Traços vol. 1

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10 ANOS DEPOIS Lá se vão dez anos desde a minha última participação em algum fanzine. Desde sempre estou envolvido de alguma forma com desenho. Nasci em uma família muito pobre, então eu tinha de me divertir com coisas mais criativas e que não envolvessem coisas que meu pai nunca poderia comprar. Talvez um pequeno nerdzinho tenha nascido ali, criando aventuras imaginárias para suprir a falta de coisas materiais. De criar aventuras imaginárias a desenhar foi um progresso natural. Quando eu tinha sete anos e passava todos os dias por uma galeria de arcades que ficava ao lado da escola, mas não tinha como jogar, eu enchia meus cadernos com desenhos de lutas hipotéticas de Street Fighter, como se fosse a tela do arcade, com barras de life e sparks de hits. Os heróis dos jogos que meus amigos jogavam em seus consoles, algo que estava longe da minha realidade então, eu os desenhava, batalhando com chefes, ou passando por partes chaves de certas fases. A paixão pelo desenho foi cimentada com Saint Seiya passando na TV. Naquele momento eu soube que desenhar era o que eu queria fazer pelo resto de minha vida. Minha paixão pelo desenho também me rendeu algumas fantásticas amizades, e fortaleceu outras que já existiam. Em 2001 meu primeiro fanzine ganhava vida, e nos anos seguintes, tive uma colaboração produtiva com meu grande parceiro Vagner, a quem meus agradecimentos nunca serão suficientes. No entanto, depois de 2006, passei por vários problemas que me impediram de continuar produzindo quadrinhos e ilustrações. Problemas de saúde, financeiros, enfim, apesar de continuar lendo, tendo ideais e rabiscando pelos cantos dos cadernos invés de prestar atenção nas aulas, não produzi nada por anos. Em 2012, porém, resolvi que nada poderia ficar entre mim e minha paixão pelo desenho, e resolvi que, mesmo que não houvesse tempo, ou disposição, eu iria produzir ilustrações e quadrinhos, a qualquer custo. Para me ajudar neste intuito, criei um blog [ thedarksroom.blogspot.com. br/ ] e uma fanpage no Facebook [ facebook.com/DarksRoom ]. O próximo passo era voltar a fazer fanzines. Meu primeiro fanzine em 2001 chamava-se “Traços”. A ideia era fazer um fanzine em que eu pudesse colocar várias histórias diferentes, curtas ou longas, mantendo uma identidade. Sempre fui péssimo em criar nomes, e, por vezes, me apego a estes nomes bobos. Esta nova versão do “Traços” será exatamente isso, um fanzine onde colocarei diversas histórias fechadas, curtas ou nem tanto, a ser publicado digitalmente, livre para testar estilos e ideias. Este primeiro número foi desenhado em método tradicional, no papel, com lapiseira e arte-finalizado com nanquim, somente com as texturas e textos feitos no PC, por puro efeito nostálgico, e demorou um bom tempo para ser terminado, o que pode ser percebido pela variação de estilo entre algumas páginas. Uma boa parte dos desenhos foi feito durante aulas da faculdade, o que também comprometeu a qualidade. As demais edições serão totalmente produzidas digitalmente. Apesar de gostar do método tradicional, ele não apresenta nenhuma vantagem. Por fim, espero que esta seja a primeira de muitas edições do “Traços”, que não seria possível sem o suporte que minha família sempre me deu; por minha esposa que me atura enquanto dedico tempo ao desenho; pelos meus grandes amigos, que de forma direta ou indireta contribuíram com minha caminhada, Vagner, Fernando, Lékão, Anderson, Ivan, Leonardo (exDoug), Luciano Solai, Carlos Ruivo, Marcos (xará) , Matheus, Johny, e um agradecimento especial pro meu grande “irmão, filho de outros pais”, Andrei, que sempre esteve ao meu lado, me incentivou, e é o maior divulgador do meu trabalho.










UM CONTO DE NATAL Esta história foi originalmente escrita em 2002, em forma de um conto.

Fazia parte de minha tentativa de criar um livro de contos (coisa que voltou a fazer parte de meus planos recentemente). Em geral, todos os contos eram ruins, ideias muito rasas, ou estilo forçado demais. Dentre todo este material, que se perdeu em alguma das formatações de meu PC, apenas dois contos tinham algum potencial. Ambos tratavam de questões sociais. “Um Conto de Natal” era mais curto, mais simples, e já estava num estilo quase decente, enquanto o outro nunca foi realmente terminado. Anos depois, quando estava colaborando com meu amigo Vagner para seu fanzine “Potencial”, um fanzine que reunia histórias curtas de vários fanzineiros, resolvi reutilizar a ideia daquele conto. Naquele momento, eu estava com ideias audaciosas em relação a minha produção de quadrinhos. Eu queria que meus quadrinhos fossem o mais fluido possível. Queria conseguir passar a história apenas pela sequência de imagens, sem depender do texto. Pretensão minha. Para conseguir este nível de imersão apenas com imagens, eu teria de ser um artista fantástico, anos luz à frente do que eu era. Além de tudo, é ignorar as características dos quadrinhos. Uma animação bem realizada e dirigida, mesmo sem diálogos, é capaz de fazer quem esta assistindo entrar na pele das personagens. Por outro lado, quadrinhos não têm movimento, nem trilha sonora. São mídias diferentes, em que o autor deve saber explorar seus pontos fortes e mascarar seus pontos fracos. Minha tentativa, de modo geral, foi fracassada naquela época. Minhas capacidades não estavam à altura do desafio que eu havia me imposto. Apenas algumas poucas pessoas entenderam aquela história sem texto, e recebi muitas críticas. Quando fui retomar minha produção de fanzines, resolvi revisitar esta história, e, se não for de agrado das pessoas, que pelo menos seja uma versão digna do texto que a originou. A história ainda tem pouco diálogo, mas acresci textos de reflexão da personagem principal, que ajudam a passar seus sentimentos. Meu único pesar é que esta versão só ficou pronta agora, quando o país se encontra numa certa animosidade política, que pode influenciar na forma como o leitor possa interpretar a história...



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