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Edição 001 • Ano 01 • Nº 01 Uberaba • Minas Gerais • Brasil
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A educação além da sala de aula
Editorial
EDUCAÇÃO E RESPONSABILIDADE SOCIAL
Edição 001 • Ano 01 • Nº 01 Uberaba • Minas Gerais • Brasil
EDUca os Jornalista: Lívia Zanolini Projeto Gráfico: Luciano Guimarães Fotografia: Michelle Parron Diagramação: Claudineia Santos e José Adolfo Professora Responsável: Indiara Ferreira
Trabalhar com Educação foi uma vontade que surgiu a partir de minha participação em um programa de Iniciação Científica, junto ao Mestrado de Educação da Universidade de Uberaba, em 2007. Responsável pela Comunicação desenvolvida no projeto, percebi a visão equivocada de educadores sobre o verdadeiro papel do comunicador. Esse fato me incentivou a trabalhar com temas que mostrassem que a Educação pode encontrar aliados para cumprir com o verdadeiro sentido de educar. Em todas as produções como bolsista no projeto e em ambos os relatórios que elaborei para apresentar à Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação, com o objetivo de avaliação e evolução nas pesquisas, busquei abordar sobre a relevância de unir as áreas da Comunicação e da Educação nos processos de ensinoaprendizagem. Nesses estudos, minha orientadora no projeto – admirável professora que tanto faz falta a todos! – Mirna Tonus, percebendo os caminhos que vinha seguindo nessa área, apresentou-me um tema novo: a Educomunicação. Evoluir dos artigos que abordavam a simples relação entre as áreas da Comunicação e da Educação para a Educomunicação não foi muito difícil. Mas, confesso, é um tema que vai além, muito além, dessa inter-relação entre as áreas ou do uso de tecnologias nos processos educativos. É um campo que busca o conhecimento priorizando a prática social. Pelo menos é isso que me mostrou o pai do campo da Educomunicação, professor Ismar de Oliveira Soares, que vocês conhecerão ao longo dessa revista. Esta Educativa procura mostrar exatamente o objetivo da Educomunicação: educar de forma cativante e ativa, promovendo o saber além dos conhecimentos sistematizados nas disciplinas, que promova transformações íntimas nos indivíduos tornando-os ativos e agentes das transformações sociais. Preparando-os para viver, de fato, em sociedade. Acredito na Educação como a melhor forma de tornarmos indivíduos autônomos e ativos. Quando falo em educomunicar, não imagino uma sala de aula repleta de alunos sentados, com seus lápis e cadernos, olhando fixamente para a lousa, mas imagino um pátio escolar repleto de alunos envolvidos em atividades recreativas. Quando falo em educomunicar, penso em novos recursos, novas abordagens, novos pensamentos. Penso em participação, integração, união, criatividade, imaginação. Penso em crescimento individual e, acima de tudo, coletivo. A Educomunicação é absolutamente DE todos e PARA todos.
Foto: Michelle Parron
Índice Educomunicação e as Novas Abordagens Educativas Aprender a Educomunicar Conversa com Professor Ismar A Educomunicação nas Universidades Educomunicação na Intercom Rádio Corina - Em Sintonia com a Educação As Mídias e os Muros da Escola Educação em Pauta Os Diários Virtuais Luz, Câmera, Criação! Recursos Tecnológicos na Educação Como Montar um Projeto Educomunicativo Dicas sobre Educomunicação
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Educomunicação e as Novas Abordagens Educativas Século XXI. Grande influência da mídia na sociedade e necessidade cada vez maior de se preparar para o mercado e para a vida. A Educomunicação é um campo que traz propostas que podem revolucionar a Educação no país e preparar os futuros profissionais para lidar com essa avalanche de transformações sociais. Você conhece a frase “educação é aquilo que fica depois que você esquece o que a escola ensinou” de Albert Einstein? O autor já se foi há quase 55 anos e a afirmação ainda faz sentido, como se tivesse sido escrita ontem. Bem, se educação é o que fica depois que seus alunos esquecem todas as teorias e fórmulas que aprenderam na escola, pressupõe-se que a educação formal – aquela presente no ensino escolar institucionalizado, baseada em livros e apostilas escolares – não é a única forma de construir o conhecimento. Ela é essencial, mas sozinha não cumpre com o verdadeiro sentido de educar. De acordo com o professor de Filosofia da Educação e Filosofia Política, Eduardo Chaves, a educação deve ser vista como algo capaz de formar pessoas preparadas para sobreviver em uma sociedade que precisa mais do que conhecimentos ligados somente às ciências do saber. Mas que saibam, também, conviver com os demais, que tenham atitudes coerentes perante as diversas situações e que
É impossível negar a presença dos meios de comunicação na formação dos jovens.
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participem das transformações sociais atuando pelo bem comum. Você, como professor, já deve ter sentido a influência das mídias sob os jovens. Quantas vezes você viu alunas exibindo algum modelito de personagens de novelas? E os ditos populares dos programas que ficam entre as frases mais pronunciadas? Lembra-se de um caso verídico e chocante que tenha saído em algum veículo de comunicação e que foi o assunto do dia? De fato, os jovens, como qualquer pessoa, são bombardeados pela quantidade de informações que recebem dos meios de comunicação. É impossível negar sua presença na formação deles. Percebendo a presença da comunicação no cotidiano e nos processos educacionais e a importância de se fazer educação nos meios midiáticos, o coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Ismar de Oliveira Soares, começou a estudar essa inter-relação entre as áreas da Comunicação e Educação. A Educomunicação, como é chamado o novo campo, ultrapassa os limites dos terrenos escolares e estende-se a todo o contexto social no qual o ser humano está inserido. Busca promover a educação por meio da convivência com o outro e a cultura, submetendo, tanto educadores, quanto educandos, à aceitação das diferenças e à valorização dos diversos discursos.
Educar ĂŠ cativar.
Foto: Michelle Parron 5
Para ele, a Educomunicação, como um campo disposto entre a comunicação e a educação, usufrui da mídia e das tecnologias para criar espaços educativos que visam ao aprendizado mútuo e onde todos têm direito – e dever – à participação. Contrário ao conceito da educação tradicional, que valoriza a lógica dos objetos e os produtos obtidos com estudos sistematizados, a Educomunicação se detém nos processos educativos e estimula o envolvimento dos sujeitos com suas individualidades. Ismar Soares concorda com o pensamento do professor da Universidade Ibero-Americana do México, Leonardo Méndez Sánchez, quando ele relembra que a educação necessita reestruturar-se e voltar-se, também, para a valorização do sujeito e da sensibilidade no processo educativo, pois o homem é um ser repleto de vivências e sentimentos tão importantes no processo educativo, quanto à presença das teorias e conceitos. Enfim, que sentido teria a educação se ficasse restrita apenas ao que é exterior ao homem?
O homem é repleto de vivências e sentimentos tão importantes no processo educativo, quanto à presença das teorias e conceitos.
Por isso, a Educomunicação é um campo que concilia todas as partes que envolvem a inteligência e incentiva a vivência de todas para o verdadeiro aprendizado. A apreensão da realidade dá-se por meio das experiências e, a partir disto, o ser humano constrói seu conhecimento. Afinal, não é possível estabelecer uma cultura que se ampare apenas em teorias e conceitos. Mais do que isso, a cultura se constitui de ações comuns da realidade de um povo, como crenças, comportamentos e valores.
Educomunicação nas escolas De acordo com os princípios educomunicativos, as escolas são palcos de intersecção de idéias que podem ser utilizadas a favor da educação. Por meio de ferramentas comunicativas, os professores incentivam os alunos a produzirem conteúdos educativos de forma lúdica e criativa por meio da execução de projetos a serem desenvolvidos na escola. A proposta é promover educação por meio da comunicação para a compreensão não somente do conteúdo formal de âmbito escolar, mas também para compreensão da sociedade e da cultura.
A Educomunicação concilia todas as partes que envolvem a inteligência para o verdadeiro aprendizado.
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Nesse processo, além dos benefícios pedagógicos, os alunos aprendem a expor suas idéias e a respeitar os pensamentos alheios. Desenvolvem a cidadania, pesquisam, aprendem para satisfazer as necessidades próprias e as do projeto, além de mostrar seu potencial fora das salas de aula. Aprender a conviver com as diferenças, com as diversas culturas, conquistar novos saberes e tornar-se mais seguros na tomada de suas decisões, passar a entender o poder da mídia e a utilizá-la a seu favor, sem deixar-se manipular por ela, também estão entre os objetivos da Educomunicação. Mesmo depois de estudos que comprovaram a relevância desta inter-relação, Ismar Soares percebe que ainda há resistências e teorias que neguem a aproximação entre os campos da comunicação e da educação. “No entanto, no mundo latino, certa aproximação foi constatada, graças à contribuição teórico-prática de filósofos da educação como Célestin Freinet ou Paulo Freire, ou da comunicação, como Jésus Martín-Barbero e Mário Kaplún”. Além
disso, o avanço tecnológico e os estudos cada vez mais direcionados apontam ainda mais para este ajuntamento entre os dois campos do saber.
Foto: Michelle Parron
O técnico e coordenador do Serviço Social do Comércio (SESC) São José dos Campos, Sérgio Seabra, esclarece, ainda, sobre a importância do diálogo entre mídia e escola. “‘Apáticos’ ou ‘rebeldes’, o comportamento dos alunos é reativo à clausura de um ambiente em que não se pode expressar-se com liberdade: a sala de aula – e, em sentido mais amplo, o mundo”. Ele acredita o quanto os elementos midiáticos, quando utilizados na escola, podem atuar em benefício, tanto individual, quanto coletivo. Isso mostra que o poder da comunicação, aliado à educação, tende a atrair mais a atenção dos educandos, podendo conquistar melhores resultados. A mestre em Ciências Sociais e doutora em Comunicação e Cultura, Ângela Schaun, enfatiza a importância da Educomunicação para o desenvolvimento dos princípios de cidadania. Para ela, a prática educomunicativa torna possível viver em uma sociedade em que há diferenças, pois elas serão respeitadas; em uma sociedade em que há novas tecnologias e constantes transformações, pois haverá inclusão; em uma sociedade em que há líderes, mas que, apesar disso, haverá comunicação democrática e com a participação de todos que querem se manifestar. Os estudos e a prática da Educomunicação fazem com que os envolvidos nos processos educativos passem a olhar a educação não somente como forma de atingir boas notas, mas como forma de tornarem-se pessoas autônomas, compromissadas com a realidade e persistentes em relação aos seus objetivos.
Falar de Educomunicação é falar de união pelo bem comum.
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Aprender a Educomunicar Profa. Dra. Mirna Tônus A primeira vez em que comunicação e educação se mostraram unidas em minha carreira acadêmica foi ainda na graduação em Jornalismo, na Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), no início da década de 1990. Desde aquela época, tem sido um longo e prazeroso período de aprendizagem, no qual separar as duas áreas se tornou impensável, ainda mais depois da tentativa de fomentar um diálogo entre elas no mestrado em Educação, na mesma instituição, e de estender essa reflexão para as Tecnologias da Informação e da Comunicação no doutorado em Multimeios na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Certa vez, publiquei um pequeno artigo – Entre a comunicação e a educação –, no qual busquei refletir sobre o trânsito nas duas áreas. Hoje, porém, ao pensar sobre o conceito de Educomunicação, que tem no professor Ismar de Oliveira Soares, da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), um dos maiores entusiastas e um importante especialista, percebo que se trata não de “entre”, mas de “com”. Educação com comunicação. E de “para”. Educação para comunicação e, igualmente importante, comunicação para educação. Essa concepção, cada vez mais fortalecida em minhas pesquisas e atividades acadêmicas, tem encontrado, satisfatoriamente, reflexos em alguns alunos que, a meu ver, já pensavam de maneira semelhante. Assim, estamos todos, continuamente, aprendendo a educomunicar, seja por meio do ensino, em disciplinas que abordam esse diálogo; seja no desenvolvimento de pesquisas, nas quais aprofundamos as discussões teóricas e conhecemos melhor se, onde e como a educomunicação tem se realizado; seja em projetos de extensão, ao sensibilizar professores e outros atores sociais relacionados à escola para a importância do tema. 8
Foto Mirna
Foto: Arquivo Pessoal
Nesse tripé que caracteriza a universidade, deparo-me com os ecos dessa aprendizagem nos projetos de pesquisa e extensão que coordeno na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com foco em educomunicação e meio ambiente. Se o mundo humano é um mundo de comunicação, como afirmava o educador Paulo Freire, que essa comunicação possa ser vista, por campos como a educação, como uma importante aliada na promoção de uma sociedade mais consciente e humana, no mais pleno sentido que o “humano” pode ter.
Conversa com Professor Ismar Falar de Educomunicação é abordar a união entre a Educação e Comunicação. É falar de criatividade, prática social, interação e desenvolvimento. O coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Ismar de Oliveira Soares, apesar de mostrar-se otimista, considera que a oferta de formação na área da Educomunicação ainda é pequena. A equipe do núcleo tem trabalhado ao redor de 30 mil pessoas, nesses últimos anos, e, atualmente, orienta cerca de cinco mil professores do estado de São Paulo. “O Brasil tem três milhões de professores, o que é falar em 30 mil? Não é nada. Então, na verdade, a formação aos poucos está surgindo”. Conheça o trabalho do pesquisador que ampliou o conceito da Educomunicação.
Foto: Divulgação
Ismar de Oliveira Soares 9
EDUCATIVA - A Comunidades partir do que surgiu o interesse de Foto: Portal Niterói estudar a Educomunicação? Ismar Soares - Ao longo da recente história, especialmente a partir dos anos 40, as pesquisas em Comunicação identificaram a hegemonia de alguns pensamentos. Desde a escola chamada funcionalista, passando por uma escola crítica, como a Escola alemã de Frankfurt, e se desenvolvendo em uma perspectiva estruturalista até chegar aos estudos culturais. E o que acontecia é que a Comunicação tinha pontos de vista sobre a Educação, e a Educação pontos de vista sobre a Comunicação. Nesse caso, os dois campos não se integravam. A Educação temia pelo impacto da mídia e desenvolvia programas de formação crítica frente à mídia, por exemplo. Ou senão a Educação pretendia fazer uso de alguns instrumentos da Comunicação, chamada tecnologias educativas. Nesse caso, tanto esse olhar crítico, quanto o uso, eram secundários, optativos. Não faziam parte, portanto, do ideário da Educação. Porque para a Educação, o que ela fazia já era comunicação suficiente e não necessitava se preocupar com isso. No entanto, ao longo dos últimos, pessoas dos dois campos, da Comunicação e da Educação, passaram a agir de uma forma diferenciada com relação a essas teorias. Eram pessoas que, através daquilo que se chamou antigamente de comunicação alternativa, comunicação popular, passaram a dar uma intencionalidade educativa para os processos comunicativos. Aí, vamos ter práticas alternativas e um pensamento alternativo. Então, uma pesquisa realizada pelo Núcleo de comunicação e Educação da ECA-USP examinou essas práticas, no Brasil, América Latina e no mundo e percebeu que muitas pessoas pensavam de forma semelhante, tinham dúvidas semelhantes, ainda que não se conhecessem. Aí, nós resolvemos usar um
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Não devemos ver a Educomunicação como algo da escola, mas como algo da sociedade.» 10
termo Educomunicação, que é novo em termos de constituição. Não absolutamente novo, pois tinha sido usado há um tempo pela própria UNESCO – Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura – para designar a leitura crítica da mídia. EDUCATIVA - Como funciona o trabalho do NCE? Ismar Soares - O NCE tem trabalhado de forma variada, dialogando com instituições. Exemplo, dialoga com o canal Futura, que é uma mídia. Dialogou com o Jornal da Tarde, quando produziu 80 páginas para a mídia impressa. Não devemos ver a Educomunicação como algo da escola, mas como algo da sociedade. O núcleo ajudou a fundar uma associação chamada Redecep, que é a Rede de Experiência em Comunicação, Educação, formada por dez organizações que trabalham com a prática educomunicativa. Por funcionar em uma universidade pública, se integra às organizações não governamentais dialogando com o chamado terceiro setor e também dialoga com as escolas. A conversa com a escola é uma conversa decorrente do diálogo com a sociedade, atendendo à educação formal. Isto quer dizer que a Educomunicação está presente na sociedade e vai caminhando até chegar à escola. A escola seria o último reduto em que a Educomunicação entra. Nessa conversa sobre o diálogo, o que o NCE propõe sempre são trabalhos, programas, projetos mediatizados. A gente entende que viver em uma sociedade midiática em que a juventude já está alfabetizada ou tem uma aproximação ao alfabeto da linguagem audiovisual, digital – que vai da produção impressa à própria produção digital, através do uso de celular, passando pelo vídeo, pelo rádio – possibilita um diálogo mais profundo. O rádio tem sido um instrumento forte em termos de trabalho em redes públicas. Agora, o rádio leva à Internet, e o resultado é a web rádio por exemplo. EDUCATIVA - A rede pública, pó si só, é capaz de desenvolver projetos educomunicativos com os currículos que possui? Ismar Soares - Dificilmente. Os currículos são fragmentados dentro da perspectiva nacional da educação bancária de Paulo Freire. Isso não significa que toda a educação pública seja bancária. O que
Escola Corina prova que, apesar das dificuldades, é possível desenvolver projetos educomunicativos eficientes.
Foto: Michelle Parron
significa é que as redes têm de cumprir determinadas tarefas e funções esperadas pela sociedade. As pessoas esperam que a escola desenvolva determinados procedimentos e transmita determinados conhecimentos. O ingresso da Educomunicação só acontece quando lideranças no âmbito escolar percebem a necessidade de mudanças. Então, isso eles vêem quando as autoridades escolares percebem que determinadas organizações pequenas, como ONGs, que trabalham com mídia e educação, alcançam excelentes resultados com os jovens. As melhores escolas nas avaliações de desempenho são aquelas que
desenvolvem projetos na linha da cultura, da produção Foto: Michelle Parron midiática, da Educomunicação. Isso tudo tem sensibilizado o poder público. EDUCATIVA - Quais dicas o senhor daria para professores que desejam aprofundar-se em Educomunicação? Ismar Soares - A primeira recomendação é que o professor se apodere de literaturas de respeito. Se forem ao “Google” colocando o conceito de Educomunicação certamente vão aparecer inúmeros artigos e várias teorias diferentes. Nós, no núcleo, defendemos a hipótese de que a Educomunicação é 11
um paradigma importante e pode estar presente em todo lugar. Até numa empresa, que é fechada. Essa literatura é importante. A segunda recomendação é também descobrir eventos que estejam acontecendo. Na Internet, se colocar “educomunicação + organizações”, no Google, vai cair no site da Redecep onde haverá experiências sendo mostradas através das publicações. Isto é, descobrir se há alguém fazendo e verificar, ver alguma literatura ou alguma prática que possa ser seguida. EDUCATIVA - O senhor ainda nota resistência de alguns profissionais da área da Educação em relação ao conceito da Educomunicação? Ismar Soares - A resistência é muito grande. Existem grupos que acham que a Educomunicação não é necessária. Alguns acham que é um conceito vazio. Isso não é novidade nenhuma porque, dentro da Educação, já existem movimentos voltados para uma prática social. O próprio conceito de Construtivismo avalia essa visão. O próprio movimento em torno de uma educação cognitivista, portanto voltado para integrar a criança à alfabetização digital. Isso tudo já existe para quem então persegue a Educomunicação. Então, alguns negam a hipótese da Educomunicação porque seria um conceito que estaria invadindo um campo já constituído. EDUCATIVA - Como pode o profissional da comunicação auxiliar no processo da Educomunicação? Ismar Soares - Eles são os mais habilitados, caso eles queiram sair um pouco da capa de donos de uma tecnologia e sentar junto com os alunos e, a partir dessa perspectiva de conversa, de produção conjunta, dar sua contribuição. O professor necessita desse apoio, porque teme a tecnologia e tem receio de fazer papel feio frente aos alunos que já conheçam mais do que eles. Então, o professor necessita de apoio do técnico e do comunicador. É impossível fazer um curso desses apenas com educadores. EDUCATIVA - De quem deve partir a iniciativa de desenvolver projetos educomunicativos? Dos professores, diretores de escolas ou Secretarias de Educação? Ismar Soares - É muito difícil te responder porque cada 12
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A Pedagogia afirma que o aprendizado acontece na resolução dos problemas.» caso é um caso. Nós necessitamos de ter pessoas entusiasmadas. Entendemos que o melhor caminho é a pedagogia de projetos. Porque a pedagogia de projetos não pergunta pela estrutura inteira, mas por um pedaço da estrutura. Então, a escola é autoritária? Ok. Mas nenhum professor, na aula de Artes ou na aula de Língua Portuguesa ou de Matemática, pode fazer alguma coisa? Pode reunir os alunos? Pode implementar o processo? Então, vamos começar por aí. É preciso encontrar professores ou agentes culturais animados. Em segundo lugar, precisamos ter o apoio da direção, da coordenação pedagógica, mesmo que ela não entenda o processo em si, mas que dê apoio, que dê liberdade para o desenvolvimento. Em terceiro lugar, nós precisamos de uma secretaria que dê substrato. Que dê um suporte tecnológico, que está cada vez mais barato e mais acessível. Então, acredito na congeminação de várias políticas. Porque não adianta a secretaria determinar a Educomunicação como norma e não ter ninguém entusiasmado para sustentá-la. EDUCATIVA - Como a Educomunicação pode auxiliar na melhoria do ensino no país? Ismar Soares - Vai auxiliar no momento em que escola, ao reconhecer que a criança vive na sociedade midiática e que, portanto, para ela é natural a integração das linguagens para o processo educativo, se abrir para projetos na perspectiva da Educomunicação, isto é, na perspectiva de uma gestão participativa. Utilizar os recursos para que a comunidade educativa se expresse, não apenas o professor se expresse e o lado do aluno dele, mas a comunidade em geral. Com isso, a auto-estima das crianças vai ficar mais elevada, a vontade de ir para escola aumenta e o conhecimento começa a surgir, a ser construído porque essas crianças têm problemas para resolver. A Pedagogia afirma que o aprendizado acontece na resolução dos problemas.
A Educomunicação nas Universidades A Educomunicação ganha espaço. Algumas universidades organizam núcleos e grupos de pesquisas com o objetivo de estudar profundamente o tema, atraindo educadores e professores interessados no assunto, que desenvolvem projetos e trabalhos visando o estudo aprofundado do tema a fim de melhorar a educação na sociedade.
Núcleo de Comunicação e Educação da ECA-USP
Núcleo de pesquisa ligados à Educomunicação conquistam cada vez mais espaço nas universidades brasileiras.
Foto: JoseAdolfo.com.br 13
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Anped e GT de Educação & Comunicação
Educom Afro
Núcleo de Comunicação Educativa da Intercom
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Educomunicação na Intercom
Valorização do trabalho acadêmico começa na escola.
Foto: Michelle Parron
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Quando se fala de mídias e novas tecnologias inseridas na educação, é impossível não falar em Educação à Distância»
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Foto: Lívia Zanolini
O reconhecimento e a adesão à EAD aumentam dia após dia.
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Rádio Corina
Foto: Michelle Parron
Em sintonia com a educação Rádio-escola envolve alunos e professores da Escola Estadual Professora Corina de Oliveira e conquista um espaço importante no cenário das melhores escolas públicas da cidade.
- Camila, vamos lá que hoje é sua vez de fazer a locução – dizia a amiga. - Eu? Eu não vou não, não consigo. Vocês sabem! – retrucava amedrontada. - Agora que você é locutora da rádio, precisa dar as caras e enfrentar o público. Vem que eles já estão esperando! 19
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Os radialistas mirins
Márcia Gladys de Souza é graduada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade de Uberaba, graduada e licenciada em Ciências Sociais pelo Centro de Ensino Superior de Uberaba (CESUB) e atualmente é professora de Sociologia e Sociologia da Educação na Escola Estadual Professora Corina de Oliveira.
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A verba Quadros dos programas • Fala aí, professor: direcionado aos professores, em que um deles é escolhido para ser entrevistado a fim de que os membros da escola possam conhecê-lo melhor. • Agenda Cultural: apresenta os principais eventos que acontecerão na cidade. • Informativo Corina: visa repassar informações importantes, tanto de dentro da escola, quanto de fora dela. • Música e recadinhos: permite com que os alunos possam transmitir seus recados e dedicar suas músicas para toda a escola. • Reflexão: transmite mensagens positivas na tentativa de proporcionar conforto aos colegas em momentos difíceis. • Canal do aluno: espaço em que os estudantes
Prós e contras
podem falar o que pensam a respeito de determinados assuntos. Claro, opinar sem desrespeitar. • Paparazzo Corina: um quadro de fofocas que mantém os alunos em dia com as novidades. • O tema do dia é: oferece espaço para discussão e debates sobre temas de interesse coletivo. • Plantão Corina: é veiculado quando ocorrem fatos que mereçam destaque fora do horário normal da programação e que devem noticiados momentaneamente. • Músicas e recadinhos: acontece todos os dias no programa exibido no intervalo das aulas. Para deixar os recados, basta o aluno procurar algum membro da rádio durante a transmissão. É o momento de maior integração entre radialistas e ouvintes.
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A voz da moçada! O que você pensa da Rádio Corina? s os tema adas e c to s s a nte . sic integra , as mú s a o n a a c o a ã ç rádio b io para em rela “Acho a rítica é o na rád c ã ç a a h ip in c i que arti s. A m perceb itam a p e tratado té v A o . r s p a icado nas aula ue eles e faltas r prejud Acho q d la o o s c s s e e r o exc ria que dimento justifica , mas te te seu ren n a e v s é s te e ter na e aula dio é in to á uma alu r je A o r . p o sa diss nciliar os. or. Co por cau io, 15 an lh c e á m In r a ir aniza io Ferre se org o Antôn c r a M . ial” essenc
“Já fiz teste , já entrei, m as tive que mesmo dia sair no por causa das minhas que não es notas tão muito b oas. A rádio uma com p assa u n ic a ç ã o m u it o p o incentiva os s i ti v a , alunos e fic amos por d dos princi entro pais fatos que aconte Luana Greg cem”. ório Balduin o, 16 anos.
. Eu até jetos da escola ro p s e r o lh e m dos dicação e, “A rádio é um as exige muita de m z, ve a um ar p . ci comecei a parti outras atividades ia abrir mão de od p ão n u e o, no moment iele, 15 anos. úsicas”. Bruna T m r di pe de o it u Gosto m
“A rádio é muito positiva. muitas Transmit i n fo r m a e ç õ es imp Te n h o o r ta n t e s v o n ta d e . de par pudesse t i c i p a r. , por gos S e tar muito gostaria de espo de fazer rt e s , um quad sobre ro espec a f in a l ial do Ca Brasileiro mpeon ”. Bruno a t o Alexand Rossetti, re Barbo 15 anos. sa
“Para partic ipar da rádio é preciso comprometim ento. É muito importante e exige re sponsabilida d e . A rádio a g ili za o tr a b a lh o d o p r o f e s s o r, facilitando a comunicaçã o na escola”. Marco Túlio C hagas, 15 an os.
rtantes. ssuntos impo a s io r vá e d o mpre tratand s da escola, a por estar se te de notícia n e tim ó m é so io o d ã n rá ita “A ansmissão s exige mu portante a tr articipar, ma p e d e ia r Acho muito im a ss a lev Gost do mundo. profissional se a m é tim b ó m a ta m u o ia com anos. mila Paiva ser ira Abreu, 14 cho que a Ca ve A i l . O o ã e ç d a le ic el ed d iante”. Mich e jornalista ad esse desejo d
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Foto: ClaudinĂŠia Ferreira 24
O Jornal Gração nunca valeu nota. Foto: Claudineia Santos Surgiu como iniciativa dos alunos pelo simples prazer de escrever e desenvolver um projeto relevante na escola.
O PatrocĂnio
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Repercussão e resultados Meninas da Redação do Jornal Gração: Ingrid, Yulli, Geisla e Rúbia.
Foto: Arquivo Pessoal
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A voz da moçada! O que você pensa do Jornal Gração? e! Eu al até no nom g le a r e o ã ç muito “O Jornal Gra s fotos eram a e s ia c tí o n nos gostava das fotos dos alu s a e t n e lm a p i Pales legais. Princ erme Sarkis ilh u G . ” a l o aqui da esc s. ntos, 11 ano Nery dos Sa
“O jornal tinh a matérias m uito legais. E das entrevis u gostava mu tas, as me ito ninas escolh entrevistado ia m bem os s”. André Lui z Batista Jún ior, 13 anos.
opinião expressar nossa a i d po te n ge a rque lá do um “Achava legal, po rticipei escreven pa eu z e v a m U . r i esse ouv e, claro, para quem quis l gostou muito a so s pe O a. ni Amazô poema sobre a Silva, 13 anos. ucielen Cristina L . s” o i og el s o r adorava ouvi
“As fotogr afias que as menina colocavam s no jornal e r a m muito interessan tes. As n o v id a d e s de filmes e liv ros também e ra m muito legais”. Eli as Irineu N eto, 11 ano s.
va de l! Eu gosta “Muito Lega Flávia, do para Ana mandar reca orada!”. minha ex-nam os. Martins, 11 an a h c o R r to i V João
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Os Diรกrios Virtuais (blogs)
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A avaliação e os custos
Foto: Michelle Parron
Maria Cléria Fernandes Coordenadora do Projeto FECIC
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Foto: Michelle Parron
Sirlene de Castro Oliveira Coordenadora Pedagógica
Foto: Michelle Parron
Contribuições do projeto
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Recursos Tecnológicos na Educação Profa. Heloísa Maria Marques Lessa O uso e a aplicação dos recursos tecnológicos têm entendimentos diferentes por parte de professores e
Se não houver uma mudança radical na postura dos
instituições, da mesma forma, entre gestores e
educadores no sentido de se aliarem às novas tecnologias,
pesquisadores da área pedagógica.
os métodos educacionais atualmente adotados se tornarão cada vez mais obsoletos e ineficientes, não atingindo o
Algumas instituições adotam os recursos tecnológicos
objetivo de educar bem para que os indivíduos alcancem a
como ferramentas educacionais, aliando-se eles. Outras
prática da cidadania.
instituições os antagonizam. É sabido que o jovem tem muita “afinidade” com os recursos Ao mesmo tempo, é preciso verificar também o
tecnológicos, o que torna o seu uso facilitado. Utilizar esses
posicionamento do professor. Não significa que se uma
meios para disseminação da cultura é um ato inteligente de
instituição os adota, todos os professores devem utilizá-los
aliar interesses em prol da educação.
efetivamente em suas aulas, como também não significa que, se todos os professores queiram utilizar os recursos, que as instituições irão adotá-los.
O jovem de hoje idolatra os aparelhos eletrônicos e, por esse motivo, as vias de comunicação que mais os atingem devem ser veiculadas, preferencialmente, nesses meios. Por
A adoção ou não de recursos tecnológicos pelas instituições ou pelo professor, pode estar diretamente relacionada com as concepções das práticas pedagógicas.. Cabe à educação, uma parcela da responsabilidade da compreensão crítica das transformações que o país está passando, principalmente no tocante às dinâmicas sociais de comunicação e à informação. É necessário haver uma escola próxima da comunidade, que caminhe na mesma velocidade que as tecnologias e que não fique aquém delas. Que lance mãos dos recursos tecnológicos disponíveis e que deles faça-se uma aliada nos processos mais eficazes da educação. Apesar das tecnologias serem acessíveis, mesmo nos países atrasados e estarem com os custos caindo vertiginosamente, seu acesso está longe de ser igualitário. Por conta das novas tecnologias digitais, passa a existir um novo modo de produção da informação, do conhecimento e da cultura.
exemplo: um jovem lerá, com certeza, um jornal virtual de seu interesse, mas talvez não leia o mesmo jornal impresso. A participação de alunos e professores na confecção de informativos desse porte só faz aumentar o conhecimento dos envolvidos, tanto quanto das pessoas que compartilharem dos resultados dos mesmos. É sempre uma forma prazerosa participar de um projeto educomunicativo, principalmente se for de uma forma ativa. Os alunos se integram mais, demonstram interesse por assuntos que interferem na vida de todos da comunidade escolar. Há que se ressaltar que o cidadão só participa ativamente do processo democrático de uma nação se tiver informações suficientes sobre os fatos relevantes à sua implicação social. Esse é o princípio básico de cidadania. Que lugar melhor para colocá-lo em prática do que na escola? Afinal, formar cidadãos é a meta da educação!
Heloísa Maria Marques Lessa é graduada em Letras Português/Inglês pela Faculdade de Filosofia, Ciências e André Azevedo da Fonseca é graduado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade de Letras de Ituverava, graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Uberaba, Pós-graduada em Uberaba, especialista em História do Brasil pela Pontifícia Universidade de Minas Gerais (PUC-MG), Docência no Ensino Superior pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Pós-graduanda em Crítica mestrando em Histórica Cultural/Política (Unesp-Franca). Professor e coordenador do curso de Literária pela UFTM, Pós-graduada em Educação Especial (Deficiência Mental) pela Universidade Federal do Comunicação Social na Universidade de Uberaba e coordenador do Memorial Mário Palmério. Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Foto: divulgação
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Como Montar um Projeto Educomunicativo Agora que você já sabe o que é Educomunicação e conhece um pouco sobre a prática educomunicativa, é o momento de refletir sobre o que pode fazer para montar seu próprio projeto educomunicativo.
Foto: Michelle Parron 33
Projeto com material impresso
O material impresso vai alĂŠm dos domĂnios escolares com mais facilidade. Isso se torna instigante para os participantes.
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Independentemente da mídia utilizada no projeto desenvolvido na escola, as reuniões de pauta são essenciais.
Foto: Michelle Parron
Projeto com vídeo
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Dicas sobre Educomunicação
Redecep Se você procura por mais conteúdo que aborde sobre a relação das áreas da Educação com a Comunicação e vice versa, existem sites que podem oferecer diversas abordagens acerca do assunto. Acessando http://www.redecep.org.br/educomunicacao_bibliografia.php, você estará diante da chamada Rede de Experiências em Comunicação, Educação e Participação (Redecep) que reúne organizações, centro de pesquisa e colaboradores com experiência no campo da Educomunicação. A Redecep proporciona rica bibliografia e conteúdo com o objetivo de disseminar o campo e beneficiar alunos e professores de todo o Brasil.
Dicas Educarte
Se deseja conhecer sobre alternativas para políticas públicas na área da Educomunicação a fim de apoiar projetos educomunicativos na sua escola, acesse http://rossetti.sites.uol.com.br/ No endereço você terá todo o relatório produzido pela equipe da Educarte, com o apoio do O Fundo das Nações Unidas para a Infância, UNICEF, contendo uma pesquisa feita com nove experiências brasileiras que utilizam a Educomunicação no contexto escolar. É um conteúdo bastante formativo para você, professor, que se interessa por trabalhar com conteúdos educomunicativos com seus alunos.
TVPontoCom
Ed
Para conhecer uma dica de projeto educomunicativo interessante na internet, acesse http://200.244.52.177/embratel/assistaAgora.do que você vai conhecer a TVPontoCom. O projeto é uma iniciativa do Instituto Embratel, que transmite produção cultural e educativa 24h por dia. Pra você, professor de escola pública, a TVPontoCom transmite conteúdo específicos para sua escola de segunda à sexta, das 8h às 18h. Converse com seus diretores, pense nas possibilidades de aproveitar esse material, Nos outros horários a programação é destinada para todos os tipos de público.
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ducomunicação 38
Universidade de Uberaba – Curso de Comunicação Social – Bloco L Av. Nenê Sabino, 1801 – Uberaba/MG • Telefone: (34) 3319 8953 •