Hell House - Book Preview

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hell house

Copyright © 1971, renewed 1999 by Richard Matheson First published in the United States by The Viking Press, Inc., in 1971. All Rights Reserved. Published by arrangement with Casanovas & Lynch Literary Agency S.L and Don Congdon Associates, Inc. Tradução para a língua portuguesa © Vinícius Loureiro, 2021

Diretor Editorial Christiano Menezes Diretor Comercial Chico de Assis Gerente Comercial Giselle Leitão Gerente de Marketing Digital Mike Ribera Gerentes Editoriais Bruno Dorigatti Marcia Heloisa Editores da Coleção Bruno Dorigatti Marcia Heloisa Editor Assistente Paulo Raviere

Capa e Projeto Gráfico Retina 78 Coordenador de Arte Arthur Moraes Coordenador de Diagramação Sergio Chaves Designer Assistente Guilherme Costa Finalização Sandro Tagliamento Revisão Retina Conteúdo Impressão e acabamento Coan Gráfica

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (cip) Jéssica de Oliveira Molinari CRB-8/9852 Matheson, Richard, 1926-2013 Hell House : a casa do inferno / Richard Matheson ; tradução de Vinícius Loureiro. — Rio de Janeiro : DarkSide Books, 2021. 336 p. ISBN 978-65-5598-136-0 Título original: Hell House 1. Ficção norte-americana 2. Casas mal-assombradas 3. Horror 3. Fantasmas I. Título II. Loureiro, Vinícius 21-3942

CDD 813 Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção norte-americana

[2021] Todos os direitos desta edição reservados à DarkSide® Entretenimento LTDA. Rua General Roca, 935/504 — Tijuca 20521-071 — Rio de Janeiro — RJ — Brasil www.darksidebooks.com


D A R K

H O U S E

HELL HOUSE

RICHARD MATHESON

TRADUÇÃO

VINÍCIUS LOUREIRO


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Com amor, para minhas filhas Bettina e Alison, que assombraram minha vida de forma tão doce

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DARK

HOUSE 8


APRESENTAÇÃO DARKSIDE

Nem toda a exuberância do reino de Oz pôde inculcar em Dorothy sonhos de permanência. Enquanto seus parceiros de jornada almejavam graças imponentes como cérebro, coração e coragem, ela só queria voltar para casa. Afinal, o que é o lar senão a concentração dos três — nossa expressão mais íntima de mente, emoção e destemor? A casa é o referencial que nos orienta, o colo que nos aquece e a oficina dos nossos anseios de futuro. Entre as paredes de dentro e os perigos lá fora, a casa é o escudo que salvaguarda nossa percepção de segurança. Mas nenhum espaço íntimo é impermeável às ameaças — internas e externas. O que acontece quando a casa é invadida, quando perdemos sua parca garantia de inviolabilidade? É a partir dessa premissa que surge um dos subgêneros mais fascinantes e populares do horror: as narrativas de casas assombradas. Esses pesadelos domésticos denunciam a fragilidade do que queremos e imaginamos fortaleza e expõem a nossa impotência perante os mistérios que esgarçam os contornos da razão. A casa assombrada, enquanto atestado de santuário em ruínas, trai nosso ideal de proteção e fragiliza a nossa fé na sacralidade do lar. Construídas em terrenos que preservam em suas entranhas um passado violento, as casas malignas do horror se erguem em um solo encharcado de sangue. Se tomarmos o fantasma 9


como a figuração de tudo que não quer — ou não pode — morrer, detectamos em cada vulto ameaçador vestígios de acontecimentos traumáticos. Nas narrativas norte-americanas, desassossegos pessoais se mesclam aos traumas históricos. A animosidade persecutória dos colonizadores, o extermínio dos povos nativos, as atrocidades da escravidão e as marcas de incontáveis guerras, só para citar alguns exemplos, estão entre as assombrações que povoam o horror real e ficcional do país. Não é por acaso que a explicação para casas amaldiçoadas responsabilize cemitérios indígenas, escravizados em desforra ou mulheres acusadas de bruxaria na Salem do século XVii. Culpar as vítimas — ou transformá-las em monstros — é parte da incapacidade do país de encarar a sua sombra. Projetada na parede desses lares precariamente sólidos, a sombra acaba por tomar a casa inteira. E é assim que surge uma das grandes contribuições da ficção norte-americana às narrativas de assombração: a casa senciente. Para além da invasão domiciliar de espíritos e entidades malignas, algumas histórias de fantasmas concentram a monstruosidade na própria casa, transformando-a em ameaça ainda mais inescapável. Dotada de torpeza endêmica, a casa senciente combina medo, paranoia, culpa cristã e a crença de que o Diabo está sempre a um deslize de distância. Impondo-se como árbitro de juízo moral, a casa monstruosa testa seus habitantes e, com frequência, os condena. Enquanto organismo voraz, ela precisa se alimentar da energia vital dos moradores. Mas no embate com a casa, aqueles que a habitam possuem uma grande vantagem: a capacidade humana de mudança, reconstrução, recomeço. Às vezes, a melhor maneira de se vencer uma casa, é saindo dela. Presa em sua pétrea imobilidade, só resta à casa invejar as pernas que nos fazem artífices de novos passos. Embora tais narrativas não sejam exclusividade dos Estados Unidos, o país concentra exemplos notáveis de casas ficcionais povoadas por espectros. Há três séculos, da casa de Usher de Edgar Allan Poe às franquias cinematográficas Atividade 10


Paranormal e Invocação do Mal, os lares amaldiçoados da literatura norte-americana nos abrem suas portas e, a despeito das ameaças monstruosas que neles habitam, cruzamos a soleira e mergulhamos em suas noites eternas. É com muito orgulho que a Caveira convida os darksiders para uma temporada em casas diabolicamente perversas, descritas com chocante minúcia em três clássicos do gênero: Amityville, Hell House: A Casa do Inferno e Elementais. Dark House, a nova coleção da DarkSide® Books, foi arquitetada para celebrar histórias de horror que são verdadeiros bens culturais tombados pelo patrimônio histórico do medo. Nestes tempos pandêmicos, a casa mais do que nunca nos é percebida como espaço de proteção. Mas em nosso prolongado confinamento, também descobrimos o quão assombrados podem ser os nossos lares. Os fantasmas nos machucam com lembranças que nos fragilizam, seja pela nostalgia de dias mais doces ou o ressentimento de amargas perdas. Entidades trazem sonhos perturbados por uma realidade abundante em pesadelos. E, em cada canto de nossas dúvidas, pululam os demônios de um futuro em neblina. Mas se tem algo que podemos aprender com as narrativas de casas assombradas, é que mais do que donos de um espaço físico, somos proprietários de nossas escolhas. Mesmo cercados pelo medo, podemos escolher criar, pulsar, encher nossos dias de ímpeto, inspirar nossas noites com paixão, construir rotas de fuga, saídas, novos caminhos. Que venham então os fantasmas. Eles nada podem contra nós. São seres que anseiam pelo cérebro, o coração e a coragem da esperança contumaz que nos habita. No fim, o que importa não é a casa que temos. Nosso maior bem há de ser sempre a casa que somos — sobretudo uns para os outros.

Os editores

Halloween, 2021

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18 DE DEZEMBRO DE 1970

15h17 Chovia forte desde as cinco horas da manhã. Como em um livro das irmãs Brontë, pensou o dr. Barrett, contendo um sorriso. Sentia-se um verdadeiro personagem de algum romance gótico contemporâneo. A chuva forte, o frio, o percurso de duas horas desde Manhattan em uma das limusines de Deutsch, com seus amplos estofados de couro escuro. A espera interminável no corredor, enquanto homens e mulheres de aparência desconcertada se apressavam para dentro e para fora do quarto de Deutsch, por vezes olhando em sua direção. Pegou o relógio do bolso de seu colete e abriu a tampa. Fazia mais de uma hora que estava esperando. O que Deutsch queria dele? Algo relacionado à parapsicologia, muito provavelmente. O velho tinha uma cadeia de jornais e revistas que estavam sempre publicando artigos sobre o assunto. “Retorno do túmulo”; “A menina que não morria” — sempre sensacionalista, poucas vezes factual.

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Estremecendo pelo esforço, o dr. Barrett cruzou a perna direita sobre a esquerda. Era um homem alto, levemente acima do peso, na casa dos cinquenta anos, os ralos cabelos loiros mantinham a cor inalterada, embora sua barba aparada revelasse traços grisalhos. Sentava-se ereto na cadeira de costas retas, encarando a porta do quarto de Deutsch. Edith deveria estar inquieta no andar de baixo. Lamentava sua vinda. Ainda assim, não tinha como prever tamanha demora. Abrindo a porta do quarto de Deutsch, o secretário, Hanley, saiu. “Doutor”, ele disse. Barrett esticou a mão para apanhar a bengala e, de pé, avançou mancando pelo corredor, estacando diante do homem de baixa estatura. Aguardou enquanto o secretário se inclinava para anunciá-lo: “Dr. Barrett, senhor”. Então, ultrapassou Hanley, adentrando o cômodo. O secretário fechou a porta atrás de si. O quarto, repleto de painéis em tons escuros, era imenso. Santuário do monarca, pensou Barrett enquanto andava sobre o carpete. Parando, observou o homem que se acomodava sobre a cama gigantesca. Rolf Rudolph Deutsch tinha oitenta e sete anos, era careca e esquelético, com olhos escuros que o espreitavam em suas cavidades ósseas. Barrett sorriu. “Boa tarde.” Estava intrigado, ponderando como aquela criatura debilitada era capaz de comandar um império. “Você é aleijado.” A voz de Deutsch era estridente. “Ninguém me falou disso.” “Como é?”, Barrett havia se retesado. “Não importa.” Deutsch o interrompeu. “Não é essencial, suponho. Meu pessoal o recomendou. Dizem que é um dos cinco melhores na sua área.” Inspirou com dificuldade. “Seu pagamento será de cem mil dólares.” Barrett se assustou. “Sua tarefa será determinar os fatos.” “A respeito de quê?”, indagou Barrett. 16


Deutsch pareceu hesitar quanto à resposta, como se isso significasse se rebaixar. Por fim, disse: “Vida após a morte”. “Você quer que eu…?” “Diga se é factual ou não.” O coração de Barrett apertou. Aquela quantidade de dinheiro faria toda a diferença no mundo para ele. Mesmo assim, como em sã consciência poderia aceitar tais condições? “Não estou em busca de mentiras,” asseverou Deutsch. “Comprarei a resposta, seja qual for. Desde que seja definitiva.” Barrett sentiu uma pontada de desespero. “Como posso convencê-lo de algo, seja lá o que for?”, viu-se forçado a questionar. “Fornecendo fatos”, respondeu Deutsch com irritação. “Onde poderei encontrá-los? Sou um físico. Durante os vinte anos em que estudei parapsicologia, ainda não…” “Se existirem,” atalhou Deutsch, “os encontrará no único lugar do planeta onde sei que a vida após a morte ainda não foi refutada. A residência Belasco, no Maine.” “A Casa do Inferno?” Algo reluziu nos olhos do velho. “A Casa do Inferno”, confirmou. Barrett sentiu um arrepio de euforia. “Pensei que os herdeiros de Belasco tivessem isolado a casa depois do que aconteceu…” “Aquilo foi há trinta anos.” Deutsch o interrompeu outra vez. “Agora eles precisam do dinheiro. Comprei o lugar. Você pode estar lá na segunda-feira?” Barrett titubeou, no entanto, percebendo que Deutsch franzia a testa, fez um gesto afirmativo com a cabeça. “Sim.” Não poderia deixar passar essa chance. “Enviarei outros dois com você”, avisou Deutsch. “Posso saber quem?” “Florence Tanner e Benjamin Franklin Fischer.” Barrett tentou não demonstrar sua decepção. Uma médium altamente impressionável e o único sobrevivente do desastre de 1940? Pensou se ousaria se opor. Possuía seu 17


próprio grupo de sensitivos e não via como Florence Tanner ou Fischer poderiam ajudá-lo. Fischer demonstrou habilidades incríveis quando novo, mas, após seu colapso, perdeu o dom, sendo flagrado diversas vezes cometendo fraudes e, por fim, desapareceu de cena. Desinteressado, ouviu Deutsch avisar que Florence Tanner o acompanharia no voo ao Norte do país, e que Fischer os encontraria no Maine. O velho notou a expressão no rosto de Barrett. “Não se preocupe, você estará no comando”, tranquilizou-o. “Tanner vai apenas porque meu pessoal afirma que é uma médium de primeira classe.” “Mas uma médium audiente”, pontuou Barrett. “Quero que, assim como a sua, seja adotada esta abordagem”, prosseguiu Deutsch, ignorando o comentário de Barrett. “A escolha de Fischer é por motivos óbvios.” Barrett não se opôs. Não havia jeito de escapar, percebeu. Deveria trazer alguém de seu próprio pessoal após o início do projeto. “Quanto aos custos…”, começou a dizer. O velho fez um gesto de desdém com a mão. “Veja isso com Hanley. Dinheiro não é problema.” “E tempo?” “Isso, você não tem”, respondeu Deutsch. “Quero a resposta em uma semana.” Barrett pareceu surpreso. “É pegar ou largar!” O velho irrompeu, de súbito, visivelmente impaciente. Barrett sabia que deveria concordar ou perderia a oportunidade — havia uma chance, caso conseguisse finalizar a construção de sua máquina a tempo. Assentiu com a cabeça. “Uma semana”, disse.

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15h50 “Algo mais?”, perguntou Hanley. Barrett revisou os itens em sua mente. Uma lista com todos os fenômenos observados na residência Belasco. Restauração do sistema elétrico da casa. Instalação de telefones. A piscina e a sauna disponibilizadas a ele. Barrett havia ignorado a testa franzida do homenzinho diante do quarto item. Natação diária e sauna lhe eram essenciais. “Mais uma coisa”, mencionou. Tentou soar casual, mas sentiu que transmitia animação. “Preciso de uma máquina. A planta do projeto está no meu apartamento.” “Para quando precisará dela?”, perguntou Hanley. “Assim que possível.” “É grande?” Doze anos, pensou Barrett. “Um pouco”, respondeu. “Só isso?” “Tudo que me lembro agora. Tirando as acomodações, claro.” “Os quartos foram reformados para seu uso. Um casal de Caribou Falls irá preparar e entregar as refeições.” Hanley esboçou um sorriso. “Eles se recusaram a dormir na casa.” Barrett levantou. “Melhor assim. Só atrapalhariam.” Hanley o conduziu em direção à porta da biblioteca. Antes que pudessem chegar, foi aberta bruscamente por um homem corpulento, que lançou um olhar furioso para Barrett. Embora fosse quarenta anos mais novo, e uns cinquenta quilos mais gordo, William Reinhardt Deutsch possuía uma semelhança evidente com seu pai. Ele fechou a porta. “Vou logo avisando”, sentenciou, “não vou permitir isso.” Barrett o observou fixamente. “A verdade,” disse Deutsch, “é que isto é uma perda de tempo, não é? Registre por escrito e lhe darei um cheque de mil dólares agora mesmo.” Barrett endureceu. “Receio que…”

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“Não existe isso de sobrenatural, não é?”, falou Deutsch, afogueado, com as veias do pescoço saltando. “Não”, disse Barrett. Deutsch ensaiou um sorriso triunfante. “O termo correto é ‘supranormal’. A natureza não pode ser transcen…” “Dane-se a diferença!”, interrompeu Deutsch. “Não passa de superstição!” “Desculpe, mas não é isso.” Barrett o deixou para trás. “Com licença.” Deutsch o agarrou pelo braço. “Olha, preste atenção, é melhor você deixar tudo isso pra lá. Farei com que você nunca receba este dinheiro.” Barrett soltou o braço. “Faça o que quiser”, respondeu. “Prosseguirei, a menos que seu pai mude de ideia.” Fechou a porta e partiu pelo corredor. Considerando o que se sabe hoje, pensou em relação a Deutsch, qualquer um que considere os fenômenos psíquicos como superstição, simplesmente ignora o que ocorre no mundo. A documentação é imensa… Barrett parou e se escorou contra a parede. Sua perna voltava a doer. Pela primeira vez, permitiu-se reconhecer o quanto seria penoso, em seu estado, passar uma semana na residência Belasco. E se fosse tão ruim quanto alegavam os dois relatos?

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16h37 O Rolls-Royce acelerava ao longo da rodovia em direção a Manhattan, na cidade de Nova York. “É mesmo uma quantidade formidável de dinheiro.” Edith continuava incrédula. “Não para ele”, disse Barrett. “Especialmente se considerarmos que Deutsch está pagando por uma garantia de imortalidade.” “Mas ele deve saber que você não acredita…” “Tenho certeza de que sabe”, Barrett retrucou. Não queria considerar a possibilidade de que Deutsch estivesse desinformado a seu respeito. “Ele não é do tipo de homem que faz negócio no escuro.” “Mas mesmo assim... cem mil dólares...” Barrett sorriu. “Eu mesmo mal posso acreditar”, reconheceu. “Se eu fosse como minha mãe, consideraria um milagre divino. As duas coisas que falhei em obter, ambas fornecidas de uma só vez: a oportunidade de provar minha teoria e uma provisão para nosso futuro. De fato, não poderia pedir mais nada.” Edith retribuiu seu sorriso. “Estou feliz por você, Lionel”, comentou. “Obrigado, minha querida”, agradeceu ele, afagando sua mão. “Mas segunda-feira à tarde...” Edith parecia preocupada. “Não teremos muito tempo.” Barrett disse: “Estou pensando se não deveria ir sozinho desta vez”. Ela o encarou. “Bem, sozinho não, é claro”, corrigiu Barrett. “Há os outros dois.” “Mas e suas refeições?” “Parte do arranjo. Tudo que terei que fazer será trabalhar.” “Mesmo assim, sempre o ajudei”, retrucou Edith. “Eu sei. É só que…”

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“O quê?” Ele hesitou: “Preferia que não estivesse presente desta vez, só isso”. “Por que, Lionel?” Parecia inquieta com a falta de uma resposta convincente. “É por minha causa?” “Claro que não”, o sorriso de Barrett foi ligeiro, distraído. “É a casa.” “Não é só mais uma suposta casa mal-assombrada?”, perguntou, utilizando uma das frases de seu marido. “Receio que não”, admitiu. “É o Monte Everest das casas mal-assombradas, por assim dizer. Houve duas tentativas de investigá-la, uma em 1931, a outra em 1940. Ambas foram desastrosas. Oito pessoas envolvidas nessas tentativas foram mortas, cometeram suicídio ou enlouqueceram. Apenas um sobreviveu e tenho lá minhas dúvidas quanto a sua sanidade mental... Benjamin Fischer, um dos dois que estará comigo.” “Não que eu tema o efeito da casa em si”, continuou, buscando abrandar suas palavras. “Confio naquilo que sei. É só que os detalhes da investigação podem ser”, encolheu os ombros ao falar, “um pouco desagradáveis.” “E ainda assim quer que o deixe ir sozinho?” “Minha querida…” “E se algo lhe acontecer?” “Nada vai acontecer.” “E se acontecer? Eu em Nova York, você no Maine.” “Edith, nada vai acontecer.” “Então, não há motivo para que eu não vá”, disse ela, forçando um sorriso. “Não tenho medo, Lionel.” “Sei que não tem.” “Não vou te atrapalhar.” Barrett suspirou. “Sei que não compreendo muito do que faz, mas sempre existem situações nas quais posso ajudar. Empacotar e descarregar seus equipamentos, por exemplo. Ajudar na preparação 22


dos experimentos. Digitar o restante do manuscrito; você disse que desejava que estivesse pronto logo no início do ano. E quero estar contigo quando provar sua teoria.” Barrett assentiu. “Vou pensar.” “Não vou te atrapalhar”, prometeu ela. “E sei que há uma série de coisas que posso fazer para ajudar.” Barrett assentiu outra vez, refletindo. Era óbvio que ela não queria ficar para trás. Isso, conseguia entender. Com a exceção das três semanas que passou em Londres, em 1962, nunca estiveram separados desde o casamento. Seria tão penoso levá-la? De fato, àquela altura, ela já estava mais do que acostumada a testemunhar fenômenos psíquicos. Ainda assim, aquela casa era um verdadeiro mistério. Não ficara conhecida como A Casa do Inferno sem motivo. Lá, havia um poder forte o suficiente para derrubar física e/ou mentalmente oito pessoas, incluindo três cientistas como ele. Mesmo acreditando saber exatamente do se tratava, seria prudente expor Edith a tal poder?

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A

CASA DO

INFERNO

HELL HOUSE R I C H A R D M AT H E S O N

Convocados por um milionário que, à beira da morte, quer respostas sobre o que o espera no além, quatro membros de uma equipe investigativa rumam para a diabólica mansão, dispostos a desvendar seus mistérios e derrotar, de uma vez por todas, as presenças malignas que assombram o local. No entanto, como descobrem da maneira mais chocante possível, é preciso mais do que coragem para encarar um mal tão antigo e potente. Hell House: A Casa do Inferno, o clássico de Richard Matheson, faz parte da coleção Dark House e chega para celebrar 50 anos da publicação do romance.


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