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Como Assustar ?

Por Dante Martins

Uma análise dos elementos principais nos quadrinhos de Junji Ito

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Oterror, como todos os gêneros midiáticos, possui diversos gêneros subsidiários. Uma história de horror pode ser: slasher, sobrenatural, gótico, survival, creature feature, entre muitas outras. Muitas histórias de terror se enquadram em múltiplas destas categorias. E muitos criadores possuem proximidade com certos subgêneros, produzindo a maior parte das suas obras dentro deles. Isto inclui Junji Ito, que em seus mangás costuma explorar o terror psicológico.

O terror psicológico é um tipo de horror que envolve o tormento psicológico dos personagens, geralmente ele é mais focado no interior dos protagonistas e no distresse emocional e mental no qual eles se encontram. Ito costuma expressar a loucura e a “perda da humanidade” frequentemente em suas histórias através dos olhos de seus personagens, porém não só a isso se resume o fator psicológico nas suas histórias. O mangaká gosta de trabalhar em cima de algumas temáticas associadas com o terror deste gênero.

Uma delas é o campo do inquietante, aquilo que fica em um meio termo entre o familiar e o desconhecido e que não se encaixa exatamente em nenhuma das duas categorias. No ensaio “O Inquietante”, de 1919, Freud explora o sentido deste termo (“Unheimlich” em alemão), ele “(...) seria tudo o que deveria permanecer secreto, oculto, mas apareceu.” (2010, p. 338)

Jentsch pôs em relevo, como caso privilegiado, a “dúvida de que um ser aparentemente animado esteja de fato vivo ou, inversamente, de que um objeto inanimado talvez esteja vivo”, nisso invocando a impressão deixada por figuras de cera, autômatos e bonecos engenhosamente fabricados. (FREUD, 2010, p. 340)

O medo causado por esta incerteza nos faz receosos de objetos e/ou seres vivos que a invoquem. Com isto em mente, entendemos melhor o horror em diversas obras de Junji Ito.

O melhor exemplo do uso do inquietante é “Marionette Mansion”, uma história em que o jovem Haruhiko vai visitar seu irmão, Yukihiko, que não vê há muito tempo. Descobrindo que Yukihiko, sua esposa e seu filho possuem empregados para manipulá-los através de fios como se fossem marionetes (fig. 1).

O desenvolver do enredo revela a existência de uma marionete que tomou vida e controla todos na casa, ao descobrir isto, Haruhiko a destrói e quebra a maldição. A marionete é o exemplo literal do medo do objeto inanimado potencialmente vivo. Entretanto, a reviravolta do desfecho da história apresenta também o exemplo inverso: Ao ir soltar seu irmão, cunhada e sobrinho dos cordões que os suspendem, Haruhiko se depara com marionetes (fig. 2). No último quadro, o protagonista expressa uma dúvida: “Meu irmão e sua família se transformaram em marionetes. Eles se tornaram marionetes de verdade porque foram controlados por dois anos ou eram marionetes desde o começo? Eu não sei.” (JUNJI, 2017, p. 238, tradução nossa).

A esta indagação de Haruhiko cimenta o horror, não só relacionado ao medo de ver algo conhecido se tornar desconhecido, mas também, terror da percepção de que, talvez, o não familiar sempre existiu disfarçado pelo familiar.

Referências

JUNJI, Ito. Shiver: Junji Ito Selected Stories. San Francisco: VIZ Media, 2017. FREUD, Sigmund. Obras Completas: História de uma Neurose Infantil (“O Homem dos Lobos”), Além do Princípio do Prazer e Outros Textos (1917-1920). São Paulo: Companhia Das Letras, 2010. v. 14. ISBN 978-85-359-1613-3.

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