Catálogo - Eduardo Eloy Nova Visitação

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Nova Visitação Desenhos Eduardo Eloy

Foto da capa Eduardo Eloy em sua primeira foto de passaporte (1973)



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José Guedes Curador do MAC Dragão do Mar

Eduardo Eloy faz uma viagem introspectiva por uma iconografia estrutural, pessoal e intransferível. Sua caligrafia não mudou, mas suas escrituras parecem mais livres. É algo como se um filho visitasse a casa paterna depois de alguns anos e, à luz da maturidade, resolvesse antigos conflitos (plantando obviamente a semente para outros). Sua trajetória de mais de trinta anos nunca teve momento de estagnação criativa, pois sempre buscou a expansão das possibilidades das técnicas que desenvolve com grande desenvoltura: A gravura, a pintura e o desenho. Quando Eduardo Eloy me mostrou esta nova série de desenhos, o impacto me levou, pela condição de curador do MAC Dragão do Mar, seguindo orientações do Governo do Estado do Ceará, ao dever de compartilhá-la. Não posso dizer que foi uma surpresa, pois de um artista de tal envergadura, podemos esperar sempre a superação.


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A escritura poética na nova pesquisa de Eloy Lisbeth Rebollo Gonçalves*

Os trabalhos que Eduardo Eloy nos apresenta na mostra do Museu de Arte Contemporânea de Fortaleza revelam sua inquietação poética e sua vocação para a pesquisa no exercício da arte. O artista tem sua trajetória inscrita no universo da arte contemporânea, onde os limites entre as disciplinas convencionais como o desenho e a pintura podem ser transgredidos. A transgressão é uma premissa esperada, nesse universo, permitindo a elaboração de técnicas mistas e multimídias, alargando o campo de criação ao infinito e tornando-o sempre mais complexo. Da mesma maneira, a liberdade de movimentação pelas diferentes estéticas e movimentos artísticos, que a arte contemporânea permite, facilita as relações entre modos técnicos que marcaram diferentes momentos da história da arte. O conjunto dos 70 trabalhos de Eduardo Eloy, em exibição no MAC, situa-se, entro dessa dimensão de contemporaneidade, num novo espaço de sua pesquisa. Este espaço é um lugar peculiar de diálogo entre desenho e pintura, um lugar de interação dos dois meios artísticos, onde há intensas trocas poéticas. Seus desenhos dialogam fortemente com a cor trazida à superfície do papel pela “aguada de café”. De um lado, vemos o artista fiel à sua pesquisa gráfica, à iconografia simbólica que vem caracterizando seu trabalho ao longo do tempo, tanto na pintura como na gravura e no desenho. De outro lado, nós o vemos imergir em novos problemas estéticos nascidos da técnica, da matéria, problemas estes que renovam sua reflexão plástica. A chave deste ponto de encontro entre as práticas da pintura e do desenho está no uso da “aguada”, não à maneira antiga, mas a aguada praticada num ato de transgressão, por via de um produto de consumo cotidiano, como é o café. A nosso ver, a guada remete à pesquisa pictórica, no sentido mais pleno do termo, quando o suporte é o papel. A aguada é uma técnica pictórica milenar, conhecida desde a Idade Média; ela permite a utilização de ampla gama cromática, a partir do uso de uma só cor. A partir da modernidade, podemos entendê-la como pintura pura, que em si mesma provoca maneiras experimentais de aplicação. Na linguagem contemporânea, é amplo o campo da invenção técnica em que o artista pode mergulhar, ao elaborar seu projeto estético. A experimentação que Eloy vem desenvolvendo, nos últimos três anos, nasceu do acidente de um café derramado sobre um trabalho. O resultado da mancha sobre o suporte foi, imediatamente, capturado esteticamente e logo vieram novas indagações e o estímulo para pesquisar as formas imprevistas. As manchas aleatórias estimulam o artista, criam um novo desafio de trabalho com o espaço plástico. Nele, vai intervir com traços intencionais ou impulsivos, com pequenos gestos ou gestos largos, com a inscrição de seu vocabulário iconográfico, fruto da imaginação.

*Professora Titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, Presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte e VicePresidente Internacional da AICA.


Nova Visitação | 7 Jogo e descoberta tornam-se estratégias para mover o processo criativo de Eloy. Eis aí o desafio da aguada de café. O pigmento líquido do café sobre o papel canson desliza, determina intensidades diversas, produz uma impregnação variável. O artista começa a manejá-la, explorando a expressão direta da cor, dos tons amarronzados. Os tons que marcam a superfície podem ser de diferentes qualidades, ora mais fortes, ora bem suaves. O artista intervém e controla, conforme a fatura desejada em cada trabalho. A cor se move livre e, ao mesmo tempo, conduzida. Das zonas coloridas nasce um mundo lírico em si mesmo, no qual o artista vai introduzir a grafia de linhas e formas figurais. Cada acidente da matéria sobre a superfície carrega-se de sensações e resulta em expressão, convida à escritura com desenho a nanquim ou com a caneta usada para marcar os CDs. No gesto do artista está o prazer da manipulação das tonalidades atribuídas ao suporte e o prazer da intervenção. Desta forma, Eloy ultrapassa o uso tradicional da aguada e desenvolve a expressão de sensações subjetivas. Nesta fase de seu trabalho, o emprego expressivo da matéria tonal e a experiência do desenho são valorizados como procedimentos e dão origem à obra. O suporte torna-se o lugar onde um processo determinado de elaboração plástica é intuído. Em outra ocasião, ao analisar trabalho de Eduardo Eloy, ressaltei o fato de que, em sua arte, a experimentação e a imaginação pessoal estão diretamente interligadas, deixando vir à tona o que a consciência captura e registra instantaneamente. Eduardo Eloy, ao longo de cerca de 30 anos dedicados ao desenho, à gravura, e à pintura, vem encontrando na experimentação e na imaginação as razões motivadoras para investigar as qualidades dos materiais. Fabricou, por muito tempo, papel artesanal para a realização de seus trabalhos artísticos e difundiu, pelo ensino da arte, o alcance da dimensão estética das texturas do papel, o entendimento do papel como realidade plástica em si mesmo. Por outro lado, sua vivência de professor levou-o a estudar os materiais e as técnicas aplicáveis sobre este suporte, explorando a potencialidade dos meios de expressão. A criatividade vem sendo uma forte marca na prática artística de Eduardo Eloy. Como artista, ele sempre soube como deixar a imaginação dar vôos e soube aproveitar a pulsão para inscrever novas escrituras no espaço plástico. Na arte, as imagens inscritas no espaço têm sempre algo de fenomenológico. Relembramos o que diz Bachelard a este respeito: a imagem emerge de um excesso de imaginação, da “dialética do oculto e o manifesto, do plácido e do ofensivo, do fraco e do vigoroso”... Segundo o autor francês, a imaginação trabalha o espaço, o tempo, as forças, não só no plano das imagens imediatas que emergem à mente, mas também no plano das idéias. O excesso de imaginação leva ao devaneio, e tudo que tem forma leva a uma ontogênese. A imagem criada resulta da vida expressa por via dos sentidos. E há, também, sempre uma dimensão gnosiológica no trabalho artístico. Uma obra de arte ensina a ver o que antes não havíamos visto. É este exercício de olhar, de ver, de sonhar poeticamente que a presente exposição de Eduardo Eloy nos convida a realizar.


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Sem Título (2009) desenho sobre papel (40 x 30cm) aguada de café, nankin e caneta cd


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Sem Título (2009) desenho sobre papel (40 x 30cm) aguada de café, nankin e caneta cd


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Sem Título (2009) desenho sobre papel (40 x 30cm) aguada de café, nankin e caneta cd


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Sem Título (2009) desenho sobre papel (40 x 30cm) aguada de café, nankin e caneta cd


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Sem Título (2010) desenho sobre papel (40 x 30cm) aguada de café, nankin e caneta cd


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Sem Título (2010) desenho sobre papel (40 x 30 cm) aguada de café, nankin e caneta cd


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Sem Título (2010) desenho sobre papel (40 x 30cm) aguada de café, nankin e caneta cd


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Sem Título (2010) desenho sobre papel (40 x 30cm) aguada de café, nankin e caneta cd


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Sem Título (2011) desenho sobre papel (40 x 30cm) aguada de café, nankin e caneta cd


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Sem Título (2011) desenho sobre papel (40 x 30cm) aguada de café, nankin e caneta cd


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Sem Título (2010) desenho sobre papel (40 x 30cm) aguada de café, nankin e caneta cd Coleção Paolo Carnevali - Santhia, Itália


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Sem Título (2009) desenho sobre papel (30 x 40cm) aguada de café, nankin e caneta cd

Sem Título (2010) desenho sobre papel (30 x 40cm) aguada de café, nankin e caneta cd


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Sem Título (2010) desenho sobre papel (30 x 40cm) aguada de café, nankin e caneta cd


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Sem Título (2010) desenho sobre papel (30 x 40cm) aguada de café, nankin e caneta cd


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Sem Título (2010) desenho sobre papel (30 x 40cm) aguada de café, nankin e caneta cd

Sem Título (2011) desenho sobre papel (30 x 40cm) aguada de café, nankin e caneta cd


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Sem Título (2011) desenho sobre papel (30 x 40cm) aguada de café, nankin e caneta cd

Sem Título (2011) desenho sobre papel (30 x 40cm) aguada de café, nankin e caneta cd


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Sem Título (2011) desenho sobre papel (30 x 40cm) aguada de café, nankin e caneta cd


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Sem Título (2011) desenho sobre papel (30 x 40cm) aguada de café, nankin e caneta cd


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Sem Título (2011) desenho sobre papel (30 x 40cm) aguada de café, nankin e caneta cd

Sem Título (2011) desenho sobre papel (30 x 40cm) aguada de café, nankin e caneta cd


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Sem Título (2011) desenho sobre papel (30 x 40cm) aguada de café, nankin e caneta cd Coleção Paolo Carnevali - Santhia, Itália


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Biografia Eduardo Eloy (Fortaleza/Ce, Brasil, 1955) é artista plástico, desenhista, gravador, pintor, criador em processos digitais e fabricante de papel artesanal. Estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Museu de Arte Moderna (MAM) e Fundação Calouste Gulbenkian, no Rio de Janeiro, entre 1976 e 1981. É também professor de Gravura e materiais artísticos, consultor de arte e curador. Entre os anos de 1988 a 1998 ministrou e implantou oficinas de gravura e papel artesanal em diversos municípios do Estado do Ceará e no exterior. Ministrou cursos de confecção de papel artesanal e gravura na Universidade de Alcalá de Henares, na Espanha, e na Universidade de São Paulo - USP. Fundou e coordenou a Oficina de Gravura e Papel Artesanal no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará - MAUC, onde atuou na formação de novos gravadores e desenvolveu pesquisas no campo da reciclagem de papel e fibras vegetais. Desenvolveu e ministrou cursos de gravura e papel artesanal para jovens de baixa renda nos anos 80 através do projeto Oficina Pé no Chão, mantido pelo Governo do Estado do Ceará. Participou da fundação do Grupo Aranha, de pintura mural, produzindo vários murais na cidade de Fortaleza na década de 1980. Durante os anos 90, fundou e coordenou a Oficina de Gravura Tauape, a qual deu origem a um grupo homônimo de gravadores. De 2004 a 2006, Eduardo Eloy foi professor e curador do Projeto Imagens da Cidade – Educação Patrimonial através da Xilogravura, para o qual desenvolveu três cursos: Um Olhar sobre o Dragão do Mar, Um Olhar sobre o Teatro José de Alencar e Um Olhar sobre o Bairro de Jacarecanga, todos voltados para um publico jovem de baixa renda, com o objetivo de fazer compreender e ressaltar, através de uma mostra de xilogravuras realizadas pelos alunos , a importância desse patrimônio histórico de Fortaleza.


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Ministrou cursos de artes e gravura no Instituto Dragão do Mar de Arte e Cultura, Escola de Artes e Ofícios Thomas Pompeu Sobrinho e Centro Cultural Banco do Nordeste, entre outras importantes instituições, nos anos 2005 e 2006. Foi professor e coordenador do curso de Artes Visuais da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza – FGF entre 2000 e 2007. É consultor em assuntos culturais da Secretaria da Cultura do Governo do Ceará. Foi presidente e fundador, juntamente com outros artistas, do Instituto de Gravura do Ceará – INGRAV. Expôs em vários países tais como França, Espanha, Portugal, Itália, Alemanha, Uruguai, Argentina, Chile e Estados Unidos. No Brasil, também realizou importantes exposições em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Belém, Recife, Porto Alegre e Fortaleza. Têm obras em importantes museus, instituições culturais e acervos particulares, entres os quais destacam-se: Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – MAC; Museu Nacional de Belas Artes, RJ; Museu de Gravura de Buenos Aires, Argentina; Fundação Biblioteca Nacional, RJ; Fundação Joaquim Nabuco, Recife, PE; Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Fortaleza,CE; Coleção Ceres Franco, França, e Coleção Paolo Carnevali, Itália.

eduardoeloy@yahoo.com.br www.eduardoeloy.art.br


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Este catálogo foi impresso em janeiro de 2012 pela Gráfica e Editora Tecnograf


Nova Visitação | 47 GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ

MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA

Governador Cid Ferreira Gomes Vice Governador Domingos Filho Secretário da Cultura Francisco José Pinheiro Secretária Adjunta da Cultura Maninha Morais

Curadoria José Guedes Assistente Paulo Henrique

INSTITUTO DE ARTE E CULTURA DO CEARÁ - CENTRO DRAGÃO DO MAR DE ARTE E CULTURA Presidência Isabel Cristina Fernandes Diretor de Ação Cultural Israel Martins Diretora de Museus Valéria Laena Diretora Adm. Financeira Valéria Sales ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO Assessora de Comunicação Dalviane Pires Designer Diogo Braga Fotógrafa Marina Cavalcante Designer de web Pedro Cândido Redação Leonardo Bezerra

Conservação e Gestão do Acervo Assistentes de curadoria e montagem Fernando Marques Fernando Xavier Ação Educativa MAC Coordenadoria Carmem Lazari Educadores Aline Alves Daniel Benevides Danilo Pereira Eloilma Moura Fellipe Feijó Gerlane Albuquerque Henrique Bonfim Lídia Matos Matheus Rodrigues Robert Veras Saruanna Dias Thaís Yuli

Agendamento Ananda Andrade Daiana Araújo Equipe de Apoio de montagem Cenotécnica Fernando Marques/ Fernando Xavier/ Jandylmar Nascimento Automação Ailton Holanda/ Auristélio Bernardo/ Francisco Batista/ Janaína Pinheiro Eletricistas Antônio Cristiano/ Fernando da Silva/ Flávio de Souza/ José Ribeiro Pintores Milton Pereira/ Rafael Souza/ Regivaldo do Nascimento/ Sivaldo Pereira


Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura

Rua Dragão do Mar 81, Praia de Iracema 60060 390 - Fortaleza/CE Informações gerais: 55 (85) 3488 8600 / 55 (85) 3488 8608

MAC - Museu de Arte Contemporânea

Visitas: de terça a quinta, das 9h às 18h30. De sexta a domingo, das 14h às 20h30. Acesso livre. Informações: 85.3488.8622 / 8624.


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