UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo
Darlane Tavares da Silva Lúcia Tone Ferreira Hidaka
M A I O, 2 0 1 7.
Darlane Tavares da Silva
Trabalho Final de Graduação orientado pela Prof.ª Dr.ª Lúcia Tone Ferreira Hidaka para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas.
Orientadora: Professora Dr.ª Lúcia Tone Ferreira Hidaka
Maceió 2017
Dedico esse trabalho à minha família. Em especial à Márcia Cristina, minha mãe, por ser a grande responsável pela minha formação pessoal, agradeço com todo meu amor e gratidão. À Filipe Santana, meu noivo, por toda paciência, compreensão, carinho e amor.
AGRADECIMENTOS À minha família, por me ajudarem, direta ou indiretamente, nesta minha etapa. Obrigada por estarem ao meu lado e por acreditarem em mim. A Filipe, pelo incentivo na busca por novos horizontes principalmente no último quando, mais do que nunca, eu precisei da sua compreensão e da sua paciência. Aos amigos da FAU que, mais do que amigos, acabaram se tornando parte da minha família, por todo tempo que passamos juntos, pelos bons momentos, mas também por todas as aflições e angústias que dividimos desde 2011. Em especial para Paula, Taciane e Vinicius, em que dividi madrugadas de companheirismo e amizade. Aos amigos que a UFAL me presenteou, Clariza, Milena, Erine, João, Laura, Amanda, Ivan, Artur (in memorian), Gabriela, Adriana e tantos outros que compartilharam um café e um abraço. Aos amigos-irmãos, Andressa, Thayse, JThalysson e Nathalie pela confiança e compreensão com as minhas ausências. À professora orientadora Lúcia Tone pela atenção, dedicação e por não desistir de mim. Enfim, a todos que, direta ou indiretamente contribuíram de alguma forma para a realização deste trabalho.
“A conservação de um monumento antigo não significa a conservação de uma vitrina de museu, mas a integração do antigo na vida de hoje. Neste sentido, um edifício não tem que ser isolado, monumentalizado, ao contrário, tem que ser humanizado. ” BARDI, Lina Bo.
RESUMO O presente trabalho tem como objetivo propor um plano de conservação para a conservação da significância do Edifício Breda. O objeto de estudo empírico do trabalho é o Edifício Breda. A obra localiza-se no bairro do Centro em Maceió/AL. A abordagem da significância cultural se fundamenta na Carta de Burra (Austrália ICOMOS, 1999) e os procedimentos metodológicos consistem no desenvolvimento de cinco etapas: analisar a trajetória histórica do prédio, identificar e caracterizar os atributos e valores, validar e hierarquizar os valores e significados, elaborar uma declaração de significância e construir um plano de conservação. A construção do referencial teórico se baseia no Plano de Conservação da Significância, documento que define o que é significativo em um bem e quais políticas são apropriadas para sua conservação. Seu planejamento se divide em três passos que devem ser seguidos para o alcance da conservação da significância cultural de um bem, são eles: compreender o significado; desenvolver a política e gerenciar. O trabalho compreende até a fase de desenvolver política, que é o estabelecimento de alternativas de intervenções. O Plano tem como objetivo definir como as metas, identificadas no processo da significância cultural, serão alcançadas. A partir disto, foi possível elaborar um plano de conservação da significância que sirva de auxílio para intervenções no prédio, assegurando que o Edifício
ABSTRACT The present work aims to propose a conservation plan for the conservation of the significance of the Breda Building. The object of empirical study of the work is the Breda Building. The work is located in the district of Centro in Maceió / AL. The approach to cultural significance is based on the Burra Charter (Australia ICOMOS, 1999) and methodological procedures consist of five stages: analyzing the
historical
trajectory
of
the
building,
identifying
and
characterizing attributes and values, validating and prioritizing values and meanings. Draw up a declaration of significance and construct a conservation plan. The construction of the theoretical framework is based on the Plan of Conservation of Significance, document that defines what is significant in a good and which policies are appropriate for its conservation. Their planning is divided into three steps that must be followed to reach the conservation of the cultural significance of a good, they are: understanding the meaning; Develop policy and manage. The work includes up to the stage of developing policy, which is the establishment of alternative interventions. The Plan aims to define how the goals identified in the process of cultural significance will be achieved. From this, it was possible to draw up a plan for the conservation of significance that could be used to assist interventions in the building, ensuring that the Breda Building is conserved for future generations.
Breda seja conservado para as futuras gerações. Keywords: Palavras-chave: conservação de edifícios, arquitetura moderna, Plano de Conservação; Significância Cultural.
conservation
of
buildings,
Conservation Plan; Cultural Significance.
modern
architecture,
LISTA DE ILUSTRAÇÕES Imagem 1. Plano de Paris (1851-1870), Georges Eugène Haussmann………………………………………………………………………………………… 16 16 Imagem 2. Frederick C. Robie House (1908-1910), Frank Lloyd Wright………………………………………………………………………………………… 18 18 Imagem 3. Casa da Cascata (1939), Frank Lloyd Wright………………………………………………………………………………………………………… 18 18 Imagem 4. Construction of Colors (1923), Théo van Doesburg…………………………………………………………………………………………………. 19 19 Imagem 5. Residência Rietveld Schröder (1925), Gerrit Rietveld…………………………………………………………………………………………...…... 19 19 Imagem 6. Fábrica Van Nelle (1928), Johannes Brinkman e Van Der Vlugt……………………………………………………………….……………....…. 20 20 Imagem 7. Haus am Horn (1923), Adolf Meyer……………………………………………………………………………………………………………………… 20 20 Imagem 8 e 9: Dessau Bauhaus (1926), Walter Gropius..................................................................................................................................................... 21 21 Imagem 10. Fabrica Fagus (1925), Walter Gropius............................................................................................................................................................. 21 Imagem 11. Casa Farnsworth (1951), Mies van der Rohe................................................................................................................................................. 22 22 Imagem 12. Pavilhão Nacional da Alemanha (1929), Mies van der Rohe..................................................................................................................... 22 Imagem 13. Maquete para uma indústria têxtil em Leningrado (1925), Erich Mendelsohn........................................................................................ 23 Imagem 14. Modelo para o Monumento à Terceira Internacional (1919-1920), Wladimir Tatlin................................................................................. 24 24 Imagem 15. Figuração do Modulor, Le Corbusier............................................................................................................................................................. 24 24 Imagem 16. Villa Savoye (1929), Le Corbusier………………………………………………………………………………………………………………………. 25 25 Imagem 17. Capela de Ronchamp (1955), Le Corbusier................................................................................................................................................. 26 26 Imagem 18. Casa Experimental Muuratsalo (1953), Alvar Aalto...................................................................................................................................... 27 Imagem 19. Jyväskylä University (1959), Alvar Aalto.......................................................................................................................................................... 27 Imagem 20. Implosão de Pruitt-Igoe (1972)........................................................................................................................................................................ 28 28 Imagem 21 e 22. Casa Modernista da Rua Santa Cruz (1928), Gregori Warchavchik................................................................................................. 30 30 Imagem 23 e 24. Casa Modernista da Rua Itápolis (1930), Gregori Warchavchik........................................................................................................ 30 30 Imagem 25. Ministério da Educação e Saúde (1945), Lucio Costa e equipe................................................................................................................ 32 Imagem 26. Pavilhão brasileiro da Feira Mundial de Nova York (1939), Lucio Costa e Oscar Niemeyer................................................................... 32 Imagem 27. Croqui da paisagem descortinada do Grande Hotel de Ouro Preto, Oscar Niemeyer......................................................................... 33 Imagem 28. Igreja de São Francisco de Assis na Pampulha (1943), Oscar Niemeyer................................................................................................... 33 Imagem 29. Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho) (1947), Affonso Eduardo Reidy......................................................... 34 Imagem 30. Croqui: Brasília e sua escala monumental, Lúcio Costa.............................................................................................................................. 34 Imagem 31. Foto aérea de Brasília, Lúcio Costa................................................................................................................................................................ 35 Imagem 32 e 33. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) (1961), João Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi................................................................................................................................................................................................................................... 36 36 Imagem 34. Teatro Guaíra (1952), Rubens Meister............................................................................................................................................................. 37 Imagem 35. Faculdade de Arquitetura da UFBA (1963), Diógenes Rebouças.............................................................................................................. 37 Imagem 36. Pró-reitoria de Extensão da UFC (1961), José Liberal de Castro................................................................................................................. 38 Imagem 37. Edifício Passos, Manoel Gusmão..................................................................................................................................................................... 40 Imagem 38. Hospital Agro-industrial do Açúcar, Manoel Gusmão.................................................................................................................................. 41 Imagem 39. Palácio do Trabalhador, Saint’Yves Simon................................................................................................................................................... 41 41 Imagem 40. Hospital José Carneiro, Saint’Yves Simon....................................................................................................................................................... 42 Imagem 41 e 42. Casa José Lyra, Lygia Fernandes............................................................................................................................................................ 42 Imagem 43. Sociedade de Medicina, Lygia Fernandes................................................................................................................................................... 43 43 Imagem 44. Residência Jarbas Gomes, Israel Barros........................................................................................................................................................ 43 Imagem 45. Edifício Lagoa Mar, Israel Barros.................................................................................................................................................................... 44 Imagem 46. Parque Hotel, Zélia Maia................................................................................................................................................................................. 45 Imagem 47. Reitoria, Zélia Maia............................................................................................................................................................................................ 45 Imagem 48. Residência Ruth Nogueira, Ivo Lyra................................................................................................................................................................ 46
Imagem 49. Residência Péricles Neves, Ivo Lyra................................................................................................................................................................ 46 46 Imagem 50. Colégio Marista, José Nobre............................................................................................................................................................................ 47 47 Imagem 51 e 52. Clube do Trabalhador, José Nobre........................................................................................................................................................ 47 47 Imagem 53. Edifício Sede do Banco Econômico, Walter Cunha.................................................................................................................................... 48 48 Imagem 54. Edifício São Carlos, Walter Cunha................................................................................................................................................................... 49 49 Imagem 55. Procedimento metodológico para conservação de um bem segundo a Carta de Burra................................................................... 56 56 Imagem 56 e 57. Propriedades residenciais modernistas de Berlim................................................................................................................................ 59 59 Imagem 58 e 59. Villa Tugendhat, Mies van der Rohe…………………………………………………………………………………………………………….. 60 60 Imagem 60. Conjunto Franciscano de Olinda................................................................................................................................................................... 61 61 Imagem 61. Estudo de usos e fluxos do Plano Diretor de Conservação............................................................................................................................................................ 61 61 Imagem 62. Estudo de usos e fluxos do Plano Diretor de Conservação............................................................................................................................................................. 62 62 Imagem 63. Localização do bairro do Centro na Cidade de Maceió............................................................................................................................................................ 63 63 Imagem 64. Localização do Edifício Breda no bairro do Centro...............................................................................................................................................................................63 63 Imagem 65. Fotografia da Rua Doutor Luís Pontes de Miranda no começo do século....................................................................................................................64 64 Imagem 66. Anúncio do jornal, no início das vendas das salas............................................................................................................................................................................ 64 64 Imagem 67. Edifício Breda na década de 60.............................................................................................................................................................................. 65 65 Imagem 70. Planta Baixa do Mezanino segundo documento de refêrencia................................................................................................................. 70 70 Imagem 69. Planta Baixa do Térreo segundo documento de refêrencia................................................................................................................................... 70 70 Imagem 71. Planta Baixa do Pav. tipo segundo documento de refêrencia.............................................................................................................................. 71 71 Imagem 72. Conjunto de circulação vertical no térreo e 1º andar................................................................................................................................. 71 71 Imagem 73. Conjunto de circulação vertical nos pav. tipo............................................................................................................................................. 71 71 Imagem 74. Conjunto de circulação vertical no Térreo e Mezanino................................................................................................................................ 71 71 Imagem 75. Planta Baixa da Cobertura segundo documento de refêrencia................................................................................................................. 72 72 Imagem 76: Fotografia mostrando o pilar interno.............................................................................................................................................................. 72 72 Imagem 76: Esquadria basculante original........................................................................................................................................................................ 7373 Imagem 77: Desenho das esquadrias originais em madeira............................................................................................................................................ 73 73 Imagem 79: Utilização de brise-soleil na fachada............................................................................................................................................................. 7373 Imagem 80: Planta mostrando os acessos para o hall do prédio................. ....................................................................................................................................................74. 74 Imagem 82: Acesso na Rua Loteamento Bráulio Cavalcante. ....................................................................................................................................... 7474 Imagem 81: Acesso na Rua Doutor Luís Pontes de Miranda. .......................................................................................................................................... 7474 Imagem 83: Planta mostrando o acesso para o térreo do prédio.....................................................................................................................................74 74 Imagem 84: Pastilhas das paredes.......................................................................................................................................................................................75. 75 Imagem 85: Revestimento do piso.......................................................................................................................................................................................7575 Imagem 86: Revestimento da escada.......................................................................................................................................................................................................................... 75 75 Imagem 87. Anúncios de Jornais no ano de 1963.................................................................................................................................................................... 75 75 Imagem 88. Planta Baixa da Galeria Breda Center........................................................................................................................................................... 76 Imagem 90. Planta Baixa do Mezanino da Galeria Breda Center atualmente............................................................................................................. 76 Imagem 89. Planta Baixa da Galeria Breda Center atualmente..................................................................................................................................... 76 76 Imagem 91. Planta Baixa do posto municipal de atendimento odontológico – PAO Breda....................................................................................... 77 77 Imagem 92. Planta Baixa da Cobertura atual, modificada para instalação das associações......................................................................................77 77 Imagem 93 e 94: Vista Panorâmica Norte e Sul da cobertura do Edifício Breda.......................................................................................................... 7878
Imagem 97: Vista do prédio na Rua Dr. Luiz Pontes de Miranda.................................................................................................................................... 79 Imagem 96: Vista do prédio na Rua Oliveira e Silva......................................................................................................................................................... 79 Imagem 95: Vista do prédio na Rua Boa Vista.................................................................................................................................................................. 79 Imagem 98: Vista do prédio na Praça Bráulio Cavalcante............................................................................................................................................ 79 79 Imagem 99: Entorno do prédio........................................................................................................................................................................................... 80 80 Imagem 100: Linha do tempo com a origem, transformação e estado atual do edifício....................................................................................... 8080 Imagem 101: Evolução do entorno do Edifício Breda em diferentes anos.................................................................................................................. 81 81 Imagem 102: Condicionantes físicas do Edifício Breda......................................................................................................................................................8181 Imagem 103: Gráfico de usos do Edifício Breda...............................................................................................................................................................82 82 Imagem 104: Mapa com a delimitação do SPR-01, no entorno do edifício..................................................................................................................83 83
LISTA DE TABELAS Tabela 1: Tabela de ocupação do Edifício Breda............................................................................................................................................................. 82 82 Tabela 2: Lista de Atributos por ordem de importância e seus respectivos pesos para conservação da significância cultural.............................91 91
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Danos existentes na envoltória do Edifício Breda......................................................................................................................................... 85 85 Quadro 2: Quadro com os atributos e valores identificados do edifício Breda.......................................................................................................... 89 89 Quadro 3: Quadro relacionando os valores e os danos encontrados no edifício Breda........................................................................................... 95 95
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CECI – Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada DOCOMOMO – Documentation and Consercation of buildings, sites and neighbourhoods of the Modern Movement FAU/USP – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo ICCROM – International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of the Cultural Properties ICOM – Conselho Internacional de Museus ICOMOS – Conselho Internacional de Monumentos e Sítios IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional OG – Operational Guidelines (for the Implementation of the World Heritage Convention) SEMPLA – Secretaria Municipal de Planejamento e Desenvolvimento de Alagoas SPR – Setor de Preservação Rigorosa UFBA – Universidade Federal da Bahia UFC – Universidade Federal do Ceará UNESCO – United Naations Educational, Scientific and Cultural Organization WHL – World Heritage List ZEP – Zona Especial de Preservação Cultural
SUMÁRIO INTRODUÇÃO
1414
1 ARQUITETURA MODERNA
1616
1.1 O ESTILO INTERNACIONAL
16 16
1.2 ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA
31 29
1.3 ARQUITETURA MODERNA EM ALAGOAS
43 39
2 CONSERVAÇÃO DA ARQUITETURA MODERNA
51 51
2.1 CARTAS PATRIMONIAIS
5151
2.2 SIGNIFICÂNCIA DA ARQUITETURA MODERNA
4953
2.3 PRÉDIOS EMBLEMÁTICOS
5558
3 O EDFICIO BREDA
61 63
3.1 CONTEXTO HISTÓRICO
61 63
3.2 O PROJETO
76
4 PLANO DE CONSERVAÇÃO
68 87
3.3 SIGNIFICÂNCIA CULTURAL, ATRIBUTOS, VALORES E INTEGRIDADE
7887
3.4 PLANO DE CONSERVAÇÃO
103 93
CONSIDERAÇÕES FINAIS
106 99
REFÊRENCIAS BIBLIOGRAFICAS
107 101
APÊNDICES
110 103
INTRODUÇÃO os valores e significados; d) elaborar uma declaração de A presente monografia, denominada “Conservação da
significância; e) construção do plano de conservação.
Arquitetura Moderna: Um estudo sobre a significância cultural
O conceito de conservação utilizado neste trabalho baseia-
patrimonial do Edifício Breda no bairro do centro em Maceió/AL“
se na Carta de Burra, onde trata-se da conservação de bens
apresenta como tema central a conservação da significância em
patrimoniais com significância cultural. Refere-se aos cuidados a
edifícios modernos, com a finalidade realizar um estudo sobre a
serem dispensados a um bem para preservar as características que
temática do Plano de Conservação a partir da construção da
apresentem significação cultural. "valor estético, histórico, científico
significância cultural. Desta forma, o trabalho visa propor um plano
ou social de um bem para as gerações passadas, presentes ou
de conservação para a conservação da significância do Edifício
futuras" (ICOMOS, 1999, p. 2). A carta não se refere apenas aos
Breda no bairro do Centro de Maceió/AL.
fatores materiais, mas a todos aqueles que incorporam significado
O objeto de estudo empírico do trabalho é o Edifício Breda.
ao bem, como o contexto, história e valores sociais e imateriais.
A obra localiza-se na esquina da Rua Loteamento Bráulio
O processo metodológico utilizado tem como base a Carta
Cavalcante com a Rua Dr. Pontes de Miranda, permitindo destaque
de Burra (ICOMOS, 2013). Esta carta demonstra uma estrutura para
junto ao entorno. Porém, sua estima não é apenas paisagística, por
intervenção conservativa de um bem com significância cultural
ser um prédio que se encontra em atividade, exerce uma função
através de procedimentos que se dividem em três etapas:
importante para os usuários, tornando seu valor mais peculiar por
compreender a significância, desenvolver política e gerenciar
estar inerente na dinâmica da cidade.
A construção da significância cultural começa a partir do
Para seu desenvolvimento, foram definidos cinco objetivos
processo de identificação dos valores e atributos do bem, em
específicos para a pesquisa: a) analisar a trajetória histórica do
seguida, descobre o que precisa ser conservado, ou seja, quais
prédio a fim de reconhecer as permanências e mudanças ocorridas
elementos do bem precisam permanecer para que não se perca
ao longo dos anos; b) identificar e caracterizar os atributos material
sua significância cultural. "A significância torna-se passível de
e imaterial identificando valores e significados; c) analisar a relação
apreensão somente pela adoção de uma declaração de
dos atores envolvidos com os atributos com a finalidade de validar
significância, que é um recorte circunstanciado temporalmente dos
14
significados atribuídos." (ZANCHETTI, LORETTO, MOREIRA, TINOCO,
sobre outros conceitos presentes no ideário do campo da
2011, P.2)
conservação.
Decompõe-se
em
três
partes:
(2.1)
Cartas
O objetivo da conservação, segundo a carta de Burra, é
patrimoniais, discorre sobre as cartas patrimoniais, seus conceitos e
manter a significância cultural do bem sem afetar o valor histórico
abrangências; (2.2) Significância da arquitetura moderna, explica o
nele presente, em que as opções de conservação devem ser
conceito de significância e por que é importante para a elaboração
definidas com base na compreensão de sua significação cultural e
do Plano, demonstrando os procedimentos que serão adotados
de sua condição material. “Deve implicar em medidas de
para a sua construção; (2.3) Prédios emblemáticos, explana a alguns
segurança e manutenção, assim como disposições que prevejam
bens reconhecidos pela Unesco como patrimônio.
sua futura destinação. ” (ICOMOS, 1980, p.2). O plano de
No terceiro capítulo apresenta o objeto de estudo empírico
conservação busca a manutenção das condições de interpretação
do trabalho: o Edifício Breda. Esse capítulo aborda toda a
da significância, passada e presente, pelas gerações atuais e futuras
caracterização do prédio até os dias atuais, a construção da sua
(ZANCHETI & HIDAKA, 2011).
paisagem ao longo do tempo enfatizando a tipologia do mesmo.
Visando atingir o objetivo proposto, esta monografia foi
Fragmenta-se em duas partes: (3.1) Contexto histórico, discorre sobre
estruturada em quatro capítulos, onde o primeiro capítulo apresenta
a época de sua construção, seu projeto original e o contexto
a
inserido; (3.2) O projeto, esclarece a atual situação do prédio e
narrativa
histórica da
arquitetura
moderna, revelando a
construção dessa arquitetura ao longo do tempo enfatizando sua
discorre sobre as transformações sofridas ao longo do tempo.
tipologia. Este capítulo busca compreender o processo de
O quarto capítulo apresenta os valores e significados
concepção que esse movimento apresenta. Subdivide-se em três
encontrados no Edifício Breda, bem como a declaração de
partes: (1.1) O estilo internacional, discorre sobre a formação da
significância e, por fim, o Plano de Conservação do Edifício Breda.
arquitetura moderna internacional; (1.2) Arquitetura moderna
Subdivide-se em duas partes: (4.1) Significância cultural, atributos,
brasileira, elucida a produção nacional e como se desenvolveu; e,
valores e integridade, explana os valores, atributos e significados
finalmente, a (1.3) Arquitetura moderna alagoana, que explana
identificados a partir das análises realizadas, e sua declaração de
sobre a produção alagoana e como foi influenciada.
significância, em que, em um único texto corrido, abarcará todos os
O segundo capítulo expõe o referencial teórico da
valores, atributos e significados identificados; (4.2) O plano de
pesquisa, discorre sobre as cartas patrimoniais e os meios de
conservação, que discorre em termos gerais e específicos (por
proteção internacional. Conceitua a significância cultural e aborda
valores) quais as diretrizes para a conservação do imóvel.
15
1.1
para buscar trabalho nas indústrias urbanas, ocorre uma carência
O ESTILO INTERNACIONAL
habitacional, pois, não encontravam espaço na cidade burguesa,
A Arquitetura Moderna é o conjunto de movimentos e escolas
arquitetônicas
que
caracterizaram
a
produção
assim, surgindo a ideia das primeiras vilas operárias.
na
arquitetura durante o final do século XIX e começo do século XX. As
Robert Owen 2(1771 - 1858) e Charles Fourier (1772 - 1837)
ideias modernas possuem características encontradas em origens
iniciaram uma nova linha de pensamento e de ação ligados a
diversas, como a Bauhaus, na Alemanha; em Le Corbusier, na
ideologia
França; em Frank Lloyd Wright nos Estados Unidos ou nos
residenciais para habitação operária, porém, maior parte das suas
construtivistas russos alguns ligados à escola Vuthemas, entre outros.
ideias permaneceram utópicas. Em Paris, acontece rapidamente o
Segundo Benevolo e Argan, não é possível encontrar uma origem
plano de reforma (imagem 1) idealizado por Georges-Eugène
pontual, a sua gênese histórica é traçada em uma série de
Haussmann (1809 - 1891), demonstra como o poder interfere na
movimentos ocorridos paralelamente em meados do século XIX,
imagem e funcionalidade da cidade. O plano consiste em grandes
como o movimento Arts & Crafts 1.
artérias de tráfegos, nomeadas boulevards, obtidas da demolição
socialista,
propondo
a
construção
de
unidades
de bairros populares.
O Modernismo propôs renovar a arquitetura de modo a
Imagem 1. Plano de Paris (1851-1870), Georges Eugène Haussmann.
rejeitar toda a arquitetura anterior ao movimento, principalmente o Ecletismo, a arquitetura difundida durante o século XIX. Essa escola interpreta e apoia o esforço progressista, econômico-tecnológico da sociedade industrial (ARGAN, 1992, p.185). Nos séculos XIX e XX o urbanismo passa a existir como ciência
moderna,
devido
a
necessidade
de
enfrentar
sistematicamente problemas decorrentes das modificações na estrutura social, política e econômica devido a "Revolução Industrial". Um grande número de pessoas abandonaram os campos FONTE: BENEVOLO, 2011. O Arts & Crafts (artes e ofícios), foi um movimento estético que teve sua origem na Inglaterra em meados do século XIX.
Robert Owen foi um reformista social galês, considerado um dos fundadores do socialismo e do cooperativismo.
1
2
16
A cidade industrial é segregada, de um lado o poder
Na América do Norte, no início do século, o principal
imagina a cidade como a imagem da autoridade do Estado, e de
problema era diferenciar a cultura americana da europeia e eliminar
outro os urbanistas querem reformular – respeitando a cidade antiga
qualquer resquício de colonialismo. Enquanto a Europa declinava
– para uma sociedade integral e orgânica, unificando também a
pós-guerra, o arquiteto Frank Loyd Wright (1869-1959), procurava dar
classe operaria como parte da comunidade (ARGAN, 1992, p.187).
a arquitetura americana um estilo único. Trabalhou no início de sua carreira com Louis Sullivan (1856-1924), um dos pioneiros em arranha-
Após a Primeira Guerra Mundial, surgiu a questão de pensar
céus da Escola de Chicago 3. Segundo Argan, Wright afirma,
o espaço urbano como emergente e precedente em relação à
implicitamente, que apenas o povo americano pode realizar uma
arquitetura, onde a tarefa do arquiteto é projetar um ambiente
arte plenamente criativa, pois, não trazia o peso de uma história.
resultado de vários elementos coordenados.
Até 1910, ele se apoia na classe média, onde encontra a
"Se o edifício é apenas uma unidade numa série,
força impulsionadora do progresso americano. Em 1909 projetou a
e a construção em série exige a maior utilização possível
de
elementos
industrialmente
Robie House (imagem 2) em um período das obras Prairie houses 4.
préa
Para Wright, a casa não deve ser um espaço dado e rigidamente
produção de edifícios é o mesmo que transforma
dividido, deve ser um meio de contato com a realidade, essa que
arquitetura em urbanismo." (ARGAN, 1992, p.187)
cada qual realiza a si mesmo (ARGAN, 1992, p.296). Nesse momento
fabricados,
o
processo
que
industrializa
sua arquitetura sofre uma mudança no plano formal, com plantas
O Modernismo traz a ideia da cidade viva, com uma
livremente
sociedade ativa e moderna. Combatendo a ideia do falso
redução
das
determinantes
formais,
eliminação da "caixa" espacial, concentração das forças de
historicismo e da cidade como representação da autoridade do Estado, no Ecletismo.
articuladas,
sustentação e a anulação das separações entre externo e interno.
O Movimento também se opõe a cidade
Em 1934, ele determina suas ideias a respeito do urbanismo em um
deturpada pela industrialização, com os muros enegrecidos pela
plano de cidade ideal, a Broadacre City.
fumaça, os armazéns e os bairros operários miseráveis.
Trata-se do surgimento da tipologia do arranha-céu, criando edifícios de imagem verticalizada impactante. É caracterizada por prédios de estrutura metálica e fechamentos em alvenaria ornamentada.
Prairie Houses que dizer “casas da pradaria”, são casas urbanas nos subúrbios de diversas cidades nos estados de Wisconsin e Illinois. O nome reflete a característica de sua implantação horizontal em grande área plana.
3
4
17
Em 1917, a Holanda possuía uma das escolas arquitetônicas Imagem 2. Frederick C. Robie House (1908-1910), Frank Lloyd Wright.
mais avançadas do mundo, dirigida por Hendrik Petrus Berlage (1856-1934). Foi ele que estabeleceu a primeira ligação ente a arquitetura holandesa e Wright, antes mesmo da exposição em Berlim 5. Neste ano, Theo Van Doesburg (1883-1931) cria o movimento do Neoplasticismo, também conhecido como De Stijl (imagem 4), que foi um dos episódios importantes da história da arte
contemporânea. Imagem 3. Casa da Cascata (1939), Frank Lloyd Wright
FONTE: ARCHDAILY, 2013.
A Casa da Cascata ou Casa Kaufmann (imagem 3), construída entre 1936 e 1939 é um marco da arquitetura de Wright, a casa é uma extensão do externo, feita com grandes varandas em balanço. Projetadas em ângulos retos, são elementos esculturais da casa, além de sua função. O princípio fundamental da arquitetura orgânica é que a construção deve ser natural como um crescimento (ARGAN, 1992, p.296). Wright trouxe o pensamento de que a arquitetura não é pensada como determinante de objetos, mas sim, como ação de um sujeito. Seus pensamentos são concretizados na obra da sede do Museu Solomon R. Guggenheim, em Nova York,
FONTE: ARCHDAILY, 2012.
projetado em 1958.
5
Exposição da obra de Wright, em Berlim, no ano de 1910.
18
De Stijl não é uma revolução a fim de renovar, mas sim, uma
formando toda uma nova tipologia da construção civil (ARGAN,
revolução no interior de uma cultura moderna com o intuito de
1992, p. 288). Em 1924, Rietveld constrói a Casa Schroder (Imagem 5),
imuniza-la contra os perigos de qualquer corrupção ou impureza
um típico modelo de habitação neoplástica. Imagem 5. Residência Rietveld Schröder (1925), Gerrit Rietveld.
possível (ARGAN, 1992, p. 286). Esse movimento investigava se era possível fazer arte sem referências históricas, ou seja, eliminar todas as "formas históricas" e purifica-las. No neoplasticismo, o ato construtivo é estético. Esse princípio foi adotado pelos arquitetos Gerrit Rietveld (1888-1964), Jacobus Oud (1890-1963) e Cornelis van Eesteren (1897-1988). Imagem 4. Construction of Colors (1923), Théo van Doesburg.
FONTE: ARCHDAILY, 2012.
Para Oud, o neoplasticismo é uma simplificação dos processos construtivos, portanto, facilitando a possibilidade de construir em série. Com essa ideia, ele projeta os bairros de casa enfileiradas para famílias operarias em Scheveningen e Rotterdam. A Fábrica Van Nelle (Imagem 6), projetada em 1928 pelos arquitetos Johannes Brinkman (1902-1949) e Van Der Vlugt (18941936), é uma inovação na tipologia da arquitetura industrial, mesmo
FONTE: HARVARD, 2016.
A problemática desse movimento vem da função social da
projetando seguindo as exigências da função, a obra não possui um
arquitetura, constrói-se para vida. A arquitetura funcionalista na
aspecto maquinista. Outra obra que possui uma inovação na
Holanda não é somente ligada ao movimento De Stijl, teve uma
tipologia foi o Sanatório Zonnestraal, nas proximidades de Hilversum,
fundamental importância para a arquitetura moderna europeia,
projetado pelo arquiteto Johannes Duiker (1890-1935). Willem Dudok
19
(1884-1974) é o arquiteto holandês que mais se aproximou da lição
A Bahaus foi uma escola fundada sobre o princípio da
de Wright mesmo sem sair do próprio ambiente natural.
colaboração, da pesquisa conjunta entre professores e alunos. A estrutura da escola era funcional, não hierárquica. O nome Bahaus
Imagem 6. Fábrica Van Nelle (1928), Johannes Brinkman e Van Der Vlugt.
significa "casa da construção", que indica o conceito que a "forma de uma sociedade é a cidade e, ao construir a cidade, a sociedade constrói a sí mesma" (ARGAN, 1992, p.269). O norteador do ensino é o urbanismo, ensinando a construir e viver racionalmente. Segundo Argan, na visão de Groupios é o dinamismo da função que determina a forma e a tipologia dos edifícios. A Haus am Horn (Imagem 7) foi o protótipo das ideias da Bauhaus sobre habitação residencial nessa época. Imagem 7. Haus am Horn (1923), Adolf Meyer. FONTE: ARCHITECTUUL, 2011.
O funcionalismo alemão teve como peça marcante W. Gropius (1883-1969), e sua origem se deu no Expressionismo do Grupo de Novembro 6. Além de ser um grande artista, possuía o aspecto de animador cultural, era firme defensor de um "método". Em 1919, Gropius funda e dirige a primeira escola "democrática" - a Bahaus, coordena um programa de ação com uma corrente política determinada,
a
socialdemocracia.
"Gropius
não
crê
na
universalidade da arte, mas convoca em torno de si, na Bauhaus de Weimar [...]"(ARGAN, 1992, p.269).
FONTE: ARCHITECTUUL, 2011.
que: "o futuro da arte e a seriedade do presente compele-nos, revolucionários de espírito, para uma unidade e concordância".
Formado em Berlim, o Grupo de Novembro ou Novembergruppe aspirava a união de todos os artistas. Seu primeiro manifesto de 1918, estabeleceu
6
20
sugestões da obra de Wright - o qual começava a ser reconhecido
Em 1925, a Bahaus ganha a sede em Dessau (Imagem 8 e
na Europa.
9), uma das obras do funcionalismo arquitetônico europeu. Na escola, tudo que se inclui no âmbito da "comunicação visual" é
Toda a obra de Gropius se resume na definição de uma
objeto de análise e projeto. Sua teoria e didática existe uma
metodologia de projeto, onde o espaço não é pura, inclassificável e
predominância na geometrização das formas, entendendo como, a
ilimitada extensão. Realizou projetos na escala urbana como os
figura geométrica é uma forma pré-padronizada independente do
bairros de Karlsnahe e Berlim, em escala de construção civil com a
seu significado conceitual. Apesar do proposito racionalista da
Casa Gropius e em desenho industrial como a carroceria do
Bahaus, sempre se deu importância para as atividades que
automóvel Adler. Em 1928, deixa a direção da Bauhaus e foge para
estimulavam a imaginação.
Inglaterra alguns anos depois. Trabalha em colaboração com
Imagem 8 e 9: Dessau Bauhaus (1926), Walter Gropius.
Maxwell Fry (1899 – 1987), que o convida para lecionar na Harvard University, nos Estados Unidos; e também com Breuer e K. Wachsmann. Depois da mudança, as obras de Gropius deixa o caráter político que possuía suas obras alemãs entre 1920 e 1930. Imagem 10. Fabrica Fagus (1925), Walter Gropius.
FONTE: ARCHIDAILY, 2010.
A obra de Gropius não pode ser considerada como pura e simples aplicação de uma fórmula racionalista. Já em 1911, com seu projeto da fábrica Fagus (Imagem 10) modifica a concepção da arquitetura industrial. Em 1914, projeta a "fábrica modelo" para a FONTE: ARCHDAILY, 2015.
exposição do Werkbund, que mostra ter aproveitado várias
21
Outro protagonista do racionalismo da Alemanha é L. Mies
Além de ter construído obras como a Villa Tugendhat (1930),
Van Der Rohe (1886-1969), assume a direção da Bauhaus em 1930. A
a Casa Farnsworth (1951) (Imagem 11) e o edifício Seagram (1958),
partir de 1920, começa a projetar arranha-céus - invólucro de vidro
em 1929 projeta o Pavilhão Nacional da Alemanha (Imagem 12)
ao redor de uma alma estrutural, porém, na Europa esse tipo de
para a Exposição Internacional de Barcelona, o seu projeto mais
construção era considerado um elemento característico da
emblemático, onde alcançou a máxima expressão de seu estilo.
arquitetura americana. Contudo, Mies o considera como o resultado
Logo após ter dirigido a Bauhaus até 1933, assumiu a faculdade de
da ideologia do Grupo de novembro, como a "casa de vidro"
arquitetura do Illinois Technology Institute em Chicago, a qual viria a
límpida como um cristal, elevando-se até o céu.
remodelar, tornando-se mais uma de suas importantes obras.
Na sua produção arquitetônica admite dois eixos estruturais
Imagem 12. Pavilhão Nacional da Alemanha (1929), Mies van der Rohe.
- um vertical e um horizontal - e uma entidade formal, o plano. Levando o racionalismo as últimas consequências, sua arquitetura pode parecer, mais do que futurista, extremista. Em 1937, Mies Van Der Rohe deixa a Alemanha e continua seus projetos nos Estados Unidos. Imagem 11. Casa Farnsworth (1951), Mies van der Rohe.
FONTE: ARCHDAILY, 2011.
A mudança da produção do racionalismo alemão para os Estados Unidos, devido as perseguições nazistas, foi o motivo de uma crise que possuía razões profundas. Gropius, juntamente com Breuer sacrifica o rigor da pesquisa para desenvolver uma metodologia técnica da pré-fabricação, junto com Wachsmann. A falha na raiz ideológica na corrente do racionalismo alemão é "uma reação FONTE: ARCHDAILY, 2012.
humana e civilizada a prepotência autoritária do capitalismo [..]" (ARGAN,
22
1992, p. 278), afeta
todas as premissas teóricas,
programáticas e didáticas da Bauhaus. O rigor racionalista leva a
Em 1925, Erich Mendelsohn (1887-1953) constrói uma grande
substituir a composição pela repetição em série. Esse aspecto da
fábrica em Lenigrado (Imagem 13), que é particularmente
crise se manifestou principalmente na obra de Breuer, por ser o maior
importante para a corrente russa, pois, “o construtivismo, que visa
designer oriundo da Bauhaus. Outro protagonista da crise do
expressar nas formas arquitetônicas o ímpeto dinâmico da
racionalismo foi K. Wachsmann, também um colaborador direto de
revolução, possui um forte componente expressionista” (ARGAN,
Gropius.
1992, p.283). "A estética do Construtivismo pretende que 'todos os acréscimos que a rua da grande cidade traz à construção (placas, propagandas, relógios, altofalantes e até os elevadores internos) sejam incluídos na composição como pontos de igual importância': exatamente como fazia Mendelsohn para expressar na forma o conteúdo do edifício" (ARGAN, 1992, p.283).
Na Rússia, a vanguarda arquitetônica se enquadra no movimento
construtivista,
todavia,
as
artes
não
possuem
investimento e os arquitetos carecem de qualquer preparação profissional. A arquitetura soviética deve sua tendência às soluções formais ousadas, dinâmicas, intensamente emotivas, devido as correntes
da
arquitetura
ocidental
serem
tendencialmente
A nova arquitetura soviética se concretiza com o projeto de
socialistas. Imagem 13. Maquete para uma indústria têxtil em Leningrado (1925), Erich Mendelsohn.
Vladimir
Tatlin
Internacional
(1885-1953)
(Imagem
14)
para -
o
com
Monumento todas
as
à
Terceira
premissas
do
construtivismo, em 1919. O arquiteto El Lissitzky (1890-1941) desenvolve também uma atividade de “relações públicas”, viaja e está em permanente contato com Gropius, Mies, Van Doesburg. Lissitzy e os outros arquitetos do grupo Asnova 7 defende o geometrismo, pois a geometria expressa o espirito racionalista da revolução.
FONTE: ARGAN, 1992. Associação dos Novos Arquitetos, fundada em 1923, na qual se discute os preceitos gerais da nova arquitetura.
7
23
Imagem 14. Modelo para o Monumento à Terceira Internacional (1919-1920), Wladimir Tatlin.
soviética, a burocracia do partido conquista a supremacia e se contrapõe a vanguarda revolucionária. Em 1928 na França, Le Corbusier (1887-1965) começa a projetar. Sua conduta é política, “uma grande política, generosa e esclarecida, do urbanismo e da arquitetura” (ARGAN, 1992, p. 265). Para Le Corbusier, o centro da cultura mundial é a França, por conta do seu
desenvolvimento iluminista. Uma
de
suas principais
contribuições foi o entendimento da casa como uma machine à habiter 8, em concordância com os avanços industriais. Sua principal preocupação era a funcionalidade. Com seu estudo sobre a forma, ele desenvolve o homem como medida de todas as coisas, o Modulor 9 (Imagem 15). Imagem 15. Figuração do Modulor, Le Corbusier. FONTE: ARGAN, 1992.
Em 1925, inicia-se o sucesso da vanguarda russa na Europa Ocidental, com o premiado pavilhão soviético executado por Konstantin Melnikov (1890-1974) para a Exposição Internacional das Artes Decorativas, em Paris. No ano de 1930 aconteceu dois concursos para os projetos do Teatro estatal de Charkow e para o edifício do soviete em Moscou, onde participaram muitos arquitetos modernistas europeus. Porém, no auge da arquitetura moderna
FONTE: ARGAN, 1992. 8
“Máquina de morar”.
Uma série de medidas proporcionais, que dividia o corpo humano de forma harmônica e equilibrada. Baseava-se nisso para orientar os seus projetos e suas pinturas.
9
24
edifício, permitindo iluminação mais uniforme e vistas panorâmicas do exterior. ” (MACIEL, 2012)
“O edifício não atrapalhará a natureza aberta colocando-se como um bloco hermético: a natureza não se deterá à soleira, entrará na casa. O espaço é contínuo, a forma deve se inserir,
Em 1928, é construída a Villa Savoye, maison Savoye ou
como espaço da civilização, no espaço da
residência Savoye (Imagem 16), considerada um marco da
natureza. ” (ARGAN, 1992, p. 266).
arquitetura moderna. A residência é à síntese das ideias pregadas
Le Corbusier propõe um novo repertório arquitetônico,
por Le Corbusier com relação à nova arquitetura - marcada pela
conhecido como os “cinco pontos para uma nova arquitetura”,
máquina, pela razão e pelo progresso. De toda sua produção
potencializando utilizações das novas soluções tecnológicas.
apenas a Villa Savoye os cinco pontos são integralmente concretizados.
“1. Pilotis, liberando o edifício do solo e tornando público o uso deste espaço antes ocupado, permitindo inclusive a circulação de automóveis;
Imagem 16. Villa Savoye (1929), Le Corbusier.
2. Terraço jardim, transformando as coberturas em terraços habitáveis, em contraposição aos telhados inclinados das construções tradicionais; 3. Planta livre, resultado direto da independência entre estruturas e vedações, possibilitando maior diversidade dos espaços internos, bem como mais flexibilidade na sua articulação; 4. Fachada livre, também permitida pela separação entre estrutura e vedação, possibilitando a máxima abertura das paredes externas em vidro, em contraposição às maciças alvenarias que outrora recebiam todos os esforços estruturais dos edifícios; e 5. A janela em fita, ou fenêtre en longueur, também conseqüência da independência entre estrutura e vedações, se trata de aberturas longilíneas que cortam toda a extensão do
FONTE: ARCHDAILY, 2010.
25
utilização dos novos materiais como concreto armado, vidro plano
Le Corbusier produziu projetos urbanistas para várias
em grandes dimensões e outros produtos artificiais.
cidades do mundo, entre elas, Chandigarh, nova capital do Punjab, em 1950. Suas “unidades habitacionais” em Marselha e Nantes são
Le Corbusier e Gropius, sentiram a necessidade de um fórum
verdadeiras cidades-casas, onde combina-se a exigência de
internacional de debates que fortalecesse a união dos arquitetos do
intimidade individual, juntamente com a de viver em comunidade.
Movimento, por conta do desinteresse principalmente nos concursos
Imagem 17. Capela de Ronchamp (1955), Le Corbusier.
internacionais, sobretudo no da Sociedade das Nações, em Genebra, 1927. Em 1928, criaram os CIAMs (Congrés Internationaux d’Architecture Moderne), onde aconteciam discussões e pesquisas inéditas até então, que revolucionaram o pensamento estético, cultural e social do período. Introduziram e ajudaram a difundir uma arquitetura considerada limpa, sintética, funcional e racional. Entre os anos de 1928 a 1956, houveram diversos congressos, tratando de temas como o habitat mínimo, o edifício racional, a cidade funcional, a habitação coletiva, o núcleo da cidade. Seu mais conhecido produto foi a “Carta de Atenas”, produzida no CIAM IV, de 1933. O CIAM enfrentou críticas juntamente com a arquitetura moderna, como a generalização das necessidades do indivíduo, termina
por
projetar
espaços
coletivos
que
acabam
por
transformarem-se em espaços abandonados e destituídos de
FONTE: ARCHDAILY, 2012.
identidade, devido à falta de propriedade definida. Os aspectos
Na escala da Construção civil produziu edifícios públicos e
culturais e climatológicos eram ignorados.
destinados a assistência social, escolas, museus e casas. Em 1953, Le Corbusier constrói seu primeiro edifício sagrado, a capela de
Com a crise do racionalismo arquitetônico internacional, os
peregrinação (Imagem 17) em Ronchamp, Notre-Dame-du-Haut. As
arquitetos escandinavos mudaram a concepção do racionalismo. O
edificações eram projetadas para serem usadas. Definiu a
principal arquiteto dessa corrente, Alvar Aalto (1898-1976) partiu do
arquitetura como o jogo dos volumes sob a luz, motivada na
26
racionalismo para depois se aproximar do princípio orgânico de
escandinavos se deu no campo do desenho industrial, em uma
Wright, o que lhe permitiu estudar os espaços internos.
maior precisão no projeto.
Imagem 18. Casa Experimental Muuratsalo (1953), Alvar Aalto.
Ficou conhecido como o projetista de todas as escalas, a sua produção arquitetônica apresenta uma visão da arquitetura como uma obra de arte completa, considerando desde o mobiliário até o controle da luz e do espaço. Projetou desde edifícios cívicos à centros
universitários,
suas
principais
obras
foram
a
Casa
Experimental Muuratsalo (Imagem 18), a Universidade Jyväskylä (Imagem 19) e a Villa Mairea. Imagem 19. Jyväskylä University (1959), Alvar Aalto.
FONTE: ARCHDAILY, 2013.
FONTE: ARCHDAILY, 2012.
O declínio dos ideais modernistas iniciou-se a partir do final
Aalto projeta a partir do objeto, para ele todo espaço é
da década de 1950, representado primeiramente pelo trabalho de
interno, mesmo os volumes externos estão envolvidos por um espaço
arquitetos como Louis Kahn (1901-1974) e Philip Johnson (1906-2005),
concreto. Utiliza materiais locais em seus projetos, porém, não com a
que
intenção de continuidade do lugar, mas porque esses materiais "tem
demasiadamente
qualidade de elasticidade e de 'textura' que os tornam sensíveis a
Moderno. Durante a década de 60, o arquiteto Charles Jencks
luz, quase congênitos ao espaço 'empírico' da casa ou da
(1939- ), determinou até uma data exata para o fim do Movimento
natureza"(ARGAN, 1992, p. 292). A contribuição dos países
Moderno, com a demolição do projeto produzido pelo arquiteto
27
começaram
a
demonstrar
dogmática
dos
discordância princípios
do
da
postura
Movimento
Minoru Yamasaki (1912-1986), o complexo habitacional Pruitt-Igoe,
Imagem 20. Implosão de Pruitt-Igoe (1972).
construído em 1951, segundo os preceitos dos CIAM. A demolição teve início em março de 1972. A partir de 1974, Peter Blake (1920-2006) publica uma série de artigos na revista Atlantic os quais evidenciavam a degradação dos ideais modernistas. Ele publica também o livro intitulado, “Form Follows Fiasco: Why Modern Architecture Hasn’t Worked” (A forma segue o fiasco: Por que a arquitetura moderna não funcionou). Porém, as críticas do Blake não definem a arquitetura moderna, apenas seu conceito inicial. Ao longo deste movimento podemos identificar uma série de tendências: o estilo internacional, no qual a função passa a adquirir primordial importância nas questões projetuais; o organicismo, no qual se destaca Frank Lloyd Wright, o construtivismo russo, onde se observa o uso de novos materiais e da arquitetura-objeto, a arquitetura brutalista, na segunda metade do século XX, cujo desenvolvimento foi promovido por arquitetos como Frank Lloyd Wright, Le Corbusier e Philip Johnson, dentre outras
FONTE: ARCHDAILY, 2012.
vertentes.
28
espelhava-se nos centros irradiadores de cultura
1.2
fora do país." (SEGAWA, 1999, p.41-42)
ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA
Durante a década de 20 acontecia no Brasil o movimento arquitetônico neocolonial. O marco inicial do movimento moderno
A Arquitetura Moderna no Brasil teve início com um grupo
aconteceu em São Paulo, segundo historiadores, no ano de 1917,
de jovens e com construções realizadas em um período curto de
com a exposição de pinturas da Anita Malfatti (1896-1964). Durante
tempo. Em poucos anos, a ideia criou raízes em São Paulo e no Rio
esses anos ocorreram eventos isolados, porém, não tão visíveis
de Janeiro, alcançando uma maturidade paradoxal (MINDLIN, 1999,
quanto ao de 1917, como a exposição de Lasar Segall (1891-1957)
p. 23). Lúcio Costa (1902 - 1998), o arquiteto cujo papel na história do
em 1913 e a “descoberta” do escultor Vítor Brecheret (1894-1955),
Modernismo Brasileiro é fundamental, analisa o período que vai de
em 1920. A pintura catalisou o movimento que visava algo além das
1930 a 1940 e que antecede a construção do Ministério da
artes plásticas e da literatura, a causa era a renovação do ambiente
Educação e Saúde em seu ensaio sobre arquitetura brasileira,
cultural.
assinala com propriedade que “a arquitetura jamais passou, noutro igual espaço de tempo, por tamanha transformação” (MINDLIN,
Durante
1999, p. 23).
esse
tempo,
apesar
das
críticas
iniciais
à
vanguarda artística brasileira, em 1922, aconteceu a Semana de Arte Moderna, um período de fervor intelectual com Manifestos
"São Paulo, na década de 1910, já se gabaritava como a grande metrópole Brasileira do século 20.
como o Pau-Brasil 10 e o Antropofágico 11, foram apresentadas
Lugar onde a riqueza do café patrocinava um
inúmeras inovações em diversos campos da expressão artística, com
quadro de prosperidade material e capacitação
a produção de uma arte moderna e um modernismo literário
industrial num Brasil ainda dominantemente rural.
caracteristicamente brasileiro. Esse acontecimento questionou o
Era um ambiente provinciano, mas a elite urbana
academicismo existente no período, essa oposição já havia se iniciado anteriormente. A arquitetura não apresentava o mesmo
10 Manifesto da Poesia Pau-Brasil é um manifesto redigido pelo escritor brasileiro Oswald de Andrade, apresentando as noções estéticas que iriam nortear o seu trabalho em poesia e o de outros modernistas brasileiros.
11 O movimento antropofágico foi uma manifestação artística brasileira da década de 1920, fundada e teorizada pelo poeta paulista Oswald de Andrade.
29
vigor
nem
o
espaço
do
debate
literário
e
pictórico,
Imagem 23 e 24. Casa Modernista da Rua Itápolis (1930), Gregori Warchavchik.
consequentemente, durante a semana não houve registro de qualquer discussão sobre a arquitetura. Lúcio Costa vinculou-se ao pensamento intelectual e político presente nesses movimentos e propôs uma arquitetura moderna brasileira com uma expressão nativa. Em meados dos anos 1920 acontece uma parceria entre Lúcio Costa e Gregori Warchavchik (1986-1972) um arquiteto russo emigrado que havia sido influenciado pelo Futurismo durante seus estudos em Roma e que foi responsável pelas primeiras casas cubistas no Brasil. Em 1928,
FONTE: ARCHDAILY, 2013.
construiu sua casa no subúrbio da Vila Mariana (Imagem 21 e 22), em São Paulo, a mesma “constituiu a primeira expressão de
Entre os anos de 1928 e 1931, o arquiteto projetou
arquitetura moderna nos termos do proselitismo do arquiteto"
residências e conjuntos de moradias econômicas em São Paulo e no
(SEGAWA, 1999, p. 44-45).
Rio de Janeiro. Entre essas obras, a casa em Itápolis (Imagem 23 e
Imagem 21 e 22. Casa Modernista da Rua Santa Cruz (1928), Gregori Warchavchik.
24), em São Paulo, foi a que mais se aproximou do ideal da Bauhaus de integração das artes. Em 1929, foi convidado por Le Corbusier para ser delegado para a América do Sul do CIAM (Congres International d’Architecture Moderne) enquanto esteve em São Paulo. O surgimento do modernismo foi em uma época de contradições e ambiguidades políticas, o período governamental de Vargas a Kubistchek, do rádio a televisão, do Rio de Janeiro como capital até antes do concurso de Brasília, entre outras. No início da década de 1930, surgiu um
FONTE: ARCHDAILY, 2013.
novo regime
que iria afetar
profundamente a vida administrativa, social e econômica do país.
30
"[...]a revolução liderada por Getúlio Vargas impôs
Nesse contexto a arquitetura moderna brasileira que se
um novo regime e um novo estado de espirito. O
materializou com o projeto do Ministério da Educação e Saúde
movimento de 30 foi desencadeado sobretudo
(Imagem 25), teve como idealista o arquiteto Lúcio Costa e a
por jovens militares e civis, e lançou um sopro
consultoria de Le Corbusier. Sua construção aconteceu em 1937,
renovador em todos os setores da vida política,
compondo-se de elementos que buscam expressar o caráter
social e econômica do país." (MINDLIN, 2000, p. 26)
peculiar da cultura brasileira. "A obra incorporava toda a sintaxe
O governo de Getúlio Vargas com o desejo de deixar sua
corbusieriana – sobretudo, ‘cinco pontos da arquitetura nova’"
marca nas formas da capital federal na época, decide construir
(SEGAWA, 1999, p. 91).
palácios para abrigar os ministérios e órgãos públicos. Nesse período
"Mas a versão final, erguida sobre um peristilo de
as empresas e elites só adotavam um estilo depois que ele tivesse
pilotis,
sido testado em obras públicas, tornando essa decisão um fator
deu
monumental
importante para difundir a arquitetura moderna.
ensejo de
a
primeira
muitos
dos
aplicação elementos
corbusianos característicos, inclusive o toit-jardin,
"Com a revolução liderada por Getúlio Vargas em
o brise-soleil e o pan-verre. Os jovens seguidores
1930 e a nomeação de Costa como diretor da
brasileiros
Escola de Belas-Artes, a arquitetura moderna
imediatamente esses componentes puristas numa
passou a ser acolhida, no Brasil, como uma
expressão nativa extremamente sensual que fazia
questão de política nacional." (FRAMPTON, 1997,
eco, em sua exuberância plástica, ao Barroco
p. 310)
brasileiro do século XVIII." (FRAMPTON, 1997, p. 310)
Apesar
Nesta época a Europa passava por uma crise social, política
do
edifício
de
ser
Le
Corbusier
considerado
transformaram
a
expressão
e econômica relacionada com a Grande Depressão, afetando as
materializada do modernismo brasileiro, aconteceram experiências
oportunidades para os arquitetos modernos como Le Corbusier, que
arquitetônicas modernistas em outras capitais e algumas antes
vieram até o Brasil estabelecer relações com o Estado. O Brasil não
mesmo do projeto do MES ser realizado.
foi tão afetado pela guerra, pelo contrário, foi ela e a conturbada década que a precede, que haviam permitido, em parte, com que a produção brasileira preenchesse o vácuo criado no cenário arquitetônico internacional.
31
proposta
Imagem 25. Ministério da Educação e Saúde (1945), Lucio Costa e equipe.
por
Costa,
enquanto
a
curvatura
da
parede
acompanhando o terreno e o jardim na parte posterior foi proposta por Niemeyer. Imagem 26. Pavilhão brasileiro da Feira Mundial de Nova York (1939), Lucio Costa e Oscar Niemeyer.
FONTE: ARCHDAILY, 2014.
O sucesso internacional do pavilhão se deu a postura FONTE: ARCHDAILY, 2013.
serena quanto ao significado da arquitetura brasileira no contexto
Enquanto acontecia a construção da sede do Ministério da
mundial. A arquitetura superou o racionalismo mais ortodoxo, com a
Educação e Saúde, os norte-americanos organizaram duas feiras -
consciência de uma nova dimensão estética da arquitetura acima
uma em Nova York e outra em São Francisco, das quais o Brasil
da aridez e do rebatimento da função sobre a forma. A obra que
participou. O pavilhão brasileiro da Feira Mundial de Nova York
teve um uso efêmero e gerou alguns dos discursos arquétipos que iria
(Imagem 26) ganhou destaque mundial, a obra juntou aspectos dos
povoar a arquitetura brasileira (SEGAWA, 1999, p. 95).
arquitetos modernistas Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. A versão final possuía pilotis, rampa de acesso e os elementos vazados de fachada
32
Com a consagração do pavilhão brasileiro, Lúcio Costa
Em 1943, o prestígio internacional pela arquitetura moderna
ampliou o prestigio já consolidado, enquanto, Oscar Niemeyer
brasileira voltou a ter destaque, com a exposição Brazil Builds, no
(1907-2012) teve sua ascensão. Em 1939, Niemeyer foi convidado
MoMA, em Nova York, levando críticos da Europa e Estados Unidos a
para projetar o "Grande Hotel de Ouro Preto" (Imagem 27), tratava-
rotular as manifestações dos arquitetos do Rio de Janeiro como
se de um edifício novo de grande porte. O projeto resultou em uma
Brasilian School, Cariocan School, First National Style in Modern
obra cujo o volume e a implantação eram destoantes da paisagem
Architecture. Enquanto no Brasil, o escritor Mário de Andrade, pela
existente, com isso, configurou-se como um uma atitude inicial em
primeira vez, se referiu ao movimento como "Escola Carioca"
que a convivência do "novo" dentro do "velho", atribuía para uma
(SEGAWA, 1999, p.102).
identidade própria.
Imagem 28. Igreja de São Francisco de Assis na Pampulha (1943), Oscar Niemeyer.
Imagem 27. Croqui da paisagem descortinada do Grande Hotel de Ouro Preto, Oscar Niemeyer.
FONTE: SEGAWA, 1999.
Juscelino Kubitschek convidou Niemeyer para desenvolver o projeto do Teatro Municipal de Belo Horizonte e um conjunto de FONTE: ARCHDAILY, 2012.
edifícios em um novo bairro afastado, a Pampulha. Porém, o projeto final contou apenas com os três primeiros edifícios e a capela,
Em 1947, o Conjunto Residencial Prefeito Mendes de
conhecida como a Igreja de Pampulha (Imagem 28). Nessa obra
Moraes, conhecido como Pedregulho (Imagem 29), no Rio de
Niemeyer produziu uma arquitetura própria, afastando-se da
Janeiro, foi projetado pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy. O
influência corbusieriana. A qualidade dessa produção moderna foi
Pedregulho compõe o conjunto de projetos de Reidy, ao lado da
a chave da sua futura atuação em Brasília, pela confiança que o
Unidade Residencial da Gávea (1952) e do Teatro Armando
presidente Kubitschek depositava no seu trabalho.
Gonzaga (1950), em Marechal Hermes. A partir de 1932, torna-se
33
responsável pelos serviços de arquitetura e urbanismo da Prefeitura
"O relatório de Lucio Costa era direto quanto à
do Rio de Janeiro, inclusive, o do Aterro do Flamengo.
apresentação das soluções: propunha a cidade 'não apenas como urbs, mas como civitas,
Imagem 29. Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho) (1947), Affonso Eduardo Reidy.
possuidora dos atributos inerentes a uma capital'. Seu desenho inicial nasceu de uma poética analogia ao 'gesto primário de quem assina-la um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em angulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz'" (SEGAWA, 1999, p.124).
Imagem 30. Croqui: Brasília e sua escala monumental, Lúcio Costa.
FONTE: ARCHDAILY, 2011.
No ano de 1956 iniciaria a consagração definitiva da arquitetura moderna brasileira, com o projeto de Brasília. Nesse mesmo ano, foi aberto um Concurso Público para elaborar o Plano Piloto de Brasília - futura Capital do Brasil. O Presidente Kubitschek convocou Niemeyer para “projetar todo os edifícios públicos” da nova capital e também para ser jurado no concurso. "Brasília está no
FONTE: SEGAWA, 1999.
bojo desse projeto desenvolvimentista e constitui o marco final dessa vanguarda
arquitetônica
alimentada
por
uma
política
de O estudo de Lúcio Costa é interessante observar que,
'conciliações' ideológicas" (SEGAWA, 1999, p.114).
apesar da simplicidade da apresentação, revelava a integração
O edital do concurso exigia o traçado básico da cidade, e
entre o urbanismo e a arquitetura de forma clara. A arquitetura de
a proposta de Lúcio Costa foi apresentada em uma única planta e
Oscar Niemeyer em Brasília que viria a influenciar toda uma geração
em um memorial ilustrado com croquis (Imagem 30), com
de arquitetos no país provocou também desgaste do repertório
simplicidade estabeleceu o princípio básico que norteou os eixos
moderno, pela reprodução desenfreada das formas, inclusive pelo
principais de Brasília: o Eixo Monumental e o Eixo RodoviárioResidencial.
34
No começo do século, o arquiteto Vítor Dubugras (1868 -
próprio arquiteto, que passaram a simbolizar a modernidade local
1933) desenvolvia suas obras em São Paulo na vertente neocolonial,
(Imagem 31).
porém, ele sempre demonstrou uma preocupação com a revisão
Imagem 31. Foto aérea de Brasília, Lúcio Costa.
das técnicas construtivas tradicionais. Sua produção caracterizouse pela busca constante de um racionalismo – apesar da linguagem adotada. O arquiteto projetava obras utilizando o repertório art nouveau, o eclético, o neocolonial e o protomoderno, com obras como a Estação de Mayrink, de 1905. João
Batista
Vilanova
Artigas
(1915-1985),
sofreu
modificações ideológicas em três momentos na sua produção, onde manifestam-se a influência de Frank Lloyd Wright; a influência de Le Corbusier e da Escola Carioca - a busca por uma maior racionalidade; e a influência do brutalismo inglês. "Não se pode negar que arquitetos brasileiros também foram tributários do Brutalismo; muitos paulistas caminharam por essa senda, e talvez nela tenham identificado um recurso conceitual de legitimação de uma prática. Todavia, distinguir FONTE: ARCHDAILY, 2015.
a produção paulista como 'brutalista' força uma
Em São Paulo, com o destaque da "Escola Carioca", o
relação de ascendência que minimiza as demais
sucesso de Brazil Builds e a crítica de Mário de Andrade - com o
influências ou condicionantes significativas na formação
"complexo de inferioridade" por parte dos arquitetos paulistas - serviu
desse
pensamento
arquitetônico."
(SEGAWA, 1999, p. 151)
como um argumento para um exercício de autoestima e
É a partir do projeto da Casa Baeta, em 1956, que o
imensurável autovalorização dos arquitetos na época (SEGAWA,
arquiteto ganha destaque e passa a liderar a produção da
1999, p.101).
arquitetura de São Paulo, marcada pela ênfase na técnica
35
Imagem 32 e 33. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) (1961), João Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi.
construtiva, pela adoção do concreto armado aparente e valorização da estrutura. Entre 1959 e 1961, realizou uma sequência de projetos Casa Mário Taques Bitencourt, Ginásio de Itanhaém, Ginásio de Guarulhos, Anhembi Tênis Clube, Garagem de Barcos do Iate Clube Santa Paula e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP) - que ajudaram a definir o caráter arquitetônico da escola paulista. A partir de 1957, aconteceram encontros de arquitetos em que surgiram debates acerca da formulação de um currículo mínimo para os cursos de arquitetura. O currículo da Faculdade de Arquitetura na Universidade de São Paulo, na proposição de Vilanova Artigas, tinha o projeto como estruturador do curso. O projeto do Edifício da FAU (Imagem 32 e 33) inicia-se em 1961, Artigas com a colaboração de Carlos Cascaldi. Professor da Escola de Arquitetura da USP, realiza um projeto que demonstra as influências de sua concepção de arquitetura, assim como suas ideias a respeito da formação do arquiteto. A arquitetura moderna de São Paulo também teve a contribuição dos arquitetos Rino Levi (1901-1965); Oswaldo Bratke (1907 – 1997); Jacques Pilon (1905 - 1962); Fábio Penteado (1929 2011) e Lina Bo Bardi (1914 - 1992).
FONTE: ARCHDAILY, 2011.
36
Em Curitiba, aconteceu a prole mais expressiva do
O desenvolvimento da arquitetura moderna nos outros
pensamento de São Paulo, devido à duas coisas: a porção paulista
estados, deu-se principalmente pela troca de conhecimento, como
do corpo docente do curso de Arquitetura na cidade e a
pela presença de arquitetos cariocas e paulistas que contribuíram
proximidade entre o Paraná e São Paulo que asseguraram um
para a arquitetura local, como também, arquitetos locais que saíram
intenso intercâmbio de conhecimento e influência profissional
para estudar em outra cidade e retornaram posteriormente.
(SEGAWA, 1999, p.152). Os arquitetos que mais se destacaram foram
Em Salvador, durante as décadas de 1950 e 1960 a
Luiz Forte Netto; José Maria Gandolfi; Roberto Luis Gandolfi; Joel
produção do arquiteto Diógenes Rebouças (1914 - 1994), resultou em
Ramalho Jr; Jorge Wilheim e Rosa Kliass. Na segunda metade dos
grande parte dos edifícios modernistas da cidade. As melhores obras
anos 40, o engenheiro Rubens Meister (1922 – 2009), projetou o Teatro
de Rebouças foram feitas em parceria, como o Hotel da Bahia
Guaíra (Imagem 34), em comemoração ao centenário de
projetado em 1947, com a coautoria de Paulo Antunes Ribeiro, e a
emancipação política do Estado do Paraná.
Faculdade de Arquitetura da UFBA (Imagem 35), em 1963, foram marcos da arquitetura modernista de Salvador.
Imagem 34. Teatro Guaíra (1952), Rubens Meister.
Imagem 35. Faculdade de Arquitetura da UFBA (1963), Diógenes Rebouças.
FONTE: GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ, 2016. FONTE: ARCHDAILY, 2014.
37
Contudo, um dos mais simbólicos edifícios desse período, em Salvador, foi o edifício Comendador Pereira, projetado pelo Escritório Ramos de Azevedo, no início dos anos 1950, uma transição entre a arquitetura art decó e o repertório modernista. Outros exemplares que se destacaram foram os edifícios Caramuru e Paraguaçu do arquiteto carioca Paulo Antunes Ribeiro, juntamente com o Teatro Castro Alves, projetado pelo arquiteto José Bina Fonyat. Em Recife a arquitetura moderna desenvolveu-se com a participação de dois arquitetos, Acácio Gil Borsoi e Delfim Fernandes
Imagem 36. Pró-reitoria de Extensão da UFC (1961), José Liberal de Castro.
Amorim, que contribuíram para renovar a arquitetura da cidade. Em Fortaleza, a produção moderna desenvolveu-se na década de 1950, com o retorno dos arquitetos cearenses que haviam saído para estudar no Rio de Janeiro e em Recife. O arquiteto José Liberal de Castro foi um desses, sua produção incluiu projetos de residências, edifícios comerciais e a reformulação do antigo campus com os projetos do Anexo da Reitoria (Imagem 36) e do Cetrede.
FONTE: VITRUVIUS, 2013.
38
1.3 ARQUITETURA MODERNA EM ALAGOAS
ecléticas. No urbanismo Maceió continua com seu traçado original, e não há interesses em desenvolver trabalhos para o aprimoramento urbano na cidade.
No Brasil, o movimento moderno ao se afastar das capitais e adentrar no interior brasileiro, agrega sentidos particulares a arquitetura.
Principalmente
no
Nordeste,
onde
Somente em 1951, ocorreu a posse de Arnon de Mello como
agroindústria
governador
do
estado,
o
aspecto
do
seu
governo
é
canavieira rege a economia, pouco afetada pelas poucas fábricas
desenvolvimento o econômico da região. A partir de 1952, o
instaladas na passagem do século, imperando as regras de
governo passa a contar com um quadro de profissionais que se
convivência estabelecidas pelo hábito colonial.
responsabilizam pela efetivação do programa de pavimentação de estradas. Neste momento é implementado políticas públicas e obras
Em Alagoas é através da literatura as primeiras impressões
sociais para a melhoria da cidade como o alargamentos e aberturas
do Modernismo, suas influências de renovação trazidas pelo cinema
de novas vias e construção e reformas de praças com equipamentos
e pelas revistas da época vão transformando os hábitos. Os
e mobiliário urbano em concreto, ferro e azulejo.
alagoanos sabiam da existência do movimento modernista desde
O
1922, porém, apenas em 1928 aconteceu a introdução oficial com
modernismo
trouxe
a
característica
de
construir
desprendendo-se dos limites do lote, prática iniciada pelo
a Festa da Arte Nova, promovida pelo Cenáculo Alagoano de Letras
Neocolonial. A estética moderna emprega uma volumetria limpa e
e o Instituto Rosalvo Ribeiro.
a integração entre o interno-externo compatíveis com o clima
"A Festa da Arte Nova reúne literatos e pintores que
nordestino.
apresentam seus trabalhos sob críticas e aplausos. Porém
Apenas
um
acanhado
grupo
de
profissionais
trabalharam juntos para expandir os preceitos modernista no estado,
o movimento não tem muito fôlego, falta consistência na
apesar disso houve uma boa produção arquitetônica.
proposta de uma nova linguagem expressiva. Muitos participam da manifestação apenas pela novidade que
"Mas no contexto local, as obras arquitetônicas
o fato representa, outros por espirito de galhofa." (SILVA,
são personalizadas, não propriamente no sentido
1991, p. 30)
da construção de um estilo pessoal, mas na individualidade da forma de trabalho e de
Inicialmente as obras modernas em Maceió deram-se em
intervenção no contexto social. Afasta-se a
residências que evoluíram de bangalôs e em prédios públicos que
possibilidade de formação de correntes ou
seguem os princípios da racionalidade e livram-se das características
gerações de profissionais que prolonguem, de
39
forma
profícua,
experiências
a
princípio
Imagem 37. Edifício Passos, Manoel Gusmão.
inovadoras, no tempo e no espaço. " (SILVA, 1991, p. 39)
Ao analisar a produção alagoana entre os anos de 1950 a 1964, a docente Silva afirma que em geral são de baixa qualidade, por conta das assinaturas indevidas em projetos, o uso de plantas padrão, projetos onde só constam o desenho da fachada e o uso de modelos divulgados em periódicos. Ao quantificar as assinaturas nos projetos da época, chegou à conclusão que apenas 12% das obras são de autoria de arquitetos. Manoel Messias Cavalcanti de Gusmão (1910 -1982) formase na mesma turma de Oscar Niemeyer, convive com a primeira geração de arquitetos modernos brasileiros. Porém, o estilo adotado por Messias de Gusmão no início da carreira é conhecido como Neocolonial Espanhol. Em Alagoas produz diversas residências influenciadas pelo
FONTE: SILVA, 1991.
estilo Neocolonial, contudo ensaia algumas tentativas dentro das linhas que lembram o Art Deco como o projeto do Edifício Passos
Banco do Brasil, obras do Porto de Maceió e projetos de usinas. Em
(Imagem 37). Construído na década de quarenta essa obra possui
1943, arquiteta o pavilhão de comando do Quartel do 20 BC, o
quatro pavimentos, utilizando os recursos dessa linha na volumetria
projeto de maior porte em Maceió.
da fachada trabalhada geometricamente.
Em 1951, executa o projeto do Hospital Agro-industrial do
Além da concepção deste prédio, o arquiteto projeta
Açúcar (Imagem 38), situado em um terreno amplo em uma região
diversas casas com essas influencias, como a residência Alípio
pouco ocupada na época. Construído com o objetivo de prestar
Carvalho. Durante as décadas de 40 e 50, trabalha na construção
assistência social aos trabalhadores da agroindústria canavieira. O
de diversos exemplares arquitetônicos, como o prédio do antigo
arquiteto opta por uma solução em blocos de três e quatro
40
Imagem 39. Palácio do Trabalhador, Saint’Yves Simon.
pavimentos em linhas sóbrias para a composição do volume. No final da sua carreira projeta variadas obras no interior de Alagoas.
Imagem 38. Hospital Agro-industrial do Açúcar, Manoel Gusmão.
FONTE: SILVA, 1991.
No início sua carreira os projetos sofrem influência do estilo Neocolonial, contudo, movido pelo interesse em acompanhar a
FONTE: SILVA, 1991.
evolução na arquitetura. Saint’Yves Simon opta por um segmento
O arquiteto Joffre Saint' Yves Simon forma-se em Recife,
arquitetônico atualizado com volumes de geometria bastante
chega em Maceió para desenvolver um número expressivo de obras
definida. Dentre suas obras com uma concepção mais retilínea, está
de caráter público. Sua maior produção foi durante a gestão do
o prédio do Palácio do Trabalhador (Imagem 39), a construção
governador Muniz Falcão, que o convidou para exercer o cargo de diretor
do Departamento de
apresenta como destaque os painéis em vidro e a solução de brises
Obras Públicas. Seus projetos
verticais. Também projeta o prédio do Fórum, no centro de Maceió,
desenvolvem uma linguagem pessoal que marca individualmente a
com seu volume geométrico contrastando com a paisagem
sua contribuição ao contexto local (SILVA, 1991, p. 65).
circunvizinha. Durante a gestão de Luiz Cavalcanti, projeta o prédio do Hospital Jose Carneiro (Imagem 40). Em 1964, o hospital é
41
No ano de 1945 nasce a Faculdade Nacional de
entregue ao público, expondo o padrão tradicional da arquitetura
Arquitetura, no Rio de Janeiro. Na primeira turma está presente a
de Saint'Yves Simon, com a adição de colunas em V.
arquiteta Lygia Fernandes (1919 - ), um dos nomes que se
Imagem 40. Hospital José Carneiro, Saint’Yves Simon.
destacaram na corrente moderna alagoana. Sua formação acadêmica foi influenciada por possuir um constante diálogo entre cursos dentro da Escola de Belas Artes, fazendo trabalhos de pintura e gravura. Durante o período escolar, Lygia desenvolveu projetos com nomes conhecidos como Henrique Mindlin e Affonso Eduardo Reidy. Apesar de manter contato com os principais articuladores desse movimento, opta por trabalhar definitivamente no serviço público. Imagem 41 e 42. Casa José Lyra, Lygia Fernandes.
FONTE: SILVA, 1991.
Nas
suas
obras
residenciais,
consegue
um
bom
aproveitamento do lote adotando a solução de pátio. Dentro dessa concepção está a residência Paulo da Silveira, o partido definido pelos limites do lote e aberto para o interior. Os cômodos voltados para áreas verdes e de circulação, sendo delimitado por painel de azulejo, vidraças e paredes de cobogós. Na concepção das fachadas realiza boa combinação de volumes retos e curvos.
FONTE: SILVA, 1991.
42
Os projetos desenvolvidos em Maceió surgem no início da
de grande porte da arquiteta, a composição bem proporcionada,
década de 50, com obras que extrapolam o contexto regional.
as amplas esquadrias, o pilar independente, afirmam a autoria do
Dentre eles, destacam-se duas residências, a casa do José Lyra
projeto (SILVA, 1991, p. 90).
(Imagem 41 e 42) e a do Paulo Netto, amplamente divulgadas em
Israel Barros Correia (1922 - 1978), formado arquiteto,
revistas de circulação internacional e nacional- Architecture
trabalha junto a Oscar Niemeyer entre os anos de 1947 a 1949,
d'Aujourd'hui, Arquitetura e Engenharia e Casa e Jardim.
aprofundando a experiência no novo método. Ao retornar para sua
Imagem 43. Sociedade de Medicina, Lygia Fernandes.
cidade natal o arquiteto traz na bagagem a sintática moderna, experimenta alguns de seus primeiros projetos. Em 1955, em Maceió, Israel projeta a residência de Jarbas Gomes de Barros (Imagem 44). O projeto possui características modernistas como a fachada com pilares inclinados e brises horizontais. Imagem 44. Residência Jarbas Gomes, Israel Barros.
FONTE: SILVA, 1991.
Os projetos residenciais de Lygia Fernandes demonstram a evolução do contexto social alagoano, onde a economia passa a ter um caráter menos agrário. Seus projetos causam estranheza e admiração, com suas características como o gradil baixo, esquadrias de vidros, painel treliçado e internamente, o mezanino. O prédio da Sociedade de Medicina (Imagem 43) foi um dos projetos
FONTE: SILVA, 1991.
43
O arquiteto foi responsável por inúmeros projetos de grande
Imagem 45. Edifício Lagoa Mar, Israel Barros.
porte – alguns deles não foram concretizados. O prédio Walmap, construído com modificações do projeto original, possui 16 pavimentos tipos, a fachada com a malha retangular de cheios e vazios proposta pelo arquiteto e transformada numa marcação de sentido horizontal.
Outro edifício do projetista é o Lagoa Mar
(Imagem 45), situado na ladeira do Farol, a solução da planta compunha-se em partido em U com dois apartamentos, um de frente e um de fundos e a Fachada trabalhada em vidro e a composição em faixas horizontais. Maceió é marcada pelas dificuldades em superar as limitações na produção de uma arquitetura de qualidade. Na década de setenta, produz seu último trabalho em Alagoas, a reforma da residência de seu irmão Celso Barros Correia, situada na Pajuçara. A arquiteta Zélia Maia Nobre (1930 - ), surge no cenário alagoano no ano de 1956 para trabalhar com a linha de concepção moderna.
Formada
em
Recife,
encontra
em
Maceió
um
distanciamento cultural do processo civilizatório e obstáculos para desenvolvimento da modernização (SILVA, 1991, p. 109). Em 1958, é chamada para trabalhar no Departamento de Obras Públicas na função de diretora da Divisão Técnica, executando projetos e fiscalizando obras. FONTE: SILVA, 1991.
44
A arquiteta possui obras públicas, mas são as suas
Imagem 47. Reitoria, Zélia Maia.
residências que assinalam as características modernas nos seus projetos. Os projetos soltos no lote, volumetria conduzida pelo ângulo reto, platibanda escondendo o telhado e grandes esquadrias são as características nas suas obras. As fachadas principais recebem uma atenção maior, "anuviando o rigor funcionalista que prevê a perspectiva do objeto arquitetônico, executado como um todo, onde não existe prioridade de uma vista em relação a outra" (SILVA, 1991, p. 111). Imagem 46. Parque Hotel, Zélia Maia.
FONTE: SILVA, 1991.
Dentre as obras notáveis da arquiteta estão o Parque Hotel (Imagem 46), prédios destinados à Universidade e a sede do Alagoas late Clube. Em 1967, o prédio onde passa a funcionar a reitoria (Imagem 47) é inaugurado. A obra é caracterizada com a fachada no sentido horizontal com o uso de painéis de materiais modernos, o partido arquitetônico adotado é a solução de pátio. A arquiteta teve uma participação destacada no meio alagoano, tanto por sua produção moderna, como também pela fundação do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas, na década de 70.
FONTE: SILVA, 1991.
45
Antônio Ivo de Andrade Lyra (1933 - ), mais conhecido como
Nobre, como no projeto da residência Ruth Nogueira (Imagem 48),
Ivo Lyra foi um dos desenhistas que mais se destacaram no
onde Ivo Lyra consegue uma solução de projeto agradável com o
modernismo em Maceió. Começou seus trabalhos em Recife,
recurso das áreas abertas integradas aos ambientes internos,
trabalhando com nomes como o engenheiro Antônio Bezerra Baltar
Pérgolas, jardins e largas aberturas em venezianas.
e o arquiteto Delfim Amorim, onde conheceu o desenho e o projeto
Suas obras possuem
de arquitetura, dentro da linguagem moderna. Em 1958, deixa a
um caráter único, apesar da
comprovação de influências de outros projetistas. Suas residências
cidade de Recife e passa a residir em Maceió, onde trabalha com o
são resolvidas em blocos horizontais, cujas faces são trabalhadas em
engenheiro Vinicius Maia Nobre e a Zélia Maia Nobre.
painéis compostos equilibradamente (SILVA, 1991, p. 129). Um
Imagem 48. Residência Ruth Nogueira, Ivo Lyra.
projeto onde evidencia a habilidade em resolver funcionalmente os espaços e a Residência de Péricles Neves (Imagem 49), passando de um bangalô no estilo típico para três residências com uma divisão interna bem estudada. Imagem 49. Residência Péricles Neves, Ivo Lyra.
FONTE: SILVA, 1991.
Sua maior produção foi no período de 1958 a 1964, entre esses projetos destacam-se as residências, onde podemos constatar características da corrente pernambucana nas obras. Nota-se uma proximidade de vocabulário praticado pela arquiteta Zélia Maia
FONTE: SILVA, 1991.
46
Jose Nobre (1924 - 1984) começa os estudos em Recife, na
Imagem 51 e 52. Clube do Trabalhador, José Nobre.
Escola de Belas Artes e conclui em Belo Horizonte na primeira escola de Arquitetura do Brasil. Como aconteceu com os arquitetos da época, ele volta para Nordeste e passa a residir em Alagoas. Seus projetos possuem uma proposta mais arrojada de arquitetura diferente aos moldes locais, estacando-o com seu desenho rigoroso ou pelo traçado peculiar da representação em perspectiva (SILVA, 1991, p. 139). Trabalhou com projetos de grande porte como o do Colégio Marista (Imagem 50) e o Clube do Trabalhador Delmiro Gouveia. Na obra do colégio, José Nobre propõe uma planta livre com um vazio central, onde propõe um campo de futebol. Nota-se uma preocupação em ocupar densamente o vazio, deixando a área central para atividades de sociabilidade da escola integrando aos corredores de circulação. Imagem 50. Colégio Marista, José Nobre.
FONTE: SILVA, 1991. FONTE: SILVA, 1991.
47
O Clube do Trabalhador Delmiro Gouveia (Imagem 51 e 52)
modernas, como o partido recortado, setorização e o emprego de
é formado por blocos longitudinais dispostos em áreas livres de
novos materiais. A residência Japson Almeida possui uma fachada
gramados e jardins. Nobre trabalha cada fachada com uma
em um único plano, mas movimentada por um seguimento de
estética única, a fachada de vista para rua expõe uma estrutura
cheios e vazios, trabalhando com a textura e transparência do
sacada remetendo aos brises. Na fachada oposta onde encontra-
cobogó.
se a circulação, ele trabalha com uma superfície inteira de cobogós,
Apesar de ter uma grande produção de residências em
integrando e delimitando o externo e o interno. Outro projeto do
Alagoas, Walter Cunha destaca-se significativamente com suas
desenhista é a Capela do Hospital Agroindustrial do Açúcar, a
obras em edifícios. O desenhista é responsável pelo projeto dos
solução estética encontrada por ele reproduz uma semelhança com
primeiros grandes prédios de Alagoas, tendo como exemplar inicial
a igreja de São Francisco, na Pampulha.
o edifício Breda. Outro prédio é o edifício sede do Banco Econômico da Bahia (Imagem 53), um bloco em um lote estreito e com fachada
José Nobre possui um grande número de residências
marcada por faixas alternadas de vidro e cerâmica.
projetadas, suas características projectuais como a setorização das atividades, a execução do layout dos cômodos, jardins internos e
Imagem 53. Edifício Sede do Banco Econômico, Walter Cunha.
separação de espaços com superfícies vazadas utilizando cobogós, estão visíveis nesses projetos. A sua residência é um exemplo, a planta da casa demonstra a solução de partido recortado, o uso de laje maciça de concreto, separação de ambientes e jardim interno. Walter Cunha (1922 - ) foi um dos principais nomes da Arquitetura Moderna Alagoana, formou-se no Colégio Militar do Ceara e Rio de Janeiro. Em Maceió trabalha com os arquitetos e engenheiros como Vinicius Maia Nobre, Antônio Mario Mafra, Nimesio Chagas, Jofre Saint'Yves Simon e Manoel Messias de Gusmão. Em 1950 presta serviços para obras públicas e realiza projetos em residências. Seus projetos possuem características
FONTE: SILVA, 1991.
48
Imagem 54. Edifício São Carlos, Walter Cunha.
Também de sua autoria, o Edifício São Carlos (Imagem 54), primeiro prédio residencial de Maceió. A obra solta no lote possui uma área livre sendo usada apenas como estacionamento, a sua fachada é trabalhada com volumes que avançam correspondente a sala de estar, aberta em amplas esquadrias e usufruindo da paisagem do mar.
FONTE: SILVA, 1991.
49
de Atenas afirma que "Os valores arquitetônicos devem ser
2.1 CARTAS PATRIMONIAIS
salvaguardados (edifícios isolados ou conjuntos urbanos) ” e, só
Durante o século XX, ocorreram debates sobre as questões
“Serão salvaguardados se constituem a expressão de uma cultura
de preservação, especialmente por consequência da Segunda
anterior e se correspondem a um interesse geral" (CARTA DE ATENAS,
Guerra Mundial, cujos bombardeamentos destruíram inúmeros
1933, p. 25).
monumentos históricos do Velho Mundo. Proveniente desses encontros,
surgiram
instituições
internacionais
como
a
ONU
CARTA DE VENEZA – 1964
(Organizações das Nações Unidas), a UNESCO (Organização das O conceito de significância cultural foi inicialmente
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o ICOM (Conselho
Internacional
de
Museus),
o
ICCROM
mencionado na Carta de Veneza (1964), a mesma aborda os
(Centro
princípios que devem direcionar à conservação dos monumentos.
Internacional para o Estudo da Preservação e Restauração de Bens
Ampliando os conceitos expressos na Carta de Atenas, para uma
Culturais) e o ICOMOS (Conselho Internacional de Monumentos e
maior abrangência e estabelecendo a noção atual de “bem
Sítios). Essas organizações promoveram eventos e encontros entre as
cultural”. No seu Artigo 1º, das Definições, afirma que:
nações, onde as discussões resultaram nas chamadas Cartas Patrimoniais.
“a noção de monumento histórico compreende a criação arquitetônica isolada, bem como o sítio
As Cartas Patrimoniais têm como intenção padronizar os
urbano ou rural que dá testemunho de uma
discursos do cuidado ao bem cultural. Passaram a indicar códigos
civilização
particular,
de
uma
evolução
de posturas internacionais e a orientar a conduta dos profissionais da
significativa ou de um acontecimento histórico.
área, além de proporcionar a ampliação das noções de patrimônio
Estende-se não só às grandes criações, mas
e bem cultural.
também
às
obras
modestas,
que
tenham
adquirido, com o tempo, uma significação
CARTA DE ATENAS – 1933
cultural" (CARTA DE VENEZA, 1964, p. 1-2)
Esta carta estabeleceu o conceito de patrimônio histórico,
Outra contribuição é o reconhecimento da necessidade
a questão fundamental levantada para essa definição são as
interdisciplinar
relações do espaço, da paisagem e da trama urbana, definindo
contribuindo para o estudo e a salvaguarda do patrimônio. Afirma
assim a importância do edifício e do conjunto arquitetônico. A carta
também que os monumentos precisam ser destinados a uma função
51
nas
ações
de
conservação
e
restauração,
útil na sociedade, contando que as modificações exigidas pela evolução dos usos e costumes não os alterem substancialmente os
prédios.
DECLARAÇÃO / MANIFESTO DE AMSTERDÃ – 1975 O Congresso de Amsterdã, em 1975, reuniu delegados de
diversas partes da Europa, onde foi anunciada a Carta Europeia do
Patrimônio Arquitetônico, que fala sobre a arquitetura característica da Europa como um patrimônio comum, sendo importante a
cooperação dos países europeus para sua proteção.
O documento descreve considerações essenciais que envolvem a preservação e valorização do patrimônio, e os princípios
essenciais da Conservação Urbana Integrada foram reunidos e publicados.
O patrimônio arquitetônico contribui para a tomada de consciência da comunhão entre história e destino. O patrimônio arquitetônico é composto de todos os edifícios e conjuntos urbanos que apresentam interesse histórico ou cultural. Nesse sentido, extrapola as edificações e os conjuntos exemplares e monumentais para abarcar qualquer parte da cidade, inclusive a moderna. O patrimônio é uma riqueza social; sua manutenção, portanto, deve ser uma responsabilidade coletiva. A conservação do patrimônio deve ser considerada como o objetivo principal da planificação urbana e territorial.
As municipalidades, principais responsáveis pela conservação, devem trabalhar de forma cooperada. A recuperação de áreas urbanas degradadas deve ser realizada sem modificações substanciais da composição social dos residentes nas áreas reabilitadas. A conservação integrada deve ser calcada em medidas legislativas e administrativas eficazes. A conservação integrada deve estar fundamentada em sistemas de fundos públicos que apoiem as iniciativas das administrações locais. A conservação do patrimônio construído deve ser assunto dos programas de educação, especialmente dos jovens. Deve ser encorajada a participação de organizações privadas nas tarefas da conservação integrada. Deve ser encorajada a construção de novas obras arquitetônicas de alta qualidade, pois serão o patrimônio de hoje para o futuro (LACERDA; ZANCHETI, 2012, p. 20).
CARTA DE BURRA – 1980 A carta de Burra foi o resultado proveniente do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios, realizado na Austrália, em 1980. Ela define que a política de gestão de um bem deve estar fundamentada na compreensão da sua significância cultural e a política de desenvolvimento deve considerar os fatores que afetam seu futuro, como as novas necessidades dos proprietários. Afirmando que os bens "[...] com significado cultural enriquecem a vida das pessoas, proporcionando, muitas vezes, um
52
2.2 SIGNIFICÂNCIA DA ARQUITETURA MODERNA
profundo e inspirador sentido de ligação à comunidade e à paisagem, ao passado e às experiências vividas" (CARTA DE BURRA, 1999, p. 4). Outra reflexão importante na carta é sobre os grupos e
A arquitetura é um elemento concebido pela ação
indivíduos que têm ligação com o lugar, os mesmos devem ter
humana e inserida em um contexto social. Por estar introduzida em
oportunidades de contribuir e participar na compreensão da sua
um meio, a mesma adquire valores reconhecidos por uma
significância cultural e na sua conservação e gestão. A carta
determinada sociedade e considerados importantes de serem
apresenta novas definições de:
transmitidos para gerações futuras (ZANCHETI, 2014, p.2). Deste
Restauração,
com
o
“restabelecimento
modo, a conservação de uma obra depende dos valores atribuídos
da
a ela de forma coletiva.
substância (conjunto de materiais que fisicamente constituem o bem) de um bem em um estado
O conceito de significância cultural foi inicialmente citado
anterior conhecido” (CARTA DE BURRA, 1999, p.6);
na Carta de Veneza (1964), quando esta definiu no artigo 1º que "a
Adaptação – como “o agenciamento de um bem a
noção
uma nova destinação sem a destruição de sua
histórico
compreende
a
criação
tenham adquirido, com o tempo, uma significação cultural."
Uso compatível – “uma utilização que não implique mudança na significação cultural da substância,
Contudo, somente na Carta de Burra (1999) ocorreu sua
modificações que sejam substancialmente reversíveis
definição, como o termo que exprime o "valor estético, histórico,
ou que requeiram um impacto mínimo” (CARTA DE
científico, social ou espiritual para as gerações passadas, atual ou
BURRA, 1999, p.9);
monumento
arquitetônica isolada, bem como o sítio urbano ou rural [...] que
significação cultural” (CARTA DE BURRA, 1999, p.6);
de
futuras" (Austrália ICOMOS, 1999). A expressão significância cultural
Significação cultural – “designa o valor estético,
tem o mesmo sentido do significado patrimonial e valor cultural.
histórico, científico ou social de um bem para as
Segundo
gerações passadas, presentes ou futuras” (CARTA DE
Zancheti,
a
conservação
é
uma
prática
condicionada por um objetivo que somente é atingido quando
BURRA, 1999, p.5).
vários tipos de valores são considerados ao mesmo tempo. O edifício só é considerado bem a partir do momento que o mesmo obtiver diversos tipos de valores em um meio social. Porém, conservar um
53
bem implica em tornar o bem funcional, contemplando todos os
Os valores simbólicos são aqueles que atribuem ou
valores inerentes a obra.
reforçam os significados do bem. Esses valores dependem da
As obras do passado possuem valores estáveis, por conter
cultura, das camadas temporais e das relações sociais, podem
camadas de tempo com valores de sociedades em épocas
assumir várias formas como a artística, religiosa, de poder, de riqueza
diferentes, estão consolidadas na sociedade apesar de não serem
e de status social. Os valores documentais são aqueles que registram
permanentes. Os valores das obras do presente ainda são instáveis,
a passagem do tempo, ou seja, o passado dos objetos.
podem vir a possuir uma bagagem ampla de valores, mas
Conforme expressa a Carta de Burra, a significância refere-
dependem das decisões da sociedade a qual está inserida.
se não somente ao aspecto físico-espacial do bem, mas também
Segundo Chris Caple, toda obra está inserida em um
incorpora todos os elementos que contribuem para seus significados.
contexto social e dependem de outros objetos desse contexto para
Afirma Zancheti et al (2009), que é necessário identificar e abranger
expressar seu valor.
a maior quantidade de valores e significados do bem para construir “[...] os objetos devem ser vistos em relação aos
a declaração, minimizando, assim, sua parcialidade.
elementos de um contexto que inclui: os indivíduos
"É necessário, portanto, que não só se reconheça
ou grupos sociais que os criam e utilizam; os
a pluralidade de valores que o lugar apresenta em
objetos que o rodeiam e dos quais é parte; um
determinado tempo, como se considere que há
particular
é
valores ainda não reconhecidos para que no
utilizado/criado; um tempo particular e uma série
futuro novas significâncias sejam construídas. O
de eventos e ações. ” (CAPLE, 2000, 11p apud.
processo
ZANCHETI, 2014, p.3)
agrega sempre novas informações conforme os
lugar
ou
espaço
no
qual
de
identificação
da
significância
Os valores de um objeto podem ser agrupados em três tipos:
atores envolvidos, as relações estabelecidas entre
os instrumentais, os simbólicos e os documentais (Caple, 2000). Os
eles, o tempo decorrido e a cultura nele
valores instrumentais são aqueles ligados a um elemento funcional
acumulada" (PEDROSA, 2011, p. 106).
que desempenha na sociedade, ou seja, efetua uma função
Na Carta de Burra significância cultural é utilizada para
imprescindível para que a sociedade se reproduza. Na arquitetura,
encontrar valores que ajudam na compreensão do passado ou
normalmente o bem possui a função associada à de abrigo e
enriquecem o presente e que será de valor para gerações futuras.
isolamento de atividades.
Esse reconhecimento deve ser feito através da Declaração de Significância Cultural.
54
A apresentação deste documento passou a ser exigido
valores a serem tratados, a priori todos os valores são tratados da
pela UNESCO a partir da versão do OG 2005, exige que entre os
mesma forma, somente em casos e edificações antigas, onde a
documentos apresentados para a indicação dos bens para a Lista
função poderia ser revista os valores simbólicos e documentais se
de Patrimônio Mundial seja apresentada uma declaração de
tornam muito importantes.
significância e, desde então, tornou-se referência para as ações
“A atividade de conservação pode ser caracterizada
previstas na gestão.
como um conjunto de atos de identificação, análise, julgamento e
Zanchetti e Hidaka (2014) definem a declaração como um
decisões” (ZANCHETI, 2014, p.10). Portanto, antes de qualquer
instrumento utilizado como suporte de memória e orientação para
intervenção em um bem patrimonial é necessário a identificação de
as ações de conservação.
suas características e do contexto social que está inserida, seguida
“A
declaração
de
significância
(DS
ou,
de uma análise e valores. A partir disso é possível julgar o bem e
simplesmente, declaração) é um documento que
definir
expressa o valor cultural de um bem para uma
autenticidades necessárias para que uma intervenção não venha a
comunidade. É uma justificativa que explicita o
se
o
mesmo
tem
as
condições
de
integridade
e
compromete-lo. As decisões escolhem as ações que serão
porquê do bem ser conservado para o usufruto de
realizadas para a conservação do bem, entre um conjunto de ações
futuras gerações. ” (ZANCHETI e HIDAKA, 2014,
possíveis, definindo a amplitude, a intensidade, as técnicas e os
p.3).
materiais a
A Declaração de Significância em bens da arquitetura
serem
utilizados, de
acordo
com
os
objetivos
determinados e os recursos disponíveis (ZANCHETI, 2014, p. 11).
moderna segue o mesmo processo como qualquer outro bem
A metodologia a ser seguida para a construção da
patrimonial.
significância cultural e atributos do bem ainda é limitada, porém, a Carta de Burra contribuiu através de um diagrama (Imagem 55) em
METODOLOGIA PARA RECONHECIMENTO
que apresenta os três passos que devem ser seguidos para o
A conservação é uma metodologia de como tomar as
alcance da conservação da significância cultural de um bem, são
decisões para manter os bens patrimoniais íntegros. O ato de
eles: (1) compreender o significado; (2) desenvolver a política e (3)
conservar significa tratar os valores da obra com a mesma carga de
gerenciar.
importância, sejam eles, instrumentais, simbólicos ou documentais. A partir da análise da significância o conservador poderá selecionar os
55
Imagem 55. Procedimento metodológico para conservação de um bem segundo a Carta de Burra.
A Carta de Burra contribuiu para a mudança de paradigma na Teoria da Conservação ao definir que o objetivo central da conservação patrimonial é a manutenção da significância cultural de bens de interesse da preservação.
A CONSERVAÇÃO NO MODERNISMO A conservação da arquitetura moderna amplia a visão de conservação, trazendo consigo novos questionamentos para esse debate. Esses questionamentos não apontam apenas para às dimensões técnicas e materiais do edifício moderno, mas também para a estrutura teórica da conservação (MOREIRA, 2010, p.3). A arquitetura moderna possui características próprias que devem ser consideradas em qualquer operação de conservação. O movimento moderno é resultado de uma vasta produção ideológica, apesar de originar-se de alguns países, logo disseminouse para todos os continentes. Entretanto, a sociedade ainda não consolidou a ideia de que a arquitetura moderna é um produto cultural e que deve ser protegida para as futuras gerações (MOREIRA, 2010, p.3). O reconhecimento de um edifício como um bem cultural de uma comunidade leva certo tempo, e o bem moderno não possui camadas de tempo suficientes para a sedimentação do seu valor quanto a bem cultural, afetando seu reconhecimento como patrimônio cultural e a sua conservação. FONTE: Carta de Burra (Austrália ICOMOS), 2013 [tradução e ilustração nossa].
56
“Existe assim um claro problema de interpretação
a identificação, documentação e promoção do patrimônio
no modo como a sociedade contemporânea
edificado nos séculos XIX e XX. O Programa de Patrimônio Moderno
coloca a arquitetura moderna entre os bens de
(Modern Heritage) tem a finalidade de estabelecer um quadro de
valor
patrimonial
e,
portanto,
sujeitos
à
pensamento conceitual sobre a importância quanto ao patrimônio
conservação, por processos institucionais ou
da arquitetura, urbanismo e paisagismo da era moderna.
disseminados na prática social. Esse problema se
A
conservação desse movimento é considerado vulnerável por conta
expressa no momento da determinação da significância cultural de um edifício moderno,
da fraca proteção jurídica e a pouca apreciação como patrimônio,
passo necessário para a sua inclusão na lista de
como forma de expandir a representatividade dos bens desse
bens protegidos da sociedade. ” (ZANCHETI e
período na Lista do Patrimônio Mundial, nesse encontro foi
HIDAKA, 2014, p.3).
elaborada
uma
documentação
Segundo MACDONALD, nos últimos vinte anos houve um
publicação da
herança
denominada moderna
“Identificação (Identification
e
and
documentation of Modern Heritage)”.
aumento no interesse em conservar o patrimônio do século XX. Nesse
Ainda que exista um esforço para salvaguardar esses
tempo aconteceram mudanças em termos de identificação,
edifícios, muitos exemplares têm se perdido, e os que restam estão
proteção e conservação da arquitetura moderna.
sob risco de descaracterização ou demolição, pois, ainda não
O DOCOMOMO é o responsável por esse debate tanto no nível
tiveram seus valores reconhecidos pela sociedade. O impedimento
nacional, como no internacional. Em 1990 foi publicada uma carta
em considerar a sua importância patrimonial é resultado de
focada exclusivamente na preservação da Arquitetura Moderna, a
interpretações que o estabelece como uma nova relação espacial
Declaração de Eindhoven (1990). Apesar de ser uma ação
(ZANCHETI, 2014, p.12).
precursora, a carta não apresentou nenhum entendimento que já
“A forma de articulação e interpenetração dos
não estivesse presente em outras cartas anteriores.
espaços
internos
e
externos
seria
Em 2001 a UNESCO promoveu um encontro de profissionais de
substancialmente diferente da tradicional. [...]
todo o mundo, voltado para a discussão sobre os meios de aprimorar
Contudo, para a abordagem contemporânea, a
a identificação e a documentação do patrimônio moderno. Esse
nova espacialidade é um dos aspectos a ser
debate se materializou com a união da a UNESCO World Heritage
considerado na significância das obras modernas.
Centre, o ICOMOS e o DOCOMOMO lançaram um programa para
” (ZANCHETI, 2014, p.12)
57
2.3 PRÉDIOS EMBLEMÁTICOS
A conservação integrada, definida pela Declaração de Amsterdam (1975), " é o resultado da ação conjugada das técnicas da
restauração
e
da
pesquisa
de
funções
LISTA PATRIMONIO MODERNO UNESCO
apropriadas[...]”(PEDROSA, 2011, p. 87). A ideia central da
A Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO (World Heritage
conservação integrada é que a preservação não pode ser
List – WHL) são listados os bens que possuem Valor Universal
desvinculada da atualização das cidades.
Excepcional (Outstanding Universal Value). Seu valor “transcende as
Os planos de conservação devem apresentar uma
fronteiras nacionais e se reveste de caráter inestimável para as
estratégia mais abrangente de gestão e de conservação do bem,
gerações atuais e futuras” (UNESCO apud SILVA, 2012, p.3). Equivale
analisando os elementos formais e tipológicos e identificando seus
a confirmação de um patrimônio comum, compartilhado entre
principais valores, que são fundamentais para nortear as decisões e
todos os países. A Convenção do Patrimônio Mundial enquadra
as propostas. É preciso construir um diálogo com os diversos atores
esses bens na categoria de patrimônio cultural, a intenção da
que possuem contato com o bem.
conservação neste meio é conservar o valor.
Para
o
conservador
James
S.
Kerr,
os
planos
de
Se o valor se perde, o motivo da preservação do bem
conservação “...estabelecem o que é significante em um lugar e,
também é perdido. As informações sobre cada candidatura são
consequentemente, quais políticas são mais apropriadas para
avaliadas por organismos técnicos consultivos, e a aprovação final
permitir a manutenção da significância em usos e desenvolvimentos
é feita anualmente pelo Comitê do Patrimônio Mundial, integrado
futuros ” (KERR apud ZANCHETI, 2011, p. 1). A significância resulta de
por representantes de 21 países. Atualmente, a Lista possui 814 bens
um conjunto de valores definidos segundo o julgamento e a
culturais registrados, destes, apenas 30 são exemplares da
validação social de significados passados e presentes do bem. Deste
arquitetura moderna. Entre eles, estão as Propriedades residenciais
modo, o julgamento é feito no presente, e utiliza significados e
modernistas de Berlim e a Villa Tugendhat.
valores apoiados em instrumentos de memória reconhecidos pela As Propriedades residenciais modernistas de Berlim (Imagem
sociedade (ZANCHETI, HIDAKA, RIBEIRO, & AGUIAR, 2009).
56 e 57) são compostas por seis conjuntos residenciais Gartenstadt Falkenberg (Treptow), Siedlung Schillerpark (Wedding), Großsiedlung Britz (Neukölln), Wohnstadt Carl Legien (Prenzlauer Berg), Weiße Stadt (Reinickendorf) e Großsiedlung Siemensstadt (Charlottenburg e
58
Imagem 56 e 57. Propriedades residenciais modernistas de Berlim
Spandau). Foram construídos devido à carência habitacional após a Primeira Guerra Mundial e testemunharam as políticas inovadoras de 1910 a 1933, especialmente durante a República de Weimar. As seis propriedades foram selecionadas com base em seu significado histórico, arquitetônico, artístico e social. Os conjuntos habitacionais foram inscritos na Lista do Patrimônio Mundial (World Heritage List – WHL) no ano de 2008. Segundo a UNESCO, seu reconhecimento como patrimônio aconteceu através dos critérios de identificação ii e iv: "Critério (ii): Os seis bairros de Berlim oferecem uma excelente expressão de um amplo movimento de reforma imobiliária que contribuiu decisivamente para melhorar as condições de habitação e de vida em Berlim. A sua qualidade de design urbano, arquitetônico e de jardim, bem como as normas habitacionais desenvolvidas durante o período, serviram de orientação para as habitações sociais construídas desde então, tanto dentro como fora da Alemanha. Critério (iv): Os seis bairros de Berlim são exemplos excepcionais de novas tipologias urbanas e arquitetônicas, concebidas na procura de melhores condições de vida social. Novas soluções de design e inovações técnicas e estéticas foram incorporadas pelos principais arquitetos modernos que participaram de seu projeto e construção." (WHL/UNESCO, 2008, tradução nossa)
Embora ocorreram reconstruções e mudanças interiores, seu atual estado de conservação alcançam um padrão de integridade e autenticidade. A proteção ao bem é assegurada pela legislação
FONTE: WHL. 2017.
59
em vigor, em especial pela Lei de Berlim sobre a Preservação dos Lugares e Monumentos Históricos (WHL/UNESCO,2008).
Imagem 58 e 59. Villa Tugendhat, Mies van der Rohe.
Outro projeto reconhecido na WHL é a Villa Tugendhat (Imagem 58 e 59), projetada pelo arquiteto Mies van der Rohe no ano de 1930, em Brno (República Tcheca). Esta obra é um exemplo do movimento moderno desenvolvido na Europa durante a década de 1920. O valor da obra está na aplicação de conceitos estéticos e espaciais inovadores que visavam satisfazer as novas necessidades do estilo de vida. Em 2011 foi inscrito na Lista do Patrimônio Mundial (World Heritage List – WHL), segundo os critérios de identificação i, ii e iv: "Critério (i): A Villa Tugendhat é uma obra-prima do Movimento Moderno na arquitetura. Critério (ii): O arquiteto alemão Mies van der Rohe aplicou os novos conceitos radicais do Movimento Moderno triunfantemente na Villa Tugendhat para a concepção de edifícios residenciais. Critério (iv): A arquitetura foi revolucionada pelo Movimento Moderno na década de 1920 e o trabalho de Mies van der Rohe, personificado pela Villa Tugendhat, desempenhou um papel importante na sua difusão e aceitação mundial." (WHL/UNESCO, 2008, tradução nossa)
No final dos anos 1970, e durante os primeiros anos da década de 1980, a Villa Tugendhat passou por intervenções para FONTE: WHL. 2017.
auxiliar a sua preservação, juntamente com outras obras do Movimento Moderno.
60
PLANO DE CONSERVAÇÃO
de intervenção, o modelo de gestão da conservação e as primeiras aplicações do Plano Diretor de Conservação do Conjunto
O Conjunto Franciscano de Olinda (Imagem 60) é formado
Franciscano de Olinda (ZANCHETI; LORETTO; MOREIRA; TINOCO, 2011,
pelo Convento de Nossa Senhora das Neves e pela Ordem Terceira
p. 2).
de São Francisco, foi fundado em 1585 e está inserido no sítio histórico
Imagem 61. Estudo de usos e fluxos do Plano Diretor de Conservação.
da Cidade de Olinda. É protegido nacionalmente desde 1938 pelo Iphan e inscrito em 1982 na lista Patrimônio Cultural da Humanidade. Imagem 60. Conjunto Franciscano de Olinda.
FONTE: CECI. 2011. FONTE: CECI. 2011.
O objetivo desse plano foi de recompor a estrutura e a
O CECI - Centro de Estudos Avançados da Conservação
ornamentação do bem, para isso foram realizados estudos
Integrada, produziu um Plano de Conservação (Imagem 61 e 62)
preliminares que consistiram no levantamento dos danos, do
para esse conjunto. O trabalho executado apresenta a formulação
microclima, do suporte, da camada pictórica e do douramento e na
da declaração de significância cultural, a avaliação do estado de
pesquisa e identificação de intervenções anteriores. A metodologia
conservação dos atributos físico-materiais, as diretrizes e os objetivos
e procedimentos adotados alcançou um resultado satisfatório para
61
se promover a recomposição da imagem e da estrutura desse bem,
Imagem 62. Estudo de usos e fluxos do Plano Diretor de Conservação.
sem necessitar de reconstruções e reintegrações. O Plano Diretor de Conservação propõe, a manutenção do Conjunto Franciscano como um bem destinado à prática religiosa, especialmente o culto e o ensino, mas capacitado a fornecer serviços culturais à comunidade. Para isso o plano consistiu na elaboração de uma proposta que atendesse os objetivos definidos, realistas e executáveis estabelecidos entre projetistas e proprietários. "Percebe-se também, que os planos de conservação e a significância cultural de bens patrimoniais podem se constituir em instrumentos contingentes e transitórios, mas capazes de servir como referencial para a formação de acordos e consensos parciais entre os agentes sociais envolvidos no processo de conservação e abarcar a complexidade na qual a conservação de tais bens encontra-se mergulhada" (ZANCHETI; LORETTO; MOREIRA; TINOCO, 2011, p. 9).
FONTE: CECI. 2011.
62
Imagem 64. Localização do Edifício Breda no bairro do Centro.
3.1 CONTEXTO HISTÓRICO O Edifício Breda está situado no centro de Maceió (Imagem 63), especificamente entre as ruas Loteamento Bráulio Cavalcante e Doutor Luís Pontes de Miranda, n. 42, na cidade de Maceió – AL (Imagem 64). A edificação possui o lote em formato triangular (cabeça de quadra) com uma área construída de 10.561,37 m². Está inserido na Zona Especial de Preservação (ZEP-2), dentro do perímetro de tombamento. A propriedade do prédio tem o regime do direito privado. Imagem 63. Localização do bairro do Centro na Cidade de Maceió
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL. 2017.
O seu entorno é composto por áreas de passagem e permanência, dentre eles a Igreja do Livramento e a Praça Bráulio Cavalcante. A paisagem é predominantemente horizontal, porém há quantidade significativa de edificações verticais com mais de dez pavimentos. As existentes são de uso comercial, em sua maioria, e de serviços. Dentre eles a Agência do Banco do Brasil, o antigo Produban, Edifício Delmiro Gouveia, entre outros. FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL. 2017.
63
O EDIFÍCIO ONTEM
Durante
a
aprovação
do
projeto
houve
grandes
obstáculos, pois, a construção de um edifício vertical era conflitante
A família Breda se firmou na sociedade alagoana através
com a grande oferta de áreas livres disponíveis em toda a cidade. A
de seu pioneirismo imobiliário. Criada a partir da sociedade entre os
aprovação do projeto, deu-se pelo então prefeito Abelardo Pontes
irmãos Gutemberg Breda e Carlos Lobo Moreira, a Imobiliária Breda
Lima. Construído por Waldomiro Breda em 1962, o Edifício Breda foi
Ltda (IBREL), na época, a única empresa em Alagoas que possuía
erguido “sob o símbolo do progresso” (Imagem 66) por dar início ao
contingente de mais de três mil funcionários, trabalhando em
crescimento da construção civil em Alagoas.
diversas obras durante o mesmo período (CAVALCANTE, 2010).
Imagem 66. Anúncio do jornal, no início das vendas das salas.
Sandoval Cajú, prefeito na época da inauguração do edifício, citou em sua autobiografia chamada "O Conversador" o nome da firma construtora da família Breda como "Breda & Irmão", dirigida pelo sr. Gutemberg Breda. Depois da construção do Edifício, a construtora expandiu a cidade para o bairro de Gruta de Lourdes, onde construíram mais de 250 casas. No terreno sobre o qual o Edifício Breda foi erguido, situava-se a residência de Gutemberg Breda (Imagem 65), como possuía uma localização privilegiada, se desfez da mesma em prol da construção do edifício (MENEZES apud CAVALCANTE, 2004). Imagem 65. Fotografia da Rua Doutor Luís Pontes de Miranda no começo do século.
FONTE: O JORNAL. 2010.
Segundo a arquiteta docente, Maria Angélica da Silva, o projeto é de Walter Cunha, desenhista do escritório técnico Walbreda Construções Ltda. Além de sua arquitetura modernista e ousada planta em “V”, o Breda também despertou curiosidade da
FONTE: MISA. 2017.
64
Imagem 67. Edificio Breda na década de 60.
população devido aos seus elevadores, até então nunca vistos por aqui. Além do valor histórico, a edificação tornou-se um ícone e ponto de referência no Centro da cidade, sobretudo por seu entorno predominantemente horizontal na época de construção. O edifício assemelha-se aos arranha-céus construídos nas primeiras décadas do século. Possui estrutura fortemente marcada, fornecendo leituras diferenciadas do embasamento, corpo e coroamento do edifício e sua localização, em uma esquina, confere à edificação maior imponência (SILVA, 1991, p. 155).
O edifício Breda (Imagem 67) foi um dos primeiros exemplares do modernismo alagoano e possui características da arquitetura moderna: a utilização de brise-soleil; robustas colunas circulares as quais ficam expostas; uso de concreto; fachada livre de ornamentação; platibanda; estrutura sobre pilotis, planta livre e aplicação de novos materiais como as pastilhas. As
últimas
décadas
foram
marcadas
por
muitas
transformações no cenário urbano da cidade, sobretudo do centro. Devido a expansão da cidade e o surgimento de outros polos comerciais nos últimos anos, atualmente, no centro prevalecem os estabelecimentos
de
serviços
e
comércio.
Assim
como
as
edificações de grande valor histórico – muitas já tombadas. Para a melhor compreensão do Contexto histórico do Edifício Breda, foi produzido uma linha do tempo iconográfica (Imagem 68) com um recorte temporal, mostrando as modificações desde antes da sua construção até os dias atuais.
65
FONTE: O MISA. 2017.
Imagem 68. Linha do Tempo iconografica.
66
67
68
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL. 2017.
69
O PROJETO ORIGINAL
O Primeiro bloco possui dois pavimentos. No térreo (Imagem 69), a planta é dividida entre o Salão principal com o hall de acesso
Para reconstrução das suas plantas originais foi utilizado um
voltado para Rua do Livramento; e quatro lojas com acessos
Documento de referência – projeto combate a incêndio -
independentes, duas lojas para Rua Doutor Luís Pontes de Miranda e
disponibilizado pelo atual síndico do prédio. A partir dele foi possível
duas para Rua Loteamento Bráulio Cavalcante. O Mezanino
a reconstrução do projeto original (Apêndice 1) para o estudo. A
(Imagem 70) é dividido como na planta do térreo, os acessos dão-
composição volumétrica do prédio é semelhante com as obras
se no interior de cada espaço. No documento de referência, o
modernistas no Brasil. O Edifício possui um único volume vertical,
Mezanino do Salão principal é integrado com o mezanino de uma
dividido em dois blocos, o primeiro é composto do térreo com o
loja. A estrutura livre pode ser notada em ambos os pavimentos.
mezanino; o segundo, abrange o pavimento piso e a cobertura. Imagem 70. Planta Baixa do Mezanino segundo documento de refêrencia.
Imagem 69. Planta Baixa do Térreo segundo documento de refêrencia.
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL. 2017.
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL. 2017.
70
O segundo bloco é composto por dez pavimentos (Imagem 71) mais a cobertura, onde funcionam as salas de escritórios. As
Imagem 71. Planta Baixa do Pav. tipo segundo documento de refêrencia.
áreas das salas possuem dimensões de 12,29m², 13,71m², 15,75m², 17,71m² e a maior com 28m². Para cada sala há um banheiro, iluminado e ventilado através de poço. O conjunto de circulação vertical (Imagem 72 e 73), elevadores e escada, estão agrupados no centro do prédio, mais especificamente na fachada voltada para o Sul, formando uma área de circulação horizontal em formato triangular nos pavimentos. A circulação vertical entre o Térreo e o Mezanino (Imagem 74), encontra-se no lado esquerdo do prédio. Imagem 72. Conjunto de circulação vertical no térreo e 1º andar.
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL. 2017. Imagem 73. Conjunto de circulação vertical nos pav. tipo.
Imagem 74. Conjunto de circulação vertical no Térreo e Mezanino.
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL. 2017.
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL. 2017.
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL. 2017.71
A área de circulação em cada andar articula-se com o
A estrutura do edifício Breda é em concreto armado, com
exterior por meio das esquadrias voltadas para o norte, leste, oeste,
a laje é em concreto maciço. Possui pilares de seção circular
sudeste e o sudoeste, as quais favorecem a luz natural e a ventilação
percorrendo o térreo e o mezanino, facilitando a planta livre. No
cruzada. A cobertura (Imagem 75) é um volume triangular recuado.
pavimento piso somente o pilar central (Imagem 76) é aparente, os
Acima, projetam-se os volumes da caixa d’água e das casas de
outros são imperceptíveis.
máquinas dos elevadores.
Imagem 76: Fotografia mostrando o pilar interno.
Imagem 75. Planta Baixa da Cobertura segundo documento de refêrencia.
FONTE: ACERVO PESSOAL. 2016.
As amplas esquadrias em madeira (Imagem 77 e 78) do tipo correr e basculante ocupam as duas fachadas longitudinais, possuem vidro incolor, o que permite integração do espaço interno com o externo. As fachadas voltadas para o leste, oeste e norte,
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL. 2017.
72
Imagem 76: Esquadria basculante original.
possuem a utilização de brise-soleils verticais e horizontais (Imagem 79), em concreto, para reduzir a incidência da insolação.
Imagem 77: Desenho das esquadrias originais em madeira.
FONTE: ACERVO PESSOAL. 2016. Imagem 79: Utilização de brise-soleil na fachada.
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL. 2017. FONTE: ACERVO PESSOAL. 2016.
73
No projeto original o acesso à edificação se dá por dois
Imagem 80: Planta mostrando os acessos para o hall do prédio.
grandes portões de ferro, um situado na Rua Loteamento Bráulio Cavalcante e o outro na Rua Doutor Luís Pontes de Miranda (Imagem 80 a 82). Ao chegar ao hall, a imponência vista externamente é imediatamente suprimida, devido às dimensões reduzidas do ambiente. Um segundo acesso – voltado para o Térreo e o Mezanino, se dava pela fachada Norte do prédio (Imagem 83). Imagem 81: Acesso na Rua Doutor Luís Pontes de Miranda.
Imagem 82: Acesso na Rua Loteamento Bráulio Cavalcante.
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL. 2017.
Imagem 83: Planta mostrando o acesso para o térreo do prédio.
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL. 2017. FONTE: ACERVO PESSOAL. 2016.
FONTE: ACERVO PESSOAL. 2016.
74
Na maior parte da estrutura do Edifício Breda, é possível
Construído com a principal finalidade de abrigar diversas
encontrar revestimentos originais. No piso das áreas comuns
salas de escritórios, após sua inauguração, o edifício passa a ser
(Imagem 84) e nas paredes (Imagem 85), são encontradas pastilhas
utilizado por profissionais liberais. Durante a década de 60, os
em tons semelhantes – grande parte em bom estado de
profissionais da saúde ocuparam grande parcela do prédio. No
conservação. As escadas possuem os degraus revestidos com
térreo, seu uso esteve voltado para o comércio, enquanto nos
granilite (Imagem 86).
pavimentos superiores permaneceu voltado para o serviço, segundo pesquisas em jornais (Imagem 87).
Imagem 84: Pastilhas das paredes.
Imagem 87. Anúncios de Jornais no ano de 1963.
FONTE: ACERVO PESSOAL. 2016. Imagem 85: Revestimento do piso.
FONTE: ACERVO PESSOAL. 2016. Imagem 86: Revestimento da escada.
FONTE: O JORNAL DE ALAGOAS. 1963. FONTE: ACERVO PESSOAL. 2016.
75
3.2 O PROJETO Atualmente, a galeria (Imagem 89) passou por uma Ao longo do tempo, o edifício sofreu modificações,
mudança, diminuindo a área de circulação da galeria e instalando
alterando do projeto original para o projeto atual (Apêndice 2). As
lojas com acesso direto para a rua. O mezanino (Imagem 90) do
alterações mais significativas aconteceram no pavimento térreo,
térreo também foi modificado para acrescentar um maior número
com a saída da agência da Caixa Econômica Federal, houve
de lojas à atual galeria. Há uma diversidade de lojas e outros
mudanças na estrutura interna do pavimento, dando lugar a uma
estabelecimentos no local, tais como cartório, loja de roupas,
galeria, a Galeria Breda Center (Imagem 88). A formulação da
farmácia, lotérica, entre outros. Com a implantação da galeria e das
planta da Galeria segue a disposição dos pilares e das aberturas,
lojas proporcionou maior movimento e diversidade de usos e serviços
distribuindo as lojas de acordo com a estrutura. Há um hall e o acesso
oferecidos no Edifício Breda, contribuindo para sua permanência.
às lojas dá-se de forma independente aos pavimentos superiores do prédio. Imagem 88. Planta Baixa da Galeria Breda Center.
Imagem 89. Planta Baixa da Galeria Breda Center atualmente.
Imagem 90. Planta Baixa do Mezanino da Galeria Breda Center atualmente.
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL. 2017.
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL. 2017.
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL. 2017.
76
O Primeiro andar da edificação está atualmente ocioso.
No pavimento tipo, atualmente as salas de escritórios
Toda a extensão do andar funcionava um posto municipal de
surgem a partir do 2º pavimento e seguem com a mesma
atendimento odontológico – PAO Breda (Imagem 91). Para a
distribuição do projeto original até o 10º pavimento. Cada
adaptação do pavimento tipo ao posto odontológico, as salas já
pavimento conta com 33 salas, sendo 3 centrais – com dimensões
existentes foram adaptadas e transformadas em consultórios. A
maiores – e 30 distribuídas nas laterais e frente do edifício, com 5
planta atual possui treze salas com banheiros centralizados no
diferentes plantas.
pavimento. Imagem 91. Planta Baixa do posto municipal de atendimento odontológico – PAO Breda.
Imagem 92. Planta Baixa da Cobertura atual, modificada para instalação das associações.
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL, 2017.
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL, 2017.
77
No projeto, para cada sala há um banheiro, iluminado e ventilado
através
de
poço.
Nesses
pavimentos,
as
Produban (AAP) e dos Surdos e Mudos de Alagoas (ASSAL) (Imagem
únicas
92). Essa modificação alargou a construção que já existia na cobertura, diminuindo a área livre nas laterais.
modificações ocorridas são internas as salas. Devido à necessidade de espaço de cada usuário, houve junções entre duas ou mais salas,
O local possui grande potencial paisagístico, devido à sua
sendo possível encontrar esse tipo de intervenção em todos os
extensão visual. Por estar localizado no interior do centro da cidade
pavimentos. Hoje
– com poucos obstáculos visuais, próximo à Praia da Avenida, a visão em
dia, a
cobertura
do
Edifício
Breda
está
da cobertura (Imagem 93 e 94) abrange uma visão panorâmica do centro e dos bairros próximos.
desocupada. No projeto original, a cobertura contava com uma dependência completa para o zelador e foi alterada a cerca de cinco anos para a instalação das associações dos Aposentados do
Imagem 93 e 94: Vista Panorâmica Norte e Sul da cobertura do Edifício Breda.
Edifício Palmares
Edifício Barão de Penedo
Edifício Delmiro Gouveia
Edifício Walmap
Edifício do Banco do Brasil
FONTE: ACERVO PESSOAL, 2016.
78
ENTORNO
Seu entorno recebe grande fluxo de pessoas e veículos durante o dia, porém tal característica dá-se ao dinamismo à área.
O entorno imediato do Edifício Breda possui ruas largas –
O panorama local é composto por pontos de encontro e
Rua Boa Vista; Rua Oliveira e Silva e Rua Dr. Luiz Pontes de Miranda -
permanência, dentre eles a Igreja do Livramento e a Praça Bráulio
e uma praça – Praça Bráulio Cavalcante (Montepio dos artistas),
Cavalcante – Montepio dos artistas. As edificações existentes ao
aumentando o cone visual e melhorando a visualização do prédio
redor são de uso comercial, em sua maioria, e de serviços.
por pedestres e motoristas que circulam ao redor (Imagem 95, 96, 97 e 98). Imagem 95: Vista do prédio na Rua Boa Vista.
FONTE: ACERVO PESSOAL, 2016.
Imagem 96: Vista do prédio na Rua Oliveira e Silva.
Imagem 97: Vista do prédio na Rua Dr. Luiz Pontes de Miranda.
FONTE: ACERVO PESSOAL, 2016.
FONTE: ACERVO PESSOAL, 2016.
79
Imagem 98: Vista do prédio na Praça Bráulio Cavalcante.
FONTE: ACERVO PESSOAL, 2016.
Imagem 100: Linha do tempo com a origem, transformação e estado atual do edifício.
A dificuldade de acesso ao prédio inicia-se já nas ruas que cercam o edifício, devido ao intenso fluxo de pessoas e veículos durante o dia (Imagem 99). Essa situação é agravada pelos carros que ficam estacionados, pela permanência de ambulantes e pelo acúmulo de lixo e entulhos. As calçadas existentes além de serem estreitas, não estão em bom estado de conservação. Imagem 99: Entorno do prédio.
FONTE: ACERVO PESSOAL, 2016.
TRAJETÓRIA DO EDIFÍCIO A linha do tempo a seguir (Imagem 100), apresenta uma ordenação temporal com a origem, transformação e estado atual do edifício. No próximo quadro (Imagem 101) analisa a evolução do entorno imediato do Edifício Breda em diferentes anos.
80
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL, 2017.
CONDICIONANTES FÍSICAS
Imagem 101: Evolução do entorno do Edifício Breda em diferentes anos.
Ao analisar a planta do Edifício Breda, percebe-se certa preocupação quanto ao conforto térmico em seu interior. O partido – recortado e disposição e V – permite a ventilação cruzada, favorecendo a ventilação das salas (Ilustração 102). As aberturas são protegidas por brise-soleil mistos, além de possuírem esquadrias do tipo veneziana, favorecendo a ventilação e proteção da incidência solar. Ao realizar uma análise genérica sobre a insolação, percebese que a fachada Norte e Oeste recebe maior insolação – pelo período da tarde, é possível perceber a importância dos brises na proteção das aberturas. Imagem 102: Condicionantes físicas do Edifício Breda.
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL, 2017.
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL, 2017.
81
USOS ATUAIS
O uso das salas apresenta certa diversidade, sendo possível encontrar consultórios, lojas variadas, empresas, escritórios de
O edifício Breda é um prédio comercial localizado no
contabilidade e, em maioria, escritórios de advocacia, como
Centro de Maceió, seu pavimento térreo é ocupado na maioria por
demonstra o gráfico com levantamento de usos (Imagem 103). Das
comércios – devido a sua proximidade com a rua, e os demais
297 salas existentes, 185 encontram-se ocupadas, entende-se como
andares destinam-se para escritórios. Por se localizar em uma área
40% do prédio. Os pavimentos mais altos possuem maior índice de
com grande incidência de comércio e serviço, e manter-se em
salas sem utilização, como observamos na tabela de ocupação
funcionamento é muito utilizado. De acordo com o levantamento,
(Tabela 1), essa particularidade pode estar aliada aos elevadores,
foi possível traçar o perfil de uso da edificação, assim como a
que até ano passado eram antigos e ineficazes.
quantidade de salas ocupadas e desocupadas (Apêndice 3).
Tabela 1: Tabela de ocupação do Edifício Breda. Imagem 103: Gráfico de usos do Edifício Breda.
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL, 2017. FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL, 2017.
82
LEGISLAÇÃO
Segundo o Art. 49, Lei Municipal n° 5.593/2007 - Código de Urbanismo e Edificações do Município de Maceió, entende-se como
O Edifício Breda está localizado no centro histórico da
Setor de Preservação Rigorosa 1 o espaço urbano contendo
cidade de Maceió, a legislação de proteção vigente sobre o prédio
qualquer edificação ou conjunto de edificações, designadas como
é a municipal, inserido no Setor de Preservação Rigorosa 1(SPR-01)
patrimônio cultural edificado, sujeitos a um rígido controle de
da Zona Especial de Preservação Cultural 2 (ZEP-2) (Imagem 104). Dentro do perímetro de tombamento é o imóvel 132, dos 181 imóveis reconhecidos. Como um bem cultural, o edifício não tem proteção legal, mas recebe proteção desde 2005 - quando foi determinando o Plano Diretor do Município de Maceió, por estar dentro do polígono de delimita a área de proteção. Imagem 104: Mapa com a delimitação do SPR-01, no entorno do edifício.
FONTE: SEMPLA, 2017.
83
ESTUDO DOS DANOS NA ENVOLTÓRIA DO EDIFÍCIO
intervenções, de modo que as mesmas não interfiram nas suas características ou que provoquem o seu perecimento.
Os danos são decorrentes de patologias ou ações de
No Art. 54 da mesma Lei, a Zona de Preservação Cultural 2
descaracterização do bem. Na envoltória do Edifício Breda foram
– Centro "é constituída pelo sítio histórico do Centro, tendo sua
encontrados danos de diferentes naturezas, causados por ações
preservação direcionada à vocação comercial, de moradia, de
intencionais ou pela falta de manutenção que gerou deterioração.
lazer, de cultura e de turismo."
Por não haver controle quanto às intervenções na envoltória do edifício, cada proprietário faz as mudanças necessárias às suas necessidades. O Quadro 1 apresenta os danos encontrados nas
O Art. 55, Lei Municipal n° 5.593/2007, diz:
fachadas do Edifício Breda. As fontes para se obterem essas
"Art. 55. A Zona Especial de Preservação 2 (ZEP-2
informações foram o próprio edifício, por meio da leitura dos
Centro) divide-se nos seguintes setores:
componentes construtivos; e dos usuários, com entrevistas para identificar os problemas.
I – Setor de Preservação Rigorosa 1 (SPR-1), a área constituída pelo núcleo histórico do Centro de
Em campo, foram realizados esboços e capturas de
Maceió, que mantém a morfologia urbana e a
imagens fotográficas, sem ações invasivas e destrutivas. As visitas
tipologia das edificações de interesse histórico e
aconteceram entre agosto de 2016 a janeiro de 2017. Identificaram-
arquitetônico [...]"
se os tipos de danos e sua extensão nas diversas superfícies da envoltória, mas não foram definidas condutas específicas para cada tipo dano. Após a identificação dos tipos de dano, foi feito um mapeamento que possibilita localizá-los em cada fachada. As informações foram sintetizadas nos Mapas de Identificação de Danos (Apêndice 4).
84
Quadro 1: Danos existentes na envoltória do Edifício Breda.
85
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL, 2017.
86
4.1 SIGNIFICANCIA CULTURAL, ATRIBUTOS, VALORES E INTEGRIDADE
passagem – acarretando uma visão efêmera e um dono de imóvel no prédio, este último importante por trazer valores e pensamentos de pertencimento ao lugar.
Para a construção da declaração de significância (DS) do
Para esse questionário foram elaboradas Declarações
Edifício Breda, foi realizada duas etapas. A primeira consistiu em uma
condutoras
pesquisa histórica aos acervos e arquivos locais, físicos e virtuais, para
(afirmações),
conforme
os
atributos
e
valores
encontrados na identificação do objeto de estudo, de modo a
o levantamento e registro das fontes primárias relacionadas ao
serem apreendidos os sentidos e registros de memória e os valores
objeto de investigação, como também visita ao local com a
do grupo focal escolhido.
intenção de identificar os seus valores e atributos para, em seguida, na segunda etapa, hierarquiza-los junto aos usuários do prédio.
PRIMEIRA ETAPA: IDENTIFICAÇÃO DOS ATRIBUTOS E
Para esse trabalho, o julgamento dos valores aconteceu de
VALORES
forma técnica, para minimizar o viés, uma vez que o procedimento de avaliação dos valores e atributos por especialistas não
O resultado do procedimento da análise de conteúdo
aconteceu. A hierarquização dos valores ocorreu com um
obteve informações relevantes para a construção da declaração
questionário contendo declarações condutoras e respondido por
de
usuários ativos do prédio.
significância
do
bem.
Esta
metodologia
resultou
na
categorização de valores e atributos relacionados ao Edifício Breda,
Essa avaliação produz uma pesquisa de forma qualitativa e
explanado no Quadro 2.
não quantitativa. O grupo focal escolhido para esse procedimento
Concluído o quadro, foram contabilizados 11 atributos,
foram de usuários que possuem/possuíram contato com o prédio,
materiais e imateriais, englobados em 6 valores. Segue a lista de
com a intensão de absorver os valores atribuídos ao prédio ao logo
atributos e valores identificados (Valor, atributo, descrição e foto).
do tempo. O grupo focal seguiu a seguinte ordem: um usuário que trabalha atualmente no prédio – apresentando noções do tempo presente; um usuário que trabalhou no prédio – trazendo reminiscências do tempo passado; um usuário que utiliza o prédio – apresentando memórias de tempos variados; um usuário de
88
Quadro 2: Quadro com os atributos e valores identificados do edifĂcio Breda.
89
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL, 2017.
90
SEGUNDA ETAPA: HEIRARQUIZAÇÃO DOS ATRIBUTOS E
atributo para a conservação da significância cultural do bem em
VALORES
questão. A seguir, a tabela com o resultado obtido:
A lista de atributos e valores apresentada na tabela foi
Tabela 2: Lista de Atributos por ordem de importância e seus respectivos pesos para conservação da significância cultural.
organizada em um documento com instruções de preenchimento (Apêndice 5) para ser entregue aos usuários a fim de hierarquizá-los. Nesta etapa mostrou que, apesar de estar utilizando valores numéricos para expressar o peso dos valores, a avaliação é mais qualitativa do que quantitativa. A escala de variação proposta, 1 a 5, dá ao usuário a opção de concordar ou discorda totalmente (5 ou 1) ou parcialmente (4 ou 2). O objetivo da escala gradual é permitir que os respondentes expressem a direção e a intensidade de opinião referente a determinado item. O resultado expressa o grau de concordância ou discordância em que isto se dá, se é total ou parcial. Sabendo que os valores e significados podem modificamse com o passar dos anos, gerando novos valores ou perdendo significados. A pesquisa ocorreu com o grupo focal que o utilizaram em diferentes épocas e possuem diferentes tipos de ligações com o prédio, para garantir que os valores encontrados não possuam a barreira do tempo.
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL, 2017.
O resultado (Tabela 2) foi alcançado a partir de uma média aritmética simples entre as respostas dadas pelos usuários, resultando em uma nota média. A partir deste resultado, foi possível elaborar uma nova lista, desta vez, por ordem de importância de cada
91
DECLARAÇÃO DE SIGNIFICÂNCIA DO EDIFICIO BREDA
Para facilitar a compreensão e interpretação do resultado obtido, a lista foi dividida em três grupos, em que os atributos foram
O
separados por similaridade da média alcançada: 5,00 a 4,00
Edifício
Breda construído
em
1962/3
encontra-se
localizado no bairro do Centro, em Maceió - AL. Reconhecido como
(amarelo); 3,40 a 3,20 (laranja) e 2,80 a 2,20 (vermelho).
Imóvel histórico situado dentro da delimitação do Setor de
O primeiro grupo (em amarelo), composto pelos atributos
Preservação Rigorosa 1(SPR-01) na Zona Especial de Preservação
de edificação em altura; uso misto; desenho de planta em “V”;
Cultural 2 (ZEP-2), escrita no Plano Diretor do Município de Maceió
pilotis; permeabilidade visual e planta livre, que deteve o maior peso
em 2005. A obra carrega o valor histórico por ser o primeiro prédio
de importância para a conservação da significância do Edifício
modernista no estado de Alagoas e por participar da verticalização
Breda, concluindo que esses atributos estão com seus significados
do centro. O projeto desenvolvido pelo desenhista Walter Cunha,
inalterados.
consiste em uma edificação em altura implantada em lote triangular com fachada livre, apresenta características adotadas pelo estilo
O segundo grupo (em laranja), composto pelo uso de
moderno no Brasil, materializando-se três pontos do movimento
concreto armado e vidro; Brise-soleis em concreto e por possuir
moderno: Pilotis, Fachada livre e Planta Livre. Os valores de
atividade comercial, obteve pesos elevados, porém, não tanto
concepção estão expressos no prédio com a regularidade da
quanto o grupo anterior, coincide com os atributos que estão presentes,
porém,
atualmente
estão
com
seu
planta com solução em V, inovadora para época e além disso
significado
emprega a desvinculação entre estrutura e paredes divisórias,
prejudicado.
oferecendo uma maleabilidade interna conhecida como planta O último grupo (em vermelho), composto pelos atributos de
livre. O projeto possui a fachada livre, priorizando as linhas retas sem
edificação triangular de gabarito elevado em lote de esquina e
o uso de ornamentos, na fachada frontal existe um pilotis com uma
fachada Livre, obteve as menores médias, em grau de importância,
área permeável, tanto visualmente quanto fisicamente. Os espaços
para a conservação da significância. Coincidentemente, este grupo
internos do edifício são favorecidos com luz e ar por meio das amplas
está ligado ao uso e visualização externa do prédio, pode-se
esquadrias, criando uma permeabilidade visual e permitindo uma
interpretar que apesar do prédio estar atualmente em uso, dando
“apropriação” da paisagem e da vista, estabelecendo um
um significado que se perpetua no tempo em termos de memória, a
elemento de interação. Suas fachadas são protegidas por brise-
atividade também degrada e prejudica o bem, colocando em risco
soleils verticais e horizontais em concreto, exteriorizando o valor
outros atributos e valores, como seu volume externo.
estético. Enquanto funções, o prédio organiza-se em partes, o
92
4.2 O PLANO DE CONSERVAÇÃO
serviço está nos andares superiores e o comércio no pavimento térreo, apresentando ligação com a rua. O prédio possui a mesma
Tendo em vista o objetivo principal do trabalho que é a
função para a qual ele foi projetado, atualmente ativo e situado em
conservação
um centro comercial, detém o valor de uso. O valor Tecnológico, dá-
particular,
se por meio do concreto e vidro, materiais empregados no prédio,
das
características
Desenvolveu-se
moderna,
em
um
de
Plano
Segundo a Carta de Veneza, 1964, em seu artigo 3º, “a
aplicados principalmente nas obras da corrente moderna. Pela parte
Breda.
arquitetura
conservação da significância do bem.
volumétrica, a transparência e a integração com o exterior, maior
Edifício
da
guiar as ações necessárias para promover os atos que garantirão a
maneira mais racional e econômica contribuindo com a leveza
da
do
significância
Conservação a partir da Declaração de significância, que pretende
simbolizavam uma nova forma de construir para época, uma
permanência
da
conservação
modernas
e
a
restauração
dos
monumentos
visam
a
salvaguardar tanto a obra de arte quanto o testemunho histórico. ”
presentes desde a sua construção, por sua arquitetura representar
Logo em seguida destaca a importância da manutenção para
um momento significativo da história de Alagoas foi atribuído ao
promover a conservação.
Edifício Breda valor de patrimônio cultural de Maceió/AL.
"Artigo 4º - A conservação dos monumentos exige, antes de tudo, manutenção permanente. Artigo 6º - A conservação de um monumento implica a preservação de um esquema em sua escala. Enquanto substituir, o esquema tradicional será conservado, e toda construção nova, toda modificação que poderiam alterar as relações de volumes e de cores serão proibidas. Artigo 7º - O monumento é inseparável da história de que é testemunho e do meio em que se situa. Por isso, o deslocamento de todo o monumento ou de parte dele não pode ser tolerado, exceto quando a salvaguarda do monumento o exigir ou quando o justifiquem razões de grande interesse nacional ou internacional." (ICOMOS, 1964, p.2)
93
A Carta de Veneza afirma que a conservação está
Segundo a Carta de Burra, existe etapas para a construção
diretamente relacionada com a manutenção, à medida que a
do plano de conservação efetivo, a mesma ainda enfatiza a
restauração - como entendemos, é uma ferramenta que deve ser
importância da participação das pessoas que possuem algum tipo
evitada e utilizada em último caso, como exposto na própria carta
de envolvimento com o bem. "O significado cultural de um sítio, e outras
de Veneza: "Artigo 9º - A restauração é a operação que dever
questões que afetem o seu futuro, ficam melhor
ter carácter excepcional. Tem por
objetivo
compreendidos por uma sequência de recolha e
conservar e revelar os valores estéticos e históricos
análise de informações antes da tomada de
do monumento e fundamenta-se no respeito ao
decisões. Primeiro vem a compreensão do
material original e aos documentos autênticos.
significado cultural, depois o desenvolvimento da
Termina onde começa a hipótese; no plano das
política e, finalmente, a gestão do sítio de acordo
reconstruções
com essa política." (UNESCO, 1999, p.9)
conjeturais,
todo
trabalho
complementar reconhecido como indispensável
O plano de conservação deve não só corrigir os danos e
por razões estéticas ou técnicas destacar-se-á da
patologias atuais que afetam seus valores, como também propor
composição arquitetônica e deverá ostentar a
ações futuras para que sua significância não seja perdida. Contudo,
marca do nosso tempo. A restauração será
apesar do ato de conservar a significância ser voltada para os
sempre precedida e acompanhada de um estudo
arqueológico
e
histórico
valores simbólicos, " as ações de proteção são preponderantemente
do
voltadas para os atributos físico-materiais" (ZANCHETI; LORETTO;
monumento."(ICOMOS, 1964, p.3)
MOREIRA; TINOCO, 2011, p. 2). A Significância só é reconhecida a partir da construção de
Partindo do pressuposto de que a conservação de um bem
uma declaração de significância, que é um recorte temporal dos
está agregada à “[...]compreensão do seu significado cultural” (UNESCO,
1999,
p.9),
desenvolveu-se
então
um
Plano
significados atribuídos. De tal modo, o plano de conservação busca
de
a manutenção das condições de interpretação da significância,
Conservação que pretende, de forma prática, guiar as ações
passada e presente, pelas gerações atuais e futuras.
necessárias para promover os atos que conduzam a permanência
Sobre
do bem.
a
conservação
em
imóveis
privados,
frequentemente, o proprietário do bem desconhece o seu valor ou não entende a importância de conservá-lo. Quando seu imóvel está
94
dentro de alguma lei de tombamento ou de proteção, entende
do prédio, e suas diretrizes foram elaboradas objetivando este
como um prejuízo e a inevitável degradação de seu imóvel ao invés
resultado.
da preservação como se esperaria. Acabam imobilizados com a
Quadro 3: Quadro relacionando os valores e os danos encontrados no edifício Breda.
decisão pela proteção oficial dos seus bens e desconhecem o que podem e o que não podem fazer para conservar o mesmo. Por isso, o desenvolvimento e aplicação de um Plano de Conservação pode se configurar como uma ferramenta para auxiliar a efetiva conservação do patrimônio.
O PLANO DE CONSERVAÇÃO DO EDIFÍCIO BREDA O plano estabelece princípios, procedimentos e diretrizes para a conservação da Significância do Edifício Breda, norteando as futuras intervenções espaciais neste edifício. Foi projetado com as informações e resultados preliminares apresentados nas etapas anteriores e, principalmente, da construção da significância cultural que resultou na declaração de significância do Edifício Breda. A etapa de validação dos atributos, listados anteriormente, foi determinante para a elaboração das diretrizes, pois possibilitou uma leitura e interpretação mais clara dos atributos, seus valores, significados e importância para a conservação do bem em questão. Cada atributo foi analisado individualmente, relacionando o seu valor e os danos encontrados (Quadro 3). A partir disso, as estratégias para assegurar a conservação dos valores e significados
FONTE: ELABORAÇÃO AUTORAL, 2017.
95
O plano de conservação está estruturado em três tipos de
As ações de Preservação, visa à conservação dos atributos
manutenção – preventiva; corretiva e emergencial. Além de propor
e valores presentes na edificação, o aumento da sua vida útil,
ações visando a manutenção, o mesmo propõe uma gestão com
diminuindo a necessidade de ações de manutenção corretiva e de
rotinas de inspeção para identificar problemas ou danos que
intervenções de restauro. Segundo a Carta de Burra, entende-se
venham a surgir, e aconselha a contratação de profissional
como preservação “manter-se a fábrica12 de um sítio13 no seu estado
habilitado a fazer um diagnóstico detalhado e propor e/ou executar
existente e retardar-se a sua deterioração. ” (UNESCO, 1999, p.6)
tratamentos mais complexos e específicos.
As recomendações de Restauro que também compõem o
No Plano, as ações de intervenção física e espacial no
plano, correspondem a um conjunto de ações de manutenção
prédio foram colocadas em uma linha do tempo, de acordo com a
necessárias após a verificação de determinadas ocorrências que
classificação de risco sobre seus atributos e valores – desde os
venham a impedir o pleno desempenho do edifício ou sua
significados inalterados até os degradados que prejudicam o bem,
deterioração. O Restauro compreende a “reversão da fábrica
distribuindo-se em prioritárias e de médio ou longo prazo. Outro
existente de um sítio a um estado anterior conhecido, pela remoção
ponto Importante é que nem todos os valores reconhecidos podem
de acrescentos ou pela remontagem de componentes [...].”
ser
(UNESCO, 1999, p.6)
conservados
diretamente,
por
serem
valores
simbólicos.
Conforme demonstrada a Carta de Burra, a significância incorpora
Sendo que a maior parte das recomendações é referente
todos os elementos que contribuem para sua significância, e não
à Reconstrução, significa “a reversão de um sítio a um estado
somente ao aspecto físico-espacial. Contudo, a conservação da
anterior conhecido e distingue-se do restauro pela introdução de
obra afeta diretamente nesse valor, quando conservamos o prédio
material novo na fábrica ” (UNESCO, 1999, p.6). As ações destinadas
fisicamente – aumentando sua vida útil -
à essa ação garantem as condições de segurança e interrompem
indiretamente
conservamos seus significados. No plano de Conservação do Edifício
imediatamente
ou revertem
a
degradação da
Breda, foram propostos três tipos de ações, com nomenclaturas e
consequentemente, dos seus atributos e valores.
edificação,
significados de acordo com a Carta de Burra: Preservação, Restauração e Reconstrução.
"Fábrica significa todo o material físico do sítio incluindo os componentes, os acessórios, os conteúdos e os objectos." (UNESCO, 1999, p.5)
"Sítio significa lugar, área, terreno, paisagem, edifício e outras obras, grupo de edifícios ou de outras obras, e pode incluir componentes, conteúdos, espaços e vistas." (UNESCO, 1999, p.5)
12
13
96
PLANO DE CONSERVAÇÃO DO EDIFÍCIO BREDA
d. Troca/manutenção das borrachas antiderrapantes das escadas; 2. Para conservação do Valor de concepção e estético:
DEFINIÇÕES GERAIS:
a. Pintura da fachada com produtos que não alterem as características dos materiais originais.
Implantação de um Setor responsável para gerir as intervenções no prédio;
Projeto e execução dos sistemas de segurança contrafogo,
II) Restauro:
segurança ao uso e de acessibilidade;
1. Para
Promover maior utilização do edifício sem afetar seu
do
Valor
tecnológico,
os
danos
encontrados como a estrutura exposta e perda de reboco
significado.
conservação
será feito tratamento específico para interromper o processo
Devem ser feitos ciclos de manutenção, para monitorar e
da ferrugem e a reabilitação e impermeabilização da laje de
registrar resultados com frequência regular a fim de
coberta;
documentar o estado de conservação ao longo do tempo.
2. Para conservação do Valor de concepção e estético, serão propostas as seguintes ações:
DEFINIÇÕES ESPECÍFICAS:
a. Limpeza,
reabilitação/substituição
e
impermeabilização dos elementos em concreto I) Preservação:
aparente componentes da fachada – brises-soleis e marquises;
1. Para conservar o valor de uso, melhorando a qualidade na
b. Substituição
permanência dos usuários dentro do prédio, serão feitos: a.
das
esquadrias
de
alumínio
por
esquadrias de madeira com o mesmo desenho e
Ajustes na especificação de vidro para as esquadrias
mecanismo das esquadrias originais;
obtendo-se um melhor desempenho térmico;
c. Manutenção
b. Projeto de restauro do sistema hidrossanitário;
das
características
estéticas
revestimentos atuais;
c. Recuperação do sistema de instalação elétrica;
d. Retirada dos ares-condicionados tipo janela das fachadas;
97
dos
3. Para conservação do valor de uso, será feita a readequação da iluminação nas áreas de circulação de todo o edifício, como também a recuperação dos revestimentos internos;
III) Reconstrução: 1. As ações visando a conservação do valor de Concepção e estético: a. Retirada dos elementos que obstruem a fachada – placas, faixas e avisos; b. Reabilitação da estrutura e concreto aparente no interior e exterior do edifício; c. Recuperação do sistema de instalação elétrica, retirando as instalações expostas na fachada;
d. Controle dos danos nas fachadas do edifício.
98
CONSIDERAÇÕES FINAIS Este Trabalho Final de Graduação apresentou-se como um
modificações que nele foram realizadas; e no que diz respeito à
aprendizado sobre a temática do da conservação a partir da
legislação, elucidou sobre as leis que incidem no objeto.
construção da significância cultural do bem. Compreendeu-se a
Realizando o cumprimento do segundo objetivo, o processo
importância de um estudo teórico para gerenciar ações que visam
para identificação dos atributos, valores e significados foi construído
a conservação de um bem, para que elas não ocorram de forma
a partir da intersubjetividade do bem, através da interpretação de
arbitrária. Deste modo, o trabalho se propôs a construir um Plano de
registros de conhecimento. Nesta fase, mesmo não obtendo acesso
Conservação do Edifício Breda.
em documentos relevantes sobre o prédio, não invalidou o processo
A pesquisa foi desenvolvida a partir de cinco objetivos
metodológico adotado e nem o resultado que foi alcançado
específicos: a) analisar a trajetória histórica do prédio a fim de
através dele. Como o trabalho não empregou a etapa de validação
reconhecer as permanências e mudanças ocorridas ao longo dos
da significância cultural feito por especialistas, para diminuir o viés,
anos; b) identificar e caracterizar os atributos material e imaterial
empregou-se uma pesquisa com um grupo focal que possuem
identificando valores e significados; c) analisar a relação dos atores
ligação direta com o bem. Neste trabalho, a hierarquização dos
envolvidos com os atributos com a finalidade de validar os valores e
atributos e valores foi executada em uma única etapa, que contou
significados; d) elaborar uma declaração de significância; e)
de um questionário respondido pelo grupo focal, a respeito dos
construção do plano de conservação.
atributos listados na intenção de dispor os atributos e valores por
Para se obter a caracterização do Edifício Breda, foi
ordem de importância.
realizada uma revisão bibliográfica e iconográfica acerca do
A declaração de significância, por consequência, resultou
histórico do prédio. O trabalho abordou o contexto histórico do
dos atributos e valores identificados e hierarquizados através da
prédio, que discorreu sobre o contexto social em que foi inserido, sua
metodologia utilizada.
construção e sua relevância na verticalização do centro e,
possui um período em que é válida, pois, utilizar valores e significados
consequentemente, a importância da sua conservação como
atuais, precisando ser revista daqui a algum tempo. Assim, para a
registro de memória. O prédio atualmente, em que explanou seu
construção do Plano de Conservação, o principal objetivo deste
atual estado físico-material, assim como algumas intervenções e
trabalho, fundou-se na significância cultural do bem, construída a
Contudo, a declaração de significância
partir da intersubjetividade do objeto. Com isso, se puderam propor
99
diretrizes gerais e específicas a serem consultadas para a efetiva conservação do prédio. Esse trabalho nasceu do anseio em trabalhar um tema significante e que ainda não tivesse sido explorado na graduação. O esperado com sua conclusão, que o trabalho possa contribuir para o estudo da temática da conservação
da arquitetura
moderna, valores e significância cultural. Como também para a própria autora que pretende continuar pesquisando sobre.
100
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARGAN, Giulio Carlo. A arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
MACEIÓ. Lei Municipal Nº 5486 de 30/12/2005. Plano Diretor do Município de Maceió, Maceió, 88p, 2005.
BENEVOLO, Leonardo. História da Arquitetura Moderna. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001.
________. Lei Municipal Nº 5.593, de 08 de Fevereiro de 2007. Código de Urbanismo e Edificações do Município de Maceió, Maceió, 172p, 2007.
BEZERRA, Luanne de Amorim. Valores e Significados do Sítio Histórico do Centro de Maceió/AL: Diretrizes para o plano de Gestão da Conservação Urbana. 2013. 97p. Monografia (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2013.
MINDLIN, Henrique. Arquitetura moderna no Brasil. 2ª edição, Rio de Janeiro, Aeroplano, Iphan, Ministério da Cultura, 2000.
BRANDI, Cesare. Teoria da restauração. Coleção Cantos do Rio, 3ª edição, São Paulo, Ateliê Editorial, 2008.
PEDROSA, Patrícia Coelho. Significância Cultural como Critério para Conservação do Patrimônio Mundial. 2011. 236p. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Urbano) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano (MDU), Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2011.
CAJU, Sandoval. O Conversador (memórias). 2001. Disponível em: < http://www.caju.org/oconversador/>. Acesso em: 20 nov 2016. COELHO, Alessandra; ODEBRECHT, Silvia. Arquitetura moderna: reconhecimento e análise de edifícios representativos em Blumenau, SC. Dynamis revista tecno-científica, Santa Catarina, vol.13, n. 1, p. 46- 58, 2007. Disponível em: <http://proxy.furb.br/ojs/index.php/dynamis/article/view/370/347>. Acesso em: 02 jul 2016. FERRAZ, Eucanaã. A proposta modernista: ruptura cultural. Revista Brasileira, Rio de Janeiro, Ano I, n. 72, p. 43-56, 2012. Disponível em: <http://www.academia.org.br/sites/default/files/publicacoes/arquivos/revis ta-brasileira-72.pdf>. Acesso em: 02 jul 2016. FRAMPTON, Kenneth. História Crítica da Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2003. ICOMOS. 2013. The Burra Charter. Disponível em: <http://australia.icomos.org/wpcontent/uploads/The-Burra-Charter-2013Adopted-31.10.2013.pdf>. Acesso em: 14 mar 2016. O Jornal de Alagoas. Maceió, Ano 55º, ed. 174º, p. 5. 1 ago. 1963. LACERDA, Norma; ZANCHETI, Sílvio Mendes. (org.). Plano de Gestão da Conservação Urbana: Conceitos e Métodos. Olinda: CECI, 2012.
MUÑOS VIÑAS, Salvador. Contemporary Theory of Conservation. Oxford: Elsevier Butterworth-Heinemann, 2005.
Plano Diretor Participativo FAUUSP 2011- 2018. 2016. Disponível em: <http://www.fau.usp.br/fau/administracao/congregacao/planodiretor/ind ex.html> Acesso em: 10 mar 2017. SANTOS, Sandra Lúcia dos. A Reestruturação do centro comercial de Maceió. 2005. 243p. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio ambiente) – Centro de tecnologia, Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2005. SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900 - 1990. 2ª edição, São Paulo, Edusp, 1999. SILVA, Maria Angélica da. Arquitetura Moderna: A Atitude Alagoana. Maceió: SERGASA, 1991. SILVA, Paula Maciel. Conservar, uma Questão de Decisão: O julgamento na Conservação da Arquitetura Moderna. 2012. 236p. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Urbano) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano (MDU), Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2012. TINOCO, Jorge Eduardo Lucena. PLANOS DE CONSERVAÇÃO - do ensino à prática, da academia aos canteiros de obras. Texto para discussão. V. 55.
Série 2 - Gestão de Restauro. Olinda: CECI, 2013. Disponível em: www.ceci/br.org. Acesso em: 14 mar 2016. UNESCO. World Heritage List. Disponível em: <http://whc.unesco.org/en/list>. Acesso em: 14 jan 2017. UNESCO, WORLD HERITAGE CENTRE. Operational Guidelines for the implementation of the World Heritage Convention. Paris, 2005. Disponível em: <http://whc.unesco.org/archive/opguide05-en.pdf> Acesso em: 14 mar 2016. VILELLA, Sumala. O Edificio Breda conta um pouco da história de Maceió. O Jornal. Maceió, p. A9-A11. 13 jun. 2010. WHL, World Heritage List. Berlin Modernism Housing Estates, nº 1239. Berlin, Germany, 2008. Disponível em: <http://whc.unesco.org/en/list/1239>. Acesso em: 10 fev. 2017. WHL, World Heritage List. Tugendhat Villa in Brno, nº 1052. Czech Republic, 2003. Disponível em: < http://whc.unesco.org/en/list/1052>. Acesso em: 10 fev. 2017. ZANCHETI, Silvio Mendes. A Teoria Contemporânea a Conservação e a arquitetura Moderna. Texto para discussão. V. 58. Série 2 - Gestão de restauro. Olinda: CECI, 2014. Disponível em: www.ceci/br.org. Acesso em: 10 mar 2016. _______; HIDAKA, Lúcia Tone Ferreira. A Declaração de Significância de Exemplares da Arquitetura Moderna. Texto para discussão. V. 57. Série 2 – Gestão de Restauro. Olinda: CECI, 2014. Disponível em: www.ceci/br.org. Acesso em: 10 mar 2016. _______; LORETTO, Rosane Piccolo; MOREIRA, Fernando Diniz; TINOCO, Jorge Eduardo Lucena. Estrutura e Implantação do Plano Diretor de Conservação do Conjunto Franciscano de Olinda. Texto para discussão. V. 51. Série 1 – Gestão da Conservação Urbana. Olinda: CECI, 2011. Disponível em: www.ceci/br.org. Acesso em: 10 mar 2016.
APÃ&#x160;NDICES
Planta Térreo Esc
1/250
Planta Mezanino Esc
1/250
Fachada Norte Esc
1/250
Planta Pavimento Tipo Esc
1/250
Pavimento Terraço Esc
Planta de coberta
1/250
Esc
1/250
Fachada Oeste Esc
1/250
Planta de Implantação Esc
1/1500
Corte AA’
Esc
1/250
Corte BB’ Esc
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO CONSERVAÇÃO DA ARQUITETURA MODERNA: UM ESTUDO SOBRE A SIGNIFICÂNCIA CULTURAL PATRIMONIAL DO EDIFÍCIO BREDA NO BAIRRO DO CENTRO EM MACEIÓ/ AL
Fachada Leste Esc
1/250
Fachada Sul Esc
Assunto:
Folha: PROJETO DO EDIFÍCIO BREDA - ORIGINAL
1/250 Discente: Darlane Tavares da Silva
Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo
Data: 08/05/2017
01
1/250
Planta Térreo Esc
1/250
Planta Mezanino Esc
1/250
Fachada Norte Esc
1/250
Planta 1º Pavimento Esc
1/250
Pavimento Terraço Planta Pavimento Tipo Esc
Esc
1/250
1/250
Fachada Oeste Esc
1/250
Planta de coberta Esc
1/250
Corte AA’ Esc
1/250
Corte BB’ Esc
1/250
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO CONSERVAÇÃO DA ARQUITETURA MODERNA: UM ESTUDO SOBRE A SIGNIFICÂNCIA CULTURAL PATRIMONIAL DO EDIFÍCIO BREDA NO BAIRRO DO CENTRO EM MACEIÓ/ AL
Planta de implantação Esc
1/1500
Fachada Leste Esc
1/250
Fachada Sul Esc
1/250
Assunto:
Discente: Darlane Tavares da Silva
Folha: PROJETO DO EDIFÍCIO BREDA - ATUAL
Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo
Data: 08/05/2017
02
Térreo Esc
Mezanino
S/E
Esc
3º Pavimento
4º Pavimento
Esc
Esc
S/E
Esc
8º Pavimento
Esc
Esc
2º Pavimento
S/E
Esc
Esc
S/E
Esc
S/E
Comércio
Escritório de Contabilidade
Serviço
Consultório Dentista
Não identicada
Escritório de Engenharia
10º Pavimento
Esc
Esc
S/E
Escritório de Advocacia
Sem uso
CONSERVAÇÃO DA ARQUITETURA MODERNA: UM ESTUDO SOBRE A SIGNIFICÂNCIA CULTURAL PATRIMONIAL DO EDIFÍCIO BREDA NO BAIRRO DO CENTRO EM MACEIÓ/ AL Assunto:
Discente: Darlane Tavares da Silva
S/E
9º Pavimento
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
LEGENDA:
S/E
6º Pavimento
5º Pavimento
S/E
7º Pavimento S/E
1º Pavimento
S/E
Folha: MAPAS DE USO
Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo
Data: 08/05/2017
03
S/E
3 Foto 2: D11 - Adição parede com porta em área de circulação.
Foto 1: D10/D5 - Adição de esquadrias e perda de revestimento original.
2
01
Foto 3: D10 - Adição de grades de segurança no poço.
1
Mezanino
Térreo Esc
Esc
1/250
1/250
1º Pavimento
2º Pavimento
Esc
Esc
1/250
1/250
Foto 4: D10/D5 - Retirada de possível esquadria e revestimento original substituído. Foto 6: D10/D5 - Adição de esquadrias e perda de revestimento original.
5 4 6 7
Foto 5: D10/D5 - Adição de esquadrias e perda de revestimento original. Foto 7: D10/D5 - Adição de esquadrias e perda de revestimento original.
3º Pavimento Esc
1/250
4º Pavimento Esc
6º Pavimento
5º Pavimento
1/250
Esc
LEGENDA:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
D1: Pátina
D7: Instalação exposta
D2: Inltração na laje
D8: Obstrução da fachada (poluição visual)
D3: Ar condicionado na parede
D9: Estrutura exposta (Perda de reboco)
D4: Ar condicionado na janela
D10: Paredes internas modicadas/danicadas
D5: Troca de esquadrias originais
D11: Paredes internas adicionadas
D6: Esquadrias originais danicadas
Salas interligadas
Esc
1/250
Foto
CONSERVAÇÃO DA ARQUITETURA MODERNA: UM ESTUDO SOBRE A SIGNIFICÂNCIA CULTURAL PATRIMONIAL DO EDIFÍCIO BREDA NO BAIRRO DO CENTRO EM MACEIÓ/ AL Assunto:
Discente: Darlane Tavares da Silva
Folha: MAPAS DE DANOS - PLANTAS
Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo
Data: 08/05/2017
04
1/250
Foto 8: D5 - Troca de esquadrias originais.
Foto 10: D10 - Retirada de esquadrias.
11
8 9
Foto 9: D10/D5 - Adição de esquadrias e perda de revestimento original.
10
Foto 11: D10/D5 - Adição de esquadrias e perda de revestimento original.
7º Pavimento Esc
9º Pavimento
8º Pavimento Esc
1/250
Esc
1/250
1/250
14
Foto 15: D5/D10 - Parede modicada com troca de esquadrias originais.
Foto 13: D2/D7 - Fiação exposta e marca de inltração.
15
Foto 12: D10 - Retirada de esquadrias.
16 12 13
Foto 16: D11/D7 - Fiação exposta.
10º Pavimento Esc
Foto 14: D1/D7 - Fiação exposta e cobertura com bolor.
Terraço
1/250
Esc
LEGENDA:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
D1: Pátina
D7: Instalação exposta
D2: Inltração na laje
D8: Obstrução da fachada (poluição visual)
D3: Ar condicionado na parede
D9: Estrutura exposta (Perda de reboco)
D4: Ar condicionado na janela
D10: Paredes internas modicadas/danicadas
D5: Troca de esquadrias originais
D11: Paredes internas adicionadas
D6: Esquadrias originais danicadas
Salas interligadas
1/250
Foto
CONSERVAÇÃO DA ARQUITETURA MODERNA: UM ESTUDO SOBRE A SIGNIFICÂNCIA CULTURAL PATRIMONIAL DO EDIFÍCIO BREDA NO BAIRRO DO CENTRO EM MACEIÓ/ AL Assunto:
Discente: Darlane Tavares da Silva
Folha: MAPAS DE DANOS - PLANTAS
Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo
Data: 08/05/2017
05
19
Foto 17: D3/D4 - Ar-condicionado na janela e na parede.
17 Foto 20: D3/D4 - ar-condicionado na parede e na janela.
Foto 18: D8 - Obstrução da fachada com propagandas (poluição visual).
21
18
20
Fachada Norte Esc
Fachada Oeste
1/250
Esc
1/250 Foto 21: D8 - Obstrução da fachada com propagandas (poluição visual).
Foto 19: D1 - Pátina na platibanda do prédio.
24
Foto 22: D3/D7 - ar-condicionado na parede e ação exposta. Foto 24: D1/D3/D4 - Pátina na platibanda do prédio e ar-condicionado na janela e na parede.
25
23
22
Fachada Sul Fachada Leste Esc
Esc
1/250
1/250
Foto 16: D5/D6 - Troca de esquadrias originais. Foto 23: D5/D3 - Troca de esquadrias originais e ar-condicionado na parede.
LEGENDA:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
D1: Pátina
D7: Instalação exposta
D2: Inltração na laje
D8: Obstrução da fachada (poluição visual)
D3: Ar condicionado na parede
D9: Estrutura exposta (Perda de reboco)
D4: Ar condicionado na janela
D10: Paredes internas modicadas/danicadas
D5: Troca de esquadrias originais
D11: Paredes internas adicionadas
D6: Esquadrias originais danicadas
Salas interligadas
Foto
CONSERVAÇÃO DA ARQUITETURA MODERNA: UM ESTUDO SOBRE A SIGNIFICÂNCIA CULTURAL PATRIMONIAL DO EDIFÍCIO BREDA NO BAIRRO DO CENTRO EM MACEIÓ/ AL Assunto:
Discente: Darlane Tavares da Silva
Folha: MAPAS DE DANOS - FACHADAS
Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo
Data: 08/05/2017
06
Apêndice 5a: Instruções para o preenchimento do Questionário para a construção da Significância Cultural (Etapa 1)
APRESENTAÇÃO Este anexo corresponde ao documento utilizado para construção da Significância Cultural realizada pelos usuários selecionados do prédio. Além deste material, os usuários receberam também um anexo no qual se dá a conhecer informações relativas ao Edifício Breda.
ORIENTAÇÕES PARA O PREENCHIMENTO DA ETAPA 1: O usuário deverá indicar na tabela abaixo, diante das declarações condutoras sobre as características que tem valor patrimonial, quais são aquelas que devem ser consideradas, e os que não devem ser considerados importantes para conservação da significância do Edifício Breda. As respostas seguirão a legenda abaixo para expressar a resposta do usuário. Legenda: 1 – Discordo plenamente; 2 – Discordo parcialmente; 3 – Não concordo nem discordo; 4 – Concordo parcialmente; 5 - Concordo plenamente. O questionário deve ser respondido considerando cada declaração condutora individualmente. Neste documento, as Declarações vêm acompanhadas de informações sobre o prédio que permitem a julgamento das características encontradas no questionário.
Figura 1: Edifício Breda na Década de 60.
Imagem 2: Edifício Breda, situação atual.
O Edifício Breda Localizado no centro de Maceió, um dos edifícios comerciais de grande valor histórico para a cidade é o Edifício Breda, seu nome advém da família de mesmo nome que se firmou na sociedade alagoana através de seu pioneirismo imobiliário. Construído por Waldomiro Breda em 1958, o Edifício Breda foi erguido “sob o símbolo do progresso” por dar início ao crescimento da construção civil em Alagoas. Como primeira edificação vertical alagoana, além de sua arquitetura modernista e ousada planta em “V”, seu valor histórico, a edificação tornou-se um ícone e ponto de referência no Centro da cidade. Segundo Silva: O
edifício
assemelha-se
aos
arranha-céus
construídos nas primeiras décadas do século. Possui estrutura fortemente marcada, fornecendo leituras diferenciadas do embasamento, corpo e coroamento do edifício e sua localização, em uma
esquina,
confere
à
edificação
Fonte: MISA, 2016. Figura 3: Edifício Breda, foto sem data.
Fonte: ACERVO PESSOAL, 2016. Figura 4: Edifício Breda, situação atual.
maior
imponência. (SILVA, 1991, p.155)
O Edifício Breda possui elementos básicos, característicos da arquitetura moderna como brise-soleil, estrutura sobre pilotis, uso do concreto armado e aplicação de novos materiais como as pastilhas de vidro. Já na década de 60, tornou-se ponto de encontro devido à vista panorâmica, que contempla o mar e a Lagoa Mundaú e impulsionou a construção de outros edifícios verticais (SERQUEIRA, 2008).
Fonte: SILVA, 1991.
Fonte: ACERVO PESSOAL, 2016.
Figura 5: Lateral do Edifício em concreto.
Figura 6: Detalhe dos brise-soleis encontrados na fachada. Figura 7: Localização do Edifício Breda.
Fonte: GOOGLE, 2017.
Fonte: ACERVO PESSOAL, 2016. Figura 8: Visão interna da janela do Edifício Breda.
Fonte: ACERVO PESSOAL, 2016.
Fonte: ACERVO PESSOAL, 2016. Figura 9: Detalhe do Pilotis no Edifício Breda e as variedades de serviço.
Fonte: ACERVO PESSOAL, 2016.
Apêndice 5b: Questionário para a construção da Significância Cultural do Edifício Breda (Etapa 2) QUESTIONÁRIO PARA CONSTRUÇÃO DA SIGNIFICANCIA CULTURAL
Data:
Edifício Breda, localizado no Centro de Maceió-AL. Critério para a avaliação: 5 para concordo plenamente, 4 para concordo parcialmente, 3 quando não concordo nem discordo, 2 para discordo parcialmente e 1 para discordo plenamente. CÓDIGO
DECLARAÇÃO CONDUTORA
V1
O edifício Breda possui valor patrimonial por ser um marco na história da cidade, como o primeiro edifício de mais de 4 pavimentos-tipo construído em Maceió na década de 60. O edifício Breda possui valor patrimonial devido as características representativas da arquitetura moderna, como o desenho da planta em formato de "V". O edifício Breda possui valor patrimonial devido as características representativas da arquitetura moderna, como os amplos espaços internos devido a sua estrutura desprendida.
V2
O edifício Breda possui valor patrimonial devido as características representativas da arquitetura moderna, com sua fachada "limpa", sem detalhes decorativos e carregado de linhas retas. O edifício Breda possui valor patrimonial devido as características representativas da arquitetura moderna, como o pilotis. Esse pilotis é estruturado com três pilares circulares, e causa uma sensação de fluidez no prédio.
V3
O edifício Breda possui valor patrimonial devido aos protetores solares, conhecidos como brise-soleil, encontrados na fachada. A aparência externa desses brise-soleis no prédio atual é igual à do edifício após sua construção. O edifício Breda possui valor patrimonial por apresentar no seu interior grandes esquadrias favorecendo a iluminação interna e criando uma integração com o externo devido à visualização que é possível ter da cidade.
V4
O edifício Breda possui valor patrimonial por ser materializado em concreto armado aparente, com janelas envidraçadas em todas as fachadas.
V5
O edifício Breda possui valor patrimonial por estar localizado em um lote triangular de esquina, com praças e ruas largas ao seu redor contribuindo para sua visualização, tornando-o um marco paisagístico no centro.
V6
O edifício Breda possui valor patrimonial por estar em uso desde que foi construído, a capacidade de desempenhar suas atividades não foi prejudicada. O edifício Breda possui valor patrimonial por ser de uso misto, com o serviço nos andares acima e o comercio nos primeiros pavimentos com a ligação para a rua.
1
2
3
4
5