St. Peter's Village

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2012 volume 01


Aldeia de Santo Pedro

Água Volume 01

Suspense - Romance - Ficção – Sobrenatural. Para maiores de 16 anos

Escrito por Danielle Sampol Rio de Janeiro, RJ - 2012.


ATENÇÃO ESTE LIVRO ESTÁ REGISTRADO NA BIBIOTECA NACIONAL

Está é uma obra original da autora, qualquer semelhança com outras obras é mera coincidência.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

Sinopse

Aos 16 anos, Diana foi morar com sua avó numa pequena cidade depois que seus pais foram mortos durante um sequestro relâmpago. As pessoas da cidade acreditam na lenda de uma água milagrosa, descoberta pelo professor Pedro. Quando estranhos desaparecimentos começaram a ocorrer, o barão foge com a família para dentro da floresta e passam a viver na escondida Aldeia de Santo Pedro onde acabam morrendo, deixando órfãos os três irmãos Ram, Edie e Ric que continuaram vivendo na floresta. Tentando se integrar à vida nova, Diana se apaixona por um rapaz misterioso que pode estar envolvido num estranho caso sobrenatural ligado à lenda do Santo Pedro. Através de seu psicólogo, Diana toma conhecimento de um trágico acidente envolvendo a morte da família Baleares e determinada a investigar com sua melhor amiga, ela pensa que o rapaz por quem ela se apaixonou, pode ser um fantasma.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

“Não sei se conseguiria contar com as mesmas palavras, mas acho que foi isso que eu entendi. Ele falou comigo sentado no velho chafariz. Estava lindo, de cabeça baixa olhando para o chão. Mesmo sem ter visto uma única lágrima, eu tenho certeza que ele estava chorando”. (Diana Gomes, 1996)


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

Prólogo

Sudeste do Brasil - Rio de Janeiro. Petrópolis, 1980.

Nenhuma tarde passava despercebida para a família Baleares, a baronesa, sempre reunia a família na varanda para o lanche. Os garotos com suas mãos barrentas e seus pés descalços chegavam sempre juntos rindo e se batendo um no outro. Famintos, nem se davam ao trabalho de lavar as mãos. Tudo isso para não perder os pães de batata que a baronesa preparava com carinho para seus três filhos. O ultimo a chegar à mesa era o patriarca da família Baleares, que todos os moradores locais o chamavam de barão, embora ele não gostasse. Juan Baleares nasceu na Europa, mas mudou-se para o Brasil antes de completar vinte anos. Nascido em berço ouro, ele herdou toda a fortuna dos pais. As pessoas da pequena cidade não estavam acostumadas com uma pessoa rica vivendo entre delas, daí bastou uma única brincadeira para que o apelido de barão estivesse na boca de todos. Incluindo Celina, a esposa dele, que também foi apelidada de baronesa. O pequeno Ram, era o mais baixo e o mais magro dos irmãos, era também o filho mais velho da família Baleares e o mais apegado ao pai. Edie era o irmão do meio e Ric, o caçula da família.


Edie era mais lento que os outros irmãos. Nunca tinha vantagem nos treinamentos de combate, mas isso não era problema quando se tratava na habilidade com as facas. Edie possuía uma mira perfeita. Seus olhos verdes eram o xodó da baronesa, ela sempre fazia pães de batata recheados somente para ele. Edie também era o eterno apaziguador nas brigas entre Ram e Ric pela atenção do barão, pais dos três irmãos. Os garotos passavam boa parte do tempo com o pai, treinando lutas de combates corpo a corpo e com espadas japonesas. O barão era um grande admirador de artes marciais, mais especificamente as japonesas. Os treinamentos com seus filhos eram realizados ali mesmo, na grande propriedade que pertencia à família baleares. Ram era chamado de magrelo pelos outros irmãos e isso gerava um ódio enorme em seu coração. Sua pele era muito branca, seus cabelos eram escuros e seus olhos muito expressivos. Ninguém conseguia descrever ao certo a cor exata daqueles olhos, nem mesmo a própria mãe, mesmo assim eram marcantes, exóticos, misteriosos. A personalidade forte de Ram o fazia constantemente brigar com Ric por atitudes infantis, mas ninguém sabia se era consequência da idade ou pirraça para atormentar o irmão. Ric era o mais alto. Agia como se fosse abraçar o mundo com as próprias mãos. Ele achava que poderia fazer de tudo sem medir as consequências. Ao contrário de Ram que escondia tudo pelo olhar, os olhos verdes de Ric eram como um livro aberto podendo ser lido por qualquer pessoa. Ele sempre escapava da propriedade em busca de conhecimento, Ram e Edie eram mais tradicionais sempre seguindo o costume local e as tradições da família, mas Ric era diferente, questionador e eloquente. A única característica que os irmãos compartilhavam juntos era o gosto por cavalos. A propriedade dos Baleares era muito grande e a família criava belos animais. No entanto, estranhos desaparecimentos começaram a ocorrer de uma hora para outra na pequena cidade, vizinha à floresta. Pouco tempo depois dos milagres, alguns adultos, crianças e adolescentes, desapareceram misteriosamente e as autoridades não


sabiam esclarecer se era rapto, sequestro ou assassinato, mas o fato é que estavam sumindo e as pessoas da cidade estavam apavoradas. A baronesa, já não permitia que os meninos andassem sozinhos fora da propriedade sem a presença dela ou algum empregado da casa, ela tinha medo que seus filhos também pudessem desaparecer. Em meio ao caos, o barão formou um grupo de busca com homens de sua estrema confiança armados com espadas e facas, ele não suportava armas de fogo, achava que era uma medida digna de um covarde que não dá chance de defesa ao oponente, mesmo sendo um oponente fora da lei. O barão era uma pessoa extremamente influente nas políticas da cidade, era um homem rico, por isso era ele quem organizava e tomava a frente das buscas pelos desaparecidos ignorando a polícia local. Quando alguém comentava os desaparecimentos, o Barão alterava completamente seu comportamento, desconversava e ficava muito agressivo caso alguém insistisse em comunicar as autoridades da cidade visinha. Achando muito estranho, a baronesa perguntou ao marido por que demorava tanto tempo dentro da floresta fechada, já toda vez que o seu grupo de busca partia à procura dos desaparecidos, regressava dias depois, quase semanas. O barão, sentindo-se pressionado, não teve como esconder a verdade da baronesa. - Eu tenho algo muito importante a lhe contar Celina. – Melhor sentar-se. A baronesa parecia não acreditar nas palavras dele. As lágrimas escorriam pelas bochechas finas que emolduravam o rosto dela. O barão, mantendo a expressão séria, revelou-lhe que ele estava envolvido no caso das pessoas que estavam desaparecendo. Eles começaram a discutir e o barão tomou as esposa pelos braços, que eram fortes como ferro fundido, e a levou até o quarto deles ordenando que ela arrumasse as malas de toda a família. Muito abalada obedeceu às ordens de seu marido enquanto gritava pelos filhos. –Richard, Edgard, Ramcy, venham até aqui. Os garotos correram até o quarto da mãe assustados, ela mãe nunca havia gritado com eles tão alto como naquela tarde.


Quando anoiteceu começou a ventar forte parecendo que iria arrancar árvores inteiras, até pedaços de telhado estavam voando por toda parte e todos ouviram estrondos fortes de relâmpagos. A família Baleares, com malas repletas de roupas e pequenos utensílios pessoais, partia com o empregado pessoal da baronesa, seguindo por uma estradinha que levava até a beira da floresta com seus cavalos e uma pequena carroça de passeio enquanto o barão permanecia na propriedade. Era quase impossível acreditar que o empregado iria entrar com toda a família no meio do mato, não considerando os perigos da noite que perambulavam na floresta. Ric e Edie estavam assustados com o que estava acontecendo, mas Ram mantinha-se calmo à frente da caravana, ele parecia estar ciente de tudo que estava acontecendo. Passando algumas horas, viajando floresta adentro, a baronesa já não sabia mais onde estava e nem por onde poderia retornar para a cidade.De repente, quando não tinha mais estrada a caravana parou. Eles se depararam em frente a um paredão de plantas e galhos de árvores bloqueando a passagem e o barão atravessou por ele. Como um passe de mágica, o paredão se abriu diante dos olhos de todos, dando vista a uma nova estrada. Sufocando seu pânico, a baronesa agarrou-se aos meninos que estavam com ela na carroça tentando protegê-los, mas eles não aceitaram. Ric e Edie desembainharam suas espadas e avançaram de encontro ao pai, pensando que ele de alguma forma iria tentar alguma maldade com a mãe deles. Foi à vez do pequeno Ram, que apontou sua espada e se voltou contra os irmãos, na intenção de proteger o pai. A baronesa saltou da carroça de passeio e posicionou-se entre Edie e Ric, Ram e o Barão então todos abaixaram suas espadas. A calmaria da noite superou o ambiente enquanto o Barão falava com sua esposa. - Calma Celina, nada de mal vai acontecer com você ou com nossos meninos. – Ele falou limpando suas lágrimas - Estamos a salvo e ninguém saberá onde nos encontrar. Aceitando as palavras dele, a baronesa retornou de volta á carroça e todos seguiram através da passagem que se abriu onde havia o paredão.


Os meninos ainda tensos acompanharam silenciosamente seus pais e nenhum deles teve coragem de olhar nos olhos um do outro durante todo o resto do caminho. À medida que eles avançavam pela passagem aberta no meio do nada, uma nova estrada de terra se apresentou e podia-se ver pequenas luzes de fogo que ficaram mais intensas quando eles se aproximavam. Então as pequenas luzes de fogo se transformaram em tochas que estavam iluminando todo o trajeto. Quase engasgando na própria saliva, Ric espiava de soslaio parecendo não acreditar que tudo levava a crer que ali, no meio de uma floresta, encontrava-se uma pequena aldeia com pequenas casas e pessoas morando dentro. Ele imediatamente reconheceu os rostos das pessoas que seguravam as tochas parados nas portas das casas olhando para ele com expressões de curiosidade e medo. Eram as pessoas desaparecidas da cidade. Edie Mantinha-se ao lado da mãe o tempo todo, mas o pequeno Ram caminhava de cabeça erguida ao lado do pai, sério e com sua espada nas mãos.O barão conduziu sua família em silêncio, ninguém se atrevia a falar. Chegando à porta da casa principal a família não pode deixar de notar, quando a porta foi aberta, que a casa estava completamente mobilhada, cada cômodo pronto esperando para ser ocupado. Foi permitido pelo Barão que os meninos explorassem a casa enquanto o barão conduzia sua esposa até a suíte do casal. - O que significa isso Juan? - Perguntou a baronesa. - Não estou reconhecendo você. – Vamos morar aqui a partir de agora, Celina. - Ele respondeu - Esse vai ser nosso lar. A baronesa arregalou os olhos extremamente verdes. Abalada com tudo aquilo ela não teve coragem para se opor ao marido. - Por que isso? - Ela perguntou. O barão se aproximou, colocando as duas mãos enormes sobre os ombros da mulher. - Ela existe, Celina. - A lenda é verdadeira... - Ela existe.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

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Água

Petrópolis (1988). Oito anos depois...

As férias desse ano foram iguais a todas as outras, com uma única variante, Dina não voltaria para casa quando acabassem. A triste notícia chegou aos ouvidos dela como um verdadeiro Tsunami devastando todos seus sentidos, por pouco ela não conseguiu ficar em pé depois que colocou o telefone no gancho. A cidade ficou estranha depois que descobriu que era órfã de pai e mãe. Passando ano após ano de férias na casa da sua avó ela começou a ver tudo por outro ângulo. Sua avó preparou todos os papeis de transferência da nova escola e para piorar ainda mais, teria que passar por uma mudança total de ambiente no auge dos seus 16 anos. Com certeza isso seria motivo suficiente para algumas consultas com psicólogo da família. O homem era lunático, ao invés dela falar sobre o que ela estava passando era ele quem contava histórias esquisitas sobre Pedro, antigo morador da cidade.


Como ela não estava nem um pouco interessada em falar sobre sua vida pessoal com o psicólogo, deixou que ele falasse enquanto o tempo passava. Ela apenas ouvia. Aqui na cidade, muitos anos antes de você nascer, existia uma lenda que os antigos contavam. Uma teoria de que uma água poderia curar todas as enfermidades. A maioria das pessoas não acreditavam que uma determinada água que brotava dentro da floresta, ninguém sabia onde, poderia aumentar a expectativa de vida das pessoas e até dos animais, e quem bebesse dessa água não teria nenhuma doença, se curaria muito rápido e poderia até viver muito mais anos de vida. - Então quem bebesse seria imortal, como os vampiros e lobisomens? Ela perguntou. - Não é exatamente desta forma, minha criança. Na verdade, quem bebesse dessa água aparentemente se tornaria escravo dela porque não poderia beber outro tipo de água, somente essa água especifica. Então um professor de biologia, muito querido aqui na cidade, começou um projeto de expedição com objetivo de descobrir o local dessa água milagrosa. Esse professor chamava-se Pedro, e era um homem extraordinário que ajudava todo mundo aqui na cidade. Ministrava aulas para crianças e era muito religioso. Professor Pedro, como lhe chamavam, junto com outros pesquisadores, partiu numa certa manhã para dentro da floresta e nunca mais voltou digo, não o grupo completo que partiu, os únicos que voltaram foram Pedro e Juan. - Nossa, que historia mais tosca. - Ela sussurrou baixinho. A todo o tempo ela pensava que, mesmo a historia da água milagrosa sendo tosca, era bem mais emocionante que a dela. Concluiu que a realidade de fato, era que sua historia não tinha nenhuma emoção, era um verdadeiro filme de terror, já que tinha morte envolvida no meio. Enquanto o homem falava, ela o observava beber a todo o momento, um gole de uma garrafa que ficava ao seu lado. “Bebendo em serviço à essa hora.” Ela pensou. Quando o tempo de análise terminou ela despediu-se do psicólogo e marcou uma próxima sessão. “Quem sabe ele tinha outras historias mais interessantes”, ela pensou. “Lendas definitivamente não me atraem”. Atrasada para missa das 19hs correu tanto quanto pode aguentar. Não estava acostumada com o tipo de ruas da cidade, embora sempre passasse as férias por lá.


As pedras de paralelepípedos eram muito desniveladas e cobertas com um tipo de areia que fazia com que elas escorregassem muito, Ops! Sentindo seus joelhos ardendo, percebeu o gosto salgado das lágrimas quando escorreram através das bochechas até chegar aos seus lábios, o impacto dos joelhos dela ao chão fez com que ela soltasse o maior grito de dor que ela jamais havia sentido antes. Se ela fosse contar a alguém não saberia como descrever a dor que sentia naquele momento e se por acaso ela pudesse contar, descreveria talvez, que era a própria visão do inferno. Choramingando tentou levantar-se, mas suas pernas estavam bambas com o tombo e a dor. “Merda”. Pensou quando reparou que havia areia dentro da sua pele. A coloração vermelha no joelho misturada com a areia do chão causava arrepios, quando percebeu um rapaz se aproximando lentamente, mas ela estava tão anestesiada com a dor que não pensou que poderia ser um assalto ou coisa assim. - Parece que você tem um pequeno problema ai. - O rapaz falou - Eu posso ajudar você? - Com a dor que eu estou sentindo, aceito qualquer ajuda, mesmo vinda de uma pessoa estranha, assim como você... Se antes, ela estava anestesiada com a dor, agora a paralisia tomava conta das suas funções, quando ela olhou para ele. Ficou alguns segundos olhando para aqueles olhos verdes sedutores, que tagarelavam na sua frente. Em pouco tempo a visão do inferno começou a mudar radicalmente para o retrato do paraíso. “O cara é lindo, simplesmente mais que lindo”. Pensou. E o sorriso seguro que ele tinha era a perfeita combinação para aquele rosto alegre que ele exibia. - Calma, deixe-me verificar como está o seu machucado. - Ele agachou se ao lado dela - Me parece que isso deverá cicatrizar em pouco tempo. - Pouco tempo? - Ela tentou rir. - Quase dá para ver o osso ai dentro. Falou olhando para o joelho. - Você está exagerando, não é tão grave. - Ele debochou do que ela havia dito. - Você vai sobreviver, deixe-me limpar o seu machucado. O rapaz pegou um pedaço de tecido que não parecia em nada com lenços do tipo que os cavalheiros dos filmes costumam usar, o pano


estava todo encardido e ela ficou com um pouco de nojinho por ele colocar o tecido na ferida dela. Puxando um cantil de água amarrado às suas costas, ele molhou o pano e passou sobre machucado. O toque dele era delicado e ele foi bastante gentil enquanto segurava o tornozelo dela para ter um melhor apoio na assepsia do machucado. Naquele instante ela não sentiu qualquer dor que pudesse ter uma vez sentido, para ficar admirando o rapaz que estava ajudando. - Obrigada, parece que a dor melhorou. - Venha, vou ajuda-la a levantar, segure minha mão. Ele pegou na sua mão e o toque que antes era delicado, passou a ser firme para que ela pudesse se ancorar ao levantar-se, mas no meio do movimento Dina sentiu o joelho ferido vacilar e desequilibrou. Mais que depressa a outra mão dele que estava livre, avançou para a cintura dela ajudando-a firmar-se em pé. Quando ela achou que iria cair lançou as duas mãos sobre os ombros dele alcançando seu pescoço com os braços, puxando-o forte para perto de si. Ficaram encostados um no outro por alguns segundos, ele a olhava com aqueles olhos sedutores e ela o olhava de volta. A respiração dele ficou mais ofegante e ela pôde perceber que ele ficou tenso, foi ai que ela cortou os olhares entre os dois pedindo desculpas. Ele apenas sorriu. Foram caminhando juntos até o final da rua. Ela sentia uma pequena dificuldade em andar e ele seguiu junto a ela caminhando ao seu lado, segurando-a com a mão firme certificando que ela não cairia novamente. Quando as luzes da igreja ficavam mais fortes eles pararam. Ele vasculhou o resto da rua, a sua expressão já não era mais a mesma e o seu sorriso havia sumido completamente, ele parecia rígido e preocupado. - Eu devo assistir a missa, minha avó esta esperando por mim. - Quer conhecê-la? - Acho que não é uma boa ideia. - Ele respondeu. - Eu preciso ir já passei mais tempo aqui do que eu deveria. - Consegue andar ate lá sozinha? - Sim, acho que consigo. Obrigada. – A propósito, meu nome é Diana. - Você mora aqui na cidade, Diana?


- Sim, com minha avó. - Se você mora aqui, então nós somos vizinhos. - E eu posso saber o nome do meu vizinho? - Perguntou maliciosamente. Ele ficou observando ela por um momento e sua expressão era curiosa. Então uma amiga de Dina aparecia na porta da igreja com intenção de chama-la, Dina virou-se para a amiga enquanto ele disse seu nome. - Eu sou Richard. - Prazer em conhecer Richard... - Diana falou enquanto virava de volta o rosto querendo agradecer por ele tê-la ajudado, mas não havia ninguém com ela. Ele havia sumido.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

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Desavenças e verdades

Ainda mancando, Dina conseguiu andar até a porta da igreja para encontrarse com sua amiga Angélica que ela apelidava carinhosamente e pejorativamente de Anja. Ela estava parada em frente a ela com cara de muitas perguntas, mas Dina não deixou que ela abrisse a boca, tratou de pendura-se no ombro da amiga e pediu que ela a ajudasse a caminhar até perto da sua avó. Dois lugares ao lado dela estavam vazios esperando para ser ocupados pelas duas. - O que aconteceu com seu joelho, querida? - Perguntou sua avó. - Nada de mais. Respondeu Dina. - Eu apenas caí quando sai correndo para não perder a missa. - E o que é isso ai amarrado no seu joelho? - Perguntou Angélica. - Que pano sujo é esse?


- É do Richard, ele me ajudou limpando o machucado. - Dina respondeu enquanto sua avó ignorava as duas ouvindo o padre falar. - Ele deixou o pano aqui. – Quem é Richard? - Perguntou Angélica novamente. - É o rapaz que me ajudou, já disse. - Quando eu caí na rua, vindo pra cá. Ela tentou explicar. - Você deve ter visto quando apareceu na porta da igreja, não viu? – Eu não vi ninguém com você na porta da igreja, Dina. “Como Angélica não viu Richard”. Ela pensou. “Se ele estava bem ao meu lado quando ela colocou a cabeça para fora da igreja”. Ficou pensando que talvez Anja pudesse ser míope, ou estava muito escuro e realmente ela não pode ver. Dina achava impossível Anja não ter visto aquele homem forte, com um sorriso lindo e olhos verdes que brilhavam mesmo na escuridão. Qualquer garota teria ficado fascinada, assim como ela ficou. Também se achou idiota por ter se esquecido de pedir o telefone dele. Tá certo que aquela cidade pequena era um pouco atrasada comparada a cidade grande, mas todos ali tinham telefone em casa e certamente aquele “Deus gato” teria um telefone numa mesinha de em casa.

Enquanto isso na floresta...

- Mas onde diabos você estava com a cabeça para ir à cidade? - Não sabe que isso pode ser perigoso? - Não faça um drama a toa Edie, ninguém me viu. - Ric respondeu ao seu irmão. - Eu tinha que ver como estava a nossa antiga cidade. - Você tem certeza que ninguém viu você? - Claro que tenho certeza, Edie. - Então jure por nossos pais. - Eu não vou jurar pelos nossos pais, não seja ridículo. - Diabos, então alguém viu você. – Edie parecia irritado com ele. - Idiota.


– Talvez alguém tenha me visto, mas ela não seria capaz de me reconhecer, esta morando à pouco tempo na cidade. - ELA? - Edie ficou preocupado com a revelação do irmão. - Você por acaso estava com uma mulher. - Ele jogou os braços para o ar. - Diabos, seu idiota, deixou uma mulher ver você, ele vai acabar sabendo disso, e vai fazer da nossa vida um inferno ainda maior. - Relaxa Edie. - Ric fazia questão de tripudiar em assuntos sérios. - Você tem passado muito tempo com macacos e preguiças. - Ric suspirou quando se lembrou de Dina. – Eu conheci uma garota incrível. Edie, sempre ficava na defensiva quando Ric sumia para explorar lugares fora dos limites do refúgio. Desde que seus pais morreram, ele cuidou dos seus irmãos até que a grande desavença separou de vez os meninos. O garoto gordinho com olhos verdes e bem pequenos havia se tornado um homem alto, ágil e forte. Com seus ombros bem definidos em cima de um belíssimo peitoral masculino. Seus cabelos costumavam cair pela testa tampando um pouco a visão dos olhos, mas nada que pudesse dificultar. Quando criança era muito bom com as facas e espadas curtas, mas agora que os anos passaram e ele cresceu tornou-se muito perigoso. Depois que Ric ouviu todo o sermão de Edie entrou em sua pequena cabana montada sob as raízes de uma arvore. Jogou o cantil de água que estava nas costas num canto qualquer. Não existia nenhum luxo dentro da sua cabana, apenas uma pequena cama feita com folhas secas aglomeradas em baixo de um pano com tecido muito grosso e pesado. A cabana era tão pequena que só possuía um único cômodo com aporta de entrada e nada mais. Faltava espaço até para a cama e folhas que volta e meia era destruída quando Ric se movia durante o sono. Ele deitou com as costas voltadas para as folhas, ficou encarando o teto e pensando na garota que acabara de conhecer na cidade, fora dos limites da floresta. A lembrança do rosto dela ficaria registrada para sempre na memória dele. Em anos, depois que saiu da cidade e foi morar na floresta, nunca mais havia se aproximado tanto de uma pessoa que não fosse da família ou os outros membros de seu clã. Parecia que os acontecimentos passados ainda ecoavam em sua mente.


Era difícil lembrar as coisas que Ram falou e fez contra ele, frequentemente Ric era assombrado por pesadelos obscuros em que Ram o perseguia depois que havia matado toda a sua família. Ele acordava no meio da noite, com sua espada em punho e suas vistas embaçadas que faziam com que ele não conseguisse distinguir a realidade do pesadelo. Apenas uma coisa ele tinha certeza em sua mente. Ram teria que pagar, ele não poderia ter feito todo aquele mal e ficado impune.

Na igreja...

Quase terminando a missa, as pessoas com suas cabeças baixas prestando atenção nas palavras do padre pareciam estar em transe coletivo, não era percebido qualquer movimento e Dina tentava adivinhar há quantos anos aquele padre ministrava missas na mesma igreja. Passado algum tempo o estômago dela roncava de tanta fome, ela mal conseguia raciocinar alguma coisa quanto mais lembrar que seu joelho estava machucado. Olhou um estante para o lado e percebeu que sua avó dormia confortável sentada no banco, ela achou incrível a maneira como a avó conseguia dormir durante toda a missa sem se encostar em nada, ela até achou graça e fiquei rindo sozinha, enquanto Anja prestava atenção absoluta nas palavras do padre. Quando finalmente a missa acabou todos que passavam por ela falavam sempre a mesma coisa. - Como você está Diana? - Se precisar de alguma coisa é só chamar. - Eu sinto muito pelos seus pais, eles eram tão jovens. Em resposta com a cabeça, ela fazia um sinal de consentimento, mas no fundo do meu âmago, ela não queira queria estar ali. Ela desejava sair correndo para qualquer lugar o mais rápido possível. Infelizmente lembrou que seu joelho estava machucado e concluiu que seria impossível, incluindo voltar à sua casa. Ela estava em completa negação e as pessoas falavam tanto que ela não precisava dizer nada, apenas acenar com a cabeça. -Boa noite Dona Augusta. - Anja despediu-se


– Boa noite Angélica, amanha você poderia acompanhar Diana e irem juntas para escola? – Claro que posso. - Ela respondeu. – Estarei aqui para o café da manhã, espero que tenha pão de batata? Dina entrou com sua avó pela porta da frente. Elas cruzaram a sala e sentaram na cozinha. – Agora eu posso finalmente comer um pouco. - Ela disse. – Estou morrendo de fome desde a igreja. “Espero que não seja pecado ter assistido a uma missa pensando em comida”. Pensava. Ela tinha se esquecido de fazer um lanche antes de ir a análise com o psicólogo. O cheiro dos Paes de batata da sua avó era maravilhoso, mesmo depois da fornada ter saído muito cedo, logo depois do almoço. Ela preparava os pães todos os dias. Todos os dias tinha pão fresco em casa. Vó Augusta era uma excelente cozinheira tanto para doces quanto para salgados. Todo mundo da cidade conhecia a comida que ela preparava. Ouve uma época em que ela ministrou um curso de culinária na pastoral da igreja onde teve muitas alunas. Quase todas as garotas da cidade aprenderam a cozinhar com ela. Dentre todas as alunas que ela teve, a única aluna do curso que aprendeu a fazer o pãozinho de batata exatamente como ela fazia, também era a mais bonita da cidade e a que casou mais jovem. Todos pensaram que ela casou muito cedo por que estava grávida, mas com o tempo constataram que o casal se uniu por amor. O marido dela era um professor que não exercia a função. Ele era um homem muito rico, viajado, proprietário de terras na Europa. Vendeu tudo e veio morar na pequena cidade ainda jovem. Conheceu a linda menina do curso de culinária da pastoral e se apaixonou por ela. - Qual era mesmo o nome dela, vó? - Dina perguntou de boca cheia. - Quem, querida? - A menina que foi sua aluna no curso de culinária, aquela que fazia pão de batata igual ao que a senhora faz. – Não me lembro direito, querida, mas acho que era Celina. – Bem, ela pode ter feito pães iguais ao da senhora naquela época, mas eu vou aprender a fazer melhor que ela.


– Claro, querida você é minha neta e certamente tem a mão da família para culinária. Dina subiu para o quarto enquanto sua avó arrumava os pratos, ela não gostava que a neta ajudasse a lavar louça, ela achava que a avó tinha medo que ela fosse quebrar algum prato do século passado. Reirou suas roupas e só lembrou do meu joelho quando olhou o pano sujo que estava amarrado nele. Novamente pensou em Richard e no que ele havia feito por ela. Sentou na cama, removeu o pano e notou que o machucado estava praticamente curado. “Como isso é possível” Pensou. “Esse ferimento levaria no mínimo uma semana para criar aquela casquinha verde meio marrom.” O joelho mal parecia que havia sequer esfolado. Se ela não visse com seus próprios olhos, poderia jurar que tudo não passou de um sonho. Um sonho bem real. “Melhor ir dormir, isso deve ser sono”. Ela trancou a janela foi até a cama, puxou os lençóis, ajeitou os travesseiros, deitou e fechou os olhos.

Tarde da noite, dentro da floresta...

- Você tem certeza que ele saiu da floresta? - Sim, Eu segui os rastros dele até a margem da estrada, mas deu perceber que ele foi à cidade. Ele olhou a escuridão como se pudesse enxergar o que estava se passando na floresta. Àquela hora da noite nada que não fosse bicho conseguiria ver um palmo na frente do nariz, mas isso não impediu que Ram tencionasse as linhas do seu rosto, mostrando sua raiva ao saber da notícia. - Eu não vou permitir que ele exponha nosso clã. - Sua voz era séria. - Ele foi longe de mais, não terei pena dele como venho tendo esses anos. – Nós podemos organizar busca e invasão ao refugio deles. - Só preciso que dê a ordem e eu reunirei os outros. – Não Lucaar. - Não é o momento adequado. - Ram respondeu. - Mas quando chegar a hora, eu vou cortar a cabeça dele. - Você pode ter certeza.


Virando as costas para a floresta, vestindo trajes negros, Ram e Lucaar retornaram à aldeia secreta. O mesmo silêncio avassalador de quando ele pisou pela primeira vez em Santo Pedro ainda pairava sob as tochas acesas. Com um aceno de cabeça e um olhar que dava arrepios na espinha, as luzes se apagaram e Santo Pedro ficou completamente escura.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

Conhecendo uma nova historia

3

Seus

olhos se abriram antes do relógio tocar, como costumava

acontecer na sua antiga casa. Mas esta era uma vida nova, e ela não fazia ideia de como poderia vive-la, não depois da morte dos meus pais. Ficou olhando para o teto do quarto novo, que ate pouco tempo era seu antigo quarto da casa onde ela passava suas férias. O teto tinha uma cor em tom pastel muito clara. Olhou para a lâmpada do teto estreitando os olhos para poder ver os feches de luz que afluíam em varias cores e em diferentes direções. Tomou coragem e jogou o pé pra fora da cama, depois o outro e se levantou. Penteando os cabelos, sentiu o cheiro do café da manha


que vó Augusta preparava lá em baixo, na cozinha. O cheiro a animou e ela desceu o mais rápido que pode a fim de pegar os pães ainda quentinhos. - Vó, isso aqui esta uma delicia. – Ela disse. - Anja ainda não chegou? - Ainda não querida, mas ela deve estar chegando. Respondeu a avó dela. - Você levantou muito cedo, bem antes do alarme tocar, Toc- toc. - Deve ser ela lá fora. Dina levantou da cadeira num pulo e correu para abrir a porta encontrando a amiga por trás dela. Anja usava saia cor de rosa claro e uma blusa branca marcando bem a cintura, tênis rasteiros para combinar. Ela passou os olhos pelo meu visual despojado bem informal que Dina usava composto de bermuda jeans, blusa baby look e tênis de academia. - Eu só me pergunto por que de tanto drama ontem. Disse Anja. - Se não estava a fim de assistir a missa era só dizer. - Bom dia Angélica. - Bom dia vó Augusta. - O que você está falando? Dina perguntou curiosamente. – Vamos para o canto. - Dina, sou sua melhor amiga, certo? Ela falava junto com suas mãos abanando na frente de Dina. - Não precisava mentir sobre seu joelho machucado e seu amigo imaginário de ontem à noite. - O que? Eu não menti sobre o meu... Jo-e-lho. Ela engasgou quando olhou para baixo. Quase entrou em estado de choque, quando lançou seu olhar disposta provar que não havia mentido na noite passada. Engolindo em seco o pão que mastigava, parecendo não acreditar, viu o seu joelho absolutamente limpo, sem nenhum arranhão. Como se eu nunca tivesse ralado no chão. - Anja, me dê um beliscão. Ela pediu. - Bem forte. - Você tem certeza, eu tenho a mão pesada. Respondeu Anja ironicamente.


- Merda Anja! - O machucado estava aqui, eu tenho certeza disso. - Olha aboca querida. Gritou vó Augusta da cozinha. - Dina, eu sei como são os machucados, eu já me machuquei muitas vezes, principalmente quando jogava queimado com os garotos da rua, e posso garantir que você não se machucou. Anja não parava de tagarelar. - Não da forma que você estava mancando ontem na igreja. - Eu não sou mentirosa Anja, acredite em mim, por favor, Eu caí na rua quando estava correndo. - Escorreguei e quando estava choramingando no chão, Richard apareceu e limpou meu machucado, você mesma viu o pano, está lá em cima, no meu quarto. Anja parecendo não acreditar na amiga olhou para a cozinha - É melhor nós conversarmos sobre isso depois Dina, o cheiro está maravilhoso, sua avó fez pães de batata? - Fez sim, vamos pra cozinha. Observando Anja triturar freneticamente os pães na boca, Dina não parava de olhar para meu joelho, ela ainda não acreditava que aquela ferida enorme estava completamente curada. Decidiu por si mesma que não tocaria mais no assunto com ninguém ate descobrir o que realmente havia acontecido. Cadernos na mão e pão de batata na mochila, elas partiram rumo a escola. Dina não estava nem um pouco ansiosa para conhecer os outros alunos da classe, nem mesmo o professor ou professora. Anja não parava de tagarelar sobre a igreja e sobre como ela tinha vontade de ser uma freira. - Eu acho que essa ideia de ser freira é uma maluquice. Comentou. - Pois pra mim não. Respondeu Anja. - Como isso começou? Não acredito que você teve essa ideia sozinha. Eu não acho que a vida das freiras seja muito emocionante. - Eu gosto de Deus, e se eu for freira vou ficar mais perto de Deus. Anja morava com os pais na pequena cidade, desde que nasceu e, os pais dela sempre foram moradores daqui.


Dina nunca teve contato muito próximo com eles, por que ela só andava na companhia de Anja quando estava passando férias. Mas, sempre achou os pais dela um pouco esquizitos, alias todos na cidade eram esquizitos para ela. Os pais de Anja se casaram quando eram muito jovens, o que era outra esquisitice da cidade, parece que todo mundo aqui se casa cedo. Porém os pais de Anja não conseguiram ter filhos ao longo de anos depois de casados. A mãe de Anja engravidou por acaso quando eles haviam passado dos 40 anos de idade, depois da época dos milagres. “Minha avó falou que há muitos anos, as pessoas da cidade de uma hora para outra começaram misteriosamente a ter suas doenças curadas” ela pensou, “e mulheres que antes não poderiam ter filhos começaram a engravidar já um uma idade avançada”. - O que você vai fazer depois da escola? Perguntou Anja - Consulta com psicólogo. Respondeu. - Que sorte a sua né? Anja arrumava os cabelos enquanto falava. - Minha avó acha que eu devo fazer algumas sessões de analise para não me tornar uma traumatizada ou uma suicida no futuro. Anja riu da piada retórica de Dina - Eu vou ajudar minha mãe com o bordado e depois vou na igreja ajudar o padre com os preparativos para a grande festa. - Vamos ter uma festa? Ela perguntei surpresa. - Claro que vamos, vai me dizer que você não sabia da festa do Solstício. - Toda a cidade espera por essa festa, que acontece todo ano em julho, principalmente depois que os milagres começaram a acontecer. Como toda cidade tinha um santo, essa não seria diferente. Dina Ficou muito curiosa pra saber o que era essa tal festa do solstício. Como ela só passava poucos dias das férias de dezembro, não conhecia as outras tradições festivas da cidade durante resto do ano. O caminho da escola até a casa foi tranquilo, Anja comendo o que sobrou dos pães não pôde dizer uma só palavra, o que era difícil para


ela. Comer e falar ainda eram exatamente as duas coisas que ela não conseguia fazer juntas. Ela deixou Anja na porta de casa e continuou andando, a casa dela ficava poucos metros adiante. Quando finalmente chegou, parou alguns segundos na frente da sua casa e ficou pensando. “Como eu irei levar a vida daqui para frente”, pensou. Então pôs a mão na maçaneta, abriu a porta e sumiu atrás dela.

***

Ram caminhava todas as manhas pelas estreitas ruas da aldeia, ele sempre gostou de controlar e saber o que as pessoas estavam fazendo. Mesmo com tão pouca idade, Ram já pensava como um homem. Até então, garoto magrelo e fraco havia se tornado o mais forte dentre os irmãos. Muito hábil com as espadas e na luta corpo a corpo, ele comandava um grande grupo que habitava a aldeia. Seu clã. Santo Pedro era uma aldeia secreta que existia bem no meio da floresta vizinha à cidade. Não podia ser vista pelo lado de fora por que não existia uma passagem de entrada, somente quem a conheceu e seus habitantes sabiam como entrar e sair dela. Haviam pequenas casas, bem construídas, algumas em cima das arvores e outras em suas raízes. Não havia energia elétrica e a iluminação era feita através de fogo, tochas e lamparinas. A água era cuidadosamente conduzida por bambus se assemelhando muito com o encanamento nas cidades. A casa principal, também a mais bonita, era a casa de Ram que por algum tempo morou com seus pais e irmãos enquanto eram crianças. Mas seus pais morreram e somente Ram morava na casa. A aldeia contava com grande numero de cavalos que eram criados pelos próprios moradores. Belos animais, eram os verdadeiros amigos de todos que ali moravam. Cada um tinha o seu próprio cavalo e Tobruk, era o verdadeiro destaque entre eles. Trazido da Líbia de barco com meses de nascido, o cavalo recebeu o mesmo nome de sua cidade natal. Sendo da raça Berbere, uma das


mais antigas do mundo. Tobruk era gracioso, completamente negro, orelhas medianas, pernas compridas e muito fortes e uma crina muito abundante. Seu temperamento fazia jus a sua beleza, forte como a de seu dono, o único que montava em Tobruk era Ram.

***

- O verdadeiro dia da minha morte foi quando que ele me fez beber esse veneno. Falou Ric com verdadeiro ódio nas suas palavras enquanto bebia água do cantil. - Por causa desse veneno eu não posso ir para onde eu quero. - O que você quer? Perguntou Edie a seu irmão mais novo. - Eu quero minha liberdade. Ele respondeu. - Eu gostaria de sair para conhecer o mundo ou ao menos sair dessa floresta amaldiçoada, existe uma vida lá fora para ser vivida, por mim e por você, Edie. - Nossa vida está aqui, temos tudo o que precisamos e somos livres pra fazer o que quisermos. - Isso não é vida, irmão. Ric replicou novamente. - Isso é uma morte, lenta e triste, que vivemos, nós sequer podemos morrer. Edie abaixou a cabeça enquanto escutava seu irmão dizer mais e mais palavras de como a vida era ruim na floresta. Edie abriu mão da vida na casa grande em Santo Pedro, para cuidar de Ric e os outros que renegaram fidelidade ao irmão mais velho Ram. Ric sempre foi o irmão mais impaciente dos três e o mais apaixonado pela vida, mesmo com o tempo passado, ele não perdeu a curiosidade de explorar a vida, não importava onde ele estava. Os outros que partilhavam o mesmo acampamento constantemente presenciavam as discussões entre Ric e Edie, mas nunca interferiram, nem mesmo quando os irmãos ameaçavam brigar fisicamente. Eles apenas ficavam atentos para que o outro grupo que acompanha Ram não ficasse sabendo o local exato do acampamento. A floresta era muito grande e podia esconder uma pessoa da outra a um metro de distancia sendo impossível acha-la. Parecia que a floresta conspirava a favor dos foragidos, ela ajudava a esconder


quem não queria ser achado e o acampamento apesar de próximo aos limites da cidade ficava invisível assim como Santo Pedro. Levou muito tempo para o grupo de desertores, acertarem o local do acampamento sem se perder. A única referencia deles era o caminho das águas da fonte que passava por baixo de uma ponte feita de madeira e corda. A água que passava por baixo dessa ponte era a mais pura e cristalina água que eles jamais puderam ter visto, por mais que fosse jogada terra escura a água nunca ficava suja, era pura magia. Junto a essas águas cristalinas, estava o grande segredo da região. As águas vinham da fonte milagrosa que apenas um homem foi capaz de encontrar. Esse homem que largou sua vida na cidade para se dedicar completamente na busca dessa água milagrosa, que as lendas tanto mencionavam. Pedro era um professor de biologia na principal escola da pequena cidade. Ele frequentava a igreja todos os domingos e fazia questão de ajudar a todos dando aulas de reforço na pastoral da igreja. Pedro era querido por todos, apesar de ninguém conhecer seu passado antes dele se estabelecer na cidade. Foi coversando com os moradores mais antigos durante algumas reuniões na pastoral que Pedro tomou conhecimento sobre a lenda da água milagrosa.

O clã que seguia Ric e Edie, embora não fosse tão grande como do irmão mais velho, era um clã com hábitos diferentes e mais tolerantes. Composto de rapazes e meninos, eles foram raptados da cidade ainda muito jovens e trazidos para o meio da floresta. Alguns sequer lembravam de suas famílias. Tudo que lhes fora imposto era que eles deveriam aceitar a nova vida.

***

Dina subiu correndo as escadas se atirando em baixo da ducha, se é que ela podia chamar de ducha, as poucas gotas de água saindo pelo


chuveiro. Calçou seus tênis e pegou o cardigan, já que fazia frio no final de todas as tardes. - Vó? Ela gritou. - Vóóóóóóóóó? Ela caminhou a passos lentos, com um pequeno sorriso em seu rosto. - Sim querida? Respondeu sua avó. - Estou indo para outra sessão de analise, na volta vou parar na praça para conversar com as garotas. Saiu em disparada em direção à porta. - Tudo bem querida, mande lembranças à mãe de Angélica se passar na casa dela e, Diana... Ela parou subitamente e girou nos seus calcanhares para ver o que sua avó queria dizer. - Sim vó. - Eu ti amo querida. Imediatamente ela retornou pelo mesmo caminho em direção contrária até chegar na frente da sua avó. Ela se banhou nos braços frágeis, mas muito acolhedores de vó Augusta. Naquele momento ela não desejava sair nunca mais daquele abraço e nada mais importava. - Eu também ti amo vovó. Disse com uma lagrima nos olhos. Sentada num divã velho e desconfortável, ela observava o psicólogo que por sua vez a observava de volta. Era estranho para ela, vê-lo usar aqueles óculos com duas enormes lentes grossas. “Com certeza o próximo grau dele será uma cão guia e uma bengala”. Ela ficou pensando. - O senhor não vai me perguntar nada? Não vai querer saber da minha vida? Perguntou enquanto ele bebia um gole de alguma coisa da garrafa que não saia do lado dele. - Eu ate posso perguntar se você parar de me chamar de senhor, vamos acabar com as formalidades, apenas chame-me de Paulo. - OK, vamos acabar com as formalidades, Paulo. Respondendo com a mesma cara sarcástica de volta. Deitando no divã ela olhou para o teto sem nenhum remorso por ter colocado os tênis em cima do móvel.


- Então, Paulo, o que vamos fazer hoje? Quer que eu fale da minha infância ou como eu era feliz quando morava com meus pais quando eles eram vivos? Bebendo mais uma golada do liquido que parecia ser bebida alcoólica, ele a fitou com aquelas lentes grossas. Ela não mostrou intimidação mas ficou desconfiada que ele pudesse contar para sua avó que ela não estava cooperando durante as sessões de analise. Tudo que ela não queria nesse momento seria aborrecer ou magoar sua avó. - Poderia me falar mais um pouco da historia do tal Pedro. Eu fiquei interessada. Ela fingiu estar interessada. Ele desamarrou a cara e ela quase pode ver um pequeno sorriso em seus lábios. - Certo, vou lhe falar da grande lenda da nossa cidade, afinal o Solstício vai chegar em algumas semanas. Pedro e o grupo de pesquisadores passaram meses dentro da floresta procurando a água milagrosa, e eles conseguiram achar a fonte onde brotava uma nascente de uma água muito cristalina. Para poder estudar mais sobre as propriedades daquela água e os possíveis benefícios, eles construíram uma pequena aldeia perto da fonte. Mas eles não tinham certeza se aquela era a água milagrosa. Um dos homens que acompanhavam Pedro na expedição, tropeçou em umas das pedras no local da fonte. Ele caiu por sobre seu quadril e desmaiou de tanta dor, ali mesmo na beira das águas da fonte. Por dois dias ninguém sabia onde ele estava, acharam até que ele pudesse ter retornado sozinho para a cidade. - Nossa, ele morreu? Ela perguntou. Não, incrivelmente o homem não morreu. Professor Pedro que era muito religioso, orou e implorou a Deus que o homem continuasse vivo para que pudessem voltar a tempo à cidade. E deu a água da fonte para ele beber. Por dias eles ficaram na pequena cidade construída bebendo e dando de beber a água da fonte. Pedro continuava a orar a Deus confiante que aquela água seria a água milagrosa. Passando duas semanas, o homem com o quadril quebrado levantou e andou. - Meu Deus, a água o curou? Isso é realmente um milagre. Todos acharam realmente que água tinha curado o homem, tudo isso graças às orações de Pedro, que a partir daquele momento era chamado de santo. E o local ficou conhecido pelo nome do professor santo que fez a água curar as doenças. A pequena aldeia foi batizada de Santo Pedro,


assim como a fonte da água milagrosa, que agora se chamava fonte de Santo Pedro. “Agora sim, fazia algum sentido a lenda que o pessoal esquisito da cidade tanto falava”. Ela pensou. - Então a festa do solstício é uma comemoração a esse São Pedro, digo Santo Pedro? - Sim em parte. Ele falou orgulhoso de si bebendo mais um gole da garrafa. – Foi na mesma ocasião. - Paulo, você me disse na sessão passada que só retornaram para cidade apenas dois homens certo? E também me disse que quem bebesse da água ficaria escravo dela? Logo eu concluo que eles voltaram pra aldeia dentro da floresta ou... - Eles morreram Diana é exatamente isso que você está pensando, eles morreram quando chegaram aqui e o restante dos homens da expedição também morreu no retorno pra cidade. Ele acomodava os óculos no rosto enquanto falava. - Pedro morreu no dia seguinte que retornou a cidade e quanto a Juan... Viveu muito. - Mas ele ainda mora aqui na cidade? Perguntou ainda com mais curiosidade. - Infelizmente não Diana. Ele morreu há alguns anos. Foi uma tragédia familiar. Uma ventania fez com que parte da casa dele desmoronasse sobre as cabeças da família. Os próprios empregados fizeram questão de enterrar os corpos. Pessoas muito leais. Ela saiu do consultório muito intrigada com a historia que tinha acabo de ouvir. Uma casa inteira havia desmoronado sobre as cabeças dos moradores. A partir dali, ela começou a ter uma admiração pela historia, mas não era a história de Santo Pedro, era a historia da família. Ela queria saber quem eram os moradores da casa e onde ficava essa casa. Enquanto pensava em como eu iria conseguir todas as informações de que precisava sobre a casa desmoronada e a família que morreu nela, desceu até a única praça onde todos os adolescentes da cidade costumavam se aglomerar.

***


Ric adorava passear a cavalo pela floresta. Longas horas passavam despercebidas quando os dois, correndo entre as arvores, pareciam ser apenas um só. Ric conduzia seu cavalo até o limite mais alto da floresta, onde podia ver o mar e o porto da cidade logo abaixo. Desmontando, Ric passava longos minutos observando as nuvens que pairavam sobre “Céu”, seu cavalo. Céu, não parecia grande coisa, perto dos outros cavalos, mas sua lealdade com Ric era incontestável. Céu parecia ler os pensamentos de Ric e entendia o que ele queria somente com um aceno de cabeça. Na maioria das vezes Céu não parecia ser cavalo. - Ate que enfim você apareceu, estou morrendo de fome. Perguntou Edie acendendo uma discreta fogueira. - Trouxe alguma coisa para a janta? - Acho que me esqueci de caçar na volta para o refugio. Respondeu Ric um pouco sem graça por ter voltado de mãos vazias da galopada com Céu. - Você sabe que não vivemos somente de água e frutas. Como pode esquecer, você não tem fome? Edie muito irritado pegou um porco do mato que os outros habitantes do refugio conseguiram abater na floresta. - Esse ai parece que vai ficar delicioso, certo Edie? Espero que não demore muito a assar. - Por que você não come sonhos? Já que fica tanto tempo sonhando acordado, podia ao menos se alimentar deles, isso pouparia menos trabalho para mim. Ric ficou sorrindo pelo canto da boca enquanto sentava-se juntos aos outros ao redor da fogueira. Todos os dias naquela mesma hora, conforme o refugio escurecia, o resto do grupo do clã de Ric se reunia em volta do fogo. As chamas tremeluziam em cores diferentes a cada labareda, os estalos que a madeira fazia enquanto o fogo a queimava eram os únicos sons que se podia ouvir no local. Os rostos dos homens iluminados pela luz do fogo mostravam uma nostalgia quase


imperceptível. Até que a carne estivesse completamente assada e pronta para comer ninguém falava nada. Longe dali, o mesmo ritual acontecia em Santo Pedro. Uma enorme fogueira na travessa principal da aldeia reunia o clã de Ram. Todos estavam sentados em volta dela olhando para as chamas. A nostalgia avassaladora era mutua para todos, dentro da aldeia e no refugio fora dela. - A carne esta pronta Ric, vamos repartir, corte os pedaços. Edie falou ao seu irmão quebrando o silencio da noite que acabava de baixar sobre a floresta. Com um movimento gracioso e forte, Ric levantou a sua espada e desferiu o primeiro golpe sobre a carne queimada pelo fogo, partindo o corpo em dois pedaços. O corpo de Ric, iluminado pela luz amarela das chamas, era digno de uma pintura. Com seus músculos bem desenhados, se harmonizavam perfeitamente dentro da calça preta, única peça de roupa que ele vestia. O calor da proximidade da fogueira fazia o corpo de Ric suar, mostrando um tipo de brilho especial combinado com aquela luz amarelada. Terminando de cortar o porco do mato em vários pedaços, Ric deixou Edie fazer a partilha entre os demais membros do clã. - Será que eles ainda se lembram de nós, Edie? Não passaram tantos anos assim depois de saímos da cidade. Perguntou Ric enquanto mastigava a carne. - Pode ser que sim, tenho minhas duvidas. Nosso pai disse que provavelmente não deveriam procurar a gente depois que partimos, mas eu nunca perguntei por que. - Eu não me lembro dos rostos das pessoas que moravam na cidade, Edie, não lembro os nomes das pessoas. Eu era muito novo para registrar algo na minha memória. - Você se lembra de alguma coisa? Diga alguma coisa de mim, como eu era em nossa casa na cidade. - Ric, você era um garoto muito impertinente. Vivia atormentando Ram e discordando de tudo que ele fazia. Não me admira que ele tentasse ti matar cada vez que tinha oportunidade. Só


por que ele era mais fraco que você, não lhe dava o direito de ter coberto os cabelos dele com e mel e depois jogado penas da galinha preferida de mamãe em cima dele. Demorou três dias para ele retirar por completo todas aquelas penas e o mel. Pior foi papai ter perseguido nós três com chicote, foram três dias dormindo escondidos com os cavalos, malditos três dias. Nosso pai só desistiu de nos bater por que mamãe implorou que ele não fizesse. Ela sempre tirava a gente das enrascadas causadas por você. - fale da mamãe Edie, eu não consigo me lembrar dela assim como você. Ric, nossa mãe era um anjo, com cabelos cor de fogo, tipo esse aqui da fogueira. Os olhos dela eram da cor dos seus e dos meus, verdes assim como a cor da floresta. A pele dela era branca e pelo que eu me lembre tinhas sardas no rosto dela. Ela me dizia que o rosto dela era como arroz doce com canela, sardas na pele branca. Nossa mãe fazia todos os tipos de doces que a gente gostava, e ela fazia um pão de batata delicioso... - Eu me lembro das sardas dela, eu acho que consigo me lembrar disso. Edie eu lembro dos cabelos dela também eram compridos. - Ainda bem que você consegue lembrar dela Ric. Nossa mãe não ficaria feliz, onde quer que ela esteja agora, se soubesse que os filhos não lembram mais dela. - Eu fico me perguntando se ele ainda se lembra dela, Edie.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

A casa 4 Quando ela abriu os olhos pela manha, estava completamente determinada a conhecer mais sobre a história da casa desmoronada e quem morou nela antes da tragédia. Curiosamente Dina criou uma completa fascinação pela historia que Paulo havia lhe contado em seu consultório durante a analise. Alem da curiosidade, ela tinha muita pena das pessoas que morreram soterradas, nem ao menos tiveram um enterro digno, já que os próprios empregados se propuseram a fazer. “Foi muito triste”, pensou em como deve ter sido esse enterro e se ao menos teve um velório. Desceu as escadas, e não encontrou sua avó na cozinha e em nenhum outro cômodo da casa. Provavelmente ela já deveria ter saído bem antes


do relógio tocar. De certa pensou que era o dia da feira, sendo franca, era a única feira que acontecia na cidade. Não era uma feira comum, do tipo que acontece nas cidades mais modernas onde as pessoas encontram somente frutas, legumes, comida em geral e com pessoas chamando aos gritos os fregueses para frente das suas barracas. Na cidade grande, a feira também tem um cheiro forte que sempre a fez enjoar, quando ela passava por perto. Mas lá era diferente, a feira da pequena cidade era um evento semanal, onde se podia encontrar de tudo. Começava antes do galo cantar, e acabava com o cair da noite. Artesãos de cidades vizinhas traziam para vender seus trabalhos manuais, donos de sítios locais exibiam suas frutas e legumes exóticos. Queijos, manteigas, carnes e vinhos, de todas as regiões próximas eram encontrados aqui, assim como a arte local. Mas sua vó não tinha esquecido dela, deixou pronto o café da manha com leite e chocolate, e uma cesta com pãezinhos ainda quentes. Dina mordeu alguns e guardou outros para escola, certamente ela não esqueceria de Anja, caso contrario sua mente iria ser torturada do começo ou fim da aula. Arrumou-se rapidamente. Vestiu seu jeans surrado combinando com uma mini blusa em tom pastel, ela nunca gostou de cores fortes, calçou seus tênis preferidos e não esquecendo do bloco com suas anotações voou através das escadas. Descer as escadas correndo, era um hábito infantil que ela não pretendia largar tão cedo. Encontrando Anja pelo caminho seguiram juntas em direção à escola que não ficava muito longe. Tudo lá ficava perto, absolutamente não existia a necessidade de fazer grandes caminhadas para qualquer lugar que fosse. A cada duas ou três quadras sempre se chegava a algum lugar. Na porta da escola os alunos estavam aglomerados em frente ao portão comendo doces e falando sobre diversos assuntos, a vida alheia parecia ser o foco principal das conversas entre eles. O som da campainha tocou e uma correria frenética coordenada, seguiu em diferentes direções, cada aluno entrava em sua sala correspondente. Sentando-se ao lado de Anja como de costume enquanto a professora tentava dar bom dia aos alunos ainda agitados.


- Dina, ontem à noite lá na praça, você quase não falou. Perguntou Anja curiosamente. - Conte-me o que quer que esteva na sua cabeça, não seja egoísta. - Eu não estava pensando em nada de mais. Ela respondeu. - Só não tinha assunto para falar com o pessoal. - Qual é, sou sua amiga, lembra? - Claro que você estava tramando alguma coisa ai na sua cabeça. Anja replicou de volta. -A propósito, trouxe pão de batata da vó Augusta né? - Claro, estão aqui comigo. Dina respondeu com um sorriso. - Eu jamais esqueceria de você. - E eu jamais deixaria você esquecer de mim Dina. As duas Sorriam juntas. A ultima pessoa que entrou na sala de aula, foi uma garota de estatura mediana, aparentemente com a mesma idade que Anja e Dina. Ela tinha um ar de antipatia e praticamente ninguém a chamou para que sentasse ao seu lado. - LORENA. Falou a professora. - Sente-se por favor, eu gostaria de começar a minha aula. Dando um suspiro debochado, ela se dirigiu para o fundo da sala onde haviam alguns lugares vazios. Lorena era muito vaidosa, trajava um vestido cumprido até a metade das coxas seguindo mais embaixo, uma sapatilha combinando a mesma cor. Seus cabelos, insuportavelmente negros como seus olhos, estavam presos em um elegante rabo de cavalo. Anja e Dina não ficaram reparando muito mais nela. Ainda com um sorriso nos lábios, as amigas baixaram as cabeças para escrever os capítulos do livro que iriam cair na prova. Estudar nesta escola, era um pouco mais fácil que as outras escolas onde Dina havia estudado. Olhando pelo canto dos olhos ela reparou Anja escrevendo com atenção profunda e a cabeça mergulhada em seu caderno, soltando um pequeno suspiro e pensou em Richard.

***


Ric e Edie estavam galopando em fuga floresta adentro. O som dos cascos se enterrando no solo era como um pulsar constante de coração batendo em ritmo acelerado. Driblando os galhos e troncos das arvores eles se afastavam cada vez mais de seus perseguidores. Até que a vegetação se fechou e não era mais possível cavalgar. O clã de Ram se aproximou e encurralou os dois irmãos, que se puseram a frente de seus cavalos com suas espadas em punho. Céu bufando com seus olhos arregalados, ameaçando atacar quem se aproximasse. Lucaar foi o primeiro a levantar a espada contra Ric enquanto Edie dava um salto lateral atacando o outro membro do clã. Luccar era muito forte, e batia com sua espada tentando cortar algum membro de Ric, mas Ric sabia manejar sua espada muito bem, bloqueou todos os golpes com a sua lamina contra atacou Luccar em golpes tão rápidos que somente uma pessoa muito bem treinada poderia fazer. - Ele mandou você no lugar dele. Perguntou Ric batendo com sua espada sobre o ombro direito de Luccar. - Ele não precisa me mandar vir aqui matar você. Respondeu Lucaar com agressividade. - Eu venho por vontade própria e com muito bom gosto. - Então você é um tolo se acha que pode comigo.propósito, como vai a sua orelha, ou o que restou dela ?

Disse Ric. - A

Com ódio nos olhos, Lucaar estreitou as vistas e lembrou do ultimo combate que ele e Ric haviam travado algum tempo atrás. Ric cortou um pedaço da orelha de Luccar com sua espada. Quase não dava para perceber, por que o cabelo de Luccar era terrivelmente liso e comprido até os ombros. Edie lutava contra dois adversários ao mesmo tempo. Deste pequeno ele sempre foi muito hábil. Edie usava duas espadas ao mesmo tempo, uma em cada mão. Seus oponentes, apesar de estarem em maior numero, não estavam conseguindo dar conta de Edie e foram facilmente encurralados contra as pedras. Um deles teve seu ombro cortado por uma das laminas de Edie, que fez com que desistissem da luta. Lucaar, duelando com Ric, viu que estava sozinho e agora seriam os dois irmãos contra ele. Com um salto para trás aterrissando no alto de uma pedra apontando sua espada ainda com ódio no olhar. Luccar também recuou. - Isso não termina aqui Ric.


- Pode apostar que não Lucaar. Se aproximando, Edie pode perceber que Ric havia machucado o joelho. - Vamos sair daqui, disse Edie. - Eles podem voltar com maior numero. - Eu não tenho medo deles Edie, sempre estarei preparado a qualquer hora que eles decidirem aparecer. - Que seja, vamos embora diabos. Montando em seus cavalos os irmãos se afastaram do local da luta, tudo parecia calmo naquele momento. A única coisa que se podia escutar eram os pássaros nos galhos das arvores. A vida na floresta naquela hora da manhã era muito diversificada e muitos pássaros costumavam cantar ali. Acariciando Céu durante o galope, Ric reparou no seu joelho machucado e imediatamente se lembrou de Diana. Ele jamais esqueceria dela, dos olhos e os cabelos castanhos que ela tinha, tudo estava bem registrado em sua mente. Foi então que Ric decidiu que iria tornar a vê-la, ele decidira sair novamente da floresta e tentar encontra-la. Mas seu único pensamento era, onde ele iria acha-la. A cidade fora da floresta não era muito grande mas seria um desafio achar Diana. Esperando anoitecer, Ric deixou Céu esperando nas margens da floresta, em um local discreto com mato alto. Ninguém poderia ver o cavalo ali. Foi caminhando a passos cautelosos pelas ruas da cidade. Alguns minutos depois ele se aproximou da igreja onde havia deixado Diana mancando pela ultima vez. Ele tinha esperança que talvez ela pudesse passar pelo mesmo caminho novamente. Passeando as vistas procurando um local adequado, ele percebeu que na lateral da igreja estava uma pequena construção ainda não terminada. Não havia iluminação e Ric achou que seria um local bem apropriado para esperar Diana passar. Sentou em alguns montes de pedra de brita e ficou observando tudo o que estava em sua volta. Ele achou o local familiar, ele já havia passado por aquela rua antes, muito antes de encontrar Diana, muito antes de aquela construção começar. Ele podia lembrar daquela igreja, mas não conseguia assimilar em que tempo ele passou por ali ou com quem ele passou por ali. Tudo aquilo deixava Ric muito confuso então ele decidiu só pensar em Diana.


Duas horas se passaram e Ric acabou adormecendo ali mesmo onde teve um sonho relâmpago com Diana. “Os dois estavam galopando por uma grama muito verde. Ric galopava em Céu e Diana galopava em outro cavalo. O passeio romântico dos dois não durou muito tempo, pois um homem de capa preta e arco e flecha nas mãos apareceu como um passe de mágica, disparando flechas na direção de Ric.” De subido, Ric despertou do pequeno cochilo com as batidas do sino da igreja anunciando o final da missa. De repente a rua que antes estava deserta, agora circulavam pessoas por toda parte. Ric observou famílias saindo da igreja, crianças de mãos dadas com suas mães, casal de namorados voltando para casa. Toda uma vida se passando na sua frente e foi ali, no meio dos garotos e garotas que ele pode ver Diana. Seu coração acelerou tão rápido que ele pode senti-lo na garganta. Uma euforia incontrolável tomou conta de todo seu corpo. Diana estava passando exatamente na calçada da construção, onde Ric estava escondido. Ele não pode fazer qualquer alarde por que Diana estava na companhia de Anja e sua avó. Decidiu então que iria segui-la. Ric precisava saber onde Diana morava, ele foi se afastando cada vez mais e mais da floresta, ele jamais tinha passado tanto tempo longe. À medida que elas caminhavam Ric observava Diana falar e gesticular com os braços. Cauteloso e paciente, Ric parou a poucos metros da casa de Diana. Anja não entrou se despediu ali mesmo na porta e desceu rua abaixo. Elas bateram a porta da entrada e a luz no interior do andar de baixo da casa se ascendeu. Levou alguns minutos para que as luzes se apagassem e a casa ficasse em silencio. Ric olhou a casa por todos os ângulos do lado de fora e mais uma vez sua respiração parou quando Diana abriu a janela do andar de cima. Ele soube na mesma hora que ali era o quarto onde ela dormia. Ela ficou olhando as ruas do alto de sua janela, cabelos balançando por causa do vento. Parecia que os pensamentos de Diana iam tão longe quanto o vento podia ir. Ela olhava para frente e cada vez que virava a cabeça o vento moldava seus cabelos de forma diferente. Lá de baixo Ric contemplava a vista da garota que estava na janela, era uma visão que ele pensou que talvez guardaria pelo resto de sua vida.


Não aguentando a tentação de ver Diana sozinha na janela, ele avançou andando até parar na frente da casa, onde ela poderia vê-lo. Foi exatamente isso que aconteceu, ela olhou para baixo e avistou Richard. Os olhos dela se arregalaram no mesmo instante em que reconheceu o rapaz. Fazendo sinal com as mãos ela pediu que ele esperasse ate ela descer. -Meu Deus, falando baixinho, será que estou vendo coisas, aquele ali é o Ric ? não pode ser ... Vou me beliscar... Não, vou descer agora e falar com ele. Pegou o moletom e desceu tão rápido que quase caiu da escada. Sua avó já estava no quarto, provavelmente dormindo, e Dina pensou onde ela arranjava tanto sono depois de ter dormido na igreja enquanto o padre falava. Ajeitou meu shortinho e vestiu o moletom ali mesmo, por cima da camiseta antes de abrir a porta encontrando Ric parado atrás dela. Prendendo a respiração enquanto ele lhe dava boa noite e, foi ai que derramou sobre ele uma serie de perguntas sobre, por que ele sumiu no ultimo encontro, ou por que ele não apareceu no dia seguinte ou se ele sabia explicar por que o seu joelho se curou tão rapidamente. - Diana, Você gostaria de passear? De súbito aceitou a proposta de Ric e bateu cuidadosamente a porta atrás dela para que sua vó não notasse sua ausência. Ele estendeu uma das mãos em sua direção, a principio ficou um pouco insegura mas passou no momento seguinte que sentiu o calor da mão dele. Naquele momento descartou qualquer possibilidade de Richard ser um fantasma ou vampiro por que fantasmas não pegam nas mãos e vampiros são frios, pelo menos era assim que ela lia nos livros de fantasia. Seguiram andando tranquilamente e ela não deu conta que ele a estava conduzindo para perto da entrada da floresta. Pararam na frente de um antigo chafariz onde não brotava absolutamente nenhuma água. Richard ficou parado olhando para o pequeno chafariz e com uma voz rouca disse a ela. - Eu costumava brincar aqui quando era pequeno, disso eu me lembro bem. - Richard você brincou aqui? Deve ter ficado todo empoeirado e sujo.


- Diana, pode me chamar de Ric se estiver tudo bem pra você. - Sem problemas, e você pode me chamar de Dina. Adeus às formalidades. Com um sorriso travesso no olhar, ele apontou onde poderiam ficar sentados. Pegou um pouco de ar e continuou falando sobre o chafariz. - Dina, quando eu brincava aqui, havia muita água. As crianças da cidade vinham aqui pra tomar banho de chafariz. Era muito bom. - Você tomava banho de chafariz aqui quando era criança? Ric você esta me surpreendendo. E o que mais? - Eu não me lembro de muita coisa, sai da cidade ainda pequeno e não lembro claramente. No mesmo momento ela lembrou que na noite em que se conheceram, Ric havia dito que eram vizinhos. - Você me disse que somos vizinhos como pode me dizer que saiu da cidade? Perguntou impertinentemente. Ric ficou um pouco abalado com a pergunta inesperada. Tentando parecer o mais casual possível, ele colocou a mão sobre o ombro dela e a olhou com aqueles olhos verdes encantadores, o que a fezeram endurecer completamente. - Eu mudei da cidade para um lugar mais isolado, mas ainda assim continuamos vizinhos. Fale-me um pouco de você agora? Distraída pelo toque da mão dele não percebendo que ele mudara de assunto, Dina começou a tagarelar sobre sua vida. Falou sobre a morte dos pais, sobre a vida com a avó e como ela estava se sentindo. Ele a ouviu atentamente e algumas vezes, comentava coisas sobre a cidade, da época em que ele era um garotinho. Ele também disse que tinha um cavalo e ela ficou muito curiosa para poder conhecê-lo e Ric combinou que um dia iria trazer Céu para passear com ela. - Céu? Ela perguntou. - Ric o seu cavalo chama-se Céu? - Sim, respondeu orgulhoso. - Quando ele galopa não tem limite que o faça parar, então já que o céu é o limite, não tive ideia melhor do que chama-lo de Céu. Ela ficou encantada com as coisas que ele falava. Quando percebeu, estava totalmente à vontade ao lado de Ric, tão a vontade que não deu conta que a sua perna estava tão próxima a ponto de encostar na dele.


Ela podia sentir a respiração dele muito próxima de sua boca e ficou envergonhada pois estava olhando diretamente para os lábios de Ric. - Acho que esta ficando tarde, minha avó pode acordar e perceber que eu saí, melhor eu voltar pra casa. Ele acenou com a cabeça e se afastou lhe dando espaço para que ela pudesse se levantar. Ficou ereta na frente dele com as maçãs do rosto coradas, provavelmente ele não deve ter percebido pois a luz estava muito fraca. Ele se aproximou um pouco mais e pegando novamente na mão dela a puxou para perto do seu corpo e me olhou novamente com aqueles olhos verdes. - Vou leva-la em segurança ate sua casa. - Tudo bem, mas eu posso ir sozinha se for algum incomodo para você. - Você não vai sozinha, Dina, eu jamais deixaria você voltar sozinha para onde quer que você fosse a essa hora da noite. Concordando com a cabeça, voltaram de mãos dadas até a casa dela. No caminho ela o fiz prometer que voltaria outras vezes e ele não negou. Chegando na porta de casa, ele ficou olhando ate que ela estava lá dentro. - Sã e salva Dina, como prometido. Falou cheio de sorrisos. - Shhhhhh, minha avó pode acordar e você não vai querer conhece-la agora à noite, quer? - Não vamos apressar as coisas Dina. Sorrindo para ele, pediu que esperasse um momento na porta enquanto ela correu até a cozinha, separou alguns pães de batata, que sua vó havia preparado e colocou num pano de prato bordado por Anja. Quando voltou com o farnel, ele olhou com interesse em saber o que tinha dentro. – O que tem ai? - São pães de batata que minha vó sempre faz. Respondeu. - Para você fazer um lanche na volta pra casa ou em casa. Tem bastante até para dividir. - Obrigado Dina. Pegando o farnel das mãos dela eles se tocaram novamente e ela não soube descrever o que sentia naquele momento. Ele abaixou a cabeça e


pousou um beijo molhado sobre sua testa, virou nos calcanhares e foi embora, ela fechou a porta ainda sentindo a saliva de Ric na pele dela. Subindo as escadas em direção ao quarto, jogou o moletom ao lado da cama e se atirou sobre o colchão. Deitando de barriga pra acima permaneceu com os olhos fechados. Dina estava completamente feliz que eu havia conhecido Ric.

***

Descendo a rua, já na entrada para floresta, com um singelo assobio, Céu apareceu logo após o chamado de Ric. Ao se aproximar, o cavalo farejou o cheiro dos pães que Dina embrulhou para ele. - Calmo ai amigão, isso não é para você. Sussurrou Ric, acariciando as orelhas de Céu. Logo após montar, os dois seguiram em direção ao refugio. Estava escuro e não era seguro galopar. Ric ainda parecia intrigado com a atitude de Dina em presentear pães. Ele nunca havia conhecido uma garota que fizesse isso por ele, a grande verdade da historia de Ric, era que ele nunca chegou tão perto assim de uma garota. O coração de Ric batia tão forte que quase podia se comparar as batidas do coração de Céu. Ele mal estava no meio da floresta e já pensava em vê-la novamente. Com Dina, Ric se sentia livre e quase podia esquecer que era um fugitivo, no meio de uma floresta. Com os olhos verdes fechados, Ric pensava em Dina, queria estar com ela. Céu parou subitamente e um relincho forte fez com que Ric sonhando acordado desse conta que estava na frente de um pesadelo. A poucos metros à frente, uma silhueta sinistra estava parada. Ric sacou sua espada, estreitou os olhos e reconheceu de imediato a figura de um homem montado em outro cavalo. Ram se aproximou montado em Tobruk. Os dois irmãos ficaram se encarando por um longo tempo, estudando um ao outro. Ram estava vestido de preto da cabeça aos pés. Tobruk já era todo negro e os dois juntos pareciam formar uma figura só. - Olá Tobruk, você cresceu bastante. Falou Ric se dirigindo ao cavalo de Ram ironizando a situação.


Tobruk respondeu bufando ferozmente enquanto sapateava seus cascos na terra. Ram fez com que eles se aproximassem um pouco mais e os cavalos estavam frente a frente, Céu e Tobruk... Ric e Ram. - Veio me fazer uma visita maninho? Perguntou Ric ainda com muito deboche nas palavras. - Eu quem deveria perguntar a você, maninho, falou Ram. - O que você fazia fora da floresta? - Não é da sua conta. - Claro que é da minha conta, Ram disse um pouco mais irritado. - Você sabe muito bem que ninguém tem permissão para sair da floresta. – Essa é a regra. - Essa era a regra de nosso pai, respondeu Ric. - E ele não esta mais aqui graças a você, claro. - Não vamos começar uma discussão há essa hora, falou Ram com um brilho sinistro nos seus olhos. - E se eu quiser uma discussão? - Então eu vou ter que matar você, infelizmente. - As palavras querer e conseguir estão a um quilometro de distancia, meu caro irmão mais velho, você sabe muito bem que eu sou difícil de matar. - Não me desafie garoto, estou tendo paciência com você há muitos anos. Falou Ram se aproximando um pouco mais. - Não vou ser mais tão paciente. Ric levantou a espada e atentou um único golpe em direção a Ram, mas Ram também era muito bem treinado e sacou sua espada bloqueando o golpe de Ric. O barulho do aço das espadas fez com que os cavalos se afastassem e ficassem inquietos. Ram, era o irmão mais velho de Ric e aparentemente o mais forte dos irmãos. A espada de Ram brilhava tanto quando os seus olhos. Um som do que parecia ser uma coruja dispersou a tensão entre os dois, e começaram a se afastar um do outro cuidadosamente. - Hoje não haverá luta, Ric. Mas você sabe que não vai ser adiado por muito mais tempo.


- Por que você não volta para a aldeia e meu deixa em paz senão eu terei de matar você. Ric falou ironicamente com Ram. - Você sempre foi à tristeza do nosso pai, e mesmo depois dele ter morrido, continua sendo. Você não mudou nada, ainda é um garoto egoísta que nunca pensou na família. - Eu nunca precisei pensar na família, por que você já pensava por todos nós, você que é o egoísta, Ram. - Você matou nossa mãe. Ram, puxou as rédeas de Tobruk e caminhou para longe de Ric lentamente sem nenhum remorso nas palavras ao acusar o irmão. Ric abaixou a cabeça e deixou Céu conduzir os dois até o acampamento no refugio, onde Edie esperava ansioso pela volta do irmão. Os outros homens do refugio se aproximaram para ver se Ric estava ferido, mas a única ferida que Ric possuía no momento eram, as que foram feitas pelas palavras de Ram. - Eu não matei minha mãe Edie, você precisa acreditar em mim. - Diabos eu não acredito. Você encontrou com ele? - Sim, na volta pra acampamento. Ele me acusou de ter matado nossa mãe. Mas você sabe que isso não é verdade. - Claro que não é verdade, a culpa não foi de ninguém. Ric sentou perto da fogueira apoiando os cotovelos sobre as coxas. Edie sentou ao seu lado enquanto os outros se afastaram para dentro de suas pequenas cabanas. Foi então que Edie reparou um pano estranho bordado à mão. - O que é isso? - São pães que Dina me deu, você pode comer se quiser eu não tenho fome. Curiosamente Edie esqueceu do irmão que estava lamentando ao seu lado e abriu o pequeno embrulho se deparando com pãezinhos de um aroma maravilhoso. Levando um pedaço ate a boca ele mastigou com calma e com os olhos fechados ele permaneceu mastigando até que se lembrou completamente. - Ei Edie, o que foi? Perguntou Ric com os olhos arregalados diante do irmão.


- Onde foi mesmo que você disse que conseguiu isso? - Foi Dina que me deu, já disse. O que foi? Edie pegou mais um pães e pôs na boca, dava para perceber que seus olhos igualmente verdes como de Ric estavam brilhando. Lágrimas escorreram. - Você não comeu nenhum? - Já falei que não estou com fome. - Esses pães tem o mesmo gosto dos pães que nossa mãe fazia, parece que eu estou voltando ao passado. Ric arregalou seus olhos vendo que seu irmão chorava. Ele não fazia ideia do gosto dos pães de batata que sua mãe fazia por que era muito pequeno naquela época. Mas mesmo assim pegou um e mordeu. Ficou mastigando e olhando para cima. Depois que engoliu, olhou para Edie e disse. - É muito gostoso, mas eu não consigo ligar o gosto à mamãe, me desculpe. Ric levantou os braços e agarrou o irmão, os dois ficaram ali abraçados por alguns segundos, naquele momento uma coruja passou voando por cima deles e as chamas da fogueira ficaram mais fortes. A coruja voou até um velho tronco de arvore e lá ficou observando com aqueles olhos arregalados em tons de amarelo e marrom. Após soltar o abraço, os irmãos olharam para o fogo durante algum tempo e a chama do fogo era alta e as labaredas salpicavam em todos os lados. - Essa Dina? - Me conte sobre ela. Perguntou Edie com um pouco mais de curiosidade sobre a garota que Ric conheceu. Os dois se sentaram e Ric começou a falar sobre a menina que ele encontrou sentada no chão com um enorme machucado no joelho. Ele a descreveu por completo, falou dos grandes olhos castanhos que ela tinha, cabelos compridos e lábios carnudos. Edie ficou encantado com a descrição que Ric estava dando sobre a misteriosa garota que aparecera simplesmente do nada na vida dele. Ric era tão detalhista que a apresentação de Dina tomaria o resto da noite. A coruja permaneceu em seu lugar no topo do velho tronco seco e as labaredas das chamas da fogueira salpicavam cada vez mais.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

Desafeto da escola

5

Um lindo pássaro pousou sob o galho mais próximo da cabana de Ric anunciando o amanhecer na floresta. A ave cantava uma linda melodia. As cores do pássaro se destacavam entre as folhas verdes da mata. Ric colocou a cabeça para fora da pequena cabana, seus olhos ainda se acostumando com a claridade permaneceram cerrados até que foram banhados pela água que estava armazenada em uma pequena construção feita de bambus. Junto com Ric os outros homens também se aproximaram para lavar seus corpos. Ric apenas vestia o que antes fora uma calça cortada na altura dos joelhos. O tecido estava velho e desgastado. Enquanto se lavava,


filetes de água escorriam para baixo de seu corpo, descendo primeiro pelo seu pescoço, depois passando pelo seu peitoral e escorregando até abaixo do abdome. Os músculos dos braços de Ric se contraiam involuntariamente à medida que ele se movimentava para terminar de se lavar. Compartilhando o mesmo lavabo os outros homens faziam a mesma coisa. Edie aproximou-se todo coberto com roupas verde escuro ordenando a todos que se vestissem, seria dia de buscar água na fonte. - Temos que sair agora, nós não podemos correr o risco de encontrálos lá na fonte ou mesmo, pelo caminho. Os homens concordaram fazendo sinal com a cabeça e correram para suas cabanas a fim de se vestir apropriadamente para a ocasião. Pegar água na fonte não parecia uma tarefa assim tão fácil quanto se imagina. A fonte, nada mais era, que a tal fonte milagrosa que Pedro descobriu no passado. Todos precisavam beber daquela água, caso contrário, não sobreviveriam, não por falta de água para beber, mas que estavam condenados a beber exclusivamente daquela água. A fonte não ficava perto do refugio e eles tinham que levar garrafas para serem cheias com a água milagrosa, cada um armazenava sua própria água, por questão de sobrevivência, cada um era responsável pela sua hidratação. O maior perigo que poderia ocorrer nessa busca, era o grupo encontrar com Ram e seu clã, na fonte ou à caminho dela. Já que eles também precisavam beber da mesma água. Sorvendo vários goles da água, Edie pergunta a Ric se ele não poderia conseguir mais daqueles pães que Dina havia lhe dado. Estranhando a pergunta de Edie, Ric sorriu e jogou água na cabeça do irmão. - Hei Edie, estou achando estranho você querer conhecer a Dina, já perdeu o interesse pelos macacos e pelas preguiças? Falou sorrindo. Edie ficou todo molhado, mas não mostrou qualquer raiva, apesar de não ter apreciado nem um pouco a atitude de Ric. - Eu não quero conhecer essa tal Dina. Respondeu. - Só estou pedindo que você arrume mais daqueles pães. Jogando água em Ric. - Estou cansado de ter que comer a porcaria que você faz. Rebateu rindo.


Então Ric voltou a jogar água em cima de Edie, com um pouco mais de força e os dois se atracaram nas margens da fonte. Estavam prestes a cair das pedras localizadas na margem quando alguém do clã pediu silencio. – Shhhhh ousam, outras pessoas estavam se aproximando. Imediatamente todo o grupo de Edie e Ric levantaram suas garrafas, algumas cheias, outras ainda vazias e correram para baixo da ponte que passava por cima do pequeno riacho que brotava a alguns metros da fonte da água. A velha ponte não era o melhor esconderijo, mas era a única opção que eles encontraram naquele momento. Todos ficaram amontoados em silencio e o som de cavalos puderam ser ouvidos muito próximos. Quase todo o clã de Ram estava chegando e passaram por cima da ponte com o mesmo objetivo de abastecer suas garrafas com água. Eles não perceberam que havia pessoas escondidas em baixo da ponte, então eles passaram direto até chegar à fonte de santo Pedro. Os cavalos do clã de Ric e Edie esperavam por eles em outro canto ali próximo na floresta, então eles caminharam silenciosamente para não serem vistos nem por Ram nem por quem quer que fosse. Caso contrário haveria luta. Montando em seus cavalos todos retornaram para o acampamento no refúgio.

***

Na escola Dina tentava chamar atenção de Anja enquanto a professora tentava explicar trigonometria. Anja morria de medo de ser chamada atenção por uma professora, aliás, Anja morria de medo de tudo que era considerado errado. Anja era do tipo de garota certinha do bem. - Psiu, Anja. Depois da aula vamos tentar encontrar a casa desmoronada. - Que casa, Dina? Não vê que estamos no meio de uma aula de trigonometria. Apesar dessa matéria já ter sido dada ano passado.


- Então, eu preciso que você me ajude a encontrar a casa, tenho que descobrir o que aconteceu de verdade e como você mora aqui há mais tempo que eu ficaria mais fácil. - Professora, essas duas meninas estão tirando minha atenção. Falou Lorena que estava sentada a duas cadeiras de distancia de Dina e Anja. A professora parou a aula e se aproximou das duas meninas que ficaram caladas olhando cada uma para seu próprio caderno. A turma toda voltou sua atenção para a professora, Lorena, Dina e Anja. Lorena, com ar debochado em seu rosto apontou para as meninas reclamando à professora que elas estavam conversando assuntos extracurriculares, como se ela se interessasse mesmo por isso. Na verdade ela queria ver as amigas serem chamadas à atenção. Levando uma bronca na frente de todos os alunos, Dina e Anja não se falaram mais durante o resto da aula. Anja com as bochechas vermelhas de vergonha abaixou a cabeça e não tirou mais os olhos de seu caderno enquanto Dina, com a raiva brotando através das orelhas, permaneceu calada o resto da aula. Lorena sorrindo ao lado de Adan, seu colega de classe, pareceu não se importar nem um pouco com a reação de Dina ou de Anja. Longos minutos se passaram ate que o sinal tocasse anunciando o final da aula. Era hora de ir para casa. Na saída da escola, Dina e Anja conversaram sobre a bronca da professora. - O que aquela ridícula tinha intenção de fazer? Perguntou Dina enquanto abria a mochila para alcançar um pão de batata. - Eu não sei Dina. Respondeu Anja. - Lorena sempre foi assim, desde pequena, ela não muda. - Pode ser, mas se ela se meter comigo de novo, não vai prestar, você sabe que eu não tenho sangue frio. Anja tentou manter as coisas calmas - Espero que ela não se meta com você mesmo. Ela disse. - Por que você vai me meter no meio disso e meus pais vão acabar se metendo na secretaria da escola. Dina deu um soco de leve no ombro da amiga. - Anja, não seja covarde. Falou sorrindo enquanto Lorena se aproximava. – Falando no diabo, lá vem ela.


- Ignore Dina, por favor. Implorou Anja. Lorena passou pelas duas garotas. Estava abraçada aos seus cadernos rindo alto para chamar à atenção para si então deu meia volta e parou exatamente na frente de Anja. - Espero que você não atrapalhe mais minha aula. Sussurrou Lorena perto de Anja. - Eu não estava atrapalhando a aula. A outra respondeu. - Quem estava falando era eu. Disse Dina apontando o dedo na frente do nariz de Lorena. - Oh, advogado de defesa, quem seria você? Perguntou Lorena à Dina. - Ahhh não precisa responder, eu acho que já sei... É a pobre órfã que acabou de vir morar na cidade. Lorena continuou falando alto para que o resto dos alunos próximos pudesse ouvir. – Ah sim, e que mora com a velha cozinheira da igreja. - Ei, minha avó não é cozinheira da igreja, ela deu aulas na pastoral. Respondeu Dina com sangue fervendo nas veias. - Tenha respeito quando fala da minha avó. - Ou o que? Perguntou Lorena. Sem responder mais nada, Dina partiu pra cima de Lorena agarrando em seus cabelos. Deixando cair todo o material que carregava nos braços, Lorena tentou empurrar Dina, mas era tarde de mais. Dina puxou Lorena tão forte, que ela estava com joelhos dobrados no chão. Mesmo Dina sendo um pouco mais baixa que Lorena, parecia ter mais força e todos os alunos da escola começaram a gritar: BRIGA... BRIGA... BRIGA. No minuto seguinte uma aglomeração cercava Dina, Lorena e Anja. Conseguindo se libertar dos agarrões de Dina, Lorena conseguiu socar a barriga dela fazendo-a recuar e quando Lorena tentou pegar nos cabelos de Dina, Anja se colocou entre elas ameaçando Lorena com seus cadernos de capa dura cor-de-rosa. Concluindo que estava em desvantagem, Lorena recolheu seu material que estava caído no chão e se afastou. Seu amigo Adan que só chegou logo após a briga ter terminado, tentou ajudar Lorena que o afastou dela, explodindo de raiva. - Não toque em mim seu idiota, onde você estava quando eu precisei de você? Falou Lorena para Adan enquanto caminhavam para longe do local.


Anja ajudou Dina a se recompor enquanto o inspetor dispersava os alunos fora da escola. - Obrigada Anja, eu estava conseguindo dar conta sozinha da vadia com rabo de cavalo, mas já que você se meteu obrigada pela ajuda. - Tudo bem Dina, vamos embora logo antes que ela resolva voltar. - Ninguém fala de minha avó daquela forma... Nem de forma alguma. E as duas saíram da escola. No caminho de casa, Dina explicou para a Anja a historia que o psicólogo havia lhe contado na outra sessão, foi depois disso que ela estava disposta a encontrar a casa desmoronada. - Eu acho que já ouvi minha mãe dizer alguma coisa sobre essa casa Dina, não estou certa, mas posso perguntar a ela hoje à noite, depois que voltar da igreja. - Ótimo, já é uma grande ajuda na minha investigação. Falou Dina à amiga. - Também vou perguntar para minha avó sobre essa casa, talvez ela conheça, afinal é uma casa desmoronada aqui na cidade, as pessoas devem conhecer quem morou lá. Dina passou a tarde toda perguntando a todas as pessoas que ela encontrava pela rua e não conseguiu descobrir nada sobre o endereço da casa desmoronada, ninguém sabia de nada ou não queria dizer. Ela perguntou ao dono da padaria e nada, o vendedor da casa de aves também não sabia, mas Dina não estava disposta a desistir da investigação. - Eu não vou descansar até encontrar alguém que me diga alguma coisa. Dina falou com sigo mesmo baixinho. – Eu vou saber quem morou naquela casa.

*** Mais tarde, na floresta. Ric atirou três facas na direção de Edie, mas não conseguiu acertar nenhuma delas. Edie se movimentava como muita velocidade ao se esquivar dos golpes. As facas arremessadas fincaram na terra enquanto Edie executava um belo salto mortal para trás. Então começaram a lutar corpo a corpo, um contra o outro. Os chutes laterais semicirculares que Edie desferia eram bloqueados por Ric


com seus antebraços que contra golpeava no mesmo tempo com chute giratório acertando seu calcanhar na lateral da cabeça de Edie. - Vá com calma, isso é apenas um treinamento. Reclamou Edie apalpando sua cabeça. Ric sorriu para ele. - Vai querer que eu pegue leve com você? Tudo bem. Ele disse com as mãos na cintura. – Eu achei que o treinamento deveria ser serio não brincadeira de criança. Edie assumiu novamente uma posição de combate e com a guarda alta ele esperou que Ric investisse outro golpe. Horas mais cedo, eles haviam voltado da fonte, mais nervosos do que de costume. Poucas vezes, houve encontros entre o clã de Ram e o deles. Se esconder em baixo da ponte causou tamanha frustração em Ric, que o fez ficar calado o resto da manha. Agora os irmãos estavam treinando e Ric deixava os pensamentos negativos tomarem conta da sua mente, fazendo com que ele se distraísse e fosse atingido pela lamina da espada de Edie. - Cara eu acertei você. Gritou Edie olhando para o sangue do irmão que escorria pelo braço. - A culpa foi minha, resmungou Ric – Eu deveria ter prestado mais atenção, vamos continuar, fique em guarda. - Não seja infantil, idiota, se não cuidarmos disso poderá ficar pior. - Edie... Edie... Brincou Ric, quase desmaiando. - Sempre o irmão protetor. Quando Edie percebeu que Ric, enquanto falava abaixou-se na raiz grossa de uma árvore, pálido e com lábios embranquecidos correu para pegar uma garrafa cheia com a água que haviam trazido mais cedo da fonte de santo Pedro. Deu de beber ao irmão e jogou um pouco sobre o corte feito pela sua espada. Em poucos minutos Ric retomou a cor e como um verdadeiro milagre, o corte foi fechando, a carne aberta curando e em pouco tempo Ric estava em pé novamente. Edie observava o braço do irmão que antes expunha um corte profundo e agora não passava de um arranhão. Edie mais aliviado percebeu que Ric não mostrava nenhuma gratidão, nem pelo gesto do irmão, nem pelo milagre da água. Ric sentia verdadeiro ódio cada vez que precisava beber água ou usa-la para se


curar. - Você bem que poderia se mostrar um pouco mais de gratidão por eu salvar a sua vida. Falou Edie. - Não faça drama, eu sabia o tempo todo que você iria me ajudar. Respondeu Ric sarcasticamente. – você não vive sem mim. Falou, Enquanto virava em direção a sua cabana. - Ei, para onde você esta indo, vai escurecer em três horas. Perguntou Edie. - Eu vou ver a Diana. - já que vai até lá, arriscar seu pescoço e do resto do nosso clã, poderia ao menos trazer mais daqueles pães. Ric não respondeu ao irmão. Continuou caminhando em direção a sua cabana. No caminho vez uma breve pausa para acariciar Céu que estava a poucos metros dali. Chegando à porta da cabana, olhou para dentro e mergulhou para dentro.

***

Já anoitecendo na cidade. Anja estava em casa bordando panos de prato. Em sua família era normal que as mulheres aprendessem a arte de bordar. Anja adorava passar horas na poltrona da sala bordando quando não estava na companhia de Dina falando pelos cotovelos. O pai de Anja trabalhava com construção civil e todos os dias, na saída do turno esperava a mãe de Anja na porta da igreja para voltarem juntos. Mesmo quando não era hora da missa, a mãe de Anja sempre que podia estava na lá. Quase anoitecendo os pais dela entraram pela porta. Anja estava acabando de se arrumar para ir ao encontro de Dina. O pai de Anja era um homem de aparência rústica com idade beirando os 60 anos. Sua pele era bem queimada do sol devido ao trabalho. Construção civil era o oficio que a maioria dos moradores da cidade exercia. Anja entrou no quarto enquanto sua mãe guardava o terço de prata na gaveta. A mãe de Anja era uma mulher bonita apesar da idade. Estava vestida com uma saia comprida em cor bege e um cardigã


combinando em tom mais escuro. Seus cabelos eram compridos até a metade das costas e presos em forma de trança. Anja sentou na cama e perguntou a sua mãe se ela conhecia os moradores que morreram soterrados numa casa que desabou sobre suas cabeças. A mãe de Anja, franzindo a testa com desconfiança, achando estranha, a pergunta da filha. - Não me lembro bem filha, que casa você está se referindo, por que você quer saber disso agora? - Nada de mais mãe. Respondeu Anja casualmente. – Dina ficou interessada em saber sobre o que aconteceu por lá, e curiosidade de quem veio morar aqui na cidade recentemente. - Filha, pelo que eu me lembre, era uma família jovem que morava lá. Revelou a mãe dela. – Eu sempre levava bordados para vender naquela casa, a baronesa gostava do meu trabalho. Completou parecendo puxar pela memória. - Baronesa, como assim? - Por acaso eram pessoas da realeza que moravam lá? - Seu pai saberia explicar melhor que eu. – As pessoas que moravam lá ao que parece eram de outra terra, Europa talvez. Anja logo deduziu que uma baronesa seria casada com um barão. Satisfeita com a informação que sua mãe havia lhe fornecido, saiu correndo do quarto. - Xau pai, xau mãe. Despediu-se batendo a porta atrás de si. Apesar de gostar de missa e bordados, Anja nunca foi uma garota cem por cento devagar. Como toda adolescente, Anja gostava de andar as pressas sempre que tinha um compromisso, seja ele qual fosse. Já era o começo da noite, mas a cidade ainda não estava completamente escura. As pessoas estavam de deslocando do trabalho para casa e o comercio estava praticamente de portas fechadas. Enquanto quase todo mundo estava entrando em sua casa anja estava saindo dela, se dirigindo para casa de Dina.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

Beijo no chafariz

6

Ric, do lado de fora da sua cabana, assobiou chamando Céu. O cavalo respondeu rapidamente ao chamado de seu dono. Quando Ric não estava galopando, Céu costumava pastar por ali mesmo, sempre próximo ao acampamento do refugio. Céu era um cavalo branco, mas podia jurar que a tonalidade certa de seus pelos eram de um acinzentado, quase prata. Era muito difícil dizer a cor exata de um animal de cor clara no meio da floresta. Especialmente à noite. O que mais chamava atenção no cavalo era a sua crina muito comprida e muito abundante. Ric se aproximou de Céu vestindo uma calça verde tão escura que quase não dava para perceber a cor. Sua blusa de gola V com mangas compridas completavam o estilo casual. Seus cabelos


rebeldes com mexas desordenadas trepidavam com o balanço do galope de Céu. Cada vez que Ric pensava em Dina, uma explosão de euforia tomava conta do seu corpo fazendo seu coração bater em tom mais acelerado. Ric estava tão ansioso para encontrar Dina, que não percebeu que estava sendo seguido por Ram e Lucaar. Eles estavam escondidos numa parte alta da floresta, onde era possível ver, sem ser visto. Estavam vestidos com roupas completamente pretas, incluindo capuz onde apenas os olhos estavam à mostra. Os olhos de Ram brilhavam no escuro, como dois vagalumes. Já os olhos de Luccar eram negros e estreitos. Era absolutamente impossível ver qualquer expressão naqueles olhos. Lucaar sempre foi o braço direito Ram, desde pequeno. Eles se tornaram amigos logo depois que Luccar chegou a Santo Pedro. Muito rebelde, não quis fazer amizade com ninguém, mas Ram conseguiu, não se sabe como, conquistar o coração do garoto. Hoje Lucaar ocupa o posto mais confiável no clã de Ram. Fora da floresta, Dina sentou à mesa da cozinha enquanto vó Augusta preparava a janta e a massa dos pães para fornada da manhã seguinte. - Vó, a senhora sabe alguma coisa sobre a casa que desmoronou matando os moradores aqui na cidade? Vó Augusta parou um momento antes de responder. - Querida, eu não lembro bem, isso foi há muito tempo, se você não comentasse agora talvez eu não me lembrasse de que essa tragédia aconteceu. - É que o psicólogo comentou por alto sobre esse acontecimento, digo essa tragédia. Enquanto as duas falavam, Anja bateu na porta muito ansiosa para dizer a Dina sobre as informações que sua mãe lhe falou mais cedo, antes de sair de casa. - Boa noite, dona Augusta. – Oi Dina, vamos para o seu quarto, tenho informações sobre a tal casa.


As duas subiram correndo as escadas e se dirigiram para o quarto de Dina. Sentaram-se de frente uma para outra na cama e Anja começou a falar. - Minha mãe já entrou naquela casa. - Como é que é me explica isso direito, o que sua mãe fazia lá? - Minha mãe vendia bordado para a dona da casa, a baronesa. Continuou. - Minha mãe disse que a baronesa gostava muito do bordado dela. - Isso é uma ótima informação Anja, talvez as pessoas se lembrem da baronesa ao invés da casa. Falou Dina euforicamente. – Vamos descer e perguntar para minha avó sobre essa baronesa. As duas desceram as escadas correndo juntas quase despencando lá de cima. Era realmente incrível como adolescentes daquela idade gostam de viver perigosamente, ainda mais quando se tratava de escadas. - Vó. Gritou Dina já entrando na cozinha seguida de Anja. As duas não encontraram vó Augusta. Ficaram olhando uma para outra, sem entender como ela desapareceu enquanto elas estavam no quarto. Onde ela está? Perguntou Dina. - Estou aqui em cima querida, Gritou vó Augusta do segundo andar da casa. - Como ela foi parar lá em cima, sem que nós pudéssemos perceber? Perguntou Anja com espanto. – Sua avó faz ginástica? - Se ela faz eu não sei, mas vou subir lá falar com ela. Respondeu Dina saindo em disparada em direção às escadas novamente, Anja foi atrás. As duas voltaram pelo mesmo caminho que fizeram quando desceram do quarto de Dina. Tentando pisar no mesmo degrau, o pé direito de Dina assentou sobre o pé esquerdo de Anja, fazendo com que seu próximo passo avançasse tropeçando nos degraus seguintes. Desequilibradas, as duas caíram na base da escada, uma em cima da outra. O ruído da queda fez com que vó Augusta descesse as pressas para ver o havia acontecido no andar de baixo. Descendo devagar vó Augusta se deparou com as duas meninas sentadas no chão rindo


uma da cara da outra por causa do tombo. - Ainda bem que nós não nos machucamos. Falou Anja quase chorando de tanto rir. - Meninas tomem cuidado. Advertindo vó Augusta às meninas. - Por que vocês tem que fazer tudo correndo? - Desculpe vó, eu estava muito ansiosa para perguntar para a senhora sobre aquela casa novamente. Falou Dina. – Anja me trouxe informações da mãe dela. Quando Dina se levantou vó Augusta já estava no andar de baixo com uma fotografia nas mãos. Dina olhou para a fotografia que parecia ser mais velha que sua própria idade. Vó Augusta mostrou a fotografia para Dina. A neta pegou o retrato nas mãos e reconheceu duas das pessoas que estavam na foto. - Essa aqui é a senhora vó? Perguntou Dina e em seguida apontou para outra pessoa na foto. – Este é o padre daqui da igreja, certo? - Isso mesmo querida. Respondeu vó Augusta apontando para uma terceira pessoa na foto. – Essa de vestido claro é Celina, que fez o curso de culinária na pastoral, era ela quem morava na casa que desmoronou. - Será que essa Celina deve ter conhecido a tal baronesa? Indagou Anja. - Sim, com certeza se ela morou lá, claro que conhecia. Afirmou Dina. Com um sorriso no olhar, respondendo em tom melancólico, vó Augusta respondeu as meninas. - Queridas, Celina era a baronesa. Com os olhos arregalados diante da surpresa, as meninas ficaram caladas alguns segundos antes de perguntarem. - A senhora conhecia a baronesa, conhecia as pessoas que moravam na casa? Vamos sentar que eu vou explicar a vocês com mais calma. Se minha memória não me falha... Celina era a minha aluna e a mais aplicada na pastoral. O curso de culinária estava tão vazio antes dela se matricular que eu quase desisti das aulas. Mas depois que Celina se matriculou, outras meninas também se animaram com o curso. Muitas meninas tinham curiosidade em estar perto de uma baronesa. Uma baronesa muito jovem, podia se dizer. Ela casou antes dos 16 anos


e na época das aulas ela já tinha dois filhos, o pequeno Ramcy e Edgard. Seu marido, o barão Juan era quase 15 anos mais velho. Ele morava na Europa e por causa das muitas terras que ele comprou aqui na cidade, os moradores o chamavam de barão e Celina de baronesa. A primeira coisa que Celina aprendeu comigo foi a receita dos pães de batata. Depois de alguns dias ela me falou que depois que aprendeu, os preparava em casa e toda família adorava, principalmente Edgard. Quando seu ultimo filho nasceu ela parou de frequentar as aulas por que o barão teve que viajar em um projeto científico, eu acho. Mas ela sempre que podia, vinha aqui me ver com seu filho mais novo. Quando o barão voltou da viagem, Celina nunca mais veio aqui. Nós nos víamos esporadicamente na missa e festas do solstício. Os garotos foram crescendo e, como eu quase não os via, não sei a aparência que eles ficaram, mas tenho certeza que se estivessem vivos, hoje seriam rapazes muito bonitos. Depois que o barão voltou de viagem, muita coisa mudou aqui na cidade, milagres começaram a acontecer. E alguns anos depois, numa noite de muito vento e tempestade, a casa deles desmoronou toda em cima das cabeças de Celina e das crianças. Os empregados disseram que o barão ainda tentou salvar a família, mas uma coluna pesada caiu sobre ele também. A família toda morreu ali, à noite. Na manha seguinte os empregados, logo após terem enterrados os corpos dos seus patrões, desceram aqui para o centro da cidade para dar a triste noticia. Disseram que os corpos da família foram enterrados nas terras atrás da casa, bem próximo à entrada da floresta. Nem eu e nem ninguém daqui teve coragem de subir até lá para velar ou mesmo para deixar flores e tributos no pequeno cemitério da família. Dina e Anja com os olhares molhados permaneceram caladas enquanto vó Augusta subia lentamente para o segundo andar, com o retrato nas mãos. - Meu Deus, isso foi uma desgraça total. Morrer soterrado em sua própria casa. Choramingou Dina. – Isso é muito triste. Anja levantou para ir embora. - Depois desta historia, eu acho que vou para casa dormir, Xau Dina. Saindo da casa de Dina, Anja seguiu silenciosa para a casa dela. Toda aquela historia havia deixado Anja abalada e ela só tinha vontade de deitar em sua cama e dormir.


Dina ficou na cozinha mais algum tempo, tentando digerir a historia que sua avó acabara de lhe contar. Sozinha, Dina subiu as escadas de sua casa bem de vagar, em ritmo de câmera lenta, deu boa noite a sua avó e bateu a porta de seu quarto. Agora ela estava sentada no peitoral de sua janela os braços cruzados sobre suas pernas, cabeça baixa chorando. A tragédia da casa a fez lembrar que seus pais também foram mortos em uma tragédia. Nem todos os casos de sequestro resultam em morte, mas infelizmente aconteceu na cidade onde eles moravam. Perto da cassa dela, Ric soltou Céu no mesmo lugar da outra noite que encontrou Diana. Andou pelas ruas cuidadosamente observando quem poderia supostamente passar por ai. Ram e Luccar estavam em seu encalço a metros atrás dele, mas Ric não percebeu os dois, por que só pensava em Dina. Quando estava quase na frente da casa de dela, Ric pode ver que ela ainda estava sentada na janela. Dessa vez ela não percebeu Ric por que estava chorando de cabeça baixa. Ric se agachou para pegar pequenas pedrinhas no chão e começou a lançar em direção á Dina certificando que somente iriam bater nas portas da janela, foi quando Ram, de longe, viu Dina pela primeira vez. Os olhos de Ram se estreitaram para uma melhor visualização. Lucaar permanecia tenso ao seu lado, sair da floresta naquela hora, ainda era uma manobra perigosa, mesmo para eles dois. Ram puxou o capuz que cobria todo seu rosto. Deixando a brisa refrescar o suor dos cabelos por baixo do tecido. Seu semblante permanecia sério, impenetrável. Dina sentiu o trepidar das janelas e olhou para baixo. Pode ver Ric com algumas pedrinhas ainda em suas mãos. Ric fez sinal para ela descer ao seu encontro. Ram e Lucaar observavam atentamente aos movimentos de Ric, quando a garota abriu a porta da casa. Ric pode perceber que Dina estava chorando e quis saber o que acontecera. - Ei Dina, estava chorando o que houve? - Eu estava um pouco triste. Ela respondeu. – Não se lhe contei, eu sou órfã de pai e mãe, por isso eu vim aqui morar com minha avó. Ric aproximou-se de Dina e pegando em sua mão, a chamou para um pequeno passeio até o velho chafariz. - Por que não vamos andar um pouco? Ele disse. - Assim você me conta um pouco mais.


Eles andaram até o chafariz, sentaram e Ric tocou o rosto de Dina. Os olhos dela ainda estavam vermelhos por causa das lagrimas que escorreram. Ram e Lucaar acompanharam toda a cena até o chafariz, então decidiram voltar para a floresta. - Você estava chorando de saudades pelos seus pais? Perguntou Ric acariciando o rosto de Dina. - Acho que sim. Ela respondeu. - Minha avó me contou uma historia e eu meio que me lembrei deles. Falou com o rosto totalmente apoiado nas mãos de Ric. A intimidade entre os dois aumentou e Ric estava com os braços enrolados em torno de Dina. Seu queixo sobre a cabeça dela, e a cabeça dela descansando sobre o peito dele. Dina estava tão relaxada que podia ouvir as batidas do coração de Ric e ritmo acelerado. - Eu não gostaria de competir com você nesse momento, mas talvez faça você ficar mais a vontade pra se abrir comigo se desejar, eu também sou órfão de pai e mãe. Revelou Ric. - Você também não tem pais? Perguntou Dina. – Então você sabe como eu estou me sentindo. - Meus pais morreram quando eu tinha 13 anos. Continuou Ric. – Eu fui criado pelo meu irmão do meio daí então. Dina se afastou dos braços de Ric e ficou interessada pelo relato da historia dele. Eles estavam muito próximos com as mãos entrelaçadas e as coxas encostadas, a dele na dela. - Minha amiga acha que você não existe, ela acha que eu vi coisas na primeira vez que nos encontramos. Falou Dina olhando nos olhos verdes de Ric. - Mas eu estou aqui com você, não estou? - Sim, mas eu não sei nada sobre você, só agora descobri que é órfão como eu. Qual seu nome, e sobrenome? Ric pensou um segundo e dando de ombros a si mesmo, respondeu à pergunta de Dina que o olhava com muita esperança de conhecer mais um pouco sobre ele. - Eu me chamo Richard Baleares, muito prazer, e o seu? - Eu me chamo Diana Gomes e o prazer é todo meu, senhor Baleares.


Ric ficou tenso quando escutou a garota dizer as palavras Senhor e Baleares. - Só retire o senhor, meu pai era chamado de senhor por todo mundo. - Então está bem, Ric. Melhor assim? - Claro. Ele respondeu. - Assim e muito melhor. Os dois ficaram rindo um para o outro algum momento, quando Ric ficou serio em frente a ela. Olhando nos olhos castanhos que ela exibia ele umidificou os lábios e olhou para boca de Dina, ela ficou absolutamente imóvel sem saber como reagir. Ric se aproximou lentamente de Dina, mais e mais perto. Ela fechou os olhos, não conseguia encarar a situação. Ele encostou o nariz na bochecha dela e vagarosamente foi deslizando para próximo da sua nuca tentando sentir o cheiro dos cabelos castanhos dela. Dina sentiu um arrepio que começou no pescoço, sob o toque da língua de Ric, terminando nas suas coxas. Ela jamais havia ficado tão próxima de um rapaz antes e tentou se afastar dele, mas ele então a puxou para mais perto e encostou seus lábios nos dela. Foi um beijo longo e carinhoso. Quando Dina abriu os olhos, Ric estava com os braços em volta dela. O beijo fez com que ela esquecesse completamente qualquer pensamento ou dor. Ric passou as mãos pelos cabelos dela, mergulhando os dedos naquele mar de ondulações castanhas. Dina um pouco envergonhada jogou as mãos para trás da cabeça de Ric laçando seu pescoço e puxando para perto de si. Um som de ave passou por cima das cabeças deles fazendo com que a corrente que os atraia se quebrasse e afastando seus corpos. Uma coruja de grande porte piou ali perto quando fez um voo rasante, pousando no topo do chafariz. - Melhor eu voltar para casa, minha avó pode acordar e ficar preocupada se não me encontrar. - Vou levar você pra casa. Ele disse. - Não precisa, eu posso voltar sozinha. - Que espécie de homem eu seria se deixasse você voltar sozinha pra casa, à noite. – Me de sua mão.


Dina e Ric entrelaçaram suas mãos e seguiram andando devagar em direção a cada dela. Ric permaneceu calado todo o percurso e Dina imaginava qual seriam os pensamentos dele. Na frente de sua casa, Dina igualou sua altura com a de Ric quando ficou em cima do degrau da porta. Os dois estavam com seus olhares na mesma direção. - Boa noite Ric. - Boa noite Dina. Quando a garota colocou a mão na maçaneta da porta, Ric puxou-a tão rápido para si que ela não pode ter tempo para raciocinar ao movimento. Ele encostou Dina na porta e pressionou seu corpo contra o dela. Aquele beijo foi diferente do beijo do chafariz, eles estavam em pé com seus corpos totalmente encostados um no outro. Dina pode sentir o coração de Ric batendo embaixo do peito encostado ao dela. - É assim que eu dou boa noite. Falou Ric afastando o peso do corpo dele contra o dela. Ela abriu a porta com cuidado para não acordar a sua vó e fechou a na frente de Ric. Subiu depressa as escadas e em silencio foi para a janela. Ric estava embaixo esperando ela aparecer. Com um aceno de mão ele foi embora. Já em Santo Pedro, Ram conversava com Luccar em frente à fogueira. Comendo carne assada no fogo e bebendo suco de fruta. - Você acha que ele conhece essa garota há muito tempo? Perguntou Lucaar enquanto arrancava um pedaço de carne queimada com a boca. - Eu não faço ideia de como ele a conheceu e há quanto tempo ele a conheceu. Respondeu Ram. – Mas ele não pode colocar tudo a perder, não depois de tantos anos. - Você já sabe o que vai fazer? - Eu não sei. Respondeu Ram estreitando os olhos brilhantes contrastando com a luz amarela da fogueira. – Mas amanha é um novo dia. Vou resolver isso. - Eu não acho que exista uma forma para separar o que quer que esteja acontecendo entre os dois. Falou Lucaar. - Resolver isso não parece ser uma tarefa fácil.


- Você sabe muito bem qual é a forma mais fácil que eu costumo resolver as coisas que não me agradam. Falou Ram. – Eu vou matar essa garota. Luccar deu um sorriso antes de colocar outro pedaço de carne na boca.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

Encontro inesperado

7

Quando Dina passou pelo portão da escola depois da aula, seu rosto ainda exibia expressões da raiva que sentia de Lorena. Ela confrontava Dina diariamente durante as aulas. Tentando não se concentrar em Lorena, Dina conversava com Anja sobre o endereço da casa desmoronada que possivelmente, elas teriam que descobrir. - O que você vai fazer depois do almoço? perguntou Anja. – vamos andar por ai pra tentar descobrir o endereço da tal casa? - Depois do almoço tenho consulta com psicólogo, respondeu Dina. – provavelmente vamos perder o dia, hoje tem missa esqueceu?. - claro que não, eu jamais esqueceria o dia de ficar mais perto de Deus.


Dina fez uma cara debochada enquanto se dirigia para casa. Anja acompanhava Dina, já que as duas moravam perto uma da outra. Dina gostava muito de Anja e para não magoar a amiga, ela preferia ficar calada quando Anja começava a falar em religião. Mesmo na pequena cidade onde as duas moravam, sendo um estado laico, a grande maioria das pessoas praticava o catolicismo e não tolerava muito a opinião sobre outras religiões. Dina frequentava a missa católica, mas desde pequena, ela simpatizava pelo espiritismo, junto com seus pais. Quando tinha seis anos, ela passou por experiências ruins, como visões de pessoas mortas, daí então, seus pais a levaram em um local onde as praticas espirituais ajudavam as pessoas resolverem esse tipo de problema. Dina melhorou e eles continuaram a frequentar o local desde então. A primeira garota a chegar em casa foi Anja, enquanto Dina seguiu em frente. Antes de Anja abrir a porta, ele teve uma estranha sensação de que estava sendo observada. Tirando a mão da maçaneta, ela virou a cabeça lentamente por cima de seu ombro direito e depois virou o resto do corpo até estar de costas para porta. Lucaar estava longe, escondido atrás de uma árvore, dessas que ficam encostadas nas calçadas, para fazer sombra nas ruas. Lucaar olhava Anja com certa curiosidade, uma garota de cabelos louros cacheados era mesmo de se chamar atenção. Se dando por satisfeita, comprovando que não havia ninguém por perto, Anja virou de volta para a maçaneta da porta, abriu e entrou. Chegando a casa, Dina jogou os cadernos em cima do sofá da sala e subiu correndo as escadas, quando chegou ao seu quarto estava praticamente só de calcinha e sutiã. Dina gostava de andar pela casa a vontade, já que só moravam ela e sua avó ali. Depois de um banho rápido Dina desceu correndo as escadas novamente. Sua avó estava esperando para o almoço, a mesa estava pronta. Vó Augusta cozinhava muito bem, mesmo que somente para duas pessoas ela fazia questão de pôr um banquete sobre a mesa. Arroz branco, salada verde, carne assada e batatas coradas. O feijão preto era opcional, mas Dina fazia questão de colocar feijão sobre o arroz. Era como fazia quando morava com seus pais.


- vou aprender a cozinhar como à senhora vovó. – isso está muito bom. - certamente querida, vou te ensinar primeiro a fazer arroz branco. Enquanto Dina mastigava sua avó enchia um copo de mate gelado com duas rodelas de limão. Era a bebida que Dina mais gostava. Quando as duas estavam terminando a refeição, Dina recomeçou o assunto da casa desmoronada. - Vó, a senhora sabe o endereço da casa desmoronada? - por que você quer saber querida, você não pretende ir lá não é ? - NÃO... É que eu pensei que talvez pudesse passar em frente só para matar minha curiosidade. – afinal, faz parte da historia da cidade, não é mesmo? - eu acho melhor você deixar esse interesse para lá querida, vamos deixar os mortos descansarem em paz. Dina terminou de engolir a ultima garfada e com um pequeno gesto com a cabeça respondeu a sua vó. - Sim vovó, vou me concentrar em outra coisa. Elas terminaram de comer e Dina ajudou retirar os pratos da mesa. Enquanto voltava ao seu quarto para escovar os dentes, vó Augusta lavava toda a louça. - estou saindo para a sessão com o doutor Paulo, xau vó. - xau querida, mas me diga quem é esse doutor Paulo, eu não o conheço... Dina não escutou as perguntas da sua avó, estava mais que apressada para chegar à sessão com o doutor Paulo, seu psicólogo. Andar na rua naquela hora da tarde era um pouco desconfortável para Dina, pois o sol era muito forte. Andando sozinha pelas ruas com os olhos cerrados por conta da luz do sol, Dina não percebeu que estava sendo seguida por Ram. Ele estava a metros de distancia dela, sozinho na outra calçada. Lucaar estava escondido mais atrás. Eles foram acompanhando a garota até a porta de um prédio de dois andares.


Entrando no consultório, a secretaria anunciou e Paulo a recebeu pessoalmente, convidando-a para se sentar no divã, velho. - boa tarde senhorita Diana. Cumprimentou e logo em seguida bebeu um gole da garrafa ao lado. – O que vamos falar hoje. - Que tal o senhor me dizer algo sobre a casa que desmoronou sobre as cabeças da família ? Paulo ficou tenso, a primeiro momento, mas depois sorriu e respondeu calmamente para Dina. - Nós já falamos sobre essa tragédia outro dia, que tal falar em algo mais moderno. - E que tal o senhor me dizer o endereço da casa ? Insistiu Dina. - Falar sobre o endereço da casa não seria assunto para nossa sessão. Dina percebeu que Paulo não estava querendo responder as suas perguntas, então tentou desviar o assunto para outra investida antes do tempo da sessão terminar. - é que eu fiquei muito interessada pela historia da água, e já que a casa estava relacionada a ela, eu pensei que talvez pudesse fazer um trabalho para escola. - que tipo de trabalho ?perguntou Paulo começando a se interessar. - aula de artes, o professor mandou os alunos desenharem paisagens da cidade. – eu desenho um pouco bem, e pensei em retratar o local da casa que desmoronou tipo os escombros que restaram dela. - Mas por que você não falou isso antes, vou lhe dar o endereço, mas me prometa que vai me mostrar o desenho. - Claro que sim. - Então vamos lá, disse Paulo. - Sobre o quê você gostaria de falar ? Uma hora depois, Dina estava a caminho de casa. Ainda restavam algumas horas da missa começar. Dina tinha em sua mão um papel escrito o endereço da casa desmoronada.


Dispersa em seus pensamentos Dina escorregou novamente no mesmo lugar onde conheceu Ric, mas desta vez não caiu. A derrapada fez com que Dina soltasse o papel com endereço no chão. Mas que depressa ela abaixou para pegar, quando uma leve brisa passou e empurrou o papel mais próximo dos seus pés. Ela agarrou tão forte o papel que conseguiu amassar um pouco. Ao levantar com o papel nas mãos, pronta para escorrega-lo para sua bolsa, ficou com seu o nariz apontado para Ram. O susto foi grande, mas Dina não pode deixar de reparar naquele homem lindo que estava em sua frente. Com camiseta branca e calças claras combinando. Ela reparou nos braços dele incrivelmente fortes, assim como o resto da musculatura muito bem distribuída em todo seu corpo. Levantando a cabeça, ela fixou a atenção nos olhos de Ram. De imediato ela arriscou dizer que eram de cor azul bem claro, mas logo desistiu, pela confusão dos tons de cores que saltavam daqueles olhos. -Boa tarde. Falou Ram. - Boa tarde. Respondeu Dina, se perguntando de qual paraquedas ele havia caído. - onde está indo com tanta pressa ? - não estou com pressa, só estou andando rápido. Dina respondeu um pouco mais segura. – É que eu fico com medo de encontrar estranhos que possam me fazer mal. - nesta cidade não existem pessoas estranhas, todos se conhecem. - Eu não conheço você. Argumentou Dina. – a propósito, eu quase não conheço ninguém aqui nessa cidade. Pensou. - Eu sou Bob, muito prazer. Apresentaram-se Ram com um nome falso. - Muito prazer... Bob. – eu sou Dina. Ele levantou a mão e a deixou estendida na frente de Dina. Com muita insegurança, ela estendeu a mão dela também, e os dois se tocaram.


A mão de Bob era muito pesada, grossa, com dedos fortes. Dina achou a mão dele muito bonita, mas afastou o toque rapidamente. Ela se apressou em dizer que tinha que voltar para casa e Bob se ofereceu para caminhar ao seu lado, acompanhando-a. Dina olhava para frente o tempo todo, evitava olhar para Bob. Sim, ele era muito bonito, mas Dina tinha medo daquele homem. Que caíra de para quedas de algum lugar. De vez em quando ela olhava para cima curiosa se perguntando se realmente havia possibilidade dele ter mesmo caído de paraquedas. Enquanto Bob pensava na maneira que iria matar Dina, fixava seu olhar na garota o tempo todo. Ele não se importava que ela estivesse se sentindo mal por estar sendo observada por ele. Eles foram andando até a porta da casa de Dina, o que a fez ficar muito aliviada por ele ter que ir embora. - Bem, chegamos. Obrigada por me acompanhar ate aqui. - Dinaaaaa, queridaaaaa. Cuidado ai em baixo. Gritou vó Augusta da janela de Dina. – Estou limpando as janelas. Bob olhou para cima e viu a velha com metade do corpo para fora da janela. Um balde antigo feito de madeira, também estava no peitoral da janela, cheio de água. Quando Dina chegou mais perto para se despedir dele, Bob pressentiu algo errado e olhou para cima novamente. Viu que vó Augusta desequilibrou e deixou o balde cair lá de cima, da janela. Com um rápido movimento ele avançou em direção a Dina empurrando-a contra a parede, elevando a outra mão sobre a própria cabeça, defendendo e impedindo que o balde, pesado, partisse a cabeça dele em dois. Luccar pode ver tudo de seu esconderijo, mas continuou no mesmo lugar, observando que Ram tinha total controle da situação. Dina ficou surpresa, com o rápido movimento de Bob e caminhou lateralmente afastando-se da frente da porta. - meu Deussss, vocês estão bemmmmm? perguntou vó Augusta lá de cima, ainda na janela. – vou descer... Vocês se machucarammm ?


- Não vó... Está tudo bem aqui em baixo, o balde não caiu em cima da gennnnnte. Respondeu Dina, com olhos arregalados voltados para Bob. O balde havia aberto um enorme ferimento no antebraço de Bob, sim, aquele era um ferimento que podia ver o osso por baixo da pele aberta. Bob não fez absolutamente nenhuma expressão de dor. Dina se aproximou e tirou sua camiseta revelando um belo top vermelho por baixa dela. Bob ficou desconfiado com a atitude de Dina, mas deixou que ela continuasse o que estava fazendo. Dina colocou a sua camiseta em cima do ferimento de Bob, na tentativa de estancar o sangue. Bob observava com muita atenção a todos os movimentos de Dina, incluindo para o seu tronco vestido somente com um TOP vermelho. A barriga de Dina era reta como uma tábua, sem nenhuma ondulação e sua cintura se assemelhava muito a imagem de um violão. Dina não percebeu que Bob olhava para ela, ela estava totalmente concentrada em seu ferimento. - Vamos a um hospital. Esse ferimento está profundo. - Não precisa, isso vai curar logo. Rebateu Bob, olhando para a camiseta de Dina enrolada em seu braço. - Você é louco ? Isso vai infeccionar. - Você esta preocupada profundamente para Dina.

comigo

?

perguntou

Bob

olhando

- Claro que estou. - O balde da minha casa caiu em cima de você. Você poderia ter morrido, o balde é muito pesado. Bob apertou os lábios e deu um pequeno sorriso para Dina, aproximando-se dela, pegou na sua mão. - Eu agradeço muito a sua preocupação moça. Disse Bob beijando a mão dela. – Eu devolverei a sua roupa em breve. Naquele momento Dina não sentia mais medo daquele homem que antes fez com que ela ficasse apavorada. Dina, apesar de muito preocupada com o ferimento dele, não pode deixar de perceber que ele era um homem bem educado. Lindo e educado.


- Xau Dina, a gente se vê. - xau Bob, cuida disso ai. Vó Augusta abriu a porta falando muito por causa da queda do balde. Dina voltou-se para ela tentando acalmar, mas vó Agusta estava muito preocupada. - Calma vó, não aconteceu nada. Bob fez uma defesa samurai e o balde não matou ninguém. - Quem e Bob? perguntou Vó Augusta. – Não tem ninguém aqui alem de você e eu. Dina girou de volta para rua e, Bob não estava mais lá. Tinha sumido. - Ele estava aqui, agorinha mesmo. Respondeu Dina. “É a segunda vez que isso me acontece em menos de uma semana”. Pensou. - Ele foi embora então? - Onde está sua camisa ? - Você não andou nas ruas assim ? - Não vó, como eu disse, Bob cortou o antebraço quando se defendeu do balde e eu tirei a camisa para estancar o sangue. – Ele deve ter isso ao hospital e prometeu que vai trazer minha camisa de volta. - OH meu Deus, ele foi ao hospital ? - Eu gostaria de poder me desculpar com ele querida. – Você sabe onde ele mora, vamos a casa dele nos desculpar com os seus pais. - Não foi nada de mais, ele nem reclamou do ferimento. – Eu não sei onde ele mora vó. - Quando ele voltar, a senhora fala com ele. - Espero que ele volte mesmo. – Vamos entrar querida, é hora do lanche. Mais tarde teremos encontro na igreja. Elas entraram com a porta fechando atrás delas.

***

Ram encontrou Luccar dentro da floresta. Eles se aproximaram e Luccar olhava para Ram com um sorriso sarcástico. Enquanto Ram soltava a camisa de Dina do seu braço, Luccar arremessava um cantil com água de Santo Pedro na direção dele.


- O que foi aquilo, perguntou Luccar. – Pensei que você iria mata-la na primeira oportunidade. - Eu quis investigar ate onde ela sabia, respondeu Ram enquanto derramava água de santo Pedro em cima do ferimento. Em poucos segundos, como mágica, o ferimento começou a fechar. As fibras da pele começaram a se aproximar como uma costura invisível. A água de santo Pedro curou o ferimento de Ram. - Por que não deixou que o balde caísse na cabeça dela - Não pensei nisso, respondeu Ram com o ferimento totalmente curado. – O balde foi mais rápido que eu. - É uma garota bonita, não é mesmo? - Ela tirou a camisa só pra ajudar você. Ram ficou olhando para a camisa de Dina em suas mãos. Era macia e estava suja com seu próprio sangue. Realmente a atitude da garota mexeu com os pensamentos dele. Enrolando o tecido com as mãos, Ram o guardou com cuidado no bolso e montou em Tobruk. - Cale a boca, disse Ram se dirigindo a Lucaar. – Vamos voltar para santo Pedro. E os cavalos dispararam para dentro da floresta.

***

Dina estava terminando de se arrumar, ela havia combinado com Anja que iria passar na casa dela para irem juntas ao encontro jovem da igreja. Vó Augusta dessa vez iria ficar em casa. Quando estava lavando a janela, se molhou um pouco e acabou pegando um resfriado, o que era perigoso na idade dela. - Querida, não se esqueça de perguntar onde os pais de Bob moram. – Eu quero me desculpar por hoje. - Tudo bem vovó. – Estou saindo, xauuuuu.


Dina passou pela porta apressadamente e seguiu rua abaixo. Anja provavelmente estaria esperando por ela na porta de casa. Dina se lembrou do endereço que conseguira mais cedo com Paulo, e pretendia combinar com Anja, delas irem juntas na casa desmoronada. Caminhando a passos curtos, Dina observou uma pequena pedrinha rolando na sua frente, ignorou e continuou andando. Mais uma pedrinha rolando, e depois outra. Intrigada ela olhou na direção de onde as pedras estavam sendo arremessadas e um belo rapaz estava parado olhando para ela. - Oi Ric, como eu não percebi você. Falou Dina intrigada, pensando novamente nos paraquedas. – Estou indo encontrar Anja, desse vez você vem comigo para ela ver você. Ric pensou um pouco, e concluiu que não havia problema em conhecer outra garota. - Tudo bem Dina, vamos lá conhecer sua amiga anjo. - É ANJA. – O nome dela é Angélica. Ric deu de ombros concordando e seguiu junto com Dina até a casa da amiga dela. Anja estava em pé balançando freneticamente a mão no cabelo, esperando por ela. - Está atrasada, acusou Anja. – trouxe meus pães de batata, certo?. Enquanto Anja tomava fôlego antes de começar a tagarelar com Dina, ficou absolutamente imóvel. Ric saía por trás de Dina encostando-se na mureta de entrada da porta. Cruzando os braços na frente do peito, deu boa noite a Anja. Calada, olhou Ric da cabeça até os pés. Era um homem lindo, encostado olhando para ela, com aqueles olhos verdes.... - MARAVILHOSOS. - O que ? Perguntaram os dois juntos olhando em direção à Anja. - Nada. – Eu disse que está na hora, o encontro vai começar em quarenta minutos.


Se aproximando da amiga, Anja deu um sorriso torto para Ric e arrastou Dina para um ângulo distante o suficiente para que ela pudesse euforicamente falar. - Onde foi que você encontrou esse gato? Aqueles olhos são realmente de verdade? - Esse é o cara que falei naquela noite, lembra? - Quando eu disse que havia machucado meu joelho. - Ta bom, só esqueceu de mencionar que ele é lindo. – Será que ele tem um irmão? Ric podia ouvir tudo o que as meninas estavam falando. Deus alguns passos mais perto e mexeu com elas. - Eu posso ouvir vocês, sabiam ? No mesmo instante elas pararam de cochichar e posicionaram em frente a ele. - Eu só estava dizendo a Anja que eu conheci você outro dia. – Ela mora aqui na cidade dede que nasceu e parecer não lhe conhecer. Ric ficou calado alguns segundos pensando numa reposta convincente quando um grupo de jovens que ia para o encontro na igreja, passou pela porta da casa de Anja. Dentre eles estavam Lorena e Adan. No mesmo momento Dina e Anja esquecerem completamente de Ric e direcionaram toda sua atenção para Lorena. - Olha só quem está ali parada na porta... A órfã. Debochou Lorena para Adan. - Olha só quem está passando, respondeu Dina. – A princesa vaca da turma. - Não fale desse jeito Dina, é feio ofender as pessoas. - Só se a vaca estivesse aqui. Anja olhou para Dina com expressão seria, mas rapidamente girou a cabeça para Lorena. - quem você chamou de vaca ? - quem você chamou de órfã ?


Adan começou a rir baixinho com as replicas entre as duas e Lorena deu uma leve cotovelada em seu ombro. Então ele se recompôs e estreitou as vistas para Dina e Anja. Ric não pode deixar de notar que Adan iria comprar a briga de Lorena. Avançando um passo colocou-se na frente de Adan. - Eu não acho legal um homem grandinho como você se meter em conversas de meninas. - Você acha é, eu não ligo a mínima para o que você acha. Foi a vez de Adan se aproximar de Ric. - receio que se você insistir em se meter com elas eu vou, ter que me meter com você. - Estou morrendo de Medo cara. - Calma Ric. Disse Dina segurando seu braço. –Ele é um idiota, vamos embora. Adan então partiu para cima de Dina puxando-a com agressividade para fora da varanda da casa de Anja. - Quem é idiota ? O puxão foi tão forte que ela tropeçou duas vezes antes de cair sobre suas mãos e joelhos. Os outros garotos da turma de Lorena começaram a rir de Dina fazendo com que ela fizesse cara de choro. Quando Adan tentou se aproximar novamente sentiu uma mão segurando seu ombro impedindo mais um passo e no segundo que ele virou a cabeça, foi atingido no queixo por um soco de Ric. - Eu não gosto de covardia. – Que tal alguém do seu tamanho, ou um pouco maior? O golpe foi tão forte que Adan cambaleou, mas Ric não o deixou cair no chão, torcendo o braço de Adan até que ele gritasse de dor. - Agora peça desculpas a ela. - Não precisa Ric, já passou. Implorou Dina. - Sim, precisa sim. – PEÇA DESCULPA. – AGORA.


Adan ajoelhado aos pés de Ric, uma mão no chão o outro braço sendo torcido com um golpe de arte marcial não consegui falar nada que fosse diferente de um chiado de dor. - Pare Ric, por favor. – Você vai quebrar o braço dele. - que seja então. - PARE. Gritou Dina. – PARE AGORA OU NÃO VOU MAIS FALAR COM VOCÊ. Ric soltou Adan com tanta força que ele caiu de nariz sobre o chão de terra batida. Lorena correu em direção ao corpo de Adan caído, ajudando-o levantar. A expressão frustrada causada pelo golpe de Ric, fez com que ele se mantivesse de cabeça baixa. - Tire a mão de mim Lorena. Eu posso muito bem me levantar sozinho. O restante do grupo que os acompanhava foi se dispersando vagarosamente em silêncio, Deixando para trás apenas Lorena e Adan. Dina com as mãos em frente a boca, tentando sufocar o choro olhou para Ric aterrorizada com que ele tinha feito. Anja se manteve imóvel o tempo todo, parecendo não acreditar na situação, aquele homem lindo também era muito forte. Adan levantou a cabeça e fixou olhar em Dina e Ric. - vocês um dia vão pagar por isso. - Espero que esteja satisfeita, sua órfã vingativa. Gritou Lorena – Covardes precisam de guarda-costas. Virando as costas para Anja seguiu logo atrás de Adan que segurava o braço torcido com a outra mão. - Por que você fez isso com ele. - Podia ter quebrado o braço dele. - Ele iria ti machucar, eu defendi você dele. - Bem... Dina... Vou entrar enquanto vocês discutem de quem é a culpa. Sussurrou Anja girando nos calcanhares seguindo para dentro da sua casa. - Mas não precisava ter feito aquilo. Que tipo de pessoa é você ? Ric se aproximou de Dina e olhou bem dentro dos olhos dela.


- Sou do tipo que sobrevivi. - É melhor você ir embora, estou atrasada para o encontro jovem na igreja. Dina sussurrou com a cabeça baixa. – Nós podemos conversar outro dia. – Amanha. Ric pareceu concordar com ela, mas continuou calado. Dando um passo para encurtar a distancia, esticou a boca na direção dos lábios Dina, mas ela virou seu o rosto. - Xau Ric. Cerrando os punhos ele apenas deu as costas e andou em direção à entrada da trilha que seguia para a floresta. No mesmo tempo Dina entrou na casa a fim de encontrar com Anja. Tomado de ódio Ric socava todas as arvores que estavam pela frente. Nem Céu parecia estar por perto naquele momento. Sangrando pelos anéis dos punhos ele não parecia se importar, continuando a bater mais forte a cada tronco que surgia na sua frente. Quando já estava bem longe da cidade, floresta à dentro. Ric parou de andar e sentou numa pedra, olhando para a paisagem escura que o cercava puxou um cantil cheio com água de santo Pedro. Bebeu um gole e jogou o restante nos punhos sangrando. À medida que a água caia o ferimento parava de sangrar e as suas mãos ficaram completamente curadas. Saindo da casa de Anja, Dina ainda estava muito abalada com a briga de Ric e Adan. As meninas caminharam juntas a passos sincronizados. - Ei Dina, onde você achou esse guerreiro ninja? - Eu o conheci na noite que machuquei meu joelho. – E você não acreditou, lembra? - Tá certo, agora eu acredito. Mas me conte como o conheceu. – Que força. – Que olhos. – Que lindo. - Ei calma ai, eu vi primeiro. – Digo ele, me achou primeiro. – Não sei de onde nem como ele apareceu, mas na noite que eu saí do psicólogo eu levei um tombo feio e cortei meu joelho. – Ric simplesmente apareceu do nada me oferecendo ajuda. - Apareceu do nada como ? - Com mágica, Como um fantasma ?


Um arrepio subiu pela coluna de Dina quando Anja falou aquela palavra. Fantasmas eram muito comuns na infância de Dina. Foi uma época tensa que e graças a Deus tinha passado. - Não acho que ele seja um fantasma, ainda mais com aqueles olhos verdes. As duas garotas começaram a rir. - Viu como ele defendeu você ? - Ele gosta de você. - Parece que sim. – E eu o mandei embora. - você não fez isso, fez? - Fiz sim, eu não sabia o que fazer... Ai ele chegou mais perto, eu achei que ele iria me beijar de novo e, eu dei XAU pra ele. - Beijar de novo? - Ele já beijou você antes? - Errr beijou. - E você não me conta uma coisa dessas. – Como pode esconder isso de mim. - Eu ia contar pra você, só não tive tempo. – Eu estava pensando que seria mais interessante contar a você outra coisa. - O que pode ser mais interessante que um beijo daquele homem lindo? - O endereço da casa desmoronada, por exemplo. – Eu consegui. Anja ficou calada por apenas um segundo, mas continuou a andar. As duas tagarelaram até a entrada da igreja. O Encontro jovem havia começado há alguns minutos antes, então elas se apressaram.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

Os pensamentos de Ric

8

Continuei

a

caminhar

sozinho

ignorando

completamente

os

chamados de Céu que me seguia um pouco mais distante, sabendo perfeitamente que quando eu estou nervoso, não gosto que fiquem ao meu lado. Depois que a água curou meus ferimentos, após ter socado cada arvore que aparecia na minha frente, eu fiquei pensando no que havia feito. Longos anos longe da sociedade me transformaram em um homem perigoso. Como pude ter perdido a cabeça. Como pude me expor na frente de todas aquelas pessoas, na frente de Dina. O que ela está pensando sobre mim agora. Eu não posso perdê-la, eu não posso ficar longe dela. Eu me sinto sufocado, quando penso que


ela não vai querer me ver nunca mais. O cheiro do cabelo dela ainda está presente nos meus pensamentos ainda posso senti-los entre meus dedos. Desde que mamãe morreu, nunca mais tive contato com outra pessoa como eu tenho com Dina. [Flashback] A vida com meu pai em santo Pedro não era a vida que eu queria ter tido. Todos os dias antes do café da manha nós tínhamos que treinar duro, muito mais forte que o treinamento que tínhamos quando morávamos fora da floresta, na cidade. Mamãe já não possuía o mesmo sorriso, estava sempre com o semblante triste dia após dia. À medida que o tempo passava, meu pai parecia ficar cada vez mais louco e Ram estava ficando mais forte que eu ou Edie juntos. Ram já não falava comigo da mesma forma como ele falava na antiga casa. Mesmo com nossas brigas diárias, por causa das besteiras que eu fazia, ele sempre se aproximava, mas desde que papai prometeu dar sua espada para um único filho, Ram decidiu que a espada tinha que ser dele. Minha mãe fazia de tudo juntar a gente, mas ela não conseguia de jeito nenhum. Eu e meus outros dois irmãos, estávamos ficando distantes um do outro. Nada podia reunir a família. Meu pai era muito arbitrário. Obrigava todo mundo a beber da água de santo Pedro, apesar dele odiar esse nome. Minha mãe foi a única pessoa que ele não forçou a beber, mas eu acho que ele deveria ter forçado.

Talvez se ela tivesse bebido da água de santo Pedro, ela ainda estivesse viva, e aqui comigo. Talvez com minha mãe ao meu lado eu saberia como tratar melhor Dina. Ela merece que eu a trate bem. Ela merece que eu a trate com amor. Mas eu não sei amar, eu não sei estar com uma garota. A única coisa que eu aprendi foi lutar e sobreviver nessa floresta maldita, a qual eu estou condenado a ficar até minha morte.


Eu preciso vê-la, eu preciso estar com ela. Tenho que fazê-la me perdoar, mas eu não sei como vou fazer. Eu não sei como falar com ela, eu não sei como dizer a ela para não se afastar de mim. Dina me olhou como se tivesse medo de mim. Eu não quero que ela tenha medo de mim. Eu sei como é ter medo de alguém, eu tive medo do meu pai, todos os dias que morávamos em santo Pedro. Ele me obrigava a beber da água todos os dias. Ele forçava Edie a beber também, só Ram não era forçado a beber da água, só Ram era o único que não mostrava medo pelo meu pai. Teve momentos que mamãe aparentava estar com medo dele também. Ter medo é uma condição insuportável quando eu era criança, a cada olhar e a cada passo que meu pai dava perto de mim, um arrepio pavoroso subia pelas minhas costas. Quando não estava satisfeito, meu pai nos cortava de propósito só pra ver a água curando de volta. Apesar de a cura ser imediata, a dor que sentíamos com o aço da espada dele era insuportavelmente de morrer. Antes de chegar ao acampamento preciso esfriar minha cabeça e o lago parece ser uma boa ideia. Não imagino alguém do clã de Ram vindo aqui há essa hora. Edie provavelmente deve estar preocupado comigo, mas eu não estou com paciência para ouvi-lo reclamar sobre onde eu estive, ou o que eu fiz com aquele cara. O lago está calmo e a temperatura da água está agradável. Na pedra grande, ali pertinho da margem parece um bom lugar para deixar minhas roupas. Uma das coisas que eu mais gosto aqui nesta floresta maldita é o banho no lago. Nadar sob a luz da lua, absolutamente nu, seria uma coisa que faria meu pai me bater durante uma semana inteira. Mas ele está morto e os mortos não batem em ninguém. Eu poderia trazer Dina para conhecer o lago, pode ser que ela me perdoe. Quem sabe ela até nade comigo. Isso me parece uma boa ideia. Nadar com Dina aqui seria maravilhoso. Está de decidido, vou trazê-la aqui. QUE BARULHO FOI ESSE.... Melhor eu mergulhar e pegar minhas roupas. Minha espada está aqui, vou desembainha-la devagar, sem ruído.


AHHHHHH Céu... É apenas você. Eu podia ter machucado você, meu amigo. Nadar aqui e pensar em Dina me acalmou bastante, mas ainda não estou satisfeito com o que aconteceu. Melhor voltar para o acampamento ou Edie vai me torturar o resto da noite. Se eu chegar em silencio talvez ele não perceba que eu cheguei.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

Fantasmas do passado

9

- Te vejo depois do almoço então, tenho que fazer algumas anotações sobre a festa do solstício. – Por que você não se oferece para organizar junto comigo? - Eu não sou muito boa para organizar festas Anja, eu acabei de chegar na cidade, lembra? - Não esquece que você prometeu ir comigo ver a casa desmoronada. - Como poderia esquecer Dina. – Você comenta comigo a cada cinco minutos. - Certo. Elas saíram da escola juntas abraçadas aos seus cadernos. Estavam tão alegres com os assuntos da festa e da casa desmoronada que esqueceram completamente de Lorena e Adan.


- Ei Dina, reparou como Lorena ficou calada durante toda a aula. – Adan não apareceu na escola hoje, matou aula. - Você tinha que me lembrar disso. – Agora acabou com o resto da minha manhã. Dina preferia não ter lembrado do que aconteceu na noite passada. A lembrança de Ric quase quebrando o braço de Adan a deixava com estomago embrulhado. Nunca tinha presenciado uma briga quando morava na cidade grande e em menos de quinze dias morando na pequena cidade ela havia brigado com Lorena na porta da escola e visto Adan brigar com Ric na porta da casa de Anja. - Vou entrar, Disse Anja mergulhando para dentro de casa. – Mais tarde eu apareço na sua casa. - Vou esperar. Enquanto Dina seguia rua a cima para sua casa, Anja emergiu da porta da casa dela e ficou observando a rua. Estava tudo calmo, mas Anja tinha a impressão de que alguém estava vigiando. Lucaar estava observando Anja a uma boa distancia sem que ela pudesse vê-lo. Desta vez ele não saiu da floresta acompanhando Ram, um impulso que nem mesmo ele podia compreender fez com que uma imensa vontade de ver Anja surgisse em sua mente. Anja não viu nada, estalou os lábios e entrou batendo a porta atrás dela. - Oi Vó, cheguei. Falou Dina entrando em casa como o próprio furação Katrina. - Você conseguiu descobrir quem são os pais daquele rapaz querida? Dina sequer tinha perguntado a alguém sobre os pais de Bob. - Não vó, ninguém conhecia os pais dele. - Não se preocupe, noticia ruim chega rapidinho. - Você esta com fome? - Eu preparei bife com batatas fritas. - Obaaaa, em alguns minutos estarei ai em baixo. Dina havia acabado de sair do banho, ainda estava com seus cabelos molhados, mas não se importando em molhar as suas roupas vestiu


um shortinho jeans combinando com uma bonita blusa branca com um cavalo estampado na frente. O cavalo estampado na blusa era de um tom acinzentado e os olhos estavam ornamentados com paetês azuis. Sua mãe deu a ela de presente e Dina adorava aquela blusa. Calçando tênis cano baixo, Dina correu em direção as escadas que levavam ao primeiro andar da casa. Parando na frente da escada ela olhou para baixo e com um sorriso audacioso, saltou à escada aterrissando na metade dela, entre os degraus. Ainda sorrindo para si mesma, outro salto e estava no andar de baixo. Vó Augusta ouviu o barulho da aterrissagem de Dina na sala. - Querida, você está bem? - Você caiu? - To bem vó. – Onde estão as batatas fritas. Embora a refeição não ter durado muito tempo, as duas permaneceram sentadas conversando. Relembraram o tempo que os pais de Dina eram mais jovens. Eles se conheceram ali na mesma cidade. A mãe de Dina era filha de costureira. Mãe solteira que trabalhava muitas horas na frente da máquina só para poder ter o que comer todos os dias. A conversa sobre o passado dos pais de Dina aproximava as duas, neta e avó. Entretanto, Dina não parava de espiar o relógio. Anja provavelmente bateria na porta a qualquer momento. Dina estava fascinada com a ideia de conhecer o local onde a casa da havia desmoronado, onde a família com três filhos havia sido soterrada viva. Depois de anos como estariam os escombros com ação do tempo. Tudo isso era uma duvida para Dina. Vó Augusta ouve uma batida na porta. Junto à impaciência de Anja por trás dela. Não se sentindo ofendida pela atitude da adolescente, dá espaço para ele entrar com sorriso nos lábios marcados com as linhas da idade. - entre querida, Diana está na cozinha. Anja deslizou da porta de entrada até a porta da cozinha para ver Dina absorta em seus pensamentos.


- Dina, vamos ou não ver a casa? - shhhhh, fale baixo, minha vó proibiu de ir lá. – Vamos dizer que vamos a biblioteca. - Você sabe que eu não gosto de mentir. - Não vamos mentir. – Realmente vamos a biblioteca. - Fazer o que? - Na volta, quero pesquisar sobre as pessoas que moravam lá, deve ter alguma coisa que possa dar mais informações. As duas seguiram para fora da casa e Dina retirou da sua mochila o papel com endereço que Paulo havia lhe dado na ultima sessão. Elas desceram ruas e subiram ruas até pararem na porta de um moinho velho. - Tem certeza que você sabe onde fica esse endereço. Perguntou Dina enquanto secava o suor da testa com a gola da camisa. - Claro que tenho, é no final daquela rua de terra ali. – Minha mãe não quis ajudar. - Enrolou para me falar onde era a casa, mas deixou escapar que ficava logo depois do velho moinho. - Se sua mãe tivesse dito onde ficava a casa, me pouparia tempo e eu não teria que ter prometido um desenho para o doutor Paulo. - Quem é esse Paulo? - O psicólogo da cidade ué. – Você mora aqui há mais tempo que eu e não sabe. - O único psicólogo da cidade é o doutor Cipriano. - Não sei quem é Paulo. – Será que ele se aposentou? - Não importa, vamos logo com isso. Dina seguiu Anja e as duas subiram a rua de terra. Foi uma caminhada longa de 15 minutos a passos cansados. - Será que estamos chegando? - Eu não aguento mais caminhar. - Não vim até aqui para desistir agora que estou tão perto Anja. – Estamos quase no final do morro.


- Se eu soubesse que essa rua levava na subida de um morro, teria calçado um tênis mais confortável. – Essas sandálias estão me matando, meus pés estão imundos. Quando chegaram lá em cima avistaram um grande portão de ferro todo enferrujado. Compondo o portão o muro ainda cercava toda a propriedade. Velho e com vegetação grudada nele, não se podia ver o que realmente o muro cercava. Dina e Anja espicharam os olhos em todas as direções admirando a imensidade que era aquilo tudo. De um lado a descida do morro que terminava na cidade, do outro lado a floresta quase encostando na lateral do muro. Elas se aproximaram do grande portão e Anja observou uma letra entalhada nele. Apesar de todo aquele ferrugem proveniente da ação da chuva e outros fatores do tempo podia-se ler muito bem a letra B. - O que deve ser esse B? perguntou Anja tirando pedrinhas que entraram em sua sandália. - Acho que deve ser a inicial de barão. - O que? - BARÃO. – O dono disso tudo aqui não se chamava barão? - É pode ser. – Como vamos entrar agora. - Pelo portão. Ou você acha que alguém se lembrou de trancar depois que foi embora. – Depois que sepultou toda uma família. Anja deu com ombros e abriu espaço para que Dina avançasse na sua frente. Colocando a mão na maçaneta, deu um leve giro e empurrou de vagar fazendo o portão ceder. Caindo do lado de dentro da propriedade fez um enorme estrondo e os pássaros levantaram voo. As duas levaram um baita susto e giraram suas cabeças em todas as direções pra ver se alguém havia escutado o barulho da queda do portão. - Mas que merda Dina. - Ei, olha o palavreado. – É você quem diz que não devo usar certas palavras. - Desculpa, mas não tinha como eu ficar calada. – Você destruiu o portão, e agora?


- Quem vai reclamar com a gente ? - Não tinha pensado nisso. – Vamos entrar logo antes que você se arrependa. - Merda, já me arrependi. - Olha a boca suja. A duas meninas seguiram para dentro rindo uma da outra. O portão ficou lá no chão. Estava longe, mas elas puderam ver onde era à entrada da casa. Logo depois da entrada do portão podia-se imaginar o que antes havia sido um jardim frontal, no chão uma passadeira feita de pedras achatadas pareciam um grande tapete cinza que levavam até a entrada principal da casa. Nas laterais podia notar que na época o local era destinado às baias dos cavalos. A propriedade não parecia ser uma fazenda, nem mesmo chegava perto de ser um sitio. Mas, era muito grande o espaço físico do lado de fora da casa. Tão grande que cavalos podiam caminhar soltos. À medida que elas se aproximavam da casa uma imagem triste tomou conta do campo de visão de Anja e Dina. Os escombros da casa já eram possíveis de ver. Dina ficou parada ali na frente olhando tudo que estava em volta. Anja caminhava de um lado para outro não sabendo onde colocar o pé para firmar-se parada. Dina viu os restos de degraus de uma escada que levava ao andar de cima, embora estivesse destruído ainda restava uma laje onde se podia andar. Olhando mais para a direita pode ver em baixo de uma coluna uma poltrona ou o que parecia ser uma poltrona, por causa do resto de tecido junto com madeira podre. Plantas cresciam por entre os tijolos e telhas quebrados espalhados pelo chão. Uma ou duas paredes ainda sobreviveram em pé, ou o que sobrou delas. O escombro estava misturado á mobilha velha de madeira estragada e acessórios que adornavam a casa. Até louça podia ser reconhecida no chão. Molduras quebradas também estavam espalhadas por toda parte. A família tinha muitos quadros e perdeu tudo. Em meio a todo aquele passado destruído, Dina e Anja caminharam para dentro pulando cada pedra, cada tijolo e cada móvel quebrado. Passo a passo


conseguiram chegar num cômodo que foi reconhecido imediatamente como a cozinha da casa. O forno artesanal, não havia sido destruído. Construído com pedra e argila parecia ser a única coisa que restou em pé. - Meu Deus. Falou Anja fazendo sinal da cruz. – Realmente não tinha como alguém sobreviver a esse desmoronamento. - Eu fico imaginando se eles morreram na hora ou ficaram agonizando algum tempo. – As crianças e a baronesa estavam na casa. – Minha avó disse que o barão morreu um pouco depois tentando ajudar. - Venha Anja. – Vamos tentar ir lá em cima. - Ficou louca, não tem nada lá em cima. – Só um resto de escada e uma laje que pode desabar a qualquer momento. - Se você não quiser eu vou sozinha. – Lá deveriam ser os quartos. – Eu gostaria de ver. - Eu não vou mesmo. – Irei ficar observando você daqui de baixo. – Se acontecer alguma coisa eu dou cobertura. – Alguém terá que buscar por socorro. Dina transpôs os escombros até chegar na base da escada. - Essa eu não vou poder subir correndo. Falou baixinho em tom que Anja não pode perceber. - tenha cuidado, por favor. Disse Anja com as mãos agarradas ao crucifixo, baixinho sem que Dina pudesse ouvir. Dina colocou o pé no primeiro degrau e nada aconteceu. Tomou coragem e colocou o outro, e mais um, e mais um. Quando estava no ultimo degrau antes de pisar no andar superior viu um objeto brilhando em baixo de uma tábua apodrecida. Escorregou a mão por baixo da tabua e suspendeu um cordão dourado e um pingente com um pequeno retrato. Era a fotografia da baronesa com uma criança no colo. Dina ficou alguns segundos olhando a foto enquanto deu mais um passo para estar completamente no segundo andar da casa. Sentindo um estranho pressentimento, recuou de imediato de volta a escada. No mesmo instante tudo o que sobrou do segundo andar da casa


começou a desabar. Mais que depressa Dina desceu o restante dos degraus como descia em sua casa. Anja lá de baixo gritou o mais alto que pode. - Dina cuidadoooooo. Dina parecendo um gato conseguiu passar pelo ultimo degrau com um salto aterrissando próximo ao caminho que levava de volta a cozinha. Agarrando Anja pela mão as duas ficaram olhando a laje desabar. - Não caiu completamente, veja. – Foi só aquela parte onde você pisou. - É depois da escada está um buraco. – Não tem como eu passar por ali. Anja virou-se assustada para Dina. - Você não pretende voltar ali, certo? - Bem, acho que agora que você comentou, não pretendo mais ir lá mesmo. - O que é isso na sua mão? Perguntou Anja olhando para o cordão enrolado na mão de Dina. - Eu achei lá em cima antes de começar a cair. – Acho que é ouro puro. – É bem pesadinho e tem uma foto da baronesa aqui no pingente. Anja verificou o cordão e viu que atrás do pingente tinha um brasão com a letra B entalhada. A imagem da letra era muito parecida com a imagem que elas virão no portão de ferro caído na entrada da propriedade. - Você não vai ficar com isso Dina. – Você não pode ficar com isso. - Claro que eu não vou ficar com o cordão. – Minha avó disse que tem um cemitério aqui na casa, onde a família foi enterrada. - Sim e daí. Perguntou Anja. - Daí que eu pretendo deixar esse cordão lá. Anja pareceu não acreditar nas palavras de Dina e começou a tagarelar gesticulando com os braços.


- Dina, você é maluca. – Até ai eu sei, mas pegar um cordão e ir atrás de um cemitério é um pouco de mais, até pra você. - Não faz drama Anja. – Vamos lá, por favor. - Chegamos até aqui. – Agora vamos explorar tudo. Anja assentiu e depois balançou a cabeça inúmeras vezes até que elas duas estava do lado de fora, nos fundos da casa desmoronada. Seguiram andando à procura do cemitério onde a família teria sido enterrada pelos empregados da casa. - Como vamos achar ? - Aqui é muito grande. – Pode estar em qualquer lugar. Resmungou Anja. - Vovó disse que estava perto da floresta, ou algo parecido. – Então é lá que devemos começar a procurar. Elas perambularam pelos fundos da propriedade a fim de achar o cemitério. Dina estava determinada. Anja estava completamente fora de sintonia. Caminhando cada vez mais distante da entrada da propriedade, elas se aproximaram dos arredores da floresta. Onde não existia muro dividindo as terras. A vegetação da floresta estava praticamente invadindo a propriedade. Já não se podia definir onde era floresta e onde era propriedade da casa. Em meio a alguns arbustos Dina conseguiu visualizar algo muito parecido com uma lapide. Estava coberta com musgo ou alguma outra planta que ela não sabia qual era. Mas a única certeza que ela tinha era que havia achado o cemitério. - Ali. – Achamos. - Onde? - Ali atrás daqueles galhos. – Vamos lá Anja. – Corra. Dina começou a correr em direção ao cemitério, Anja seguiu logo atrás com passos mais cautelosos. Dina e Anja pararam em frente da lápide. Ficaram em silencio alguns instantes até que Dina girou a cabeça ao redor percebendo outras lápides. - Cinco túmulos. – Cinco pessoas enterradas aqui. Contou Dina, - O barão, a baronesa e os três filhos. Acrescentou Anja. - Ótimo, me ajude a identificar qual é o tumulo da baronesa. – Vou colocar o cordão sobre ele.


As garotas começaram a arrancar os galhos e plantas com as próprias mãos. Insetos começaram a sair das raízes à medida que elas retiravam toda a vegetação que crescia sobre as lápides. Dina, com as mão cordadas por causa das plantas, abaixou a cabeça na base de uma lápide. Começou a retirar a folhagem de baixo para cima e pode perceber que havia um epitáfio. Na placa estava escrito apenas o nome de uma pessoa, possivelmente de um dos membros da família. Dina passou a mão por cima da placa para comprovar que talvez o nome escrito pudesse ser da baronesa. Enquanto Anja com medo dos insetos, limpava outra lápide ao lado de forma mais lenta com todo cuidado para que nenhum deles pulasse em seu cabelo. À medida que Dina limpava a placa conseguia ver letra após letra, e quando aplaca ficou completamente limpa ela viu que era o nome de um homem que estava escrito nela. Seu coração começou a bater mais acelerado, ela ficou totalmente amedrontada e confusa Quando leu o nome. E foi ali que Dina caiu sentada, parecendo não acreditar nas letras que formavam aquele nome. - Richard Baleares. – Não pode ser. Sussurrou baixinho. Subitamente, Dina se levantou e saiu correndo para longe do cemitério, passando por Anja que, sem entender nada correu atrás de Dina. Com os pensamentos confusos e uma lembrança do passado, Dina parou, sem fôlego, próximo a um tronco de arvore seco, caído no chão. Anja conseguindo alcançar Dina, parecendo um pimentão vermelho por causa da corrida. - Dina o que avermelhadas.

ouve?

Perguntou

Anja

com

suas

bochechas

Dina sentou-se no chão de costas viradas para o tronco. Com seu corpo todo tremendo ela abraçou seus joelhos, afundou a cabeça entre eles e começou a chorar. Tudo o que vinha na sua mente eram duas imagens.


O nome na lápide: RICHARD BALEARES e Ric se apresentando na noite em que se beijaram pela primeira vez. ... Eu me chamo Richard Baleares, muito prazer... Anja ainda não estava entendendo a reação de Dina encolhida no chão. - Dina, me diz o que houve. – O que aconteceu? - Você se cortou com um galho seco? - Algum inseto lhe mordeu? Com os lábios trêmulos e a boca completamente seca Dina se esforçou ao máximo para tentar explicar à amiga o que estava acontecendo. - Ele é um fantasma Angélica. – É um espírito. – Isso não pode estar acontecendo comigo novamente. – Não quando meus pais não estão por perto para me ajudar. Anja com os pelos da nuca arrepiados levantou a cabeça achando esquisito o que a amiga estava revelando e com as mão na cintura perguntou impertinentemente. - Quem é fantasma ? - Sobre o que você esta falando ? Dina enxugou as lagrimas com as mãos sujas e tentou explicar melhor à Anja. - Anja, Ric é um fantasma. – Eu vi o nome dele escrito na placa de epitáfio da lápide. RICHARD BALEARES. - Mas o que exatamente Ric tem haver com esse Richard? - Anja acorda. – o nome do Ric é RIHARD BALEARES. – São a mesma pessoa. Anja pensou um momento, coçou a cabeça e respondeu à amiga. - Pensou na possibilidade de um homônimo? - isso acontece muito. - Anja ele é um fantasma. – Acredite. – Quando eu era criança eu podia ver espíritos por ai, você não se lembra? - Sim, claro que eu me lembro sim. – Você até viu o fantasma do falecido da sapataria, ficamos com medo de sair na rua um bom tempo e... – Pera ai... AGORA EU ESTOU COM MEDO. – Ric é um fannnnntasma.


- É que eu estou tentando lhe dizer faz cinco minutos. - VAMOS SAIR DAQUI DINA. – Esse lugar é amaldiçoado. – VAMOS LOGO, ANDA. - Mas e o cordão? - Eu ainda não... - DEIXA ESSA DROGA PRA LÁ. – Vamos embora. – Você quase morreu no desabamento a pouco lá na casa e agora viu a lápide de um fantasma. – Isso é um aviso de Deus. – Vamos. Enquanto Dina se levantava, Anja começou a correr. Em pouco tempo as duas estavam alcançando o grande portão de ferro caído no chão. Sem olhar para trás elas saltaram sobre o portão como um cavalo de equitação salta o obstáculo na prova. Elas só pararam de correr quando a inclinação da ladeira de terra tornou-se perigosa. Uma queda lá de cima não faria bem a saúde de nenhuma das duas. Já estava quase anoitecendo quando as duas estavam no centro da pequena cidade novamente. - E agora o que faremos? Perguntou Anja. - Não sei de você. – Eu vou continuar caminhando, por que não aguento mais correr. – Acho que nenhum fantasma vai perseguir a gente agora. - Eu sei muito bem para onde vou. Afirmou Anja. - Onde? - Para a igreja. – Onde mais? - Anja o que especificamente você vai fazer na igreja? Perguntou Dina olhando para Anja. - Eu vou orar pela alma de Ric ou Richard seja lá quem ele seja. – Não quero um fantasma puxando meu pé por ter violado seu leito de morte. – Muito menos enquanto eu durmo. - Melhor não comentar isso com ninguém Anja. – Não queremos fazer alarde e não queremos que as pessoas nos chamem de loucas. - certo, vou orar em pensamento. – Xau Dina, nos vemos amanha. – Vá pra casa, não fique na rua.


- Como se eu tivesse com quem ficar na rua. Dina resmungou baixinho enquanto Anja andava depressa em direção à igreja. Dina se dirigiu a passos rápidos em direção a sua casa, ao contrario de Anja muito cautelosa e zelosa, Dina não parava de penar no nome da lapide. RICHARD BALEARES. Quando Anja estava quase na porta de igreja reparou um vulto escuro na construção que ficava mesma rua, um pouco mais adiante. Anja estremeceu quando o vulto se movimentou em direção a ela. A menina de cabelos louros congelou ali mesmo. À medida que o vulto se aproximava, a forma de uma figura masculina surgia e a cada passo mais próximo, um homem vestido de preto desde os calçados até a blusa gola V, aparecia diante de Anja. - Boa noite moça? Cumprimentou Luccar Anja permaneceu congelada, muda. - Desculpe se eu lhe assustei. – Não era minha intenção. Respirando fundo e levando as mãos por entre as mechas louras assentando os fios rebeldes. Anja conseguiu soltar uma palavra. - Oi. - Você está tão assustada assim por minha causa? Um pouco mais relaxada, a loura conseguiu falar com o estranho. - Na verdade eu estava muito assustada mesmo. – Ainda estou. – Não queria ver um fantasma, digo espírito ahhhh deixa pra lá. - Fantasma? - Espírito? Perguntou Lucaar intrigado com a beleza da garota. Anja não estava tão arrumada e suas sandálias estavam muito sujas por causa da caminhada sobre terra com Dina até a casa desmoronada. Mas Lucaar fixou sua atenção nas madeixas louras quase cacheadas que escorriam até a metade das costas dela. A pele branca queimada de sol combinava com os olhos cor de mel que Anja exibia em seu rosto.


- Desculpe, mas eu não tenho tempo agora. - Preciso urgentemente rezar por uma pobre alma. Falou Anja em tom de desabafo. - Tudo bem eu não pretendo atrasar a senhorita. – A propósito. Acrescentou Luccar. - O que? Perguntou Anja olhando para ele enquanto subia o primeiro degrau da igreja. - Reze também pela minha alma moça. Anja ficou parada olhando para o rapaz que virou em direção a escuridão da rua e caminhou até que ela não pudesse mais vê-lo. Soltando um suspiro profundo ela virou em direção à porta da igreja e mergulhou para dentro. Enquanto Anja já estava segura dentro da igreja, Dina ainda perambulava pelas ruas. Estava tão desavisada que tomou o caminho mais longo até sua casa. Ela caminhava numa calçada com praticamente nenhuma iluminação. Beirando a calçada a escuridão da floresta fazia companhia para ela que não estava prestando atenção em nada que estivesse ao seu lado. Quando se deu conta que estava andando para mais distante da sua casa, Dina avistou o antigo chafariz em que ela e Ric haviam se beijado. Um arrepio eriçou os pelos do braço dela e imediatamente fez com que ela tomasse o caminho direto para casa. Tudo que ela menos queria que acontecesse naquele momento era ver um fantasma. Quando criança Dina conseguia ver coisas que outras pessoas não viam. Espíritos de gente que ela não conhecia apareciam para ela. Durante o dia e especialmente à noite. Quanto os pais de Dina, após leva-la em uma serie de médicos de varias especialidades, finalmente acreditaram nas coisas que ela falava e decidiram levar a menina em um centro espírita para falar com uma Yalorixá. Era um passado que ela não queria lembrar, não quando estava passando pela mesma experiência novamente. Decidida deixar toda a historia da casa desmoronada de lado como sua avó havia prevenido, juntamente com a possibilidade de ter visto o fantasma de um dos filhos de sua ex-aluna. Dina começou a colocar os pensamentos em ordem quando topou de frente com Ric.


O susto foi tão grande que ela soltou um grito forte e os pássaros que estavam dormindo nos galhos das arvores da floresta ali do lado, começaram a voar de um lado para outro. - Calma Dina. – O que houve? perguntou Ric tranquilamente. - Sai daqui. – Nãoooooooo de novo não. – Gritou Dina fazendo sinal enxotando Ric com as mãos. - Dina, se é sobre ontem, me desculpe. – Eu não queria machucar aquela cara. Dina caminhou para trás dobrando os joelhos no chão. - ME DEIXE EM PAZ. – Pai nosso, que estais no céu... - Dina, agora você esta me deixando preocupado. – Quer se levantar, por favor. - Não toque em mim. – Fantasmas não tocam nas pessoas, só as assustam. – fantasmas não beijam. Falou Dina em tom de desespero com a cabeça mergulhada entre as mãos. - Eu não sou um fantasma. No mesmo momento Dina levantou a cabeça. - Como? - Dina, eu sou um idiota. – Mas fantasma eu não sou. Limpando seus joelhos enquanto levantava, Dina olhou bem dentro dos olhos de Ric. Chegou mais perto e pode ver que o verde daqueles olhos sedutores estavam lá bem vivos e no mesmo instante constatou que ele não era de fato, um fantasma. - Quem é você? - Se você não é um fantasma me diga quem é você. - Eu sou Richard, não se lembra? - Falei com você outro dia. - MENTIROSO. – Você não pode ser quem diz que é. - Me diga a verdade. – AGORA. - Eu estou dizendo a verdade. – sobre o que você está me acusando? Ric tentou se aproximar de Dina, mas ela recuava a cada passo que ele movia na direção dela.


- não me toque. – Eu vi o que você fez com Adan ontem. – Não chegue perto de mim. - Eu jamais machucaria você Dina. – Eu vim aqui hoje exatamente para pedir desculpas sobre o que eu fiz ontem. - Me diga quem é você. – O que é você? - Um bandido, estelionatário ladrão de bancos ? - Me diga a verdade. Ric ficou parado alguns segundos antes de segurar com as duas mãos nos ombros de Dina que se encolheu tentando se soltar do aperto. - Dina eu sou Richard. – Você tem que acreditar em mim. - Eu não posso acreditar em você, me solta. - Você não é Richard. - Por que você acha isso. - Richard Baleares está morto. Naquele momento quem congelou foi Ric. Soltando imediatamente Ric abaixou as mãos e fixou os olhos verdes em direção à boca de Dina. - O que você está dizendo? - Eu não estou morto, eu estou vivo bem aqui na sua frente. – Você falou alguma coisa sobre mim para alguém? - Alguém disse que eu estava morto. - Quem faz perguntas aqui sou eu. – Richard Baleares está morto. – Eu vi o tumulo dele hoje à tarde. A expressão de Ric mudou para um semblante triste misturado a uma raiva selvagem e Dina pode ver que os olhos dele estavam brilhando por causa das lagrimas que relutavam em sair. - Eu não estou morto. Falou Ric em tom baixo. – Por muitas vezes eu desejei estar morto. – Por muitas vezes eu quis morrer, mas eu estou vivo infelizmente. - Eu não acredito em você. - De que túmulo você esta falando Dina? - O Tumulo de RICHARD BALEARES e do resto da família dele. – Todos os túmulos estão lá. – Os cinco lápides correspondentes a toda à família. - A família? Perguntou Ric parecendo não acreditar no que ela dizia.


- Exatamente, a família. – O barão, a baronesa e os três filhos mortos no desmoronamento da casa. - Desmoronamento? A minha casa desmoronou? Ric engolia a seco cada palavra pronunciada. - Sua casa? perguntou Dina descrente. – Está mentindo de novo. Ric caminhou ate o velho chafariz e sentou no degrau da base, Dina o seguiu e ficou em pé parada na frente dele. - Dina, onde foi que você viu essa casa? - Subindo á rua depois do velho moinho. – Tudo aqui parece ser velho. - Não pode ser. Murmurou Ric. – Minha casa não caiu, ela estava em pé quando nós saímos. – Você viu a casa errada. - Eu vi a casa certa. – Tinha um enorme portão de ferro na entrada com a letra B entalhada nele. Dina já parecia estar mais calma. – E eu achei isso lá dentro. Ela mostrou o cordão com o pingente à Ric. Ric avaliou o cordão e tomou da mão de Dina, a fazendo ficar novamente nervosa. - Essa é minha mãe Dina. – Onde você encontrou isso, foi meu pai quem deu a ela. - Estava no andar de cima... - Nos escombros. Ric ficou olhando fixo para o pingente, Dina não tinha certeza, mas podia jurar que ele estava chorando. Comovida com a reação de Ric, ela sentou-se ao seu lado. - E esse no colo dela sou eu. Dina parecia não acreditar no que estava ouvindo, era muita informação para processar depois do susto mais cedo no pequeno cemitério. - me conte a verdade Ric. – Se você quer que eu acredite em você, precisa me contar toda a verdade. - Agora nem mesmo eu sei o que é verdade agora Dina. – Só sei até a parte que saímos da casa durante a noite. – Durante a tempestade.


Na noite da tempestade, quando eu tinha sete anos, meu pai ordenou que nossa família fizesse as malas. Minha mãe estava apavorada, eu e meus irmãos também. Saímos no meio da noite em uma pequena caravana com as empregadas de minha mãe e alguns cavalos. Meu pai levou a gente para dentro da floresta e nos obrigou a morar lá. Nós nunca mais pudemos sair da floresta desde então. - Eu não consigo acreditar em você, mas eu quero acreditar. – è difícil acreditar quando se tem uma prova tão real... - quando se tem cinco túmulos. Ric parou de olhar para o pingente com a foto da mãe e olhou serio para Dina. Ela deu um pequeno passo se afastando com medo daqueles olhos verdes que não estavam nem um pouco sedutores. Ric puxou um cantil de água pendurado em suas costas e o colocou em cima da mureta do chafariz. Deu um passo na frente de Dina e sacou uma faca de selva com tamanho suficiente para deixa a garota apavorada. - Calma Ric, o que você vai fazer com essa faca. - Você dá mais valor a provas que palavras não é? - Eu vou lhe dar a prova real que você deseja. Ric levantou a faca apontando na direção de Dina. Ela fechou os olhos e colocou as mãos na frente bloqueando a distancia entre eles tentando se defender. Enquanto ele empunhava a faca em sua direção, Dina soltou um grito sufocado. - Não por favorrrrrrr. Com um golpe certeiro Ric passou a lamina cortando a pele da sua coxa fazendo o sangue escorrer pela sua perna. Dina piscou varias vezes tentando compreender a atitude dele. - O que você fez? - Por que você fez isso? Falou Dinas chorando com as mãos nos cabelos. Ric segurou Dina pelo braço e puxou perto dele. Ele tentou sair do aperto das mãos dele, mas não conseguiu. - Me solta, me deixa em paz. – Seu LOUCO.


Enquanto Ric segurava forte em Dina que se debatia para soltar, alcançou o cantil que ele havia deixado no chafariz e derramou água de santo Pedro sobre o ferimento. - Aqui está sua prova Dina. Dina parou de tentar escapar das mãos de Ric e ficou imóvel quando viu que o ferimento parou de sangrar no mesmo instante que a água tocou a pele dele. - Eu não acredito. – isso não é possível. – Ric você esta trapaceando. - veja com seus próprios olhos então. Dina se aproximou de Ric e se abaixou na altura do ferimento onde a lâmina passou. Alisando as mãos pela coxa dele por cima da calça que ele usava, ela enfiou os polegares dentro do buraco no tecido cortado junto com a pele e rasgou toda a perna da calça de Ric revelando o ferimento. - A sua pele esta curando bem diante dos meus olhos. Disse Dina. Ela podia ver a carne vermelha com uma brecha no meio se fechando das extremidades para o meio. Ric derramava mais água e mais o corte se fechava. - Ric essa água por acaso é... - Água de santo Pedro. - Sim Dina. - Então a lenda é verdadeira. – Termine de me contar o resto da sua historia. Meu pai era o barão e minha mãe era a baronesa. Eu sou terceiro filho, na minha frente vieram Edie e Ram. Como eu disse meu pai obrigou toda a família a viver na floresta depois que ele descobriu a água que cura. Meu pai saiu em expedição para procurar a fonte da água acreditando que ela existia. Meu pai começou a ficar louco e nunca mais me deixou ou qualquer um de nossa família sair da floresta. Ele temia que nós pudéssemos morrer se caso bebêssemos de oura fonte de água. Então depois que minha família abandonou a casa nunca pode voltar. - isso e tudo que eu sei Dina. – A parte que você me contou sobre a casa ter desmoronado ou os túmulos eu juro que não sabia.


- Como você não sabia? - Eu não sabia até este momento. – Como você ficou sabendo sobre a casa ou os túmulos. - essa é a lenda aqui da cidade. - Cidade tem uma lenda? perguntou Ric com olhos incrédulos. - Sim, a lenda de santo Pedro que descobriu a água milagrosa. A água de santo Pedro. - Foi meu pai que descobriu a fonte da água Dina, e não esse Pedro. Pedro trabalhou para meu pai na Europa e depois de muitos anos ele veio morar aqui na cidade e meu pai arrumou emprego para ele na escola. Eu não sei o que ele fazia para meu pai na Europa, mas aqui ele era professor. Ele estava na expedição com meu pai, ele ajudou meu pai a voltar pra cidade depois que ele foi curado depois que caiu da pedra. Mas ele brigaram por algum motivo e logo em seguida Pedro morreu. Minha mãe me contou isso. Minha mãe morreu na floresta pelo veneno de uma cobra. Ela esta enterrada na floresta, perto da na aldeia. Meu pai também morreu na floresta, não sei onde ele esta enterrado, mas posso garantir que ele não esta no sob o tumulo na nossa antiga casa. - Que aldeia você esta falando Ric? - Aldeia de santo Pedro, era assim que meu pai chamava. – eu não fazia ideia que era o mesmo Pedro da lenda da cidade. - Por que seu pai não contou sobre a lenda ou deixou vocês voltarem pra cidade ? - meu pai era insano Dina. – Ele me obrigava a beber essa droga de água todos os dias. – Ele me cortava todos os dias só pra ver a água curando, era o prazer dele. – Eu nunca mais pude ir a escola ou ter amigos. – Eu nunca pude conhecer uma garota... – Como eu conheci você. “Coitado”. Pensou Dina. Ele era torturado pelo próprio pai. Ric sentou novamente, mas dessa vez na mureta do chafariz. Dinda sentou ao seu lado. Eles permaneceram silenciosos, olhando para o céu azul escuro que a noite apresentava.


- Me fale sobre essa lenda Dina. – Por favor, me fale sobre a minha casa. Dina começou a revelar toda historia que ela acumulou desde que chegou à cidade para morar definitivamente. A noite estava muito calma e era possível escutar os sons dos animais enquanto ela falava. Ric a ouvia atentamente e de vez em quando virava a cabeça e passava a mão sobre os olhos enxugando lágrimas. - E isso é tudo que eu sei Ric. – Minha avó não me contou mais nada e o meu psicólogo também não abriu mais a boca pra falar nesse assunto. - Sempre que podia eu dava minhas escapulidas nos arredores da cidade, mas nunca me passou pela cabeça falar com ninguém. – Por isso eu nunca soube dessa lenda. - Por que você nunca voltou na sua antiga casa Ric? - Está morando tão perto. - Eu não tive coragem de aparecer por lá. – Tive medo de que alguém ainda estivesse morando na casa e poderia me reconhecer. - Mas você era o único que não sabia de nada? - Alguém mais? Seus irmãos talvez. - Não meus irmão não poderiam ... Saber ... De ... Nada. Ric respondeu picando as palavras por se dar conta de um único detalhe que ele havia esquecido. Na noite em que eles saíram às pressas de casa, um de seus irmãos parecia estar ciente das coisas que estavam acontecendo. - Ram sabia Dina. - Quem sabia? - Ram sabia o tempo todo. – Ele apoiava meu pai o tempo todo. Mesmo depois que fomos morar em santo Pedro ele sempre mostrou muita segurança. - Ric, quem é esse tal Ram? - É meu irmão mais velho. – Ele também está vivo e ainda vive em santo Pedro.


Ric deixou Dina no chafariz e dirigiu-se para perto da floresta. CĂŠu apareceu no mesmo instante que escutou seu assobio. - aonde vocĂŞ vai Ric. - Lidar com Ram.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

Um banho no Lago 10

Depois

que Ric entrou na floresta Dina voltou para casa um pouco

mais aliviada por ter descoberto toda a verdade, ou pelo menos uma parte dela. Decidida a não contar nada à sua avó, a garota subiu direto para o quarto sem jantar. No seu quarto enquanto ela olhava através da janela, pensava na historia do rapaz. Na floresta, Ric fazia Céu galopar irresponsavelmente por entre as árvores. Ele estava disposto a confrontar Ram, para saber o resto da verdade. Céu saltou por cima de alguns troncos de arvores aterrissando na estrada ainda dentro da floresta. Fazia muito tempo que ele não passava por aquele caminho que um dia ele havia decidido nunca mais passar. A estrada estava livre e Céu pode galopar com mais velocidade. À medida que Céu galopava avançando para o final da estrada Ric ficava mais determinado. O cavalo parou quando a estrada encontrou-se sem saída. Ric passou a mão em sua espada que estava atrelada aos arreios de Céu. Eles permaneceram imóveis olhando


para o paredão de galhos e troncos que se formavam no final da estrada. Outro rapaz da idade de Ric surgiu por trás do paredão empunhando uma espada e logo em seguida outro emergiu do mesmo lugar. Os dois rapazes vestidos de preto, lado a lado, com suas espadas olhavam para Ric. - Aqui é proibido. Alertou um dos rapazes em voz de comando. – Você não pode passar por aqui. - Não me diga o que eu posso ou não fazer. Respondeu Ric com o polegar afastando sua espada da bainha. - A aldeia é proibida para você. – Temos ordens para não deixar ninguém entrar. - Então vamos resolver isso do jeito difícil. Desmontando de Céu, ele desembainhou a espada por completo e ergueu de forma ofensiva fazendo os dois rapazes se separarem. Ric começou a duelar sozinho contra os dois. Mesmo estando em menor numero, Ric era muito bom. Todo o treinamento de guerreiro que ele pode aprender com o pai e praticar os seus irmãos foi superior à técnica dos rapazes que não conseguiram impedir Ric de usar a lamina da sua espada contra eles. Um terceiro rapaz, bem mais jovem emergiu do paredão e pode ver os corpos dos outros dois caídos no chão enquanto Ric limpava o sangue da lamina da sua espada. O rapazinho foi percebido por Ric e na tentativa de voltar para dentro do paredão foi agarrado por Ric. O pânico nos olhos do garoto não impediu que Ric estocasse sua faca de selva na clavícula dele. Um grito de dor ecoou pelas arvores da floresta enquanto o sangue descia pelo peito dele. - Você vai dar um recado para ele. Falou Ric ao garoto que chorava de dor. – Diga ao meu irmão que ele vai ter que me dar algumas respostas. O garoto ainda chorava. – Diga que ser for preciso eu passarei por aqui e irei buscá-lo em Santo Pedro ou em qualquer inferno que ele esteja. Ric soltou o garoto ainda sangrando e permitiu que ele mergulhasse através do paredão. Ele tinha absoluta certeza que o recado seria dado a Ram. Alguns minutos depois que o garoto sumiu pelo paredão


de troncos, galhos e musgos, Céu se aproximou. Ric ainda com expressões de ódio no rosto montou e galopou em direção ao acampamento do refugio. Quando Céu parou no acampamento somente Edie estava em frente à fogueira, os outros já se encontravam em suas pequenas cabanas de um único cômodo. Edie estava pensativo quando Ric se aproximou e sentou-se ao seu lado. A chama amarela do fogo iluminava os dois. - Eu matei dois membros do clã de Ram hoje. – Antes de vir para o refugio. - Você o que? Perguntou Edie virando-se de frente para Ric. – Eles atacaram você? - Não. – Eu os ataquei. Respondeu Ric singularmente. – Enviei um recado para Ram. Quero falar com ele. - Como sempre o pequeno Ric ainda é o irresponsável da família. Disse Edie. - Nossa casa esta no chão Edie, eles derrubaram ela. Ric falou. – Eles colocaram túmulos com nossos nomes. – Ele fingiu que morremos. - Ric você está delirando ? - Tomou sol de mais. - Dina viu nossa casa desmoronada Edie. – Ela viu os túmulos. - O que você contou para essa garota Ric? - Não venha me dizer que você contou para ela sobre nós? - Sobre a água. - Não contei nada Edie. Ela descobriu sozinha. – Você sabia que essa cidade tem uma lenda sobre aquele cara? - Que lenda Ric? - Que cara? - Aquele homem que trabalhava pro nosso pai, que dava aula na escola. – Professor Pedro. – A cidade acha que foi ele quem descobriu a fonte milagrosa. – Esclareceu Ric ao irmão. – O professor morreu e tornou-se santo para a cidade. – A água milagrosa é chamada de AGUA DE SANTO PEDRO. - Santo Pedro? Edie perguntou curiosamente. – Mesmo nome que papai deu a aldeia?


- Sim. - Isso mesmo. Ric acenando com a cabeça. - Pensei que papai só estava fazendo uma homenagem ao seu exempregado. Concluiu Edie. – Já que ele ajudou a encontrar a fonte milagrosa e a construir a aldeia. Ric olhava para as chamas amareladas do fogo, Edie olhava para ele com traços melancólicos e ao mesmo tempo curiosos quando afundou a mão no bolso e puxou a joia de ouro que Dina havia encontrado na antiga casa deles. Edie pegou a joia e com ela o pingente com o retrato da mãe. Seus olhos igualmente verdes como do irmão brilharam contrastando com a iluminação das chamas. - É a mamãe Ric. Reconheceu Edie. - É ela mesma aqui na foto e você no colo dela. - Eu não me lembrava dela, mas quando vi esse retato reconheci imediatamente Edie. – Ela estava tão bonita. - Me conte o que você sabe Ric. Ric começou a contar a mesma historia que Dina havia contado antes. As chamas flamejavam em tons amarelados contrastando com a pele dos dois durante a conversa. Ric falou sobre a lenda da água que a cidade acreditava, falou sobre o professor Pedro ser uma pessoa querida, falou sobre a historia do desmoronamento da casa e dos túmulos no quintal dos fundos. Edie ouviu tudo atentamente. - Anos se passaram e só agora ficamos sabendo dessa versão da historia. – Por que você acha que papai fez isso Ric. - Por que ele era um insano covarde, Edie. – Aposto que foi ele quem mandou derrubar a casa. – Não seria possível outra pessoa fazer isso. - Não quero mais falar nesse assunto agora. Falou Edie. – Preciso dormir e pensar no que você me falou. – Melhor você dormir também. – Essa Dina é de confiança ? - Ela não vai falar a ninguém sobre a gente ? - Claro que não Edie. – Eu confio em Dina. – Vou deitar e tentar dormir. – Amanha vai ser um dia difícil. – Ele virá até nós.


Quando o sinal tocou pela manha todos os alunos se direcionaram para suas salas de aula. Dina e anja passaram por Lorena e sentaram nos mesmos lugares de sempre. - Então Dina. Perguntou Anja. – O Ric já é mais um fantasma. – A água curou mesmo a ferida dele ? - Não foi um truque mágico. - Não Anja foi como um milagre. – Você deveria ter visto. – A pele dele fechando à medida que ele derramava a água sobre ela. - MENINAS, VAMOS PRESTAR ATENÇÃO NA AULA POR FAVOR. Pediu a professora de biologia. - A lenda é verdadeira mesmo. Sussurrou Anja. – Não são boatos. - Sim, pelo que eu vi ate agora é verdadeira. CLASSE, VAMOS FAZER UM TRABALHO SOBRE BOTANICA E VAMOS FAZER A PESQUISA NA FLORESTA. “AULA IN NATURA”. FORMEM TRIOS. - Ah droga, trios? falou Dina. – Podia ser duplas. – Quem vamos chamar pra ficar com a agente. - Posso ficar com vocês no grupo? perguntou uma menina muito doce que sentava duas cadeiras ao lado. - Errr pode Carla, fique com a agente. Respondeu Anja olhando para Dina que assentiu com a cabeça. CLASSE, VAMOS COMEÇAR A PESQUISA DEPOIS DE AMANHA. Adan e Lorena não conseguiram achar uma terceira pessoa para formar o trio. Então eles permaneceram em dupla. - O que você vai fazer depois da aula Adan? perguntou Lorena. - Vou me matricular numa escola de defesa pessoal, quer vir comigo? - Eu não gosto de lutar, mas acho que você precisa mesmo. – Depois daquele dia... - Não vamos falar sobre aquele dia Lorena. – É exatamente por isso que eu vou aprender a me defender.


CLASSE, ABRAM O LIVRO NA PAGINA 87. ESSAS VÃO AS PLANTAS QUE DEVEM PESQUISAR NA FLORESTA. COMECEM A TRABALHAR. - Dina, eu vou encomendar meu vestido hoje à tarde, para a comemoração do Solstício. – Vamos juntas? - Eu não posso tenho psicólogo. Respondeu Dina com cara de desdenho. Naquela mesma manha bem cedo, Edie acordou antes de todo mundo e saiu em silencio com seu cavalo. Ele foi diretamente para a fonte da água de santo Pedro, sabia que encontraria o clã de Ram naquele horário. Foi exatamente isso que aconteceu. Tão logo Edie chegou na ponte Ram pode vê-lo. Montado em Tobruk, Ram se aproximou de Edie. Os dois estavam tensos e preparados para lutar se fosse preciso. - Você sabe o que ele fez noite passada. Falou Ram se dirigindo a Edie. – Ele matou dois dos meus vigilantes e feriu um garoto. – Eu não vou tolerar isso. - Eu sei. – Mas não foi por este motivo que eu estou aqui. – Eu sei sobre nossa antiga casa, sobre o cemitério falso nos fundos da propriedade Baleares. – Ric sabe também. - Então está explicado por que o nosso caçula teve um ataque existencial. – E a forma que ele encontrou, foi matar meus homens. Bem típico dele mesmo. - Você sabia. Afirmou Edie. - Como você acha que as pessoas não iriam procurar a gente? - papai teve que encontrar um jeito de ninguém vir atrás de nós. - Você sabia o tempo todo. Reafirmou Edie – Você nunca contou isso pra gente. – Nem mesmo depois que eles morreram. - Vocês tinham a cabeça muito fechada para entender as razoes de nosso pai. Disse Ram. – Vocês não iam cooperar. - Nós NUNCA iríamos cooperar com aquele doido. – Vejo que ele não era o único doido da família.


- Se nossa mãe estivesse viva, falou Edie. – Ela teria morrido de desgosto. – Você era filho dela também. Você devia ter respeitado ela. - Não coloque nossa mãe no meio da sua fraqueza. - Você é louco Ram. – Tão louco quanto nosso pai foi. - Ele vai pagar por ter matado meus homens. - Não se aproxime do Ric. – Estou recomendando que não vá ser bom para sua saúde que você fizer alguma coisa contra ele. Ram não falou mais nada à partir dali. Puxou as rédeas de Tobruk e virou de volta partindo com seu clã para longe da ponte. Edie retornou sumindo na floresta. O sinal de saída tocou e Anja, Dina e Carla se dirigiram para o portão. No caminho toparam com Lorena e Adan. Os cinco ficaram se olhando alguns segundos e Adan deu a primeira quebra de silencio. - Xau Lorena. Disse ele. – Depois nos falamos. Lorena com seus cabelos seguros por um impecável rabo de cavalo assentiu com a cabeça e olhou para as três. Dina enrijeceu o corpo esperando uma resposta malcriada de Lorena, mas ao invés disso, ela apenas olhou-a de cima em baixo girou nos calcanhares e atravessou o portão de saída da escola. - UFA! – Pensei que ela iria puxar outra briga. Desabafou Anja. - Por que a Lorena é implica com vocês? Perguntou Carla. - Porque ela é uma vaca insuportável. Respondeu Dina. – Vamos embora antes que ela resolva voltar. As três meninas saíram rindo pelo portão da escola, Anja e Dina tomaram uma direção oposta de Carla. A menina se despediu e caminhou em direção em sua casa. - Acho que a Carla é legal. Anja começou a tagarelar. – Pode ser que ela seja uma peça fundamental no nosso grupo de biologia. – Será que ela vai à comemoração do Solstício? – Com quem será que ela vai? Anja falava e Dina olhava para o chão enquanto caminhava. Estava completamente, isoladamente imersa em seus pensamentos. Tudo


era uma grande novidade para ela... Sobre a água, sobre a lenda, sobre a casa desmoronada... Sobre Ric. - Dina você escutou alguma palavra que eu disse? - o que? - O que você acha da Carla? – Eu perguntei três vezes. Dina ate aquele dia nunca havia reparado direito em Carla. Era uma menina calma para falar e parecia estar sempre disposta em ouvir mais que comentar. Era da mesma idade de Dina, tinha cabelos crespos, castanhos. Olhos grandes em tom castanho como seus cabelos, mas seus lábios eram enormes, parecia uma longa estrada de curva bem sinuosa. - Eu acho que ela deve ser legal. Respondeu Dina finalmente. - Xau Dina. – Vou fazer a encomenda do meu vestido. – Você deveria fazer o seu, pode não ter mais tempo para a costureira aprontar se ficar em cima da hora. - Xau Anja, eu tenho que ir ao psicólogo hoje à tardinha. De tarde Dina caminhou pelas ruas em direção ao consultório do senhor Paulo. A secretaria informou Dina que ele não estava. - Como assim ele não veio hoje? – Ele nunca falta. - Bem... Ele não aparece por aqui desde ontem. – Não telefonou e não deu mais noticia. - Ele sumiu? - Não tem necessidade de dizer que ele sumiu. – Seria imprudente. – Vou remarcar você para outro dia. - Ok. Respondeu Dina. Ela saiu com uma sensação estranha na cabeça. Não era uma atitude comum de Paulo sumir assim. Ele nunca havia faltado uma sessão com ela. “Bem, já que não tenho psicólogo vou ate a casa desmoronada novamente. Pensou”. Se apressando pelas ruas em direção aos limites da cidade, quando ela estava quase chegando próximo ao velho moinho avistou Lorena e Adan juntos de novo. Dina estava sozinha e temeu que eles dois


fizessem alguma coisa contra ela. Desta vez Ric não estaria ali para defendê-la. Dina se escondeu atrás de um canteiro de plantas, era alto o suficiente para ela não ser vista enquanto os dois passavam pela outra calçada tranquilamente. - Adan, você tem certeza que vai se matricular nas aulas de defesa pessoal? Perguntou Lorena incrédula. - Claro que vou. – Agora mesmo. Eles pararam em frente ao um estúdio de dança e artes marciais. A aparência do imóvel era num estilo antigo com os tijolos aparecendo em alguns ângulos. Adan entrou e Lorena continuou caminhando logo após despedir dele. Dina esperou que Lorena estivesse numa distancia consideravelmente segura para sair de trás do canteiro e seguir com seu objetivo na casa desmoronada. Lorena continuou caminhando tranquilamente quando dobrou a esquina esbarrou num homem alto franzino com um par de óculos enormes. Por causa do encontro ela relaxou os braços e deixou cair o livro da escola. O homem abaixou imediatamente para pegar o livro no chão e entrega-lo a Lorena. - me desculpe senhorita. - Eu estava distraída. – E você apareceu do nada. Quando o homem estava com o livro de Lorena em mãos, percebeu que ela estudava na escola da cidade. Ficou parado um instante olhando para Lorena. - Você estuda naquela escola indo em direção à igreja? Perguntou o homem acomodando os enormes óculos no nariz. - Sim. – Por quê? - Já lecionei lá. – Mas isso foi há muitos anos. – você deveria ser uma criancinha. - É mesmo? – Desdenhou Lorena. - Qual matéria?


- Eu acho que conheço a senhorita de algum lugar. – qual seu nome? - Veiga, Lorena Veiga. - Você era filha do J.J? – perguntou o homem. - Como você sabe que ele morreu? O homem pronunciava as palavras em tom de melodia para Lorena. - Eu conheci seu pai. - respondeu. – Um grande homem. - Morreu na expedição em busca da água de santo Pedro. - A maldita água milagrosa. Exclamou Lorena com raiva nas suas palavras. – Se ele não tivesse partido nessa expedição maldita ele ainda estaria vivo. - meus pêsames senhorita. – Vou indo. – A gente se vê pela cidade. - xauxinho... Respondeu Lorena fazendo a mesma cara de desdenho que ela sempre fazia para as pessoas. Enquanto Lorena virava as costas em direção a sua casa, Paulo seguiu por outro caminho andando sorridente e despreocupado. “Consegui chegar finalmente, pesou Dina.” O portão ainda estava caído exatamente como Anja e Dina haviam deixado no outro dia. Ela passou por ele e caminhou pela lateral diretamente para os fundos da casa desmoronada. Enquanto dava a volta por fora recordava as imagens das coisas destruídas de quando passou lá dentro. Passando pelo tronco caído o qual havia chorado depois de ter visto o tumulo de Ric, continuou avançando em direção ao suposto falso cemitério, encontrando novamente as lápides. Passou pela que estava escrito o nome de Richard, deu mais uns passos e viu a lapide escrita Ramcy Baleares. - Ou esse é o nome do barão ou é um dos irmãos de Ric. Falou para si mesma. - Esse é meu irmão. Respondeu uma voz calma logo atrás de Dina. - RIC. Gritou Dina assustada. - Não faça mais isso. – Quer me matar de susto. - Desculpa Dina. – Você tinha perguntado e... Eu só respondi.


- Eu não perguntei para você. Falou Dina se recompondo do susto. – Eu perguntei para mim mesma. - É que eu não tenho muito habito de falar comigo mesmo. Ric sorrindo para ela. – Eu geralmente penso comigo. – Assim as pessoas não me assustam. - Você é bobo. Dina abriu um enorme sorriso para Ric. Ele se aproximou e pegou em sua mão. Dina olhou para os olhos dele, toda a sedução daquele verde estava ali novamente refletindo para ela. Com a outra mão ele apontou para lapide ao lado e conduziu Dina a ate ela. - Esse é nome do meu irmão Edie. Apontou a lapide escrita EDIGARD BALEARES. - E essas são as lapides da minha mãe e do meu pai. Completou Ric. De repente Dina ficou calada, seus lábios grudados em linha lutando para não abrir um enorme sorriso. Ric viu como Dina fazia um grande esforço para prender o riso e perguntou curioso. - O que foi? - É que você está me apresentando formalmente os túmulos. Falou rindo escondendo com a mão na frente. – E não tem ninguém morto ai em baixo. Ric levantou uma sobrancelha em resposta à conclusão de Dina. - Você está zombando de mim? Perguntou sorrindo. - Não Ric, me desculpe. Dina não podia segurar mais o riso. – tem que concordar que se não fosse trágico seria cômico. - me desculpe mesmo. Ela ria sem parar. O riso de Dina foi tão contagiante que Ric começou a rir junto com ela. Eles sentaram sobre os túmulos falsos e gargalharam alguns minutos. Foi contagiante. Céu se aproximou quando Ric estava bem próximo à Dina e suas duas mãos na cintura dela. Quando Dina viu o cavalo branco acinzentado, parou de rir no mesmo momento.


- Clama Dina. Falou Ric. – Ele não vai machucar você. Fazendo sinal chamando que Céu. – Esse é o meu melhor amigo. O cavalo chegou mais perto. – Pode tocar nele. Dina olhava admirada para o animal, mas não estava segura quanto a tonar nele ainda. O cavalo se aproximou mais quando Dina estendeu a mão. Céu cheirou a mão de Dina, a mesma que Ric tinha tocado e reconheceu o cheiro do dono imediatamente. Soltou um bufo e balançou o rabo mostrando que estava tudo bem. Dina tocou no queixo do animal. Ric chegou perto e pousou sua mão sobre a mão de Dina conduzindo-a pelo corpo de Céu. Enquanto Dina admirava todo esplendor do cavalo pegou na mão de Ric e puxou-o para si. Ric estava trás de Dina, uma mão no seu quadril enquanto a outra junto com Dina alisava o pêlo do animal. O peito de Ric tocava as costas de Dina, ela podia sentir a respiração dele por trás de seu ombro. As palavras dele sussurravam ao pé do ouvido dela. - Está sentindo? Sussurrou no ouvido de Dina. – Ele gosta de você também. - O pêlo dele é macio. Ric parava a mão dela na altura da barriga de Céu. - Está sentindo a respiração dele? Sussurrou mais uma vez. – sinta a respiração dele na sua mão. Dina estremeceu. - Eu sinto. Ric soltou a mão de Dina e junto à outra, segurou forte o quadril dela virando-a de frente para ele. Pressionando Dina ao corpo de Céu, Ric olhou nos olhos castanhos dela e pousou um leve beijo sobre os seus lábios. A noite estava chegando e ficando quente, não estava ventando. - Dina, eu gostaria de leva-la um lugar especial. Falou depois que interrompeu o beijo. – Você gostaria de ir comigo? - Claro. Ric montou e posicionou Céu próximo a uma lápide. Fez sinal para Dina subir na garupa usando a lapide como degrau. A principio ela ficou insegura, mas quando encontrou os olhos dele, toda a insegurança que existia ali foi embora.


- Eu vou pisar na lapide? Perguntou Dina, receosa. – Isso seria uma profanação. - Não tem ninguém ai em baixo. Ele respondeu. - Você mesma disse. Esticando o braço para ela. Dina decorou seus lábios com um sorriso e com dois movimentos estava na garupa do cavalo abraçada à Ric. Eles galoparam em campo livre da propriedade Baleares. Dina grudou sua bochecha nas costas de Ric. Pelo caminho ele observou os restos da sua antiga casa, mas rapidamente deslocou sua atenção para frente como se estivesse virando uma pagina da sua vida. “Onde ele estaria me levando” pensou Dina. Quando o cavalo chegou à beirada da floresta ela suspirou achando que o passeio havia terminado, mas Céu deu um pequeno salto para dentro na mata. Os olhos de Dina estavam tão atentos quanto suas mãos segurando a cintura de Ric. Medo e espírito aventureiro estavam misturados na barriga dela. Céu não estava mais galopando por que as plantas estavam muito densas e Ric sabia que seria perigoso se sele tropeçasse e quebrasse a perna. O maior pesadelo de um cavalo é ter uma perna quebrada. À medida que Céu andava Ric e Dina apreciavam o balanço do movimento do seu quadril. Ric soltou uma das mãos das rédeas dele e repouso-a sobre a coxa de Dina. Era uma experiência totalmente nova para ela. Andar á cavalo dentro da mata, na garupa de um homem forte e lindo, assim como era a primeira vez que alguém tocava na coxa dela daquela forma. Finalmente eles chegaram ao lago. Anoiteceu completamente e a única iluminação era da lua que parecia estar conspirando em favor deles. O reflexo nas águas do lago era perfeito, como um grande espelho no chão virado para cima. - É lindo aqui. Comentou Dina enquanto descia do cavalo. – Que lugar é esse. - Eu venho aqui sempre. Respondeu ele abrindo os dois botões de sua camisa. – Vamos nadar? - Nadar? Pareceu espantada. – Eu não vim preparada para nadar.


- Nem eu não achei que iria encontrar você. – Então somos dois despreparados. Ele puxou a camisa exibindo a musculatura perfeita do abdômen. Dina virou o rosto um pouco sem graça enquanto ele colocava os polegares nas calças para retira-la. - NÃO FAÇA ISSO. Ela gritou assustando Ric. – Não tire, por favor. Ela continuou com as maças do rosto avermelhadas. - Eu nunca vi um garoto tão à vontade assim. - Tudo bem. Ric respondeu com um sorriso. – Você vem? Dina ainda corada de vergonha se aproximou da água e um lampejo de pensamentos passou por sua mente. “O que eu teria a perder? Perdi meus pais, estou morando aqui nessa cidade pequena, esse gato semi nú me chamando para nadar com ele. O que pode dar errado?”... Antes de tirar a camisa certificou que estava de top, e por baixo do seu jeans ela coincidentemente usava uma calsinha box preta, muito parecida como um short de academia. Ric não estava olhando para Dina tirar a roupa, estava imerso literalmente sob a água do lago tranquilamente. Ela colocou os pés na água, não estava fria e não estava quente, a temperatura estava agradável. Quando Ric se aproximou ela já estava afundada ate o pescoço. - O que você acha Dina? Ele perguntou a ela. – Está gostando do lago? - É lindo. Respondeu ela nadando estilo costas devagar. – por mim eu nunca mais voltava para a cidade. Completou. – Eu ficaria aqui para sempre. Ric fechou seu semblante logo após ter escutado as palavras de Dina. Ele executou duas braçadas até ficar frente a frente com ela. - Você não sabe o que está falando. Ele disse a ela. – Você Não gostaria de ficar aqui para sempre. Ele afirmou segurando-a pelos quadris. – A vida tem que ser aproveitada lá fora, na cidade. Puxando-a para um abraço debaixo d´água. – Fora dessa floresta.


Dina claramente entendeu a mensagem que ele estava passando. Ela sabia que ele não podia sair da floresta por muito tempo. Ela sabia que não existia outra água que ele pudesse beber. - Ric, mes desculpe. Ela o abraçou. – Eu esqueci completamente da sua situação. - Sem problemas Dina. Ele a beijou intensamente. Eles estavam completamente à vontade no lago, nadando e se beijando. Então Dina sente um movimento fora do lado. Entre as arvores. - O que foi? Perguntou Ric em alerta. – Viu alguma coisa ? - Não tenho certeza, mas me pareceu que eu vi um cavalo ali nas arvores. - Você tem certeza ? ele perguntou. – Pode ser Céu. - Não, acho que vi um cavalo preto. Acho que tenho que certeza que vi um cavalo preto. - Dina vista suas roupas. Ric ordenou. – Vou leva-la para casa.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

Faça uma oração para mim 11

Pela manha o sol iluminava o quarto completamente. Quando ela chegou em casa noite passada “às escondidas” esqueceu de fechar a janela antes de fechar os olhos para dormir. Andar a cavalo com Ric e nadar com ele no lago fez Dina ter sonhos que ela teria vergonha de contar a alguém, até mesmo para sua melhor amiga Anja. Totalmente desperta, levantou-se e entrou no banheiro. - Bom dia querida. Cumprimentou a avó pondo uma xícara de café na mesa. – Dormiu bem? Perguntou capciosamente. - ERRR... Sim vó. Respondeu Dina envergonhada. – Dormi como uma pedra. - Tome seu café querida. – Não vá se atrasar. Reservando pães de batata para levar. – Anja deve bater a qualquer momento. Ela bebeu apenas um gole de café quando Anja bateu na porta. Dina correu para abrir.


- Estou saindo vó. Pegou a mochila e os pães. – Vamos. Arrastou Anja pelo braço. - Pra que tanta pressa? Perguntou Anja. – Calma temos tempo. - Preciso lhe falar sobre ontem. Despertando a curiosidade em Anja. - O que aconteceu ontem? Perguntou ela. – Aconteceu sem eu estar presente? - Eu não tive sessão com psicólogo. Elas caminhavam de vagar. – Então eu voltei no cemitério. - Você fez o que? O rosto de Anja enrijeceu. – Você está maluca? – Voltou lá sozinha? Elas estavam no portão de entrada da escola quando Dina parou na frente de Anja sorrindo enquanto contava toda a experiência que ela teve com Ric noite passada. - Então ele me levou para o lago e nós nadamos juntos. Dina sorria com uma pontinha de vergonha nas bochechas. - Vocês nadaram juntos? Anja parecia não acreditar. – Nadaram sem roupa? Anja falou mais baixo. – Vocês fizeram aquilo? Sussurrou. - NÃOOO. Respondeu alto para a amiga. – Nós não fizemos aquilo. Com as mãos atracadas a seus cadernos. – Anja, você tem uma mente muito criativa, pra não falar poluída. Ela riu. Elas entraram na sala junto com os outros alunos. Antes que a professora surgisse pela porta da sala Anja perguntou a Dina. - Mas você e o Ric... Cochichou. – Dentro da água não tem gravidade, você sabe. - Anja? Dina olhava para ela. - Está começando a me preocupar, e aquela historia de ser freira? Perguntou sorrindo. BOM DIA CLASSE! ABRAM SEUS CADERNOS E COMECEM A COMPOR A PESQUISA DE GRUPO QUE VAMOS FAZER AMANHA NA FLORESTA. Dina voltou sua atenção para a professora. Ela não havia se dado conta de que a pesquisa de escola seria dentro da floresta. Onde morava Ric e Edie e... Ram.


- Anja, a pesquisa vai ser na floresta. Virou para a amiga. – Isso pode ser perigoso. – Eles moram na floresta. - Não devemos entrar tanto assim na floresta Dina. Explicou Anja. – Vamos ficar em alguma trilha. - Como você sabe? - Eu já pesquisei na floresta. – É um campo perto do chafariz desativado, não vai ter arvores, o campo é aberto. Enquanto elas falavam Carla entrou na sala de aula um pouco atrasada e sentou perto de Anja e Dina. Quando passou por Lorena esbarrou em sua mesa fazendo com que uma caneta caísse no chão. - Desculpe. Abaixou e pegou a caneta. Lorena olhou para Carla com o mesmo desdenho que ela olhava todo mundo, todo dia. Tomou a caneta das mãos de Carla e virou o rosto de volta à Adan. Carla se aproximou das colegas de grupo sem graça por Lorena ter feito aquilo com ela. - Olá meninas. Cumprimentou Dina e Anja. - Oi Carla. Disseram ao mesmo tempo. Carla puxou a cadeira para completar o grupo e elas começaram a trabalhar na pesquisa de biologia. Quando o sinal soou os alunos se levantaram freneticamente e o barulho das cadeiras arrastando no chão só incomodava a professora. CLASSE, DE VAGAR POR FAVOR. Dina, Anja e Carla se apressaram para fora da escola. Apesar de Dina estar completamente à vontade na presença de Carla não fez nenhum comentário sobre Ric e todo o resto. Elas caminharam juntas até que a direção para casa de Carla ficou oposto das outras duas. - Xau meninas, amanha é o grande dia. Carla despediu-se. – Não esqueçam de vestir calças amanha. – Tem muitos insetos na floresta. Dina e Anja acenaram para Carla e caminharam de volta para suas casas. Anja tagarelava sobre o vestido para a comemoração do Solstício quando enquadrou Dina com outra pergunta sobre ela e Ric.


- Lá vem você novo. Parou na frente de Anja. – Não fizemos nada e Ric não encostou em mim. Completou. – Ele é um cavalheiro, me respeitou o tempo todo. - Jura? - Juro. – Satisfeita? - Não muito. Falou em devaneio. – Esse Ric deve ser um bocó. Terminou rindo. - O que você faz quando está na igreja? Perguntou boquiaberta. – Você realmente reza? Você conta ao padre no confessionário que tem esses pensamentos? Dina estava começando a rir. Anja também soltou o riso e despediu de Dina. Quando eles estavam bem distantes uma da outra, Anja parou. - Dina, vamos preparar os nossos vestidos? Gritou. – passo na sua casa no final da tarde. Dina fez sinal positivo para Anja e seguiu andando quando avistou uma figura sentada no banco de alvenaria mais adiante. Bob estava olhando para ela. Foi reconhecido imediatamente pelos olhos que naquela hora do dia tornavam muito claros. Dina podia afirmar que Bob não tinha olhos se ela não o conhecesse. - Boa tarde. Ele cumprimentou quando ela estava mais perto. – Tudo bem moça? - Oi Bob. Respondeu enquanto passeava os olhos no braço dele. – seu braço melhorou? Ela já não tinha mais certeza qual braço ele havia ferido com o balde. – Minha vó ficou preocupada. - Meu braço está bem. Respondeu ele. – Não foi nada de mais como eu disse naquele dia. - Minha vó queria saber quem são seus pais para perguntar como você estava. Ele abriu espaço para ela sentar. – Mas pelo visto, você está muito bem. – Você trouxe minha blusa? Ram não planejava falar com Dina, por isso não estava com a blusa dela. Ele olhava para ela com os mesmo olhos de um animal selvagem quando olha para sua presa. - Eu deixei em casa. Respondeu em tom calmo.


- Tudo bem, mas não se esqueça de trazer. – Minha vó vai ficar perguntando. – Você lembra onde eu moro? - Claro que sim. Nunca me esqueço um lugar... Nunca me esqueço um rosto. Dina corou com a resposta de Bob. Já era hora do almoço e ela estava com fome. Eles se levantaram e caminharam juntos em direção à casa de Dina. Ela observava como ele andava e esqueceuse de Ric enquanto caminhava ao lado dele. Bob vestia uma calça marrom bem escuro e uma camiseta preta. Por falta de mangas os músculos dos braços dele estavam expostos. Os raios de sol iluminavam seus cabelos escuros e seus olhos estavam cerrados por causa da claridade excessiva. Próprio de quem possui olhos claros e Bob tinha os olhos mais claros que Dina jamais havia visto. Durante a caminhada para casa Dina lembrou em voz alta que sua vó não estaria em casa para o almoço. Bob aproveitou a deixa para convida-la para caminhar mais um pouco em sua companhia. Eles andaram lado a lado e quando Dina avistou o chafariz onde deu o primeiro beijo em Ric, sentiu uma sensação que estava traindo e puxou Bob para outro local. Bob quase não falava e Dina, apesar de estar à vontade ao seu lado, também sentia medo. Eles pararam em frente a uma construção antiga. Dina não distinguia o que era aquilo, mas Bob soube descrever. Ele contou a ela que naquele lugar era a antiga casa do ferreiro. Ele fabricava ferraduras para os cavalos da cidade. Dina não entendia por que aquele lugar era tão especial a ponto de Bob ficar nostálgico. Eles se sentaram em outro banco de alvenaria que estavam espalhados em toda a cidade. A barriga de Dina começou a roncar de fome e ela lembrou que trazia pães de batata na mochila. Ela escorregou a mochila para seu colo e puxou de dentro dela o pacote com os pães. Bob olhava Dina com atenção. - Está servido? Dina ofereceu a ele. – São uma delicia minha vó que faz.


Bob olhou para o alimento nas mãos dela e levou alguns segundo pensando se seria prudente ou não aceitar. Logo concluiu que não seria problema e dar algumas mastigadas no pão. Quando Bob deu a primeira mordida reconheceu o gosto, mas não soube identificar de onde ele conhecia. Deu outra mordida enquanto Diana tagarelava sobre como sua vó os preparava para puxar assunto. Bob parecia apreciar o pão quando Dina sem querer, soltou a parte em que queria aprender a fazê-los tão bem quanto a baronesa fazia. Bob engasgou. - Cuidado. Engasgou com o pão? Perguntou preocupada. – Eu não tenho uma garrafa com água por aqui. Ela deu tapinhas nas costas dele. – Vamos procurar algo para você beber. - Não precisa. Ainda engasgado. – Eu trouxe minha água. Ele puxou um pequeno frasco que estava no bolso lateral abriu e bebeu. Até aquele momento Dina não tinha reparado na pequena garrafa que ele portava. Sentindo-se melhor depois que bebeu alguns goles, ele abaixou a garrafa, então foi a vez de Dina querer beber também, o sol estava forte e o tempo muito quente. - Você não pode beber isso. Ele negou água a ela. – Essa água está quente e com gosto ruim. Escondeu a garrafa - Melhor não beber dela. Dina assentiu com a cabeça. - Vamos procurar algo para beber. Levantou. - Estou sedenta. Bob caminhou com ela a procura do que ela pudesse beber, apesar da preocupação em alguma outra pessoa reconhece-lo aparentava tranquilidade todo o tempo. Numa esquina próxima Dina avistou uma quitanda e chamou Bob para entrar com ela, ele disse que iria esperar por ela do lado de fora. Quando Dina saía da quitanda carregando em sua mão uma garrafa de água de coco localizou Bob do outro lado da calçada encostado ao muro de forma casual. Estava esperando por ela com seus braços cruzados em frente ao seu peito. De longe ela pode reparar na luminosidade dos olhos dele. “Acho que são azuis claros”, ela pensou. Antes que ela pudesse estar totalmente do lado de fora da quitanda Adan entrou e esbarrou em sua mão deixando cair toda água de


coco. A principio Dina olhou para chão vendo a água escorrer pela calçada e no seguinte instante em que levantou seus olhos reconheceu o rapaz da suas escola. - Desculpa. Pediu com medo da reação dele. – Eu não vi você entrando. - Você sempre está no meu caminho. Rebateu com ódio. – Sempre você. Lembrando à noite em que brigou com Ric. Dina ainda que morrendo de medo, não deixou transparecer a fim que Adan não tomasse vantagem da situação e nem precisou. Ele segurou Dina pelo punho e puxou a garota para o lado de fora da quitanda. Bob observou tudo e calmamente atravessou a rua na direção deles. Enquanto Adan intimidava Dina Bob tocou no ombro dele fazendo-o girar a cabeça em sua direção. - O que foi? Perguntou Adan a Bob. – Não se meta nisso. - Eu acho que a moça não quer ser tocada por você. Bob estava frio como uma geleira. Pelos seus olhos eram capazes de transparecer o um instinto cruel. Tanto Dina como Adan repararam. - Eu vou pedir que você solte a moça. Ordenou que Adan soltasse Dina. Bob era bem mais alto e muito mais forte que Adan que percebeu isso rapido, soltando Dina e se afastando lentamente sem retirar os olhos de cima dele. Dina se posicionou ao lado de Bob e ficou olhando para Adan. - Por que você me persegue? Perguntou. - Eu não persigo você. Respondeu Adan. – Eu só odeio você. Soltou as palavras rancorosas. – Desde o dia que o seu outro guarda costas quase quebrou o meu braço. - Ric não iria quebrar o seu braço. Rebateu Dina enquanto Bob olhou de soslaio para ela. – Eu pedi desculpas. - Ele não conseguiu controlar a força dele. Continuou. – E você me empurrou no chão. - Você a empurrou no chão? Perguntou Bob. – Eu teria quebrado seus dois braços.


Adan girou nos calcanhares e saiu reclamando baixo alguma coisa como: Esse ai também vai pagar. Dina olhou para Bob agradecido por ele ter defendido ela e ao mesmo tempo ficou aterrorizada com a declaração que ele tinha feito para o Adan. - Você não quebraria os dois braços dele certo? Perguntou ela. - Era apenas uma brincadeira, né? - sim, era uma brincadeira. Respondeu Bob não pretendendo estender o assunto. – Me fale sobre esse Ric. Dina gelou diante da pergunta dele. Ela havia prometido a Ric que não contaria a ninguém, apesar de ter contato para Anja. Mas Dina não considerava que Anja pertencesse ao grupo dos “ninguém”, então concluiu que se contasse uma parte, não teria problema, Bob provavelmente não associaria Ric à lenda e muito menos a casa que desmoronou. - Ric é o meu namorado. Soltou sem pensar. - Namorado? Bob levantou uma sobrancelha. – Não sabia que você tinha namorado. Tentou mais informações. – Está namorando muito tempo esse Ric. - Estamos há pouco tempo. Ela tinha se arrependido. - Então não é nada serio? Bob insistiu. - É sim. – Eu sou uma garota seria. - Nunca duvidei disso. Bob respondeu singularmente. Dina já estava ficando nervosa com as perguntas dele e disse que estava na hora de ir para casa encontrar com Anja para a prova do vestido. Dina ainda não tinha nem mesmo feito o pedido à costureira. Bob acompanhou Dina até a rua da casa dela. No caminho de volta Dina ficava se perguntando em que Bob pensava, ele era muito calado e concluiu que se ele não falava muito seria por que estava pensando. Ram só pensava em como Dina era impulsiva. Ele observava o jeito dela caminhar e a forma como ela movimentava as mãos. Os cabelos dela balançavam com o vento. Ele se lembrou do corpo que ela revelou tirando a própria camisa para estancar uma ferida que iria


curar sem muita preocupação, mas ela ficou preocupada com ele, ela quis ajuda-lo. Agora, ele sabia que ela estava encontrando seu irmão mais novo com certa frequência, seus pensamentos começaram a ficar confusos Ele olhava para a garganta dela e calculava em quanto tempo levaria para ela morrer depois que ele cortasse. - O que você está pensando Bob? Ela perguntou. – Você está tão calado. Ele pigarreou algumas vezes antes de responder a ela. Estava tão concentrado em mata-la que teve que pensar em alguma reposta casual. - Não tem muita coisa para fazer na cidade, não é? - Não muita, mas teremos uma comemoração. Dina respondeu. – A festa do Solstício será em menos de duas semanas eu acho. - Ainda realizam esta festa aqui? - Sim, Você já participou? - Algumas vezes. Ele assentiu. – Mas foi há muito tempo. - Essa será minha primeira. – falando nisso tenho que encontrar Anja para encomendar meu vestido. Eles continuaram caminhando de volta à casa de Dina. Anja saiu de casa pretendendo encontrar Dina na casa dela e mais uma vez, pelo caminho, sentiu a estranha sensação de que estava sendo observada. Desta vez Anja parou, uniu as mãos junto ao peito, abaixou a cabeça e começou a rezar. “Querido Deus, sei que me põe à prova frequentemente e eu aceito meu destino... Se por acaso esta for minha hora, estou pronta...”. - Olá moça. Luccar estava parado ao lado dela. - AHHHHHHHHH MERD... Gritou Anja assustada. – Diabos. - Calma moça. Ele falou levantando as duas mãos. - Parece que você viu um... Eu queria dizer fantasma, mas se você prefere diabo, tudo bem.


- Você me assustou. Anja estava com os lábios brancos. – quando foi que você se... Materializou aqui? Luccar achou divertido o pânico da garota e pediu desculpas. Quando ela ficou mais calma eles seguiram juntos, rumo à casa de Dina. - Por que você estava de cabeça baixa? Perguntou ele quebrando o gelo do silencio. - Eu estava fazendo uma oração. Ela respondeu naturalmente desconfiada. - Você faria uma oração por mim? - Claro, não se nega oração a ninguém. – Deus não nega a ninguém. Lucaar parou e ficou olhando fixamente para Anja. Que garota extraordinária, ele pensou. Reparou nos cabelos dela, nos olhos dela, na boca dela e ficou maravilhado. Ela, seguramente ficou assustada. - Qual seu nome? Ele perguntou. - Anja. - Anja? – Só? - Angélica. Ela corrigiu. – E o seu? - Luccar. Respondeu pegando as duas mãos dela. - Lucaar... Luc? - Não. Ele acariciou as duas mãos dela. - Eu não gosto de diminutivos. – Ninguém deve ser diminuído, começando pelo nome. Falava enquanto acariciava as mãos dela. - Certo. Anja concordou para do mesmo lugar. – Lucaar. - Você também deveria ser chamada pelo seu nome Angélica. – Não se deixe ser diminuída. – Você é um anjo, e um anjo jamais é diminuído. Levou alguns segundos para Anja processar as palavras de Luccar, ela parecia estar em transe enquanto ele acariciava as mãos dela. Ele se aproximou, chegou bem perto dela. Quando passava as mãos dela nos lábios dele, ela saiu do transe.


- Pare. Ela puxou as mãos com força. – Não chegue perto de mim. Não dessa forma. - Eu não estava fazendo nada de mais. - Então continue NÃO fazendo nada de mais. Ela o advertiu. Eles continuaram andando até a porta da casa de Dina quando ele se despediu dela. Ela ficou observando ele se afastar enquanto batia na porta da casa. Mesmo achando um desaforo o comportamento de Lucaar, ainda assim ela pensava nele. Impaciente ficou ali mesmo, do lado de fora ansiosa, esperando que a amiga aparecesse logo. Cerca de vinte minutos se passaram quando Dina acompanha de Bob dobraram a esquina. Eles encontraram Anja esperando na porta impaciente. Quando ela avistou Bob ao lado de Dina estalou os lábios e se aproximou. Ficou paralisada olhando para o rosto de Bob. Esqueceu Lucaar de imediato. - Bob, essa é minha amiga Anja. – Anja esse é o Bob. Bob sorriu para Anja, se despediu de Dina caminhou de volta para longe delas e seguiu sozinho pela rua. Já estava quase escurecendo. - quem é esse Deus grego que você achou? - Ele tem um irmão? Dina confirmou em pensamento que Bob era mesmo lindo, mas que seria impossível dele ter parentesco com Ric. A primeira diferença entre os dois era que Ric não a amedrontava, enquanto Bob causava calafrios profundos nela, ate quando estava sorrindo. O Ric de Dina transparecia um sorriso alegre e fulgaz, sempre pronto para uma aventura, mas o sorriso de Bob era uma fortaleza impenetrável, era seguro, cuidadoso. Ate mesmo a cor dos olhos entre os dois era impossibilitada de qualquer comparação. - Dina você está bem? - O que? Despertou dos pensamentos. – falou alguma coisa? - Nós chegamos à casa da costureira. – Pode, por favor, parecer normal?


Dina deu de ombros abrindo espaço e Anja pode tocar a campainha. Uma senhora apareceu depois que a porta abriu. A costureira usava um lenço cobrindo os cabelos, fita métrica por cima dos ombros e alguns alfinetes espetados na manga da blusa. “Depois ela reclama que eu não sou normal”. Pensou Dina. - Olá queridas. A costureira apontou cadeiras para as meninas sentarem. – Essa ai é sua amiga, Angélica? - Sim tia. Respondeu à loura. – Essa é Dina – Também vai participar da comemoração. - Que cor você quer o vestido? Perguntou a costureira. Dina ficou em duvida para responder, ela nunca havia passado por uma prova de roupa antes e muito menos escolher a cor do vestido. Na cidade grande onde ela morou, os vestidos já estavam prontos para serem comprados, ela os escolhia pelo valor não se importando a cor dele. - Tia eu quero o meu vestido em dourado com braço. Pediu Anja – Vai logo Dina, não temos muito tempo, está ficando tarde. - Dourado Anja? Questionou Dina. – Não acha que chama muita atenção. – Essa cidade é um pouco... Pequena. - Dina. – Quando se tem oportunidade de uma festa grande, a gente aproveita. – Tia ela vai querer o dela em tom verde. - Verde? A costureira conduziu Dina para tomar as medidas. – Excelente escola. Anja foi atrás. - Por que verde. Sussurrou Dina para Anja. - Porque verde é da cor dos olhos de Ric. Anja sorria. – Você vai com ele não é? Enquanto a costureira tomava suas medidas, Dina abaixou a cabeça pensando em quanto seria bom ficar com Ric na comemoração. Ao mesmo tempo estava preocupada que talvez ele pudesse não aceitar. As pessoas poderiam reconhecê-lo na festa. “Se ele não ficar perto dos mais velhos, ele não será reconhecido. Ela pensou. Basta ele ficar perto de gente jovem e vai ficar tudo bem. Concluiu”.


- Vou falar com ele sobre a festa.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

Somos órfãos 12

As meninas deixaram a casa da costureira logo após escolherem as cores dos vestidos e tirarem todas as medidas. Já era tarde da noite quando elas caminhavam pelas calçadas da cidade. Anja sorria muito e mal podia esperar pela festa de comemoração do solstício, mas Dina não parecia satisfeita com seu vestido. - O que foi Dina? Perguntou quando finalmente parou de tagarelar. - Eu nunca fui numa festa assim Anja. – Não sei como usar um vestido longo. - Não acredito que Diana Gomes nunca foi a uma festa de vestido. Anja ria enquanto falava. – Na cidade grande não existem festas? - Claro que existem, mas eu não frequentava. – Eu não era muito popular. Anja entrelaçou seu braço ao de Dina e puxou-a para perto dela.


- Dina. - O que? - Vamos ser amigas para sempre não é? – Nunca vamos esquecer uma da outra não é mesmo? Dina parou e ficou frente a frente com Anja. – Claro que sempre vamos ser amigas. – Aconteça o que acontecer, sempre seremos amigas. – Mesmo morando longe uma da outra. Anja abraçou Dina ali mesmo e as duas choraram. Todos os anos quando Dina passava as férias com a avó era com Anja que ela confiava seus segredinhos de menina. Anja também esperava ansiosa pelas férias por que sabia que sua amiga viria da cidade. Agora por uma fatalidade do destino que provocou a morte dos pais de Dina elas estariam juntas definitivamente. - Vamos logo pra casa. – Sua casa, quis dizer. Anja limpou as lagrimas. - Minha casa? - É. – Não é lá que tem os melhores pães de batata da cidade? - Eu chego lá primeiro que você. Dina já estava olhando para a rua. - Corrida? Perguntou Anja. – Como nos tempos de criança? - Simmmmmmmmmm. Dina saiu correndo e Anja disparou logo atrás.

Em Santo Pedro, na grande fogueira que era acesa todas as noites, Ram não parecia querer dizer qualquer palavra, Lucaar um pouco mais distante ditava as ultimas orientações ao resto do clã enquanto a luz amarela das chamas iluminava o rosto dele. Ele observava cada labareda de fogo se movimentar em ritmo aleatório sobre os estalos da madeira sendo queimada. Lucaar finalmente se aproximou. - Ela disse que está namorando ele. Disse Ram. - Mais um motivo para mata-la. – E mata-lo também. - Essa é uma ideia que não sai da minha cabeça. Ram não tirou os olhos das chamas. - O fato é que eu não quero mata-la.


Lucaar não questionou as palavras de Ram, apesar deles serem amigos há vários anos o respeito pelo líder do clã foi uma das coisas que ele havia aprendido desde que passou a viver em Santo Pedro. O treinamento exaustivo contava com lições de respeito hierárquico na aldeia. O barão fez questão de plantar nas cabeças de todos os moradores, guerreiros ou não, de que quem mandava na aldeia absolutamente era o líder do clã, Ram. - Qual vai ser o novo plano? Perguntou Lucaar enquanto arremessava um pedaço de graveto nas chamas. - Continuar de onde meu pai parou. Ram respondeu. – E ela será o meu bônus. Eles ficaram conversando em frente à fogueira. Enquanto isso na igreja da cidade, vó Augusta despedia-se de padre Santiago. Algumas vezes depois da missa ela se trancava na sala com ele e ficavam conversando por muito tempo. - Boa noite Santiago. - Boa Noite Augusta. A noite passou tão rápido que Dina não acordou com o som do despertador pela manhã. Ela só acordou quando sentiu o colchão balançar com o peso de mais um corpo sentando sobre ele. - Acorde querida. Vó Augusta passava as mãos pelos cabelos dela. – Vai chegar atrasada na escola. – Não era hoje a pesquisa na floresta? - A pesquisa? Levantou a cabeça se perguntando que horas eram. – Tenho que sair rápido. – Que horas são? Sem ficar para esperar a resposta da avó, Dina correu para o banheiro. Passando alguns minutos ela já estava pronta na cozinha engolindo freneticamente o café da manha. Anja também estaria atrasada já que ninguém ouviu baterem na porta. - Anja telefonou querida. – Ela disse que encontraria você na porta da escola. Dina agarrou nas alças da mochila e escorregou para fora da casa tão rápido que mal conseguiu se despedir da avó. Vestida com uma calça verde musgo e regata branca ela partiu a caminho da escola. Quando


finalmente conseguiu chegar toda a turma estava do lado de fora do portão e a professora organizando os grupos. CLASSE ATENÇÃO, VAMOS CAMINHAR ATÉ ENTRADA DA FLORESTA NA PARTE NORTE DA CIDADE. UMA VEZ QUE ESTIVERMOS DENTRO DA MATA, TODOS TERÃO QUE FICAR JUNTOS SEM SAIR DA TRILHA. - Trilha? Dina pensou. – Mas eu pensei que a pesquisa não seria dentro da floresta. - Anja? - Eu não tenho nada haver com isso. – A ultima vez foi no campo. - A professora quer que a pesquisa seja num ambiente mais real. Respondeu Carla se aproximando das meninas. CLASSE, VAMOS COMEÇAR A ANDAR. FIQUEM PERTO E NÃO ABONDONEM SEU GRUPO. A turma seguiu andando pelas ruas até o lado norte da cidade onde começava a floresta. Avistando a trilha a professora orientou que cada grupo formasse uma fila indiana enquanto estivesse na trilha. Dina estava à frente do grupo e quando ia passar o pé no mato Lorena avançou na frente batendo seu ombro em Dina fazendo-a desequilibrar. - Ei, olha por aonde anda. Dina se recompôs. - E se eu não olhar? Respondeu Lorena. – Vai fazer o que? Dina não estava com paciência para tolerar os insultos de Lorena no começo do dia. – Eu vou arrancar seus cabelos, sua estúpida. - Quem você esta chamando de estúpida? Lorena virou de volta olhando para Dina com as mãos na cintura. - Dina, calma. Choramingou Anja. – Não vale a pena. Completou Carla. Adan estava atrás de Lorena e quando percebeu que a situação iria ficar tensa tratou de se afastar o mais longe possível. - A única estúpida aqui, está com as mãos na cintura olhando pra mim. Dina se dirigia a Lorena. - Eu vou mostrar a você quem é estúpida.


As duas se pegaram na trilha e nem mesmo a professora que estava á frente na fila não pode ver as meninas atracadas. Os outros alunos da turma que estavam próximos ficaram parados olhando as meninas brigarem. Anja não sabia o que fazer para separar as meninas. Carla tentou puxar Dina e foi arranhada por alguma unha. A briga estava igualada para as duas até que Dina conseguiu empurrar Lorena pelo queixo fazendo-a cair sentada na trilha, Adan observava de longe. Dina ajoelhou sobre Lorena e segurou a gola da camiseta dela. - Nunca mais me provoque. Dina a ameaçou. - Solte ela Dina, por favor. Pediu Anja. - Me larga sua órfã selvagem. Esbravejou Lorena. Dina queria agredir Lorena, mas quando viu que os alunos estavam olhando e Anja implorava atrás dela, levantou e deu espaço para a outra levantar. - Nunca mais me provoque. Carla sorrindo arrastou Anja e Dina através da trilha deixando Lorena pra atrás. - Não sei por que essa menina me persegue. – Não sei por que ela vive me chamando de órfã. - Ela é louca. Respondeu Carla. – Ela também é órfã... De pai. Anja e Dina ficaram olhando para Carla, curiosas. - Como você sabe disso? Perguntaram as duas juntas. - Como vocês duas não sabem disso, pergunto eu. Carla respondeu enquanto seguia pela trilha. – Todo mundo sabe que o pai de Lorena morreu na expedição com o Santo. - Santo? Dina torceu o lábio e franziu a testa para Carla. - O Santo, meninas... Continuou. – Santo Pedro. – Aloww. Dina deu de ombros e continuou caminhando pela trilha, Anja ainda tremia por causa da briga entre Lorena e a amiga. Carla tomou a frente do grupo na trilha enquanto Dina e Anja conversavam baixo para que ela não percebesse.


- Como você me esconde uma informação dessas, Anja? - Tudo bem, eu não sabia. – Nunca passou pela minha cabeça quem foram os filhos das pessoas que morreram na expedição. – Pra ser sincera eu nem acreditava que essa lenda era verdadeira. Carla virou para as meninas. – Estamos quase chegando. A turma toda parou depois de uma caminhada de vinte minutos. Os garotos estavam falando tão alto que a professora teve que chamar atenção deles. Dina e as meninas sentaram nas pedras fora da trilha. Cada grupo possuía um binóculo e uma prancheta para fazer as anotações. A vegetação baixa estava misturada aos grandes troncos das arvores que eram tão altas ao ponto de tapar toda a luz do sol em cima delas. Algumas meninas não foram preparadas para a pesquisa dentro da floresta, seus shortinhos e saias minúsculas não impediram que mosquitos e outros insetos fizessem a vida delas muito desconfortável. O grupo de Dina estava preparado, todas vestiam calças e Carla levou consigo repetente para as partes do corpo que ficaram fora da roupa. Os garotos da turma com seus iPods conectados a pequenas caixas de som interromperam o silencio da mata, fazendo com que outras pessoas soubessem que havia gente ali. Edie estava de pé escovando Xerife, seu cavalo. Edie tranquilamente passava as mãos na pelagem vermelha de animal. O balançar dos braços dele fazia sua musculatura mexer de forma majestosa. Vestindo apenas uma calça velha, desbotada e furada no joelho, Edie expunha um tronco rígido de abdome impecável. Toda a tranquilidade do momento acabou no segundo em que Marcos apareceu afoito respirando forte. Edie olhou para ele ainda escovando. - O que foi? - Tem gente na floresta. Marcos respondeu preocupado. - Não é o clã de Ram. – Gente da cidade. Foi a vez de Edie ficar preocupado. Largando o escovão no chão vestiu uma camisa escura e um capuz cobrindo todo o rosto, só era


possível ver o verde dos olhos dele através do capuz. Pegou sua espada, algumas facas curtas e saltou sobre dorso de xerife. - Avise os outros. Ordenou. – Onde está Richard? Dina anotava tudo que as outras meninas falavam cuidadosamente. Qualquer planta ou bicho que fosse reconhecido por elas era protocolado na prancheta. Já passava do meio dia e todos pararam suas pesquisas para o almoço improvisado no meio da mata. Carla puxou Dina e Anja para comer um pouco mais afastado onde algumas pedras formavam uma espécie de mesa com cadeiras. As meninas abriram suas mochilas e revelaram seu almoço. - O que tem ai? – Eu trouxe torta salgada. Sem maionese, seca - É politicamente correta. - Aposto que Dina trouxe pães de batata. Anja sorriu enquanto mastigava empanados feitos pela mãe dela. - Eu trouxe limonada e pão de batata. – Acertou. As meninas devoravam a comida e ofereciam uma para outra. Entre uma mastigada e um gole de limonada Dina olhava em sua volta pensando se Ric estaria por ali. Em meio aquele momento relaxado todas as três garotas perceberam que um animal se aproximava, era enorme e seu pelo completamente negro. Anja e Carla congelaram vendo que o enorme bicho andava em direção a Dina. Soltando um bufo ele parou na frente dela. Tobruk abaixou a cabeça e suas narinas se alargaram tentando aspirar o cheiro do pão nas mãos de Dina. Logo ela percebeu o interesse do enorme cavalo e lentamente esticou o braço diminuindo a distancia entre o alimento e a boca dele. Ric andava ali perto e também percebeu a presença de pessoas estranhas na floresta. Quando ele finalmente chegou próximo onde Dina estava com as meninas, Tobruk ainda estava lá. Temendo pela segurança delas Ric saltou de trás de uma árvore, Tobruk percebeu o movimento e assustado levantou as duas patas dianteiras na direção dele tentando golpea-lo. Dina se afastou com as meninas enquanto Ric afugentava o cavalo. Carla ficou totalmente imóvel atrás de Anja enquanto Dina gritava com Ric.


- Ele não tentou me machucar. Ele só queria comer o pão. Ric parecia não ouvir uma só palavra que ela dizia e continuou sacudindo os braços diante de Tobruk na esperança que ele recuasse, mas por ser o cavalo de Ram, com personalidade tão forte quanto ao de uma onça selvagem, qualquer tentativa contra sua vontade parecia ser inútil. Por muito pouco Tobruk não acertou os cascos na cabeça de Ric. Os movimentos de esquiva do rapaz eram muito ágeis e ele conseguia driblar cada vez que o cavalo golpeava ao vento sem sucesso. Foi uma verdadeira cacofonia de gritos dentro da mata, Dina gritava com Ric, Ric gritava com Tobruk e o cavalo gritava ao vento dando coices e golpeando com os cascos dianteiros. Anja com olhos arregalados aproximou os lábios no ouvido de Carla. – Venha. Sussurrou. – Vamos rezar. Carla torcendo os lábios para Anja ignorou o pedido. – Você só pode estar brincando? . Ela perguntou sem nenhuma resposta. Em meio a todo o alvoroço, Anja olhava na direção onde estavam os outros alunos da classe temendo que eles pudessem ter ouvido e viessem checar o que estaria acontecendo ali, mas quem apareceu no local foi Céu e Edie montado em Xerife. Quanto Tobruk percebeu a presença de mais dois cavalos cessou os ataques imediatamente, soltou seu bufo e disparou mata à dentro. Com o silencio reestabelecido, Dina se aproximou de Ric para checar se ele estava ferido, quando deu conta de outro rapaz encapuzado montado no cavalo vermelho alazão. Edie estava rígido enquanto olhava para as meninas que o olhavam de volta. - Quem é esse Ric? Sussurrou Dina, desconfiada sem tirar os olhos dele e do cavalo. - Esse é meu irmão Edie. Respondeu esticando o braço sobre o ombro dela. Edie ainda rígido retirou o capuz, desmontou Xerife e deixou que as rédeas deslizassem até o chão. Aproximou-se de Ric olhando fixo para as meninas, mais precisamente em Carla que abaixou a cabeça. Ric puxou Dina para próximo do irmão, Anja ficou calada no mesmo lugar.


- Edie, essa é a Diana. – Esse é meu irmão Edgard. - Prazer. Dina respondendo com um sorriso torto – Aquelas ali atrás são Carla e Angélica. Edie não mostrou nenhum sinal de satisfação ao conhecer as meninas, virando as costas de volta para o cavalo respondeu secamente. – O que elas estão fazendo aqui? . Montou de volta em Xerife. - O que vocês faziam na floresta Dina? Perguntou Ric curioso não se importando com a frieza do irmão. Ela olhou para Edie e ignorou completamente a expressão fria que ele persistia em exibir. – Estamos fazendo uma pesquisa para escola. Respondeu. – O resto da classe está mais distante, espero que não tenham ouvido a bagunça com o cavalo preto. - Vamos sair daqui. Chamou Edie. – Antes que mais alguém nos veja. Puxando as rédeas de Xerife, seguiu na mesma direção que Tobruk havia tomado sumindo por trás das arvores. - Não liga pra ele Dina. Ric falou enquanto alisava os cabelos castanhos de Dina. – Ele é muito mal humorado, mas é boa pessoa. Ric sorriu também para as outras meninas. – Aquele cavalo que lhe atacou era Tobruk. Ele falou olhando diretamente nos olhos dela. – É o cavalo do meu irmão, Ramcy. “O cavalo de Ram”, Dina pensou. – Ele não me atacou, ele só estava cheirando os pães que eu trouxe de casa, só isso. - Ele poderia ter matado você Dina. Ric respondeu de volta. Anja e Carla perceberam que ele e ela iriam discutir um pouco e se afastaram para dar privacidade aos dois. - Estou dizendo que ele não me atacou. - Dina, aqui na floresta também é o território de Ram e seu clã. Ric parecia serio desta vez. – Ele é mau, o cavalo dele é mau, o clã dele é mau. Ele engoliu em seco. – Se Tobruk estava aqui, provavelmente Ram também estava perto. – É muito perigoso estar aqui e eu não sei o que faria se Ram fizesse alguma coisa a você. Ric não queria discutir com Dina e preferiu beija-la ao invés de falar. Dina aceitou o beijo e o abraçou de volta. Eles ficaram algum tempo


abraçados quando as duas meninas voltaram interrompendo o momento. - A professora está convocando a classe. Disse Anja. – Nós vamos voltar para a cidade. - Devo ir com elas. Falou para ele ainda abraçada. – A gente conversa mais tarde. Eles se despediram com outro beijo. As meninas deram um aceno rápido para Ric e voltaram para junto dos alunos. – Não vamos contar o que aconteceu para ninguém, ok? Dina falou olhando para Carla. - Certo, será nosso segredo. Respondeu. Anja somente concordou com a cabeça. Chegando ao local onde a classe se preparava para retornar à cidade, Dina, Anja e Carla recolheram suas mochilas e fizeram o caminho de volta. Nenhuma das três meninas comentou sobre o episodio na floresta, assim como o resto dos alunos ficaram calados na volta para cidade. Quando a turma toda estava reunida em frente à escola, o dia já estava quase acabando. Cada um despediu de seu companheiro de grupo e aos poucos não restava quase ninguém ali. Lorena e Adan voltaram para casa juntos. Os passos lentos indicavam que o dia havia sido cansativo dentro da floresta. Lorena parecia não ter se conformado em perder a briga para Dina naquela manha. – Ela me paga. Reclamou. – Eu vou descontar a vergonha que ela me fez passar. Adan continuou olhando para o chão. – Eu também espero que esse dia chegue logo. Respondeu. - Você ainda esta praticando defesa pessoal? Ela perguntou curiosa. – Não tenho visto mais você pela praça a noite. - Eu venho treinando todos os dias. – Nunca mais vou deixar que ninguém me humilhe novamente. Eles estavam no centro da cidade, estava escuro, já era noite. – Aquelas lâmpadas são para a festa? Perguntou Adan. Ela olhou para cima e viu que alguns homens da prefeitura estavam trabalhando na ornamentação da festa do Solstício. – Sim, deve ser


isso mesmo. Ela respondeu olhando para Adan. – Você já tem um par? Lorena perguntou tão casualmente não percebendo que sem querer, estava afirmando que poderia ir com Adan à festa. Ela não negaria que Adan era um rapaz muito bonito. Cabelos dourados, olhos claros e feições dignas de um príncipe. Adan não era tão alto, mas seu corpo fazia presença em qualquer lugar que fosse. Seu pai também morreu na expedição que Pedro liderou em busca da água. Mas assim como os outros, ninguém sabia exatamente sobre como eles haviam morrido. Se quer foram encontrados os corpos dos pais de Lorena e Adan. - Então? Você já tem um par para festa? Perguntou Lorena na porta de sua casa. - Ainda não. Respondeu ele. – Vamos juntos? Perguntou a ela. - Vou pensar. Ela deu um sorriso rebelde para ele quanto abria a porta de casa. – Boa noite Adan. Ele ficou sorrindo sozinho enquanto a via bater a porta atrás de si. – Boa noite Lorena.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

Segredos na igreja 13

Três dias se passaram... Dina degustava tranquilamente seu desjejum enquanto vó Augusta terminava de lavar a louça da primeira refeição do dia. Era uma manhã fresca de sábado e todos os moradores da pequena cidade esperavam pela grande comemoração do Solstício de inverno que aconteceria em poucos dias. - Quando vai pegar seu vestido querida? Vó Augusta perguntou enquanto secava as mãos no avental. – Já deve estar pronto. Dina respondeu olhando pela janela pensando há quantos dias ela não falava com Ric. – Essa semana, eu acho. – Anja vai comigo fazer a ultima prova. A avó da menina assentiu com a cabeça e se dirigiu para fora da cozinha deixando o avental na mesa em frente à neta. – Vou à igreja falar com padre Santiago querida. – Provavelmente voltarei na hora


do almoço. – Você vai encontrar Angélica hoje? Dina saiu da cozinha e foi em direção à escada. – Sim vó. Subiu correndo os degraus e quando já estava dentro do quarto olhou pela janela. Lá embaixo não havia ninguém olhando para cima, esperando ela aparecer. “Onde Ric estaria?” Ela pensou. Meio minuto depois ela estava trocando a calça do pijama pelo shortinho jeans e camiseta de algodão. Mergulhou os pés no tênis e desceu correndo a escada. Vó Augusta já havia saído para a igreja. “O que ela foi fazer lá a esta hora da manha?” Pensou. Quando abriu a porta ela pode observar que os pássaros cantarolavam pendurados nos fios de energia assim como nos galhos das arvores. Cada passo dado ela podia ver as pessoas com a alegria estampada em seus rostos. As ruas estavam ficando bonitas com as ornamentações temáticas para a festa. Passando pela porta da igreja, Dina se dirigiu para casa de Anja. Enquanto isso vó Augusta de reunia com padre Santiago na sacristia. - Como estão os preparativos para a festa, Santiago? Ela perguntou. - Você sabe o que eu penso sobre rituais pagãos. Respondeu com um sorriso. – Mas acho que a tudo vai ficar muito bonito por aqui. Augusta puxou a cadeira e sentou perto do padre. Soltando um longo suspiro ela começou a falar. – Dina uma vez me perguntou sobre a casa dos Baleares, eu disse a ela da melhor forma que ela não deveria ir lá. O padre se sentou próximo a ela e continuou ouvindo o que ela dizia. – Conheço minha neta e tenho certeza que ela foi mesmo assim, e levou Angélica com ela. O padre pensou por um momento antes de responder. – Lá não existe nada que possa fazê-la pensar ao contrario Augusta. Tudo ficou perfeito. – Até os túmulos são perfeitos. - Mas se ela cavar os túmulos, se ela descobrir? Augusta estava com as duas mãos cruzadas em frente ao peito. – Eu não consigo falar com o Doutor, achei que o psicólogo seria a melhor opção para proteger Diana do passado terrível que aquele homem provocou na cidade. – O barão quem deveria ter morrido e não o Pedro. O padre consolou Augusta. – Eu sei que foi errado o barão ter derrubado a casa de propósito. – E eu também sei que foi errado ele


ter forjado a morte de toda a família e se escondido na floresta todos esses anos. O padre levantou os olhos para a imagem de Cristo crucificado. – Mas eles não devem estar vivos, quem conseguiria viver na floresta todos esses anos? Existem animais, existem doenças na floresta e eles nunca mais fizeram contato. Ele voltou o olhar pra ela. – Estão mortos. - Eu vi Ramcy com Diana outro dia. Augusta revelou ao padre. - O que? – Não pode ser você tem certeza? O padre não podia acreditar no que a avó de Dina estava afirmando. – Ramcy era o filho mais velho do barão. - Ele mesmo Santiago, o primogênito de Celina está vivo e conversava com Diana na minha porta em plena luz do dia. Foi a vez de Augusta levantar e tocar na imagem de Cristo. – Eu estava limpando a janela e reconheci o rapaz de longe. – Fiquei atordoada e deixei o balde cair. – Tenho certeza de que o balde atingiu um deles e quando desci, Diana estava completamente intacta. Augusta tremia enquanto falava. – Ramcy não estava mais lá. - Calma Augusta. - Mas que calma você quer que eu tenha Santiago? Ramcy se apresentou a minha neta com outro nome. – O barão está tramando alguma coisa, ele vai fazer alguma coisa com a minha neta. – DIABOS. O padre alcançou as duas mãos nos ombros dela. – Eu sei que você está nervosa, mas não esqueça que você esta na casa do Senhor. – Eu vou tentar entrar em contato com Cipriano, fique calma mulher. Augusta estava chorando temendo não só que Diana descobrisse sobre a fraude da casa Baleares, mas também que ela pudesse correr risco de vida. – Ele virá atrás de nós Santiago, ele virá atrás de mim. - Ele nunca perdoou nós termos ficado do lado de Pedro. – Aquele demônio dizia que o nosso santo tentou matar ele depois que matou toda a expedição. Ela enxugou as lagrimas enquanto continuava a desabafar com o padre Santiago. – Tudo por causa da água que o Santo Pedro


descobriu. Agora ele quer vingança. Já passaram quase dez anos, mas eu me lembro como se fosse ontem. O barão foi o primeiro a retornar da expedição em busca da água. Ele estava sujo e com as roupas rasgadas, não falava coisa com coisa. Quando saiu da floresta sozinho todos perguntaram sobre os outros homens que viajaram com ele, mas ele só sabia dizer que estavam mortos. O barão ficou trancado em casa, isolado da cidade por dois dias até que o professor Pedro saiu da floresta. O pobre Pedro lamentava muito sobre a grande perda na busca da água. Ninguém aqui na cidade acreditou que a lenda pudesse ser verdadeira, as pessoas preferiam acreditar que Pedro era um santo, mas ele insistia em dizer que a lenda era verdadeira enquanto o barão dizia ser falsa. As pessoas ficaram divididas entre as duas versões e optaram que verdadeira ou não, Pedro era um verdadeiro santo. - Eu sempre a creditei que ele era e sempre será um santo. Depois que ele saiu da floresta e confirmou a morte de todos os outros membros da expedição, a cidade ficou em luto coletivo pelos pobres homens que morreram na floresta. Pedro começou a fazer pequenos milagres, ele curava os ferimentos das pessoas, a própria mãe de Angélica que nunca pode ter filhos engravidou. Foi sorte ela não ter morrido porque as outras mulheres que engravidaram na mesma situação morreram depois que seus filhos nasceram esse foi o maior dos milagres. A baronesa gostava muito da mãe de Angélica, comprava todos os bordados dela. - Celina contou tudo a você não foi Augusta? Perguntou Santiago. Sim, quando o barão levou a família forçada para a floresta, Celina enviou mensagem através de um empregado de confiança dizendo que estava bem e que estava viva na floresta. Foi um tremendo susto que eu levei quando o empregado me mostrou o bilhete, eu mesma achei que era mentira, só acreditei quando ela falou sobre um ingrediente secreto que eu coloco na receita do pão de batata. A partir daí eu agradeci a Deus por ela e a família estarem vivos. Eles estavam todos vivendo escondidos na Aldeia de Santo Pedro dentro da floresta. A mesma que era mencionada na historia pelo próprio Pedro antes de morrer. - Eu juro que pensei que o barão matou nosso santo, mas quando encontraram o corpo dele queimado por velas dentro de casa ao lado


de um bilhete escrito pelo próprio punho, conclui que ele preferiu estar perto do Nosso Senhor. - Suicídio é contra as leis da bíblia. - O barão e Pedro eram tão amigos, nunca entendi por que eles não se falaram mais desde que voltaram da expedição. Suspirou vó Augusta. Meses depois Celina conseguiu sair da floresta, nós nos encontramos aqui mesmo, foi a ultima que nós a vimos. Ela revelou que foi Juan, o barão quem estava por trás dos desaparecimentos dos meninos da cidade. Celina disse que o barão estava transformando a Aldeia de Santo Pedro em uma grande fortaleza povoada por guerreiros treinados, ele estava ficando louco. Padre Santiago pegou nas duas mãos de Augusta. – Tudo vai ficar bem. – Vamos resolver isso sem precisar fazer qualquer alarde. Augusta estava inconsolável. – Ele voltou para fazer tudo de novo Santiago.

***

Dina e Anja passaram o dia inteiro juntas. Anja ensaiou passos da coreografia que iria tocar na festa para os casais dançarem juntos na frente dos juízes. Anja era graciosa, mas Dina parecia ter dois pés esquerdos. - Mais uma vez Dina, por favor. Anja precisaria de muita paciência para ensinar Dina. – Agora... Um, dois, vai à frente... Um, dois, volta a trás. - Eu já devo ter feito isso umas mil vezes e ainda não aprendi. Dina sentou. – Melhor a gente parar por hoje. - OK, você quem sabe. – Mas vamos treinar mais amanha combinado? Dina concordou com a cabeça passando as mãos nos pés, estavam doloridos de tanto treinar com Anja. – minha avó saiu hoje de manha para a igreja. – O que será que ela queria falar com o padre?


Anja se desmontou nas almofadas ao lado da amiga e ligou o mp3 nas caixas de som. – Eu não faço ideia, talvez ela esteja se confessando ou programando algum curso para o próximo verão. O som que saltava das pequenas caixas estava em volume baixo mais pode chamar atenção de Dina. - Eu adoro essa musica Anja. – Me faz lembrar Ric. – Não o vejo há vários dias. Ela deitou a cabeça na mesma almofada da amiga. – Como vou falar com Ric sobre a nós irmos juntos a festa se não sei onde ele está. - Será que devo ir na floresta procura-lo? Anja se levantou e andou até a porta principal da casa. Os ouvidos da loura eram simplesmente ótimos para perceber as coisas. – Acho que ouvi alguém bater palmas lá fora. Dina ficou esperando deitada nas almofadas da sala com o mp3 da amiga. Anja voltou correndo – Dina... Você não imagina quem está lá fora, adivinha. Dina deixou cair o mp3 sobre as almofadas e ficou sentada. Seu coração começou a acelerar esperando que a amiga dissesse as palavras que ela queria ouvir. Os olhos de Anja estavam brilhando tanto quanto da amiga correspondendo à felicidade entre elas. – O Ric está ai fora? - Me diga que é ele. Anja sorrindo balançou a cabeça para cima e para baixo concordando com a amiga. – Sim - O gato está ai fora esperando por você amiga. – Vai lá, o que está esperando?. Dina levantou por completo enterrando os pés de qualquer jeito nos tênis. Arrumou as mechas castanhas e no segundo seguinte estava do lado de fora da porta encontrando os olhos verdes sedutores que há dias ela não via. Ric estava olhando para ela com o mesmo sorriso libertino de sempre, como se ele tivesse se despedido dela na mesma manha daquele mesmo dia. Ela desceu o degrau da varanda e parou em frente a ele, agora a distancia entre os dois era menor que um palmo. O calor do corpo de Ric era capaz de evaporar toda a transpiração dela naquele espaço, mas ela ficou no mesmo lugar completamente hipnotizada pelo brilho verde do olhar dele. Ric segurou Dina pela cintura e trouxe-a para junto do seu corpo e ela pode sentir de fato todo o calor daquele homem. – Onde você esteve? Ela perguntou. – Porque você sumiu?


- Eu tive que lidar com Ram, estive procurando ele na floresta. Respondeu Ric agora com as duas mãos no rosto dela. - Eu pensei que você tinha se esquecido de mim. Ela sussurrou para ele. Ele pousou os lábios nos dela com leveza fazendo com que ela fechasse os olhos. Delicadamente ele beijou a curva do queixo dela e sussurrou de volta em seu ouvido. – Eu jamais esqueceria você Dina. – Você é presença constante nos meus pensamentos. Ela virou a boca em direção à dele e o beijou forte. Foi um beijo longo entre os dois. Anja estava observando tudo do lado de dentro da janela da casa, ela estava sorrindo sozinha pela alegria da amiga. - Como você sabia que eu estava aqui? Ela perguntou para ele. - Eu fui até sua casa e as luzes estavam apagadas. - A casa estava apagada? Dina perguntou. – Minha avó também não está em casa? - Não tinha ninguém em casa Dina. De repente Dina se abateu de preocupação com vó Augusta, já escurecera e ela ainda estava na igreja, ou ela poderia estar em outro lugar. Ric percebeu no mesmo instante a preocupação da garota e sugeriu acompanha-la até casa. – Vamos à sua casa Dina, eu levo você até lá. Ele disse. – Céu está aqui perto. Dina suspirou um segundo se lembrando do passeio com Ric pela floresta montada em Céu. Foi um momento maravilhoso que ela gostaria muito de repetir. – Não vai dar. Respondeu ela. – Antes vou passar pela igreja e falar com padre, se minha avó estiver lá pretendo descobrir porque ela passa tanto tempo com ele. Ric tombou a cabeça para o lado e retorceu um sorriso de resposta a ela. – Você é uma garota que gosta de fazer as coisas por si própria, não é mesmo? – Não tem medo de andar sozinha por ai? - Não, o que pode acontecer comigo? Ela respondeu sorrindo de volta. – A igreja é logo ali depois das ruas de terra. Nada vai acontecer comigo.


Ric passou as mãos nos cabelos dela. – Você é incrível Dina, eu jamais poderia imaginar que iria encontrar uma garota assim como você. Agora ele estava com as duas mãos nos cabelos dela. – Você me faz sentir livre e me ajuda esquecer o pesadelo da floresta e do meu passado. Já com o corpo encostado ao dela, mal havia espaço entre eles. – Sinto que com você eu poderia sair daqui, dessa cidade. Ele a beijou. Depois que Ric sumiu na floresta, Dina despediu de Anja e caminhou pelas ruas semi-iluminadas em direção à igreja. Fazia frio e ela havia deixado o cardigan junto com a bolsa na casa de Anja. Ela envolvia seu corpo com os próprios braços, a respiração estava mais ofegante. À medida que ela apressava os passos percebeu um vulto na outra calçada. Uma imagem escura que destoou na pouca iluminação que dividia espaço com a folhagem, a calçada estava encostada na floresta, um local muito convidativo para que algum animal ou pessoa com más intenções surgisse inesperadamente. Dina apressou os passos, estava quase correndo quando escutou um bufo e parou. Imóvel, virou a cabeça lentamente e depois o corpo deparando com a imagem de um animal grande e negro. “É o cavalo de Ram”, ela pensou. “Ric disse que o nome dele é Tobruk”. Menos tensa, Dina virou de volta e continuou a caminhar. Tobruk, majestoso, seguia atrás dela lentamente. Os quatro cascos no chão soavam uma melodia pertinente, e a garota começou a ficar preocupada. Dina virou novamente para o cavalo, o movimento assustou o animal, mas sua reação foi bufar forte para ela. Ele arrastava uma pata dianteira no chão provocando um som arranhado com o casco. Ela ficou absolutamente imóvel, quase não respirava de tanto medo que estava sentindo. Deslizando as pernas para o lado Dina caminhou lateralmente, tão lento que quase não se percebia que ela saia do lugar, Tobruk a olhava com desconfiança. “Calma Dina.” Pensou consigo mesma. “Lentamente, vire-se e ande com calma”... Ela começou a correr em direção a sua casa, que não estava muito longe.


Sem olhar para trás era possível ouvir o som dos cascos galopando e cada vez chegando mais perto. “Ele é mau, o cavalo dele é mau...” Ela pensava nas palavras que Ric dissera. Quase na porta de casa Dina tropeçou, mas dessa vez não caiu, conseguiu equilibrar e continuou correndo como se sua vida dependesse disso. Talvez dependesse. Ao alcançar a maçaneta ela lembrou que deixara sua bolsa na casa de Anja, com a chave dentro. Tobruk já estava a um metro de distancia dela. Com medo do monstruoso animal, Dina grudou as duas mãos no rosto e virou para a madeira antiga da porta, Tobruk alongou o pescoço e com as duas narinas enormes, começou a cheirar Dina. Cheirou as costas causando cócegas na garota, depois subiu para o cabelo e, finalmente estacionando no bolso do short jeans que ela vestia. Mais aliviada ela virou-se cautelosamente e deixou que o cavalo a cheirasse. – O que você quer? Ela perguntou. – Gostou do meu cheiro? O cavalo tentava sem sucesso enfiar a língua dentro do bolso do short dela. Dina, muito cuidadosa, escorregou a mão devagar e mergulhou no bolso trazendo para fora migalhas de pão de batata. “O pedaço que caiu no chão na casa de Anja” ela pensou. “Eu enfiei no meu bolso ao invés de jogar no lixo, é isso que ele quer.” Ela concluiu. Tobruk lambeu as migalhas de pão na mão dela e quando acabou soltou um bufo. – Você quer mais? Ela perguntou. – Vou pegar mais lá dentro, assim que minha avó abrir a porta. Após algumas batidas ela se conformou que não havia ninguém em casa, e o cavalo não parava de cheirar e bufar para ela. Dina já estava ficando nervosa diante da expectativa do animal, já não havia mais migalhas em seu bolso e ele se mostrava cada vez mais agitado. Quando o desespero estava aparente, Dina temia que o cavalo a mordesse. Ela pensou em tirar o short e deixa-lo no chão para distrair o animal. “Isso é ridículo” ela pensou, “não vou ficar de calcinha na porta de casa por causa de um cavalo que gosta de comer pães”. Foi ai que Tobruk começou a mordiscar as alças do short dela, o desespero a dominou totalmente e ela começou a abaixar o short,


tirou uma perna após a outra ate estar completamente, só de calcinha. Deixando o short caído no chão, sendo inspecionado por Tobruk, Dina foi andando de vagar pela da lateral da casa, “espero que ele não venha atrás de mim” ela não parava de pensar. Com toda a sua atenção voltada para o cavalo destruindo seu short, ela já estava alcançando a rua dos fundos da casa, mas Dina só percebeu que não estava sozinha quando esbarrou em Bob. - Ahhhhhhhhhhhh. Gritou de susto - Calma, sou apenas eu. Falou Bob tranquilamente enquanto Dina se recompunha do susto. – O que houve? Ele perguntou. Pensando em como iria descrever a razão por ela estar do lado de fora da casa vestindo blusa e calcinha ela falou sem pensar - Tem um cavalo na porta da minha casa, ele é perigoso. Ela sabia qual era o cavalo e a quem ele pertencia. – Fiquei com medo e vim aqui atrás. “Não acredito que eu disse isso” ela pensou. Levantando uma sobrancelha enquanto olhava para ela de forma curiosa. – E você veio aqui atrás desse jeito? Ele apontou o indicador para baixo da cintura dela. – Vermelha é uma cor muito bonita. Ele ignorou completamente o fato dela ter dito que um cavalo estaria na porta da casa dela. Foi a vez das bochechas de Dina ficarem vermelhas. – Ai merda, não olhe, vire pra lá. Falou vergonhosamente enquanto tentava puxar a blusa mais abaixo tentando esconder o que ele já havia visto. “Como ele apareceu aqui?” Pensou. “Ai que vergonha, isso não pode estar acontecendo”. - É a segunda vez que você me mostra suas roupas intimas. Ele soltou um risinho maldoso enquanto olhava para ela. – Primeiro da cintura pra cima e agora da cintura pra baixo. – Está tentando me seduzir? Foi a primeira vez que Bob pareceu ser um rapaz normal. Dina já não sabia mais o que fazer e resolveu voltar para a porta de casa. “Antes o cavalo me ver seminua do que ele”, concluiu. Bob retirou a blusa revelando toda a musculatura por baixo dela, Dina por um segundo esqueceu a situação e passou os olhos no mapa musculoso do tronco dele. Era simplesmente lindo, perfeito.


Quando caiu em si, seu rosto ficou corado novamente enquanto Bob entregava sua blusa a ela num gesto de solidariedade. - Pegue, é mais comprida do que a sua. Ele voltou a ficar serio novamente. - Obrigada. Ela vestiu a blusa dele rapidamente. – Quando o cavalo sair de lá eu entro e devolvo sua blusa. - Não tem nenhum cavalo lá Dina. Ele apontou para a entrada da casa dela. – Cavalos não perambulam pelas ruas a essa hora da noite e não ficam na porta das casas das pessoas.

“Não tem cavalo?” Ela pensou. “Mas tinha um cavalo enorme lá na porta, o cavalo de Ram”. Ela avançou em direção a entrada da casa encontrando apenas o short mordido no chão. “Ele foi embora” Concluindo que era melhor não explicar mais nada à Bob e esquecer a historia do cavalo, ela o agradeceu. – Obrigada pela camisa, eu devo ter me enganado. – Acho que foi um cachorro. Ela bateu na porta depois que percebeu que as luzes internas estavam acesas. Sua avó, enfim estava em casa. Bob estreitou os olhos em direção a ela. – Você confundiu um cachorro com um cavalo? Ele perguntou entendendo que ela estava escondendo o que tinha visto. – Parecem ser de tamanhos diferentes. Dina tentou explicar o que parecia inexplicável. – Eu devo ter confundido, foi de repente... O cachorro me assustou. - Deve ter sido um cachorro bem grande. Ela pegou o short no chão enquanto vó Augusta caminhava na casa em direção à porta. – Obrigada mais uma vez, mas só vou devolver sua camisa quando você devolver a minha. Ela tentou mudar o assunto - Tudo bem. Ele respondeu bem serio. A vó da garota destrancava a porta – Combinado. Acenou com a cabeça e caminhou em direção as ruas sumindo na escuridão. - Oi vó. Ela entrou correndo em direção as escadas. - Querida isso ai é um vestido?


Dina, bastante nervosa pensou numa reposta convincente para aquele momento, mas acabou gritando do andar de cima. – Onde a senhora estava até agora? - Amanha conversaremos querida. Vó Augusta não sabia o que responder a neta. Dina já estava em seu quarto sentindo-se mais aliviada. – Tudo bem vó, boa noite. Trancou a porta do quarto e retirou a camisa de Bob. A camisa era de um tecido rústico, parecia ter sido feita a mão. Ela reparou os pequenos botões de madeira e então aproximou a peça de roupa em direção ao seu nariz. “Será que tem o cheiro dele?” Ela não parava de pensar. No mesmo segundo ela afastou a roupa. “Não seja ridícula Dina.” Ela soltou a camisa no chão, fechou a janela e caminhou para o chuveiro. Ram já estava longe suficiente da casa dela. Atravessou para a calçada próxima à floresta, sua pele clara contrastava com o reflexo da baixa iluminação que a cidade exibia à noite. Não se ouvia ruído ou piar de qualquer animal e Ram ficou à vontade para soltar um pequeno chamado em forma de assobio. Em poucos instantes Tobruk emergiu da mata e se aproximou de Ram. Alisando o cavalo com uma das mãos enquanto a outra retirava pequenas folhas da crina do animal. – Comparar você a um cachorro não foi legal meu amigo. Ram montou no cavalo. – Você gosta dela? O cabalo bufou trotando para dentro da mata. – Quando ela estiver na Aldeia você poderá brincar o quanto quiser. Eles galoparam floresta à dentro para encontrar com Edie esperando na entrada secreta de Santo Pedro. - É um pouco tarde para uma visita, ainda mais quando não é desejada. Ram falou primeiro. Tobruk bufava para Xerife e este o ignorava completamente. - Tenho percebido que você está perambulando pela cidade. Foi a vez de Edie falar. – E quanto a historia do perigo da exposição? - Perambulando não seria o termo correto caro irmão do meio. – reconhecendo o campo soaria melhor.


- O que você quer dizer com reconhecendo? Edie falava calmamente enquanto olhava serio para Ram. – Você já conhece a cidade muito bem. - As coisas mudaram caro irmão. O olhar de Ram era frio, seguro, profundo. – Existem pessoas novas morando na cidade, mais meninos... Garotas que gostam de passear pela floresta. - O que exatamente você está pensando? – Me fale agora. - Não é óbvio? - Diga logo. Edie estava impaciente. - Está na hora de renovar a população da minha aldeia. - Sua aldeia? Ram ignorando a pergunta continuou. – Minha aldeia está precisando de novos guerreiros e principalmente novas garotas. Os guerreiros andam muito solitários. - Você não pode estar falando serio. Edie já havia concluído o propósito do irmão. – Ele morreu, e eu espero muito que aquele sonho insano esteja lá, debaixo da terra, junto com ele. - Nosso pai pode estar morto, mas o desejo dele de fundar um povoado perfeito, livre de qualquer doença que já existiu, ainda está bem vivo. Os olhos de Ram brilharam no meio da escuridão. Os cavalos pareciam mais agitados. – Vou continuar de onde meu pai parou. - Você está ficando louco igual a ele. Edie começou a se afastar. – Eu não vou permitir que você comece todo aquele pesadelo novamente. - Quem não está comigo é meu inimigo. Edie puxou as rédeas de Xerife - Então vamos ser inimigos. E os dois galoparam para longe deixando Ram sozinho com Tobruk. Ram antes de passar pela entrada secreta olhou para trás e seus olhos brilharam novamente. – Pode apostar com isso irmão.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

A cidade se prepara 14

Incrivelmente

a

cidade

começou

a

ficar

a

agitada

com

os

preparativos da festa do Solstício de inverno que aconteceria em poucos dias. Todos os moradores ajudavam a enfeitar as ruas das suas casas, até o prefeito da cidade que quase não dava as caras apareceu com seu discurso memorizado e politicamente correto. Uma grande fogueira estava planejada para ser montada na praça principal. Era tradição acender a fogueira pouco antes da meia noite. As pessoas que moravam na cidade tinham o habito de colocar bilhetes entre a madeira com pedidos e agradecimentos para que pudessem ser queimados no momento em que fogueira fosse acesa. Bandeiras e lampiões eram pendurados nas arvores e nos postes e ate a igreja ficou bonita. O padre apesar de não gostar nem um pouco do apelo da festa, organizava barracas com comidas típicas da região. Tudo estava ficando perfeito e ao que parecia essa festa era muito esperada.


Infelizmente na mesma ocasião, as pessoas aproveitavam para homenagear seus mortos, mais precisamente as pessoas que morreram durante a busca da água milagrosa e as que desapareceram anos atrás. Todos os parentes dos mortos e desaparecidos também colocavam bilhetes da fogueira. Até a escola estava enfeitada, os próprios alunos se encarregavam da decoração para o evento. Dina e Anja estavam na aula de educação física treinando com arco e flecha. Anja não gostava nem um pouco de manusear armas, muitos menos as antigas. – Não entendo porque a professora gosta que a gente aprenda a usar isso. Anja largou tudo no chão. – Eu definitivamente vou reprovar em educação física. Dina ergueu o arco posicionou a flecha por baixo do anel da corda e puxou-a para trás usando os três dedos do meio. Quando a corda estava próximo à sua bochecha, mirou no alvo quase 20 metros de distancia e disparou. Por pouco a flecha não acertou o alvo central, mas foi um bom tiro. A professora e os outros alunos bateram palmas para ela. – Excelente tiro Diana. Falou a professora. – Que acha de entrar para o time de arco. - Obrigada, mas não estou interessada. Dina respondeu lembrando quando treinava arco com seu pai. Ele frequentava um clube de arco e flecha antes de morrer no sequestro relâmpago. - Se mudar de ideia me avise garota. A professora soprou forte o apito e gritou. – ACABOU NOSSO TEMPO - TODOS PARA O CHUVEIRO, você não Adan. Ela apontou para o material. – Você vai arrumar isso tudo. Adan olhou torto para a professora mais não falou nada, silenciosamente recolheu tudo e depois encontrou os outros garotos no vestiário. Depois que Dina e Anja estavam fora da escola, conversavam com Carla sobre os vestidos que iriam usar na festa. - Quem vai ser seu par? Perguntou Carla. - Eu não tenho um par. Anja pensava em Luccar vestido de traje combinado com o vestido dela.


- Eu vou com Ric. As duas garotas olhavam para ela. – Você já falou com ele? Perguntou Anja. – Quem é Ric mesmo? Perguntou Carla. Dina ficou um pouco tonta olhando para as duas e respondeu prontamente. – Ric é o cara da floresta que assustou o cavalo preto, de olhos verdes. Falou olhando para Carla. - Ainda não falei com ele Anja, mas falarei hoje. Carla desconversou e despediu das meninas. – Preciso ir pra casa, minha mãe está me esperando. - Xau Carla. – Xau Carla. As duas meninas que ficaram continuaram conversando depois que a outra saiu. - Como você vai fazer para encontrar com ele? Perguntou Anja. - Eu vou à floresta procurar por ele. Ela respondeu. - E como você espera encontrar ele na floresta. Anja parecia preocupada com Dina. - Eu pretendo ir dentro da floresta, onde fizemos a pesquisa da escola e simplesmente vou gritar o nome dele. - Você está louca? Perguntou Anja. Seu coração estava batendo mais forte. – Você não vai fazer isso, vai? - Claro que vou, tem uma ideia melhor? Anja estava certa de que Dina pretendia realmente ir à floresta procurar por ele, então tentou convencê-la a não ir sozinha. - Irei junto com você. Ela falou. Dina não queria colocar Anja em perigo, pois sabia que Ram também estaria na floresta. – Tudo bem. Respondeu. – Mais tarde eu passo na sua casa. Dina estava determinada a encontrar Ric, mesmo que isso significasse contar uma mentira para sua melhor amiga. No caminho de volta pra casa, depois da escola, elas caminhavam juntas. Anja tagarelava sem parar enquanto Dina a ouvia atentamente, em meio às palavras da amiga loura, ela reparou um homem familiar que caminhava rapidamente por trás de alguns andaimes na calçada que eram usados para enfeitar a cidade.


Reconhecendo Paulo imediatamente, agarrou no braço de Anja e a chamou. – Vamos ali comigo, rápido. - Ir para onde? Perguntou Anja quase engasgada com suas próprias palavras. – Eu estava no meio da descrição do meu vestido de festa e... - Anja, eu preciso correr. Interrompendo a amiga. – Você vem comigo ou não? - Eu não posso. Ela respondeu. – Tenho que ir à igreja encontrar minha mãe, ela esta fazendo os bordados do altar. - Nos encontramos mais tarde Anja, xau. Dina se despediu não dando chance de resposta para amiga. - Aonde ela vai com tanta pressa? Anja nunca entedia a velocidade com que Dina resolvia as coisas. Quase na porta da Igreja Anja viu Lucaar na calçada lateral encostado com os braços cruzados olhando para ela. Naquela hora do dia ela percebeu o quanto Lucaar era bonito, seus cabelos brilhavam com a luz do sol e a pele dele era muito branca, contraste perfeito para seus olhos escuros. Ela caminhou em direção a ele, seus passos eram temperados e desconfiados. – Oi. Ela teve coragem de falar. – O que você esta fazendo aqui? - Estava passando e resolvi parar aqui para ver você. Ele respondeu se aproximando dela. – Lhe dar um beijo de boa tarde, talvez. Ele já estava tão perto que sua mão alcançou uma mecha rebelde de cabelo louro e escondeu atrás da orelha dela. Anja de afastou não permitindo que suas mãos fossem além da mecha de seu cabelo. – Eu não vou beijar você. Ela respondeu. - Mas poderia. Ele a devorava com seus olhos. - Não conte com isso. Ela rebateu de novo. – Eu não conheço você, apenas sei o seu nome e isso não é suficiente para eu beijar você. - Está indo para igreja. Ele mudou de assunto. – Fez aquela oração para mim? Anja abaixou a guarda e respondeu com um sorriso orgulhoso.


– Claro que fiz, mas hoje eu não vim aqui para fazer oração alguma. Ela continuou. – Vim ajudar nos preparativos para festa. - O solstício? Ele perguntou. - Sim, o Solstício. Respondeu caminhando em direção à porta de entrada da igreja. – Xau Luccar, eu tenho que ir agora. - Mais uma coisa. Ela parou no meio da escadaria da igreja e virou-se para ele. – Vai me pedir para fazer outra oração para você? - Não. Ele respondeu sério. – Vou pedir que guarde uma dança para mim no dia da festa. Virou de volta para a rua e foi embora deixando Anja sem poder falar qualquer palavra de resposta. Anja piscou duas vezes pensando em dançar com Lucaar na festa, caindo em si deu de ombros e desapareceu atrás das portas da igreja. Enquanto isso, Dina percorria as calçadas onde estavam os andaimes, na esperança de não perder Paulo de vista. Ele caminhava tranquilamente não percebendo que estava sendo seguido por ela. - PAULO. Ela gritou. O homem parou de andar no mesmo instante em que ouviu seu nome sendo pronunciado pelo grito da garota. – Diana. Ele disse abrindo um sorriso sarcástico. – Posso ajuda-la com alguma coisa? Suas palavras eram quase sussurros. - Não vai mais fazer analise comigo? Dina se aproximou ingenuamente do homem. – Sua secretária disse que o senhor sumiu. - Eu não sumi. Ele respondeu. - Minha secretária não informou direito, eu precisei viajar e não tive tempo de cancelar as consultas. - Tá certo. – Quando vejo o senhor então? Ele acomodou os enormes óculos no rosto. – As consultas estão canceladas por tempo indeterminado. Ele respondeu. - Mas Paulo, minha avó disse que... - Eu telefono para ela depois Diana. Interrompeu. – Agora me deixe ir, preciso visitar um amigo que está doente.


“Ele está estranho”. Ela pensou, mas fez sinal com a cabeça parecendo concordar e despediu-se. - Então está certo, você fala com minha avó e remarcamos quando estiver disponível. - Sim. Ele respondeu apressadamente. – Aproveite o Solstício, é uma bonita festa. Adeus. - xau. “Com certeza ele é um estranho”. Pensou. Enquanto voltava pelas ruas adornadas com bandeiras e enfeites, ela percebeu que estava perto do velho chafariz e lembrou que havia esquecido completamente de Ric. “Vou à floresta falar com ele”. Quando ela notou uma imagem branca acinzentada flutuando por dentro das folhagens próximas à calçada. “É o Céu”. Ela reconheceu o cavalo de Ric. “Se ele esta por aqui, Ric também está aqui”. Concluiu que ele estava por perto. - Céu, venha aqui. Ela chamou o cavalo reconhecendo – a se aproximou. – Bom garoto.

que

prontamente

Ela deslizava as mãos sobre o pelo do cavalo sentindo uma conexão entre os dois. Estava maravilhada em poder tocar naquele enorme animal. – Você sabe onde está o Ric. - Desse jeito vou ficar com ciúmes. Ric falou enquanto emergia das árvores. Dina abriu um enorme sorriso em resposta a ele. – Ele gosta de mim, me deixou toca-lo sem que você estivesse aqui. Foi a vez de Ric se aproximar dela. – Não é difícil gostar de você Dina. Ele tocou a cintura dela com as duas mãos. – Difícil seria estar longe de você. Ela pousou as mãos nos ombros dele enquanto o ouvia falar. – Eu senti sua falta. Ele disse e finalmente a beijou. O tempo que eles passaram juntos voou e logo anoiteceu. Dina resolveu falar com Ric sobre eles irem juntos à festa. - Sabe que logo estaremos comemorando o Solstício aqui na cidade, não é? Ela iniciou o assunto. – Você já participou alguma vez?


Ele pensou um pouco antes de responder a ela. – Eu me lembro vagamente, era pequeno demais para sair sozinho nessas festas, minha mãe nunca me deixou participar sem que ela estivesse me acompanhando. – Acho que somente Ram frequentou essa festa. - Mas você já foi? Mesmo com sua mãe? Ela insistiu. - Sim, lembro que havia barracas de comidas e uma fogueira muito grande no centro da praça. Dina abaixou a cabeça e começou a falar sobre o vestido que ela e Anja encomendaram. – A costureira está terminando meu vestido. - Você vai à festa Dina? Com um vestido? Ric pareceu se interessar. - Sim eu vou com Anja, nós não temos um par e... - Eu vou com você. Ele a interrompeu antes que ela pudesse terminar de falar. - Você quer ir comigo? Ele alcançou a mão dela e trouxe em direção a sua boca, seus lábios tocaram a pele dela fazendo-a tremer por dentro. – Nada me deixaria mais feliz que estar com você no Solstício. O vento soprava fraco e balançava os cabelos dela lentamente. Dina se encolheu por causa do frio, mas logo foi acolhida pelos braços dele em torno de seu corpo. Ela se aninhou na imensidão do peito de Ric e teve a sensação de que poderia ficar ali para sempre. Os dois permaneceram sentados no velho chafariz se abraçando e se beijando. Apenas um poste de luz muito fraca iluminava Dina e Ric. Quando o acaso parecia estar em favor dos dois, fez a lâmpada do poste queimar convenientemente. A única iluminação do local era da lua que não estava na sua fase mais forte. Ric olhou para Dina e ela pode perceber que seus olhos estavam brilhando. “Lindos” ela pensou. Com o braço muito forte ele conseguiu puxa-la para o seu colo e ela não fez nenhuma objeção, pelo contrario segurou-o pelos cabelos de leve e jogou um beijo sedutor nos lábios dele. Ric deslizava as mãos pelas costas dela e o toque dele fez com que ela sentisse arrepios. Quanto mais eles se apertavam um no outros mais queriam diminuir o espaço entre eles, que já não existia.


Em meio a toda aquela paixão, Céu se aproximou bufando e os dois se soltaram com certa resistência. - O que ele tem? Ela perguntou enquanto Ric acariciava o cavalo. - Ele sentiu a presença do inimigo. Ele respondeu. – Estão por perto. - Você tem inimigos? Dina não entendia que o clã de Ram era o inimigo direto dele, de Edie e de seu clã. - Dina. Ele se aproximou dela e tocou o arco do seu queixo com as duas mãos. – Ram e seu grupo são meus inimigos desde o momento que eu fui embora de Santo Pedro para viver no acampamento refugiado, Ram jurou que se eu não voltasse para ele e para a Aldeia ele iria me caçar e me matar. A partir daquele momento Dina entendeu a preocupação de Ric com sua segurança e a dela. – Como eu consigo achar você? Ela perguntou antes que ele pudesse sumir na escuridão da mata. Ele desceu do cavalo e retornou para ela. – Eu sempre estarei por perto a partir de agora e vou observar você de longe para garantir sua segurança. Ele a beijou depois disso e montou novamente no cavalo. - Vá para casa, vou vasculhar a área. Dina voltou para casa e trancou a porta. Andou pelo interior da casa até achar sua avó lendo um livro tranquilamente na cama. - Boa noite querida. - Boa noite vovó. Ela respondeu. – Outro dia a senhora passou muito tempo na igreja. Augusta pensou um pouco antes de responder a neta. – Estive conversando com Padre Santiago sobre os preparativos para a comemoração. Vou preparar doces para as barracas. Por que o interesse? - Nada, é que eu fiquei preocupada com a senhora. - Como está o seu vestido? Quando fica pronto? - Anja vai comigo experimentar antes da costureira fazer o acabamento. Ela sentou ao lado da avó na cama. – Vó, como é essa festa?


Augusta suspirou olhando para a janela fechada do seu quarto, as cortinas balançavam com o pouco de vento que passava por ela. – A festa é uma comemoração muito bonita, querida. O Solstício anuncia o nosso inverno e simboliza o renascimento. As pessoas da cidade lembram-se de seus filhos e maridos que desapareceram anos atrás. Ninguém nunca mais os viu novamente. Dina abaixou a cabeça e lembrou-se de Ric. “Ele foi uma das pessoas que desapareceram”, ela pensou, “ele e sua família”. - Eu preparei pães de batata para você querida, estão na cozinha. - Obrigada. Ela falou enquanto derramava um abraço apertado na sua avó e foi para a cozinha. Parando na beirada da escada que levava para o primeiro andar olhou para baixo e deu um sorriso. “Dessa vez eu vou me superar”. E ela desceu as escadas em três movimentos.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

Ram 15 Toda a escola estava em ritmo de festa, os alunos ansiosos e os professores preocupados. Só Dina não mostrava qualquer tipo de preocupação com o Solstício, ela não parava de pensar em Ric e por sua vez, Ram também participava dos pensamentos dela. Anja quando não estava tagarelando estava rezando. Lorena parecia, mesmo que de longe, ter dado uma trégua e Adan, depois que começou a praticar defesa pessoal, nunca mais passou por perto. Ele sempre ficava de longe observando as coisas, a única pessoa com quem ele falava na escola era Lorena. - Amanha vamos experimentar nossos vestidos, disse Anja muito eufórica. – mal posso esperar para vesti-lo, e você? Não está louca para se ver num vestido de festa?... – Dina, acorde? Dina parecia estar em outra dimensão. – O que foi? Desculpe-me, eu não ouvi você falar. – Ric vai comigo sim, já falei com ele. - Eu disse que amanhã nós vamos experimentar nossos vestidos, eu não perguntei sobre o Ric, ela retrucou. – Espere ai, você foi à floresta ontem? Sozinha?


- Não, respondeu Dina. – Ric encontrou comigo aqui na cidade, não precisei ir procura-lo. O sinal tocou e os alunos levantaram enquanto a professora tentava falar. CLASSE, TODOS SABEM QUE HAVERÁ RECESSO DE UMA SEMANA NA ESCOLA POR CAUSA DO SOLSTÍCIO. APROVEITEM O TEMPO E NOS VEMOS SEMANA QUE VEM. Anja adorava quando não havia aula. - Uma semana sem escola, que beleza. Ela achava que poderia se dedicar mais na igreja, fazendo orações extras. - Você é louca, Anja. Dina respondeu torcendo os lábios para o canto da boca. – Só mesmo você pra falar uma coisa assim, achar bom não ter aula pra ficar na igreja. Elas saíram da escola para encontrar o dia cinza do lado de fora. – Acho que vai chover, falou Anja. – Olhe aquelas nuvens. Dina olhou para cima, viu o céu em tom cinza e lembrou-se do cavalo de Ric. – O Céu é assim, cinza, ela disse. - Geralmente o céu é azul, respondeu Anja. – Mas hoje está cinza por causa da chuva que vem por ai. Dina olhou para Anja e lembrou que não havia comentado com a amiga sobre o cavalo de Ric. – Anja, Céu é o cavalo de Ric, a cor dele é branco acinzentado. Anja olhou para ela com sorriso retórico. - Não brinca que seu príncipe tem um cavalo branco? Perguntou. – Você esqueceu-se de falar isso comigo? Dando um tapa carinhoso no ombro da amiga. - Sei lá, acho que foi. E as duas começaram a se estapear uma na outra como duas crianças brigando por causa de boneca. Enquanto as meninas trocavam tapas, puxões e beliscadas de amizade, uma carroça passou por elas e o homem gritou para as duas abrirem espaço. Elas pularam na calçada quase no mesmo segundo em que ouviram o grito do homem. Dina olhou para o cavalo preto atrelado a carroça e o comparou com Tobruk. “É bem mais baixo e mais magro”, ela pensou. “Claro que não é ele”. No mesmo momento ela havia se lembrado de que não comentou com Ric na noite passada, o fato de que Tobruk a seguiu até a porta de sua casa, claro que se tivesse comentado, não


mencionaria a parte em que ela retirou o short e ficou só de blusa e calcinha na rua. – Eu preciso contar para ele isso. - Contar o que? Perguntou Anja. - Esqueci-me de contar para Ric que o cavalo de Ram me seguiu outro dia até a porta de casa. - Cavalo de Ram? - Tobruk, o cavalo preto da floresta, lembra? Que Ric pensou que estava nos atacando. - Agora me lembro. Ele foi até sua casa? Perguntou anja assustada Dina rapidamente se apressou para ir ao encontro de Ric. – Tenho que ir, minha avó está me esperando. - Calma eu vou com você esqueceu que estávamos indo juntas? Reclamou Anja. Dina mais uma vez se lembrou que não poderia colocar a vida da amiga em risco e encontrar Ric representava perigo, já que Ram poderia estar passeando pela cidade também. - Anja, vamos nos encontrar mais tarde, ela tentou convencer à amiga. – Tenho que fazer umas coisas com minha avó, eu me esqueci de falar com você mais cedo. Deixou a amiga para trás falando sozinha e andou rápido na direção de casa. - TÁ BOM, gritou Anja para Dina. – Nos vemos mais tarde então. Ao invés de Dina ir direto para sua casa tomou o caminho da rua de baixo e seguiu direto para entrada da floresta, a mesma que a professora havia levados os alunos para pesquisa em campo. Dina percorreu a estreita trilha entre a vegetação. Minutos após ter entrado na floresta conseguiu chegar onde o grupo da escola havia parado. Sozinha e rodeada por arvores e plantas ela circulou o olhar em volta tentando escolher qual direção ela iria a partir dali. Dentro da floresta tudo parecia dar em lugar algum e tudo era igual. As pedras cobertas com uma fina camada verde, folhas secas no chão contrastando com folhas recém-caídas, troncos de arvores de


diversas espessuras e muito mosquito, ela estava tão decidida em encontrar Ric para falar sobre Tobruk que esqueceu completamente de usar calças e aplicar repelente no corpo. Quando estava no limite da sua paciência Dina simplesmente fez o que dissera a Anja no dia anterior. Tomou um bom fôlego e quando ia gritar o nome de Ric percebeu uma movimentação entre as folhagens. Novamente ela vislumbrou o que parecia ser a imagem de um animal muito grande andando pela floresta. Estava claro e ela teve certeza que o animal realmente era grande e preto. Paralisada ela observou o animal se aproximar de onde ela estava. Não havia nenhum local que ela pudesse correr para se esconder, ela estava completamente cercada por árvores e plantas. O animal se aproximou e ela o reconheceu imediatamente. Olhou para cima e pensou em tentar agarrar algum galho de arvore para se defender, mas nada parecia favorável. Tobruk saiu da mata fechada e apareceu diante dela. “Oh meu Deus, eu não tenho nenhum pão de batata aqui comigo”, ela pensou enquanto caminhava lentamente para trás tentando ficar longe do cavalo. Tobruk estava inquieto, bufava forte e relinchava, ela nunca havia escutado o cavalo relinchar. – Calma ai rapaz, ela disse baixinho para ele. – Só me deixe ir embora. O cavalo parecia saber o que estava fazendo, cada passa que ela dava para trás o cavalo dava um passo a frente e balançava forte a cauda. “O que eu vou fazer agora?” Ela estava completamente dominada pelo medo do animal, que talvez pudesse atacar com uma das patas, ou até mesmo morde-la de verdade. Tobruk sem dar qualquer alarde empinou as duas patas dianteiras e relinchou forte, foi ai que Dina não se aguentou no lugar e tentou correr para dentro da mata onde a vegetação era mais densa e talvez o cavalo não fosse capaz de segui-la. No mesmo instante que ameaçou correr foi interceptada por um rapaz vestindo calças pretas e camisa da mesma cor. Ela parou na sua frente e levantou a cabeça estacionando o olhar no rosto dele. Era Bob.


Ela estava não agradecida por não estar sozinha ali na floresta com o cavalo que não percebeu como ele a havia encontrado e o que ele estaria fazendo lá. - Bob? Ela falou pousando as duas mãos na própria barriga, todo o medo que ela estava passando fez com que sentisse dores abdominais. – Cuidado com o cavalo, vamos correr pra dentro da mata. Bob estava calmo e impediu com o seu corpo que ela tentasse dar mais um passo tentando fugir. – Calma Dina viu outro cachorro? Ele perguntou. - Não, dessa vez é serio Bob, o cavalo é perigoso saia da frente, VAMOS LOGO. Tobruk se aproximou obrigando Dina a recuar... Agora era Bob que estava perto do cavalo e ela sentiu que ele estava em perigo. – Cuidado Bob, não se mexa. Ela levantou os braços para o alto tentando chamar atenção do cavalo para que o rapaz pudesse escapar do animal. - Dina, ele não vai atacar. Bob respondeu. – Ele só ataca quando está em perigo... Na maioria das vezes. Dina não estava entendendo por que Bob estava agindo daquela forma, ele não parecia ter medo do cavalo, pelo contrario ele parecia conhecer Tobruk. – O que você quer dizer, ela perguntou enquanto jogava a bolsa com os cadernos no chão. – Ele não vai atacar? Bob se aproximou de Tobruk, o cavalo bufou e empinou as patas dianteiras novamente, dessa vez na frente dele, mas ainda assim ele continuou se aproximando do animal. “Ele vai tocar no cavalo”, ela pensou. “Isso é loucura, a menos que...”. Ela engoliu em seco quando ele passou uma mão na crina de Tobruk e a outra coçou o focinho dele. “Se ele está fazendo carinho no cavalo de Ram... Então... Ele só pode ser...” ela pensava. – Você é o Ram. Ela finalmente disse as palavras quase sufocadas pelo nó em sua garganta. - Muito Bem Dina. Ram respondeu com um leve sorriso nos lábios. – Matou a charada.


- Você é o Ram. Ela falava enquanto um flashback passava em sua mente. – Você me enganou esse tempo todo. Lembrou-se de quando ele apareceu e levou-a até a porta de casa. - Você mentiu para mim. Lembrou-se quando o balde caiu em seu braço. – Você... me fez pensar que era outra pessoa. - Eu tive que usar outro nome para me aproximar de você. Ele falou enquanto soltava Tobruk e caminhava na direção dela. – Bob é um nome que eu odeio, eu poderia ter inventado outro, mas agora que você já sabe quem eu sou... - NÃO SE APROXIME DE MIM, ela gritou. – ME DEIXE IR EMBORA. Ram estava quase um passo de proximidade de Dina quando ela correu pelo lado para encontrar Ram a encurralando novamente. - Me deixe em paz, eu não tenho medo de você. Ela falou a mentira tentando acreditar nela. Ram segurou Dina pelos braços e trouxe-a de volta para sua frente, atrás deles estava um grande tronco de uma velha arvore e ela não teria como sair dali. Ram estava olhando fixo para ela, encarando-a com seus olhos sinistros em tom que ela jamais poderia descrever. Sua expressão mostrava que ele estava falando serio. – Você vai comigo, ele disse. - NÃO. Ela gritou enquanto olhava nos olhos dele. - Então não tenho outra escolha, vou leva-la à força. - Ela disse não, Ram. A voz de Ric ao longe ecoou até os ouvidos deles. Céu emergia da mata com Ric montado nele. - Solte ela, agora. Ram olhou dois segundos para Dina antes que voltar-se para Ric com a espada desembainhada. Ela pode reparar no brilho da lamina da espada dele e mesmo com as mãos por cima, conseguiu ver o cabo preto todo trabalhado. Era uma linda Katana, como a que Ric empunhava só que muito mais imponente. Ric saltou de Céu que correu para a floresta a fim de provocar Tobruk. Os dois irmãos estavam encarando um nos olhos do outro com os braços rígidos empunhando cada um, sua espada.


Dina estava chocada com a imagem de dois homens que estavam prestes a lutar entre si, na frente dela. “Eles vão se matar” ela temeu. - Ric, cuidado. Ela temia por ele, mas também temia por Ram, ela não queria ver ninguém sangrar. Eles chocaram suas laminas, uma vez e depois outra. Ric levantou a espada e lançou-a sobre a cabeça de Ram sendo bloqueada pela espada dele. O contra golpe veio no mesmo caminho com muito mais potencia e agressividade fazendo com que Ric deslocasse todo seu corpo para trás formando uma ponte, e a espada de Ram passou direto, ao vento. Dina estava tensa e não sabia o que fazer correr ou ficar ali era uma decisão que ela não sabia a qual tomar. Ram usou um golpe marcial chutando a perna de Ric fazendo com que ele caísse no chão soltando sua espada. Ram firmou-se em cima do irmão colocando suas duas pernas uma em cada lado - Está na hora de você aprender a ultima lição irmãozinho, disse Ram estocando a ponta da espada na direção da cabeça de Ric. Deitado, deslocou a cabeça para o lado tão rápido que a ponta da espada fincou no chão. – Errou, gritou Ric. Ele estava tão perto da lamina que pode reconhecer a Corta-Relâmpago nas mãos de Ram. – Você está tentando me matar com a espada do nosso pai? Ele falou rangendo os dentes com raiva. – Você está usando *Kaminari Wo Kiru contra seu próprio sangue? *Tradução em Japonês para Corta-Relâmpago.

No segundo em que Ram relaxou os músculos, Ric golpeou-o por baixo agarrando seus ombros revertendo a posição entre o dois. Era Ram que estava em baixo de Ric, mas isso não o fez entregar a luta, muito pelo contrário, ele puxou uma segunda arma que aparentemente estava escondida em sua cintura. Ric por cima desarmado, forçando Ram sobre o chão que estava por baixo, espada numa mão e uma faca na outra, Dina ainda não sabia o que fazer. Ela nunca, jamais, havia presenciado uma luta entre duas pessoas. “Eles vão se matar”, ela pensou novamente.


Ela tentou procurar por alguma coisa pesada que talvez pudesse bater ou jogar sobre Ram na tentativa de dar alguma vantagem para Ric, mas quando voltou à atenção novamente para os dois, eles já estavam lutando em pé e Ric conseguiu, como ela não soube, recuperar a sua espada. Uma segunda pessoa emergiu das arvores, ela não conhecia, mas sabia que não estava do lado de Ric porque se posicionou contra ele também desembainhando uma espada. Ela não viu seu rosto porque estava atrás de um tecido preto, só conseguia-se ver os olhos que ela nem tentou adivinhar o tom da cor, mas reparou que os cabelos dele eram lisos, pretos e compridos até quase os ombros. Lucaar atacou Ric. Eram dois contra um, a luta estava desigual. Dina ficou ainda mais desesperada do que já estava, ela não podia fazer nada e isso a estava sufocando por dentro. Ela não sabia lutar com espadas, não conhecia nenhum golpe marcial para ajudar Ric. “Sou uma inútil”, ela pensou, “o que posso fazer?”. Ric já demonstrava sinais de cansaço e Ram estava disposto a matar o irmão. Mas era Lucaar que desferia os golpes mais fortes, ele sempre odiou e prometeu acabar com Ric, principalmente depois que Ric cortou um pedaço de sua orelha em outra luta entre os dois. Dina estava pensando em arremessar pedras em Ram e Lucaar, ela estava disposta a ajudar Ric, que já estava ferido, as lâminas dos dois haviam cortado em três ou mais locais do seu corpo. Quando Ram conseguiu ferir Ric gravemente no pescoço ela soltou um grito. – RIC... NÃO. Tudo parecia estar perdido, Dina chorava baixo sem poder fazer nada e Ric lutava até as ultimas forças, mas um objeto foi lançado de dentro da mata aterrissando no ombro de Lucaar fazendo-o deixar cair sua espada. Edie e o resto do seu clã saltaram por trás dos troncos das arvores. Ram e Luccar estavam em desvantagem numérica. Acuados decidiram fugir, mas Ram ainda ficou para encarar os dois irmãos. - Hoje foi declarada a guerra entre nós, ele disse. – Vocês não vão me impedir de continuar de onde meu pai parou. Ric ainda consciente e não pode ficar calado. – Então é esse seu plano? Você vai começar o pesadelo novamente? Ele sangrava muito


e Dina se aproximou para ajuda-lo. – Calma, ela disse. – Eu estou aqui, e eles vão embora. - O pesadelo só existe na sua cabeça sonhadora, falou Ram. – Vou duplicar o numero de habitantes em Santo Pedro e vou transformar todos em guerreiros. Parou um segundo para olhar Dina. – E esposas de guerreiros. Ric tentou levantar sem muito sucesso, estava muito cansado e ferido. – Não se atreva a tocar nela, ele ameaçou Ram. – Vou matar você se chegar perto dela. - CHEGA, gritou Edie. – Os idiotas acabam aqui, vá embora Ram, eu não vou conseguir segurar meus homens por mais tempo. Todo o clã de Ric e Edie estava a posto para atacar Ram, eles o odiavam porque o pai dele era o Barão, que os raptou de suas casas, ainda pequenos e os levou para Santo Pedro. Ram ajudou a treinar todos e alguns ainda guardavam marcas pelo corpo feitas por ele. Nem todos puderam usar a água para curar, por que Ram dizia que as marcas o fariam memorizar e não deixariam esquecer quem mandava ali. - SAIA, gritou Edie novamente. - Saiba que não vamos deixar que você siga em frente com seu plano. - É mesmo? Perguntou Ram em tom debochado. – Não tem como vocês estarem em vários lugares ao mesmo tempo. Não quando o dia acaba tão rápido. Ram virou para a mata e sumiu nela sem deixar qualquer rastro que pudesse ser seguido. Edie por sua vez, não deixou que os homens do seu clã o seguissem. - Você está bem Ric? Perguntou Edie ao irmão. - Ele está ferido, respondeu Dina segurando a cabeça de Ric enquanto eles falavam. - Edie, você trouxe a água? Perguntou Ric, quase sem poder falar. Edie ordenou que um dos homens do clã trouxesse seu cantil preso na cela de Xerife. Abriu a tampa e derramou uma porção da água sobre a garganta de Ric. Imediatamente a água começou a fazer seu


papel e o ferimento lentamente começou a curar. – Beba um pouco, falou Edie. – Vai ajudar a curar mais rápido. Esperaram um momento até que Ric começou a sentir-se melhor, já podia ficar sentado sem que Dina apoiasse a sua cabeça. - A culpa é toda sua, falou Edie a ela. - Desculpe, perguntou Dina. – Como? - O que você estava fazendo aqui? Ele trouxe você aqui? Edie perguntou secamente para Dina. - Não, ele não me trouxe aqui, ela respondeu. – Eu via aqui procurar por ele, completou. - Como eu disse a culpa é sua Edie afirmou. – Desde que você apareceu, só causou problemas na cabeça desse idiota. - Ei, vai com calma Edie, falou Ric tentando se levantar. – A Dina não tem nada haver com isso. - Acho que o idiota aqui é ele, ela respondeu para Ric enquanto olhava torto para Edie. – Ao invés de reclamar deveria estará ajudando você. Edie virou-se para Dina expressando raiva no olhar, ela percebeu que Edie havia puxado o mesmo tom de cor dos olhos de Ric. Verdes. O resto do clã se aproximou de Dina e os homens começaram a olhar para ela, ela teve a impressão que estava sendo observada. - Você vai ficar parado ai ou vai ajudar o Ric? Perguntou a Edie com autoridade. - Você é insuportável, falou Edie. - Eu tenho personalidade, ela respondeu de volta. Ric já estava bem melhor e tentou apaziguar a discussão entre Edie e Dina. – Calma, vocês dois, não briguem por mim. Ele se aproximou de Dina e abraçou-a. – Obrigado por se preocupar comigo e Edie, obrigado por chegar na hora certa. - Temos que ir embora, AGORA, falou Edie sem paciência. – Você vai lavar ela daqui ou eu levo?


- Eu não vou com você a lugar nenhum, falou Dina se recusando a ir com Edie. – Prefiro dormir na floresta. - Como quiser, respondeu Edie virando as costas para os dois caminhando de volta para o refugio, o resto do clã o seguiu. - Eu vou leva-la, falou Ric assobiando para chamar o cavalo. – Venha Dina, Céu desta por perto. Edie voltou de repente. – Cuidado, eles podem estar esperando exatamente isso, falou ao irmão. - Vamos ter cuidado Edie. Eu prometo. Ric segurou Dina pela mão e a puxou para dentro da mata onde Céu os aguardava. – O que ele tem contra mim? Ela perguntou para Ric. - Ele e assim desde sempre Dina. Respondeu Ric enquanto montava no cavalo. – Sempre tenso e todo certinho, e ele não tem muito contato com garotas. Ric puxou Dina pelo braço ajudando ela montar na garupa de Céu. – Ele deve estar com ciúmes por eu estou com você. - Ele nunca vai ter uma garota, ela falou enquanto agarrava forte a cintura dele. Quando eles chegaram à beirada da floresta próxima a casa de Dina, desmontaram e continuaram a caminhar a pé. – Eu preciso falar com você uma coisa. Falou Dina à Ric com uma expressão triste. - O que foi? Perguntou ele. - Eu fui enganada por Ram, ela respondeu. – Eu o conhecia, quer dizer, eu o conhecia por outro nome há bastante tempo. - Você o que? Ele perguntou enquanto parava em frente a ela. - Ram se apresentou com o nome de Bob, e nós passeamos pela cidade. - Você passeou com ele? - Passeamos... Algumas vezes, ela respondia as perguntas dele com ar de arrependimento. – E nós conversamos na porta da minha casa... - Ele foi à sua casa? Ric estava perplexo.


- Sim, ele foi, mas só duas vezes. Ela disparou sem pensar. – A primeira vez foi quando o balde da minha avó caiu em cima dele contando-lhe o braço, ai eu tirei minha blusa e enrolei no braço dele... - VOCÊ TIROU SUA BLUSA PARA ELE? Os olhos de Ric estavam mudando o tom de verdes para quase vermelhos, e ele rangia os dentes. - Retirei, ela respondeu arrependida por ter revelado o episódio do balde e da blusa. – Mas foi por que ele estava sangrando muito, eu tentei ajudar, eu não sabia que ele era o Ram quer dizer, eu não sabia que Bob era o Ram... - Você tirou a blusa na frente dele, Ric continuava a repetir o fato de ela ter tirado a blusa. – E a segunda vez que ele foi lá? Já consciente que não deveria revelar que teria retirado o short, ela preferiu esconder essa parte. – A segunda vez, foi quando o cavalo dele me seguiu até a porta de casa. - Tobruk seguiu você? Ric achou estranho. – Por que ele seguiria você? - Eu acho que ele gosta de pão de batata, na floresta, aquela vez que você tentou espanta-lo, ele havia farejado o cheiro do lanche que eu levei. Ele foi direto aos pães de batata. “Pães de batata”, Ric se lembrou de quando Edie disse que a mães deles fazia pães de batata para os filhos. Ram já era dono de Tobruk e deve ter dado para ele comer. “Ele cresceu e lembrou-se do gosto, por isso foi atrás dela”. – Dina, não ande mais por ai com pão na bolsa. Ric estava irritado com o fato de Ram ter se passado por Bob para se aproximar de Dina e mais irritado ainda com o fato dela ter retirado a blusa para estancar a ferida dele. – Ele usou a água na sua frente? Perguntou Ric. – Quando você retirou a blusa na frente dele. Ele odiava isso. - Não, por isso mesmo que eu retirei minha blusa, ele estava sangrando e eu tentei ajudar. Ela colocou as mãos na cintura e olhou para ele com raiva. – Richard Baleares, vamos esquecer a parte que eu retirei minha blusa, por favor.


- É difícil esquecer esse fato, ele retrucou. - No outro dia, lá no algo, você ficou envergonhada em tirar a roupa na minha frente e... - QUER PARAR, ela gritou com ele. - Tá bom. Eles ficaram calados um segundo, cada um olhava em uma direção diferente. – Ric me desculpe, ela quebrou o silencio. – Eu não contei nada para você porque julguei o fato sem importância. Ela olhou para ela enquanto ela continuava a falar. – Além disso, eu nunca tive qualquer empatia com ele, pelo contrario, ele me causava medo, um medo que eu não sabia de onde vinha. - O Ram causa medo nas pessoas desde pequeno, Ric respondeu. – O esporte preferido dele era aterrorizar quem estivesse ao lado dele. - Então, por isso mesmo que eu o ignorei completamente, ela disse. – Bob, digo Ram, aparecia do nada e nós conversávamos um pouco, depois ele ia embora, nada mais. - Sobre o que vocês conversavam? - Sobre nada, ele perguntou onde eu morava, e depois perguntou se eu iria à comemoração do Solstício. Nada importante. Ric achava muito estranho Ram se aproximar de Dina sem nenhuma razão. – O que ele quis dizer antes de fugir? Ela perguntou. – O que ele quis dizer quando mencionou que o dia acabaria rápido? - Eu não faço ideia Dina. Ele deixou escapar uma pista, mas eu não sei o que ele quis dizer. - Bem, quando o dia acaba, já é noite, certo? Ela concluiu. – Mas os dias acabam sempre na mesma hora... - Não no Solstício de inverno, ele a interrompeu. – É quando a noite é mais longa... Espere, Se a noite é mais longa, então... - O dia é mais curto, Dina completou a frase de Ric. – É isso. - Ram vai atacar a cidade no dia da comemoração do Solstício. Ric matou a charada. – Dina, você não pode ir nessa festa, vai ser perigoso. Dina arregalou os olhos e lembrou-se de sua avó perguntando sobre o vestido e também se lembrou de Anja que estava muito feliz com a


festa que iria acontecer. – Ric, as pessoas que eu amo vão estar na festa, minha avó, Anja. Eu não posso deixa-las correrem risco. - Mas você é quem não pode correr esse risco, ele segurou nos ombros dela com as duas mãos. – Ram atacará a cidade com seu clã, vai querer levar você, vai rapta-la e leva-la para Santo Pedro. Como meu pai fez com nossa família, como fez com minha mãe. - Calma Ric, ela o interrompeu. – Isso não vai acontecer. - Como você sabe? Ele continuou. - Meu pai fez isso e Ram vai fazer isso com você também. Vai leva-la a força para Santo Pedro, vai obriga-la a beber da água e você nunca mais poderá sair, não só da aldeia, mas da floresta e estará aprisionada para sempre. Dina não havia pensado e tão pouco analisado as consequências por aquele ângulo. Realmente ela não gostaria de ficar aprisionada em qualquer lugar que fosse e muito menos por um homem como Ram. Por outro lado ela não podia abandonar as pessoas que ela gostava, seus amigos. Ela precisava fazer alguma coisa. – Mas você vai estar lá para me proteger. Ric olhou para ela e começou a rir enquanto falava. – Você acha mesmo que eu posso proteger você de Ram e um clã inteiro de homens maus? - eu acho que você pode com a ajuda do seu clã e de seu irmão mal humorado. Ela respondeu de volta. - Dina não me provoque, você sabe que eu não fujo de uma boa aventura, ele olhava para ela com um sorriso irônico. – Quer mesmo fazer isso? Dina sabia que a resposta certa não era a opção que ela estava dando a ele, mas ela tinha certeza de que era dever dela proteger a amiga e a avó das maldades de Ram. – Quero fazer isso. Ela respondeu. Quando eles estavam na quase em frente à casa dela, notaram as luzes acesas. – Melhor eu não passar daqui, sua avó pode me ver. - Certo, ela respondeu. – Amanha nos encontraremos depois do almoço, esperarei no chafariz. Ela se despediu enquanto ele se afastava. – A propósito... Ele virou para ouvir o que ela iria dizer. –


Quem era o outro cara que escondia o rosto? Com cabelos pretos na altura do ombro? - Aquele e Lucaar, braço direito de meu irmão. Ele respondeu. – Acho que o cargo de irmão se encaixaria perfeitamente a ele com Ram, Fique longe dele. - Certo. - Estou falando sério, Dina. Fique longe ele. Ric falou apontando o dedo para ela. – Há um tempo passado, eu multilei um pedaço da orelha dele, e ele jurou se vingar de mim. Isso significa fazer mal a você. - Tudo bem Ric, não vou me aproximar dele. Prometo. Ela caminhou até quase perto da porta de casa quando Ric a chamou. – Dina... Ela virou para ele. – O que foi? - Se um dia decidir retirar a blusa novamente não se esqueça de me chamar, ele disse enquanto corria de volta para dentro da mata. Dina agachou rapidamente e tentou arremessar uma pedra na direção dele, mas ele já havia sumido. “Miserável”, ela pensou com graça e sorrisos no rosto. Abriu a porta da casa cuidadosamente e entrou. Para seu alivio sua avó estava tomando banho e ela pode ir direto para o quarto. Enquanto tirava as roupas muito sujas de terra e plantas da floresta, caminhou até a beirada da janela e suspirou um segundo. Não havia ninguém lá baixo, na frente da casa e muito menos na rua onde ela morava. Puxou um lado da cortina e quando esticou a mão para puxar a outra estreitou os olhos novamente para a rua e pode ver mais adiante um cavalo preto caminhando tranquilamente ao lado de uma pessoa, um homem. “Ram está rondando minha casa”, ela pensou enquanto continuava observando pela janela. O homem montou no cavalo e, com apenas um único galope rápido, entrou na mata próximo onde Ric também havia entrado e sumiu do alcance da visão dela. “Amanha é outro dia”. Deitou na cama do jeito que estava sem vestir roupas limpas e sem tomar banho. Ela apenas fechou os olhos e tentou dormir, os acontecimentos na floresta ainda estavam na sua


memória, a imagem de Ram ferindo Ric não parava de repetir na cabeça dela. - Amanha é outro dia. Ela falou alto para si mesma.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

Uma manhã de surpresa 16

Já eram quase onze da manha quando Anja abriu os olhos, outra vantagem de quando não se tem aula, era acordar mais tarde que o de costume. “Hoje é dia de ir à costureira”, ela pensou. Espreguiçouse um pouco mais na cama e levantou de vagar. Sentando numa pequena cadeira em frente ao espelho que completava a cômoda, passou a escova nos cabelos loiros e deslizoua com movimentos lentos e graciosos. Vestiu uma saia de tecido fino na medida dos joelhos combinando com uma blusa em tom amarelo claro, mergulhou os pés nas sapatilhas para encontrar com sua mãe na cozinha. - Meu pai chegou em casa muito tarde ontem à noite? Ela perguntou a mãe. – Ele não foi se encontrar com a senhora na porta da igreja, não e? - Filha, ontem nós tivemos um pequeno desentendimento.


- Outra vez? Anja perguntou enquanto bebia um copo de leite. - Mas já passou. A mãe dela respondeu. – Está tudo certo agora não se preocupe. Anja deu um suspiro retórico para a mãe e levantou-se da mesa. Quando saiu pela varanda da sua casa percebeu que algo estava estranho. Olhou para as calçadas enquanto andava na direção da casa de Dina e viu uma pequena aglomeração de moradores da cidade em frente à casa dela. Uma viatura da policia também se encontrava no local. Assustada, Anja começou a correr na mesma direção, “Dina”, ela pensava, “Aconteceu alguma coisa com Dina ou com a avó dela”. Chegando quase na porta da amiga, ela avistou vó Augusta do lado de fora da casa conversando com um policial e o padre Santiago, os rostos deles não mostravam qualquer satisfação com o que quer que houvesse acontecido, em alguns momentos vó Augusta escondia a boca com uma das mãos enquanto padre Santiago tentava consolar. Anja tentou sem sucesso aproximar-se da casa porque as pessoas curiosas não davam qualquer espaço para que a loura passar. - VÓ AUGUSTA, ela gritou. – O QUE ACONTECEU? ONDE ESTÁ DINA? Vó Augusta virou a cabeça para encontrar Anja, nadando entre a uma pequena multidão que estava começando a se formar na frente da casa. – Angélica, respondeu vó Augusta. - DINA... ONDE ELA ESTÁ? Anja estava prestes a iniciar uma confusão para tentar se aproximar da casa quando pode ver entre as pessoas uma figura conhecida de cabelos castanhos. Dina estava lá, parada na porta perfeitamente bem, sem qualquer arranhão. - Dina. - Anja. A loura conseguiu, depois de alguns empurrões e cotoveladas chegar perto de Dina que estava com os braços esticados prontos para o abraço da amiga. – O que aconteceu? Ela perguntou. – Você está bem, não está?


- Sim estou bem, respondeu Dina choramingando. – Encontraram um corpo na mata, próximo a estação rodoviária. Anja paralisou quando escutou a palavra corpo. – Você quis dizer uma pessoa morta? - Isso mesmo, respondeu enquanto limpava as lagrimas que escorriam pela bochecha. – Quem morreu foi meu psicólogo. Ela falou pensando nas palavras que Ram disse antes de fugir pela floresta. “Foi ele”, ela pensou. - Santo Deus, quem mataria um psicólogo? Vó Augusta se aproximou das amigas junto ao policial. – Meninas, é perigoso andar por ai, disse o homem fardado. - Nós vamos tomar cuidado, respondeu Dina não tão conformada. – Nós podemos ir agora? Temos hora marcada com a costureira. - Está tudo bem policial? Perguntou vó Augusta. – Elas podem ir? - Podem, ele respondeu. As meninas subiram para o quarto de Dina enquanto o policial se afastou. Vó Augusta permaneceu ali conversando com o padre. – O homicídio aconteceu há muito tempo, mas o policial disse que o responsável ainda pode estar andando pela cidade. Disse Augusta muito nervosa. – É ele Santiago, é aquele mostro de novo, eu disse a você que ele iria fazer alguma coisa. - Calma Augusta, foi a vez do padre falar. – Eu prefiro pesar que foi ao acaso, uma mera e infeliz coincidência. - Ele era o medico da minha neta Santiago, isso foi um aviso. Os dois tentavam conversar baixo sem deixar qualquer impressão que sabiam informações sobre a morte do psicólogo. As meninas desceram do quarto e se despediram da avó e do padre. - Xau vó, disse Dina enquanto passava com Anja às pressas pela porta da frente. – Vamos ver meu vestido. - Certo querida, cuidado. O enterro acontecerá antes do anoitecer. Dina parou um instante e olhou para sua avó com uma lembrança na cabeça. “Enterro”, ela pensou. Lembrando que antes dos seus pais


serem mortos, a levaram para fazer um tratamento espiritual, ela mal conseguia passar na frente de um cemitério, quanto menos ir a um enterro. - Vó, se a senhora não se incomoda, eu prefiro não ir ao enterro. Ela pediu com expressão tímida das lembranças do passado. - Tudo bem querida, não tem problema. Dina abriu um enorme sorriso para responder a avó. – Obrigada. Girou nos calcanhares e saiu agarrada ao braço de Anja. – Mas eu prometo que Anja vai me ajudar a fazer uma oração para o Paulo. Augusta achou estranho Dina ter mencionado o nome Paulo a ela. – Você ouviu direito Santiago? Ela perguntou ao padre. - Quem é Paulo? O padre coçou a pouca barba e pensou antes de responder. – Eu não sei quem é Paulo, ela está se confundindo. - Como pode se confundir com o enterro do medico dela. Não haverá outro enterro aqui não é? - Claro que não Augusta, vamos fazer apenas um enterro. De onde ela conhece esse Paulo? É o medico dela também. - Santiago, ela chamou atenção do padre. – O psicólogo de minha neta chama-se Cipriano, eu não conheço nenhum Paulo. - Então ela deve ter confundido os nomes Augusta, ele respondeu. – Adolescentes são assim, avoados. - Pode ser mais ainda estou preocupada que essa morte aconteceu inesperadamente. Foi ele Santiago, foi o barão quem matou ele. Ela abrir a porta da casa e convidou o padre para entrar. – vamos tomar uma xícara de café e falamos lá dentro.

As meninas estavam á caminho da casa da costureira. Antes de tocar a campainha Dina puxou Anja pelo braço. – Eu preciso falar com você. - O que foi? Perguntou Anja. - Eu sei quem matou meu psicólogo. Ela respondeu à amiga. – Foi Ram quem o matou?


Anja ficou piscando algumas vezes antes de abrir a boca. – Como você sabe disso? Ela parecia não acreditar. – Ram é o irmão de Ric, certo? - Certo. -Será que Ric sabe disso? Foi então que Dina se deu conta de toda a situação. Ric era seu namorado, Ram era irmão de Ric e Ram havia assassinado covardemente seu psicólogo. Um momento de angustia assolou seu coração e imediatamente ela começou a chorar. - Foi culpa minha, ele morreu por minha culpa. - Claro que não foi. Falou Anja tentando consolar a amiga. – Você não tem nada haver com isso. Ela abraçou Dina com força. – pare de chorar. Foi a segunda vez que Dina estava com medo. A primeira vez que ela passou por tamanha emoção foi quando encontrou o tumulo com o nome de Ric escrito na lapide. Completamente abalada e com medo do que poderia acontecer dali para frente ela sentou na caçada, Anja sentou-se junto a ela. - Calma Dina, vai ficar tudo bem. - Não vai ficar, Anja. Ela respondeu enquanto secava as lagrimas. – Eu lhe contei como foi, se não se lembra eu conto novamente. Quando o barão, pai de Ric, Ram e Edie, achou a fonte da água milagrosa, queria ficar com ela somente para ele, então ele construiu uma aldeia secreta no meio da floresta para ficar perto da localização da fonte dessa água. Só que a aldeia precisava ser povoada então ele começou a raptar as pessoas aqui da cidade. Quando as pessoas começaram a desconfiar ele pegou toda a família, e fugiu para a aldeia escondida na floresta. Como estratégia para que ninguém desconfiasse, ele derrubou a casa e forjou a morte de todos, a dele também. Até túmulos ele mandou colocar no fundo do quintal para dar realidade à falsa morte. Ele era maluco, maltratava a família, batia nos filhos, Ric me disse que era esfaqueado pelo pai varias vezes, só não morria por que a água era usada para curar as feridas. O barrão obrigava as pessoas a beber da água para não poderem voltar para a cidade.


Mas ele morreu depois de alguns anos e Ram, o filho mais velho tomou a cidade. Ric e Edie junto com mais alguns homens não concordaram e fugiram da aldeia para viver no refugio escondido dentro da floresta. Por isso Ram prometeu que iria matar Ric e quem estivesse contra ele. - Dina eu me lembro, falou Anja. – Mas não entendo a ligação do seu psicólogo ao Ram. - Eu conheci Ram ontem. Dina revelou - Você o conheceu? Como? Dina mais uma vez deu um suspiro profundo, quando lembrou que havia sido enganada por Ram que a fez acreditar que ele era Bob, um amigo. - Anja, lembra-se do Bob? - Claro que eu lembro, aquele gato maravilhoso que você me apresentou de olhos cor de... - Anja, ele é na verdade se chama Ram. - Nossa, que coincidência, ele tem o mesmo nome do... O QUE? Foi a vez da loura ficar preocupada. Dina a olhava com um mar de lagrimas nos olhos e lábios apertados, balançava a cabeça em sinal positivo para a amiga acreditar no que ela havia pensado sobre Bob. - Bob é o Ram, irmão de Ric. - Não pode ser, Dina. Anja se levantou e começou a andar na calçada de um lado para o outro. – Você ficou perto dele e estava correndo risco, como você soube? - Eu fui á floresta ontem sozinha. Ela respondeu e de imediato viu a decepção no rosto da amiga. – Me desculpe por não ter lhe contato e não ter levado você comigo. - Como você pode fazer isso? Você prometeu para mim que iríamos juntas à floresta. - Anja, me desculpe. Ela tentou se explicar. – Eu decidi por acaso, e eu não queria que você corresse algum risco, jamais me perdoaria se algo ruim acontecesse a você. - Estou irritada com você. Você me traiu, sou sua amiga.


- Por você ser minha amiga que eu não te levei comigo. Estava procurando Ric e o Tobruk apareceu, logo depois Bob apareceu, digo Ram apareceu, e foi ai que eu descobri. - Estou quase lhe perdoando, continue. - Ele queria me levar forçada para a aldeia, para Santo Pedro. Ele queria que eu fosse com ele, mas Ric apareceu e houve luta, Ram quase afundou a espada na cabeça de Ric, na minha frente. Imagine se você estivesse lá. Anja olhou-a com expressão triste depois abriu os braços e enrolouos em torno de Dina. – Oh amiga, obrigada por me proteger. - Quando Ram fugiu, disse que iria continuar a fazer o que o pai dele fazia quando era vivo. Dina continuou falando. – Ele iria voltar a raptar pessoas, e deu a entender que iria matar se fosse preciso. Depois que Anja finalmente entendeu a gravidade sobre o que sua amiga estava falando não se deixou abalar. – Temos vestidos para experimentar. Levantou e se recompôs junto à amiga. – Não vamos deixar que eles acabem com nossa festa. Esticou o braço, caminhou até a porta e tocou a campainha. Foi ai que Dina lembrou que não havia mencionado que Lucaar também estava na floresta ao lado de Ram, e que eles eram amigos. Mesmo ela não ter conseguido ver o rosto dele, ela precisava alertar a amiga. - Anja, tem uma coisa que eu preciso falar com você. - Tem mais? - Sim, tem mais. Outra pessoa estava lá com Ram, pertencia ao mesmo grupo que ele... De repente a porta se abriu e atrás dela estava a costureira sorridente em ver as meninas. – Olá garotas, vieram ver experimentar as belezinha que eu fiz? Quando Dina deu por si, estava sendo empurrada por Anja para dentro da casa. Ela não pode falar mais sobre o assunto da floresta, não na presença da costureira. As duas puderam reconhecer seus vestidos ali mesmo, na sala. - Lindos. Disse Anja.


Dina olhou de cima a baixo para o seu vestido verde em tonalidades claras e escuras. Ela se aproximou da peça e tocou nela delicadamente. O tecido era fino, macio e ela nunca havia vestido uma peça de roupa assim. Pela primeira vez ela desejou estar bonita, e vestida para uma festa, não importava que fosse uma festa de rua numa pequena cidade. Ela queria estar bonita para Ric. “Lindo”, ela pensou. Quando deu conta Anja já estava dentro do vestido dela e estava perfeitamente, deslumbrantemente bonita. O vestido era branco com tons dourados adornando as curvas e siluetas de Anja, ela realmente parecia um anjo. - Como eu fiquei? Perguntou a loura. - Está perfeita, está linda. - Experimente o seu, vamos, quero ver como você fica vestida de menina. Dina ficou rindo sem graça e minutos depois estava vestida com a peça da mesma coir dos olhos de Ric. Quando Anja virou do espelho para ela abriu a boca e fez um gracioso elogio. – Uau, você está... Simplesmente... Maravilhosa. Dina andou de um lado para o outro pela sala imitando um manequim de passarela. – Gostou mesmo? Por algum momento ela havia esquecido a recente morte do seu médico. - As duas estão ótimas. Disse a costureira enquanto apalpava os vestidos delas procurando algum defeito. – Acho que não preciso fazer nenhum arranjo, sempre acerto no tamanho. - Não precisa mesmo. Falou Anja. – Estão perfeitos, o que você acha Dina? Ela estava distraída olhando seu reflexo no espelho, segurava as saias e fazia pequenos movimentos ondulados. O tecido verde parecia um oceano se movimentando levemente. - Dina, ela quer saber se você gostou do seu vestido. Perguntou Anja novamente quebrando a distração da amiga. - Ahh... Sim, eu gostei muito. Ela respondeu. – Podemos leva-los para casa?


A costureira sorrindo deslizou uma gaveta para fora da estante da sala. – Só deixe-me empacotá-los. As meninas despedirem-se e retornaram cada uma com seu vestido nos braços. Ainda era dia. No caminho de casa Dina tentou novamente falar com amiga sobre Luccar. - Anja, você precisa saber mais uma coisa sobre o que aconteceu na floresta, sobre Ram. Anja estava radiante pensando na festa e como ela ficaria com seu vestido novo, mas lembrou que teria um compromisso. – Dina eu preciso ir para a igreja, vou ajudar com os preparativos do velório. - Mas eu preciso lhe falar... - Agora não Dina, por favor. Ela interrompeu a amiga. – Toda essa historia com morte e com esse Ram psicopata andando por ai me deixou muito confusa, ajudar no velório vai desgastar ainda mais, depois você me fala o que mais eu preciso saber. Conformada que Anja não estava disposta a ouvir, Dina não teve outra escolha senão em concordar, ela falaria sobre Luccar em outro momento. – Tudo bem, amanha falamos. Vou para casa. - Você não vai mesmo aparecer no velório? - Não mesmo, não quero correr o risco de ver mais um fantasma. Respondeu Dina. – Vou para casa e ficar trancada no quarto. Dina tomou o caminho de sua casa deixando Anja ainda falando Então combinamos falar amanhã... Vou fazer uma oração para o doutor Cipriano por nós duas. Dina já estava longe, mas pode escutar o nome que Anja havia dito. “Quem é Cipriano?” Ela pensou. Anja só pode estar delirando por causa da morte. Mesmo assim continuou caminhando até chegar em casa. Estava tudo tranquilo, nem parecia o mesmo local tumultuado pela descoberta do corpo naquela manhã. Na porta estavam sua avó Augusta e o Padre Santiago. “Ele ainda está aqui?” Ela se perguntou. – Oi vó. - Olá querida, já voltou? - Olá Diana. Cumprimentou o padre.


Dina apontou para o vestido enquanto entrava em casa. – Trouxe meu vestido, a senhora quer ver? - Mas tarde eu vejo com você querida. Ela respondeu a neta. – Estou terminando de falar com o padre, tem comida no fogão. Dina achou estranho sua avó não querer abrir o pacote e ver o vestido de festa que ela encomendara, mas foi por pouco tempo, logo depois de comer foi para o quarto. Deixou o vestido ainda no pacote em cima da cama, retirou as roupas e entrou no chuveiro. Vó Augusta ficou conversando com o padre na porta de casa. - Não podemos facilitar para ele, Santiago. Ele matou o doutor e virá atrás de nós. Ela temia pela vida da neta. – Ele descobriu que nós sabíamos sobre a aldeia e sobre a fonte, aquele empregado que Celina mandou trazer a mensagem deve ter falado com ele, agora ele vai nos matar. - Não posso pensar nisso agora Augusta, tenho um velório antes do anoitecer. Falou o padre. - Você viu como estava o corpo dele, Santiago? Você viu o doutor? - Infelizmente eu vi. O corpo estava um pouco enegrecido, mas deu para perceber que ele havia sido atacado por trás, alguém bateu na cabeça dele com alguma coisa pontuda. O padre fez um sinal da cruz e despediu-se de vó Augusta enquanto ia embora. – Nos vemos mais tarde na igreja? No velório? - Sim até mais tarde. O padre voltou-se para o caminho da igreja enquanto vó Augusta fechava a porta atrás dela.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

Quatro dias para a festa 17

Ram passeava pelas ruas de Santo Pedro todas as manhas antes do sol nascer. Era um ritual que ele adquirira com seu pai desde que foram morar na aldeia. Era uma caminhada isolada, nem mesmo Luccar o acompanhava. Passos lentos e cuidadosos, através do chão batido de terra misturado com areia. Por cada porta que ele passava a certeza de que tudo ali estava sob seu domínio. Os primeiros raios de sol penetravam por entre a vegetação da floresta de encontro à pele dele. Fazia frio todas as manhas, mas Ram fazia questão de caminhar trajando apenas uma calça expondo o tronco musculoso ao sereno. No final da caminhada, onde a estrada principal da aldeia acabava, ele mantinha-se parado observando tudo em sua volta. De onde ele estava era possível ver Santo Pedro mesmo que de longe. Seus olhos em tom muito claro estreitavam-se para aumentar o campo de visão. Conforme o dia ia clareando, os moradores da aldeia saiam de suas casas para executar as tarefas incumbidas a


eles. A maior parte das pessoas que habitavam a aldeia era masculina, apenas quatro mulheres residiam ali, mas estavam velhas de mais para o trabalho duro que a aldeia impunha aos seus moradores. “Está na hora de começar de onde meu pai parou” ele pensou. Quando Ram retornou da caminhada encontrou Lucaar na porta da sua casa. - Eu gostaria de trazer a amiga da garota para cá. Perguntou Lucaar. – Para viver comigo. - A loura? Perguntou Ram. - Sim, ela mesma. Respondeu Lucaar. Ram subiu os degraus de acesso à porta de entrada de sua casa enquanto pensava. Parando diante de Lucaar respondeu. – Tem minha permissão, é bom que Dina não fique sozinha aqui. Lucaar sorriu enquanto Ram virava as costas ao entrar em casa. “Vou procurar Angélica”. Ele pensou.

Na cidade... Anja terminava seu café da manhã. Ela estava pronta para encontrar Dina logo cedo. Dessa vez quem iria encontrar com ela em sua casa seria a amiga de cabelos castanhos. A mãe de Anja estava muito ocupada preparando os bordados para a festa do Solstício. O pai de anja havia saído muito cedo para finalizar os últimos acertos da construção onde ele trabalhava. Anja escovou os dentes após terminar o café e foi para a varanda da casa esperar pela amiga. Distraída do lado de fora, a loura percebeu que alguém estava na calçada poucos metros adiante, quase na esquina da rua de onde ela morava. Anja imediatamente reconheceu o homem que estava parado na calçada com meia parte do corpo encostado no muro, de braços cruzados. O cabelo dele era preto, liso, brilhoso, quase encostando nos ombros. Desta vez ele não estava vestindo roupas escuras. Incrivelmente Lucaar havia combinado uma calça cor de areia bem larga e camisa branca. Anja desceu os degraus que conduziam a saída da varanda da frente para rua, enquanto Lucaar caminhava de encontro a ela.


- O que você está fazendo aqui a essa hora da manhã. Ela perguntou. – Não está muito cedo pra você? Lucaar tentando parecer casual arriscou um singelo sorrio entre os lábios. – Não existe hora quando se tem vontade de encontrar alguém. Ele respondeu. Anja fez cara de quem não se importava com a resposta dele, mas no fundo sabia que estava gostando do cortejo de Lucaar. De longe conseguiu avistar Dina chegando. - Não posso ficar conversando. Falou Anja. – Minha amiga e eu temos assuntos a tratar. Lucaar voltou-se para a rua e deparou com Dina descendo pela calçada. “Ela não vai me reconhecer”, ele pensou. “Ela não viu meu rosto”. Quando Dina estava bem próxima percebeu que Anja falava com um rapaz em frente a sua casa. “Com quem ela está falando?” Pensou. Continuou a caminhar em direção da amiga e do rapaz e foi ai que seus passos começaram a ficar mais lentos e sua respiração ficou mais forte. - Oi Dina, Venha conhecer meu amigo. Chamou Anja. Dina respondeu com um aceno de cabeça e continuou andando normal. Ela parou na frente dos dois e deu bom dia. - Bom dia moça. Cumprimentou Lucaar. “Ela não me reconheceu”. Pensou ele. - Oi Anja, nós combinamos de sair juntos agora de manhã, não é? - Sim. Respondeu a amiga, nós vamos assim que eu despedir do meu amigo aqui. Dina estava certa de que conhecia aquele rapaz de algum lugar, ela estava muito desconfiada. “O cabelo dele é muito parecido com o cabelo de Lucaar”, ela pensou. - Vocês se conhecem de onde mesmo? - Nós nos conhecemos daqui. Respondeu Anja. Lucaar estava certo que Dina não o reconheceria, mas preferiu não apostar tanto nisso e tentou uma pequena desculpa para sair dali.


- Preciso ir. Tenho que lidar com algumas pessoas. Ele disse a elas. Dina aproximou-se dele muito suspeita. – Você tem que ir agora? Ela perguntou chegando cada vez mais perto. “Ric disse que mutilou orelha de Lucaar”, ela se lembrou das palavras dele. - Eu volto em outra hora. Respondeu Lucaar tentando se afastar de Dina. - Seu cabelo é muito bonito, você deixou ele crescer bastante. Disse Dina já com o braço esticado em direção à orelha de Lucaar. Sem dar chance de ele responder qualquer coisa, ela passou a mão levantando os cabelos dele fazendo aparecer a orelha mutilada. Lucaar imediatamente afastou a mão dela, mas Dina já havia comprovado que o rapaz que estava diante dela era o mesmo da floresta que ajudou Ram. Agora Lucaar sabia que ela o havia reconhecido. Dina ficou enrijecida olhando para Lucaar enquanto Anja não entendia a situação. - O que está acontecendo? Perguntou Anja. – Vocês dois se conhecem? Lucaar ficou calado olhando para Dina e ela teve medo que expor a amiga. – Não, eu apenas gostei do cabelo dele. A resposta de Dina surpreendeu Lucaar. Eles permaneceram se olhando nos olhos por alguns instantes até que Lucaar quebrou o silencio. – Vou deixar as duas resolverem o compromisso, falamos outra hora. Ele disse. - Certo falamos outra hora, respondeu Dina olhando pra ele. Anja também se despediu do rapaz. - Xau, de noite podemos conversar... - NÃO... Interrompeu Dina. - Não? Perguntou Lucaar tranquilamente. - Por que não Dina? Também perguntou Anja. – Por quê? Dina tentou pensar numa resposta convincente para que Anja não insistisse em encontrar Lucaar à noite. “Pense rápido Dina”, ela pensou. – Bem... Eu gostaria que você fosse à igreja comigo...


- Igreja? Perguntou Anja quase não acreditando nas palavras dela. - Sim... Igreja, respondeu Dina quase gaguejando. – Eu queria fazer uma oração pela morte no meu médico e, você sabe que eu não sei fazer isso sozinha Anja. Dina sabia que a amiga nunca trocaria a igreja por alguém. A loura abriu um sorriso e imediatamente desmarcou com Lucaar, ele concordou prontamente sorrindo para Dina. – Tudo bem, você venceu por hoje, Dina. Prazer em conhecê-la, ele disse. – Mas outro Dina você não poderá impedir que eu veja sua amiga. Anja ficou envergonhada e puxou Dina com ela. – Vamos lá pra dentro comer algo, ainda tem café da manha na mesa. Xau, Lucaar. Ele acenou com a cabeça e foi embora, enquanto elas desapareciam pela porta, Dina olhando para trás sendo puxada pela amiga. - Onde você o conheceu? Ela perguntou. - Dina, não e só você que pode conhecer garotos. Respondeu Anja indignada. – Ele simplesmente apareceu na rua e falou comigo, como todo garoto normal faz quando quer conhecer uma garota. Dina temia pela amiga, ela não suportaria se algo acontecesse com ela e agora Lucaar estava por perto. – Ele sempre vem aqui falar com você? Perguntou. - Nós nos encontramos algumas vezes, acho que vou chama-lo para a festa. - Não... - Lá vem você de novo, por que não? Por acaso está com ciúmes, de mim ou dele? - Não é isso Anja. - Você quer ser o centro das atenções sempre, tá na hora de deixar alguém ter um relacionamento, já que você tem o Ric. Dina tentou acalmar a amiga, ela nunca havia brigado com Anja. – Calma, é que você não o conhece, pode ser perigoso encontrar estranhos...


- Você encontrou um estranho também... Até beijou ele se não me falha a memória e ainda foi com ele para um lago nadar sem roupas e... - Tá bom, não vamos entrar nesse assunto. Interrompeu Dina. – Só estou preocupada com você, mas se você quer ir com ele à festa vamos fazer um encontro juntas, eu e Ric e você com... - Lucaar. Completou Anja mais calma e parecendo que havia esquecido completamente a briga com Dina. - Ótimo, disse Dina. – Vamos fazer isso. - Ótimo, respondeu Anja de Volta. – Agora vamos. Elas estavam a caminho da porta quando Dina parou bloqueando a saída. “Eu não posso fazer isso com ela”, pesou. “Eu tenho que contar tudo para ela poder se defender se ele tentar algo”. - Ande logo Dina, está parada ai por quê? - Anja, vamos para seu quarto, eu preciso lhe contar algo. Elas retornaram para dentro fechando a porta, chegando no quarto de Anja, sentaram e Dina contou tudo sobre Lucaar acrescentando ao que ela já havia contado antes sobre a briga dos irmãos na floresta. Longas horas se passaram e elas finalmente saíram da casa, Anja muito abalada por ter chorado o dia inteiro depois que ficou sabendo a verdade sobre Lucaar. - Mas ele nunca fez nada comigo. Ela disse. – Até pediu para eu fazer uma oração por ele. - Ele perigoso, Anja. Dina consolou a amiga. – Ele estava tentando ganhar sua confiança pra depois fazer alguma coisa. - O que ele queria fazer comigo? - Eu não sei. Respondeu Dina. – Ram quer me levar para algum lugar e eles são do mesmo grupo, deve quer levar você também. - Levar para onde? Enquanto isso na floresta... Ric discutia com Edie sobre Ram querer raptar as pessoas. – Eu não vou permitir que ele leve Dina para Santo Pedro.


- Não é somente sobre ela que estamos falando. Disse Edie. – Ele não pode levar mais ninguém para lá. O idiota, agora quer bancar o barão e raptar pessoas. - Nosso pai era louco, Edie, agora Ram está ficando louco também. Disse Ric com raiva do irmão mais velho. – É essa maldita água envenenada, acabou com a sanidade do nosso pai. Edie tentava acalmar Ric inutilmente, ele temia que o irmão mais novo influenciasse os outros membros do grupo a entrar em confronto direto com Ram e seu clã. – Você não vai fazer nenhuma idiotice? Perguntou. Ric encarou Edie engolindo em seco. – Ele tentou me matar com a Corta-Relâmpago, se eu não tivesse sido rápido ele teria afundado a espada na minha cabeça. A raiva de Ric tomou conta de todo seu corpo, ele cerrou os punhos enquanto dizia. – Eu nunca vou me esquecer disso. Edie saiu batendo os calcanhares para longe de Ric reclamando baixo alguma coisa sobre “é claro que ele vai fazer alguma idiotice ou não seria meu irmão”... Ric chamou Céu, o cavalo logo atendeu ao assobio dele. Ric montou no cavalo e os dois galoparam para longe do acampamento do refúgio. Edie também estava caminhando para longe do acampamento, Xerife o acompanhava. Os dois andavam lado a lado até se aproximarem das margens da cidade. Já estava escuro e Edie deixou Xerife escondido dentro da mata enquanto caminhava pelas ruas da cidade. Fez uma pausa quando se aproximou do velho e aposentado chafariz, o mesmo em que Dina e Ric haviam se beijado. Continuou caminhando para longe até o final da rua. Estava bem escura e Edie avistou uma imagem muito familiar, sentada no banco, esperando por ele. - Pesei que você não viesse hoje. - Eu nunca deixei de vir, hoje não seria diferente. Respondeu Edie. - Está aborrecido? - Qual dia eu não em aborreço com aqueles dois idiotas? – Eu preferia ter sido filho único.


- Disso eu sei bem, venha aqui perto, senti sua falta. - Eu também senti sua falta, Carla. Respondeu. – Não consigo passar um dia longe de você. - E não foi isso a nossa vida toda? Ela respondeu. – Desde pequeno, você sempre foi atrás de mim. Edie sentou ao lado dela e os dois se abraçaram. – Eu sempre irei atrás de você. Depois que falou eles se beijaram ardentemente.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

Três dias para a festa 18

Logo pela manha, Anja saiu de casa, correndo em direção à casa de Dina. Pelo caminho, andando tranquilamente na mesma calçada estava Lorena. Anja passou por ela tão próximo que a fez assustar. - Ei, olha por onde anda. Reclamou Lorena. Anja por um segundo olhou para trás, mas não deu absolutamente nenhuma atenção à menina alta de cabelos negros, seguiu correndo para a casa da amiga. “Lá vai a santinha do pau oco”, pensou Lorena enquanto ajeitava os cabelos presos em um irritante rabo de cavalo que ela insistia em usar todos os dias. Ignorando Anja, Lorena atravessou à rua e entrou numa porta que conduzia a um sobrado. Subindo a pouca escadaria que terminava em uma enorme sala de artes marciais, estavam o instrutor e alguns rapazes treinando movimentos de defesa pessoal. A turma era pequena e Lorena identificou Adan entre eles. O rapaz louro estava usando calça de


moletom azul escura e camiseta branca, muito suada a camiseta transparecia o tronco bem musculoso. - ATENÇÃO TURMA, ordenou o instrutor. - FORMAÇÃO. Todos os alunos perfilaram-se em frente a ele e executaram um movimento com a cabeça em sinal de cumprimento. - DISPENSADOS... NÓS VEMOS DEPOIS DO SOLSTÍCIO. Os rapazes apertaram as mãos uns dos outros e Adan foi para perto de Lorena. – Não fique muito perto, está suado. Disse ela com as duas mãos levantadas impedindo que ele se aproximasse. Adan sorriu, revelando uma enorme acarada branca - O que a trás aqui? Perguntou ele enxugando-se com uma toalha de rosto. - Eu quis ver com meus próprios olhos onde você se escondia todos os dias. Adan alcançou a bolsa e mergulhou a toalha dentro dela. Os dois sentaram na recepção do Dojô* (*local de prática de artes marciais, pode ser chamado também de Dojan ou Tatame. Pode ser considerado apenas o piso onde se pratica a arte ou todo o local propriamente dito, variando de arte para arte e país de origem).

- A festa acontecerá daqui a quatro dias. Disse Lorena. – E nós vamos nos candidatar a rei e rainha da festa. - Outra vez? Perguntou Adan. - Claro, vou inscrever nossos nomes. Xau. Adan segurou pelo braço dela impedindo que ela fosse embora. – Dessa vez você não vai me fazer de bobo como ano passado. Lorena piscou para ele, puxou o braço de volta e foi embora sem falar nada. Parando na porta de saída olhou de soslaio e viu que ele estava olhando para ela rindo sozinho. Enquanto isso na casa de Dina... - Calma Anja, ele vai aparecer. Tentou consolar vó Augusta junto com Dina. – Ele sempre fez isso, brigava com sua mãe e sumia.


O pai de Anja havia brigado com a mãe dela, recentemente e era de costume sair de casa e passar alguns dias dormindo fora até esfriar a cabeça antes de retornar. - Mas ele nunca passava tanto tempo fora, ele não voltou até agora. Respondeu Anja soluçando. - Eu tenho medo que alguém tenha feito alguma coisa contra ele... Dina fez uma careta para que Anja não revelasse nada sobre Lucaar ou Ram ou até mesmo Ric. ”Ela não pode falar nada, minha avó está aqui”, pensou. Anja entendeu a careta da amiga e se conteve não falando mais nada. - Por que você acha que alguém fez alguma com seu pai Angélica? Perguntou vó Augusta desconfiada. - Errr... Nada vó. Interrompeu Dina. – Ela está assim por causa da morte do meu médico. Anja olhou para a amiga indignada com a desculpa que deu a avó dela. – Sim dona Augusta, eu estou abalada por causa disso. Falou enquanto olhava para Dina. - Vou até a sua casa ficar com sua mãe, enquanto isso vocês duas comam um pouco. Disse vó Augusta enquanto pegava seu cardigã. – Ele vai voltar logo, Angélica, não se preocupe. Depois que ela saiu, as duas começaram a conversar. – Foi ele Dina. Falou Anja primeiro. – Foi ele quem pegou meu pai, depois que você reconheceu, foi Lucaar. - Também pode ter sido Ram quem fez isso. Preciso falar com Ric sobre isso. - Eu vou com você. - Anja, isso pode ser perigoso, não quero que você se arrisque. - É o meu pai. A Dina lembrou-se de como foi a sensação em perder um pai e concordou com a amiga. – Certo, marquei com Ric no velho chafariz depois do almoço, vamos esperar aqui e quando der a hora certa, vamos prá lá. A duas almoçaram lá mesmo na casa de Dina, vó Augusta ainda não havia retornado da casa de Anja. – Vamos logo. Pediu Anja.


Quando chegaram ao chafariz encontraram Ric sentado na beirada, esperando sorridente. – Olá Dina... Hei Anja, tudo bem com você... Ele percebeu imediatamente que alguma coisa estava acontecendo e logo seu semblante mudou. – Me conte o que aconteceu. As duas sentaram ao lado de Ric e quando Dina acabou de contar sobre a morte do seu psicólogo, o estranho interesse de Lucaar em Anja e agora o sumiço do pai dela, ele finalmente falou. – Vocês acham que Ram é quem está por trás disso? - Eu também pensei a mesma coisa. Disse Dina. - Não, aquele mostro pegou meu pai. Falou Anja choramingando. – Por que isso está acontecendo meu Deus, por quê? Dina abraçava Anja tentando consola-la, mas parecia impossível consolar a loura. Ric mostrava muita raiva enquanto Dina não saia de perto da amiga. – Pensando bem, eu tenho um palpite de que seu pai não foi pego por Ram ou por Lucaar. Falou Ric. - Você acha mesmo isso Ric? Perguntou Anja cheia de esperanças. - Sim, eu pensei melhor. Ele respondeu. – Não é o estilo de Ram fazer uma coisa assim, não quando existe risco. - Mas Lucaar pode ter feito isso. Disse Dina. - Sim, depois que soube que Dina o reconheceu lá na porta da minha casa. Completou Anja. - Pouco improvável. Disse Ric. – Lucaar pode ser o que for, mas ele obedece às ordens de Ram, definitivamente, ele não faria uma ação isolada assim. - Então, se não foram eles os responsáveis pelo sumiço do meu pai, quem foi? Dina passou a mão no ombro da amiga. – Anja, seu pai sempre some, você mesma me disse isso. Pode ser apenas uma coincidência, só isso. Ric também se aproximou de Anja e enxugou uma lágrima que escorria pela bochecha dela. – Eu também acho que seja isso, Anja. Depois que Dina e Ric conseguiram acalmar Anja, caminharam em direção a casa dela. Pele caminho, já na rua onde as meninas


moravam avistaram de longe, vó Augusta retornando da casa de Anja, mas pela direção que ela estava indo, não parecia que ia pra casa. – Ela está indo para a igreja? Perguntou Dina. - Sim. Respondeu Anja. – Pelo menos a igreja fica por aquele lado. Elas tentaram esconder Ric para que vó Augusta não o reconhecesse, mas era tarde de mais, ela já havia visto as meninas e estava caminhando em direção a elas. – Olá queridas, está ficando tarde. Falou vó Augusta. – Quem é o rapaz que está com vocês duas? Dina e Ric endureceram, sem saber o que responder. “Tomara que ela não o reconheça”, pensou Dina. – Boa noite senhora. Cumprimentou Ric. – Eu estava acompanhando as duas meninas até a casa delas. Anja e Dina gelaram enquanto vó Augusta falava com ele. – E você quem é? - Sou da cidade vizinha. Respondeu ele. – Vim para o enterro do doutor que encontraram morto, mas chegamos tarde demais, já enterram ele. - Ele era seu doutor? - Sim, meus pais estão retornando está noite, por isso eu devo me apressar. - Pode deixar, eu levo as meninas para casa. Disse vó Augusta. - Sim senhora, boa noite. As meninas se despediram dele. - Boa noite – Boa noite. E ele seguiu rua abaixo caminhando até que elas não puderam mais vê-lo. Dina suava frio e Anja engolia em seco. “Ainda bem que ela não perguntou o nome dele e nem o nome dos pais dele”, pensou Dina. - Qual é o nome desse rapaz? Perguntou vó Augusta. - Marcos, disse Anja. – Vinicius, disse Dina logo em seguida. As duas se olharam sem saber o que falar enquanto vó Augusta esperava uma resposta. – Marcos Vinicius. Respondeu Dina finalmente. – Nós o encontramos ali na pracinha onde toda a turma jovem se encontra, vó. O conhecemos hoje e ele se voluntariou para nos trazer até a casa de Anja.


- E os pais... - Eu não perguntei quem eram os pais dele. Interrompeu Dina. - Ele é inofensivo. Vó Augusta olhou para as duas e pensou por alguns instantes antes de responder. - Tudo bem querida, agora vamos. “Muito estranho, esse rapaz me parece familiar”, pensou vó Augusta. Elas caminharam de volta para a casa de Anja, deixando a menina bem na porta de entrada. – Falei com sua mãe Angélica, ela disse que sabe onde seu pai pode estar. Mais aliviada Anja abriu um sorriso. – Graças a deus. Respondeu enquanto se despedia de Dina e da avó dela. – Depois falamos e, obrigada por ser minha amiga, Dina. - Agora vamos Diana. Chamou vó. Elas caminharam de volta pra casa. - Onde a senhora estava indo quando nos encontramos, vó? - Estava indo à igreja falar com padre Santiago, mas falo com ele amanha. Agora vamos. As duas caminharam de volta para casa. No caminho, perceber na rua transversal, que em frente à prefeitura aglomerado de pessoas. Dina ficou curiosa para saber o acontecendo lá. – O que é aquilo lá na frente da Perguntou.

dava para estava um que estava prefeitura?

- Não sei bem o que é querida, vamos lá matar nossa curiosidade. Respondeu vó Augusta sorridente. Elas já estavam em frente ao prédio, onde se encontrava a secretária do prefeito carregando um tipo de urna em suas mãos. Havia muitos jovens no local e Dina conseguiu reconhecer uma garota alta de cabelos escuros, presos a um rabo de cavalo, era Lorena. As duas se encararam por alguns segundos antes do prefeito sair do prédio e acomodar-se em frente a grande mesa, sobre ela a urna que a secretária dele havia colocado. - O que está acontecendo? Perguntou Dina novamente à vó. – Para que serve aquela urna ali na mesa, haverá uma votação?


- Sim. Respondeu uma moça desconhecida que estava próxima. – Mas não hoje, estão penas recolhendo as cédulas dos candidatos a rei e rainha da festa. - Haverá um rei e rainha da festa do Solstício? Perguntou Dina à desconhecida. - Sim, todos os anos escolhemos os candidatos, sua neta vai se candidatar, Augusta? - Não sei, Elisa. Respondeu vó Augusta. – Você quer colocar seu nome lá, Diana? Por alguns segundos, Dina sonhou com ela sendo eleita rainha da festa e Ric o rei, mas logo caiu em si respondendo a sua vó. – Acho que não quero, fica para ano que vem. Dina não conseguia pensar em outra coisa que não fosse em Ram, ou em Lucaar ou água de Santo Pedro. Ela temia pela segurança da amiga, agora que sabia que Lucaar mostrou interesse por ela. Lorena se aproximou da urna e depositou duas cédulas, uma com o próprio nome e a outra provavelmente com nome de Adan. Logo em seguida passou por entre as outras pessoas e foi embora ignorando Dina completamente. - Vamos para casa, vó. Pediu Dina Avó e neta entraram pela porta e foram até a cozinha. – Vou fazer a janta, querida, vai querer franco ou peixe? Dina não mostrava muito interesse pela comida. – Não estou com fome, vó. Respondeu. – Vou subir e tentar dormir. - Ainda é cedo para dormir. - Mesmo assim vou ficar deitada. Falou enquanto saia da cozinha. – Como Anja deve estar agora? Perguntou à avó. – Espero que ela esteja bem. Chegando ao primeiro degrau da escada, ela olhou para cima e dessa única vez, ela subiu bem devagar, degrau por degrau até chegar ao seu quarto.

Na casa de Anja...


- Vou ficar esperando ele voltar. Disse Anja à sua mãe. – Pode ir pro seu quarto se quiser, eu vou ficar aqui na sala. - Angélica, eu já falei com você. Disse a mãe dela. – Seu pai provavelmente deve estar na antiga casa dos teus bisavôs, é longe, por isso ele não voltou ainda, deve estar esfriando a cabeça. Anja temia pelo pai dela por que sabia que a casa dos bisavôs ficava muito perto, quase dentro da floresta, e a casa estava em péssimo estado. – Aquilo não é uma casa, é uma cabana. Ela respondeu à mãe. - Ele pode estar com fome e com frio. - Filha, amanhã eu vou atrás dele. Disse sua mãe. – Vou trazê-lo de volta para casa. -Promete, mãe? - Prometo.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

Dois dias para a festa

19

No acampamento do refúgio... Ric treinava com seu irmão e outros poucos rapazes que compunham seu clã. Era uma manhã calma e todos praticavam os ensinamentos que aprenderam quando crianças, os mais jovens seguiam os mais velhos. Ric orientava o treino com as espadas e Edie orientava o treino com as facas. As árvores locais com troncos grossos eram os alvos. Tudo ali era improvisado e precário, não existia um local adequado, eles praticavam entre as árvores no meio da floresta. Folhas e cipós enrolados, pendurados em galhos, simulavam os sacos de pancadas que as academias da cidade possuíam em suas salas de treino de


artes marciais. Mas, nada disso era motivo para que eles ficassem abalados, ao que parecia eles preferiam estar ali, naquelas condições, do que estar sob o comando de um arbitrário. Quando Edie dava o comando finalizando o treinamento, todos eles apertavam as mãos cumprimentando uns aos outros. Ric fazia questão de apertar a mão de todos sem exceção, ele era muito querido entre o grupo. - BOM TRABALHO AMIGOS, falou Ric a todos. – HOJE O TREINO FOI MUITO PRODUTIVO, PARABENS, FAMÍLIA. - Alguém saiu machucado? Perguntou Edie. – Precisam de um pouco de água, perguntou rindo. Todos os membros do clã responderam sorrindo à Edie. – NÃO SENHOR. Disseram juntos. Voltaram para o núcleo do refugio conversando e brincando entre eles. A grande maioria era composta por rapazes da mesma idade de Ric e Edie, eles cresceram juntos em Santo Pedro, mas antes de serem levados à força para a lá, eram filhos de moradores comuns na cidade, estudavam na mesma escola e brincavam na praça quando eram crianças. Quando foram raptados de suas famílias, a vida deles girou cento e oitenta graus, não podiam mais brincar, não podiam mais ser crianças comuns. Foram submetidos a treinamentos severos que o barão impunha a todos os moradores da aldeia. Quase não havia mulheres em Santo Pedro, as poucas que existiam eram, além da baronesa, algumas empregadas e duas mães que ajudavam a cuidar dos garotos quando o barão não estava atormentando eles. Sem falar que todos foram obrigados a beber da água da fonte para que nunca mais pudessem voltar para cidade. Depois que a baronesa morreu por causa do veneno, muito tóxico, de uma aranha, não demorou muito para que o barão também viesse a falecer e seu filho mais velho tomasse o controle de Santo Pedro. Essa foi a deixa para Ric e Edie organizarem uma fuga coletiva, e quem não estava disposto a ficar debaixo do comando de Ram iria sair da aldeia. Ele ficou muito irritado e considerou desertores os que saíram acompanhando os irmãos, jurando todos de morte.


- AMIGOS, PEÇO ATENÇÃO DE TODOS, falou Ric ao clã. – Em alguns dias haverá luta, na cidade. Todos do grupo voltaram os olhares para Ric. – Meu irmão, Ram, está tramando contra os moradores da cidade, ele vai raptar pessoas e leva-las para Santo Pedro assim como meu pai fez com vocês há anos, eu não vou permitir que isso aconteça. Os rapazes permaneceram em silencio enquanto Ric falava. Edie estava apreensivo, ele não podia prever a reação deles, mas Ric continuou. – Nenhum de vocês é obrigado a confrontar Ram e seu clã. - Eu quero ir confrontar Ram. Falou um dos rapazes. – Eu não quero que ele faça outra pessoa passar o que eu passei naquela maldita aldeia. – Eu também quero ir, disse outro rapaz. – Eu também vou, disse outro. Então todos os membros do grupo do clã de Ric estavam dispostos a confrontar Ram fora da floresta. Seria a primeira vez que eles, desde que foram raptados, retornariam à cidade. Edie ficou com medo de que algum deles pudesse ter alguma recaída caso encontrasse ou fosse reconhecido por algum parente lá. Ric temia por Dina e por Anja, ele sabia que os alvos principais do irmão mais velho seriam elas duas.

Enquanto isso, em Santo Pedro... Existia uma sala especifica para os treinamentos de todo o clã de Ram. O local era impecável, o barão fez questão de montar um dojô tipicamente japonês na aldeia, no meio da floresta. Todas as práticas com facas e espadas, assim como os combates corpo a corpo eram realizados lá. Lucaar coordenava o treinamento e Ram participava diretamente dos combates com os membros do clã. Volta e meia ele combatia contra dois ao mesmo tempo, ninguém conseguia derrotar Ram. Os habitantes de Santo Pedro o obedeciam não por que ele era o filho herdeiro do barão, mas por ele ser um excelente e habilidoso guerreiro. Nos combates com espadas, toda atenção era voltada para a magnífica Corta Relâmpago, que brilhava a cada golpe desferido.


Depois que o barão morreu, Ram apoderou-se da espada, alegando que por ser o filho mais velho, teria o direito legal. Ric nunca manifestou qualquer vontade de ter a espada, já Edie sempre a desejou e esse poderia ser o único motivo de desavença entre eles dois. Quando Ram não estava usando a espada, a Corta Relâmpago descansava escondida numa pequena sala em seu quarto, absolutamente ninguém tinha permissão para entrar lá. Nem mesmo Lucaar. Ao terminar o treinamento, Ram deixava o clã e caminhava para sua casa, mantinha-se calado até estar sozinho no seu quarto. Era um cômodo grande, com cama para duas pessoas. Móveis velhos, rústicos, pesados, que o pai dele havia deixado como herança. Assim que ele entrou retirou a camisa suada e jogou no chão em frente à cama. Caminhou até a parede ao lado da cômoda, lá havia uma porta de correr que mal podia ser percebida. Ram deslizou a porta lateralmente revelando outra sala dentro do quarto. Então conduziu a Corta Relâmpago para dentro, colocando-a em cima de um pedestal especifico para espadas. Ele voltou fechando a porta atrás de si, e antes de mergulhar em sua cama retirou a única peça de roupa que havia em seu corpo, deixando a calça junto à blusa suada no chão. Seu corpo exibia além das curvas musculares, marcas de luta cicatrizadas que ele não fez questão que a água curasse. Então ele fechou os olhos, e repousou. Lucaar aproveitou a ausência de Ram, pegou seu cavalo e foi para cidade, ele queria encontrar Anja, mais uma vez. Ela estava em casa quando ele apareceu na porta da casa dela. Ficou parado do lado de fora algum tempo antes que a garota notasse sua presença. A mãe de Anja havia lhe dito que sabia onde o pai dela poderia estar e que e que iria atrás dele e que logo ele estaria em casa. Anja teve medo de sair, mas Lucaar não mostrou nenhum comportamento que justificasse que a garota tivesse medo dele. Ela abriu a porta com calma, um pouco insegura, tímida e ao mesmo tempo curiosa. - O que você está fazendo aqui. Perguntou. – Eu não quero mais falar com você, minha mãe pode vir aqui e ver você, vá embora.


- A sua amiga lhe contou, não foi? Disse Lucaar fazendo sinal com a mão para que ela saísse de casa. - Você me enganou. – Você... - Está errada. Ele interrompeu. - Eu não enganei você. - Você e aquele Ram mataram o medico de Dina. Ela afirmou. - Sobre o que você está falando? - Você me pediu para fazer uma oração e eu fiz, você estava aqui comigo o tempo todo e você... Vocês mataram uma pessoa. - Angélica, nós não matamos ninguém. Quem morreu? - Fique longe de mim, nunca mais chegue perto de mim, ou da minha casa ou da minha família ou... De Dina. Ela bateu a porta deixando Lucaar do lado de fora. Muito intrigado ele decidiu se concentrar na morte do tal medico que Anja mencionara. Ele desconhecia completamente a morte dessa pessoa. “Melhor voltar para a Aldeia, contar isso”, ele pensou.

Enquanto isso no refugio... Edie falava inutilmente com Ric sobre ele ir à festa com Dina. – É arriscado você ficar com ela lá no meio das pessoas. – Sem falar que você pode ser reconhecido por alguém. - Ninguém vai me reconhecer, Edie. Retrucou Ric. – Eu era muito novo quando deixamos a cidade, as pessoas não vão me reconhecer, e eu acho que você também não seria reconhecido. Edie parou um instante e perguntou. – Você acha mesmo que eles não me reconheceriam? - Claro, eles lembraram-se de um gordinho e desajeitado. Falou rindo. - Ou você esqueceu-se de como era sua forma quando criança. Edie ficou irritado com Ric e arremessou uma faca, fincando no tronco de uma arvore ao lado da cabeça do irmão, fazendo irmão rir cada vez mais alto. - Ahhhhh, você se lembra de quando era gordinho...


- Eu vou ti matar, idiota. Ric começou a correr pelo refugio enquanto Edie tentava acerta-lo com facas, pedras ou que ele conseguisse pegar. – Errou. – O gordinho do pão de batata da mamãe não consegue me pegar. Edie com certeza já estava irritado com Ric quando finalmente conseguiu acerta-lo com uma pedrada atrás da cabeça. - Ai, isso doeu. Reclamou Ric. – Está sangrando. - Agradeça por não ter acertado você com uma faca, idiota. Edie não falou mais nada e enquanto caminhava de volta, reclamava do irmão mais novo. – Eu não tenho mais obrigação de aguentar, as infantilidades dele. – Era só o que me faltava, ele ficar me lembrando de como era meu corpo quando eu era um garoto. – Ainda arranco aquela língua, só fala besteiras. – Estamos falando de coisas sérias e ele só tripudia... Ric mesmo sangrando na cabeça ainda sorria com as reclamações do irmão. – EU TAMBÉM TI AMO. Gritou. Sentou-se num tronco seco e alcançou seu cantil com a água e derramou sobre sua cabeça. A água imediatamente fez seu papel e curou a ferida. Olhando para as folhas das árvores ele pensou em Dina, e como ela ficaria bonita em um vestido. Quando caiu em si lembrou-se que não tinha o que vestir para festa. “Preciso arrumar uma roupa para acompanhar Dina”, pensou.

Em Santo Pedro... Luccar se reuniu com Ram e outros membros do clã, ele falou sobre a morte de uma pessoa na cidade e todos negaram dizendo que não sabiam do que se tratava. - Ninguém aqui fez nada contra alguém da cidade, nem mesmo sabíamos dessa morte. Falou Patrick, um dos membros mais velhos do clã de Ram. – Aposto que foram os refugiados. - O que mais você sabe sobre esse homem que morreu, Lucaar? Perguntou Ram. - Não sei muita coisa, a informação que tenho é que ele era o médico da garota.


Patrick levantou-se da mesa onde estavam reunidos. – Por isso mesmo, foi o Richard que fez isso, ele estava envolvido com ela... - Como você tem tanta certeza? Perguntou Lucaar encarando-o. – Você sabe de alguma coisa que nós não sabemos? - Você está duvidando de mim? Perguntou Patrick encarando de volta. – Quer resolver isso lá fora? Enquanto os dois discutiam, Ram pensava sobre o assunto, parecia não importar-se com a troca de ameaças entre Lucaar e Patrick. Quando os dois estavam prestes a começar brigar, ele teve que intervir. - Calem-se os dois, precisamos descobrir mais sobre esse homem que morreu, por que ele morreu e quem o matou. Patrick não gostava de Lucaar e muito menos da calma com que Ram conduzia as coisas. – Mas senhor, eu apenas gostaria de... - Eu já dei minhas ordens, e espero que elas sejam obedecidas. Interrompeu Ram. - Agora vá. - Certo senhor, me desculpe, irei até a cidade. - Não, Lucaar é quem vai à cidade, você não sairá da aldeia. Respirando fundo Patrick assentiu com a cabeça e saiu da sala de reuniões que ficava atrás do Dojô. – Sim, senhor. Lucaar ficou olhando para Patrick até que ele estava fora da sala junto com os outros membros que participavam da reunião. – Não confio nele, nunca confiei. Ele disse a Ram. – Não entendo por que ainda o deixa estar aqui. - Aprendi uma coisa com meu pai. Respondeu Ram. – Devemos manter nossos amigos perto e os inimigos mais perto ainda. Ram estava muito pensativo. – Não acho que foi alguém do clã de meus irmãos, eu penso que existe outra pessoa por trás disso. - Alguém em mente? - Não, por isso precisamos saber mais informações sobre esse morto. Respondeu Ram. – Não podemos deixar de nos preocupar com a segurança da Aldeia e a fonte da água, se alguém estiver tramando alguma coisa, nós poderemos morrer, todos nós.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

Um dia para a festa 20

Era véspera do Solstício e uma euforia coletiva pairava sobre a cidade. Fazia frio, mas ninguém estava preocupado com a temperatura, o único assunto comentado era a festa, e o grande chamariz do evento seria, além da eleição do rei e rainha, a grande fogueira que seria acesa pouco antes da meia noite. Dina colocou seu vestido verde de festa no cabideiro fora do guarda roupa. Os sapatos que ela iria usar foram emprestados por Anja, que calçava o mesmo número que ela. Dina não podia deixar de pensar em como seria estar ao lado de Ric, sozinha ela arriscou alguns passos que havia ensaiado com Anja, para não passar vergonha se caso Ric a chamasse para dançar. Ao mesmo tempo ela lembrou que ela não estaria na festa para se divertir, já que Ram iria tentar alguma coisa durante o Solstício. “O que será que ele vai aprontar?” Ela pensou.


- Você estará muito bonita amanhã, querida. Falou vó Augusta encostada na porta do quarto de Dina. - Obrigada, vó. Respondeu ela. – Eu nunca participei de uma festa assim, minha mãe alguma vez participou? Vó Augusta pensou por uns instantes e pediu que Dina a seguisse até seu quarto. – Venha querida, vou lhe mostrar uma coisa. A neta seguiu até o quarto da avó e sentou na cama enquanto vó Augusta arrastava um enorme baú posicionando-o ao lado. Ela abriu o baú e começou a retirar peças antigas de roupa de cama. Lá no fundo, começaram a surgir roupas masculinas e femininas. - De quem são essas roupas, vó? Vó Augusta sorrindo começou a abrir as roupas e espalha-las por cima da cama. Um lindo vestido curto azul foi primeiro e depois algumas blusas decoradas em crochê, todas em tom pastel e, finalmente um belo traje de festa masculino. Dina olhava todas aquelas roupas em silêncio sem perceber uma lágrima escorrendo. Ela estava certa que aquelas roupas foram usadas por pessoas que ela amou muito. – Eram dos meus pais? Perguntou emocionada. - Sim. Respondeu a avó. – Quando eles eram mais jovens, da sua idade. - Cresceram e deixaram as roupas aqui, eu guardei tudo. A garota pegou uma das blusas, levou até o rosto e ficou alisando a bochecha com o tecido fino. – Minha mãe usou isso na minha idade? - Ela usou tudo isso, querida. E esse traje aqui, foi seu pai quem usou quando dançou com sua mãe pela primeira vez no Solstício. Ela deu uma pequena pausa antes de continuar. – Depois disso, eles nunca mais se desgrudaram. Dina soltou a blusa e voltou à atenção para o lindo traje escuro de festa que o seu pai havia usado para dançar com sua mãe. “Foi ai que eles se apaixonaram”, pesou. - Diana, com quem você vai à festa, quem vai ser seu par? Perguntou Vó Augusta.


Ela ficou nervosa com a pergunta repentina e antes que pudesse pensar numa resposta convincente, elas ouviram alguém batendo na porta da frente da casa. - OLÁÁÁÁ, HOW DE CASA. Gritou Anja do lado de fora. A interrupção de Anja foi muito bem vinda pela amiga. ”Salva por um anjo”, ela pensou. - JÁ ESTOU INDO. Respondeu Dina com um grito tão forte que fez sua avó assustar. – Combinei de encontrar com Anja, vó. – Depois falamos. Ela saiu correndo do quarto da avó, mergulhou os pés nos tênis cano curto e se atirou escada abaixo descendo o mais rápido que pode para encontrar Anja ansiosa para entrar. - Por que demorou tanto, estou horas esperando aqui fora. Dina riu e tentou puxar Anja para rua, mas a loura escorregou para dentro da casa da amiga. – Preciso falar com sua avó. - Falar o que? Perguntou Dina. - Acho que não é uma boa hora. - Por que não? Insistiu Anja. - Ela estava me perguntando sobre a festa. Falou sussurrando. - E quem seria meu par... - Olá Angélica, tudo bem com você? Como vai sua mãe? - Olá dona Augusta, é sobre isso que eu vim. – Minha mãe vai atrás de meu pai hoje, ela disse que ele pode estar na antiga cabana dos meus avós, na floresta. - Você disse floresta? Perguntou Dina nervosa. – Onde fica essa cabana? - Era a antiga cabana onde os avós de Angélica moravam, querida. – Eles morreram e a cabana ficou lá vazia. - É Dina, meu pai toda vez que briga com minha mãe, vai lá e fica alguns dias até esfriar a cabeça para voltar para casa. – Minha mãe decidiu que vai lá buscá-lo. - Você acha mesmo que não é perigoso? Perguntou Dina esquecendo que a avó estava ao lado. – Você sabe que temos que tomar cuidado.


- Cuidado com o que querida? Perguntou vó Augusta. As duas amigas ficaram se encarando sem saber o que responder. Vó Augusta ficou parada com os braços cruzados esperando por uma resposta quando Anja finalmente falou. - É aquele rapaz do outro dia que estava nos acompanhando até minha casa, a senhora lembra? - O Rapaz dos olhos verdes? Perguntou vó Augusta olhando para a neta. – Por que não me disse antes? Dina ficou gelada ali mesmo onde estava, não acreditando que Anja havia dito aquilo. “Como ela pode ter dito isso” pensou. Tentando parecer o mais natural possível, Dina respondeu a avó. - É que a senhora sempre fica perguntando quem são os pais dos garotos que eu encontro, e eu fiquei com medo de responder. - Não precisava ter medo de falar comigo, querida. - Eu achei aquele rapaz muito educado e acho que ele seria um bom acompanhante para você na festa. Dina e Anja ficaram olhando uma para a outra desconfiadas com a reação de vó Augusta. Ela simplesmente aceitou que sua neta fosse à festa acompanhada por um rapaz desconhecido sem ao menos fazer perguntas sobre a família dele. - Vamos para o meu quarto Anja, quero lhe mostrar meu vestido. - Mas eu já sei como é seu vestido. Respondeu Anja. – Nós pegamos juntas na casa da costureira... - Mas eu quero lhe mostrar como ele combina com os sapatos. Interrompeu Dina. - Dina, eu também seu como são os sapatos, eu que emprestei... - ANJA... Vamos logo. - Tá bom, não precisa gritar, xau Dona Augusta. Enquanto as meninas subiram para o quarto, vó Augusta telefonou para o padre Santiago. - Alô, Santiago? – Sou eu. Respondeu o Padre do outro lado da linha.


– É Augusta quem está falando, preciso encontra-lo agora na igreja. - Estarei esperando na sacristia. Ela desligou o telefone e subiu para trocar as roupas. Antes de entrar no seu quarto avisou as meninas que iria sair. - A senhora vai demorar muito? - Não sei querida, preciso acertar com o padre os últimos detalhes das barracas de festa, tem comida pronta na cozinha, não me esperem. - Tudo bem. Respondeu Dina enquanto sua avó desaparecia da porta do seu quarto. Voltando a conversar com Anja, Dina perguntou à amiga. - Como você teve coragem de falar para ela que eu iria com Ric? - Eu fiquei nervosa e achei que ela não iria se lembrar dele, já que o conheceu ainda bebê. Respondeu Anja enquanto ligava o walkman de Dina. – Foi tudo que eu consegui pensar. Dina não estava chateada com a amiga, ela só pensava em como iria aparecer na festa com o Ric ao seu lado. Mesmo que sua avó não o reconhecesse, outras pessoas poderiam reconhecê-lo. Eles teriam que ficar longe das pessoas mais velhas enquanto estivessem na festa e ainda sim, vigiar caso Ram tentasse alguma coisa. - Lucaar me encontrou ontem. Falou Anja. Dina engoliu em seco quando ouviu a amiga pronunciar o nome dele. – Ele tentou alguma contra você? Perguntou. - Não, ele queria falar comigo, mas eu não saí de casa, estava de dia e ele nem tentou se aproximar da porta. - Ainda bem que ele não tentou nada contra você. - Eu o mandei ir embora, não quero vê-lo nunca mais. - Por que eu tenho a ligeira impressão que vamos vê-lo novamente. Falou Dina suspirando. – Eu preciso encontrar Ric, lá no chafariz e contar isso a ele.


As duas se levantaram e foram para a rua. No caminho elas avistaram vó Augusta caminhando de vagar, quase na porta da igreja. Dina apressadamente puxou Anja para atrás do muro. – Ela não pode ver você passando sozinha, ela vai perguntar onde eu estou. Falou Dina à Anja. - Certo, vou para casa por outro caminho, pela rua de trás. Se por acaso sua avó for à minha casa e perguntar sobre você, direi que você foi à costureira levar uma peça de roupa para mim enquanto eu espero minha mãe voltar. Dina sorriu para a amiga e assentiu com a cabeça. – Obrigada, se cuide no caminho de volta, Vou encontrar–me com Ric. Elas separaram-se e tomaram caminhos opostos. Enquanto isso na igreja, vó Augusta conversava com padre Santiago na sacristia. - Ainda bem que Diana vai estar na festa com um rapaz muito educado. – Assim eu fico despreocupada com a segurança dela. - Você acha mesmo que o barão vai aprontar alguma coisa durante o Solstício, Augusta? Perguntou o padre. – Haverá muitas pessoas, até o prefeito estará na festa. - Eu espero tudo daquele homem, Santiago. – Acho que você deveria estar preocupado também. -Calma Augusta, vamos estar atentos. – Agora me fale sobre esse rapaz que vai estar com sua neta na festa. - Eu não o conheço, mas olhei bem nos olhos dele e tenho certeza de que é um bom rapaz. – Você sabe que eu não me engano com as pessoas, não sabe? - Se você acha que ele é um bom rapaz, então é. - Alguma coisa nos olhos daquele rapaz era familiar. Disse vó Augusta enquanto limpava os óculos. – Aqueles olhos verdes me fizeram lembrar alguém. - Vamos para o pátio ver como andam as montagens das barracas. O padre e Vó Augusta foram para o pátio da igreja onde outras senhoras estavam coordenando os homens que estavam pré montando as barracas para a festa. A igreja estava linda.


Enquanto isso, no chafariz... Dina e Ric se abraçavam intensamente, parecia que eles não se viam fazia dias. Dina com os braços em volta do pescoço dele e Ric passando a mão pelos cabelos dela. - Eu senti muitas saudades de você. Disse Ric a ela. – Cada minuto que eu fico na floresta longe de você, parece uma eternidade. - Eu também conto os momentos para estar com você. Ela disse. – Hoje mesmo quando eu estava olhando para o meu vestido... Ela parou de falar quando percebeu que Ric desviou o olhar para os pássaros que estavam nas arvores. – O que houve? Ela perguntou. - Dina, eu não tenho uma roupa de festa para acompanhar você. Respondeu Ric. – Todas as roupas que eu tinha, estão em Santo Pedro, só tenho roupas velhas e surradas que consegui carregar para floresta. Os dois ficaram em silêncio por um momento, quando Dina lembrouse que havia uma roupa que Ric poderia usar na festa. “O baú da minha avó”, pensou, “A roupa que meu pai usou na festa do Solstício podem caber em Ric”. - Eu acho que posso resolver isso. Falou Dina com entusiasmo. – Amanhã antes de começar a festa, minha avó vai estar ocupada com as barracas da igreja, então você vai à minha casa, encontrar comigo e Anja, nós combinamos de nos arrumar lá. - Você vai me deixar ver o seu quarto? Perguntou Ric cheio de malicia no olhar. Ela sorriu para ele enquanto tentava dizer alguma coisa. Os olhos de Ric faziam com que ela ficasse sem palavras, o brilho verde malicioso que ele exibia fazia o tempo parar e nada mais importava. Infelizmente Dina criou coragem momento. - Preciso lhe falar.

para

quebrar

- O que foi? - Lucaar foi à casa de Anja ontem, durante o dia. - Ele teve coragem de ir lá? – O que ele fez a ela?

o

encanto

do


- Ele não fez nada a ela. Respondeu Dina. – Ela o mandou embora, e simplesmente ele... Foi. - Estranho, ele foi embora muito fácil. Dina segurou o arco do queixo dele com as duas mãos e perguntou seriamente. – Ric, me diga a verdade. – O que Lucaar pode querer com Anja? Ric olhou de volta para ela, pegando as duas mãos e levando ao seu peito e, com certo receio ele respondeu. – Eu acho que ele quer raptar Anja e leva-la para Santo Pedro. Dina puxou as mãos para si e olhou para o lado. “Não”, ela pensou.


ALDEIA de SANTO PEDRO

Água

Solstício

21

Acabara de amanhecer na cidade, e tudo estava pronto. Os enfeites pendurados nas ruas, barracas armadas no pátio da igreja e na praça central e a madeira empilhada para compor fogueira. Um pequeno palanque estava montado ao lado da igreja, certamente ali seria um bom o local para os músicos tocarem. As poucas pessoas que andavam pelas ruas àquela hora da manhã, eram os homens que viraram a noite trabalhando para que tudo estivesse pronto logo cedo. Enquanto isso, o resto da cidade ainda dormia. Na floresta... Todo o clã de Ric estava acordado. Seus rostos estavam muito sérios, e seus corpos tensos. Eles não sabiam o que poderia acontecer a partir daquele dia. Edie estava pensativo, temia que algo de ruim


acontecesse, temia pelos homens que há muito tempo não saiam da floresta. A possibilidade de algum deles encontrar conhecidos na cidade era grande. Ele precisava tomar conta daquele grupo. Edie separou uma quantidade de facas para escondê-las pelo seu corpo e limpou sua espada. Não era exatamente a espada que ele gostaria de ter em suas mãos, mas era uma excelente espada. A espada que ele queria ter, era a mesma espada que Ram havia tomado para si, que seu pai trouxe do Japão em uma de suas viagens. A Corta Relâmpago estava escondida em Santo Pedro e Edie sabia que Ram a levaria para fora e lutaria com ela se fosse preciso e ele pretendia tomar a espada das mãos de Ram a qualquer custo. Absorto em seus pensamentos demorou um pouco para perceber que Ric estava próximo, conversando com Marcos, outro membro do clã. Eles estavam combinando qual seria o melhor caminho para retornar a floresta se caso fosse necessária uma fuga. Edie caminhou para perto do irmão e colocou uma mão no ombro dele, Ric virou para falar com Edie enquanto Marcos se afastava para aprontar suas armas. Os dois irmãos se olharam algum tempo e depois caminharam juntos para o centro do acampamento. Sentaram num velho tronco de árvore e permaneceram em silêncio. Somente era possível ouvir o som da mata. Após algum tempo Ric quebrou o silêncio. – Hoje o dia vai ser curto. - E a noite vai ser longa. Respondeu Edie. - Não sabemos o que pode acontecer hoje à noite, Edie. Falou enquanto olhava para a vegetação à sua volta. – Não sabemos o que ele será capaz de fazer. - Eu me pergunto o que você será capaz de fazer. – Não nossa mãe não iria gostar caso um irmão ferisse o outro. - Nossa mãe não está aqui, Edie. – E eu não vou pensar duas vezes se ele machucar Dina. - Não é somente sobre ela que estamos falando, existem outras pessoas na cidade que ele pode ferir e eu quero saber até onde você será capaz de chegar. - Se for necessário, Edie. Ele parou um instante antes de continuar. – Se for necessário, eu afundarei minha espada em Ram.


- Eu imaginei que você responderia isso. Disse Edie lamentando. – Eu sabia que um dia vocês dois iriam se matar. – Desde crianças vocês se odiavam e agora vão ter a chance de tirar suas diferenças. Ric abaixou a cabeça enquanto ouvia o irmão. Ele sabia que Edie estava certo, mas não concordou, apenas continuou calado mais alguns instantes antes de mudar o foco do assunto. - Você acha que eles têm alguma coisa haver com a morte do médico da cidade? - Sinceramente, Ric. Respondeu Edie. – Eu acho em parte que eles possam ter matado o médico, mas só se o médico ultrapassou o limite da floresta perto de Santo Pedro. - Também pensei a mesma coisa. – Não acredito que eles tenham ido até a cidade matar o médico sem motivo aparente. Concluiu Ric. – O pai de Anja também sumiu, ela e Dina estão pensando que foram eles. - Isso é muito estranho, Ric. – Uma morte e um desaparecimento recentes, não é o estilo de Ram. - Mas se não foram eles, foi outra pessoa. Concluiu Ric - Quem está por trás disso? – Qual é a ligação entre o médico de Dina e o Pai de Anja? - A única ligação que eu consigo pensar é que eles eram velhos e conheciam nossos pais. Conheciam a gente. Respondeu Edie. - Você se lembra do pai de Anja, como ele era, porque eu não me lembro dele. - Eu tenho uma vaga lembrança, acho que ele trabalhou na nossa antiga casa... - Que foi derrubada! Interrompeu Ric, lembrando com raiva dos escombros da casa onde ele viveu quando era criança. - Sim, isso é mais uma coisa que eu pretendo saber, quem derrubou nossa casa. - Ele deve saber. - Ric, você atribui a culpa de tudo em cima de Ram.


- Ele é o mais velho, Edie. – Ele não saia do lado do nosso pai, aposto que ele sabe muito mais coisas do que você imagina. Os dois irmãos continuaram conversando quase toda à manhã, enquanto o clã preparava-se para o que fosse necessário. Muitos deles partilhavam uma vingança em comum, Ram e Lucaar. Os dois haviam torturado os rapazes do clã quando eram crianças motivadas pelo barão, agora eles estavam grandes o suficiente para devolver a tortura em forma de vingança. Ric levantou-se e chamou Céu. O cavalo prontamente atendeu o chamado. - Aonde você vai? Perguntou Edie curiosamente, mas já sabendo onde o irmão pretendia ir. - Vou ver a Diana. – Xau Edie, nos encontraremos durante a festa. Respondeu enquanto montava no cavalo - Idiota. – Por que eu ainda pergunto. Reclamou Edie enquanto Ric já havia sumido na mata.

Na cidade... Dina aguardava ansiosamente que as horas passassem o mais rápido possível. Assim sua avó iria para a igreja aprontar as barracas da festa, deixando a casa livre para que ela recebesse Ric. - A que horas você vai se arrumar para sair, vó? - Logo depois do almoço, querida. – Por quê? - Só curiosidade, Anja vai se arrumar aqui em casa e nós vamos juntos para festa. - Aquele seu amigo estará esperando você na lá? - Sim. Dina não parava de olhar para o relógio, ainda faltava muito para a hora combinada com Anja. Ela andava de um lado para o outro no quarto, ansiosa e inquieta. Ela temia pela amiga, mas não estava certa se deveria revelar o que Ric lhe dissera no dia anterior. A possibilidade de Lucaar estar


tramando levá-la para Santo Pedro à força a deixava tensa. Então por fim, ela decidiu que não iria contar nada. Deitou-se na cama e enquanto esperava, fez uma pequena reflexão de tudo o que havia acontecido desde a chegada dela até agora. Lembrou-se do primeiro dia na escola e da primeira consulta com Paulo, seu psicólogo. Lembrou-se do tombo na rua de paralelepípedo, quando viu Ric pela primeira vez e o banho no lago juntos. Lembrou-se da primeira briga que ela teve com Lorena na porta da escola e Ric quase ter quebrado o braço de Adan. Lembrou também da primeira vez que andou sobre os escombros da casa desmoronada e do susto que levou quando leu o nome de Ric numa lápide no cemitério nos fundos da casa. Ela começou a rir sozinha quando achou que Ric era um fantasma, mas o sorriso foi breve porque lembrou que Ram a havia enganado se fazendo passar por Bob. Em suas lembranças não pôde esquecer-se de Céu e Tobruk, dois cavalos belíssimos com personalidades completamente diferentes. Lembrou-se da lenda da água de Santo Pedro que Paulo lhe contara e da sua morte repentina há poucos dias. Ela começou a chorar com remorso por não ter ido nem ao funeral nem ao enterro dele. Enxugando as lágrimas ela lembrou que avó abriu um baú revelando as peças de roupas que foram usadas pelos seus pais. Agora ela estava ali, deitada na cama, esperando que Anja emergisse pela porta para retirá-la da inquietude do clima. Finalmente vó Augusta despediu-se. Estava arrumada para festa, mas antes iria à igreja aprontar as barracas. – Estou saindo, querida. – Você vai ficar bem em casa, sozinha? - Sim, vó. Respondeu alegremente. – Estou esperando Anja. Vó Augusta bateu a porta da rua e seguiu em direção à igreja, Dina a observava pela sua janela. Quando não pode mais acompanhar a caminha da sua avó que já estava distante, virou os olhos para o outro lado e seu coração quase parou. Ela reconheceu, não tão longe, um certo rapaz alto, musculoso com um sorriso no rosto, então desceu o mais rápido que pode para encontrá-lo mais próximo a sua casa.


Ele ficou parado do outro lado da calçada e Dina fez um sinal com a mão chamando Ric. Ele atravessou à rua e a encontrou na porta da casa dela. – Entre. Convidou Dina. Ric estava sorrindo, mas ficou receoso ao entrar na casa de Dina. – Você está sozinha em casa. Perguntou. - Sim, minha avó acabou de sair. – Vamos logo, não vai ficar parado ai fora tanto tempo, alguém pode ver você entrando e contar para ela. Ric respirou fundo e entrou na casa de Dina. Ficou olhando para a sala, encostado na porta, enquanto a garota tentava puxá-lo para dentro, mas ele a ignorou enquanto caminhava pela sala. Olhou os móveis com cuidado, tocou na televisão e ascendeu a luz de um pequeno abajur ao lado da poltrona de leitura no canto da sala. - O que houve Ric? Perguntou Dina curiosamente. – Você está bem? Ele não respondeu, mantilha o olhar fixado nos quadros que a avó de Dina exibia na sala, então se aproximou de um e alongou o braço para tocar na moldura dourada. Delicadamente ele alisou a madeira da moldura com a ponta dos dedos. - Ric. Dina o chamou novamente. Quebrando o transe ele olhou para ela, seus olhos brilhavam com possíveis lágrimas que se controlaram para não saltar deles. – Dina, esse quadro. - Você está bem? Perguntou novamente. - O que tem esse quadro? Ela andou até o quadro e olhou a imagem pintada nele. Era um quadro velho em pintura a óleo, com traços fortes de um garoto bem jovem junto a um cavalo preto. Ela nunca havia reparado nos quadros da casa, muito menos naquele quadro antigo que ficava na parede mais distante da sala. - O que tem esse quadro? - Quem o pintou foi minha mãe. Revelou Ric para surpresa de Dina. Ela recuou um pouco e sentou-se no sofá Ric sentou ao lado dela e pegou em sua mão. – Foi minha quem pintou, mas eu não sei como ele veio parar aqui na sua casa. - Como você sabe que foi ela quem pintou?


Ele levantou e apontou com o dedo para as duas letras no canto da pintura.

C.B.

– Está vendo essas iniciais, são da minha mãe. –

Celina Baleares. Dina olhou para as letras pintadas no quadro e fez um gesto com as duas mãos mostrando que não sabia como o quadro havia parado na casa dela. – Eu não imaginava que esse quadro fosse da sua mãe, Ric. – Também não sei como minha avó o conseguiu. – Quem é o garoto na tela? Ric cerrou os lábios antes de responder com certa decepção. – É o Ram e Tobruk. - O que, não pode ser. Ela disse incrédula. – Ai já é de mais para minha cabeça, como pode um quadro que sua mãe pintou estar na minha casa e com o retrato de Ram nele? – Você viu sua mãe pintando esse quadro? - Dina, quando Ram tinha essa idade eu era muito pequeno e se ela pintou na minha frente, eu não me lembro. – A única lembrança que eu tenho é que ela gostava muito de pintar. Dina olhou mais uma vez a imagem de Ram na tela do quadro enquanto Ric continuava a contar. – Quando fomos para Santo Pedro, ela disse a meu pai que o quadro havia ficado em nossa antiga casa. Ele fez uma pausa ao se aproximar de Dina. – Meu pai ficou muito chateado, porque era da época em que ele trouxe Tobruk da Líbia para dar de presente para Ram. Eles ficaram parados olhando o quadro mais alguns instantes antes de Dina chamar Ric para seu quarto. – Vamos subir. Os dois subiram juntos as escadas até chegarem ao segundo andar da casa. Ric ainda tenso continuou cautelosamente seguindo atrás dela. Quando entraram no quarto de Dina, ela pegou na mão dele e o levou até a janela onde ela podia ver toda a movimentação da frente da sua casa. – É por aqui que eu vejo você lá embaixo. Falou sorrindo tentando deixa-lo mais relaxado. Ele sorriu de volta e encostou-se no parapeito da janela. Dina estava ao seu lado e ele segurou em sua cintura puxando-a para perto. Os dois admiraram juntos toda a paisagem que ficava à frente da janela do quarto até que Dina sentou na cama.


Ric sentou ao lado dela e tocou as mechas do cabelo que cascateavam até os ombros, depois com a outra mão tocou com o polegar os traços de todo o queixo dela e os dois começaram a se beijar. Dina abraça Ric com desejo e ele retribuía cada caricia que ela fazia com um pouco mais de vontade. Eles estavam inclinados até que Dina deixou seu corpo tombar sobre o colchão. Ric acompanhou o movimento mantendo seu peito sobre o dela. Os dois estavam tão juntos que pareciam apenas uma pessoa uma pessoa deitada. A ingenuidade do corpo deles dava lugar a uma paixão ardente que ambos sentiam um pelo outro. Ric retirou a camisa quando o clima já estava quente entre eles, então Anja bateu á porta. Ric e Dina se levantaram rapidamente da cama. - Quem está batendo? Perguntou Ric. – Será que sua avó voltou? - Não. Respondeu Dina tentando tranquilizar Ric. – É Anja quem está lá embaixo. - Como você sabe? - Minha avó tem a chave da porta, ela não iria bater. – Não do jeito que ela está batendo lá embaixo. – JÁ VOU, ESPERE... Ric ficou rindo sozinho enquanto acompanhava Dina até o andar de baixo. Quando a porta foi aberta Anja entrou tagarelando através dela. – Por que demorou tanto? – Você sabe que odeio ficar esperando na porta e... Calou-se subitamente quando viu Ric encostado numa das paredes com braços cruzados. – Estou interrompendo alguma coisa? Perguntou Anja quando percebeu que ele estava sem camisa. Ric abriu a boca para responder. - Na verdade... - Não interrompeu nada, Anja. Respondeu Dina antes que Ric pudesse completar. – Estávamos esperando você chegar. Anja levou a mão até a boca tentando esconder um sorriso debochado. – Tudo bem, eu volto mais tarde... - NÃO... Gritou Dina. – Não precisa ir embora, não estávamos fazendo nada, só esperando você chegar.


- Tá bom. Falou Anja ainda sorrindo. Então ela pegou as bolsas que havia trazido de casa e os três subiram para o quarto de Dina. Ao entrar no quarto, Anja jogou as bolsas no chão e começou abrir o zíper da maior, lá de dentro puxou seu vestido e o pendurou no cabideiro junto ao vestido da amiga. Ric estava pouco à vontade, mas tentou agir o mais natural possível enquanto esperava sentado na cama de Dina. - Dina eu vou tomar um banho. Falou Anja. – Minha mãe saiu cedo para encontrar meu pai na casa da floresta, então preferi tomar banho aqui. - Certo. Respondeu Dina. – Quer uma toalha? - Eu trouxe a minha. Respondeu enquanto trancava a porta do banheiro. Mais uma vez eles estavam sozinhos no quarto e Dina sentou-se na cama junto ao Ric. – Estou curiosa. - Com o quê? Ela apertou os lábios, respirou fundo e continuou falando. – Quando você entrou em casa, agiu de uma forma estranha, o que foi aquilo? - Dina. Sussurrou o nome dela. – Quando meus pais morreram eu fugi de Santo Pedro. – Deixei tudo o que me pertencia lá, e vivi na floresta desde então. Ele parou de falar para olhar seu reflexo no espelho em cima da penteadeira. – Passei muito tempo na floresta e quando entrei na sua casa recordei da vida que eu tive. Ele abaixou a cabeça e continuou falando. – Haviam móveis na minha casa, nas duas casas em que morei, uma aqui na cidade e a outra na Aldeia. – Haviam quadros... Eu possuía uma vida, assim como você. - Ric. - Eu tinha uma vida normal, como qualquer outro garoto, mas meu pai com sua estupidez tirou isso de mim. – Eu não achava que sentiria tanta falta disso enquanto estava na floresta, mas quando entrei aqui, percebi que sinto falta dessa vida que me foi roubada. Dina percebeu o quanto Ric sofria por causa da loucura do pai dele, então o abraçou. Estavam juntos quando Anja abriu a porta do banheiro.


- Ei, eu estou aqui. Interrompendo o casal. – Vocês disseram que eu não estava atrapalhando. - E não está. Respondeu Dina ainda olhando para Ric. – Fique aqui, vou pegar uma coisa para você. Ela deixou Anja tagarelando com Ric em seu quarto enquanto corria para o quarto da avó. Arrastou o baú e abriu a fechadura. Procurou o traje de festa masculino que havia sido usado pelo seu pai e o levou para Ric. - Experimente isso. - O que é isso, Dina? Perguntou Anja. - É uma roupa para Ric usar na festa. - Dina? Perguntou Ric. – Onde você arrumou isso? - Experimente primeiro, depois falamos. Ric entrou no banheiro com as roupas e a vestiu. Já estava escurecendo e as meninas começaram a se arrumar também. Quando finalmente ele saiu do banheiro as duas garotas arregalaram os olhos, não parecia ser a mesma pessoa que havia entrado no banheiro minutos antes. Ele vestia uma calça preta em tecido fino, um pouco mais justa que as calças que ele costumava usar, combinando uma camisa social com mangas compridas de linho azul claro, e por cima de tudo um belíssimo blazer masculino cor grafite. Ric estava lindo. - E ai, como eu estou? As duas demoraram alguns segundos para responder e Anja foi a primeira a falar. – Ric, você está perfeito. Não está, Dina? - Sim, ficou ótimo. Falou enquanto circulava ao redor dele. – Coube direitinho em você. - De quem é essa roupa, Dina? Ele perguntou. Ela ficou receosa ao responder, mas tomou coragem e revelou que pertenceram ao pai dela. - Dina eu não posso usar isso. – São as roupas do seu pai, você deveria guardar.


- Eu prefiro que você as use. Falou limpando uma pequena lágrima que relutava em sair dos olhos. – Ele não vai usar isso onde ele está. Ele segurou na mão dela e a fez girar em círculos. – O que está fazendo? Ela perguntou enquanto ele a girava. - Está tão preocupada comigo que se esqueceu de você. – Está linda. Os dois ficaram se olhando enquanto Anja pigarreava para chamar à atenção. – Lembrem-se que eu continuo aqui. Os três começaram a rir. Dina ligou o rádio e direcionou a antena para a janela, terminaram de se arrumar enquanto ouviam as baladas de sucesso na radio local. As meninas penteavam seus cabelos, mas Ric parecia estar prestando mais atenção na bela canção que estava tocando no radio. - Você gosta? Perguntou Anja. - Sim. Respondeu Ric. – É uma boa musica, quem está cantando? - Não acredito que você não conheça. - ANJA. Falou Dina. – Ele mora na floresta, não existe energia elétrica lá. - Oh, me desculpe Ric. – É que eu não me acostumo com esse detalhe, você vive numa floresta... - Tudo bem, Anja, sem problemas. - Nunca me imaginaria vivendo numa floresta... - ANJA. Gritou Dina novamente. Ric balançou a cabeça sorrindo em sinal que estava tudo bem com as observações de Anja. – Fique tranquila, Dina. – Eu vivo na floresta escondido do mundo, é normal que ela pense assim. Ele aumentou o volume do radio. – Quem está cantando? - É um grupo que está fazendo maior sucesso do momento, são estrangeiros. Respondeu Anja. – Você fala inglês? - Compreendo um pouco, meu pai nos ensinou quando era vivo. - Seu pai falava inglês? Perguntou Dina. - Sim. – E também falava espanhol e libanês.


- Você também? - Não. Respondeu rindo. – Só inglês e apenas compreendo, qual é o nome dessa música? Dina olhou para Anja esperando que ela revelasse o nome da música, mas a loura pensou e não sabia dizer. – Desculpem-me. - Sem problemas. - É linda. Repetiu Ric. – Você também gosta, Dina? Ela gostava da musica, mas não era a sua preferida. – Eu gosto de outra que eles cantam, mas é velha e não me lembro do nome, quando tocar aviso a vocês. - Já está na hora. Anunciou Anja. – Vamos Os três, prontamente arrumados para a festa do Solstício, saíram da casa de Dina e caminharam cautelosamente para a praça central. Dina, durante toda à tarde, havia esquecido completamente de Ram. Agora ela estava tensa e a cada passo que ela dava para frente um arrepio lhe subia pela espinha à medida que eles se aproximavam. Já haviam pessoas circulando por toda parte, todas arrumadas apropriadamente para a ocasião. As barracas completamente enfeitadas iluminavam a praça principal da pequena cidade. Era possível encontrar todo o tipo de comida e bebida, mas o atrativo principal da festa era a banda composta de jovens da cidade vizinha. Dina, Ric e Anja misturaram-se junto às outras pessoas e tentaram parecer o mais casual possível, sempre atentos a qualquer aproximação de alguém mais velho. Ric não poderia ser reconhecido por ninguém. Quanto mais tarde ficava mais pessoas chegavam à praça. Dina falou com sua avó no portão lateral da igreja, onde estava o pátio, e lá haviam mais barracas vendendo mais comidas, bebidas não alcoólicas e prendas confeccionadas pelas próprias senhoras da pastoral. - Está tudo bem, querida? Perguntou vó Augusta. – Quer alguma coisa para comer? - Não estou com fome, só vim avisar que já estou na festa com Anja e... - Aquele rapaz está com você? – Ainda não me falou o nome. Dina pensou um pouco e respondeu. – Ricardo.


- Tudo bem, divirta-se. Falou enquanto observava o movimento das barracas do pátio. Ela retornou o centro da praça para encontrar Ric e Anja, havia deixado os dois próximos à fogueira ainda apagada. Pelo caminho esbarrou em uma garota alta com cabelos escuros. – Me desculpe. A garota havia desequilibrado, mas logo se recompôs, então se virou para encará-la. – Vê se olha por onde anda. Falou Lorena para surpresa de Dina que não respondeu à grosseria dela, apenas ficou olhando com expressão séria. Lorena estava usando um vestido um azul marinho, justo na cintura, decorado com pedras brilhantes bem pequenas. Desta vez seu cabelo não estava preso a um rabo de cavalo irritante, estava solto e muito bem penteado. Uma fivela discreta um pouco acima da orelha terminava a combinação. - Você pode me impertinentemente.

dar

licença,

eu

quero

passar.

Pediu

Dina

- Vá pelo outro lado, estou bem aqui. Respondeu Lorena. - Um dia vou descobrir, porque você é assim. - Assim como? “Insuportável”. Pensou Dina, mas antes que pudesse responder, Adan, muito bem vestido, estacionou-se ao lado de Lorena. – Algum problema? Perguntou enquanto a encava. - Eu não tenho medo de você. Falou para Adan. - É mesmo? Onde está seu guarda costa agora? Antes que Dina pudesse responder, reconheceu em meio à multidão aglomerada uma figura conhecida. Um rapaz alto com cabelos compridos passeava tranquilamente entre as pessoas. “Lucaar”. Ela pensou e logo concluiu que Ram também poderia estar perto. - Não tenho tempo para vocês dois, estúpidos. Falou para Lorena e Adan enquanto virava as costas para seguir por outro caminho que a levasse até Ric e Anja. - Quem ela pensa que é? – Como ela teve coragem de nos chamar de estúpidos?


Adan deu de ombros e puxou Lorena para próximo à urna com os nomes dos candidatos. Eles estavam mais preocupados com a eleição do rei e rainha da festa que com Dina. Ela finalmente chegou ao local onde a amiga estava tranquilamente conversando com Ric. – Anja eu vi Lucaar andando por ai. A loura virou-se para Dina quase não acreditando. – Você tem certeza, meu Deus. - Se Lucaar está por aqui, então Ram também está. Disse Ric. Os três começaram a caminhar entre as pessoas, tentando achar Ram ou quem quer que fosse de seu clã. Ric havia deixado sua espada duas ruas depois da praça, mas não estava desarmado, estava com facas escondidas por baixo do blazer. A banda começou a tocar músicas românticas e cada casal que estava na festa se aproximou para dançar fazendo com que Anja se separasse de Ric e Dina, ela não estava mais conseguindo vê-los, não com tanta gente tão próxima. Anja ficou parada onde estava no meio dos casais agarrados se movimentando em ritmo romântico. Ela estava com medo que Lucaar pudesse fazer alguma coisa contra ela. Estava atenta a qualquer pessoa que se aproximasse de forma estranha. Então sentiu uma mão em torno de sua cintura, leve o suficiente e firme o suficiente para que ela não pudesse se afastar. - Você... Ela sussurrou. Lucaar estava em sua frente olhando-a diretamente. Ele estava serio, mas não aparentava hostilidade em seu olhar. Ela engoliu em seco e quando pensou em gritar, ele pousou dedicadamente o dedo indicador sobre os lábios dela, impedindo que soltasse qualquer palavra. - Lembra-se que eu pedi que guardasse uma dança para mim? Ele perguntou enquanto direcionava a outra mão entrelaçando seus dedos nos dela. Puxou-a para perto dele e começaram a se movimentar. Anja estava dançando com Lucaar ao som romântico da banda, ela não tentou falar mais nada. Calada, apenas acompanhou a dança. - O que você quer? Ela perguntou.


- No momento, quero terminar esta dança com você. Respondeu Lucaar. - E depois? - Só quero pensar nesse momento. oportunidade de dançar com um anjo.

Que

tolo

perderia

a

A banda continuou tocando... Dina e Ric não conseguiam achar Anja. Ric segurava forte na mão de Dina para não perdê-la também. Estava escuro e a única iluminação era das lanternas artesanais que enfeitavam a festa. - Onde ela está? Perguntou Dina, aflita. - Calma, vamos achá-la. – Edie está por aqui, ele está observando tudo. Num canto escuro qualquer da festa... Edie beijava Carla ardentemente, os dois encostados no muro. Ele a apertava entre seu corpo e o cimento, ela com as duas pernas entrelaçadas na cintura dele. Os dois pareciam não se importar com o que se passava na festa, nem a música romântica fazia com que Edie soltasse as mãos das coxas de Carla. – Temos que voltar para festa, eles podem sentir nossa falta. Ela disse. - Só mais um pouco. Ele falou enquanto passava os lábios pelo pescoço dela. – Eu gosto quando você fica nessa posição. Ela abriu as pernas separando os dois e ficou em pé na frente dele enquanto fechava alguns botões que foram abertos durante os abraços. – Está na hora de nós voltarmos. - Tá bom. Falou Edie mal humorado. – Vamos voltar, mas antes eu quero mais um. Ele segurou-a pelos cabelos e a puxou aproximando suas bocas para um ultimo beijo. A banda ainda soava lindas músicas românticas, mas Ric junto com Dina perambulavam entre os casais à procura de Anja. Logo perto da fogueira, ainda apagada, Anja continuava dançando com Lucaar e Dina conseguiu avistá-los. - Achei ela. Falou com Ric. - Onde?


- Ali, daquele lado da fogueira. – Ela está com Lucaar, meu Deus. Ric soltou a mão de Dina e seguiu apressadamente para a direção em que Anja estava. Lucaar havia percebido e se antecipou, beijou a mão de Anja e saiu andando calmamente dentre as pessoas. Dina ficou sozinha, parada no mesmo lugar em que Ric havia soltado sua mão quando a banda parou de tocar dando espaço para o prefeito da cidade subir ao microfone e pedir atenção. Foi que ai que todas as pessoas da cidade pareciam querer se aproximar do palanque onde o prefeito estava. Todo mundo se apertando e Dina não sabia nem onde Anja estava e nem onde Ric estava, ela mal conseguia se mexer no meio daquela pequena multidão que se aglomerou de repente à sua volta. Então o prefeito começou a falar... “Boa noite a todos, eu espero que estejam gostando do Solstício de 1988. Esta noite, escolheremos o rei e a rainha da festa, mas antes falaremos um pouco do passado...”. Enquanto o prefeito falava, Dina sentiu a presença de alguém próximo, ela virou a cabeça devagar e percebeu que Ram estava a dois corpos dela. Então ela começou a andar desconfortavelmente entre as pessoas, Ram a seguia da mesma forma. “Há muito tempo atrás, nossos moradores mais ilustres da cidade partiram busca da água milagrosa...”. Dina fugia de Ram, mas parecia impossível tentar qualquer passo mais rápido no meio da multidão. Empurrões e cotoveladas não faziam efeito, então ela decidiu andar abaixada na altura da canela das pessoas enquanto ouviam atentamente o prefeito falar. Ram ficou confuso, mas logo conseguiu encontrar por onde Dina havia passado. Ric já estava com Anja e os dois olhavam para todos os lados procurando por onde Dina poderia estar. Ela continuava abaixada, quase engatinhando na tentativa de confundir Ram. Após ter falado sobre toda a historia da lenda da água milagrosa, o prefeito chamou sua secretaria e pediu que ela trouxesse a urna com os nomes dos candidatos. A urna foi aberta e os nomes foram anotados em papeis separadamente para que fossem distribuídos aos


jurados. Enquanto os jurados conversavam entre si o prefeito tornou a falar novamente, desta vez sobre a família de Ric. “Meus amigos, o Solstício também relembra à morte de uma família muito estimada aqui na cidade. É de conhecimento de todos que os Baleares tiveram suas vidas abreviadas por uma fatalidade...”. Naquele momento o qual o prefeito falava Ram, Edie e Ric pararam instantaneamente por um momento para ouvir as condolências do prefeito. Foi a oportunidade para Dina distanciar-se ainda mais de Ram. Ela levantou-se por uns minutos e esticou o pescoço para ver onde ele estava, mas não conseguiu encontrá-lo. Procurou em volta e pôde reconhecer Ric e Anja, mas os dois estavam longe o suficiente para ela demorar algum tempo para aproximar-se deles. – RIC. Ela gritou chamando por ele. - DINA. Ele respondeu de volta enquanto tentava ir de encontro a ela. Nesse meio tempo Ram pode ver a localização de Dina e retomou a perseguição. Edie identificou Ram de longe e começou abrir caminho agressivamente entre as pessoas. Logo que o prefeito acabou de fazer as condolências lembrando a família Baleares que morreu soterrada em sua própria casa, chamou os jurados para anunciar o novo rei e rainha da festa. “Nosso júri já tem o resultado da votação... Nós já temos o rei e a rainha do Solstício de 1988. Vou abrir o envelope”. Dina já estava muito próxima à fogueira da festa que iria ser acesa um pouco antes da meia noite. Pessoas haviam colocado bilhetes entre a madeira com pedidos e agradecimentos, era uma tradição local. “O rei a rainha da festa são... Esperem eu abrir o envelope”. Dina estava ao lado da fogueira onde havia mais espaço para andar livremente, já que as pessoas estavam amontoadas mais próximas do palanque onde estava o prefeito. Ram conseguira achar o local em que ela estava e Ric, com mais sorte, estava muito mais próximo. Edie tentava freneticamente correr para perto de Ram. O prefeito abriu o envelope e retirou o papel com os nomes. “E o rei a rainha da festa do Solstício de 1988 são... Lorena Veiga e Adan Àvila... Palmas para eles”.


Todos bateram palmas para o novo casal enquanto Lorena e Adan subiam no palanque para serem coroados. Dina circulava a fogueira fugindo de Ram quando tropeçou em uma lata de liquido inflamável. A lata vazia estava bem ao lado da fogueira, mas ela ignorou. – Ric, me ajude. Ela gritou. Ram estava próximo à fogueira e levantou o braço como se fizesse um tipo de sinal para alguém. Ric conseguiu sair do meio da multidão e estava correndo na direção de Dina. Lorena e Adan haviam sido coroados rei e rainha da festa. Vó Augusta batia palmas de longe ao lado do padre tranquilamente sem perceber que Dina estava em perigo. Ram viu que Dina havia corrido pra trás da fogueira e fez outro sinal com o braço. Ric conseguiu finalmente chegar ao centro da praça onde estava a fogueira e Dina atrás dela. Todo o resto das pessoas da cidade estavam felizes, quando um som estrondoso fez com que toda a atenção em Lorena e Adan fosse dispersa. Uma explosão de dentro da fogueira fez com que a madeira usada para sua construção saltasse contra tudo o que estava ao seu redor. Um corre-corre tremendo, e a pequena multidão da cidade não sabia o que fazer. Pessoas foram atingidas pelos estilhaços da madeira e ficaram feridas. Ric havia caído por causa da explosão, mas levantouse apressadamente. Um enorme pedaço de madeira queimada acertou Dina por trás da cabeça fazendo com que ela desmaiasse. - DINAAAAAA. Gritou Ric.

EPíLOGO Na manha seguinte, as pessoas ainda se perguntavam se alguém sabia responder por que a fogueira havia explodido misteriosamente. Padre Santiago tentava consolar vó Augusta, mas ela parecia estar inconsolável. Lorena e Adan não mostraram qualquer pesar pelo que havia acontecido na festa da cidade. O prefeito foi ferido, mas nada que pudesse interferir em sua saúde.


Quando a policia apareceu, quase meio dia, não foi para averiguar a ocorrência da noite passada. Eles estavam ali para chamar alguém que pudesse reconhecer dois corpos encontrados numa velha casa na floresta. - Oh meu Deus. Falou vó Augusta. – O senhor tem certeza policial? - Sim senhora, foram encontrados mortos, os dois corpos juntos. - Como eles morreram, policial? - Ao que parece... Alguém cortou a garganta deles. – Podemos ir agora para fazer o reconhecimento? - Sim, vou pegar minha bolsa e avisar ao padre Santiago que os pais de Anja foram assassinados.

Continue acompanhando a história no segundo livro “Refúgio” da Trilogia Aldeia de Santo Pedro

Danielle Sampol


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