DAYANE SILVA LACERDA
DAYANE SILVA LACERDA
HABITAÇÃO MÍNIMA: ANÁLISE A RESPEITO DOS NOVOS MODOS DE VIDA E NOVOS ESPAÇOS DE MORAR
Artigo científico apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Arquiteta e Urbanista. Orientadora: Prof. Danielle Rezende.
CORONEL FABRICIANO - MG NOVEMBRO DE 2016
HABITAÇÃO MÍNIMA: ANÁLISE A RESPEITO DOS NOVOS MODOS DE VIDA E NOVOS ESPAÇOS DE MORAR Resumo A casa é o reflexo da cultura, da sociedade e da identidade do indivíduo-usuário. Este, em constante mudança requer que a arquitetura o acompanhe, suprindo suas novas necessidades. Sendo o arquiteto o responsável pelo projeto de uma habitação, influenciando diretamente a vida dos habitantes, considera-se importante repensar o modo com que se dá este processo e rever o papel do arquiteto revendo o modo de se projetar e para quem é projetado. O mínimo a ser estudado neste trabalho refere-se ao dimensionamento de espaços habitacionais, visto que estes tem-se reduzido progressivamente, com o propósito de relacionar essa redução ao usuário e ao seu modo de vida, verificando se há compatibilidade entre as necessidades espaciais necessárias do usuário e o espaço mínimo ofertado pelo mercado imobiliário. A pesquisa é realizada no município de Ipatinga, MG e objetiva identificar as transformações ocorridas nos grupos domésticos e nas tipologias habitacionais ao longo da história; reconhecer os perfis dos novos usuários e avaliar as ofertas tipológicas do mercado imobiliário contemporâneo e principalmente avaliar se a tipologia mínima encontrada na cidade é capaz de atender às necessidades das diversas variedades de usuários, grupos domésticos e estilos de vida, caracterizando a tipologia mínima como o novo modelo de habitação. Os resultados apontam que o usuário apresenta novas tendências de morar. Entretanto, o espaço mínimo habitacional predominante ofertado em Ipatinga, não caracteriza efetivamente uma tipologia mínima. Decorrente disto, verificou-se como uma alternativa promissora, a proposta de habitações de tipologia mínima planejada especificamente à população de Ipatinga, uma vez demonstrada a demanda no município no decorrer do presente artigo.
Palavras-chave: Habitação. Mínimo. Usuário. Abstract The house has always been the reflection of culture, society and the identity of the individual-user. This, in constant change requires that the architecture accompany it, supplying its new necessities. Since the architect is responsible for the execution of a housing project, directly influencing the life of the inhabitants, it is considered important to rethink the way in which this process occurs and to review the role of the architect by reviewing the way of designing and for whom it is designed . The minimum to be studied in this study refers to the dimensioning of housing spaces, since these have been progressively reduced, with the purpose of relating this reduction to the user and their way of life, verifying if there is compatibility between the necessary space needs Of the user and the minimum space offered by the real estate market. The research is carried out in the city of Ipatinga, MG and aims to identify the transformations that occurred in the domestic groups and in the housing typologies throughout history; To recognize the profiles of the new users and to evaluate the typological offerings of the contemporary real estate market and mainly to evaluate if the minimum typology found in the city is able to meet the needs of the diverse varieties of users, domestic groups and lifestyles, characterizing the minimum typology as the New housing model. The results indicate that the user presents new tendencies to live. However, the predominant minimum housing space offered in Ipatinga does not effectively characterize a minimal typology. As a result, the proposal of dwellings with a minimum typology specifically planned for the population of Ipatinga is verified as a promising alternative once the demand in the municipality has been verified in the course of this article.
Key words: Housing. Minimum. User.
Introdução A questão da habitação tem origem na necessidade primordial de abrigo contra intempéries, perigos e olhares curiosos. Por esse motivo é uma questão muito discutida pelos arquitetos. A casa é, desde sempre, o reflexo da cultura, da sociedade e da identidade do indivíduo-usuário. Este, em constante mudança requer que a arquitetura o acompanhe, suprindo suas novas necessidades. (CASELLI, 2007). O processo de industrialização, desde o séc. XVIII, tem-se associado, na história de diversos países do mundo, à concentração de população em polos, a profundas mudanças na composição do grupo familiar, nas relações entre seus membros e consequentemente na arquitetura residencial. (TRAMONTANO, 1997). Os imóveis menores, nos dias de hoje, tem sofrido uma evolução nos sentidos de oferta e procura. Se outrora morar numa casa espaçosa era sinônimo de bem estar e até mesmo status, hoje com o crescimento da população, as cidades já não comportam esse tipo de imóvel e eles estão aos poucos sendo substituídos por construções menores para atender não só a demanda do crescimento da população, mas também acompanhar o ritmo acelerado dos seus moradores tanto na rotina, quanto nas mudanças. A problemática da questão é o fato dos espaços mínimos existentes, em sua maioria, não atenderem ás necessidades espaciais do usuário, ou seja, suas necessidades físicas e particulares, sem ignorar o bem-estar e as vivências afetivas e intelectuais. É possível identificar a carência no campo imobiliário para o crescente perfil populacional atual, a deficiência e a inflexibilidade da arquitetura existente. Como o espaço é cada vez mais reduzido e como o mercado imobiliário não apresenta soluções para os mesmos. O arquiteto é quem desenha e desenvolve o projeto de uma habitação, influenciando diretamente a vida dos habitantes. Neste trabalho, considera-se pertinente repensar o modo com que se dá este processo e rever o papel do arquiteto, considerando como e para quem é projetado. É estudado o percurso do tema da habitação desde o movimento moderno até os dias atuais, onde a necessidade de funcionalidade e conforto, aliada ao desenvolvimento da sociedade e consequente mutação do homem, continua a ser um tema pertinente. O trabalho parte então, da vontade de pensar no tema da habitação mínima, não como algo condicionante da vida dos moradores, mas pelo contrário, pensar a habitação de caráter mínimo como um ponto de partida para a procura de inovações e soluções que possam garantir a ideia de lar e assegurar a qualidade habitacional. (CASELLI, 2007). Afim de se obter dados mais precisos, optou-se por restringir o estudo a uma área reduzida. Ipatinga, local escolhido, é um município brasileiro, situado no interior do estado de Minas Gerais,
região Sudeste do país. Pertence à Mesorregião do Vale do Rio Doce e à Região Metropolitana do Vale do aço. Definido o recorte, objetiva-se, especificamente, no presente artigo, identificar as profundas transformações ocorridas nos grupos domésticos e em suas respectivas tipologias habitacionais ao longo da história; reconhecer os perfis dos novos usuários e grupos domésticos e avaliar as ofertas tipológicas do mercado imobiliário contemporâneo; examinar as normativas relacionadas às dimensões pré-estabelecidas em espaços residenciais; e principalmente avaliar se a tipologia mínima encontrada na cidade de Ipatinga/MG é capaz de atender às necessidades das diversas variedades de usuários, grupos domésticos e estilos de vida, caracterizando o novo modelo de habitação. Para determinado fim, foram realizadas pesquisas no mercado imobiliário, através de construtoras, imobiliárias e pesquisa de campo e foram coletados dados da população ipatinguense por meio de questionário, afim de identificar a compatibilidade entre o usuário e a arquitetura predominante ofertada pelo mercado imobiliário.
1 Habitação no século XX 1.1 A arquitetura funcionalista No início do séc. XX pôde-se acompanhar uma grande mudança relacionada ao pensamento arquitetônico, entre os anos 1910 a 1950, inserida no cenário artístico e cultural do Modernismo. Este novo pensamento rompe com todas as ideias anteriores, em que a rejeição da arquitetura que antecedeu ao Movimento Moderno era um dos princípios base, tendo como autores notáveis: Le Corbusier e Walter Gropius. A segunda Revolução Industrial, no séc. XIX, foi o grande impulsionador das inovações técnicas e conceituais do modernismo: Introduziu os arranha-céus, a produção em larga escala e levou à ocorrência de um grande êxodo rural, de uma população em busca de trabalho, chamando a atenção para a necessidade de abrigo dessa nova massa operária. Em meio ao referido crescimento populacional desordenado, a cidade encontrava-se em uma situação caótica, onde o déficit habitacional obrigava a população a se aglomerar em moradias insalubres, a elevados custos, enquanto a exploração dos operários nas fábricas, sem nenhum tipo de auxílio trabalhista, constituía as péssimas condições de trabalho da época. Este quadro levou a incontáveis movimentos operários reivindicando melhores condições de vida. Acreditavase que era o arquiteto, o profissional responsável pela correta construção do ambiente habitado pelo homem. Em busca de sanar os problemas em questão, os arquitetos defendiam a adequação da arquitetura aos novos métodos de produção, onde os edifícios deveriam ser econômicos, limpos e úteis.
Neste contexto surge o conceito de funcionalismo na arquitetura. O arquiteto Louis Sullivan, considerado um dos primeiros teóricos do funcionalismo e autor da conhecida frase "A forma segue a função", promove o conceito de que a arquitetura deveria seguir as necessidades, ou funções, atribuídos a um determinado espaço. Aliados a esta teoria, os arquitetos modernistas buscaram criar soluções construtivas que se tornassem universais, desenvolvendo assim uma das principais características da arquitetura modernista: O conceito da industrialização e produção em série. (FONSECA, 2011).
1.2 Racionalização, estandardização e série A arquitetura moderna surgiu com a intenção de realizar grandes mudanças sociais, apresentando preocupação com aspectos políticos, econômicos e atribuindo grande importância que à questão habitacional. Como parte dos seus objetivos estava a definição de um novo tipo de arquitetura que contribuísse para implantar melhores condições de vida, especialmente para nova massa populacional. "O que se exprime são as necessidades de 'massa' às quais só a produção arquitetônica também de 'massa' pode tentar responder. Assim, a arquitetura passou de uma arquitetura reservada às realizações únicas e excepcionais à arquitetura aplicada à solução das necessidades desse novo cliente colectivo constituído basicamente por trabalhadores nas indústrias e escritórios." (KOPP, 1990, p.16). Os arquitetos modernos procuraram estabelecer um novo modo de vida que pudesse anular antigos hábitos e tradições, de modo que se implantar uma espécie de racionalização no cotidiano dos indivíduos, nos seus comportamentos e necessidades. Neste cenário, a arquitetura do espaço habitacional passou a ser estudada pelos profissionais com o intuito de padronizar os seus modelos, de modo a serem "fabricadas" industrialmente, almejando garantir produtos de baixo custo, com um padrão de conforto mínimo e facilidade de manutenção à população. Conforme Gropius (1997, p.193), a indústria deveria elaborar elementos para as habitações que viriam a ser fabricados em série, tal como já ocorria na construção das máquinas. Esse método, denominado estandardização - Ação de uniformizar os elementos que compõe um conjunto, fazendo com que eles possuam o mesmo modelo ou padrão - chegou a tratar funcionalidade como sinônimo de bem estar. A casa era considerada uma máquina, como defendia Le Corbusier, em "Por uma Arquitetura" (1923, p.15). A maquina de morar foi destinada a atender as funções precisas de um homem universal, ou seja, o espaço de morar produzido a partir das medidas mínimas aceitáveis para habitar um determinado espaço, deveria suprir às necessidades mínimas do homem, baseado na ideia de que as necessidades do ser humano são padronizadas, assim como as casas produzidas em série.
1.3 CIAM II - 1929 - Frankfurt A concepção dos CIAMs1, pode ser considerada o inicial do período "acadêmico" do Movimento Moderno. O propósito apresentado por Le Corbusier era "[...] dar à arquitetura um sentido real, social e econômico [...] e estabelecer os limites dos seus estudos." (GILI, 1975). O CIAM II é destaque para esta pesquisa, uma vez que abordou o tema Habitação para o Mínimo de Vida2. Ocorreu em 1929, em Frankfurt, na Alemanha e foi desenvolvido por Ernest May3. Feldman (2005, p.75), enfatiza duas importantes teses discutidas no CIAM II: "Os fundamentos sociológicos da moradia mínima", de Walter Gropius, e "Leis edificatórias e moradia mínima", de Hans Schmidt. Discutiram a necessidade da adequação das leis aos novos modos de vida e aos novos processos construtivos, e o papel do Estado na garantia da qualidade na produção de habitações operárias, consecutivamente. No contexto em que se pretendia planejar e resolver a questão da habitação para os trabalhadores, a área mínima por pessoa variava de 12,5 a 14m², principalmente nos projetos de Ernest May dos conjuntos habitacionais de Frankfurt, já citado. Le Corbusier chegou a um valor de 14m² por pessoa, a que chamou de "unidade biológica" ou "célula". (AYMONINO, 1973). De acordo com Folz (2005, p. 95-112), muito mais que uma simples relação de metragem quadrada por pessoa, acrescentou-se o critério do mínimo social no debate sobre Existenzminimun durante o segundo congresso. A concepção de uma habitação mínima envolveria resoluções de amplas necessidades biológicas e psicológicas no sistema estático da construção em si. Conforme os participantes desse congresso, a habitação mínima era um instrumento social indispensável para uma nova era. A compreensão de que a arquitetura poderia mudar o modo de vida de uma sociedade, conferelhe uma enorme importância. Passa a ser encarado como uma nova ciência, e a manipulação do espaço atinge novos níveis de relações sociais. A habitação de caráter mínimo, passa a ser objetivo dos arquitetos da "nova arquitetura".
2 Habitação Mínima 2.1 Definição Habitação significa o lugar em que se habita; casa, lugar de morada; residência, vivenda; domicílio. Mínimo expressa aquilo que é excessivamente pequeno; diminuto; o menor em relação aos demais. (RIOS, 2010). Apesar de, aparentemente simples, o termo habitação mínima, além 1
Congrès internationaux d'architecture moderne ou Congresso Internacional de Arquitetura Moderna.
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Diewohnung Fur das Exixtenzminimun.
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Arquiteto alemão responsável pela urbanização da cidade de Frankfurt; desde a elaboração do plano diretor até o projeto arquitetônico de habitações populares.
de ser muito difícil de se conceituar, é extremamente relativo. Foi uma das utopias modernistas, que possuía o desejo de solucionar todos os problemas de uma sociedade, com arquitetura e urbanismo. A tema do espaço mínimo e o interesse pela otimização do espaço é incentivado pelo desafio de conseguir com o mínimo possível, que este se adeque às necessidades dos seus habitantes e aos usos que poderão ser-lhes conferidos, de modo que estes espaços, embora mínimos, ou exatamente por assim serem, sejam interessantes e agradáveis. Segundo Aymonino (apud CASELLI, 2008), o mínimo é totalmente relativo, seja ao usuário, dimensão, posição geográfica ou renda. Essa definição tem variáveis ainda socioculturais e comportamentais; altera-se com as mudanças na tecnologia, usos e funções dadas à moradia. O mínimo, efetivamente, encontrou especificações mais claras na especulação imobiliária, que objetivava o mínimo custo, sem considerar o atendimento às necessidades do usuário. Objetivo muito distinto dos ideais modernistas, que ambicionavam um mínimo que cumprisse as exigências de espaço da população. Já no séc. XX. a moradia era tida como produto. Enquanto havia mercado para uma determinada tipologia, sendo ela adequada ao usuário ou não, os construtores continuariam investindo na mesma fórmula de "sucesso", ou seja, naquilo que garante retorno financeiro. Esse raciocínio permanece até os dias atuais e gera a discussão aqui tratada: A tipologia mínima é capaz de atender às necessidades das diversas variedades de usuários, grupos domésticos e estilos de vida, caracterizando o novo modelo de habitação? Embora a população esteja em constante transformação, o ritmo das inovações , no que diz respeito a conformidade do espaço habitacional, tem se dado de maneira bastante lenta. Ainda que os grupos domésticos possuam perfis cada vez mais diversificados e cujo os estilos de vida apresentem uma grande variação, os desenhos dos espaços de morar permanecem inalterados, sob a argumentação de que se alcançou resultados projetuais economicamente viáveis, que atendem às necessidades dos moradores. (TRAMONTANO, 1997). De fato, não encontra-se com frequência, mesmo nas habitações mínimas contemporâneas ofertadas pelo mercado imobiliário, modificações significativas na composição dos espaços. A noção de "cômodo", por exemplo, é, atualmente, ultrapassada. Apesar de, na grande maioria das vezes, não serem aplicadas, a flexibilidade de uso do espaço interno e a sobreposição de funções sobre um mesmo ambiente é o que rege a organização espacial contemporânea, se relacionada às necessidades dos usuários (apresentadas mais a frente). Os ambientes rotulados se substituídos por espaços-ações, ou seja espaços determinados a partir das atividades a serem realizadas, proporcionam maior aproveitamento e simplificação de área, evitando desperdício de espaço. De acordo com Folz (2002, p.81), a necessidade espacial não é um simples número de área equacionada por X pessoas ou a definição de um dimensionamento mínimo por cômodo. Na
realidade existe uma interação de muitas variáveis, e a percepção de espaço é afetada pela atividade a ser desenvolvida, pelos costumes e hábitos no uso do espaço. A compreensão dos elementos que influenciam no julgamento das dimensões físicas de um ambiente, podem facilitar na descoberta de soluções que aumentam a sensação de espaço, mesmo quando não exista a ampliação de superfície, como a flexibilidade, citada, e a qualidade espacial. É importante destacar que o mínimo a ser estudado neste trabalho refere-se ao dimensionamento de espaços habitacionais, visto que estes tem-se reduzido progressivamente. Tem como propósito identificar se há relação entre essa compactação e o usuário e seu modo de vida.
2.2 Habitação Mínima no mercado imobiliário contemporâneo É nítido que apesar de existirem apartamentos imensos, os imóveis, em geral, estão ficando cada vez menores. Há uma série de fundamentos para este fenômeno: O inchaço dos centros urbanos, que acarreta carência de espaço para novas construções; A necessidade de lucro, fazendo com que as construtoras optem por uma maior quantidade de unidades, consequentemente menores; Busca por praticidade, uma vez que homens e mulheres estão inseridos no mercado de trabalho e possuem cada vez menos tempo para atividades domésticas; Redução do número de filhos por casal; Aumento do número de pessoas solteiras e divorciadas; entre diversas outras justificações. Portanto, levando em consideração as gerações futuras, a tendência é de que o tamanho dos imóveis prossigam diminuindo. Nos últimos dez anos, a redução da metragem chega a 29% nos apartamentos de um e de quatro quartos. Nas demais tipologias, as reduções são menores mas ainda consideráveis; vão de 17,9%, no caso de dois dormitórios, a 8,5% para três quartos. (IMOVEIS, 2013). Com os valores dos imóveis cada vez mais caros, os imóveis compactos, chamados popularmente de "apertamentos", tem ganhado cada vez mais destaque nas estratégias de construtoras. Aliada à demanda crescente de grupos domésticos variados e diminutos, de acordo com dados de 2012, os lançamentos de apartamentos no Brasil comprovam esta compactação dos espaços habitacionais. Se somados os apartamentos com até 109m², estes representam 90% do total, enquanto as unidades acima de 110m² são apenas de 10%.(LISBOA, 2013). Em média os apartamentos compactos na atualidade têm cerca de 30m², mas há casos de unidades com apenas 18m². De acordo com Parisi4, em geral, as unidades produzidas para atender a novos perfis de consumidores que moram sozinhos ou casais recém casados ou à facilitação de deslocamento dentro das cidades. Há, ainda, investidores que se interessam na aquisição desses apartamentos que possuem valores de investimentos pequenos para renda de locação.
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Nelson Parisi Júnior, presidente da Rede Secovi de Imóveis. São Paulo.
3 Habitação Mínima em Ipatinga 3.1 Ipatinga Ipatinga é um município brasileiro, situado no interior do estado de Minas Gerais, região Sudeste do país. Pertence à Mesorregião do Vale do Rio Doce e à Região Metropolitana do Vale do Aço. Sua população, de acordo com dados do IBGE5, era de 239.468 habitantes em 2010 e estima-se um valor de 259.324 habitantes em 2016 (Gráfico 1). Sendo assim, ocupa a 10ª colocação entre as cidades com maior concentração populacional de Minas Gerais. Surgiu em 1934, com a chegada e instalação da empresa Usiminas. A vila-Operária de Ipatinga, construída entre 1958 e 1962, é uma importante obra do período modernista brasileiro, vinculada ao momento da industrialização do país. O legado urbano de Ipatinga é seu traçado industrial e setorizado. Os bairros foram distribuídos de acordo com a hierarquia de cargos dentro da empresa e as primeiras habitações e infraestrutura básica foram construídas visando atender às demandas dos funcionários que compunham a grande massa que se instalou no município. (BELTRAME, 2010). A escolha deste objeto se deu principalmente pelas características modernistas, presentes no urbanismo e especialmente na produção em série das habitações e por Ipatinga ser considerado hoje, um dos municípios mais prósperos do Leste do estado mineiro. É uma cidade populosa (Gráfico 1), dotada de infraestrutura e altos índices de qualidade de vida (Gráfico 2).
Gráfico 1. Crescimento Populacional de Ipatinga. Fonte: Compilação de dados do IBGE.
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IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Gráfico 2. Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Ipatinga, Minas Gerais e Brasil. Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD 2010.
3.2 Código de Obras de Ipatinga: Mínimo normativo Os instrumentos de planejamento urbano, como Plano Diretor, os Planos regionais e de bairro, a Lei de parcelamento, Uso e Ocupação do Solo e o Código de obras são os mecanismos que orientam a distribuição das atividades econômicas, dos locais de moradia e estabelecem normas técnicas da construção civil em geral. O Código de Obras é, nesta análise, o instrumento de maior importância. Trata-se do conjunto de leis que permite à administração municipal, controlar e fiscalizar o espaço construído e seu entorno, ou seja, é o responsável por orientar os projetos e as execuções das obras e edificações, assegurando e promovendo a melhoria dos padrões mínimos de segurança, higiene, salubridade, conforto e finalmente o dimensionamento dos espaços. O referido varia de acordo com cada município e possui normas técnicas para qualquer tipo de construção. Em Ipatinga, o Código de obras6 determina que todo compartimento de permanência prolongada - dormitórios, sala de estar, de visitas, de música, de jogos, de costura, copa, cozinha, gabinete de trabalho, escritório, estúdio e outros, de destino semelhante - deverão ter a área mínima de 8,00m² (oito metros quadrados), exceto as cozinhas e copas. As cozinhas devem ter área mínima de 4,00m² (quatro metros quadrados). As copas, por sua vez, deverão ter a área mínima de 6,00m² (seis metros quadrados) e formar a inscrição de um círculo de 1,00m (um metro) de raio. No caso de copas conjugadas com cozinha, formando um só compartimento, além das implicações anteriores, deverão ter a área mínima de 8,00m² (oito metros quadrados), com a largura mínima de 2,50m (dois metros e cinquenta centímetros). Por fim, as despensas devem ter área compreendida entre 2,00m² (dois metros quadrados) e 4,00m² (quatro metros quadrados); Os compartimentos de utilização transitória - vestíbulo, sala de entrada, corredor, rouparia, despensa, banheiro, depósito e outros, de destino semelhante - e de utilização especial - câmara
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Lei nº 419, de 19 de fevereiro de 1973.
escura, adega, armário e outros, de natureza especial - com exceção do banheiro, se enquadram nas condições gerais de compartimentos. Estas definem que em cada pavimento constituído por três ou mais compartimentos, inclusive a instalação sanitária, um deles, pelo menos, deverá ter a área mínima de 12,00m² (doze metros quadrados) e que quando, em um mesmo pavimento, houver mais de uma habitação independente, a exigência se fará para cada habitação. Define ainda a permissão de um compartimento de 6,00m² (seis metros quadrados) para cada grupo de dois compartimentos de permanência prolongada. Os compartimentos sanitários, ou seja, os banheiros e instalações sanitárias completas deverão ter a área mínima de 2,80m² (dois metros e oitenta decímetros quadrados). Os compartimentos destinados exclusivamente a chuveiros deverão ter a área mínima de 1,00m² (um metro quadrado), com a largura mínima de 0,80m (oitenta centímetros). E Os compartimentos destinados exclusivamente a instalação sanitária, deverão ter área mínima de 1,00m² (um metro quadrado), com a largura mínima de 0,80m (oitenta centímetros). Referente aos edifícios de apartamentos, além da condições gerais, deverão atender à algumas especificidades. Cada unidade residencial será composta, no mínimo, de: dormitório, compartimento sanitário com chuveiro, latrina e lavatório, cozinha e área de serviço. As áreas de serviço deverão medir, pelo menos, 4,00m² (quatro metros quadrados) e 1,00m (um metro) na menor dimensão. Os depósitos deverão medir, pelo menos, 5,00m² (cinco metros quadrados) e 1,80m (um metro e oitenta centímetros) na menor dimensão. Baseado nestes dados foram elaboradas plantas arquitetônicas esquemáticas, apresentadas na figura 1. As plantas demonstram o que seria a tipologia mínima perante as normas de construção de Ipatinga, para apartamentos de 1 e 2 quartos, resultando em tipologias de 29,80m² e 36,80m² respectivamente.
Figura 1. Planta esquemática das Tipologias mínimas, de 1 e 2 quartos, perante as normas construtivas de Ipatinga-MG. (Fonte: dados obtidos através da pesquisa)
O levantamento em questão apresentou dados positivos, atualizados e nos padrões de grandes capitais. Dados da Embraesp7 mostram que em 2014 foram lançados, na Região Metropolitana de São Paulo, mais de 9.000 unidades com área média de 32,75m². A metragem quadrada permitida em Ipatinga encontra-se nessa mesma média. No decorrer deste estudo pretende-se identificar e analisar a tipologia mínima ofertada pelo mercado imobiliário, utilizando os dados obtidos como parâmetros.
3.3 Tipologia 3.3.1 Metodologia de pesquisa Para esta pesquisa específica, que busca identificar a tipologia predominante de apartamentos ofertada no município de Ipatinga, foram selecionadas quatorze imobiliárias, localizadas no Centro da cidade (Figura 2), local de maior concentração destas. Das identificadas, oito foram descartadas por não possuir registro de dimensão dos imóveis disponíveis.
Figura 2. Mapa das imobiliárias localizadas no Centro de Ipatinga. Identificadas as imobiliárias selecionadas para a pesquisa e as descartadas. (Fonte: dados obtidos através de mapeamento realizado).
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Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio. Disponível em: < http://embraesp.geoembraesp.com.br/>
Esta investigação tem início na coleta dos dados através dos endereços eletrônicos de cada imobiliária selecionada. Foram avaliados quinhentos e quarenta (540) apartamentos, variando entre a oferta de venda e aluguel. Os dados apanhados - Tamanho, oferta e tipologia - tiveram como objetivo indicar a conformação dos espaços habitacionais de apartamentos, apontando um modelo predominante.
3.3.2 Dimensão e oferta A pesquisa, como mostra o gráfico 1, abaixo, no item 1, apresentou porcentagem de venda demasiadamente superior, resultando 66% dos imóveis disponíveis para venda e 34% para aluguel. É apresentada ainda, a quantidade de imóveis que se enquadra em cada uma das faixas de metragem quadrada, subdivididas a cada 50m² de diferença, sendo predominante os apartamentos de 51m² a 100m² com disponibilidade para venda.
Gráfico 3. Avaliação dimensional dos apartamentos em Ipatinga e sua oferta. 1.: Quantidade de imóveis por metragem quadrada. 2.: Porcentagem de tipologias, mínimas e outras, encontradas. (Fonte: dados obtidos através da pesquisa)
A metragem quadrada que classifica a tipologia de apartamento como mínima é compreendida entre 29,80m² e 36,80m² (Ver 3.2). No item 2 do gráfico 3, a porcentagem total de tipologias mínimas encontradas em Ipatinga é de apenas 3%, o que corresponde a 13 apartamentos, somente. Percebe-se, diferente do esperado, que a tipologia mínima em Ipatinga é ínfima, por pouco inexistente.
3.3.3 Tipologia predominante Foram analisados a existência e quantidade dos cômodos nos imóveis, possibilitando, assim, apontar a tipologia, no que concerne a disposição do espaço. Em todos os imóveis foram identificados: uma sala, uma cozinha e uma área de serviço. Os compartimentos que se distinguiram foram: banheiro, dormitório e suíte (gráfico 4).
Gráfico 4. Definição e quantidade de compartimentos nas habitações de Ipatinga. (Fonte: dados obtidos através da pesquisa)
No item 1 (gráfico 4) definiu-se como predominante a existência de dois banheiros. No item 2 (gráfico 4) definiu-se como predominante a existência de 3 dormitórios e finalmente no item 3 (gráfico 4) definiu-se como predominante a existência de uma suíte. Conclui-se que a tipologia predominante de apartamentos ofertados em Ipatinga corresponde à tipologia com dimensão de 51m² a 100m², dispostos em uma sala, uma cozinha, uma área de serviço, três quartos e dois banheiros, sendo um suíte.
3.4 Usuário 3.4.1 Relação usuário - ambiente A habitação influencia em diversos aspectos o dia-a-dia dos moradores, intervindo diretamente na sua qualidade de vida. A qualidade residencial, com evidenciação direta na satisfação dos usuários, constitui um importante objetivo de todos os envolvidos nos processos de concepção de espaços habitacionais. Para a condução desses profissionais, nestes processos, é indispensável conhecer as necessidades dos usuários, definidoras de suas exigências e especificações. (FONSECA, 2011). O conceito de qualidade engloba vários outros conceitos, como o contexto social, o econômico, o cultural e o tecnológico. Entretanto, existe uma unanimidade para a definição do conceito de qualidade entre diversos autores, como Cabrita, defendendo que a qualidade se "[...] realiza pela satisfação de um conjunto de necessidades humanas, individuais e coletivas [...]" (CABRITA, 1995, p.12 apud FONSECA, 2011, p.67), e Pedro que define "[...] como a adequação das características espaços-funcionais, socioculturais e estéticas da habitação e da sua envolvente às necessidades imediatas e previsíveis dos moradores [...] (PEDRO, 2000, p.10 apud FONSECA, 2011, p.68). Sendo assim, a definição mais adotada, é a de que qualidade é a adequação das características do produto às necessidades dos usuários. Logo, a qualidade residencial pode ser compreendida como a conformidade da habitação às necessidades dos moradores. Porém, por apresentar características particulares, deve-se integrar ainda a possibilidade de adaptação, seja
em longo-prazo ou sociocultural, permitindo a concordância das diferentes necessidades de cada morador na mesma habitação. (FONSECA, 2011). Os principais usuários, naturalmente as pessoas, podem se enquadrar em vários grupos de diferentes perfis, tal como idade, renda, grupo doméstico, entre outros, sendo que a cada um destes grupos confere características específicas. Sendo assim, pode-se encontrar variadas tipologias de família, mais ou menos tradicionais e, consequentemente, diferentes necessidades e aspirações.
3.4.2 Perfil do usuário contemporâneo A predominância da unidade familiar nuclear - pai,mãe e filhos - começou a decair na segunda metade do séc. XX, quando surgiram novos tipos de grupos domésticos: famílias monoparentais, casais homossexuais, uniões livres, grupos que coabitam sem laços conjugais ou de parentesco e uma família nuclear renovada. Aliado a este fenômeno, a inserção da mulher no mercado de trabalho; a queda da fecundidade nas ultimas décadas; a fragilidade, cada vez maior, das uniões; o avanço da tecnologia; todos passos se dão em direção a um, aparentemente, novo padrão social. De acordo com Tramontano (1997, p.4), o perfil dos habitantes das cidades hoje, é de cada vez mais pessoas solteiras, jovens profissionais, trabalhadores de escritório e estudantes que preferem gastar maiores somas com aluguel de um apartamento, cuja área é cada vez menor, situado nas áreas centrais das cidades, as invés de submeterem-se a longos deslocamentos diários em transportes coletivos, vivendo em bairros e subúrbios distantes, longe da vida noturna e do lazer urbano. Há vinte anos atrás o cenário era bem diferente do atual (tanto por questões relativas à economia, quanto mudanças comportamentais). O perfil do consumidor de apartamentos mudou. Segundo a consultoria internacional World Global Style Network8, um terço da sociedade estará morando sozinha em 2026. (APARTAMENTO, 2013). Conclui-se que o habitante do séc. XXI, aparenta ser um indivíduo que vive, em sua maioria sozinho, que se agrega em perfis de composições domésticas variadas, que se comunica à distância com o uso de tecnologias, que trabalha em casa e usa o ambiente público para o encontro com outros.
3.5 Perfil do usuário de Ipatinga Foi investigado o perfil dos usuários e sua relação com os espaços que habitam, através da coleta de dados obtidos com o uso de questionário9 aplicado virtualmente a 100 indivíduos moradores de
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WGSN. A WGSN (World Global Style Network) é a maior autoridade de previsão de tendências do mundo. Apresentam soluções disponíveis por meio de assinatura online e através de serviço de consultoria personalizada. Disponível em: ˂https://www.wgsn.com/pt/wgsn/#˃ 9
Avaliação da tipologia habitacional e identificação do perfil do usuário. em:<https://docs.google.com/forms/d/16tFoqGKjpoS4uHGm4ceycGa9kNFGJ2I7gzp_LMBePXQ/edit#responses>.
Disponível
Ipatinga. O questionário contem três abordagens distintas, avaliadas em 33 questões, sendo elas: O perfil do usuário, necessidades requeridas pelo usuário e adaptabilidade dos usuários, e situação do imóvel. Os dados são dispostos em gráficos e analisados individualmente ou através de cruzamentos.
3.5.1 O perfil do usuário Esta abordagem tem como objetivo, caracterizar os usuários quanto a sua condição de vida socioeconômica.
Gráfico 5. Perfil do usuário. 1.: Idade. 2.: Estado Civil. 3.: Filhos. 4.: Renda familiar. (Fonte: dados obtidos através do questionário)
No gráfico 5, no item 1, considerou-se para efeito desta pesquisa como adultas, as pessoas com idade acima de 18 anos. Adolescentes foram considerados aqueles com idade entre 12 e 17 anos, e como crianças, aqueles com idade inferior a 11 anos. Observa-se que os adultos, pessoas que pode-se considerar como responsáveis e capazes de tomar decisões com relação ao imóvel, correspondem a 85%, os adolescente correspondem a 15% e as crianças 0% da população investigada.
Ademais foi identificado que o estado civil (item 2, gráfico 5) predominante é de solteiros, constituindo 73% dos entrevistados. 74% não possuem filhos (item 3, gráfico 5) e, por fim, 80% possuem renda familiar de um a cinco salários mínimos, sendo possível examinar o potencial de consumo e disponibilidade para exercer adaptações no imóvel.
Gráfico 6. Atividades realizadas pelos usuários. 1.: Tempo de trabalho e estudo. 2.: Local de trabalho. (Fonte: dados obtidos através do questionário)
Buscando verificar o tempo em o usuário permanece na residência e fora dela, foram avaliadas as atividades exercidas no cotidiano pelos mesmos. No gráfico 6, nota-se que 28% dos entrevistados trabalham 8h por dia e estudam (item 1), destes apenas 10% trabalham em casa e a maior parte 34% - trabalham em escritório. Conclui-se, portanto, que a grande maioria dos entrevistados passa 12h fora de casa, dando à habitação a característica apenas de dormitório.
Gráfico 7 Composição do grupo doméstico. 1.: Indivíduos por habitação. 2.: Grupo doméstico. (Fonte: dados do item "3." do IBGE. Outros dados obtidos através do questionário)
O gráfico 7, mostra que o grupo doméstico predominante ainda é a família nuclear,ou seja: pai, mãe, irmãos, filhos, cônjuge (item 2). Entretanto observando os grupos domésticos em 2000 (item 3) e em 2016 (item 2), percebesse um crescimento de 20%, que aparenta ser contínuo. Além disso, é apontado que dois é o número de indivíduos por unidade habitacional predominante entre os entrevistados.
3.5.2 Necessidades requeridas pelo usuário e adaptabilidade dos mesmos Essa abordagem trata-se do grau de importância atribuída a cada espaço existente no apartamento, pelo usuário. Objetiva-se detectar os itens de maior necessidade do mesmo.
Gráfico 8. Prioridades e necessidades em uma habitação. 1.: Principais características em uma habitação. 2.: Programa de necessidades básico. (Fonte: dados obtidos através do questionário aplicado)
O gráfico 8 apresenta a opinião dos usuários entrevistados a respeito das prioridades na escolha de um imóvel. As respostas foram bem divididas, onde conforto foi
a característica mais
apontada, com 26%, mas se destacaram além disto: Localização, divisão de cômodos
e
privacidade, com 13%, 14% e 11%, respectivamente. Ainda neste gráfico, no item 2, foi coletado o programa de necessidades básico destes usuários. As atividades: Dormir, comer e estudar, juntas, foram responsáveis por 83% das respostas.Percebe-se como o morador, cada vez mais, transporta atividades para fora de sua habitação; como consequência, o programa de necessidades mais enxuto gera uma necessidade menor de espaço, contribuindo para a redução progressiva dos espaços habitacionais.
Gráfico 9 Localização. 1.: Localização próxima das atividades cotidianas. 2.: Há possibilidade de troca por imóveis mais próximos? (Fonte: dados obtidos através do questionário aplicado)
Outra característica que apresentou relevância na escolha por um imóvel , foi a localização (gráfico 9). 62% dos entrevistados moram longe de suas atividades cotidianas, como trabalho e
estudo, e 51% estariam dispostas e se mudar, buscando praticidade e economia de tempo. Identifica-se mais um fator contribuinte para a promoção da habitação mínima. A tipologia em questão, busca atender necessidades do usuário que vão além do dimensionamento. Atende à essa busca por praticidade, citada, geralmente se localizando em área centrais ou com maior concentração de equipamentos e serviços.
Gráfico 10. Reformas efetuadas pelos usuários investigados. 1.: Alterações no imóvel. 2.: Utilização do espaço para atividades diferente do planejamento. (Fonte: dados obtidos através da pesquisa realizada)
As reformas em apartamentos são difíceis devido à estrutura padrão de todo o edifício. Ademais, estas reformas garantem apenas uma reorganização de áreas, ou seja, sempre que se amplia um espaço, necessariamente reduz-se
outro. É importante, portanto, observar que devido a
dificuldade, trabalho e incômodo de se realizar modificações internas, o percentual de 55% de apartamentos que sofreram algum tipo de alteração, obtido no gráfico 10, é considerado altíssimo. No item 2 (gráfico 10), os dados nos permite analisar o percentual de apartamentos que tiveram algum espaço originalmente projetado para um determinado uso, e o que o usuário, adaptando-se do espaço, utiliza-o para outro fim. Este percentual de apartamentos que tiveram algum compartimento alterado internamente com relação ao uso original para que foi projetado atinge 66% do total dos investigados. Foram citados exemplos como dormitórios usados como home Office e dependência de empregada como depósito. O valor nos apresenta a adaptabilidade dos usuários e ainda a incompatibilidade encontrada entre usuário e tipologia.
Gráfico 11. Importância dos compartimentos habitacionais. (Fonte: dados obtidos através da pesquisa realizada)
O apartamento recebe pelo usuário, naturalmente, subdivisões particulares quanto ao grau de importância de cada espaço. Ao compilar-se os dados obtidos no gráfico 11, verifica-se que os usuários dão importância máxima, coincidentemente, a seis cômodos: Quarto, sala de estar, suíte, banheiro, cozinha e área de serviço, enquanto os demais: Sala de jantar, sacada, dependência de empregada e outro, não foram classificados com nenhum grau de importância. Entende-se que o usuário têm priorizado apenas o necessário, desconsiderando o excesso. De acordo com Mariana Ferronato10, o comportamento social do indivíduo do séc. XXI é de "desapego material", compartilhamento e de preocupação com causas socioambientais. Além da casa não ser mais o grande sonho de vida das pessoas, o fato de um grande espaço para uma pequena família começa a ser visto como uma fonte de impacto ao meio ambiente e desperdício de espaço.
3.5.3 Situação do imóvel Entre os entrevistados, quanto à tipologia residencial (item 1, gráfico 12), 22% moravam em apartamentos anteriormente; hoje o valor passou para 45%, representando um crescimento de 23% nos moradores de apartamentos. Esse dado era esperado e pode-se dizer que de crescimento progressivo, uma vez que, com o inchaço populacional, as cidades têm cada vez menos espaço para novas construções, a solução encontra-se na verticalização. No item 3 do gráfico 12, um novo fenômeno é identificado na pesquisa: a redução do tempo de residência num determinado imóvel. A maior porcentagem - 23% de entrevistados - afirmam que moram a, apenas, um ano no imóvel em que residem. Somados todos os usuários que residem a mais de dez anos, resulta-se em apenas 19%. A "casa própria", diferente de anos atrás, começa a deixar de ser o grande sonho da vida dos indivíduos, além do que, a evolução da família ocorre hoje com um planejamento muito maior, podendo os usuários buscarem por espaços que atendam suas novas necessidades: acomodação de mais um integrante, o desejo de morar
10
Publicitária com mais de 11 anos de experiência na gestão e execução de ações de marketing em construtoras, imobiliárias e portal imobiliário. Atualmente Diretora de Marketing no portal VivaReal.
sozinho, trabalho na residência, uso da casa apenas como local de dormir... enfim, hoje, encontrase com mais facilidade pessoas se mudando à procura de novos espaços adequados à suas particularidades, do que indivíduos que moram na mesma residência por toda a vida, num espaço, muitas vezes, defasado.
Gráfico 12. Situação do imóvel em relação ao usuário. 1.: Tipologia da residência anterior. 2.: Tipologia da residência atual. 3.: tempo de residência. 4.: Forma de aquisição do imóvel. (Fonte: dados obtidos através da pesquisa realizada)
Confirmando o fato citado anteriormente, relativo à preferência crescente por buscar novos espaços ao contrário de se habitar um por toda a vida, no item 4 do gráfico 12 verifica-se que 52% dos entrevistados moram em imóveis alugados. Além da necessidade e impossibilidade da compra do imóvel, há ainda a opção por adotar espaços temporariamente que se adequem às necessidades. O fato do imóvel ser próprio ou alugado pode, ainda, estimular ou não reformas internas no imóvel (gráfico 10), conforme o caso.
Gráfico 13. Carência de espaços específicos.
O gráfico 13, apresenta a carência dos usuários entrevistados por espaços habitacionais específicos. Os dados, como pode-se observar, foram bem distribuídos, entretanto um fator é significativo: 79% dos entrevistados sentem falta de pelo menos mais um espaço físico inserido no programa do apartamento.
3.5.4 Usuário de Ipatinga e a habitação mínima
Gráfico 14. Usuário e tipologia mínima. 1.: Vantagens de uma habitação menor. 2.:Tempo gasto com a manutenção da residência. 3.: Você moraria em um espaço como o apresentado? (Fonte: dados obtidos através da pesquisa realizada)
Com o propósito de identificar a relação e opinião dos usuários de Ipatinga à respeito das tipologias mínimas, foi avaliado, através de respostas abertas, quais eram, para eles, as maiores vantagens em se morar em um espaço menor. (Item 1, gráfico 14). A pesar de um porcentagem considerável - 30% - não ter apontado nenhuma vantagem, 49% dos entrevistados acreditam que a praticidade, principalmente relacionada á organização e limpeza, seja a vantagem mais notável. Como foi citado o fator de manutenção do espaço (item 2, gráfico 14), foi questionado o tempo gasto com o referente trabalho. 21% dos indivíduos afirmaram que ocupam, em média, 3 horas por dia com manutenção e 20% afirmaram gastar mais de 5 horas por dia. Se for relacionado este dado ao tempo de permanência fora da habitação (gráfico 6), que, na maioria dos entrevistados, resultou em 12 horas por dia, obtêm-se um resultado alarmante: Os indivíduos passam 17h de cada dia ocupados, seja com trabalho, estudo ou serviços domésticos. Restam 7 horas de sono,
quando o mínimo é de 7 a 8 horas de acordo com a Fundação Nacional do Sono11 e não resta tempo algum para qualquer outra atividade. Efetivamente, portanto, a redução no tempo gasto com a manutenção, ou seja, a praticidade é uma importante vantagem da habitação mínima. Investigando a opinião dos entrevistados foi-lhes apresentado um vídeo denominado: Habitação mínima12, o qual, apresenta sucintamente um exemplo de um mini apartamento de 24m², localizado em Barcelona, totalmente adaptado e funcional, com móveis multifuncionais e estratégicos. Foi questionado a possibilidade e desejo de moradia num espaço como o apresentado (item 3, gráfico 14). 58% responderam que sim.
4. Resultados 4.1 Relação Usuário - Tipologia Os dados foram analisados com a intenção de se identificar três vertentes de grande importância no estudo proposto: A tipologia ofertada, o perfil do usuário e o espaço habitado atualmente. Os dados compilados demonstram que a tipologia predominante ofertada pelo mercado imobiliário em Ipatinga é de apartamentos com dimensão de 51m² a 100m², dispostos em sala, cozinha, área de serviço, três quartos e dois banheiros, sendo um suíte. O perfil do usuário-morador de Ipatinga foi definido, predominantemente, como adultos, solteiros, sem filhos que trabalham 8 horas por dia, geralmente, em escritórios, e estudam. O grupo doméstico em que está inserido foi determinado como família nuclear (pai, mãe, irmãos, filhos, cônjuge), entretanto, compostos por apenas dois integrantes. No que se refere à relação entre o usuário e sua moradia, foi apurado que a característica mais relevante no momento da escolha por um imóvel é a de privacidade e que dormir, é a principal atividade atribuída à habitação, uma vez que passam a maior parte do tempo fora de suas residências. Constatou-se, ainda, que, predominantemente, os indivíduos avaliados residem em locais distantes de suas atividades cotidianas, no entanto apresentaram desejo de morar mais próximos em busca de praticidade. Ironicamente, são ofertados três quartos, para dois indivíduos que, predominantemente, usam o espaço habitacional apenas para dormir. O espaço habitado atualmente pelos entrevistados apresentou dados importantes, como: a maior parte dos imóveis terem sofrido alterações e o uso dos espaços não corresponderem aos predeterminados no projeto. Estes fatos apontam que os apartamentos não atendiam devidamente às necessidades dos usuários, e se for considerado que uma reforma ou adaptação nem sempre atinge o fim que se propõe, estes apartamentos ainda não estão atendendo plenamente à grande maioria dos usuários.
11
Sleep Health: Journal of the National Sleep Foundation.(Jornal da Fundação Nacional do Sono). 2015.
12
Habitação Mínima. 2011. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=zCGNObgwc4Y> Acesso em: 18.set.2016
Esta conclusão fica reforçada quando se verifica o alto percentual de carência de espaços físicos específicos na habitação (gráfico 13). Certifica-se que os programas ofertados nesses apartamentos não estão atendendo às necessidades atuais de moradia dos seus usuário. Portando, relacionando-se os dados, entende-se que além dos programas apresentados pelo mercado imobiliário não condizerem com as necessidades dos usuários, os espaços, no que se refere o dimensionamento, são mais amplos do que necessariamente poderiam ser.
4.2 Considerações Finais Ficou comprovado neste estudo um dos resultados teóricos esperados, o de que o usuário apresenta novos modos de morar. Entretanto, constatou-se que o espaço mínimo habitacional predominante ofertado em Ipatinga, não caracteriza efetivamente uma tipologia mínima. Esta, constitui apenas 3% dos imóveis avaliados (gráfico 3); uma quantidade ínfima e por pouco inexistente. Observou-se ainda, que a oferta na região continua sendo de espaços setorizados e compartimentados e as características da arquitetura moderna, princípios da arquitetura habitacional mínima, como: planta livre e sobreposição de funções, encontram-se apenas na teoria. Verifica-se, portanto, como uma alternativa promissora, a proposta de habitações de tipologia mínima planejada especificamente à população de Ipatinga, uma vez constatada aqui a demanda no município. É importante, no momento de projetar ambientes mínimos, a preocupação em abrigar diversos usos em um mesmo espaço, possibilitando melhor versatilidade do ambiente. Não basta simplesmente reduzir as propostas tradicionais de apartamentos, deve-se inserir no espaço proposto os conceitos de flexibilidade, antropometria e ergonomia, de forma a organizá-los garantindo que os usuários disponham de conforto e qualidade espacial. Assim, o espaço habitável poderá ser adaptado ao usuário e não o contrário. A relevância de um trabalho a respeito do exercício da arquitetura sobre a habitação, implica à reflexão sobre a casa contemporânea. A habitação é entendida como um espaço criado e elaborado em função do usuário e não o contrário, como já foi um dia. Desta maneira esta ligada profundamente à história da civilização e da construção da cidade, sendo um fator influente nos mais diversos campos estudados na arquitetura e urbanismo. Encara-se, portanto, este trabalho, como uma forma de pensar em que medida os arquitetos podem intervir e contribuir para melhorar, direta ou indiretamente, os espaços habitáveis. Afinal arquitetura é feita para as pessoas e cada um é único.
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HABITAÇÃO MÍNIMA: ANÁLISE A RESPEITO DOS NOVOS MODOS DE VIDA E NOVOS ESPAÇOS DE MORAR Dayane Silva Lacerda Proposta TCC-2 Foi fundamentado e comprovado no artigo científico do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC 1) um dos resultados teóricos esperados, o de que o usuário apresenta novas tendências de morar. Buscava-se ainda, no trabalho, identificar no município de Ipatinga a existência de habitações mínimas e avaliá-las quanto à sua qualidade e compatibilidade com o usuário. Constatou-se, entretanto, que o espaço mínimo habitacional predominante ofertado em Ipatinga, não caracteriza efetivamente uma tipologia mínima. Esta, constitui apenas 3% dos imóveis avaliados (gráfico 1); uma quantidade ínfima e por pouco inexistente.
Gráfico 1. Tipologia mínima identificada no município de Ipatinga - MG.
Em função dessa carência da tipologia estudada, não foi possível afirmar a hipótese de que a tipologia mínima encontrada na cidade de Ipatinga/MG é ou não capaz de atender às necessidades das diversas variedades de usuários, grupos domésticos e estilos de vida. Todavia os dados obtidos apontaram, como uma alternativa promissora, a proposta de habitações de tipologia mínima planejadas especificamente à população de Ipatinga, uma vez constatada a demanda no município e inexistência da oferta. O espaço mínimo, se bem elaborado e projetado, pode oferecer praticidade; economia, em termos de valor e tempo; maior qualidade de vida, além de influenciar positivamente a vida urbana, ou seja, pode-se aglomerar um maior numero de habitações em melhores localidades, próximas à atividades diárias - trabalho, estudo, entre outras - descongestionando os vias e a circulação na cidade. Como são diversas e particulares as necessidades de cada usuário, e elas devem estar previstas no programa dos espaços mínimos propostos, visa-se, nesta proposta de projeto, pensar em um conjunto de ambientes que permitam abrigar diversas funções em um mesmo local, possibilitando melhor versatilidade destes espaços quanto ao seu uso. Não basta simplesmente projetar
apartamentos com espaços menores, pretende-se inserir no espaço proposto os conceitos de flexibilidade, antropometria e ergonomia, de forma a organizá-los garantindo que os usuários disponham de conforto e qualidade espacial. Assim, o espaço habitável poderá ser adaptado ao usuário e não o contrário. Foi identificado o público alvo, na pesquisa de TCC 1, ou seja, o perfil do usuário-morador de Ipatinga, predominantemente, como adultos, solteiros, sem filhos que trabalham 8 horas por dia, geralmente, em escritórios, e estudam. Vivem, em sua maioria com a família composta por apenas dois integrantes. No que se refere à relação entre o usuário e sua moradia, foi apurado que a característica mais relevante no momento da escolha por um imóvel é a de privacidade e que dormir, é a principal atividade atribuída à habitação, uma vez que passam a maior parte do tempo fora de suas residências. Constatou-se, ainda, que, predominantemente, os indivíduos avaliados residem em locais distantes de suas atividades cotidianas, no entanto apresentaram desejo de morar mais próximos em busca de praticidade. Com base nestes dados as prioridades iniciais do projetos são: Localização, praticidade e flexibilidade. Sendo uma correlacionada à outra, interferindo diretamente. Para a escolha do lote, ou seja, localização do empreendimento, é necessária uma análise do entorno de lotes vagos, que observe os equipamentos e serviços oferecidos, além da qualidade da localização. Foram utilizados os dados da definição das centralidades da RMVA (Região Metropolitana do Vale do Aço) desenvolvidos pelo PDDI (Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado). Estes dados foram de grande importância e determinante do local a ser trabalhado, uma vez que identificam, classificam e caracterizam essas centralidades através do grupo de elementos chamado Definidores. Trata-se de um estudo aprofundado dos equipamentos que ofertam Serviços Públicos, nos níveis federal, estadual e municipal, e dos Equipamentos e Serviços compostos pelos comércios e serviços, instituições bancárias, ensino superior e técnico profissionalizante e serviços de saúde. Ao todo foram considerados 69 equipamentos13 de serviços públicos analisados na RMVA. A pesquisa, de maneira geral, estuda características consideradas indispensáveis para uma boa localização de um empreendimento no padrão proposto. São estudos baseados em coleta e análise de inúmeros dados disponíveis nos sites dos órgãos oficiais, como IBGE, DATASUS, MEC e MTE, entre outros. (PDDI - Diagnóstico, Vol. 1, 2014) Como a proposta é restrita ao município de Ipatinga/MG, foram compilados apenas os dados pertinentes, ou seja, identificadas apenas as centralidades definidas no município. Nesse critério, foram identificadas 4 Centralidades Metropolitanas: Canaã-Cidade Nobre, Cariru, Centro-Veneza e Bom Retiro-Horto. As centralidades identificadas foram classificadas em três níveis: Centralidade Metropolitana A, B e C, respectivamente, alto, médio e baixo nível de
13
Disponível em:<http://www.unilestemg.br/pddi/arq/doc/documentos-oficiais/2014/PDDI_DIAGNOSTICO_VOL1.pdf>. Apêndice A.
centralização/polarização na RMVA, em função da oferta de serviços públicos e equipamentos e serviços. Classificada como Centralidade Metropolitana A: Centro-Veneza; Como Centralidade Metropolitana B: Bom Retiro-Horto e Canaã-Cidade Nobre. E como Centralidade Metropolitana C: Cariru, em Ipatinga. Como não foram identificados lotes vagos na centralidade Centro-Veneza, o local definido foi a centralidade B: Bom Retiro-Horto. (Figura 1 e 2).
Figura 1. Centralidade Metropolitana B - Bom Retiro-Horto. Fonte: Eixo de ordenamento Territorial apud PDDI.
Figura 2. Centralidade Metropolitana B - Bom Retiro-Horto. Fonte: Eixo de Ordenamento Territorial. Dados obtidos através do MTE _ RAIS _2009, Data Escola apud PDDI.
No bairro foram analisados alguns lotes disponíveis, mas um foi destaque no que se refere proximidade de oferta de serviços, garantindo a praticidade externa e também por ser visado por
construtoras. O lote, está localizado na avenida Fernando de Noronha, nº. 1132, Bom Retiro, Ipatinga. (Figura 3).
Figura 3. Localização do Lote. Av. Fernando de Noronha, nº 1132, Bairro Bom Retiro, Ipatinga - MG. Fonte: Autora.
O lote em questão, esta localizado numa região de forte comércio e acesso fácil a todos os serviços essenciais. É próximo do Hospital Márcio Cunha (Unidade II) e ao posto de saúde; Cercado por supermercados, restaurantes, farmácias, padarias, postos de gasolina, papelarias, escolas que atendem desde o primário à graduação, creches, academias, vida noturna, entre outras conveniências. (Figura 4). Além da vasta oferta de serviços e facilidade de locomoção, o Bom Retiro é um dos bairros nobres de Ipatinga.
Figura 4. Estudo dos serviços ofertados e localização do lote escolhido. Fonte: Construtora WR - adaptado pela autora.
A praticidade e principalmente a flexibilidade são conceitos que pretende-se inserir no interior da habitação, ou seja, na conformação do espaço interno mínimo habitacional. Para uma proposta concreta é necessário, além da constatação da existência de uma demanda, um estudo e análise de um "cliente" específico. Pretende-se, então, selecionar, através do questionário aplicado na primeira etapa de coleta de dados da pesquisa anterior, dois, ou mais, grupos domésticos distintos de Ipatinga, que tenham apresentado interesse em morar em espaços compactos. Selecionado o "cliente", serão estudadas suas atividades, particularidades e programa de necessidades, tendo em vista o desenvolvimento de uma habitação mínima, dentro dos parâmetros de Ipatinga, que seja capaz de atender todos estes diferentes perfis. Serão investigados os espaços, suas características fundamentais, assim como algumas tecnologias relacionadas aos materiais e ao mobiliário inseridos neste espaço. Como referência de espaços flexíveis, pode-se citar Rino Levi, cuja pesquisa sobre flexibilidade e novos espaços materializa-se principalmente no edifício Prudência, em São Paulo, que apesar de ter sido construído em 1944, continua sendo um ótimo exemplo. Construído no bairro de Higienópolis, este prédio está implantado em amplo terreno que permite uma forma geométrica simples, um volume com planta ortogonal em U, que abriga quatro apartamentos por andar, agrupados dois a dois em função das duas torres de circulação vertical, localizadas nos ângulos internos do conjunto. A distribuição interna dos espaços foi modulada com base na grelha estrutural do edifício. Tal grelha ordena a espacialidade interna e sua clareza é tanta, que se torna possível a exploração das possibilidades da fachada livre. Os estudos foram minuciosos em diferentes aspectos, nas áreas de estar, jantar e dormitórios, concebidas de forma a possibilitar aos usuários a reorganização das divisões internas, mediante remanejamento de divisórias. “As subdivisões internas, deveriam ter sido realizadas com armários e vedações leves, permitindo
inteira liberdade ao morador para adaptar o apartamento às suas necessidades” (ANELLI, 2001). (Figura 5).
Figura 5. Edifício Prudência, av. Higienópolis, São Paulo, Rino Levi, 1944. Opções de layout dos espaços flexíveis Fonte: Anelli, 2001.
Mais recentemente, algumas construtoras vêm lançando, nos grandes centros brasileiros, apartamentos mínimos, onde não existem divisórias físicas dos espaços e a flexibilidade encontrase na disposição e organização dos mobiliários. A BKO Desenvolvimento Imobiliário Ltda, é um construtora de São Paulo que tem investido em apartamentos de tipologia mínima. Dentre as diversas ofertas que variam de 19m² a 70m², O BKS Santo Antonio (Figura 6), localizado no bairro Bela Vista, apresenta apartamentos de 19m² (Figuras 7 e 8) e 39m², com apenas um dormitório e um banheiro, e Pent Houses de 45m² a 66m².(Figuras 9). Além da dimensão e tipologia, o edifício chama a atenção pela propaganda, que valoriza muito a praticidade e localização: "Não existe nada parecido na região. Tudo para colocar você no centro. O BKS possui um estilo arquitetônico extremamente moderno. Um empreendimento que se propõe a ser um facilitador em uma megalópole como São Paulo. Bonito, arrojado, amigável. Um lugar onde tudo que você precisa está ao seu redor."
Figura 6. BKS Santo Antonio. Bela Vista, São Paulo-SP. Fachadas noturnas. Fonte: BKO, disponível em:<http://www.bko.com.br/bks-santo-antonio/>
Figura 7. BKS Santo Antonio. Bela Vista, São Paulo-SP. Perspectivas internas. Fonte: BKO, disponível em:<http://www.bko.com.br/bks-santo-antonio/>
Figura 8. Planta apartamento tipo 1 - 19m² - decorado. Fonte: BKO, disponível m:<http://www.bko.com.br/bks-santo-antonio/>
Figura 9. Planta Térreo e Planta Cobertura. Fonte: BKO, disponível em:<http://www.bko.com.br/bks-santoantonio/>.
Outra característica referencial cada vez mais comum em ofertas de empreendimentos imobiliários é a transposição de atividades individuais, tradicionalmente inseridas no interior de cada apartamento, para fora destes, criando espaços de uso comum aos moradores e espaços específicos que valorizam o empreendimento, como: Lavanderia, salão de jogos, academia, salão de festas, entre outros. (Figura 9).
Figura 8. BKS Santo Antonio. Bela Vista, São Paulo-SP. Serviços oferecidos no edifício: Salão de jogos, Lavanderia, Salão de festas, Bicicletário, Rooftop, Lobby, Academia. Fonte: BKO, disponível em:<http://www.bko.com.br/bks-santo-antonio/>
Portanto, são muitas as referências e soluções já executadas que contribuem para este trabalho. A pesquisa, de modo geral, assim como o projeto que será proposto para Ipatinga, poderá contribuir para minimizar vícios e falhas no projeto de apartamentos, fazendo com que a oferta de espaços
construídos
seja
mais
adequada
às
necessidades
dos
usuários
o
que,
consequentemente contribuirá para minimizar o defasamento de contruções e aumentar a qualidade de vida dos moradores. Poderá também apontar novas tendências, em função das atuais imposições, atribuídas pela tecnologia e pela vida moderna.
Referências ANELLI, R; GUERRA, A. Rino Levi. Arquitetura e Cidade. São Paulo: Romano Guerra Editora, 2001,p. 250. BKO. Disponível em:<http://www.bko.com.br> WR Construtora. Disponível em:< http://www.wrconstrutora.com> PDDI, Plano Diretor de Desenvolvimento http://www.unilestemg.br/pddi/arq/doc/documentosoficiais/2014/PDDI_DIAGNOSTICO_VOL1.pdf>
Integrado.
Disponível
em:<