DOBRA

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dobra


dobra


clique andante http://simple.bestmetronome.com


trânsito ônibus cheio fila dupla gente atraso saídas oi bom dia santinho candidato à deputado federal


ra dob

sono forno braço pernas letras curvas dança.

ponto de encontro em frente ao central alguém se perdeu cadê? where is she? todos aqui quatro atrás vamos abrir o vidro da portaria oficial é a de cima can’t park here there’s a child.

[trocas de telefones]

caminho.


[aceleração] [aviões]

triiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii na escuta triiiii “não é seguro aqui não é seguro não” “três menores pedindo dinheiro na portaria HU reforço” “sim sim os mesmo já foram orientados um minuto................…................................. vocês vão no circo-escola? não é seguro aqui não é seguro não”


bra

do

licensa por favor

seis mulheres bolsa no ombro esquerdo colada ao corpo tronco semi flexionado para lateral cabelos molhados pescoço dirige olhar para quarenta e cinco graus \\\\\\\\\\\\\\\\\\\ a quinta possui turbante rosa forte desviam dos obstáculos - nós avançam no árido asfalto horizonte aquela evaporação que parece derreter a paisagem


85 anos cabelos brancos boné bengala caminha dificuldade para observa ajeita calça ciclista ajeita calça observa dificuldade caminha b e n g a l a - p ê n d u l o - a p o i o


dobra

turistas

fotos

falas

excitação

caminho

labirinto

labirinto

labirinto

dĂŠdalus


arames choques cortes guaritas árvores grafites terra árvore-poste muros entrabertos na largura de três passos médios área permeável lateral

_________________________________________som.bra.sol ________________________________


auauaua auauauaua escadas crianças comprouro vendo três cômodos banheiro nar dobra pires dão trinta e cinco mil bramar ___________________________________________________________________________________ m o n o a s a m é l i a


a br do

“NÃO VAI TIRAR FO


aquela >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> porta ali ficou bonita bem feita porta do lanche

OTO DE MIM NÃO JORNALISTA DO CARALHO”


a br do


MARIA por uns minutos me pergunta se faço os mapas da comunidade portão meia altura de ripas verticais desce um degrau máquina de lavar roupas na calçada cortina de fitinhas coloridas divide tanque de cadeiras e mesas e geladeira e fogão ambiente escuro calçada dois pés de largura estreita não consigo andar para que serve esta calçada separar da rua apenas guia uma pessoa mede em média sessenta centímetros de largura consigo andar de lado caranguejo na calçada de certa forma sim, a senhora mora aqui desde quando 1991 <<<<<<< Ceará óculos armação quadrada mãos expressam o tempo a vida ladrilhos marrons no piso e parede uma escada sobe pela fachada sol na face principal da construção ela veste azul percebo que gosta de azul as roupas azuis e brancas varal azul capa da máquina azul chinelo azul azul da cor do céu de hoje conseguimos ver sem nuvens em são pauloquantas pessoas moram aqui com a senhora aqui moro só costuro para fora e tenho dois filhos que também moram em são paulo gosto daqui é calmo conheço bastante gente estamos sempre nos ajudando uns aos outros tem ônibus metrô comércio perto dá para ir a pé quarto cozinha banheiro janela fechada hxcort dun vinte e um setenta e um azul sombra corredor lateral de um metro e trinta de largura passo as mão pelas paredes texturas de chapisco grafite sem ventilação mofo caixa d`água azul sobre terracota azul ______________________________________________________ >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> AR


háááááááá aí vocês vão machucama elástica aiaiaiai chocalho trapezista tensão impulsionalto pirueta colchão de ar para cair de bunda

garagens individuais sorteio rotatividade não lugar lixão no escuro camisinha espaço funcional famililhada privilégio pegou meu brinquedo aaaa cachorro late telha de alumínio encerra o forno de gente diversão na l t u r a


bra

do

um cara que roubava calcinha nos varais da mulherada vestiram a calcinha nele pelado a entrada tá boa fala ô véi tá com cara de véia choca?

pássaros cantam avião


do

br

a

vazio silêncio carros acelera na subida corre na descida buzina quer carona? não obrigada buzina ipê roxo pássaros carros pássaros ônibus flor carros troca de olhares carros sol carros seco carros sede carros avião carros moto open spaces terrain vague walls

círculos andamos em circulos andamos em círculos andamos em círculos andamos em círculos andamos círculos início


jarararararararacussu rh


do

br

a

chorinho de criança uhmmmmm bêêê uhm ó ota bisso feio bisso feio nana bido me da não nåo quéio r na grama enquanto a brisa carícia cega do sol pausa com.sumo músicambiente esfiha jardins do século


ririrara aiai ii ãããã manoelaaaaa “devagar” foi isso que falei jefe pirolo sinos como se estivesse deitada o XIX recepção de animais cobras fundações século XIX lei áurea cafeicultura, ruralista memória história


dobra


Este é o registro de um dia de deriva nos arredores da USP, na comunidade San Remo e Instituto Butantã. Durante o percurso adotei algumas ferramentas que venho testando nos últimos meses, quais sejam, a “Deriva da Escuta / Escuta do Corpo” traduzidas em grafismos neste caderno de anotações.

Optei por não fotografar muito, e sim seguir o fluxo das conversações que se apresentavam, reiterando a aparente fragmentação que construía a paisagem. A partir da proposta da aula, por uma aproximação fenomenológica, onde exterioridade e interioridade se permeiam mutuamente, percebi que a opção por não fotografar se deu pelo fato de que, por ser uma comunidade informe [no sentido proposto por Rosalind Krauss e George Bataille] e extremamente densa, as habitações pareciam conseqüência de uma corporalidade dada a priori e por uma experiência coletiva de interdependência, onde o espaço público é praticamente inexistente, exceto ruas e vielas, a convivência acontece muito também através de espaços de transição que ocupam calçadas e verticalizam-se indiscriminadamente.


dobra


As fronteiras entre o público e o privado são bem mais flexíveis e porosas, pessoas conversam entre si da janela, portas abertas para a rua, lavanderias na calçada, roupas estendidas sob uma escada que avança até a guia. Todo esse modo de existir só é possível por conta da forma como se constrói o lugar que por sua vez reflete um modo de ser. O corpo é espaço, tempo, lugar, aquela arquitetura devir movimento. Mas a cada esquina, um portal se abria para a USP, e toda aquela formalidade moderna invadia o acaso e se deixava permear, espaços vazios, grandes distâncias, arquitetura do corpocarro, o sol intenso trazia maior desprezo pelas longas distâncias. WalkieTalkies, seguranças, barreiras para bater joelhos e lembrar-se que tem perna, portais de controle, gargalos para alguéns. Voltamos ao século XIX, extensos jardins com edifícios imponentes e compartimentados caindo aos pedaços, o verdadeiro retrato da especialização, “recepção de animais por aqui”, dos lugares, dos costumes, dos consumos, das regras. Enquanto num lugar me senti desconfortável para tirar fotos, neste me constrangi em me apropriar do corpo, quis me jogar na grama, melhor não, quis falar com as crianças da escolinha, melhor não, cartazes, indicações, cancelas, filas, cobras em fornos de concreto. Quero um pão de queijo, obrigada, sombra e água fresca. Neste pequeno TravLog, os portais da USP, as barreiras, as ruas dobráveis da SanRemo, fragmentos da memória, a Dona Maria, sons, compassos, tudo, em dobras.


ESCOLA DE COMUNICÃO E ARTES UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DISCIPLINA: CAP5410 . Pedestres e Cartógrafos DOCENTES: Gilberto Prado e Karen O`Rourke A matéria se desenvolveu a partir do livro “Walking and Mapping - Artists as Cartographers” e trouxe a fenomenologia como guia para entender a prática da caminhada como uma experiência perceptiva e viva da cidade, distanciando-a da simples conjectura mecânica e objetiva da cidade produtiva. Neste contexto apresentou a psicogeografia, proposta pela Internacional Situacionista, como a “ferramenta” de aproximação entre sujeito, suas intensidades e a cidade, assim como a cartografia uma forma de “transdução”, transcrição” daquilo que é o objeto de interesse dos artistas. Pudemos entrar em contato com um grande léxico de obras que trabalham com estes dispositivos [cartografias sensíveis, caminhada e cidade] passando pela dança , artes visuais, performance, intervenções urbanas e ferramentas digitais e interativas, todas com o comum engajamento do sujeito na criação de suas obras, a arte torna-se experiência viva com o território que a abarca, exterioridade e interioridade permeiam-se mutuamente, e a prática da cartografia de sobrevôo torna-se obsoleta. Como última atividade da aula, foi-nos proposto uma caminhada em torno da USP, tendo como guia o muro que a circunscreve. Antes do dia da nossa ação, me pareciam nítidas as fronteiras simbólicas que tal geografia escreve no espaço, os mapas, o google earth, as notícias, os boatos pareciam não mentir. Parti do entendimento de tal realidade para procurar novos índices ao percorrer os lugares, engajando meu corpo naquela territorialidade que se apresentava. Cada passagem pelo muro se tornou uma dobra espaço temporal, como facetas da mesma “realidade” entrelaçadas. A relação USP/SanRemo assim como Brasília/Cidades Satélites, para ficar só nos mais óbvios, tanto no que diz respeito à forma [Rosalind Krauss from George Bataille] quanto às suas intensidades. Nadja de Breton, Leopold Bloom de Joyce, entidades vibráteis que tem nas ruas o lugar do encontro, do erotíco, da pulsão de vida.


Adotei como protocolo “Deriva da Escuta / Escuta do Corpo” e a medida que seguíamos, me interessava muito a relação entre os universos público e privado que se permeavam criando uma urbanidade corporificada, como se a arquitetura fosse a extensão dos gestos, do modo de vida daqueles que ali habitam, uma arquitetura devir corpo. Os espaços públicos que conhecemos na cidade formal ganham outros contornos, a calçada, a praça, são invadidos pelas casas, janelas como vasos comunicantes, entre dentro e fora, entre uma casa e outra. A casa de um se constrói sobre a casa do outro como uma ecologia do habitável, uma dança entre corpos que se alavancam num vôo para o céu. A fragmentação dos espaços se esconde atrás da homogeneidade das construções contíguas, vielas e sombras, como vizinhanças “medievais”. Figura e fundo se mesclam na paisagem, criando imaginativas homoformas corpos-casa - Helio Oiticica. O embate do corpo moderno num corpo entrópico, Mon Oncle, de Jacques Tati, piadas, e fractais de cidades algoritmicas, formas/informes, cheiros, sons, a memória de uma reta-curva surrealista. Dona Maria, vocês estão mapeando a comunidade? Distraidos venceremos! Entrar no carro-quente e voltar no tempo, descer no século XIX com paisagismo romântico dos jardins do Instituto Butantã 35ºC, a espe[a]cialização dos corpos, ciência, e música ambiente para a gentrificação dos desejos, desinteresse. Bonito de ver, arquitetura do café, decadência, vontade de deitar na grama, calor, calor, calor, a cobra naquele forninho de concreto, são seres endotérmicos, pecilotérmicos? A jaula dos macacos foi o fim, já não conseguia mais sonhar, cai na real e me lembrei que ainda tenho um laboratório inteiro para projetar.


dobra


registro da ação de fechamento da aula pedestres e cartógrafos . ECA-USP professores gilberto prado e karen o`rourke


dani spadotto . setembro 2014


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