentagem do elemento na pastagem. A deficiência afeta também o desenvolvimento ósseo e causa problemas nas juntas. O excesso de manganês afeta também a reprodução do gado que ingere pasto com conteúdo maior de 100ppm de Mn na MS. As vacas devem apresentar baixo índice de parição e requerem maior número de serviços por concepção. As pastagens nativas da região têm mais de 100ppm de manganês. • Cobre - sua deficiência ocasiona uma série de distúrbios no organismo, incluindo-se deficiência na reprodução, como retenções placentárias, atrofia ovariana e retardo no aparecimento do primeiro cio pós-parto, embora o mecanismo ainda não esteja Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Tabela 3 - Efeito da suplementação mineral sobre alguns parâmetros reprodutivos e a produtividade em bovinos de corte Itens avaliaAborto (%) Mortalidade à desmama (%) Bezerros desmamados (%) Peso à desmama (kg) Ganho de peso aos 572 dias (kg) Ganho de peso por dia (g)
Testemunha (sal comum) 9,3 22,6 38,4 117,0 86,0 150,0
Suplemento dos mineral Observações 0,75 10,5 60,4 147,0 141,0 247,0
redução de 92% redução de 53% acréscimo de 57% acréscimo de 25% acréscimo de 64% acréscimo de 64%
completamente dominado. A necessidade é de cerca de 50mg/dia, ou 5 a 8ppm na dieta. Os demais elementos, embora não interfiram fisiologicamente de forma direta na reprodução, têm que estar presentes na formulação da mistura mineral, como o sódio, cloro, enxofre, zinco e o cobalto. O potássio e o magnésio têm-se revelado suficientes nas pastagens nativas e grama missioneira.
Aplicação prática de misturas minerais
Efeito da suplementação mineral sobre a produtividade e reprodução em bovinos de corte
Sal comum iodado
Transcreve-se a seguir em forma tabulada a informação da melhoria dos índices técnicos de desempenho produtivo e reprodutivo de uma mineraliza-ção recomendada para bovinos de corte (6). A performance reprodutiva melhorada é um fato comum e notório em pesquisas realizadas em vários continentes, em que se comparou a suplementação com sal comum com misturas minerais em que entrou algum composto fosfatado e/ou outros nutrientes minerais. De 16 trabalhos realizados observou-se que em média uma suplementação com sal comum apresentou taxa de natalidade de 52,9%, contra 75,6% para rebanhos que receberam sal com outros minerais no suplemento. A Tabela 4 mostra os índices numéricos de vários países, conforme levantamento bibliográfico (3). É fácil concluir que a diferença de 22 terneiros em cada grupo de 100 vacas entouradas justifica economicamente a adoção da mineralização do gado de cria.
Para consultas comuns de produtores de gado de corte em Lages e arredores, sobre campo nativo (composição média na primavera/verão de 0,25% de Ca e 0,14% de P na matéria seca) (9) tem-se recomendado as seguintes formulações: Para gado geral e novilhos 50%
Fosfato bicálcico (exemplo DINAFÓS) 30% Caolin (material inerte) (A) Sulfato de zinco Sulfato de cobre Sulfato de cobalto Iodato de potássio(B)
Composição calculada (Tabela 3) Cálcio (Ca) = 6,9%
18,3% Fósforo (P) = 5,4% 1,2% 0,5% Ca/P = 1,3:1 0,01% 0,01%
(A) O uso da areia fina lavada como material inerte é uma possibilidade que será testada. É mais abundante e barata que o caolin. (B) Se o sal não contiver iodo.
Para gado de cria (parição até desmama) Sal comum
50% Composição calculada (Tabela 3)
Fosfato bicálcico (exemplo DINAFÓS) 40% Calcário calcítico FILLER 8,3% Cálcio (Ca) 13,0% Sulfato de zinco 1,2% Fósforo (P) 7,4% Sulfato de cobre 0,5% Ca/P 1,7:1 Sulfato de cobalto 0,01% Iodato de potássio 0,01% Selenito de sódio 0,01% (ver nota no final do artigo)
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Alimentação animal
Exemplo: Uma vaca com 410kg, com terneiro ao pé, produzindo 5 litros de leite/dia e ingerindo o equivalente a 2,5% de seu peso vivo em matéria seca do campo nativo/dia, necessita de 24g de cálcio (ou 0,23% Ca na MS (Tabela 1) e 19g de fósforo (ou 0,18% P na MS da pastagem). Aplicando os valores de composição do campo nativo vistos antes, a ingestão dos 10,250kg de MS de pasto proporcionam 25,6g de Ca e 14,3g de P. Para cobrir o déficit de fósforo as vacas têm que ingerir via suplemento mineral a quantidade de 19-14,3 = 4,3g. Por regra de três chega-se ao consumo necessário do suplemento para suprir Tabela 4 - Efeitos da suplementação mineral sobre o aumento da porcentagem de natalidade dos bovinos, em diferentes países (3) País
Bolívia Bolívia Brasil Brasil Brasil Colômbia Panamá Panamá Peru Filipinas Filipinas África do Sul Tailândia Uruguai Uruguai Uruguai (A) (B) (C) (D) (E)
50
Sal Sal comum comum mais suple(aumento mento mineral %) (aumento %) 67,5 73,8 55,0 49,0 25,6 50,0 62,2 42,0 25,0 57,0 76,0
80,0(A) 86,4(B) 77,0(C) 72,0(A) 47,3(A) 84,0(C) 68,8(D) 80,0(A) 75,0(E) 79,0(C) 80 a 82(C)
51,0 49,0 48,0 86,9 27,0
80,0(A) 67,0(A) 64,0(A) 96,4(A) 70,0(B)
Farinha de osso. Fosfato bicálcico. Mistura mineral completa. Fosfato bicálcico + superfosfato triplo. Fosfato bicálcico + sulfato de cobre.
o déficit: 100g 7,4g fósforo xg 4,3g fósforo o que dá 58g de suplemento/dia. A mistura fica à vontade em cochos cobertos para os animais. O suplemento garante a produção de leite e o crescimento mais rápido do terneiro. Para animais pastejando sobre grama missioneira as exigências de suplementação são menores que sobre campo nativo, já que aquela grama tem 44% mais cálcio e 21% mais fósforo na primavera/verão que o campo nativo (9). Entretanto, tem-se considerado, na prática, que as formulações para campo nativo se aplicam também à criação sobre grama missioneira, até que se tenha informação mais detalhada e comparativa entre a exploração pecuária sobre campo nativo e sobre grama missioneira. Com relação à utilização prática do selênio em misturas minerais para gado em reprodução, há que fazer algumas advertências e recomendações: • Se a formulação for feita na fazenda, a inclusão de selenito de sódio deve ser acompanhada por um profissional da área; do contrário, não inclui-lo, devido ao perigo de óbito dos animais. A recomendação de 0,01% de selenito de sódio na fórmula significa 100mg de selenito/kg de mistura mineral, ou 45mg de selênio puro. Um animal, se ingerir 50g da formulação/ dia, vai ingerir 2,25mg de selênio puro. Segundo estudos em São Paulo (8) a dose ingerida de 2 a 4mg Se/dia aumentou os níveis séricos de selênio em vacas.
Literatura citada 1. NAZÁRIO, W. Minerais e reprodução. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE REPRODUÇÃO ANIMAL, 6., 1985, Belo Hori-
zonte, MG. Anais. Belo Horizonte: Colégio Brasileiro de Reprodução Animal, 1986. p.32-42. 2. MARTINS, L.C.T. Nutrição mineral de bovinos de corte. São Paulo: Nobel, 1993. 173p. 3. CAVALHEIRO, A.C.L.; TRINDADE, D.S. Os minerais para bovinos e ovinos criados em pastejo. Porto Alegre: SagraDC Luzzatto, 1992. p.55 e 118. 4. DAYRELL, M.S. Efeito da deficiência de alguns minerais na reprodução de bovinos. Coronel Pacheco: EMBRAPACNPGL, 1991. 18p. (EMBRAPACNPGL. Documentos, 50). 5. GRUNERT, E.; GREGORY, R.M. Diagnóstico e terapêutica da infertilidade da vaca. Porto Alegre: Sulina, 1984. 163p. 6. ORTOLANI, E.L. A importância de minerais para bovinos. Raça Jersey , São Paulo, v.2, n.8, p.38-55, maio/jun. 1994. 7. EGGER, S.; DRORI, D.; KADORI, I; MILLER, N.; SCHLINDER, H. Effects of selenium and vitamin E on incidence of retained placenta. Journal of Dairy Science, Champaign, v.68, p.2119-2122, 1985. 8. LUCCI, C.S.; ZANETTI, M.A.; MOXON, A.I.; ANDRADE, A.M.L. de; SCHALCH, F.J. Pesquisas sobre selênio em bovinos leiteiros no Estado de São Paulo. Revista dos Criadores, São Paulo, v.56, n.682, p.118-120, nov. 1986. 9. FREITAS, E.A.G. de; DUFLOTH, J.N.; GREINER, L.C. Tabela de composição químico-bromatológica e energética dos alimentos para animais ruminantes em Santa Catarina. Florianópolis: EPAGRI, 1995. 333p. (EPAGRI. Documentos, 155). Edison Azambuja Gomes de Freitas, Eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 3.616-D, CREA-SC, EPAGRI - Estação Experimental de Lages, C.P. 108, Fone (0492) 22-4400, Fax (0492) 221957, 88502-970 - Lages, SC, João Lari Felix Cordeiro, Méd. vet., M.Sc., CRMV 9.999, EPAGRI - Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, Fone (0473) 44-3677, Telex 473 433, 88301-970 - Itajaí, SC e Canuto Leopoldo Alves Torres, Méd. vet., M.Sc., CRMV 0.035, EPAGRI - Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, Fone (0473) 44-3677, Telex 473 433, 88301-970 - Itajaí, SC.
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Reportagem
Plantio direto na pequena propriedade: baixo custo, grande produtividade Reportagem e fotos de Paulo Sergio Tagliari e Homero M. Franco
Utilizando mão-de-obra familiar, equipamentos simples e o mínimo de gastos com insumos, duas pequenas propriedades, uma no Vale do Itajaí e outra no Oeste, situadas em terrenos bem declivosos, vêm conseguindo ótimos resultados com a técnica do plantio direto. Feijão na palha do capim lanudo
A
tualmente enquanto o governo federal e grupos de grandes produtores rurais endividados travam uma luta de quebra de braço sem precedentes em torno do crédito rural e a famigerada TR, alguns pequenos produtores, humildemente, trabalham em suas terras sem nenhuma ajuda financeira e conseguem ótimos resultados técnico-econômicos. É o caso da proprie-dade do Sr. Roland Ristow, localizada no município de Ibirama e que, utilizando quase nenhum adubo químico e agrotóxico, atinge altas produtividades nas suas duas principais lavouras comerciais que são o milho e o fumo. O segredo do Sr. Ristow está baseado em dois pontos fundamentais, o manejo através de plantio direto e a adubação orgânica. Mas não foi sempre que ele procedeu assim. Em 1954, quando assumiu a propriedade, o sistema convencional de aração e planAgrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
tio era o que imperava e a terra estava com acentuado grau de degradação. Mas com o passar do tempo e baseado em suas observações e experiências, acabou adotando o cultivo mínimo de 1977 a 1980 e a técnica do plantio direto de 1980 em diante, orientado pelos técnicos da EPAGRI que trabalham no Projeto de Microbacias. A propriedade do Sr. Ristow é bastante declivosa e ele sentiu necessidade de plantar uma espécie que ajudasse a manter o solo coberto evitando as enxurradas e conseqüente erosão. A mucuna, da família das leguminosas, foi a planta escolhida pelo agricultor. Além de cobrir bem o solo, a mucuna enriquece a terra com sua grande massa foliar, fornecendo nitrogênio e matéria orgânica. Além da mucuna, surgiu espontaneamente no local uma gramínea, a braquiária, também chamada na região de capim-doce. Muitos a consideram uma praga, mas
para Ristow ela funciona ajudando na cobertura do solo e como matéria verde. Junto à mucuna e à braquiária, o Sr. Ristow usa esterco para enriquecer ainda mais a fertilidade de sua terra. Para se ter uma idéia, em Ibirama a produtividade média do milho é de 47 sacos/ha, ao passo que na lavoura do produtor ela atinge 85 sacos. Os seus custos de produção com o milho são apenas a utilização de sementes e a mão-de-obra, sem nenhum tipo de adubação química. Eventualmente, quando a braquiária infesta muito em determinados locais da lavoura, ele utiliza o herbicida.
Um terço da mão-de-obra A técnica do plantio direto é bastante simples. Sob a resteva da mucuna, nos meses de julho a agosto, usando um saraquá, o Sr. Ristow, 51
Reportagem
mo Euclides muita sabedoria de vida, Roland Kirchner, a mãoRistow arrisca uma previsão: “daqui de-obra neste sishá 20 anos, os grandes e pequenos tema é um terço produtores que não cuidarem de suas do convencional no terras vão acabar. Só vão sobrar os caso do milho e que adubarem organicamente e tivemetade no caso do rem uma maior consciência ecológica fumo. Este sistee ambiental”. ma de plantio direNo Oeste, Algeu Fagundes, 40, é to não só viabiliza um ex-sem terra assentado sobre 15ha a agricultura em na Linha Imperatriz, em São José do nível de pequena Cedro, no Assentamento Lageado propriedade e em Grande, desde 1988. De incomum, topografia bastanAlgeu tem, pelo menos, duas coisas: é te acidentada, pai de doze filhos (entre 21 anos e 14 como também permeses de idade) e nunca mais voltará Mucuna cobrindo terreno declivoso em Ibirama, SC mite obter altas a usar o arado nos 10ha cultiváveis de produtividades a sua terrinha. Tudo ali acontece atrabaixos custos, com vés do plantio direto não mecanizado, alta eficiência econômica e, sobretujá há três anos. ajudado pelo filho, semeia o milho no do, com a recuperação do solo e o Ele conta que aprendeu com o espaçamento e densidade recomencontrole efetivo da erosão. “Esse sistécnico Jaime Brancher, da EPAGRI dados pela técnica. Quando ocorrem tema de cultivo”, frisa o engenheiro local. Planta milho e em seguida a geadas, estas queimam a mucuna que agrônomo, “assegura um desenvolvimucuna (branca e preta). Quando o forma uma cobertura morta sob o mento sustentável, equilibrado ecolomilho está maduro, faz a dobra e deixa solo. Quanto à braquiária, encontragicamente e humanamente mais a mucuna tomar conta. Quando a se no final do seu ciclo produtivo, por aprazível”. mucuna seca, ele quebra o milho e ser uma espécie de verão. Caso não bate a mucuna com uma vara de ocorrerem geadas, o produtor utiliza Propriedade modelo timbó ou rabo-de-bugio, substituindo um rolo-disco motorizado com quatro o rolo-faca, que ele não possui. Em discos, dois laterais que cortam a Roland Ristow contempla hoje sua agosto seguinte, planta novamente mucuna e dois centrais que puxam o propriedade com a satisfação do equipamento. A máquina, denominadever realizado. Seu estabelecida carinhosamente de “Maria louca”, mento, passados 40 anos de evofoi engenhosamente adaptada de uma lução técnica e econômica, já se enxada rotativa e hoje é muito requitornou modelo na região. O sitada para participar de exposições Sr. Ristow não dá conta das de máquinas agrícolas, devido à sua inúmeras visitas e excursões de praticidade e simplicidade. O renditécnicos, estudantes, professomento do trabalho é de 8 horas/ha. res e lideranças que chegam A mucuna precisa ser plantada para conhecer os resultados do anualmente, entre as fileiras do miplantio direto na pequena prolho ou de fumo no mês de novembro priedade. Até do exterior cheaté dezembro, com saraquá ou matragam visitantes, de países como ca. A densidade de plantio é de 50 a o Paraguai, Cuba, Honduras e 60kg/ha de mucuna branca. A Costa Rica. braquiária tem ressemeadura natuRoland Ristow e sua família ral. Os Ristow colhem anualmente são apaixonados pela natureza. 300kg de sementes de mucuna. Para Além das lavouras, a propriedao milho, a semente preferida é a de possui reflorestamento, com EPAGRI 351-Condá, pois se trata de 4 mil pés de eucalipto, e mata um milho variedade, ou seja, não há nativa. E já foram plantados 1,5 necessidade de renovar a semente mil pés de uva-do-japão e 5 mil anualmente. E, também, é um milho de pau-jacaré, cujas mudas ele rústico que produz mesmo sem muito retirou cuidadosamente de planadubo. tas mais velhas no mato. Segundo informa o técnico da EPAHoje com 66 anos de idade e “Maria louca” é hoje muito requisitada GRI de Ibirama, o engenheiro agrôno52
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Reportagem
Milho na palha da mucuna (Oeste de SC)
milho, usando o saraquá. Disse que nem é preciso semear a mucuna novamente, pois ela emerge sozinha. “E já observei que ela funciona também contra rato e caruncho, protegendo o milho dobrado”, garante Fagundes. Noutra área em sucessão milho/ feijão ele planta aveia no meio do milho dobrado, colhe o milho e larga as vacas, cujo plantelzinho pretende aumentar para poder vender o leite. Hoje são apenas seis. Quando a aveia larga a semente, ele desseca e planta o feijão diretamente na palha, novamente com o uso do saraquá. Em dezembro ele colhe o feijão e faz o plantio direto do milho e novamente
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
aveia, repetindo toda a operação. Num pequeno pedaço de terra muito dobrada, ele faz toda essa operação, substituindo a aveia pelo capim lanudo, com o mesmo desempenho. Algeu diversifica a sua produção, cultivando laranjeiras e nos intervalos planta vica e tremoço, para pastejo das vacas. Planta fumo, não sabe se por muito tempo, sobre a palhada da vica, mediante a abertura de uma verga, onde põe a muda. É a única atividade onde se inclui o arado. “Lavrar, nunca mais!”, garante. O técnico Jaime Brancher, que assiste Fagundes, mostra entusiasmo não apenas pelo crescimento tec-
Feijão na palha da aveia
nológico desse agricultor. Ele observa o que vem acontecendo no solo daquelas lavouras. “O Algeu executa hoje o que todos os pequenos proprietários farão dentro de alguns anos”, diz ele. E Algeu corrobora: “Um pequeno produtor, sem dinheiro e ocupando terras dobradas, como é o meu caso, não pode pensar em máquina porque ali não faz nada com elas, não pode pensar em lavração contínua porque a chuva leva tudo embora, não pode pensar em calcário e adubo porque não tem dinheiro e nem crédito. A saída é só essa: plantio direto não mecanizado, com resultados acima do que eu esperava”.
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Piscicultura
Transporte de alevinos de carpa comum em sacos plásticos Sérgio Tadeu Jurovsky Tamassia
U
m dos manejos mais comuns em um sistema de produção de aqüicultura é o transporte de peixes vivos. Ovos são movidos do local de desova para os de incubação, larvas para os viveiros de alevinagem, os alevinos para o tanque de engorda, e algumas vezes o peixe deve atingir o mercado final ainda vivo, como por exemplo para restaurantes especializados, “pesque-pague”, etc. Uma característica de qualquer sistema de transporte é que os peixes são submetidos a confinamento a alta densidade em reduzido volume de água, e a qualidade desta pode deteriorar-se rapidamente. O estresse devido a condições ambientais deterioradas ou de confinamento a alta densidade inibe o sistema imunológico e predispõe o peixe a uma variedade de doenças infecciosas, mas, se não se pode eliminar tal estresse, através do uso de técnicas apropriadas de despesca e transporte, pode-se minimizá--lo e reduzir a subseqüente mortalidade (1). De maneira geral, o transporte de peixes nunca foi um tópico de pesquisas sistemáticas intensivas, e a maior parte das técnicas hoje disponíveis é resultado de tentativas e erros. O uso do bom senso e evitar situações de estresse excessivo é o melhor e mais geral conselho para aqueles que queiram transportar peixes de uma maneira segura e eficiente (1). Apresentam-se a seguir algumas informações relativas ao transporte de alevinos de carpa comum(Cyprinus carpio) em sacos plásticos, visto esta ser a forma mais comum de transporte praticada no Estado.
Fatores envolvidos com o transporte Dentre os inúmeros fatores envolvidos com o transporte de alevinos, alguns merecem atenção especial, sendo eles: Condição física e sanitária dos alevinos Os alevinos a serem transportados
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devem estar em boa forma física e livres de doenças. Peixes contaminados por doenças infecciosas podem ser vetores para a disseminação de enfermidades por outros locais. Além disto, peixes doentes e debilitados fisicamente podem morrer após a reestocagem no novo tanque, causando decréscimo na produção e lucratividade. Temperatura O choque térmico, ou mudança brusca de temperatura, é um dos fatores estressantes mais fáceis de ocorrer em qualquer uma das fases da operação de transporte. Se existir uma diferença de temperatura superior a 2o C entre a água de origem e a de destino, o peixe deve ser submetido a um processo de aclimatação (tempered), e nesta aclimatação a temperatura da água do saco não deve variar mais de 5o C por hora (2). Qualidade da água Os organismos aquáticos, devido a sua atividade, são capazes de alterar significativamente alguns dos parâmetros de qualidade da água. Consideram-se o oxigênio, a amônia e o dióxido de carbono os mais importantes, visto que as variações em suas concentrações são influenciadas diretamente pelo metabolismo dos peixes
(3). • Oxigênio dissolvido É sugerido que a quantidade de oxigênio dissolvido na água de transporte não caia muito abaixo de 5ppm. Observações conduzidas pelo Projeto de Piscicultura de Caçador mostraram que a água da embalagem de transporte que manteve 400g de alevinos (2.000 alevinos de 0,2g) por 36 horas apresentava ao final do período um nível de oxigênio dissolvido da ordem de 6,0ppm. Assim sendo, acredita-se que nesta forma e condições de transporte o oxigênio dissolvido não representa um sério fator limitante. Entretanto, se o oxigênio vier a ser um fator limitante, uma regra básica pode ser seguida: para uma mesma quantidade total, em kg, peixes de menor tamanho apresentam uma maior taxa de consumo de oxigênio do que peixes de maior tamanho. • Amônia É o principal composto resultante da degradação metabólica das proteínas pelos peixes, que o excretam principalmente através das brânquias. Em solução aquosa a amônia pode existir em duas formas: forma não ionizada (NH 3) e forma ionizada (NH4). Apesar de as duas formas serem tóxicas para os peixes, a forma não ionizada é sem dúvida muito mais perigosa (4). Observações conduzidas pelo Projeto de Piscicultura de Caçador mostraram que a água da embalagem de transporte que manteve 400g de alevinos (2.000 alevinos de 0,2g) por 36 horas apresentava ao final do período um nível de amônia na ordem de 2,14 ppm. Apesar de estas concentrações serem altas, dentro dos padrões normais de comparação, não existem evidências de que este fator seja um dos limitantes ao transporte, dentro da presente condição, uma vez que eram contrabalançadas por elevadas concen-
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Piscicultura
trações de CO2 (140 ppm) e de O2 dissolvido (6,0 ppm) e pH em 6,5. A proporção de amônia não ionizada aumenta com o aumento do pH e da temperatura. Em situações como esta, de transporte de peixe em sacos plásticos, pode-se amenizar o efeito deletério da amônia através de: - manutenção da temperatura a mais baixa possível (até 18o C), diminuindo assim a atividade metabólica dos peixes; - utilizar água isenta de fito/ zooplâncton e com pH ligeiramente abaixo do neutro (< 7,0); - os peixes a serem embalados devem estar com o estômago e intestinos vazios, evitando-se assim o acúmulo de dejetos nos sacos de transporte; - diminuição da carga de cada saco em função do aumento do tempo em que os alevinos permanecerão dentro do saco plástico. • Gás carbônico É um composto resultante da atividade respiratória dos peixes e outros organismos presentes. Pode ter dois efeitos principais nos peixes: diminui a capacidade de transporte de oxigênio pelo sangue; e em elevadas concentrações tem um efeito narcótico. Entretanto, peixes podem tolerar concentrações de 10 ppm ou mais desde que a concentração de oxigênio dissolvido esteja elevada. Os procedimentos apresentados para a amônia se aplicam também para este caso. Observações conduzidas pelo Projeto de Piscicultura de Caçador mostraram que a água da embalagem de transporte que manteve 400g de alevinos (2.000 alevinos de 0,2g) por 36 horas apresentava ao final do período uma concentração de CO2 dissolvido da ordem de 140 ppm. Este foi o principal fator limitante do transporte, uma vez que os alevinos apresentavam ao final do período sinais típicos de anestesiamento, como perda de equilíbrio, mas se recuperavam rapidamente quando colocados em água sem CO2 em excesso. Mantendo o equilíbrio osmótico dos peixes É reconhecido que o estresse decorrente do manejo causa problemas de osmoregulação nos peixes. A dureza da água deve ser de no mínimo 50 ppm (expresso como CaCO3), especialmente se o transporte for superior a 1 hora (1). Recomenda-
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se um valor de 150 ppm (expresso como CaCO3) de dureza para as águas utilizadas no transporte de peixes. O sal de cozinha livre do iodo (0,01 a 0,03 ppm) pode ser utilizado, pois além de ser benéfico na osmo-regulação, pode ajudar no controle de parasitas externos.
Aspectos operacionais A partir de observações conduzidas pelo Projeto de Piscicultura de Caçador, adotam-se hoje os seguintes procedimentos no que tange ao transporte de alevinos: • Despesca dos alevinos com pelo menos 24 horas de antecedência a embalagem: - Evitar despesca em horas quentes do dia, pois a medida que o volume de água remanescente no viveiro diminui, com maior facilidade poderá sofrer variações bruscas de temperatura. - Abastecer as caixas de armazenagem provisória com água apresentando mesmas características daquela do vivei-
- Quando os sacos forem colocados na carroceria de caminhões ou caminhonetes devem ser recobertos por lonas, ou preferencialmente por sacos de tecido, que, se mantidos molhados, ajudam a evitar mudanças bruscas de temperatura. • Duração do transporte - considerouse como o tempo necessário para que os peixes iniciassem a apresentar sinais de perda de equilíbrio, mas com rápida recuperação após a liberação dos mesmos em água de boa qualidade (Tabela 1). • Povoamento - quando existe diferença de temperatura entre a água do saco de transporte e a água do viveiro, deve-se proceder a aclimatação dos peixes da seguinte forma: - Colocam-se os sacos ainda fechados dentro da água do viveiro ou em um local sombreado e cobertos com sacos de tecido úmidos, onde ficam por aproximadamente 5 a 10 minutos. Abrem-se os sacos, emborcam-se os sacos parcialmente na água, permitindo a entrada lenta de água do tanque para o peixe se ambientar e sair naturalmente.
Tabela 1 - Parâmetros operacionais utilizados no Projeto de Piscicultura de Caçador para o transporte de alevinos de carpa comum de peso médio entre 0,2 a 7,6g Parâmetros Peso médio dos alevinos (g) Biomassa por saco (g) 100 Número de alevinos por saco 500 Duração do confinamento (horas) 72
ro dos quais os alevinos foram retirados. • Deixar os alevinos em containers com água corrente e limpa (potável). • Banho rápido (15seg) em solução de sal de cozinha a 3%. • Embalagem em sacos plásticos de 80 x 50cm contendo 10 a 12 litros de água. • Transporte - nesta etapa dificilmente será possível evitar uma certa variação de temperatura, mas alguns procedimentos podem restringir sua amplitude: - Colocar os sacos plásticos contendo os alevinos em locais do veículo que sejam protegidos da luz solar direta e que apresentem boa ventilação. - Se possível, transportar os alevinos em horário menos quente do dia. - Na eventualidade de ser necessário interromper o transporte, estacionar o veículo em local abrigado da luz do sol direta e fresco.
Alevinos 0,2 200 1.000 48
7,6 400 2.000 32
500 65 48
1.000 130 23
2.000 260 17
Literatura citada 1. TUCKER, C.S.; ROBINSON, E.H. Channel catfish farming handbook. N. York: Van Nostrand Reinhold, 1990. 454p. 2. STICKNEY, R.R. Principles of warmwater aquaculture. New York: John Wiley, 1979. 375p. 3. SMART, G.R. Aspects of water quality producing stress in intensive fish culture. In: PICKERING, A.D. Stress and fish. New York: Academic Press, 1981. p.277-293. 4. BOYD, C.E. Water quality in ponds for aquaculture. Auburn: Auburn University, 1990. 482p. Sérgio Tadeu Jurovsky Tamassia, Biólogo, M.Sc., Cart. Prof. no 8.482-3R, EPAGRI, Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, Fone (0496) 62-1211, Fax (0496) 62-1142, 89500-000 - Caçador, SC.
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CONJUNTURA
A pluriatividade e a agricultura catarinense. Dissolução ou redefinição da exploração familiar? Flávio Sacco dos Anjos
radicionalmente tendemos a asT sociar à idéia de um estabelecimento rural familiar três outras noções fundamentais. A primeira, de que se trata de uma unidade de produção e de exercício profissional que absorve a totalidade ou a maior parte da força de trabalho disponível, direta ou indiretamente, na atividade agropecuária. Em segundo lugar, há uma unidade de consumo onde, via de regra, uma boa parte do que a família requer para sua subsistência é por ela gerado nos limites de sua propriedade. Por último, estamos diante de uma unidade de residência em que o estabelecimento serve de abrigo para os chefes da exploração, filhos e outros componentes do agregado familiar. A realidade agrária da esmagadora maioria dos países desenvolvidos (especialmente da Europa) e de algumas regiões do Brasil, revela que tal concepção parece carecer de constatação se atentarmos para a diversidade de mecanismos que as famílias rurais adotam para sua sobrevivência. Há o que a literatura internacional convencionou chamar de “pluriatividade” (do francês pluriactivité) ou outras expressões como “part time farming” (agricultura em tempo parcial), “multiple job holding” (estabelecimento familiar multiocupacional), “five o’clock farming” (agricultura de 5 horas) que normalmente são usadas para identificar situações bastante semelhantes. Cabe frisar que a palavra “pluriatividade” tanto é utilizada como forma de referência à situação de 56
indivíduos que exercem mais de um tipo de ocupação quanto ao caso de um estabelecimento rural onde o “caixa da família” é suprido por distintas fontes de entrada de dinheiro, provenientes de atividades desenvolvidas dentro ou fora da propriedade rural (agrícolas ou não agrícolas). Os dados apresentados na Tabela 1 mostram que em países como Portugal (42%) ou Espanha (58%) é muito grande o percentual de unidades produtivas em que há o exercício de atividades alheias à exploração agropecuária, mesmo levando em consideração o fato de que tal estatística toma por base apenas a ocupação do cabeça da propriedade, sem incluir, logicamente, os outros membros da família, o que certamente elevaria ainda mais a incidência de “pluriatividade” na agricultura européia. Regiões como o Vale do Itajaí Mirim e Litoral Norte Catarinense constituem-se no contexto socioeconômico e cultural de onde emerge o chamado “colono-operário”, um tipo de agricultor cujo estilo de vida concilia a exploração de sua propriedade rural (comercialmente ou não) com um emprego formal em uma determinada indústria. Os quatro anos de atuação como extensionista rural da extinta
ACARESC (1986 a 1989) no município de Massaranduba propiciaram-nos a oportunidade de constatar o enorme crescimento no número de pessoas do campo ocupadas em fábricas, especialmente sediadas em Jaraguá do Sul, em indústria como as dos ramos têxtil, de confecções, metalúrgico-mecânico, e de alimentos entre outros gêneros de atividade fabril. Tais observações serviram de ponto de partida para que desenvolvêssemos uma pesquisa que redundou numa dissertação de mestrado apresentada ao Curso de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, intitulada: A AgriTabela 1 - Percentagem de unidades produtivas cujo chefe exerce paralelamente outra atividade. Comunidade européia, 1989 (3) País
Percentagem
Bélgica Dinamarca Alemanha (pré-reunific.) Grécia Espanha França Irlanda Itália Luxemburgo Países Baixos Portugal Reino Unido C.E.E.
32 31 42 34 58 31 32 26 19 20 44 31 37
Tabela 2 - Origem principal do ingresso econômico familiar e renda anual em salários mínimos por trabalhador em cada unidade familiar de produção (U.F.P.). Massaranduba, dez./1992 U.F.P. Número 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
Origem principal do ingresso econômico familiar
Renda anual em salários mínimos por trabalhador residente na propriedade
Exclusivamente agrícola Exclusivamente agrícola Exclusivamente agrícola Agrícola e não agrícola Agrícola e não agrícola Agrícola e não agrícola Exclusivamente agrícola Agrícola e não agrícola Exclusivamente agrícola Exclusivamente agrícola Agrícola e não agrícola Agrícola e não agrícola Exclusivamente agrícola Exclusivamente agrícola Exclusivamente não agrícola Exclusivamente não agrícola
8,9 31,6 8,1 12,7 13,2 40,7 18,2 38,5 32,4 44,2 48,0 38,9 10,6 77,8 57,0 82,0
Fonte: Trabalho de campo
Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
Conjuntura
cultura Familiar em Transformação: O caso dos colonos-operários de Massaranduba (SC) e que será brevemente publicada em livro pela Editora da Universida-de Federal de Pelotas com o apoio da EPAGRI (1). Na condição de “colono-operário” podemos encontrar tanto o cabeça da exploração como também esposa, filhos e/ou filhas que buscam assegurar uma forma de obtenção de renda mensal para si e principalmente para o grupo familiar como um todo (2). Tal situação diverge totalmente das formas de remuneração provenientes da atividade agropecuária, que, além de concentrarem-se em certas épocas do ano (safra), exigem do agricultor jornadas de trabalho intermináveis e, acima de tudo, são cercadas de riscos e incertezas. Sabemos que o produtor rural luta contra as intempéries (chuva demais, chuva de menos, granizo, geada forte, ... etc.), contra a ação inconveniente do governo federal (que por vezes libera estoques reguladores ou importa do exterior lotes de produtos agrícolas que fazem despencar os preços quando estes começam a reagir) ou contra as oscilações de mercados internos e externos que drasticamente acarretam a redução da renda das famílias, podendo comprometerlhes até mesmo a sobrevivência. Não é o objetivo deste artigo apresentar observações conclusivas acerca de um tema de tamanha complexidade, mas de sugerir ao leitor uma reflexão sobre alguns pontos bastante interessantes que nossa pesquisa permitiu identificar. Os indicadores apresentados na Tabela 2 dizem respeito à situação socioeconômica de cada uma das 16 unidades familiares de produção (UFP’s) examinadas, incluindo a origem principal de ingresso de dinheiro no estabelecimento rural, se derivada da atividade agropecuária (principalmente da venda de produtos de origem animal ou vegetal gerados e/ou industrializados na propriedade) ou de fontes alheias à agricultura, como é o caso dos salários obtidos nas fábricas por membros da família. As unidades produtivas de número 1 e 3 tiveram uma renda por trabalhador inferior a 1 salário mínimo mensal, se dividirmos a renda anual apresentada na Tabela 2 pelos doze meses do ano. O fato chama a atenção haja Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995
vista serem justamente situações em que as famílias sobrevivem exclusivamente da agricultura. No extremo oposto, a unidade produtiva que apresentou a maior renda por trabalhador (UFP número 16) é justamente a situação de uma fa-mília cuja fonte de ingresso de dinheiro é exclusivamente não agrícola e que no caso se refere aos salários obtidos pelo esposo, empregado numa indústria de motores e pela esposa, operária de uma indústria de confecções. Nesta conjuntura, encontramo-nos diante do que os europeus chamam de “workerpeasant”, cuja tradição mais próxima seria “camponês-operário”, representativo de situações onde o estabelecimento rural de unidade de produção passa a assumir quase que exclusivamente o status de unidade residencial. O grupo de unidades produtivas que atingiram uma renda anual igual ou superior a 40 salários mínimos (que daria um ganho mensal por trabalhador em torno de 3,3 salários mínimos) compreende seis UFP’s (de número 6, 10, 11, 14, 15 e 16) e do qual fazem parte apenas dois estabelecimentos rurais (10 e 14) que tem a agricultura como única e exclusiva atividade geradora de receita. É importante ressaltar que não se trata de serem pagos altos salários pelas fábricas ou de serem desenvolvidas outras iniciativas (a exemplo do turismo rural que recentemente foi objeto de matéria nesta revista) que assegurem rendimento econômico extraordinário; o fato é que a agricultura está separada por um abismo intransponível em relação a outras atividades em termos de remuneração do trabalho. No caso do colonooperário, o fato de viver no campo permite que boa parte do que a família consome em sua alimentação seja gerado na propriedade, fazendo com que o salário percebido “entre limpinho” como afirmam nossos entrevistados. Além disso, o emprego na fábrica dispensa investimentos, ao contrário da agropecuária que exige longos anos para consolidar uma estrutura mínima de produção, tal como relata a esposa de um agricultor quando lhe perguntamos sobre as vantagens de se trabalhar na fábrica: “A vantagem é que o agricultor tem que comprar enxada, maquinário,
tem que comprar tudo, e ainda às vezes, quando vai se ver, não colhe nada; depende da época, do tempo, de tudo... Eu, por exemplo, tomo meu banho de manhã, me visto e vou p’ro trabalho, na garantia de receber o meu salário no fim de mês. É uma vantagem, porque você já tá ganhando, não precisa primeiro investir p’ra depois ganhar. Você vai trabalhar numa firma só com a roupa do corpo, e volta sabendo o que vai receber.” Por outro lado, a busca pelo emprego na fábrica não ocorre somente nos casos de estabelecimentos familiares incapazes de sobreviver em cima de uma propriedade rural pequena e limitada em seu potencial produtivo. Nossa investigação possibilitou chegar à conclusão de que distintas razões levam os indivíduos a entrarem na fila por um emprego nas grandes indústrias. É preciso mencionar a influência que o processo de Modernização da Agricultura tem determinado na vida das famílias rurais no sentido de cada vez mais liberar a mão-deobra, principalmente se tomarmos por base o caso de culturas como o arroz irrigado, como resume o depoimento de um dos agricultores entrevistados. “Antigamente, todo mundo, quando ia limpar uma vala na arrozeira, usava foice, zenzo, e hoje não, vai lá e passa o veneno. Isso praticamente não requer mão-de-obra. É por isso que o serviço está faltando hoje... O mais importante é que, por exemplo: Hoje, onde que há alguns anos atrás precisava-se, vamos dizer, de cinco pessoas para tocar uma lavoura, hoje um cara sozinho tá tocando...” Não é difícil entender que o quadro atual da agricultura, suas transformações e dificuldades servem de atrativo para justificar o interesse das empresas em buscar o campo, muitas vezes instalando filiais em municípios de vocação tradicionalmente agrícola, como é o caso de Massaranduba. As palavras de um dirigente empresarial são absolutamente irretocáveis no sentido de retratar o perfil do colonooperário segundo a ótica da indústria: “Esse tipo de mão-de-obra é a melhor mão-de-obra que existe no mercado de trabalho... Da mão-de-obra não qualificada, ou seja, da parte da produção onde não requer a instrumentação, nós damos preferên57
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cia ao colono, porque aquele que vem da lavoura já tem uma educação dirigida ao trabalho... os próprios pais já ensinaram para ele que é importante ter uma disciplina no trabalho, e pra nós, isso aí é bom, porque... não que ele não vá dizer amém a tudo! Não, não é esse o caso, mas... o simples fato de ele vir ao trabalho, consciente de que precisa do trabalho, aberto, receptivo, pra colher novos conhecimentos, pra nós, isto é interessante...” O fato é que o colono-operário não se identifica como operário, está disperso geográfica e espacialmente, não participa de atividades sindicais e de cunho associativo ao assumir uma condição híbrida, normalmente de caráter transitório ou ocasional em sua existência. O ônus de sua condição reflete-se em jornadas de trabalho que podem atingir até 16 horas diárias, se computarmos sua atuação na propriedade rural, na fábrica e o tempo gasto no deslocamento até o emprego industrial. Em quaisquer iniciativas de intervenção junto às comunidades rurais, seja em projetos de pesquisa e/ou extensão rural, não deve passar desapercebida a realidade de uma agricultura familiar que se modifica radicalmente com vistas a sobreviver num contexto que historicamente lhe é
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desfavorável, se atentarmos para um quadro nacional onde os mecanismos de transferência de renda da agricultura estão cada vez mais presentes em detrimento das formas de incentivo e estímulo à produção agropecuária. Nas últimas décadas, a ação governamental se resumiu em medidas que garantissem preços baixos para os produtos agrícolas, de modo a que salários igualmente baixos pudessem adquiri-los pelos trabalhadores urbanos. Até há bem poucos anos, a extensão rural norteava suas iniciativas no ensejo de elevar cada vez mais os níveis de produtividade de cultivos e criações, sem jamais levar em conta o universo social mais amplo em que se insere a exploração agropecuária. O esgotamento do paradigma produtivista, o processo de integração dos mercados, as modernas estratégias de expansão industrial e as novas relações de trabalho são apenas alguns exemplos de modificações com que nos deparamos nas atuais circunstâncias. Em muitos casos, a propriedade agrícola passou a funcionar apenas como uma âncora territorial em meio a um leque de alternativas de que o “agricultor” se utiliza para sobreviver no meio rural. Parece-nos que aqueles traços fundamentais de
um tradicional estabelecimento rural mencionados no início deste artigo fazem parte de um passado remoto e muito distante ou em vias de um inevitável desaparecimento, fruto de transformações que silenciosa e imperceptivelmente acontecem ante nossos olhos.
Literatura citada 1. ANJOS, F.S. A agricultura familiar em transformação: O caso dos colonosoperários de Massaranduba (SC). Pelotas: UFPel, 1994. 293p. Tese Mestrado. 2. ANJOS, F.S. A agricultura familiar em transformação. O surgimento dos part time farmer’s em Santa Catarina. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 32, 1994, Brasília, DF. Anais . Brasília: SOBER, 1994. p.442-449. 3. ABRAMOVAY, R. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. São Paulo; Rio de Janeiro; Campinas: HUCITEC, ANPOCS, UNICAMP, 1992. 275p. Flávio Sacco dos Anjos , Eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. n o 48912-D, CREA-RS, Professor da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel/ Universidade Federal de Pelotas. Campus Universitário, C.P. 354, Fax (0532) 21-5031. 96010-900, Pelotas, RS.
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OPINIÃO Planejamento Estratégico: uma ferramenta para a construção do futuro Osvaldo Carlos Rockenbach uitos brasileiros ainda acreditam M que o “Brasil é o país do futuro”. É como se o futuro estivesse estacionado em algum lugar do universo e de repente fosse alcançado, em decorrência do movimento natural da terra. A partir deste momento então haveria progresso social, econômico, desenvolvimento sustentável e tudo mais que os cidadãos tanto desejam. Na verdade, o futuro não existe, ele é construído através de políticas e ações. Portanto, não é lógico aguardar sua vinda. Com base nesta premissa, torna-se urgente estabelecer as bases para uma nova ordem social e econômica onde haja a participação equitativa de todos (1). Atualmente, estamos vivendo um momento de elevada turbulência ambiental onde as mudanças são rápidas e complexas e cada vez se aceleram mais. Este fato exige cada vez mais novos questionamentos e rearranjos dos componentes que formam a sociedade como um todo. Tudo indica que as instituições públicas têm um papel preponderante nesta realidade. Mas, a questão que se coloca é como as instituições públicas estaduais podem contribuir nesta tarefa se a maioria delas se encontra em estado precário com dificuldades de toda ordem. E se estas instituições são fundamentais no processo de desenvolvimento, este não pode ser sustentável se as instituições não o forem. Com base na lógica da afirmativa anterior, as instituições públicas devem sofrer profundas mudanças para atender as demandas da sociedade. Para Satle, uma mudança profunda somente ocorre quando as pessoas percebem que seus pressupostos não são mais válidos para a realidade. Este processo é normalmente doloroso e pode incluir doses grandes de ansiedade, culpa e perda da autocon-fiança. Os administradores cartesianos, muitas vezes, percebem que, após opera-rem todo tipo de mudanças em suas empresas, ainda não fizeram o suficiente para atingir seus objetivos. Eles percebem então que faz parte do processo a mudança de valores e crenças dos grupos e dos indivíduos em particular. A cultura de uma instituição é algo
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complexo, pois envolve um conjunto de pressupostos e crenças que definem como os membros de um grupo vêem suas relações internas e externas. Estes grupos em geral têm histórias compartilhadas e estas geram padrões compor-tamentais sobre a realidade, as pessoas e suas relações. Muitos analistas admitem que é possível mudar ou fundir culturas de forma planejada. Mas em todos os tratados se admite que se trata de uma tarefa não muito fácil. Na realidade para a implantação de novos padrões, as pessoas que não aceitam propostas de mudança devem confrontar suas culturas e ideologias com as novas propostas e discuti-las abertamente. Com isso se promove uma limpeza ideológica que inibe as racionalizações inapropriadas que o processo de mudança exige. Atualmente estamos vivendo mudanças ambientais radicais, o que exige mudanças nos valores mais profundos da organização. Desta forma o velho paradigma deve transformar-se gradativamente em novo e assim dotar a organização de novos padrões interpretativos e nova capacidade de resposta. Estas mudanças incluem a descentralização de ações do âmbito federal para o estadual e deste para o municipal. Este processo requer um esforço coordenado e planejado do Governo e da sociedade organizada para sua efetivação. De igual forma, a participação dos produtores rurais na determinação de seus planos de vida ou planos de desenvolvimento é fundamental. Contudo, na raiz do problema, entre outras questões, está a falta de metodologia de planejamento participativo, porque sem participação do público alvo o fracasso dos planos é uma constante. A metodologia de planejamento participativo procura estabelecer uma convivência harmoniosa entre o homem, a sociedade e a natureza, e um trabalho integrado entre a sociedade organizada e as instituições técnicas em sanear a carência apostada. Neste contexto o pressuposto é de que as organizações associativas, formais e informais, devem ter planos, programas e projetos, cabendo, assim como às instituições de pesquisa e assistência técnica, entre outros, apoiá-las. A EPAGRI, dentro deste contexto, como instituição pública estadual, desempenha seu papel preponderante. Face às turbulências do ambiente externo e às mudanças radicais em alguns paradigmas, a instituição necessita rever seus
postulados básicos, adaptar sua cultura, rearranjar seus componentes, definir claramente sua missão, suas diretrizes, seus objetivos e seu público alvo. Partindo deste pressuposto, o planejamento estratégico se apresenta como uma ferramenta útil capaz de abrir novos caminhos para a instituição. Para obtermos êxito neste processo iniciou-se na EPAGRI um intenso trabalho junto ao público alvo para levantamento dos fatores críticos ao Negócio Agrícola, construção de cenários tendencial e normativo, descrição e análise das cadeias produtivas e, ainda, pretende-se realizar um diagnóstico interno e externo da instituição. Ao final dos trabalhos pretende-se estabelecer metas e elaborar projetos estratégicos de transformação institu-cional e instituir um sistema gerencial para a EPAGRI. Para alcançar êxito nesta tarefa é fundamental que as pessoas discutam suas idéias e culturas, não defendam simplesmente os programas e as unidades existentes. É preciso retratar a realidade agrícola do Estado de forma clara, sem vícios e tendenciosidades. As pessoas envolvidas não podem se sentir representantes dos segmentos de funcionários de unidades, ou culturas passadas. Como o planejamento é fundamentado em informações do passado e presente e seu objetivo é mudar o futuro, mas com ações no presente, a técnica de cenários para se obter essas informações tem papel importantíssimo. A agricultura como negócio é complexa, tem baixo grau de previsibilidade, elevado grau de incerteza e risco, exige decisões freqüentes e rápidas. Os modelos tradicionais de planejamento e gestão não tem se mostrado eficientes. Daí a necessidade da implantação do planejamento estratégico para a concepção do futuro agrícola de Santa Catarina e como conseqüência das instituições que nele atuam.
Literatura citada 01. SILVA, J.S. Instituições públicas sustentáveis, estudos prospectivos e estrategistas para a construção do futuro. Revista Telebrás, Rio de Janeiro, v.17, n.57, p.57-71, 1993. Osvaldo Carlos Rockenbach, Eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. n o 455-D, CREA-SC, EPAGRI, C.P. 502, Fone (048) 234-1344, Telex 482 242, Fax (048) 234-1024, 88034-901 - Florianópolis, SC.
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VIDA RURAL SOLUÇÕES CASEIRAS
Produção de peixes
J. BARDI e outros
A criação de peixes é uma realidade em alguns Estados do Brasil. O domínio das técnicas sobre a reprodução de vá-rias espécies nativas e exóticas e o uso de sistemas de produção acessíveis, efi-cientes e econômicos vem despertando um interesse crescente pela atividade. A criação de peixes é desenvolvida em águas quentes (mornas), ou águas frias, de acordo com as exigências das espécies. A temperatura da água constitui fator determinante na reprodução e crescimento dos peixes. Por essa razão a escolha das espécies a serem cultivadas deve ter em conta as condições climáticas da região, o valor econômico e a aceitação do mercado. A maioria das espécies cultivadas é de águas mor-nas, utilizando-se, para tanto, viveiros escavados no solo. O formato destes viveiros pode variar, mas a forma retangular é a mais recomendada pois facilita os manejos. Todo viveiro deve possuir, independentemente do formato, um sistema de controle de entrada e saída da água. Durante o período de cultivo dos peixes, o sistema deve permitir a saída da água do fundo e o escoamento total para favorecer a despesca (Figura 1). Quando o viveiro for delimitado por uma barragem, utilizam-se as técnicas de construção da barragem de terra, onde, além do sistema de escoamento normal da base, estabelece-se um ladrão de superfície. Esse deve ser de base larga, raso e revestido de grama ou outro material disponível, para evitar erosão, e estar locali-
Figura 1
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zado nas extremidades da barragem (Figura 1). A piscicultura de águas paradas é feita com pouco fluxo de entrada e saída de água, geralmente desenvolvida de forma semiintensiva. Na forma intensiva (extruticultura) há maior renovação de água. A técnica do monocultivo intensivo utiliza uma só espécie de peixe, alimentada à base de ração balanceada. No poli-cultivo semiintensivo aproveita-se a produção de alimento natural (plâncton e outros), fato que ocorre no próprio viveiro. Ao adotar-se o policultivo, com três ou mais espécies, cuida-se para povoar o viveiro com peixes que não competem entre si pelo mesmo alimento. Essa providência permite ocupar toda a coluna da água do viveiro com diferentes espécies de peixe. É o sistema mais utilizado em San-ta Catarina. A piscicultura integrada com a criação de outros animais da propriedade rural, principalmente suínos e aves, utiliza os dejetos dessas espécies para a adubação dos viveiros e como alimento suplementar dos peixes. A prática tem permitido produções superiores a 2t/peixe/ha com bons resultados financeiros. Os dejetos dos animais, quando utilizados em policultivos, são aproveitados pelos peixes de duas maneiras: • ingestão da excreta fresca; • ingestão do plâncton (pequenos vegetais e animais) formado a partir da adubação com dejetos. Ao consumir o esterco fresco, os peixes aproveitam os excedentes das proteínas,
Principais espécies que participam nos cultivos em Santa Catarina • Carpa comum(A) ( Cyprinus carpio) Variedades escama, espelho, húngara, etc. • Carpas chinesas(A) - Carpa capim (Ctenopharyngodon idella); carpa prateada (Hypophthalmichthys molitrix); carpa cabeça-grande ( Aristichthys nobilis). • Tilápia nilótica(A) ( Oreochromis niloticus) • Pacu(A) (Piaractus mesopotamicus) • Tambaqui(A) (Colossoma macropomum) • Bagre americano(A) - Catfish (Ictalurus punctatus ) • Bagre africano(A) (Clarias gariepinus) • Curimbatá(A) (Prochilodus sp) • Jundiá(A) (Rhamdia sp) • Cascudo(A) (Hypostomus sp) • Blackbass(A) - truta verde (Micropterus salmoides ) • Traíra(A) ( Hoplias malabaricus) • Truta arco-íris(B) ( Oncorhynchus mykiss ) (A) Em águas mornas. (B) Em águas frias. Nota: Em 1993, utilizando as informações de 120 municípios, dos 266 de Santa Catarina, a produção de peixes cultivados atingiu 3.355.509kg. Esse resultado é um indicativo de que a produção estadual ultrapassa as 5 mil toneladas.
carboidratos, minerais e outros nutrientes não absorvidos pelo trato digestivo dos excretores. O policultivo integrado com animais, além de produzir proteína de alto valor nutritivo para o consumo humano, recicla milhares de toneladas de adubo orgânico e ajuda a preservar o meio ambiente. Essa afirmativa é verdadeira se a atividade for dimensionada adequadamente, tendo-se em conta as espécies a serem utilizadas, o tamanho do viveiro, renovação da água e, principalmente, a quantidade adequada de esterco a ser aportada. Se esses princípios básicos não forem atendidos, podemos transformar nossos viveiros em cloacas, com prejuízos aos peixes e meio ambiente. Maiores informações sobre os diferentes sistemas de cultivo de peixes poderão ser obtidas junto aos escritórios municipais da EPAGRI e através do contato com a Gerência de Aqüicultura e Pesca, em Florianópolis. A EPAGRI oferece também diversos cursos profissionalizantes na área de piscicultura.
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