Univerdade Lusíada de Lisboa 3ºAno de Comunicação e Multimédia Metodologias de Investigação
A ciência, o método científico e a sociedade O objectivo desta pequena investigação é o de cruzar as perspectivas de três importantes autores naquilo que foi o seu entendimento sobre o saber científico. Em primeiro lugar, a palavra ciência provém do latim 'scientia' que significa conhecimento ou saber, ou, segundo o dicionário, 'um conjunto de conhecimentos formados sobre princípios certos'. A ciência é essencialmente prática e resulta da tentativa de alguém observar os fenómenos e querer estruturá-los de forma a constituir padrões. Existe um fim intelectual que após o acto de reunir dados se identifica com a procura da objectividade mediante experiências. “Método é a forma de proceder ao longo de um caminho. Na ciência os métodos constituem os instrumentos básicos que ordenam o pensamento em sistemas, traçam de modo ordenado a maneira de proceder do cientista ao longo de um percurso para alcançar um objetivo.” (TRUJILLO, 1974). Por sua vez, a palavra método vem do grego 'methodos' e significa via ou caminho. Método cientifico é uma área a que se dedica a filosofia e a epistemologia sofrendo diferentes interpretações consoante o autor. O método faz parte da própria ciência e consiste num conjunto de regras que controlam as hipóteses na formulação de uma teoria. Os padrões encontrados em determinado fenómeno natural/social são identificados como leis. O pressuposto é que os conhecimentos utilizados sejam válidos e objectivos. Podemos enumerar as várias etapas que um método científico tem de seguir: - Colocar uma questão - Pesquisa/Observação - Absorver informações - Formulação de hipótese - Resposta para a pergunta - Testar a hipótese com uma experiência - Pode levar à sua confirmação ou negação - Análise da informação - Rever os dados recolhidos - Conclusão - Qual o objectivo atingido? - Comunicação dos resultados - Conhecimento de domínio público Para a ciência também o conceito de reprodutibilidade é qualidade essencial de um 1
fenómeno científico, se ele não pode ser reproduzido não é aceite. A reprodutibilidade e repetibilidade dizem-nos que a confirmação de um resultado deve depender da repetição da mesma experiência utilizando amostras diferentes e reprodução utilizando novamente amostras e equipamentos diferentes. O objectivo é evitar a influência que os erros humanos podem ter no resultado. Hume como defensor do conhecimento empírico acreditava que a formulação da teoria devia começar pela parte até atingir o todo, premissas especificas até conclusões gerais onde a fundamentação se baseia essencialmente na experiência e observação. Isto é contrário, por exemplo, ao método dedutivo de Descartes que parte de um conceito geral e o divide. A ciência surge como fruto do pensamento humano, da crença e continuidade. Os acontecimentos tem influência em nós de forma regular e provocam o aparecimento de determinam as crenças, segundo Hume, a mente funciona através de percepções contínuas. A experiência é a fonte de saber, independente do Homem que lhe transmite conhecimento mas que não depende dele. Ao contrário da perspectiva de Bacon, Hume não acredita que seja um sistema metodológico pois não existe conexão lógica entre causa-efeito, seguimos o conhecimento prévio resultante da nossa própria experiência. Acontece então, que o próprio autor critica o método indutivo, admitindo a sua falta de consistência lógica já que o ato de partir de um pressuposto para justificar tudo o que a ele se assemelhe é uma suposição, logo, falível. Apesar de Hume ter tentado assumir o principio de uniformidade da natureza este também era baseado na indução e chegou à conclusão de que este dependia da crença por isso era inválido. Descartes, contemporâneo de Galileu, é defensor de um método matemático dedutivo, apresentando quatro regras-chave para a sua sustentação: 1- Não aceitar como verdadeiro aquilo que não se apresente evidentemente como tal, abolir a precipitação, o preconceito e juízos subjetivos. (Evidência) Ao contrário de Hume, os sentidos são falíveis e portanto devem ser considerados como falsos. 2- Dividir as dificuldades em quantas partes forem necessárias para as resolver. (Análise) 3- Conduzir o pensamento do objeto mais simples ao mais complexo. (Síntese) 4 - Realizar sempre enumerações e revisões gerais para ter a certeza que nada foi omitido. (Enumeração) Na sua opinião os sentidos devem ser questionados e não aceites como indicador último da verdade, a única coisa da qual não se pode duvidar, é do pensamento, 'cogito ergo sum'. Seguindo uma lógica matemática para explicar os fenómenos podemos admitir que se um todo é composto por partes, basta compreender as partes para compreender o todo. O Determinismo Mecanicista, o método proposto por Descartes vê a Natureza como um mecanismo cujo funcionamento se rege por leis, sendo possível reduzir o mundo a leis de mecânica. Ciência surge aqui como uma algo universal pois a razão em que se apoia o estudo de todo e qualquer tipo ciência é a mesma. 'Todas as ciências não são mais do que sabedoria humana' inalterada pelos objetos. Apesar de importância dada ao saber e à razão o registo final que se sobrepõe a todos os outros e dado como metafísica é Deus. Esta figura 2
superior é quem permite a estabilidade da verdade, ou seja, é a nossa garantia da verdade das evidências. Karl Popper introduz com o método hipotético-dedutivo o conceito de refutabilidade que nos diz que um sistema científico é válido até ser refutado. As previsões que determinada pessoa faz em relação a algo devem ser comparadas e a qualquer momento substituidas por novas explicações. O objectivo é fazer uma investigação que sofre melhoramentos e do qual se excluem hipóteses consoante alguém refuta algo, apresentando novas explicações. O resultado deste método é que a evolução da ciência depende 'dos seus próprios erros' e nunca existe uma análise conclusiva. Por mais exemplos que tenhamos que A é B, não o podemos afirmar como certeza absoluta, por exemplo: - 'Por mais que todas as aves que eu tenha visto até agora tenham penas, eu não posso assumir que todas as aves têm penas.' O objectivo do método ciêntifico é evitar teorias tendencionistas resultantes das crenças pessoais de cada cientista, ou seja, garante a sua objectividade e permite que este seja credível. Parte do grande sucesso do pensamento racional é por ter uma definição clara e livre de contradições. A evolução da ciencia mudou o mundo e interligou-se com a tecnologia naquilo que pode ser definido como 'tecnociência', são duas áreas que dependem muito uma da outra. Graças ao avanço que fizemos conseguimos hoje entender o que nos rodeia de outra forma, um bom exemplo é o das doenças para as quais existem cada vez mais curas, mas também o da mecânica ou da informática. Descartes criou toda uma nova forma de pensamento e a noção de filosofia moderna, o que ainda hoje em dia se estuda mas ainda mais importante foi o desenvolvimento da geometria e das coordenadas cartesianas que figuram o mundo físico na matemática. Os limites foram encontrados por Popper, que separou totalmente a ciência do plano divino, erradicou os dogmas e criou o falsificacionismo que permite aos cientistas desenvolverem teorias. Para concluir, o método ciêntifico foi establecido como uma forma de entender a natureza através da teoria e da prática, é um processo humano que perdurou ao longo dos anos e permitiu o desenvolvimento de inúmeras áreas. Existem diferentes formas de organizar o método ciêntifico, sendo que umas se debruçam inteiramente na experiência, como o racionalismo em Descartes, e outras totalmente nos sentidos, como o empirismo em David Hume. No entanto, o ramo unificador entre todos eles é o pensamento humano essencial para a resolução de um problema e é apenas mediante a sua acção que se podem atingir conclusões finais sobre o meio. A evolução do método chegou hoje a uma fase em que resulta da convergência de todos os seus grandes testemunhos, uma das grandes diferenças para a modernidade é por exemplo, a ideia de que o plano divino foi recusado e de que a verdade das afirmações e da teoria já não depende de um ser superior. Bibliografia
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Trabalho realizado por: Débora Inês Pinto de Sousa Rocha
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