Agrop. Catarinense, Florianópolis, SC, v.8, n.4, p.1-64, dezembro 1995
NEST A EDIÇÃO NESTA S e ç õ e s 3 Cartas ................................................................................................................................ 4 Flashes .............................................................................................................................. Registro ........................................................................................................................ 7 e 8 Pesquisa em Andamento ................................................................................................ 2 3 Reflorestar ....................................................................................................................... 2 4 Lançamentos Editoriais .................................................................................................. 5 0 Novidades de Mercado ................................................................................................... 5 7 Vida Rural - soluções caseiras ...................................................................................... 6 4
R e p o r t a g e m Conferência sobre agricultura sustentável destaca a pequena propriedade Reportagem de Paulo Sergio Tagliari e Ivan José Canci ........................................ 12 a 14 Maracujá: novidade do Norte que faz sucesso no Sul Reportagem de Paulo Sergio Tagliari ....................................................................... 28 a 34 Adubos verdes melhoram o solo e poupam dinheiro para o agricultor Reportagem de Paulo Sergio Tagliari ....................................................................... 54 a 56
O p i n i ã o Soluções para o Oeste Catarinense Editorial ..............................................................................................................................
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Reflexo dos programas de ajuda internacional Artigo de Sadi Sérgio Grimm ..............................................................................................
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Do desenvolvimento agrícola ao desenvolvimento rural Artigo de Luiz Carlos Mior .................................................................................................
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T e c n o l o g i a A bovinocultura de leite é contemplada com dois artigos técnicos e também ilustra a capa desta edição. As outras abordagens técnicas englobam tomate, maçã, mandioca, alho, ameixa, cultivo integrado de carpas e suínos, adubação, fundo de terras e uma novidade: pesquisa sobre a influência da minhoca no manejo do solo em microbacias hidrográficas, assunto que será apresentado em etapas, em três edições consecutivas. Na parte de reportagens a pauta inclui agricul-tura sustentável, adubação verde e a nova opção que surge para os produtores catarinenses, o maracujá. Em fase de expansão, a revista Agropecuária Catarinense está promovendo ofertas especiais de assinatura. Aproveite e seja você também um assinante.
As matérias e artigos assinados não expressam necessariamente a opinião da revista e são de inteira responsabilidade dos autores. A sua reprodução ou aproveitamento, mesmo que parcial, só será permitida mediante a citação da fonte e dos autores.
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Ângulo de inserção das folhas do alho x população de tripes Artigo de Ademar Pereira de Oliveira, Paulo Donato Castellane e Sérgio Antonio de Bortoli ................................................................................................
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Bacteriose em ameixeira Artigo de Eliane Rute de Andrade e Jean-Pierre Henri Joseph Ducroquet ................
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Avaliação do esterco de aves e da uréia como fontes de nitrogênio para a cultura do milho Artigo de Eloi Erhard Scherer .........................................................................................
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Duração da lactação, intervalo de partos e produção de leite no rebanho leiteiro do Leste de Santa Catarina Artigo de Amaro Hillesheim e Henri Stuker .....................................................................
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Resistência de porta-enxertos de macieira ao fungo Rosellinia necatrix Prill no Meio Oeste Catarinense Artigo de Frederico Denardi e Onofre Berton ................................................................
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Cultivares de tomate para o Baixo Vale do Itajaí Artigo de Antônio Amaury Silva Júnior, Valmir José Vizzotto e Henry Stuker ................
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Ações fundiárias em Santa Catarina Artigo de Ademir Antonio Cazella ...................................................................................
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Influência da minhoca no manejo de microbacias hidrográficas - 1 solo Artigo de Masato Kobiyama .............................................................................................
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Efeito da densidade de plantio da mandioca na produção de raízes em solo Araranguá Artigo de Euclides Mondardo, Renato Cesar Dietrich e Mauro Luiz Lavina ................
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Policultivo de carpas integrado à suinocultura Artigo de Jorge de Matos Casaca e Osmar Tomazelli Júnior ........................................
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Controle de podridão branca em porta-enxertos enraizados de macieira Artigo de Onofre Berton e Frederico Denardi ................................................................
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Unidade de Produção de Leite da Estação Experimental de Itajaí - catorze anos de atividade Artigo de Amaro Hillesheim, João Lari Felix Cordeiro e Irceu Agostini ........................
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Editorial
Soluções para o Oeste Catarinense Um grupo de técnicos da EPAGRI, lotados no Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades, de Chapecó, concluiu recentemente um trabalho que por sua abrangência, por seus objetivos e por sua importância precisa ser amplamente divulgado e conhecido, a bem das melhorias que todos esperam do futuro. Realizado sob os auspícios do Projeto Microbacias/BIRD, o trabalho, que se configura como uma proposta para discussão, tem por título “O desenvolvimento sustentável do Oeste Catarinense”. Dentre os inúmeros dados e argumentos que justificam as preocupações e as propostas dos autores, destaca-se o seguinte: da população total do Oeste Catarinense, de 1 milhão e 100 mil habitantes, meio milhão vivem no meio rural, e estima-se que cerca de 250 mil pessoas, das quais 80 mil economicamente ativas, podem ser excluídas da produção agrícola comercial num horizonte de cinco a dez anos.
Esta tendência, que já se fazia sentir aos estudiosos do tema, foi constatada no diagnóstico voltado aos aspectos sociais, econômicos e ambientais da região Oeste e que integra o documento. Com base neste diagnóstico, que evidencia as causas da falência do atual modelo econômico da região, e na análise das perspectivas regionais em termos de infra-estrutura, recursos naturais e demografia, os autores apresentam um conjunto de propostas para ser debatido com a comunidade e visando ações dos setores público e privado. Estas propostas incluem, além de sistemas de produção agrícola, proposições referentes ao setor industrial e ao turismo, à organiza-ção dos produtores, às políticas de acesso à terra e ao crédito, entre outras. No contexto deste trabalho, desde sua origem, concepção e realização, três pontos devem ser ressaltados. Oprimeiro refere-se à preocupação com a sustentabilidade do modelo, o grande desafio que se impõe a uma sociedade que já chegou ao limite da finitude de seus recursos
REVISTA TRIMESTRAL
COLABORARAM COMO REVISORES TÉCNICOS NESTA EDIÇÃO: André Thaler Neto, Élio Wolff, Elmo Piazza Branco, Gosuke Sato, Honório Francisco Prando, José Itamar da Silva Boneti, José Seno Regert, Lucas Miura, Marília Hammel Tassinari, Mauro Roczanski, Moacir Antonio Schiocchet, Onofre Berton, Richard Miller, Roger Delmar Flesh, Rosalino Luiz Büffon, Sérgio Winckler da Costa, Siegfried Mueller, Valdir Bonin, Vera Talita Machado Cardoso, Yoshinori Katsurayama, Zilmar da Silva Souza
15 DE DEZEMBRO DE 1995
AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publicação da EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A., Rodovia Admar Gonzaga, 1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502, Fones (048) 234-1344 e 234-0066, Fax (048) 234-1024, Telex 482 242, 88034901 - Florianópolis, Santa Catarina, Brasil EDITORAÇÃO: Editor-Chefe: Afonso Buss, Editor-Técnico: Vera Talita Machado Cardoso, Editores-Assistentes: Marília Hammel Tassinari, Paulo Sergio Tagliari COMITÊ DE PUBLICAÇÕES: PRESIDENTE: Afonso Buss SECRETÁRIA: Vera Talita Machado Cardoso MEMBROS: Airton Rodrigues Salerno, Celso Augustinho Dalagnol, Eduardo Rodrigues Hickel, Carlos Luiz Gandin, Roger Delmar Flesch
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JORNALISTA: Homero M. Franco (Mtb/SC 709) ARTE-FINAL: Janice da Silva Alves DESENHISTAS: Jorge Luis Zettermann, Vilton Jorge de Souza, Mariza T. Martins, Dilson Ribeiro CAPA: Equipe editorial RAC PRODUÇÃO EDITORIAL: Daniel Pereira, Janice da Silva Alves, Marilene Regina Oliveira, Marlete Maria da Silveira Segalin, Rita de Cassia Philippi, Selma Rosângela Vieira, Vânia Maria Carpes
naturais. O segundo ponto importante a salientar é a necessidade de preservação do modelo de agricultura familiar, por seu alcance social e por sua adequação às condições regionais. Afirmam os autores que o sistema diversificado, característico da agricultura familiar, confere ao modelo um alto grau de flexibilidade, dinamismo e competitividade face aos mercados globalizados. Por último, é necessário lembrar a condição dos autores como integrantes do corpo técnico de uma instituição que, a rigor e em princípio, estaria encarregada de atividades de pesquisa agrícola e extensão rural. Este fato é de suma importância porque demonstra que a EPAGRI, por sua direção e funcionários, está inserida num processo muito amplo, que transcende as suas finalidades imediatas e cujas principais características são a abertura, a interativi-dade, a ausência de preconceitos, a visão globalizada e o afã de conhe-cer e mudar - para melhor - a realidade. DOCUMENTAÇÃO: Selma Garcia Blaskiviski ASSINATURAS/EXPEDIÇÃO: Luciane Santos Albino, Rosane Chaves Furtado, Zulma Maria Vasco Amorim - GED/EPAGRI, C.P. 502, Fones (048) 234-1344 e 234-0066, Ramais 206 e 243, Fax (048) 234-1024, 88034-901 - Florianópolis, SC. Assinatura anual (4 edições): R$ 15,00 à vista. PUBLICIDADE: Florianópolis: GED/EPAGRI - Fone (048) 234-0066, Ramal 263 - Fax (048) 234-1024 - São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte: Agromídia - Fone (011) 2598566 - Fax (011) 256-4786 - Porto Alegre: Agromídia - Fone (051) 221-0530, Fax (051) 225-3178. Agropecuária Catarinense - v.1 (1988) Florianópolis: Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária 1988 Trimestral Editada pela EPAGRI (1995) 1. Agropecuária - Brasil - SC - Periódicos. I. Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária, Florianópolis, SC. II. Empresa de Pesquisa Agropecuária e Difusão de Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, SC. Impressão: EPAGRI
CDD 630.5
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CARTAS Velho amigo Fui um grande admirador da velha EMPASC e aprecio muito o trabalho da nova EPAGRI. Depois de seis anos no projeto brasileiro-alemão da GTZ, em Caçador, e nove de convivência íntima com o Estado de Santa Catarina, fica um forte laço emocional/intelectual com esta linda terra e seu povo trabalhador, humilde e dedicado. Recebo a sua revista aqui na Argentina e espero ansiosamente cada próximo volume. Se destaca por suas mensagens claras, práticas, atualizadas e equilibradas com alta qualidade gráfica. Felicito a todos que fazem parte da sua edição e desejo continuidade, visão e perseverança em be-nefício dos agricultores catarinenses e uma melhor qualidade de vida. Dr. R. Melzer Argentina
Junco e peixe Após leitura da Reportagem “Raízes de junco para tratamento de esgoto”, publicada na última edição, me interessei pelo assunto e solicitaria maiores informações sobre onde e como obter mudas destes juncos e ainda o esboço do projeto deste “filtro natural”. Gostaria de parabenizar a equipe que compõe a revista, pois acabei de fazer a assinatura e já estou gostando da maneira como a revista e os assuntos são colo-cados aos leitores, claros e objetivos. Aproveito a oportunidade para sugerir que seja feita uma reportagem sobre criação de peixes em açudes, como o pacu, tambaqui e o tambacu, e ainda alguma receita para a carpa prateada e cabeça grande, já que estas têm a carne “magra” e o modo de preparo deve ser dife-
rente das demais (não sei se já há alguma reportagem sobre estes assuntos, se acaso já tenham sido publicadas, peço o obséquio de me informar, para que possa adquirir as edições que abordaram estes assuntos). Sendo o que tinha para o momento, agradeço a atenção. Geonir José Giacomelli Erval Velho, SC
Pêra Sou produtor rural em Teresópolis, RJ, e gostaria de obter a publicação da EMPASC de título “Sistema de produção no 10 - Normas Técnicas para pêra” (maio de 1988). Tive conhecimento desta publicação no IAC em São Paulo, e acredito que me será de grande utilidade, já que me dedico a culturas de clima temperado em minha propriedade e tenho alguns cultivares
de pêra em experimento. Desta forma gostaria de saber como proceder para obter a publicação. Carlos Alfredo P. Baumann Teresópolis, RJ
Catálogo Acadêmico do curso de Zootecnia da Faculdade de Agronomia e Zootecnia de Uberaba FAZU, recorro a esta conceituada Empresa na expectativa de receber o catálogo de suas publicações e respectivos preços, assim como a validade da tabela de preços. Confiante na seriedade dos serviços prestados por esta entidade ao desenvolvimento da agropecuária nacional, antecipo agradecimentos e aguardo resposta. Atenciosamente Dorismar David Alves Uberada, MG
Normas para publicação de artigos na revista Agropecuária Catarinense A revista Agropecuária Catarinense aceita, para publicação, artigos técnicos ligados à agropecuária, desde que se enquadrem nas seguintes normas: 1. Os artigos devem ser originais e encaminhados com exclusividade à Agropecuária Catarinense. 2. A linguagem deve ser fluente, evitando-se expressões científicas e técnicas de difícil compreensão. Recomenda-se adotar um estilo técnico-jornalístico na apresentação da matéria. 3. Quando o autor se utilizar de informações, dados ou depoimentos de outros autores, há necessidade de que estes autores sejam referenciados no final do artigo, fazendo-se amarração no texto através de números, em ordem crescente, colocados entre parênteses logo após a informação que ensejou este fato. Recomenda-se ao autor que utilize no máximo cinco citações. 4. Tabelas deverão vir acompanhadas de título objetivo e auto-ex-plicativo, bem como de informações sobre a fonte, quando houver. Recomenda-se limitar o número de dados da tabela, a fim de torná-la de fácil manuseio e compreensão. As tabelas deverão vir numeradas conforme a sua apresen-
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tação no texto. Abreviaturas, quando existirem, deverão ser esclarecidas. 5. Gráficos e figuras devem ser acompanhados de legendas claras e objetivas e conter todos os elementos que permitam sua arte-finalização por desenhistas e sua compreensão pelos leitores. Serão preparados em papel vegetal ou similar, em nanquim, e devem obedecer às proporções do texto impresso. Desse modo a sua largura será de 5,7 centímetros (uma coluna), 12,3 centímetros (duas colunas), ou 18,7 centímetro (três colunas). Legendas claras e objetivas deverão acompanhar os gráficos ou figuras. 6. Fotografias em preto e branco devem ser reveladas em papel brilhante liso. Para ilustrações em cores, enviar diapositivos (eslaides), acompanhados das respectivas legendas. 7. Artigos técnicos devem ser redigidos em até seis laudas de texto corrido (a lauda é formada por 30 li-nhas com 70 toques por linha, em espaço dois). Cada artigo deverá vir em duas vias, acompanhado de material visual ilustrativo, como tabelas, fotografias, gráficos ou figuras, num montante de até 25% do tamanho do artigo. Todas as folhas devem vir numeradas, inclusive aquelas que contenham gráficos ou figuras.
8. O prazo para recebimento de artigos, para um determinado número da revista, expira 120 dias antes da data de edição. 9. Os artigos técnicos terão autoria, constituindo portanto matéria assinada. Informações sobre os autores, que devem acompanhar os artigos, são: títulos acadêmicos, instituições de trabalho, número de registro no conselho da classe profissional (CREA, CRMV, etc.) e endereço. Na impressão da revista os nomes dos autores serão colocados logo abaixo do título e as demais informações no final do texto. 10. Todos os artigos serão submetidos à revisão técnica por, pelo menos, dois revisores. Com base no parecer dos revisores, o artigo será ou não aceito para publicação, pelo Comitê de Publicações. 11. Dúvidas porventura existentes poderão ser esclarecidas junto à EPAGRI, que também poderá fornecer apoio para o preparo de desenhos e fotos, quando necessário, bem como na redação. 12. Situações imprevistas serão resolvidas pela equipe de editoração da revista ou pelo Comitê de Publicações.
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FLASHES Constatada Clorose Variegada dos Citros - CVC em Santa Catarina Foi confirmada a presença de Clorose Variegada dos Citros em pomares de Santa Catarina através de materiais de plantas de citros provenientes de pomares comerciais dos municípios de Pinhalzinho e Saudades, no Oeste do Estado. Essa doença é conhecida no meio citrícola por CVC ou “amarelinho”. A identificação da doença foi realizada pelos pesquisadores Giovanina Fontanezzi Huang, do Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades - CPPP/EPAGRI, e Rui Pereira Leite Jr., do Instituto Agronômico do Paraná IAPAR. O diagnóstico da CVC foi baseado em sintomatologia, testes sorológicos e isolamento da bactéria Xylella fastidiosa, realizado a campo e no Laboratório de Bacteriologia e Virologia do IAPAR. A CVC foi constatada pela primeira vez no Brasil no município paulista de Macambal, em 1987, e atualmente está presente em regiões citrícolas dos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Distrito Federal, Paraná e Rio Grande do Sul. Os sintomas iniciam normalmente em um ramo ou parte da planta, espalhando-se posteriormente por toda copa. Os galhos apresen-tam muitos frutos e folhas miúdas, desfolha e secamento dos ponteiros. Os frutos são pequenos, duros e amadurecem precocemente. O crescimento da planta fica reduzido. O uso de material propagativo sadio, o plantio de mudas sadias e o plantio em áreas sem a doença são considerados como estratégias fundamentais para o
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controle da CVC. No caso de pomares afetados a solução imediata para controlar a CVC é a eliminação das plantas doentes.
Poluir menos, produzir mais A Conferência Internacional sobre Tecnologias e Desenvolvimento Sustentável, realizada no último mês de setembro, em Porto Alegre, RS, teve seu ponto alto na decisão de prontamente influir nas políticas públicas, de modo a priorizar os investimentos na agricultura familiar, como a melhor forma de viabilizar o desenvolvimento rural sustentável. Isto só será possível se houver união de esforços nos diferentes setores, desde o produtor até o consumidor. Pensando nisto e alarmados com os altos índices de contaminação ambiental e de degradação de solo, no Alto Vale do Itajaí, um grupo de técnicos, pesquisadores, professores, extensionistas e produtores rurais de Santa Catarina decidiu unir forças e partir para a luta em prol de uma agricultura mais saudável e equilibrada, tanto para o produtor como para o consumi-dor. A Estação Experimental de Ituporanga/EPAGRI, em parceria com o Centro de Ciências Agrárias/UFSC, estão iniciando um convênio que visa desenvolver pesquisas no contexto da agricultura sustentável . De início, o maior impacto será na cul-tura da cebola; porém o trabalho terá enfoque mais amplo, no sentido da sus-tentabilidade da atividade produtiva no meio rural e levando em conta as con-dições edafoclimáticas do Alto Vale do Itajaí. Os trabalhos se desenvolverão, inicialmente, na Estação Expe-
rimental de Ituporanga e em propriedades de agricultores da região, num processo participativo, envolvendo, também, outras entidades de interesse, como ONGs e prefeituras. O enfoque sistêmico das atividades na propriedade agrícola familiar, o manejo ecológico do solo, a teoria da trofobiose, a biodiversidade, a segurança alimentar, as interações biológicas positivas serão alguns dos princípios norteadores do novo trabalho. A agroecologia, como base científica, nos projetos de geração de tecnologia, deverá ser assunto em constante debate. Este trabalho, inclusive, está dentro da linha de recuperação do meio ambiente já em andamento pelo Programa de Microba-cias.
De pronto, vários agricultores já mostraram-se dispostos a interagir com um novo modelo de desenvol-vimento agrícola, cujas as-pirações vão além do ga-nho econômico, o que vale dizer, ter um patrimônio cultural em que os descenden-tes sentem-se orgulhosos e realizados por serem agricultores e poderem contribuir para a evolução da humanidade. O termo poluir, referido no título, deve ter um sentido mais amplo, em que o oposto são as relações sociais harmonizadas, as forças políticas equilibradas e o meio ambiente em condição de ser fonte inesgotável de saúde. Produzir mais seria, portanto, tornar cada vez menor a massa de seres humanos excluídos.
Especialista profere palestra sobre o selo verde na agricultura O grau de dificuldade para o homem ir à lua foi menor do que a difusão da técnica de cultivo orgânico de alimentos. Esta afirmação partiu do engenheiro agrônomo Alexandre Harkaly, do Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural de São Paulo, que proferiu palestra a técnicos, professores e estudantes no Centro de Ciências Agrárias da UFSC, em Florianópolis, a respeito da Certi-ficação Orgânica de Produtos. Segundo o técnico, a ciência tradicional, principalmente nos países menos desenvolvidos, tem dificultado o aparecimento de novos pa-radigmas tecnológicos, em especial a produção orgânica ou ecológica, que na Europa e Estados Unidos já está bem adiantada. O Instituto Biodinâmico
é, por enquanto, a única entidade no Brasil autorizada a certificar e fornecer um selo de qualidade a agricultores, empresários rurais e entidades que elaboram produtos da linha orgânica para exportação. Além da certificação, existe um acompanhamento e fiscalização por técnicos credenciados desde o processo de produção no campo até o beneficiamento e industrialização do produto. “O selo verde é a ISO 14000 na agricultura”, ressalta Alexandre Harkaly, que veio a Santa Catarina buscar parcerias com a universidade e EPAGRI, visando uma cooperação na divulgação e incentivo da produção orgânica, bem como em treinamento e cursos para técnicos e interessados no assunto da certificação orgânica.
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Alho
Ângulo de inserção das folhas do alho x população de tripes Ademar Pereira de Oliveira, Paulo Donato Castellane e Sérgio Antonio de Bortoli
N
a cebola, as cultivares diferem consideravelmente em sua resistência ao tripes, e essa resistência é possivelmente determinada por certos caracteres morfológicos, que possibilitam manter a população de inseto em um mínimo, e talvez por caracteres anatômicos e fisiológicos, que ajudam a planta a resistir às injúrias. Entre os vários mecanismos da planta que estão associados à resistência ao tripes estão: forma das folhas, ângulo de divergências entre duas folhas íntimas e distância vertical entre folhas, na base da coluna da bainha (1). Variedades de cebola que possuem folhas compactas na base têm sido referidas como resistentes a tripes. Tais casos relacionam-se com o comportamento do inseto, pois o tripes prefere as plantas cujas folhas apresentam maior ângulo de contato, o que favorece a praga em termos de abrigo (2). Na cultura do alho nada se tem estudado a respeito do ângulo de inserção das folhas e sua relação com a população de tripes. Portanto, o presente trabalho foi realizado com o objetivo de se verificar a associação existente entre o ângulo de inserção das folhas desta planta com o nível de infestação do tripes.
O trabalho foi realizado na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da UNESP, Campus de Jaboticabal, SP. Foi realizada uma descrição da arquitetura dos alhos ‘Cabaceiras’, ‘Centenário’ e ‘Dourados’, considerando-se o ângulo de inserção das lâminas foliares nas hastes das plantas, aos 85 dias após o plantio. Esta etapa foi efetuada através de fotos de três plantas representativas de cada alho. Cada planta repre-
sentou uma repetição. Em seguida as transformados em log (X + 1) e as fotografias foram desenhadas em pa- médias foram comparadas pelo Teste pel vegetal, quando se calcularam os de Tukey a 5% de probabilidade. ângulos de inserção das folhas de cada alho e efetuaram-se novas fotos pelo Resultados e discussão sistema de kodalite. Ao final, os valores dos ângulos foram submetidos à Na Figura 1 estão apresentados os análise de variância no delineamento ângulos de inserção das folhas dos inteiramente casualizado com três tra- alhos ‘Dourados’, ‘Cabaceiras’ e ‘Centamentos e três repetições. tenário’, enquanto na Tabela 1 enconA população de tripes foi avaliada tram-se os valores médios dos ânguem laboratório, através de cinco contagens quinzenais a partir de 30 dias após o plantio, fazendo-se contagem total de insetos (ninfas e adultos), com auxílio de uma lupa ao longo de lâminas e bainhas de todas as folhas de cinco plantas tomadas ao acasopor parcela em cada avaliação, indiferente da posição da planta em relação ao canteiro. Para efeito de análise estatística do Figura 1 - Ângulo de inserção das folhas dos alhos ‘Douranúmero de dos’, ‘Cabaceiras’ e ‘Centenário’, aos 85 dias após o plantio. tripes, os daJaboticabal, SP, 1992 dos foram
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
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Material e métodos
Alho
Tabela 1 - Ângulos de inserção das folhas em relação ao pseudocaule aos 85 dias após o plantio e número total de tripes por planta log (X + 1) dos alhos ‘Cabaceiras’, ‘Centenário’ e ‘Dourados’. Jaboticabal, SP, 1992 Tratamento (alhos) Cabaceiras Centenário Dourados C.V.%
Ângulos (graus)
Número total de tripes (log (X + 1))
23,08 a 25,70 a 17,86 b
4,09 b 4,19 b 5,56 a
4,19
27,74
Nota: Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
los de inserção das folhas em relação ao pseudo-caule. Os alhos ‘Cabaceiras’ e ‘Centenário’, que possuem os maiores ângulos de inserção, apresentaram menores populações de tripes (Tabela 1). Já o alho ‘Dourados’, que apresentou plantas com maior população de tripes (Tabela 1 e Figura 2), tem plantas cujas folhas apresentam ângulos médios de inserção menores (Tabela 1). Inúmeros são os fatores que afetam a resistência e/ou tolerância das espécies vegetais às pragas. Entre estes fatores encontram-se o ângulo de divergência entre as folhas e o eixo vertical da planta (3). Assim, pode-se considerar, inicialmente, que a arqui-
tetura da planta, além de outros aspectos relacionados com suas características genéticas, é um importante fator atuando sobre a dinâmica populacional do tripes na cultura do alho. Possivelmente, o ângulo de inserção menor das folhas do alho ‘Dourados’ oferece maior proteção ao tripes contra algumas intempéries (chuvas, ventos e ação de raios solares). Na cebola os tripes também preferem plantas cujas folhas apresentam menor ângulo de contato, o que favorece o inseto em termos de abrigo. Variedades que possuem folhas redondas com maior espaço disponível entre elas geralmente apresentam baixa população desse inseto (4).
Conclusão A população de tripes relaciona-se com o ângulo de inserção das folhas do alho, pois quanto maior o ângulo de inserção das folhas de uma cultivar de alho menor foi a população de tripes.
Literatura citada 1.
JONES, H.A.; BAILEY, S.F.; EMSWELLER, S.L. Thrips resistance in onion. Hilgardia, Berkeley, v.8, n.7, p.215-222, 1934.
2. LARA, F.M. Princípios de entomologia. Piracicaba: Livroceres, 1979. 304p. 3. KOGAN, M. Plant resistance in pest managemant. In: METCALF, R.L.; LUCKMANN, W.H. Introduction to insect pest management. New York: John Wiley, 1975. p.103-146. 4. LARA, F.M. Princípios de resistência de plantas e insetos. 2.ed. Piracicaba: ICONE, 1991. 336p. Ademar Pereira de Oliveira , eng. agr., doutor em Agronomia, professor adjunto do Centro de Ciências Agrárias da UFPB, Departamento de Fitotecnia - CCA/UFPB, Fone (083) 362-2300, ramal 55, 58397-000 Areia, PB; Paulo Donato Castellane, eng. agr., doutor em Fitotecnia, professor adjunto da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária da UNESP, Campus de Jaboticabal, SP, Fone (0163) 23-2500, ramal 231 e Sérgio Antônio de Bortoli, Ph.D. em Entomologia, professor titular da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária da UNESP, Campus de Jaboticabal, SP, Fone (0163) 23-2500, ramal 231.
Figura 2 - Número total de tripes por cinco plantas em diferentes alhos (dados não transformados). Jaboticabal, SP, 1992
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Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
REGISTRO
Suínos ao ar livre: mais produção, menos agressão ao ambiente A crise na agropecuária nos últimos anos tem forçado os produtores rurais a buscarem tecnologias alternativas, que diminuem os custos sem perda de produtividade. A produção intensiva de suínos ao ar livre é uma destas técnicas que vem obtendo resultados bastante satisfatórios em várias regiões do mundo e que agora está se instalando no Brasil definitivamente. A EPAGRI, a EMBRAPA e o Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina - CCA/UFSC - acabam de instalar, em convênio, com o apoio da GTZ - Sociedade Alemã para Cooperação Técnica - uma unidade didática intensiva de suinocultura ao ar livre na Fazenda Ressacada em Florianópolis, área pertencente à Universidade Federal. Esta unidade visa servir de modelo para treinamentos e cursos para técnicos, estudantes e agricultores e faz parte de uma rede nacional de experimentação da EMBRAPA. São ao todo 3ha, divididos em 7 piquetes comportando 28 fêmeas e 2 machos, com uma área de 600 a 900m2 por animal. Inicialmente a previsão é desmamar os leitões nesta unidade e levar para confinamento e engorda no Centro de Treinamento da EPAGRI - CETRE no Bairro Itacorubi. Posteriormente, todos os estágios da criação, incluindo a engorda, serão conduzidos na unidade da Ressacada. O responsável local pelo projeto é o técnico Luiz Carlos Wollfer. A equipe técnica de professores, pesquisadores e extensionistas é responsável pelas atividades de pesquisa, ensino e pelos cursos. É formada por profissionais das três instituições envolvidas, ou seja, os professores Carlos Falkoski, Ana Maria Bridi, Andrea Wolff, Antonio C.M. da Rosa e o engenheiro agrônomo João Augusto Vieira de Oliveira, Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Aspecto geral das instalações piquete, cerca elétrica, comedouro - e detalhe do abrigo
além dos estudantes do curso de agronomia da UFSC. O projeto prevê a comercialização, quando em pleno funcionamento, de 50 suínos ao mês, que, ao peso médio de 95kg e R$ 0,80/ kg, resultará numa receita de R$ 3.800 mensais. “O objetivo principal desta unidade didática não é só o aspecto financeiro, apesar deste item ser básico em qualquer empreendimento”, adianta o engenheiro agrônomo João Augusto de Oliveira, da EPAGRI e assessor técnico do Centro de Estudo e Promoção da Agricultura de Campo - CEPAGRO, e agrega “mas também a questão da economia nas instalações e medicamentos, o manejo descom-plicado, a menor agressão aos animais e meio ambiente.” João Augusto explica que a suinocultura ao ar livre, como diz o nome, não exige instalações sofisticadas e caras que confinam o animal a quatro paredes, causando estresse ao suíno e, por conseguinte, tornando-o mais vulnerável a doenças. No manejo a campo, o suíno está em situação bastante mais adequada de conforto, e não há aquele cheiro forte e desagradável, o que facilita também para as pessoas que trabalham e administram
a atividade. O projeto é acompanhado com muito interesse e, na medida do possível, mediante cooperação concreta por parte do CEPAGRO, ONG que reúne diversas associações de pequenos agricultores, o que facilita a difusão do sistema.
Desenvolvimento sustentável Vários estudos e pesquisas comprovam que a suinocultura ao ar livre empata em alguns pontos e supera em outros a suinocultura confinada, tal como praticada nas condições brasileiras. Os suínos ao ar livre tendem a ter mais partos por porca/ano, maior número de leitões por porca, ganho maior de peso por animal, menor incidência de doenças, etc. A criação de suínos ao ar livre é também uma atividade que agride menos o ambiente, sendo, portanto, mais sustentável que o sistema tra7
Registro
dicional. Os dejetos dos suínos são reciclados no próprio local, e o solo assim adubado é ideal para realizar rotação com culturas anuais, diminuindo a incidência de pragas e doenças e trazendo mais recursos ao produtor. Esta nova metodologia de criar suínos não é uma volta ao passado,
como pode parecer a princípio, e sim um aperfeiçoamento de várias técnicas. Ela foi introduzida na Inglaterra e se disseminou pela Europa. Atualmente mais de 50% das propriedades inglesas que iniciam atividade suinícola o fazem no sistema ao ar livre. Neste sistema a rentabilidade tende a ser maior e os riscos bem
menores. “É um sistema resistente a crises”, ressalta o professor Carlos Falkoski, do CCA/UFSC, e completa que “na época em que a criação tradicional enfrenta toda sorte de problemas técnicos, econômicos e sociais, esta maneira de conduzir a suinocultura se mantém estável”.
Doces e conservas: uma alternativa de renda para o agricultor No período de 23 a 26 de outubro passado, esteve participando do curso Indústria Caseira - Frutas e Hortaliças - mais um grupo de produtoras e produtores rurais, no Centro de Treinamento da EPAGRI CETRE, em Florianópolis. Este curso faz parte do Programa Catarinense de Profis-sionalização de Produtores Rurais, desenvolvido pela EPAGRI, com o apoio da GTZ (Sociedade Alemã de Cooperação Técnica), cujo principal objetivo é tornar a atividade agrícola mais atrativa, produtiva e rentável. É interessante registrar o grande interesse das senhoras (maioria no grupo) no aprendizado das receitas e no uso correto das técnicas, desde a manipulação, higiene e cuidados na escolha dos produtos, até o aproveitamento, conservação e comercialização das frutas e hortaliças produzidas na propriedade. Entre as inúmeras receitas repassadas no curso, todas executadas pelo grupo na cozinha experimental do CETRE, constam sucos, geléias, doces em pasta e de corte, compotas, conservas, picles, frutas secas e cristalizadas, chucrute, massa de tomate, licores, entre outros. Segundo a instrutora da EPAGRI, Maria Salete Ranzi, as hortaliças e frutas, abundantes na propriedade no período da safra, podem ser transformadas em conservas e doces para serem consumidas pela família na entressafra e, havendo excedente, este pode ser comercializado. Este ano, mais de 300 produtores rurais participaram do curso industrialização caseira, podendo com isso contribuir no aumento da renda familiar, com a venda destes produtos 8
artesanais. Além deste, a EPAGRI e a GTZ oferecem outros cursos de capacitação em tecnologia agropecuária, pesqueira e gerencial para agricultores, pescadores e suas famílias. Os nove centros de treinamento da EPAGRI, distribuídos pelo Estado, oferecem a infraestrutura necessária para a realização dos cursos (Tabela 1).
As inscrições e informações sobre estes cursos são obtidas nos Escritórios Municipais e Regionais da EPAGRI, nos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural das prefeituras e nos sindicatos rurais. Os interessados pagam 30% dos custos diretos dos cursos e a Secretaria Estadual do Desenvolvimento Rural e da Agricultura subsidia o restante.
Tabela 1 -Centros de treinamento da EPAGRI Denominação do CETRE, telefone e fax
Administração regional da EPAGRI
No de leitos
No de salas aula
CETRESMO (0498) 22-0613
São Miguel do Oeste
50
02
80
80
09
Chapecó
CETREC (0497) 22-2131
Chapecó
67
03
140
120
12
Videira
CETREVI (0495) 33-0568
Caçador
57
04
120
75
10
Agronômica
CETRAG (0478) 42-0141
Rio do Sul
32
03
80
80
10
São Joaquim
CETREJO (0492) 33-0211
Lages
36
04
120
80
04
CETRAR Fone (0485) 22-0894 Fax (0485) 24-1677
Urussanga
64
04
120
80
12
Florianópolis
CETRE (048) 234-0035
Florianópolis
86
04
180
100
12
Concórdia
CETREDIA (0494) 44-1201
Concórdia
15
01
25
20
04
Canoinhas
CETRECAN (0476) 22-1144
Canoinhas
30
02
40
40
01
Localidade
São Miguel do Oeste
Araranguá
Capacidade sala aula
Capacidade refeitório
No de Unidades Didáticas
Nota: a) Serão conduzidos também cursos profissionalizantes para os produtores rurais nas estações experimentais da EPAGRI em Itajaí, Lages e Urussanga, na Fundação 25 de Julho, em Joinville, e no Parque Ecológico Cidade das Abelhas, em Florianópolis. b) Outros cursos: Administração rural, Apicultura, Armazenagem, Arroz irrigado, Bananicultura, Conservação do solo e da água, Cultivo protegido de hortaliças, Cultura de mexilhões, Fruticultura de clima temperado, Fruticultura de clima tropical, Gado leiteiro, Indústria artesanal (frutas e hortaliças, lã de ovelha, leite, panificação, peixe, suínos), Manejo da irrigação, Mecanização (colheitadeira, motores marítimos, pulverizadores, trator 2 rodas, trator 4 rodas), Olericultura, Ovinocultura, Piscicultura de água doce, Saneamento ambiental, Suinocultura (ciclo completo, produtores de leitões, terminadores, ar livre), Silvicultura, Uvas e Viveiristas.
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Fitossanidade
Bacteriose em ameixeira Eliane Rute de Andrade e Jean-Pierre Henri Joseph Ducroquet
A
bacteriose da ameixeira, também conhecida por mancha bacteriana, é causada por Xanthomonas pruni (EFS) Dowson e ocorre em todos os locais onde essa fruteira é cultivada. Os primeiros registros descrevemna como doença de folhas, ramos e frutos de ameixeiras japonesas (Prunus salicina) no Estado de Michigan, E.U.A. (1). Sua ocorrência no Estado de Santa Catarina foi relatada pela primeira vez em 1971 (2). Esta doença é um dos fatores limitantes à expansão do cultivo da ameixeira em Santa Catarina, principalmente nas regiões mais altas e frias do Estado e causa também severos danos na região do Alto Vale do Rio do Peixe, SC, maior região produtora do Estado. O desfolhamento, no início do verão, reduz a produção nos ciclos subseqüentes e enfraquece a planta, que se torna suscetível ao ataque de brocas e outros insetos. Em cultivares de ameixas muito sensíveis ao cancro nos ramos provocados por X. pruni, como por exemplo Pluma 7 e Reubennel e as cultivares californianas que dominam as importações brasileiras de ameixa, como Angeleno, a doença prejudica consideravelmente o desenvolvimento das plantas, podendo provocar até mesmo o secamento das mesmas. Na Tabela 1 estão apresentadas as cultivares mais plantadas na região do Alto Vale do Rio do Peixe e seu comportamento em relação a X. pruni. As frutas infectadas pela doença racham-se, podendo ser atacadas por fungos como Monilinia spp, Colletotrichum gloeosporioides e Rhizopus spp, o que as torna imprestáveis para o consumo e comercialização; em algumas cultivares, como Harry Pickstone, plantadas em local inapropriado, a percentagem Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Tabela 1 - Características das cultivares de ameixeira quanto à suscetibilidade a X. pruni, indicadas para o Meio Oeste Catarinense. Estação Experimental de Videira-EPAGRI, SC. 1995 Sensibilidade a Xanthomonas pruni(A) Cultivar Amarelinha Frontier Harry Pickstone Santa Rosa Simka Wade Reubennel Letícia
Fruto
Folha
Cancro bacteriano/ramos
T R S T R T S/T T
S/T S/T T S S/T S T R
T S/T S T T T S R
(A) R- Resistente; T - Tolerante; S - Sensível.
de frutos atacados pode atingir 80%. Atualmente a Estação Experimental de Videira - EPAGRI está desenvolvendo alguns trabalhos de pesquisa visando encontrar algum produto químico eficiente para o controle desta doença, bem como determinar o nível de resistência de cultivares.
Sintomas A doença ocorre em folhas, ramos e frutos. Nas folhas, aparecem inicialmente pequenas manchas angulares, as quais, mais tarde, tornam-se púrpuras ou pretas, com as bordas angulares e geralmente delimitadas por um halo verde-amarelo, o que permite sua identificação. Em seguida há a formação de uma camada de abscisão e o tecido atacado se desprende, para mais tarde cair (Figura 1A). As folhas muito atacadas caem prematuramente no início do verão, reduzindo a produção nos próximos anos. Em caso de ocorrência de escaldadura das folhas, a bacteriose pode acelerar o processo de declínio da planta atacada. Nos ramos, a infecção pelo patógeno pode resultar em dois tipos de cancro. As lesões que aparecem durante o ano de infecção são chama-
das cancros de verão, e se localizam, geralmente, nos entrenós. As infecções que ocorrem no outono, mas só visíveis na primavera seguinte, são denominadas cancros de primavera, e geralmente são encontradas nas gemas ou nós (Figura 1B). No fruto, a mancha bacteriana é inicialmente evidenciada como uma mancha pequena, circular e parda na superfície (Figura 1C). À medida que a doença se desenvolve, as manchas tornam-se levemente mais escuras e com depressão, rachando a epiderme. Freqüentemente, pequenas rachaduras e um halo verde claro circundam as manchas (3).
Condições predisponentes Vários são os fatores que contribuem para o desenvolvimento da doença, e entre eles destacam-se a sensibilidade das cultivares mais plantadas e as condições ambientais propícias para a ocorrência e desenvolvimento do patógeno. A queda das folhas no outono deixa uma cicatriz, que pelo período de um a três dias permite a entrada de X. pruni no hospedeiro. A bactéria sobrevive ao inverno nos espaços intracelulares do córtex, floema e 9
Fitossanidade
A
B
C
Figura 1 - Sintomas de Xanthomonas pruni em ameixeira - (A) Folha; (B) Ramos; (C) Frutos
parênquima do xilema (4). Os cancros nos ramos são a principal fonte de inóculo da doença (5). A infecção pode ocorrer durante o período de crescimento vegetativo em todas as partes suscetíveis (folha, ramos do ano e frutos) (5), dependendo inteiramente das condições ambientais, como temperatura moderada com chuvas freqüentes, porém suaves, acompanhadas de ventos fortes e neblinas, que são as condições favoráveis. A disseminação a curta distância ocorre através da água, que transporta o inóculo na própria planta ou de uma planta para outra. A longa distância, a disseminação se faz principalmente por mudas, borbulhas e frutos. As bactérias penetram nas plantas principalmente por meio de ferimentos que são causados por insetos, máquinas, equipamentos e poda.
Controle Medidas preventivas O controle da doença com o uso de bactericidas (à base de cobre e/ou antibiótico), que são produtos de contato, apenas reduz a severidade dos danos e a dispersão do patógeno para frutos e folhas (6). Por isso o controle de X. pruni deve ser preventivo, através de adoção das seguintes medidas: 10
• Evitar a instalação de pomar em locais altos e sujeitos a ventos frios e neblina, com exposição sul ou sudoeste. • Proteger o pomar dos ventos, instalando quebra-ventos, como meio de evitar a disseminação do patógeno. • Evitar o plantio de cultivares de ameixeira suscetíveis (Tabela 1). • Tratamento de outono com calda bordalesa na proporção de 2% (Tabela 2), no período de queda natural das folhas.
• Podar e queimar os ramos com cancro logo após a constatação dos sintomas. • Manter a planta bem nutrida, vigorosa, porém sem excesso de nitrogênio. • Utilizar porta-enxertos e enxertos sadios, sem nenhum tipo de cancro. • Controlar insetos que causam ferimentos nas plantas e frutos, principalmente a mariposa oriental e a mosca das frutas.
Tabela 2 - Controle químico de Xanthomonas pruni em ameixeira. Estação Experimental de Videira - EPAGRI, 1995 Produto comercial (p.c.) (i.a. em %)
Dosagem de p.c. (g/100 l de água)
Recomendações
Calda bordalesa (cobre 25%)
2.000
Tratamento de inverno e duas pulverizações na queda de folhas: primeira com 25% de folhas caídas e segunda aplicação com 75% das folhas caídas.
Sulfato de zinco (Zinco 38,46%) + cal
400 + 400
Pulverizações na primavera após a brotação, repetindo a intervalos de 20 dias num total de três aplicações.
Cuprozeb
300 -
Duas aplicações na queda de folhas: pri (cobre 17% + mancozeb 44%) meira com 25% de folhas caídas e segunda aplicação com 75% de folhas caídas.
Agrimicina (Oxitetraciclina 94%)
240
Três a quatro aplicações, quinzenalmente entre a queda das pétalas até 14 dias antes da colheita.
Dithane M-45 (Mancozeb 80%)
200
Aplicações quinzenais desde a queda das pétalas até 21 dias antes da colheita.
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Fitossanidade
Controle químico Nos experimentos realizados até o momento, nas cultivares Santa Rosa, Reubennel e Amarelinha, não foi possível avaliar se há algum produto químico eficiente no controle à bacteriose, pois houve uma baixa incidência da doença nos pomares onde foram realizados os trabalhos. Entretanto, os resultados mostraram que muito dos sintomas foliares atribuídos à bacteriose na verdade eram sintomas de fitotoxidez, problema que está bastante difundido na região produtora do Alto Vale do Rio do Peixe, SC, provocada principalmente por produtos químicos a base de cobre (sulfato de cobre, oxicloreto de cobre + mancozeb (cuprozeb)), mesmo misturados com cal. Outros produtos, cuja eficiência contra a bacteriose em ameixeira é citada na literatura, como a mistura Dodine (Venturol) + Captan, também causaram fitotoxidez nas três cultivares citadas acima. Pulverizações com oxicloreto de cobre e hidróxido cuproso nas cultivares Golden King e Red Gold, quinzenalmente, a partir do final da queda de pétalas até catorze dias antes da colheita permitiram de 30 a 70% de controle de bacteriose em frutos e folhas destas cultivares (6). Contudo, fitotoxidez por cobre freqüentemente ocorre em pomares comerciais de ameixa na África do Sul e está regularmente associada a plantas expostas a alta umidade (6), o que também ocorre na região produtora do Alto Vale do Rio do Peixe. Portanto, estes produtos não devem ser pulverizados durante o perío-do vegetativo da ameixeira. A pulverização de oxitetraciclina, mancozeb e sulfato de zinco + cal não provocou fitotoxidez nas plantas de Santa Rosa, Reubennel e Amarelinha. Em trabalhos realizados na África do Sul, observou-se que pulverizações semanais com oxitetraciclina apresentaram níveis de controle variável, dependendo da cultivar (6). O sulfato de zinco + cal vem sendo usado há vários anos na região de Curitibanos, SC, visando o controle da bacteriose da ameixeira (7), porém com eficiência questionável. Os danos provocados por fitotoxidez Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Literatura citada
nas folhas da ameixeira caracterizam-se por sintomas foliares que começam por várias manchas de coloração amarelada no limbo foliar (8). Com o passar do tempo o centro dessas manchas fica necrosado e cai. As folhas ficam totalmente perfuradas e com um ama-relecimento acentuado, e por fim caem deixando as plantas completamente desfolhadas (Figuras 2A, B e C). Freqüentemente estes danos são confundidos com os sintomas da bacteriose, porém as manchas provocadas pela fitotoxidez são mais circulares e maiores (6 e 9). Com a identificação de produtos químicos que, devido a sua fitotoxidez causam uma queda antecipada e drástica das folhas em pomares de ameixeira, o presente trabalho vem solucionando parte de problema. A continuação das investigações deverá permitir avaliar melhor a eficiência dos produtos remanescentes, não fitotóxicos, no controle da bacteriose.
1. ANDERSON, W.H. Diseases of fruit crops. New York: McGraw-Hill, 1956. 501p. 2. ROBBS, C.F.; ALVES, A.B.; KIMURA, O. Ocorrência da “Mancha bacteriana” Xanthomonas pruni E.F. Smith em Prunus sp no Estado de Santa Catarina. Revista da Sociedade Brasileira de Fitopatologia, v.4, n.4, p.57-58, 1971. 3. FELICIANO, A.; FEHN, L.M. Calendário de tratamentos fitossanitários para pessegueiros. Pelotas: EMBRAPA/UEPAE de Cascata, 1980. 17p. (EMBRAPAUEPAE de Cascata. Circular Técnica, 3). 4. FELICIANO, A.; DAINES, R.H. Factors influencing ingress of Xanthomonas pruni through peach leaf scars and subsequent development of spring cankers. Phytopathology, Saint Paul, v.60, n.12, p.1720-1726, 1970. 5. ADAM, A.V.; POWEL, D.; ANDERSON, H.W. Time of peach twig infection by Xanthomonas pruni in relation to spring-canker incidence. Phytopathology, Saint Paul, v.45, p.285-287, 1953.
A
6. DU PLESSIS, H.J. Control bacterial spot on plums by sprays of calcium oxytetracycline and copper and infusion with Npyrrolidinomethyl tetracycline. Phytophylactica, Manual. Pretoria, v.19, p.227-229, 1987. 7. COOPERATIVA AGRÍCOLA DE COTIA (SP). São Paulo: s.d. n.p. (Mimeógrafo).
B
C
Figura 2 - Fitotoxidez por fungicida em folha de ameixeira - (A) Sintoma inicial; (B) Perfuração das folhas; (C) Desfolhamento
8. ANDRADE, E.R.; DUCROQUET, J.P.H.J. Controle químico de Xanthomonas pruni em ameixeira no Estado de Santa Catarina. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FITOPATOLOGIA, 27., 1994. Itajaí, S.C. Resumos. Itajaí: Sociedade Brasileira de Fitopatologia, 1994. p.270. 9. DU PLESSIS, H.J. Bacterial spot disease of stone fruits: Overview of findings. Deciduous fruit Grower, Cape Town, v.38, n.4, p.128-133, Apr. 1988. Eliane Rute de Andrade, enga. agra., M.Sc., Cart. Prof. no 34.685-D, CREASC, EPAGRI/Estação Experimental de Videira, C.P. 21, Fone (0495) 33-0054, Fax (0495) 33-0391, Telex 492 246, 89560000 - Videira, SC e Jean-Pierre Henri Joseph Ducroquet, eng. agr., Dr., Cart. Prof. no 17.954-D, CREA-PR, EPAGRI/ Estação Experimental de Videira, C.P. 21, Fone (0495) 33-0054, Fax (0495) 330391, Telex 492 246, 89560-000 - Videira, SC.
11
Reportagem
Conferência sobre agricultura sustentável destaca a pequena propriedade Paulo Sergio Tagliari e Ivan José Canci
A
Conferência Internacional sobre Tecnologia e Desenvolvimento Sustentável, realizada em Porto Alegre, no último mês de setembro, trouxe à tona algumas conclusões importantes, entre as quais que o modelo de desenvolvimento rural implantado no Brasil nos últimos 30 anos chegou ao esgotamento e, apesar dos avanços e benefícios alcançados, infelizmente tem sido um modelo concentrador e excludente. Ele foi baseado na produção de grãos para exportação, na monocultura e num padrão tecnológico caro, que desemprega pessoas e degrada o meio ambiente, descapitalizando os pequenos agricultores continuamente nos últimos anos. Os conferencistas neste evento (participaram especialistas de vários países - Estados Unidos, Espanha, Costa Rica, Uruguai, Paraguai e Brasil - além de pesquisadores, técnicos, professores, estudantes e agricultores dos três Estados da região Sul) revelaram que a agricultura constantemente vem perdendo força mesmo nos países mais adiantados e, principalmente nestes, onde a indústria química e agroalimentar está comandando o sistema e ditando as regras. E
“Agricultura sustentável diminui riscos econômicos e contaminação dos seres humanos e animais” o produtor rural, como fica nesta situação?, perguntaram os palestrantes. Respondendo eles mesmos, exemplificaram que nos Estados Unidos, conforme comprovam estatísticas, os preços pagos pelos consumidores têm 12
Pequena propriedade é o foco das atenções de técnicos, pesquisadores, professores universitários e agricultores do Sul do Brasil
crescido ao longo dos anos, ao passo que os preços recebidos pelos agricultores diminuíram, e continuam caindo até hoje e, se não fosse o subsídio governamental, os produtores americanos e também europeus já estariam quebrados. A realidade em todo o mundo parece ser uma só: cada vez o agricultor recebe menos, cada vez o consumidor paga mais. Outra informação relevante foi a de que os Estados Unidos estão, neste segundo semestre de 1995, discutindo sua lei agrícola (estabelecida de cinco em cinco anos) e, em função dos problemas enfrentados pelos produtores, mencionados acima, os estadunidenses estão alocando agora recursos públicos crescentes em pesquisa, ensino e extensão em agricultura sustentável.
Nova visão de agricultura Se a situação da agricultura americana não é das melhores, imagine-se a da brasileira. Para minorar os efeitos negativos das políticas agrícolas e do modelo tradicional de desenvolvimento imposta aos agricultores, várias entidades governamentais e nãogovernamentais (EMBRAPA, universidades, EMATER’s, cooperativas, ONGs, associações de agricultores) reuniram-se pela primeira vez na história, na Conferência, em Porto Alegre, RS, para discutir formas de cooperação, tendo como objetivos principais: • contribuir para tornar a agricultura sustentável uma real opção tecnológica; Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Reportagem
• desenvolver metodologias de assistência técnica e extensão rural elaboradas a partir de uma nova visão de agricultura, seja enquanto atividade produtiva, seja enquanto modo de vida das populações rurais; • afirmar, política e institucionalmente, a opção pela agricultura familiar, como a forma social de uso da terra que melhor corresponde à noção de sustentabilidade técnico-produtiva e às necessidades do país; • concretizar formas duradouras de cooperação entre organizações públicas e não-governamentais, que caminhem na perspectiva da construção de uma agricultura sustentável; • elaborar uma agenda de políticas públicas capaz de orientar a ação do Estado no sentido dos “princípiosmaio-res” do programa: um desenvolvimento rural socialmente justo, economicamente eficiente, culturalmen-
“Preços recebidos pelos agricultores caem, preços pagos pelos consumidores sobem.”
te aceito e ambientalmente sustentável. A importância da pequena propriedade familiar também foi destacada no evento, sendo que historicamente os minifúndios do Sul do Brasil, de colonização européia, principalmente, são reconhecidos pela sua eficiência e produtividade. Ao contrário, a grande propriedade degrada mais o ambiente, emprega menos mão-deobra, produz poucos produtos, basicamente para exportação, e tem maior custo de produção. A sociedade demanda cada vez mais produtos saudáveis e métodos de produção agropecuária que preservem e até regenerem os recursos naturais. A pequena ou média propriedade familiar, através da diversificação, da rotação de culturas e da reciclagem de energia possibilita um melhor aproveitamento e reposição de nutrientes, reduz a incidência de pragas e Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Conferência é marco histórico para o desenvolvimento sustentável da agricultura brasileira
doenças, minimiza os riscos econômicos e de contaminação das pessoas que trabalham na produção. E, além de preservar o meio ambiente, estas práticas permitem às pequenas propriedades produzir alimentos de qualidade (livres de contaminação química) e com baixo custo. Vale lembrar também que, nos
meses anteriores à Conferência, foram realizados quinze encontros preparatórios em várias cidades da região Sul do Brasil e os “atores” envolvidos no processo propiciaram aproximações inéditas entre as diferentes organizações que hoje atuam no espaço agrário do Sul do Brasil, além de elaborarem documentos com propos13
Reportagem
tas importantes que foram trazidas ao evento em Porto Alegre.
Entidades públicas envolvidas As instituições públicas, tais como EMBRAPA, EMATERs e universidades, até agora céticas em relação à agricultura sustentável, começam a revisar seus métodos e filosofia de trabalho. O pesquisador Laércio Nunes e Nunes, representante da EMBRAPA na Conferência, ponderou que a mudança para esta nova visão de agricultura vai ser difícil, o quadro de pesquisadores é grande e ainda direcionado à agricultura tradicional, porém o processo de mudança, mesmo lento, deverá acontecer. O diretor da EMATER/RS, Jair Seidel, apresentou uma série de ações que aquela entidade está desenvolvendo no Rio Grande do Sul dentro do Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável, entre outras a saber: direcionamento para a agricultura familiar (90% do trabalho); parcerias - estimular a formação; promover ações e programas que levem ao desenvolvimento rural sustentável; contribuir para o aperfeiçoamento econômico e social das formas associativas.
agricultura sustentável, revisar o sistema de impostos a fim de beneficiar os produtores ditos sustentáveis e de pequena propriedade, e buscar um planejamento participativo, em que técnicos e agricultores conduzam passo a passo e lado a lado o processo. Orildo Belegante, agricultor ecológico do município de Água Santa, RS, e um dos vários pequenos produtores participantes da Conferência, resume assim o seu sentimento em relação ao desenvolvimento rural sustentável: “Não há sobrevivência da agricultura familiar fora do modelo tecnológico sustentável. A pesquisa, a extensão e a universidade precisam nos ajudar a trilhar este caminho. Com isto podemos construir uma sociedade mais justa, tanto para o homem do campo como para o habitante urbano que vai consumir nossos alimentos mais saudáveis”.
Finalizando, vale destacar que ao final da Conferência aconteceu o momento mais esperado e, inclusive, um fato histórico, nunca antes ocorrido. Pela primeira vez, entidades governamentais e não governamentais, com a presença de associações e movimen-
“Pequena propriedade degrada menos o ambiente e produz mais emprego.” tos organizados de agricultores, assina-ram um documento, uma agenda de compromisso, com vistas a desenvolver conjuntamente ações e projetos que buscam transformar o mundo rural na direção do desenvolvimento sustentável.
“Entidades públicas, ONGs e agricultores firmam convênio de cooperação.” Não obstante a boa vontade e entusiasmo de todos, reconheceu-se que o trabalho em agricultura sustentável é mais complexo que o da agricultura por pacotes tecnológicos. Para aumentar a adesão dos agricultores e técnicos, concordou-se que o programa de microbacias é uma ferramenta importante para implantar o novo processo. Além disso, enumeraramse, ainda, a formação de um banco de dados, a instalação de unidades de observação pela pesquisa e extensão, estimular o intercâmbio interinstitucional, promover pesquisas em 14
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Adubação
Avaliação do esterco de aves e da uréia como fontes de nitrogênio para a cultura do milho Eloi Erhard Scherer
A
cama de aviário, de criações de frango de corte, é um dos adubos orgânicos mais utilizados na região Oeste Catarinense. A maior parte desse adubo orgânico é utilizada no milho, que é a cultura de maior expressão e tradição de cultivo na região, pois ocupa o primeiro lugar em relação à área plantada e número de produtores envolvidos. Com a expansão da avicultura e da suinocultura comercial e com a maior utilização de rações concentradas à base de milho, a demanda regional desse cereal aumentou muito nos últimos anos. Isso trouxe maior estímulo para seu cultivo e, principalmente, para adoção de novas tecnologias, visando alcançar maior produção e produtividade. Uma das características mais marcantes nos últimos anos, no que diz respeito à tecnologia da adubação, foi o aproveitamento do esterco de frangos na adubação do milho, com reflexos altamente positivos na produtividade. As pesquisas com aproveitamento do esterco de frangos na adubação foram iniciadas em 1976, na antiga Estação Experimental de Chapecó, hoje Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades. Inicialmente, objetivou--se avaliar a eficiência agronômica do esterco disponível, visando a substituição da adubação química, dando maior ênfase aos trabalhos com adubo fosfatado com feijão e milho. Os resultados obtidos mostraram a viabilidade técnica e econômica da utilização desse adubo orgânico em substituição ou suplementação à adubação fosfatada (1 e 2). No que se refere ao aproveitamento do esterco de frangos para suprimento de nitrogênio para a cultura do milho, muito pouco foi pesquisado, no que se relaciona a substituição ou complementação Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
da adubação nitrogenada por esterco de frangos. O milho, por ser uma cultura que remove grandes quantidades de nitrogênio do solo, requer adubação nitrogenada para complementar a quantidade suprida pelo solo, quando se deseja produtividade elevada. Por isso, um melhor entendimento das interações do esterco de frangos e do nitrogênio do adubo com as características do solo constitui fator importante para a maximização do seu aproveitamento pelas plantas e, por conseguinte, para maior eficiência da adubação. Neste trabalho são apresentados os resultados de dois ensaios com esterco de frangos em combinação com adubo nitrogenado, conduzidos na região de Chapecó, SC. O principal objetivo da pesquisa foi avaliar o efeito do esterco de frangos e sua interação com a adubação nitrogenada no fornecimento de nitrogênio para a cultura do milho.
no Latossolo). Foram avaliadas doses de 0, 3, 6, 9 e 12t/ha de esterco de frango (base seca), com cama de maravalha, em combinação com 0, 40, 80 e 120kg/ha de nitrogênio, na forma de uréia. No experimento instalado sobre um Latossolo as doses de esterco foram reaplicadas anualmente, com exceção da maior dose (12t/ha), enquanto que sobre o Cambissolo elas foram aplicadas somente antes do primeiro cultivo. O adubo nitrogenado foi aplicado anualmente, um terço na base e dois terços em cobertura. Tanto o esterco como o adubo mineral foram distribuídos a lanço e incorporados com grade de discos. A semeadura da cultura foi feita no mesmo dia da incorporação dos adubos, nos meses de setembro ou outubro, usando-se o híbrido de milho de porte médio AG-64, com espaçamento de 1m entre linhas e uma densidade de 50 mil plantas por hectare. A adubação de manutenção foi feita de acordo com as Tabelas de Recomendação de Adubos e Corretivos (3), com aplicações anuais de 80kg/ha de P2O 5 e 90kg/ha de K2O. As fontes de nutrientes foram superfosfato triplo e cloreto de potássio. A pesquisa foi conduzida por três anos no Latossolo e por dois anos no Cambissolo. Na Tabela 1 são apresentados os teores médios de nitrogênio, fósforo,
Condução da pesquisa Os experimentos foram conduzidos a campo em dois solos representativos da região Oeste Catarinense: em Latossolo e Cambissolo. Ambos os solos vinham sendo cultivados anteriormente com milho e apresentaram um teor de matéria orgânica de baixo (2,5% no Cambissolo) a médio (4,0%
Tabela 1 - Teores de nitrogênio, fósforo, potássio e de matéria seca do esterco de frango, com cama de maravalha, utilizado nos experimentos Experimento (solo)
Esterco de frango
N
P2O5
K2 O
Matéria seca
-----------------------------%---------------------------Latossolo Cambissolo
4 lotes 2 lotes
3,0 2,6
4,5 3,9
3,0 2,2
66 72
15
Adubação
potássio e matéria seca do esterco usado nos experimentos. Após a colheita de cada cultivo, foram coletadas amostras de solo da camada arável, para análise de rotina, visando acompanhar as alterações nas propriedades do solo, em função dos tratamentos aplicados.
Resultados obtidos Efeito na produção de grãos Na Figura 1 estão representadas as produções médias de milho, de forma cumulativa, somatório dos três anos de cultivo, obtidas no Latossolo, em função dos tratamentos com esterco de frango e uréia. Em todos os anos o milho respondeu positivamente à adubação nitrogenada e à adição de esterco de frangos. Maiores incrementos na produção de grãos foram alcançados com a menor dose de uréia. Não foram detectadas diferenças significativas no rendimento de grãos entre doses de nitrogênio em qualquer nível de esterco ou mesmo na ausência desse. Dessa maneira, deixou-se de apresentar no gráfico as produções da maior dose de uréia (120kg N/ha). No primeiro ano, a resposta da cultura à adubação com esterco foi positiva até a aplicação de 6t/ha. Doses superiores (9 e 12t/ha) não diferiram desta e nem entre si. No tratamento com a menor dose de esterco (3t/ha), verificou-se uma resposta positiva à adubação nitrogenada suplementar de 40kg/ha de nitrogênio, porém sem vantagem na produção de grãos sobre o tratamento com aplicação de 40kg/ha de nitrogênio sem esterco. Nos dois anos subseqüentes, a tendência de resposta da cultura, nos tratamentos com reaplicação de esterco, foi semelhante àquela do primeiro ano, ou seja, resposta positiva até 6t/ha de esterco ou combinação de 3t/ha de esterco com 40kg/ha de N, que por sua vez não diferiu estatisticamente do tratamento com apenas 40kg N/ha. Quando o esterco não foi reaplicado anualmente, isto é, foi aplicado somente no primeiro ano (tratamento com 12t/ha de esterco), verificou-se uma resposta positiva do milho à apli16
Figura 1 - Efeito do esterco de frangos e da adubação nitrogenada na produção de milho no Latossolo (três anos)
cação de 40kg de nitrogênio, a partir do segundo ano. Isto mostra que mesmo uma aplicação maciça de 12t/ha de esterco não é capaz de suprir a demanda de nitrogênio da cultura por duas ou mais safras. Contudo, o efeito residual do esterco existe, só que em menor escala, como comprovam os aumentos na produção de 1,2t/ha do segundo ano e 1,4t/ha do terceiro ano, respectivamente 47 e 32% em relação ao tratamento sem esterco e adubo nitrogenado. Em produção, o efeito residual de 12t de esterco pode ser comparado a uma aplicação de 40kg de nitrogênio, na forma de uréia. Quando a decisão é substituir a adubação nitrogenada por esterco, a aplicação anual de doses menores, até 6t, parece ser a melhor alternativa. Outra alternativa seria a aplicação de 6t/ha de esterco no primeiro ano e fazer uma suplementação de 40kg/ha de nitrogênio com uréia, nos anos subseqüentes. As produções médias de milho, do experimento conduzido no Cambissolo, indicam uma maior resposta da cultura à adubação com esterco e nitrogênio nessa unidade de solo (Figura 2). No primeiro ano, os maiores tetos de produtividade foram alcançados com a aplicação de 80kg/ha de nitrogê-
nio, na ausência de esterco e de 120kg/ ha quando combinado com 6t/ha esterco. Essa maior resposta à adubação nitrogenada, em combinação com esterco, nesse solo, bem como a diferença de comportamento entre os dois solos quanto à interação dos tratamentos (esterco x adubo nitrogenado), pode estar relacionada mais ao tipo de esterco utilizado, do que propriamente à diferença nas características dos solos. A maior resposta da cultura à adubação nitrogenada no Cambissolo pode ser atribuída ao menor teor de matéria orgânica desse e, principalmente, ao tipo de esterco utilizado. Nesse solo foi usada cama de dois lotes de frango, ou seja, com mais maravalha e menos dejetos, enquanto que no experimento do Latossolo o esterco era de quatro lotes, mais rico em nutrientes (Tabela 1) e, proporcionalmente, com menor conteúdo de maravalha. Com isso, uma maior proporção do nitrogênio inorgânico pode ter sido imobilizado com o aumento da disponibilidade de material energético, adicionado com o esterco. Além disso, a cama de maravalha, rica em celulose e lignina, de difícil decomposição, pode ter contribuído para uma imobilização mais prolongada do nitrogênio no solo. Nesse caso, estabelece-se uma competição Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Adubação
Figura 2 - Efeito do esterco de frangos e da adubação nitrogenada na produção de milho no Cambissolo (1o Ano = efeito imediato do esterco e 2o Ano = efeito residual do esterco)
por nutrientes entre microorganismos e plantas e, quando o nível de N-inorgânico do solo for insuficiente para atender as necessidades de ambos, as plantas são desfavorecidas, uma vez que, nestas circunstâncias, são fracas competidoras pelo nutriente (4). Em função disso, verificou-se, também, uma maior resposta da cultura à adubação nitrogenada no Cambissolo no segundo ano, principalmente quando aplicada nos tratamentos com esterco residual. Nestes foi verificada uma resposta positiva para uma aplicação de 120kg/ha de nitrogênio no nível resi-dual de 12t/ ha de esterco. Os dados de produção dos tratamentos sem adubo nitrogenado confirmam o baixo efeito residual do adubo esterco de frangos no fornecimento de nitrogênio, já constatado no Latossolo. Isso mostra que, dependendo da qualidade do esterco, principalmente no que se refere ao conteúdo de cama e relação C/N, uma suplementação com nitrogênio, através da adubação mineral, pode ser vantajosa. O benefício da aduba-ção nitrogenada pode ser mais significativo quando o esterco não for apli-cado regularmente antes de cada cultivo. Quando a decisão for substituir a Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
adubação nitrogenada por esterco, esse deverá ser de boa qualidade e aplicado antes de cada cultivo. Uma aplicação anual de 3t/ha de cama de aviário de frangos pode substituir uma adubação nitrogenada de 40kg/ha, aplicada como uréia. Efeito nas características do solo O esterco de frango pode, da mesma forma como quase todo resíduo orgânico, alterar algumas características químicas e físicas do solo, relacionadas ao suprimento de nutrientes
para as plantas. As análises de solo, realizadas durante o período experimental, mostraram que ocorreu um aumento dos teores de fósforo e potássio disponíveis em ambos os solos, destacandose, principalmente, o fósforo com expressivos aumentos, na medida em que maiores doses de esterco foram incorporadas (Tabela 2). Um acúmulo de fósforo caracteriza um aumento do efeito resi-dual do esterco no solo e uma maior disponibilidade potencial desse nu-triente para as plantas. Em solos bem providos de fósforo, uma aplicação anual de 3t/ha de esterco é suficiente para repor a quantidade de fósforo extraída pela cultura do milho, mantendo ou inclusive aumentando, devido ao seu efeito residual cumulativo, a disponibilidade desse nutriente ao longo dos anos. Isso significa que solos que recebem aplicações anuais superiores a 3t/ha de esterco tendem a apresentar altos teores de fósforo e potássio extraíveis. Nessas condições de lavoura, com altos teores de fósforo disponível, muito comum em propriedades com aviário, uma adubação nitrogenada muitas vezes é suficiente para alcançar altas produções de milho e reduzir os custos de produção (5). Por isso, o produtor deve dar preferência a utilização do esterco em áreas carentes com fósforo e potássio. Caso todas suas áreas de terra estiverem bem supridas desses nutrientes, o produtor poderá optar pela compra do adubo nitrogenado e venda do esterco, já que seu preço de mercado é,
Tabela 2 - Evolução dos teores de fósforo no Latossolo com a aplicação de esterco por três anos consecutivos Esterco de frango - t/ha
Ano 0
3
6
9
12
-------------------------------------------ppm-----------------------------------------1
7,7
10,6
14,7
17,0
18,9
2
7,4
13,3
20,7
21,0
15,9(A)
3
8,2
18,2
25,6
32,6
15,3(A)
(A)Residual, sem reaplicação do esterco.
17
Adubação
normalmente, altamente compensador. A manutenção dos teores de fósforo disponível, verificada na parcela testemunha, pode ser explicada pela adubação básica, que constava da aplicação anual de 80kg/ha de P2O5 e 90kg/ha de K2 O, na forma de superfosfato triplo e cloreto de potássio, respectivamente. A aplicação inicial de esterco na quantidade de até 12t/ha, ou mesmo 9t/ha, reaplicadas por três anos consecutivos, não alterou os teores de matéria orgânica e valores de pH no Latossolo. Isto indica que maior parte dos compostos orgânicos do esterco foram mineralizados imediatamente e muito poucos passaram para a forma de húmus estável no solo. Cabe esclarecer, entretanto, que grande parte da maravalha, usada como cama, é de difícil decomposição no solo e, na sua grande parte, não é determinada pelo método da combustão húmida (3). Isso significa que a adição de esterco, na quantidade necessária para atender a demanda de nutrientes das culturas, tem, normalmente, pouco efeito no nível de matéria orgânica do solo; somente com o uso mais intensivo e com a aplicação de quantidades elevadas por vários anos consecutivos é possível conseguir um aumento mensurável no conteúdo de matéria orgânica do solo (6). O efeito do esterco sobre o pH de solos argilosos altamente tamponados, como são grande parte dos solos da região Oeste, é insignificante, em função das pequenas quantidades de esterco aplicadas. Logo após a aplicação do esterco pode ocorrer, pela presença de pequenas quantidades de óxido ou hidróxido de cálcio e amônia, uma elevação temporária no pH do solo. Porém, poucos dias ou semanas após, com a nitrificação do nitrogênio amoniacal, haverá liberação de íons H+ e o pH do solo volta novamente ao seu valor ini-cial.
Considerações finais De modo geral, o emprego de adubo nitrogenado e/ou esterco de frango constitui fator importante para a obtenção de altas produtividades de milho nos solos da região. Os resultados obtidos no presente 18
trabalho indicam que o esterco pode substituir parcialmente ou totalmente a adubação nitrogenada mineral na cultura do milho, dependendo da quantidade aplicada. Para uma mesma quantidade de nitrogênio aplicada, o nutriente da uréia é mais eficientemente aproveitado pela cultura do que aquele contido no esterco, resultando em maior produção de grãos. Por outro lado, o nitrogênio do esterco, devido a mineralização gra-dual dos compostos orgânicos, apresenta maior efeito residual no solo. Para um melhor aproveitamento do nitrogênio do esterco de frango e para manter uma elevada produtividade de milho, necessário se faz a aplicação de esterco antes de cada cultivo ou fazer uma adubação complementar com adubo nitrogenado, a partir do segundo ano. Em solos com baixo ou médio potencial de resposta à adubação nitrogenada, uma aplicação anual de 6t/ha de esterco mostrou ser suficiente, para atender a demanda de nitrogênio da cultura do milho. Solos com maior potencial de resposta necessitam, em geral, de adubação mineral complementar, variável com o teto de produtividade esperado (3). Podem ser considerados solos com alto potencial de resposta à adubação nitrogenada aqueles com acidez corrigida, baixo teor de matéria orgânica (<2,5%) e que, por muitos anos, vêm sendo continuamente cultivados com milho ou outros cereais. Solos com baixa resposta esperada são aqueles com maior teor de matéria orgânica ou nos quais houve cultivo intenso de leguminosas de grãos ou de adubos verdes antes do milho, ou que receberam calagem há pouco tempo. Dependendo da qualidade do esterco, da quantidade de cama presente e da relação C/N, a adubação nitrogenada suplementar com uréia poderá ser benéfica, melhorando a disponibilidade de nitrogênio para as plantas (6). O esterco com cama de um ou dois lotes de frangos apresenta, em geral, uma maior proporção de maravalha e uma maior relação C/ N, resultando numa maior imobilização do nitrogênio adi-cionado ao solo com o adubo orgânico. A consistência dos valores de fósfo-
ro e potássio no solo, encontrados após cada nova aplicação de esterco, mostra o alto efeito residual desse adubo orgânico quanto à disponibilidade desses elementos. Uma aplicação anual de 3t/ha de esterco mostrou ser suficiente para manter os teores de fósforo e potássio no solo, sem necessidade de adubação mineral complementar. Aplicações superiores a 3t/ha de esterco proporcionam o acúmulo de fósforo e potássio no solo, aumentando seu efeito residual. Nessas condições de lavoura, o problema mais crítico para obtenção de maiores produtividades passa a ser a utilização racional de adubo nitrogenado, seja através de uma aplicação isolada de uréia ou em combinação com esterco.
Agradecimentos O autor agradece aos engenheiros agrônomos Evandir Godoy de Castilhos e Ivo Jucksch, ex-pesquisadores do CPPP, que contribuíram na condução dos experimentos e na realização deste trabalho.
Literatura citada 1. SCHERER, E.E.; NADAL, R. de; CASTILHOS, E.G. de Utilização de esterco de aves e adubo fosfatado na cultura do milho. Florianópolis: EMPASC, 1986. 32p. (EMPASC. Boletim Técnico, 35). 2. SCHERER, E.E.; CASTILHOS, E.G. de; JUCKSCH, I.; DITTRICH, R.C. Efeito imediato e residual do esterco de aves e do adubo fosfatado no rendimento de milho e feijão em sistema de cultivo associado. In: CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO, 15, 1984. Maceió, Al. Anais. Maceió: EMBRAPA, 1984. p. 89-92. 3. SIQUEIRA, O.J.F. de; SCHERER, E.E.; TASSINARI, G.; ANGHINONI, I.; PATELLA, J.F.; TEDESCO, M.J.; MILAN, P.A.; ERNANI, P.R. Recomendações de adubação e calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Passo Fundo: EMBRAPA-CNPT, 1987. 100p. 4. ALEXANDER, M. Introduction to soil microbiology. 2.ed. New York: J. Wiley, 1977. 467p. 5. SCHERER, E.E.; DAGOSTINI, V.; WILDNER, L.P.; NADAL, R. de; SILVESTRO, M.L.; SORRENSON, W.J. Esterco de aves e nitrogênio em milho nas pequenas propriedades. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.4, n.2, p.811, 1991. 6. REDDY, K.R.; KHALEEL, R.; OVERCASH, M.R.; WESTERMAN, P.W. A monpoint source model for land areas receiving animal wastes: I. Mineralization of organic nitrogen.Transactions of the American Society of Agricultural Engineering, Michigan, v.22, n.4, p.863-872, 1979. Eloi Erhard Scherer, eng. agr., Ph.D., Cart. Prof. no 9.622-D, CREA-SC, EPAGRI-Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades/CPPP, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877, Fax (0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SC.
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Gado leiteiro
Duração da lactação, intervalo de partos e produção de leite no rebanho leiteiro do Leste de Santa Catarina Amaro Hillesheim e Henri Stuker
S
egundo o Instituto CEPA, SC, (1) com base no Censo Agropecuário de 1985, o Estado de Santa Catarina tinha, naquele ano, em torno de 110.000 estabelecimentos rurais com rebanhos leiteiros. Registra ainda que 90% dos produtores de leite possuíam áreas inferiores a 50ha e que 61% dos produtores possuíam até 10 vacas, 26% entre 10 e 20 vacas e 13% possuíam mais de 20 vacas. Estes rebanhos apresentavam em média 9,3 cabeças, sendo 3,7 vacas com uma produtividades média anual de 1.207 litros/vaca/ano. O Instituto CEPA, SC, classifica os produtores de leite do Estado em três níveis. Nível A: são os produtores que têm na venda de reprodutores a principal finalidade; Nível B: são os produtores que têm a venda de leite como o principal objetivo; Nível C: são os vendedores eventuais de leite, sendo o autoconsumo a principal finalidade. A produção de leite como atividade comercial tem nos produtores do Nível B sua principal base. Por isso, o Instituto CEPA, SC, ainda subdivide o Nível B em dois subníveis: aqueles que têm no leite a principal fonte de renda, estimados em torno de 5.000 produtores no Estado, e aqueles que têm outra atividade como principal fonte de renda, estimados em torno de 30.000 produtores. O primeiro subnível, quando se observam os dados das indústrias, deve ser constituído dos mesmos produtores que fornecem mais de 20 litros/leite/ dia. Em Santa Catarina, as informações sobre a atividade leiteira se restringem praticamente às apresentadas anteriormente, ou pelo menos se si-tuam no mesmo nível, tendo, em regra, como base os censos do IBGE ou informações das indústrias sob inspeção federal. Pouco se tem em detalhe sobre o real desempenho dos diversos tipos de rebaAgrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
nhos nas diferentes regiões do Estado. Informações detalhadas sobre o principal nível de produtores de leite são fundamentais para que se possa promover com maior eficiência sua tec-nificação e melhorar seu desempenho. Diante deste panorama, o presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de levantar informações, em nível de produtor, sobre os rebanhos dos produtores de leite que têm nesta atividade a sua principal fonte de renda, ou seja, produtores do Nível B no primeiro subnível, localizados na região Leste de Santa Catarina. Estas informações foram estudadas com a finalidade de conhecer melhor a tecnologia deste estrato de produtores.
Material e métodos Entre 1980 e 1990, os técnicos da ex-EMPASC visitaram mensalmente um grupo de produtores de leite na região Leste do Estado. Os produtores visitados eram proprietários de áreas infe-riores a 50ha, utilizavam mão-deobra familiar, e o leite era a sua principal fonte de renda. Diversos produtores utilizavam inseminação artificial e faziam algum tipo de vacinação. A suplementação com volumosos in natura picados era feita em praticamente todos os estabelecimentos, porém nem todos faziam silagem ou usavam ração com critérios técnicos. Estes produtores estavam distribuídos em quatro microrregiões geográficas (MRG) dentro da região Leste: MRG de Joinville, Blumenau, Rio do Sul e Tubarão. Também foi incluída a unidade de produção de leite da Estação Experimental de Itajaí/ EMPASC, que foi mantida isolada para referência. No trabalho de acompanhamento
dos produtores, entre outras anotações, também se registravam os eventos de reprodução animal e a produção de leite. Até 1994 foram acompanhados três produtores, das microrregiões de Blumenau e Itajaí. Porém de 1985 a 1989 o número de produtores visitados se manteve entre 13 e 19, pois foram escolhidos dois produtores com tecnologia mais avançada e dois produtores bem típicos da média, em cada microrregião. Houve desistências e trocas de produtores acompanhados, tanto que em 1990 se encerrou o acompanhamento com cinco produtores. Aproximadamente 15% das vacas poderiam ser classificadas como PC Holandesas, 10% PC Jersey, 30% Mestiças Holandesas, 20% Mestiças Jersey e 25% sem raça definida ou mestiças de outras raças. Apenas os registros que apresentavam dois partos seguidos com controle leiteiro da respectiva lactação foram aproveitados neste estudo. Desta forma, para cada registro, dispunha-se da duração da lactação, intervalo de partos e a produção de leite média por dia de intervalo de partos. Assim foram obtidas 675 observações, referentes a 327 vacas de 25 produtores. Procedeu-se a análise de variância pelo método dos quadrados mínimos sendo os fatores microrregião, produtor dentro da microrregião, mês, ano e ordem de parto para as três variáveis já mencionadas.
Resultados e discussão Na Tabela 1 constam as freqüências com que os registros obtidos se enquadraram nas diversas classes. Assim, se observa que ocorreram lactações com duração de 137 até 624 dias, porém 60% das lactações se concentraram entre 259 e 350 dias, e somente 23% se situaram entre 290 e 19
Gado leiteiro
319 dias, que seria a banda ideal. Os intervalos entre partos variaram de 260 a 746 dias, porém 64% desses intervalos ocorreram entre 320 e 411 dias e apenas 21% se situaram na banda ideal, entre 350 e 380 dias. A produção média diária, ou a produção média por dia de intervalo de partos, é obtida dividindo-se a produção total de leite de uma lactação pelo intervalo de partos, ou seja, a duração da lactação mais o período seco. Por isso, é sem dúvida a variável mais importante, pois sintetiza todo o desempenho produtivo e reprodutivo de uma vaca ou de um rebanho. Assim, neste estudo, a produção média por dia de intervalo de partos variou de 1,51 litro/dia até 12,50 litros. A grande concentração (54%) se situou de 4,51 a 7,50 litros/dia. As médias gerais e o desempenho de cada microrregião constam na Tabela 2. A média da duração da lactação foi de 310 dias, muito próxima do padrão, que é de 305 dias de lactação. Como média, este resultado seria ótimo, porém isto não significa genericamente que os produtores atingiram sempre uma lactação com duração correta, pois um grande número apresentou lactações muito curtas e outras lactações muito longas, o que, por coincidência, resultou numa média quase ideal. A média do intervalo de partos foi de 390 dias, o que foi, de certa forma, inesperado, pois são raros os trabalhos ou levantamentos com intervalos de parto tão próximos do almejado, que é de 365 dias. Para ter-se uma idéia, constatou-se uma média de 416 dias num estudo envolvendo 29 rebanhos na evoluída bacia leiteira de Castrolanda, no Paraná (2). Em Santa Catarina, foi estimado que os produtores médios provavelmente teriam uma taxa de natalidade de 50% e as granjas leiteiras evoluídas uma taxa de 70% (3). Isto convertido para intervalo de partos equivale a 24 e 17 meses, res-pectivamente. Porém, a média de 390 dias de intervalo de partos não significa que tudo esteja indo muito bem, pois constataram-se 36% de intervalos de parto muito curtos, inferiores a 350 dias, e também 20
Tabela 1 - Classes e freqüência das observações das variáveis duração da lactação (DL), intervalo de partos (IP) e produção média diária de leite (PL/IP) Número de Classes classes (dias) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
137 168 198 229 259 290 320 351 381 412 442 472 503 534 564 595
Total
-
167 197 228 258 289 319 350 380 411 441 471 502 533 563 594 624
-
DL
IP
Freqüência (no) 5 7 33 87 168 154 83 40 34 29 7 12 9 2 3 2 675
PL/IP
Classes Freqüência (dias) (no) 260 290 320 351 381 412 442 472 503 534 564 595 625 656 686 717
-
289 319 350 380 411 441 471 502 533 563 594 624 655 685 716 746
-
Classes Freqüência (litro/dia) (no)
7 58 179 145 110 54 30 28 17 14 18 3 3 4 4 1
1,51 - 2,50 2,51 - 3,50 3,51 - 4,50 4,51 - 5,50 5,51 - 6,50 6,51 - 7,50 7,51 - 8,50 8,51 - 9,50 9,51 - 10,50 10,51 - 11,50 11,51 - 12,50 -
17 43 56 116 138 109 77 55 39 16 9 -
675
-
675
Tabela 2 - Número de observações, número de matrizes, médias da duração da lactação (DL), intervalo de partos (IP) e produção média diária de leite (PL/IP), segundo as microrregiões do Leste de Santa Catarina Microrregião
Número Número de obserde vações matrizes
DL (dias)
IP (dias)
PL/IP (kg/dia)
Média geral Significância para microrregião
675
327
310 **
390 **
6,5 **
Itajaí/EMPASC
110
37
301
373
7,4
136 159 195 75
90 72 81 47
301 330 304 314
373 404 388 420
6,8 6,4 6,3 5,0
Joinville Blumenau Rio do Sul Tubarão Nota: ** (P < 0,01), pelo teste F.
18% de intervalos demasiadamente longos, supe-riores a 440 dias. Contudo, tanto a média de 390 dias de intervalos de partos como o expressivo número de intervalos muito curtos ou ainda infe-riores a 440 dias parecem sugerir que o produtor desta região tem no desempenho reprodutivo um forte critério de descarte. A duração da lactação registrada entre os produtores parece conseqüência do intervalo de partos, pois parece ser tradição a secagem das vacas no sétimo mês de prenhez. Porém, uma certa percentagem de intervalos de parto muito longos, aliada a
lactações curtas, fez com que o período seco médio atingisse 80 dias, o que naturalmente não seria bem o ideal (2). A produtividade média deste acompanhamento de propriedades foi de 6,5kg/vaca/dia. A produtividade média geral do Estado é de 3,3 litros/ vaca/dia (4). Esta produtividade se refere a todas vacas do Estado, mesmo daqueles proprietários que não têm no leite uma fonte de renda. Mas, quando se trata de produtores de leite que têm nesta atividade a principal fonte de renda, estima-se uma produção média de 4,0 a 11,0 litros/vaca/dia (1). Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Gado leiteiro
A produtividade média registrada em Castrolanda, no Paraná (2), foi superior a 12,0kg/vaca/dia. Um rebanho Holandês, tido como especializado, em Minas Gerais, registrou uma média de 9,8kg/dia (5). Relatou-se uma média de 6,5 kg/vaca/dia num rebanho mestiço Holandês-Zebu (6). Desta forma, se verificou que, no Leste Catarinense, se os rebanhos dos produtores que têm no leite sua principal fonte de renda possuem uma duração de lactação e intervalo de partos quase ideais, ainda são fracos na produção de leite. Se, talvez, os produtores são eficientes efetuando descartes e selecionando animais em função de problemas reprodutivos, provavelmente não atuam com a mesma eficiência em relação à produção de leite. É certo que os produtores não fazem o mínimo de controle individual das produções em seus rebanhos. Durante o acompanhamento destas propriedades, em várias ocasiões, os produtores mostraram-se muito surpresos com algumas das produções de suas vacas. Daí se deduz que na maioria das vezes o produtor sequer tem noção correta das produções do seu rebanho. Constatou--se ainda que apenas em casos extremos os produtores fazem algum descarte em função de baixa produção. Na análise da variância o fator microrregião foi altamente significativo (P < 0,01) para todas as variáveis. A produção na ex-EMPASC foi mantida isolada como referência. Quanto às microrregiões, observa-se que o melhor desempenho coube à microrregião de Joinville, que teve uma duração de lactação e intervalo de partos muito próximos do ideal e a melhor produção de leite entre as microrre-giões. A microrregião de Blumenau teve lactações exageradamente longas com intervalo de partos também elevado no contexto deste estudo. O intervalo de partos foi o responsável direto pela menor produção de leite por dia de intervalo de partos na comparação com a microrregião de Joinville. O desempenho da microrregião de Rio do Sul, quanto à duração da lactação e intervalo de partos, também está próximo do padrão de 305 dias e muito semelhante ao da microrregião de Joinville, porém, com produção de leite por dia Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
de intervalo de partos ainda mais baixa, talvez pela maior presença de vacas Jersey ou mestiças, ou devido a fatores ambientais, como inverno mais rigoroso, por exemplo. A microrregião de Tubarão, comparada com as outras microrregiões, apresentou resultados que refletem uma menor tradição leiteira, com alta presença de vacas mestiças. A classificação dos produtores de acordo com a produção média diária de leite, dentro de cada microrregião, consta na Tabela 3. Na análise da variância o fator rebanho dentro de microrregião foi altamente significativo (P < 0,01) para todas as variáveis. Por isso, observa-se que existe uma variação bem acentuada entre os produtores, especialmente na produção
de leite. Observa-se que não ocorreu uma relação clara entre a produção média diária e intervalo de partos. Mas, observa-se que grande parte dos produtores têm em seus rebanhos uma relação muito estreita entre a duração da lactação e o intervalo de partos, resultando, em média, em período seco ideal de 5 a 60 dias (2). Entre os produtores com os mais baixos índices, predominaram os que tinham animais da raça Holandesa com manejo deficiente e outras com animais azebuados. Alguns rebanhos com duração da lactação e intervalo de parto longos, e com média ou baixa produção diária, representam uma quantidade expressiva de produtores tradi-cionais, com certa resistência a
Tabela 3 - Número de observações, número de matrizes, médias da duração da lactação (DL), intervalo de partos (IP) e produção média diária de leite (PL/IP), segundo os produtores acompanhados nas microrregiões do Leste de Santa Catarina
Microrregião
Número Número Produtor DL IP PL/IP de de (código) observa(dias) (dias) (kg/dia) matrizes ções 675
Média geral Significância para produtor (microrregião) Itajaí/EMPASC
327
310
390
6,5
**
**
**
201
110
37
301
373
7,4
Joinville
108 107 101 102 105 103 104 106 109
16 16 12 20 5 21 17 18 11
13 12 12 11 5 12 7 11 7
303 307 277 293 275 294 316 318 311
362 388 365 359 347 364 383 383 395
9,5 7,2 6,9 6,9 6,8 6,6 6,6 6,4 3,9
Blumenau
306 303 305 302 304 307
7 47 18 40 36 11
7 16 10 16 13 10
323 326 328 295 367 364
378 402 386 376 434 473
7,6 7,2 6,8 6,4 5,8 4,1
Rio do Sul
405 406 407 404 408
61 50 9 33 42
24 21 7 15 14
320 311 305 285 288
384 386 364 407 388
7,5 7,3 5,5 5,1 4,3
Tubarão
703 701 704 702
19 18 23 15
11 10 13 13
278 336 348 279
367 423 479 395
6,5 6,0 4,4 3,1
Nota: ** (P < 0,01), pelo teste F.
21
Gado leiteiro
inovações tecnológicas. Salienta-se que alguns produtores eram destacados como de alto nível tecnológico e possuíam animais de elite quanto à genealogia e até mesmo em produção. Porém, também possuíam animais de baixa produção, ou defi-cientes na reprodução, e assim prejudicando a média do rebanho. Observa-se que não houve rebanhos com produção de leite muito elevada, porém na maioria foram bons os índices referentes a intervalo de partos. A Tabela 4 contém os resultados referentes ao mês do parto. Na análise de variância constatou-se que o efeito do mês de parto não se mostrou significativo (P > 0,05) sobre as variáveis estudadas. O mês de parição, às vezes, apresenta efeito significativo sobre a duração da lactação (2). Porém, o efeito do mês de parto sobre o intervalo de partos é poucas vezes constatado (2 e 6). Já a produção de leite freqüentemente é afetada pelo mês do parto, especialmente em regiões com inverno muito rigoroso ou estação seca (2 e 6). No presente estudo, o fato de não ter sido constatada influência do mês do parto sobre a duração da lactação, intervalo de partos e produção de leite pode ser explicado pelo fato de não ocorrer estação seca definida ou inverno rigoroso no Litoral Catarinense;
ou então os produtores acompanhados já dispõem de meios técnicos para superar a deficiência de pastagens no inverno. Isto não significa que em determinado mês do ano não ocorram menores produções médias de leite, mas se isto acontecer, deve haver também uma recuperação da produção a tal ponto que nas comparações da produção global de um intervalo de partos, o mês em que ocorreu o parto não tenha influência nesta região do Estado. Observa-se que ocorre uma concentração de partos no período abriljulho e no mês de dezembro. A concentração de abril a julho provavelmente decorre do esforço para maior produção de leite no período de formação de cota de leite junto às indústrias, ou da melhor oferta de pastagens no período das respectivas coberturas das vacas. Esta mesma concentração de partos de abril a julho provavelmente seja também o maior responsável pelos menores volumes de leite recebidos pelas indústrias no mesmo período (1), pois é o período seco dessas mesmas vacas. As vacas que pariram em dezembro tiveram a cobertura fértil no mês de março. Esta concentração pode ter ocorrido devido ao efeito do calor nas vacas sujeitas à cobertura nos meses de dezembro a fevereiro. Estes são os meses de temperatura mais elevada do ano, quando
Tabela 4 - Número de observações, médias da duração da lactação (DL), intervalo de parto (IP) e produção média diária de leite (PL/IP), segundo o mês do parto Mês do parto
Número de observações
Distribuição (%)
DL (dias)
IP (dias)
PL/IP (kg/dia)
Média geral Significância para mês de parto
675
100
310
390
6,5
ns
ns
ns
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
49 47 43 58 65 66 78 47 50 49 55 68
299 318 293 309 301 309 315 311 326 336 310 300
370 394 373 379 383 398 395 380 403 428 396 379
6,7 6,6 6,6 6,5 6,4 6,4 6,5 7,0 6,2 5,7 6,5 6,4
Nota: ns (P > 0,05), pelo teste F.
22
7 7 6 9 10 10 12 7 7 7 8 10
o calor é intenso, especialmente nas microrregiões de Joinville e Blumenau. Há referências de que em períodos mui-to quentes a incidência de reabsorções embrionárias é maior, fato que explicaria aquela concentração de partos.
Conclusões • Nesta amostra, que se refere aos produtores que têm no leite a sua principal fonte de renda, a duração da lactação e o intervalo de partos são me-lhores que os índices encontrados na literatura em nível nacional e também sugeridos nas estatísticas estaduais, porém a produção de leite parece bem típica deste nível de produtores. • Entre os fatores estudados, o fator de maiores contrastes é o fator “produtor”, o que indica uma grande diversidade na tecnologia em uso. Isto indica um campo tecnológico propício para evoluir, pois bastaria que os produtores menos evoluídos adotassem a tecnologia já em uso pelos produtores mais evoluídos para que a produtividade aumentasse rapidamente. • A influência climática, ao longo do ano, não é um fator tão problemático, como normalmente se imagina ou, então, a tecnologia em uso supera as eventuais dificuldades.
Recomendações Deve-se enfatizar junto aos produtores o período ideal de coberturas de 45 a 90 dias, evitando coberturas precoces, especialmente no caso dos produtores que utilizam touro, e incentivá-los a procurar assistência veterinária imediatamente após 90 dias sem êxito na cobertura. Uma vez a vaca coberta, deve ser feita a previsão de parto e previsão de secagem com 60 dias de antecedência. A grande ênfase que deve ser dada é na produção de leite. O passo inicial é induzir o produtor a fazer um controle leiteiro próprio para avaliar suas vacas, pois é flagrante o disparate existente entre as vacas do mesmo produtor, com o mesmo manejo, mesma alimentação, etc. Ao mesmo tempo, o produtor deve ser orientado para melhorar gradativamente a alimentação do rebanho. Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Gado leiteiro
Literatura citada 1. INSTITUTO CEPA/SC. Diagnóstico da bovinocultura de leite - CODESUL (versão preliminar). Florianópolis: 1993. 18p.
1977. 203p. 4. INSTITUTO CEPA/SC. Síntese anual da agricultura de Santa Catarina 1990/91. Florianópolis: 1991. v.1.
2. RIBAS, N.P. Fatores de meio e genéticos em características produtivas e reprodutivas de rebanhos Holandeses da bacia de Castrolandia, Estado do Paraná. Viçosa: UFV, 1981. 141p. Tese Mestrado.
5. MADALENA, F.E.; VALENTE, J.; TEODORO, R.L.; MONTEIRO, J.B.N. Produção de leite e intervalo entre partos de vacas HPB e mestiços HPB:Gir num alto nível de manejo. Pesquisa Agropecuária Brasileira , Brasília, v.18, n.2, p.195-200, 1983.
3. GRUMANN, A.; BUFFON, R.L.; SANTA CATARINA, W. Diagnóstico da bovinocultura catarinense. Florianópolis: ACARESC,
6. POLASTRE, R.; PONS, S.B.; BACCARI JÚNIOR, F. Avaliação do programa de
Consórcio de adubo verde com milho: uma boa tática para aumento da cobertura do solo A cobertura do solo é a prática conservacionista isolada que mais contribui para a redução da erosão. Vários estudos têm mostrado que só a cobertura pode diminuir de 60 a 95% da erosão. Não é, portanto, por mera casualidade que o Projeto Microbacias/BIRD elegeu a cobertura do solo como a principal estratégia para reduzir a erosão em Santa Catarina. Para que tenhamos o máximo de cobertura durante o ano todo é necessário desenvolver sistemas de produção que integrem culturas em sucessão, rotação e consorciação, e proporcionem cobertura, em quantidade e qualidade. Com o objetivo de buscar a máxima eficiência da cobertura do solo o CPPP/ EPAGRI/Chapecó está desenvolvendo estudos sobre consórcio de milho com adubos verdes de verão. Estão sendo testadas quatro épocas de semeadura da mucuna cinza, guandu anão, feijão de porco e Crotalaria juncea no meio das fileiras do milho. A primeira época é semeada após a germinação; a segunda em torno dos 50 dias após a semeadura; a terceira, no florescimento; e a quarta, no grão leitoso do milho. Os resultados obtidos até o momento mostram a possibilidade de consórcio do feijão de porco, guandu e crotalária desde a primeira época. No entanto, em situações de lavoura muito inçada, que necessite de aplicação de herbicida, a semeadura do adubo verde deverá ser adiada para a segunda época. A mucuna, no entanto, caso semeada na primeira época, poderá prejudicar a produção de milho. Por isso a recomendação inicial é semeá-la da segunda época em diante. Quanto mais tardia a se-
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
PESQUISA EM ANDAMENTO meadura de qualquer espécie menor o crescimento e produção de massa verde/ massa seca dos adubos verdes. O sistema de consórcio de milho com adubos verdes de verão, em especial com a mucuna e guandu anão, além de possibilitar todas as vantagens da cobertura do solo, pode também ser uma opção para alimentação animal no período de outono, quando as pastagens de verão estão em declínio e as de inverno ainda não têm condições de pastejo. Este trabalho está sendo conduzido também nas Estações Experimentais da EPAGRI de Campos Novos - EECN, Lages - EEL, Ituporanga - EEIt e Urussanga EEU, com recursos do componente Pesquisa Agropecuária do Projeto Micro-bacias/BIRD.
Avaliação de cultivares de melancia em Areias Quartzosas A melancia é a quinta hortaliça mais cultivada no Estado de Santa Catarina, ficando abaixo de batata, cebola, alho e tomate, sendo, entretanto, a segunda cultura quanto à rentabilidade por hectare. Ocupa uma área de aproximadamente 2.400ha plantados anualmente, com rendimento médio de 25t/ha. No Sul do Estado são plantados atualmente 450ha, sendo os maiores produtores os municípios de Braço do Norte, São Ludgero e Jaguaruna. A cultura, entretanto, está presente na maioria dos demais municípios, com crescente expansão da área cultivada. Objetivando identificar as cultivares
seleção e tendências ambientais de algumas características de produção e reprodução em um rebanho mestiço holandês-zebu. Revista Sociedade Brasileira Zootecnia, Viçosa, v.19, n.1, p.31-38, 1990. Amaro Hillesheim, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. n o 1.783-D, CREA-SC, EPAGRI/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, Fone (0473) 46-5244, Fax (0473) 46-5255, 88301-970 - Itajaí, SC e Henri Stuker , eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 42.785-D, CREA-RS, EPAGRI/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, Fone (0473) 46-5244, Fax (0473) 46-5255, 88301-970 - Itajaí, SC.
mais produtivas de melancia para a região, em diferentes épocas de plantio, foi instalado um experimento no Campo Experimental de Jaguaruna no período de 08/94 a 02/95 pelos pesquisadores Idelson José de Miranda e Augusto Carlos Pola. O solo, Areias Quartzosas, é o de maior ocorrência no Litoral Sul Catarinense. Estão sendo avaliadas seis cultivares: Crimson Sweet, Congo, Pérola, Omaro Yamato, Charleston Gray e Fairfax. Na primeira época de plantio, em 15 de agosto, a cultivar Crimson Sweet apresentou a maior produção, com 30,5t/ha, seguida pelas cultivares Congo, com 22,0t/ha, e Fairfax, com 19,8t/ha. A cultivar Crimson Sweet também apresentou o maior número de frutos com peso acima de 6,0kg (aproximadamente 50%). Na segunda época de plantio (15 de setembro), a cultivar Congo foi a que apresentou a maior produção (42,6t/ha), seguida das cultivares Pérola (36,7t/ha) e Crimson Sweet (35,2t/ha). As cultivares Crimson Sweet, Congo e Charleston Gray apresentaram maior número de frutos com peso acima de 6,0kg, com 56, 55 e 46%, respectivamente. Na terceira época de plantio (15 de outubro) as cultivares mais produtivas foram Crimson Sweet, Fairfax e Omaro Yamato, com 23,1, 22,0 e 19,2t/ha, respectivamente. As cultivares Fairfax e Omaro Yamato apresentaram as maiores produções de frutos com peso acima de 6,0kg, com 52 e 48%, respectiva-mente. A cultivar Crimson Sweet, portanto, apresentou um bom comportamento, em termos de produção, nas três épocas de plantio. A cultivar Congo se destacou nas duas primeiras épocas de plantio. Estas duas cultivares possuem formato redondo, sendo que a Crimson Sweet apresenta a casca verde clara com listas, e a Congo, coloração verde escura. Ambas tem ótimo sabor, alto teor de açúcar e boa aceitação pelos consumidores.
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REFLORESTAR Flora ilustrada catarinense Angico-vermelho O angico-vermelho é conhecido como angico, angico verdadeiro, angico-amarelo, angico-branco, angico-cedro, angicorosa, angico-de-costume, angico--dosmontes, angico-sujo, paricá, angico-colorado, curupay-rá (Argentina), curupay-ná (Paraguai). Pertence a família das Mimosoideas e seu nome científico é Parapiptadenia rigida (Benthan) Brenan. É uma árvore alta de 20 a 35m de altura e 60 a 120cm de diâmetro na altura do peito. O tronco é geralmente cilíndrico, um pouco tortuoso e tem fuste variável de 5 a 15m de comprimento. A copa se parece com guarda-chuva, muito parecida com a da canafístula. As folhas são alternas, compostas, bipenadas, com três a seis pares de pinos. A inflorescência é em forma de uma espiga cilíndrica, axilar. As flores são pequenas e brancoamareladas. Os frutos são uma vagem plana, membranácea, coriácea, articulada, medindo de 12 a 15cm de comprimento por 15 a 20mm de largura. Sementes são pequenas, comprimidas e membranosas. O angico-vermelho floresce em novembro a dezembro e frutifica em maio-agosto. Ocorre muito na região da mata latifoliada do rio Uruguai e seus afluentes, até altitude de 700 a 900m. Ocorre também nas submatas dos pinhais, onde mais aparece a canela-lajeana. O angico-vermelho se dispersa desde o Ceará, Minas Gerais e Mato Grosso até o Rio Grande do Sul. Bolívia, Paraguai e Argentina também exploram esta madeira. É uma espécie que ocorre em solos úmidos e secos. É exigente quanto à luminosidade. Em capoeirões, com pouca luz, o angico ocorre como árvore adulta bem desenvolvida, dominante, com copas altas no estrato superior da floresta. O “habitat” do angico-vermelho é quase sempre lugares com abundante umidade, mas não excessiva. Prefere várzeas, margens de rios e matas de galeria, onde se impõe pela altura do-minante. Um velho ditado cabe a esta árvore: “quero umidade, mas quero estar com os pés enxutos”. Representa, sem dúvida uma das árvores mais comuns e conhecidas não só no Oeste do Estado, como também em toda a bacia do rio Paraná. É uma das
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espécies mais agressivas da região, invadindo as submatas de pinhais em todas as frentes de contato, preparando o ambiente (sombreamento difuso) para o aparecimento das outras espécies da mata latifoliada. Produz anualmente grande quantidade de frutos e sementes que facilmente germinam não só nas capoeirinhas, como também nas roças abandonadas. Por estas características (crescimento rápido, heliófita, pouco exigente aos solos, produção abundante de sementes e fácil germinação), o angico--vermelho é outra espécie com potencial para o reflorestamento inclusive para plantios puros a pleno sol. Em função da abundância de luz em plantios puros, o angico-vermelho poderá ter o fruto prejudicado pela ramificação precoce. Por ser uma espécie que apresenta uma raiz muito grande, recomenda-se repicar as mudinhas de sementeira bem cedo (três a quatro folhas), pois do contrário terão difícil pega no plantio definitivo. O plantio definitivo deverá ser feito nos meses de inverno em locais que apresentam solos úmidos. A madeira do angico-vermelho apresenta um albuno pardo-rosado, cerne pardo-avermelhado, podendo revelar tonalidade amarela, superfície pouco lustrosa e lisa. Madeira muito pesada, elástica, dura e bastante durável, mesmo quando exposta, sua aplicação se dá na construção naval e carpintaria. Aceita bem o verniz. É muito procurada para obras hidráulicas e expostas, construção naval e civil, vigamento e pontes, estacas, postes, barroteamento, dormentes, tonel de cachaça, armações de carroças e outros. Pela sua resistência é empregada na fabricação de bola de bolão e tacos. A casca é rica em tanino e aproveitada em curtumes. A madeira é resistente a umidade e bichos.
Sementes O setor florestal desde muito tempo vem denotando a carência de informações básicas sobre o manejo de sementes florestais. Os vários programas e projetos de recuperação de áreas degradadas, de conservação ambiental e reflorestamento pressionam os técnicos da área a se organizarem e atenderem a demanda surgida. Desde 1984 o Comitê Técnico de Sementes Florestais da Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes (CTSF/ ABRATES) vem atuando na formação e treinamento de pessoal e na condução de trabalhos técnicos. Neste contexto o CTSF,
com o apoio do Ministério do Meio Ambiente e do Instituto Florestal de São Paulo, realizou, de 23 a 27 de outubro de 1995, o curso de Manejo de Sementes de Espécies Arbóreas. Os assuntos abordados no curso foram: colheita, extração, secagem, benefi-ciamento, germinação, dormência e armazenamento de sementes de espé-cies florestais. No decorrer do curso foram também realizadas práticas de colheita, utilizando-se os seguintes equipamentos: esporas, blocante ao tronco, alpinismo, escada e bicicleta. Os participantes do curso, pesquisadores e técnicos da área de sementes, tiveram a oportunidade de avaliar os diferentes métodos de colheita, com o objetivo de eleger os melhores equipamentos e técnicas quanto a sua eficiência, segurança e danos provocados às árvores matrizes. Participou nesse curso a enga. agra. Teresinha C.H. Schallenberger, do Programa de Essências Florestais da EPAGRI - Itajaí, com o objetivo de aprimorar o trabalho de pesquisa e produção de sementes de espécies florestais da EPAGRI e conseqüentemente do Estado de Santa Catarina.
Curiosidades Você sabia... Estudos feitos por pesquisadores brasileiros mostram que entre 40 e 50% da chuva que cai na Amazônia provém da água transpirada pela própria floresta, enquanto que o resto (50 a 60%) provém da água evaporada do mar. Na bacia do rio Mississipi, nos Estados Unidos, 90% da chuva provém do mar e apenas 10% provém da água transpirada pela vegetação terrestre. Isto quer dizer que um desmatamento feito em grande escala, na bacia do Mississipi, não teria um grande impacto sobre o clima da região, enquanto que na Amazônia a destruição de grandes superfícies de matas poderia modificar significativamente o clima, tornando os períodos secos mais freqüentes ou mais longos. Na região de Santa Cruz de La Sierra (Bolívia), depois de desmatamentos feitos em grande escala, observou-se que enquanto a quantidade anual de chuva ficava quase igual, o número anual de dias de chuva diminuiu consideravelmente e, por conseguinte, a freqüência de chuvas torrenciais aumentou.
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Macieira
Resistência de porta-enxertos de macieira ao fungo Rosellinia necatrix Prill no Meio Oeste Catarinense Frederico Denardi e Onofre Berton
C
onhecida em inglês como “white root rot”, a podridão de raiz causada por Rosellinia necatrix Prill (estado imperfeito: Demathophora necatrix Hartwig) é uma doença destrutiva de muitas plantas frutíferas, incluindo macieira e pereira, bem como de 170 outras espécies de plantas distribuídas em 63 gêneros. O fungo está disseminado em todas as regiões de clima temperado. Na região do Vale do Rio do Peixe, SC, a cada ano muitos produtores substituem um número significativo de plantas de seus pomares. Estudos realizados anteriormente (1) mostraram que em grande número de pomares, não só nessa região, mas em toda a região produtora de Santa Catarina, a morte de plantas por Rosellinia necatrix é muito freqüente. Na região de Fraiburgo, algumas empresas chegam a substituir milhares de plantas todos os anos, mortas pelo fungo. Em experimento realizado em Fraiburgo, em área infestada por Rosellinia necatrix, foram testados 18 diferentes produtos químicos aplicados no colo das plantas com regador na tentativa de controlar o fungo a campo (2). Nenhum produto mostrou-se eficiente. As mudas plantadas nas covas previamente esterilizadas com brometo de metila, e nas quais havia sido colocado Trichoderma viride, sobreviveram por dois a três anos. Na literatura mundial não há referência sobre algum porta-enxerto que apresente resistência a Rosellinia necatrix. Na tentativa de controlar o fungo a campo, alguns pesquisadores israelenses usaram brometo de metila para fumigação do solo (3). Em outras pesquisas (4) utilizaram solarização. Controle biológico por meio do fungo antagonista Trichoderma harzianum (5) e Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
a solarização em tratamento pré-plantio, para desinfestação do solo, e como tratamento pós-plantio, curativo para doenças de plantas de modo geral, também foram pesquisados (6). Em Fraiburgo, SC, algumas empresas utilizaram com sucesso a fumigação do solo por meio de brometo de metila e a posterior colonização com o fungo antagonista Trichoderma viride, conforme comunicação pessoal de O. Berton e R. Melzer, engenheiros agrônomos da E.E. de Caçador, em 1991. A eficiência deste sistema depende diretamente do grau de infestação do solo e da profundidade em que se encontra o fungo. Sabe-se que o brometo de metila só atinge a camada superficial do solo (15 a 30cm) e por isto pode ocorrer reinfestação.
com abundante micélio branco (Figura 1). Infecções severas matam as plantas de forma muito rápida. Mudas infectadas no viveiro e transplantadas para o campo, ou mesmo mudas sadias plantadas em uma área infectada, morrem dentro de um ano. Nas condições catarinenses temse observado com muita freqüência o ataque em pomares instalados em áreas recém desmatadas, principalmente onde havia bracatinga (Mimosa escrabella). O fungo R. necatrix sobrevive por longo período em restos culturais, principalmente raízes que permanecem no solo. O fungo se dissemina de várias maneiras: da superfície ou do interior de raízes de plantas infectadas para as raízes de plantas vizinhas; em pedaços de raízes;
Sintomatologia Os sintomas mostrados pelas plantas atacadas por podridões de raízes são muito semelhantes para os vários fungos causadores. As plantas atacadas por Rosellinia necatrix não fogem à regra, apresentando prematuramente coloração avermelhada nas folhas, paralisação do crescimento, folhas de tamanho reduzido e ausência de emissões de novas brotações. Também pode ocorrer desfolhamento prematuro das plantas. No sistema radicular ocorre a morte de pequenas raízes, as quais ficam recobertas por micélio branco, que em seguida irá invadir as raízes mais grossas. Mais tarde, o micélio que recobre as raízes torna-se negro, e ao raspar-se as raízes com uma lâmina tem-se a impressão de estar raspando carvão. Plantas atacadas são facilmente removidas do solo. Um pedaço de raiz atacada colocado em câmara úmida fica logo recoberto
Figura 1 - Aspecto de raiz coberta por micélio branco
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Macieira
em solo infestado e pela água. A podridão causada por R. necatrix é favorecida pela alta umidade (próximo da capacidade de campo), com temperaturas de 20 a 25oC. É mais comum em solos pesados e dissemina--se rapidamente em canais de irrigação. O fungo pode sobreviver no solo por vários anos, dependendo do tipo de solo.
Objetivo Devido à importância que a podridão de raiz causada por Rosellinia necatrix apresenta, e a dificuldade em controlar a doença, desenvolveu-se o presente trabalho, nesta primeira fase, para identificar possíveis fontes de resistência no germoplasma de porta--enxertos de macieira existente na Estação Experimental de Caçador/EPAGRI.
Material e métodos • Solo - as mudas testadas neste estudo foram plantadas em uma trincheira de 4m x 2m x 0,5m de profundidade, preenchida com solo infestado por Rosellinia necatrix (Figura 2). O solo foi coletado durante o inverno, em Fraiburgo, SC, num pomar onde as plantas mortas pelo fungo haviam sido retiradas no ciclo anterior. O solo foi coletado somente nas covas de onde foram retiradas as plantas. Raízes atacadas pelo fungo encontradas nos locais de onde foi retirado o solo foram picotadas, o solo foi homogeneizado com auxílio de uma betoneira e colocado na trincheira. Nesta trincheira foram plantadas cinco estacas
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Figura 2 - Mudas em teste no local de experimentação em Fraiburgo, SC
enraizadas de cada um dos principais porta-enxertos comerciais e seleções novas, distribuídas ao acaso, em linha, no espaçamento de 20cm entre plantas e 20cm entre linhas. • Porta-enxertos testados - foram submetidos ao teste os seguintes clones de porta-enxertos. - Porta-enxertos comerciais - M-2; M-7; M-9; M-25; M-26; M-27; MM-104; MM-106; MM-111; MI-793 e MARUBAKAIDO. - Seleções - SPe 12; SPe 262; SPe 463; SEL.7; SEL. 12; SEL. 20; SEL. 26; SEL. 44; SEL. 66; SEL. 69; SEL. 81; 7603R5-757-32A3W58; 74R5M9158-337W14; 74A01-022; KA 306
• Cultivo - a trincheira foi mantida naturalmente, sem cobertura, localizada nas dependências da Estação Experimental de Caçador/EPAGRI. Em períodos de estiagem, as plantas foram irrigadas uma vez por semana. Os inços foram controlados manualmente e não houve necessidade de controle de doenças foliares. • Avaliações - foram efetuadas catorze avaliações quinzenais a partir de 10/11/92 até 27/05/93. Nas avaliações foram consideradas plantas normais as que não apresentavam nenhum sintoma na parte aérea, no colo e/ou no sistema radicular. Com a presença de sintomas de descoloração das folhas e/ou necroses no colo das plantas, estas foram arrancadas e submetidas a diagnóstico no Laboratório de Fitopatologia. Em todos os casos analisados, foi encontrada a presença de Rosellinia necatrix nas plantas mortas. Na última avaliação, realizada em 27/05/93, todas as plantas remanescentes foram arrancadas e avaliadas.
Resultados e discussão Na Tabela 1 são apresentados os resultados de sobrevivência de plantas no final do ciclo em 27/05/93. Os principais problemas fitossanitários do sistema radicular da macieira no Sul do Brasil são a podridão do colo causada pelo fungo Phytophthora cactorum, o pulgão lanígero (Eriosoma lanigerum) e a roseliniose causada pelo fungo Rosellinia necatrix. Para os dois primeiros organismos existem boas fontes de resistência. Pode-se citar os porta-enxertos M-9, M-27 e
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Macieira
Tabela 1 - Resultados de sobrevivência de estacas enraizadas de porta-enxertos de macieira submetidas à inoculação com Rosellinia necatrix em trincheira a campo, na Estação Experimental de Caçador/EPAGRI, SC Porta-enxertos M-2 M-7 M-9 M-25 M-26 M-27 MM-104 MM-106 MM-111 MI-793 Marubakaido SPe 12 SPe 262 SPe 463 SEL 7 SEL 12 SEL 20 SEL 26 SEL 44 SEL 66 SEL 69 SEL 81 7603R5-757-32A3W58 74R5M9-158-337W14 749A01-022 KA-306
No estacas enraizadas
12/02/93
27/05/93
5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 4 5 5 5 5 5 5 5 4 5 5 4 5 5 4
4 5 3 5 5 2 3 5 5 5 4 1 3 2 1 2 0 0 2 3 4 1 1 4 2 0
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 4 0 0 0 0 0
Marubakaido (Maruba) como boas fontes de resistência à podridão do colo, sendo que o Maruba também é resistente ao pulgão lanígero. O M-27 é demasiadamente anão para plantio comercial no Brasil; o M-9, embora excelente em precocidade de frutificação, produtividade e qualidade dos frutos, também é bastante anão e requer tutoramento. O Maruba é bastante vigoroso, recomendado somente para plantio em baixas densidades (menos de 700 plantas/ha). Exemplos de porta-enxertos resistentes ao pulgão lanígero são os da série “MM”, dentre os quais os únicos em plantio comercial são o MM-106 e o MM-111. O MM-106 é altamente suscetível à podridão do colo. O MI-793 é o único dos velhos porta-enxertos clonais que reúne boa resistência à podridão do colo e ao pulgão lanígero simultaneamente. Todos os porta-enxertos testados neste trabalho manifestaram elevada Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Plantas sobreviventes
suscetibilidade à R. necatrix. Muito embora a literatura relate não terem sido ainda identificadas fontes de resistência a esta doença, duas seleções, a SPe 262 e a Sel 69, apresentaram plantas sobreviventes no final deste experimento (Tabela 1). Estudos complementares de resistência genética deverão ser conduzidos nos próximos anos em nível de campo nas principais regiões produtoras de maçã do Sul do Brasil, envolvendo estas duas seleções e outros materiais importados.
3. SZTEJNBERG, A.; OMARY, N.; PINKAS, J. Control of Rosellinia necatrix by deep placement and hot treatment with methyl bromide. EPPO Bulletin, Oxford, n.13, p.483485, 1983. 4. SZTEJNBERG, A.; FREEMAN, S.; CHET, I.; KATAN, J. Control of Rosellinia necatrix in soil and in apple orchard by solarization and Trichoderma harzianum. Plant Disease, Beltsville, v.71, p.365-369, 1987. 5. FREEMAN, S.; SZTEJNBERG, A.; CHET, I. Evaluation of Trichoderma as a biocontrol agent for Rosellinia necatrix. Plant and Soil, The Hague, v.94, p.163-170, 1986. 6. FREEMAN, S.; SZTEJNBERG, E.; SHABI, E.; KATAN, J. Long-term effect of soil solarization for the control of Rosellinia necatrix in apple. Crop Protection, Surrey, v.9, p.312316, 1990. Frederico Denardi, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 3.182-C, CREA-SC, EPAGRI, Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, Fone (0496) 62-1211, Fax (0496) 621142, Telex 492 330, 89500-000, Caçador, SC e Onofre Berton, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 26.027, CREA-SC, EPAGRI, Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, Fone (0496) 62-1211, Fax (0496) 621142, Telex 492 330, 89500-000, Caçador, SC.
Literatura citada 1. BERTON, O.; MELZER, R. Podridões radiculares em macieira: um desafio para os produtores e para a pesquisa. Informativo SBF , Jaboticabal, v.5, n.4, p.11-12, 1986. 2. BERTON, O. Pesquisa controla fun gos. Toda Fruta, São Caetano do Sul, SP, v.4, n.37, p.15-17, 1989.
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Reportagem
Maracujá: novidade do Norte que faz sucesso no Sul Reportagem e fotos de Paulo Sergio Tagliari
Maracujá atrai agricultores catarinenses e cultura se expande rapidamente
De raros hectares comerciais há alguns poucos anos atrás, o maracujá cresceu em área no Estado de Santa Catarina e já ocupa, para surpresa de muitos, cerca de 1.000ha, concentrados ao longo do Litoral. Nesta reportagem, o leitor vai ficar conhecendo alguns segredos desta atraente fruta tropical e informações sobre plantio, manejo, comercialização, etc.
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Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Reportagem
A
agricultura tem sido um setor bastante penalizado no Plano Real e, conforme mostram as estatísticas dos institutos oficiais, os preços recebidos pelos agricultores na venda de seus produtos, de maneira geral, não cobrem os custos de produção. A saída, então, é buscar alternativas viáveis economicamente e que aproveitem a mão-de-obra ociosa em determinados períodos do ano. Uma cultura que está atraindo a atenção dos agricultores no Sul do país é o maracujá, planta que agrupa um grande número de espécies nativas e cultivadas, sob o gênero Passiflora, palavra de origem tupi que significa “flor da paixão”. Pois, sem dúvida, o maracujá está se tornando uma paixão dos agricultores em Santa Catarina, tanto que conseguiu reunir recentemente cerca de 200 pessoas em Turvo, SC para um treinamento técnico de um dia, fato meio raro de acontecer hoje em dia. O evento foi uma promoção conjunta da EPAGRI, da Coopersul, do Sindicato Rural e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Turvo e, entre os principais assuntos debatidos no treinamento, destacaram-se: métodos de propagação, preparo do solo, sistemas de condução, adubação e plantio, manejo (desbrota, poda, controle de doenças e pragas, polinização), colheita e comercialização. O engenheiro agrônomo Neri Samuel Dalenogare, técnico da EPAGRI que ministrou o curso, informou à reportagem da Agropecuária Catarinense que o cultivo do maracujá em Santa Catarina está se expandindo, “mas temos que tomar cuidado para equilibrar a oferta com a procura”, adverte o técnico, preocupado um pouco com o entusiasmo dos agricultores em querer expandir demasiadamente a área de plantio do maracujá. E não é para menos, pois há três anos na região Sul do Estado, que engloba os municípios de Sombrio, Turvo, Araranguá, Criciúma e adjacências, havia somente 3ha comerciais da fruta, e hoje estima--se, pela intenção de plantio dos agricultores, perto de 300ha, só no Sul do Estado. E em Santa Catarina, no total, espera-se Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Produtores ouvem atentos as orientações do técnico da EPAGRI
atingir 1.000ha ainda neste ano. No Litoral Norte do Estado outros municípios estão despontando, como são os casos de Guaramirim, Barra Velha, São Francisco do Sul, Araquari e Joinville. Para se ter uma idéia, a área total plantada no Brasil, que é o maior produtor mundial, é de cerca de 32 mil hectares, sendo que 40% disto está no Norte e Nordeste. Os Estados maiores produtores e onde se concentram as indústrias são: Bahia, Sergipe, Pernambuco, Alagoas, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Quanto mais perto do Equador, maior o comprimento do dia e mais insolação, daí porque no Pará se produz doze meses ao ano, na Bahia dez meses, descendo para oito e seis meses, respectivamente, em São Paulo e Santa Catarina.
Recomendações técnicas Não é objetivo deste artigo apresentar dados técnicos completos sobre o cultivo do maracujá, mas sim algumas informações básicas preliminares ao leitor interessado ou curioso que, caso decidir se aprofundar mais no assunto, deverá consultar livros, boletins ou técnicos com conhecimento no assunto.
Propagação e época de plantio A multiplicação do maracujá amarelo ácido (espécie mais cultivada) em
escala comercial é feita no Brasil, principalmente, por sementes. Também pode ser feita por enxertia e estaquia em alguns casos específicos, quando se quer preservar algumas variedades ou multiplicar o maracujá roxo. Deve-se reservar os frutos que apresentam as melhores características no pomar, maduros, livres de doenças e pragas e que apresentam bom desenvolvimento. Para preparar 1ha são necessários 25 frutos, tirando-se 1 fruto por planta, para evitar parentesco. A extração é realizada cortando-se o fruto e retirando-se as sementes juntamente com a mucilagem. Podem ser lavadas sobre a peneira de malha fina, adicionando-se areia ou calcário para separar mais rapidamente. Em seguida, as sementes são colocadas sob jornal para secar à sombra. A armazenagem deve ser feita colocando-se as sementes recém--secas dentro de um saco de papel e este dentro de um saco plástico, amarrando-se de forma a deixar a menor quantidade de ar e guardar na geladeira. A semeadura é feita em saquinhos plásticos com três a cinco sementes por saco contendo terra adubada (três partes) e esterco de curral curtido (uma parte). Quando a mudinha germinada alcançar 5cm, escolhe-se a melhor muda e as restantes são desbastadas. Quando atingir 15 a 20cm de altura, o que ocorre entre 50 e 60 dias após a germinação, transplantase ao local definitivo. A época de transplantio recomendado na região 29
Reportagem
é de agosto a outubro, enquanto não é muito quente e há chuvas freqüentes. Para isso é preciso semear em abril a maio, ou junho, o mais tardar. Segundo a tradição de muitos agricultores, é bom semear na lua minguante e transplantar também na minguante.
Sistemas de condução Após o preparo da área (limpeza, gradagem, calagem e controle da erosão por terraços ou curvas de nível, quando o terreno for declivoso), o agricultor vai iniciar a implantação de seu pomar de maracujá. O maracujazeiro necessita de um forte suporte para o seu desenvolvimento e sustentação. O mais produtivo é o sistema em latada, como nos parreirais de uva, porém o investimento inicial é muito grande. Outro sistema que está sendo bastante usado é o de espaldeira (ver Figura 1) normalmente com um fio de arame galvanizado a 1,80 e 2,00m de altura. Os mourões devem ser cortados com 2,30 a 2,50m de comprimento, enterran-do 50cm. Construir a espaldeira (cerca) colocando um mourão a cada 9m de distância. No intervalo entre eles, usar es-coras de bambu a cada 3m. Os mourões podem ser de madeira de lei, eucalipto imunizado, concreto armado, etc. Em caso de latada, nas extremidades colocar os mourões mais reforçados e a ca-da 2,5 ou 3m, os secundários que podem ser de diâmetro aproximado de 20cm. Neri Samuel Dalenogare recomenda o espaçamento em sistema de espaldeira de 2,20m entre linhas ou filas e 4,50m entre plantas, o que resultará em 1.010 plantas/ha. Outra recomendação para os agricultores é que se pode fazer consorciações com maracujá no primeiro ano, aproveitando que a cultura ainda não se desenvolveu. Pode--se utilizar culturas anuais de porte baixo como amendoim, feijão, hortaliças, etc.
Cultivo do maracujá exige muita mão-de-obra e cuidados constantes
um técnico. Existem algumas diferenças a serem observadas no plantio de morro ou na área plana. Antes do plantio, as covas onde serão plantadas as mudas deverão ser adubados com calcário (de preferência dolomítico que possui cálcio mais magnésio), superfosfato simples (que além do fósforo tem cálcio e enxofre) e esterco de gado curtido e/ou cama de aviário, curtida, que possuem, além de matéria orgânica, vários macro e micronutrientes. Deve-se ter cuidado na origem do esterco de gado, não se usando aquele de pastagens tratadas com herbicidas. Nas adubações de cobertura, serão usados cloreto de potássio, sulfato de
amônia (que possui muito nitrogênio e enxofre, que o maracujá exige para seu crescimento), além do superfosfato simples e cama de aviário curtida. As adubações de cobertura são realizadas em três épocas no primeiro ano. No segundo ano e terceiro ano, devese fazer uma adubação após a poda, por volta de 15 de setembro, e repetir as adubações recomendadas para o primeiro ano.
Condução e poda A planta deve ser conduzida em haste única até a altura do arame, eliminando-se todas as brotações laterais. Deixar crescer os ramos até
Adubação A adubação do maracujazeiro deverá ser feita conforme indicar a análise do solo e sempre orientada por 30
Figura 1 - Sistema de condução do maracujá em espaldeira com um fio de arame
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Reportagem
O maracujazeiro produz de 20 a 25t/ha em nossa região
atingir a próxima planta, depois podálos. A medida que os ramos secundários se desenvolvem, conduzi-los para baixo, evitando que se agarrem nos ramos principais presos ao arame. Esta prática chama-se “pentear o maracujá”. Os ramos secundários bem penteados facilitam em muito a exposição ao sol a aplicação de agrotóxicos, melhoram o arejamento da planta e facilitam o trabalho das mamangavas, que realizam a polinização, e os frutos ficam com melhor aspecto (ver Figura 2). À medida que a planta cresce, deve-se fazer amarrações ao tutor e ao arame com fita plástica, barbante grosso ou retalhos de tecido. Pode-se também enrolar a haste principal ao ara-
me, evitando o amarrio. A melhor época de realizar a poda é agosto ou quando não houver mais risco de temperaturas muito baixas. Deve--se deixar um retângulo de vegetação de 3,5m de comprimento a partir da haste única e 40cm de largura a partir do fio de arame, ou três nós. Em cada nó deve nascer um ramo novo e novos frutos.
Controle de plantas daninhas, pragas e doenças Enquanto as plantas do maracujá estão pequenas, o controle das ervas daninhas pode ser feito usando enxada ou motocultivador. Após o cresci-
Figura 2 - Condução e poda do maracujazeiro
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
mento das plantas, deve-se fazer capinas químicas com herbicidas, pois as raízes são superficiais e tendem a alastrar-se por todo o terreno. Quem não quiser utilizar agrotóxicos, poderá utilizar a roçadeira costal que corta o mato superficial acima do solo. As principais pragas que atacam o maracujazeiro são lagartas, mosca das frutas, percevejos, formigas e brocas. Deve-se evitar ao máximo usar os inseticidas, mas quando não houver mais jeito, aplicar com alguns cuidados. Para se saber a época certa de se aplicar, evitando-se o desperdício, pode-se usar uma isca, normalmente um vidro com água e açúcar que indica a incidência dos insetos que são atraídos pelo líquido contido no vidro. A presença de certas borboletas indica o aparecimento de lagartas que destroem as folhas. Quando for feita a pulverização para controle da mosca das frutas, de preferência com um inseticida de baixa toxicidade, pulveriza-se 1m 2 da planta no lado nascente do sol onde os insetos costumam estar. Na parte da tarde acontece a abertura das flores, e deve--se evitar a pulverização nesta hora, por causa da presença de insetos poli-nizadores como a mamangava, que é o principal polinizador do maracujá. Os frutos atacados pela mosca das frutas murcham e caem prematuramente. É importante retirar estes frutos e enterra-los. Principalmente em pomares domésticos, pode-se utilizar água de fumo para combater os insetos, produzida a partir de solução de fumo em corda na água. Várias são as doenças que atacam o maracujá na região do Litoral de Santa Catarina, principalmente quando se planta em pomares comerciais. As principais, em nossa região, são a verrugose, também chamada “pipoquinha”, que ataca hastes, folhas, frutos e flores, e nos frutos o sintoma é semelhante a pequenas verrugas; e a antracnose, que ataca os órgãos da parte aérea. As plantas ficam desfolhadas e com ramos secos. É uma doença de difícil controle. O controle das doenças é feito com pulverizações semanais nas épocas chuvosas e mensais quando não ocor31
Reportagem
rem chuvas ou quando elas são fracas. O tratamento é feito com fungicidas à base de zinco, cobre e manganês. Consultar sempre os técnicos para se orien-tar sobre o controle das doenças. O produtor deve respeitar o prazo de carência dos produtos (inseticidas e fungicidas) quando fizer a colheita dos frutos, ou seja, não aplicar produtos que ficam no fruto um tempo após a colheita, o que poderá intoxicar os consumidores.
Colheita e comercialização Normalmente a colheita é feita sob a forma de catação dos frutos caídos no chão. Quando necessário, podem ser apanhados do pé os frutos maduros. Nos meses mais quentes (janeiro a março), a colheita (catação) deve ser diária, para os frutos não perderem umidade, nem sofrerem queimadu-ras pela ação do sol; depois, guar-dá-los à sombra. Nos meses mais amenos, a colheita pode ser feita de dois a três vezes por semana. No inverno, após a colheita, o fruto se conserva mais tempo, mas, para quem vende, o ideal é conservar no máximo quatro dias. A produção do maracujá se dá em três anos seguidos, devendo o produtor plantar novas mudas no quarto ano. Atualmente, está-se testando a possibilidade de poder deixar a planta mais um ano no pomar, perfazendo quatro períodos a campo. A estimativa atual de colheita é de 15 a 20t/ha no primeiro ano, 20 a 25t no segundo e 15t no terceiro ano. O preço do fruto varia muito na comercialização, dependendo da época e da oferta do produto. Normalmente é vendido in natura em caixas de 15kg ou em quilo. Também a polpa congelada tem boa aceitação. Há três anos, quando a oferta era menor, vendia-se a caixa a R$ 25,00; no início deste ano, entre R$ 9,00 e R$ 6,00, mas em janeiro estava a R$ 25,00, caindo nos meses seguintes. Conforme explicou o engenheiro agrônomo Neri Samuel Dalenogare, o maracujá possui cinco classes de 32
A produção do maracujá em espaldeira é uma das mais utilizadas
frutos (ver Tabela 1) para comercialização, passando do mais graúdo (45 a 75 frutos/caixa), até o mais miúdo (150 ou mais frutos/caixa, específico para industrialização). O engenheiro agrônomo Carlos Zaneti, da empresa Flore-sul de Criciúma, que falou sobre aspectos de comercialização no treinamento, revelou um dado interes-sante. A fruta, que era desconhecida no Sul do país alguns anos atrás, hoje já faz parte da mesa do gaúcho, catarinense e paranaense. Para exemplificar, o técnico mostrou que, em 1982, na CEASA de Porto Alegre, entraram somente 10 e 31 caixas de maracujá nos meses de janeiro e março, respectivamente. Mas este número cresceu surpreendentemente e, em 1994, venderam-se 5.038 e 6.204 caixas nos
Tabela 1 - Classificação dos frutos de maracujá Classificação Números de frutos/caixa
Extra A A A Extra A A Extra A Extra Especial
até 75 de 76 a 90 de 91 a 120 de 121 a 150 mais de 150
referidos meses. Em nível mundial, a tendência é aumentar o consumo de frutos e sucos tropicais. Os europeus são grandes consumidores, seguidos dos Estados Unidos. A Europa compra 90% de todo o suco de maracujá que o Brasil exporta. Para se produzir 1t de suco são necessárias 700 caixas da fruta.
Agricultores apostam no maracujá O número de produtores no Sul de Santa Catarina está crescendo assustadoramente. Desde que Antonio Casagrande, de Jacinto Machado, iniciou o seu plantio pioneiro na região, já se somam dezenas de produtores, como é o caso de Adelino Fassin e o filho, em sociedade com Moacir Possamai, que estão plantando um pouco mais de 0,5ha. Já Sergio Rosso, produtor em Sombrio, plantou 0,5ha às margens da BR 101. Na última safra produziu 1.400 caixas. A reportagem da revista Agropecuária Catarinense visitou a propriedade de dois produtores. O primeiro, Nivaldo Mateus, na comunidade de Soares, no município de Araranguá, está iniciando este ano seu primeiro Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Reportagem
Agricultores estão entusiasmados, mas técnicos recomendam cautela
plantio em pouco mais de 0,5ha, localizado ao lado de sua casa. “Assim fica mais fácil em cuidar do pomar, que exige muita mão-de-obra no primeiro ano”, avisa o agricultor, que também planta mandioca e cria algum gado. Ele plantou no sistema de latada em 15 de agosto e espera colher em janeiro sua primeira safra. O agricultor Maurício Mondo, que também é gerente técnico da Cooperativa Agropecuária de Jacinto Machado, está no segundo ano de plantio. Como ele também é produtor de arroz irrigado, utiliza as cascas do arroz colhido para forrar o chão do seu pomar, protegendo as frutas que caem. Os números de Jacinto Machado confirmam o crescimento da cultura na região. Na última safra, 46 produtores plantaram 50ha, e na próxima a perspectiva é de se plantar 300ha. Sergio Silveira, técnico da EPAGRI no município de Turvo, resume assim a situação e a expectativa dos técnicos em relação ao crescimento da cultura: “Não podemos querer dar um passo maior que a perna. Hoje o mercado absorve uma determinada produção que podemos atingir com os novos pomares que estão sendo implantados. Daqui para o futuro temos que ir Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
com cuidado”, adverte.
A lucratividade da fruta Um dos assuntos mais esperados pelos agricultores presentes ao treinamento em Turvo foi a análise econômica da cultura. O técnico Neri Samuel Dalenogare, que está estudando intensamente o cultivo do maracujá, apresentou inicialmente os custos de implantação de 1ha de pomar e suas despesas ao longo das três safras (20t no primeiro ano, 25 no segundo e 15 no terceiro ano). O primeiro ano tem mais despesas em função dos custos de implantação: limpeza e preparo do terreno, trabalho de máquinas para aração e gradagem, materiais (fios, mourões, etc), representando 53,84% do total. Mas, con-
siderando a produção de 60t de frutos nos três anos (pomar conduzido na técnica) e uma despesa total de R$ 6.407,90, resulta num custo por quilo de fruto de R$ 0,11. Ora, se na época do curso (final de abril de 95) o mercado estava pagando R$ 0,80 o quilo, então a margem bruta é muito alta, concluiu Neri. Outro dado mostrado pelo técnico foi o dos superávits anuais e totais, mostrando que, ao longo dos três anos, entraram de receita R$ 24.400,00 e as despesas somaram somente R$ 6.407,90, resultando num superávit ou lucro de R$ 17.992,10. Uma tabela ilustrou a lucratividade do maracujá em relação a culturas tradicionais e chamou a atenção dos agricultores, conforme registrado na Tabela 2. Por fim, o técnico da EPAGRI, após apresentar uma série de informações positivas sobre a cultura do maracujá, fez uma advertência a todos. Se a área plantada atingir realmente os 1.000ha estimados para Santa Catarina, a produção obtida poderá superar o consumo, diminuindo os preços recebidos pelos agricultores. Considerando que as populações do Rio Grande do Sul e Santa Catarina perfazem aproximadamente 14 milhões de pessoas, e tendo em conta que a produção dos mil hectares de maracujá poderá atingir 20.000t (20t/ha em média), isto resultará num consumo por pessoa de 1,43kg de maracujá, que é superior ao consumo médio atual por pessoa. Isto sem contar as frutas que chegam de São Paulo e do Paraná. Portanto, o alerta está dado e muita cautela deve ser tomada pelos técnicos e agricultores daqui para diante.
Tabela 2 - Comparação do maracujá com outras culturas (em real) Cultura Maracujá Arroz irrigado Banana Bovino de leite
Renda bruta ha/ano
Custo ha/ano
Margem bruta
8.133 1.200 2.756 1.554
2.136 633 1.208 693
5.997 567 1.548 861
Fonte: Equipe de socioeconomia da EPAGRI - E.E. Itajaí.
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Reportagem
Curiosidades sobre o maracujá O maracujazeiro é uma planta tropical, nativa do Brasil, mas que se encontra cultivada em diferentes partes do mundo - Austrália, Sri Lanka, Quênia, África do Sul, Havaí, Nigéria, Peru, Colômbia, etc. Pertencente à família das passifloráceas, que se subdivide em catorze gêneros e mais de 500 espécies, sendo 60 comestíveis. No Brasil duas espécies são as mais cultivadas, Passiflora edulis F. flavicarpa, conhecida como maracujá amarelo, e a espécie Passiflora edulis SIMS, vul-garmente conhecida como maracujá roxo. O maracujá amarelo é o mais cultivado e preferido pelos consumidores, por apresentar um aroma mais suave que o do roxo. O seu tamanho também é maior, e resiste mais a Fusarium oxysporum passiflore, que é a principal doença que ataca a planta em qualquer estágio. O maracujá amarelo tem também mais produtividade e é mais adaptado aos dias quentes. Onde não houver possibilidade de produzir o amarelo, ou se o interesse do produtor recair sobre o roxo, recomenda-se fazer o enxerto sobre o cavalo do amarelo. Os frutos do maracujá roxo, apesar de menores, possuem maior teor de suco do que o amarelo. Sendo uma planta tropical, o maracujazeiro não se adapta em regiões sujeitas a geadas ou ventos frios. Vai melhor em regiões com temperatura entre 23 e 27oC, umidade relativa baixa e precipitações bem distribuídas durante o ano. Chuvas muito intensas prejudicam a polinização e estiagens prolongadas retardam o crescimento e a floração. A planta se desenvolve em quase todos os tipos de solo, mas prefere os profundos, bem drenados, leves, não sujeitos à compactação, areno-argilosos, pH (índice de acidez) em torno de 5,5, sem cascalhos e pedras. Devem ser evitados solos sujeitos ao encharcamento mesmo por curtos períodos. A importância do maracujá está na 34
O maracujá é uma fruta muito nutritiva com altos teores de vitaminas A, B e C e minerais como cálcio, ferro e fósforo
sua utilização na alimentação humana, já que na sua composição são encontrados elevados teores de açúcares, vitaminas A, B e C e minerais, com destaque para cálcio, ferro e fósforo. É também muito característica a presença do princípio ativo maracujina, utilizado para o tratamento da insônia, ansiedade e excitações nervosas. O próprio suco do maracujá é um calmante natural. Economicamente o maracujá atrai a atenção pela produção e comercialização do suco, tanto natural como concentrado, ou ainda misturado com água ou outros sucos, tipo abacaxi, laranja, etc. Utiliza-se ainda o suco na fabricação de sorvetes e cremes cristalizados, entrando também na composição de bebidas alcóolicas (licores, vinhos e batidas), refresco em pó, iogurte, polpa congelada, proteína congelada (mistura com soja). Como subproduto da industrialização do suco de maracujá, temos a casca e as sementes, que podem ser processadas para a fabricação de rações, óleos comestíveis, adubos, etc. Antes de 1960, no Brasil, o maracujá era cultivado no quintal, não existindo plantios comerciais.
No começo, esta produção foi suficiente para atender às necessidades da própria família e o pequeno mercado regional. Com a formação de algumas indústrias de maior porte, começou a industrialização do maracujá. Nas pequenas parcelas das casas rurais, o maracujá estava em equilíbrio biológico, mas ao aumentar a área, ao iniciar os pomares comerciais, começaram a surgir doenças e pragas. Enquanto no exterior se chegava a produzir 40t/ha/ano, aqui no Brasil não se chegava a 10t. Por que isso? A resposta foi fácil: faltou pesquisa na cultura em nível nacional, como também regional. Não bastava só produzir, só traduzir livros e trabalhos de pesquisa do exterior, era necessário investigar, adaptar resultados obtidos longe, a milhares de quilômetros, à nossa realidade. Assim, após anos de pesquisa e com uma as-sistência técnica mais constante nos aspectos fitossanitários e fitotécni-cos, hoje já se consegue, por exemplo, aqui no Sul, em média, 20t/ha, o dobro portanto dos primeiros anos, e as perspectivas são de incrementar mais ainda esta produtividade em futuro próximo. Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Tomate
Cultivares de tomate para o Baixo VVale ale do Itajaí Antônio Amaury Silva Júnior, Valmir José Vizzotto e Henry Stuker
E
ntre as 200 espécies de hortaliças conhecidas na Terra e 70 no Brasil, o tomate detém a vanguarda pela sua proeminente importância socioeconômica e alimentar. Uma das principais peculiaridades da cultura é a sua produtividade, a mais alta entre as plantas comestíveis, habilitando-a a um restrito grupo de explorações de alta densidade econômica (1). Tal característica permite viabilizar economicamente mesmo as menores áreas rurais (minifúndios). Além disso, a cultura exige um grande número de serviços, valorizando a mão-de-obra fami-liar e mantendo um grande contingente de trabalhadores rurais no campo, reduzindo assim o êxodo rural. A expansão da tomaticultura e a sua consolidação como uma atividade competitiva, mesmo diante de mercados estrangeiros, mais exigentes, está intimamente vinculada ao grau de tecnologia empregado no desenvolvimento de cultivares e práticas culturais mais adequadas às regiões produtoras. Nos últimos 20 anos foram constatados incrementos da ordem de 206% na produção, 80% na área de cultivo e 66% na produtividade do tomate catarinense, o que se traduz num aumento médio anual de 2.506t na produção, 47ha na área cultivada e 916kg/ha na produtividade média (2). Não obstante, a produtividade média do Estado é ainda baixa, se comparada a outros Estados da Federação. Isto deve-se, entre outros fatores, à pouca adaptação das cultivares a determinadas condições edafoclimáticas de cultivo e ao próprio potencial genético da cultivar. O uso de cultivares pouco adaptadas pode resultar em perda de rendimento e qualidade dos frutos, maior suscetibilidade às doenças e pragas, degenerescência, distúrbios fisiológicos, baixa capacidade de conservação, Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
manipulação e transporte e/ou na obtenção de produtos atípicos em relação às preferências do consumidor (3). As variações que ocorrem no comportamento de cultivares de tomate introduzidas a partir de outros Estados do Brasil ou do exterior são atribuídas principalmente ao efeito ambiental, em especial às condições edafoclimáticas distintas entre os locais em que foi obtida e/ou selecionada a cultivar e aquele onde foi cultivada. Todas as demais tecnologias tornam--se ineficientes quando não se utiliza a cultivar adequada à região de cultivo (4). Anualmente são lançadas no mercado várias cultivares de tomate com características agronômicas superiores, via de regra, às cultivares antecessoras. Tendo em vista o grande número de cultivares disponíveis no mercado nacional e estrangeiro, desenvolveu-se um ensaio de introdução e avaliação de materiais mais promissores para o cultivo no Litoral Catarinense, visando a produção de frutos para o consumo in natura.
Metodologia de pesquisa O experimento foi instalado no município de Itajaí, na Estação Experimental da EPAGRI, de fevereiro a julho de 1992 e 1993, em solo Cambissolo Distrófico álico (textura argilosa), cuja análise química revelou os seguintes valores: pH 5,3; fósforo 21ppm; potássio 102ppm; matéria orgânica 2% e cálcio + magnésio 4,2me/100g de solo. Utilizaram-se as cultivares Ângela Gigante I-5.100 (Asgrow, Agroceres e Topseed), Roquesso Ag-591, Jumbo Ag-592, Barão Vermelho, Paraopeba, Príncipe Gigante Ag-590, Olho Roxo,
Colorado Ag-05 (Agroceres), Cláudia, Débora, Akamaru Gigante (Agroflora), Neide (Cooperativa Agrícola Sul-Brasil), Campanar, Jackpot (Ferry Morse), Santa Clara (Agroflora, Topseed, Asgrow), Sunny, Pacific, Humaya (Asgrow), Monte Carlo, Cardeal, Duke (Topseed) e Iguaçu (Honjo). Adotouse o delineamento de blocos ao acaso com quatro repetições. As parcelas apresentaram uma área útil de 5m2 (dez plantas). Os tomateiros foram conduzidos de acordo com o “Sistemas de Produção para Tomate para o Estado de Santa Catarina” (1), utilizando-se duas plantas por cova e uma haste por planta, no espaçamento de 1,0 x 0,5m. Foram avaliados aspectos de crescimento da planta, produção e qualidade dos frutos.
Resultados de pesquisa As cultivares testadas apresentaram diferenças marcantes em seu comportamento fenológico e produtivo, iniciando já a partir do tempo decorrido da emergência das plântulas, que variou de cinco a onze dias (Tabela 1) à temperatura de 25 a 28oC. A germinação das sementes de tomate ocorre entre 4 a 25 dias após a semeadura e depende da temperatura e umidade disponível no solo, idade e vigor da cultivar. Em geral, a semente germina de sete a nove dias após o plantio à temperatura de 20 a 25oC (5). Não se constatou correlação entre os dias de emergência com o tamanho da semente, tipo do fruto (plurilocular ou oligolocular) ou natureza do material semeado (híbrido ou cultivar). Via de regra, a precocidade de germinação está diretamente relacionada ao vigor ini-cial das plântulas. 35
Tomate
Tabela 1 - Características de cultivares de tomate. Médias de dois anos. EPAGRI, Itajaí, 1992
Cultivar
Fornecedor
Ângela Gigante Asgrow Roquesso Agroceres Santa Clara Agroceres Ângela Gigante Agroceres Neide Sul-Brasil Campanar Ferry-Morse Jackpot Ferry-Morse Sunny Asgrow Pacific Asgrow Jumbo Agroceres Iguaçu Honjo Humaya Asgrow Barão Vermelho Agroceres Paraopeba Agroceres Santa Clara Asgrow Príncipe Gigante Agroceres Colorado Agroceres Monte Carlo Topseed Duke Topseed Ângela Gigante Topseed Cardeal Topseed Olho Roxo Agroceres Cláudia Agroflora Débora Agroflora Akamaru Gigante Agroflora Santa Clara Agroflora
EmerCrescimento UniforFormato gência midade de do (no dias) Tipo(A) Porte frutificação(B) fruto(C) 5 5 5 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 9 9 11 5 5 7 5
I I I I I I D D D I I I I I I I I I D I I I I I D I
Alto Alto Médio Médio Médio Médio Baixo Baixo Baixo Baixo Alto Médio Alto Baixo Médio Médio Médio Médio Baixo Médio Médio Médio Alto Alto Baixo Médio
Média Alta Média Média Baixa Média Média Média Média Alta Média Excelente Excelente Média Média Média Excelente Alta Média Baixa Média Média Alta Alta Média Média
Q O Q O Q O Q O Q R R RA RA Q Q O RA R Q Q O Q O RA RA RA Q O Q O Q Q O Q O RA Q O
(A)Tipo: indeterminado e determinado. (B)Grau de uniformidade de formato e tamanho do fruto. (C)Formato do grupo: QO - Quadrado oblongo; Q - quadrado; R - Redondo; A - Achatado.
Dos 26 materiais testados, quatro apresentaram crescimento determinado (Jackpot, Akamaru Gigante, Sunny, Pacific e Duke) (Tabela 1), ou seja, porte baixo e com emissão de um cacho floral a cada uma a duas folhas produzidas (Figura 1). Estas características permitem a condução do tomateiro em estruturas mais simplificadas, favorecem uma melhor ventilação e iluminação dos órgãos aéreos da planta (reduzindo os riscos de doenças e aumentando a eficiência fotossintética) e permitem a obtenção de colheitas mais concentradas e uniformes. Alie-se a isto a versatilidade das cultivares de crescimento determinado, especialmente as híbridas, de poderem ser cultivadas em densidades populacionais mais altas, visando o aumento da produtividade (6). A uniformidade de frutificação foi mais evidente nas cultivares Colorado, Barão Vermelho e Humaya, do grupo plurilocular, seguidas por Jumbo, Débora, Cláudia, Roquesso e Cardeal, do 36
grupo oligolocular (Tabela 1). Quanto maior a uniformidade de frutificação, mais uniformes e concentradas são as colheitas. A ocorrência de frutos de tamanhos e formas muito distintos, ou em número reduzido no cacho frutífero (Figura 2), é indicativo do
baixo grau de adaptação das cultivares às baixas temperaturas (3 e 7) e está estritamente vinculada aos distúrbios fisiológicos reprodutivos, em especial aos abortamentos florais e frugais (Figura 3) e à partenocarpia (Figura 4). O abortamento floral também acontece quando ocorrem altas temperaturas durante o florescimento (acima de 35oC). As cultivares Campanar, Jackpot, Sunny, Pacific, Humaya, Barão Vermelho, Colorado, Monte Carlo, Duke e Akamaru Gigante pertencem ao grupo Salada ou Caqui (Figura 5), cuja maior peculiaridade dos frutos é a de serem pluriloculares. O formato do fruto varia de redondo a redondoachatado. Caracterizam-se pelo maior peso médio dos frutos (mais de 150g), maior suscetibilidade às doenças e pragas e sensibilidade ao transporte e ao manuseio. Em conseqüência disto, os frutos alcançam, invariavelmente, altos preços no mercado, atingindo restrito grupo de consumidores exigentes e/ou de maior poder aquisitivo. As demais cultivares estão inseridas no grupo denominado “Santa Cruz”, cujo formato varia de quadrado a quadrado-oblongo (Tabela 1). O tipo “Santa Cruz” é, via de regra, uma peculiaridade brasileira e sua melhor característica é a firmeza de fruto, conferida pela natureza bilocular ou trilocular (Figura 6). Devido a esta peculiaridade, o tomate brasileiro pode ser transportado ao longo de distânci-
Figura 1 - Tomateiros de crescimento determinado. À esquerda inflorescência apical e à direita planta com porte baixo
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Tomate
Figura 2 Desuniformidade na frutificação do cacho de tomate Figura 3 Abortamento floral do tomateiro
Figura 4 Frutos de tomate partenocárpicos
Figura 5 - Corte transversal de fruto de tomate do tipo plurilocular
Figura 6 - Frutos de tomate bilocular (à esquerda) e trilocular (à direita)
as continentais sem o risco de rompimento e esmagamento. A ocorrência da brotação terminal do rácimo, nas cultivares testadas, foi relativamente baixa, variando de 1,5 a 3,8% nas cultivares Ângela, Santa Clara, Iguaçu, Neide e Colorado, conforme já verificado (3) para as cultivaAgrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
res Ângela Hiper e Ângela Gigante. A brotação terminal do rácimo (Figura 7) manifesta-se como uma segregação de caracteres dos materiais progenitores do tipo plurilocular selvagem e apresenta alguns inconvenientes, entre eles a redução no tamanho dos frutos ou a dificuldade de se proceder
a desbrota. Devido ao maior conteúdo de fibras destas brotações, qualquer tentativa de desbrota manual redunda, invariavelmente, em laceração longitudinal profunda no tecido penduncular do rácimo, dificultando a cicatrização tópica e favorecendo, conseqüentemente, eventuais invasões de microorganismos patogênicos (Alternaria sp, Erwinia sp, etc.). A opção por deixar as brotações nos rácimos frutíferos age em detrimento da arquitetura da planta: as brotações desenvolvem-se à guisa de uma haste caulinar que, muitas vezes, prosta-se sobre o solo. O contato da folhagem com o solo pode resultar em problemas de ordem fitossanitária, e a folhagem pode sofrer eventuais pisoteios. O amarrio destas brotações ao tutor abrandaria o risco de distúrbios 37
Tomate
fitossanitários, porém é pouco exeqüível, na prática. O grande inconveniente em se deixar estas brotações é a competição por nutrientes, cujo prejuízo maior é a redução no tamanho dos frutos. Um procedimento mais adequado para a extirpação destes brotos é o uso de uma tesoura ou faca de gume afiado e desinfetado (para evitar transmissão de viroses). Quanto à produção comercial, as cultivares mais produtivas foram Débora, Jumbo, Santa Clara e Cláudia, com rendimentos acima de 72t/ha e mais alta percentagem de frutos graúdos (Tabela 2). São todas de crescimento indeterminado e padrão de fruto tipo Santa Cruz (bi e trilocular). Verificou-se uma maior uniformidade de produção de frutos graúdos no híbrido Débora e na cultivar Jumbo, enquanto que para a cultivar Santa Clara os maiores índices ocorreram entre a segunda e a quarta colheita (Figura 8). Dos quatro materiais que se destacaram, apenas Débora e Cláudia são híbridos. A grande vantagem da utilização de materiais híbridos é a maior estabilidade produtiva, mesmo sobre condições adversas de cultivo (8). Embora tenha sido a cultivar mais produtiva, para as condições edafoclimáticas do Litoral de Itajaí, o híbrido Débora apresentou um menor peso médio de fruto em relação aos materiais mais promissores. Dos materiais do tipo plurilocular (tomate tipo salada) destacaram-se os híbridos Monte Carlo e Colorado, com rendimento médio de 64,43 e 53,21t/ ha, respectivamente (Tabela 3). Com relação ao tamanho do fruto, os materiais pluriloculares se destacaram pelo maior índice de frutos graúdos, sendo que Colorado e Duke apresentaram peso médio do fruto acima de 270g (Tabela 3). Embora a produção de frutos graúdos se concentre nas primeiras colheitas, o híbrido Colorado apresentou uma produção uniforme ao longo de dez colheitas (Figura 9). O bom desempenho do híbrido Colorado nas condições edafoclimáticas de Itajaí deve-se, essencialmente, à resistência múltipla às principais doenças do tomateiro, especialmente Alternaria solani, e ao próprio vigor híbrido. Este 38
mesmo material, testado nas condições climá ticas de Urubici, apresentou um péssimo desempenho agronômico (informações preliminares obtidas na Estação Experimental de São Joaquim). Os resultados de produtividade e tamanho de fruto obtidos neste trabalho, quando comparados a outros en-
saios, nas mesmas condições edafoclimáticas (3), demonstram ter havido uma evolução significativa no desempenho das cultivares, sobretudo das oligoloculares. Via de regra, o aumento da produtividade é resultado do aumento do peso médio dos frutos e da incorporação de resistência às doenças.
Figura 7 Brotação terminal do rácimo do tomateiro
Tabela 2 - Produção comercial (t/ha), percentagem de frutos graúdos e peso médio dos frutos de tomate (g) tipo Santa Cruz. Média de dois anos. EPAGRI, Itajaí
Cultivar
Débora Jumbo Santa Clara Cláudia Santa Clara Santa Clara Ângela Gigante Ângela Gigante Roquesso Ângela Gigante Cardeal Olho Roxo Paraopeba Iguaçu Príncipe Gigante Neide
Fornecedor
Agroflora Agroceres Agroflora Agroflora Asgrow Agroceres Topseed Asgrow Agroceres Agroceres Topseed Agroceres Agroceres Honjo Agroceres Sul-Brasil
Produção comercial (t/ha) 82,15a 79,41a 76,30ab 75,66ab 74,32ab 72,58ab 69,94 b 68,49 b 65,70 b 64,48 63,31 46,88 45,49 42,22 40,36 37,66
Frutos Graúdos(A) (%) 87,4a 88,8a 86,7a 86,4a 87,3a 85,9a 73,7 b 74,2 b 79,2ab 75,4 b 63,9 69,3 65,4 70,4 63,8 70,8
Peso médio (g) 115b 128a 123a 130a 121ab 124a 95 98 98 101 91 87 92 87 75 78
(A) Frutos graúdos: diâmetro transversal do fruto > 47mm. Nota: Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente pelo Teste Duncan 5%.
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Tomate
Literatura citada 1. EMPASC/EMATER-SC/ACARESC. Sistemas de produção para tomate para o Estado de Santa Catarina. Florianópolis: 1991. 75p. (EMPASC/ACARESC. Sistemas de Produção, 18). 2. SILVA, A.C.F. da. A evolução das hortaliças em Santa Catarina. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.5, n.3, p.1418, 1992.
Figura 8 Percentual de frutos graúdos de tomate ao longo de dez colheitas
Tabela 3 - Produção comercial (t/ha), percentagem de frutos graúdos e peso médio dos frutos de tomate(g) tipo Salada. Médias de dois anos. EPAGRI, Itajaí
Cultivar
Fornecedor
Produção comercial (t/ha)
Monte Carlo Colorado Pacific Campanar Duke Sunny Barão Vermelho Humaya Jackpot
Topseed Agroceres Asgrow Ferry-Morse Topseed Asgrow Agroceres Asgrow Ferry-Morse
64,43a 53,21 b 49,90 b 48,31 b 46,63 b 45,96 44,64 41,40 37,01
Frutos Graúdos(A) (%)
Peso médio (g)
51,2 78,9a 58,9 30,0 70,2 b 55,2 48,5 54,1 27,5
203 b 286a 225 b 158 274a 219 b 195 205 b 142
(A) Frutos graúdos: com peso médio superior a 250g. Nota: Médias seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente pelo Teste Duncan 5%.
3. SILVA JÚNIOR, A.A.; PRANDO, H.F. Cultivares e épocas de semeadura de tomate para o Litoral Catarinense. Agropecuária Catarinense. Florianópolis, v.2, n.3, p.48-50, 1989. 4. SILVA, A.C.F. da; MULLER, J.J.V.; YOKOYAMA, S. Comportamento de cultivares de pepino para a indústria, no Baixo Vale do Itajaí, Estado de Santa Catarina. Florianópolis: EMPASC, 1979. 7p. (EMPASC. Comunicado Técnico, 27). 5. MINAMI, K.; HAAG, H.P. Fisiologia da produção. In: MINANI, K.; HAAG, H.P. O tomateiro. 2.ed. São Paulo: Fundação Cargill, 1989. p.19-88. 6. AUSTIN, M.E.; DUNTON JR., E.M. Fertilizer-plant population studies for once-over tomato harvest. Journal of American Society for Horticultural Science, Mount Vernon, v.95, p.645649, 1970. 7. MELO, P.C.T. de. Tendências do melhoramento genético do tomateiro visando mesa e indústria no Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DE PRODUÇÃO E ABASTECIMENTO DE TOMATE, 2., 1991, JABOTICABAL, SP. Anais . Jaboticabal: UNESP, 1991. p.35-46. 8. ORSETTI, P.T. How the use of hybrids has influenced the processing tomato industry in California. Acta Horticulturae, n.100, p.375-377, 1980.
Figura 9 Híbrido de tomate Colorado
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Antônio Amaury Silva Júnior, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 3.161-D, CREA-SC, EPAGRI-Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, Fone (0473) 46-5244, Fax (0473) 46-5255, 88301-970 - Itajaí, SC, Valmir José Vizzotto, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. n o 777-D, CREASC, EPAGRI-Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, Fon e (0473) 46-5244, Fax (0473) 46-5255, 88301-970 - Itajaí, SC e Henri Stuker, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 42.785D, CREA-RS, EPAGRI-Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, Fone (0473) 46-5244, Fax (0473) 46-5255, 88301-970 - Itajaí, SC.
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Fundo de terras
Ações fundiárias em Santa Catarina Ademir Antonio Cazella
E
m Santa Catarina, as principais ações do Estado referentes à questão agrária podem ser enquadradas no âmbito do Plano Nacional de Reforma Agrária - PNRA1 e do Programa Fundo de Terras, políticas dos governos federal e estadual, respectivamente. Segundo dados da Diretoria de Assuntos Fundiários - DASF, da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e da Agricultura - SDA, a partir de 1985, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INCRA implantou 62 projetos de assentamento de agricultores em 29 municípios de Santa Catarina, totalizando 44.723,42ha, beneficiando 2.525 famílias de agricultores sem terra. O Programa Fundo de Terras, operacionalizado em 1984, apresenta um total de 1.866 famílias assentadas. Neste artigo pretendemos destacar as potencialidades político-sócio--econômicas desse programa que, na maioria das vezes, são desconsideradas, tanto por entidades de assessoria, ou de representação dos agricultores, como pelo próprio governo.
Análise do Programa Fundo de Terras O Programa Fundo de Terras foi criado e regulamentado em 1983, respectivamente, pela lei no 6.288, de 31 de outubro e pelo decreto no 20.842, de 16 de dezembro. Em 1992, foi incluído como um instrumento de política agrária na Lei Agrícola de Santa Catarina (lei no 8.676, de 17 de junho). Seu objetivo principal consiste na compra e venda de terras, para fins de reordenamento fundiário e de assentamento de agricultores. O artigo 32, parágrafo 1o, da Lei Agrícola, define como beneficiários do programa “os minifundiários, os trabalhadores rurais sem terra, os pescadores artesanais e, ainda, suas associações ou cooperativas” (2).
A administração do programa é dinamizada pelos comitês estadual e municipais. O primeiro é composto por nove membros, assim distribuídos: um da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Santa Catarina - FETAESC; um da Federação da Agricultura do Estado de Santa Catarina - FAESC; um da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina - OCESC; um da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado de Santa Catarina - FECOAGRO; um da Coordenação Estadual do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA; dois da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e da Agricultura - Diretoria de Assuntos Fundiários - SDA/DASF e dois dos Clubes 4-S2. Os comitês municipais são compostos por cinco entidades, a saber: Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - EPAGRI; Sindicato dos Trabalhadores Rurais - STR; Sindicato Rural - SR; Cooperativa com área de atuação no município e representantes dos Clubes 4-S. Em 1988, um levantamento feito pelos comitês municipais constatou a existência de 10.600 agricultores inscritos e uma estimativa de 43.000 agricultores como sendo o público potencial do programa. Essa demanda aproxima-se do número de agricultores não proprietários existentes no Estado, conforme demonstra a Tabela 1. Da mesma forma, podemos verificar, pela Tabela 2, que 83% dos agricultores beneficiados 3 pelo Fundo de Terras são ex-arrendatários. Outro aspecto importante a ser analisado refere-se às principais razões que justificam a venda de terras pelos antigos proprietários. As Tabelas 3 e 4 demonstram que 29% possuíam mais terras e 16% não eram agricultores. Além disso, 49% dos imóveis não eram explorados pelos
então proprietários. Esses dados podem suscitar inúmeras discussões, dentre elas, e a mais freqüente, de que o programa acaba tornando-se um mero veículo de transferência de terras entre pequenos agricultores. Ou seja, ao beneficiar um agricultor com o acesso à terra estaria desalojando outro e, conseqüentemente, provocando o êxodo rural. Vejamos a questão mais de perto. O estudo da FAO/INCRA - Diretrizes de Política Agrária e Desenvolvimento Sustentável (4), ao analisar as ações do Estado no campo fundiário, sugere políticas complementares à reforma agrária. A atual conjuntura agrária do país revela uma demanda por terras superior à capacidade fiscal e institucional da União em solucionar o problema. “Tendo em vista, por outro lado, que a reforma agrária via desaproTabela 1 - Condição do produtor catarinense
Categoria Proprietários Arrendatários Parceiros Ocupantes Total
No de estabelecimentos 182.816 15.446 16.128 20.583 234.973
Fonte: IBGE. Censo Agropecuário (1985). Tabela 2 - Regime de trabalho anterior dos beneficiados Item
Número
Percentagem
Arrendatário Empregado rural Filho pequeno agricultor Jovens 4-S Outros Número de contratos
1.770 122 109 113 20 2.134
83 6 5 5 1 100
Fonte: SDA/DASF (jun. 1995).
1. Para uma análise do PNRA, ver VEIGA (1). 2. O Clube 4-S é a forma clássica de atuação dos órgãos oficiais de extensão com a juventude rural. O significado dos 4-S é saber, servir, sentir e saúde. Para uma análise desse tema, ver MUSSOI (3). 3. As Tabelas 2, 3 e 4 incluem, também, as famílias que transferiram o imóvel para outro mutuário.
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Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Fundo de terras
Tabela 3 - Motivo de venda do lote pelo antigo proprietário Item
Número
Percentagem
Possui mais terras Não era agricultor Pessoas idosas Venda para arrendatário Mudança de local Transferência mutuários Compra área maior Saiu da agricultura Terras do Estado Outros Número de contratos
619 339 162 120 186 263 44 73 80 248 2.134
29,0 16,0 7,5 5,5 9,0 12,0 2,0 3,0 4,0 12,0 100
Fonte: SDA/DASF (jun. 1995). Tabela 4 - Situação anterior do imóvel Item
Número
Percentagem
Explorado Inexplorado Arrendado Parcialmente explorado Outros Número de contratos
531 1.050 255 295 3 2.134
25 49 12 14 100
Fonte: SDA/DASF (jun. 1995).
priação não tem condições de atender as necessidades de terra de um universo maior de agricultores (2,5 milhões), trata-se de complementar este programa com outros tipos de intervenção, como o ordenamento agrário, o acesso indireto (arrendamento e parceria) e a tributação” (FAO/INCRA 1994, p.12). Com base nessa proposição, a política de ordenamento agrário visa atender jovens rurais e/ou agricultores com terras, mas em quantidade insuficiente, ou em regime de posse inadequado, tornando-os proprietários de unidades familiares de produção agrícola viáveis. Além disso, esse tipo de ação objetiva, prioritariamente, evitar que as terras que se encontram no mercado fundiário por razões diversas - transferência do proprietário para outra região, abandono da atividade, aposentadoria, etc. - acabem nas mãos de proprietários não agrícolas, ou de grandes fazendeiros. Segundo a FAO/INCRA (4), a operacionalização dessa política pas-
sa pela criação de Sociedade de Ordenamento Fundiário (SOF), em nível mundial, ou regional, com direito de preempção (precedência na compra das terras ofertadas no mercado fundiário) e potencializadas com o repasse de Títulos de Dívida Agrária TDAs pela União. O Programa Fundo de Terras encaixa-se perfeitamente dentro dessa política e qualquer pessoa com vivência de campo deve ter associado casos de comerciantes, profissionais liberais, etc, que, através da compra de pequenas propriedades rurais ao longo do tempo, atualmente são proprietários de áreas maiores que as antigas comunidades rurais. Esses casos, por si só, justificam que se dê uma maior atenção para o ordenamento fundiário, se possível tornando Santa Catarina o Estado pioneiro em instrumentalizar os Comitês Municipais do Programa Fundo de Terras com o direito de preempção e com TDAs, condições necessárias para um programa ágil e eficaz. Outro aspecto polêmico refere-se às desistências dos agricultores beneficiados por políticas fundiárias. Até junho de 1995, em quase doze anos de existência do Fundo de Terras, 2.134 famílias foram atendidas e 1.866 imóveis foram adquiridos. Dessas, 263 transferiram o imóvel para outro mutuário, 44 estavam em processo de transferência e cinco contratos foram cancelados por razões diversas. Se considerarmos esses casos como sendo as desistências do programa, temos um percentual de, aproximadamente, 17% de beneficiários desistentes. Um estudo da FAO/
PNUD (5) apresenta as médias de desistências dos projetos de reforma agrária do governo federal, em nível de Brasil e região Sul, como sendo, respectivamente, 22% e menos de 5%. No entanto, recentes contatos com técnicos da SDA/DASF, do INCRA e com lideranças do Movimento dos Sem--Terra - MST revelam opiniões consen-suais sobre um índice superior a 20% referente às desistências dos assentamentos rurais em Santa Catarina. Embora esse aspecto mereça uma análise precisa, essas estimativas são confirmadas pelo levantamento realizado em três assentamentos localizados nos municípios de Ponte Serrada e Passos Maia (6), segundo o qual, no assentamento 25 de Maio, o índice de desistência é de 56%, no assentamento Taborda é de 18% e no assentamento Sapateiro I é de 42%. Com isso, pode-se afirmar que o programa encontra-se dentro de parâmetros aceitáveis no tocante às trocas de mutuários. Outro dado importante do Fundo de Terras é a existência de catorze projetos de assentamentos, com cinco ou mais famílias, totalizando 204 famílias beneficiadas (Tabela 5). Embora inexistam dados sobre os casos com dois a quatro mutuários é pertinente chamar a atenção para a importância organizacional do assentamento contíguo de parentes, vizinhos e compadres4. A transferência de TDAs pelo governo federal a programas dessa natureza favorece a aquisição de imóveis para o assentamento conjunto de famílias, potencializando a cooperação agrícola e os serviços do Estado entre e para as mesmas.
Tabela 5 - Assentamentos com cinco ou mais famílias do Fundo de Terras Projeto Sombrio Salto União Linha Figura Alto Rio Saltinho Taipa Baixa Rio Bugio Tambeiro Aratingaúba São Braz Rio de Areia Linha Califórnia Santa Inês Serra Grande Serra Chata Total
Município Santa Rosa do Sul Dionísio Cerqueira São Domingos Ituporanga Mondaí Matos Costa Monte Castelo Imaruí Barra Velha Urubici São José do Cedro São Lourenço do Oeste Petrolândia Matos Costa -
Área (ha) 645 441 105 143 122 73 122 75 74 100 56 60 45 72 2.133
Famílias (no) 65 45 16 14 12 05 09 05 05 07 05 05 05 06 204
Data contrato 1987 1984 1985 1984 1985 1991 1985 1985 1985 1985 1985 1984 1984 1984 -
Fonte: SDA/DASF (abr. 1995).
4. Para uma discussão sobre as relações de parentesco, vizinhança e compadrio entre os camponeses, ver, dentre outros, VIANNA (7).
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
41
Fundo de terras
Manejo do solo
Por fim, chamamos a atenção para a necessidade de a sociedade civil organizada participar ativamente do processo de ordenamento agrário. Nesse sentido, cabe aos interessados e, sobretudo, às autoridades ligadas ao assunto promoverem o debate e as reformulações nos instrumentos de política agrária. Por exemplo, a composição dos comitês estadual e municipais do programa representa as forças políticas atuantes na questão agrária do Estado relativas ao início da década passada. Atualmente, novos atores surgiram nesse cenário, como o MST, que participa ativamente do Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural - CEDERURAL, em especial, na Câmara Setorial Fundiária, os agricultores assentados pelos governos federal e estadual, as Organizações Não Governamentais - ONGs, a Federação Catarinense de Associações dos Municípios FECAM, além de outros organismos que, certamente, têm interesse em contribuir para a resolução dos problemas agrários do Estado.
Nota dos editores
Literatura citada 1. VEIGA, J.E. da. A reforma que virou suco: uma introdução ao dilema agrário do Brasil. Petrópolis: Vozes, 1990, 157p. 2. SANTA CATARINA. Leis, decretos, etc. A nova lei agrícola de Santa Catarina . Florianópolis: 1993. 20p. 3. MUSSOI, E.M. Juventude rural: em busca de um trabalho sob nova dinâmica . Florianópolis: EPAGRI, 1993. 18p. (EPAGRI. Documentos, 142). 4. FAO. Diretrizes de política agrária e desenvolvimento sustentável . Brasília: 1994. 24p. 5. FAO. Principais indicadores sócio-econômicos dos assentamentos de reforma agrária. [S.1.]: 1992. 24p. 6. PHILIPPI, L. de M. As questões agrárias e os assentamentos em Santa Catarina . Florianópolis: UFSC/Centro de Ciências Agrárias, 1995. 76p. (Relatório de Estágio). 7. VIANNA, A. Organização social e ação política do campesinato: o caso da ‘invasão’ da Fazenda Annoni: Rio de Janeiro: UFRJ, 1989. (Comunicação, 15). Ademir Antonio Cazella, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 7.194-0, CREA-SC, Professor da Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Agrárias - UFSC/CCA, C.P. 476, Fone (048) 234-2266/ramal 224, Fax (048) 234-2014, 88040-900 - Florianópolis, SC.
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O artigo publicado a seguir é o primeiro de uma série de três, devendo os dois seguintes ser veiculados nas edições de
março e junho de 1996, abordando respectivamente a influência da minhoca sobre as plantas e a água no solo.
Influência da minhoca no manejo de microbacias hidrográficas - 1 solo Masato Kobiyama
A
minhoca é um dos organismos mais comuns no solo. Desde os tempos antigos, os homens, principalmente agricultores, valorizam as minhocas. Elas são consideradas um dos símbolos de um solo de boa qualidade. Dentro das bacias hidrográficas, nos campos florestal e agrícola, a mecanização moderna e o uso inadequado de fertilizantes têm sido progressivamente difundidos e usados, a fim de aumentar a produtividade da terra. No entanto, essas atividades geralmente provocam a degradação do solo (1). Este trabalho é a primeira parte de uma série de três artigos, baseados em experimento executado pelo autor (2). O objetivo desta série é demonstrar como as minhocas atuam sobre algumas características dos solos e chamar a atenção para a possibilidade da sua utilização no manejo de microbacias hidrográficas. Este primeiro artigo expõe a influência da minhoca sobre o solo.
Material e métodos O ensaio foi realizado no campus do Setor de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, num Cambissolo. Os quatro tratamentos consistiram na aplicação das minhocas em dois experimentos, com população de 0, 30, 60 ou 90 indivíduos por metro quadrado. (Tratamento 00,
30, 60 e 90, respectivamente) com análises das variáveis no solo e com quatro repetições para as observações nas plantas. As dimensões das parcelas para observação do solo eram de 1,0 x 1,5m e para observação da planta, segundo experimento, de 1,5 x 1,8m. Daqui em diante, tendo em vista o tema do artigo, explicam-se os procedimentos somente em relação à observação do solo. Depois de eliminar todas as minhocas nativas das parcelas com a aplicação de Formol, foram colocadas as minhocas do experimento em número correspondente a cada tratamento. A minhoca utilizada foi Amynthas spp., comumente chamada de “minhoca louca” pelos agricultores. A limpeza das parcelas foi feita uma vez a cada duas semanas, quando as plantas daninhas foram arrancadas manualmente e deixadas na mesma parcela. Cerca de nove meses depois da aplicação das minhocas, em fevereiro de 1994, amostras do solo foram coletadas nas profundidades de 5, 15, 25 e 35cm, sem perturbação do ambiente, com cilindros de metal com capacidade de 100cm3 de volume e 4cm de altura. Essas amostras foram utilizadas para fins de medição da porosidade do solo, através da curva característica de retenção da água do solo, e de medição da permeabilidade. Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Manejo do solo
Resultados e discussão A Figura 1 mostra as médias dos valores obtidos de condutividade hidráulica saturada (CHS) e porosidade total (PT). A condutividade serve para determinar a permeabilidade do solo. Existe uma tendência de que os valores de CHS e PT aumentem bastante com o aumento da população das minhocas, até 25cm de profundidade. O aumento da condutividade melhora a drenagem do solo, e o aumento da porosidade, por melhorar a estrutura do solo, aumenta também a capacidade de armazenamento de água. Além disso, em geral, há tendência de maior influência das minhocas sobre os parâmetros do solo, quanto menor a profundidade. Neste estudo, foi constatado que as minhocas não atingiram profundidades superiores a 30cm. Assume-se que os valores das profundidades de 5, 15 e 25cm representam as características médias das faixas de 0 a 10cm, 10 a 20cm e 20 a 30cm, respectivamente. Daqui em diante serão discutidos os resultados até 30cm de profundidade. Outra propriedade importante do solo é o fator de aeração (AE), que está associado ao crescimento das raízes, pois quanto maior a aeração melhor o crescimento da raiz. Para calcular tal fator, considerou-se que a porosidade livre da água, semelhante a aeração, é a porosidade total menos a capacidade de campo. Os valores da AE de cada tratamento são mostrados na Tabela 1. Os dados obtidos mostram que houve tendência de melhor aeração do solo para as plantas quanto maior foi a população de minhocas. Na Tabela 2 são mostrados os valores da altura da água disponível para as plantas, ou seja, como a umidade se distribui em relação à profundidade. Este valor pode ser calculado como a capacidade de campo menos o ponto de murcha permanente. Ao se observar a Tabela 2, pode-se afirmar que os solos com as minhocas apresentam tendência para maior altura de água, água disponível, do que o solo sem as minhocas, embora a diferença seja pequena. Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Figura 1 - Variação vertical dos valores médios : (A) porosidade total (PT), em quatro diferentes tratamentos e (B) condutividade hidráulica saturada (CHS)
Tabela 1 - A aeração do solo em cm 3/cm3 Camada (cm) 0 a 10 10 a 20 20 a 30 Total (mm) Média (cm3 /cm3 )
Tratamento T0
T30
T60
T90
0,186 0,188 0,190
0,250 0,210 0,221
0,304 0,270 0,243
0,294 0,279 0,257
56,4
68,1
81,7
83,0
0,188
0,227
0,272
0,277
Nota: To = zero minhocas/m2; T 30 = 30 minhocas/m2 ; T60 = 60 minhocas/m 2; T 90 = 90 minhocas/m2 .
43
Manejo do solo
A porosidade efetiva é definida como sendo os poros por onde a água se movimenta e pode ser calculada como a porosidade total menos o ponto de murcha permanente. A Tabela 3 mostra como o valor da porosidade efetiva é crescente em relação a uma população crescente de minhocas. Isso indica que as minhocas facilitam a movimentação da água.
Conclusões • As minhocas Amynthas spp. alteraram as propriedades físicas do solo até 30cm, sendo que sua influência diminui conforme aumenta a profundidade. • Normalmente, quanto maior a população de minhocas, maiores foram os valores da condutividade hidráulica saturada, da porosidade total, da aeração, da água disponível do solo para as plantas e da porosidade efetiva.
Tabela 2 - A água disponível para planta em mm Tratamento
Camada (cm)
T0
T30
T60
T90
0 a 10 10 a 20 20 a 30
16,4 14,8 14,9
15,2 16,5 14,8
14,5 15,7 16,9
16,9 17,6 12,4
Total
46,1
46,5
47,1
46,9
Nota: To = zero minhocas/m2; T 30 = 30 minhocas/m2 ; T60 = 60 minhocas/m 2; T 90 = 90 minhocas/m2 .
Tabela 3 - A porosidade efetiva do solo em mm Tratamento
Camada (cm)
T0
T30
T60
T90
0 a 10 10 a 20 20 a 30
35,0 33,6 33,9
40,2 37,5 36,9
44,9 42,7 41,2
46,3 45,5 38,1
Total
102,5
144,6
128,8
129,9
Nota: To = zero minhocas/m2; T 30 = 30 minhocas/m2 ; T60 = 60 minhocas/m 2; T 90 = 90 minhocas/m2 .
Recomendações Normalmente considera-se que um solo tem melhores características quando são maiores os valores das propriedades discutidas anteriormente. Portanto, o presente estudo mostra que a atividade das minhocas Amynthas spp. influencia positivamente o solo, melhorando suas condições físicas e isso, provavelmente, pode ser extrapolado para os trabalhos ora em desenvolvimento nas microbacias hidrográficas catari-nenses.
É importante ressaltar que este trabalho considerou apenas um tipo de minhoca, isto é, Amynthas spp. Cada tipo de minhoca apresenta características ecológicas próprias (3 e 4). Outras pesquisas deverão contemplar espé-cies distintas desta, avaliando também as influências das minhocas sobre as propriedades químicas e biológicas dos solos.
Agradecimentos Ao Prof. Dr. Honório Roberto dos Santos, UFMS, pelo ensino da importância da minhoca no meio ambiente.
Literatura citada 1. KOBIYAMA, M.; USHIWATA, C.T.; BARCIK, C. Recuperação de áreas de-
gradadas - Conceito, um exemplo e uma sugestão. Bio, Rio de Janeiro, v.2, n.6, p.95-102, 1993. 2. KOBIYAMA, M. Influência da minhoca louca (Amynthas spp. Rosa, 1891) sobre o movimento da água do solo, relacionado ao crescimento da bracatinga (Mimosa scabrella Benth.) Curitiba: UFPR, 1994. 88p. Tese de Doutorado. 3. LEE, K.E. Earthworms: their ecology and relationships with soils and land use. Sydney: Academic Press, 1985. 411p. 4. MUINICHI, A.C. As minhocas. Ponta Grossa: Cooperativa Central Agropecuária Campos Gerais, 1983. 124p. Masato Kobiyama, Pesquisador, Doutor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental - Universidade Federal de Santa Catarina, C.P. 476, Fone (048) 231-9597, 88070-910 - Florianópolis, SC.
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Agropecuária Catarinense 44
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Mandioca
Efeito da densidade de plantio da mandioca na produção de raízes em solo Araranguá Euclides Mondardo, Renato Cesar Dietrich e Mauro Luiz Lavina
s Sistemas de produção para mandioca (1), destinado aos produtores que plantam mandioca em solo Araranguá e suas variações, recomendava o espaçamento de 0,8 a 1,0m entre filas e 0,6 a 0,8m entre plantas, equivalente a uma população média de 16.666 plantas/ha. O mesmo sistema de produção, revisado em 1979 (2), passou a recomendar o espaçamento de 1,2 a 0,6m entre filas e 0,8 a 0,5m entre plantas, correspondendo a uma densidade média de 17.708 plantas/ha. Em 1987, após o início deste trabalho, o mesmo sistema de produção foi submetido à 2a revisão (3), passando a recomendar o espaçamento de 0,6 a 1,0m entre fi-las e 0,5 a 0,7m entre plantas, correspondendo a uma população média de 23.809 plantas/ha, alterando assim a densidade populacional para mais. Segundo especialistas, existe uma densidade ótima de plantio e a mesma varia com a cultivar, com o tipo de solo e com o clima (4). Em geral solos pobres respondem ao incremento da população e, à medida em que aumenta a população de plantas, o rendimento total também aumenta, porém o número de raízes por planta e o tamanho das mesmas diminui; todavia melhora o controle de plantas daninhas (4). O presente trabalho de pesquisa visa sobretudo melhorar a eficiência do cultivo da mandioca, através de uma adequada densidade de plantio.
O
Material e métodos O experimento foi conduzido durante três anos agrícolas (1985/86, 1986/ 87 e 1987/88) em áreas distintas, no Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Campo Experimental de Jaguaruna, município de Jaguaruna, SC, em solo Araranguá (Areias Quartzosas Distróficas), cuja análise química inicial antes da instalação dos experimentos encontra--se na Tabela 1. O delineamento experimental foi em blocos casualizados com cinco densidades de plantio em parcelas, três cultivares de mandioca em subparcelas, com repetições no primeiro cultivo e quatro repetições nos demais, conforme especifica a Tabela 2. As cultivares usadas foram Mandim Branca, de porte baixo com ramificações na parte superior da planta, Mico, de porte médio com ramificações na parte inferior da planta, e Aipim Gigante, de porte alto sem ramificações
(5). O tamanho da maniva foi de 18cm em cultivo de um ciclo (dez meses), com plantio em setembro e colheita em julho do ano seguinte. A adubação foi feita segundo o Sistema de produção, conforme consta na Tabela 3 (2 e 3). Não houve ataque de pragas e de doenças, e a cultura foi mantida livre de concorrência de plantas daninhas. Na colheita foram avaliados o peso e o número de raízes, o peso da parte aérea e o teor de amido em %, através da balança hidrostática (6).
Resultados e discussão Na média dos três cultivos, as três cultivares tiveram comportamento re-
Tabela 1 - Análise química do solo nos três locais de experimentação, Jaguaruna, SC - EMPASC, 1989 pH
Índice
P
K
MO
Ca+Mg
Al
(H 2O)
(SMP)
(ppm)
(ppm)
(%)
(me%)
(me%)
1985/86 1986/87 1987/88
5,7 5,1 5,8
7,2 6,8 6,7
2,2 8,9 3,7
24 33 24
0,5 0,7 0,7
1,3 1,9 1,7
0,0 0,1 0,0
3 3 3
Média
5,5
6,9
4,9
27
0,6
1,6
0,0
-
Ano
Tabela 2 - Densidade de plantio com os respectivos espaçamentos e número de plantas/ha. Jaguaruna, SC EMPASC, 1989
Tabela 3 - Doses e épocas de aplicação dos fertilizantes nos experimentos de densidade de plantio, Jaguaruna, SC - EMPASC, 1989 Nutrientes e épocas de aplicação
Densi- Espaçamento Plantas/ha dade (m) (no)
Ano
D1 D2 D3 D4 D5
1985/86 N10-P30-K40 1986/87 1987/88 -
0,7 0,8 0,9 1,0 1,1
x x x x x
0,6 0,6 0,6 0,6 0,6
23.809 20.833 18.518 16.666 15.151
Textura
No plantio
45 DAP(A)
75 DAP(A)
N40 N40-P30-K60 N40-P30-K60
N40 N40
(A) Dias após o plantio.
45
Mandioca
lativo quanto a produção de raízes, ou seja, quanto maior a densidade de plantio, maior a produção por unidade de área, embora com tetos diferentes, maior para a Mandim Branca, e produções semelhantes para a Mico e a Aipim Gigante, conforme se observa na Figura 1. Quanto à produção da parte aérea (rama+cepa), da mesma forma as três cultivares tiveram a mesma tendência, ou seja, quanto maior a densidade, maior a produção (Figura 2). Na Figura 3 observa-se o comportamento do teor de amido em %, onde praticamente não houve influência das densidades de plantio, embora a cultivar Aipim Gigante apresente-se com teores mais elevados. No que se refere ao peso médio das raízes em gramas (Figura 4), nas três cultivares, à medida em que aumentou a densidade, diminuiu o peso médio, sendo maiores para a Mandim Branca e menores para a cultivar Aipim Gigante. Os dados do peso de raízes em quilo por hectare foram também submetidos a análise de variância conjunta. As principais hipóteses testadas em cada ano, e também na análise conjunta, foram o efeito de densidades e o efeito da interação cultivares x densidades. As demais hipóteses referentes a cultivares não são relevantes neste estudo, porque o comportamento das cultivares já era conhecido. Nos três anos considerados, a
Figura 1 - Efeito da densidade de plantio da mandioca na produção de raízes
46
Figura 2 - Efeito da densidade de plantio da mandioca na produção da parte aérea (rama + cepa)
Figura 3 - Efeito da densidade de plantio da mandioca no teor de amido
Figura 4 - Efeito da densidade de plantio da mandioca no peso médio das raízes
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Mandioca
interação cultivares x espaçamen-tos não foi significativa e o efeito de espaçamentos foi somente signi-ficativo no primeiro ano, isto é, em 1986/87. Na análise conjunta dos três anos, houve apenas significância para os efeitos de anos, de cultivares e de espaçamentos. Assim sendo, foi realizado um estudo de regressão considerando o peso de raízes como função das densidades, resultando na equação. Yi = 14.130,02 + 0,28409Xi onde: Yi = peso de raízes (kg/ha) e Xi = densidades, resultando no resumo apresentado na Tabela 4. Pela equação de regressão, considerando um efeito geral nos três anos, para cada aumento de uma planta/ha, a partir de 15.151 até 23.809 plantas/ha, a produção de raízes de mandioca aumentou 0,28409kg/ha ou 284,09g/ha. Os resultados da análise de regressão mostraram que houve um aumento na produção de raízes com o aumento das densidades, porém o peso médio de raízes diminuiu, isto é, quanto maior foi a produção por unidade de área, menor foi o peso médio de raízes em
gramas (Tabela 5), o que é um fator indesejável para a indústria da mandioca. Apesar de as maiores densidades de plantas fornecerem os maiores rendimentos de raízes, a grande quanti-
Tabela 6 - Custo de produção das raízes, em função das densidades de plantio da mandioca. Jaguaruna, SC - EPAGRI (custos em R$) Número de manivas 23.809 20.833 18.518 16.666 15.151
3
m de ramas 5,7 5,0 4,4 4,0 3,6
Custo Preparo Custo do Custo Valor da Valor da rama da maniva plantio total produção líquido 28,50 25,00 22,00 20,00 18,00
30,95 27,08 24,07 21,67 19,70
51,43 45,00 40,00 36,00 32,72
110,88 97,08 86,07 77,67 70,42
624,00 612,00 561,00 558,00 552,00
513,12 514,92 474,83 480,33 481,58
Notas: a) Preços em junho de 1995 em R$. b) 1m 3 de rama = R$ 5,00. c) Preparo de 1.000 manivas = 1,30. d) Custo de plantio/ha no espaçamento de 1,00x1,00m = R$ 36,00. e) Preço de 1t de raízes = R$ 30,00.
Conclusões e recomendações
• As cultivares apresentaram a mesma tendência, ou seja, aumentaram a produção de raízes e da parte aérea com o aumento das densidades, enquanto que o peso médio de raTabela 4 - Resumo do estudo de regressão para peso de raízes ízes diminuiu e o em kg/ha como função das densidades teor de amido em percentual não foi Peso Peso influenciado pelas Densidade de Erro Espaçamento des de raízes raízes de ajustadensidades (Tabeplantas/ha observado estimado mento la 5). (kg/ha) (kg/ha) • Em função dos resultados ob0,70 x 0,60 23.809 20.817 20.894 - 77 tidos e nas condi0,80 x 0,60 20.833 20.380 20.048 331 ções em que foi 0,90 x 0,60 18.518 19.118 19.391 -273 1,00 x 0,60 16.666 18.621 18.865 -244 desenvolvido o 1,10 x 0,60 15.151 18.699 18.434 265 trabalho, recomenda-se, indeTabela 5 - Resultados obtidos em função das densidades de plantio. pendentemente Média dos três anos de experimentação das cultivares, as EspaçaPeso mé- Rama+ Teor de densidades de Densi- mentos Raízes dio raízes cepa amido plantio no interdade (kg/ha) (m) (g) (kg/ha) (%) valo contendo 23.809 0,70 x 0,60 20.817 162,7 10.091 29,69 20.833, 18.518 e 16.666 plantas/ha, 20.833 0,80 x 0,60 20.380 175,3 9,599 30,05 equivalentes aos 18.518 0,90 x 0,60 19.118 183,8 8.735 28,81 espaçamentos 16.666 1,00 x 0,60 18.621 187,3 7.878 29,16 0,80 x 0,60m, 0,90 15.151 1,10 x 0,60 18.700 189,5 8.623 29,52 x 0,60m e 1,00 x Nota: Os dados contidos na área pontilhada referem-se à recomenda- 0,60m, respectição. vamente. Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
dade de manivas necessárias para o plantio pode desaconselhar a recomendação da maior densidade, cujo valor líquido não difere da segunda maior densidade, como pode ser observado na Tabela 6.
Literatura citada 1. EMBRAPA/EMPASC. Sistemas de produção para mandioca (pacotes tecnológicos); regiões do Vale do Itajaí e Litoral de Santa Catarina. Florianópolis: 1976. 32p. (EMBRAPA. Circular, 104). 2. EMBRATER/EMBRAPA. Sistemas de produção para mandioca (Revisão). Florianópolis: EMPASC/ ACARESC, 1979. 51p. (EMBRAPA. Sistemas de Produção. Boletim, 161). 3. EMPASC/EMATER-SC/ACARESC. Sistemas de produção para mandioca; Santa Catarina (2a Revisão). Florianópolis: 1987. 38p. (EMPASC/ ACARESC. Sistemas de Produção, 9). 4. CASTRO, M.A.; COCK, J.H.; TORO, J.C. Efecto de la densidad de siembra en el rendimiento de la yuca. In: CURSO DE PRODUCCIÓN DE YUCA, 1978, Cali, Colombia. Cali: CIAT, 1978. t.1, p.123-128. 5. EMPASC. Recomendação de cultivares para o Estado de Santa Catarina - 1985-1986. Florianópolis: 1985. 82p. (EMPASC. Boletim Técnico, 31). 6. CROSSMAN, J.E.; FREITAS, A.C. de. Determinação do teor de matéria seca pelo método do peso específico em raízes de mandioca. Revista Agronômica, Porto Alegre, v.14, p.75-80, 1950. Euclides Mondardo, eng.agr., Cart. Prof. no 124-D, CREA-SC, EPAGRI, Estação Experimental de Urussanga, C.P. 49, Fone (048) 465-1209, Fax (048) 465-1460, 88840-000 - Urussanga, SC; Renato Cesar Dietrich, eng. agr., Cart. Prof. no 18.072, CREA-SC, EPAGRI, C.P. 502, Fone (048) 234-1344, Fax (048) 234-1024, 88034-901 - Florianópolis, SC e Mauro Luiz Lavina,
eng. agr., Cart. Prof. no 10.326, EPAGRI, Administração Regional do Vale do Rio Tubarão, Rua São José, no 45, Fone/Fax (048) 6260577, 88701-260 - Tubarão, SC.
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Suínos + peixes
Policultivo de carpas integrado à suinocultura Jorge de Matos Casaca e Osmar Tomazelli Júnior
A
produção de pescado no Oeste Catarinense tem se firmado como atividade produtiva principalmente devido às mudanças implementadas no sistema de cultivo a partir de 1989. Até então a piscicultura era desenvolvida de forma fomentista, com a única preocupação de distribuir alevinos, levando em conta unicamente a área superficial dos viveiros. As quantidades eram inadequadas para o sistema de produção, uma vez que se usavam alevinos I, com peso médio de 0,5 a 1,0g, e somente de carpa comum. Desta forma, não se obtinham resultados esperados, pois a taxa de mortalidade variava de 10 a 90%. Durante muitos anos este era o sistema de cultivo adotado na região. A partir de 1989, com a introdução das carpas chinesas e o desenvolvimento de um sistema de cultivo mais adequado às características da região, a piscicultura começou a dar os primeiros passos concretos como atividade produtiva. O sistema de cultivo atual caracteriza-se pela utilização de alevinos II, com peso médio de 10 a 50g, e diversas espécies e em policultivo integrado. A recomendação técnica da taxa de estocagem, além da área superficial, leva em consideração a produtividade natural dos viveiros, ou seja, a capacidade de produzir quantidades de peixe de acordo com o tratamento utilizado, considera também o tamanho comercial desejado para as espécies. Atualmente, 90% da produção de pescado na região Oeste é obtida em sistema de policultivo integrado à suinocultura, tanto em modelos horizontais (baias construídas ao lado do viveiro) como em modelos verticais (baias construídas sobre os viveiros). Neste sentido, utilizam-se 50 a 60 suínos/ha associados a uma população de 2.000 a 4.000 alevinos/ha, ca48
racterizando-se, portanto, um policultivo com baixa densidade de estocagem e aporte pequeno de matéria orgânica (35kg/ha/dia de matéria seca). Este sistema de cultivo, já implantado, é bem aceito pelo piscicultor. Contudo, o aumento da produtividade deve ser incremen-tado. O viveiro de piscicultura tem condições de consumir matéria orgânica numa taxa de aplicação de 100kg de matéria seca/ ha/dia, sendo um fator secundário de consumo de oxigênio (1). A produtividade do policultivo integrado a resíduos de animais é diretamente proporcional à densidade de estocagem e ao aporte de matéria orgânica. A aplicação de adubo de suínos, reportada na literatura, é dada em número de suínos/ha, variando de 15 a 200 suínos. Essa ampla variação, acredita-se, é devida a diferenças nos tamanhos dos suínos, ao tipo de adubo utilizado (fresco ou curtido), à densidade de estocagem, etc. (2). Em viveiros intensivamente adubados obtêmse produtividades de 15 a 30kg/ha/dia de peixe sem o aporte de alimento suplementar. Com taxas de estocagem de até 9.300 peixes/ha obteve-se em média 0,75kg por peixe, e uma correlação linear entre a densidade de estocagem em poli-cultivo e a produção de pescado em viveiros que só receberam fertilização (3). Como a região Oeste é a maior produtora de suínos do Estado, concentrando cerca de dois terços, com uma produção de aproximadamente 18.000m3/dia de resíduos, reúne características para o aumento da produtividade aqüícola, com um manejo baseado em princípios ecológicos. Considera-se ainda a capacidade de crescimento do peixe, através da alimentação natural gerada pela fertilização orgânica. Embora muitos trabalhos indiquem produtividades bem maiores do que as
obtidas neste trabalho, muitas são as situações que podem ser adaptadas à região Oeste. O aumento da produtividade deve estar aliado à simplificação do manejo e da mão-de-obra do produtor, para que não haja desestímulo da atividade, às exigências do mercado consumidor e às condições de qualidade de água para que ocorra um balanço entre a produção e o consumo de microorganismos, mantendo valores médios adequados de oxigênio dissolvido. O presente trabalho tem como objetivo testar um maior aporte de matéria orgânica, com a estocagem de alevinos II em relação à produtividade, comparado com o sistema atual de produção.
Como o trabalho foi desenvolvido Neste trabalho foram utilizados três viveiros escavados em solo argiloso com áreas de 0,06, 0,065 e 0,095ha, respectivamente viveiros 1, 2 e 3, localizados na propriedade do Sr. Francisco Cedoski, Linha Alto da Serra, Chapecó, construídos em seqüência, com alimentação de água individual de um açude reservatório à montante. Os viveiros 2 e 3 receberam uma vazão de água suficiente para compensar perdas por evaporação e infiltração. O viveiro 1 teve renovação de água pela existência de vertente na bacia de acumulação. Todos os viveiros foram povoados com duas espécies de peixes: carpa comum (Cyprinus carpio), espécie com hábito de fundo, a carpa prateada (Hipophtalmithys molitrix), espécie filtradora para aproveitamento da produtividade primária intensa em cultivos integrados à suinocultura. Os viveiros foram povoados em 1 o de junho de 1993 com alevinos de carpa comum. Nestes viveiros já haAgrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Suínos + peixes
via um povoamento de carpas prateadas, que estavam então em seu segundo período de cultivo e com peso aproximado de 1.000g. Em 26 de novembro de 1993 foi feita a despesca do viveiro 2; as despescas nos viveiros 1 e 3 ocorreram em 10 de janeiro de 1994. Nestas datas fez-se a contagem e pesagem dos peixes (Tabela 1). Com a taxa de estocagem mantida, ou seja, a mesma utilizada pelos produtores da região, objetiva-se, além do aumento de produtividade, alcançar o tamanho comercial do peixe. Os viveiros receberam esterco fresco de suínos como único aporte de matéria orgânica, com as baias construídas sobre os mesmos (modelo vertical). Foi utilizada uma carga orgânica correspondente a 133 suínos/ha com um aporte máximo de 80,0kg de sólidos totais/ha/dia, nos três viveiros. Esta carga representa 2,22 vezes mais suínos do que a utilizada na região, a qual atinge uma produtividade média de 5,5kg/ha/dia de pescado. Os suínos permaneciam nas baias por um período de 90 dias, quando então eram retirados e substituídos por novo lote, obedecendo ao sistema de criação de suínos da região (Tabela 2). Assim que o lote estava pronto era retirado, e em seguida colocado outro.
Resultados e discussão De acordo com os dados apresentados na Tabela 3, pode-se observar que a produtividade líquida média obtida foi de 13,29kg/ha/dia. Isto significa uma produtividade líquida 2,41 vezes maior que a produtividade média da região, que é de 5,5kg/ha/dia de peixe. Provavelmente não só o aumento no aporte de matéria orgânica tenha sido responsável por este incremento, mas também o fato de terem sido utilizados alevinos II, de 160g, na estocagem, e o aproveitamento da carpa prateada para um segundo período de cultivo, práticas estas utilizadas pelos produtores da região. A carpa comum atingiu uma produtividade 1,74 vezes maior que a obtida na região para esta espécie, que é de 4,0kg/ha/dia. O viveiro 2 atingiu a maior produtividade líquida com 175 dias de cultivo, com as duas Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Tabela 1 - Características principais de povoamento de carpa comum e prateada realizado em 1o de junho de 1993 nos viveiros 1, 2 e 3 Carpa comum
Carpa prateada
Total
Viveiro 1 N o de peixes Peso inicial (g) Quantidade (ha) Biomassa inicial (kg) Biomassa inicial (kg/ha)
130 160 2.167 20,80 346,66
40 1.000 667 40,00 666,66
170 1.160 2.834 60,8 1.013,32
Viveiro 2 N o de peixes Peso inicial (g) Quantidade (ha) Biomassa inicial (kg) Biomassa inicial (kg/ha)
140 160 2.154 22,4 344,61
40 1.000 615 40 615,38
180 1.160 2.769 62,4 959,99
Viveiro 3 N o de peixes Peso inicial (g) Quantidade (ha) Biomassa inicial (kg) Biomassa inicial (kg/ha)
205 160 2.158 32,8 345,26
40 1.000 421 40,0 421,00
245 1.160 2.579 72,80 766,26
Tabela 2 - Principais dados relativos ao manejo dos lotes de suínos mantidos nas baias suspensas localizadas acima dos viveiros 1, 2 e 3 Viveiro 1
Viveiro 2
Viveiro 3
06/06/93 16/09/93 26/12/93 30 90 8
20/06/93 16/09/93 30 90 9
20/06/93 16/09/93 28/12/93 30 90 12
Data entrada lote I Data entrada lote II Data entrada lote III Peso inicial (kg/suíno) Peso final (kg/suíno) Quantidade de suínos (no)
Tabela 3 - Principais dados de produção de carpa comum e prateada durante a segunda etapa de cultivo, de 1o de junho de 1993 a 26 de novembro de 1993 para o viveiro 2 e até 10 de fevereiro de 1994 para os viveiros 1 e 3 Viveiro 1 Área (ha)
0,06
Viveiro 2 0,065
Viveiro 3 0,095
Carpa comum Biomassa final (kg) Peso Médio (kg) Crescimento (g/dia) Produtividade líquida (kg/ha/dia)
128,5 0,99 3,3 7,18
136,0 0,97 4,6 9,99
307,5 1,5 5,3 11,56
Carpa prateada Biomassa final (kg) Peso médio (kg) Crescimento (g/dia) Produtividade líquida (kg/ha/dia)
79,0 1,98 3,9 2,6
99,0 2,5 8,5 5,18
120,0 3,0 8,0 3,36
9,78
15,17
14,93
Produtividade líquida total (kg/ha/dia)
espécies atingindo o peso padrão para mercado, reduzindo assim o período de cultivo, que para a região é de 300 dias. Para os viveiros 1 e 3 foram 250 dias de cultivo. Notou-se a capacidade
de crescimento da carpa prateada em um segundo período de cultivo, atingindo peso bom para o mercado da região, acima de 2,0kg (Tabela 3). Alguns exemplares atingiram um peso 49
Suínos + peixes
de 5,0kg, sendo viável inclusive considerá-la como espécie principal em viveiros intensivamente adubados (4). A carpa comum foi a maior responsável pela produtividade devido a sua maior taxa de estocagem. O coeficiente de transformação, kg esterco/kg peixe variou de 20,5 a 29,49, com valores similares aos citados em literatura, de 27kg de esterco de suínos para a obtenção de 1,0kg de peixe (5). Durante todo o período não houve mortalidade, provavelmente devido ao tamanho de estocagem dos alevinos. Por falta de condições não foram realizadas análises físico-químicas da água, mas não foi detectada nenhuma alteração no comportamento dos peixes que pudesse indicar más condições de qualidade de água, principalmente falta de oxigênio nas primeiras horas da manhã.
Conclusão Com pequenas modificações no sis-
Cerca elétrica - manual de construção e manejo. Boletim Técnico no 17. 68p. 3 a edição.
Face aos pedidos de inúmeros leitores, a EPAGRI está reeditando este Boletim Técni-
tema de cultivo há a possibilidade de aumentar a produtividade média da região como a utilização de alevinos II na estocagem e com um aporte equilibrado de matéria orgânica. Os resultados obtidos neste trabalho estimulam novos estudos que venham a sugerir modificações no atual sistema de cultivo desenvolvido, garantindo ao produtor produtividades maiores que as atuais, trazendo benefícios socioeconômicos para a região.
Agradecimento Agradecemos ao produtor Sr. Francisco Sedoski pela colaboração e utilização de sua propriedade.
Literatura citada 1. WOHLFARTH, G.W.; SCHROEDER, G.L. Use of manure in fish farming - A review. Agricultural wastes, Essex, v.1, n.4, p.279-299, 1979. 2. BUCK, H.; MALECHA, S.R.; BAUR, R.J. Prawn fish production using different
types and loadings of swine manure. Journal Mariculture Society . v.14, p.531-532, 1983. 3. SCHROEDER, G. Autotrophic and heterotrophic production of microorganisms in intensely-manured fish ponds, and related fish yields. Aquaculture, Amsterdam, v.14, p.303325, 1978. 4. WOYNAROVICH, E. Utilization of piggery wastes in fish ponds. In: PULLIN, R.; SHEHADEH, Z. (ed.). Integrated agriculture; aquaculture farming systems. Manila: ICLARM-CLSV, 1980. p.125-128. 5. FANG, Y.; GUO, X.; WANG, J.; FANG, X.; LIU, Z. Effects of different animal manures on fish farming. In: ASIAN FISCHIERIES FORUM, 1., 1986, Manila. Manila, Philipinas: Asian Fischeries Soc., 1986. p.26-31. Jorge de Matos Casaca, méd. vet., especialista em aqüicultura, CRMV-2 no 0851, EPAGRI, Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877, Fax (0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SC e Osmar Tomazelli Júnior, oceanógrafo, especialista em aqüicultura, EPAGRI, Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877, Fax (0497) 221012, 89801-970 - Chapecó, SC.
LANÇAMENTOS EDITORIAIS co, de autoria de Kurt Emil Aggeler. Desde o planejamento da cerca elétrica até o seu funcionamento, manutenção e custos são tratados nesta publicação. Aspectos práticos do manejo de dejetos suínos. Livro. 106p. Trabalho elaborado pelo Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves/EMBRAPA e pela EPAGRI, é composto de nove capítulos: legislação ambiental vigente, moscas e seu controle integrado na suinocultura, manejo da água - influência no volume de dejetos produzidos, armazenagem de dejetos suínos, aspectos construtivos do armazenamento de dejetos líquidos, utilização dos dejetos suínos como fertilizantes, adubação orgânica, emprego de dejetos de suínos na alimentação animal e tecnologias para transporte e distribuição de dejetos.
Todos estes capítulos estão orientados pelo Programa de Melhoria Ambiental para as regiões produtoras de suínos no Estado de Santa Catarina e que prevê uma melhor utilização dos dejetos suínos.
Conservação do solo: terraços e cordões vegetais. Boletim Didático n o 10. 31p. Os terraços e cordões vegetais são práticas muito utilizadas em Santa Catarina com o intuito de conservar os solos e evitar a erosão. Este Boletim ensina, de maneira simples, a construção de terraços com utilização do pé-de--galinha e a formação dos cordões vegetais.
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Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Macieira
Controle de podridão branca em porta-enxertos enraizados de macieira Onofre Berton e Frederico Denardi
O
fungo Pellicularia rolfsii (Curzi) West., estado perfeito do basidiomiceto Sclerotium rolfsii Sacc. é um patógeno polífago que causa a morte rápida da maioria dos seus hospedeiros, dentre os quais destacam-se: beterraba, batata, feijão, lentilha, aveia, soja, colza e plantas jovens de macieira. A doença na macieira é conhecida como “Southern Blight” em inglês e podridão branca ou podridão de Sclerotium em português. Em soja e colza o fungo causa murcha e morte das plantas adultas, formando escleródios (formas de resistência) no interior de suas hastes. Essas estruturas de resistência podem sobreviver no solo por até oito anos quando enterradas a certa profundidade (além da qual poderiam germinar facilmente), vindo a germinar e produzir uma basídia quando trazidas para a superfície por alguma prática cultural como lavração, gradagem, etc. Ao germinar na presença de sementes dessas plantas, o fungo causa a morte das plântulas antes mesmo de emergirem e, conseqüentemente, perdas consideráveis. Na macieira, o fungo apresenta especial interesse em viveiros, podendo causar a morte de mudas após os sintomas de ama-relecimento e murcha. O ataque de P. rolfsii se restringe ao colo e ao sistema radicular, onde forma um micélio branco de aspecto fibroso, juntamente com esclerócios (corpos mais ou menos esféricos de 1 a 3mm de diâmetro de coloração marrom, diferentes dos escleródios). Quando o fungo ataca um só lado da planta, as folhas desse lado, durante o outono, adquirem coloração aver-melhada. O fungo vai gradualmente circundando a coroa e as folhas vão secando, ficando coriáceas, marrons, permanecendo penduradas na planta após a morte Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
desta. O fungo pode penetrar diretamente a casca não danificada das raízes, mas ferimentos no sistema radicular facilitam a entrada do patógeno. Sclerotium rolfsii mata as células pela produção de ácido oxálico (1). Mudas de macieira são mais suscetíveis ao fungo por produzirem poucos compostos fenólicos, os quais representam mecanismos de resistência da planta à entrada de patógenos. No viveiro, onde ocorre morte de plantas, a incidência da doença está diretamente asso-ciada ao número de esclerócios no solo, junto ao tronco. Esclerócios localizados a mais de 3cm de uma raiz raramente vão produzir infecções. A incidência tem sido maior em viveiros onde se faz uso intenso de enxada e sacho (2). A in-cidência maior em certos locais e menos em outros fica condicionada ao tipo de solo, umidade do solo, temperatura e cultura anterior (3, 4 e 5). Captafol e sulfato de cobre usados isoladamente têm sido relatados como eficientes no controle do fungo a campo (3). As plantas são mais suscetíveis entre um e três anos. A presença de S. rolfsii não está relacionada a excesso de água (como no caso de Phytophthora spp) nem a solos pesados, mas, ao contrário, ocorre em solos leves, arenosos, pois o fungo necessita de oxigênio abundante para o seu desenvolvimento. O fator mais importante para a ocorrência da doença é a temperatura do solo cuja faixa ótima está entre 20 e 37oC. Com o aumento da temperatura, no verão, os esclerócios presentes no solo junto ao sistema radicular das plantas (no viveiro) iniciam sua germinação produzindo o micélio que avança para as raízes. Como esse processo necessita de algum tempo, o período de temperaturas favoráveis, no verão, em geral é insuficiente e por
isso morrem somente as plantas severamente atacadas, significando que ao redor destas havia muitos esclerócios. Com a redução das temperaturas, o fungo entra paulatinamente em repouso produzindo os esclerócios que permanecem inativos até que a temperatura suba novamente. Em plantas adultas, durante o período favorável ao fungo, a doença não chega a evoluir a ponto de causar a morte das mesmas. Por isso as infecções em plantas adultas não prosperam e só podem causar uma leve alteração no seu desenvolvimento, pois estas se recuperam enquanto o fungo permanece inativo. Matrizeiros infectados por S. rolfsii têm sido encontrados em Caçador, SC, Fraiburgo, SC e Palmas, PR, nos quais podia-se observar a morte de mudas. Uma parcela muito significativa da produção poderia ter sido salva se os viveiristas conhecessem melhor o problema e sua solução. Nos locais encontrados, os produtores condenaram as áreas com perda total das mudas e grande pre-juízo. O presente trabalho foi realizado com o objetivo de controlar o fungo S. rolfsii em porta-enxertos enraizados de macieira.
Material e métodos Um total de 420 mudas da cultivar Gala, enxertadas sobre MM-106, foram selecionadas em matrizeiro infectado por S. rolfsii, no qual havia plantas mortas pela doença. As mudas foram divididas em dois grupos: grupo 1, com sintomas visíveis de dano no sistema radicular (com três ou mais pontos necróticos visíveis) e grupo 2, sem sintomas visíveis de dano no sistema radicular. As mudas foram padronizadas por tamanho e cada gru51
Macieira
po foi dividido em dois subgrupos A e B mostrado a seguir: Grupo 1 • Com sintomas nas raízes a) Com lavagem do sistema radicular b) Sem lavagem do sistema radicular Grupo 2 • Sem sintomas nas raízes a) Com lavagem do sistema radicular b) Sem lavagem do sistema radicular A lavagem do sistema radicular foi feita em água corrente, retirando-se o solo e o micélio superficial das raízes. A seguir, as plantas de cada grupo foram novamente divididas para receberem tratamento com produtos químicos por imersão do sistema radicular, antes de serem levadas ao campo em área livre do patógeno. Todas as plantas, com exceção das testemunhas, receberam tratamento por imersão com algum dos produtos químicos. Os tratamentos, produtos químicos e dosagens constam na Tabela 1. Após receberem os tratamentos, as plantas foram levadas ao campo e plantadas no espaçamento de 1,20m entre filas e 0,25m entre plantas, dispostas em blocos ao acaso com quatro repetições e cinco plantas por repetição. Foram formadas quatro filas de 26,5m de comprimento, compreendendo uma área experimental de 127,2m2. As plantas permaneceram a campo por três anos, ao fim dos quais foram arrancadas e seu sistema radicular foi analisado.
Resultados e discussão Em nenhum dos tratamentos com
52
Tabela 1 - Tratamentos, produtos químicos, formulação, ingredientes ativos e dosagens utilizadas para o controle de S. rolfsii em mudas de macieira Tratamento e Tipo de marca comercial formulação
Ingrediente ativo(A)
1 - Busan 2 - Plantvax 3 - Q-Boa
CE PM CE
4 - Brassicol 5 - Rodhiauran 6 - Testemunha
PM PM -
TCMTB Oxicarboxin Hipoclorito de sódio PCNB TMTD -
Concentração Dosagem do p.c. g ou ml/litro por 100 litros 300 750 2,5% de cloro ativo 750 700 -
400ml 200g 30.000ml 400g 500g -
(A)Estes produtos não estão ainda registrados para a cultura da macieira.
produtos químicos ocorreu morte de plantas ou manifestação de sintomas visíveis de murcha ou necrose na parte aérea (Figura 1). As plantas testemunhas apresentaram micélio do fungo no sistema radicular, recobrindo a maioria das raízes e, embora apresentassem poucos pontos necróticos após três anos no campo, é provável que as lesões continuassem aumentando, possibilitando morte de plantas com o passar do tempo. As chances de isto ocorrer são em geral bem maiores até o terceiro ano, diminuindo consideravelmente os casos de plantas adultas serem mortas pelo fungo. Se isto ocorrer, pode-se presumir que as mudas saíram do viveiro contaminadas. Todas as plantas que receberam tratamento com qualquer dos produtos químicos testados apresentaram o sistema radicular em condições normais, bem desenvolvido (Figura 2). Nas condições de Santa Catarina, com verão relativamente curto e inverno rigoroso, o fungo não tem boas condições de se desenvolver no pomar. Entretanto, desenvolvimento mais rápido do fungo, com possibilida-
des de vir a causar danos em plantas mais fracas, pode acontecer se o pomar for instalado em solo leve. Deve-se ressaltar que o viveiro que apresentar ataque de S. rolfsii precisa ser vistoriado por técnico competente, certificando-se de que não há ocorrência de outros patógenos causadores de podridões de raízes, caso a intenção seja o aproveitamento de parte da produção. Se até o terceiro ano de pomar as plantas não apresentarem S. rolfsii no sistema radicular, será muito pouco provável que, nas nossas condições, o fungo possa atacar plantas adultas causando a sua morte.
Conclusão Mesmo provenientes de matrizeiros e/ou viveiros infectados por S. rolfsii, mudas de macieira que apresentem boa qualidade para formar um pomar podem ser selecionadas e usadas normalmente, após receberem tratamento químico com produto eficiente, de acordo com orientação técnica. Seguindo este procedimento, o produtor que eventualmente tenha
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Macieira
Figura 1 - Mudas sadias após três anos de tratamento
esse problema em seu viveiro, poderá procurar auxílio de um engenheiro agrônomo especializado para orientação sobre inspe-ção e se possível tratamento das mudas. Fazendo o tratamento com critério, um viveirista da região do Vale do Rio do Peixe poderá fazer o aproveitamento de parte significativa da sua produção.
Literatura citada 1. LAVEE, S.; SAMISH, R.M. Resistance of apple rootstocks to Sclerotium rolfsii (Sacc) Ktavi. Quarterly Journal of Agriculture Research Station , Bet Dagan, v.10, n.1, p.5-13, 1960. 2. BROWN, E.A.; HENDRIX, F.F. Distribution and control of Sclerotium rolfsii on apple. Plant Disease, Beltsville, v.64, p.205-206, 1980. 3. COOLEY, J.S. Sclerotium rolfsii as a disease
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Figura 2 - Raízes de mudas sadias após três anos de tratamento
of nursery apple trees. Phytopathology, St. Paul, v.26, p.1081-1083, 1936. 4. SHAY, J.R. Southern blight on apple nursery stock in Indiana. Plant Disease Reporter, Beltsville, v.37, n.2, p.121, 1953. 5. TOMASINO, S.F.; CONWAY, K.E. Spatial pattern, inoculum density-disease incidence relantionship, and population dynamics of Sclerotium rolfsii on apple rootstock. Plant Disease, Beltsville, v.71, p.719-723, 1987.
Onofre Berton , eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 26.027, CREA-SC, EPAGRI, Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, Fone (0496) 62-1211, Fax (0496) 62-1142, Telex 492 330, 89500-000, Caçador, SC e Frederico Denardi, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 3.182-D, CREA-SC, EPAGRI, Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, Fone (0496) 62-1211, Fax (0496) 62-1142, Telex 492 330, 89500-000, Caçador, SC.
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Reportagem
Adubos verdes melhoram o solo e poupam dinheiro para o agricultor Paulo Sergio Tagliari
Vem crescendo, no Sul do Brasil, a utilização pelos agricultores da adubação verde, que são plantas melhoradoras das propriedades químicas, físicas e biológicas dos solos, com o mínimo de custos adicionais. E, de quebra, os produtores rurais aumentam a produtividade de suas lavouras, economizando dinheiro. Crotalária vem se destacando como ótimo adubo verde no Sul de Santa Catarina
O
Plano Real trouxe a estabilização dos preços dos alimentos para o consumidor, porém o agricultor inegavelmente tem pago esta conta, já que os preços recebidos pelos seus produtos, com poucas exceções, mal e mal cobrem os custos de produção. Enquanto a maioria dos insumos-sementes, adubos, combustíveis, agrotóxicos, etc. - tiveram aumentos significativos, a produção agrícola - milho, feijão, leite, carne de frango, suínos, bovinos, batata e outros - manteve seus preços iguais ou até menores que há um ano atrás, conforme mostram as estatísticas dos institutos oficiais. Então, para tirar o agricultor desse aperto, ou o governo concede mais recursos à agricultura, sem o arrocho dos juros altos, ou a galinha dos ovos de ouro do Plano Real 54
pode morrer. Uma outra saída é buscar a redução dos custos de produção, utilizando menos insumos industriais e aproveitando técnicas mais econômicas, que não agridem o meio ambiente e são mais sustentáveis. Uma dessas técnicas, a qual vem sendo muito preconizada pelo Programa de Microbacias, é a utilização de adubos verdes, que são plantas que melhoram a qualidade dos solos, repondo e aumentando a sua fertilidade. Outra vantagem da adubação verde é a sua utilização no inverno ou entressafra, período em que o solo fica em pousio, não é trabalhado pelo agricultor. Assim, com o adubo verde, o solo fica coberto o ano todo, evitando-se a erosão. Mas não ficam por aí as boas carac-
terísticas dos adubos verdes. Estas plantas possibilitam a reciclagem de nutrientes no solo e a captação de nitrogênio diretamente do ar através de bactérias chamadas de rizóbios (no caso das plantas leguminosas) que se fixam nas raízes dessas plantas. Fornecem, também, matéria orgânica que incrementa a atividade microbiana e maior retenção de umidade no solo. Além disto, os adubos verdes contribuem para diminuição da infestação de ervas daninhas pelo efeito de sombreamento e/ou alelopático, ou seja, substâncias expelidas pelas raízes da planta que repelem outros vegetais.
Solo arenoso, ventos fortes No Litoral Sul de Santa Catarina, Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Reportagem
a Estação Experimental de Urussanga vem há vários anos pesquisando os melhores adubos verdes para a região, adaptados às diversas condições de solo e clima ocorrentes (Tabelas 1 e 2). A reportagem da revista Agropecuária Catarinense, a convite do Escritório Municipal da EPAGRI de Araranguá representado pelo técnico Cergio Tibola e a extensionista Marley W. Alborghetti, foi visitar uma propriedade agrícola neste município que já está adotando a adubação verde com muito bom resultado, conforme mostrado a seguir. Localizada às margens da BR 101, o que chama logo a atenção nesta propriedade é a característica do solo local, ou seja, bastante arenoso, o que se explica pela sua proximidade ao mar. Aliás, é difícil imaginar, à primeira vista, que alguma coisa possa ser produzida nesta areia, constantemente assolada por fortes ventos. No entanto, observando-se com mais atenção, verifica-se que, com algum cuidado, algumas culturas têm se adaptado a este solo, com destaque para o fumo, que chega até produzir um tipo de tabaco de alta qualidade. A mandioca é outra cultura bastante típica desta zona, dada a sua rusticidade e pouca exigência em nutrientes, e também feijão e milho são cultivados, e frutas, como o maracujá, estão des-
Tabela 1 - Sementes de adubos verdes de inverno produzidas através da Estação Experimental de Campos Novos/EPAGRI Espécie Aveia preta Espérgula (Gorga) Ervilhaca Ervilha forrageira Xinxo
Densidade de semeadura(A) (kg/ha)
Produção de matéria seca (t/ha)
Família botânica(B)
Produção de semente (kg/ha)
Floração (dias)
60 a 80 6 a 10 40 a 60 80 a 100 80 a 100
4a5 2a3 3a4 3a4 3a5
gramínea cariofilácea leguminosa leguminosa leguminosa
1.200 400 600 1.000 800
120 80 120 100 100
(A) Efetuar a semeadura de março a maio. Para produção de sementes aconselha-se a semeadura em linhas, de maio a julho para todas as espécies, utilizando-se a menor densidade. (B) Inocular as sementes das leguminosas antes da semeadura.
Tabela 2 - Sementes de adubos verdes de verão produzidas através da Estação Experimental de Urussanga/EPAGRI Espécie Crotalaria mucronata Crotalaria spectabilis Mucuna cinza Mucuna preta Mucuna rajada Mucuna anã Feijão de porco Guandu EMPASC 303
Densidade de semeadura(A) (kg/ha)
Produção de matéria seca (t/ha)
Família botânica(B)
Produção de semente (kg/ha)
Floração (dias)
10 a 15 20 a 25 50 a 60 50 a 60 40 a 50 40 a 50 80 a 100 8 a 10
12 a 13 11 a 12 8 a 10 8 a 10 8 a 10 4a5 5a6 8a9
leguminosa leguminosa leguminosa leguminosa leguminosa leguminosa leguminosa leguminosa
400 500 1.000 1.000 1.000 1.200 1.500 500
150 85 130 130 125 76 80 160
(A) Para produção de sementes aconselha-se a semeadura em linhas, de outubro a dezembro para todas as espécies. (B) Inocular as sementes das leguminosas antes da semeadura.
pontando. O Sr. Olávio José Costa é proprietário e divide as tarefas com seus três filhos: Odilon, Homero e Nazareno. A área própria é de 40ha e tem mais 40 arrendados, onde cultivam fumo
(15ha), mandioca (15ha), moranga (7ha) e este ano vão plantar 2ha de milho verde. Antes do fumo ou da mandioca eles plantam o adubo verde crotalária em cerca de 20ha no total e mais 13ha com a espérgula, também conhecida por gorga, em outra área. E antes de incorporarem o adubo verde ao solo, eles colhem a semente para comercializar uma parte e a outra para semear a próxima colheita.
Massa verde, raízes profundas
Palhada da crotalária protege o solo arenoso da erosão e aduba a terra
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
“Já no primeiro ano de plantio do adubo verde sentimos a diferença de vigor, tanto na cultura do fumo, como na da mandioca, que apresentaram as folhas de um verde mais forte que o normal e as plantas mais viçosas”, comentou Odilon Costa referindo-se ao efeito imediato do adubo verde, no caso a crotalária, sobre as culturas sucessoras. O extensionista da EPAGRI Cergio Tibola explicou que o agricultor semeou a crotalária, espécie da família das leguminosas (a mes55
Reportagem
ma do feijão e da soja), no final de dezembro para colher no início de setembro, e sobre a palhada plantou, em cultivo mínimo, as mudas de fumo. A família Costa fez uso de um macete para impedir que a crotalária se desenvolva muito e fique alta demais, dificultando o seu manejo e colheita. Em vez de semear no mês recomendado, que é outubro, eles largam a semente só em dezembro, o que faz atrasar o crescimento da leguminosa. Os irmãos Odilon e Homero informaram que adubaram o fumo conforme orientação da empresa fumageira, mas já estão pressentindo que o efeito da adubação verde, ao longo dos anos, poderá substituir, pelo menos parcialmente, a adubação química do tabaco.
A Família Costa, além de melhorar o solo com o adubo verde, também colhe a semente para comercialização Agricultores e
técnicos satisfeitos com o desempenho da espérgula
Já a gorga, que é adubo verde de inverno, foi semeada ao final de maio e colhida no final de setembro. A crotalária produz uma massa verde na base de 45t/ha, enquanto que a gorga ou espérgula dá um volume de 25 a 30t. “Para nós não tem trato melhor para o gado que a gorga”, fala entusiasmado o agricultor Odilon, que engorda o gado da família Costa em pleno inverno e nas areias do Litoral, agora melhorada pela presença dos adubos verdes. Até a moranga, que é comprada no local por um comercian56
te da serra gaúcha, entrou no esquema da família Costa. A terra onde ela é cultivada também recebeu a crotalária, e a produção da olerícola aumentou sensivelmente. O técnico Cergio Tibola esclarece, ainda, que os adubos verdes, em geral, possuem raízes mais profundas que as culturas normalmente cultivadas e que, por isso, conseguem buscar nutrientes que são lixiviados da superfície para o solo mais profundo, e, com isso, economizando adubo e poupando dinheiro para o agricultor. Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
NOVIDADES DE MERCADO Estimulante do sistema imunológico A Bayer está lançando no Brasil o Baypamun R , produto veterinário estimulante do sistema imunológico de cavalos, cães e gatos. Obtido por meio de cultura celular, ele apresenta um novo conceito entre os medicamentos disponíveis para uso veterinário. O organismo dos mamíferos apresenta um mecanismo inespecífico de defesa, que coloca em ação o combate aos invasores. É este sistema que deve ser estimulado com Baypamun R , processo denominado “paraimunização”. A rápida ativação do sistema eleva a capacidade de defesa do organismo, independente do agressor e dos fatores ambientais. Este imunoestimulante pode ser aplicado no animal mesmo que o agente causador da enfermidade não tenha sido identificado. A paraimunização, associada à vacinação, confere proteção contra infecções até que a imunidade específica esteja estabelecida, além de potencializar a sua resposta. De modo geral, Baypamun R é indicado em situações de estresse, nos casos de hospitalização, nas doenças de origem desconhecida, como complemento do programa de vacinação, como suporte na geriatria e pré-operatório e no tratamento de qualquer patologia dos animais. Além disso, também oferece proteção a animais sadios quando expostos a um alto risco de infecção, limitando sua disseminação. O uso em cavalos inibe o aumento do cortisol gerado pelo estresse decorrente de torneios, corridas, transporte, etc. evitando a imunossupressão. A utilização do medicamento em potros recém-nascidos ou desmamados diminui, consideravelmente, a incidência de infecções. Em gatos, sua aplicação reduz as manifestações de doenças e permite o desenvolvimento normal dos filhotes. Cães, animais com tonsilite, laringite e doenças do trato respiratório, quando tratados com o medicamento, apresentam nítida diminuição dos sintomas, até mesmo a cura completa. O produto também age na contenção de tumores e proporciona melhora do estado geral de pacientes genéticos.
Por se tratar de um produto técnico, cujo entendimento do mecanismo de ação e uso depende do médico veterinário, sua distribuição é voltada para clínicas, hospitais, profissionais autônomos e “pet shops” que contam com a supervisão direta deste profissional. Fonte: Assessoria de Comunicação Social da Bayer, Fone (011) 525-5031/5030/5029.
Genética suinícola Formada uma nova Joint-venture para o setor rural brasileiro. Trata-se da parceria entre a empresa britânica JSR Healthbroad e a Donald Foster, que deram origem a JSR Genética Suinícola Ltda, com sede em Porto Alegre, Fone (051) 2256644. A JSR Healthbroad é líder mundial em trabalhos com genética de suínos. Para dar suporte ao início de suas atividades, a empresa trouxe da Inglaterra 500 matrizes de bisavós. O evento ocorreu durante a última Expointer.
Arame para fruticultura Belgo-Parreiral e Frutifio são os dois novos arames lançados pela Companhia Siderúrgica Belgo Mineira para utilização na fruticultura. Desenvolvidos com aço de alta resistência e com galvanização pesada, o que garante maior durabilidade, os produtos atendem a uma importante faixa de mercado. O Belgo-Parreiral é apresentado em embalagens de 250 e 500m, com bitola de 4mm, sendo recomendado para uso em latadas de videiras e quivizeiros, para amarração transversal de espaldadeiras em lira de videiras e para rabichos de latadas e espaldadeiras de videiras, quivizeiros e maracujazeiros. Por sua vez, o Frutifio, comercializado em embalagens de 500 a 1.000m e bitola de 2,10mm, pode ser utilizado em malha e fios simples de videiras e quivizeiros e como fios de espaldadeiras de videiras e macieiras. Junto com estes produtos, a Belgo Mineira oferece aos fruticultores o cordaço, o Belgo 22-800 e o Sistema Gripple para emendas e arremates. Para maiores informações, o leitor da Agropecuária Catarinense pode entrar em contato com a Belgo Mineira pelos telefones (031) 219-1391 ou 219-1353.
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Óleo do futuro A palma é a solução do futuro para a indústria alimentícia, cada vez mais preocupada em diminuir a química na fabricação dos seus produtos. Segundo as empresas CRAI e Agropalma, maiores produtoras do país, existe uma forte demanda reprimida no Brasil, que as 90 mil toneladas a serem geradas neste ano não conseguirão atender. De acordo com estudos mundiais, a palma, ou dendê, como é popularmente conhecida, leva vantagem sobre as demais matérias-primas do gênero por dispensar a hidrogenação. A hidrogenação é um processo que torna os óleos vegetais mais plásticos, ou seja, os transforma em estado sólido a fim de
serem utilizados na fabricação de vários produtos alimentícios. O problema desse sistema é a reação química empregada, que acaba gerando elementos negativos para o metabolismo humano. Há controvérsias, no meio científico, sobre a intensidade dos efeitos, mas os problemas mais apontados são arteriosclerose, entupimento das veias e alguns tipos de câncer. No caso da palma, esse problema não existe, pois ela não precisa passar pela hidrogenação, salvo raras exceções. O óleo gerado pelo fruto é fracionado (parte líquida separada da sólida) através de esfriamento. É um processo seguro, isento de química e baseado nas características naturais do produto.
Antiinflamatório O Laboratório Boehringer De Angeli, Divisão Veterinária, está lançando, no mercado brasileiro, o produto Tomanol, um antiinflamatório, analgésico e antitérmico. Trata-se de um produto que apresenta resultados superiores aos demais antiinflamatórios, pois, possui em sua composição duas potentes substâncias: a fenilbutazona e a isopirina. Esta última, além de prolongar a ação da fenilbutazona, atenua alguns efeitos colaterais que podem ocorrer quando a fenilbutazona é utilizada isoladamente. Em eqüinos, Tomanol é indicado para os freqüentes problemas do aparelho locomotor de cavalos de corridas, hípicas e de enduro. É indicado também para inflamações, dores e febres, comuns em cavalos de trabalho, bem como para cólicas, traumatismos
e edemas pós-operatórios. No caso de bovinos, Tomanol é recomendado pelos veterinários, principalmente porque pode ser utilizado em animais prenhes e pelo fato de não interferir na produção de leite. O produto oferece ainda a recuperação pósparto, alivia dores pós-cirúrgicas e ajuda a controlar as manquerias em geral e as pedodermites, além de agilizar a cura das mamites agudas. Em suínos, o produto destina-se ao tratamento da mastite, metrite e agalaxia (MMA) e, comprovadamente, reduz as perdas nos distúrbios de locomoção, podendo também ser utilizado em animais prenhes. Quem tiver mais interesse em conhecer o produto, é só ligar para o telefone (011) 8005982 e falar com Márcia Ferreira. A ligação é gratuita.
57
Sistema de produção
Unidade de Produção de Leite da Estação Experimental de Itajaí - catorze anos de atividade Amaro Hillesheim, João Lari Felix Cordeiro e Irceu Agostini
U
ma Unidade de Produção de Leite-UPL foi implantada junto à Estação Experimental de Itajaí-EEI em 1979/80, com base em algumas características dos produtores da região do Vale do Itajaí e Litoral Norte Catarinense. Em função dessas características, a área da unidade era de 12ha, com um rebanho inicial de doze vacas e com a mão-de-obra a cargo de um casal de produtores. Um dos objetivos desta unidade era testar tecnologias que são recomendadas aos produtores a fim de avaliá-las quanto à capacidade de contribuir para evolução da produtividade da atividade leiteira da região.
Tecnologia usada Os catorze anos de atividade podem ser divididos em quatro períodos característicos, sendo o período 1, 1981-84; período 2, 1985-87; período 3, 1988-91; e período 4, 1992-94. A tecnologia de cada período é sintetizada a seguir: Período 1 - (1981-84): No início todos os animais foram adquiridos na região do Vale do Itajaí, e eram na maioria mestiços da raça Holandesa. Passou-se a fazer descarte por produção, além de usar inseminação artificial com touros melhoradores. O rebanho era dividido em um grupo de animais jovens, fêmeas até seis meses de idade, e um grupo de animais adultos, com as demais categorias que eram manejados em conjunto. As crias eram separadas das vacas ao nascerem e aleitadas no balde durante 60 dias com 3 ou 4 litros de leite por dia. Recebiam concentrado até atingirem um consumo máximo de 2kg/dia, o que era mantido até seis meses. No grupo de adultos, os animais em crescimento não rece-biam concentrados, 58
bem como as vacas secas e as em lactação com produção in-ferior a 8 litros/dia. A ração concentrada era fornecida exclusivamente às va-cas com produções superiores a 8 litros/ dia na proporção de 1kg de concentrado para 3kg de leite, considerando apenas a produção superior a 8kg de leite. A alimentação era baseada em pastagens utilizadas sob pastejo. As pastagens eram de capim-elefante (Pennisetum purpureum , Schum.), setária ( Setaria sphacelata, Moos.) capim-branco ( Brachiaria mutica, Stapf.) e azevém (Lolium multiflorum, Lam.). Na época de inverno fazia-se suplementação com cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) ou rolão de milho (Zea mays). A pastagem era adubada com fósforo, potássio e metade do nitrogênio no início da primavera e o restante do nitrogênio no final do verão. Foi adotado um calendário sanitário que contemplava as vacinas de aftosa, carbúnculo sintomático, raiva, pneumoenterite; teste semestral de brucelose e anual de tuberculose; controle de endo e ectoparasitas, controle de mamite com ordenha higiênica, teste diário com caneca de fundo preto e CMT quinzenalmente, e tratamento de umbigo de recém-nascidos. Período 2 - (1985-87): No início de 1985 descartaram-se vacas Holandesas e se introduziram oito vacas Jersey, ficando o rebanho com aproximadamente 50% de cada raça. Utilizaramse capineiras em larga escala, prevalecendo desta forma a alimentação volumosa nos estábulos. Os volumosos mais usados foram capim-elefante, cana e guandu (Cajanus cajan ). As pastagens de inverno, o arraçoamento, a divisão do rebanho e o esquema sanitário continuaram nos moldes do
período 1. Período 3 - (1988-91): Este período caracterizou-se como uma fase de transição para atingir um sistema intensivo de produção. Desta forma, foi gradativamente desativado o uso da cana-de-açúcar picada como suplemento de abril a outubro, e passou-se a utilizar silagem de sorgo em larga escala. Com isso abandonou-se a pastagem de inverno por deficiência de área. Voltou-se com ênfase ao pastejo direto do capim-elefante, que teve sua área ampliada. Pretendia-se utilizar um arraçoamento na proporção de 1:3 (kg concentrado/kg de leite) sobre toda produção. Além das vacas em lactação, todos animais em crescimento também deveriam receber 2kg de ração ao dia. Porém, este critério raramente foi cumprido, especialmente para as categorias em crescimento. A criação de bezerras e o calendário profiláctico permaneceram inalterados. Em 1990/91 foram descartadas 16 matrizes com leucose. O rebanho de animais adultos, em 1990, foi dividido em grupo de vacas em lactação e grupo de vacas secas+novilhas. Nas pastagens foi introduzido o esquema de pastejo com dois lotes de animais, onde as vacas lactantes faziam o pastejo de ponta e as vacas secas+novilhas o pastejo de repasse. As pastagens receberam adubação nitrogenada de 200 a 400kg de N/ha e 150 a 300kg de K/ha, parcelada em cinco a oito aplicações durante o ano. Período 4 - (1992-94): Neste período se teve consolidada a tecnologia introduzida no período anterior, com o critério de arraçoamento cumprido com bastante regularidade. Porém, ainda se dispunha de um rebanho incompleto para a capacidade de suporte da unidade de produção de leite. Este rebanho ainda poderia ser aproAgrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Sistema de produção
ximadamente 50% maior.
fato de todas fêmeas serem criadas para possibilitar uma forte pressão de seleção. Em geral, a categoria de “fêmea > dois anos” foi reduzida, pois conseguiu--se baixar a idade ao primeiro parto logo no início (1983), embora houvesse uma eventual irregularidade em 94. Já a proporção das vacas em lactação, em relação ao total de vacas, esteve abaixo do desejado em 1983 e 1985, estando em proporções ideais (83%) nos anos restantes. A proporção de vacas no rebanho (% de cabeças) esteve em torno de 50 a 55%, embora em duas oportunidades baixasse a 43%. Considera-se que o ideal de um rebanho estabilizado seja próximo a 60%. Quanto aos eventos deve-se observar que também se registrou a ocorrência de abortos e mortes, e isto em número até maior que o esperado. Porém, ambos os casos foram úteis pois auxiliaram a evidenciar falhas de manejo, problemas sanitários e até doenças pouco comuns.
Resultado e discussão A evolução técnica registrada na Unidade de Produção de Leite nestes catorze anos de atividade consta na Tabela 1. Em primeiro lugar deve-se observar a evolução da produção bruta de leite que registrou um incremento de 180% no período. Observa-se que este aumento foi quase constante. A seqüência de aumento constante foi quebrado apenas em 1990/91/92, quando houve uma drástica redução no número de vacas devido a descartes de 16 matrizes por apresentar reação positiva ao teste de leucose enzoótica bovina. A área produtiva foi praticamente constante, girando em torno de 9ha. Quanto ao rebanho, observa-se um número relativamente elevado de fêmeas com menos de um ano e também de um a dois anos. Isto se deve ao
Observa-se que a proporção “coberturas: partos” está dentro dos padrões de 2,2 a 2,5 : 1. Quanto à idade ao primeiro parto, no início os valores foram elevados porque os animais eram comprados, vindos de sistemas de criação mais defi-cientes, além do estresse da mudança. A partir de 1983 os valores se situaram em torno de 960 dias (32 meses) até 1986. Nova redução de idade ao primeiro parto se registrou entre 1987 e 1990, atingindo níveis melhores (27 a 28 meses). Porém, verificou-se novamente um aumento nos anos seguintes, especialmente em 1994, com o ingresso de animais comprados. Parte dessa redução deve ser atribuída ao ingresso do gado Jersey, normalmente mais precoce. De qualquer forma, estes valores deveriam se reduzir com adoção de sistemas de criação mais apurados para que as novilhas atinjam a fase reprodutiva ao redor de 16 a 18 meses e com pesos corretos para serem cobertas.
Tabela 1 -Resultados e índices obtidos na Unidade Demonstrativa de Produção de Leite no período de 1981-93, segundo o ano civil Período I
II
III
IV
Itens 1981 Leite: produção bruta (litro/ano)
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
27.852
30.363
32.507
33.123
27.815
33.247
35.995
49.113
61.123
48.243
36.836
43.683
67.207
78983
Área produtiva (ha)
7,80
8,25
8,15
8,50
8,70
8,70
8,70
9,65
9,00
9,00
9,00
9,00
9,50
9,50
Rebanho: Fêmeas < 1 ano Fêmeas 1 a 2 anos Fêmeas > 2 anos Vacas lactantes Vacas - total Total de cabeças Total de UA
6,6 1,2 5,0 10,0 12,5 25,3 18,5
3,5 6,2 2,8 10,5 12,7 25,2 18,8
7,7 2,3 3,7 10,7 14,5 28,2 20,4
4,6 6,8 1,3 11,6 14,4 27,1 19,9
6,7 3,4 3,4 9,3 12,7 26,2 18,6
7,1 1,5 1,3 10,1 12,4 22,3 15,9
7,3 2,7 0,4 10,7 13,3 23,7 16,8
3,4 5,9 1,1 12,9 15,4 25,8 20,0
6,7 3,2 3,8 16,4 19,7 33,4 25,8
5,9 4,0 2,2 11,5 14,0 26,1 19,1
6,1 5,7 1,4 8,9 10,4 23,6 15,8
7,1 5,9 3,0 10,2 12,1 28,1 19,1
6,8 6,5 2,5 14,1 16,4 32,2 23,2
8,5 6,7 5,6 16,2 18,6 39,4 28,3
34 0 9 0 2
28 0 15 2 5
25 0 18 3 4
26 1 13 0 2
34 1 15 0 31
22 1 14 1 7
29 0 14 2 4
32 4 18 0 0
44 4 17 3 4
26 2 16 1 17
31 1 11 0 4
27 0 17 0 2
37 3 18 2 1
54 0 21 2 2
1.126
1.224
964
961
927
973
845
827
856
849
926
877
923
1.107
Pesos: Jersey vacas (kg) Holandesa vacas (kg)
395
404
403
410
275 411
317 399
318 430
326 442
322 453
329 455
332 468
333 482
338 485
359 500
Taxa natalidade matrizes (%) Carga animal - UA/ha
51 2,4
97 2,3
99 2,5
83 2,3
93 2,1
102 1,8
102 1,9
109 2,1
72 2,9
99 2,1
93 1,8
113 2,1
95 2,4
87 3,0
2.228 3.571
2.391 3.680
2.311 4.111
2.300 3.897
2.190 3.194
2.681 3.821
2.706 4.137
3.189 5.089
3.103 6.791
3.446 5.360
3.542 4.093
3.610 4.854
4.098 7.074
4.246 8.314
Eventos: Coberturas - unidade Abortos - unidade Partos - unidade Mortes de fêmeas - unidade Descarte de fêmeas - unidade Idade ao 1 o parto (dias)
Produção/vaca/ano (kg) Produção/ha/ano (kg)
Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
59
Sistema de produção
A evolução dos pesos médios das vacas reflete a gradativa melhoria nutricional do rebanho. Os pesos médios iniciais (1981 - Holandesa e 1985 - Jersey) traduzem os pesos médios destes animais nos seus estabelecimentos de origem. No caso das vacas Jersey, o maior incremento de peso deu-se logo no início, ao passo que para as vacas Holandesas esses pesos evoluíram especialmente a partir de 1987. Porém, o padrão da raça Holandesa no início da vida útil (dois e três anos) é de 500kg e quando adulta (60 meses), 670kg. O padrão para a vaca Jersey adulta é de 350 a 400kg. A taxa de natalidade das matrizes, que engloba as vacas e novilhas “> dois anos”, manteve-se dentro do ideal com as oscilações típicas de pequenos rebanhos, com duas exceções (1981 e 1989). As maiores cargas animais foram atingidas em 1983, 1989 e 1993. Até 1987 se conduziu a unidade de tal forma que a maior quantidade de alimentos era suprida pelas pastagens (volumosos), com reduzida alimenta-
ção concentrada. De 1988 a 1992 os concentrados deveriam ter participado da dieta em grandes proporções, porém isto também não ocorreu porque os escassos recursos da empresa não permitiram a compra de concentrados em quantidade suficiente ou com a devida regularidade. Desta forma, a carga animal registrada até 1991 foi alta, porém em 1992-94 este valor deveria ter sido maior; contudo, houve falta de animais, pois constatou-se expressiva sobra de pastos. Entre todos os índices, os mais importantes são os que descrevem a produtividade em relação à produção de leite. Para a maioria dos técnicos, a produção por vaca/ano e para outros a produção por ha/ano são os índices que melhor descrevem a eficiência produtiva de uma unidade de produção de leite. Em ambos os índices observa-se uma evolução expressiva e consistente durante catorze anos, registrando um incremento de 91 e 133% respectivamente para produção por vaca/ ano e por ha/ano. Os valores de 4.246kg/vaca/ano e
8.314kg/ha/ano em 1994 são valores de sistemas de produção bem evoluídos. A média brasileira de produção por vaca gira em torno de 700kg/ano. Os 30 produtores de leite visitados e acompanhados pelos técnicos da exEMPASC entre 1981 e 1991 foi de 2.500kg/vaca/ano. A Nova Zelândia hoje registra 3.200kg/vaca/ano e 7.700kg/ha/ano com lotação de 2,38 vacas/ha. Porém, países como a Alemanha têm médias superiores a 5.000kg/vaca/ano. O desempenho técnico é apenas uma parte dos resultados. Por isso, é apresentada, na Tabela 2, uma síntese do desempenho econômico em dois períodos distintos, 1981 a 1984 e 1993/ 94. Observa-se que tanto os gastos como as receitas estão intimamente ligados à tecnologia utilizada no período I e período IV. A diferença fundamental entre estes dois períodos é o critério de arraçoamento do rebanho e o uso de silagem. Esta tecnologia aumentou expressivamente o uso de rações e de maquinário. Mas houve um equivalente aumento nas receitas fazendo com que a margem bruta,
Tabela 2 - Avaliação sucinta do desempenho econômico da Unidade de Produção de Leite, atribuindo às receitas e às despesas preços médios praticados no Vale do Itajaí e Litoral Norte Catarinense (valores em US$) Período I
Período IV
Item 1981
1982
1983
1984
1993
1994
Custos operacionais Insumos agrícolas Rações e concentrados (preço médio)(A) (preço menor)(A) Produtos veterinários Inseminação artificial Energia elétrica Higiene e limpeza Maquinário Ferramentas e utensílios
973,73 551,75 (413,81) 386,54 139,91 116,40 13,31 922,30 99,22
1.086,25 422,45 (316,84) 558,14 71,41 109,61 95,52 910,19 43,22
1.141,05 485,75 (364,31) 413,11 80,01 154,16 45,75 781,83 34,78
1.078,14 518,11 (388,58) 449,92 71,67 148,84 130,69 521,50 41,22
1.691,57 4.169,95 (3.127,46) 752,01 301,88 345,99 317,96 1.978,10 99,99
987,19 8.517,64 (6.388,23) 1.315,45 244,72 346,00 476,26 2.451,50 100,00
3.203,16 (3.065,22)
3.296,79 (3.191,18)
3.136,44 (3.015,00)
2.960,09 (2.830,56)
9.657,45 (8.614,96)
14.438,76 (12.309,35)
Leite (preço médio) (preço com incentivo 10%) Com animais, venda e aumento rebanho Outros
3.783,56 (4.161,92) 1.084,73 799,24
3.715,50 (4.087,05) 1.483,33 282,35
3.366,89 (3.703,58) 2.290,89 197,64
3.491,26 (3.840,39) 1.010,49 -
9.593,96 (10.553,36) 2.592,54 -
13.194,19 (14.513,61) 3.422,19 -
Total com preço médio Total com preço incentivado
5.667,53 (6.045,89)
5.481,18 (5.852,73)
5.855,42 (6.192,11)
4.501,75 (4.850,88)
12.186,50 (13.145,90)
16.616,38 (17.935,80)
Margem Bruta (com preço médio) (com preço alternativo)
2.464,37 (2.980,67)
2.184,39 (2.661,55)
2.718,98 (3.177,11)
1.541,66 (2.020,32)
2.529,05 (4.530,94)
2.177,62 (5.626,45)
Total com preço médio Total com preço menor Receitas
(A) O demonstrativo principal foi feito com base nos preços médios, porém, na maioria dos itens é possível conseguir preços inferiores aos da média. Isto especialmente pode ocorrer com rações e concentrados através de formulação própria da ração ou na barganha quando se adquirem quantidades maiores. Nisto pode-se obter uma redução de 25%. Da mesma forma, pode-se obter um preço melhor para o leite, através da higiene, resfriamento, produções mais elevadas, etc...
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Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
Sistema de produção
quando avaliada a preços médios, permanecesse no mesmo patamar. Quando é possível barganhar preços com rações e obter incentivos com o leite, a margem bruta melhora significativamente no período IV. Mesmo assim, a margem bruta obtida é modesta para uma atividade tão intensa como a produção de leite. Neste sentido, deve-se atentar para vários aspectos. Nesta unidade de produção, bem como em qualquer propriedade particular, quando se adota qualquer tecnologia que aumenta a produção, o aumento dos gastos é imediato, enquanto a produtividade e, em conse-qüência, as receitas vão aumentando gradativamente. Por isso, nesta unidade em particular, com a mesma tecnologia e praticamente os mesmos gastos, deve-se ainda obter um significativo aumento na produção de leite (+40%), pois é possível trabalhar com 25 a 30 vacas sem qualquer alteração nas instalações, área da propriedade ou tecnologia. Outro aspecto a considerar é que, se um maior número de produtores aumentar expressivamente a produção, há possibilidade de baixar o preço do frete da coleta do leite, desde que este benefício seja repassado ao produtor. Com certeza, este é um aspecto que poderia gerar um significativo aumento no preço do leite para o produtor. Ainda deve ser mencionado que este tipo de resultado econômico é o mais comum encontrado na análise de sistemas de produção nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, com leite tipo C. Historicamente os produtores de leite enfrentam altos preços de insumos e geralmente baixos preços para o leite. E, ainda, quando se analisam propriedades com baixas produções, os resultados financeiros são ainda piores. Frente a estas considerações, o resultado econômico desta Unidade de Produção de Leite está no contexto da nossa realidade, com possibilidade de ter uma evolução a curto prazo com perspectiva de oferecer ao produtor uma ocupação e condição de vida mais digna. Até hoje esta unidade é mantida com mão-de-obra equivalente a de um casal de agricultores.
esta unidade de produção duplicou a sua eficiência produtiva, fato que poderia passar despercebido se não se dispusesse dos registros em mãos para análise. Daí se ressalta a fundamental necessidade de se manter pelo menos alguns registros que sirvam para avaliar a atividade produtiva na qual se está envolvido. Na presente Unidade de Produção de Leite deve-se enfatizar que o progresso registrado se deu em função de incorporação de tecnologias de tal forma que, se fosse um estabelecimento particular, não teria havido necessidade de recorrer a financiamentos ou a grandes investimentos.
Portanto, o que aqui se quis mostrar é que com constância e dedicação é possível incorporar tecnologia que a longo prazo produzirão os devidos resultados. Amaro Hillesheim, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 1.783-D, CREA-SC, EPAGRI/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, Fone (0473) 46-5244, Fax (0473) 46-5255, 88301970 - Itajaí, SC, João Lari Felix Cordeiro, méd. vet., M.Sc., CRMV-2 n o 0099, SDA/ EPAGRI/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, Fone (0473) 46-5244, Fax (0473) 46-5255, 88301-970 - Itajaí, SC e Irceu Agostini, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 3.361-D, CREA-SC, EPAGRI/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, Fone (0473) 46-5244, Fax (0473) 46-5255, 88301-970 - Itajaí, SC.
Conclusões Em síntese, pode-se afirmar que Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995
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CONJUNTURA
Reflexo dos programas de ajuda internacional
incremento de 73 centavos, 17 centavos corres-pondem a produtos agrícolas. A principal explicação para este fato é de que os países ricos se concentram nas regiões de clima temperado e produzem alguns produtos agrícolas que não se desenvolvem adequadamente em climas mais Sadi Sérgio Grimm quentes, necessitando ser importados. Um exemplo típico é o trigo. O volume de exportações agrícos programas de ajuda internalas destinadas aos países em desencional para o desenvolvimento volvimento cresceu de 13% em 1970/ da agricultura nos países em desenvol71 para mais de 26% em 1992/93. vimento vêm sofrendo corEnquanto as importações de tes gradativos nos últimos produtos agrícolas nos paídez anos. Embora tais corses desenvolvidos vem caintes reduzam o crescimento do na base de 1% ao ano em econômico e o desenvolvitermos reais na década de mento social desses países, 90, essas importações por é preciso lembrar que os goparte dos países subdesenvolvidos vêm crescendo a vernos dos países doadores taxas anuais superiores a analisam seus programas de 5%. Este fato está relacionaajuda internacional não apedo à prática de subsídios na nas como atividades agricultura dos países ricos altruísticas, mas como ine à abertura da economia vestimentos políticos e ecodos países em desenvolvinômicos. Há um receio de mento ao mercado externo. que o desenvolvimento agríOutro dado interessancola dos países receptores te desse relatório é de que poderá reduzir o mercado de para cada bilhão de dólares exportação dos países ricos. exportados pelos Estados Por outro lado, alguns ecoUnidos estima-se que cerca nomistas e planejadores arde 20 mil empregos são gegumentam de que os invesrados. Partindo deste raciotimentos no desenvolvimencínio, infere-se que as exto agrícola perdem imporportações anuais de 197 bitância a medida que cresce a lhões de dólares para os paAjuda internacional: bom negócio para quem dá e para industrialização, visto que a íses em desenvolvimento asquem ganha participação da agricultura seguram emprego para quano PIB declina significativase 4 milhões de americanos. mente. Em 1993, os países desenvolvidos exportaram para aqueles Recente relatório do International evidência clara da repercussão que o em desenvolvimento mais de 728 Food Policy Research Institute desenvolvimento agrícola tem nos oubilhões de dólares, o que representa IFPRI, sediado em Washington tros setores da economia. O aumento mais de 14 milhões de empregos D.C., contradiz essas suposições e da renda rural promove um increnaqueles países, assumindo que a indica que tais cortes prejudicarão mento na demanda não só de bens de estimativa dos EUA é válida para os ambos os lados. O estudo demonstra consumo, mas também de serviços e demais países ricos. que ajuda internacional dirigida, essuprimentos agrícolas. O estudo do IFPRI é um indicativo Tomando por base os países em pecialmente para a pesquisa de que os gastos em ajuda externa desenvolvimento, em média, 1 dólar agropecuária, não apenas gera um por parte dos países desenvolvidos de incremento na produção agrícola amplo crescimento econômico dos representam um bom negócio, tanto resulta em um aumento de 73 centapaíses receptores, como cria novos para os doadores como para os recepvos no valor das importações. Teoriempregos nos países desenvolvidos tores. camente, uma maior produção interpelo aumento da demanda por produna poderia provocar uma redução na Sadi Sérgio Grimm , eng. agr., Ph.D., Cart. tos importados naqueles. Prof. no 346-D, CREA-SC, EPAGRI, C.P. 502, importação de produtos agrícolas. ConO estudo assume um retorno Fone (048) 234-1344, Telex 482 242, Fax (048) tudo, os dados mostram que, desse anual de 40%, em termos de aumento 234-1024, 88034-901 - Florianópolis, SC.
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na produção agrícola, para os investimentos em pesquisa agropecuária, ressaltando ser esta uma estimativa conservadora, segundo várias análises. É interessante salientar que, em 1986, a taxa interna de retorno dos investimentos na geração de tecnologias foi estimado em 49,7%, no caso da ex--EMPASC. O trabalho indica que, em média, para cada dólar de aumento na produção agrícola resulta num crescimento de U$ 2,32 do PIB. Este dado é uma
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OPINIÃO
Do desenvolvimento agrícola ao desenvolvimento rural Luiz Carlos Mior
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que diferencia o desenvolvimento agrícola do rural? Será apenas uma questão formal ou, melhor dizendo, de semântica? Se for apenas isso não haveria razão para aprofundarmos a discussão sobre o tema. Todavia, uma avaliação mais criteriosa torna possível visualizar as várias nuances que cercam esta questão. Vamos às noções conceituais: Enquanto o desenvolvimento agrícola envolve aspectos relacionados com o crescimento da produção e produtividade agrícola, o desenvolvimento rural refere-se, de um lado, a melhorias no nível e na distribuição de renda setorial (o que inclui, em particular, questões relativas a emprego, concentração da terra e produtores sem terra, e fontes de renda dentro e fora da unidade produtiva)1 e, de outro, aos aspectos relacionados com a qualidade de vida no meio rural em suas múltiplas dimensões. Historicamente a opção feita pelas sociedades e pelos governos foi pelo desenvolvimento agrícola. Assim foi na modernização da agricultura dos países ditos desenvolvidos, em espe-cial EUA, União Européia, Japão e seu bloco asiático e, em menor grau, mas não menos importante, dos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. O Estado de Santa Catarina também partilhou desta opção ao executar as políticas de desenvolvimento agrícola emanadas do governo federal. A opção brasileira foi tomada ainda nos anos 50, quando a indústria assumiu o comando da economia atribuindo ao setor agrícola certas “funções e papéis” a desempenhar no processo de desenvolvimento econômico (interpretado como um passo intermediário necessário para o desenvolvimento urbano/ industrial). Entre outras funções destacamse: liberação de mão-de-obra para o setor industrial; fornecimento de alimentos e matérias-primas a custos constantes ou decrescentes; suprimento de capital para o financiamento de investimentos industriais; suprimento de divisas estrangeiras, através da exportação de produtos agrícolas e, criação do mercado interno para os produtos secundários, quer para a própria indústria de insumos e máquinas para a agricultura, quer para a indústria em geral. No final dos anos 70 foi agregado mais um papel, qual seja, o de gerar energia em função da crise do petróleo. Como era esperado, estes objetivos foram alcançados levando o Brasil a um patamar surpreendente de desenvolvimento agrícola, medido pela ampliação da produção e da produtividade de boa parte dos produtos agríco-
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las. Todavia, o desenvolvimento rural, além de não ter sido alcançado, foi agravado, já que o padrão de produção agrícola adotado impactou negativamente as variáveis conformadoras do bem-estar no meio rural como: perfil de distribuição de renda setorial e intersetorial2 , democratização do acesso a terra; qualidade de vida3 ; conservação dos recursos naturais; descapitalização e êxodo rural. Logo, a opção pelo desenvolvimento agrícola não levou ao desenvolvimento rural e sim ao agravamento dos problemas sociais e ambientais do setor. Como não poderia deixar de ser este modelo de desenvolvimento entrou em crise, associada à crise dos diversos paradigmas que lhe deram sustentação, como a do modelo tecnológico e agrícola dito “produtivista”, preocupado apenas com o aumento da produção e da produtividade frente a um mercado crescente, resultado da intensa urbanização do período. Todavia, a crise do modelo de desenvolvimento, das instituições que lhe deram suporte e do padrão tecnológico ocorre de maneira paralela ao surgimento de novos paradigmas, como o do desenvolvimento sustentável em suas dimensões econômica, social, ambiental e política. Embora ainda em fase inicial, este modelo caminha para a ampliação da percepção da necessidade de atribuir novos papéis para a agricultura e o meio rural, onde podese destacar: gerar oportunidades de ocupação produtiva da mão-de-obra e renda em bases sustentáveis para a maioria da população do meio rural, em especial para a agricultura familiar; reduzir migrações rurais-urbanas e rurais-rurais; alcançar maiores níveis de segurança alimentar envolvendo aspectos quantitativos e qualitativos da produção de alimentos; diminuir desigualdades regionais e sociais; gerar divisas; e, retomada do crescimento econômico. Neste contexto, as políticas públicas de desenvolvimento, pesquisa, assistência técnica e extensão rural, treinamento e profissionalização serão profundamente afetadas. Nesta perspectiva de mudanças e partindo de uma percepção holística e sistêmica e do novo quadro de valores aí emergentes, ganham outro significado o papel da ciência e da tecnologia, da educação e da formação profissional, do técnico e do político, do econômico e do social, do ético e do cultural. Já não se pode mais pensar de forma segmentada em desenvolvimento, econômico ou social, agrícola, rural ou industrial, mas sim em desenvolvimento sustentável que leva em consideração estas múltiplas dimensões do conceito de desenvolvimento. Dentro deste novo quadro de valores, o desenvolvimento agrícola deverá caminhar no sentido de fortalecer o desenvolvimento do meio rural, diferentemente do que foi até nossos dias. Assim, as necessidades, demandas e problemas do desenvolvimento rural que se impõem são de natureza eminentemente diferente das que originaram o modelo produtivista e das instituições que o implementaram. Qual será o papel das instituições públicas de ensino, pesquisa e exten-
são? Fica evidente que este papel já não é o mesmo do passado recente. O modelo de desenvolvimento e o padrão tecnológico mudaram e a sociedade já atribui outros valores para a agricultura e o meio rural. A agricultura e o sistema agroalimentar mais amplo deverão pressionar as instituições públicas para este novo desafio: o de garantir competitividade e eqüidade social e ambiental para o meio rural e sua população. No Estado de Santa Catarina, a mudança de nome da Secretaria da Agricultura do Estado, incorporando aspectos do desenvolvimento rural, se, por um lado, indica o caminho, por outro, coloca desafios para as instituições que se voltam para o rural. Assim, além da produção de alimentos e matériasprimas, o desenvolvimento rural requer novas opções produtivas de uso da terra, da mãode-obra, enfim, dos fatores de produção. Produção de matérias-primas não alimentares, plantas ornamentais, turismo, entre outras atividades produtivas, deverão ser desenvolvidas visando a geração de oportunidades de ocupação de mão-de-obra e renda para as famílias rurais. Agregam-se a este os desafios do crescimento e da distribuição de renda no meio rural, da educação, saúde e segurança alimentar, da cultura e do lazer, da preservação do meio ambiente, e da busca da competitividade, que implicam um esforço conjunto de secretarias de Estado, ou melhor, do Estado como um todo (municipal, estadual e nacional). Para alavancar este desenvolvimento, as ações deverão ser interinstitucionais e interdisciplinares, já que a natureza dos problemas e necessidades extrapola disciplinas e instituições. A melhoria da qualidade de vida no meio rural está, portanto, a exigir uma nova forma de intervenção e será alcançada na medida em que este novo paradigma for colocado plenamente em ação. Como pode-se ver, o desafio de construir o desenvolvimento do meio rural está apenas começando. A velocidade de construção do mesmo, medida pela ação das instituições públicas, privadas e não governamentais, dependerá da valoração que a sociedade atribuir ao desenvolvimento sustentável do meio rural. Luiz Carlos Mior, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. n o 4.303D, CREA-SC, EPAGRI, C.P. 502, Fone (048) 2341344, Telex 482 242, Fax (048) 234-1024, 88034-901 Florianópolis, SC. 1. JANVRY, A. de. Why do governants do what they do? The case food price police. In: JOHNSON, D.G.; SHUCH, E. (ed.). The role of markets in the world food economy. Boulder, Colorado: Westview Press, 1983. p.185-212. 2. HOFFMANN, R. Vinte anos de desigualdade e pobreza na agricultura brasileira. Revista de Economia e Sociologia Rural, Brasília, v.30, n.2, p.97113, 1992. 3. KAGEYAMA, A.; REHDER, P. O bem-estar rural no Brasil na década de oitenta. Revista de Economia e Sociologia Rural, Brasília, v.31, n.1, p.2345, 1993.
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VIDA RURAL SOLUÇÕES CASEIRAS
Medidor de ângulo Se você precisa tirar medidas que não exigem muita precisão e traçar o desenho de uma área da sua propriedade, existe uma maneira muito simples e rápida utilizando o medidor de ângulo.
• Colar dois marcadores salientes nas pontas e na parte de cima da régua conforme Figura 3.
Material necessário • Uma tábua fina (pode ser com dimensões em torno de 36 x 25mm), um transferidor comum (de plástico), uma régua (fazer uma seta em uma das pontas), pregos, marcadores e cola (Figura 1).
Figura 3 - Marcadores de régua
• Pregar a régua no cruzamento das retas da tábua, de modo que a régua gire no prego livremente em cima do transferidor (Figura 4).
Figura 1 - Régua com seta
Modo de construir o medidor de ângulo • Traçar duas retas (no centro e de cada lado da tábua) e colar o transferidor, observando a coincidência dos graus 0 o, 90o, 180o e 270o com o traçado das retas, conforme a Figura 2.
Figura 2 - Traçar as retas e colar o transferidor
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Figura 4 - Medidor de ângulo
• Colar outros dois marcadores salientes na tábua, em cima da reta mais comprida e fora das áreas da régua e do transferidor (Figura 4).
Figura 5 - Área a ser medida
Como medir o terreno Serão necessárias duas pessoas para a medida dos ângulos conforme a Figura 5. Uma pessoa, num dos cantos da área e com a prancheta na altura dos olhos, localiza uma baliza (pode ser uma pessoa) colocada no canto anterior da área, seguindo a linha dos marcadores da tábua até a baliza anterior. A outra pessoa move a régua do medidor de ângulo (também na altura dos olhos) até encontrar outra baliza localizada no canto seguinte da área. Então o ângulo será lido no transferidor. Repetindo a operação nos outros cantos e medindo os comprimentos dos lados com uma trena (ou passo aferido) é possível traçar o desenho do terreno e calcular, de maneira expedita, a área. Os ângulos medidos deverão ser os internos do terreno. Nota: Agradecemos a colaboração do eng. agr. M u - r i l l o Pundek.
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