Sumário Introdução..................................................................17
Rota 1: Piloto Automático............................................25 Rota 2: Buscar as Respostas no Mundo...................37 Quebéc, Canadá Ser diferente é bom.........................................................39 Santa Catarina e Paraná, Brasil Os condicionamentos são um atraso...............................59 Califórnia, EUA Amor cura........................................................................77 Cidade do México, México Os medos devem ser encarados.....................................111 Santa Catarina, Brasil O estresse é um dos maiores vilões...............................119 Barcelona, Espanha Caminho errado também é caminho.............................139 Londres, Inglaterra A humildade é uma lição difícil....................................153 Edimburgo, Escócia Às vezes a gente dá sorte..............................................165 Madri, Espanha Confiar na vida é preciso................................................169 Las Vegas, EUA Abandonar as ilusões.....................................................173 Ilha de Maui, Havaí Você é responsável pela vida que tem...........................207
Rota 3: Esvaziar-se.......................................................213 Rota 4: Consultar o GPS interno.............................229
R e c a l c u l a n d o a r o ta
Introdução
E se um demônio lhe seguisse em uma noite daquelas em que você se sente o mais solitário dos solitários e dissesse: “Você viverá esta vida por infinitas vezes e terá as mesmas dores, alegrias, pensamentos e arrependimentos, todos na mesma sequência. A ampulheta será virada eternamente e você com ela, grão por grão!” O que você faria? Atirar-se-ia no chão rangendo seus dentes e amaldiçoaria este demônio ou responderia “nunca ouvi nada mais divino”? Nietzsche
Sim. Queria começar o livro usando esta palavra. Ela é positiva, aberta e inspiradora. Fez o John Lennon apaixonar-se pela Yoko Ono (ele viu essa palavra na entrada de uma de suas exposições). Acho que ela representa bem minha posição perante os acontecimentos. Sim. É o que eu venho dizendo para a vida desde que nasci. Mesmo que isso não tenha sempre me levado para as situações mais confortáveis, ainda acho que é um bom jeito de
17 . . . .
vivê-la. Estar aberta para tudo e aceitar o que acontece, seja bom
A l a n a Tr a u c z y n s k i
ou ruim. No entanto, fazer um julgamento entre o bom e o ruim é uma tarefa bem difícil. Quantas vezes coisas aparentemente ruins transformam-se em bênçãos e mudam sua vida para sempre? E quantas vezes coisas aparentemente boas bloqueiam o seu caminho, mudam sua perspectiva e o levam para o rumo errado? Por muitos anos, fui uma destas pessoas que vagam meio sem rumo pela vida. Isso deve explicar o fato de eu ter vivido em cinco países, quinze cidades e mais ou menos vinte e nove CEPs distintos. Talvez eu apenas não tivesse ideia do que estava fazendo (e considero essa possibilidade escancaradamente). De qualquer forma, tenho muitos amigos e conhecidos pelo mundo inteiro e existe uma coisa que me mantém confiante quanto ao meu futuro: o fato de ter sempre seguido minha intuição e escutado o meu coração, apesar de ele nem sempre ter me dito aquilo que eu queria ouvir. As opções que surgiram no meu caminho nem sempre foram óbvias ou fáceis. Às vezes eu até sabia, lá no fundo, que as coisas que vivenciaria não eram assim tão boas. Mas eu tinha que ver para crer de qualquer forma. Meus maiores objetivos na vida são: evoluir como ser humano, me tornar uma pessoa melhor, me libertar dos julgamentos e condicionamentos, viver o momento presente em tempo integral (ou tanto quanto for capaz) e ser fiel à minha verdadeira natureza sempre que possível. Não porque eu acho que tudo isso soa muito bem, mas porque acredito que podemos ser bem mais felizes assim. Na real, podemos ser felizes na maior parte do tempo se formos livres. Liberdade, taí uma palavra que eu amo (como toda boa aquariana). Não só a palavra, mas o que ela representa. Talvez eu não devesse nem dizer que tenho objetivos, porque se você parar pra
18 . . . .
pensar, até um objetivo é uma limitação. A melhor forma de colocar
mim. Voilà! Quero realizar aquilo que eu vim para realizar. Acrescentar a esta existência aquilo que só eu, faceta única, tenho para acrescentar, seja tal coisa grandiosa ou não. É claro que é muito fácil falar. Gosto de pensar que eu não sou o tipo de pessoa que escolheu o caminho fácil, ou seja, viver a vida como uma vítima dos acontecimentos, reagindo às suas por-
R e c a l c u l a n d o a r o ta
o que sinto é: quero estar em harmonia com o plano maior para
radas como se eu não tivesse nada a ver com isso, reclamando do quanto tudo é difícil, chorando o leite derramado e rezando para que as coisas melhorem. Este realmente não é o caminho fácil a longo prazo e, além do mais, as coisas provavelmente não melhorarão. Não até que aceitemos que somos responsáveis pela vida que temos. Não até nos darmos conta de que tudo o que acontece conosco é reflexo de nossos próprios desejos inconscientes, condicionamentos, limitações e pensamentos. Não até que vejamos que o nosso ser essencial sempre fala mais alto, através da forma como nos sentimos: tristeza, angústia, preguiça crônica ou depressão; todos estes sentimentos que, vistos de uma forma positiva, podem ser uma oportunidade para mudar a sua vida. Mas mesmo que eu pareça muito esclarecida e que tenha a fórmula para a felicidade, não é só sobre isso que você lerá. Na verdade, este livro é o desabafo da minha confusão interior, da minha dor. Sabe quando você sente, em certos momentos, que existe alguma parte de você que chora profundamente? Um buraco sem fundo de desespero que o faz questionar tudo ao seu redor e impulsiona a busca de respostas, razões, explicações, sinais, sensações ou qualquer coisa que o faça acreditar que vale a pena viver. A necessidade de se sentir inteiro sem precisar de uma fachada (algo como: um namorado lindo, um emprego perfeito, uma casa na praia, peitos
19 . . . .
novos ou um foguete que simplesmente possa levar você daqui!).
A l a n a Tr a u c z y n s k i
O meu maior problema sempre foi não saber o que eu queria fazer quando crescesse. Desconhecia a área onde tinha potencial para me destacar, como poderia realmente contribuir positivamente para com o mundo, meu propósito de vida, minha vocação. Até sabia que tipo de pessoa eu queria ser, mas não como chegar lá. Sempre fui extremamente confusa. Morria de inveja das crianças que diziam “eu quero ser advogada”, “quero ter três filhos” ou “quero morar em uma fazenda e criar cavalos”. Até pode ser que eu tenha dito coisas assim, mas nunca teria sido tão específica. Nunca pude me ver rodeada de filhos, indo ao mercado com um sorriso no rosto, providenciando as refeições do meu querido marido, sentando em volta da mesa para cantar Oh happy day como em uma propaganda de cereal. Nunca me vi trabalhando no jardim atrás da casa enquanto olhava as crianças brincando e correndo, como em uma comédia água com açúcar americana. Nada disso. A verdade é que eu não tinha nem ideia. Você pode imaginar quão incrivelmente vazia, desesperadora, desconfortável e instável essa sensação pode ser, especialmente para uma pessoa que é totalmente identificada com o “fazer”. Eu sou o que eu faço, era o que eu pensava. É o que a grande maioria da sociedade pensa. E foi exatamente aí que a vida teve que me dar uma rasteira. Nada seria mais humilhante para uma pessoa identificada com o fazer do que justamente não saber o que fazer. A vida foi bem mais fácil enquanto não havia necessidade de tomar grandes decisões, enquanto o sistema estabelecia por mim o que deveria ser feito: ir à escola, passar de ano, fazer as tarefas, se formar. Ou seja, ao que me parece, passei grande parte da vida no piloto automático. Eu funcionava tão bem desta forma! Sem-
20 . . . .
pre ótima aluna, entre as dez melhores da classe. Também estive
do não falava uma palavra de francês, é mole? Ser aprovada com louvor em “História de Quebéc” em uma língua que você acabou de aprender não é pra qualquer um. Mas, de qualquer forma, não estou aqui para falar de todas as minhas grandes conquistas. Elas não significam muito, não implicaram muito esforço, eram pura utilização dos dons e ferramentas que me foram dados gratuita-
R e c a l c u l a n d o a r o ta
entre os melhores alunos de uma escola franco-canadense quan-
mente quando fui concebida. Dons estes que me conduziriam às exatas situações onde finalmente teria que aprender e mudar. Todo mundo tem estes dons, assim como todo mundo tem que aprender. Isso é a chamada e-vo-lu-ção: usar sua vida para tornar-se a melhor versão de si mesmo. Meus problemas apareceram quando eu tive que começar a tomar decisões sozinha. Quando mamãe e papai não estavam mais aptos a me dizer o que fazer, aonde ir, o que vestir e como fazer as coisas. Não me entenda errado, meus pais sempre estiveram presentes, me apoiando em tudo o que fosse possível. A diferença era que agora essas decisões eram minhas. Só eu podia saber para onde minha vida se encaminharia. De repente, eu tinha dezenas de escolhas a fazer. Eu podia criar minha própria realidade. Entendo que isso, no passado, era o sonho de muita gente. Grande parte das pessoas não teve esse tipo de liberdade. Suas vidas eram decididas por seus pais, maridos ou qualquer outra pessoa. Os filhos normalmente seguiam a profissão dos pais, herdavam seus negócios, garantiam-se com o conhecido. Hoje em dia as coisas mudaram. Com a internet, a juventude tem acesso ao mundo todo, a informação é instantânea, as opções são infinitas. É aí que o excesso também pode ser um grande problema. Eu
21 . . . .
podia tudo!
A l a n a Tr a u c z y n s k i
E como você combina o fato de poder fazer qualquer coisa que quiser com o fato de não ter a menor ideia do que quer? Posso dizer com convicção que é uma bagunça emocional gigante. Tão ruim quanto saber exatamente o que quer e não conseguir realizá-lo ou achar que você quer uma coisa, mas quando consegue realizá-la vê que aquilo não mudou em nada a forma como você se sentia. É avassalador! Você fica à mercê do julgamento do resto do mundo, com medo de que olhem para você. As circunstâncias exteriores refletem a forma como você se sente e tudo fica muito inseguro. O seu valor pessoal depende das coisas que realiza, do seu trabalho, suas conquistas, seus diplomas e suas posses. Ou seja, se você não faz nada, você não vale nada. E sabe o quê? Isso tudo é uma grande balela! A historinha que nos contaram sobre a vida, como as coisas funcionam, como você deveria viver, por que você deve fazer certas coisas... Tudo m-e-n-t-i-r-a! A grande maioria das pessoas não sabe porcaria nenhuma. Os “adultos” que você respeitou estavam simplesmente repetindo aquilo que também lhes foi dito. Os condicionamentos são passados de geração em geração e poucos se esforçam o bastante para transformá-los de maneira positiva. Pelo menos foi isso que eu constatei através desta história, em que a personagem sou eu mesma. Este livro é o que eu chamaria de um romance de autoficção. Já me disseram uma vez que a melhor forma de passar uma mensagem é através da “contação de história”; assim, foi este o meio que eu escolhi. Conhecer a minha história pode ser útil a outras pessoas, principalmente àquelas que, ao olharem para si mesmas, conseguirem identificar onde somos
22 . . . .
semelhantes.
uma pessoa tem de sua própria vida não deixa de ser ficcional, pois engloba apenas um espectro dos fatos, e nossa interpretação depende de nossos próprios filtros, traumas, emoções e condicionamentos. De toda forma, esta é uma viagem até o mais fundo da alma desta jovem que eu fui. É um livro íntimo, sem censura e cru. Uma fratura exposta ensanguentada e sem estanque.
R e c a l c u l a n d o a r o ta
Por mais que todos os relatos sejam verdadeiros, a visão que
Metaforicamente falando, o livro é a minha tentativa de ter uma visão mais ampla do caminho traçado pelas minhas escolhas, com todos os aspectos positivos e negativos que estas representaram. Como se houvesse duas personagens: uma inserida no contexto (jogando o videogame da vida) e outra observadora, que se analisa, encontra novos significados, enxerga além das aparências. Vale dizer que minha linguagem também vai mudando ao longo do livro, de acordo com os novos valores e aprendizado adquiridos. Recalcular a rota – como diz o aparelho de GPS quando a gente erra o caminho – foi necessário a cada vez que o destino esperado não era alcançado. Abra seu coração para este carrossel de diversões, emoções, aventuras, empolgação, contradições, desespero, tristeza, amor e todos estes estados tão difíceis de entender, mas tão maravilhosos de sentir. Estou convidando você para esta viagem... Aperte os cintos e se desfaça de todos os seus julgamentos. Mais além das suas ideias do que é certo e errado existe um campo... Te encontro lá!
23 . . . .
Rumi