TCC: A Multiplicidade do Figurinista

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*ESPECIAL FIGURINOS DE TEATRO* NOVEMBRO 2014

POR TRÁS DAS COXIAS

figurinistas dão todos os detalhes de seu dia a dia

GABRIEL VILLELA

diretor com alma de figurinista TEATRO DE BONECOS PERFORMANCE


FOTO CAPA: MARCELO KAHN


APRESENTAÇÃO

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Fazer figurinos exige muito mais do que técnica e criatividade. É uma combinação de talento, estudo, dedicação e mais uma série de características que só quem já fez, sabe o que é. Para compreender melhor essa arte que encanta os olhos do público de teatro, nós passamos as palavras a eles, os figurinistas. Nas primeiras páginas, o assunto é introduzido por meio das produções artísticas estrondosas e muito bem elaboradas, como o musical “O Rei Leão” da Broadway, e seus figurinos especiais. Logo depois, a matéria principal acompanha a rotina de trabalho dos figurinistas que atendem desde pequenos grupos de teatro, até espetáculos com mais visibilidade. As duas matérias finais trazem assuntos adicionais ao tema: o perfil de Gabriel Villela conta a história de um dos principais profissionais da atualidade; enquanto o último texto apresenta a manifestação conhecida como Performance, tão diferente e semelhante ao teatro e à dança ao mesmo tempo.

ÍNDICE

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FIGURINOS ESPECIAIS A magia do teatro de bonecos Giuliana Capobianco

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A MULTIPLICIDADE DOS FIGURINISTAS O dia a dia dos profissionais Daniela Bueno

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GABRIEL VILLELA Um diretor mineiro iconoclasta

FERNANDA TOMAZ

Priscila Monteiro

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PERFORMANCE A manifestação artística híbrida Daniela Bueno


FIGURINOS ESPECIAIS POR GIULIANA CAPOBIANCO

FOTOS JOテグ CALDAS

O EXTRAO

FOLHA DE S.PAULO NOVEMBRO 2014


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DE MANEIRA MAIS ARTESANAL OS FIGURINOS ESPECIAIS ESTÃO DENTRO DO MUNDO TEATRAL PARA TRAZER TODA A MAGIA DO INIMAGINÁVEL

ORDINÁRIO


É difícil saber se é humano ou se é figurino. O que é boneco e o que é artista? São perguntas que surgem depois de assistir ao musical da Brodway “O Rei Leão”, que está em cartaz em São Paulo. A magia dos trajes transporta a plateia para uma outra realidade, onde o inimaginável ganha forma e tudo se torna possível. E no fascínio que não se consegue definir ao certo de onde vem que o figurino especial mostra suas sutilezas. Para que a mágica aconteça, transformando o inanimado em real na frente dos expectadores, muitos tecidos e materiais são usados para se montar um traje. “A escolha dos materiais é feita em função da necessidade da peça, de quem está vestindo”, explica a experiente Lidia Yogui. Com os anos como sócia do Boca de Cena Produções Artísticas, experiência é o que não falta para Lidia. Produzindo adereços e bonecos para o teatro, cinema, programas educativos e publicidade, Yogui afirmou: “Por mais que você diga: é um boneco com o figurino, que é de fibra de vidro ou é só de tecido, ele continuará sendo especial para cada caso”. No próprio musical da Brodway, mesmo sendo um espetáculo que contém os moldes de figurinos muito rígidos, não podendo se diferenciar visualmente em nada de “O Rei Leão” americano, as recriações das

peças também são feitas de formas únicas, conta Daniele Shimada Calil, figurinista brasileira do musical. “Tem que seguir o mais próximo possível e seguir o padrão deles. Mas, por exemplo, tem um tecido cotton que a gente não tem aqui, mas para trazer de lá é muito caro. Então, eu ia atrás desse tecido e trazer uma gama de tecidos cottons que a gente poderia utilizar.” A singularidade dos figurinos especiais também é encontrada nas montagens dos trajes. Podem ser marionetes, estruturas que o ator tem que entrar ou acessórios que, junto ao corpo do artista, trazem as características especiais à tona, cada um dos figurinos tem sua própria particularidade. Mesmo que um único espetáculo possua vários trajes especiais, como é o caso de “O Rei Leão”, nenhum será igual ao outro. Explicando de maneira con-

DIVULGAÇÃO

FIGURINOS ESPECIAIS

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“NÃO É UMA COISA QUE VOCÊ VAI LÁ, PEGA DO SEU GUARDA ROUPA E ELE DÁ CERTO”

FOLHA DE S.PAULO NOVEMBRO 2014

Os bonecos do programa infantil “Vila Sésamo”, transmitido de 1972 a 1977, foram produzido pela equipe do Boca de Cena. Na foto, a atriz Sônia Braga posa com o personagem Gugu


BOCA DE CENA PRODUÇÕES

FIGURINOS ESPECIAIS

À esq., cena do musical “O Rei Leão”; à dir., equipe do Boca de Cena finaliza cabeça de dragão

ceitual não é tão fácil de entender quanto na prática. Animada, a figurinista brasileira de “O Rei Leão” esclareceu como alguns figurinos especiais são montados. “A estrutura fica dentro do corpo, amarrado na cintura, para poder sair o rabo dele, como se ele fosse uma pessoa só”, Daniele explicou enquanto mostrava fotos do personagem Pumba em seu notebook. Já outro personagem possui uma concepção diferente “O timão é como se fosse uma planta” a figurinista afirmou “porque ele tem um puppet na frente, que é o bonequinho. O boneco é laranjinha e o ator controla”. Por serem tão diferentes dos figurinos considerados normais, os trajes especiais levam mais tempo para serem produzidos. Quase como um artesanato, cada parte deve ser feita com cuidado e atenção, seguindo as medidas especificas de cada ator. É assim que Lidia produz os figurinos que lhe são encomendados “não é uma coisa que você vai lá, pega do seu guarda roupa e ele dá certo”, observa.

Cena do musical “O Rei Leão” no Teatro Renault, em São Paulo

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No musical da Brodway, o processo não é diferente. Acessórios, tecidos e estampas também são feitos artesanalmente em sua maioria. “O espetáculo `O Rei Leão’ é uma arte. Então, nada é industrial”, comenta Daniele, enquanto explica os processos de recriação dos trajes. Muitas vezes, dentro dos figurinos do musical, foram preciso muitos dias para poder deixar um traje impecável “Eu passei semanas fazendo gnus”, comentou em meio de risadas. A maneira mais artesanal de criar um figurino especial dá ao traje todo o seu significado. Cada pedaço de espuma, estrutura ou acessório fora feito especialmente para aquela peça, sendo pensado e repensado várias vezes. Tentando achar a melhor maneira para que o conjunto funcione em cima do palco, transforma o aglomerado de materiais em um ser com vida, instigando a imaginação do expectador. Independente se nos EUA ou no Brasil, os figurinos especiais continuarão a ser presentes dentro do mundo teatral.


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A MULTIPLICIDADE DOS FIGURINISTAS POR DANIELA BUENO

COLABORAÇÃO DE GIULIANA CAPOBIANCO

Figurino em cena

OS FIGURINISTAS CONTAM TUDO O QUE ACONTECE POR TRÁS DAS COXIAS, DESDE A IDEALIZAÇÃO DO TRAJE TEATRAL ATÉ SUA ESTREIA NO PALCO

FOLHA DE S.PAULO NOVEMBRO 2014


FOTO: JENNIFER GLASS


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A MULTIPLICIDADE DOS FIGURINISTAS

O figurino é tudo o que caracteriza um personagem, seja na vida real ou na arte. O ser humano entende a indumentária como uma necessidade e como expressão da alma. Pela vestimenta, é possível descobrir a origem e a história de vida de uma pessoa, como a cultura a que se identifica, o país de onde veio, a religião, a classe social, o sentimento e até traços da personalidade. No teatro, o traje de cena conecta o público com o personagem, com sua história e com a mensagem que quer passar. O figurino é o que traz as primeiras impressões e faz a deixa para a composição de fatos que será colocada ao longo do espetáculo, até o momento em que as cortinas se fechem. Doutor em arte cênicas e professor na Universidade de São Paulo, Fausto Viana defende que saber entender essas mensagens é uma das principais características que um bom figurinista deve ter. “Ser figurinista envolve uma porção de coisas que a pessoa normal não tem. Ou não tem, ou não desenvolveu. O que eu quero dizer com FOLHA DE S.PAULO NOVEMBRO 2014

aquele traje, o que aquele formato de roupa transmite, o que que aquela cor diz, o que aquele estilo de roupa está dizendo... Se estou usando uma roupa de aspecto antigo, eu estou passando qual mensagem? O que que eu quero? O ideal do figurinista é ser um cara que tem a leitura desse conjunto de características que a roupa transmite. E transmite no cotidiano”, conceitua. O figurino já mostrava sua importância nas encenações desde o início da arte teatral. No teatro grego, 500 anos a.C, quando foi consolidado, máscaras e adereços caracterizavam os personagens e representavam a separação do ator nas tragédias e comédias, gêneros mais populares da época. “Prometeu acorrentado”, de Ésquilo, e “Édipo Rei”, de Sófocles, são alguns exemplos dos espetáculos que foram encenados desta maneira. Na era medieval, muita mudança ocorreu na literatura e no teatro com a intervenção da igreja católica. Os debates entre Deus e Diabo, céu e inferno, se tornaram a principal referência, que perdurou por muito tempo e rendeu obras famosas como o “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente. Lá, os figurinos também estavam presentes e eram coloridos e vibrantes, relacionando-se ao tema. No Brasil, o Teatro de Revista foi um dos gêneros que mais se destacou, marcando os séculos XIX e XX, e revelando inúmeros talentos no cenário cultural, reconhecidos como ícones da cultura brasileira e recordados até hoje, como Carmen Miranda,

Dercy Gonçalves e o humorista Costinha. A Revista, como era chamado, acolhia desde musicais com apelo sexual até as comédias que traziam à tona críticas sociais e políticas. A imitação também era uma característica bem presente no palco e os figurinos usados na época. Bastante exagerados, eram como uma extensão do personagem e responsáveis por parte da graça. Hoje, o figurino mantém sua relevância no teatro e continua em constante evolução, acompanhando sempre a nossa sociedade. Adaptável, ele foi capaz, durante tantos anos, de absorver a atualidade e sobreviver, graças aos incansáveis profissionais que estão por trás dessas produções. No dia a dia, os figurinistas buscam por criatividade e perfeição a todo momento, e ainda enfrentam a desvalorização do cargo, provando a importância de seu trabalho a cada sucesso que é conquistado nos palcos. “A presença do profissional é essencial. Eles conseguem captar uma coisa que a gente que está dentro do espetáculo não percebe”, aponta a diretora Patrícia Palhares.

“SER FIGURINISTA ENVOLVE UMA PORÇÃO DE COISAS QUE A PESSOA NORMAL NÃO TEM”


GIULIANA CAPOBIANCO

fala diretamente com ele, sem que a gente perceba. Parte deste código foi percebido como um consenso estético no início da manifestação teatral e é seguido fielmente até hoje pelos diretores e figurinistas, tantos séculos depois. Mesmo que muita mudança tenha ocorrido nas artes cênicas, afim de acompanhar a modernidade, foram poucos os que ousaram desafiar este conceito já estabelecido em nossa mente. Eles, segundo Fausto, não tiveram sucesso. Para entendermos como funciona, Viana usa um exem-

“SE O CORPO É UMA REPRESENTAÇÃO, O FIGURINO TEM FUNÇÃO DE COBRIR A ALMA DO PERSONAGEM”

Ator veste figurino de Milton Fucci

plo clássico. “Entrou um personagem de vermelho, você sabe que ele é o herói romântico, que tem romance no ar. Entrou um cara de púrpura, é de uma família nobre, uma pessoa de grana”, diz. “É inconsciente. Mesmo sem saber, você sabe”, garante. Ele e muitos figurinistas sentem na pele o quanto é fácil confundir moda com figurino de teatro. Apesar disso, existe consenso na diferença. “Um estilista vai criar uma coleção a cada seis meses e é uma roupa para você usar na rua, que as pessoas aceitem”, diz o figurinista e ator Milton Fucci, que é também apaixonado pela moda e ministra oficinas sobre figurinos. “A diferença é que tem que pensar que aquilo é feito para

SANDRO CABRAL

É MODA? “Figurino não é moda. Às vezes, é, mas nem sempre”, defende Iraci de Jesus, figurinista no teatro e no cinema. Ela, que trabalha em conjunto com a filha formada em produção de moda, explica que moda é o que se encontra nas lojas e nas tendências. É o que está na rua. Já o figurino, é específico. Mas é comum fazer confusão. O traje de cena é uma forma de expressão do personagem, assim como, de certa forma, é a moda usada no dia a dia. Para esclarecer o que é figurino, Fausto Viana gosta de usar a definição de Kazuo Ohno, mestre do teatro butô japonês - técnica que mistura dança com artes cênicas. “É o traje da alma. Porque se o corpo é uma representação, então o figurino tem essa função de cobrir a alma do personagem”, explica ele. “Acho essa a definição mais poética, mais filosófica que tenho ouvido ultimamente”. Cada peça de roupa, cor e acessório envia uma mensagem subliminar ao cérebro e

PRISCILA MONTEIRO

Figurinos pendurados no acervo particular do Grupo Tapa

Manequim usa acessórios para aluguel no acervo Spazio


A MULTIPLICIDADE DOS FIGURINISTAS

PRISCILA MONTEIRO

DIVULGAÇÃO

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Atores se maquiam em espelho, nos bastidores do espetáculo “Nonada”

palco. O teatro tem essa magia, pode explorar mais os materiais para fazer a roupa. E é isso que da o diferencial”, comenta. COMO SE FAZ FIGURINO O trabalho não é fácil. Envolve pesquisas incessantes sobre o contexto histórico do momento em que se dá a peça, referências e muito estudo sobre o personagem. O diretor é quem dá a missão ao figurinista. Depois, ele parte para as pesquisas antes de começar a produzir o figurino. “Você faz a pesquisa histórica para cada personagem e cria as referências”, conta Fucci, que ainda gosta de assistir aos en-

saios sempre que possível, para entender os primeiros passos de criação. Depois de buscar as referências, é importante escolher a paleta de cores, com tons que existiam na época e que sejam possíveis de encontrar ainda hoje. Os tecidos também precisam ser parecidos com os que existiam na época em que se passa o espetáculo. “Visto isso, eu vou ver o shape, o biotipo de cada pessoa, e fazer a criação do desenho da roupa em cima do que fica bem na pessoa, para fazer essa proximidade”. E ainda tem iluminação, que interfere nas cores do figurino, e os atores, que muitas vezes tam-

“O ATOR TEM MUITA INSEGURANÇA. VOCÊ NÃO PODE ABRIR A DEIXA DE CRÍTICA PARA OPINIÃO DESSE LADO” FOLHA DE S.PAULO NOVEMBRO 2014

Cena da peça “Homens e Carangueijos”

bém querem dar o seu pitaco no resultado. Para isso, Fucci tem sua própria solução e conta que prefere não ouvir o ator. “O ator tem muita insegurança até a estreia. O figurino é o canalizador de tudo. Você não pode abrir a deixa de crítica para opinião desse lado. O diretor gostou, ele viu aquilo em cena, ele tem aquela visão de palco, porque está vendo aquilo de fora, mas o ator complica as coisas”, diz. Na hora de apresentar as ideias ao diretor, é necessário levar toda a pesquisa e se preparar imaginando que nem sempre ele vai enxergar da mesma maneira que o figurinista. “Tem muito diretor que tem dificuldade de visualizar a roupa pronta. Então, você tem que mostrar umas fotos para ele entender o caminho daquilo, junto com o croqui”, afirma . Essa é só a primeira parte. Depois de convencer o diretor, é necessário colocar tudo

em ação. E aí vem a procura por tecidos, costureiras, acervos, brechós, lojas... O trabalho é muito cuidadoso e cheio de detalhes. As tarefas são tantas, que fica difícil imaginar como eles conseguem entregar tudo a tempo de a peça ir para a estreia. Só que eles entregam. A figurinista Marcela Donato, atualmente com o Grupo Tapa, um dos mais conhecidos em São Paulo, afirma que gosta de fazer de tudo para entregar o figurino o quanto antes, principalmente os sapatos. O motivo é a adaptação do ator, que leva um tempo e é fundamental para o sucesso do espetáculo. “Quando já estão ensaiando com os figurinos, gosto de pesquisar pequenos detalhes - bijoux, passamanarias, acessórios - coisas que não interferirão mais para o ator, já que este já está se adaptando com a roupa”, diz. Eles deixam claro: fazer figurino é muito mais do que só


A MULTIPLICIDADE DOS FIGURINISTAS

PRISCILA MONTEIRO

FERNANDO STANKUN

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Cena de “A Menina e o Palhaço”

“QUANDO VOCÊ FALA QUE O FIGURINO ESTAVA FANTÁSTICO, É PORQUE A PEÇA FOI RUIM”

criar as roupas para cada personagem. O traje deve fazer e é parte do espetáculo. Rosane Muniz, autora de um dos poucos livros específicos sobre o assunto no Brasil, defende que o figurino deve funcionar perfeitamente no palco, mas “em conjunto. Sem se sobressair.” Quase que como unificado ao ator. O figurino deve ser percebido pelo inconsciente do público. Na mesma linha de raciocínio que Rosane, Fausto Viana assinala: “Tem uma brincadeira que é assim: terminou a peça e você fala ‘que espetáculo incrível’. Quando você fala que o figurino estava fantásti-

co, é porque a peça foi ruim”. DIRETOR, FIGURINISTA, CENÓGRAFO, ATOR Embora fazer figurino já seja cheio de complexidades, é raro encontrar um figurinista que cuide apenas dessa função, neste meio. Na maioria dos casos, a formação deles é na experiência da vida profissional, que começa na carreira de ator e, as vezes, termina na de diretor. Fausto Viana passou por este ciclo ator-figurinista-diretor, mas foi além. Chegou a fazer doutorado em artes cênicas e museologia e hoje, aos 45 anos, é pesquisador de figurino e diz que consegue

Ator é maquiado na noite de estreia de “Hamelet”

viver apenas disso, mas não foi sempre assim. “Tem que primeiro encontrar o seu espaço, segundo, trabalhar duro. Não é fácil. Não é um meio fácil”. Mas sempre tem o seu jeitinho. Conciliar mais de uma função dentro do teatro, por exemplo, é um deles. Outro, segundo Fausto, é investir em diferentes áreas. “Tem que fazer teatro. Tem que fazer ópera. Tem que fazer cinema”, comenta, e insiste que, antes de ser reconhecido, não dá para ser muito seletivo. É necessário correr atrás e ir fazendo o que surgir, até que consiga encontrar o seu espaço. No fim, o currículo deles fica assim: Milton Fucci, além de figurinista, também é ator. Já Gabriel Villela, diretor que coleciona mais de 150 prêmios no conjunto de sua obra, assina a maioria dos seus trabalhos como diretor, figurinista e cenógrafo (leia a respeito dele na página xxx). Diogo Costa é figuri-

nista e diretor de arte no teatro e no cinema. Marcela Donato faz cenário, figurino e produção no teatro, além de atuar como diretora de arte no cinema e na TV. Iraci de Jesus é figurinista de teatro, de cinema e de televisão. Nem no Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões no Estado de São Paulo (SATED), que registra os profissionais da área, há uma especificação do profissional. Lá, os figurinistas são registrados em cenografia. CENÁRIO NO BRASIL “Trabalhar com arte no Brasil, em todos os aspectos, é muito difícil. Acho que a arte no geral não é valorizada”, afirma Diogo Costa. Ele se refere à falta de reconhecimento da arte teatral no país, que afeta diariamente seu trabalho e o de todos os figurinistas. Inacessível para a maioria dos cidadãos, o teatro não ganha tanta popu-


A MULTIPLICIDADE DOS FIGURINISTAS

laridade como o cinema e a TV, por exemplo. E a audiência, que já é baixa, vai de mal a pior nos últimos anos. Essa é a principal crítica de quem faz figurino no teatro. É por este motivo que os profissionais tem que lidar com orçamentos cada vez menores. Quanto ao salário, Diogo Costa, que também atua no cinema, revela que o cenário no teatro é um pouco mais justo e igualitário. Mas o detalhe não anula o principal problema. Marcela Donato, por sua vez, já teve a oportunidade de acompanhar de perto a situação no exterior. Em 2005, ela foi a Paris como parte da equipe do estilista brasileiro Jum Nakao, para ajudar a finalizar as roupas de um projeto que foi apresentado na Galeria Lafayette. Lá, ela pode presenciar a diferença da importância que é dada ao trabalho artesanal e artístico. “Ficávamos na calçada observando as pessoas que paravam para ver um dos modelos exposto na principal vitrine e a forma que admiravam, comentavam, compreendiam a grandiosidade do trabalho nos emocionava. Sentir o contraste de interpretação entre franceses e brasileiros foi chocante para mim”, conta. O resultado disso se dá na verba que é disponibilizada ao figurinista. “Cada vez mais, os projetos tem verbas menores. É um exemplo estampado da nossa desimportância para quem os organiza”, explica Marcela. Mas ela reconhece isso como uma dificuldade normal do trabalho, que pode existir em qualquer lugar. FOLHA DE S.PAULO NOVEMBRO 2014

“SENTIR O CONTRASTE ENTRE FRANCESES E BRASILEIROS FOI CHOCANTE PARA MIM” “Nossa vontade e compromisso ficam, graças a muito esforço e insanidade, acima de toda ignorância e desrespeito. Mesmo com infinitas razões que tornam nossas condições de trabalho péssimas, não devemos nos acomodar com toda esta situação e desprezarmos os bons acabamentos, pesquisas adequadas, materiais minimamente compatíveis com as ideias originais e assim, sermos honestos e responsáveis com nossos resultados”, finaliza. Eles já estão acostumados a encontrar diariamente as soluções para cada uma das dificuldades. Essa habilidade de fazer figurinos em qualquer condição é quase que uma característica do figurinista, junto com todas as outras percepções aguçadas que são importantes na profissão. O resultado de tanto esforço e dedicação nas coxias pode ser percebido nos inúmeros espetáculos de sucesso que enriquecem a história do teatro brasileiro. E não se engane em pensar que eles gostariam de ter mais destaque no palco. O êxito só é válido se for em conjunto.

VAL LIMA

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De cima para baixo à esq., cena de “Hamelet” e atrizes dançando em “Guerreiras”; de cima para baixo à dir., Milton Fucci dá últimos retoques em chapéu, painel de ferramentas da Companhia do Feijão e sapatos do figurino de “Cacilda 5”

JENNIFER GLASS

PRISCILA MONTEIRO

PRISCILA MONTEIRO

PRISCILA MONTEIRO

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GABRIEL VILLELA

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FOTOS CAIO GALUCCI

FOTO: DIVULGAÇÃO

POR PRISCILA MONTEIRO

ESCULTOR DE INDUMENTÁRIAS FANTÁSTICAS DIRETOR DE TEATRO, ALÉM DE FIGURINISTA, CENOGRAFO, MAQUIADOR, GABRIEL VILLELA SE DIZ INCAPAZ DE FAZER UM FIGURINO REALISTA SEM DEIXA-LO MEDÍOCRE

FOLHA DE S.PAULO NOVEMBRO 2014


GABRIEL VILLELA

Diretor de duas peças em cartaz atualmente - “Mania de Explicação”, com Luana Piovani; e “Os Gigantes da Montanha”, peça que segue itinerante pelo Brasil com o grupo Galpão, Gabriel Villela se diz um iconoclasta: “caiu na minha mão tem que transformar, pressupõe fazer o reconhecimento antropológico do objeto de estudo, desconstrui-lo e reconstruí-lo como para uma nova identidade”. Residente na cidade de São Paulo, preservou o sotaque, que entrega sua origem mineira. Sua grande paixão no teatro é a direção, mas não consegue ver a função de diretor desvinculada do ser também figurinista. Descobriu a direção, na época em que integrou o grupo de teatro Raízes, um grupo mambembe, onde todo mundo fazia de tudo, foi lá que descobriu ser um péssimo ator, pois em cada cena, preocupava-se mais em melhorar a atuação dos outros integrantes, do que com o seu próprio desempenho enquanto ator. O figurino é consequência de suas origens, a mãe era uma excelente bordadeira, e a paixão pela pele dos tecidos provém de lá, de quando observava o trabalho da mãe em casa. De Minas, mudou-se para São Paulo, onde se graduou em direção teatral pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/ USP) e não conseguiu desvincular da função de diretor outras questões estéticas que integram a dramaturgia. Villela se diz in-

capaz de fazer um figurino realista sem deixa-lo medíocre. Por isso, prefere apostar sempre no fantástico, e não vê como dissociar a origem do teatro grego de suas criações, pois tudo remete aos mitos é apenas uma questão de escavar até encontra-los. Conta rindo o caso do prêmio Molière, de 1994, em que produziu o figurino, mas deu o crédito a outros dois integrantes da equipe, quando ainda tinha vergonha de assinar seu nome em tantas funções, como diretor-figurinista-cenógrafo. Atualmente, ele crê que o público e a critica são capazes de identificar seu trabalho nos bastidores “O nosso corpo burguês não permite mais a liturgia, nós nos esquecemos de Deus, você só se veste em liturgia para celebrar um rito, e o teatro é uma celebração, sempre. A ida do público, a dinâmica de chegar, de encontrar o palco, isso tudo é um grande ritual. Existe uma liturgia, não só de ida, mas do encontro das duas partes, e no encontro da sensibilidade entre as partes também”.

“A IDA DO PÚBLICO, A DINÂMICA DE ENCONTRAR O PALCO, TUDO É UM RITUAL”

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Luana Piovani em cena de “Mania de Explicação”

Como exemplo dessa busca pelo sensível, Villela foi até o Peru, onde vivem os verdadeiros homens dos andes, produzir o figurino da peça “Os Gigantes da Montanha” segundo ele, apenas os homens que vivem nas montanhas podem reproduzir o ritmo delas, com os tecidos e as cores ideais, nesses detalhes acontece a magia do teatro. É isso que dá ritmo a cena e aparece mais tarde no inconsciente de quem vê. Sua forma de trabalhar lembra a de um escultor, monta o figurino no corpo do ator até encontrar o resultado desejado. Nem sempre consegue no mesmo momento, enxergar a gola e a manga de uma roupa, por isso durante o seu processo de criação, tem sempre um assistente que fotografa cada etapa, e depois de achar cada pedaço do figurino, com auxilio dos softwares de edição de imagem, reúne esses encontros e cria a indumentária para cada personagem.

O diretor também recorda ter desenhado muitos retratos durante sua adolescência, mas hoje não desenha nada, nem mesmo croquis. Fala com admiração do figurinista Naum, que, para ele, possui um dos desenhos de croquis mais lindos do Brasil. Quando indagado sobre a questão da costura, disse saber apenas o básico e ser capaz de identificar quando o trabalho está ou não bem feito, contou entusiasmado o dia em que descobriu o uso da fita crepe em detrimento das agulhas, ao trabalhar com o figurinista João Santaella, quem considera ser um gênio, e pontua, “preciso muito da inteligência de uma costureira, como a dona Cleide que está comigo há bastante tempo e é uma diva da costura”. Sobre a dificuldade de vestir um ator, Villela afirma: “Existe uma diferença brutal entre o artista e o ser humano comum, me incluo nos comuns. O ator veste,


GABRIEL VILLELA

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e se transforma, ele trata aquilo como indumentária. O ator brasileiro tem muita sensibilidade em se paramentar para a liturgia do teatro.” O diretor acrescenta, ainda, que, apesar de sermos um país que possuí na sua mais remota história a tradição de se fantasiar, ao fazê-lo, não temos a mesma desenvoltura de um profissional, que entende o que veste o ator não se fantasia ele vira o personagem. MAIS QUE MÚLTIPLO UM CATALISADOR DE TALENTOS O diretor acredita que seu maior diferencial não é ser múltiplo, mas saber preservar um ambiente de criação conjunta, uma espécie de ateliê em que se compõe o desenvolvimento da peça, com materiais e ideias de todos os envolvidos, desde atores a iluminadores. Ao prezar pela pesquisa, ele assinala que um bom figurinista deve ter noção antropológica, arqueológica, estética e sociológica, sempre relacionadas à obra abordada. Em tom descontraído, Villela diz que o bom diretor é o que não deixa os atores usarem anéis, principalmente em peças de época. Homens têm um fetiche com anéis e capas, e divaga que talvez remeta aos personagens da mitologia, que tinham como grande tesouro o anel de Nibelungo. Desde lá, homens se encantam com o uso de anéis e o sinal de poder presente neles. Ele afirma, que

“A GENTE PRECISA DA ARTE PARA SE MANTER VIVO E NÃO DEIXAR QUE A REALIDADE NOS MATE” um figurino com esses adereços nunca escuta reclamações. Com as mulheres a questão são as medidas, qualquer mulher que vista 38 sente-se satisfeita. Villela não vê grandes diferenças em trabalhar com o teatro independente e no teatro de grupo, pois acredita que em ambos os casos, o diretor está ali no papel de deixar tudo mais harmônico, em um grupo ou para os escolhidos em audições alguém precisa ser o gestor, desde os atores até o cenário para que no final, cada detalhe integre a mesma peça, para ele, essa é a função do diretor, juntar figurino, cenário, maquiagem, atores de linhas diferentes e fazer cada parte integrar o todo do espetáculo. Pessoalmente, ele acha melhor quando fica tudo sob a sua responsabilidade. Assim, na peça “Mania de Explicação”, além da direção e do figurino, Villela também é o responsável pela maquiagem, e, para tanto, trouxe referencias das mascaras grega e oriental, vindas prin-

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cipalmente do teatro Kabuki e Nô, famosos por usarem o fundo branco na pele do ator, que funciona como uma espécie de mascara pintada em cada corpo. Com o uso das leis de incentivo, percebeu que poderia fazer no teatro algo que é comum em outros meios, como o cinema e a televisão, mas ainda pouco explorado no meio teatral. A pré-produção “da mesma forma que a produção financeira entra em jogo antes para deixar tudo organizado, você pode organizadamente, trabalhar com provisão e previsão, pode montar um ateliê, adiantar a compra dos tecidos, a pesquisa, dos adereços etc. Quando o ator chega, vai aos exercícios de montagem, que costumo chamar de workshops direcionados”. Villela atenta à formação que o ator recebe, porque isso interfere inclusive na maneira como ele se porta dentro das roupas. É um pesquisador, e procura sempre que pode abordar com os atores com quem trabalha as questões antropológicas de cada figurino, a fim de contextualizar melhor o ator, para que ele possa desenvolver ao máximo o seu papel. Sempre com uma citação, um causo e diversos exemplos, Villela transborda seu amor pelo teatro a cada frase, “Não sei se é o Nietzsche quem diz que a gente precisa da arte para poder se manter vivo, e não deixar que a realidade nos mate. O homem vai ao teatro para estudar

o homem, para se ver, porque o espelho não dá conta. O escritor Jorge Luís Borges escreveu que o espelho, a copula e o teatro são abomináveis porque reproduzem o gênero humano. É isso o que tememos, entender, descobrir nesse processo, de onde vim, quem sou, e para onde vamos.” Ele, admite ter ido ao inferno, quando fez uso de cocaína, mas vê isso como momentos que deixaram vestígios positivos e negativos. Se for verdade que são as experiências que vivemos que nos transformam em quem somos, o submundo deixou de legado referencias presentes até hoje em seu trabalho.


THIAGO COSTOLI

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THIAGO COSTOLI

Acima e à dir., fotos do espetáculo “Os Gigantes da Montanha”; à esq., cena da peça infantil “Mania de Explicação


PERFORMANCE POR DANIELA BUENO

FOLHA DE S.PAULO NOVEMBRO 2014

FOTO FERNANDO PETERMANN


eu, persona

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A performance é uma manifestação artística que une elementos do teatro, das artes visuais, da dança e da música. Nos anos 1960, no contexto do pós-Segunda Guerra Mundial, quando surgiu, ela já era bastante complexa: desconhecida, difícil de explicar e de compreender. A expressão ganhou esse nome justamente porque não podia ser classificada como nenhuma arte já estabelecida. Até hoje, não se sabe ao certo quais são suas raízes. Mesmo assim, a performance veio com um objetivo muito claro: provocar, questionar e denunciar. Quem assiste pode associar a um espetáculo teatral ou um musical, mas Samira Borovik, professora de Performance no curso Comunicação das Artes do Corpo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, garante que é diferente. Uma das principais razões é a não necessidade de existir um personagem. “Há uma relação muito mais forte com a sua própria persona, com você mesmo [do que no teatro]. Muitas vezes você não está fazendo um personagem. São aspectos seus que estão sendo trabalhados, e também em conexão com outros arquétipos”, explica. Samira explica que a persona performática, como é chamada, é como uma colagem de recortes feitos de figuras co-

MARIANA MELONI

CONHECIDA COMO MANIFESTAÇÃO ARTÍSTICA HÍBRIDA, A PERFORMANCE VEIO COM A INTENÇÃO DE PROVOCAR O PÚBLICO E APRESENTAR UMA NOVA FORMA DE FAZER ARTE. EM MEIO A UM MIX DE DANÇA, TEATRO E ARTE VISUAL, PROFISSIONAIS EXPLICAM QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS E AS MAIORES PREOCUPAÇÕES NA HORA DE CRIAR UMA PERFORMANCE

Samira Borovik em cena, no espetáculo “Eu Nasci Aqui”

nhecidas e do próprio artista. Marina Reis, figurinista há 15 anos que já fez diversas produções para performances, ressalta que a linguagem usada, diferente do que estamos acostumados em outras artes, não é linear. Além de ser cheia de simbologias. “Tem uma coisa muito sinestésica, de tentar passar a sensação que aquilo traz tanto para o corpo do performer, quanto para o espectador”, adiciona. Na performance, a liberdade de criação não tem fim. É o que eles chamam de hibridação de gêneros, uma das características mais fortes da manifestação. Há quem dance, quem cante, quem se faça de tela branca e quem interprete. Algumas peças chegam a contar com rituais xamânicos, apresentações autobiograficas e até intervenções multimídias. CORPO E FIGURINO O corpo é a principal ferramenta do artista performático em cena. É a linguagem corporal, o movimento, que é o responsável por entregar a mensagem ao público. Para isso, o cuidado com o figurino é muito grande. Desde as pinturas corporais, até os trajes próprios para projeção e intervenções tecnológicas, tudo deve ser muito bem planejado conforme a ideia principal da peça. Apesar de ter um lado surre-


PERFORMANCE

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al e trabalhar com a imaginação do público, Marina, que também já produziu muitos figurinos para espetáculos teatrais infantis, comenta que existe diferença na hora da criação para as duas linguagens, que podem parecer semelhantes. “Performance normalmente carrega um pouco mais essa questão do material ligado ao conceito, ao símbolo. Já o espetáculo infantil é outra coisa. É mais lúdico mesmo, e às vezes dá para explorar material, porque o próprio texto não é realista”, explica. Do ponto de vista de Samira, que apesar da diferença, busca muitas referências para suas performances dentro do teatro, ainda assim a presença do figurino é muito importante. “Acho que é fundamental. É uma outra relação que se tem, tanto é que a gente as vezes nem usa essa palavra figurino. É mais uma coisa de instalação, de indumentária”, diz. “É um pouco diferente a relação na performance e no teatro”. TECNOLOGIA ALIADA Sempre em busca de se renovar ainda mais, a performance recentemente encontrou na tecnologia digital uma maneira de se aproximar ainda mais de seu público. Com pequenos truques de programação e projeção de imagem, hoje é possível trazer as pessoas para dentro das apresentações. Samira, que utilizou a ferramenta em um de seus últimos trabalhos como artista perfor-

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“NÃO ADIANTAVA TER UMA ESTÉTICA BACANA, SE ELE NÃO DESSE O EFEITO QUE EU QUERIA” mática, conta como funciona: “Eu tinha os botões do teclado do computador e fios espalhados por todo meu corpo, me conectando à máquina. [Conforme] as pessoas apertavam um botão, modificavam a imagem da tela. Era um figurino que acoplava a tecnologia para o público fazer a interatividade”. Realizado em parceria com o artista visual Paulo Costa, o projeto foi um sucesso. Embora pareça extremamente visual, a professora e atriz garante que a questão estética não foi a principal preocupação na hora de fazer uma performance digital. “O que importava era o resultado da imagem com a edição ao vivo”, revela. “O público via o que a gente estava fazendo para a câmera. Havia, sim, uma preocupação estética, mas era mais funcional. Se o figurino vai funcionar para a projeção, para o programa de edição que nós estamos usando. Não adiantava ter uma estética legal, bacana, se ele não desse o efeito que eu queria para o vídeo”.


MARINA REIS

PERFORMANCE

Artista usa figurino de Marina Reis em performance

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ORIENTAÇÃO: FÁBIO SILVESTRE REPORTAGEM: DANIELA BUENO GIULIANA CAPOBIANCO JULIANA AMBROSIO PRISCILA MONTEIRO SANDRO CABRAL FOTOGRAFIA: CAIO GALUCCI FERNANDA TOMAZ FERNANDO PETERMANN FERNANDO STANKUN GIULIANA CAPOBIANCO JENNIFER GLASS JOÃO CALDAS MARCELO KAHN MARIANA MELONI MARINA REIS PRISCILA MONTEIRO SANDRO CABRAL THIAGO COSTOLI VAL LIMA DIAGRAMAÇÃO: DANIELA BUENO

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